Os Quatro Compromissos - Don Miguel Ruiz
Os Quatro Compromissos - Don Miguel Ruiz
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OS QUATRO COMPROMISSOS
Sumário
Sumário
Agradecimentos
Os Toltecas
Introdução
O espelho enevoado
Domesticação e o sonho do planeta
Prelúdio de um novo sonho
O primeiro compromisso
Seja impecável com sua palavra
O segundo compromisso
Não leve nada para o lado pessoal
O terceiro compromisso
Não tire conclusões
O quarto compromisso
Dê sempre o melhor de si
O caminho tolteca para a liberdade
Quebrando velhos compromissos
A arte da transformação: o sonho da segunda atenção
A disciplina do guerreiro: controlando seu próprio comportamento
A iniciação dos mortos: abraçando o anjo da morte
O novo sonho
O céu na Terra
Orações
Oração pela liberdade
Oração pelo amor
Agradecimentos
Gostaria de agradecer humildemente a minha mãe, Sarita, que me ensinou o
amor incondicional; a meu pai Jose Luis, que me ensinou disciplina; a meu avô,
Leonardo Macias, que me indicou o segredo para o acesso aos mistérios toltecas;
e a meus filhos, Miguel, Jose Luis e Leonardo.
Gostaria de expressar minha profunda afeição e o meu reconhecimento à
dedicação de Gaya Jenkins e Trey Jenkins.
Estendo minha profunda gratidão a Janet Mills — editora e pessoa de fé —
e sou grato a Ray Chambers por iluminar o caminho.
Gostaria de honrar meu querido amigo Gini Gentry, um “cérebro”
espantoso, cuja fé tocou meu coração.
Quero também deixar meu reconhecimento às muitas pessoas que doaram
livremente seu tempo, corações e recursos para apoiar os ensinamentos. Uma
lista parcial inclui: Gae Buckley, Teo e Peggy Suey Raess, Christinea Johrzson,
Judy “Red” Fruhbauer, Vicki Molinar, David e Linda Dibbie, Bernadette Vigil,
Cynrhia Wootton, Alan Clark, Rira Pisco Rivera, Catherine Chase, Stephanie
Bureau, Todd Kaprielian, Glenna Quigley, Alan Hardman, Cindee Pascoe, Tink
e Chuck Cowgill, Roberto e Diane Paez, Siri Gian Singh Khalsa, Hearher Ash,
Larry Andrews, Judy Silver, Carolyn Hipp, Kim Hofer, Mersedeh Kheradmand,
Diana e Sky Ferguson, Keri Kropidlowski, Steve Hasenburg, Dara Salour,
Joaquin Calvan, Woodie Bobb, Rachel Guerrero, Mark Gershon, Collette
Michaan, Brandt Morgan, Katherine Kilgore (Kitty Kaur), Michael Gilardy,
Laura Haney, Marc Cloptin, Wendy Bobb, Edwardo Fox, Yari Jaeda, Mary
Carrol Nelson, Amari Magdelana, JaneAnn Dow, Russ Venable, Gu e Maya
Khalsa, Mataji Rosita, Fred e Marion Vatinelli, Diane Laurent, V. J. Polich, Gail
Dawn Price, Barbara Simon, Patti Cake Torres, Kaye Thompson, Ramin
Yazdani, Linda Lightfoot, Terry “Petie” Gorton, Dorothy Lee, J. J. Frank (Julio
Franco), Jennifer e Jeanne Jenkins, George Gorton, Tita Weems, Shelley Wolf,
Gigi Boyce, Morgan Drasmin, Eddie Von Sonn, Sydney de Jong, Peg Hackett
Cancienne, Germaine Bautista, Pilar Mendoza, Debbie Rund Caldwell, Bea La
Scalla, Eduardo Rabasa e O Caubói.
Os Toltecas
Milhares de anos atrás, no Sul do México, os toltecas eram conhecidos
como “homens e mulheres de sabedoria”. Antropólogos se referem a eles como
uma nação ou raça, mas na verdade eram cientistas e artistas que se associaram
para explorar e conservar a sabedoria espiritual e as práticas dos antigos.
Encontraram-se como mestres (nagual) e estudantes em Teotihuacán, a cidade
antiga das pirâmides, próxima à Cidade do México, conhecida como o lugar
onde o “Homem se Torna Deus”.
Ao longo dos milênios, os nagual foram obrigados a manter sua existência
na clandestinidade. A conquista europeia, combinada com o mau uso do poder
pessoal por alguns poucos aprendizes, tornou necessário ocultar o conhecimento
ancestral daqueles que não estavam preparados para usá-lo — ou que pretendiam
usá-lo apenas com objetivos pessoais.
Felizmente, a sabedoria esotérica tolteca estava incorporada e foi
transmitida por gerações de diferentes linhagens de nagual. Embora tenham
permanecido envoltas em segredo por centenas de anos, as antigas profecias
anunciavam a vinda de uma era em que seria necessário devolver a sabedoria ao
povo. Agora, Don Miguel Ruiz, um nagual da linhagem dos Cavaleiros da
Águia, foi indicado para compartilhar conosco os poderosos ensinamentos dos
toltecas.
Tal sabedoria se ergue da mesma unidade essencial de verdade de todas as
tradições esotéricas ao redor do mundo. Embora não seja uma religião, honra
todos os mestres espirituais que já ensinaram aqui na Terra. Por envolver o
espírito, é descrita com maior precisão como forma de vida, caracterizada como
fonte da felicidade e amor.
Introdução
O espelho enevoado
Três mil anos atrás havia um ser humano, como eu e você, que vivia perto
de uma cidade cercada de montanhas. Embora estudasse para tornar-se xamã e
para aprender a sabedoria de seus ancestrais, não concordava completamente
com todos aqueles ensinamentos. Em seu coração, sentia que existia algo mais.
Um dia, enquanto dormia numa caverna, sonhou que viu o próprio corpo
dormindo. Saiu da caverna numa noite de lua nova. O céu estava claro e ele
enxergou milhares de estrelas. Então algo aconteceu dentro dele que transformou
sua vida para sempre. Olhou para suas mãos, sentiu seu corpo e escutou sua
própria voz dizendo: “Sou feito de luz; sou feito de estrelas.”
Olhou novamente para o alto e percebeu que não eram as estrelas que
criavam a luz, mas sim a luz que criava as estrelas. “Tudo é feito de luz”,
acrescentou ele, “e o espaço no meio não é vazio.” E ele soube tudo o que existe
num ser vivo, como soube que a luz é a mensageira da vida, porque está viva e
contém todas as informações.
Então compreendeu que, embora fosse feito de estrelas, ele não era essas
estrelas. “Sou o que existe entre elas”, pensou. Assim, chamou as estrelas de
tonal e a luz entre elas de nagual, e percebeu que a harmonia e o espaço entre os
dois eram criados pela Vida ou Intenção. Sem a Vida, o tonal e o nagual não
poderiam existir. A Vida é a força do absoluto, do supremo, do Criador que tudo
cria.
