Guia Rápido de Interpretação de Amostra de Solo

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EBOOK

GUIA RÁPIDO DE
INTERPRETAÇÃO DE
ANÁLISE QUÍMICA
DO SOLO

Autores∕organizadores:

Jose Braz Matiello


Viviane Maria Ruela
1 INTRODUÇÃO
A agricultura moderna, competitiva, deve usar adequadamente os
fatores de produção – a terra, o capital e o trabalho, otimizados pela boa
administração.
A terra, onde se destaca o solo, constitui o reservatório onde as
plantas crescem e produzem, para isso usando os nutrientes, nele
disponíveis ou adicionados pelas adubações. Assim, o conhecimento
das características do solo é essencial para o manejo dos cultivos. Não
se pode deixar de considerar, também, o ambiente climático,
contribuindo com a água, a temperatura e outros aspectos, que
interagem no desenvolvimento das plantas.
A análise química é a ferramenta mais usada para avaliar as
características do solo, visando racionalizar as adubações, evitando
faltas, excessos ou desequilíbrios, buscando maior eficiência,
nutricional e econômica. Ela é realizada em Laboratórios
especializados, que fornecem os resultados obtidos nas amostras,
remetidas pelos produtores e técnicos.
Uma vez de posse dos dados fornecidos pelos Laboratórios, é
necessária a interpretação desses dados pelo interessado. Para isso
precisa de informações para o entendimento sobre cada parâmetro
avaliado e sua disponibilidade, diante dos padrões de suficiência
determinados pela pesquisa.
Esta publicação, de forma resumida, reúne informações úteis para uma
melhor interpretação das diferentes características químicas do solo,
destinando-se, especialmente, aos Técnicos de campo, visando uma
boa orientação aos produtores.
2 Amostragem de solo de
forma correta
2.1 - Dividir a área a ser amostrada em talhões homogêneos.

2.2 - Escolher o equipamento de retirada das amostras de solo -


importante utilizar o mesmo durante toda a amostragem, importante
que o volume de cada amostra simples seja sempre o mesmo.
2.3 - Escolher a profundidade desejada na amostragem, as mais
comuns são de 0-20 e de 20-40 cm.

Amostragem de 0 a 20 cm
e de 20 a 40 cm.
2.4 Coletar o maior número de amostras simples possíveis: mínimo de
20 amostras simples.
2.5 Não raspar o solo, apenas retirar material vegetal, evitar coleta
próximo a formigueiros, cupinzeiros, áreas queimadas, bebedouros ou
cochos de animais.
2.6 As amostras devem ser retiradas no local onde se faz a aplicação dos
adubos.
3 Exemplo de uma análise de solo
Unidades usadas

Nos resultados da análise de solo é utilizado o Sistema Internacional


de Unidades. Na Tabela 1, são apresentados os fatores de conversão
para casos em que, o Sistema Internacional Unidades ainda não tenha
sido implantado no laboratório onde foram feitas as análises.
Os resultados de análise química de 2 amostras de solo, incluídos no
Boletim emitido por Laboratório especializado, pode servir de exemplo
da forma usual de informação dos dados analisados, conforme pode ser
observado no Boletim em seguida.

Exemplo de Boletim de
resultados de análise
química do solo.
Tabela 1 - Análise de solo e fatores de conversão.

