UNIPLENA - EDUCAçâO PRISIONAL

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UNIPLENA
Programa Especial de Formação Pedagógica R2
Conforme Resolução 01 de 01 de julho de 2015 CNE

MARCO AURÉLIO CIPRIANO – MG 5.165.643


DEBORA SALDANHA – MG 4.918.086
TELMA APARECIDA FERREIRA DOS SANTOS – MG 17.291.797
ELI CONSTANTINO DA COSTA – RG 09.582.684-8
RODIRGO FERNANDO MARÇAL – 8.266.274
KARLA CRISTINA BENTO MARIANO DE CAMPOS RG 42.079.509-1

A dignidade humana no sistema prisional

São Paulo – SP
2017
2

UNIPLENA
Programa Especial de Formação Pedagógica R2
Conforme Resolução 01 de 01 de julho de 2015 CNE

A dignidade humana no sistema prisional

Trabalho final apresentado à disciplina de Libras


como exigência parcial para a obtenção do curso
de Programa Especial de Formação pedagógica
R2 – Turma_____, sob a supervisão do Professor
Roberto de Souza.

Disciplina: Educação Prisional: Jovens em


Privação da Liberdade.

Pólo: São Paulo.

São Paulo – SP
2017

SUMÁRIO
3

1 Introdução...................................................................................................... 04

2 Fundamentação Teórica............................................................................... 06
2.1 Conceituando a dignidade humana......................................................... 06
2.2 Direito a uma vida digna no sistema prisional........................................ 09
2.3 Posicionamento da sociedade e do Estado frente à questão
prisional............................................................................................................ 12

3 Conclusão...................................................................................................... 14

Referências Bibliográficas.............................................................................. 16
4

1 Introdução

Os indivíduos que vivem na reclusão dos presídios possuem dificuldades


que não são imaginadas pelas pessoas que gozam a liberdade de poder ir e vir
de qualquer lugar. Salienta-se que, o quê leva um ser humano a ser privado de
sua liberdade, trata-se da prática de atos ilícitos que ferem os direitos
regulamentados pelas normas e leis que comandam a sociedade.
Apesar da necessidade da punição aos infratores da lei e da ordem de
segurança para os indivíduos que ultrapassam seus limites, vale ressaltar que, os
mesmos são acometidos por punições que não se restringem somente em
relação ao cumprimento da pena nos presídios, sofrem agressões por parte dos
próprios presos, ou mesmo pelos agentes penitenciários, que abusam do poder
para humilhar e constrangir os indivíduos condenados por suas ações Ilícitas.
Percebe-se que, a importância de ressaltar sobre a necessidade de
propiciar condições de acesso de inclusão dos ex-detentos, é justificada pela
busca da diminuição dos atos que infringem a lei e a ordem pública, evidenciando
que, grande parte dos infratores que após cumprirem sua pena volta a cometer
crimes é significativa, devido à escassez de oportunidade de se reintegrar à
sociedade.
O sistema prisional brasileiro apresenta questões em relação a sua forma
de cuidado aos detentos, demonstrando que a realidade a qual se encontram não
contribui para a melhoria dos seres humanos, a ausência de ações que propiciem
a evolução dos indivíduos que cometem delitos, que são julgados e punidos,
favorece o surgimento do quadro atual do sistema prisional, o qual não contribui
para a evolução do indivíduo, mas para a sua revolta, devido à falta de condições
de dignidade para sobreviverem enquanto cumprem o período de reclusão.
Convive-se cada vez mais, com a elevada taxa de criminalidade, o que
resulta na superlotação dos presídios, contribuindo para a revolta dos detentos
que acabam sendo pressionados e nutrem como consequência, o sentimento de
revolta.
Dentro deste contexto, surge a seguinte indagação: Como se apresenta o
sistema prisional brasileiro, frente à dignidade humana?
5

