Memorização Sem Segredos William Walker Atkinson 38278
Memorização Sem Segredos William Walker Atkinson 38278
Memorização Sem Segredos William Walker Atkinson 38278
São Paulo
2008
Universo dos Livros Editora Ltda.
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CEP 05051-001 • São Paulo/SP
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Diretor Editorial
Luis Matos
Editor
Tadeu Carmona
Coordenação Editorial
Renata Miyagusku
Projeto Gráfico
Fabiana Pedrozo
Revisão
Shirley Figueireido Ayres
Diagramação
Rogério Chagas Lima
Capa
Sérgio Bergocce
ISBN: 978-85-99187-87-6
CDD 158.1
CAPÍTULO 1
M EM ÓRIA: SUA
IM PORTÂNCIA
Lactâncio3 salientou:
Burke6 salientou:
“Não há faculdade da mente que possa fazer funcionar sua energia sem
que a memória esteja armazenada com idéias para serem buscadas.”
Citando Basile7:
Bain10 salienta:
Granville salienta:
Fuller comenta:
“É claro que a arte da memória pode ser mais destrutiva para a memória
natural do que os óculos são para nossos olhos.”
Esta é a lista dos três elementos essenciais no cultivo da memória: (1) uso
e exercício, revisão e prática; (2) atenção e interesse; e (3) associação
inteligente.
Você descobrirá que, em muitos capítulos deste livro que lidam com as
várias fases da memória, enfatizamos, agora e sempre, a importância do uso
e emprego da memória, na forma de aplicação, exercício, prática e revisão.
Como qualquer outra função de faculdade mental, ou física, a memória
tenderá a atrofiar pelo desuso, mas, pelo contrário, será aumentada se
fortalecida e desenvolvida com exercício racional e emprego dentro dos
limites da moderação. Você desenvolve os músculos pelo exercício; da
mesma maneira que treina qualquer faculdade especial da mente, você deve
buscar o mesmo método no caso da memória, se quiser desenvolvê-la. As
leis da natureza são constantes e apresentam uma certa analogia entre si.
Você perceberá também a grande ênfase que colocamos no uso da faculdade
da atenção, acompanhada pelo interesse. Com atenção você adquire
impressões que guardará em seu arquivo-registro mental da memória. E o
grau de atenção regula a profundidade, clareza e poder da impressão. Sem
um bom registro, você não pode esperar obter uma boa reprodução dela. Um
registro fonográfico ruim resulta em uma reprodução ruim, e a regra se
aplica no caso da memória também. Você observará, ainda, que explicamos
as leis da associação e os princípios que governam o tema, assim como os
métodos por meio dos quais as associações apropriadas podem ser feitas.
Cada associação que você mescla a uma idéia ou impressão serve como uma
referência cruzada no índice, no qual a coisa é encontrada por lembrança ou
recordação, quando necessário. Chamamos sua atenção para o fato que toda
a educação do indivíduo depende de sua eficiência quanto a esta lei de
associação. É o aspecto mais importante no cultivo racional da memória,
sendo ao mesmo tempo a maldição dos sistemas artificiais. As associações
naturais educam, enquanto as artificiais tendem a enfraquecer os poderes da
mente, se levados muito adiante.
Não há um caminho florido para a memória. O cultivo da memória
depende da prática e de certas linhas científicas de acordo com leis
psicológicas bem estabelecidas. Aqueles que esperam um “atalho” ficarão
desapontados, pois ele não existe. Como Halleck2 afirma:
“Para aqueles que desejam melhorar a memória, certos lugares devem ser
fixados, e para as coisas que desejam manter na memória, devem ser
usados símbolos na mente e dispostos, como estavam, naqueles lugares;
assim, a ordem dos lugares preservaria a ordem das coisas, e os símbolos
das coisas denotariam as próprias coisas; assim devemos usar os lugares
como tabuletas de cera e os símbolos como letras.”
Neste livro, não queremos ensinar esses “sistemas de truques” que o aluno
pode realizar por diversão com os amigos. Apenas desejamos ajudá-lo no
desenvolvimento do poder de receber impressões, registrá-las na memória e
rapidamente reproduzi-las quando desejar, de maneira natural e fácil. Serão
seguidas as linhas de ação mental natural. A idéia deste trabalho não é
ensinar como realizar “façanhas” de memória, mas instruir quanto ao uso
inteligente e prático da memória nos assuntos diários da vida e do trabalho.
