Anais SINRAD - Edicao Completa

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APRESENTAÇÃO

A Sociedade Brasileira de Recuperação de Áreas Degradadas reedita novamente


o seu já tradicional SINRAD, desta vez na Cidade de Curitiba-PR, evento que
constitui-se de um fórum de debates e troca de experiências sobre este atual
tema. Os resultados já obtidos apresentaram muitas alternativas de solução para
os complexos e variados impactos ambientais decorrentes de variada gama de
atividades antrópicas. Completa-se aqui 11 edições deste encontro de caráter
nacional. Com ele já se superou a marca de 1600 trabalhos técnico- científicos
publicados em anais, com inquestionável contribuição a este relevante a atual
tema ambiental com demanda contínua e crescente no Brasil. Muito mais agora,
por conta do recente Código Florestal Brasileiro que contempla uma novidade
nos dispositivos que tratam do Programa de Regularização Ambiental de
Propriedades Rurais-PRA. Neste contexto, após a realização do Cadastro
Ambiental Rural, todas as propriedades com áreas de Reserva Legal e
Preservação Permanente aquém dos limites ali estabelecidos deverão repor ou
compensar essas suas áreas. Com isso milhões de hectares de florestas serão
incorporadas aos imóveis rurais com notáveis benefícios ambientais e
econômicos em muitas e variadas situações e condições. Este será um dos temas
do evento que também trará à discussão questões voltadas a restauração
ecológica e recuperação ou reabilitação de ambientes degradados pela
agropecuária, urbanização, mineração, abertura de estradas/rodovias e outras
obras nas várias regiões e biomas do Brasil.

Além de conferencias e mesas redondas com a participação de renomados


conferencistas/debatedores, o Simpósio terá mais de uma centena de trabalhos
voluntários da variada especificidade, característica desta abrangente temática. O
intercâmbio de experiências entre os participantes deverá contribuir para seu
aperfeiçoamento na busca das solução para os seus problemas na
multidisciplinar prática e técnica de recuperação das áreas degradadas e, neste
contexto esperamos contribuir e atender as expectativas de todos os participantes
a quem desejamos um excelente e proveitoso SINRAD, fórum onde você pode
mostrar sua experiência e ter acesso à informação. Desejamos a todos ótima
estada em Curitiba.

Mauricio Balensiefer
Coordenador do SINRAD
11° SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS

CURITIBA – PR – BRASIL, 04 A 06 DE ABRIL DE 2017

COMISSÃO ORGANIZADORA

Coordenação Geral

Mauricio Balensiefer – UFPR e SOBRADE

Comissão Técnico Científico

Adalberto Brito de Novais - SOBRADE

Marcos Paulo Figueiredo de Almeida - SOBRADE

Mauricio Balensiefer – UFPR e SOBRADE

Ricardo Valcarcel – UFRRJ e SOBRADE

Coordenação Executiva

Paulo Sergio Rodrigues - SOBRADE

Marcos Paulo Figueiredo de Almeida - SOBRADE

Euro Palu - SOBRADE

Guilherme Mulato – HRef Design


11° SIMPÓSIO NACIONAL DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

APRESENTAÇÕES ORAIS

DESCRIÇÃO DOS ATRIBUTOS AMBIENTAIS DA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO MEARIM LOCALIZADO NA
REGIÃO DE TRANSIÇÃO AMAZÔNIA- CERRADO NO
1 ESTADO DO MARANHÃO

J. L. Almeida; F. B. Silva; V. A. R. Silva; J. S. dos Santos; A. T. M.


Buna; J. R. N. Santos; C. V. Ribeiro

EFEITO DA RESTAURAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS EM


ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE HÍDRICA NA
ESTRUTURA DA PAISAGEM

EFFECT OF RESTORATION OF DEGRADED AREAS IN


WATER PERMANENT PRESERVATION AREAS OF THE
LANDSCAPE STRUCTURE

K. G. R. BRANCO1; J. P. PIERONI2; G. C. FERREIRA2; R. A.


2 VALENTE3
1
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de
São Paulo, Avenida Pádua Dias, nº 11, Caixa Postal 9, CEP 13418-
900, Piracicaba-SP; [email protected].
2
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Avenida
24A, nº 1515, CEP 13506-900, Rio Claro-SP;
[email protected].
3
Universidade Federal de São Carlos, Rodovia João Leme dos Santos,
km 110, CEP 18052-780, Sorocaba-SP; [email protected].

INDICADORES DE RESTAURAÇÃO FLORESTAL: UMA


CONTRIBUIÇÃO A PARTIR DA HIDROLOGIA DE
ECOSSISTEMAS FLORESTAIS

L. A. da Costa¹; A. G. Rosa²; D. Bessi³; K. C.Tonello4, M. B Soares5.


3
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – CAMPUS
SOROCABA/SP
Rodovia João Leme dos Santos, (SP-264), Km 110, s/n - Itinga,
Sorocaba - SP, CEP: 18052-780, Telefone: (15) 3229-6000.
ÍNDICE DE CONSERVAÇÃO EM NASCENTES COMO
SUBSÍDIO À RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS EM
MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS

SPRING CONSERVATION INDEX AS SUBSIDY TO


STORATION OF DEGRADED AREAS IN SMALL
WATERSHED

4 J. P. PIERONI¹; G. R. V. DIAS1; K. G. R. BRANCO2; G. C.


FERREIRA1
1
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Avenida
24A, nº 1515, CEP 13506-900, Rio Claro-SP;
[email protected].
2
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de
São Paulo, Avenida Pádua Dias, nº 11, Caixa Postal 9, CEP 13418-
900, Piracicaba-SP; [email protected].

AVALIAÇÃO DE DISPONIBLIDADE DE CROMO E CHUMBO


EM SOLOS CONSTRUÍDOS DE ÁREAS RECUPERADAS NA
MINERAÇÃO DE CARVÃO

7 SOUZA, F.B.1; ALEXANDRE, N.Z.2; BACK, M.3

Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Av.


Universitária, 1105, Criciúma (SC, Brasil), [email protected];
2
[email protected]; [email protected]

AVALIAÇÃO DA REGENERAÇÃO NATURAL E DA


INFLUÊNCIA DE Leucaena leucocephala NA DIVERSIDADE
EM PILHAS DE ESTÉRIL EM MINERAÇÃO DE CALCÁRIO

8 M.T, LIMA; K.C, TONELLO; E., LEITE

Universidade Federal de São Carlos, Rodovia João Leme dos Santos


(SP-264), Km 110, Bairro do Itinga, Sorocaba, SP – Brasil, email:
[email protected], (15)-32295905
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DO VAZADOURO
MUNICIPAL DE VOLTA REDONDA-RJ APÓS SUA
DESATIVAÇÃO
9
B.R.S., SETTA1
1
PUC-Rio, Rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea, Rio de Janeiro
- RJ, [email protected], (21) 3527-1001.

ESTRUTURA POPULACIONAL DE Drimys brasiliensis Miers


EM UM FRAGMENTO DE FORESTA OMBRÓFILA MISTA
NA FAZENDA EXPERIMENTAL DO CAV/UDESC, LAGES, SC

PINTO, F. M.¹.; ANTONIUTTI, M.J.¹.; KREFTA, S.¹.;


15 ATANAZIO, K. A.¹.; SCHLICKMANN, M. B.¹

¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de


Ciências Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta
Dinheiro - Lages – SC, Brasil. CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-
9100. E-mail: [email protected]

METODOLOGIA ANALÍTICA DE DIMENSIONAMENTO DE


TRANÇAS VIVAS

P. H. MACHADO; E. GAVASSONI; V. P. FARO


16
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Av. Cel. Francisco H. dos
Santos, 210, Jardim das Américas, Curitiba, Paraná, CEP 81.531-970.
Contato: +55 (041) 99520-3279. E-mail:
[email protected]

ANÁLISE DE ESPÉCIES EXÓTICAS COM POTENCIAL


INVASOR NA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO PARQUE
MUNICIPAL ECOLÓGICO JIRAU ALTO / PR

KREFTA, S. M¹.; ATANAZIO, K. A¹.; DERENGOSKI, J.


17 A¹.;KLEIN, D. R¹.;RUTZ, R. R. ¹.;BRUN, F. G¹.; FACCHI, S. P. .¹

¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de


Ciências Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta
Dinheiro - Lages – SC, Brasil. CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-
9100. E-mail: [email protected]
AVALIAÇÃO INICIAL DO SOLO EM PROCESSOS DE
RESTAURAÇÃO DE MATA CILIAR

L. R. Bachega; C. Tavares; M. D. Ferreira


18
Departamento de Ciências Ambientais – Universidade Federal de São
Carlos
Rodovia Washington Luis, km 235 - São Carlos - SP – BR CEP:
13565-905
[email protected]

AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO POR PROCESSOS


EROSIVOS NA BACIA DO CÓRREGO DO FORRO EM
CONCEIÇÃO DA BARRA DE MINAS (MG) – EMPREGO DE
19
SIG
a
R. CASSARO; aL. F. SAMPAIO; aV. G. S. RODRIGUES; bR. R. M.
FERREIRA; cS. CRESTANA

INFLUÊNCIA DE RESÍDUO DE SUINOCULTURA NOS


ATRIBUTOS DE Latossolo Vermelho Distrófico típico (LVd)
1
K. D. B. Maas; 2O. L. dos S. Weber; 2J. F. Scaramuzza, 1W. de O.
Rocha
23 1
Centro Universitário de Várzea Grande – UNIVAG, Av. Dom
Orlando Chaves, 2655, Cristo Rei, Várzea Grande – MT, CEP 78118-
900. E-mail: [email protected], Contato: (65) 3688-6215;
2
Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária, Av. Fernando Corrêa da Costa,
2367, Boa Esperança, Cuiabá – MT, CEP 78060-900.

TOLERÂNCIA DE MICROALGAS A EXPOSIÇÃO


SIMULTÂNEA DE CO2 E NOx PARA A BIOFIXAÇÃO DE
GASES DE EFEITO ESTUFA

W. L. Biscaia1,2;B. Miyawaki2; N. M. B. de Arruda1,2;F. Quiesa2; T.


Mello2;L. T. Maranho1.
24 1
Universidade Positivo (UP), Rua Professor Pedro Viriato Parigot de
Souza, 5300, Campo Comprido, CEP: 81280330, Curitiba – Paraná,
Brasil.
2
Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento – LACTEC, Av.
Prefeito LothárioMeissner - Jardim Botânico, CEP: 80210-170,
Curitiba – Paraná, Brasil.
e-mail: [email protected], (41) 9 8740-0803.
RECUPERAÇÃO DE MANGUEZAIS DEGRADADOS:
ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE MACEIÓ-AL,
BRASIL
25
M. C. S., Lima

Universidade Federal de Alagoas, 57072-970, Maceió-AL, Brasil,


[email protected]

EFICIÊNCIA DE CONSÓRCIOS DE MICRORGANISMOS


OBTIDOS DA RIZOSFERA DE Alternanthera philoxeroides
(Mart.) Griseb. PARA O TRATAMENTO
DE AMBIENTES CONTAMINADOS COM PETRÓLEO

26 W. L. Biscaia1; L. T. Maranho1.
1
Universidade Positivo (UP), Rua Professor Pedro Viriato Parigot de
Souza, 5300, Campo Comprido, CEP: 81280330, Curitiba – Paraná,
Brasil.
e-mail: [email protected], (41) 9 8740-0803.
FABACEAE LINDL. NA AMAZÔNIA: POTENCIAL PARA
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS E GRUPOS
ECOLÓGICOS

S. R. Xavier Júnior1, A. C. M. Pereira2; B. F. Torres3; A. C.


Rodrigues5; A. C. S. Furtado6; F. Ilkiu-Borges7.
1
Biólogo, Especialista em Perícia e Avaliação de Impactos Ambientais
– Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil.
[email protected], (91) 982396518
2
Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da
Amazônia, estagiária do Laboratório de Botânica da Embrapa
Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil.
[email protected], (91)984117816.
3
27 Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da
Amazônia, estagiária do Laboratório de Botânica da Embrapa
Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil.
[email protected], (91) 981480843
5
Graduando em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural
da Amazônia, estagiário do Laboratório de Botânica da Embrapa
Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil.
[email protected], (91)993013986.
6
Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da
Amazônia, estagiária do Laboratório de Botânica da Embrapa
Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil.
[email protected], (91)981350804
7
Doutora em Biologia vegetal e Recursos Naturais/Botânica –
Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil
[email protected], (91) 988790261
LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES DE LEGUMINOSAE COM
MAIOR EFICÁCIA NA FIXAÇÃO DE NITROGÊNIO

S. R. Xavier Júnior1; A. P. M. Maia2; B. F. Torres4; A. C. M. Pereira5;


A. C. Rodrigues5; A. C. S. Furtado6; F. Ilkiu-Borges7.
1
Biólogo, Especialista em Perícia e Avaliação de Impactos Ambientais
– Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil.
sebastiã[email protected], (91) 982396518.
2
Graduando em Ciências Biológicas – Licenciatura na Universidade da
Amazônia, estagiário do Laboratório de Botânica da Embrapa
Amazônia Oriental, 66095-903, Belém,
[email protected], (91)989926705.
3
Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da
Amazônia, estagiária do Laboratório de Botânica da Embrapa
Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil.
29
[email protected], (91) 981480843.
4
Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da
Amazônia, estagiária do Laboratório de Botânica da Embrapa
Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil.
[email protected], (91)984117816.
5
Graduando em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural
da Amazônia, estagiário do Laboratório de Botânica da Embrapa
Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil.
[email protected], (91)993013986.
6
Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da
Amazônia, estagiária do Laboratório de Botânica da Embrapa
Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil.
[email protected], (91)981350804
7
Doutora em Biologia vegetal e Recursos Naturais/Bôtanica –
Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil
[email protected], (91) 988790261
CARACTERIZAÇÃO FLORÍSTICA DA MATA CILIAR DO
RIO AQUIDAUANA: SUBSÍDIOS À RECUPERAÇÃO DE
ÁREAS DEGRADADAS

G.L.X. Oliveira1; B.A. Coutinho2; C.H. Simão2 & C. Aoki1


1
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de
30 Aquidauana, Rua Oscar Trindade de Barros, 740, Serraria,
Aquidauana - MS - Brasil; e-mail:
[email protected], [email protected]; Tel.:
(67)3241-0417.
2
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Biologia
Vegetal, Caixa postal 549, CEP 79070-900 Campo Grande, MS,
Brasil. [email protected], [email protected].

POTENCIAL DE Solanum cassioides L.B.SM. & DOWNS. PARA


A RESTAURAÇÃO DE ÁREAS ALTOMONTANAS NO SUL
DO BRASIL

DUARTE, E.¹.; SCHLICKMANN, M. B.¹.; LARSEN, J. G.¹.;


SANTOS, G. N.¹.; RODRIGUES JÚNIOR, L. C.¹.; MACHADO, F.
34 D.¹.; MUZEKA, L. M.¹.;
SILVA, A. C.¹.; HIGUCHI, P.¹

¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de


Ciências Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta
Dinheiro - Lages – SC, Brasil. CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-
9100. E-mail: [email protected]

DINÂMICA E ESTRUTURA POPULACIONAL DE Baccharis


uncinella DC. EM ÁREA DE RESTAURAÇÃO NO PLANALTO
CATARINENSE

DUARTE, E.¹.; SCHLICKMANN, M. B.¹.; LARSEN, J. G.¹.;


SANTOS, G. N.¹.; RODRIGUES-JUNIOR, L. C.¹.; MACHADO, F.
D.¹.; MUZEKA, L. M.¹.; DREYER, J. B. B.¹.; SILVA, A. C.1.;
35
HIGUCHI, P.¹

¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de


Ciências Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta
Dinheiro - Lages – SC, Brasil. CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-
9100. E-mail: [email protected]
SERVIÇOS AMBIENTAIS PRESTADOS POR SISTEMAS
AGROFLORESTAIS BIODIVERSOS NA RECUPERAÇÃO DE
ÁREAS DEGRADADAS E ALGUMAS POSSIBILIDADES DE
COMPENSAÇÕES AOS AGRICULTORES

M. P. PADOVAN1; J. S. NASCIMENTO2; J. A., CARIAGA2; Z. V.


37 PEREIRA2; P. R. AGOSTINHO2
1
Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS. Email:
[email protected]; 2Universidade Federal da Grande
Dourados, Dourados, MS. Email: zefapereira&ufgd.edu.br,
[email protected], [email protected],
[email protected]

SUBSÍDIOS AO APRIMORAMENTO DE AÇÕES


ESTRUTURADAS E DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA APOIO
A SISTEMAS AGROFLORESTAIS BIODIVERSOS PARA
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

M. P. PADOVAN1; Z. V. PEREIRA2; J. S. NASCIMENTO2; J. C.,


ALVES2; P. R. AGOSTINHO2
38
1
Embrapa Agropecuária Oeste, Rodovia BR 163, km 253,6, Caixa
Postal nº 449, CEP 79804-970, Dourados, MS, Brasil. E-mail:
[email protected]; 2Universidade Federal da Grande
Dourados, Rodovia Dourados-Itahum, Km 12, Cidade Universitária,
CEP 79804-970, Dourados, MS, Brasil. Email:
[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected].

VARIAÇÃO DA RETENÇÃO HÍDRICA DA SERRAPILHEIRA


NA RESTAURAÇÃO FLORESTAL ESPONTÂNEA , MATA
ATLÂNTICA

M.G. Tirelli; C. Roppa; K.D.R.Mota; R.Valcarcel;


40
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Florestas,
Departamento de Ciências Ambientais, Laboratório de Manejo de
Bacias Hidrográficas, Km 7, BR 465, Cx. P. 74529, 23890-000,
Seropédica-RJ, [email protected].
EFEITO DO ESTÁGIO DE SUCESSÃO E DA INUNDAÇÃO NO
BANCO DE SEMENTES DO SOLO DA MARGEM DE UM
RESERVATÓRIO HÍDRICO, NA REGIÃO SERRANA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
42
L.S. CARDINELLI¹; S.V.MARTINS

¹Universidade Federal de Viçosa; Rua Pref. Nilson Batista Vieira 373,


Bicas, MG, Brasil; [email protected]; (32) 98861 1350

CRESCIMENTO DE MUDAS DE Dalbergia nigra (Vell.) Fr. All.


Ex Benth. PRODUZIDAS EM RECIPIENTES E DOSES DE
OSMOCOTE E COMPORTAMENTO NO CAMPO
48
T. J. S. Sousa; G. V. Cabreira; P. S. S. Leles; J. M. Alonso
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Florestas,
BR 465, 23897-000, Seropédica, Brasil, [email protected],
[email protected], [email protected] e [email protected].

REABILITAÇÃO E ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES DE


ATERRO

K D.R. Mota; F.A. Mateus; M.M. Bueno; M.G Tirelli; R. Valcarcel


49
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Laboratório de Manejo
de Bacias Hidrográficas, C.P. 74529, CEP 23890-000, Seropédica,
Brasil, [email protected]

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE GERMINAÇÃO DO


BANCO DE SEMENTES DE ESPÉCIES NATIVAS NO
PLANALTO CATARINENSE

C. R, SCHNEIDER¹; E., DUARTE¹; J. T, AGUIAR¹; M. B,


50 SCHLICKMANN¹; J. B. B, DREYER¹; M. R, KANIESKI¹

¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de


Ciências Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta
Dinheiro - Lages – SC, Brasil. CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-
9100. E-mail: [email protected]
APERFEIÇOAMENTO TECNOLÓGICO DA SEMEADURA
DIRETA DE ESPÉCIES NATIVAS PARA A RESTAURAÇÃO
FLORESTAL

53 F. B. GIACOMELLI; G. A. MORAIS

Universidade Estadual de Mato Grosso do sul (UEMS), Unidade de


Ivinhema, Av. Brasil, 771, Bairro Centro, 79740-000, Ivinhema-MS,
Brasil, [email protected] (69) 998402579.

GEOTECNOLOGIAS APLICADAS AO MONITORAMENTO


DE ÁREAS DEGRADADAS E SUA RELAÇÃO COM CASOS
DE LEISHMANIOSE, BARCARENA (PA), BRASIL

Clístenes Catete; Luis Guimarães; Brenda Silva; Laryssa Silva; Clísia


54 Duarte; Gabrielle Almeida; Ney Soares; Kleyse Leão; Ricardo
Guimarães

Instituto Evandro Chagas (IEC), Endereço: Rodovia BR-316 km 7 s/n,


Bairro: Levilândia, CEP: 67030-000, Ananindeua / Pará / Brasil,
Telefone: (91) 3213-0489, e-mail: [email protected]

PLANTIOS DE ESPÉCIES NATIVAS DO BIOMA CERRADO


EM ÁREAS DEGRADADAS NA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE
ÁGUAS EMENDADAS – ESECAE, DISTRITO FEDERAL

59 M.G.G., Nóbrega1;; H.C.B., Filho1; V.A.P., Ferreira1

1. Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal –


CAESB. Avenida Sibipiruna, lotes 13/21, Águas Claras, Brasília – DF,
Brasil. [email protected]. Tel. (61) 3213-7431;

DIAGNÓSTICO DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL


DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CASCAVEL ATRAVÉS
DE GEOPROCESSAMENTO, GUARAPUAVA – PARANÁ

60 Geovane Ricardo Calixto1, Natali A. de lima Calixto2

Estadual do Centro-Oeste do Paraná - UNICENTRO, e-mail:


[email protected]; Estadual do Centro-Oeste do
Paraná - UNICENTRO, e-mail: [email protected].
RELAÇÕES ECOLÓGICAS ENTRE ESTRATOS DE
FLORESTAS EM PROCESSO DE RESTAURAÇÃO APÓS
MINERACÃO DE BAUXITA

K. de A. Silva¹; S. V. Martins¹; A. Miranda Neto¹; A. T. Lopes²


61
¹Universidade Federal de Viçosa, Laboratório de Restauração Florestal
– LARF, CEP: 36570-900, Campus Universitário, Viçosa, MG, Brasil,
[email protected]
²Votorantim Metais, Setor de Meio Ambiente, CEP: 36790-000, Miraí,
MG, Brasil

MODELAGEM DE PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS PARA


SUPORTE AO PLANEJAMENTO DE AÇÕES DE MANEJO E
CONSERVAÇÃO DA ÁGUA, SOLO E RECURSOS
FLORESTAIS NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO (1)

C. T. CREECH (2); R. B. SIQUEIRA (3); K. SIMÕES (4)

(1) Projeto executado no ano de 2015 pelo USACE (United States


Army Corps of Engineers) em parceria com a CODEVASF
63
(2) Consultor Técnico, Eng. Hidráulico, USACE (United States Army
Corps of Engineers), Brasília, DF, Brasil –
[email protected]
(3) Analista em Desenvolvimento Regional, Eng. Civil, CODEVASF,
Brasília, DF, Brasil – [email protected] (61) 2028-
4556
(4) Analista em Desenvolvimento Regional, Eng. Cartógrafo,
CODEVASF, Brasília, DF, Brasil – [email protected]
(61) 2028-4556

LONGO PRAZO DE OBSERVAÇÃO NA MUDANÇA DA


BIODIVERSIDADE DA COMUNIDADE EDÁFICA EM ÁREAS
IMPACTADAS E RESTAURADAS COM ÁRVORES NATIVAS
EM PORTO TROMBETAS, PARÁ, BRASIL

E.P. OLIVEIRA1; A.F. CASTILHO2; M.L.P. PINHEIRO1; A.N.S.


ACIOLI3
64
1.Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/Coordenação de
Dinâmica Ambiental, Caixa Postal 2223, Manaus (AM), Brasil
[email protected] ; 2. Mineração rio do Norte/Assessoria de
Controle Ambiental, Porto Trombetas, (PA), Brasil; 3. Universidade
Federal do Amazonas/ Instituto de Natureza e Cultura, Benjamin
Constant (AM), Brasil [email protected]
COMPOSIÇÃO DE ESTRATROS REGENERANTES DE MATA
ATLÂNTICA - FLORESTA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA NO
OESTE DO PARANÁ: SUBSÍDIOS PARA A RESTAURAÇÃO
ECOLÓGICA
65
J. VIAPIANA; C. D. CÂMARA; R. CIELO-FILHO.

Universidade Tecnólogica Federal do Paraná, Câmpus Medianeira.


Av. Brasil, 4232 – Independência, Medianeira – PR. Brasil. CEP:
85884-000. E-mail: [email protected], fone: (45) 32408000.

ESTABILIZAÇÃO DO Pb EM SOLOS
CONTRASTANTES CONTAMINADOS, REMEDIADOS
ATRAVÉS DA ADIÇÃO DE FOSFATOS

Rubens Stipp(1); Daniel Ramos Pontoni(2); Jana Daisy Honorato


Borgo(2); Vander de Freitas Melo(3)
(1)
66 Estudante de graduação do curso de Engenharia Florestal da UFPR.
Rua dos Funcionários, 1540 – Curitiba – PR – CEP 80035-050.
[email protected]; (2) Doutorando do Programa de Pós-
Graduação em Ciência do Solo da UFPR. Rua dos Funcionários, 1540
– Curitiba – PR – CEP 80035-050. [email protected];
[email protected]; (3) Prof. Adjunto do Dep. de Solos e Eng.
Agrícola da UFPR. Rua dos Funcionários, 1540 – Curitiba – PR –
CEP 80035-050. [email protected].
RECUPERAÇÃO DE UM TRECHO DE MATA CILIAR DO
RIO RIBEIRA DE IGUAPE

J. A. Zanon(1); F. A. M. Silva(2); R. B. Silva(2); R. C. Paula(3).


(1)
Aluno de Pós-Graduação em Ciência do Solo (UFPR) – Curitiba,
Brasil
(2)
Professor Doutor (UNESP) – campus experimental de Registro,
Brasil
(3)
Biólogo (AMAVALES) – Associação dos Mineradores de Areia do
67 Vale do Ribeira, Brasil.
Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Agrárias, Rua dos
Funcionários, 1540 – Juvevê, Curitiba – Paraná – Brasil, CEP 80035-
050, E-mail: [email protected];
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus
experimental de Registro, Av. Nelson Brihi Badur, 430 – Vila Tupi,
Registro – São Paulo – Brasil, CEP 11900-000, E-mail:
[email protected];
Associação dos Mineradores de Areia do Vale do Ribeira, Rua São
Francisco de Xavier, 129 – Centro, Registro – São Paulo – Brasil, CEP
11900-000, E-mail: [email protected]
PROPOSTA DE BANCO DE ÁREAS PARA RESTAURAÇÃO
FLORESTAL DE MATA CILIAR EM TRECHO DO RIO
RIBEIRA DE IGUAPE, ESTADO DE SÃO PAULO

M; B; Silva¹; I; S; Arnone²; H; Portocarrero³

¹Graduado em Ciências Físicas e Biológicas pela Federação das


Faculdades Celso Lisboa (FEFACEL), Especialista em Avaliação
Ambiental pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
Mestrando em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos pelo Instituto
de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (PROFÁGUA/IPH-UFRGS), Analista de Desenvolvimento
Agrário da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo "José
Gomes da Silva" (Fundação ITESP) - Avenida Marechal Castelo
Branco, 150, Centro - Eldorado - CEP:11960000 - SP - email:
[email protected] - Tel: (13)38711875.
²Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Mestre em Zoologia pela Universidade de São Paulo
68
(USP) e Gestor do Parque Estadual Caverna do Diabo (PECD) e Área
de Proteção Ambiental dos Quilombos do Médio Ribeira (APAQMR)
- Fundação para a Conservação e a Produção Florestal (Fundação
Florestal) - Avenida Caraitá, 312, Centro -Eldorado - CEP: 11960000 -
SP - email: [email protected] - Tel: (13)38711242.
³Graduado em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), Mestre em Geografia pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), Doutor em Engenharia Civil pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Professor adjunto
do Instituto de Geografia da UERJ, atuando como colaborador no
Programa de Pós-graduação em Geografia - PPGEO-UERJ, como
professor do quadro permanente no mestrado profissionalizante em
Gestão e Regulação de Recursos Hídricos - PROFÁGUA, e como
coordenador do Laboratório de Geotécnica Ambiental LGA/UERJ -
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Centro de
Tecnologia e Ciências, Instituto de Geografia, Maracanã - CEP:
20550900 - Rio de Janeiro, RJ - email: [email protected] -
Telefone: (21) 23340656.
CONTROLE DE EROSÃO EM TALUDE DE CORTE
SUBMETIDO A DIFERENTES TÉCNICAS DE
BIOENGENHARIA DE SOLOS

H; Portocarrero¹; T M P; Campos²; A G; Andrade³

¹Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Centro de


Tecnologia e Ciências, Instituto de Geografia, Maracanã - CEP:
68
20550900 - Rio de Janeiro, RJ - email: [email protected] -
Telefone: (21) 23340656.
²Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-Rio. R.
Marquês de São Vicente, 225 – Gávea CEP: 22430-060 - Rio de
Janeiro, RJ - email: [email protected] - Telefone: (21) 3527-1001
³Embrapa Solos. R. Jardim Botânico, 1024 - Jardim Botânico, CEP:
22460-000 - Rio de Janeiro, RJ – [email protected] -
Telefone: (21) 2179-4500

EMPREGO DE ESPÉCIES FLORESTAIS E SAVÂNICAS DO


CERRADO, EM TRATAMENTOS COM RESÍDUOS, PARA
REVEGETAÇÃO DE ÁREA DE EMPRÉSTIMO

T.P. SANTOS ¹; L.P. FRAGA¹; A.B. SAMPAIO2; I.B. SCHMIDT¹


69
1 - Laboratório de Ecologia Vegetal / Universidade de Brasília (UnB)
2 - CECAT/Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade/MMA
Endereço postal: Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília - DF
Correio eletrônico: [email protected]; [email protected]

PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS NO SISTEMA


CANTAREIRA: A ATUAÇÃO DAS EMPRESAS EM
PROJETOS VOLUNTÁRIOS DE COMPENSAÇÃO DE
CARBONO EM EXTREMA – MG
70
Campanha, J. C.; Pereira, L. C; Pereira, P. H

Iniciativa Verde, Rua João Elias Saada, 46 – Pinheiros (SP), Brasil


[email protected], contato: +55113647-9293
EVOLUÇÃO ESPACIAL DAS VOÇOROCAS URBANAS NO
NOROESTE DO PARANÁ E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A
CIDADE: ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE SANTA
CRUZ DE MONTE CASTELO – PR
73
L. Mattana Carollo da Luz; C. Gonçalves Mangueira e L. José
Cordeiro Santos.

Universidade Federal do Paraná, Av. Cel. Francisco H. dos Santos,


s/n. Curitiba – Brasil. [email protected].

AMOSTRAGEM DO SOLO PARA IMPLANTAÇÃO DE


CEMITÉRIO COM ANÁLISE DAS POSSÍVEIS
CONTRIBUIÇÕES PROVENIENTES DA BACIA
CARBONÍFERA DE SANTA CATARINA E ATIVIDADES
REGIONAIS
74
P. Pederiva; M.C.L.Erbe; E.N.L.Romanó

Mestrado Profissional em Meio Ambiente Urbano e Industrial-


PPGMAUI, Universidade Federal do Paraná – UFPR - Centro
Politécnico – Curitiba, Paraná, Brasil, Caixa Postal 19.011 - CEP
81531-980, telefone: (41) 3361-3614, e-mail: [email protected].

INDICADORES ECOLÓGICOS NA ANÁLISE DA


RESTAURAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA PELA
MINERAÇÃO NA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA,
IPERÓ/SP
75
V. J. Lourenço; L. R. Neto

Universidade de Sorocaba, Rod. Raposo Tavares, km 92.5, Sorocaba-


SP, Brasil. [email protected]: (15)99637-4252.

ESTUDO DO BANCO DE SEMENTES DA ESTAÇÃO


ECOLÓGICA DE RIBEIRÃO PRETO (SP) COMO SUBSÍDIO
PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETO DE RESTAURAÇÃO

76 V.P. Almeida; M.I.Beltrão; M. Giamboni; ; V.J. Lourenço

Universidade de Sorocaba. Rod. Raposo Tavares, km 92.5, Sorocaba-


SP, Brasil. [email protected]
fone 19 991781878
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE ULOTHRIX SP. PARA
BIORREMEDIAÇÃO DE ÁGUAS CONTAMINADAS POR
DRENAGEM ÁCIDA DE MINAS NA REGIÃO CARBONÍFERA
DE SANTA CATARINA
77
T. F. Massocato; L. R. Rorig; J. B. Barufi

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Caixa Postal 476,


Campus Universitário Trindade. CEP 88040-900 Florianópolis (SC),
Brasil. [email protected].

A POLÍTICA DO ICMS ECOLÓGICO E A UTILIZAÇÃO DO


CADASTRO AMBIENTAL RURAL COMO SUBSÍDIO À
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO ESTADO DO
PARÁ1

J. P. S. DINIZ; A. F. AMORIM; A. R. M. RODRIGUES; F. S.


79
MENDES; L. C. FONSECA.

Universidade Estadual do Pará


Belém - Brasil
[email protected]
(91) 98342-1779

AVALIAÇÃO DO USO DE ESCÓRIA SIDERÚRGICA NA


CORREÇÃO E FORNECIMENTO DE NUTRIENTES PARA
UM NEOSSOLO QUARTZARÊNICO ÓRTICO TÍPICO

Alves, R. B. R.1; Ferreira, I. M.2; Figueiredo, T. A. B. R. A.3; Cruz, R.


L.4
1
Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de
Geografia - Pós-graduação em Geografia. Contato:
83 [email protected]. Mestrando – bolsista - FAPEG.
2
Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de
Geografia - Pós-graduação em Geografia. Contato:
[email protected]. Professor Doutor.
3
Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Instituto de Ciências
Agrarias. Contato: [email protected]. Graduação em
Agronomia.
4
Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de
Geografia - Pós-graduação em Geografia. Contato:
[email protected]. Mestranda – bolsista - FAPEG.
RECUPERAÇÃO DE ÁREA DE EMPRÉSTIMO COM
APLICAÇÕES DE BIOSSÓLIDO E RESÍDUOS DE PODA E
PLANTIO DE ESPÉCIES NATIVAS

A.P.G. CASTRO1; L.P. FRAGA2


84
1 - Diretoria de Patrimônio Imobiliário e Meio Ambiente (DPIMA)
2 - Laboratório de Biologia / Colégio Militar de Brasília (CMB)
Endereço postal: Setor Militar Urbano, QGEx, Boco B, 2º Andar, Brasília
- DF
Correio eletrônico: [email protected]

IMPORTÂNCIA ESTRUTURAL DE ESPÉCIES


DESENVOLVIDAS EM ÁREA COM SOLOS DECAPEADOS
APÓS UM ANO DA INCORPORAÇÃO DE MACRÓFITAS
AQUÁTICAS EM MARGENS DO RESERVATÓRIO
PIRAQUARA II, PR

T. M. Burda¹; M. B. Scheer²; R. V. R. de Lima³

85 ¹ Universidade Federal do Paraná – UFPR, Setor de Ciências


Biológicas, Avenida Coronel Francisco H. dos Santos – Jardim das
Américas, Curitiba – PR, 81531-980, [email protected].
² Companhia de Saneamento do Paraná – SANEPAR, Centro de
Tecnologias Sustentáveis, Rua Engenheiro Antônio Batista Ribas, 151
– Tarumã, Curitiba – PR, 80215-900, [email protected].
³ ‘ Universidade Católica do Paraná – PUCPR, Rua Imaculada
Conceição, 1155 - Prado Velho, Curitiba - PR, 80215-901, e-mail:
[email protected].
COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E SINDROMES DE DISPERSÃO
EM ÁREA DE POVOAMENTO MISTO APÓS 13 ANOS DE
PLANTIO

R.M. Déda1; M.F.O TORRES2; A.S. Silva3; R.A. Ferreira4;


1
Bióloga, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agricultura e
Biodiversidade, Universidade Federal de Sergipe, Cidade Universitária
Prof. José Aloísio de Campos, Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa
Elze - CEP 49100-000 São Cristóvão, Brasil.
[email protected]
2
Engenheira Florestal, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
89
Agricultura e Biodiversidade, Universidade Federal de Sergipe,
Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos, Av. Marechal
Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 São Cristóvão, Brasil.
[email protected]
3
Graduando em Engenharia Florestal, Universidade Federal de
Sergipe, Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos, Av.
Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 São
Cristóvão, [email protected]
4
Engenheiro Florestal, Prof. Doutor da Universidade Federal de
Sergipe, Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos, Av.
Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 São
Cristóvão, Brasil. [email protected]

SISTEMATIZAÇÃO DE PROCEDIMENTOS PARA A


SUSPENSÃO TEMPORÁRIA DE EMPREENDIMENTOS DE
MINERAÇÃO

C. L. Centeno(1); R. L. Peroni(2)
(1)
Departamento Nacional de Produção Mineral
Superintendência de Santa Catarina
R. Álvaro Millen da Silveira, 104
91
Centro – Florianópolis/SC – Brasil - CEP 88020-180
[email protected]
Tel: (48) 3216-2300
(2)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e
de Materiais
Av. Bento Gonçalves, 9500 - Setor 4 - Prédio 74 - Sala 211
Agronomia - Porto Alegre/RS – Brasil – CEP 91501-970
[email protected]
AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE DE RESERVAS
PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL NO
MUNICÍPIO DE TOLEDO – PR UTILIZANDO MÉTRICAS DA
PAISAGEM

92 L. Finger¹; P. P. Quitaiski²; C. J. Cassol³; C. D. Camara4; L. C. Sabbi5;


J. Viapiana6.

Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Avenida


Brasil, 4232, Parque Independência, Medianeira, PR, Brasil.
[email protected]. (45) 99856-2260.

AVALIAÇÃO DO USO DE COMPOSTO DERIVADO DE


RESÍDUOS VEGETAIS PARA A RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
URBANAS DEGRADADAS

R.S.A. Kitamura2; L. T. Maranho3


95
¹Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Rua Deputado Heitor
Alencar Furtado, 4900 - Cidade Industrial, Curitiba - PR, Brasil,
81280-330
²Universidade Positivo, Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza,
5300 - Cidade Industrial, Curitiba - PR, Brasil, 81280-330
¹[email protected]; ²[email protected]

ESTRUTURA DA REGENERAÇÃO NATURAL DE UMA


FLORESTA EM RESTAURAÇÃO EM ÁREA MINERADA

A. Miranda Neto¹; S. V. Martins¹; K. A. Silva¹; A. T. Lopes²


96
¹ Universidade Federal de Viçosa, Laboratório de Restauração
Florestal – LARF, Cep: 36570-900, Viçosa – MG,
[email protected]
² Votorantim Metais, Setor de Meio Ambiente, CEP: 36790-000, Miraí
– MG
MONITORAMENTO DA RESTAURAÇÃO EM ÁREA
DEGRADADA DE UMA PEDREIRA, NAVEGANTES, SC

E. M. Moratelli1 e G. M. Carmona2
1
Bióloga, Mestrado em Biologia Vegetal. Goldenbras Consultoria
97
Ambiental Ltda.; Rua Felipe Schmidt, 657, sala 402, CEP: 88010-001,
Florianópolis, SC, Brasil; e-mail: [email protected];
Telefones: (48) 99638 4481/3025 5056.
2
Engenheiro Civil. Carmona Consultoria Ambiental Ltda.,
Florianópolis/SC; e-mail: [email protected], Telefone
(48) 99962 0164.

CONTENÇÃO DE CARREAMENTO DE SEDIMENTOS POR


MEIO DE IMPLANTAÇÃO DE VEGETAÇÃO

R. O. Oliveira
99
RG Bioengenharia Ltda
Rua Marginal, 89 – Bairro Primavera I – Paracatu/MG - Brasil
[email protected]
Telefone: (38) 3672 4899

DESAFIOS NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS


NA MINA CANA BRAVA EM MINAÇU/GO

L.D. Braga; R. O. Oliveira


100
Sama Minerações Associadas; RG Bioengenharia Ltda
Rua Marginal, 89 – Bairro Primavera I – Paracatu/MG - Brasil
[email protected]
Telefone: (38) 3672 4899

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE ESPÉCIES NATIVAS


FRUTÍFERAS PARA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS

Wanderson Cleiton Schmidt Cavalheiro1; Marta Silvana Volpato


102
Scooti1; Jhony Vendrusculo1 Gilderlon dos Santos Soares1

Universidade Federal de Rondônia, Av. Norte Sul, 7300 – Nova


Morada, Rolim de Moura – RO, 78987-000, [email protected];
[email protected]; [email protected]; [email protected]
ESTUDO PARA FORMAÇÃO DE COBERTURA VEGETAL
DA PILHA DE GESSO

R. O. Oliveira
104
RG Bioengenharia Ltda
Rua Marginal, 89 – Bairro Primavera I – Paracatu/MG - Brasil
[email protected]
Telefone: (38) 3672 4899

UTILIZAÇÃO DEVEÍCULO AÉREO NÃO TRIPULADO


(VANT) COMO FERRAMENTA AUXILIAR NA
IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃODE ÁREAS
DEGRADADAS NA FAIXA DE DOMÍNIO DE RODOVIAS

Jhonatan Tilio Zonta1; Cristhyano Cavali da Luz1; João Vinicius Sachet2;


Rodrigo de Castro Moro2; Nicole Cavali da Luz4; Durval Nascimento
Neto2; Eduardo Ratton3
105 1
Fundação da Universidade Federal do Paraná - FUNPAR, Rua João
Negrão, nº 280, Curitiba - Paraná - Brasil. 2Fundação de Pesquisas
Florestais do Paraná - FUPEF, Av. Prof. Lothário Meissner, nº 900,
Curitiba - Paraná - Brasil. 3Universidade Federal do Paraná - UFPR, Centro
Politécnico, Departamento de Transportes, Av. Cel. Francisco H. dos
Santos, s/n, Curitiba - Paraná - Brasil. 4 Pontifícia Universidade Católica do
Paraná – PUCPR, Rua Imaculada Conceição, nº1155, Curitiba - Paraná -
Brasil.
e-mail: [email protected]; [email protected]
DESCRIÇÃO DOS ATRIBUTOS AMBIENTAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO MEARIM LOCALIZADO NA REGIÃO DE TRANSIÇÃO
AMAZÔNIA- CERRADO NO ESTADO DO MARANHÃO

J. L. Almeida; F. B. Silva; V. A. R. Silva; J. S. dos Santos; A. T. M. Buna; J. R. N.


Santos; C. V. Ribeiro

RESUMO

A Bacia do Mearim é considerada a maior do Estado do Maranhão e está localizada na


zona de transição Amazônia-Cerrado. O conhecimento dos limites das unidades
territoriais é essencial para a gestão eo planeamento dos recursos hídricos. A utilização
do Modelo de Elevação Digital (MDE) no Sistema de Informação Geográfica (GIS) tem
vantagens em relação aos recursos digitais, como velocidade e interação com outras
bases de dados, contribuindo para agilidade na tomada de decisão para o Planejamento
Ambiental das bacias hidrográficas. Este trabalho objetivou a caracterização ambiental
da bacia do rio Mearim, no Estado do Maranhão. Para tanto, utilizaram-se dados
temáticos pré-existentes de geologia, geomorfologia, pedologia e vegetação, bem como
dados do satélite SRTM para avaliação de área de bacia e extensão de drenagem. A
avaliação dos resultados indicou uma grande diversidade ambiental, com quatorze
formações geológicas, dez unidades geomorfológicas, treze tipos de solo, nove tipos de
vegetação e um alívio que cobre elevação entre 38m abaixo do nível do mar até 638m,
na região sul do Estado. Assim, a grande diversidade de atributos ambientais sugere um
complexo mecanismo de interação ambiental que resulta nas unidades de paisagem
existentes na bacia, o que requer estudos complementares para entender esses
mecanismos ambientais.

Palavras chave: Sensoriamento Remoto, Bacia Hidrográfica, Mearim, Caracterização


Ambiental

INTRODUÇÃO
A Bacia Hidrográfica é uma importante unidade de planejamento, onde é necessário
fazer o manejo adequado para que todos usufruam desse ecossistema de forma
sustentável. Esta vem sofrendo alterações nas suas estruturas físicas, consequentes das
ações antrópicas. Modificações estas que exercem efeitos sobre a produção e transporte
de sedimentos (MACHADO, 2003). Para a realização de propostas de manejo em
bacias, primeiramente produzem-se dados, com objetivo de elaborar um diagnóstico,
tais levantamentos que ressaltam analises de drenagem, geologia, geomorfologia, solos
e outros atributos, podem levar a compreensão de questões na dinâmica ambiental
decorrentes nas bacias hidrográficas (SOUZA E FERNANDES, 2000).
Na Zona de transição Amazônia-Cerrado ainda apresenta escassez de dados referentes a
estudos ambientais, mesmo sendo uma região de grande interesse nacional e
internacional, por apresentar a relação de dois biomas. A grande complexidade desta
região impede estudos que quantifique os atributos ambientais, apresentando
manguezais, babaçuais, campos abertos e inundáveis e uma série de bacias lacustre em
sistema de “rosários”. Por esta razão os impactos ambientais que interferem na
paisagem são desconhecidos. As geotecnologias fornecem subsídios para o manejo e
planejamento de áreas degradadas com baixo custo, tempo e diferentes escalas
(FARIAS FILHO, 2012).
Uma ferramenta que vem se tornando cada vez mais importante para diversos estudos
de cunho ambiental, principalmente para o manejo e planejamento de bacias
hidrográficas é o Sensoriamento Remoto, que proporciona dados pelos quais é possível
compreender aspectos do relevo e dos atributos ambientais que formam as paisagens
(FIGEIREDO, 2005).
O programa Shuttle Radar Topographic Mission (SRTM) desenvolvido pela agencia
espacial americana (NASA) foi desenvolvido no intuito de enriquecer a alimentação de
dados altimétricos dos continentes terrestres. A coleção de dados topográficos
levantados a partir de plataforma orbital proporcionou um importante avanço científico
e tecnológico para o estudo do meio físico. Este sistema de radar operou baseando-se na
técnica de interferometria a fim de obter dados para elaborar um MDE em escala quase
global. Os dados SRTM, na forma em que foram disponibilizados para nosso
continente, apresentam resolução espacial de 3 arcos de segundo (~90m) e resolução
vertical de 1m (VALERIANO E ROSSETTI, 2009).
Desta forma, considerando os impactos ambientais e a fragilidade dos ecossistemas na
região da área de estudo, o presente trabalho teve como objetivo a utilização das
geotecnologias para realizar a caracterização ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio
Mearim, possibilitando uma análise detalhada na região, gerando subsídios para futuros
programas de manejo e planejamento ambiental.
METODOLOGIA
ÁREA DE ESTUDO
A Bacia Hidrográfica do Rio Mearim (Figura 1) situa-se na zona de transição da
Amazônia- Cerrado do estado do Maranhão, ocupando a porção sudoeste e boa parte do
Golfão Maranhense, sendo a maior Bacia Hidrográfica do estado, incluindo as sub-
bacias Pindaré e Grajaú. A nascente do Rio Mearim localiza-se na Serra da Menina,
entre os municípios de Formosa da Serra Negra, Fortaleza dos Nogueiras e São Pedro
dos Crentes, seguindo para o norte, onde desemboca na Baía de São Marcos, entre os
munícipios de São Luís e Alcântara (UEMA/NUGEO, 2009). O Baixo Mearim,
apresenta meandros que vem sendo erodidos por meio de alterações antrópicas no uso
da cobertura vegetal e assim produzindo alterações no curso do rio e também
provocando o avanço da salinidade em grandes quantidades, sem valor estimado
(ASSINE et al, 2010).
Figura 1. Localização da área estudada
CARACTERIZAÇÃO E PROCESSAMENTO DE DADOS
Primeiramente os dados temáticos pré-existentes forma adquiridos os dados do satélite
Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) pertencente da base de dados USGS da
NASA. Para a delimitação da bacia hidrográfica e delineamento da drenagem foram
realizadas pelo software Quantum GIS (QGIS), um sistema livre de informação
geográfica (MANGHI, 2011). Em seguida foram obtidos os dados ambientais para a
caracterização ambiental da área de estudo na base nacional pertencente ao Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), caracterizados na Tabela 1.
Tabela 1. Caracterização dos dados utilizados.
Atributo Escala Cartográfica Resolução Fonte
Espacial
Geologia 1:250.000 - IBGE (2012)
Geomorfologia 1:5.000.000 IBGE (2006)
Solos 1:5.000.000 IBGE (2001)
Vegetação 1:250.000 IBGE (2008)
Drenagem 1:1.000.000 IBGE (2014)
Drenagem 1:250.000 Satélite SRTM
Elevação 1:250.000 30m Satélite SRTM

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da caracterização da Bacia hidrográfica do Rio Mearim, foram identificados e
analisados os resultados a partir da representação cartográfica dos tipos de solos, de
geomorfologia, geologia e vegetação.
GEOLOGIA
Segundo o mapa de geologia (Figura 2), observa-se alta heterogeneidade de rochas,
totalizando em 14 unidades, onde as mais predominantes na região foram a Formação
Itapecuru, Cobertura Detrito- Laterítica Paleogênica e Formação Grajaú.

Figura 2. Mapa de Geologia

O Grupo Itapecuru é uma formação composta por vários tipos de rochas, como arenitos,
siltitos, argilitos, folhelhos associados com arenitos depositados em vários ambientes
fluvial, lagunar e deltaico (ANAISSE JÚNIOR, 1999).

A unidade Cobertura Detrito-Laterítica Paleogênica ocorre nas regiões denominadas por


Chapadões, formando o capeamento da Formação Ipixuna (IBGE, 1996), e é
caracterizada por exibir um perfil laterítico completo (COSTA, ANGÉLICA E
AVELAR, 1991).

Outra formação observada em uma parte perceptível da área da bacia, é a unidade


Formação Grajaú, predominantemente composta por arenitos e conglomerados,
depositados em ambientes fluvial, deltaico e eólico (LIMA; LEITE, 1978).

GEOMORFOLOGIA

A compartimentação geomorfológica da bacia apresenta dez unidades de formas e


litologias (Figura 3). Dentre elas destacam-se pela abrangência, os Tabuleiros dos Rios
Gurupi/Grajaú, a Superfície de Bacabal e Baixada Maranhense.
A Superfície Sublitorânea de Bacabal, denominação proposta por Barbosa e Novaes
Pinto (1973), é um relevo monótono, caracterizados por vastas superfícies aplainadas,
com topografia plana. Esse domínio cerca a Baixada Maranhense, entrecruzando os rios
Pindaré, Grajaú, Mearim e Itapecuru (CPRM, 2013).

Os Tabuleiros dos Rios Gurupi/ Grajaú, assim classificados pelo IBGE (1995), também
denominado de Baixos Platôs da Bacia do Parnaíba, representam um agrupamento de
extensas áreas planas associadas a baixas altitudes (CPRM, 2013). A Baixada
Maranhense é uma extensa planície interior inserida em uma planície sazonalmente
inundável de pântanos, água doce, pântanos salinos, mangues, maré lamosas e canais
estuarinos (TEXEIRA; SOUSA FILHO, 2009).

PEDOLOGIA
Figura 3. Mapa de Geomorfologia
O mapa pedológico da Bacia do Rio Mearim apresentou treze tipologias distintas, entre
as quais destacam-se o Latossolo Amarelo Distrófico, Argissolo vermelho-amarelo
Distrófico e Argissolo vermelho-amarelo Eutrófico (Figura 4).
O Latossolo Amarelo é um dos principais tipos de solos que mais se destacam no ponto
de vista econômico do Estado do Maranhão, expressando 33,87% no território
(CARVALHO FILHO, 2011). Por causa do intemperismo, a maioria dos Latossolos são
pobres em nutrientes naturais. Os Latossolos Amarelo Distrófico são solos formados
por material mineral que se encontram em avançados estágios de intemperização,
possuem matriz 7,5YR ou na maior parte dos primeiros 100cm são amarelos e possuem
saturação de bases baixas na maior parte dos primeiros 100cm (EMBRAPA, 2006).

Os Argissolos têm como característica marcante um aumento de argila do horizonte


superficial A para o subsuperficial B. Há uma variabilidade em relação a profundidade
desses solos, mas geralmente são pouco profundos (IBGE, 2007). O Agissolo vermelho-
amarelo distrófico, são solos menos férteis, pois possui mais de 50% da capacidade de
troca ocupada por hidrogênio e alumínio, enquanto os eutróficos, são solos mais férteis,
por possuir capacidade de 50% de troca ocupada por bases, influenciando no
Figura 4. Mapa dos Solos
crescimento radicular (EMBRAPA, 1999).

VEGETAÇÃO
Em relação a vegetação da região (Figura 5), esta divide-se em nove categorias, onda as
mais predominantes são as Vegetações Secundária e Atividades Agrárias, com
ocorrência de Áreas Pioneiras da Vegetação com Influência Fluvial e/ou Lacustre.
Figura 5. Mapa da Vegetação
Vegetação Secundária, ocorre em áreas onde a vegetação natural foi retirada pelo
homem, para outros fins, como agricultura, mineração ou pecuária. Depois do abandono
desses locais, pela falta de produção, a vegetação local adota características diferentes
de acordo com o tempo e uso da terra. O solo desse tipo de vegetação torna-se mais
pobre, por causa da perda de matéria orgânica, pelas queimadas e contaminação de
produtos químicos das culturas. A vegetação com Influência Fluvial, são comuns em
planícies aluviais que refletem períodos chuvosos. Nestes terrenos, conforme a
quantidade de água empoçada e o tempo em que ela permanece, a vegetação vai de
pantanosa criptofítica até terraços alagáveis temporariamente de terófitos. Em algumas
áreas as Arecaceae dos gêneros Euterpe e Mauritia se agrupam, formandos os famosos
açaizais e buritizais (IBGE, 2012).

ELEVAÇÃO, ÁREA DA BACIA E REDE DE DRENAGEM

Em relação a elevação da Bacia Hidrográfica do Rio Mearim, constatou-se uma


variação de amplitude de relevo que vai de -34 a 668 metros.

Figura 6. Mapa de Elevação


A área da Bacia estimada, utilizando dados do Satélite SRTM, foi de 102.014,8 Km² e a
extensão das drenagens 77.424,27 Km (Figura 7).

Figura 7. Mapa de Drenagem: (a) IBGE; (b) Processamento de Imagens SRTM


A extensão da drenagem pelos dados do IBGE foi de 16.912,45 Km. As diferenças nos
valores da drenagem mapeada neste trabalho e apresentada pelo IBGE podem estar
relacionadas ao tamanho da escala de ambos os produtos. Os dados do satélite SRTM
são compatíveis com uma escala cartográfica de 1:250.000 e os dados do IBGE
apresenta um mapa de drenagem na escala de 1:1.000.000, sendo este menos detalhado.
A Bacia Hidrográfica do Rio Mearim possui duas grandes afluentes, os rios Pindaré e
Grajaú. O Rio Pindaré tem seus afluentes situados nas Serras do Gurupi e Tiracambu.
Sua nascente localiza-se a Leste de Montes Altos, com suas principais afluentes, os rios
Buriticupu, Novo, Verde Zutiua, Juriti, Arapapa, Timbira, Santa Rita, Cipoeiro, Zutuia e
Jeju. A nascente do Rio Grajaú localiza-se entre as Serras da Canela e Negra, tendo
como principais afluentes os rios Santana, Gameleiras, Água Fria, Pitombeira, riacho
Água Boa, Barriguda, Baixão do Timbiras, Camaça, Jacaré e outros. Sua foz situa-se na
influência do estuário do rio Mearim (CPRM, 2013).
CONCLUSÕES
A caracterização ambiental realizada neste estudo revelou que a Bacia Hidrográfica do
Rio Mearim apresentou uma vasta diversidade em seus atributos ambientais. A bacia
apresenta catorze formações geológicas, dez unidades geomorfológicas, treze tipos de
solos e nove tipos de vegetação. Um relevo que abrange elevações entre 38m abaixo do
nível do mar até 668m. A próxima etapa será entender a interação entre os atributos
ambientais para a formação das paisagens que compõem a Bacia do Mearim.

REFERÊNCIAS
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EFEITO DA RESTAURAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS EM ÁREA DE


PRESERVAÇÃO PERMANENTE HÍDRICA NA ESTRUTURA DA PAISAGEM

EFFECT OF RESTORATION OF DEGRADED AREAS IN WATER


PERMANENT PRESERVATION AREAS OF THE LANDSCAPE STRUCTURE

K. G. R. BRANCO1; J. P. PIERONI2; G. C. FERREIRA2; R. A. VALENTE3


1
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo,
Avenida Pádua Dias, nº 11, Caixa Postal 9, CEP 13418-900, Piracicaba-SP;
[email protected].
2
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Avenida 24A, nº 1515, CEP
13506-900, Rio Claro-SP; [email protected].
3
Universidade Federal de São Carlos, Rodovia João Leme dos Santos, km 110, CEP
18052-780, Sorocaba-SP; [email protected].

RESUMO

Este trabalho objetivou caracterizar as Áreas de Preservação Permanente (APP) hídrica


do município de Rio Claro-SP quanto ao uso e cobertura do solo, e modelar o efeito da
restauração florestal total dessas áreas na estrutura da paisagem. Para avaliar o efeito da
restauração florestal da APP hídrica na estrutura da paisagem, os cenários propostos
foram: diagnóstico dos fragmentos e da APP atual; fragmentos e APP recomposta em
15 m para os rios e em 50 m para as nascentes; fragmentos e APP recomposta em 30 m
para os rios e em 50 m para as nascentes. Já para quantificar os efeitos na estrutura da
paisagem, foram calculadas Métricas de Ecologia da Paisagem. Os resultados apontam
que a APP do município apresenta 59,95 % de vegetação, sendo as áreas degradas
ocupadas principalmente por pasto (18,25 %) e cana-de-açúcar (7,02 %). Com a
restauração da APP proposta pelos cenários simulados 2 e 3, houve redução do número
de fragmentos na paisagem, redução do número de fragmentos de menor tamanho, e
possibilitaria um incremento de área vegetal de 1609,56 ha para o cenário 2 e de
2762,73 ha para o cenário 3. Conclui-se que a restauração completa de áreas de APP
gera alterações na estrutura da paisagem, reduzindo os efeitos da fragmentação florestal.

Palavras Chave: Ecologia da Paisagem, fragmentação florestal, mata ciliar, nascente

ABSTRACT

The research objective was the characterization of the water Permanente Preservation
Areas (PPA) in the Rio Claro municipality (Sao Paulo state) regarding the land-
use/land-cover and, model the effect of total forest restoration on landscape structure.
We proposed the follow scenarios in order to evaluate the PPA forest restoration effect
in landscape structure, the scenarios analyzed were: diagnostic of current fragment and
PPA; fragment and PPA recomposed in 15 m for the rivers and 50 m for the spring;
fragment and PPA recomposed in 30 m for the rivers and 50 m for the spring. To
quantify the effects of landscape structure, were calculated Landscape Ecology Metrics.
The results showed that the PPA of the municipality has 59,95 % of vegetation, and the
degraded area mainly occupied by pasture (18.25%) and sugarcane (7.02%). With the
restoration of PPA proposed by simulated scenarios 2 and 3, there was a reduction in
the number of patch in the landscape, reduction of the number of small patch, and
would increase the natural area in 1609,56 ha to scenario 2 and 2762,73 ha to scenario
3. It is concluded that the completed restauration of PPA result in changes of landscape
structure, reducing the effects of forest fragmentation.

Keywords: Landscape Ecology, forest fragmentation, riparian forest, spring

INTRODUÇÃO

As áreas de Preservação Permanente (APP) devem ser destinadas


prioritariamente para conservação dos recursos hídricos e suas áreas de recarga, não
podendo ser utilizada por atividades antrópicas. Porém apesar de serem protegidas
legalmente pelo Código Florestal (LEI 12.651/2012), a realidade de grande parte das
bacias hidrográficas brasileiras aponta a falta de proteção dos mananciais, já que a
cobertura florestal existente nessas áreas é inexpressiva devido à fragmentação florestal.
O processo de fragmentação está intrinsicamente relacionado às mudanças no
uso e cobertura do solo, como uma consequência do desenvolvimento econômico de
diferentes regiões. Os principais fatores que resultam na fragmentação são a construção
de estradas (GOOSEM, 2007), a expansão de áreas urbanas e agrícolas (LIU et al.,
2016), dentre outros. Dessa forma, áreas contínuas de vegetação passam, geralmente,
por um processo que reduz a sua extensão e as dividem em espaços, separados por uma
matriz diferente da paisagem original (DRISCOLL et al., 2013; BORTOLETO et al.,
2016).
A substituição de paisagens naturais por outros usos do solo, além de ocasionar a
fragmentação florestal, afeta a disponibilidade e a qualidade de recursos florestais os
quais, por sua vez, são fundamentais para o desenvolvimento de uma população, já que
as áreas naturais influenciam os serviços hidrológicos em relação à qualidade,
quantidade e distribuição sazonal do fluxo de água (BRAUMAN et al., 2007;
CARVALHO-SANTOS et al., 2014).
Segundo Chaves e Santos (2009) as bacias hidrográficas mais impactadas em
relação à qualidade e quantidade de água, são justamente aquelas que passaram por um
processo de ocupação não planejado, sendo esses impactos relacionados ao fluxo de
nutrientes e sedimentos para o leito dos rios.
Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi caracterizar as áreas de APP hídrica
do município de Rio Claro-SP quanto ao uso e cobertura do solo e, modelar o efeito da
restauração florestal total dessas áreas na estrutura da paisagem.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo compreende o município de Rio Claro, localizado à noroeste do


Estado de São Paulo, e inserido na bacia hidrográfica do rio Corumbataí, sendo que a
área do município abrange quatro das suas cinco sub-bacias (Figura 1). O rio principal
dessa bacia hidrográfica nasce no município de Analândia e desagua no rio Piracicaba
após percorrer 120 km, sendo utilizado para abastecimento público. Os principais
afluentes do rio Corumbataí são o rio Passa-Cinco, Ribeirão Claro e o Córrego
Servidão.

Figura 1. Localização do município de Rio Claro no Estado de são Paulo e na bacia


hidrográfica do rio Corumbataí.

Para avaliar o efeito da restauração florestal da APP hídrica na estrutura da


paisagem, foram propostos os cenários: (1) o diagnóstico dos fragmentos e da APP
atual; (2) fragmentos e APP recomposta em 15 m para os rios e em 50 m para as
nascentes; (3) fragmentos e APP recomposta em 30 m para os rios e em 50 m para as
nascentes. Na Figura 2, parte da área de estudo que foi selecionada para representar os
três cenários.

Figura 2. Cenários de restauração de APP: a) fragmentos e da APP atual; b) fragmentos


e APP recomposta em 15 m para os rios e em 50 m para as nascentes; c) fragmentos e
APP recomposta em 30 m para os rios e em 50 m para as nascentes.

Os planos de informações utilizados foram o mapa de uso e cobertura do solo do


município, produzido por Vedovato (2013); a hidrografia e os pontos de localização das
nascentes. A APP hídrica foi gerada no Sistema de Informação Geográfica (SIG)
ArcGis 10.3, inserindo uma faixa de 50 m a partir das nascentes e de 15 m e 30 m para
os cursos d’água. Realizou-se a sobreposição entre os mapas de uso do solo e da APP,
para o diagnóstico e quantificação da atual vegetação florestal existente em faixa de
APP de curso d’água.
Calculou-se, para os três cenários, as seguintes Métricas de Ecologia da
Paisagem, por meio do programa Fragstats 4.2 (McGARIGAL, 2015):

Área (AREA): informa a área em hectare (ha) de cada fragmento da paisagem


(form. 1).
(1)

Sendo: ai , área do fragmento i (m²).

Forma média (SHAPE): expressa a forma média dos fragmentos florestais em


função da razão do perímetro pela área. A complexidade da forma do fragmento tem
como referência de comparação o formato circular para arquivos vetoriais e quadrados
para matricial, assim quanto mais distante desses padrões mais irregular a forma
(adimensional) (form. 2).
(2)

Sendo pi o perímetro do fragmento (m).


Número de fragmentos (NP): informa o número de fragmentos existente na
paisagem (form. 3).
(3)

Sendo ni total de fragmentos.

Densidade de fragmentos (PD): informa a porcentagem da paisagem ocupada


pelos fragmentos (form. 4).
(4)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O diagnóstico da situação atual da APP revelou a predominância de mata nativa


ocupando 59,95 % das APPs. O principal uso do solo observado nessas faixas de
preservação foi a pastagem, ocupando 18,25% do total e a cana-de açúcar com 7,02%,
caracterizando a degradação das áreas de APP em relação ao parâmetro cobertura
florestal segundo o Código Florestal (LEI 12.651/2012), que regulamenta o mínimo de
recomposição para essas áreas.
O mesmo cenário de classes foi observado para as nascentes, porém uma menor
porcentagem de mata, apresentando 46,95%, e um acréscimo nas áreas de pasto e cana-
de-açúcar, abrangendo 26,11% e 16,91% respectivamente.
Esse cenário de uso e cobertura para as APPs hídricas sugere que ações de
conservação e reflorestamentos devem ser adotadas para o município. O mesmo cenário
de degradação para áreas de APP em cidades com alto nível de urbanização foi
observado por Mello et al. (2006) para o município de Sorocaba-SP.
Segundo Alberti (2010) o processo de urbanização está associado à
transformação do ambiente natural, resultando em alteração do uso e ocupação do solo,
gerando um mosaico complexo formado pela vegetação nativa fragmentada inserida em
uma matriz diferente do original.
Com a simulação dos cenários de restauração da APP, observou um decréscimo
no número de fragmentos na vegetação na paisagem, sendo a redução mais brusca
observada entre os cenários 1 e os cenários simulados (2 e 3), já que a restauração
florestal de APP ao longo dos rios forma uma estrutura linear que conecta os
fragmentos menores, que se encontram próximos aos rios e reduz o número de
fragmentos (Figura 3). Essa estrutura linear de vegetação formada pela restauração da
mata ciliar é de grande importância para formação de corredores de habitat para a fauna
em paisagens caracterizadas pela fragmentação florestal, servindo como habitat ou
corredor para movimento entre fragmentos (LEES & PERES, 2008).
900 843
800
700
600
500
396 386
400
300
200
100
0
Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
Figura 3. Número de fragmentos observados para os três cenários de restauração da
APP.

Já entre nos cenários 2 e 3 foi observada uma redução sensível do número de


fragmentos, visto que esse acréscimo de restauração, apesar de aumentar a área
restaurada não propiciou uma grande conexão de fragmentos vizinhos.
Essa queda no número de fragmentos resultou na redução da densidade de
fragmentos observada na paisagem, passando de 9,45 para a paisagem atual, 3,76 para o
cenário 2 e de 3,30 no cenário 3. A densidade de fragmentos mostrou-se inversamente
proporcional ao tamanho médio dos fragmentos, conforme também foi observado por
Valente e Vettorazzi (2003).
Em relação à distribuição de classes de área dos fragmentos florestais, a
paisagem caracteriza-se como fragmentada nas três classes, ou seja, muitos fragmentos
de áreas pequenas e poucos fragmentos com área maior (McGARIGAL, 2015). Esse
fato revela que a recomposição total da APP dos cenários 2 e 3 reduziria o efeito da
fragmentação com a redução do número de fragmentos de menor tamanho, porém
devido à matriz agrícola, a paisagem do município continuaria com a formação florestal
nativa fragmentada (Figura 4).
Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
350

300

250

200

150

100

50

0
até 1 1a5 5 a 10 10 a 25 25 a 50 50 a 100 > 100
Figura 4. Distribuição de classe de tamanho dos fragmentos florestais (ha) para os
cenários analisados.

Essa distribuição de predominância de fragmentos pequenos é comum em


regiões de Mata Atlântica, devido seu histórico de uso e ocupação do solo (RIBEIRO et
al., 2011). O principal problema associado a essa distribuição, é que quanto maior a
predominância de pequenos fragmentos, maior o efeito de borda associado a eles,
consequentemente ocorre uma redução da área nuclear do fragmento, podendo assim,
influenciar na qualidade estrutural desses ecossistemas (ZANELLA et al., 2012), bem
como comprometendo sua funcionalidade.
Observou-se que para o município, a restauração total da APP em 15 m (cenário
2) resultaria em um incremento de 1609,56 ha de vegetação, já a restauração em 30 m
(cenário 3) resulta em um acréscimo de 2762,73 ha.
Entre os cenários simulados (2 e 3) houve uma diferença de área de restauração
de 1153,18 ha, evidenciando que faixa de conservação da APP deve ser discutida e
estudada para formulação dos processos legais, e não ser definida de forma arbitrária, já
que alterações na sua dimensão resultam em grande variação na área de habitat natural e
na sua funcionalidade.
Observou uma redução do valor do índice de forma médio dos fragmentos,
passando de 2,20 para o cenário 1 para 1,83 no cenário 2 e 1,80 no cenário 3. Esses
valores indicam que houve a formação de fragmentos com forma mais regulares nos
cenários 2 e 3, já que esses valores estão mais próximos de 1, sendo esses são
considerados melhores para a conservação (CEMIN et al., 2009).

CONCLUSÕES

Os remanescentes florestais em áreas de APPs hídricas no município não se


encontram completamente vegetados conforme estabelecido pelo Código Florestal,
sendo os maiores impactos de alteração de uso e cobertura do solo associados a áreas de
pasto e cana-de-açúcar.
Atendendo apenas os requisitos legais mínimos de restauração de áreas
degradadas em APPs hídricas, houve alteração na estrutura da paisagem, que pode ser
quantificada aplicando as Métricas de Ecologia da Paisagem.
Assim, observa-se que a restauração de APP, conecta fragmentos pequenos e
isolados podendo ser utilizadas como estratégias de conservação, pois ocorre a redução
dos efeitos da fragmentação na biodiversidade.

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INDICADORES DE RESTAURAÇÃO FLORESTAL: UMA CONTRIBUIÇÃO A


PARTIR DA HIDROLOGIA DE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS

L. A. da Costa¹; A. G. Rosa²; D. Bessi³; K. C.Tonello4, M. B Soares5.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – CAMPUS SOROCABA/SP


Rodovia João Leme dos Santos, (SP-264), Km 110, s/n - Itinga, Sorocaba - SP, CEP:
18052-780, Telefone: (15) 3229-6000.

RESUMO

Tendo em vista a crescente necessidade de se buscar a conservação e/ou recuperação


dos atributos naturais de indeterminados ecossistemas, a restauração florestal está
relacionada com a difícil tarefa de reconstruir a floresta buscando o restabelecimento da
biodiversidade, da estrutura e de complexas relações ecológicas da comunidade e do
meio físico além da importante função desempenhada pela floresta no recebimento e
distribuição de água de chuva de forma a torná-la disponível para o solo. Com isso o
objetivo do presente trabalho é caracterizar o comportamento de indicadores
hidrológicos em áreas florestais em diferentes estágios de restauração por regeneração
natural na Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Floresta das Águas
Perenes, Brotas - SP. Foram realizadas medições dos parâmetros hidrológicos e de
estrutura da vegetação em três tratamentos, totalizando nove repetições em cada. O
tratamento 1 apresentou maiores médias, para resistência a penetração do solo e
umidade do solo (0,5 MPa e 74%), o tratamento 2 apresentou uma maior infiltração do
solo (174, 3 mm/h), mas os tratamentos não se diferenciaram entre si, ou seja solos
cobertos garantem a sua qualidade de características físicas. Concluí-se que em todos os
tratamentos, os resultados são positivos, tendo em vista que a presença de braquiária ou
serapilheira que cobre o solo e impede a água de desestruturar o solo e as raízes e massa
seca fornecem matéria orgânica para a manutenção desse solo e que os indicadores
hidrológicos e os estruturais da vegetação devem estar correlacionados positivamente,
para um desenvolvimento satisfatório da restauração de áreas degradadas.

Palavras Chave: áreas degradadas, cerrado, regeneração natural

INTRODUÇÃO

Com a diminuição de áreas com vegetação natural e, quase que


consequentemente, um aumento na degradação ambiental de ecossistemas. Assim, faz-
se de suma importância a preocupação com a conservação de áreas florestadas e a
recuperação da cobertura vegetal através da restauração ecológica (LLORENS;
DOMINGO, 2007; KRÄMER; HÖLSCHER, 2009; MOLINA; CAMPO, 2012; PARK;
CAMERON, 2008).
Para Rodrigues et al. (2009), a definição de restauração ecológica demonstra
uma visão ecossistêmica, na qual, à alta complexidade das interações biológicas entre as
espécies bem como das relações das espécies com os fatores abióticos do meio,
caracteriza o enfoque prático como um grande desafio. Com tudo, o estudo
compartimentalizado e individualizado de suas partes, como por exemplo o foco apenas
na estrutura da comunidade arbórea sem considerar a interação desta com as demais
formas de vida vegetal, com a fauna e com os fatores físicos do ambiente não tem efeito
significativo na conclusão sobre a resiliência e/ou estado de equilíbrio do ecossistema
(FOLKE et al., 2004; LUGO et al., 2004; SUDING et al., 2003).
Contudo, o Cerrado brasileiro caracteriza-se como um dos biomas mais
degradados, principalmente em função das atividades voltadas à pecuária e à agricultura
extensiva, tendo 55% do total de sua área desmatada ou transformada pela ação
humana. É considerado um hotspot por conter muitos atributos naturais e grandes
conflitos ambientais, dentre eles as questões referentes aos recursos hídricos (PELÁ E
CASTILHO, 2010; MACHADO et. al, 2004; SANTOS, 2012).
Mas, do ponto de vista hidrológico, em que momento ao longo do
desenvolvimento da vegetação, a restauração florestal contribui para a manutenção
hídrica do solo? Essa é apenas uma das questões que motivam o início de tal discussão e
a realização da pesquisa.
Este estudo tem por objetivo caracterizar os indicadores hidrológicos do solo e
de estrutura da vegetação em áreas florestais em diferentes idades de restauração por
regeneração natural, uma área com regeneração desde 2012, uma com regeneração
desde 2006 e um fragmento de cerradão sem intervenção desde 1973 na Reserva
Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Floresta das Águas Perenes, em Brotas/SP.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo está sendo realizado na RPPN Floresta das Águas Perenes, situada no
município de Brotas, interior do estado de São Paulo, pertencente à empresa
International Paper do Brasil Ltda. A RPPN possui 809,78 ha e está inserida no Bioma
Cerrado e sua fitofisionomia é caracterizada como vegetação secundária de Cerrado e
Cerradão. Antes ocupada por pastagens, nos últimos 44 anos foi destinada ao cultivo de
eucalipto. (INTERNATIONAL PAPER, 2013).
Desse modo, o monitoramento de indicadores hidrológicos e de estrutura da
vegetação esta sendo realizado em 2 (dois) tratamentos com diferentes estágios de
condução de regeneração natural e um em fragmento natural: (T1) área com
regeneração desde 2012; (T2) área com regeneração desde 2006, e (T3) fragmento de
floresta intocado desde 1973.
Foram instaladas em cada tratamento três parcelas de 20x20m alocadas no
sentido do declive. Os indicadores avaliados foram de estrutura da vegetação e
hidrológicos, monitorados em cada parcela, totalizando nove repetições em cada
tratamento. Os indicadores hidrológicos do solo, juntamente com a cobertura do solo e a
luminosidade foram avaliados entre parcelas e foram medidos mensalmente, tendo seu
início em Fev/2016 e término em Set/2016.

Tabela 1. Descrição da metodologia aplicada para cada parâmetro avaliado nos três
tratamentos.

Parâmetro Componente Indicador Material/Metodologia


Cobertura do solo/Serapilheira Quadrante
Estrutura Flora
Cobertura do dossel e Luminosidade (%) Luxímetro

Resistividade do solo (kgf/cm²) Penetrômetro de solos

Condutividade hidráulica - K (cm s-1) MiniDisk-Infiltrômetro


Hidrologia Solo
Sensor de umidade do solo
Umidade do solo (%)
- Aquapur

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A quantificação da precipitação na área de estudo, foi coletada através de 91
pluviômetros instalados nas parcelas e os resultados estão demonstrados na Figura 1
abaixo, onde verificamos que os meses chuvosos se deram em fevereiro e março,
começando a diminuir as chuvas a partir de julho, mas com uma significativa
quantidade nos meses de maio e junho.

250,0

200,0
Precipitação em mm

150,0

100,0

50,0

0,0
Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

Figura 1: Volume precipitado na RPPN Floresta das Águas Perenes no período


de fevereiro a setembro de 2016.

Para os indicadores hidrológicos, os resultados das oito medições em campo


(fevereiro a setembro/2016), consistiram na obtenção de dados referentes à resistência
de penetração do solo, umidade do solo e velocidade média de infiltração da água, para
cada tratamento, que são demonstrados nas Figuras 2, 3 e 4.
1,0 100
penetração MPa

Umidade em %
Resistência a

0,5 50

0,0 0
Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Tratamento 1 Tratamento 2
Tratamento 1 Tratamento 2

Figura 2: Valores de resistência de penetração (MPa), Figura 3: Valores de umidade do solo (%), para os
para os Tratamentos, coletados nos meses de fevereiro Tratamentos, coletados nos meses de fevereiro a
a setembro de 2016, na RPPN Floresta das Água setembro de 2016, na RPPN Floresta das Água
Perenes, Brotas, São Paulo. Perenes, Brotas, São Paulo.
500

Velocidade de Infiltração
400

300

mm/h
200

100

0
Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Tratamento 1 Tratamento 2 Tratamento 3

Figura 4: Velocidade de infiltração básica da água (mm/h) para os Tratamentos,


coletados nos meses de fevereiro a setembro de 2016, na RPPN Floresta das Água
Perenes, Brotas, São Paulo.

Analisando a resistência de penetração para os três tratamentos, notou-se que o


solo apresentou maior resistência no Tratamento 1, que teve variações entre 0,1 MPa e
0,9 MPa, e menores resistências no Tratamento 2, de 0,05 MPa a 0,33 MPa, e no
Tratamento 3, de 0,1 MPa a 0,29 kgf/cm².
Para Sena, Santos e Maltoni (2015), citando Santana et al. (2006), a resistência
do solo à penetração é vista como a propriedade mais adequada para expressar o grau de
compactação do solo. Valores de resistência a penetração acima de 2,0 MPa são
considerados restritivos ao desenvolvimento radicular e tomando como referência
espécies arbóreas cultivadas, a resistência à penetração acima de 3 MPa representa
restrição ao desenvolvimento radicular (EMBRAPA, 2005).
A umidade do solo nos meses chuvosos alcançou valores de 74%, para o
tratamento 1, 66,6% para o tratamento 2 e 75,3% para o tratamento 3, sendo que o
tratamento 3 se caracterizou com o solo mais úmido nesses meses. Para os meses não
chuvosos, os valores chegaram a 89,5% para o tratamento 1, 57,2% para o tratamento 2
e 67,1% para o tratamento 3. Nota-se que, exceto as medições de Maio e junho para o
Tratamento 1, as umidades do solo no período chuvoso foram mais elevadas que no
período menos chuvoso. Os valores elevados do Tratamento 1 em meses não chuvosos
podem estar relacionados com uma chuva no mês de junho e também pelo horário de
coleta dos dados, os quais, por serem realizados entre 8:00 e 8:30 da manhã, podem
terem sofrido influência do orvalho. Mas que voltaram a ser menores nas medições
posteriores, corrobando, que meses chuvosos tendem a ter umidades de solos superiores
aos menos chuvosos.
Para a velocidade de infiltração (figura 4) os valores variaram de 26,3 a 227,6
mm.h-1 para o tratamento 1, de 7,2 a 458,0 mm.h-1 para o tratamento 2 e de 0 a 344,9
mm.h-1 para o tratamento 3. Demonstrando que os maiores valores de infiltração
ocorreram no período de chuva.
A média de volume de água e a infiltração acumulada ao longo dos 8 meses de
coleta a cada 30s (figuras 5 e 6). Nota-se que ao decorrer do tempo a velocidade de
infiltração diminui devido à saturação do solo, independentemente de qual for o
tratamento. A taxa de infiltração da água no solo é elevada no início do processo de
infiltração, sobretudo quando o solo está inicialmente muito seco, mas tende a decrescer
com o tempo, aproximando-se assintoticamente de um valor constante, denominado
taxa de infiltração estável. Um solo mais úmido terá, inicialmente, uma menor taxa de
infiltração devido a um menor gradiente hidráulico (menor diferença no potencial
matricial da água no solo), e mais rapidamente a taxa de infiltração se tornará constante
(CARVALHO e SILVA, 2006).
Para a infiltração acumulada nota-se que a mesma tem valores crescentes ao
decorrer do tempo. Estes mesmos resultados ocorreram nos estudos de Alves et al.
(2015); Carvalho et al. (2009); Vilarinho et al. (2013), confirmando que os valores
demonstraram comportamento equivalentes, ou seja, a infiltração acumulada aumentou
ao longo do tempo, enquanto a velocidade de infiltração estabilizou com o passar do
tempo.

12,00 0,0915
0,0815
10,00
Volume de água (mm)

Volume de água (mm)


0,0715
8,00
0,0615
6,00 0,0515

4,00 0,0415
0,0315
2,00
0,0215
0,00
0,0115
30 60 90 120 150 180
30 60 90 120 150 180
Tempo (segundos) Tempo (segundos)
Tratamento 1 Tratamento 2 Tratamento 3 Tratamento 1 Tratamento 2 Tratamento 3

Figura 5: Infiltração acumulada coletada nos meses Figura 6: Velocidade de infiltração da água coletado
de fevereiro a setembro de 2016, a cada 30 s, na RPPN nos meses de fevereiro a setembro de 2016, a cada 30
Floresta das Águas Perenes, Brotas, São Paulo. s, na RPPN Floresta das Águas Perenes, Brotas, São
Paulo.

Tabela 2. Valores médios de resistência à penetração, umidade do solo e


velocidade de infiltração, para os respectivos tratamentos.

Parâmetros Hidrológicos do Solo


Tratamentos Resistência à Umidade Vel. de infiltração
penetração (MPa) (%) (mm/h)
1 0,5a 74,0a 122,6a
2 0,2b 47,1b 174,3a
3 0,2b 50,0bc 139,5ab
Observa-se na Tabela 2, que o tratamento 1 que houve efeitos significativos a
5% de probabilidade entre o tratamento 1 e os demais, quanto à resistência a penetração
do solo, e quanto à umidade do solo, obtendo as médias mais altas.
O aumento da resistência no tratamento 1 pode ter decorrido de ter sofrido mais
recentemente intervenções de máquinas de colheita aumentando a compactação do solo
e não ter recuperado as estruturas do solo significativamente. Mas de acordo com a
Tabela 1 os resultados a resistência à penetração do solo se apresentam baixa, ou seja,
inferiores aos valores restritivos ao desenvolvimento de raízes. Podem estar
relacionados, ao aumento gradual de presença arbórea, bem como a presença de
gramíneas ou serapilheira, o que contribuiria para a manutenção da matéria orgânica no
solo, agregação e saúde do solo.
Tabela 3. Classes de resistência do solo à penetração (1) .

Resistência à penetração
Classe
MPa
Extremamente baixa < 0,01
Muito baixa 0,01 - 0,1
Baixa 0,1 - 1,0
Moderada 1,0- 2,0
Alta 2,0 - 4,0
Muito alta 4,0 - 8,0
Extremamente alta > 8,0
(1)
Adaptadas de Beutler et al. (2001).

Tais resultados condizem com estudos de Beutler et al. (2001) onde uma área de
Cerrado Nativo é comparada com outras áreas sob diferentes tipos de sistemas manejo,
o fragmento de mata nativa se mostrou menos resistente a penetração (0,2 MPa) do que
as demais (1,4MPa), demonstrando que as máquinas utilizadas na preparação do solo
compacta o mesmo desde as primeiras camadas. Corrobando com os resultados de Jesus
et al. (2015), que estudaram duas áreas que ocorreram a colheita de Eucalipto, com
forwarder em Minas Gerais, em que a máquina passava duas vezes ou oito vezes em
solo sem resíduos e com resíduos com casca ou sem casca. Os resultados mostraram que
o número de passadas do forwarder e tipo de resíduo influenciaram na resistência à
penetração, sendo assim oito passadas no ato da colheita leva à maior compactação do
solo e que estes efeitos mantém-se até ao fim da próxima rotação. Portanto, pode haver
restrição à penetração das raízes de eucalipto, no próximo plantio, uma vez que valores
de resistência à penetração acima de 3,0 MPa foram observados.
Já Campos e Alves (2005), estudaram área de mata nativa de Cerrado
juntamente com áreas em estágio avançado de degradação e áreas em regeneração após
plantio, obtiveram valores menores de resistência à penetração em mata nativa de
Cerrado (0,72 MPa), seguido da área em regeneração (2,38 MPa) e valores superior para
área em avançada degradação (5,92 MPa), isso é explicado pela ausência de plantas e
cobertura morta, presença de camada compactada nessa e pelo menor conteúdo de água
no solo.
Para a umidade do solo, o alto valor do tratamento 1, de acordo com Avila,
Mello e Silva (2010), pode estar diretamente relacionada com a cobertura vegetal do
solo, esta por sua vez controla a dinâmica da água em bacias hidrográficas,
independentemente do seu porte. Confrontando com resultados de Oliveira (2007), as
diferenças entre as umidades do solo para cada estágio de restauração, 3,5 e 11 anos
(32,8 e 35,4 %, respectivamente) não foram significativas, mas concluiu-se que as
umidades do solo estão dentro das condições favoráveis para o desenvolvimento da
vegetação, comprovando o que diz Avila, Mello e Silva (2010).
O tratamento 3 também se diferenciou do tratamento 2 quanto a umidade do
solo, obtendo um maior valor. No presente estudo notou-se que os três tratamentos são
ausentes de solo exposto, favorecendo assim a retenção da água no solo. Para ilustrar
um possível comportamento da umidade do solo aferida no presente estudo, Rodrigues
et al. (2012), realizaram um estudo que solos com ausência de florestas podem
apresentar maior quantidade de água armazenada desde a superfície até os 3 metros de
profundidade, quando comparado com o solo sob floresta, no caso do estudo
Eucalyptus. Essa diminuição é resultado da transpiração, pois as raízes das árvores
absorvem água e nutrientes do solo para o processo de evapotranspiração. A redução da
densidade populacional tende a aumentar o conteúdo de água no solo (RODRIGUES et
al., 2012 apud LEITE et al., 1999), como decorrência da menor taxa de transpiração.
Analisando a velocidade de infiltração, os tratamentos não se diferenciaram
entre si (Tabela 2), mas observa-se que o tratamento 2 obteve a melhor velocidade de
infiltração e o tratamento 1 a menor.
Menores taxas de infiltração estão relacionadas ao surgimento de camadas de
solo compactadas que são originadas da diminuição na qualidade da estrutura de um
solo, resultando em maior escoamento superficial. Esse processo acelera a degradação
do solo com o aumento das taxas de erosão. (SOUZA, 2015 apud PORTELA et al.,
2010).
Estudo de Romeiro, Bonini e Neto (2014), que avaliaram as infiltrações do solo
para área de cultivo com Eucalypto, área de pastagem e uma área de vegetação natural,
mostrou que a vegetação natural obteve uma infiltração mais eficiente (43,3 mm/h),
comparado com a área de Eucalipto (19,8 mm/h) e não tendo diferença significativa
com a área de pastagem (41,7 mm/h). Esse comportamento foi o esperado, pois na
vegetação natural a qualidade física do solo é melhor (maior porosidade e menor
densidade do solo) devido à presença de matéria orgânica e cobertura do solo pela
serrapilheira. Já no eucalipto as linhas e entrelinhas da cultura são desprotegidas e sobre
sofre com o impacto da água da chuva. A pastagem obteve um valor bom de infiltração
de água, a braqueária cobre o solo e impede a água de desestruturar o solo e as raízes e
massa seca fornecem matéria orgânica para a manutenção desse solo (ALVES e
SUZUKI, 2004; ROMEIRO, BONINI e NETO, 2014;). Resultados obtidos no estudo de
Senna et al. (2015), estão de acordo com o estudo anterior, onde a área de mata nativa
de Cerrado alcançou valores de infiltração maiores (7000 mm/h), que as plantações de
Eucalipto de 15 e 2 anos.
Tais resultados não corrobam com o presente estudo, pois o tratamento 2 obteve
maiores valores de infiltração do que o tratamento 3, podendo ser explicado pela
ausência de solo exposto, onde as raízes e a massa seca da braquiaria fornecem proteção
contra a desestruturação do solo, aumentando a quantidade de armazenamento da água e
matéria orgânica para o mesmo.
Analisando o índice de luz (Figura 7), o tratamento 1 chegou a valores de 100%,
ou seja, obteve valores semelhantes quando medimos à pleno sol, no tratamento 2 a
incidência de luz foi um pouco menor, abaixo dos 90% e o tratamento 3 apresentou
valores abaixo de 10%.
120

100

80
Luminosidade %
60

40

20

0
Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Tratamento 1 Tratamento 2 Tratamento 3

Figura 7. Índice de luz (%) para os Tratamentos, coletados nos meses de


fevereiro a setembro de 2016, na RPPN Floresta das Águas Perenes, Brotas, São
Paulo.

Portanto quanto mais desenvolvida a vegetação, menor será a incidência de


luminosidade dentro dossel consequentemente menor será a amplitude térmica, a
evaporação de água do sistema, havendo assim maior umidade no solo além da
contribuição das raízes para a infiltração de água no solo. Comparando com o estudo de
Venturoli et al. (2012), em que avaliaram uma floresta semidecídua, mostrando que a
incidência de luz na época em que os indivíduos arbóreos apresentam alta taxa de
deciduidade, ou seja dossel praticamente descoberto, podem chegar a 97%,
comprovando que maiores incidências de luz ocorrem na ausencia de um dossel
formado.
Analisando a cobertura do solo e a cobertura por plantas espontâneas,
para os três tratamentos, ambos apresentam solos cobertos, seja por gramíneas ou
serapilheira, porém o tratamento 3 obteve a maior média, sendo assim 66% da área o
solo é coberto por serapilheira e o restante por indivíduos regenerantes. Já para os
tratamentos 1 e 2 as médias foram semelhantes, sendo 58% das áreas o solo é coberto
por material orgânico oriundos de gramíneas mortas e o restante com gramíneas
“verdes”.
As gramíneas nativas são de extrema importância na cooperação para a
recuperação, proteção e fixação do solo. Segundo Campos; Almeida e Souza (2003), as
espécies da família Poaceae, antes classificada como gramineae, possuem uma grande
quantidade de raízes, que se desenvolvem rapidamente, melhorando as características
físicas, como porosidade, descompactação, aeração entre outros, comprovando os
resultados apresentados anteriormente em relação à avaliação dos parâmetros
hidrológicos do solo.
Com tudo, para Mantoani et al. (2012), gramíneas invasoras correspondem a
barreiras à regeneração natural, vários estudos mostram que a ausência das mesmas
pode melhorar a abundância e a riqueza de espécies nativas nos locais invadidos em
longo prazo (acima de seis meses e menos de dez anos), por aumentar as taxas de
germinação e sobrevivência de plântulas ( DUNCAN; CHAPMAN, 2003;
CAMPANELLO et al., 2007).
A serapilheira faz com que haja uma interceptação de luz, sombreamento das
sementes e plântulas, diminuindo a amplitude térmica do solo, ou seja, ao reduzir a
temperatura do solo, diminuiu a evaporação de água do solo pois a serrapilheira cria
uma barreira a difusão de vapor de água (BARBOSA & FARIA 2006).
A serapilheira pode se compreendida como uma base na recuperação e
manutenção de ecossistemas florestais, sendo utilizada como estratégias e implantada
em projetos conservacionista ou de recuperação (BARBOSA & FARIA 2006).
Fatores como, as espécies, a cobertura florestal, o estágio sucessional, idade da
vegetação, tipo de floresta e precipitação pluviométrica, também estão relacionados à
produção e quantidade de serapilheira (CALDEIRA et al., 2008; FIGUEIREDO FILHO
et al., 2003).

CONCLUSÃO

Podemos concluir que o tratamento 3 influencia mais positivamente para a


melhoria das características hidrológicas, e consequentemente na disponibilidade de
água no solo. Acredita-se que nos outros tratamentos 1 e 2, os resultados também são
positivos, tendo em vista que a presença de braquiária cobre o solo e impede a água de
desestruturar o solo e as raízes e massa seca fornecem matéria orgânica para a
manutenção desse solo.
A avaliação da interação entre indicadores hidrológicos e estruturais da
vegetação é essencial para o entendimento que a, regeneração natural é dependente da
qualidade do solo bem como, as características físicas do solo é extremamente
dependente da presença de vegetação.

AGRADECIMENTOS

À International Paper Ltda. do Brasil.

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ÍNDICE DE CONSERVAÇÃO EM NASCENTES COMO SUBSÍDIO À
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS EM MICROBACIAS
HIDROGRÁFICAS

SPRING CONSERVATION INDEX AS SUBSIDY TO STORATION OF


DEGRADED AREAS IN SMALL WATERSHED

J. P. PIERONI¹; G. R. V. DIAS1; K. G. R. BRANCO2; G. C. FERREIRA1


1
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Avenida 24A, nº 1515, CEP
13506-900, Rio Claro-SP; [email protected].
2
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo,
Avenida Pádua Dias, nº 11, Caixa Postal 9, CEP 13418-900, Piracicaba-SP;
[email protected].

RESUMO

O estudo de nascentes em microbacias hidrográficas é um importante instrumento de


gestão na conservação e preservação dos recursos hídricos visando à produção de água.
Diante desse desafio, o presente artigo avalia o estado de conservação das nascentes da
microbacia do Córrego Ibitinga, localizada no município de Rio Claro (SP). A
metodologia adotada abordou o estado de conservação com base em parâmetros
macroscópicos de avaliação. Os parâmetros escolhidos permitiram avaliar, de maneira
integrada, os impactos físicos, biológicos e socioeconômicos das nascentes. Com a
aplicação do Índice de Impacto Ambiental em nascentes, os parâmetros foram
mesurados e o tratamento estatístico dos dados permitiu a classificação das nascentes
em cinco níveis de conservação: ótima, boa, razoável, ruim e péssima. Os resultados
demostraram os parâmetros mais expressivos para os processos de degradação nas
nascentes avaliadas e a frequência de ocorrência em relação aos níveis de conservação.
As nascentes apresentaram inúmeros aspectos de degradação, sejam eles por ação
antropogênica direta ou indireta. Das 39 nascentes estudadas, 75% das nascentes estão
concentradas nas três piores classes. Os resultados permitiram concluir que as nascentes
avaliadas apresentaram alto nível de degradação, e que o estado de conservação das
nascentes é inerente à proximidade com estradas, ausência de proteção e de vegetação,
sendo estes os impactos mais frequentes.

Palavras Chave: Recursos hídricos; índice de impacto ambiental em nascentes;


produção de água.

ABSTRACT

The study of springs in small watersheds is an important instrument to the management


of the conservation and preservation of water resource aiming water production. In face
of this challenge, this article evaluates the state of conservation of springs from the
micro basin of Córrego Ibitinga, located in Rio Claro, SP. The methodology adopted
analyzed the state of conservation based in the evaluation of macroscopic parameters.
The parameters used allowed to evaluate, in an integrated mode, the physics, biologics
and socioeconomic impacts on springs. Using the Index of Environment Impact at
springs, the parameters measured and the statistic treatment of the data enabled the
classification of the springs into five levels of conservation: great, good, reasonable, bad
and poor. The results revealed the most expressive parameters for the degradation
process at the springs studied and frequency of occurrence in relation to the levels of
conservation. The springs indicated several aspects of degradation, due to direct or
indirect anthropogenic action. From the 39 springs studied, 75% were concentrated in
the three worst levels. The results enabled the conclusion which the springs showed
high level of degradation, and that the state of conservation of springs is inherent to the
proximity with roads, the absence of local protection and of vegetation, being those the
most frequent impacts.

Keywords: Water resources; Index of environment impact at springs; water production.

INTRODUÇÃO

Frente aos atuais desafios existentes para garantir a disponibilidade de água às


presentes e futuras gerações, o bom uso e conservação dos recursos hídricos devem ser
planejados e geridos dentro dos preceitos de sustentabilidade. A gestão desses recursos
deve ser encarada como parte do processo de produção, visando preservar a
disponibilidade e qualidade de água nos reservatórios superficiais e subterrâneos.
Considerando que a menor unidade de gestão territorial é a microbacia
hidrográfica, esta, constitui-se fundamental para o planejamento, manejo e uso
adequado do solo e da água. Assim a identificação, a análise e a classificação das
nascentes quanto ao seu estado de conservação, são importantes instrumentos na
composição dos estudos de bacias. Estes instrumentos fornecem dados que subsidiam os
processos de avaliação e tomada de decisão, para a definição de áreas prioritárias à
conservação e preservação e ainda, a locação dos recursos disponíveis.
Essa discussão torna-se essencialmente importante em estudos direcionados a
nascentes e cursos d´água. Conceitualmente, “nascente” é o termo que define um
sistema ambiental em que o afloramento da água subterrânea ocorre naturalmente de
modo temporário ou perene, integrando a rede de drenagem. Este processo é
responsável, em parte, pela a entrada de energia no sistema e dependente da
interceptação do nível freático pela topografia local (FELIPPE, 2009).
A literatura pertinente exibe algumas propostas para a classificação de nascentes
na tentativa de sistematizar as heterogeneidades intrínsecas entre elas. Em grande parte
essas metodologias abordam critérios ambientais monovariados, que consideram apenas
um dos incomensuráveis aspectos inerentes às nascentes (FELIPPE, & JUNIOR, 2014).
As tipologias mais utilizadas, associadas a estudos fluviais classificam as
nascentes com base nas variações sazonais em perenes ou temporárias (VALENTE &
GOMES, 2005; CHRISTOFOLETTI, 1981); e ainda pela metodologia proposta por
Meinzer (1927) que considera apenas a vazão média anual das nascentes. Entretanto
outras linhas de estudos têm sido desenvolvidas buscando avaliar de maneira integrada
os impactos físicos, biológicos e socioeconômicos no estado de conservação das
nascentes, tendo como foco principal as microbacias hidrográficas (PIERONI et. al;
CHISTOFOLETTI et. al. 2015; MACHI & CUNHA, 2007).
Gomes, et. al. (2005); França Junior & Villa; Oliveira, (2013), utilizaram uma
metodologia que considera os potenciais impactos ambientais a que estão sujeitas as
nascentes, porém numa abordagem macroscópica de caráter qualitativo. Sobretudo
perante a atribuição de pesos aos parâmetros avaliados torna-se possível mensurar os
principais fatores de degradação e sua frequência e intensidade de ocorrência.
Este artigo tem como objetivo apresentar o resultado do primeiro estudo
sistemático das nascentes da microbacia do Córrego Ibitinga. A partir da análise dos
dados obtidos, foram feitas considerações sobre as características ambientais e estado de
conservação das nascentes avaliadas, dando ênfase aos processos de degradação e aos
impactos a estes associados.

METODOLOGIA

A microbacia do Córrego Ibitinga esta localizada no município de Rio Claro,


noroeste do estado de São Paulo. A microbacia possui uma área de 2.792 ha, sendo que
1.480 ha, ou seja, 53% da área total encontra-se coberta pela Floresta Estadual
Edmundo Navarro de Andrade (FEENA), classificada segundo o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) como unidade de conservação de uso
sustentável (Figura 1) (BRASIL, 2000). A FEENA possui um importante papel no
desenvolvimento sócio ambiental e cultural do município e região, e é conhecida
nacionalmente por ser a primeira área de cultivo de eucalipto (Eucaliptos sp.) do Brasil,
iniciado em caráter experimental pelo então Engenheiro Agrônomo Edmundo Navarro
de Andrade no início do século XX (MARTINI, 2004).
Os trabalhos de campo ocorreram entre os meses de outubro, novembro e
dezembro caracterizando o fim da estação seca. Com base nos dados topográficos,
hidrográficos e imagens de satélite, foi elaborada a logística de deslocamento em
relação às drenagens. Para a localização e identificação das nascentes foram realizadas
campanhas de campo onde todas as drenagens foram percorridas de jusante para
montante, dando-se relevância às tributações encontradas, seguindo-as até o ponto exato
de exfiltração. Os pontos então foram marcados com o auxílio de um aparelho GPS
Garmim, modelo 62 Sc, e plotados com auxílio de ferramentas SIG.
Figura 1: Mapa de localização da área de estudo. No detalhe parte da Floresta Estadual
Edmundo Navarro de Andrade dentro da microbacia do Córrego Ibitinga. (Fonte:
Elaborado pelos autores).

A avaliação das características macroscópicas das nascentes foi adaptada da


metodologia proposta por Gomes et. al. (2005). Estes autores desenvolveram o Índice
de Impacto Ambiental em Nascentes (IIAN), classificação que estabelece o nível do
estado de conservação em nascentes.
A aplicação do método envolveu a análise de oito parâmetros macroscópicos,
descritos na tabela 1. Os parâmetros possuem três diferentes características que devem
ser observadas durante o trabalho de campo. A cada característica foi atribuído um peso
que varia de um a três.

Tabela 1 - Quantificação e análise dos parâmetros macroscópicos.


PESO 1 PESO 2 PESO 3
Cor da água Escura Clara Transparente
Odor Cheiro Forte Cheiro Fraco Sem Cheiro
Lixo ao Redor Muito Pouco Sem Lixo
Alta
Vegetação Baixa Degradação Preservada
Degradação
Uso por
Presença Apenas Marcas Não Detectado
Animais
Uso por
Presença Apenas Marcas Não Detectado
Humanos
Com Proteção mas Com proteção e
Proteção do Local Sem Proteção
com acesso sem acesso
Proximidade com
Menos de 50 m Entre 50 m e 100 m Mais de 100 m
estrada
Fonte: Adaptado de Gomes; Melo e Valente (2005).

Para avaliar o IIAN, foi extraída a soma dos valores dos parâmetros
macroscópicos obtidos pela aplicação da tabela 1. Esta somatória permite o
enquadramento das nascentes avaliadas em cinco classes, conforme apresentado na
tabela 2. As classes representam o nível do estado de conservação mediante os
diferentes parâmetros macroscópicos avaliados em campo.

Tabela 2 - Classificação das nascentes quanto ao estado de conservação.


Estado de Pontuação
CLASSE
Conservação Final
A Ótimo Entre 22 e 24
B Bom Entre 19 e 21
C Razoável Entre 16 e 18
D Ruim Entre 13 e 15
E Péssimo Abaixo de 13
Fonte: Adaptado de Gomes; Melo e Valente (2005).

O georreferenciamento das nascentes e elaboração do mapa temático foi feito


com base em imagens de satélite de alta resolução cedidas pela EMPLASA, com
resolução espacial de 1 metro, referentes ao ano de 2011, e cartas topográficas
digitalizadas e vetorizadas obtidas no site do IBGE na escala de 1:50.000. A partir
dessas informações, foram extraídas a rede de drenagem e a delimitação da microbacia
hidrográfica. Com o auxílio do software ArcGis, versão 10.1, os dados foram plotados e
reclassificados. O mapa final apresenta a distribuição espacial das nascentes
identificadas, bem como a sua classificação obtida na aplicação do IIAN.

RESULTADOS

Os resultados aqui apresentados demostram o número e distribuição espacial das


nascentes identificadas, bem como os dados da avaliação do estado de conservação de
nascentes obtidos pela aplicação do IIAN.
Foram identificadas e georreferenciadas 39 nascentes, a maioria das nascentes
encontram-se na cabeceira de drenagem, circundada por matrizes de pastagem,
silvicultura e cana de açúcar.
A coleta de dados em campo e análise dos parâmetros macroscópicos
possibilitaram quantificar e valorar cada um dos parâmetros avaliados em relação ao seu
nível de ocorrência. Com isto as nascentes foram enquadradas em suas respectivas
classes, resultando na classificação das nascentes em cinco níveis de conservação
(Figura 2).
Figura 2 - Número das nascentes em cada classe de conservação. Classes: A=ótima,
B=boa, C=razoável, D=ruim, E=péssima. Em números absolutos, foram classificadas
como em ótimo estado de conservação 4 nascentes, em bom estado de conservação 6
nascentes, 7 em estado razoável, 19 em estado de conservação ruim e 3 em péssimo
estado de conservação. (Fonte: Elaborado pelos autores).
Com base nos resultados do IIAN, foi elaborado um mapa contendo a
distribuição e a classificação das nascentes, em relação aos seus estados de conservação
(Figura 3).
Figura 3: Apresentação dos resultados do IIAN, na microbacia hidrográfica do Córrego
Ibitinga. (Fonte: Elaborado pelos autores).

Nascentes classe A
Foram enquadradas na classe A quatro nascentes, entretanto, embora estejam
avaliadas como em ótimo estado de conservação, a avaliação dos parâmetros
demonstrou a vulnerabilidade das nascentes em relação á proximidade com estradas. A
nascente 27 encontra-se a uma distância superior a 100 metros da estrada mais próxima,
já as nascentes 7, 28 e 36 estão a uma distância entre 50 e 100 metros da estrada mais
próxima. Dentre os parâmetros avaliados positivamente, a dificuldade de acesso foi o
mais expressivo, em sua maioria devido a barreiras naturais como declividade acentuada
do terreno e rede de drenagem, inviabilizando o desenvolvimento de atividades
agrícolas nessas áreas. Em relação à vegetação, esta fica restrita marginalmente à quebra
abrupta do terreno nas redes de drenagem, confrontando-se nas porções superiores da
topografia com pastagens, carreadores e estradas.

Nascentes classe B
Quatro nascentes foram avaliadas em bom estado de conservação. A avaliação
dos parâmetros demostrou a vulnerabilidade das nascentes da classe B em relação à
proximidade com estradas. Em comparação com a classe A, as nascentes em bom
estado de conservação estão localizadas a uma distância inferior de 50 metros da estrada
ou residência mais próxima. Este fato tornou-se relevante na avaliação do estado de
conservação, já que esta distância é inferior à definida pelo Novo Código Florestal.
(BRASIL, 2012).
A vegetação e proteção do local também contribuíram diretamente para o
enquadramento destas nascentes em um nível de conservação inferior. As nascentes 25
e 26 apresentaram vegetação preservada, no entanto, as nascentes 4, 33 e 34
apresentaram baixa degradação na vegetação e a nascente 2, apresentou uma vegetação
em estágio avançado de degradação.

Nascentes classe C
Das sete nascentes classificadas como estado de conservação razoável, os
parâmetros mais vulneráveis foram: proteção do local e vegetação, proximidade com
estradas e coloração da água. Em sua maioria as nascentes encontram-se inseridas em
áreas de cultivo de cana de açúcar, silvicultura e pecuária. Todas as nascentes desta
classe apresentaram a ausência de mata ciliar e proteção das Áreas de Preservação
Permanente (APP), e ainda, presença de espécies invasoras como a braquiária
(Braquiária sp.) e capim colonião (Panicum maximum).
Em relação à distância das estradas, cinco nascentes encontram-se a menos de 50
metros da estrada mais próxima. Dentre os parâmetros avaliados e ainda em
comparação com as nascentes da classe A e B, verificou-se impactos também para o
parâmetro de coloração da água. Embora as nascentes 10 e 35 estejam a mais de 100
metros de distância da estrada mais próxima, em menor frequência, foi constatado
também o uso por animais, e ainda na nascente 35 foi verificado evidências de uso por
humanos.

Nascentes classe D
Assim como na classe C, a vegetação e proteção do local, proximidade com
estradas e coloração da água, foram impactos recorrentes entre as classes. No entanto, as
nascentes da classe D mostraram-se também expressivamente vulneráveis aos
parâmetros de uso por humanos e animais. A vegetação mostrou-se em estágio de
degradação avançado, não apresentando nenhum tipo de proteção. Seis nascentes
encontram-se muito próximas às estradas e residências, destacando-se a nascente 14
localizada a menos de 15 metros da residência mais próxima. Em relação à coloração da
água, destacamos que dez nascentes apresentaram alterações, todas inseridas em matriz
de pastagem.
O uso por animais e uso por humanos foram avaliados pela presença de animais
nas redes de drenagem e áreas de APP e ainda pela captação de água. Quatro nascentes
apresentaram apenas uso por animais, quatro nascentes uso por humanos e nove
nascentes apresentaram uso por ambos. Neste contexto fica evidente que alteração da
qualidade da água é inerente à ausência de proteção do local e consequente degradação
da vegetação, somados aos potenciais tipos de uso associados.

Nascentes classe E
Conforme previsto, a vulnerabilidade dos parâmetros verificados na classe D
estendem-se também à classe E. Contudo, as nascentes enquadradas nesta classe
apresentaram-se vulneráveis ainda aos parâmetros presença de lixo e odor da água.
Considerando as nascentes em péssimo estado de conservação, todas as
nascentes encontram-se altamente degradadas, apresentando vegetação esparsa com
dominância de espécies invasoras, sem nenhum mecanismo de isolamento da área de
APP. Todas as nascentes estão a uma distância inferior a 50 metros da estrada ou
residência mais próxima. Foi constatada a captação de água e presença de animais nos
corpos hídricos e áreas de APP, e nestas nascentes a água apresentou alterações de
coloração e odor. As nascentes encontram-se inseridas em matrizes de pastagem e cana
de açúcar o que permite inferir que o uso e ocupação do solo estão intrinsicamente
ligados aos processos de degradação demostrados pelos parâmetros avaliados.

DISCUSSÃO

Observando o índice de ocorrência dos impactos em relação ao número total de


nascentes avaliadas, verificou-se que os parâmetros avaliados hierarquizam-se em
relação aos seus respectivos níveis de importância e ou vulnerabilidade, (Figura 4).
A avaliação do parâmetro proximidade com estradas mostrou que 69% das
nascentes encontram-se a uma distância inferior a 50 metros da estrada mais próxima,
estando em desacordo com estabelecido na legislação federal. Em decorrência da
proximidade com estradas a vegetação também apresentou impactos expressivos no que
tange a conservação de nascentes, 72% das nascentes apresentaram alta degradação da
vegetação, o que indica que impactos precedentes podem dar condições ao surgimento
ou agravamento de demais impactos.
Gomes, em levantamento realizado em 16 nascentes da área urbana do
município de Uberlândia, MG verificou que 56,25% das nascentes analisadas
encontravam-se próximas a residências e estradas. Consequentemente a proteção nessas
nascentes apresentou-se deficiente ou inexistente e segundo o autor, a degradação
ambiental foi inversamente proporcional em nascentes que se localizam a maiores
distâncias de residências e vias de acesso, (GOMES et. al. 2005).
Oliveira et. al. (2013) avaliou o estado de conservação de 28 nascentes em uma
microbacia na qual está inserido o campus da Universidade Federal de Juiz de Fora MG.
Segundo ele, o parâmetro proximidade de estradas e edificações foram os que obtiveram
menor pontuação, portanto mostrando maior vulnerabilidade às ações antrópicas.
França Junior & Villa, (2013) em estudo realizado em cabeceiras de drenagem
na área urbana do município de Umuarama, noroeste do Estado do Paraná, relata que
38% das nascentes por ele analisadas localizam-se a menos de 50 metros das residências
e vias de acesso mais próximas e que a cobertura vegetal nessas nascentes apresenta alta
degradação.

Figura 4: Resultados percentuais dos parâmetros avaliados em relação aos pesos


atribuídos. Em vermelho os pesos negativos de avaliação, em amarelo os pesos
intermediários e em verde os pesos positivos. (Fonte: Elaborado pelos autores).
No trabalho realizado por Oliveira, para o parâmetro vegetação, nenhuma das
nascentes avaliadas apresentou boas condições de conservação, deixando clara a
vulnerabilidade das nascentes ao parâmetro avaliado (OLIVEIRA et. al. 2013).
Gomes et. al. (2005) verificou que 68,75% das nascentes por ele avaliadas
apresentaram valores negativos de preservação da vegetação. Segundo o autor, em geral
foi observada a degradação da vegetação pela ocupação das áreas de APP, elevada
dominância de espécies invasoras e em alguns casos, no entorno dos pontos de
exfiltração, pela presença somente de pastagem.
Considerando os demais parâmetros hora discutidos e ainda, como apresentado
na figura 4, 67% das nascentes não contém proteção adequada, seja pela proximidade
com estradas ou degradação da vegetação ou ainda pela falta de isolamento por cerca ou
outras estruturas de origem antrópica.
Conforme mencionam França Junior & Villa (2013), 25% das nascentes não
apresentavam proteção adequada, e embora as demais nascentes apresentem-se
protegidas por cercas, o acesso ainda é facilitado.
A avaliação do parâmetro coloração da água também apresentou alterações,
18% das nascentes apresentaram coloração escura da água. Considerando que as
nascentes encontram-se afastadas da área urbana, diferente das áreas estudadas pelos
demais autores, não foi atribuído à coloração escura da água o lançamento de efluentes
e sim a elevada turbidez provavelmente associada aos processos erosivos verificados em
vários pontos, tanto nas nascentes quanto em seus canais de drenagem. Segundo a figura
4, 20% das nascentes apresentaram odor fraco a forte, sobretudo, devido a não detecção
de lançamento de efluentes nos trechos de canal percorridos, atribui-se a alteração de
odor a decomposição natural de matéria orgânica, principalmente em trechos lênticos
dos cursos d´água ou exfiltrações com feições brejosas.
Nas nascentes avaliadas por Gomes et. al. (2005), 25% apresentaram alterações
de coloração e odor da água.
Oliveira et. al. (2013), entretanto, não observou valores significativos para os
tipos de uso avaliados, sobretudo, o autor relata as alterações de coloração e odor da
água, indicando uma potencial contaminação por esgoto em uma das nascentes.
Nas nascentes avaliadas por França Junior e Villa, no município de Umuarama,
25% apresentaram alterações na coloração da água e ainda 38% que apresentaram
alterações de odor. Os autores relatam que em alguns pontos a presença de óleos e
espumas e elevada quantidade de lixo no entorno das nascentes (FRANÇA JUNIOR &
VILLA, 2013).
Em relação aos tipos de uso, 49% das nascentes apresentaram evidências e
presença de animais, tanto em cabeceiras de inserção como em canais de drenagem e
em alguns casos, foi verificada a presença de grande número de animais de grande
porte.
O uso por humanos foi verificado pela presença de estruturas e instrumentos de
captação de água, sobre ou próximas às nascentes. Ao todo 44% das nascentes
apresentam no mínimo evidência de uso por humanos (Figura 4).
Gomes em seu trabalho observou que 68,75% das nascentes apresentaram
evidencias de uso por animais e 75% evidências de uso por humanos.
Oliveira et al. (2013) não observou valores significativos para os tipos de uso
avaliados, relatando apenas uma nascente classificada como uso esporádico por
humanos.
Tendo em vista que as 39 nascentes avaliadas neste estudo estão localizadas
distantes da área urbana, apenas 5% das nascentes avaliadas continham lixo no entorno,
entretanto, a quantidade de lixo aferida foi elevada.
Gomes et. al. (2005) menciona também a presença de lixo e entulho no entorno
de grande parte das nascentes por ele avaliadas, destacando a quantidade elevada de lixo
em algumas delas. Gomes atribui isso ao fato da não existência de proteção da APP, e
ainda pela proximidade com residências, estradas ou vias de acesso.
Para Oliveira, a presença de lixo foi o impacto ambiental mais observado,
deixando claro, portanto, a vulnerabilidade das nascentes em relação à poluição e
contaminação da água. O autor defende que uma vez depositados, esses resíduos
durante os períodos chuvosos, estes são carreados aos corpos hídricos influenciando
direta e indiretamente na qualidade das águas (OLIVEIRA et. al. 2013).

CONCLUSÃO

Os resultados permitiram concluir que as nascentes avaliadas apresentaram alto


nível de degradação. Entretanto, vários pontos devem ser considerados para o
entendimento da dinâmica de degradação das nascentes em microbacias. Os impactos
mostraram-se permeáveis em relação aos níveis de classificação, podendo ocorrer em
frequências diferentes e em mais de uma classe.
A análise dos parâmetros mostrou que a proximidade com estradas, degradação
da vegetação, ausência de proteção foram os impactos mais relevantes para o cenário
avaliado, mostrando-se expressivos também por preceder a ocorrência dos demais
impactos.
Os tipos de uso associados também se mostraram importantes, pois o uso por
humanos e animais interfere diretamente na disponibilidade e qualidade da água,
possuindo caráter agravante junto aos demais impactos mencionados.
Considerando o estado de conservação das nascentes do Córrego Ibitinga, 75%
das nascentes apresentam-se em algum estágio de degradação, e mesmo os 25%
aferidos como em bom e ótimo estado de conservação apresentaram vulnerabilidades
em relação a alguns parâmetros avaliados.
O método de avaliação IIAN, mostrou-se, dentro de suas limitações, ser eficiente
do ponto de vista técnico e acadêmico, por proporcionar uma análise holística, contudo
passível de quantificação e avaliação com base em análises estatísticas simples. O uso
de geotecnologias também se mostrou relevante na apresentação da classificação,
permitindo uma interpretação espacial e temática do ambiente analisado, corroborando
para a exposição dos dados e entendimento dos resultados apresentados.
A aplicação desta metodologia mostrou potencial em trabalhos que demandem
estudos de diagnóstico e posteriores ações de planejamento, recuperação e gestão, no
que tange a conservação dos recursos hídricos em todos os aspectos, físicos, biológicos
e socioeconômicos.
Diante da necessidade de se desenvolver metodologias confiáveis,
representativas e economicamente viáveis para preservação dos recursos hídricos
superficiais e ainda em consonância com o conceito de pagamento por serviços
ambientais, este trabalho visou fornecer subsídios à tomada de decisão tanto no
direcionamento e dimensionamento das ações, quanto na alocação de recursos.

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AVALIAÇÃO DE DISPONIBLIDADE DE CROMO E CHUMBO EM SOLOS


CONSTRUÍDOS DE ÁREAS RECUPERADAS NA MINERAÇÃO DE CARVÃO

SOUZA, F.B.1; ALEXANDRE, N.Z.2; BACK, M.3

Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Av. Universitária, 1105, Criciúma


(SC, Brasil), [email protected]; [email protected]; [email protected]

RESUMO

A mineração de carvão no sul de Santa Catarina deixou um extenso passivo ambiental,


sendo que as atividades de recuperação iniciaram a partir do ano 2000, por meio de
reconformações topográficas, construção de uma nova camada de solo, adubação,
calagem e implantação de vegetação. Diversos artigos já apontaram atividades de
mineração como responsáveis pela contaminação de solos regionais com metais
pesados. Dessa forma, buscou-se avaliar a disponibilidade de cromo e chumbo nos solos
construídos de áreas recuperadas na mineração de carvão. A área de estudo localiza-se
no município de Treviso (SC), sobre a formação geológica Rio Bonito. Foram
realizadas 12 coletas simples do solo construído, numa profundidade de 0-20 cm, onde
se compôs 3 amostras compostas; e 4 amostras simples de solo natural local
representado por 1 amostra composta. Os métodos analíticos adotados foram digestão
com solução ácida HCl 0,05M e H2SO4 0,0125M e determinação dos metais pesados
extraíveis por Espectrofotometria de Absorção Atômica. O conteúdo médio de cromo e
chumbo nos solos construídos foram, respectivamente, de 0,08 mg/kg e 0,44 mg/kg,
enquanto nos solos naturais foram de 0,10 mg/kg e 1,93 mg/kg. Por meio de teste de
Tukey (α = 5%), observou-se que os valores de cromo não apresentam diferenças entre
solos construídos e solos naturais, porém, para os valores de chumbo, há diferenças
entre esses solos, sendo que as concentrações nos solos construídos inferiores.
Comparando os valores obtidos com a legislação e com referências nacionais e
internacionais, os resultados reportados para a área de estudo foram inferiores. Assim,
pode-se afirmar que os solos construídos não apresentam contaminação por cromo e
chumbo, porém, outros estudos devem ser realizados para avaliar o risco em relação aos
outros metais pesados.

Palavras Chaves: Recuperação de Áreas Degradadas, Solos Construídos, Metais


Pesados.

INTRODUÇÃO

No sul de Santa Catarina, especificamente na Região Carbonífera de Santa


Catarina, a mineração de carvão a céu aberto ocorreu desrespeitando a legislação
ambiental, deixando assim um extenso passivo a ser recuperado (ALEXANDRE, 1999).
Porém, no ano 2000, a União Federal e as empresas responsáveis por tais passivos
foram condenadas à recuperarem as áreas degradadas (SILVA, 2010).

Mesmo após a recuperação das áreas degradadas, existe preocupação com a


presença de metais pesados no solos construídos e próximos das áreas. Diferentes
estudos têm apontado a presença de metais pesados em locais onde há mineração de
carvão (LI et al, no prelo; GE et al, 2015; PENTARI et al., 2006). Licina et al. (2017)
apresentam, inclusive, concentrações de metais pesados (como níquel e cromo) acima
dos limites considerados seguros. Cesar et al. (2013) analisaram rejeitos de carvão da
Bacia Hidrográfica do Rio Urussanga e encontraram concentrações de cromo de 30,8
mg/kg e chumbo de 36,4 mg/kg.
A avaliação de contaminação de solos por metais pesados é uma parte integrante
do processo de recuperação ambiental, especialmente na decisão quanto ao uso futuro
da área e quando esse uso pode ser para agropecuária (LOSKA, WIECHULA, KORUS,
2004; DAYANI, MOHAMMADI, KHORASGANI, 2010). Dependendo da
concentração dos metais pesados no solo construídos, estes podem concentrar-se nos
grãos e representar um risco ao consumo humano (PENTARI et al., 2006).

Os metais pesados (e.g. Arsênio, cádmio, cobre, cromo, mercúrio e chumbo) são
originados a partir das rochas que dão origem aos solos, mas, atualmente, as atividades
antrópicas têm influenciado a sua concentração nos solos (WUANA E OKIEIMEN,
2011; TCHOUNWOU et al., 2012, HUGEN et al., 2013).

No solo, o cromo é ligeiramente móvel e geralmente não está disponível para as


plantas. Já o chumbo é o metal traço menos móvel, embora sua sorção possa ser inferior
aos outros elementos, sendo ele de grande preocupação pois ele é tóxico aos seres
humanos e animais (KABATA-PENDIAS, 2011).

Os elementos cromo e chumbo estão entre os cincos metais pesados (arsênio,


cádmio e mercúrio são os outros) de maior toxicidade por serem cancerígenos e
causarem danos a múltiplos órgãos, tornando-os elementos de maior prioridade para
investigações (TCHOUNWOU et al., 2012). A exposição humana a esses metais
pesados pode ocorrer pelo contato com solos contaminados e ingestão de alimentos
contaminados (WUANA E OKIEIMEN, 2011).

Dessa forma, buscou-se avaliar a disponibilidade de Chumbo e Cromo nos solos


construídos de áreas recuperadas na mineração de carvão.

METODOLOGIA

A área de estudo localiza-se no município de Treviso (SC), sob as coordenadas


centrais 28º32’14”S e 49º27’09”O, conforme Erro! Fonte de referência não encontrada.,
na bacia hidrográfica do Rio Mãe Luzia. Em épocas pretéritas, a área de estudo fora
minerada a céu aberto para extração de carvão, sendo posteriormente abandonada para
que nos dias atuais fosse recuperada (as obras de recuperação iniciaram em 2006).
Figura 1 – Localização do município de Treviso, onde encontra-se área de estudo.

A recuperação ambiental ocorreu pela conformação topográfica e isolamento de


rejeitos da mineração de carvão, com consequente construção do solo e implantação da
vegetação. O material argiloso que serviu de substrato para a construção do solo foi
extraído de jazida localizada próxima à área de estudo, sendo que, após disposição do
material argiloso na área degradada, foram realizadas correções por meio de adubação e
calagem, bem como adição de cama de ave e turfa.

Para avaliar a disponibilidade de cromo e chumbo nos solos construídos,


coletou-se em 2013, em pontos igualmente espaçados pela área numa profundidade
entre 0-20cm, 12 amostras compostas de solo construído e 4 amostras de solo natural
para comparação, sendo que as amostras compostas se compõem de 4 subamostras. Os
materiais coletados foram acondicionados em sacos de polietileno, sendo então
encaminhadas para o Laboratório de Solos, Corretivos, Fertilizantes e Resíduos Sólidos
Industriais do I-Parque/UNESC, onde os métodos analíticos adotados foram digestão
com solução ácida HCl 0,05M e H2SO4 0,0125M e determinação de chumbo e cromo
extraíveis por Espectrofotometria de Absorção Atômica. Salienta-se que também foram
realizadas análises dos parâmetros usuais de fertilidade para auxiliar a interpretação dos
resultados.

Posteriormente, comparou-se os resultados obtidos por meio de testes


estatísticos, utilizando o software de estatística R (R CORE TEAM, 2015), para
verificar se há contaminação ou não na área recuperada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os solos construídos apresentaram pH que podem variar entre muito baixo a


alto; teor de fósforo baixo a alto; concentração de potássio entre média e alta; valores de
matéria orgânica entre baixos e altos; teores de cálcio e magnésio são geralmente altas;
e saturação de bases entre muito baixas a altas.

Já os solos naturais, coletados como controle, demonstraram pH muito baixos a


baixos; concentrações de fósforo baixas; teores de potássio entre médias e altas; teores
de matéria orgânica baixos a médios; valores de cálcio e magnésio baixos a altos; e
saturação de bases muito baixas. Salienta-se que tais interpretações foram baseadas em
SBCS/CQFS (2004).

As características gerais dos solos construídos e dos solos amostrados como


controle são apresentadas nas Erro! Fonte de referência não encontrada. e Erro! Fonte de
referência não encontrada..

Tabela 1 – Características Gerais do Solo Construído.


Parâmetro Média Desvio Mínimo Máximo
Padrão

Teor de Argila 28,3 6,2 20,0 42,0

pH em água 6,2 0,8 4,9 7,3

Fósforo (ppm) 12,2 6,6 3,4 24,9

Potássio (ppm) 92,8 20,5 68,2 141,1

Matéria Orgânica (%) 2,1 1,3 0,3 4,8

Cálcio (cmolc/l) 6,4 2,5 1,5 9,1

Magnésio (cmolc/l) 6,4 1,6 2,5 8,0


Acidez Total (cmolc/l) 2,7 1,5 1,1 6,0

Soma de Bases (cmolc/l) 13,1 4,1 4,2 19,6

Capacidade de Troca Catiônica 15,8 2,9 10,2 19,6


(cmolc/l)

Saturação de Bases (%) 80,8 15,4 41,2 93,7

Tabela 2 – Características Gerais dos solos naturais locais.


Parâmetro Média Desvio Mínimo Máximo
Padrão

Teor de Argila 40,8 8,9 35,0 54,0

pH em água 4,8 0,5 4,2 5,3

Fósforo (ppm) 3,6 1,6 2,4 5,9

Potássio (ppm) 92,9 4,0 89,6 98,1

Matéria Orgânica (%) 3,1 1,1 1,7 4,2

Cálcio (cmolc/l) 2,3 1,6 1,0 4,5

Magnésio (cmolc/l) 1,0 0,5 0,4 1,5

Acidez Total (cmolc/l) 16,8 8,2 7,6 27,4

Soma de Bases (cmolc/l) 3,6 2,0 2,1 6,4

Capacidade de Troca Catiônica 20,4 7,9 11,3 29,5


(cmolc/l)

Saturação de Bases (%) 20,1 11,9 7,1 32,7

As concentrações de cromo e chumbo disponíveis nos solos amostrados são


apresentadas nas Erro! Fonte de referência não encontrada. e Tabela 4.

Tabela 3 - Estatística descritiva das concentrações de chumbo e cromo extraíveis nos


solos construídos.
Parâmetro Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

Chumbo (mg/kg) 0,44 0,44 0,02 1,30


Cromo (mg/kg) 0,08 0,05 0,03 0,19

Tabela 4 - Estatística descritiva das concentrações de chumbo e cromo extraíveis nos


solos naturais locais.
Parâmetro Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

Chumbo (mg/kg) 1,93 1,47 1,00 4,10

Cromo (mg/kg) 0,10 0,08 0,03 0,21

Ao compararmos os solos construídos aos solos naturais, por meio do teste de


Tukey (α = 5%), temos um valor-p de 0,0055 para chumbo e 0,6994 para cromo.

Dessa forma, podemos afirmar que há diferenças entre as concentrações de


chumbo da área recuperada e dos solos naturais, entretanto, as concentrações de chumbo
na área recuperada são inferiores àquelas encontradas nos solos naturais da região.

Já para as concentrações de cromo, não é possível afirmar se há diferenças entre


a área recuperada e os solos naturais, ou seja, estatisticamente elas são iguais.

As concentrações de chumbo e cromo encontradas tanto na área recuperada


quanto nos solos naturais encontram-se muito inferiores daquelas encontradas na
literatura científica. Os valores estão, inclusive, menores que aqueles preconizados pela
Resolução CONAMA nº 420 de 2009 para prevenção em solos, ou seja, inferiores à 72
mg/kg para chumbo e 60 mg/kg para cromo.

Isso pode ser em função do teor de argila nos solos construídos, onde há pouca
predominância de argila neles. Trabalhos como de Li et al. (no prelo), Licina et al.
(2017), Dayani, Mohammadi e Khorasgani (2010) e Kabata-Pendias (2011) confirmam
tal tendência.

A baixa concentração desses metais também pode estar associada ao tratamento


que os solos construídos receberam (calagem e adubação), elevando o pH e tornando
tais metais indisponíveis. Comportamento semelhante foi observado por Pentari et al.
(2006), pois os solos que eles estudaram eram ricos em cálcio.

Outro fator que pode contribuir para tais valores baixos, é a presença de matéria
orgânica, oriunda da turfa e da cama de ave (adubação), pois a turfa apresenta grande
capacidade de adsorção de cromo (KYZIOL, 2002), embora salienta-se que esse fato é
menos provável, em função do tempo decorrido entre a coleta e a recuperação (7 anos) e
o fato da área controle apresentar teores semelhantes de matéria orgânica.

Tais resultados são semelhantes aos encontrados por Costa, Zocche e Souza
(2007) ao avaliarem a concentração de chumbo e zinco em gramíneas estabelecidas em
áreas degradadas pela mineração de carvão; e por Campos et al. (2015) ao avaliarem os
teores de metais pesados em solos construídos no município de Lauro Müller,
encontram teores baixos tanto nas áreas recuperadas quanto nas áreas naturais.

As Tabela 5 e Tabela 6 apresentam uma comparação dos intervalos de valores


obtidos com aqueles levantados na referência bibliográfica.

Tabela 5 – Comparação das concentrações de chumbo obtidas e das referências


bibliográficas.
Concentração Concentração
Referência
Mínima (mg/kg) Máxima (mg/kg)

Solo Construído 0,02 1,30

Solo Natural Local 1,00 4,10

Riley, Zachara e Wobber (1992) 1 6.900

Xing e Chen (1999) 0,68 1.143

Loska, Wiechula e Korus (2004) 18 213

Fadigas et al. (2006) 3 40

Melo et al. (2006) 1,7 14,2

Pentari et al. (2006) 59,6 63

Dayani, Mohammadi e Khorasgani (2010) 3,2 620

Hugen (2010) 6,3 18,3

Kabata-Pendias (2011) 3 90

Campos et al. (2015) 0,5 19,9

Ge et al. (2015) 13,2 80,9

Licina et al. (2017) 19,6 64

Li et al. (no prelo) 12,5 58,9

Tabela 6 – Comparação das concentrações de cromo obtidas e das referências


bibliográficas.
Concentração Concentração
Referência
Mínima (mg/kg) Máxima (mg/kg)

Solo Construído 0,03 0,19


Solo Natural Local 0,03 0,21

Riley, Zachara e Wobber (1992) 0,005 3.950

Xing e Chen (1999) 0,33 272

Loska, Wiechula e Korus (2004) 14 82

Fadigas et al. (2006) 19 65

Melo et al. (2006) 3 23

Pentari et al. (2006) 99,7 312,0

Hugen (2010) 34,4 394,9

Kabata-Pendias (2011) 2 1.100

Campos et al. (2015) - < 23

Ge et al. (2015) 1,1 16,3

Licina et al. (2017) 68,7 129

Li et al. (no prelo) 15,1 143,0

A concentração média mundial de cromo no solo é de 60 mg/kg, sendo que as


concentrações maiores podem chegar à 1.100 mg/kg e as menores atingem valores de 2
mg/kg; e para o elemento chumbo, a concentração média é estimada em 27 mg/kg, onde
as concentrações mais elevadas são de 90 mg/kg e as menores de 3 mg/kg (KABATA-
PENDIAS, 2011).

Trabalhos regionais, como o de Campos et al. (2015), apontaram valores de


cromo inferiores à 23 mg/kg e de chumbo entre 0,5 a 19,9 mg/kg em solos construídos
no município de Lauro Müller (SC); em solos naturais, os mesmos autores encontraram
concentrações inferiores à 23 mg/kg de cromo e 0,5 a 9,68 mg/kg de chumbo. Hugen
(2010) buscou definir os valores de referência de metais pesados em Santa Catarina,
obtendo valores entre 34,4 – 394,9 mg/kg para cromo e 6,3 – 18,3 kg/mg para chumbo.

Fadigas et al. (2006) estudaram as concentrações de metais pesados em


diferentes solos brasileiros. Para o metal pesado Cromo, são considerados normais
valores entre 19 – 65 mg/kg; e para Chumbo, valores entre 3 – 40 mg/kg.

Melo et al. (2002) avaliaram a presença de metais pesados nos solos de uma
bacia hidrográfica do nordeste brasileiro, sendo os valores médios de cromo e chumbo
em solos oriundos de rochas calcárias, respectivamente, 21 mg/kg e 9,5 kg/mg. Os
mesmos autores encontraram para solos oriundos de arenitos concentrações médias de 6
mg Cr/kg e 2,6 mg Pb/kg.
Nogueira et al. (2008) avaliaram as concentrações de chumbo e cromo em um
Latossolo Vermelho enquanto aplicavam diferentes doses de lodo de esgoto após nove
anos, sendo que em um dos tratamentos, não havia aplicação de lodo, o que resultou em
teores de chumbo e cromo de 14,49 mg/kg e 26,82 mg/kg, respectivamente.

Riley, Zachara e Wobber (1992) colocam como intervalo de concentração de


cromo e chumbo, respectivamente, 0,005 – 3.950 mg/kg e 1 – 6.900 mg/kg nas suas
áreas de estudo.

Pentari et al. (2006) estudaram a presença de elementos traços em solos de áreas


recuperadas na mineração de carvão da Grécia, onde houve construção de solos com
cinzas voláteis, obtiveram valores entre 99,7 – 312 mg/kg para cromo e 59,6 – 63 mg/kg
para chumbo. Os mesmos autores também concluíram que esses valores estavam abaixo
das concentrações quando comparados com solos naturais e as concentrações dos metais
nos grãos de trigo não houveram influência do tipo de solo.

Na Sérvia, áreas recuperadas com top soils (na mineração de carvão) foram
avaliadas quanto a presença de metais pesados, sendo obtidos valores entre 68,7 – 129
mg/kg de cromo e 19,6 – 64 mg/kg de chumbo (LICINA et al., 2017)

Loska, Wiechula e Korus (2004) ao avaliarem diferentes solos na Polônia,


tiveram concentrações de chumbo e cromo que variavam entre 18 e 213 kg/mg; e 14 e
82 kg/mg, respectivamente, resultando na baixa contaminação por chumbo e ausência
de contaminação para cromo, conforme índice de geoacumulação adotado pelos autores.

A camada superficial de solos do Irã, próximos de áreas mineradas, foram


avaliadas por Dayani, Mohammadi e Khorasgani (2010) para constatar a presença de
chumbo entre concentrações de 3,2 e 620 mg/kg.

Xing e Chen (1999) levantaram como valores de referência nos solos chineses
concentrações de chumbo e cromo nos intervalos de 0,68 – 1.143 mg/kg e 0,33 – 272
mg/kg, respectivamente.

Li et al. (no prelo) avaliaram a qualidade de solos em uma bacia hidrográfica


com áreas de mineração de carvão abandonadas, obtendo-se valores de chumbo entre
12,5 – 58,9 mg/kg e de cromo entre 15,1 e 143,0 mg/kg. Ge et al. (2015) avaliaram
solos no entorno de pilhas de rejeito de carvão até uma distância de 800 metros, onde
eles encontraram valores de chumbo entre 13,2 – 80,9 mg/kg e de cromo entre 1,1 e
16,3 mg/kg.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os solos construídos analisados não apresentaram indícios de contaminação por


chumbo e cromo, sendo que seus níveis estão abaixo ou iguais aos solos naturais locais.
Ao compararmos os valores com as referências consultadas, temos valores ainda
menores, reafirmando a baixa concentração desses elementos nos solos construídos.

Entretanto, uma avaliação com outros metais pesados e uma avaliação de risco é
imprescindível para que tais solos sejam utilizados para outros usos futuros, como
agropecuária.

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AVALIAÇÃO DA REGENERAÇÃO NATURAL E DA INFLUÊNCIA DE


Leucaena leucocephala NA DIVERSIDADE EM PILHAS DE ESTÉRIL EM
MINERAÇÃO DE CALCÁRIO

M.T, LIMA; K.C, TONELLO; E., LEITE

Universidade Federal de São Carlos, Rodovia João Leme dos Santos (SP-264), Km 110,
Bairro do Itinga, Sorocaba, SP – Brasil, email: [email protected], (15)-32295905

RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo obter informações da composição e estrutura


fitossociológica da vegetação presente nas pilhas de estéril de diferentes idades e
compará-las com as informações do fragmento florestal nativo adjacente às cavas de
mineração, com o intuito de verificar a efetividade da regeneração natural, a influência
da exótica Leucaena leucocephala sobre as pilhas de estéril em mineradoras de calcário,
além de fornecer subsídio à recuperação de áreas degradadas em mineração. O estudo
foi conduzido em um empreendimento minerário localizado em Salto de Pirapora - São
Paulo, Brasil. Foram escolhidas pilhas de estéril abandonadas desde 1994 e 2013 e um
fragmento florestal nativo. Em cada área foram alocadas 12 parcelas de 10x10m, todos
os indivíduos arbustivo-arbóreos com altura acima de 1,30 m foram amostrados e
identificados e obtidas informações relacionadas à composição e estrutura
fitossociológica. Foi constatada a ocorrência da regeneração natural nas pilhas de estéril
e como esperado, houve o aumento de diversidade de espécies ao longo do tempo.
Observou-se que a Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit (leucena) se estabeleceu mais
expressivamente que as demais espécies levando a inferir que a espécie esteja inibindo o
desenvolvimento de outras espécies ocorrerem nas pilhas de estéril. Por fim, constatou-
se que a leucena não invadiu o fragmento florestal nativo, uma vez que nenhum
indivíduo foi registrado entre os 613 amostrados, não afetando a sucessão em
ecossistemas naturais.

Palavras Chave: Espécies florísticas invasoras; contaminação biológica em área


degradada; recuperação natural em mineração

Introdução
A indústria de extração mineral gera um efeito multiplicador na economia e na
produção como no emprego, pois os bens que extrai fornecem insumos tanto para a
indústria de transformação quanto para o setor de construção, e os seus
empreendimentos geram, na sua esfera de influência, um amplo conjunto de atividades
conexas de bens e serviços. Embora a atividade mineral, por ser um dos importantes
setores da economia brasileira traga riqueza e crescimento econômico, tal atividade
antrópica está entre as que mais causam impactos socioeconômicos e ambientais
negativos, afetando, portanto, o território onde se realiza a mineração. Dentre as etapas
da atividade está a supressão de vegetação ou impedimento de sua regeneração
(FERNANDES; ALAMINO; ARAÚJO, 2014).
Recuperar áreas degradadas passou a ser parte da mineração a partir do Decreto
nº 97.632/89 (BRASIL, 1989) que dispõe sobre Plano de Recuperação de Área
Degradada (PRAD) pela mineração, sendo o instrumento jurídico e político que
determina que o responsável pela atividade minerária, recupere a área explorada, a fim
de que a mesma possa voltar a desempenhar um papel relevante na sociedade.
A regeneração natural da vegetação é definida segundo o Decreto nº 8.972,
de 23 de Janeiro de 2017 em seu artigo 3º parágrafo IV, como “processo pelo qual
espécies nativas se estabelecem em área alterada ou degradada a ser recuperada ou em
recuperação, sem que este processo tenha ocorrido deliberadamente por meio de
intervenção humana” (BRASIL, 2017). Segundo Campos e Landgraf (2001), a
regeneração é um “processo natural em que cada espécie desenvolve características
próprias em equilíbrio com as condições ambientais, onde a dinâmica natural permite a
perpetuação de todas as espécies vegetais”.
“Em áreas onde a ocorrência de perturbações é constante e intensa, o processo de
restauração pode se tornar lento ou mesmo ser inibido” (MAGNAGO et al., 2012). Isto
pode reduzir o avanço do processo de sucessão ecológica, e consequentemente
comprometer o aumento da complexidade estrutural da vegetação e perpetuação das
espécies vegetais (GANDOLFI; LEITÃO FILHO; BEZERRA, 1995). Outro aspecto
importante de mudanças sucessionais está relacionado à invasão de espécies exóticas que
representa notável ameaça à biodiversidade (PRACH e WALKER, 2011).
Frente à problemática da restauração de áreas de mineração degradadas, este
estudo teve como objetivo caracterizar a composição e estrutura fitossociológica da
vegetação presente nas pilhas de estéril de diferentes idades e compará-las com o
fragmento florestal nativo adjacente às cavas de mineração. Dessa forma, verificar a
efetividade da regeneração natural e a influência da exótica Leucaena leucocephala
sobre as pilhas de estéril em mineradoras de calcário, além de fornecer subsídio à
recuperação de áreas degradadas em mineração.

Material e Métodos
A pesquisa foi conduzida em uma empresa mineradora de calcário para insumos
agrícolas e agregados para construção civil, localizada no Município de Salto de
Pirapora no Estado de São Paulo, Brasil. Com uma extensão de 26.657,88 hectares, a
mineradora encontra-se entre as longitudes 47°31'52.12” e 47°30'42.27" e latitudes
23°39'22.67” e 23°38'28.89".
Para avaliação da regeneração natural foi realizado o levantamento da
composição e estrutura fitossociológica em pilhas de estéril abandonadas desde 2013
(Área I) e 1994 (Área II), e para acompanhar o desenvolvimento da vegetação foi
escolhido uma área de referência com fragmento florestal nativo (AR) adjacente às
cavas de mineração (Figuras 1 e 2).
Foram utilizados o método de parcelas (MUELLER-DOMBOIS e
ELLENBERG, 1974), com a instalação de 12 parcelas de 10 m x 10 m em cada
ambiente, agrupadas em trez pontos com espaçamento de 10 metros entre si, totalizando
em cada ambiente a àrea amostrada de 1.200 m2.
Os mesmos parâmetros e dimensões mensurados nas pilhas de estéril foram
realizados no fragmento florestal nativo. As coletas ocorreram no período de julho de
2015 à junho de 2016, onde foram analisadas informações quanto à composição e
estrutura fitossociológica em cada parcela das diferentes áreas.
Obteve-se o DAP (Diâmetro à Altura do Peito) de todos os indivíduos lenhosos
vivos (árvores, arbustos e subarbustos) com altura ≥ 1,30m do solo, estes foram
identificados e marcados com plaquetas de alumínio. O reconhecimento das espécies foi
realizado em in situ, quando possível, ou partes vegetativas e/ou reprodutivas das
plantas não reconhecidas no local, foram coletadas para identificação por meio de
literatura especializada e consulta a herbários. As famílias foram nomeadas com base no
Angiosperm Phylogeny Group III (APG III, 2009) e grafias dos nomes e sinonímias das
espécies foram conferidas na Lista de Espécies da Flora do Brasil do Instituto de
Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (2016) e identificadas quanto à espécie e
tipo (nativa ou exótica) e categoria sucessional (pioneira e não pioneira).
Com o auxílio do software Fitopac 2.1 (SHEPHERD, 2009), obteve-se as
variáveis fitossociológicas da estrutura horizontal da vegetação, especificamente
frequências absoluta (FA) e relativa (FR), densidades absoluta (DA) e relativa (DR),
dominâncias absoluta (DoA) e relativa (DoR) e índices de valor de importância (IVI) e
valor de cobertura (IVC) de acordo com Mueller-Dombois e Ellenberg (1974) (Tabela
1). A diversidade florística foi estimada por meio do índice de diversidade de Shannon-
Wiener (H’) (MAGURRAN, 1988).

Resultados e Discussão
Na área total amostrada (3600 m²), foram inventariados 1622 indivíduos,
distribuídos em 50 espécies e 27 famílias (Tabelas 2 e 3). Na Área I (Figura 3), foram
encontrados 309 indivíduos, 11 espécies e 6 famílias. As espécies mais representativas
foram a Leucaena leucocephala (179) e Trema micranta (59), correspondendo a 77%
das espécies amostradas e por consequência, suas respectivas famílias: Fabaceae (188),
Cannabaceae (59). Na Área II (Figura 4), houve um incremento no número de
indivíduos (700), espécies (18) e famílias (10). Assim como na Área I, a L.
leucocephala foi a espécie de maior ocorrência (576), seguida da Piper dilatatum (24) e
Allysia virgata (21), o quê totalizou 89%, aproximadamente. Quanto às famílias, as
mais representativas foram: Fabaceae (588), Asteraceae (30), Piperaceae (24). Na AR
(Figura 5), foram amostrados 613 indivíduos, 34 espécies e 22 famílias. As espécies de
maior ocorrência foram Piper amalago (143), Nectandra megapotamica (126),
Machaerium sapitatum (75), Eriobothrya japonica (54) e Cupania vernalis (33),
perfazendo a aproximadamente 70% do total. Com relação às famílias, os indivíduos
estão distribuídos em: Piperaceae (149), Lauraceae (126), Fabaceae (96), Sapindaceae
(58). No caso da AR, houve 1 indivíduo Indeterminado.

Figura 3. Famílias e número de indivíduos das


espécies amostradas na Área I.
Figura 4. Famílias e número de indivíduos das
espécies amostradas na Área II.

Figura 5. Famílias e número de indivíduos das


espécies amostradas na AR.

Nas Áreas I e II, não houve nenhum plantio para recuperar as áreas degradadas
pela deposição de estéril, apenas inicialmente uma camada de solo superficial foi
sobreposta às rochas e apesar disso, a vegetação estabeleceu-se no local. Pela
comparação dos valores de riqueza total, observa-se que houve um incremento de 309
indivíduos na Área I para 700 indivíduos na Área II, o que indica um avanço no
processo de desenvolvimento da cobertura vegetal.
A AR, embora ainda seja uma floresta jovem em desenvolvimento sucessional,
apresentou estrutura e composição mais complexa que nas áreas I e II. Além da
presença da família Piperaceae o avanço da sucessão pode ser verificado pela presença
da família Lauraceae como a família mais representativa. Para Tabarelli e Mantovani
(1994), a família Lauraceae é indicativa da transição da floresta pioneira para um
estágio sucessional mais avançado no domínio da Floresta Atlântica, juntamente com
Meliaceae. Nesse estudo, a Meliaceae foi a segunda maior família na Área II, com 45
indivíduos, distribuídos em 3 espécies. Ainda na Área II, a família Piperaceae é a
segunda maior riqueza, sendo indicativa de que a vegetação presente nas pilhas de
estéril está em avanço de sucessão ecológica. No sub-bosque, elas tendem a ocorrer
mais frequentemente em áreas menos sombreadas.
Na distribuição das espécies em grupo ecológico, as pioneiras predominaram em
número de indivíduos e espécies nas áreas I (100%) e II (88,8%) (Figura 6). O grupo
das espécies pioneiras é considerado como chave para o processo de recuperação, pois
segundo Rodrigues; Monteiro; Cullen (2010) as pioneiras são responsáveis pelo
impulso inicial, rápido recobrimento do solo e por criar condições para outras espécies
se estabelecerem. No entanto, de acordo com Brancalion; Gandolfi, Rodrigues (2009)
uma densidade elevada de espécies pertencentes ao grupo das pioneiras pode
comprometer os processos ecológicos futuros da área em restauração, principalmente
quando a área em restauração estiver em local distante de fontes de propágulos
(fragmentos florestais) ou desprovidas de sementes armazenadas no solo, e, assim,
inviabilizar o processo de sucessão florestal. Contudo, como nas proximidades dos
depósitos de estéril existem remanescentes florestais em estágio sucessional mais
avançado, o enriquecimento com espécies finais de sucessão deverá ocorrer de forma
natural.
Foi observado na Área II, o início de estabelecimento de espécies não pioneiras,
os quais corresponderam a 11,12% dos indivíduos amostrados, distribuídos em 18
espécies. O sombreamento proporcionado pelo dossel já está possibilitando a
regeneração de espécies de estádios serais mais avançadas, como Nectandra
megapotamica e Dahlstedtia muehlbergiana. Espera-se com o passar do tempo que as
espécies pioneiras sejam substituídas por espécies de sucessão mais avançadas.

Figura 6. Porcentagem da categoria


sucessional das espécies amostradas nas
Áreas I, II e AR.

O índice de diversidade de Shannon (H’) obtido nas áreas I e II e na AR, foram


respectivamente de 1,40, 0,89 e 2,57 nats/indivíduo. De maneira geral, os valores de H’
encontrados nas áreas foram menores se comparados com estudos sobre vegetação no
estado de São Paulo, que variaram de 3,04 a 4,01 (DISLICH; CERSÓSIMO;
MANTOVANI, 2001; COELHO, 2013; CORRÊA, 2014; CARDOSO-LEITE;
RODRIGUES, 2008). Percebe-se que as Áreas I e II representaram H’ menores quando
comparado com a AR, mesmo sabendo que uma área restaurada não necessariamente
ficará igual a uma área com vegetação conservada, ou que esse processo de restauração
pode levar muito tempo para que venha acontecer. Entretanto, a comparação torna-se
mais confiável com áreas que apresentam histórico de degradação semelhante
(MARTINS; COUTINHO; MARANGON, 2002), ainda que recuperadas de maneira
antrópica (restauração ativa). Em áreas de mineração de bauxita recuperadas ativamente
há 10 anos na Amazônia, o H’ variou de 0,65 a 0,85 (PARROTA; KNOWLES;
WUNDERLEJR, 1997). Foram encontrados resultados semelhantes em área de
mineração de ferro em Mariana, MG, recuperadas de maneira ativa, onde o H’ variaram
de 0,91 a 1,17, de acordo com a idade de restauração de cada sítio (7 a 17 anos)
(ÂNGELO et al., 2002). Levando-se em conta que nas pilhas de rejeito não houve
nenhuma intervenção humana para recuperação das áreas, os índices de diversidade
obtidos neste trabalho apresentaram valores semelhantes. Nota-se ainda que e o H’ da
Área I foi mais alto que da Área II apesar de ser a pilha de estéril mais velha. Como o
critério de mensuração de DAP da vegetação foram todos indivíduos lenhosos que
apresentassem altura ≥ 1,30m do solo, foi então mensurado grande quantidade de
arbustos, o que elevou o H’ da Área I.
Outro fator preponderante para os altos índices da espécie L. leucocephala se dá
pela ausência de competidores e predadores que possam interromper seu
estabelecimento e ocorrência de seu ciclo de vida. Para Bourscheid e Reis (2010),
muitas das espécies exóticas invasoras apresentam vantagens competitivas com relação
a espécies nativas, por fazerem menos interações com a comunidade local, ou seja,
organismos introduzidos se espalham rapidamente no novo ambiente, porque neste não
existem os predadores, patógenos e herbívoros, com os quais coevoluíram em seu
hábitat de origem.
Verifica-se que apesar de exótica, a L. leucocephala, passou a compor o
ambiente em restauração, favorecendo assim a acumulação de nitrogênio. De acordo
como Sanginga (1992), a leucena forma simbiose eficiente com estirpes específicas de
Rhizobium, podendo fixar de 200 a 300 kg ha-1 de N, tornando esse elemento disponível
em agrossistemas tropicais. De acordo com Chada; Campello, Faria (2004) as
leguminosas são fartamente relatadas como recolonizadoras espontâneas de áreas
degradadas pela mineração e como tendo grande sucesso em projetos de revegetação.
Gonçalves et al. (2004) comenta que a rusticidade, baixas exigências nutricionais e
capacidade de nodular e fixar nitrogênio são consideradas as principais características
que proporcionam às plantas dessa família maior capacidade de sobreviver em
ambientes minerados.
Ao avaliar a influência da riqueza de L. leucocephala sobre outras espécies
(Figura 9), verifica-se que uma maior densidade aparentemente proporciona uma
facilitação inicial para que outras espécies ocorram no local, relação que pode ser
alterada de acordo com o tempo. Inicialmente, na Área I, a espécie atua como
facilitadora no avanço da sucessão ecológica com 57,93% em relação a 82,28% na Área
II.
Figura 10. Proporção da riqueza da L.
leucocephala nos diferentes ambientes em
relação às demais espécies.

Na Área I inicialmente a L. leucocephala age como abrigo para os vetores de


dispersão, melhora as condições de fertilidade do solo e fornece habitats adequados ao
recrutamento e assim facilita o estabelecimento de outras espécies. No entanto, ao longo
do tempo a espécie age como inibidora, dificultando a regeneração de plantas nativas
nas pilhas de estéril, como observado na Área II. Segundo Connell e Slatyer (1977) três
são os modelos diferentes de sucessão. O primeiro é denominado facilitação, no qual
espécies secundárias só se estabelecem no local após as espécies primárias terem
modificado as condições ambientais; o segundo é a tolerância, no qual espécies
secundárias não precisam necessariamente da presença de espécies primárias para se
estabelecer e crescer, pois o estabelecimento depende do nível individual de tolerância a
escassez de recursos das espécies; e o terceiro é o de inibição, no qual as espécies
primárias inibem o crescimento de outras espécies através do uso de espaço e recursos.
Conforme os resultados da diversidade para a regeneração natural foi observado
que a abundância da espécie L. leucocephala interferiu negativamente no processo de
sucessão ecológica, impedindo o estabelecimento das demais espécies ocorrerem, de
acordo com Ziller e Zalba (2007), espécies invasoras competem severamente com as
espécies nativas pelos recursos naturais do meio, diminuindo o aporte de novos
propágulos. Esse comportamento é típico de espécies ruderais agressivas. Yoshida e
Oka (2004) constataram que a recuperação da biodiversidade e da estrutura de florestas
nativas é muito mais lenta em áreas ocupadas por L. leucocephala do que em áreas não
ocupadas por essa espécie. A inibição causada pela L. leucocephala que afeta o
desenvolvimento de outras espécies pode ser atribuída à liberação de substâncias
alopáticas. De acordo com Chou e Kuo (1986) a fitotoxicidade do extrato de L.
leucocephala sobre várias plantas tem sido atribuída à diversidade de aleloquímicos
presentes em sua composição. Dados esses que corroboram com os estudos conduzidos
por Prates et al. (2000) que revelaram que o uso da parte aérea da L. leucocephala, tanto
em cobertura, como incorporada ao solo, reduziu a população de plantas daninhas
presentes na cultura do milho, com maior efeito sobre as plantas de folhas largas.
Cabe destacar que embora a utilização de espécies exóticas deva ser evitada em
determinadas situações, no caso de solos expostos e sujeitos a erosão, tem sido
recomendada por alguns autores para promover cobertura rápida e melhoria da
fertilidade do solo, o que é particularmente importante no caso da mineração, além de
possibilitar a formação de florestas catalisadoras, que facilitam a regeneração de
espécies nativas no sub-bosque (PARROTA e KNOWLES, 1999; SANTILLI e
DURIGAN, 2014). Nesse sentido, um estudo realizado por Santilli e Durigan (2014)
mostrou que mesmo numa comunidade em restauração em que 94% das árvores
plantadas foram exóticas, e que após 8 anos do plantio apenas 3% das plantas
regenerantes pertenciam a espécies exóticas, indicando tendência de aumento de
espécies nativas ao longo do tempo. Além do mais, Chavez (1994) aponta a espécie L.
leucocephala como uma das leguminosas que possuem usos múltiplos em sistemas
agrissilvipastoris, sendo usada como suplementação alimentar para o gado,
principalmente na época seca. Existem cerca de 25% de proteína bruta em suas folhas,
por possuir um alto teor de mimosina, impede o uso em mais de 30% da dieta de
ruminantes e 10% de não-ruminantes. Bertalot (1997) afirma a espécie L. leucocephala
como uma das leguminosas arbóreas fixadoras de nitrogênio com potencial para
ecossistemas agroflorestais em solos de cerrado.
Nota-se ainda na Figura 4 que, apesar da L. leucocephala estar presente nas
pilhas de estéril, na AR não houve nenhuma ocorrência. Observa-se que a espécie não
invadiu o fragmento florestal nativo, uma vez que nenhum indivíduo foi registrado entre
os 613 amostrados, dessa forma, não afetando a sucessão dos ecossistemas naturais.
Estudo realizado por Costa e Durigan (2010) aponta que a L. leucocephala não se
comportou como espécie invasora, uma vez que não se expandiu sobre ecossistemas
naturais. A espécie seria, portanto, mais bem identificada como ruderal, uma vez que
pode proliferar em áreas perturbadas e dificultar o estabelecimento de espécies nativas
(WOITKE e DIETZ, 2002).
Ainda que a espécie L. leucocephala reúna alguns predicados favoráveis à
invasão tais como porte arbóreo, crescimento rápido e grande produção de sementes,
assim inibindo o estabelecimento de outras espécies, as árvores de L. leucocephala não
atingem grande porte (LORENZI, 2003). A L. leucocephala, sendo uma espécie
pioneira heliófita, espera-se que perca espaço na comunidade à medida que as árvores
nativas sombreem suas copas, dificultando sua reprodução e regeneração. Em
experimento visando determinar os mecanismos que conferem resistência de
comunidades vegetais à invasão, Green et al. (2004) constataram 100% de mortalidade
das plântulas de L. leucocephala no interior da floresta intacta. Esses autores
consideraram a baixa luminosidade como o mais importante filtro abiótico impedindo a
invasão por essa espécie.

Conclusões
 Foi constatada a ocorrência da regeneração natural nas pilhas de estéril e como
esperado, houve o aumento de diversidade de espécies ao longo do tempo. Observou-
se que a Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit (leucena) se estabeleceu mais
expressivamente que as demais espécies levando a inferir que a espécie esteja
inibindo o desenvolvimento de outras espécies ocorrerem nas pilhas de estéril. No
entanto, a espécie não invadiu o fragmento florestal nativo.
 A composição e estrutura fitossociológica indica que a vegetação presente nas
pilhas de estéril está em transição da floresta pioneira para um estágio sucessional
mais avançado. No entanto, as pioneiras predominaram em número de indivíduos e
espécies.
 O H’confirmou que as pilhas de estéril estão em processo de restauração e
possuem ainda baixa diversidade quando comparada com a área do fragmento
florestal nativo adjacente à cava da mineração.
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CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DO VAZADOURO MUNICIPAL DE


VOLTA REDONDA-RJ APÓS SUA DESATIVAÇÃO

B.R.S., SETTA1
1
PUC-Rio, Rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea, Rio de Janeiro - RJ,
[email protected], (21) 3527-1001.

RESUMO

Diante do acelerado crescimento populacional nas cidades, sobretudo de países


subdesenvolvidos e emergentes, como o Brasil, a alternativa economicamente viável
encontrada para a destinação final dos resíduos foi a construção de vazadouros a céu
aberto, popularmente conhecidos como lixões. No entanto, este tipo de disposição de
resíduos não é considerado ambientalmente adequado, pois pode provocar impactos à
saúde pública e ao meio ambiente, tais como: a produção de chorume, que pode
contaminar os lençóis freáticos e mananciais superficiais, a emissão do gás metano que
pode intensificar o efeito estufa, além de atrair animais vetores de doenças, entre outros.
Por meio de dispositivos legais, como o TAC, e a atuação de órgãos públicos e
ambientais competentes, muitas cidades brasileiras tem buscado substituir o lixão à
categoria de aterro controlado ou até mesmo sanitário, de modo a assegurar benefícios
fiscais e financeiros do governo federal devido à Lei n° 12.305/2010, conhecida como a
Política Nacional de Resíduos Sólidos, a qual estabelece metas para o término das
operações de lixões no território nacional. Neste sentido, este trabalho buscou realizar
uma caracterização ambiental da área do vazadouro do Município de Volta Redonda,
localizado no interior do Estado do Rio de Janeiro, com o intuito de avaliar sua
recuperação ambiental. Para tanto, foram realizadas entrevistas com técnicos da
secretaria do meio ambiente do município, órgãos públicos ambientais, levantamento
bibliográfico da área estudo e visitas de campo no local. Verificou-se que o vazadouro
operou desde 1987 até 2012, gerando impactos ambientais significativos na sua área e
no seu entorno, como a eutrofização dos lagos a montante e a jusante, erosão do talude e
contaminação do rio Brandão por chorume. Contudo, verificaram-se melhorias no local,
como a regeneração da vegetação, restabelecimento da fauna, sobretudo de aves, e
instalações construídas e direcionadas para a remediação ambiental.

Palavras Chave: recuperação ambiental, vazadouro, Volta Redonda

Introdução
O atual ritmo acelerado de crescimento demográfico, sobretudo nas áreas urbanas, do
avanço tecnológico e de um padrão de consumo predominantemente consumista tem
levado a um aumento considerável na quantidade de geração de resíduos sólidos
urbanos (RSU). Tal fato é considerado um dos principais problemas ambientais da
atualidade, à medida que se reduz a disponibilidade de áreas para o devido tratamento
de rejeitos e para disposição final adequada, além da falta de infraestrutura sanitária
adequada (REZENDE et al., 2013).
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil (ABRELPE, 2015), os números
referentes à geração de RSU revelam um total anual de 79,9 milhões de toneladas no
país, o que corresponde a um aumento 1,7% de 2014 a 2015, período em que a
população brasileira cresceu 0,8% e a atividade econômica (PIB) retraiu 3,8%. Tal fato
pode estar associado ao atual hábito social da população, que consome cada vez mais
alimentos processados em embalagens descartáveis. De acordo com o estudo realizado
pelo IBRE (Instituto Brasileiro de Economia) / FGV (Fundação Getúlio Vargas)
(ABRE, 2016), o valor bruto da produção física de embalagens atingiu R$ 55,1 bilhões,
um aumento de aproximadamente 6,17% em relação aos R$ 51,9 bilhões de 2013.
Dos 79,9 milhões de toneladas produzidos no Brasil, 72,5 milhões de toneladas foram
coletados, demonstrando um índice de cobertura de coleta de 90,8% para o país
(ABRELPE, 2015). Há oito anos este índice era de 62% e hoje o índice já está próximo
a países da União Europeia e dos Estados Unidos com 99% e 95%, respectivamente
(BNDES, 2012). No entanto, o volume de resíduos enviados para destinação
inadequada foi quase de 30 milhões de toneladas de resíduos, sendo dispostos em lixões
ou aterros controlados, os quais não apresentam medidas necessárias de segurança para
a proteção do meio ambiente contra danos e degradações (ABRELPE, 2015).
A disposição inadequada de resíduos em lixões e aterros controlados promove
consequências graves ao meio ambiente e à saúde pública, como a contaminação de
mananciais superficiais e de lençóis freáticos por infiltração de lixiviados produzidos a
partir do processo de decomposição da matéria orgânica, comprometendo seu uso
domiciliar, erosão do solo pela compactação dos resíduos e atração de vetores
transmissores de doenças (JUNKES, 2002; SETTA, 2016). Além disto, segundo
Pukkala et al. 2010 (apud GOUVEIA, 2012), estudos têm indicado que áreas próximas
a aterros apresentam níveis elevados de compostos orgânicos e metais pesados, e que
populações residentes nas proximidades desses locais apresentam níveis elevados desses
compostos no sangue, o que pode torná-las vulneráveis a diversos tipos de câncer,
anomalias congênitas e mortes neonatais precoces.
Na maioria dos municípios brasileiros, a administração pública se limita ao
recolhimento do lixo domiciliar, depositando-o em locais afastados da população e de
maneira inadequada no ambiente (JUNKES, 2002). Além disto, muitos municípios
brasileiros apresentam dificuldades para o destino adequado dos resíduos sólidos,
sobretudo os de menor porte, tais como: a precariedade da infraestrutura sanitária, a
falta de informações consistentes sobre dados sanitários, a ausência de espaços físicos
amplos para a construção de aterros sanitários, dificuldades financeiras, técnicas e
estruturais para implantar a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010)
(BRASIL, 2010), e as taxas de métodos nobres de tratamento de resíduos, como
compostagem, incineração e reciclagem, ainda caminham lentamente (GOUVEIA,
2012; ASSAD & SIQUEIRA, 2016).
Diante deste cenário, a legislação ambiental vem sendo aprimorada bem como os
instrumentos de tutela ambiental que aplicam estas leis, como o Termo de Ajustamento
de Conduta (TAC), aplicado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, como
instrumento de gestão ambiental, na erradicação dos lixões no Estado. Este instrumento
é aplicável em todas as formas de tutela ambiental, preventiva ou reparatória,
comportando-se de maneira eficiente, uma vez que permite aos órgãos públicos
legitimados à ação civil pública tomar do causador de danos a interesses difusos e
coletivos o compromisso de que venha a adequar a sua conduta às exigências legais,
mediante cominações, com eficácia extrajudicial (SAROLDI, 2005).
O Município de Volta Redonda, área de estudo deste trabalho, está localizado na Região
Sul Fluminense do Estado do Rio de Janeiro e se enquadra na temática apresentada.
Possuía um lixão como local de destinação de seus resíduos durante os 27 anos de
operação. O lixão recebia 169,4 toneladas diárias (IZABELLA et al., 2012), o que
ocasionou danos ambientais significativos nas suas áreas de influências e levou o
Ministério Público do Rio de Janeiro a autuar a Prefeitura Municipal de Volta Redonda,
aplicando-a um TAC. Sendo assim, este trabalho buscou realizar uma caracterização
ambiental da área do vazadouro do Município de Volta Redonda, com o intuito de
avaliar sua recuperação ambiental.

