Lavra - Geologia Aplicada À Mineração 2
Lavra - Geologia Aplicada À Mineração 2
Lavra - Geologia Aplicada À Mineração 2
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
Belém/PA
2019
SUMÁRIO
MÓDULO 2
minerais e rochas ............................................... 52
....................................................................................................... 52
unidades constituintes das rochas ............................................... 52
4.2.1- DEFINIÇÕES BÁSICAS ..................................................................................... 52
4.2.2- CRISTALOGRAFIA ............................................................................................ 55
Introdução ......................................................................................................... 55
Simetria dos cristais ......................................................................................... 57
Estrutura cristalina nos minerais .................................................................... 60
Formas cristalinas ............................................................................................ 61
Classes cristalinas ........................................................................................... 68
Agregados cristalinos e cristais geminados ................................................. 69
4.2.3- MINERALOGIA FÍSICA ...................................................................................... 71
Introdução ......................................................................................................... 71
Hábito dos minerais ......................................................................................... 71
Propriedades mecânicas ................................................................................. 77
Propriedades relacionadas com a massa ...................................................... 82
Propriedades relacionadas com a luz ............................................................ 84
Propriedades elétricas ..................................................................................... 91
Propriedades magnéticas ................................................................................ 92
Propriedades radioativas ................................................................................. 93
4.2.4- MINERALOGIA QUÍMICA .................................................................................. 96
Ligações químicas nos minerais .................................................................... 97
Arranjo espacial das partículas componentes dos minerais ..................... 101
Polimorfismo e Isoestruturalismo ................................................................ 104
Composição química dos minerais .............................................................. 105
4.2.5- CLASSIFICAÇÃO DOS MINERAIS ................................................................. 108
unidades constituintes das camadas da Terra ............................ 113
4.3.1- O CICLO DAS ROCHAS .................................................................................. 113
4.3.2- ROCHAS ÍGNEAS OU MAGMÁTICAS ........................................................... 114
Introdução ...................................................................................................... 114
Magma: características, geração e consolidação ........................................... 115
Classificação e nomenclatura das rochas ígneas ....................................... 120
Magmatismo plutônico, vulcânico e hipabissal ......................................... 125
Plutonismo ..................................................................................................... 125
Vulcanismo ..................................................................................................... 126
4.3.3- ROCHAS SEDIMENTARES ............................................................................. 140
Introdução ....................................................................................................... 140
Intemperismo e erosão .................................................................................. 141
Transporte dos produtos sólidos e dissolvidos do intemperismo ........... 153
50
Deposição de materiais sólidos e dissolvidos nas bacias sedimentares. 155
Ambientes de sedimentação ........................................................................ 157
Ambientes de sedimentação continentais ........................................................ 158
Ambientes de sedimentação costeiros ............................................................ 163
Ambientes de sedimentação marinhos ............................................................ 166
Estruturas sedimentares ............................................................................... 170
Soterramento e diagênese dos sedimentos ................................................ 172
Classificação das rochas sedimentares ...................................................... 174
Rochas sedimentares clásticas ........................................................................ 174
Rochas sedimentares químicas e bioquímicas ................................................ 177
Bacias sedimentares e a tectônica de placas ............................................. 181
4.3.4- ROCHAS METAMÓRFICAS ............................................................................ 184
Introdução ....................................................................................................... 184
Fatores condicionantes do metamorfismo .................................................. 185
Paragêneses minerais e reações metamórficas ......................................... 187
Tipos de metamorfismo ................................................................................. 189
Grau e fácies metamórficas .......................................................................... 191
Texturas e estruturas de rochas metamórficas .......................................... 194
Nomenclatura das rochas metamórficas .................................................... 197
Metamorfismo e tectônica de placas ........................................................... 199
51
Minerais e rochas
.
Substância homogênea significa que não pode ser fisicamente subdividida em
componentes químicos mais simples. A homogeneidade dos minerais é, no entanto,
relativa porque depende da escala de observação. Por exemplo, uma substância
caracterizada como um mineral, ao ser analisada ao microscópio pode ser constatado
que, na verdade, é constituída por mais de um mineral. A condição de substância natural
impede a inclusão no reino mineral de substâncias sintetizadas em laboratório ou
formadas diretamente através de alguma atividade humana, tais como as gemas
sintéticas que mesmo idênticas as suas congêneres naturais, não podem ser
consideradas minerais. Do mesmo modo, o gelo das geladeiras e frigoríficos, por ser
artificial, não pode ser considerado mineral, mas o gelo natural, das calotas polares,
52
satisfaz todos os pontos da definição de mineral e pode, portanto, ser considerado como
tal. O mineral, por definição, tem que ser uma substância cristalina, caracterizada por
apresentar uma estrutura interna ordenada, na qual suas partículas constituintes (átomos
ou íons) encontram-se distribuídas geometricamente no espaço de maneira ordenada,
situação que só ocorre em substâncias sólidas, diferente das substâncias amorfas que
apresentam estrutura interna desordenada, com suas partículas componentes (átomos
e íons) distribuídos caoticamente no espaço, sem posições fixas, como nos gases,
líquidos e alguns sólidos amorfos, como o vidro (Fig. 4.1). Portanto, para ser considerado
mineral, a substância tem que ser um sólido cristalino. A estrutura cristalina dos minerais
é um padrão ordenado tridimensional de íons ou átomos na escala atômica, medida em
angstrom (Fig. 4.1e).
b c
a
e
d
A definição de mineral também estabelece que sua composição química tem que
ser definida, o que significa que a composição pode variar, ocorrendo, porém, entre
elementos e intervalos definidos, podendo ainda ser representada por uma fórmula
química, como nas olivinas (Mg,Fe)2SiO4, cuja proporção de Mg e Fe pode variar entre
0 e 100%. Alguns minerais, como o quartzo (SiO2), apresentam composição química
fixa, praticamente invariável. Entretanto, na maioria dos minerais a composição química
é variável de forma definida. A grande maioria dos minerais é de origem inorgânica, o
que justifica a expressão “formada por processos inorgânicos” em sua
definição. Entretanto, alguns compostos orgânicos naturais que ocorrem associados aos
minerais e satisfazem todos os outros pontos da sua definição, foram incluídos no reino
mineral com a denominação de minerais biogênicos, como a pérola e as carapaças de
organismos marinhos (carbonatos de cálcio), e a apatita (fosfato de cálcio) presente nos
ossos, dentes e cálculos renais.
Mineraloide é uma substância química natural, semelhante aos minerais que
ocorrem associados a eles, mas divergem da definição de mineral principalmente em
dois aspectos: na estrutura interna e/ou na composição química. Os mineraloides são
substâncias normalmente amorfas e, mesmo satisfazendo todos os outros pontos da
definição de mineral, não podem ser considerados como tal, pois não possuem estrutura
cristalina, como, por exemplo, a opala (sílica amorfa), obsidiana (vidro vulcânico). A água
e mercúrio são dois exemplos de mineraloides líquidos. Alguns mineraloides podem ser
cristalinos, mas divergem da definição de mineral por não possuírem composição
química definida. Os mineraloides são normalmente inorgânicos, mas, tal como os
minerais, existem mineraloides biogênicos, como a collofana (fosfato de cálcio amorfo
que ocorre em ossos fósseis) e o âmbar, uma resina vegetal fóssil que além de amorfo
53
não possui composição química definida. Para não excluir estas substâncias do reino
mineral, elas foram mantidas com a denominação de mineraloides. Alguns autores
incluem os minerais de origem orgânica (minerais biogênicos) no grupo dos
mineraloides. Ou seja, para esses autores, os minerais têm que ser inorgânicos.
Figura 4.2- Agregado de cristais de quartzo + pirita (a). Caulinita (caulim) maciça, sem faces
cristalinas macroscópicas (b), vista ao microscópio eletrônico, mostrando os cristais hexagonais
(c). Opala amorfa, sem faces regulares (d).
d
f Figura 4.3- Gemas naturais: diamante bruto (a) e lapidado (b), berilo
verde gemológica (esmeralda) bruto (c) e lapidado (d), berilo azul
gemológico (água marinha) bruto (e) e lapidado, em um anel (f).
54
Rocha é um agregado natural formado de um ou mais minerais (ou mineraloides)
que compõe as unidades básicas de constituição da Terra (crosta, manto e núcleo) e
que na superfície (ou subsuperfície) da crosta terrestre pode ser representada em mapas
geológicos.
Minério é uma rocha com concentração anômala de minerais ou elementos
químicos de interesse econômico, que podem ser minerados com lucro.
4.2.2- CRISTALOGRAFIA
Introdução
Uma das características mais expressivas dos minerais é o fato deles ocorrerem
frequentemente com formas geométricas regulares, típicas das substâncias cristalinas
ou cristais. O estudo dos cristais e das leis que governam seu crescimento, forma externa
e estrutura interna, denomina-se . Como nem todo cristal é um mineral, o
escopo da cristalografia é mais amplo que da mineralogia, incluindo cristais sintéticos.
A ocorrência de faces bem formadas e a ausência completa dessas feições são
apenas duas situações extremas, havendo estados intermediários entre elas que variam
continuamente de um extremo ao outro, conforme o grau de cristalinidade (GC). De
acordo com esse parâmetro, as substâncias cristalinas podem ser bem cristalizadas,
quando apresentam faces bem formadas e progressivamente mais mal cristalizadas, à
medida que as faces tornam-se mal formadas ou não identificadas. O termo cristal é
frequentemente utilizado com modificadores que expressam o GC das substâncias
cristalinas. Desse modo, um cristal com faces bem formadas, em escala macroscópica,
é denominado de ou idiomórfico, com alto GC e velocidade de
cristalização (VC) lenta; um cristal com faces imperfeitamente desenvolvidas é referido
como ou subdiomórfico com GC e VC intermediários, e um cristal sem
faces identificáveis macroscopicamente é denominado de ou informe,
com baixo GC e VC rápida (Fig. 4.4). Um cristal anédrico, para ser caracterizado como
tal, é necessário que sua natureza cristalina seja reconhecida. Se os diminutos cristais
só podem ser reconhecidos com auxílio de um microscópio, os mesmos são
denominados de . Certas substâncias cristalinas cristalizam-se
tão rapidamente que os diminutos cristais não são reconhecidos nem no microscópio e
sua natureza cristalina só pode ser identificada através da difração dos raios-X e, por
isso, são referidos como (Fig. 4.4 e 4.5 a). A ausência completa
de estrutura interna ordenada é reconhecida quando a substância não difrata os raios-
X, sendo denominada de (Fig. 4.4 e 4.5 b). O comportamento de uma
substância sob a ação dos raios-X é o critério definitivo para definir se ela é cristalina
(difrata os raios-X) ou amorfa (não difrata). Tal procedimento é realizado no equipamento
denominado difratômetro de raios-X.
GC Não difrata os Raios X
Cristais Substâncias amorfas
Cristais subédricos Estrutura desordenada
Cristais Cristais
euédricos anédricos Sem faces em
Faces imperfeitas
Faces perfeitas qualquer escala
Faces observadas Cristais Cristais Difrata os
ao microscópio microcristalinos criptocristalinos Raios X
Sem faces macroscópicas
VC
Figura 4.4- Relação inversa entre o grau de cristalinidade dos cristais e sua velocidade de
cristalização (VE), desde os cristais perfeitos (euédricos) até as substâncias amorfas.
55
b
a
Figura 4.5- Comportamento das substâncias cristalinas e amorfas submetidas a um feixe de
Raios-X. As substâncias cristalinas difratam os Raios-X (a), enquanto que as substâncias
amorfas não afetam os Raios-X (b). Comprimento de onda ( ) dos Raios X = 10 ‾1 a 10 2 A .
Evaporação
Nível da água
Lago salino
saturado em HCl
56
A se inicia quando o ponto de fusão da
substância é alcançado, por abaixamento progressivo da temperatura. O exemplo mais
simples e comum é a formação de cristais de gelo a partir do congelamento da água,
quando as moléculas H2O que moviam-se livremente no líquido começam a ocupar
posições fixas no espaço, em uma ordem tridimensional definida, cristalizando-se em
gelo. A formação das rochas ígneas a partir de magmas é mais complexa, pois o magma
é uma fusão com muitos componentes, cada um com seu ponto de fusão. Quando o
magma resfria, a cristalização dos minerais inicia quando seus pontos de fusão são
alcançados, começando pelos minerais de maior ponto de fusão e terminando pelos de
menor ponto de fusão.
Os princípios da são basicamente os mesmos da
cristalização a partir de solução e fusão, embora seja bem menos frequente que estes
dois últimos processos. Com o resfriamento do gás, os átomos ou moléculas dissociadas
são atraídos entre si, podendo passar diretamente para o estado sólido com estrutura
cristalina. O exemplo mais comum deste modo de cristalização é a formação de flocos
de neve a partir do ar carregado de vapor de água. Outro exemplo é a formação de
cristais de enxofre a partir de vapores impregnados de enxofre das fumarolas vulcânicas.
O material já cristalizado pode ainda passar por um processo de recristalização. O
exemplo natural mais típico deste processo é o metamorfismo, responsável pela
formação das rochas metamórficas. A atuação do metamorfismo sobre as rochas
provoca recristalização das mesmas, através de mudanças de temperatura e pressão,
gerando novas rochas com novos minerais.
Simetria dos cristais
Em condições ideais de formação, a regularidade geométrica das formas externas
dos cristais tende a ser perfeita, o que é evidenciado pela simetria apresentada por estas
formas. A simetria consiste na repetição normal ou invertida de uma mesma feição
(objeto) do cristal (face ou grupo de faces), a qual pode ser visualizada através das
operações e seus respectivos elementos de simetria. As três operações fundamentais
de simetria e seus elementos de simetria, reconhecidas nos cristais e também em objetos
do cotidiano, são: Reflexão, cujo elemento de simetria é um plano; Rotação, cujo
elemento de simetria é um eixo; Inversão, cujo elemento de simetria é um centro.
Existe ainda uma quarta operação de simetria resultante da combinação entre rotação e
inversão, denominada Inversão Rotatória, cujos elementos de simetria são o eixo e o
centro.
A operação reflexão consiste na repetição do objeto (ou motivo) através de uma
reflexão em relação a um plano de simetria (representado por m), resultando em duas
imagens enantiomorfas (espelhadas) do motivo (Fig. 4.7).
a Figura 4.7- Simetria de reflexão em
um mineral (a) e em uma casa (b),
b
onde o plano de reflexão (espelho)
divide o objeto em duas bandas
simétricas (espelhadas).
57
A operação rotação é definida pela repetição do objeto (ou motivo) durante uma
rotação de 180o, 120o, 90o ou 60o em torno de um eixo imaginário (representado por A n)
que passa pelo centro geométrico do cristal, sendo n a ordem do eixo, ou seja, o número
de repetições do motivo, durante uma rotação completa (360 o). Em uma rotação de 360o,
o eixo de rotação pode ser binário (A 2), com 2 repetições (n = 2) a 180o cada uma (Fig.
4.8), ternário (A 3), com 3 repetições (n = 3) a 120o cada uma (Fig. 4.9), quaternário (A 4),
com 4 repetições (n = 4) a 90o cada uma (Fig. 4.10) e senário (A 6), com 6 repetições
(n = 6) a 60o cada uma (Fig. 4.11).
a b
Figura 4.8- Simetria de rotação
binária em um mineral (a) e em uma
balança (b), onde duas feições
repetidas e rotacionadas a 180 são
simétricas em relação ao eixo
binário (eixo com elipse na
extremidade superior). Observar
que o cristal possui 3 eixos binários
(a, b e c). Motivo em vermelho no
cristal.
b
a
58
a Figura 4.11- Simetria de rotação b
senária em um mineral (a) e em
uma flor (b), onde seis feições
repetidas e rotacionadas a 60
são simétricas em relação ao eixo
senário (eixo com hexágono na
extremidade superior). Observar
que o cristal, além do eixo
senário, contém 3 eixos binários
horizontais e um plano de simetria
(m) separando as duas
extremidades piramidais. Motivo
em vermelho no cristal.
a b
Figura 4.12- Simetria de
inversão em um mineral (a) e
em uma sala com aranhas em
dois cantos opostos no piso e
no teto (b), onde duas feições
invertidas são simétricas em
relação a um centro de simetria
(i).
59
a b c
Figura 4.14- Arranjo ordenado de tijolos (a) e de íons na cela unitária da halita (b). Eixos
cristalográficos (a, b, c) e os ângulos (, e ) entre os eixos (c).
5 angstrom (A)
Figura 4.15- Repetição de celas unitárias cúbicas, com tamanhos aproximado de 5 angstrom,
gerando cristais com diferentes formas: cúbica (a), octaédrica (b) e dodecaédrica (c).
a1 = a2 = a3
= = = 90
= 120
Figura 4.16- As duas divisões do sistema Hexagonal: Hexagonal-H, no qual o eixo c é um eixo
de simetria senária (a) e Hexagonal-R, no qual o eixo c é um eixo ternário (b). Nas duas divisões
o
do sistema hexagonal os eixos horizontais (a1, a2 e a3) fazem um ângulo de 120 entre eles e
são perpendiculares ao eixo vertical c.
Formas cristalinas
Forma em cristalografia consiste em um grupo de faces de um cristal que mantém
a mesma relação com os elementos de simetria (eixos ou planos), podendo haver mais
de uma forma em um mesmo cristal. São 48 formas, 33 não isométricas e 15 isométricas.
As formas não isométricas pertencem aos sistemas tetragonal, ortorrômbico, hexagonal,
monoclínico e triclínico, e podem ser fechadas (se encerram espaço) ou abertas (se não
encerram espaço). As formas abertas não isométricas só ocorrem associadas com
outras formas porque os cristais têm que encerrar espaço. Das 33 formas não
isométricas, 18 são abertas. As formas abertas mais simples são o pédio e o pinacoide,
constituídas por apenas uma face (pédio) e duas faces (pinacoide) perpendiculares a um
eixo cristalográfico, cuja simetria depende do sistema cristalino (Fig. 4. 17 a). O domo e
o esfenoide são duas formas do sistema monoclínico, também constituídas por duas
faces convergentes (Fig. 4.17 b), simétricas a um plano que contém os eixos a e c (domo)
ou ao eixo b (esfenoide).
61
Tabela 4.1- Os seis sistemas cristalinos e seus elementos de simetria característicos, conforme
o padrão cristalográfico americano.
62
a b c d
Figura 4.17- Formas abertas não isométricas simples constituídas por uma ou duas faces: Pédio
(uma face) e pinacoide (duas faces paralelas) simétricas a um eixo (a). Duas faces não paralelas
simétricas a um plano (domo) e a um eixo (esfenoide), do sistema monoclínico (b).
a b c
d
e f g
Figura 4.18- Família dos prismas: prismas trigonal (a) e ditrigonal (b) do sistema hexagonal-H,
com eixo c = A 6 . Prismas tetragonal (c) e ditetragonal (d) do sistema tetragonal, eixo c = A4.
Prisma rômbico do sistema ortorrômbico, com eixo c = A2 (e). Prismas hexagonal (f) e
dihexagonal (g) do sistema hexagonal-H, com eixo c = A6 .
63
a b c d
e f
g
Figura 4.19- Família das pirâmides: pirâmide trigonal (a) e pirâmide ditrigonal (b), do sistema
hexagonal-R, com eixo c = A 3 . Pirâmides tetragonal (c) e ditetragonal (d), com eixo c = A 4.
Pirâmide rômbica (ortorrômbico), com eixo c = A 2 (e). Pirâmides hexagonal (f) e dihexagonal (g),
do sistema hexagonal-H, com eixo c = A 6 .
a b c d
e f
Figura 4.20- Família das bipirâmides: bipirâmides trigonal (a) e ditrigonal (b), do sistema
hexagonal-H, com eixo c = A6. Bipirâmides tetragonal (c) e ditetragonal (d), do sistema
tetragonal, com eixo c = A 4. Bipirâmide rômbica (ortorrômbico), com eixo c = A 2 (e). Bipirâmides
hexagonal (f) e dihexagonal (g) do sistema hexagonal-H, com eixo c = A 6.
64
a b e
c
d
Faces Faces
trapezoédricas escalenoédricas
Figura 4.21- Trapezoedros: trigonal (a), com faces simétrica ao eixo c (ternário), tetragonal (b),
com faces simétricas ao eixo c (quaternário) e hexagonal (c), com faces simétricas ao eixo c
(senário). Escalenoedros: tetragonal (d), com faces simétricas ao eixo c (quaternário de
inversão) e hexagonal (e), com faces simétricas ao eixo c (ternário de inversão).
a b c
Figura 4.22- Biesfenoides: tetragonal (a), com faces simétricas ao eixo c (quaternário de
inversão) e rômbico (b), com faces simétricas ao eixo c (binário). Romboedro (c), com faces
losangulares simétricas ao eixo c (ternário de inversão).
65
a b c
d e f
g
Figura 4.23- Formas isométricas com 4 eixos ternários de
inversão (A3 = A3 + i) inclinados aos eixos cristalográficos de
simetria quaternária: Cubo (a), octaedro (b), dodecaedro (c),
tetraexaedro (d), derivada do cubo (dividindo cada face em
4), trioctaedros trigonal (e) e tetragonal (f) e hexaoctaedro
(g): derivadas do octaedro, dividindo cada face em 3
(trioctaedros) ou 6 (hexaoctaedro).
a b
Figura 4.24- Formas isométricas com 4 eixos ternários de inversão inclinados aos eixos
cristalográficos de simetria binária: Piritoedro ou dodecaedro pentagonal (a) e diploedro ou
didodecaedro (b)
Os cristais isométricos com eixos ternários comuns (A3) não possuem centro de
simetria, havendo nesse grupo dois conjuntos distintos: aqueles em que os eixos
cristalográficos são eixos de simetria quaternária de inversão (A 4) ou binária (A2):
tetraedro e suas formas derivadas: tritetraedros trigonal, tetragonal e pentagonal (cada
face do tetraedro é dividida em 3) e hexatetraedros, em que cada face do tetraedro é
dividida em 6 (Fig. 4.25 a, b, c, d, e), e aqueles em que os eixos cristalográficos são
eixos de simetria quaternária comum (A4): giroedros ou trioctaedro pentagonal (Fig.
4.25 f).
66
c
a b
d e f
Figura 4.25- Formas isométricas com 4 eixos ternários (sem centro de simetria), inclinados aos
eixos cristalográficos de simetria quaternária de inversão ou binária: Tetraedro (a), tritetraedros
trigonal (b), tetragonal (c) e pentagonal (d), e hexatetraedro (e): derivadas do tetraedro
(dividindo cada face em 3 ou 6). Formas com 4 eixos ternários inclinados aos eixos
cristalográficos de simetria quaternária: giroedro ou trioctaedro pentagonal (f).