Fonte: Guia pratico de interpretação de análises de solo, Embrapa 2015

4 pH - Como interpretar

O pH é uma característica importante da solução do solo, mede a


acidez ativa, que é diretamente a atividade de H+ presente na solução do
solo. Geralmente, varia ao longo do tempo, pois de acordo com o manejo
de adubação, com as culturas inseridas no sistema e outros fatores, seu
valor é alterado. De forma prática, as plantas, ao absorverem nutrientes
de carga positiva (K+, Mg++, Ca++ etc.), liberam H+ das raízes para a
solução do solo, o que reduz o pH. Também ocorre liberação de H+ no
solo, na reação dos fertilizantes nitrogenados com o solo,
especificamente na nitrificação (passagem de amônio para nitrato).
Além desses, outros fatores contribuem para o aumento da acidez do
solo, como a precipitação pluviométrica, irrigações etc.
Na análise do solo, o pH é determinado agitando-se 10 cm3 de solo
com 25 mL de água (relação 1:2,5), realizando-se a leitura em
potenciômetro. Em alguns estados do Brasil, como São Paulo, o pH é
determinado em solução de CaCl2 (0,01 mol/L), que tem por objetivo
reduzir a influência de sais sobre a leitura do pH
O pH, além de expressar a acidez, fornece um indicativo da fertilidade
do solo, pois tem correlação com a maior ou menor presença do
alumínio, com a saturação de bases, com a disponibilidade de nutrientes
e com a atividade de micro-organismos no solo, conforme pode-se
observar na tabela 2.

Tabela 2. Prováveis características do solo em função do pH em água


pH Prováveis características do solo

Elevados teores de Al 3+ (tóxico)


Baixos teores de Ca 2+ e Mg2+
Baixa saturação por bases (V)
Boa disponibilidade de Zn, Cu, Fe, Mn
< 5,5 Baixa disponibilidade de B, Mo e Cl
Deficiência de P (formação de precipitados P-Al, P-Fe e P-
Mn e elevada adsorção nos coloides)
Menor perda de N por volatilização de NH3
Baixa atividade de micro-organismos

Ausência de Al 3+ (tóxico)
Boa disponibilidade de B
5,5 a 6,5
Disponibilidade intermediária dos demais micronutrientes
pH ideal para a maioria das culturas

Ausência de Al 3+ (tóxico)
Elevados teores de Ca e Mg
Elevada saturação por bases (V)
Baixa disponibilidade de Zn, Cu, Fe, Mn
> 6,5
Boa disponibilidade de B até pH 7,5
Alta disponibilidade de Mo e Cl
Aumento das perdas de N por volatilização de NH3
Alta atividade de micro-organismos

A alteração da disponibilidade de alumínio e dos macro e


micronutrientes em função do pH do solo é apresentada na Figura 1.
A variação de pH influencia na disponibilidade dos macro e
micronutrientes do solo, como pode ser observado na figura 1.
Com aumento do pH para uma faixa ótima, que fica entre 6,0 e 6,5,
melhora a disponibilidade de todos os macro-nutientes, fica reduzida ou
eliminada a presença de alumínio tóxico (Al+++) e reduz, apenas
ligeiramente, a disponibilidade de micro-nutrientes, à exceção do
molibdênio e cloro. Em solos com pH muito baixo ocorre o contrário e,
quando superior a 6,5 há redução acentuada na disponibilidade dos
micronutrientes Zn, Cu, Fe e Mn. Por essas razões, o pH do solo
considerado adequado, para o crescimento e desenvolvimento das
plantas, situa-se entre 6,0 e 6,5.

Figura 1
Disponibilidade de macro
e micro nutrientes no
solo em função do pH

Na tabela 3 podem ser observados os critérios para enquadrar os solos


conforme sua classe de acidez, pelo pH.
Tabela 3 - Classes de interpretação de acidez ativa do solo(pH)
5 Alumínio (Al+++)

Os resultados da análise do solo indicam o teor de alumínio na forma


iônica Al+++ (também denominada acidez trocável) que é a forma tóxica
às plantas. Todos os solos contem alumínio em diversas formas ou
compostos, sendo praticamente constante seu teor. O que muda são as
formas em que o alumínio se encontra.

Acidez trocável ou alumínio trocável

• A acidez trocável é representada pelo alumínio (Al+++).


• A presença de alumínio no solo pode inibir o crescimento radicular e
influenciar na disponibilidade de outros nutrientes e processos como a
mineralização da matéria orgânica.
• A correção do solo com calcário eleva o pH e insolubiliza o Al3+
tornando o mesmo não prejudicial para as raízes e processos do solo.
• Algumas culturas são mais sensíveis ao Al3+ do que outras.