Material e Métodos
Área de estudo
Criado pela Lei nº 2185 de 17 de julho de 1954, o município de Volta Redonda é o mais
populoso da região sul do Estado do Rio da Janeiro, com 263.659 mil habitantes (IBGE,
2016). Localiza-se no trecho médio do vale do rio Paraíba do Sul, entre as serras do Mar
e da Mantiqueira, entre os paralelos 22º24’11” e 22º 38’ de latitude sul e os meridianos
44º9’25” e 44º 25’ de longitude oeste, segundo Greenwich (FEEMA, 1991). É, junto
com os municípios Resende e Barra Mansa, uma das mais importantes economias da
região.

Figura 1: Localização geográfica de Volta Redonda no Estado do Rio de Janeiro.


Fonte: SETTA, 2016.
Por estar estrategicamente localizado no eixo das principais capitais brasileiras, São
Paulo e Rio de Janeiro, o que facilitaria o deslocamento de produtos, serviços e pessoas,
o Município de Volta Redonda foi designado a receber a maior siderurgia da América
Latina, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Durante o Governo de Getúlio
Vargas, através do Decreto-Lei n° 3.002, de 30 de janeiro de 1941, foi aprovado o plano
da instalação da usina, a qual só iria efetivamente ser instalada em abril do mesmo ano.
A CSN, sem dúvida, foi responsável pela formação da identidade e pelo
desenvolvimento econômico-social da cidade. Muitos moradores de cidades vizinhas e
de outros estados, como São Paulo e Minas Gerais, migraram para Volta Redonda e
possibilitaram, paralelamente, o crescimento de pequenos serviços e comércio no
município. Contudo, em 1993, após a privatização da siderúrgica, a instalação da grave
crise econômica e social fez com que a cidade procurasse novos rumos, com menor
dependência da CSN. Hoje, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Volta Redonda
(CDLVR), o município tornou-se um pólo de prestação de serviços para a região, na
área de saúde e na área de educação, principalmente com a presença de universidades
(VOLTA REDONDA TEME, 2013 apud MAGALHÃES & RODRIGUES, 2015).
No entanto, o crescimento urbano provocou impactos significativos ao meio ambiente,
principalmente devido às consequências geradas pela industrialização, pois a falta de
planejamento não incorporou a preservação e a manutenção dos recursos naturais. É
considerado um dos maiores municípios poluidores do Estado do Rio de Janeiro, e tem
apresentado também, como outra fonte poluidora, o intenso tráfego de veículos que tem
ocasionado em diversas internações por doenças respiratórias, grande parte pela
exposição dos indivíduos ao monóxido de carbono (PAIVA, 2014).
O crescimento urbano e desordenado, marcante no início da formação da identidade
municipal, também trouxeram graves consequências ambientais que são sentidas até os
dias atuais, como a ocorrência frequente de enchentes, principalmente nas áreas urbanas
durante o período de veraneio. Dias et al. (2003) apontam que os principais fatores que
potencializam estes eventos no município são: a ocupação de encostas, margens de rios
e fundos de vale, o manejo inadequado do solo e a retirada da cobertura vegetal que
aumentaram o escoamento superficial.
Diante de toda a expansão urbana pela qual a cidade de Volta Redonda apresentava, a
Prefeitura Municipal promoveu a construção de um depósito de resíduos em uma área a
cerca de 2 quilômetros da Rodovia dos Metalúrgicos, rodovia que liga a área central do
município à Rodovia Dutra. Além de Volta Redonda, por algum período, os municípios
de Piraí e Rio Claro também utilizaram este mesmo local para disposição de seus
resíduos (SETTA, 2016).
O vazadouro possui uma área total de 175.950 m2, sendo que a área do maciço do lixo é
de 57.103 m2 (INEA, 2015). De acordo com o Plano Diretor de Volta Redonda,
aprovado em 2008 (Lei Municipal nº. 4.441), o vazadouro está localizado no Setor Sul
do município. É uma área que era predominantemente rural, mas, nos últimos anos, tem
correspondido a um dos principais eixos de crescimento da cidade, recebendo novos
loteamentos e vias de acesso (PINTO et al., 2006). A Figura 2 mostra a localização do
vazadouro no município.

Figura 2: Localização do vazadouro no Município de Volta Redonda. Fonte: Próprio


autor.
O vazadouro está inserido na Zona de Amortecimento da Unidade de Conservação da
Floresta da Cicuta, a uma distância de 1,6 km, de acordo com a Resolução INEA Nº 71
de 18 de junho de 2013, Art.1º, Parágrafo Único. Tal aproximação exige medidas
necessárias para a proteção ambiental, uma vez que esta unidade de conservação está
inserida em fragmentos de Mata Atlântica e apresenta espécies da fauna e flora
ameaçadas de extinção.
Pelo lado direito do vazadouro percorre o rio Brandão que, após cruzá-lo, chega à
Floresta da Cicuta, recebe outros tributários que percorrem o município, como os
córregos Cachoeirinha e Cafuá, e deságua no rio Paraíba do Sul. Toda a malha
hidrográfica inserida nos limites municipais de Volta Redonda tem o rio Paraíba do Sul
como seu corpo receptor final, que corresponde a 0,3% do total da bacia (FEEMA,
1991).

Aplicação metodológica
Os dados primários foram obtidos por meio de entrevistas com os representantes legais
dos órgãos ambientais, tais como Secretaria de Meio Ambiente de Volta Redonda
(SEMA-VR), a Unidade Administrativa da ARIE Floresta da Cicuta e Instituto Estadual
do Ambiente, e no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), mediante
agendamento prévio, a fim de se obter possíveis informações como aspectos históricos
do lixão, fatos legais que ocorreram para a desativação e características peculiares da
área.
As vistorias à área de disposição dos resíduos foram acompanhadas por um técnico
ambiental da prefeitura que contribuiu com informações sobre o histórico das operações
e as atividades em andamento para a recuperação ambiental. Entretanto, uma grande
totalidade dos dados aqui apresentados foi baseada na inspeção visual do local, onde se
buscou conhecer e avaliar os aspectos relacionados a:

 Infraestrutura existente;
 Características físicas e biológicas da área;
 Aspectos históricos da operação do lixão;
 Possíveis impactos ambientais ao solo, ar, água e saúde humana;
 Presença de animais.
Já os dados secundários foram obtidos através de pesquisas sobre estudos ou trabalhos
publicados em plataformas de pesquisas, como o Google Acadêmico, Scielo ou
Periódicos Capes, em livros, revistas, legislação, repositórios acadêmicos, bibliotecas
digitais de instituições de ensino e artigos científicos como fontes de consulta. Além
disto, técnicas de SIG (Sistema de Informações Geográficas) foram utilizadas como
ferramenta de geoprocessamento, como o software Quantum Gis (QGIS) e Google
Earth, para possibilitar uma melhor interpretação da área de estudo.

Resultados e Discussão
Análise do processo de remediação ambiental do vazadouro

A disposição irregular de resíduos ocorreu de 1987 até 2012. O local serviu de


deposição para o lixo domiciliar e industrial, do serviço de limpeza pública (poda de
árvores, roça de jardins etc.) e dos serviços de saúde (hospitalar, clínicas médicas,
farmácias, laboratórios, etc.). Em 1987, foi concedida a licença de operação (LO) nº
332/87, a qual teria o prazo de expiração em 1992. Sua renovação não foi aprovada pela
FEEMA (atual INEA), pois as exigências impostas pelo órgão ambiental não foram
atendidas, mas as operações continuaram e, no ano de 2003, foi movida uma Ação Civil
Pública nº 0002992-48.2003.4.02.5104 (número antigo do processo 2003 5104002992-
9), pelo MPF e MPRJ contra a PMVR e o Depósito de Papel São Gabriel (empresa
proprietária do terreno onde fica o vazadouro), na qual os réus foram responsabilizados
pelas questões de remediação e encerramento.
Durante anos de disposição de resíduos e rejeitos sem o controle adequado, os impactos
ambientais foram evidentes. De acordo com o Ministério Público Federal, os principais
danos ambientais já identificados na área são: a contaminação do lençol freático por
chorume e contaminação do solo e da vegetação da ARIE (Área de Relevante Interesse
Ecológico) Floresta da Cicuta (MPF 2016). Vale ressaltar que o rio Brandão, conforme
a Figura 6, contaminado pelo chorume se enquadra na classe especial, de acordo com a
Resolução CONAMA nº 357/2005, por estar localizado dentro de uma unidade de
conservação de proteção integral.
Figura 3: Disposição de resíduos no vazadouro em 2007. Fonte: Rizoma, 2007 apud
Lopes, 2016.

Em 2005, a Prefeitura Municipal de Volta Redonda (PMVR) foi acionada pelo MPF
para assinar um TAC, número 2003.5104002992-9. Além disto, também assinaram o
termo o MPRJ, Ministério Público do Trabalho (MPT), a FEEMA, o IBAMA e a
empresa proprietária do terreno (MPF, 2016). No entanto, desde então, a PMVR tem
encontrado dificuldades para atender as ações impostas pelo TAC.
Houve discussões entre a PMVR e os Municípios de Pinheiral, Rio Claro, Barra do Piraí
(somente o bairro Califórnia) e Barra Mansa, para formar um consórcio e construir um
Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) regional, para processamento e destinação
final de resíduos domiciliares, de serviços públicos e resíduos de serviços de saúde. No
entanto, posteriormente, Barra Mansa optou por construir um aterro sanitário próprio e,
para isto, contou com apoio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente.
Em 2009, em atendimento ao que foi estabelecido em uma reunião realizada no
Ministério Público Federal, Gabinete do 1° Ofício, foi encaminhada, no dia 14 de
dezembro de 2009, pelo INEA, uma orientação técnica de forma a nortear as ações
emergenciais a serem executadas no vazadouro municipal. Após cinco anos de estudos e
discussões, no ano de 2010 a Câmara de Vereadores de Volta Redonda foi palco de uma
audiência pública, no dia 18/05/2010. Em pauta, estava a implantação do CTR no bairro
Santa Cruz. A audiência foi requerida pelo vereador Edson Quinto (PR), devido à
mobilização dos moradores dos bairros que não concordaram com a localização
proposta. Portanto, a ideia de formar consórcio intermunicipal não foi concretizada e a
PMVR teve que prosseguir com a remediação do vazadouro.
Em 2011, o Ministério Público, o INEA e o ICMBio cobraram ações mais concretas e
efetivas por parte do Município para o cumprimento do TAC, assim sendo algumas
medidas foram tomadas, como: projetos de remediação com as revisões solicitadas pelo
INEA, para a obtenção da autorização Licença de Operação e Recuperação (mais de
dois projetos foram rejeitados pelo INEA); obras de melhorias no lixão atual evitando o
descarte de chorume no Rio Brandão; compra da autoclave, equipamento que faz a
esterilização de resíduos de serviço de saúde (RSS); contratação de empresa para estudo
locacional de nova área para instalação do CTR, que até o momento não foi decidido.
Em reunião realizada no dia 13 de outubro de 2011, no Ministério Público Federal foi
relatado que em razão do descumprimento do TAC, por parte do Município de Volta
Redonda, foram ajuizadas mais duas ações civis públicas pelo Ministério Público
Federal ao Município (Processo 2010.51.04.001168-1 e 2003.51.04.002535-3),
relacionadas, respectivamente, aos itens 1.8 (tratamento do chorume) e 2.1 (projeto de
adequação ambiental da área do lixão). Na ocasião o procurador da república Dr.
Rodrigo da Costa Lines determinou algumas recomendações, inclusive que o INEA
deveria notificar o Município sobre o cumprimento das determinações do TAC, e caso
não cumprisse deveria interditar o vazadouro.
Como o novo prazo estabelecido para atender as recomendações do procurador não
foram cumpridas, que seria até 30 de dezembro de 2011, os resíduos sólidos
domiciliares deveriam ser encaminhados para o CTR de Barra Mansa, o qual foi
construído e é operado pela empresa Haztec. Além disto, o procurador Rodrigo da Costa
Lines determinou que os resíduos sólidos deveriam ser encaminhados para o CTR Barra
Mansa a partir do 28 de maio de 2012, o que foi cumprido na íntegra pelo Município.
Em 2014, a decisão judicial (Processo 0001167-25.2010.4.02.5104), referente ao
projeto de remediação do vazadouro e ao tratamento de chorume, inferiu uma multa
pessoal ao prefeito do Município de Volta Redonda, na época Antônio Francisco Neto,
por não atender às determinações do MPF. Tal fato fez com que o MPF emitisse uma
notificação pelo não atendimento das condicionantes da Autorização Ambiental, emitida
em dezembro de 2014 pelo INEA, e três autos de constatação à Prefeitura de Volta
Redonda, os quais evidenciaram que a prefeitura ainda não havia solicitado a LAR
(Licença Ambiental de Recuperação).
Em 2015, a PMVR requereu a LAR ao INEA, através do processo E-
07/002.09815/2015, o qual estabeleceu medidas a serem implantadas objetivando a
remediação do vazadouro e medidas mitigadoras a serem adotadas após o encerramento
(INEA, 2015). Tais medidas imputadas pelo INEA se encontram na Tabela 1.
Tabela 1: Medidas mitigadoras para remediação ambiental do vazadouro de Volta
Redonda.

Medidas mitigadoras para o encerramento


- O fechamento da área remediada com
cerca e replantio onde não houver mata
nativa; - Encerramento da célula de Resíduos
- Readequação das instalações de apoio de Serviços de Saúde;
para segurança, fiscalização, e controle - Conformação de platôs e taludes;
de veículos, equipamentos e pedestres; - Encerramento da célula de aterro com
- Implantação de sistema de drenagem recobrimento final das áreas aterradas
de águas superficiais visando com camada mínima de 0,50m de solo
minimizar os fluxos de água no interior compactado, geomembrana e camada
da massa aterrada e de seu entorno; de no mínimo 0,40m de solo vegetal
- Instalação de um sistema de para garantir o recobrimento com
monitoramento do maciço com placas vegetação nativa raízes não axiais;
de recalque e marcos superficiais; - Instalação de um sistema de
- Implantação de sistema de monitoramento do maciço com placas
monitoramento de águas superficiais, de recalque e marcos superficiais;
subterrâneas e percolados;
Medidas mitigadoras após o encerramento
- Implantar sistema de drenagem e
- Implantar um queimador de gases coleta de chorume, conduzindo-o por
com ‘‘flare’’para coletar o biogás na gravidade até tanques de acumulação;
massa de resíduos; - Implantar serviço de coleta municipal
- Construção de uma fossa séptica, para resíduos domésticos e contratar
filtro anaeróbio e sumidouro para empresa licenciada pelo INEA para
armazenar e tratar efluentes sanitários; coletar resíduos provenientes de fossa
séptica/filtro anaeróbio.
Fonte: INEA, 2015.

Corpos hídricos

Os efeitos de anos de deposição de resíduos no vazadouro são evidentes até o momento


nos corpos hídricos encontrados no local. A liberação de efluentes e de compostos
orgânicos, sobretudo os provenientes da degradação da matéria orgânica pelos micro-
organismos, contaminaram os lagos, o que favoreceu o crescimento exacerbado de algas
que formam verdadeiros “tapetes” na superfície destes lagos, como é possível observar
na Figura 4 referente à porção do lago a montante. Este fato indica um estado de
eutrofização do lago, processo este que afeta o equilíbrio do ecossistema aquático,
podendo impedir a entrada de luz solar no sistema, que é necessária para a fotossíntese,
afetando toda cadeia trófica.

Figura 4: Lago a montante com a superfície repleta de macrófitas. Fonte: Próprio autor.

Lopes (2016) realizou em seu trabalho o índice de estado trófico para fósforo (IETPT)
nos lagos encontrados no vazadouro de Volta Redonda. Aplicou a equação modificada
por Toledo Jr. et al., (1990), pois não havia dados referentes à clorofila a disponíveis.
Os resultados encontrados por Lopes (2016) encontram-se na Tabela 2. A equação
utilizada para o IETPT se dá seguinte forma:
IETPT = 10 {6 - [ln (80,32 / PT) / ln2]};

tal que,
IETPT = índice de estado trófico para fósforo; e
PT = concentração de fósforo total, medida à superfície da água (μg.L-1).

Tabela 2: Resultados do IETPT para os lagos do vazadouro.


Concentração de IETPT Classificação
Fósforo (μg.L-1)
Lago a montante 2003 88,37 Hipereutrófico
Lago a jusante 480 79,71 Hipereutrófico
Fonte: Adaptado de Lopes, 2016.

A classificação do estado de eutrofização em hipereutrófico ocorre, pois, segundo


Toledo et al., (1990), os valores de IETPT foram maiores que 7,4, indicando o maior
grau de eutrofização possível para ser obtido. Por se encontrarem em áreas de baixo
relevo e sem um exutório, a não ser a infiltração pelo solo, estes fatores acabam
favorecendo a alta concentração de fósforo nos lagos (LOPES, 2016). Isto demonstra a
necessidade do monitoramento contínuo da qualidade da água destes compartimentos
para a biodiversidade local.

Caracterização do chorume

A massa de resíduos que está aterrada sofre decomposição pela ação dos micro-
organismos, que degradam a fração orgânica presente nos resíduos. A parte líquida,
denominada chorume ou lixiviado, resultante da decomposição percola pelo talude e, no
seu ponto mais baixo, ela extravasa pelo solo. Na Figura 5, pode-se observar o acúmulo
de chorume na margem do talude, o qual é posteriormente succionado por uma bomba e
transportado até o tanque armazenador.
Entretanto, no dia da visita em maio de 2016, percebeu-se que havia um excesso de
chorume acumulado na margem do talude, podendo haver um risco de percolação do
líquido até o lago mais próximo ou até mesmo de infiltrar pelo solo. Com a chegada da
estação do verão, este risco é potencializado devido à ação de chuvas mais intensas, o
que demonstra a necessidade de maior acompanhamento, segurança e monitoramento
desta atividade.

Figura 5: Acúmulo de chorume na margem do talude. Fonte: Próprio autor.

As características químicas do chorume foram obtidas por meio de análises realizadas


pela empresa Bioagri, contratada pela PMVR em 2013, a fim de identificar qual fase de
degradação que se encontra a massa de resíduos já aterrada. Os resultados das análises
se encontram na Tabela 3.
Tabela 3: Caracterização química do chorume.
Fase
Parâmetros metanogênica (> Lixiviado
5 anos)
Ph >7,5 9,0
Demanda Química de Oxigênio (mg.L- <3.000 1.802
1)
Demanda Bioquímica de Oxigênio 100 – 4000 442
(mg.L-1)DBO5/DQO
Relação <0,2 0,24
Nitrogênio Amoniacal Total (mg.L-1) 3.000 – 4.000 362
NH3- N (mg.L-1) >400 238
Metais (mg.L-1) <2,0 Cr: 0,22; Cd: <
0,001; Mn: 0,532;
Ferro (mg.L-1) 6,3 4,2Zn: 0,053
Pb: < 0,01;
Fósforo total (mg.L-1) 12 5,8
Fonte: Lopes, 2016.

A baixa concentração de amônia (NH3- N) é um bom indicador para atividade


microbiana do aterro, visto que esta substância é tóxica e altas concentrações poderiam
afetar o metabolismo dos micro-organismos degradadores da matéria orgânica. Este fato
também se relaciona com alto valor do pH verificado, o que indica que o vazadouro
encontra-se na sua fase metanogênica (SEGETO & SILVA, 2000).
Segundo Lopes (2016), a baixa concentração de Nitrogênio Amoniacal Total e também
para a relação DBO5/DQO se devem à construção de uma célula emergencial de
disposição de resíduos em 2008, a qual permitiu a mistura do chorume desta célula com
o outro coletado oriundo da degradação dos resíduos mais antigos. No entanto, estes
resultados não corroboram com os valores encontrados no trabalho de Segato & Silva
(2000), os quais verificaram altos valores para estes parâmetros onde se havia mistura
das contribuições das várias células que compõem o aterro sanitário de Bauru-SP.

Instalações construídas para a remediação ambiental

Como exigência dos órgãos públicos fiscalizadores e ambientais, algumas instalações


foram necessárias de serem construídas para a remediação do vazadouro de Volta
Redonda. Na Figura 6 é possível observar algumas instalações que foram construídas
para a remediação do vazadouro municipal.

Figura 6: Principais instalações para a remediação do vazadouro. Fonte: Próprio autor.

O chorume que percola pelos taludes são coletados por uma rede de drenagem e
redirecionados para uma lagoa de estabilização. Anteriormente, havia duas lagoas em
operação, mas apenas uma está em funcionamento. Posteriormente, o efluente final é
succionado, armazenado em tanques e enviado para a estação de tratamento da CSN,
localizada no bairro Vila Santa Cecília. No entanto, de acordo com o funcionário da
prefeitura, Romualdo Machado, “a produção semanal de chorume é de 35 m³, sendo
enviados para a estação de tratamento da CSN apenas 8 m³ semanais” (FOLHA DO
AÇO, 2016).
A unidade de tratamento de RSS foi construída no ano de 2011, devido à exigência do
INEA. No entanto, ela não está mais em operação desde dezembro de 2012, pois, de
acordo com os funcionários presentes no dia da visitação, o encerramento das operações
naquele ano proibiu o recebimento de resíduos de serviços de saúde, não sendo mais
necessária a utilização da autoclave e outros equipamentos para a esterilização destes
resíduos.
Como exigência da LAR (INEA, 2015), foram construídos poços de monitoramento
para a produção do metano (Figura 6), formado a partir da degradação da matéria
orgânica presente nos resíduos. Segundo relatos dos funcionários do local, no início da
instalação destes poços, a produção deste gás era muito alta e havia até o risco de
explosão. No entanto, segundo os próprios funcionários, atualmente, a produção de
metano é muito baixa, não havendo qualquer risco aos funcionários do local. Vale
ressaltar que não foram encontrados dados disponibilizados pela PMVR, referentes à
produção de metano que comprovem efetivamente a ausência de riscos aos
funcionários.
Na Figura 6, próximo ao ponto de monitoramento de metano, também se pode verificar
processos erosivos na encosta, mesmo apresentando o crescimento de gramíneas. A
implantação e a operação destes empreendimentos envolvem constantes atividades de
remoção, adição e/ou substituição do solo, o que acaba removendo a proteção natural
fornecida pela cobertura vegetal, deixando o solo exposto à ação de intempéries
(chuvas, ventos e irradiação solar excessiva).

Fauna e Flora

Quanto à recuperação da vegetação na área do vazadouro, não se verificou atividades


em processo de reflorestamento, como o plantio de espécies nativas ou de mudas, como
foi exigido na LAR (INEA, 2015), mas sim o processo de regeneração natural (sucessão
ecológica secundária), com a presença de espécies herbáceas e arbustivas, como a
embaúba (Cecropia pachystachya), e gramíneas, conforme a Figura 7. Além disto, foi
encontrada como espécie exótica o capim colonião (Panicum maximum Jacq) (Figura
8), nos taludes e nas regiões de borda do vazadouro.

Figura 7: Embaúba Figura 8: Capim colonião (Panicum


(Cecropia pachystachya). Fonte: Próprio maximum Jacq). Fonte: Próprio autor.
autor.
Em relação à fauna, foram observados representantes da avifauna, como o marreco-do-
sul (Netta erythrophtalma), os quais estavam se alimentando no lago a montante do
vazadouro, e animais sinantrópicos, como cães domésticos (Canis lupus familiaris),
conforme as figuras 9 e 10, respectivamente.

Figura 9: Marreco-do-sul (Netta erythrophtalma). Figura 10: Cão doméstico


(Canis lupus familiaris). Fonte: Próprio autor. Fonte:
Próprio autor.

Conclusão

Os riscos à saúde pública e ao meio ambiente advindos dos resíduos sólidos requerem
decisões que envolvem o gerenciamento adequado dos mesmos, aliados, também, à
integração entre políticas econômicas, sociais e ambientais pelo Poder Público. Neste
sentido, a disposição de resíduos em aterros caracteriza-se por uma atividade de alto
potencial poluidor, uma vez que a produção de resíduos sólidos urbanos é um processo
muito heterogêneo, devido sua composição se derivar de resíduos domésticos ou
industriais, de áreas pobres ou ricas, de coleta generalizada ou seletiva. Sendo assim,
ocorre o risco da mistura com os resíduos orgânicos e materiais perigosos, os quais
exigem maiores medidas de segurança para o gerenciamento.
O processo de remediação ambiental do vazadouro de Volta Redonda perdurou por
muitos anos e trouxe sérias consequências ao meio ambiente. O exemplo do município
demonstra que a questão do tratamento adequado para o lixo urbano não é vista, até o
momento, como prioridade pelas autoridades competentes, sobretudo pela
administração pública, a qual adotou medidas de pouca ou nenhuma eficácia quanto à
remediação dos passivos ambientais, pois o vazadouro ainda não foi totalmente
remediado.
Apesar do responsável legal do Município de Volta Redonda tenha sido acusado e
julgado por não cumprir as condicionantes ambientais da Licença Ambiental de
Recuperação, a atuação do órgão estadual demonstrou-se pouco efetiva em fiscalizar o
cumprimento das condicionantes, de exigir da prefeitura municipal a regularização do
processo de licenciamento da operação e a remediação dentro do prazo, o que poderia
ter reduzido os danos ambientais. Desta forma, o caso de Volta Redonda mostra as
mesmas dificuldades apresentadas pela maioria dos municípios brasileiros, seja técnica,
estrutural ou financeira, em atender a legislação ambiental.

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ESTRUTURA POPULACIONAL DE Drimys brasiliensis Miers EM UM


FRAGMENTO DE FORESTA OMBRÓFILA MISTA NA FAZENDA
EXPERIMENTAL DO CAV/UDESC, LAGES, SC

PINTO, F. M.¹.; ANTONIUTTI, M.J.¹.; KREFTA, S.¹.; ATANAZIO, K. A.¹.;


SCHLICKMANN, M. B.¹
¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de Ciências
Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta Dinheiro - Lages – SC, Brasil.
CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-9100. E-mail: [email protected]

RESUMO

Drimys brasiliensis Miers, popularmente conhecida como cataia ou casca d’anta, é uma
espécie de hábito arbustivo ou arbóreo pertencente a família Winteraceae que está
distribuída da Australásia até as Américas. Ocorre em diversos locais do Brasil
principalmente associada a Floresta Ombrófila Mista (FOM) mas também em outros
ecossistemas. É uma espécie que pode ultrapassar 20 m de altura, de flores muito
vistosas que pode ser usada dentre outros fins, para recuperação de áreas degradadas.
Possui potencial madeireiro reduzido, o que é compensado pelo potencial condimentar e
medicinal de sua casca. A exploração indiscriminada da casca de D. brasiliensis em
remanescentes florestais pode ameaçar as populações da espécie. Desse modo o objetivo
do presente estudo foi avaliar e quantificar a população de D. brasiliensis, visando o
manejo sustentável de sua casca em um fragmento de Floresta Ombrófila Mista em
regeneração natural no município de Lages – Santa Catarina. Para tanto foram
levantados 82 indivíduos de D. brasiliensis em uma área de aproximadamente 1,3
hectares (ha). Desses, 44 indivíduos foram classificados como regenerantes e 38
classificados como juvenis ou adultos. A altura média da população foi de 3,76 m. Por
se tratar de um remanescente que sofreu distúrbio recente tendo o número de indivíduos
comprometido, o manejo de extração da casca da cataia não se justifica no local.

Palavras-chave: Cataia, planalto serrano catarinense, regeneração natural, uso e


conservação.

Introdução
O gênero Drimys pertence à família Winteraceae que compreende oito gêneros e
aproximadamente 70 espécies distribuídas da Australásia até as Américas onde este
gênero é o único representante da família. A espécie Drimys brasiliensis Miers é
conhecida popularmente como casca d’anta ou cataia (SCHULTZ, 1975; BARROSO,
1978; LORENZI, 1992; LONGHI, 1995).
Em território nacional D. brasiliensis ocorre nos três estados que compõe a
região Sul e também na Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do
Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo (CARVALHO, 2008). Em Santa Catarina
a espécie ocorre na Floresta Ombrófila Mista (FOM) e de modo relictual na Floresta
Ombrófila Densa (FOD) (RADOMSKI, et al., 2013). Torna-se muito frequente também
na zona da matinha nebular (TRINTA & SANTOS, 1997).
É considerada uma espécie de hábito arbustivo à arbóreo, podendo ultrapassar
os vinte metros de altura. Seu tronco pode se apresentar reto ou tortuoso, possui folhas
simples, alterno-espiraladas, espatuladas, glabras e discolores, chegando a medir 12 cm
de comprimento. As flores são bissexuais, de coloração branca, dispostas em
inflorescências umbeliformes de duas a cinco flores (ROTTA, 1997 apud
CARVALHO, 2008). Os frutos são do tipo baga, de coloração escura e as sementes são
reniformes, também escuras (ABREU, 2002 apud CARVALHO, 2008). A dispersão de
seus frutos e sementes é zoocórica e barocórica predominantemente.
A cataia possui diversos usos, como na indústria madeireira, fornecendo madeira
amarelada com largas veias róseas, às vezes castanho-claras, sempre firmes e fáceis de
trabalhar, prendendo bem os pregos, porém pouco resistente (obras internas). Pode ser
usada em carpintaria. Caixotaria, e também como lenha e carvão, além de ser indicada
para paisagismo de pequenos espaços. (TRINTA; SANTOS, 1997; BACKES;
IRGANG, 2002).
A casca da espécie possui potencial medicinal e é usada como estomáquica,
antiescorbútica, antidiarreica sudorífica e tônica e têm sido utilizada medicinalmente a
partir da exploração de plantas em populações naturais (MARIOT et al., 2010). Porém,
ainda não existem estratégias de manejo de populações naturais sustentáveis.
De acordo com Arantes e Schiavini (2011) conhecer o número de indivíduos de
uma determinada população é essencial. Deste modo pode-se prever as consequências
do tamanho dessa população e também o índice de sobrevivência dos seus integrantes.
Além disso, evidencia-se ainda que a estrutura de uma determinada população, resulta
de diversas força bióticas e abióticas, fazendo com que o arranjo da mesma seja
alterado.
Dessa maneira estudos sobre estrutura populacional precisam ser realizados para
auxiliar nas práticas de manejo florestal sustentável. Neste sentido, o objetivo do
presente estudo foi avaliar e quantificar a população de Drimys brasiliensis Miers,
visando o manejo sustentável de sua casca em um fragmento de floresta ombrófila mista
em regeneração natural no município de Lages.

Material e Métodos
O estudo foi realizado no município de Lages, em um remanescente florestal
pertencente a Fazenda experimental do Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV) da
Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC. Localizada na BR 282 Km 195,
Lages, SC nas Coordenadas 27°44148.55”S e 50°05’04.97”O.
Lages é um município que pertencente ao Planalto Serrano Catarinense, com
158.846 habitantes e uma extensão territorial de 2.631,504 Km2, estando a 937 metros
de altitude média (IBGE, 2014). Segundo a classificação climática de Köppen, a região
apresenta clima Cfb, ou seja, clima temperado úmido e sem estação seca definida. A
temperatura média anual varia de 13,8 ºC a 15,8 ºC. A precipitação pluviométrica total
anual pode variar de 1.360 mm a 1.600 mm e a umidade relativa do ar varia de 80% a
83% (EPAGRI, 2002).
O município de Lages está inserido na Bacia Hidrográfica do Rio Canoas e do
Rio Pelotas, com topografia de suave-ondulada a ondulada, com vegetação de Floresta
Ombrófila Mista Montana. Os solos predominantes são Cambissolos nas baixadas e
Neossolos Litólicos nas encostas (IBGE, 1992).
Uma das mais importantes formações florestais a Floresta Ombrófila Mista
(FOM), assim denominada por Veloso e Góes Filho (1982) com posterior adaptação do
IBGE (1992), é um tipo de vegetação do planalto meridional, trata-se de um
ecossistema do Bioma Mata Atlântica característico da região sul do Brasil e de
algumas áreas da região Sudeste. Tendo como sua principal característica a presença
predominante da Araucaria angustifolia (Bertol) O. Kuntz, a FOM também é conhecida
como Floresta de Araucária ou Mata de Araucária (VELOSO et al., 1991).
A FOM abriga diversas espécies que formam comunidades diferenciadas em
florística e na estrutura ecológica. Há uma alta riqueza na floresta de araucária, seus
componentes arbóreos representam um elevado nível de biodiversidade, mesmo com
sua aparente simplicidade (SANQUETTA, 2005). Dentre as espécies além da araucária,
pode-se citar: Ocotea porosa, Luehea divaricata e Cedrela fissilis, e outras espécies não
madeiráveis, comuns nessa tipologia florestal, como Dicksonia sellowiana e Maytenus
ilicifolia (NASCIMENTO et al., 2001).
A coleta de dados foi realizada em outubro de 2016, em uma área amostral de 1,3
ha. Primeiramente foi realizado o caminhamento pela área, para conhecer a mesma e
localizar os indivíduos da espécie. Por se tratar de uma área diminuta foram levantados
todos os indivíduos presentes no local, ou seja, foi realizado um recenseamento.
Mensurou-se a altura dos indivíduos inferiores a 1,3 m com auxílio de trena.
Para os de maior porte foi usado um hipsômetro. Foram aferidos dois diâmetros
distintos, o Diâmetro à Altura do Colo (DAC) nos indivíduos de pequeno porte,
regenerantes, com altura inferior a 1,3 m utilizando-se para isso de um paquímetro, e a
circunferência a Altura do Peito (CAP) para os indivíduos maiores, de maior diâmetro,
com o auxílio de uma fita métrica. Após a coleta de dados, a CAP foi transformada em
Diâmetro à Altura do Peito (DAP), através da seguinte fórmula:

As variáveis referentes a altura e diâmetro foram anotadas manualmente em


planilha e posteriormente inseridas em planilha eletrônica onde foram feitos os cálculos
cujos resultados serão apresentados na seção a seguir.
Cada indivíduo recebeu uma placa de identificação confeccionada previamente
em chapa de alumínio com a sigla FCD que significava ‘Fazenda CAV Drimys’ seguida
do número do indivíduo em ordem crescente a partir do número 1 (um). Nos indivíduos
jovens as placas foram fixadas amarrando-as as plantas com pedaços de fios eletrônicos
oriundos de descarte, e nos indivíduos maiores, as mesmas foram fixadas com pregos ao
tronco da árvore.

Resultados e Discussão
Registraram-se 82 indivíduos de D. brasiliensis na área de estudo, a maioria,
53,6% (44 ind.) representada por indivíduos de pequeno porte, classificados como
regenerantes. Os demais, 46,4% (38 ind.) foram classificados como juvenis e adultos,
sem distinção, pois não foram encontrados indivíduos em fase reprodutiva durante o
período do estudo de caso.
Mariot (2008) em seu estudo realizado na Reserva Genética Florestal de Caçador
(RGFC), região de fitogeografia muito semelhante à da região de Lages, encontrou uma
média de 195 indivíduos de cataia por hectare. No presente estudo, foram estimados 65
indivíduos de cataia por hectare. Essa população é três vezes inferior quando
comparadas ao estudo citado acima, esse déficit de indivíduos pode ser justificados por
alguns fatores, como por exemplo a herbivoria e/ou influência de gado bovino que
existe no local do estudo.
A área basal calculada apresentou valor de 0,30 m2 por hectare, inferior a área
basal encontrada em estudo feito por pelo mesmo autor supracitado, com a mesma
espécie no município de Caçador. Esse valor inferior encontrado no presente estudo se
deve possivelmente a diminuta população local de D. brasiliensis que possui indivíduos
de menor diâmetro.
Carvalho (2008), indicou que a época de floração para a espécie em Santa
Catarina é a partir de outubro se estendendo até fevereiro, no entanto não foram
observados indivíduos com estruturas reprodutivas durante o presente estudo em fins de
novembro. Isto possivelmente se deu devido a estação hibernal ter se prolongado na
região, muito além do comum.
Em contrapartida, Mariot (2008) em estudo fenológico feito em Caçador- SC,
constatou que o período de florescimento iniciou-se em dezembro e prolongou-se até
abril. Sendo assim, é provável que exista diferença de épocas de florescimento da
espécie dentro do próprio estado, sendo influenciada possivelmente por fatores
climáticos distintos em cada região de ocorrência.

Tabela 1 – Distribuição de frequências para as classes diamétricas da população de D.


brasiliensis Miers em fragmento de FOM na Fazenda Experimental do CAV/UDESC,
Lages, SC.

Inferior Superior
(cm) (cm) Frequência
0,1 2,27 46
2,28 4,45 1
4,46 6,63 4
6,64 8,80 8
8,81 10,98 9
10,99 13,16 7
13,17 15,34 7
.
Os dados foram distribuídos em sete classes diamétricas conforme a tabela 1. O
padrão natural para espécies florestais nativas de "j invertido" (HIGUCHI et al., 2013),
não foi observado nesta população (Figura 1). Possivelmente pela forte influência do
gado bovino que tinha livre acesso a área do remanescente florestal, comprometendo
assim a estrutura do fragmento (ALVES FILHO et al., 2012).
Como esse distúrbio cessou a alguns anos, o número de indivíduos regenerantes
é muito maior do que o número de indivíduos entre dois e quatro cm de diâmetro, que
muito provavelmente eram regenerantes durante o distúrbio.

Figura 1 – Distribuição diamétrica dos indivíduos de Drimys brasiliensis Miers


em Fragmento de FOM na Fazenda Experimental do CAV/UDESC, Lages, SC.
Os dados de altura foram distribuídos em sete classes conforme a tabela 2. A
exemplo do que ocorreu com o diâmetro, a altura não apresentou padrão de "j invertido"
(Figura 2), muito possivelmente pelas mesmas razões que foram apresentadas na
discussão anterior.

Tabela 2 – Distribuição de frequências para as classes de altura da população de D.


brasiliensis Miers em fragmento de FOM na Fazenda Experimental do CAV/UDESC,
Lages, SC.

Inferior (m) Superior (m) Frequência


0,06 1,77 45
1,78 3,48 1
3,49 5,20 4
5,21 6,91 9
6,92 8,63 9
8,64 10,34 7
10,35 12,06 7

Figura 2 – Distribuição em classes de altura dos indivíduos de D. brasiliensis Miers


FOM na Fazenda Experimental do CAV/UDESC, Lages, SC
De posse desses dados não se recomenda a adoção de prática extrativa da casca
de cataia no local de estudo sob tais condições. Mariot (2008) propõe que os indivíduos
podem ter sua casca explorada a cada cinco anos quando possuem DAP superior a cinco
cm. Desse modo, o número de indivíduos que poderiam ser explorados no local é baixo
(36), não obstante, o baixo número de indivíduos na segunda classe de regenerantes
(DAC entre 2 e 4 cm), oferece risco a manutenção da população caso ocorra
mortalidade dos indivíduos adultos durante a extração da casca da cataia.
A fazenda do CAV/UDESC possuía pecuária extensiva antes de ser adquirida e
semelhante ao que ocorre nas propriedades que desenvolvem essa mesma atividade na
região, o gado usa os capões e matas para se proteger e busca fontes alternativas de
alimento no inverno, devida a escassez de recursos pastoris.
O trânsito dos animais no remanescente e a possível herbivoria pode ter
contribuído para uma menor população de indivíduos de D. brasiliensis no local de
estudo. Leege et al., (1981) evidenciaram que os distúrbios causados em floresta pelo
pastoreio do gado afeta principalmente a composição das espécies e a estrutura das
comunidades vegetais, o que ficou comprovado no presente trabalho.
Para que se conheça com maior precisão a estrutura da população são
necessários estudos de maior duração e mais aprofundados, como o estudo do
incremento médio anual para conhecer o crescimento da população ao longo do ano
para que se possa afirmar com maior clareza o possível uso da população de D.
brasiliensis no local.

Conclusão
O livre acesso do gado bovino ao remanescente em questão prejudicou o
processo de regeneração natural da espécie D. brasiliensis, neste sentido a mesma não
pode ser explorada nesta área tendo em vista o manejo sustentável de sua casca. De fato,
são necessários estudos mais aprofundados para conhecer a estrutura populacional da
espécie no fragmento estudado.

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influência direta da usina Santa Vitória, na região do Triângulo Mineiro- MG.
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Salvador. Bol. Técnico. Série vegetação, 1982.

METODOLOGIA ANALÍTICA DE DIMENSIONAMENTO DE TRANÇAS


VIVAS

P. H. MACHADO; E. GAVASSONI; V. P. FARO

Universidade Federal do Paraná (UFPR), Av. Cel. Francisco H. dos Santos, 210, Jardim
das Américas, Curitiba, Paraná, CEP 81.531-970. Contato: +55 (041) 99520-3279. E-
mail: [email protected]

RESUMO

Em tempos onde se buscam ações que visam suprir as necessidades atuais dos seres
humanos alterando-se minimamente possível o Meio Ambiente, encontra-se na
Engenharia Natural alternativas para algumas obras de estabilização geotécnica de
elevado impacto ambiental da Engenharia Tradicional. A Engenharia Natural procura se
beneficiar das características técnicas da vegetação, para servir como elemento
estrutural em questões, por exemplo, que envolvam a estabilização de encostas ou
controle da erosão superficial do solo. Visando estabilizar processos de degradação de
modo a integrar as técnicas necessárias da Engenharia ao Meio Ambiente, de maneira
que a percepção visual, bem como o risco ambiental dessas intervenções seja mínimo e
a eficácia seja plena em comparação às técnicas convencionais. Entretanto, a grande
dificuldade de sua aplicabilidade é, em sua concepção, estabelecer parâmetros técnicos
e analíticos que possibilitem projetar a estrutura nos moldes da prática moderna da
Engenharia. Neste contexto, a pesquisa em questão busca elaborar uma metodologia de
dimensionamento da técnica da Engenharia Natural para uma de suas configurações
específicas: a trança viva. Essa técnica é utilizada em estabilização de margens de
cursos d’água através da fixação de estacas (vivas ou não) no solo, entrelaçando-as com
ramos flexíveis de vegetação. Fez-se necessário o estudo minucioso de exemplos de
aplicação encontrados na literatura, sendo obtidos parâmetros com elevada dispersão
entre os autores consultados, sendo que apenas no diâmetro mínimo das estacas, a
dispersão de dados atingiu 44,4%. Fato esse, que comprovou a necessidade da
elaboração de um modelo estrutural que, por fim, permitiu o estabelecimento de um
critério adequado de dimensionamento de modo semelhante à abordagem analítica da
Engenharia contemporânea, apresentando o procedimento de cálculo em um fluxograma
e exemplificado através da aplicação da metodologia em uma margem degradada pelos
efeitos erosivos das correntes de um curso d’água na cidade de Curitiba (PR), buscando
recuperá-la.

Palavras Chave: Bioengenharia de Solos, Engenharia Natural, estabilização


geotécnica, RAD

1 INTRODUÇÃO

A Engenharia Natural (também conhecida como Bioengenharia dos Solos4) pode ser
entendida como um segmento da Engenharia que emprega elementos vivos (vegetação)
para solucionar problemas técnicos relacionados ao solo e à sua estabilização, como
erosão de encostas, deslizamento de taludes e assoreamento de rios. O principal objetivo
da Engenharia Natural é racionalizar os métodos construtivos, de maneira que existam
funcionalidades estruturais e ecológicas na solução de problemas de instabilidade de
solos (FERNANDES; FREITAS, 2011), ou seja, realizar intervenções estabilizantes
visando baixo impacto ambiental. Nas intervenções, faz-se uso das chamadas técnicas
biológicas, ou biotécnicas, que são o uso conjunto de elementos biologicamente ativos,
especialmente vegetação, com elementos inertes, como elementos de madeira, peças
metálicas e até mesmo estruturas de concreto (PINTO, 2009).
Nas obras de Engenharia Natural, entretanto, também existem algumas limitações que
fazem com que o seu uso seja pouco explorado. O desconhecimento desse ramo da
Engenharia, agregado à dificuldade de estabelecer parâmetros técnicos específicos de
implantação, de segurança estrutural e de eficácia de suas diversas técnicas, nos moldes
modernos da Engenharia Tradicional, são limitações que impedem a difusão do uso das
biotécnicas em aplicações práticas de estabilização. A Engenharia Natural tem sido, em
muitos lugares e intervenções, aplicada como método alternativo e artesanal, de maneira
que sua implantação quase sempre se dá de forma empírica, sem padrões de
aplicabilidade universal e sem dimensionamento analítico. Contudo, as técnicas da
Engenharia Natural apresentam algumas vantagens quando comparada às técnicas
convencionas pelo fato de utilizarem materiais locais, manterem os aspectos naturais do
ambiente e reduzirem os custos provenientes do transporte. O menor uso de maquinário
e a baixa qualificação necessária da mão de obra também são elementos que podem
reduzir o custo (PINTO, 2009). Portanto, existem diversas vantagens que justificam
estudos mais aprofundados dessas estruturas – abrangendo diversas áreas da Engenharia
–, a fim de facilitar sua utilização.

4
Soil Bioengineering, em inglês.
Motivado pela grande necessidade de pesquisas cientificas na área, este trabalho tem
por objetivo elaborar uma metodologia de cálculo para o dimensionamento de uma das
técnicas da Engenharia Natural denominada trança viva5. A Figura 1 ilustra uma
intervenção por trança viva na estabilização das margens de um córrego no Rio Grande
do Sul, Brasil.

Figura 2: Trança viva implantada no Rio Grande do Sul, Brasil (SUTILI, 2007).
A trança viva consiste, basicamente, em uma estrutura de varas vivas entrelaçadas,
fixadas ao solo através de estacas – vivas (vegetação) ou inertes (madeira, concreto ou
aço) – e imersas parcialmente em água. A trança serve como uma proteção mecânica
contra o impacto da água, controlando a erosão superficial das margens em cursos
d’água.
2 MATERIAIS E MÉTODOS

A fim de se obter um entendimento de como a trança viva tem sido utilizada na


estabilização geotécnica do solo apresenta-se, nesta seção, de forma resumida, o atual
estado da arte do uso da trança viva em aplicações de Engenharia.

2.1.ELEMENTOS DA ESTRUTURA
A tranças viva, como a grande maioria das obras da Engenharia Natural, são compostas
por elementos inertes e vivos (vegetação). Os elementos inertes possuem a finalidade de
garantir a estabilidade da estrutura nos estágios iniciais que seguem a implantação da
intervenção, enquanto a vegetação se desenvolve, e no caso da trança viva, constituem-
se pelo uso de estacas (ainda que se possa usar estacas vivas). Os elementos vivos
assumem a função de estabilização da margem a partir do processo de brotação dos
ramos, que juntamente com as estacas – quando vivas –, compõem os elementos
considerados vivos da estrutura. A Figura 2 apresenta uma configuração típica da trança
viva com a ilustração dos elementos vivos e inertes apresentados.

5
Em Portugal, a trança viva é conhecida como entrançado vivo. Na Itália, recebe o nome de viminata
viva. Em língua alemã de flechtzaun. Em inglês, wattles fences ou living wattle work. Na Espanha como
fajina de empalizada trenzada.
Figura 3: Arranjo típico da trança viva (adaptado de VENTI et al., 2003)
2.2.ESTUDOS DE CASO
Foram analisados, ao todo, cinco estudos de casos encontrados na literatura onde a
trança viva foi utilizada, para analisar as possíveis aplicações e o desempenho da
estrutura. A Tabela 1 apresenta um resumo de três casos onde a trança foi construída em
margens, na qual, havia a necessidade de estabilizar a margem devido a erosão do solo
causada pelas correntes do curso d’água.
Tabela 7: Casos reais encontrados na literatura de tranças construídas em
margens

ESTUDO DE CASO 1 ESTUDO DE CASO 2 ESTUDO DE CASO 3


Fonte: (SUTILI, 2007) Fonte: (REDONDO, 2012) Fonte: (PEREIRA, 2015)

Localização: Pequeno Localização: Em um talude Localização: Parque das


córrego afluente do arroio no arroio Piedra Lá, em Ribeiras Rio Uíma,
Vale Vêneto, Rio Grande Ciudad Real, na Espanha. Sangredo, Portugal
do Sul, Brasil.
Função: Foi construída Função: O Ministério do Função: O objetivo da
em outubro de 2006, em Meio Ambiente da Espanha estrutura é criar uma
uma encosta de 0,8 a 1,3 desenvolve projetos para barreira ao fluxo de água,
m de altura e 22 m de restaurar os cursos d’águas do reduzindo-se a velocidade
extensão, tendo como país desde 2009. Um desses da água nas margens
objetivo estabilizar a projetos objetiva utilizar tratadas, de forma a
encosta e evitar a erosão técnicas da Engenharia permitir que sejam
superficial do solo Natural para melhorar o depositados sedimentos
estado hidrológico dos rios. nas margens reduzindo a
erosão
Desempenho: O Desempenho: Após o Desempenho: Foi possível
desenvolvimento da término das construções, observar de imediato uma
vegetação não foi foram realizados diversos grande sedimentação na
acompanhado, entretanto, estudos cujo objetivo margem aplicada. As
a espécie utilizada, principal era avaliar a estacas e os ramos que
Phyllantus sellowianus, adequação da técnica ao foram implantados eram
mostrou-se com problema e sua localidade. Os vivas. Assim, a trança
desenvolvimento resultados obtidos indicaram manteve a sua elasticidade
vigoroso. Em canteiros que não houve, até o e a consistência, dando
experimentais, os brotos momento da análise, origem a vegetação em
se desenvolveram na parte alterações significativas. alguns pontos.
superior da estrutura
A Tabela 2 apresenta um resumo de dois casos analisados que se assemelham pela
trança estar associada a contenção do solo em locais que sofrem com a excessiva
quantidade de água infiltrada, que causa constantes movimentações de solo.

Tabela 8: Casos reais encontrados na literatura de tranças estabilizantes.

ESTUDO DE CASO 4 ESTUDO DE CASO 5


Fonte: (EVETTE et al., 2009) Fonte: (CURTIS, 2013)

Localização: à oeste dos Alpes Franceces, Localização: Ao lado da barragem de


nas montanhas Dios e Barommies, França. rejeitos da Mina Kemess, Smithers, na
Foi implantada em meados de 1980. Columbia Britânica, Canadá.
Função: Reduzir a velocidade e o volume Função: A estrutura tem o propósito de
do escoamento superficial do solo em reduzir as movimentações de solo através
pequenos vales, onde a estrutura recebe o de pequenas contenções, e assim,
impacto frontal da água. promover o crescimento da vegetação nos
taludes aplicados.
Desempenho: Aprox. 30 m de Desempenho: A área estava sujeita a uma
comprimento, construídas com estacas série de infiltrações e as águas subterrâneas
brutas de Carvalho ou de Pinheiro-Larício, apresentavam efeitos sazonais de erosão do
a altura dessas estruturas não ultrapassava solo, dificultando a consolidação da
0,6 m e sua base era consolidada com vegetação local. Não houve
grandes blocos rochosos. Não há acompanhamento após a implantação da
informações sobre resultados. técnica.

Um outro critério analisado foi quanto à escolha da vegetação. Para a trança viva, as
plantas escolhidas devem apresentar um conjunto de características que ajudem a
controlar fenômenos erosivos superficiais. As plantas do gênero Salix foram as mais
recomendadas pelos autores. No Brasil, existe apenas uma única espécie nativa, o Salix
humbolditiana. Entretanto, existem outras espécies identificadas no país que podem ser
utilizadas nas tranças vivias, como a Phyllanthus sellowianus, Sebastiania schottiana e
Senna reticulata (SOUSA, 2015).
2.3.CONJUNTO PARAMÉTRICO
A literatura especializada dispõe uma série de parâmetros relacionados à implantação da
trança viva, tais como diâmetro ( ) e comprimento ( ) das estacas e dos ramos ( ,
), além de critérios relacionados ao espaçamento necessário entre as estacas ( ), a
altura da trança ( ) e a profundidade necessária à cravação da estaca ( ). A Figura 3
ilustra, em uma vista frontal da estrutura, os parâmetros que serão analisados no
dimensionamento.

Figura 4: Parâmetros de implantação da técnica


Foram obtidos, em diversas referências literárias, indicações de valores para os
parâmetros mencionados anteriormente. A Tabela 3 indica os parâmetros para estacas
de madeira e aos ramos.
Tabela 9: Parâmetros de dimensionamento das estacas e das hastes adotados da
literatura.

Ramos de Vegetação (hastes) Estacas Inertes de Madeira


(cm) (cm) (cm) (cm)
Mí Má Mé Mí Má Mé Mí Má Mé Mí Má Me
Autores n x d n x d n x d n x d
Lewis, 1 5 3 5 7,5 6,25 45 90 67,5
2000
Melorose, 2 4 3 150 8 10 9 80 150 115
2015
Bacci et 1 4 2,5 150 5 8 6,5 100 150 125
al, 2010
Ciancio, 3 4 3,5 150 8 15 11,5 100 150 125
2013
Schliechtl, 3 10 6,5 100
1996
Infusino, 100
2002
Ligato et 100
al, 2002
Venti et 3 10 6,5 80 100 90
al, 2003
Georgi et 4 5 4,5 100
al, 2006
Sutili, 8
2007
Arizpe et 8 15 11,5
al, 2008
Fontana, 3 10 6,5 100
2014
Pereira, 100 200 150
2015
Média 1,5 4 3 0 0 150 5 10 6,5 90 150 100
Global
Coeficient 63, 12,5 13,6 0 0 0 44, 32,6 35,8 23. 26,6 21,5
e de 8 4 9
Variância
(%)*
(*) Dispersão relativa à média, em porcentagem.

É possível perceber uma dispersão significativa entre os valores apresentados pelos


autores, com coeficientes de variância de 63,8% no caso do diâmetro mínimo das hastes
e em todos os parâmetros da estaca, o coeficiente foi superior a 20%.
A Tabela 4 relaciona importantes critérios no dimensionamento da trança, tais como o
espaçamento necessário entre as estacas ( ), a profundidade das estacas ( ) e a altura da
trança ( ).

Tabela 10: Altura da trança, espaçamento e profundidade das estacas

(cm) (cm) (cm)


Autores Mín Méd Máx Mín Méd Máx
Schliechtl; Stern, 1996 100 67 20 30 25
Melorose et al, 2015 100 300 200 20 25 22,5
Infusino, 2002 50 100 75 70 15 30 22,5
Ligato et al, 2002 100 70 30
Venti et al, 2003 70 15 30 22,5
Georgi et al, 2006 100 60
Sutilli, 2007 50 80 65
Arizpe; Mendes, 2008 100 50
Bacci; Falqui, 2010 20 30 27,5
Fontana, 2014 50 100 75 70 30
Média Global 50 100 100 70 20 30 22,5
Coef. De Variância 50 103,7 42,1 10,9 13,7 63 9,9
(%)
(*) Dispersão relativa à média, em porcentagem.

Assim como os parâmetros apresentados em tabelas anteriores, há uma dispersão


elevada entre os valores. Essa dispersão se justifica, também pela variedade de espécies
utilizadas pelos autores (com propriedades e tamanhos diversificados), como Tamarix
africana, Tamarix canariensis, Tamarix tetragyna, Salix arrigonii, Salix purpúrea,
Salix alba (BACCI; FALQUI, 2010). Salix atrocinerea, Salix salviifolia (PEREIRA,
2015), Salix daphnoide, Salix elaeagno, Salix pentandra, Salix apennina, Salix cinérea,
Tamarix gálica (MELOROSE; PERROY; CAREAS, 2015) e Phyllanthus. Sellowianus
(SUTILI, 2007), evidenciando também a necessidade de pesquisas dessas e outras
espécies com potencial de utilização, para se obter informações importantes que serão
necessárias ao dimensionamento (módulo de elasticidade e tensão de escoamento).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como resultados, foi elaborado um modelo que simulará a estrutura real, denominado
Modelo Estrutural, e em seguida, uma sequência lógica de conceitos e condições
necessárias para o dimensionamento da trança viva, apresentados também em um
fluxograma de cálculo e através de um exemplo numérico.
3.1. MODELO ESTRUTURAL
Na concepção do modelo estrutural, é realizada a idealização do comportamento da
estrutura real adotando-se uma série de hipóteses simplificadoras, produzindo-se desse
modo, um modelo matemático que ao representar de forma idealizada a estrutura real,
pode ser utilizado para o seu dimensionamento de forma análoga às estruturas da
Engenharia Tradicional. Os elementos estruturais a serem analisados serão as estacas e
as hastes. Em relação às hastes, as hipóteses a serem analisadas para o seu
comportamento estrutural serão de vigas flexíveis e cabos. A análise estrutural é feita
considerando o domínio linear-elástico dos materiais. A madeira (viva ou seca) é
considerada um material ortotrópico e homogêneo. As solicitações à serem consideradas
serão empuxo de terra, ativo ( ) e passivo ( ), empuxo da água ( ), sobrecarga ( )
e tensão de arraste no talude ( . Os recalques sofridos pela estrutura terão seu efeito
desprezado, uma vez que a estrutura será modelada como composta por partes
isostáticas. As estacas e as hastes serão analisadas sob esforços de tração e compressão
máxima admissível na resistência à flexão, além disso, a tração máxima será analisada
no modelo de cabo das hastes.

A Figura 4 ilustra a idealização do modelo matemático com indicações das solicitações


estudadas.

Figura 5: Modelo Estrutural: (a) Vista superior da estrutura (b) Vista lateral de
uma seção qualquer.
3.2.METODOLOGIA DE DIMENSIONAMENTO
Nesta seção, a partir das análises geotécnica, hidráulica e estrutural, foi elaborado um
procedimento de cálculo para o dimensionamento das tranças vivas.

1º PASSO: Análise da viabilidade técnica


Preliminarmente, é necessário realizar a verificação das condições iniciais de
viabilidade técnica para implantação da trança no local desejado. Para isso, é necessário
que a estrutura respeite as duas condições a seguir:
 1ª Condição: A primeira condição à ser analisada é a ruptura
do conjunto muro-solo (Figura 5), na qual há a ruptura do
terreno seguindo uma superfície de escorregamento. Para
verificação da estabilidade, será necessário analisar a ruptura
global, considerando a estrutura um elemento interno do solo,
que potencialmente pode ser deslocar como um corpo rígido, Figura 6: Ruptura Global
devendo o fator de segurança obtido ser igual ou superior a
1,5.
 2ª Condição: A segunda condição é referente a estabilidade hidráulica. Em estruturas
que estiverem implantadas em margens de cursos d’água, deverá ser verificada se as
correntes irão originar tensões de arraste na estrutura ( ) maiores que uma tensão
admissível ( . A tensão de arraste é calculada pela expressão a seguir, sabendo
que é o raio hidráulico, é o peso específico da água e é inclinação do fundo
do curso d’água:
, devendo (1)
Para a trança viva, kN/m² (FERNANDES; FREITAS, 2011).
Recomenda-se que a velocidade no curso d’água, para implantação da técnica, não
seja superior à 3,5 m/s (FERNANDES; FREITAS, 2011).

Se essas duas condições forem respeitadas, isso conduz que a trança (construída
paralelamente ao curso d’água) possuí viabilidade técnica para ser implantada na
margem ou talude especificado.

2º PASSO: Redução dos parâmetros geotécnicos


Os parâmetros de resistência – ângulo de atrito interno do solo ( ) e a coesão do solo
( ) – são usualmente obtidos para a condição de ruptura do solo e, devido a alteração
das condições naturais do solo durante a obra, devem ser corrigidos por fatores de
redução através das expressões abaixo, obtendo-se assim e que serão utilizados no
dimensionamento.
(2)

(3)

Os valores de podem ser adotados na faixa entre 1,0 e 1,5 dependendo da


confiabilidade da estimativa de e (GERSCOVICH, 2008).

3º PASSO: Cálculo do Empuxo de Terra


As soluções analíticas mais utilizadas para a determinação do empuxo de terra são a
Teoria de Coulumb (1776) e Teoria de Rankine (1857). Para este dimensionamento,
será utilizada a Teoria de Rankine, considerando seus pressupostos, como o solo ser
considerado isotrópico, homogêneo, o nível de terra ser horizontal, o paramento da
estrutura ser vertical, a estrutura ser flexível e sem atrito.
Em relação ao nível do lençol freático e do curso d’água, se a quantidade infiltrada no
solo exceder a capacidade de drenagem, o empuxo do solo irá assumir um valor
superior ao inicial, devido à saturação do solo. Quando o nível d’água estiver maior ou
igual ao nível da superfície do solo (NA ≥ NT), as pressões de água sobre a superfície
da estrutura garantem a estabilidade da estrutura. Entretanto, quando o NA reduz, o solo
ainda fica saturado e o empuxo assume seu maior valor, ou seja, na condição mais
crítica. Se o solo possuir boas condições de drenagem, a pressão da água é
desconsiderada. Então, para o cálculo do empuxo ativo ( ) e passivo ( ) do solo
coesivo com sobrecarga em condições de saturação do solo, sabendo que e são os
coeficientes de empuxo, ativo e passivo, respectivamente. Sendo o comprimento total
da estaca, é altura de cravação da estaca, é o peso específico do solo submerso,
é uma possível sobrecarga no terreno, é o peso específico da água, use-se as
expressões:
(4)

(5)

Os valores dos coeficientes do empuxo ativo ( ) e passivo ( ) são obtidos pelas


equações:
) (6)

) (7)

4º PASSO: Cálculo do espaçamento máximo admissível entre estacas ( )


Para o cálculo do espaçamento entre estacas, deverá ser avaliada três condições de
resistência dos ramos, que serão apresentadas a seguir. Para isso, estudou-se os ramos a
partir de dois modelos estruturais possíveis: vigas e cabos, entendendo que o
comportamento real dos ramos é intermediário à ambos. Adota-se o valor de mais
crítico entre os modelos.
 1ª Condição: As hastes (ou ramos) estarão submetidos à flexão devido aos esforços
provenientes do solo. A verificação de peças
submetidas a estas situações é feita através da
observância simultânea das seguintes
condições: os esforços de tração e compressão
na flexão da haste deverão ser menores ou
iguais à tensão de flexão admissível do
material. Considerando a seção do ramo, uma
circunferência, e considerando incialmente a
pressuposto de que o modelo estrutural que se
Figura 7: Modelo de viga biapoiada
semelha as hastes é de uma viga biapoiada
(Figura 6) com carga uniformemente distribuída ( ), sendo a tensão de
escoamento do ramo, tem-se primeira condição para o cálculo do espaçamento entre
estacas (s):
(8)
, sendo

O valor de corresponde ao empuxo de terra aplicado no último ramo da estrutura,


e é calculado pela expressão a seguir:
(9)
 2ª Condição: A fim de garantir a eficácia da contenção de solo, deve-se calcular o
deslocamento máximo (flecha máxima) dos ramos. É recomendado que o
deslocamento horizontal das hastes no centro não seja superior ao valor do
para evitar que se desenvolva espaços inadequados no contato entre as hastes
inferiores e superiores. Sabendo que é o módulo de elasticidade do ramo e o
momento de inércia, tem-se a condição
(10)
, sendo
 3ª Condição: Agora, considerando o pressuposto de que o modelo estrutural que se
semelha as hastes é de um cabo com carga uniformemente distribuída (w), a razão
entre a tração máxima no cabo ( e a área da seção do ramo ( deverá ser
menor ou igual que , ou seja, . Utilizando , obtêm-se
pela fórmula a seguir:
(11)

Além dessas condições, a resistência ao cisalhamento em sua seção mais crítica será
analisada, considerando a tensão paralela às fibras , tem-se o valor de muito
baixo (na faixa de 0,2 MPa), podendo ser desprezado para efeitos práticos.

5º PASSO: Cálculo da ficha mínima ( )


A estabilidade da trança é somente garantida pela resistência passiva desenvolvida
abaixo da superfície do terreno até um ponto de giro (Figura 7). Em função disso, é
gerado um empuxo passivo (Ep2) pela estaca abaixo do ponto de giro, e ocasionando
também um empuxo passivo do lado do curso d´água (Ep1) pelo trecho da estaca acima
do ponto de giro. Assim como também ocorre em projetos de estacas pranchas, será
adotada uma simplificação, assumindo que a resistência passiva (Ep2) abaixo do ponto y
é representada por uma força concentrada agindo sobre este mesmo ponto.

Figura 8: Centro de giro


O comprimento teórico de é determinado fazendo somatório dos momentos no ponto
y igual a zero (por motivos de segurança contra o tombamento, adotar valor acrescido
em 20%), tendo-se:
(12)

Para um solo drenado, sem sobrecarga e não coesivo, obtido pela equação do 3º grau
abaixo:
(13)
Após calculado , faz-se necessário realizar a verificação do deslizamento através do
equilíbrio das cargas horizontais, sendo que a razão entre as cargas estabilizantes e as
cargas instabilizantes não poderá ultrapassar 1,5, então:
(14)

Considerando inicialmente nenhum acréscimo de comprimento à estaca, ou seja,


desconsiderando Ep2, o valor de para um solo drenado, sem sobrecarga e não coesivo
deverá ser:
(15)

6º PASSO: Cálculo das dimensões da seção da estaca


Deverá ser analisado a flexão das estacas quando submetidos às solicitações do solo.
Sabe-se que o momento máximo ( ) não ocorre no pé da escavação, mas onde o
esforço cortante for nulo. Desconsiderando Ep2, tem-se para o cálculo de :
(16)

Onde:

Utiliza-se quando o solo estiver saturado devido à presença do lençol freático.


A verificação da resistência de peças submetidas à flexão é feita de acordo com as
recomendações da NBR 7190/97, onde a tensão atuante deverá ser menor que a
resistência à flexão do material ( , e sabendo que é a resistência caraterística
do material, é coeficiente de modificação (em função do tipo de madeira,
carregamento previsto e teor de umidade) e é coeficiente de ponderação da
resistência ( e são obtidos consultando a NBR 7190/97), é calculado pela
expressão:
(17)

Sabendo que é o módulo de resistência da seção e a tensão de tração ou


compressão existente na peça, tem-se . Então, para uma seção qualquer, as
dimensões da seção (lado ou diâmetro) são calculados pela expressão abaixo:
(18)

Assim como feito anteriormente com os ramos, a resistência ao cisalhamento na seção


obtida deverá ser analisada. Sendo a área da seção da estaca e a maior carga
pontual aplicada à estaca, obtém-se a tensão de cisalhamento paralela às fibras ,
sendo ≤ . Portanto,
(19)
Sendo que poderá ser obtido consultado a NBR 7190/97. Recomenda-se
utilizar, para fins execução, a espessura mínima de 5 cm.

3.3.FLUXOGRAMA DE CÁLCULO
A fim de facilitar o entendimento da metodologia proposta, o fluxograma abaixo
(Figura 8) indica o procedimento de cálculo para o dimensionamento das tranças vivas.

Figura 9: Fluxograma de cálculo para a trança viva


3.4.EXEMPLO DE APLICAÇÃO DA METODOLOGIA EM CASO PRÁTICO
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) possui um projeto para estabilização
geotécnica das margens do lago do parque São Francisco, localizado no bairro São
Francisco, em Curitiba (PR), através de intervenções da Engenharia Natural, e uma das
biotécnicas aplicadas será a trança viva. Foram obtidos alguns dados para o início do
dimensionamento e estão indicados na Tabela 5

Tabela 11: Dados de partida para o dimensionamento

DADOS DE PARTIDA Estacas Ramos de


Vegetação
Geotécnicos Hidráulicos Eucalytpus Salix humboldtiana
citriodora
Solo: Argila Média 1,27 m 10,7 DR 35 mm
MPa
c 2 kPa 0,0008 123,6 E 3254
m/m MPa MPa
28° 0,065 0,45 σe 37 MPa*
m/s**
20 kN/m³ 1,8
(*) SUTILI, 2007 (**) Velocidade máxima da corrente

1º PASSO: Viabilidade técnica


 1ª Condição: O valor obtido para o fator de segurança contra ruptura global é
maior que 1,5.
 2ª Condição: O valor obtido para (Equação 1) é 0,007 kN/m (≤ 0,2 kN/m ) e
velocidade máxima da corrente é 0,065 m/s (≤ 3,5 m/s).

2º PASSO: Redução dos parâmetros geotécnicos


Para = 1,2. Tem-se = 24° (Equação 2) e = 1,7 kPa (Equação 3)

3º PASSO: Cálculo do Empuxo de Terra


Sendo 0,42 (Equação 6) e 2,38 (Equação 7). Então,
(Equação 4) e (Equação 5)

4º PASSO: Cálculo do espaçamento máximo admissível entre estacas


 1ª Condição: Sabendo que = 0,245 kN/m (Equação 9), tem-se 1,13 m
(Equação 8)
 2ª Condição: Tem-se 0,60 m (Equação 10)
 3ª Condição: Tem-se 2.61 m (Equação 11)
Então, para atender todas as condições propostas, o espaçamento deverá ser menor ou
igual à 60 cm (condição da flecha máxima). Caso os ramos forem fixados às estacas
através de fios ou pregos, não permitindo seu deslocamento, a condição da flecha
máxima poderá ser desconsiderada, permitindo que o espaçamento possa ser superior à
60 cm e menor do que 1,13 m (1ª condição).

5º PASSO: Cálculo da ficha mínima


O valor da ficha é m (Equação 12). Deverá ser verificado a segurança
contra deslizamento, com , obtendo-se . Então, o calculado
anteriormente satisfaz a segurança contra o deslizamento, podendo ser adotado para o
dimensionamento.

6º PASSO: Cálculo das dimensões da seção da estaca


Para uma estaca com seção quadrada de lado , tem-se e kN.m
(Equação 16), então cm (Equação 18). Para a resistência ao cisalhamento, tem-
se cm² (Equação 19), então . Para fins de execução, utiliza-se
5,0 cm.

4 CONCLUSÃO

Quanto à metodologia de dimensionamento, um ponto importante observado é referente


a coesão do solo, que se não forem realizadas as reduções necessárias (devido a
modificação das condições naturais do solo durante a execução da obra), e utilizarem no
cálculo a coesão obtida em campo, em muitos casos, como a profundidade do corte é
relativamente baixa (na faixa de 30 cm), apenas a coesão natural do solo já garante a
estabilidade do talude, tornando-se uma estrutura que objetiva somente aliviar o arraste
das partículas na margem, protegendo-a contra a erosão do solo.
Outro ponto importante é quanto às dimensões obtidas para os elementos no exemplo
apresentado: O espaçamento necessário entre estacas mostrou-se compatível com os
dados fornecidos pela literatura (em média 100 cm para uma trança de 30 cm de altura),
sendo obtidos 60 cm para uma trança de 50 cm de altura. A ficha mostrou-se adequada
aos valores da literatura (na faixa de 70 cm) e as seções da estaca ficaram abaixo dos
valores sugeridos (para o exemplo aplicado, a espessura da estaca é de 4,3 cm). A
sugestões dos autores estiveram em média em 6,5 cm.
Um último ponto, mais amplo, à ser discutido é referente a dificuldade de encontrar
material vegetativo que tenha as suas propriedades estudadas para este fim no Brasil,
visto que os parâmetros de partida do dimensionamento exigem tais dados, como
módulo de elasticidade e resistência à flexão dos ramos, informações essas que carecem
de fonte devido falta de ensaios específicos. Então é importante que, junto as
universidades, exista a promoção do seu uso para tornar essa solução economicamente
viável, podendo substituir algumas obras da Engenharia Tradicional.
Sendo assim, a fim de contribuir para que o desenvolvimento da Engenharia Natural,
essa pesquisa deu atenção especial ao início um procedimento de cálculo mais completo
para as tranças vivas. Sendo, a próxima etapa da pesquisa à ser realizada, será analisar a
taxa de perda de energia da água do solo (gradiente hidráulico) e o efeito sobre a altura
da trança, permitindo assim, concluir uma análise paramétrica da bibliografia com
maior precisão.

REFERÊNCIAS
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de Poblet, Espanha: Generalitat Valenciana, 2008.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS: NBR 7190: Projeto de
estruturas de madeira - elaboração: Rio de Janeiro, 1997.
BACCI, M.; FALQUI, P. Schede tecniche opere di Ingegneria Naturalistica. Criteria
srl, 2010.
CIANCIO, O. Manuale per la corretta realizzazione e manutenzione delle opere di
salvaguardia dei versanti. Palermo, Itália: 2013.
CURTIS, T. Kemess south mine reclamation and closure. Journal of Chemical
Information and Modeling, v. 53, n. 9, p. 1689–1699, 2013.
EVETTE, A. et al. History of bioengineering techniques for erosion control in rivers in
Western Europe. Springer Science+Business, 2009.
FERNANDES, J. P.; FREITAS, A. R. M. DE. Introdução à Engenharia Natural.
Évora, Portugal: 2011. v. II
FONTANA, G. D. Ingegneria naturalistica e consolidamento dei versanti. Pandova,
Italy: 2014.
GEORGI, JULIA; STATHAKOPOULOS, I. Bioengineering Techniques for Soil
Erosion Protection and Slope Stabilization. 46th Congress of the European Regional
Science Association. Anais...Volos, Greece: 2006
GERSCOVICH, D. Estruturas de Contenção. 2008.
INFUSINO, E. Prezzario delle principali opere di ingegneria naturalistica. 2002.
LEWIS, L. Soil Bioengineering: An alternative for roadside management. San
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LIGATO, D. et al. Tlante Delle Opere Di Sistemazione Dei Versanti. Roma, Italia:
2002.
MELOROSE, J.; PERROY, R.; CAREAS, S. Quaderni di cantiere: Viminata viva di
versanti2015. Roma, Italia: 2015.
PEREIRA, T. A. R. Caracterização de rios e ribeiras e desenvolvimento de projetos
de reabilitação fluvial. Porto, Portugal: 2015.
PINTO, G. M. Bioengenharia de solos na estabilidade de taludes: Comparação com
uma solução tradicional. Porto Alegre, Brasil: 2009.
REDONDO, J. M. G.-G. Optimización de técnicas de bioingeniería para la mejora
del estado ecológico y estabilización de márgenes de los ríos. 2012.
SCHLIECHTL, H. M.; STERN, R. Ground Bioengineering Techniques for Slope
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SOUSA, R. Metodologia para especificação de plantas com potencial biotécnico em
Engenharia Natural. 2015.
SUTILI, F. J. Bioengenharia de solos no âmbito fluvial do sul do brasil. 2007.
VENTI, A. D. et al. Manuale tecnico di Ingegneria Naturalistica della Provincia di
Terni. 2003.

ANÁLISE DE ESPÉCIES EXÓTICAS COM POTENCIAL INVASOR NA


UNIDADE DE CONSERVAÇÃO PARQUE MUNICIPAL ECOLÓGICO JIRAU
ALTO / PR

KREFTA, S. M¹.; ATANAZIO, K. A¹.; DERENGOSKI, J. A¹.;KLEIN, D. R¹.;RUTZ,


R. R. ¹.;BRUN, F. G¹.; FACCHI, S. P. .¹

¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de Ciências


Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta Dinheiro - Lages – SC, Brasil.
CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-9100. E-mail: [email protected]

RESUMO

A presença de espécies exóticas em unidades de conservação é altamente prejudicial,


sendo que as mudanças por elas causadas ao ambiente podem levar a extinção de
espécies nativas e consequentemente o desequilíbrio de sua biodiversidade. Sendo
assim, objetivo do presente estudo foi inventariar as espécies exóticas com potencial
invasor na Unidade de Conservação Parque Municipal Ecológico Jirau Alto no
município de Dois Vizinhos – PR. Primeiramente estabeleceram-se de maneira aleatória
parcelas de 10m x 15m (150m²), ao todo foram instaladas 10 parcelas. A instalação das
parcelas aconteceu com o auxílio de uma trena métrica de 20 m e piquetes que
demarcaram o perímetro de cada uma. Depois de demarcadas as parcelas, realizou-se o
levantamento das espécies exóticas. Para tanto, foram avaliados os indivíduos arbóreos
com circunferência à altura do peito (CAP) igual ou superior à 10 cm. Dentre as
espécies de maior predominância encontrada, a Hovenia dulcis Thunb.teve ocorrência
em 9 parcelas. A segunda espécie de maior ocorrência encontrada foi a Musa
paradisiaca L. Observou-se que essas espécies tem alta dispersão ao longo do parque,
indicando um quadro de invasão biológica bastante avançado. No Parque Jirau Alto
pode-se destacar ainda a ocorrência de espécies como Citrus sp. e Eriobotrya japonica
(Thunb.) Lindl., principalmente nas parcelas mais próximas a área agrícola. Fato esse
que está intimamente relacionado com a facilidade de dispersão dessas espécies nesse
local, por se encontrarem próximas a residências. Ao analisar a invasão biológica e sua
regeneração nota-se que no parque foram encontrados representantes de espécies
exóticas e exóticas invasoras. Isso ocorre devido a forte antropização que é exercida
sobre a área analisada.

Palavras Chave: uva do japão, invasão biológica, diversidade

Introdução

Estudos que avaliam a invasão biológica de espécies vegetais são de extrema


importância, uma vez que de acordo com Cordeiro (2005) espécies exóticas são aquelas
que são introduzidas em um novo ambiente que não seja o seu de ocorrência natural. Já
espécies exóticas invasoras são denominadas aquelas plantas que além de não estarem
em seu habitat natural, se dispersam por grandes áreas causando mudanças no ambiente
invadido.
De acordo com Ziller (2001), é tão evidente o potencial de espécies exóticas
invasoras de modificar sistemas naturais, que as mesmas, são consideradas a segunda
maior ameaça à biodiversidade, perdem somente para destruição de hábitats e a
exploração antrópica direta. Quando introduzidas em outros ambientes as espécies
exóticas invasoras ficam livres de inimigos naturais e se adaptam, passando a
reproduzir-se a ponto de ocupar o espaço de espécies nativas e modificar os
ecossistemas. Isso também causa alterações nas propriedades ecológicas do solo,
ciclagem de nutrientes, cadeias tróficas, estrutura, ciclo hidrológico, entre outros.
A invasão de ambientes naturais por espécies exóticas já é considerada a
segunda principal causa da perda de biodiversidade no mundo, ficando atrás apenas da
fragmentação de habitats naturais pela ação direta do homem (RODOLFO et al. 2008).
Segundo Bechara (2003) espécies exóticas invasoras são espécies que, pelo processo de
contaminação biológica, se tornam dominantes, alterando a fisionomia e a função dos
ecossistemas naturais, levando as populações nativas à perda de espaço e ao declínio
genético. A suscetibilidade de uma área vegetal à invasão por espécies exóticas
representa a fragilidade de um ambiente.
Conhecer a ecologia e saber como fazer o controle de espécies invasoras são de
maneira geral tópicos bastante complexos e envolvem aspectos como a característica
biológica das espécies, meios de entrada e dispersão, relação entre a sua disseminação e
as atividades humanas, aspectos legais, impactos sócio-econômicos e técnicas de
manejo (BRASIL, 2000).
As espécies exóticas invasoras devem ser alvo de programas de controle e
erradicação. Isso pode ser através de métodos de controle mecânico, químico e
biológico, que podem ser utilizados para reduzir sua densidade populacional. Fato esse
que enfatiza ainda mais a importância de estudos referentes a invasão biológica, com
ênfase em unidades de conservação, que se encontram em áreas urbanas (ZILLER,
2006).
A presença de espécies exóticas nas unidades de conservação prejudica a
conservação das mesmas, pois as mudanças por elas causadas ao ambiente podem levar
a extinção de espécies nativas e consequente desequilíbrio da biodiversidade. Retirar
espécies exóticas das unidades de Conservação é um trabalho de suma importância para
manter a qualidade ambiental garantindo a conservação das espécies nativas. Unidades
de Conservação de proteção integral objetivam a proteção de amostras importantes da
biodiversidade de regiões fitogeográficas, e são as maiores depositárias da fauna e flora
do Estado do Paraná (IAP, 2012).
Sendo assim, objetivo do presente estudo foi inventariar as espécies exóticas
com potencial invasor na Unidade de Conservação Parque Municipal Ecológico Jirau
Alto no município de Dois Vizinhos – PR.

Material e Métodos

Área de estudo

A análise de invasão biológica foi aplicada no Parque Municipais Jirau Alto,


localizado no município de Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná. O relevo do município é
constituído por planaltos com altitude média de 500 metros. De acordo com Alvares
(2013), o clima é do tipo subtropical úmido (Cfa), sendo a temperatura média no mês
mais frio inferior a 18ºC e a temperatura média no mês mais quente acima de 22ºC, com
verões quentes. A umidade relativa varia entre 64 a 74% e as chuvas são bem
distribuídas durante todo o ano, com precipitação pluviométrica entre 1800 a 2200 mm
anuais.
O local selecionado foi classificado como uma área de ecótono, onde ocorre a
transição entre as fitofisionomias da Mata Atlântida, Floresta Ombrófila Mista (FOM), e
a Floresta Estacional Semidecídual (FES), apresentando características intermediárias
entre os tipos vegetacionais que a compõem (IBGE, 2012).
No perímetro urbano de Dois Vizinhos- PR destacam-se dois rios, sendo eles o
Rio Jirau Alto do qual se captam as águas para o abastecimento da cidade, o outro é o
Rio que dá o nome ao município, Rio Dois Vizinhos (SHIKASHO et al., 2008).
O Parque Municipal Ecológico Jirau Alto foi criado pelo decreto municipal nº
3400,04/97, de 10 de abril de 1997. A área é uma Unidade de Conservação (UC)
considerada como macrozona de fragilidade ambiental do município de acordo com a
lei Nº. 1311/2007 que altera o plano diretor de Dois Vizinhos. O parque apresentava em
sua criação área original de 415.840,15 m², e está localizado entre as coordenadas: 53º
04’30” Oeste e 25º 44’ 30”Sul, com altitude aproximada de 508 m, mas atualmente,
com os avanços da urbanização e criação de loteamentos, a sua área total foi afetada e
reduzida.
O parque Jirau Alto foi muito utilizado para ações de educação ambiental frente
às escolas municipais. Mas com o tempo, a falta de manutenção em suas trilhas e o uso
indevido e muitas vezes ilícito de sua área, fez com que o parque entrasse em desuso,
sendo apenas utilizada para pesquisas científicas dos cursos de graduação da cidade e
região.

Amostragem

Primeiramente estabeleceram-se de maneira aleatória parcelas de 10 m x 15 m


(150m²), as parcelas ficaram próximas à trilha para o lado direito do curso do rio, e
próximas ao rio do lado esquerdo do seu curso, ao todo foram instaladas 10 parcelas.
A instalação das parcelas aconteceu com o auxílio de uma trena métrica de 20 m
e piquetes que demarcaram o perímetro de cada parcela. Depois de demarcadas as
parcelas, realizou-se o levantamento das espécies exóticas, que compreendeu os
indivíduos arbóreos com circunferência à altura do peito (CAP) igual ou maior que 10
cm. A mensuração do CAP foi realizada com uma fita métrica e evidencia-se que o
valor obtido foi transformado em diâmetro à altura do peito (DAP), pela seguinte
fórmula:

Onde: DAP: Diâmetro da altura do peito (m); CAP: Circunferência da altura do peito; π:
Pi (Constante matemática).

Resultados e Discussão
1.1.1
Dentre as espécies de maior predominância encontrada no Parque Jirau Alto, a
mais encontrada foi a Hovenia dulcis Thunb com ocorrência em 9 parcelas. A segunda
espécie de maior ocorrência encontrada foi a Musa paradisiaca L. Observou-se que
essas espécies têm uma boa dispersão ao longo do parque, indicando um quadro de
invasão biológica bastante avançada.
Nas parcelas 1 e 2 distribuídas no começo do parque Jirau Alto, observou-se
somente a espécie H. dulcis, indicando a alta invasão que ocorre nos locais mais
próximos à rua e que sofrem mais com a antropização (Tabela 1).

Tabela 1 - Espécies exóticas e valores médios de altura total e diâmetro à altura do


peito, na Unidade de Conservação Parque Municipal Ecológico Jirau Alto no município
de Dois Vizinhos – PR.

Par Família Nome científico Nome Popular Indivíduos Ht (m) DAP (cm)
P1 Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunberg Uva-do-japão 3 18,80 20,42

P2 Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunberg Uva-do-japão 4 19,88 16,56

Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunberg Uva-do-japão 3 18,93 26,52


P3 Myrtaceae Eucalyptus sp. Eucalipto 1 53,00 85,94
Musaceae Musa paradisiaca L. Bananeira 1 4,70 2,54

Musaceae Musa paradisiaca L. Bananeira 6 4,08 16,00


P4
Myrtaceae Eucalyptus sp. Eucalipto 1 50,00 55,06

Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunberg Uva-do-japão 11 27,90 35,01


P5
Myrtaceae Eucalyptus sp. Eucalipto 2 14,21 15,77

P6 Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunberg Uva-do-japão 9 22,69 29,82

Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunberg Uva-do-japão 6 20,55 20,75

P7 Rosaceae Eriobotrya japonica Lindl Nêspera 1 11,30 17,50

Rutaceae Citrus sinensis L. Osbeck Laranja-lima 1 2,50 3,50

Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunberg Uva-do-japão 2 24,10 40,89

Rosaceae Eriobotrya japonica Lindl Nêspera 1 11,00 6,36

Musaceae Musa paradisiaca L. Bananeira 1 5,00 17,50


P8
Rutaceae Citrus reticulata Blanco Bergamota 1 5,00 5,41

Rutaceae Citrus latifolia Tanaka Limão taiti 1 15,1 10,82

Rutaceae Citrus bigaradia Loisel. Limão cravo 1 3,50 3,51

Rutaceae Citrus sinensis L. Osbeck Laranja-lima 5 3,97 9,04

P9 Rosaceae Eriobotrya japonica Lindl Nêspera 4 8,25 5,27

Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunberg Uva-do-japão 3 17,33 17,77

Musaceae Musa paradisiaca L. Bananeira 2 3,95 12,41


P10
Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunberg Uva-do-japão 1 15,60 12,10

Onde: Par: Parcela; Ht: altura total (m); DAP (cm).


Fonte: Os Autores (2017).

No Parque Jirau Alto pode-se destacar ainda a ocorrência de espécies como


Citrus sp. e Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl principalmente nas parcelas mais
próximas a área agrícola (Tabela 1), fato esse que está intimamente relacionado com a
facilidade de dispersão dessas espécies nesse local, uma vez que o fragmento florestal é
mais aberto e não tem tantas barreiras o estabelecimento dessas exóticas.
De acordo com a Tabela 2, H. dulcis foi à espécie que teve maior número de
indivíduos em estado regenerativo em relação às demais espécies encontradas.

Tabela 2 - Regeneração das espécies exóticas na Unidade de Conservação Parque


Municipal Ecológico Jirau Alto no município de Dois Vizinhos – PR.

Quantidade
Parque Parcelas Espécies
regeneração
1 Hovenia dulcis Thunberg 113
2
Hovenia dulcis Thunberg 59
Hovenia dulcis Thunberg 65
3
Musa paradisiaca L. 10
4 Musa paradisiaca L. 9
Jirau Alto
5 Hovenia dulcis Thunberg 530
Hovenia dulcis Thunberg
6 402
Hovenia dulcis Thunberg
7 336
Hovenia dulcis Thunberg
8 138
Hovenia dulcis Thunberg
9 176
Fonte: Os Autores (2017).

A espécie H. dulcis, se mostrou com maior número de indivíduos, mostrando


que essa espécie possui grande potencial de invasão biológica. Isso pode ser explicado
pela maneira como essa espécie é dispersa que de acordo com Selle (2009) é pela
avifauna que a consome, e também pela boa capacidade germinativa que suas sementes
possuem na região. Além disso, a uva-do-japão é bastante empregada na produção
apícola, pela abundância da sua floração, o que facilita a ocorrência impactante da
invasão biológica, justificando-se o grande número de regeneração dessas espécies.
Há relatos de sua ocorrência na maior parte das florestas naturais da região Sul
do Brasil, principalmente na Floresta Ombrófila Mista, e em lugares que apresentem
algum tipo de degradação ou que possuam alguma árvore matriz em suas proximidades
(NOERNBERG, 2009; CARVALHO, 1994). Estudos de Noernnerg (2009) concluem
que a uva-do-japão apresenta uma população abundante e que, provavelmente, no
futuro, a espécie passe a dominar o componente arbóreo do remanescente florestal da
região Sul do Brasil.
Ao analisar a invasão biológica e a regeneração, nota-se que no parque foram
encontradas representantes de espécies exóticas e exóticas invasoras, o que está
relacionado à forte antropização que é exercida sobre os mesmos. Além disso, outro
fator que justifica esses resultados é o próprio histórico do nosso país, onde na
arborização urbana raramente são utilizadas espécies nativas, dando-se preferência para
espécies que não fazem parte do bioma natural.
Um exemplo disso é encontrado no trabalho de Andrade (2002), que ao analisar
os componentes arbóreos de Campos do Jordão/ SP, constatou que mais de 80% dos
indivíduos não eram nativos do bioma local e nem do Brasil. Esse forte uso de espécies
exóticas fez com que as mesmas se propagassem no município de Dois Vizinhos seja de
maneira direta e indireta ocupando a área deste parque, que se encontra na área urbana
do município.
Evidencia-se ainda que a espécie H. dulcis foi introduzida na região sul do país
em função da boa qualidade de sua madeira e para fazer sombra em obras rurais. Essa
espécie possui boa adaptação ao clima local e bastante resistência ao frio (RIGATTO et
al., 2001), sendo esses outros fatores que ajudam na manutenção dessa espécie no
parque. Oliveira et al. (2011) ao avaliar um remanescente de Floresta Ombrófila Mista,
localizado no Campus Barigui da Universidade Tuiuti do Paraná, município de Curitiba
–PR, também encontraram exemplares de H. dulcis, o que enfatiza o potencial invasor
dessa espécie.
De acordo com a Portaria no 95 de maio de 2007 do IAP, as espécies
amostradas: H. dulcis, encontra-se na lista de espécies exóticas invasoras do Estado do
Paraná, a qual vem ocupando o espaço de espécies nativas, principalmente nos
ecossistemas: Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila Mista e Floresta
Ombrófila Densa e para tanto recomendação a remoção das mesmas (PARANÁ, 2007).

Conclusões

Percebe-se que o parque encontram-se com alta infestação de espécies exóticas,


sendo que a H .dulcis que tem potencial invasor. Isso demonstra que atividades de
manejo para controle e/ou erradicação dessas espécies deve ser realizado.

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AVALIAÇÃO INICIAL DO SOLO EM PROCESSOS DE RESTAURAÇÃO DE


MATA CILIAR

L. R. Bachega; C. Tavares; M. D. Ferreira

Departamento de Ciências Ambientais – Universidade Federal de São Carlos


Rodovia Washington Luis, km 235 - São Carlos - SP – BR CEP: 13565-905
[email protected]

RESUMO

O processo de restauração florestal envolve mudanças em diversos compartimento


acima e a abaixo do solo, entretanto o entendimento dessas alterações é complexo o que
exige o uso de parâmetros como indicadores. Foi proposta a seleção de indicadores de
qualidade do solo que permitam a avaliação dos restauros, sendo: textura, umidade,
densidade, resistência do solo à penetração e matéria orgânica. Neste contexto
avaliamos o grau de compactação e a quantidade de matéria orgânica do solo em área de
Reflorestamento, em comparação com uma área próxima de Remanescente Florestal
localizadas em São Carlos, SP. O solo foi amostrado de forma sistemática, com três
repetições, em ambas as áreas, coletando camadas de 0-20, 20-40, 60-80, 80-100 cm. A
partir da comparação de tais atributos, constatamos a efetividade do Restauro, visto que
este apresenta valores semelhantes a área de Remanescente.

Palavras-chave: granulometria; matéria orgânica; resistência à penetração


Introdução
As matas ciliares exercem diversas funções ecológicas por serem locais de
conexão entre os ambientes terrestre e aquático. Por serem áreas importantes no
amortecimento de muitos impactos ambientais e na conservação dos ciclos
biogeoquímicos (GREGORY et al., 1991; PETER et al., 2012), são consideradas como
áreas de preservação permanente pelo Código Florestal (Lei nº 12651/12). Apesar desse
papel ecológico, as áreas ciliares não ficaram isentas do processo de uso e ocupação do
solo nos trópicos. Como consequência, as matas ciliares no Estado de São Paulo foram
reduzidas a 0,63% da cobertura do estado (SMA, 2005).
As áreas de reflorestamento ocorrem normalmente em áreas onde, devido às
alterações da cobertura vegetal e o mau uso dos recursos, podem ter ocorrido alterações
no solo podendo levar este ao estado de considerá-lo degradado. Portanto, além da
qualidade da vegetação que irá se estabelecer na área, é igualmente importante a
qualidade do solo sob esta, pois a sustentabilidade das espécies florestais depende da
recuperação da fertilidade do solo (VITOUSEK; FARRINGTON, 1997).
A degradação do solo pode ocorrer em seus compartimentos físicos, químicos e
biológicos, o que leva à complexidade da análise da qualidade do solo. Karlen et al.
(1997) apontam que para se medir a qualidade do solo é preciso avaliar a sua a
capacidade de entrada e retenção de água, a resistência à degradação e a capacidade de
suportar e manter o crescimento de plantas. Esses autores ainda salientam que qualidade
do solo não pode ser medida diretamente, sendo necessária a interpretação dos seus
indicadores.
Os indicadores devem seguir alguns critérios que envolvem processos ocorrentes
no ecossistema, integrar propriedades e processos físicos, químicos e biológicos, ser
acessível e aplicável no campo e ser sensível a variações de manejo, de clima e também
na escala de tempo (DORAN; PARKIN, 1994). Os principais indicadores utilizados
são: densidade e infiltração são de água (ALVES; SUZUKI; SUZUKI, 2007); a
capacidade de troca de cátions (REIS, 2008); estoques de carbono (BATLLE-BAYER;
BATJES; BINDRABAN, 2010; WANTZEN et al., 2012) e atividade da biomassa
microbiana (KASCHUK; ALBERTON; HUNGRIA, 2011; VASCONCELLOS et al.,
2013).
São recorrentes os trabalhos que analisam as alterações nos atributos do solo em
diferentes coberturas vegetais (ALVARENGA; DAVIDE, 1999; CARNEIRO et al.,
2009). Porém, nenhum indicador consegue individualmente descrever e quantificar
todos os aspectos de qualidade do solo, pois há uma relação entre eles. (STENBERG,
1999).
A estrutura da vegetação em uma área de reflorestamento responde aos atributos
do solo de maneira diferente em relação a estrutura da floresta e a idade do
reflorestamento. Em revegetação natural as alterações nas características do solo são
observadas já durante o primeiro ano de repouso da área. Apenas a retirada dos animais
em áreas de pastagem ocasiona a diminuição da compactação do solo, porém os efeitos
ocorreram apenas na camada superficial do solo (0-5cm) não influenciando nas demais
camadas (DREWRY, 2006). Entretanto, restauros com melhor estrutura de floresta
podem responder positivamente a vários indicadores de qualidade do solo, como
densidade do solo, taxa de infiltração, matéria orgânica do solo e nitrogênio (VIANA,
2012).
A idade dos reflorestamentos também é um fator que influencia nos indicadores,
considerando que áreas mais antigas estão mais estabelecidas. O carbono da matéria
orgânica do solo pode ser substituído pelo derivado da nova cobertura durante a
primeira década de reflorestamento (ALCÂNTARA et al., 2004; MARIN-SPINDOLA
et al., 2009). Porém, características de granulometria podem demorar mais de dez anos
para serem alteradas (NOGUEIRA JUNIOR, 2010). Em diferentes idades de
reflorestamento de Mata Atlântica, onde o mais antigo com a idade de 20 anos, os
parâmetros de respiração microbiana e carbono microbiano foram os que mais
correlacionaram com diferentes idades de reflorestamento, sendo maior os valores
quanto mais antigo o plantio (VASCONCELLOS et al., 2013). Esses autores ainda
observaram que a densidade do solo apresentou maiores valores nos plantios mais
jovens e, aos 20 anos, este indicador é semelhante ao da vegetação nativa. Assim, o
compartimento biológico do solo respondeu mais rapidamente às mudanças acima do
solo que o compartimento físico.
Devido à complexidade em analisar todos os critérios levantados, a avaliação da
qualidade do solo se torna muitas vezes inviável (HERRICK, 2000). Portanto, a
possibilidade de escolher alguns critérios que revelem a situação do solo melhoraria a
sua aplicabilidade. Assim, deve-se selecionar alguns indicadores baseados em sua
relação com os processos do ecossistema. O presente trabalho tem o objetivo de realizar
um levantamento prévio das características representativas dos atributos de solo,
densidade e matéria orgânica, sob áreas de reflorestamento em comparação com área
nativa.

Materiais e Métodos
Área de estudo
O presente trabalho tem como área de estudo a bacia hidrográfica do Ribeirão do
Feijão (São Carlos, SP), com extensão de 22 km, que pertence à bacia hidrográfica do
rio Paraná. O estudo foi conduzido em áreas de mata ciliar na bacia do Ribeirão do
Feijão (22° 04’ 49” e 22° 09’ 12” S e 47° 42’ 59” e 47° 53’ 20” O).
O clima da região em estudo é Tropical de Altitude, com verões chuvosos e
invernos secos, pela classificação Köppen de Cwa (SETZER, 1966). A vegetação
característica desta área é de Floresta Estacional Semidecidua (IBGE, 2012), entretanto
está reduzida a pequenos fragmentos (16,4%) sendo substituída principalmente por
pastagem (38,7%) (COSTA, 2010). A área de estudo teve a implementação do Projeto
Plantando Águas entre 2006 e 2014. Este projeto foi organizado pela Organização Não
Governamental (ONG) Iniciativa Verde com parceria de instituições públicas, privadas
e produtores rurais com o objetivo de restauração de APP’s da bacia do Ribeirão Feijão.
Na área de drenagem da bacia hidrográfica do Ribeirão do Feijão o solo que
predomina é o latossolo vermelho amarelo (Figura 1), seguido de neossolo
quartzarênico. Nas margens do ribeirão estão presentes solos hidromórficos, visto que
são tipos de solos presentes em áreas úmidas. Na cabeceira, estão presentes os latossolo
vermelho amarelo, neossolo litólico e argissolo vermelho amarelo (EMBRAPA, 1981).

Coleta e Análise de Dados


Para a coleta de dados foram selecionadas 2 áreas de amostragem no Ribeirão
Feijão (Figura 1), sendo estas, uma área de Restauro (R), e uma área de Remanescente
Florestal (RF). Para a seleção das áreas de amostragem, buscaram-se áreas que
apresentassem o máximo de uniformidade em suas características topográficas e
edáficas, e de histórico de ocupação e recuperação.

Figura 2: Área de estudo e os pontos de coletas.

A área restaurada teve o plantio em 2006, seguindo metodologia de Silva e


Soares (2003). Nas áreas R e RF foi realizada uma amostragem sistemática a cada 10 m,
totalizando 3 pontos de coleta por área. Em cada ponto o solo foi coletado nas camadas
de 0-20, 20-40, 40-60, 60-80, 80-100. Além disso, foram coletadas em cada parcela
amostras indeformadas de 5 cm.
O reconhecimento da qualidade do solo compreendeu primeiramente em análise
de granulometria por método gravimétrico seguindo metodologia da Embrapa.
Posteriormente, foi determinado a umidade pelo método de calcinação a 250°C, que
consiste na diferença de massa entre a amostra de solo úmido e após secagem em mufla
(SILVA, VIDAL-TORRADO, ABREU-JUNIOR, 1999) no Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
A compactação foi relacionada à resistência à penetração, a qual foi aferida in
situ através de penetrômetro dinâmico (VANAGS et al; 2005). Para o cálculo foi
utilizado uma adaptação da Equação Holandesa (Stolf, 1991) simplificada utilizadas por
alguns autores, como Cassan (1982), Vanags et al; (2005).
Onde:
R: resistência à penetração (Pa);
A: área da base do cone (m²);
g: aceleração da gravidade (9,81 m/s²);
H: altura de queda do martelo (m);
m: massa do martelo (kg);
m’: massa total do penetrômetro (kg);
Δz: profundidade da penetração da haste para um golpe (m).

As informações sobre o penetrômetro utilizado necessárias para o cálculo da


resistência à penetração estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1: Dados sobre o penetrômetro.

Massa do martelo (kg) 2,5 ou 3,5

Altura de queda do martelo (m) 0,72

Massa total do penetrômetro 7,992


(kg)

Área da base do cone (m²) 0,0004

Os atributos do solo avaliados foram testados entre as áreas para cada


profundidade por test-t e a diferença entre as profundidades para a mesma área
através de ANOVA. A relação entre as variáveis estudadas e a profundidade foi
averiguada por análise de regressão. Utilizou-se para todos os testes o nível de
significância de 5% no ambiente R (R Core Team, 2014). As variáveis foram
transformadas quando necessário.

Resultados e Discussão
Umidade e granulometria
Os perfis de umidade e granulometria (Figura 2) apresentam padrões entre áreas.
Para umidade (A) há diferença em todas as profundidades (p<0,05) e em média a área
restaurada apresentou maior valor que o remanescente. A área de restauro apresenta
maiores porcentagens de argila silte e areia e o remanescente maiores de areia. A
diferença na composição textural do solo é um dos fatores determinantes do teor de
umidade; solos de textura argilosa tendem a reter mais umidade do que os arenosos
(GOMIDE et al; 2011). O teor médio de argila no ambiente de Remanescente foi 20%,
sendo responsável pela baixa umidade atual, cujo valor médio foi de 11,50%, enquanto
para o Restauro os valores médios de argila foram superiores a 40% – portanto, eles
retiveram maior umidade, cujo valor médio ficou acima de 19%.
Dentro dos perfis de cada área não houve diferença entre as profundidades para
nenhum parâmetro granulométricos analisados. Assim, as áreas não apresentaram
características de solos em áreas próximas a canais de drenagem, solos aluviais. Os
resultados correspondem a solos residuais formados a partir do intemperismo da rocha
parental (basaltos da formação Serra Geral), que devido ao lento processo de
intemperismo químico formou um perfil homogêneo em relação a granulometria ao
longo dos horizontes (DOS SANTOS, 2013).

Densidade e Resistência a penetração

As áreas R e RF apresentaram valores médios de densidade de 0,68 e 0,55


kg/dm3, respectivamente, não apresentando diferença (p=0,1937, n=3). Os valores
encontrados correspondem aos de solos humíferos. Esses valores de densidades são
menores do que os encontrados em cobertura agrícola (CARNEIRO et al, 2009),
correspondendo aos solos de cobertura florestal ou a solos de áreas em processo
avançado de restauração (MARIN-SPIOTTA et al, 2009).
Os resultados de resistência a penetração nas diferentes áreas estudadas, são
apresentados na Figura 4. Podemos observar que não houve diferença significativa entre
os valores de resistência do solo à penetração (p=0,3041), sendo 3,3 MPa para a área de
restauro e 3,6 MPa para área de Remanescente. Visto que as duas áreas apresentam
cobertura vegetal com serrapilheira, as camadas superficiais (0-10 cm) apresentam
menores valor de MPa (entre 2 e 4), o que pode indicar menor compactação. Enquanto
que, na camada subsuperficial (10-20 cm), os valores são maiores em ambas,
Remanescente (entre 6 e 8 MPa) e Restauro (4 a 6 MPa), estes se encontram acima do
limite crítico para causar prejuízos ao desenvolvimento do sistema radicular, apontado
como 2 MPa (TAYLOR et al., 1966), fator este que pode estar associado a menor
agregação das partículas, penetração de raízes, e maior compactação ocasionada pelo
peso das camadas sobrejacentes (COSTA et al., 2003, ALVES et al., 2007). Com o
aumento da profundidade, os valores de MPa diminuem em ambas as áreas. O menor
valor de MPa ( < 2) encontra-se na última camada analisada (100 cm), fator este que
pode ser atribuído a menor quantidade de raízes.

Figura 2 - Umidade (A) e granulometria (B-F) nas camadas 0-20, 20-40, 40-60, 60-80,
80-100 cm das área remanescente e restaurada (n=3)
Figura 3- Resistência do solo à penetração em relação a profundidade (n=3).

Matéria orgânica
Os valores de matéria orgânica (Figura 4) apresentaram resultados distintos entre
as áreas, pois para o remanescente houve relação com a profundidade (p=0,006, R2=
0,8367), enquanto para o restauro esta relação não ocorreu (p=0,8195, R 2= 0,131). A
área de remanescente apresentou horizonte orgânico entre 0-20 cm, com 36,34 g.kg-1,
diferindo das demais camadas (p<0,05). Valores semelhantes são encontrados nas
camadas iniciais de matas ciliares (MELLONI et al., 2001).
Na área R os valores de matéria orgânica apresentaram média de 70 g.kg-1 e não
diferiram entre as camadas. Áreas restauradas podem aumentar rapidamente os teores de
matéria orgânica do solo (ALCÂNTARA, 2004), entretanto a área R apresenta altos
valores em todo o perfil, pois este parâmetro é relacionado com os altos índices de
argila encontrados. A matéria orgânica do solo tem grande afinidade com as partículas
argila e silte, tanto pelas características de possuir grande área superficial, como por
possuir diversos sítios reativos, o que resulta em maiores teores de matéria orgânica em
solos argilosos em comparação com arenosos (FELLER; BEARE, 1997).
Figura 4- Concentração de matéria orgânica em g.kg-1 pela profundidade do solo nas
áreas de remanescente e restauro (n=3)

Conclusões
As áreas estudadas apresentaram características granulométricas distintas,
entretanto não diferiram em densidade e resistência à penetração. Portanto, a área
restaurada pode ser analisada como em estágio sucessional avançado, com
características semelhantes a da florestas remanescentes. Essas medidas também podem
ser consideradas como bons indicadores para avaliar a qualidade do solo áreas em
restauração, independente das características granulométricas. A concentração da
matéria orgânica, apesar de responder rapidamente à cobertura do solo, não pode neste
caso ser usada na avaliação pois ela varia com as características do solo.

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AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO POR PROCESSOS EROSIVOS NA BACIA


DO CÓRREGO DO FORRO EM CONCEIÇÃO DA BARRA DE MINAS (MG) –
EMPREGO DE SIG
a
R. CASSARO; aL. F. SAMPAIO; aV. G. S. RODRIGUES; bR. R. M. FERREIRA;
c
S. CRESTANA
a
Departamento de Geotecnia. EESC - USP, Avenida Trabalhador são-carlense, 400, Pq
Arnold Schimidt. CEP 13566-590 - São Carlos – SP, Brasil. Telefone: (16) 3373-9506
[email protected]; [email protected]; [email protected]
b
Embrapa Acre, Rodovia BR-364, Km 14 (Rio Branco/Porto Velho) Caixa Postal: 321
CEP: 69900-970 - Rio Branco – AC, Brasil
Telefone: (68) 3212-320; [email protected]
c
Embrapa Instrumentação, Rua XV de Novembro, 1452 - CEP: 13560-970 - Centro, São
Carlos - SP, Brasil.
Telefone: (16) 2107-2800; [email protected]
RESUMO

Os processos erosivos de grande porte (voçorocas) atuam de maneira efetiva na


degradação ambiental de uma dada área; a recuperação de voçorocas é complexa e
onerosa, sendo que uma abordagem preventiva poderia reduzir tal degradação. Minas
Gerais, e mais especificamente, a região entre Lavras e São João del Rei, apresentam
degradação por processos erosivos, e tal fato está ligado principalmente ao uso e
ocupação da região. Neste contexto, a bacia do córrego do Forro, em Conceição da
Barra de Minas, foi escolhida como foco deste estudo. Nesta região, existem trabalhos
de ONGs que visam a recuperação dos processos erosivos, porém, mapeamentos
detalhados para avaliar como as condições naturais se relacionam às atividades
antrópicas nesta bacia ainda se fazem necessários. O Sistema de Informações
Geográficas (SIG) é uma ferramenta muito utilizada na delimitação dos condicionantes
em áreas degradadas. Para isso, neste trabalho, o ArcMap e o Google Earth Pro foram
utilizados como ferramentas de SIG na elaboração de mapas de declividade, geológico,
direção do fluxo da água e localização das voçorocas e estradas. Assim, foi observado
que a bacia do Córrego do Forro apresenta declividades predominantes entre 8 e 45%,
sendo o relevo ondulado a fortemente ondulado. As direções do fluxo da água
proporcionam concentração da mesma no interior das voçorocas. A ampliação do
número de habitações e o consequente aumento da quantidade de estradas, em conjunto
com o manejo inadequado do solo, causam mudanças no fluxo superficial da água,
criando condições para que novas erosões possam surgir e que as que já existem possam
ter as perdas de solo intensificadas. Assim, o presente trabalho poderá servir de estudo
base sobre os processos erosivos em Conceição da Barra de Minas e poderá ser utilizado
para realização de intervenções de recuperação na área pelos gestores municipais e
pelos produtores agrícolas.

Palavras Chave: voçoroca, Conceição da Barra de Minas, Sistema de Informações


Geográficas

1. Introdução
A degradação gerada por processos erosivos pode trazer prejuízos locais como
regionais. Tal degradação pode tornar inúteis áreas agricultáveis, afetar áreas urbanas,
como causar o assoreamento de cursos d’água pela excessiva perda de solos.
Geralmente, o assoreamento pela excessiva perda de material não é levado em
consideração na avaliação da degradação por processos erosivos (SILVA, 1990,
BOARDMAN, 2006).
Na bacia do rio das Mortes, Mesorregião Campos das Vertentes, em Minas
Gerais, como descrito por Ferreira (2005) e Embrapa (2006), a perda de solo e
consequentemente o assoreamento é um problema recorrente na região. Na região de
Lavras a São João del Rei (pertencente à Mesorregião Campos das Vertentes), em geral,
a origem e maior número de voçorocas estão relacionados com o manejo inadequado do
solo, como a queima de pastagens, exposição e compactação do solo, favorecendo a
erosão causada pela água (FERREIRA, 2005; FERREIRA, 2008; HORTA et al., 2009),
com a mineração (SILVA, 1990), e com as antigas estradas de terra rurais, as quais não
apresentavam sistemas de drenagens adequados e estão muito próximas às erosões ainda
observadas atualmente (FERREIRA et al., 2011; SAMPAIO et al., 2013).
Ainda que se tenham sido realizadas várias pesquisas nesta região e que se venha
confirmando a fragilidade e susceptibilidade do ambiente aos processos erosivos
combinadas com a intensa ação antrópica (SAMPAIO et al., 2015), para a própria
população e para os municípios vizinhos existem dificuldades na compreensão de que
isto é um problema ambiental, sendo as voçorocas muitas vezes ignoradas ou percebidas
dessa maneira apenas quando são alvo de depósitos de resíduos sólidos (próximas de
áreas urbanas) ou quando se perdem áreas agricultáveis (PEREIRA et al., 2014).
Adicionalmente, o fato de que estas áreas permanecem sendo utilizadas sem o devido
planejamento ambiental (SAMPAIO et al., 2015) e que os processos erosivos presentes,
muitas vezes, ainda apresentam elevada variabilidade de características e instabilidade
(OLIVEIRA, 2015), aponta para uma dificuldade de comunicação entre o que é
pesquisado e o que é efetivamente absorvido e aplicado na prática (BOARDMAN,
2006).
Assim, para a presente pesquisa, o município de Conceição da Barra de Minas
(MG), localizado entre os municípios de São Tiago, Ritápolis, São João del Rei e
Nazareno, foi caracterizado, visando identificar os prováveis condicionantes associados
as voçorocas. Esse município, pelo censo de 2010, apresenta população de 3.954
habitantes (IBGE, 2017), e o acesso se dá pela BR-381 (Rodovia Fernão Dias) até
Lavras, entrando-se na BR-265 sentido São João del Rei. Conceição da Barra de Minas
está inserido na Mesorregião Campos das Vertentes, e na Microrregião Campos da
Mantiqueira (EMBRAPA, 2006), sendo o clima classificado como Cwa (Köppen), com
precipitação média anual da série climática de 1991 a 2004 de 1460 mm, temperatura
média de 20,4°C e evapotranspirações potenciais e reais médias de 956 e 873 mm,
respectivamente (DANTAS, CARVALHO e FERREIRA, 2007).
Esta região se encontra sobre o Cráton do São Francisco, na parte sul, sendo que o
município apresenta porções expostas de rochas ultramáficas, mais evidentes próximas
ao Córrego do Forro (TOLEDO, 2002; TEIXEIRA, ÁVILA e NUNES, 2008); na bacia
deste córrego são presentes, ainda, as faixas de Greenstone com pequenas incidências de
Ortognaisse TTG (tonalito-trondhjemito-granodiorito). Próxima à área de estudo está
localizada a zona de cisalhamento do Lenheiro, onde se observam deformações de
metamorfismo com consequente sobreposição da província Sul-Mineira (TEIXEIRA,
ÁVILA e NUNES, 2008).
A região apresenta Latossolos Vermelho-Amarelos e Cambissolos de fertilidade
baixa e muito suscetíveis à erosão. Os primeiros são argilosos com um nível razoável de
dificuldade para utilização de máquinas em campo, e os segundos apresentam textura
variando de média a argilosa e maior impedimento à mecanização (EMBRAPA, 2006).
Conforme se tem uma redução das altitudes, observa-se que os horizontes B latossólicos
vão diminuindo em espessura, em uma progressiva transição de Latossolo para
Cambissolo (HORTA et al., 2009). É possível verificar a presença de Neossolos
flúvicos e Gleissolos háplicos e malânicos, sendo que estes são um pouco mais férteis
que os outros citados, com textura média e argilosa (EMBRAPA, 2006).
Segundo Fernandes Filho (2010), na área de estudo os Latossolos Vermelho-
Amarelos distróficos são predominantes, sendo que os da região são argilosos, com
enriquecimento residual em sesquióxidos, com maiores teores de Al2O3 e menores de
SiO2 (HORTA et al., 2009).
As vegetações típicas da região de Conceição da Barra de Minas são: floresta
tropical subcaducifólia, predominante nos locais em que se encontram os Latossolos
Vermelho-Amarelos; onde se observam os Cambissolos estão presentes as florestas
tropicais subperenifólias, campo cerrado tropical e cerrado tropical subcaducifólio; e em
relação aos Neossolos flúvicos e Gleissolos háplicos e malânicos, a vegetação é de
floresta tropical perenifólia de várzea e campo tropical hidrófilo. Assim, esta região é
um local de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado (FERREIRA, 2005;
EMBRAPA, 2006).
Em geral, a área apresenta diferentes aptidões para manejos de acordo com os
tipos de solo, relevo e susceptibilidade à erosão. As regiões com Latossolos Vermelho-
Amarelos são mais favoráveis a um cultivo com menos intensidade, e se for realizada
pastagem, deve ser restrita. Esta última consideração também deve ser feita para áreas
com Cambissolos, pois em muitas áreas são verificados solos rasos e relevo acidentado.
Já os locais com Neossolos podem ser utilizados para manejos menos intensivos, e os
com Gleissolos, podem ser utilizados para culturas com certa restrição, considerando-se
que existem áreas com drenagem deficiente (EMBRAPA, 2006). Entretanto, o que se
observa na região são os usos do solo demasiadamente próximos às erosões: plantações
sendo ativamente cultivadas nas bordas das voçorocas, remoção de camadas mais
resistentes e compactação, acelerando a perda de solos pela concentração do fluxo
d’água diretamente nas áreas mais susceptíveis, as expostas, causando instabilidade nas
voçorocas (SAMPAIO et al., 2016).
Muitas vezes a recuperação de processos erosivos como as voçorocas se torna
inviável por suas proporções e complexidade; sendo assim, a prevenção é tida como
uma das principais formas de se lidar com este problema ambiental (SILVA, 1990).
Porém, em países em desenvolvimento como o Brasil, este tipo de abordagem ainda é
negligenciado e impraticado (SAMPAIO et al., 2015). Ainda, a complexidade na
recuperação destes processos erosivos pode estar relacionada a uma maior compreensão
da interligação e potencial ampliação entre voçorocas, em uma visão não linear e
coletiva dos processos, o que necessita ser melhor estudado.
Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) são uma excelente ferramenta
para avaliação preliminar de processos erosivos; utilizando softwares como o
ArcMap™, é possível se ter uma visualização e compreensão de quais características
ambientais podem predominar para o agravamento dos processos (SAMPAIO et al.,
2013). Sendo assim, observando a necessidade de estudos para complementação de base
de dados para corretas utilizações futuras em relação à conservação do solo e
recuperação de áreas degradadas por processos erosivos, o presente trabalho tem por
finalidade avaliar estes processos na bacia do Córrego do Forro, localizada no
município de Conceição da Barra de Minas (MG), estudando o elevado número de
voçorocas na bacia em relação às características ambientais da área.

2. Materiais e Métodos

Os mapas de declividade, geológico, de direção de fluxo e de localização das


voçorocas e estradas foram gerados a partir do emprego do software Esri® ArcMap ™
10.1. Com a Folha Nazareno-SF-23-X-C-I-2 (escala original 1:50.000), equidistância de
curvas de nível de 20 m, da base topográfica do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 1975), foi possível delimitar a bacia hidrográfica objeto de estudo e
realizar a digitalização das curas de nível, hidrografia e os pontos cotados no formato de
shapefiles.
Para o mapa de declividades foi gerado um arquivo tipo raster do Modelo Digital
de Elevação (MDE) pela ferramenta “Topo to Raster” (ArcToolbox/3D Analysis Tools/
Raster Interpolation/ Topo to Raster) que levou em consideração os shapefiles das
curvas de nível, da hidrografia e dos pontos cotados digitalizados. A partir do MDT foi
utilizada a ferramenta “Fill” (ArcToolbox/Spatial Analyst Tools/ Hidrology/ Fill) para
gerar um arquivo raster onde não houvesse interferência de extremos: vales e picos de
descontinuidades, geralmente causados pela hidrologia e pelo limite da bacia. Tendo
este arquivo como base, então, foi utilizada a ferramenta “Slope” (Arc Toolbox/ Spatial
Analyst Tools/ Surface/ Slope) que calcula a diferença máxima de elevação das células
adjacentes de cada célula, fornecendo classes de declividade também no formato de um
arquivo raster. Porém essas classes fornecidas precisam ser reclassificadas para atender
o padrão estipulado por EMBRAPA (2013); para tal, foi utilizada a ferramenta
“Reclassify” (Arc Toolbox/ Spacial Analyst Tool/ Reclass/ Reclassify) onde, ao inserir
o arquivo das declividades, foi possível reclassificá-las nos padrões brasileiros.
Integrado ao mapa de declividade está também o raster gerado pela ferramenta
“Hillshade” (Arc Toolbox/ Spatial Analyst Tools/ Surface/ Hillshade), que obtém a
iluminação hipotética da superfície determinando os valores de iluminação de cada
célula. Esse raster quando associado a outro, como o de declividade e, ajustando sua
transparência, fornece o efeito de profundidade. Para obter os dados de porcentagens de
cada declividade em área em relação ao total da bacia, foi utilizada a ferramenta “Zonal
Geometry as Table” (Spatial Analyst Tools/Zonal/Zonal Geometry as Table).
No mapa de direção de fluxo, o raster gerado pela ferramenta “Fill” foi utilizado
como input e, com a ferramenta “Flow Direction” (Arc Toolbox/Spacial Analyst
Tool/Hydrology/Flow Direction), foi gerado um mapa dividido em oito classes
diferentes (1, 2, 4, 8, 16, 32, 64 e 128) onde cada número representa uma direção de
fluxo determinada pelo programa.
O mapa geológico foi digitalizado a partir da base desenvolvida pela Companhia
de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG) em convênio com o
Instituto de Geociências da UFMG e o Serviço Geológico do Brasil – CPRM (escala
original 1:100.000) (CODEMIG, 2013).
Para combinar as informações do mapa das voçorocas, estradas e residências da
bacia, foi utilizado como base de dados para o ano de 1975 a Folha Nazareno-SF-23-X-
C-I-2 (escala original 1:50.000) da base topográfica do IBGE e para os dados de 2016,
imagens obtidas (e posteriormente georreferenciadas) pelo programa gratuito Google
Earth Pro versão 7.1.7.2606 da Google Inc.®. No Quadro 1 estão representadas todas as
ferramentas utilizadas, os inputs e outputs.

Quadro 1 - Ferramentas utilizadas no programa ARCMAP e seus inputs e outputs.


Ferramentas Mapa Inputs Outputs

MDE Raster sem


Raster do
Fill preenchid interferência de
MDE
o vales e picos
Hidrology Raster com a
Flow Direção de Raster do direção do fluxo
Arc Spatial
Direction Fluxo Fill da água
Toolbo Analysi
superficial
x s Tools
Sombreamento
do relevo
Declivida Raster do
Surface Hillshade fornecendo
de Fill
efeito de
profundidade
Raster com
classes de
Declivida Raster do
Slope declividade que
de Fill
precisam ser
reclassificadas

Raster
Reclassif Declivida Raster reclassificado
Reclass
y de Inicial nos intervalos
desejados

Shapefiles
das curvas
3D Raster Raster do
Topo to de nível,
Analysi Interpolatio MDE modelo digital
Raster hidrologia e
s Tools n de elevação
pontos
cotados

3. Resultados e Discussão
Os mapas da bacia do Córrego do Forro elaborados com a utilização dos
programas Esri® ArcMap ™ 10.1 e Google Earth Pro (versão 7.1.7.2606) são
apresentados nas Figuras 1, 2, 3 e 4. Na Figura 1, observa-se que na bacia do Córrego
do Forro tem-se um total de 12 voçorocas e, em sua grande maioria, estão associadas a
cabeceira de drenagem.
Na Figura 1, também é possível verificar as diferenças existentes entre a imagem
obtida em 1975 e em 2016. Essa diferença refere-se principalmente ao tracejado das
estradas locais e ao aumento do número de residências na área rural. Além disso, alguns
detalhes devem ser destacados: existem diferenças no traçado das vias, principalmente
próximos aos limites da bacia, que ocorreram devido à presença das voçorocas, que
provavelmente não existiam no ano de 1975. A única via que se manteve foi à estrada
principal; na Figura 1 boa parte desta via fica sobreposta pelas estradas de terra atuais,
porém as rotas antigas foram alteradas para melhorar o acesso à área urbana. Esse,
inclusive, pode ter sido um fator preponderante no surgimento das voçorocas, pois
Ferreira (2005) evidenciou que na região um dos principais condicionantes dos
processos erosivos, foi à concentração do fluxo da água causado pela abertura de
estradas rurais irregulares, as quais são compactadas e não tem um sistema adequado de
drenagem.
Figura 1 – Distribuição das voçorocas, estradas e residências na bacia do Córrego do
Forro (modificado de IBGE, 1975 e Google Earth Pro, 2016).

Analisando as Figuras 1 e 2, nota-se que o fluxo de água, para a maioria das


voçorocas delimitadas na bacia do Córrego do Forro, está sendo direcionado para o
interior destas feições erosivas. Isso somado ao fato de que as estradas estão
concentrando o fluxo, torna-se mais um potencializador para a atuação destes processos
erosivos.
Figura 2 - Mapa da direção de fluxo da água superficial na bacia do Córrego do Forro.

Na Figura 3 os contatos litológicos e a falha indiscriminada são inferidos a partir


de outras já conhecidas da região, baseada no mapa desenvolvido pela Companhia de
Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG) em convênio com o
Instituto de Geociências da UFMG e o Serviço Geológico do Brasil – CPRM. Observa-
se que, mesmo existindo uma zona de cisalhamento (zona de cisalhamento do Lenheiro,
que está na porção do exutório), esta possivelmente não está interferindo diretamente no
aparecimento das voçorocas. A variedade de rochas e os contatos litológicos
provavelmente, também não interferem diretamente no aparecimento das feições
erosivas.
a
Figura 3 - Mapa geológico – bacia do Córrego do Forro (adaptado de CODEMIG,
2013).

A partir dos dados da Figura 4, foi possível obter um porcentual de área recoberta
por cada uma das classes de declividade. Esses percentuais estão representados na
Figura 5.
Figura 4- Mapa das classes de declividade da bacia do Córrego do Forro.

Figura 5 - Percentual de cada classe de declividade – bacia do Córrego do Forro.

Nota-se pelas Figuras 4 e 5 que a maior parte do terreno se concentra nos


intervalos 8-20% (que representa terrenos ondulados) e de 20-45% (terrenos muito
ondulados) da classe de declividade.
As voçorocas também se concentram nessas duas faixas de inclinação,
comparando-se a Figura 5 com a Figura 1, estando também em pequenas porções em
locais de inclinações maiores. Sabe-se que a declividade é um fator essencial no
surgimento de erosões (BERTONI, 1949) e no seu desenvolvimento, pois quanto
maiores às declividades, mais facilmente o solo se desprenderá por efeito físico da
gravidade. Além disso, nas regiões com declividades elevadas, o escoamento superficial
pode ter a velocidade e energia intensificadas, o que proporciona maior desprendimento
e arraste das partículas do solo, agravando os processos erosivos.
A geologia não apresentou grande influência nos processos erosivos, pois a zona
de cisalhamento e os contatos litológicos aparentemente não estão diretamente
relacionados com o surgimento das voçorocas. Em contrapartida, os relevos ondulados e
fortemente ondulados (elevadas declividades) criam um ambiente propício para os
movimentos de solo, potencializados pelo direcionamento natural do fluxo da água e a
concentração do mesmo relacionado aos fatores antrópicos observados nos mapas,
gerando caminhos preferenciais.

4. Conclusões
A partir das análises realizadas, foi possível relacionar diretamente o impacto
antrópico com a presença das várias voçorocas na bacia do Córrego do Forro. Além
disso, a maior faixa de declividade da região (de 8-45%) observada pode levar à
consideração do relevo de ondulado a fortemente ondulado, o que, combinado aos
fatores supracitados e ao direcionamento do fluxo às voçorocas, amplia as condições
para que os processos erosivos se intensifiquem.
Os mapas apresentados e as informações discutidas podem ser utilizados para
prevenção e recuperação de áreas degradadas na bacia do Córrego do Forro: estas
informações podem ser úteis na gestão do uso do solo, no sentido de serem consideradas
as características ambientais desfavoráveis, tanto para expansão das residências e
estradas, quanto para a agricultura, a fim de se evitar o aumento da degradação do solo
por processos erosivos. Os dados obtidos podem ser usados para elaborar projetos de
drenagem e de contenção de sedimentos, por exemplo, no tocante à recuperação das
voçorocas.

5. Agradecimentos

Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico (Processos CNPQ 131201/2016-6 - mestrado e 141835/2015-0 –
doutorado) pelo suporte financeiro a esta pesquisa.

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de Campinas. 2002. 274 p.

INFLUÊNCIA DE RESÍDUO DE SUINOCULTURA NOS ATRIBUTOS DE


Latossolo Vermelho Distrófico típico (LVd)
1
K. D. B. Maas; 2O. L. dos S. Weber; 2J. F. Scaramuzza, 1W. de O. Rocha
1
Centro Universitário de Várzea Grande – UNIVAG, Av. Dom Orlando Chaves, 2655,
Cristo Rei, Várzea Grande – MT, CEP 78118-900. E-mail: [email protected],
Contato: (65) 3688-6215;
2
Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária, Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367, Boa Esperança, Cuiabá – MT, CEP
78060-900.

RESUMO

O experimento teve como principal objetivo avaliar a influencia do dejeto de


suinocultura nos atributos químicos e físicos de um Latossolo Vermelho Distrófico
típico (LVd). Realizou-se o experimento em casa de vegetação da Faculdade de
Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEV) da Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT). O solo utilizado foi coletado no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – Campus São Vicente, Classificado como
Latossolo Vermelho Distrófico típico (LVd) e resíduo de suinocultura proveniente da
granja produtora de suíno do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso – Campus São Vicente. O delineamento utilizado para o experimento foi o
inteiramente casualizado, em esquema fatorial 5x4, com três repetições. Com 120 dias
de implantação do experimento foram coletadas amostras nas camadas do lisímetro e
utilizando metodologia da EMBRAPA (1997) avaliaram-se as características químicas e
físicas. O resíduo, de maneira geral, influenciou o pH na profundidade de 0,10-0,20 m,
onde a taxa de 60 m3 ha-1 de resíduo aplicados apresentou as maiores medias, e o Ca
teve influencia do resíduo na taxa de 120 m3 ha-1 aplicados para as profundidades de
0,20-0,30, e 0,30-0,40 m. De acordo com o aumento das doses do resíduo as variáveis
físicas macroporosidade e densidade total apresentaram maior média para o tratamento
sem adição do resíduo, diferente do ocorrido para a microporosidade e porosidade total,
que a não adição de resíduo apresentou menores médias para estas variáveis. Com
relação a macroporosidade, a taxa de 60 m3 ha-1 aplicados apresentou maiores média
para a profundidade de 0-0,20 m. Conclui-se que ocorre grande influência do resíduo de
suinocultura nas propriedades químicas e físicas do solo do solo, com relação as
quantidade aplicadas e nas diferentes camadas avaliadas.

Palavras Chave: viabilidade, física do solo, atributos químicos

SWINE WASTE INFLUENCE IN A RED LATOSOL ATTRUBUTES

ABSTRACT

The experiment aimed to evaluate the influence of swine waste in the chemical and
physical attributes at a Tipycal Distrofic Red Latosol. We carried out the experiment in
the greenhouse of the Agronomy, Veterinary Medicine and Animal Science Faculty, of
the Federal University of Mato Grosso (UFMT). The soil was collected at Mato Grosso
Federal Institute of Education, Science and Technology - São Vicente, MT, classified at
Tipycal Distrofic Red Latosol and swine waste from production farm of the same
Institute. The design for the experiment was completely randomized, in factorial design,
5 x 4, with three replications. After 120 days of the experiment implantation samples
were collected in the lysimeter depth, and using methodology of EMBRAPA (1997)
evaluated the chemical and physical characteristics. The waste, in general, influenced
the pH in the 0.10-0.20 m depth, where the rate of 60 m3 ha-1 applied showed the higher
average, and Ca had waste influence the 120 m3 ha-1 rate applied to 0.20-0.30 and 0.30-
0.40 m depths. According to the increase of the waste rates the physical variables,
macroporosity and total density, showed higher average for treatment without addition
of the waste, different from what occurred for the microporosity and total porosity, that
no addition of waste had lower averages for these variables. With respect to
macroporosity, the rate of 60 m3 ha-1 applied had the highest average for 0-0.20 m
depth. It follows that great influence occurs in chemical and physical properties of soil
ground, when swine waste was additioned, with respect to the amount applied and
evaluated in the different depth.

Keywords: feasibility, soil physical, chemical attributes


1 Introdução

O processo de degradação das áreas florestais, para que o desenvolvimento


populacional ocorresse, é uma realidade em quase todo o território brasileiro. Para que
as cidades se desenvolvam e tenham a capacidade de atender as necessidades da
população, torna-se necessário que áreas de florestas densa deem espaço a áreas
residências e comerciais.
Para Aguiar Neto et al. (2008), a natureza encontra-se submissa aos anseios
do desenvolvimento promovido pela sociedade, que provocam alterações no meio
natural. A exploração exaustiva dos recursos naturais denota da falta de planejamento
do desenvolvimento que pode comprometer a vida das futuras gerações.
Ao mesmo tempo em que o crescimento populacional ocorre dentro das
áreas urbanas, cada vez mais as áreas rurais precisam desenvolver tecnologias que
aumentem a sua produtividade para que, mais uma vez, as necessidades populacionais
sejam atendidas.
Conjuntamente com o meio urbano, o meio rural acaba sendo um
contribuinte para o aumento da produção de diferentes tipos de resíduos, onde este
torna-se um problema ambiental recorrente. A falta de tratamento adequado, assim
como os locais de disposição destes resíduos, acaba fazendo com que estes sejam
dispostos em áreas impróprias causando contaminação nos solos e consequentemente
nas águas superficiais e subterrâneas, além da contribuição para o aumento da
proliferação de vetores de doenças.
Com vista na minimização dos impactos causados pela destinação
inadequada dos resíduos orgânicos, surgem alternativas ambientalmente corretas. No
caso dos dejetos de suinocultura uma das alternativas é o uso destes resíduos na
aplicação no solo para recuperação das características químicas e físicas do mesmo.
A suinocultura é considerada, pelos órgãos de controle ambiental, a
atividade agropecuária que ocasiona maior impacto ambiental (RIZZONI, 2012). Em
termos comparativos, a geração de dejetos suínos corresponde a quatro vezes o
equivalente populacional humano, exemplificando, podemos considerar que uma
criação com mil animais em terminação é semelhante a uma cidade de 4 mil habitantes
(SCHULTZ, 2007).
Assim, visando minimizar um potencial problema ambiental e avaliar a
viabilidade do uso deste resíduo, o presente estudo teve como objetivo avaliar a
influência do dejeto de suinocultura nos atributos químicos e físicos de um Latossolo
Vermelho Distrófico típico (LVd).

2 Material e métodos

2.1 Localização do experimento

O experimento foi realizado em casa de vegetação da Faculdade de


Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia – FAMEVZ, Universidade Federal de
Mato Grosso – UFMT, Campus de Cuiabá-MT, com coordenadas geográficas de:
longitude 56° 07' W, latitude 15° 33' S e altitude 151,34 m.

2.2 Solo utilizado


O solo utilizado foi coletado no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Mato Grosso – Campus São Vicente, situado na BR 364, Km 329, Vila
São Vicente da Serra no município de Santo Antonio do Leverger – MT. O solo
pertence à classe de Latossolo Vermelho Distrófico típico (LVd), a moderado, com
textura argilosa conforme o Sistema Brasileiro de Classificação do Solo (SiBCS-
EMBRAPA, 2013). Foi aberta uma trincheira para a coleta das amostras do solo em
duas profundidades.

2.3 Caracterização do solo

A caracterização química e granulométrica do solo antes da aplicação do


resíduo, nas profundidades 0-0,20 e 0,20-0,40 m, está apresentada na Tabela 1. A
metodologia de determinação dessas características foi feita de acordo com EMBRAPA
(1997).

TABELA 1 - Características química e granulométrica do solo utilizado nas


profundidades de 0 a 0,20 m e 0,20 a 0,40 m, Cuiabá, MT (2014).

pHH2O 6,02
pH
5,47
CaCl2
Al 1,54
H+Al 2,51
Ca+Mg cmol/dcm 3,1
Ca 3 1,1
Mg 2
Profundida P 3,37
de 0,0 - 0,20 K mg/dm3 2,46
m SB cmolc/kg 3,1
CTC
5,6
pH7,0
t efetiva 4,6
V% 55,4
m% 33,1
Argila 435
Silte g dm-3 100
Areia 465
pHH2O 6,17
pH
5,54
CaCl2
Profundida Al 2,3
de 0,20 -
H+Al 2,1
0,40 m cmol/dcm
Ca+Mg 2,1
3
Ca 2,1
Mg 0
P 1,29
K mg/dm3 2,37
SB 2,1
CTC
cmolc/kg 4,2
pH7,0
t efetiva 4,4
V% 50,1
m% 52,2
Argila 430
Silte g dm-3 40
Areia 525

2.4 Resíduo utilizado

Foi utilizado resíduo de suinocultura proveniente da granja do Instituto


Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – Campus São Vicente,
situado na BR 364, Km 329, Vila São Vicente da Serra, município de Santo Antonio do
Leverger – MT. A coleta foi feita em lagoa de captação de dejeto, dimensionada para
armazenar 22 m³ de dejeto.

2.6 Caracterização do resíduo

A caracterização química (Tabela 2) do resíduo foi realizada a cada


aplicação, que ocorreram antes do plantio das sementes da espécie, no dia 30/09/2012, e
aos três meses da implantação do experimento, no dia 08/12/2012.

TABELA 2 - Características químicas do resíduo orgânico de suinocultura aplicado


neste estudo, Cuiabá, MT (2014).

Atributos Unidade 1ª aplicação 2a aplicação

pH 7,2 7,2
N total 2857,14 1987,2
N
104,0 89,4
amoniacal
P2O5 569,39 439,87
K2O 24,69 19,5
Ca g L-1 91,84 73,4
S 110,01 87,34
Zn 2,86 1,73
Cu mg L-1 1,22 1,13
Fe 55,71 53,79
Mn 0,82 0,76
B 4,98 4,28
Ni 0,2 0,15
Pb <0,04 <0,04
Cr <0,15 <0,15
Cd <0,004 <0,004
D g cm-3 0,984 0,794

Para a realização das análises dos resíduos foi feita uma coleta de 5
amostras simples para uma amostra composta, a qual foi embalada em frasco plástico e
enviada para laboratório particular para análises, seguindo metodologia proposta por
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA (1988).

2.6.1 Montagem do experimento

Para a implantação do experimento foram utilizados estruturas plásticas em


formato cilíndrico, com aproximadamente 50 m de altura e 40 m de diâmetro, com
capacidade de 50 litros, num total de 15 unidades. Esse material foi utilizado para a
organização em lisímetros. As estruturas foram preenchidas com solo seguindo a
sequência decrescente das camadas do perfil do solo coletado no campo, as quais foram:
0,0-0,20 e 0,20-0,40 m.
A irrigação foi realizada a cada dois dias, no entanto, tomando em
consideração a ocorrência de chuvas e o acompanhamento da dinâmica climática. Se
necessário fosse, a irrigação era feita com intervalos diários maiores ou menores que
dois dias.

2.6.2 Avaliação das alterações dos atributos do solo após aplicação do resíduo
de suinocultura

Decorridos os 120 dias após a implantação do experimento, que ocorreu em


02/10/2012, amostras do solo, de cada lisímetro, foram coletadas nas profundidades de
0-0,10; 0,10-0,20; 0,20-0,30; 0,30-0,40 m para a realização das análises químicas, e
coletadas nas profundidades 0-0,20 e 0,20-0,40 m para as análises físicas do solo.
As amostras foram secas, destorroadas e analisadas segundo metodologia da
EMBRAPA (1997). As características químicas avaliadas foram pH, Al, H+Al, Ca+Mg,
Ca, Mg, K, P, SB, pH7,0, t efetiva, V e m; e as físicas foram: macroporosidade,
microporosidade, porosidade total, densidade e argila dispersa em água (ADA).

2.6.3 Análise estatística dos dados do solo com aplicação do biossólido

Os resultados foram analisados estatisticamente pelo programa SPSS 14.0 e


os gráficos plotados no programa Grafer 5.0. Foram realizados teste de ANOVA e
Tukey (5% de probabilidade) para comparação das médias (ZAR, 1974).

3 Resultados e discussão

3.1 Alteração dos atributos químicos e físicos de um Latossolo submetido à


adubação com Resíduo de Suinocultura

A variável pH não diferiu entre as doses, porém para a profundidade de 0,10


a 0,20 m houve diferença e a maior média ocorreu na taxa 1 que não teve aplicação do
resíduo (Figura 1).
Contudo, esses resultados de pH do solo discordam dos encontrados em
outro trabalho com aplicação de resíduo de suinocultura, no qual não foi observada
variações significativas nos valores de pH do solo para diferentes doses de dejetos
líquidos de suínos como ocorrido no experimento discutido (CABRAL et al, 2011), que
não ocorreu no presente experimento, onde os valores de pH para todas as
profundidades e doses aplicadas ficaram entre 5 e 7.

Figura 1 - Médias de pH (H2O) do LVd submetido à aplicação de cinco diferentes doses


de resíduo de suinocultura para cinco profundidades amostradas. Barras seguidas da
mesma letra, para uma mesma camada de solo, indicam que não houve diferença
significativa entre os tratamentos pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Na variável Ca houve diferença para as profundidades de 0,20 a 0,30 e 0,30


a 0,40 m sendo que a taxa para ambas as profundidades foi a foi a taxa 2 com 60 m3 ha-1
que apresentou maiores médias (Figura 2), no entanto para a variável Mg não houve
diferença entre as doses para as profundidades, e nem entre as profundidades (Figura 2).

Figura 2 - Médias de cálcio (Ca, cmolc dm-3) e magnésio (Mg, cmolc dm-3) do LVd
submetido à aplicação de cinco diferentes doses de resíduo de suinocultura para cinco
profundidades amostradas. Barras seguidas da mesma letra, para uma mesma camada de
solo, indicam que não houve diferença significativa entre os tratamentos pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.

O P diferiu somente para profundidade de 0,30 a 0,40 m, estando a maior


média na taxa 240 m3 ha-1 (Figura 3) resultado que pode estar relacionado ao processo
de lixiviação.
Resultados diferentes aos encontrados por Prior (2008) que verificou
aumento na concentração do fósforo no solo em função do aumento da aplicação de
doses. O mesmo comportamento foi observado por Queiroz et al (2004) que notou
aumento no teor do nutriente em relação a condição inicial, o que indicaria um acumulo
desse macronutriente no solo.
Berwanger (2006) relatou que a concentração de fósforo é maior na
superfície do solo em função da capacidade desde elemento e interagir, especialmente
coma fração mineral, justificando a diminuição do elemento com a profundidade,
resultado diferente do obtido no presente experimento.
No entanto, para o K não houve diferença entre as doses para as
profundidades, e nem entre as profundidades (Figura 3). Raij (1981) explica que o
ajuste da baixa relação de cátions dos solos brasileiros, dentre os quais, o autor cita que
se deve não apenas evitar que o teor de potássio ultrapasse o de magnésio, mas também,
manter elevado o teor de cálcio de modo a diminuir as perdas de potássio por lixiviação.
Fato ocorrido no presente experimento, onde os valores de Mg estão de duas a três
vezes maiores do que os do K, o que poderia ter influenciado diretamente nos valores de
K.

Figura 3 - Médias de fósforo (P, mg dm3) e potássio (K, mg dm3) do LVd submetido à
aplicação de cinco diferentes doses de resíduo de suinocultura para cinco profundidades
amostradas. Barras seguidas da mesma letra, para uma mesma camada de solo, indicam
que não houve diferença significativa entre os tratamentos pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.

Na variável SB houve diferença significativa ao nível de 5% de


probabilidade as profundidades 0,20 a 0,30, e 0,30 a 0,40 m, onde a taxa que apresentou
maior média foi à taxa 60 m3 ha-1 (Figura 4). O mesmo ocorreu com a variável t efetiva,
que tem relação direta aos valores de SB e Al, onde o valor de Al não foi significativo
não influenciando nos valores de t efetiva (Figura 5).
Para a variável TpH7,0 não houve diferença significativa ao nível de 5% de
probabilidade entre as doses para as profundidades, em entre as profundidades (Figura
4).

Figura 4 - Médias de soma de bases (SB, cmolc/dm3) e capacidade de trocas de cátions


(TpH 7,0, cmolc/dm3) do LVd submetido à aplicação de cinco diferentes doses de
resíduo de suinocultura para cinco profundidades amostradas. Barras seguidas da
mesma letra, para uma mesma camada de solo, indicam que não houve diferença
significativa entre os tratamentos pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Na variável V houve diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade


para as profundidades de 0 a 0,10 e 0,30 a 0,40 m, onde para a profundidade de 0 a 0,10
m a taxa 0 apresentou maior média, e para profundidade 0,30 a 0,40 m a maior média na
taxa 2 com 60 m3 ha-1 (Figura 5), na interação entre os fatores.

Figura 5 - Médias de troca de cátions (t efetiva, cmolc/dm3) e saturação por bases (V,
%) do LVd submetido à aplicação de cinco diferentes doses de resíduo de suinocultura
para cinco profundidades amostradas. Barras seguidas da mesma letra, para uma mesma
camada de solo, indicam que não houve diferença significativa entre os tratamentos pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade.

3.2 Alteração dos atributos físicos de um Latossolo submetido a adubação


com Resíduo de Suinocultura

Para a variável Macroporosidade houve diferença para profundidade de 0 a


0,20 m com a maior média na taxa 0, já na profundidade de 0,20 a 0,40 m não houve
diferença (Figura 6), para a microporosidade diferiu nas profundidades, onde de 0 a 0,20
m a menor média ocorreu na taxa 0, e para a profundidade de 0,20 a 0,40 m, a maior
média ocorreu na taxa 2 com 60 m3ha-1 (Figura 6).

Figura 6 - Médias de macroporosidade e microporosidade (%) do LVd submetido à


aplicação de resíduo de suinocultura para as duas profundidades amostradas. Barras
seguidas da mesma letra, para uma mesma camada de solo, indicam que não houve
diferença significativa entre os tratamentos pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

No entanto, é possível verificar que ao contrário dos macroporos, a


microporosidade dispôs-se em maior volume na camada 0,20 a 0,40 m, provavelmente
devido ao menor aporte de matéria orgânica em profundidade.
O resultado obtido para a microporosidade foi o mesmo na variável
Porosidade total (Figura 7), sendo que os valores desta variável são diretamente
relacionados aos valores da microporosidade. A porosidade total do solo não foi
influenciada pelas doses aplicadas e camadas analisadas em experimento realizado por
Agne e Klein (2014).
Para Densidade houve diferença significativa para ambas as profundidades
onde na profundidade de 0 a 0,20 m a maior média foi na taxa 0 sem adição do resíduo
de suinocultura, o mesmo ocorrido na profundidade de 0,20 a 0,40 m (Figura 7).
Figura 7 - Médias de porosidade total (%) e densidade (t m-3) do LVd submetido à
aplicação de resíduo de suinocultura para as duas profundidades amostradas. Barras
seguidas da mesma letra, para uma mesma camada de solo, indicam que não houve
diferença significativa entre os tratamentos pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Para a variável ADA houve diferença significativa ao nível de 5% de


probabilidade nas doses para as profundidades, onde para a profundidade de 0 a 0,20 m
a maior média ocorreu na taxa 0, já para a profundidade de 0,20 a 0,40 m a maior média
foi na taxa 2 com 60 m3 ha-1 (Figura 8).

Figura 8 - Médias de argila dispersa em água (ADA) do LVd submetido à aplicação de


resíduo de suinocultura para as duas profundidades amostradas. Barras seguidas da
mesma letra, para uma mesma camada de solo, indicam que não houve diferença
significativa entre os tratamentos pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
4 Considerações finais

1. O resíduo de maneira geral influenciou o pH na profundidade de 0,10 a 0,20 m


na taxa 1, já o Ca teve influencia do resíduo na taxa 2 para as profundidades de
0,20 a 0,30, e 0,30 a 0,40 m.
2. De acordo com o aumento das doses do resíduo as variáveis físicas
macroporosidade e densidade total apresentaram maior média para o tratamento
sem adição do resíduo, diferente do ocorrido para a microporosidade e
porosidade total, que a taxa 0 apresentou menores médias para estas variáveis.
3. A macroporosidade foi maior na taxa 1 na profundidade de 0 a 0,20 m.

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620 p.

TOLERÂNCIA DE MICROALGAS A EXPOSIÇÃO SIMULTÂNEA DE CO2 E


NOx PARA A BIOFIXAÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA

W. L. Biscaia1,2;B. Miyawaki2; N. M. B. de Arruda1,2;F. Quiesa2; T. Mello2;L. T.


Maranho1.
1
Universidade Positivo (UP), Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300,
Campo Comprido, CEP: 81280330, Curitiba – Paraná, Brasil.
2
Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento – LACTEC, Av. Prefeito
LothárioMeissner - Jardim Botânico, CEP: 80210-170, Curitiba – Paraná, Brasil.
e-mail: [email protected], (41) 9 8740-0803.

RESUMO

Atividades antrópicas associadas ao desenvolvimento industrial, ao crescimento


populacional e à utilização de recursos naturais não renováveis intensificam as emissões
de gases de efeito estufa (GEEs). Como uma forma de tratamento dessas emissões,
destaca-se a biofixação por microalgas. Pelo exposto, esta pesquisa objetivou avaliar a
tolerância das microalgas Chlorellavulgaris e Scenedesmussubspicatus à exposição
simultânea de CO2 e NOx para a biofixação de GEEs. Para tanto, foram realizados testes
de tolerância com diferentes concentrações de gases: Teste 1 – 5% de CO2(v/v) e 30
ppm de NOx (v/v); Teste 2 – 7% de CO2 (v/v) e 40ppm de NOx (v/v) e Teste 3 – 10%
de CO2 e 60 ppm de NOx. O tempo de injeção foi de um minuto a cada 19 minutos de
injeção de ar. Durante 15 dias decultivos, foram verificados os parâmetros:pH,
absorbânciae produção de biomassa. Para as análises estatísticas foirealizadaa análise
de variância (ANOVA), seguidapelos testes de Tukey e U Mann-Whitney. Ambas as
espécies foram tolerantes à exposição de gases, porém, conforme foi aumentada a
concentração de exposição do cultivo, ocorreram mudanças no crescimento e notou-se
que S. subspicatusapresentou maior crescimento e produção de biomassa quando
comparado com C. vulgaris.Esta diferença na produção de biomassa só foi significativa
entre as duas espécies para o teste 3, com a maior concentração de gases. Os
tratamentos com injeção de gás apresentaram um crescimento maior do que o
tratamento controle, realizado apenas com injeção do ar, o que leva a conclusão de que
estas espécies são capazes de biofixar esses gases.

Palavras Chave: Gases de efeito estufa, Biotecnologia Ambiental, Biomitigação,


Chorellavulgaris, Scenedesmussubspicatus.

1INTRODUÇÃO

Atividades antrópicas associadas aos setores de energia, transporte e agricultura


são amplamente reconhecidas como insustentáveis por utilizarem, na maioria das vezes,
recursos naturais não renováveis (CHANG et al., 2016; ESHUN et al., 2013; FERRÓN
et al., 2012; YUE et al., 2015). De acordo com a International Energy Agency (IEA,
2015), o fornecimento total de energia primária mundial, que tem como base o uso de
combustíveis fósseis, aumentou cerca de 150% entre o período de 1971 e 2013. No
Brasil, o gás natural é a segunda maior fonte de sua matriz elétrica (EPE, 2016), com
cerca de 150 usinas termelétricas a gás em operação (ANEEL, 2016). Os processos de
combustão em usinas termelétricas contribuem para as emissões de gases de efeito
estufa devido, principalmente, à composição destas emissões, que geralmente são de 10-
15% de CO2 e 100-300 ppm de NOx e SOx (JIANG et al., 2013). Como consequência,
o uso de recursos naturais não renováveis, associado ao desflorestamento, representa a
maior causa das intensificações das emissões de gases de efeito estufa (GEEs)
(MORAES et al., 2016).
As principais consequências do efeito estufa são o aquecimento global e
mudanças climáticas (CHANG et al., 2016; TIAN et al., 2016). Como resultado do
aumento dessas emissões ocorre também o comprometimento da qualidade ambiental
devido à poluição do ar, do solo e da água, além de afetar a incidência de ondas de
calor, seca, desestruturação do solo, aumento dos níveis dos mares, chuva ácida e,
consequentemente, causar danos à saúde humana, como doenças respiratórias, câncer e
morte (ADGATE et al., 2014; KUMAR et al., 2010a; MOREIRA; PIRES, 2016;
REICHSTEIN et al., 2013).
Diante desta perspectiva, intensifica-se a emergência do desenvolvimento de
estratégias para a mitigação das emissões de GEEs (MORAES et al., 2016). Dentre as
estratégias para essa mitigação, destaca-se a biofixação, que é caracterizada pelo uso de
atividade biológica, principalmente capacidade fotossintética, para a fixação dos gases
como CO2, CH4 e NOx, e sua conversão para a produção de biomassa (KUMAR et al.,
2010a; MORAES et al., 2016). A utilização de microalgas destaca-se entre as
estratégias de biofixação (CUELLAR-BERMUDEZ et al., 2015; LI et al., 2015;
RADMANN et al., 2011).
Durante o desenvolvimento, as microalgas utilizam nutrientes como carbono e
nitrogênio para suas funções fisiológicas, como síntese de lipídeos, aminoácidos, ácidos
nucleicos e clorofila (DERNER et al., 2006; HOCKIN et al., 2012; SCHMOLLINGER
et al., 2014). As microalgas são capazes de assimilar esses nutrientes de diversas fontes
e converter em biomassa, além de apresentarem um potencial de biofixação de 10-50
vezes maior do que plantas terrestres (YEN et al., 2015), características que as tornam
fontes de grande interesse biotecnológico (MORAES et al., 2016; RAEESOSSADATI
et al., 2014; SINGH; SINGH, 2014).
A partir disso, ao promover o crescimento microalgal disponibilizando fontes
específicas de carbono e nitrogênio, como CO2 e NOx, advindas de atividades
potencialmente poluidoras, pode-se utilizar o desenvolvimento de microalgas como
solução biotecnológica (DERNER et al., 2006; SCARSELLA et al., 2010), para a
biomitigação de GEEs (CHEAH et al., 2015). Esta pesquisa surgiu da necessidade de
desenvolvimento de uma tecnologia para compensar as emissões de GEEs a partir da
biofixação das emissões provenientes dos processos de combustão de gás natural de
uma usina termelétrica. O objetivo inicial foi analisar a tolerância das microalgas a
partir do crescimento das mesmas em diferentes concentrações de CO2 e NOx.

2MATERIAL E MÉTODOS

As microalgas utilizadas neste estudo pertencem ao Laboratório de Microalgas –


Institutos LACTEC – LEME, laboratório onde foram desenvolvidos os testes de
tolerância. As espécies selecionadasforamChlorellavulgaris e Scenedesmussubspicatus.
Estas cepas são provenientes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). As
cepas foram mantidas em meio Bold’s Basal Medium (BBM) (YADAVet al., 2015).

2.1 Condições de cultivo

Para os testes de tolerância as microalgas foram cultivadas em fotobiorreatores


de 2 L,acondicionados a 22 °C, com um fotoperíodo de 10 horas luz/ 14 horas sombra,
fornecidos por lâmpadas fluorescentes de 40 w (JIANG et al., 2013; MOHANG et al.,
2015; RADMANN et al., 2011; VAZ; COSTA; MORAIS, 2016)a uma exposição de
aproximadamente 150 µmolm2s-1. A aeração foi suprida por meio de cilindros
industriais contendo gás simulado (CO2 e NOx). Desta forma, foram estabelecidos
trêstestes: Teste 1 – 5% de CO2 (v/v) e 30 ppm de NOx (v/v); Teste 2 – 7% de CO2
(v/v) e 40 ppm de NOx (v/v) e Teste 3 – 10% de CO2 e 60 ppm de NOx. Os testes
tiveram uma duração de 15 dias.
Para ambos os testes, foram estabelecidos dois tratamentos: um tratamento
controle (TC) sem injeção de gás e o tratamento com injeção (TI). Cada tratamento foi
realizado em triplicata. A agitação dos cultivos ocorreu por meio da injeção de ar
ambiente utilizando compressor da marca Schultz modelo médico/odontológico
(20/250) com uma vazão constante de 1 Lmin-1. A taxa de fornecimento de gás ocorreu
com a mesma vazão (1 Lmin-1), esta que foi controlada por válvulas solenoides durante
a fase de 10 h luz (Adaptado de RADMANN et al., 2011). O inóculo inicial (~10% v/v)
foi utilizado a uma concentração de 0,1 gL-1 (YADAV et al., 2015).

2.2 Parâmetros avaliados durante os ensaios de tolerância

Parâmetros como pH e absorbânciaforam avaliados a cada 24 horas, enquanto


que a produção de biomassa foi verificada a cada 48 horas. O pH foi analisado em
pHmêtro digital e aabsorbância foi analisadaem espectrofotômetro a um comprimento
de onda de 670 nm(RADMANN et al., 2011). Com relação à produção de biomassa,
realizou-se o método de gravimetria. Para tanto, foram coletados 10 mL deamostras de
cada unidade experimental,os quais foram filtrados em microfiltros de fibra de vidro
(GF-1, 25 mm) (LI et al., 2015). Todas essas análises foram realizadas em triplicata,
obtendo-se um n= 9.

2.3 Análises estatísticas


Os dados obtidos foram tabulados em planilhas do Microsoft Excel 2010,
calculadas as suas médias e desvios-padrão. Por meio do software
Statistica7foirealizado o tratamento dos dados e a análise de variância (ANOVA) e
também análises complementares, com a utilização dos testes de Tukey e U Mann-
Whitney. As análises de tolerância das microalgas basearam-se em comparações entre
os tratamentos TC e TI. Além disso, foram realizadas análises comparativas entre os
tratamentos TI entre as duas espécies. Para todas as análises estatísticas o nível de
significância estabelecido foi de 95% (p≤ 0,05).

3RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 pH

Os valores de pH apresentados nos tratamentos TC e TI para as duas espécies


testadasseguiram uma linearidade nos três ensaios, com uma faixa de variação entre 6,9
e 10,2 durante os 15 dias de cultivos. Estes resultados são semelhantes aos obtidos por
Radmannet al. (2011) quando avaliaram a resistência de Spirulinasp., Scenedemus
oblíquos, S. nidulans e Chlorellavulgaris à exposição de 12% de CO2, 60 ppm de SO2 e
100 ppm de NOx. Tais autoresrelatamuma faixa de pH entre 6,0 e 10,0 para as
microalgas citadas.
Os dados obtidos para o pH durante os cultivos, indicaram que a injeção de
gases não interferiu nos valores de pH de forma a impossibilitar o crescimento das
microalgas.A injeção de gases no meio de cultivo altera o pH, o que interfere no
desenvolvimento das microalgas por diminuir a biodisponibilidade de alguns nutrientes
como o fósforo e o carbono inorgânico (MORAIS;COSTA, 2007; RADMANN et al.,
2011), além de alterar a solubilidade de CO2no meio (MORAIS;COSTA, 2007;
YADAV et al., 2016).

3.2 Crescimento

Ao verificar o crescimento por densidade ótica (DO670nm), os valores obtidos


demonstraram mudançasno crescimento das duas espécies quando expostas adiferentes
concentrações de gases. C. vulgarisapresentou os maiores valores de DO para TI
durante o teste 1, seguido pelos testes 2 e 3, consecutivamente, o que indicou uma
redução no crescimento proporcional ao aumento da concentração dos gases (Fig. 1A).
Ainda assim, todos os tratamentos com injeção de gases apresentaram crescimento
significativamente maior que o tratamento controle, corroborando a hipótese de que a
espécie é capaz de crescer quando expostaa diferentes concentrações de CO2 e NOx.
Com relação ao acompanhamento do crescimento de S. subspicatus, nos três
testes realizados, os tratamentos com injeção de gás (TI) apresentaram crescimento
significativamente maior que o tratamento controle. Ao comparar o crescimento em
diferentes concentrações, observou-se uma semelhançaentre as curvas de crescimento
dos testes 1 e 3, estes que apresentaram os maiores crescimentos, seguidos pelo teste 2
(Fig. 1B). Estes resultados corroboram com a hipótese de que esta espécie é tolerante à
exposição a diferentes concentrações de CO2 e NOx, porém, para esta espécie, não foi
estabelecida claramente uma tendência de crescimento relacionada com as proporções
das concentrações de gases.
Estes resultados assemelham-se com os obtidos por Nayaket al. (2016) quando
avaliaram o crescimento de Scenedesmus sp. em diferentes concentrações de CO2
(0,03%, 1%, 2,5%, 5% e 10%) e não evidenciaram uma relação entre concentração do
gás e crescimento da microalga. Li et al., (2015) também obtiveram resultados
semelhantes quando avaliaram o crescimento de Scenedesmusraciborskiifrente
àexposição a 7% de CO2 e ao gás simulado com 15% de CO2, 200 ppm de SO2 e 100
ppm de NO. Os autores não constataram diferenças significativas entre os dois
tratamentos quando avaliaram o crescimento por absorbância.

FIGURA 1 – Curvas de crescimento de Chlorellavulgaris(A) e Scenedesmussubspictus


(B) durante os testes de tolerância ao Teste 1 – 5% de CO2 (v/v) e 30 ppm de NOx
(v/v); Teste 2 – 7% de CO2 (v/v) e 40 ppm de NOx (v/v) e Teste 3 – 10% de CO2 e 60
ppm de NOx.
FONTE: os autores (2017).

Os resultados obtidos indicam que, tanto C. vulgaris quanto S. subspicatus,


foram tolerantes a exposição de gases e que, inclusive, os tratamentos com injeção
apresentaram um crescimento maior do que o tratamento controle, realizado apenas com
ar atmosférico.
Com relação a produção de biomassa, ao final dos 15 dias de cultivo C.
vulgarisapresentou uma produção de 1,043; 1,168 e 0,871 g L-1, para os testes 1, 2 e 3,
respectivamente. Quando comparadosos tratamentos TC e TI, as diferenças
significativas foram observadas apenas para o teste 3, com a maior concentração de
gases, destacando-seo crescimento do tratamento TI como maior do que o tratamento
TC (Tab. 1).
Em comparação com os resultados obtidos, Vaz, Costa e Morais (2016)
obtiveram um crescimento menor para Chlorella fusca (0,55 g L-1) quando exposta ao
gás de combustão (9,4% de CO2 (v/v), 400 mg de NOx, 5000 mg SOx e 650 mg de
cinzas). De outro modo, Yadavet al. (2015), quando avaliaram Chlorellasp. crescendo
sob exposição de gases de combustão, obtiveram uma produção de biomassa de 1,981 g
L-1 a uma concentração de 10%de CO2(v/v), 0,554% (v/v) de CO, 8,33% (v/v) O2, 61
ppmde NOx, 0,3% de SOx(v/v) e 9 ppm de outros hidrocarbonetos. Esta produção de
biomassa é maior do que a obtida nos testes realizados no presente estudo. Contudo,
estes resultados indicam queChlorellaapresenta tolerância à exposição a diferentes
concentrações de gases de efeito estufa.
Com relação à produção de biomassa por S. subspicatus os valores apresentados
em cada teste realizado foram: 1,088; 1,0159 e 1,115 g L-1, respectivamente. Quando
comparados os tratamentos TC e TI, foram observadas diferenças significativas para os
três testes (Tab. 1).
Radmannet al. (2011) obtiveram os seguintes valores de biomassa máxima para
S. obliquos e C. vulgaris: 0,50 e 0,56 g L-1, respectivamente. Isto indica que, quando
comparado com os testes realizados,tanto os valores apresentados por S.
subspicatusquanto por C. vulgarisforam maiores que os valores apresentados por estes
autores.

Tabela 1 – Produção de biomassa (g L-1) por Chlorellavulgarise


Scenedesmussubspicatus ao final dos cultivos (15 dias). Teste 1 – 5% de CO2 (v/v) e 30
ppm de NOx (v/v); Teste 2 – 7% de CO2 (v/v) e 40 ppm de NOx (v/v) e Teste 3 – 10%
de CO2 e 60 ppm de NOx.
TESTE 1 TESTE 2 TESTE 3
TC TI TC TI TC TI
C. vulgaris 0,678±0,22 1,043±0,07 1,041±0,08 1,168±0,02 0,616±0,05 0,871±0,08bA
a aA a aA a

S.
0,828±0,02a 1,088±0,04bA 1,024±0,03a 1,159±0,07bA 0,981±0,01a 1,115±0,10bB
subspicatus
Letras maiúsculas na mesma coluna indicam diferenças significativas entre Chlorella e
Scenedesmus. Letras minúsculas na mesma linha indicam diferenças significativas entre
os tratamentos TC e TI para a mesma espécie. As diferençasestatísticas
foramconsideradasa um nível de significância de 95% (p≤ 0,05) pelo teste de Tukey.
FONTE: os autores (2017).

De acordo com Vaz, Costa e Morais (2016) a exposição aos gases contendo
moléculas como óxidos de nitrogênio (NOx), podem inibir o crescimento microalgal.
Contudo, constatou-se que as microalgas avaliadas nesta pesquisa não foram
completamente inibidas por essa exposição.Ao contrário, as mesmas cresceram mais no
tratamento com a injeção de gases do que no tratamento controle, sem injeção.
A partir dos dados obtidos, contatou-se que as duas espéciesnão apresentaram
um padrão de produção de biomassa relacionado com a concentração de gases pois, para
ambas, a maior produção foi apresentada ao final do teste 2. Sobretudo, ao comparar S.
subspicatuscom C. vulgarisconstatou-se maior produção para a primeira (Fig. 2). Ao
realizar as análises estatísticas e comparar os tratamentos TI entre as espécies, foram
observadas diferenças na produção de biomassa apenas para o teste 3, em que o
crescimento de S. subspicatusfoi significativamente maior que C. vulgaris(Tab.1). Isto
pode indicar que S. subspicatusé mais tolerante.
FIGURA 2 – Produção de biomassa seca por Chlorellavulgaris(Cv) e
Scenedesmussubspictus (Ss) durante os testes de tolerância aos gases. A. Teste 1 – 5%
de CO2 (v/v) e 30 ppm de NOx (v/v). B. Teste 2 – 7% de CO2 (v/v) e 40 ppm de NOx
(v/v). C. Teste 3 – 10% de CO2 e 60 ppm de NOx.
FONTE: os autores (2017).
4 CONCLUSÃO

Ao avaliar a tolerância de Chlorellavulgarise Scenedesmussubspicatus à


exposição ao gás simulado contendo diferentes concentrações de CO2 e NOx, contatou-
se que as duas espécies demonstraram ser tolerantes. Além disso, os tratamentos com
injeção de gás apresentaram um crescimento maior do que o tratamento controle,
realizado apenas com injeção do ar, o que leva a conclusão de que estas espécies são
capazes de biofixar esses gases.
Essas espécies possuem potencial para a biofixação de gases de efeito estufa.
Contudo, ainda são necessárias análises mais aprofundadas para quantificar a
capacidade de biofixação de cada microalga e, dessa maneira, certificá-las para
possíveis usos em medidas mitigadoras para tratamento de poluições atmosféricas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o suporte dos Institutos LACTEC e da Universidade


Positivo para o desenvolvimento desta pesquisa.