Essas 48 formas cristalinas podem ocorrer nos minerais tanto de maneira isoladas
(uma única forma) ou, mais frequentemente, combinadas (2 ou mais formas no mesmo
cristal). Nos cristais não isométricos é comum a ocorrência de combinações entre
prismas e pirâmides ou bipirâmides (Fig. 4.26). No sistema isométrico existem muitas
possibilidades de combinações de formas, sendo frequentes as combinações
envolvendo o cubo, octaedro e dodecaedro (Fig. 4.27).
a b
c
Pédio
a b
Figura 4.27- Combinação de
formas no sistema isométrico:
Cubo, faces vermelhas +
dodecaedro, faces cinzas (a).
Cubo, faces vermelhas +
dodecaedro, faces cinza +
octaedro, faces azuis clara (b).
67
Classes cristalinas
Na natureza existem apenas 32 tipos de combinações entre os elementos de
simetria, as quais correspondem às 32 classes de simetria cristalina, distribuídas nos
seis sistemas cristalinos (Tabela 4.2).
Sistema Simetria
Formas cristalinas
Cristalino Classe cristalina
3A4 , 4A3 , 6A2 , 9m Cubo, octaedro, dodecaedro, tetraexaedro,
(1A 3 = 1A3 + ) trioctaedros (trigonal, tetragonal), hexaoctaedro
3A 4 , 4A3 , 6m Tetraedro, tritetraedros (trigonal e tetragonal)
Hexatetraedro
Isométrico
3A4 , 4A3 , 6A2 Trioctaedro pentagonal (Giroedro)
3A2 , 4A3 ,3m Piritoedro, didodecaedro (diploedro)
3A2 , 4A3 Tritetraedro pentagonal (tetartoedro)
, 1A6 , 6A2 , 7m Prisma e Bipirâmide hexagonal e dihexagonal
1A6 , 3A2 , 3m Prisma e Bipirâmide trigonal e ditrigonal
1A6 , 6m Pirâmide hexagonal e dihexagonal
1A6 , 6A2 Trapezoedro hexagonal
Hexagonal
68
A classificação dos cristais compreende não apenas a definição de seu sistema
cristalino e forma(s) presente(s), mas também a definição de sua classe cristalina. O
sistema isométrico contém 5 classes, o hexagonal 12 classes (7 do hexagonal-H e 5 do
hexagonal-R), o tetragonal 7 classes, o ortorrômbico 3, o monoclínico 3 e o triclínico 2,
que se diferenciam pelas formas e simetria das mesmas (Tabela 4.2).
Agregados cristalinos e cristais geminados
Os minerais ocorrem frequentemente na natureza formando agregados de cristais
malformados, do mesmo mineral ou de diferentes minerais, normalmente sem uma
ordem de relação entre os indivíduos cristalinos (Fig. 4.28 a, b). Mais raramente, os
agregados mostram uma certa ordem entre os cristais (Fig. 4.28 c).
a b c
Figura 4.28- Agregados aleatórios de cristais placosos (a) e prismáticos (b) de albita.
Agregados de cristais prismáticos paralelos de quartzo (c).
e
d
Figura 4.29- Geminação de contato do espinélio, mostrando um octaedro não geminado (a),
dois octaedros geminados em relação ao plano do geminado (b) e dois cristais naturais de
espinélios geminados (c). Geminação do Japão do quartzo, mostrando o plano do geminado (d)
e dois cristais prismáticos naturais geminados de quartzo.
69
a d Rutilo
Plano do
geminado Plano do
geminado
b c
Figura 4.30- Geminação de contato em cotovelo de dois cristais prismáticos de cassiterita (a) e
rutilo (b, c) mostrando o plano do geminado, e dois cristais naturais de rutilo geminado em
cotovelo (d).
a b c
a c d
b
Figura 4.32- Geminação de penetração em cruz de prismas de estaurolita, mostrando o eixo do
geminado (a, b). Cristais prismáticos geminados naturais de estaurolita (c, d).
a c
b
Figura 4.33- Piritoedro não geminado natural de pirita (a). Geminação de penetração cruz de
ferro da pirita: dois cristais de piritoedros geminados, mostrando o eixo do geminado (b).
Agregado natural de cristais de piritoedros geminados de pirita (c).
70
Geminação com mais de dois cristais denomina-se geminação múltipla. Esta
categoria de geminação só ocorre por contato, com mais de um plano do geminado, e
pode ser de dois tipos: . Exemplo: geminação
polissintética da albita que ocorre nos plagioclásios (Fig. 4.34), e
. Exemplo: geminação cíclica do crisoberilo BeAl 2O4 , em forma
de roseta (Fig. 4.35).
a b
Figura 4.34- Geminação
polissintética da albita (a). Cristal
natural de plagioclásio, visto ao
microscópio, com geminação
polissintética da albita (b).
a
c
b
Figura 4.35- Geminação cíclica do crisoberilo, com seis planos do geminado não paralelos e
convergentes (a, b). Cristal natural de crisoberilo com geminação cíclica (c).
Halita
a Fluorita
b c
Diamante
a Dodecaedro
b c
Piritoedro
72
Nos sistemas não isométricos, são frequentes os prismas e associação destes
com pirâmide e bipirâmides, como por exemplo nos minerais rutilo e zircão (tetragonal),
turmalina e berilo Be3Al2(SiO3)6 (hexagonal), topázio Al 2SiO4(OH,F)2 (ortorrômbico),
conforme as figuras 4.40 (prismas) e 4.41 (primas + pirâmide ou bipirâmide). São
também comuns cristais romboédricos em carbonatos (Fig. 4.42).
a b c Berilo d
esmeralda
Rutilo
Berilo água
marinha
Turmalina
a b c
d
Rutilo Zircão
Berilo água
marinha
e f g
Figura 4.41- Exemplos de minerais não isométricos prismáticos associados com pirâmides ou
bipirâmides: Prisma piramidal tetragonal de rutilo (a); prisma bipiramidal tetragonal de zircão
(b); prismas piramidais ditrigonais de turmalina (c, d); prisma piramidal hexagonal-H de berilo
água marinha (e); prismas piramidais rômbicos de topázio imperial (f, g).
a b
Figura 4.42- Agregado de cristais
romboédricos (a) e monocristal
romboédrico de calcita transparente. (b).
73
Para os agregados de cristais diminutos ou mal cristalizados procura-se definir a
maneira de ocorrência do conjunto, de acordo com a morfologia dos indivíduos cristalinos
e com a relação espacial entre eles. Diversas terminologias existem na literatura
referindo-se ao modo de ocorrência desses agregados cristalinos.
1- são prismas cujos sistemas cristalinos são de
difícil identificação à vista desarmada, por serem muito finos.
cristais na forma de agulhas (Fig. 4.43 a). Ex. rutilo, turmalina, aragonita CaCO3 .
cristais na forma de fibras ou cabelos (Fig. 4.43 b, c). Ex. serpentina
variedade crisotila (asbesto), gipsita CaSO 4.2H2O, malaquita Cu2(CO3)(OH), millerita
NiS. Com agulhas ou fibras não paralelas: quando são convergentes (Fig. 4.43 d)
e quando ocorrem na forma de retículo (Fig. 4.43 e).
Rutilo no quartzo a b Crisotila c
d e
Figura 4.43- Cristais aciculares de
rutilo no quartzo (a). Cristais
fibrosos de serpentina crisotila (b) e
halotriquita (c). Cristais aciculares
radiais de aragonita (d). Cristais
aciculares reticulado de rutilo (e).
Aragonita Rutilo
Agregado de cristais prismáticos na forma de colunas (Fig. 4.44 a, b). São mais
grossos que os cristais aciculares. Ex. turmalina, berilo, aragonita (CaCO3)
cristais alongados na forma de lâminas (Fig. 4.44 c, d). Ex. cianita (Al 2SiO5),
talco Mg3Si4O10(OH)2 e estibinita (Sb2S3).
a b c
Esmeralda
Talco d
Figura 4.44- Exemplos de agregado de cristais prismáticos
colunares de turmalina (a) e de berilo esmeralda (b). Agregado
de cristais laminares de cianita (c) e talco (d).
74
2- Agregados de cristais achatados e planares: são minerais com estruturas
cristalinas constituídas por unidades planares interligadas por ligações químicas fracas.
agregados de placas finas (Fig. 4.45 a, b, c). Ex. micas, clorita,
barita.
agregado coeso de placas finas (Fig. 4.45 d, e). Ex. lepidolita,
serpentina variedade antigorita, gipso, talco.
Mica b c
Mica
a Barita
d e
Figura 4.45- Agregados de cristais
placosos de mica branca (a, b) e barita
(c). Cristais tabulares de lepidolita (d) e
serpentina antigorita (e).
Lepidolita Antigorita
Pirolusita Malaquita
d e
Figura 4.46- Agregados coloforme
de cristais esféricos: pirolusita (a),
malaquita (b) e rodocrosita (c)
botrioidais. Hematita reniforme (d) e
Smithsonita mamilar (e).
Hematita
75
a c
Calcedônia b Calcita
Figura 4.47- Nódulos oolíticos de goethita em bauxita (a) e pisólitos de calcedônia (b) e calcita
(c).
d e
f
Quartzo Caulinita
Figura 4.48- Dunito constituído por olivina granular grossa (a). Conglomerado com quartzo
granular médio (b). Bauxita terrosa, granular fina friável (c). Cristal anédrico de quartzo
maciço (d). Cristais de pirita anédricas maciças (e). Caulinita maciça, formada por agregado
de microcristais (f).
5- Hábitos especiais:
cavidade rochosa preenchida parcialmente por material normalmente
bandado na borda, frequentemente recoberto por cristais que se projetam para o centro
vazio da cavidade (Fig. 4.49 a). Ex. Ametista (cristal de quartzo lilás), cristal de rocha
(cristal de quartzo incolor), citrino (quartzo amarelo), turmalina.
superfície recoberta por uma camada de pequenos cristais que se projetam para
fora (Fig. 4.49 b, c, d). Normalmente é uma porção de um geodo. Ex. ametista, cristal de
rocha, citrino.
76
a Cristal de rocha
b c
d
Figura 4.49- Geodo de ametista (a).
Drusas de cristal de rocha (b), citrino (c) e
ametista (d).
Malaquita
f
d
e
Estalactite de carbonato Estalactite de calcedônia
Figura 4.50- Pirolusita dendrítica (a). Hábito bandado e concêntrico: malaquita (b) e ágata (c).
Geodo de cristal de rocha com borda bandada de ametista (d). Estalactites de carbonato (e) e
de calcedônia (f).
Propriedades mecânicas
Nesta categoria estão incluídas as propriedades relacionadas à deformação dos
minerais submetidos a algum tipo de esforço mecânico: 1) tenacidade; 2) clivagem,
partição e fratura; 3) dureza (resistência dos minerais ao risco).
77
é o comportamento dos minerais em relação aos esforços mecânicos,
tais como rompimento, esmagamento, encurvamento e rasgamento. Com base na
tenacidade os minerais podem ser enquadrados em três grupos seguintes:
Minerais que se deformam de maneira rúptil (quebradiços): se rompem ou quebram
sob a ação de esforços mecânicos, comportamento característico de materiais com
ligação iônica e/ou covalente. A maioria dos minerais são quebradiços. Exemplos:
quartzo, feldspatos, calcita, fluorita, córindon
Minerais flexíveis e elásticos: são minerais que, ao serem submetidos a esforços
mecânicos, antes de romper, se encurvam e podem retornar ou não à sua forma
original, quando cessa o esforço que os deformou, comportamento característico de
materiais com estrutura constituída por unidades com ligação relativamente forte
interligadas por ligação mais fraca. Minerais com ligação iônica fraca interligando
unidades mais coesas comportam-se de maneira elástica, ou seja, retornam a sua
forma original quando cessa o esforço, como por exemplo as micas. Por outro lado,
minerais cujas ligações mais fracas são do tipo van der Waals comportam-se de
maneira flexível, ou seja, não retornam a sua forma original quando cessa o esforço,
como por exemplo o talco e as serpentinas.
Minerais que se deformam de maneira plástica (não quebradiços): sob a ação de
esforços mecânicos normalmente se amassam e sob a ação de esforços adequados
podem ser transformados em lâminas (maleáveis), estirados para formar fios (dúcteis)
e podem romper sob uma ação cortante (sécteis), comportamento característico de
materiais com ligação metálica, como por exemplo os metais nativos (ouro, prata,
cobre e platina).
Quando um mineral é submetido a esforços
mecânicos suficientes para rompê-lo, o rompimento pode ocorrer de duas maneiras,
dependendo da intensidade das forças de ligação entre as partículas componentes do
mineral e da presença (ou ausência) de defeitos em sua estrutura cristalina. clivagem
e partição: o rompimento ocorre preferentemente ao longo de direções cristalográficas
(planos atômicos) de fraqueza em suas estruturas cristalinas, onde ocorrem ligações
químicas mais fracas ou defeitos estruturais. fratura: ocorre normalmente em minerais
com apenas um tipo de ligação química, cuja intensidade é aproximadamente igual em
todas as direções. A fratura não ocorre ao longo de direções cristalográficas planas
específicas e sim ao longo de superfícies irregulares.
Os planos de clivagem ocorrem ao longo de direções cristalográficas definidas,
normalmente paralelas às faces ou possíveis faces dos minerais. A caracterização
adequada da clivagem envolve dois parâmetros, a sua qualidade e suas direções
cristalográficas. A qualidade da clivagem pode ser perfeita ou excelente, como nas micas
e na calcita, boa como na maioria dos piroxênios, regular ou imperfeita como na
escapolita e aragonita, e má como na apatita e no berilo. Em muitos minerais a clivagem
é completamente ausente ou indistinta, como no quartzo, pirita, turmalina e olivina. As
direções das clivagens são expressas pelo nome da forma cujas faces são paralelas com
as clivagens. De acordo com as direções, existem cincos tipos de clivagens seguintes:
clivagem basal ou pinacoidal (Fig. 4.51 a, b, c). Exemplos:
micas, molibdenita MoS2 , wolframita (Fe,Mn)WO4 , topázio, grafita.
clivagem prismática (Fig. 4.51 d, e). Exemplos: piroxênios,
anfibólios, enargita.
clivagem cúbica (Fig. 4.52 a, b, c). Ex.: galena, halita, silvita
(KCl). Clivagem romboédrica (Fig. 4.52 d, e). Ex.: calcita, pirargirita Ag3SbS3.
clivagem octaédrica, caracterizada por feições triangulares
na superfície dos minerais (Fig. 4.53 a). Exemplos: fluorita, diamante (Fig. 4.53 b, c).
78
a b c
d
e
Figura 4.51- Clivagens em 1 direção (basal),
nas micas (a), molibdenita (b) e wolframita
(c). Clivagem prismática, em 2 direções (d),
no espodumênio LiAlSi2O6 , piroxênio de Li
(e).
a b c
d e
Figura 4.52- Clivagens em 3
direções: Clivagem cúbica (a) na
galena (b) e halita (c). Clivagem
romboédrica (d) na calcita (e).
a b c
Figura 4.53- Clivagem octaédrica, em quatro direções (a), na fluorita (b) e no diamante (c).
79
a b
Figura 4.54- Clivagem dodecaédrica,
em 6 direções (a), na esfalerita (b).
e
f Figura 4.55- Partição romboédrica (a) da
hematita (b) e córindon (c). Partição
octaédrica da magnetita (d). Partição basal
(e) do piroxênio (f).
80
a b
c
Figura 4.56- Fratura conchoidal no quartzo (a) e na obsidiana, vidro vulcânico natural (b).
Fratura fibrosa ou estilhaçada no gipso (c).
81
Para determinar a dureza relativa de qualquer mineral, deve-se definir quais
minerais da escala de Mohs riscam e quais os que são riscados pelo mineral. Neste teste
é importante observar que o rastro (traço) de um mineral mais mole deixado na superfície
de um mineral mais duro, pode ser confundido com um risco. Entretanto, ao contrário do
risco, o traço é facilmente removido. Outro detalhe importante é que o teste de dureza
deve ser feito em superfícies frescas dos minerais, pois crostas de alteração exibem
dureza diferente (normalmente mais baixa) que aquela do mineral original. A natureza
física de um mineral pode também dificultar a determinação de sua dureza. Por exemplo,
minerais pulverulentos, granulares ou estilhaçados podem ser rompidos e
aparentemente riscados por outro mineral mais mole. Desse modo, é sempre
aconselhável confirmar o teste da dureza, invertendo-se a ordem do processo, ou seja,
deve-se tentar riscar o mineral A com o mineral B e, vice-versa, riscar o mineral B com o
mineral A. A dureza relativa dos seguintes materiais é útil como referências auxiliares na
determinação da dureza dos minerais: unha do dedo (pouco acima de 2), moeda de
cobre (aproximadamente 3), aço do canivete (pouco acima de 5), vidro (5,5), aço da lima
(6,5).
A dureza absoluta dos minerais é
determinada por técnicas quantitativas
mais sofisticadas que o teste do risco,
através de equipamentos como os
durômetros. As diferenças na dureza
absoluta entre os minerais da escala de
Mohs são muito variadas, embora a ordem
relativa entre eles é mantida (Fig. 4. 57).
Por exemplo, o coríndon (D = 9) é 2 vezes
mais duro que o topázio (D = 8) e 4 vezes
mais duro que o quartzo (D = 7) e o
diamante (D = 10) é 4 vezes mais duro que
o córindon (D = 9). Os únicos minerais da
escala de Mohs cujas durezas relativas
Mohs correspondem à dureza absoluta são
o talco (D = 1) e gipso (D = 2).
1
Temperatura que correspondente a densidade máxima da água
82
exemplo, considerando um mineral com densidade igual a 2 g/cm3, a densidade relativa
de uma amostra desse mineral será igual à 2, independentemente do volume da amostra.
Considerando, por exemplo, que a amostra tenha um volume de 10 cm3, sua densidade
relativa será igual ao peso da amostra (2g 10 = 20g) dividido pelo peso de mesmo
volume (10 cm3) de água (10 g), ou seja, d = 20 g/10 g d = 2 (numericamente igual a
densidade em g/cm3). Em mineralogia se usa normalmente a densidade relativa
(adimensional), referida simplesmente como densidade.
A densidade dos minerais varia dentro de um amplo espectro, sendo que os
minerais metálicos normalmente são mais densos que os não metálicos. No grupo dos
minerais não metálicos, a densidade varia de 1,96 na ulexita (borato de sódio) a 4,5 na
barita (sulfato de bário) e a densidade média situa-se entre 2,65 e 2,75, pois a densidade
do quartzo (d = 2,65), dos feldspatos (d = 2,60 2,75) e da calcita (d = 2,71), que são os
minerais não metálicos mais abundantes, estão dentro desta faixa. No grupo dos
minerais metálicos, a densidade varia de 2,2 na grafita a 19,3 no ouro e a densidade
média situa-se em torno de 5,0 que é a densidade da pirita, o mineral metálico mais
abundante
A densidade dos minerais pode ser determinada por
meio de métodos rápidos e simples em pequenas amostras
puras e compactas, sem fendas ou cavidades que possam
aprisionar bolhas ou películas de ar. O valor da densidade de
uma amostra pode ser obtido por meio dos pesos da amostra
no ar e na água. Qualquer objeto imerso em água pesa menos
que no ar pois, nesta condição, o objeto é impelido para cima
por uma força chamada empuxo, equivalente ao peso da
água deslocada (PH2Od). O peso do objeto na água será igual
à diferença entre o peso do objeto no ar e o empuxo, e a
diferença entre o peso do objeto no ar e o peso do objeto na
água será igual, portanto, ao empuxo (PH2Od). Como o volume
de água deslocada pelo objeto é igual ao volume do objeto, a
relação entre o peso do objeto no ar e o empuxo será igual à
densidade. Para a determinação da densidade dos minerais
é necessário obter-se, portanto, o peso do mineral no ar
(Pmar) e o peso do mineral na água (PmH2O) e a densidade
poderá ser obtida pela seguinte fórmula:
Pmar , sendo PmH
= 2O = Pmar PH2Od
Pmar PmH2O
Pmar PmH2O = PH2Od (empuxo)
84
Figura 4.60- Espectro eletromagnético, mostrando em destaque a faixa denominada de luz
visível.
85
a b c d
e f
Figura 4.62- Minerais transparentes: calcita
espato de islândia (a) e com dupla refração
(b), quartzo transparente (c) e gipsita
translúcida (d). Minerais opacos: pirita (e) e
hematita especular (f).
Cor, é uma propriedade de percepção imediata nos mineras, mas nem sempre
ela é diagnóstica. Se a luz incidente no mineral não sofre nenhuma absorção, a luz
86
transmitida ou refletida atinge o olho humano como luz branca e o mineral será também
branco ou incolor. Minerais coloridos são aqueles que absorvem parte da luz incidente.
A cor do mineral resultará da combinação dos comprimentos de onda remanescentes
(luz refratada luz absorvida) que atinge os nossos olhos e dependerá, portanto, da faixa
de comprimento de onda absorvida pelo mineral. Em minerais coloridos os comprimentos
de onda remanescentes situam-se na faixa de energia da luz visível e, portanto, quando
a luz branca interage com tais minerais, certos comprimentos de onda são absorvidos,
tornando a luz branca incidente colorida. Esse fenômeno é mais comum em minerais
com metais de transição em sua composição, como Ti, V, Cr, Mn, Fe, Co, Ni e Cu,
denominados elementos cromóforos em alusão ao cromo, cuja presença provoca cores
intensas nos materiais. Como o metal de transição mais abundante na crosta terrestre,
o ferro é o principal elemento cromóforo nos minerais.
Somente em alguns minerais a cor é fixa ou pouco variável, podendo ser utilizada
como propriedade diagnóstica para a identificação destes minerais. A maioria dos
minerais metálicos apresenta coloração constante, como o amarelo-latão da calcopirita,
o cinza-chumbo da galena, o preto da magnetita e o branco da prata e da arsenopirita
(Fig. 4. 63). Entretanto, A cor dos minerais deve ser observada em superfícies frescas,
pois as alterações superficiais podem mudar sua cor, mesmo naqueles minerais em que
a cor é constante. Por exemplo, a bornita Cu 5FeS4 que em superfície fresca exibe
coloração bronze parda, pode apresentar variações para azul e lilás, e o cinza chumbo
brilhante da galena pode escurecer e perder o brilho em superfícies alteradas.
a b c
Figura 4.63- Cores fixas de minerais metálicos: amarelo latão da calcopirita (a), branco da prata
(b) e preto da magnetita (c).
87
a b c d e
a b c d
88
a b c
Figura 4.67- Labradorescência na labradorita (a) e em uma peça lapidada em uma joia (b).
