Rocket Elements Handout
Rocket Elements Handout
Rocket Elements Handout
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2 FUNDAMENTOS DA MECÂNICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
2.1 Impulso Total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
2.1.1 Impacto do propelente no impulso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.1.2 Início da queima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2 Impulso Específico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.3 Empuxo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.4 Velocidade dos gases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
3 NOZZLE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.1 Definição e hipóteses de escoamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.2 Análise do Escoamento no Bocal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.2.1 Relações Termodinâmicas Úteis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.2.2 Análise da Área . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.2.3 Propriedades de estagnação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.2.4 Velocidade de exaustão dos gases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.2.5 Razão de pressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.2.6 Coeficiente de empuxo, velocidade efetiva de exaustão e velocidade carcterística 18
3.2.7 Bocais sub-expandidos e sobre-expandidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4 PROPELENTE SÓLIDO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4.1 Comportamento do grão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4.1.1 Taxa de queima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
4.1.2 Grãos BATES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4.2 Propelente KNSB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4.3 Fabricação do grão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.3.1 Molde dos Grãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.3.2 Purificação do Nitrato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
4.3.3 Fabricação do Grão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4.3.4 Desmolde e Inibição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4.3.5 Armazenamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
1
1 Introdução
Esta apostila tem como objetivo introduzir membros novos a conceitos de pro-
pulsão de foguetes, assim como servir de guia para que membros antigos organizem
aulas e passem conhecimento aos membros novos. Desta forma, esta apostíla não será
fonte de consulta com conteúdo muito específico, e sim um resumo de termos e conceitos
fundamentais para discussões que ocorrem na área.
De antemão, podemos citas algumas caracteristicas do motor como:
• Empuxo máximo [Fmax ]: Força máxima exercida pelo motor durante toda a
queima (no gráfico F × t, este valor é dado pelo pico da curva). O empuxo máximo é
o valor fundamental para projetar a estrutura não somente do motor, mas também
de todo o foguete.
• Impulso total [It ]: Definido como a integral do empuxo no tempo. Pode ser
interpretado como a energia total do motor disponível para acelerar o foguete.
2 Fundamentos da mecânica
Z t
It = F dt (2.1)
0
Curva de empuxo gerada pelo motor Jiboia, projetado e produzido pela equipe de propulsão
do Projeto Jupiter.
De forma mais concreta, o impulso total pode ser calculade de duas formas:
Rt
F dt
0
Is = Rt (2.2)
g0 0 ṁdt
dm
ṁ = (2.3)
dt
Este equacionamento irá retornar o valor instantâneo do impulso específico. Todavia
para parâmetro de projeto, i.e para comparar rendimento entre sistemas de propulsão,
utiliza-se o Impulso Específico médio:
F It
Is = = (2.4)
g0 ṁ g0 mp
2.3 Empuxo
Até agora, falamos de maneira abstrata sobre a força instânea F~ que o motor gera.
Todavia, no projeto do motor, é muito importante o entendimento da maneira com que
essa força é gerada e calculada. Para isso, serão importante algumas características da
câmara de combustão.
a velocidade com que esses gases serão ejetados. Esta é denominada velocidade de
exaustão (denotada na Figura 4 como v2 ).
É razoável assumir que diferenças de pressão no interior da câmara provocam
variações na velocidade de exaustão (verificar na equação 2.5 que a pressão na saída do
nozzle p2 é importante para o cálculo do empuxo instantâneo F ). Assim, adota-se também
o conceito de velocidade efetiva de exaustão, denotada como c:
F
c = Is g0 = (2.6)
ṁ
(p2 − p3 )A2
c = v2 + (2.7)
ṁ
A variável c pode se interpretada como a velocidade das partículas que acabaram
de ser expelídas pelo foguete. Em design, consideramos p3 = p2 , consequentemente c = v2 ,
visto que o nozzle é projetado para tal equivalência de pressão.