Essa foi a sua descoberta: tudo o que existe é uma manifestação do ser que
denominamos Deus. Tudo é Deus. E logo ele chegou à conclusão de que a
percepção humana é apenas a luz que percebe a luz. Viu também que a matéria é
um espelho — tudo é um espelho que reflete a luz e cria imagens a partir dessa
luz e o mundo da ilusão, o Sonho, é apenas fumaça que nos impede de enxergar
quem realmente somos. “O verdadeiro nós é puro amor, pura luz”, disse ele.
Essa compreensão mudou sua vida. Uma vez que ele soube quem realmente
era, olhou ao redor em direção aos outros seres humanos e aos outros elementos
da natureza. Ficou surpreso com o que viu. Em cada ser humano, animal ou
árvore; na água na chuva, nas nuvens, na terra — ele se via. A Vida misturava o
tonal e o nagual de formas diferentes para criar bilhões de manifestações da
Vida.
Naqueles poucos instantes ele compreendeu tudo. Ficou muito excitado e
seu coração se encheu de paz. Mal podia esperar para revelar ao seu povo as suas
descobertas. Mas não havia palavras para explicar. Tentou falar com os outros,
mas eles não conseguiam entender. Mas perceberam que o homem havia
mudado, que algo bonito se irradiava dos seus olhos e da sua voz. Repararam
que ele não julgava mais as coisas e as pessoas. Ele não era mais como os outros.
Embora entendesse os outros muito bem, ninguém conseguia entendê-lo.
Acreditavam que ele fosse a encarnação viva de Deus. Ao ouvir isso, ele sorriu e
disse: “É verdade. Sou Deus. Mas vocês também são. Somos o mesmo, vocês e
eu. Somos imagens de luz. Somos Deus.” Mesmo assim, as pessoas não o
entenderam.
Havia descoberto que era um espelho para as outras pessoas, um espelho no
qual podia observar a si mesmo. “Todo mundo é um espelho”, ele disse. Viu a si
mesmo em todos, mas ninguém o viu como eles mesmos. Assim compreendeu
que todos estavam sonhando, mas sem consciência, sem saber o que realmente
eram. Não podiam enxergá-lo como eles mesmos porque havia uma parede de
nevoeiro entre os espelhos. Uma parede construída pela interpretação das
imagens de luz — o Sonho dos seres humanos.
Então percebeu que logo iria esquecer tudo o que aprendera. Como queria
lembrar-se de todas as visões que tivera, decidiu chamar a si mesmo de Espelho
Enevoado, para que sempre soubesse que a matéria é um espelho e a névoa do
meio é o que nos impede de saber quem somos. Ele disse: “Sou o Espelho
Enevoado. Estou vendo a mim mesmo em todos vocês, mas não nos
reconhecemos por causa do nevoeiro entre nós. Esse nevoeiro é o Sonho, e o
espelho é você, o sonhador.
É fácil viver com os olhos fechados entendendo errado tudo o que você vê...
— John Lennon
Domesticação e o sonho do planeta
O que você está vendo e ouvindo neste momento não passa de um sonho.
Você está sonhando agora. Sonhando com o cérebro acordado.
Sonhar é a principal função da mente, e os sonhos da mente duram 24 horas
por dia. Sonhamos quando o cérebro está acordado e também quando ele dorme.
A diferença é que, quando o cérebro está desperto, existe uma moldura material
que nos faz perceber as coisas de forma linear. Quando vamos dormir, não temos
essa moldura, e o sonho tende a mudar constantemente.
Os seres humanos não estão sonhando o tempo todo. Antes que viéssemos
ao mundo, os que existiram antes de nós criaram um grande sonho externo que
denominamos sonho da sociedade ou sonho do planeta, um sonho coletivo de
bilhões de sonhos pessoais menores. Juntos, eles formam o sonho da família, da
comunidade, de uma cidade, de um país e, finalmente, o sonho de toda a
humanidade. O sonho do planeta inclui todas as regras da sociedade: suas
crenças, leis, religiões, suas diferentes culturas e formas de ser, seus
governantes, escolas, eventos sociais e feriados.
Nascemos com a capacidade de aprender a sonhar, e os seres humanos que
viveram antes de nós nos ensinaram a sonhar da forma que a sociedade sonha. O
sonho exterior possui tantas regras que, quando um novo ser humano nasce,
atraímos a atenção da criança e apresentamos as regras à mente dela. O sonho
exterior usa papai e mamãe, as escolas e a religião para nos ensinar a sonhar.
A atenção é a capacidade que possuímos de discriminar e focalizar apenas o
que desejamos perceber. Podemos captar milhões de coisas ao mesmo tempo,
mas, usando nossa atenção, somos capazes de manter qualquer uma delas no
primeiro plano de nossa mente. Os adultos que nos cercam capturaram nossa
atenção e nos transmitiram informações através da repetição. Essa é a forma pela
qual aprendemos tudo o que sabemos.
Utilizando nossa atenção, aprendemos toda uma realidade, um sonho
inteiro. Aprendemos como nos comportar em sociedade, em que acreditar e em
que não acreditar o que é bom e o que é mau, o bonito e o feio, o certo e o
errado. Tudo já estava lá — todo esse conhecimento, todas as regras e conceitos
sobre como comportar-se no mundo.
Quando você estava na escola, sentava-se numa cadeira pequena e dirigia
sua atenção para os ensinamentos do professor. Quando ia à igreja, se
concentrava naquilo que o padre ou o pastor dizia. É a mesma dinâmica com
pais e mães, irmãos e irmãs: todos tentam capturar sua atenção. Aprendemos
também a atrair os olhares atentos de outros seres humanos e desenvolvemos
uma certa necessidade de atenção que pode se tornar extremamente competitiva.
As crianças competem para ter a atenção dos pais, dos professores, dos amigos.
“Olhe para mim! Veja o que estou fazendo! Ei estou aqui.” Essa necessidade se
torna ainda mais forte e prossegue pela vida adulta.
O sonho exterior captura nossa atenção e nos ensina em que acreditar,
começando pela linguagem que utilizamos. Ela é o código para o entendimento e
a comunicação entre os seres humanos. Cada letra, cada palavra em cada
linguagem, é um acordo. Isso é o que chamamos, por exemplo, de página de um
livro; a palavra página é um acordo que estabelecemos. Uma vez que se
compreenda o código, nossa atenção é capturada e a energia é transferida de uma
pessoa para outra.
Não foi sua escolha falar português. Você não escolheu sua religião nem os
valores morais — eles já existiam antes de você nascer. Nunca tivemos a
oportunidade de escolher em que acreditar ou não acreditar. Nunca escolhemos o
menor desses acordos — nem sequer nosso próprio nome.