Fotografia em microscópio eletrônico de lamelas de exsolução muito finas em labradorita que
difratam a luz branca e produzem as cores espectrais da labradorescência (c).
a b c
Figura 4.68- Opalas preciosas (a, b) e peça lapidada de opala preciosa em uma joia (c).
Figura 4.69- Bornita Cu5FeS4 (a) e calcopirita CuFeS2 (b) com iridescência externa, com tons
vermelho, azul e lilás.
89
a b c d
a b
c d
Figura 4.71- Fluorescência: fluorita antes (a) e durante a irradiação UV (b), com fluorescência
azul. Willemita e calcita antes (c) e durante a irradiação UV (d), com fluorescência vermelho-
laranja (calcita) e verde (willemita).
Existem pelo menos mais duas maneiras de produzir luminescência: por meio de
aquecimento (termoluminescência), e por ação mecânica que cause stress na rede
cristalina, por atrito, esmagamento, impacto, etc. (triboluminescência). A
termoluminescência ocorre em alguns minerais com metal de transição, nos quais a luz
visível inicial surge entre 50 e 100 C, cessando a emissão normalmente a partir de
475 C. Há muito tempo é conhecido o caráter termoluminescência da variedade
clorofana da fluorita. Outros minerais termoluninescentes são: calcita, apatita, escapolita,
lepidolita e alguns feldspatos. A triboluminescência ocorre em alguns minerais como boa
clivagem, como, por exemplo, fluorita, esfalerita e lepidolita.
Propriedades elétricas
A condutibilidade elétrica nos minerais está diretamente relacionada ao tipo das
ligações químicas. Minerais com ligação metálica pura são excelentes condutores, tais
como os metais nativos (Au, Ag, Cu, Pt), enquanto que minerais com ligação
parcialmente metálica, como alguns sulfetos e óxidos, são semicondutores. Minerais
iônicos ou covalentes são normalmente isolantes. Em minerais não-isométricos, a
condutibilidade elétrica varia com a direção cristalográfica. Por exemplo, no mineral
grafita a condutibilidade elétrica é muito mais intensa na direção perpendicular ao eixo
que paralela a ele. O desenvolvimento de cargas elétricas induzidas nos minerais são
propriedades denominadas piezoeletricidade e piroeletricidade.
é o desenvolvimento de cargas elétricas nas extremidades de
um eixo polar do mineral quando o eixo é pressionado em uma de suas extremidades. A
pressão sobre o eixo provoca o surgimento de um fluxo de elétrons em direção a uma
das extremidades do eixo, produzindo ali uma carga elétrica negativa e uma carga
elétrica positiva induzida na outra extremidade. Um eixo de simetria de um cristal é
considerado eixo polar se suas extremidades são diferentes, não relacionadas por
simetria, o que só ocorre se o cristal não tiver centro de simetria. 21 classes de simetria
sem centro possuem eixos polares, mas são poucos os minerais que desenvolvem a
piezoeletricidade de maneira notável. O quartzo é o mineral piezoelétrico mais importante
(Fig. 4.72 a). Além dele, a turmalina também apresenta esta propriedade. Uma placa de
quartzo cortada com orientação adequada, quando submetida a uma corrente alternada
sofre deformação mecânica que pressiona seu eixo polar gerando cargas elétricas
91
piezoelétricas, as quais provocam vibrações na placa com frequência constante e
inversamente proporcional à espessura da placa. A principal aplicação das propriedades
piezoelétricas do quartzo é no controle de rádio frequência em circuitos eletrônicos.
é o desenvolvimento de cargas elétricas negativas e positivas nas
extremidades e um eixo polar do mineral provocada por mudanças de temperatura.
Somente cristais com apenas um eixo polar podem desenvolver piroeletricidade, o que
só ocorre em apenas 10 classes. Entretanto, são poucos os minerais que desenvolvem
esta propriedade, como, por exemplo, a turmalina (Fig. 4.72 b). A principal aplicação
desta propriedade é na construção de pirômetros (Fig. 4.72c), um tipo de termômetro
eletrônico que mede irradiação térmica de um objeto sem contato com ele.
a b c
Figura 4.72- Piezoeletricidade e piroeletricidade: cristal de quartzo piezoelétrico (a), com seus
três eixos polares (a1, a2 , a3). Cristal de turmalina piroelétrico com seu único eixo polar c,
mostrando a posição das cargas elétricas positivas e negativas nas extremidades do eixo. (b).
Pirômetro ótico infravermelho (c).
Propriedades magnéticas
Alguns minerais são magnéticos, mas a grande maioria não apresenta nenhuma
propriedade magnética. O magnetismo é uma propriedade diagnóstica dos minerais
relacionada com a estrutura eletrônica de alguns elementos químicos. A força de atração
magnética tem a sua origem no movimento de rotação dos elétrons, denominado “spin”,
que cria um campo magnético em torno do elétron. O elétron em rotação pode ser
considerado um diminuto ímã ou um dipolo magnético com um momento magnético
definido pelo produto da carga do elétron pela área abrangida pela sua rotação. Como
em um orbital só podem existir dois elétrons com sentido dos movimentos de rotação
(spin) contrários, se o orbital estiver completo, os campos magnéticos dos dois elétrons
se anulam e o momento magnético resultante no orbital será nulo. Como na maioria das
substâncias, após a combinação dos elementos, os orbitais tendem a se completar, o
momento magnético resultante será nulo e estas substâncias não apresentam
propriedades magnéticas. Tais substâncias são denominadas que
corresponde à situação da grande maioria dos minerais. Exemplos: quartzo, calcita,
feldspatos, apatita, coríndon e esfalerita.
Os elementos que produzem momento magnético são os metais de transição que
apresentam orbitais 3d incompletos, tais como Ti, V, Cr, Mn, Fe, Co, Ni e Cu. O momento
magnético destes elementos é diretamente proporcional ao número de orbitais
incompletos (com apenas um elétron). O Fe+3 e Mn+2 são os íons mais magnéticos, pois
os dois possuem os cinco orbitais incompletos.
Além do magnetismo dos íons, deve-se compreender também como tais íons
interagem na estrutura cristalina do mineral. Se a estrutura cristalina é constituída por
um arranjo caótico de dipolos magnéticos iônicos e, ao ser submetida ao efeito de um
campo magnético externo, apenas uma pequena parte dos dipolos magnéticos se alinha
ao campo magnético, o mineral é classificado como , o qual apresenta
92
uma fraca susceptibilidade magnética que não é permanente, pois quando o campo
magnético externo deixa de atuar na substância paramagnética os dipolos magnéticos
retornam ao estado caótico original, perdendo o seu magnetismo. Exemplos: olivina
(Mg, Fe)2SiO4 e augita (Ca,Na)(Mg,Fe,Al)(Al,Si)2Si2O6 são minerais paramagnéticos.
Por outro lado, quando a maior parte dos dipolos magnéticos se alinha ao campo
magnético externo, o mineral é classificado como , com susceptibilidade
magnética forte e magnetização permanece, ou seja, os dipolos magnéticos continuam
alinhados, mantendo o magnetismo, quando o campo magnético externo deixa de atuar
(Fig. 4.73). Por exemplo, ferro metálico, hematita Fe2O3 e ilmenita FeTiO3. Em um outro
tipo de magnetismo, denominado , existe sempre um momento
magnético natural permanente, sem necessidade de interferência de um campo
magnético externo. Exemplos de minerais ferrimagnéticos: minerais da série magnetita
Fe3O4 Ulvoespinélio Fe2TiO4 e pirrotita Fe1 xS.
a b
Figura 4.73- Substância ferromagnética antes do efeito do campo magnético externo, com
dipolos magnéticos não alinhados (a) e após o efeito do campo magnético externo, com dipolos
magnéticos alinhados (b).
Propriedades radioativas
Radioatividade é uma reação nuclear que ocorre espontaneamente em isótopos
radioativos de alguns elementos. O núcleo desses elementos é instável e se transforma
espontaneamente em outro elemento com liberação de energia radioativa, processo
denominado decaimento ou desintegração radioativa. O elemento com núcleo instável
que está decaindo é denominado elemento-pai e o elemento formado a partir do
decaimento do elemento-pai é o elemento-filho. Durante o decaimento radioativo, cada
elemento-pai leva um determinado tempo para se transformar em um elemento-filho e a
transformação continua até se formar um elemento-filho estável (isótopo radiogênico).
Estudos experimentais têm demonstrado que as taxas de decaimento dos elementos
radioativos, em um determinado intervalo de tempo, denominadas constante de
decaimento ou de desintegração, não são afetadas por mudanças químicas e físicas do
ambiente, sendo, portanto, constantes nos diversos ambientes geológicos. A taxa de
decaimento é normalmente expressa através do conceito de meia-vida que corresponde
93
ao tempo decorrido para que metade da quantidade original de átomos radioativos se
transforme em átomos radiogênicos (estáveis).
Isótopos são elementos químicos com o mesmo número atômico (Z) e diferentes
12
números de massa (A). Por exemplo, isótopos de carbono, com Z = 6: carbono 12 ( 6C),
13 14
carbono 13 ( 6 C) e carbono 14 ( 6 C), este último é radioativo. Três tipos de decaimento
seguintes ocorrem nos processos radioativos:
Decaimento alfa ( ): o núcleo instável emite uma partícula (2 prótons + 2 nêutrons)
e, portanto, o elemento-filho terá seu número atômico (Z) reduzido em 2 unidades e
seu número de massa reduzido em 4 unidades. Ex.: 238 92U
234
90Th + + + energia.
Decaimento beta (): um dos nêutrons do núcleo instável transforma-se em próton por
emissão de uma partícula (semelhante ao elétron), aumentando o número atômico
(Z) do elemento-filho em 1 unidade, sem alterar sua massa.
Ex.: 87
37Rb
87
‾
38Sr + + energia.
Captura de elétrons: um próton do núcleo instável captura um elétron da camada de
elétrons que rodeia o núcleo e se transforma em nêutron, diminuindo o número
atômico (Z) do elemento-filho em 1 unidade, sem alterar seu número de massa.
Ex.: 40
19K + e‾
40
18Ar + + energia. Gama ( ) é uma radiação eletromagnética
energética e de pequeno comprimento de onda que surge como subproduto dos
decaimentos , e captura de elétrons. A radiação é de extrema importância na
exploração mineral de elementos radioativos, pois ela pode ser detectada por
contadores Geiger e por gamaespectometria (inclusive aérea). Metais básicos (Cu,
Pb e Zn) e metais preciosos (Au, Ag, Pt) que estejam associados à minerais
radioativos também podem ser explorados por gamaespectrometria.
A meia-vida dos principais elementos radioativos geologicamente importantes já
é bem conhecida, conforme ilustrado na tabela 4.2, abaixo. Particularmente o isótopo
238
U é muito importante para o estudo sobre a origem da Terra, pois sua meia-vida de
4,5 bilhões de anos (4,5 Ga) é praticamente igual à idade da Terra.
Potássio 40
K 1,28 109 anos 40
Ca e
40
Ar 1 captura de elétron
Rubídio 87
Rb 10 87
4,88 10 anos Sr Emissão de 1 partícula
Tório 232
Th 1,41 1010 anos Pb e 4He Emissão de 6 partículas e 4
208
238
U 4,51 109 anos 206Pb e 4He Emissão de 8 partículas e 6
Urânio 235
U 7,04 108 anos 207Pb e 4He Emissão de 7 partículas e 6
Tabela 4.4- Meia-vida e decaimento de 5 isótopos radioativos importantes para o estudo dos
ambientes geológicos da Terra.
94
Figura 4.74- Reações de decaimento
radioativo do 238U para 206Pb, com
meia-vida de 4,51 Ga.
a b c
d
Figura 4.75- Minerais radioativos: uraninita (a), torianita geminada (b), autunita placosa (c) e
monazita (d).
A radioatividade proveniente dos minerais acima, principalmente aqueles que
contêm urânio e tório como elementos principais, é extremamente perigosa ao ser
humano não só pela sua intensidade normalmente alta, mas também pela presença de
isótopos radioativos de radônio (222Rn, 220Rn, 219Rn) na cadeia de decaimento dos
isótopos 238U, 235U e 232Th. O radônio é um gás nobre extremamente perigoso, pois não
é visível e não tem cheiro. Se for inalado pelo homem, a continuação do decaimento
radioativo do radônio produzirá metais nocivos, como o polônio, chumbo e bismuto (Fig.
4.68), no interior do pulmão, com sérias possibilidades de danos à saúde. A estrutura
cristalina dos minerais fortemente radioativos, portadores de urânio e tório, normalmente
apresenta-se profundamente afetada pela radioatividade, processo este denominado
95
metamictização. Nos casos extremos, este processo chega a destruir completamente a
estrutura cristalina dos minerais metamícticos, tornando-os amorfos.
A radioatividade proveniente de minerais portadores de potássio e rubídio
é de intensidade mais fraca e não representa perigo radiológico eminente para o ser
humano. Embora o potássio seja um elemento abundante nas rochas da crosta terrestre
e faça parte da composição de minerais abundantes como as micas muscovita
KAl2(AlSi3O10)(OH)2 e biotita K(Mg,Fe)3(AlSi3O10)(OH)2 e os K-feldspatos
(K,Na)AlSi3O8 , a intensidade da radiação proveniente do 40K nestes minerais é fraca e
não há emissão de partículas e . O rubídio é um elemento traço nas rochas da crosta
terrestre mas ocorre principalmente substituindo o cálcio em alguns minerais abundantes
como os plagioclásio (Ca,Na)Al(Si,Al)3O8 . Embora ocorra emissão de partícula no
decaimento do 87Rb para 87Sr, a intensidade da radiação é fraca em função do baixo
conteúdo de rubídio nas rochas e minerais.
Os minerais radioativos de urânio e tório são minérios energéticos que podem ser
utilizados na fabricação de reatores nucleares para produção de energia elétrica. Além
disso, a radioatividade desses minerais é utilizada para datação absoluta dos materiais
geológicos (minerais e rochas), ramo da geologia denominado geocronologia. O princípio
da datação radiométrica baseia-se no seguinte: conhecendo-se a quantidade de um
isótopo radioativo (pai) e do isótopo radiogênico estável (filho) e o tempo que o isótopo
radioativo leva para se transformar no isótopo estável (filho), é possível determinar a
idade absoluta do mineral ou rocha que contém os isótopos radioativo (pai) e radiogênico
(filho). Por meio de análises isotópicas quantitativas em equipamentos denominados
espectrômetros de massa, se obtém a quantidades que ainda resta do isótopo radioativo
(pai) e do isótopo estável (filho) gerado pelo decaimento do isótopo radioativo. Como as
taxas de decaimentos das reações nucleares que transformam os isótopos radioativos
nos isótopos estáveis são conhecidas (meia vida), é possível calcular a quantidade
original do isótopo radioativo e quanto tempo levou para produzir a quantidade de isótopo
estável (filho) obtida pelo espectrômetro de massa, que deve corresponder à idade do
mineral ou rocha que contém os isótopos radioativo e radiogênico. Existem vários
métodos para determinar idades de rochas com milhões e até alguns bilhões de anos.
Os principais são os métodos urânio-chumbo (238U/ 206Pb e 235U/ 207Pb), rubídio-
estrôncio (87Rb/ 87Sr) e potássio-argônio (40K/ 40Ar), isótopos com meia vida longa. Para
datação de eventos humanos, de milhares de anos, é utilizado o método do carbono 14
14 1
( 6 C), cuja meia vida é 5.730 anos para que a metade do 46 C original se transforme em
14
nitrogênio 7 N.
96
(composição química, arranjo das partículas e forças de ligação) controlam a maioria das
propriedades dos minerais.
Essa relação das propriedades dos minerais com a estrutura cristalina e a
composição química, mostrada na figura 4.76, é o tema principal desta unidade e o
objetivo central da parte da mineralogia química denominada cristaloquímica.
a b
Elétron
Halita NaCl
Fluorita CaF2
Figura 4.77- Ligação iônica (transferência de elétrons) nos minerais halita (a) e fluorita (b).
97
Ligação covalente: a interação eletrônica ocorre por emparelhamento de
elétrons, com a formação de pares eletrônicos, formados por dois orbitais incompletos
(cada um com um elétron) que se juntam num único orbital completo e estável. Este tipo
de ligação ocorre entre elementos não metálicos com diferença no potencial de
eletronegatividade menor que nos compostos iônicos. A atração entre os elementos no
par eletrônico é causada por forças eletromagnéticas relativamente fortes provenientes
de seus movimentos de rotação (spins) contrários, um horário e outro anti-horário que
criam campos magnéticos com polaridade opostas.
Na combinação entre átomos de um mesmo elemento químico, o par eletrônico
pertencerá igualmente aos dois átomos, pois não há diferença no potencial de
eletronegatividade, já que os átomos são iguais. A ligação covalente, neste caso, é do
tipo apolar (não polarizada). Exemplos: enxofre nativo (S) e diamante (C). O enxofre é
bivalente, com 2 orbitais incompletos em cada átomo que se ligam a 2 outros átomos de
S, formando uma molécula anelar com 8 átomos não coplanares (S8) em forma de um
octógono (Figura 4.78). No diamante, os átomos de carbono (C) são tetravalentes e cada
átomo de C se liga a 4 outros átomos que ficam nos vértices de um tetraedro imaginário,
formando uma estrutura não molecular muito estável (Fig. 4.79).
a Tetraedro de
b
interno da cela unitária
Par eletrônico
dos vértices e das faces
da cela unitária
b a
a Par eletrônico
A grande maioria dos minerais é iônica e/ou covalente que se caracteriza pela
tenacidade quebradiça, diafaneidade translúcida e brilho não metálico. Por causa da
maior força da ligação covalente, os minerais com predominância de ligações covalentes,
sem outros tipos de ligação, são muito duros, com pontos de fusão altos e insolúveis em
água, como, por exemplo, o diamante, córindon, espinélio, quartzo e feldspatos. Quando
ocorre ouros tipos de ligações mais fracas, associadas à ligação covalente, como no
caso de minerais moleculares, a dureza e os pontos de fusão são mais baixos, como,
por exemplo, o gelo e o enxofre nativo, formados por moléculas com ligação covalente
forte, interligadas por ligação mais fraca (van der Walls). Para fundir o diamante ou o
córindon, precisa de muita energia para romper a forte ligação covalente, ao passo que
para fundir o enxofre basta romper a ligação de van der Walls entre as moléculas, com
muito menos energia. A origem da fraca ligação de van der Walls são cargas residuais
na superfície das moléculas ou também de unidades não moleculares como na grafita,
formada por camadas de átomos de carbono interligados por ligação covalente apolar
muito forte, mas as camadas de carbono são interligadas por ligação fraca de van der
Walls (Fig. 4.82). Por causa da ligação de van der Walls a grafita é mole, mas como ela
não é molecular, seu ponto de fusão é muito alto, pois para fundi-la tem que quebrar a
forte ligação covalente.
O gelo é outro mineral molecular que, além da ligação covalente das moléculas,
possui uma ligação fraca interligando as moléculas, denominada ponte de hidrogênio
que é semelhante à ligação de van der Walls, mas recebe essa denominação específica,
pois entre duas moléculas de H2O sempre há um átomo de hidrogênio, fazendo a ponte.
Na estrutura do gelo cada molécula H2O é ligada a outras 4 moléculas por pontes de
hidrogênio, situadas nos vértices de um tetraedro imaginário (Fig. 4.83).
99
a b
Em azul, os átomos
alinhados das três
camadas
Figura 4.82- Estrutura da grafita formada por camadas
de átomos de carbono ligados covalentemente,
mostrando a ligação de van der Walls entre as
camadas de carbono (a). Vista bidimensional das 3
camadas, na direção do eixo c (b), mostrando o
deslocamento da camada intermediária (vermelha).
As ligações fracas (van der Walls e ponte de hidrogênio) nunca ocorrem sozinhas.
Elas sempre estão associadas a outra ligação mais forte (covalente ou iônica forte) que
forma unidades coesas ligadas pelas ligações fracas, condicionando a ocorrência de
clivagens ao longo das direções planares (ligações fracas) que interligam a unidades
mais coesas.
, é a ligação entre átomos de elementos metálico que tendem a
perder elétrons (eletropositivos) e quando se unem entre si, formam uma nuvem
eletrônica de elétrons liberados que ficam dispersos no retículo cristalino, sem posições
fixas (Fig. 4.84). A atração entre os átomos metálicos é mantida por forças eletrostáticas
fracas originadas pela polaridade eletrônica causada pela movimentação dos elétrons
em um estado de equilíbrio dinâmico em que os polos elétricos estão sempre presentes,
mas em constante movimentação. Exemplos metais nativos (Au, Ag, Cu, Pt).
100
Por causa da nuvem eletrônica e da força de ligação relativamente fraca, os
minerais metálicos são normalmente opacos, com brilho metálico, pois a nuvem dificulta
a passagem da luz. Apresentam tenacidade plástica (não quebradiços); se amassam ou
se amoldam aos esforços mecânicos, em vez de quebrar. Apresentam dureza baixa a
média e são bons condutores de eletricidade e calor, pois os eletros da nuvem se alinham
com facilidade diante de uma diferença de potencial elétrico, formando uma corrente
elétrica.
NCCa F = 8 cubo
CaF2 (Fig. 4.86): Poliedro de coordenação
NCF Ca = 4 tetraedro
Nesses dois exemplos observa-se que os dois minerais (halita e fluorita), apesar
de pertencerem ao mesmo sistema cristalino (isométrico), possuem estruturas cristalinas
diferentes, com diferentes arranjos espaciais de suas partículas componentes, definidos
pela coordenação dessas partículas.
a b
Ânion Cl ‾
Cátion Na+
Figura 4.85- Estrutura cristalina da halita, com poliedro de coordenação octaédrico (NC = 6),
tanto para o Na+ como para o Cl ‾ (a). Cela unitária da halita (b).
101
a b
Ânion F ‾
Cátion Ca+2
Figura 4.86- Estrutura cristalina da fluorita, com poliedros de coordenação cúbico (NC = 8) do
Ca+2 e tetraédrico (NC = 4) do F ‾ (a). Cela unitária da fluorita (b).
a b c d
As coordenações 11, 10, 9, 7 e 5 existem, porém são raras ou muito raras nos
minerais. A estrutura cristalina influencia em várias propriedades dos minerais. As formas
cristalinas e suas simetrias dependem da geometria das celas unitárias. A clivagem e
densidade são propriedades que dependem tanto do arranjo estrutural das partículas
como também das ligações químicas. As clivagens são regiões planares de fraqueza na
estrutura cristalina definidas por ligações fracas e/ou maior espaçamento de planos
atômicos. A densidade dos minerais depende da composição química (peso atômico dos
elementos) e também da porcentagem de espaço da estrutura cristalina ocupada pelas
partículas que varia com o arranjo estrutural das partículas.