Kay salienta:
Carpenter2 diz:
Morell3 coloca:
“Temos toda razão para acreditar que o poder mental, quando acionado,
segue uma analogia de tudo o que vemos no universo material quanto a
sua perpetuação. Cada simples esforço da mente é uma criação que nunca
pode voltar para a inexistência. Pode dormir nas profundezas do
esquecimento como a luz e o calor, no veio carbonífero, mas lá está, pronto
para voltar da escuridão para a luz da consciência por um estímulo
apropriado.”
Beattie afirma:
“Aquilo que está esquecido há muito, aquilo que com freqüência em vão
nos esforçamos para recordar, às vezes, nos ocorrerá de repente sem
esforço, e, se posso dizer, segundo seu dispor.”
Hamilton4 salienta:
Lecky5 diz:
“Está estabelecido que há uma variedade de eventos completamente
esquecidos, que nenhum esforço da vontade consegue fazê-los reviver, e
que a sua menção não desperta reminiscências, e pode estar, digamos,
embutidos na memória e ser reproduzidos com intenso vigor em
determinadas condições físicas.”
Kay observa:
“Ao adotarmos a opinião que cada pensamento ou impressão que foi retido
pelo cérebro uma vez de forma consciente, obtemos luz em muitos
fenômenos mentais obscuros; em especial, chegamos à conclusão da
perfeição da memória a uma extensão quase ilimitada. Não podemos
duvidar que, se pudermos penetrar nos níveis profundos da nossa natureza
mental, devemos encontrar lá traços de cada impressão que recebemos,
cada pensamento, cada ato feito em nossa vida passada, cada qual
influenciando a maneira como construímos nosso conhecimento presente,
ou direcionando nossas ações diárias; e se eles persistem na mente, não
seria possível recordar a maioria, senão todos, para a consciência quando
desejamos, se nossas memórias ou poderes de recordação fossem o que
deveriam ser?”
Como vimos nos capítulos anteriores, antes que você possa recordar ou
lembrar uma coisa, ela deve estar impressa nos registros da sua
subconsciência de maneira distinta e clara. O fator principal para se
registrar impressões é a qualidade da mente que chamamos de atenção.
Todas as maiores autoridades no assunto de memória reconhecem e ensinam
o valor da atenção no cultivo e desenvolvimento da memória. Tupper1 diz:
Lowell2 comenta:
Hall salienta:
Locke afirma:
Stewart3 coloca:
“A permanência da impressão que qualquer coisa deixa na memória é
proporcional ao grau de atenção dado originalmente.”
Thompson afirma:
Beattie diz:
Kay retruca:
Hamilton comenta:
“Quando é dito que a atenção não será firmemente mantida em uma coisa
desinteressante, não devemos nos esquecer que qualquer pessoa que não
seja banal e volúvel pode descobrir algo interessante em muitos objetos.
Mentes cultivadas mostram superioridade especial, pois a atenção que
podem dar em geral termina ao encontrar uma pérola na ostra mais
desinteressante. Quando, de um ponto de vista, um objeto perde
necessariamente o interesse, essas mentes descobrem novos atributos nele.
A essência do gênio é apresentar uma coisa velha de uma maneira nova,
seja algum poder na natureza ou um aspecto da humanidade.”
É muito difícil ensinar outra pessoa a cultivar a atenção, pois a coisa toda
consiste, em grande parte, no uso da vontade, na prática e na aplicação
persistente. O primeiro requisito é a determinação em usar a vontade.
Discuta consigo mesmo até se convencer de que é necessário e desejável
adquirir a arte da atenção voluntária – você precisa se convencer, sem
dúvidas racionais. Este é o primeiro passo e o mais difícil, à primeira vista.
A principal dificuldade está no fato de que para fazer a coisa é necessário
algum pensamento ativo, e a maioria das pessoas é preguiçosa demais para
realizar tal esforço mental. Após este primeiro passo, você precisa criar um
enorme desejo de adquirir a arte da atenção voluntária, ou seja, aprender a
desejar muito. Dessa maneira, induz a condição de interesse e atração onde
antes estava faltando. Por último, você deve persistir na tarefa e praticar
com afinco.
Comece voltando sua atenção para alguma coisa desinteressante e estude
seus detalhes, até poder descrevê-los. Isto será muito cansativo no início,
mas não desista. Não pratique demais no início; descanse e tente novamente
depois. Logo descobrirá que ficará mais fácil, pois um novo interesse está
começando a se manifestar na tarefa. Examine este livro, como prática,
aprenda quantas páginas há nele; quantos capítulos; quantas páginas há em
cada capítulo; os detalhes do tipo, impressão e encadernação – todos os
pormenores –, de modo a dar a outra pessoa um relato completo do livro.