Quando crianças, não tivemos oportunidade de escolher nossas crenças, mas
concordamos com a informação que nos foi passada sobre o sonho do planeta
por intermédio de outros seres humanos. A única maneira de armazenar
informações é por acordo. O sonho exterior pode captar nossa atenção, mas, se
não concordarmos, não armazenamos essa informação. Assim que concordamos,
acreditamos, e isso é chamado de fé. Ter fé é acreditar incondicionalmente.
Foi assim que aprendemos na infância. Crianças acreditam em tudo o que os
adultos dizem. Concordamos com eles, e nossa fé é tão forte que controla todo o
nosso sonho de vida. Não escolhemos essas crenças, e poderíamos nos ter
rebelado contra elas, mas não tivemos força suficiente para provocar tal rebelião.
O resultado é ceder às crenças com nosso consentimento.
Chamo esse processo de a domesticação de seres humanos. Por intermédio
dela, aprendemos como viver e como sonhar. Nessa domesticação, a informação
do sonho exterior é conduzida para o sonho interior, criando nosso sistema de
crenças. Primeiro a criança aprende o nome das pessoas e das coisas: mamãe,
papai, leite, garrafa. Dia a dia, em casa, na escola, na igreja e pela televisão, nos
dizem como viver, que tipo de comportamento é aceitável. O sonho exterior nos
ensina a ser um ser humano. Temos um conceito completo sobre o que é uma
“mulher” e o que é um “homem”. Também aprendemos a julgar: a nós mesmos,
as outras pessoas, os vizinhos.
As crianças são domesticadas da mesma forma que domesticamos um cão,
um gato ou qualquer outro animal. Para ensinar um cachorro precisamos punir e
dar recompensas a ele. Treinamos nossos filhos, a quem tanto amamos, da
mesma forma que treinamos qualquer animal doméstico: a partir de um sistema
de castigos e recompensas. Quando fazemos o que mamãe e papai querem que a
gente faça, eles nos dizem: “Você é um bom menino” ou “Você é uma boa
menina”. Quando isso não acontece, somos meninos maus ou meninas más”.
Nas oportunidades em que nos voltamos contra as regras, fomos punidos;
quando agimos de acordo com elas, ganhamos uma recompensa. Fomos
castigados e recompensados muitas vezes ao longo do dia. Por isso ficamos com
receio de sofrer o castigo e também com medo de não ganharmos a recompensa,
a atenção obtida de nossos pais, irmãos, professores e amigos. Logo
desenvolvemos a necessidade de captar a atenção de outras pessoas para
conquistar tal recompensa.
A sensação é tão boa, que continuamos fazendo o que os outros querem que
a gente faça. Com medo de ser punidos e de não ganhar a recompensa, passamos
a fingir ser o que não somos apenas para agradar, só para sermos suficientemente
bons para as outras pessoas. Tentamos agradar a mamãe e papai, os professores
na escola, a Igreja, e com isso começamos a representar. Fingimos ser o que não
somos porque temos medo de ser rejeitados. O medo de sermos rejeitados torna-
se o medo de não sermos suficientemente bons. Mais tarde, acabamos por nos
tornar alguém que não somos. Tornamo-nos cópias das crenças de mamãe, de
papai, da sociedade e da religião.
Todas as nossas inclinações naturais são perdidas no processo da
domesticação. E quando somos grandes o bastante para que nossa mente
compreenda, aprendemos a palavra não. Os adultos dizem “Não faça isso, não
faça aquilo”.
Nós nos rebelamos e dizemos “Não!”. Isso porque estamos defendendo
nossa liberdade. Queremos ser nós mesmos, mas somos pequenos, enquanto os
adultos são grandes e fortes. Depois de um certo tempo, ficamos com medo
porque sabemos que todas as vezes em que fizermos algo errado, seremos
castigados.
A domesticação é tão forte que num ponto determinado de nossa vida não
precisamos mais que ninguém nos domestique: nem mamãe, nem papai, nem a
escola ou a Igreja. Somos tão bem treinados que passamos a ser nosso próprio
treinador. Somos um animal auto domesticado. Agora podemos domesticar a nós
mesmos de acordo com a mesma crença no sistema que nos forneceram, usando
as mesmas técnicas de punição e recompensa. Punimos a nós mesmos quando
não seguimos as regras e nos premiamos quando somos “bonzinhos” ou
“boazinhas”.
O sistema de crenças é como o Livro da Lei que regula nossa mente. Tudo o
que estiver escrito nele é nossa verdade inquestionável. Baseamos nossos
julgamentos segundo suas páginas, ainda que esses julgamentos e opiniões sejam
contrários à nossa própria natureza. Até mesmo leis morais como os Dez
Mandamentos são programadas em nossas mentes no processo de domesticação.
Um a um, todos esses compromissos passam a constar no Livro da Lei, e são
eles que regem nosso sonho.
Existe algo em nossa mente que julga a tudo e a todos, incluindo o tempo, o
cão, o gato... tudo. O Juiz interno usa o que está escrito no Livro da Lei para
julgar o que fazemos e o que não fazemos, o que pensamos ou deixamos de
pensar, além do que sentimos e deixamos de sentir. Tudo vive sob a tirania desse
Juiz. Todas as vezes que fazemos alguma coisa que vai contra o Livro da Lei, ele
diz que somos culpados, que precisamos ser punidos e que deveríamos nos
envergonhar. Isso acontece muitas vezes, dia após dia, ao longo de todos os anos
em que vivermos.
Existe outra parte de nós que recebe os julgamentos: chama-se a Vítima. A
Vítima carrega a culpa, a responsabilidade e a vergonha. E também a parte de
nós que lamenta: “Coitado de mim, não sou bom o bastante, não sou inteligente
o suficiente, não sou atraente, nem digno de amor, pobre de mim.” O grande Juiz
concorda e diz: “Sim, você não é bom o suficiente.” Tudo isso é baseado num
sistema de crenças que não chegamos a escolher. Essas crenças são tão fortes
que, mesmo anos mais tarde, depois que fomos expostos a novos conceitos e
tentamos tomar nossas próprias decisões, descobrimos que elas ainda controlam
nossas vidas.
O que quer que vá de encontro ao Livro da Lei fará você experimentar uma
estranha sensação no plexo solar, que chamamos medo. Quebrar as regras do
Livro abre seus ferimentos emocionais, e sua reação cria veneno emocional.
Como tudo o que está escrito ali tem de ser verdade, qualquer coisa que desafie
aquilo em que você acredita irá produzir uma sensação de insegurança. Mesmo
que o Livro da Lei esteja errado, ele faz com que você se sinta seguro.
Eis porque precisamos de um bocado de coragem para desafiar nossas
próprias crenças. Embora não tenhamos escolhido nenhuma delas, a verdade é
que terminamos por concordar com todas. A concordância é tão forte que ainda
que se entenda o conceito de que não são nossas verdades, sentimos culpa e
vergonha quando nos colocamos contra essas regras.
