Respiacao Oral

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Artigo de Revisão

Repercussões da Respiração Oral no Estado Nutricional:


Por Que Acontece?
Effects of Oral Breathing in the Nutritional State. Why does it Happen?
Daniele Andrade da Cunha*, Giselia Alves Pontes da Silva**, Hilton Justino da Silva***.

* Mestre em Nutrição. Professora do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade Integrada do Recife.


** Doutora em Medicina EPM/UNIFESP. Docente de Pediatria - Universidade Federal de Pernambuco.
*** Doutor em Nutrição. Docente do Departamento de Fonoaudiologia -Universidade Federal de Pernambuco.

Instituição: Universidade Federal de Pernambuco.


Recife / PE – Brasil.
Endereço para correspondência: Hilton Justino da Silva - Rua São Salvador, 105 - Apt. 1002 - Espinheiro - Recife / PE - Brasil - CEP: 52020-200 - E-mail: [email protected]
Artigo recebido em 7 de Junho de 2009. Artigo aprovado em 4 de Agosto de 2009.

RESUMO
Introdução: Algumas crianças que respiram pela boca e apresentam apneias obstrutivas noturnas podem apre-
sentar retardo do crescimento pôndero-estatural.
Objetivo: O objetivo deste artigo é analisar as alterações miofuncionais orofaciais presentes no indivíduo res-
pirador oral e as repercussões sobre o estado nutricional. Enfoca a importância da equipe interdisciplinar
no acompanhamento das alterações globais presentes na respiração oral.
Método: O método utilizado foi uma revisão da literatura, a partir de artigos publicados em revistas cientificas
indexadas, livros e trabalhos de pós-graduação. A maioria dos artigos foi identificada a partir das bases
de dados, LILACS, MEDLINE e SCIELO.
Resultados: Percebe-se relação da respiração oral com a modificação no processo geral de alimentação, associada
às dificuldades no olfato, paladar e distúrbios miofuncionais orofaciais, repercutindo assim no estado
nutricional.
Comentários Finais: A diversidade de causas envolvidas na respiração oral requer uma equipe interdisciplinar treinada
para identificar estas alterações, possibilitando a implementação de medidas preventivas, que evitem
alterações na saúde geral, no desenvolvimento normal da face e no estado nutricional em importantes
fases do crescimento desses indivíduos.
Palavras-chave: estado nutricional, respiração bucal, fonoaudiologia.

SUMMARY
Introduction: Some children who breathe through the mouth and present nocturnal obstructive apnea can present
retardation of the structural pondero growing.
Objective: The objective of this article is to analyse the orofacial miofuctional alterations presentin the oral breathing
individual and the effects over the nutritional state. Focus the importance of the interdisciplinary team
following the global alterations present in the oral breathing.
Method: The used method was a literature's revision, from published articles in indexed scientific magazines,
books and works from pos-graduation. The major of the articles was identified from the bases of
LILACS, MEDLINE, and SCIELO informations.
Results: Can be noticed the relationship of the oral breathing with a change in the general process of alimentation
linked to the taste, oral miofunction and smell difficulties, reflecting in this way in the nutritional state.
Final Commentaries: The cause diversities envolved in oral breathing require a trained interdisciplinary team to identify these
alterations, making possible the preventive measure implementation which can avoid alterations in
general health, in the face normal development and the nutritional state in important stage of
theseindividuals growing.
Keywords: Nutritional state, oral breathing, phonoaudiology.

Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol., São Paulo - Brasil, v.15, n.2, p. 223-230, Abr/Mai/Junho - 2011.
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Repercussões da respiração oral no estado nutricional: Por que acontece? Cunha et al.

causas mais comuns, suas repercussões no processo de


INTRODUÇÃO aprendizagem escolar, suas repercussões posturais e nas
funções orofaciais, suas repercussões no olfato e paladar e
A presença de qualquer obstáculo nas vias aéreas por fim suas repercussões no estado nutricional.
superiores, principalmente na região nasal e/ou faríngea,
impede a livre passagem do ar, obrigando o indivíduo a
respirar pela boca, utilizando a cavidade oral como um DISCUSSÃO
conduto passivo na respiração (1). Esses obstáculos nas vias
aéreas superiores, comumente, são causados por anormali-
dades estruturais, doenças nasossinusais, entre outras (2). Respiração oral: Causas mais comunS