Isto pode parecer desinteressante – e será no início –, mas com um pouco de
prática você criará novo interesse nos detalhes e ficará surpreso com a
quantidade de pequenas coisas que observará. Esse plano, praticado em
muitas coisas, nas horas vagas, desenvolverá o poder de atenção voluntária e
a percepção em qualquer um, independentemente de sua deficiência inicial.
Se tiver mais alguém para se unir ao jogo-tarefa, se esforce a encontrar mais
detalhes que o outro, ficando a tarefa mais fácil e o resultado do trabalho
melhor. Comece tomando ciência das coisas sobre você; os lugares que
visita; as coisas nas salas etc. Dessa maneira iniciará o hábito de “notar as
coisas”, que é o primeiro requisito para o desenvolvimento da memória.
Halleck dá o seguinte, e excelente, conselho:
“Olhar para uma coisa com inteligência é a mais difícil das artes. A
primeira regra para o cultivo da percepção acurada é: não tente perceber
o total do objeto complexo de uma vez. Vejamos o rosto humano, por
exemplo. Um homem, em uma posição importante para a qual foi eleito,
ofendeu muitas pessoas, pois não se lembrava de seus rostos, nem
conseguiu reconhecê-las na segunda vez que as encontrou. Seu problema
era olhar para as feições como um todo. Ao mudar seu método de
observação e notar com cuidado o nariz, a boca, os olhos, o queixo e a cor
do cabelo, ele de imediato começou a achar fácil reconhecer as pessoas.
Ele não mais teve dificuldade de trocar A por B, pois lembrava que o
formato do nariz de B era diferente, ou a cor do cabelo era três tons mais
claro. Este exemplo mostra que outra regra pode ser formulada: dê
atenção especial aos detalhes. Talvez sejamos solicitados a fornecer uma
descrição minuciosa do exterior de uma casa na periferia que vimos
recentemente. Nós respondemos em termos gerais, descrevendo o tamanho
e a cor da casa. Talvez também tenhamos uma idéia de parte do material
usado no exterior da construção. Pedem-nos para que sejamos exatos
sobre o formato da porta, da varanda, do telhado, das chaminés e janelas;
se as janelas são quadradas ou redondas, se há cornijas, ou se a
guarnição ao redor é do mesmo material que o restante da casa. Um
amigo, que não pôde ver a casa, quer saber sobre a angulação do teto e o
modo como as janelas estão dispostas em relação a ele. A menos que
possamos responder a essas questões com exatidão, apenas o torturaremos
dizendo que vimos a casa. Ver um objeto meramente como uma massa
indiscriminada de algo em um certo lugar é o mesmo que passar diante de
algo sem ver nada.”
Há três regras gerais que podem ser apresentadas quanto a dar atenção
voluntária na direção de realmente ver as coisas, e não apenas olhar para
elas.
A primeira é: tenha interesse na coisa.
Nos capítulos anteriores vimos que, para que uma coisa seja lembrada ela
precisa estar impressa claramente no cérebro, em primeiro lugar; e para
termos uma clara impressão, deve haver a manifestação da atenção. Porém,
quando devemos lembrar e recordar as impressões, nos deparamos com
outra importante lei da memória – a lei da associação. A associação tem uma
parte análoga a indexação e indexação-cruzada de um livro de uma
biblioteca ou de outro sistema no qual o objetivo é encontrar rapidamente
algo arquivado, ou que está contido de alguma maneira em um conjunto de
coisas similares. Kay comenta:
Ribot2 salienta:
Mill3 estabelece:
Stewart comenta:
Taine4 salienta:
Eibot afirma:
Priestly retruca:
Kay comenta:
“Os similares podem estar bem distante no espaço ou tempo, mas são
reunidos e associados pela semelhança entre si, e uma circunstância de
hoje pode recordar uma circunstância de natureza similar que ocorreu em
tempos diferentes, pois elas estarão associadas na mente, e posteriormente
a presença de uma tenderá a recordar as outras.”
Beattie afirma:
“Quanto mais encontrarmos relações ou semelhanças, ou pudermos
estabelecer objetos, mais facilmente a visão de uma nos levará a
recordarmos do restante.”
Kay salienta:
Arnott5 afirma:
John Stuart Mill (1806 – 1873), filósofo e economista inglês, foi um dos
pensadores liberais mais influentes do século 19.
Uma das primeiras coisas que deve ser notada pelo aluno de memória é o
fato de que há várias fases diferentes da manifestação da memória, ou seja,
há várias classes gerais nas quais os fenômenos de memória podem ser
agrupados. Encontramos algumas pessoas bem desenvolvidas em certas
fases da memória e bem deficientes em outras. Se houvesse apenas uma fase
ou classe de memória, a pessoa que desenvolveu sua memória em qualquer
linha particular a teria desenvolvido, ao mesmo tempo, em todas as outras
linhas. Isto está longe da verdade. Encontramos homens proficientes em
recordar impressão de rostos, e consideram muito difícil recordar nomes de
pessoas cujos rostos lembram. Outros lembram rostos, mas não nomes.