Assim como o governo possui o Livro de Leis que regula o sonho da
sociedade, o nosso sistema de crenças possui o Livro da Lei que regulamenta
nosso sonho pessoal. Todas essas leis existem em nossa mente. Acreditamos
nessas regras e é nelas que o Juiz dentro de nós se baseia. Ele decreta a sentença
e a Vítima sofre a culpa e o castigo. Mas quem disse que existe justiça nesse
sonho? A verdadeira justiça é pagar apenas uma vez por erro; a injustiça
verdadeira é pagar mais de uma vez.
Quantas vezes pagamos por um erro cometido? A resposta é: milhares de
vezes. O ser humano é o único animal na Terra que paga milhares de vezes pelo
mesmo erro. Todos os outros pagam apenas uma vez. Nós, não. Temos uma
memória poderosa. Quando falhamos, julgamos a nós mesmos, descobrimos que
somos culpados e nos encarregamos do castigo. Se a justiça existisse, não
precisaríamos nos castigar outra vez. Mas cada vez que lembramos, tornamos a
nos julgar, a nos culpar e a nos punir. Se formos casados, nossos parceiros
também nos ajudarão a trazer nosso erro de volta — e assim nos julgamos,
condenamos e castigamos muitas outras vezes. É justo isso?
Quantas vezes obrigamos nossos cônjuges, filhos e pais a pagar pelo mesmo
erro? A cada vez que o recordamos, nós os culpamos novamente. Enviamos todo
o veneno emocional produzido pela injustiça, depois fazemos com que eles
paguem outra vez pelo mesmo erro. Isso é justiça? O Juiz na mente está errado
porque o sistema de crenças, o Livro da Lei, está errado. Todo o sonho é baseado
em regras falsas. Noventa e cinco por cento das crenças que temos armazenadas
em nossas mentes não passam de mentiras. Sofremos porque acreditamos nelas.
No sonho do planeta é normal que os seres humanos sofram, vivam com
medo e criem dramas emocionais. O sonho exterior não é agradável; é um sonho
violento, de medo, de guerra, de injustiça. O sonho pessoal dos seres humanos
pode variar, mas de forma global, geralmente é um pesadelo. Se observarmos a
sociedade humana, veremos que se trata de um lugar muito difícil de viver
porque é regido pelo medo. Em todo o mundo, vemos os seres humanos sofrer,
sentir raiva, vingar-se, viciar-se e provocar violência nas ruas, gerando uma
tremenda quantidade de injustiça. É possível que ele exista em níveis diferentes
nos vários lugares da Terra, mas o medo controla nosso sonho exterior.
Se compararmos o sonho da sociedade humana com a descrição do inferno
fornecida por quase todas as religiões, descobrimos que são a mesma coisa. As
religiões dizem que se trata de um local de punição, de medo, dor e sofrimento,
um lugar onde o fogo queima a gente. O fogo é gerado por emoções que vêm do
medo. Sempre que sentimos raiva, ciúme, inveja ou ódio, experimentamos um
tipo de fogo queimando em nosso interior. Estamos vivendo um sonho do
inferno.
Se você considera o inferno um estado de espírito, então ele se encontra à
nossa volta. Os outros podem nos prevenir: se não fizermos o que eles dizem que
devemos fazer, iremos para o inferno. Más notícias! Já estamos nele. Nós e as
pessoas que nos disseram isso. Por isso é que nenhum ser humano pode
condenar outro ao inferno. É verdade que podem nos colocar num inferno ainda
mais profundo. Mas apenas se permitirmos que isso aconteça.
Cada ser humano possui o seu sonho pessoal e, assim como o sonho da
sociedade, geralmente é regido pelo medo. Aprendemos a sonhar o inferno em
nossa própria vida. Os mesmos medos se manifestam de formas diferentes para
cada pessoa, claro, mas experimentamos a raiva, o ciúme, o ódio, a inveja e
outras emoções negativas. Nosso sonho pessoal também pode se tornar um
pesadelo constante, em que sofremos e vivemos em estado de medo. Porém, não
temos necessidade de sonhar um pesadelo. É possível fabricar um sonho
agradável.
Toda a humanidade busca a verdade, a justiça e a beleza. Vivemos numa
busca eterna pela verdade porque só acreditamos nas mentiras que possuímos
armazenadas na mente. Procuramos justiça porque no sistema de crenças que
adotamos ela não existe. Buscamos a beleza porque, independente de quão bela
seja uma pessoa, não acreditamos na sua beleza. Tudo já está dentro de nós, mas
continuamos procurando sem parar. Não existe verdade a encontrar. Sempre que
voltamos nossas cabeças, o que vemos é a verdade, mas com os compromissos e
crenças que temos na mente, não temos olhos para enxergá-la.
Somos todos cegos. O que nos impede de ver são as crenças falsas mantidas
em nossas mentes. Temos a necessidade de estar certos e de tornar os outros
errados. Confiamos no que acreditamos, e nossas crenças nos predispõem ao
sofrimento. É como se vivêssemos no meio de um nevoeiro que não nos permite
enxergar um palmo além do nariz. Um nevoeiro que nem ao menos é real. Esse
nevoeiro é um sonho, seu sonho pessoal: aquilo em que você acredita, os
conceitos que definem quem você é, os compromissos que assumiu com os
outros, com você mesmo e até com Deus.
Toda a sua mente é um nevoeiro que os toltecas chamam de mitote. Sua
mente é um sonho em que mil pessoas conversam ao mesmo tempo, e ninguém
entende o outro. Essa é a condição da mente humana — um grande mitote.
Graças a ele, você não consegue enxergar o que realmente é. Na Índia, o mitote é
chamado de maya, que significa “ilusão”. É a noção pessoal do “Eu sou”. Tudo
em que você acredita sobre si mesmo, sobre o mundo, todos os conceitos e
programas que você tem na mente, todos formam o mitote. Não conseguimos ver
quem realmente somos; não conseguimos perceber que não somos livres.
Por isso, os seres humanos resistem à vida. A morte não é o maior medo
que os homens possuem; nosso maior medo é estar vivo. Assumir o risco de
viver e de expressar o que somos na realidade. Simplesmente ser quem somos —
isso é o nosso grande medo. Aprendemos a viver nossa vida tentando satisfazer
as expectativas alheias. Aprendemos a viver pelos pontos de vista de outras
pessoas, por causa do receio de não sermos aceitos e de não estarmos à altura do
que esperam de nós.
Durante o processo da domesticação, para tentarmos ser bons o suficiente,
formamos uma imagem do que é a perfeição. Criamos um ideal de como
devemos ser para que todos nos aceitem. Tentamos especialmente agradar aos
que nos amam, como mamãe e papai, nossos irmãos e irmãs mais velhos, os
sacerdotes e os professores. Tentando ser bons para eles, criamos uma imagem
de perfeição, mas não nos encaixamos nessa imagem. Ela não é real. Nunca
iremos ser perfeitos sob esse ponto de vista. Nunca!