O objetivo geral que embasou o estudo proposto busca analisar a


dignidade humana no sistema prisional brasileiro evidenciando os jovens que
buscam a sua reinserção na sociedade.
Os objetivos específicos configuram em apresentar conceituar dignidade
humana; analisar a lei da execução criminal frente às garantias constitucionais;
analisar o direito a uma vida digna no sistema prisional; e, demonstrar o
posicionamento da sociedade e do Estado frente à questão prisional.
A justificativa para o desenvolvimento da reflexão proposta permeia a
busca da compreensão da importância da dignidade humana para todo e
qualquer indivíduo, ressaltando que, em relação aos detentos, a dignidade
humana se apresenta cada vez mais esquecida, principalmente pelas condições
apresentadas de superlotação, falta de atendimento eficiente, falta de medidas e
ações que propiciem os detentos a sua reintegração na sociedade, objetivando
eliminar as prerrogativas que os levaram a cometer delitos, evitando dessa
maneira, que os mesmos, quando libertos, retornem ao caminho da ilegalidade.
Este estudo possui o cunho exploratório qualitativo, pois foi realizado em
área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Por sua
natureza de sondagem, não comporta hipóteses que, todavia, poderão surgir
durante ou ao final da pesquisa.
Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados, artigos
acadêmicos, dissertações, livros, além de sites como o Google, para que se
pudesse estabelecer uma linha de estudos baseada nas ponderações de
diferentes autores.
6

2 Fundamentação Teórica

2.1 Conceituando a dignidade humana

A dignidade humana é um fator que permite a adoção de posturas corretas


dos indivíduos, buscando através de sua concepção evidenciar as características
positivas como sendo fatores essenciais para a conduta dos cidadãos.
Faz-se necessário salientar que a dignidade humana apresenta-se cada
vez mais fragilizada se analisada do ponto de vista social, inúmeros detentos que
se encontram atualmente nos presídios, demonstram que os motivos que os
levaram ao cometimento de crimes e delitos, estão ligados a falta de
oportunidade, onde para a sua sobrevivência, atuam na ilegalidade de maneira a
não “perder” o pouco de dignidade de vida que possuem.

O conceito de pessoa, como categoria espiritual, como subjetividade,


que possui valor em si mesmo, como ser de fins absolutos, e que, em
consequência, é possuidor de direitos subjetivos ou direitos
fundamentais e possui dignidade, surge com o Cristianismo, com a
chamada filosofia patrística, sendo depois desenvolvida pelos
escolásticos (SANTOS, 2001, p.02).

Os direitos subjetivos e absolutos se apresentam ligados ao próprio


desenvolvimento da espécie humana, a qual, para conviver em sociedade, criou-
se regras, direitos e deveres que limitam a ação dos indivíduos, buscando o
respeito a sua autoridade como ser absoluto, enfatizando que a dignidade
humana, permeia a valorização do ser humano como um ser capaz de
transformar, criticar e contribuir para a evolução da espécie através de seus
pensamentos e ações.
A proclamação do valor distinto da pessoa humana terá como
consequência lógica a afirmação de direitos específicos de cada homem, o
reconhecimento de que, na vida social, ele, homem, não se confunde com a vida
do Estado, além de provocar um "deslocamento do Direito do plano do Estado
para o plano do indivíduo, em busca do necessário equilíbrio entre a liberdade e a
autoridade” (REALE, 1996, p.04).
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Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e


distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste
sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que
assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho
degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e
promover sua participação ativa corresponsável nos destinos da própria
existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos
(GUERRA e EMERIQUE, 2006, p. 382).

Vale ressaltar que, a dignidade da pessoa humana, passou a ser


reconhecida como sendo um conceito universal, através da Declaração Universal
dos Direitos do Homem, a qual evidenciou que os seres humanos nascem livres e
iguais em se tratando de dignidade e direitos, além de serem dotados de razão e
consciência, capaz, para tanto, de discernir suas ações, de maneira individual ou
coletiva, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade na qual se encontra
inserido.
A importância de refletir sobre a dignidade humana permeia a análise de
seus direitos e deveres, bem como dos princípios essenciais para a garantia de
sua sobrevivência, frente ao desafio de buscar, condições de se manter dentro da
legalidade, sem lesar o próximo.

Para Kant, pois, a razão prática possui primazia sobre a razão teórica. A
moralidade significa a libertação do homem, e o constitui como ser livre.
Pertencemos, assim, pela práxis, ao reino dos fins, que faz da pessoa
um ser de dignidade própria, em que tudo o mais tem significação
relativa. "Só o homem não existe em função de outro e por isso pode
levantar a pretensão de ser respeitado como algo que tem sentido em si
mesmo" (OLIVEIRA, 1992, p. 23).