Polimorfismo e Isoestruturalismo
Polimorfismo é o fenômeno pelo qual dois ou mais minerais possuem a mesma
composição química e estruturas cristalinas diferentes. Os minerais nestas condições
são denominados genericamente de polimorfos, dimorfos (se são dois), trimorfos (se são
três) etc. O termo polimorfismo refere-se às formas cristalinas diferentes dos minerais
nessa condição, apesar de possuírem a mesma composição química. Os minerais
polimorfos não podem ser distinguidos por meios químicos, porém são diferentes em
quase todas as outras propriedades (Tabela 4.5). A tabela mostra que pode haver
polimorfos do mesmo sistema cristalino, como o rutilo e anatásio, cujos arranjos
estruturais dos íons de Ti e O são diferentes.
106
A extensão da substituição iônica (se ela é completa ou limitada) é controlada
pelos três fatores seguintes
é o principal fator controlador da extensão da substituição
iônica. Dois ou mais íons só se substituem mutuamente, em condições normais, se
seus tamanhos são semelhantes. Até 15 % de diferença nos raios iônicos a
substituição ocorre amplamente. Entre 15 % e 30 %, a substituição pode ocorrer, mas
de maneira limitada e acima de 30 %, a substituição é muito limitada, ou praticamente
inexistente em condições normais.
quanto maior for a temperatura de formação
dos minerais, maior será a facilidade de substituição entre os íons, pois nestas
condições o retículo cristalino dilata e suas partículas componentes ficam em estado
de alta energia e excitação, tornando menos rigorosas as exigências de espaço.
Exemplo Em consequência da grande diferença nos raios iônicos dos cátions Na+ e
K+ (20 a 30 %), a substituição iônica entre eles, em condições normais, é limitada,
podendo ser mais ampla, entretanto, em temperaturas altas (Fig. 4.91).
A substituição iônica entre dois ou mais íons só poderá ser
completa, formando séries contínuas, se houver semelhança nos raios iônicos dos
íons que se substituem (diferença menor que 15 %), e se os termos extremos forem
isoestruturais. Por exemplo, na série continua magnesita − siderita (Mg,Fe)CO3 , além
da semelhança nos raios iônicos dos íons Mg+2 e Fe+2 (diferença menor que 10 %),
os termos extremos, magnesita (MgCO3) e siderita (FeCO3), são isoestruturais
(sistema hexagonal-R). No mineral esfalerita, o Fe+2 pode substituir o Zn em até 32 %
aproximadamente, formando uma série descontínua (Zn,Fe)S, embora a semelhança
nos raios iônicos destes íons (diferença em torno de 4,5 %), favoreça uma
substituição mais ampla. (Fig. 4.92) A limitação da substituição iônica, neste caso, é
condicionada pela estrutura cristalina, pois os termos extremos da série não são
isoestruturais; a esfalerita ZnS é isométrica e a troilita FeS é hexagonal-H, não sendo
possível uma substituição completa entre Zn e Fe+2, uma vez que esses íons ocupam
posições diferentes nas estruturas da esfalerita e da troilita.
107
(2) Inclusões de ilmenita FeTiO3 em magnetita Fe3O4
T alta Exsolução T baixa
(Fe,Ti)3O4 Fe3O4 + FeTiO3 magnetita + ilmenita
1 fase mineral = magnetita c/Ti 2 fases minerais
(3) Inclusões de albita NaAlSi 3O8 em K-feldspato (K,Na)AlSi3O8 Pertitas (Fig. 4.93)
T alta Exsolução T baixa
(K,Na)AlSi3O8 (K,Na)AlSi3O8 + NaAlSi3O8 K-feldspato pertítico
1 fase mineral = K-feldspato c/Na K-feldspato albita 2 fases minerais
(com pouco Na)
Figura 4.93- K-feldspato pertítico, mostrando a albita branca (pertita) exsolvida do K-feldspato.
Notar a orientação das pertitas de albita.
(SiO4)‾ 4
b
XmYn(ZpOq)W r
Z são cátions pequenos altamente carregados (Si +4, Al+3).
X são cátions grandes fracamente carregados (Ca+2, Na+, K+).
Y: cátions médios, bi a tetravalentes (Mg+2, Fe+2, Fe+3, Mn+2, Al+3, Ti+4).
O (oxigênio), W: grupos aniônicos como a hidroxila (OH)‾, F ‾ e Cl ‾.
p e q: índices que dependem do grau de polarização da estrutura,
m, n e r índices que dependem das condições de neutralidade elétrica do mineral.
109
Figura 4.95 a- Classificação dos silicatos: subclasses nesossilicatos, sorossilicatos,
ciclossilicatos e inossilicatos de cadeia simples.
110
Figura 4.95 b- Classificação dos silicatos: subclasses inossilicatos de cadeia dupla, filossilicatos
e tectossilicatos.
a K-feldspato c
Quartzo
b
Fenocristais de K-feldspato
Figura 4.96- Granito com K-feldspato vermelho e quartzo (a). Cristal de K-feldspato (b). Granito
porfirítico com fenocristais de K-feldspato branco (c).
a b
K-feldspato
Plagioclásio
Quartzo
Figura 4.97- Cristal de plagioclásio (a). Granito porfirítico com fenocristais de K-feldspato em
matriz de plagioclásio, quartzo e biotita. (b).
a b b
c
Figura 4.98- Dunito: rocha ígnea plutônica constituída principalmente por olivina (a). Cristais
prismáticos de augita (b) e hornblenda (c). Diorito: rocha ígnea plutônica constituída por
plagioclásio, piroxênio (augita), anfibólio (hornblenda) e biotita (c).
a b c
Feldspato
Quartzo
Biotita
Figura 4.99- Cristais placosos de muscovita (a) e biotita (b). Granito com biotita (c).
112
Unidades constituintes das camadas da Terra
4.3.1- O CICLO DAS ROCHAS
Rochas são materiais consolidados constituídos por agregados naturais de
minerais que compõem a crosta terrestre e o interior do planeta. Dependendo do
processo de formação, a consistência e rigidez das rochas variam, resultando em rochas
duras e rochas brandas. Denomina-se estrutura da rocha o seu aspecto geral externo
que pode ser maciça, isotrópica (sem orientações) e anisotrópica (com orientações, com
estratificação, bandamento, xistosidade). Uma característica importante das rochas é
sua constituição mineralógica, podendo-se distinguir os minerais essenciais e os
minerais acessórios. Os minerais essenciais são os mais abundantes e estão sempre
presentes em uma determinada rocha, e suas proporções determinam o nome da rocha.
Os minerais acessórios podem ou não estar presentes, sem que isso modifique a
classificação da rocha. Quando os minerais constituintes são da mesma espécie
mineralógica, a rocha é considerada monominerálica, como o calcário e o mármore
(constituídos por calcita) e o quartzito (constituído por quartzo), e quando são de
espécies diferentes, ela será poliminerálica, que é a situação mais frequente, como o
granito, basalto e gnaisse.
Um dos principais critérios de classificação das rochas baseia-se nos seus
processos de formação (classificação genética), pela qual as rochas se dividem em três
grandes grupos seguintes: Rochas ígneas ou magmáticas, formadas a partir da
consolidação de material rochoso fundido, denominado magma, podendo ocorrer em
profundidade (plutonismo) ou na superfície (vulcanismo); 2- Rochas sedimentares,
formadas por deposição e compactação de sedimentos (fragmentos minerais derivados
por intemperismo e erosão de outras rochas) nas bacias sedimentares; 3- Rochas
metamórficas, formadas por transformações mineralógicas e texturais (metamorfismo)
de outras rochas. O campo das geociências que estuda a origem e características das
rochas é denominado petrologia, com três subdivisões, conforme as três classes
principais de rochas: petrologia ígnea, sedimentar e metamórfica.
A crosta terrestre é constituída predominantemente por rochas ígneas e
metamórficas que representam em torno de 95 % de seu volume e as rochas
sedimentares ocupam os 5 % restantes. Por outro lado, em termos de área de exposição
na superfície da crosta, a situação se inverte, com as rochas sedimentares ocupando
75 % da superfície, enquanto que as rochas ígneas e metamórficas cobrem apenas 25 %.
Embora os processos genéticos de cada uma das três classes de rochas sejam
distintos, eles se relacionam, havendo progressão entre eles, constituindo um ciclo,
denominado ciclo das rochas (Fig. 4.100) que pode ser analisado a partir de qualquer
um dos três processos formadores de rocha, como, por exemplo, o magmatismo. O
magmatismo inicia quando rochas do interior terrestre (manto superior ou litosfera) são
submetidas a condições de temperatura e pressão que propicie o início da fusão dessas
rochas, gerando magma que formará as rochas ígneas plutônicas e vulcânicas (Fig.
100 a). Essas rochas ou qualquer outra, quando expostas na superfície, podem sofrer a
ação do intemperismo, formando um manto de alteração constituído por material friável
que pode formar um solo (Fig. 4.100 b). O material friável do manto de intemperismo
pode ser movimentado pelos agentes de erosão (principalmente água) que transporta
esse material para regiões baixas (bacias de sedimentação) e lá são depositados,
compactados e litificados, formando as rochas sedimentares (Fig. 4.100 c). As rochas
sedimentares e magmáticas, quando submetidas a condições de temperatura e pressão
elevadas, sem atingir seu ponto de fusão, podem ser metamorfisadas para formar as
rochas metamórficas, normalmente deformadas (Fig. 4.100 d). Em condições extremas
de metamorfismo, a rocha pode começar a fundir, gerando magma e formando
migmatito, uma rocha híbrida metamórfica-magmática (Fig. 4.100 e) que pode evoluir
para uma rocha magmática, começando um novo ciclo.
113
Figura 4.100- Ciclo das rochas: magmatismo, formando rochas plutônicas e vulcânicas (a);
intemperismo (b); erosão, deposição e litificação, formando uma rocha sedimentar (c);
metamorfismo, formando uma rocha metamórfica (d), início de fusão, formando migmatito (e).
115
Os magmas normalmente são silicáticos, em decorrência da composição também
silicática de suas rochas fontes do manto superior e crosta inferior. Entretanto, magmas
carbonáticos e sulfetados também são conhecidos. Apenas 12 elementos químicos
compõem essencialmente os magmas silicáticos. Oito elementos, com mais de 1% em
peso, denominados elementos maiores: O e Si (os mais abundantes), Al, Ca, Fe, Mg,
Na, K, além de mais 4 elementos com teores entre 1,0 e 0,1%, denominados elementos
menores: Ti, H, P e Mn. A tabela 4.7 mostra as composições dos três principais tipos de
rochas magmáticas (granito, andesito e basalto), também mostradas graficamente na
figura 4.102.
116
A mobilidade dos magmas depende de
sua consistência ou viscosidade que, por sua
vez, depende principalmente de quatro
parâmetros seguintes: composição química,
grau de cristalinidade (porcentagem de
material sólido), teor de voláteis e temperatura.
Magmas pobres em sílica, como os basálticos,
com temperatura entre 1000 e 1200 C, são
pouco viscosos (mais fluidos) e extravasam
com facilidade, formando corridas de lava que
podem estender-se por dezenas de
quilômetros. Magmas mais silicosos, como os
riolíticos (equivalente vulcânico do granito),
com temperatura entre 700 e 800C, são mais
viscosos e têm mais dificuldade para
extravasar, tendendo a cristalizar em
profundidade (Fig. 4.103). Vulcanismo
explosivo ocorre quando a pressão interna do
Figura 4.103- Relação entre composição
conduto vulcânico supera o peso do material
(teor de sílica), temperatura e viscosidade
dos principais tipos de magmas. sobrejacente.
119
Classificação e nomenclatura das rochas ígneas
Existem diversos critérios de classificação das rochas ígneas, sendo os mais
importantes os critérios texturais, critérios químicos e os critérios mineralógicos.
de uma rocha refere-se e às características e relações entre as fases
minerais constituintes das rochas, tais como dimensões absolutas e relativas dos
minerais (cristais), seus hábitos e formas e seus padrões de arranjo entre si. É definida
normalmente em escala macroscópica (amostra de mão) e/ou microscópica. Por outro
lado, de uma rocha refere-se às feições macroscópicas e mesoscópicas (escala
de afloramento) que especificam o arranjo de porções distintas da rocha, como, por
exemplo, se a rocha é bandada (em bandas ou estratos) ou maciça (homogênea). Um
dos parâmetros mais importantes que afeta as feições texturais das rochas ígneas é a
velocidade de cristalização que depende basicamente da profundidade em que o magma
cristaliza, com duas situações bem distintas:
cristalização superficial ou rasa (até algumas dezenas ou poucas centenas de
metros): típica dos processos vulcânicos, nos quais o magma (lava) perde calor
rapidamente em razão do grande contraste de temperatura entre as rochas
superficiais e a lava que cristaliza rapidamente, levando alguns meses ou até mesmo
dias quando o derrame vulcânico é superficial e pouco espesso. Em muitos casos a
consolidação é tão rápida (algumas horas) que não há tempo suficiente para a rocha
cristalizar completamente, formando vidro vulcânico (obsidiana) juntamente com
cristais, ou até mesmo somente vidro. Quando o derrame não chega a extravasar,
mas é raso, ou quando é muito espesso, a cristalização pode levar anos, décadas ou
alguns séculos. O vulcanismo basáltico é o mais comum e importante.
cristalização profunda (quilométrica ou decaquilométrica): típica dos processos
plutônicos, nos quais o magma perde calor lentamente por causa do menor contraste
de temperatura entre as rochas encaixantes e o magma que cristaliza lentamente,
podendo prolongar-se por milhares ou até dezenas de milhares de anos, como, por
exemplo, as rochas graníticas.
O magmatismo hipoabissal ou subvulcânico é uma situação intermediária entre
as duas descritas acima (vulcanismo e plutonismo) que ocorre em profundidade rasa,
porém mais profundo que os processos vulcânicos e mais raso que os plutônicos. O
desenvolvimento das fases minerais pode ser aferido pelo e
, dois importantes parâmetros texturais das rochas ígneas que depende
da velocidade de cristalização e profundidade de consolidação dos magmas.
1- Expressa a proporção relativa de cristais e vidro presentes na
rocha. Quando a rocha é constituída somente por cristais, é denominada
(Fig. 4.106 a, b, c) e quando é constituída somente de vidro, é denominada
(Fig. 4.106 d). Quando a rocha contém cristais e vidro é denominada
(cristais com vidro) ou (vidro com cristais).
2- diferencia dois tipos de texturas, dependendo se os minerais
(cristais) da rocha podem ou não ser reconhecidos macroscopicamente (a olho nu ou
com lupa de bolso). Depende basicamente da velocidade de cristalização.
(Fig. 4.106 a, b, c): minerais reconhecíveis macroscopicamente. É a
textura típica das rochas plutônicas que cristalizam lentamente. A granulometria da
textura fanerítica pode ser fina (cristais submilimétricos), média (cristais milímetros),
grossa (0,5 a 3 cm), muito grossa (cristais 3 cm). Esta última é típica de pegmatitos,
cujos cristais são centimétricos ou até métricos.
(Fig. 4.106 e): cristais não são reconhecíveis macroscopicamente,
somente ao microscópio (cristais microcristalinos) ou por difração de raios X (cristais
criptocristalinos não são reconhecíveis ao microscópio). É a textura típica das rochas
vulcânicas. As rochas hipabissais frequentemente exibem texturas com variações
granulométricas dos cristais, predominando a textura fanerítica fina.
120
a b c d
e
Figura 4.106- Rochas ígneas holocristalinas faneríticas (plutônicas):
granito (a), gabro (b), pegmatito (c). Rocha ígnea holohialina (d): vidro
vulcânico (obsidiana). Rocha ígnea holocristalina afanítica (vulcânica):
basalto (e).
Média
Plutonismo
Grossa
+ Grossa Pegmatito
Tabela 4.8- Relações entre as texturas e o ambiente de formação das rochas ígneas.
121
As estruturas magmáticas são importantes fontes de informação complementares
sobre o ambiente de formação e consolidação das rochas ígneas. Estruturas maciças
isotrópicas (sem orientações), normalmente indicam regimes de alojamento e
consolidação isentos de tensões, conforme as amostras das figuras 4.106 e 4.107.
Entretanto, estruturas anisotrópicas magmáticas podem ocorrer, como as estruturas de
fluxo, tanto vulcânicas como plutônicas que expressam atuação de tensões.
Carbonatitos bandados são exemplos de estrutura de fluxo plutônica e Lavas em corda
(pahoehoe) de estrutura de fluxo vulcânica (Fig. 4.108 a, b). Escape de gases é um
fenômeno frequente nos processos vulcânicos que resulta em estruturas com cavidades
vazias, como as vesículas que, quando preenchidas com minerais tardios, são
denominadas de amígdalas (Fig. 4.108 c). O púmice é um tipo de rocha vulcânica com
alto índice de cavidades vazias (vesículas), resultando em uma estrutura esponjosa (Fig.
4.108 d).
a b c
d
Figura 4.108- Estruturas magmáticas: estrutura bandada em
amostra de testemunho de carbonatito, Caçapava do Sul, RS (a),
fluxo de lava em corda, pahoehoe (b), estrutura amigdaloidal em
basalto da bacia do Paraná (c) e púmice com estrutura esponjosa
(d).
a Q Quartzo (Qtz)
b
A K-feldspato (Kf)
P Plagioclásio
F feldspatoide (Foide)
Figura 4.110- Diagrama QFAP de Streckeisen (1976) para classificação das rochas ígneas com
índice de cor (M) < 90, com os principais nomes para as rochas plutônicas (a) e vulcânicas (b).
Moda 1 2 3 4 5 6 QFAP 1 2 3 4 5 6
Quartzo 29,4 31,5 12,0 4,5 − − 35 35 15 5
Feldspatoide − − − − 16,8 4,0 − − − − 20 5
K-feldspato 42,0 18,0 4,0 36,0 42,0 12,0 50 20 5 40 50 15
Plagioclásio 12,6 40,5 64,0 49,5 25,2 64,0 15 45 80 55 30 80
Máficos 13,0 8,0 17,0 7,0 13,0 15,0 − − − − − − −
Total 97,0 98,0 97,0 97,0 97,0 95,0 Total 100 100 100 100 100 100
Tabela 4.9- Porcentagem dos minerais essenciais (moda) das 6 rochas plotadas no diagrama
Streckeisen, recalculas para que os três minerais do diagrama QFAP totalizem 100 %.
124
1- sienogranito
2- granodiorito
3- Diorito ou gabro
4- Monzonito
125
Lopólito
a
Figura 4.112- Diversas situações dos corpos magmáticos vulcânicos, plutônicos e hipabissais.
Em (a): vulcão, derrame, neck, batólito, xenólitos, stock, dique, sill, lacólito. Em (b): lopólito.
b
a
Figura 4.113- Dique de rocha máfica, cortando gnaisses e migmatitos (a). Sill de diabásio,
intrusivo em calcários paleozoicos, Arizona, EUA (b).
Vulcanismo
Na superfície, os processos vulcânicos podem se manifestar por meio de vulcões
ou fissuras, derrames calmos ou explosivos. Neck são corpos intrusivos do conduto
vulcânico, preservados após a erosão do cone vulcânico. Processos vulcânicos ocorrem
desde a origem da Terra, há 4,5 bilhões de anos. Talvez eles sejam a melhor expressão
da liberação do calor interno do planeta, acumulado principalmente pelo decaimento de
elementos radioativos. Nos primórdios da evolução terrestre, o calor interno era muito
intenso, o que permitiu chegar ao estado de quase fusão, quando ocorreu a diferenciação
do planeta em núcleo, manto e crosta. Desde então, o fluxo de calor interno, embora
esteja diminuindo, nunca cessou e, como principal fonte de energia da dinâmica interna
do planeta, vem condicionando a tectônica de placas, acompanhada de terremotos e
processos magmáticos (plutônicos e vulcânicos), além de criação e destruição de crosta.
As altas temperaturas da Terra primitiva permitiram taxas de fusão parcial
elevadas no manto, originando magma ultramáfico que só ocorreu no arqueano ( 2,5
bilhões de anos). Ao atingir a superfície arqueana, o magma ultramáfico deu origem a
derrames vulcânicos de komatiitos, muito ricos em magnésio, associados a sequências
126
Vulcano sedimentares arqueanas, denominadas greenstone belts. Os komatiitos exibem
um tipo peculiar de textura, denominada spinifex, em alusão a uma espécie de gramínea
australiana homônima (Fig. 4.114). As menores taxas de fusão parcial atuais não
permitem mais geração de magma ultramáfico, mas os processos vulcânicos continuam,
com menor volume e intensidade.
Atividades vulcânicas foram também importantes na Lua, Marte e Vênus que
tiveram suas superfícies modelas pelo vulcanismo em diversos períodos de suas
evoluções. Entretanto, os exemplos mais impressionantes ocorrem no satélite mais
interno de Júpiter (Io), cujas erupções vulcânicas expelem lavas com altíssimas
temperaturas e jatos gasosos com mais de 300 Km de altura que podem ser vistos a
partir da órbita da Terra, há mais de 600 milhões de quilômetros. O ramo das geociências
que se dedica ao estudo dos processos vulcânicos denomina-se vulcanologia, surgido
na década de 1980, de grande importância para a redução de riscos para populações
situadas em regiões vulcânicas, como as bordas de placas tectônicas.
a b
Figura 4.114- Afloramento de Komatiito com textura spinifex (a) e detalhe da textura formada
por cristais esqueletais de olivina e/ou piroxênio (b).
Os vulcões, apesar das catástrofes por eles provocadas para os seres humanos,
são importantes fontes de observações científicas do interior terrestre (Fig. 4.115) e
podem revelar onde fontes geotermais de interesse para a humanidade podem ser
localizadas. Além disso, 25 % do O2, H2, C, Cl e N2 , presentes atualmente na biosfera,
são de origem vulcânica. Nos primórdios da evolução terrestre, milhares de vulcões
ativos liberaram grandes volumes de água, gás carbônico e outros compostos químicos
que deram origem aos primeiros oceanos e nossa atmosfera primitiva, cuja evolução
permitiu, mais tarde, a produção das substâncias essenciais para o desenvolvimento dos
primeiros organismos da Terra. Portanto, os vulcões tiveram uma importante
participação no desenvolvimento da vida em nosso planeta que culminou com o
surgimento do homem.
As erupções vulcânicas podem ser efusivas (derrames sem explosão) ou
piroclásticas (com explosões) e os componentes do magma vulcânico (lava) podem ser
líquidos, sólidos ou gasosos (tabela 4.10).