Não sendo perfeitos, rejeitamos a nós mesmos. O nível de auto rejeição
depende de quão efetivos foram os adultos ao quebrar nossa integridade.
Consumada a domesticação, não se trata mais de sermos bons o suficiente para
outras pessoas. Não podemos perdoar a nós mesmos por não sermos o que
desejamos ser, ou melhor, o que acreditamos que queremos ser. Não podemos
nos perdoar por não sermos perfeitos.
Sabemos que não somos quem deveríamos ser e, portanto, nos sentimos
falsos, frustrados e desonestos. Tentamos nos esconder de nós mesmos, e
fingimos ser quem não somos. O resultado é que nos sentimos autênticos,
usando máscaras sociais para evitar que os outros percebam. Temos medo de
que alguém mais repare que não somos quem pretendemos ser. Julgamos
igualmente os outros de acordo com nossa imagem de perfeição, e, naturalmente,
eles não correspondem às nossas expectativas.
Nós nos desonramos só para agradar as outras pessoas. Chegamos a fazer
mal ao nosso corpo físico apenas para sermos aceitos pelos outros. Você vê
adolescentes tomando drogas para evitar a rejeição dos seus iguais. Eles não
sabem que o problema vem do fato deles não se aceitarem. Rejeitam a si
mesmos porque não são o que fingem ser. De uma certa forma, até gostariam de
ser, mas não são, e por isso carregam a vergonha e a culpa. Os seres humanos
vivem se punindo por não serem quem acreditam que devem ser. Tornam-se
autodestrutivos, e usam igualmente as pessoas para fazerem mal a si próprios.
Mas ninguém pode nos fazer mal com tanta eficiência quanto nós mesmos,
e o Juiz, a Vítima e o sonho social são responsáveis por isso. É verdade,
encontramos pessoas que dizem que o marido ou a esposa, a mãe ou o pai as
fazem sofrer, mas você sabe que nos prejudicamos muito mais do que isso. A
forma como nos julgamos é o pior juiz que jamais existiu. Se cometemos um
erro na frente de outras pessoas, tentamos negá-lo e encobrir tudo. Assim que
ficamos sozinhos, entretanto, o Juiz se torna forte, e a sensação de culpa assume
proporções enormes; sentimo-nos estúpidos, maus ou indignos.
Durante toda a sua vida ninguém fez você sofrer mais do que você mesmo.
E o limite desse autossofrimento é exatamente o limite que você irá tolerar nos
outros. Se alguém faz você sofrer um pouco mais do que você mesmo,
provavelmente você se afastará dessa pessoa. Mas se alguém faz com que você
sofra menos do que você costuma fazer, com certeza permanecerá no
relacionamento, sendo capaz de tolerá-lo infindavelmente.
Se você se impõe sofrimentos grandes demais, pode até tolerar alguém que
bate em você, humilha-o e o trata como um verme. Por quê? Porque em seu
sistema de crenças é como se você dissesse: “Eu mereço. Essa pessoa está me
fazendo um favor por estar comigo. Não sou digno de amor e respeito. Não sou
bom o suficiente.”
Temos necessidade de ser reconhecidos e amados, mas não podemos aceitar
e amar a nós mesmos. Quanto mais nos valorizamos, menos iremos
experimentar o autossofrimento. O autossofrimento vem da auto rejeição, e a
auto rejeição por sua vez vem da imagem que criamos sobre o que significa ser
perfeito sem nunca atingir esse ideal. Nossa imagem de perfeição é o motivo
pelo qual rejeitamos a nós mesmos; é por isso que não nos aceitamos da maneira
que somos e não aceitamos os outros da forma que são.
Dê sempre o melhor de si
Existe apenas mais um compromisso, porém é o que permite que os outros
três se tornem hábitos profundamente enraizados. O quarto compromisso se
refere à ação dos outros três: dê sempre o melhor de si.
Sob qualquer circunstância, sempre faça o melhor possível, nem mais nem
menos. Porém, tenha em mente que o seu “melhor” nunca será o mesmo de um
instante para outro. Tudo está vivo e mudando o tempo todo; portanto, fazer o
melhor algumas vezes pode produzir alta qualidade e outras vezes não será tão
bom. De manhã, quando você acorda, descansado e energizado, o seu “melhor”
tem mais qualidade do que quando você está cansado, à noite. Seu “melhor”
possui mais qualidade quando você está saudável do que quando doente, ou
sóbrio em vez de bêbado. Seu “melhor” vai depender de você estar se sentindo
maravilhosamente feliz ou aborrecido, zangado, ciumento.
Nos diferentes estados de espírito do dia, seu humor pode mudar de um
instante para outro, de uma hora para outra ou de um dia para outro. Seu
“melhor” também irá se alterar ao longo do tempo. À medida que você se
habitua aos Quatro Compromissos, seu “melhor” irá se tornar mais e mais
eficiente.
Independente da qualidade, continue dando o melhor de si, nem mais nem
menos. Se você se esforçar demais para conseguir seu “melhor”, irá gastar mais
energia do que é necessário, e no final seu melhor não será o suficiente. Quando
você exagera, esgota seu corpo e vai contra si mesmo, leva mais tempo para
alcançar seu objetivo. Se fizer menos do que seu “melhor”, vai sujeitar-se a
frustrações, autojulgamento, culpas e arrependimentos.
Simplesmente, dê o melhor de si — em qualquer circunstância da sua vida.
Não importa se você está doente ou cansado, se der sempre o melhor de si, não
haverá forma de julgar a si mesmo. E, se não julga a si mesmo, não há forma de
ficar sujeito à culpa, ao arrependimento e à autopunição. Fazendo sempre o
melhor, você vai quebrar um encantamento sob o qual sempre esteve.
Havia um homem que, desejando transcender seu sofrimento, foi a um
templo budista para encontrar um Mestre que o ajudasse. Dirigiu-se a ele e
perguntou:
— Mestre, se eu meditar quatro horas por dia, quanto tempo vou levar para
me iluminar?
O Mestre olhou para ele e respondeu:
— Se você meditar quatro horas por dia, provavelmente atingirá a
iluminação em dez anos.
Imaginando que poderia fazer melhor, o homem perguntou:
— Mestre, e seu meditar oito horas por dia, quanto tempo levarei para
transcender?
— Se meditar oito horas por dia, talvez possa atingir a iluminação em 20
anos. — respondeu o Mestre.
— Mas por que levarei mais tempo se meditar mais? — indagou o homem.
— Você não está aqui para sacrificar sua alegria ou sua vida. Você está aqui
para viver, para ser feliz, para amar. Se puder dar o melhor de si em duas horas
de meditação... Mas se você gasta oito horas, só vai se cansar, perder o objetivo
principal e não aproveitará sua vida. Dê o melhor de si e talvez aprenda que não
importa quanto tempo você medita, pode viver, amar e ser feliz.