Outros têm uma excelente recordação de localidades, e outros estão
constantemente se perdendo. Outros lembram datas, preços, números em
geral, e são deficientes em outras formas de recordação. Outros lembram
contos, incidentes, casos etc., e esquecem outras coisas. Cada pessoa pode
possuir uma memória boa em algumas fases e deficiente em outras.
As fases da memória podem ser divididas em duas classes: (1) Memória
de Impressões de Sentido e (2) Memória de Idéias. Esta classificação é
arbitrária pelo fato de impressões de sentido desenvolverem-se em idéias, e
idéias são compostas de uma grande quantidade de impressões de sentido,
mas, de um modo geral, a classificação serve a seu propósito, que é agrupar
certas fases de fenômenos de memória – Memória de Impressões de Sentido
inclui as impressões recebidas dos cinco sentidos: visão, audição, paladar,
tato e olfato. Quando analisamos um exame prático das impressões de
sentido retidas na memória, encontramos que a maioria delas é obtida pelos
dois sentidos, respectivamente, da visão e audição. As impressões recebidas
pelo sentido do paladar, tato e olfato, são comparativamente menores, exceto
nos casos de certos peritos em linhas especiais, cuja ocupação consiste em
adquirir um delicado sentido do paladar, olfato ou tato, e um fino sentido da
memória nessas linhas particulares. Por exemplo, um degustador de vinho e
chá, que pode distinguir entre os vários tipos de mercadoria, desenvolveu
não apenas finos sentidos de paladar e olfato, mas também uma notável
memória das impressões previamente recebidas, porque o poder de
discriminação depende tanto da memória quanto do sentido especial. Da
mesma maneira um cirurgião e um mecânico qualificados adquirem um fino
sentido de tato e uma memória de impressões táteis também altamente
desenvolvida.
Como dissemos, grande parte das impressões de sentido armazenadas em
nossas memórias são as previamente recebidas pelos sentidos da visão e
audição, respectivamente. A maioria das impressões de sentido,
armazenadas na memória, foi recebida mais ou menos involuntariamente, ou
seja, com a aplicação de um leve grau de atenção. São mais ou menos
indistintas e confusas, e são lembradas com dificuldade, sendo que sua
lembrança vem, em geral, sem esforço consciente, segundo a lei de
associação. Elas surgem principalmente quando estamos pensando ou dando
atenção a outra coisa, e com a qual havia uma associação. Há uma grande
diferença entre a lembrança de impressões de sentido recebida dessa
maneira e aquelas que lembramos quando damos atenção, temos interesse e
concentração.
As impressões de sentido da visão são mais numerosas em nosso depósito
subconsciente. Estamos constantemente exercitando nosso sentido da visão,
recebendo milhares de impressões visuais diferentes por hora. Porém, a
maioria dessas impressões está vagamente registrada na memória, porque
nós lhe damos pouca atenção ou interesse. É surpreendente, às vezes, quando
descobrimos que recordamos algum evento ou incidente importante e muitas
impressões visuais vagas que nem sonhamos ter qualquer registro. Perceber
a parte importante das impressões visuais nos fenômenos da memória,
recordar algum tempo ou evento particular em nossa vida, observar quantas
coisas que nos lembramos, em comparação com a quantidade de coisas que
ouvimos, degustamos, sentimos ou cheiramos.
A seguir, no entanto, estão as impressões recebidas pelo sentido da
audição, portanto a memória armazena um grande número de impressões
sonoras. Em alguns casos as impressões visuais e sonoras estão juntas,
como, por exemplo, no caso de palavras, no qual não apenas o som, mas a
forma das letras que a compõem, ou mesmo a forma em si da palavra, estão
armazenadas juntas, conseqüentemente são mais rápidas de lembrar ou
recordar que as coisas que uma impressão de sentido registrou. Professores
de memória usam este fato como meio de ajudar seus alunos a memorizar
palavras ao pronunciá-las em voz alta, depois as escrevendo. Muitos
memorizam nomes assim, com a impressão da palavra escrita adicionada à
impressão sonora, duplicando o registro. Quanto mais impressões puder
fazer para uma coisa, maiores as chances de recordá-la facilmente. É
também importante anexar a impressão de um sentido fraco ao de um forte,
para que o primeiro seja memorizado. Por exemplo, se você tem uma boa
memória visual e uma memória auditiva fraca é bom anexar suas impressões
sonoras às impressões visuais. Se você tem uma memória visual fraca e uma
memória auditiva boa é importante anexar suas impressões visuais a suas
impressões sonoras. Dessa maneira, tirará vantagem da lei da associação,
que já mencionamos.