127
Tabela 4.10- Tipologia e características dos produtos vulcânicos
128
a b
c
Figura 4.116- Lava almofadada (a). Lava em corda,
pahoehoe (b). Lava em corda em contato com lava
aa (c), lava em corda na parte superior e lava aa na
parte inferior da imagem.
As lavas riolíticas, com temperaturas entre 800 e 1000ºC, são mais silicosas
(ácidas) e mais viscosas. A baixa fluidez dessas lavas dificulta a sua movimentação até
a superfície. Por esta razão, o magma riolítico tende a se consolidar em profundidade,
formando corpos plutônicos graníticos. Quando chega à superfície, tende a obstruir os
condutos vulcânicos, tornando comuns os processos piroclásticos. As lavas andesíticas
são intermediárias e de ocorrência mais restrita, em arcos vulcânicos ou magmáticos,
em bordas de placas convergentes.
Os principais componentes sólidos das lavas são os fragmentos piroclásticos,
lançados na atmosfera pelas erupções explosivas. Dependendo do tamanho das
partículas, são denominadas de cinza fina ou grossa, lapilli, blocos e bombas (tabela
4.10) que depositam por gravidade (queda piroclástica), formando os tufos, lapillito,
brechas e aglomerados piroclásticas, respectivamente (Fig. 4.117). As lavas podem
também assimilar fragmentos líticos erodidos das rochas encaixantes, denominados
fragmentos vulcanoclásticos.
a b c
Figura 4.117- Rocha piroclástica fina, tufo, Monte da Guia, Horta, Açores (a), brecha piroclástica,
com fragmentos (blocos) angulosos, indicando condições rígidas, ilha Fernando de Noronha (b)
e aglomerado piroclástico, com fragmentos (bombas) não angulosos, indicando condições
plásticas, ilha Shetland do Sul, Antártica (c).
Os depósitos de fluxo piroclástico são formados por correntes explosivas de lavas
densas e de baixa turbulência e constituídos por misturas de fragmentos, partículas de
rocha e gases quentes que movem-se pelo seu próprio peso, condicionados à
129
declividade do terreno. O principal tipo de rocha formada por fluxo piroclástico são os
ignimbritos (Fig. 4.118) que se formam em volta dos vulcões explosivos, normalmente
de composição dacítica ou riolítica. São constituídos por uma mistura de fragmentos
variados (cinza, púmice, blocos e fragmentos líticos) soldados.
a b
Figura 4.118- Amostra de ignimbrito (a). Platô de ignimbrito dacítico do terciário inferior, Chubut,
Argentina (b).
Figura 4.119- Erupção piroclástica, em nuvem ardente, do vulcão Santa Helena, ocorrida em
maio de 1980, Washington, EUA.
130
Figura 4.120- Modelo teórico de um sistema vulcânico: a câmara magmática pode situar-se na
astenosfera ou na litosfera inferior e está conectada à cratera pelos condutos vulcânicos. Além
do conduto principal (central), ocorrem outros condutos que levam a cones satélites em erupções
de flanco. Estão mostrados também os diversos tipos de depósitos vulcânicos.
Figura 4.121- Neck vulcânico, conhecido como torre do diabo, em Wyoming, EUA (a). Relevo
vulcânico da ilha brasileira de Trindade, no oceano Atlântico, há 1200 Km da costa do Espírito
Santo, destacando-se um neck vulcânico, à direita da imagem (b).
Figura 4.122- Esquema simplificado das etapas de formação de uma caldeira vulcânica: intensa
erupção vulcânica de lava e gases (a) leva ao colapso do teto do cone, originando um sistema
de fraturas que provoca a erupção explosiva imediata do magma (b), formando a caldeira (c).
Lago de caldeira vulcânica, Crater Lake, Oregon, EUA (d).
Estruturas circulares, como as
caldeiras vulcânicas, são feições
morfológicas diagnósticas importantes para
localizar depósitos minerais relacionados
com processos vulcânicos e hipabissais,
como complexos alcalinos e carbonatíticos
(Nb-Ta, Ti, TR) e kimberlitos (diamante). Por
exemplo, a caldeira vulcânica de Poços de
Caldas, relacionada com um complexo
alcalino rico em U, Th e TR (Fig. 4.123).
Figura 4.123- Imagem de satélite da região
sudoeste de Minas Gerais, mostrando a
estrutura circular da caldeira vulcânica,
relacionada com o complexo alcalino de Poços
de Caldas.
A fase tardia dos processos vulcânicos é caracterizada por exalações gasosas
(fumarolas) e fontes termais (geiseres) que podem persistir por décadas ou até séculos
após os eventos eruptivos. As fumarolas (Fig. 4.124) podem ser primárias (gases do
próprio magma) ou secundárias, quando ocorre interação com o sistema de água
subterrânea (meteórica). Os principais elementos químicos que entram na composição
dos gases são: hidrogênio, cloro, enxofre, nitrogênio, carbono e oxigênio que podem
ocorrer na forma elementar ou combinada, como H 2O, H2S, HCl, CO, CO2 , (NH4)+, SO2 ,
SO3 , CH4 , etc. Eventualmente, elementos como flúor, zinco, cobre, chumbo, arsênio,
132
prata, mercúrio e ouro se associam aos gases, podendo formar depósitos minerais
filonianos nas rochas encaixantes. Geiseres são exalações de água quente (hidrotermal)
e vapor em rupturas de terrenos vulcânicos (Fig. 4.125). Regiões vulcânicas na Islândia,
Nova Zelândia, Chile e EUA, são mundialmente conhecidas pelos seus campos de
geiseres. A evaporação e o resfriamento da água provocam precipitação química de
minerais dissolvidos, formando depósitos denominados terraços que podem ser,
principalmente, silicosos (sinter) ou carbonático (calcita), denominado travertino.
a b
Figura 4.124- Fumarola em lago termal, vulcão Poás, Costa Rica (a). Fumarola com enxofre,
vulcão Kilauea, Havaí (b).
a b
Figura 4.125- Campo de geiseres El Tatio, Chile (a) e terraço de sinter em El Tatio, Chile (b).
133
água fria do mar provoca a deposição de importantes depósitos minerais sulfetados de
cobre, chumbo e zinco, denominados sulfetos maciços vulcanogênicos (SMV).
a b
134
a c
b
Figura 4.127- Erupção fissural de magma
basáltico, muito fluido, formando camadas
sucessivas de lava (a) em um rift submarino meso-
oceânico (b). “Cortina de fogo” de vulcanismo
fissural de lava basáltica no Havaí (c).
Figura 4.128- Basaltos da Formação Serra Geral: Paredões de basalto no litoral de Torres, RS
(a). Cânions em basaltos, no parque Aparados da Serra, RS (b).
135
com formação de cone vulcânico, são típicas de magmas mais
viscosos, de composição mais félsica. A alta viscosidade dificulta a mobilidade da lava
que costuma consolidar parcialmente no conduto, obstruindo a passagem da lava e
aprisionando gases no conduto vulcânico. Quando a pressão dos gases aumenta muito
ocorrem explosões típicas dos processos piroclásticos, com produção de cinzas, blocos,
bombas, púmice, além de derrames. As erupções centrais são classificadas de acordo
com os tipos de cone vulcânico e seus produtos, em 4 tipos:
1- É um tipo de vulcão característico de erupções de lavas félsicas
extremamente viscosas, como as riolíticas ou dacíticas. A dificuldade de mobilidade
da lava faz com ela acumule na cratera, formando um corpo dômico, com encostas
íngremes e topo abaulado (Fig. 4.129). Devido à alta viscosidade da lava que se
acumula no conduto, os gases ficam aprisionados e, quando a pressão aumenta
muito, ocorrem explosões que fragmentam as rochas já formadas, contribuindo para
o crescimento do domo. Quando o volume de gás acumulado é grande pode formar
nuvens ardentes.
a b
Figura 4.130- Diagrama esquemático de um vulcão de escudo (a). Vulcão de escudo Mauna
Loa, no Havaí, o maior vulcão do planeta (b).
136
3- são as erupções centrais mais comuns, com um grande cone íngreme
e simétrico, constituído por camadas alternadas de lava e material piroclástico e, por
isso, são denominados também de vulcões compostos (Fig. 4.131), em cujos flancos
alojam-se eventualmente diques radiais. Os estratovulcões são típicos de lavas
intermediárias (andesito, latito, traquito), não tão viscosas como as félsicas (riolitos e
dacitos) e não tão fluidas como as lavas máficas (basálticas). Representam uma
situação intermediária entre os domos vulcânicos e os vulcões de escudo. Vulcões
como o Fuji (Japão), Santa Helena (EUA), Osorno e Lascar (Chile), Etna e Vesúvio
(Itália) são alguns exemplos clássicos de estratovulcões. São vulcões perigosos, pois
pode ocorrer reativação após séculos de inatividade e produzem explosões violentas
e nuvens incandescentes (ardentes).
a b
137
Quando o material piroclástico preenche a chaminé (conduto) vulcânica, forma-se
uma estrutura vertical, em forma de cenoura, denominada . Os diatremas são
constituídos basicamente por brechas subvulcânicas e se formam a partir de magmas
profundos muito enriquecidos em gases e muito explosivos que cristalizam em condições
subvulcânicas. Esses magmas, durante sua ascensão, causam fusão parcial das rochas
encaixantes e carregam fragmentos (xenólitos) da crosta inferior e do manto superior
(astenosfera). Um tipo raro de magma que normalmente forma pipes (chaminés) de
diatrema, é o magma kimberlítico que forma a principal rocha fonte de diamantes
primários, denominada kimberlito (Fig. 4.133).
a b
a b c d
Figura 4.135- Modelo de pluma mantélica para a formação de LIP máficas (basaltos de platô)
por meio de superplumas (a, b) e de vulcanismo mais restrito por meio de ponto quente (c, d).
139
4.3.3- ROCHAS SEDIMENTARES
Figura 4.136- Ciclo sedimentar: intemperismo e erosão das rochas fontes, gerando material
sólido e dissolvido, transportado para as bacias de deposição e lá são depositados e litificados.
140
As seis fases do ciclo sedimentar (Fig. 4.136):
1) Intemperismo físico e químico das rochas (áreas fontes) que desagrega e decompõe
as rochas, gerando partículas e fragmentos, ou substâncias originadas por alteração
química das rochas, que podem ser depositadas em depressões na superfície,
denominadas bacias de deposição ou de sedimentação.
2) Erosão: mobilização das partículas e fragmentos gerados pelo intemperismo e sua
remoção das rochas fontes.
3) Transporte das partículas e fragmentos para as regiões baixas (depressões ou bacias
sedimentares) através dos agentes de transporte: água (o principal), vento e gelo.
4) Deposição ou sedimentação das partículas e fragmentos quando o vento e as
correntes de água perdem força (desaceleram ou se aquietam), ou quando as bordas
das geleiras se fundem. A deposição destas partículas e/ou a precipitação química de
substâncias dissolvidas, formam camadas de sedimentos inconsolidados em
ambientes aquáticos continentais ou no fundo dos oceanos.
5) Soterramento: à medida que as camadas de sedimentos se acumulam, o material
anteriormente depositado é soterrado e, então, compactado nas bacias de deposição
pelas camadas de sedimentos subsequentes.
6) Diagênese: mudanças físicas (temperatura e pressão) e químicas (reações químicas)
sofridas pelas camadas de sedimentos soterrados, que promovem a litificação dos
sedimentos (processo de enrijecimento pelo qual os sedimentos se transformam em
rocha sedimentar).
Intemperismo e erosão
é o conjunto de modificações físicas (desagregação) e químicas
(decomposição) que as rochas sofrem ao aflorar na superfície da Terra, em decorrência
de sua interação com a atmosfera, hidrosfera e biosfera. Os fatores que controlam a
ação do intemperismo são as propriedades das rochas fontes ou parentais (dependendo
da natureza dessas rochas, apresentam resistências diferenciadas aos processos
intempéricos) clima (distribuição das chuvas e variação da temperatura), presença ou
ausência de solo (espessura do solo) e vegetação (fornecem matéria orgânica para
reações químicas) e finalmente o tempo de exposição das rochas aos agentes
intempéricos (tabela 4.11). Maior parte dos materiais terrestres superficiais que o homem
tem contato são rochas e minerais intemperizados que constituem a base de importantes
atividades humanas, como o cultivo dos solos para produção de alimentos e o
aproveitamento de recursos minerais na construção civil e na indústria.
TAXA DE ALTERAÇÃO
Lenta Rápida
141
O principal agente do intemperismo é a água, a substância mais abundante na
superfície da Terra que cobre em torno de dois terços de sua área superficial. A água
distribui-se na atmosfera e na parte superficial da crosta até uma profundidade de
aproximadamente 10 Km abaixo da interface atmosfera/crosta, constituindo a hidrosfera,
representada por uma série de reservatórios como os oceanos, lagos, rios, geleiras,
vapor de água atmosférica, água subterrânea e água retida nos seres vivos. A constante
interação entre esses reservatórios é denominada de
que representa o processo mais importante da dinâmica externa do planeta,
movimentado pela energia solar (Fig. 4.137).
Figura 4.137- Ciclo hidrológico, o mais importante processo da dinâmica externa da Terra.
Pode-se analisar o ciclo hidrológico a partir de qualquer ponto dele como, por
exemplo, o processo de precipitação meteórica que corresponde a condensação de
gotículas de água líquida a partir do vapor de água presente na atmosfera, formando a
chuva que ocorre tanto nos continentes como nos oceanos. Nas regiões frias, esse
mecanismo ocorre na forma de neve ou granizo, responsável pela geração e
manutenção das geleiras nas regiões polares e topo das montanhas. Parte da
precipitação retorna para a atmosfera por evaporação direta da água durante a
precipitação ou quando chega à superfície que soma-se ao vapor de água liberado pela
atividade biológica de organismos (respiração), principalmente as plantas. A quantidade
de vapor de água que retorna para a atmosfera (evaporação direta + respiração das
plantas) é denominada evapotranspiração. Nas regiões glaciais, o retorno da água para
a atmosfera ocorre por sublimação do gelo que passa diretamente para o estado gasoso,
por ação do vento. A água que chega à superfície e não evapora, pode seguir dois
caminhos: infiltração, guiada pela força gravitacional e que depende principalmente
das características do material de cobertura da superfície, como a permeabilidade. A
água de infiltração tende a preencher os vazios no subsolo, recarregando os aquíferos
de água subterrânea. escoamento superficial, cujo destino final é o oceano, também
é impulsionado pela gravidade e ocorre quando o material superficial é impermeável ou
saturado de água. A água de escoamento forma a rede de drenagem, alimentada ainda
pelas nascentes, quando a água de infiltração (água subterrânea) retorna à superfície.
142
No percurso da água ao longo do ciclo hidrológico, ela entra em contato com as
rochas no continente, por meio da chuva, da infiltração e escoamento. Essa interação
provoca mudanças nas rochas, denominadas intemperismo químico. Ocorre ainda um
segundo tipo de intemperismo, denominado intemperismo físico, cuja ação não depende
da água e sim de fatores físicos.
O intemperismo físico é a desagregação física da rocha e separação dos grãos
minerais antes coesos (Fig. 4.138 a), originando partículas de minerais ou fragmentos de
rocha. É caudado pela expansão e contração térmica das rochas submetidas a variações
de temperatura ao longo dos dias e noites e diferentes estações do ano. Além disso, os
diferentes coeficientes de dilatação térmica dos minerais diante das variações de
temperaturas provocam dilatações e contrações diferenciadas, aumentando o stress
mecânico das rochas. O congelamento da água nas fissuras das rochas, com aumento
de volume, causa pressão nas paredes das fissuras, aumentando as aberturas (Fig.
4.138 b, c). A cristalização de sais dissolvidos nas águas de infiltração tem o mesmo
efeito nas fissuras, não somente pelo crescimento dos cristais salinos, mas também pela
sua expansão térmica causada pela variação de temperatura. Intemperismo físico
também ocorre quando corpos rochosos no interior da crosta ascendem a níveis mais
rasos, por soerguimento tectônico da região ou por denudação erosiva de sua cobertura.
Com o alívio da pressão, os corpos rochosos expandem originando juntas de alívio
aproximadamente paralelas à superfície ao longo da qual a pressão foi aliviada,
denominadas esfoliação esferoidal (Fig. 4.139). O intemperismo físico também pode ser
provocado por ação física de organismos vivos, denominado de físico-biológico como,
por exemplo, a fragmentação das rochas causada pela pressão do crescimento das
raízes das árvores (Fig. 4.140).
a b
a b
Figura 4.139- Corpo magmático em profundidade (a) ascendendo a níveis mais rasos por
soerguimento da região, com formação de esfoliação esferoidal por juntas de alívio (b).
143
Fragmentando as rochas e, portanto,
aumentando a superfície das mesmas
exposta ao ar e à circulação de água, o
intemperismo físico abre caminho e facilita a
ação do intemperismo químico.
144
Minerais solúveis, como calcita CaCO3 e halita NaCl, normalmente são dissolvidos
pela água meteórica ácida, conforme as reações abaixo:
CaCO3 Ca+2 + (CO3)‾ 2 NaCl Na+ + Cl ‾
Os principais minerais formadores das rochas são silicatos que, quando em
contato com a água meteórica, são hidrolisados. A hidrólise é uma reação de
decomposição ou alteração de uma substância pela água. É diferente da dissolução
simples, pois além de quebrar as ligações dos minerais e ionizá-los, a hidrólise consome
hidrogênio da água, adicionando-o ao neomineral. A hidrólise de um feldspato alcalino
(anidro), resulta na formação de caulinita (argila hidratada), liberando sílica, íons de
potássio e bicabornato que ficam dissolvidos na solução de lixiviação, conforme a reação
seguinte: 2 KAlSi3O8 + H2O + 2 H2CO3 Al2Si2O5(OH)4 + 4 SiO2 + 2K+ + 2 (HCO3)‾
água ácido sílica íons de bicabornato
carbônico potássio dissolvido
Nessa reação de hidrólise do K-feldspato, uma pequena porção das moléculas de ácido
carbônico (H2CO3) ioniza-se, formando íons de hidrogênio (H+) e de bicabornato (HCO3‾),
tornando as gotas de água meteórica levemente ácidas. A água ácida dissolve os íons
de potássio e silício do K-feldspato e os íons de hidrogênio são introduzidos na estrutura
do K-feldspato em decomposição para formar caulinita Al 2Si2O5(OH)4 (Fig. 4.142). Por
causa do consumo de hidrogênio da solução aquosa ela torna-se menos ácida (aumenta
o pH) à medida que a reação progride. O novo mineral secundário torna-se parte do solo
em formação ou é transportado mecanicamente como sedimento. Sílica, íons de potássio
e bicabornato dissolvidos na solução aquosa são transportados quimicamente pela
solução de lixiviação para os rios e oceano.
145
Em condições de alta pluviosidade, a sílica pode ser totalmente eliminada
(dissolvida) do K-feldspato (hidrólise total), restando apenas hidróxido de alumínio
Al(OH)3 (gibbsita), conforme a reação:
KAlSi3O8 + H2O + H2CO3 Al(OH)3 + 3 SiO2 + K+ + (HCO3)‾
água ácido sílica íons de bicabornato
carbônico potássio
A sílica é pouco solúvel na faixa de pH
que ocorre a hidrólise (5 a 9), mas em
condições de alta pluviosidade ela pode ser
totalmente solubilizada, assim como o
potássio. Por outro lado, o hidróxido de
alumínio Al(OH)3 (gibbsita) é praticamente
insolúvel na faixa de pH da hidrólise (Fig.
4.143), podendo ser solubilizado em meios
muito ácidos (pH < 4,5) ou muito alcalinos
(pH 9,5).
Água meteórica do
intemperismo consome
CO2 da atmosfera para
formar ácido carbônico,
através da reação:
H2O + CO2 H2CO3
ácido carbônico
Figura 4.145- Ciclo de interação do dióxido de carbono (CO 2) da atmosfera com os processos
intempéricos, influenciando no clima da Terra: aumento da taxa de intemperismo reduz a
concentração de CO2 da atmosfera, causando resfriamento, e diminuição da taxa de
intemperismo aumenta a concentração de CO 2 da atmosfera causando aquecimento.
a c
b
Figura 4.148- Perfil de solo, mostrando os horizontes A, B e C dos três principais tipos de solos:
Pedalfer, clima temperado (a), Laterito, clima úmido (b) e Pedocal, clima seco (c).
A pedologia é o ramo das ciências naturais que estuda os solos. Os cientistas do
solo têm mapeado as características dos solos em todo o mundo, com o objetivo principal
de prevenir a erosão dos mesmos e desenvolver práticas agrícolas mais eficientes.
Existem diversas classificações de solos na pedologia. Uma classificação simples e de
grande aplicação prática, baseada no clima, divide os solos em três categorias: pedalfer,
laterito e pedocal (Fig. 4.148). Os três principais fatores que definem as características
dos solos são o clima, as rochas fontes (parentais) e o tempo que o solo teve para se
desenvolver. O intemperismo intenso e sua longa duração diminuem a influência das
rochas fontes. Em um curto período de tempo de intemperismo moderado, as
características dos solos dependem muito das rochas fontes e, nessas condições, um
150
solo de granito será bem diferente de um solo de calcário. Depois de muitos milhares de
anos, entretanto, as diferenças entre os dois solos podem diminuir e até mesmo
desparecer. Ambos podem desenvolver os mesmos minerais argilosos e terão perdido
todos os minerais solúveis das camadas superiores, dependendo somente da natureza
do clima. Desse modo, solos jovens são afetados pela composição das rochas fontes,
mas solos maduros são afetados principalmente pelo clima.
são típicos de regiões de clima temperado, com chuva e
temperatura moderadas (Fig. 4.148 a). Carbonatos e outros minerais mais solúveis são
ausentes. O nome deriva da palavra grega pedon que significa chão ou solo, e dos
símbolos dos elementos alumínio (Al) e ferro (Fe). Os horizontes superior e intermediário
(A e B) dos solos pedalfer contêm alta concentração de minerais resistatos, como o
quartzo, e insolúveis como minerais argilosos e óxido-hidróxidos secundários de ferro. A
abundância em minerais argilosos dos solos pedalfer os tornam muito apropriados para
a agricultura. são típicos de climas tropicais (quentes e úmidos), com
vegetação exuberante, intemperismo intenso e rápido e solos espessos (Fig. 4.148 b). O
intemperismo é tão intenso e acelerado que os minerais solúveis e facilmente alteráveis
são totalmente lixiviados da camada superior do solo, onde a matéria orgânica (húmus)
é constantemente reposta pela vegetação, mas chega a formar apenas uma delgada
camada de húmus. Esse processo de laterização deixa um resíduo composto por óxidos
e hidróxidos de ferro e alumínio, denominado laterito, um solo vermelho intenso, no qual
os silicatos foram completamente alterados. Embora os solos lateríticos possam
sustentar uma luxuriante vegetação, como as florestas equatoriais, não são muito
produtivos para a agricultura. O desmatamento e o cultivo do solo laterítico provocam a
oxidação rápida da camada superficial rica em húmus que desaparece em pouco tempo,
expondo o infértil horizonte sotoposto (B). Por esta razão, os solos lateríticos só podem
ser cultivados intensamente durante poucos anos, até se tornarem estéreis. O laterito é
o tipo de solo mais comum em países tropicais como o Brasil (Fig. 4.149 a).