Dando o melhor de si, você vai viver intensamente sua vida. Será produtivo,
será bom para você mesmo, porque irá se doar à sua família, à sua comunidade,
a todos. Mas é a ação que irá fazê-lo sentir a mais intensa felicidade. Quando
você sempre faz o melhor, pode assumir a ação. Fazer o melhor é assumir a
ação, porque você ama isso, não porque espera uma recompensa. A maioria das
pessoas faz exatamente o oposto: só age quando espera uma recompensa e não
aprecia a ação. E esse é o motivo por que não fazem o melhor.
Por exemplo, a maioria das pessoas vai para o trabalho todos os dias
pensando apenas no pagamento e no dinheiro que irá conseguir com o trabalho
feito. Elas mal podem esperar pela sexta-feira e pelo sábado, ou qualquer que
seja o dia de o pagamento sair. Estão trabalhando pela recompensa e, como
resultado disso, resistem ao trabalho. Tentam evitar a ação, o que a torna mais
difícil; portanto, não fazem o melhor.
Trabalham muito ao longo da semana, sofrendo pelo trabalho, sofrendo pela
ação não porque gostem, mas porque sentem que devem. Precisam trabalhar
porque precisam pagar o aluguel, sustentar a família. Carregam toda essa
frustração e, quando recebem o dinheiro, estão infelizes. Têm dois dias para
fazer o que quiserem, e o que fazem? Tentam escapar. Ficam bêbados porque
não gostam de si mesmos. Não gostam de suas vidas. Existem muitas formas de
magoar a nós mesmos quando não gostamos de quem somos.
Por outro lado, se você agir apenas pelo prazer de agir, sem esperar
recompensa, vai descobrir que gosta de todas as suas ações. As recompensas
virão, mas você não está ligado a elas. Pode até mesmo ganhar mais do que
imaginou sem esperar nada em troca. Se gostamos do que fazemos e sempre
fazemos o nosso melhor, então estamos realmente apreciando a vida. Estamos
nos divertindo sem sentir tédio e sem acumular frustrações.
Quando você dá o melhor de si, não dá ao Juiz a oportunidade de descobrir
sua culpa ou de condená-lo. Se fez o seu “melhor” e o Juiz tenta julgá-lo de
acordo com seu Livro da Lei, você vai obter a resposta: “Fiz o melhor possível.”
Não existem arrependimentos. Por isso, sempre fazemos o melhor. Não é um
compromisso fácil de manter, mas ele vai libertá-lo de verdade.
Quando você faz o melhor que pode, aprende a aceitar a si mesmo. Mas é
preciso estar atento e aprender com os erros. Isso significa praticar, observar
com honestidade os resultados e continuar praticando. Isso aumenta sua
consciência.
Na verdade, fazer o melhor não parece trabalho, porque você gosta do que
quer que faça. Sabe que está fazendo o melhor possível quando está apreciando a
ação ou realizando-a de uma forma que não lhe provoque reações negativas.
Você dá o melhor de si porque tem vontade, não porque precise, nem porque
esteja tentando agradar ao Juiz ou a outras pessoas.
Se você age porque precisa agir, então não existe forma de fazer o melhor.
O melhor seria não fazer. Deve fazer o melhor porque agir assim em todos os
momentos deixa você contente. Quando está realizando o melhor de si apenas
pelo prazer de fazer bem-feito, você está agindo porque aprecia agir.
Agir é viver plenamente. Não agir é a forma de negar a vida. É sentarem
frente à televisão todos os dias por muitas horas porque você tem medo de estar
vivo e assumir o risco de expressar quem é. Agir significa expressar quem você
é. Pode ter muitas ideias na cabeça, mas o que faz toda a diferença é a ação. Sem
a ação depois de uma ideia não existe manifestação, nem resultados ou
recompensas.
Um bom exemplo disso vem da história de Forrest Gump. Ele não tinha
grandes ideias, mas agia. Era feliz porque sempre se entregava a tudo o que
fazia. Era ricamente recompensado sem esperar nenhuma recompensa. Assumir
a ação é estar vivo. É assumir o risco de sair e expressar seu sonho. É diferente
de impor seu sonho aos outros, porque todos têm o direito de expressar o próprio
sonho.
Fazer o melhor é um grande hábito para ser cultivado. Faço o melhor em
tudo o que realizo e sinto. Esse comportamento tornou-se um ritual em minha
vida porque quis que fosse assim. É uma crença como qualquer outra que escolhi
acreditar. Tomar um banho é um ritual para mim. Com essa ação digo a meu
corpo o quanto gosto dele. Faço meu melhor para preencher as minhas
necessidades corporais. Faço o melhor para dar ao meu corpo e receber o que ele
tem a me dar.
Na Índia, realizam um ritual chamado puja. Nesse ritual, tomam ídolos que
representam Deus de muitas formas diferentes e os banham, alimentam-nos e
dão amor a eles. O ídolo em si não é importante, mas sim a forma como realizam
o ritual, a maneira como dizem: “Amo você, Deus.”
Deus é vida. Deus é vida em ação. A melhor forma de dizer “Amo você,
Deus” é deixar o passado de lado e viver o momento presente, aqui e agora.
Qualquer coisa que a vida tome de você, deixe que vá. Quando você se rende e
dá adeus ao passado, permite a si mesmo estar plenamente vivo no momento
presente. Deixar o passado para trás significa que você pode aproveitar o sonho
que está acontecendo agora
Se você vive num sonho de passado, não pode aproveitar o que está
acontecendo agora, porque sempre deseja que ele seja diferente do que é. Não
existe tempo para ter saudade de algo ou de alguém, porque você está vivo. Não
aproveitar o que acontece no aqui e agora é viver no passado e estar vivo pela
metade. Isso leva à autopiedade, sofrimento e lágrimas.
Você nasceu com o direito de ser feliz. Nasceu com o direito de amar, de
aproveitar e compartilhar seu amor. Você está vivo. Portanto, tome sua vida e a
aproveite. Não resista à vida que está passando através de você, porque é Deus
passando através de você. Apenas sua existência prova a existência de Deus. Sua
existência prova a existência da vida e da energia.
Não precisamos saber ou provar coisa alguma. Simplesmente ser, assumir o
risco e apreciar a vida é tudo o que importa. Diga não quando tiver de dizer não
e sim quando tiver de dizer “sim”. Você tem o direito de ser você. E só pode ser
você quando dá o melhor de si. Quando não dá o melhor de si, está se negando o
direito de ser você. Essa é uma semente que deve alimentar em sua mente. Você
não precisa de grande sabedoria nem de grandes conceitos filosóficos. Não
precisa da aceitação dos outros. Você expressa sua divindade estando vivo e
amando a si mesmo e aos outros. É uma expressão divina dizer: “Ei, eu amo
você.”
Os primeiros três compromissos só vão funcionar se você fizer o melhor.