Para Kant, pois, o homem é um fim em si mesmo e, por isso, tem valor
absoluto, não podendo, por conseguinte, ser usado como instrumento para algo,
e, justamente por isso tem dignidade, é pessoa.
A dignidade humana permeia a concepção de que, cada indivíduo é único,
com suas características e pensamentos próprios, não podendo este ser
governado pelo coletivo de ideias e regras, mas sim, observados e analisados,
mediante as suas características particulares, as quais são responsáveis pela
formação do seu caráter, da sua personalidade e que evidenciam a sua dignidade
humana, por fazer de cada um, a diferença que move o coletivo da sociedade.
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Respeitar a dignidade do ser humano é tarefa obrigatória do Direito,


principalmente que cabe ao sistema judiciário, fazer garantir o respeito e a
preservação deste princípio a todo cidadão, independente de qualquer fator que
possa resultar a sua conduta, seja o mesmo sob liberdade ou detido nas cadeias
e presídios do país.
Mesmo o ser humano infrator, necessita ter os seus direitos absolutos e
subjetivos garantidos, ao contrário do que é colocado pela sociedade, a qual
repugna os infratores, os mesmos possuem dentro de seus direitos, a capacidade
de regeneração, no que tange a possibilidade de mudança de vida e pensamento
frente às ações que lhes são apresentadas.
Porém, há de se convir que, a detenção pura e simples, não acarreta
vantagens para os indivíduos infratores, ao contrário, estimula a revolta e falta de
perspectiva de melhoria de sua condição, principalmente devido ao descaso
apresentado pela justiça e pela sociedade, em referência a sua reinserção social.
A necessidade de explanar sobre os princípios da dignidade humana,
permite com que seja considerado o ser humano, como um ser capaz de
desenvolver e contribuir de maneira significativa para o crescimento da
sociedade.
O Estado Democrático de Direito possui dupla responsabilidade, a
primeira é a de cumprir a lei, a segunda é assegurar os direitos e
garantias fundamentais, pois a partir do momento em que os consagra
como valores primordiais, o Estado torna-se o maior responsável pela
concretização desses direitos, portanto, não basta apenas existirem leis,
mas sim, ordenações estatais que se direcionem para a efetividade das
necessidades sociais (JACOBI e BIACHI, 2010, p.17).

De acordo com as autoras supracitadas, é preciso ter a consciência, de


que não é suficiente os Direitos e Garantias Fundamentais estarem assegurados
nos mandamentos legais para transformar um Estado em Estado Democrático de
Direito, pois, para isso, é preciso uma eterna busca da viabilização concreta
desses direitos, ou seja, todas as funções do Estado, encarado nos seus três
poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, e o ordenamento jurídico devem estar
submetidos aos princípios fundamentais, e em especial , ao princípio da dignidade
da pessoa humana.
A criação de leis que possuem como objetivo retirar os infratores do
convívio social, não são suficientes para a transformação dos mesmos em
cidadãos. a situação apresentada atualmente, reflete que o Estado vem
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equivocando-se em suas medidas, uma vez que, devido a burocracia lenta, vários
detentos se encontram a espera de julgamentos, de liberdades que ainda não
foram concedidas, impedindo que o mesmo possa voltar ao convívio social.
No entanto, mesmo havendo a intenção do Estado em possibilitar à
reintegração dos detentos a sociedade, pouco se tem feito para reintegração dos
mesmos. Percebe-se que, nos presídios, as condições de sobrevivência,
permeiam a lei do mais forte, não havendo controle da formação de facções, de
comandos internos que oprimem os detentos e que não conseguem ser
exterminadas pela justiça.
Dessa maneira, percebe-se que, os presídios se tornaram um “caldeirão”
de emoções, o qual pode explodir a qualquer instante, principalmente pela falta de
perspectiva dos detentos em relação ao seu crescimento, bem como devido as
condições de sobrevivência na qual se mantêm vivos, demonstrando que, a
questão da dignidade humana, se apresenta quase que extinta, sem perspectiva
por parte dos milhares de infratores que não encontram dentro destes locais,
formas de manter a sua dignidade enquanto seres humanos, vivendo isolados,
coagidos e temendo a violência cada vez maior dos demais detentos, que mesmo
encarcerados exercem domínio sobre os demais.