Na tabela 4 podem ser observados os padrões de interpretação para


o alumínio.

Tabela 4 - Classes de interpretação para o teor de alumínio trocável


(Al+++)
6 H+Al

Também denominada “acidez potencial” ou “acidez total”. É composta


pela acidez trocável e não trocável, sendo representada pelo H+Al.

• Pode ser obtida diretamente através do método do acetato de cálcio a pH 7.


• Também pode ser obtida indiretamente com base no pH de uma
solução tamponada SMP adicionada ao solo.
• O método baseia-se na relação existente entre o pH de uma solução
tamponada adicionada ao solo e o teor de H+Al.
• A relação é dependente de atributos físicos, químicos e
mineralógicos do solo.
• É necessária a calibração dessa relação para os solos da região de
influência do laboratório.
• Quanto mais baixo o pH SMP mais alto o H+Al. A acidez total é utilizada
para o cálculo da capacidade de troca catiônica e da saturação por bases.
As classes de interpretação para a acidez potencial (H+Al) estimadas
pela correlação com o pH são apresentadas na tabela 5.

Tabela 5 – Classes de interpretação para a acidez potencial (H + Al)


7 Soma de bases

Representada pelas letras SB, é a soma das bases presentes no solo,


ou seja: dos elementos K+, Na+ Ca2+ e Mg2+. Para o calculo da soma de
bases (SB), todos os elementos devem estar expressos na mesma
unidade (cmolc/dm3). Como o teor de K+ é expresso em mg/dm3, é
necessária à sua transformação. Para isso, divide-se o teor de K+ por
39,1 (massa atômica do K), obtendo-se assim o seu teor em mmolc/dm3,
utilizando a análise de solo de referencia, 73/39,1 = 1,87 mmolc/dm3. Para
converter mmolc/cm3 em cmolc/dm3 divide-se por 10. O que equivale a
0,187 cmolc/dm3. Portanto, para simplificar o calculo, e utilizado o fator
de transformação 391, isto é, se for dividido o teor de K+ em mg/dm3 por
391 (K/391) será obtido o resultado em cmolc/dm3 (73 mg/dm3 de K ÷ 391
= 0,187 cmolc/dm3 de K).
O teor de Sódio (Na) na análise, assim como o K, também é expresso
em mg/dm3. Para a sua transformação para cmolc/dm3 o teor de Na
deve ser dividido por 23 (massa atômica do Na), chegando-se ao seu
teor em mmolc/dm3, ou seja, 15/23 = 0,65 mmolc/dm3. Para converter
mmolc/cm3 em cmolc/dm3 divide-se por 10, resultando em 0,065
cmolc/dm3. Para simplificar utiliza-se o fator 230, dividindo-se o teor de
Na em mg/dm3 por 230 (Na/230) tendo-se o resultado em cmolc/dm3 (15
mg/dm3 de Na ÷ 230 = 0,065 cmolc/dm3 de Na). Ressalta-se a pouca
contribuição do sódio na soma de bases do solo, isto em solos não
salinos. Os teores de Ca2+ e Mg2+ na análise frequentemente já são
expressos em cmolc/dm3.
No exemplo da figura 2 pode-se ver como, a partir dos dados da
análise química do solo chega-se à SB. No entanto, o próprio boletim de
análise já traz esse cálculo.
Figura 2 – Exemplo de cálculo da soma de bases (SB) em amostra de solo

Amostra 01
SB = Ca²++ Mg²+ + K + (Na+)

SB = 67 + 26 + 4,6 + 1,7

SB = 99,3 mmolc.dc - ³
ou
SB = 9,93 cmolc .dm - ³

Na tabela 6 podem ser observadas as classes para interpretar os


níveis da soma de bases no solo.
Tabela 6 – Classes de interpretação de análise de solo, para a soma de
bases (SB)

...conclusão
Teor de P no solo
Disponibilidade de P para as culturas
mg/dm3
Satisfaz a demanda de grande parte das culturas perenes,
10 - 20 mas ainda é limitante para a maioria das culturas anuais
e hortaliças.
8 Saturação por bases (V)

O V% indica a porcentagem do total de cargas negativas ocupadas


por bases (K+ + Na+ + Ca2+ + Mg2+). Ela é calculada pela divisão da soma
de bases (SB) pela CTC do solo, multiplicado por 100.