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RECUPERAÇÃO DE MANGUEZAIS DEGRADADOS: ESTUDO DE CASO NO


MUNICÍPIO DE MACEIÓ-AL, BRASIL

M. C. S., Lima

Universidade Federal de Alagoas, 57072-970, Maceió-AL, Brasil,


[email protected]

RESUMO

Foi realizado um trabalho de recuperação de uma área de manguezal que havia sido
aterrado para construção de uma campo de futebol em uma área da Área de Proteção
Ambiental (APA) Costa dos Corais no município de Maceió-AL, Brasil com os
objetivos de avaliar o desenvolvimento de plântulas e propágulos de Rhizophora mangle
e Laguncularia racemosa, verificar a eficácia do uso de tela vegetal composta por palha
de coqueiro entrelaçada e revestimento vegetal de feijão-da-praia (Canavalia rosea)
para estabilização das encostas na área em estudo e verificar a viabilidade do
envolvimento da comunidade em projetos de preservação e recuperação ambiental. Para
a realização do trabalho foi feita a retirada da camada de solo compactada, foi realizado
o plantio de propágulos e plântulas com altura de 0,4 a 0,6 m e medição da altura e taxa
de sobrevivência destes por 1 ano e 6 meses. Após a realização dos estudos, foi
observada taxa de sobrevivência de 90% e altura média igual a 1,20 m após 18 meses,
além de observar a capacidade de recuperação do solo e o reincorporação da fauna
nativa na área de estudo. Os resultados e conclusões deste estudo são importantes para o
desenvolvimento de políticas de recuperação e preservação de ecossitemas costeiros,
especialmente em áreas de manguezais.

Palavras Chave: Áreas degradadas, aterro, Apa Costa Dos Corais, alta taxa de
sobrevivência

INTRODUÇÃO

O manguezal é um ecossistema complexo situado em áreas costeiras de regiões tropicais


e subtropicais e corresponde a uma faixa de transição entre o ambiente terrestre e
marinho. Tal ecossitema é responsável por desempenhar funções importantes,
relacionadas a reprodução e manutenção da biodiversidade de diversas formas de vida
aquáticas (da Silva, 2008). O Brasil devido sua considerável linha de costa apresenta em
seu território uma grande área de manguezais, indo desde o estado do Amapá até Santa
Catarina. Segundo Maia et al. (2005), os manguezais brasileiros ocupam área superior a
13 mil km², o equivalente a cerca de 50% da área total de mangues das Américas e
cerca de 7% dos manguezais do mundo (Ferreira & Lacerda, 2016).

Apesar dos diversos serviços ambientais que os manguezais desempenham, no último


século, estes ecossitemas têm sido fortemente atingidos pela ação antrópica, se
encontrando em elevado estado de vulnerabilidade a impactos ambientais (Silva, 2008).
Segundo a FAO (Organização Mundial para a Agricultura e Alimentação), órgão ligado
à ONU (Organização das Nações Unidas), nas décadas de 70 e 80 o Brasil foi o país que
mais destruiu seus ecossistemas (Gomes, 2001). Nas últimas décadas cerca de 35% dos
manguezais do mundo já foram degradados devido a ação humana para fins como
moradia, exploração da fauna e flora e para fins industriais e expansão urbana e depejo
de poluentes (Diegues, 1995). Estudos mostram que aproximadamente 50 mil hectares
de manguezais brasileiros foram destruídos em menos de 25 anos (Ferreira & Lacerda,
2016).

A principal causa de tal problema é o fato que o modelo de desenvolvimento adotado no


Brasil visou a criação das principais vilas e cidades na zona costeira, por conta da
facilidade de transporte, acesso a riquezas e mercado consumidor; gerando assim
pressões crescentes sobre ecossistemas costeiros, dentre eles os manguezais (Diegues,
1995). Apesar da pequena população comparada a população do nordeste brasileiro que
detém cerca de 46 milhoes de habitantes, a região da grande Maceió com população de
mais de um milhão de habitantes (IBGE, 2016) possui grande crecimento populacional,
principalmente em regiões litorâneas, ocasionando em diversos tipos de impactos
ambientais, especialmente associadas ao aterramento, deposição de resíduos sólidos e
desmatamento nesses ecossistemas (Nadalin, et al., 2014).

Apesar da forte degradação que os manguezais brasileiros vêm sofrendo, foram


desenvolvidos dispositivos legais que visam a sua proteção. Dentre os principais
instrumentos legais de proteção temos a Constituição Federal de 1988, artigo 225 o qual
explica que é dever do poder público e da coletividade defender e preservar o meio
ambiente incumbindo-se ao Poder Público preservar e restaurar os processos ecológicos
essenciais; Lei Federal nº 4771 de 15 de setembro 1965 que rege sobre o Código
Florestal; além da Resolução CONAMA nº 303/ 2002 a qual estabelece as áreas de
manguezais como áreas de Preservação Permanente em toda a sua extensão.

A Política Nacional do Meio Ambiente, Lei 6.938/ 1981, em seu art. 2º, destaca a
importância da atividade de recuperação de áreas degradadas para preservação,
melhoria e recuperação da qualidade ambiental. A atividade de recuperação de áreas
degradadas tem a capacidade de reestabelecer serviços e bens ecologicos que estas áreas
disponibilizam para a humanidade. Segundo Nobre et al., (2009) o governo se encontra
cada vez mais preocupado em promover a recuperação de áreas de Reserva Legal (RL)
e Áreas de Preservação Permanente (APP). No entanto, apesar da importância de tal
atividade, poucos trabalhos têm sido realizados no Brasil, principalmente em áreas de
manguezais. Estudos mostram que somente cerca de 5% das áreas de manguezais no
Brasil foram recuperadas em 2010 e a maioria destas atividades não são monitoradas,
permanecendo não documentadas, ou se encontram fragmentadas ou resumidas
(Ferreira & Lacerda, 2016).

Desta forma, este trabalho tem como objetivo avaliar de recuperação de uma área de
manguezal que havia sido aterrado para construção de uma quadra de vôlei em uma área
da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais no município de Maceió-AL, Brasil
observando a capacidade do estabelecimento de Rhizophora mangle e Laguncularia
racemosa (L.) Gaertn. em sedimentos da região. Este estudo também visa verificar a
eficácia do uso de tela vegetal composta por palha de coqueiro entrelaçada e
revestimento vegetal de feijão-da-praia (Canavalia rosea) para estabilização das
encostas na área em estudo e checar a viabilidade do envolvimento da comunidade em
projetos de preservação e recuperação ambiental.

MATERIAIS E MÉTODOS

A área escolhida para os trabalhos se localiza no municipio de Maceió em uma área


pertencente a APA costa dos Corais. A Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos
Corais a qual compreende a maior unidade de conservação federal marinha do Brasil,
possuindo mais de 400 mil ha de área e cerca de 120 km de praia e mangues localizados
nos estados de Alagoas e Pernambuco (ICMBio, 2017). A área em estudo se
encontrava em grave estado de degradação, apresentando sedimento exposto, ausência
fauna e flora nativa, uma vez que o manguezal havia sido aterrado para a construção de
um campo de futebol, conforme mostrado na Figura 1. Esta foi escolhida por ser
representativa em relação aos impactos ambientais que estas regiões estão sujeitas,
como aterramento, deposição de resíduos sólidos e desmatamento.
Figura 1: área antes da realização do experimento

Com base em observações nas condições da área e na intensidade do impacto, foi feita
uma recuperação induzida do manguezal, visto que tais condições indicavam que o
processo de regeneração natural se encontrava insuficiente na área em estudo.

Para o início do projeto de recuperação da vegetação nativa de manguezal, foi feita a


retirada do aterro, até o substrato inconsolidado, com auxílio de máquina
retroescavadeira, com muita atenção para não atingir e/ou provocar qualquer tipo de
dano à vegetação nativa de manguezal adjacente, conforme mostrado na Figura 2.

Figura 2: retirada do solo areno-argiloso

Posteriormente a área foi isolada com cercas compostas por estacas de espaçamento 2x2
metros e cinco fios de arame farpado, impedindo a passagem de pessoas e animais.
Optou-se por realizar o experimento com plântulas de Mangue Branco (Laguncularia
racemosa (L.) Gaertn.) e propágulos e plântulas de Mangue Vermelho (Rizophora
mangle L.).
A área em recuperação apresentou taludes laterais de aproximadamente dois metros de
altura com risco de erosão. Para diminuir o risco de erosão e reduzir o depósito de
material areno-argiloso na área, foi criada uma cobertura do solo localizado nos taludes
laterais através da instalação de uma camada de palha de coqueiro entrelaçada,
protegendo o solo das intempéries provocadas por vento, chuva, movimento da maré e
ações físicas de animais ou pessoas que caminhem sob os taludes, conforme ilustrado na
Figura 3.

Figura 3: fixação da camada de palha de coqueiro entrelaçada nos taludes da área

Para a realização do processo de recuperação induzida, foram utilizadas cerca de 500


plântulas de Laguncularia racemosa (L.) Gaertn. e Rhizophora mangle e cerca de 20
propágulos de Rhizophora mangle. Para a realização do estudo foi feita uma
mobilização de pescadores locais que identificaram as áreas adjacentes onde uma
quantidade adequada de plântulas e propágulos que poderiam ser retirados, de forma a
não degradar o ecossistema nativo existente.

Os propágulos de Rhizophora mangle foram coletados quando recém-caídos no


substrato e em bom estado fitossanitário, conforme mostrado na Figura 4. As plântulas
de Laguncularia racemosa apresentavam entre 0,5 a 0,6 m de altura, com presença de
raízes e possuindo um par de folhas, no mínimo. As plântulas de Rizophora mangle
apresentavam altura entre 0,4 a 0,6 m, com 2 a 6 folhas mas ainda sem rizóforos
(“raízes-aéreas”). As mudas foram plantadas com espaçamento de 60 cm em forma de
triângulo. As covas para acomodamento das plantas foram de aproximadamente 25 x 25
x 25 cm, segundo as recomendações determinadas em Auto (2011).
Figura 4: propágulos de Rhizophora mangle coletados

Conforme recomendado em Menezes et al. (2005), não houve a necessidade do emprego


de fixadores artificiais para evitar uma eventual remoção das plântulas e propágulos
pela maré, dessa forma não foi feito o uso dessa ferramenta durante o experimento. O
plantio foi realizado em horário de maré vazante, onde as plântulas e propágulos foram
implantados diretamente no sedimento, sem acréscimo de quaisquer corretivos ao
substrato. O experimento foi implantado no mês de julho de 2015 e monitorado até
janeiro de 2017.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observa-se que a taxa de sobrevivência permaneceu constante após o primeiro ano do


experimento. As mudas transplantadas apresentaram taxa de sobrevivência igual a 90%
e altura média igual a 120 cm após 18 meses, conforme mostrado na Figura 5. De
acordo com Menezes et al. (2005), taxas de sobrevivência de plântulas e propágulos de
Rhizophora mangle e Laguncularia racemosa superiores a 70% são consideradas
satisfatórias. Experimentos realizados com sucesso em Cuba apresentam taxas de
sobrevivência superiores a 85% em plantações de R. mangle (Pádron, 1997). Dessa
forma, é possível concluir que os resultados do experimento foram satisfatórios.
102
100
Taxa de sobrevivência (%)
98
96
94
92
90
88
86
84
0 100 200 300 400 500 540
Dias

Figura 5: taxa de sobrevivência dos indivíduos transplantados

Propágulos e plântulas de Rhizophora mangle apresentaram crescimento e


desenvolvimento reduzido nos primeiros meses, além de uma redução no número de
folhas nos dois primeiros meses pós transplante. Segundo Hamilton & Snedaker (1984)
e Menezes et al. (2005), isso se deve ao estresse sofrido pelo transplante. Além disso,
foi observado que houve crescimento diferenciado entre as espécies transplantadas de
modo que alguns indivíduos tanto de Rhizophora mangle e Laguncularia racemosa
apresentaram crescimento reduzido. De acordo com Rabinowitz (1978) um fator crítico
que pode ter causado tal fenômeno é a maior presença de luz em alguns indivíduos, o
que favoreceu o crescimento destes. Outro fator que pode ter promovido o
desenvolvimento diferenciado das espécies são as práticas de manejo dos sistemas
agroflorestais na área em estudo (Souza & Piña-Rodrigues, 2013), tais como a
realização do transplante com maior quantidade de raíz e solo nativo em algumas
espécies.

De acordo com a Figura 6, pode-se notar que as plântulas transplantadas sofreram, nos
três primeiros meses, um baixo crescimento que foi recuperada a partir do quarto mês
após o transplante, provavelmente devido a um assentamento das plântulas no terreno,
além da adaptação dos indivíduos às condições encontradas no local de estudo.
140

120

100
Altura média (cm)

80

60

40

20

0
0 100 200 300 400 500 540
Dias

Figura 6: altura média dos indivíduos transplantados

O plantio das espécies Mangue Branco (Laguncularia racemosa (L.) Gaertn.) e Mangue
Vermelho (Rizophora mangle L.) gerou inúmeros beneficios para o solo da região, tais
como aumento de quantidade de matéria orgânica do solo, redução do grau de
compactação do solo, além de aumentar a incorporação de nutrientes através do
carreamento destes durante o aumento do nível da maré.

Além disso, a instalação da camada de cobertura dos taludes feita com palha de
coqueiro forneceu condições favoráveis de fixação e presença de matéria orgânica,
essenciais para a sobrevivência e germinação das sementes de feijão-da-praia
(Canavalia rosea), espécie nativa da região. Essa técnica forneceu condições favoráveis
para a estabilização geotécnica dos taludes, reduzindo consideravelmente a perda de
solo, permitindo a manutenção do fluxo natural dos corpos hídricos da região, a
reestruturação da condições originais do solo e a sobrevivência das mudas de Mangue
Branco e Vermelho plantadas na área. Após a realização do experimento houve o
surgimento de animais nativos na área em estudo, como caranguejos e insetos
polinizadores os quais realizam a incorporação de matéria orgânica e oxigênio,
transporte de sementes e promovendo a reprodução das plantas.

A realização do plantio em conjunto com a comunidade pescadores locais proporcionou


resultados satisfatórios pois estes forneceram conhecimento em relação à dinâmica da
maré da região e sobre os locais onde poderia ser feita retirada das plântulas e
propágulos de forma a não causar impacto significativo no ecossistema da região. Tais
conhecimentos foram extremamente necessários para o sucesso do experimento. Além
disso, esta ação resultou em um maior engajamento da comunidade local para a
realização de atividades relacionadas à preservação dos manguezais da região. Pádron
(1997), explica que o envolvimento dos habitantes locais nas atividades de restauração
de manguezais é de considerável importância tanto para o sucesso da atividade quanto
para preservação do ecossistema.
CONCLUSÕES

A utilizacao de camada de palha de coqueiro e sementes de feijão-da-praia (Canavalia


rosea), sobre os taludes da área, podemos observar a formacao de uma cobertura vegetal
extremamente eficiente para a protecao dos taludes de forma rápida e econômica, onde a
decomposição natural da palha forneceu condições favoráveis para a germinação e
desenvolvimento das sementes de feijão de praia. Houve portanto, o controle da erosão
e revestimento da camada vegetal com espécies nativas da região, proporcionando
estabilidade, recuperação do visual e utilidade ecológica da paisagem e permitindo a
recuperação do solo da região.

Foi possível observar tambem que o plantio das mudas de Mangue branco e Vermelho
gerou condições adequadas de abrigo para a fauna existente na área, além do surgimento
de espécies nativas secundarias na área. Indicando assim, que o processo de regeneração
do manguezal na área de estudo ocorreu de forma rápida e eficiente.

Portanto, pode-se concluir que existe possibilidade de recuperação dos manguezais


degradados em Maceió-AL, Brasil, os indivíduos de Laguncularia racemosa (L.)
Gaertn. transplantados para o campo apresentaram maiores taxas de sobrevivência e
maior incremento em altura do que os de Rizophora mangle L. e o envolvimento da
comunidade em projetos de preservação e recuperação ambiental é viável e pôde
contribuir para o sucesso deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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da Silva, H. R. A. B. (2008). IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS NAS


PROXIMIDADES DO ESTUÁRIO DO RIO JABOATÃO. Recife: UFPE.

Diegues, A. C. (1995). Processos econômicos e sociais da ocupação e uso dos


ecossistemas litorâneos e costeiros e seus impactos. São Paulo: Nupaub–USP.

Ferreira, A. C., & Lacerda, L. D. (2016). Degradation and conservation of Brazilian


mangroves, status and perspectives. Ocean & Coastal Management, 125, 38-46.

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de manguezais ocupadas por palafitas em São Luís-MA.

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http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos
/tabela1.shtm

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Janeiro de 2017, Instituto Chico Mendes: http://www.icmbio.gov.br/apacostadoscorais/

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Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Universidade
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Menezes, G. V., Schaeffer-Novelli, Y., Poffo, I. R. F., & Eysink, G. G. J. (2005).


Recuperação de manguezais: um estudo de caso na Baixada Santista de São Paulo,
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Nadalin, V. G., Krause, C., & Neto, V. C. L. (2014). Distribuição de aglomerados


subnormais na rede urbania e nas grandes regiões brasileiras (No. 2012). Texto para
Discussão, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Nobre, H. G., Canuto, J. C., Franco, F. S., Franco, V. F., Souza, T. D. J. M., & da Costa
Junqueira, A. (2009). Implantação Participativa de Sistemas Agroflorestais no
Assentamento Sepé Tiaraju. In VII CONGRESSO BRASILEIRO DE SISTEMAS
AGROFLORESTAIS, Brasília/DF, Anais.

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caso de Provincia Habana. La restauración de ecosistemas del manglar, International
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Rabinowitz, D. (1978). Mortality and initial propagule size in mangrove seedlings in


Panama. The Journal of Ecology, 45-51.

Souza, M. C. S. D., & Piña-Rodrigues, F. C. M. (2013). Desenvolvimento de espécies


arbóreas em sistemas agroflorestais para recuperação de áreas degradadas na Floresta
Ombrófila Densa, Paraty, RJ.

EFICIÊNCIA DE CONSÓRCIOS DE MICRORGANISMOS OBTIDOS DA


RIZOSFERA DE Alternanthera philoxeroides (Mart.) Griseb. PARA O
TRATAMENTO DE AMBIENTES CONTAMINADOS COM PETRÓLEO

W. L. Biscaia1; L. T. Maranho1.
1
Universidade Positivo (UP), Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300,
Campo Comprido, CEP: 81280330, Curitiba – Paraná, Brasil.
e-mail: [email protected], (41) 9 8740-0803.

RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo avaliar a eficiência dos consórcios de microrganismos
obtidos da rizosfera de Alternanthera philoxeroides para a biorremediação do petróleo.
Para tanto, foram estabelecidos dois consórcios, estes submetidos a testes de degradação
em reatores contendo 25 mL de meio mineral e 1% (v/v) de petróleo, para cinco
intervalos de tempo. Para cada consócio foram estabelecidos dois tratamentos, controle
(TC), sem inóculo e inoculado (TI), com 108 células mL-1 de cada bactéria, ambos em
triplicata e incubados em shaker a 30 ºC e 150 rpm. Em cada intervalo analisou-se
temperatura, pH, condutividade elétrica e biomassa. Foram realizadas análises por
cromatografia a gás e avaliada a produção de biossurfactante. Para as análises
estatísticas foram utilizados os testes T Student e Mann-Whitney. Os microrganismos
apresentaram capacidade de biodegradar os compostos de petróleo para usá-los como
fonte de carbono em seu metabolismo. Os resultados demonstraram que os consórcios
C1 e C2 degradaram petróleo, com taxas de degradação de 51,84 e 28,80%,
respectivamente, comprovando a eficiência dos consórcios para a biorremediação do
petróleo. O Consórcio C2 demonstrou maior eficiência para a biodegradação do
petróleo, o que pode indicar sua futura utilização em processos como bioaumentação.

Palavras Chave: Poluição por petróleo. Biotecnologia. Remediação. Biodegradação.


Rizodegradação.

1 INTRODUÇÃO

O petróleo, matéria prima constituída por uma mistura complexa de vários


compostos, faz parte de um dos grupos de contaminantes orgânicos persistentes no
ambiente e, além disso, apresenta propriedades tóxicas, o que acarreta grandes
preocupações em questões de saúde e segurança, pois os produtos advindos do mesmo
representam a maior fonte de energia mundial (Das e Chandran, 2011; Hassanshahian et
al., 2012, Huang et al., 2005; Maqbool et al., 2012; Yi et al., 2011). Desta forma, o
acelerado crescimento das atividades petrolíferas resulta em problemáticas
ecotoxicológicas com diversos graus de magnitude, como danos físicos, químicos e
biológicos, provocados pela persistência e acúmulo do petróleo no ambiente e em
tecidos animais e vegetais, com consequentes efeitos carcinogênicos, mutagênicos e
aniquiladores (Akbari e Ghoshal, 2014; Almeda et al., 2014; Das e Chandran, 2011;
Lopes e Piedade, 2010; Meyer et al., 2014; Onwurah et al., 2007).
Além das contaminações por vazamentos, derramamentos acidentais e demais
formas de contaminação com maiores repercussões, é importante salientar, como outra
grande fonte de contaminação de petróleo e seus derivados, as contaminações por
postos de combustíveis, o que reforça a necessidade de desenvolvimento e
aperfeiçoamento de técnicas de remediação.
A biorremediação é uma técnica de recuperação ambiental que consiste na
degradação e/ou conversão bioquímica dos contaminantes por meio de atividade
biológica de organismos nativos ou cultivados (Andrade et al., 2010; Meyer et al.,
2014). Ela é promissora quando comparada com outras técnicas de remediação, pois
possui a possibilidade de aplicação in situ e tem baixos custos (Rahman et al., 2002a).
Contudo, antes de sua aplicação, é necessário um levantamento dos fatores químicos,
físicos e biológicos do local afetado e da concentração do contaminante, fatores estes
que interferem diretamente na sua eficácia (EPA, 2012; Meyer et al., 2014).
O aperfeiçoamento da biorremediação, a partir do desenvolvimento de novos
processos e/ou produtos, depende de conhecimentos sobre a fisiologia e ecologia das
populações microbianas nativas dos locais contaminados. Para tanto, é fundamental a
aplicação da ecologia microbiana e o entendimento dos seus processos, uma vez que,
por meio da Biotecnologia é possível o controle de processos inter-relacionados, além
da explicação sobre os custos e a eficiência das opções de limpeza dos ecossistemas
(Onwurah et al., 2007).
A capacidade dos microrganismos em degradar petróleo é um dos fatores
relevantes para a biorremediação. De acordo com Ghazali et al. (2004) e Yi et al.
(2011), individualmente, um microrganismo pode metabolizar frações específicas do
poluente, enquanto que a cooperação de mais de uma espécie amplia a capacidade de
degradação dos componentes, promovendo assim, uma degradação mais eficiente.
Portanto, a utilização de consórcios de microrganismos pode ser mais eficaz do que
microrganismos isolados. Pelo exposto, o objetivo desta pesquisa é avaliar a eficiência
de consórcios de microrganismos obtidos da rizosfera de Alternanthera philoxeroides
para o tratamento de solos contaminados com petróleo.
A. philoxeroides é nativa da América do Sul e com ampla distribuição geográfica
no Brasil. Se espalhou por cerca de 30 países como Estados Unidos da América, Porto
Rico, Nova Zelândia, China, Tailândia, Indonésia, Birmânia, Austrália, Índia, entre
outros (Barreto; Torres, 1999; Souza et al. 2009). A. philoxeroides é uma planta
herbácea e rizomatosa, possui crescimento rápido e longevidade curta. Seu
desenvolvimento pode ocorrer em ambiente aquático ou terrestre úmido, e tolera uma
ampla variedade de macroclimas (Gao et al., 2010; Souza et al., 2009; Sushilkumar et
al., 2009). Além disso, apresenta resistência à salinidade, metais pesados e herbicidas
(Wang et al., 2005).

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 SELEÇÃO DOS MICRORGANISMOS

Os microrganismos testados foram obtidos a partir do projeto de Iniciação


Tecnológica intitulado “Seleção de bactérias degradadoras de petróleo da rizosfera de
Alternanthera philoxeroides (Mart.) Griseb.”, ciclo 2014-2015, sendo estes
comprovadamente degradadores de petróleo. Foram selecionados cinco microrganismos
que constituíram o objeto de estudo da presente pesquisa.

2.2 DEFINIÇÃO DOS CONSÓRCIOS E TESTES DE DEGRADAÇÃO

Foram definidos dois consórcios (C1 e C2) a partir de combinações feitas com
os cinco microrganismos selecionados. Para C1 foram utilizados os microrganismos
aqui denominados como 1, 2 e 3, e para C2 os microrganismos 1, 2, 3, 4 e 5. A partir
disso, foram realizados testes para verificar o potencial de degradação de petróleo de
cada consórcio, sendo que, para isso, foram preparados reatores em frascos de
Erlenmeyer de 250 mL para cinco intervalos de tempo (T0, T24, T48, T72 e T96 h),
sendo dois tratamentos, controle (TC) e inoculado (TI), cada um em triplicata.
Para o tratamento controle (TC) foram preparados reatores contendo 25 mL de
meio mineral (g L-1) (K2HPO4 - 0,5; (NH4)2SO4 - 0,5; MgSO4.7H2O - 0,5; FeCl3 -
0,01; MnCl2 - 0,001; ZnSO4 - 0,0001; CaCl2 - 0,01) adaptado de Déziel et al. (1996) e
1% (v/v) de petróleo conforme proposto por Rahman et al. (2002b) e Omotayo et al.
(2012). O segundo tratamento (TI) foi composto por 25 mL meio mineral, 1% (v/v) de
petróleo como a única fonte de carbono e 1 mL do inóculo de cada microrganismo
(concentração de 108 células mL-1). Estes procedimentos seguiram metodologia
proposta por Mishra et al. (2004). Posteriormente, os tratamentos foram incubados em
shaker a temperatura de 30 ºC e 150 rpm.
O petróleo utilizado para os testes é caracterizado como pesado e apresenta
características como: densidade relativa (20±4 ºC) 0,90; densidade (ºAPI) de 23,8,
acidez total de 1,02 (mg KOH g-1); teor de sal 202 (mg NaCl L-1); água e o conteúdo do
sedimento de 0,60%; hidrocarbonetos saturados 49,8%; hidrocarbonetos aromáticos
25,4%; resinas de hidrocarboneto 22,4% e 2,4% de asfaltenos.

2.3 PARÂMETROS ANALISADOS

Para cada intervalo de tempo (T0, T24, T48, T72 e T96 h) e tratamento (TC e
TI) foram analisados os seguintes parâmetros: temperatura (T) e pH em pHmetro
TCP01 (Onda Científica, Campinas, Brasil), condutividade elétrica (CE) em
condutivímetro Handylab LF11 (SI Analytics, Mainz, Alemanha) e produção de
biomassa por absorbância (DO610) em espectrofotômetro com comprimento de onda de
610 nm.
Além disso, com a finalidade de avaliar a competição entre os microrganismos,
para TI foram realizadas diluições seriadas de 10-2 a 10-6 em solução salina. As
alíquotas das diluições de 10-6 foram inoculadas em duplicata em meio ágar-nutriente e
incubadas em estufa a 30 °C. Após, realizou-se a contagem das Unidades Formadoras
de Colônias (UFCs) de cada microrganismo.

2.4 AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO DE PETRÓLEO

A eficiência da degradação de petróleo de cada consórcio foi avaliada por meio


da extração e quantificação de hidrocarbonetos totais de petróleo, conforme método
proposto por Schwab et al. (1999). Para cada amostra foi adicionado 1 g de sulfato de
sódio anidro (Na2SO4) para a absorção de água da amostra e 5 mL de diclorometano
(CH2Cl2) padrão cromatografia como solvente. As amostras foram armazenadas em
vidros âmbar em geladeira até a avaliação por cromatografia a gás (GC). A
cromatografia foi realizada em cromatógrafo a gás GC-2010 (Shimadzu, Kyoto, Japão),
com coluna capilar DB-5 (0,25 μm de diâmetro, 30 m de comprimento e 0,25 μm de
largura). As temperaturas do injetor e detector foram 250 °C e
280 °C, respectivamente. O gás hidrogênio atuou como carreador (1,0 mL min-1).
Inicialmente, a temperatura da coluna foi ajustada para 70 °C por 4 min, e elevada até
190 °C (20 ºC min-1) para 250 °C (10 min-1) e finalmente para 280 °C (30 °C min-1),
mantendo-se por 10 min. O volume injetado de cada amostra foi de 0,5 μL. Cada
composto do petróleo foi identificado com base em seu tempo de retenção para análises
de porcentagem de redução de área.

2.5 PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE

Com o objetivo de avaliar a capacidade dos consórcios dos microrganismos em


produzir biossurfactante, foi realizado o teste de colapso de gota (Jain et al., 1991). Para
tanto, 300 µL do inóculo de cada microrganismo (concentração de 108 células mL-1)
foram inoculados separadamente em "poços" de uma placa multipoços. Posteriormente,
estes foram preenchidos com 150 µL de óleo mineral (glicerol). Após 1 minuto de
reação, o resultado foi determinado visualmente em Microscópio Estereoscópio,
considerando-se positiva a produção de biossurfactante quando ocorreu o colapso da
gota.

2.6 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Os dados obtidos foram tabulados em planilhas do programa Microsoft Excel


2010. Foram calculadas as médias e desvios-padrão e, posteriormente, os dados foram
submetidos a análises estatísticas por meio dos testes T Student e U Mann-Whitney. Em
todas as análises foram comparados os tratamentos TC e TI para os diferentes intervalos
de tempo. Foram consideradas significativas as diferenças quando p≤0,05.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS MICRORGANISMOS

Os microrganismos utilizados para a composição dos consórcios 1 e 2 foram


caracterizados com base em suas características morfológicas (Tab. 1). Dos cinco
microrganismos selecionados, constatou-se que todos são bactérias, quatro são Gram
negativas (1, 2, 4 e 5) e uma Gram positiva (3).

Tabela 1 – Caracterização das bactérias obtidas da rizosfera de Alternanthera


philoxeroides para a composição dos consórcios 1 e 2.
Microrganismo 1 2 3 4 5
Morfologia Coco Diplococo Estreptobacilo Estreptococo Diplococo
Gram Negativo Negativo Positivo Negativo Negativo
Forma Circular Circular Circular Circular Circular
Elevação Elevada Elevada Elevada/plana Elevada Elevada
Borda Irregular Irregular Irregular Irregular Irregular
Cor Amarela Branca Branca Incolor Creme
Translúcida/
Transparência Translúcida Opaca Translúcida Translúcida
opaca
Superfície da
Lisa Lisa Rugosa Lisa Lisa
colônia
FONTE: as autoras (2015).

3.2 TESTES DE DEGRADAÇÃO DE PETRÓLEO

3.2.1 Temperatura

Para o consórcio C1, a faixa média de temperatura variou entre 18,63 °C e 23,92
°C, enquanto que, para o consórcio C2, a temperatura média variou entre 18,85 °C e
22,33 °C. Para ambos os consórcios, a média de temperatura nos tratamentos controle
foi maior que nos tratamentos inoculados. As diferenças significativas para o consórcio
C1 foram registradas nos intervalos T24h e T48h, e para o consórcio C2, apenas em
T24h.
Para C1, a temperatura de 23,78 °C apresentada no intervalo T24h está associada
a maior produção de biomassa e maior condutividade elétrica, e para C2 esta relação foi
verificada também, para o intervalo T24h que apresentou uma temperatura de 20,33 °C.
Resultados obtidos por Rahman et al. (2002a), relatam que, tanto os
microrganismos isolados quanto os consórcios de bactérias apresentaram uma
degradação máxima de petróleo pesado em uma temperatura de 30 °C. Estes mesmos
autores relatam que a temperatura influencia a biodegradação de petróleo devido às suas
características físico-químicas.

3.2.2 pH

As análises realizadas em relação ao pH demonstraram que, para o consórcio


C1, a faixa de pH variou entre 7,50 e 9,03. A maior faixa de pH foi registrada no
intervalo de tempo T48h. Os dados obtidos das amostras TC e TI apresentaram
diferenças significativas para todos os intervalos de tempo.
Para C2 a faixa de pH variou entre 7,59 e 8,98 entre os diferentes tratamentos e
intervalos de tempo avaliados. A maior faixa de pH do tratamento inoculado foi
registrada no intervalo T48h. As diferenças significativas foram constatadas para os
intervalos T24h, T48h, T72h e T96h.
Estes resultados indicam que o pH apresentado foi ideal para o desenvolvimento
de microrganismos, em que, a faixa de pH associada a maior produção de biomassa e
maior condutividade elétrica para C1 foi 8,57 e para C2 foi 8,63, ambos observados no
intervalo de tempo T24h. Segundo Andrade et al. (2010), a faixa de pH ideal para
atividade biológica está entre 6,5 e 8,5. Chen et al. (2006) citam que a atividade
enzimática está diretamente ligada ao pH.
Diferentemente do observado, Dong et al. (2013) afirmam que o pH do solo
pode ficar ligeiramente inferior devido a liberação de ácidos orgânicos durante os
processos de biorremediação do petróleo. De acordo com Rahman et al. (2002a), o pH
7,5 é ideal para degradação de petróleo por bactérias isoladas ou culturas mistas.

3.2.3 Condutividade elétrica

Tanto para o consórcio C1, quanto para o consórcio C2, foram registradas
diferenças significativas de condutividade elétrica para todos os intervalos de tempo
avaliados (Tab. 2), o que indica que ocorreu atividade microbiológica.
A condutividade elétrica está relacionada com a atividade fisiológica dos
microrganismos, uma vez que, de acordo com Atekwana et al. (2004), a biodegradação
de petróleo está associada a uma alta condutividade elétrica devido ao consumo de
nutrientes pelos microrganismos que resulta na formação de íons dissociados.
Do mesmo modo, Dong et al. (2013) afirmam que ácidos orgânicos e íons são
gerados durante o processo de degradação, o que promove um aumento na
condutividade elétrica do solo. Segundo Yan et al. (2016), a condutividade elétrica do
solo está associada com mudanças na composição da comunidade bacteriana.

3.2.4 Produção de biomassa

A maior produção de biomassa verificada por densidade ótica foi registrada no


intervalo de tempo T24h para ambos os consórcios (C1 e C2) (Fig. 1). A produção de
biomassa é um indicativo de que os microrganismos são biodegradadores de petróleo, já
que apresentaram a capacidade de crescimento em um meio em que o petróleo foi a
única fonte de carbono.

A B

Figura 1 – Produção de biomassa dos consórcios de microrganismos extraídos da


rizosfera de Alternanthera philoxeroides nos testes de degradação de petróleo. Valores
obtidos pelo método de densidade ótica (DO610). A. Consórcio 1. B. Consórcio 2.

Os resultados obtidos corroboram com Tanase et al. (2013) quando avaliaram


quatro bactérias (Rhodococcus erythropolis, Achromobacter xylosoxidans,
Acinetobacter baumanii e Burkholderia cepacia) crescendo em substratos com
hidrocarbonetos de petróleo como a única fonte de carbono e obtiveram fases de
crescimento exponencial entre os dias 2 e 9, e a adaptação celular em menos de 2 dias.
O significativo crescimento em 24 horas é um fator positivo quando necessita-se
de microrganismos para a biorremediação de ambientes, pois, se estes respondem
rapidamente, isso proporciona um aumento na velocidade de recuperação do ambiente
contaminado. De acordo com Zhang et al. (2010), existe uma correlação positiva entre a
biodegradação de petróleo e a produção de biomassa bacteriana.
Para ambos os consórcios (C1 e C2), o maior crescimento registrado pela
contagem das UFC’s para todos os microrganismos foi observado no intervalo T24h.
Para o consórcio C1, o microrganismo 2 apresentou o maior crescimento em
quantidade, seguido por 3 e 1, respectivamente (Fig. 1). Para o consórcio C2, o maior
crescimento em quantidade foi apresentado pelo microrganismo 5, seguido por 3, 4, 2 e
1, respectivamente (Fig. 2).

A
Figura 2 – Crescimento dos microrganismos (1, 2, 3, 4, e 5) dos consórcios C1 e C2
durante os diferentes intervalos de tempo. A. Consórcio 1. B. Consórcio 2.

A inoculação em placas de Petri possibilitou a observação da dominância de


alguns microrganismos, pois, quando comparado o crescimento dos mesmos entre os
consórcios 1 e 2, constatou-se que o desenvolvimento de um interfere negativamente no
desenvolvimento dos demais. Entretanto, todos os microrganismos, de ambos os
consórcios (C1 e C2), conseguiram crescer no mesmo meio (Fig. 3).

Figura 3 – Aspecto do crescimento dos consórcios de microrganismos extraídos da


rizosfera de Alternanthera philoxeroides durante os testes de degradação de petróleo.
C1. Consórcio 1 T48h. C2. Consórcio 2 T24h.

Chen et al. (2014) avaliaram um consórcio de cultura mista e relataram que em


um primeiro momento o crescimento de Pseudomonas sp. foi inibido, depois foi
impulsionado pelos metabólitos degradados por Acinetobacter sp. De acordo com
Lawniczak et al. (2013), durante a biodegradação ocorre a competição por fontes de
carbono, o que resulta em interações antagonistas entre os microrganismos.
3.2.5 Produção de biossurfactante

A produção de biossurfactante pelos microrganismos que compõem os


consórcios C1 e C2 foi avaliada qualitativamente. Tanto para o consórcio C1 quanto
para o consórcio C2, a produção de biossurfactante foi positiva para todos os
microrganismos integrantes dos consórcios. Os microrganismos 3 e 5 foram os que
apresentaram reação altamente positiva com relação a produção de biossurfactante,
seguidos por 2, 1 e 4, respectivamente (Tab. 3). Isso demonstra que o consórcio 2 possui
maior potencial para produzir biossurfactante quando comparado com o consórcio 1.

Tabela 3 – Avaliação qualitativa da produção de biossurfactante por cada bactéria dos


consórcios
C1 e C2.
Microrganismo 1 2 3 4 5 CONTROLE*
Produção de
+ ++ +++ + +++ -
Biossurfactante
* Caldo BHI esterilizado. (+) Traço. (++) Positiva. (+++) Fortemente positiva. (-)
Negativa.
Consórcio 1. 1, 2 e 3. Consórcio 2. 1, 2,3 ,4 e 5.
FONTE: as autoras (2015).

Hassanshahian et al. (2012) avaliaram a produção de biossurfactante por 11


cepas de bactérias degradadoras de petróleo, e destas, nove apresentaram uma produção
positiva de biossurfactante. De acordo com esses autores, existe uma relação direta entre
produção de biossurfactante e biodegradação de petróleo bruto, pois, bactérias que
produzem mais biossurfactante, podem degradar mais petróleo do que outras.
Ainda, segundo Chen et al. (2014), a produção de biossurfactante diminui a
tensão superficial do meio, o que facilita a interação entre as células bacterianas e o
petróleo, e, consequentemente, acelera a biodegradação do mesmo.

3.2.6 Avaliação da degradação de petróleo

Devido à maior produção de biomassa, para ambos os consórcios (C1 e C2), no


intervalo de tempo de T24h, as amostras deste período foram avaliadas por
cromatografia a gás. Para cada consórcio foram selecionados 12 picos com base nos
seus tempos de retenção (Fig. 4 e 5).

Figura 4 – Comparação dos cromatogramas dos tratamentos do consórcio 1. A.


Tratamento controle.
B. Tratamento inoculado.
FONTE: as autoras (2015).
Figura 5 – Comparação dos cromatogramas dos tratamentos do consórcio 2. A.
Tratamento controle.
B. Tratamento inoculado.
FONTE: as autoras (2015).

Após 24 horas o consórcio C1 apresentou uma faixa de degradação entre 37,86 a


51,84% de redução dos compostos do petróleo (Tab. 4), enquanto que o consórcio C2
apresentou uma faixa de 24,31 a 28,30% de degradação (Tab. 5). As diferenças
significativas (p≤0,05) para o consórcio C1 foram registradas para os composto com
tempo de retenção de 6,680 min, e, para o consórcio C2, as diferenças foram
constatadas para todos os compostos avaliados.

Tabela 4 – Médias (±desvios-padrão) das áreas dos picos dos tratamentos TC (controle)
e TI (inoculado) do consórcio C1 e respectiva porcentagem de degradação do petróleo
durante o intervalo de tempo T24h.

CONTROLE CONSÓRCIO 1
TEMPO DE EFICIÊNCI Mann-
PICO MÉDIA ± DP MÉDIA ± DP A
RETENÇÃ
% Whitney
O (min)
12477,20 ±
1 6,680 6008,87±567,85 51,84 0,00824*
7381,51
47111,53±36859,5
2 11,350 25644,33±9182,21 45,57 0,68890
4
35990,48±25636,7
3 11,431 20807,25±5107,69 42,19 0,47120
9
51207,90±35936,3
4 11,505 29940,73±7362,02 41,53 0,57520
2
69655,07±47918,4
5 11,643 36194,93±15692,98 48,04 0,57520
2
41122,78±30850,9
6 12,255 25253,38±3179,09 38,59 0,93620
8
24300,80±18278,0
7 12,414 14720,83±2297,65 39,42 0,93620
1
58499,67±48420,6
8 12,999 32763,85±10028,87 43,99 0,68890
3
36233,85±29691,1
9 13,674 21819,28±3419,77 39,78 0,93620
4
25753,05±23427,7
10 14,630 16002,20±1942,49 37,86 0,68890
1
31398,93±27230,1
11 15,242 17892,35±1991,15 43,02 0,68890
1
47565,18±36621,8
12 17,150 25630,28±4586,87 46,12 0,29800
1
* Valores seguidos por asterisco apresentam diferenças significativas pelo teste Mann-
Whitney (p≤0,05).
FONTE: as autoras (2015).
Tabela 5 – Médias (±desvios-padrão) das áreas dos picos dos tratamentos TC (controle)
e TI (inoculado) do consórcio C2 e respectiva porcentagem de degradação do petróleo
durante o intervalo de tempo T24h.
CONTROLE CONSÓRCIO 2
TEMPO DE MÉDIA ± EFICIÊNCI
MÉDIA ± DESVIO Mann-
PICO RETENÇÃ DESVIO A
PADRÃO Whitney
O PADRÃO %
1 5,801 47684,67±6064,63 35505,87±7726,83 25,54 0,02024*
2 6,958 52121,03±5815,98 39227,25±7164,95 24,74 0,02024*
3 7,022 18657,10±1936,90 14058,72±2602,46 24,65 0,01307*
4 8,044 31374,10±3617,26 23541,33±3667,00 24,97 0,01307*
5 8,304 67986,13±8101,07 51067,58±7563,57 24,89 0,01307*
340396,83±29014, 257634,00±47569,8
6 10,449 24,31 0,01307*
00 9
136694,25±28781, 100039,32±16306,3
7 10,900 26,82 0,04533*
46 9
8 11,083 86594,35±11821,34 62086,88±18836,55 28,30 0,02024*
9 11,777 68756,38±9812,92 51606,77±9969,02 24,94 0,03064*
119916,13±17383,
10 12,645 88331,97±20726,60 26,34 0,03064*
38
102870,08±13653,
11 12,784 73242,35±20247,33 28,80 0,01307*
43
12 13,763 46368,53±5969,35 34003,88±7843,25 26,67 0,02024*
* Valores seguidos por asterisco apresentam diferenças significativas pelo teste Mann-
Whitney (p≤0,05).
FONTE: as autoras (2015).

Isso corrobora com a hipótese de que ambos os consórcios são capazes de


degradar petróleo, porém, em um período de 24 horas, por mais que o consórcio C1
tenha apresentado uma maior porcentagem de degradação, foi observada diferença
significativa apenas para um composto, ao contrário das análises para o consórcio C2,
que apresentou diferenças significativas para todos os compostos avaliados. Essa
degradação, associada com a produção de biossurfactante demonstra que, ao comparar
os dois consórcios, C2 apresentou uma maior eficiência que C1.
Malik e Ahmed (2012), quando avaliaram a degradação de petróleo cru por um
consórcio com 15 bactérias, afirmaram que, ao final de 24 dias de incubação, a taxa de
degradação de componentes aromáticos e alifáticos era de 94,84 e 93,75%,
respectivamente, enquanto que para compostos de cadeia média era de 20 a 30% de
degradação.
Chen et al. (2014), quando avaliaram culturas de bactérias isoladas e mistas para
a degradação de petróleo cru, obtiveram taxas de degradação de 47,31; 49,26 e 88,54%
para três grupos testados. Estes autores afirmam, ainda, que a taxa de degradação de
petróleo por cultura mista (consórcio) foi 12,83% maior do que a cultura pura, o que
corrobora com a hipótese de que os consórcios promovem uma degradação mais
eficiente.

4 CONCLUSÃO
A eficiência dos consórcios para a biodegradação de petróleo foi comprovada,
uma vez que os resultados indicaram atividade microbiológica durante os testes onde o
petróleo foi a única fonte de carbono. Isso corrobora com a hipótese de que os
microrganismos possuem a capacidade de biodegradar os compostos de petróleo para
usá-los como fonte de carbono em seu metabolismo.
As análises de cromatografia e produção de biossurfactante demonstraram que o
Consórcio 2 demonstrou maior eficiência para a biodegradação do petróleo, o que pode
indicar sua futura utilização em processos como bioaumentação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o suporte técnico da Universidade Positivo e de seus


colaboradores, em especial ao curso de Ciências Biológicas.

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FABACEAE LINDL. NA AMAZÔNIA: POTENCIAL PARA RECUPERAÇÃO


DE ÁREAS DEGRADADAS E GRUPOS ECOLÓGICOS

S. R. Xavier Júnior1, A. C. M. Pereira2; B. F. Torres3; A. C. Rodrigues5; A. C. S.


Furtado6; F. Ilkiu-Borges7.
1
Biólogo, Especialista em Perícia e Avaliação de Impactos Ambientais – Embrapa
Amazônia Oriental, 66095-903, Belém, Brasil. [email protected], (91)
982396518
2
Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da Amazônia,
estagiária do Laboratório de Botânica da Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903,
Belém, Brasil. [email protected], (91)984117816.
3
Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da Amazônia,
estagiária do Laboratório de Botânica da Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903,
Belém, Brasil. [email protected], (91) 981480843
5
Graduando em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da Amazônia,
estagiário do Laboratório de Botânica da Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903,
Belém, Brasil. [email protected], (91)993013986.
6
Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da Amazônia,
estagiária do Laboratório de Botânica da Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903,
Belém, Brasil. [email protected], (91)981350804
7
Doutora em Biologia vegetal e Recursos Naturais/Botânica – Embrapa Amazônia
Oriental, 66095-903, Belém, Brasil [email protected], (91) 988790261

RESUMO

A classificação ecológica permite o auxilio a modelagem da dinâmica sucessional da


floresta nos programas de recuperação de áreas degradadas (RAD), por isso é um fator
de grande importância a ser avaliado no processo de escolha das espécies para a
recomposição de uma área degradada. Neste sentido, o uso da família Fabaceae Lindl. é
de grande importância por possuir representantes nos diversos grupos ecológicos, além
do seu valor econômico e ambiental devido a fixação de nitrogênio no solo, facilitando
assim, o desenvolvimento de plantas associadas. O objetivo deste trabalho foi realizar
um levantamento de espécies de Fabaceae Lindl. com potencial para uso em
Recuperação de áreas degradadas (RAD) na Amazônia, classificando as espécies de
acordo com os grupos ecológicos. O estudo foi pautado na pesquisa bibliográfica, onde
foram realizadas as buscas de espécies, bem como seus hábitos, a fim de formular uma
tabela contendo essas informações. Posteriormente, buscou-se os grupos ecológicos de
cada espécie, utilizando-se classificação específica, que as divide em: pioneiras,
secundárias iniciais, secundárias tardias e clímaces. As diferentes classificações
encontradas nas literaturas consultadas foram adaptadas. Como resultados obtiveram-se
63 espécies da família Fabaceae Lindl. com potencial para uso em programas de
recuperação de áreas degradadas, sendo 22 espécies pertencentes ao grupo das
Pioneiras; 14 ao grupo das secundárias iniciais; 21 secundárias tardias; e 6 espécies ao
grupo das clímaces. Os resultados confirmaram a grande diversidade de espécies dessa
família para uso em RAD, assim como sua representatividade em todos os grupos
ecológicos. No entanto, são necessários mais estudos quanto à classificação, atentando
para características ambientais de cada região.

Palavras chave: sucessão, RAD, diversidade

1.INTRODUÇÃO
Ao escolher espécies para a recomposição vegetal de uma área degradada deve-
se levar em consideração as estratégias de estabelecimento, crescimento e características
silviculturais de cada grupo de espécies (COELHO, 2013). Esses grupos podem ser
chamados de grupos ecológicos, e têm o fator luz como determinante para a
classificação das espécies.
A classificação ecológica permite conhecer os mecanismos relacionados às
respostas das plantas aos diversos tipos de distúrbios e descrever suas características
biológicas, além defacilitar a modelagem da dinâmica da floresta no processo de
sucessão, tendo aplicação direta na recuperação de áreas degradadas, conservação, e no
manejo sustentável (FERRAZ, 2004).
Segundo Campello et al. (2005), as espécies podem ter seu comportamento
sucessional bastante flexível, podendo ocupar diferentes grupos ecológicos em função
das variações das condições ambientais da região. No entanto, é importante observar o
papel de cada grupo na sucessão ecológica, visto que determinadas espécies atuam
como facilitadoras para outras mais exigentes.
A classificação de Budowski (1965), focada nas características de florestas
tropicais, propôs a divisão das espécies em: pioneiras, secundárias iniciais, secundárias
tardias e clímax. As pioneiras teriam um papel de recobrir inicialmente o solo, por
serem normalmente espécies de rápido crescimento, muito exigentes de luz, de ciclo de
vida curto, precoces para a maturidade e de ampla dispersão zoocórica; as secundárias
iniciais, também de crescimento rápido e intolerantes a sombra diferenciam-se das
pioneiras pelo seu maior porte em diâmetro e altura e pela maior longevidade; as
secundárias tardias, tolerantes a sombra no estádio juvenil, produzem madeiras leves a
moderadamente pesadas; e as clímaces crescem à sombra das pioneiras e secundárias,
pois tem o ciclo de vida longo e geralmente possuem maior valor madeireiro, devendo
ser protegidas para formarem o dossel superior e posterior para um maior
aproveitamento (MACIEL et al., 2003; CAMPELLO et al., 2005).
Neste contexto, a escolha de espécies da família Fabaceae Lindl. para
recuperação de áreas degradadas é uma opção bastante vantajosa devido a sua grande
diversidade de espécies com representantes em todos os grupos ecológicos. Além disso,
é importante econômica e ambientalmente por sua capacidade de dispensar quase
totalmente a adubação nitrogenada devido a simbiose com microrganismos fixadores de
nitrogênio, e pelo grande aporte de matéria orgânica ao solo, proporcionando melhoria
nas condições fisico-químicas e fertilidade de solos degradados. Essa característica é de
grande interesse principalmente para as espécies pioneiras por fornecerem auxílio e
estímulo ao desenvolvimento de outras espécies secundárias e clímaces associadas
(TORRES et al., 2016).
O grupo das Fabaceae Lindl. (Leguminosae) é a terceira maior família de plantas
das Angiospermas reunindo 727 gêneros e cerca de 19.325 espécies (LEWIS, 2005),
que ocupam os mais variados habitats e ocorrem em todo o território brasileiro,
representando a maior parte da diversidade florística no domínio da Floresta Amazônica
(DE AMORIM et al.2016). As Leguminosae são utilizadas para os mais diversos fins,
sendo as espécies florestais madeireiras de grande valor econômico, como por exemplo,
as dos gêneros Hymenaea L., Dipteryx Schreb. e Copaifera L.
Diante disso, o objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento
bibliográfico de espécies florestais da família Fabaceae Lindl. com potencial para uso
em recuperação de áreas degradadas na Amazônia, classificando-as de acordo com os
grupos ecológicos a fim de auxiliar a modelagem de programas de recuperação de áreas
degradadas.

2. METODOLOGIA
O estudo iniciou com a pesquisa bibliográfica, onde foram realizadas buscas de
espécies florestais da família Fabaceae Lindl. utilizadas em recuperação de áreas
degradadas − em artigos científicos, livros e literatura especializada, originando uma
tabela. Os dados foram tabulados no programa Microsoft Excel 2010. Foram utilizados
os sites Mobot e o lista de espécies da Flora do Brasil para auxiliar nas correções
nomenclaturais das espécies.
Na segunda etapa da pesquisa, buscou-se os grupos ecológicos de cada espécie
encontrada, utilizando-se a classificação de Budowski (1965), que as divide em:
pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias, e clímaces, e essas informações
também foram tabuladas e separadas por subfamília. As diferentes classificações
encontradas nas literaturas consultadas foram adaptadas para a classificação de
Budowski de acordo com características como: exigência de luz, altura máxima, ciclo
de vida, dispersão de sementes, qualidade da madeira e velocidade de crescimento.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram pesquisados mais ou menos 39 artigos e encontradas na revisão
bibliográfica 63 espécies florestais de Fabaceae Lindl. com potencial para uso em
programas de recuperação de áreas degradadas. O maior número de espécies
encontradas foi para o grupo das Pioneiras, um total de 22 espécies. O grupo das
secundárias iniciais apresentou 14 espécies; as secundárias tardias 21 espécies; e as
clímaces 6 espécies (Figura 1).
Dentre as espécies pioneiras mais eficientes para o recobrimento inicial do solo
pode-se citar Mimosa caesalpiniifolia Benth. (sabiá), quepor sua baixa exigência em
fertilidade e umidade dos solosadapta-se bem em áreas muito degradadas, onde tenha
havido movimentação de terra e exposição do subsolo(CARVALHO, 2003). O
Schizolobium parahyba var.amazonicum Huber ex Ducke (paricá), que desenvolve-se
bem em solos de áreas que já foram alteradas pelas atividades de agricultura e pecuária,
apresenta rápida germinação e crescimento, aos 4 anos já atingeem média 19 cm de
diâmetro e 12 metros de altura(DE SOUZA et al., 2003). Assim como o paricá, Senna
multijuga (Rich.) H.S. Irwin & Barneby (canafistula), possui rápida germinação e suas
mudas podem atingir 20 cm após 4 meses de semeadura, sendode grande importância
no sombreamento de espécies tardias devido a grande ramificação de seus galhos
(CARVALHO, 2004).
No grupo das Secundárias Iniciais, Anadenanthera colubrina var. cebil (Griseb.)
Altschul é importante por tolerar solos compactados e de baixa fertilidade e
pelaassociação simbiótica das raízes com bactérias do gênero Rhizobium, assim como
as espécies Cassia ferruginea (Schrad.) Schrad. ex DC. e Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.
Macbr., contribuindo com a fixação de nitrogênio no solo(FARIA et al., 1984).
Dentre as espécies secundárias tardias encontradas na pesquisa, Copaifera
langsdorffii Desf. e Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. destacam-se pela importância
ambiental de seus produtos não madeireiros, como as sementes, utilizadas na
alimentação e na industria farmacêutica para a produção de óleos, o que valoriza a
manutenção da floresta em pé (CARVALHO, 2009). As madeiras produzidas por
espécies deste grupo possuem diversas utilidades, como a de Parkia multijuga Benth.
própria para produção de papel e celulose e a de Abarema jupunba (Willd.) Britton &
Killip indicada para caixotaria e lenha (LORENZI, 1998).
As espécies clímaces, além de sua longevidade, são importantes da recuperação
de áreas degradadas por formarem o dossel superior e produzirem madeiras de melhor
qualidade, muito utilizadas na construção civil, como a Hymenaea stigonocarpa Mart.
ex Hayne que, além disso é bastante procurada pela fauna, parte essencial da
estabilidade ecológica (CARVALHO, 2007).

Figura 1: Gráfico da quantidade espécies por grupo ecológico.

Clímax 6

Secundária Tardia 21

Secundária Inicial 14

Pioneira 22

Fonte: Autores, 2017.


Tabela 1: Lista de espécies de Fabaceae Lindl. com potencial para uso em recuperação
de áreas degradadas na Amazônia.

Nome Científico Nomes Vulgares Grupo


Ecológico
Caesalpinioideae
Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Garapa Secundária
Macbr. Inicial
Cassia ferruginea(Schrad.) São-joão-preto, canafístula Secundária
Schrad. ex DC. Inicial
Cassia grandis L.f. Cássia rosa Clímax
Copaifera langsdorffii Desf. Copaíba Secundária
Tardia
Copaifera multijuga Hayne Copaíba, copaíba-angelim, copaíba- Secundária
branca, copaíba-rósea Tardia
Dialium guianense (Aubl.) Tamarindo, pororoca, jitai-amarelo, Secundária
Sandwith. jitai-preto, jataipeba, roxinho, pau- Tardia
ferro, jutaí, jutaí pororoca,
tamarina.
Dimorphandra mollis Benth. Fava d`anta Pioneira
Eperuabijuga Mart. ex Benth. Ipê, muirapiranga Pioneira
Eperua schomburgkiana Benth. Apazeiro Clímax
Hymenaea courbaril L. Jatobá Clímax
Hymenaea parvifolia Huber Jutaí, jutaí-mirim Clímax
Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Jatobá-do-cerrado Clímax
Hayne
Macrolobium angustifolium Arapary, jatobá do lago Secundária
(Benth.) R.S.Cowan Inicial
Macrolobium bifolium (Aubl.) Jatobá do lago Secundária
Pers. Inicial
Peltogyne lecointei Ducke Pau-roxo, pau roxo da terra firme Clímax
Pterogyne nitens Tul. Bálsamo Secundária
Inicial
Schizolobium parahyba var. Paricá Pioneira
amazonicum Huber exDucke
Senna multijuga (Rich.) H.S. Canafístula, aleluia Pioneira
Irwin &Barneby
Tachigali alba Ducke Tachi-preto Pioneira
Tachigali glauca Tul. Tachi Pioneira
Tachigali paniculata Aubl. Tachi-preto Secundária
Tardia
Tachigali paraenses (Huber) Tachi Pioneira
Barneby
Tachigali vulgaris L.G.Silva & Carvoeiro Pioneira
H.C.Lima
Papilionoideae
Amphiodon effusus Huber Gema de ovo Secundária
Inicial
Bowdichia nítida SpruceexBenth. Sucupira Secundária
Tardia
Bowdichia virgilioides Kunth Sucupira- preta Secundária
Tardia
Clitoria fairchildiana Sombreiro Pioneira
R.A.Howard
Dalbergia miscolobiumBenth. Jacaranda-do-campo Pioneira
Diplotropis purpúrea (Rich.) Sucupira-preta Secundária
Amshoff Tardia
Dipteryx alata Vogel Baru, cumbaru Secundária
Tardia
Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. Cumaru, cumaru ferro Secundária
Tardia
Erythrina falcata Benth. Sainã, ceibo-salteño, bico-de- Secundária
papagaio Inicial
Erythrina fusca Lour. Suinã, sananduva, alecrim. Pioneira
Ormosia flava (Ducke) Rudd Tento mulato Secundária
Inicial
Platypodium elegans Vogel Jacarandá-branco Pioneira
Pterocarpus santalinoides L'Hér. Mututi Secundária
ex DC. Inicial
Swartzia aptera DC. Gombeira, coração-de-negro Secundária
Tardia
Swartzia laurifolia Benth Gombeira Pioneira
Tipuana tipu (Benth.) Kuntze Pau sangue, tipuana. Pioneira
Vataireopsis speciosa Ducke Faveira Secundária
Tardia
Mimosoideae
Abaremajupunba(Willd.) Britton Saboeiro Secundária
&Killip Tardia
Anadenanthera colubrina var. Angico Secundária
cebil(Griseb.) Altschul Inicial
Anadenanthera peregrina (L.) Angico-vermelho Secundária
Speg. Inicial
EnterolobiummaximumDucke Fava-timbaúba Pioneira
Enterolobiumschomburgkii(Benth Orelinha, fava-de-rosca Secundária
.) Benth Tardia
Inga alba (Sw.) Willd. Ingá, ingá ferro, ingá vermelha. Secundária
Inicial
IngaedulisMart. Ingá de metro, ingá doce, ingá Secundária
macarrão, ingá vermelho, ingá Tardia
timbó, ingá rabo de mico.
Ingalaurina(Sw.) Willd. Ingá feijão, ingá lagarta, ingá Pioneira
pequeno,ingá mirim, ingá branco,
ingá da praia, ingá chichi, ingá
chichica, ingá cururu, ingaí
Inga marginata Willd. Ingá, ingá feijão, ingá mirim Secundária
Tardia
Inga paraenses Ducke Ingá, ingarana, ingá chichica Pioneira
Inga umbratica Poepp. &Endl. Ingá Pioneira
Inga vera Willd. Ingá Secundária
Inicial
Mimosa caesalpiniifolia Benth. Sabiá Pioneira
Parkia gigantocarpa Ducke Faveira-atanan, visgueiro. Secundária
Tardia
Parkia multijuga Benth. Faveira-branca, fava-arara-tucupi Secundária
Tardia
Parkia nitida Miq. Angico, fava pé de arara. Secundária
Tardia
Parkia pendula (Willd.) Benth. ex Visgueiro, angico, faveira-de- Secundária
Walp. chorão Tardia
Plathymenia reticulata Benth. Pau de candeia, sucupira do campo, Secundária
barbatimão Inicial
Pseudopiptadenia suaveolens Fava folha fina Secundária
(Miq.) J.W.Grimes Tardia
Senegalia polyphylla (DC.) Angico-branco, guarucaia, Pioneira
Britton & Rose monjoleiro, paricá-rana, paricá-
branco
Stryphnodendron guianense Barbatimão, tarapirinria Pioneira
(Aubl.) Benth.
Stryphnodendron pulcherrimum Paricarana Pioneira
(Willd.) Hochr.
Zygia racemosa (Ducke) Angelim rajado, angelim pintado, Secundária
Barneby&J.W.Grimes urubuzeiro Tardia
Fonte: Autores, 2017.

4. CONCLUSÕES
A partir dos resultados observou-se a grande diversidade de Fabaceae que
podem ser utilizadas em recuperação de áreas degradadas, confirmando a importância
da família neste sentido na região Amazônica. Além disso, a diversidade de grupos
ecológicos da mesma permite a eficiência e facilidade na implantação de programas de
RAD com leguminosas.
Confirmou-se, também, a grande necessidade de estudos acerca da classificação
ecológica das espécies a serem utilizadas nesses programas, tendo em vista que o
comportamento sucessional das espécies são flexíveis, atentando características
ambientais de cada região, contribuindo, dessa forma, para a maior facilidade na
modelagem e na eficiência dos mesmos.

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A. C. S. Furtado6; F. Ilkiu-Borges7.
1
Biólogo, Especialista em Perícia e Avaliação de Impactos Ambientais – Embrapa
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982396518.
2
Graduando em Ciências Biológicas – Licenciatura na Universidade da Amazônia,
estagiário do Laboratório de Botânica da Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903, Belém,
[email protected], (91)989926705.
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Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da Amazônia,
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Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da Amazônia,
estagiária do Laboratório de Botânica da Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903, Belém,
Brasil. [email protected], (91)984117816.
5
Graduando em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da Amazônia,
estagiário do Laboratório de Botânica da Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903, Belém,
Brasil. [email protected], (91)993013986.
6
Graduanda em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da Amazônia,
estagiária do Laboratório de Botânica da Embrapa Amazônia Oriental, 66095-903, Belém,
Brasil. [email protected], (91)981350804
7
Doutora em Biologia vegetal e Recursos Naturais/Bôtanica – Embrapa Amazônia
Oriental, 66095-903, Belém, Brasil [email protected], (91) 988790261

RESUMO

O uso desenfreado do solo tem provocado alterações ambientais às vezes irreversíveis. O


crescimento populacional incontrolável, fez com que o homem passasse a explorar os
recursos naturais de forma inadequada, facilitando a ocorrência de desastres naturais de
enormes proporções como, por exemplo, a degradação do solo. Sendo assim, uma das
alternativas para a recuperação dessas áreas tem sido a utilização de espécies de
Leguminosae que se destacam devido à sua ampla ocorrência e adaptação. A família
apresenta um papel importante no processo chamado adubação verde e na recuperação de
áreas degradadas, pois estas utilizam a própria vegetação para proteção do solo. Além
disso, possuem uma característica especial em relação às outras plantas, que é a capacidade
de se associarem com microorganismos do solo, como bactérias fixadoras de nitrogênio,
que transformam o nitrogênio do ar em compostos nitrogenados assimiláveis pelos
vegetais. Assim o objetivo deste trabalho é elaborar uma lista de espécies que apresentam a
capacidade de fixar nitrogênio no solo com maior eficiência, contribuindo para planos de
recuperação de áreas degradadas, adubação verde e alternativa de solo. Neste sentido,
foram feitas pesquisas bibliográficas buscando espécies, nome vernacular e hábito, as quais
foram divididas por subfamília e organizadas em uma tabela contendo tais informações. De
acordo com a pesquisa, foram encontradas 53 espécies de Leguminosae descritas como
tendo uma maior capacidade de fixação de nitrogênio no solo. Assim, os dados desta
pesquisa indicam que há a necessidade da realização de trabalhos com o intuito de se
investigar outras espécies de leguminosas que contribuam com os programas de
recuperação de áreas degradadas.

Palavras Chave: adubação verde, áreas degradadas, Fabaceae

1. INTRODUÇÃO

O solo é um dos recursos naturais mais importantes para a qualidade de vida do


homem, pois é fundamental na produção de alimentos, nos ciclos dos nutrientes e da água.
A alteração do sistema natural que leva a perda da capaciade produtiva do sistema pode ser
chamado de áreas degradadas. A degradação dos solos pode gerar diversos prejuízos
socioeconômicos para gerações atuais e futuras (WADT et al., 2003). As principais causas
da degradação tem sido o desmatamento, o manejo inadequado na agricultura, o
superpastejo, a exploração da vegetação para fins energéticos e a atividade insdustrial
(KOBIYAMA et al., 2001).
Atualmente, a Amazônia vem sofrendo ainda com um elevado número de
desmatamentos, especialmente por produtores que pretendem expandir suas propiedades
agrícolas (CASTRO; DOMINGUES, 2016). A exploração agrícola causa sérios problemas
no solo, interfere na atividade biológica e na disponibiliadade de nutrientes fundamentais
para os vegetais como o fósforo, o enxofre e principalmente do nitrogênio (FRANCO et
al., 1992).
O nitrogênio ocorre no solo em formas inogânicas e orgânicas. As principais
formas absorvidas pelas plantas são as inogânicas, o nitrato e o amônio. A quantidade de
nitrogênio presente no solo pode limitar as principais funções fisiologicas de uma planta
como tais como a reprodução, fotossíntese e crescimento, pois ele é componente essencial
de nucleotídeos, ácidos nucléicos, aminoácidos, proteínas, enzimase clorofila (GORDON
et. al., 2009).
A fixação biológica do nitrogênio é um processo realizado por bactérias que
habitam o solo e associam-se as plantas, elas possuem uma enzima chamada dinitrogenase
que é capaz de romper a tripla ligação do N₂ atmosférico e provocar a sua redução até o
NH₃ (amônia). Devido a sua toxicidade, a amônia é incorporada a íons de Hidrogênio,
abundantes nas células das bactérias, transformando-se em íons de amônio que são
absorvidos pelas plantas hospedeiras em diversas formas de nitrogênio orgânico como os
ureídos, os aminoácidos e as amidas (HUNGRIA et. al., 2001).
As bactérias presentes no solo pertencentes aos gêneros Rhizobium,
Bradyrhizobium, Azorhizobium, Sinorhizobium e Mesorhizobium, chamadas vulgarmente
de Rizóbios, têm a capacidade de se associar simbioticamente com as espécies de
leguminosas, formando uma estrutura especializada chamada de nódulos radiculares
(SANTOS; REIS, 2008).
A simbiose tem início no estágio de plântula. Os pêlos radiculares liberam atraentes
químicos que fazem com que os rizóbios se atraem, assim ocorrendo a penetração das
bactérias nos pelos radiculares, transformando-se tipicamente em uma estrutura curvada
aprisionando os rizóbios, formando os canais de infecções, que são estruturas tubulares
formadas pelo crescimento da parede das células dos pelos radiculares, na área de
penetração. Um pelo radicular pode ser penetrado por diversos rizóbios e por isso conter
vários canais de infecções. Nesses canais, ocorre o crescimento e ramificação desses
rizóbios. Quando os rizóbios aumentam de tamanhos e tornam-se realmente fixadores de
nitrogênio e são chamados de Bacterióides, que possuem proliferação continua, resultando
na formação de “tumores” conhecidos como nódulos radiculares (RAVEN et. al., 2007).
As leguminosas permitem fixar uma grande quantidade de nitrogênio no solo, que
pode variar de 150 a 400 Kg/ha/ano e essa sua característica tem sido aproveitada há
bastante tempo na agricultura com a pratica de alternância de culturas (DAJOZ et. al,
2005).
Diversos estudos com Leguminosae buscam a recuperação de áreas degradas, para
assim amenizar e retardar tal degradação do solo. Essa família tem sido utilizada como
uma das alternativas de recuperação devido a sua ampla ocorrência, a sua adaptação e pela
sua capacidade de se associar simbioticamente às bactérias fixadoras de nitrogênio,
incorporando este nutriente ao solo, pois a presença deste é um fator limitante para o
estabelecimento e o desenvolvimento vegetal (NOGUEIRA et al., 2012). Devido a suas
características, as leguminosas também podem ser utilizadas na adubação verde, que é uma
técnica que consiste na rotação de culturas ou consórcio, aumentando o aporte de
nitrogênio no solo, diminuindo o número de espécies invasoras, permitindo maior
eficiência do uso do solo. Essa técnica também tem um ótimo custo benefício para
pequenos produtores (ESPINDOLA et. al., 2005).
Assim o objetivo deste trabalho é elaborar uma lista de espécies de Leguminosae
que apresentam a capacidade de realizar a fixação de nitrogênio no solo com maior
eficiência, contribuindo para os processos de recuperação de áreas degradadas, adubação
verde e alternativa do uso do solo.

2. METODOLOGIA
Foi realizado um levantamento bibliográfico das espécies, nome vernacular e o
hábito em sites especializados, literaturas e artigos. Assim, com os dados obtidos, foi feita
a tabulação e um gráfico no Microsoft Excel 2010. Posteriormente, para a correção
nomenclatural e confirmações dos nomes científicos, foram utilizados sites especializados
como o Mobot e lista de espécies da Flora do Brasil.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontradas até o presente momento 53 espécies de leguminosas com maior


eficiênciade fixaçãode Nitrogênio no solo (Tabela 1). Sendo que 4 espécies pertencem a
subfamília Caesalpinioideae, 16 Mimosoideae e 33 espécies são de Papilionoideae
(Gráfico 1). Dessas espécies fixadoras do nutriente, o hábito de maior frequência foi de
árvores com 24 espécies, posteriormente lianas com 13 espécies, ervas com 9 espécies e
arbustos com 7 espécies. Tais dados demonstram que a variedade de hábitos entre as
espécies com boa fixação de Nitrogênio proporciona maiores possibilidades de se
recuperar uma área mesmo em situação de restrição de tamanho.
Segundo Barberi et. al. (1998), a simbiose com rizóbio não é uma característica
inerente a todas as espécies da família Leguminosae. A capacidade de nodular, ou seja, de
formar simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio, é mais frequente entre as
Mimosoideae e Papilionoideae e pouco frequente nas Caesalpinioideae. Além disso,
fatores químicos, físicos e biológicos do solo podem limitar a nodulação de espécies
capazes de formar esta simbiose. Essa característica é importante do ponto de vista
econômico e ecológico, pois podem dispensar total ou parcialmente os fertilizantes
nitrogenados, contribuindo assim para viabilizar reflorestamentos e minimizar possíveis
impactos ambientais decorrentes da utilização destes insumos
Para Carvalho e Pires (2008), o uso desta família em pastagens tem apresentado
ótimos resultados e diversos benefícios, entre eles aumento do aporte de nitrogênio nas
pastagens, aumento da oferta e forragem em algumas épocas do ano, melhora na qualidade
nutricional das pastagens, redução da variação anual de oferta de forragem, aumento da
produtividade animal, aumento da diversidade da pastagem sustentável, recuperação de
áreas degradadas, redução da pressão ambiental e a utilização de fertilizantes químicos.

Tabela 1: Espécies de leguminosas com a capacidade de fixar o nitrogênio.


NOME
ESPÉCIES HÁBITO REFERÊNCIA
VERNACULAR
PAPILIONOIDEAE
Arachis pintoi Krapov. Amendoim- Erva ESPINDOLA
& W.C. Greg. forrageiro et, al., 2004

Cajanus cajan (L.) Huth Guandu Arbusto NOGUEIRA et,


al., 2012

Calopogonium Calopogônio Erva ESPINDOLA


mucunoides Desv. et, al., 2004

Canavalia brasiliensis Feijão-bravo Liana ESPINDOLA


Mart. ex Benth. et, al., 2004

Canavalia ensiformis Feijão-de-porco Liana ESPINDOLA


(L.) DC. et, al., 2004
Centrolobium Mart. ex Araribá Árvore BARBERI et,
Benth. al., 1998
Centrosema pubescens Centrosema Liana NOGUEIRA et,
Benth al., 2012
Clitoria ternatea L. Cunhã Erva FERREIRA,
2007
Crotalaria juncea L. Crotalária Arbusto NOGUEIRA et,
al., 2012
Dalbergia nigra (Vell.) Jacarandá-da- Árvore BARBERI et,
Allemão ex Benth. Bahia al., 1998
Desmodium ovalifolium Desmódio Erva ESPINDOLA
Guill. & Perr. et, al., 2004
Erythrina falcata Benth. Eritrina Árvore NOGUEIRA et,
al., 2012

Galactia striata (Jacq.) Galáxia Liana ESPINDOLA


Urb. et, al., 2004
Gliricidia sepium (Jacq.) Gliricidia Árvore FERREIRA,
Kunth ex Walp. 2007
Glycine max (L.) Merr. Soja Erva ESPINDOLA
et, al., 2004
Lablab purpureus (L.) Lablab Liana ESPINDOLA
Sweet et, al., 2004

Lonchocarpus cultratus Rabo de bugio Árvore POESTER,


(Vell.) A.M.G.Azevedo 2012
& H.C.Lima
Lupinus albus L. Tremoço-branco Liana BARBERI et,
al., 1998

Machaerium villosum Jacarandá- Árvore BARBERI et,


Vogel mineiro al., 1998

Macroptilium Siratro Erva ESPINDOLA


atropurpureum (Moc. & et, al., 2004
Sessé ex DC.) Urb.

Mucuna pruriens (L.) Mucuna preta Liana NOGUEIRA et,


DC. al., 2012

Neonotonia wightii Soja Perene Liana NOGUEIRA et,


(Graham ex Wight & al., 2012
Arn.) J.A.Lackey
Ormosia arborea (Vell.) Olho-de-cabra Árvore BARBERI et,
Harms al., 1998

Platycyamus regnellii Pau-pereira Árvore BARBERI et,


Benth. al., 1998
Platypodium elegans Jacarandá-branco Árvore BARBERI et,
Vogel al., 1998
Pueraria phaseoloides Cudzu tropical Liana ESPINDOLA
(Roxb.) Benth. et, al., 2004

Sesbania virgata (Cav.) Canafistula-do- Arbusto BARBERI et,


Pers. brejo al., 1998

Stizolobium cinereum Mucuna cinza Liana ESPINDOLA


Piper & Tracy et, al., 2004
Stylosanthes guianensis Mineirão Erva ESPINDOLA
(Aubl.) Sw. et, al., 2004
Tipuana tipu (Benth.) Tipuana Árvore BARBERI et,
Kuntze al., 1998

Vicia sativa Guss. Ervilhaça comum Liana ESPINDOLA


et, al., 2004
Vigna radiata (L.) R. Feijão-mungo Liana ESPINDOLA
Wilczek et, al., 2004
Trifolium pratense L. Trevo-Vermelho Erva ESPINDOLA
et, al., 2004

MIMOSOIDEAE

Trifolium repens L. Trevo-Branco Erva ESPINDOLA


et, al., 2004
Vigna unguiculata (L.) Caupi Liana NOGUEIRA et,
Walp. al., 2012
Acacia angustissima Angustissima Arvore FFERREIRA,
(Mill.) Kuntze 2007
Acacia auriculiformis A. Acacia Arvore NOGUEIRA et,
Cunn. ex Benth. al., 2012
Acacia holosericea A. Acácia Arvore FERREIRA,
Cunn. ex G. Don 2007
Acacia mangium Willd. Acácia Arvore BARBERI et,
al., 1998
Enterolobium Tamboril Arvore BARBERI et,
contortisiliquum (Vell.) al., 1998
Morong
Inga marginata Willd. Ingá Feijão Árvore POESTER,
2012
Inga edulis Mart. Ingá Árvore FERREIRA,
2007
Leucaena leucocephala Leucena Arbusto FERREIRA,
(Lam.) de Wit 2007

Mimosa artemisiana Artemisiana Árvore FERREIRA,


Heringer & Paula 2007
Mimosa bimucronata Maricá Arbusto FERREIRA,
(DC.) Kuntze 2007
Mimosa caesalpiniifolia Sabiá Arbusto FERREIRA,
Benth. 2007

Mimosa scabrella Benth. Bracatinga Árvore NOGUEIRA et,


al., 2012
Piptadenia gonoacantha Jacaré,Pau-de- Árvore BARBERI et,
(Mart.) J.F.Macbr jacaré al., 1998

Pseudosamanea Guachapele Arvore FERREIRA,


guachapele (Kunth) 2007
Harms

CAESALPINIOIDEAE

Samanea saman (Jacq.) Saman Árvore FERREIRA,


Merr. 2007
Senna pendula (Humb.& Fedegoso Arbusto POESTER,
Bonpl.ex Willd.) 2012
H.S.Irwin & Barneby
Cassia grandis L.f. Cassia Rosa Árvore NOGUEIRA et,
al., 2012
Libidibia ferrea (Mart. Pau ferro Árvore NOGUEIRA et,
ex Tul.) L.P.Queiroz al., 2012

Gráfico 1: Número de espécies encontrada em cada subfamília

CAESALPINIOIDEAE 4

MIMOSOIDEAE 16

PAPILIONOIDEAE 33

4. CONCLUSÕES
A utilização da família Leguminosae na recuperação de áreas degradadas, na
adubação verde e em alternativas para uso do solo é essencial, pois o uso desta se deve à
característica especial que possuem em relação às outras plantas, que é a capacidade de se
associarem com microrganismos do solo, como bactérias fixadoras que transformam o
nitrogênio atmosférico em compostos nitrogenados assimiláveis pelos vegetais.
Neste trabalho, todas as subfamílias apresentaram espécies com grande eficiência
em realizar absorção de nitrogênio. Papilionoideae demonstrou grande diversidade de
espécies e de hábitos (ervas, lianas, arbustos e árvores), tornando esse grupo
importantíssimo em programas de recuperação de áreas degradadas. Por outro lado,
Caesalpinioideae apresentou apenas quatro espécies, indicando que há necessidade de se
realizar mais pesquisas com este grupo, concordando com Herendeen (2000) que afirma
que está subfamília é a menos estudada e compreendida dentre as leguminosas.
Assim, os dados desta pesquisa indicam que há a necessidade da realização de
trabalhos com o intuito de se investigar outras espécies de leguminosas que contribuam
com os programas de recuperação de áreas degradadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Minas Gerais. Cerne, Lavras, v. 4, n. 1, p.145-153, 1998.
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política de controle de desmatamento na Amazônia legal brasileira. In: ENCONTRO
NACIONAL DE ECONÔMIA, 42, 2014, Natal. Anais do XLII Encontro Nacional de
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2016. Disponível em:
https://www.anpec.org.br/encontro/2014/submissao/files_I/i1143c40e912d5a429db609e99
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DAJOZ, Roger. Princípios de ecologia. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

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Guilherme Marinho. Estratégias para a utilização de leguminosas para adubação verde
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FERREIRA, Adailton Pereira. Uso de leguminosas arbóreas fixadoras de nitrogênio na
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seropédica/ itaguaí. Rio de Janeiro: 2006. Originalmente apresentado como trabalho de
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KOBIYAMA, Masato; MINELLA, Jean Paolo Gomes; FABRIS, Ricardo. Áreas
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NOGUEIRA, Natielia Oliveira et al. Utilização de leguminosas para recuperação de
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WALD, Guilherme Salvador. Práticas de conservação do solo e recuperação de áreas
degradadas.Acre: EMBRAPA, 2003.

CARACTERIZAÇÃO FLORÍSTICA DA MATA CILIAR DO RIO AQUIDAUANA:


SUBSÍDIOS À RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

G.L.X. Oliveira1; B.A. Coutinho2; C.H. Simão2 & C. Aoki1


1
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Aquidauana, Rua Oscar
Trindade de Barros, 740, Serraria, Aquidauana - MS - Brasil; e-mail:
[email protected], [email protected]; Tel.: (67)3241-0417.
2
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde,
Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Caixa postal 549, CEP 79070-900
Campo Grande, MS, Brasil. [email protected], [email protected].

RESUMO

As matas ciliares desempenham funções vitais para a qualidade da água, absorvendo e


filtrando a água das chuvas contaminadas, evitando a contaminação de nascentes e
aumentando o suprimento de água despoluída aos aqüíferos subterrâneos. Além disso,
mantém a fauna silvestre, promove conforto térmico, entre tantos outros serviços
ecossistêmicos. Estes papéis são acentuados quando pensamos em matas ciliares inseridas
em áreas urbanas. Este estudo teve como objetivo realizar um levantamento florístico e
selecionar espécies com potencial uso para recuperação de áreas degradadas nas margens
do Rio Aquidauana. A indicação levou em consideração a distribuição original da espécie,
grupo ecológico, produção de frutos para a fauna silvestre e grau de ameaça. A coleta de
dados foi realizada entre dezembro de 2014 e agosto de 2015, através de caminhadas
aleatórias, perfazendo aproximadamente 6 km de extensão da margem dos rios. Foram
registradas 53 espécies na mata ciliar do Rio Aquidauana e por levantamento bibliográfico
há possibilidade de ocorrência de mais 46 espécies, totalizando 99 espécies para a região.
A composição florística é mista, resultado da presença de espécies típicas das margens de
rios e espécies características de cerrado, formação vegetacional adjacente à mata ciliar. As
espécies registradas estão distribuídas em 39 famílias, com destaque para Fabaceae (19
espécies), Rubiaceae (6 espécies), Bignoniaceae, Euphorbiaceae e Malvaceae (5 espécies
cada). Mais de 80% das espécies registradas apresentam algum tipo de utilidade conhecida,
incluindo uso pela fauna silvestre (50%), remédio na medicina popular (32%), madeira
(24%), lenha (23%), entre outras. Foram selecionadas 49 espécies vegetais indicadas para
recuperação de trechos da mata ciliar do Rio Aquidauana. Entre as espécies indicadas há
ameaçadas de extinção, pioneiras frutíferas para a fauna, espécies adaptadas a solos úmidos
ou brejosos, entre outras características.

Palavras Chave: área de preservação permanente, bacia do Rio Paraguai, restauração

INTRODUÇÃO

Matas ciliares, também denominadas matas ripárias ou florestas ribeirinhas, são


florestas ocorrentes ao longo dos cursos d’água e no entorno das nascentes que são de vital
importância na proteção de mananciais hídricos, controlando a chegada de nutrientes,
sedimentos e a erosão das margens, atuando na interceptação e absorção da radiação solar,
contribuindo para a estabilidade térmica da água, influenciando, desta forma, as
características físicas, químicas e biológicas dos cursos d’água (REZENDE 1998,
DURIGAN; SILVEIRA 1999, VAN DEN BERG; OLIVEIRA FILHO 2000). Possuem
ainda importante papel para manutenção biológica, formando corredores de fluxo gênico,
podendo interligar populações que foram separadas pelo processo de fragmentação
(MACEDO et al. 1993, KAGEYAMA; GANDARA 2001, VILELA et al. 2000) e são
importantes para a manutenção da oferta de recursos alimentares para a fauna ao longo do
ano (REYS et al. 2005).
Devido à sua importância, as matas ciliares são incluídas na categoria de áreas de
preservação permanente no Código Florestal Brasileiro desde 1965 (Lei n° 4.771/65, Brasil
1965), devendo obrigatoriamente ser protegidas, sendo que sua extensão mínima depende
da largura do corpo d’água. Apesar de sua importância e proteção legal, várias áreas
associadas aos cursos d’água foram desmatadas e/ou descaracterizadas durante a ocupação
histórica de suas margens. Esta é uma realidade da maioria dos cursos hídricos que cortam
áreas urbanas no Brasil, incluindo o Rio Aquidauana, localizado no município de
Aquidauana, Mato Grosso do Sul (MS). Este é o principal rio que banha o município e,
devido ao processo de urbanização, este rio já sofreu inúmeras interferências antrópicas
como a implantação de areeiro, despejo de esgoto, implantação de pesqueiros,
assoreamento, alteração em sua vazão, entre outros e apesar disso, seu uso ainda é intenso.
Em função da situação alarmante encontrada atualmente, a preocupação com a
conservação e recuperação da cobertura vegetal das matas ciliares, apesar de relativamente
recente, tem sido objeto de amplos debates, com discussões no meio científico sobre as
abordagens técnicas, científicas e a legislação de proteção e recuperação de florestas
(DURIGAN et al. 2001). Muito se tem discutido sobre a necessidade de recomposição das
matas ciliares que outrora protegiam as margens dos corpos d'água, no entanto, apesar da
conscientização de proprietários e governantes, os trabalhos de recomposição têm
esbarrado, frequentemente, na inexistência de informações técnicas sobre o que e como
plantar nas margens dos rios (DURIGAN; NOGUEIRA 1990).
As publicações sobre o assunto são crescentes (RODRIGUES; GANDOLFI 2004,
GANDOLFI; RODRIGUES 2007, REIS; TRES 2008, NERI et al. 2011, FERREIRA et al.
2013), contudo, as espécies a serem plantadas em cada local devem ser aquelas que
ocorrem naturalmente em condições de clima, solo e umidade semelhantes às da área a ser
reflorestada (DURIGAN; NOGUEIRA 1990), desta forma, para cada Bacia ou Sub-bacia
hidrográfica haveriam diferentes grupos de espécies mais adequados à recuperação das
áreas degradadas. Segundo Neri et al. (2011), selecionar corretamente a comunidade de
plantas que irá iniciar o processo de sucessão em uma área degradada é um dos pontos
críticos do processo de recuperação. Apenas a partir da produção de listas de espécies, sua
correta identificação e manutenção da biodiversidade amostrada em herbários, pode-se
contribuir para o estudo dos demais atributos da comunidade e subsidiar programas para
sua recuperação ou conservação.
Este trabalho tem como objetivo selecionar as espécies mais adequadas à
recuperação de Áreas de Preservação Permanente da mata ciliar do Rio Aquidauana,
caracterizando a flora remanescente segundo sua riqueza, utilidade e status para
conservação. Este conhecimento sobre a biodiversidade no Estado contribui para
definições de políticas públicas em nível local e regional.

MATERIAL E MÉTODOS

O município de Aquidauana está localizado na região Centro-Oeste do país,


encontra-se na porção oeste do Estado de Mato Grosso do Sul, sendo o início da planície
pantaneira sul–mato-grossense (Figura 1). O Rio Aquidauana nasce na Serra de Maracaju,
tem cerca de 620 km de extensão e percorre o vale entre as serras da Boa Sentença e
Maracaju, deságua no Rio Miranda a cem quilômetros de sua foz no Rio Paraguai
(SEMAC 2011). O clima da região é do tipo Tropical Chuvoso de Savana (subtipo Aw cf.
Köppen 1948) com duas estações bem definidas, uma seca e fria (inverno) que vai de maio
a setembro, e outra chuvosa e quente (verão), de outubro a abril. A precipitação média
anual é de 1.200 mm e as temperaturas máximas e mínimas de 33 e 19 °C, respectivamente
(SCHIAVO et al. 2010).
A coleta de dados foi realizada entre dezembro de 2014 e agosto de 2015,
incluindo, desta forma, amostragens da estação seca e chuvosa. Para o levantamento
florístico foram realizadas caminhadas aleatórias conforme Baptista-Maria et al. (2009) na
margem do Rio Aquidauana, no trecho inserido dentro da área urbana de
Aquidauana/Anastácio, bem como a montante e jusante das mesmas, perfazendo
aproximadamente 6 km de extensão. As espécies foram cuidadosamente fotografadas, para
auxílio na identificação em laboratório, sendo registrada a altura dos indivíduos, a
coloração das estruturas reprodutivas e, eventualmente, das vegetativas, além da presença
de exsudatos e de odores. O material botânico foi coletado e processado para herborização
seguindo técnicas usuais e será incorporado ao acervo do Herbário CGMS da Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul. As espécies foram identificadas com utilização de
bibliografias pertinentes (e.g. LORENZI 2002, SILVA JUNIOR 2005, RAMOS et al.
2008, SILVA JUNIOR; PEREIRA 2009), consulta a especialistas e comparação com
material previamente identificado. Adicionalmente foram obtidos dados secundários,
através de revisão de literatura, para complementar as informações obtidas.
Figura 1. Localização da área de estudo com destaque para o trecho amostrado do Rio
Aquidauana.

As espécies registradas foram classificadas quanto à sua adequabilidade para


utilização em programas de recuperação de áreas degradadas, levando em consideração:
1. Espécies exóticas: espécies não originárias do bioma de ocorrência de determinada área
geográfica, ou seja, qualquer espécie fora de sua área natural de distribuição geográfica
(conforme instrução normativa do IBAMA n. 4, de 13 de abril de 2011). Espécies exóticas,
por competirem com as nativas e serem geralmente muito agressivas, não são indicadas
para recuperação de áreas degradadas.
2. Espécies pioneiras e espécies tardias: o primeiro grupo ecológico contempla as espécies
pioneiras e secundárias iniciais, enquanto que o segundo contempla as espécies secundárias
tardias e as clímax. Esta classificação é importante uma vez os plantios heterogêneos são
sugeridos, combinando espécies dos diferentes estádios de sucessão (pioneiras, secundárias
e clímax), adaptadas às condições locais.
3. Espécies frutíferas para a fauna: Pois cumprem um papel ecológico de extrema
importância, uma vez que são mantenedoras de animais silvestres frugívoros na região.
4. Espécies ameaçadas de extinção: espécies que se encontrem em perigo de extinção
segundo listas oficiais de espécies em extinção. O fato de estarem ameaçadas tornam essas
espécies importantes em programas de recuperação de áreas degradadas, sendo esta uma
ação para reduzir o risco local de extinção.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Florística
Foram registradas 53 espécies na mata ciliar do Rio Aquidauana e por levantamento
bibliográfico há possibilidade de ocorrência de mais 46 espécies (FINA et al. 2012),
totalizando 99 espécies para a região (Tabela 1). O número de espécies ocorrentes na mata
ciliar é certamente superior, e com a continuidade do estudo, abrangendo uma extensão
maior do rio, novas espécies devem ser adicionadas à listagem.
A maioria das espécies registradas é do componente arbóreo (67,7%), que foi o
foco do presente estudo, mas também há registro de herbáceas (13,1%), arbustos (9,1%),
lianas (7,1%) e subarbustos (2,1%). A composição florística é mista, resultado da presença
de espécies típicas das margens de rios e espécies características de cerrado, formação
vegetacional adjacente à mata ciliar. Houve registro também de espécies exóticas, como foi
o caso de: flamboyant (Delonix regia), jambolão (Syzygium cumini), leucena (Leucaena
leucocephala) e malva-roxa (Urena lobata) (Tabela 1).
Apenas duas espécies encontram-se em algum grau de ameaça. Aroeira
(Myracrodruon urundeuva) por conta de sua ampla utilidade e exploração, foi incluída na
lista oficial do IBAMA como ameaçada de extinção (IBAMA 2008). As espécies
constantes no Anexo I desta Instrução Normativa são consideradas prioritárias para efeito
de concessão de apoio financeiro à conservação pelo Governo Federal e devem receber
atenção especial no contexto da expansão e gestão do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação-SNUC, inclusive nos planos de manejo das Unidades de Conservação, bem
como nos planos de conservação ex situ conduzidos no âmbito dos jardins botânicos e
bancos de germoplasma brasileiros (IBAMA 2008). O cumbaru (Dipteryx alata) consta
como vulnerável na lista da IUCN em função da conversão dos habitats naturais em
agricultura e pela exploração de suas sementes, que resultou em massivo declínio
populacional (IUCN 1998).
As espécies registradas estão distribuídas em 39 famílias, com destaque para
Fabaceae (19 espécies), Rubiaceae (6 espécies), Bignoniaceae, Euphorbiaceae e Malvaceae
(5 espécies cada). Fabaceae (ou Leguminosae) como uma das famílias mais diversificadas
em número de espécies é esperado, uma vez que representa uma das maiores famílias de
Angiospermas e também uma das principais do ponto de vista econômico (SOUZA;
LORENZI 2005). No Brasil ocorrem cerca de 200 gêneros e 1500 espécies (SOUZA;
LORENZI 2005). Em levantamentos realizados em matas ciliares no estado, essa família
(considerando as três subfamílias) também se destacou em riqueza (BATTILANI et al.
2005, REYS et al. 2005, BAPTISTA-MARIA et al. 2009), sendo família representativa
também em matas ciliares de outros estados brasileiros (ROMAGNOLO; SOUZA 2000,
VAN DEN BERG; OLIVEIRA FILHO 2000, BRACKMANN; FREITAS 2013). Segundo
LEITÃO FILHO (1987), as famílias Fabaceae, Meliaceae, Rutaceae, Euphorbiaceae,
Lauraceae e Myrtaceae são muito representativas em florestas no Centro-Sul do Brasil.
Praticamente toda a área amostrada encontra-se fortemente antropizada, há trechos
com dominância de sarã-de-espinho (Celtis spinosa) ou de bambu (Guadua paniculata),
outros trechos encontram-se desprovidos de mata ciliar, ou compostos apenas de espécies
exóticas. Esta simplificação da mata ciliar, promovida pelo homem, é extremamente
danosa, tanto para a qualidade da água quanto para a fauna silvestre que depende das
plantas como fonte de alimento.

Utilidade
As plantas nativas do território brasileiro estão intimamente ligadas à história e
desenvolvimento econômico e social do nosso país. As florestas são, também, essenciais
para a sobrevivência da fauna de mamíferos das regiões do cerrado e da caatinga, provendo
refúgio, água e alimento (REDFORD; FONSECA 1986). Isso é corroborado pelo fato de
que 80% das espécies registradas apresentam algum tipo de utilidade conhecida (Tabela 1).
Mais de 50% das espécies produz frutos zoocóricos, sendo importantes para manutenção
da fauna silvestre local. Cerca de 32% são utilizadas como remédio na medicina popular,
por exemplo, gonçalo-alves (Astronium fraxinifolium) é utilizada contra diarréia, é
balsâmica, o fruto cáustico possui óleo que é utilizado contra calo, dor de dente e parasitas
da pele, a macaúba ou bocaiúva (Acrocomia aculeata) tem uso diurético, contra abcessos e
doenças respiratórias, laxante e febrífuga, o paratudo (Tabebuia aurea) é tido como um
santo remédio pelo pantaneiro, que a utiliza para problemas de estômago, fígado, vermes,
diabetes, febre, frieira e estimulantes, entre tantos outros usos (POTT; POTT 1994).
Tabela 1. Relação das famílias e espécies coletadas na mata ciliar do Rio Aquidauana, MS, Brasil. Uso: A - Artesanato, F - Frutos utilizados
pelo homem, FF - Frutífera para fauna, I - Industrial, L - Lenha, M - Madeira, O - Óleo, R - Remédio, T - Tanino, Grupo ecológico: P -
Pioneira ou secundária inicial, NP - Secundária tardia ou climácica, SB - Espécie de sub-bosque. Am - Espécie sujeita a algum grau de ameaça
segundo Ibama ou IUCN, ex - Espécie exótica.
Grupo
Famílias Espécies Nome popular Hábito Uso ecológic
o
Anacardiaceae Astronium fraxinifolium Schott Gonçalo-alves Arbóreo M, R P
Anacardiaceae Lithraea molleoides (Vell.) Engl. Aroeira-brava Arbóreo FF, L P
Am
Anacardiaceae Myracrodruon urundeuva Allemão Aroeira Arbóreo M, R P
Annonaceae Annona coriacea Mart. Araticum Arbóreo F, FF P
Annonaceae Xylopia aromatica (Lam.) Mart. Pimenta-de-macaco Arbóreo FF, I, R, L P
Apocynaceae Aspidosperma cylindrocarpon Müll. Arg. Peroba-rosa Arbóreo M NP
Arecaceae Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. Macaúba Arbóreo F, FF, R P
Arecaceae Scheelea phalerata (Mart. ex Spreng.) Burret Acuri Arbóreo FF, R P
Subarbustiv
Asteraceae Eupatorium odoratum L. Assa-peixe o R P
Asteraceae Mikania micrantha Kunth Jasmim-do-campo Liana R P
Asteraceae Vernonia scabra Pers. Assa-peixe Arbóreo R P
Bignoniaceae Cuspidaria sp. - Liana - P
Bignoniaceae Jacaranda cuspidifolia Mart. Caroba Arbóreo R, O, A P
Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S.
Bignoniaceae Moore Paratudo Arbóreo R, M, O P
Bignoniaceae Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. Piúva-da-mata Arbóreo R, M, O P
Bignoniaceae Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith Piuxinga Arbóreo O P
Boraginaceae Cordia glabrata (Mart.) A. DC. Louro-preto Arbóreo M, L P
Bromeliaceae Bromelia balansae Mez Gravateiro Herbáceo FF, R SB
Cannabaceae Trema micrantha (L.) Blume Periquiteira Arbóreo FF, L P
Cannabaceae Celtis spinosa Spreng. Sara-de-espinho Arbóreo FF, M, L P
F, FF, M, L,
Caryocaraceae Caryocar brasiliense Cambess. Pequi Arbóreo R P
Grupo
Famílias Espécies Nome popular Hábito Uso ecológic
o
Clusiaceae Vismia guianensis (Aubl.) Pers. - Arbóreo - NP
Combretaceae Buchenavia tomentosa Eichler Tarumarana Arbóreo F, FF, L P
Combretaceae Terminalia brasiliensis Spreng. Amêndoa-brava Arbóreo L P
Dilleniaceae Curatella americana L. Lixeira Arbóreo M, L, FF P
Dilleniaceae Doliocarpus dentatus (Aubl.) Standl. Cipó-de-fogo Liana FF P
Erythroxylaceae Erythroxylum suberosum A. St.-Hil. Pimenteira Arbóreo FF P
Euphorbiaceae Alchornea castaneifolia (Willd.) A. Juss. Saran Arbustivo FF SB
Euphorbiaceae Croton urucurana Baill. Sangra-d'água Arbóreo R P
Euphorbiaceae Sapium haematospermum Müll. Arg. Leiteiro Arbóreo FF, M P
Euphorbiaceae Sapium hasslerianum Huber Leiterinho Arbóreo - P
Euphorbiaceae Sapium longifolium (Müll. Arg.) Huber Saran Arbóreo FF P
Fabaceae Albizia niopoides (Spruce ex Benth.) Burkart Mulateira Arbóreo M, L P
Fabaceae Albizia saman (Jacq.) F. Muell. Farinha-seca Arbóreo F P
Fabaceae Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Angico Arbóreo M, R, T, L P
Fabaceae Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan Angico Arbóreo M, R, T, L P
Fabaceae Andira cujabensis Benth. Angelim Arbóreo FF, L NP
Fabaceae Bowdichia virgilioides Kunth Sucupira-preta Arbóreo R, L P
Fabaceae Calopogonium caeruleum (Benth.) C. Wright Feijãozinho-da-mata Herbáceo - P
Copaíba/
Fabaceae Copaifera martii Hayne guaranazinho Arbóreo F P
Fabaceae Delonix regia (Bojer ex Hook.) Raf.ex Flamboyant Arbóreo NP
Fabaceae Dimorphandra mollis Benth. Faveiro Arbóreo R P
M, F, FF, R,
Fabaceae Dipteryx alata Vogel Am Cumbaru Arbóreo L NP
Fabaceae Hymenaea courbaril L. Jatobá-mirim Arbóreo M, F, R P
Fabaceae Indigofera hirsuta L. Anileira-do-pasto Herbáceo - P
Fabaceae Inga uruguensis Hook. & Arn. Ingá-do-brejo Arbóreo F, FF P
Grupo
Famílias Espécies Nome popular Hábito Uso ecológic
o
Fabaceae Inga vera Willd. Ingá-de-pobre Arbóreo F, FF P
Fabaceae Leucaena leucocephala (Lam.) de Witex Leucena Arbóreo P
Fabaceae Lonchocarpus sericeus (Poir.) Kunth ex DC. Ingazeiro Arbóreo M, L P
Fabaceae Pterogyne nitens Tul. Bálsamo Arbóreo M, L P
Fabaceae Stryphnodendron obovatum Benth. Barbatimão Arbóreo R, T P
Lamiaceae Peltodon radicans Pohl - Herbáceo - P
Lamiaceae Vitex cymosa Bertero ex Spreng. Tarumã Arbóreo M, R, FF, F P
Lythraceae Cuphea melvilla Lindl. Sete-sagrias Herbáceo - SB
Lythraceae Lafoensia pacari A. St.-Hil. Dedaleira Arbóreo R, M, L P
Malpighiaceae Byrsonima coccolobifolia Kunth Murici-pequeno Arbóreo FF, L P
Malpighiaceae Mascagnia benthamiana (Griseb.) W.R. Anderson Cipózinho Liana - P
Malvaceae Eriotheca gracilipes (K. Schum.) A. Robyns Paina-do-campo Arbóreo P
Malvaceae Helicteres guazumifolia Kunth Rosquinha Arbóreo R P
Malvaceae Sterculia apetala (Jacq.) H. Karst. Mandovi Arbóreo F, FF NP
Malvaceae Urena lobata L. ex Malva-roxa Arbustivo P
Malvaceae Waltheria indica L. Douradinha Herbáceo R P
Melastomatacea
e Desmoscelis villosa (Aubl.) Naudin - Herbáceo - P
Melastomatacea
e Miconia prasina (Sw.) DC. - Herbáceo FF SB
Melastomatacea
e Mouriri guianensis Aubl. Roncador Arbustivo FF P
Melastomatacea
e Rhynchanthera dichotoma (Desr.) DC. - Herbáceo - SB
Meliaceae Guarea guidonia (L.) Sleumer Marinheiro Arbóreo FF P
Meliaceae Trichilia pallida Sw. - Arbóreo FF P
Moraceae Brosimum gaudichaudii Trécul Mama-cadela Arbóreo R, F, FF P
Grupo
Famílias Espécies Nome popular Hábito Uso ecológic
o
Moraceae Ficus enormis (Mart. ex Miq.) Mart. Figueira Arbóreo FF NP
Moraceae Ficus sp. Figueira Arbóreo FF NP
Myrtaceae Psidium guajava L. Goiaba Arbóreo F, FF P
Myrtaceae Eugenia biflora (L.) DC. - Arbustivo FF NP
Myrtaceae Eugenia egensis DC. - Arbustivo FF NP
Myrtaceae Psidium sp. Goiabinha Arbustivo FF -
Myrtaceae Syzygium cumini (L.) Skeels Ex Jambolão Arbóreo F, FF NP
Onagraceae Ludwigia nervosa (Poir.) H. Hara Cruz-de-malta Herbáceo - P
Onagraceae Ludwigia sp. Cruz-de-malta Herbáceo - P
Opiliaceae Agonandra brasiliensis Miers ex Benth. & Hook. f. Tinge-cuia Arbóreo M, FF, L NP
Piperaceae Piper aduncum L. Pimenta-de-macaco Herbáceo FF SB
Piperaceae Piper angustifolium Lam. Herbáceo FF SB
Poaceae Guadua paniculata Munro Bambu - M, A P
Polygonaceae Triplaris americana L. Novateiro Arbóreo O P
Rhamnaceae Rhamnidium elaeocarpum Reissek Cafezinho Arbóreo FF, L, M P
Rubiaceae Randia armata (Sw.) DC. Limoeiro-bravo Arbustivo FF SB
Rubiaceae Alibertia edulis (Rich.) A. Rich. ex DC. Marmelo Arbóreo F, FF P
Rubiaceae cf. Rudgea sp. - Arbustivo FF -
Rubiaceae Coussarea hydrangeifolia (Benth.) Müll. Arg. Arbóreo - P
F, FF, M, R,
Rubiaceae Genipa americana L. Jenipapo Arbóreo O P
Rubiaceae Psychotria carthagenensis Jacq. Arbustivo FF SB
Salicaceae Casearia sylvestris Sw. Chá-de-frade Arbóreo FF, R, L P
Sapindaceae Paullinia pinnata L. Cipó-cinco-folhas Liana R, FF P
Sapotaceae Pouteria glomerata (Miq.) Radlk. Laranjinha-de-pacu Arbóreo FF NP
Smilacaceae Smilax fluminensis Steud. Japecanga Liana R, FF P
Urticaceae Cecropia pachystachya Trécul Embaúba Arbóreo FF, R P
Grupo
Famílias Espécies Nome popular Hábito Uso ecológic
o
Subarbustiv
Urticaceae Urera aurantiaca Wedd. Urtiga o R, FF SB
Vitaceae Cissus erosa Rich. Cipó-de-arraia Liana - P
Vochysiaceae Qualea grandiflora Mart. Pau-terra-macho Arbóreo M, L P
Vochysiaceae Qualea parviflora Mart. Pau-terra Arbóreo P
Pouco mais de 24% das espécies são utilizadas como madeira, empregadas em
obras internas, confecção de caixotarias, vigas, cibros, moirões, móveis, etc. Cerca de
23% é utilizada como lenha, 17 espécies tem seus frutos ou sementes consumidos pela
população humana, alguns constituindo fonte de renda para a população local, como é o
caso do jatobá (Hymenaea courbaril), pequi (Caryocar brasiliense), cumbaru (Dipteryx
alata), entre outras. Outras utilidades reconhecidas para a flora nativa local encontram-
se listadas na Tabela 1.

Indicação para recuperação de área degradada


As florestas nativas, principalmente as ciliares, em regiões urbanas
desempenham funções vitais para a qualidade da água, absorvendo e filtrando a água
das chuvas, evitando a contaminação de nascentes e aumentando o suprimento de água
despoluída aos aqüíferos subterrâneos. Além disso, mantém a fauna silvestre, promove
conforto térmico, entre tantos outros serviços ecossistêmicos. Considerando a atual
situação da mata ciliar do Rio Aquidauana, elencamos algumas espécies úteis para a
recuperação de trechos antropizados desta (Tabela 2).
A flora nativa, há milhares de anos interagindo com o ambiente, passou por um
rigoroso processo de seleção natural que gerou espécies geneticamente resistentes e
adaptadas ao nosso meio (LORENZI 2002). Já as espécies introduzidas de outros países
(denominadas de exóticas) não sofreram tal processo e, em hipótese alguma, são ideais
para substituir a vegetação nativa em todas as funções que desempenham no
ecossistema. Desta forma, descartamos da listagem as espécies exóticas registradas. O
objetivo do plantio de espécimes nativos é acelerar o processo de sucessão secundária.
O simples abandono da área pode criar um foco de disseminação de espécies daninhas
para lavouras contíguas, e o processo de sucessão secundária natural é frequentemente
insuficiente e desaconselhável (LORENZI 2002).

Tabela 2. Lista de espécies indicadas para recuperação das margens do Rio


Aquidauana.
Espécies Nome popular
Albizia niopoides (Spruce ex Benth.) Burkart Mulateira
Alchornea castaneifolia (Willd.) A. Juss. Sarã
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Angico
Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan Angico
Annona coriacea Mart. Araticum
Aspidosperma cylindrocarpon Müll. Arg. Peroba-rosa
Brosimum gaudichaudii Trécul Mama-cadela
Buchenavia tomentosa Eichler Tarumarana
Byrsonima coccolobifolia Kunth Murici-pequeno
Casearia sylvestris Sw. Chá-de-frade
Cecropia pachystachya Trécul Embaúba
Coussarea hydrangeifolia (Benth.) Müll. Arg.
Croton urucurana Baill. Sangra-d'água
Curatella americana L. Lixeira
Dimorphandra mollis Benth. Faveiro
Dipteryx alata Vogel Am Cumbaru
Eriotheca gracilipes (K. Schum.) A. Robyns Paina-do-campo
Erythroxylum suberosum A. St.-Hil. Pimenteira
Espécies Nome popular
Eugenia biflora (L.) DC.
Eugenia egensis DC.
Ficus enormis (Mart. ex Miq.) Mart. Figueira
Genipa americana L. Jenipapo
Guarea guidonia (L.) Sleumer Marinheiro
Hymenaea courbaril L. Jatobá-mirim
Inga uruguensis Hook. & Arn. Ingá-do-brejo
Inga vera Willd. Ingá-de-pobre
Lafoensia pacari A. St.-Hil. Dedaleira
Mouriri guianensis Aubl. Roncador
Myracrodruon urundeuva AllemãoAm Aroeira
Piper aduncum L. Pimenta-de-macaco
Piper angustifolium Lam.
Psidium guajava L. Goiaba
Pterogyne nitens Tul. Bálsamo
Qualea grandiflora Mart. Pau-terra-macho
Qualea parviflora Mart. Pau-terra
Sapium haematospermum Müll. Arg. Leiteiro
Sapium hasslerianum Huber Leiterinho
Sapium longifolium (Müll. Arg.) Huber Saran
Scheelea phalerata (Mart. ex Spreng.) Burret Acuri
Sterculia apetala (Jacq.) H. Karst. Mandovi
Stryphnodendron obovatum Benth. Barbatimão
Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. Piúva-da-mata
Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith Piuxinga
Terminalia brasiliensis Spreng. Amêndoa-brava
Trema micrantha (L.) Blume Periquiteira
Trichilia pallida Sw.
Vismia guianensis (Aubl.) Pers.
Vitex cymosa Bertero ex Spreng. Tarumã
Xylopia aromatica (Lam.) Mart. Pimenta-de-macaco

Qualquer que seja o objetivo da recuperação é fundamental que seja respeitada a


aptidão ecológica de cada espécie, uma vez que existem plantas nativas para cada tipo
de ambiente. As espécies indicadas incluem diversas famílias, grupos ecológicos e
utilidades. Incluem também as espécies com algum grau de ameaça, apresentadas
anteriormente. Não são recomendados plantios homogêneos, porque isso resulta em um
sistema biológico instável e vulnerável a pragas e doenças (LORENZI 2002).
Há as que são pioneiras e frutíferas para a fauna, como o acuri (Scheelea
phalerata), araticum (Annona coriacea), embaúba (Cecropia pachystachya),
periquiteira (Trema micrantha), pimenta-de-macaco (Xylopia aromatica), pimenteira
(Erythroxylum suberosum), tarumã (Vitex cymosa), entre outras (Tabelas 1 e 2). Essas
espécies são especialmente interessantes em programas de recuperação de áreas
degradadas, uma vez que as plantas zoocóricas atraem frugívoros, que dispersam as
sementes e trazem sementes de outras espécies, enriquecendo a diversidade (POTT;
POTT 2003).
Algumas espécies (também zoocóricas) são recomendadas por serem ótimas
para plantios mistos em áreas ciliares pela sua boa adaptação a solos úmidos ou
brejosos, este é o caso dos ingás (Inga vera e Inga uruguensis), do jenipapo (Genipa
americana) e da sangra-d'água (Croton urucurana). Outras espécies são mais adequadas
a solos secos, porém são indicadas para solos mais pobres e pedregosos, como é o caso
de alguns trechos que necessitam de recuperação, entre essas, estão o faveiro
(Dimorphandra mollis), a pimenta-de-macaco (X. aromatica), a paina-do-campo
(Eriotheca gracilipes) e a Piuxinga (Tabebuia roseoalba).
Há espécies que foram inseridas na listagem de indicadas para recomposição da
margem do Rio Aquidauana por apresentarem crescimento muito rápido, como é o caso
dos angicos (Anadenanthera colubrina e A. macrocarpa), da mulateira (Albizia
niopoides), da periquiteira (T. micrantha) e da peroba-rosa (Aspidosperma
cylindrocarpon), muitas delas, tem tolerância à insolação direta, sendo úteis em alguns
casos específicos.
A maioria das espécies registradas neste estudo indicadas para recuperação é
pioneira (39 espécies), o que é reflexo do predomínio deste grupo ecológico na lista
geral. Dentre as demais espécies, 14% são secundárias tardias ou clímax,. Deve-se
tomar o cuidado para realizar o plantio destas espécies próximas de exemplares de
espécies pioneiras, uma vez que estas crescerão rapidamente e proporcionarão o
sombreamento necessário para as espécies clímax. Outro cuidado a ser tomado é evitar
que espécies de porte muito grande fiquem lado a lado uma das outras (LORENZI
2002).

CONCLUSÕES

No presente estudo indicamos espécies úteis à recuperação da mata ciliar do Rio


Aquidauana, considerando sua ocorrência na área, através de levantamento de dados
primários e secundários. Levamos em consideração ainda a sua utilidade, grupo
ecológico e grau de ameaça.

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AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)


pela concessão de bolsa de iniciação científica ao primeiro autor.

POTENCIAL DE Solanum cassioides L.B.SM. & DOWNS. PARA A


RESTAURAÇÃO DE ÁREAS ALTOMONTANAS NO SUL DO BRASIL

DUARTE, E.¹.; SCHLICKMANN, M. B.¹.; LARSEN, J. G.¹.; SANTOS, G. N.¹.;


RODRIGUES JÚNIOR, L. C.¹.; MACHADO, F. D.¹.; MUZEKA, L. M.¹.;
SILVA, A. C.¹.; HIGUCHI, P.¹

¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de Ciências


Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta Dinheiro - Lages – SC, Brasil.
CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-9100. E-mail: [email protected]

RESUMO

Objetivou-se analisar o potencial de Solanum cassiodes L.B.Sm. & Downs. para a


recuperação de uma área de Floresta Ombrófila Mista Alto-Montana. O estudo foi
conduzido em uma área de campo em processo inicial de restauração e no fragmento
florestal adjacente à área, localizados em Urubici, Santa Catarina. Foram instaladas na
área de campo e no fragmento adjacente, transecções de 20 x 100 m, subdividas em 20
parcelas permanentes de 10 x 10 m cada uma. A estrutura populacional dos indivíduos
regenerantes de S. cassioides da área de campo foi analisada utilizando-se o método de
Sturges e o histograma de frequências, com a distribuição dos indivíduos em classes de
altura. Na regeneração foram amostrados 1030 indivíduos, destes, 328 são pertencentes
a S. cassioides. Os indivíduos da espécie apresentaram distribuição hipsométrica do tipo
J invertido. No levantamento florístico-estrutural da área adjacente, amostrou-se 375
indivíduos, sendo somente um indivíduo pertencente a S. cassioides. A elevada
densidade de indivíduos na área em regeneração e o elevado estoque de indivíduos
jovens sugere que a espécie apresenta um elevado potencial de estabelecimento após
distúrbios em áreas altomontanas. Além disso, trata-se de uma espécie pioneira e
zoocórica, com frutos atrativos à fauna, o que pode acelerar o processo de restauração,
pois atuam como facilitadores para o estabelecimento de espécies tardias, apresentando
grande potencial para utilização na recuperação de áreas degradadas da Floresta
Ombrófila Mista Alto-Montana.

Palavras Chave: Altomontana, áreas degradadas, regeneração natural, solanum


cassiodes

Introdução

Áreas degradadas são ecossistemas modificados, que perderam a qualidade


ambiental (CORRÊA; MELO FILHO, 1998). Quando essas modificações incidem na
retirada da vegetação nativa e da fauna existente, ocorre a exposição da camada fértil do
solo a intempéries, o que resulta na redução da capacidade de resistência e resiliência da
área alterada, sendo necessárias intervenções para acelerar o processo de recuperação
(MARTINS, 2009). Nesse sentido, o monitoramento do estabelecimento de espécies
autóctones em áreas degradadas é importante para verificar como ocorre a sucessão
florestal nestes locais (MORAES et al., 2006).
Porém, a restauração pode ser dificultada pela existência de fatores intrínsecos a
cada ambiente, como fertilidade, acidez, ciclagem de nutrientes, entre outros
(BARBOSA, 2006). Nesse contexto, as áreas de Floresta Ombrófila Mista Alto-
Montana, por se encontrarem em uma área geográfica restrita e apresentar condições
limitantes como baixas temperaturas, presença de neblina e solos geralmente pouco
férteis, podem restringir a ocorrência de espécies (HIGUCHI et al., 2013), reduzindo as
chances de restabelecimento da vegetação.
Dentre as famílias botânicas de grande importância para a restauração nessas
áreas, destaca-se Solanaceae, que compõe um dos maiores grupos dentre as plantas
vasculares, apresentando distribuição cosmopolita (MARTINS; COSTA, 1999). No
Brasil, a família apresenta 34 gêneros e 449 espécies, sendo 215 exclusivas do país
(STEHMANN et al., 2010).
As espécies da família apresentam diversos representantes de valor econômico
(GIACOMIN, 2010) e várias espécies pioneiras importantes na recuperação de áreas
degradadas, as quais apresentam rápido crescimento, que permitem o estabelecimento
de espécies tardias no local, promovendo o avanço sucessional (GANDOLFI et al.,
1995). A existência de fonte de propágulos próxima a áreas degradadas pode acelerar o
processo de restauração (HOLL, 1999).
Espécies do gênero Solanum são típicas representantes na regeneração natural de
áreas degradadas e também em fragmentos de floresta altomontana (SOUZA, 2000;
MEIRELES et al., 2008; MARTINS-RAMOS et al., 2011; FERREIRA, 2011;
FERREIRA et al., 2013; HIGUCHI et al., 2013; MARCON et al., 2014). Dentre as
espécies que ocorrem nesta formação, cita-se o Solanum cassioides L.B.Sm. & Downs.,
espécie nativa de porte arbóreo e pioneira (FERREIRA, 2011). Porém, ainda não
existem estudos sobre o potencial de regeneração desta espécie na recuperação de áreas
altomontanas. Desta forma, o objetivo do estudo foi analisar o potencial de Solanum
cassiodes L.B.Sm. & Downs. para a recuperação de uma área de Floresta Ombrófila
Mista Altomontana, no Parque nacional de São Joaquim, Urubici, Santa Catarina.
Material e Métodos

O estudo foi conduzido em uma área de campo em processo inicial de


restauração (regeneração natural após exploração no passado) e no fragmento florestal
adjacente à área, formado por Floresta Ombrófila Mista Alto-Montana (IBGE, 2012),
localizados no Parque Nacional de São Joaquim em Urubici, Santa Catarina. De acordo
com a classificação de Köppen, o clima da região é do tipo Cfb, o relevo varia de suave
a fortemente ondulado e o solo é classificado como Neossolos Litólicos e Cambissolos.
A área em estágio inicial está localizada a uma altitude de 1.628 m e era de
floresta nebular, que foi desmatada no passado. Para o estudo da regeneração natural
nessa área, foi instalada uma transecção de 20 x 100 m, subdivida em 20 parcelas
permanentes de 10 x 10 m, sendo realizada a amostragem de todos os indivíduos
lenhosos com altura ≥ 20 cm e até 5 cm de DAP (diâmetro medido a altura do peito).
Estes foram identificados e mensuradas as alturas.
Adjacente a esta área, foi realizado o levantamento florístico-estrutural do
componente arbóreo da área de floresta por meio da alocação de uma transecção de 20 x
100 m, subdividida em 20 parcelas de 10 x 10 m. Em cada parcela, foram identificados
todos os indivíduos arbóreos adultos com DAP ≥ 5 cm.
Foi quantificado o número de indivíduos por espécie para as duas áreas e, para a
espécie de maior abundância na regeneração natural da área em processo de restauração,
foi avaliada a estrutura populacional. A estrutura foi analisada por meio de um
histograma de frequências, com a distribuição dos indivíduos dessa espécie em classes
de altura (nc), pelo método de Sturges: , em que n = número de
indivíduos. O intervalo de classes (L) foi determinado por meio da razão entre a
amplitude total e o número de classes: , em que: R = amplitude (maior valor
menos o menor valor da amostra).
A fim de verificar se o fragmento adjacente está contribuindo como fonte de
propágulos para a área em regeneração, foi analisada a densidade de indivíduos da
espécie nesse fragmento.

Resultados e Discussão

No levantamento da regeneração natural da área em restauração, foram


amostrados um total de 1030 indivíduos, destes, 328 foram pertencentes a espécie de
maior densidade, Solanum cassioides (31,84% dos indivíduos). A elevada densidade
encontrada no estudo sugere que esta espécie apresenta um elevado potencial de
estabelecimento após distúrbios em áreas altomontanas, colonizando, principalmente,
áreas abertas, em que há maior incidência lumínica no local.
Os indivíduos amostrados de Solanum cassioides apresentaram tendência à
distribuição hipsométrica do tipo exponencial negativa, também conhecido como “J
invertido” (Figura 1). A distribuição demonstra que a área apresenta um elevado
número de indivíduos nas menores classes de tamanho, ou seja, maior estoque de
indivíduos jovens. O maior número de indivíduos jovens é comum em florestas nativas
(HIGUCHI et al., 2013) e em áreas que estão em fase inicial de regeneração pós
distúrbio (BORGES FILHO; FELFILI, 2003; SOARES, 2009).
Figura 1: Estrutura hipsométrica de Solanum cassioides em uma área em processo de
restauração em Urubici, SC. Classe 1 = 20 a 41,66 cm; classe 2 = 41,67 a 63,33 cm;
classe 3 = 63,34 a 85,00 cm; classe 4 = 85,01 a 106,67 cm; classe 5 = 106,68 a 128,34
cm; classe 6 = 128,35 a 150,01 cm; classe 7 = 150,02 a 171,68 cm; classe 8 = 171,69 a
193,35 cm; classe 9 = 193,36 a 215,00 cm.

Espécies da família Solanaceae são comuns em áreas degradadas (BOHS, 1994;


SILVA et al., 1996; NEPSTAD et al., 1998; TABARELLI et al., 1999) e apresentam
importância por assumir papel de colonizadoras, com rápido crescimento, permitindo
que ocorra o estabelecimento de espécies secundárias e tardias, facilitando o avanço
sucessional. Além disso, Solanum cassioides é uma espécie produtora de frutos atrativos
à fauna, o que pode acelerar o processo de restauração. A menor densidade de
indivíduos nas maiores classes de altura está associada ao filtro ambiental e biótico,
sendo esse um padrão comum em populações naturais.
Já no levantamento florístico-estrutural do fragmento adjacente, foram
amostrados 375 indivíduos, porém, apenas um indivíduo era pertencente a Solanum
cassioides. Isso denota o caráter pioneiro da espécie, já que a floresta adjacente se
encontra estruturada e em avançado estágio de sucessão, e espécies pioneiras não
toleram condições de sombreamento (HARTSHORN, 1978). Dessa forma, sugere-se
que, com o avanço da sucessão na área em restauração, Solanum cassioides reduza sua
participação na comunidade.
Estudos realizados em áreas altomontanas relatam a ocorrência de espécies do
gênero Solanum (HIGUCHI et al., 2013; MARTINS-RAMOS et al., 2011), que ocorre
com baixa densidade de indivíduos, associado a espécies típicas de áreas de altitude e da
família Myrtaceae (MARTINS-RAMOS et al., 2011). Apesar da baixa
representatividade de S. cassioides no fragmento adjacente, a elevada densidade de
indivíduos regenerando na área degradada reflete a importância de processos como a
dispersão de sementes para a colonização de espécies em novos hábitats (DEMINICIS
et al., 2009). Em áreas de ocorrência geográfica restrita como as florestas Alto-
Montanas, com condições ambientais limitantes, a dispersão assume papel fundamental
no restabelecimento da vegetação (HOLL, 1999)
Tendo em vista que S. cassiodes apresenta dispersão zoocórica (REIS;
KAGEYAMA, 2003), infere-se que a fauna desempenhe um importante papel no
processo de estabelecimento inicial da vegetação arbórea em áreas abertas. Desta forma,
a introdução de espécies zoocóricas, como S. cassioides, é importante, pois as mesmas
atuarão como facilitadores para o estabelecimento de espécies tardias.

Conclusão
Solanum cassioides, por sua elevada representatividade em uma área de Floresta
Ombrófila Mista Alto-Montana em estágio inicial de sucessão florestal, pode ser
considerada como de elevado potencial para a restauração de áreas perturbadas. Seu
potencial também se confirma pelo elevado estoque de indivíduos jovens na área. Além
disso, destaca-se a importância da espécie para atração da fauna dispersora.

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DINÂMICA E ESTRUTURA POPULACIONAL DE Baccharis uncinella DC. EM


ÁREA DE RESTAURAÇÃO NO PLANALTO CATARINENSE

DUARTE, E.¹.; SCHLICKMANN, M. B.¹.; LARSEN, J. G.¹.; SANTOS, G. N.¹.;


RODRIGUES-JUNIOR, L. C.¹.; MACHADO, F. D.¹.; MUZEKA, L. M.¹.;
DREYER, J. B. B.¹.; SILVA, A. C.1.; HIGUCHI, P.¹

¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de Ciências


Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta Dinheiro - Lages – SC, Brasil.
CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-9100. E-mail: [email protected]

RESUMO

O objetivo do presente trabalho foi analisar a dinâmica e a estrutura populacional de


Baccharis uncinella DC. em uma área de Floresta Ombrófila Mista Alto-Montana
degradada, atualmente em processo de restauração, em Urubici, Santa Catarina. Para
isso, foi instalada uma transecção de 20 x 100 m, subdivida em 20 parcelas permanentes
de 10 x 10 m. Para o estudo da dinâmica, foi realizado o inventário da espécie nessas
parcelas em 2014 e uma reamostragem dos indivíduos dois anos após, em 2016, quando
os indivíduos sobreviventes, recrutas e mortos foram quantificados e novamente
mensurados (altura). Foram calculadas as taxas de recrutamento e mortalidade. A
estrutura hipsométrica da população foi analisada por meio do método de Sturges e
histogramas de frequências, para ambos os anos. Em 2014, foram amostrados 168
indivíduos de B. uncinella e, em 2016, 198. O recrutamento (11,81%.ano-1) foi maior
que a mortalidade (4,26%.ano-1). Os indivíduos apresentaram distribuição hipsométrica
próxima da normal em 2014 e 2016, com a maioria dos indivíduos posicionada nas
classes intermediárias de altura. Esses resultados indicam que a área, por apresentar
aumento no tamanho populacional de B. uncinella, uma espécie pioneira típica, ainda se
encontra em fase inicial de sucessão.

Palavras Chave: Áreas degradadas, estrutura hipsométrica, floresta ombrófila mista


altomontana, restauração florestal

Introdução

Em Santa Catarina, a Floresta Ombrófila Mista é subdividida em Floresta


Aluvial, Submontana, Montana e Altomontana (IBGE, 2012). A Floresta Ombrófila
Mista Altomontana, conhecida também como mata nebular, ocorre nos locais onde há
presença de nuvens constante (HAMILTON et al., 1995), é uma formação florestal que
aparece em altitudes acima de 1000 m no sul do Brasil (MARTINS-RAMOS et al.,
2011; IBGE, 2012).
Na Floresta Ombrófila Mista Altomontana, em condição nebular, é marcante a
presença de vegetação de menor porte, de folhas pequenas e a formação de apenas um
estrato sem árvores emergentes. Além disso, com a elevação da altitude, percebe-se uma
gradativa redução da riqueza de espécies, reflexo do aumento do grau de adversidade
ambiental (RODERJAN, 1994), especialmente relacionado ao frio intenso. Este tipo
vegetacional apresenta um elevado grau de endemismo, decorrente de pressões de
seleção singulares e isolamento geográfico.
Por serem encontradas em regiões muito restritas geograficamente e exibirem
condições limitantes como as temperaturas baixas, os solos normalmente pouco férteis,
entre outros fatores, possuem tendência a reduzir a existência de espécies (HIGUCHI et
al., 2013), diminuindo as chances de restabelecimento da vegetação, o que dificulta a
restauração destas áreas.
Dentre as famílias botânicas de grande importância para a restauração de áreas
degradadas, destaca-se Asteraceae (FERREIRA et al., 2001), que apresenta elevada
representatividade no ambiente campestre no Sul do Brasil (BOLDRINI; EGGERS,
1996). Muitas espécies dessa família apresentam comportamento agressivo no seu
estabelecimento (FERREIRA et al., 2001), por possuírem hábito invasor de pastagens e
serem ruderais (ARANHA et al., 1987; GAVILANES; D’ANGIERI-FILHO, 1991;
KISSMANN; GROTH, 1992).
O gênero Baccharis ocorre naturalmente somente no continente americano,
onde são encontradas proximamente 204 espécies no Brasil (BOLDT, 1989). As plantas
deste gênero são arbustos dióicos perenes, medindo cerca de 0,5 a 4,0 m de altura
(GOMES; FERNANDES, 2002). Várias espécies deste gênero são pioneiras e
apresentam elevada capacidade de colonização em áreas perturbadas (HIGUCHI et al.,
2013).
Dentre as espécies pertencentes a este gênero, pode-se citar Baccharis uncinella
DC., que é representante do grupo Spicata (BUDEL; DUARTE, 2008) e pode ser
encontrada desde o Rio de Janeiro até o sul do Brasil (BARROSO, 1976), sendo
popularmente conhecida como vassoura e vassoura-lageana (TAKEDA; FARAGO,
2001). É uma espécie com hábito arbustivo, podendo medir até 2 m de altura, com
ramos tomentosos a glabrescentes, e com folhas sésseis, que se mostram na face inferior
tomentosas (BUDEL; DUARTE, 2008)
O estudo da ecologia de espécies de plantas nativas é de grande importância,
uma vez que diversas destas espécies são potencialmente aptas à recuperação de áreas
degradadas e programas de conservação (MONTEIRO; RAMOS, 1997). Desta forma, o
objetivo deste trabalho foi analisar a dinâmica e a estrutura populacional de Baccharis
uncinella em uma área em processo de restauração no Parque Nacional de São Joaquim,
Urubici, SC.

Material e Métodos

O estudo foi conduzido em uma área de campo, que se encontra em processo


inicial de restauração (regeneração natural pós-distúrbio), no Parque Nacional de São
Joaquim, em Urubici, Santa Catarina. A área está situada a uma altitude de 1.628 m e a
vegetação original era de Floresta Ombrófila Mista Alto-Montana, a qual foi desmatada
no passado. De acordo com Köppen, o clima da região é do tipo Cfb, o relevo varia de
suave ondulado a fortemente ondulado e o solo é classificado como Neossolo Litólico e
Cambissolo.
Para o estudo da regeneração natural, foi instalado, em 2014, uma transecção de
20 x 100 m, subdivida em 20 parcelas permanentes de 10 x 10 m, sendo realizado a
amostragem dos indivíduos de Baccharis uncinella com altura ≥ 20 cm. Estes tiveram
suas alturas mensuradas. Para a análise da dinâmica, foi realizada a reamostragem dos
indivíduos dois anos após o primeiro inventário (julho de 2016), contabilizando e
medindo a altura dos indivíduos sobreviventes, contabilizando os mortos e recrutando
os indivíduos que atingiram o nível de inclusão de 20 cm.
Foram calculadas as taxas de mortalidade e recrutamento da espécie, por meio
das equações descritas por Sheil e May (1996): M = (1 - ((No - m)/ No)1/t) × 100 e R =
(1 - (1 - r/Nt)1/t) × 100, em que M = taxa de mortalidade anual; R = taxa de
recrutamento anual; No = número inicial de árvores; t= intervalo de tempo entre os
inventários; Nt = número final de árvores depois de t; m = número de árvores mortas; r
= número de árvores recrutadas.
A estrutura da população de Baccharis uncinella, em 2014 e 2016, foi analisada
por meio de histogramas de frequências, com base na distribuição dos indivíduos em
classes de altura (nc), pelo método de Sturges: , em que n =
número de indivíduos. O intervalo de classes (L) foi determinado por meio da razão
entre a amplitude total e o número de classes: , em que: R = amplitude (maior
valor menos o menor valor da amostra).

Resultados e Discussão

Foram amostrados 168 indivíduos de Baccharis uncinella em 2014 e 198


indivíduos em 2016. Essa mudança foi devido ao maior recrutamento (11,81%.ano-1) do
que mortalidade (4,26%.ano-1). Isso indica que a espécie se encontra em fase de
estruturação populacional, sugerindo que, por se tratar de uma pioneira típica, a área
está, ainda, em fase inicial de sucessão. Nessa fase, é natural que ocorra flutuação
populacional, com pequeno aumento no número de indivíduos.
B. uncinella possui caráter pioneiro (ZIMER et al., 2010), ou seja, necessita de
luz para que ocorra sua germinação (SMITH, 1986), facilitando, desta forma, sua
colonização em áreas de campo. A tendência é que, à medida que houver o avanço
sucessional na área, a espécie reduza sua população, sendo substituída por espécies
típicas de estágios sucessionais mais avançados. Além disso, B. uncinella apresenta
dispersão anemocórica (NEGRINI et al., 2012), o que facilita sua colonização em áreas
abertas, principalmente em áreas altomontanas. Este tipo de dispersão de sementes é
citado como de maior importância em fitofissionomias mais abertas do que em
formações florestais (HOWE; SMALLWOOD, 1982), devido a necessidade da entrada
do vento para que ocorra sua dispersão.
A frequência dos indivíduos nas classes de altura, em 2014 (Figura 1) e 2016
(Figura 2), seguiu uma distribuição próxima da normal. Esse padrão evidencia que a
área apresenta um elevado número de indivíduos nas classes intermediárias de altura,
principalmente entre 2 a 3 m. No entanto, observa-se aumento no número de indivíduos
nas classes menores de altura (classes 1 a 4) em 2016 (Figura 2), enquanto que nas
classes maiores (classes 5 a 8) houve pequena redução. Isso é esperado nesse método de
amostragem, considerando que os recrutas são os que atingem a classe mínima de
altura. Porém, esse aumento do número de indivíduos nas classes inferiores de tamanho,
comparado com o padrão de 2014, também sugere um crescimento do número de
indivíduos da espécie na área, confirmando o estágio sucessional inicial. Esta é uma
espécie pioneira e dependente de clareiras para sua colonização (ZAIA; KAKAKI,
1998), e, enquanto não ocorre o fechamento do dossel, pode ocorrer flutuação em sua
população.

Figura 1: Estrutura hipsométrica de Baccharis uncinella, em 2014, em uma área em


processo de restauração em Urubici, SC. Classe 1 = 24,0 a 64,75 cm; Classe 2 = 64,76 a
105,51 cm; Classe 3 = 105,52 a 146,27 cm; Classe 4 = 146,28 a 187,03 cm; Classe 5 =
187,04 a 227,79 cm; Classe 6 = 227,8 a 268,55 cm; Classe 7 = 268,56 a 309,31 cm;
Classe 8 = 309,32 a 350, 00 cm.
Figura 2: Estrutura hipsométrica de Baccharis uncinella, em 2016, em uma área em
processo de restauração em Urubici, SC. Classe 1 = 28 a 80,75 cm; classe 2 = 80,76 a
133,51 cm; classe 3 = 133,52 a 186,27 cm; classe 4 = 186,28 a 239,03 cm; classe 5 =
239,04 a 291,79 cm; classe 6 = 291,80 a 344,55 cm; classe 7 = 344,56 a 397,30 cm;
classe 8 = 397,31 a 450,00 cm.

Conclusões

Em um período de dois anos de avaliação do processo de restauração natural,


houve aumento do número de indivíduos de Baccharis uncinella na área altomontana
estudada. Isso sugere que, por essa espécie se tratar de uma pioneira típica, a área se
encontra, ainda, em estágio inicial de sucessão. Além disso, ocorreu o aumento do
número de indivíduos nas menores classes de altura, confirmando o padrão de
recrutamento da espécie, que indica uma área inicial de sucessão. Recomenda-se o
monitoramento da área, por um período maior de tempo, para melhor compreensão
sobre o processo de sucessão florestal em áreas altomontanas no Sul do Brasil.

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SERVIÇOS AMBIENTAIS PRESTADOS POR SISTEMAS AGROFLORESTAIS


BIODIVERSOS NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS E
ALGUMAS POSSIBILIDADES DE COMPENSAÇÕES AOS AGRICULTORES

M. P. PADOVAN1; J. S. NASCIMENTO2; J. A., CARIAGA2; Z. V. PEREIRA2; P. R.


AGOSTINHO2
1
Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS. Email: [email protected];
2
Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, MS. Email:
zefapereira&ufgd.edu.br, [email protected], [email protected],
[email protected]

RESUMO
Sistemas agroflorestais biodiversos (SAFs) possuem grande potencial para a produção
de serviços ambientais e, consequentemente, a recuperação de áreas degradadas e
participação na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Viabilizam, também, a
produção diversificada de alimentos e possibilitam a obtenção de renda contínua ao
longo do ano. Entretanto, os agricultores que possuem esses sistemas são compensados
de forma incipiente, face aos grandes benefícios que proporcionam à sociedade,
carecendo de compensações especiais. Nesse contexto, desenvolveu-se um estudo
visando identificar os principais serviços ambientais produzidos por SAFs, segundo a
percepção dos agricultores responsáveis, bem como identificar algumas possibilidades
de compensações especiais a esses agricultores, para estimulá-los a continuar investindo
nesses sistemas. O estudo foi desenvolvido na região Oeste do Brasil, durante os anos
de 2015 a 2017, envolvendo 40 propriedades rurais com SAFs, localizadas no Estado de
Mato Grosso do Sul e nas regiões Oeste de São Paulo e Noroeste do Paraná. Foram
realizadas visitas aos agricultores que possuem SAFs, ocasião em que foram realizadas
entrevistas com cada família responsável, utilizando-se um roteiro semiestruturado,
contendo questões abertas e fechadas. Também se procedeu a observação direta no
campo para aferir, conjuntamente, algumas informações repassadas pelos agricultores. A
identificação de possibilidades de compensações especiais aos agricultores que possuem
SAFs, baseou-se em levantamento bibliográfico sobre Pagamentos por Serviços
Ambientais (PSA). Os resultados obtidos evidenciam que os SAFs produzem grande
diversidade de serviços ambientais, demonstrando elevada importância em processos de
restauração ambiental, inclusive de áreas de reserva legal e de preservação permanente.
Também se identificou que há várias alternativas para compensações, por meio de PSA,
aos agricultores que possuem esses sistemas e prestam serviços ambientais à sociedade.
Porém, depende dos poderes públicos (federal, estaduais e municipais) compreenderem
a relevância socioambiental desses sistemas, conceberem e implementarem programas e
projetos com essa finalidade.

Palavras Chave: produção de serviços ambientais, SAFs em bases agroecológicas,


produção diversificada de alimentos, pagamentos por serviços ambientais
Introdução
O termo sistemas agroflorestais contempla um amplo arcabouço de
agroecossistemas. Compreende sistemas altamente diversificados, sucessionais e
multiestratificados, com complexas relações ecológicas e possibilidades de
autossuficiência, face à diversidade de serviços ecossistêmicos que são potencializados
e produzidos. Porém, refere-se, também, a sistemas bastante simples que envolve o
cultivo de apenas uma espécie arbórea (predominantemente exótica) e uma espécie de
gramínea ou cultura anual, geralmente dependente de insumos externos e com relações
ecológicas estreitas (PADOVAN; CARDOSO, 2013).
De acordo com Padovan e Pereira (2012), sistemas agroflorestais biodiversos
(SAFs) compreendem arranjos diversificados de plantas envolvendo espécies arbóreas,
arbustivas, arvoredos e herbáceas, entre outras; formam agroecossistemas complexos,
uma vez que contemplam a diversidade vegetal disposta em multiestratos, resultando
em grande diversidade de microambientes, caracterizando-se como SAFs de base
agrícola. A concepção desses sistemas alicerça-se na busca da segurança alimentar,
geração de renda e na produção de serviços ambientais. Seguindo essa concepção, os
autores caracterizam SAFs do tipo silvipastoris, de base agroecológica, para fins de
produção animal, como tipos de SAFs diversificados, nos quais se implanta a pastagem,
utilizando-se diferentes espécies de gramíneas nativas ou exóticas, que podem ser
consorciadas com leguminosas rasteiras ou arbustivas, juntamente com espécies de
árvores, preferencialmente nativas da região. Esses SAFs de base agrícola ou para
produção animal não dependem de agroquímicos ou caminham para a independência
desses insumos, ou seja, pautam-se em princípios agroecológicos.
Os SAFs estão sendo amplamente difundidos nos últimos anos no Brasil, com
maior ênfase na agricultura familiar. Por meio desses sistemas, pode-se produzir
alimentos, madeiras, matérias primas para artesanatos e biocombustíveis, entre outros
produtos, além de gerar serviços ambientais, como: elevação da biodiversidade,
infiltração de água e aumento da matéria orgânica do solo, entre outros (BOLFE et al.,
2009).
Vivan (2010) ressaltou que as experiências com sistemas agroflorestais
biodiversos estão aumentando expressivamente em todas as regiões do Brasil,
incentivados por alguns trabalhos participativos desenvolvidos por instituições públicas
e organizações não governamentais, entre outras entidades.
Froufe e Seoane (2011) enfatizaram sobre o grande potencial desses sistemas
para recuperação de áreas degradadas, pois a biodiversidade presente exerce papeis
semelhantes àqueles que ocorrem em áreas de vegetação nativas que se encontram em
processo de regeneração.
Moressi (2014) e Peneireiro et al. (2005) ressaltam que os SAFs biodiversos
fundamentam-se pela sucessão natural, possibilitando a concepção ou desenhos de
múltiplos arranjos de plantas adaptados a situações particulares de qualquer região,
devendo ser inspirados no ecossistema original do local. Os autores enfatizam que esse
tipo de SAF possui grande potencial para recuperação de áreas degradadas, incluindo-se
Áreas de Reserva Legal (ARLs) e Áreas de Preservação Permanente (APPs), pois é
formado por grande diversidade de espécies vegetais, o que favorece a recuperação
ambiental dessas áreas.
Padovan e Cardoso (2013), ao estudarem SAFs biodiversos implantados por
agricultores nas cinco regiões do Brasil, constataram elevada produção de serviços
ambientais, demonstrando a importância e o potencial desses agroecossistemas para a
restauração de áreas degradadas.
No entanto, Padovan e Cardoso (2013) também constataram que os agricultores
pouco são beneficiados por adotarem esses sistemas. Em geral, são remunerados
somente pelos produtos que são comercializados. Os autores identificaram, por
exemplo, que a demanda dos agricultores concernente a pagamento por serviços
ambientais não deve ser nos moldes do mercado de crédito de carbono, pois é
excludente para a agricultura familiar. Esse “PSA especial” pode ser viabilizado através
de incentivos fiscais, créditos especiais, priorização em mercados institucionais,
atendimento especial em bancos públicos, desburocratização para fins de
financiamentos, entre outras compensações.
Nesse contexto, desenvolveu-se um estudo com o objetivo de identificar os
principais serviços ambientais produzidos por sistemas agroflorestais biodiversos,
segundo a percepção dos agricultores responsáveis, bem como identificar algumas
possibilidades de compensações especiais a esses agricultores, para estimulá-los a
continuarem investindo em SAFs.

Materiais e métodos
O estudo foi desenvolvido na região Oeste do Brasil, durante os anos de 2015,
2016 e 2017, envolvendo 40 propriedades rurais com sistemas agroflorestais
biodiversos, com diferentes arranjos e idades de implantação, localizadas no Estado de
Mato Grosso do Sul e nas regiões Oeste de São Paulo e Noroeste do Paraná.
Os agricultores participantes da pesquisa foram indicados por representantes de
instituições de pesquisa, ensino e extensão rural; organizações não-governamentais e de
agricultores (sindicatos, associações e cooperativas), além de prefeituras municipais.
Foram realizadas visitas a agricultores de base familiar que possuem SAFs
implantados de 2 a 15 anos, durante as quais se realizou o levantamento das
experiências e estabeleceram-se diálogos com os atores responsáveis. Em cada unidade
produtiva foi realizada uma visita guiada, percorrendo-se todo o sistema agroflorestal e
outros sistemas adjacentes, acompanhada de um ou mais componentes da família,
objetivando conhecer cada um dos sistemas estudados.
Ao mesmo tempo, foi realizada entrevista com cada família responsável pelos
SAFs, utilizando-se um roteiro semiestruturado, contendo questões abertas e fechadas,
conforme descrito por Amorozo et al. (2002) e Richardson (2012).
A partir das informações prestadas pelos atores locais, foram levantados alguns
aspectos considerados mais relevantes, baseados em controles das atividades realizadas
ao longo do tempo, bem como do etnoconhecimento (COSTA, 2006). Também
procedeu-se a observação direta no campo para aferir, conjuntamente, algumas
informações repassadas pelos agricultores.
Na etapa seguinte, as informações foram tabuladas e processadas
eletronicamente utilizando-se o Software Statistical Package for the Social Sciences –
SPSS (MARTINEZ; FERREIRA, 2007).

Resultados e discussão
Na Tabela 1 são apresentados os resultados inerentes a serviços ambientais
produzidos por sistemas agroflorestais biodiversos, tais como: diversidade de espécies
arbóreas e arbustivas, de inimigos naturais, de polinizadores, da biota do solo e da fauna
silvestre; sequestro de carbono na biomassa vegetal; ciclagem de nutrientes; produção
local de materiais orgânicos para o solo; matéria orgânica do solo; recuperação da
fertilidade do solo; supressão do uso de adubos químicos sintéticos e de agrotóxicos;
infiltração de água no solo e de microclima local.
Tabela 1. Serviços socioambientais produzidos por sistemas agroflorestais biodiversos,
segundo a percepção dos agricultores responsáveis pelos agroecossistemas.
Serviços ambientais %
Aumento expressivo da diversidade 87,5
vegetal................................................................................
Aumento da diversidade de inimigos 82,5
naturais.............................................................................
Aumento de 80,0
polinizadores...........................................................................................................
Aumento da biota do 82,5
solo............................................................................................................
Presença da fauna silvestre no 87,5
sistema........................................................................................
Sequestro de carbono na biomassa 75,0
vegetal..................................................................................
Eficiente processo de ciclagem de 85,0
nutrientes..............................................................................
Produção local de materiais orgânicos para o 85,0
solo......................................................................
Aumento da matéria orgânica do 72,5
solo.........................................................................................
Supressão de processos erosivos do 85,0
solo.....................................................................................
Recuperação da fertilidade do solo (química e física) 75,0
................................................................
Supressão do uso de adubos químicos 92,5
sintéticos.........................................................................
Supressão do uso de 77,4
agrotóxicos.................................................................................................
Melhoramento expressivo na infiltração de água no 90,3
solo............................................................
Melhoria do microclima 92,5
local......................................................................................................
Serviços sociais %
Produção de alimentos diversificados, sem resíduos 82,5
químicos...................................................
Manutenção da família no campo, com qualidade de 92,5
vida..........................................................
Constatou-se aumento expressivo da diversidade vegetal nos SAFs, expresso por
87,5% dos agricultores envolvidos na pesquisa (Tabela 1). Ressalta-se que SAFs
biodiversos são constituídos por média a alta diversidade de espécies vegetais
(MORESSI, 2014; NASCIMENTO, 2016; VIVAN, 2010).
Em um estudo realizado nas cinco regiões do Brasil, Padovan e Cardoso (2013)
identificaram que o aumento expressivo da diversidade vegetal nos SAFs e a
manutenção da umidade do solo, durante maior tempo em relação ao início das
atividades nesses agroecossistemas, foram os serviços ambientais constatados e
expressos pela maioria dos agricultores, ou seja, 93% dos entrevistados.
Diversos estudos mostram que esses sistemas são semelhantes a capoeiras em
regeneração, quando se refere à diversidade de espécies arbustivas e arbóreas. Também
registram-se, predominantemente, o surgimento de diversas espécies nativas,
regenerando naturalmente. Tais características evidenciam o potencial desses sistemas
para recuperação de áreas degradadas (FROUFE; SEOANE, 2011; MORESSI, 2014).
Diversos autores enfatizam o potencial da biodiversidade presente em SAFs de
base agroecológica, no provimento de recursos genéticos vegetais para produção
agrícola e geração de renda e na conciliação da produção à conservação e melhoria
ambiental, destacando-se e Molina (2016), Moressi (2014) e Oliveira Junior e Cabreira
(2012).
Altieri (2009) enfatiza que é fundamental primar pela complexidade ecológica
dos agroecossistemas. O autor salienta que, quanto mais diversificados e integrados
forem os sistemas de cultivos, mais próximos estarão da sustentabilidade ambiental
desejada e possível.
Nessa mesma ótica, o aumento da diversidade de inimigos naturais é outro
serviço ambiental destacável, que foi identificado e ressaltado por 82,5% dos
agricultores (Tabela 1), que expressaram a satisfação por não identificarem a ocorrência
de “pragas e doenças” em níveis preocupantes nas culturas de interesse econômico nos
SAFs, devido ao controle natural dos organismos que se alimentam de plantas vivas. De
acordo com Souza (2012a) SAFs mais antigos e com menor manejo são mais eficientes
para conservar comunidades diversificadas e menos sujeitas a variações bruscas na
abundância e na composição relativa ao longo do tempo, favorecendo o equilíbrio
ecológico. Os autores desenvolveram um estudo no Distrito Federal, por meio do qual
constatou-se maior riqueza e diversidade de inimigos naturais em sistemas
agroflorestais, em relação a sistemas compostos por diferentes espécies de hortaliças.
O aumento de polinizadores nos SAFs também foi um serviço ambiental
observado e enaltecido por 80% dos agricultores. Martinez et al. (2012) ressaltam que a
complexidade ambiental influencia positivamente na performance de frutíferas, como o
maracujá, por exemplo, resultando em maior tamanho de frutos e do peso da polpa, em
função da manutenção da umidade e temperaturas mais constantes nesses
agroecossistemas. Os autores também ressaltam que existe aumento da produtividade,
uma vez que há maior riqueza e atuação dos polinizadores, pois nesses sistemas existe
grande diversidade de habitats para o estabelecimento desses organismos.
Os agricultores constataram grande aumento da biota do solo ao longo dos anos,
expresso por 82,5% dos entrevistados (Tabela 1). Padovan e Cardoso (2013)
identificaram que 89% dos agricultores ressaltam a expressiva melhoria da vida do solo
sob SAFs, a partir de um estudo envolvendo agricultores das cinco regiões do Brasil.
Em uma pesquisa desenvolvida no Estado de Mato Grosso do Sul, Heid et al. (2012)
identificaram maior diversidade da mesofauna, em dois SAFs com cinco anos de
implantação, comparando-se com sistemas de pastagens e culturas de ciclo anual, sendo
todos conduzidos sob manejo em bases agroecológicas.
Ressalta-se a importância dos organismos de solos em vários processos vitais
para a sua funcionalidade. Organismos humívoros, detritívoros, geófagos, rizófagos,
xilófagos, predadores e parasitas exercem uma diversidade de papéis no ambiente. Esses
organismos atuam em processos de decomposição de resíduos orgânicos e humificação,
mineralização de nutrientes; imobilização e mobilização de nutrientes; fixação de
nitrogênio atmosférico; estruturação do solo e controle de pragas e doenças, entre
outros, beneficiando os agroecossistemas como um todo (DEVIDE; CASTRO, 2008).
Com relação à presença da fauna silvestre nos SAFs, 87,5% dos agricultores
constataram a frequência (Tabela 1), principalmente da avifauna, mas também a
presença de roedores, mamíferos de várias espécies, entre outros. Em um estudo
desenvolvido durante dez anos no Estado de Mato Grosso por Tito et al. (2011), os
autores identificaram que os SAFs promoveram importante conexão com fragmentos de
vegetação nativa, facilitando a migração da fauna silvestre.
Dentre os agricultores participantes da pesquisa, 75% identificam que os SAFs
estocam grande quantidade de carbono na biomassa vegetal, principalmente pelas
espécies arbóreas e arbustivas (Tabela 1). Porém, essa percepção dos agricultores é
bastante variável. Padovan e Cardoso (2013) identificaram que somente 44% dos
agricultores entendem que os SAFs biodiversos estocam grandes quantidades de
carbono pelas plantas, uma vez que esses SAFs são compostos por espécies de
diferentes características e capacidades de crescimento, sendo algumas muito rápidas e
outras muito lentas. Entretanto, a produtividade primária líquida varia de 2,54 a 16,27 t
C ha-1 ano-1 em SAFs de 9 e 14 anos, destacando-se SAFs mais jovens, com melhor
performance no sequestro de carbono (BRANCHER, 2010). Nascimento (2016) ressalta
que há variações na quantidade acumulada de carbono pelas espécies arbóreas e
arbustivas nos SAFs, em função da composição, idade e arranjos estabelecidos, entre
outros fatores, porém predominam elevados acúmulos. Silva et al. (2014) constataram
maior acúmulo de carbono em um SAF de oito anos, do que em uma área de vegetação
nativa adjacente ao sistema.
Dentre os agricultores que participaram da pesquisa, 85 e 75%, respectivamente,
verificaram supressão total de processos erosivos, bem como a recuperação da
fertilidade do solo (química e física), além de 72,5% que constataram aumento
expressivo da matéria orgânica do solo (Tabela 1).
Padovan e Cardoso (2013) ressaltam que nesses sistemas forma-se boa cobertura
do solo com a serapilheira, em função da produção contínua de grande quantidade de
materiais orgânicos, destacado neste estudo por 85% dos agricultores, conforme
apresentado na Tabela 1. Ressalta-se, também, a diversidade, a alta densidade e
profundidade das raízes das plantas, que compõem esses sistemas, resultando em
dinâmica e eficiente ciclagem de nutrientes, relatado por 85% dos participantes desta
pesquisa (Tabela 1); soma-se a isso a melhoria da estruturação do solo e de seus
atributos químicos e físicos.
Como uma das consequências, ocorre a supressão do uso de adubos químicos
sintéticos, relatada por 92,5% dos agricultores, neste estudo (Tabela 1). Conforme
depoimentos dos agricultores, quando iniciaram os SAFs, a maioria já era adepta ao não
uso desse insumo; uma pequena parte utilizou na implantação e foi reduzindo até
suprimir totalmente. Já a adesão pela supressão do uso de agrotóxicos foi relatada por
77,4% dos agricultores (Tabela 1), sendo que os demais restringem ao uso de herbicida
em algumas áreas de SAFs jovens, representando redução drástica desse insumo, a
exemplo do que foi constatado por Padovan e Cardoso (2013).
Esses processos integrados (ciclagem de nutrientes, produção contínua de
materiais orgânicos, cobertura do solo, ação das raízes das plantas, aumento da matéria
orgânica do solo, entre outros) atuam sinergicamente para a melhoria da qualidade do
sistema solo. Silva et al. (2012) identificaram aumentos nos estoques de nitrogênio,
fósforo, potássio e magnésio da serapilheira nos sistemas agroflorestais, assemelhando-
se aos estoques da mata e superior em relação aos estoques da área com culturas anuais.
Freitas et al. (2012) verificaram mudanças significativas na qualidade do solo
em um SAF de 21 anos de implantação, destacando-se: incremento nos teores de
matéria orgânica, menor densidade do solo e da resistência à penetração, comparado
com área de pastagem (mesma idade do SAF) e área de lavoura, desmatada há dois
anos.
Constatou-se, também, a capacidade de SAFs em recuperar e ou disponibilizar C
na solução do solo, sendo uma boa forma de utilização do solo, recomendada para
manter o C no ambiente terrestre (MARQUES et al., 2012).
Carmo et al. (2012) verificaram eficiente ciclagem de Manganês, Cobre, Boro e
Ferro no SAF, em razão dos teores adequados nas folhas da cultura de interesse
econômico, em um estudo envolvendo cafeeiro em SAFs e um sistema de cultivo
convencional de café. Tal fato pode ser justificado pelo aporte contínuo de material
vegetal ao solo que, após a decomposição libera micronutrientes para o solo e,
posteriormente, para absorção pelas plantas (PADOVAN; CARDOSO, 2013).
Nobre et al. (2012) constataram que a diversificação dos cultivos nos SAFs
influenciou no aumento da estabilidade dos agroecossistemas, em decorrência da
melhoria do equilíbrio biológico e da eficiente ciclagem de nutrientes, resultando na
supressão total de agroquímicos, bem como na menor dependência de insumos
orgânicos externos às unidades de produção.
A melhoria de atributos físicos do solo, a presença de boa cobertura pela
serapilheira e as raízes das espécies vegetais, se somam favorecendo a infiltração de
água no solo nos SAFs, o que foi relatado por 90,3% dos participantes da pesquisa
(Tabela 1).
Em um estudo semelhante, Padovan e Cardoso (2013) identificaram que 89%
dos agricultores constataram expressiva melhoria na infiltração da água no solo ao
longo dos anos nos SAFs, e 93% testemunharam sobre a manutenção da umidade do
solo durante maior tempo, em relação ao início das atividades nesses agroecossistemas.
Os resultados inerentes à infiltração da água no solo constatado neste estudo e os
resultados registrados por Padovan e Cardoso (2013), mostram a capacidade desses
sistemas em alimentar o lençol freático e, consequentemente, as nascentes e os
mananciais superficiais de água.
O expressivo aumento da diversidade vegetal nos SAFs, que é uma característica
básica destacável desses sistemas, aliada à melhoria da estrutura do solo e de seus
atributos químicos, bem como relacionado à infiltração de água no solo, evidenciam o
potencial desses sistemas em recuperar APPs, principalmente, próximas a mananciais
superficiais de água e de nascentes.
Neste estudo, 92,5% dos agricultores relataram que houve grande melhoria do
microclima local nos SAFs (Tabela 1), semelhante ao que foi constatado por Padovan e
Cardoso (2013). Esse serviço ambiental tem um significado especial para os
agricultores, pois é facilmente detectável, à medida que as espécies arbóreas vão
crescendo. Ressalta-se, também, que o microclima mais estável, influencia na
performance das espécies vegetais cultivadas, que compõem os sistemas, ou mesmo nos
animais que estiverem sendo criados. Também afeta positivamente a biota do solo, a
dinâmica da umidade do solo, na evapotranspiração, entre vários outros processos.
A presença das árvores contribui para regular a temperatura do ar, mantendo-a
mais estável ao longo do dia, reduzindo os extremos climáticos, amenizando o calor ou
o frio, tornando o ambiente mais favorável à vida (NAIR, 1993). O autor salienta que o
microclima influencia na dinâmica da ciclagem de nutrientes, atuando na velocidade de
decomposição da biomassa e mineralização de nutrientes e, consequentemente, sobre a
disponibilidade de nutrientes para as plantas.
Souza (2012b) verificou que o SAF com cafeeiro reduziu a amplitude de
variação da temperatura média do ar, em relação ao cultivo de cafeeiro a pleno sol, e
atenuou as temperaturas máximas, apresentando potencial para mitigar localmente os
efeitos do aquecimento global.
Em um estudo realizado na região Oeste do Brasil, Padovan et al. (2016)
constataram que mais de 90% dos SAFs estão situados próximos às residências,
caracterizando-se como “quintais agroflorestais”. Assim, efeitos positivos desses
sistemas, como o microclima e a disponibilidade contínua de alimentos, por exemplo,
proporcionam intenso bem-estar às famílias, em função de atenuação de temperaturas
extremas, de ventos excessivos e viabilização de segurança alimentar e nutricional. Esse
fato foi corroborado neste estudo, em que 82,5% dos agricultores relataram a produção
de alimentos diversificados, sem resíduos químicos, como algo de grande relevância às
famílias, e 92,5% dos agricultores que participaram da pesquisa enfatizaram que os
SAFs contribuem significativamente para manutenção da família no campo, com
qualidade de vida (Tabela 1).
Padovan e Cardoso (2013) e Souza (2012a) ressaltam que a agricultura familiar
tem grande potencial para prestar serviços ambientais à sociedade por meio dos sistemas
agroflorestais biodiversos. Os autores enfatizam que é possível e viável compor
agroecossistemas complexos, capazes de produzir diversos serviços ambientais,
contribuindo para alcançar grandes objetivos locais, regionais e globais, como produção
de alimentos diversificados, para atender à segurança alimentar e nutricional das
famílias, bem como aos mercados locais. Acrescentam, ainda, que os SAFs podem
contribuir expressivamente para a conservação da biodiversidade, bem como à solução
de outros problemas ambientais, além da mitigação de efeitos das alterações climáticas.
Nesse sentido, Molina (2016), Nascimento (2016) e Oliveira Junior e Cabreira
(2012) destacam que, além da diversidade de serviços ambientais prestados pelos SAFs,
esses sistemas fortalecem as comunidades locais, contribuindo para o desenvolvimento
rural sustentável.
Entretanto, os agricultores que possuem esses sistemas são compensados de
forma incipiente, face aos grandes benefícios que proporcionam à sociedade. Há
necessidade de viabilizar compensações aos agricultores por esses resultados altamente
expressivos, como, por exemplo, o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), com
intuito de apoiar as experiências existentes, bem como estimular novas iniciativas a
serem implementadas com SAFs.
De acordo com Foleto e Leite (2011), o PSA consiste em compensar o agricultor
através de remuneração, desconto em impostos, abatimentos em juros de
financiamentos, facilidades de acesso ao crédito e na comercialização da produção
oriunda de propriedades, entre outras formas, devido à manutenção dos serviços
ambientais. Os autores ressaltam que esses “instrumentos” de compensação aos
proprietários que prestam serviços ambientais, são de extrema relevância, pois exercem
funções inestimáveis e imprescindíveis à sociedade, para a qualidade da vida na Terra.
O PSA é uma ferramenta fundamental para a formulação e avaliação de políticas
públicas orientadas ao desenvolvimento sustentável e à preservação dos recursos
naturais, por meio do qual busca-se subsidiar a tomada de decisão do poder público e da
sociedade civil sobre a gestão desses recursos, apoiando iniciativas socioambientais
relevantes para a sociedade (NASCIMENTO et al., 2013).
No contexto mundial, Costa Rica destaca-se como pioneira na concepção e
implementação de mecanismos financeiros para serviços ambientais prestados por
proprietários de bosques, bem como àqueles que possuem SAFs biodiversos. O
programa FONAFIFO - Fundo Nacional de Financiamento Florestal, foi criado em
1996, por meio do qual reconhecem-se quatro tipos de serviços ambientais: a mitigação
das emissões de gases com efeito de estufa; a proteção da água para fins urbanos, rurais
ou hidrelétricas; a proteção da biodiversidade para conservação e uso sustentável e a
proteção dos ecossistemas, modos de vida e beleza natural para o turismo e científico
(FAVRETTO et al., 2012; FOLETO; LEITE, 2011).
Além disso, em Costa Rica criou-se uma taxa que incide sobre o consumo de
água e gasolina no país e a arrecadação é revertida aos proprietários de florestas nativas
ou plantadas; os prestadores de serviços ambientais recebem cerca de US$ 80, a cada
hectare de área preservada ao ano (FAVRETTO et al., 2012).
No México, em 2006, foram implementados os programas de Pagamento por
Serviços Ambientais: Serviços Hidrológicos (PSAH) e Carbono, Biodiversidade e
Agrossilvicultura (CABSA), no Município de Coatepec, Veracruz. Foi estabelecido um
fundo de confiança entre os consumidores de água, o qual premiava produtores rurais
que realizavam o manejo florestal sustentável e asseguravam a cobertura florestal, em
áreas de recarga da bacia hidrográfica; o pagamento foi realizado com base na
pontuação do projeto em cada propriedade, de acordo com critérios predefinidos
(FAVRETTO et al., 2012).
No Brasil, a implantação de mecanismos de PSA ocorre em áreas inundadas por
reservatórios, para a geração de energia elétrica, áreas de florestas nativas,
reflorestamentos, sistemas agroflorestais, áreas de reserva legal e preservação
permanente. A abordagem da preservação de recursos ambientais é relativamente
recente, em meados da década de 1980, e nos últimos anos vem se intensificando com a
realização de eventos científicos visando compartilhar novos conhecimentos e
consolidar conceitos nesta área, com intuito de subsidiar novas iniciativas (PORRO;
MICCOLIS, 2011).
Guedes e Seehusen (2011) identificaram 33 projetos e programas de PSA
envolvendo estoque de carbono, voltados ao Bioma Mata Atlântica, implementados nos
Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul. Esses projetos e programas compreendem financiamentos para
implantação de sistemas agroflorestais, monitoramento, certificação e pagamentos por
serviços ambientais.
A maioria desses projetos promove reflorestamentos e a implantação de SAFs
em terrenos particulares, onde os proprietários se disponibilizam a participar do
programa para dedicar parte da propriedade a esta finalidade. Entre eles, destacam-se os
projetos: Carbono; Biodiversidade e Comunidade; Brasil Mata Viva; Recomposição da
Paisagem e SAFs (Café com Floresta); Florestas do Futuro; Ações Ambientais
Sustentáveis no Recôncavo Sul Baiano; Projeto Carbono Muriqui; Projeto de Sequestro
de Carbono; Mapa dos Sonhos do Pontal do Paranapanema; Plantando Água; Consórcio
de Formação Agroflorestal em Rede na Mata Atlântica; Corredores Florestais na Mata
Atlântica, além do Projeto Floresta Viva e Reserva Ecológica de Guapiaçu. Nos projetos
agroflorestais privilegiam-se ações de regeneração e recuperação florestal (GUEDES;
SEEHUSEN, 2011).
Dentre as possibilidades de compensações aos agricultores no Brasil, pode-se
destacar o Programa Produtor de Água, da Agência Nacional de Águas (ANA), que
remunera proprietários de terras que preservam suas propriedades nas bacias
hidrográficas do Rio Guandu, RJ e do Rio Jaguari, MG e nas microbacias do Rio
Moinho, do Rio Cancã e de Nazaré Paulista, SP. Esse programa apoia, orienta e certifica
projetos que visam à redução da erosão e do assoreamento de mananciais, a recuperação
e proteção de nascentes, e o reflorestamento com sistemas agroflorestais em áreas de RL
e APP, proporcionando a melhoria da qualidade e regularização da oferta de água
(CHIODI et al., 2013).
Outra forma de compensação financeira é através do Programa Ecocrédito, em
Montes Claros, MG, na região Sudeste do Brasil, que estabelece um crédito ambiental
para incentivar produtores rurais a preservarem e recuperarem áreas de relevante
interesse ambiental em suas propriedades, como: nascentes, matas ciliares, matas
originais, áreas de recargas e realizar reflorestamento com sistemas agroflorestais
(BERNARDES; SOUSA JÚNIOR, 2010; FOLETO; LEITE, 2011).
Destaca-se, também, o Projeto Oásis, nos mananciais da Região Metropolitana
de São Paulo, criado pela Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, no final de
2006. É caracterizado como um projeto de pagamentos por serviços ecossistêmicos, por
meio de contratos de premiação financeira de áreas protegidas, que valoram serviços
ambientais, como o armazenamento de água no solo, controle de erosão, manutenção da
biodiversidade e da qualidade da água (BERNARDES; SOUSA JÚNIOR 2010).
Com base no potencial de PSA, o Estado do Amazonas implementou uma
política denominada Programa Bolsa Floresta, com o objetivo de valorizar as florestas e
também gerar emprego, renda e promover a conservação ambiental. Visa combater a
pobreza e mitigar os efeitos das mudanças climáticas, por meio do desenvolvimento de
sistemas agroflorestais para a agricultura familiar (PORRO; MICCOLIS, 2011).
Os valores definidos para as compensações financeiras aos agricultores pelos
serviços ambientais são diferenciados entre propriedades, com base nas características
dos serviços verificados. A maioria dos projetos oferece pagamento mensal ou anual
para as famílias que aderem aos projetos. Como por exemplo, o Projeto Carbono
Seguro, que paga R$ 256,00 ha-1 ano-1 (GODECKE et al., 2014).
O Programa Bolsa Verde, estabelecido no Estado de Minas Gerais, proporciona
incentivos financeiros a proprietários rurais que desenvolvam ações de recuperação,
preservação e conservação de áreas necessárias à proteção da formação de matas
ciliares. Agricultores familiares e produtores rurais, cuja propriedade tenha área de até
quatro módulos fiscais, têm prioridade para o recebimento de compensações financeiras
(FOLETO; LEITE, 2011; SUPERTI; AUBERTIN, 2015).
O Estado de Santa Catarina, no ano de 2010, instituiu a Política Estadual de
Serviços Ambientais e regulamentou o Programa Estadual de Pagamentos por Serviços
Ambientais (PEPSA), o qual é composto por três subprogramas: Unidades de
Conservação, Formações Vegetais e Água (GJORUP et al., 2016).
O Município de São Paulo instituiu a Política de Mudanças Climáticas, a qual
prevê o princípio do “protetor-receptor”, segundo o qual são transferidos recursos ou
benefícios para as pessoas ou comunidades que auxiliem na conservação do meio
ambiente, garantindo que a natureza preste serviços ambientais à sociedade
(GODECKE et al., 2014).
No Município de Campo Grande, MS, instituiu-se o programa Manancial Vivo,
que prevê PSA realizada nas Áreas de Proteção Ambiental dos Córregos Guariroba e
Lajeado, localizados no Município de Campo Grande, MS. Este programa prevê
pagamentos aos produtores rurais que, por meio de práticas de manejos
conservacionistas e da melhoria na distribuição da cobertura de vegetação nativa na
paisagem, contribuam para o aumento da infiltração de água no solo e ao controle da
erosão, sedimentação e incremento de biodiversidade, principalmente com foco nas
ARLs e APPs (GUEDES; SEEHUSEN, 2011).
O Programa Proambiente foi criado em 2000 pela sociedade civil, na Amazônia,
e incorporado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) para contribuir com práticas
menos impactantes em sua produção, através da não-utilização de agrotóxicos e a
implantação de SAFs. Previa o desenvolvimento socioambiental da produção familiar
rural na Amazônia, com o objetivo de compatibilizar a conservação do meio ambiente
aos processos de desenvolvimento rural, com aproveitamento social e econômico da
terra, sob baixos riscos de degradação ambiental. Beneficiou agricultores com a
facilidade de crédito rural e gestão dos sistemas sustentáveis de produção, além da
assessoria técnica e extensão rural; fortaleceu organizações sociais, certificou
propriedades rurais enquadradas no programa e remunerou serviços ambientais
(OLIVEIRA; ALTAFIN, 2008).
Outra política pública de compensação financeira pela prestação de serviços
ambientais é a “Reposição florestal”, voltada para empreendimentos madeireiros. Trata-
se de um mecanismo de fomento ao reflorestamento de áreas, seja através do
cumprimento de regras de manejo florestal ou do pagamento de uma taxa de reposição,
para financiar reflorestamentos em outras áreas. Além disso, contempla a isenção fiscal
a proprietários de Áreas de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN´s),
sendo um mecanismo que isenta do pagamento do Imposto Territorial Rural (ITR)
(OLIVEIRA; ALTAFIN, 2008).
Como linha de crédito para cobrir custos de implantação e manutenção de áreas
de reflorestamentos e com sistemas agroflorestais que privilegiem espécies arbóreas
nativas, criou-se o PRONAF Florestal (MAY; TROVATTO, 2008; PAGIOLA et al.,
2013). Entretanto, Padovan e Cardoso (2013) constataram que a maioria dos
agricultores que possuem SAF nunca acessou essa linha de crédito, pois há severos
problemas na operacionalização, como por exemplo, o desinteresse das agências
bancárias e de instituições que elaboram projetos de financiamentos em divulgá-lo.
Destaca-se, também, o Fundo Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo
(FUNDÁGUA), destinado à captação e à aplicação de recursos, como um dos
instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos, para dar suporte financeiro e
auxiliar à implementação de áreas de reflorestamento, através de compensações
financeiras (FOLETO; LEITE, 2011; GUEDES; SEEHUSEN, 2011).
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) Ecológico é um
mecanismo de compensação orçamentária aos municípios que abrigam áreas protegidas
em seu território, e recebem parte dos recursos financeiros arrecadados com base em
critérios ambientais (GUEDES; SEEHUSEN, 2011; PAGIOLA et al., 2013). Sabe-se
que os montantes de recursos recebidos por centenas de municípios brasileiros
compreendem elevadas quantias de recursos financeiros, os quais poderiam ser, pelo
menos parcialmente, aplicados para apoiar agricultores em projetos de SAFs
biodiversos.
A seguir são indicadas algumas possibilidades de compensações aos agricultores
que possuem ou pretendem implantar sistemas agroflorestais biodiversos:
1) Pagamento de bolsas aos agricultores por área cultivada com SAFs biodiversos,
pautados em princípios agroecológicos;
2) Redução de Imposto Territorial Rural (ITR);
3) Redução e até isenção de Imposto sobre ICMS para produtos oriundos de SAFs
biodiversos;
4) Redução de juros em financiamentos para custeios e investimentos;
5) Desburocratização na operacionalização de linhas de crédito, como o Pronaf
Florestal e Pronaf Agroecologia e flexibilização para que contemple as
peculiaridades desses sistemas;
6) Priorização a agricultores que possuem SAFs em bases agroecológicas, para
comercialização da produção junto a programa institucionais, como o Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE), entre outros;
7) Assistência técnica qualificada, seguindo dinâmicas que contemplem as
peculiaridades desses sistemas na orientação dos agricultores; e
8) Atendimento prioritário em bancos públicos.