Por fim, a ultima propriedade importante relacionada à velocidade é c∗ , chamada
de velocidade característica ("cê estrela"), cuja definição é:
p1 At
c∗ = (2.8)
ṁ
Esta propreidade é importante para determinar a eficiencia da queima e do prope-
lente.
2.5 Exercícios
Ambos os exercícios foram traduzidos de Rocket Propulsion Elements - Oscar
Biblarz e George Paul Sutton.
P. 33 Example 2-1, adaptado.
Um foguete apresenta as seguintes características:
• Tempo de queima: 40 s
3 Nozzle
Na Figura 6, inlet area é por onde os gases entram da câmara de combustão (índice
1); a throat area é a chamada garganta do nozzle, região de menor diâmetro do nozzle
(índice t); e a exit area (índice 2) é por onde os gases saem do motor para a atmosfera
(índice 3).
1. Energia
Aplicando a primeira lei Termodinâmica para o volume de controle do bocal, podemos
fazer um balanço das propriedades energéticas do escoamento. Assumindo as hipóteses
já discutidas, concluímos que a soma dos termos de energia cinética e entalpia a
cada seção transversal do bocal assume valor constante, conforme a eq. (3.1).
V2
h0 = h + = cte (3.1)
2
A eq. (3.1) nos pemite uma reflexão interessante. A diminuição da entalpia tem como
resultado o aumento da energia cinética. Em outras palavras, o calor oriundo da
combustão é utilizado para a aceleração dos gases expelidos pelo bocal. Considerando
nosso modelo isentrópico, esse processo pode ser considerado como reversível. Tendo
Capítulo 3. Nozzle 12
H = U + p∀ (3.2)
h = u + pv (3.3)
" #
∂h ∆h
cp = ≈ (3.4)
∂T p
∆T
" #
∂u ∆u
cv = ≈ (3.5)
∂T v
∆T
1
hx − hy = (Vy2 − Vx2 ) = cp (Tx − Ty ) (3.6)
2
É com essa última equação que podemos relacionar entalpia, velocidade e temperatura
do escoamento no bocal para diferentes seções transversais x e y.
2. Continuidade
A equação da continuidade permite-nos analisar a vazão mássica (kg/s) em diferentes
seções. Usando a hipóteses de regime uniforme, podemos demonstrar que valem as
equações (3.7) e (3.8).
ṁx = ṁy = ṁ (3.7)
Vx Ax
ṁ = = ρx Vx Ax (3.8)
vx
Veja que o resultado é razoavelmente intuitivo: a taxa com que entra massa em uma
seção x no tempo, por continuidade, é igual à mesma taxa para qualquer outra seção
y.
Capítulo 3. Nozzle 13
3. Escoamento isentrópico
O modelo de escoamento isentrópico nos permite relacionar P , v e T algebricamente.
Antes, definimos a razão entre calores específicos k (você pode encontrar γ por aí
também) conforme a eq. (3.9). Definida a grandeza k, equacionamos as relações para
escoamento isentrópico em (3.10).
cp
k= (3.9)
cv
! k−1 k−1
Tx px k
vy
= = (3.10)
Ty py vx
pv k = cte (3.11)
px vx = RTx (3.12)
R̄
R= = cp − cV (3.13)
MM
v v
M= =√ (3.14)
a kRT
Nesta seção, teremos como foco a região da garganta (do inglês, throat), local onde
o regime de escoamento passa de sub-sônico para super-sônico. A área da garganta At
deve ser calculada utilizando a 2a lei da Termodinâmica (equação 3.11) e as propriedades
dos gases de combustão, sendo elas o expoente isentrópico k (equação 3.9) e a velocidade
do som local a (equação 3.14). Por fim, tem-se como resultado a relação exposta pela
equação 3.15 e pelo gráfico da figura 7
k+1
1 + k−1 M2
!
2(k−1)
A 1 2
= (3.15)
At M 1 + k−1
2
k+1
k−1 2 2(k−1)
!
