Lesões Fundamentais

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 16

Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

Gabriele Guelbek

Letícia Schotten Rosa

Maria Luiza Koerich

Antonio Adilson Soares de Lima

Maria Ângela Naval Machado

Melissa Rodrigues de Araujo

O conhecimento das lesões fundamentais é essencial na Odontologia, pois contribui no


processo de elaboração do diagnóstico e facilita a comunicação entre profissionais da
área da saúde. As lesões fundamentais representam um conjunto de alterações básicas
que afetam a pele e a mucosa e culminam no aparecimento clínico das doenças. A
partir da obtenção de dados (como da história da doença, dos achados clínicos e as
lesões fundamentais) é possível estabelecer hipóteses diagnósticas e o planejamento
terapêutico adequado.

Palavras-chave: Mucosa bucal, Ferimentos e Lesões, Exame físico, Hiperplasia.

1
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

SUMÁRIO

1. Definição de lesões fundamentais......................................................... 3


2. Mancha e mácula................................................................................... 4
3. Placa........................................................................................................ 5
4. Pápula, nódulo e tumor.......................................................................... 6
5. Úlcera e ulceração.................................................................................. 8
6. Vesícula e bolha...................................................................................... 9
7. Erosão...................................................................................................... 10
8. Vegetação................................................................................................ 11
9. Fístula....................................................................................................... 11
10. Crosta....................................................................................................... 11
10. Hiperplasia.............................................................................................. 12
11. Abscesso.................................................................................................. 12
12. Bibliografia............................................................................................... 15

2
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

3
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

LESÕES FUNDAMENTAIS
As alterações morfológicas que aparecem na mucosa bucal ou na pele assumindo
características clínicas padronizadas e individualizadas são denominadas lesões fundamentais
ou elementares.

QUAL A IMPORTÂNCIA DESSE TEMA?

 O conhecimento das lesões fundamentais auxilia na elaboração do diagnóstico.


 São fundamentais para a comunicação entre os profissionais da área da saúde.

As manobras semiotécnicas são essenciais na avaliação das lesões, entre elas: inspeção
visual, palpação, percussão, raspagem, auscultação, olfação e a vitropressão. Para se descrever
uma lesão fundamental é preciso estar atento a todos os detalhes das lesões, procurando
sempre o máximo de precisão e detalhes.

A descrição deve ser completa e conter informações importantes, tais como:

 Localização
 Tamanho
 Limites
 Cor
 Forma
 Inserção ou base
 Consistência
 Superfície
 Textura
 Contorno
 Margens
 Número

Além dos dados clínicos obtidos pelo exame físico, o profissional deve realizar uma
anamnese dirigida. Dessa forma, o cirurgião-dentista deve interrogar:

 O tempo de evolução.
 O histórico de dor.
 Os hábitos do paciente.
 Tratamentos prévios.

4
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

Nesse trabalho, serão abordadas as seguintes Lesões Fundamentais ou


Elementares:

1. Mancha e mácula
2. Placa
3. Pápula, Nódulo e Tumor
4. Úlcera e ulceração
5. Vesícula, Bolha, Pústula
6. Erosão

Fonte: adaptado de prof. Dr. Lucinei Roberto de Oliveira.

Alterações morfológicas descritivas das lesões:


1. Vegetação
2. Fístula
3. Crosta
4. Hiperplasia
5. Abscesso

MANCHA E MÁCULA
Definição: Mancha e mácula são alterações de cor da mucosa bucal ou da pele sem causar
elevação ou depressão no tecido. O que diferencia a mancha da mácula é o seu tamanho. As
manchas são maiores e as máculas são menores. A cor depende do tipo de comprometimento
estrutural do epitélio ou devido à presença de um pigmento (por exemplo: melanina,
hemossiderina, depósito de metais pesados (prata) etc.). Elas podem surgir sobrepostas a
outro tipo de lesão fundamental. A sua cor, tamanho e forma podem ser bastante variados.

As manchas podem estar associadas a diversas causas. Veja abaixo, alguns exemplos:

 Mancha ou mácula pigmentar: Aumento ou diminuição de melanina no tecido.