Algumas crianças que respiram pela boca e apresen- A respiração oral crônica pode ser definida como
tam apneias obstrutivas noturnas podem apresentar retar- uma respiração habitual pela boca, em vez de ser realizada
do do crescimento pôndero-estatural, pois a irregularidade pelo nariz (6).
do sono parece ser a causa da diminuição da liberação
noturna do hormônio do crescimento (3). A alteração no Os obstáculos nas vias aéreas superiores,
processo do sono, leva ao cansaço frequente, sonolência comumente, são causados por anormalidades estruturais,
diurna, adinamia, enurese noturna e até déficit de aprendi- doenças nasossinusais ou hipertrofia do anel linfático de
zado (4). Waldeyer (composto pelas tonsilas faríngeas/adenoides,
palatinas/amígdalas, tubárias e linguais). Sendo citados
Ao abrir a boca para respirar, ocorrem adaptações como frequentes os processos infecciosos, deformidades
nas estruturas e um desequilíbrio nas funções orofaciais. septais, fratura nasal, rinite medicamentosa, tumores nasais
Essas alterações comprometem as funções de mastigação e fossas nasais estreitas (2).
e deglutição e, como consequência leva a dificuldades no
processo da alimentação, desse modo o crescimento global Outras causas menos comuns podem ocorrer como
das crianças com respiração oral pode ser prejudicado, bem tumores, pólipos nasais, atresia de coana e deformidades
como o estado nutricional (3). congênitas da cavidade nasal (7). Existindo ainda situações
que, embora não levem à obstrução nasal, são responsáveis
Embora as pesquisas científicas sugiram uma relação pela respiração oral, entre elas: obstrução hipofaríngea,
entre o padrão de respiração oral e o padrão de alimenta- macroglossias e insuficiência labial (2).
ção, há carência na literatura nacional de estudos que
analisem se esse modo de respirar interfere no estado Pode ainda existir a presença da respiração oral por
nutricional. Devido a diversidade dos sinais e sintomas hábito, isto é, a manutenção da respiração oral mesmo após
apresentados pelo respirador oral, profissionais em dife- a instituição de tratamento que assegure a permeabilidade
rentes áreas de atuação têm se envolvido cada vez mais das vias aéreas superiores (VAS) (1).
com esses pacientes, por meio de uma intervenção
interdisciplinar (5). Com o objetivo de identificar as principais causas de
respiração oral em crianças, um estudo investigou 104
Assim, o objetivo deste artigo é apresentar uma crianças encaminhadas à Clínica de Fonoaudiologia com
revisão da literatura que aborda a questão de como as queixas clínicas de respiração oral crônica, sendo 48 (46,15%)
alterações miofuncionais orofaciais presentes no indivíduo meninas e 56 (53,85%) meninos, com idade de três a 10
respirador oral podem repercutir sobre o estado nutricional. anos. Foram realizadas avaliação otorrinolaringológica com-
Pretende-se ainda enfocar a importância da equipe pleta, avaliação fonoaudiológica (observação visual e
interdisciplinar no acompanhamento das alterações globais palpação dos elementos do sistema estomatognático) e
presentes nos indivíduos afetados. exames complementares, como radiografia do cavum,
audiometria tonal e imitanciometria. Os resultados revela-
ram como principais causas de respiração oral a rinite
REVISÃO DA LITERATURA alérgica, em 34 (32,69%), a hipertrofia de adenoide, em 12
(11,54%); hipertrofia de amígdala, em 4 (3,85%), a
A presente revisão foi realizada a partir de artigos hipertrofia de adenoide e amígdala, em 7 (6,73%), por
publicados em revistas científicas indexadas, livros e traba- hábito, em 8 (7,69%) e doenças associadas, em 39 (37,5%)
lhos de pós-graduação. A maioria dos artigos foi identificada crianças (2).
a partir das bases de dados, LILACS, MEDLINE e SCIELO.
Com base nos 40 trabalhos encontrados foram apresenta- Foi realizada uma pesquisa com 30 pacientes com
dos e discutidos as relações da respiração oral com suas o objetivo de avaliar os tipos mais comuns de deformidades