Conclusões
Sistemas agroflorestais biodiversos concebidos, implantados e conduzidos em
bases agroecológicas, produzem grande diversidade de serviços ambientais,
demonstrando elevada importância em processos de restauração ambiental.
Tendo em vista as multifunções desempenhadas por SAFs em bases
agroecológicas, estes podem ser recomendados para restauração de áreas degradadas,
inclusive Reservas Legais e em Áreas de Preservação Permanente, incorporando-as à
produção de alimentos e geração contínua de renda.
Há várias alternativas para compensações, por meio de pagamento de serviços
ambientais, aos agricultores que possuem sistemas agroflorestais biodiversos e prestam
serviços ambientais à sociedade. Porém, depende dos poderes públicos (federal,
estaduais e municipais) compreenderem a relevância socioambiental desses sistemas,
conceberem e implementarem programas e projetos para tal.

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SILVA, S. M.; BRITO, M.; SALOMÃO, G. B.; CARNEIRO, L. F.; PEREIRA, Z. V.;
PADOVAN, M. P. Estoque de carbono no solo em sistemas de restauração ambiental na
região Sudeste do Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil. Cadernos de Agroecologia, v.
9, n. 4, 2014. 12 p.

SOUZA, E. S. H. Estrutura de comunidade de insetos (Arthropoda, Insecta) em


sistemas de produção de hortaliças e agroflorestas no Distrito Federal. 2012a. 95 p.
Dissertação (Mestrado em Ecologia) – Universidade de Brasília, Brasília, DF.

SOUZA, H. N. Biodiversity and key ecosystem services in agroforestry coffee


systems in the brazilian atlantic rainforest biome. 2012b. 156 p. Thesis (Doctor) -
Wageningen University, Wageningen.

VIVAN, J. L. O papel dos sistemas agroflorestais para usos sustentáveis da terra e


políticas públicas relacionadas: relatório síntese e estudos de casos. Brasília, DF:
Ministério do Meio Ambiente, 2010. 120 p. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/pda/_publicacao/51_publicacao12012011111402.p
df>. Acesso em: 15 fev. 2017.

SUBSÍDIOS AO APRIMORAMENTO DE AÇÕES ESTRUTURADAS E DE


POLÍTICAS PÚBLICAS PARA APOIO A SISTEMAS AGROFLORESTAIS
BIODIVERSOS PARA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

M. P. PADOVAN1; Z. V. PEREIRA2; J. S. NASCIMENTO2; J. C., ALVES2; P. R.


AGOSTINHO2
1
Embrapa Agropecuária Oeste, Rodovia BR 163, km 253,6, Caixa Postal nº 449, CEP
79804-970, Dourados, MS, Brasil. E-mail: [email protected]; 2Universidade
Federal da Grande Dourados, Rodovia Dourados-Itahum, Km 12, Cidade Universitária,
CEP 79804-970, Dourados, MS, Brasil. Email: [email protected],
[email protected], [email protected],
[email protected].

RESUMO

Dentre as alternativas para recuperação de áreas degradadas, destacam-se os sistemas


agroflorestais biodiversos (SAFs), pois, além de produzirem grande diversidade de
serviços ambientais, possibilitam a obtenção de diversos produtos visando à
alimentação humana e comercialização, garantindo renda aos agricultores. Vários
estudos demonstram a produção de grande diversidade de serviços ambientais por esses
sistemas, aliados à viabilização de segurança alimentar e nutricional das famílias
envolvidas, bem como à geração contínua de renda. Entretanto, esses sistemas ainda são
pouco adotados, em função de diversas dificuldades enfrentadas pelos agricultores.
Nesse contexto, desenvolveu-se um estudo com o objetivo de identificar os principais
problemas enfrentados no cotidiano, as demandas mais relevantes de pesquisa e de
compartilhamento de informações, bem como de outras ações estruturadas e políticas
públicas que apoiem a adoção desses sistemas. Nesse estudo foram envolvidos 90
agricultores e 11 técnicos oriundos do Estado de Mato Grosso do Sul e regiões Oeste de
São Paulo e Noroeste do Paraná, nos anos de 2015 e 2016. Durante atividades coletivas
(dias de campo, cursos, seminários, visitas técnicas e feiras) esses atores foram
abordados aleatoriamente e convidados para participarem da pesquisa. As informações
foram obtidas por meio de entrevistas baseadas em um roteiro semiestruturado,
composto por questões abertas e fechadas. Constatou-se grande quantidade de
dificuldades enfrentadas pelos agricultores, destacando-se: a existência de poucos canais
de comercialização para produtos diversificados, falta de orientação qualificada e em
quantidade suficiente, baixo nível de organização dos agricultores, falta de capacitação
para trabalhar com SAFs e baixa consciência dos consumidores quanto aos produtos
orgânicos. Por meio das demandas apresentadas, evidenciou-se a necessidade de
ampliação de ações estruturadas de instituições de pesquisa, extensão rural, ensino e de
crédito para responder às principais demandas identificadas, além do aprimoramento e
criação de políticas públicas que deem suporte para a ampla adoção desses sistemas.

Palavras Chave: área de reserva legal, área de preservação permanente, passivos


ambientais, SAFs, serviços ambientais

Introdução
Um dos principais desafios para mitigar os efeitos da degradação tem sido a
restauração não só da estrutura, mas também do funcionamento de sistemas degradados.
Porém, esse processo só será viabilizado se os agricultores puderem agregar benefícios
econômicos e sociais aos ganhos ecológicos (ALTIERI; NICHOLLS, 2011).
Nesse contexto, a adoção de sistemas agroflorestais biodiversos (SAFs) pode ser
uma opção viável aos agricultores, destacando-se como importante aliada à melhoria da
sua qualidade de vida, em função da produção de alimentos diversificados, madeira,
produtos medicinais, entre outros, aliados ao bem-estar e saúde pública proporcionados
pela sombra, melhoria da umidade do ar e temperatura atmosférica, além da proteção
dos solos e dos mananciais de água, bem como benefícios sociais (ABDO; VALERI;
MARTINS, 2008; PADOVAN; CARDOSO, 2013).
Em um estudo realizado em São Paulo, Froufe e Seoane (2011) constataram que
o SAF biodiverso e multiextratificado possui diversidade de espécies vegetais
semelhante à capoeira em regeneração e também identificaram o ressurgimento de
diversas espécies nativas regenerando naturalmente, mostrando o potencial desses
sistemas para recuperação de áreas degradadas. Arato, Martins e Ferrari (2003), ao
avaliarem a produção de serapilheira em um sistema agroflorestal implantado para
recuperação de área degradada em Viçosa-MG, encontraram valores semelhantes aos
encontrados em florestas estacionais semideciduais da região Sudeste do Brasil,
indicando que o sistema vem se comportando como uma floresta nativa em termos de
dinâmica da serapilheira.
A eficiente ciclagem de nutrientes pelas espécies vegetais que compõem os
SAFs promove expressiva melhoria na fertilidade do solo. Num estudo envolvendo
SAFs de diferentes idades no nordeste brasileiro, Iwata et al. (2012) constataram
aumento dos teores de nutrientes e do pH do solo, além de redução dos teores de Al³+ e
H+, resultando em melhoria da qualidade química do solo.
Outro aspecto importante na composição de SAFs biodiversos refere-se à
utilização de espécies arbóreas leguminosas, visando à fixação biológica de nitrogênio e
disponibilização desse nutriente ao sistema solo. Estudos desenvolvidos por Resende et
al. (2013) evidenciam o grande potencial desse grupo de arbóreas em aportar
expressivas quantidades de N ao sistema a cada ano, o que é fundamental para a
autossuficiência desse nutriente nesses agroecossistemas.
Quanto ao sequestro de carbono pela biomassa vegetal, Brancher (2010)
constatou produtividade primária líquida de 2,54 a 16,27 t C ha-1 ano-1 em SAFs de 9 e
14 anos na Amazônia, destacando-se os SAFs mais jovens com melhor performance no
sequestro de carbono.
Os SAFs podem exercer importante papel no microclima. Em estudos
conduzidos em Minas Gerais, envolvendo sistemas de cultivo de cafeeiro a pleno sol
(SPS) e em SAFs, Carvalho (2011) e Souza (2012) verificaram que o SAF atenuou a
temperatura do solo em relação a SPS. O SAF reduziu a amplitude de variação da
temperatura média do ar em relação ao SPS e atenuou as temperaturas máximas,
apresentando potencial para mitigar localmente os efeitos do aquecimento global.
Em SAFs, o equilíbrio biológico também é favorecido em função da diversidade
de espécies vegetais que formam a base da biodiversidade. Em um estudo conduzido no
Distrito Federal, Souza (2012) identificou maior riqueza e diversidade de inimigos
naturais em sistemas agroflorestais, em relação a sistemas compostos por diferentes
espécies de hortaliças. O autor constatou que SAFs mais antigos e com menor manejo
demonstraram ser mais eficientes para conservar comunidades diversificadas e menos
sujeitas a variações bruscas na abundância e na composição relativa de indivíduos,
favorecendo o equilíbrio ecológico. Heid et al. (2012), num estudo desenvolvido em
Neossolo Quartzarênico, em Mato Grosso do Sul, identificaram maior diversidade da
mesofauna em dois SAFs de cinco anos, em relação a sistemas com pastagem e culturas
de ciclo anual, sob manejo orgânico.
A fauna silvestre também é atraída por SAFs biodiversos, em função da
disponibilidade de alimentos e abrigos. Tito, Nunes e Vivan (2011) constataram
expressiva presença da fauna silvestre em sistemas agroflorestais, acompanhados
durante dez anos, em Mato Grosso, promovendo importante conexão com fragmentos
de vegetação nativa.
Atributos físicos e químicos do solo são favorecidos pelos SAFs biodiversos.
Freitas et al. (2012) constataram num estudo realizado em Tocantins, que o SAF (21
anos de implantação) propiciou mudanças na qualidade do solo, tais como: menores
valores de resistência à penetração e densidade do solo, bem como maiores teores de
matéria orgânica e umidade mais constante do solo, comparando-se com área de
pastagem (mesma idade do SAF) e área de lavoura, desmatada há dois anos. Marques et
al. (2012), em estudo realizado na Amazônia Central, identificaram a capacidade de
SAFs em recuperar e ou disponibilizar C na solução do solo, sendo uma boa forma de
utilização do solo recomendada para manter o C no ambiente terrestre. Num estudo
desenvolvido no Sul de Minas Gerais, envolvendo cafeeiro em SAFs e um sistema de
cultivo convencional de café, Carmo et al. (2012) verificaram eficiente ciclagem de
micronutrientes (Fe, Mn, Cu e B) no SAF. Constatou-se teores adequados desses
nutrientes nas folhas do cafeeiro, podendo ser justificado pelo aporte contínuo de
material vegetal ao solo que, após a decomposição, libera os micronutrientes para o solo
e, posteriormente, para absorção pelas plantas.
Padovan e Cardoso (2013), em um estudo realizado nas cinco regiões do Brasil,
constataram grande quantidade de serviços ambientais produzidos por sistemas
agroflorestais biodiversos implantados por agricultores, destacando-se: aumento
expressivo da diversidade vegetal, de inimigos naturais, da biota do solo e de
polinizadores; eficiente processo de ciclagem de nutrientes; grande sequestro de
carbono na biomassa vegetal; microclima estável nos agroecossistemas; produção local
de grande quantidade de materiais orgânicos para o solo; expressivo melhoramento na
infiltração de água no solo; manutenção da umidade do solo por maior tempo; e
supressão da erosão do solo, entre outros. Esses resultados indicam o grande potencial
desses agroecossistemas para processos de adequação ambiental de propriedades rurais,
quanto à recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de Áreas de
Reserva Legal (ARLs).
A partir desses referenciais relatados, fica evidente a importância desses
agroecossistemas para processos de recuperação de áreas degradadas, mantendo-as
produtivas e gerando renda continuamente. Entretanto, produtores que possuem esses
sistemas e técnicos da assistência técnica veem dificuldades que afetam a sua ampla
adoção.
Nesse contexto, desenvolveu-se um estudo com o objetivo de identificar os
principais problemas enfrentados no cotidiano, as demandas mais relevantes de pesquisa
e de compartilhamento de informações, bem como outras ações estruturadas e/ou
políticas públicas que apoiem a adoção desses sistemas.

Material e Métodos
A pesquisa foi realizada nos anos de 2015 e 2016, envolvendo 90 agricultores e
11 técnicos oriundos do Estado de Mato Grosso do Sul e regiões Oeste de São Paulo e
Noroeste do Paraná.
Durante atividades coletivas envolvendo o tema (dias de campo, cursos,
seminários, visitas técnicas e feiras), esses atores foram abordados aleatoriamente e
convidados para participarem da pesquisa. Explicou-se a cada um os objetivos da
pesquisa, bem como a sistemática que seria adotada.
As informações foram obtidas por meio de entrevistas baseando-se em um
roteiro semiestruturado composto por questões abertas e fechadas, possibilitando que
questões que não estavam previstas, mas que seriam úteis durante a pesquisa, pudessem
ser acrescentadas (RICHARDSON, 2012).
Na etapa seguinte, as informações foram tabuladas e processadas
eletronicamente utilizando-se a Planilha Eletrônica BrOffice Calc 2.2 e o Software
Statistical Package for the Social Sciences – SPSS (MARTINEZ; FERREIRA, 2007).

Resultados e discussão
Os sistemas agroflorestais biodiversos são complexos. Assim, compreendem
arranjos e processos que geram dúvidas de como concebê-los e manejá-los, por
exemplo. Também tendem a gerar produção diversificada que, por um lado, é algo
louvável, mas por outro geram novos desafios aos agricultores. Ou seja, há várias
dificuldades para se trabalhar com esses sistemas, as quais são apresentadas na Figura 1,
segundo a percepção de agricultores e técnicos.

90 82 82
80 71 71
68
70 61 61
Porcentagem

57
60 50
46
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Figura 1. Principais dificuldades elencadas por produtores e técnicos para se trabalhar


com sistemas agroflorestais biodiversos.
1. Poucos canais de comercialização; 2. Carência de agroindústria cooperativa; 3. Baixo
nível de organização dos agricultores; 4. Falta de orientação qualificada e em
quantidade suficiente; 5. Falta de acesso a crédito especial; 6. Mão-de-obra insuficiente;
7. Falta de capacitação para trabalhar com SAFs; 8. Falta de reconhecimento
governamental da importância dos SAFs; 9. Falta de credibilidade em SAFs
biodiversos; 10. Baixa consciência dos consumidores quanto aos produtos orgânicos.

Uma das dificuldades mais citadas pelos agricultores e técnicos (82%) refere-se
à existência de poucos canais de comercialização, uma vez que os SAFs tendem a
produzir boa diversidade de produtos durante todo o ano e os canais mais estruturados
de comercialização são especializados em um único produto, como: laranja, soja, milho,
cacau, entre outros, dependendo da região.
Nesse sentido, a organização dos agricultores pode minimizar muito esse
problema, pois, ao juntar a produção, viabiliza-se maior escala de oferta de cada
produto, possibilitando a ampliação de canais de comercialização (NASCIMENTO et
al., 2016).
Outra dificuldade relatada por 82% dos participantes da pesquisa, envolve a falta
de orientação qualificada e em quantidade suficiente, o que desencadeia outras
dificuldades, como: falta de capacitação para trabalhar com SAFs, falta de acesso a
crédito especial, falta de credibilidade em SAFs biodiversos, baixa consciência dos
consumidores quanto aos produtos orgânicos, as quais foram elencadas por 68, 50, 46 e
71%, respectivamente.
Essas dificuldades também foram constatadas por Padovan e Cardoso (2013) e
Nascimento et al. (2016), como entraves para a ampla adoção de sistemas agroflorestais
biodiversos. Conforme relatado por 61% dos agricultores e técnicos participantes da
pesquisa, falta reconhecimento governamental da importância dos SAFs e das
peculiaridades e necessidades inerentes a esses sistemas (Figura 1). Porém, há
necessidade de posturas proativas dos governos (federal, estaduais e municipais)
concernentes à extensão rural, pois os agricultores necessitam continuamente de
acompanhamento técnico, especialmente, quando envolvem arranjos complexos de
espécies vegetais herbáceas, arbustivas e arbóreas, como ocorrem nos SAFs. Esses
agricultores carecem de profissionais para auxiliá-los na elevação da autoestima, para
que acreditem mais em suas capacidades de enfrentarem novos desafios e superá-los;
dependem da elaboração de bons projetos, que representem suas demandas e
contemplem suas especificidades, e que esses profissionais sejam interlocutores junto às
agências bancárias de crédito. Além disso, os profissionais da extensão rural podem
articular junto a diferentes setores da sociedade para, juntos, implementarem amplos
processos de conscientização sobre a qualidade da produção obtida em SAFs, em
função das técnicas, práticas e processos utilizados nesses sistemas.
Dentre os agricultores e técnicos que participaram da pesquisa, 57%
expressaram que a carência de agroindústrias cooperativas é um gargalo (Figura 1), pois
eles têm consciência da importância da agregação de valor, mas a maioria das famílias
que possuem SAFs não tem estrutura para agroindustrializar os produtos desses
sistemas, tendo que vendê-los in natura.
Ressalta-se que o processo de agregação de valor à produção é estratégico e,
dentre as alternativas para tal, a agroindustrialização destaca-se, pois possibilita a
inclusão social no meio rural e aumenta as possibilidades de obtenção de renda pelas
famílias agricultoras. Gazolla, Niederle e Waquill (2012) ressaltam que, em geral, as
agroindústrias cooperativas processadoras de alimentos possuem características que as
diferenciam das demais, pois agregam valores sociais, culturais e ecológicos. Os autores
complementam que predominam iniciativas, as quais operacionalizam em pequena e
média escalas, quando ligadas à agricultura familiar, e visam acessar mercados locais e
regionais, ou seja, privilegiando os canais curtos de comercialização.
A mão-de-obra insuficiente para trabalhar com SAFs representa importante
dificuldade, conforme relatado por 61% dos participantes da pesquisa (Figura 1). Esses
sistemas biodiversos requerem mais mão-de-obra dos que em sistemas monoculturais,
pois algumas atividades não são mecanizáveis. Em diversas situações, essa carência
impossibilita a expansão desses sistemas, mesmo quando os agricultores entendem que
são estratégicos para a segurança alimentar e obtenção de renda contínua (PADOVAN;
CARDOSO, 2013).
Nesse estudo, a constatação de baixo nível de organização dos agricultores,
expressado por 71% dos participantes da pesquisa (Figura 1), não representa uma
peculiaridade daqueles envolvidos com esses sistemas. Nesse contexto, Ferrari (2011) e
Nascimento et al. (2016) ressaltam que cooperação entre pessoas de interesses comuns
minimizaria grande parte das dificuldades enfrentadas no cotidiano, inerentes à
atividade, além de se fortalecerem, formando uma rede de diferentes atores que
investem na construção de relações harmônicas para o bem da coletividade.
A Figura 2 mostra as demandas de pesquisas e compartilhamento de
informações envolvendo sistemas agroflorestais biodiversos, as quais foram
apresentadas por agricultores e técnicos.
79 80
80 73 75 74
71
70 64 64 64

60
48
50
Porcentagem

40

30

20

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Figura 2. Demandas de pesquisas e compartilhamento de informações inerentes a


sistemas agroflorestais biodiversos.
1. Viabilidade econômica de SAFs; 2. Custos de implantação e manutenção de SAFs; 3.
Formas de agregação de valor à produção; 4. Arranjos de SAFs mais adequados para
cada microrregião; 5. Melhoria da divulgação das informações geradas pela pesquisa; 6.
Acompanhamento de agricultores que trabalham com SAFs, como objeto de pesquisa;
7. Identificação e divulgação dos benefícios socioeconômicos e ambientais dos SAFs; 8.
Identificação e divulgação da qualidade dos produtos gerados; 9. Recuperação de áreas
degradadas com SAFs; 10. Logística de comercialização de produtos diversificados.
Informações de pesquisa inerentes aos custos de implantação e manutenção,
aliados à viabilidade econômica de SAFs, são demandados por 64 e 73% dos
participantes da pesquisa, respectivamente (Figura 2). Isso evidencia a grande
preocupação com o aspecto financeiro, pois, se o agricultor não vislumbrar perspectivas
minimamente seguras de remuneração dos seus serviços e retornos dos seus
investimentos, ele não vai aderir a determinada atividade produtiva (PAULUS, 2016).
O acompanhamento de agricultores que trabalham com SAFs, utilizando seus
sistemas para o desenvolvimento de pesquisas, foi indicado por 80% dos respondentes
(Figura 2). Esse aspecto é muito importante, pois otimizam-se recursos financeiros,
humanos e materiais, uma vez que envolvem experiências em meio real e seus
responsáveis.
Esses diferentes atores (agricultores e técnicos), envolvidos com esses sistemas,
possuem características peculiares, representadas por suas vivências, conhecimentos e
concepções diferenciadas. Portanto, é estratégico reconhecer esses sujeitos que têm
diferentes visões e expectativas e podem proporcionar grandes contribuições nos
processos de pesquisa. Segundo Rocha e Padilha (2004), as interações com esses
diferentes atores, por meio de metodologias participativas, valorizam o protagonismo e
aumentam as contribuições para a busca das melhores soluções tecnológicas com intuito
de superar os principais desafios. Hanashiro et al. (2011) ressaltam a importância da
participação ativa dos diferentes atores em todas as etapas, desde o planejamento, no
desenvolvimento conjunto das atividades e nas avaliações de impactos. Ou seja, quando
tais agentes deixam de ser meros expectadores na comunidade para serem protagonistas
locais, aumenta a probabilidade de êxito.
Quanto aos arranjos de SAFs mais adequados para cada microrregião e
recuperação de áreas degradadas, demandados por 71 e 74%, respectivamente, pelos
participantes da pesquisa (Figura 2), esses estão entre os maiores desafios, face à
enorme quantidade de peculiaridades que caracterizam cada microrregião,
principalmente relacionadas a solo, clima e aspectos vegetacionais. Porém, Padovan et
al. (2011) e Padovan, Pezarico e Otsubo (2014) ressaltam que pesquisas visando
desenvolver arranjos de produção que sejam economicamente viáveis, socialmente
justos e mais harmônicos com o meio ambiente, estão sendo implementadas nas
diversas regiões do país. Os autores enfatizam que expressivos avanços na geração de
conhecimentos, tecnologias e processos foram viabilizados pela pesquisa, os quais têm
potencial para contribuir na promoção de profundas transformações no setor
agropecuário, com responsabilidade ambiental e, consequentemente, melhorar a
qualidade de vida dos agricultores e contribuir na recuperação de áreas degradadas.
A melhoria da divulgação das informações geradas pela pesquisa, formas de
agregação de valor à produção, logísticas de comercialização de produtos
diversificados, identificação e divulgação dos benefícios socioeconômicos e ambientais
dos SAFs, e identificação e divulgação da qualidade dos produtos gerados, foram
demandados por 79%, 48%, 64%, 75% e 64%, respectivamente (Figura 2).
Essas demandas representam grande desafio para as entidades que atuam junto
aos agricultores, especialmente aquelas envolvidas em extensão rural. Porém, as
instituições que geram as tecnologias também possuem responsabilidades nesse
processo.
As unidades de produção que possuem agroecossistemas biodiversos necessitam
de informações e tecnologias que contribuam para aumentar a escala de produção, bem
como a qualidade dos produtos gerados. Há demandas de técnicas e processos que
otimizem os arranjos de produção, processos de agroindustrialização, divulgação de
aspectos relacionados à qualidade da produção, entre outras (DERETI, 2007).
Entretanto, Padovan et al. (2011) chamam a atenção sobre a disponibilidade de
uma grande quantidade de informações geradas pela pesquisa e de experiências
desenvolvidas por agricultores, as quais servem de referência para serem reproduzidas
por outras comunidades, em diferentes elos das cadeias produtivas, adaptando-as às
peculiaridades locais.
No entanto, muitos desses resultados de pesquisa e as experiências vividas não
são devidamente compartilhados com os produtores rurais, ou pelo menos parte dos
processos utilizados podem não ser os mais apropriados. De acordo com Andrade
(2010) e Fonseca Júnior (2008), a estrutura e as metodologias de comunicação e
transferência de tecnologias predominantemente empregadas pelas instituições de P&D,
de extensão rural, entre outras, estão em evolução, mas ainda há muito a inovar, tendo
em vista que a sociedade encontra-se em constante transformação.
Nesse sentido, é importante lembrar que, segundo Dereti (2007), as ações de
compartilhamento de tecnologias e de boas experiências protagonizadas pelos
agricultores constituem-se em ferramenta estratégica para viabilização de soluções e
para o desenvolvimento sustentável no espaço rural.
Quanto às políticas públicas demandadas, destacam-se a assistência técnica
qualificada, crédito especial desburocratizado e flexível, política de pagamentos
especiais por serviços ambientais e processos de formação contínua em SAFs. No
entanto, o aprimoramento das leis para a recuperação de APPs e ARLs com SAFs, e o
aprimoramento da lei para a colheita de árvores plantadas em SAFs foram demandados
por mais da metade dos entrevistados, ou seja, de 57% a 61% (Figura 3).
Neste estudo, a demanda referente à assistência técnica foi expressada por 82%
dos participantes da pesquisa, ou seja, foi a maior demanda dentre as políticas públicas
(Figura 3). A assistência técnica qualificada e contínua é crucial para que os agricultores
possam desenvolver suas atividades nos SAFs com o mínimo de segurança, uma vez
que se tratam de sistemas complexos, que envolvem muitos fatores. Nascimento et al.
(2016) obtiveram resultado semelhante em uma pesquisa realizada na região Sul de
Mato Grosso do Sul e Padovan e Cardoso (2013) também observaram resultados afins,
em um estudo realizado envolvendo agricultores que trabalham com SAFs biodiversos
oriundos das regiões Norte, Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Outra demanda apresentada, que tem relação direta com a assistência técnica,
refere-se à necessidade de processos de formação contínua em SAFs diversificados,
expressada por 71% dos respondentes (Figura 3). Esse tipo de demanda é facilmente
compreensível, pois, em geral, os agricultores e técnicos estão mais habituados a
lidarem com sistemas monoculturais ou monoatividades, que são sistemas muito mais
simplificados que SAFs biodiversos. Padovan et al. (2016) ressaltam que, por meio das
diferentes formas e metodologias de capacitação realizadas continuamente,
instrumentalizam-se os capacitandos com informações básicas, mas também agregam-se
as abordagens sobre as novas tecnologias, práticas e processos inovadores, que possuem
grande potencial para alavancar a atividade.

90 82
79
80
75
71
70 61 61
Porcentagem

57
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7

Figura 3. Demandas de políticas públicas que apoiem a implementação de sistemas


agroflorestais biodiversos.
1. Assistência técnica qualificada e em quantidade adequada às necessidades; 2. Crédito
especial desburocratizado e flexível; 3. Aprimoramento da lei para a colheita de árvores
plantadas em SAFs; 4. Pagamentos especiais por serviços ambientais; 5.
Aprimoramento da lei para a recuperação de ARLs com SAFs de espécies nativas e
exóticas (frutíferas); 6. Processos de formação contínua em SAFs diversificados; 7.
Aprimoramento da lei para a recuperação de APPs com SAFs de espécies nativas e
exóticas (frutíferas).

A operacionalização de crédito especial desburocratizado e flexível foi


demandado por 79% dos participantes da pesquisa (Figura 3). Segundo o Banco Central
do Brasil - Bacen (2015), há linhas de crédito no Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (Pronaf), que contemplam esses sistemas. No entanto, no
cotidiano, constata-se que os agentes de crédito raramente operacionalizam
financiamentos para esses sistemas. Na realidade, não há necessidade de criar algo
novo, mas sim aprimorar a dinâmica de operacionalização do que já existe, cobrando
das agências bancárias, para que essas linhas de crédito cumpram a função para as quais
foram criadas.
Pagamentos especiais por serviços ambientais, conforme apresentado na Figura
3, foram demandados por 75% dos agricultores e técnicos consultados. Os sistemas
agroflorestais biodiversos produzem grande diversidade de serviços ambientais. No
entanto, as poucas ações de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSAs) existentes no
Brasil focam no sequestro de carbono pela biomassa da parte aérea de espécies arbóreas
(PADOVAN; CARDOSO, 2013).
Ressalta-se que, agindo dessa maneira, operacionaliza-se de forma reducionista,
um processo que envolve grande diversidade de serviços ambientais, em que os
produtores que possuem SAFs biodiversos produzem e disponibilizam esses serviços
para toda a sociedade, mas não recebem nenhuma remuneração por isso.
Assim, entende-se que cabe aos governos apoiarem esses produtores, por meio
de diferentes “benefícios”, mesmo que não sejam sob formas de remuneração
financeira. Eles necessitam de estímulo para continuarem investindo nesses sistemas,
ampliando-os. Nos depoimentos, esses produtores expressam grande insatisfação por
estarem prestando grandes serviços para a sociedade e não têm reconhecimento por isso,
uma vez que são remunerados apenas pelos produtos comercializados. Muitas vezes,
constata-se, também, total falta de consciência dos consumidores em relação à
qualidade desses produtos, pois são, em sua maioria, produzidos seguindo preceitos
agroecológicos.
Neste estudo, conforme apresentado na Figura 3, os agricultores e técnicos
expressaram que há necessidade urgente de aprimorar a lei para a colheita de árvores
plantadas em SAFs (61%), bem como para a recuperação de ARLs com SAFs (61%) e
de APPs (57%). Os agricultores têm dúvidas se poderão utilizar a madeira das árvores
implantadas nos SAFs, pois as leis atuais dão margem a interpretações diferentes.
Outro aspecto relevante expresso nas demandas refere-se à utilização de SAFs
para recuperação de ARLs e de APPs. Miccolis et al. (2016), Nascimento et al. (2016),
Padovan e Pereira (2012) e Padovan e Cardoso (2013) enfatizam o grande potencial de
sistemas agroflorestais biodiversos na recuperação dessas áreas. No entanto, o próprio
Código Florestal Brasileiro (BRASIL, 2012) não explicita, por exemplo, que tipo de
SAF pode ser utilizado, que características esses SAFs devem ter, que manejos podem
ser feitos nesses sistemas. Essas incertezas fazem com que os produtores não adotem
esses sistemas, pois têm a percepção que podem ser penalizados.

Conclusões
Os agricultores e técnicos veem diversas dificuldades para trabalhar com
sistemas agroflorestais biodiversos. A organização dos agricultores é uma importante
estratégia para ajudar a superá-las. Porém, há indicativos importantes às instituições de
assistência técnica e extensão rural, de pesquisa, de ensino e de crédito rural, para
incorporarem ações estruturadas em seus planos de trabalho, as quais deem respostas
concretas a essa realidade constatada, bem como às demandas identificadas.

Também identificou-se a necessidade de aprimoramento e até criação de novas


leis e de políticas públicas que apoiem a ampla adoção de sistemas agroflorestais
biodiversos, cabendo aos governos federal, estaduais e municipais, atuarem nas suas
esferas, porém de forma articulada, e que sejam complementares.

Referências bibliográficas
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VARIAÇÃO DA RETENÇÃO HÍDRICA DA SERRAPILHEIRA NA


RESTAURAÇÃO FLORESTAL ESPONTÂNEA , MATA ATLÂNTICA

M.G. Tirelli; C. Roppa; K.D.R.Mota; R.Valcarcel;

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Florestas, Departamento de


Ciências Ambientais, Laboratório de Manejo de Bacias Hidrográficas, Km 7, BR 465,
Cx. P. 74529, 23890-000, Seropédica-RJ, [email protected].

RESUMO
A retenção hídrica é um condicionante fundamental para o desenvolvimento dos
processos de restauração. Este estudo avaliou a capacidade de retenção hídrica da
serrapilheira acumulada e suas implicações em ambientes com níveis de restauração
florestal espontânea distintos em sítios florestais em estágio de sucessão secundário, da
Mata Atlântica. As amostras (0,25cm x 0,25cm) foram coletadas no Parque Natural
Municipal do Curió, Paracambi-RJ, em fevereiro (mais chuvoso) e agosto (menos
chuvosos), em dois sítios florestais. A retenção hídrica foi avaliada segundo o método
descrito por Blow (1955), que utiliza os níveis máximos de saturação e esgotamento de
umidade em estufa, até atingir peso constante. A média total da capacidade de retenção
hídrica da serrapilheira foi de 227,08%, não foi encontrada diferença estatística entre os
sítios. Em relação às estações do ano, houve diferença entre os 236% para estação seca
(inverno) e 219 % para estação chuvosa (verão), evidenciando que a serrapilheira
apresenta capacidade de retenção hídrica distinta provocada pelos efeitos de
caducifoliedade das espécies do fragmento, podendo sugerir que os ambientes oferecem
condicionantes ambientais distintos, e que isto pode afetar os processos de sucessão,
principalmente em relação a germinação de sementes trazidas pelas fontes de
propágulos, importante fator de desenvolvimento da restauração passiva.

Palavras-chave: Serrapilheira, Retenção hídrica, Restauração ecológica.

Introdução

A Mata Atlântica sofreu redução da cobertura florestal, perda de diversidade e


de serviços ambientais devido à grande exploração ocorrida a partir da colonização,
interferindo na qualidade de vida da sociedade contemporânea. A redução de pressão
antrópica ocorrida após o êxodo rural e o abandono de algumas áreas permitiu a
aquisição de resiliência e a retomada dos processos de restauração espontânea.
A restauração ecológica busca promover o retorno de uma área perturbada ou
degradada à condição mais próxima possível da original, de forma que o aspecto
estrutural e funcional do ecossistema seja semelhante ao da floresta original, criando
condições para o aparecimento das características biológicas e físicas de estágios
sucessionais mais avançados (CAIRNS JÚNIOR e HECKMAN, 1996; KAGEYAMA e
GANDARA, 2005; ENGEL e PARROTTA, 2008). As técnicas de restauração
ecológica envolvem diferentes estratégias, passando por reflorestamentos,
enriquecimento e indução de ofertas de propriedades emergentes aos ecossistemas, para
que eles adquiram resiliência e resistam aos processos exógenos, podendo ser ativas ou
passivas.
Para avaliar a demanda de ações complementares para a restauração de um
ecossistema, se faz necessário à utilização de indicadores biológicos que possam
evidenciar a saúde ambiental dos ecossistemas. Os bioindicadores mais estudados
envolvem a chuva de sementes, o banco de sementes do solo, a regeneração natural, a
fauna edáfica, formigas e a serrapilheira (MACHADO et al., 2008).
A serrapilheira acumulada é parte do ecossistema formada a partir de material
vegetal depositado na superfície do solo, como folhas, galhos, cascas, flores,
inflorescências, frutos, sementes e fragmentos vegetais não identificáveis
(CIANCIARUSO et al., 2006). Juntamente com as raízes e parte aérea das plantas, a
serrapilheira protege o solo dos agentes erosivos e o processo de decomposição do
material orgânico alimenta a mesofauna e os microrganismos do solo, liberando
nutrientes para a manutenção do crescimento das plantas (ANDRADE, 1997; SOUZA e
DAVIDE, 2001). A deposição de serrapilheira é considerada como a mais importante
via de transferência de matéria orgânica e dos nutrientes da vegetação para o solo
(MOCHIIUTTI et al., 2006), contribuindo para melhorar as suas características.
A serrapilheira melhora as condições de superfície (MITCHEL e TELL, 1977),
permitindo o estabelecimento de espécies arbóreas de estágios sucessionais mais
avançados, contribuindo assim, para o avanço da sucessão florestal. O reabastecimento
do lençol freático tem contribuição da serrapilheira através da diminuição de perdas de
água, além de atenuar o processo erosivo (GONÇALVES et al., 2003) que é promovido
pelo impacto direto das gotas de chuva (FACELLI e PICKETT, 1991; ANDRADE e
FARIA, 1997). Através desse processo, ocorre a diminuição do escoamento superficial
(WILDNER et al., 1985; CASSOL et al., 2004), mantendo o solo úmido e com isso,
favorecendo o crescimento das plantas
A manutenção da umidade no solo tem relação direta com a serrapilheira, pois
esta ao reter a água da chuva, libera gradativamente para o solo (MIRANDA, 1992). A
retenção da umidade pela serrapilheira favorece o desenvolvimento da fauna do solo, a
qual desempenha um papel fundamental na abertura de bioporos nos primeiros
centímetros do solo, contribuindo para a infiltração da água (CASTRO JUNIOR, 1991).
A atuação da serrapilheira também esta ligada no sistema solo-água-planta, pois
interfere nos fatores físicos do solo e consequentemente na administração da infiltração
e umidade, que são agentes que facilitam a restauração florestal espontânea.
Este estudo objetivou avaliar a capacidade de retenção hídrica da serrapilheira
acumulada ex-situ e suas implicações em ambientes com níveis de restauração florestal
espontânea distintos, em sítios florestais em estágio de sucessão secundário, da Mata
Atlântica.

Material e Métodos

Caracterização da área

Este trabalho foi realizado no município de Paracambi, região metropolitana do


Rio de Janeiro, no Parque Natural Municipal do Curió de Paracambi (PNMCP). Esse
município está localizado nas coordenadas geográficas 22°36’39’’S de latitude e
43°42’33’’O de longitude, abrangendo uma área de 186,8 Km2, correspondendo a 4,0%
da área da Região Metropolitana e faz limite com os municípios de Piraí, Mendes,
Engenheiro Paulo de Frontin, Miguel Pereira, Japeri, Seropédica e Itaguaí (TCR, 2009).
Pertence à região turística Vale do Ciclo do Café (TCR, 2008).
Inserida na subunidade Escarpas das Serras das Araras, esta região apresenta
relevo bastante heterogêneo, predominando as escarpas, morrotes e morros baixos,
colinas isoladas e em menor proporção aparecem áreas de baixadas próximo aos rios e
serras alinhadas (DANTAS, 2001).
O clima predominante da região de estudo é caracterizado como Aw, de acordo
com a classificação climática de Köppen-Geiger (PEEL et al., 2007). A temperatura
média anual atinge 21,7°C, enquanto a média no verão fica em torno de 23° - 24° C e no
inverno de 18° - 19° C, variando a média da máxima de 30° - 33° C, no verão e a média
da mínima de 12° - 13° C, no inverno (BARBIÉRE e KRONEMBERGER, 1994). A
precipitação média anual oscila entorno de 1400 mm, sendo os meses de junho, julho e
agosto os mais secos (BARBIÉRE e KRONEMBERGER, 1994; DANTAS, 2001b).
Os solos são em geral pouco espessos (Cambissolos), encontram-se também
Latossolos e Argissolos, o qual é tido como menos lixiviado em relação a outros tipos
de solos (DANTAS, 2001; BRASIL, 1983).
O PNMCP foi criado através do Decreto Municipal nº 1001, de 29 de janeiro de
2002 e alterado pela Lei Municipal nº 921, de 30 de abril de 2009, tendo como objetivo
proteger uma área de floresta em bom estado de conservação, que entre outras funções
ambientais, é utilizada como proteção e manutenção de mananciais de águas
(SEMADES e ITPA, 2010). Ele está situada junto a divisa com os municípios de
Engenheiro Paulo de Frontin e Mendes, possui 913,96 hectares, abrangendo áreas
montanhosas e nascentes importantes para o abastecimento da cidade, além de
remanescentes florestais e áreas de regeneração em bom estado de conservação
(SEMADES e ITPA, 2010).

Unidades Amostrais

O trabalho foi desenvolvido no terço inferior de uma microbacia hidrográfica,


que possui área de 126 hectares e está localizada na parte central do PNMCP.
As amostras foram coletadas em dois sítios amostrais que se encontram em
diferentes estágios de sucessão. Segundo ROPPA (2014) o sítio “A” encontra-se em
estágio de sucessão secundária média/avançada, tendo as seguintes famílias com maior
riqueza: Rubiaceae, Myrtaceae, Lauraceae, Moraceae, Fabaceae e Piperaceae. O sítio
“B” encontra-se em estágio de sucessão secundária inicial, tendo as seguintes famílias
com maior riqueza: Rubiaceae, Myrtaceae, Piperaceae Sapindaceae, Fabaceae,
Meliaceae e Moraceae A presença das famílias Myrtaceae e Lauraceae entre as que
apresentaram maior riqueza de espécies indica a boa qualidade da regeneração natural
dos sítios florestais, destacando o sítio “A” com estágio mais avançado.

Metodologia

As coletas de serrapilheira foram realizadas em dois períodos no ano (fevereiro e


agosto de 2013), que correspondem aos períodos de maior e menor precipitação (verão e
inverno). Foram demarcadas 12 parcelas para o sítio A e 10 parcelas o sítio B. Dentro
dessas parcelas foram coletadas 5 amostras de forma aleatória, totalizando 60 para o
sítio A e 50 para o sítio B. As amostras foram obtidas com auxílio de um gabarito de 25
x 25 cm, posicionado sobre a superfície do solo, coletando todo o material
correspondente a sua área.
O material foi analisado segundo o método de Blow (1955), que consiste na
submersão da amostra em água durante 90 minutos, depois retirado, drenado
naturalmente por 30 minutos em bandejas com 30% de declividade. Posteriormente as
amostras foram pesadas em balança e levadas à estufa à 70°C, até que atingissem peso
constante com determinação da massa seca. Para determinar o valor da capacidade de
retenção hídrica (CRH) foi utilizada a fórmula abaixo (Equação 1):
(01)

Onde:
CRH - capacidade de retenção hídrica (%);
MU - massa úmida (g);
MS - massa seca(g).
Para avaliar as possíveis diferenças em relação aos ambientes e, também, entre
as estações, os dados foram analisados através de ANOVA pareada de dois fatores
(períodos - verão e inverno) processados no programa SPSS 15, obtendo as médias e os
coeficientes de correlação entre os tratamentos.

Resultados e Discussão

A média total da capacidade de retenção hídrica da serrapilheira foi de 227,08%.


para a qual não foi encontrada diferença estatística entre os sítios (A e B). Em relação às
estações o valor médio maior foi de aproximadamente 236% para estação seca e para
estação chuvosa aproximadamente 219 % (tabela 1), apresentando, diferenças
estatísticas que evidenciam os efeitos de sazonalidade. Os valores indicam que o
material tem uma boa capacidade para reter umidade.
Blow (1955) obteve valores que variavam de 200% a 250%, em florestas de
carvalho. Vallejo (1982) encontrou valores que chegaram até 335%, em floresta
ombrófila densa, variando de acordo com a composição da serrapilheira. Mateus et al.
(2013) obtiveram valores de 275% para um fragmento de floresta estacional
semidecidual, com aproximadamente 30 anos.

Tabela 1: Capacidade de retenção de umidade (CRH) (%) da serrapilheira acumulada


nos dois sítios amostrais (S.A e S.B) em diferentes estações (verão e inverno),
estudados no município de Paracambi, RJ.

Sítios Estações
Verão Inverno Média (Sítios)
S.A 218,58 247,59 233.08a*
S.B 219,38 223,72 221.55a
Média (estações) 218.98A** 235.65B 227,32 (média total)
*As médias seguidas pela mesma letra minúscula entre linhas não diferem entre si e as
**médias seguidas pela mesma letra maiúscula na coluna não diferem entre si.
A maior CRH foi para o sítio A (S.A) no inverno (248%), segundo Mateus
(2015) indica que a água precipitada é segurada por mais tempo sobre a superfície do
solo, podendo facilitar a posterior germinação de sementes. No sítio A (S.A) no verão, o
provável efeito facilitador de germinação mostrou-se menos eficiente, já que a média da
CRH foi a menor.
Segundo Vallejo (1982) o tipo de material e o grau de decomposição, com
aumento da superfície específica, proporcionam maior retenção de água. A partir disso,
podemos inferir que a maior CRH para o período de inverno, pode estar associada com
o material predominante na serrapilheira dessa estação (espécies com maior aporte,
textura das folhas, tipo de material – folhas, galhos, frutos e grau de decomposição),
responsável por aumentar a capacidade de absorção e armazenamento de umidade.
As diferenças de CRH entre as estações podem estar relacionadas à diferença de
temperatura, precipitação e processo de decomposição, fatores que segundo Voigt e
Walsh (1976) estão relacionados ao fenômeno de absorção de umidade da serrapilheira
acumulada.

Conclusões

A capacidade de retenção hídrica sazonal da serrapilheira evidencia os efeitos de


caducifoliedade das espécies dos sítios florestais, em diferentes níveis de restauração
passiva, evidenciando que há oferta diferenciada de armazenamento de umidade na
serrapilheira, com maior contribuição em períodos de estiagem.

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EFEITO DO ESTÁGIO DE SUCESSÃO E DA INUNDAÇÃO NO BANCO DE


SEMENTES DO SOLO DA MARGEM DE UM RESERVATÓRIO HÍDRICO,
NA REGIÃO SERRANA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

L.S. CARDINELLI¹; S.V.MARTINS

¹Universidade Federal de Viçosa; Rua Pref. Nilson Batista Vieira 373, Bicas, MG,
Brasil; [email protected]; (32) 98861 1350

RESUMO

O baixo custo da regeneração natural, como mecanismo de recuperação de ecossistemas


alterados, têm chamado atenção de empresas privadas. Dentre os mecanismos de
regeneração, destaca-se a germinação do banco de sementes do solo (BSS), um
componente importante dos ecossistemas terrestres e altamente variável ao longo de
gradientes ambientais. Objetivou-se avaliar o efeito de duas variáveis na composição,
estrutura e diversidade do BSS da margem do reservatório da PCH Cajú, na região
serrana do Rio de Janeiro. Foram amostradas 60 parcelas distribuídas em 3 diferentes
estágios de sucessão (floresta em estágio médio, floresta em estágio inicial e pasto sujo),
os quais foram divididos em 2 níveis de inundação (inundável e não inundável). Os
efeitos desses fatores na riqueza, abundância, diversidade e estrutura da comunidade
(representado pelos eixos da NMDS) foram testados por meio de modelos lineares de
efeito misto. O BSS apresentou elevada riqueza de espécies e heterogeneidade estrutural
relacionada a ambos gradientes ambientais, os quais foram determinantes na
distribuição de espécies. O banco foi composto, predominantemente, por ervas, nativas,
anuais, anemocóricas ou hidrocóricas, que propagam-se exclusivamente por sementes.
A riqueza e diversidade do BSS aumentaram em direção ao estágio mais avançado de
sucessão. Por outro lado, a abundância de plântulas decresceu na mesma direção, com
pico de indivíduos na floresta em estágio inicial de sucessão. A elevada riqueza e
densidade de espécies herbáceas nativas, a presença de espécies arbóreas em todos os
ambientes, ainda que em baixa densidade, e a ausência de gramíneas agressivas são
indicadores de um alto potencial de regeneração natural. Para otimizar a dispersão de
sementes dos fragmentos-fonte para a área a ser recuperada, recomenda-se conjugar a
regeneração natural com técnicas de nucleação, como a transposição de galhadas e a
instalação de poleiros artificiais.

Palavras Chave: hidrelétrica; barragem; restauração passiva, espécies ruderais;


recuperação de pastagens

1. INTRODUÇÃO
As Áreas de Preservação Permanente (APP’s) de zonas ripárias são definidas
pelo Código Florestal Brasileiro, como áreas protegidas localizadas nas margens de rios,
lagos e reservatórios e no entorno de nascentes, devendo ter a sua vegetação original
preservada (BRASIL, 2012). Como delimitado pela lei, uma vez que haja conversão
dessas áreas para o uso alternativo do solo, medidas a fim de recompor a vegetação
deverão ser cumpridas, com o objetivo de recuperar a função ecológica da área
(BRASIL, 2012). A condução da regeneração natural tem provado ser eficiente para
recuperação de ecossistemas alterados, principalmente em paisagens que mantenham
fragmentos florestais grandes como fonte de sementes (MARTINS et al., 2012;
MIRANDA NETO et al., 2014b; NORDEN et al., 2009; REZENDE et al., 2015;
RODRIGUES; MARTINS; BARROS, 2004; RODRIGUES et al., 2009; SILVA
JÚNIOR et al., 2004; VIEIRA; SCARIOT, 2006). Tal método de restauração ecológica
pode ocorrer por meio de quatro diferentes formas, simultaneamente: crescimento de
plântulas (banco de plântulas) e de indivíduos remanescentes; germinação de sementes
do banco de sementes do solo; rebrota de indivíduos a partir de raízes e rizomas e chuva
de sementes, via dispersão de diásporos (MARTINS, 2009; MARTINS et al., 2012).
O banco de sementes do solo (BSS) é responsável pela regeneração e
manutenção da estrutura e diversidade da vegetação após distúrbios naturais e
antrópicos (CALEGARI et al., 2013; GARWOOD, 1989; MARTINS et al., 2012),
sendo composto por um conjunto de sementes dormentes, enterradas na camada
superficial do solo (MARTINS et al., 2012; VIANI; RODRIGUES, 2008). A
composição e estrutura do BSS são influenciadas por fatores externos, relativos tanto às
vias de entrada, através da chuva de sementes e dispersão dos diásporos, quanto às vias
de saída, através da germinação, predação, doenças, perda de viabilidade, danos físicos
e fogo, constituindo-se em um sistema dinâmico e aberto (ALMEIDA-CORTEZ, 2004).
O estudo desses fatores auxiliam na compreensão das variações observadas na
diversidade, abundância e composição do BSS ao longo de gradientes ambientais, como
vegetações em diferentes estágios sucessionais (BAIDER; TABARELLI;
MANTOVANI, 2001; MIRANDA-NETO et al., 2010; ROOVERS et al., 2006;
WILLIAMS et al., 2008), bem como gradientes hidrológicos, com diferentes níveis de
inundação (BAO et al., 2014; CAPON; BROCK, 2006; GURNELL et al., 2007;
HANLON; WILLIAMS; MORIARITY, 1998; LU et al., 2010; SMITH et al., 2002;
STROMBERG; BOUDELL; HAZELTON, 2008; WILLIAMS et al., 2008).
A avaliação do BSS é empregada como uma importante ferramenta diagnóstica
do potencial de regeneração natural (CALEGARI et al., 2013; MARTINS, 2009;
MARTINS et al., 2008; MIRANDA NETO et al., 2014b; RODRIGUES; MARTINS;
BARROS, 2004). Assim, conhecer a heterogeneidade espacial e temporal do BSS na
paisagem, permite definir os fatores que influenciam a sua variação e, em última
instância, auxilia a elaboração de metodologias para acelerar o processo de sucessão
natural e recomposição da vegetação com espécies nativas da flora regional.
Os objetivos do presente estudo foram avaliar os efeitos do estágio de sucessão e
da inundação na composição, estrutura e diversidade do banco de sementes do solo,
bem como, avaliar o potencial de regeneração natural e propor estratégias de facilitação
dos processos de sucessão natural, para promover a restauração florestal na margem do
reservatório hídrico de uma usina hidrelétrica, na região serrana do estado do Rio de
Janeiro, Brasil.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de estudo
Este estudo faz parte de um convênio firmado entre a empresa Brookfield
Renewable Energy e o Laboratório de Restauração Florestal da Universidade Federal de
Viçosa (LARF-UFV) através de interveniência da Sociedade de Investigações Florestais
(SIF-UFV). O estudo foi realizado na APP da margem do reservatório da Pequena
Central Hidrelétrica (PCH) Cajú, no rio Grande, um dos principais afluentes da margem
direita do rio Paraíba do Sul. O reservatório em questão localiza-se entre os municípios
de Santa Maria Madalena e São Sebastião do Alto, na Região Norte Serrana
Fluminense, no estado do Rio de Janeiro, Brasil.
De acordo com dados da Empresa de Extensão Rural do estado do Rio de
Janeiro, a vegetação original da região encontra-se profundamente modificada pela ação
antrópica, através da exploração agrícola e pecuária, atividades de longa data na região
(SEA, 2012). A cobertura do solo no entorno do reservatório é predominantemente de
pastagem com vários fragmentos pequenos e isolados de floresta secundária em estágios
inicial e médio de regeneração, sendo as principais fontes de diásporos de espécies
florestais para as áreas em sucessão secundária. O estudo foi realizado em três
ambientes, em diferentes estágios sucessionais, ao longo da margem do reservatório
(Figura 1).

Figura 1: Mapas de localização da área de estudo e dos pontos de coleta. FM: Floresta
em estágio médio, FI: Floresta em estágio inicial, PS: Pasto sujo.
2.2. Amostragem
Foram amostradas 20 parcelas de 2 x 2 m em cada um dos ambientes definidos:
Floresta em estágio médio (FM), Floresta em estágio inicial (FI) e Pasto sujo (PS),
totalizando 60 parcelas. Em cada ambiente, as parcelas foram alocadas de forma
sistemática, e divididas em dois transectos paralelos à margem do reservatório. Um
transecto foi alocado próximo à borda do reservatório, abaixo do nível de elevação
máxima da água, permanecendo inundado durante o período de cheia (transecto
Inundável - I) e o outro foi alocado mais distante da borda e acima do nível de elevação
máxima da água do reservatório (transecto Não Inundável - NI).
No centro de cada parcela foi excluída a camada de serapilheira não decomposta
e coletada uma amostra de solo de 0,30 x 0,30 m de área e 5 cm de profundidade. A
coleta foi realizado no mês de novembro de 2014 e as amostras foram acondicionadas
em sacos plásticos e levadas para a casa de sombra do Viveiro do Departamento de
Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
A avaliação do BSS foi realizada pelo método de emergência de plântulas
(BASKIN; BASKIN, 1998). As espécies identificadas foram classificadas quanto à
origem e o grau de naturalização em nativa, naturalizada ou exótica casual. Foi
realizada também uma classificação quanto à forma de vida de cada espécie, sendo
consideradas 5 categorias, árvore, arbusto, erva, subarbusto e liana/trepadeira/volúvel.
Ambas classificações foram baseadas na Lista de Espécies da Flora do Brasil
(REFLORA, 2015). As espécies foram agrupadas de acordo com a síndrome de
dispersão em endozoocóricas, epizoocoórica, hidrocóricas, anemocóricas e autocórica;
de acordo com a duração do ciclo de vida em anual ou perene; de acordo com o tipo de
propagação utilizada pela espécie em sementeira (reproduz exclusivamente por
propagação sexuada via produção e dispersão de sementes) ou rebrotadeira (reproduz
tanto por propagação sexuada quanto por propagação assexuada via rebrota de bulbo,
raiz, rizoma, etc.).
2.3. Análise de dados
Foram criadas curvas de rarefação a partir do cálculo do número de espécies e da
diversidade α de Fisher esperadas por parcela em função do número de indivíduos. Os
cálculos foram realizados no software EstimateS (COLWELL, 2013) com 100
aleatorizações.
Foram feitas Análises de Componentes da Variância (ACV’s) (CRAWLEY,
2007) para as seguintes variáveis resposta, riqueza de espécies, abundância de plântulas
e diversidade α de Fisher, considerando a estrutura hierárquica dos dados, com 10
parcelas amostradas em cada transecto dentro de cada ambiente. Antes de proceder as
análises, a diversidade α de Fisher foi calculada por meio da função “fisher.alpha” do
pacote “vegan” (OKSANEN et al., 2015) no software R versão 3.2.1 (R CORE TEAM,
2015) e a abundância de plântulas foi logaritmizada, a fim de atender os pressupostos da
distribuição Normal. Cada análise foi feita a partir de um modelo contendo as duas
variáveis explicativas, inundação e estágio de sucessão, considerando inicialmente
apenas o efeito aleatório das mesmas. O efeito do estágio de sucessão é dado pelo
variância entre ambientes, o efeito da inundação é dado pela variância entre os
transectos aninhados dentro de cada ambiente e o resíduo é dado pela variância entre as
parcelas aninhadas em cada transecto, dentro de cada ambiente.
O ajuste dos modelos foi através do método de Máxima Verossimilhança
Restrita (REML). Os modelos contendo apenas as variáveis de efeito aleatório foram
comparadas com Modelos Lineares de Efeito Misto (MLM’s) contendo as variáveis de
efeito aleatório e mais uma variável de efeito fixo que foi escolhida baseando-se no
resultado das ACV’s. Os modelos foram criados utilizando-se a função “lmer” do
pacote “lme4” (BATES et al., 2015a, 2015b) no software R. A comparação dos modelos
foi feita via Análise de Variância (ANOVA) (CRAWLEY, 2007). Quando os modelos
eram diferentes, a escolha do melhor modelo foi feita através do critério de Akaike
(AIC). Como os modelos comparados possuíam estruturas diferentes, o método de
ajuste foi mudado para Máxima Verossimilhança (ML) (CRAWLEY, 2007). Se o
melhor modelo fosse aquele contendo a variável de efeito fixo, a significância desse
efeito era avaliada por um teste de contraste de médias utilizando a função
“difflsmeans” do pacote “lmerTest” (KUZNETSOVA; BROCKHOFF;
CHRISTENSEN, 2015) no software R.
Para avaliar a similaridade do BSS entre os diferentes estágios de sucessão e
entre os transectos, foram construídos Diagramas de Venn representando o número de
espécies compartilhadas e exclusivas de cada área. A partir da matriz de presença-
ausência de espécies da comunidade, foi calculado o índice de Jaccard (J) como medida
de similaridade florística para cada par de área avaliado (MÜLLER-DOMBOIS;
ELLEMBERG, 1974).
Para avaliar a similaridade estrutural do BSS entre as áreas amostradas, foi
construído um Escalonamento Multidimensional Não-métrico (NMDS) no software R
usando a função “metaMDS” do pacote “vegan” a partir da matriz de abundância das
espécies e Bray Curtis como índice de similaridade. Para avaliar se há diferença
significativa na estrutura da comunidade, foram criados modelos com os escores do
primeiro e do segundo eixo da NMDS como variáveis resposta e os efeitos aleatórios
das variáveis estágio de sucessão e inundação. O modelo MLM foi criado a partir da
função “lmer” e ajustado pelo método ML. A partir desse modelo, foi feita uma ACV
para verificar a importância relativa de cada fator na variação dos escores da NMDS e,
em seguida, esse modelo sem efeitos fixos foi comparado com um modelo contendo
uma variável de efeito fixo selecionada de acordo com sua importância na variância
total. Para as variáveis significativas, foi feito ainda um teste de contraste de médias
utilizando a função “difflsmeans”.
Foram calculadas as proporções de indivíduos e de espécies para cada atributo
funcional por ambiente e por transecto com o objetivo de evidenciar os efeitos gerais do
estágio de sucessão e da inundação na distribuição desses grupos na comunidade do
BSS e ainda verificar os padrões funcionais existentes na mesma. Além disso, os
atributos funcionais foram representados também por meio de vetores na NMDS, a fim
de evidenciar a relação entre cada atributo e a similaridade florístico-estrutural das
parcelas da comunidade do BSS. Esses vetores foram criados utilizando a função
“envfit” do pacote “vegan” no software R.
3. RESULTADOS
Foram amostradas 9603 plântulas emergidas (1778,33 plântulas/m²),
pertencentes a 124 espécies, das quais 101 foram identificadas até o nível de espécie, 10
a nível de gênero, 8 a nível de família e 5 indeterminadas. As espécies identificadas
foram classificadas em 36 famílias botânicas. As famílias mais ricas foram Asteraceae
(29 espécies), Cyperaceae (8 espécies), Malvaceae, Fabaceae (7 espécies cada),
Euphorbiaceae e Poaceae (6 espécies cada).
As espécies mais abundantes no BSS da FM foram Stemodia verticillata (Mill.)
Hassl., Scleria gaertneri Raddi, Asteraceae 1, Solanum americanum Mill. e Cardamine
bonariensis Pers., que correspondem a 56,28% do total de indivíduos do banco desse
ambiente. As espécies mais abundantes no BSS da FI foram Parthenium hysterophorus
L., Scoparia dulcis L., Mecardonia procumbens (Mill.) Small, Solanum torvum Sw. e
Digitaria sanguinalis (L.) Scop., as quais correspondem a 48,45% da abundância total
dessa floresta. As espécies mais abundantes no BSS do PS foram Kyllinga brevifolia
Rottb., M. procumbens, D. sanguinalis, S. verticillata e Cyperus rotundus L., que
correspondem a 48,45% do número de indivíduos amostrados nesse ambiente.
Avaliando as curvas de rarefação do BSS, a FM apresentou a maior diversidade,
diferindo significativamente dos demais ambientes, e a FI apresentou o menor valor de
diversidade (Figura 2).

Figura 2: Curvas de rarefação para número de espécies (A) e diversidade α de Fisher


(B) com base no número de indivíduos do banco de sementes do solo de cada ambiente
amostrado. FM: Floresta em estágio médio, FI: Floresta em estágio inicial, PS: Pasto
sujo. Curvas pretas representam o valores médios e curvas cinzas representam os
intervalos de confiança das médias.
Para a riqueza de espécies, o efeito da inundação correspondeu a 40,65% da
variância total, enquanto que o resíduo foi responsável por 57,78%. A proporção de
explicação do fator estágio de sucessão foi de apenas 1,57% da variância dos dados. O
MLM com a variável de efeito fixo inundação foi significativamente diferente do
modelo sem efeito fixo (AIC=341,82; p=0,0068). Em média, o número de espécies nos
transectos I foi maior que nos transectos NI (t=4,74; p<0,001) (Figura 3A). O MLM
com a adição do estágio de sucessão como fator de efeito fixo não diferiu do modelo
sem efeito fixo (AIC=347,91; p=0,1994).

Figura 3: Gráficos de média dos modelos significativos para riqueza de espécies,


abundância de plântulas e diversidade do banco de sementes do solo. A) Riqueza de
espécies em função da inundação (NI: Não Inundável, I: Inundável). B) Logaritmo da
abundância de plântulas em função do estágio de sucessão (FM: Floresta em estágio
médio, FI: Floresta em estágio inicial, PS: Pasto sujo). C) Diversidade α de Fisher em
função da inundação (NI: Não Inundável, I: Inundável). Barras de erro representam o
desvio padrão da média. Letras diferentes sobre as barras representam diferença
significativa a 5% de significância. Letras iguais sobre as barras representam médias
iguais a 5 % de significância.
Para a abundância de plântulas, o estágio de sucessão correspondeu a 37,92% da
variância total dos dados, o efeito da inundação correspondeu a 11,45% e o resíduo
representou 50,63% dessa variância. O modelo sem efeito fixo não diferiu do modelo
com inundação (AIC=5,07; p=0,5572). Já o modelo com adição do estágio de sucessão
diferiu do modelo sem efeito fixo (AIC=0,966; p=0,0174). Além disso, verificou-se que
a média do logaritmo da abundância de plântulas na FI foi maior e diferiu dos demais
ambientes (t=-4,19; p=0,006) (Figura 3B).
Para a diversidade α de Fisher, o efeito da inundação explicou 20,97% da
variância dos dados, o estágio de sucessão correspondeu a 19,24% e o resíduo
representou 59,79% da partição total da variância. O estágio de sucessão não teve efeito
significativo no modelo (AIC=285,97; p=0,0607). Já a inclusão do fator inundação no
modelo sem variáveis de efeito fixo causou diferença significativa (AIC=285,67;
p=0,0487). Entretanto, não foi identificada diferença significativa nas médias de
diversidade α de Fisher entre I e NI (t=2,82; p=0,0667) (Figura 3C).
3.1. Análise Multivariada
Os três ambientes compartilharam 32 espécies, pouco mais de 25% do total
(Figura 4). Os dois ambientes com maior similaridade foram a FI e o PS (J=0,52), com
48 espécies em comum. Além disso, houve alta similaridade de espécies entre os
transectos I e NI, para todos os ambientes.

Figura 4: Diagrama de Venn do número de espécies do banco de sementes do solo da


Floresta em estágio médio (FM), Floresta em estágio inicial (FI) e Pasto sujo (PS), bem
como dos transectos Inundável (I) e Não Inundável (NI) em cada ambiente. J=Índice de
similaridade de Jaccard.
O NMDS foi criado com um stress de 0,195. O fator de maior importância na
variação dos escores do primeiro eixo da NMDS foi o estágio de sucessão, que contribui
com 91% da variância total dos dados. A inclusão do estágio de sucessão no modelo foi
significativa (AIC=-108,1; p<0,001). Essa diferença se dá pelo agrupamento das
parcelas da FM (t=-16,51; p<0,001) (Figura 5A). Não há diferença na estrutura do BSS
entre a FI e o PS (t=-0,27; p=0,8). O fator inundação contribui com apenas 1,21% da
variância total dos escores do primeiro eixo da NMDS. Logo, a inclusão desse fator não
diferiu significativamente do modelo sem efeito fixo (AIC=-93,67; p=0,761).

Figura 5: Boxplots dos modelos significativos para os eixos 1 e 2 da NMDS do banco


de sementes do solo. A) Eixo 1 da NMDS em função do estágio de sucessão (FM:
Floresta em estágio médio, FI: Floresta em estágio inicial, PS: Pasto sujo), B) Eixo 2 da
NMDS em função da inundação (NI: Não Inundável, I: Inundável). Letras diferentes
sobre as barras representam diferença significativa a 5% de significância. Letras iguais
sobre as barras representam médias iguais a 5 % de significância.
Para o segundo eixo da NMDS, a maior fonte de variação dos escores foi devido
aos fatores não incluídos no modelo (resíduo), que contribuíram com 70,2% da
variância. O fator inundação contribuiu com 18,33% e o estágio de sucessão com
11,49% da variância total. A inclusão do fator inundação no modelo foi significativa
(AIC=-44,36; p=0,029), demonstrando que a inundação também pode afetar a
composição e estrutura do BSS, o qual foi confirmado pelo teste de médias (t=-2,97;
p=0,004) (Figura 5B). Por outro lado, a adição do estágio de sucessão não diferiu
significativamente do modelo sem efeito fixo para o segundo eixo da NMDS (AIC=-
42,51; p=0,087).
De forma geral, a comunidade avaliada apresentou um predomínio de plântulas e
de espécies nativas, anuais, anemocóricas, de porte herbáceo, que se propagam
exclusivamente por sementes. As espécies exóticas casuais apresentaram tendência de
se agrupar nas parcelas do PS (Figura 6A), entretanto essa correlação não foi
significativa (p=0,698) devido à baixa abundância e riqueza desse grupo na
comunidade. A forma de vida liana/volúvel/trepadeira (LVT) foi exclusiva dos estágios
florestais, estando ausente no PS. Os vetores das formas de vida LVT e árvore (Arv)
foram significativos e correlacionados com as parcelas da FM (LVT: p=0,001; Arv:
p=0,031) (Figura 6B). Com relação às estratégias de reprodução, o vetor das espécies
que propagam exclusivamente por sementes (S) foi significativo (p=0,001) e com
tendência ao agrupamento nas parcelas da FI (Figura 7C). O vetor das espécies anuais
(A) sobrepôs o vetor S, sendo também significativo (p=0,001) (Figura 6C). As cinco
síndromes de dispersão foram representadas em ambos transectos, nos três ambientes.
Seus vetores foram significativos (Anemo: p=0,001; Auto: p=0,005; Endoz: p=0,001;
Epiz: p=0,006; Hidro: p=0,033) e com tendência de agrupamento nas parcelas da FI
(Figura 6D), pois esse foi o ambiente com maior abundância total observada. Além
disso, os outros dois ambientes apresentaram, aparentemente, o mesmo padrão de
distribuição das síndromes de dispersão, sem nenhum destaque que levasse ao desvio de
algum dos vetores.
Figura 6: Escalonamento Multidimensional Não-métrico (NMDS) das parcelas (n=60)
do banco de sementes do solo amostradas com os vetores dos atributos funcionais. A)
NMDS com os vetores dos atributos por origem (EC: exótica casual, EN: exótica
naturalizada, N: nativa). B) NMDS com os vetores dos atributos por forma de vida
(Arb: arbusto, Arv: árvore, Erva: erva, LVT: liana/volúvel/trepadeira, Subarb:
subarbusto). C) NMDS com os vetores dos atributos por tipo de propagação (R: rebrota,
S: semente) e por duração do ciclo de vida (A: anual, P: perene). D) NMDS com os
vetores dos atributos por síndrome de dispersão (Anemo: anemocórica, Auto:
autocórica, Endoz: endozoocórica, Epiz: epizoocórica, Hidro: hidrocórica). FM:
Floresta em estágio médio, FI: Floresta em estágio inicial, PS: Pasto sujo. Pontos pretos
representam as parcelas do transecto Não inundável. Pontos cinzas representam as
parcelas do transecto Inundável.
4. DISCUSSÃO
A riqueza de espécies e a densidade de plântulas emergidas do BSS podem ser
consideradas altas, baseando-se em uma revisão recente de Martins et al. (2015). De
fato, o BSS amostrado apresentou elevada riqueza (124), sendo também superior ao
encontrado em trabalhos recentes, em outros ecossistemas similares à área de estudo,
tanto do Brasil (BRAGA et al., 2008; CALEGARI et al., 2013; CORREIA; MARTINS,
2015; FRANCO et al., 2012; GASPARINO et al., 2006; GUIMARÃES et al., 2014;
MARTINS et al., 2008; MIRANDA NETO et al., 2014a; MONACO; MESQUITA;
WILLIAMSON, 2003; MORESSI; PADOVAN; PEREIRA, 2014; PEREIRA;
ALVARENGA; BOTELHO, 2010), como em outros países (DIAZ et al., 2004;
HANLON; WILLIAMS; MORIARITY, 1998; KALESNIK; SIROLLI; COLLANTES,
2013; LU et al., 2010; RICHTER; STROMBERG, 2005; ROOVERS et al., 2006).
Como observado nas curvas de rarefação, FM foi o ambiente com os maiores
valores de riqueza e diversidade, diferindo significativamente dos demais, em estágios
iniciais de sucessão. Esse resultado sugere uma tendência de aumento da diversidade de
espécies ao longo de um gradiente sucessional, hipótese comprovada na literatura
(BAIDER; TABARELLI; MANTOVANI, 2001; GOMES et al., 2013; RÉJOU-
MÉCHAIN et al., 2014). No caso específico do banco de sementes do solo, é esperado
um aumento do número de espécies nos primeiros estágios de sucessão e uma redução
nos estágios mais avançados. Do total amostrado, o BSS da FM apresentou o maior
número de espécies, entretanto não foi significativo, devido a maior importância do
efeito da inundação e, principalmente, do resíduo, como fatores de explicação da
variância desse dado.
As espécies que compõe o BSS são predominantemente ervas nativas anuais,
que propagam-se por sementes dispersas pelo vento ou pela água. Esses atributos, em
conjunto, são comuns em plantas ruderais (GRIME, 1977). Umas das principais
características das plantas ruderais é a produção de uma grande quantidade de sementes
pequenas e dormentes, que formam banco persistente no solo (MULLER-LANDAU,
2008). Ao contrário de ervas agressivas, como as gramíneas exóticas Urochloa
decumbens (Stapf) R.D.Webster (braquiária) e Melinis minutiflora P.Beauv. (capim-
gordura), as ervas ruderais nativas amostradas são importantes para iniciar o processo
de sucessão, transformando pasto limpo de braquiária em pasto sujo, ambiente mais
favorável à regeneração de espécies arbóreas. O padrão geral é que, alta cobertura de
gramíneas em pastos abandonados, retarda a colonização e sucessão de espécies
arbustivo-arbóreas (PETERSON; CARSON, 2008). Mesmo quando o BSS é composto
por sementes de árvores, a dominância de gramíneas agressivas, com elevada cobertura
do solo, inibe a germinação dessas sementes, chegando a paralisar o processo de
sucessão por anos, até que a espécie-problema seja controlada (SILVA JÚNIOR et al.,
2004).
Ambientes fragmentados, como a maior parte da Mata Atlântica atual,
apresentam o BSS composto, predominantemente, por sementes de espécies ruderais
(BAIDER; TABARELLI; MANTOVANI, 2001; CALEGARI et al., 2013;
33GASPARINO et al., 2006; GUIMARÃES et al., 2014; LU et al., 2010; MORESSI;
PADOVAN; PEREIRA, 2014; PEREIRA; ALVARENGA; BOTELHO, 2010; SOUZA
et al., 2006), inclusive no interior de fragmentos pequenos e na borda de fragmentos
maiores (CORREIA; MARTINS, 2015; KALESNIK; SIROLLI; COLLANTES, 2013;
ROOVERS et al., 2006). Na área de estudo, o histórico da paisagem pareceu afetar mais
os atributos funcionais das espécies do BSS do que os diferentes estágios de sucessão
das vegetações amostradas. De acordo com Lu et al (2010), o impacto do uso da terra e
o efeito do estágio de sucessão no BSS em zonas ripárias são pouco documentados e
deveriam ser considerados, quando avalia-se o potencial de regeneração natural.
De forma geral, ocorreu um pequeno número de espécies de árvores pioneiras
em todos os ambientes amostrados no BSS. Poucas sementes de espécies arbóreas
permanecem no solo de áreas perturbadas (WALDHARDT; FUHR-BOSSDORF;
OTTE, 2001), sendo raro que a sucessão inicie com o estabelecimento de árvores
apenas via BSS (PETERSON; CARSON, 2008). Neste tipo de ambiente, a principal
fonte de diásporos de espécies arbóreas nativas vem da chuva de sementes
(MAGNAGO et al., 2015a). A proximidade de fragmentos conservados e a presença de
agentes dispersores, são os fatores limitantes mais importantes para a colonização de
árvores em áreas alteradas, como as do presente estudo (CHAZDON, 2008; MIRANDA
NETO et al., 2014c; RODRIGUES; MARTINS; BARROS, 2004; VOLPATO et al.,
2015). Provavelmente, o que sustenta a vegetação florestal nessa paisagem, além da
chuva de sementes, é o banco de plântulas, estabelecido no interior das florestas em
estágio médio de regeneração. O banco de plântulas é formado por indivíduos jovens de
espécies arbóreas tolerantes a sombra, os quais produzem sementes grandes,
recalcitrantes, que não formam BSS (MARTINS et al., 2012), como é o caso da espécie
Cupania vernalis Cambess., presente no banco de plântulas da FM (observação
pessoal).
Os ambientes amostrados compartilharam pouco mais de 25% do total de
espécies, sendo considerados similares, de acordo com o critério de Müller-Dombois e
Ellemberg (1974). Tal similaridade, está relacionada provavelmente com a proximidade
geográfica, que facilita a dispersão de sementes entre os ambientes, aumentando o
número de espécies compartilhadas. Entretanto, houve agrupamento dos escores que
representam a FM no primeiro eixo da NMDS, diferenciando-a dos demais ambientes
pela distribuição das espécies. Por estar dentro de um fragmento de floresta em estágio
médio de regeneração, o BSS da FM pode ter sofrido influência direta da vegetação
local, recebendo diásporos via chuva de sementes do interior do fragmento, sobretudo
de árvores e LVT’s, as quais contribuíram para o elevado número de espécies exclusivas
desse ambiente, que correspondem a 25% do total.
O BSS da FI apresentou um número de plântulas germinadas cerca de duas
vezes maior que o encontrado nos demais ambientes, o que corresponde a mais de 2000
indivíduos de diferença. De forma geral, a densidade do BSS de florestas secundárias
em estágio inicial tende a ser maior que de florestas maduras (BAIDER; TABARELLI;
MANTOVANI, 2001; GARWOOD, 1989), devido a maior quantidade, na primeira, de
espécies pioneiras (r-estrategistas) produtoras de grande quantidade de sementes
dormentes (BAIDER; TABARELLI; MANTOVANI, 2001; MIRANDA-NETO et al.,
2010). Além disso, florestas iniciais apresentam maior abertura de dossel comparado
com florestas maduras (SILVA JÚNIOR et al., 2004), o que favorece a entrada de luz
no sub-bosque e estimula a proliferação de gramíneas, lianas e outras competidoras
(MAGNAGO et al., 2015b), contribuindo ainda mais para o aumento da densidade de
sementes no solo dessas florestas. O tradeoff relacionado com a produção de grande
quantidade de sementes pequenas (MULLER-LANDAU, 2008) é uma característica em
comum na maioria das espécies ruderais, o que pode explicar a alta densidade do BSS,
sobretudo na FI.
As parcelas amostradas na FM apresentaram maior variedade de formas de vida
e síndromes de dispersão que aquelas no PS. Praticamente todas as parcelas apresentam
pelo menos uma espécie anemocórica, hidrocórica, herbácea e arbustiva, que são os
atributos mais comuns na paisagem. Entretanto, na FM ocorrem, adicionalmente,
espécies endozoocóricas, arbóreas e LVT’s com maior frequência que no PS. O
predomínio de sementes de espécies anemocóricas no solo concorda com Guimarães et
al (2014), que destacam ainda que essa síndrome de dispersão é comum em espécies
colonizadoras de áreas pós distúrbio, como aquelas convertidas para uso alternativo do
solo. Por outro lado, sementes grandes de espécies zoocóricas são mais sensíveis ao
distúrbio e por isso sua permanência viável no solo de áreas alteradas é mais restrita
(GUIMARÃES et al., 2014).
A inundação contribuiu com o aumento do número de espécies do BSS na
margem do reservatório. De acordo com Richter e Stromberg (2005), o alagamento do
solo é um dos principais fatores de aumento da biodiversidade em ecossistemas ripários,
pois cria heterogeneidade ambiental e mantém um elevado conjunto de espécies de
diferentes grupos funcionais. Em matas ciliares, um dos principais fatores de
manutenção do BSS é o regime sazonal de flutuação do nível da água dos corpos d’água
associados a esses ecossistemas (HANLON; WILLIAMS; MORIARITY, 1998).
Além de aumentar a riqueza de espécies, como foi discutido anteriormente, a
elevação do nível da água provocou mudança na composição de espécies da
comunidade de sementes do solo. Bao et al. (2014) e Smith et al. (2002) também
observaram esse efeito da inundação sobre a distribuição de espécies do BSS, sugerindo
que esse fator estivesse atuando como um filtro ambiental, selecionando espécies
adaptadas e, secundariamente, prevenindo a invasão por espécies exóticas.
Das 16 espécies classificadas como hidrocóricas, apenas duas, Sagittaria
montevidensis Cham. & Schltdl. e Pilea microphylla (L.) Liebm., são exclusivamente
dispersas pela água. As demais espécies hidrocóricas, apresentam também outras
estratégias alternativas de dispersão de sementes, tais como a anemocoria e a autocoria,
o que explicaria a importância dessa síndrome no BSS. Ainda assim, a inundação
influenciou significativamente a abundância de hidrocóricas. Dessa forma, a elevação
sazonal do nível da água, contribuiu com o aumento do número de sementes dispersas
pela água, e com o aumento do número de espécies no BSS da margem do reservatório.

5. CONCLUSÕES
Ambos fatores, estágio de sucessão e inundação, afetaram significativamente o
BSS da margem do reservatório hídrico avaliado. A ação conjunta desses filtros sobre o
banco de sementes, foi responsável por criar heterogeneidade ambiental na paisagem,
refletido na forma de um mosaico de vegetações com diferentes estágios sucessionais e
composições florísticas. A elevada riqueza e abundância de ervas anuais, demonstra que
esse BSS herdou grande quantidade de sementes originadas das áreas de pasto sujo da
paisagem, inclusive o banco da FM, que se encontra no interior de um fragmento
florestal em estágio médio de regeneração.
Um ponto positivo a se observar no BSS amostrado é a composição de espécies
da família Poaceae, a qual é formada por espécies majoritariamente nativas, sem
ocorrência de gramíneas exóticas agressivas, como braquiária (Urochloa decumbens) e
capim gordura (Melinis minutiflora). Dessa forma, os altos valores de riqueza e
densidade do BSS e a presença de sementes de espécies arbóreas, mesmo que em baixa
densidade, sugere um alto potencial de regeneração natural, sobretudo pela ausência de
espécies invasoras e outras competidoras monodominantes. Apesar de ser um processo
lento, comparado com métodos convencionais, a condução da regeneração natural pode
ser extremamente viável para recomposição das matas ciliares.
Para acelerar o processo, é necessário integrar melhor o projeto de restauração
com a paisagem. A matriz da paisagem é dominada por pastagem, mas mantém
fragmentos florestais em estágios inicial e médio de sucessão, que funcionam como
fontes de sementes de árvores e outras espécies florestais, sobretudo aqueles fragmentos
mais próximos ao reservatório, compostos por espécies mais adaptadas às condições
ambientais da APP. Com objetivo de otimizar a dispersão de sementes dos fragmentos-
fonte para as áreas a serem restauradas, recomenda-se conjugar a regeneração natural
com técnicas de nucleação, como a transposição de galhadas, para criar micro-habitat
para fauna local, a instalação de poleiros de madeira ou bambu, que funcionam como
ponto de pouso e descanso para aves e morcegos dispersores, além da semeadura direta
em determinados trechos da APP. O reflorestamento com espécies nativas, que já vem
sendo realizado, deve ser mantido, mas direcionado principalmente para as áreas com
baixo potencial de regeneração, onde o BSS é muito pobre em espécies e de baixa
densidade, devido ao isolamento de remanescentes florestais ou a degradação do solo.

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CRESCIMENTO DE MUDAS DE Dalbergia nigra (Vell.) Fr. All. Ex Benth.


PRODUZIDAS EM RECIPIENTES E DOSES DE OSMOCOTE E
COMPORTAMENTO NO CAMPO

T. J. S. Sousa; G. V. Cabreira; P. S. S. Leles; J. M. Alonso


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Florestas, BR 465, 23897-
000, Seropédica, Brasil, [email protected], [email protected],
[email protected] e [email protected].

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento de mudas de Dalbergia nigra


produzidas em tubetes de 110 e de 280 cm3, com doses crescentes de fertilizante de
liberação controlada N-P-K (15-09-12) aplicados no substrato base. Avaliou-se ainda, a
sobrevivência e crescimento inicial destas mudas após plantio na região norte
fluminense. Foram produzidas mudas de Dalbergia nigra (Vell.) Fr. All. Ex Benth.
Foram utilizados tubetes com volume de 110 e 280 cm3, sendo aplicadas doses de
Osmocote Plus® (15-09-12) de 0, 3, 6 e 12 kg/m3 de biossólido. O experimento foi em
esquema fatorial, compondo oito tratamentos com cinco repetições. Avaliou-se o
crescimento das mudas em viveiro e sua sobrevivência e o crescimento em campo cinco
meses após plantio. Após 120 dias a repicagem, os resultados mostraram que as mudas
de jacarandá-da-bahia responderam positivamente ao acréscimo de fertilizante de
liberação lenta controlada ao biossólido. Para as condições que foram realizadas o
estudo, em geral as mudas de Dalbergia nigra produzidas em tubetes de 280 cm3
apresentaram maior crescimento, na dose de 12 kg de N-P-K (15-09-12) por m3
aplicados no preparo do substrato. Para o sítio que foi realizado a implantação e
condução da fase de campo do experimento, as mudas oriundas de todos os tratamentos
apresentaram taxa de sobrevivência inferior a 80% aos 12 meses, indicando que a
espécie não adaptou ao ambiente.

Palavras Chave: jacarandá-da-bahia, adubação mineral, lodo de esgoto, tubete

INTRODUÇÃO
O jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra (Vell.) Allemão ex Benth.), pertencente à
família Fabaceae, é uma espécie secundária tardia, ocorrendo naturalmente em solos de
baixa fertilidade e possui crescimento de moderado a rápido, em locais fora de sua área
de ocorrência natural. Sua madeira é de boa qualidade, com aparência agradável e
indicada para construção de móveis de luxo. Recomendada para a produção de carvão e
lenha, a espécie pode ser usada em arborização de praças, parques e avenidas e é
indicada para recuperação do solo, por depositar razoável camada de folhas e mostrar
grande amplitude de tolerância ambiental (LORENZI, 2002; CARVALHO, 2003).
Devido a essa grande potencialidade, torna-se necessário conduzir estudos visando
melhorar o sistema de produção com técnicas que promovam melhor qualidade das
plantas, resultando em maior sobrevivência e crescimento após o plantio.
O êxito da formação de povoamento florestal depende, entre outros fatores, da
qualidade das mudas produzidas. Estas, além da sobrevivência, devem apresentar
capacidade de resistirem às condições adversas encontradas no campo e crescer o mais
rápido possível para competir com a vegetação espontânea e diminuir possíveis danos
causados por pragas florestais (CARNEIRO, 1995). Dentre os fatores que influenciam
na qualidade de mudas de espécies florestais, destaca-se volume do recipiente utilizado
e a fertilidade do substrato (LISBOA et al., 2012; ROSSA et al., 2013b).
Recipientes de maior volume proporcionam maior disponibilidade de nutrientes
e água, refletindo na qualidade morfológica das mudas produzidas em viveiros
(BRACHTVOGEL e MALAVASI, 2010; FARIAS et al., 2005; VIANA et al., 2008;
MESQUITA et al., 2009). No entanto, são necessários maiores volumes de substrato,
acarretando em maiores custos de produção, de transporte, de distribuição no campo e
de plantio (MELO et al., 2017). Para encontrar o equilíbrio entre o volume do recipiente
e a qualidade das mudas, pode-se utilizar fertilização química, principalmente com
fertilizantes de liberação controlada, visto que estes proporcionam melhor
aproveitamento dos nutrientes pelas plantas, o que diminui os riscos de lixiviação na
produção de mudas em tubetes e por, teoricamente, produzirem mudas com maior teor
de nutrientes, possibilitam maior sucesso após o plantio no campo.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento de mudas de produzidas em
Dalbergia nigra tubetes de 110 e de 280 cm3, com doses crescentes de fertilizante de
liberação controlada N-P-K (15-09-12) aplicados no substrato base. Avaliou-se ainda, a
sobrevivência e crescimento inicial destas mudas após plantio na região norte
fluminense.

MATERIAL E MÉTODOS
A fase de viveiro foi conduzida no viveiro florestal da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, município de Seropédica, estado do Rio de Janeiro, de junho a
dezembro de 2015. A espécie utilizada foi Dalbergia nigra (Vell.) Fr. All. Ex Benth.
Foram semeadas em sementeira e posteriormente realizada a repicagem nos recipientes,
para evitar perdas no experimento por eventual baixa taxa de germinação.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, em
esquema fatorial 2 x 4 (dois volumes de tubetes e quatro doses de fertilizante de
liberação lenta), totalizando 8 tratamentos, com 5 repetições cada. Foram usadas
parcelas subdivididas, sendo as parcelas constituídas pelos diferentes recipientes e as
subparcelas pelas doses de fertilizante. No tubete de 110 cm3, cada repetição, foi
constituída por 8 mudas e no tubete 280 cm3 por 6 mudas; como forma de facilitar a
logística de distribuição dos tratamentos nas bandejas, que possuem 96 e 54 células
cada, para os tubetes 110 e 280 cm3, respectivamente.
O substrato utilizado foi composto de 100% de biossólido, disponibilizado pela
Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro (CEDAE), proveniente da
estação de tratamento de esgoto (ETE) Ilha do Governador. No processo de obtenção do
lodo de esgoto desta ETE, utiliza-se tratamento a nível secundário, adensamento por
centrífugas e estabilização e secagem em leitos semipermeáveis. Antes da adição das
doses de fertilizante de liberação controlada, foi retirada uma amostra representativa do
biossólido para análise química (Tabela 1). Foi realizado ainda a análise de densidade
do substrato, que apresentou 0,72 kg.dm-3.

Tabela 1: Análise química (%) do biossólido utilizado como substrato para produção de
mudas de Dalbergia nigra
*1
pH *4 *2 *2 + *3
N P K Ca2+ *3
Mg2+ *3
Al3+ *5
M.O.
(H2O)
5,5 1,94 0,81 0,19 1,59 0,19 2,72 35,3
*1
pH em água; *2Extrator Mehlich 1; *3Extrator: KCl - 1 mol/L; *4N total - Digestão
Sulfúrica - Destilação Kjeldhal. 5Matéria Orgânica - C. Org x 1,724 - Walkley-Black.

As doses de fertilizante foram constituídas de 3, 6 e 12 kg de Osmocote Plus N-


P-K (15-09-12) por m3 de substrato, além de uma testemunha absoluta, sem fertilização.
Este fertilizante contém também 1% de Mg, 2,3% de S, 0,05% de Cu, 0,45% de Fe,
0,06% de Mn e 0,02% de Mo, em sua composição e apresenta liberação controlada, e
segundo fabricante, com tempo de liberação total dos nutrientes em torno de 8 a 9
meses.
Após homogeneização das doses de fertilizante no substrato, os tubetes foram
preenchidos manualmente, e dispostos nas bandejas de acordo com o tratamento
correspondente. A repicagem e transplante das plântulas para os recipientes foram
realizados em um dia de clima ameno e ao final da tarde, para evitar maiores estresses
para as plantas. Nos primeiros 20 dias após a repicagem foi mantido sobre as plântulas
um sombrite de cor preta com passagem de 50% da luminosidade, como forma de
proteção para as plântulas.
Quando necessário, as mudas foram irrigadas, de acordo com experiência visual
da equipe (uma ou duas vezes por dia – início da manhã e final da tarde). Ao longo do
experimento, foram realizadas limpezas das mudas, sendo retiradas plantas espontâneas
presentes no substrato.
Aos 30 dias após a repicagem foram iniciadas as medições de altura da parte
aérea, que se repetiram em intervalos de 21 dias, até a fase de expedição das mudas para
o campo. Esse intervalo de 21 dias para a medição das mudas de jacarandá-da-bahia foi
determinado visando acompanhar o ritmo de crescimento da espécie em cada
tratamento. Aos 120 dias após a repicagem, além da altura da parte aérea, também foi
mensurado o diâmetro do coleto. Estas duas variáveis foram processadas e através delas
foram determinadas as dimensões médias das mudas de cada tratamento.
Para determinação dos parâmetros área foliar (AF), massa de matéria seca da
parte aérea (MSPA) e massa de matéria seca de raízes (MSR) foram selecionadas as
cinco mudas mais próximas da média de altura e diâmetro de cada tratamento. Foi
realizado o desmembramento das mudas, que foram separadas em parte aéreas (folhas e
caule) e raízes. A área foliar foi mensurada com auxilio de medidor LICOR-3600. Após
a medição da área foliar, a parte aérea e o sistema radicular das mudas foram
devidamente acondicionados em sacos de papel identificados e em seguida levadas para
uma estufa de circulação de ar forçada, onde permaneceram a 65º C, durante 72 horas,
quando atingiram massa constante, determinando assim, a MSPA e MSR.
A fase de campo foi conduzida em área que está sendo reflorestada localizada na
Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, em São Francisco do Itabapoana, RJ. A
área de plantio foi caracterizada como uma antiga lavoura de cana de açúcar em
processo de restauração florestal ativa. Possui topografia plana, altitude média de 25
metros e solo predominantemente de textura argilo-arenosa com 60% de areia, 38% de
argila e 2% de silte, sendo caracterizado como ARGISSOLO VERMELHO-
AMARELO. O clima da região é CWa, com predominância de chuvas nos meses de
dezembro a março.
Para uma melhor caracterização local, foi calculado o balanço hídrico médio mensal
através do método de Thornthwaite e Mather (1955), para a série histórica dos últimos
20 anos (janeiro de 1996 a novembro de 2016). Foi utilizada a planilha desenvolvida
por Sentelhas et al. (1998), preenchida com os dados de estação meteorológica
localizada em Campos dos Goytacazes – RJ, considerando a capacidade de água
disponível (CAD) de 100 mm, cujo gráfico é apresentado na Figura 1.

Figura 1: Extrato do balanço hídrico mensal, da série histórica para o local de plantio,
localizado na Estação Ecológica de Guaxindiba, município de São Francisco do
Itabapoana, RJ.
Foram selecionadas para o plantio em campo as 20 mudas mais próximas da
média de diâmetro e altura de cada tratamento, totalizando 160 mudas implantadas. O
plantio foi realizado em dezembro de 2015, em sulcos de 50 cm de profundidade,
espaçamento 3 x 2 m e abertura das covas manualmente. As mudas foram distribuídas
em 20 linhas de plantio, intercalando uma muda de jacarandá-da-bahia e três mudas de
outras espécies. Após o plantio, fez-se a mensuração da altura das plantas, além do
croqui de localização de todas as plantas, com a identificação dos tratamentos. Em
função de aparente semelhança das características do sítio da área do experimento, o
delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, sendo cada muda
de jacarandá-da-bahia considerada uma repetição. Desta forma, o experimento foi
implantado com 8 tratamentos, e possuindo 20 repetições cada tratamento.
As avaliações consistiram na observação da sobrevivência das mudas aos 5 e 12
meses após o plantio. Nestas ocasiões, procedeu-se também a mensuração da altura da
parte aérea aos 5 meses após o plantio e altura e diâmetro ao nível do solo (DNS) aos 12
meses.
Para atender os pressupostos da análise de variância, testou-se a normalidade e

homogeneidade dos dados de cada variável mensurada na última medição, por meio do
teste de Bartlett, com 5% de probabilidade. Os tratamentos foram submetidos à análise
de variância (parcelas subdivididas) e, havendo significância, a comparação entre eles
foi realizada por meio do teste t, com 5% de probabilidade. Além disso, avaliou-se a
normalidade e homogeneidade dos dados de altura e DNS mensurados, constatando-se
não haver necessidade de transformação Para todas as análises, foi utilizado o software
Sistema de Análise Estatística e Genética (SAEG).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Constata-se pela Figura 2 que, aparentemente, as plantas de jacarandá-da-bahia
responderam a doses do fertilizante de liberação controlada e também a capacidade
volumétrica dos tubetes.

Figura 2: Altura de mudas de Dalbergia nigra após repicagem, produzidas em tubetes


110 cm3 e 280 cm3, sob quatro doses de fertilizante de liberação controlada N-P-K (15-
09-12), utilizando biossólido como substrato.

Constata-se pela Figura 2 que, aparentemente, as plantas de jacarandá-da-bahia


responderam a doses do fertilizante de liberação controlada e também a capacidade
volumétrica dos tubetes. Esta diferença de respostas entre os dois volumes de
recipientes, provavelmente está relacionado com a disponibilidade de nutrientes destes.
No recipiente de 110 cm3, a quantidade de nutrientes disponível para a planta é menor
em relação aos tubetes de 280 cm3.
Na Tabela 2 é apresentado resumo da análise de variância dos parâmetros
morfológicos da última medição (120 dias após a repicagem). Constata-se que nem
todas as variáveis avaliadas ocorreram diferenças significativas entre as médias das
mudas produzidas, nos dois volumes de tubetes. No recipiente, apenas massa seca da
raiz não houve diferença significativa. Para a dose, só não houve diferença significativa
a área foliar. A interação recipiente e doses de adubo de liberação controlada foi
significativa apenas para diâmetro do coleto.

Tabela 2: Resumo da análise de variância (quadrado médio) para altura da parte aérea,
diâmetro do coleto, área foliar, massa de matéria seca de parte aérea (MSPA) e massa
de matéria seca de raízes (MSR) em função de diferentes recipientes e doses de
Osmocote Plus® N-P-K (15-09-12) para produção de mudas de aos 120 dias após a
repicagem.
Fonte de Variação GL Altura Diâmetro Área foliar MSPA MSR
Recipiente 1 2258,9* 15,8* 70386* 18,38* 0,91ns
Erro A 8 155,5 0,40 1213 0,31 0,42
ns
Dose 3 413,1,0* 4,29* 2050 2,21* 1,82*
ns ns ns
Recipiente*Dose 3 57,3 0,53* 1177 0,50 0,18ns
Erro B 24 49,0 0,14 1706 0,33 0,47
GL = grau de liberdade.
*significativo ao nível de 95% de probabilidade pelo teste F; ns não significativo ao
nível de 95% de probabilidade pelo teste F.

Constatou-se que, aos 120 dias após repicagem as mudas produzidas nos tubetes
de 280 cm3 apresentaram médias de todas as características morfológicas
significativamente superiores aquelas produzidas nos 110 cm3. Segundo Lisboa et al.
(2012) recipientes de menor volume, restringem o crescimento do sistema radicular, e
como a planta tende a crescer equilibradamente, isso reflete nos demais parâmetros
morfológicos. Lima Filho (2015), analisando o crescimento de mudas de quatro
espécies florestais nativas em tubetes, com volumes de 50, 110, 180 e 280 cm3
preenchidos com biossólido, concluiu que o tubete de maior volume produziu mudas de
maiores dimensões.
Com base na interação significativa entre recipiente e dose da análise de
variância (Tabela 3), foi realizado teste t, para cada dose, para verificar a ocorrência de
diferença significativa nas características de crescimento das mudas. Constata-se pela
Tabela 3 que, na testemunha, não ocorreu diferença significativa entre os recipientes.
Quando aplicado Osmocote Plus®, de maneira geral, as mudas produzidas em tubetes
de 280 cm3, apresentaram características de crescimento significativamente superior às
mudas produzidas nos tubetes de 110 cm3, com exceção do peso da massa seca de raízes
que foi significativo apenas quando aplicado 3 kg.m-3 de biossólido e nos demais não
ocorrendo diferença.

Tabela 3: Valores médios das características de crescimento de mudas de Dalbergia


nigra, aos 120 dias após a repicagem, em doses de fertilizante de liberação lenta N-P-K
(15-09-12), utilizando tubetes de capacidade volumétrica de 110 e 280 cm3
Característica de Testemunha 3 kg.m-3 6 kg.m-3 12 kg.m-3
crescimento
20,8 e 31,7 e
Altura da parte aérea (cm) 29,8 e 49,7* 35,6 e 44,9ns
33,9ns 49,6ns
Diâmetro do coleto (mm) 2,3 e 3,0ns 2,9 e 4,6* 3,1 e 4,6* 3,6 e 4,7*
2 18,9 e 21,1 e 23,8 e
Área foliar (cm ) 4,4 e 88*
112,3* 75,0ns 128,3*
Massa seca da parte aérea
4,8 e 5,5* 5,3 e 6,6* 5,2 e 7,1* 5,4 e 6,8ns
(g)
Massa seca de raízes (g) 4,6 e 4,9* 5,8 e 5,7ns 5,0 e 5,6* 5,1 e 5,5ns
Primeiro número refere-se ao valor de crescimento quando utilizou-se tubete de 110 cm3
e segundo número tubete de 280 cm3. * significativo ao nível de 95% de probabilidade
pelo teste t. ns não significativo ao nível de 95% de probabilidade pelo teste t.

Conforme já mencionado, este maior crescimento nas mudas dos tubetes de 280
3
cm é devido ao maior volume de substrato e consequentemente maior oferta de
nutrientes, água e espaço para o crescimento radicular. José et al. (2005), produzindo
mudas de Schinus terebinthifolius, destacam que quanto menor o recipiente, menor será
a permanência dos elementos no substrato, tanto pelo consumo da muda, quanto por
lixiviação por causa da irrigação. Alguns estudos demonstram que a diminuição no
volume do recipiente causa restrição ao crescimento do sistema radicular e,
consequentemente, ocasiona menor altura das mudas de espécies florestais, como
Criptomerica japonica (SANTOS et al., 2000) e Peltophorum dubium
(BRACHTVOGEL e MALAVASI, 2010).
Em relação a resposta as diferenças significativas das doses (Tabela 2) as
equações de regressão das características de crescimento apresentaram coeficiente de
determinação (R2 inferior a 30%), devido a grande dispersão dos dados, características
próprias de variações de crescimento das mudas de jacarandá-da-bahia. Assim, houve
respostas, mas não foi possível detectá-las.
Os percentuais de sobrevivência aos cinco meses após o plantio, foram de 15 a
60% para mudas produzidas nos tubetes de 110 cm3 e de 45 a 85% para as mudas
produzidas em tubetes de 280 cm3 (Tabela 4). De acordo com o Art. 8º, item 4.2, da
Resolução INEA nº 89, de 03/06/14 (INEA, 2014), em reflorestamentos é aceitável
índice de mortalidade por espécie de até 20%, aos quatro anos após o plantio. Nesse
contexto, para as mudas produzidas em tubetes de 280 cm3, apenas aquelas que
receberam dose de fertilizante de 12 kg.m3 apresentaram sobrevivência superior a 80%
aos 5 meses após o plantio.

Tabela 4: Altura após plantio, sobrevivência e crescimento de Dalbergia nigra oriundas


de mudas produzidas em dois volumes de tubetes e a diferentes doses de N-P-K (15-09-
12) por m3 de substrato, aos cinco e doze meses após o plantio, em área de
reflorestamento, município de São Francisco do Itabapoana – RJ.
Volume Dose Plantio ----- 5 meses ------ ------------- 12 meses ------------
-
(kg.m
tubete 3 Alt.(cm) Sob.(%) Alt.(cm) Sob.(%) Alt.(cm) DNS(mm)
)
0 27,7 15 37,7 10 56,0 10,4
3 3 34,1 45 54,7 45 60,1 12,0
110 cm
6 38,4 60 47,9 55 69,0 13,9
12 39,5 55 50,4 40 53,0 12,2
Média 33,7 44 47,7 38 59,5 12,1
280 cm3 0 36,7 75 48,9 60 59,8 11,3
3 48,5 55 56,7 45 85,8 18,8
6 48,0 45 57,3 45 75,8 15,6
12 51,2 85 59,7 85 68,3 12,3
Média 46,1 65 55,7 59 72,2 14,5

Aos 12 meses após o plantio, dos tratamentos apenas a dose de 12 kg.m-3


atendeu a sobrevivência mínima de 80%, acarretando que os outros tratamentos não
atenderam a exigência, o que provavelmente aconteceu em função das características do
sitio de plantio. Como se observa pela Figura 1, o balanço hídrico da área de plantio
apresenta balanço positivo, com excesso de umidade nos meses de novembro e
dezembro, o que aliado a precipitação observada nos meses de janeiro, fevereiro, março
e abril, favoreceu a sobrevivência das mudas, até maio (5 meses), quando foi realizada a
primeira avaliação de sobrevivência.
No entanto, a fortíssima deficiência de umidade que é característica dos meses
de maio a setembro (Figura 1), aliado à ausência ou baixa precipitação neste período,
fez com que a mortalidade aumentasse muito, chegando aos 12 meses após o plantio
com sobrevivência dos tubetes de 110 cm3 de 38% e de 280 cm3 de 59%. Esta diferença
entre outros fatores, pode estar relacionado ao maior acumulo de nutrientes nas plantas.
Segundo Keller et al (2009) para as espécies florestais nativas, geralmente após do
plantio em campo o crescimento das raízes normalmente é lento e a absorção de
nutrientes do solo é limitada, desta forma, a sobrevivência o crescimento inicial
dependem da translocação de reservas internas de nutrientes.

CONCLUSÕES
Para as condições que foram realizadas o estudo, recomenda-se o uso do tubete de 280
cm3, sendo o substrato enriquecido com a dose de 12 kg.m3 de adubação de liberação
controlada de N-P-K (15-09-12) por m3 de biossólido na época de enchimento dos
recipientes.

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REABILITAÇÃO E ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES DE ATERRO

K D.R. Mota; F.A. Mateus; M.M. Bueno; M.G Tirelli; R. Valcarcel


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Laboratório de Manejo de Bacias
Hidrográficas, C.P. 74529, CEP 23890-000, Seropédica, Brasil,
[email protected]

RESUMO

Empreendimentos de mineração envolvem a remoção de grandes quantidades de solo e


subsolo durante o processo de lavra e acarretam eventualmente na formação de áreas de
aterro para depósito deste material. Este substrato, além de estar desprovido de atributos
físicos e químicos que permitam a colonização vegetal espontânea, apresenta-se
facilmente carreável, trazendo como consequência à formação de taludes, nos quais os
processos erosivos são acelerados. O uso da cobertura vegetal como medida mitigadora
dos impactos ambientais é uma opção coerente, prática e econômica, embora apresente
dificuldades inerentes ao substrato. As almofadas (medida físico-biológica) combinam
efeitos ambientais que induzem o processo de sucessão ecológica, permitindo à
reabilitação dessas áreas. Em 2012 se implantou medidas físico-biológicas (almofadas)
em talude de aterro em área de mineração em Queimados (RJ). Este projeto teve por
objetivo avaliar as modificações no substrato edáfico proporcionadas por essas medidas
conservacionistas transcorridos 4 anos. Foram instalados 4 tratamentos diferindo entre
si pela face de exposição de atributos ambientais (sul e oeste) e área de captação na
rampa. Comparando os valores entre os tratamentos com medidas e testemunhas, foi
possível reconhecer a efetividade do método empregado e sua sustentabilidade. As
modificações mais notáveis foram na composição granulométrica e resistência
superficial do substrato, contribuindo na estabilização do talude, primeiro passo para
sua reabilitação autossustentável, ou seja, sem gastos energéticos extras, como
adubação, irrigação, combate a mato competição.

Palavras Chave: Mata Atlântica, erosão, estabilização, taludes de aterro

Introdução
A mineração é uma das atividades que mais altera a superfície terrestre, afetando
desde o local explorado até o seu entorno, caracterizada com fonte de degradação
pontual (SOUZA et al., 2001). Esta atividade por força das suas especificidades
promove intensa degradação em pequenos sítios, impactando a água, o ar, a paisagem, o
solo, o subsolo e a vegetação, os quais são sentidos por toda a população (DIAS &
GRIFFITH, 1998; CORRÊIA, 2009; PINHEIRO, 2004).
Dentre os impactos ao meio ambiente gerados pela exploração mineral, está a
retirada de solo e subsolo, durante o decapeamento da área para a extração do minério
(SILVA et al., 2006). A destinação correta desse material é complexa, já que não têm
aproveitamento econômico, a solução invariavelmente repercute na formação de
grandes depósitos de aterros que apresentam restrições para construção civil.
Os taludes formados nas bordas dos aterros são ecossistemas novos, construídos
pelo homem, onde há pouca ou nenhuma agregação do solo. Desse modo suas partículas
não apresentam coesão natural, organização estrutural e são desprovidos de atributos
físicos e químicos que permitam a colonização e sustentação de espécies e sua
estabilidade física, sendo, portanto, ambientes altamente susceptíveis aos processos
erosivos de diferentes formas e magnitudes.
A crescente conscientização ambiental da sociedade e órgãos governamentais
aliada às ações dos ambientalistas tem acelerado a busca de novas “equações
ambientais”, que objetivam a minimização dos impactos a um baixo custo (SILVA,
2015). O grande desafio da comunidade acadêmica reside em oferecer alternativas
técnicas capazes de mitigar os impactos em sua consecução e, dentro do possível,
transformá-los em ativos ambientais, que venham a corroborar com a sustentabilidade
ambiental do empreendimento.
Nesse contexto, os projetos de reabilitação de áreas degradadas usam o
reafeiçoamento do terreno como meio de adequação do ambiente para receber as
técnicas de revegetação. Neste campo, os estudos ainda são incipientes, pois formas
geológicas associadas à paisagem não são possíveis de serem refeitas (PETERSEN et
al., 2004). Por isso em áreas de mineração a revegetação de taludes de estéril se torna
difícil, visto que o substrato contém baixos níveis de matéria orgânica, que auxilia na
estruturação e retenção de umidade do solo, atuando como fonte de nutrientes para os
vegetais (RUIVO, 1998).
Um modelo adotado como alternativa viável para auxiliar nos processos de
revegetação é através da implantação de medidas físico-biológicas, como “as
almofadas” (VALCARCEL & D'ALTÉRIO, 1998). As almofadas consistem em sacos
de ráfia com substrato orgânico e banco de sementes. Essas medidas consistem no
emprego de uma estratégia emergencial de reversão da problemática ambiental em curto
prazo, agilizando a sucessão ecológica e, criando ofertas de atributos ambientais para
que as espécies desempenhem seus serviços ecossistêmicos que se relacionam a
estabilização e funcionamento ambiental do meio físico (FRANCÊS &
VALCARCEL,1994; VALCARCEL & D'ALTÉRIO, 1998; VALCARCEL & SILVA,
2000).
Deste modo, o presente trabalho tem o objetivo de avaliar a estabilização da
superfície de taludes de aterro de terra solta, submetido a três tamanhos de áreas de
captação de chuvas intensas, dispostos em duas faces de exposição e submetidos à
medida físico-biológica de reabilitação de áreas degradadas.
Material e Métodos
Caracterização da área de estudo
A área de estudo localiza-se ao norte da Serra do Madureira-Mendanha, e integra
a bacia hidrográfica do Rio Guandu, região metropolitana do Rio de Janeiro, município
de Queimados (RJ), com a coordenada central 22°43'49.82"S e 43°32'43.87"O.
Situada no bioma Mata Atlântica, esta área é caracterizada por ambiente de
floresta estacional semidecidual. Os principais solos encontrados são Argissolos e
Latossolos Vermelho-Amarelos (SANTOS et al., 2013), o relevo é composto por
planícies flúvio-marinha, alternando com colinas isoladas (CPRM, 2001) e circunscritas
nos contrafortes da serra do Mar.
O clima tropical Aw (tropical chuvoso com inverno seco) segundo classificação
de Koppen (ALVARES et al., 2013). A precipitação média anual é de 1.274,3 mm
(INMET, 2016), ocorrendo de forma mal distribuída ao longo do ano, com períodos de
seca entre os meses de maio a setembro e os de maior precipitação entre os meses de
outubro a março (FIDERJ, 1978).
Antecedentes
Em 2011 para a instalação do empreendimento de mineração em Queimados
(RJ) se promoveu o aterro de área de várzea totalizando uma área plana como um platô
de 4,5 ha de superfície, com altura média de 20 m. O material estéril utilizado no aterro
foi retirado de diferentes procedências e amontoado sem ordenamento sequencial em
função da profundidade, contendo inclusive blocos de rocha extraídos da cava que
estava sendo desenvolvida pelo processo de mineração.
Essas áreas foram compactadas verticalmente, utilizando-se camadas sucessivas
de 0,30 m de aterro, espalhado com moto niveladora, umectada e compactada por meio
de rolos compactadores. Os taludes não tiveram compactação lateral, sendo formados a
partir de lançamento lateral. Estes taludes possuem 0,80 ha de área com 100% de
declividade.
A fim de recuperar a função e a forma do talude de aterro, no ano de 2012,
foram implantadas medidas físicas, biológicas e físico-biológicas.
As medidas físicas consistiram em obras de drenagem no topo e na base do
aterro. Já as medidas biológicas consistiram no plantio de sabiá (Mimosa
caesalpiniifolia Benth) com espaçamento de 0,5 m x 0,5 m e aroeira-pimenteira
(Schinus terebinthifolia Raddi) com espaçamento de 1 m x 1 m no topo do aterro,
formando um cinturão verde, e de ingá (Inga laurina Willd.), com espaçamento de 6 m
x 6 m na base do aterro.
A medida físico-biológica consistiu na implantação de almofadas no aterro
produzidas com sacos de ráfia de 60 kg repletos com banco de sementes coletado em
fragmentos florestais da região e solo orgânico proveniente de raspagem para
exploração de brita. O saco de ráfia seco é leve e, quando molhado, armazena umidade
por 60 dias. As almofadas foram dispostas equidistantes 2 x 2 m entre si. Foram
plantados sobre as almofadas coquetel de 6 sementes das espécies feijão de porco
(Canavalia ensiformis) e feijão guandu (Cajanus cajan) para formar microclima indutor
da germinação das espécies presentes no banco de sementes, dentro de um processo de
reabilitação. Estas espécies foram selecionadas por apresentarem características de
rusticidade, pequena demanda de nutrientes, rápido crescimento, sistema radicular
fasciculado, resistência as oscilações térmicas acentuadas em 24 horas e estresse
hídrico. Além disso, ambas depositam grandes quantidades de matéria orgânica e fixam
nitrogênio no solo (UFRRJ, 1991).
Tratamentos
A medida físico-biológica foi implantada no aterro em áreas com exposição
oeste e sul, que apresentam incidência de radiação solar (insolação matutina e insolação
vespertina) e interceptação das chuvas distintas.
Foram alocados quatros tratamentos de acordo com as características ambientais
distintas, sendo deixadas duas testemunhas onde não foram implantadas as medidas
físico-biológicas. A saber: Tratamento 1 (G1): talude sem almofadas e face Oeste (W);
Tratamento 2 (G2): talude sem almofadas e face Sul (S); Tratamento 3 (G3): talude com
almofadas face Sul (S); e Tratamento 4 (G4): talude com almofadas face Oeste (W)
As medidas foram implantadas em área amostral de aproximadamente 300m² em
taludes idênticos no tocante aos seus processos construtivos (comprimentos de rampa,
declividade e material). A área de rampa foi dividida e classificada em três faixas
altitudinais: e áreas de captação de chuvas distintas, de modo que as áreas mais
inferiores possuem áreas cumulativas: Área superior (AS) = Xm²; Área média (AM) =
X+Y m² e Área inferior (AI) = X+Y+Z m². No total foram realizadas 15 parcelas,
dispostas 2m entre si, por tratamento, compondo o universo amostral de 60 parcelas.
Avaliação dos parâmetros físicos
A fim de avaliar e testar a efetividades de aquisição de resistência pela presença
de vegetação regenerante, foram mensurados os seguintes parâmetros físicos do
substrato: análise textural, pelo método de pipeta descrito por Donagema et al. (2011);
densidade aparente pelo método anel de Kopeck, densidade real pelo método do balão
volumétrico e porosidade total (DONAGEMA, 2011); e resistência mecânica à
penetração (RP) através do penetrômetro de impacto Modelo IAA/Planalsucar (STOLF
1983).
Os pontos de análise e coleta foram dispostos no intervalo entre as parcelas, ou seja,
na área de influência de cada parcela, equidistantes 4 metros entre si. Nos taludes onde
não houve intervenção (testemunho), os pontos de análise e coleta foram amostrados
segundo o mesmo desenho amostral.
A análise dos dados quantitativos de textura do solo, densidade real e aparente e
porosidade total foi feita com base na interpretação Anova do teste “T” a 5% de
probabilidade de erro processados no programa SPSS 15. Para realização do teste
parametrico foi testada a homogeneidade e normalidade dos dados.

Resultados e Discussão
Densidade, porosidade total e textura
Transcorridos 4 anos da implantação das medidas, constatou-se que de forma
incipiente, os tratamentos G3 e G4 (com medidas) foram mais eficientes na indução do
processo de edafização, em comparação com as testemunhas.
Tabela 012: Análise das médias dos parâmetros físicos do substrato edáfico nos taludes
de aterro em Queimados, RJ.
T-Trat Argila Silte Areia Areia P.T DAP DR
P-Pont Fina Grossa
G1 26,6a 2,9a 15,1a 55,4a 47,75a 1,35a 2,59a

G2 24,0a 3,7a 18,8a 53,45a 52,98ab 1,19b 2,59a

G3 50,4b 8,7ab 9,5a 31,3b 57,48b 1,08b 2,53a

G4 42,3b 7,2ab 14,0a 36,8b 53,24ab 1,12b 2,56a


Nota: Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste T. (DAP)
= densidade aparente; (DR) = densidade real e (P.T) - porosidade total.
Para os tratamentos testemunhas G1 e G2, os baixos teores de argila e silte
evidenciam que as partículas mais finas foram carreadas para as partes mais baixas,
restando somente as frações mais grosseiras no terreno, independentemente da face de
exposição.
No talude do tratamento G1, grandes volumes de substrato foram deslocados,
apresentando processos erosivos avançados, como voçorocas e ravinas. Todavia os
tratamentos G3 e G4 foram mais eficientes na contenção dos processos erosivos,
apresentando maiores percentagens de argila e silte, inclusive silte que é altamente
carreável, demonstrando uma menor perda de substrato por “run-of”. Assim presença de
maior teor de argila proporcionou modificações na estrutura do solo, típicas de
ambientes mais desenvolvidos (D’ALTÉRIO & VALCARCEL, 1998).
Os maiores teores de argila encontrados nos tratamentos demonstram a
importância conservacionista das medidas de reabilitação de áreas degradadas em tão
somente 4 anos, descontando-se o tempo de estabelecimento das sementes e, sua
consequente formação de plantas. Estudando taludes de corte com horizonte C exposto,
em experimentação análoga D’Altério & Valcarcel (1996), encontraram resultados
semelhantes.
A textura mais argilosa aliada ao teor mais elevado de matéria orgânica no
substrato proporcionaram a formação de uma estrutura mais desenvolvida e um
acréscimo na porosidade total. Segundo Brady (1989) as propriedades físicas dos solos
são reguladas principalmente pela argila e pelo húmus, pois estes agem como centros de
atividade, em cujo redor ocorrem reações químicas e trocas de substâncias nutritivas.
Além disso, mediante atração de íons para suas superfícies, protegem temporariamente
as substâncias nutritivas essenciais contra lixiviação, liberando-as então lentamente para
a utilização pelos vegetais BRADY (1989).
Segundo Odum (1988) a presença de matéria orgânica agindo na estabilização
desses taludes pode ser explicada pelo fato do processo de umidificação ser mais rápido
em vegetação de gramínea que em solos florestais, por exemplo. No caso de uma
gramínea a planta inteira, incluindo as raízes, é pouco duradoura. A cada ano acrescenta
grandes quantidades de matéria orgânica, a qual se decompõe rapidamente, deixando
pouco serrapilheira, mas muito húmus. Na floresta a serrapilheira e as raízes decompõe-
se lentamente e como a mineralização é rápida, a camada de húmus permanece estreita
Os valores de densidade real ou densidade da partícula não diferiu
estatisticamente entre os tratamentos. A densidade real relaciona a massa de uma
amostra de solo e o seu volume indeformado, solos com altos teores de matéria orgânica
apresentam valores de densidade real baixos (BRADY 1989). Os valores observados
variaram entre 2,53 a 2,59 g/cm² valores considerados médios (EMBRAPA, 1997). A
análise através do método anel de kopeck objetivou avaliar os 5 cm de profundidade,
equivalentes a espessura do anel na superfície do terreno, onde os efeitos edafogênicos
não foram detectados devido ao incipiente desenvolvimento pedogenético do substrato,
não havendo tempo hábil para a formação diferencial de estrutura do solo, talvez pela
ineficiência ou ausência no controle da ciclagem de nutrientes. (VALCARCEL &
D’ALTÉRIO, 1998).
Para valores de densidade aparente, somente G1 diferiu estatisticamente dos
demais. Segundo classificação da Embrapa (1997) nesse tratamento, o substrato é
classificado como arenoso (faixa entre 1,25 e 1,40 g/cm³).
A porosidade total como indicador de desenvolvimento pedogenético rápido,
mostrou que nos taludes com intervenção conservacionista houve atividades das raízes e
manutenção da umidade diferenciada, apesar deste não se mostrar estatisticamente
diferente. As plantas aumentam a porosidade pelos efeitos de suas raízes e propiciam
manutenção da umidade exercendo papel essencial na reabilitação de ecossistemas
degradados (COELHO & PEREIRA ,2006).
Para os dados totais de parâmetros físicos do solo não houve diferença entre as
faces de exposição, ou seja, o fator áreas com atributos ambientais distintos (exposição
solar e de precipitação), não interviu nos parâmetros físicos dos substratos com o tempo,
destacando tão e somente o papel exercido pela vegetação. Isso se explica também pelo
fato de não serem observadas nenhuma diferença entre as alturas (AS, AM e AI) dentro
de cada tratamento confirmando que o efeito das áreas de captação, não influenciou o
substrato consideravelmente a ponto de alterarem seus parâmetros físicos no espaço de
4 anos.

Resistência à Penetração (RP)


Após 4 anos da implantação das medidas constatou-se diferenças entre os
tratamentos com medidas físico-biológica e as testemunhas para a resistência a
penetração do substrato. A partir da leitura do gráfico abaixo é possível definir
claramente dois grupos distintos: os tratamentos com medidas G3 e G4 e testemunhas
G1 e G2. (Figura 01).
Figura 01: Médias de RP nos diferentes tratamentos.

Para as testemunhas (G1 e G2) não foram observadas diferenças entre faces de
exposição (sul ou oeste), dessa forma a exposição diferenciada de atributos ambientais e
climáticos não interviram na resistência do substrato.
O comportamento do substrato sem a presença das medidas apresentou pouco ou
nenhuma resistência quando da leitura com o penetrômetro. Em muitos casos, a haste do
penetrômetro afundava completamente com o próprio peso do equipamento, semelhante
ao substrato “oco” em alguns pontos de análise.
Em campo foi observado o selamento do solo, provocado pelo efeito splash, de
modo que se conformava superficialmente, porém se tornava completamente instável a
qualquer esforço ou evento de chuva mais intensa.
Como a matéria orgânica presente no solo, tem poder agregador e de arranjo dos
agregados (COELHO & PEREIRA, 2006), a não adoção das medidas físico-biológicas
proporcionou uma menor força estrutural desse substrato, e por consequência o aumento
da susceptibilidade aos processos erosivos, seja pela presença reduzida ou ausência das
raízes na ancoragem do substrato, ou pela ausência do papel físico exercido pela ação
das almofadas, ou pelas obras físicas de drenagem.
Para os tratamentos com medidas G3 e G4, a presença da vegetação induzida ou
regenerante provocou mudanças consideráveis no substrato edáfico. A resistência à
penetração nos primeiros 10 centímetros do substrato foi maior onde houve a
implantação das medidas e a vegetação promoveu importante papel na estabilização do
terreno desde a superfície. Esse fator se justifica pelo “entramamento” das raízes da
vegetação surgida pela oferta adicional de meios para que espécies mais exigentes
conseguissem chegar, colonizar e se estabelecer nestes locais, reforçando
estruturalmente a superfície do substrato. Segundo Coelho & Pereira (2006) o aumento
da resistência ao cisalhamento do solo está vinculado diretamente à transferência direta
das tensões de cisalhamento para resistência das raízes à tensão. Essa transferência
ocasiona incrementos consideráveis na resistência, com consequente redução da
erodibilidade, e no aumento da estabilidade do solo.
Para as diferentes alturas à partir da rampa dos taludes, foram observados
diferenças, decorrente das áreas de captação distintas. (Figura 02).
Aa Ab
Aa

Ba Bb
A Três alturas e áreas de captação de chuvas distintas
Nota:
Aa
(AS-superior Xm2; AM-média
A 2 2
X+Y m ; AI - Inferior X+Y+Z m . Letras maiúsculas iguais correspondem: A= face de
Aa
exposição oeste e B= face sul. Letras minúsculas iguais representam tratamento sem e
com medidas, respectivamente

Figura 02: Médias de resistência a penetração do substrato dentro de cada tratamento


nas diferentes alturas.

As testemunhas (Figura 15Aa e Ba) com exposição (sul e oeste) não


representaram influência para RP, embora as alturas tenham sido distintas entre si. As
porções mais altas do talude (AS) que recebem menor área de captação foram mais
resistentes à penetração, caracterizando que provavelmente o lavado de sedimentos
finos deva ter sido menor com o tempo, do que as áreas mais baixas (AI). As chuvas
incidindo sobre o substrato desnudo acarretam fortes processos erosivos, pois o terreno
está solto e sem coesão, ou seja, apto a ser transportado. O substrato desestabilizado é
transportado para áreas baixas, entulhando com material arenoso estas áreas, o que foi
perceptível a partir das leituras do penetrômetro com menor resistência.
Já para as áreas com medidas físico-biológicas (Figura 15 Ab e Bb) a área de
captação não teve influência na diferença de resistência do substrato nas alturas. A
presença da almofada, funcionou também com medida física eficaz, por controlar os
fluxos laminares impedindo grande parte do escoamento superficial. Segundo Martins
(2013) a rápida cobertura do solo, proporcionado pelas almofadas evita a erosão laminar
e em sulcos, minimizando as perdas de solos nos taludes. Isso proporcionou em termos
de RP, uma homogeneidade da área de rampa do talude, e uma maior estabilização da
área total no terrenos frente aos processos erosivos.

Conclusão
A medida físico-biológica propiciou celeridade na reabilitação de talude de
aterro modificando parâmetros físicos e bióticos estudados em exíguo espaço de tempo
(4 anos), afetando composição granulométrica, resistência superficial do substrato e
estabilização do talude. A face de exposição e tamanho da área de captação não
constituíram fatores ecológicos capazes de diferençar a oferta adicional atributos
ambientais para influir na reabilitação em 4 anos.
As medidas físico-biológicas constituem sinalizações inequívocas da oferta de
atributos ambientais entre áreas com e sem tratamento conservacionista, fator essencial
na celeridade da reabilitação de áreas degradadas por meio de composição da vegetação
adequada.

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AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE GERMINAÇÃO DO BANCO DE


SEMENTES DE ESPÉCIES NATIVAS NO PLANALTO CATARINENSE

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DREYER¹; M. R, KANIESKI¹

¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de Ciências


Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta Dinheiro - Lages – SC, Brasil.
CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-9100. E-mail:
[email protected]

RESUMO

O objetivo deste trabalho consistiu em avaliar o potencial de germinação do banco de


sementes de uma área de Floresta Ombrófila Mista no Planalto Catarinense para uso em
áreas degradadas. A coleta do banco de sementes foi em um fragmento florestal, no
município de Lages, SC. Foram instaladas aleatoriamente oito parcelas de 5 m x 5 m
subdivididas sistematicamente em dimensões de 0,5 m x 0,5 m (0,25 m²) na
profundidade de 5 cm para coleta das amostras de serapilheira e solo posteriormente
transpostas em oito bandejas de 36 x 23 x 7 cm em casa de vegetação. A avaliação do
experimento consistiu na identificação do número de plântulas que emergiram. Dentre
as espécies do banco de sementes foram identificadas predominantemente espécies
herbáceas, destacando-se as famílias Cyperaceae (26,92%), Asteraceae (23,08%),
Poaceae e Solanaceae (11,54% cada). Dentre as espécies com maior número de
germinantes destacou-se Oplismenus hirtellus, Cyperus odoratus (23,67%), Carex sp.
(13,83%) e Fimbristylis ferrugínea (9,04%) que indicam presença de solos
compactados. Das espécies arbóreas destacaram-se Solanum mauritianum e Mimosa
scabrella. O maior número de espécies foi encontrado para as coletas realizadas em
locais planos próximos a cursos d’água e em local de transição do terreno
plano/declivoso.

Palavras Chave: Áreas degradadas, casa de vegetação, serapilheira, espécies herbáceas

INTRODUÇÃO
A sociedade moderna identifica-se como um modelo de transformação e
modificação do meio ambiente, no qual tem gerado o aumento de produção e do
consumo associado ao crescimento populacional e urbanização (BRAGA et al., 2002).
Com o processo acelerado de urbanização, as ações antrópicas provocam deterioração
dos ecossistemas, que causam a degradação ambiental.
De acordo com IBAMA (2016), a degradação ambiental ocorre quando há
remoção da vegetação nativa, da fauna existente, assim como, quando a camada fértil do
solo é exposta a intempéries e, consequentemente, alterando a qualidade e o regime de
vazão do sistema hídrico. O resultado disto é perda da capacidade de resistência e
resiliência da área necessitando intervenção antrópica no processo de recuperação
(MARTINS, 2009). Porém, atualmente, já existe uma crescente conscientização da
sociedade para estes problemas ecológicos ocorrentes, aumentando consideravelmente a
fiscalização ambiental e o aumento da procura por sementes e mudas nativas
(AZEREDO et al., 2003).
O banco de sementes, ou seja, a reserva de sementes que ainda não foram
germinadas em determinada área, é constituído por sementes que podem ser produzidas
localmente ou por transporte (zoocoria/anemocoria), sendo de suma importância para a
dinâmica e restabelecimento de ecossistemas florestais, inclusive os que sofreram
distúrbios, além de contribuir para a manutenção da diversidade das espécies
(GROMBONE-GUARATINI; RODRIGUES, 2002). Assim, quando deslocados para a
área degradada, estas espécies terão potencial para suprir elementos que se encontram
deficientes no solo, como carbono e nitrogênio, absorvendo nutrientes minerais,
degradando matéria orgânica e atuando em diversas atividades importantes para o
equilíbrio biológico do solo (MOREIRA; SIQUEIRA, 2002).
Em virtude do que foi mencionado, este trabalho teve como objetivo avaliar o
potencial de germinação do banco de sementes de uma área de Floresta Ombrófila
Mista no Planalto Catarinense para uso em áreas degradadas.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido na Fazenda Experimental do Centro de Ciências


Agroveterinárias (FECAV), pertencente à Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC). A FECAV (Figura 1) está localizada à 25 Km do município de Lages e
apresenta as coordenadas geográficas Latitude S 27°45'33,5" e Longitude W
50°04'55,1" e um total de 190 hectares de fragmentos florestais e área mecanizada.
Figura 1. Mapa da área com destaque para os pontos de coleta de serapilheira e solo na
FECAV, no município de Lages, SC.

O clima, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Cfb e precipitações


pluviais bem distribuídas com média anual de 1.600 mm e altitude média de 916 m
(ALVARES et al., 2013). A vegetação é classificada como Floresta Ombrófila Mista
(FOM) (IBGE, 2012). O solo do local é Cambissolo Húmico Alumínico Léptico
(EMBRAPA, 2013).
Em novembro de 2016, em cada um dos oito pontos de coleta (Figura 1)
determinados aleatoriamente, foram instaladas parcelas de 5 m x 5 m e estas
subdivididas sistematicamente ao lado esquerdo de cada parcela, em uma área de 0,5 m
x 0,5 m (0,25 m²). Com auxílio de um esquadro (gabarito) de madeira, nessas sub-
parcelas foram realizadas as coletas de serapilheira e solo a uma profundidade de
aproximadamente 5 cm. Os pontos 1, 2, 3 e 8 apresentavam-se em local plano, já os
pontos 4, 5, 6 e 7 apresentavam declividade. Após a coleta, as amostras foram
armazenadas em sacos plásticos e identificadas para o transporte.
A fim de verificar o potencial de germinação das sementes encaminharam-se as
amostras de serapilheira e solo dos sacos plásticos para casa de vegetação do viveiro de
pesquisa florestal da UDESC-CAV. Estas coletas foram acondicionadas em bandejas
plásticas de dimensões 36 cm x 23 cm x 07 cm, com furos para drenagem, sob irrigação
diária automática por aspersão.
Foram realizadas três avaliações mensais de dezembro de 2016 a fevereiro de
2017. Em cada avaliação contabilizou-se qualitativa e quantitativamente as plântulas
emergentes, sendo que, o indivíduo contado em cada avaliação era posteriormente
retirado da bandeja. A identificação das espécies foi realizada por meio de literatura
especializada e consulta a especialistas. As espécies amostradas foram classificadas em
famílias e forma de vida de acordo com a APG IV (BYNG et al., 2016).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não foram observadas plântulas regenerantes na primeira avaliação realizada em
dezembro de 2016. Na segunda avaliação (Janeiro) foram contabilizadas 170 plântulas
regenerantes e na terceira avaliação (Fevereiro) 206 plântulas, totalizando 376
indivíduos avaliados. Dos indivíduos avaliados (Figura 2B), 88,83% apresentam-se
forma de vida herbácea. Apenas 5,05% dos indivíduos apresentam forma de vida
arbórea. Para indivíduos que apresentam forma de vida arbustiva ou subarbustiva,
representaram 0,53 e 1,06% dos indivíduos contabilizados, respectivamente.

15 A B
Plana
10 Declivosa

0
0 2 4 6 8 10

100

75

50

25

0
AR ER ARB SBA VAR

Figura 2. Avaliação do número de espécies regenerantes nos pontos de coleta (A) e


porcentagem de indivíduos de acordo com as formas de vida (B) (AR: árvore; ER: erva;
ARB: arbusto; SBA: subarbusto; VAR: ER, SBA, AR).

Resultado semelhante foi obtido por Siqueira (2002), em estudo do banco de


sementes de duas áreas restauradas em Piracicaba e Iracemápolis, São Paulo, no qual
18,7% das espécies germinadas do banco de sementes foram representadas por espécies
arbóreas e 81,30% por espécies herbáceas em Piracicaba e 18,10% foram espécies
arbóreas e 81,9% espécies herbáceas em Iracemápolis. No entanto, existe uma tendência
de redução na densidade de espécies herbáceas no banco de sementes e o aumento de
espécies arbóreas com o avanço e desenvolvimento das plantas favorecendo a sucessão
em florestas secundárias (LEAL FILHO, 1992; BAIDER et al., 2001).
Considerando os pontos de coleta do solo e banco de sementes, o maior número
de espécies foi obtido dos solos coletados nos pontos de área plana, com exceção do
ponto 8 (Figura 2A); ao contrário do solo coletado nos pontos de área com declive, no
qual apresentaram o menor número de espécies regenerantes, com exceção do ponto 5
que inclusive demonstrou maior número de espécies que os pontos 1, 2 e 3.
As exceções mencionadas podem ser justificadas pela diferença de altitude entre
um ponto de coleta e outro. Isto porque os pontos 1, 2 e 3 foram em locais próximos a
cursos d’água e, o ponto 8 na parte mais alta do fragmento. O solo coletado do ponto 5
pode ter apresentado o maior número de espécies em virtude de estar em meio as duas
condições de altitude, sendo um local de transição das espécies regenerantes.
No total foram encontradas 26 espécies, entre elas herbáceas e arbustivas, nas
oito bandejas analisadas. As espécies estão distribuídas em 11 famílias botânicas, as
quais se destacaram: Cyperaceae (26,92%), seguida de Asteraceae (23,08%), Poaceae e
Solanaceae (11,54% cada) representando 73,08% das espécies avaliadas. As demais
famílias, Fabaceae, Lamiaceae, Malvaceae, Onagraceae, Oxalidaceae, Rubiaceae e
Verbenaceae apresentaram apenas uma espécie cada (3,85%), somando juntas 26,92%
do total amostrado (Tabela 1).
Cyperaceae, a família mais abundante, é apontada como promissora na
fitorremediação de solos com elevados teores de elementos-traço (KABATA-
PENDIAS, 2011), reduzindo assim a perturbação no ambiente e facilitando o
restabelecimento da biodiversidade local com o passar do tempo (FRANÇA, 2016).
Mesquita et al. (2006) ao estudar a germinação do banco de sementes do solo em casa
de vegetação, obteve maior representatividade da família Cyperaceae. Fato explicado
por a família apresentar distribuição cosmopolita, podendo crescer desde regiões
alagadas ou sujeitas a inundações, até em locais secos (DALHGREN et al., 1985; GIL;
BOVE, 2007). Cyperaceae está entre as três maiores famílias de áreas campestres,
juntamente com Asteraceae e Poaceae (ARAÚJO, 2003).
A família Asteraceae, a segunda mais abundante neste estudo, foi mencionada
por Ferreira (2011), como a família de grande importância para a restauração de áreas
degradadas, pois as espécies desta família apresentam polinização e dispersão facilitada
pelo vento, que é constante e determina a sua presença e distribuição (PALMA et al.,
2008). Isto porque, as sementes apresentam-se pequenas e com reservas escassas que,
quando expostas a luz e sobre o solo, germinam imediatamente, podendo iniciar seu
estágio autotrófico (SHELDON, 1974).

Tabela 1. Avaliação qualitativa e quantitativa das espécies germinadas: O: origem (N:


nativa; NE: nativa endêmica; EX: exótica; CL: cultivada; NA: naturalizada); FV: forma
de vida (SBA: subarbusto; ER: erva; ARB: arbusto; AR: árvore); C2: Avaliação 2; C3:
Avaliação 3; na casa de vegetação CAV/UDESC, Lages, SC.

Família Espécie O FV C2 C3

Conyza canadensis (L.) Cronquist N SBA 1 3


Erechtites hieraciifolius (L.) Raf. ex DC. N ER 2 -
Erechtites valerianifolius (Wolf) DC. N ER 5 2
Asteraceae
Grazielia serrata (Spreng.) R.M.King &
N ARB 1 0
H.Rob.
Senecio brasiliensis (Spreng.) Less. N ER - 2
Vernonanthura sp. N ARB 4 -

Carex sp. N ER 35 17
Cyperus difformis L. N ER - 3
Cyperus odoratus L. NE ER 2 87
Cyperaceae Fimbristylis ferruginea (L.) Vahl N ER 16 18
Kyllinga brevifolia Rottb. N ER 8 2
Rhynchospora cf. alba (L.) Vahl EX ER 2 -
Rhynchospora corymbosa (L.) Britton N ER 1 1

Fabaceae Mimosa scabrella. Benth. N AR 12 1

Lamiaceae Salvia officinalis L. CL ER - 4

Malvaceae Sida rhombifolia L. N ER 3 -

ARB, ER,
Onagraceae Ludwigia octovalvis (Jacq.)P. H. Raven N 3 1
SBA

Oxalidaceae Oxalis corniculata L. NA ER 11 8

Axonopus compressus Sw. N ER - 7


Poaceae Oplismenus histellus (L.) P. Beauv. N ER 46 45
Paspalum setaceum Michx. N ER - 3

Rubiaceae Richardia scabra L. N ER, SBA 11 2

Solanum aculeatissimum Jacq. N ARB 1 -


Solanaceae Solanum americanum Mill. N ER 3 -
Solanum mauritianum Scop. Voucher. N AR 2 -

Verbenaceae Verbena litoralis Kunth. N ER 1 -

Do mesmo modo, a família Solanaceae apresenta grande importância para a


restauração de áreas, de acordo com Gandolfi et al. (1995), devido às diversas espécies
pioneiras importantes na recuperação de áreas degradadas, as quais apresentam rápido
crescimento, que permitem o estabelecimento de espécies tardias no local, promovendo
o avanço sucessional. Schneider et al. (2016), em avaliação de medidas de recuperação
em área degradada no planalto catarinense, identificaram a presença de indivíduos de
Solanum mauritianum evidenciando o potencial de germinação deste gênero na região.
Considerando as espécies identificadas, as espécies que apresentaram maior
frequência de indivíduos foram Oplismenus histellus (24,20%) da família Poaceae,
Cyperus odoratus (23,67%), Carex sp. (13,83%) e Fimbristylis ferrugínea (9,04%) da
família Cyperaceae, evidenciando o potencial de uniformidade de distribuição de cada
espécie no terreno com um total de 70,74%. As demais espécies somam 29,26% de
frequência. A espécie Oplismenus histellus, da família Poaceae é caracterizada como
gramínea, ocorrendo naturalmente em áreas sombreadas de bordas de matas e florestas
semidecíduas (BARRETO E KAPPEL, 1967).
Souza et al. (2006), na avaliação do banco de sementes contido na serapilheira
de um fragmento florestal visando recuperação de áreas degradadas, verificaram que
houve dominância das espécies herbáceas com 76,91% contra 23,09%, concluindo desta
forma que a serapilheira apresenta potencial para a recuperação de áreas degradadas. Da
mesma forma, os autores explicam que a grande quantidade de sementes de espécies
herbáceas encontradas pode estar relacionada com o ciclo de vida dessas espécies, a
produtividade de sementes, a ausência ou não continuidade do dossel, que facilitaria a
entrada de suas sementes e sua incorporação no solo.

Conclusão

O banco de sementes foi composto principalmente por espécies herbáceas, com


as espécies Oplismenus histellus da família Poaceae, Cyperus odoratus, Carex sp. e
Fimbristylis ferrugínea da família Cyperaceae, o que demonstra o potencial destas
espécies para a recuperação de áreas degradadas. Para as espécies arbóreas destacaram-
se Solanum mauritianum e Mimosa scabrella. Também foi observado que o maior
número de espécies foi encontrado para as coletas realizadas em locais planos próximos
a cursos d’água e em local de transição plana/declivosa.

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APERFEIÇOAMENTO TECNOLÓGICO DA SEMEADURA DIRETA DE


ESPÉCIES NATIVAS PARA A RESTAURAÇÃO FLORESTAL

F. B. GIACOMELLI; G. A. MORAIS

Universidade Estadual de Mato Grosso do sul (UEMS), Unidade de Ivinhema, Av. Brasil,
771, Bairro Centro, 79740-000, Ivinhema-MS, Brasil, [email protected]
(69) 998402579.

RESUMO

A técnica de semeadura direta apresenta-se como alternativa promissora para plantios de


espécies florestais nativas em áreas degradadas, requerendo mais estudos para favorecer o
uso em projetos de restauração ecológica pela melhoria da plantabilidade e custo-benefício.
A partir de um “mix” de 10 espécies de árvores nativas, objetivou-se avaliar o efeito da
densidade e da cobertura das sementes na emergência de plântulas, sendo neste artigo
apresentado dados de Guazuma ulmifolia Lam. O estudo foi conduzido na Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul, em Ivinhema. As sementes foram coletadas de 12
matrizes e submetidas a testes germinativos em câmara de germinação à 25°C e iluminação
constante. Os dados diários de germinação foram utilizados para os cálculos de:
porcentagem final; índice de velocidade e tempo médio. Em campo, foram avaliadas três
diferentes densidades de semeadura (D1=3, D2=6 e D3=12 sementes) em 2,5m lineares
combinadas com três condições de cobertura das sementes (C1=2cm de solo, C2=2cm de
palha e C3=2cm de solo + palha), sendo o controle (C) representado pelas sementes
dispostas sem cobertura (SC), totalizando 9 tratamentos e 3 controles. O experimento foi
realizado em três repetições, utilizando ao todo 252 sementes de cada espécie. Os dados de
emergência foram coletados diariamente por 30 dias após a primeira emergência e
utilizados para os mesmos cálculos mencionados para germinação. Os dados foram
submetidos à análise de variância (Anova) a 5% de probabilidade e, havendo efeito
significativo, as médias serão submetidas ao teste de Tukey. O potencial germinativo de G.
ulmifolia em laboratório alcançou 95%, mas no campo, o máximo de emergência
observado foi de 66,7%. Não houve emergência em CD1 e D1C2. A densidade não
influenciou significativamente na emergência, mas a cobertura com solo e solo + palha
superou as demais condições de cobertura das sementes, proporcionando maior taxa de
emergência.

Palavras Chave: áreas degradadas, florestas nativas, restauração ecológica, emergência,


germinação

1.1.2 Introdução

A supressão da vegetação ciliar, em decorrência da expansão desordenada das


atividades agropecuárias é uma das principais causas de degradação em áreas protegidas, o
que contribui para o surgimento e intensificação de processos erosivos, assoreamento de
corpos hídricos, perda da biodiversidade e empobrecimento do solo, dentre outros fatores
(FERREIRA et al., 2009).
A restauração ecológica é definida como o processo de apoio à recuperação de um
ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído (SER, 2004), com o objetivo de
criar um ambiente autossustentável que seja resistente à perturbação, sem mais assistência.
Esta atividade vem sendo exaltada para resgatar parte da biodiversidade e dos serviços
ambientais perdidos com a degradação (CHAZDON, 2008).
Para Meneghello e Mattei (2004), o modelo baseado no plantio de mudas é o mais
difundido, porque permite uma recolonização com densidade inicial apresentando certa
uniformidade. No entanto, essa técnica, dentre outros problemas, tende a apresentar alto
custo econômico, o que inviabiliza a sua utilização, por parte de interessados com
restrições econômicas. Além disso, em algumas regiões do Brasil, a obtenção de mudas
estratégicas, em termos de quantidade adequada, qualidade genética, riqueza de espécies e
bom estado fitossanitário, representa limitações associadas à sua adoção.
A semeadura direta de plantas arbóreas tem registros desde 1870 na Austrália
(IRVING, 2004; CARR et al., 2009), e hoje é amplamente usada no mundo todo (DOUST
et al., 2006; BALANDIER et al., 2009; BONILLA-MOHENO e HOLL, 2010), porém há
apenas 20 anos ela tem sido avaliada cientificamente, em apenas algumas dezenas de
artigos científicos (ENGEL; PARROTA, 2001; CAMARGO et al., 2002; DOUST et al.,
2008; COLE et al., 2011; CAMPOS-FILHO et al., 2013). Segundo Engel e Parrota (2001),
a seleção de espécies de acordo com suas características fisiológicas, grupo funcional e
ecológico é a chave para tornar a semeadura direta uma técnica vantajosa para o rápido
preenchimento de áreas degradadas com custo de implantação reduzido em relação à
utilização da muda.
É sugerida como uma alternativa eficaz e barata para a restauração ecológica, mas,
para que ela seja amplamente utilizada para a restauração de ecossistemas tropicais, é
necessário conhecer as espécies e as características funcionais adequadas à técnica e
aprimorar técnicas que aumentem a germinação e a sobrevivência de plântulas, como a
profundidade de plantio e a densidade de semeadura (SILVA, 2015). Considerando a
possibilidade de utilizar um mix de sementes de espécies brasileiras, uma das principais
dificuldades está relacionada às falhas da germinação, que dificultam ou impedem o
estabelecimento de plântulas e, consequentemente, a recuperação da vegetação (CURY;
CARVALHO Jr., 2011).
Aprimorar algumas práticas, difundidas pela agroecologia, como a utilização do
mulch (cobertura do solo com palha de capim), para superar os gargalos de predação e
dessecação de sementes e plântulas, combater as plantas espontâneas para evitar a
competição, aumentar a infiltração de água no solo e reduzir a erosão, melhorando as
condições físico-químicas do solo (HAYWOOD, 1999), pode contribuir para o maior
desenvolvimento desta técnica e, desta forma, suprir a demanda pela restauração ecológica
(SILVA, 2015).
Neste estudo serão testadas as hipóteses de que: (i) o enterramento das sementes
favorece a emergência; (ii) a cobertura com palha minimiza extremos microambientais e
impede a emergência de gramíneas invasoras (Urochloa sp.), favorecendo a emergência e
o desenvolvimento das plântulas de espécies nativas.
Assim, a partir da semeadura de um mix de 10 espécies arbóreas nativas regionais,
objetivou-se, neste artigo, avaliar o efeito da densidade e da cobertura das sementes na
emergência e no estabelecimento de plântulas de Guazuma ulmifolia Lam., comparando-se
a emergência nas diferentes condições analisadas.

Material e Métodos

Esta pesquisa foi conduzida nas dependências da Universidade Estadual de Mato


Grosso do Sul, município de Ivinhema, Mato Grosso do Sul, Brasil. O município apresenta
precipitação anual média de 1.400 a 1.700 mm, bem distribuídos e mais abundantes nos
meses de setembro a abril; já as temperaturas oscilam em torno de 23°C (SEMAC, 2011).
O clima é classificado como subtropical úmido, segundo a classificação de Köppen, sendo
caracterizado como AW (quente, com chuvas de verão) e CW (tropical de altitude, com
chuvas de verão) (SEMAC, 2011). O solo do munícipio é predominantemente do tipo
Latossolo, possuindo baixa fertilidade natural e ora apresentado textura argilosa, ora
textura média. Em algumas áreas de drenagem, há predominância de Nitossolos de textura
arenoso-média e arenoso-argiloso (SEMAC, 2010). A vegetação do município é
caracterizada pela transição entre Mata Atlântica e Cerrado, denominada Floresta
Estacional Semidecidual Submontana (POTT et al., 2014).
As sementes utilizadas para a composição do mix pertencem a espécies nativas de
Mato Grosso do Sul, sendo elas: amendoin-bravo (Pterogyne nitens Tul.); angico
(Anadenanthera peregrina (Benth.) Altschul); canafistula (Peltophorum dubium (Spreng.)
Taub.); farinha-seca (Albizia niopoides (Spruce ex Benth.) Burkart); garapeira (Apuleia
leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr.); ipê-tarumã (Sparattosperma leucanthum (Vell.) K.Schum.);
leiteiro (Tabernaemontana hystrix Steud.); mamoninha (Mabea fistulifera Mart.);
mutambo (Guazuma ulmifolia Lam.), objeto deste artigo; e saguaragi-vermelho (Colubrina
glandulosa Perkins). A escolha das espécies foi baseada na disponibilidade de sementes
nos meses de agosto e setembro de 2016 no município, no potencial de sombreamento
rápido do solo e de atração de animais dispersores.
As sementes foram coletadas de diferentes matrizes (de 6 à 12) para cada espécie.
A coleta dos frutos de mutambo foi realizada manualmente e com auxílio de podão,
quando iniciaram queda espontânea, e beneficiados manualmente.
Ensaios germinativos
Após o beneficiamento, 100 sementes foram submetidas a testes de germinação na
Unidade da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul em Ivinhema. Para tanto, as
sementes foram desinfetadas com hipoclorito de sódio 2%, em seguida lavadas em água
corrente e dispostas em quatro placas de Petri (25 sementes/placa), contendo papel filtro
como substrato, umedecido com água destilada e mantidas à temperatura de 25 °C, sob luz
constante, em câmara de germinação tipo B.O.D. As sementes foram submetidas a
tratamento para superação da dormência empregando-se a técnica de choque térmico, pela
imersão das sementes em água à 95°C durante 2 minutos seguida de imersão em água à
temperatura ambiente durante 2 horas.
A germinação foi acompanhada diariamente durante um período de 30 dias, sendo
consideradas germinadas as sementes com protrusão da raiz primária maior ou igual a 2
mm. Os números de sementes germinadas foram utilizados para os cálculos dos seguintes
parâmetros: porcentagem final de germinação (%G), índice de velocidade de germinação
(IVG), tempo médio de germinação (TMG) e frequência relativa (FR) (BORGHETTI;
FERREIRA, 2004).

Semeadura direta
Em campo, foram avaliadas três diferentes densidades de semeadura (D1=3, D2=6
e D3=12 sementes) em 2,5m lineares combinadas com três condições de cobertura das
sementes (C1= 2cm de solo, C2= 2cm de palha, C3= 2cm de solo + palha), sendo o
controle (C) representado pelas sementes dispostas sem cobertura (SC), totalizando 9
tratamentos e 3 controles assim denominados:

T1 – D1 C1 T4 – D2 C1 T7 – D3 C1
T2 – D1 C2 T5 – D2 C2 T8 – D3 C2
T3 – D1 C3 T6 – D2 C3 T9 – D3 C3
CD1 – D1 SC CD2 – D2 SC CD3 – D3 SC

A cobertura vegetal do local era composta predominantemente por Urochloa sp.,


uma gramínea exótica, e por poucos regenerantes dispersos de Machaerium aculeatum
Raddi, todos removidos para instalação do experimento, o qual foi implantado em 3
blocos, contendo cada bloco uma repetição de cada tratamento e dos controles,
totalizando 36 parcelas (12 tratamentos x 3 repetições). Os blocos contam com 5m de
comprimento e 6m de largura. As parcelas (12 linhas de 2,5m por bloco) foram
instaladas com ½ metro entre elas para facilitar o controle de gramíneas, como
recomendado por Araki (2005). O delineamento utilizado foi o fatorial 3 x 4 (3
densidades; 4 coberturas, incluindo o controle) com parcelas casualizadas.
Uma amostra de solo foi coletado e encaminhado para análise das propriedades
físico-químicas (tabela 1) e, antes da semeadura, efetuou-se a descompactação e
correção do solo, conforme as recomendações resultantes da análise. Desta forma, para
a adubação de base foram adicionados 400kg/ha de super fosfato simples, 50kg/ha de
cloreto de potássio e 130kg/ha de sulfato de amônio.
Foi aberto um sulco no centro de cada uma das parcelas com 0,1m de largura x
2,5m de comprimento, para deposição das sementes.
Para a semeadura nas parcelas, as sementes foram misturadas (10 espécies na
densidade adequada para cada tratamento) e distribuídas nos 2,5m lineares.
A quantidade total de sementes necessárias foi de 2520 sementes, divididas entre
as 10 espécies utilizadas neste experimento. Assim, para o mutambo foram utilizadas
252 sementes.
A cobertura 1 foi obtida pela adição de uma camada de solo sobre o sulco de
deposição das sementes; a cobertura 2 consistiu na deposição de uma camada de palha
e, a cobertura 3 foi obtida pela adição de ambos os materiais, solo e palha.
Após a implantação do experimento em campo, o número de plântulas
emergentes foi coletado diariamente até 30 dias após o início da primeira emergência.
As plântulas foram identificadas e marcadas com corretivo de texto em sua base, para
que não houvesse recontagem dos indivíduos.

Tabela 1. Análise das propriedades fisico-químicas do solo* da área experimental.

*Central analítica Vale do Ivinhema. Método EMBRAPA.

Os dados de emergência foram utilizados para os cálculos das porcentagens de


emergência (%E), sendo consideradas emergentes as plântulas que se sobressaíram à
superfície do solo ou palha; o índice de velocidade de emergência (IVE), calculado pelo
somatório do número de plântulas emergidas a cada dia, dividido pelo número de dias
decorridos entre a semeadura e a emergência, com base em Maguire (1962); e o tempo
médio de emergência (TME), calculado com base em Silva e Nakagawa (1995), com
base no número de plântulas emergidas em cada avaliação multiplicado pelo respectivo
tempo, dividido o resultado pelo número total de plântulas emergidas ao final do teste.
Os dados foram submetidos à análise de variância (Anova) a 5% de
probabilidade e, havendo efeito significativo, as médias foram submetidas ao teste de
Tukey.

Resultados e Discussão

Em laboratório o lote de sementes de Guazuma ulmifolia apresentou alto


potencial germinativo, alcançando 95% de germinação (Fig. 1), em um tempo médio de
6,43 dias e velocidade média de 0,16 dias-1. Segundo Lorenzi (2000), sem qualquer
tratamento pré-germinativo, a taxa de germinação é baixa, enquanto que Mori et al.
(2012) mesmo recomendando a imersão em água quente a 90°C por 1 minuto, relataram
apenas 20% de germinação, demostrando que o tratamento para superação da dormência
utilizado neste estudo se mostrou mais efetivo.
100
90
80
70

% Germinação
60
50
40
30
20
10
0

Tempo de Germinação

Figura 1. Porcentagem acumulada de germinação de sementes de Guazuma ulmifolia.

Já em condições de campo, o máximo de emergência observado foi de 66,7% no


tratamento 1 (densidade de 3 sementes em 2,5m lineares e cobertura com 2cm de solo).
O tempo médio de emergência total para o experimento foi de 12,44 dias e a velocidade
média 0,06 dias-1, o que está em concordância com Lorenzi (2000), que relatou a
ocorrência de emergência para as plântulas de mutambo entre 7-14 dias após a
semeadura. Em dois tratamentos, um sem cobertura (CD1) e outro somente com palha
(T2) não houve emergência (Tab. 1).

Tabela 1. Porcentagem final (%E), tempo médio (TM) e velocidade média (VM) para
emergência de Guazuma ulmifolia submetida a diferentes densidades de semeadura (D)
e condições de cobertura (C): D1=3 sementes, D2=6 sementes e D3=12 sementes/2,5m
lineares; C1=2cm de solo, C2=2cm de palha, C3=2cm de solo+palha e SC=sem
cobertura (controle).

Tratamento %E TM VM
D1 C1 66.7 13 0.077
D1 C2 0 0 0
D1 C3 22.2 12 0.083
D1 SC 0 0 0
D2 C1 33.33 15.5 0.065
D2 C2 27.78 14.8 0.068
D2 C3 55.56 13 0.077
D2 SC 5.56 20 0.05
D3 C1 44.44 13.69 0.073
D3 C2 2.78 13 0.077
D3 C3 50 15.33 0.065
D3 SC 8.33 19 0.053

Considerando o fator densidade, não houve diferença significativa na


emergência, a qual variou de 22,23% (densidade 1) à 30,56% (densidade 2). Por outro
lado, a condição de cobertura das sementes mostrou diferença significativa para solo e
solo + palha em relação aos tratamentos com palha e controle, que demonstraram baixos
percentuais de emergência (Tabs. 2 e 3).

Tabela 2. Análise de variância para a emergência de Guazuma ulmifolia em função da


densidade de sementes, da condição de cobertura das sementes e da interação destes
fatores.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
FV GL SQ QM Fc
Pr>Fc
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
DENSIDADE 2 415.835000 207.917500 0.454
0.6401
COBERTURA 3 13247.747500 4415.915833
9.652 0.0002
DENSIDADE*COBERTURA 6 4742.258333 790.376389
1.728 0.1577
erro 24 10980.006667 457.500278
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
Total corrigido 35 29385.847500
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
CV (%) = 81.05
Média geral: 26.3916667 Número de observações: 36
--------------------------------------------------------------------------------------------------------

Tabela 3. Porcentagem média de emergência de Guazuma ulmifolia para as diferentes


densidades e condições de cobertura.
Fator Média
D1 22,23
Densidade D2 30,56
D3 26,38
C1 48,16
C2 10,19
Cobertura
C3 42,59
SC 4,63

Aguirre et al. (2015) também constataram melhor resultado no estabelecimento


de mudas de espécies arbóreas quando houve a cobertura das sementes na semeadura
direta, mas sem diferenças significativas para os tratamentos nos quais as sementes
foram recobertas com palha ou terra, diferindo dos dados deste estudo, visto que a
cobertura com 2cm de palha não incrementou significativamente a emergência de
Guazuma ulmifolia. Provavelmente, a espessura da camada de palha utilizada não foi
suficiente para propiciar uma retenção de umidade adequada, conforme relatado por
Silva (2015), de forma a contribuir com o processo germinativo.

Conclusão

A densidade de semeadura não influencia a emergência de Guazuma ulmifolia,


podendo ser utilizada a menor densidade por linha em condições de campo.
A cobertura das sementes de Guazuma ulmifolia com 2 cm de solo proporciona a
maior taxa de emergência, com ou sem adição de palha.