Na subclasse das impressões visuais estão divisões menores da memória,
conhecidas como memória da localidade, memória de figuras, memória de
forma, memória de cor e memória de palavras escritas ou impressas. Na
subclasse das impressões sonoras estão divisões menores da memória
conhecidas como memória de palavras faladas, memória de nomes, memória
de histórias, memória de músicas etc. Devemos prestar atenção especial a
estas formas de memória nos próximos capítulos.
A segunda classe de memória geral – memória de idéias – inclui a
memória de fatos, eventos, pensamentos, linhas de raciocínio etc., e é tida
como alta escala, como a memória de impressões de sentido, embora não
seja mais necessária nem útil para a pessoa comum. Esta forma de memória
acompanha as altas linhas de esforço e de atividades intelectuais e constitui
uma grande parte do que é conhecido como verdadeira educação, a educação
que ensina a pensar e não apenas a memorizar certas coisas ensinadas em
livros ou aulas.
O homem bem constituído mentalmente é o que desenvolveu todos os
lados de sua memória, e não aquele que desenvolveu uma fase especial da
faculdade. É verdade que o interesse e ocupação do homem certamente tende
a desenvolver sua memória de acordo com suas necessidades diárias, mas é
bom que ele exercite as outras partes do seu campo de memória, para que
não tenha apenas um lado. Halleck comentou:
“Um corpo pode ser imaginado na retina sem assegurar a percepção. Deve
haver um esforço para concentrar a atenção sobre muitas coisas que o
mundo apresenta para nossos sentidos. Um homem disse uma vez para os
alunos de uma grande escola que havia visto vacas: ‘Gostaria de
descobrir quantos de vocês sabem se as orelhas das vacas estão acima,
abaixo, atrás ou na frente dos chifres. Quero só que levantem a mão
aqueles que têm certeza da posição e que prometam dar um dólar para a
caridade se errarem.’ Apenas duas mãos se levantaram. Eles haviam
desenhado as vacas para concentrar sua atenção no animal. Havia 15
alunos certos de terem visto gatos subirem em árvores e descido. Havia
unanimidade de opinião que os gatos elevavam primeiro a cabeça. Quando
perguntados se os gatos desciam primeiro com a cabeça ou o rabo, a
maioria estava certa que os gatos desciam sem saberem como. Qualquer
um que já notou a forma de uma mandíbula de qualquer animal de caça
poderia ter respondido a pergunta sem ter visto a descida. Os filhos de
fazendeiros que com freqüência viram vacas e cavalos deitados ou se
levantando raramente têm certeza se os animais sobem apoiando primeiro
as patas dianteiras ou as traseiras, ou se o hábito do cavalo é o mesmo da
vaca. O olmo tem uma peculiaridade quanto a sua folha que todos devem
notar a primeira vez que a vêem, e mesmo assim apenas 5% dos alunos de
uma certa escola puderam incorporar esta peculiaridade no desenho,
embora estivesse destacado no papel. A percepção deve reunir a vontade à
concentração da atenção para atingir resultados satisfatórios. Apenas
uma pequena parte do que vai para nossos sentidos é percebida.”
“Repita várias vezes, até fazer perfeitamente, pois vale a pena fazer.”
“Por exemplo, seguramente posso afirmar que uma mulher vendo outra
passar por ela rapidamente em uma carruagem terá tempo de analisar sua
toilette, do chapéu aos sapatos, poderá descrever não apenas a roupa e a
qualidade das roupas, mas também se o cordão é real ou feito à máquina.
Conheci mulheres que fazem isso.”
Mas é importante lembrar que: o que quer que possa ser feito nesta
direção por meio da atenção, inspirado pelo interesse, pode ser duplicado
pela atenção direcionada pela vontade. Em outras palavras, o desejo de
realizar a tarefa adiciona e cria um interesse artificial tão eficaz quanto um
sentimento natural. Com o progresso, o sucesso no jogo-tarefa acrescentará
novo interesse e você estará apto a duplicar qualquer façanha já mencionada.
Tudo depende de atenção, interesse (natural ou induzido) e prática. Comece
com o dominó, se gostar, e tente lembrar os pontos de uma pedra vista
rapidamente, depois duas e três. Aumente aos poucos, e você conseguirá o
poder de percepção e uma memória das impressões visuais maravilhosa.
Você não apenas começará a se lembrar dos dominós, mas perceberá e se
lembrará de milhares de detalhes de interesse, pois nada escapará à sua
observação. O princípio é muito simples, e os resultados que podem ser
conseguidos com a prática são maravilhosos.