2.2 Direito a uma vida digna no sistema prisional

O sistema prisional brasileiro apresenta-se sobrecarregado, a falta de


estrutura, de recursos para a manutenção dos presídios, o acúmulo de detentos
nas prisões, tem sido constado diariamente, o que causa indignação nos
indivíduos que necessitam cumprir as punições estabelecidas pelo Tribunal de
Justiça.
As reivindicações dos presos são na maioria das vezes, ignoradas pelas
autoridades administrativas e judiciárias, sob a alegação de necessidade
de manutenção da ordem, esta representada pelos signos da disciplina e
segurança. Com isso, o que se vê, na prática, é o completo descaso pela
situação carcerária brasileira. Após o trânsito em julgado da sentença
condenatória, resta ao réu expiar sua culpa, e ao fazê-lo, o faz sob
condições desprovidas de humanidade (PRADO, 2007 p. 408).

A superlotação dos presídios, bem como das cadeias públicas dos


municípios e capitais, vem sendo analisadas de maneira preocupante por
sociólogos e psicólogos. Organizações defendem os direitos universais dos seres
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humanos. É notório que os infratores da lei necessitam ser punidos, mas não
enjaulados de forma a favorecer a revolta dos mesmos, uma vez que, a situação
instalada no sistema prisional atual, identifica a precariedade do Estado e da
própria justiça em punir e ao mesmo tempo, garantir de maneira justa, condições
de cumprimento da punição estabelecida com dignidade.
As organizações das Nações Unidas – ONU destacou que o Brasil, em
relação ao tratamento destinado aos detentos, é um dos piores países no que
tange a condição de sobrevivência digna nos presídios. Convive-se com a
realidade de superlotação, de formação de quadrilhas, comandos que mesmo
tendo os seus líderes encarcerados, conseguem agir amedrontando a sociedade.

A verdade é que as condições humilhantes denunciam a existência de


uma “crueldade oficializada” nos presídios e, em decorrência disso, a
própria Organização das Nações Unidas reconheceu que o Brasil é um
dos maiores violadores dos Direitos Humanos. O mesmo órgão
recomenda que seja preservado o direito ao voto, mas isso é negado aos
presos. Levando-se em consideração a importância que é dada pela
nossa Constituição ao direito do voto, tornando a pessoa cidadã, resta
óbvio que tal proibição é uma grande afronta à dignidade do condenado,
a qual tora um apátrida (KIRST, 2008, p.02).

O problema é que a violência é também gritante e preocupante dentro dos


presídios, a preocupação com a falta de recursos, visando à possibilidade de
garantir o mínimo de dignidade aos detentos, vem afastando até mesmo os
profissionais que atuam como agentes carcerários, em decorrência da
possibilidade de revoltas e motins por parte dos detentos, buscando através de
suas ações violentas, demonstrar a falta de condição de vida estabelecida nos
presídios.
Enquanto não houver por parte do Estado, uma reformulação no sistema
prisional, a dificuldade de recuperação dos detentos será cada vez maior, faz-se
pelo motivo de não haver perspectivas que desenvolvam a promoção de
melhorias em sua condição social, como capacitação dos mesmos para o
trabalho, novas oportunidades de crescimento intelectual e cultural, e,
principalmente, a busca pelo reconhecimento dos detentos como seres humanos,
e não apenas como presidiários que necessitam ficar encarcerados para que
dessa forma, parem de amedrontar a sociedade.
Privar alguém de sua liberdade não é coisa à toa. O simples fato de estar
enclausurado, de não poder mais ir e vir ao ar livre ou onde bem lhe
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aprouver, de não poder mais encontrar quem deseja ver – isto já não é
um mal bastante significativo? O encarceramento é isso. Mas, é também,
um castigo corporal. Fala-se que os castigos corporais foram abolidos,
mas não é verdade. [...] a privação de ar, de sol, de luz, de espaço; o
confinamento entre quatro paredes; o passeio entre grades; a própria
promiscuidade com companheiros não desejados em condições
sanitárias humilhantes; o odor, a cor da prisão, as refeições sempre frias
onde predominam as féculas – não é por acaso que as cáries dentárias e
os problemas digestivos se sucedem entre os presos! Estas são
provações físicas que agridem o corpo, que deterioram lentamente
(HULSMAN & CELIS, 1993, p. 61).