Ay Mx 1+ 2
My
= k−1 (3.16)
Ax My 1+ 2
Mx2
• Temperatura de estagnação
T0 k−1 2
=1+ M (3.17)
T 2
• Pressão de estagnação
! k
p0 k−1 2 k−1
= 1+ M (3.18)
p 2
q
V2 = 2(h1 − h2 ) + v12 (3.20)
Capítulo 3. Nozzle 16
v
u ! k−1
u
2k p2 k
+V2
V2 = RT1 1 − (3.21)
u
1
t
k−1 p1
v
u ! k−1
u
2k p2 k
V2 = RT0 1 − (3.22)
u
t
k−1 p1
v
! 1 !1 u ! k−1
At k+1 k−1
px k u
uk +1 px k
= t 1− (3.23)
Ax 2 p1 k−1 p1
v
u ! k−1
Vx uk
u
+1 px k
= t 1− (3.24)
Vt k−1 p1
• pt /p1
• vt /v1
• Tt /T1
Capítulo 3. Nozzle 18
At Vt
ṁ = (3.26)
vt
At Vt
F = V2 + (p2 − p3 )A2 (3.27)
vt
Aproveitando as relações das propriedades termodinâmicas no bocal, pode-se
demonstrar que:
v
u
k+1
! k−1
2k 2 2 p2 k
u
k−1
F = At p1 t 1 − + (p2 − p3 )A2 (3.28)
u
k−1 k+1 p1
F
Cf = ⇔ F = Cf A1 p1 (3.29)
p1 At
v
u
k+1
! k−1
2k 2 2 p2 k
p − p3 A 2
u
k−1
Cf = 1 − + 2 (3.30)
u
t
k−1 k+1 p1 p1 A t
Is g0 = Cf c∗ (3.31)
Capítulo 3. Nozzle 19
c
c∗ = (3.32)
Cf
√
∗ kRT1
c = q (3.33)
k [2/(k + 1)](k+1)/(k−1)
Repare que, na dedução das expressões obtidas de Cf e c∗ nas eqs. (3.30) e (3.33),
utilizamos fortemente as hipóteses e aproximações de escoamento isentrópico, propriedades
na entrada próximas da estagnação, k constante, entre outras já mencionadas. Nosso
modelo se adequa de modo relativamente satisfatório com a realidade, mas é evidente que
não é 100% preciso. Haverá um rendimento associado a essas grandezas.
Vale ainda mencionar que as equações apresentadas são válidas considerando que
o nozzle está totalmente preenchido pelo escoamento, i.e. não há separação deste com
as paredes do bocal. O Cf também é útil para avaliar a condição de sub-expansão ou
sobre-expansão, discutidos na próxima sessão.
muito grande para o escoameno ser ótimo. Logo, a pluma será menor que o diâmetro
de saída do bocal.
4. Em nozzles cuja pressão da garganta é menor que a pressão crítica (razão de pressão
inferior à de pressão crítica, conforme descrita na equação 3.18), o escoamento não
atinge o regime super-sônico, mas sim se mantêm sub-sônico. Neste caso, a expansão
do cone divergente não resulta em aumento de velocidade dos gases e nem em queda
de pressão. É natural que este caso ocorra no início e fim da queima (quando a
pressão de câmara é baixa).
Para vôos longos e foguetes com diversos estágios, é ideal ter nozzles projetados
para as altitudes em que atuarão. Assim, conforme demosntrado na Figura 9, cada estágio
deve ter um nozzle próprio. Na mesma figura, nota-se a diferença de comportamento do
mesmo nozzle à pressões diferentes (de atuação e de teste). Percebe-se que, para estágios
de altitudes elevadas, devemos ter um nozzle sobre-expandido em situação a nível do mar.
Capítulo 3. Nozzle 21
4 Propelente sólido
• Fabricação: Antes de tudo, o propelente escolhido deve ser passível de ser fabricado
por nossos membros nas diversas situações em que nos encontramos (tanto na oficina
quanto no deserto, caso preciso) e com materiais e ferramentas à nossa disposição.