Não espere sempre poder ser impecável com as palavras. Seus hábitos rotineiros
são fortes e enraizados demais em sua mente. Mas você sempre pode fazer o
melhor. Não espere nunca levar nada para o lado pessoal; faça o melhor
possível. Não espere que vá parar de tirar conclusões, mas com certeza você
pode fazer o seu melhor.
Dando o melhor de si, os hábitos de usar errado a palavra, de levar as coisas
para o lado pessoal e de tirar conclusões irão se tornando cada vez mais fracos e
menos frequentes. Você não precisa julgar a si mesmo, sentir-se culpado ou
castigar-se se não conseguir manter os compromissos. Se estiver fazendo o
melhor possível, irá sentir-se bem consigo mesmo, ainda que tire conclusões,
que leve as coisas para o lado pessoal e que não seja impecável com sua palavra.
Se você sempre fizer o melhor, uma vez depois da outra, irá tornar-se um mestre
da transformação. A prática faz a maestria. Fazendo o melhor, irá tornar-se um
mestre. Tudo o que você já aprendeu, foi por meio da repetição. Aprendeu a
escrever, a dirigir e até mesmo a andar por repetição. Você é um mestre em
utilizar sua linguagem porque praticou. A ação é que faz a diferença.
Se você der o melhor de si na procura de liberdade pessoal, na busca do
amor-próprio, vai descobrir que é apenas uma questão de tempo até conseguir o
que deseja. Não se trata de sonhar acordado ou passar horas em meditação. Você
precisa levantar-se e ser humano. Precisa honrar o homem ou a mulher que é.
Respeite, aproveite e ame seu corpo; alimente-o, limpe-o e cure-o. Exercite-o e
faça o que ele se sente bem em fazer. Esse é o puja de seu corpo, isso é a
comunhão entre você e Deus.
Você não precisa adorar ídolos da Virgem Maria, de Cristo ou de Buda.
Você pode, se quiser; se é bom, faça.
Seu próprio corpo é uma manifestação de Deus, e se você honrá-lo, tudo vai
mudar em sua vida. Quando pratica o hábito de amar cada parte de seu corpo,
planta sementes em sua mente, e quando elas germinarem, você irá amar honrar
e respeitar seu corpo imensamente.
Cada ação se torna um ritual no qual você está honrando a Deus. O passo
seguinte é honrar a Deus com todos os pensamentos, emoções, crenças, até
mesmo com o que é “certo” e “errado”. Cada pensamento torna-se uma
comunhão com Deus. Você irá viver um sonho sem julgamentos, sem fazer o
papel de vítima, além de libertar-se da necessidade de mexericar e provocar
autossofrimento.
Quando você honra esses quatro compromissos, não existe maneira de viver
no inferno. É impossível. Se você for impecável com sua palavra, se não levar
nada para o lado pessoal, se não tirar conclusões e der sempre o melhor de si,
terá uma bela vida. Irá controlar 100 por cento de sua vida.
Os quatro compromissos são um sumário do poder da arte da
transformação, um dos domínios dos toltecas. Você transforma o inferno no céu.
O sonho do planeta é transformado em seu sonho pessoal de céu. A sabedoria
está lá, só esperando que você a use. Os Quatro Compromissos estão lá; você só
precisa adotá-los e respeitar seu domínio e poder.
Você simplesmente oferece o melhor de si para respeitar esses
compromissos. Você pode fazer isso hoje: escolho honrar os Quatro
Compromissos. São tão simples e lógicos que até uma criança é capaz de
compreendê-los. Mas você precisa ter uma grande força de vontade para cumpri-
los. Por quê? Porque aonde quer que vamos, encontramos nosso caminho cheio
de obstáculos. Cada um deles tenta sabotar nosso acordo, e tudo ao nosso redor é
uma armadilha para quebrá-lo. O problema é que os outros compromissos são
parte do sonho do planeta. Estão vivos, e são muito fortes.
Por isso, você precisa ser um grande caçador, um grande guerreiro apto a
defender esses Quatro Compromissos com sua vida. Sua felicidade, sua
liberdade, toda a sua maneira de viver depende disso. O objetivo do guerreiro é
transcender esse mundo, escapar desse inferno e nunca mais voltar. Como os
toltecas nos ensinaram, a recompensa é transcender a experiência humana de
sofrimento, tornar-se a encarnação divina. Esse é o prêmio.
Realmente, precisamos usar cada migalha de poder que possuímos para ter
sucesso ao manter esses compromissos. De início, eu não esperava poder
conseguir. Caí muitas vezes, mas me levantei e segui em frente. Caí outras vezes
e prossegui. Não senti pena de mim mesmo. Não havia como me sentir assim.
Eu dizia: “Se caí, sou forte o suficiente, sou inteligente o suficiente, e posso
conseguir.” Fiquei em pé e continuei meu caminho. Caí e continuei caminhando,
e a cada vez foi mais fácil. Ainda assim, no início foi muito duro e difícil.
Portanto, se você cair, não julgue. Não dê ao seu Juiz a satisfação de
transformá-lo em vítima. Não seja duro com você mesmo. Erga-se e faça o
compromisso novamente.
“Muito bem, quebrei meu acordo. Não fui impecável com minha palavra.
Mas vou começar outra vez. Vou manter Os Quatro Compromissos só por hoje.
Serei impecável com minha palavra, não levarei nada para o lado pessoal, não
tirarei conclusões e farei o melhor possível.”
Se você romper um compromisso, comece outra vez no dia seguinte, e
novamente no dia que virá depois. No início, será difícil, mas a cada dia se
tornará mais e mais fácil, até que um dia você descobre que está controlando a
sua vida. Você ficará surpreso com a maneira como sua vida foi transformada.
Você não precisa ser religioso nem ir à igreja todos os dias. Seu amor e
auto-respeito irão crescer cada vez mais. Você pode fazer isso. Se eu consegui,
você também pode conseguir. Não se preocupe com o futuro; mantenha sua
atenção no presente e permaneça aqui e agora. Viva apenas um dia de cada vez.
Dê sempre o melhor de si para manter esses compromissos, e logo será fácil para
você também. Hoje é o início de um novo sonho.
O caminho tolteca para a liberdade
O céu na Terra
Quero que você esqueça tudo o que aprendeu durante sua vida inteira. Este
é o começo de um novo entendimento, de um novo sonho.
O sonho que está vivendo é sua criação. É a sua percepção de realidade que
você pode mudar a qualquer momento. Você tem o poder de criar o inferno e o
poder de criar o céu. Por que, então, não sonhar um sonho diferente? Por que não
usar sua mente, sua imaginação e suas emoções para sonhar o céu?
Use apenas sua imaginação e algo incrível acontecerá. Imagine que você
tem a habilidade de enxergar o mundo com olhos diferentes, sempre que
escolher. A cada vez que você abre os olhos, vê o mundo de forma diferente.