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GEOTECNOLOGIAS APLICADAS AO MONITORAMENTO DE ÁREAS
DEGRADADAS E SUA RELAÇÃO COM CASOS DE LEISHMANIOSE,
BARCARENA (PA), BRASIL

Clístenes Catete; Luis Guimarães; Brenda Silva; Laryssa Silva; Clísia Duarte; Gabrielle
Almeida; Ney Soares; Kleyse Leão; Ricardo Guimarães

Instituto Evandro Chagas (IEC), Endereço: Rodovia BR-316 km 7 s/n, Bairro:


Levilândia, CEP: 67030-000, Ananindeua / Pará / Brasil, Telefone: (91) 3213-0489, e-
mail: [email protected]

RESUMO

A degradação ambiental, decorrente das atividades humanas, está diretamente


relacionada ao desequilíbrio dos processos físicos, químicos e/ou biológicos de um ou
mais sistemas que compõem o meio ambiente, o que pode gerar perda dos elementos
naturais e antrópicos, danos nas funções ambientais, alteração da paisagem natural e
risco a saúde e à segurança das pessoas. Neste contexto, a degradação ambiental é um
dos fatores de risco das leishmanioses (visceral e tegumentar) que é considerada uma
zoonose que pode acometer o ser humano, quando este entra em contato com o ciclo de
transmissão do parasito, tornando-se uma antropozoonose. Neste aspecto, as
geotecnologias têm sido apontadas como ferramenta de integração e análise de dados
ambientais e de saúde, que georreferenciados permitem identificar padrões de
distribuições espaço-temporal e tendências verificadas em uma determinada área
geográfica, através da análise histórica dos eventos. Este estudo objetivou analisar os
dados de degradação ambiental com dados epidemiológicos da distribuição espaço-
temporal dos casos de leishmanioses, no município de Barcarena (PA), entre 2007-
2013. Foram utilizadas bases de dados do SINAN, IBGE, Serviço Geológico dos
Estados Unidos e INPE, complementadas com dados georreferenciados em campo, com
o uso do receptor GPS e utilização do software ArcGIS Desktop. Foram
georreferenciados 125 casos de leishmanioses. Utilizando o cruzamento de dados
geoespaciais, foi observada a forte relação entre as áreas degradadas e os casos de
leishmanioses, sobretudo na área rural. Portanto, a degradação é um fator indutor do
agravo na região prospectada, diante disso, as ações de fiscalização do uso e cobertura
da terra e a vigilância dessas áreas devem ser intensificadas, por parte do poder público,
sociedade civil organizada e outras instituições para melhor qualidade vida da
população local.

Palavras Chave: degradação ambiental, geotecnologias, leishmanioses,


georreferenciamento, saúde

1. INTRODUÇÃO

A degradação ambiental, decorrente de ações antrópicas, é responsável pela


modificação das condições físicas, químicas e biológicas dos componentes do meio
ambiente, gerando perdas significativas que comprometem as funções ambientais, além
da alteração de paisagem e desencadeamento de doenças (CALIJURI, 2013).
Dentro deste contexto, a degradação ambiental pode estar associada à retirada de
material geológico (escavação e erosão), acréscimo de material (aterro, disposição de
resíduos e rejeitos), alteração da fertilidade e compactação do solo, declínio da
biodiversidade, contaminação/poluição e outros, apresentando diferentes magnitudes.
Diante disso, a recuperação de áreas degradadas consiste no restabelecimento do
equilíbrio do sistema mediante intervenções corretivas ou mediadoras que objetivam o
impedimento da reativação dos processos de degradação (CALIJURI, 2013).
Portanto, face aos inúmeros problemas decorrentes da degradação ambiental, podem-se
abordar as complicações relacionadas à saúde pública, que influenciam diretamente na
sociedade e no meio onde vivem, trazendo consigo inúmeros casos de doenças, dentre
elas, a leishmaniose.
A leishmaniose é uma doença causada por parasitas protozoários do gênero Leishmania.
Sua transmissão ocorre através da picada de mosquitos flebotomíneos, popularmente
conhecidos como mosquito palha. Os diferentes aspectos clínicos da doença resultam de
infecções de mais de 20 espécies diferentes de Leishmania, transmitidas por mais de 90
espécies de flebótomos, sendo representadas sob duas formas: tegumentar ou cutânea e
visceral ou calazar (OMS, 2010; WHO, 2013; 2015b).
Associada a precárias condições e especialmente degradação ambiental, relativas a
processos de pastagem, vegetação secundária (alterada), desmatamento, mineração e
áreas urbanas (ALMEIDA et al., 2016), a distribuição espacial da leishmaniose pode ser
apontada como um importante fator de risco desencadeado pelo aumento das áreas
degradadas.
Neste aspecto, a utilização de geotecnologias como auxilio permitem a captura,
armazenamento, gerenciamento, análise e apresentação de informações geográficas,
altamente recomendadas para o estudo e monitoramento de eventos no espaço. Dessa
forma, a sua utilização possibilita a elaboração de análises espaciais complexas, pois
viabiliza a integração de dados de diversas fontes, manipulação de grande volume de
dados e recuperação rápida de informações armazenadas (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2006).
Este trabalho objetivou inter-relacionar bancos de dados epidemiológicos, cartográficos,
imagens digitais de satélites e observações em campo, para realização de análises
ecoepidemiológicas da distribuição espaço-temporal dos casos da doença de
Leishmaniose, no município de Barcarena, Pará, Brasil, no período de 2007 a 2013.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. ÁREA DE ESTUDO


Segundo o IBGE (2010), o município de Barcarena fica localizado na mesorregião
Nordeste Paraense, Estado do Pará, Brasil (

Figura 10). Apresentando população estimada em 2016 de 118.537 habitantes, área de


1.310, 59 (Km2) e densidade demográfica em torno de 76,21 (hab/Km2).

Figura 10: Localização da área de estudo.


2.2 ETAPAS METODOLÓGICAS DA PESQUISA

O trabalho foi executado em três etapas:

2.2.1. Primeira etapa: aquisição dos dados e depuração do banco de dados

Essa etapa da pesquisa foi realizada, no Laboratório de Geoprocessamento (LABGEO)


do Instituto Evandro Chagas (IEC), para tal foram utilizadas bases de dados
epidemiológicas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN-Net) da
Secretaria Municipal de Saúde de Barcarena (SEMUSB); dados cartográficos do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); imagens de satélite do Serviço
Geológico dos Estados Unidos (USGS) e dados do Projeto TerraClass, do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), objetivando a identificação de áreas
degradadas, correlacionando-os com o agravo em estudo.
Após a aquisição dos dados epidemiológicos no SINAN, esta base de dados foi
convertida para o formato XLS para ser depurado. No manipulador de planilhas
eletrônicas Excel, foi criado um campo de quantificação de eventos, foi aplicado um
filtro para a extração somente dos casos confirmados, foi realizado um processo de
refinamento de informações de endereços com o auxílio de profissionais locais da área
da saúde, com o objetivo de possibilitar a espacialização de informações antes não
passíveis de georreferenciamento, e zonear as localidades por proximidade para auxiliar
a construção de rotas no campo.
Com a depuração do banco de dados finalizada, foi impresso um relatório com a
listagem dos registros de casos a serem investigados em campo ordenados conforme o
zoneamento e rotas previamente construídas.

2.2.2. Segunda etapa: georreferenciamento em campo de casos de leishmaniose

Para o georreferenciamento dos dados epidemiológicos depurados, foi utilizado durante


a investigação dos casos de Leishmaniose em campo (Figura 2), o receptor do Sistema
de Posicionamento Global (GPS) Garmim 64s.
Figura 11: Georreferenciamento de áreas degradadas relacionadas à Leishmaniose em
campo.

2.2.3. Terceira etapa: integração dos dados

Na sequência foi realizada a análise temática das informações: o processamento e


interpretação dos dados foi utilizado o software ArcGIS desktop 10.3, onde foram
realizados os procedimentos de geoprocessamento, tais como: junção de dados
espaciais, recorte de shapefiles, calculo de áreas, entre outros.
Da mesma forma, foram realizados procedimentos de sensoriamento remoto: seleção de
imagens do satélite americano Landsat 8, processamento digital das imagens por meio
de composição de bandas espectrais, tendo como produtos imagens com falsa cor
(composição R6G5B4).
Posteriormente, houve a integração dos dados através da inter-relação dos bancos de
dados epidemiológicos, cartográficos, imagens digitais de satélites, dados de uso e
cobertura da terra e observações em campo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram extraídos 885 registros de casos de leishmaniose notificados em Barcarena/PA


no período de 2007 a 2013 do banco de dados do SINAN-Net da SEMUSB. Destes, 733
foram excluídos por se tratarem de casos descartados, sendo considerados somente os
152 casos com confirmação clínica ou laboratorial.
Durante o trabalho de campo, deste universo de 152 casos, 4 foram preliminarmente
identificados fora da área estudo, apesar de notificados no município de estudo, 17 com
informações insuficientes para a localização, 115 foram localizados em campo com
captura de coordenadas geográficas, 16 não localizados em campo, porém sua
localização foi recuperada através da consulta nas bases cartográficas em laboratório,
totalizando 131 casos georreferenciados com sucesso.
Foram excluídos 2 casos detectados fora dos limites do município após confirmação de
coordenadas geográficas, e 4 foram notificados em 2014, reduzindo o universo de
pesquisa para 125 casos georreferenciados (Figura 3).
Figura 12: Distribuição espacial dos casos investigados de leishmaniose no período de
2007 a 2013, Barcarena (PA).

Na Figura 4, utilizando dados do uso e cobertura da terra do Projeto TerraClass,


observou-se o predomínio da classe de pastagem, no ano de 2004, apresentando 103,92
km², seguido de vegetação secundária que consiste em 86,02 km², sendo esta classe
uma região já alterada. Em conformidade com a extensão dessas áreas degradadas,
observa-se a ocorrência da leishmaniose, concentrada em áreas urbanas que obtiveram
uma área de 24,86 km² no ano referido.

Figura 13: Densidade espacial dos casos de leishmaniose, mostrando o uso e cobertura
da terra no ano de 2004, em Barcarena (PA).
Porém, com os dados do uso e cobertura da terra do Projeto TerraClass do ano de 2014,
observou-se um aumento de áreas urbanas, apresentando uma extensão de 49,5 km²,
proporcionalmente aos casos de leishmaniose, que obtiveram crescimento em virtude
desse desenvolvimento, explicado a partir das mudanças econômicas, sociais e
ambientais da região. Diante disso, em 2014 o município de estudo exibiu intensa
movimentação e demanda industrial, garantindo a diminuição de áreas de pastagem para
9,52 km², conforme mostra a Figura 5.

Figura 14: Densidade espacial dos casos de leishmaniose, mostrando o uso e cobertura
da terra no ano de 2014, em Barcarena (PA).

Outros resultados importantes foram à criação de zonas de influencia ao redor dos casos
de leishmaniose como delimitação de perímetro de risco através da técnica de buffer. Os
contornos estão representados em círculos concêntricos de raios com intervalo de 250
metros até 1000 metros (Figura 6) e a sua sobreposição com as áreas degradadas (Figura
7).
Do total de 125 casos, 78 (62,4%) casos estão dentro do raio de 1000 metros de
distância em relação às áreas degradadas. Considerando somente os 106 casos rurais, 76
estão dentro deste limite, representando 71,7% (Tabela 1).

Tabela 1: Casos de leishmaniose por intervalos de distância dos focos de degradação


ambiental no município de Barcarena no período de 2007 a 2013.
Casos de leishmaniose
Intervalos de
Rural Urbano Total
distância
Qtd. % Qtd. % Qtd. %
0 a 250 m 21 16,80% 2 1,60% 23 18,40%
250 a 500 m 19 15,20% - - 19 15,20%
500 a 750 m 19 15,20% - - 19 15,20%
750 a 1000 m 17 13,60% - - 17 13,60%
Maior que 1000 m 30 24,00% 17 13,60% 47 37,60%
Total 106 84,80% 19 15,20% 125 100,00%
Figura 6: Mapa de perímetro de risco (buffer) de casos de leishmaniose.

Figura 7: Mapa de perímetro de risco (buffer) de casos de leishmaniose e áreas


degradadas.

4. CONCLUSÕES
Com base no trabalho realizado, concluiu-se que:

Através da metodologia estabelecida foi possível gerar banco de dados georreferenciado


de casos de leishmaniose integrado com as variáveis ambientais relacionadas à
degradação ambiental.

A análise espacial dos casos de Leishmaniose georreferenciados, mostrou que a maior


expressividade estava na área urbana, em virtude do crescimento populacional existente
após modificação no sistema econômico do município. Na área rural houve menos
casos, as análises espaciais e as observações em campo, evidenciaram que o fator de
risco responsável pelos casos de Leishmaniose na área rural é a degradação ambiental
(proximidade com o habitat natural do vetor). Gonçalves et al. (2016) usando kernel e
dados do TerraClass para o estudo de leishmaniose no município de Santarém
obtiveram os mesmos resultados desse estudo, a concentração de casos na zona urbana e
a proximidade entre humanos e vetores na área rural. Além disso, os autores citam que
as mudanças ambientais modificam o comportamento e adaptação das espécies de
flebotomíneos.

Este estudo trouxe uma importante contribuição operacional no estabelecimento de uma


metodologia que contemple dados ambientais e epidemiológicos na construção de um
cenário em uma área endêmica em doenças tropicais como a Amazônia.

Os resultados evidenciaram a importância do uso de geotecnologias na gestão de


informações de diversas origens e áreas do conhecimento possibilitando o planejamento
de ações, avaliação da atual distribuição de recursos, e interferências antrópicas
localizadas nas mais afetadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. CALIJURI, M.C.; CUNHA, D.G.F. Engenharia ambiental: conceitos, tecnologia


e gestão. Rio de janeiro: Elsevier, 2013.
2.
3. GONÇALVES, R.; SOARES, D.C.; GUIMARÃES, R.J.P.S.; SANTOS, W.S.;
SOUSA, G.C.R.; CHAGAS, A.P.; GARCEZ, L.M. Diversity and ecology of sand
flies (Psychodidae: Phlebotominae): foci of cutaneous leishmaniasis in Amazon
Region, Brazil. Rev Pan-Amaz Saude. 7:133-142, 2016.
4.
5. High spatial resolution land use and land cover mapping of the Brazilian Legal
Amazon in 2008 using Landsat-5/TM and MODIS data. Almeida, C.A.; Coutinho,
A.C.; Esquerdo, J.C.D.M.; Adami, M.; Venturieri, A.; Diniz, C.G.; Dessay, N.;
Durieux, L.; Gomes, A.R. In: Acta Amazonica, Vol 46 (3) 2016: 291-302.

6. MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Abordagens Espaciais na Saúde Pública. 136


p. : il. – (Série B. Textos Básicos de Saúde) (Série Capacitação e Atualização em
Geoprocessamento em Saúde; 1). Brasília-DF. 2006.

7. OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Trabalhando para superar o


impacto global de doenças tropicais negligenciadas: Primeiro relatório sobre
doenças tropicais negligenciadas. Geneva, Switzerland: WHO Press, 2010.
Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44440/3/9789248564093
_por.pdf?ua=1>. Acesso em: fev.2017.

8. WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. Leishmaniasis: Fact sheet. 2015b.


Disponível em: <http://www.who.int /mediacentre/factsheets/fs375/en/>. Acesso
em: fev. 2017.

9. WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. Sustaining the drive to overcome


the global impact of neglected tropical diseases: second WHO report on neglected
diseases. Geneva, Switzerland: WHO Press, 2013. Disponível em:
<http://www.who.int/iris/bitstream/10665 /77950/1/9789241564540_eng.pdf>.
Acesso em: fev. 2017.

PLANTIOS DE ESPÉCIES NATIVAS DO BIOMA CERRADO EM ÁREAS


DEGRADADAS NA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE ÁGUAS EMENDADAS –
ESECAE, DISTRITO FEDERAL

M.G.G., Nóbrega1;; H.C.B., Filho1; V.A.P., Ferreira1

1. Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal – CAESB. Avenida


Sibipiruna, lotes 13/21, Águas Claras, Brasília – DF, Brasil.
[email protected]. Tel. (61) 3213-7431;

RESUMO

O plantio de espécies nativas é um importante aliado para a restauração de ecossistemas


naturais e pode minimizar a perda da riqueza biológica em Unidades de Conservação. O
artigo visa relatar a experiência da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito
Federal - Caesb com a execução de plantios de mudas nativas em áreas degradadas, com
infestação de gramíneas exóticas e invasoras na Estação Ecológica de Águas
Emendadas – ESECAE. A área do plantio está localizada a montante da captação de
água do córrego do Fumal, operada pela empresa. Foram executados plantios em quatro
talhões, numa área de 8,81 hectares, no período de 2011 a 2014, num total de 36.130
mudas nativas do bioma Cerrado, composto por 19 famílias, 45 gêneros e 53 espécies.
Dada a alta infestação de gramíneas, bem como o estresse hídrico encontrado em
diferentes locais do plantio, mesmo com intervenções de capinas e roçagens, foi
observada uma sobrevivência de 43,96 %. Os dados apresentados demonstram que o
Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas na ESECAE está dentro do padrão
esperado para o bioma Cerrado, tendo em vista que em áreas de Cerrado a
sobrevivência de mudas é comprometida por vários fatores, como por exemplo,
heterogeneidade espacial e estresse hídrico. Assim, o esforço em manter mudas vivas
por meio de padrões tradicionais de plantios não é suficiente para garantir a
sobrevivência das mudas, necessitando de pesquisas específicas, além de intervenções
técnicas e atividades de manutenção.
Palavras Chave: unidade de conservação, recuperação de áreas degradadas, mudas
nativas, bioma cerrado, esecae

1. Introdução
Recuperação de área degrada em unidade de conservação ambiental é um dos grandes
desafios para a conservação da biodiversidade. Atualmente, no bioma Cerrado existem
várias UCs com remanescentes inseridos em paisagens fragmentadas e degradadas, seja
aquelas colonizadas por espécies invasoras, ou que foram objeto de mineração e/ou
empréstimo de solos para construção civil, ou ainda que sofreram raleamento da
vegetação nativa devido a sofrerem constantes incêndios florestais originários por
atividades antrópicas. Nesse contexto, a restauração da vegetação nativa tem o objetivo
de potencializar o estabelecimento de florestas com riqueza de espécies vegetais
condizentes com a dos ecossistemas que estão inseridos, a fim de garantir a persistência
das florestas restauradas e proteger a biodiversidade nativa (Brancalion et al., 2010).
O plantio de espécies nativas do bioma Cerrado em área degradadas representa uma
importante ferramenta para incentivar o processo de sucessão ecológica, que com o
passar dos anos, podem formar uma vegetação em que muitas das funções da floresta
primária são parcialmente restabelecidas, onde a vegetação formada passa a absorver
água das camadas mais profundas do solo, atuando como sumidouro de carbono
atmosférico e auxiliando na transferência de nutrientes do solo para a biomassa,
tornando o solo local menos susceptível à erosão, auxiliando no aumento da atividade
microbiana e melhorando a estrutura e capacidade de retenção e infiltração de água, o
que ajuda na rápida recuperação dessas áreas (Wadt et al., 2003).
A recuperação de áreas degradadas em UCs torna-se recomendável quando comparamos
o cenário de ações antrópicas que ameaça os ecossistemas nativos. O enriquecimento de
áreas remanescentes de cerrado alterado dentro de UCs, por meio de plantios de
espécies nativas do bioma, permite que pequenas porções representativas dos
ecossistemas locais estejam verdadeiramente protegidos. Ao cobrir o solo com a
vegetação nativa, permite-se retornar parte dos processos ecológicos perdidos,
reestruturando populações vegetais e animais (Aquino et al., 2009).
No Distrito Federal - DF existem atualmente 72 parques ecológicos e urbanos
administrados pelo Instituto Brasília Ambiental – IBRAM, além de outras 22 unidades
de conservação de proteção integral ou de uso sustentável (unidades Distritais e
Federais). O DF também conta com outras categorias de parques, que são administrados
por suas regiões administrativas, unidades de conservação sob gestão do governo
federal e outras áreas de proteção de relevante interesse ecológico (GDF, 2013).
Infelizmente todas as unidades, seja Distrital, seja Federal, possui áreas com algum tipo
de degradação, o que compromete significativamente o equilíbrio ecológico dessas
unidades.
Segundo Lacerda (2017) os processos de degradação ambiental das áreas protegidas no
DF se revela também por meio do aparecimento de espécies exóticas ou do aumento
desordenado de espécies vegetais nativas oportunistas, devido principalmente aos
efeitos do parcelamento irregular do solo e a pressão exercida pela urbanização do
território. Essas pressões são sentidas dentro das áreas de proteção, expondo a fauna e a
flora a alterações profundas. Com a introdução de espécies vegetais exóticas, as nativas
perdem espaço e deixam de servir como fonte de alimento para a fauna local, uma vez
que as exóticas não compõem a dieta dos animais silvestres, quebrando os elos da
cadeia alimentar e influenciando drasticamente na diminuição da biodiversidade local e
na manutenção dos ecossistemas naturais, além de promover a extinção local de
espécies.
Neste contexto, a restauração ecológica constitui em alternativa para problemas
decorrentes do uso inadequado do solo. É tema que motiva e desafia a pesquisa,
discussões na mídia e preocupação de comunidades e governos, pois a vegetação é um
compartimento estruturante da paisagem, que presta diversos serviços ambientais, sendo
um fator de qualidade ambiental que atua em conjunto com outros fatores (ar, água e
solo) como elemento de equilíbrio à conservação de nascentes e cursos d’água, de
paisagens, dos solos e da biodiversidade, e, associada às questões sobre os mecanismos
de desenvolvimento limpo (MDL) e às mudanças climáticas globais (Aquino et al.
2009).
A Caesb, empresa responsável pelo saneamento ambiental do Distrito Federal, tem a
água como sua principal matéria prima, que é usada tanto para os sistemas de
abastecimento público quanto para os de esgotamento sanitário. Obrigatoriamente, é de
seu interesse direto a manutenção da boa qualidade e da quantidade de água que é
distribuída à população. Para tal, é necessário que as bacias hidrográficas das captações,
operadas pela Companhia, sejam protegidas e conservadas. Assim, a Caesb vem ao
longo do tempo desenvolvendo ações contínuas destinadas à proteção das bacias
hidrográficas de captação, envolvendo atividades de planejamento e manejo das
captações, obras de cercamento, sinalização e recuperação de áreas degradadas, além de
atividades de educação ambiental, prevenção e combate a incêndios florestais e ações de
monitoramento preventivo.
Algumas dessas bacias hidrográficas de captação encontram-se protegidas em Unidades
de Conservação, como a Estação Ecológica de Águas Emendadas, Parque Nacional de
Brasília, a Área de Proteção Ambiental do Descoberto, a Estação Ecológica do Jardim
Botânico, entre outras.
Nesse contexto, o presente artigo visa relatar a experiência da Caesb com a execução de
plantios de mudas nativas em áreas degradadas com infestação de gramíneas exóticas e
invasoras na Estação Ecológica de Águas Emendadas – ESECAE, localizada a montante
da captação de água do Fumal, operada pela empresa e também contribuir com o
conhecimento de restauração de áreas degradadas no bioma Cerrado.

2. Material e Métodos

2.1.Área de Plantio
O plantio objeto do presente trabalho foi realizado em quatro talhões degradados que
apresentam infestação de gramíneas exóticas dentro da Estação Ecológica de Águas
Emendadas – ESECAE, unidade de conservação de proteção integral, numa área total
de 8,81 hectares localizada em área de proteção de manancial.
A área objeto dos plantios (Figura 1) encontra-se inserida na bacia hidrográfica da
Captação do Fumal - CAP.FUM.001, dentro da Estação Ecológica Águas Emendadas -
ESECAE. Esta captação compõe o Sistema Produtor de Água Sobradinho/Planaltina e
produz um volume de 120 litros de água por segundo, capaz de atender 70.000 pessoas.
Situa-se próximo às coordenadas 216.127 m E e 8.274.791 m S, Datum WGS 84, Zona
23 L. A altitude local varia de 955 a 975 m do nível do mar.
O clima da região corresponde ao tipo Cwa da classificação de Köppen - tropical de
Savana, com duas estações bem definidas: seis meses de verão chuvoso e seis meses de
inverno seco. O índice de pluviosidade na região (estação pluviométrica mais próxima)
varia em torno 1.500 mm/ano com a concentração da precipitação pluviométrica no
verão, entre os meses de outubro a março. Nestas condições, o início dos plantios se
limitou aos meses mais chuvosos.
Os dados de precipitação de chuva, relativos ao período de 2011 a 2016, para avaliação
de disponibilidade hídrica para o plantio foram obtidos na Estação Pluviométrica da
Caesb, localizada na Estação de Tratamento de Esgoto ETE Vale do Amanhecer
(Código da estação 1547078), que se situa próxima à ESECAE.
A vegetação circunvizinha à área de plantio é representada por porções de Mata de
Galeria (Florestas Estacional Semideciadual Aluvial) do próprio córrego Fumal,
porções de Cerrado Sentido Restrito (Savana Arbórea Aberta) e áreas antropizadas.
Constitui em antigas chácaras, que foram desapropriadas e inseridas a área da ESECAE.
Devido às atividades agropecuárias exercidas no passado nessas áreas, os talhões de
plantio de recuperação eram infestados por espécies exóticas e invasoras, em especial as
gramíneas, com ocorrência de braquiárias (Brachiaria decumbens e Brachiaria
brizantha) e capim Jaraguá (Hyparrhenia rufa). Também pode ser observado ao longo
de toda área, a ocorrência de outras espécies exóticas introduzidas como a mucuna preta
(Mucuna pruriens), leucena (Leucaena leucocephala), eucalipto (Eucaliptus sp.), pinus
(Pinus sp.), limão-cravo (Citrus limonium) e bambu (Bambusa sp.), entre outras.

B
C

Figura 01. Área em destaque (Talhões A, B, C e D) do Projeto de Recuperação de


Áreas Degradadas – PRAD com plantio de espécies arbóreas nativas do bioma
Cerrado na Estação Ecológica de Águas Emendadas – ESECAE. Área adjacente ao
córrego Brejinho.

2.2.Atividades do Plantio

Os plantios foram executados em quatro períodos distintos e distribuídos em quatro


talhões (denominados de A, B, C e D), conforme Tabela 1. Os talhões B e D estão mais
próximos à ambientes savânicos enquanto que os talhões A e C adjacentes à ambientes
florestais com solos mais úmidos. O talhão A possui área de 0,2457 ha, o talhão B
2,5992 ha, o talhão C 1,8154 ha e o talhão D com 4,1479 ha, perfazendo um total de
8,81 ha. Os talhões englobaram indivíduos remanescentes nativos.
Tabela 1. Quantitativos de mudas plantadas no projeto de recuperação de áreas
degradadas na ESECAE, no período de 2011 a 2014.
Ano Nº Espaçamento Talhões Obs.
Mudas (m)
plantadas
2011 5.500 3,0 x 1,0 AeB A área de plantio englobou os
indivíduos remanescentes.
2012 16.500 3,0 x 1,0 A, B, C O quantitativo de mudas
eD englobou os plantios nos talhões
C e D e o replantio dos talhões A
eB
2013 8.080 1,5 x 1,0 CeD O quantitativo de mudas
englobou o adensamento nas
entrelinhas do Talhão C e de parte
do Talhão D e reposição de
mudas mortas.
2014 6.050 1,5 x 1,0 CeD Reposição de mudas mortas
Total 36.130 ---
Geral
As áreas objeto de plantio foram limpas com o auxílio de roçadeira acoplada à um trator
agrícola. Nas áreas adensadas, a limpeza foi realizada com roçadeira semi-manual.
As mudas foram plantadas manualmente, em sucos, abertos com o auxílio de um
sulcador adubador florestal, com sucos com largura aproximada de 50 cm.
A adubação também foi realizada com o auxílio de trator, utilizando os insumos:
calcário para calagem, NPK 4:14:8 e esterco de gado como condicionante do solo. A
cobertura foi feita utilizando polímero de liberação lenta (Adubo Polyblem l8 - 08 -18)
na quantidade de 80 gramas por muda plantada.
O controle das espécies invasoras, em especial a braquiária e a mucuna preta, foi
realizado por meio de roçagens mecânicas, com roçadeira costal, no período de 2010 a
dezembro de 2016, sendo quatro roçagens por ano, duas no período chuvoso e duas no
período da seca.
A escolha das espécies vegetais se baseou no modelo MDR - Módulos para
Recuperação de Cerrado com Espécies Nativas de Uso Múltiplo proposto por Felfili et
al. (2005) e também citado por Aquino et al (2009), onde, em um espaçamento pré-
determinado planta-se espécies arbustivas e arbóreas nativas do bioma cerrado. Esse
modelo consiste em plantios mistos com espécies que ocorrem naturalmente em
ambientes florestais (Matas de Galeria e Ciliares) e savânicos (Cerrado Sentido
Restrito) e atenderem aos seguintes critérios: (i) nativa do Bioma Cerrado; (ii)
representativa do bioma e (iii) atrativas para oferta de recursos a fauna.

2.3.Quantificação de Sobrevivência das Mudas


Para avaliar a sobrevivência das mudas plantadas foi realizado censo das mudas vivas,
sendo a contagem realizada no mês de fevereiro de 2015, um ano após os términos dos
plantios. O anotador munido de contador caminhava entre as linhas e realizava a
contagem do número de mudas vivas por linha. O registro da contagem foi anotado em
formulários específicos, cujos dados foram processados em planilha EXCEL.

3. Resultados e Discussão

A tabela 02 contém a lista de espécies plantadas em área degradada na ESECAE, com a


citação do habitat que a espécie ocorre. Foram plantadas um total de 36.580 mudas,
composta por 19 famílias, 45 gêneros e 53 espécies.
Segundo Aquino et al (2009), as diferentes espécies nativas simultaneamente utilizadas
em plantios de recuperação de áreas degradadas, têm a função inicial de formar a
primeira cobertura de vegetação visando facilitar sua reabilitação. A mesma autora cita
ainda, que as espécies arbóreas de ambientes florestais apresentam crescimento inicial
mais rápido do que espécies de Cerrado sentido restrito, pois recobrem rapidamente o
solo, reduzem a competição com as gramíneas exóticas e promovem os fatores de
sucessão natural.
No mercado florestal não há uma variedade grande de mudas nativas do bioma Cerrado
para projetos de restauração. Entretanto, plantou-se neste projeto 53 espécies nativas,
sendo o maior número de espécies pertencentes a família das Leguminosas. As
Leguminosas são bem representativas no bioma, além de favorecerem a fixação de
nitrogênio no solo por meio de simbiose com macrorrizas, melhorando desta forma, as
características nutricionais do solo.
Tabela 02. Relação das espécies nativas do bioma Cerrado plantadas no Projeto de
Recuperação de Áreas Degradas - PRAD na Estação Ecológica de Águas Emendadas –
ESECAE, no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2014.

Família Espécie Nome popular Habitat


Astronium fraxinifolium Cerradão e Mata de
Anacardiaceae Schott ex Spreng. Gonçalo alves Galeria
Myracrodruon urundeuva
Anacardiaceae Allemao Aroeira Cerradão
Schinopsis brasiliensis
Anacardiaceae Engl Braúna Mata seca, Cerradão
Anacardiaceae Tapirira guianensis Aubl. Pau pombo Mata de galeria
Aspidosperma subincanum
Apocynaceae Mart. Guatambu Mata de Galeria
Aspidosperma tomentosum
Apocynaceae Mart. Peroba Cerradão
Syagrus romanzoffiana
Arecaceae (Cham.) Glassman Jerivá açu Mata de Galeria
Bignoniaceae Handroanthus ochraceus Ipê cascudo Cerrado sentido restrito
Tabela 02. Relação das espécies nativas do bioma Cerrado plantadas no Projeto de
Recuperação de Áreas Degradas - PRAD na Estação Ecológica de Águas Emendadas –
ESECAE, no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2014.

Família Espécie Nome popular Habitat


(Cham.) Mattos
Handroanthus serratifolius Florestas estacionais e
Bignoniaceae (Vahl) S.O.Grose Ipê amarelo Cerradões
Jacaranda brasiliana
Bignoniaceae (Lam.) Pers. Caroba Cerradão e Mata seca
Tabebuia aurea (Manso)
Benth. & Hook.f. ex Cerradão, Mata Seca e
Bignoniaceae S.Moore Ipê caraíba Mata de Galeria
Tabebuia roseo-alba Floresta semidecídua,
Bignoniaceae (Ridley) Sandw. Ipê branco Mata de Galeria.
Tabebuia heptaphylla
(Vell.) Toledo
(=Handroanthus Ipê-roxo-sete- Cerrado, Mata Ciliar e
Bignoniaceae hetaphyllus (Vell.) Mattos) folhas Mata de Galeria.
Boraginaceae Cordia sellowiana Cham. Chá de bugre Cerrado, Mata de Galeria
Calophyllum brasiliensis
Calophyllaceae Camb. Landim Matas de Galeria
Capitão-do- Cerradão, Mata Seca e
Combretaceae Terminalia argentea Mart. cerrado Mata de Galeria.
Orelha-de- Cerrado sentido restrito,
Combretaceae Terminalia fagifolia Mart. cachorro Cerradão e Mata Seca.
Terminalia glabrescens Matas Estacionais e de
Combretaceae Mart. Capitão Galeria.
Matas Estacionais e de
Combretaceae Terminalia sp. Galeria.
Alchornea glandulosa Mata de Galeria e Matas
Euphorbiaceae Poepp. Tamanqueira Estacionais.
Euphorbiaceae Croton urucurana Bail. Sangra d'água Mata de Galeria e Ciliar
Maprounea guianensis Cerrado, Cerradão e Mata
Euphorbiaceae Aubl. Milho torrado de Galeria.
Apuleia leiocarpa (Vogel) Mata de galeria, Mata
Fabaceae J. F. Macbr. Garapa Ciliar e Cerradão
Anadenanthera colubrina Mata de galeria, Mata
(Vell.) Brenan Angico ciliar e Cerradão.
(=Anadenanthera vermelho
Fabaceae macroparca Benth.)
Copaifera langosdorffii Mata de galeria e
Fabaceae Desf. Copaíba transição do cerrado para
Tabela 02. Relação das espécies nativas do bioma Cerrado plantadas no Projeto de
Recuperação de Áreas Degradas - PRAD na Estação Ecológica de Águas Emendadas –
ESECAE, no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2014.

Família Espécie Nome popular Habitat


a floresta latifoliada
semidecídua.
Floresta latifoliada
semidecídua, Cerradão e
Fabaceae Dipteryx alata Vog. Baru Cerrado Denso.
Enterolobium
contortisiliquum (Vell.) Matas de Galeria e
Fabaceae Morong Tamboril Cerradão.
Hymenaea courbaril L. var. Matas de Galeria e
Fabaceae stilbocarpa Jatobá-da-mata Cerradão.
Matas de Galeria e
Fabaceae Inga laurina (Sw.) Willd. Ingá-mirim Cerradão
Fabaceae Inga marginata Willd. Ingá Matas Ciliares.
Machaerium hirtum (Vell.) Jacarandá-de-
Fabaceae Stellf. espinho Matas de Galeria
Myroxylum perfuiferum Mata de Galeria e
Fabaceae L.f. Bálsamo Ciliares.
Mata de Galeria e Mata
Fabaceae Ormosia sp Seca Decídua.
Piptadenia gonoacantha Cerrado, Mata de Galeria
Fabaceae (Mart.) J.F. Macbr. Pau-jacaré e Mata Seca.
Jacarandá
Fabaceae Platypodium elegans Vogel branco Cerrado.
Cariniana estrellensis
Lecythidaceae (Raddi) Kuntze Jequitibá Matas de Galeria
Pente-de-
Malvaceae Apeiba tibourbou Aubl. macaco Mata de Galeria
Chorisia speciosa A.St.-
Malvaceae Hil. Barriguda Mata Seca
Malvaceae Guazuma ulmifolia Lam. Mutamba Matas de Galeria
Luehea grandiflora Mart.
Malvaceae & Zucc. Açoita cavalo Matas de Galeria
Pseudobombax tomentosum Cerrado e Cerradão
Imbiriçu
Malvaceae (Mart.&Zucc.) A. Robyns
Sterculia striata A.St.-Hil.
Malvaceae & Naudin Chichá Cerradão.
Meliaceae Cedrella fissilis Vell. Cedro Mata de galeria.
Meliaceae Guarea guidonea (L.) Carrapeta Planta característica de
Tabela 02. Relação das espécies nativas do bioma Cerrado plantadas no Projeto de
Recuperação de Áreas Degradas - PRAD na Estação Ecológica de Águas Emendadas –
ESECAE, no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2014.

Família Espécie Nome popular Habitat


Sleumer Matas de Galeria.
Floresta estacional
Ficus cf. guaranitica semidecídua. Ocorre em
Moraceae Chodat Figueira Mata ciliar.
Myrtaceae Eugenia dysenterica DC. Cagaita Cerrados de altitude.
bioma Cerrado em borda
de Mata Ciliar, Mata Seca
Triplaris gardneriana (semidécidua e decídua) e
Polygonaceae Weddell Pau jaú Cerradão.
Rhamnidium elaeocarpum Cerradão, Mata Seca e de
Rhamnaceae Reissek Cafezinho Galeria.
Floresta Estacional
Zanthoxylum riedelianum Mamica de Semidecídua do Brasil
Rutaceae Engl. porca Central.
Dilodendron bipinnatum
Sapindaceae Radlk. Mamoninha Matas de Galeria
Cerradão, Mata seca,
Sapindaceae Matayba guianensis Aubl. Camboatá Mata de Galeria.
Cerrado, Mata Ciliar,
Sapindaceae Sapindus saponaria L. Saboneteiro Mata Seca Semidecídua.
Cecropia pachystachia
Urticaceae Trécul Embaúba Mata de galeria
Comparando o número total de mudas plantadas nos talhões A, B, C e D (36.130
mudas) com o número de mudas vivas no campo de 15.883 mudas, foi observada uma
sobrevivência de 43,96 % e 56,04 % de mortalidade.
Um importante fator que vem sendo abordado em estudos de recuperação de áreas
degradadas é a alta taxa de mortalidade das espécies florestais plantadas. Segundo
Antezana et al (2008), a taxa de mortalidade em plantios com espécies do Cerrado é um
fator a ser tratado com precaução, dada a quantidade de fatores envolvidos.
Na tabela 03 abaixo, estão citados alguns exemplos de taxas de sobrevivência e
mortalidade em projetos de restauração no bioma Cerrado.
Tabela 03. Exemplos de taxas de sobrevivência e mortalidade em projetos de
restauração no bioma Cerrado.

Autor Ambiente Sobrevivência Mortalidade


(%) (%)

Este Estudo (Caesb, Mata ciliar e cerrado 43,96 56,04


2015)

Durigan & Silveira Mata ciliar 80 20


(1999)

Pinto et al. (2007) Área antropizada (pasto 57 43


de braquiária)

Pinto et al. (2007) Floresta Estacional 67 33

Pinto et al. (2007) Matas de galeria 54 46

Pinto et al. (2007) Cerrado 49 51

Pinto et al. (2007), em recuperação de área degradada, invadido por Brachiaria spp.,
verificou sobrevivência das mudas em torno de 57%, após 14 meses de plantio. Os
mesmos autores, citam que as taxas de sobrevivência para floresta estacional foram de
67%, 54% para matas de galeria e 49% para cerrado.
Considerando os exemplos apresentados, os plantios da ESECAE estão próximos dos
padrões encontrados nas tipologias vegetacionais do bioma Cerrado. Na tabela 4 são
apresentados os quantitativos de mudas vivas registradas no censo por talhão.
Tabela 04. Resultado do levantamento do quantitativo de mudas vivas do plantio
realizado em 2015 em área degrada na Estação Ecológica de Águas Emendadas -
ESECAE. Plantios realizados no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2014.
Nº de mudas vivas
Talhão 2015
A 507

B 1.890

C 7792

D 5694

Total Geral 15.883

Durigan & Silveira (1999), estudando estabelecimento de mudas em projeto de


recuperação de mata ciliar no domínio Cerrado, relataram sobrevivência inferior a 80%
para 17 espécies de Mata e Cerrado, nove anos após o plantio, sendo que destas, 08
espécies apresentaram sobrevivência nula e apenas 04 espécies superaram 50%.
Oliveira et al. (2014), cita que de acordo com alguns trabalhos desenvolvidos em
Cerrado sentido restrito, valores acima de 60% são considerados ótimos para espécies
plantadas em locais degradados ou perturbados. Cromberg & Bovi (1992), também
citado in Souza (2002), salientaram que apesar da porcentagem de sobrevivência acima
de 60% ser relativamente alta para plantio de recuperação de área degradada, deve-se
lembrar que para plantios muito jovens, com até 24 meses, os quais ainda não
ultrapassaram a provável fase crítica, como por exemplo, déficit nutricional e déficit
hídrico, a mortalidade poderá ser ainda maior.
Souza (2002) cita ainda, que plantios considerados jovens, podem apresentar
mortalidade acima de 40%, pois as mudas ainda não atingiram a idade crítica, onde a
demanda por nutrientes poderá influenciar o desenvolvimento das mudas e aumentar
ainda mais a taxa de mortalidade.
De acordo com as espécies remanescentes existentes na área do plantio infere-se que a
área possui uma variação gradual do ambiente, gradando de ambientes que no passado
eram Cerrado Sentido Restrito para Mata de Galeria (figura 01), cuja variação pode ter
afetado o desenvolvimento das mudas entre os diferentes talhões neste projeto.
De modo geral, observou-se, por exemplo, que os talhões mais próximos às matas, A e
C, obtiveram resultados de sobrevivência melhores em decorrência da disponibilidade
hídrica encontrada naquelas áreas. Isto pode ter afetado positivamente na altura das
mudas plantadas, já que as mudas das áreas mais próximas à Mata de Galeria, onde a
disponibilidade de água e fertilidade do solo é maior, apresentaram crescimento
melhores. Já os talhões B e D, são talhões que se encontram mais distantes da Mata de
Galeria e que no passado ocorria o Cerrado Sentido Restrito, cujo o ambiente possui
naturalmente menor umidade e fertilidade do solo, as mudas apresentaram
desenvolvimento menores.
Segundo Mundim (2004), o estresse hídrico é uma das maiores causas de mortalidade e
deficiência de crescimento de espécies nativas em áreas degradadas de Cerrado. Devido
a esse fator é importante o conhecimento do comportamento das espécies com relação a
disponibilidade de água no ambiente que será objeto de plantio, pois influenciará no
estabelecimento e desenvolvimento inicial das mudas plantadas.
Avaliando o volume de chuvas na área da ESECAE, no período de 2011 a 2015 (tabela
05), observou-se que a média de dias com chuva foi de aproximadamente 83 dias, o que
corresponde apenas a 23% dos dias do ano. A média de chuva no citado período foi de
1.252,12 mm, abaixo da média acumulada histórica para aquela área. A figura 02 ilustra
a diminuição de precipitação para o período, demonstrando que a baixa disponibilidade
de água para o plantio pode ter acentuado a taxa de mortalidade, nos anos de 2012,
2013, 2015 e 2016 (anos com menor volume pluviométrico). No ano de 2012, por
exemplo, observou-se o volume de chuva de 960,7 mm, muito abaixo da série histórica
verificada para a área.
Tabela 04. Volume de chuva e dias com chuva ocorridos na área da Estação Ecológica
de Águas Emendadas – ESECAE, Distrito Federal, no período de 2011 a 2016.

Me Vol. Nº Vol Nº Vol. Nº Vol Nº Vol Nº Vol Nº Mé


s chu dia . dia chu dia . dia chu dia chu dia dia
va s chu s va s chu s va s va s His
(m co va co (m co va co (m co (m co tó-
m) m (m m m) m (m m m) m m) m rica
chu m) chu chu m) chu chu chu
va va va va va va
ANO
201 201 201 201 201 201 201 201 201 201 201 201
1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6
Jan 146,6 242 254, 188 142, 320, 246,
15 ,1 18 1 17 ,0 8 9 5 7 16 7
Fe 210,9 92, 138 184, 318,
v 14 7 8 85,3 7 ,4 7 5 10 50,8 7 6
Ma 262,0 102 184, 320 310, 171,
r 19 ,8 8 1 10 ,6 12 9 16 134 8 0
Ab 178 240, 154,
r 29,3 8 65 8 91,4 9 ,2 12 9 13 29,4 2 4
Ma 14,
i 0,8 1 7 4 0 0 0 0 62,2 6 14,7 2 5,2
Jun 0 0 0,5 1 64,8 2 0 0 4,4 4 0 0 4
Jul 0 0 0 0 0 0 0 0 0,7 1 0 0 0
Ag
o 0 0 0 0 0,6 1 0 0 0 0 4,6 2 8,9
Set 11,
11,6 2 9,9 2 58,6 4 9 2 8,6 3 11,9 3 26,4
Ou 283, 64, 124, 137 101,
t 3 14 8 7 4 8 ,5 8 63,7 3 80,3 9 3
No 227, 268 122, 221 166, 348, 244,
v 8 10 ,2 15 6 10 ,5 11 0 9 5 14 2
De 224, 100 256, 240 124, 171, 256,
z 1 15 ,0 10 7 15 ,9 14 5 13 8 13 3
To 139 960 124 143 130 116 153
tal 6,4 98 ,7 81 2,6 83 7 74 9,3 83 6,7 76 7

Chuva anual acumulada vs média histórica


1800
volume de chuva precipitado por ano (mm)

1600 1537
1437
1396,4
1400 1309,3
1242,6
1166,7
1200
960,7
1000

800

600

400

200

0
TOTAL

ano 2011 ano 2012 ano 2013 ano 2014 ano 2015 ano 2016 MEDIA HISTÓRICA

Mundim (2004) e Felfili et al. (2001), citam que as plantas na fase inicial são mais
susceptíveis aos períodos secos do que plantas em estágios mais avançados, que
desenvolveram sistema radicular substancial e relativo número de folhas maduras. Da
mesma maneira, espécies que têm desenvolvimento inicial mais lento vão permanecer
mais tempo susceptíveis aos estresses provocados por períodos secos ou veranicos do
que aquelas que apresentaram rápido crescimento, principalmente em fitofisionomias do
Cerrado com estações climáticas bem definidas com quase seis meses de seca.
Kanegae et al. (2000) citado in Mundim (2004), cita ainda, que em situação de déficit
hídrico, os primeiros meses após a emergência da plântula são os mais críticos para o
estabelecimento e sobrevivência da mesma.

4. Conclusões

No trabalho proposto a taxa de sobrevivência foi de 43,96 % e 56,48 % de mortalidade.


Infere-se que a infestação da área por gramíneas agressivas e baixa ocorrência de
chuvas na área pode ter sido os principais fatores que influenciaram na mortalidade das
mudas.
Em geral os dados apresentados demonstram que o PRAD da ESECAE está próximo do
padrão esperado para o bioma Cerrado, tendo em vista que em áreas de Cerrado a
sobrevivência de mudas é comprometida por vários fatores, como por exemplo,
heterogeineidade espacial, estresse hídrico, mato-competição, baixa fertilidade do solo,
predação por formigas, patógenos e inaptidão em colonizar o sítio.
Assim, o esforço em manter mudas vivas no campo por meio de padrões tradicionais de
plantios não é suficiente para garantir o seu sucesso, necessitando de pesquisas
específicas, além de intervenções técnicas e atividades de manutenção, a fim de garantir
mais eficiência na recuperação de áreas degradadas.

5. Referências Bibliográficas

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sob diferentes condições de adubação e roçagem, em Planaltina – DF. UnB. 104 fl.
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DIAGNÓSTICO DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL DA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO CASCAVEL ATRAVÉS DE
GEOPROCESSAMENTO, GUARAPUAVA – PARANÁ

Geovane Ricardo Calixto1, Natali A. de lima Calixto2

Estadual do Centro-Oeste do Paraná - UNICENTRO, e-mail:


[email protected]; Estadual do Centro-Oeste do Paraná -
UNICENTRO, e-mail: [email protected].

RESUMO

O presente artigo trata-se da vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do rio


cascavel, com o auxilio do geoprocessamento possibilitando a identificação de áreas
degradadas e vulneráveis. O objetivo geral desse trabalho é identificar, a partir das
características geomorfológicas, pedológicas e de uso do solo, hierarquizar a
vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do rio Cascavel, localizada no
município de Guarapuava-Paraná.O processo de urbanização ocorreu em sua maioria na
bacia hidrográfica do rio Cascavel, localizada na porção central da área urbana de
Guarapuava. Dessa maneira, essa bacia é atingida pelos diversos impactos
socioambientais. Essa metodologia visa apenas nortear os estudos, sendo que na área
selecionada para análise verifica-se vulnerabilidade associada mais em relação à
ocupação do que em detrimento das variáveis genéticas.Esses estudos são úteis por
possibilitarem a aplicação de diversas técnicas, correlacionar variáveis e permitir um
enfoque multidisciplinar. Sendo assim, através dele torna-se mais fácil definir diretrizes
e ações a serem implementadas no espaço físico-territorial,servindo de base para o
planejamento e gestão do território, bem como a criação de leis adequadas às reais
necessidades de cada local.

Palavras Chave: Vulnerabilidade ambiental, rio Cascavel , geoprocessamento.


Introdução

A geomorfologia aplicada busca descrever e analisar os principais


condicionantes do meio físico a fim de solucionar problemáticas específicas. Partes
desses estudos podem ser realizados através de levantamentos sistemáticos. As análises
devem ser realizadas levando em consideração as características físicas (hidrografia,
geologia, geomorfologia, topografia, vegetação e solos), e os processos de ocupação do
território.

As técnicas de geoprocessamento constituem importantes ferramentas para a


análise da distribuição espacial dos fenômenos e na interpretação dos processos
geoambientais. A cartografia temática possibilita a representação desses fenômenos de
acordo com os objetivos da pesquisa, e no que diz respeito aos mapeamentos
geomorfológicos, viabiliza a leitura de cartas e a análise em diferentes escalas de
tratamento.

O estudo voltado à vulnerabilidade ambiental tem como objetivo identificar


áreas com potencial e restrições de uso e áreas vulneráveis a degradação. Essa
vulnerabilidade das estruturas geomorfológicas é condicionada aos seguintes processos:
erosão, movimentos de massa, queda de blocos, subsidência, recalques, colapsos de
solo, inundações periódicas e contaminação de águas subterrâneas.

A bacia hidrográfica é considerada uma unidade natural de planejamento e


gestão dos recursos naturais, e uma das suas principais vantagens é a fácil delimitação.
As bacias hidrográficas integram uma visão conjunta do comportamento das condições
naturais e das atividades humanas nelas desenvolvidas uma vez que, mudanças
significativas em qualquer dessas unidades, podem gerar alterações, efeitos e / ou
impactos a jusante e nos fluxos energéticos de saída (GUERRA e CUNHA, 1996). No
Brasil, a lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 que sancionou a Política Nacional de
Recursos Hídricos, instituiu a bacia hidrográfica como unidade territorial para
planejamento e a gestão.
Segundo Gomes (2005), a ocupação urbana da cidade de Guarapuava passou por
uma ampliação a partir de 1950, quando sua área ocupada era de 6 km², passando para
8km² em 1960, sofrendo intenso crescimento nos anos que seguiram, 16,5 km² em
1970,e 23,5 km² em 1980. De acordo com Silva (1977), o aumento populacional do
município nesse período foi desencadeado pelo processo de expansão da agricultura
intensiva no Paraná, o que levou à mudança no ciclo econômico regional, com a entrada
definitiva da agricultura moderna.
Esse crescimento populacional acelerado e a expansão do perímetro urbano
ocorreram sem planejamento prévio, e as conseqüências desse processo ainda estão
evidentes. O processo de urbanização ocorreu em sua maioria na bacia hidrográfica do
rio Cascavel, localizada na porção central da área urbana de Guarapuava. Dessa
maneira, essa bacia é atingida pelos diversos impactos socioambientais, entre eles
inundações, assoreamento e contaminação dos cursos d’água, a ocupação irregular e o
descumprimento das leis que regem as áreas de preservação permanente, entre outros.
O objetivo geral desse trabalho é identificar, a partir das características
geomorfológicas, pedológicas e de uso do solo, hierarquizar a vulnerabilidade ambiental
da bacia hidrográfica do rio Cascavel, localizada no município de Guarapuava-Paraná.
Os objetivos específicos incluem a confecção de mapas temáticos, e identificação dos
principais processos degradantes que ocorrem na área de estudo.

Material e Métodos

O trabalho foi desenvolvido a partir da revisão bibliográfica e análise empírica


da fragilidade de ambientes naturais e antropizados adaptado por Ross (1994), que
sistematiza uma hierarquia nominal de fragilidade representada por valores ou pesos
(peso: 1), muito fraca (peso: 2), fraca (peso: 3), médio (peso: 4) forte e muito forte
(peso: 5).
De acordo com esta metodologia, a vulnerabilidade ou fragilidade ambiental
pode ser medida através dos índices de dissecação do relevo ou através das classes de
declividade. Dessa maneira, cada uma das classes é hierarquizada em classes de acordo
com sua vulnerabilidade. A análise realizada a partir dessa hierarquização possibilita a
identificação de áreas em função de seus diferentes níveis de fragilidade. Assim as
diferentes áreas necessitam de intervenções a ações técnicas diversificadas.
O mapeamento sistemático foi realizado no ambiente do software Arcgis
10.2, e foram gerados mapas temáticos da geologia, declividade, uso do solo e
hipsométrico da área em estudo. Para gerar a carta de fragilidade ambiental foram
usados dados cartográficos intermediários de solo, declividade e uso e cobertura da
terra.
Resultado e Discussão

Caracterização da Área de Estudo

A bacia hidrográfica está localizada na porção central do município de


Guarapuava, região Centro-Sul do estado do Paraná, entre as coordenadas 25°18°03’’ e
25°26’19’’ de latitude sul e os meridianos 51°24’49’’e 51°32’07’’, faz parte da bacia
hidrográfica do rio Jordão, e conta com uma área de 81,03 km², sendo que
aproximadamente 81% de seu território se encontra ocupado pela malha urbana do
município
(figura 1).

Figura 15 - Localização da área de estudo.

Segundo MAACK (1981), a vegetação de Guarapuava é composta pela


associação de campos limpos, capões e matas de galeria com florestas de Araucária
(Floresta Ombrófila Mista). Caracteriza-se principalmente por vegetações de matas de
araucária, tendo três ambientes de campos distintos, os quais são: campos abertos;
campos encharcados e capões. Cabe destacar que atualmente a vegetação não está
relacionada somente com oscilações paleoclimáticas, mas também com as ações
antrópicas, principalmente a partir da metade do século XX. Devido a interesses
econômicos as matas foram derrubadas contribuindo para retração florestal da região. A
floresta explorada em diferentes estágios de sucessão abrange 28,4% da área.

O estágio de alteração da vegetação da bacia hidrográfica do rio Cascavel


encontra-se avançado, restando poucos resquícios de mata nativa, pouca mata
secundária no baixo e alto curso da bacia, além de pequenas concentrações de mata
ciliar ao longo dos Rios Cascavel e Xarquinho, sendo encontradas áreas destinadas a
culturas temporárias, pastagens, reflorestamento e áreas de várzeas.

O clima predominante de Guarapuava é o subtropical mesotérmico


úmido, sem estação seca, com verões frescos e inverno moderado, a temperatura média
anual é de 17ºC, com geadas severas entre maio e setembro. A pluviosidade média
anual é de 1.960 mm, com precipitações médias mensais superiores a 100 mm, sendo os
meses mais chuvosos outubro e janeiro, e os menos chuvosos, agosto e julho (MAACK,
2002; THOMAZ e VESTENA, 2003).

A partir de 1980, verificou-se uma expansão urbana expressiva ao longo


da bacia hidrográfica do rio Cascavel, no entanto sem apresentar o devido ordenamento
territorial. Dessa maneira, têm sido potencializados impactos socioambientais negativos
como: esgoto a céu aberto, ravinamentos, deficiência de infra-estrutura (pavimentação,
galerias pluviais, entre outros), inundações, canalização e poluição dos cursos fluviais
(PERES et. al., 2008; AMARAL e THOMAZ, 2008; GOMES, 2009; VESTENA e
SCHMIDT, 2009).
Aspectos Litológicos e Geomorfológicos

A bacia hidrográfica está inserida no Planalto de Guarapuava, que é


caracterizado pelos grandes derrames do vulcanismo Mesozóico, constituídos pela
Formação Serra Geral, do Grupo São Bento (figura 2). Esta Formação apresenta amplos
derrames de rochas ígneas, predominando basaltos, que recobrem as rochas
sedimentares da Formação Botucatu (efusivas básicas toleíticas com basaltos maciços e
amigdalóides, afaníticos, cinzentos a pretos, raramente andesíticos) e Membro Nova
Prata, constituídos por basaltos pórfiros, dacitos, riodacitos e riolitos (MINEROPAR,
2006).
Figura 2 - Mapa geológico da área em estudo.

Nardy et. al. (2002) apontam que a Formação Serra Geral se formou no final do
período Jurássico e início do Cretáceo (entre 140 a 120 milhões de anos), quando
ocorreu a extrusão de grande quantidade de material ígneo, proveniente de significativas
fendas abertas na crosta, provavelmente atrelada à separação do continente sul-
americano da
África
(abertura do
oceano
Atlântico).

Figura 3 - Mapa de declividade.

A declividade varia pouco ao longo da bacia, sendo que a maior parte é


caracterizada pelo relevo plano a levemente ondulado (figura 3). Isso se justifica pela
existência de rupturas de declive ocasionadas por falhas estruturais perceptíveis na
porção inferior da bacia, e pela ocorrência intercalada entre rochas ácidas e básicas,
sendo que as rochas ácidas são mais resistentes aos processos erosivos devido ao maior
teor de dióxido de silício (SiO2).

Aspectos Pedológicos

Segundo a EMBRAPA (2006), os solos identificados na área de estudo são o latossolo


vermelho
eutrófico e o
nitossolo háplico

distrófico(figura 4).

Figura 4 - Mapa de classificação do solo.

Latossolos Vermelhos Distróficos


Os latossolos que ocorrem em regiões equatoriais e tropicais, estão distribuídos
sobre amplas e antigas superfícies de erosão: tabuleiros, chapadas, planaltos, terraços
fluviais, estando associados normalmente a relevos planos e suave ondulados e, mais
raramente, a áreas mais acidentadas. Por sofrerem intemperização intensa, são
chamados popularmente de solos velhos, sendo definidos pelo SiBCS (Embrapa, 2006)
pela presença de horizonte diagnóstico latossólico e características gerais como: argilas
com predominância de óxidos de ferro, alumínio, silício e titânio, argilas de baixa
atividade (baixa CTC), fortemente ácidos e baixa saturação de bases.

Apresentam normalmente baixa fertilidade, exceto quando originados de rochas


mais ricas em minerais essenciais às plantas, acidez e teor de alumínio elevados.
Possuem boas condições físicas para o uso agrícola, associadas a uma boa
permeabilidade por serem solos bem estruturados e muito porosos. Porém, devido aos
mesmos aspectos físicos, possuem baixa retenção de umidade, principalmente os de
textura mais grosseira em climas mais secos.

Os latossolos vermelhos distróficos são solos de baixa fertilidade, apresentam


cores vermelhas acentuadas, devido aos teores mais altos e à natureza dos óxidos de
ferro presentes no material originário em ambientes bem drenados, e características de
cor, textura e estrutura uniformes em profundidade.

Por serem profundos e porosos ou muito porosos, apresentam condições


adequadas para um bom desenvolvimento radicular em profundidade, principalmente se
forem eutróficos (de fertilidade alta). No entanto, o potencial nutricional dos solos será
bastante reduzido se forem álicos, pois existe a "barreira química" do alumínio que
impede o desenvolvimento radicular em profundidade. Se o solo for ácrico, existe
também uma "barreira química", mas neste caso, sendo mais relacionados aos baixos
valores da soma de bases (especialmente cálcio) do que à saturação por alumínio, que
não é alta nos solos ácricos. Além destes aspectos, são solos que, em condições naturais,
apresentam baixos níveis de fósforo.
Nitossolos Distróficos

Estão normalmente associados às áreas de relevos desde suave ondulado a forte


ondulado. São originados de rochas básicas (basalto, diabásio) e rochas calcáreas,
podendo, também, estar associada a rochas intermediárias (gnaisses, charnoquitos), são
profundos, bem drenados, de coloração variando de vermelha a brunada, Os Nitossolos
podem apresentar alta (eutróficos) ou baixa (distróficos) fertilidade natural, acidez
ligeiramente elevada e teores variáveis de alumínio. Em áreas mais planas, os
Nitossolos, principalmente os de maior fertilidade natural e de maior profundidade,
apresentam alto potencial para o uso agrícola. Já em ambientes de relevos mais
declivosos, apresentam alguma limitação para uso agrícola relacionada à restrição a
mecanização e à susceptibilidade à erosão (EMBRAPA, 2006).
Uso e Ocupação da Terra

O uso e ocupação da terra é foi classificado conforme as classes de utilização do


solo municipal como: área urbana (edificações), vegetação nativa e florestas exploradas
em diferentes estágios de sucessão, reflorestamento, áreas de várzea, solo exposto e

agricultura (Figura 5).


Figura 5 - Mapa de uso e ocupação da terra conforme a classe de utilização do solo
municipal.
Vulnerabilidade Ambiental

De acordo com levantamento realizado por Silva et. al., a baixa vulnerabilidade
a erosão laminar e linear nas unidades geomorfológicas Planalto Pitanga/Ivaiporã e
Planalto de Palmas/Guarapuava, predominam Latossolos de textura argilosa, associados
a relevo com baixa/moderada declividade, secundariamente Cambissolos e Neossolos
Litólicos textura argilosa, associados a relevo com moderada declividade, apresentam
moderada/alta vulnerabilidade a erosão.

Figura 6 - Mapa das áreas de inundação na bacia do rio Cascavel.

A análise empírica a partir das variáveis declividade e solo permite ressaltar que o
índice de vulnerabilidade é classificada como muito fraca, fraca, média e forte. Porém,
deve-se destacar que de acordo com a classe mais significativa foi muito fraca.

Unidades de solo Hierarquia de vulnerabilidade Peso


Latossolos Muito fraca 1
Nitossolos Fraca 2
Tabela 13 - Hierarquização da vulnerabilidade por horizontes diagnósticos.
Textura dos solos Hierarquia de Peso
vulnerabilidade

Argiloso Muito fraca 1

Tabela 14 - Hierarquização da vulnerabilidade por textura.

Classe de declividade Hierarquia de Peso


vulnerabilidade

Plano < 5% Muito fraca 1

Suave ondulado - 3 a 8% Fraca 2

Ondulado - 8 a 20% Média 3

Forte Ondulado - 20 a 45% Forte 4

Tabela 15 - Hierarquização da vulnerabilidade por classe de declividade.


No entanto, essa metodologia visa apenas nortear os estudos, sendo que na área
selecionada para análise verifica-se vulnerabilidade associada mais em relação à
ocupação do que em detrimento das variáveis genéticas. Cerca de 81% da área da bacia
está ocupada por ocupação urbana, sendo que desse número há uma grande porção
destinada a ocupações irregulares, que em períodos de eventos pluviais extremos são
atingidas por inundações.

Junto a isso, a ocupação irregular nas margens da área de várzea ajudam a


potencializar os impactos sócios ambientais, seja na descaracterização do ecossistema
ou no prejuízo humano. Por se tratar de área de deposição, a várzea do rio Cascavel que
está inserida quase na totalidade do perímetro urbano, não possui uma permeabilidade
favorável à infiltração, seja pela grande quantidade de sedimentos argilosos na base da
várzea ou pela grande impermeabilização do solo com as edificações e ruas,
contribuindo pelo extravasamento das margens do rio em períodos de pluviosidade
considerável, para as residências dessa população ocupada na várzea(figura 6).
Essa área por estar sob um platô de rocha basáltica de grande resistência a
erosão, influencia diretamente na convergência do lençol freático, extravasando as áreas
inundáveis do leito fluvial também provocando inundações nessas áreas de
vulnerabilidade (figura 7).

Figura 7 - Vulnerabilidade ambiental

Conclusão

De acordo com o Plano Diretor do Município de Guarapuava elaborado no ano


de 2008, Capítulo IV, no que tange as Diretrizes para Proteção Ambiental, segundo o
Art.36, a Lei Orgânica propõe:

VII - aumentar o índice total de áreas verdes para no mínimo 10% (dez por
cento) da área total do perímetro urbano atual, através de:

b) reposição da vegetação das áreas de preservação permanente, com espécies


nativas, prioritariamente, nos arroios;
c) aproveitamento de áreas inaptas à ocupação;

X - implementar projetos específicos no que diz respeito à hidrografia da área


urbana para minimizar os problemas de enchentes;

XI - restringir a ocupação e priorizar a implantação de infra-estrutura necessária,


na área denominada de Proteção de Recursos Hídricos segundo Lei de Zoneamento;

XII - proibir o lançamento de qualquer tipo de efluente nos corpos d água e


assegurar seu devido tratamento;
XIII - preservar áreas de solos turfosos, restringindo sua ocupação;

E segundo o Capítulo III que institui das Diretrizes para o Planejamento Físico-
territorial das Zonas Urbanas do município:

O Poder Público Municipal, adotará as seguintes diretrizes, que nortearão o


estabelecimento de políticas e a implementação de ações para o desenvolvimento físico
urbanístico das zonas urbanas no Município de Guarapuava:

I - proibir a ocupação urbana nas áreas de inundação e fundos de vale e restringir


a ocupação nas áreas de solos orgânicos, rochosos, de riscos geológicos, e
aqueles inadequados para instalação de infra-estrutura;

II - promover a recuperação de áreas inadequadas já ocupadas;

III - controlar as áreas sujeitas à erosão, dotando-as de infra-estrutura adequada


para conter processos erosivos;

A Lei Orgânica do município está voltada para os problemas de


vulnerabilidade ambiental apontados na análise, no entanto o que não ocorre é a sua real
efetivação e implementação.

Destacam-se também as limitações e problemas ao adotar uma


metodologia, visto que estas servem de base para o estabelecimento do que é necessário
analisar e dos levantamentos para a caracterização da área de estudo, porém cada área
tem suas particularidades que devem ser levados em consideração para que os
problemas sejam compreendidos de maneira mais ampla e concreta.
Portanto, a partir das análises realizadas a partir da vulnerabilidade e/ou
fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do rio Cascavel verificou-se que existe de
fato uma vulnerabilidade, mas que está não é condicionada especificamente devido as
características genéticas. Esses estudos são úteis por possibilitarem a aplicação de
diversas técnicas, correlacionar variáveis e permitir um enfoque multidisciplinar. Sendo
assim, através deles torna-se mais fácil definir diretrizes e ações a serem implementadas
no espaço físico-territorial, servindo de base para o planejamento e gestão do território,
bem como a criação de leis adequadas às reais necessidades de cada local.

Referências

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RELAÇÕES ECOLÓGICAS ENTRE ESTRATOS DE FLORESTAS EM
PROCESSO DE RESTAURAÇÃO APÓS MINERACÃO DE BAUXITA

K. de A. Silva¹; S. V. Martins¹; A. Miranda Neto¹; A. T. Lopes²

¹Universidade Federal de Viçosa, Laboratório de Restauração Florestal – LARF, CEP:


36570-900, Campus Universitário, Viçosa, MG, Brasil, [email protected]
²Votorantim Metais, Setor de Meio Ambiente, CEP: 36790-000, Miraí, MG, Brasil

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar as relações ecológicas entre estratos de florestas em
processo de restauração em áreas mineradas. Foi feito levantamento florístico do
plantio, do banco de sementes do solo e da regeneração natural de três florestas
distintas, com um ano e seis meses (A1), cinco anos (A2) e doze anos (A3), todas em
processo de restauração florestal. Comparou-se a composição florística, categoria
sucessional e síndrome de dispersão das espécies arbustivo-arbóreas entre os estratos
das três florestas, através de análise de agrupamento. Houve similaridade florística entre
o banco de sementes e regeneração natural da floresta A2; e do banco de sementes da
floresta A3 com a regeneração natural da floresta A1. O dendrograma comparando as
diferentes categorias sucessionais mostrou a formação de um grupo com elevada
similaridade entre o banco de sementes das florestas A2 e A3 e da regeneração natural
das florestas A1 e A2, predominando neste grupo espécies pioneiras; e outro grupo com
elevada similaridade entre os plantios das três florestas e a regeneração natural da
floresta A3, com predomínio da categoria sucessional secundária inicial seguida pela
secundaria tardia. Com relação à síndrome de dispersão, houve elevada similaridade
entre banco de sementes do solo, regeneração natural e plantio nas três florestas (1,5
ano, 5 e 12 anos em processo de restauração), predominando a síndrome de dispersão
zoocórica. A similaridade entre o banco de sementes das três florestas e regeneração
natural das florestas A1 e A2, mostram que estas últimas estão em processo inicial de
sucessão. Diferentemente, a floresta A3 se encontra em estágio médio de sucessão,
predominando espécies secundárias iniciais e tardias no estrato de regeneração natural.
O predomínio de espécies zoocóricas em todos estratos avaliados é importante para a
atração de animais, o enriquecimento de espécies e o avanço da sucessão nas florestas
em restauração.

Palavras-chave: banco de sementes, bauxita, regeneração natural, restauração florestal

INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica que correspondia a uma área de 1,1 milhão de km² e que hoje
está reduzida a uma área florestal de 300 mil km² altamente fragmentados, devido a sua
degradação ao longo dos séculos (Serviço Florestal Brasileiro, 2010), é considerada um
dos hotspots mundial devido exatamente a essa elevada perda da sua cobertura original,
alta biodiversidade e elevado grau de endemismo (Ferreira Júnior et al., 2012; Gazell et

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná –52
Brasil
al., 2012). No Estado de Minas Gerais o domínio da Mata Atlântica correspondia a 41%
da área do Estado e hoje está reduzida a 4% dessa área (Drummond et al., 2009).
Neste cenário de degradação ambiental da Floresta Atlântica que vem desde o
descobrimento do Brasil até os dias atuais com a expansão das áreas agrícolas, pecuária,
o desmatamento ilegal, a expansão imobiliária e atividades de mineração, vemos a
importância da preservação dos remanescentes florestais ainda existentes e a restauração
das áreas perturbadas e degradadas. Para que haja o restabelecimento da biodiversidade
e dos processos ecológicos é necessária a aplicação de um conjunto de intervenções
eficientes (Brancalion et al., 2010), além de conhecer a diversidade, estrutura e
funcionamento das florestas secundárias tropicais para melhor subsidiar ações de
manejo, conservação e práticas de restauração florestal (Franco et al., 2012).
A capacidade da floresta restaurada se perpetuar no tempo é um dos fatores mais
importantes para o sucesso do processo de restauração (Barbosa, 2008), sendo
fundamental a ocorrência de diversos acontecimentos como, a dispersão de propágulos
de espécies existentes no local e de fragmentos florestais do entorno, e a existência de
fauna dispersora, possibilitando assim, a regeneração natural da floresta em restauração
(Barbosa, 2008; Miranda Neto et al., 2012a). Assim, são essenciais a avaliação e o
monitoramento das florestas em processo de restauração para que se tenha êxito no
projeto de restauração implantado.
O estudo da florística das distintas fisionomias florestais e a comparação de sua
similaridade entre os diferentes estratos de uma comunidade florestal numa mesma
região assim como entre comunidades florestais de regiões diferentes é importante para
se avaliar as espécies mais importantes nessas comparações e permitir identificar
possíveis correlações com variáveis climáticas e consequente entendimento do
funcionamento da fitogeografia brasileira (Meira Neto e Martins, 2002). Esse tipo de
estudo auxilia também na avaliação de florestas em processo de restauração através da
correlação com outras florestas restauradas e com ecossistemas naturais preservados
(Miranda Neto et al., 2012b).
Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar as relações
ecológicas entre os diferentes estratos (plantio, banco de sementes do solo e regeneração
natural) de três florestas em processo de restauração em áreas mineradas, situadas na
região da Zona da Mata de Minas Gerais.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho faz parte de um convênio entre a empresa Votorantim Metais/CBA


e o LARF – Laboratório de Restauração Florestal da Universidade Federal de Viçosa,
MG (www.larf.ufv.br).
O estudo foi realizado em três florestas que estão em processo de restauração há
um ano e seis meses (A1), cinco anos (A2) e doze anos (A3), após a mineração de
bauxita. O processo de restauração foi por meio de plantio de mudas de espécies
arbóreas em área total. As florestas A1 e A3 estão localizadas no município de
Descoberto (floresta A1 - 21°25’42”S e 42°56’07”W; floresta A3 - 21°25’35”S e
42°56’08”W), e a floresta A2 no município de São Sebastião da Vargem Alegre
(21°04’20”S e 42°38’11”W), todas situadas na Zona da Mata de Minas Gerais.
O clima da região onde estão situadas as florestas A1 e A3, segundo a
classificação de Köppen, é do tipo Aw, tropical com verões quentes e úmidos (Sá Júnior
et al., 2012). A temperatura é alta no verão, atingindo os 40°C, diminuindo para 20-
22°C no inverno, e a precipitação pluviométrica média anual é de 1.300 mm (Lopes e
Branquinho, 1988). Já da região onde está situada a floresta A2, é do tipo Cwa, clima

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Brasil
temperado úmido com inverno seco e verão quente (Sá Júnior et al. 2012). A
temperatura média mínima anual é de 18,2°C e média máxima anual de 31°C, com
temperatura média anual de 23,5°C e precipitação média anual de 1.564 mm
(AGEVAP, 2013). A vegetação característica das regiões de estudo é classificada como
Floresta Estacional Semidecidual, inserida no Domínio Floresta Atlântica (IBGE,
2012).
Na floresta A1 o espaçamento de plantio utilizado foi de 1,5 x 1,5 m, na floresta
A2 espaçamento de 3,0 x 2,0 m e na floresta A3 foi de 1,0 x 1,0 m. Foram alocadas 40
parcelas de 3,0 x 3,0 m nas florestas A1 e A3 e 30 parcelas de 2,0 x 2,0 m na floresta
A2, para avaliação do banco de sementes do solo e da regeneração natural. Em cada
parcela lançada nas florestas de estudo foi retirada uma amostra de solo superficial de
0,25 x 0,30 x 0,05 m, as quais foram levadas para casa de sombra no viveiro do
Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, para
contagem e identificação das plântulas emergidas. Em cada parcela das florestas
também foram mesurados a altura e o diâmetro ao nível do solo (DNS) de todos os
indivíduos arbustivo-arbóreos pertencentes à regeneração natural com altura ≥ 0,3 m e
DAP inferior a 5,0 cm. As espécies amostradas no banco de sementes, na regeneração
natural e no plantio das três florestas, foram identificadas e classificadas em categorias
sucessionais, de acordo com os critérios propostos por Budowski (1965) e adaptados
por Gandolfi et al. (1995) para florestas semidecíduas brasileiras, sendo: pioneiras,
secundárias iniciais e secundárias tardias. Foram também classificadas quanto às
síndromes de dispersão de propágulos em zoocóricas, anemocóricas e autocóricas (van
der Pijl, 1982).
A composição florística arbustivo-arbórea, as categorias sucessionais e as
síndromes de dispersão do estrato de regeneração natural (Reg), do estrato arbóreo
(plantio) e do banco de sementes do solo (BS) foram comparados entre as três florestas
(A1, A2 e A3) por meio de uma análise de agrupamento. O banco de dados consistiu de
uma matriz binária de presença e ausência de espécies, com exclusões de identificações
em nível de famílias e gêneros.
Procedeu-se inicialmente na conversão da matriz de dados binários em uma
matriz de medidas de proximidade (similaridade ou dissimilaridade) entre os pares de
unidades de observação (Johnson e Wichern, 1988). Para a similaridade florística foi
empregado o coeficiente de Jaccard (Mueller-Dombois e Ellenberg, 1974). E para as
similaridades da síndrome de dispersão e da categoria sucessional foi empregado o
coeficiente de Morisita (mod. Horn), a partir de uma matriz de dados quantitativos de
densidade de espécies (Kent e Coker, 1992).
Para interpretar a similaridade, foi utilizado o método de agrupamento UPGMA
(Unweighted Pair Group Method with Arithmetic Mean), produzindo um dendrograma
em que as amostras semelhantes, de acordo com as variáveis escolhidas, foram
agrupadas entre si (Moita Neto e Moita, 1998). As análises foram efetuadas no
programa FITOPAC 2.1 (Shepherd, 2010).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registradas na área amostral de cada estrato avaliado: 7 espécies


arbustivo-arbóreas no banco de sementes, 20 na regeneração natural e 37 no plantio da
floresta que está em processo de restauração há um ano e seis meses (A1); 22 espécies
arbustivo-arbóreas no banco de sementes do solo, 16 na regeneração natural e 45 no
plantio da floresta que está em processo de restauração há cinco anos (A2); 22 espécies

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Brasil
arbustivo-arbóreas no banco de sementes, 80 na regeneração natural e 37 no plantio da
floresta que está em processo de restauração há 12 anos (A3).
O dendrograma comparando os estratos banco de sementes do solo, regeneração
natural e plantio das três florestas avaliadas, com relação à similaridade florística,
distinguiu dois grupos, um grupo formado pelo banco de sementes do solo das florestas
com 1,5 ano, 5 anos e 12 anos e a regeneração natural de 1,5 ano e 5 anos; e outro grupo
formado pelo estrato de regeneração natural com 12 anos e as espécies do plantio das
florestas com 1,5 ano, 5 anos e 12 anos (Figura 1). Miranda Neto et al. (2012b),
avaliando a similaridade florística de uma floresta restaurada com 40 anos no município
de Viçosa-MG, entre os mesmos estratos analisados no presente estudo, verificaram
que, diferente do presente estudo, não houve similaridade florística do banco de
sementes do solo com o estrato de regeneração natural e o estrato arbóreo.

Figura 1 - Dendrograma de análise de agrupamento (UPGMA), utilizando o índice de


similaridade de Jaccard, para similaridade florística em florestas em processo de
restauração nos municípios de Descoberto – MG (1,5 ano e 12 anos) e São Sebastião da
Vargem Alegre – MG (5 anos), entre os estratos banco de sementes do solo (BS),
regeneração natural (Reg) e plantio.

Portanto, pode-se observar que houve similaridade florística entre o banco de


sementes e a regeneração natural da floresta com 5 anos (A2); banco de sementes da
floresta com 12 anos (A3) com a regeneração natural da floresta com 1,5 ano (A1); e o
plantio da floresta de 1,5 ano (A1) com o plantio da floresta de 12 anos (A3). Para haver
similaridade o coeficiente de Jaccard deve ser maior ou igual a 0,25 (Mueller-Dombois
e Ellenberg, 1974). A similaridade entre o plantio das florestas A1 e A3, se deram
devido a utilização das mesmas espécies em ambas florestas no plantio. Devido a
floresta A2 está em estágio inicial de sucessão, o predomínio de espécies iniciais de
sucessão ainda é visível no estrato de regeneração natural, por isto a similaridade
florística entre o banco de sementes e a regeneração natural. Pois o banco de sementes
do solo é composto predominantemente por espécies pioneiras, que formam o banco de
sementes persistente, mantendo sementes viáveis no solo por um longo período, até que
ocorra condições ambientais adequadas à sua germinação (Bazzaz e Pickett, 1980;
Araújo et al., 2001).

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A dissimilaridade entre a florística do plantio com o banco de sementes do solo e
a regeneração natural, provavelmente é devido a presença de fragmentos florestais
preservados próximos às florestas de estudo, que estão contribuindo com propágulos
para a recarga do banco de sementes do solo e para a regeneração natural. Outro motivo
é com relação as espécies do plantio da floresta A1 ainda não terem atingido o estágio
reprodutivo, assim como muitas espécies do plantio da floresta A2. Portanto, não
contribuindo ainda com propágulos para a regeneração natural e formação do banco de
sementes do solo.
O dendrograma comparando as diferentes categorias sucessionais entre os
estratos nas três florestas avaliadas mostram a formação de um grupo com elevada
similaridade entre o banco de sementes das florestas com 5 e 12 anos e da regeneração
natural das florestas com 1,5 ano e 5 anos (Figura 2), predominando neste grupo
espécies pioneiras, ou seja, de início de sucessão ecológica. Neste primeiro grupo houve
também similaridade com o banco de sementes da floresta com 1,5 ano, porém a
similaridade foi menor devido algumas espécies arbustivo-arbóreas não ter sido possível
a sua classificação em determinada categoria sucessional. Outro grupo foi formado com
elevada similaridade entre os plantios (1,5 ano, 5 e 12 anos) e a regeneração natural da
floresta com 12 anos (Figura 2), com predomínio das categorias sucessionais secundária
inicial e secundaria tardia, respectivamente. Mostrando que a floresta com 12 anos de
restauração florestal já está em um estágio médio de sucessão.

Figura 2 – Dendrograma de análise de agrupamento (UPGMA), utilizando o coeficiente


de Morisita, para a similaridade da categoria sucessional em florestas em processo de
restauração nos municípios de Descoberto – MG (1,5 ano e 12 anos) e São Sebastião da
vargem Alegre – MG (5 anos), entre os estratos banco de sementes do solo (BS),
regeneração natural (Reg) e plantio.
O predomínio de espécies pioneiras no banco de sementes do solo, o qual forma
o banco de sementes persistente, é fundamental para a cicatrização de clareiras,
fornecendo assim, aporte para a recuperação do ambiente diante de algum distúrbio.
Assim como a presença de espécies secundárias tardias na regeneração natural irão
garantir a perpetuação da floresta em restauração. A regeneração natural é parte
importante no processo de restauração de áreas degradadas, propicia maior

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná –56
Brasil
biodiversidade à área, juntamente com as espécies do plantio, e sua avaliação fornece
subsídio para o conhecimento da dinâmica de sucessão do ecossistema de referência
(Schievenin et al., 2012).
Com relação à síndrome de dispersão, podemos observar na Figura 3 que houve
elevada similaridade entre os estratos avaliados (banco de sementes do solo,
regeneração natural e plantio) nas três florestas (1,5 ano, 5 e 12 anos em processo de
restauração), predominando a síndrome de dispersão zoocórica, principalmente no
grupo formado pelo plantio com 5 anos e o estrato da regeneração natural das três
florestas. A presença de espécies zoocóricas em florestas em processo de restauração é
importante para a atração da fauna, principalmente, dispersora. Animais dispersores de
propágulos são fundamentais no favorecimento da complexidade de interações
ecológicas. A relação planta-frugívoro se torna essencial na aceleração da sucessão
florestal de florestas em restauração (Barbosa et al., 2012).

Figura 3 - Dendrograma de análise de agrupamento (UPGMA), utilizando o coeficiente


de Morisita, para similaridade da síndrome de dispersão em florestas em processo de
restauração nos municípios de Descoberto – MG (1,5 ano e 12 anos) e São Sebastião da
Vargem Alegre – MG (5 anos), entre os estratos banco de sementes do solo (BS),
regeneração natural (Reg) e plantio.

CONCLUSÕES

A análise de agrupamento para a composição florística entre os estratos das


florestas em restauração avaliadas mostrou similaridade apenas entre o banco de
sementes e a regeneração da floresta há cinco anos em processo de restauração e o
banco de sementes da floresta com doze anos e a regeneração da floresta com um ano e
seis meses.
A similaridade da categoria sucessional entre o banco de sementes das três
florestas e a regeneração natural das florestas com um ano e seis meses e com cinco
anos, mostram que estas duas últimas florestas estão em processo inicial de sucessão.
Diferentemente da floresta com doze anos, que já se encontra em estágio médio de
sucessão, predominando espécies secundárias iniciais e tardias no estrato de
regeneração natural.

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Brasil
A similaridade da síndrome de dispersão, com predomínio de espécies
zoocóricas, foi constatada para todos os estratos em todas as três florestas, o que é
importante para a atração de animais e progresso da sucessão das florestas em
restauração.
Os resultados indicam que as ações de restauração florestal das áreas mineradas
vem possibilitando a sustentabilidade ambiental da atividade de mineração de bauxita
na região.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pelas Bolsas de Doutorado da primeira autora e de Produtividade em


Pesquisa do segundo autor, à Capes pela concessão da Bolsa de Doutorado do terceiro
autor, e à Votorantim Metais pelo financiamento do projeto.

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MODELAGEM DE PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS PARA SUPORTE AO


PLANEJAMENTO DE AÇÕES DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DA ÁGUA,
SOLO E RECURSOS FLORESTAIS NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO (1)

C. T. CREECH (2); R. B. SIQUEIRA (3); K. SIMÕES (4)

(1) Projeto executado no ano de 2015 pelo USACE (United States Army Corps of
Engineers) em parceria com a CODEVASF
(2) Consultor Técnico, Eng. Hidráulico, USACE (United States Army Corps of
Engineers), Brasília, DF, Brasil – [email protected]
(3) Analista em Desenvolvimento Regional, Eng. Civil, CODEVASF, Brasília, DF,
Brasil – [email protected] (61) 2028-4556
(4) Analista em Desenvolvimento Regional, Eng. Cartógrafo, CODEVASF, Brasília,
DF, Brasil – [email protected] (61) 2028-4556

RESUMO

O rio São Francisco vem sofrendo, ao longo das últimas décadas, um contínuo processo
de erosão, assoreamento e diminuição da vazão. A produção, o transporte, a deposição e
a compactação de sedimentos são resultados de processos hidrossedimentológicos que
ocorrem naturalmente. A intensificação do uso do solo em razão do crescimento
populacional e econômico associada às práticas agrícolas e às atividades de irrigação e
mineração, acelerou esses processos, causando o aumento da quantidade de sedimentos
carreada para o leito do rio, e, por consequência, originando problemas sociais,
econômicos e ambientais aos setores de abastecimento de água, hidroelétrico, irrigação,
aquicultura e hidroviário. A solução para isto consiste na realização de um planejamento
e gerenciamento adequado dos recursos naturais da bacia. Para tanto, foi desenvolvido

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná –60
Brasil
pelo USACE (Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos) em parceria
com a CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e
do Parnaíba), um projeto de modelagem hidrológica e de produção de sedimentos para
compreender as dinâmicas do balanço sedimentar histórico e atual na bacia do rio São
Francisco, utilizando o modelo SWAT (Soil and Water Assessment Tool). Como
resultado deste estudo, gerou-se um mapa de Estimativa de Produção Anual de
Sedimentos na Bacia do Rio São Francisco, em escala nacional, que possibilitou, de
forma estratégica, dar suporte ao planejamento de ações de manejo e conservação da
água, solo e recursos florestais, mais especificamente ao controle de processos erosivos
e recuperação de áreas degradadas na bacia do rio São Francisco, por meio da
priorização de intervenções em sub-bacias com maior produção de sedimentos.
Palavras-Chave – modelagem hidrológica, produção de sedimentos, controle de
processos erosivos, recuperação de áreas degradadas, bacia do rio São Francisco

1- INTRODUÇÃO
A CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do
Parnaíba) é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Integração Nacional, que
promove o desenvolvimento e a revitalização das bacias dos rios São Francisco,
Parnaíba, Itapecuru e Mearim com a utilização sustentável dos recursos naturais e
estruturação de atividades produtivas para a inclusão econômica e social. A
CODEVASF e o USACE (Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos)
firmaram no ano de 2012 um acordo de parceria intergovernamental de 5 anos para dar
suporte a projetos de melhorias de engenharia fluvial e navegação, bem como a projetos
de estabilização de margens ao longo do rio São Francisco.
A bacia hidrográfica do rio São Francisco tem grande importância para o país não
apenas pelo volume de água transportado na região semiárida, mas, também, pelo
potencial hídrico passível de aproveitamento e por sua contribuição histórica e
econômica para a região. Ela abrange 639.219 km 2 de área de drenagem (7,5% do país)
e vazão média de 2.850 m3/s (2% do total do país). O rio São Francisco é um corredor
de navegação historicamente relevante, que conecta importantes atividades de
agricultura e mineração que ocorrem nos estados de Minas Gerais (sudeste do país) e
Bahia (nordeste do país). O rio São Francisco tem 2.700 km de extensão e nasce na
Serra da Canastra, em Minas Gerais, escoando no sentido sul-norte por Minas Gerais,
Bahia e Pernambuco, quando altera seu curso para esse, chegando ao Oceano Atlântico
através da divisa entre Alagoas e Sergipe. A bacia do rio São Francisco (Figura. 1)
possui sete unidades da Federação – Bahia (48,2%), Minas Gerais (36,8%), Pernambuco
(10,9%), Alagoas (2,2%), Sergipe (1,2%), Goiás (0,5%), e Distrito Federal (0,2%) –, e
507 municípios (cerca de 9% do total de municípios do país). (CBHSF, 2016)

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Brasil
Figura 1: Limite da Bacia do rio São Francisco
O clima varia de úmido no sul (Alto São Francisco) a semiárido no norte (Submédio
São Francisco). A cobertura vegetal da bacia do rio São Francisco contempla
fragmentos de diversos biomas predominando a Floresta Atlântica em suas cabeceiras, o
Cerrado (Alto e Médio São Francisco), e a Caatinga (Médio e Submédio São
Francisco). Ocorrem, ainda, áreas de transição entre o Cerrado e a Caatinga, as florestas
estacionais decídua e semi-decídua, os campos de altitude e as formações pioneiras
(mangue e vegetação litorânea), as últimas no Baixo São Francisco. O cerrado cobre,
praticamente, metade da área da bacia, compreendendo quase todo o estado de Minas
Gerais e oeste e sul da Bahia, enquanto que a caatinga predomina no nordeste da bacia a
partir da divisa dos estados de Minas com a Bahia, justamente sob as condições de
clima mais severas. A floresta tropical, hoje quase totalmente devastada pelo uso
agrícola e pelas pastagens, ocorre na região do Alto São Francisco, principalmente nas
cabeceiras (MMA, 2006).
O rio São Francisco vem sofrendo, ao longo das últimas décadas, um contínuo processo
de erosão, assoreamento e diminuição da vazão. A produção, o transporte, a deposição e
a compactação de sedimentos são resultados de processos hidrossedimentológicos que
ocorrem naturalmente. A intensificação do uso do solo em razão do crescimento
populacional e econômico associada às práticas agrícolas e às atividades de irrigação e
mineração, acelerou esses processos, causando o aumento da quantidade de sedimentos
carreada para o leito do rio, e, por consequência, originando problemas sociais,
econômicos e ambientais aos setores de abastecimento de água, hidroelétrico, irrigação,
aquicultura e hidroviário.
Em 2014, a equipe CODEVASF-USACE estudou os impactos associados ao
desenvolvimento da bacia do rio São Francisco, especificamente para hidrologia e
produção de sedimentos (Projeto #6 – Modelo Hidrológico e de Produção de
Sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, 2014), bem como para o
transporte de sedimentos (Projeto #7 – Modelo de Transporte de Sedimentos no

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Brasil
Canal de Navegação do Rio São Francisco, 2014), o que permitiu melhorar o
entendimento global da dinâmica de sedimentos (produção e transporte) na bacia e no
canal de navegação rio São Francisco.
A CODEVASF, por meio do Programa de Revitalização das Bacias Hidrográficas dos
rios São Francisco e Parnaíba, desde 2004 vem implementando projetos de mitigação de
danos ambientais. Foram executadas dentro da bacia do rio São Francisco inúmeras
ações de manejo e conservação da água e do solo com intuito de melhorar a qualidade
da água, recuperar a hidrologia natural e reduzir a erosão do solo. Essas medidas
consistem na execução de práticas conservacionistas, tais como: bacias de
captação/sedimentação; terraceamento em nível; readequação de estradas vicinais;
proteção/cercamento de matas ciliares, matas de topo e nascentes;
contenção/estabilização de margens; e reflorestamento. Atualmente, estão sendo
desenvolvidos novos esforços de planejamento para aumentar as ações de mitigação de
danos ambientais.
Assim, este artigo tem por objetivo apresentar o projeto de modelagem hidrológica e de
produção de sedimentos, desenvolvido pela parceira USACE-CODEVASF, para
compreender as dinâmicas do balanço sedimentar histórico e atual na bacia do rio São
Francisco, utilizando o modelo SWAT (Soil and Water Assessment Tool). Como
resultado deste estudo, gerou-se um mapa de Estimativa de Produção Anual de
Sedimentos na Bacia do Rio São Francisco, em escala nacional, que possibilitou, de
forma estratégica, dar suporte ao planejamento de ações de manejo e conservação da
água, solo e recursos florestais, mais especificamente ao controle de processos erosivos
e recuperação de áreas degradadas na bacia do rio São Francisco, por meio da
priorização de intervenções em sub-bacias com maior produção de sedimentos.

2- MATERIAL E MÉTODOS
2.1- Modelagem Hidrológica e de Produção de Sedimentos
O modelo selecionado para avaliar a dinâmica de sedimentos na bacia do rio São
Francisco foi o SWAT (Soil and Water Assessment Tool - Ferramenta de Avaliação
de Solo e Água). O SWAT é um modelo de bacia hidrográfica contínuo (de etapas
diárias) baseado em dados físicos que tem sido utilizado intensamente para avaliar
hidrologia, produção de sedimentos, dinâmica de nutrientes, dentre outros processos. O
SWAT divide uma bacia hidrográfica em diversas sub-bacias e cada sub-bacia é então
dividida em Unidades de Resposta Hidrológica (Hydrologic Response Unit – HRUs).
Cada HRU é uma área de contribuição relativamente pequena que possui propriedades
uniformes de topografia (declividade), tipo de solo e uso do solo, e são determinadas a
partir da sobreposição e combinação destes dados.
O escoamento superficial é calculado no SWAT usando-se o método SCS-CN (USDA-
SCS, 1972) ou o método de Green e Ampt (Green e Ampt, 1911). O cálculo de
propagação de cheias é feito usando-se o método de coeficiente variável de acumulação
desenvolvido por Williams (1969) ou o método de propagação de Muskingum. O
SWAT simula a hidrologia de uma bacia hidrográfica utilizando uma simples equação
de equilíbrio da água (Equação 1):

(1)

Onde:

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Brasil
SWt= teor de umidade do solo final (mm H2O)
SW0 = teor de umidade do solo inicial no dia i (mm H2O)
Rday = precipitação no dia i (mm H2O)
Qsurf = escoamento superficial no dia i (mm H2O). Calculada utilizando o
método SCS de número da curva (Serviço de Conservação do Solo
USDA, 1972) e o método de infiltração de Green e Ampt (Green e
Ampt,1911)
Ea = evapotranspiração no dia i (mm H2O).
wseep = entrada de água na zona vadosa do perfil do solo no dia i (mm
H2O)
Qgw = escoamento de retorno ou escoamento base no dia i (mm H2O)
A erosão causada pela precipitação e pelo escoamento superficial é computada no
SWAT utilizando a Equação Modificada Universal de Perda do Solo (MUSLE)
(Williams, 1975). A MUSLE é uma versão modificada da Equação Universal de Perda
do Solo (USLE) desenvolvida por Wischmeier e Smith (1965). O modelo USLE fornece
estimativas de erosão sedimentar de longo prazo (anual), associadas à erosão de
córregos e escoamento laminar, enquanto que o MUSLE fornece estimativas da
produção total de sedimentos em etapas diárias através da incorporação de uma vazão
variável (Qsurf). A limitação do SWAT é que erosão de córregos e de
escoadouros/drenagens não são diretamente modelados e, em vez disso, parâmetros da
equação do MUSLE precisam ser artificialmente ajustados para levar em consideração
essas erosões.
A erosão do leito fluvial é frequentemente computada utilizando um modelo de
transporte sedimentar. Dezenas de modelos de transporte sedimentar têm sido
desenvolvidas para calcular a carga total de material do leito (veja, por exemplo,
Engelund e Hansen, 1967; Ackers e White, 1973; Yang, 1973; Brownlie, 1981; e Karim
e Kennedy, 1981). Essas equações, entre outras, podem ser utilizadas para calcular as
cargas sedimentares suspensas, cargas de fundo do leito, cargas de lavagem ou cargas
totais. Muitos canais estáveis possuem leitos propensos à erosão; contudo, a geometria
do canal mantém seu formato geral com o passar do tempo, não gerando diferença na
massa sedimentar depois do evento ou aumento na entrega de sedimentos a jusante (isto
é, a carga de sedimento entrando em um trecho estável é equivalente ao sedimento que
deixa o trecho estável e, portanto, o leito não contribui com nenhuma distribuição
adicional).
Ambas as erosões do leito e da margem do rio são calculadas no SWAT quando duas
condições são satisfeitas. Primeiro, a força do curso de água (ou capacidade do rio de
transportar sedimentos) precisa ser maior do que a quantidade do sedimento que está
sendo transportado. Num determinado momento, se houver mais sedimento sendo
transportado do que a capacidade de transporte, nenhuma erosão irá ocorrer e, em vez
disso, o sedimento excessivo será depositado. Segundo, a tensão de cisalhamento
exercida pela água no leito ou margem precisa ser maior que a tensão de cisalhamento
crítica para desalojar uma partícula do sedimento. As taxas de erosão em potencial são
calculadas com base na equação de excesso de tensão de cisalhamento de Hanson e
Simon (2001) na SWAT (Equações 2 e 3). A variável de tensão de cisalhamento efetiva
nas Equações 2 e 3 é baseada nas equações de Eaton e Miller (2004).

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná –64
Brasil
(2)

(3)
Onde:

= taxas de erosão da margem ou leito (m/s)


kd = coeficiente de Erodibilidade da margem ou leito (cm3 N-1 s-1)
τe = tensão de cisalhamento efetiva da margem ou leito (N s-1)
τc = tensão de cisalhamento crítica na margem ou leito (N s-1)
O transporte de sedimentos envolve o cálculo de ambos os processos de deposição e
erosão. O SWAT incorpora Bagnold (1977), Yang (1973) e outras equações de
transporte sedimentar, que determina o arrastamento ou deposição do sedimento
baseados na força do curso d’água.
As principais zonas profundas de sedimentos que foram diretamente abordadas no
modelo da bacia hidrográfica do Rio São Francisco eram os principais reservatórios na
bacia. Zonas profundas complementares incluídas no modelo SWAT consistem na
deposição de sedimento em pântanos e planícies aluviais. O SWAT inicia a
estabilização do sedimento no reservatório quando uma concentração do equilíbrio
sedimentar (ajustada pelo usuário) é excedida. A concentração final de sedimento no
fim de uma etapa de tempo é baseada nas Equações 4, 5 e 6.

(4)

,
(5)

,
(6)

Onde:
concsed,i = concentração inicial dos sedimentos suspensos no
reservatório (mg/m3)
sedwb,i = quantidade de sedimento na massa de água no início da
etapa de tempo i (toneladas métricas)
sedflowin = quantidade de sedimento adicionada ao reservatório com o
influxo (toneladas métricas)
Vstored = volume de água armazenado no reservatório no início da
etapa de tempo i (m3)

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná –65
Brasil
Vflowin = volume de água que entra no reservatório dentro da etapa
de tempo (m3)
concsed,f = concentração final de sedimento na massa de água
(mg/m3)
concsed,eq = concentração do equilíbrio do sedimento na massa de água
(mg/m3)
ks = constante do decaimento de primeira ordem (day-1). O valor
padrão é definido como 0,184, o que representa que 99% das partículas
de tamanho 1µm se separam da suspensão em 25 dias.
t= comprimento da etapa de tempo (configurada para 1 dia)
d50 = tamanho mediano da partícula do sedimento do influxo (µm)
Na dinâmica do reservatório, o modelo SWAT adota um reservatório bem misturado e,
portanto, a concentração de sedimento que flui para fora do reservatório é igual à
concentração do sedimento no sistema bem misturado. Para alcançar uma eficiência de
coleta perto de 100% em reservatórios grandes (como esperado nos grandes
reservatórios que foram modelados para este estudo), a sedimentação precisa ser
iniciada em uma baixa concentração e a constante do decaimento de primeira ordem
precisa assentar a maior parte do sedimento dentro de uma única etapa de tempo de 1
dia.
Outras fontes de acumulação (zonas profundas) no balanço sedimentar incluem
pântanos, depressões, planícies aluviais, e acumulação em canal. Cada zona profunda
sedimentar tem seu próprio conjunto de procedimentos (coletas tanto matemáticas
quanto de campo) para estimar as taxas de sedimentação. Por exemplo, Parker (2008)
lista oito equações diferentes que podem ser utilizadas para calcular as taxas de
sedimentação nas planícies aluviais pelo tamanho do grão. Parker também lista diversos
métodos de campo incluindo marcadores, extração e "cadeias de Leopold" (exemplo,
cadeias de vasculhamento) para estimar a sedimentação da planície aluvial. Essas zonas
profundas específicas não são o interesse primário desta pesquisa. Deve ser salientado
que o SWAT incorpora os mesmos métodos utilizados na sedimentação do reservatório
(uma abordagem do equilíbrio de massa) para calcular as taxas de sedimentação nas
depressões, pântanos, lagoas e lagos. A planície de inundação e outros reservatórios in-
stream são abordadas no SWAT utilizando os algoritmos de transporte e roteamento de
sedimento previamente descritos.
Gassman et al. (2007) conduziram uma revisão literária detalhada sobre as aplicações
onde o SWAT tem sido utilizado, incluindo: avaliações hidrológicas; fluxo de base em
sistemas influenciados pelo relevo cárstico; reabastecimento das águas subterrâneas;
aplicações de degelo; estudos sobre perda de poluentes; estudos sobre nitrogênio e
fósforo; estudos sobre pesticidas e surfactantes; análise de Melhores Práticas de
Gerenciamento (BMP); e mudança climática. Gassman descobriu que inúmeros estudos
têm mostrado a eficácia da SWAT na previsão de cargas sedimentares em diferentes
escalas de bacia hidrográfica (ver Arnold et al., 1999; Saleh et al.; 2000; Srinivasan et
al.; 1998).
Várias outras equações e processos estão incorporados no SWAT e são utilizados
indiretamente neste projeto, embora não estejam descritos aqui. Por exemplo, o ciclo (e
disponibilidade) de nitrogênio e fósforo foi modelado no SWAT para calcular a

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná –66
Brasil
densidade do cultivo; porém, esses parâmetros não foram calibrados especificamente no
modelo SWAT do rio São Francisco. Além disso, a recarga de águas subterrâneas e
afluxo lateral foi modelada no SWAT para calcular o balanço hídrico em cada etapa de
tempo. Esses processos intermediários são importantes para serem calculados no
desenvolvimento geral do modelo SWAT, mas não são os resultados diretos que estão
sendo investigados neste projeto. O foco do presente estudo é o balanço hidrológico e
sedimentar da bacia do São Francisco e, portanto, somente os processos associados a
distribuição e armazenamento da hidrologia, fontes de sedimento e fontes de
acumulação, foram focados neste trabalho. Mais informações sobre os inúmeros
processos intermediários incorporados no SWAT podem ser encontradas na
Documentação Teórica da SWAT2009 (Neitsch, et al., 2011).

2.2- Dados do Modelo SWAT


Os dados de entrada primários utilizados no SWAT para construir o modelo de
hidrologia e o modelo de produção de sedimentos foram: topografia (declividade), tipo
de solos, uso do solo, dados de reservatórios (área e volume), retiradas de água para
irrigação, clima (precipitação, temperatura, umidade relativa, radiação solar e vento) e
estações hidrológicas fluviais (vazão e sedimentos). Estes dados foram inseridos por
meio de uma interface gráfica de geoprocessamento, ArcSWAT 2012.10.2.16,
totalmente integrada ao ArcGIS 10.3.1.
Os dados de topografia foram obtidos através do Radiômetro Avançado de Emissão e
Reflexão Termais/Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection
Radiometer (ASTER-NASA, 2013). Esses dados consistem em um Modelo de
Elevação Digital Global (GDEM) de 30 metros para toda a bacia do rio São Francisco.
Os dados do DEM foram divididos em 3 classes de declividade: 1) 0-1%; 2) 1-5%; e 3)
Acima de 2% (Figura 2).
Os dados de tipo de solo para a bacia do rio São Francisco (Figura 3) foram obtidos da
Embrapa de forma digital (shapefile), intitulada Mapa de Solos Do Brasil (Embrapa,
1981). O modelo da SWAT requer numerosas informações físicas e químicas sobre a
propriedade de cada solo da bacia hidrográfica. Os dados das propriedades física e
química do solo não estavam diretamente disponíveis na tabela de atributos do shapefile
da Embrapa. Portanto, um segundo campo de processamento de dados do solo foi usado
para extrair as informações sobre a propriedade do solo e foram aplicados diretamente
na fronteira do solo da Embrapa. O Centro Internacional de Referência e Informação do
Solo (ISRIC) fornece configuração de dados do solo em uma resolução de 5 “arc-
minute” ao mundo, incluindo as propriedades físicas e químicas do solo (Batjes, 2012).
Seguem as informações física e química do ISRIC sobre o solo (parâmetros SWAT
listados em parênteses) associadas às fronteiras da Embrapa (1981): Números de
camadas (NLAYERS); espessura da camada, por camada (SOL_Z); grupo de solo
hidrológico (HYDGRP); profundidade de enraizamento máximo do solo (SOL_ZMX);
fração de porosidade do qual ânions são excluídos (ANION_EXCL); volume de fissuras
potenciais (SOL_CRK); densidade de massa úmida (SOL_BD); capacidade de água
disponível (SOL_AWC); condutividade hidráulica saturada (SOL_K); conteúdo de
carbono orgânico (SOL_CBN); percentual de fragmentos de argila, silte, areia e pedra
(CLAY, SILT, SAND, & ROCK); albedo de solo úmido (SOL_ALB); e o fator
(USLE_K) de Erodibilidade (K) da Equação Universal de Perda de Solo (USLE).
Os dados de uso do solo para bacia do rio São Francisco (Figura 4) foram obtidos do
GlobCover 2005 (Agência Espacial Europeia, 2006). O GlobCover 2005 é um banco de

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Brasil
dados global da cobertura do solo para o ano de 2005, com 300m x 300m de resolução.
A Tabela 1 lista as categorias de uso do solo associadas ao banco de dados GlobCover
2005. Os dados de uso do solo do GlobCover 2005 foram convertidos para categorias
SWAT de uso do solo. As estatísticas associadas às categorias SWAT de uso do solo
para a bacia do rio São Francisco estão inclusas na Tabela 2.
Cinco dos maiores reservatórios da Bacia de São Francisco foram adicionados ao
modelo (Figura 5). Esses reservatórios incluem Três Marias localizado em: 18° 12
51″ S, 45° 15 46″ W; Sobradinho localizado em: 9° 25 54″ S, 40° 49 40″ W; Luiz
Gonzaga localizado em: 9° 8´ 37″ S, 38° 18 40″ W; Paulo Afonso localizado em: 9°
24 57″ S, 38° 12 25″ W; e Xingó localizado em: 9° 37 27″ S, 37° 47 48″ W.
O principais pontos de captação de água para irrigação, num total de 26, foram
identificados pela CODEVASF (2013) e esses foram colocados no modelo SWAT. Os
nomes, localizações, vazão permitida e informações adicionais associadas a cada
operação de irrigação estão listados na Tabela 3.
Dados de clima para a bacia do Rio São Francisco foram obtidas do site Global Weather
Data for SWAT: http://globalweather.tamu.edu/. Este site inclui dados climáticos de
temperatura, precipitação, vento, umidade relativa e radiação solar dentro de um limite
de 5° (Latitude) por 5º (Longitude). Dados climáticos foram coletados de 1995 a 2006
em 1.254 locais ao longo da bacia. Embora a modelagem tenha sido designada para
incluir resultados diários de 2001 a 2006, todos os dados de 1995 a 2006 foram
coletados para o modelo ter um período “hotstart” suficiente (de 1° de janeiro de 1995 a
31 de dezembro de 2000).

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná –68
Brasil
Figura 2: Topografia/Declividade (ASTER GDEM, 30m, 2013) Figura 3- Tipos de
Solos (Embrapa, 1:5.000.000, 1981)

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Brasil
Figura 4: Uso do Solo (ESA-GlobCover, 300m, 2005) Figura 5: Principais
Reservatórios da Bacia de São Francisco

Tabela 1. Uso do solo aplicadas ao Modelo SWAT da Bacia do Rio São Francisco

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Brasil
GlobCover 2005 Assigned SWAT
Value Globcover 2005 Landuse Description Categroy Landuse
11 Post-flooding or irrigated croplands (or aquatic) AGRC
14 Rainfed croplands AGRR
20 Mosaic cropland (50-70%) / vegetation (grassland/shrubland/forest) (20-50%) AGRL
30 Mosaic vegetation (grassland/shrubland/forest) (50-70%) / cropland (20-50%) AGRL

40 Closed to open (>15%) broadleaved evergreen or semi-deciduous forest (>5m) FRSE


50 Closed (>40%) broadleaved deciduous forest (>5m) FRSD
60 Open (15-40%) broadleaved deciduous forest/woodland (>5m) FRSD
70 Closed (>40%) needleleaved evergreen forest (>5m) FRSE
90 Open (15-40%) needleleaved deciduous or evergreen forest (>5m) FRST
100 Closed to open (>15%) mixed broadleaved and needleleaved forest (>5m) FRST
110 Mosaic forest or shrubland (50-70%) / grassland (20-50%) FRST
120 Mosaic grassland (50-70%) / forest or shrubland (20-50%) RNGE
Closed to open (>15%) (broadleaved or needleleaved, evergreen or deciduous)
130 shrubland (<5m) RNGB
Closed to open (>15%) herbaceous vegetation (grassland, savannas or
140 lichens/mosses) FRGB
150 Sparse (<15%) vegetation BARR
Closed to open (>15%) broadleaved forest regularly flooded (semi-permanently
160 or temporarily) - Fresh or brackish water WETF
Closed (>40%) broadleaved forest or shrubland permanently flooded - Saline or
170 brackish water WETF
Closed to open (>15%) grassland or woody vegetation on regularly flooded or
180 waterlogged soil - Fresh, brackish or saline water WETL
190 Artificial surfaces and associated areas (Urban areas >50%) URHD
200 Bare areas BARR
210 Water bodies WATR
220 Permanent snow and ice WATR
230 No data (burnt areas, clouds,…) BARR

Tabela 2. Estatísticas de uso do solo para as HRUs finais no Modelo Referencial


SWAT da Bacia do Rio São Francisco

Assigned SWAT SWAT Landuse Category


Categroy Landuse Description Area, hectares Area, %
AGRR Agricultural Land - Row Crops 6,205,612 9.79%
AGRL Agricultural Land - Generic 22,822,713 35.99%
RNGB Range - Brush 27,038,349 42.63%
FRSD Forest - Deciduous 5,365,425 8.46%
FRSE Forest - Evergreen 33,290 0.05%
FRST Forest - Mixed 1,553,291 2.45%
BARR Barren 885 0.0014%
URHD Residential - High Density 43 0.0001%
WATR Water 399,320 0.63%
TOTAL 63,418,928 100.00%

Tabela 3: Atividades de Irrigação Permitidas na Bacia do Rio São Francisco

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Coordinates Source Intake Permitted Flow SWAT
Name Name of Source
Latitude Longitude Type Type m³/h Basin
Gorutuba 15º 49' 55'' S 43º 15' 46'' W Gorutuba Dam Gravity 8762 55
Jaíba 15º 5' 24.088'' S 44º 5' 24.088'' W São Francisco River Pump 53529 56
Lagoa Grande 15º 44'55" S 43º18'36"W Gorutuba Dam Pump 8740 55
Pirapora 17º 14' 56" S 44º 51' 14" W São Francisco River Pump 3750 68
Barreiras do Norte 12º 4' 47.509" S 44º 57" 59.326" W Grande River Pump 12642 31
Ceraíma 14º 17' 23" S 42º 44' 8" W Carnaíba de Dentro Dam Gravity 539 46
Estreito 14º 49' 35" S 42º 48' 27" W Verde Pequeno Dam Gravity 4669 53
Formoso A 13º 11' 7" S 43º 38' 37" W Corrente River Pump 47160 42
Miroros 11º 27' 34" S 42º 20' 34" W Verde Dam Pump 3110 23
Nupeba 11º 48' 35" S 44º 43' 0" W Grande River Pump 14196 29
Piloto Formoso 13º 36' 16" S 44º 23' 45" W Formoso River Pump 1620 45
Riacho Grande 11º 55' 28" S 44º 50' 48" W Grande River Pump 8042 29
São Desidério 12º 21' 38" S 44º 58' 20" W São Desiderio Dam Gravity 4700 35
Bebedouro 9º 22' 44.775" S 40º 26' 38.103" W São Francisco River Pump 13320 12
Nilo Coelho 9º 25' 36.603" S 40º 49' 20.852" W São Francisco River Pump 83520 13
Betume 10º 25' 4" S 36º 33' 34.487" W São Francisco River Pump 7167 21
Cotinguiba-Pindoba 10º 16' 30" S 36º 46' 55" W São Francisco River Pump 6939 21
Propria 10º 12' 18.605" S 36º 50' 4.445" W São Francisco River Pump 5775 21
Boacica 10º 14' 04'' S 36º 38' 25'' W São Francisco River Pump 9345 21
Itiúba 10º 13' 13,2'' S 36º 47 53.4'' W São Francisco River Pump 3373 21
Marituba 10º 23' 38'' S 36º 33 8'' W São Francisco River Pump 4817 21
Curaçá 9º 3' 44'' S 40º 2' 52'' W São Francisco River Pump 19675 7
Mandacaru 9º 23' 3'' S 40º 26' 32'' W São Francisco River Pump 5200 12
Maniçoba 9º 17' 358'' S 40º 18' 57'' W São Francisco River Pump 23160 12
Salitre 1 9º 28' 52.644'' S 40º 37' 36.879'' W São Francisco River Pump 25200 22
Tourão 9º 24' 26.558'' S 40º 27' 31.108'' W São Francisco River Pump 47736 12

2.3- Calibração do Modelo de Referência


A Nash Sutcliffe Efficiency (NSE), desenvolvida por Nash e Sutcliffe (1970) foi a
medida estatística hidrológica primária para determinar se a calibração foi alcançada. A
NSE é uma medida de quão melhor um modelo prevê comportamentos hidrológicos em
comparação com os dados observados. A calibração da produção de sedimentos para
estudos típicos de SWAT se baseia em uma técnica estatística de Viés Percentual
(PBIAS), que foi aplicado a este estudo. O modelo SWAT da Bacia do São Francisco
foi calibrado pela primeira vez com o uso dos dados de uma estação na Bacia do Médio
São Francisco em Morpará (ANA 46360000). Simulações mensais de vazão produziram
um NSE = 0,66 e simulações diárias de vazão produziram um NSE = 0,56 para uma
simulação entre 2001-2006 (Figura 6).

Figura 6: Calibração Hidrológica Mensal (esquerda) e Diária (direita) na Estação


Morpará.
A hidrologia foi calibrada em dez localidades por toda a bacia e validada em sete
estações adicionais ao longo do canal principal do rio São Francisco. Toda a calibração
e validação produziu um mínimo de resultados satisfatórios com base em procedimentos
recomendados por Moriasi et al (2007).
A Estação hidrometeorológica Morpará (ANA 46360000) foi selecionada para a
calibração inicial por toda a bacia do modelo SWAT para sedimentos. Esta estação foi

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Brasil
selecionada pelas seguintes razões: 1) a estação inclui um longo registro de vazão diário
(desde 1954) e ainda é uma estação ativa; 2) a estação inclui registros tanto de vazão
quanto de sedimento; 3) a estação hidrometeorológica está no médio Rio São Francisco
(a área de foco de impactos de navegação); e 4) a estação hidrometeorológica não sofre
grande influência de barragens/reservatórios.
Dados de sedimentos suspensos são coletados na estação de Morpará quatro vezes
por ano, utilizando um amostrador USDH-59, que coleta deposições de sedimentos
suspensos. Estudos anteriores mostraram que a descarga de fundo nesta estação é de
aproximadamente 25% da descarga sólida de suspensão (Creech, 2014). Estes dados
foram compilados em uma curva chave de sedimentos, e descargas mensais de
sedimentos foram calculadas pela duração da simulação SWAT (2001-2006). A
produção SWAT foi comparada com as descargas de sedimentos observadas, e um
PBIAS de -12.6 foi calculado pela duração da simulação (Figura 7). De acordo com
Moriasi et al. (2007), esta é considerada uma calibração “Muito Boa” de deposições
mensais de sedimentos.
A calibração da vazão e dos sedimentos para as condições basais do Rio São
Francisco foi obtida pelo ajuste de 15 variáveis para a vazão, e outras 14 variáveis para
descarga de sedimentos. A Calibração foi obtida pela combinação de métodos manuais
e utilização de programas de calibração automatizados SWAT-CUP.

Figura 7: Calibração da descarga de sedimentos suspensos na estação de Morpará

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO
O SWAT é capaz de calcular a erosão das margens e do leito, as fontes de
sedimentos de terrenos acima do leito (planalto), a deposição em reservatórios e
planícies de inundação, além da descarga sedimentar anual para o Oceano Atlântico, na
escala da bacia hidrográfica. O somatório desses resultados forma o balanço sedimentar
anual médio na bacia (Figura 8). Com relação às fontes de produção de sedimentos,
somente uma pequena porcentagem de erosão sedimentar total vem das margens do rio
São Francisco e das margens dos principais tributários (5,6%). A contribuição maior de
novos sedimentos para formação de bancos de areia vem de regiões acima do leito do
rio (94,4%). Com relação a deposição, a maior parte dos sedimentos fica retida nos
cinco principais reservatórios da bacia (72,4%). Apenas uma pequena porcentagem é
depositada na planície de inundação (menos de 1%). Finalmente, o modelo prediz que
aproximadamente 23 milhões de toneladas de sedimento por ano (24,8%) são
depositados no rio São Francisco

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná –73
Brasil
Figura 8: Balanço Sedimentar - Fontes de Sedimentos (Direita) e
Deposição de Sedimentos (Esquerda) na bacia do São Francisco
Os dados de topografia (declividade), tipos de solos e de uso do solo foram
combinados para criar as Unidades de Respostas Hidrológicas (HRUs). Para cada HRU
foi calculada a produção de sedimentos (ton/ha.ano) utilizando a Equação Universal de
Perda de Solos Modificada (Modified Universal Soil Loss Equation – MUSLE),
gerando o mapa de Estimativa de Produção Anual de Sedimentos na Bacia do Rio São
Francisco, em escala nacional (Figura 9).

Figura 9: Estimativa de Produção Anual de Sedimentos na Bacia do Rio São


Francisco

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Brasil
É possível verificar que no estado de Minas Gerais concentram-se as sub-bacias
com maior contribuição de sedimentos, com destaque para as interbacias do Alto e
Médio São Francisco e as sub-bacias dos rios Indaiá e Abaeté, seguidas dos rios das
Velhas e Paracatu.

CONCLUSÕES
O modelo SWAT da Bacia do Rio São Francisco foi desenvolvido para calcular
um balanço sedimentar para a bacia hidrográfica e para analisar as mudanças no balanço
sedimentar desde o estabelecimento pré-Europeu. Com base nos resultados do modelo
SWAT, atualmente apenas um pequeno componente do balanço sedimentar existente é
devido à erosão das margens do Rio São Francisco. Aproximadamente 5,6% do
sedimento que está causando a formação de baixios no Rio São Francisco pode ter se
originado nas margens do Rio São Francisco ou nas margens dos principais afluentes.
Os restantes 94,4% dos sedimentos que estão causando a formação de baixios
originaram-se de fontes de sedimentos terrestres ou erosão de sedimentos que ocorrem
em afluentes menores.
Por meio do estudo realizado pela CODEVASF em parceria com USACE em
2013, conclui-se que é carreado efetivamente para o leito do rio São Francisco cerca de
22 milhões de toneladas/ano de sedimentos, o que vem contribuindo para o aumento de
bancos de areia no seu leito, acarretando prejuízos para os diversos usos múltiplos da
bacia, como: abastecimento humano, agropecuária, aquicultura, irrigação, navegação,
geração de energia, dentre outras atividades produtivas.
O mapa de Estimativa de Produção Anual de Sedimentos na Bacia do Rio
São Francisco permitiu, de forma estratégica, dar suporte ao planejamento das ações
de manejo e conservação da água, solo e recursos florestais, mais especificamente ao
controle de processos erosivos e recuperação de áreas degradadas na bacia do rio São
Francisco, por meio da priorização de intervenções em sub-bacias com maior
produção de sedimentos. Verificou-se, finalmente, que as sub-bacias do Alto e do
Médio São Francisco são as que mais contribuem para o aporte de sedimentos para
calha do rio São Francisco, especialmente porque estas regiões apresentam condições
edafoclimáticas favoráveis para o carreamento de sedimentos, (clima, tipo e uso do
solo, e relevo).

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LONGO PRAZO DE OBSERVAÇÃO NA MUDANÇA DA BIODIVERSIDADE


DA COMUNIDADE EDÁFICA EM ÁREAS IMPACTADAS E RESTAURADAS
COM ÁRVORES NATIVAS EM PORTO TROMBETAS, PARÁ, BRASIL

E.P. OLIVEIRA1; A.F. CASTILHO2; M.L.P. PINHEIRO1; A.N.S. ACIOLI3

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná –78
Brasil
1.Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/Coordenação de Dinâmica Ambiental,
Caixa Postal 2223, Manaus (AM), Brasil [email protected] ; 2. Mineração rio do
Norte/Assessoria de Controle Ambiental, Porto Trombetas, (PA), Brasil; 3.
Universidade Federal do Amazonas/ Instituto de Natureza e Cultura, Benjamin Constant
(AM), Brasil [email protected]

RESUMO

Este estudo foi conduzido em parcelas reflorestadas com árvores nativas após extração
de bauxita em áreas da Mineração rio do Norte, no período de 1996 a 2007, com o
objetivo de determinar a evolução da diversidade biológica da comunidade edáfica e seu
estabelecimento nas áreas restauradas após impacto ambiental. As amostras foram
tomadas em plantios das décadas de 80 (1981 a 1987), década de 90 (1990 a 1999) e
2000 (2000 a 2007) nas estações chuvosa e seca. Paralelamente as tomadas de amostras,
foram realizadas medidas de temperatura na superfície e a 5cm de profundidade do solo.
A análise da comunidade edáfica foi baseada em amostragens de serapilheira/solo,
retiradas com sonda de 49cm2 a profundidade de 5cm, com extração em aparelho de
Berlese-Tullgren. Os resultados mostraram habilidade da comunidade edáfica colonizar
áreas reflorestadas, notadamente com o incremento de grupos de invertebrados a cada
ano trabalhado, assim como a diversidade biológica subiu em todos os reflorestamentos
estudados. Os grupos Acari, Collembobla e Formicidae se destacam como dominantes,
presentes em todas as parcelas, com pico populacional na estação chuvosa. Ao longo de
11 anos de monitoramento da comunidade edáfica em reflorestamentos, os resultados
mostraram a habilidade desenvolvida pela fauna em colonizar áreas em vias de
recuperação, o que representou soma anual de grupos e diversidade biológica. Este
conjunto da diversidade e a evolução do número de grupos, permite concluir que as
espécies vegetais nativas plantadas nas áreas impactadas, estão conduzindo a um
processo de reabilitação das áreas pela extração de bauxita.

Palavras Chave: fauna do solo, diversidade, árvores nativas, impacto ambiental,


reabilitação, reflorestamentos

INTRODUÇÃO

O Estado do Pará é tipicamente florestado, ocupa uma área de 1.248.000 km2 de


toda a região Amazônica e, em 2012, a vegetação nativa ainda cobria 70,1% do
território paraense (Adami et al. 2015). É caracterizado por sua riqueza em recursos
naturais, destacando-se principalmente suas grandes reservas minerais. Alguns bens
minerais encontrados no estado são de extrema importância econômica para a região,
movimentando a sua balança comercial (DNPM, 2016). De toda a bauxita produzida no
Brasil, 76% são extraídas de solos paraense, principalmente dos municípios de
Oriximiná, com maior quantidade das reservas conhecidas, Paragominas e São
Domingos do Capim (MME, 2009).

A Mineração rio do Norte - MRN, situada na Amazônia oriental e sediada em


Porto Trombetas, município de Oriximiná, explora a bauxita desde a década de 70. Mas

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Brasil
foi a partir de 1981 que foi iniciado o processo de restauração das áreas impactadas pela
extração de bauxita, com plantios de espécies florestais nativas (MRN, 1998, 2000).

O processo de exploração deste minério nas áreas de lavra é a céu aberto e


envolve a derrubada da floresta, a remoção da camada superficial do solo, subsolo e
abertura de profundas cavas, culminando em fortes alterações e degradação das áreas. A
camada de solo é restituída às cavas e, em seguida, máquinas de escavação abriam
covas nas parcelas, e eram reflorestadas com árvores nativas (MRN, 1998). Nos
reflorestamentos da década de 80, a camada orgânica do solo, era totalmente
desprezada, e foi a partir do ano 2000, que novo procedimento de restituição da camada
de solo foi utilizada pela MRN, com a adição da camada orgânica do solo nas cavas a
serem restauradas (MRN, 1998). A comunidade edáfica está concentrada na camada
orgânica do solo (Adis & Ribeiro, 1989; Oliveira, 1993) e com a remoção desta camada,
há eliminação ou diminuição desta comunidade que tem papel fundamental na
decomposição da matéria orgânica e liberação de nutrientes para o solo e para as
plantas.

Em 1996, foi iniciado o monitoramento dos reflorestamentos da Mineração rio


do Norte envolvendo estudos desde a vegetação até a fauna de solo. O monitoramento
forneceu informações do funcionamento destes ecossistemas e, neste caso, permitiu
mostrar a fauna do solo como bons indicadores biológicos das mudanças sofridas
inicialmente.

Em uma floresta primária, a diversidade biológica é elevada em função de


numerosos microhábitats, proporcionado pela elevada diversidade vegetal, bem como
pela pequena variação dos fatores climáticos (Acioli & Oliveira, 2015; Antony, 2005;
Oliveira, 2005; Vasconcelos, 2008).

Nas áreas da Mineração rio do Norte, que foram significativamente perturbadas,


observou-se a diminuição da diversidade da comunidade edáfica (Oliveira, 1997).
Entretanto, ao longo de dez anos, a colonização das áreas reflorestadas mostrou-se
positiva e crescente. Isto implica diretamente, na formação de microhábitats, que foi
favorecida pelo crescimento da vegetação, sobretudo espécies colonizadoras, que
assumem papel importante no favorecimento de proteção ao solo. Nas áreas da
Mineração dois fatos são importantes de ressaltar: é possível conhecer comunidades da
fauna sobre condições normais, exemplificando-se as florestas, ao mesmo tempo, é
possível conhecer a resposta desta comunidade às condições de stress, por exemplo, nos
reflorestamentos recentes, sobretudo da década de 90. Em alguns casos, observou-se
lenta colonização (Oliveira, 1997, 2005).

O uso do solo pela atividade humana é a que mais afeta as mudanças dos
componentes do solo (Daniels, 1994; Lewinsohn et al., 2005). Uma forma de contornar
o processo do desmatamento é explorar a floresta e o solo de forma ecologicamente
correta. Porque, um componente importante do ecossistema florestal é a comunidade
edáfica (Lavelle et al., 2006) que é extremamente sensível às perturbações de grande
proporção (Gomes et al., 2007). Esta comunidade edáfica é constituída de uma

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Brasil
diversidade elevada de animais que têm o solo como o seu hábitat principal, e quando
expostos às intervenções humanas severas, é fatal sua diminuição ou eliminação do solo
(Oliveira, 1997, Vasconcelos, 2008). A comunidade edáfica pode retornar ao solo após
a recuperação da área impactada (Moço et al., 2005; Morais, 2010), mas é um processo
longo e o fator principal está aliado a produção primária do ambiente que vai acumular
as folhas no solo e ao mesmo tempo disponibilizar recurso alimentar e nicho para esta
biota (Corrêa-Neto et. al., 2001). Desta forma, é importante a utilização de um manejo
que assegure os processos físicos, químicos e biológicos do ecossistema florestal.

Neste contexto, a Mineração rio do Norte explora o solo para extração da


bauxita, e buscou esforço para recuperar as áreas através do plantio de espécies
florestais nativas (Salomão et al., 1997), com o intuito de devolver uma floresta
semelhante a que existia antes do impacto.

Este estudo teve como objetivo caracterizar a fauna de invertebrados terrestres


colonizadora de áreas em vias de recuperação, assim como determinar o incremento de
grupos nas áreas restauradas, relacionando-as com os fatores micro climáticos que
eventualmente possam afetar o estabelecimento de grupos da mesofauna em áreas
impactadas pela extração da bauxita e restauradas com espécies florestais nativas.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado na Mineração rio do Norte em Porto Trombetas,


município de Oriximiná, Estado do Pará. O clima é do tipo tropical úmido, (Ami)
segundo a classificação de Köppen, com precipitação pluviométrica elevada de
dezembro a maio caracterizando o inverno e menor precipitação, de junho a novembro
caracterizando o verão; o total pluviométrico médio anual é de 2200 mm (MRN, 1998)
A temperatura média anual é de 27 ºC, com variação entre 24ºC e 35ºC; a umidade
relativa do ar é em média de 70%. O solo é do tipo Latossolo Amarelo distrófico,
textura argilosa (Radambrasil, 1976), encontrando-se também áreas com solo arenoso; a
vegetação primária é típica de floresta tropical densa e muito diversificada (Salomão et
al., 1997). O reflorestamento com árvores nativas foi iniciado em 1981 interrompido em
1987 e retomado em 1992.

Foram demarcadas parcelas permanentes de 25 m X 10 m (250 m2), nos plantios


de 1981 a 1987; 1991 a 1999; 2000 a 2007 e em duas florestas primárias, sob solo
argiloso (Periquito) e solo arenoso (Campina).

A mesofauna foi estudada com base em seis amostras de serapilheira/solo


efetuadas em cada ano de reflorestamento e nas duas florestas nas estações chuvosa e
2
seca, utilizando-se uma sonda de 49cm a profundidade de cinco cm. Cada amostra era
armazenada em recipiente cilíndrico de 300 ml pesada em balança digital no
Laboratório de Assessoria de Controle Ambiental – MRN/PSA. O material era

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transportado em caixa de isopor para o INPA-Manaus e no Laboratório de Invertebrados
Terrestres, colocado em uma bateria de funis de Berlese-Tullgren recuperando-se a
fauna em vidros de 60 ml com solução de formol a 1%. O processo de extração
funciona através de calor, com lâmpadas de 40 watts que ligadas a partir do 2º dia da
colocação das amostras no aparelho extrator com temperatura inicial de 25ºC,
alcançando 45ºC aos oito dias, quando se encerra a extração da fauna.
Os invertebrados foram fixados em álcool puro, colocados em banho-maria para
aquecer o álcool com a finalidade de quebrar a tensão superficial do líquido obrigando
os invertebrados a descerem para o fundo do vidro. Após este processo os invertebrados
foram armazenados em álcool 80% glicerinado, separado e identificado em grandes
grupos. Este material encontra-se depositado no Laboratório de Invertebrados Terrestres
do INPA/CODAM.

Tratamento dos dados

Para cada ano de reflorestamento e cada estação, com base nos dados obtidos de
seis amostras, foram calculados a média aritmética (x), o desvio padrão (s) e a
abundância (%) para cada grupo taxonômico. Usou-se a análise de correlação, para
determinar se os grupos e fatores de temperatura do solo, acúmulo de folhas no chão e o
teor de água retido na amostra estão associados aos grandes valores ou do outro
(correlação positiva), ou se os pequenos valores de grupos estão associados com os
grandes valores dos fatores de temperatura, teor de água e acúmulo de folhas no chão ou
vice versa (correlação negativa)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O número total de invertebrados estudados no período de 1996 a 2006 está


mostrado na Tabela 1 e totaliza 238.494 indivíduos. Elevada densidade foi obtida na
década de 80, com 151.323 indivíduos e mais abundante na estação chuvosa. Nos
reflorestamentos da década de 90 foi obtido 61.208 com maior número de indivíduos na
estação seca e na década de 2000 foi obtido o valor de 28.133 com maior densidade na
estação chuvosa

Tabela 1. Densidade de indivíduos da mesofauna do solo nas três ´áreas refloretadas

da MRN, nas estações chuvosa e seca, no período de 1996 a 2006.

Décadas

Estações 80 90 2000 

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chuvosa 87.763 28.907 16.918 133.588

seca 63.480 32.211 9.215 104.906

 151.323 61.208 28.133 238.494

Os fatores do meio podem influenciar diretamente a densidade populacional da


comunidade edáfica em uma área em vias de recuperação. Neste estudo, foi observado
que a vegetação favoreceu a uma elevada densidade da fauna nos reflorestamentos da
década de 80. Na maioria das parcelas estudadas havia acúmulo de folhas mortas no
solo, fator que levou a colonização das áreas, pela criação de micro hábitats, por
oferecerem condições favoráveis para o estabelecimento da fauna nestes novos
ambientes. Enquanto, em algumas parcelas da década de 90, a vegetação não cresceu
favoravelmente, deixando o solo nu em alguns pontos, o que inviabilizou a criação de
micro hábitats imediatamente, limitando desta forma, a colonização pela mesofauna
nestes ambientes. Isto mostra que a cobertura vegetal tem grande importância para o
solo, principalmente por controlar a variação micro climática de temperatura e umidade
do solo nos plantios, fatores que agem diretamente no estabelecimento e diversificação
da comunidade edáfica. E para que o reflorestamento tivesse bom desenvolvimento,
condições físicas e químicas do solo foram essenciais. Fato este encontrado apenas nas
parcelas dos reflorestamentos da década de 80 (Oliveira, 2005). Enquanto nos
reflorestamentos da década de 2000 que receberam a camada orgânica, observou-se a
presença de plantas colonizadoras e produção da matéria orgânica, pela capacidade que
as colonizadoras têm em crescimento muito rápido em comparação com as espécies
florestais nativas (Oliveira, 1997).

Os grupos de invertebrados terrestres que ocorrem com elevada densidade de


indivíduos, são os que exibem a capacidade em colonizar áreas em vias de recuperação.
Neste estudo, três grupos se destacaram como primeiros colonizadores das áreas em
vias de recuperação: Acari, Collembola e Formicidae (Oliveira, 2005). Majer et al.
(2007), que estudou por 30 anos a comunidade de invertebrados em uma mina de
bauxita na Austrália, enfatizou que as formigas são indicadoras da qualidade das áreas
restauradas. Nos reflorestamentos da Mineração rio do Norte, as formigas mostraram
elevada densidade de indivíduos (Oliveira et al., 2005), em comparação com a floresta
primária. Sendo assim, neste trabalho, as formigas foram tratadas como indicadoras de
estresse ambiental, por sua elevada abundância nos reflorestamentos recentes (Oliveira,
2005). Estes grupos estão representados na Figura 1, oriundos das duas florestas sobre
solo argiloso (Periquito) e solo arenoso (Campina). E na Figura 2, estão os grupos
dominantes das três décadas estudadas.

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Brasil
Figura 1. Número de indivíduos dos três grupos dominantes das duas

florestas primárias (ano 2006)

Figura 2. Número de indivíduos dos três grupos dominantes das

décadas de 80, 90, 2000 (Ano 2006)

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Estudos tem mostrado que em áreas manejadas há em geral, aumento da
população de um grupo, favorecido por reprodução de espécies que se adaptam neste
novo ambiente. Resultados obtidos por Acioli & Oliveira (2015) que estudaram a
comunidade edáfica em floresta primária e plantio de castanheira-do-Brasil (Bertoletia
excelsa B.K.) obtiveram maior densidade de indivíduos de Acari e Collembola no
plantio em comparação com a floresta original, corroborando com os resultados deste
estudo.

Os grupos foram caracterizados considerando o áspecto funcional. A classe


Insecta é a mais importante e ocorreu nas três décadas e muito diversificada em número
de ordens na década de 80. Várias ordens incluem membros decompositores da matéria
orgânica, sobressaindo-se algumas larvas de Diptera, Collembola, Psocoptera,
Blattodea. Dentre os Isoptera, Syntermes aparece como um forte decompositor, ao
retirar discos de folhas mortas e leva-las para o interior do solo (Acioli & Oliveira,
2010). Outros invertebrados decompositores da matéria orgânica tem destaque, como
Crustacea, Diplopoda, Pauropoda e Symphyla.

Os grupos predadores estão representados por alguns gêneros de Formicidae,


alguns Coleoptera adultos e imaturos, Arachnida e Chilopoda. Um pequeno número de
ordens de invertebrados é generalista, trazendo benefícios para as áreas reflorestadas.

O monitoramento de longa duração é essencial para mostrar o histórico da


colonização, diversificação de grupos e o estabelecimento da vegetação/comunidade
edáfica. Desta forma, foi possível encontrar grupos que ocorrem em baixa densidade de
indivíduos, exemplificando-se o Ricinulei, um Arachnida encontrado apenas na floresta
Periquito. A ordem Zoraptera (Insecta), que tem troncos caídos como seu hábitat
natural, foi encontrada na década de 80, favorecida pela idade do plantio e na década
2000 pela adição de troncos.

Na Figura 3 consta a presença (+) e ausência (0) dos grupos da comunidade


edáfica nos reflorestamentos das três décadas e nas duas florestas, sobre solo argiloso e
solo arenoso, verificando-se que no reflorestamento mais antigo, o número de grupos se
aproxima da floresta do Periquito e que ultrapassa a floresta da Campina. O fato do
número de reflorestamentos ser elevado, favoreceu este aumento, em função de maior
número de observações nas áreas recuperadas, em comparação com as duas florestas.

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Brasil
Tabela 2. Presença (+) ausência (0) e número de grupos da comunidade

edáfica nos reflorestamentos das três décadas e duas florestas

primárias da MRN, no período de 1996 a 2007.

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Décadas Florestas
CLASSES/Ordens 80 90 2000 Periquito Campina
INSECTA
Collembola + + + + +
Protura + + + + +
Diplura + + + + +
Thysanura 0 + + + +
Orthoptera + + + + +
Blattodea + + + + +
Isoptera + + + + +
Dermaptera + 0 0 0 0
Embioptera + 0 0 + 0
Psococptera + + + + +
Zoraptera + 0 + + 0
Thysanoptera + + + + +
Hemiptera + + + + +
Homoptera + + + + +
Coleoptera + + + + +
Trichoptera 0 + 0 + 0
Lepidoptera + + + + 0
Diptera + + + + +
Hymenoptera + + + + +
ARACHNIDA
Acari + + + + +
Araneida + + + + +
Palpigradi 0 0 0 + +
Pseudoscorpionida + + + + +
Phallangida + + + + +
Ricinulei 0 0 0 + 0
CRUSTACEA
Isopoda + + + + +
Copepoda + + + + +
CHILOPODA + + + + +
DIPLOPODA + + + + +
SYMPHYLA + + + + +
PAUROPODA + + + + +
OLIGOCHAETA + + + 0 +
Enchytraeidae 0 0 0 + +
Número de grupos 28 27 27 31 27

Neste trabalho, a diversidade de grupos foi calculada pelo número de


aparecimento de grupos em cada parcela para enunciar o incremento do número de
novos grupos nas três décadas estudadas. A evolução deste incremento não mostrou um
padrão significativo de aumento nas estações chuvosa e seca (Figuras 4 e 5). Porém, em
algumas situações, a diversidade foi mais elevada na estação seca, mesmo com baixa
densidade de indivíduos. No primeiro ano de estudo a diversidade foi insignificante,
aumentando o número de grupos a cada ano.

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30
déc/80 déc/90 déc/2000

25

Incremento anual de. Grupos 20

15

10

0
1996

1997

1998

1999

2000

2002

2003

2004

2005

2006

2007
Figura 4. Incremento anual de grupos da comunidade edáfica nos

reflorestamentos da Mineração rio do Norte, nas três décadas

estudadas no período de 1996 a 2007, na estação chuvosa

30
déc/80 déc/90 déc/2000

25
Incremento anual. Grupos

20

15

10

0
1996

1997

1998

1999

2000

2002

2003

2004

2005

2006

2007

Figura 5. Incremento anual de grupos da comunidade edáfica nos

reflorestamentos da Mineração rio do Norte, nas três décadas

estudadas no período de 1996 a 2007 (estação seca)

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O incremento anual da diversidade de grupos sugere que as espécies estão
encontrando nas áreas dos reflorestamentos exigências biológicas ideais para sua
manutenção naquele local. E este aumento está fortemente relacionado com a
diversidade da vegetação e produção de serapilheira. Nos reflorestamentos mais antigos
da década de 80, onde a vegetação teve bom desenvolvimento, a diversidade de grupos
foi elevada. Entretanto, nos reflorestamentos com pobreza de serapilheira no solo e sem
crescimento, a diversidade não aumentou significativamente, fato observado nos
reflorestamentos recentes, principalmente da década de 1990. Observa-se, entretanto,
que na década de 2000 (Figura 4) nos anos de 2006 e 2007, a diversidade ficou
praticamente equiparada a década de 80, surtindo o efeito da adição da camada orgânica
do solo e troncos.

Em onze anos de monitoramento dos reflorestamentos da Mineração rio do


Norte, foi possível acompanhar o crescimento da vegetação cuja função é a produção de
folhas para viabilizar a qualidade do solo. Verificar mudanças da fisionomia de alguns
reflorestamentos invadidos por Melina minnutiflora (Poaceae), que foi reduzida em
função da pressão exercida por colonizadoras, principalmente Vismia. Mas
principalmente indicar os resultados da capacidade da comunidade edáfica em
colonizar, diversificar e aumentar o número de grupos nas áreas que foram impactadas.
Esta comunidade respondeu negativamente ao impacto sofrido inicialmente na extração
de bauxita, mas respondeu positivamente a ação de beneficiamento destas áreas
reconstruídas.
A exploração da bauxita é um dos empreendimentos que causa o mais forte
impacto sobre o meio ambiente. O programa de recuperação de áreas degradadas
empregado pela Mineração rio do Norte busca deixar o ambiente semelhante ao que
existia antes do impacto. O fato da área de exploração da Mineração rio do Norte tratar-
se de uma área de Flona, permite levar estudo de monitoramento por longos anos,
mesmo porque, para mostrar a colonização em áreas recém instaladas, longos anos são
necessários para acompanhar a reconstituição da floresta, colocada em paralelo com a
colonização e a evolução dos grupos da mesofauna do solo. A evolução da diversidade
de grupos mostra que o processo de recuperação das áreas degradadas com árvores
nativas está conduzindo a um equilíbrio do sistema.
As correlações entre grupos foram em geral baixas e a maioria positiva,
mostrando associação de grandes valores entre determinados grupos, sobretudo com os
grupos dominantes. Collembola se correlacionou positivamente com Acari e
Formicidae. Isto mostra o aumento da população de Collembola e o aumento de
predadores. Protura se correlacionou negativamente com Diplura, Acari e Chilopoda,
mostrando o aumento de predadores e diminuição da presa.

Os fatores climáticos não mostraram grande variação nas parcelas O teor de


água na amostra foi correlacionado positivamente com Diptera, Chilopoda, Symphyla e
Diplopoda, evidenciando total dependência destes grupos com a umidade do solo.

Correlações com a temperatura do solo e a distribuição de folhas mortas no chão


foram baixas.

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CONCLUSÃO

O monitoramento ecológico de longa duração realizado na Mineração desde


1996 até 2007 permitiu o acompanhamento anual da colonização e a constatação da
evolução da diversidade de grupos;
A presença de musgos, liquens, cogumelos e a própria comunidade edáfica
sugere que a maioria dos reflorestamentos está ajudando a devolver a saúde do solo;
Alguns reflorestamentos não foram bem sucedidos e foram invadidos por
espécies colonizadoras, que têm importância fundamental nas áreas reflorestadas, por
serem de crescimento rápido e também por produzirem razoável aporte de serapilheira
ao solo;
Foi observado, em todas as áreas, importante dinamismo nas áreas reflorestadas
pela presença de muitos invertebrados imaturos;
A análise qualitativa da comunidade edáfica exibe alguns grupos como
bioindicadores das condições ecológicas do solo, sugerindo que o modelo da Mineração
rio do Norte conduziu a um processo eficiente de restauração de áreas impactadas.

AGRADECIMENTOS

Nossos agradecimentos aos dirigentes atuais e aos que antecederam a gestão da


Mineração rio do Norte/PSA pela possibilidade, permissão e apoio financeiro de
executar este trabalho nos reflorestamentos da Mineração Rio do Norte. A Fundação
Djalma Batista, que por longos 10 anos, administrou os recursos deste projeto.

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COMPOSIÇÃO DE ESTRATROS REGENERANTES DE MATA ATLÂNTICA -


FLORESTA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA NO OESTE DO PARANÁ:
SUBSÍDIOS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

J. VIAPIANA; C. D. CÂMARA; R. CIELO-FILHO.

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná –92
Brasil
Universidade Tecnólogica Federal do Paraná, Câmpus Medianeira. Av. Brasil, 4232 –
Independência, Medianeira – PR. Brasil. CEP: 85884-000. E-mail: ppgta-
[email protected], fone: (45) 32408000.

RESUMO

O bioma Mata Atlântica é classificado como um “hotspot” mundial devido ao alto grau
de endemismo e elevada diversidade biológica, bem como à necessidade prioritária de
conservação em virtude de pressões antrópicas. No estado do Paraná restaram, com
exceção da vegetação da Serra do Mar e do Parque Nacional do Iguaçu (PNI), poucos
fragmentos pequenos. O objetivo deste estudo foi descrever a composição florística de
estratos regenerantes em florestas primária e secundária no oeste do Paraná com vistas a
subsidiar projetos de restauração ecológica. Foram demarcadas 30 parcelas circulares de
10 m2 cada, em ambas as florestas e coletados dados dos indivíduos de espécies
arbustivas e arbóreas com DAP < 5 cm e altura maior do que 50 cm. Foram coletadas
amostras para posterior identificação em laboratório através da comparação com
material de herbário. Foram registrados 589 indivíduos na floresta secundária (F.S.)
distribuídos em 43 espécies, e 831 indivíduos na floresta primária (PNI) distribuídos em
48 espécies. As espécies mais abundantes na floresta secundária foram Parapiptadenia
rigida e Pombalia bigibbosa, com 236 e 133 indivíduos, respectivamente, e as mais
abundantes na floresta primária foram Sorocea bonplandii e Inga marginata, com 181 e
81 indivíduos respectivamente.

Palavras Chave: regeneração, fragmentação, remanescente e restauração ecológica.

1. INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica foi uma das maiores florestas tropicais das Américas,
originalmente cobria cerca de 150 milhões de ha (RIBEIRO et al., 2009), do quais 130
milhões de ha em território brasileiro (CAMPANILI; PROCHNOW, 2006). Atualmente
restam apenas 7,4% de sua cobertura original (DI BITETTI; PLACCI; DIETZ, 2003).
Mesmo reduzida e fragmentada, abriga mais de 20 mil espécies de plantas, das quais 8
mil são endêmicas (MITTERMEIER et al., 2004; METZGER, 2009).
É um dos biomas mais importantes do Brasil, composto por um complexo de 15
Ecorregiões que se estende desde a costa Nordeste do Brasil até o norte do Rio Grande
do Sul, passando pelas montanhas costeiras do país até a bacia do Rio Paraná, no Leste
do Paraguai e na Província de Missiones, nordeste da Argentina. Dentre as 15
Ecorregiões se encontram a Ecorregião Florestas do Alto Paraná e a Ecorregião
Florestas de Araucárias, representadas atualmente por remanescentes florestais na
região oeste do estado do Paraná (DI BITETTI; PLACCI; DIETZ, 2003).
Essas Ecorregiões são formadas respectivamente por remanescentes de Floresta
Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila Mista, fragmentos que ficaram isolados
devido às atividades antrópicas na região, principalmente a partir da década de 1960. O
desmatamento da floresta primária para a expansão das fronteiras agropecuárias foi o
principal motivo dessa fragmentação (FERRETTI et al., 2006).
A vegetação predominante na Ecorregião Florestas do Alto Paraná é a Floresta
Estacional Semidecidual. Porém, outras comunidades de plantas podem ocorrer devido

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Brasil
a variações locais, como florestas de galeria, bambuzais e palmitais. A maioria das
florestas remanescentes foi explorada para obtenção de madeira e algumas são florestas
secundárias que regeneraram depois do desmatamento. Os fragmentos florestais,
portanto, são compostos tanto por florestas primárias como por secundárias, em
diferentes estádios de sucessão (DI BITETTI; PLACCI; DIETZ, 2003).
O principal e maior remanescente florestal brasileiro de Floresta Estacional
Semidecidual ocorre no Parque Nacional do Iguaçu, com 185.262 hectares, criado em
1939 pelo Governo Federal através do Decreto-Lei N° 1.035. O Parque foi ainda a
primeira Unidade de Conservação do Brasil a ser instituída pela UNESCO como Sítio
do Patrimônio Mundial Natural, título que divide com o Parque Nacional del Iguazú na
Argentina desde o ano de 1986 (SOUZA, 2015; MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE,
2015).
As florestas remanescentes da Ecorregião Florestas do Alto Paraná cumprem um
papel importante na conservação das microbacias hidrográficas. Elas garantem a
quantidade e a qualidade da água, sendo essenciais para a conservação dos rios e
córregos desta região. São vitais para a proteção das nascentes, evitam a erosão do solo
e assoreamento dos rios, proporcionando condições ambientais necessárias para a
sobrevivência humana nas cidades e no campo (DI BITETTI; PLACCI; DIETZ, 2003).
A perda e fragmentação de habitat, o isolamento e a degradação dos fragmentos
florestais foram identificados como as principais ameaças à conservação da
biodiversidade. Esses processos vêm ocorrendo em diferentes intensidades nas diversas
partes da Ecorregião Florestas do Alto Paraná (DI BITETTI; PLACCI; DIETZ, 2003).
Segundo Daronco, Melo e Durigan (2013), a fragmentação de ecossistemas
naturais e a ampliação de áreas agrícolas, resultam em isolamento dos habitats
remanescentes, comprometendo a dispersão de sementes e a regeneração da vegetação.
Diante deste cenário, restaurar um ecossistema degradado é uma maneira de
minimizar os impactos causados pela supressão da vegetação nativa. O restabelecimento
de processos ecológicos, propiciando condições ambientais favoráveis à instalação das
espécies nativas, tem sido denominado por alguns autores de restauração ecológica
(DARONCO, 2013). Ações de restauração ecológica, em geral, buscam imitar e/ou
incentivar o processo natural de sucessão secundária.
A sucessão secundária de uma floresta se inicia a partir de uma perturbação,
seguida por uma sequência de mudanças que leva a regeneração da comunidade em
diferentes séries sucessionais (RICKLEFS, 2003; PUIG, 2008).
O conhecimento sobre a composição florística e categorias sucessionais das
espécies do estrato regenerante de florestas primárias e secundárias é de fundamental
importância para o planejamento de ações de restauração. Nesse contexto, o objetivo
deste estudo foi descrever a composição florística de estratos regenerantes em florestas
primária e secundária no oeste do Paraná, bem como fornecer informações sobre a
categoria sucessional das espécies.

2. MATERIAL E MÉTODOS

As áreas de estudo localizam-se no distrito de Marquezita no município de


Matelândia, região oeste do Paraná. A floresta secundária (F.S.) é um fragmento de
floresta de uma propriedade particular correspondente a Reserva Legal desta
propriedade, com cobertura vegetal de cerca de 25 anos, originada após o isolamento de
uma área de pastagem com aproximadamente 10 ha. Está localizada sob as coordenadas
25°21’08” S e 53°53’34” O, e altitude de 390 m acima do nível do mar. A área de
floresta primária está situada no interior do Parque Nacional do Iguaçu (PNI) sob as

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Brasil
coordenadas 25°20’59” S e 53°51’51” O, com altitude de 440 m acima do nível do mar.
A escolha das áreas foi feita com base na similaridade das características de topografia e
tipo de solo. As duas áreas apresentam topografia moderadamente inclinada de encosta
de morro com solo de transição entre latossolo e litossolo. A distância entre as duas
áreas em linha reta é de aproximadamente 5300 m. Na Figura 1 pode-se visualizar a
localização geográfica das áreas de estudo.

Figura 1. Localização das áreas de estudo, Matelândia - PR. Floresta secundária


(A) e floresta primária (B).

Ambas as áreas, floresta primária e secundária, estão situadas na unidade


morfoescultural do Terceiro Planalto Paranaense, no Planalto do Baixo Iguaçu
(MINEROPAR, 2006) e na bacia hidrográfica do Baixo Iguaçu (SUDERHSA, 2006;
SEMA, 2004). O solo predominante é do tipo latossolo (INSTITUTO DE TERRAS,
CARTOGRAFIA E GEOCIÊNCIAS, 2015). Nos topos de morros ocorrem também
solos litólicos. Segundo Köppen (INSTITUTO DE TERRAS, CARTOGRAFIA E
GEOCIÊNCIAS, 2015) o clima é do tipo subtropical úmido (Cfa), temperatura média
anual de 19,7ºC (CLIMATE-DATA.ORG, 2015) e pluviometria anual média em torno
de 1813 mm (INSTITUTO DAS ÁGUAS DO PARANÁ, 2015), sendo o mês mais
chuvoso, outubro. O tipo vegetacional predominante é a Floresta Estacional
Semidecidual Submontana (DI BITETTI; PLACCI; DIETZ, 2003; IBGE, 2012).
A coleta de dados foi realizada entre os meses de outubro de 2015 a março de
2016, sendo que a coleta se iniciou na floresta secundária e em seguida na floresta
primária. Inicialmente foi definida uma linha reta no interior de cada área no sentido
sudeste-noroeste (floresta secundária) e sudoeste-nordeste (floresta primária), de modo
que pudessem ser demarcadas parcelas circulares ao longo de eixos perpendiculares a
essa linha, e de forma que as parcelas ficassem de ambos os lados. Em cada área foram
demarcadas 30 parcelas circulares de 10 m2 cada, totalizando 300 m2. As parcelas
ficaram interespaçadas de 10 m e tiveram o seu centro demarcado com estaca de
madeira. Os limites das parcelas foram estabelecidos com auxílio de uma haste de
madeira com 1,785 m de comprimento, definindo o raio de um círculo com o centro na
estaca. As parcelas ficaram a uma distância mínima de 50 m da borda do fragmento de
floresta secundária, para minimizar o efeito de borda (SAMPAIO, 2011). Não houve a
necessidade do cuidado com a proximidade da borda na floresta primária, uma vez que

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as parcelas demarcadas ficaram a uma distância aproximada de 2000 m da borda do
PNI.
Dentro das parcelas foram contados e identificados todos os indivíduos com
diâmetro do caule a 1,3 m acima do solo menor que 0,05 m e com altura igual ou
superior a 0,5 m. Os indivíduos que se situavam exatamente no limite da parcela foram
incluídos ou excluídos aleatoriamente por meio de arremesso de moeda (“cara ou
coroa”).
Para a identificação dos indivíduos foi coletado material botânico para
identificação por meio de comparação com exsicatas depositadas nos herbários da
Figueira da UTFPR – Câmpus Medianeira (FIG) e/ou Dom Bento José Pickel (SPSF)
do Instituto Florestal de São Paulo – SP., bem como consultas à literatura especializada.
Quando possível, a identificação foi também realizada em campo. As espécies foram
ordenadas em famílias e gêneros de acordo com o sistema APG IV (APG IV, 2016).
Para a verificação das grafias, sinonímias botânicas e hábitos de crescimento foi
consultada a Lista de Espécies da Flora do Brasil (JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE
JANEIRO, 2016).
A coleta foi feita com auxílio de podão e/ou tesoura e o material botânico
armazenado em sacos plásticos para o transporte e herborização de acordo com as
técnicas usuais (FIDALGO; BONONI, 1989). Todos os indivíduos amostrados
receberam uma identificação numérica, fixada na própria planta para que não fosse
contada em duplicidade. Para cada espécie encontrada nas parcelas, foram obtidas na
literatura (e.g. MORELLATO; LEITÃO-FILHO, 1992; GANDOLFI; LEITÃO-FILHO;
BEZERRA, 1995; LORENZI, 2002; CARPANEZZI; CARPANEZZI, 2006)
informações relativas à categoria sucessional (pioneira ou não-pioneira) (sensu
WHITMORE, 1989).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram amostrados 831 indivíduos (27.700 ind.ha-1) de espécies arbustivas ou


arbóreas na floresta primária (PNI), pertencentes a 48 espécies distribuídas em 23
famílias (Tabela 1). Na floresta secundária (F.S.), foram amostrados 589 indivíduos
(19.633 ind.ha-1) também de espécies arbustivas ou arbóreas, pertencentes a 43 espécies
distribuídas em 19 famílias (Tabela 1).

Tabela 1. Lista das espécies de plantas arbustivas e/ou arbóreas encontradas nas
florestas secundária (F.S.) e primária (PNI) – Matelândia, PR. Hábito: arb –
arbusto, arv – árvore; CS, categoria sucessional: P – pioneira, NP – não-pioneira;
Nº - número de indivíduos.

FAMÍLIA/espécie Hábito Nº Nº C
F.S. PN S
I
ACANTHACEAE
Ruellia angustiflora (Ness) Lindau ex Rambo arb - 41 N
P
ANACARDIACEAE
Astronium graveolens Jacq. arv 2 - N
P
ANNONACEAE
Annona emarginata (Schltdl.) H.Rainer arb, arv 5 - P

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Brasil
APOCYNACEAE
Aspidosperma polyneuron Müll.Arg. arv - 49 N
P
Tabernaemontana catharinensis A.DC. arb, arv 35 - P
ARECACEAE
Euterpe edulis Mart. arv - 25 N
P
BORAGINACEAE
Cordia ecalyculata Vell. arv 2 - N
P
Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. ex Steud. arv 3 - N
P
EUPHORBIACEAE
Sebastiania brasiliensis Spreng. arb, arv - 12 P
FABACEAE
Bauhinia forficata Link arv 2 - P
Calliandra foliolosa Benth. arb, arv 22 9 P
Dalbergia frutescens (Vell.) Britton arb 5 - N
P
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong arv - 1 P
Holocalyx balansae Micheli arv 5 10 N
P
Inga marginata Willd. arv 11 81 N
P
Inga vera Willd. arv 1 - P
Lonchocarpus cultratus (Vell.) A.M.G. Azevedo & arv 3 11 P
H.C.Lima
Machaerium stipitatum Vogel arv 12 4 N
P
Muellera campestris (Mart. ex Benth.) M.J. Silva & arv - 2 N
A.M.G. Azevedo P
Myrocarpus frondosus Allemão arv 1 3 N
P
Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan arv 236 3 N
P
Pterocarpus rohrii Vahl arv 1 - N
P
Senegalia polyphylla (DC.) Britton & Rose arb, arv - 1 P
LAURACEAE
Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez arv 2 33 N
P
Ocotea diospyrifolia (Meisn.) Mez arv 24 - N
P
Ocotea silvestris Vattimo-Gil arv - 2 N
P
LOGANIACEAE
Strychnos brasiliensis Mart. arb 6 N
P
MALVACEAE
Bastardiopsis densiflora (Hook. & Arn.) Hassl. arv 3 - P

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Brasil
Heliocarpus popayanensis Kunth arv - 3 P
Pavonia sepium A.St.-Hil. arb, arv 1 - N
P
MELASTOMACEAE
Miconia discolor DC. arv - 11 N
P
MELIACEAE
Cabralea canjerana (Vell.) Mart. arv 1 - N
P
Cedrela fissilis Vell. arv 1 2 N
P
Guarea kunthiana A.Juss. arv 18 25 N
P
Guarea macrophylla Vahl arv - 1 N
P
Trichilia catigua A.Juss. arv - 16 N
P
Trichilia clausseni C.DC. arv - 5 N
P
Trichilia elegans A.Juss. arb, arv 8 67 N
P
Trichilia pallens C.DC. arv 3 - N
P
MORACEAE N
P
Sorocea bonplandii (Baill.) W.C.Burger et al. arb, arv 5 181 N
P
MYRTACEAE
Campomanesia guaviroba (DC.) Kiaersk. arv - 9 N
P
Campomanesia xanthocarpa (Mart.) O.Berg arv 1 - N
P
Eugenia burkartiana (D.Legrand) D.Legrand arv - 15 N
P
Eugenia florida DC. arv 1 - N
P
Eugenia subterminalis DC. arv - 1 N
P
Eugenia uniflora L. arv 1 - N
P
Plinia rivularis (Cambess.) Rotman arv - 3 N
P
NYCTAGINACEAE
Guapira hirsuta (Choisy) Lundell arb, arv - 1 N
P
PHYTOLACCACEAE
Seguieria aculeata Jacq. arv - 5 P
POLYGALACEAE
Acanthocladus brasiliensis (Klotzsch ex A.St.-Hil. arb - 1 N
& Moq.) Hassk. P

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Brasil
POLYGONACEAE
Ruprechtia laxiflora Meisn. arv 4 1 N
P
PRIMULACEAE
Myrsine loefgrenii (Mez) Imkhan. arv - 2 N
P
PROTEACEAE
Roupala montana Aubl. arb, arv - 1 N
P
RUBIACEAE
Ixora gardneriana Benth. arb 1 5 N
P
Psychotria carthagenensis Jacq. arb, arv 15 6 N
P
Psychotria leiocarpa Cham. & Schltdl. arb - 68 N
P
Rudgea jasminoides (Cham.) Müll.Arg. arv - 5 N
P
RUTACEAE
Balfourodendron riedelianum (Engl.) Engl. arv - 31 N
P
Pilocarpus pennatifolius Lem. arv 4 29 N
P
Zanthoxylum petiolare A.St.-Hil. & Tul. arv 1 - N
P
SALICACEAE
Casearia gossypiosperma Briq. arv 1 - N
P
SAPINDACEAE
Allophylus edulis (A.St.-Hil. et al.) Hieron. ex arb, arv 3 2 P
Niederl.
Cupania vernalis Cambess. arv - 2 N
P
Diatenopteryx sorbifolia Radlk. arv 1 7 P
Matayba elaeagnoides Radlk. arb, arv - 2 N
P
SAPOTACEAE
Chrysophyllum gonocarpum (Mart. & Eichler ex arv - 9 N
Miq.) Engl. P
Chrysophyllum marginatum (Hook. & Arn.) Radlk. arv 1 - N
P
Pouteria gardneri (Mart. & Miq.) Baehni arv 1 - N
P
SOLANACEAE
Brugmansia suaveolens (Willd.) Bercht. & J.Presl arb - 1 P
Cestrum strigilatum Ruiz & Pav. arb, arv 2 - P
URTICACEAE
Cecropia pachystachya Trécul arv 1 - P
VIOLACEAE
Pombalia bigibbosa (A.St.-Hil.) Paula-Souza arb 133 27 P

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Brasil
TOTAL 589 831

Dos indivíduos amostrados em regeneração na floresta primária, 50,9%


pertencem em ordem decrescente de abundância às famílias Moraceae, Fabaceae e
Meliaceae, sendo a espécie mais abundante Sorocea bonplandii, correspondendo a
21,9% do total dos indivíduos amostrados, seguida das espécies Inga marginata (9,7%),
Psychotria leiocarpa (8,2%) e Trichilia elegans (8,1%). Dentre as 48 espécies
encontradas no PNI, nove são representadas por apenas um indivíduo, são elas:
Enterolobium contortisiliquum, Brugmansia suaveolens, Senegalia polyphylla,
Ruprechtia laxiflora, Guarea macrophylla, Eugenia subterminalis, Guapira hirsuta,
Acanthocladus brasiliensis e Roupala montana.
A abundância relativamente alta de Sorocea bonplandii pode ter relação com o
fato de essa espécie ser típica de sub-bosque de vários tipos florestais no sul do Brasil
(JARENKOW; WAECHTER, 2001). Em um estudo realizado em sub-bosque de uma
floresta estacional no RS, 41,5% dos indivíduos amostrados pertencem a essa espécie, a
mais abundante no estrato regenerante (FRANCO, 2008).
Na floresta secundária, 73,3% dos indivíduos pertencem às famílias Fabaceae e
Violaceae, sendo as espécies mais abundantes Parapiptadenia rigida e Pombalia
bigibbosa, correspondendo respectivamente a 40,1% e 22,6% do total dos indivíduos
amostrados. Tabernaemontana catharinensis aparece em seguida, com 5,9% dos
indivíduos amostrados. São 16 espécies representadas por apenas um indivíduo nesta
área, a saber: Ixora gardneriana, Eugenia uniflora, Eugenia florida, Cedrela fissilis,
Casearia gossypiosperma, Cabralea canjerana, Pterocarpus rohrii, Pavonia sepium,
Zanthoxylum petiolare, Cecropia pachystachya, Inga vera, Chrysophyllum marginatum,
Pouteria gardneri, Campomaneseia xanthocarpa, Diatenopteryx sorbifolia e
Myrocarpus frondosus.
A alta abundância de Parapiptadenia rigida em estágios iniciais de sucessão
florestal é uma característica de áreas fragmentadas e em restauração, podendo formar
povoamentos quase puros (SCHRODER, 2013). Essa espécie tem ocorrência
preferencial na Bacia Hidrográfica do Paraná-Uruguai (MILANESI; LEITE, 2014),
sendo exclusiva das matas semideciduais dessas bacias. Nos três estados sulinos, nas
bacias do Alto Uruguai e Iguaçu é a espécie de mais ampla e expressiva dispersão
(LORENZI, 2002).
Apesar de ser classificada como não-pioneira, alguns autores classificam P.
rigida como secundária inicial (GRIS, 2012; SCCOTI, 2012), o que indica a sua
adaptação em ambientes com maior disponibilidade de luz (SCCOTI, 2012), condição
presente em fragmentos com grande influência de efeito de borda e em estádios iniciais
de sucessão florestal. É frequente em matas abertas e com menor densidade e
principalmente em formações secundárias mais evoluídas (LORENZI, 2002).
Outra espécie abundante na floresta secundária é Pombalia bigibbosa, que
também tem seu desenvolvimento favorecido em ambientes de maior intensidade
luminosa, o que explica sua abundância em florestas secundárias e fragmentadas
(SCCOTI, 2012). Kinoshita et al. (2006), observaram essa espécie em locais onde a
vegetação foi atingida por queimadas e sugeriram que pode ser indicadora de áreas
perturbadas. Portanto, é provável que a abundância relativamente elevada dessa espécie
na área em restauração, esteja relacionada com a maior entrada de luminosidade através
do dossel e das bordas do fragmento florestal, bem como, devido ao histórico de
perturbação da área.
Observa-se que a floresta secundária é um fragmento florestal isolado de outros
e desta forma mais distante das fontes de propágulos. O efeito de borda favorece o

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desenvolvimento de espécies generalistas que tendem a excluir por competição outras
espécies mais exigentes (METZGER, 1999). Tais fatores mencionados podem ter
favorecido a abundância das espécies Parapiptadenia rigida e Pombalia bigibbosa no
fragmento de floresta secundária.
Espécies de alto valor comercial como Aspidosperma polyneuron (peroba-rosa),
Balfourodendron riedelianum (pau-marfim) e Euterpe edulis (palmito-juçara), estão
presentes somente na floresta primária. A ausência de indivíduos dessas espécies na
floresta secundária pode ter relação com a falta de fontes de propágulos no entorno do
fragmento de floresta secundária e/ou com a presença de algum filtro restritivo que
impeça a chegada e o estabelecimento das mesmas. Outro fator que pode ter contribuído
para essa ausência, é o processo histórico de extração e comercialização dessas espécies
durante a expansão das fronteiras agrícolas, que ocorreu de maneira acentuada nesta
região, confinando-as basicamente a remanescentes de florestas maduras
(CARVALHO; NODARI, 2007).
Em inventário fitossociológico da vegetação arbórea no PNI, Souza (2015),
destacou as espécies A. polyneuron, B. riedelianum e E. edulis com importância
fitossociológica elevada. Em remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual, A.
polyneuron é destacada como sendo uma das espécies mais abundantes juntamente com
E. edulis, S. bonplandii, e algumas espécies da família Meliaceae (Trichilia e Guarea)
(ACCIOLY, 2013). Essas informações coadunam com muitos dos resultados obtidos no
presente estudo.
Quanto a categoria sucessional, os estratos regenerantes das florestas primária e
secundária apresentaram respectivamente 79% e 74% das espécies não-pioneiras
(Tabela 2). Em um estudo com florestas em diferentes estádios sucessionais, sob
domínio da Mata Atlântica, Liebsch, Marques e Goldenberg (2008), encontraram
percentuais para espécies não-pioneiras de 65,8% aos 25 anos, abaixo do verificado na
floresta secundária, e 79,1% aos 120 anos após perturbação, semelhante ao verificado
na floresta primária.