O problema de muitos é que estão olhando sem ver – fitando, mas não
observando. Os objetos ao seu redor estão fora do seu foco mental. Se mudar
seu foco mental, por meio da vontade e da atenção, você poderá se curar dos
métodos descuidados de ver e observar que o afastaram do sucesso. Você
culpou sua memória, mas a culpa é da sua percepção. Como a memória pode
lembrar quando nada foi dado com claras impressões? É hora de começar a
“sentar e notar”, independentemente da sua idade. A coisa toda é: a fim de se
lembrar de coisas que passarão diante da sua visão, você deve começar a
ver com sua mente e não com a sua retina. Deixe a impressão ir além da
retina para seu cérebro. Se fizer isso, verá que sua memória “fará o resto”.
Assim, é verdade que é o cérebro e não o olho que realmente vê; assim
também é o cérebro e não o ouvido que realmente ouve. Muitos sons que
chegam ao ouvido não são registrados pelo cérebro. Passamos por suas
apinhadas, as ondas de muitos sons atingem os nervos do ouvido e o cérebro
aceita aqueles de algumas poucas coisas, particularmente quando a novidade
dos sons passou. É uma questão de interesse e atenção neste caso, como no
caso da audição. Halleck comenta:
“Se nos sentarmos perto de uma janela aberta no campo, em um dia de
verão, poderemos ter muitos estímulos batendo na porta da atenção: o
tiquetaquear do relógio, o som do vento, o cacarejar das galinhas, o
grasnido dos patos, o latido dos cães, o mugido das vacas, os gritos das
crianças brincando, o chilrear das folhas, os sons das aves, o ribombar
dos vagões etc. Se a atenção está centrada em algum desses, com o tempo
adquire a importância de um rei no trono de nosso mundo mental.”
Harvey salienta:
A razão pela qual muitas pessoas não se lembram das coisas que ouviram
é simplesmente porque não escutaram de maneira adequada. Ouvir mal é
mais comum do que se supõe. Um pequeno auto-exame revelará o fato de que
você tem o mau hábito da desatenção. Não podemos ouvir tudo, é claro –
não seria aconselhável. Porém, devemos adquirir o hábito de realmente
ouvir ou se recusar a ouvir tudo. O compromisso de ouvir atentamente traz
resultados deploráveis, e é realmente a razão pela qual muitos “não
conseguem lembrar” o que ouviram. Tudo é questão de hábito. Pessoas com
memórias fracas de impressões auditivas devem começar com “ouvir” com
atenção. Para readquirir o hábito perdido de ouvir apropriadamente, as
pessoas devem exercitar a atenção voluntária e desenvolver o interesse. As
seguintes sugestões podem ser úteis nesta direção.
Tente memorizar palavras que lhe foram ditas em conversas – algumas
sentenças, ou mesmo uma por vez. Você descobrirá que o esforço de manter
a sentença em sua memória resultará na concentração da atenção nas
palavras do falante. Faça o mesmo quando ouvir um palestrante ou ator.
Memorize a primeira sentença e decida que sua memória será como uma
cera que recebe a impressão e a molda para retê-la. Ouça as frases
entrecortadas da conversação que chega a seus ouvidos enquanto caminha
pela rua e esforce-se para memorizar uma sentença ou duas, como se
devesse repeti-las no final do dia. Estude os vários tons, expressões e
inflexões nas vozes das pessoas que falam com você – descobrirá que é
muito interessante e útil. Você ficará surpreso com os detalhes que tal análise
revelará. Ouça os passos de diferentes pessoas e esforce-se para distinguir
entre elas – cada uma tem sua peculiaridade. Peça para alguém ler uma ou
duas linhas de uma prosa ou poema e esforce-se para lembrá-las. Esta
pequena prática desenvolverá muito o poder da atenção voluntária para sons
e palavras faladas. Acima de tudo, pratique a repetição de palavras e sons
que memorizou, até o máximo possível – ao fazer isso, você fará seu cérebro
criar o hábito de se interessar por impressões sonoras. Assim, você não
apenas melhorará o sentido da audição, mas também a faculdade da lembrar.
Se analisar e resumir as observações e direções, descobrirá que o cerne
da questão é que a pessoa deve de fato usar, empregar e exercitar a
faculdade mental da audição, de maneira ativa e inteligente. A natureza
possui uma maneira de adormecer ou atrofiar qualquer faculdade que não é
usada ou exercitada, além de encorajar, desenvolver e fortalecer qualquer
faculdade que é adequadamente empregada e exercitada. Aqui você tem o
segredo. Use-o. Se ouvir com atenção, ouvirá bem e lembrará bem o que
ouviu.