Feche os olhos agora, depois abra-os e olhe para fora.
O que você vai enxergar é amor saindo das árvores, descendo do céu,
fluindo da luz. Você percebe o amor de tudo à sua volta. Esse é o estado de
graça. Você percebe o amor diretamente de tudo, inclusive de você mesmo e dos
outros seres humanos. Quando as pessoas estão tristes ou felizes, por trás desses
sentimentos você pode ver que também estão emitindo amor.
Usando sua imaginação e seus novos olhos de percepção, quero que você se
enxergue vivendo um novo sonho, uma nova vida, na qual não precisa justificar
sua existência e fica livre para ser quem realmente é.
Imagine que tem permissão para ser feliz e aproveitar sua vida. Ela está
livre de conflito com você mesmo e com os outros.
Imagine sua vida sem medo de expressar seus sonhos. Você sabe o que quer
o que não quer e quando quer. Está livre para alterar sua vida da forma que
sempre desejou. Não tem medo de pedir o que precisa, de dizer sim ou não para
alguma coisa ou alguém.
Imagine-se vivendo sua vida sem o medo de ser julgado pelos outros. Não
regula mais seu comportamento de acordo com o que os outros possam pensar
sobre você. Não tem necessidade de controlar ninguém, e, em contrapartida,
ninguém o controla.
Imagine viver sua vida sem julgar as pessoas. Você pode perdoá-las com
facilidade e esquecer os julgamentos que possa ter. Não tem a necessidade de
estar certo, não precisa mais tornar todo o mundo errado. Você respeita a si
mesmo e a todos que, em troca, também o respeitam.
Imagine a si mesmo sem o medo de amar e não ser amado. Não teme mais
ser rejeitado e não tem a necessidade de ser aceito. É capaz de dizer: “Eu amo
você”, sem justificativa ou vergonha. Pode andar pelo mundo com seu coração
completamente aberto, sem ter medo de ser ferido. Imagine viver sem o temor de
assumir um risco e explorar a vida. Você não tem medo de perder nada. Não tem
medo de estar vivo e não tem medo de morrer.
Imagine que ama a si mesmo do jeito que você é. Ama seu corpo da forma
que é e suas emoções da forma como são. Sabe que é perfeito assim como você
é.
O motivo de estar lhe pedindo para imaginar essas coisas é porque elas são
inteiramente possíveis! Você pode viver em estado de graça, em êxtase, o sonho
do céu. Mas, para experimentar esse sonho, você primeiro precisa entender o que
é.
Apenas o amor possui a capacidade de colocá-lo nesse estado de graça.
Estar em êxtase é como amar. Amar é como estar em êxtase. Você flutua nas
nuvens. Percebe o amor aonde quer que vá. É inteiramente possível porque
outros já o fizeram e eles não são diferentes de você. Vivem em êxtase porque
mudaram seus compromissos e sonham um sonho diferente.
Uma vez que você sinta o que significa viver em êxtase, vai adorar. Saberá
que o céu na Terra é verdadeiro.., que o céu existe de verdade. Uma vez que
saiba que o céu existe, uma vez que saiba que é possível alcançá-lo, compete a
você realizar o esforço necessário para isso. Dois mil anos atrás, Jesus nos falou
sobre o reino dos céus, do amor, mas as pessoas não estavam prontas para
escutar isso. Disseram: “Sobre o que você está falando? Meu coração está vazio,
não sinto esse amor, não tenho a paz que você tem.” Você não precisa fazer isso.
Imagine apenas que essa mensagem de amor seja possível e vai descobrir que ela
é sua.
O mundo é muito bonito e maravilhoso. Viver pode ser muito fácil quando
o amor é sua forma de vida. Você pode estar pleno de amor o tempo todo. É uma
escolha sua. Talvez não tenha um motivo para amar, mas pode amar, porque
amar o torna feliz. O amor em ação só produz felicidade. Ele lhe dará paz
interior. Irá mudar sua percepção de tudo.
Você é capaz de enxergar tudo com os olhos do amor. Pode ficar consciente
do amor que existe ao seu redor. Quando você vive dessa forma, não existe mais
nevoeiro em sua mente. O mitote se foi para sempre. Isso é o que os seres
humanos procuram há séculos. Por milhares de anos temos procurado a
felicidade. Ela é o paraíso perdido. Os seres humanos têm trabalhado tanto para
alcançar esse ponto, e isso faz parte da evolução da mente. Este é o futuro da
humanidade.
Essa forma de viver é possível e está ao seu alcance. Moisés a chamou de
Terra Prometida, Buda a chamou de Nirvana, Jesus a chamou de Céu e os
toltecas, de Novo Sonho. Infelizmente, sua identidade está misturada ao sonho
do planeta. Todas as suas crenças e compromissos estão no nevoeiro. Você sente
a presença dos parasitas e acredita ser você. Isso torna difícil continuar —
libertar os parasitas e criar espaço interno para experimentar o amor. Você está
viciado no Juiz, na Vítima. O sofrimento o faz sentir-se seguro porque você o
conhece muito bem.
Mas, na realidade, não existe motivo para sofrer. Você escolhe sofrer — e
esse é o único motivo. Se olhar para a sua vida, vai encontrar um bocado de
desculpas para sofrer. Se examinar sua vida, descobrirá muitas desculpas, mas
não vai encontrar nenhum bom motivo para sofrer. O mesmo vale para a
felicidade. A única razão para você ser feliz é porque escolheu ser feliz. A
felicidade é uma escolha, assim como o sofrimento.
Talvez não possamos escapar do destino dos seres humanos, mas temos a
opção; sofrer nosso destino ou aproveitar nosso destino. Sofrer ou amar e ser
feliz. Viver no inferno ou viver no céu. Minha escolha é viver no céu. Qual é a
sua?
Orações
Por favor, dedique um instante a fechar os olhos, abrir o coração e sentir
todo o amor que vem de seu coração.
Quero que você se junte às minhas palavras em sua mente e em seu coração,
para sentir uma conexão forte de amor. Juntos, iremos fazer uma oração muito
especial para experimentar uma comunhão com nosso Criador.
Focalize a atenção em seus pulmões, como se só eles existissem. Sinta o
prazer quando eles se expandem para preencher a maior necessidade do ser
humano: respirar.
Inspire profundamente e sinta como o ar enche seus pulmões. Sinta como o
ar não é nada além de amor. Repare na conexão entre ele e os pulmões, uma
ligação de amor. Expanda seus pulmões com ar até que seu corpo tenha a
necessidade de expelir esse ar. Então expire, e sinta outra vez o prazer. Quando
satisfazemos qualquer necessidade do corpo humano, sentimos prazer. Respirar
nos dá muito prazer. Apenas o fato de respirar já seria motivo suficiente para nos
manter sempre felizes, apreciando a vida. Estar vivo é o bastante. Sinta o prazer
de estar vivo, o prazer de sentir o amor...