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crânio-faciais encontradas em pacientes com obstrução O mais importante é salientar que independente-
nasal crônica, através de análises cefalométricas e exame mente da causa, a respiração oral na infância pode resultar
otorrinolaringológico, comparando com um grupo controle em alterações orgânicas progressivas e consequências
sem alterações nasais. Destes, foram selecionados os que diversas (8).
se apresentavam na faixa etária entre sete e 12 anos, visto
que as manifestações crânio-faciais decorrentes da respira- As alterações de forma e/ou de função quando
ção oral tornam-se mais evidentes com o decorrer da idade. tratadas por uma equipe interdisciplinar poderão ou não
Os pacientes com mais de 12 anos de idade foram ser resolvidas, pois a resolução dos problemas também é
excluídos, considerando-se que as queixas de obstrução dependente do tempo de instalação. Às vezes, mesmo
nasal após esta idade reduzem consideravelmente. Obser- trabalhando em conjunto, pode-se apenas minimizar estes
varam, quanto ao tipo de obstrução respiratória, que 5 problemas 11).
(16,67%) pacientes apresentavam hipertrofia adenoideana
isolada, 5 (16,67%) apresentavam hipertrofia de cornetos
inferiores isolada (decorrente de rinopatia alérgica pere- Respiração oral: Repercussões no processo de
ne), 5 (16,67%) tinham desvio septal isolado, 2 (6,66%) aprendizagem escolar
com respiração oral por hábito e nenhum dos pacientes
apresentou hipertrofia amigdaliana como causa isolada de Acompanhando as características físicas, a criança
obstrução nasal (8). com respiração oral, em função dos sintomas pertinentes
ao seu quadro clínico, pode ter seu desenvolvimento social
Uma das causas que também pode levar à respira- e cognitivo comprometido. Geralmente exige-se da crian-
ção oral é o desmame precoce. O lactente em aleitamento ça da criança uma rotina de tarefas que nem sempre ela
materno mantém a postura de repouso de lábios ocluídos está em condições de responder pelas alterações
e respiração nasal, mas quando ocorre o desmame preco- provocadas por respirar pela boca (12).
ce, a postura de lábios entreabertos do bebê é mais
comum, facilitando a respiração oral. A introdução de Com o objetivo de comparar os achados de sonolên-
mamadeiras, chupetas e hábito de sucção de polegar cia diurna, cefaleia, agitação noturna, enurese, problemas
podem levar à ruptura do desenvolvimento motor-oral escolares e bruxismo em indivíduos com respiração oral, foi
adequado, provocando alterações na postura e força dos realizada uma pesquisa prospectiva com 142 pacientes, de
órgãos fonoarticulatórios como lábios, língua e bochechas, ambos os sexos, entre dois e 16 anos, no período de abril
prejudicando as funções de mastigação, deglutição, respi- de 2001 a dezembro de 2002. Os voluntários foram
ração e articulação dos sons da fala. Com isto, a falta da classificados em três grupos de etiologia da respiração oral:
sucção fisiológica e adequada ao seio pode interferir no rinite alérgica, hiperplasia adenoideana isolada e hiperplasia
desenvolvimento motor-oral, possibilitando a instalação de adenoamigdaliana. Constatou-se que o déficit de atenção
má oclusão, alteração motora-oral e respiração oral (9). e o mau desempenho escolar foram mais frequentes no
grupo com hiperplasia das tonsilas faríngea e palatina
Para observar as alterações em morfologia facial associados à apneia (13).
encontradas no grupo de respiradores bucais e compará-las
com um grupo de crianças da mesma idade, com respira- A literatura relata que os respiradores orais geral-
ção predominantemente nasal, alguns autores realizaram mente são inquietos, agitados e impacientes, estão sempre
uma avaliação cefalométrica e miofuncional em 35 crianças cansados, sonolentos, isto acontece por existir uma menor
de sete a 10 anos com queixa de respiração oral. As oxigenação cerebral, pois o sono é agitado e entrecortado,
alterações cefalométricas mais comuns encontradas em podendo repercutir no desempenho escolar (14).
respiradores orais, comparando-os com os respiradores
nasais, foram a hipoplasia maxilar e mandibular e aumento Para detectar se a defasagem escolar era consequ-
do ângulo goníaco, com rotação póstero-inferior da mandí- ência ou não da respiração oral, foi realizada uma obser-
bula. As alterações miofuncionais orais em respiradores vação do aspecto respiratório de alunos em sala de aula,
orais mais comuns foram a postura dos lábios entreaberta uma vez por semana, uma hora em cada sala, num
e da língua em assoalho oral, a hipotonicidade dos lábios, período de 6 a 8 semanas. Realizou-se entrevista com
da língua e das bochechas e a interposição da língua entre professores onde se verificou quais alunos apresentaram
as arcadas durante a deglutição e a fonação. Em relação aos defasagem escolar. Os resultados demonstraram que das
hábitos das 14 crianças respiradoras orais, 11 (78,57%) 237 (100%) crianças observadas, 43 (18,14%) apresenta-
fizeram uso da mamadeira, 6 (42,85%) fizeram uso da ram respiração oral. Destas 43 crianças com respiração
chupeta e 1 (7,14%) tinha o hábito de sucção digital por oral 32 (13,5%) apresentaram além da respiração ora,
mais de dois anos de duração. Apenas 2 (14,28%) não dificuldade na aprendizagem escolar, segundo seus pro-
tinham hábito algum por tempo prolongado (10). fessores. Com isto, os autores concluíram que a respiração