CAPÍTULO 11
COM O SE LEM BRAR DE
NOM ES
Não podemos pedir que o aluno tente um sistema tão complicado e ainda
assim uma modificação seria útil, ou seja, se começar a formar uma
classificação de vários tipos de narizes, digamos sete, o romano, judeu,
grego, dando-lhe a classe geral, como reto, arqueado, achatado e todas as
outras variedades, logo reconheceria narizes quando os veria. O mesmo para
as bocas, umas poucas classes para cobrir a maioria dos casos. Porém, de
todos os aspectos, o olho é o mais expressivo e o mais fácil de lembrar,
quando claramente notado. Os detetives confiam muito na expressão do olho.
Se alguma vez você pegou completamente a expressão do olho de uma
pessoa, então estará apto a reconhecê-la depois. Portanto, concentre-se nos
olhos ao estudar rostos.
Um bom plano para desenvolver esta faculdade é visualizar à noite os
rostos de pessoas que encontrou durante o dia. Tente desenvolver a
faculdade de visualizar os aspectos daqueles que conhece – isto o fará
iniciar direito. Desenhe-os na mente – veja-os com seu olho da mente, até
poder visualizar os aspectos de cada velho amigo; faça o mesmo com os
conhecidos, até poder visualizar os aspectos de todos que “conhece”. Então
comece a acrescentar a sua lista ao recordar na imaginação, os aspectos de
estranhos que encontrou. Com um pouco de prática você desenvolverá um
grande interesse em rostos e sua memória em relação a eles e o poder de
recordá-los aumentarão rapidamente. O segredo é estudar rostos –
interessar-se por eles. Dessa maneira adicionará gosto à tarefa e prazer ao
enfado. O estudo de fotografias também ajuda muito nesse trabalho – mas,
estude-as em detalhe, não como um todo. Se conseguir criar suficiente
interesse nos aspectos e rostos, não terá problema em lembrá-los e recordá-
los. As duas coisas caminham juntas.
Sir Francis Galton (1822 – 1911), antropólogo, meteorologista, matemático e
estatístico inglês.
CAPÍTULO 13
COM O SE LEM BRAR DE
LUGARES
“Não sei como fiz isso – apenas tinha de fazer, só isso… assim eu fiz.”
Taine comenta:
Bidder salienta:
“Mozart, aos quatro anos, podia lembrar nota por nota, elaborar solos em
concertos que ouvira; podia aprender um minueto em meia hora e compor
peças curtas nessa idade. Aos seis anos, foi capaz de compor sem a ajuda
de um instrumento e continuou progredindo o conhecimento musical
rapidamente na memória. Aos 14 anos, ele foi para Roma, na Semana
Santa. Na Capela Sistina, realizava-se a apresentação diária do Miserere
de Allegri, a partitura que Mozart queria obter, e da qual descobriu que
não podia fazer cópias. Ele ouviu atentamente a performance, e no final
escreveu a partitura de memória sem um erro. Outra vez, pediram que
Mozart contribuísse com uma composição original a ser realizada por um
conhecido violinista e ele mesmo em Viena para o imperador Joseph. Ao
chegar ao local designado Mozart descobriu que esquecera de trazer uma
parte. Ele colocou um papel em branco em sua frente e tocou sua parte de
memória sem um erro. Quando a ópera Don Giovanni foi realizada pela
primeira vez, não houve tempo para copiar a partitura para o cravista,
então Mozart fez a mesma coisa, regeu toda a ópera e tocou o
acompanhamento das canções e coros ao cravo, sem nenhuma anotação
diante dele. Há também muitos exemplos da notável memória musical de
Mendelssohn. Ele certa vez deu um grande concerto em Londres, no qual
foi produzida a sua Abertura de Sonhos de uma noite de verão. Havia
apenas uma cópia da partitura completa, de responsabilidade do organista
da Catedral de St. Paul, que infelizmente a deixara na carruagem.
Mendelssohn escreveu outra de memória, sem um erro. Outra vez, quando
estava pronto para dirigir a performance pública de da Paixão segundo
São Mateus Bach, descobriu, ao subir na plataforma do regente, que havia
ali a partitura de outra composição, trazida por engano. Sem hesitar,
Mendelssohn regeu com sucesso a complicada obra de memória, virando
automaticamente as páginas da partitura diante dele, de modo que
nenhuma sensação de desconforto pudesse entrar na mente dos músicos e
cantores. Dizem que Gottschalk podia tocar de memória milhares de
composições, incluindo muitas de Bach. O conhecido regente Vianesi
raramente tinha a partitura diante de si ao reger uma ópera, sabia cada
nota de muitas óperas de memória.”