Tabela 2. Percentuais de espécies não-pioneiras nas florestas primária (PNI) e


secundária (F.S).

Área % de espécies não-pioneiras

PNI 79
F.S 74

As espécies não-pioneiras podem germinar sob a sombra e formar em geral um


banco de plântulas que são encontradas sob o dossel, mas podem também ser
encontradas em ambientes abertos; já as espécies pioneiras apresentam em geral banco
de sementes (MACIEL et al., 2003) e sua germinação e colonização é favorecida pela
maior entrada de luz nos períodos de deciduidade, característicos de florestas
estacionais semideciduais (CORRÊA et al., 2014).
O fato de florestas maduras apresentarem dossel mais denso e dificultar a
entrada de luz favorece o aparecimento e estabelecimento de espécies menos exigentes à
luminosidade, que é o caso das espécies de sub-bosque. Conforme Liebsch, Marques e
Goldenberg (2008), ocorre um aumento das espécies do sub-bosque enquanto a floresta
envelhece e isso contribui para o aumento da proporção de espécies não-pioneiras.

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4. CONCLUSÃO

Na área do bioma Mata Atlântica restaram poucos remanescentes florestais


relativamente grandes e bem preservados, e a maior parte da cobertura florestal original
foi fragmentada, sendo os remanescentes pequenos e isolados, o que torna a
conservação da biodiversidade um desafio. A restauração ecológica é uma opção
interessante no contexto da restauração da Mata Atlântica, principalmente em escala de
paisagem.
No estudo em questão encontrou-se um conjunto de espécies que pode servir de
subsídio para o planejamento da restauração florestal na região. As espécies encontradas
na floresta secundária apresentam características ecológicas mais ajustadas à ambientes
impactados por ações antrópicas típicos de áreas a serem restauradas. Por outro lado, as
espécies encontradas na floresta primária tendem a ser ecologicamente mais sensíveis
aos fatores restritivos de áreas degradadas, mas contribuem sobremaneira para a
diversidade vegetal, devendo ser também empregadas nas ações de restauração. O
conjunto de espécies abrange as duas categorias sucessionais básicas e inclui a
indicação de espécies localmente abundantes que podem ser utilizadas em maiores
proporções nos plantios de restauração.

5. REFERÊNCIAS

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ESTABILIZAÇÃO DO Pb EM SOLOS CONTRASTANTES


CONTAMINADOS, REMEDIADOS ATRAVÉS DA ADIÇÃO DE FOSFATOS

Rubens Stipp(1); Daniel Ramos Pontoni(2); Jana Daisy Honorato Borgo(2); Vander
de Freitas Melo(3)

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Brasil
(1)
Estudante de graduação do curso de Engenharia Florestal da UFPR. Rua dos
Funcionários, 1540 – Curitiba – PR – CEP 80035-050. [email protected]; (2)
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da UFPR. Rua dos
Funcionários, 1540 – Curitiba – PR – CEP 80035-050. [email protected];
[email protected]; (3) Prof. Adjunto do Dep. de Solos e Eng. Agrícola da
UFPR. Rua dos Funcionários, 1540 – Curitiba – PR – CEP 80035-050.
[email protected].

RESUMO

O chumbo é um dos principais elementos utilizados pelo homem, o que faz deste um
dos principais contaminantes presentes em solos. O presente trabalho tem por objetivo
esclarecer e identificar as mudanças mineralógicas e geoquímicas ocorridas em solos
com diferentes pH, previamente contaminados com Pb e remediados com P e Cl
(promovendo a estabilização química). Os solos foram coletados em regiões
geologicamente distintas: LV (arenito) e NV (basalto). A partir dos dados da
determinação da capacidade máxima de adsorção de Pb (CMAPb) dos solos montou-se
um experimento com o horizonte A dos solos, em esquema fatorial 2x2x2x4, sendo 2
solos, dois níveis de contaminação de Pb, dois pH e 4 doses de P seguindo as relações
molares de P:Pb de 3:5, 4,5:5, 6:5 e 12:5, avaliados em três épocas, por meio
determinação da solução do solo e MEV. A atividade de Pb2+ em relação ao pH
demostrou que, de maneira geral, houve supersaturação do chumbo em relação à curva
de solubilidade da Cloropiromorfita, indicando a formação deste mineral tanto aos 60
como aos 311 dias com o aumento das doses de P, o que foi confirmado por meio de
análise de MEV/EDS nas frações areia e silte nas amostras que receberam as maiores
doses de P.

Palavras chave: estabilização química, piromorfita, MEV, equilíbrio químico

INTRODUÇÃO

Juntamente com o Cd, Hg e As o Pb é considerado um dos metais tóxicos mais


nocivos a diversos organismos vivos, inclusive ao homem.
Embora ocorra naturalmente no solo por origem litogênica, de maneira geral em
níveis muito baixos, também pode ter origem antropogênica, ou seja, resultante da
deposição direta ou indiretamente relacionada com atividades do homem (Nicholson et
al., 2003). O enriquecimento do solo com Pb vem sendo atribuído não apenas a
atividades industriais e mineradoras, mas também a aplicação de calcário, lodo de
esgoto, fertilizantes fosfatados, resíduos industriais, pesticidas, a aterros sanitários e
deposição atmosférica (Alloway, 2013; Kabata Pendias & Pendias, 2001).
A forte adsorção do Pb pelo solo faz deste um importante reservatório atuando,
não apenas, como dreno, mas também como fonte, uma vez que sua estabilidade é
regida pela mudança no pH, variação na força iônica do sistema, mudanças no potencial
redox e pela formação de complexos. A sua mobilidade e biodisponibilidade no solo é

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Brasil
ainda controlada por reações de adsorção e dessorção, precipitação e dissolução
(Alloway, 2013; Kabata Pendias & Pendias, 2001).
Na solução do solo o chumbo pode estar na forma iônica, Pb2+, pouco móvel,
mas em função das características eletroquímicas do solo pode formar diversos
compostos estáveis, tais como PbCO3 (cerussita), Pb(OH)2, Pb3(PO4)2, Pb3(CO3)2,
Pb5(PO4)3OH (hidróxipiromorfita) ou Pb5(PO4)3Cl (cloropiromorfita), sendo este
último, o mais estável no ambiente do solo (Lindsay, 1979).
O conhecimento da elevada afinidade do Pb por fosfatos e a alta estabilidade dos
complexos formados entre eles propiciou o desenvolvimento de técnicas de
imobilização química do Pb à base de fosfatos, que vem surgindo como uma alternativa
de baixo custo e alta eficiência frente a outras formas de remediação do solo, tais como
a biorremediação, a fitorremediação ou mesmo a remoção do solo contaminado (Souza,
2012).
Atualmente diversos estudos vêm sendo conduzidos com a intenção de
esclarecer a estabilização química do Pb pela adição de fosfatos (Bosso, 2007;
Hashimoto et al., 2009; Ryan et al., 2001; Scheckel et al., 2005; Cao et al., 2003).
Entretanto, a literatura é ainda incipiente em relação a estabilidade dos fosfatos de Pb
formados pela remediação.
Este trabalho visou avaliar as mudanças ocorridas na solução de dois solos com
textura, mineralogia e pH diferentes, previamente contaminados com Pb e remediados
com P e Cl (visando a estabilização química), através da avaliação da solução do solo,
modelagem de equilíbrios químicos e determinação por MEV.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram coletados cerca de 50 kg de amostra deformada do horizonte A de um


Latossolo Vermelho (LV) de textura média (desenvolvido de arenito, Fm. Caiuá) e de
um Nitossolo Vermelho (NV), de textura muito argilosa (desenvolvido de basalto, Fm.
Serra Geral), ambos do Terceiro Planalto Paranaense. As amostras deformadas foram
secas ao ar e passadas em peneira de 2 mm para obter a terra fina seca ao ar (TFSA). Os
dados das análises físicas, químicas e mineralógicas são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Atributos físicos, químicos e mineralógicos de dois solos com texturas


contrastantes.
Profundiade Valor Sat. Fe 2 O3
Coordenadas pH pH Valor T P C Areia Argila
do Horizonte V Al Cristalino
-1 -1 -1 -1 -1
(cm) UTM (CaCl2 ) (H2 O) cmolc kg ------ % ------ mg kg g kg ----- g kg ----- g kg
LV - Latossolo Vermelho Distrófico (derivado de arenito)
Ap1 22J 219631 m E,
5,0 5,7 13,1 64,8 1,2 7,0 6,2 325 313 44,7
(0 a 15) 7338875 m N
NV - Nitossolo Vermelho Distroférrico (derivado de basalto)
A 22J 793971 m E,
5,0 5,8 6,9 53,4 0,0 2,4 23,8 37 738 87,0
(0 a 30) 7197356 m N
Valor T = Capacidade de troca de cátions a pH 7,0; C = carbono orgânico total; Valor V
= saturação por bases; P = P extraído por Mehlich I.

Cerca de 550 g de TFSA foram acondicionadas em sacos plásticos de 2,3 dm-3.

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Brasil
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com três repetições
em esquema fatorial 2x2x2x4, sendo dois solos, dois níveis de pH (natural e 7,0), duas
doses de Pb e quatro doses de P, totalizando 96 unidades experimentais (UEs), avaliadas
aos 30, 60 e 311 dias de incubação.
Para cada solo (48 sacos plásticos), 24 UEs receberam como fonte de corretivo
calcário em dose necessária para elevar o pH em água para 7,0, obtida através da curva
de elevação de pH para esses solos. O corretivo foi aplicado 30 dias antes da incubação
com Pb. Durante todo o experimento a umidade do solo foi mantida à 90% da
capacidade de campo (CC) a fim de propiciar a continuidade das reações nos solos.
As duas doses de Pb foram definidas em função da determinação prévia da
capacidade máxima de adsorção de Pb (CMAPb) das amostras: uma equivalente a
CMAPb (1x CMAPb) e outra equivalente a cinco vezes a CMAPb (5x CMAPb), para
cada solo (Tabela 2).
Após 30 dias de incubação com as doses de Pb foram retiradas 120 g de amostra
para avaliações e procedeu-se a aplicação das doses de P e Cl. Foram adicionadas
quatro doses de P e Cl, respeitando a relação molar P:Pb:Cl de 3:5:1; 4,5:5:1; 6:5:1; e
12:5:1, na forma de KH2PO4 e NaCl, respectivamente (Tabela 2).
Aos 60 e 311 dias após a adição de Pb foram realizadas novas retiradas de 120 g
de solo de cada UE para avaliações da solução.
Para a avaliação da solução foi realizada a sua extração utilizando-se o método
da pasta saturada (Embrapa, 2011). Adicionou-se 110 g de amostra em um becker
plástico de 250 mL e água ultrapura até atingir a consistência e espelhamento descritos
na metodologia. Em seguida, os recipientes foram tampados com filme plástico para
evitar perdas por evaporação e deixadas em repouso por 12 horas até atingir o equilíbrio
químico. Posteriormente, a pasta foi colocada em um conjunto de funil de buchner
contendo papel de filtro (filtração rápida), acoplado a um kitassato, e a solução foi
extraída sob vácuo, por cerca de 2 horas. A solução obtida foi então filtrada em
membrana de 0,45 µm de malha e congelada para determinações posteriores. As
concentrações de Pb foram determinadas nas soluções por meio de Espectroscopia de
Emissão Óptica com Plasma Induzido (ICP-OES), da marca Varian (720-ES).

Tabela 2. Doses aplicadas de Pb, P e Cl no horizonte A dos solos LV (Latossolo


Vermelho derivado de arenito) e NV (Nitossolo Vermelho derivado de basalto).
Dose de Pb Doses de P (1) Dose de Cl Dose de Pb Doses de P (1) Dose de Cl
(1 x CMAPb) Dose 1 Dose 2 Dose 3 Dose 4 (1 x CMAPb) (5 x CMAPb) Dose 1 Dose 2 Dose 3 Dose 4 (5 x CMAPb)
mg kg-1----------------------- mg kg-1 -----------------------mg kg-1 mg kg-1 ----------------------- mg kg-1 -----------------------mg kg-1
Latossolo Vermelho Distrófico
1.580,1 141,7 212,6 283,4 566,9 54,1 7.900,3 708,6 1.062,9 1.417,2 2.834,4 270,4
Nitossolo Vermelho Distroférrico
9.429,5 845,8 1.268,6 1.691,5 3.383,0 322,7 47.147,3 4.228,8 6.343,1 8.457,5 16.915,0 1.613,4
(1)
As doses de P seguiram a proporção molar de P:Pb de: Dose 1= 3:5; Dose 2= 4,5:5;
Dose 3= 6:5; Dose 4= 12:5.

As determinações da constante de equilíbrio das amostras (log de K) foram


realizadas através da utilização do software Visual MINTEQ, a partir dos dados de
concentração, temperatura e pH das amostras da solução do solo. Os gráficos de
equilíbrio químico foram elaborados no software Sigma Plot 10.0 utilizando os dados
do log de K e os dados teóricos de equilíbrio químico apresentados em Lindsay (1979).
Parte das amostras separadas de areia e silte dos tratamentos 16 e 32 dos 311
dias foram utilizadas para microscopia eletrônica. A fração areia foi triada em lupa para
separação de minerais de cloropiromorfita. O material selecionado, juntamente com a

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Brasil
fração silte, foi submetido a microscopia eletrônica de varredura (MEV) com a
microanálise por espectrometria de energia dispersiva de raios-X (EDS) no Centro de
Microscopia Eletrônica da UFPR.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a determinação da atividade do Pb2+ na solução de equilíbrio, os dados das


avaliações aos 60 e 311 dias foram plotados no diagrama de estabilidade de minerais de
Pb (Figuras 1 e 2).
Para amostras do LV verificou-se efeito das doses de P na atividade do Pb2+ na
solução de equilíbrio ao longo do tempo (Figura 1). Nos tratamentos com menor nível
de contaminação e pH do solo natural (tratamentos 1 a 4) houve decréscimo da
atividade do Pb2+ com o aumento das doses de P, assim como no pH corrigido
(tratamentos 5 a 8) aos 60 dias, ambos permanecendo supersaturados em relação à curva
da cloropiromorfita. Entretanto, com a elevação do pH verificou-se um afastamento em
relação a curva, exceto no tratamento 8, favorecendo a formação deste mineral.
Na maior dose de Pb (tratamentos 9 a 16) houve efeito das doses de P na
redução da atividade do Pb2+ e todos os tratamentos ficaram supersaturados em relação
à curva da cloropiromorfita, porém não houve o mesmo comportamento de afastamento
da curva com a elevação do pH do solo, como no menor nível de contaminação
(tratamentos 5 a 7).
Aos 311 dias verificou-se a manutenção do efeito das doses de P na redução da
atividade de Pb2+ em todos os tratamentos, mas, de maneira geral, houve variação de
comportamento em relação a curva de estabilidade da cloropiromorfita, quando
comparado aos 60 dias. A maior variação foi observada nos tratamentos 1 a 4 que
passaram a ficar subsaturados em relação a curva da cloropiromorfita, indicando que ao
longo do tempo a condição sem elevação do pH tornou-se desfavorável à formação do
mineral.

Os demais tratamentos apresentaram, de maneira geral, a mesma tendência de


aproximação da curva, passando de uma condição de supersaturação para saturação,
mas ainda assim tendendo à formação da cloropiromorfita.

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 109

Brasil
Figura 1. Atividade de Pb2+ em soluções do solo evidenciando o efeito do pH
(natural e 7,0) e do tempo de incubação (60 e 311 dias) para o LV plotada em diagrama
de equilíbrio de estabilidade mineral de fosfatos de chumbo (Lindsay,1979).

A subsaturação de todos os tratamentos em relação às curvas do Pb3(PO4)2, da


hidróxipiromorfita e da cerussita, tanto aos 60 como aos 311 dias, exceto os tratamentos
6 e 7 aos 60 dias, indica que com a remediação do solo através da aplicação de doses de
P e Cl não se formou outro mineral além da cloropiromorfita.
Para os tratamentos do NV (17 a 32) verificou-se efeito das doses de P na
redução da atividade do Pb2+ da solução de equilíbrio nos dois níveis de contaminação
tanto aos 60 como aos 311 dias (Figura 2).
Para este solo houve uma tendência de aproximação da curva da
cloropiromorfita com o aumento das doses de P, passando de uma condição de
supersaturação para saturação, chegando a uma condição de subsaturação no tratamento
32 aos 60 dias.
Para este solo também foi verificado a subsaturação de todos os tratamentos em
relação às curvas do Pb3(PO4)2, da hidróxipiromorfita e da cerussita, tanto aos 60 como
aos 311 dias, exceto os tratamentos 18 e 23 aos 60 dias. Assim como no LV, esse
comportamento indica que com a adição de P e Cl não foram formados outros minerais
além da cloropiromorfita, confirmando a estabilização química do Pb2+ através da
formação deste mineral.
A confirmação da estabilização química dos solos avaliados ocorreu pela
identificação do mineral cloropiromorfita nas frações areia e silte dos tratamentos 16 e
32 aos 311 dias através da análise de MEV/EDS.
Verificou-se em todas as frações a presença de minerais de cloropiromorfita, em
pequena quantidade na fração areia, e em maior na fração silte, ocorrendo tanto
individualizadas (partículas livres) ou oclusos em outros minerais. Isso indica que, de

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Brasil
maneira geral, os 311 dias não foram suficientes para a formação de cristais maiores que
0,053 mm.
Na figura 3 é apresentada a amostra da fração silte do tratamento 16 (LV de
textura média) onde foram detectados os elementos Pb, P, O e Cl na composição do
mineral avaliado pelo espectro EDS no ponto 1 da imagem de elétron retro-espalhado,
indicando a formação da cloropiromorfita. O ponto 2 do espectro EDS indica a presença
de quartzo (Si e O).

Figura 2. Atividade de Pb2+ em soluções do solo dos 16 tratamentos avaliados


para o NV em três tempos (30, 60 e 311 dias) plotada em diagrama de estabilidade
mineral de fosfatos de chumbo em equilíbrio (Lindsay, 1979).

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Brasil
Figura 3. Imagem de microscopia eletrônica de varredura (MEV) com elétron
retro espalhado de amostra da fração silte do tratamento 16 (tratamento com maior nível
de contaminação e maior dose de P) do LV e espectros de EDS em dois pontos da
imagem.

CONCLUSÕES

O processo de estabilização química do Pb foi efetivo independentemente do


tipo de solo. O aumento do pH favoreceu este processo. A determinação indireta da
presença de cloropiromorfita por meio de reações de equilíbrios químicos mostrou-se
eficiente.

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RECUPERAÇÃO DE UM TRECHO DE MATA CILIAR DO RIO RIBEIRA DE


IGUAPE

J. A. Zanon(1); F. A. M. Silva(2); R. B. Silva(2); R. C. Paula(3).


(1)
Aluno de Pós-Graduação em Ciência do Solo (UFPR) – Curitiba, Brasil
(2)
Professor Doutor (UNESP) – campus experimental de Registro, Brasil
(3)
Biólogo (AMAVALES) – Associação dos Mineradores de Areia do Vale do Ribeira,
Brasil.
Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Agrárias, Rua dos Funcionários,
1540 – Juvevê, Curitiba – Paraná – Brasil, CEP 80035-050, E-mail:
[email protected];
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus experimental de
Registro, Av. Nelson Brihi Badur, 430 – Vila Tupi, Registro – São Paulo – Brasil, CEP
11900-000, E-mail: [email protected];

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Brasil
Associação dos Mineradores de Areia do Vale do Ribeira, Rua São Francisco de Xavier,
129 – Centro, Registro – São Paulo – Brasil, CEP 11900-000, E-mail:
[email protected]

RESUMO

O Vale do Ribeira possui uma natural vocação para atividades de baixo impacto
ambiental, em função da pequena atividade industrial e sistema agropecuário de
pequena escala. Neste sentido, as mineradoras de areia vêm buscando adequar suas
atividades industriais com o menor impacto ambiental, visando à proteção de Áreas de
Preservação Permanente (APP) e a integração e o desenvolvimento social sustentável
nas comunidades dos bairros em que as atividades de extração e mineração de areia são
realizadas. O presente trabalho foi realizado em uma área de mineração de areia, mais
especificamente em um trecho de mata ciliar no Rio Ribeira de Iguape, no município de
Registro-SP, durante o período de 16 meses foi realizado acompanhamento periódico da
recomposição florestal desta área, com visitas a campo e coleta de dados para a
avaliação do crescimento das espécies florestais. Foi avaliada a altura das plantas,
diâmetro do caule, índice de mortalidade de espécies, pluviosidade no período,
predominância de espécies e ataque por formigas. O projeto de restauração ecológica
em APP envolve o estudo e o acompanhamento em diferentes etapas, desde a
implantação das espécies florestais, e o monitoramento da área de estudo deve ser
cíclico e contínuo.

Palavras-chave: Recomposição florestal, área de preservação permanente, mineração de


areia.

1. INTRODUÇÃO

As formações florestais localizadas às margens de rios, lagos, nascentes, topos


de morro e reservatórios de água são chamadas de mata ciliar. As matas ciliares
desempenham importantes funções ambientais e a esses ecossistemas são dedicados
capítulos exclusivos do Novo Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651), de 25 de maio
2012. Nessa legislação, as matas ciliares são incluídas na categoria de Áreas de
Preservação Permanente (APP) e sua importância deve-se à manutenção da qualidade
da água, estabilidade do solo, regularização de regime hídrico e estabilização das
margens e barrancos, evitando o assoreamento. As matas ciliares se estabelecem como
importantes formações florestais a serem conservadas ou recuperadas, envolvendo sua
conservação e recuperação como estratégias prioritárias para preservação dos recursos
hídricos e da biodiversidade (BOTELHO, 2002). A importância da existência de
floresta ao longo de rios e ao redor de lagos, em topo de morros, córregos e
reservatórios fundamenta-se no amplo aspecto de benefício que traz tipo de vegetação
ao ecossistema, exercendo função protetora sobre o recurso natural biótico e abiótico
(MELO, 2001).

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Brasil
Portanto, cada vez mais há necessidade de conservação da vegetação no entorno
de nascente e ao longo do curso d’água, pois tem sido constantemente relatada a
redução de vazão e o secamento de inúmeras nascentes de água, ocasionada pela perda
da vegetação. A recomposição da mata ciliar degradada constitui um dos fatores
importantes, juntamente com outras práticas conservacionistas, como a proteção da zona
das nascentes, através de uso adequado do solo, que é fundamental para recarga do
lençol freático, e a existência de mata de topo de morro, para fins de garantir a
qualidade e quantidade de água (SIMÕES, 2001).

Pertencente à bacia hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul (UGRHI-11),


com aproximadamente 470 Km de extensão, o Ribeira de Iguape é considerado o maior
rio “vivo” do estado de São Paulo, por não possuir barragens e estar situado em uma
região de baixa densidade populacional, que apesar da proximidade com grandes
capitais, como a região metropolitana de São Paulo e Curitiba, o Vale do Ribeira não
possui grande complexo industrial ou mesmo agricultura de intensa escala, a região é
destacada pela sua riqueza ambiental, caracterizada pela preservação de suas matas e
diversidade biológica.

O local onde se está desenvolvendo a recomposição da vegetação nativa


pertence à Pirâmide Extração e Comércio de Areia Ltda., principal mantedora da
Associação de Mineradores de Areia do Vale do Ribeira e Baixada Santista
(AMAVALES). A empresa Pirâmide adquiriu a propriedade no ano de 2008, localizada
no bairro Guaviruva, no município de Registro e, atualmente, extrai o minério de areia
através de dragagem no rio. A área de revegetação florestal compreende 1,55 ha
(hectares), dimensionada com 35 metros de largura por 480 metros de comprimento
acompanhando a margem do rio.

A atividade de extração mineral de areia, sabidamente, gera impactos


ambientais, podendo alterar a vazão do curso do rio, já que, durante o processo de
extração, ocorre a captação e o lançamento de grandes quantidades de água e areia. Essa
ação, combinada com a hidrodinâmica do rio, pode se tornar crítica em períodos de
cheia, podendo favorecer a erosão e o desbarrancamento.

Uma vez que as atividades da empresa são devidamente regularizadas e pautadas


na responsabilidade ambiental, desde 2009 trechos de mata ciliar vêm sendo
recuperados em etapas.

O objetivo deste trabalho é realizar um estudo de caso sobre a recomposição da


vegetação em um trecho de mata ciliar do Rio Ribeira de Iguape, localizado no
município de Registro-SP, levantando os aspectos associados à implantação e o
desenvolvimento do projeto, bem como realizar o monitoramento do crescimento de 24
espécies florestais ao longo de 16 meses.

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Brasil
2. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido em uma das áreas em processo de revegetação


florestal, realizado pela Pirâmide Mineradora, à margem esquerda do rio Ribeira de
Iguape (Coordenadas geográficas 47°44’29.47” W, e 24°30’14.85” S, a 7 metros de
altitude), na fazenda Jurumirim, no bairro Guaviruva, no município de Registro-SP.
Segundo a classificação de Köppen, o clima da região é clima subtropical úmido, com
pluviosidade anual podendo superar os 1500 mm.

A mata ciliar revegetada compreende uma área total de 15.500m2 (1,55ha), na


qual está sendo realizada a recomposição florestal desde 2009, em diferentes talhões e
etapas.

O talhão das parcelas da revegetação florestal, objeto desse estudo, tem


aproximadamente 875m2 (0,0875ha) de área de preservação permanente.

Para o estudo, a área foi dividida em 9 parcelas e cada parcela era composta por
2 linhas de plantio das espécies florestais.

Foram catalogadas as espécies de acordo com as 9 parcelas delimitadas no


talhão de estudo, inicialmente foi realizada as medições de altura da parte aérea e
diâmetro do caule de cada planta, e posteriormente, foram identificadas as espécies.

Foi realizado o levantamento detalhado do número de plantas, classificadas por


espécie e grupo sucessional, em toda a área de revegetação delimitada para o estudo. Os
143 indivíduos foram avaliados ao longo de 16 meses, sendo mensurados os atributos
morfológicos das espécies florestais de altura da parte aérea (H) e diâmetro do caule
(D), empregando-se uma trena e paquímetro escalar MARBERG® (0-150mm). Ao
longo do tempo foram avaliados índices de mortalidade e incidência de pragas.
Foram identificadas 24 diferentes espécies, sendo ao todo a área composta por
143 indivíduos, sendo coletados o nome popular, a classificação botânica (Família,
Gênero e Espécie), a classificação entre pioneira, não pioneira ou exótica e as repetições
das espécies ao longo das parcelas amostradas.
A sistematização dos dados coletados foi realizada por planilhas eletrônicas,
sendo escolhidas para uma amostra contendo 6 espécies, sendo 3 espécies pioneiras
(Embaúba, Aroeira Pimenteira e Pau-Viola) e 3 espécies não pioneiras (Ingá, Canela e
Ipê Amarelo). Foram avaliados a altura da parte aérea (H), o diâmetro do caule (D) e a
RAD, Relação de Altura (cm) com o diâmetro do caule (mm).
Foi realizada amostragem de solos na área de estudo, sendo esta amostra
composta por 20 subamostras. Para tanto, percorreu-se a área de estudo em zigue-zague,
coletando as 20 subamostras com o auxílio de um trado holandês. Em seguida o solo foi
depositado em um balde e homogeneizado para, então retirar-se uma amostra composta,
que posteriormente foi enviada ao laboratório do Instituto Brasileiro de Análises
Químicas e Físicas (IBRA), para determinação de atributos químicos (complexo
sortivo), de acordo com metodologia recomendada pela Embrapa (1997) em maio de
2015. O resultado da análise química do solo pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1: Atributos químicos do solo da área estudada.

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Profund. pH M.O. Presina Al3+ H+Al K Ca Mg SB CTC V%
CaCl2 g.dm-3 mg.dm-3 mmolc.dm-3 -
0-20
5,4 32 22 - 31 2,2 22 14 38 69 55

No período entre o início das medições, em 08/05/2014, data do primeiro


acompanhamento das espécies florestais na área de recuperação, até a quarta e última
medição, em 22/09/2015, foram coletados dados de pluviosidade do câmpus
experimental de Registro (CIIAGRO), local próximo à fazenda Jurumirim, localidade
do estudo de caso.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi utilizado o anexo III da SMA – 32/2014 como referência para realizar
planejamento do plantio e escolha das espécies para a restauração. Foi empregada a
técnica de plantio em área total utilizando, no período previsto em projeto, no mínimo
80 espécies florestais nativas de ocorrência regional, dentre aquelas elencadas na lista
oficial do Instituto de Botânica e/ou identificadas em levantamentos florísticos
regionais. Contudo, a resolução sugere que o número de espécies arbustivas e arbóreas
represente no mínimo 70% do número total de espécies utilizadas.
Na área amostrada verificou-se 95,8% de espécies florestais nativas da Mata
Atlântica, conforme a Tabela 2, apresentando um nível satisfatório do número total de
espécies arbóreas no total de espécies utilizadas conforme a resolução SMA – 32/2014.
A porcentagem de espécies pioneiras identificadas foi de 35,7% e não pioneiras
foi de 60,1%. A resolução SMA – 32/2014 estabelece o limite mínimo de 40% no
plantio de qualquer um dos dois grupos ecológicos de espécies pioneiras e não
pioneiras, no caso do plantio de espécies não pioneiras a proporção foi superior ao
estabelecido pela norma vigente. As espécies pioneiras apresentaram porcentagem
numericamente igual à estabelecida, ou seja, muito próximo ao valor ideal do limite
mínimo de plantio. Em relação à proporção de indivíduos a ser utilizadas em área total,
é indicado que o total de indivíduos de um mesmo grupo ecológico não exceda 60% do
total de espécies. Na área de estudo nenhum dos dois grupos extrapolou este percentual.
A proporção a ser utilizada em um projeto de restauração ecológica é de 40% de
espécies zoocóricas, conforme a resolução SMA – 32/2014, no presente estudo
constatou-se que do total de espécies deste grupo foi de 79%, sendo que das 24 espécies
estudadas, 19 são zoocóricas, valor acima do indicado pela resolução. A importância
das espécies zoocóricas está ligada principalmente ao enriquecimento da flora da região,
aumentando a presença de animais, como aves, contribuindo para a diversidade da flora
e fauna da região de abrangência da bacia do Rio Ribeira de Iguape.
Ao todo foram identificadas na área de estudo 143 plantas nas 9 parcelas
amostradas, sendo de 24 diferentes espécies, entre pioneiras e não pioneiras, e em sua
grande maioria espécies florestais nativas da floresta ombrófila densa.

Tabela 2: Quantidade e Porcentagem das espécies catalogadas.

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Quantidade Porcentagem (%)
Plantas 143 100
Nativas 137 95,8
Exóticas 6 4,2
Pioneiras 51 35,7
Não Pioneiras 86 60,1
Zoocóricas 19 79,2
Mortalidade 31 21,7

Na figura 1 está representada a distribuição em proporção das espécies pioneiras


e não pioneiras, sendo 6 espécies escolhidas para estudo mais detalhado, 3 pioneiras e 3
não pioneiras. As espécies pioneiras foram a Embaúba (Cecropia pachystachya), a
Aroeira Pimenteira (Schinus terebinthifolius) e o Pau-Viola (Cytharexyllum
myrianthum), destas espécies, ressalta-se que a Embaúba encontra-se na lista de
espécies florestais vulneráveis ameaçadas de extinção e o Pau-Viola e a Aroeira
Pimenteira são espécies zoocóricas (IBAMA, 2015).

As espécies não pioneiras estudadas foram o Ingá (Inga vera), a Canela (Ocotea
corymbosa) e o Ipê Amarelo (Tabebuia umbellata), 2 espécies são zoocóricas, a Canela
e o Ingá e o Ipê Amarelo atualmente se encontra na lista das espécies vulneráveis
quanto à ameaça de extinção (IBAMA, 2015).

Figura 1: Frequência nas parcelas das espécies pioneiras e não pioneiras escolhidas para
as avaliações.

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Na figura 2, visualizam-se os resultados de média de altura das espécies
pioneiras (Aroeira, Embaúba e Pau-Viola), ao longo do período de realização das
medições (2, 8, 14 e 18 meses). Observa-se que entre as 3 espécies avaliadas, a
Embaúba foi a espécie que mais se desenvolveu em altura, com incremento de 290% em
relação à altura inicial, seguida pelo Pau Viola (177%) e a Aroeira Pimenteira (115%).

Figura 2: Altura média das espécies pioneiras em função do tempo.

Na Figura 3, observa-se o desenvolvimento em altura das espécies não pioneiras,


Canela, Ingá e Ipê Amarelo, ao longo do período de realização das medições (2, 8, 14 e
18 meses). O Ipê Amarelo foi a espécie que apresentou o maior incremento em altura
(380%) em relação à medição inicial, seguido pelo Ingá (129%) e pela Canela (98%).

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Figura 3: Altura média das espécies não pioneiras em função do tempo.

Vale Ressaltar da importância do monitoramento do desenvolvimento das


espécies florestais, todas com ganhos percentuais satisfatórios, sendo o Ipê Amarelo
com o maior acréscimo.Seu desenvolvimento na APP contribui para o melhor
entendimento desta espécie na mata atlântica, crucial para a propagação e sobrevivência
da espécie, considerada árvore símbolo do Brasil.
A figuras 4, acompanha o diâmetro do caule das espécies pioneiras em função
do tempo. Foram observados resultados semelhantes aos verificados para a varíável
altura sobressaindo-se o Pau Viola para as pioneiras.

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Figura 4: Diâmetro médio das espécies pioneiras em função do tempo.

Na figura 5 pode-se observar as chuvas mensais em (mm) na relação volume x


tempo.

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Brasil
Figura 5: Precipitações mensais ao longo de cada mês.

Evidencia-se alguns períodos de estiagem na região, com médias pluviais abaixo da


média, nos meses 5 e 6 de estudo, meses correspondente à outubro e novembro de 2014,
observou-se valores muito baixos, o que pode-se averiguar que efetivamente prejudicou
o desenvolvimento das espécies florestais.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto de revegetação em área de preservação permanente envolveu o estudo


e acompanhamento local em diferentes etapas, desde a implantação das espécies
florestais. As espécies florestais pioneiras e não pioneiras tem suas importâncias
definidas desde antes da implantação do projeto na área de recuperação ambiental. O
predomínio de espécies não pioneiras apresentou proporção de 60,1% e pioneiras de
35,7%. Apresentam proporções de acordo com os padrões normativos da resolução
SMA- 32/2014. A resolução estabelece o limite mínimo de 40% no plantio de qualquer
um dos dois grupos ecológicos de espécies pioneiras e não pioneiras. Em relação as
espécie zoocóricas, constatou-se que o total de espécies deste grupo foi de 79,2%, valor
de acordo com o previsto e de acordo com a orientação técnica descrita na resolução,
que indica o mínimo de 40% de espécies de forma de dispersão zoocórica.

Os períodos críticos de chuvas contribuíram para a taxa de mortalidade das


espécies, e desenvolvimento irregular de algumas espécies, com médias mensais muito
abaixo da média histórica em outubro de 2014, e médias mensais muito acima da média
histórica em março de 2015.

Espécies vulneráveis à ameaça de extinção foram identificadas na área de estudo,


estas são fundamentais para o sucesso do projeto de recuperação, o estudo e o
monitoramento contribuiu para as espécies ameaçadas de extinção como Jerivá, Ipê-
Amarelo e Crindiúva restabelecerem e regenerarem naturalmente, após a floresta
apresentar estágio avançado de sucessão.

O desenvolvimento de altura da parte aérea e diâmetro do caule proporcionaram


resultados satisfatórios, e contribuíram para o melhor entendimento da formação
florestal da área de revegetação florestal deste estudo de caso.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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(SIGRB). Disponível na internet www.sigrb.com.br

PROPOSTA DE BANCO DE ÁREAS PARA RESTAURAÇÃO FLORESTAL DE


MATA CILIAR EM TRECHO DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE, ESTADO DE
SÃO PAULO

M; B; Silva¹; I; S; Arnone²; H; Portocarrero³

¹Graduado em Ciências Físicas e Biológicas pela Federação das Faculdades Celso


Lisboa (FEFACEL), Especialista em Avaliação Ambiental pela Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP), Mestrando em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos
pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(PROFÁGUA/IPH-UFRGS), Analista de Desenvolvimento Agrário da Fundação
Instituto de Terras do Estado de São Paulo "José Gomes da Silva" (Fundação ITESP) -
Avenida Marechal Castelo Branco, 150, Centro - Eldorado - CEP:11960000 - SP -
email: [email protected] - Tel: (13)38711875.
²Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Mestre em Zoologia pela Universidade de São Paulo (USP) e Gestor do Parque Estadual

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Caverna do Diabo (PECD) e Área de Proteção Ambiental dos Quilombos do Médio
Ribeira (APAQMR) - Fundação para a Conservação e a Produção Florestal (Fundação
Florestal) - Avenida Caraitá, 312, Centro -Eldorado - CEP: 11960000 - SP - email:
[email protected] - Tel: (13)38711242.
³Graduado em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Doutor em
Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio),
Professor adjunto do Instituto de Geografia da UERJ, atuando como colaborador no
Programa de Pós-graduação em Geografia - PPGEO-UERJ, como professor do quadro
permanente no mestrado profissionalizante em Gestão e Regulação de Recursos
Hídricos - PROFÁGUA, e como coordenador do Laboratório de Geotécnica Ambiental
LGA/UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Centro de Tecnologia
e Ciências, Instituto de Geografia, Maracanã - CEP: 20550900 - Rio de Janeiro, RJ -
email: [email protected] -Telefone: (21) 23340656.

RESUMO

Esse trabalho apresenta uma proposta de identificação preliminar de áreas para


restauração florestal às margens do Rio Ribeira de Iguape, municípios de Eldorado e
Iporanga, no Estado de São Paulo, com vista à formação de banco de áreas de 53
hectares para o plantio de mais de 88 mil espécies nativas com a genética local,
respeitando as condições encontradas na Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape
e Litoral Sul (UGRHI 11), assim como as questões de ordem sociais, principalmente
aquelas relacionadas com a tradicionalidade e geração de renda. As sugestões propostas
procuram reestruturar o ambiente de forma que haja um planejamento participativo
dos envolvidos, e que possa existir a percepção dos benefícios dessas ações. Busca-se
também atender à crescente demanda da sociedade e do poder público que solicitam a
recuperação de áreas degradadas em Áreas de Preservação Permanentes (APPs) que
tiveram suas vegetações suprimidas por consequência das pressões do
desenvolvimento econômico na região. Essa proposta foi elaborada com base em
pesquisas de campo e uso de Sistema de Informações Geográficas (SIG), além de
sintetizar informações disponíveis na literatura. Para esta restauração foi selecionado
um trecho do Rio Ribeira de Iguape localizado dentro da Área de Proteção Ambiental
dos Quilombos do Médio Ribeira (APAQMR), e que sobrepõe em sua maior parte
territórios de Comunidades Remanescentes de Quilombos (CRQ’s) reconhecidas pela
Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo "José Gomes da Silva" (Fundação
ITESP), por se tratar de áreas sobre as quais teríamos alguma gerência e/ou competência.

Palavras Chave: recuperação de áreas degradadas, restauração florestal, áreas de


preservação permanente, matas ciliares, sistema de informações geográficas

1. INTRODUÇÃO

O bioma Mata Atlântica que originalmente cobria cerca de 15% do território


nacional (1.296.446 km 2), ocorrendo por 17 estado brasileiros, hoje conta com
cerca de 7% de sua cobertura original de remanescentes bem conservados, ou ainda

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97.596 km2 (MMA/SBF, 2010). Destaca-se que esta floresta é responsável por
fornecer abrigo e alimentação para todas as espécies da fauna, assim como por prestar
um importante serviço ambiental de proteção de nascentes e rios que abastecem 67% da
população brasileira (MMA/SBF, 2010). Essa vegetação também pode ser encontrada
nas margens dos rios, o que chamamos de mata ciliar, ou em alguns casos de mata de
galeria.
De acordo com Lima (1989), dentre os múltiplos serviços da mata ciliar estão,
principalmente, as funções hidrológicas, como: estabilizar as margens dos rios evitando
processos erosivos; funcionar como filtro entre as áreas mais altas e os corpos hídricos,
controlando o ciclo de nutrientes no escoamento superficial e subterrâneo; impedir ou
mesmo dificultar o transporte de sedimentos e poluentes difusos para os corpos
hídricos; interagir com a superfície d’água, proporcionando cobertura e alimento para a
fauna aquática; e manter a temperatura dos pequenos cursos d’água. Podemos ainda
acrescentar que a mata ciliar tem importante função na manutenção da vazão
ambiental ou ecológica dos recursos hídricos.
As matas ciliares foram incluídas em 1965 como de Proteção Permanente a
partir da Lei n. 4.771, de 15 de setembro de 1965, o Código Florestal Brasileiro, e dessa
forma passaram a ser protegidas. Da mesma forma, outras áreas também importantes
para a conservação da água no solo, como os topos das montanhas e áreas de
declividades acima de 45º foram protegidas. Destaca-se que essa lei garantiu que
pudesse existir uma faixa continua de proteção entre o rio e as áreas utilizadas para as
atividades agropastoris e urbanas. A Lei 12.651, de 25 de maio de 2012, que substituiu
o Código Florestal de 1965, em seu artigo 2º, ainda define Área de Preservação
Permanente (APP), como sendo a “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa,
com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas”.
Assim, podemos inferir que a disponibilidade e qualidade da água, e a proteção
das matas do entorno dos rios, estão intimamente ligados, e torna-se indispensável a
proteção dessa faixa marginal. Entretanto, apesar dessa importância, verifica-se um
aumento da pressão sobre essa vegetação com a expansão das atividades agropastoris
decorrentes do desenvolvimento econômico, sem haver o correto atendimento das
legislações ambientais, e acarretando em uma degradação acelerada das matas ciliares.
Surge daí a necessidade de fazer sua recomposição.

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Brasil
Segundo Carpanezzi (1998), um ecossistema perturbado é aquele que sofreu
distúrbio, mas ainda dispõe de meios de regeneração, em diferentes graus, mas
suficientes para recuperar-se em um período de tempo considerado aceitável. Por outro
lado, Carpanezzi et al. (1990), consideram que um ecossistema degradado seria aquele
que, após algum distúrbio, teve eliminados os seus meios de regeneração natural,
levando a uma baixa resiliência e, consequentemente, à necessidade de intervenção
antrópica para sua recuperação. Ainda de acordo com Carpanezzi (1998), há vários
objetivos opcionais que orientam a recuperação de um ecossistema perturbado:
“restauração à sua condição original de função e de estrutura; reabilitação, pela
restauração de apenas algumas características desejáveis que foram alteradas; criação de
um ecossistema novo, totalmente distinto do original; e abandono, o que pode levar a
um processo normal de sucessão ou, se o ecossistema está sujeito à erosão ou a outro
agente debilitante, a uma degradação futura”, sendo a reabilitação o nível de
recuperação mas utilizado na prática.
A edição do “novo Código Florestal”, Lei 12.651, de 25 de maio de 2012, em
seu artigo 4º, mantém as determinações anteriores quanto às faixas de mata ciliar para
cursos d’água naturais perenes e intermitentes, excluídos os efêmeros, mas traz algumas
novidades. A faixa marginal de APP passa a ser calculada a partir da borda da calha do
leito regular, e em especial as áreas de recomposição obrigatória, descritas em seu artigo
61-A, onde é levado em consideração a existência de áreas rurais consolidadas,
indiferente à largura do rio. A partir das áreas dos imóveis rurais, em módulos fiscais,
são computadas essas áreas. As áreas rurais de uso consolidado são definidas pelo “
novo Código Florestal” em seu artigo 3º, como sendo a “área de imóvel rural com
ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou
atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de
pousio”. Abaixo apresenta-se um resumo dessas dimensões de faixas de mata ciliar
(tabela 1).
Tabela 1. Larguras mínimas de APPs para cursos d’águas perenes e intermitentes,
segundo o “novo Código Florestal”, e a condição na ocorrência de áreas rurais
consolidadas.

Cenário Faixa marginais


Recomposição obrigatória em imóveis
(largura do rio) mínimas
rurais

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≤ 1 1 > x ≤ 2 > x ≤ 4 >4
módulo 2 módulos módulos
módulo
s
Rios < 10 m 30 m de cada
lado
Rios 10 ≥ x ≤50 m 50 m de cada
lado
20 à 100 m
Rios 50 ≥ x ≤ 200 100 m de cada
5m 8m 15 m determinad
m lado
o no PRA
Rios 200 ≥ x ≤ 600 200 m de cada
m lado
Rios > 600 m 500 m de cada
lado

Esta legislação tem sofrido críticas constantes por relacionar as APPs a


intervalos da largura dos rios, assim como por levar em conta somente este parâmetro,
já que outros fatores como declividades, características dos solos, regimes de chuvas e
densidades das matas influenciariam na determinação da faixa marginal de proteção.
Também, o advento das áreas de uso consolidado e em decorrência a configuração de
faixas marginais menores a serem recuperadas (áreas de recomposição obrigatória) tem
sido alvo de críticas severas por parte da bancada ambiental, sendo um dos
entendimentos ser o perdão dos passivos ambientais gerados no passado, e neste
sentido, motivando ações direta de inconstitucionalidade (ADIN’s).
Mas por que se priorizar a recuperação da mata ciliar em um ambiente de alta
disponibilidade hídrica? Considerando que os recursos hídricos estão sujeitos à
dinâmica do ambiente natural e que a quantidade demandada frequentemente excede a
sua disponibilidade, muitas vezes leva a um uso sem sustentabilidade ou escassez.
É neste contexto que a recuperação destas matas degradadas está entre as
maiores preocupações da sociedade e do poder público, justamente devido às ameaças
aos recursos hídricos. Embora existam projetos de recuperação em vários locais,
observam-se dificuldades na sua implantação, principalmente devido à ocorrência de

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conflitos decorrentes do binômio conservação x produção. A disponibilização de
informações técnicas que permita um planejamento participativo parece ser uma
alternativa interessante. Nesse sentido, segundo Almeida (1993), “(...) o mais ‘perfeito’
plano em nada resolverá as questões ambientais, se o espaço não for entendido como
uma instância social e não como um mero apoio das atividades humanas.
Explicitamente, a Lei Federal nº 9.433/1997 que estabelece a Política Nacional
dos Recursos Hídricos, traz entre seus fundamentos a gestão integrada e participativa:
“a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do
Poder Público, dos usuários e das comunidades” (grifo nosso). Entretanto, em se
tratando de um ambiente participativo, será essencial o gerenciamento de conflitos para
que não se configure um jogo de soma zero (Fiani, 2006), onde o ganho de um jogador
representa necessariamente a perda para o outro jogador, ou sobretudo leve a uma
decisão que implique na perda para ambas as partes, caracterizando a tragédia dos
comuns (Hardin, 1968). Pode ser, porque não, uma soma constante, onde ocorra a soma
dos benefícios recebidos por todos os entes envolvidos.
3 Nesse contexto, o trabalho busca gerar uma contribuição prática
fornecendo um plano de identificação de áreas passíveis de revegetação em Áreas de
Preservação Permanente (APPs). O objetivo deste trabalho, portanto, foi elaborar uma
proposta de formação de bancos áreas para a restauração da mata ciliar de um trecho
do Rio Ribeira de Iguape, no Vale do Ribeira, municípios de Eldorado e Iporanga, no
Estado de São Paulo, atendendo não só as expectativas da legislação ambiental,
principalmente no que se refere ao Projeto de Recomposição de Áreas Degradadas e
Alteradas (PRADA), instrumento do Programa de Regularização Ambiental (PRA),
instituído pela Lei nº 15.684, de 14 de janeiro de 2015, e regulamentado no Estado de
São Paulo pelo Decreto 61.792 de 11 de janeiro de 2016, mas também às necessidades
locais das comunidades tradicionais que ocupam essas áreas. Dessa forma, acredita-se
que o presente artigo contribui com informações adequadas sobre as áreas indicadas
para os interessados na elaboração de projetos de restauração florestal, e que
busquem reflorestamento com espécies nativas locais, principalmente os próprios
possuidores das áreas apontadas, em especial às CRQ’S.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Para este artigo foram utilizados dados de pesquisa e de campo, tendo sido
também congregadas informações disponíveis na literatura. O trabalho foi
desenvolvido em 2016, usando como fórum de discussão o Conselho Consultivo da

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APAQMR, municípios de Eldorado e Iporanga, no Vale do Ribeira, Estado de São
Paulo. Para a análise dos dados foi utilizado o programa QGIS e banco de dados do
Sistema de Cadastro Ambiental do Estado de São Paulo (SiCAR), sendo realizados todos
os processamentos necessários, como demonstrados a seguir:
2.1. Foi considerado como os limites da área de estudo o perímetro da
APAQMR, que abrangem as CRQ’s do Bairro Sapatu, André Lopes, Nhunguara e
Ivaporunduva, e outros imóveis menores, em trechos fora das CRQ’s, mas dentro do
território abrangido pela APAQMR. Especificamente estas áreas ficam às margens do
Rio Ribeira de Iguape, limitadas na margem direita pela rodovia SP 165 (Eldorado a
Iporanga), iniciando na CRQ Sapatu e terminando na CRQ Ivaporunduva.
2.2. Foram utilizadas imagens do tipo ortofotos produzidas em 2011 pela
Empresa de Paulista de Planejamento (EMPLASA), para a observação do espaço
antropizado.
2.3. A partir de informações que foram produzidas para alimentar o Sistema do
Cadastro Ambiental Rural do Estado de São Paulo (SiCAR/SP), foi possível utilizar o
polígono do Rio Ribeira de Iguape já delimitado, e construir um buffer com 15 metros
para as áreas coletivas situadas dentro das CRQ’s. Tendo em vista a Instrução Normativa
nº2/MMA de 06 de maio de 2014, a CQR se equipararam às propriedades com 4
módulos fiscais, e assim usufruiriam desta margem de 15 metros como recuperação
obrigatória. Na sobreposição de áreas declaradas por “particulares” no CAR com as áreas
reconhecidas para as CRQ’s, estas áreas foram a princípio desconsideradas, atribuindo-se
a faixa de recuperação obrigatória de 15 metros para às áreas coletivas. Para os demais
imóveis foram observadas suas áreas conforme declarado no Cadastro Ambiental Rural
(CAR), atribuindo-se a faixas marginais de 5 e 8 metros, tendo em vista que as mesmas
apresentavam áreas que não ultrapassavam a dois módulos fiscais. O módulo fiscal na
região representa 16 hectares. Em se tratando de áreas de recuperação obrigatória, a
largura média do rio não foi considerada. Outras áreas não declaradas no CAR deverão
ser alvos de levantamentos locais futuros para determinação da margem a ser restaurada.
2.4. Procurou-se investigar a existência de áreas que apresentassem alguma
restrição à restauração florestal, motivada por lei ou licenciamento, e que se
sobrepusessem ás áreas identificadas como de recuperação obrigatória. Assim,
identificamos áreas de domínio do Departamento de Estradas de Rodagens (DER) e as
áreas de servidão administrativa da concessionária de energia elétrica (ELEKTRO). A
partir dos polígonos das estradas, também produzidos para alimentar o SiCAR/SP, foi

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feito o buffer de 25 metros de área de domínio para as estradas estaduais, sob
responsabilidade do DER, como é de conhecimento público, embora não se tenha
conseguido levantar ainda a legislação de referência. Para as estradas municipais, trechos
sob responsabilidades das prefeituras de Eldorado e Iporanga, foi verificado a existência
de apenas cinco metros de faixa de domínio, o que se refere ao leito da estrada
propriamente dito, e também ainda não foi possível levantar legislação em que conste
área superior a este valor. Este shapes de áreas de domínio do DER foram sobrepostos
aos shapes de áreas de recuperação obrigatórias. Com relação aos planos de informações
da ELEKTRO, embora tivéssemos solicitado a informação, por se tratar de dados que
guardam certa confidencialidade, até o momento não obtivemos a resposta sobre os
dados solicitados.
A escala escolhida foi a 1:1000 por se tratar de escala que permitia enquadrar
todas as áreas em folha A0, e ainda assim permitir boa visualização das áreas
trabalhadas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o processamento dos dados no programa de Sistema de Informação


Geográfica foram confeccionados mapas da área com interesse para a restauração
florestal, sendo apresentado a localização da área, as faixas de recuperação obrigatória
conforme o tamanho dos módulos fiscais e áreas com sobreposição com as faixas de
domínio do DER (figuras 1 a 4). Destaca-se que o banco de área apresentado representa
cerca de 53 hectares de mata riparia a ser restaurada. Em uma primeira análise,
considerando os métodos tradicionais de plantio com espaçamento 3 x 2 metros por
hectares, ou seja, 1667 mudas/ha, a área teria capacidade de receber mais de 88 mil
mudas.
A partir da observação das imagens foi possível constatar que as APPs do
trecho selecionado como objeto de interesse para recuperação estava quase que em sua
totalidade antropizado, principalmente em sua margem direita. Mesmo na margem
esquerda foi verificado antropizações na faixa marginal de recuperação obrigatória,
embora a situação piore quanto mais se aproxima da CRQ Ivaporunduva. As atividades
mais comuns são a pecuária e agricultura perene, esta última em grande parte
representada pela bananicultura e o cultivo de pupunha. Na CRQ André Lopes verifica-
se uma maior concentração de moradias lindeiras às áreas de recuperação obrigatória.

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Cabe lembrar que, considerar apenas as áreas de recuperação obrigatória neste
trabalho, e não a totalidade da faixa marginal de APP, fundamenta-se no fato de existir a
sinalização de adesão ao PRA, sem a qual torna ineficaz a caracterização das áreas
rurais consolidadas, e por consequência o benefício das áreas de recuperação
obrigatória.
Pela sobreposição das áreas de domínio do DER aos shapes de áreas de
recuperação obrigatória, puderam ser constatadas algumas interseções entre estes planos
de informações. Estas áreas devem ser motivo de discussão junto com o DER, pois
parece haver uma restrição para a permanência de vegetação nestas áreas em
decorrência das atividades da rodovia ou mesmo por necessidade futura de ampliação.
Outrossim, a ausência desta vegetação pode implicar em riscos de danos para própria
rodovia em decorrência de processos erosivos já identificados.
Se faz necessário visitas a campo, priorizando os imóveis maiores em área,
como as CRQ’s, para exposição de benefícios direto da restauração florestal e como
estratégia para o PRA a se configurar. As visitas também serão necessárias para
levantamento das áreas não declaradas no CAR e que estão dentro do trecho
selecionado, não sendo ainda possível identificá-las por outros dados fundiários. Este
trabalho poderá ser feito pela Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) local, ou
seja, o ITESP e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), nas
competências que lhe couber, assim como em parceria com a Fundação Florestal, órgão
que detém a gestão da APAQMR, e acompanhamento do Conselho Consultivo da
APAQMR.
A partir da assinatura de “termo de anuência” dos possuidores das áreas, os
dados poderão ser disponibilizados como banco de áreas no Sistema Integrado de
Gestão Ambiental (SIGAM) da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado de
São Paulo (SMA), diretamente junto a agência local da Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo (CETESB), ou ainda gerar projetos de iniciativa dos próprios
possuidores das áreas.

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Figura 1. Distribuição geográfica das áreas de estudo.

Figura 2. Carta Imagem com destaque para ao trecho do Rio Ribeira de Iguape na área de
estudo.

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Figura 3. Áreas de recuperação obrigatória conforme os módulos fiscais da Comunidades
Remanescentes de Quilombos e dos imóveis declarados no Cadastro Ambiental Rural.

Figura 4. Sobreposição recuperação obrigatória e áreas de domínio DER.

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4. CONCLUSÕES

Mediante o desenvolvimento deste trabalho, além da simples indicação de áreas


para restauração florestal, é possível: mostrar diferentes conceitos e alternativas dentro
das tendências mais recentes; apresentar a formação de bancos de áreas como
alternativa econômica e eficiente; dar uma visão das questões operacionais envolvidas
no levantamento de áreas para restauração florestal, transformando-se em um guia para
a execução; fazer com que recursos aplicados na restauração florestal possam ter
resultado ambiental significativo e que funcione como modelo.

A criação de banco de áreas para restauração florestal deve ser incentivada pelo
poder público junto a sociedade, sejam nas comunidades possuidoras de grandes
extensões territoriais, sejam entre os pequenos proprietários de imóveis de rurais.
Iniciativas como esta visam também aumentar o espectro de possibilidades de
empreendedores que necessitam realizar suas compensações ambientais em função de
suas atividades poluidoras/degradadoras, permitindo assim que estas compensações
sejam realizadas em áreas próximas, dentro da mesma bacia hidrográfica e
preferencialmente na mesma microbacia.
Embora a região possua alta capacidade de regeneração natural, ao observar o
alto grau de degradação em que estas áreas do estudo se encontram, apesar dos níveis de
restrição para sua utilização, os autores deste artigo consideram que o método
apresentado pode ser ideal devido ao custo de oportunidade ao se criar um banco de
áreas para que haja uma recuperação das margens dos rios, por meio da restauração da
vegetação riparia, dada a importância hidrológica dessa mata.

Os autores consideram também a importância do planejamento participativo


neste processo, pois embora a questão seja de interesse difuso, existem entes afetados
diretamente quando da restauração florestal, pois envolve áreas que muitas das vezes
são produtivas, e dessa forma podem afetar em diferentes graus a geração de renda das
famílias que ali se encontram explorando essas áreas. Essas questões precisam ser muito
bem compreendidas para que se concretize um processo educativo de fato. Assim,
torna-se primordial para atingirmos os objetivos de recuperação das áreas degradadas,
sobretudo das Áreas de Preservação Permanentes, demonstrar os benefícios com a
relação adesão ao Programa de Regularização Ambiental. Considera-se ainda que, tão
importante quanto o planejamento participativo, é articulação entre os órgãos de ATER,

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de gestão da APAQMR e de pesquisa. Assim, destaca-se a importância da realização e
organização de parcerias entre as instituições públicas como prefeituras, Fundação
ITESP, Fundação Florestal, DER, CETESB, sociedade civil organizada e as
universidades, afim de melhorar o meio ambiente onde vivemos.
A utilização de ferramentas modernas na gestão de áreas, como programas de
Sistemas de Informações Geográficas, permite com maior exatidão o planejamento e
controle de futuras ações de restauração em áreas determinadas.

Conclui-se também que a restauração da mata ciliar deva ser feita a partir de
mudas florestais nativas adquiridas na própria região, dessa forma mantendo a genética
local e proporcionando geração de renda aos produtores da região. Constatou-se a
existência de viveiros locais com capacidade de fornecer mudas em quantidade e
qualidade desejáveis, entre eles viveiros comunitários da agricultura familiar, inclusive
com o Registro Nacional de Sementes, Matrizes e Mudas (RENASEM).

Alguns pontos ficaram em aberto, pois ainda dependem de maiores


levantamentos de dados, como as legislações municipais, entendimentos com o DER, e
aquisição de outros planos de informações que ainda não foram considerados, como as
áreas de servidão administrativas da concessionária de energia elétrica, no caso a
ELEKTRO, sem esquecer que é o gerenciamento no dia-a-dia que irá definir questões
não consideradas, levando em conta a influência das variáveis discutidas aqui.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Brasil
SÃO PAULO. Lei nº 15.684, de 14 de janeiro de 2015. Dispõe sobre o Programa de
Regularização Ambiental - PRA das propriedades e imóveis rurais, criado pela Lei
Federal nº 12.651, de 2012 e sobre a aplicação da Lei Complementar Federal nº
140, de 2011, no âmbito do Estado de São Paulo.

CONTROLE DE EROSÃO EM TALUDE DE CORTE SUBMETIDO A


DIFERENTES TÉCNICAS DE BIOENGENHARIA DE SOLOS

H; Portocarrero¹; T M P; Campos²; A G; Andrade³

¹Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Centro de Tecnologia e Ciências,


Instituto de Geografia, Maracanã - CEP: 20550900 - Rio de Janeiro, RJ - email:
[email protected] -Telefone: (21) 23340656.
²Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-Rio. R. Marquês de São
Vicente, 225 – Gávea CEP: 22430-060 - Rio de Janeiro, RJ - email: [email protected] -
Telefone: (21) 3527-1001
³Embrapa Solos. R. Jardim Botânico, 1024 - Jardim Botânico, CEP: 22460-000 - Rio de
Janeiro, RJ – [email protected] - Telefone: (21) 2179-4500

RESUMO

A evolução das técnicas de bioengenharia de solos envolvem a utilização combinada de


vegetação e elementos inertes visando à recuperação de áreas degradadas, a
estabilização e o controle de processos erosivos em taludes. Neste trabalho foi realizada
uma análise comparativa entre os resultados de medições da erosão através da instalação
de quatro parcelas de 11 m por 4 m (44 m²) em um talude de corte submetido a
diferentes técnicas de bioengenharia. Foram estimadas taxas e funções de recobrimento
vegetal através de interpretação de imagens frontais no talude utilizando-se o software
SIARCS®. O experimento foi conduzido dentro da área patrimonial do Aeroporto
Internacional do Rio de Janeiro Tom Jobim, em um talude de corte entre 2007 e 2009.
Na Parcela I foram plantadas leguminosas arbustivas e arbóreas de rápido crescimento
inoculadas com bactérias Rizóbio e fungos micorrízicos, além do Capim Vetiver em
dois cordões. A Parcela II foi deixada como controle. Na Parcela III foi efetuado um
plantio através de hidrossemeadura. Na Parcela IV foi aplicada biomanta Anti-erosiva.
O controle de erosão foi maior na Parcela IV (60.11%), seguido da Parcela I (53.63%) e
da Parcela III (32.94%). As reduções no escoamento foram de 73.6% na Parcela IV;
31.7% na Parcela I e 7.8% na Parcela III. Na Parcela III, onde foi aplicada
hidrossemeadura, foi constatado desempenho similar ao observado em muitos taludes
encontrados no Estado do Rio de Janeiro, o que ocorreu porque a má fixação da massa
de insumos e sementes jateada provocou seu escorrimento e concentração no terço
inferior, fazendo com que o desenvolvimento da vegetação se limitasse a este terço. A
taxa de recobrimento se mostrou uma boa ferramenta de interpretação neste tipo de
avaliações, uma vez que possibilitou através das funções de recobrimento a
determinação de valores diferenciados por dia.

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Palavras Chave: bioengenharia, talude, erosão, recobrimento

1 INTRODUÇÃO
As técnicas de bioengenharia de solos para estabilização de taludes consistem na
utilização de raízes e troncos como elementos para contenção e proteção do solo. Tais
técnicas envolvem a utilização combinada de vegetação e elementos inertes (como
concreto, pedra, madeira e geotêxteis), visando à estabilização e o controle de processos
erosivos, o que pode ser aplicado a taludes e encostas, margens de rios, sistemas de
trilhas, aterros sanitários e áreas mineradas dentre outros.
A evolução da bioengenharia de solos no Brasil deve ser compreendida dentro do
conjunto de perspectivas e técnicas da engenharia geotécnica, agronômica, florestal e
ambiental, utilizadas para a recuperação de áreas degradadas e para a solução de
problemas em taludes ao longo das últimas décadas. Existe grande quantidade de
referências relevantes especificamente sobre bioengenharia de solos no Brasil; empresas
com portfolio nacional e internacional, livros e publicações técnicas (Durlo & Sutili,
2005; Araújo et al, 2007; Griffith, 1986, Griffith et al. 1994), publicações em anais de
congressos e em revistas científicas (Coelho & Galvão, 1998, 2001; Souza &
Kobiyama, 2003; Holanda et al, 2008; Fernandes et al, 2009; Rosa & Durlo, 2009),
dissertações e teses (Souza, 1997, Coelho, 1999; Fortes, 2000; Magalhães, 2005;
Gomes, 2005; Sutili, 2007) estão entre a grande diversidade de material técnico
disponível sobre o assunto.
As principais tecnologias de bioengenharia de solos atualmente empregadas no Brasil
não seguem uma padronização técnica quanto ao estabelecimento de vegetação em
taludes de corte e controle de erosão em estradas. Atualmente destacam-se as seguintes
metodologias para a proteção do solo e estabelecimento de vegetação em taludes de
corte de estrada: grama em placas; plantio de mudas em covas/semeadura a lanço;
cobertura morta/ transposição de serrapilheira; hidrossemeadura; sacos de aniagem;
geossintéticos/ biomantas.
Neste trabalho foi realizada uma análise comparativa entre os resultados obtidos em
medições de campo da erosão dos solos, mediante a instalação de quatro parcelas de
controle de erosão, em função das taxas de recobrimento vegetal em um talude de corte
submetido a três diferentes técnicas de bioengenharia de solos.

2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Localização e Clima Regional
O experimento foi conduzido dentro da área patrimonial do Aeroporto Internacional do
Rio de Janeiro Tom Jobim, localizado na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, RJ, em
um talude de corte com 60 m de largura e 15 m de comprimento de rampa e inclinação
66%. O local específico situa-se nas coordenadas 22°47’53”S, 43°13’16”O ao lado
direito da pista de pouso e decolagem.
O clima regional é o Aw (Köppen), com uma estação seca definida, em geral de junho
até o final de novembro. A área encontra-se inserida no contexto da Baía de Guanabara,
na região da baixada, que se encontra quase sob domínio permanente da Massa Tropical
Atlântica, particularmente exposta à influência do mar. Com temperaturas superiores a
22°C e umidade relativa do ar superior a 78% na maior parte do ano, a área apresenta
um pluviosidade média anual de 1200 mm, concentradas nos meses de verão e com
precipitações podendo chegar a 200 mm/24hs.

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2.2 Substrato Geológico e Cobertura Pedológica
O substrato geológico local se insere na Formação Macacú, correspondente aos
depósitos sedimentares Terciários do Grupo Barreiras na região da Baía de Guanabara.
A Formação Macacú é constituída de sequências deposicionais de camadas de poucos
metros de espessura entrecruzadas de arenitos e argilitos com baixo grau de diagênese,
sendo conhecida por apresentar sempre casos extremos de voçorocamentos,
ravinamentos e degradação por processos erosivos, o que vem acarretando no
entupimento das drenagens e obras de arte em taludes e no comprometimento da
segurança de rodovias, ferrovias e aeroportos. Sua ocorrência na região é bastante
significativa, jazendo em geral originalmente subjacente a capeamentos mais recentes e
que dão origem a coberturas pedológicas. Sua abrangência inclui os municípios de
Itaboraí, Cachoeiras de Macacu, Duque de Caxias, São Gonçalo e Rio de Janeiro.
A cobertura pedológica original do local, formada a partir de capeamentos sobrejacentes
aos depósitos terciários, é composta de Latossolo Amarelo Distrófico argissólico, tendo
sido o solum completamente removido durante sua exploração como área de
empréstimo para a construção do aeroporto. As camadas de arenitos e argilitos, expostas
na face do talude estudado, constituem horizontes saprolíticos que quando expostos
normalmente se mostram altamente erodíveis.

Divisão do Talude, Instalação das Parcelas e Tratamentos Testados


No talude de corte selecionado foram instaladas quatro parcelas experimentais, de 11 m
por 4 m (44 m²), delimitadas com folhas de Zn no18, providas de sistemas de coleta com
dois tanques de 1000L conectados por tubulação PVC e quarteador para redução do
volume coletado na segunda caixa (fracionamento de 1/5). Foram estabelecidos três
diferentes tipos de técnicas de técnicas de bioengenharia de solos nas parcelas, tendo
sido deixada uma descoberta, como controle (Figura 1).

Figura 1 – Vista frontal das parcelas de controle de erosão com três diferentes técnicas
de bioengenharia de solos implantadas e uma parcela deixada descoberta.

Na Parcela I foram plantadas leguminosas arbustivas e arbóreas de rápido crescimento


(Mimosa caesalpiniaefolia, Acacia holocericea, Acacia auriculiformis, Albizia
guachapelle e Cratylia argentea), inoculadas com bactérias fixadoras de nitrogênio
(Rizóbio) e fungos micorrízicos arbusculares (espaçamento 1.5m por 2.0 m), sendo
plantado Capim Vetiver em dois cordões dividindo o talude em 3 sessões de
aproximadamente 5 m na parcela. A adubação consistiu de uma mistura de 150 mg de
Superfosfato Simples, 100 mg de KCl, 20 mg de FTE (BR12), utilizando-se como meio
uma mistura de solo/composto orgânico (proveniente de processo de compostagem da
apara de grama produzida no próprio aeroporto ) na proporção 2:1. Para a adubação do
Vetiver (dose de uma cova equivalente a um metro linear) foi adicionado 80 mg de
sulfato de amônio. O plantio das leguminosas foi realizado através de mudas com 0.2 a
0.3 m de altura. O capim Vetiver foi plantado através de propágulos extraídos de
touceiras sadias provenientes de uma área previamente recuperada, e após o plantio toda

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a parcela foi recoberta com aparas de grama visando reter a umidade no solo e fornecer
condições para o pegamento da vegetação. As covas foram abertas (0.2 x 0.2 x 0.2 m) e
o plantio foi todo efetuado em dezembro de 2007. Em março foi realizado o replantio
para as mudas que não sobreviveram. A configuração das plantas no talude encontra-se
a seguir na XX.
Na Parcela III foi efetuado um plantio através de hidrossemeadura convencional,
utilizando-se de uma mistura de 4000L de água, 1 saco de Fosfato 10 kg), saco de
mulch (20 kg), 1 saco de NPK 4-14-8 (20 kg), 3 sacos de composto orgânico (esterco
bovino, 20 kg), 1 saco de sementes (20 kg) com sementes de feijão-guandu (Cajanus
cajan (L.) Millsp.), nabo forrageiro (Raphanus sativus), capim agulha (Braquiaria
humidicola), crotalária (Crotalaria juncea L.), calopogônio (Calopogonium mucunoides
Desv)., aveia preta (Avena strigosa Schreb.) e Setaria (Setaria sphacelata Schumach.)
(em torno de 2.5 kg de sementes para cada espécie). Esta mistura foi utilizada para a
aplicação na parcela e também em uma faixa de 30 m do talude acima, que possui
geometria semelhante (totalizando uma área de 500 m² para aplicação dos insumos nas
proporções adequadas). O talude foi primeiramente coveado, e, posteriormente, a
mistura foi bombeada e jateada através de um caminhão pipa adaptado. O plantio foi
executado no dia 8 de março de 2008 pela Empresa Fixa-Verde LTDA.
Na Parcela IV foi executado um plantio com aplicação da biomanta Anti-erosiva doada
pela Empresa Deflor Bioengenharia. O talude foi coveado, sendo adubado com Fosfato
Natural (2 kg), NPK 4-14-8 (2 kg), e esterco de curral. A seguir foram plantadas a lanço
sementes (4 kg) de braquiária (humidicola), feijão-guandu, nabo forrageiro, capim
gordura (Melinis minutiflora P. Beauv., detalhes desta espécie no quadro Erro! Fonte
de referência não encontrada.), crotalária (0.5 kg de sementes de cada espécie). O
plantio e a aplicação da biomanta foram ambos executados no dia 17 de janeiro. Na
etapa de preparo do solo para o semeio foi executado o microcoveamento. Os insumos
foram aplicados manualmente. No Talude foi necessária a implantação de cinco faixas
(o tratamento totalizou uma largura maior, abarcando a área de amortecimento à direita
e totalizando uma largura de 15 metros para a parcela. A biomanta foi estendida de cima
para baixo desenrolando-a após a sua fixação no topo do talude. Foi mantida uma
transposição entre as mantas formando transpasses laterais de pelo menos 5 cm.

2.3 Monitoramento das Parcelas e da Precipitação Pluvial


Nas parcelas de controle de erosão instaladas foi aplicada a metodologia padrão para
medição do volume de enxurradas em intervalos de 24 horas. A precipitação referente
ao total dos eventos pluviométricos acumulado nas caixas nestes eventos foi aferida
através do pluviômetro Ville de Paris (mm/24h) e de uma estação micrometeorológica
(Campbell SCI) instalada no topo do talude em um abrigo meteorológico. Os dados
desta última foram adquiridos em intervalos de 15 minutos, sendo aferido o volume de
precipitação pluvial resolução de saída de 0.254mm, precisão 4% e faixa de medição de
0 a 500 mm.
Com o objetivo de auxiliar na interpretação dos resultados do monitoramento da erosão
e do escoamento superficial no decorrer do período de monitoramento, as chuvas foram
delimitadas em classes (0-10mm, 10<x<20mm, 20,x,40mm, 40<x<60mm, 60<x<80mm
e >80mm). As diferentes classes existentes nesta sistematização foram baseadas em
classes previamente estipuladas durantes avaliações hidrológicas anteriores realizadas
no aeroporto, isto é, dentro das mesmas condições climáticas (Portocarrero, 2004).

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2.4 Avaliação da Cobertura Vegetal
A avaliação foi realizada mediante a geração de estimativas de taxas de recobrimento
para os diferentes tratamentos no decorrer do período de monitoramento através do
processamento e análise de imagens utilizando-se o Sistema Integrado para Análise de
Raízes e Cobertura do Solo - SIARCS®. O sistema, desenvolvido pela EMBRAPA-
CNPDIA (Jorge & Crestana, 1996), constitui uma excelente ferramenta para avaliar as
taxas de recobrimento no talude, pois o lado oposto da seção de aterro permite um
excelente ângulo frontal, conforme na figura anterior:
Foram selecionados 17 dias no decorrer do período de monitoramento para as
avaliações. Foram capturadas imagens frontais do talude, sendo a câmera posicionada
no lado oposto da seção de aterro. Foi elaborada uma grade para dimensionamento e
seleção de pontos de amostragem nas diferentes imagens, representando 4m² cada
célula. A amostragem envolveu a seleção de quatro regiões da grade para cada terço de
avaliação (superior - S, médio – M, e inferior - I), ou para cada tratamento 48m².
8-03-08 T1

Figura 16. Processo de aquisição de imagens e binarização para a interpretação no


SIARCS.
Com base nos dados das taxas de recobrimento em função do número de dias após o
transplantio (DAT – para o caso da Parcela I) ou a emergência (DAE – para as Parcelas
III e IV) foram geradas funções de recobrimento que foram posteriormente utilizadas
para a discussão obre o controle da erosão nas parcelas.

3 RESULTADOS
3.1 Avaliação da Cobertura Vegetal
A Tabela 1 a seguir sintetiza os dados de taxas de recobrimento em porcentagem em
função dos dias onde ocorreu medição, terço do talude a parcela avaliados. A Figura 2
mostra as funções de recobrimento obtidas com base nos valores das taxas de
recobrimento para as diferentes parcelas avaliadas durante o período de monitoramento
em função dos números de dias após transplantio (DAT) ou emergência (DAE).

Tabela 1. Taxas de recobrimento obtidas através do processamento de imagens com o


SIARCS.
Parcela I Parcela III Parcela IV
Data I M S Médio I M S Médio I M S Médio
% % % % % % % % % % % %
19/2/08 45.94 51.72 27.47 41.71 xxx xxx xxx xxx 18.15 18.54 35.15 23.95
29/2/08 25.86 53.75 36.67 38.76 xxx xxx xxx xxx 21.18 36.81 38.84 32.28
8/3/08 37.94 64.42 45.18 49.18 xxx xxx xxx xxx 42.61 38.85 61.94 47.80

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20/3/08 55.72 50.58 39.66 48.65 xxx xxx xxx xxx 75.57 71.65 83.16 76.79
8/4/08 xxx xxx xxx xxx 19.94 11.56 3.71 11.74 100.00 100.00 100.00 100.00
10/4/08 30.17 70.07 52.33 50.86 29.29 19.52 6.94 18.58 100.00 100.00 100.00 100.00
8/5/08 57.17 68.58 46.25 57.33 28.70 36.12 7.57 24.13 100.00 100.00 100.00 100.00
28/5/08 79.68 72.05 72.05 74.59 39.08 19.73 2.41 20.41 100.00 100.00 100.00 100.00
24/6/08 76.36 82.09 62.97 73.81 56.63 32.75 10.17 33.18 100.00 100.00 100.00 100.00
21/7/08 61.32 82.91 63.43 69.22 35.68 20.12 6.55 20.78 100.00 100.00 100.00 100.00
8/8/08 86.29 49.79 67.90 67.99 16.91 16.91 16.91 16.91 100.00 100.00 100.00 100.00
26/8/08 45.85 59.76 36.98 xxx 18.26 18.26 15.87 17.46 100.00 100.00 100.00 100.00
27/11/08 92.83 91.34 68.63 84.27 46.74 43.70 13.49 34.64 100.00 100.00 100.00 100.00
29/12/08 86.51 89.28 73.82 83.20 45.13 38.98 30.73 38.28 100.00 100.00 100.00 100.00
24/1/09 100.00 81.66 74.14 85.27 55.94 62.54 30.04 49.51 100.00 100.00 100.00 100.00
17/2/09 96.91 95.91 91.06 94.63 48.19 57.49 33.97 46.55 100.00 100.00 100.00 100.00
29/5/09 94.30 94.30 92.67 93.76 87.68 31.33 26.46 48.49 100.00 100.00 100.00 100.00

100 60

90
Taxa de Recobrimento (%)
Taxa de Recobrimento (%)

50
80
40
70

60 30

50
20
40

30
y = 26.272Ln(x) - 69.966 10 y = -1E-06x3 + 0.0008x2 - 0.0745x + 20.245
2
R = 0.9412 R2 = 0.7941
20 0
0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500
0

100

200

300

400

500

600

DAT(Dias) DAE (Dias)


(I) (III)
120
y = -0.0015x3 + 0.2499x2 - 11.524x + 185.66
Taxa de Recobrimento (%)

100 R2 = 1

80

60

40

20

0
0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

DAE (Dias)
(IV)
Figura 2. Funções de recobrimento obtidas com base nos valores das taxas de
recobrimento para as diferentes parcelas avaliadas (I, III e IV) em função dos números
de dias após transplantio (DAT) ou emergência (DAE).
As funções de recobrimento foram utilizadas na discussão obre o controle da erosão nas
parcelas uma vez que os dias nos quais ocorreram eventos de erosão não foram todos
monitorados com fotografias para medição da taxa de recobrimento, isto é, nestes casos
as taxas de recobrimento foram inferidas com base nestas funções de recobrimento.

3.2 Monitoramento da Erosão


A série histórica referente ao monitoramento da erosão nas caixas coletoras teve seu
início em 4-11-07 se estendendo até 29-07-09. Foram monitorados 69 eventos
pluviométricos, totalizando 1340.15 mm. O total erodido no período de monitoramento
completo foi de 377.22 ton/ha na Parcela II; 174.9 ton/ha na Parcela I; 252.95 ton/ha na
Parcela III; e 150.45 ton/ha na Parcela IV. Deste modo, o controle de erosão foi maior
na Parcela IV (60.11%), seguido da Parcela I (53.63%) e na Parcela III (32.94%).

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Brasil
Precipitação (mm/24h)
Precipitação (mm/24h)

20
40
60
80
100
120

20
40
60
80
100
120
20
40
60
80
100
120

0
0

20
40
60
80
100
120

0
120
100
80
60
40
20
0

20
40
60
80
100
120

0
120
100
80
60
40
20
0
21/09/07 21/09/07 21/09/07 21/09/07
21/09/07 21/9/07
21/9/07
11/10/07 11/10/07 11/10/07 11/10/07
11/10/07 11/10/07
11/10/07
31/10/07 31/10/07 31/10/07 31/10/07
31/10/07 31/10/07
31/10/07
20/11/07 20/11/07 20/11/07 20/11/07
20/11/07 20/11/07
20/11/07
10/12/07 10/12/07 10/12/07 10/12/07
10/12/07 10/12/07
10/12/07
30/12/07 30/12/07 30/12/07 30/12/07
30/12/07 30/12/07
30/12/07
19/01/08 19/01/08 19/01/08 19/01/08
19/01/08 19/1/08
19/1/08

individualizada em classes).
???
???
???

???
08/02/08 08/02/08 08/02/08 08/02/08
08/02/08 8/2/08
8/2/08
28/02/08 28/02/08 28/02/08 28/02/08
28/02/08 28/2/08
28/2/08

?
?
?

?
19/03/08 19/03/08 19/03/08 19/03/08
19/03/08 19/3/08
19/3/08
08/04/08 08/04/08 08/04/08 08/04/08
08/04/08 8/4/08
8/4/08
28/04/08 28/04/08 28/04/08 28/04/08
28/04/08 28/4/08
28/4/08
18/05/08 18/05/08 18/05/08 18/05/08
18/05/08 18/5/08
18/5/08
07/06/08 07/06/08 07/06/08 07/06/08
07/06/08 7/6/08
7/6/08
27/06/08 27/06/08 27/06/08 27/06/08
27/06/08 27/6/08
27/6/08
17/07/08 17/07/08 17/07/08 17/07/08
17/07/08 17/7/08
17/7/08
06/08/08 06/08/08 06/08/08 06/08/08
06/08/08 6/8/08
6/8/08
<10

26/08/08 26/08/08 26/08/08 26/08/08


26/08/08 26/8/08
26/8/08
40 mm
<10 mm

15/09/08 15/09/08 15/09/08 15/09/08


15/09/08 15/9/08
15/9/08
05/10/08 05/10/08 05/10/08 05/10/08
05/10/08 5/10/08
5/10/08
25/10/08 25/10/08 25/10/08 25/10/08
25/10/08 25/10/08
25/10/08
14/11/08 14/11/08 14/11/08
14/11/08 14/11/08
14/11/08
mm< X < 60 mm
40 mm < X < 60 mm

14/11/08
PARCELA I
PARCELA I

PARCELA III

PARCELA IV
PARCELA II
04/12/08 04/12/08 04/12/08 04/12/08
04/12/08 4/12/08
4/12/08
solo (ton/ha) para as diferentes parcelas em avaliação.

60

24/12/08 24/12/08 24/12/08 24/12/08


24/12/08 24/12/08
24/12/08
13/01/09 13/01/09 13/1/09
13/1/09
10mm

13/01/09 13/01/09 13/01/09


02/02/09 02/02/09 02/02/09 02/02/09
02/02/09 2/2/09
2/2/09
mm<< X

?
?
?
?

22/02/09 22/02/09 22/02/09 22/02/09


22/02/09 22/2/09
22/2/09
X << 20

14/03/09 14/03/09 14/03/09 14/03/09


14/03/09 14/3/09
14/3/09
3/4/09
10mm < X < 20 mm

03/04/09 03/04/09 3/4/09


80 mm

03/04/09 03/04/09 03/04/09


mm
60 mm < X < 80 mm

23/04/09 23/04/09 23/04/09 23/04/09


23/04/09 23/4/09
23/4/09
13/05/09 13/05/09 13/05/09 13/05/09
13/05/09 13/5/09
13/5/09
>80

02/06/09 02/06/09 02/06/09 02/06/09


02/06/09 2/6/09
2/6/09
ES
20 mm
>80 mm

22/06/09 22/06/09 22/06/09 22/06/09


22/06/09 22/6/09
22/6/09
12/07/09 12/07/09 12/07/09 12/07/09
12/07/09 12/7/09
12/7/09
01/08/09 01/08/09 01/08/09 01/08/09
01/08/09 1/8/09
1/8/09

parcelas avaliadas em função da precipitação pluvial (mm/24hs – também


21/08/09 21/8/09
Inf (mm/24hs)

21/8/09
Inf (mm/24hs)

21/08/09 21/08/09
(mm/24hs)

Inf (mm/24hs)
ES (mm/24hs)

21/08/09 21/08/09

ES (mm/24hs)
20 mm < X < 40 mm

Inf (mm/24hs)
ES (mm/24hs)

Inf (mm/24hs)
ES (mm/24hs)
mm< X < 40 mm

10/09/09 10/09/09 10/09/09 10/09/09


10/09/09 10/9/09
10/9/09

Figura 3. Escoamento superficial (mm/24hs) e infiltração (mm/24hs) nas diferentes


individualizadas por classes). A Figura 3 detalha os dados de escoamento superficial
séries históricas de monitoramento com os valores das precipitações (também

(mm/24hs) e infiltração (mm/24hs), enquanto a Figura 4 detalha os dados de perdas de


O detalhamento destes dados pode ser observado nas Figuras 3 e 4 onde são expostas as

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 144
Brasil
recobrimento.
Precipitação (mm/24h)

3.3 Discussão
Precipitação (mm/24h)

0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
20
30
40
50
60
70
80
90
100

10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100

0
0
120
100
80
60
40
20
0

10
20
30
40
50
60
70
80
90
100

100
120
100
80
60
40
20
0

21/09/07 21/09/07 21/09/07 21/09/07 21/9/07


21/09/07 21/9/07
11/10/07 11/10/07 11/10/07 11/10/07 11/10/07
11/10/07 11/10/07
31/10/07 31/10/07 31/10/07 31/10/07
31/10/07 31/10/07
31/10/07
20/11/07 20/11/07 20/11/07 20/11/07
20/11/07 20/11/07
20/11/07
10/12/07 10/12/07 10/12/07 10/12/07
10/12/07 10/12/07
10/12/07
30/12/07 30/12/07 30/12/07 30/12/07
30/12/07 30/12/07
30/12/07
19/01/08

???
19/01/08 19/01/08 19/01/08
19/01/08 19/1/08

???
19/1/08

???
???
???
08/02/08 08/02/08 08/02/08 08/02/08
08/02/08 8/2/08
8/2/08
28/02/08 28/02/08 28/02/08 28/02/08 28/2/08

?
28/02/08 28/2/08

?
?
?
19/03/08 19/03/08 19/03/08 19/03/08
19/03/08 19/3/08
19/3/08
08/04/08 08/04/08 08/04/08 08/04/08
08/04/08 8/4/08
8/4/08
28/04/08 28/04/08 28/04/08 28/04/08
28/04/08 28/4/08
28/4/08
18/05/08 18/05/08 18/05/08 18/05/08
18/05/08 18/5/08
18/5/08
07/06/08 07/06/08 07/06/08 07/06/08
07/06/08 7/6/08
7/6/08
27/06/08 27/06/08 27/06/08 27/06/08
27/06/08 27/6/08
27/6/08
17/07/08 17/07/08 17/07/08 17/07/08
17/07/08 17/7/08
17/7/08
06/08/08 06/08/08 06/08/08 06/08/08
06/08/08 6/8/08
6/8/08
26/08/08 26/08/08 26/08/08 26/08/08
26/08/08 26/8/08
26/8/08
15/09/08 15/09/08 15/09/08 15/09/08
15/09/08 15/9/08
15/9/08
05/10/08 05/10/08
05/10/08 5/10/08
5/10/08
20

05/10/08 05/10/08
<10

25/10/08 25/10/08
25/10/08 25/10/08
25/10/08
PARCELA II

25/10/08 25/10/08

PARCELA IV
60 mm
mm
20 mm
<10 mm

<
mm<

14/11/08 14/11/08 14/11/08 14/11/08


14/11/08 14/11/08
14/11/08
PARCELA I

PARCELA III
PARCELA I
<X

04/12/08 04/12/08 04/12/08 04/12/08


04/12/08 4/12/08
4/12/08
X<

24/12/08 24/12/08
< 80

24/12/08 24/12/08 24/12/08


24/12/08 24/12/08
13/01/09 13/01/09 13/01/09 13/01/09
13/01/09 13/1/09
13/1/09
40 mm
X < 40 mm

60 mm < X < 80 mm
mm

02/02/09 02/02/09 02/02/09 02/02/09


02/02/09 2/2/09
2/2/09

?
?

?
?
?

22/02/09 22/02/09 22/02/09 22/02/09


22/02/09 22/2/09
22/2/09
14/03/09 14/03/09 14/03/09 14/03/09
14/03/09 14/3/09
14/3/09
03/04/09 03/04/09 03/04/09 03/04/09
03/04/09 3/4/09
3/4/09
40

23/04/09 23/04/09 23/04/09 23/04/09


23/04/09 23/4/09
23/4/09
>80

13/5/09
10mm

13/05/09 13/05/09 13/05/09 13/05/09


13/05/09 13/5/09
40 mm
>80 mm

02/06/09 02/06/09 02/06/09 02/06/09


02/06/09 2/6/09
2/6/09
mm << X

22/6/09

precipitação pluvial (mm/24hs – também individualizada em classes).


22/06/09 22/06/09 22/06/09 22/06/09
22/06/09 22/6/09
mm< X<<20

12/07/09 12/07/09 12/07/09 12/07/09


12/07/09 12/7/09
12/7/09
10mm < X < 20 mm

1/8/09
X < 60 mm

01/08/09
mm

01/08/09 01/08/09 01/08/09 01/08/09 1/8/09


60 mm

(ton/ha)

(ton/ha)
21/08/09 21/8/09
21/8/09
(ton/ha)

21/08/09 21/08/09 21/08/09 21/08/09


(ton/ha)

(ton/ha)

10/09/09 10/09/09 10/09/09 10/09/09


10/09/09 10/9/09
10/9/09


ocorreram alguns eventos relacionados a precipitações de classes IV e V, que podem ser
implantação do experimento. Apesar de se tratar de um curto espaço de tempo,

considerados pontos de referência para avaliações posteriores, uma vez que na época as
técnicas de bioengenharia ainda não haviam sido aplicadas no talude, de modo que estes
Durante a primavera de 2007 foi possível monitorar 47 dias, ocorridos logo após a
entendimento sobre aspectos relativo ao estabelecimento da vegetaçãoo e as taxas de
estações do ano decorridas, uma vez que tal separação propicia um melhor

são eventos “controle” para estas parcelas. A Tabela 2 mostra os valores de erosão
O conjunto de dados obtidos neste trabalho foi discutido em função das diferentes
Figura 4. Perda de solo (ton/ha) nas diferentes parcelas avaliadas em função da

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 145
(ton/ha), escoamento superficial (mm), infiltração (mm) e escoamento superficial (%)
para este período, quando a precipitação pluvial total foi de 271,85mm:

Tabela 2. Erosão (ton/ha), escoamento superficial (mm), infiltração (mm) e escoamento


superficial (%) referentes a 271,85mm de precipitação ocorridos durante a primavera de
2007.
Escoamento
Escoamento Infiltraçã
Parcela Erosão (ton/ha) Superficial
Superficial (mm) o (mm)
(%)
I 56,29 84,95 186,90 68,75
II 85,20 75,05 196,80 72,39
III 69,81 76,09 195,76 72,01
IV 38,41 72,90 198,95 73,18
Os resultados deste início do período de monitoramento indicam uma baixa
variabilidade percentual do escoamento superficial nas diferentes parcelas em avaliação
(entre 68,75% e 73,18%).
Os eventos referentes a este período podem ser divididos em dois períodos chuvosos, de
11 a 16 de novembro e de 12 a 14 de dezembro. No primeiro momento destaca-se o dia
12-11-07, quando choveu 40.43 mm (Chuva de Classe IV), e no segundo se destaca o
dia 14-12-07, quando choveu 78.00 mm (Chuva de Classe V). Um outro aspecto
investigado foi a influência das condições de umidade antecedente sobre as taxas de
erosão e escoamento. Nos dias 12, 13 e 16 de novembro, em que houve registros
intensos de erosão e escoamento, os maiores valores ocorreram nos últimos dias,
especialmente no dia 16 de novembro, que teve uma precipitação 14.61 mm/24hs, em
comparação com o dia 12 em que choveram 40.43 mm. A intensidade dos eventos em
uma escala temporal mais detalhada possui um peso determinante na evolução destes
parâmetros. A Figura 5 a seguir mostra os valores de precipitações horárias máximas
registradas.
35

<3 mm
30 3mm < X < 5 mm
5 mm < X < 10 mm
10 mm < X < 20 mm
Precipitação (mm/h)

25 20 mm < X < 30 mm
>30 mm

20

15

10

0
7

2/ 007

7
07
6/ 007

8/ 007

4/ 007

6/ 007

8/ 007

7
12 200

14 200

16 200

18 200

20 200

22 200

24 200

26 200

28 200

30 200

12 200

14 200

16 200

18 200

20 200
10 200

10 200

20
2
/2

/2

/2

/2

/2
1/

1/

1/

1/

1/

1/

1/

1/

1/

1/

1/

2/

2/

2/

2/

2/

2/
/

/
11

11

11

12

12

12

12
/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1
4/

Figura 5. Precipitações em mm/h para a primavera de 2007.


Confirmando a influência das condições de umidade antecedente, observa-se que, tanto
no que diz respeito ao primeiro, quanto ao segundo e ao terceiro período de chuvas, os
valores de precipitação em mm/h foram mais elevados nos primeiros dias de
monitoramento. Isto mostra que mesmo com estes maiores valores de intensidade da
precipitação horária, devido às condições de menor umidade antecedente a erosão foi
muito menor. Ainda no que diz respeito à primavera de 2007, destaca-se no dia 17 de

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 146

Brasil
dezembro o transplantio das mudas na Parcela I, bem como o plantio das duas linhas do
Capim Vetiver nesta mesma.
No verão de 2007/2008 foram registrados quatro dias chuvosos com classes de
magnitude diária superior à III (mais de 40 mm/24hs), com a precipitação máxima de 76
mm/24hs (Classe V). Durante este período houve problemas de cadastro e acesso do
funcionário de campo, ocasionando na perda de boa parte deste intervalo de coletas de
dados, tornando possível somente a aferição de três eventos de erosão. Um aspecto
importante em relação ao período é a aplicação das técnicas de bioengenharia nas
Parcelas III e IV, ocorridas nos dias 17 e 18 de janeiro e oito de março. As taxas de
recobrimento tiveram a maior parte de seu crescimento nesta estação, que é justamente a
primeira estação chuvosa após e durante os plantios, quando a vegetação apresenta
elevadas taxas de crescimento vegetativo. A taxa referente à Parcela I variou entre zero
e 49.94% e na Parcela IV esta taxa oscilou entre zero e 96%, o que indica elevadas taxas
de produção de biomassa logo nos primeiros meses nestes tratamentos, especialmente
na Parcela IV. Como a aplicação da hidrossemeadura na Parcela III ocorreu no dia 8 de
março e o período de emergência foi de em torno de 10 dias, a taxa de recobrimento
para esta parcela foi menor neste verão, variando de 0 a 19.63%. Posteriormente à
aplicação dos tratamentos referentes às Parcelas I e IV, no dia 22 de fevereiro de 2008,
foi registrado um evento referente a uma precipitação de 41.0 mm/24hs (Classe IV). O
valor máximo horário atingido no dia foi de 34 mm/h. As taxas de recobrimento foram
estimadas em 41% na Parcela I e 24% na Parcela IV neste dia. No que diz respeito à
erosão e ao escoamento superficial, a Tabela 3 compara valores de percentual de
recobrimento, perdas de solo, escoamento superficial e infiltração aferidos nas parcelas.
Tabela 3. Resumo de dados do dia 22 de fevereiro de 2008.
Parcela % Perda de Solo ES Inf.
I Recobrimento
41 (ton/ha)
2.21 (mm/24hs)
1.75 (mm/24hs)
39.25
II 0 2.58 2.72 38.28
III 0 3.41 2.45 38.55
IV 24 1.93 7.80 33.20
Observa-se que o percentual de recobrimento na Parcela I se apresentava
substancialmente maior que nas demais, uma vez que a implantação se deu por
transplantio de mudas e perfilhos. As perdas de solo monitoradas mostram efeitos
marcantes do recobrimento na Parcela I (2.21 ton/ha) em relação ao evento similar
ocorrido no dia 12 de novembro, conforme já comentado, quando a perda de solo foi de
três ton/ha para um evento de mesma classe e menor intensidade de precipitação (40.43
mm/24hs com máxima de 9.4 mm/h). Por fim, destaca-se que em ambos os casos as
condições de umidade antecedente são similares, isto é, os eventos ocorrem após uma
semana sem ocorrência de precipitações relevantes ou registros de eventos de erosão.
O outono de 2008 foi um período onde foi possível registrar uma grande quantidade de
eventos de erosão nas caixas coletoras (um total de nove eventos em 28 dias chuvosos
no período), uma vez que não houve problemas de acesso e o período foi marcado por
precipitações bastante acima da média. Sendo assim, nos dias chuvosos em que não
houve aferições de eventos neste período necessariamente não ocorreu escoamento
superficial nas parcelas. Um aspecto oportuno em relação ao período foi a pluviosidade
acima da média, com registros de grande magnitude, como no dia 26-03-08, em que
choveu um total de 106 mm em 24 horas. Neste dia em especial destacam-se os valores
muito elevados de perdas de solo (59.43 ton/ha) na Parcela III em função da lavagem do
material utilizado na hidrossemeadura. Isto quer dizer que boa parte do peso referente a
esta perda trata-se de esterco, adubo químico e sementes carreadas, sendo que

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 147

Brasil
posteriormente foram encontrados rebentos em vários locais ao longo das drenagens e
vias de acesso para onde drenam as águas do talude e da plataforma de aterro. Além
disso, o próprio material coletado neste dia possuía um aspecto mais escuro nesta
parcela. No que diz respeito ao aspecto hidráulico do evento, este foi o maior valor de
precipitação acumulada em 24 horas para todo o período de monitoramento. Os valores
registrados de escoamento superficial foram nitidamente superiores, entretanto, no que
diz respeito às perdas de solos, observa-se valores da mesma ordem de grandeza
anteriormente na primavera de 2007. Das chuvas de classes inferiores, destacam-se os
dias 6 e 10 de abril (7.0 mm - Classe I); 10-04-08 (22.0 mm – Classe III); 15-04-08
(10.0 mm – Classe -II). Sobre as taxas de recobrimento do solo, houve um bom
desenvolvimento na Parcela I (50.22 a 67.46%) e III (19.63 a 27.74%), sendo que na
demais parcelas as condições permaneceram iguais ao período anterior. Observando-se
que a aplicação da hidrossemeadura ocorreu no final do verão, pode-se dizer que a
vegetação apresentou um desenvolvimento bom no terço inferior, médio no terço médio
e muito incipiente no terço superior, fazendo com que os valores de perdas de solo e
escoamento superficial neste período se aproximem muito aos observados na Parcela II,
mesmo com as diferenças de erodibilidade apontadas anteriormente, principalmente no
dia 10 de abril, onde se pode observar uma grande redução das perdas de solo nas
Parcelas I e IV em detrimento das Parcelas II e III.
O inverno de 2008 foi marcadamente úmido, tendo sido possível registrar no período 11
eventos de erosão nas caixas coletoras. A magnitude dos eventos, entretanto, foi menor
em relação aos períodos anteriores, somente excedendo 20 mm nos dias 4 de julho
(quando foram registrados 20.2 mm) e 25 de junho (23.8 mm). Nestes eventos
registrados durante o período observa-se já um controle efetivo da erosão nas Parcelas I
e IV, observando-se uma redução de 100% na Parcela IV para vários eventos, inclusive
no dia 25 de junho. A taxa de recobrimento continuou a apresentar incremento na
Parcela I (67.46 a 77.97%) assim como na Parcela III (27.74 a 40.01%), porém observa-
se que o controle de erosão oferecido pela vegetação neste período foi bastante
incipiente, apresentando valores de perdas de solo muito superiores às Parcelas I e IV.
A primavera de 2008 representa o período em que o monitoramento, assim como o
plantio na Parcela I completam um ano. As precipitações foram bastante variadas, tal
qual no observado para o mesmo período no ano anterior, sendo possível à avaliação de
eventos de erosão referentes a precipitações de diferentes magnitudes. Com o objetivo
de avaliar o controle de erosão decorrido um ano de plantio, são apresentados na Tabela
4 dados referentes aos eventos dos dias:
Tabela 4. Comparação das perdas de solo, taxas de recobrimento e controle de erosão
após um ano de monitoramento.
Classe Precipitação
Dia Parâmetro Parc. I Parc. III Parc. IV
Chuva (mm/24hs)
Recobrimento (%) 0.0 0.0 0.0
5/11/2007 16.2
Perda de Solo (ton/ha) 0.3 0.1 0.25
Recobrimento (%) 78.7 28.7 100.0
II 28/9/2008 16.5
Perda de Solo (ton/ha) 0.2 0.1 0.0
Controle de Erosão
Diferença (%) 1.91 33.33 0.00 100.00
(%)
Recobrimento (%) 0.0 0.0 0.0
12/11/2007 40.43
Perda de Solo (ton/ha) 3.0 1.54 1.6
IV Recobrimento (%) 82.7 34.9 100.0
14/11/2008 50.5
Perda de Solo (ton/ha) 0.14 0.38 0.0
Diferença (%) 25.02 Controle de Erosão 95.33 75.32 100.00

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Brasil
(%)
Os dados da Tabela 4 mostram que o controle da erosão aumentou nas Parcelas I e III
ao longo da estação, desde setembro até novembro de 2008. Na parcela IV, onde já não
estavam ocorrendo perdas de solo desde a estação anterior, continuou-se a não observar
praticamente nenhum valor de erosão. A diferença no controle da erosão em função das
classes de eventos foi considerável somente nas Parcelas I e IV, uma vez que as taxas de
redução, em relação aos eventos de mesma classe referentes ao ano anterior, mostram
valores de 33.33%; zero e 100%, respectivamente, para os eventos de Classe II, e
95.33%; 75.32% e 100%, para o evento de Classe IV.
No verão de 2008/2009 ocorreram precipitações semelhantes às ocorridas no ano
anterior. Apesar de no verão anterior não ter sido possível a aquisição de uma série com
número razoavelmente representativo de eventos, observa-se que a maior descarga
pluvial ocorrida no ano anterior foi registrada no início do outono de 2008, conforme já
comentado. As interpretações referentes ao período do verão de 2008/2009 são
detalhadas em duas partes. Primeiramente, para avaliar o controle de erosão em relação
ao período anterior, enfocando precipitações de maior magnitude, foram detalhados
dados referentes aos eventos dos dias 26 de março de 2008 (quando choveu 106 mm –
Classe VI) e 21 de janeiro de 2009 quando choveu 97.28 mm – Classe VI). No que diz
respeito ao controle de erosão e das perdas de solo durante estes eventos, a Tabela 5
detalha aspectos do recobrimento vegetal, perdas de solo no primeiro e segundo evento
e precipitação relacionada.
Tabela 5. Comparação das perdas de solo, taxas de recobrimento e controle de erosão
após um ano de monitoramento.
Precipitação
Dia Parâmetro Parc. I Parc. II Parc. III Parc. IV
(mm/24hs)
Recobrimento (%) 51.28 0 19.63 100
26-03-08 106
Perda de Solo 32.84 70.45 59.43 14.13
(ton/ha)
Recobrimento (%) 87.57 0 44.23 100
21-01-09 97.28
Perda de Solo 0.12 53.15 1.30 0.05
(ton/ha)
Observa-se que atingida uma determinada magnitude diária, as leitura nas Caixas II
ocorrem independente do controle de erosão da vegetação ou da parcela em avaliação
no talude, uma hipótese que se confirma uma vez que houve também registro de nível
na Caixa II para a Parcela IV. Os resultados mostram ainda um controle da erosão
efetivo em todos os tratamentos após o segundo verão, conforme apontam os valores de
perdas de solo nos eventos dos anos de 2008 e 2009. Apesar de uma diferença de 8.72
mm nos valores de precipitação referentes aos dois eventos, observa-se forte redução
das perdas de solo em 2009 em todos os tratamentos, sendo que o valor só ultrapassou
1ton/ha na Parcela III (1.3).
No Outono e no Inverno de 2009 as precipitações registradas foram inferiores as do
mesmo período do ano anterior, sendo que foi registrado um evento de 23.62 mm/24hs
no dia 28 de junho. A avaliação deste evento em relação a uma precipitação de mesma
classe no inverno anterior feita em relação ao dia 25 de junho de 2008, quando choveu
23.8 mm/24hs com um evento de mesma classe de magnitude, conforme detalham os
dados da Tabela 6.
Tabela 6. Comparação das perdas de solo, taxas de recobrimento e controle de erosão
referente aos invernos de 2008 e 2009.
Precipitação
Dia Parâmetro Parcela I Parcela III Parcela IV
(mm/24hs)
25-06-08 23.80 Recobrimento (%) 68.15 19.20 100.00

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Brasil
Perda de Solo (ton/ha) 2.13 10.21 0.00
Recobrimento (%) 96.28 48.50 100.00
28-06-09 23.62
Perda de Solo (ton/ha) 0.01 0.06 0.01
Diferença (%) -0.180 Controle de Erosão 99.30 99.43 99.99
(%)
Os dados da tabela Tabela 6 mostram o controle da erosão efetivo no período
correspondente ao segundo inverno, correspondendo a mais de 99% em relação às taxas
anteriormente registradas para eventos de mesma magnitude.

4 CONCLUSÕES
O controle de erosão foi maior na Parcela IV (60.11%), seguido da Parcela I (53.63%) e
da Parcela III (32.94%). No que diz respeito ao escoamento, as reduções foram de
73.6% na Parcela IV; 31.7% na Parcela I e 7.8% na Parcela III em relação à Parcela de
controle. Na Parcela III, onde foi aplicada hidrossemeadura, foi constatado desempenho
similar ao observado em muitos taludes encontrados no Estado do Rio de Janeiro, o que
ocorreu porque a má fixação da massa de insumos e sementes jateada provocou seu
escorrimento e concentração no terço inferior, fazendo com que o desenvolvimento da
vegetação se limitasse praticamente a este terço.
A taxa de recobrimento se mostrou uma boa ferramenta de interpretação neste tipo de
avaliações, uma vez que possibilitou através das funções de recobrimento a
determinação de valores diferenciados por dia. Na interpretação de imagens frontais no
talude o SIARCS® se mostrou uma excelente alternativa para avaliar taxas de
recobrimento em taludes, especialmente nestas situações, pois a aquisição de fotos
frontais com bom ângulo é viável graças à localização destes em rodovias, ferrovias,
vias de acesso etc.

5 REFERËNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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degradadas. Rio de janeiro: Editora Bertrand Brasil Ltda., 2007.

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Minas Gerais – Belo Horizonte / MG. 1999.

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(Doutorado) – Departamento de Engenharia Civil e Perigos Naturais. Instituto de
Bioengenharia de Solos e Planejamento da Paisagem, Universidade Rural de
Viena, Áustria, 2007.

EMPREGO DE ESPÉCIES FLORESTAIS E SAVÂNICAS DO CERRADO, EM


TRATAMENTOS COM RESÍDUOS, PARA REVEGETAÇÃO DE ÁREA DE
EMPRÉSTIMO

T.P. SANTOS ¹; L.P. FRAGA¹; A.B. SAMPAIO2; I.B. SCHMIDT¹

1 - Laboratório de Ecologia Vegetal / Universidade de Brasília (UnB)


2 - CECAT/Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/MMA
Endereço postal: Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília - DF
Correio eletrônico: [email protected]; [email protected]

RESUMO

Nas áreas urbanas e periurbanas, as áreas de empréstimo representam um exemplo


muito comum de áreas degradadas. Nos grandes centros urbanos, são frequentes os
problemas de destinação adequada dos resíduos sólidos provenientes dos serviços de
limpeza urbana. O lodo de esgoto estabilizado (biossólido), oriundo do tratamento das
águas servidas, e os resíduos vegetais, provenientes da poda de árvores urbanas, podem
constituir um substrato promissor para o desenvolvimento de mudas de espécies
arbóreas em áreas degradadas. O presente trabalho avaliou a sobrevivência e o
crescimento inicial de mudas de espécies florestais e savânicas nativas do Cerrado, em
tratamentos com diferentes dosagens de lodo e de resíduos de poda estabelecidos em
área de empréstimo. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com nove
tratamentos e três réplicas de cada tratamento, totalizando 27 parcelas experimentais.
Foram testados os efeitos de três níveis (doses) dos dois fatores (Lodo - L e Poda - P):
L0P0 (controle); L0P1 (122,5 Mg.ha-1 de poda); L0P2 (245 Mg.ha-1 de poda); L1P0
(270 m3.ha-1 de lodo); L1P1; L1P2; L2P0 (1.080 m3.ha-1 de lodo); L2P1; e L2P2. Em
cada parcela foram plantadas aleatoriamente 60 mudas (6 indivíduos por espécie) de
cada uma das 10 espécies testadas. A maioria das espécies de formações florestais do
Cerrado (Senegalia polyphylla, Peltophorum dubium, Schinus terebinthifolius, Sterculia
striata, Anadenanthera colubrina e Tabebuia impetiginosa) apresentaram alto
percentual de sobrevivência e considerável crescimento nos tratamentos constituídos
por dosagens combinadas dos resíduos e/ou constituídos somente por dosagens de lodo.
Espécies de formações savânicas (Alibertia edulis, Alibertia sessilis e Tabebuia aurea)
apresentaram baixo crescimento em altura em todos os tratamentos testados. Plantas de
T. aurea apresentaram os menores percentuais de sobrevivência no experimento. O uso
de espécies florestais do Cerrado para a revegetação de área de empréstimo urbana, em
tratamentos constituídos por biossólido e resíduos de poda, apresentou resultados
satisfatórios.

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Palavras Chave: mineração, espécies nativas, resíduos urbanos.

INTRODUÇÃO

Em ambientes urbanos e periurbanos, geralmente estão localizadas áreas


degradadas resultantes de atividades de mineração. Áreas de empréstimo são áreas
mineradas caracterizadas pela retirada de horizontes de solos (e da cobertura vegetal)
para utilização em aterros e/ou na pavimentação (Alves & Souza 2008). A incorporação
de fontes de matéria orgânica (camada superficial do solo - topsoil, lodo de esgoto,
resíduos diversos, entre outros) no substrato remanescente constitui técnicas de
recuperação de áreas mineradas (Bradshaw 1997; Paschke et al. 2005; Ferreira et al.
2015).
Os serviços públicos de limpeza e de manejo de resíduos sólidos urbanos
envolvem atividades de esgotamento sanitário e de poda de árvores. O lodo de esgoto
tratado ou biossólido apresenta nutrientes orgânicos e inorgânicos (Hart et al. 1988;
Singh & Agrawal 2008) com potencial para recuperar solos degradados (Maia 2003).
Os resíduos vegetais, quando na forma de cavacos triturados (material fibroso com alto
teor de lignina), apresentam decomposição lenta (Fialho et al. 2005) e conservam a
umidade em covas de plantio de mudas de espécies arbóreas (Bradshaw & Chadwick
1980).
Desde que atendidas condições sanitárias e normas de concentrações de metais
pesados (WEF 1993; Conama 2006), as principais limitações para a destinação
ambiental adequada de resíduos sólidos urbanos serão os custos com transportes
(Daskalopoulos 1998). A distância máxima, economicamente viável, no transporte do
lodo de uma Estação de Tratamentos de Esgotos até o local de destinação, deve
representar custos inferiores aos gastos previstos com fertilizantes minerais (Silva et al.
2002; Sugimoto 2005). Nesse sentido, áreas de empréstimo, localizadas no ambiente
urbano e periurbano, constituem opções promissoras para o recebimento de resíduos
sólidos urbanos visando à recuperação ambiental.
O plantio de mudas de espécies arbóreas também constitui uma técnica muito
utilizada para a recuperação de áreas degradadas (Bradshaw 1997; Wong 2003). No
entanto, atividades de mineração geralmente inviabilizam o plantio de mudas
diretamente no substrato remanescente. Na savana brasileira, a retirada da vegetação e a
degradação do solo impedem a regeneração vegetal (rebrota), a partir de estruturas
remanescentes do sistema radicular das plantas (importante mecanismo de resiliência do
Bioma) (Durigan et al. 2004). Nesse sentido, o plantio adequado de mudas pode acelerar
o processo de recuperação de áreas degradadas (Bradshaw 1990; Kageyama & Gandara
2001).
A incorporação de biossólido e de resíduos vegetais ao substrato remanescente,
em áreas de empréstimo no Cerrado, pode promover o crescimento de mudas de
espécies arbóreas (Pinheiro et al. 2005; Torres et al. 2005). Diversos estudos atestaram
os benefícios da utilização do biossólido e dos resíduos de poda para o desenvolvimento
de espécies vegetais (Tauk 1990; Reis et al. 2000; Corrêa & Mélo Filho 2004; Corrêa et
al. 2010). No entanto, informações sobre o monitoramento ou sobre os efeitos desses
resíduos no desenvolvimento de espécies nativas do Cerrado são escassos.
Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a sobrevivência e o
crescimento inicial de mudas de espécies florestais e savânicas nativas do Cerrado, em

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Brasil
tratamentos com diferentes dosagens de biossólido e de resíduos de poda, estabelecidos
em área de empréstimo.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudos está localizada no Distrito Federal, no pátio da antiga


Rodoferroviária de Brasília. Está situada ao Norte da DF-087 (Via Estrutural) e a Oeste
da DF-003 (EPIA), próxima ao Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (SAAN)
(15°46’32”S; 47°56’56”W). Nessa área, houve extração de solos para aterros e
pavimentação de diversas obras de infraestrutura, durante as décadas de 1950 e 1960,
para construção da nova capital do país (Caesb 2013). A retirada dos horizontes
superficiais do solo e o intenso tráfego de veículos pesados resultaram na formação de
uma área de empréstimo abandonada de 185 hectares com regeneração insignificante de
vegetação nativa (Fraga 2016).
No experimento foi utilizado lodo base úmida, disponibilizado pela Companhia
de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) e resíduos de poda de árvores
(cavaco), disponibilizados pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital
(NOVACAP). Para a definição das dosagens de lodo partiu-se da dose 540 m3.ha-1,
recomendada pela CAESB (Caesb 2010), aplicando-se o dobro (1080 m3.ha-1) e a
metade correspondente (270 m3.ha-1). Nas dosagens dos resíduos de poda foram
utilizados os níveis 245 Mg.ha-1 (dose máxima de incorporação no substrato da área
com os implementos agrícolas utilizados) e a metade correspondente (122,5 Mg.ha-1).
Em fevereiro de 2014, as parcelas experimentais foram preparadas, com os
resíduos sendo incorporados por trator equipado com arado de quatro discos e grade
aradora. Cada parcela ocupou uma área de 100 m2 (5m x 20m) constituindo nove
tratamentos: T1 (L0P0) - controle; T2 (L0P1) - poda parcial (122,5 Mg.ha-1); T3 (L0P2)
- poda total (245 Mg.ha-1); T4 (L1P0) - lodo parcial (270 m3.ha-1); T5 (L1P1) - lodo
parcial + poda parcial; T6 (L1P2) - lodo parcial + poda total; T7 (L2P0) - lodo total
(1080 m3.ha-1); T8 (L2P1) - lodo total + poda parcial; e T9 (L2P2) lodo total + poda
total. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com nove tratamentos, e
três réplicas de cada tratamento, totalizando 27 parcelas experimentais (Figura 1).
Foram testados os efeitos de três níveis (doses) dos fatores lodo e poda na
sobrevivência e crescimento inicial de espécies arbóreas florestais e savânicas nativas
do Cerrado (Tabela 1). Quinze dias após a incorporação dos resíduos foram
confeccionadas, em cada parcela experimental, 03 linhas de plantio, com 20 covas em
cada linha, e espaçamento 2m x 1m. Foram plantados, em cada parcela, 6 indivíduos de
cada uma das 10 espécies estudadas (60 plantas por parcela), totalizando 1.620 mudas
(162 mudas por espécie).

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 154

Brasil
Figura 1 - Imagens da cobertura vegetal nas parcelas experimentais (5m x 20m cada
parcela), após 510 dias do plantio, geradas com sobrevoo (drone). Cada bloco
casualizado (15m x 60m) possui 09 tratamentos. a) Bloco I - parcelas ao norte; b)
Bloco II - parcelas centrais; e c) Bloco III - parcelas ao sul. Fonte: Fraga (2016).

A medição em altura foi realizada por meio de fita métrica ou vara metrada
dependendo da altura das plantas. São apresentados os resultados obtidos nas medições
realizadas no plantio (março de 2014) e aos 450 dias (junho de 2015) e 1000 dias
(dezembro de 2016) após o plantio. A sobrevivência das mudas foi avaliada em todas as
medições.

Tabela 1 - Características gerais e ecológicas das espécies do experimento


Ocorrência Ocorrência Altura Média no
Espécie
Formação Cerrado Tipo Solo Plantio (cm)
Alibertia edulis Savânica Distrófico 60,67 ± 11,36
Alibertia sessilis Savânica Distrófico 40,31 ± 7,69
Anadenanthera colubrina Florestal Fértil 11,65 ± 4,07
Copaifera langsdorffii Savânica/Florestal Distrófico/Fértil 9,89 ± 2,84
Peltophorum dubium Florestal Fértil 11,28 ± 2,28
Schinus terebinthifolius Florestal Fértil 17,24 ± 3,08
Senegalia polyphylla Florestal Fértil 100,28 ± 25,36
Sterculia striata Florestal Fértil 17,90 ± 8,73
Tabebuia aurea Savânica Distrófico 19,00 ± 9,79
Tabebuia impetiginosa Florestal Fértil 11,51 ± 2,54
Fonte: adaptado de Fraga (2016)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A maioria das espécies apresentou percentual de sobrevivência total (quando


avaliado todos os tratamentos e repetições) maior que 80%, em dezembro de 2016
(decorridos 1000 dias do plantio). Somente a espécie Tabebuia aurea apresentou

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Brasil
sobrevivência menor que esse percentual (Figura 2). Plantas de T. aurea apresentaram
percentual de sobrevivência total menor que 50%. A espécie apresentou alta
mortalidade (>65%) nos tratamentos e repetições com dosagens totais de lodo (L2) e
sobrevivência maior que 80% nos tratamentos sem adição do resíduo (L0). Esses
resultados indicam uma interação negativa da T. aurea com lodo e podem estar
relacionados com a preferência da espécie por solos distróficos (Tabela 1).

Figura 2 - Percentual de sobrevivência total (quantidade inicial de


162 por espécie) nos 9 tratamentos e repetições após 1000 dias do
plantio (Dez/16).

As espécies de formações florestais do Cerrado apresentaram as maiores alturas


do experimento aos 1000 dias após o plantio (Figura 3). A espécie Senegalia polyphylla
apresentou altura média superior a 4 metros nos tratamentos com dosagens totais de
lodo (L2). Peltophorum dubium apresentou altura média maior que 3 metros nos
tratamentos com dosagens parciais de lodo (L1) e superior a 4 metros nos tratamentos
L2. Schinus terebinthifolius apresentou altura média maior que 2,50 metros nos
tratamentos L1 superior a 2,80 nos tratamentos L2. Essas espécies também são
pioneiras heliófitas e apresentam, na fase inicial de crescimento, maior capacidade de
absorção de nutrientes do que outras espécies (Vitousek 1984; Furtini Neto et al. 1999).
Copaifera langsdorffii apresentou baixo crescimento em altura após 1000 dias
do plantio. Poucos indivíduos da espécie alcançaram 1,00 metro nos tratamentos
testados. Apenas no tratamento L1P0 essa média em altura foi superada (Figura 3).
Esses resultados são previstos para a espécie que, em vários trabalhos (Duboc &
Guerrini 2009; Sampaio 2010), é citada como apresentando desenvolvimento muito
lento no campo. Porém, sua média de altura, após 1000 dias, está abaixo da previsão de
Lorenzi (1992) o qual cita um crescimento de até 2,00 metros aos dois anos de idade em
campo.
Sterculia striata apresentou considerável incremento em altura entre as medições
realizadas em junho de 2015 e dezembro de 2016. A espécie apresentou altura média
superior a 1,60 metro nos tratamentos L2. Esse desenvolvimento da S. striata,
observado depois de decorridos 33 meses do plantio, pode indicar a liberação lenta de

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 156

Brasil
nutrientes por parte dos resíduos (Hart et al. 1988; Maia 2003) ou uma ocorrência de
ciclagem de nutrientes na área experimental.

Figura 3 - Crescimento médio em altura das espécies de formações florestais do


Cerrado, utilizadas no experimento. Barras azuis: altura média das plantas por
tratamento testado (Jun/15) / Barras vermelhas: altura média das plantas por
tratamento testado (Dez/16)

Espécies de formações savânicas do Cerrado (Alibertia edulis, Alibertia sessilis


e Tabebuia aurea) apresentaram pouco desenvolvimento em altura entre as espécies
testadas. A espécie A. edulis respondeu melhor aos tratamentos constituídos por

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 157

Brasil
dosagens de poda isoladamente. Para Hoffmann et al. (2004) espécies de formações
savânicas do Cerrado investem inicialmente no desenvolvimento do sistema radicular e
de órgãos de reserva para garantir a sobrevivência.

Figura 4 - Crescimento médio em altura das espécies de formações savânicas do Cerrado,


utilizadas no experimento. Barras azuis: altura média das plantas por tratamento testado
(Jun/15) / Barras vermelhas: altura média das plantas por tratamento testado (Dez/16)

CONCLUSÕES

Melhorias nas condições de fertilidade do substrato remanescente, em área de


empréstimo urbana, permitiram a sobrevivência e o desenvolvimento inicial de mudas
de espécies arbóreas nativas do Cerrado. A maioria das espécies de formações florestais
do Cerrado apresentaram alto percentual de sobrevivência e maiores alturas após 1000
dias de desenvolvimento em campo. Espécies de formações savânicas apresentaram
pouco desenvolvimento em altura e a espécie Tabebuia aurea apresentou alto
percentual de mortalidade em tratamentos com dosagens de lodo.
O uso de espécies florestais do Cerrado para a revegetação de área de
empréstimo urbana, em tratamentos constituídos por biossólido e resíduos de poda,
apresentou resultados satisfatórios.

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PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS NO SISTEMA CANTAREIRA:


A ATUAÇÃO DAS EMPRESAS EM PROJETOS VOLUNTÁRIOS DE
COMPENSAÇÃO DE CARBONO EM EXTREMA – MG

Campanha, J. C.; Pereira, L. C; Pereira, P. H

Iniciativa Verde, Rua João Elias Saada, 46 – Pinheiros (SP), Brasil


[email protected], contato: +55113647-9293

RESUMO

A compensação de emissões carbono por meio da restauração ecológica, como uma


modalidade de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), é o fundamento do
programa Carbon Free, criado em 2005 com o intuito de possibilitar às empresas e às
mais diversas organizações a mensuração das emissões de gases de efeito estufa (GEE)
oriundas de suas atividades e a internalização dos custos desse impacto climático com o
financiamento de projetos florestais em áreas degradadas. Os recursos do programa
advêm de iniciativas de financiamento voluntário e já contou com a parceria de mais de
500 organizações de diversos setores. Este trabalho aborda os conceitos chave,
metodologia, base legal e possíveis motivações econômicas do programa e tem enfoque
nos resultados obtidos em Extrema – MG em parceria com o projeto Conservador das
Águas, premiado pela ONU/HABITAT e que surgiu com a lei pioneira de PSA do país.
Os resultados se configuram como um indício de que instrumentos econômicos como o
financiamento voluntário de empresas para sequestro de carbono, além de proporcionar
múltiplos benefícios como a melhoria da qualidade ambiental de propriedades rurais,

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 161

Brasil
podem se aliar aos mecanismos de comando e controle para alavancar a adequação
ambiental e a efetividade do princípio provedor-recebedor.

Palavras Chave: recomposição florestal, sistema cantareira, programa carbon free,


adequação ambiental, pagamento por serviços ambientais

Introdução

O Sistema Cantareira é um dos principais sistemas de abastecimento urbano do mundo e


responsável pelo abastecimento de 46% da população da Região Metropolitana de São
Paulo (WHATELY;CUNHA, 2006). O sistema praticamente colapsou em 2014, quando
o nível das represas que formam o sistema chegou a zero e o governo de São Paulo
passou a utilizar a água do “volume morto” que fica abaixo do nível de captação
(WHATELY, 2016). Segundo um diagnóstico produzido pela ONG IPÊ, 60% do solo
em áreas que deveriam por lei estar cobertas por mata nativa (APPs - Áreas de
Preservação Permanente), pois abrangem e protegem rios, represas e nascentes do
Sistema Cantareira, estão sendo utilizados de maneira inadequada. Aproximadamente
49% das APPs estão ocupadas por pasto degradado e outros usos, e cerca de 11% estão
cobertas com eucalipto. As APPs que envolvem rios e nascentes, e mais
especificamente as matas ciliares, desempenham funções ecológicas e hidrológicas
extremamente importantes para o equilíbrio e integridade de corpos d’água e
microbacias, devido à sua ação direta na manutenção da qualidade e quantidade de água
(LIMA, 2000).

Dada a sua importância e capacidade de provisão de serviços ecossistêmicos, os


mecanismos para a conservação das APPs estão em constante discussão especialmente
no âmbito da implementação do novo código florestal (Lei nº12.651 de 25 de maio de
2012). O CAR (Cadastro Ambiental Rural) e o PRA (Programa de Regularização
Ambiental), novidades da nova lei, são ferramentas criadas no intuito de promover a
adequação de propriedades rurais. Em seu artigo 41, a lei prevê programas de apoio e
incentivo à preservação e recuperação do meio ambiente, sendo uma das linhas,
modalidades de PSA relacionadas à conservação e melhoria de qualidade ambiental,
como “pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição, monet ria ou

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 162

Brasil
não, às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e que gerem serviços
ambientais, tais como, isolada ou cumulativamente:

a) o sequestro, a conservação, a manutenção e o aumento do estoque e a


diminuição do fluxo de carbono;

b) a conservação da beleza cênica natural;

c) a conservação da biodiversidade;

d) a conservação das águas e dos serviços hídricos;

e) a regulação do clima;

f) a valorização cultural e do conhecimento tradicional ecossistêmico;

g) a conservação e o melhoramento do solo;

h) a manutenção de Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de


uso restrito;

(Lei nº12.651 de 25 de maio de 2012, artigo 41, parágrafo I)

Programas de PSA são instrumentos baseados no mercado para financiamento da


conservação que considera os princípios do usuário-pagador e provedor-recebedor
(PAGIOLA et al, 2013). O Projeto Conservador das Águas, desenvolvido pela
prefeitura de Extrema em 2004 (município que tem grande parte do seu território
inserido nas áreas de drenagem para o Sistema Cantareira), é um dos primeiros do
gênero no Brasil e impulsionou a primeira lei municipal a regulamentar o PSA
relacionado com a água. A lei autorizava o Poder Executivo a apoiar financeiramente os
proprietários rurais que aderirem ao projeto, mediante cumprimento de metas
estabelecidas. Hoje, o grande braço do programa é a restauração de áreas degradadas
para adequação ambiental de propriedades, iniciativas financiadas pelo setor público,
organizações não governamentais e empresas comprometidas, por exemplo, com
projetos voluntários de compensação de carbono no âmbito do programa Carbon Free.

O Carbon Free é um programa voluntário de compensação de emissões de carbono com


plantio de árvores nativas criado pela ONG Inciativa Verde em 2005. Reúne empresas e
organizações de diversos setores interessadas no fomento a práticas de responsabilidade

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 163

Brasil
socioambiental. Na prática, mensuram as emissões de GEE de seus consumos e
compensam seu impacto climático financiando a implementação da recomposição
florestal associada à sua pegada de carbono. No Sistema Cantareira, atua em parceria
com o projeto Conservador das Águas como um captador de recursos para as iniciativas
de restauração. Ao longo deste trabalho pretende-se abordar os aspectos técnicos do
programa Carbon Free, caraterísticas dos financiadores e resultados pontuais em
qualidade ambiental no município de Extrema –MG.

1. Materiais e Métodos

Enquanto as negociações, tratados e acordos internacionais sobre mudanças climáticas


evoluíam gradativamente, no Brasil, medidas governamentais para o incentivo à
contabilização e gestão das emissões de gases de efeito estufa representaram o sinal
regulatório que muitas empresas aguardavam para investir em um cenário de baixo
carbono para suas operações, serviços e produtos. Em paralelo, o processo de
engajamento com partes interessadas e iniciativas privadas amplamente reconhecidas,
como o Carbon Disclosure Project e o GHG Protocol, permitiu às empresas
encontrarem oportunidades dentro do mercado voluntário de carbono para fortalecer o
relacionamento com investidores, consumidores e colaboradores que buscam associar-
se cada vez mais a empresas com forte posicionamento em relação ao meio ambiente e
ao seu papel na sociedade. A ratificação do Protocolo de Quioto em 2005 movimentou
ideias também entre acadêmicos brasileiros envolvidos na temática. É nesse contexto
que surge o programa Carbon Free e consequentemente a Iniciativa Verde como uma
organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP).

O que os fundadores do programa buscavam era, justamente, um mecanismo de


certificação reconhecido que, além de fomentar a realização de inventários corporativos
de carbono, trouxesse a valorização da marca de organizações que financiassem o
plantio de árvores em associação ao resultado de seus inventários. Assim, além de
mitigar os impactos das empresas sobre o clima, florestas vulneráveis e degradadas do
bioma Mata Atlântica poderiam ser recompostas. Funciona alinhado ao princípio do
poluidor pagador. Quanto maior o impacto climático da atividade, maior o custo de sua

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 164

Brasil
internalização. Isso porque a quantidade de árvores a serem plantadas depende da
emissão direta e/ou indireta causada pela atividade submetida ao cálculo de carbono. Se
determinada atividade emite uma certa quantidade de toneladas de dióxido de carbono
equivalente (tCO2e), essa mesma unidade de carbono poderia ser fixada com o
desenvolvimento de uma floresta com esse potencial de absorção.

O programa Carbon Free utiliza-se dos princípios e procedimentos propostos pelo GHG
Protocol para a mensuração das emissões das atividades das empresas. Em conjunto
com o GHG Protocol, são utilizadas metodologias e fatores de emissão desenvolvidos
pelo IPCC (2006 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories), pelo
Ministério de Ciências e Tecnologia (MCT) e outras fontes de referência.

Os plantios de matas nativas no âmbito do programa Carbon Free são executados de


acordo com diretrizes de base científica, como a Resolução SMA-030 de 14 de maio de
2009 formulada com o intuito de estabelecer orientação para projetos voluntários de
recomposição florestal para a compensação de emissões de gases de efeito estufa
(GEE). Além da resolução, a tese de doutorado de Oswaldo Stella Martins, idealizador
do programa Carbon Free, intitulada Determinação do potencial de sequestro de
carbono na recuperação de matas ciliares na região de São Carlos (SP), trouxe todo o
embasamento científico necessário para a definição das metodologias contidas no
Protocolo Carbon Free: um padrão brasileiro para a compensação de emissões de
gases de efeito estufa por meio de restauro florestal. Por meio dela, os cálculos de
carbono do programa consideram que 1 tCO2e emitida pode ser fixada, em média, com
o crescimento de 6 árvores nativas de mata atlântica ao longo de 37 anos a partir de seu
plantio. Ou seja, no Programa Carbon Free, a meta de fixação de Carbono atmosférico é
320 tCO₂ por hectare de floresta recomposta. O valor é adotado para os projetos
implantados no bioma Mata Atlântica e áreas de contato.

Especificamente para projetos de restauro florestal voltados para a recomposição da


saúde ecológica de matas ciliares e conservação da biodiversidade, existem duas
resoluções importantes, a CONAMA 429-2011 e a SMA32 - 2014, publicadas em 02 de
março de 2011 pelo Ministério do Meio Ambiente e em 03 de abril de 2014 pela
Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, respectivamente. Essas diretrizes e o
conjunto de critérios e procedimentos adotados tem por objetivo garantir que o
mecanismo de compensação promova não só a remoção e estoque de carbono da

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 165

Brasil
atmosfera, mas também a elevação da qualidade ambiental de paisagens rurais
brasileiras, maximizando benefícios para a biodiversidade, recursos hídricos e
conservação do solo.

As empresas podem compensar as emissões anuais provenientes de suas atividades,


eventos, produtos ou serviços. Desde a criação do programa, foram desenvolvidos mais
1.400 projetos com o financiamento de 500 empresas e plantadas 560 mil árvores
nativas do bioma Mata Atlântica, especialmente no sudeste do país. As áreas de restauro
são escolhidas por meio de uma rede de parcerias com diversas ONG’s, cooperativas,
associações e órgãos governamentais.

No Sistema Cantareira, o programa Carbon Free começou a atuar em 2015 em parceria


com o projeto Conservador da Águas. O primeiro como um captador de recursos das
empresas, e o segundo como o executor das recomposições florestais previstas nas
compensações. Ambos, portanto, amarrando as duas pontas: a empresa usuária de
recursos ambientais e o proprietário rural, o provedor.

2. Resultados e Discussão

2.1. Na primeira ponta: os financiadores e usuários de recursos ambientais

Segundo Abramovay 2012, na economia neoclássica, o valor é definido sem levar em


conta a matéria e a energia necessários para a produção de um bem ou serviço, ou seja,
os custos ambientais da produção capitalista não são considerados nos processos de
precificação das empresas. É, portanto, um princípio ao mesmo tempo lógico e cruel,
pois indica que a tendência das empresas é sempre externalizar os seus impactos
climáticos, que assim serão pagos pela sociedade. Ao mesmo tempo, hoje se discute de
maneira muito mais ampla a necessidade da preservação do meio ambiente para que as
gerações futuras tenham as mesmas oportunidades que as atuais, e para isso é
fundamental que as empresas e governos assumam as responsabilidades devidas. A
Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015 apresentou uma nova agenda de
desenvolvimento, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, nos quais fica claro o

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 166

Brasil
princípio de proteção do meio ambiente no longo prazo. Entre os princípios, pode-se
destacar:

Estamos determinados a proteger o planeta da degradação, sobretudo por meio do


consumo e da produção sustentáveis, da gestão sustentável dos seus recursos naturais e
tomando medidas urgentes sobre a mudança climática, para que ele possa suportar as
necessidades das gerações presentes e futuras.

O futuro das empresas exigirá que os custos ambientais sejam publicizados, mitigados e
absorvidos pelas mesmas, tanto por leis que regem os mercados, como por uma
sofisticação da demanda, que passará a exigir a internalização dos impactos ambientais
por parte das organizações. A reputação das empresas, portanto, será cada vez mais
relacionada com a forma com a qual elas lidam com suas próprias externalidades
negativas. “Na sociedade da informação em rede, o capital reputacional das empresas
ganha importância cada vez maior” (ABRAMOVAY, 2012).

Portanto, a busca por soluções relacionadas à compensação das emissões de gases de


efeito estufa está relacionada com a demanda da sociedade por produtos e serviços que
absorvam os custos de seus impactos. O Programa Carbon Free, nesse sentido,
apresenta uma possibilidade real e efetiva de mensuração e mitigação, oferecendo ao
financiador (poluidor) a oportunidade de comunicar aos seus clientes que seu impacto
foi reduzido por meio de um projeto com diversos benefícios socioambientais. A
empresa precisa justificar seus impactos, oferecendo serviços que sejam de fato úteis
para a sociedade, mas também apresentando maneiras adequadas e adicionais de
mitigação. Ainda nas palavras de Abramovay 2012, pode-se destacar:

“Não se trata apenas de reconhecer as “externalidades” da economia e enfrent -las


por meio de leis e da intervenção do Estado. Mais que isso, trata-se de localizar e
medir como cada empresa e cada setor econômico usam recursos cujo caráter privado
submete-se a uma avaliação socioambiental cada vez mais exigente. ”

No caso de Extrema-MG, os resultados obtidos entre 2015 e 2016 foram significativos


em termos de hectares restaurados pela compensação das emissões de carbono de

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Brasil
empresas dos mais variados setores. O quadro abaixo ilustra os números atingidos pelo
Programa Carbon Free nessa região:

Tabela 1. Empresas financiadoras do Programa Carbon Free em Extrema, entre


2015 e 2016.

Empresa Número de Empresa Número de


Árvores Árvores

Caixa Seguradora 17.188 LC Restaurantes 602

Ultragaz 372 RA Embalagens 719

Premia Pão 67 FIESC 214

ACE Engenharia 335 Cause Brasil 61

Get2gether 117 Sanofi 1.269

Wear Leaf 20 Interaxa Brasil 477

Equalizze 9 AON 359

Associação Brasileira de 60 Hunter Douglas 1.135


Custos

Risadaria Muito Além da 40 Delegação da União Européia 964


Piada no Brasil

Netshoes 98 Travel Week 1.488

Arval Brasil 1.747 Sagarana Comunicação 1.000

B & T Corretora 185 UNICA 500

CNI - Confederação 289 Leroy Merlin 21.000

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 168

Brasil
Nacional da Indústria

Percebe-se uma variedade muito grande de setores de atividade dos financiadores e


dimensão dos projetos, o que demonstra que o Programa Carbon Free atrai as mais
variadas empresas, com distintos perfis de emissão de GEE, especialmente no que se
refere a escala. São eventos, produtos, serviços e atividades mensuradas e compensadas
por meio do plantio de espécies nativas. Como exemplo, destaca-se a Leroy Merlin
Companhia Brasileira de Bricolagem Ltda., uma rede de lojas de materiais de
construção de origem francesa, pertencente ao Grupo ADEO, que financiou o plantio de
21.000 árvores nativas (12,5 hectares) para a compensação das emissões de gases de
efeito estufa decorrentes da construção de 3 lojas na Região Metropolitana de São Paulo
em 2015. A ação fez parte de uma política de redução de impactos da empresa. Em seu
relatório de sustentabilidade de 2014, é possível destacar:

“Somos uma empresa que acredita que a sustentabilidade um assunto de extrema


importância para o sucesso dos negócios e para o crescimento das pessoas que fazem
parte da Leroy Merlin Brasil. Para nós, esse sucesso e esse crescimento vão muito além
da simples definição da palavra. Eles são resultado de uma construção conjunta entre
todos os nossos públicos. Da crença de que o impacto de nossas ações pode ser cada
vez mais positivo quando nos comprometemos com a sustentabilidade”.

Portanto, a solução apresentada pelo Programa Carbon Free é encarada por empresas
dos mais variados setores como uma estratégia eficiente de internalização dos custos
ambientais de suas atividades. Os co-benefícios ambientais gerados pelos projetos de
restauração ecológica demonstram para os financiadores e para a sociedade que os
investimentos retornam em forma de serviços ambientais e incremento do valor das
marcas envolvidas.

2.2. Na última ponta: os provedores de recursos ambientais

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Brasil
Por meio dos financiamentos voluntários do programa Carbon Free, 30,5 hectares de
fragmentos degradados de mata nativa foram recompostos em parceria com o projeto
Conservador das Águas em Extrema -MG. O projeto, criado em 2005 e que se
fortaleceu com o Decreto 1.703 que regulamentou a Lei Municipal 2.100/2005, prevê
financiamento, pelo executivo, aos proprietários rurais para práticas conservacionistas
de solo, implantação de sistema de saneamento ambiental rural, implantação e
manutenção de APPs e implantação da Reserva Legal. Apesar de toda a área do
município estar inserida na Unidade de Conservação Estadual Área de Proteção
Ambiental (APA) Fernão Dias, criada pelo Decreto Estadual n° 38.925/97, o foco do
projeto é as Macrozonas de Conservação Ambiental previstas pelo plano diretor: “a
Macrozona de Conservação Ambiental compreende toda a área do Município acima da
cota de 1.200 (um mil e duzentos) metros, exceto nas Serras do Lopo, dos Forjos e de
Itapeva, que têm início na cota 1.100 (um mil e cem) metros, bem como as áreas que
margeiam os corpos d'água em todo o território municipal: 50 (cinquenta) metros das
margens dos rios Jaguari e Camanducaia, 30 (trinta) metros nas margens dos demais
cursos d' gua e raio de 50 (cinquenta) metros das nascentes” (Plano Diretor Lei
Complementar n, 083 De 25 de fevereiro de 2013). As interlocuções entre a prefeitura e
o proprietário que tem, nos limites de sua propriedade, áreas conforme as descritas
acima, são feitas de modo a conciliar os interesses de ambos os atores. A prefeitura
intenciona tornar unidade de conservação de proteção integral o máximo de áreas
possíveis da macrozona de conservação conforme o orçamento previsto pelo plano
plurianual destinado para o projeto. O proprietário, por sua vez, também vislumbra boa
oportunidade ao receber recursos da prefeitura para a destinação dos fragmentos
pertinentes à preservação permanente porque são, de modo geral, áreas de pasto
íngreme, degradadas e de baixa produtividade que, uma vez restaurados com mata
nativa, tem grande valor na provisão de serviços ambientais.

Logo, a escolha das áreas, as interlocuções com os proprietários e o projeto executivo


são atribuições do projeto Conservador das Águas. O programa Carbon Free, enquanto
uma fonte complementar ao PSA direto pelo executivo de Extrema, desde 2015,
financiou o plantio de 30,5 hectares em três áreas:

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 170

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Figura 17. Áreas 1, 2 e 3 que totalizam 30,5 hectares

Figura 18. Área 1 reconhecimento da área (out/2015), cercamento e abertura de berços (abri/2016)

Figura 3. Área 1 – desenvolvimento das mudas – (jun/2016)

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 171

Brasil
As áreas 1 e 2 receberam plantio das mudas em 2015 e a área 3, em 2017. Os critérios
de recomposição florestal estão descritos no protocolo do programa Carbon Free,
congruente com a metodologia Pacto da Mata Atlântica e nas resoluções de restauração.
As manutenções e o monitoramento das árvores são feitos tanto pela equipe de plantio
do Conservador das Águas quanto pela Iniciativa Verde.

Em termos de sequestro de carbono, o resultado esperado e estimado por essas


recomposições totaliza a fixação de 9.760 toneladas de dióxido de carbono para o
atendimento da compensação das emissões diagnosticadas das diversas atividades
relativas aos financiadores voluntários do programa. São plantadas cerca de 90 espécies
diferentes por hectare entre mudas de diversidade e de preenchimento.

Figura 4. Área 2 - evolução da paisagem de 2015 a 2017

A prefeitura conta com uma equipe capacitada para o plantio de nativas. A equipe
responsável pelo plantio e manutenção das mudas das recomposições financiadas pelo
Programa Carbon Free de 2017 é composta por 5 trabalhadores.

Figura 5. Geração de renda no campo –


equipe do Conservador das Águas
transportando mudas e abrindo berços

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 172

Brasil
Conclusão

Diferentemente de projetos de compensação ambiental comuns, que atuam para


‘contrabalancear’ minimamente um impacto ambiental não mitigável sem gerar
melhoria da qualidade ambiental, projetos de compensação de emissões de GEE,
conceitualmente atuam, sim, no âmbito da mitigação e podem se configurar como um
instrumento econômico importante para a adequação ambiental e potencialização da
provisão de serviços ecossistêmicos. Projetos de recomposição florestal além de
contribuir para a mitigação às mudanças climáticas (com o sequestro de carbono) e
adaptação - enquanto infraestrutura natural para a restauração de corpos d’água e, neste
caso, de mananciais que sofrem grande pressão antrópica - são responsáveis por
promover múltiplos benefícios ambientais e sociais locais. O Carbon Free, em parceria
com o Conservador das Águas, gerou resultados que denotam que financiamentos
voluntários advindos do engajamento e das pressões dos setores econômicos,
especialmente associados à consciência da responsabilidade das organizações quanto à
internalização dos impactos, são importantes e precisam se expandir. O ônus pela
utilização dos recursos deve ser internalizado pelos governos, sociedade civil e também
pelas empresas.

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Paulo.

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EVOLUÇÃO ESPACIAL DAS VOÇOROCAS URBANAS NO NOROESTE DO


PARANÁ E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A CIDADE: ESTUDO DE CASO DO
MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ DE MONTE CASTELO – PR

L. Mattana Carollo da Luz; C. Gonçalves Mangueira e L. José Cordeiro Santos.

Universidade Federal do Paraná, Av. Cel. Francisco H. dos Santos, s/n. Curitiba –
Brasil. [email protected].

RESUMO

A gênese dos processos erosivos hídricos lineares está ligada a processos naturais sendo
potencializadas pela ação antrópica. Os resultados destes processos causam um grande
impacto ambiental, pois elas podem ocorrer tanto no meio rural quanto do meio urbano,
sendo nesse último caso de grande significância, pois há a possibilidade de colocar em
risco a população. Nessas circunstâncias, a compreensão das causas e a interação com a
área urbana auxiliará o controle e futuros planejamentos ambientais e urbanos no
combate as feições erosivas. A problemática referente a erosão no noroeste do Estado
do Paraná foi publicada em diferentes eventos e estudada por diversos autores.
Atualmente, um convênio firmado entre o Laboratório de Biogeografia e Solos (LABS)

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da Universidade Federal do Paraná e Serviço Geológico do Paraná - MINEROPAR,
permitiu o mapeamento e o cadastramento de feições erosivas a fim de ofertar subsídios
para um plano de gerenciamento de riscos, sendo esse artigo um produto desta análise.
Com uma característica particular de implementação da malha urbana no noroeste do
Estado do Paraná e relacionando fatores geomorfológicos, o presente trabalho tem por
objetivo analisar evolução das feições erosivas localizadas na área urbana do município
de Santa Cruz de Monte Castelo - PR, entre os anos de 2005 a 2016, através de imagens
de satélites disponibilizadas pelo banco de dados do Google Earth Pro.

Palavras Chave: erosão, risco geomorfológico, planejamento ambiental

INTRODUÇÃO

O crescimento da urbanização no Brasil provoca alterações significativas na


paisagem, principalmente na transição entre o meio urbano e o meio físico natural, pois
muitas das vezes este crescimento ocorre de maneira desordenada e sem um estudo que
leve em consideração os condicionantes físicos existentes. Deste modo, o estudo dos
processos geomorfológicos torna-se essencial para o planejamento da construção de
novos espaços urbanos.

Em relação ao planejamento, conforme Guerra e Marçal (2006), a


Geomorfologia com seu conhecimento de formas de vertentes e os processos a elas
associados, podem contribuir para o uso e ocupação adequada dos solos, pois conforme
os mesmos autores, o correto uso pode evitar danos tanto locais, quanto em áreas mais
afastadas. Pois a Geomorfologia oferece parâmetros para a compreensão da ação dos
processos geomorfológicos em ambientes construídos – erosões lineares hídricas,
movimentos de massa, inundações, entre outros – (JORGE, 2011). Assim, é
imprescindível a análise das características geomorfológicas em planejamentos e em
políticas públicas urbanas. Entretanto este tema apenas é discutido após a ocorrência de
problemas sérios.

Um dos principais problemas enfrentados nas áreas urbanas nos municípios


brasileiros remete-se a degradação do solo através dos processos de erosão linear
acelerada – ravinas e voçorocas. Nessas localizações o problema agrava-se devido a
concentração de águas pluviais no processo de escoamento superficial, no qual grande
parte das cidades não apresentam um sistema adequado de drenagem. Este problema
acentua-se devido ao clima tropical predominante no Brasil, no qual os totais

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 176

Brasil
pluviométricos são bem elevados e concentram-se em certas estações do ano
(GUERRA, 2011; IWASA e FENDRICH,1998).

O objeto de estudo nesse trabalho a erosão hídrica linear avançada, causa


grandes impactos ambientais e podem acarretar danos a sociedade. O início de sua
formação está ligado a processos naturais, mas também a atividades antrópicas, sendo a
ação humana um fator que potencializa tal processo. Em meio a isso, as feições erosivas
podem ocorrer tanto no meio rural quanto no meio urbano, sendo nesse último caso de
grande significância, pois podem colocar em risco a população. Além disso, a
desagregação das partículas do solo em grande quantidade oriunda desse processo
resulta em assoreamento dos rios e de deposição ao longo do canal fluvial.

O processo provocado pela concentração do escoamento superficial pela


urbanização acarreta em incisões na superfície do solo, formando sulcos, podendo
evoluir aprofundando-se e tornando-se ravinas. Caso ela seja influenciada também por
fluxos subsuperficiais, onde incluímos o lençol freático, considera-se uma voçoroca (ou
boçoroca) (OLIVEIRA, 1993).

No caso específico do noroeste do Paraná, a porção do Estado historicamente


sofre com processos de erosão linear, pois esta é uma região com alta suscetibilidade a
perda de solo, muito devido a suas características geológica, geomorfológica e
pedológica, além da própria forma como foi implantado e ocupado os centros urbanos.

Uma parceria realizada em 2014, entre o Serviço Geológico do Paraná e a


Universidade Federal do Paraná firmou o projeto intitulado “MAPEAMENTO DOS
PROCESSOS EROSIVOS EM MUNICÍPIOS DO NOROESTE DO PARANÁ:
SUBSÍDIOS PARA UM PLANO DE GERENCIAMENTO DE RISCOS”. Este atende
a uma demanda do Governo Brasileiro relacionada ao inventário de acidentes
geológicos e geomorfológicos no território e tem por objetivo o cadastramento das
voçorocas encontradas nos centros urbanos e periurbanos da região.

Na primeira etapa do projeto foram identificados 33 municípios com feições


erosivas, num total de 98 erosões. Foram priorizadas as cidades segundo o número de
sua população, a proximidade das feições com a área urbana e a quantidade encontrada.
Dentro da área urbana de Santa Cruz de Monte Castelo, uma foi categorizada como

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prioritárias. No cadastramento, cada feição erosiva recebeu um código e nela há dados
quantitativos e qualitativos. O município de Santa Cruz de Monte Castelo insere-se
nesse contexto de ocupação, destacando-se pela presença de uma grande feição erosiva,
localizada na sua área urbana.

O objetivo do trabalho é abordar a evolução espacial da voçoroca, situada na


sub-bacia Água Quente, abordando sua interação com o crescimento e desenvolvimento
da área urbana da cidade com a sua extensão.

2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1. Processos erosivos lineares no noroeste do Paraná

O processo de urbanização no noroeste do Paraná possuiu particularidades. Os


planos urbanísticos inicialmente foram projetados e executados na porção mais alta das
colinas e dos espigões, ou seja, a malha urbana se instalou a partir dos divisores de
águas (FIGURA 1). Além disso, uma outra característica são os arruamentos instalados,
no qual, localizam-se ao longo das vertentes seguindo o sentido montante-jusante.

Figura 1 – Modelo de implantação das cidades no noroeste do Paraná. Fonte: adaptado


de CMNP, 1977.

Relacionando está característica de implementação com questões


geomorfológica da região, poderá ser feito uma abordagem afim de compreender como

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as erosões lineares se formam e se desenvolvem devido a este tipo de configuração
urbana.

A geomorfologia dessa porção do Estado caracteriza-se por apresentar colinas


com topos alongados e aplainados (SANTOS et al, 2006). Situado no Planalto de
Paranavaí, este apresenta características segundo o levantamento de vulnerabilidade
geoambiental realizado por Santos et al (2007), predomínio de Latossolos textura
média, situados no terço superior/médio das vertentes com média suscetibilidade a
processos erosivos, enquanto que no terço inferior, predomina os Argissolos textura
aresona/média, com alta sucetibilidade à processos erosivos.

Além das condicionantes naturais à formação das feições erosivas (geologia,


relevo, solo, clima), existe também o fator antrópico. Quando em áreas urbanas, Iwasa e
Fendrich (1998) apontam que as principais causas de surgimento das feições remetem-
se ao traçado inadequado do sistema viário (figura 2) juntamente com a compactação do
solo e a deficiência do sistema de drenagem de águas pluviais e servidas, tanto nas
formas de captação, como na dissipação.

Figura 2 – Representação de sistemas viários implantados nas áreas urbanas. A) sistema


viário adequado, dissipando a energia das águas pluviais; b) sistema viário inadequado,
concentrando as águas pluviais para os pontos de descarga.

O processo de urbanização nesta porção do Estado, com a compactação do solo


ao longo das vertentes, ocasiona na diminuição da infiltração das águas pluviais,
acarretando um maior fluxo de escoamento superficial e de energia. Conforme o
relatório técnico elaborado pela SUCEAM (1994), o desenvolvimento e a acentuação de
processos erosivos estão associados a instalação dos loteamentos nos divisores, com o

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 179

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padrão viário, vias longas e situadas perpendicularmente às curvas de nível, no qual,
está junção, acelera a concentração e o escoamento da água pluvial. Conforme
Westphalen (2008), a associação entre velocidade de escoamento superficial na rede
viária com a presença de solos descobertos à jusante das vertentes, propícia o
desenvolvimento dos processos erosivos.

2.2. Localização

A cidade está localizada na porção norte (em relação ao rio Ivaí) da região
noroeste do Paraná (figura3), com extensão territorial de 442 Km², tendo uma
população estimada de 8.140 habitantes, sendo que mais de 70% da população vive na
área urbana da cidade (IBGE CIDADES, 2016). Com base no Mapeamento dos
Processos Erosivos em Municípios do Noroeste do Paraná, a cidade apresenta 1 grande
feição erosiva próxima a sua área urbana (figura 3).

Figura 3 – Localização de Santa Cruz de Monte Castelo, Paraná. Fonte: os autores,


2017.

2 MATERIAL E MÉTODOS

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Brasil
A primeira etapa para a compreensão da evolução das feições erosivas dentro da
cidade e no seu entorno corresponde ao seu cadastramento. Este método permite a
análise do comportamento das feições e o seu produto garantir dados mais concisos para
projetos de contenção.

Afim de compreender a evolução da feição em Santa Cruz de Monte Castelo,


utilizou-se dos softwares Google Earth Pro e ArcGIS 10.1. No primeiro momento foram
identificadas as feições erosivas por meio de interpretação de imagens disponibilizadas
pelo banco de dados do Google Earth. Está interpretação ocorreu dentro e próximo dos
limites urbanos e sua identificação se sucedeu através de indicadores de processos
erosivos, como as cabeceiras de drenagem, cuja áreas à montante se encontram
urbanizadas. Após, realizou-se o georreferenciadas no ArcGIS e a delimitação dos
polígos das feições erosivas em diferentes datas no período de 2005, à 2016. Em
seguida, fez-se um cálculo estimando do aumento da erosão em m², levando em
consideração a distorção nas imagens devido ao fato que o Google Earth é composto por
várias imagens de satélites diferentes, segundo Lopes e Nogueira (2011).

A ficha de cadastro é composta de informações quanto as características da


origem e da forma de ocorrência das feições erosivas, bem como relacioná-las aos
principais condicionantes de meio físico. Logo, este cadastramento contém dados
quantitativos e qualitativos, sendo estas informações coletadas tanto na etapa de
gabinete quanto na etapa de campo.

Para contribuir no cadastramento e afim de subsidiar prováveis projetos de


contenção, também foi elaborado um croqui de uso da terá próximo das feições
erosivas, através das imagens georreferenciadas, com o objetivo de detalhar a forma de
ocupação nas proximidades da feição, além de visualizar a disposição do arruamento.

A Ficha Cadastral de Erosões Urbanas foi elaborada pelo Laboratório de


Biogeografia e Solos, da Universidade Federal do Paraná, conforme propostas já
utilizadas por outros autores e instituições (CETAE e LARA, 2010; SOPCHAKI e
SANTOS ,2012; IPT, 2012). O método de trabalho utilizado para a identificação e
cadastramento das erosões urbanas e periurbanas segue conforme o fluxograma
simplificado abaixo. (FIGURA 4).

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Figura 4 - Fluxograma do método para cadastramento das erosões urbanas. Fonte:
adapatado de IPT, 2012.

Deste modo, tanto os dados detalhados quanto as observações de campo


possibilitam uma análise de grande significância para a compreensão da interação da
feição erosiva com a área urbana, possibilitando previsões de evolução e sugestão de
medidas preventivas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O processo erosivo ocorre próximo a área urbana de Santa Cruz de Monte


Castelo, na sub-bacia do córrego Água Quente, sendo este corregó afluente do rio
Patrão, no qual desagua em um dos principais rios do país, o Rio Paraná.

Ao longo do período analisado, a feição erosiva identificada acompanha o


crescimento da própria cidade, com a implementação de arruamentos, construção de
equipamentos urbanos e residências e impermeabilização do sistema viário. A evolução
da feição erosiva, no período estudado, foi estimada em m² (quadro1).

Quadro 1 – Evolução da feição erosiva e sua estimativa em m².

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Crescimento
Código Ano Área (m²) Detalhe da cabeceira da feição
(m²)

2005 27.479 -

SC01 2013 46.135 19.656

2016 50.880 4.745

A feição erosiva identifica, foi codificada de SC01 e está localizada na porção


oeste da área urbana, sendo seu comprimento estimado de 1.105 metros. Ela estende
desde o terço médio da vertente até o terço inferior. Sobre sua evolução durante os anos
analisados note-se que:

• 2005: a voçoroca já se encontrava em estado avançado. Nota-se o


transporte de material ao longo da feição;

• 2013: há um avanço da cabeceira da erosão, assim como o alargamento ,


indicando assim movimentos de massa, também não apresenta em seu inteior vegetação,
deste modo, leva-se a configurar o caráter ativo da feição erosiva. Também percebe-se o
transporte de material em direção ao leito do rio e nas margens da erosão;

• 2016: há um aumento significativo da cabeceira da erosão e uma


ramificação na sua margem esquerda, sentido arruamento;

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Em campo, realizado em 2016, foram observados outros fatores que determinam
o avanço da erosão linear cadastrada. Observou-se a bifurcação da erosão, solapamento
e movimento de massa, água no interior da erosão, pouco lixo na lateral da feição.
Também foi identificado obra de recuperção da cabeceira da erosão. (FIGURA 5).

Figura 5 – Feições indicativas de avanço das erosões identificadas em campo.

A identificação de tais mecanismos – movimento de massa, solapamento, alcova


de regressão - caracterizam a feição erosiva como ativa, ou seja, a erosão não atinge seu
equilibrío entre a área de contribuição e a declividade a montante das feições. Em
ambiente urbano, a lógica deste ponto de equilíbrio altera-se, pois há uma
descaracterização da paisagem natural e também a a interferência direta no que tange a
infiltração e escoamento das águas pluviais, tanto proporcionadas pelas obras de coleta
e dispersão, quanto pela interferência do próprio sistema viário implemetado. Sendo
assim, o limite de avanço da feição erosiva não pode mais ser relacionado apenas com
fatores naturais, mas agora com fatores da própria engenharia de drenagem urbana
instalada.

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 184

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O objetivo da drenagem urbana, em geral, é destinado à rápida remoção dos
volumes de água pluvial, dimensionando galerias, bueiros e canais da área central da
cidade. As águas superficiais, pluviais ou servidas, provenientes da bacia de
contribuição, devem ser captadas e conduzidas pelo interior da voçoroca ou desviadas
da cabeceira, até um lugar onde sua energia possa ser dissipada (IWASA E
FENDRICH, 1998).

Na figura 6, podemos perceber a direção de fluxo do escoamento superficial


proveniente das áreas impermeabilizadas (ruas e avenidas) que escoam diretamente para
a feição erosiva na sub-bacia do Córrego de Água Quente. Constata-se que a própria
localização da cidade e forma de arruamento promove o aumento de energia das águas
superficiais em direção à feição erosiva. Além disso, também pode-se notar não só o
problema do próprio aumento do fluxo de água chegando à voçoroca, mas também em
relação aos sedimentos carregados pela erosão para os cursos d’água, no qual, estes
sedimentos poderão carregar poluentes oriundo dos centros urbanos e deste modo,
reduzir a qualidade da água.

Figura 6 – Área de contribuição da feição erosiva do município de Santa Cruz de Monte


Castelo.

4 CONCLUSÕES

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Um planejamento adequado deve-se levar em consideração as tendências de
crescimento urbano e também as particularidades do meio físico, pois a falta destas
análises, em geral, tratando-se de erosões urbanas, contribui para o surgimento e o
desenvolvimento das feições erosivas.

A interação entre as feições erosivas e a área urbana do município de Santa Cruz


de Monte Castelo dentro do contexto do noroeste do Paraná, foi constatado que a ação
antrópica condiciona e potencializa o desenvolvimento remontante dessas feições.

A fim de evitar mais prejuízos à população destas cidades, deverá ser realizado o
planejamento de contenção a médio e longo prazo, além de um rígido e contínuo
monitoramento da evolução das feições encontradas por parte do poder público.

O município de Santa Cruz de Monte Castelo é apenas um dentre os


contemplados no projeto. Um dos intuitos ao final do projeto, é que essas informações
coletadas e estudos realizados possam servir de base em benefício da população dessa
região.

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de Geografia da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.

AMOSTRAGEM DO SOLO PARA IMPLANTAÇÃO DE CEMITÉRIO COM


ANÁLISE DAS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES PROVENIENTES DA BACIA
CARBONÍFERA DE SANTA CATARINA E ATIVIDADES REGIONAIS

P. Pederiva; M.C.L.Erbe; E.N.L.Romanó

Mestrado Profissional em Meio Ambiente Urbano e Industrial-PPGMAUI,


Universidade Federal do Paraná – UFPR - Centro Politécnico – Curitiba, Paraná,

XI Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas – 04 a 06 de abril de 2017 – Curitiba – Paraná 187

Brasil
Brasil, Caixa Postal 19.011 - CEP 81531-980, telefone: (41) 3361-3614, e-mail:
[email protected].

RESUMO

O crescimento populacional desenfreado aliado a falha de planejamento demanda, em


diversas ocasiões, ações incorretas de destinação de restos mortais, em muitas cidades
brasileiras. A condição ambiental dos cemitérios existentes merece atenção especial no
que tange as suas condições estruturais de planejamento e execução, bem como a
disseminação de poluentes decorrentes da contaminação do solo por líquido humoroso
proveniente da decomposição cadavérica. Tal situação vêm sendo observada pela
legislação ambiental federal de maneira incipiente, não abrangendo a sistemática
ambiental complexa que envolve a implantação de uma necrópole em determinado local
com características especificas de solo, topografia e clima. O presente estudo tem como
objetivo analisar os aspectos ambientais, segundo a legislação ambiental vigente, bem
como propor alternativas técnicas para implantação do cemitério. A metodologia é
baseada em análise físico-química, granulometria e metais pesados do solo, devido à
suspeita de contaminação do mesmo pela atividade de exploração do carvão presente na
bacia hidrográfica e existência de curtume nas proximidades do imóvel. Foi levantada a
profundidade do aquífero confinado, durante as coletas das amostras de solo, sendo
fator determinante para a viabilidade de um cemitério parque, conforme proposto
inicialmente. As amostras de solo, combinadas às informações coletadas em campo, e a
estudos existentes da Bacia Hidrográfica de Araranguá fornecerão subsídios para a
tomada de decisão quanto a viabilidade da implantação do cemitério parque. Serão
propostos também o layout de implantação, com os dispositivos de prevenção a
contaminação, dentro do que dispõe a legislação ambiental vigente.

Palavras Chave: cemitério; meio ambiente; solos; planejamento ambiental;

INTRODUÇÃO

Se inadequadamente localizados ou insuficientemente protegidos, os cemitérios


representam um problema de saúde significativo para as pessoas (Fisher e Croukamp,
1993). Os cemitérios podem causar sérios impactos ao meio ambiente, por meio do

188
aumento da concentração de substâncias orgânicas e inorgânicas nas aguas subterrâneas
e pela eventual presença de microrganismos patogênicos (Ucisik & Rushbrook, 1998).