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oral pode trazer prejuízos, como dificuldade na aprendi- daí, a criança respiradora oral pode ser identificada por
zagem (15). características faciais e consequências típicas (4), as quais
podem interferir na direção do crescimento da mandíbula
e dos dentes (22).
Respiração oral: Repercussões posturais
e nas funções orofaciais Entre as alterações intra-orais encontram-se o mau
posicionamento da língua, estreitamento da maxila,
A mudança no modo respiratório obriga o paciente protrusão dos dentes anteriores, presença de mordidas
a manter a boca aberta, para suprir a deficiência de ar abertas e cruzadas, e o palato duro em forma de “V”,
respirado e tentar aumentar o espaço naso-aéreo-faríngeo estreito e profundo (23). O palato do respirador oral torna-
(16). Com isso a harmonia da musculatura facial é alterada se profundo em virtude da ausência do vedamento labial,
(17). que impede que haja uma pressão negativa, com isto o
palato não desce, tornando-se profundo (24).
Para assumir tal postura respiratória o indivíduo
mantém a boca aberta quase que constantemente e Para verificar a possível influência da respiração oral
estende a cabeça em relação à coluna cervical (18), altera sobre a profundidade do palato, foram avaliadas 60 crianças
os estímulos musculares, levando a distúrbios de modela- e adolescentes, de ambos os sexos, na faixa etária de nove
gem óssea durante o crescimento. Toda a relação de a 14 anos, sendo 30 respiradoras orais e 30 respiradoras
equilíbrio morfológico e estrutural se modifica (19). nasais. Observou-se que a média do índice da altura
palatina foi maior no grupo de respiradores orais, porém a
Com o objetivo de verificar a influência de diferen- diferença não foi estatisticamente significante (25).
tes etiologias na postura típica do respirador oral, foram
realizadas 176 avaliações posturais em crianças de cinco a Estas mudanças na forma do palato duro ocasionarão
12 anos, sendo 99 do sexo masculino e 77 do sexo consequências na fala, pois a língua terá dificuldade de
feminino. A etiologia da respiração oral foi determinada tocá-lo para pronunciar alguns fonemas, como por exem-
mediante avaliação otorrinolaringológica completa, inclu- plo o enfraquecimento dos fonemas (/k/, /g/) (26).
indo exame nasofibroscópico da cavidade nasal e rinofaringe
como também testes alérgicos. As crianças foram divididas O aparecimento da obstrução das vias aéreas supe-
em grupos de acordo com as diferentes etiologias da riores desencadeia uma resposta neuromuscular com adap-
respiração oral, grupo 1 (56 com Rinite alérgica), grupo 2 tação da língua, da mandíbula e da musculatura facial,
(69 com hipertrofia das adenoides e/ou amígdalas) grupo gerando assim estímulos musculares inadequados com
3 (rinite alérgica associada com hipertrofia das adenoides modificações das arcadas dentárias causando alterações
e/ou amígdalas) (20). esqueléticas e musculares (27).