• Custo: Fator mais intuitivo, dado os diversos lançamentos e testes estáticos progra-
mados para o ano, a área tem que ser capaz de pagar pelo propelente sem consumir
a maioria do seu orçamento, assim o custo é um fator crítico para a escolha.
ṁ = Ab ρb r (4.1)
Onde:
Esse comportamento da taxa de queima pode ser equacionado pela lei de Saint
Robert que afirma que
r = r0 + aP n (4.2)
Onde:
• r0 usualmente é igual a 0
• P: pressão de câmara
Propriedades Sorbitol
Fórmula Química C6 H14 O6
Peso molecular (g/mol) 182.2
Temperatura de fusão (C) 110-1122
Densidade 1.489
Entalpia de formação (KJ/mol) -1353.7
Aparencia pó branco
Sorbitol tem cadeia aberta (facilmente quebrável, logo requer menos energia para ignitar),
a Sucurose é de cadeia fechada (requer mais energia para a ignição).
O propelente utilizado pela propulsão no Projeto Jupiter consiste na mistura de
65% em massa de nitrato de potássio e 35% de sorbitol. Por isso, é frequentemente descrito
em documentos técnicos como "KNSB 65-35".
material pelo pano, deixando a água com nitrato cair em um balde e retendo as impurezas,
que são descartadas. Essa água deve “descansar” por um dia para cristalizar o nitrato com
a diminuição de temperatura.
A água restante pode ser colocada no freezer por mais um dia para maior cristali-
zação. Depois de finalizado o processo, os cristais devem ser secos. O nitrato deve ser seco
em um fogão, com a intenção de vaporizar toda a água. O processo consiste em botar o
nitrato na panela com a temperatura máxima e mexer bastante durante todo o processo
para evitar que ele grude no fundo. Após alguns minutos a pasta de nitrato vai espirrar
para fora da panela e, depois, a temperatura diminui. Quando ele apresentar o aspecto de
uma farinha, com alguns torrões, já está bom para ser retirado e armazenado.
barras roscadas podem ser usadas para facilitar na centralização do furadores, verificando
o seu alinhamento e verticalidade.
Tendo isso feito, preferencialmente de forma rápida, a cura deve ser feita até o dia
seguinte. O ideal é que seja fabricado pelo menos um grão a mais do que será utilizado no
motor, já que bolhas e trincas ou fragilidade do material impossibilitam seu uso, podendo
alterar a taxa de queima e torná-la imprevisível.
Depois deve ser feita a inibição do grão, usando tela de pintura com dimensões da
altura do grão (com uma folga de 1 a 2 centímetros) e duas vezes o comprimento da base,
para que ele dê duas voltas. Deve-se usar resina com a proporção certa de endurecedor
(100 de resina para 48 de endirecedor, em massa), passando-a no lado interno da tela,
enrolando o grão e passando resina na tela pelo lado de fora.
É importante que haja resina em toda a tela e que esta esteja o mais esticada
possível. Não podem haver regiões do grão mal inibidas, logo, é de suma importância que
esta etapa seja cumprida com atenção e, posteriormente, validada.
A cura da resina deve ser feita em algumas horas e depois deve-se cortar o excesso
de tela nas extremidades do grão. O tempo de cura ideal depende da resina, mas é bom
que o grão “seque” por 24 horas. Colocamos os grãos para secar sobre nossa mesa de
usinagem, apoiados em arruelas presas a barras roscadas, como na Figura 18.
4.3.5 Armazenamento
Aconselha-se que os grãos sejam fabricados o mais próximo da data de lançamento
a fim de garantir a qualidade dos grãos, já que o propelente KNSB é altamente higroscópico
(capacidade de absorver umidade do ar). Em média, inicia-se a fabricação 7 a 10 dias antes
do lançamento e o processo demora de 3 a 4 dias para o cozimento de 6 grãos do motor
Keron. Em casos de emergência, é possível fazer todo o processo em 2 dias, mas isso não é
recomendado (embora já feito... mais de uma vez).