A prisão, nas atuais condições, fere o indivíduo na sua autoestima sob


todos os aspectos, eis que o obriga a viver em condições deficientes como a
superpopulação, alimentação insuficiente, falta de higiene e assistência sanitária,
dentre tantas outras situações degradantes e inaceitáveis sob uma ótica
humanista.
Esse quadro apresentado em relação às condições de sobrevivência dos
indivíduos nos presídios vem contribuindo cada vez mais, para o surgimento de
novas agressões e revoltas, identificando a situação de que, os detentos não
estão sendo tratados com respeito a sua dignidade enquanto seres humanos,
mas sim, são amontoados em celas, as quais não promovem o mínimo de
dignidade no que tange as condições básicas de desenvolvimento humano.
Ângelo Roncalli de Ramos Barros, citado por Marques Júnior, constata com
acerto que:
As prisões, atualmente, não recuperam. Sua situação é tão degradante
que são rotuladas com expressões como sucursais do inferno,
universidades do crime e depósitos de seres humanos. O
encarceramento puro e simples não apresenta condições para a
harmônica integração social do condenado, como preconizada na Lei de
Execução Penal. Punir, encarcerar e vigiar não bastam. É necessário
que se conceda à pessoa de quem o Estado e a sociedade retiram o
direito à liberdade o acesso a meios e formas de sobrevivência que lhe
proporcionem as condições de que precisa para reabilitar-se moral e
socialmente (MARQUES JÚNIOR, 2005, p. 04).
Na realidade, o que se faz necessário, é a reformulação do sistema
prisional, buscando recursos financeiros e físicos para o atendimento das
necessidades dos indivíduos que se encontram em cumprimento de pena.
Percebe-se que, os presidiários se apresentam sem garantia de dignidade, fato
este, que alimenta a revolta e a insatisfação dos mesmos frente à impossibilidade
de serem ouvidos e atendidos em seus direitos básicos.
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Infelizmente, a sociedade é preconceituosa em relação aos detentos, os


conceitos de julgamentos em relação à índole dos presidiários são negativos, o
que estimula a incompreensão de que, àquele cidadão que infringiu a lei, após o
cumprimento de sua punição, necessita de uma oportunidade para se reinserir na
sociedade.
Tais oportunidades de reinserção necessitam ser criadas e efetivadas
dentro do âmbito jurídico e legislativo, enfatizando que, a punição necessita ser
vista como um ato de fazer com que o indivíduo perceba que devido aos seus
atos, o mesmo não pôde permanecer em meio a sociedade.
Esta situação não é compreendida no atual sistema, o qual, apenas se
preocupa em retirar o infrator da sociedade, puni-lo severamente, através do rigor
da lei, mas sem se preocupar com o seu futuro, com as suas possibilidades de
inserção, as quais são essenciais para que realmente ocorra a sua reintegração à
sociedade.

2.3 Posicionamento da sociedade e do Estado frente à questão prisional

O que se sabe é que nem a Constituição Federal, e muito menos a boa


vontade do legislador, esta demonstrada claramente em muitos artigos da Lei de
Execução Penal, conseguem salvar os detentos de uma vida de aflição e
estigmatização. Em verdade, ainda que a norma tenha pretendido tutelar os
direitos dos encarcerados, a má vontade do Estado, os parcos investimentos no
sistema penitenciário não oferecem condições mínimas de sobrevivência.
Na realidade, nas últimas décadas, criou-se uma tendência à
hipercriminalização, esta visível nas políticas de lei e ordem e de tolerância zero,
voltadas à máxima repressão dos delitos violentos e desvios de conduta. Em cima
de campanhas sensacionalistas da mídia relacionadas à violência, os poderes
públicos recorrem às questões de caráter meramente simbólicos. (FREIRE, 2005,
p. 120).
A grande divulgação de imagens de barbárie e terror leva à implementação
de violentas políticas de controle social, sendo que o medo legitima as medidas
excessivamente punitivas. Em decorrência da insegurança, as críticas ao sistema
punitivo são poupadas e inúmeros direitos fundamentais são violados,
13

priorizando-se as pautas moralizadoras, tão somente. Nesse sentido, a


observação de Carvalho:

Qualquer ser humano inadequado à moral punitiva ou à estética


criminológica passa a ser percebido como objeto a ser eliminado, como
inimigo. E para estes seres objetificados pelo estigma periculosita, os
direitos humanos não podem e não devem ser garantidos (CARVALHO,
2008, p. 123)