Os lateritos podem ser economicamente importantes como minério de ferro,
manganês, níquel, nióbio, fosfato e alumínio. Nos grandes depósitos de ferro sedimentar
(formações ferríferas), como os de Carajás e Quadrilátero Ferrífero, o minério oxidado
superficial normalmente é laterítico. Minério primário de níquel, na forma de sulfeto (como
a pentlandita), forma-se em rochas máfica-ultramáficas. Nessas rochas, sob clima
tropical, pode haver concentração secundária de níquel em silicatos (principalmente
garnierita) e hidróxidos de ferro (goethita), em coberturas lateríticas, como em
Niquelândia e Barro Alto, Goiás, e Vermelho, no Pará. Minério de nióbio e fosfato
ocorrem na forma de óxido de nióbio (entre eles o pirocloro) e fosfato de cálcio (apatita),
em carbonatitos, uma rocha ígnea, constituída principalmente por carbonatos. O
pirocloro e apatita são dois minerais resistatos que se concentram no solo laterítico que
se forma sobre os carbonatitos, sob clima tropical, como em Araxá e Catalão, Minas
Gerais. As lateritas aluminosas são as bauxitas (Fig. 4.149 b), constituídas
predominantemente por hidróxidos de alumínio (gibbsita, boehmita e diásporo), de
coloração clara.
O terceiro tipo de solo, o , é típico de climas secos e áridos, com escassez
de água e ausência de vegetação, dificultando a ação do intemperismo que resulta em
solos pouco espessos (Fig. 4.148 c). Em regiões frias e secas, onde o intemperismo
químico é muito lento, a influência da rocha parental é preponderante, mesmo quando
os solos se formam em um longo período de tempo. Desse modo, o horizonte A contém
muitos minerais pouco ou não alterados e fragmentos da rocha parental, até mesmo
minerais solúveis, quando as chuvas são muito escassas. Os solos pedocais são ricos
em cálcio, derivado do carbonato de cálcio e de outros componentes solúveis, e pobres
em matéria orgânica. A maior parte da água nos solos pedocais encontra-se próximo da
superfície e evapora no período entre as chuvas, formando nódulos e concreções
151
precipitadas de carbonato de cálcio, principalmente no horizonte intermediário (B). A
composição mineralógica e o clima árido são pouco favoráveis para uma grande
população de organismos no solo, tornando-os menos férteis que os solos pedalfer.
a
b
Figura 4.149- Laterita, de coloração avermelho escuro (a) e bauxita de coloração vermelha clara
e porções brancas (b).
A erosão dos solos tem sido um tema recente de grande interesse não só na
pedologia, como também nas ciências ambientais, sociais e políticas, pois trata-se da
preservação do principal elemento (o solo) na agricultura, uma atividade fundamental na
produção de alimentos para a espécie humana. O problema surgiu porque a preparação
dos terrenos para as práticas agrícolas envolve desmatamento que expõe os solos a um
grau mais intenso de erosão. Como a formação dos solos envolve um longo tempo
(milhares de anos), eles não podem ser renovados rapidamente depois de terem sido
erodidos. Há um certo equilíbrio entre a erosão natural moderada dos solos e a lenta
formação de novos solos. As atividades agrícolas, feitas pelo homem, vêm interferindo
nesse equilíbrio, expondo os solos a um grau de erosão mais intenso do que a erosão
natural e provocando uma redução nas espessuras dos solos, mais rápida que a sua
reposição natural. Nos EUA, 2 bilhões de toneladas de solo arável são perdidos pela
erosão a cada ano, duas vezes a quantidade de solo formado naturalmente no mesmo
período. Se tais perdas persistirem no século 21, a agricultura em solos cada vez mais
delgados terá redução de rendimento, com provável abandono de áreas mais seriamente
afetadas. E, uma vez perdido, o solo leva milhares de anos para se recompor. É evidente
a constatação de que algo precisa ser feito urgentemente para estancar o desequilíbrio
entre erosão e formação de novos solos provocado pela agricultura. A estimativa e
previsão da erosão dos solos, assim como o desenvolvimento de técnicas agrícolas
adequadas, deveriam ser as bases para as decisões políticas com o objetivo de tornar a
agricultura uma atividade sustentável a longo prazo.
Pelo que foi apresentado acima, os dois tipos de intemperismo (físico e químico)
dão origem a três tipos de partículas e fragmentos: formados por minerais e
fragmentos de rocha que resistiram ao ataque intempérico e permaneceram na forma
mineral primária, constituídos principalmente por minerais resistatos; neominerais
formados pela alteração química de minerais primários que não resistiram ao ataque
intempérico, constituídos por minerais argilosos ou micáceos (caulinita, esmectita, ilita),
óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio (hematita, goethita, gibbsita); componentes
solúveis formados pela alteração de minerais primários que permaneceram dissolvidos
na solução de lixiviação, como partículas iônicas.
As partículas e fragmentos constituídos por minerais resistatos e neominerais,
gerados pelo intemperismo das rochas, são denominadas partículas detríticas ou
clásticas e podem ter dois destinos: permanecer no manto de intemperismo para a
formação dos solos. ser removidos pela erosão e transportados mecanicamente (em
suspensão) pelos agentes de transporte até as bacias de sedimentação, onde lá serão
152
depositados para formar os depósitos sedimentares detríticos ou clásticos. Quase a
totalidade dos compostos solúveis permanece em solução e são transportados como
íons dissolvidos pelas correntes aquosas até as bacias de deposição, normalmente os
oceanos, para formar os depósitos sedimentares químicos. Somente uma pequena
porção dos compostos solúveis pode permanecer no manto de intemperismo, em
condições específicas de clima árido ou semiárido.
Transporte dos produtos sólidos e dissolvidos do intemperismo
Logo após a desagregação e decomposição das rochas pelo intemperismo,
começa o transporte das partículas e fragmentos clásticos erodidos e a dissolução dos
compostos solúveis, levando esse material (sólidos e dissolvidos) até as bacias de
sedimentação. Essa viagem pode ser muito longa, podendo estender-se por milhares de
quilômetros, desde as cadeias de montanhas nos continentes, passando pela rede de
drenagem, até desembocar em alguma bacia sedimentar (lago, mar ou oceano). Os
fragmentos clásticos são transportados mecanicamente pelas correntes de água
(principal) e ar para regiões mais baixas, por suspensão (partículas menores) ou
saltação, rolamento e arrastamento (partículas maiores). É um fragmento que cai de um
penhasco (saltando ou rolando), a areia levada pelos rios (por suspensão), as geleiras
que deslizam morro abaixo arrancando fragmentos por onde passam e o vento que
carrega areia de um lugar para outro (suspensão, arrastamento ou saltação), todos
condicionados pela força do agente de transporte e pela gravidade.
A força de um grande rio depende de seu gradiente, ou seja, da diferença de
altitude em relação à foz do rio, denominado nível de base (Fig. 4.150). Na nascente,
onde o rio tem o seu maior gradiente, sua força é grande, a qual vai diminuindo em
direção a sua foz, acompanhando a diminuição de seu gradiente. A capacidade de
transporte de partículas clásticas de um rio depende de seu gradiente (ou sua força) e
do tamanho e densidade das partículas ou fragmentos transportados. Como os minerais
mais comuns que compõem as partículas clásticas têm aproximadamente a mesma
densidade (2,6 a 2,9), pode-se avaliar a capacidade de transporte dos rios somente pelo
tamanho das partículas transportadas.
Com relação a sua capacidade de transporte, as correntes podem ser
classificadas em três grupos: (velocidade 50 cm/s): típicas de
riachos montanhosos, próximos de suas nascentes (com alto gradiente), que conseguem
carregar fragmentos grandes, como cascalho. As geleiras também conseguem
transportar fragmentos grandes. (velocidade entre 20 e
50 cm/s): típicas de rios pouco meandrantes, afastados de suas nascentes que
desaceleraram com a diminuição de sua força (com gradiente médio) e só conseguem
transportar areia e partículas menores. Os ventos também conseguem transportar areia,
especialmente nos desertos e nas parias. (velocidade < 20 cm/s):
típicas de rios meandrantes, próximo de sua foz, que perderam sua força (com baixo
gradiente) e, praticamente, só conseguem transportar lama.
Meandros
157
Tabela 4.16- Características dos três ambientes de sedimentação principais (continental,
costeiro e marinho) e seus subambientes.
Em seu alto-médio curso (mais próximo da nascente), os rios são velozes (com
alto gradiente) e com uma alta carga sedimentar. Se o rio flui em terrenos facilmente
erodíveis, forma vales muito escavados e estreitos, denominados cânions (Fig.
4.156 a, b), com aluviões grosseiros (cascalhos). Uma pequena planície de inundação
aparece somente com nível de água baixo (por exemplo, no verão). Com o nível de água
alto (por exemplo, derretimento de neve na primavera), o rio normalmente forma um
padrão entrelaçado.
Em seu médio-baixo curso (mais próximo da foz), os rios são mais lentos (com
baixo gradiente) e com uma baixa carga sedimentar. Fluem em amplas planícies de
inundação quase planas, onde tendem a formar meandros que mudam de um lado para
o outro, em um movimento serpenteante (Fig. 4.156 c, d). A corrente é mais rápida na
margem externa dos meandros, que é erodida, e mais lenta na margem interna, onde
formam depósitos aluviais arenosos denominados barras de pontal (point bar deposits)
ou de meandro. À medida que os processos de erosão e deposição progridem, as curvas
dos meandros tornam-se mais apertadas, até que em uma grande inundação das
margens, o rio, com maior velocidade e volume de água, assume um novo e mais curto
percurso, abandonando o meandro que permanece como um lago em forma crescente.
159
a
Rios em
Rio com ampla
baixo nível planície de
de água em inundação,
cânion formando
escavado meandros
c A corrente é
mais rápida
na margem
b externa que
na interna,
onde forma
Rio com alto barras de
nível de pontal
água e
padrão
entrelaçado As curvas dos
em cânion meandros
tornam-se
mais
Figura 4.156- Alto-médio curso dos rios (alto apertadas
gradiente): rios velozes com alta carga
sedimentar em vales estreitos e escavados,
com nível de água baixo (a) e alto, com padrão
d Até ocorrer
uma grande
entrelaçado (b). Médio-baixo curso dos rios inundação e o
(baixo gradiente): rios lentos com baixa carga rio seguir um
sedimentar, em amplas planícies de inundação, novo percurso,
com formação de meandros (c) que, com sua ao abandonar
evolução, tendem a ficar abandonados (d). o meandro.
160
a
c
d
Figura 4.158- Tipos de dunas: barcanas (a), parabólicas (b), transversais (c) e lineares (d).
Figura 4.159- Movimento de uma geleira e seu balanço de massa (a): diferença entre
acumulação (precipitação de neve) e ablação (derretimento, sublimação ou desprendimento de
iceberbs). Desprendimento de icebergs no Parque Nacional Wrangel-Saint Elias, Alaska (b).
161
Durante seu movimento, as geleiras produzem intemperismo físico e erosão nas
rochas por onde passam (polindo e formando estrias, Fig. 4.160 a), modelam a paisagem
(formando vales em U, Fig. 4.160 b), e transportam fragmentos rochosos de todos os
tipos e tamanhos, depositando-os onde o gelo derrete. O gelo é o mais efetivo meio de
transporte de detritos, com extrema competência (quanto maior a competência maior o
tamanho dos fragmentos) e capacidade (quantidade total de sedimento transportado).
Os sedimentos clásticos depositados diretamente a partir das geleiras são denominados
genericamente de till, caracterizados pela má seleção e angulosidade dos fragmentos
imersos em matriz mais fina e ausência de estratificação (Fig. 4.161 a). Os depósitos
glaciais formados pela deposição de till são denominados morenas (Fig. 4.161 b).
Depósitos glaciais também podem se formar a partir da água de degelo que
formam rios de padrão entrelaçados, transportando fragmentos de till que depositam
como depósitos fluvio-glaciais, os quais são estratificados e mais selecionados que as
morenas. A água de degelo também pode se acumular em depressões ou ser represada
pelos depósitos de morenas, formando lagos, nos quais são depositados sedimentos
glacio-lacustres. Um dos tipos comuns de depósitos glacio-lacustres são as varves,
constituídas por sedimentos clásticos grosseiros, depositados por correntes de turbidez
durante o verão, alternados por sedimentos finos, decantados durante o inverno, sob a
superfície congelada do lago (Fig. 4.162).
b
a
162
Figura 4.162- Varvito, formado pela litificação de
depósito de varve, formado pela alternância de
sedimentos glacio-lacustres grossos e finos.
Quando um rio se aproxima de seu delta, onde o gradiente é quase zero, ele
inverte seu padrão de drenagem. Ao invés de coletar água de seus tributários, passa a
descarregar água e sedimentos por meio de seus distributários, canais menores que se
ramificam a jusante, a partir do canal principal (Fig. 4.165). Sedimentos clásticos mais
grossos, tipicamente areia, formam um pacote de camadas de topo, seguido por um
pacote de camadas frontais, na frente externa do delta, constituídas por areia fina e silte.
Adiante das camadas frontais, no assoalho marinho, forma o pacote de camadas basais
aproximadamente horizontais, compostas principalmente por argila e lama, depositadas
normalmente por correntes calmas, mas que em episódios de avalanches pode formar
correntes densas de turbidez. As camadas basais vão sendo soterradas à medida que o
delta cresce mar adentro (Fig. 4.165). O crescimento dos deltas cria as planícies
deltaicas, poucos metros acima do nível do mar, terras úmidas muito valiosas porque
armazenam água e são habitat de muitas espécies de plantas e animais. Ondas fortes,
correntes costeiras e marés afetam o crescimento e a forma dos deltas, deslocando os
sedimentos deltaicos ao longo da praia ou até impedindo a formação do delta. A tectônica
também influi na formação de deltas que são mais comuns em margens continentais
passivas que em margens ativas.
Figura 4.165- Deltas e seus processos de deposição, formando Durante avalanches, formam-se
as camadas de topo (areia), as frontais (areia fina e silte) e as correntes densas de turbidez que
afundam e depositam sua carga no
basais (argila e lama). fundo, à medida que desaceleram.
164
região costeira dominada pela ação das ondas, marés e ventos
que erodem as rochas do litoral, distribuindo e depositando os sedimentos arenosos ou
mais grosseiros (seixos) que formam as praias. O sistema praial pode ser subdividido
em três subambientes (Fig. 4.166): situada acima do nível da maré alta e
só atingida pelas ondas durante períodos de tempestades. É dominada pela ação dos
ventos, com cinturão de dunas de areia (Fig. 4.167); compreende a zona
de espraiamento (entre maré alta e maré baixa), onde as ondas deslizam após a sua
arrebentação, e a zona de surfe, onde ocorre a arrebentação das ondas; costa afora,
onde o fundo não é mais afetado pelos movimentos das ondas, após a zona de surfe.
Figura 4.166- Perfil costeiro, mostrando as três fácies do ambiente praial: Pós-praia; Antepraial
(zona de espraiamento + zona de surfe); e Costa afora.
Figura 4.167- Dunas barcanas na ilha do Caju, delta do rio Parnaíba, litoral maranhense.
São as bacias oceânicas (oceanos e mares), destino final dos materiais sólidos e
dissolvidos formados pelo intemperismo das rochas continentais. Os oceanos e mares
cobrem em torno de 70 % da superfície da Terra, justificando o termo planeta água,
utilizado por muitos autores. Essa imensidão dos ambientes marinhos, com todo esse
volume de água, evidentemente, tem grande importância em muitos aspectos do nosso
planeta, sobretudo como o principal agente no ciclo da água, transportando calor,
regulando o clima e favorecendo as condições para a manutenção da vida no planeta.
Os ambientes marinhos geralmente são classificados de acordo com a profundidade da
água, que determina os tipos de correntes que ocorrem nos oceanos. Quatro
subambientes marinhos principais podem ser destacados: marinho profundo, plataforma
continental, recifes orgânicos e margem continental (8, 9, 10 e 11 na figura 4.153).
corresponde ao fundo dos oceanos e mares, após o
talude continental, última porção da margem continental, onde a erosão e o intemperismo
são mínimos, predominando processos vulcânicos e deposição de sedimentos em
ambiente calmo, perturbado eventualmente apenas por correntes marítimas (Fig. 4.169).
A sedimentação modela a maior parte do fundo oceânico, coberto por sedimentos
inconsolidados que acumulam-se sobre as placas oceânicas à medida que elas se
expandem a partir das dorsais meso-oceânicas. Entretanto, o registro dos sedimentos
oceânicos é limitado no tempo porque as zonas de subducção estão continuamente
engolindo as placas oceânicas de volta para o manto e destruindo os sedimentos
oceânicos por metamorfismo e fusão. A existência desses sedimentos leva algumas
dezenas de milhões de anos, chegando até algumas centenas de milhões de anos. As
feições topográficas submarinas mais importantes são: dorsais meso-oceânicas, ilhas
vulcânicas de pontos quentes, fossas oceânicas, arcos de ilhas e margens continentais,
mostradas no perfil do oceano Atlântico (Fig. 4.170).
a b
1m
m
Figura 4.171- Distribuição atual dos sedimentos marinhos, terrígenos, próximos da margem
continental, e bioquímicos (vasas), no fundo dos oceanos (a). Imagem de microscópio eletrônico
de varredura (MEV) de uma vasa oceânica (b). Nódulos de manganês no fundo oceânico (c).
167
Abaixo de 4000 m o carbonato de cálcio é solúvel nas águas frias muito profundas.
Sedimentos terrígenos finos (argilas castanhas e cinzas) também ocorrem mais
restritamente nos sedimentos marinhos profundos, denominados sedimentos pelágicos.
Alguns componentes dos sedimentos pelágicos formam-se por reações químicas da
água do mar com sedimentos do fundo oceânico, como os nódulos de manganês,
concreções escuras com diâmetro variando de poucos milímetros a alguns centímetros
(Fig. 4.171 c) que são recursos minerais que poderiam ser potenciais se fosse possível
desenvolver algum modo para minerá-los a partir do fundo oceânico. Em enseadas ou
braços de mar em clima árido, onde a taxa de evaporação da água é maior que a taxa
pluviométrica, pode haver depósitos salinos evaporíticos, formados por precipitação
inorgânica de sais, como cloretos (halita NaCl, silvita KCl e carnalita KMgCl3.6H2O) e
sulfatos (gipso CaSO4.2H2O). A taxa e o tempo de evaporação controlam a salinidade
da água do mar e os tipos de sedimentos salinos formados nesse ambiente.
são extensões submersas dos continentes que as margeiam,
formando uma faixa contínua em águas rasas, com pequena declividade em direção ao
oceano que se estende até o talude continental, uma quebra topográfica que marca o
início do ambiente marinho profundo (Fig. 4.169). Em margens continentais passivas, as
plataformas continentais são mais desenvolvidas e largas que em margens ativas, onde
elas são margeadas por fossas submarinas. As plataformas têm sido muito afetadas
pelas oscilações do nível do mar, ao longo da história geológica, ora expondo-as, ora
submergindo-as. Ostentam grande importância econômica, na atividade pesqueira e,
mais recentemente, na exploração de petróleo. O relevo do talude continental não é
homogêneo, ocorrendo quebras de declividade e também cânions e vales submersos,
formados por erosão da plataforma e do talude. Na parte inferior do talude ocorre uma
suavização da declividade até o fundo oceânico, denominada elevação ou sopé
continental, feições mais características em margens continentais passivas. O litoral, as
plataformas continentais, o talude e a elevação continental, compõem o que se denomina
margem continental (Fig. 4.169).
As margens continentais são dominadas por sedimentação terrígena, cujos
fragmentos são trazidos até a plataforma continental pelos rios. As ondas e as correntes
distribuem os sedimentos em longos cordões de areia e camadas de silte e argila. Na
elevação continental ocorrem leques submarinos de sedimentos terrígenos. Onde o
material terrígeno é escasso, na plataforma, ocorre sedimentação bioquímica em
camadas constituídas por carapaças de carbonato de cálcio de organismos que vivem
em águas rasas. Nesses locais predominam recifes de coral que acumulam-se em
grandes espessuras de sedimento carbonático. Os cânions e os leques submarinos no
talude e elevação continental indicam intensa atividades de erosão e transporte de
sedimentos para as águas mais profundas, compatível com correntes muito energéticas,
as quais foram denominadas correntes de turbidez, muito carregadas de lama em
suspensão, o que lhe confere alta densidade. Essas correntes turvas se formam quando
os sedimentos acumulados na borda da plataforma continental deslizam para o talude
(Fig. 4.169), acelerando-se à medida que descem a rampa do talude. Quando chegam
na elevação continental, sua velocidade diminui, provocando a deposição,
frequentemente na forma de leques submarinos de sedimentos mais grossos (arenosos).
Quando as correntes de turbidez atingem o fundo oceânico (planície abissal) depositam
camadas gradacionais de areia, silte e lama, denominadas turbiditos.
são estruturas orgânicas em forma de morrote
arredondado ou de uma crista alongada, constituídas por esqueletos de carbonato de
cálcio de colônias orgânicas de milhões de indivíduos que se formam em ambiente
marinho de clima tropical. Em contraste com os sedimentos inconsolidados de outros
ambientes sedimentares, o carbonato de cálcio dos recifes forma uma estrutura rígida e
resistente à ação das ondas marinhas, construída por corais e outros organismos
168
carbonáticos, como foraminíferos e moluscos, em águas rasas da plataforma continental
ou na margem de ilhas vulcânicas, onde a sedimentação terrígena é escassa. Com o
tempo, em condições climáticas tropicais favoráveis, um recife de coral pode crescer até
um pouco acima do nível do mar e transformar-se em uma ilha ou atol, uma ilha em forma
de anel com uma laguna no centro (Fig. 4.172 a). O calcário sólido do recife é produzido
diretamente pelo metabolismo dos organismos que secretam carbonato de cálcio da
água do mar para construir suas partes duras (exoesqueletos) que ficam preservadas
após sua morte para virar sedimento biogênico (Fig. 4.172 b), juntamente com outros
sedimentos não biogênicos. Esses organismos aproveitam a abundância de íons de Ca +2
e bicarbonato (HCO3)‾ na água do mar para secretar carbonato de cálcio, pela reação
química abaixo. Uma parte significativa da lama carbonática de lagunas e margens rasas
é precipitada diretamente da água do mar por processos inorgânicos, pela mesma
reação.