Depois de prontos, os grãos devem ser guardados em sacos plásticos com zip lock,
jogando cristais de sílica no interior do saco para evitar que a umidade do ar seja absorvida
pelo grão. Os grãos embalados devem ser alocados em um local seco, acima do chão e
longe de qualquer fonte de eletricidade, umidade ou calor por determinações de segurança.
de câmara e vazão mássica são fundamentais para bem prever e projetar o funcionamento
do motor.
Ab
Kn = (5.1)
At
Definimos a taxa de queima r como a velocidade de regressão da área de queima.
Usualmente esta grandeza é medida em mm/s. Podemos calculá-la pela lei de Saint Robert
(já apresentada e retomada na seção 5.3) ou, alternativamente, pela eq. (5.2). Esta última
expressão é bastante útil na simulação da evolução temporal da superfície de queima ao
longo da combustão do propelente.
∆s
r= (5.2)
∆t
1h 2
i
Ab = πN D − (d0 + 2s)2 + (L0 − 2s)(d0 + 2s) (5.3)
2
Finalmente apresentamos ainda a expressão para a área de queima Ab do grão
BATES, usualmente utilizado nos motores da equipe de Propulsão. Esse tipo de grão
Capítulo 5. Funcionamento do motor sólido 34
apresenta porta circular e superfície externa inibida. Isso significa que teremos regressão
da superfície de queima apenas em direções perpendiculares à superfície cilíndrica da
porta e aos anéis circulares na base e no topo do grão. A eq. (5.3) indica a expressão para
cálculo da área de queima em função do deslocamento da frente de chama s, do diâmetro
interno inicial d0 , diâmetro externo D (constante pois a superfície externa está inibida),
comprimento inicial L0 e número de grãos N . Tente deduzi-la você mesmo. Veja que, dada
uma geometria de grão e um número de grãos, como já dissemos, teremos que a área de
queima é função da regressão da superfície de queima, Ab = Ab (s(t)).
• Pressão da câmara
A taxa de queima é fortemente influenciada pela pressão de câmara e vice-versa. A
equação empírica que relaciona ambos é a equação de Saint Robert: r = aP0 n . Os
valores de a e n são obtidos experimentalmente. Veja que o expoente n influenciará
diretamente na relação entre r e P0 .
! !
δln(r) 1 δr
σp = = (5.4)
δT P
r δT P
! !
δln(P ) 1 δP
πK n = = (5.5)
δT Kn
P0 δT Kn
1
πKn = σp (5.6)
1−n
Valores de σp ficam tipicamente em um intervalo de 0.001 a 0.009 K −1 e valores de
πKn , em torno de 0.067 a 0.278% ◦ C −1 (SUTTON; BIBLARZ, 2010).
Para a maioria dos propelentes, certos níveis de velocidade dos gases de combustão
fluindo paralelamente para a superfície de queima leva uma taxa de queima elevada.
Esse aumento é referido como queima erosiva, com a intensidade do efeito variando
para cada propelente e pressão de câmara. O mecanismo de maior tranferência de
calor por convecção para a superfície do propelente é a maior responsável por esse
aumento. Para muitos propelentes, existe uma velocidade mínima de fluxo. Abaixo
desse nível, ou não ocorre aumento, ou há uma diminuição da taxa de queima, que é
chamada de queima erosiva negativa.
Como pode-se perceber pela imagem, abaixo da velocidade mínima há uma pre-
dominância da transferência de massa na taxa de queima, enquanto que acima
há predominância da transferência convectiva de calor. Curiosamente, abaixo da
velocidade mínima, a taxa de queima é inferior do que quando há zero fluxo de
massa, isso se deve provavelmente à mudança dos mecanismos de transferência de
calor que controlam a taxa de queima. O propelente KNSB em específico é suscetível
à queima erosiva negativa.