No entanto, faz-se importante salientar que, a necessidade de garantir


direito à dignidade dos indivíduos é de grande relevância, principalmente pelo fato
de que, todo e qualquer indivíduo, por pior que tenha sido o crime cometido,
necessita de condições para poder cumprir a sua pena, de maneira a não mais
dever à sociedade e nem ao sistema jurídico, pela falha cometida.
No entanto, verifica-se que, o sistema prisional não atende de maneira
eficaz os detentos, sendo visto mais como um local de horror, do que um centro
para a recuperação de infratores da lei. Os indivíduos que são colocados nesta
posição, sofrem grandes retaliações, tanto pela sociedade, quanto pela própria
justiça, no que tange as formas de atendimento a estes indivíduos.

[...] o sistema prisional é um espetáculo de horrores, que não choca a


opinião pública e não comove os governantes, porque exatamente isso o
que se espera dele: a expiação da culpa, o sofrimento, a punição do
corpo e da alma dos depositários das nossas mazelas sociais
(AZEVEDO, 2006, p.12)

Presos e encarcerados tornam-se fenômenos que representam uma


ameaça profunda à sociedade normatizada e, assim, as atitudes desta, frente ao
problema prisional, revelam o desejo de que sejam totalmente excluídos deste
mundo. Mafessoli, citado por Miriam Guindani, esclarece que "a sociedade
agredida, ameaçada e aterrorizada vive fantasias de ódio, vingança e terror sobre
o tema prisão, ocorrendo assim uma fusão entre agressor e agredidos, violados e
violentos (GUINDANI, 2007, p. 185).

3 Conclusão
14

Após o estudo realizado sobre a dignidade humana no sistema prisional,


concluiu-se que, a importância de estabelecer os direitos dos indivíduos, trata-se
de uma das questões fundamentais para que a dignidade humana possa ser
ressaltada como sendo um dos pilares que permite a convivência entre os
indivíduos em meio à sociedade.
Ressaltou-se durante o estudo propostos que, a dignidade humana é
constituída pela racionalidade, que é responsável pela diferenciação entre os
indivíduos, ressaltando que, o ser humano, existe a partir do momento que o
mesmo pensa através de suas próprias reflexões, contribuindo dessa maneira, de
forma ativa para o desenvolvimento social.
No entanto, o objetivo do estudo buscou refletir sobre a dignidade humana
no sistema prisional, a qual se apresenta cada vez mais impossibilitada de ser
exercida pelos detentos, que convivem encarcerados de maneira a prevalecer
apenas a sua retirada do convívio social, não apresentando aos mesmos, formas
de aprimorar ou mesmo desenvolver suas habilidades, capacidades e
potencialidades, necessárias para que os mesmos, após o cumprimento da
punição legal, serem reinseridos na sociedade.
Tanto o Estado, quanto a Lei da Execução Criminal, encontra-se falhos no
que tange a preservação da dignidade humana, uma vez que, não basta apenas
impedir o convívio dos infratores, mas a função de retirada dos mesmos da
sociedade permeia algo mais complexo, ou seja, a sua reabilitação para o
desenvolvimento de sua dignidade enquanto cidadão.
A maioria dos detentos, que praticaram delitos e infrações, justifica ser a
forma encontrada para a sua sobrevivência, para a mantença de sua dignidade
enquanto cidadãos. Mesmo este aspecto não sendo aceitável, percebe-se que a
falta de estrutura do país, estimula o crescimento do mundo da criminalidade, o
que também reflete na superlotação dos presídios e cadeias, que se tornaram um
imenso local de infratores retirados sem nenhuma perspectiva de reinserção da
sociedade.
O direito a uma vida digna é fator fundamental a todo indivíduo, e cabe ao
Estado e a justiça zelar para a defesa deste direito. Para tanto, faz-se necessário
comentar que, a partir da adoção de novas estratégias que visem o
desenvolvimento das capacidades dos detentos, haverá também o resgate de sua
15

dignidade, impedindo que o comum que se vivencia atualmente, que se trata da


falta de dignidade apresentada nos presídios, seja exterminada, tanto para o bem
da sociedade em si, quanto para os detentos que são cidadãos, que após
cumprirem sua punição judicial, necessitam ser respeitados por todos.

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