Há duas fases da memória que devem entrar na “memória de música” – a
memória de tom e a memória de notas. A memória de tom, é claro, está na
classe de impressões auditivas, e o que foi dito quanto a elas também se
aplica a este caso. A memória de notas está na classificação das impressões
visuais, e as regras desta classe de memória aplicam-se a este caso. Para o
cultivo da memória de tom, o principal conselho é que o aluno crie interesse
ativo em tudo o que diz respeito ao som da música e aproveite toda
oportunidade para ouvir boa música, esforçando-se para reproduzi-la na
imaginação ou memória. Faça esforço para entrar no espírito da música até
ele se tornar parte de você. Não basta apenas ouvir, sinta seu significado.
Quanto mais a música “significar para você”, mais facilmente se lembrará
dela. O plano seguido por muitos alunos, particularmente os de música
vocal, é ter cada compasso de uma peça tocado várias vezes até poderem
cantarolá-lo corretamente, adicionando mais alguns, depois mais alguns e
assim por diante. Cada adição deve ser revista em conexão com a aprendida
antes, assim a cadeia de associação pode permanecer inteira. O princípio é o
mesmo da criança aprendendo o bê-á-bá, ou seja, “B” depois de “A”. Com a
constante adição de “só mais um” acompanhada de freqüentes revisões,
peças longas e difíceis podem ser memorizadas.
A memória das notas pode ser desenvolvida pelo método citado – o
método do aprendizado de alguns compassos, a adição de mais alguns e a
freqüente revisão do que aprendeu formam vínculos de associação com a
prática contínua. Sendo o método de impressão visual e o tema de suas
regras, observe a idéia da visualização – que é aprender cada compasso até
poder vê-lo com o “olho da mente”. Nest,a como em outras impressões
visuais, você será muito ajudado por sua memória de som de notas, além de
sua aparência. Tente associar os dois, assim, quando ver uma nota, ouvirá
seu som; e quando ouvir o som, verá como aparece na partitura. Esta
combinação de impressões visual e sonora lhe dará o benefício de dupla
impressão de sentido, que resulta na duplicação da eficiência da memória.
Além de visualizar as notas, o aluno deve adicionar a aparência dos vários
símbolos que denotam a chave, o tempo, o movimento, a expressão etc.,
assim pode cantarolar as notas visualizadas, com expressão e interpretação
corretas. Mudanças de chave, tempo ou movimento devem ser
cuidadosamente anotadas na memorização das notas. Acima de tudo,
memorize o sentimento daquela particular parte da partitura, assim você
pode não apenas ver e ouvir, mas sentir o que está recordando.
Devemos aconselhar o aluno a praticar a memorização de músicas simples
no início, por várias razões. Uma delas é que essas músicas são facilmente
memorizadas em si e a cadeia de fácil associação é geralmente mantida.
Nesta fase da memória, como nas outras, aconselhamos: crie interesse; dê
atenção; pratique e exercite. Você já deve estar cansado dessas palavras –
elas constituem os princípios do desenvolvimento da memória retentiva. As
coisas devem estar impressas na memória, antes de poderem ser recordadas.
Isto deve ser lembrado em cada consideração sobre o assunto.
CAPÍTULO 16
COM O SE LEM BRAR DE
OCORRÊNCIAS
Kay comenta:
E também:
“Ler com atenção. Esta é a regra que precede as outras. Ela é melhor que
uma classificação de direções menores. Compreende todas, é a regra de
ouro… A página deve ser lida como se não houvesse uma segunda vez; o
olho mental deve estar fixado como se não houvesse outro objeto para
pensar; a memória deve se apegar aos fatos; as impressões devem ser
recebidas de maneira distinta e acentuada.”
Neste capítulo, devemos chamar sua atenção para certos princípios gerais
já mencionados em outros capítulos, pois o propósito é imprimi-los na mente
para poder pensar e considerá-los independentes dos detalhes das fases de
memória especiais. Este capítulo pode ser considerado uma revisão geral de
certos princípios fundamentais mencionados no trabalho.
PONTO 4. A sua primeira impressão deve ser forte e firme para servir
de base para as subseqüentes.
Crie o hábito de fixar uma clara e forte impressão da coisa a ser
considerada, da primeira vez. Do contrário, tentará criar uma grande
estrutura sobre fundamentos fracos. Toda vez que reviver uma
impressão que aprofundou, mas tiver apenas uma leve impressão para
começar, nas impressões mais profundas não se incluirão os detalhes
omitidos na primeira vez. É como olhar um bom negativo de uma foto
que pretende ampliar depois. Os detalhes