Os efeitos da queima erosiva podem ser minimizados projetando um motor com uma
razão entre port e garganta suficientemente grande. Uma regra aceita é que a razão
deve ser no mínimo 2, pra um típico grão com razão entre comprimento e diâmetro
de 6, para maiores razões comprimento-diâmetro, uma maior razão port-garganta
dever ser usada.
Para relacionar a taxa de queima erosiva com o fluxo de gás pela câmara, é usada a
seguinte lei empírica, onde k é a constante, G é o fluxo mássico específico e G∗ é o
fluxo mássico mínimo.
A eq. (5.8) nos indica o referido balanço, onde mgrain é a massa consumida no
grão, mcam é a massa de gás preenchendo o volume livre da câmara, i.e. sem propelente, e
mnozzle indica a massa rejeitada após o bocal. A validade dessa equação se deve à simples
conservação de massa do sistema, velho conhecido da lei de Lavoisier.
Veja, contudo, que a maneira como está equacionado o problema nos trará dificulda-
des. Teríamos que conhecer a massa que já saiu pelo bocal e está na atmosfera, que já nem
nos interessa mais. Uma maneira inteligente de resolver o problema, então, será pensarmos
em taxas de variação das massas. Essas grandezas de fato nos interessam e possibilitam o
equacionamento com expressões que já conhecemos ou que podemos facilmente obter.
Olhando exclusivamente para taxas de variação de massa e "fixando"as fronteiras do
problema, estamos analisando-o sob a perspectiva do que chamamos, em Termodinâmica,
de volume de controle. Derivamos a eq. (5.8) no tempo e obtemos a eq. (5.9), que nada
mais é que a aplicação da equação da continuidade para nosso volume de controle. Repare
que, lidando com a câmara, teremos, nela, aproximações das grandezas de estagnação, que
já discutimos. Por isso substituiremos o subscrito cam por 0. Por simplicidade, trocamos
Capítulo 5. Funcionamento do motor sólido 40
Devemos agora encontrar a expressão correspondente para cada termo da eq. (5.9).
Começamos pela vazão mássica ṁg , representativa da variação de massa no tempo do grão
de propelente. Conforme já foi apresentado na seção 4.1, teremos:
ṁg = Ab ρg r (5.10)
Partimos para a obtenção do segundo termo de eq. (5.9). Veja que a massa de
produtos de combustão na câmara é igual ao produto entre a densidade instantânea
destes e o volume livre de câmara, i.e. m0 = ρ0 ∀0 . Derivamos os dois lados da igualdade,
respeitando a regra da cadeia, e obtemos:
d∀0
= Ab r (5.12)
dt
P0 = ρ0 RT0 (5.13)
dρ0 1 dP0
= (5.14)
dt RT0 dt
∀0 dP0
ṁ0 = ρ0 Ab r + (5.15)
RT0 dt
Partimos finalmente para o terceiro e último termo de vazão mássica que queremos
substituir em eq.(5.9), o termo de taxa de variação no bocal. Já sabemos deduzi-lo
utilizando usando os conceitos e expressões indicados ao longo deste documento. Por isso,
vamos obtê-lo juntos, na forma de exercício resolvido.
Capítulo 5. Funcionamento do motor sólido 41
Exercício: Determine a vazão mássica ṁn pelo bocal em função dos parâmetros
da pressão de estagnação (ou de câmara) P0 , assumindo conhecidas a geometria do bocal,
a temperatura de combustão T0 e a razão de calores específicos k.