Exemplos: Vitiligo (Hipocrômica) e Pigmentação melânica racial (Hipercrômica) (Figuras 1 e 2).

 Mancha ou mácula vascular: Alterações da microcirculação da pele/mucosa. Nesse


caso, uma característica marcante é que elas desaparecem quando submetidas à
manobra da vitropressão.

5
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

Exemplos: Telangiectasia (dilatação de vasos terminais com aspecto filamentoso, como as


microvarizes); Eritema (acúmulo de hemoglobina e derivados na pele); Enantema (acúmulo de
hemoglobina e derivados na mucosa bucal).

 Mancha hemorrágica: Acontecem por extravasamento de sangue e não desaparecem


com a vitropressão. Sua coloração varia de vermelho-arroxeado ao amarelado. Ela
também se altera de acordo com o tempo de evolução da lesão. São divididas em:
 Petéquias: quando em formato puntiformes.
 Víbices: quando assumem um formato linear.
 Equimose: quando em formato de placas.

 Deposição pigmentar: Deposição de pigmentos como Bilirrubina (icterícia); Corpo


estranho (tatuagem); Metálico (prata, ouro).

Figura 1: Mácula em palato duro. O


diagnóstico histopatológico foi compatível
com Melanoma.
Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo.

Figura 2: Mancha em mucosa labial


superior, compatível com pigmentação
melânica.
Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo.

PLACA
Definição: Placa é uma lesão plana e pouco elevada. Sua altura é pequena em relação à
extensão. É uma lesão em que ocorre um espessamento de tecido, o que representa
clinicamente a elevação. A consistência é diferente do tecido normal. A superfície pode ser
rugosa, verrucosa, ondulada, lisa ou apresentar diversas combinações desses aspectos.

6
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

A forma, o contorno, o tamanho e a coloração podem variar de caso para caso. Outras lesões
fundamentais podem estar associadas às placas, tais como: manchas, erosões, ulcerações,
fissuras, nódulos, etc.

Exemplos: O exemplo mais clássico de uma placa é a leucoplasia (figura 3), mas outras doenças
também podem se apresentar lesões com esse aspecto, tais como: o líquen plano e o
carcinoma epidermóide.

Figura 3: Placa branca de superfície rugosa


localizada em rebordo alveolar da maxila.
Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo.

PÁPULA, NÓDULO E TUMOR


Definição: são lesões sólidas que podem ser formadas por tecidos epitelial, conjuntivo ou
misto. Elas diferem entre si pelo tamanho.

Pápulas: Pequena proeminência achatada, elevada acima da superfície epitelial. Medem até 5
mm de diâmetro. São superficiais e circunscritas. Podem ser únicas ou múltiplas. Tem
coloração e superfícies variadas (Figura 4). Quando múltiplas e aglomeradas, elas constituem a
chamada placa papulosa.

A superfície pode ser de aspecto liso, rugoso ou verrucoso. Quanto à forma, elas podem ser
arredondadas ou ovais e, ainda, pontiagudas ou achatadas.

Exemplos: Grânulos de Fordyce, estomatite nicotínica, líquen plano.

Nódulos: são lesões sólidas maiores do que 5 mm e tem até 2 cm. Podem ser circunscritos e
quanto a base de sustentação, os nódulos podem ser pediculados ou sésseis. A consistência à
palpação é muito variada, dependendo do tecido que o compõe e do tempo de evolução
(Figura 5).

Exemplos: Fibroma traumático, hiperplasias fibrosas inflamatórias, metástases tumorais,


lipoma.

Dessa maneira, os lipomas são nódulos “macios”; os granulomas piogênicos são flácidos; os
fibromas são mais consistentes e o tórus tem consistência dura e similar ao osso.

7
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

Figura 4: Pápulas em mucosa jugal,


compatível com grânulos de Fordyce.
Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo.

Figura 5: Nódulo séssil gengiva vestibular


compatível com fibroma periférico de células
gigantes.
Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo.