V= SB x 100
---------------
T ou CTC

A unidade utilizada para expressar a saturação por bases é a


porcentagem (%), sendo aceita pelo Sistema Internacional de Unidades
por se tratar de um índice calculado e não concentração ou teores. Com
a calagem, busca-se elevar a saturação por bases do solo a valores
adequados `a exigência da cultura, o que, geralmente, varia de 50 a 80%.
Ao se elevar a saturação por bases do solo, com a calagem, ocorre
uma redução proporcional do H+Al, reduzindo-se a acidez do solo.
Na figura 3 pode-se ver como é feito o cálculo do V%, o qual já vem,
também, calculado e colocado no próprio boletim de análise.
Figura 3 - Exemplo de cálculo da saturação de bases (V) em amostras
de solo

Amostra 02
V% = 100 X SB
T
T = SB + (H+ + AL3+)
SB = 79,2 mmolc.dc-3
T = 135,4
V% 100 X 79,2
135,4
V% = 58,49

Na tabela 7 podem ser observadas as classes usadas para a


avaliação da saturação de bases no solo (V%)
Tabela 7 - Classes de interpretação para a saturação de bases(V%) no
solo

9 CTC Total

A capacidade de troca de cátions do solo (CTC) também pode ser


expressa pela letra T. Ela indica a quantidade total de cargas negativas
que o solo poderia apresentar se o seu pH fosse 7. Essas cargas podem
adsorver (reter) os nutrientes de carga positiva (K+, Ca2+ e Mg2+),
adicionados ao solo via calagem ou adubações, e outros elementos
como Al3+, H+, Na+ etc.

T = K+ + Na+ + Ca2+ + Mg2+ + (H+Al) ou T ou CTC = SB + (H+Al)

Para o calcular a CTC é necessário que os elementos estejam


expressos na mesma unidade (cmolc/dm3). Assim, os teores de K e Na
(expressos em mg/dm3) tem que ser transformados para cmolc/dm3,
conforme já descrito anteriormente.
Na figura 4 pode-se observar como é feito o cálculo da CTC,
ressaltando que este número já vem calculado no Boletim de resultados
que chegam do Laboratório.
Figura 4 - Exemplo de cálculo da CTC (T) em amostras de solo

Amostra 02
T = SB + (H+ + AI³+)
SB = Ca²+ + Mg²+ + K+ + (Na+)
SB = 50 + 24 + 4,1 + 1,1
SB = 79,2 mmolc.dc-3
T = 79,2 + (50,2 + 6)
T = 135,4 mmolc.dc-3

Na tabela 8 podem ser observadas as classes usadas para a


avaliação da CTC do solo.

Tabela 8 - Classes de interpretação para a CTC total(T) no solo


10 CTC Efetiva

Indicada pela letra t, é a quantidade de cargas negativas ocupadas


com os cátions trocáveis; porém, neste caso não se considera o H+.
t = K+ + Na+ + Ca2+ + Mg2+ + Al3+ ou t = SB + Al3

Tabela 9 - Classes de interpretação para a CTC efetiva (t)

A diferença básica entre a CTC efetiva (t) e a CTC a pH 7,0 (T) é que esta última
inclui hidrogênio (H+) que se encontrava em ligação covalente (muito forte)
com o oxigênio nos radicais orgânicos e sesquióxidos de ferro e alumínio, tão
comuns nos solos brasileiros.