Ca+2 + 2(HCO3)‾ CaCO3 + H2CO3
Íons de Bicabornato Ácido
cálcio dissolvido carbônico
Recifes de coral são ecossistemas com grande biodiversidade suportada por uma
eficiente reciclagem de nutrientes entre os corais e outros organismos marinhos, como
zooxantelas, cianobactérias e algas. Além disso, os recifes servem de abrigo para uma
grande variedade de outros organismos, como esponjas, cnidários (como as águas vivas
ou caravelas), crustáceos (camarão, lagosta, caranguejo), moluscos, equinodermos,
como estrelas do mar e ouriços do mar.
a b
Figura 4.172- Atol de Bora Bora em torno de uma ilha vulcânica, no oceano Pacífico sul (a).
Sedimento biogênico formado por restos de partes duras de organismos marinhos recifais (b)
O crescimento rápido dos organismos dentro da laguna do atol é acompanhado
pelo crescimento também rápido do recife e da sedimentação carbonática. Se a placa
oceânica entra em subsidência, levando a ilha vulcânica com ela, ou o nível do mar sobe,
o recife cresce em direção à luz da superfície, formando uma plataforma carbonática
com laterais abruptas inclinadas em direção ao oceano aberto (Fig. 4.173). Plataformas
carbonáticas de maior porte podem se formar em grandes sistemas recifais em forma de
cristas alongadas, normalmente paralelas à linha de costa, como as Bahamas, no
oceano Atlântico norte, a leste da Flórida, EUA. O maior conjunto de recifes de corais
do mundo é a grande barreira de corais da Austrália, entre a costa NE da Austrália e
Papua-Nova Guiné, na forma de crista com 2.200 Km de comprimento e largura de 30 a
740 Km (Fig. 4.174), considerada a maior estrutura existente no mundo, construída por
seres vivos, que foi eleita pela UNESCO, em 1981, como patrimônio mundial da
humanidade. A grande barreira de corais condicionou a formação de uma grande laguna
alongada na costa nordeste australiana e uma grande plataforma carbonática após a
laguna, em direção ao oceano.
169
a
Um recife de franja
se forma em torno
de um vulcão
inativo (ilha)
Austrália
A ilha vulcânica
entra em
subsidência e o
b
recife cresce em
direção ao nível
do mar.
170
O acamamento também pode se comportar como , na
qual a variação de tamanho dos grãos varia continuamente da base (mais grosseiro)
para o topo (mais fino), indicando perda de força da corrente durante a deposição dos
grãos. É frequente em turbiditos, formados por correntes de turbidez no fundo oceânico,
na base do talude continental.
são estruturas sedimentares formadas por correntes aquosas
ou vento em ambientes costeiro ou desértico. Formam longas cristas estreitas, com um
a dois centímetros de altura, separadas por calhas mais largas, cuja dimensão mais
longa é perpendicular à direção da corrente. São de dois tipos principais: simétricas,
formadas pelo movimento de vai e vem de ondas aquosas em praias (Fig. 4.176 a, b) e
assimétricas, com um lado suave e outro íngreme, na superfície de dunas formadas pelo
movimento em sentido único do vento (Fig. 4.176 c, d), ou da água em barras arenosas
subaquáticas em ambiente fluvial. A própria duna é uma marca ondulada assimétrica de
maior dimensão.
a b
c d
Figura 4.176- Marcas onduladas simétricas (a), feitas por ondas aquosas em praia (b). Marcas
onduladas assimétricas (c), feitas pelo vento em flanco de dunas (d).
a b
173
Classificação das rochas sedimentares
A classificação mais importante das rochas sedimentares é baseada na natureza
dos sedimentos que lhes deram origem, ou seja, rochas sedimentares clásticas,
formadas por litificação de sedimentos clásticos ou terrígenos, e rochas sedimentares
químicas e bioquímicas, formadas por litificação de sedimentos químicos e bioquímicos,
das quais as mais abundantes são as rochas carbonáticas. As rochas sedimentares
clásticas correspondem a 86 % do total das rochas sedimentares da crosta terrestre,
restando apenas 14 % para as rochas carbonáticas (Fig. 4.180).
Figura 4.180- Abundância relativa dos Figura 4.181- Componentes básicos das rochas
principais tipos de rochas sedimentares. clásticas: arcabouço, matriz e cimento.
O principal critério de classificação dos sedimentos e rochas sedimentares
clásticas é baseado no tamanho dos grãos do arcabouço. Segundo esse critério, as
rochas clásticas são enquadradas em três grandes categorias granulométrica: rochas
rudáceas ou psefíticas, de granulação grossa, como conglomerados e brechas; rochas
arenáceas ou psamíticas, de granulação média, como os arenitos, e rochas lutáceas ou
pelíticas, de granulação fina, como siltitos, argilitos, lamitos e folhelhos (tabela 4.17).
Tamanho
da partícula Sedimento Rocha
175
Os arenitos têm grande importância econômica. Além de serem usados na
construção civil, como revestimentos, são os melhores aquíferos armazenadores de
água subterrânea e de petróleo e gás. Além disso, grande parte do urânio utilizado na
indústria nuclear provém de arenitos, onde o urânio ocorre em minerais diagenéticos.
176
Embora a história dos sedimentos e rochas sedimentares químicas começa nos
continentes, onde seus componentes solúveis foram disponibilizados pelas soluções de
lixiviação do intemperismo das rochas, somente nas bacias de sedimentação, sobretudo
nos oceanos, esses componentes são precipitados para formar os sedimentos químicos
sólidos. Os sedimentos e rochas sedimentares bioquímicas, por sua vez, tem sua história
totalmente restrita aos oceanos. Portanto, os sedimentos e rochas químicas e
bioquímicas refletem as condições químicas do oceano, enquanto que os sedimentos e
rochas clásticas fornecem informação das rochas fontes continentais e do intemperismo
que lhes deram origem.
As rochas sedimentares químicas e bioquímicas são classificadas principalmente
pela composição química dos respectivos sedimentos (Tabela 4.18). As rochas
bioquímicas compreendem três grupos principais: , de longe, o
tipo de rocha mais abundante no ambiente químico e bioquímico. Formada por deposição
de partes duras carbonáticas (carapaças) de organismos marinhos ou precipitados por
processos biológicos do metabolismo dos organismos, constituídas por calcita ou
aragonita. , formadas pela deposição de carapaças silicosas de
organismos marinhos, constituídas por sílica criptocristalina (sílex ou chert).
que não são propriamente rochas, mas se formam
nas bacias de sedimentação, juntamente com as rochas sedimentares. Os
hidrocarbonetos normalmente se formam a partir da inundação marinha de áreas
continentais com vegetação, formando turfa que, quando soterrada pela sedimentação
subsequente, pode formar carvão e petróleo e gás.
As rochas sedimentares químicas de origem inorgânica compreendem quatro
grupos principais: , constituídos principalmente por dolomita CaMg(CO 3)2 de
origem diagenética e de ocorrência mais restrita que os calcários bioquímicos.
, constituídos por sais halogênicos (halita, silvita) e sulfatos de cálcio,
anidrita Ca(SO4) ou gipso Ca(SO4).2H2O, formados em mares fechados e clima árido.
, constituídas por óxido-hidróxidos de ferro (hematita, limonita),
além de silicatos e carbonatos de ferro (siderita). , constituídos
principalmente por fosfato de cálcio, apatita Ca5(PO4)3(OH,F,Cl).
Sedimento Rocha Composição Química Minerais
0,1 mm 5,0 cm
b
Figura 4.186- Afloramento de calcário estratificado (a). Carapaças microscópicas de
foraminíferos (b). Rocha bioquímica com fragmentos de carapaças de moluscos (c).
178
rochas sedimentares químicas salinas
Os evaporitos são rochas sedimentares químicas formadas por precipitação
inorgânica de sais quando a concentração da água da bacia sedimentar atinge a
saturação. Tal situação dificilmente ocorre no oceano aberto, onde, apesar da contínua
entrada de sais, a salinidade média mantém-se constante, em torno de 3,5 %. Os sais
são adicionados aos oceanos por duas fontes principais: intemperismo químico das
+ +2 +2 +
rochas continentais que libera íons como Na , Ca , Mg , K , que são lixiviados para os
rios que os transportam em solução para os oceanos; atividades vulcânicas que, ao
interagir com a água do mar, lixivia íons das rochas basálticas. Por outro lado, os sais
marinhos são consumidos pela formação dos sedimentos químicos e bioquímicos. Há
milhões de anos o balanço de entrada e saída de sais no oceano atingiu o equilíbrio, um
equilíbrio dinâmico, que mantém a salinidade média dos oceanos constante, abaixo do
ponto de saturação da água do mar, por isso ocorre pouca precipitação inorgânica de
sais. Entretanto, em ambientes específicos, como bacias fechadas (mares e lagos) ou
semiabertas para o oceano (golfo, baia, laguna), em clima árido ou semiárido, o ponto
de saturação da água pode ser alcançado. Isso pode ocorrer porque nesses ambientes
a taxa de evaporação da água, por insolação, é superior a entrada de água no sistema,
com pouca chuva e influxo restrito de água do mar.
Existem dois tipos de evaporitos: , em bacias com alguma
conexão com o oceano, como mares, golfo, lagunas ou baia, em clima árido (Fig. 4.187).
Nesses ambientes, o suprimento de água doce pelos rios é pequeno e a conexão com o
mar aberto é restrita, condicionando uma intensa evaporação da água. O influxo de água
do mar, embora restrito, repõe a água evaporada, mantendo o volume de água que vai
ficando progressivamente mais salina que a água do mar, até atingir o ponto de
saturação, com precipitação de carbonato de cálcio (calcita), gipso e sais halogênicos,
principalmente halita, silvita e carnalita KMgCl 3.6H2O, além de sulfatos de K e Mg
(polihalita, kainita).
Figura 4.187- Laguna em clima árido, com evaporação intensa, e formação de evaporito.
Assim como as rochas carbonáticas, grande parte das rochas silicosas é formada
por litificação de sedimentos silicosos (vasas) precipitados por processos químicos ou
bioquímicos e secretados por organismos marinhos, principalmente diatomáceas e
radiolários. As rochas silicosas são constituídas por quartzo criptocristalino, ocorrendo
duas variedades principais, o sílex, normalmente escuro, e chert, mais claro (Fig. 4.189).
Rochas silicosas recentes podem ser formadas por sílica amorfa ou não completamente
cristalizada, como a opala ou calcedônia. Sílex ou chert também podem se formar como
nódulos ou massas irregulares diagenéticas que substitui os carbonatos em calcários e
dolomitos. O sílex foi utilizado pelo homem primitivo para fazer pontas de lanças e outros
tipos de instrumentos, pois o sílex pode ser lascado e adquirir a forma de instrumentos
duros e afiados.
a b
Figura 4.190- Formações ferríferas bandadas (minério de ferro) do tipo itabirito, com bandas
claras de chert (a) e jaspelito, com bandas avermelhadas de jaspe (b).
183
4.3.4- ROCHAS METAMÓRFICAS
Introdução
A transformação de uma lagarta em borboleta denomina-se “metamorfose” que
significa transformação, mudança de forma, sem que se perca a essência da matéria em
transformação, no exemplo citado, a transformação de uma forma de ser vivo em outra.
, em geologia, compreende o conjunto de processos pelos quais uma
determinada rocha é transformada em outra, através de reações que se processam no
estado sólido. Essas reações promovem modificações texturais e mineralógicas ou até
mesmo químicas, na rocha original, que geralmente ocorrem de maneira combinada. As
condições de temperatura e pressão do metamorfismo situam-se entre aquelas da
diagênese sedimentar, de baixa temperatura (até em torno de 250 C), e o início da fusão
magmática, em altas temperaturas, entre 650 e 900 C (Fig. 4.194 a).
As rochas a partir das quais se originam as rochas metamórficas são
denominadas , que podem ser rochas sedimentares ou magmáticas, ou até
mesmo outra rocha metamórfica, e sua identificação tem grande importância em estudos
geológicos. No ambiente metamórfico, os protolitos se submetem a condições de T e P
diferentes daquelas em que se formaram, ou seja, T e P maiores se o protolito é uma
rocha sedimentar, ou menores se o protolito é uma rocha magmática. Em ambas as
situações, os protolitos ficam em desequilíbrio em seu novo ambiente metamórfico. É
justamente esse estado de instabilidade e desequilíbrio que provoca as transformações
e reações metamórficas, em busca de um novo equilíbrio. O tempo para que esse
equilíbrio seja alcançado é de pelo menos alguns milhões de anos, um tempo curto para
os padrões geológicos. Com o aumento da temperatura, a composição química e a
mineralógica podem manter-se inalterada, porém sua textura pode sofrer mudanças
drásticas, como, por exemplo, recristalização de um quartzo arenito poroso para um
quartzito, com textura em mosaico, praticamente sem porosidade (Fig. 4.194 b). Na
transformação de um folhelho em xisto, apenas a composição química se mantém
inalterada. A fina estratificação dá lugar a uma xistosidade definida pela cristalização de
micas a partir dos minerais argilosos que perdem maior parte da água presente em suas
estruturas para formar os cristais de micas. Se houver envolvimento de fluidos nas
reações metamórficas, podem haver modificações na composição mineralógica, textura
e, também, na composição química. Os fluidos metamórficos são, normalmente, gerados
pelas próprias reações metamórficas em protolitos hidratados ou com outros
componentes voláteis como CO2.
a
b
Figura 4.194- Diagrama P-T mostrando o campo do metamorfismo entre a diagênese e a fusão
magmática (a). O asterisco indica as condições de pressão mais elevada registrada em rochas
expostas na superfície terrestre. Curva de fusão para o granito em condições hidratadas (A) e
em condições anidras (B). Quartzo arenito com textura sedimentar clástica porosa, com grãos
arredondados de quartzo, e seu equivalente metamórfico, um quartzito com textura granoblástica
em mosaico e junções tríplices entre os grãos (120 ), praticamente sem porosidade (b).
184
Alguns minerais silicáticos são diagnósticos do ambiente metamórfico, como os
polimorfos Al2SiO5 (andalusita, cianita e sillimanita), a estaurolita e o epidoto. Outros são
comuns em rochas metamórficas e também em rochas ígneas, como granada, quartzo,
muscovita, anfibólio e feldspato. Os processos metamórficos normalmente ocorrem
associados aos processos tectônicos, com destaque para as margens continentais
ativas, onde se formam as grandes cadeias de montanhas, como os Andes, Rochosas,
Himalaia, ou arcos de ilhas como o arquipélago do Japão. Essas grandes estruturas
lineares são constituídas predominantemente por rochas metamórficas que formam
faixas, denominadas , frequentemente associadas com rochas
magmáticas. Embora a maioria das rochas metamórficas expostas na superfície terrestre
se formaram em profundidade, entre a crosta média e inferior (10 a 30 Km), elas podem
se formar também na superfície terrestre, como o cozimento de solos e rochas
sedimentares situadas abaixo de derrames de lavas vulcânicas.
Fatores condicionantes do metamorfismo
Os principais fatores que controlam o metamorfismo são a temperatura, pressão,
natureza dos protolitos, presença de fluidos e tempo de duração dos processos. O calor
afeta de maneira significativa a mineralogia e textura das rochas, uma vez que pode
quebrar as ligações químicas e alterar a estrutura cristalina dos minerais das rochas,
exercendo um papel muito importante na formação das rochas metamórficas. As
principais fontes de calor na Terra são o calor residual do manto e do núcleo e o calor
gerado pelas reações de desintegração radioativa. O principal mecanismo de
transferência de calor do interno da Terra para a superfície é promovido pelos processos
da tectônica de placas, pelos quais grande volume de material mantélico de alta
temperatura é trazido para a superfície nas cadeias meso-oceânicas. Na crosta
continental, o calor é transportado por meio de intrusões ígneas e por mecanismos de
ruptura das rochas, como zonas de cisalhamento e rifteamento, além de condução
térmica através das rochas. Tanto a temperatura como a pressão aumentam com a
profundidade. A pressão aumenta a uma taxa aproximadamente semelhante em todos
os lugares (0,25 a 0,3 Kb por quilômetro). Por outro lado, o aumento da temperatura com
a profundidade, denominado gradiente geotérmico, é variável, dependendo do ambiente
tectônico, ocorrendo a uma taxa média de 30 C/Km, variando de 15 até 60 C/Km.
Desse modo, com um gradiente geotérmico de 30 C/Km, em uma profundidade de
15 Km, a pressão será em torno de 4 Kb, aproximadamente 4 mil vezes a pressão
superficial (1 atm = 10 ‾3 Kb), e a temperatura será 450 C.
A pressão atuante na crosta pode ser de dois tipos: Pressão litostática ou
confinante (PLit), resultante do peso da coluna de rochas sobrejacentes, dependendo
somente da profundidade e da densidade das rochas. Como a pressão litostática tem o
mesmo valor em todas as direções, ela não causa deformação mecânica acentuada. A
pressão é medida em kilobar (Kb), onde 1 Kb = 1000 bar (1 bar 1 atm); Pressão
dirigida (PDir), produzida pelo movimento vetorial horizontal das placas tectônicas,
gerando tensões e deformações nas rochas que resultam em texturas e estruturas
orientadas e controlam a migração de fluidos. Os minerais placosos, como as micas, sob
a ação da pressão dirigida, se orientam segundo uma direção perpendicular à direção
da pressão máxima, formando rochas foliadas, como os mica xistos.
A figura 4.195 mostra a profundidade da isoterma de 1300C em três situações
tectonicamente distintas: arcos vulcânicos na zona de subducção, onde a isoterma de
1300 C situa-se a 50 Km de profundidade, com um gradiente de 26 C/Km; crosta
continental estendida, com adelgaçamento da litosfera e formação de bacias e cadeias
de montanhas (Bases and ranges provinces), como a Província Grande Bacia de
Nevada, EUA, onde a isoterma de 1300 C situa-se a 30 Km de profundidade, com um
185
gradiente de 43,3 C/Km; crosta estável, em uma região intraplaca, onde a isoterma
de 1300 C situa-se a 65 Km de profundidade, com gradiente de 20 C/Km.
188
A cinética das reações depende de uma série de condicionantes, além da
temperatura e pressão, como a natureza da rocha protolito (composição mineralógica e
textura), presença de uma fase fluida e da sua composição, e a deformação sofrida pela
rocha durante o metamorfismo. As reações se desenvolvem de maneira mais efetiva em
rochas porosas que sofreram deformação, na presença de uma fase fluida abundante.
Tipos de metamorfismo
Os processos metamórficos se desenvolvem em diversos ambientes na crosta
terrestre, com extensões variáveis, desde áreas restritas com dimensões de poucos
centímetros, até grandes faixas com centenas a milhares de quilômetros de extensão,
em profundidades rasas até níveis mais profundos na crosta. Essa grande diversidade
pode ser sistematizada em poucos tipos de metamorfismo, dependendo dos parâmetros
físicos envolvidos (T e P), localização e extensão na crosta terrestre e tipos de rochas
metamórficas que se formam. Três tipos principais podem ser destacados:
metamorfismo regional ou dinamotermal; metamorfismo de contato ou termal;
metamorfismo dinâmico.
afeta extensas áreas e alcança níveis
profundos na crosta terrestre, relacionado geralmente a cinturões orogênicos em zonas
de convergência de placas tectônicas (Fig. 4.199 a). As transformações metamórficas se
processam pela ação conjunta da temperatura, pressão litostática (P Lit) e pressão
dirigida (PDir) que persistem durante centenas de milhares a alguns milhões de anos,
com grande fluxo de calor, cujo gradiente geotérmico pode chegar até 60 C/Km. Os
protolitos sofrem transformações mineralógicas e texturais, além de deformações
mecânicas (dobras e falhas) em graus variados.
O metamorfismo regional é responsável pela maior parte das rochas metamórficas
da crosta terrestre, frequentemente associado a expressivos volumes de rochas
graníticas, geneticamente relacionadas, ou seja, formadas quando as condições de
temperatura e pressão ultrapassam os limites metamórficos, iniciando a fusão parcial de
material crustal. Esse tipo de metamorfismo geralmente produz uma sequência de
rochas metamórficas estabilizada em condições físicas de temperatura e pressão
crescentes com a profundidade, definindo o que se denomina metamorfismo regional
progressivo. Uma sequência metamórfica progressiva típica é: ardósias, filitos, xistos,
anfibolitos e gnaisses. Temperatura e pressão, normalmente, aumentam
concomitantemente com a profundidade, chegando até 650 a 750 C e 8 a 10 Kb, nos
processos metamórficos. No entanto, há algumas situações de metamorfismo regional
com relações anômalas entre temperatura e pressão litostática, como terrenos de alta
pressão com temperaturas relativamente baixas, ou terrenos de baixa pressão com
temperaturas elevadas em decorrência de um gradiente geotérmico alto.
desenvolve-se nas rochas encaixantes em volta de
corpos magmáticos, principalmente plutônicos, formando auréolas de metamorfismo de
contato (Fig. 4.199 b). As principais transformações metamórficas que ocorrem nessas
auréolas são decorrentes do efeito termal do calor emanado do magma durante o seu
resfriamento, sem atuação significativa da pressão litostática ou dirigida. A rocha
resultante, denominada genericamente de hornfels, exibe uma textura granoblástica
isotrópica maciça, sem deformação acentuada.
A extensão da auréola de metamorfismo de contato depende do volume e da
natureza do magma intrusivo, da rocha encaixante e do gradiente térmico entre a
intrusão e a rocha encaixante. As dimensões das auréolas variam desde alguns
centímetros, no contato com pequenos corpos como sills e diques, até centenas de
metros, em volta de corpos com diâmetros quilométricos. O gradiente térmico nos
contatos de corpos intrusivos é mais acentuado em níveis superficiais a intermediários,
onda as rochas encaixantes são mais frias e o contraste de temperatura entre o corpo
189
magmático a rocha encaixante é maior. Em níveis profundos, onde as rochas
encaixantes são mais quentes, o gradiente térmico é menor. Auréolas expressivas
geralmente exibem zoneamento mineralógico, em que nas proximidades do corpo
magmático formam-se minerais de temperatura mais elevada, normalmente anidros,
como granada e piroxênio, enquanto que as porções mais externas da auréola são
constituídas por minerais normalmente hidratados, como micas e anfibólio, formados em
menor temperatura (Fig. 4.199 b).
a b
a b
Figura 4.200- Perfil de uma zona de cisalhamento, mostrando a zona profunda de rochas
miloníticas e a zona rasa de rochas cataclásticas (a). Nível profundo em planta de uma zona de
cisalhamentos mostrando as rochas miloníticas na zona central de maior movimentação da falha
(b).