As avaliações mostraram que a postura é influenci- A hipofunção dos músculos elevadores da mandíbu-
ada pelo fato da criança ser respiradora oral e os dados mais la geralmente está associada à hipofunção dos lábios e
relevantes mostram que a projeção anterior de cabeça foi bochechas que podem alterar a mastigação, tornando-a
de 80% nos grupos por hábito e hipertrofia das adenoides ineficiente. O indivíduo pode apresentar maloclusões que
e/ou amígdalas, e 77% nos casos riníticos. Apresentando interferirão também na eficiência mastigatória (28).
protrusão de ombros em 100% das crianças respiradoras
orais por hábito, 64% com hiperlordose lombar nos casos A incoordenação da respiração com a mastigação
alérgicos, 74% de valgismo nos joelhos (pernas em forma pode causar engasgos pelo fato do bolo alimentar não ter
de X) no grupo com hipertrofia de amígdalas e/ou adenoides, sido bem triturado. Como consequência da má mastigação,
e os pés planos foram prevalentes em 48%, no grupo onde a deglutição será alterada e adaptada podendo apresentar
existiam crianças que tinham rinite alérgica associada com projeção anterior de língua, contração exagerada de mús-
hipertrofias (20). culo orbicular dos lábios, movimentos compensatórios de
cabeça e ruídos (26).
Havendo mudança de postura da mandíbula, come-
ça a surgir uma adaptação de toda a musculatura facial, que Em virtude da mastigação incorreta dos alimentos e
provoca modificações nas arcadas dentárias e no do cansaço durante o processo, a alimentação será preju-
posicionamento dos dentes, acarretando alterações estru- dicada. Pela necessidade de respirar pela boca o indivíduo
turais nas partes osteoesqueletais da face como um todo, engole o bolo alimentar deficientemente insalivado acom-
ocorrendo desequilíbrios em estruturas como lábios, língua, panhado de deglutição de ar e de intervalos de abertura da
palato e mandíbula que se deslocam para baixo e para trás, boca para poder respirar, o que dificultará a digestão,
para se adaptar ao novo padrão respiratório (21). A partir podendo levar à inapetência (29).

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Respiração oral: Repercussões no olfato e As queixas de dificuldade na alimentação nos respi-


paladar radores orais geralmente são mais frequentes quando o
paciente tem hiperplasia das amígdalas palatinas. As mães
No indivíduo que apresenta respiração oral, o relatam que as crianças comem pouco, devagar, engas-
olfato pode ser prejudicado em virtude da não utilização gam, preferem alimentos pastosos, relatam ter dificuldade
adequada das vias aéreas superiores (30). As hiposmias para mastigar. Estas crianças apresentam de falta espaço
(diminuição do olfato) ou anosmias (ausência do olfato), para deglutir e podem ter movimentos alterados de cabeça
ocorrem em consequência das alterações do fluxo aéreo, quando deglutem. Isto pode estar acontecendo porque as
quando a corrente olfatória não alcança o teto da fossa amígdalas volumosas no fundo da boca, praticamente
nasal. Nesse item enquadram-se as hipertrofias de corneto fechando a passagem da orofaringe, impede o processo
médio, desvios septais, pólipos e grandes deformidades fisiológico da deglutição (11).
da pirâmide nasal. Nestes casos, o paciente geralmente
queixa-se de hipogeusia, ou seja, diminuição do paladar Crianças com respiração oral geralmente não conse-
(31). guem comer de boca fechada, não mastigam suficiente e
deglutem o alimento quase inteiro (36). Para facilitar a
Alguns autores propõem que a obstrução nasal leva passagem deste alimento o indivíduo passa a ingerir muito
à diminuição da olfação, diminuindo por consequência o líquido (37), essas modificações compensatórias no pro-
apetite. Em um estudo para avaliar a obstrução nasal e cesso de mastigação e respiração podem levar à alterações
olfação em 78 crianças, sendo 65 com obstrução nasal e 13 nutricionais. Por não conseguir manter a boca fechada, a
sem obstrução, com indicação de adenoidectomia por criança com respiração oral pode associar alimentação à
hipertrofia da amígdala faríngea, foi constatada a diminui- sufocação. Assim, existe uma diminuição da quantidade de
ção da olfação associada à obstrução nasal, e observou-se alimento ingerido, podendo tornar essas crianças muito
que após a adenoidectomia houve melhora tanto da magras (36).
obstrução quanto da sensibilidade olfativa (32).
Para verificar se existe ou não melhora no estado
Olfato e paladar estão intimamente associados e o nutricional no período pós-operatório em crianças
mecanismo do olfato excita os receptores do paladar, respiradoras orais, foram avaliadas 87 crianças, entre dois e
exercendo grande influência sobre este, talvez explicando 10 anos. As crianças foram divididas em 4 grupos, 24
o porquê de indivíduos que respiram pela boca apresenta- crianças tinham diagnóstico de hipertrofia de amígdalas
rem desvios do estado nutricional (33). palatinas e faríngea, com cirurgia agendada (grupo I), 15
com diagnóstico de hipertrofia de amígdala faríngea
Respirando-se pela boca não se percebe o sabor e (adenoide), com cirurgia agendada (grupo II), 33 com
aroma dos alimentos, assim a opção pelo alimento não é diagnóstico de hipertrofia de amígdalas palatinas e faríngea,
feita através do apetite mas pela consistência do alimento na lista de espera para cirurgia (grupo III) e 15 com
e pela facilidade de ingerí-lo (34). diagnóstico de hipertrofia de amígdala faríngea, na lista de
espera para cirurgia (grupo IV). Foram realizados anamneses,
A diminuição na percepção dos odores pode acar- exames otorrinolaringológicos (otoscopia, oroscopia e
retar prejuízos a qualidade de vida do paciente, pois além rinoscopia anterior) e nasofibroscopia. Também foram
de afetar a função respiratória, traz danos ao paladar e a pesadas e medidas durante um período de quatro meses e
nutrição do respirador oral (35). submetidas à avaliação dietética realizada pelo recordatório
de 24 horas (38).