Amostra 02
T = SB + H+ + AI³+
SB = 50 + 24 + 4,1 + 1,1
SB = 79,2
t = 79,2 + 6 = 85,2 mmolc.dc-3
ou
t = 8,52 cmolc.dm-3
16

11 Saturação por AI

A saturação por alumínio no solo reflete a percentagem de cargas


negativas do solo, próximo ao pH natural, que está ocupada por Al trocável.
• m% = 100 X Al3+/ t , lembrando que t = Ca2+ + Mg2+ + K+ + (Na+) + Al3+
• O efeito nocivo de altos teores de Al trocável e, ou, da alta
percentagem de saturação por alumínio no desenvolvimento e
produção de culturas sensíveis a este problema é fato amplamente
comprovado pela pesquisa.
Na figura 5 mostra-se um exemplo de cálculo da saturação de
alumínio em amostra de solo.
Figura 5 - Exemplo de cálculo da saturação de alumínio em amostras de solo

Amostra 02
m% = 100 X AI3+
t
t = Ca2+ + Mg2+ + K+ + (Na+) + AI3+

t = 50 + 24 + 4,1 + 1,1 + 6 = 86,2


mmolc.dc-3

m% = 100 X 6
85,2
m% = 7,04
12 Matéria orgânica do solo (MO)

A matéria orgânica (MO) tem influência direta nas propriedades


químicas, físicas e biológicas do solo, e é formada pelos resíduos das
plantas ali inseridas, parte aérea e radicular, de micro-organismos e
exsudados de raízes. Ela é constituída basicamente por C, H, O, N, S e P.
A proporção destes elementos gira em torno de 58% de C, 6% de H, 33%
de O e 3% de N, S e P. O teor de MO do solo pode ser calculado
multiplicando-se o teor de carbono do solo (carbono orgânico) pelo fator
1,72 (obtido pela divisão 100/58) ou através da % de nitrogênio que
multiplicada por 20 corresponde também à % de MO.
Teores de matéria orgânica do solo são indicativos diretos do seu
potencial produtivo, pois solos com maior teor de MO apresentam
maiores valores de CTC, e maior capacidade de fornecimento de
nutrientes às plantas, quando comparados a solos com menores teores
de MO. Em solos tropicais, como no Brasil, a MO é a principal responsável
pela geração de cargas negativas do solo, contribuindo com ate 80%
das cargas negativas. Com a mineralização da MO no solo, ocorre uma
liberação de bases que estavam imobilizadas nas cadeias carbônicas
dos tecidos vegetais, promovendo aumento do pH e da disponibilidade
de nutrientes. Ocorre também a complexação do Al3+ do solo pelas
moléculas orgânicas liberadas, o que contribui para reduzir a toxidez
desse elemento e elevar o pH.
13 Fósforo