190
a b
Figura 4.201- Produtos rochosos do metamorfismo dinâmico: Brecha de falha (a) e milonito (b).
c
Figura 4.202- Metamorfismo de soterramento,
no fundo de bacias sedimentares subsidentes
(a) e metamorfismo de impacto de meteoritos
(b). Cratera Meteor, Arizona, EUA, com 1.200 m
de diâmetro e 170 m de profundidade (c).
192
composição, situadas em regiões diferentes, mas metamorfisadas sob condições
semelhantes de temperatura e pressão, deverão ser constituídas por paragêneses
minerais semelhantes, denominadas por Eskola de fácies metamórficas. As principais
fácies metamórficas em diagrama P-T são mostradas na figura 4.204, incluindo as fácies
do metamorfismo regional e aquelas do metamorfismo de contato (hornfelses). O
metamorfismo regional inclui 6 fácies, 4 de baixa a média pressão (grau incipiente, xisto
verde, anfibolito e granulito) e 2 de pressão média a alta (xisto azul e eclogito), enquanto
que o metamorfismo de contato compreende apenas duas fácies (hornblenda hornfels e
piroxênio hornfels).
corresponde às primeiras assembleias do
metamorfismo regional, incluindo duas fácies, a da zeólita e da prehnita - pumpellyita (Fig.
4.204), formadas pelo metamorfismo de rochas vulcânicas e sedimentares (basaltos e
grauvacas). A fácies da zeólita se forma a poucos quilômetros de profundidade. É
dominada por minerais do grupo das zeólitas que ocorrem normalmente associados com
clorita, quartzo, albita e carbonatos. Com aumento do grau metamórfico, a zeólita
desaparece e formam-se outros dois silicatos: prehnita (filossilicato) Ca2Al2Si3O10(OH)2
e pumpellyita (sorossilcato) Ca2(Mg,Fe+2)Al2Si3O11(OH)2.H2O que se formam em
condições de pressões mais altas.
Linha inferior do campo metamórfico
Curva de fusão mínima para granitos
(Ptot = PH2O)
zeólita, prehnita-pumpellyta,
xisto verde, anfibolito,
granulito, xisto azul,
eclogito, hornblenda hornfels,
piroxênio hornfels.
193
é uma fácies de grau metamórfico alto e pressão média a baixa (Fig.
4.204) que ocorre em regiões cratônicas. Biotita e hornblenda desaparecem
paulatinamente para dar lugar, no limite inferior da fácies granulito, ao piroxênio
ortorrômbico (ortopiroxênio), em rochas metabásicas e metapelíticas, e a olivina em
mármores magnesianos silicosos. Calcita e quartzo reagem formando wollastonita
CaSiO3.
é uma fácies de grau metamórfico alto e pressão muito alta ( 12 Kb) que
ocorre possivelmente em placas oceânicas transportadas para o manto em zonas de
subducção (Fig. 4.204). É caracterizada por rochas granoblásticas (sem orientação),
constituídas pela paragênese granada (almandina ou piropo) + piroxênio alcalino,
onfacita (Ca,Na)(Mg,Fe,Al)Si 2O6 + coesita (sílica de alta pressão) córindon.
ocorre nas zonas internas, de temperaturas mais elevadas,
em auréolas de metamorfismo de contato, próximas ao corpo magmático (Fig. 4.204). É
constituída pelas paragêneses ortopiroxênio + cordierita + K-feldspato + plagioclásio +
quartzo (em rochas metapelíticas), ou ortopiroxênio + clinopiroxênio (piroxênio
monoclínico) + plagioclásio + quartzo (em rochas metabásicas).
ocorre nas zonas externas, de temperaturas mais baixas,
em auréolas de metamorfismo de contato, em condições de baixa pressão (Fig. 4.204).
É constituída pelas paragêneses hornblenda + plagioclásio (em rochas metamáficas), e
cordierita + andalusita + granada (em rochas metapelíticas).
Texturas e estruturas de rochas metamórficas
As texturas das rochas metamórficas desenvolvem-se por nucleação e
crescimento mineral no estado sólido, mecanismo denominado de . Por esta
razão as denominações das texturas metamórficas sempre incluem o sufixo blasto ou
blástico. Texturas granulares isotrópicas são denominadas , com contatos
retilíneos entre os grãos, formando junções tríplices, com ângulo em torno de 120 entre
si (Fig. 4.205 a). Rochas com predomínio de minerais micáceos apresentam
(Fig. 4.205 b) e rochas com predomínio de minerais prismáticos exibem
(Fig. 4.205 c). Minerais que se destacam pelo seu tamanho, por
pelo menos uma ordem de grandeza, em reação aos outros minerais da rocha são
denominados de e a textura porfiroblástica (Fig. 4.205 d).
a b
c
d
Figura 4.206- Formação da clivagem ardosiana em rochas metamórficas finas de baixo grau
(a). Fotomicrografia de textura lepidoblástica em xisto (b).
195
Grau incipiente Grau baixo Grau médio Grau alto
Figura 4.207- Classificação das rochas metamórficas foliadas de acordo com a espessura da
foliação e grau metamórfico.
O aumento extremo do grau metamórfico pode provocar início de fusão parcial da
rocha, ultrapassando o limite do campo metamórfico em direção ao magmatismo.
Rochas formadas no início da fusão são denominadas migmatitos, caracterizados por
uma estrutura bandada constituída por bandas claras, formadas por mobilizados
magmáticos quartzo-feldspáticos, denominados neossoma, e bandas mais escuras
formadas por material que resistiu à fusão, denominadas paleossoma (Fig. 4.207 e
4.208). Os migmatitos, portanto, são rochas híbridas, com porções metamórficas e
porções magmáticas.
a b
c d
Figura 4.208- Principais tipos de foliação das rochas metamórficas: clivagem ardosiana em
ardósia (a), xistosidade em mica xisto (b), bandamento em gnaisse (c) e em migmatito (d).
196
Nomenclatura das rochas metamórficas
O critério de nomenclatura mais adotado para as rochas metamórficas é
essencialmente petrográfico, com base na composição mineralógica e nas estruturas
metamórficas. Por meio desse critério foi definido os principais nomes das rochas
metamórficas as quais, majoritariamente, são constituídas por diversos minerais
(poliminerálicas), como ardósia, filito, xisto, anfibolito e gnaisse. Entretanto, existem
algumas rochas metamórficas monominerálicas, como quartzitos, mármores e talco
xistos. Tais nomes são utilizados como nome raiz que podem ser complementados com
informações adicionais, como presença de minerais diagnósticos ou feições texturais
específicas. Ao nome raiz podem ser adicionados os nomes dos minerais mais
importantes da rocha (acima de 5 % em volume) em ordem crescente de abundância,
antes do nome raiz, separados por hífen, exceto o último nome (mais abundante) que
precede o nome raiz. Minerais menos abundantes que deseja-se destacar podem ser
acrescentados após o nome raiz precedidos da palavra “com”. Por exemplo: granada-
biotita-quartzo-muscovita xisto porfiroblástico com estaurolita, é um mica xisto, cujo
mineral mais abundante é a muscovita, seguida pelo quartzo, biotita, granada e
estaurolita, este último, um mineral subordinado ( 5 %) que foi destacado porque indica
condições de fácies anfibolito. Quando a rocha, afetada por um metamorfismo de baixo
grau, exibe feições herdadas de seus protolitos, pode-se usar o prefixo “meta” antes do
nome do protolito, como metabasalto, metagrauvaca, ou metapelítica, metabásica,
quando se deseja realçar a natureza do protolito.
197
os casos, são constituídas principalmente por anfibólio verde (actinolita e/ou hornblenda)
e plagioclásio, além de granada, quartzo, biotita ou epidoto.
Não coesa 0 - 10 % 5 mm 1 - 4 Km
Proto
cataclasito 10 - 50 %
Não 5 mm
Cataclasito 50 - 90 % Rúptil 4 - 10 Km
(coesa) orientada 0,2 mm
Ultra
cataclasito 90 %
Proto
milonito 10-50 %
Milonito 50 - 90 % Orientada 0,2 mm Dúctil 10 Km
(coesa)
Ultra
milonito 90 %
Tabela 4.19- Classificação das rochas cataclásticas, formadas por metamorfismo dinâmico:
brechas, cataclasitos e milonitos.
198
Metamorfismo e tectônica de placas
Os processos metamórficos ocorrem tipicamente em ambientes de convergência
de placas, tanto em zonas de subducção oceano-continente, como em colisões
continentais. Nessas zonas de convergência de placas observa-se que rochas
metamorfisadas em profundidade foram trazidas para a superfície. Para entender essa
dinâmica é necessário compreender a que pode registrar
muitos fatores importantes que influenciam o metamorfismo, como as fontes de calor que
provocam mudanças de temperatura e as taxas de transporte tectônico que provocam
mudanças de pressão. Uma trajetória P-T é normalmente obtida analisando-se minerais
metamórficos específicos em laboratório, dos quais o mais utilizado é a granada. Durante
o metamorfismo as granadas crescem uniformemente, mudando sua composição
conforme as mudanças de temperatura e pressão, registrando essas mudanças como
um gravador (Fig. 4. 209). Desse modo, as variações composicionais entre o núcleo da
granada (parte mais antiga) e sua borda externa (porção mais jovem) reflete a história
evolutiva das condições do metamorfismo, onde destacam-se dois segmentos: o
progressivo, com aumento de T e P, e o retrogressivo, com diminuição de T e P. A
trajetória retrogressiva é normalmente indicada por uma paragênese tardia de menor T
superimposta na rocha.
a b
Figura 4.211- Trajetória P-T e sequência de rochas associadas em regime de subducção, com
menor grau geotérmico (a) e em regime de colisão continental, com maior grau geotérmico (b).
Argilas
Basalto
Folhelho
Filito
Xisto verde
Micaxisto
c/granada
13 Km
Xisto azul
Gnaisse
400 C
20Km
Eclogito
Migmatito
202
b
al
e nt tal
n tin i n en
co v a nt
e m ssi co a
rg p a em a tiv
Ma a rg
M
(subducção oceano-continente)
Menor grau geotérmico
(regime de alta P)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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203
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Springer-Verlag Inc, 348p.
ATIVIDADES
204
4- O ea são dois minerais covalentes com dureza muito baixa por
causa da presença da ligação de van der Walls. Porque os dois minerais possuem
pontos de fusão muito diferentes? O enxofre funde a 115,2 C e a grafita a 3650C.
5- Porque não podemos dizer que o SiO2 é um óxido de silício? Sabendo-se que
a valência do Si é +4 e sua coordenação em relação ao oxigênio também é 4
(NCSi = 4), classifique este mineral de acordo com a classificação química dos
minerais, com base no conceito de valência eletrostática (Ve).
6- Calcular as porcentagens QAP a partir das análises modais das três amostras de
rochas magmáticas plutônicas da tabela abaixo. Plotar as porcentagens QAP no
diagrama Streckeisen abaixo, classificar e denominar as rochas das 3 amostras,
sabendo-se que o plagioclásio da amostra 3 é um oligoclasio Ab80An20.
Moda 1 2 3 QAP 1 2 3
Quartzo 36,0 22,0 12,75
K-feldspato 22,5 4,4 17,0
Plagioclásio 31,5 61,6 55,25
Máficos 8,7 11,3 14,0 − − − −
Total 98,7 99,3 99,0 Total 100 100 100
7- Um magma cristalizou uma rocha com textura porfirítica (abaixo) durante sua
ascensão em direção à superfície. A cristalização iniciou em profundidade e terminou
próximo da superfície. Como você estabeleceria a ordem cronológica e compararia as
profundidades de cristalização dos cristais porfiríticos e da matriz fina da rocha? Quem
cristalizou primeiro, em profundidade, e quem cristalizou posteriormente? Justifique a
resposta.
205
8- Como o intemperismo químico das rochas continentais pode afetar o clima da Terra,
em termos de aquecimento e resfriamento?
206
4.3.5- DEFORMAÇÃO DAS ROCHAS
Introdução
Na unidade 3 deste documento (tectônica de placas) foi mostrado a dinâmica da
litosfera de nosso planeta, com movimentos tectônicos dos continentes, formação de
oceanos e cadeias de montanhas, associados com metamorfismo e deformação das
rochas. Geologia estrutural é a parte das geociências que estuda a deformação das
rochas e as estruturas decorrentes dessas deformações que ocorrem desde a escala
microscópica, em cristais componentes das rochas, até a escala macroscópica dos
blocos continentais. O estudo das estruturas geológicas é de grande importância nas
ciências da Terra, pois evidencia o estado dinâmico da litosfera e da crosta terrestre,
onde vivemos. As estruturas geológicas têm grande importância prática também, no
armazenamento de hidrocarbonetos (petróleo e gás), água e minérios, e em obras de
engenharia civil como barragens, pontes, túneis e estradas.
As feições de deformação mais comuns nas rochas da crosta terrestre são
dobramentos e falhamentos. Dobras se formam por deformação sem rompimento (Fig.
4.213a), mas frequentemente as dobradas são apenas parcialmente expostas como uma
camada inclinada (Fig. 4.213b). Por outro lado, falhas se formam quando ocorre
rompimento das rochas (Fig. 4.213c), normalmente acompanhado por terremotos. A
atitude ou orientação de uma camada é um dado importante para reconstituir a história
da deformação das rochas. A atitude das camadas é definida por duas medidas obtidas
no campo por meio de uma bússola de geólogo: direção (strike) e mergulho (dip). A
direção é definida pela orientação geográfica da linha de intersecção da camada com
uma superfície horizontal (medida na bússola em graus), enquanto que o mergulho é a
inclinação da camada, medido na direção perpendicular à sua direção (Fig. 4.214).
a b
c
Figura 4.213- camada de rocha dobrada (a).
Camadas inclinadas de calcáreo e folhelho,
Somerset, Inglaterra (b). As crianças estão
andando ao longo da direção das camadas. Falha
mostrando o deslocamento das camadas, Monte
Carmel, Utah, EUA (c).
Quando uma força vetorial (pressão dirigida) atua sobre uma superfície, o seu
efeito em relação à área da superfície denomina-se esforço (), medido pela razão entre
a força e a área (A) sobre a qual a força é aplicada ( = F/A), cuja magnitude será
inversamente proporcional à área (quanto maior a área menor o esforço e vice-versa).
208
Um corpo rochoso submetido a tensões e esforços mecânicos pode sofrer as
seguintes modificações ou deformações em relação a situação inicial: Rotação, em
que o corpo rochoso é rotacionado (mudança de atitude), Fig. 4.216 a; Translação, em
que o corpo rochoso é deslocado (mudança de posição), Fig. 4. 216 b; Dilatação, em
que o corpo rochoso muda de volume (Fig. 4. 216 c), podendo aumentar (dilatação
positiva) ou diminuir de volume (dilatação negativa ou contração), Distorção, em que
o corpo rochoso muda de forma (Fig. 4. 216 d). Um corpo rochoso sob a ação de um
esforço distensivo tende a sofrer dilatação positiva (aumento de volume), enquanto que
sob a ação de um esforço compressivo tende a sofrer dilatação negativa ou contração
(diminuição de volume).
a c
b
209
ocorre entre a crosta superior e inferior e entre os regimes rúptil e dúctil, em que ocorrem
deformações elásticas (sem rompimento) que retornam à situação inicial quando cessa
o esforço que a provocou, ao contrário das deformações plásticas que, uma vez
ocorridas, são irreversíveis (Fig. 4.219). Entretanto, o comportamento da deformação
não depende somente da profundidade, depende também dos tipos de materiais que
compõem as rochas. Existem rochas naturalmente mais frágeis, como as rochas ígneas
e metamórficas e rochas mais dúcteis como as rochas sedimentares pelíticas (siltitos e
argilitos) que comportam-se plasticamente mesmo em profundidades rasas.
a b c
Figura 4.217- Tipos de forças tectônicas: compressivas (a), extensivas (b) e cisalhamento (c).
210
As feições estruturais que se formam em regime dúctil são: dobramentos
produzidos por forças de compressão (Fig. 4.220 a), estiramentos causados por forças
de extensão (Fig. 4.220 b), e deformações com rotação produzidas por cisalhamento
(Fig. 4.220 c). As rochas que se formam por metamorfismo dinâmico em regime dúctil
são os milonitos. Em regime rúptil, as principais feições estruturais são falhas reversas
ou de cavalgamento produzidos por compressão (Fig. 4. 221 a), falhas normais causadas
por forças de extensão (Fig. 4. 221 b) e falhas transcorrentes, com movimentação
horizontal, causadas por cisalhamento (Fig. 4. 221 c). As rochas que se formam em
regime rúptil são cataclasitos e brechas. Na região de transição rúptil-dúctil pode ocorrer
ainda rochas com associações de feições estruturais rúpteis (fraturas e falhas) e dúcteis
(dobras e estiramentos), podendo predominar feições rúpteis ou dúcteis.
a b c
Figura 4.220- Feições estruturais em regime dúctil: dobras produzidas por compressão (a),
estiramentos causados por extensão (b) e deformações com rotação provocadas por
cisalhamento (c).
a b c
a
b
Figura 4.223- Principais elementos geométricos de uma falha (a): plano de falha, lapa ou teto,
capa ou muro, escarpa e linha de falha. Falha lístrica com superfície de falha curva (b).
212
Figura 4.224- Estrias de atrito sub-horizontais
em plano de falha em meta-arenitos do grupo
Camaquã, Rio Grande do Sul, Brasil.
R t = Rd + Rm
a b
Figura 4.226- Falhas com movimento dos blocos na direção do mergulho do plano de falha:
Falha normal, condicionada por esforço distensivo (a), falha inversa ou de empurrão,
condicionada por esforço compressivo (b).
213
Figura 4.227- Rift do mar Vermelho mostrando os falhamentos normais dos blocos rochosos no
centro do vale, provocados pelo esforço extensional.
Figura 4.229- Falha inversa ou transcorrente, com movimento sinistral na direção do plano de
falha (a). Falha oblíqua, com movimento inclinado em relação à direção e mergulho da falha (b).
a b
215
linha de charneira, podendo ser curva ou plana, neste último caso denomina-se
. A intersecção do plano axial com a topografia resulta em uma linha denominada
traço axial da dobra que é representada em mapas geológicos. são os dois lados
de uma dobra, separados pela superfície ou
plano axial. O eixo da dobra fica na zona da
charneira, enquanto que a linha de inflexão fica
nos flancos da dobra. de uma dobra é plano
perpendicular ao eixo da dobra, onde deve ser
observado a morfologia e o estilo das dobras
(Fig. 231).
a b c
216
profundidade, adquirem fluidez. Os esforços de compactação dos sedimentos, durante
a diagênese, também podem levar à formação de dobras atectônicas.
Figura 4.233- Classificação das dobras com base na situação espacial da curvatura da superfície
dobrada: anticlinais, com concavidade para baixo e sinclinais, com concavidade para cima.
Com base na morfologia e geometria, três tipos de dobras podem ser distinguidas:
a superfície dobrada pode ser gerada pela translação de uma reta
que corresponde ao eixo e geratriz da dobra (linha de charneira reta). O eixo da dobra
é uma das retas da superfície de um cilindro, cuja base é o círculo que define a
curvatura da dobra (Fig. 4.234 a).
a superfície dobrada pode ser gerada pela translação de uma
linha curva que corresponde à linha de charneira e geratriz da dobra (Fig. 4.234 b).
mais raras. A superfície dobrada pode ser gerada pela rotação de
uma linha geratriz (linha de charneira) em torno de um eixo imaginário (Fig. 4.234 c).
a b c
Figura 4.234- Classificação das dobras com base em sua morfologia e geometria: Dobras
cilíndricas (a); dobras curviplanares (b), dobras cônicas (c).
a b
Ponto de inflexão no
perfil da dobra
Classificação com base na posição espacial do eixo das dobras: três tipos
eixo horizontal ou sub-horizontal (0 a 10 ), figura 4.235 a e 4.236 a
eixo com caimento (10 a 80 ), figura 4.235 b e 4.236 b, c
eixo vertical ou subvertical (80 a 90 ), figura 4.235 c
a b c
Figura 4.235- Classificação das dobras, com base na orientação de seus eixos: dobra horizontal
(a), dobra inclinada ou com caimento (b), e dobra vertical (c).
a b
c
Figura 4.236- Posição espacial das dobras, com base na orientação de seus eixos: dobra
horizontal (a), anticlinal com caimento (b), sinclinal com caimento (c). Caimento
Classificação com base na posição espacial do plano axial das dobras: três tipos
plano axial vertical ou subvertical (80 a 90 ), figura 4.237a
plano axial inclinado (10 a 80 ), figura 4.237b
plano axial horizontal ou sub-horizontal (0 a 10 ), figura 4.237c
218
a b c
Figura 4.237- Classificação das dobras com base na posição espacial do plano axial (PA): dobra
normal (a), dobra inversa (b) e dobra recumbente (c).
PA inclinado e
Eixo inclinado
As dobras normais (plano axial vertical) em geral são simétricas, com os dois
flancos mergulhando com o mesmo ângulo em sentidos opostos, simetricamente em
relação ao plano axial (Fig. 4.239 a), independentemente do mergulho do eixo
(horizontal, inclinado ou vertical, ao longo do eixo vertical na Fig. 4.238). Por outro lado,
as dobras inversas e reclinadas (plano axial inclinado) normalmente são assimétricas,
com os flancos mergulhando com ângulos diferentes, em sentidos opostos, como em
algumas dobras inversas com mergulho suave do plano axial (Fig. 4.239 b), ou no mesmo
sentido, acompanhando a direção do plano axial, como nas dobras inversas com
mergulho forte do plano axial e dobras reclinadas (Fig. 4.239 c). Uma característica
comum das dobras inversas, recumbentes e reclinadas é a inversão estratigráfica em
um de seus flancos, com as camadas mais novas embaixo das mais antigas.
219
a b c
Figura 4.239- Dobra normal simétrica, com os flancos mergulhando com o mesmo ângulo em
sentidos opostos (a). Dobras inversas assimétricas, com os flancos mergulhando com ângulos
diferentes em sentidos opostos (b) e dobras reclinadas com os flancos mergulhando com
ângulos diferentes no mesmo sentido do plano axial (c).
0 250 500 Km
220
1 Estagio 1: Deposição sedimentar em
camadas horizontais no fundo do mar.
222