Respiração oral: Repercussões no estado Os resultados mostraram que na avaliação pôndero-


nutricional estatural apenas 8,8% das crianças com hipertrofia de
amígdalas palatinas e faríngea (grupos I e III) e 10,0% das
Todas as consequências ocasionadas pela respira- com hipertrofia de amígdala faríngea (grupos II e IV)
ção oral, podem influenciar na consistência do alimento apresentavam-se desnutridas, e que apenas os pacientes
adotado na dieta e na quantidade ingerida. Ao respirar pela com hipertrofia de amígdalas palatinas e faríngea (grupo I)
boca, a criança determina um caminho aéreo inadequado submetidos à adenoamigdalectomia apresentaram cresci-
para o ar inspirado e por este caminho passa a respirar e mento acima do esperado após a cirurgia. A avaliação
desempenhar outras funções, como por exemplo a nutricional não apresentou diferença estatisticamente
mastigação. Com isto, passa a selecionar alimentos mais significante em relação à ingestão calórica antes e após a
fluidos, de menor consistência que não exijam força cirurgia tanto em crianças com hipertrofia de amígdalas
mastigatória e que possam ser deglutidos rapidamente palatinas e faríngea como de amígdala faríngea isolada
para poder respirar (28). (38).

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A posição de boca aberta pode levar à diminuição da Atenção precoce a esses sintomas pode evitar com-
percepção do paladar, gerando inapetência e uma possível plicações no processo de alimentação e repercussão no
perda de peso (11). Associado à alteração do peso, há estado nutricional geral das crianças. A existência de uma
também a hipótese que o distúrbio do sono resultante da equipe com formação em diversas especialidades na aten-
hipoxemia, originada pela obstrução das vias aéreas supe- ção ao respirador oral pode ser a chave para a mudança no
riores leve a um déficit na secreção de hormônio do olhar clínico das alterações em uma etapa ainda primária.
crescimento (39).
As associações entre alteração no estado nutricional
Alguns pesquisadores avaliaram 1136 crianças entre e a respiração oral ainda não estão totalmente esclarecidas
7 e 12 anos com o objetivo de observar se havia relação na literatura, principalmente em relação ao sobrepeso/
entre o tamanho das amígdalas com a altura e o peso da obesidade, porém algumas associações reforçam a hipóte-
criança. Seus resultados demonstraram que houve uma se do envolvimento da modificação do modo respiratório
diminuição de peso nestas crianças, porém não encontra- e a presença de condições nutricionais inadequadas, po-
ram alteração na deglutição o que poderia ser um fator dendo levar o indivíduo na maioria das vezes a um déficit
importante na gênese do déficit de crescimento, porém pôndero-estatural.
relacionaram o ganho de peso pós-operatório com o
tamanho das amígdalas palatinas (quanto maiores as amíg- Conclui-se, então, que apesar de haver fortes argu-
dalas palatinas, maior foi o ganho de peso no pós-operató- mentos teóricos buscando explicar uma possível influência
rio) (40). da respiração oral sobre o estado nutricional, os estudos
realizados até o momento não conseguiram confirmar tal
Existem várias teorias para justificar esta alteração hipótese, por esta razão torna-se relevante novas pesqui-
no crescimento e no peso corporal desses indivíduos, entre sas sobre estas relações.
elas estão a alteração de deglutição causada pela hipertrofia
amigdaliana e respiração oral, a alteração de olfato pela
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