O teor de fósforo “disponível” (P) para as plantas é uma medida


relativa da quantidade do elemento no solo. Para a sua determinação,
são mais comuns extratores Mehlich-m1 e a Resina. As quantidades
de P recuperadas por esses extratores são diferentes.
Os extratores Mehlich-1 e Resina não objetivam quantificar o total
de P existente no solo, mas sim a possibilidade de resposta à
adubação fosfatada: se baixa, média ou alta. Mesmo que os valores
absolutos do teor de P do solo sejam diferentes entre estes
extratores, a classe de disponibilidade deverá ser a mesma, isto é, se
um solo é classificado como de baixa disponibilidade de P pelo
extrator Mehlich-1, é de se esperar a mesma classificação pelo
extrator Resina.
O extrator Mehlich-1, por ser uma solução ácida (pH em torno de
2,0), pode dissolver formas de P pouco solúveis, como em solos que
receberam fosfato natural e termofosfatos, apresentando teores
mais elevados do que o realmente disponível para as plantas. Apesar
disso, o extrator Mehlich-1 é o mais utilizado no Brasil, devido sua
simplicidade.
Assim como as plantas, a capacidade de extração do Mehlich-1 é
dependente da quantidade e qualidade da argila do solo, em razão da
forte ligação do P com as partículas do solo, principalmente com os
óxidos de Fe e Al. Portanto, quanto maior a quantidade de argila e a
presença desses óxidos, menor é a capacidade de extração de P pelo
extrator e menores serão os valores obtidos.
Assim, para a adequada interpretação da disponibilidade de P pelo
extrator Mehlich-1, é necessário conhecer a capacidade de adsorção
de P do solo (capacidade tampão). Essa característica pode ser
estimada preferencialmente pela análise denominada “fósforo
remanescente”, simbolizada por “P-rem”.
O fósforo remanescente (P-rem) mede a capacidade de adsorção
de P do solo, ou seja, o quanto do P aplicado é retido pelas argilas do
solo. A sua análise é realizada através da agitação de um determinado
volume de solo (10 cm3) com uma solução contendo P em uma
concentração conhecida (60 mg/L de P). Quanto mais argiloso for o
solo, maior será a adsorção de P pelas argilas e menor será a
quantidade de P na solução de equilíbrio, pois parte do P da solução
será retida pelas argilas. Após determinado tempo de contato, o P é
quantificado na solução em equilíbrio (dai a denominação “fosforo
remanescente”). A concentração final de P na solução indica a
capacidade de adsorção do solo e permite inferir sobre a sua textura,
se argilosa, mádia ou arenosa (Tabela 10). A concentração de P na
solução em equilíbrio (P-rem) será menor para solos argilosos e maior
para solos arenosos. O P-rem também e utilizado para avaliar a
capacidade de adsorção de Zn e S pelo solo.
Tabela 10 - Estimativa da textura do solo em função do fósforo rema-
nescente (Prem.)

O teor de P determinado na análise de solo é um valor relativo, que


indica o teor de P “disponível” para as culturas. As classes de
fertilidade, por exemplo, correspondentes a níveis baixo, médio e
alto, são determinadas por meio de trabalhos de calibração, em que
são correlacionados os teores de P no solo, determinados por um
extrator (Mehlich-1, Resina etc.), e o crescimento das plantas.
As faixas de teores são utilizadas como referência para indicar a
disponibilidade de P atual do solo e auxiliar nos cálculos da
quantidade de fertilizante a ser aplicado ao solo para a máxima
eficiência econômica das culturas (Tabela 11).

Tabela 11 - Disponibilidade de P para as culturas em função do teor de


P no solo determinado pelo extrator Mehlich-1
Tabela
Tabela1213.
- Classes
Classes de interpretação
de interpretação para
para fósforo
fósforo disponível
disponível em
em função da
função da cultura e do fósforo remanescente (Prem)
cultura e do fósforo remanescente (P-rem)
Classificação
P rem
P Método Cultura Baixo Médio Alto
mg/L mg/dm3
< 20 <5 5 - 10 >10
Perene 20 - 40 < 10 10 - 20 >20
> 40 < 20 20 - 30 > 30
< 20 < 20 20 - 40 >40
Mehlich-1 Anual 20 - 40 < 40 40 - 60 > 60
> 40 < 60 60 - 80 > 80
< 20 < 30 30 - 60 > 60
Hortaliça 20 - 40 < 60 60 - 100 >100
> 40 < 100 100 - 150 > 150

Fonte: Prezotti et al. (2007).

Ressalta-se que os valores colocados na tabela 12 se referem ao


Ressalta-se
extrator Mehlich-1.que os valores
Caso acima se referem
o laboratório utilize oaoextrator
extratorResina,
Mehlich-os
1. Caso
valores deoreferência
laboratórioserão
utilize o extratorconforme
diferentes, Resina, ostabela
valores
13.de referência
serão diferentes (Tabela 14).
Tabela1314.
Tabela Classes de
- Classes de interpretação
interpretação para
parafósforo disponível
fósforo pelopelo
disponível, extrator
ex-
trator resina,Resina em função
em função da cultura.
da cultura.
36 Classificação
Método Cultura
Muito Baixo Baixo Médio Alto Muito Alto

mg/dm3
Florestais 0-2 3-5 6-8 9 - 16 > 16
Resina Perenes 0-5 6 - 12 13 - 30 31 - 60 > 60
Anuais 0-6 7 - 15 16 - 40 41 - 80 > 80
Hortaliças 0 - 10 11 - 25 26 - 60 61 - 120 > 120

Fonte: Raij et al (1996).