Necrópoles que promovam inumações diretamente no solo ou com estruturas


ineficientes de acondicionamento configuram fontes potenciais de contaminação do solo
e do aquífero por necrochorume, sofrendo lixiviação de componentes químicos
decorrente da decomposição dos restos humanos para o solo e consequentemente para
aquíferos. O necrochorume e caracterizado por ser um líquido viscoso mais denso que a
agua (1,23 g/cm³), rico em sais minerais e substancias orgânicas degradáveis, castanho-
acinzentado, polimerizavel, elevada demanda bioquímica de oxigênio (DBO), de cheiro
acre forte e com grau variado de patogenicidade (Silva,1995).

Há também a emissão de gases funerários, principalmente dióxido de carbono,


gás sulfídrico, mercaptanas, gás metano, amônia e fosfina (hidrato de fósforo incolor e
inflamável). No caso de embalsamamento o corpo libera formaldeído e metanol, no caso
de quimioterapia também são liberadas no solo substâncias químicas dos medicamentos
ingeridos em vida. Durante a decomposição dos caixões, também são liberadas
substâncias químicas contaminantes como o verniz, conservantes da madeira (fontes de
metais pesados como cromo ou organoclorados, como o pentaclorofenol) e as partes
metálicas dos caixões, como alças e adereços, que podem liberar Chumbo, Zinco,
Cobre, Cromo e Níquel e Ferro (Spongberg&Becks, 2000). Madeiras utilizadas em
caixões e não tratadas se decompõem rapidamente, permitindo uma acelerada
disseminação de líquidos humorosos.

Por esta razão, é imprescindível que a implantação de um cemitério seja


precedida de estudos investigativos das condições ambientais locais, baseado na
legislação ambiental vigente, e dotado de dispositivos de prevenção a poluição. O
atendimento a requisitos mínimos para implantação e operação de cemitérios atualmente
é garantido, tendo em vista que os órgãos ambientais estaduais e municipais estão
melhor estruturados, e já contam com dispositivos legais para norteamento das ações de
fiscalização e análise ambiental de empreendimentos desta natureza.

Vários países não dispõem de regulamentações legais adequadas para o devido


planejamento e implantação de atividades mortuárias. No Brasil apenas no ano de 2003
foi criada a Resolução CONAMA n⁰ 335, alterada pelas Resoluções 368/06 e 402/08,
regulamentando o licenciamento ambiental de cemitérios. Estas Resoluções têm que ser

189
aliadas a demais dispositivos legais para que possam atender a sistemática complexa de
cada empreendimento cemiterial. O Estado de Santa Catarina ainda não possui
legislação ambiental específica destinada a cemitérios, porém durante o processo de
licenciamento a Instrução Normativa n⁰ 05 da FATMA (Fundação de Amparo à
Tecnologia e Meio Ambiente) serve de base para escopo mínimo de documentos e
estudos a serem apresentados, baseada no disposto na Resolução CONAMA 335/03 e
suas alterações.

O local objeto de estudo encontra-se no Município de Araranguá, Estado de


Santa Catarina, onde sofre influências antrópicas severas provenientes da Bacia
Carbonífera de Santa Catarina, que se estende pelo Sudeste do Estado. A lixiviação das
pilhas de rejeitos de beneficiamento e estéreis de produção, além das minas paralisadas
e coqueiras são as grandes fontes de contaminação do solo. O aquífero também é
altamente prejudicado pois a oxidação da pirita torna as águas de drenagem das minas
(subsolo e céu aberto) e os efluentes das usinas de beneficiamento ácidas, solubilizando
os metais presentes no minério e nos rejeitos associados, contaminando os recursos
hídricos. Denota-se, com estas contribuições ao meio ambiente, a importância do estudo
integrado do meio físico no imóvel objeto de implantação do cemitério, com a
investigação do solo anterior a sua implantação, para estabelecimento de critérios que
possam ser usados na sua locação.

O presente estudo objetiva a caracterização da área destinada a implantação do


cemitério no Município de Araranguá, vislumbrando as características ambientais, e
possíveis interferências decorrentes das atividades antrópicas presentes na área de
Influência Direta, por meio de análises químicas e físicas de solo. Estas informações
servirão de subsidio para a tomada de decisão para a implementação do cemitério
parque, com a descrição dos sistemas de prevenção à poluição e medidas mitigadoras
adequadas para a minimização do impacto ambiental decorrente da atividade.

Objetivos

Dentro do objetivo geral apresentado, estes são os seguintes objetivos a serem


alcançados com o presente estudo:

1. Realizar análise química dos solos com os seguintes parâmetros de análise de


rotina: pH, Ca, Mg, Al, P, K, C, H+ Al;

190
2. Realizar análise granulométrica dos solos;
3. Realizar análise de metais pesados baseada na Resolução CONAMA 420/09 e
cromo;
4. Avaliar a contribuição para o solo da extração de carvão realizada na Bacia do
Rio Araranguá e atividades regionais relevantes;
5. Avaliar a contribuição para o solo proveniente de curtume existente nas
proximidades;
6. Propor medidas técnicas para implantação do cemitério parque
MATERIAL E MÉTODOS

O imóvel objeto de estudo está localizado no Município de Araranguá, Estado de


Santa Catarina, que possui área aproximada de 303 Km , sob as coordenadas 28° 49’
59” a 29° 59’ 48” de latitude Sul e 49° 17’ 26” a 49° 37’ 23” de longitude Oeste de
Greenwich. Araranguá é um município do extremo sul de Santa Catarina, distante 214
quilômetros da capital Florianópolis.

Figura 19: Localização da área de estudo segundo


municípios vizinhos (IBGE, 2010).
Figura 20: Localização da área de estudo (IBGE,
2010).

A área objeto de estudo está localizada na área rural da cidade, com área de 3
hectares, compreendida sob as seguintes coordenadas;

Tabela 1: Coordenadas da área de estudo (UTM)

Leste Sul
Pontos Amostrados
Metros(m)
191
1 643975,06 6797775,12
2 644146,30 6797590,21
3 644065,31 6797502,76
4 643892,90 6797687,49

Está localizado na Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, que faz parte do sistema
da vertente atlântica e compõe, juntamente com as bacias dos rios Urussanga e
Mampituba, a região hidrográfica do Extremo Sul Catarinense. A bacia do Rio
Araranguá apresenta uma área de drenagem de 3020 km², uma densidade de drenagem
de 1,95 km², sendo de 5.021 km o comprimento de seus cursos d'água.

Figura 8: Localização da área de estudo segundo a Bacia Hidrográfica

O curso d’água mais próximo ao imóvel é o Rio Araranguá, distante


Figura 21: Localização do área de estudo na Bacia Figura 22: Localização da área de estudo na Bacia
aproximadamente a 1800 metros, a nordeste.
Hidrográfica do Araranguá A áreadoadjacente
Hidrográfica apresenta
Araranguá segundo lagoas, onde
o relevo o
aquífero é aflorante variando a profundidade de 0,86m, a maior que 10 metros.

A área objeto de estudo está localizada em uma zona rural, limitada ao Norte
pela rodovia BR 101, que é uma importante Rodovia de conexão entre norte e sul do
país, sendo integrante do corredor MERCOSUL, e principal acesso ao imóvel. Ao Leste
com estrada municipal do Mato Alto, ao Oeste com Germano Luis Amorim Filho
(Curtume) e ao Sul com Joacir Antônio Leal.

192
Figura 23: Localização da área de estudo segundo as vias de acesso
(GOOGLE, 2016)
Os imóveis adjacentes a área de estudo são utilizados em sua maioria para
atividade agrícola. Observa-se a existência de bairro residencial numa distância mínima
aproximada de 300 metros na porção leste, a existência de uma empresa de estocagem
de arroz em uma distância aproximada de 600 metros na porção sudoeste.

A área em que se localiza o imóvel, pertence ao Planície Litorânea, cujos


componentes geológicos fundamentais são os sedimentos síltico-argilosos e as areias
finas quartzosas, sendo os solos dominantes na área desta unidade são Glei Pouco
Húmico, Areias Quartzosas Vermelho-Amarelas (EMBRAPA, 2004).
No perímetro do imóvel objeto de estudo foram realizados vários procedimentos
para a caracterização dos meios físicos que envolveram trabalhos no campo e em
laboratório.
 Análise de Solos
Inicialmente foram alocados os pontos de coleta de solo com base na variação
topográfica do terreno, com a definição das coordenadas geográficas. Foram definidos
13 pontos de coleta de solo dentro do perímetro do imóvel, e 1 ponto a montante,
situado na porção sudeste. Posteriormente foi efetuada a amarração dos pontos através
do GPS GeoExplorer 3 System fabricado pela empresa Trymble.

Foram coletadas 39 amostras, das quais 07 amostras para análise de Cromo, 07


amostras para análise de fertilidade, e por fim 05 amostras para análise segundo a
Resolução CONAMA 420/09.

193
Tabela 16: Pontos amostrados para coleta de solos (UNESC, 2016)

Nível Profundidade
Pontos Coordenadas
freático Amostras Parâmetro da coleta da
amostrais UTM (m)
(m) amostra (cm)
Granulometria
P1a 20
Cromo
Granulometria
644071,70 E P1b 40
P1 1,4 Cromo
6797551,51 S
Granulometria
P1c Cromo 60
Conama 420
P2a Granulometria 20
644123,188 E
P2 1,4 P2b Granulometria 40
67975428,0 S
P2c Granulometria 60
Granulometria
P3a 20
Fertilidade
Granulometria
P3b 40
644115,00 E Fertilidade
P3 1,52
6797581,0 S Granulometria
P3c 60
Fertilidade
Granulometria
P3d 80
Fertilidade
Granulometria
P4a 20
Fertilidade*
Granulometria
P4b 40
644095,42 E Fertilidade*
P4 1,4
6797608,57 S Granulometria
P4c 60
Fertilidade*
Granulometria
P4d 80
Fertilidade*
P5a Granulometria 20
644092,45 E
P5 0,97 P5b Granulometria 40
6797628,59 S
P5c Granulometria 60
Granulometria
P6a 20
Fertilidade**
Granulometria
P6b 40
Fertilidade**
644067,37 E
P6 1,23 Granulometria
6797636,42 S P6c 60
Fertilidade**
Granulometria
P6d Fertilidade** 80
Conama 420
644043,02 E P7a Granulometria 20
P7 1,07
6797621,36 S P7b Granulometria 40
Granulometria
P8a 60
Cromo
644019,193 E
P8 0,97 Granulometria
6797610,15 S
P8b Cromo 80
Conama 420
194
P9a Granulometria 20
644042,19 E
P9 1,3 P9b Granulometria 40
6797673,23 S
P9c Granulometria 60
644027,06 E P10a Granulometria 20
P10 0,86
6797680,13 S P10b Granulometria 40
P11a Granulometria 20
644013,032 E
P11 1,47 P11b Granulometria 40
6797645,07 S
P11c Granulometria 60
643980,37 E P12a Granulometria 20
P12 0,92
6797645,59 S P12b Granulometria 40
P13a Granulometria 60
644020,014 E
P13 0,86 Granulometria
6797714,63 S P13b 80
Conama 420
Granulometria
P14a Cromo 20
Fertilidade***
644580,00 E
P14 >10 Granulometria
6797107,00 S
Cromo
P14b 40
Fertilidade***
Conama 420
*amostra composta: P4a, P4b, P4c, P4d
**amostra composta: P6a, P6b, P6c, P6d
***amostra composta: P14a, P14b

As amostras de solo coletadas no mês de novembro de 2015, em um período de


bastante pluviosidade, através da metodologia de coleta de solos da EMBRAPA (1997)
e as mesmas foram encaminhadas para análise físico-química do solo e granulometria,
para o Laboratório da UNESC/IPAT - Universidade do Extremo Sul Catarinense e
Instituto de Pesquisas ambientais e Tecnológicas, no Laboratório de Análise de Solos e
Fertilizantes, no mês de novembro de 2015.

A escolha dos pontos de coleta obedeceu ao seguinte critério, área vegetada


independente de ser vegetação primária ou secundária, característica de solos
hidromórficos optando pela coleta apenas dessas áreas, excluindo as áreas com intensa
atividade de extração mineral.

A coleta constou de utilização de trado manual (HOLANDÊS) e trado do tipo


rosca, onde foi introduzido um cano PVC com diâmetro de 20cm, para evitar o
escorregamento das laterais do ponto de perfuração e contaminar a amostra, até o nível
do aquífero freático, que oscilou em 0,86 m a >10 m de profundidade, conforme a
topografia do terreno.

195
As amostras foram coletadas até alcançar o aquífero freático, pois não houve a
possibilidade de separar por horizontes o perfil do solo, pois o mesmo se encontra
antropofizado, com reversão de horizontes em toda a extensão do imóvel, visto que o
mesmo foi utilizado parcialmente para extração de areia durante alguns anos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O solo analisado apresenta características químicas significativamente


diferentes, em função dos sistemas de uso. Verificou-se que o mesmo possui acidez
elevada, coloides predominam cargas elétricas negativas e que a capacidade de troca
catiônica é maior que a aniônica (TOMÉ JÚNIOR, 1997; GAMA, 1998).

Valores baixos de pH decorrem, em regiões de clima tropical, do forte


intemperismo das rochas, devido às temperaturas elevadas e precipitações abundantes
que levam à lixiviação das bases associadas. Outro fator a contribuir para os baixos
valores de pH é o elevado teor de óxidos de ferro e alumínio nos solos (REICHARDT,
1985; CARVALHO; COSTA, 1992). No caso dessa área em estudo, além desses
fatores, a alternância entre inundação (meses de março e setembro) e vazante o pH do
solo variou de 4,18 a 4,88, acidez “muito alta” no P4 e nos demais pontos “alta”. A
oxidação da pirita nos efluentes das minas de carvão quando lixiviada aos recursos
hídricos, contaminam o solo e aquífero confinado, sendo responsável também pelo
rebaixamento do pH.

O solo possui textura arenosa apresentando 3 a 15 % de argila, correspondente ao


tipo de solo característico da região.
Tabela 17: Valores encontrados do Ph P4* 4,18
nas amostras de solo P6* 4,48
P14 4,56
PH Classificação da Acidez Tabela 18: Valores do teor de argila
Muit encontrados nas amostras de solo
o Eleva Méd Fra Neut
Ponto
Val eleva da ia ca ra Teor de Argila
Amostr Classificação
or da (m/v-%)
ado
4,5 - 5,1 - 6,1 - Arenos
>4,5 7 Ponto Argilosa Média
5,0 6,0 6,9 Valo a
P3a 4,88 Amostrad
r 36 a 15 a
o < 15%
P3b 4,88 60% 35%
P3c 4,51 P3a 3
P3d 4,76 P3b 10

196
P3c 12 P6* 15
P3d 7 P14 9
P4* 12
Os valores de alumínio são considerados muito altos pois encontram-se acima
de 20mg/Kg variando de 2033,9 no P1c e 14.310,2 no P13b, decorrente dos efluentes da
bacia carbonífera. Os valores de Ferro (Fe) se encontram acima de 2,0 mg/kg variando
de 491,2 no P1c a 16.960,3 no P6d.

Os valores de matéria Orgânica, variaram de 1,19 a 4,91 com teores de MO


baixos aqueles com menos de 15 g kg-1(1,5%), sendo suscetível a contaminação
ambiental pois com sua capacidade adsortiva reduzida se torna vulnerável aos acidentes
ambientais através da entrada de íons e/ou moléculas tóxicas, com maior potencial de
contaminação de águas subterrâneas.

Tabela 19: Valores de Alumínio Tabela 20: Valores encontrados de


encontrados nas amostras de solo matéria orgânica nas amostras de solo

Aluminio Matéria
Classificação
(cmol/l) Orgânica Classificação
Mui (m/v - %)
to Bai Médi Bo Muito B Mui
baix xo o2 m om to Bai Médi Bo Muito B
Ponto Val
Val o baix xo o2 m om
Amostr Ponto or
or 1,0 o
ado 0,21 0,51 Amostr da
< 0, 1- 4,0
- - > 2,00 ado M. 0,71 2,01
21 2,0 < 0, 1-
0,50 1,00 O. - - > 7,00
0 71 7,0
2,00 4,00
P3a 0,32 0
P3b 1,04 P3a 0,4
P3c 1,22 P3b 5,2
P3d 0,33 P3c 4,4
P4* 1,56 P3d 0,4
P6* 1,06 P4* 4,9
P14 0,4 P6* 3,4
P14 0,3
*amostras compostas

A capacidade de troca de cátions pode ser classificada como baixa variando de


5,22 cmol/kg no P3a a moderadamente alta 26,91 P4 (amostra homogênea). A
magnitude da CTC do solo indica sua capacidade relativa de reter formas de cátions
adicionados por fertilizantes, tais como NH4+, Ca2+, Mg2+ e K+. Os solos com alta
CTC têm normalmente alta capacidade de retenção de água, o que é de significância
especial na produção das culturas de um cátion maior. Por esta razão, Ca2+ é mais
197
fortemente adsorvido que Mg2+, enquanto K+ é mais fortemente adsorvido que
Na+(Foth & Ellis, 1988). A capacidade de troca de cátions pode ser aumentada pela
adição de matéria orgânica e pela calagem de solos ácidos.

Os valores Cr variam de <2 no P1c a 5,5 mg/kg no P13b, valor esse acima do
permitido pela Resolução do CONAMA 460/2013. O valor do Arsênio (As) no P6d
apresenta 5,5mg/Kg acima do valor permitido que é de 2,00 mg/ Kg (CONAMA
460/13). Os valores do Bario (Ba) encontram-se acima do permitido pela referida
resolução em todos os seus pontos variando de 4,0 no P1c a 15,4 no P6d, o valor de
chumbo nos pontos varia de 3,9 no P8b a 5,2 no P13b, também fora dos padrões da
legislação.

Os valores de Cobalto (Co) estão totalmente fora do que determina a legislação,


que é de 2,0mg/Kg, variando de 13,9mg/Kg no P6d até 50mg/Kg no P14b. Este
elemento está provavelmente diretamente associado as atividades do curtume, pois o
Cobalto é um dos elementos químicos utilizado no processo de curtimento. Os valores
de Cobre (Cu) em todos os pontos amostrados se encontram acima 1,0mg/kg (Res.
CONAMA 460/2013).

Os valores de Vanádio e Zinco estão muito elevados, acima dos limites definidos
pela Resolução CONAMA 420/09devido a proximidade com o curtume.

O Nitrogênio (N) que compreende Nitrato+ Nitrito, os valores estão bem acima
do permitido que é 10,0mg/Kg. Variando no ponto P6d de 309 a 772,8 mg/Kg no P14b.
Tais valores se justificam tendo em vista a ausência de rede coletora de esgoto no
município de Araranguá, sofrendo influência da área residencial localizada a montante
da área de estudo. Outro fato determinante para a contaminação do solo por nitrogênio
no local é a presença ostensiva da atividade agrícola no cultivo de arroz presente na área
de entorno ao local objeto de estudo.

O ponto P14b é nossa amostra testemunha, que se encontra localizado a


montante da área a ser implantado o cemitério parque, bem no limite do imóvel e muito
próximo do curtume. O ponto P6d está as margens do canal de drenagem.

CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

198
A caracterização do meio físico, das análises-físico-químicas do solo e análise
granulométrica efetuada permitiram as seguintes conclusões:

• A área do imóvel apresenta condições adequadas para a implantação de Cemitério,


pois a implantação do mesmo com as condicionantes a seguir elencadas auxiliarão na
minimização dos impactos e passivo ambiental encontrado na área.

• A profundidade do nível hidrostático configura vulnerabilidade ao aquífero, para tanto,


a área deve sofrer aterramento com saibro e aplicação de calcário em toda a sua
extensão, bem como uma rede de drenagem tecnicamente adequada trará benefícios
para a região.

•O tipo de solo favorece a percolação do poluente para o aquífero, de modo que o


cemitério a ser implantado deverá ser dotado de dispositivos de contenção dos efluentes
provenientes da decomposição dos restos mortais.

•O solo do imóvel encontra-se contaminado por metais pesados, anteriormente a


implantação do empreendimento, de modo que as análises aqui apresentadas devem ser
utilizadas como parâmetro para constatações futuras.

•São necessários estudos complementares para comprovação da contribuição para os


altos valores de metais pesados provenientes da Bacia Carbonífera, não sendo fator
impeditivo da implantação da atividade.

•O presente estudo deve servir para que sejam feitas mais investigações na Bacia do Rio
Araranguá no que tange a contaminação pelas diversas atividades existentes na região e
medidas para minimizar e eliminar os efeitos das mesmas.

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INDICADORES ECOLÓGICOS NA ANÁLISE DA RESTAURAÇÃO DA ÁREA


DEGRADADA PELA MINERAÇÃO NA FLORESTA NACIONAL DE
IPANEMA, IPERÓ/SP

200
V. J. Lourenço; L. R. Neto

Universidade de Sorocaba, Rod. Raposo Tavares, km 92.5, Sorocaba-SP, Brasil.


[email protected]: (15)99637-4252.

RESUMO

O Plano de Manejo da Floresta Nacional de Ipanema aponta necessidades de definir


indicadores para o monitoramento e análise da evolução da restauração dos
ecossistemas alterados e degradados. A carência apresentada direcionou os objetivos
deste estudo, em analisar a restauração ecológica da área degrada por atividades da
Mineradora Holcim na Floresta Nacional de Ipanema, utilizando indicadores ecológicos
adaptados às necessidades específicas da unidade. Realizou-se um zoneamento da área
total, subdividindo e nomeando em Zonas de 1 a 9, sendo cada zona localizada em áreas
que possuíram diferentes usos do solo e a unidade amostral foi representada por 26
parcelas permanentes de 100m², para a avaliação dos indicadores foram divididos
quatro grupos: (a) Interferência Antrópica; (b) Diversidade; (c) Estrutura; (d) Processos
Ecológicos. Foram levantados 604 indivíduos, com densidade de 2323,077
(indivíduos. ha-1 ), altura média total de 4,630 m e CAP médio de 20,026 cm, divididos
em 113 espécies, pertencentes a 35 famílias, o índice de diversidade de Sannon foi de
4,230 e o índice de equabilidade de Pielou foi de 0,870. Foi observada grande
diversidade de indivíduos emergentes, estratos arbustivos e herbáceos, as gramíneas
invasoras presentes em praticamente toda área representam alto grau de degradação, a
presença de stand para treinamento de tiros e as estradas utilizadas para manutenção
foram caracterizados como indicadores antrópicos. A floração e frutificação dos
indivíduos arbóreos foi muito encontrada, vestígios do retorno da fauna local também
foram observados e apontados como indicadores positivos, devido sua grande interação
com a vegetação e a sensibilidade a fatores de perturbação. Os indicadores ecológicos
estudados se mostraram como uma ferramenta viável para a análise das condições atuais
da área, indicaram fatores positivos e negativos, também apontaram o enriquecimento
da área e seu potencial de caminhar para o aumento da complexidade estrutural e da
biodiversidade.

Palavras-chave: área degradada, indicadores ecológicos, restauração ecológica,


mineração

1. INTRODUÇÃO

A história econômica do Brasil é marcada por grandes divisões históricas, onde a


disputa por riquezas naturais sempre existiu, indiferente à bandeira de Afonso Sardinha,
que percorreu o Morro Araçoiaba tendo como principal motivo a busca por pedras
preciosas e metais, sobretudo o ouro, encontrando apenas minério de ferro, dando início
à implantação de dois fornos catalões para exploração do minério e origem em 1810 a
assinatura da carta régia de Dom João VI, criando a Fábrica de Ferro Ipanema, a
primeira siderúrgica brasileira, destacando-se como um marco histórico da Floresta
Nacional de Ipanema (ICMBIO, 2015).

201
As atividades das indústrias de extração de minerais são frequentemente
contestadas, motivando diversos conflitos de caráter econômicos, sociais e ambientais.
As autorizações de exploração dadas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM) antes da criação da unidade de conservação federal, Floresta Nacional de
Ipanema, em 1992, é um assunto que está sendo alvo de ação civil por parte do
Ministério Público Federal (MPF) e aguarda julgamento do Tribunal Regional Federal
(TRF) desde 2010 (CRUZEIRO DO SUL, 2015).
Essas inúmeras ações contrárias a atividade, deve-se ao fato da exploração
mineral, mesmo que indispensável para as necessidades de vida da sociedade também
provoca significativos impactos ambientais e sociais, apresentando-se como tema de
grandes discussões entre ambientalistas e empreendedores quanto à exploração mineral
dentro de Unidades de Conservação, áreas estas com características ambientais
relevantes, tendo um papel significativo para a conservação e proteção da
biodiversidade e seus recursos naturais. Ainda, segundo Maia Neto (2010) há, inclusive,
sérias divergências doutrinárias, jurisprudenciais e mesmo institucionais. E tais
divergências têm gerado considerável insegurança jurídica, que é prejudicial aos dois
bens em discussão, meio ambiente e mineração.
Frente a essa problemática indaga-se quanto às possibilidades da legislação
vigente ao que se refere às atividades de mineração em Unidades de Conservação,
convidando a uma reflexão sobre quais são os riscos apresentados ao ecossistema
exposto a essa atividade.
A destruição de habitats compromete a sobrevivência de milhares de espécies,
porém os impactos sobre o funcionamento do ecossistema causados por essa atividade
industrial, pouco é analisado diante dos interesses de grandes empresas, justificados nas
necessidades econômicas do país.
No entanto, a forte atuação dos órgãos públicos, fiscalizadores, licenciadores
privados ou mesmo certificadores quanto as exigências legais de reparação dos passivos
ambientais, impulsionam a grande crescente de ações e estudos voltados à conservação
e restauração de ecossistemas, que é definida pela Society for Ecological Restoration
(SER, 2004) como o “ processo de ajudar a recuperação de um ecossistema que foi
degradado, danificado ou destruído.” Para o Ministério do Meio Ambiente (2015) a
recuperação de áreas degradadas está intimamente ligada à ciência da restauração
ecológica, sendo a restauração ecológica o processo de auxílio ao restabelecimento de
um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído, podendo o ecossistema ser
considerado recuperado e restaurado quando contém recursos bióticos e abióticos
suficientes para continuar seu desenvolvimento sem auxílio ou subsídios adicionais.
Mesmo com toda a importância e as exigências legais, pouca atenção tem sido
dada à avaliação e monitoramento das áreas restauradas, havendo hoje uma grande
carência de informações a serem respondidas pelas pesquisas e pelos trabalhos técnicos
nesse sentido. Parte desse problema se deve à forma como é abordado o conceito de
restauração ou recuperação, tanto pelos órgãos públicos, licenciadores, como pelos
setores privados onde muitas vezes é realizada apenas para o cumprimento de certas
exigências, sem que haja um efetivo comprometimento com a reconstrução de uma
comunidade funcional, sendo confundido muitas vezes com um simples plantio de
mudas da flora local, buscando a construção de uma floresta e não garantindo o sucesso
do projeto, se perpetuando efetivamente se forem reconstruídas, em tempo, as
complexas interações entre espécies vegetais e animais que permitem a manutenção das
populações locais e a evolução da comunidade implantada (GANDOLFI
&RODRIGUES, 2007).

202
Segundo Rodrigues e Gandolfi (2004), o uso de indicadores tem sido muito
discutido na busca de critérios para a avaliação de projetos de restauração, podendo
esses indicadores servir como um diagnóstico ambiental, de acordo com Durigan
(2011), esses indicadores “devem ser variáveis, perfeitamente identificáveis, fáceis de
medir, de fácil compreensão e que representem, de fato, o que se quer avaliar, de modo
que mostrem claramente a situação em cada momento”.
Diante dessa ampla possibilidade de indicadores possíveis de serem avaliados
em uma área em processo de restauração, ela deve ser restringida e adaptada em função
das demandas específicas do público qual os resultados do monitoramento serão
apresentados, facilitando o planejamento da avaliação e do monitoramento.
A gestão de unidades de conservação encontra diversas dificuldades, a grande
demanda e por vezes o reduzido número de servidores, impossibilitam a realização de
algumas atividades, principalmente as que demandem um tempo mais extenso. Os
problemas apresentados pelo Plano de Manejo da Floresta Nacional de Ipanema quanto
as necessidades de definir indicadores para o monitoramento de áreas em recuperação e
conforme o Subprograma de Monitoramento Ambiental que tem como objetivo “avaliar
periodicamente as condições ambientais dos componentes bióticos e abióticos;
acompanhar e monitorar o funcionamento e evolução dos ecossistemas naturais e
alterados [...]” (MMA, 2003), ressalta a necessidade da realização do presente estudo,
que teve o objetivo de avaliar por meio de indicadores ecológicos o atual estágio da
restauração ecológica, desenvolvido na Floresta Nacional de Ipanema, em Iperó, SP, a
maior área contínua florestada da região de Sorocaba, quanto ao funcionamento da
comunidade restaurada e a reestruturação do ecossistema da área explorada pela
mineradora Holcim por aproximadamente 50 anos, compreendendo os anos de 1951 a
2001, sendo responsável por um total 51 hectares de área degradada, na qual após o seu
encerramento deu-se início as atividades de recuperação da área, cujo término estava
previsto para 2012.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Visando à conservação e recuperação de ecossistemas naturais, a Floresta


Nacional de Ipanema em seu Plano de Manejo foi dividida em sete zonas com diferentes
categorias de manejo, conceituada no “Sistema Nacional de Unidades de Conservação”.
A definição das zonas priorizou a conservação da biodiversidade, contemplando desde
áreas naturais com alta diversidade biológica até áreas alteradas, com menor
diversidade.
A Zona de Recuperação apresenta uma área de 372,93 ha, equivalente a 7,36%
da Floresta Nacional de Ipanema e foi subdividida em Zona de Recuperação I, II e III. A
zona de Recuperação I será objeto do presente estudo e conta com uma área de
aproximadamente 51 ha, correspondendo às áreas das jazidas Ipanema e Felicíssimo,
sob as quais estão localizadas as jazidas minerais exploradas, benfeitorias, instalações e
áreas de servidão

2.1 UNIDADES AMOSTRAIS

2.1.1 Zonas e Parcelas


As zonas de monitoramento estabelecidas para compor a unidade amostral foram
instaladas de forma que representem a área total do plantio. Buscando proporcionar um
melhor entendimento, realizou-se um zoneamento da área total, a qual foi subdividida e

203
nomeada em Zonas de 1 a 9, sendo cada zona localizada em áreas que possuíram
diferentes usos do solo.
Zona 1-Áreas de britagem e carregamento que englobam as instalações de
Britadores, onde os plantios foram realizados em novembro de 2009;
Zona 2 - Benfeitorias e edificações de apoio, incluindo residências, galpão de
testemunho, casa de bombas (caixas d’ água), almoxarifado e “antiga Vila residencial”,
onde os plantios foram realizados em novembro de 2009;
Zona 3 - Pit da mina Ipanema, onde os plantios foram realizados em janeiro de
2010;
Zona 4 - Instalações de apoio, incluindo escritórios, oficina, área de tancagem,
casa de bombas, onde os plantios foram realizados em junho de 2009;
Zona 5 - Pit da mina Felicíssimo Norte, não teve ação de restauração devido à
declividade, conforme constante nos Laudos Geotécnicos apresentados ao IBAMA, no
entanto, foi avaliada visualmente a reestruturação da área, sem aplicação de parcelas;
Zona 6 - Área decapeada para abertura da mina Felicíssimo Sul, onde os
plantios foram realizados no início de 2007;
Zona 7 - Depósito de estéril A, onde os plantios foram realizados em 2002;
Zona 8 - Depósito de estéril B, onde os plantios foram realizados em 2002;
Zona 9 - Depósito de estéril oeste, onde os plantios foram realizados em junho
de 2009.
Um dos principais desafios para a aplicação prática desse método foi à definição
do modelo de amostragem a ser utilizado, primeiramente pela diferença de idade entre
os plantios existente, apresentando diferentes estágios sucessionais, e também a escolha
de um grupo de indicadores que fosse eficiente para indicar a evolução do ecossistema
em restauração, tendo em vista que muitos deles foram registrados por levantamentos
visuais, com base na observação e julgamento do observador. O número de parcelas que
foram utilizadas baseou-se no definido no PACTO pela Restauração da Mata Atlântica
(BELLOTTO et al., 2009), estabelecendo uma porcentagem mínima de 0,5% da área
total da unidade avaliada.
A unidade amostral foi representada por 26 parcelas permanentes de 0,01 ha,
utilizando-se a medida de 10 m x 10 m cada, para a avaliação dos conjuntos de
indicadores.

2.1.2 Localização
a
e
Foram determinadas 3 parcelas permanentes em cada Zona, exceto para a Zona
4, na qual foram determinadas 5 parcelas, pois possuí um maior território, totalizando as
26 parcelas devidamente nomeadas em ordem alfabética de A a Z.
Todas as parcelas tiveram os vértices dos quadrantes registrados por meio de
suas coordenadas geográficas, utilizando um aparelho GPS (Global Positioning System)
Garmin eTrex30 portátil, conforme Tabela 1.

Tabela 21 - Localização geográfica das Zonas e Parcelas implantadas. Fonte:


elaboração própria.

ZONAS PARCELAS COORDENADAS GEOGRÁFICAS (UTM)


P1: 230277/7407341 P2: 230280/7407329
A
P3: 230271/7407333 P4: 230272/7407345
1
P1: 230263/7407272 P2: 230259/7407263
B
P3: 230251/7407273P4: 230263/7407280

204
P1: 230283/7407205 P2: 230275/7407208
C
P3: 230266/7407215 P4: 230275/7407223
P1: 230115/7407157 P2: 230114/7407149
D
P3: 230107/7407148 P4: 230109/7407157
P1: 230195/7407189 P2: 230194/7407182
2 E
P3: 230188/7407180 P4: 230188/7407190
P1: 230113/7407221 P2: 230110/7407226
F
P3: 230119/7407232 P4: 230124/7407224
P1: 230294/7406980 P2: 230289/7406980
G
P3: 230283/7406986 P4: 230291/7406988
P1: 230259/7407009 P2: 230253/7407012
3 H
P3: 230251/7407016 P4: 230261/7407016
P1: 230320/7407044 P2: 230315/7407034
I
P3: 230322/7407036 P4: 230329/7407045
P1: 230436/7407197 P2: 230435/7407214
J
P3:230427/7407218 P4: 230429/7407205
P1: 230485/7407278 P2: 230480/7407296
K
P3: 230473/7407285 P4: 230477/7407277
P1: 230607/7407037 P2: 230605/7407043
4 L
P3: 230604/7407033 P4: 230614/7407031
P1: 23062 /7406714 P2: 230622/7406721
M
P3: 230616/7406718 P4: 230616/7406717
P1: 230742/7406562 P2: 230728/7406563
N
P3: 230727/7406557 P4: 230737/7406553
P1: 231024/7406343 P2: 231018/7406356
O
P3: 231009/7406348 P4: 231017/7406338
P1: 230911/7406258 P2: 230921/7406257
6 P
P3: 230922/7406266 P4: 230910/7406263
P1: 231038/7406120 P2: 231043/7406129
Q
P3: 231032/7406133 P4: 231027/7406127
P1: 231232/7406098 P2: 231240/7406092
R
P3: 231225/7406091 P4: 231216/7406093
P1: 231311/7406039 P2: 231314/7406052
7 S
P3: 231322/7406043 P4: 231320/7406035
P1: 231202/7406022 P2: 231211/7406021
T
P3: 231208/7406029 P4: 231499/7406032
P1: 230809/7407064 P2: 230818/7407065
U
P3: 230816/7407074 P4: 230805/7407074
P1: 230816/7407198 P2: 230822/7407203
8 V
P3: 230817/7407212 P4: 230810/7407208
P1: 231022/7407110 P2: 231019/7407102
W
P3: 231022/7407090 P4: 231030/7407100
P1: 230276/7406251 P2: 230278/7406258
X
P3: 230291/7406258 P4: 230286/7406247
P1: 230280/7406365 P2: 230287/7406367
9 Y
P3: 230295/7406359 P4: 230284/7406355
P1: 230359/7406387 P2: 230369/7406385
Z
P3: 230370/7406380 P4: 230361/7406374

205
2.2 SELEÇÃO DE INDICADORES

A escolha de bons indicadores ecológico deve atender a requisitos fundamentais


para qualquer indicador, proporcionando facilidade de medição e devendo os potenciais
indicadores, de modo geral: (I) ter uma relação bastante estreita com os objetivos do
projeto e os problemas ambientais abordados; (II) ser parte de um pequeno conjunto
visando uma abordagem eficiente; (III) ser claramente definidos, a fim de evitar
confusões no seu desenvolvimento ou interpretação; (IV) ser prático e realista o que
supõe levar em consideração o seu custo de coleta; (V) ser de alta qualidade e
confiabilidade; e (VI) ser usados nas escalas espaciais e temporais adequadas
(MANOLIADIS, 2002).
O guia publicado pela Society of Ecological Restoretion (SER) conta com nove
atributos de um ecossistema que devem ser considerados quando se pretendem avaliar
ou monitorar um projeto de restauração: (a) diversidade, similaridade e estrutura de
comunidades em comparação com as áreas de referência; (b) presença de espécies
invasoras; (c) presença de grupos funcionais necessários para a estabilidade em longo
prazo; (d) capacidade do ambiente físico de sustentar a reprodução das populações; (e)
funcionamento normal; (f) integração com a paisagem; (g) eliminação dos fatores de
degradação; (h) resiliência frente a distúrbios naturais e (i) autossustentabilidade (SER,
2004).
Para o desenvolvimento deste estudo, os indicadores utilizados foram
determinados com base na definição de restauração ecológica da SER (2004) e parte foi
adaptada da metodologia proposta no referencial teórico para ações de restauração da
Mata Atlântica, elaborada pelo Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal
(LERF/ESALQ/USP)(BELLOTTO et al., 2009) que direciona quanto alguns atributos
chave que precisam ser definidos para que um dado ecossistema possa ser considerado
recuperado.
Quanto aos indicadores ecológicos selecionados, foram divididos em quatro
grupos de avaliação: (a) Interferência antrópica – avaliam os fatores de degradação do
ambiente, da paisagem e a presença de distúrbios; (b) Diversidade – Representam o
arranjo e a diversidade florística das espécies ocorrentes na área, bem como a presença
de grupos funcionais e o desenvolvimento da vegetação; (c) Estrutura – relacionada a
biota, expressa a estrutura vertical da comunidade, a abundancia de espécies e a
distribuição espacial dos indivíduos; (d) Processos ecológicos – expressam as funções
ecológicas, tais como cobertura do solo, competição, sanidade e sucessão, os quais
podem afetar o funcionamento da comunidade.

2.2.1 Interferência antrópica


A eliminação dos fatores de degradação é indispensável para a restauração de
áreas, sendo que a presença e a intensidade desses fatores podem determinar o sucesso
ou não dessa atividade (SER, 2004). Nas Zonas selecionadas, em cada parcela e no seu
entorno, foram avaliados a presença ou indícios de ocorrência de fogo, lixo, vestígios do
uso em lazer, bem como a de estradas, trilhas e sinais de pisoteamento de animais
domésticos ou gado.

2.2.2 Diversidade
Os diferentes indicadores a serem monitorados nas áreas restauradas, a
diversidade é considerada representativa, uma vez que ela contribui para a manutenção
da integridade do ecossistema (SER 2004). Por meio do software FITOPAC 2.1 foram
calculados como medidas de diversidade: a riqueza de espécies, o índice de diversidade

206
de Sannon (BROWER & ZAR, 1984) e o índice de equabilidade de Pielou (1977). Os
indivíduos foram numerados com plaquetas, identificados segundo a espécie e a família,
e quando não identificados foram coletadas amostras para posterior identificação. Sendo
considerados todos os indivíduos arbóreos com CAP (Circunferência a Altura do Peito)
igual ou superior a 15cm, ou com altura igual ou superior a 1,5m cujo centro do tronco
se encontrava dentro da parcela.
A presença de outras formas de vegetação foi registrada por meio de
levantamento visual, epífitas, arbustos, lianas e espécies exóticas invasoras, indicam um
aumento da complexidade do sistema, se caracterizando como potencias indicadores.
Enquanto a presença de epífitas foi considerada como um indicador positivo, as lianas e
as espécies exóticas invasoras foram consideradas como indivíduos indesejáveis em
processos de restauração (FONSECA, 2011).

2.2.3 Estrutura
A estrutura da vegetação relaciona-se com a forma como ela está distribuída,
possibilitando o uso de diferentes indicadores para caracterizar essa propriedade.
Como meio de avaliação dos indicadores de estrutura da vegetação, para cada
parcela foi calculada a densidade de indivíduos (indivíduos. ha-1 ), a altura total dos
indivíduos sendo estimada visualmente por comparação com uma vara de 10 m, a
circunferência a altura do peito (CAP) de indivíduos igual ou superior a 15 cm (SILVA
& SOARES, 2001). Ainda como caracterização estrutural, foi considerada a presença de
indivíduos emergentes, o diâmetro da copa das árvores e a estrutura do sub-bosque.
Os atributos de estrutura do solo, como declividade, rochosidade e textura foram
analisados dentro de cada parcela. Tais atributos foram tratados como indicadores por
permitirem caracterizar o ambiente e prever práticas adequadas para cada situação
(FONSECA, 2011).

2.2.4 Processos ecológicos


Para a reestruturação de um ecossistema em processo de restauração é vital o
restabelecimento dos processos ecológicos, que permitirão que a comunidade vegetal
implantada seja capaz de perpetuar no tempo.
Portanto, para análise desse grupo, com base no proposto pela SER (2004)
diferentes indicadores foram levantados, como a presença de polinizadores, floração,
frutificação, a formação de serrapilheira, o restabelecimento da fauna e entre outros
indicadores que pudessem indicar a construção de uma comunidade funcional, os quais
foram avaliados a partir da observação e julgamento do observador.

3. RESULTADOS

Os dados apresentados no presente estudo foram obtidos por meio de levantamentos


de campo, sendo eles um total de 20 saídas, compreendendo um período de março a
outubro de 2016. Tratando-se de uma área de acesso restrito, devido a Licença de Lavra
da empresa Holcim Brasil S.A., inserida dentro de uma Unidade de Conservação
Federal, os meses de agosto de 2015 a março de 2016 correspondem ao período de
realização das pesquisas metodológicas e obtenção das autorizações de acesso a área,
emitidas pela empresa responsável e pelo SISBio, sistema de atendimento à distância
que permite a pesquisadores solicitarem autorizações para coleta de material biológico e
para a realização de pesquisa em unidades de conservação federais e cavernas conforme
Instrução Normativa ICMBio n° 03/2014

207
3.1 Indicadores de interferência antrópica
Nas Zonas 6, 7, 8 e 9 a intensidade da interferência antrópica foi baixa, devido a
estrutura da vegetação presente no plantio não necessitar de manutenção, diminuindo o
uso das estradas de acesso, contribuindo para a redução dos impactos locais. Nas demais
Zonas (1, 2, 3 e 4) as perturbações antrópicas não foram observadas, constatando-se
apenas as interferências relativas à roçagem e manutenção das estradas de acesso. Na
Zona 3, destacou-se a interferência humana como fator de degradação, pois se constatou
a presença de stands para treinamento de tiro por parte da fiscalização da unidade e
outras esferas policiais. Entre os impactos causados por tal atividade podem ser
destacados o abandono de ninho, a perturbação e o estresse da fauna.
As perturbações antrópicas configuram uma ameaça aos ecossistemas, de modo
que se não forem administrados podem prejudicar os objetivos de um projeto de
restauração.

3.2 Indicadores de diversidade


Foram levantados um total de 604 indivíduos, divididos em 113 espécies,
pertencentes a 35 famílias identificados por meio do Manual de Identificação Árvores
Brasileiras (LORENZI, 1992). Para o cálculo dos índices por meio do software
FITOPAC 2.1 foram considerados 260 indivíduos com CAP igual ou superior a 15 cm.
A Zona 4 apresentou o maior número de espécies (39), enquanto a Zona 6 apresentou 25
espécies (Tabela 2). O índice de diversidade de Sannon foi de 4,039 e o índice de
equabilidade de Pielou foi de 0,881.

Tabela 22 - Valores dos Indicadores de Diversidade.


Zona N° de N° de N° de
Indivíduos Espécies Famílias
1 28 12 8
2 40 19 13
3 22 7 6
4 39 22 15
6 25 13 9
7 36 23 12
8 37 18 12
9 33 22 15
Total 260
Dentre o
total de indivíduos avaliados, baseados em pesquisas bibliográficas foram divididos de
acordo com o seu grupo ecológico, sendo Pioneiras (P) e Não Pioneiras (NP) (Gráfico
1) e classificadas de acordo com sua síndrome de dispersão: Anemocórica (Ane),
Autocórica (Aut) e Zoocórica (Zoo) conforme gráfico 2.

208
2% 2%
4%

16%
Aut
40% P 30%
NP Zoo
ND
58% Ane
48%

Gráfico 1 - Porcentagem de grupos Gráfico 2 - Porcentagem de síndrome de


ecológicos. dispersão.
Foi observada grande diversidade de estratos arbustivos e herbáceos, já as
gramíneas invasoras, Capim Gordura –Melinis minutiflora, Capim Napier –Pennisetum
purpureum, Capim Braquiaria – Brachiaria decumbens estiveram presentes em
praticamente toda área avaliada, representando alto grau de perturbação.
A presença de espécies epífitas e lianas foram levantadas visualmente, porém as
Zonas não apresentam o estágio avançado suficiente para que a presença de espécies
epífitas fosse notada. Conforme a Resolução CONAMA n° 01/94, a presença de epífitas
é um dos critérios para definição de estágios sucessionais mais tardios da vegetação
secundária. As lianas e as espécies exóticas invasoras foram consideradas como
indivíduos indesejáveis em processos de restauração, a sua presença foi observada em
praticamente todas as Zonas, variando quantitativamente de acordo com o adensamento
da vegetação.

3.3 Indicadores de estrutura


A densidade de indivíduos é um importante indicador no cumprimento dos
projetos de restauração e facilmente mensurável no campo, por intermédio da contagem
de plantas em uma determinada área. Os valores obtidos na área total foram de
2323,077 individuos.ha¹ para um plantio heterogêneo em espaçamento 3 x 2 m e
considerando CAP igual ou superior a 15cm temos uma densidade de 1000
individuos.ha¹. Os dados da tabela 03 foram gerados por meio do software FITOPAC
2.1, e os valores individuais foram todos coletados em campo.

Tabela 23 - Valores dos Indicadores de Estrutura. Fonte: Elaboração própria

Altura média CAP médio Diâmetro médio de Densidade


Zona
(m) (cm) Copa (m) (Individuos.ha¹)
1 4,864 31,914 3,350 933,333
2 6,615 37,965 3,347 1333,333
3 5,723 32,338 2,258 733,333
4 7,006 36,141 2,934 780,000
6 7,854 38,788 2,779 833,333

209
7 10,747 44,876 2,172 1200,000
8 6,286 35,780 3,099 1233,333
9 7,089 34,747 2,483 1100,000

Em cada parcela, foi avaliada a declividade, sendo considerada como plana (0 a


15°), moderada (15 - 30°) e alta (30 – 45°). A rochosidade do solo foi quantificada em
nenhuma, pouca, media ou alta. No interior de cada quadrante foi avaliada a presença de
serapilheira e caracterizada em pouca, média ou alta. A presença de indivíduos
regenerantes foi classificada em presente ou ausente, sendo a presença de regeneração
uma situação desejável para a perpetuação do projeto, uma vez que demonstra a
capacidade da vegetação existente de produzir descendentes e a interação com os
fragmentos do entorno.

Tabela 24 - Indicadores de estrutura do solo e sub-bosque. Fonte: Elaboração própria

Zona Declividade Rochosidade Serrapilheira Indivíduos


emergentes
1 Plana Média Pouca Ausente
2 Moderada Pouca Média Presente
3 Alta Pouca Pouca Ausente
4 Plana Média Média Presente
6 Moderada Pouca Média Presente
7 Alta Pouca Alta Presente
8 Alta Pouca Alta Presente
9 Plana Pouca Média Presente

A inclinação do declive do terreno é um fator de grande influência nas perdas de


solo por erosão hídrica e a diminuição da infiltração de água no solo. Além de reduzir
sua capacidade produtiva para a vegetação, ela pode causar sérios danos ambientais,
como assoreamento e poluição das fontes de água. Contudo, as áreas com superfícies
com alta declividade e que se apresentam mais suscetíveis a erosão contam com
sistemas de drenagens implantados, sendo esses problemas satisfatoriamente resolvidos.

3.4 Indicadores de processos ecológicos


A presença de floração e frutificação dos indivíduos arbóreos, no período de
março a outubro, foi encontrada em praticamente toda área estudada, podendo destacar
as espécies: Aroeira Pimenteira – Schinus terebinthifolia, Aroeira Branca – Litharea
molleoides, Dedaleiro – Lafoensia pacari, Mutambo – Guazuma ulmifolia e Pau
Jangada – Bastardiopsis densiflora.
Nos percursos entre as parcelas foram realizados levantamentos observacionais
de sinais que indicassem a presença de fauna, onde foram encontradas aves das espécies
Carcará – Caracara plancus, Tuim – Forpus xanthopterygius, Bem-te-vi – Pitangus
sulphuratus, Pica pau do campo - Colaptes campestres, Martim pescador –
Chloroceryle sp., Lavadeira mascarada – Fluvicola nengeta, Sabiá poca – Turdus
210
amaurochalinus, Sabiá laranjeira – Turdus rufiventris e entre outras não identificadas,
lagartos Teiú – Tupinambis sp., Tatu Galinha – Dasypus novemcinctus, bem como,
tocas, carreiros, pegadas, restos de frutos, carcaças de Ouriço Cacheiro – Sphiggurus
villosus e Veado Mateiro – Mazama americana.
Os vestígios do retorno da fauna ao local foram apontados como indicadores
positivos de processos ecológicos, devido sua grande interação com a vegetação e a
sensibilidade a fatores de perturbação.

4. DISCUSSÃO

Young (2000) afirma que os processos de restauração estão profundamente


relacionados com a vegetação, o que explica o porquê da maioria dos estudos de
avaliação do sucesso de projetos de restauração se concentrar na dinâmica da
comunidade vegetal. É fundamental no sistema de restauração ecológica que haja a
existência de diferentes grupos ecológicos em sua recuperação, pois cada um possui sua
função, permitindo que o ecossistema possa voltar a ser autossustentável, e possibilita
ao meio ambiente ter uma grande biodiversidade a fim de se obter o máximo possível o
cenário original que se encontrava naquela área antes de ser degrada (KAGEYAMA &
GANDARA, 2001).
De acordo com São Paulo (2014), sugere-se que o projeto de restauração
ecológica que empregar a técnica de plantio convencional (2 x 3 m) em área total
utilize, no período previsto em projeto, no mínimo 80 (oitenta) espécies florestais
nativas da região e que o total dos indivíduos pertencentes a um mesmo grupo ecológico
não exceda 60% do total dos indivíduos do plantio. Neste caso o plantio realizado na
área degradada por mineração na FLONA de Ipanema encontra-se dentro dos padrões
determinados pela Resolução SMA 32/2014, pois apresenta 113 espécies nativas e a
porcentagem de grupo ecológico não ultrapassa os 60% exigidos.
Em relação ao componente equabilidade, inúmeros índices foram propostos, e o
índice de Pielou foi escolhido por expressar o valor de equabilidade que se pode obter
quando todos os indivíduos na amostra são equitativamente distribuídos entre as
espécies (LUDWIG & REYNOLDS, 1988). Os valores do índice de Pielou obtidos para
as áreas estudadas revelam padrões de distribuição equânime de indivíduos entre as
espécies. Entretanto, o maior obstáculo percebido no uso desses índices é interpretar o
que este valor estatístico único realmente significa (LUDWIG & REYNOLDS, 1988).
Este fato é importante de ser destacado uma vez que o efeito do tamanho, da forma e da
intensidade da amostragem interfere diretamente nos resultados obtidos. Portanto,
recomenda-se o aumento da intensidade amostra para detecção de padrões, ou mesmo
comparar diferentes tipos de amostragem para avaliar a eficiência de cada uma.
Estudos realizados em florestas estacionais têm apresentado índices de
equabilidade variando de 0,71 a 0,83 e densidade de 536 a 924 indivíduos. ha-1
(IVANAUSKAS et al., 1999).
Antagonicamente ao que se coloca sobre as lianas, uma revisão realizada por
Engel et al. (2003) apresenta vários estudos que ressaltam os benefícios dessas espécies
para a floresta, as quais contribuem para a estabilização do microclima, melhoram as
condições para germinação e estabelecimento de plântulas de espécies arbóreas
primárias. Nos fragmentos florestais, há contribuição mais significativa ainda das lianas
para a biodiversidade já que existe uma tendência de que elas sejam menos sensíveis à
fragmentação do que as árvores (ENGEL et al.,1998).

211
Vale também evidenciar e discutir a viabilidade de se manter stands para
treinamento de tiro em uma Unidade de Conservação, sendo que tal atividade interfere
diretamente com impactos negativos na qualidade de vida das espécies da fauna local,
principalmente das aves.

5. CONCLUSÃO

Na área ocorrem espécies florestais importantes da Floresta Nacional de


Ipanema, a diversidade de espécies observadas pode ser encontrada em grande parte dos
levantamentos florísticos já realizados na unidade, podendo ser apontado o seu
importante papel, principalmente, por suas características locais. Os indicadores
ecológicos estudados se mostraram como uma ferramenta viável e eficiente em detectar
alguns pontos para a análise das condições atuais da área, indicaram fatores positivos e
negativos, destacando-se os indicadores de Perturbações antrópicas, Diversidade e
Estrutura. Apontaram também o enriquecimento da área e seu potencial de caminhar
para o aumento da complexidade estrutural, da biodiversidade e de alcançar a
resiliência.
As gramíneas invasoras foram presentes em praticamente toda área,
principalmente áreas abertas expostas ao sol, onde os solos eram mais compactados e
rochosos, sendo resultante o baixo desenvolvimento das mudas, visto as condições de
estrutura do solo e a dificuldade de competição com as gramíneas.
O conjunto de indicadores selecionados revelou aqueles mais perceptíveis em
determinar as diferenças entre as zonas, permitindo a compreensão das condições atuais,
bem como, fatores que dificultam o desenvolvimento das plantas. Entretanto, revelaram
também indicadores menos identificáveis em áreas iniciais de restauração ou aqueles
que necessitam de monitoramentos mais específicos, como os indicadores de processos
ecológicos, a exemplo a presença de epífitas, as quais indicam estágios mais avançados
do ecossistema.

6. REFERÊNCIAS

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Flona. Disponível em: <http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/542932/vale-e-
holcim-tem-autorizacao-para-explorar-minerios-na-flona> Acesso em 22 de novembro
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ENGEL, V. L. &PARROTA , J. A. Definindo a Restauração Ecológica: Tendências


e Perspectivas Mundias. In: Kageyama, P. Y.; Oliveira, R. E.; Moraes, L. D. F.; Engel,
V. L. &Gandara, F. B. (Orgs.). Restauração Ecológica de Ecossistemas Naturais.
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ENGEL, V. L.; FONSECA, R. C. B. & OLIVEIRA, R. E. Ecologia de lianas e o


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YOUNG, T.P. Restoration ecology and conservation biology.Biol. Conserv., 92, p.


73–83, 2000.

ESTUDO DO BANCO DE SEMENTES DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE


RIBEIRÃO PRETO (SP) COMO SUBSÍDIO PARA A ELABORAÇÃO DE
PROJETO DE RESTAURAÇÃO

V.P. Almeida; M.I.Beltrão; M. Giamboni; ; V.J. Lourenço

Universidade de Sorocaba. Rod. Raposo Tavares, km 92.5, Sorocaba-SP, Brasil.


[email protected] fone 19 991781878

RESUMO

A regeneração de florestas em unidades de conservação impactadas pela pressão da


urbanização tem sido um desafio. O conhecimento da natureza do banco de sementes
pode inferir sobre a capacidade de resiliência de um ecossistema. Em uma unidade de
conservação do estado de São Paulo acometida parcialmente pelo fogo foi estudado o
banco de sementes ao longo de seis meses através do levantamento das espécies
germinadas em condições de casa de vegetação. Foram implantadas 10 parcelas na área
impactada pelo fogo e 07 parcelas na que não foi tomada pelo fogo que possui a

214
vegetação florestal mais preservada. Para cada parcela de 10x10m foram coletadas 5
sub-amostras de serapilheira e solo perfazendo um total de 85 amostras, em pontos
distribuídos de forma aleatória com auxílio de um gabarito metálico de 0,5x0,5m
(0,25m2), colocado sobre a superfície do solo. O solo e a serapilheira desta área foram
raspados, até a profundidade de 5cm. Completados 06 meses de estudo do banco de
sementes da serapilheira germinaram nas bandejas 1.942 indivíduos/17m2, uma
estimativa de 1.142.352 propágulos de espécies fanerogâmicas/ha. Germinaram 52
morfoespécies, destas 100% (N=52) foram identificadas a nível de família; 92% (N=48)
a nível de gênero e 69% (N=36) a nível de espécie. As 52 morfoespécies do banco de
sementes da EERP pertencem a 21 famílias sendo as mais representativas em número de
indivíduos as Urticaceae (N=739; 38%), Solanaceae (N=268; 13,8%), Asteraceae
(N=300; 15%), Moraceae (N=155; 8%), Poaceae (N=87;4,5%) . A presença de
indivíduos herbáceos, trepadeiras, gramíneas e bambus tanto na área protegida como na
área impactada pelo fogo indica que há entrada de luz no sub-bosque suficiente para as
espécies heliófitas completarem seu ciclo de vida, produzindo sementes uma situação
que não favorece o desenvolvimento de um ecossistema florestal estável com alta
diversidade.

Palavras Chave: Banco de sementes; Floresta Estacional Semidecidual; Serapilheira

INTRODUÇÃO

O sucesso da restauração de um ecossistema florestal, através do manejo, depende do


conhecimento dos processos de regeneração natural de florestas. Segundo Garwood
(1989) o principal meio de regeneração das espécies tropicais dá-se através de uma
sequência de eventos inter-relacionados que inicia com a chuva de sementes, que se
acumulam dormentes no solo formando o “banco de sementes do solo” ou germinam
estabelecendo um “banco de plântulas” que permanece latente no chão da floresta até
formação de clareiras e não menos importante pela emissão rápida de brotos e/ou raízes
provenientes de indivíduos danificados.

Em um ambiente perturbado o equilíbrio dinâmico da floresta depende da recolonização


da vegetação promovida pelo banco de sementes no solo (SCHMITZ, 1992).
Denomina-se banco de sementes a todas as sementes viáveis no solo ou associadas à
serapilheira em uma determinada área, num dado momento. É um sistema dinâmico
com entrada de sementes através da chuva de sementes e dispersão, podendo ser
transitório, com sementes que germinam dentro de um ano, após o início da dispersão,
ou persistente, com sementes que permanecem no solo por mais de um ano. Esta
persistência personifica segundo SIMPSON et al.(1989), uma reserva do potencial
genético acumulado. Assim usa-se o estudo da serapilheira como indicador da
capacidade de resiliência de um ecossistema florestal. Ela apresenta entradas e saídas,
ou seja, recebe o material (folhas, ramos, frutos, sementes, cascas e flores) por meio da
vegetação e esse material é decomposto para suprimento de nutrientes e matéria
orgânica para o solo e raízes (MARTINS, 2009). A presença de serapilheira favorece a

215
regeneração natural, como parte do processo de sucessão vegetal, que está diretamente
relacionada, além de outros fatores, à existência do banco de sementes do solo. Assim, o
levantamento do estoque de sementes no solo é importante para avaliar a capacidade de
restauração de um ecossistema (GARWOOD, 1989; LEAL FILHO, 1992)
principalmente se este sofreu algum distúrbio como as queimadas.

A redução na densidade de sementes no banco do solo imediatamente após o fogo, e um


ano após o distúrbio foi demostrada para savanas (WILLIANS et al., 2005). Em
florestas tropicais alguns estudos têm mostrado que as mudanças na diversidade de
espécies e densidade de indivíduos variam de acordo com a severidade do distúrbio
(UHL et al., 1982; PUTZ, 1983; UHL, 1987). Em florestas estacionais semideciduais,
tem sido demonstrado alterações na composição florística e estrutura do estrato de
regeneração após incêndios florestais (CASTELLANI e STUBBLEBINE, 1993;
RODRIGUES et al., 2005; SILVA et al., 2005; CAMARGO, et al., 2013). Caso o
distúrbio pelo fogo alterar a capacidade de resiliência de um ecossistema florestal de
uma Unidade de Conservação, o plano de manejo deverá incluir ações restauradoras que
promovam a sustentabilidade deste ecossistema. Este estudo visou obter dados sobre o
banco de sementes da área atingida pelo fogo dentro da Estação Ecológica de Ribeirão
Preto (SP), que servirão como base para a determinação das estratégias que deverão
compor o projeto de restauração de ecossistema alterado a fim de atingir a condição não
degradada.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo:

Localizada em área de expansão urbana declarada pelo município em 1988 e 2007, entre
as coordenadas 21˚ 12’ 57” latitude Sul e 47˚ 50’ 52” longitude Oeste e altitude entorno
de 540m, a Estação Ecológica encontra-se inserida na microbacia do córrego da
Serraria, com 2.618 ha e microbacia do córrego do Horto, com 253 ha, ambas sub-
bacias do Ribeirão Preto. A área protegida de pequena extensão, com 154,94 há, é uma
das 48 UC de proteção integral administradas pela Fundação Florestal (FUNDAÇÃO
FLORESTAL,2010). Também conhecida como Mata de Santa Tereza, é um dos 3
maiores fragmentos de floresta do município de Ribeirão Preto, que sofre com o
processo de urbanização, sendo classificada em seu Plano de Manejo na sua quase
totalidade como Zona de Recuperação não apresentando uma Zona Intangível. Em 31
de agosto de 2014 foram atingidos pelo fogo 95 ha da UC. Atualmente a área encontra-
se degradada e seriamente afetada pela ação de lianas.

Avaliação do banco de sementes no solo e serapilheira:

O estudo do banco de sementes acumulado na serapilheira da Estação Ecológica de


Ribeirão Preto pretendeu responder às questões: as relações ecológicas (riqueza,

216
abundância, estrutura, categoria sucessional, hábitos de vida e síndromes de dispersão)
do banco de sementes da floresta impactada pelo fogo estudada dão condições de
regeneração natural de espécies arbóreas? e se o banco de sementes do solo da área
impactada pelo fogo apresenta parâmetros diferentes à área não impactada pelo fogo da
floresta estacional semi-decidual presente na Estação Ecológica?

Para esta avaliação foram implantadas 10 parcelas na área impactada pelo fogo e 07
parcelas na que não foi tomada pelo fogo que possui a vegetação florestal mais
preservada. Para cada parcela de 10x10m foram coletadas 5 sub-amostras de
serapilheira e solo perfazendo um total de 85 amostras, em pontos distribuídos de forma
aleatória com auxílio de um gabarito metálico de 0,5x0,5m (0,25m2), colocado sobre a
superfície do solo. O solo e a serapilheira desta área foram raspados, até a profundidade
de 5cm, utilizando-se uma pá e acondicionado em saco plástico preto devidamente
identificado e lacrado e transportado para casa-de-vegetação localizada no Núcleo de
Estudos Ambientais da Universidade de Sorocaba (NEAS/UNISO), no prazo de 03 dias.
Em uma das amostras de cada parcela foi feita triagem manual com auxílio de lupa de
propágulos separando-os por morfoespécies, e determinando a viabilidade com o teste
de Tetrazólio (DELOUCHE, et al. 1962).

Cada uma das quatro amostras restantes foi colocada separadamente dentro de caixa
plástica de 43,5x29,6x7,5 cm dispostas em casa-de-vegetação coberta com sombrite
50%, sobre mesas a um metro e vinte centímetros do chão cimentado, situação que
favorece o bloqueio de contaminação com propágulos alóctones. As sessenta e oito
caixas plásticas com suas respectivas amostras receberam as mesmas condições de
temperatura, luminosidade e irrigação por dispersores. Foram intercaladas 05 bandejas
com areia esterilizada para verificação de possível entrada de sementes alóctones ao
ensaio. Todo ensaio foi coberto com tule para impedir a contaminação com propágulos
que pudessem entrar na casa de vegetação telada.

A avaliação do experimento consistiu em quantificar o número de plântulas que


emergiram da serapilheira. Após o 1º mês da implantação do ensaio, gramíneas,
herbáceas, plântulas de espécies arbóreas e plantas volúveis (trepadeiras) foram
contados, identificados e retirados imediatamente após seu registro, estas observações se
repetiram até completar 6 meses. No caso dos indivíduos não identificados neste
momento eles foram replantados em sacos de 2L com solo adubado para crescimento e
posterior identificação. Este procedimento evitou que os mesmos dispersem propágulos,
contaminando as amostras adjacentes. As espécies vegetais foram identificadas, com os
nomes científicos e seus respectivos autores atualizados pela base de dados do Missouri
Botanical Garden, através do site www.tropicos.org, de acordo com o sistema do
Angiosperm Phylogeny Group III (APG III, 2009). Para as morfoespécies que atingiram
a idade reprodutiva no período de quatro meses (herbáceas da Família Asteraceae e
Solanaceae) foi possível a confirmação da espécie. Outras morfoespécies que não
atingiram a idade reprodutiva foram identificadas pela comparação morfológica de

217
caracteres vegetativos das plântulas com espécies adultas identificadas na área de
estudo, por observação de características morfológicas, como filotaxia, formato de
folha, venação, presença de nectários extra-florais, presença e tipo de tricomas, presença
de glândulas. Estas plantas foram mantidas em casa de vegetação até confirmação da
identificação.

As espécies arbóreas amostradas foram classificadas quanto ao hábito de vida e por


categorias sucessionais de acordo com os critérios propostos por Budowski (1965) e
adaptados por Gandolfi et al. (1995) para florestas semidecíduas brasileiras, sendo:
pioneira, secundária inicial, secundária tardia e não classificada. Foram também
separadas por síndromes de dispersão de propágulos em zoocóricas, anemocóricas e
autocóricas (PIJL, 1982). O material vegetal não identificado foi classificado em
morfoespécies participando assim das análises fitossociológicas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Completados 06 meses de estudo do banco de sementes da serapilheira germinaram nas


bandejas 1.942 indivíduos/17m2, uma estimativa de 1.142.352 propágulos de espécies
fanerogâmicas/ha. Germinaram 52 morfoespécies, destas 100% (N=52) foram
identificadas a nível de família; 92% (N=48) a nível de gênero e 69% (N=36) a nível de
espécie (Tabela 1). No quinto mês iniciou a germinação de 07 espécies pteridófitas
(N=528/área Fogo e N=550/área Protegida) totalizando um total 1.078indivíduos deste
grupo de criptógamas. A Tabela 1 apresenta a relação das espécies fanerogâmicas do
banco de sementes que germinaram, indicando um grande número de herbáceas
ruderais, algumas exóticas, consideradas plantas daninhas nas culturas. Isto se deve ao
entorno da EERP que tem ocupação agrícola a oeste e sudoeste.

Tab.1.Composição florística de espécies fanerogâmicas amostradas no banco de


sementes do solo da EERP (SP), com indicação do hábito (Hab): A= arbórea, Ab=
arbustivo, H= herbácea, G =gramínea, T= trepadeira, B= bambu; da categoria
sucessional (CS): P=pioneira; Si = secundária inicial, St= secundária tardia, Nc= não
classificada; da ocorrência (OC): E= exótica, N= Nativa; da síndrome de dispersão
(SD): Zoo= zoocoria, Ane= anemocoria, Auto= autocoria, Ba= barocoria;
Ind.=indeterminado

Familia Espécie Hab CS OC SD


Amarantaceae Morfo 9 H Ind Ind Ind
Amarillidaceae morfo 25 H Ind Ind Ind
Apocynaceae Gonioanthela sp Malme T Nc N Ane
Asteraceae Gnaphalium spicatum Lam. H Nc N Ane
Asteraceae Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass. H Nc N Ane
Asteraceae Erechtites hieraciifolius (L.) Raf. ex DC. H Nc N Ane

218
Asteraceae Sonchus oleraceus L. H Nc N Ane
Continuação...
Familia Espécie Hab CS OC SD
Asteraceae Baccharis dracunculifolia DC. Ab Nc N Ane
Asteraceae Crepis japonica (L.) Benth. H Nc E Ane
Asteraceae Ageratum conyzoides L. H Nc N Ane
Asteraceae Conyza canadensis (L.) Cronquist H Nc N Ane
Asteraceae Adenostemma brasilianum (Pers.) Cass. T Nc N Ane
Brassicaceae Cardamine bonariensis Pers. H Nc E Baro
Cannabaceae Trema micrantha (L.) Blum. A P N Zoo
Commelinaceae Commelina L. H Nc Ind Baro
Commelinaceae Commelina benghalensis L. H Nc E Baro
Convolvulaceae Ipomea sp (L). T Nc N Baro
Cucurbitaceae Morfo 4 T Ind Ind Ind
Euphorbiaceae Dalechampia scandens L. T Nc E Auto
Euphorbiaceae Dalechampia sp Post & Kuntze T Nc E Auto
Euphorbiaceae Croton floribundus Spreng. A P N Auto
Fabaceae Glycine wightii (Graham exWight&Arn.) T Nc E Baro
Verdc.
Fabaceae Enterolobium contortisiliquum (Vell) A Si N Baro
Morong.
Malpighiaceae Morfo 53 T Ind Ind Ind
Malvaceae Malvastrum sp T Ind Ind Ind
Melastomataceae Miconia latecrenata (DC.) Naudin Ab Nc N Zoo
Moraceae Sorocea bonplandii (Baill.) W.C.Burger et al A Si N Zoo
Moraceae Ficus sp Ab Ind Ind Zoo
Oxilidaceae Oxalis corniculata (L) H Nc E Baro
Phyllanthaceae Phyllanthus niruri (L) H Nc N Baro
Piperaceae Pothomorphe umbellata (L) Miq. Ab Nc N Zoo
Plantaginaceae Stemodia verticillata (Mill.) Hassl. H Nc N Baro
Poaceae Panicum sp (L) G Nc Ind Zoo
Poaceae Guadua angustifólia Kunth B Nc N Zoo
Rubiaceae Manettia cordifolia Mart. T Nc N Baro
Rutaceae Zanthoxylum fagara (L) A P N Zoo
Salicaceae Casearia sp A Ind Ind Zoo
Sapindaceae Cardiospermum halicacabum L. T Nc N Ane
Solanaceae Solanum americanum Mill. H Nc E Zoo
Solanaceae Solanum stipulaceum Willd. ex Roem. Ab P N Zoo
&Schult.
Solanaceae Morfo 52 T Ind Ind Ind
Urticaceae Cecropia pachystachya Trécul. A P N Zoo
Urticaceae Phenax Weed. H Nc N Baro
Urticaceae Urera baccifera (L) H Nc N Zoo
Verbenaceae Pluchea sagittalis (Lam) Cabrera H Nc N Baro
Verbenaceae Lantana canescens Kunth H Nc N Zoo

219
220
As 52 morfoespécies germinadas do banco de sementes da EERP pertencem a 21
famílias sendo as mais representativas em número de indivíduos as Urticaceae (N=739;
38%), Solanaceae (N=268; 13,8%), Asteraceae (N=300; 15%), Moraceae (N=155; 8%),
Poaceae (N=87; 4,5%) (Fig.1).

Fig.1. Número de indivíduos por família germinados no banco de sementes da EERP.

Asteraceae foi a família com maior número de espécies (N=10; 20%), maioria
herbáceas, 2 trepadeiras e uma arbustiva, seguida por Solanaceae (N=6; 12%)
Euphorbiacee (N=3; 6%); Urticaceae (N=3; 6%); (Fig.2).

221
Fig.2. Porcentagem de espécies por família germinados no banco de sementes da EERP.

No banco de sementes da EERP foi encontrada equivalência nos tipos de síndrome de


dispersão. A zoocoria foi a principal síndrome de dispersão de sementes das espécies
arbóreas do banco de sementes (4 espécies arbóreas, pioneiras e secundárias iniciais,
zoocóricas equivalem a 83% das espécies arbóreas) (Tab.1), mas esta porcentagem cai
para 29% quando outros hábitos são incluídos.

Van Der Pijl (1982), Stiles e Rosselli (1993) afirmam que espécies pioneiras, em sua
maioria, possuem diásporos dispersos por frugívoros generalistas como, por exemplo, a
família Piperaceae e os gêneros Miconia, Leandra e Cecropia que geralmente são
dispersos por aves e Solanum por morcegos frugívoros. Como a família Asteraceae está
entre as três famílias de maior representatividade no banco de sementes da EERP (N=
10 espécies; 300 de indivíduos), a síndrome de dispersão anemocoria, representou 29%
das espécies encontradas no banco de sementes. Uma elevada porcentagem de sementes
anemocóricas sugere, segundo Penhalber e Mantovani (1997), certo grau de
perturbação em uma floresta já que se espera em florestas tropicais, 50 a 90 % das
sementes de árvores e arbustos dispersas por animais (HOWE ; SMALLWOOD,1982).
A dispersão de sementes é fundamental para regeneração de áreas que sofreram algum
222
tipo de distúrbio, pois através das plantas pioneiras podem dar início ao processo de
sucessão. Camargo (2013) fundamentado pelos resultados de pesquisa sobre o efeito do
fogo em uma Floresta Estacional Semidecidual em Viçosa (MG) afirmou que a área
impactada possuía capacidade de resiliência ao comparar as formas de vida, grupos
ecológicos e síndromes de dispersão que eram favoráveis à manutenção do ecossistema
florestal.

Quanto ao hábito foram observados 61% de indivíduos herbáceos (N=1202), 20% de


indivíduos arbóreos (N=402), 4% de indivíduos arbustivos (N=187), 3% de trepadeiras
(N=64), 3% de gramíneas (N=72) e 1% de bambus (N=15) (Tab.1e Fig3).

O número de indivíduos arbóreos é o triplo na área protegida pelo fogo, do que na área
impactada (Fig.3). Entretanto, o número de espécies arbóreas (N=7) é baixo, quando
comparado com a listagem do Plano de Manejo da EERP (FUNDAÇÃO FLORESTAL,
2010) que em uma avaliação ecológica rápida apresentou 174 espécies vegetais, destas
148 de hábito arbóreo. Trabalhos de banco de sementes em Florestas Estacional
Semidecidual também foram encontrados maior riqueza de arbóreas mesmo para
amostragens equivalentes (FRANCO et al., 2012) indicando uma situação desfavorável
na EERP para a regeneração natural do ecossistema florestal. A continuidade do ensaio
por mais meses poderá confirmar esta suspeita.

A presença de indivíduos herbáceos, trepadeiras, gramíneas e bambus na área protegida


indica que há entrada de luz no sub-bosque suficiente para as espécies heliófitas
completarem seu ciclo de vida, produzindo sementes (Fig.3). Na EERP mesmo na área
protegida do fogo o dossel não forma copas contínuas, permitindo a entrada de luz e
desenvolvimento de trepadeiras e gramíneas. A maior disponibilidade de espaço e de
luminosidade favorece as espécies herbáceas ruderais e muitas espécies de gramíneas.
As herbáceas são dotadas, em geral, de sementes muito pequenas, com baixo
metabolismo e produzem muitas sementes, elas formam um extenso banco de sementes
viáveis e longevas que germinam quando as condições ambientais se tornam favoráveis
(MIRANDA NETO, A. et al.,2014) as condições da área protegida e da área impactada
pelo fogo na EERP com extensas clareiras favorecem o desenvolvimento de plantas
com este hábito de vida.

223
Fig. 2 Hábito dos indivíduos germinados do Banco de Sementes da área Protegida pelo
Fogo e área Impactada pelo Fogo na EERP.

O banco de sementes da EEPR é formado por espécies arbóreas das categorias


sucessionais pioneiras (Croton floribundus, Cecropia pachystachya, Trema micranta,
Zanthoxylum fagara) e secundárias iniciais (Enterolobium contortisiliquum e Sorocea
bonplandii ) (Tab.1). Estudos sobre a composição do banco de sementes do solo em
florestas tropicais mostram uma alta representatividade de espécies pioneiras e
secundárias iniciais, enquanto espécies do grupo ecológico das clímax se caracterizam
por apresentar curta longevidade natural e pouca ou nenhuma dormência, não formando
bancos de sementes no solo (PINÃ-RODRIGUES et al., 1990). Observação confirmada
em projetos que utilizam a serapilheira e o banco de sementes do solo na recuperação de
áreas degradadas formando áreas ricas em pioneiras e secundárias iniciais (FERREIRA
et al., 1997).

A redução do número de indivíduos arbóreos na área impactada pelo fogo (Fig.2) é uma
constatação em pesquisas controladas sobre o efeito do fogo em Florestas Estacionais
Semideciduais. Camargo (2013) obteve uma redução no número total de sementes
germinadas do banco de sementes do solo após o tratamento com fogo, passando de 528
sementes antes do fogo para 429 sementes pós-fogo, o que resultou numa redução da
densidade de sementes germinadas de 1056 para 858 sementes/ m2, respectivamente, o
que equivale a uma redução na germinação de 18,75 % após o tratamento com fogo.

Durante a triagem de sementes na serapilheira da EERP foram observadas várias


sementes carbonizadas, mesmo após dois anos do distúrbio ocorrido na área. Uma
indicação do impacto no ecossistema causado, não só diminuindo o número de
indivíduos do banco de sementes mas provavelmente também o número de espécies.

224
Foram triados 1703 diásporos/em 17 amostras/4,25m2 e identificados 34 morfoespécies
(Fig.7). No teste de tetrazólio em uma amostra 331 diásporos 17% eram viáveis e 83%
inviáveis. Uma projeção de 4 milhões de diásporos/ha, apenas 681.200 viáveis. Assim
grande parte dos diásporos encontradas no banco de sementes não poderão recompor a
vegetação. A diferença entre a projeção de diásporos por ha pela metodologia de
triagem na serapilheira e germinação do banco de sementes se deve que no processo de
triagem passam despercebidas sementes pequenas como por exemplo das cecrópias.

Um banco de sementes viáveis e com número suficiente de espécies evita ou reduz


problemas associados à coleta, ao armazenamento e à semeadura ou transplante de
mudas. Mas, sua utilização não elimina as incertezas da germinação e sobrevivência das
plântulas, uma vez que estas estão associadas às condições ambientais determinantes do
sucesso ou não do plano de revegetação (VALK & PEDERSON, 1989). Se em florestas
maduras há redução na densidade de sementes viáveis, bem como na densidade de
sementes herbáceas e finalmente um aumento da densidade de sementes arbustivas e
arbóreas (BAIDER et al., 2001) esta condição está longe de ser alcançada através de
processos naturais na EERP sendo o plantio de mudas uma condição necessária para a
restauração deste ecossistema.

CONCLUSÕES

O banco de sementes serapilheira da EERP indicou que a regeneração natural, sem


qualquer manejo na área impactada pelo fogo não é uma situação favorável para o
aumento da diversidade das espécies florestais na área estudada, visto o baixo número
de espécies de sementes de indivíduos arbóreos e a riqueza de trepadeiras e herbáceas
presentes na serapilheira e solo, agravado por situação similar na área não impactada
pelo fogo.

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AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE ULOTHRIX SP. PARA


BIORREMEDIAÇÃO DE ÁGUAS CONTAMINADAS POR DRENAGEM
ÁCIDA DE MINAS NA REGIÃO CARBONÍFERA DE SANTA CATARINA

T. F. Massocato; L. R. Rorig; J. B. Barufi

227
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Caixa Postal 476, Campus
Universitário Trindade. CEP 88040-900 Florianópolis (SC), Brasil.
[email protected].

RESUMO

Drenagem Ácida de Minas (DAM) é um dos principais fenômenos responsáveis pela


degradação dos recursos hídricos e do solo oriundos da extração de minério de carvão.
Os ambientes contaminados por DAM são caracterizados por elevada concentração de
metais, baixo pH e oligotróficos, tornando-se favoráveis para o crescimento de um
pequeno grupo de organismos. O desenvolvimento de algas em ambientes contaminados
por DAM e seu potencial de bioacumulação de metais levam ao interesse na aplicação
desses organismos no processo de biorremediação, visando a remoção completa ou
parcial dos contaminantes. A microalga do gênero Ulothrix foi isolada de águas
contaminadas por DAM em Sideropólis (SC). O trabalho avaliou a tolerância e o
potencial de bioacumulação relacionados a três metais por parte de Ulothrix sp. através
de experimentos utilizando diferentes concentrações de Zn, Mn e Ni (individualmente e
em combinações). Foi testado o potencial de Ulothrix sp. para bioacumulação desses
metais quando mantida em efluente proveniente de local contaminado por DAM. Os
resultados mostraram que os cultivos submetidos às concentrações acima de 0,27 mM
de Zn apresentaram queda na taxa de crescimento e danos aos processos fisiológicos.
Para Mn e Ni não houveram diferenças significativas entre os tratamentos, mesmo com
o aumento de 8 vezes nas concentrações destes metais no meio. Nos cultivos em que os
metais foram combinados, os tratamentos submetidos às concentrações mais altas de Zn
apresentaram danos de crescimento, independente da presença dos demais metais. Foi
observado que Mn e Ni, mesmo em altas concentrações, não diminuíram o efeito tóxico
de Zn. Foi constatado crescimento de Ulothrix sp. em percentual de 5.89 por dia durante
14 dias de cultivo em DAM. Conclui-se que remoção de metais Zn, Mn e Ni esteja
atrelada ao pH do efluente e que a distribuição de Ulothrix sp. não é afetada por Ni e
Mn.

Palavras Chave: Ulothrix sp., biorremediação, zinco, manganês, níquel

INTRODUÇÃO
Responsável por 99,98 % das atividades extrativistas de carvão mineral, a região
sul do Brasil exerce importante papel no crescimento econômico do país. Juntamente
com o estado do Rio Grande do Sul, a região carbonífera de Santa Catarina deu suporte
para a intensa extração de minério de carvão iniciada em meados do século 19 (Barbosa,
2001). Desde então, a atividade tem gerado profundas modificações no cenário
ambiental destes locais provocando impactos no solo, poluição do ar e contaminação
dos sistemas hídricos (Martins Pompêo et al., 2004). Tendo em vista que a região
carbonífera é portadora de três importantes bacias hidrográficas (bacia do Rio
Araranguá, bacia do Rio Tubarão e bacia do Rio Urussanga), maior atenção deve ser
dada aos problemas de poluição ambiental dos recursos hídricos decorrentes das
práticas extrativistas, de modo a minimizar os impactos negativos e garantir a qualidade
dos mesmos.
Dentre os principais processos oriundos da atividade extrativista de minério de
carvão, a produção de Drenagem Ácida de Minas (DAM) é um dos fenômenos

228
responsáveis por grande parte da degradação dos recursos hídricos e do solo (Gazea et
al., 1996). Este fenômeno é descrito para diversas regiões do mundo em áreas de
extração de ouro, cobre, níquel e ferro (Akcil e Koldas, 2006; Novis e Harding, 2007).
A produção de DAM é decorrente da oxidação de sulfetos presentes nas rochas quando
expostos à água e ao oxigênio. A pirita (FeS2) é o principal mineral sulfetado
responsável pela produção de DAM. A formação de DAM é decorrente de um série de
reações de oxidação de sulfetos, catalisadas por microrganismos que apresentam
elevada atividade, principalmente em pH inferior a 3,5 (Moura, 2014).
Durante a oxidação de sulfetos, há liberação de alta concentração de íons H+,
resultando em baixo pH, e alta concentração de metais dissolvidos, dentre eles ferro
(Fe), arsênio (As), cobre (Cu), zinco (Zn), alumínio (Al) e manganês (Mn) (Novis e
Harding, 2007). A formação de elevada concentração de íons H+ que torna o ambiente
fortemente ácido e o aumento na concentração de metais comprometem o equilíbrio
físico-químico natural do meio aquático (Novis e Harding, 2007). Dessa forma, a
poluição causada por DAM é provavelmente o impacto mais significativo decorrente da
ação extrativista de minério na Região Carbonífera de Santa Catarina (Moura, 2014).
Em ambientes contaminados por DAM, além da elevada concentração de metais e
pH tipicamente entre 2 e 4, a disponibilidade de nutrientes é considerada baixa, sendo
estes locais caracterizados como oligotróficos (Johnson e Hallberg, 2005). Nesse
sentido, ambientes impactados por DAM tornam-se favoráveis para o crescimento de
um pequeno grupo de organismos adaptados a situações extremas, denominados
acidófilos ou ácido-tolerantes. Dentre os grupos de organismos capazes de crescer neste
tipo de ambiente, estão bactérias, fungos e comunidades de algas (Novis e Harding,
2007). Em trabalho de Druschel et al., (2004), a arquea Ferroplasma acidarmano foi
isolada de áreas impactadas por DAM na Califórnia. Algas do gênero Chlamydomonas
foram identificadas em ambientes fortemente ácidos como lagos ácidos de mineração e
lagoas vulcânicas (Silva, 2011). Stevens et al. (2012) descreveu a presença de algas do
gênero Euglena, Chlamydomonas, Microspora e predominância de Klebsormidium em
águas contaminadas por DAM em Ohio. Em trabalho realizado na Região Carbonífera
de Santa Catarina, Freitas et. al (2011) fizeram o levantamento de espécies de algas
presentes em ambiente contaminado por DAM. Dentre os gêneros encontrados foram
identificados Microspora, Eunotia, Euglena, Mougeotia e Frustulia.
De acordo com Gross (2000), para crescer em ambientes ácidos, com elevada
concentração de H+, algas acidófilas exibem mecanismos de redução do influxo de
prótons nas células, aumento na eficiência das bombas de prótons e mecanismo para
concentração de CO2 para fotossíntese. Estes mecanismos permitem que o citoplasma
permaneça com pH em nível alcalino, apropriado para o funcionamento de enzimas
dependentes de pH, as quais podem ser desnaturadas quando os valores desse parâmetro
são reduzidos. No entanto, segundo Spijkerman et al. (2007), para superar o gradiente
de prótons e uso de mecanismos que permitem manter o pH dentro do limite normal de
funcionamento celular, há maior demanda energética e metabólica, o que implica em
decréscimo na taxa fotossintética de algas crescentes em meio ácido.
Além do baixo pH, a alta concentração de metais pesados também é fator
limitante para o desenvolvimento de organismos em ambientes hostis, como os
contaminados por DAM (Novis e Harding, 2007). Os mecanismos de ação e as
respostas fisiológicas podem ocorrer de forma isolada, causados por um agente único
principal, como o pH, ou pela interação entre diferentes fatores impactantes, como por
exemplo, a variação de pH e da composição dos metais presentes no meio (Oberholster
et al., 2014). Estudos tem sido feitos para se entender se a distribuição das espécies de
algas presentes em águas contaminadas por DAM são relacionadas ao gradiente de pH

229
e/ou às concentrações dos metais. Em trabalho de Rousch e Sommerfeld (1999) buscou-
se avaliar se o pH ou as concentrações de Mn e Ni, separadas ou em combinações,
foram responsáveis pela distribuição de espécies de algas. Os autores concluíram que
elevadas concentrações de metais podem ser mais importantes na determinação da
distribuição de algas do que o pH em sistemas aquáticos afetados por DAM. Entretanto,
a toxicidade dos metais é pH-dependente. Segundo Oberholster et al., (2014), algas da
espécie Klebsormidium klebsii, Microspora tumidula e Oedogonium crassum isoladas
de locais impactados por DAM apresentaram bioacumulações dos metais Al, Fe, Mn e
Zn variáveis entre os pHs 3, 5 e 7, indicando que a bioacumulação dos metais varia com
o gradiente de pH.
Estudos que busquem avaliar a bioacumulação de metais por algas não só sob a
influência das interações de aspectos físicos da água, como pH em combinação com as
concentrações dos metais, mas também como a combinação dos diferentes metais e suas
concentrações no meio são de extrema importância. No entanto, ainda grande parte dos
trabalhos analisa a eficiência na captação dos metais isoladamente, o que diverge de
situações reais de poluição, as quais normalmente envolvem a presença de múltiplos
metais (Zeraatkar et al., 2016). De acordo com Mehta e Gaur (2005), a presença de um
metal pode alterar a distribuição de outros metais entre os componentes celulares,
interferindo na captação desses elementos pela alga. Chong et al. (2000) mostraram que
no caso de 10 cepas de algas cultivadas em solução contendo Zn e Ni, o metal Zn
provocou queda na bioacumulação de Ni quando comparada a bioacumulação de Ni em
meio que não continha Zn.
Sabe-se que são dois os principais mecanismos fisiológicos utilizados por algas
extremófilas para resistir a tais condições com elevada concentração de metais: a
adsorção dos metais por ligantes presentes na superfície celular e a captação ativa de
metais pela célula. A adsorção é o processo em que a célula é capaz de complexar
metais na superfície externa por meio da ligação dos íons metálicos à parede celular, à
membrana e polissacarídeos, impedindo a entrada dos metais no interior do citoplasma
(Mehta e Gaur, 2005). Por outro lado, a captação ativa de metais pela célula é
decorrente de mecanismos de seu sequestro para interior da célula. Os íons metálicos
são associados a moléculas intracelulares, como fitoquelatinas e metalotioneínas, que
atuam como ligantes citoplasmáticos na complexação dos metais. Os metais também
podem ser incorporados para o interior de organelas, como tilacóides e vacúolos (Mehta
e Gaur, 2005; Soldo et al., 2005). No entanto, segundo Mehta e Gaur (2005), a presença
de um metal pode mudar e interferir na distribuição de outros metais dentre os
componentes celulares. A adsorção e a captação ativa de metais pelas células são
mecanismos que podem operar em conjunto ou isoladamente para proteger as células
contra os efeitos nocivos dos íons metálicos. O principal objetivo de ambas as
estratégias acima citadas é evitar a exposição e dano de estruturas celulares sensíveis,
como DNA e proteínas, aos metais reativos (Soldo et al., 2005). Dessa forma, a
capacidade de crescimento e desenvolvimento de comunidades algais em ambientes
contaminados, bem como a captação de metais, leva ao interesse no estudo da aplicação
destes organismos na prática de biorremediação.
Atualmente, o processo de biorremediação é uma alternativa para a
descontaminação de um ambiente, propondo o cultivo de organismos resistentes em
locais poluídos visando a remoção completa ou parcial dos contaminantes (Vidali,
2001). O uso de organismos na biorremediação tem sido aplicado ao tratamento de
poluentes tais como águas residuais, derramamento de petróleo e efluentes tóxicos nos
diversos setores da indústria (Macek et al., 2000). Dentre eles, o uso para
descontaminação de águas contaminadas por DAM tem sido foco de vários trabalhos

230
(Das et al., 2009; Orandi et al., 2012; Stevens et al., 2012). Em pesquisa desenvolvida
por Rose et al., (1998), o uso de Spirulina sp. como parte do processo de tratamento de
água contaminada por DAM mostrou resultados otimistas para o uso da microalga a fim
de concentrar e captar os metais dissolvidos. Em trabalho de Oberholster et al. (2014)
observou-se que três algas filamentosas (Oedegonium crassum, Klebsormidium klebsii e
Microspora tumidula) isoladas de ambientes contaminados por DAM, e posteriormente
mantidas em laboratório, exibiram capacidade de bioacumulação dos metais alumínio,
ferro, manganês e zinco quando cultivadas em água contaminada por DAM.
Juntamente à desposluição e restauração de um ambiente contaminado por metais,
a prática de biorremediação pode ser atrelada à recuperação dos metais bioacumulados
na biomassa algal denominada dessorção (Volesky, 2007). De acordo com Volesky
(2007) a recuperação dos metais pela biomassa de um organismo seria o último passo
de todo o processo de descontaminação de um efluente. No entanto, a purificação e
obtenção do metal ainda agrega dificuldade e elevado custo.
Para elaboração de um projeto de biorremediação, é importante que seja feita a
identificação da comunidade microbiana que ocorra naturalmente no ambiente em que
se visa o tratamento (Uhlik et al., 2013). Dessa forma, organismos ocorrentes no local
podem ser usados para o tratamento. Ademais, alguns aspectos devem ser analisados
para a escolha do organismo e o método de biorremediação. Tais características são:
capacidade de crescimento e assimilação de metais pesados, facilidade de manipulação
e manutenção da cultura, tempo de crescimento do organismo, capacidade competitiva
com outros organismos, além da possível obtenção da biomassa para fins
biotecnológicos (Lourenço, 2006).
Segundo Novis e Harding (2007), Ulothrix está entre os principais gêneros de
algas filamentosas que ocorrem naturalmente em ambientes fortemente ácidos
contaminados por DAM. Algas do gênero Ulothrix pertencem ao filo Chlorophyta,
possuem talo filamentoso unisseriado com um cloroplasto parietal (Bicudo e Menezes,
2005). De acordo com Bicudo e Menezes (2005), algas pertencentes a esse gênero
possuem talo fixo ao substrato quando jovens e, livres e flutuantes quando adultas,
sendo considerado um gênero cosmopolita.

Estudos têm apontado o potencial de Ulothrix sp. como organismo


biorremediador na captação de metais pesados (Orandi e Lewis, 2013; Lawrence et al.,
1998). Em trabalho levantado por Paknikar et al. (2003), propõe-se o uso de biomassa
liofilizada de Ulothrix para bioadsorção e remoção de metais em soluções. Orandi et al.
(2012) observaram que no biofilme de microrganismos isolados de local contaminado
por DAM de minas de cobre predominava a presença de Ulothrix sp. Esses autores
observaram também que a capacidade de remoção de metais como Cu, Ni, Mn, Zn, Sb,
Se, Co, Al, variou entre 20-50% indicando que esta microalga apresenta características
de bioacumulação de metais pesados. No entanto, poucos estudos foram realizados
analisando as respostas fisiológicas dessa alga frente aos metais zinco, manganês e
níquel cujas concentrações são super elevadas em ambientes contaminados por DAM.
Ademais, trabalhos de interações entre os metais e seus efeitos nos organismos são
escassos, porém de forte importância uma vez que simulam um real efluente
contaminado.
O presente trabalho propõe incrementar o conhecimento a respeito do potencial de
Ulothrix sp. para o tratamento de águas contaminadas por Drenagem Ácida de Minas,
avaliando a tolerância da espécie e a sua capacidade de biorremoção dos metais zinco,
manganês e níquel.

231
MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Área de coleta de água e biofilme algal


O local de coleta da água e da alga chama-se Lagoa Língua do Dragão e situa-se
no município de Siderópolis na região banhada pela bacia do Rio Araranguá, localizado
a sudeste do estado de Santa Catarina na Região Carbonífera. Segundo Freitas (2010), o
rio Araranguá apresenta elevado comprometimento qualitativo da água resultante de
atividades antrópicas como derramamento de esgoto doméstico, efluentes industriais,
contaminação por agrotóxicos e, principalmente, por resíduos da extração de carvão. O
principal resíduo decorrente da atividade de mineração é denominado Drenagem Ácida
de Minas (DAM).

3.2 Coleta, identificação e cultivo de biofilme algal


A microalga coletada em águas contaminadas por DAM na região de Sideropólis
(28°37’S, 49°24’O), foi identificada como sendo Ulothrix sp., isolada em 2012, e tem
sido cultivada no Laboratório de Ficologia do Departamento de Botânica da
Universidade Federal de Santa Catarina. As culturas isoladas foram mantidas em meio
Meio Ácido Modificado (MAM) (Olaveson and Stokes, 1989) previamente
autoclavado. A identificação das amostras coletadas foi feita ao microscópio óptico,
através de fotomicrografias e por consulta de obras taxonômicas (Bicudo e Menezes,
2005) e especialistas da área.

3.3 Testes de toxicidade


A fim de se conhecer efeitos fisiológicos e morfológicos dos metais zinco (Zn2+),
manganês (Mn2+) e níquel (Ni2+) em Ulothrix sp., foram realizados ensaios de
toxicidade com os metais individualmente e em seguida em diferentes combinações. Os
metais citados acima foram escolhidos uma vez que apresentaram altas concentrações
em água contaminada por DAM, segundo o trabalho de Moura (2004), que coletou
amostras no mesmo local do presente estudo.
Primeiramente foram realizados testes com cada um dos metais em seis
concentrações diferentes.As concentrações de Zn, Mn e Ni foram respectivamente: 0
(controle); 0,27; 0,55; 1,1; 2,2; 4,4 mM; 0 (controle), 0,18; 0,37; 0,73; 1,46; 2,9 mM; e
0 (controle); 0,0023; 0,0046; 0,0092; 0,0185; 0,0369 mM. As concentrações foram
determinadas a partir do trabalho de Moura (2004). As soluções foram preparadas a
partir de solução estoque de sulfato de zinco, sulfato de manganês e sulfato de níquel,
sendo as concentrações ajustadas em frascos de 250 mL contendo meio de cultura
MAM. Os testes de toxicidade foram realizados em microplacas de poliestireno de 12
cavidades com 3 mL de solução em cada poço. Quantidades apropriadas de filamentos
concentrados de Ulothrix sp. foram inoculados para se obter uma concentração inicial
em cada cultura correspondente de 0,1540 de Densidade Óptica de Clorofila a 680 nm.
No presente estudo, foram avaliadas as taxas de crescimento e fisiologia da
microalga Ulothrix sp. após 10 dias de exposição aos metais individualmente. Para
cálculo da taxa de crescimento, acompanhou-se a Densidade Óptica (λ= 680 nm) e
Fluorescência da clorofila a, medidas diariamente por meio do equipamento TECAN
(RCHISTO infinite M200). Ao início e término do experimento, foram realizadas
medidas de análise da fotossíntese a partir do parâmetro de rendimento quântico efetivo
do fotossistema II [Y(II)] com o uso de um fluorômetro de pulso de amplitude
modulada (Junior PAM, Walz, Germany).
Após os ensaios com os metais ajustados separadamente, foram realizados
experimentos com os três metais em diferentes combinações. As concentrações 0; 0,55;

232
4,4 mM, para zinco; 0; 0,37; 2,9 mM, para manganês; e 0; 0,0046; 0,0369 mM, para
níquel foram definidas totalizando 27 combinações. As concentrações acima citadas
foram selecionadas em virtude do valor encontrado desses metais em água contaminada
por DAM, segundo o trabalho de Moura (2014): 0,55 mM para Zn, 0,37 mM para Mn e
0,0046 mM para Ni, e as maiores concentrações abordadas no primeiro experimento:
4,4 mM para Zn, 2,9 mM para Mn e 0,0369 mM para Ni.
Pretendeu-se com este experimento analisar os efeitos dos metais na alga e suas
possíveis interações (sinergias e/ou antagonismos). Este ensaio foi conduzido de
maneira similar ao experimento anterior, com 5 réplicas para cada tratamento durante 8
dias.

3.4 Avaliação do Potencial de Remoção dos metais zinco, manganês e níquel


Posteriormente à avaliação do crescimento de Ulothrix sp. cultivada em diferentes
concentrações de metais, foi realizado um terceiro experimento para analisar o potencial
da bioacumulação de Zn, Mn e Ni pela alga. O experimento consistiu em dois
tratamentos: 1- água contaminada com DAM inoculada com Ulothrix sp., 2- apenas
água contaminada com DAM. Para tal finalidade, foi coletada água poluída por DAM
em Siderópolis e transportada em bombonas de plástico de volume de 50 L para o
Laboratório de Ficologia, onde foram mantidas em temperatura ambiente por duas
semanas. Em laboratório, a água coletada foi filtrada (0,45 µm) antes do início dos
experimentos. As culturas em crescimento previamente à inoculação foram mantidas
sob parâmetros controlados de luz e temperatura como descrito acima. A cultura para
inóculo foi mantida durante 20 dias para se obter uma biomassa fresca concentrada de
2,8 g.L-1 (i.e. totalizando 25,2 g de biomassa algal). Os filamentos foram coletados,
pesados em balança analítica, e 4,2 g de biomassa fresca foram obtidos e transferidos
para cada réplica de água contaminada por AMD. O experimento foi realizado em
triplicatas e os frascos foram mantidos em agitador orbital de mesa (modelo Tecnal te
1400) a 110 rpm sob iluminação de 45 µmol.m-2.s-1 e temperatura controladas em 25 ±
2ºC, fotoperíodo 12 horas claro/escuro durante 14 dias.
Para avaliar a bioacumulação de Zn, Mn e Ni por Ulothrix sp., amostras de água
obtidas no decorrer do experimento foram analisadas por espectrometria induzida de
emissão atômica com plasma acoplado (ICP-MS - Perkin Elmer, modelo NexIon 300D,
Shelton, USA). As análises de água foram feitas imediatamente após a inoculação da
biomassa (tempo 0) e após 1, 6, 24 horas, 7 e 14 dias. Estes intervalos de tempo foram
escolhidos para avaliar os dois principais passos da biossorção: adsorção e captação
ativa dos metais pela biomassa de Ulothrix sp. Para tal finalidade, 15 mL de água de
cada réplica foram filtrados (0,45 µm). Todas as amostras foram mantidas a 4°C até o
momento da análise. As concentrações foram mensuradas através de soluções padrão
com as seguintes concentrações: 1008 ± 5 mg.L-1 para Zn, 1000 ± 4 mg.L-1 para Mn e
1000 ± 3 mg.L-1 para Ni. A amostragem, preservação e métodos analíticos foram
realizados de acordo com métodos padrão (APHA / AWWA, 1998). Todas as análises
de cada amostra foram feitas em triplicatas. Foram obtidas as concentrações dos metais
presentes na água e a partir desses valores foram calculadas as taxas de remoção dos
metais Zn, Mn e Ni pela biomassa algal. A taxa de remoção de cada metal foi calculada
a partir da concentração máxima dos metais na água (100%) através da média das
concentrações no "tempo 0" dos tratamentos em que não havia alga.

3.5 Análises estatísticas


Para análise estatística das respostas fisiológicas de Ulothrix sp. no Experimento 1
foi realizada análise de variância (ANOVA) unifatorial na qual o fator avaliado foi a

233
concentração dos metais Zn, Mn e Ni, isoladamente. Para o Experimento 2, foi realizada
ANOVA bifatorial para constatar o efeito da concentração de cada metal pesado e a
interação entre eles. ANOVA unifatorial foi realizada no Experimento 3 para avaliar o
potencial de Ulothrix sp. para remoção de Zn, Mn e Ni na água contaminada por DAM.
Para isso a comparação entre a concentração dos metais na água com e sem a alga foi
realizada. As diferenças significativas foram determinadas pelo teste de Student-
Newman-Keuls ao nível de 5% de significância. Previamente às ANOVAs, foram
realizados testes de normalidade e homogeneidade de variâncias de Cochran. Todas as
análises estatísticas foram realizadas no software Statistica v.10 para Windows (Statsoft
Inc., 2010).

RESULTADOS
Somente os cultivos submetidos às concentrações acima de 0,27 mM-1 de zinco,
apresentaram queda na taxa de crescimento e danos aos processos fisiológicos. Para os
metais manganês e níquel não houveram diferenças significativas entre os tratamentos,
mesmo com o aumento de 8 vezes nas concentrações destes metais no meio (Fig. 1).
0,12
a (A) (B) (C)
0,10
Optical Density Chl. a

0,08

0,06 b

0,04
c
0,02

0,00

8000
a a (E) ab (F)
(D) a
Fluorescence (rel. units)

6000 b b b

4000

2000
c

0,8 a
(G) (H) (I)
b
0,6
Y(II)

0,4

0,2

0,0
Control 0.27 0.55 1.1 2.2 4.4 Control 0.18 0.37 0.73 1.46 2.9 Control0.0023 0.0046 0.0092 0.0185 0.0369

[Zn] (mM) [Mn] (mM) [Ni] (mM)

Figura 1. Respostas fisiológicas de Ulothrix sp. em ensaios de toxicidade de metal com


Zn (A, B, C), Mn (D, E, F) e Ni (G, H, I). Os parâmetros de densidade óptica (λ = 680
nm), fluorescência celular e rendimento quântico efetivo (Y (II)) foram avaliados. Os
metais zinco, manganês e níquel foram avaliados separadamente. As letras indicam
tratamentos significativamente diferentes de acordo com o teste post-hoc de Student-
Newman Keuls (média ± DP n = 5).

Nos cultivos em que os metais foram combinados (Fig. 2), somente os tratamentos
submetidos às concentrações mais altas de zinco apresentaram danos de crescimento,
independente da presença dos demais metais.

234
[Zn] [Mn] [Ni]
(A) (B) (C)
4.4 2.9 0.0369
4.4 2.9 0.0046
4.4 2.9 0
4.4 0.37 0.0369
4.4 0.37 0.0046 a a a
4.4 0 0.0369
4.4 0 0.0046
4.4 0.37 0
4.4 0 0
0.55 2.9 0.0369
0.55 2.9 0.0046
0.55 0 0.0369
0.55 0.37 0.0369
0.55 0.37 0.0046
0.55 0.37 0 b
0.55 2.9 0
0.55 0 0.0046
0.55 0 0
0 2.9 0.0369 b b
0 2.9 0.0046
0 2.9 0
0 0.37 0.0369
0 0.37 0.0046 c
0 0.37 0
0 0 0.0369
0 0 0.0046
0 0 0

[mM]
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

Optical Density Chl a Fluorescence (Rel. Units) Yield (II)

Figura 2. Respostas fisiológicas de Ulothrix sp. Em ensaios de toxicidade de metais


com metais de zinco, manganês e níquel totalizando 27 combinações. Os parâmetros de
densidade óptica (λ = 680 nm), fluorescência celular e rendimento quântico efetivo (Y
(II)) foram avaliados. As letras indicam tratamentos significativamente diferentes de
acordo com o teste post-hoc de Student-Newman Keuls (média ± DP n = 5).

Os resultados na Fig. 3 mostraram uma taxa de remoção crescente durante a


primeira hora após inoculação para Ni e Zn, e após 6 horas para Mn. Após 6 horas, as
taxas de remoção foram de 44,4% para Ni, 28,5% para Mn e 20,7% para Zn.
Considerando o período de 6 a 336 horas (14 dias) a remoção aumentou ligeiramente. A
remoção máxima foi registrada após 14 dias: taxas de 50% para Ni, 40% para Zn e 30%
para Mn foram observadas.

235
60

50

40
% Element Removed

30

20

10
TIME vs Zn
TIME vs Mn
0
TIME vs Ni

-10
0 6 12 18 24 200 300

Time (Hour)

Figura 3. Percentagens de remoção de Zn, Mn e Ni pela biomassa de Ulothrix sp. Mais


de 14 dias em Drenagem de Minas Ácidas.

DISCUSSÃO
Os resultados apresentados neste estudo fornecem evidências adicionais sobre a
capacidade de Ulothrix sp. em sobreviver em condições com altas concentrações de Zn,
Mn e Ni sugerindo seu potencial para propostas de biorremediação. Os principais danos
em Ulothrix sp. podem ser observados somente nas concentrações mais altas de zinco.
Sabe-se que Zn é um micronutriente essencial no metabolismo celular, como para
formação de clorofila (Mane et al., 2014) e atua como cofactor importante para muitos
processos bioquímicos (Mikulic e Beardall, 2014). No entanto, o presente estudo
demonstrou que em altas concentrações, o Zn pode exercer efeitos tóxicos mesmo em
algas extremófilas. Efeitos negativos de Zn sobre respostas fisiológicas de Ulothrix sp.
podem ser observados na menor concentração de Zn testada (1,1 mM). A inibição da
divisão celular e destruição da clorofila foi mencionada como um exemplo dos efeitos
tóxicos de Zn por Pawlik-Skowron'ska (2001). Segundo Mikulic e Beardall (2014), a
exposição a altos níveis de zinco pode causar danos ao fotossistema II (PSII) e
diminuição na eficiência do ciclo de Calvin em microalgas. Efeitos negativos de Zn
foram detectados por Mane et al. (2014) em seis espécies de algas de água doce. No
estudo citado, Zn afetou clorofila, proteína, carboidratos, amido e aminoácidos em
concentrações de 1 mg Zn.L-1, ou seja, o equivalente a 0,015 mM Zn, níveis muito mais
baixos em comparação com o presente trabalho.
Ulothrix sp. mostrou alta tolerância a Mn e Ni. As respostas fisiológicas não
foram afetadas por esses metais, mesmo considerando as maiores concentrações e

236
combinações entre eles. Mn e Ni são micronutrientes para o desenvolvimento e
metabolismo de microalgas (Andersen, 2005). Por exemplo, em concentrações baixas
de Mn foi observada o aumento na biossíntese de clorofila (Mane et al., 2014).
Lustigman et ai. (1995) relataram que quando a microalga do gênero Chlorella foi pré-
exposta à baixas concentrações de níquel, a concentração total de clorofila foi maior do
que a do controle (sem qualquer tempo de contato com níquel). No entanto,
concentrações mais elevadas de ambos os metais podem inibir as atividades fisiológicas
da clorofila (Malcolm et al., 2004, Tam et al., 2001), o que não foi observado em nosso
trabalho.
Considerando que a maioria dos efluentes industriais e minerais contém uma
mistura de metais pesados, a combinação de metais pode atuar de forma antagônica,
sinérgica ou não interativa (Harris e Ramelow, 1990). Nos ensaios de combinações de
metais pesados realizados com Ulothrix sp., efeitos tóxicos de Zn também foram
detectados independentemente da presença de Ni e Mn, mesmo quando estes metais
estavam em altas concentrações. É sugerido que Zn possui maior afinidade aos sítios de
ligação presentes nas algas, quando comparadas com Mn e Ni, fazendo Zn ocupar
primeiro estes locais, bloqueando a ligação dos outros metais à superfície das células. O
mesmo foi sugerido por Garnham et ai. (1992), que observaram uma possível
competição de Zn e Mn pelos mesmos locais na superfície de células algais. Estes
autores referiram-se a este processo como uma inibição da absorção de Mn por Zn, uma
vez que o mesmo sistema de captura poderia ser responsável pelo transporte de ambos
os metais. Chong et al. (2000) mostraram que Chlorella vulgaris, C. sorokiniana e
outras oito espécies de diferentes microalgas apresentaram maior afinidade pela ligação
a Zn do que Ni. Quando cultivadas em meio contendo Zn e Ni, Zn causou queda na
bioacumulação de Ni nestas espécies quando comparadas ao acúmulo de Ni em cultivo
isento de Zn, indicando que Zn poderia suprimir a captação de Ni por células algais.
Ademais, no caso de Ulothrix sp., Mn sozinho e em combinação com Ni, não alterou o
efeito tóxico de Zn. Nota-se que a toxicidade de Mn e Ni não foram interativas, uma vez
que, as combinações destes metais causaram a mesma resposta fisiológica em Ulothrix
sp. quando comparadas com os efeitos destes metais sozinhos. O mesmo foi relatado
por Rousch e Sommerfeld (1999), onde a toxicidade de Mn não foi diminuída por Ni,
provavelmente devido à existência de um mecanismo de captação diferente para cada
metal.
A taxa de remoção de metal por Ulothrix sp. foi maior para Ni (50%), seguido por
Zn (40%) e Mn (30%). Orandi et al. (2012) observaram que em biofilme dominado por
Ulothrix sp. a taxa de remoção para Ni e Mn variou entre 45 e 50% quando cultivado
em DAM. No estudo citado, o menor metal removido foi Zn. Da mesma forma, em
estudo de bioremoção de Al, Fe, Mg, Mn e Zn por Oedogonium crassum,
Klebsormidium klebsii e Microspora tumidula, as três espécies bioacumularam menos
Zn do que os outros metais (Oberholster et al., 2014). O experimento foi conduzido em
três diferentes pH (3, 5 e 7) e em todas elas as espécies selecionadas expressaram um
mecanismo protetor que impediu que altas conentrações de Zn entrasse nas células em
comparação com a captação de outros íons metálicos.

237
Ulothrix sp. mostrou duas fases para captação de metais durante os 14 dias do
experimento. A primeira fase ocorreu durante as primeiras seis horas, possivelmente
decorrente do processo de adsorção (Zeraatkar et al., 2016). Esse fenômeno pode ser
rápido, com interações físicas passivas (eletrostáticas) ou químicas (complexação
superficial), resultando na complexação de metais na superfície extracelular de células
algais. O processo de adsorção ocorre em células vivas e mortas, e é um processo de
ligação independente do metabolismo. Após seis horas, as concentrações dos três metais
diminuíram ligeiramente, provavelmente associadas a uma segunda fase de biosorção. O
processo de captação ativa foi descrito como um processo lento e dependente do
metabolismo, envolvendo o transporte ativo de metais através da membrana celular para
as organelas intracelulares (Mehta e Gaur, 2005).
Taxas de remoção de metais por algas como Ulothrix sp. podem depender não
apenas da fisiologia específica da espécie, mas também da presença de outros
microorganismos (fungos, bactérias) e condições ambientais. Quando os testes de
potencial de biossorção de metal são aplicados a efluentes industriais reais, vários
aspectos do efluente devem ser levados em conta, como concentração de metal, carbono
orgânico dissolvido e pH (Orandi et al., 2012). Estas variáveis fisico-químicas afetam
tanto a especiação do metal quanto a ligação do metal na superfície celular. A maioria
dos estudos com microalgas (Chlorella, Chlamydomonas, Scenedesmus e
Pseudokirchneriella sp.) mostraram aumento na toxicidade do metal com o aumento do
pH, como resultado da diminuição da competição entre os íons metálicos e H+ pela
superfície celular (Arunakumara e Xuecheng, 2008). De acordo com Oberholster et al.
(2014), a bioacumulação de Al, Fe, Mg, Mn e Zn diminuiu em Oedogonium crassum,
Klebsormidium klebsii e Microspora tumidula, de acordo com a redução do pH. A
competição entre prótons (H+) e metais pelos mesmos locais de ligação na superfície
das células algais pode sugerir que a biomassa de Ulothrix sp. não assimilou mais
metais, uma vez que o baixo pH do efluente da DAM poderia ter afetado a captação de
metais pela biomassa. Como Ulothrix sp. pode ser cultivada em gradiente de pH (3-8)
(Rousch e Sommerfeld, 1999), é importante investigar o potencial de bioacumulação
dos metais em vários pHs para saber se o processo de bioacumulação de metais é pH-
dependente para esta alga. Além do pH, a presença da alta concentração de multi íons-
metálicos pode ter causado competição para os mesmos locais de ligação na superfície
celular, influenciando a captação de íons metálicos pela alga. Corder e Reeves (1994)
encontraram melhora na biosorção de Ni por autoclavagem de biomassa de
cianobactérias. No entanto, nenhuma das espécies estudadas bioacumularam Ni com a
mesma eficiência quando cultivadas em efluente real devido à presença de alta
concentração de íons Na. De modo semelhante, uma diminuição da concentração de Cu
no meio induziu uma diminuição da competição entre os íons Cu e Zn, permitindo
assim uma remoção aumentada de Zn por biofilme dominado por Ulothrix sp. (Orandi
et al., 2012). Os autores concluíram que a remoção de Zn pode ser adversamente afetada
pela presença de íons concorrentes.
A concentração da biomassa algal também é aspecto importante para a biossorção
de metais pesados (Mehta e Gaur, 2005; Zeraatkar et al., 2016). Maior concentração de
biomassa aumenta a remoção de metal devido à maior disponibilidade de locais de
ligação de metais pela superfície celular. Esse fenômeno foi demonstrado por Mehta e
Gaur (2001) onde o aumento de 100 vezes na biomassa de Chlorella vulgaris aumentou
a remoção de Ni e Cu de 13 a 65% e 10 a 85%, respectivamente, em soluções contendo
5 mg.L-1 de Ni ou Cu. Em estudo com Scenedesmus abundans, Terry e Stone (2002)
observaram competição pelos mesmos sítios de ligação entre Cu (II) e Cd (II) o que foi
atenuada com aumento da concentração de biomassa. Dado que o aumento das

238
concentrações de biomassa poderia aumentar a biorremoção final dos metais no meio,
os resultados de remoção dos metais Zn, Mn e Ni obtidos no presente estudo poderiam
ser maiores com o aumento da biomassa de Ulothrix sp. por unidade de volume.

CONCLUSÕES

O presente estudo apontou que a microalga Ulothrix sp. apresentou respostas


fisiológicas e comprometidas quando cultivada em meio com elevadas concentrações de
zinco (>2.2 mM). No entanto, foi observada alta tolerância e crescimento da microalga
frente às elevadas concentrações de manganês (2.9 mM) e níquel (0.0369 mM). Os
efeitos deletérios de zinco foram observados tanto nos experimentos dos metais isolados
quanto em combinações, o que indica que a presença de manganês e níquel não diminui
a toxicidade de zinco, ao menos nas concentrações apresentadas neste estudo. Também
foi observado que a toxicidade de manganês e níquel não são sinérgicas uma vez que as
combinações destes metais provocaram a mesma resposta fisiológica em Ulothrix sp.
quando comparadas aos efeitos do metais sozinhos.
No experimento em que a biomassa de Ulothrix sp. foi mantida em água
proveniente de local contaminado por Drenagem Ácida de Minas, foi observada
remoção dos metais zinco, manganês e níquel do meio em porcentagem de 50% para Ni,
40% para Zn, e 30% para Mn. Sugere-se que em virtude do baixo pH pode ter havido
competição entre prótons (H+) e os metais pelos mesmos sítios de ligação da alga,
inviabilizando a maior bioacumulação de metais pela espécie. Outro aspecto importante
que pode ter contribuído para a remoção de metais foi a biomassa inoculada no meio, a
qual teria sido insuficiente para causar maior remoção dos metais estudados.
Concluímos que Ulothrix sp. é uma alga tolerante às altas concentrações de metais
que poderão eventualmente ser observadas em resíduos contaminados com DAM. Isso a
torna uma espécie candidata ao uso para aplicação na área de biorremediação para
efluentes contaminados por metais. Sugerimos que estudos futuros devam focar na
compreensão da relação entre aspectos que influenciam na bioacumulação de metais
pelas algas como, por exemplo, condições físico-químicas da água (pH, temperatura,
concentração de metal) e características da alga, e.g. composição da parede celular, os
quais são parâmetros que precisam ser considerados para investigação do potencial de
um organismo para biorremediação.

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242
A POLÍTICA DO ICMS ECOLÓGICO E A UTILIZAÇÃO DO CADASTRO
AMBIENTAL RURAL COMO SUBSÍDIO À RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS NO ESTADO DO PARÁ6

J. P. S. DINIZ; A. F. AMORIM; A. R. M. RODRIGUES; F. S. MENDES; L. C.


FONSECA.

Universidade Estadual do Pará


Belém - Brasil
[email protected]
(91) 98342-1779

RESUMO

O ICMS Ecológico corresponde à normatização e regulamentação da fixação de


percentual para fins de distribuição de receitas decorrentes da arrecadação de ICMS aos
municípios, de acordo com critérios ambientais adotados pelos Estados Brasileiros. O
presente trabalho objetivou estudar o uso do CAR como critério ambiental para
regularização fundiária através da recuperação de áreas, utilizando o ICMS Verde no
Estado do Pará. Realizou-se uma pesquisa exploratória, de tipologia bibliográfica e
descritiva das normas elaboradas pelo Estado, buscando abordar as diretrizes da política
ambiental, na qual retrata o ICMS ecológico. Foi analisada a adoção do Cadastro
Ambiental Rural como principal indicador inserido dentro do fator de repasse
Regularização Ambiental ICMS Ecológico no Estado do Pará. Os resultados obtidos
demonstraram que o CAR é fundamental quanto à avaliação e monitoramento da
situação das Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal nas propriedades rurais,
além de conferir relevantes subsídios ao ordenamento territorial e recuperação de
passivos ambientais identificados. Sendo assim, verificou-se que a utilização do CAR
em um fator associado às demais variáveis (RL, AD e APP) utilizadas na nova
metodologia é mais coerente que sua utilização como um critério isolado. A política do
ICMS Ecológico, logo, deve ser analisada como uma ferramenta dentro de uma política
mais ampla de conservação ambiental.

Palavras Chave: políticas públicas, icms verde, cadastro ambiental rural, área
degradada, regularização fundiária

1. INTRODUÇÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88) inseriu em
seu bojo a questão ambiental, reservando para isso um capítulo específico (Capítulo VI)
contido no Título VIII, “Da Ordem Social”, inclusive tratando o meio ambiente

6
Parte do Trabalho de Conclusão de Curso do primeiro autor, apresentado a Faculdade de Direito da
Universidade Federal do Pará.

243
ecologicamente equilibrado como um direito humano fundamental, que deve ser
defendido e preservado pelo Poder Público e por toda a coletividade para presentes e
futuras gerações, conforme expresso em seu Art. 225, caput.
Com fins a promover proteção ambiental efetiva, o Estado deve adotar condutas
que possam minimizar os riscos das atividades econômicas que degradam o meio
ambiente e colocam em risco o seu equilíbrio, sem, no entanto, suprimir avanços
tecnológicos e a produção industrial. A adoção de políticas ambientais visa
compatibilizar o desenvolvimento econômico com a necessária conservação ambiental,
utilizando instrumentos, não apenas para fins arrecadatórios (fiscais), mas
comportamentais (extrafiscais), inseridos em políticas públicas ambientais que visam
regular e direcionar as ações, promovendo o bem-estar social, uma vez que os tributos
possuem também a função de intervir na economia ou na sociedade, sendo essa a sua
função extrafiscal.
O tributo extrafiscal é aquele que pretende estimular ou desestimular uma
conduta. Por exemplo, o Estado poderá aumentar a carga tributária de certas atividades
visando desestimular comportamentos contrários ao interesse público ou reduzir a
tributação incidente sobre condutas de interesse público conveniente. Esta função
ultrapassa o viés puramente financeiro e há reflexo em diferentes esferas de atuação
Estatal na sociedade, tal como a econômica, social e política.
Com relação ao meio ambiente, a extrafiscalidade consiste numa forma de
regulação, que busca a alteração das condutas dos agentes econômicos para adequá-las
ao alcance dos interesses coletivos administrados pelo Estado, devendo ser otimizada
sua utilização como instrumento de implementação das políticas de proteção ao meio
ambiente e ao desenvolvimento sustentável (SCAFF e TUPIASSU, 2004).
O princípio do poluidor-pagador obriga, por exemplo, o explorador de recursos
minerais a recuperar o meio ambiente degradado (art. 225, § 2º), estabelecendo sanções
penais e administrativas aos infratores, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados (art. 225, § 3º). Este princípio a) busca evitar a ocorrência de danos
ambientais, possuindo um caráter preventivo; e b) ocorrido o dano, visa sua reparação,
tendo um caráter repressivo.
Por sua vez, o princípio do protetor-recebedor recompensa àqueles agentes que
deixaram de onerar o meio ambiente em benefício da coletividade, incentivando
economicamente quem protege determinada área ou deixa de utilizar seus recursos,
estimulando a preservação da mesma.
O princípio protetor-recebedor dispõe que o agente, público ou privado, que
protege um bem natural em benefício da coletividade, deve receber uma compensação,
não necessariamente financeira, como incentivo pelo serviço de proteção ambiental
prestado, ou seja, este agente recebe incentivos econômicos por ter deixando de utilizar
os recursos de uma determinada área, contribuindo assim para a sua preservação.
Os instrumentos econômicos expressos em políticas extrafiscais são de grande
utilidade em virtude de permitirem ao Estado ir além da arrecadação de tributos ao
direcionar suas políticas públicas às necessidades sociais, inclusive de proteção do meio
ambiente, atuando como um indutor de atividades ambientalmente desejáveis, cuja
fundamentação está no direito constitucional ao meio ambiente equilibrado. Em nosso
ordenamento há vários exemplos de demonstração da possibilidade de aplicação da

244
regra da extrafiscalidade na preservação ambiental. No âmbito da União, a Lei nº
9.393/96 prevê que serão excluídas da base de cálculo do Imposto Territorial Rural
(ITR) as áreas de floresta nativa e outras consideradas pela legislação como de
preservação permanente ou interesse ecológico, configurando-se, portanto, em hipótese
de isenção do referido tributo (Art. 10, II). Na esfera estadual, podemos citar a política
do ICMS Ecológico.
A CF/88 determina que 75% da arrecadação do Imposto sobre Operações
relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) sejam destinados ao estado
arrecadador para a sua manutenção e investimentos, e que 25% dessa arrecadação sejam
distribuídas aos municípios (CF, art. 158, IV), sendo que destes 25%, três quartos, no
mínimo, serão na proporção do valor adicionado fiscal nas operações relativas à
circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em seus territórios, ao
passo que até um quarto, será de acordo com o que dispuser lei estadual (CF, art. 158,
IV, parágrafo único).
Dentro desta perspectiva, parte do ICMS pode ser utilizado como ICMS
Ecológico, que corresponde à normatização e regulamentação da fixação de percentual
para fins de distribuição de receitas decorrentes da arrecadação de ICMS aos
municípios, de acordo com critérios ambientais adotados pelos Estados Brasileiros. Por
não ser um novo tributo, portanto, o ICMS repassado por critérios ambientais não
implica no aumento da carga tributária, implicando unicamente na adoção de critérios
ambientalmente relevantes para a repartição das receitas normalmente obtidas, sendo
este um dos pontos chaves da política (SCAFF E TUPIASSU, 2004).
A criação do ICMS Ecológico possui duas finalidades: a) estimular os
municípios a adotarem iniciativas de conservação ambiental e desenvolvimento
sustentável, seja pela criação de unidades de conservação, ou pela manutenção de áreas
federais ou estaduais, seja pela incorporação de propostas que promovam o equilíbrio
ecológico; e b) recompensar os municípios que possuam áreas protegidas em seus
territórios e que, dessa forma, estão impedidos de destinar a área para atividades
produtivas tradicionais que poderiam gerar maior arrecadação e consequente
participação na repartição do ICMS.
O Paraná foi o primeiro Estado Brasileiro a adotar o ICMS Ecológico como
medida de distribuição dos recursos provenientes das arrecadações de ICMS como
compensação aos municípios possuidores de áreas de conservação e/ou mananciais de
abastecimento em 1992 (PARANÁ, 1991). Posteriormente o ICMS Ecológico foi
adotado por outros estados, os quais diversificaram os critérios de acordo com a sua
realidade e necessidade local, não se restringindo apenas ao critério ambiental.
O Estado do Pará adotou em 2012 o ICMS Ecológico sob a denominação de
ICMS Verde, iniciando nesse mesmo ano um repasse de 2% do total, aumentando de
forma sucessiva a porcentagem de repasse até 2015, atingindo 8% (PARÁ, 2012).
Inicialmente, o ICMS Ecológico no estado era baseado em critérios quantitativos de
repasse, porém, esses critérios sofreram mudanças ao longo dos anos, sendo apresentada
em 2016 nova metodologia baseada em critérios qualitativos (PARÁ, 2016).
O atual Código Florestal, Lei nº 12.651, 25 de maio de 2012, em seu Art. 29
define o Cadastro Ambiental Rural (CAR) como um registro eletrônico, obrigatório a
todos os imóveis rurais, que objetiva integrar as informações ambientais das
propriedades e posses rurais, com delimitação das Áreas de Proteção Permanente
(APP), Reserva Legal (RL), remanescentes de vegetação nativa, área rural consolidada,
áreas de interesse social e de utilidade pública, visando traçar um mapa digital a partir

245
do qual são calculados os valores das áreas para diagnóstico ambiental e econômico e
combate ao desmatamento (BRASIL, 2016d).
Objetiva-se com este trabalho analisar o uso do CAR como critério ambiental de
regularização fundiária utilizado na partilha do ICMS Ecológico no Estado do Pará e
como este instrumento pode ser utilizado na recuperação de áreas degradadas no estado.

2. MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia adotada caracteriza-se como exploratória, de tipologia
bibliográfica e descritiva. Realizou-se levantamento bibliográfico utilizando-se
inicialmente as fontes oficiais das legislações do Estado do Pará e federal disponíveis
nos Diários Oficiais eletrônicos, sítios das Assembleias Legislativas, bem como, as
compilações de legislações ambientais disponíveis nos sítios eletrônicos da SEMAS
(Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade) e secretaria de fazenda. Efetuou-se a
leitura das legislações, com a finalidade de verificar quais os critérios pautados na
política do ICMS Ecológico na cota-parte de repasse aos municípios e, de maneira mais
restritiva, examinando o critério de regularização fundiária pautada no CAR e
instrumentos similares. Foi considerado o levantamento das normas pertinentes
publicadas até o mês de dezembro de 2016. Foi procedida a análise do uso do CAR no
Estado do Pará como critério de repasse, com ponderações sobre a sua potencialidade
como subsídio à recuperação de áreas degradadas no estado.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. ICMS Ecológico
Especificamente quanto ao aspecto ambiental, cada estado poderá contemplar
aquilo que for mais relevante para a sua agenda ambiental, pois embora por força do
disposto no art. 167, inciso IV, da CF/88, haja vedação de vinculação de receitas
provenientes da arrecadação de impostos, as municipalidades beneficiadas pelo ICMS
ecológico poderão aplicar os recursos recebidos em programas de preservação
ambiental, visando manter ou melhorar seu índice de participação nas transferências de
ICMS.
O nascimento do ICMS Ecológico, portanto, configurou-se num instrumento de
política pública que tratou do repasse de recursos financeiros aos municípios que
abrigavam em seus territórios Unidades de Conservação ou áreas protegidas, ou ainda
mananciais para abastecimento de municípios vizinhos, dentro de um caráter
compensatório ao município, resultado de uma política ambiental alternativa com o
intuito de proporcionar maior investimento e incentivo na preservação do meio
ambiente.
O ICMS Ecológico não configura uma nova modalidade de tributo, pois
permanece com o mesmo fator gerador, a mesma base de cálculo e as alíquotas
incidentes, bem como, não há modificação em relação ao modo de cobrança do tributo.
Não se trata de um tributo ambiental em sentido estrito, cobrado em razão do uso do
meio ambiente pelos agentes econômicos, no qual a finalidade da cobrança se torna o
fundamento de validade do tributo. Por não ser um novo tributo, o ICMS repassado por

246
critérios ambientais não implica no aumento da carga tributária incidente sobre os
contribuintes, implicando unicamente na adoção de critérios ambientalmente relevantes
para a repartição das receitas normalmente obtidas, sendo este um dos pontos chaves da
política (SCAFF E TUPIASSU, 2004).
Surgindo inicialmente com um carácter compensatório, o ICMS Ecológico
evoluiu, transformando-se em mecanismo de indução de boas práticas à conservação
ambiental, o que atualmente mais o caracteriza (LOUREIRO, 2004; SCAFF e
TUPIASSU, 2004), representando, segundo Loureiro (1997, apud LOUREIRO 2002, p.
53), “uma promissora alternativa na composição dos instrumentos de política pública
para a conservação ambiental no Brasil”.
O potencial de indução da política do ICMS Ecológico assenta-se no fato de que
os Estados ao definir a adoção de determinados critérios ambientais atribuem
indicadores de aferição e avaliação, necessários para calcular o valor a ser repassado
para cada municipalidade, as quais tendem a construírem políticas ambientais que
atendam aos critérios pontuados, pois ao atenderem tais critérios, os programas
municipais passam a disputar o repasse desses recursos, configurando, portanto, uma
competição entre as municipalidades, na medida que, quanto mais os municípios
trabalharem na implantação e de ações nas áreas pontuadas e que impactam diretamente
nos indicares dos critérios de repasse, mais serão beneficiados com recursos financeiros

3.2. ICMS Ecológico no Pará


O ICMS Ecológico no Pará foi instituído através da Lei Estadual nº 7.638, de 12
de julho de 2012, que alterou a forma de distribuição da quota-parte dos Municípios,
inserindo o critério ecológico de repasse do ICMS ao modificar os critérios e a
distribuição dos repasses da cota-parte das parcelas do ICMS pertencentes aos
municípios, da seguinte forma: 5% na proporção da população do território; 5% na
proporção da superfície territorial; modificando o percentual distribuído igualmente
entre todos os municípios de 15% para 7%; e atribuindo 8% aos critérios ecológicos de
repasse.
O ICMS Ecológico no Pará foi regulamentado pelo Decreto Estadual nº 775, de
26 de junho de 2013, que prevê os critérios e indicadores de cálculo e distribuição da
cota-parte referente ao ICMS Verde, no Estado (Art. 2º da Lei Estadual nº 7.638). De
acordo com o Art. 4º do decreto, o repasse do ICMS Ecológico no Pará teve
inicialmente por base os seguintes critérios: 25% considerando a porcentagem do
território municipal ocupado por Áreas Protegidas e de Uso Especial; 25% do valor total
do repasse considerando a existência de um estoque mínimo de cobertura vegetal e a
redução do desmatamento nos municípios, com base nos índices do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE); e 50% considerando a porcentagem da área cadastrável
do município inserida no Cadastro Ambiental Rural (CAR-PA).
Recentemente foi publicada a Portaria SEMAS nº 990, de 3 de junho de 2016,
que trata da regulamentação dos critérios para repasse do ICMS Ecológico no Pará, com
repasse a partir do ano de 2017, o qual passa a ser dimensionado por quatro novos
critérios (fatores), cujo repasse durante o ano de 2017 ocorrerá da seguinte forma:

247
Fator 1, denominado de Regularização Ambiental é composto pelos seguintes
indicadores (Cadastro Ambiental Rural – CAR; Área de Preservação Permanente –
APP; Reserva Legal – RL e a Área Degradada – AD), contribuiu com um Peso de
38,618% no índice do ICMS Verde;
Fator 2, denominado de Gestão Territorial é composto pelos seguintes
indicadores (Áreas Protegidas de Uso Restrito; Áreas Protegidas de Uso Sustentável;
Desflorestamento e Desflorestamento em Áreas Protegidas), este fator apresenta um
Peso de 35,442% no índice do ICMS Verde;
Fator 3, denominado de Estoque Florestal é formado por um único indicador
(Remanescente Florestal), apresentando um Peso de 14,092% no índice do ICMS
Verde; e
Fator 4, denominado de Fortalecimento da Gestão Ambiental Municipal é
composto por um único indicador (Capacidade de Exercício da Gestão Ambiental), e
apresenta uma contribuição no índice do ICMS Verde com Peso de 11,848%.
Apesar de constar no Art. 3º da Portaria SEMAS nº 990/2016, bem como, no
Art. 3º da Portaria SEMAS nº 1272/2016 a previsão de que a metodologia detalhada de
cálculo dos índices de repasse da parcela do ICMS Verde seria disponibilizada no
endereço eletrônico da SEMAS, até 25 de dezembro de 2016, não havia no mesmo
nenhuma informação consolidada sobre a nova metodologia, mostrando-se inclusive
inapropriada a previsão de disponibilização de metodologia no site da SEMAS, haja
vista que os critérios adotados anteriormente tiveram sua metodologia de cálculo
publicada no Diário Oficial do Estado, o que representa uma segurança ao gestor
municipal e ao cidadão quanto à previsão de como se dará o cálculo dos recursos a
serem repassados aos municípios referentes ao ICMS Verde, além de coadunar com o
Princípio da Transparência na Administração Pública.
Dessa forma, a análise dos indicadores referentes aos critérios de repasse do
ICMS Verde aos Municípios a ser realizado em 2017, especificamente do Fator 1 –
Regularização Ambiental, foi baseada na Portaria SEMAS nº 990/2016, visto que a
forma de metodologia de cálculo ainda não consta publicada de forma detalhada e
transparente, porém sempre nos reportando às informações disponibilizadas no endereço
eletrônica da SEMAS, ao passo que focaremos nos aspectos conceituais adotados pelos
novos critérios.

3.3. Fator Regularização Ambiental


Dentre os novos critérios de repasse do ICMS Verde no Estado do Pará expostos
na Portaria SEMAS nº 990/2016 e Portaria SEMAS nº 1272/2016, há a previsão do
Fator 1 – Regularização Ambiental, detentor de um peso de 38,618% no repasse do
ICMS Verde paraense, conforme disposto no Art. 1º, inciso I da Portaria SEMAS nº
990/16, cujas fontes de dados e sistematização ficam a cargo da SEMAS (SEMAS,
2016a), composto de quatro indicadores: a) Cadastro Ambiental Rural (CAR); b) Área
de Preservação Permanente (APP); c) Reserva Legal (RL); e d) Área Degradada – AD.

a) Cadastro Ambiental Rural - CAR

248
O indicador CAR considera a cobertura realizada em relação à área cadastrável
de cada município. O Decreto Estadual nº 775/2013 foi o primeiro a definir o CAR
como critério de repartição de 50% do ICMS Verde, cuja adoção representou um
instrumento de incentivo às políticas públicas de auxílio à concretização das metas
traçadas no Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia (PPCAD)
através do Decreto nº 1.697, de 5 de junho de 2009, tendo como objetivos a redução
progressiva do desmatamento no Estado.
O CAR foi instituído no Estado do Pará através do Decreto Estadual nº 2.562, de
27 de novembro de 2006, sendo o estado primeiro a adotar esse sistema, estabelecendo
que o licenciamento das atividades rurais fosse precedido pelo cadastramento dos
imóveis rurais através do CAR-PA. O Decreto Estadual nº 1.148, de 17 de julho de
2008, estabeleceu o CAR-PA como um dos instrumentos da Política Estadual de
Florestas e do Meio Ambiente, obrigando o cadastro de todo imóvel rural localizado no
Estado do Pará, mesmo aquele que não exercesse qualquer atividade rural
economicamente produtiva, e passando a considerar os imóveis rurais não inscritos no
CAR-PA como ambientalmente irregulares (Art. 1º e parágrafo único).
O atual Código Florestal, Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, instituiu o CAR
em âmbito nacional seis anos depois de ser instituído no Estado do Pará, sendo um
registro eletrônico, obrigatório a todos os imóveis rurais, que objetiva integrar as
informações ambientais das propriedades e posses rurais, com delimitação das Áreas de
Proteção Permanente (APP), Reserva Legal (RL), remanescentes de vegetação nativa,
área rural consolidada, áreas de interesse social e de utilidade pública, visando traçar um
mapa digital a partir do qual são calculados os valores das áreas para diagnóstico
ambiental e econômico e combate ao desmatamento (BRASIL, 2016).
O CAR dentro deste contexto mostra-se relevante quanto à avaliação e
monitoramento da situação das Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal nas
propriedades rurais, além de conferir relevantes subsídios ao ordenamento territorial no
Estado, temos que a sua consideração como critério para repasse de ICMS Verde tem a
faculdade de induzir os gestores municipais a viabilizar a realização do cadastro em
seus territórios. O fator indutivo do ICMS Verde encontra-se aqui privilegiado
(MERLIN E OLIVEIRA, 2016).
A adoção do CAR como critério detentor de um peso de 50% no repasse do
ICMS Verde realizado até 2016 sugere a prioridade de aplicação desta política pelo
Governo Estadual, sendo que no ano-base de 2012 os municípios paraenses alcançaram
57,85% de cobertura em relação à área cadastrável do estado, bastante superior à meta
prevista no PPCAD: os municípios paraenses conseguiram cadastrar 336.019,97 km²
dos 580.870,36 km² de área cadastrável, conforme publicado na Portaria SEMA nº
1.562/2013, superando a meta prevista no PPCAD para o ano de 2012 que era de
180.000,00 km².
Com a nova distribuição de critérios (ou fatores) estabelecida pela Portaria
SEMAS nº 990/16, o CAR passou a ser um dos indicadores que compõem o Fator 1 –
Regularização Ambiental, o que se mostra coerente, pois o CAR além de manter a sua
posição como ferramenta de avaliação e monitoramento da situação ambiental dos
imóveis rurais, passa agora a ser avaliado conjuntamente com os demais indicadores do
Fator 1, este que representa agora um peso de 38,618% no índice do ICMS Verde do
Estado do Pará.

249
b) Área de Preservação Permanente (APP)
A Lei nº 12.651/2012 refere-se à APP como a área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem,
a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora,
proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (Art. 3º, II). Além da
função protetiva reconhecida por lei, Metzger (2010) destaca que as APPs prestam
outros serviços ambientais capitais.
De acordo ainda com a Lei nº 12.651/2012, as APPs podem ser instituídas em
função de sua localização (Art. 4º), em vista de sua vegetação estar situada em áreas
fundamentais para a prevenção contra erosão do solo, assoreamento, proteção do curso
dos rios e das nascentes como em faixas marginais de cursos d’água, entornos de lagos,
lagoas, reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de
cursos d’água naturais, nascentes e dos olhos d’água perenes, com largura variável;
encosta ou parte desta com declividade superior a 45º; restingas; manguezais, bordas de
tabuleiros ou chapadas; topos de morros, montes e serras; áreas em altitude superior a
1.800 (mil e oitocentos) metros.
As APPs também podem ser instituídas em função da sua destinação, declaradas
áreas de interesse social (Art. 6º) quando as áreas cobertas de vegetação tiverem as
finalidades de conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos;
proteger várzeas, restingas ou veredas; abrigar exemplares da fauna ou flora ameaçados
de extinção; proteger sítios de excepcional beleza ou valor científico, cultural ou
histórico; faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; assegurar condições de
bem-estar público; auxiliar a defesa do território nacional e; proteger áreas úmidas.
Como se infere do seu próprio nome, as Áreas de Preservação Permanente são
áreas ambientalmente relevantes e, como tal, devem ter sua vegetação preservada já que
se destinam à proteção de suas funções ecológicas, sendo áreas, em regra, intocáveis e
com vedação do seu uso para fins econômicos diretos.

c) Reserva Legal (RL)


A Reserva Legal é definida pelo atual Código Florestal, Lei nº 12.651/2012,
como área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos
termos de seu Art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável
dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos
processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e
a proteção de fauna silvestre e da flora nativa (Art. 3º, III). A Reserva Legal
corresponde, portanto, a um percentual mínimo em relação à totalidade da propriedade
ou posse rural, fixado por lei, que deve permanecer com cobertura de vegetação nativa.
A RL compreende a 80% de qualquer imóvel rural situado em área de florestas
na Amazônia Legal (Art. 12, I, a, da Lei nº 12.651/2012), sendo permitido no seu
computo as APP da propriedade, desde que não implique na conversão de novas áreas
para o uso alternativo do solo; a área esteja conservada ou em processo de recuperação;
e esteja devidamente inclusa no CAR, conforme dispostos (Art. 15, da Lei nº
12.651/2012).

250
Segundo Metzger (2010), é um erro considerar as APPs equivalente a RL,
devido às características distintas dessas duas formações por seu embasamento
geológico e pedológico, clima e dinâmica hidrológica. Por conseguinte, a composição
da fauna e flora é muito variável quando comparadas as duas áreas, sendo essas
complementares. Portanto, a fusão de APP e RL deve ser efetuada somente em
situações específicas e que não ocasione a descaracterização da cobertura vegetal de
novas áreas. São as RL que permitem que a cobertura de vegetação nativa fique acima
dos limiares ecológicos, protegendo parte da biota nativa, e favorecendo os fluxos
biológicos entre Unidades de Conservação.
A natureza autodeclaratória do CAR como instrumento da regularização
fundiária na prática não leva em consideração os requisitos de localização da RL
contidos na Lei nº 12.651/2012, que determina que que localização da área de Reserva
Legal no imóvel rural deverá levar em consideração estudos e critérios do plano de
bacia hidrográfica, Zoneamento Ecológico-Econômico, a formação de corredores
ecológicos com outra Reserva Legal, Área de Preservação Permanente, Unidade de
Conservação ou outra área legalmente protegida, as áreas de maior importância para a
conservação da biodiversidade, e as áreas de maior fragilidade ambiental (Art. 14).
Metzger (2010) ressalta que delegar a localização da RL à escolha do
proprietário do imóvel aumenta os riscos de extinção de espécies características das
áreas mais propícias para uso econômico, mantendo apenas a biota de áreas menos
propícias ao uso, o que é regularizado pelo Decreto Federal nº 7.830, de 17 de outubro
de 2012. O autor ressalta também a importância da RL na conservação da
biodiversidade para áreas com vegetação fragmentada, enfatizando que grandes
fragmentos conservam melhor a diversidade de áreas do que pequenos fragmentos
isolados.
No Pará a reserva legal para fins de recomposição, na área rural consolidada foi
reduzida para 50%, pelas duas leis de Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE da Zona
Oeste e ZEE da Zona Leste e Calha Norte):
Segundo a Lei Estadual nº 7.398, de 16 de abril de 2010, que dispõe sobre o
Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Leste e Calha Norte do Estado do Pará, e
que indicou o redimensionamento da área de reserva legal de 80% para até 50% nas
áreas consolidadas e estabeleceu que nas zonas de consolidação não são recomendadas
atividades que impliquem em novos desmatamentos de vegetação primária ou
secundária em estágios médios e avançados de regeneração.
Segundo a Lei Estadual n° 7.243, de 9 de janeiro de 2009 que dispõe sobre o
Zoneamento Ecológico-Econômico da área de influência das rodovias BR-163
(Cuiabá/Santarém) e BR-230 (Transamazônica) – Zona Oeste, que indicou o
redimensionamento da área de reserva legal de 80% para até 50% nas áreas rurais
consolidadas.

d) Área Degradada – AD
O conceito de área degradada não consta na Lei nº 12.651/2012 ou legislação
federal anterior, contudo a referida lei prevê a recomposição de APP e RL com
supressão irregular para Programas de Regularização Ambiental (PRA) (Art. 59, § 4º).

251
Estas definições foram estabelecidas em âmbito nacional no Decreto Federal nº 7.830,
de 17 de outubro de 2012, sendo área degradada definida como “área que se encontra
alterada em função de impacto antrópico, sem capacidade de regeneração natural” (Art.
2º, V) e recomposição como “restituição de ecossistema ou de comunidade biológica
nativa degradada ou alterada a condição não degradada, que pode ser diferente de sua
condição original” (Art. 2º, VIII).
O conceito de área degradada surge na legislação como base para programas de
regularização ambiental que condicionam a recomposição dessas áreas. Segundo o
Decreto Federal nº 7.830/2012, a recomposição deve ser efetuada também em área
alterada, conceituada como “área que após o impacto ainda mantém capacidade de
regeneração natural” (Art. 2º, VI), tendo em vista que o Decreto Federal nº 8.235, de 5
de maio de 2014 determina que as áreas degradadas ou alteradas serão consideradas
antropizadas para efeitos de cadastramento no CAR (Art. 3º, § 4º). O Decreto
8.235/2014 estabelece ainda que a regularização das APPs, RLs e de uso restrito poderá
ser efetivada mediante recuperação, recomposição, regeneração ou compensação (Art.
2º).
Os maiores agentes causadores de alteração dos ecossistemas florestais
amazônicos são a exploração predatória de produtos madeireiros e não-madeireiros, a
implantação de pastagens, a agricultura de corte e queima e, mais recentemente, a
agricultura mecanizada de grãos, sendo que áreas alteradas são as que sofreram
desmatamento e exploração madeireira, podendo ser produtivas, que constituem
sistemas agrícolas ou florestais, ou áreas alteradas sem utilização econômica, ou seja,
áreas abandonadas após uso temporário (ALMEIDA; SABOGAL; BRIENZA JÚNIOR,
2006).
A eficácia da recuperação de fragmentos florestais depende da identificação dos
fatores de degradação e de alternativas para minimizar o processo de degradação e
recuperar a estrutura florestal, conservando assim a sua biodiversidade (VIANA e
PINHEIRO, 1998). No processo de recuperação não é aconselhável a substituição da
vegetação nativa por plantações homogêneas de espécies exóticas. Por outro lado,
sistemas consorciados de espécies nativas e exóticas não competitivas e de interesse
econômico em baixa densidade podem ser opções interessantes para algumas RLs da
Amazônia (METZGER, 2010).
No âmbito estadual, o Programa de Regularização Ambiental dos Imóveis
Rurais do Estado do Pará foi instituído pelo Decreto Estadual nº 1.379, de 03 de
setembro de 2015. Considerando que o Fator 1 está inserido dentro de políticas federais
e estaduais de regularização fundiária, considera-se errônea a denominação adotada de
“área degradada” ao indicador ora analisado, visto que o Decreto Estadual nº
1.379/2015 e a legislação federal correlacionada nesse tópico prevê que para regularizar
a propriedade é necessária a garantia de recomposição de áreas “degradada” ou
“alterada”. Sugere-se alterar a terminologia para área “alterada/degradada” e considerar
ambas as situações para efeito de cômputo do indicador.

3.4. Perspectivas de uso do CAR como subsídio à recuperação de áreas degradadas


O Fator de Regularização Ambiental está vinculado à política de regularização
fundiária, com programas e legislação pertinente na esfera federal e estadual. Logo, a

252
inclusão de APP, RL e AD é considerada uma evolução do uso do CAR como critério
(ou fator) de repasse do ICMS Verde, o qual mensurava unicamente a proporção da área
cadastrada em relação à área cadastrável em cada município, sem considerar as
condições ambientais dentro das áreas cadastradas.
Ressalta-se que o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento
na Amazônia Legal (PPCDAm) possui um eixo dedicado ao ordenamento fundiário
(BRASIL, 2013). O Fator 1 pode ser relacionado, portanto, com a política de
regularização fundiária do Estado do Pará, não somente pela manutenção do CAR como
um dos seus indicadores, mas sim pela correlação existente entre todos os indicadores.
A indefinição fundiária na Amazônia e especificamente no Estado do Pará é
frequentemente citada em análises sobre as limitações para implantação de políticas de
produção sustentável e de conservação na região, mesmo com a disponibilidade de
tecnologias acessíveis, tais como mapeamento, monitoramento, cruzamento e análise de
dados, georreferenciamento, entre outros (BRITO e CARDOSO JUNIOR, 2015).
A consideração do Fator 1 dividida em quatro indicadores (CAR, APP, RL e
AD) remonta ao objetivo instituído na Lei nº 12.651/2012, de integrar as informações
ambientais das propriedades e posses rurais, com delimitação das Áreas de Proteção
Permanente (APP), Reserva Legal (RL), entre outras. Quando se acrescenta
consideração de área degradada ao fator, deve-se considerar se foram respeitadas as
tipologias vegetais da APP e RL, ou a previsão de sua recuperação.
Sendo assim, o CAR se reveste de importância quanto à avaliação e
monitoramento da situação das Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal nas
propriedades rurais do estado, além de conferir relevantes subsídios ao ordenamento
territorial (MERLIN e OLIVEIRA, 2016). Portanto, a utilização do CAR em um fator
associado às demais variáveis (RL, AD e APP) utilizadas na nova metodologia é mais
coerente que sua utilização como um critério isolado. Porém, são necessários ajustes
metodológicos, conforme esclarecido nos subtópicos do Fator 1, descritos acima.
Um exemplo desta importância em âmbito nacional é a utilização do CAR como
requisito necessário à retirada do Município da lista de maiores desmatadores da
Amazônia e passe a ser considerado com desmatamento monitorado, listagem prevista
no Decreto Federal nº 6.321, de 21 de dezembro de 2007: é necessário o alcance de
cobertura de 80% do CAR, excetuadas as unidades de conservação de domínio público
e terras indígenas homologadas, além de manter o desmatamento abaixo dos limites
estabelecidos pelo MMA (Art. 14).
Para que haja uma boa gestão dos recursos naturais é imprescindível a utilização
de instrumentos que possibilitem tal administração. De acordo com a Lei nº 6.938, de
31 de agosto de 1981, a qual dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA), os instrumentos de gestão ambiental são considerados mecanismos utilizados
pela administração pública com o intuito de alcançar os objetivos da política ambiental
(BRASIL, 1981). Entre tais instrumentos, podem ser incluídos o ICMS verde e o CAR,
no caso do Estado do Pará, tendo em vista que o CAR colabora para regularização das
APP e/ou RL, vegetação natural suprimida ou alterada no imóvel rural, já que identifica
no imóvel, por meio de planta e memorial descritivo, a localização dos remanescentes
de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente, das Áreas de Uso Restrito,
das áreas consolidadas e a localização da Reserva Legal, permitindo a partir de então
verificar em termos práticos se a propriedade está regular quanto ao que consta na

253
legislação da destinação do imóvel a tais áreas ou demonstrará a área que precisa ser
recomposta para regularização. É realizado um diagnóstico ambiental, com informações
da propriedade e das áreas passíveis de recuperação e/ou recomposição vegetal.
A Lei nº 12.651/2012 dispões que caso ocorra supressão da vegetação em área
de APP ou RL, o proprietário, possuidor ou ocupante é obrigado a promover a
recomposição da vegetação a partir de projetos de recuperação de áreas degradadas. É
baseado no CAR que o proprietário irá tomar medidas para promover a recomposição
e/ou recuperação dessas áreas a partir de orientações técnicas. O não cumprimento da lei
impossibilita o cadastro da propriedade, assim como a aplicação de sanções, além de
não ter acesso a crédito rural e a impossibilidade de obtenção de autorização ambiental.
O Estado do Pará foi o primeiro a formalizar o Programa de Regularização
Ambiental (PRA) a partir do Decreto estadual nº 1.379, de 03 de setembro de 2015,
criado para promover ações a serem desenvolvidas nos imóveis rurais por proprietários
e posseiros visando a adequação à legislação ambiental com a regularização do passivo
ambiental (áreas que precisam ser compensadas) em APP e Reserva Legal do estado,
consubstanciando-se numa aplicação prática do uso do CAR como subsídio à
regularização fundiária.
Conforme disposto no art. 1º do Decreto nº 1.379/2015, para execução do
Programa de Regularização Ambiental são estabelecidos seguintes instrumentos: I) – o
Cadastro Ambiental Rural – CAR; II) – o Termo de Compromisso Ambiental – TCA;
III) – o Projeto de Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas – PRADA; IV) – as
Cotas de Reserva Ambiental – CRA, quando couber.
CRA é outro sistema que contribui para a conservação do ecossistema, por ser
um instrumento alternativo para os proprietários que devem recuperar a área de RL, é
um meio de certificação de compensação dessa área. Os proprietários que possuem RL
em excesso, podem usá-las para cumprir o mínimo de RL na lei em outra propriedade
que precisa ser compensada, contanto que a perda da cobertura florestal seja antes de
julho de 2008 (IPAM, 2015).
Ainda de acordo com Decreto nº 1.379/2015, para aderir ao programa é
obrigatório previamente obter o CAR da propriedade, sendo um instrumento essencial
para sua efetivação, pois ele identifica a situação do imóvel rural, destacando a
existência de passivos ambientais e a área que precisa ser recuperada. A partir de então,
o proprietário pode assinar ao Termo de Compromisso Ambiental, o qual consiste de
um documento estabelecido juntamente com o Órgão Ambiental competente, que
estipula obrigações de manutenção de vegetação nativa existente na propriedade ou
posse rural, recomposição de APP e Reservas Legais, bem como descreve os
compromissos de adequação ambiental e legal das atividades produtivas nas áreas
destinadas ao uso alternativo do solo.
Posteriormente poderá ser elaborado o Projeto de Recomposição de Áreas
Degradadas e Alteradas (PRADA), que se trata de um estudo detalhado de acordo com
as características bióticas e abióticas locais do ecossistema, a partir do conhecimento da
vegetação remanescente para definir a metodologia a ser adotada pelo PRADA, sendo
conduzida de forma natural ou então com indivíduos plantados (SARTORI, 2015).
A regeneração natural proporciona a conservação, preservação e formação de
florestas, tanto para proteção integral quanto para o manejo das espécies de uso

254
sustentável. Ela refere-se às etapas de estabelecimento e desenvolvimento das plantas
(GAMA; BOTELHO; GAMA; SCOLFORO, 2003). O plantio de mudas é a técnica
mais eficaz para a Recuperação de áreas degradadas (RAD), pois não será necessário
esperar a germinação, porém seu o custo é elevado. A escolha das espécies é de extrema
importância, deve-se evitar o uso de espécies exóticas, escolher a classe sucessional de
cada espécie, dando preferência para as pioneiras e posteriormente as secundárias e
clímax (SARTORI, 2015).
Apesar de não ser obrigatório, o PRA traz múltiplos benefícios aliados ao meio
ambiente, assim como ao proprietário ou posseiro rural, pois há a possibilidade de
regularização das APP e/ou Reserva Legal, além de que ao aderir e cumprir o que
consta no TCA, não sofrerá punições por crime ambiental e haverá a extinção de
sanções devido supressão irregular da vegetação em áreas de APP - Reserva Legal e de
uso restrito, cometidas até 22/07/2008 de acordo com o Código Florestal (Art. 59, § 4º).
O PRA também pode ser utilizado como uma oportunidade de negócio, pois
permite conduzir a avaliação da melhor forma de regularizar ambientalmente o imóvel e
da utilização da terra visando o desenvolvimento econômico, onde o proprietário pode
explorar economicamente sua RL e sua APP, dentro dos critérios permitidos pela
legislação vigente.
Nessa perspectiva, sendo o CAR importante no que toca subsídios ao
ordenamento territorial no Estado, temos que a sua consideração como critério para
repasse de ICMS Verde tem a finalidade de induzir os gestores municipais a viabilizar a
realização do cadastro em seus territórios. O fator indutivo do ICMS Verde é aqui,
portanto, privilegiado.
Ressalta-se que o prazo para cadastramento dos imóveis rurais no país foi
alterado pela Lei nº 13.335, de 14 de setembro de 2016, estendido para dezembro de
2017, podendo ser prorrogado por ato do Chefe do Poder Executivo por mais um ano
(Art. 29) evidenciando que a partir de então as instituições financeiras não poderão
conceder crédito rural a produtores que não estiverem inscritos no CAR.
A obrigatoriedade da realização do CAR, portanto, impulsiona aos proprietários
de imóveis rurais regularizarem as propriedades em caráter progressivo previsto pelo
prazo de acordo com o que o Código florestal define. Com base no monitoramento e
recuperação de passivos ambientais, tais ações contribuirão para o ICMS verde, sendo
um instrumento econômico com potencial para reduzir o desmatamento no estado e a
regularização de APP, RL e AD, tendo em vista que o cumprimento disto implicará no
repasse de recursos públicos aos municípios.

4. CONCLUSÕES
Os novos critérios de repasse do ICMS Ecológico no Pará instituídos no ano de
2016 representam, do ponto de vista teórico de acordo com o estudo realizado neste
trabalho, uma evolução dos critérios originalmente adotados, com incremento de novos
indicadores, possuindo, portanto, coerência quanto ao fundamento de instituição desta
política no estado. A utilização do CAR com outros indicadores (APP, RL e AD) no
fator Regularização Ambiental e com maior porcentagem de repasse atribuída na
distribuição do ICMS Verde, denota um incentivo à política de regularização fundiária e

255
ambiental no Estado do Pará mais intenso que o adotado em outros estados brasileiros,
bem como, uma evolução neste critério em comparação ao adotado no Pará
anteriormente. Contudo, as ferramentas utilizadas precisam ser elucidadas na norma, tal
qual os instrumentos técnicos utilizados para a determinação do que seria área
degradada e de como a informação poderá ser utilizada na mitigação da irregularidade.
A política do ICMS Ecológico deve ser analisada como uma ferramenta dentro de uma
política mais ampla de preservação ambiental, com claras definições de prioridades e
mecanismos de gestão que possibilitem a sua avaliação.

REFERÊNCIAS

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implicações para políticas públicas. Belém, PA: Revisão de iniciativas de reabilitação
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altera e acresce dispositivos ao Decreto no 3.179, de 21 de setembro de 1999, que
dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente, e dá outras providências.
________. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação
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1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de
setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67,
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Cadastro Ambiental Rural, o Cadastro Ambiental Rural, estabelece normas de caráter
geral aos Programas de Regularização Ambiental, de que trata a Lei no 12.651, de 25 de
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________. Decreto nº 8.235, de 5 de maio de 2014. Estabelece normas gerais
complementares aos Programas de Regularização Ambiental dos Estados e do Distrito
Federal, de que trata o Decreto nº 7.830, de 17 de outubro de 2012, institui o Programa
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________. Lei 7.638, de 12 de julho de 2012. Dispõe sobre o tratamento especial de que
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________. Decreto Estadual nº 775, de 26 de junho de 2013. Regulamenta a Lei
Estadual nº 7.638, de 12 de julho de 2012.
________. Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA). Portaria SEMA 1.562, de
27 de junho de 2013. Estabelece de forma mais detalhada os dados, fontes e cálculos
para que ocorra a efetivação do repasse do ICMS Verde, sendo que todas as fontes e os
cálculos da parte ecológica estão nela descritos.
________. Decreto Estadual nº 1.379 de 03 de setembro de 2015. Cria o Programa
de Regularização Ambiental dos Imóveis Rurais do Estado do Pará - PRA/PA e dá
outras providências.
________. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS).
Portaria nº 990, de 03 de junho de 2016. Torna público os dados, informações e índices
provisórios referentes ao repasse do ICMS Verde aos municípios e dá outras
providências.
________. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS).
Portaria nº 1272, de 21 de julho de 2016. Publica os dados, informações e índices
definitivos referentes ao repasse do ICMS Verde aos municípios e dá outras
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AVALIAÇÃO DO USO DE ESCÓRIA SIDERÚRGICA NA CORREÇÃO E


FORNECIMENTO DE NUTRIENTES PARA UM NEOSSOLO
QUARTZARÊNICO ÓRTICO TÍPICO

Alves, R. B. R.1; Ferreira, I. M.2; Figueiredo, T. A. B. R. A.3; Cruz, R. L.4


1
Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de Geografia - Pós-
graduação em Geografia. Contato: [email protected]. Mestrando – bolsista -
FAPEG.
2
Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de Geografia - Pós-
graduação em Geografia. Contato: [email protected]. Professor Doutor.
3
Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Instituto de Ciências Agrarias. Contato:
[email protected]. Graduação em Agronomia.
4
Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de Geografia - Pós-
graduação em Geografia. Contato: [email protected]. Mestranda –
bolsista - FAPEG.

RESUMO

Escórias são resíduos da indústria da fundição do aço e do ferro-gusa. Na sua


composição encontram-se diversos óxidos de Ca, Mg, Si, Fe e Mn, cujas quantidades e
concentrações são decorrentes da constituição química da matéria-prima (minério de
ferro, carvão, calcário ou cal) utilizada no processo de fabricação do produto, além do
tipo de refratário usado na parede do forno. Sendo claramente demostrado pelas usinas
siderúrgicas o interesse de sua plena utilização, pois o aproveitamento desses materiais
como fontes de Si, Ca, Mg e corretivos de solo é desejável para a agricultura. Uma
escória destinada ao uso agrícola, com níveis significantes de Si, deve apresentar teores
de Si solúvel com reatividade, facilidade de aplicação (densidade alta), boa relação
cálcio e magnésio e teores de CaO e MgO. Com o objetivo de avaliar este potêncial o

259
presente trabalho realizou a avaliação agronômica de uma escória siderúrgica, e seus
impactos no solo. Sendo realizada a incubação com Neossolo Quartzarênico Órtico
típico (RQo). Através do presente trabalho foi possível delinear parametros para o uso
de escórias de siderurgia na correção e fornecimento de nutrientes para o Neossolo
Quartzarênico Órtico típico (RQo), através da pesquisa qualitaiva com posterior análise
empírica dos resultados.

Palavras Chave: Escória siderúrgica, Passivo Ambiental, Solo

1 INTRODUÇÃO

É chamado de resíduo sólido tudo aquilo que normalmente chamamos de lixo,


qualquer matéria sólida ou semissólida que é produzida ou descartada pelo homem, de
forma geral, são quaisquer materiais oriundos das atividades industrial ou humana que
não seja aproveitado. A atividade agropecuária, industrial e residencial gera resíduos
que podem ser danosos quando dispostos de forma incorreta, podendo causar sérios
prejuízos ao meio ambiente e aos seres vivos. A busca por soluções na área de resíduos
reflete a demanda da sociedade que pressiona por mudanças motivadas pelos elevados
custos socioeconômicos e ambientais (BRASIL, 2013).
Se manejados adequadamente, os resíduos sólidos adquirem valor comercial e
podem ser utilizados em forma de novas matérias-primas ou novos insumos. A
implantação de um Plano de Gestão traz reflexos positivos no âmbito social, ambiental
e econômico, pois não só tende a diminuir o consumo dos recursos naturais, como
proporciona a abertura de novos mercados, gera trabalho, emprego e renda, conduz à
inclusão social e diminui os impactos ambientais provocados pela disposição
inadequada dos resíduos (BRASIL, 2006).
Em países mais industrializados, como Alemanha, Japão e Estados Unidos, a
utilização de escórias de alto-forno e aço como agregado para engenharia civil, para uso
metalúrgico e como fertilizante tem uma longa tradição. A indústria siderúrgica iniciou
uma extensa pesquisa sobre o desenvolvimento de campos de aplicação para escórias
(SAMPAIO, 2010), sendo atualmente bem caracterizadas e são utilizados materiais de
longo prazo utilizados principalmente como agregados para a construção de estradas
(por exemplo, camadas asfálticas ou não ligadas), como pedras para construção de
engenharia hidráulica (por exemplo, estabilização de margens) e como fertilizante para
fins agrícolas.
Estes múltiplos campos de aplicação só foram alcançados por haver uma
cuidadosa seleção das matérias-primas e uma rota de processo adequada, pois é
fundamental o desenvolvimento de procedimentos subsequentes como um tratamento da
escória líquida, um tratamento térmico apropriado e um processamento adequado para
assegurar que a qualidade das escórias de aço seja sempre adequada para o uso final
(CECCATTO, 2003).
Dependendo do respectivo campo de aplicação, a aptidão das escórias de aço
tem de ser comprovada pela determinação das propriedades técnicas, bem como a
compatibilidade ambiental. Por esta razão são desenvolvidos métodos de ensaio para
avaliar as propriedades técnicas, especialmente o comportamento ambiental e a
eficiência da escória (WALLY et al., 2015).