A denominação tumor costuma ser utilizada para designar nódulos com diâmetro superior a 2
cm. Por outro lado, o termo tumefação caracteriza um acúmulo de água e eletrólitos no
interior das células ou do interstício, o que aumenta o volume e proporciona um aumento
volumétrico difuso de determinado tecido (face, palato, língua). Podem ter origem
inflamatória, infecciosa ou neoplásica.

Exemplos: Tumores odontogênicos (Figura 6), tumores malignos.

8
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

Figura 6: Tumefação/tumor que envolve terços


superior, médio e inferior da face. Ameloblastoma.
Fonte: Cedido pelo prof. Silvano Guzman.

ÚLCERA E ULCERAÇÃO
Definição: São lesões que causam a perda da continuidade do epitélio com exposição do
tecido conjuntivo subjacente. A denominação úlcera tem caráter crônico, pois as lesões
persistem há semanas ou meses (Figura 7).

Exemplos: úlceras decorrentes de tumores malignos, pênfigo vulgar, entre outras.

A ulceração tem caráter agudo e de curta duração.

Exemplos: ulceração aftosa recorrente ou afta vulgar (Figura 8), lesões traumáticas,
gengivoestomatite herpética primária, etc.

As úlceras podem assumir aspectos variados e são descritas como exulcerações quando
envolvem grandes regiões da mucosa. Podem ainda aparecer como fissuras quando
acometem as regiões de pregas e dobras na mucosa e pele.

ÚLCERA CRÔNICO

ULCERAÇÃO AGUDO

Figura 7: Úlcera em mucosa jugal esquerda


em um líquen plano erosivo ulcerado.
Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo.

9
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

Figura 8: Ulceração traumática em


mucosa labial.
a
Fonte: Arquivo Prof Melissa R. de Araujo.

VESÍCULA E BOLHA
Definição: São lesões caracterizadas por elevações circunscritas do epitélio contendo líquido em seu
interior. Seu revestimento pode ser fino ou espesso, conforme sua localização. Diferem-se no tamanho
e na quantidade de cavidades.

Vesículas possuem tamanho máximo de 3 mm e várias cavidades. Em geral, elas costumam ser
múltiplas.

Exemplos: Herpes recorrente (Figura 9), herpangina, herpes zoster, reações alérgicas, dermatoses.

Figura 9: Vesículas em lábio inferior em um


quadro de herpes labial recorrente.
Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo.

As vesículas que contém pus em seu interior são chamadas de pústulas. Exemplos: Varicela, varíola,
impetigo.

Bolhas são constituídas por apenas uma cavidade e com tamanho superior a 3 mm. As bolhas podem
ser múltiplas, mas frequentemente são mais espalhadas. Essas lesões raramente são encontradas
íntegras na boca devido aos traumas funcionais, sendo as subepiteliais as mais fáceis de serem
localizadas em sua plenitude.

Exemplos: Mucocele, pênfigo, penfigóide bolhoso e rânula (Figura 10).

10
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

Figura 10: Bolha em assoalho da boca,


diagnóstico clínico de rânula.
a
Fonte: Arquivo Prof Melissa R. de Araujo.

As lesões vésico-bolhosas podem se manifestar nas seguintes doenças:

Condições associadas ao
Doenças viróticas Lesões reacionais
sistema imunológico
•Infecções pelo vírus •Pênfigo vulgar. •Extravasamento de
causador do Herpes •Penfigóide cicatricial. muco.
Simples. •Penfigóide bolhoso. •Cisto de retenção de
•Infecções pelo vírus •Dermatite herpetiforme. muco.
causador da Varicela- •Cisto e pseudocisto de
Zoster. retenção do seio
•Sarampo. maxilar.

EROSÃO
Definição: É uma lesão caracterizada pela perda parcial do epitélio sem haver exposição do
tecido conjuntivo adjacente. Em alguns casos, ela pode estar associada a uma atrofia do
epitélio. Não é recoberta por camada de fibrina. O tecido de revestimento se torna fino, plano
e com aparência frágil.

Exemplos: Líquen plano, a glossite migratória benigna (Figura 11) ou língua geográfica.

Figura 11: Glossite migratória benigna.


Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo

11
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

Alterações morfológicas descritivas das lesões


Algumas denominações são utilizadas na descrição das lesões fundamentais cujos
aspectos são particulares e complementando-as.

VEGETAÇÃO
Definição: É uma lesão sólida caracterizada por crescimento exofítico constituído por vários
elementos agrupados, de forma e tamanho variados produzidos por fatores traumáticos,
tóxicos ou infecciosos.

As lesões podem ser apresentar agrupadas, salientes, cônicas, filiformes ou em couve flor.

Exemplo: Lesões bucais por tuberculose, paracoccidioidomicose (Figura 12), carcinoma


espinocelular.

Figura 12: Paracoccidiodomicose.


Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo .

FÍSTULA
Definição: São orifícios na superfície cutânea ou mucosa e representam o término de um
trajeto sinuoso que põem em contato com o exterior aos focos ou cavidades supurativas
internas; em fases crônicas, ela aparece como pequena pústula (Figura 13).

Figura 13: Fístula em região de mento


decorrente de infecção odontogênica de
dentes antero-inferiores.
Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo .

CROSTA
Definição: representa o ressecamento de exsudatos na superfície da pele ou semi-mucosa.

12
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

Não ocorre dentro da cavidade bucal devido à umidade presente. Aparecem apenas sobre
superfícies relativamente secas, como lábios e pele na evolução das lesões ulceradas. Podem
ser melicélicas quando resultam da dessecação de exsudato serofibrinoso, purulentas e
hemorrágicas. Tipos: serofibrinoso, purulenta e hemorrágicas (Figura 14).

Figura 14: Crosta em lábio inferior após a


aplicação de crioterapia para tratamento de
malformação vascular.
Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo

HIPERPLASIA
Definição: Crescimento tecidual de aspecto benigno. É caracterizado por um aumento de
volume difuso dos tecidos. É um termo microscópico que foi agregado à clínica. As hiperplasias
fibrosas inflamatórias se apresentam normalmente como nódulos (Figura 15).

Figura 15: Nódulo em rebordo alveolar inferior


associado à prótese total mal adaptada,
característico de hiperplasia fibrosa inflamatória.
Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo

ABSCESSO
Definição: É uma coleção purulenta flutuante de localização dermo-hipodérmica ou
subcutânea. Quando acompanhada dos sinais relacionados ao pus é denominado de abscesso
quente, quando não, abscesso frio. Os abscessos dentários sofrem drenagem espontânea
através da pele contígua e podem formar uma fístula cutânea (Figura 16).

13
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

Figura 16: Abcesso dento-alveolar agudo


envolvendo terço médio da face.
Fonte: Arquivo Profa Melissa R. de Araujo

14
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

A imagem abaixo mostra uma ilustração das principais lesões fundamentais e as características
empregadas na descrição.

Figura 17: Figura ilustrativa da OralDESC, comtemplando os aspectos das lesões fundamentais, tipo de
inserção e aspectos superficiais comuns em lesões bucais. Em amarelo o epitélio e em rosa o tecido
conjuntivo. Fonte: Meurer, Zimmermann e Grando (2015).

15
Semiologia Aplicada à Odontologia – UFPR

BIBLIOGRAFIA

Tommasi MHM. Diagnóstico em Patologia Bucal. 4ª Edição. Elsevier Editora Ltda.: Rio de
Janeiro, 2013. Capítulo 5 (173-192).

Armani ALC. Atlas de Patologia Oral 2ª Edição – Universidade Estadual de Londrina: Londrina.
2013.

Marcucci G. Fundamentos de Odontologia. Estomatologia. 2ª. Edição. Editora Santos: São


Paulo 2014.

Rugguero P, Rodrigues FNF, Ribeiro R, et al. Glossite Migratória Benigna. Science in Health
Online. 2016; 7(1):7-10.

Meurer MI, Zimmermann C, GRANDO LJ. Proposta de um roteiro de apoio à descrição de


lesões bucais como instrumentalização para comunicação profissional. Revista Abeno. 2015;
15(3):2-15.

16

Você também pode gostar