3.1.13 Potássio disponível (K)

Indica o teor de potássio disponível no solo. É extraído pelo


O valor nas análises é expresso em P. Como o fósforo, nos adubos, é
expresso usualmente em equivalência de P2O5, pode-se fazer a
conversão, do P para P2O5. Para isso basta multiplicar o teor de P por
2,29, e para transformação contrária o multiplicador deve ser 0,34.

14 Potássio disponível (K)

Os resultados da análise de potássio indicam o teor de potássio


disponível no solo. Ele é extraído pelo extrator Mehlich-1 ou por Resina
de troca catiônica. Os valores de K obtidos por esses 2 extratores não
diferem tanto quanto para o P.
A maior proporção do K do solo (98 %) encontra-se nas estruturas
dos minerais, em forma não disponível para as plantas, sendo
denominado K estrutural. Apenas uma pequena fração encontra-se em
formas mais disponíveis, sendo denominado K trocável, aquele ligado às
cargas negativas das argilas, e o K em solução, o que permanece livre,
na fase líquida do solo. Com a intemperizacão dos minerais, parte do K
estrutural passa para as formas trocável e em solução. Porém, é um
processo lento e, na maioria dos casos, insuficiente para suprir culturas
comerciais de maior produtividade, principalmente as de ciclo curto. A
maior ou menor capacidade do solo em repor o K em solução
dependente da quantidade de K estrutural, variável com a quantidade e
qualidade dos minerais do solo.
A análise do solo somente determina a quantidade de K disponível às
plantas em curto espaço de tempo, constituído por parte do K trocável e
K em solução. Os teores de K são expressos em mg/dm3 e
correspondem ao mesmo valor em ppm.
Para efeito de avaliação da disponibilidade de K e para indicação de
adubação é importante expressar a participação do potássio em relação
à CTC do solo, em termos percentuais. Os laboratórios normalmente já
calculam e fornecem este dado, porém pode-se, facilmente, fazer este
cálculo percentual. Esta participação do K na CTC deve estar alinhada,
ainda, com a participação do Ca e Mg, elementos antagônicos ao K.
Nas tabelas 14 e 15 podem ser observados os níveis de K
correspondentes a 3 classes de suficiência, em níveis baixo, médio e
alto, para dois tipos de extratores.

Tabela 14 - Classes de interpretação para potássio disponível, pelo


extrator Mehlich-1, em função da cultura.

Tabela 15 - Classes de interpretação para potássio disponível, pelo


extrator Resina.
15 Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg)

Os resultados da análise de cálcio e magnésio indicam a quantidade


desses nutrientes no solo na forma trocável (Ca2+ e Mg2+), ou seja, os
níveis passíveis de absorção pelas plantas.
Os teores de Ca2+ e Mg2+ estão diretamente relacionados com a
acidez dos solos. Geralmente solos ácidos apresentam baixos teores de
Ca2+ e de Mg2+ e solos de boa fertilidade, maiores teores de Ca2+ e de
Mg2+. Eles são os elementos que mais influenciam na saturação de
bases (V%), em razão da sua maior taxa de ocupação da CTC.
Os teores de Ca e Mg são aumentados com a aplicação de calcário,
que, por sua vez, elevam a saturação por bases do solo, aumentam o pH
e reduzem a toxidez do Al. Solos de baixa CTC e baixos teores de Ca e Mg
(características de solos arenosos) podem apresentar de média a
elevada V%, porém, como é um valor relativo isto pode dar uma falsa
indicação de fertilidade elevada. Por esta razão, é importante que os
teores de Ca e Mg, principalmente nesses solos de baixa CTC, estejam
acima dos níveis adequados ao bom crescimento das culturas,
conforme indicado na Tabela 16.

