O documento descreve como o amor pode começar e acabar em diversas situações e lugares, desde encontros casuais até momentos íntimos entre casais. O texto explora de forma poética as muitas formas como o amor pode desabrochar e findar.
O documento descreve como o amor pode começar e acabar em diversas situações e lugares, desde encontros casuais até momentos íntimos entre casais. O texto explora de forma poética as muitas formas como o amor pode desabrochar e findar.
O documento descreve como o amor pode começar e acabar em diversas situações e lugares, desde encontros casuais até momentos íntimos entre casais. O texto explora de forma poética as muitas formas como o amor pode desabrochar e findar.
O documento descreve como o amor pode começar e acabar em diversas situações e lugares, desde encontros casuais até momentos íntimos entre casais. O texto explora de forma poética as muitas formas como o amor pode desabrochar e findar.
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O amor acaba.
Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua
nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
O amor começa. Numa esquina, por exemplo, num domingo de
lua cheia, depois de teatro e silêncio; começa em parques ensolarados, com a aproximação de dois cachorros curiosos, e seus donos, constrangidos, enlaçando as correias até que os corpos se aproximem e a faces ruborizem; começa com acidentes de automóvel, com a lataria arranhada, e a indignação dos motoristas que lentamente vai cedendo ao constrangimento e à solidariedade; e começa o amor em tardes de tédio, em que nos penduramos ao telefone para jogar conversa fora; o amor começa sem aviso, e às vezes lentamente vemos que se aproxima, como uma aranha caprichosa, subindo por nossos pés e pernas sem sinal de afetação até que resolva nos picar; o amor começa entre amigos que se conhecem há treze anos, e começa entre completos estranhos durante a multidão; às vezes com um esbarrão o amor começa; numa mancha de sorvete no queixo dela o amor começou; num trejeito, numa bebedeira; começa às vezes com violência, num encontro explosivo, em que se golpeiam os amantes até cederem a outros caprichos; o amor despista, finge que não é com ele, olha para o outro lado, espera que adormeçam e então começa; e começa no enlace de mãos no cinema, como videiras sedentas, enraizando-se umas às outras até que do seu fruto se faça o vinho; e nas bocas trêmulas o amor começa, e nas línguas delirantes; e nas noites do campo, quando só as estrelas brilham e o frio é glacial; quando ela pede para acender a lareira, e o fogo crepita, e se faz silêncio, e no silêncio ele percebe; o amor começa na praia, quando meio bêbados entram na água; em 30 segundos de coragem o amor começa; num encontro inesperado, na buzina do carro ao lado, ainda que ninguém o espere ele vem, e começa; durante as refeições e no intervalo delas, na pausa para o cafezinho durante uma risada o amor começa; num instante fora do tempo, que se perpetua; no encontro de olhos, num balcão de bar ou num banco de carro; numa expectativa; em palavras o amor começa, desarticulando sujeito e objeto; numa janela de chat, numa tela iluminada, numa conexão que cai e se restabelece; sem palavras também, no olhar atônito do menino à professora; o amor começa num segundo de admiração, quando ele pela primeira vez bateu palmas para ela, e marejou; e quando ela notou uma falha na barba, e riu; e começa nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; no olhar de um Cristo crucificado, cheio de compaixão o amor começa; na epifania de anos de cumplicidade amiga; na gravidez; em apartamentos vazios, em visitas inesperadas; em jardins coloridos o amor começa; e em despensas vazias, e em copos de açúcar; no constrangimento do elevador o amor começa; num olhar sem pálpebras, que se prolonga durante toda a aula; na descoberta de um seio; no buraco da fechadura; com uma proibição o amor começa; num livro, num filme, numa canção, numa paixão compartilhada; na escansão do nome dela; em duas ou três sílabas arrastadas; ao vê-la acompanhada; ao vê-lo acompanhado o amor também enfim começa; no coração que dilata e tudo abarca; em Brasília o amor começa numa repartição ao pôr do sol; no Rio, numa pausa de botequim; em Belo Horizonte, num sarau bem degustado; em São Paulo, nas filas de gentes, automóveis e animais o amor, reprimido, também começa; uma carta perfumada e o amor começa; de manhã, de tarde, de noite; em dia útil; em dia inútil; plantão; férias; feriados; no desarme da primavera; à sombra do verão; no despetalar do outono; no aconchego do inverno; em todos os lugares o amor começa; a qualquer hora o amor começa; por qualquer motivo o amor começa; para terminar em todos os lugares e a qualquer minuto; para morrer e se tornar eterno, o amor começa. Renato Essenfelder