Solução
Conhecida a geometria do bocal, escolhemos uma seção transversal na qual conhe-
cemos facilmente os parâmetros de escoamento. Lembre-se que assumimos, pela equação
da continuidade, que a vazão mássica no bocal era constante para qualquer seção. Uma
boa escolha é a garganta, pois sabemos que nela M = 1 e, tendo posse dessa informação,
podemos equacionar as propriedades do escoamento. Calculamos ṁn como:
Vt At
ṁn = (5.16)
vt
Da definição de M :
V
M=√ (5.17)
kRT
Como já vimos, a temperatura em uma seção qualquer guarda a seguinte relação
com a temperatura de câmara:
T0 k−1 2
=1+ M (5.18)
T 2
Tomamos M = 1 para ambas as equações e obtemos:
√
Vt
= kRT
M =1⇔ −1 (5.19)
k−1
T = T0 1 +
2
s 1 q
2k 2
2
Vt = RT0 = kRT0 (5.20)
k+1 k+1
Devemos ainda obter vt . Pela relação com as propriedades de estagnação em seção
qualquer para volume específico, temos:
! 1
k−1 2 k−1
v/v0 = 1 + M (5.21)
2
Tomando M = 1 e, portanto, volume específico na garganta:
! 1
k+1 k−1
vt = v0 (5.22)
2
Capítulo 5. Funcionamento do motor sólido 42
RT0
v0 = (5.23)
P0
Substituindo eq. (5.23) em eq. (5.22) combinando esta última com eq. (5.20) em
(5.16):
1 1 q
P0 2 2
k−1 2
ṁn = kRT0 At (5.24)
RT0 k+1 k+1
Simplificando na forma final:
s k+1
k 2
2(k−1)
ṁn = P0 At (5.25)
RT0 k+1
Obtidas as expressões para as vazões mássicas, retornamos à eq. (5.9) - das vazões
mássicas de grão, câmara e bocal - e substituimos cada um dos termos que obtivemos até
aqui. Obtemos:
s k+1
∀0 dP0 k 2
2(k−1)
Ab ρg r = ρ0 Ab r + + P0 At (5.26)
RT0 dt RT0 k+1
Lembrando que a taxa de queima pode ser expressa segundo a lei de Saint Robert
e substituindo sua expressão, obteremos a expressão final indicada na eq. (5.28):
r = aP0 n (5.27)
s k+1
∀0 dP0 k 2
2(k−1)
= Ab aP0 n (ρg − ρ0 ) − P0 At (5.28)
RT0 dt RT0 k+1
A solução desta equação diferencial nos permite descrever a curva de pressão em
função do tempo para nosso motor. Veja que ela não é de simples resolução analítica, mas
é de extrema utilidade para descrever o comportamento da pressão no regime transiente
de pressurização, i.e. com dP
dt
0
> 0. De maneira geral, essa expressão rege a pressão de
câmara enquanto ainda temos propelente sendo queimado. Por mais que a equação assuste
em um primeiro momento, é possível resolvê-la com o auxílio de métodos numéricos, que
nos permitem aproximar com boa precisão a solução do problema.
Podemos modelar o funcionamento do motor em três etapas: pressurização transi-
ente, regime permanente e despressurização (tail-off ). A primeira já foi apresentada; a
Capítulo 5. Funcionamento do motor sólido 43
s k+1
∀0 dP0 k 2 P0 A t
2(k−1)
= −P0 At =− (5.29)
RT0 dt RT0 k+1 c∗
RT0 At
− ∀0 c∗
t
P0 = Pb0 e (5.30)
P0 = Kn ρg rc∗ (5.31)
Essa expressão, embora simples, é bastante valiosa, pois nos permite obter dados
importantíssimos no dimensionamento do motor. Veja que a pressão não é mais uma função
do tempo, mas uma função da área de queima definida por Kn e que a taxa de queima
r é constante para uma dada P0 . Isso nos permite extrair a pressão média e máxima de
operação, definidas pelos Kn médio e máximo:
P¯0
= K̄n ρg rc∗
(5.32)
Pmax = (Kn )max ρg rc∗
Ab ∆s ∗ At P0
P0 = ρg c ⇔ ∆s = ∆t (5.33)
At ∆t Ab ρg c∗
Podemos então traçar a curva de pressão no regime permanente, via simulação
numérica.
44
Referências
SUTTON, G.; BIBLARZ, O. Rocket Propulsion Elements. John Wiley & Sons, 2010. ISBN
9780470080245. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=1Sf6eV6CgtEC>.
Cited 5 times on the pages 9, 15, 17, 21 e 35.