Tabela 16 - Classes de interpretação de níveis de Ca e Mg no solo


Da mesma forma que o potássio, o cálcio e o magnésio podem ser
expressos em percentagem da CTC, os três devendo estar em equilíbrio,
com maior participação percentual do cálcio (40-50%), seguido do
magnésio (15-20%) e do potássio 3-5%. Os laboratórios já calculam e
informam, no Boletim de análises do solo, os percentuais desses
nutrientes.
É preciso atentar que os níveis de Ca e Mg nos insumos, por exemplo,
no calcário, são expressos em CaO e MgO.

16 Enxofre (S)

O teor de enxofre no solo, assim como o nitrogênio, é facilmente


alterado com o manejo do solo ou com a precipitação pluviométrica,
pois ele é lixiviado com facilidade na forma de SO4++. Por isso seu teor
geralmente é maior em camadas inferiores, como, por exemplo, a de 20
a 40 cm.
Nas recomendações de adubação, o S geralmente e relegado a
segundo plano em razão do seu fornecimento via fertilizantes, como o
sulfato de amônio, superfosfato simples ou sulfato de potássio, ou via
adubos orgânicos. Outra razão é que doses relativamente baixas (40 a
80 kg/ha) são suficientes para atender a demanda da maioria das
culturas. Entretanto, quando são utilizados continuamente fertilizantes
que não possuem S em sua composição, como os formulados de alta
concentração, que são constituídos principalmente por ureia, MAP e
cloreto de potássio e em lavouras de alta produtividade, pode ocorrer
deficiência de S.
Na Tabela 17 são apresentadas as classes de interpretação para
enxofre no solo.
Tabela 17 - Classes de interpretação de níveis de Ca e Mg no solo

17 Micronutrientes

Os micronutrientes B, Cu, Fe, Mn e Zn além do Mo, Cl e Co, embora


sejam exigidos em menores quantidades, são tão importantes para a
nutrição e o crescimento das plantas quanto os macronutrientes.
Nas análises de solo normais os Laboratórios não analisam os
micro-nutrientes, sendo preciso solicitar este tipo de análise, que tem
um custo adicional.
Os resultados de análise dos micro-nutrientes são expressos em
mg/dm3 sendo o mesmo que ppm (parte por milhão).
Além da análise de solo, o histórico da área (uso de fertilizantes
contendo micronutrientes) e a análise química das folhas das plantas
são importantes para auxiliar na recomendação e monitorar, ao longo
dos anos, possíveis problemas de deficiência ou de toxidez.
Na Tabela 18 é apresentada uma aproximação de interpretação da
análise de solo para micronutrientes em Minas Gerais.

Tabela 18 - Classes de interpretação da disponibilidade de micronu-


trientes no solo, para o estado de Minas Gerais
Referências

• Guia prático para interpretação de resultados de análises de solos /


Lafayette Franco Sobral ... [et al.] – Aracaju : Embrapa Tabuleiros
Costeiros, 2015. 13 p. (Documentos / Embrapa Tabuleiros Costeiros,
ISSN 1678-1953; 206). Disponível em: www.bdpa.cnptia.embrapa.br

• MATIELLO, J. B. et al. Cultura de café no Brasil- Manual de


recomendações. Fundação Procafé, 2015, 586p. e ilustr.

• CANTARUTTI, R. B.; BARROS, N. F. de; PRIETO, H. E.; NOVAIS, R. F.


Avaliação da fertilidade do solo e recomendação de fertilizantes. In:
NOVAIS, R. F; ALVAREZ, V.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.;
CANTARUTTI, R. B.; NEVES, J. C. L. Fertilidade do solo. Viçosa, MG:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007a.

• SOBRAL, L. F.;VIÉGAS, P. R. A.; SIQUEIRA, O. J. W.; ANJOS, J. L.;


BARRETO, M. C. V.; GOMES, J. B. V. Recomendações para o uso de
corretivos e fertilizantes no Estado de Sergipe. Aracaju: Embrapa
Tabuleiros Costeiros, 2007. 251 p. v. 1.
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