260
No entanto, uma vez que a escória contém metais pesados em concentrações
mais elevadas do que na maioria dos solos, é levantada questões sobre a necessidade de
avaliar os potenciais riscos para a saúde humana e ambiental associada às aplicações,
para melhor compreensão geral das características físicas e químicas destes materiais
(PREZOTTI; MARTINS, 2012).
Dependendo do seu material de origem e o tratamento utilizado, as escórias
podem conter teores significativos de oxido de cálcio (CaO), oxido de magnésio (MgO),
silicatos de cálcio (CaSiO3) e silicato de magnésio (MgSiO3), com potencial para o uso
como corretivo de acidez do solo, são portanto, produtos capazes de neutralizar a acidez
e ainda levar nutrientes essenciais às plantas, principalmente o cálcio e o magnésio e
nutrientes benéficos como o silício. Geralmente os materiais empregados como
corretivos de acidez são óxidos, hidróxidos, escórias e carbonatos de Ca e Mg
(MALAVOLTA, 1980).
Entre os corretivos utilizados nos solos, o silicato de cálcio é uma das
alternativas que, além de eliminar a acidez do solo, funciona como importante protetor
das plantas contra os danos causados por doenças e insetos.

Dentre as principais fontes de silício, destacam-se as escórias de siderurgia,


tendo como principais componentes os silicatos de cálcio (CaSiO3) e de magnésio
(MgSiO3) sendo estes, os responsáveis pela correção da acidez do solo. Basicamente o
mecanismo de correção da acidez pelos silicatos presentes nas escórias pode ser
explicado pelas seguintes reações descritas por Alcarde e Rodella (2003):

CaSiO3 ↔ Ca2+ + SiO32-

SiO32- + H2O(solo) ↔ HSiO3- + OH- {1}

HSiO3- + H2O(solo) ↔ H2SiO3 + OH- {2}

H2SiO3 + H2O(solo) ↔ H4SiO4

As equações demonstram que a hidrólise do ânion silicato promove a liberação


de hidroxilas (OH-) que no solo reagem neutralizando os prótons (H+), promovendo a
elevação do pH, e ainda reagem com o Al3+ presente no solo formando o hidróxido de
alumínio (AlOH)3, que corresponde a uma forma precipitada e não tóxica aos vegetais e
como consequência quanto maior a dose de silicato aplicada, maior o pH do solo
(KORNDÖRFER et al., 2004a e CARDOSO, 2003).

Segundo Korndörfer et al. (2004a), uma fonte de silício, pode ser recomendada
para uso agrícola caso tenha altos teores de Si solúvel, CaO e MgO, alta reatividade
(poder real de neutralização), boas propriedades físicas (granulometria fina, alta
densidade, etc.), efeito residual prolongado, baixo custo e tenha em sua composição
baixos teores de contaminantes (metais pesados e radioativos).
Vários estudos em campo e em casa-de-vegetação têm sido conduzidos para
verificar a eficácia dos produtos utilizados como fontes de silício. De modo geral, o que

261
se observa é que fontes de silício, como Wollastonita, escórias de alto forno
(CARVALHO-PUPATTO et al., 2003), agregados siderúrgicos, xisto e termofosfato
(PEREIRA et al., 2003), proporcionam incrementos nos teores de Ca e Mg trocáveis e
uma elevação do pH do solo, reduzindo a concentração de Al+3 fitotóxico. Além do
fornecimento de Ca e Mg, é importante mencionar que o uso de silicatos aumenta os
teores de Si no solo, variando conforme a fonte utilizada.

Portanto, diante do crescimento acelerado da população mundial, juntamente


com a pouca eficiência dos processos produtivos, tem gerado grandes quantidades de
resíduos os quais não podem ser inadvertidamente dispostos no meio ambiente, diante
disso o presente trabalho teve como objetivo testar uma escória de siderurgia (passivo
ambiental) quanto ao seu uso na agricultura, sendo previamente sua composição de
metais pesados mesurada e os teores encontrados aceitos para a sua utilização como
fertilizante.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizado um experimento de incubação, o qual foi instalado na


Universidade Federal de Uberlândia em local protegido de luz e umidade, com
delineamento experimental inteiramente casualizado (ZIMMERMANN, 2004, p.51). A
incubação foi realizada em um Neossolo Quartzarênico Órtico típico (RQo). O solo foi
caracterizado quanto aos seus atributos químicos (Tabela 1) e físicos (Tabela 2).

Tabela 1 - Análise química do solo que foi estudo na incubação.

Solo pH P** Si Al3+ Ca2+ Mg2+ SB t CTC SB V m

----%---
-mg dm-3- --------------------- cmolc dm-3 ----------------
-

7
ROo 4,0 8,9 1,3 0,8 0,2 0,1 0,3 1,2 1,9 0,3 19
0

Observações: P, K = (HCl 0,05 N + H2SO4 0,025 N); Al, Ca, Mg = (KCl 1 N); M.O. =
(Walkley-Black EMBRAPA, 1997); SB = Soma de bases / t = CTC efetiva / T = CTC a
pH 7,0 / V = Sat. por Bases / m = Sat. por Al.

Tabela 2 - Análise física do solo utilizado no estudo de incubação.

Areia
Areia Fina Silte Argila
Solo Grossa

------------------- g kg-1 -----------------

262
RQo - Neossolo Quartzarênico Órtico Típico 516 280 79 125

Observações: Análise textural pelo Método da Pipeta (EMBRAPA, 1997).

O Si oriundo da areia é fundido em presença do NaOH na temperatura de


aproximadamente 1.200 oC até a formação do silicato de sódio (processo executado em
usinas de siderurgia). O silicato de sódio então é reagido com o ácido sulfúrico para
produção da sílica gel - SiO2. Este último processo gera uma água de lavagem ácida,
que é neutralizada com cal [Ca(OH)2]. Os sólidos gerados neste processo de
neutralização são constituídos de CaSO4 x H2O mais sílica (SiO2) o qual passa por um
processo de filtragem para remoção da parte líquida finalizando o processo, formando a
Escória estudada.
A Escória é um produto formado por compostos de Si na forma de SiO2, Ca na
forma de Ca(OH)2 e CaSO4.xH2O) e Mg na forma de Mg(OH)2. Os sólidos se
apresentam na forma de grãos de reduzida granulometria, variando da forma pastosa a
sólida, dependendo do seu teor de umidade. A cor predominante é cinza. Assim foi
testado a Escória indicada na Tabela 3, sendo que a mesma foi caracterizada quanto a
seus teores Si total, Si solúvel, conforme metodologia descrita por Korndörfer, Pereira e
Nolla (2004b), teores de CaO e MgO segundo EMBRAPA (1999) (Tabela 3). A Escória
testada foi moída até passar 100% em peneira de 50 mesh (malhas/polegada). As doses
da Escória (fonte de Si) adicionadas ao solo foi baseada no teor de Si total da fonte.
Para efeito de comparação tanto para as avaliações com relação aos elementos
Si, Ca e Mg quanto para o efeito sobre o pH do solo, utilizou-se a Wollastonita, que
corresponde a um produto mundialmente empregado em estudos com silício,
classificado como um metassilicato de cálcio natural de alto grau de pureza (Tabela 3).

Tabela 3 - Caracterização química da Escória e do padrão Wollastonita, utilizados no


experimento.

FONTES Si Total Si Solúvel* CaO MgO

-------------------------%------------------------

3.6 Escória 17,8 2,16 3,9 6,05

3.7 Wollastonita (padrão) 20,7 4,6 42,4 1,9

* Extração com NH4NO3 + Na2CO3

Fontes de nutrientes para as culturas devem ser analisadas quanto aos teores de
metais pesados em sua constituição, podendo ou não ser limitado seu uso em solos
agrícolas, pois seu acúmulo é preocupante e existe grande risco de serem transferidos
para as diferentes espécies de plantas.

A Escória foi caracterizada quanto à sua concentração de metais pesados,


(Tabela 4) sendo os teores encontrados aceitos para a sua utilização como fertilizante.

263
Tabela 4 – Caracterização química quanto à presença de metais no produto Escória.

Parâmetros Unidade Resultados Obs. L.D. (1)


Ni ppm 4,5 - 1,0
Cd ppm < L.D. abaixo do L.D. 0,5
PB ppm 5,0 - 1,0
(1)
L.D. Limite de detecção do método

2.1 Tratamentos

Ao solo foram incorporadas às fontes de silício (Wollastonita e Escória), as


doses adicionadas foram determinadas com base nos teores de Si total das fontes e
consistiram em doses crescentes, que equivaleram a 0, 200, 400 e 800 kg ha-1 de Si para
a Wollastonita, e 200 e 400 kg ha-1 para a Escória, de modo que com os resultados do
tratamento padrão (Wollastonita) fosse possível obter uma curva padrão (Tabela 5).

O solo recebeu doses de Si proveniente da fonte padrão (Wollastonita), pois a


partir dessa fonte foi possível fazer a correspondência de reatividade para o produto
testado.

A Wollastonita (CaSiO3) é comercializado com o nome de Vansil – EW 20. De


acordo com o fabricante, apresenta a seguinte composição química: SiO2 = 51,9%; CaO
= 42% ou (30% Ca); MgO = 1,5%; Al2O3 = 1,8%; Na2O = 0,3%; Fe2O3 = 0,3%; pH =
9,8 (sol. 10%); MnO = 0,03%; densidade = 2,9 kg/m3; peso molecular = 116; ponto de
fusão = 1540 oC.

Tabela 5 - Doses de Si e dos produtos utilizados no solo (estudo de incubação).

Si Si Dose
Dose
Dose Total Solúvel Fonte/
(*)
Fonte/Material Fonte/
Si fonte/ NH4NO3 Materia
+Na2CO3 Material
Material l

g/300g
kg ha-1 % % kg ha-1
solo

Testemunha 0 - - 0 0

264
Wollastonita (padrão Si) 200 21,0 4,6 952,4 0,143

Wollastonita (padrão Si) 400 21,0 4,6 1904,8 0,286

Wollastonita (padrão Si) 800 21,0 4,6 3809,5 0,571

Escória 200 17,8 2,2 1119,8 0,168

Escória 400 17,8 2,2 2239,6 0,336

Os produtos Escória e Wollastonita foram misturados com 300 g de solo seco ao


ar e peneirado, dentro de um saco plástico. Após a mistura, o solo foi colocado em
recipientes plásticos (potes). Adicionando-se água destilada em quantidades iguais em
cada recipiente e de acordo com a capacidade de retenção de água do solo.

Depois de 30 e 60 dias de reação com o solo (período de incubação), foi retirada


uma amostra de solo de aproximadamente 50 g de cada recipiente. As amostras foram
identificadas, secas e analisadas quanto aos teores de Si solúvel, pelo método de
extração em CaCl2 0,01mol L-1, conforme metodologia descrita por Korndörfer et al.,
(2004b). As análises de pH em CaCl2 0,01mol L-1, Ca e Mg trocáveis seguiram a
metodologia descrita pela EMBRAPA (1999).

Com relação aos resultados obtidos, primeiramente foi feita uma análise de
regressão polinomial para as doses crescentes da fonte padrão (Wollastonita) e
posteriormente a análise do desempenho da Escória e da Wollastonita, utilizando o teste
de Tukey (ZIMMERMANN, 2004, p.37) com comparação entre as medias ao nível de
5% de probabilidade e auxílio do programa SISVAR (FERREIRA, 2008), sendo a
média das duas doses (200 e 400 kg ha-1) de cada fonte no solo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Silício no solo

Os teores de silício solúvel, do Neossolo Quartzarênico Órtico típico (Figura 1),


tanto após 30 quanto para 60 dias de incubação, aumentaram significativamente com as
doses de Wollastonita aplicadas. Isso demonstra, de forma geral, a eficiência e a
solubilidade da desta fonte em disponibilizar silício na solução. Concordando com
dados obtidos por Vidal (2003), que obteve resultados semelhantes estudando o
comportamento de doses crescentes de Wollastonita no solo.

265
A B
Si no solo, mg dm-3

8,0 ♦ y = 0,0077x + 0,74; R2 = 0,92*

Si no solo, mg dm-3
8,0 ■ y = 0,0068x + 0,46; R2 = 0,93*
6,0 6,0
4,0
4,0
2,0
2,0
0,0
0 200 400 600 800 0,0
0 200 400 600 800
Doses de Si, kg ha-1
Doses de Si, kg ha-1

Figura 1. Teores de Si no solo, extraídos em cloreto de cálcio, no Neossolo Quartzarênico


Órtico típico, em função da aplicação de doses de Wollastonita, após 30 (A) e 60 (B) dias
de incubação.

3.1.1 Avaliação da Escória como fonte de Si

No solo estudado tanto aos 30 quanto aos 60 dias, a fonte mais eficiente em
disponibilizar Si foi a Wollastonita (Tabela 6), o que mostra a boa reatividade desta
fonte. A maior liberação de Si pela fonte teste, no solo estudado, mostra a boa
solubilidade do produto, o que provavelmente irá se refletir na absorção deste elemento
pelas plantas (RAMOS, 2005).

Os teores de Si no solo apresentaram-se maiores na primeira coleta, isto é, 30


dias após o início da incubação (Tabela 6), isso demonstra que praticamente toda reação
do produto aconteceu nos primeiros 30 dias o que indica uma disponibilidade rápida
pelas fontes podendo estas ser usadas em culturas de ciclo (ARAÚJO, 2007).

Tabela 6. Teores de Si no solo, extraídos com CaCl2 (0,01 mol L-1), após 30 e 60 dias de
incubação.

RQo

Média das doses


Fontes 30 dias 60 dias

---------------------------- Teores de Si (mg kg-1)----------------------------


----

Wollastonita 2,61 a 2,13 a

266
Escória 1,94 b 1,44 b

Médias seguidas de diferentes letras na coluna distinguem entre si (Tukey 5%)

3.2 pH do solo

O incremento das doses de Wollastonita proporcionou aumentos significativos


do pH do solo (Neossolo Quartzarênico Órtico tipíco), tanto aos 30 quanto aos 60 dias
de incubação (Figuras 2). A presença do silicato (SiO3-2) é capaz de neutralizar os
prótons (H+), segundo a equação descrita por Alcarde (1992), o que resulta em um
efeito sobre o pH do solo e consequentemente quanto maior a dose de silicato aplicada,
maior o pH do solo (KORNDÖRFER et al., 2004a e CARDOSO, 2003).

A B

♦ y = 0,0024x + 3,82; R2 = 0,99*


6,0 6,0 ■ y = 0,0017x + 3,42; R2 = 0,98*
pH do solo - CaCl2

pH do solo - CaCl2

5,0 5,0

4,0
4,0

3,0
0 200 400 600 800 3,0
0 200 400 600 800
Doses de Si, kg ha-1
Doses de Si, kg ha-1

Figura 2. pH do solo, extraídos em cloreto de cálcio, no Neossolo Quartzarênico Órtico


tipíco, em função da aplicação de doses de Wollastonita, após 30 (A) e 60 (B) dias de
incubação.

3.2.1 Avaliação da Escória como corretivo de acidez

A Wollastonita foi a fonte mais eficiente em corrigir o pH do Neossolo


Quartzarênico Órtico típico, aos 30 dias após a incubação (Tabela 8), o que demonstra a
rápida reatividade desta fonte neste solo.

Avaliando-se a média entre as doses de cada fonte, pode-se observar que a


Wollatonita obteve uma melhor performance que a Escória na correção do pH do
Neossolo Quartzarênico Órtico típico (Tabela 7).

Como esperado, em solos arenosos ocorre uma significativa correção do pH,


devido ao menor poder tampão dos solos arenosos, quando comparado com solos
argilosos, isto é, precisa-se de menos corretivo para elevar uma mesma unidade de pH
267
em um solo de textura arenosa como o Neossolo Quartzarênico Órtico típico,
confirmando os dados de Queiroz (2003).

Tabela 7. pH em CaCl2 (0,01 mol L-1), após 30 e 60 dias de incubação do solo.

RQo

Média das doses


Fontes 30 dias 60 dias

------------------------------------------pH---------------------------------------
---

Wollastonita 4,9 a 4,3 a

Escória 3,9 b 3,7 b

Médias seguidas de diferentes letras na coluna distinguem entre si (Tukey 5%)

3.3 Ca e Mg no solo

Após 60 dias do início do período de incubação, o incremento nas doses de


Wollastonita proporcionou um aumento significativo nos teores de Ca em no solo, como
se observa na figura 3. O que já era esperado em função da alta concentração de óxido
de cálcio presente nesta fonte (Figura 3), concordado com dados obtidos por Ramos,
(2005).

A
Ca no solo, cmolc dm-3

3,0 ■ y = 0,0026x + 0,3; R2 = 0,98*

2,0

1,0

0,0
0 200 400 600 800

Doses de Si, kg ha-1

Figura 3. Teores de Ca no solo extraído com KCL 1 mol L-1, 60 dias após o início da

268
incubação para o Neossolo Quartzarênico Órtico típico (A).

Na Figura 4 observa-se que para os teores de Mg, o incremento das doses de


Wollastonita, não teve o mesmo efeito, consequência da baixa concentração de óxido de
magnésio na Wollastonita (Tabela 3), portanto a análise de regressão não se mostrou
significativa, concordado com dados obtidos por Araújo (2007).

A
0,12

0,1

0,08

0,06

0,04

0,02

0
0 200 400 800

Figura 4. Teores de Mg no solo extraído com KCL 1 mol L-1, 60 dias após o início da
incubação para o Neossolo Quartzarênico Órtico típico (A).

3.3.1 Avaliação da Escória como fonte de Ca e Mg

Comparando-se os produtos Escória e Wollastonita, por meio da média entre as


doses (200 e 400 kg ha-1), os teores de Ca e Mg no solo após 30 e 60 dias de incubação
refletem fundamentalmente a composição destes produtos, isto é, a Wollastonita, rica
em Ca apresentou maior aumento nos teores deste nutriente em comparação com a
Escória, diferindo estatisticamente aos 30 e 60 dias após incubação para o Neossolo
Quartzarênico Órtico típico (Tabela 8), concordado com os dados obtidos por Araújo
(2007).

Tabela 8. Teores de Ca, 30 e 60 dias após o início da incubação no solo.


RQo

Média das doses


Fontes 30 dias 60 dias

-------------------------------------- cmolc dm-3 --------------------------------


----

Wollastonita 1,2 a 1,3 a

Escória 0,4 b 0,4 b

Médias seguidas de diferentes letras na coluna distinguem entre si (Tukey 5%)

269
As fontes testadas obtiveram baixos teores de Mg, aos 30 e 60 dias de incubação
(Tabela 9), fato esperado devido a baixa concentração deste elemento em suas
composições, estes resultados obtidos também foram observados para a Wollastonita
por Queiroz (2003), Ramos (2005) e Araújo (2007).

Tabela 9. Teores de Mg, 30 e 60 dias após o início da incubação no solo.


RQo

Média das doses


Fontes 30 dias 60 dias

-------------------------------------- cmolc dm-3 ------------------------------


------

Wollastonita 0,1 a 0,1 a

Escória 0,1 a 0,1 a

Médias seguidas de mesma letra na coluna não distinguem entre si (Tukey 5%)

A maior concentração de Mg nos silicatos implica na sua utilização em solos


com baixos teores de Mg (0,5 cmolcdm-³), podendo, assim, agir semelhantemente ao
calcário dolomítico (RAMOS, 2005).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fonte, Wollastonita foi a mais eficiente em elevar o pH, em disponibilizar Si e


aumentar o Ca trocável no solo estudado, sendo que a Wollastonita e a Escória não
diferiram quanto à eficiência em aumentar o Mg trocável no solo estudado.
A Escória mesmo não demonstrando a mesma eficiência que a Wollastonita,
demonstra potencial para o uso agrícola.
A respeito da presença de elementos tóxicos (metais pesados) na Escória, nos
teores que foram mensurados previamente, a Escória pode ser empregada como
corretivo e fonte de nutrientes para as plantas sem que haja contaminação das mesmas
ou do solo quando as recomendações técnicas são seguidas.
Estes dados fornecem informações que podem ser úteis para avaliar a
comercialização da escória da indústria siderúrgica e para a avaliação de riscos para a
saúde humana e ecológica de aplicações ambientais, com clara demonstração, por parte
das usinas siderúrgicas, o interesse na utilização plena das escórias, visto que, ocorre o
subsidio de pesquisas que possuem como objetivo destinar o uso das escórias de
siderurgia ao uso na construção civil ou, em segundo plano, à agricultura, o que muitas
vezes representa uma perda de oportunidade para os demais resíduos, que também
apresentam características tecnológicas e ambientais atraentes e viáveis de reciclo ou
reutilização.
Em suma, o estudo é de extrema relevância para a reutilização dos resíduos
sólidos industriais, uma vez que, a produção de aço não comporta mais o acumulo de
passivos ambientais, sendo, portanto, crucial a avalição crítica e responsável de novos

270
materiais e a necessidade de estudos sobre a utilização daqueles resíduos que não foram
contemplados outrora pela análise responsável do uso de resíduos sólidos industriais em
solos para fins agrícolas.

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272
RECUPERAÇÃO DE ÁREA DE EMPRÉSTIMO COM APLICAÇÕES DE
BIOSSÓLIDO E RESÍDUOS DE PODA E PLANTIO DE ESPÉCIES NATIVAS

A.P.G. CASTRO1; L.P. FRAGA2

1 - Diretoria de Patrimônio Imobiliário e Meio Ambiente (DPIMA)


2 - Laboratório de Biologia / Colégio Militar de Brasília (CMB)
Endereço postal: Setor Militar Urbano, QGEx, Boco B, 2º Andar, Brasília - DF
Correio eletrônico: [email protected]

RESUMO

A PNRS conceitua resíduo como todo material, substância, objeto ou bem descartado,
gerado por pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado. O tratamento de
esgotos urbanos gera um resíduo sólido e de natureza predominantemente orgânica
denominado lodo de esgoto. Esse resíduo, após tratado (biossólido), pode apresentar
características adequadas para aplicação nos solos. Os resíduos de poda de árvores
urbanas também podem ser utilizados como material estruturante de solos degradados.
Alternativas vêm sendo estudadas no país para a destinação do biossólido e dos resíduos
da poda de árvores visando à recuperação de áreas degradadas. O presente trabalho
acompanhou o crescimento inicial de espécies nativas do Cerrado, em área de
empréstimo, submetida a diferentes tratamentos com aplicação de biossólido e resíduos
de poda. Os tratamentos testados foram assim distribuídos: T0: L0P0 - grupo controle;
T1: L0P1 - poda parcial (122,5 Mg/ha); T2: L0P2 - poda total (245 Mg/ha); T3: L1P0 -
lodo parcial (270 m3/ha); T4: L1P1 - lodo parcial + poda parcial; T5: L1P2 - lodo
parcial + poda total; T6: L2P0 - lodo total (1.080 m3/ha); T7: L2P1 - lodo total + poda
parcial; e T8: L2P2 - lodo total + poda total. Cada parcela amostral ocupou uma área de
100 m2 (20 x 5) onde foram plantadas 60 mudas de 10 espécies (06 mudas/espécie). Foi
observada interação entre espécies e os diferentes tratamentos testados. As espécies
Acacia polyphylla, Schinus terebinthifolius, Peltophorum dubium e Anadenanthera
colubrina apresentaram maior crescimento relativo nos tratamentos com maiores
quantidades de lodo. As espécies da família Rubiaceae (Alibertia edulis e Alibertia
sessilis) e a espécie Copaifera langsdorffii não demonstraram interação significativa
com os resíduos. Os dados apresentados apontam que o reuso de biossólido e dos
resíduos de poda constitui uma alternativa viável para a recuperação de áreas de
empréstimo e para evitar impactos ambientais causados pelo descarte inadequado desses
resíduos.

Palavras Chave: área de empréstimo, resíduos urbanos, recuperação

INTRODUÇÃO

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), um resíduo é


todo material, substância, objeto ou bem descartado, gerado por pessoas físicas ou
jurídicas, de direito público ou privado. Os titulares de serviços públicos de limpeza
urbana possuem responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos

273
visando o manejo adequado dos resíduos sólidos e a promoção da qualidade ambiental
(BRASIL, 2010).
O tratamento de esgotos urbanos gera um resíduo sólido, pastoso e de natureza
predominantemente orgânica denominado lodo de esgoto. O lodo pode apresentar altos
teores de nitrogênio e fósforo dependendo do tratamento dado às águas servidas
(AQUILAR et al., 1994). Esse resíduo, após tratado, e passando a apresentar
características adequadas para aplicação nos solos, é denominado lodo estabilizado ou
biossólido (TAMANINI, 2004; CONAM-DF, 2006). A falta de alternativas viáveis para
a destinação final do lodo constitui um problema para a maioria das Estações de
Tratamento de Esgotos (ETE).
A poda de árvores nos centros urbanos também gera resíduos sólidos de madeira
que, apesar do baixo potencial poluidor, representam grandes volumes, o que dificulta
sua destinação final. Os resíduos de poda podem ser fonte de carbono, lignina e celulose
(FIALHO et al., 2007). Segundo Moretti (2013), a deposição do lodo e dos resíduos
vegetais em aterros, além de ocupar considerável espaço físico, pode favorecer a
ocorrência de incêndios. A deposição contínua do lodo, em solos de aterros, também
pode resultar na contaminação, por nitrato, de lençóis freáticos e cursos de água
(DYNIA et al., 2006).
Visando à apresentação de alternativas para a destinação adequada de resíduos
sólidos urbanos, várias pesquisas têm sido desenvolvidas no país em áreas mineradas
(CORRÊA & MÉLO FILHO, 2004, CORRÊA et al., 2010, FRAGA 2016). Uma fonte
muito comum de degradação nas áreas urbanas é a utilização de horizontes do solo para
a execução de terraplanagens. Como resultado, ocorre a formação de espaços
conhecidos como “áreas de empréstimo” (LOPES & QUEIROZ, 1994) cujo substrato
remanescente apresenta compactação, escassez de nutrientes e de matéria orgânica e
ausência de cobertura vegetal (CORRÊA & LEITE, 1998; KAGEYAMA &
GANDARA, 2004; CORRÊA et al., 2007).
Os resíduos vegetais podem ser aplicados em solos degradados como material
estruturante (REIS et al., 2000). O lodo de esgoto tratado ou biossólido apresenta
nutrientes orgânicos e inorgânicos com possibilidade de substituição da fertilização
mineral (HART et al., 1988; SINGH & AGRAWAL, 2008). O biossólido também pode
promover o desenvolvimento de micorrizas e facilitar o estabelecimento de
comunidades de plantas (WONG, 2003).
Uma das estratégias comuns para a recuperação de áreas no Cerrado é o plantio
de mudas de espécies arbóreas (DISTRITO FEDERAL, 1993). Segundo Faria et al.
(1997), o plantio de espécies arbóreas e o monitoramento do seu desenvolvimento, por
meio de medições periódicas, são importantes no sentido de orientar a escolha de
espécies e a forma de plantio. Para Valcarcel & Silva (1997) a utilização de princípios
teóricos da sucessão vegetal, na recuperação de ecossistemas degradados, constitui uma
ferramenta de reabilitação.
Trabalhos envolvendo o crescimento de mudas de espécies arbóreas, em casas
de vegetação, com utilização de substratos de lodo de esgoto e resíduos vegetais
compostados, são comuns. No entanto, pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de
espécies arbóreas em campo, após incorporação de resíduos urbanos não compostados
ou “in natura”, são escassas.

MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudos

274
A área de estudos está localizada no Distrito Federal, na área de empréstimo do
Pátio da antiga Rodoferroviária de Brasília (15°46’32’’S; 47°56’56”W). Está localizada
ao Norte da DF-087 (Via Estrutural) e a Oeste da DF-003 (EPIA), próxima ao Setor de
Armazenagem e Abastecimento Norte (SAAN).

Preparo do experimento
A área do experimento está contida em parcela de 2.700 m2 da área de
empréstimo (180x15). Essa parcela permaneceu com solo exposto, não tendo tido
qualquer tratamento anterior ao experimento. Foi utilizado o delineamento experimental
de blocos casualizados, com três repetições, sendo dois fatores (lodo e poda), em três
níveis (doses), e 10 espécies arbóreas nativas do Cerrado, num total de 27 parcelas
(Figura 1). Foram testados os efeitos de nove tratamentos (combinações dos três níveis
dos dois fatores) no crescimento inicial de mudas de 10 espécies nativas do Cerrado.
Cada parcela amostral ocupou uma área de 100 m2 (20 x 5).
No preparo das parcelas do experimento foi utilizado lodo base úmida,
disponibilizado pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
(CAESB), e resíduos de poda de árvores (cavacos e folhagens de árvores)
disponibilizados pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (NOVACAP). Para a
definição das dosagens de biossólido no experimento partiu-se da dose padrão da
CAESB (540 m3/ha de lodo base úmida), utilizada pela Companhia em outros projetos
de recuperação ambiental, aplicando-se o dobro (1080 m3/ha) e a metade da dose
correspondente (270 m3/ha). Para as dosagens de poda foi verificada a capacidade
máxima de incorporação do cavaco no solo da área com os implementos utilizados (245
ton/ha) e a metade desta dose (122,5 ton/ha).
Após o descarregamento com caminhões basculantes das doses de lodo e poda,
dentro das parcelas subdivididas, foi realizado o espalhamento com auxílio de uma
retroescavadeira. A incorporação destes substratos no solo foi realizada com auxílio de
uma grade aradora e de um arado de quatro discos, acoplados em trator. Posteriormente
à fase de incorporação, houve caleação (deposição de cal hidratada no solo) nas parcelas
que receberam lodo. Cada tratamento foi repetido 3 vezes, totalizando 27 parcelas. Os
tratamentos testados foram assim distribuídos: T0: L0P0 - grupo controle; T1: L0P1 -
poda parcial (122,5 Mg/ha); T2: L0P2 - poda total (245 Mg/ha); T3: L1P0 - lodo parcial
(270 m3/ha); T4: L1P1 - lodo parcial + poda parcial; T5: L1P2 - lodo parcial + poda
total; T6: L2P0 - lodo total (1.080 m3/ha); T7: L2P1 - lodo total + poda parcial; e T8:
L2P2 - lodo total + poda total.

275
Figura 1. Representação esquemática de um dos blocos casualizados com os
oito tratamentos testados (T1-T8) e o controle (T0). Adaptado de Fraga
(2016)

Plantio de mudas
Posteriormente à incorporação dos resíduos, foram confeccionadas, em cada
parcela amostral, 03 linhas de plantio utilizando-se um moto-coveador, com 20 covas
em cada linha, em espaçamento 2 x 1 metros. Cada parcela amostral ocupou uma área
de 100 m2 (20 x 5) onde foram plantadas 60 mudas de 10 espécies (06 mudas/espécie).
Do total de mudas plantadas (1620) foram 162 por espécie: Acacia polyphylla
(mojoleiro ou acácia), Alibertia edulis (marmelada) e Alibertia sessilis (marmelada-de-
cachorro), Anadenanthera colubrina (angico), Copaifera langsdorffii (copaíba),
Peltophorum dubium (cambuí), Schinus terebinthifolius (aroeira-pimenteira), Sterculia
striata (chichá), Tabebuia aurea (ipê-amarelo-do-cerrado) e Tabebuia impetiginosa
(ipê-roxo).

Medições e análise estatística


Os resultados apresentados são baseados nas diferenças das medições da parte
aérea das espécies arbóreas (altua) realizadas em março de 2014 (plantio) e julho de
2015 (final da 2ª estação chuvosa). A análise de variância com os dados originais foi
realizada no programa estatístico SISVAR 4.6 e as médias foram agrupadas pelo Teste
de Scott-Knott (FERREIRA, 2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi observada interação entre espécies e os diferentes tratamentos testados. Os


tratamentos com concentração de 1080 m3/ha (L2) de lodo e poda 270 m3/ha (P1)
apresentaram melhores resultados para o crescimento da parte aérea em 90% das
espécies testadas.

276
Após duas estações chuvosas, algumas árvores alcançaram mais de 3 metros de
altura sendo que as espécies Acacia polyphylla, Schinus terebinthifolius, Peltophorum
dubium e Anadenanthera colubrina apresentaram maior crescimento relativo. O
crescimento das árvores foi maior nos tratamentos com maiores quantidades de lodo,
tendo os tratamentos de poda também favorecido algumas espécies. As espécies da
família Rubiaceae (Alibertia edulis e Alibertia sessilis) e a espécie Copaifera
langsdorffii não demonstraram interação significativa com os resíduos para o
crescimento relativo.
As espécies pioneiras (heliófitas) das famílias Anacardiaceae (Schinus
terebinthifolius), Fabaceae-mimosoideae (Acacia polyphylla e Anadenanthera
colubrina) e Fabaceae-caesalpinioidae (Peltophorum dubium) apresentaram
significativas diferenças de crescimento em altura em todos os tratamentos testados
frente ao grupo controle. A espécie Schinus terebinthifolius apresentou maior índice de
crescimento no tratamento L2P1 (164,56±10,26) e menor índice no tratamento L0P2
(55,69±10,26). Também houve maior crescimento no tratamento L2P1 para as espécies
Acacia polyphylla (134,22±10,26), Anadenanthera colubrina (88,55±10,26) e
Peltophorum dubium (161,62±10,26). Essas espécies apresentaram menor crescimento
no tratamento L0P1 (30,02±10,26/29,24±10,26/36,58±10,26). Todas as espécies
heliófitas das famílias Anacardiaceae e Fabaceae apresentaram interação significativa
nos tratamentos com lodo.

277
A espécie Sterculia striata (Malvaceae) apresentou melhor resultado no
tratamento L2P1 (29,61±10,26). As espécies da família Bignoniaceae (Tabebuia aurea
e Tabebuia impetiginosa) também apresentaram maior crescimento no tratamento L2P1
(44,11±10,26/54,07±10,26). Essas espécies apresentaram bons resultados relativos no
tratamento L1P2 (29,98±10,26/45,13±10,26).

CONCLUSÕES
A maioria das espécies apresentou melhores resultados no crescimento da parte
aérea nos tratamentos L2P1. Espécies pioneiras das famílias Anacardiaceae e Fabaceae
demonstraram maior capacidade de absorção dos nutrientes disponibilizados
(lodo/poda) e, mesmo durante a estação seca, apresentaram bons resultados relativos de
crescimento da parte aérea. As espécies testadas da família Rubiaceae não
demonstraram interação significativa com os nutrientes disponibilizados.
Os dados apresentados apontam que o reuso de biossólido e dos resíduos de
poda constitui uma alternativa viável para a recuperação de áreas de empréstimo além
de evitar impactos ambientais gerados pelo descarte inadequado desses resíduos no
meio ambiente.

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IMPORTÂNCIA ESTRUTURAL DE ESPÉCIES DESENVOLVIDAS EM ÁREA


COM SOLOS DECAPEADOS APÓS UM ANO DA INCORPORAÇÃO DE
MACRÓFITAS AQUÁTICAS EM MARGENS DO RESERVATÓRIO
PIRAQUARA II, PR

T. M. Burda¹; M. B. Scheer²; R. V. R. de Lima³

¹ Universidade Federal do Paraná – UFPR, Setor de Ciências Biológicas, Avenida


Coronel Francisco H. dos Santos – Jardim das Américas, Curitiba – PR, 81531-980,
[email protected].
² Companhia de Saneamento do Paraná – SANEPAR, Centro de Tecnologias
Sustentáveis, Rua Engenheiro Antônio Batista Ribas, 151 – Tarumã, Curitiba – PR,
80215-900, [email protected].
³ Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, Rua Imaculada Conceição,
1155 - Prado Velho, Curitiba - PR, 80215-901, e-mail: [email protected].

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo avaliar se tratamentos, principalmente


aqueles com adição de biomassa de macrófitas aquáticas ao solo, promoveram melhores
condições para o avanço da sucessão ecológica, em antigas áreas de empréstimo nas
margens do reservatório Piraquara II (PR), assim como, indicar espécies que
aparentemente apresentam potencial para recuperação de áreas degradadas. O
delineamento experimental foi inteiramente casualizado, composto por sete tratamentos
que variaram de 0, 50 e 125 t/ha base seca de macrófitas aquáticas e cal, espalhadas em
4 sítios com condições ambientais similares. Foi realizado o levantamento florístico e
fitossociológico da vegetação regenerante após um ano da intervenção, pelo método de
Braun-Blanquet adaptado, em 12 parcelas de cada tratamento. Foram registradas 128
espécies vegetais (9 espécies introduzidas por semeadura e/ou plantio) pertencentes a 26
famílias, sendo as principais: Asteraceae (41 espécies), Poaceae (36 espécies) e
Fabaceae (13 espécies). Apesar de Asteraceae exibir maior riqueza de espécies, Poaceae
apresentou maior predominância na área (Porcentagem de Importância de 51%) devido,
principalmente, ao predomínio de Paspalum exaltatum, espécie que demonstrou-se
interessante para auxiliar na recuperação de ambientes degradados. O Índice de
Shannon-Wiener demonstrou que a área testemunha foi a que apresentou a maior
diversidade, esse fato deve-se provavelmente ao curto período de tempo desde a
intervenção até a avaliação do experimento. Já os tratamentos com macrófitas
apresentaram os maiores valores de cobertura do solo e incremento no número médio de
espécies por área amostrada.

282
Palavras Chave: áreas de empréstimo; fitossociologia; macrófitas aquáticas;
recuperação de áreas degradadas.

Introdução
Apesar dos benefícios de armazenamento de água e de regulação de vazões,
prevenindo enchentes, a construção de reservatórios gera vários impactos ambientais,
como a inundação de grande extensão de áreas com diferentes usos, instalação de
canteiros de obras e a exploração de áreas de empréstimo. As áreas de empréstimo são
utilizadas para exploração de materiais (BRASIL, 2005), por isso, podem ser
consideradas áreas degradadas, visto que sofrem a retirada dos horizontes superficiais
do solo (ALVES et al., 2008).
O comprometimento da cobertura vegetal original e a exposição de horizontes
subsuperficiais, como os horizontes C e Cr, fazem com que o solo original perca suas
características, e torne-se apenas um material mineral pobre de estrutura física, com
pouquíssima ou nenhuma matéria orgânica e nutrientes para a vegetação que restou no
local (LONGO et al., 2010). Assim, essas áreas ficam mais suscetíveis a processos
erosivos, que favorecem a perda de matéria mineral e da matéria orgânica restante
(ALVES et al., 2012). Além disso, o manejo inadequado e tráfego de máquinas podem
promover a compactação do horizonte exposto (SEQUINATO et al., 2014).
A capacidade do ecossistema em se regenerar depende da intensidade e duração
do distúrbio, assim como da diversidade biológica da própria área (BONINI & ALVES,
2011). As áreas de empréstimo apresentam baixa capacidade de se regenerar, visto que
foram eliminados seus meios de regeneração bióticos, como banco de sementes,
plântulas, chuva de sementes e rebrota (ALVES et al., 2012). Ações de recuperação
comumente são necessárias para a estabilização ou inicialização do processo de
regeneração. Um dos principais problemas da recuperação de áreas, é a falta de matéria
orgânica no solo (LONGO et al., 2010). Portanto, a adição desse material tem se
demonstrado efetiva no aumento da qualidade do solo, devido ao beneficiamento de
propriedades físico-químicas (KITAMURA et al., 2008).
Diversos materiais podem ser utilizados como fonte de matéria orgânica. Em
áreas próximas a reservatórios, uma fonte de matéria orgânica de fácil obtenção é a
massa vegetal proveniente de infestações de macrófitas aquáticas. Devido a eutrofização
de ambientes lênticos, fato que causa desequilíbrios populacionais, as plantas aquáticas
podem ser encontradas em grandes quantidades, fato que acarreta prejuízos aos usos
destes sistemas (THOMAZ, 2002). Essas superpopulações de macrófitas podem ser
manejadas e controladas através de diversas técnicas, entretanto, o controle mecânico
costuma ser o mais utilizado (BRAVIN et al., 2005). Esse método tem se demonstrado
eficiente, e como consequência, exporta grande volume de fitomassa (SCHEER et al.,
2016), podendo ser uma significativa opção de insumo para a recuperação de áreas
degradadas. Além de oferecer matéria orgânica, esse material disposto oferece umidade,
nutrientes, microbiota e propágulos de plantas, sejam sementes ou rebrotas de algumas
espécies também tolerantes a solos não hidromórficos, presentes na própria biomassa
incorporada no solo. Além da adição de material orgânico, algumas espécies podem ser
plantadas com o objetivo de promover a adubação verde. O plantio de leguminosas tem
demonstrado efeito significativo na qualidade do solo (ALVES et al., 2007;
EMBRAPA, 2011), devido ao aumento da fertilidade (NASCIMENTO et al., 2003),

283
assim como, para espécies leguminosas (e de gramíneas) de rápido crescimento,
também promovem a proteção do solo devido a formação de uma cobertura vegetal em
um período curto de tempo (LONGO et al., 2011).
Portanto, o presente estudo teve como objetivo avaliar se tratamentos,
principalmente aqueles que tiveram adição de matéria órgânica proveniente de
macrófitas aquáticas incorporadas ao solo, promoveram melhores condições para o
avanço da sucessão ecológica, após um ano da intervenção, em antigas áreas de
empréstimo que apresentavam o processo de regeneração muito lento ou praticamente
estagnado desde o cessamento de seu uso (aproximadamente quatro/cinco anos), assim
como, indicar espécies que aparentemente apresentam potencial para recuperação de
áreas degradadas. Foi possível testar algumas hipóteses: (1) tratamentos com maior dose
incorporada de macrófitas apresentam vegetação com maior riqueza e cobertura e
diversidade após o primeiro ano; (2) propágulos/rebrotas de algumas espécies dessas
macrófitas aquáticas incorporadas tem grande importância na estrutura fitossociológica
durante o primeiro ano de desenvolvimento do processo de restauração e; (3)
significativo número de propágulos do entorno estão presentes desde o primeiro ano do
processo restauração, indicando que as testemunhas degradadas estão estagnadas ou em
lento processo de desenvolvimento.

Material e Métodos

O estudo foi realizado nas margens do reservatório Piraquara II, coordenadas


UTM 691.684 E; 7.179.093 N e 691.775 E; 7.178.886 N, no município de Piraquara,
região metropolitana de Curitiba, Paraná. Segundo a classificação de Koeppen, o clima
da região é Cfb, a precipitação anual está entre 1450 e 1500 mm e a temperatura média
anual está entre 12 e 20ºC (CAVIGLIONE et al., 2000).
A pesquisa teve início em agosto de 2013 com a retirada de macrófitas aquáticas
da região do antigo Lago dos Ingleses, braço do reservatório Piraquara II, seguida da
disposição da massa vegetal na área de empréstimo escolhida, e posterior incorporação
deste material ao solo. As espécies de macrófitas dominantes no lago eram: Cyperus
luzulae (L.) Retz., Paspalum exaltatum J. Presl. e Salvinia auriculata Aubl.. Detalhes
podem ser consultados em (SCHEER et al., 2016).
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com sete
tratamentos, com 12 repetições, espalhadas em 4 sítios com condições ambientais
similares. Excluindo-se o T7 (testemunha ou área estagnada), todos os outros
tratamentos, distribuídos em quatro sítios/blocos com aproximadamente 150 m² cada,
receberam técnicas de preparo do terreno, que consistiram no terraceamento em
desnível de 1%, seguido de subsolagem de 20 cm, por meio de trator agrícola com
subsolador. O espalhamento do matérial vegetal foi realizado por meio de
retroescavadeira, a calagem com trator agrícola com calcareadeira e a incorporação por
meio de enxada rotativa. Cada tratamento apresentou os tratos culturais adicionais,
conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Doses de cal virgem e de macrófitas aquáticas em cada tratamento.

284
Insumo T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7

Cal virgem (t/ha) 0 0 0 5 5 5 0


Macrófitas aquáticas
0 50 125 125 50 0 0
(t/ha base seca)

*Teor de sólidos = 5%

Para a adubação verde e rápida cobertura do solo foi realizada a semeadura a


lanço de culturas de inverno (tardiamente): Ervilhaca (Vicia sativa), Azevém (Lolium
multiflorium) e Aveia preta (Avena strigosa), nas doses de 60, 15 e 20 kg/ha,
respectivamente. Entre as culturas de verão semearam-se Calopogônio (Calopogonium
mucunoides), Mucuna preta (Mucuna pruriens) e Feijão guandu (Cajanus cajan), nas
doses de 4, 24 e 12 kg/ha. Também foram semeadas espécies arbóreas: 0,5 kg/ha de
Bracatinga (Mimosa scabrella; com quebra de dormência) e 0,2 kg/ha de sementes de
Aleluia (Senna multijuga). De forma complementar, foram plantadas mudas de tubetes
de 100 cm3, de Bracatinga e Dedaleiro (Lafoensia pacari), sendo 1667 e 833 mudas/ha,
respectivamente.
A importância estrutural da vegetação após um ano da intervenção, foi realizada
através do levantamento florístico e fitossociológico da vegetação regenerante nos
tratamentos pelo método de Braun-Blanquet (BRAUN-BLANQUET, 1979) adaptado
(mais detalhes em SCHEER & MOCOCHINSKI, 2016), durante os meses de novembro
e dezembro de 2014 e janeiro de 2015. A identificação dos indivíduos amostrados foi
realizada em campo ou através da coleta de material que foi posteriormente comparado
a materiais depositados no Museu Botânico Municipal (MBM) de Curitiba, ou ainda,
por consultas a especialistas. Para a comparação de parâmetros florístico-estruturais da
vegetação (número de espécies por unidade amostral e valor de cobertura) entre os
tratamentos foram realizadas análises de variância (ANOVA) e o Testes de Tukey,
ambos com um nível de significância de 5%, no software Action Stat (versão do R:
3.0.2).

Resultado e Discussão

Avaliando previamente os sítios e tratamentos de forma conjunta, nos estudos


florístico e fitossociológico após um ano da intervenção, foram observadas 128 espécies
vegetais (9 espécies introduzidas por semeadura e/ou plantio) pertencentes a 26 famílias
botânicas. Três famílias se destacaram por apresentar número elevado de espécies:
Asteraceae, Poaceae e Fabaceae. Juntas, representaram 72% das espécies da área.
As famílias de destaque dominaram a área por apresentarem várias espécies
herbáceas e arbustivas pioneiras, as quais têm facilidade em se instalar em ambientes
recém perturbados por serem altamente tolerantes a luz solar intensa, possuir alta
capacidade de produção de propágulos, alta capacidade de dispersão e crescimento
rápido (PERONI & HERNÁNDEZ, 2011). Espera-se que nos próximos anos, devido a

285
instalação dessas espécies, haja a modificação de características do ambiente, tal como a
promoção do sombreamento da superfície do terreno e a manutenção da umidade,
fatores que possibilitam condições para que espécies mais exigentes colonizem a área
também (RICKLEFS, 2010).
A família Asteraceae apresentou o maior número de espécies quando comparada
as demais, totalizando 41 espécies (32%) de 25 gêneros, seguida por Poaceae com 36
espécies (28%) de 20 gêneros, e Fabaceae com 13 espécies (10%) de 11 gêneros.
Apenas Rubiaceae apresentou quatro espécies (3%) de três gêneros, e foi seguida por
Lythraceae, Malvaceae e Solanaceae, todas com três espécies cada (2%) pertencentes a
dois gêneros das suas respectivas famílias. Já Amaranthaceae, Convolvulaceae,
Cyperaceae e Onagraceae apresentaram apenas duas espécies cada (1%) de dois
gêneros, com exceção de Onagraceae a qual só foi representada por espécies do gênero
Ludwigia, e as demais famílias tiveram apenas uma espécie cada (0,7%) encontrada na
área (Figura 1 A).

Figura 1. Número de espécies identificadas para cada família na área de estudo (A) e
famílias em ordem decrescente de porcentagem de importância fitossociológica (PI) nos
tratamentos amostrados (B).

Apesar de Asteraceae exibir maior riqueza, Poaceae apresentou maior


predominância na área (PI de 51%) (Figura 1 B). A família apresentou grande
importância na área devido ao predomínio de indivíduos do gênero Paspalum. A
espécie Paspalum exaltatum foi a mais importante e mais frequente nos tratamentos
com incorporação de macrófitas. Entretanto, por observação dos autores, antes do
experimento essa espécie tinha distribuição restrita a áreas alagadas do reservatório,
reafirmando a preferência por áreas úmidas como já observado por outros autores
(KOZERA et al., 2009; SILVA, 2011; SCHEER et al., 2016b). Entretanto, Magalhães
et al. (2016) viu que a espécie apresenta forma de vida anfíbia, característica
possivelmente relacionada a plasticidade dos órgãos vegetativos diante de variações do
nível da água (SPONCHIADO, 2008). Sua sutil presença foi verificada também na T7

286
(testemunha), provavelmente por contaminação por propágulo durante a operação de
incorporação pelo trator agrícola.
Outras espécies de Poaceae que se destacaram nos tratamentos foram:
Andropogon bicornis, Axonopus affinis, Cortaderia selloana, Dichanthelium
sabulorum, Paspalum compressifolium e Piptochaetium montevidense (Tabela 1). A.
bicornis, C. selloana e P. montevidense só ficaram entre as cinco espécies dominantes
em T7 (testemunha). Isso corrobora com o esperado de que essas espécies estão aptas a
sobreviver em condições adversas e de baixos teores de matéria orgânica, visto que nos
tratamentos com incorporação de matéria vegetal, outras espécies dominaram. A.
bicornis representa uma das espécies herbáceas mais importantes no início do
desenvolvimento da vegetação secundária, desaparecendo nos estágios mais avançados
(CITADINI-ZANETTE, 1992, p.25). Apesar de não ter sido predominante, a espécie
também apareceu em T4, T5 e T6, todos tratamentos que receberam doses de cal.
Entretanto, não foram encontrados estudos que relacionem a espécie a solos mais
alcalinos. Neri et al. (2011) indicaram a espécie como de interesse na recuperação de
áreas degradadas por mineração no município de Paracatu/MG, devido a abundância e
possível maior adaptabilidade a condições ambientais adversas.
A. affinis esteve em segundo lugar em T1 e em primeiro em T2. Já D. sabulorum
foi dominante em T1 e ficou em segundo em T6, ambos tratamentos sem aplicação das
macrófitas aquáticas. Ambas as espécies apresentam curto tempo de duração das folhas
e altas taxas de crescimento (DURU et al., 2008), indicando alta capacidade de absorção
de nutrientes (AERST & CHAPIN, 2000), fato que pode ter contribuído para a
dominância das espécies em ambientes sem tratos culturais.
P. compressifolium foi a espécie de Poaceae que mais apareceu entre as
primeiras espécies mais importantes em vários tratamentos, ficando em terceiro lugar
em T1, T4 e T6, quarto lugar em T2, e quinto lugar em T5 (Tabela 1). A espécie se
apresentou dominante tanto em áreas com a incorporação de macrófitas, como em áreas
sem, demonstrando aptidão para sobreviver em ambientes bem variados. P.
compressifolium é endêmico do Brasil e apresenta distribuição no sul, sudeste e centro-
oeste do país (FLORA DO BRASIL, 2017), podendo ser uma espécie potencial para a
recuperação de áreas degradadas nessas regiões.
De modo geral, para a recuperação de áreas degradadas, as espécies de Poaceae
são benéficas, pois contribuem para o melhoramento de condições edafoclimáticas
locais, e devido ao seu rápido desenvolvimento, fazem a cobertura do solo
(CARMONA et al., 1998 apud GIOTOO, 2010), contribuindo para a diminuição da
erosão, comum em áreas degradadas. A ocupação da área por gramíneas também tem
grande importância ecológica, visto que estas podem ser utilizadas como fonte de
alimentação para herbívoros, aves, roedores e insetos, além de servirem de fonte
material para confecção de ninhos e abrigos quando secas (FILGUEIRAS, 2008 apud
GIOTTO, 2010), fatores que contribuem para a atração e manutenção da fauna local.

Tabela 1. Cinco espécies mais importantes em cada tratamento após um ano. T1:
Tratamento sem adição de cal e macrófitas; T2 – Tratamento sem cal e com 50 t/ha de
macrófitas (base seca); T3 – Tratamento sem cal e com 125 t/ha de macrófitas (base
seca); T4 – Tratamento com 5 t/ha de cal e 125 t/ha de macrófitas (base seca); T5 –

287
Tratamento com 5 t/ha de cal e 50 t/ha de macrófitas (base seca); T6 – Tratamento com
5 t/ha de cal e sem adição de macrófitas; T7 – Testemunha (área estagnada).

Dentre as Asteraceae, as espécies que estiveram entre as cinco mais importantes,


destacam-se: Acanthospermum australe, Austroeupatorium picturatum e Baccharis
dracunculifolia. A. australe ficou em segundo lugar em T1, A. picturatum em terceiro
lugar em T3, e B. dracunculifolia em segundo em T3, terceiro em T2, quarto em T1 e
T4, e quinto em T6 e T7 (Tabela 1). Em relação ao valor de importância, B.
dracunculifolia foi a primeira colocada entre as espécies arbustivas e quarto lugar geral
(Figura 2). A espécie é comum em pastagens ou áreas em processo sucessional inicial,
sendo caracterizada por apresentar grande número de frutos e sementes (KLEIN &
FELIPPE, 1992 apud GOMES & FERNANDES, 2002), que, devido a facilidade de
germinação em condições favoráveis, em conjunto com características de colonizadora
e “invasora de pastagens”, pode ser vista como uma espécie potencialmente favorável a
recuperação de áreas degradadas (GOMES & FERNANDES, 2002).
Dentre as espécies de Fabaceae, Calopogonium mucunoides (semeada), que tem
sido utilizado no controle da erosão de solos expostos ou como adubo verde (PEREIRA,
2008), esteve presente em todos os tratamentos e, com exceção da testemunha, ficou
apenas em quinto lugar geral. Estudos indicam que as sementes de C. mucunoides são
pouco afetadas pela variação de pH ou concentrações de alumínio no solo (SOUZA-
FILHO & DUTRA, 1998), fatores que incentivam o uso da espécie na recuperação de
áreas, e contribuem para o estabelecimento da mesma.
Mimosa scabrella (bracatinga) (semeada e plantada), leguminosa arbórea rústica
que apresenta rápido crescimento, ficou apenas em 22º lugar da avaliação geral. Essa
posição deve-se ao tempo de avaliação ser muito curto para analisar o crescimento de
espécies arbóreas, mesmo as de crescimento acelerado. Espera-se que a partir do
segundo ano, essa espécie ganhe muitas posições na PI de todas as parcelas onde houve
plantio ou semeadura. A utilização de M. scabrella é reconhecida para a recuperação de
áreas degradadas, visto que deposita grande quantidade de material orgânico e
nitrogênio no solo (CARPANEZZI et al., 1988).
A semelhança no percentual de importância entre as seis principais espécies dos
tratamentos indica a forte ação de propágulos locais e que todos os tratamentos,
conforme esperado, apesar de diferentes respostas, após um ano, obviamente ainda
encontram-se em condições de solos degradados.

288
289
Figura 2. As 128 espécies mais importantes da estrutura fitossociológica encontradas
nos tratamentos da área degradada as margens do Reservatório Piraquara II, Paraná.

290
Tabela 2. Parâmetros para cada tratamento. S: riqueza de espécies; Co: cobertura
absoluta em % ou m2/100m²; spp/UA: número médio de espécies por unidade amostral
de 1 m2; H’: índice de Shannon-Wiener; e: índice de equabilidade; n = 12.

Tratamento S Co (%) ssp/UA H’ J’

T1 36 32,50b 7,48c 3,26 0,91

T2 47 80,17a 12,91a 3,11 0,90

T3 42 81,83a 11,41ab 3,20 0,91

T4 53 93,33a 11,25ab 3,04 0,92

T5 51 74,75a 11,58ab 3,02 0,90

T6 51 35,58b 8,50bc 3,02 0,90

T7 51 40,58b 12,50a 3,93 0,90

* T1: Tratamento sem adição de cal e macrófitas; T2 – Tratamento sem cal e com 50
t/ha de macrófitas (base seca); T3 – Tratamento sem cal e com 125 t/ha de macrófitas
(base seca); T4 – Tratamento com 5 t/ha de cal e 125 t/ha de macrófitas (base seca); T5
– Tratamento com 5 t/ha de cal e 50 t/ha de macrófitas (base seca); T6 – Tratamento
com 5 t/ha de cal e sem adição de macrófitas; T7 – Testemunha (área estagnada).
Médias seguidas pela mesma letra na vertical não diferem estatisticamente pelo Teste de
Tukey, com 5% de probabilidade de erro.

Quando comparado o Índice de Shannon-Wiener (H’), a área testemunha (T7)


foi a que apresentou o maior valor (Tabela 2). Apesar dos demais tratamentos terem
recebido matéria orgânica das macrófitas aquáticas, provavelmente devido ao curto
período de tempo desde a intervenção até a avaliação (um ano), não foi possível
observar incremento na diversidade de espécies, quando comparados a área testemunha.
Apesar de aparentemente ter o processo de sucessão estagnado, essa área já está há anos
nesse processo. Além disso, estágios iniciais de sucessão geralmente não apresentam
maior diversidade e sim maior oligodominância, porém com considerável produtividade
primária, o que foi observado no campo e pelos valores de cobertura dos tratamentos T2
a T5, justamente aqueles com incorporação de macrófitas (Tabela 2).
A cobertura vegetal atua como elemento
responsável pela estruturação do solo através do sistema radicial. Esse, por sua vez atua
contra a ação erosiva da água, que se manifesta na forma de resistência à erosão e
aumenta proporcionalmente, com a densidade das raízes (PRANDINI et al., 1982). Os
resultados obtidos para a cobertura indicam que esse fator, juntamente com o
sombreamento, é capaz de criar propriedades emergentes que geram condições básicas
para o estabelecimento e desenvolvimento de outras espécies vegetais, contribuindo
com o processo de sucessão ecológica. Por outro lado, as maiores coberturas indicam

291
uma consequência das melhores condições estabelecidas no solo. Embora esse
parâmetro tenha algumas limitações, como por exemplo, a não contabilização das
inúmeras possíveis sobreposições de uma mesma espécie sobre a parcela avaliada, ele é
de fácil medição, sendo além de um indicador da biomassa desenvolvida, também um
importante descritor da ocupação do espaço pelas espécies. Dentre os tratamentos com
macrófitas aquáticas, apesar de não diferirem estatisticamente, T4 apresentou maior
cobertura, seguido por T3, T2 e T5, indicando assim que a incorporação de macrófitas
aquáticas, principalmente nas maiores doses, refletiu diretamente sobre a cobertura e
riqueza. O incremento dos teores de matéria orgânica no solo, seja via adição de
resíduos ou pelo crescimento e decomposição de biomassa no próprio local, talvez seja
o passo mais importante a ser seguido na recuperação das propriedades físico-químicas,
biológicas e hídricas do solo. Essa matéria orgânica, juntamente com a ação do sistema
radicial das plantas, da biota do solo e dos óxidos de ferro e alumínio, são responsáveis
pela formação dos agregados, melhorando a estrutura, aeração, densidade,
condutividade hidráulica e retenção de água do solo (BAVER, 1972; ELTZ et al., 1989
apud MOTTA NETO, 1995). Já o valor para de equabilidade não sofreu grandes
variações entre os tratamentos, indicando que, de modo geral, nos tratamentos a
uniformidade de distribuição dos indivíduos entre as espécies existentes se manteve.
Esses resultados indicam que a incorporação de biomassa proveniente de macrófitas
aquáticas possivelmente ocasionou um melhoramento de características do solo, fato
que possibilitou aproximadamente o dobro do valor de cobertura e um número maior de
espécies.

Conclusões

O estudo florístico e fitossociológico demonstrou que áreas tratadas com


macrófitas, apresentaram maior número médio de espécies que os tratamentos sem
incorporação e calagem. Ainda, os valores de cobertura foram aproximadamente o
dobro que a testemunha (área estagnada) e quase o triplo que os tratamentos sem
incorporação de macrófitas aquáticas. Entretanto, a área testemunha apresentou maior
diversidade florística, visto que apesar de estagnada, a sucessão vegetal já se iniciou há
mais tempo (4-5 anos) que as áreas que sofreram a intervenção (1 ano). Neste estudo, a
adição de cal aparentemente não indicou diferenças no desenvolvimento inicial da
vegetação, embora o tratamento sem cal e sem incorporação da biomassa das plantas
aquáticas tenha apresentado menor riqueza de espécies. A cobertura parece
estar atrelada, principalmente, a área ocupada por P. exaltatum proveniente de
propágulos (provavelmente rebrotas) das macrófitas incorporadas. Essa espécie
demonstra um potencial para a recuperação de áreas degradadas, devido a rápida
cobertura do solo e grande produção de biomassa. Entretanto, um estudo mais
prolongado se faz necessário, visto que a espécie dominou todos os tratamentos que
tiveram macrófitas incorporadas, e pode impedir, mesmo que momentaneamente, que
novas espécies se instalem nessas áreas. A indicação, principalmente das espécies
mais importantes da análise estrutural pode ser usada como ferramenta para selecionar
espécies potenciais para avaliação em de futuros estudos de recuperação de áreas
degradadas.

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COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E SINDROMES DE DISPERSÃO EM ÁREA DE


POVOAMENTO MISTO APÓS 13 ANOS DE PLANTIO

295
R.M. Déda1; M.F.O TORRES2; A.S. Silva3; R.A. Ferreira4;
1
Bióloga, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agricultura e Biodiversidade,
Universidade Federal de Sergipe, Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos,
Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 São Cristóvão, Brasil.
[email protected]
2
Engenheira Florestal, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agricultura e
Biodiversidade, Universidade Federal de Sergipe, Cidade Universitária Prof. José
Aloísio de Campos, Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 São
Cristóvão, Brasil.
[email protected]
3
Graduando em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Sergipe, Cidade
Universitária Prof. José Aloísio de Campos, Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa
Elze - CEP 49100-000 São Cristóvão, [email protected]
4
Engenheiro Florestal, Prof. Doutor da Universidade Federal de Sergipe, Cidade
Universitária Prof. José Aloísio de Campos, Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa
Elze - CEP 49100-000 São Cristóvão, Brasil. [email protected]

RESUMO

O presente trabalho foi realizado em uma área em processo de restauração localizada


próximo ao povoado Machado, no município de Laranjeiras, Sergipe, pertencente à
Empresa Votorantim Cimentos-S/A. (CIMESA). Essa área conta com aproximadamente
46 hectares e faz parte de um projeto de restauração florestal compensatória iniciado em
2004, mediante o plantio de mudas de 30 espécies florestais nativas de diferentes
famílias botânicas e grupos ecológicos, provenientes de remanescentes de Mata
Atlântica do estado. Após 13 anos de implantação do projeto, foi realizado um
levantamento com o objetivo de conhecer a respeito da composição florística do
componente herbáceo e arbustivo-arbóreo, bem como analisar se as espécies utilizadas
no projeto de restauração da área obtiveram sucesso em seu desenvolvimento e se
ocorreu incremento de espécies por meio da dispersão. Para isso, foram realizadas
expedições de coletas mensais no período de agosto de 2016 a fevereiro de 2017 e por
meio de caminhadas aleatórias em toda a área de estudo foram coletadas amostras dos
indivíduos encontrados em seu período fértil, bem como, registro daqueles espécimes
apenas com estruturas vegetativas quando possível a identificação segura deles ainda
que em estádio estéril. A partir dos dados obtidos, observou-se a ocorrência de 100
espécies distribuídas em 92 gêneros e 34 famílias. Das 30 espécies nativas utilizadas no
reflorestamento, 24 foram registradas nesse estudo. A partir desse trabalho, pode-se
observar que houve um incremento de espécies considerável na área de estudo por meio
dos mecanismos de dispersão, principalmente pela zoocoria. Além disso, foram
registradas 80% das espécies utilizadas no plantio durante a implantação do projeto, o
que indica que estas espécies são potenciais na restauração de áreas degradadas
localizadas em regiões de Mata Atlântica do Estado de Sergipe.

Palavras Chave: Restauração, Levantamento florístico, Mata Atlântica.

INTRODUÇÃO

296
A Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais devastados e seriamente ameaçados
do planeta, desde a sua colonização, foi marcada pelo uso intensivo da terra, seja para
exploração de produtos como o pau-brasil, a cana-de-açúcar, café e cacau, ou pelo uso
para atividades pecuárias (GALINDO-LEAL & CÂMARA, 2005). Como consequência
do seu histórico de degradação, a Mata Atlântica encontra-se altamente fragmentada e
um grande número de espécies endêmicas estão ameaçadas de extinção (METZGER,
2009).

Atualmente, os 7 a 8% restantes da floresta original continuam sendo


intensamente explorados, seja por meio da retirada de lenha, corte ilegal de madeira,
construção de represas para produção de energia, captura ilegal de animais e plantas, ou
por outras atividades, que contribuem significativamente para a perda da biodiversidade
dos fragmentos remanescentes (GALINDO-LEAL & CÂMARA, 2005).

Diante desse cenário de degradação e perda de biodiversidade, a restauração


florestal tem sido um meio de intervenção eficaz que busca proporcionar aos
ecossistemas degradados, condições mínimas para o estabelecimento de processos
ecológicos (BASTOS, 2010).

No Brasil, o reflorestamento heterogêneo por meio do plantio de mudas de


espécies arbóreas tem sido a principal técnica de restauração florestal de áreas
degradadas, e quando fundamentado e executado conforme os critérios ecológicos
propostos tende a resultar em florestas com alta diversidade e funções ecológicas
recuperadas (MARTINS; MIRANDA NETO & RIBEIRO, 2012).

Com a expansão do número de trabalhos e de técnicas empregadas na


recuperação de diferentes ecossistemas, houve-se a necessidade do estabelecimento de
indicadores que permitissem avaliações periódicas das propostas de recuperação,
verificando se os objetivos estabelecidos foram alcançados (RODRIGUES E
GANDOLFI, 2004).

Assim, análises da composição e a estrutura da comunidade restaurada,


considerando-se os vários estratos e formas de vida, podem ser usadas como indicadores
de avaliação e monitoramento da vegetação, pois podem expressar os efeitos da efetiva
restauração dos processos ecológicos (como a área está reagindo aos tratamentos que
lhe são impostos), assim como a possibilidade de perpetuação dessa restauração
(BELLOTO et al., 2009).

Diante disso, esse estudo foi realizado com o objetivo de conhecer a respeito da
composição florística do componente herbáceo e arbustivo-arbóreo após 13 anos de
implantação do projeto de restauração, bem como analisar se as espécies arbóreas
utilizadas no plantio obtiveram sucesso em seu desenvolvimento, além de avaliar se
ocorreu incremento de espécies na área por meio da dispersão.

MATERIAL E MÉTODOS

297
A área de estudo localiza-se próximo ao povoado Machado, no município de
Laranjeiras, Sergipe e conta com aproximadamente 46 hectares (Figura 1). Constitui
parte de um projeto de restauração florestal da Empresa Votorantim Cimentos – S/A
(CIMESA) iniciado em 2004.

Figura 24. Localização geográfica da área de estudo no município de Laranjeiras,


Sergipe.

Anteriormente à implantação do projeto, a área era ocupada pelo cultivo


convencional de cana-de-açúcar e após início da primeira fase do projeto, foi realizado o
plantio de mudas de 30 espécies arbóreas nativas de diferentes grupos ecológicos,
provenientes de remanescentes de Mata Atlântica do Estado de Sergipe.

O município de Laranjeiras está localizado na Mesorregião Leste Sergipana,


distante cerca de 20 km da capital do estado, entre as coordenadas geográficas
10°48'22"S e 37°10'10"W. Abrange uma área de 163,4 km² e limita-se ao norte com os
municípios de Maruim e Riachuelo, ao sul com Nossa Senhora do Socorro, ao leste com
Santo Amaro das Brotas e ao oeste com Areia Branca e Itaporanga d’Ajuda. Seu relevo
está representado pelas unidades geomorfológicas Superfície dos rios Cotinguiba e
Sergipe, que incluem relevos dissecados em colinas, cristas e interflúvios tabulares, e a
Planície Litorânea contendo as planícies flúvio marinha e fluvial. O clima da região é do
tipo Megatérmico seco e Sub-úmido, com temperatura média anual de 25,2°C. A

298
precipitação média anual é de 1.279,3 mm e o período chuvoso concentra-se entre os
meses de março e agosto (BONFIM et al., 2002).

Para análise da composição florística foram realizadas expedições de coletas


mensais durante o período de agosto de 2016 a fevereiro de 2017 em toda a área em
processo de restauração. Por meio de caminhadas aleatórias, foram coletadas amostras
de todos os espécimes que foram encontrados em seu período fértil, de acordo com as
normas usuais sugeridas por MORI et al. (1989), assim como foi feito registro
fotográfico de todo o material. Os espécimes encontrados apenas com estruturas
vegetativas só foram catalogados e incluídos na listagem final quando foi possível a
determinação segura deles, ainda que em estádio inférteis.

A identificação taxonômica dos espécimes foi realizada no Herbário da


Universidade Federal de Sergipe (ASE) mediante uso de literaturas especializadas,
chaves taxonômicas, consulta a especialistas e comparação com exsicatas depositadas
no acervo geral do Herbário ASE e consulta ao Herbário Virtual. O sistema de
classificação das espécies adotado foi o Angiosperm Phylogeny Group III (APG III,
2009) e a grafia dos nomes científicos das espécies foi verificada no banco de dados da
Flora do Brasil 2020 em construção, (2017), disponível em
<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ >.

Todo o material coletado e devidamente herborizado foi depositado no acervo


do Herbário ASE e os dados disponibilizados no portal do Specieslink
<http://splink.cria.org.br/>. Ao final, foi realizada uma listagem florística com o nome
das famílias, nome científico, hábito, estágio sucessional das espécies arbóreas e
síndrome de dispersão dos propágulos.

A determinação do hábito de cada espécie foi realizada de acordo com os dados


disponibilizados na Flora do Brasil 2020 em construção, (2017) e os indivíduos foram
classificados em herbácea, subarbusto, arbusto, árvore e trepadeira. Para classificação
das síndromes de dispersão dos propágulos das espécies coletadas serão utilizadas as
categorias propostas por Pijl (1982), sendo caracterizados em três grupos:
anemocóricas, zoocóricas e autocóricas (incluindo dispersão explosiva e gravidade).
Quanto à classificação do grupo ecológico ao qual cada espécie inventariada pertence,
as espécies arbustivas-arbóreas foram classificadas em pioneiras, secundárias iniciais,
secundárias tardias e não classificadas, conforme Gandolfi et al. (1995).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após 13 de implantação, por meio do reflorestamento misto, observou-se a


ocorrência de 100 espécies distribuídas em 92 gêneros e 34 famílias, como pode ser
visto na Tabela 1. As famílias mais representativas em número de espécies foram
Fabaceae com 24 espécies, Asteraceae (12 spp.), Malvaceae e Rubiaceae (8 spp. cada),
e Anacardiaceae (4 spp.). Em conjunto, essas cinco famílias representam 56% das
espécies ocorrentes na área. Considerando-se apenas a flora arbustiva-arbórea (51% das
299
espécies da área), as famílias mais representativas foram Fabaceae com 16 espécies,
Rubiaceae (5 spp.) e Anacardiaceae com 4 espécies. Das 30 espécies nativas utilizadas
no reflorestamento, 24 foram registradas nesse estudo (80%), o que indica que estas
espécies são potenciais na restauração de áreas degradadas localizadas na Mata
Atlântica ao longo do estado.

Tabela 25. Lista das famílias e espécies botânicas encontradas na área de Mata
Atlântica implantada por meio de reflorestamento misto, localizada no município de
Laranjeiras, Sergipe.

Família Espécie Hab Orig G SD


E

Acanthaceae Ruellia paniculata L. Arb N Nc An


e

Amaranthacea Alternanthera tenella Colla Sub N Nc Aut


e

Anacardiaceae Mangifera indica L. Arv E Nc Zo


o

*Schinus terebinthifolia Raddi Arb N P Zo


o

*Spondias mombin L. Arv N Si Zo


o

*Tapirira guianensis Aubl. Arv N Si Zo


o

Annonaceae *Annona cacans Warm. Arv N St Zo


o

Apocynaceae Asclepias curassavica L. Her N Nc An


e

Rauvolfia ligustrina Willd. Arb N Nc Zo


o

Araceae Anthurium affine Schott Her N Nc Zo


o

Arecaceae Elaeis guineensis Jacq. Her E Nc Zo


o

Aristolochiacea Aristolochia birostris Duch. Tre N Nc Aut

300
e

Asteraceae Ageratum conyzoides L. Sub N Nc An


e

Centratherum punctatum Cass. Sub N Nc An


e

Chromolaena maximilianii (Schrad. ex DC.) Arb N Nc An


R.M. King & H. Rob. e

Emilia sonchifolia (L.) DC. ex Wight Her N Nc An


e

Melanthera latifolia (Gardner) Cabrera Her N Nc An


e

Mikania cordifolia (L.f.) Willd. Tre N Nc An


e

Platypodanthera melissifolia (DC.) R.M.King & Her N Nc An


H.Rob. e

Sp.1 Her N Nc An
e

Sp.2 Her N Nc An
e

Sphagneticola trilobata (L.) Pruski Her N Nc An


e

Tridax procumbens L. Her N Nc An


e

Vernonanthura brasiliana (L.) H. Rob. Arb N Nc An


e

Bignoniaceae *Handroanthus serratifolius (Vahl) S.Grose Arv N Si An


e

*Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Arv N Si An


Hook.f. ex S.Moore e

Campanulacea Hippobroma longiflora (L.) G.Don Her N Nc An


e e

Combretaceae Terminalia catappa L. Arv E Nc Zo

301
o

Convolvulacea Ipomoea eriocalyx Meisn. Tre N Nc Aut


e

Merremia umbellata (L.) Hallier f. Tre N Nc Aut

Cyperaceae Scleria mitis P.J. Bergius Her N Nc Aut

Euphorbiaceae Astraea lobata (L.) Klotzsch Her N Nc Aut

Croton fuscescens Spreng. Sub N Nc Aut

Euphorbia hyssopifolia L. Her N Nc Aut

Fabaceae *Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Arv N Si An


e

*Cassia grandis L. f. Arv N Si Aut

Centrosema macranthum Hoehne Tre N Nc Aut

Clitoria fairchildiana R.A.Howard Arv E Nc Aut

Clitoria ternatea L. Tre E Nc Aut

Crotalaria retusa L. Sub E Nc Aut

Desmanthus pernambucanus (L.) Thell. Sub N Nc Aut

Desmanthus virgatus (L.) Willd. Her N Nc Aut

Desmodium incanum DC. Sub E Nc Zo


o

*Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Arv N St Aut

*Erythrina velutina Willd. Arv N Si Aut

Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp. Arv E Nc Aut

*Hymenaea courbaril L. Arv N St Zo


o

*Inga laurina (Sw.) Willd. Arv N Si Zo


o

*Inga vera Willd. Arv N Si Zo


o

302
*Libidibia ferrea var. leiostachya (Benth.) Arv N Si Aut
L.P.Queiroz

*Lonchocarpus sericeus (Poir.) Kunth ex DC. Arv N Si An


e

*Machaerium aculeatum Raddi Arv N Si An


e

Mimosa pigra L. Arb N P Aut

Mimosa pudica L. Sub N Nc Aut

*Paubrasilia echinata (Lam.) E. Gagnon, H.C. Arv N St Aut


Lima & G.P. Lewis

Pithecellobium dulce (Roxb.) Benth. Arv E Nc Aut

Rhynchosia minima (L.) DC. Tre N Nc Aut

Sesbania virgata (Cav.) Pers. Arb N Nc Aut

Lamiaceae Aegiphila vitelliniflora Walp. Arb N Nc Zo


o

Ocimum basilicum L. Her N Nc Aut

*Vitex polygama Cham. Arv N Si Zo


o

Loranthaceae Psittacanthus dichroos (Mart.) Mart. Her N Nc Zo


o

Malvaceae Corchorus hirtus L. Sub N Nc Aut

Gossypium hirsutum L. Arb E Nc An


e

Guazuma ulmifolia Lam. Arv N P Aut

Malachra fasciata Jacq. Sub N Nc Aut

Malvastrum americanum (L.) Torr. Arb N Nc Aut

Sida rhombifolia L. Her N Nc Aut

Triumfetta semitriloba Jacq. Sub N Nc Zo


o

Waltheria viscosissima A. St.-Hil. Arb N Nc An

303
e

Meliaceae *Cedrela fissilis Vell. Arv N St An


e

Myrtaceae Psidium guajava L. Arv N P Zo


o

Psidium guineense Sw. Arv N P Zo


o

Syzygium cumini (L.) Skeels Arv E P Zo


o

Orchidaceae Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl. Her E Nc An


e

Oxalidaceae Oxalis cratensis Hook. Her N Nc Nc

Passifloraceae Passiflora foetida L. Tre N Nc Zo


o

Passiflora mansoi (Mart.) Mast. Tre N Nc Zo


o

Piperaceae Piper amalago L. Arb N P Zo


o

Piper divaricatum G. Mey. Arb N Nc Zo


o

Plantaginaceae Angelonia biflora Benth. Her N Nc Zo


o

Stemodia maritima L. Her N Nc Nc

Poaceae Lasiacis divaricata (L.) Hitchc. Her N Nc Aut

Setaria sp. Her N Nc An


e

Rhamnaceae Ziziphus joazeiro Mart. Arv N St Zo


o

Rubiaceae Borreria decipiens K. Schum. Sub N Nc Aut

Borreria verticillata (L.) G.Mey. Sub N Nc Aut

Chiococca alba (L.) Hitchc. Arb N Nc Zo

304
o

Chomelia intercedens Müll. Arg. Arb N Nc Zo


o

*Genipa americana L. Arv N Si Zo


o

Psychotria carthagenensis Jacq. Arb N St Zo


o

Spermacoce eryngioides (Cham. & Schltdl.) Her N Nc Aut


Kuntze

Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) K.Schum. Arb N P Zo


o

Sapindaceae *Cupania impressinervia Acev.-Rodr. Arv N Si Zo


o

Sapotaceae Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) Arb N Nc Zo


T.D.Penn. o

Solanaceae Aureliana fasciculata (Vell) Sendth. Arv N Nc Zo


o

Verbenaceae Lantana camara L. Arb E Nc Zo


o

Lantana canescens Kunth Arb N Nc Zo


o

Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl Her N Nc Aut

Vitaceae Cissus verticillata (L.) Nicolson & C.E.Jarvis Tre N Nc Zo


o

*: Espécies arbóreas utilizadas no projeto de restauração da área de estudo. Hab: hábito;


Orig: origem; GE: grupo ecológico; SD: síndrome de dispersão; Her: herbácea; Sub:
subarbusto; Arb: arbusto; Arv: árvore; Tre: trepadeira; N: nativa; E: exótica; P:
Pioneira; Si: secundária inicial; St: secundária tardia; Nc: não classificada; Ane:
Anemocórica; Aut: Autocórica; Zoo: Zoocórica;.
Na figura 2 observa-se uma distribuição percentual da origem, grupo ecológico,
síndrome de dispersão e hábito das espécies registradas nesse estudo.

305
Figura 25. Distribuição percentual em origem (N: nativa; E: exótica), grupo
ecológico (P: pioneira; Si: secundária inicial; secundária tardia; Nc: não classificada),
síndrome de dispersão (Ane: anemocórica; Aut: autocórica; zoo: zoocórica) e hábito
(Hb: herbáceo; Sb: subarbusto; Ab: arbusto; Av: árvore; Tr: trepadeira.
Das espécies registradas, 88% são nativas, porém, apesar de terem sido
utilizadas apenas espécies arbóreas nativas na época do plantio, foram catalogadas na
área, espécies exóticas como a Mangifera indica L. (mangueira), Terminalia catappa L.
(amendoeira), Clitoria fairchildiana R.A.Howard (sombreiro), Gliricidia sepium (Jacq.)
Kunth ex Walp. (gliricídia), Pithecellobium dulce (Roxb.) Benth. (mata-fome),
Gossypium hirsutum L. (algodoeiro), Syzygium cumini (L.) Skeels (jamelão), dentre
outras, o que indica que foram trazidas por mecanismos de dispersão e se estabeleceram
na área.
Quanto aos grupos sucessionais, das espécies arbustivas-arbóreas classificadas,
observou-se a ocorrência de 14 espécies secundárias iniciais (cerca de 54%), o que
pode-se a princípio inferir que a área encontra-se em estádio inicial de sucessão. Essas
espécies ocorrem em condições de sombreamento médio ou pouca luminosidade,
conforme definição de Gandolfi et al. (1995). Além disso, registrou-se a ocorrência de 5
espécies pioneiras e 7 espécies secundárias tardias. Dezenove espécies arbustiva-
arbóreas não foram classificadas em função da carência de informações ou por serem
espécies exóticas.
Em relação à síndrome de dispersão, foi registrada a predominância de espécies
zoocóricas (37%), seguidas da autocoria (34%) e anemocoria (24%). No entanto,
quando considerada apenas as espécies arbustivo-arbóreas, a síndrome de dispersão
zoocórica apresenta uma representatividade ainda maior com 56% das espécies,
seguidas de 24% de espécies autocóricas e 20% das espécies anemocóricas. Dentre as
famílias arbustivo-arbóreas, Rubiaceae (5 spp.), Anacardiaceae (4 spp.) e Fabaceae (3
spp.) foram as que apresentaram maior destaque por terem sua dispersão realizada por
animais.

306
A alta representatividade de espécies zoocóricas no componente arbustivo-
arbóreo também foi observada nas análises realizadas por Silva et al., (2016) a respeito
dos mecanismos da síndrome de dispersão na Floresta Atlântica em Sergipe. Das 426
espécies analisadas, cerca de 75,35% (321 spp.) apresentam esse tipo dispersão.
Quanto ao hábito, observou-se que o componente herbáceo correspondeu a 26%
das espécies encontradas, distribuídas em 26 gêneros e 16 famílias, tendo sido
encontradas predominantemente nas bordas da mata ou nas áreas de clareiras no interior
da mata. As espécies arbustivas compreenderam cerca de 20%, seguida de 13% de
indivíduos subarbustivos e 10% de espécies trepadeiras. Já o componente arbóreo foi o
que apresentou maior ocorrência com 31 espécies pertencentes a essa forma de vida
(31% das espécies registradas).

CONCLUSÕES

Observou-se que houve um incremento de espécies considerável na área de


estudo por meio dos mecanismos de dispersão. As espécies podem ser provenientes dos
fragmentos florestais do entorno e terem sido dispersas principalmente por animais,
como foi verificado nesse estudo. A predominância de espécies com esse tipo de
síndrome de dispersão possibilita a sucessão e perpetuação da área restaurada, visto que,
elas serão um atrativo para a fauna dispersora. Além disso, constatou-se a ocorrência de
24 das 30 espécies utilizadas na implantação do projeto, indicando que essas espécies
podem ser potencialmente utilizadas em outros projetos de restauração no estado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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recuperação de Florestas Ciliares. In: RODRIGUES, R.R. & LEITÃO FILHO, H.F.
Matas Ciliares: Conservação e Recuperação. EDUSP/FAPESP 3 ed., p.235-247.

SISTEMATIZAÇÃO DE PROCEDIMENTOS PARA A SUSPENSÃO


TEMPORÁRIA DE EMPREENDIMENTOS DE MINERAÇÃO

C. L. Centeno(1); R. L. Peroni(2)
(1)
Departamento Nacional de Produção Mineral
Superintendência de Santa Catarina
R. Álvaro Millen da Silveira, 104
Centro – Florianópolis/SC – Brasil - CEP 88020-180
[email protected]
Tel: (48) 3216-2300
(2)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

308
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais
Av. Bento Gonçalves, 9500 - Setor 4 - Prédio 74 - Sala 211
Agronomia - Porto Alegre/RS – Brasil – CEP 91501-970
[email protected]

RESUMO

O presente artigo descreve uma metodologia utilizada para a construção de um


procedimento padronizado a ser utilizado por técnicos do Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM) para avaliação de solicitação de suspensão temporária do
empreendimento por um período determinado. O método está implementado através de
um formulário construído para ser aplicado na fiscalização de campo prevista na
legislação mineral em caso de solicitação de suspensão das atividades de mineração,
inicialmente com proposta de aplicação em minas a céu aberto de agregados. A proposta
desenvolvida parte do princípio que a justificativa apresentada pela empresa é
satisfatória e que ela entregou todos os documentos previstos na legislação, também de
maneira satisfatória e sistematiza itens de caráter de estado atual do empreendimento
para classificar de forma padronizada e objetiva o estado atual da unidade solicitante. A
metodologia possui a intenção de complementar a análise, torná-la menos subjetiva e
confirmar as informações contidas nos documentos entregues. O procedimento também
visa que os impactos sejam mitigados e que a área permaneça sob cuidados permanentes
do empreendedor, sem agravamento dos passivos, assim como, possibilite a retomada
das operações de forma segura.

Palavras Chave: Mineração, suspensão temporária, dnpm

Introdução

O Brasil é um país rico em recursos minerais, além de ser um dos setores básicos da
economia do país, possui cerca de 98% da reserva mundial de nióbio, 50% da reserva de
grafita, 33% da reserva de tântalo e 12% da reserva de ferro. Também possui
significativas reservas de barita, manganês, terras raras, magnesita, níquel, talco e
vermiculita (Sumário Mineral 2015).
De acordo com as estatísticas do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM,
no ano de 2016 foram outorgadas em todo Brasil 456 concessões de lavra, 1.627
registros de licença, 809 guias de utilização, 196 registros de extração e 146 permissões
de lavra garimpeira. Como pode ser visto, a quantidade de novos títulos de lavra é
bastante grande, o que de certo modo é muito bom, pois significa que novos
empreendimentos estão sendo criados, com possibilidade de novos empregos e geração
de riqueza tanto para comunidade local, como para o país.
Em contrapartida, no Brasil ainda não há uma grande preocupação com a desativação
dos empreendimentos mineiros, apesar de existirem obrigações legais para apresentação
309
de Plano de Fechamento de Mina – PFM (para o DNPM, no caso de Fechamento
Definitivo), Plano de Suspensão temporária (Para o DNPM, no caso de fechamento
temporário), Plano de Recuperação de Áreas Degradadas – PRAD (para o órgão
ambiental estadual) e Plano Ambiental de Fechamento de Mina - PAFEM (para o órgão
ambiental, caso específico do estado de Minas Gerais). Independente da necessidade e
da existência desses instrumentos, ainda considera-se necessária uma maior
conscientização da importância da recuperação da área impactada pela mineração por
parte de todos agentes envolvidos na atividade mineral (empresa, comunidade e
governo).
Na legislação brasileira estão previstas duas situações relacionadas com a desativação
de empreendimentos mineiros:
- Fechamento temporário de uma mina (suspensão temporária das atividades de lavra),
que obriga o monitoramento e a manutenção do empreendimento e suas instalações
durante o período sem produção;
- Fechamento definitivo da mina com a consequente recuperação das áreas impactadas
pelas atividades mineiras.
No entanto, grande parte dos empreendimentos que solicitam fechamento temporário
das atividades de lavra não retoma as atividades, sendo assim o primeiro passo para o
fechamento prematuro de uma mina. Devido a esse fato, é importante que no
fechamento temporário algumas medidas para mitigação dos impactos sejam tomadas,
para que durante o período sem produção os passivos não sejam agravados. Por outro
lado, a área deve ser deixada de forma que viabilize a retomada das atividades de lavra,
possibilitando o aproveitamento dos recursos e reservas que ainda não foram
explotados.
Levando isso em consideração, esse artigo aborda o tema de fechamento temporário de
empreendimentos de mineração, com proposta de uma metodologia que auxilie tanto os
técnicos do DNPM, quanto as empresas, na tomada de decisões sobre as condições da
área para o fechamento temporário da atividade quando necessário. Essa proposta
pretende identificar, mensurar de forma qualitativa e antecipar os principais impactos da
paralisação das atividades para que sejam identificados ainda durante a fase de operação
com a expectativa de minimização das consequências. O trabalho tem como meta
desenvolver uma proposta estruturada de avaliação e análise de empreendimentos
mineiros que auxilie na determinação da condição do estágio de cumprimento de
recuperação da área e auxilie nos processos de fiscalização para análise de pedidos de
suspensão temporária.
Devido a esse fato viu-se a necessidade de propor uma série de itens os quais o técnico
do DNPM e os responsáveis técnicos da empresa deverão observar (em campo e fora
dele) para verificar se a área está em condições seguras para o fechamento temporário,
ou seja, se do modo que a mina está não dificultará a retomada das atividades no futuro
e, caso haja desistência da retomada das operações, os passivos não tenham se agravado.
Portanto, o objetivo principal do presente trabalho é propor uma metodologia de análise
que garanta que a área que estará com as atividades suspensas fique sob cuidados
permanentes do empreendedor, sem agravamento dos passivos, assim como, possibilite
a retomada das operações de forma segura.

310
Materiais e Métodos

De acordo com o item 20.3 das Normas Reguladoras da Mineração (Aprovada pela
Portaria nº 237 de 18 de outubro de 2001, Brasil, 2001) para solicitar a suspensão
temporária das atividades de lavra a empresa deve, após comunicação prévia, apresentar
pleito ao Ministro de Minas e Energia em requerimento justificativo caracterizando o
período pretendido, devidamente acompanhado de relatório que conste uma série de
itens descritos na legislação. Esse requerimento deve ser analisado tecnicamente no
DNPM, o qual pode solicitar complemento, caso julgue necessário.
Após, a análise técnica da documentação em escritório, e conforme parágrafo 2º do Art.
62 do Regulamento do Código de Mineração, deverá ser realizada vistoria em campo da
área com solicitação de suspensão temporária. É nessa etapa que a metodologia
proposta deverá ser utilizada, com a aplicação do formulário sugerido com análises
técnicas sobre as condições físicas do local onde a mina se encontra, para que haja
segurança, estabilidade e minimização da degradação no período que a mina estiver sem
produção.
Depois de preenchido o formulário com as informações coletadas em campo, e
com informação contidas no RAL e no processo minerário, e de acordo com o porte da
empresa (micro, pequeno, médio e grande), há três situações possíveis, autorizar a
suspensão temporária, negar a suspensão temporária ou elaborar exigência para a
empresa adequar os itens que não estão aceitáveis.

Definição dos itens a compor o formulário proposto

Existe uma grande quantidade de itens que podem ser observados em campo em uma
área de mineração de acordo com o enfoque desejado, para esse trabalho, foram listados
os itens mais importantes, que no entendimento dos autores, de forma alguma devem ser
ignorados. No entanto, a observação desses itens não restringe que outras observações
técnicas sejam feitas, pois cada mina tem suas características e peculiaridades.
A definição dos itens deu-se primeiramente com base experiência em análise de
requerimentos de suspensão temporária de lavra, assim como, fiscalizações em campo e
pesquisas bibliográficas realizadas pelos autores, onde foram pré-definidos dezoito itens
julgados como importantes para serem analisados em uma vistoria de campo.
Posteriormente, foi realizada uma pesquisa consultando outros profissionais, entre eles:
servidores do DNPM, consultores independentes (da área mineral e ambiental), técnicos
de empresas privadas de mineração, docentes, estudantes e associações profissionais.
Em relação à formação acadêmica dos profissionais a maioria participante foi de
engenheiros de minas (63,6%) e geólogos (15,2%), mas houve engenheiros ambientais,
engenheiros florestais, geógrafos, biólogos, entre outros, que também contribuíram com
sugestões. Ao total participaram 65 profissionais, destes, 86% com mais de cinco anos
de experiência profissional (Figura 26). Dentre os participantes 34% foram de
especialistas do DNPM.

311
Figura 26. Tempo de experiência dos profissionais que participaram da
pesquisa.

A consulta a esses profissionais foi realizada através de pesquisa eletrônica enviada


individualmente, na qual, foi solicitado o preenchimento dos itens que o profissional
julgava com maior importância de serem observados em campo em uma área que
supostamente ficaria sem atividade de lavra por um período (resposta descritiva). A
pesquisa foi dividida em duas etapas, sendo a primeira etapa uma de preenchimento
espontâneo de itens que o técnico considera importantes dentro de um processo de
fechamento/suspensão. Na Figura 27 é possível visualizar como foi realizado o referido
questionamento.

Figura 27. Primeiro questionamento da pesquisa realizada

Uma segunda parte da pesquisa foi estimulada pelo formulário inicial criado e remetido
aos participantes, onde, após o preenchimento do primeiro questionamento, era
solicitado que cada profissional marcasse a relevância dos itens que já haviam sido pré-
determinados anteriormente em uma escala de zero a sete (0 - pouco relevante, 7 -
máxima relevância), conforme pode ser visualizado na Figura 28 . A pesquisa eletrônica
ficou disponível durante 20 dias e foi montada e divulgada através da ferramenta de
Formulários do Google.

312
Figura 28. Segundo questionamento da pesquisa realizada

Após o período de preenchimento, as respostas foram analisadas e compiladas. Para as


respostas descritivas da pergunta sobre os itens que o profissional julgava com maior
importância de serem observadas em campo, as mesmas foram lidas e cada sugestão foi
enquadrada em um item pré-definido, se a resposta não estivesse nos itens pré-
definidos, um novo item era criado. Houve algumas respostas que não foram levadas em
consideração, pois não estavam de acordo com o questionamento realizado ou estavam
muito genéricas. O resultado da análise desse questionamento gerou sete novos itens.
Para as respostas da classificação dos itens pré-definidos, foi calculada a média e o
desvio padrão das respostas em cada item. Os itens que continham um alto desvio
padrão e que não foram citados nas respostas do primeiro questionamento foram
excluídos. Para os itens restantes, esse dado foi utilizado para o cálculo do peso. A
Tabela 26 mostra os itens pré-definidos, os itens novos adicionados a partir da consulta
à comunidade técnica e os itens excluídos após a pesquisa aparecem riscados.

Tabela 26. Itens que compõem o formulário

313
Definição dos pesos de cada item

Após a definição dos itens que deveriam ser observados em campo, surgiu a
necessidade de definir quais os itens eram mais importantes e quais eram menos
relevantes no processo de suspensão temporária das atividades de lavra. Para essa
classificação e atribuição de pesos aos itens, foi aplicado um método de análise
multicritério, definindo ponderadores conforme sua importância. O método escolhido
foi o AHP – Processo Analítico Hierárquico (Analytic Hierarchy Process), que segundo
Saaty (1991), autor do método, baseia-se na decomposição e síntese das relações entre
os critérios até que se chegue a uma priorização dos seus indicadores.
Segundo Steiguer, Duberstein e Lopes (2005), o método possui vários atributos
desejáveis para a realização do estudo proposto como:
 É um processo de decisão estruturado e quantitativo que pode ser documentado e
repetido;
 É aplicável a situação que envolve múltiplas variáveis;
 É aplicável a situações que envolvem julgamentos subjetivos;
 Utiliza tanto dados quantitativos como qualitativos;
 Provê medidas de consistência das preferências;
 Há uma ampla documentação sobre suas aplicações práticas na literatura
acadêmica;
 Há softwares de AHP disponíveis contendo suporte técnico e educacional
 Seu uso é apropriado para grupos de decisão.
Para aplicação do método de AHP neste trabalho, foi montada uma matriz quadrada
(20x20) com todos os itens definidos anteriormente (conforme mostrado na Tabela 26),
então, cada par foi analisado com a definição de um peso relativo entre eles (onde o
número na linha i e na coluna j dá a importância do critério Ci em relação à Cj), para a
definição desse peso relativo foi utilizada a informação obtida através da pesquisa

314
realizada com os profissionais da área e variou de 1 a 9 (ou o inverso), conforme
determina o método AHP.
Após o preenchimento da matriz, calculou-se o autovetor normalizado da referida
matriz, encontrando assim a hierarquia ou ordem de prioridade dos itens estudados. Para
validação dos dados foi calculado o autovalor, que posteriormente foi utilizado para o
cálculo do índice de consistência (IC) e da razão de consistência (RC). Para a matriz
deste estudo, o valor do IC foi de 0,0132 e de RC foi de 0,008, ou seja, de acordo com
Alonso & Lamata (2003), a matriz é consistente, pois tem sua razão de consistência
abaixo de 0,01. A Tabela 27 mostra todos os itens com seus referidos pesos após a
aplicação do método AHP.

Tabela 27. Pesos referentes a cada item.

Montagem do formulário

Com a definição dos itens e dos pesos, montou-se um formulário em Excel para
ser utilizado em campo pelos técnicos do DNPM nas fiscalizações de áreas com
solicitação de suspensão temporária. Para cada item, as respostas foram pré-definidas e
podem ser escolhidas através de uma caixa de seleção. Na Figura 29 pode-se visualizar
o formulário proposto neste trabalho.
Na parte superior há instruções para o correto preenchimento, alertando o
técnico que deverá completar todas as informações dos campos em cinza. Em seguida,
há um cabeçalho que deverá ser preenchido com informações básicas da área que esta
solicitando a suspensão, contendo: Empresa titular, nome da mina, substância,
processos minerário, localização, responsável técnico, produção e tempo solicitado de
suspensão. Esse cabeçalho é o mesmo de outros formulários do DNPM.
Posteriormente estão os itens que devem ser observados em campo, no sistema RAL
(Relatório Anual de Lavra) e no processo minerário. Em alguns itens há comentários

315
com dicas de preenchimento, para auxiliar o técnico na hora do preenchimento. De
acordo com a resposta escolhida através da caixa de seleção, um valor (de zero a dez)
será multiplicado pelo peso do item (Tabela 27), quanto maior o valor dessa
multiplicação, mais relevante é a situação e consequentemente pior é a situação da área.
O somatório dos totais de cada item será utilizado juntamente com o porte da mina em
uma matriz de relevância na parte direita do formulário através de um “X” que se
descoca automaticamente dependendo do porte do empreendimento e do somatório
obtido no formulário que resulta do preenchimento dos itens 1 a 20. Para indicar o
procedimento que deverá ser tomado, a cor verde representa que a suspensão temporária
pode ser autorizada, a cor amarela sugere que seja elaborada exigência solicitando
ajuste dos itens que não estão aceitáveis e a cor vermelha indica que a suspensão
temporária deva ser negada.
Na parte inferior do formulário deverão ser preenchidas as informações referentes ao
profissional responsável da empresa que acompanhou a vistoria, assim como, do técnico
do DNPM que estava presente.

316
Figura 29. Imagem do formulário proposto

Resultados e Discussão

O formulário proposto foi testado em minas hipotéticas para validação da


metodologia e calibração dos resultados de acordo com a pontuação obtida nos diversos
itens. O formulário se mostrou útil e pouco subjetivo, fazendo com que a análise torne-
se mais padronizada, além de garantir que os aspectos mais importantes não sejam
esquecidos no momento de uma fiscalização em campo.
Como em casos de suspensão temporária de lavra, a empresa tem a intenção de
retomar as atividades após o período que ficará sem produção, é importante que certas
medidas sejam tomadas a fim de possibilitar uma retomada segura, por outro lado, não é
viável fazer a recuperação ambiental da área, pois o período sem produção geralmente é
curto em relação ao dispêndio financeiro e laboral que acarretaria em uma completa
recuperação.
A análise de suspensão temporária através do formulário proposto é um instrumento
importante sobre as condições da área para o fechamento temporário da atividade,
fazendo com que os principais impactos da paralisação das atividades sejam
identificados para possível mitigação pela empresa, não deixando o passivo se expandir.
Os resultados obtidos até o momento são preliminares e ainda serão realizados
outros testes para validação do método e adequação do formulário. Como o trabalho
ainda está em fase de elaboração, serão realizadas mais análises usando o padrão
sugerido em minas com solicitação de suspensão temporária de lavra para a calibração
da pontuação em cada porte de empreendimentos, além disso, serão utilizadas imagens
de sensores remotos como ferramenta de apoio na análise em pedreiras no estado de
Santa Catarina. Também está sendo estabelecido um padrão fotográfico para avaliação
qualitativa relativa de alguns itens do formulário, com objetivo de diminuir ainda mais a
subjetividade da análise.

Conclusões

Apesar de ainda não ter sido implantando de forma definitiva nos procedimentos
de análises de requerimento de suspensão de lavra do DNPM, quando o formulário for
utilizado trará mudanças benéficas para a sociedade, ajudando na mitigação dos
impactos ambientais e sociais decorrentes do período sem produção. Para o DNPM o
instrumento se configura em uma ferramenta de padronização de análises que se torna
transparente e objetiva, com o intuito de melhorar práticas e procedimentos internos.
Cabe frisar que os indicadores e pesos demonstrados no presente trabalho não tem a
intenção de esgotar o assunto, mas prioritariamente mostrar algumas possibilidades que
podem ser complementadas no futuro. Assim como, estender essa metodologia de
análise para outros tipos de minas e substâncias.

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Agriculture, Agricultural Research Service, p. 736-740, 2003.

AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE DE RESERVAS PARTICULARES DO


PATRIMÔNIO NATURAL NO MUNICÍPIO DE TOLEDO – PR UTILIZANDO
MÉTRICAS DA PAISAGEM

L. Finger¹; P. P. Quitaiski²; C. J. Cassol³; C. D. Camara4; L. C. Sabbi5; J. Viapiana6.

Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Avenida Brasil, 4232, Parque


Independência, Medianeira, PR, Brasil. [email protected]. (45) 99856-2260.

RESUMO

As áreas de vegetação natural vêm sofrendo grandes mudanças devido a intensas


atividades antrópicas, e na maioria das vezes, até mesmo as áreas protegidas como
Reservas Legais (RL) e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) sofrem
impactos. Levando em conta que a fragmentação destas áreas traz consigo problemas
como a diminuição da biodiversidade, buscam-se propostas mitigadoras, visando
proporcionar melhores condições de sobrevivência para espécies tanto da fauna como

318
da flora regional. Desta forma, a busca pela melhoria dos índices de circularidade e
criação de corredores pode contribuir para a conservação da biodiversidade. O estudo
visa avaliar a vulnerabilidade de quatro RPPN localizadas no município Toledo - PR,
além de sugerir adequações com potencial de trazer benefícios ao ambiente natural.

Palavras Chave: Corredores biológicos, conectividade, índice de circularidade.

1 introdução

O aumento das atividades antrópicas tem intensificado as pressões sobre áreas


com vegetação natural que, normalmente, não resistem à rápida ampliação da fronteira
agrícola e de projetos urbanos. Entretanto, as preocupações com a qualidade de vida e o
balanço entre as áreas vegetadas e intensamente povoadas têm aumentado, o que
contribui para a implementação das chamadas Unidades de Conservação (UCs)
(OLIVEIRA, 2000; KURASZ et al., 2008).
Segundo Lopes et al. (2011) as Unidades de Conservação foram criadas com o
propósito de proteger e manter os remanescentes de ecossistemas naturais, a fim de
reduzir a perda da biodiversidade e garantir sua manutenção em longo prazo.
Atualmente muitas UCs são pequenos fragmentos isolados que exigem manejo na forma
de uma rede interligada, objetivando reduzir as pressões causadas pelas atividades em
seu entorno.
A fragmentação é um processo onde um habitat é dividido e de certo modo
isolado, dificultando a interação entre as espécies, uma vez que os fragmentos são
afetados de forma direta por fatores como a distância entre as áreas, o tamanho da
borda, a forma do remanescente e o grau de vulnerabilidade (RAMBALDI, OLIVEIRA,
2003).
Neste sentido, os corredores ecológicos são uma técnica de sucesso como
instrumento de planejamento e gestão dos recursos naturais de uma região, uma vez que
acorda as questões socioeconômicas coma conservação da biodiversidade (LOPES et
al., 2011).
Desta forma é de extrema importância estudar a vulnerabilidade destes
fragmentos e buscar a implantação de corredores ecológicos que se apresentam como
uma das principais alternativas de conservação da fauna e flora, além de sugerir novas
áreas para restauração, que podem ser pequenas, desde que apresentem resultados
positivos em questões como vulnerabilidade, efeito de borda e índices de circularidade
(VALERI, SENÔ, 2005).
Tendo em vista o contexto apresentado, este trabalho visa avaliar as condições
de quatro RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) localizadas no município de
Toledo – PR, em termos de vulnerabilidade dos fragmentos, a fim de fornecer subsídios
para melhorias das ações de manejo destas áreas. Para tal, buscar-se-á determinar as
áreas, seus perímetros e distâncias entre as quatro áreas estudadas, e ainda, calculando-
se os Índices de Circularidade avaliar a vulnerabilidade dos fragmentos, propondo
melhorias para estas áreas.

1.1 Reservas Particulares do Patrimônio Natural

319
O decreto nº 1922/1996 define a Reserva Particular do Patrimônio Natural em
seu Artigo 1 como sendo:

"área de domínio privado a ser especialmente protegida, por


iniciativa de seu proprietário, mediante reconhecimento do
Poder Público, por ser considerada de relevante importância pela
sua biodiversidade, ou pelo seu aspecto paisagístico, ou ainda
por suas características ambientais que justifiquem ações de
recuperação" (BRASIL, 1996).

Porém, somente a partir de 2000 com a aprovação da Lei Federal nº 9.985, que
institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) que as RPPN
conquistaram o status de Unidade de Conservação, a partir deste fato, o Brasil tornou-se
o primeiro país da América Latina a incluir as reservas privadas em seu sistema oficial
de áreas protegidas (MESQUITA, 2008).
No Brasil, as Unidades de Conservação fazem parte do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação, e englobadas na categoria de uso sustentável estão as
Reservas Particulares do Patrimônio Natural, que são áreas privadas que se apresentam
como formas de preservação dos recursos hídricos, biodiversidade como um todo além
de serem uma forma de proteção das espécies em extinção (BRASIL, 2000).
Sabendo-se que as RRPNs são áreas protegidas por lei, entende-se que qualquer
atividade que venha ser planejada e realizada nas proximidades de uma área de
conservação, não poderá de maneira alguma prejudicar o meio em que está inserida,
mas sim deverá promover benefícios ambientais a mesma. (FERREIRA et al., 2004).

1.2 Corredores de Biodiversidade

Corredores ecológicos, conforme definido pelo Sistema Nacional de Unidades


de Conservação da Natureza (BRASIL, 2000) são porções de ecossistemas naturais ou
seminaturais, que ligam Unidades de Conservação (UCs), possibilitando entre elas o
fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a
recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que
demandam para sua sobrevivência de áreas com extensão maior do que aquela das
unidades individuais.
Os corredores de biodiversidade são considerados como uma importante
estratégia de recolonização de fragmentos, além de aumentar as chances de
sobrevivência de espécies e dar suporte a outras atividades de conservação às RPPN,
não necessariamente incrementando um corredor de vegetação entre dois fragmentos,
mas quando possível permitindo a proximidade de suas bordas, possibilitando assim o
fluxo. (FONSECA et al., 2004).

1.2.1 Conectividade

A conectividade entre fragmentos precisa ser não somente estrutural, mas


funcional, ou seja, precisa possibilitar o fluxo genético entre populações dos fragmentos
florestais (UMEDA et al., 2015). Segundo Muchailh et al. (2010), a conservação e a
recuperação de matas ciliares desempenham um papel fundamental nos processos de
formação de corredores ecológicos, não somente pelo aumento da cobertura florestal,

320
mas, pela diminuição de pequenos fragmentos formando áreas maiores e com máxima
conexão contribuindo sobremaneira para diminuição do efeito de borda.
Em uma área fragmentada, quanto maior a proximidade entre os fragmentos,
maiores são as chances de dispersão e manutenção de determinadas espécies (SEABRA
et al., 2012). Calegari (2010) observa que em um ambiente fragmentado para melhorar a
conectividade é importante priorizar as áreas de preservação permanente. No entanto
essa relação não é única, uma vez que todos os remanescentes florestais são importantes
e desempenham funções fundamentais.

1.2.2 Efeito de Borda

Para Seabra et al. (2012) as bordas dos fragmentos são áreas mais susceptíveis a
sofrer impactos negativos causados pelas atividades antrópicas. Quanto mais
contrastante for a matriz em relação a floresta, maior será a distância de penetração
desse efeito, assim, na prática, fragmentos vizinhos a reflorestamentos tendem a receber
menores impactos que em áreas abertas (SAMPAIO, 2011).
Segundo Barros (2006) o efeito de borda pode variar em diferentes proporções,
sendo que essa diferença não se deve apenas às ocupações das áreas vizinhas dos
fragmentos florestais, mas também às diferenças de tamanho do fragmento, tipo de solo,
relevo e hidrografia.
De acordo com Fengleret al., (2015) quanto mais compacto for o fragmento
menor sua vulnerabilidade e quanto mais alongado maior será a vulnerabilidade, o que
ocorre devido ao fato que fragmentos com formato circular tendem a ter a porção
central equidistante da borda, relativamente protegida. Este parâmetro tem importância
fundamental para estudos da dinâmica e estrutura dos fragmentos florestais, uma vez
que pode indicar o nível de proteção do interior do fragmento em relação aos seus
efeitos de borda (GREGGIO et al., 2009).

1.3 Bioindicadores de Fragmentação

Algumas espécies de insetos e da fauna podem ser utilizadas como indicadores


biológicos de fragmentação florestal, uma vez que muitas vezes necessitam de maiores
áreas para sua sobrevivência, e também por serem afetados na cadeia alimentar devido a
fragmentação, ou seja, o desaparecimento de espécies indica fragmentação de hábitats
(OLIVEIRA et al., 2014; THOMAZINI & THOMAZINI, 2000)
Neste sentido, um exemplo são as abelhas Euglossini que se caracterizam por
voar grandes distâncias, e sua rapidez torna possível a presença em vários conjuntos
florais em curto espaço de tempo destacando-se na polinização de espécies vegetais
(JANZEN, 1971). Em estudo conduzido por Milet-Pinheiro & Schlindwein (2005) no
Nordeste do Brasil constatou-se que os machos de Euglossini deixam a mata para
coletar fragrâncias em distâncias máximas de 500 m. Os autores ainda afirmaram a real
diminuição acentuada na riqueza de espécies indicando a borda da mata como uma
barreira para maioria das espécies de Euglossini.
Portanto, para Ferronato (2014) é de extrema importância a proximidade dos
remanescentes florestais e áreas de reflorestamento propiciando condições mais
favoráveis à exploração de recursos necessários para o desenvolvimento das abelhas
Euglossini.

321
2 MATERIAIS E METODOS

2.1 Localização geográfica

O município de Toledo (53º 44’ 35’’ W e 24º 42’ 49” S) situa-se na região Sul
do Brasil, oeste do Paraná, pertence à bacia hidrográfica Paraná III. Possui área
territorial de 1197,00 km², com população estimada em 119.313 habitantes, e densidade
populacional de 99,68 hab/km² (IBGE, 2010).
A área de estudo está compreendida na microbacia São Francisco Verdadeiro
(Figura 1) sobre as coordenadas geográficas 53°47’05” W e 24°38’44” S para RPPN 1,
denominada Augusto Dunke, 53°74’90” W e 24°68’30” S para RPPN 2, denominada
Osvaldo Hoffmann, 53°45’01” W e 24°41’52” S para RPPN 3, denominada Recanto
Verde e 53°45’08”W e 24°41’02” S para RPPN 4, denominada Mitra Diocesano de
Toledo.

Figura 1 - Microbacia São Francisco Verdadeiro.


Fonte: Adaptado de SEMA (2010).

2.2 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

A origem do Lago de Itaipu devido as intensas alterações provocadas no


ambiente pela inundação trouxeram consequências para as margens do rio Paraná
afetando o meio físico, biológico e social. Atualmente, as áreas agrícolas da bacia
possuem atividades diversificadas, com enfoque na soja, milho e trigo e pastagens para
atividade agropecuária (SEMA, 2010).
A Bacia do Paraná 3 é ocupada em sua maior parte pela classe de agricultura
intensiva, com uma faixa de uso misto da região sul até a central da bacia (Figura 2). Há
ainda pequenas áreas de cobertura florestal e concentrações urbanas e industriais, com
destaque para as regiões de Foz do Iguaçu e Cascavel (SEMA, 2010).
De acordo com Fengler et al. (2015) de maneira geral os fragmentos florestais
estão presentes em regiões com menor aptidão do solo, e consequentemente, menor
suporte para atividade agrícola.

322
Figura 2 – Uso e ocupação do solo da Bacia do São Francisco Verdadeiro.
Fonte: SEMA, (2010).

2.3 MÉTRICAS DA ECOLOGIA DA PAISAGEM

Para avaliar a vulnerabilidade dos fragmentos utilizaram-se indicadores, como o


índice de circularidade e a proximidade entre fragmentos que os torna menos
vulneráveis. E ainda, a possível existência de proximidade significativa da malha viária,
o tamanho de cada RPPN e o uso e ocupação do solo na borda dos fragmentos.
A determinação do índice de forma, o chamado “índice de circularidade”
baseou-se na metodologia proposta por Miller em 1953 (CHRISTOFOLETTI, 1974)
utilizada convencionalmente para determinação da forma de bacias hidrográficas,
sendo, portanto, adaptada para uso em polígonos de fragmentos florestais, que tem
como base de cálculo:

IC = 12,57 * (A / P2), sendo:


IC = Índice de Circularidade < 1;
12,57 = Constante;
A = Área do Polígono;
P = Perímetro do Polígono.

O índice de circularidade é analisado de tal forma que, quanto mais próximo de


1, mais próxima da forma circular é o polígono, a medida que este se distancia de 1,
tem-se um fragmento alongado (GREGGIO et al., 2009), consequentemente maior
interferência de borda.
A identificação das quatro áreas de interesse foi realizada com o auxílio do
software Sga Geo, fornecido pelo Instituto Ambiental do Paraná. Para marcação e
delimitação das áreas bem como para todas as observações e interpretações das imagens
utilizou-se o software Google Earth Pro.

323
O desenvolvimento de ações de manejo com base nos estudos locais das áreas de
interesse visa possibilitar que estas áreas desempenhem a sua função ecológica, além de
poderem ser empregadas na conservação dos recursos naturais, afim de manter a
sustentabilidade da área ao longo do tempo (MELO et al., 2011).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 3 traz a localização das áreas das 4 RPPN de interesse para este
trabalho, sendo utilizadas as imagens do software Google Earth Pro.

Figura 3 – Localização das RPPN do estudo.


FONTE: Adaptado Google Earth Pro (2016).

A Tabela 1 apresenta as distâncias reais entre essas unidades de conservação.


Vale ressaltar que as RPPN 2 e 4 estão ligadas, ou seja, com distância inexistente.

Tabela 28- Distancias entre as RPPN


RPPN Distancia
1 até 2 5493 m
1 até 3 6862
1 até 4 5622
2 até 3 1537 m
2 até 4 0m
3 até 4 1722 m

A Tabela 2 mostra a área, o perímetro e o índice de circularidade das RPPN em


estudo.

Tabela 29 – Métricas das RPPN


RPPN Área Perímetro Índice de circularidade
1 145.252 1.832 m 0,54

2 175.143 1.933 m 0,59

324
3 26.632 m² 664 m 0,76
4 199.788 2.433 m 0,42

O Gráfico 1 apresenta a área das RPPN, sendo a RPPN 2 (Osvaldo Hoffman) a


maior entre as do estudo e a RPPN 3 (Recanto Verde) a menor em área. A soma da área
de todas as RPPN representa 54,68 hectares.

Gráfico 1 – Tamanho das RPPN.

O tamanho médio dos fragmentos serve como indicador do nível de


vulnerabilidade da área, uma vez que o número de espécies existentes em cada
fragmento está diretamente relacionado com o tamanho do fragmento (MARCELINO,
2007).
Os fragmentos analisados possuem Índice de Circularidade igual a 0,58, o
Gráfico 2 mostra a contribuição de cada valor na composição da média. Na medida em
que o resultado se distancia de 1, tem-se fragmentos alongados (GREGGIO et al.,
2009).

Gráfico 2 – Índice de circularidade das RPPN do estudo.

Os fragmentos com formas mais irregulares, tendem a apresentarem efeito de


borda, principalmente aqueles que possuem áreas menores e mais alongadas (VIDOLIN
et al., 2011).
Fragmentos menores que 50 hectares não são considerados suficientes para
sustentar a manutenção da biodiversidade, no entanto exercem importante função para a
conectividade quando próximos a grandes núcleos, além de possuírem papel importante
na paisagem, e ainda, a longo prazo possuem a capacidade de se expandir (CALEGARI
et al., 2010).

325
A região de estudo é caracterizada por apresentar pequenos fragmentos isolados
quando não conectados as zonas ripárias, no entanto, apesar de sua pequena área, são
importantes para conectividade dos remanescentes em ambiente fragmentado (IAP,
2002).
Apesar de a Área 3 possuir o maior índice de circularidade, o seu nível de
vulnerabilidade é mais alto quando comparado as outras, devido a sua proximidade com
a extensão urbana e sua área relativamente pequena.

3.1 Ações de manejo

A seguir estão descritas algumas ações de manejo que visam a melhoria do


índice de forma e a conectividade entre os fragmentos analisados.
 Conversão de áreas adjacentes em RPPN garantindo o aumento de área
preservada.
 Incremento florestal, principalmente nos pequenos fragmentos a fim de
receberem menor pressão em suas bordas e ainda quando possível melhorar a sua forma.
Existem várias possibilidades para realização do incremento florestal, sendo que
algumas características importantes deverão ser levadas em consideração, como o uso
prioritário de espécies nativas da região, e a possibilidade do plantio de espécies
exóticas, porém, deve-se levar em conta o potencial invasor dessas espécies.
Na Figura 4 é possível observar as recomendações para a realização do incremento
florestal e as indicações para conversão em RPPN.

Figura 4 - Indicações de melhoria das áreas.


Fonte: Adaptado Google Earth Pro (2016).

A Tabela 3 apresenta as métricas de área, perímetro e índice de circularidade


para cada uma das RPPN após as sugestões de melhoria.

Tabela 3 - Métricas das RPPN após as melhorias


RPPN Área Perímetro Índice de circularidade
1 306.980 2.413 m 0,66

2 297.675 2.386 m 0,66

326
3 26.632 m² 664 m 0,76
4 204.259 2.383 m 0,45

O Gráfico 3 mostra o tamanho de cada área em m² afim de facilitar a análise
visual das mudanças sugeridas.

Gráfico 3 – Tamanho das RPPN após as melhorias.

Levando em consideração as complementações recomendadas para conversão de


áreas em RPPN e incremento florestal, têm-se que a soma da área de todas as RPPN é
de 83,55 ha, equivalente a um aumento de 52,80%. Porém, uma vez que 28,43 hectares
dessas áreas (RPPN 1 e RPPN 2) já possuem cobertura vegetal com capacidade de
conversão em RPPN, o incremento florestal seria de apenas 0,45 hectares, ou seja,
0,54% da área total.
Pode-se considerar positivo o fato de aumentar a área de cobertura vegetal e
manter o mesmo número de fragmentos, uma vez que quanto maior é o fragmento, mais
ele tende a se aproximar de uma mata contínua, propiciando a ocorrência de diversos
ambientes (MARCELINO, 2007).
O Gráfico 4 apresenta o Índice de Circularidade de cada RPPN. A média deste
índice após a sugestão de melhorias ficou em 0,63, caracterizada por um leve aumento
devido ao baixo índice da RPPN 04, que possui forma mais alongada e apesar de
receber um incremento florestal de 0,45 hectare, este aumento não foi suficiente para
melhorar a representatividade desta métrica.

Gráfico 4 – Índice de circularidade após as melhorias.

Quando observada a Figura 4, percebe-se que a RPPN 03 Recanto Verde não


recebeu nenhuma ação de manejo, devido a sua localização geográfica ser muito

327
próxima da área urbana não sendo possível implementar as técnicas utilizadas nas outras
RPPN. No entanto, é necessário que o cumprimento da legislação seja averiguado, a
afim de preservar a referida área.

4 Conclusões

O presente estudo avaliou a vulnerabilidade ecológica das RPPN Augusto


Dunke, Osvaldo Hoffmann, Recanto Verde e Mitra Diocesano de Toledo e concluiu que
a maior RPPN possui menor Índice de Circularidade, e por outro lado que a menor
RPPN possui maior Índice de Circularidade. Sendo assim, fica evidente que no caso
destas RPPN estudadas, somente o índice de circularidade é insuficiente para apontar o
equilíbrio da biodiversidade dessas áreas, pois apesar de uma delas ter um bom índice
de circularidade, sua área é pequena, além de estar próxima da área urbana e tende a
sofrer mais efeitos de borda.
As RPPN 1 e RPPN 2 apresentam áreas de vegetação adjuntas a Unidade de
Conservação, uma vez que estas áreas sejam convertidas em RPPN garantirá sua
preservação futura. Conclui-se que a RPPN 3, tem um bom índice de circularidade,
porém possui a menor área, está mais próximo da região urbana de Toledo e não possui
outros fragmentos próximos, podendo então ser apontado como mais vulnerável. A
sugestão de um pequeno incremento florestal a RPPN 4, melhorou o índice de
circularidade da mesma e proporciona um aumento na largura de um ponto da área que
possui grande interferência do efeito de borda.
Pode-se sugerir para futuros trabalhos, a abordagem prática nestas RPPN,
buscando realizar trabalhos de manejo, restauração e conservação ecológica.

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AVALIAÇÃO DO USO DE COMPOSTO DERIVADO DE RESÍDUOS VEGETAIS


PARA A RECUPERAÇÃO DE ÁREAS URBANAS DEGRADADAS

R.S.A. Kitamura7; L. T. Maranho8

¹Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Rua Deputado Heitor Alencar Furtado,


4900 - Cidade Industrial, Curitiba - PR, Brasil, 81280-330
²Universidade Positivo, Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 - Cidade
Industrial, Curitiba - PR, Brasil, 81280-330
¹[email protected]; ²[email protected]

RESUMO

As constantes atividades antrópicas têm gerado a degradação do ambiente, principalmente


de áreas urbanas, demandando de ações para a mitigação desses impactos. Composto
orgânico de resíduos vegetais contribui para a melhoria da qualidade do solo e pode ser
uma alternativa de complementação para a recuperação de áreas degradadas.
Procedimentos como a revegetação contribuem no processo sucessional de outras plantas.
Deste modo, objetivou-se avaliar a recuperação de uma área urbana degradada pelo uso da
revegetação aliado ao uso de composto orgânico derivado de resíduos vegetais. O presente
estudo foi realizado na área do antigo canil municipal de Curitiba. O terreno foi dividido
em três áreas, contendo diferentes tratamentos: área 1, em que foi implementado uma
camada superficial de 15 cm de composto no solo; área 2, controle, sem utilização do
composto; área 3, com camada superficial de 15 cm e fechamento das covas pelo
composto. As plantas foram colocadas em covas de 0,125 m³ e distanciadas entre elas por
3 m x 3 m, dispostas em ziguezague. Após o plantio, foram realizadas análises de altura,
índice de sobrevivência, densidade absoluta e perímetro a altura do peito, nos períodos de
três meses e três anos pós-plantio. Foi observado que Schinus terebinthifolius e Sebastiania
7
Mestrando do curso de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
E-mail: [email protected].
8
Coordenadora do Mestrado de Biotecnologia Industrial da Universidade Positivo e Docente do Curso de
Ciências Biológicas na Universidade Positivo. E-mail: [email protected]

331
commersoniana apresentaram os maiores valores de densidade absoluta, sobrevivência e
maior número de indivíduos, enquanto que Podocarpus lambertii, Casearia silvestris e
Jacaranda puberula, apresentaram menores índices de sobrevivência. As áreas contendo o
composto vegetal apresentaram menores índices de sobrevivência, porém, as maiores
alturas, quando comparados à área sem composto. Verificou-se desenvolvimento de
espécies gramíneas, principalmente na presença do composto vegetal. Tais fatos permitem
inferir que, apesar da redução na sobrevivência, o composto vegetal permitiu o melhor
desenvolvimento das mudas, demonstrando que aliado à revegetação foi eficaz na
recuperação da área degradada.

Palavras Chave: Resíduos vegetais. Revegetação. Sucessão vegetal. Floresta Ombrófila


Mista Aluvial.

INTRODUÇÃO

As atividades antrópicas têm alterado direta e indiretamente o ambiente


pelas atividades diárias (Society for Ecological Restoration International Science and
Policy Working Group, 2004), o que tem proporcionado o aumento das áreas degradadas
existentes, principalmente em regiões urbanas. As áreas degradadas são locais que
sofreram grandes impactos e são impedidas ou apresentam diminuição drástica da
capacidade de retorno ao estado de resiliência (REIS et al., 1999). Desse modo, há a
necessidade de intervenções para a recuperação desses locais.
Resíduos vegetais podem ser utilizados para melhoria das condições físicas e
químicas, além da fertilidade do solo (FASSARELLA et al., 2012; SILVA et al., 2013). De
acordo com Silva et al. (2013) os resíduos vegetais aumentam a taxa de matéria orgânica,
propiciando melhorias no condicionamento do solo. Segundo Tamanini et al. (2005), o
aumento da taxa de matéria orgânica no solo, constitui um papel fundamental em
recuperações de áreas degradadas, principalmente pelo fornecimento e fixação de carbono
no solo.
Sabe-se que empresas responsáveis pela coleta de lixo e resíduos de Curitiba
coletam cerca de 1.770 ton mês-1 de resíduos vegetais (SMMA, 2010). Como tentativa de
reaproveitamento desses resíduos, há a utilização em processos como fonte energética,
deposição em área rural e produção de compostagem, como forma de minimizar a
disposição de maiores quantidades de resíduos orgânicos em aterro sanitário, de modo a
contribuir no controle de resíduos sólidos urbanos gerados (NASCIMENTO-NETO;
MOREIRA, 2009; SMMA, 2010).
Os resíduos coletados pelo serviço de Coleta de Resíduos Vegetais, gerados a partir
de podas de árvores, gramas e troncos coletados, são encaminhados ao Horto Municipal
para serem destinados a uma unidade de processamento, para a transformação em
compostagem orgânica e reaproveitados (NASCIMENTO-NETO; MOREIRA, 2009).
Entretanto, a taxa de produção do composto é superior do que a demanda de sua utilização,
necessitando da busca de novas aplicações, como o uso para a aplicação na recuperação de
áreas urbanas degradadas.
Visto o aumento no número de perturbações em processos de regenerações naturais,
o uso de técnica como a revegetação, pode ser um método adequado para a recuperação de
áreas degradadas (KAGEYAMA et al., 1992; MARIANO et al., 2010). Para a gestão dos
problemas ambientais urbanos, o manejo de áreas com vegetação pode contribuir na
melhoria da qualidade de vida da população e recuperação ambiental (MAZZAROTO et

332
al., 2011). Desse modo ocorrem viabilidade e aceleração no processo de sucessão vegetal,
propiciando a germinação de grande número de sementes logo no início do processo
sucessional (LEAL FILHO et al., 2002; SILVEIRA, MARANHO, 2012).
A revegetação pode contribuir para a reintegração das populações de plantas no
local degradado (BREED et al., 2013). O princípio da técnica é regenerar a floresta natural
(sucessão secundária), com o fundamento de plantio misto de espécies nativas, visando à
recuperação de matas e outras florestas de proteção (DIAS, 2013; MACEDO, 1993).
Dentre os métodos para a recuperação de áreas degradadas, está o plantio de mudas de
espécies regionais, baseando-se em sua classificação ecológica, ocorrência e adaptação ao
local (ARAUJO et al. 2014; DIAS, 2013; MARIANO et al., 2010; MARTINS, 2001).
Caso os plantios sejam bem sucedidos, o processo de recuperação pode contribuir na
dispersão de sementes e recolonização de outras áreas degradadas adjacentes
(KAGEYAMA et al., 1992; MARIANO, 2010). A técnica tem a capacidade de mitigar os
impactos negativos ambientais, permitir o restabelecimento de algumas características do
ambiente em estudo, recomposição da camada superficial do solo, além de contribuir para
a intensificação das interações ecológicas (PEREIRA et al., 2012).
O plantio de mudas para a formação de comunidades arbóreas contribui
principalmente nas condições do solo, devido a maior disponibilidade de matéria orgânica
e aeração, além de proporcionar o sombreamento que permite a germinação de sementes
que precisam de umidade e sombra (REIS et al., 1999). Deste modo, objetivou-se com a
presente pesquisa, avaliar a recuperação de uma área urbana degradada pelo uso da
revegetação aliado ao uso de composto orgânico derivado de resíduos vegetais, assim
como observar as alterações fitofisionômicas locais e das plantas utilizadas, por meio da
comparação entre os tratamentos, contendo ou não o composto vegetal, para possíveis
aplicações em recuperação de áreas degradadas.

METODOLOGIA

Área de estudo

A área em estudo está situada no bairro Guabirotuba, na cidade de Curitiba, Paraná,


Brasil, (25º 27’ 46”S e 49°14’54”W) que compreende uma área aproximada de 2553,7 m .
O local situa-se próximo ao Canal do Rio Belém. O clima da região é do tipo Cfb
(Koppen), mesotérmico, úmido e superúmido, apresenta temperaturas médias entre 18-
22ºC (SILVEIRA; MARANHO, 2012). A formação vegetacional original é do tipo
Floresta Ombrófila Mista Aluvial.
A área encontrava-se degradada, devido aos vários anos que obteve construções
concretadas em sua superfície. O solo apresentava nível de compactação, aridez e
degradação elevado.

Revegetação e implantação do composto

O terreno foi dividido em três parcelas que foram aplicados diferentes tratamentos:
na área 1 (A1) (1090,125m²) foi implantado o composto vegetal na cobertura do solo, com
camada de 15cm de profundidade; na área 2 (A2) (641, 25 m²), não foi aplicado o
composto, sendo o tratamento controle, para a observação da atenuação natural; na área 3
(A3) (822 m²) foi colocado o composto vegetal no fechamento das covas das mudas e na
cobertura da parcela, com camada de profundidade de 15 cm.

333
Para as escolhas das espécies de mudas para o plantio, foi realizado um
levantamento em trabalhos avaliando os maiores valores de importância das espécies que
estavam disponibilizadas pelo Horto Municipal de Curitiba (Tabela 1). Optou-se por
utilizar apenas espécies nativas para a revegetação. A seleção, também, foi dada pelos
diferentes estágios sucessionais existentes, além de espécies típicas da região. Todas as
mudas foram disponibilizadas pelo setor de processamento vegetal do Horto Municipal de
Curitiba.

Tabela 1. Lista das espécies utilizadas na revegetação de uma área degradada, situada na
região do antigo canil municipal de Curitiba-PR, com descrição do seguidas de nome
científico, nome popular e grupo sucessional.
Espécie Nome popular Grupo sucessional
Allophylus edulis A. St.-Hil., A. vacum Pioneira
Juss.
Campomanesia xanthocarpa Mart. guabiroba Secundária
tardia/clímax
Casearia silvestris Sw. guaçatunga-miúda Secundária inicial
Cupania vernalis Cambess. cuvatã Secundária
tardia/clímax
Eugenia uniflora L. pitangueira Secundária
tardia/clímax
Jacaranda puberula Cham caroba Secundária incial
Luehea divaricata Mart. açoita-cavalo Secundária inicial
Matayba elaeagnoides Radlk. miguel-pintado Pioneira
Podocarpus lambertii Klotzsch ex pinheiro-bravo Secundária
tardia/clímax
Prunus sellowii Koehne pessegueiro-bravo Secundária
tardia/clímax
Psidium cattleyanum Sabine araçá Secundária
tardia/clímax
Schinus terebinthifolia Raddi. aroeira Pioneira
Sebastiania commersoniana branquilho Pioneira
(Baill.)
Vitex polygama Cham. tarumã Secundária inicial
Fonte: O autor (2017)

O plantio das mudas foi realizado diretamente nas covas abertas com 0,125 m³ de
profundidade, espaçamento de 3m X 3m entre cada planta, conforme o proposto no Plano
Básico Ambiental da Estrada Parque Visconde de Mauá (2009). A disposição entre as
plantas foi de ziguezague, obedecendo à distância proposta.
Quanto à distribuição do número de plantas em cada área, foi calculada para cada
parcela, a quantidade de quantas mudas seriam suportadas, através do cálculo:

n° de plantas= área da parcela


3

Em que:

-Área da parcela = valor obtido pela medição da área;


- 3 = espaçamento entre cada planta

334
Após o cálculo do número de plantas por cada área, foi realizada a quantificação de
cada espécie a ser plantada. Priorizou-se maiores quantidades para as espécies pioneiras
que apresentaram os maiores valores de importância nos trabalhos de Dias et al. (1997),
Nóbrega et al. (2007) e Mognon et al., (2012). Foi feita distribuição aleatória entre os
diferentes grupos sucessionais, principalmente entre as secundárias e clímax (Fig. 1).

Figura 1. Esquema da disposição das mudas de árvores no processo de revegetação da área


degradada do antigo canil municipal de Curitiba, seguido das espécies e estágios
sucessionais de cada planta.

Fonte: O autor (2014)

Análise dos parâmetros biométricos

Após o plantio das mudas em cada área (parcela), foram realizados dois
procedimentos amostrais: a primeira, três meses pós-plantio (dezembro/2013), período
proposto para permitir a estabilização dos indivíduos ao local e; a segunda foi realizada
três anos pós-plantio (dezembro/2016).
Foram avaliados os parâmetros de densidade absoluta (DA), e os parâmetros
biométricos de índice de sobrevivência (IS), altura (H’) e perímetro altura do peito (PAP)
de indivíduos de altura com valores > 50 cm, sendo realizada a comparação entre as três
áreas. Além desses parâmetros, foram observadas as alterações fitofisionômicas de cada
área.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

335
Todas as árvores plantas são de espécies nativas da região de Floresta Ombrófila
Mista. Foram registrados 243 indivíduos, sendo que, dentre eles estão 14 espécies
pertencentes a 10 famílias (Tab. 2).
No processo inicial de revegetação, o grupo ecológico predominante foi de espécies
pioneiras, com 52,67%, seguidas de secundárias tardias/clímax e secundárias iniciais,
25,92% e 21,39%, respectivamente.
Myrtaceae e Sapindaceae apresentaram maiores números de indivíduos, compondo
21% cada uma. Quanto ao maior número de indivíduos, destacam-se as famílias
Euphorbiaceae, Myrtaceae e Anacardiaceae, respectivamente. Conforme o trabalho de Dias
et al. (2013) e Carvalho et al. (2008), as famílias Myrtaceae e Euphorbiaceae, também se
destacaram quanto ao número de indivíduos em fragmentos de Floresta Ombrófila Mista.

Tabela 2. Espécies presentes na área total de estudos, com seus respectivos nomes
populares, grupos ecológicos e número de indivíduos totais (Ni).
Família/espécie Nome popular Grupo ecológico Ni
ANACARDIACEAE
Schinus terebinthifolia Raddi. aroeira pioneira/secundária 44
inicial
BIGNONIACEAE
Jacaranda puberula Cham caroba secundária inicial 3
EUPHORBIACEAE
Sebastiania commersoniana (Baill.) branquilho Pioneira 67
L.B. Sm. & Downs
LAMIACEAE
Vitex polygama Cham. tarumã secundária inicial 12
MALVACEAE
Luehea divaricata Mart. açoita-cavalo pioneira/secundária 7
inicial
MYRTACEAE
Campomanesia xanthocarpa Mart. ex guabiroba secundária 6
O. Berg tardia/clímax
Eugenia uniflora L. pitangueira Clímax 24
Psidium cattleyanum Sabine araçá secundária tardia 17
PODOCARPACEAE
Podocarpus lambertii Klotzsch ex pinheiro-bravo secundária 5
Endl. tardia/clímax
ROSACEAE
Prunus sellowii Koehne pessegueiro- secundária tardia 3
bravo
SALICACEAE
Casearia silvestris Sw. guaçatunga secundária inicial 30
miúda
SAPINDACEAE
Allophylus edulis (A. St.-Hil., A. Juss. vacum Pioneira 12
& Cambess.) Hieron. ex Niederl.
Cupania vernalis Cambess. cuvatã secundária tardia 8
Matayba elaeagnoides Radlk. miguel-pintado pioneira/secundária 5
inicial
Fonte: O autor (2017)

336
A espécie com maior número de indivíduos foi S. commersoniana, seguida por S.
terebinthifolia e C. silvestris. As espécies com menores quantidades de indivíduos foram J.
puberula, P. sellowii e M. elaegnoides.
Dias et al. (2013) obtiveram em seu trabalho que S. commersoniana foi uma das
espécies com maior representatividade, fato que corroborou para a escolha de maiores
quantidades da espécie no processo de revegetação. Valcarcel e Silva (1992) citam que
espécies pioneiras, como S. terebinthifolia, possuem crescimento rápido e alta dispersão,
proporcionando o início da sucessão ecológica. Visto tal potencial, a escolha dessa espécie
para processos de revegetação torna-se relevante.
No primeiro procedimento amostral (dezembro/2013 – três meses pós-plantio) foi
observado sobrevivência de 96,29% dos indivíduos plantados. Considerando as três áreas
em estudo, foi observado na área 1, 94 indivíduos, dentre eles, três mortos. Na área 2
constatou-se 64 indivíduos, dentre eles, dois mortos. Já na área 3, foi registrado a
ocorrência de 82 indivíduos, dentre eles cinco mortos.
Na área total, a densidade absoluta foi de 2137,37 ind haˉ¹, sendo que S.
commersoniana foi a espécie que apresentou a maior taxa, seguido por S. terebinthifolia e
C. silvestris. Constataram-se valores de sobrevivência de 95,9%, sendo que J. puberula,
apresentou o menor índice, seguido por C. silvestris e P. cattleyanum.
Referente às análises realizadas na área 1 foi registrado a densidade absoluta de
889,80 ind.haˉ¹, apresentando maior valor, a espécie S. commersoniana, seguido por P.
cattleianum e S. terebinthifolia. Dos 94 indivíduos presentes, o índice de sobrevivência
apresentado foi de 96,9%. Dentre todas as espécies, E. uniflora apresentou o menor valor,
seguido por C. silvestris. As espécies que apresentaram maiores valores de altura foram
respectivamente, P. cattleyanum, C. silvestris e P. sellowii (Tab. 3).
Na área 2, a densidade absoluta obtida foi de 998,10 ind.haˉ¹, sendo as espécies
com os maiores valores, respectivamente, S. commersoniana, S. terebinthifolia e C.
silvestris. Dos 64 indivíduos, o índice de sobrevivência obtido foi de 96,9%. Os menores
índices foram, respectivamente, das espécies C. silvestris e E. uniflora. As espécies de
maiores valores de altura foram P. sellowii, C. silvestris e P. cattleyanum (Tab. 3).
Na área 3, a densidade absoluta apresentada foi de 997,10 ind.haˉ¹, sendo as
espécies que apresentaram os maiores valores, S. commersoniana, S. terebinthifolia e C.
silvestris, respectivamente. O índice de sobrevivência da área foi de 93,9%. As espécies
com menores valores de sobrevivência foram respectivamente, P. sellowi e C. silvestris,
sendo que todas as outras espécies apresentaram 100% de sobrevivência. As espécies com
maiores valores de altura foram L. divaricata, C. silvestris e P. cattleyanum (Tab. 3).
No segundo procedimento amostral (Dezembro/2016 – três anos pós-plantio) foi
observada densidade absoluta de 1522,76 ind haˉ¹. Dentre as espécies, S. commersoniana
apresentou a maior taxa, seguido por S. terebinthifolia. Foram registrados 68,31% de
sobrevivência das espécies plantas na área total, sendo que, P. lambertii, P. sellowii e V.
polygama apresentaram 100% de mortalidade.
Constatou-se que, houve redução da densidade absoluta para 623,78 ind haˉ¹, e
dentre as espécies, os maiores valores observados foram S. commersoniana, P.
cattleyanum e S. terbinthifolia, respectivamente. Quanto ao índice de sobrevivência,
houve redução para 70,10%. Dentre as espécies, foram verificadas 100% de mortalidade de
J. puberula, V. polygama, P. lamberti e P. sellowii. Quanto aos maiores valores de altura,
as espécies S. terebinthifolia, S. commersoniana e P. cattleyanum (Tab. 4).
Para a área 2, foram observados redução de densidade absoluta para 732,94 10
ind.haˉ¹, sendo que as espécies S. commersoniana, S. terebinthifolia apresentaram os
maiores valores. Houve 73,44 %de sobrevivência das árvores. Foram verificados índice de

337
mortalidade de 100% para V. polygama, P. cattleyanum, P. lambertii e P. sellowii. As
maiores alturas foram das espécies E. uniflora, C. silvestris e S. terebinthifolia (Tab. 4).
Referente a área 3, houve redução da densidade absoluta para 620,49 ind.haˉ¹,
sendo as espécies com maiores valores, S. commersoniana, S. terebinthifolia. Houve
mortalidade de 100% para as espécies J. puberula, V. polygama, C. xanthocarpa, P.
cattleyanum, P. lambertii, P. sellowii e C. vernalis. Houve sobrevivência de 62,20% das
espécies utilizadas. Referente às maiores alturas, L. divaricata, S. commersoniana e S.
terebinthifolia, respectivamente (Tab. 4).
Kageyama et al. (2002) citam que as espécies secundárias iniciais e secundárias
tardias/climax necessitam da sombra proporcionada por pioneiras para melhor
desenvolvimento, podendo interferir na adaptação e sobrevivência dos indivíduos
escolhidos para revegetações. Tal fato foi observado na presente pesquisa, visto que as
espécies pioneiras, principalmente S. commersoniana e S. terebinthifolia apresentaram
maiores índices de sobrevivência, quando comparadas às outras espécies pertencentes a
outros grupos sucessionais.
Dias et al. (1998), Nobrega et al. (2007) e Silveira e Maranho (2012) constataram
em seus trabalhos, maiores valores de densidade absoluta e valores de importância para S.
commersoniana e S. terebinthifolia. Com os resultados obtidos após três anos de
experimento, é possível constatar a importância que essas espécies apresentam,
principalmente referente à contribuição das mesmas para o tipo vegetacional de Floresta
Ombrófila Mista em que estão inseridas, fato que justifica a utilização das mesmas em
processos de revegetação para este tipo de ambiente.

338
Tabela 3. Comparação dos dados fitossociológicos dos indivíduos plantados no processo de revegetação do antigo canil municipal, três meses
pós-plantio. Parâmetros analisados: número de indivíduos (Ni), Altura (H’), Perímetro altura do peito (PAP) Índice de sobrevivência (SI) e DA
(densidade absoluta)
A1 A2 A3
Espécie Ni H’ PAP IS DA Ni H’ PAP IS DA Ni H’ PAP IS DA
(m) (cm) (%) (ind/ha- (m) (cm) (%) (ind/ha- (m) (cm) (%) (ind/ha-
1 1 1
) ) )
ANACARDIACEAE
Schinus terebinthifolia
Raddi 13 1,50 4,19 100,00 119,30 12 1,44 4,63 100,00 187,10 19 1,27 4,72 100 231,10
BIGNONIACEAE
Jacaranda puberula Cham 1 0,81 3,00 100,00 9,20 1 0,98 3,00 100,00 15,60 1 0,90 3,00 100 12,20
EUPHORBIACEAE
Sebastiania
commersoniana (Baill.) 23 1,69 4,92 100,00 211,00 17 1,68 5,20 94,40 265,10 26 1,71 5,54 100 316,20
LAMIACEAE
Vitex polygama Cham. 5 1,05 2,75 100,00 45,90 4 1,15 3,75 100,00 62,40 3 0,92 3,53 100 36,50
MALVACEAE
Luehea divaricata Mart. 3 1,81 5,00 100,00 27,50 2 1,25 4,85 100,00 31,20 2 2,01 5,35 100 24,30
MYRTACEAE
Campomanesia
xanthocarpa Mart. 3 1,17 3,00 100,00 27,50 1 1,18 3,80 100,00 15,60 2 1,10 3,75 100 24,30
Eugenia uniflora L. 10 1,04 2,64 90,00 91,70 5 1,08 3,12 90,00 78,00 9 0.98 3,35 100 109,40
Psidium cattleyanum
Sabine 15 2,10 11,13 100,00 137,60 1 1,83 4,90 100,00 15,60 1 1,63 4,00 100 12,20
PODOCARPACEAE
Podocarpus lambertii
Klotzsch ex 3 1,27 3,5 100,00 27,50 1 1,23 4,10 100,00 15,60 1 1,12 3,00 100 12,20
ROSACEAE
Prunus sellowii Koehne 1 1,93 5,00 100,00 9,20 1 2,06 4,70 87,5,00 15,60 0 - - 0 0
SALICACEAE 12 2,01 4,68 91,70 110,10 8 1,94 5,15 100,00 124,80 10 1,96 5,03 80 121,60

339
Casearia silvestris Sw.
SAPINDACEAE
Allophylus edulis (A. St.-
Hil., A. Juss. 4 1,49 3,87 100,00 36,70 5 1,38 4,18 100,00 78,00 3 1,21 4,23 100 36,50
Cupania vernalis Cambess. 4 1,32 6,17 100,00 36,70 2 1,22 4,00 100,00 31,20 2 1,37 6,50 100 24,30
Matayba elaeagnoides
Radlk. - - - - - 2 1,31 6,33 100,00 46,80 2 1,22 5,90 100 24,30
*Ni= número de indivíduos, H’= altura média, PAP= Perímetro Altura do Peito, IS=índice de sobrevivência, DA= densidade absoluta (ind há-1)

Fonte: O autor (2017)

Tabela 4. Comparação dos dados fitossociológicos dos indivíduos plantados no processo de revegetação do antigo canil municipal, três anos pós-
plantio. Parâmetros analisados: número de indivíduos (Ni), Altura (H’), Perímetro altura do peito (PAP) Índice de sobrevivência (SI) e DA
(densidade absoluta).
A1 A2 A3
Nome científico Ni H’ PAP IS DA Ni H’ PAP IS DA Ni H’ PAP IS DA
(m) (cm) (%) (ind (m) (cm) (%) (ind (m) (cm) (%) (ind
ha-1) ha-1) ha-1)
ANACARDIACEAE
Schinus terebinthifolia
Raddi 13 3,59 11,72 100,00 119,30 12 1,95 5,55 100,00 187,10 19 2,79 14,50 100,00 231,10
BIGNONIACEAE
Jacaranda puberula Cham ↓0 - - ↓0 ↓0 1 1,88 5,00 100,00 15,60 ↓0 - - ↓0 ↓0
EUPHORBIACEAE
Sebastiania
commersoniana (Baill.) 23 2,88 11,9 100,00 211,00 17 2,11 13,92 94,40 265,10 26 2,95 10,84 100,00 316,30
LAMIACEAE ↓0 - - ↓0 ↓0 ↓0 - - ↓0 ↓0 ↓0 - - ↓0 ↓0

340
Vitex polygama Cham.
MALVACEAE
Luehea divaricata Mart. ↓2 2,32 13,50 ↓66,70 ↓18,30 2 1,53 5,50 100,00 31,20 ↓1 3,00 17,00 ↓50,00 ↓12,20
MYRTACEAE
Campomanesia
xanthocarpa Mart. ↓2 1,60 5,00 ↓66,70 ↓18,3 1 1,34 7,00 100,00 15,60 ↓0 - - ↓0 ↓0
Eugenia uniflora L. 3 2,72 10,00 30,00 27,50 ↓1 2,95 7,00 ↓20,00 ↓15,60 ↓2 1,29 5,50 ↓22,20 ↓24,30
Psidium cattleyanum
Sabine 15 2,68 17,33 100,0 137,60 ↓0 - - ↓0 ↓0 ↓0 - - ↓0 ↓0
PODOCARPACEAE
Podocarpus lambertii
Klotzsch ex ↓0 - - ↓0 ↓0 ↓0 - - ↓0 ↓0 ↓0 - - ↓0 ↓0
ROSACEAE
Prunus sellowii Koehne ↓0 - - ↓0 ↓0 ↓0 - - ↓0 ↓0 0 - - 0 0
SALICACEAE
Casearia silvestris Sw. ↓4 2,73 8,66 ↓33,30 ↓36,70 ↓3 2,02 5,15 ↓30,00 ↓46,80 ↓3 2,09 5,16 ↓30,00 ↓36,50
SAPINDACEAE
Allophylus edulis (A. St.-
Hil., A. Juss. ↓3 1,70 4,00 ↓75,00 ↓27,50 ↓2 1,55 3,5 ↓60,00 ↓31,20 ↓0 0 0 ↓0 ↓0
Cupania vernalis
Cambess. ↓1 1,32 6,45 ↓25,00 ↓9,20 2 1,26 5,85 100,00 31,20 ↓0 - - ↓0 ↓0
Matayba elaeagnoides
Radlk. - - - - - 2 1,52 6,93 100,00 31.20 2 1,52 6,50 100,00 24,30
*Ni= número de indivíduos, H’= altura média, PAP= Perímetro Altura do Peito, IS=índice de sobrevivência, DA= densidade absoluta (ind há-1).
↓ indica redução quando comparado à primeira avaliação (Dezembro/2013).

Fonte: O autor (2017)

341
S. commersoniana e S. terebinthifolia apresentaram maiores valores de altura na
presença do composto, enquanto que as espécies C. silvestris, P. lambertii e J. puberula
encontraram-se em piores condições na presença do composto. Contradizendo trabalhos
de Carvalho et al. (2008), Nobrega et al. (2008), as espécies apresentaram-se com
densidades inferiores, além dos índices de sobrevivência reduzidos, demonstrando uma
contradição com os valores de importância observados nos outros trabalhos.
No segundo procedimento amostral, foi verificada a floração e frutificação de
grande parte dos indivíduos, indiferentemente das áreas que se se encontravam. Além
disso, foi observada, mudança fitofisionômica local, devido à presença e
desenvolvimento de espécies gramíneas e herbáceas (Fig. 2).

Figura 2. Comparação entre as áreas amostrais no processo de recuperação do antigo


canil municipal de Curitiba nos períodos: antes (setembro/2013) (A,D,G); três meses
(dezembro/2013) (B,E,H) e; três anos (dezembro/2016) (C,F,I) após a implantação do
processo de revegetação. A-C: Comparação entre a área 1; D-F: Comparação entre a
área 2; G-I: Comparação entre a área 3

Fonte: O autor (2017)

As áreas contendo o composto apresentaram maior desenvolvimento de estágios


sucessionais primários se desenvolvendo no local, quando comparados à área sem
composto vegetal. Tal afirmação é explicada pelo fato de resíduos vegetais, propiciarem
a germinação de um grande número de sementes logo no início de sucessão (LEAL
FILHO, 2002; SILVEIRA; MARANHO, 2012).
Foi observado que nas áreas com fechamento das covas e sobreposição do
composto, os efeitos de redução na sobrevivência, foram maiores, do que na aplicação
superficial. Almeida (1992) cita que os efeitos alelopáticos na presença de resíduos

342
vegetais, o que possivelmente podem ter alterado à sobrevivência dos indivíduos em
estudo.
Foram constatadas maiores valores de altura de todas as espécies para as áreas
com composto, mesmo ocorrendo menores valores de sobrevivência. Além disso, a
presença do desenvolvimento de espécies pioneiras no local, na presença do composto
vegetal, indica contribuição no processo de recuperações de áreas degradadas,
recolonização vegetal no local e melhor desenvolvimento das plantas no processo de
revegetação.
Kageyama (1989) cita que o plantio de reflorestamento como estímulo à
regeneração natural, propicia a dispersão adequada, além de contribuir no
enriquecimento local, desempenhando papel de estimulação e aceleração do processo de
sucessão florestal. Conforme os resultados obtidos, constata-se a contribuição da
revegetação devido ao uso de mudas nativas, e, consequentemente, nota-se que
recuperação da área degradada, torna-se ainda maior.
Desta forma, constata-se que a aplicação do composto aliado ao processo de
revegetação, contribui no processo de sucessão vegetal, e possibilita que áreas urbanas
degradadas, sejam recuperadas.

CONCLUSÕES

O uso do composto orgânico aliado às técnicas como a revegetação propiciou o


desenvolvimento de novos vegetais é o desenvolvimento do processo de recolonização
de áreas, o que possibilitou a recuperação mais eficaz de áreas degradada. Tal fato
permite afirmar a eficiência do composto orgânico vegetal na recuperação da área
urbana degradada.

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ESTRUTURA DA REGENERAÇÃO NATURAL DE UMA FLORESTA EM


RESTAURAÇÃO EM ÁREA MINERADA

A. Miranda Neto¹; S. V. Martins¹; K. A. Silva¹; A. T. Lopes²

¹ Universidade Federal de Viçosa, Laboratório de Restauração Florestal – LARF, Cep:


36570-900, Viçosa – MG, [email protected]
² Votorantim Metais, Setor de Meio Ambiente, CEP: 36790-000, Miraí – MG

RESUMO

O presente estudo avalia a estrutura do estrato de regeneração natural de uma floresta


que se encontra há 12 anos em processo de restauração, após o encerramento da
atividade de mineração de bauxita e plantio de mudas. Os indivíduos mensurados foram
separados em três classes de altura: Classe 1 – indivíduos com até 1,00 m de altura;
Classe 2 - entre 1,01 e 2,00 de altura; Classe 3 - com mais de 2,00 m de altura. A
florística foi representada por 80 espécies arbustiva-arbóreas, pertencentes a 30 famílias
e 705 indivíduos. Myrcia splendens (Sw.) DC. se destacou com a maior taxa de

345
regeneração natural nas classes 1 (RNC1), 2 (RNC2) e no valor de regeneração natural
total (RNT), com 27,41%, 13,97% e 15,03%, respectivamente. Na classe 3 (RNC3) o
destaque foi para Anadenanthera peregrina (L.) Speg., com 10,69%. Também houve
destaque para cinco espécies do gênero Miconia que estão entre as dez espécies com
maiores valores de RNT. Assim, é possível inferir que Myrcia splendens,
Anadenanthera peregrina e as espécies do gênero Miconia possuem alta capacidade de
regeneração na floresta em processo de restauração.

Palavras Chave: Bauxita, biodiversidade, florística, restauração florestal

INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo, as florestas foram degradadas pelo aumento das atividades


antrópicas e estão rapidamente diminuindo (Lu et al., 2011). Depois de submetido a
algum distúrbio forte, como o desmatamento e a invasão biológica, o ecossistema
florestal perde a sua composição florística e sua resiliência, o que impedirá o retorno à
sua condição natural original (Rodrigues et al., 2010). Assim, para tentar restabelecer a
integridade ecológica de um ecossistema degradado surge a necessidade de restaurar
esses ecossistemas.
A restauração florestal proporciona ao sítio degradado condições mínimas para o
estabelecimento dos processos ecológicos e pode trazer grandes contribuições ao
conhecimento da ecologia, permitindo observar e avaliar a funcionalidade das
comunidades vegetais (Rodrigues e Gandolfi, 2000; Lopes et al., 2006).
Porém, não basta apenas implantar um projeto de restauração. Para alcançar o
sucesso da restauração florestal, é importante a avaliação da floresta em restauração por
meio de indicadores ou variáveis ambientais (Brancalion et al., 2015) como a
composição e estrutura do estrato de regeneração natural.
O estudo sobre a florística e estrutura da regeneração natural é importante para o
conhecimento do processo sucessional da floresta em restauração, auxiliando na
compreensão da dinâmica da comunidade, no conhecimento da ecologia das espécies e
fornecendo subsídios sobre a direção que o ecossistema está caminhando em relação à
sucessão ecológica (Ávila et al., 2016).
Assim, o presente estudo visou avaliar a composição florística e estrutura do
estrato de regeneração natural de uma floresta que se encontra há 10 anos em processo
de restauração, após o encerramento da atividade de mineração de bauxita e plantio de
mudas.

MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo

Este trabalho faz parte de um convênio entre a empresa Votorantim Metais/CBA


e o LARF – Laboratório de Restauração Florestal da UFV (www.larf.ufv.br).
O estudo foi realizado em uma floresta em processo de restauração por meio de
plantio de mudas arbóreas, localizada no município de Descoberto, na região da Zona
da Mata de Minas Gerais (21º25’35” S e 42º56’08” W), com altitude no local de estudo
variando de 618 a 633 m.
O clima da região, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw, tropical
com verões quentes e úmidos (Sá Júnior et al., 2011). A temperatura é alta no verão,
atingindo 40ºC, e 20-22ºC no inverno, com precipitação pluviométrica média anual de
346
1.300 mm e relevo bastante acidentado, com pequenas planícies e platôs
semidissecados, limitados por franjas escarpadas e montanhosas, apresentando também,
vales retilíneos (Lopes e Branquinho, 1988).
A vegetação característica da região é classificada como Floresta Estacional
Semidecidual Montana, inserida no domínio Floresta Atlântica (IBGE, 2012).
No local do estudo, foi realizada pela Votorantim Metais, mineração de bauxita
e posterior implantação da restauração florestal, por meio de plantio heterogêneo em
área total (1 ha), utilizando o espaçamento de 1,0 m x 1,0 m.

Amostragem

Para a análise florística do estrato de regeneração natural, foram alocadas na área


em restauração, 40 parcelas permanentes de 3 x 3 m, com intervalos de 10 m entre
parcelas. Todos os indivíduos lenhosos arbustivo-arbóreos regenerantes com CAP
(circunferência na altura de 1,30 m do solo) inferior a 15 cm foram identificados e
mensurados o DNS (diâmetro ao nível do solo) e a altura.
Para as espécies não reconhecidas em campo, coletou-se o material botânico
para posterior comparação ao material depositado no herbário VIC da Universidade
Federal de Viçosa, MG, consulta a especialistas e a literatura. As espécies foram
classificadas em famílias botânicas e tiveram os nomes científicos e seus respectivos
autores atualizados de acordo com o sistema do Angiosperm Phylogeny Group IV
(2016) e pela base de dados da Lista de Espécies da Flora do Brasil (2016).

Análise dos dados

Foi avaliado a estrutura da regeneração natural. Os indivíduos mensurados foram


separados em classes de altura de acordo com os níveis de inclusão: indivíduos com até
1,00 m de altura foram incluídos na Classe 1; indivíduos entre 1,01 e 2,00 de altura
foram incluídos na Classe 2; indivíduos com mais de 2,00 m de altura foram incluídos
na Classe 3.
Para cada espécie foram estimados os parâmetros absolutos e relativos de
frequência e densidade (Mueller-Dombois e Ellenberg, 1974), em cada classe de altura
pré-estabelecida. Com base nesses parâmetros, estimou-se a regeneração natural por
classe de altura para RNC1 (Regeneração Natural na Classe de Altura 1); RNC2
(Regeneração Natural na Classe de Altura 2); RNC3 (Regeneração Natural na Classe de
Altura 3); com a equação 1 (Volpato, 1994):
(1)
RNCij = estimativa da regeneração natural da i-ésima espécie na j-ésima classe de altura
de planta, em percentagem;
DRij = densidade relativa em percentagem para a i-ésima espécie na j-ésima classe de
altura de regeneração natural; e
FRij = frequência relativa em percentagem para a i-ésima espécie na j-ésima classe de
altura de regeneração natural.
Calculado o índice de regeneração por classe de altura para cada espécie, foi
realizado o cálculo da estimativa da RNT (Regeneração Natural Total da População
Amostrada), utilizando-se da soma dos índices de regeneração natural por classe de
altura, dividida pelo número de classes, conforme equação 2 (Finol, 1971):
(2)
RNTi = estimativa da regeneração natural total da i-ésima espécie; e

347
RNCij = estimativa da regeneração natural da i-ésima espécie na j-ésima classe de altura
de planta.
Foram calculados também o índice de diversidade de Shannon (H’) (Magurran,
1988) e a equabilidade (J’) (Pielou, 1975) para cada classe de altura.

RESULTADOS

A florística do estrato de regeneração natural na floresta em restauração foi


representada por 80 espécies arbustiva-arbóreas, pertencentes a 30 famílias botânicas e
composta por 705 indivíduos. A regeneração natural na classe 1 foi representada por 40
espécies, distribuídas em 405 indivíduos. A regeneração natural na classe 2 foi
representada por 46 espécies e 188 indivíduos. E a regeneração natural na classe 3 foi
representada por 44 espécies e 112 indivíduos.
As 10 espécies de maiores valores de regeneração natural total da população
amostrada representam 56,69% do total (Figura 1). A espécie Myrcia splendens (Sw.)
DC. se destacou com a maior taxa de regeneração natural nas classes 1 (RNC1) e 2
(RNC2) com 27,41% e 13,97%, respectivamente. Na classe 3 (RNC3) o destaque foi
para Anadenanthera peregrina (L.) Speg., com 10,69% (Tabela 1). Na análise da
regeneração natural total (RNT), novamente a espécie Myrcia splendens foi a que mais
se estacou, com 15,03% do total de indivíduos. Das 80 espécies, 37 obtiveram valores
de RNT inferiores a 0,5% (Tabela 1 e figura 1).
Cinco espécies da família Melastomataceae e pertencente ao gênero Miconia se
destacaram entre as dez espécies com maiores valores de RNT (Figura 1).

Tabela 1 – Estimativa da regeneração natural por classe de altura de uma floresta em


processo de restauração. RNC1 = Regeneração Natural na Classe 1 de altura; RNC2 =
Regeneração Natural na Classe 2 de altura; e RNC3 = Regeneração Natural na Classe 3
de altura; RNT = Regeneração Natural Total.

RNC1 RNC2 RNC3 RNT


Espécie
(%) (%) (%) (%)
Myrcia splendens (Sw.) DC. 27,41 13,97 3,72 15,03
Miconia tristis Spring 6,68 12,93 3,64 7,75
Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin 5,39 7,62 6,96 6,66
Miconia sp. 8,62 6,18 0,92 5,24
Siparuna guianensis Aubl. 5,88 4,86 3,72 4,82
Anadenanthera peregrina (L.) Speg. 0,80 1,30 10,69 4,26
Licania tomentosa (Benth.) Fritsch 2,68 3,28 5,59 3,86
Miconia pusilliflora (DC.) Naudin 2,28 5,93 0,93 3,04
Miconia latecrenata (DC.) Naudin 5,82 2,24 0,93 3,00
Hymenaea courbaril L. 0,41 0,66 7,91 2,99
Solanum leucodendron Sendtn. 1,75 4,60 1,87 2,74
Xylopia sericea A.St.-Hil. 3,37 1,31 1,87 2,18
Cassia ferruginea (Schrad.) Schrad. ex DC. 0,00 0,66 3,73 1,46
Ossaea sp. 1,59 2,50 0,00 1,36
Maprounea guianensis Aubl. 0,81 1,31 1,87 1,33
Erythroxylum pelleterianum A.St.-Hil. 3,74 0,00 0,00 1,25
Indeterminada 2 0,00 0,00 3,73 1,24

348
Psychotria conjungens Müll.Arg. 1,63 1,97 0,00 1,20
Solanum cernuum Vell. 2,28 1,31 0,00 1,20
Leandra nianga (DC.) Cogn. 0,81 2,63 0,00 1,15
Piper arboreum Aubl. 1,87 1,31 0,00 1,06
Erythroxylum deciduum A.St.-Hil. 1,63 1,31 0,00 0,98
Solanum argenteum Dunal 1,06 0,92 0,93 0,97
Aparisthmium cordatum (A.Juss.) Baill. 0,00 0,00 2,80 0,93
Cecropia glaziovii Snethl. 0,00 0,00 2,80 0,93
Syzygium cumini (L.) Skeels 0,00 0,00 2,80 0,93
Zeyheria tuberculosa (Vell.) Bureau ex Verl. 0,00 0,00 2,80 0,93
Dalbergia nigra (Vell.) Allemão ex Benth. 0,00 0,66 1,87 0,84
Byrsonima sericea DC. 0,00 0,00 2,31 0,77
Asteraceae 0,41 0,00 1,87 0,76
Leandra sericea DC. 0,00 1,31 0,93 0,75
Miconia discolor DC. 0,00 1,31 0,93 0,75
Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. ex Roem. & Schult. 1,22 0,66 0,00 0,62
Nectandra rigida (Kunth) Nees 1,22 0,66 0,00 0,62
Astronium concinnum Schott 0,00 0,00 1,87 0,62
Casearia arborea (Rich.) Urb. 0,00 0,00 1,87 0,62
Inga vera Willd. 0,00 0,00 1,87 0,62
Senna multijuga (Rich.) H.S.Irwin & Barneby 0,00 0,00 1,87 0,62
Miconia sellowiana Naudin 1,71 0,00 0,00 0,57
Indeterminada 4 0,00 0,66 0,93 0,53
Tecoma stans (L.) Juss. ex Kunth 0,00 0,66 0,93 0,53
Zanthoxylum rhoifolium Lam. 0,00 0,66 0,93 0,53
Piper mollicomum Kunth 0,00 1,58 0,00 0,53
Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. 0,81 0,66 0,00 0,49
Indeterminada 1 0,81 0,66 0,00 0,49
Lophanthera lactescens Ducke 0,81 0,66 0,00 0,49
Casearia gossypiosperma Briq. 0,00 0,00 1,38 0,46
Lacistema pubescens Mart. 0,41 0,00 0,93 0,45
Machaerium nyctitans (Vell.) Benth. 0,41 0,00 0,93 0,45
Carpotroche brasiliensis (Raddi) A Gray 0,00 1,31 0,00 0,44
Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos 0,00 1,31 0,00 0,44
Spondias mombin L. 0,00 1,31 0,00 0,44
Alchornea glandulosa Poepp. & Endl. 1,22 0,00 0,00 0,41
Indeterminada 3 0,00 1,19 0,00 0,40
Leandra sp. 0,53 0,66 0,00 0,39
Ossaea marginata (Desr.) Triana 1,06 0,00 0,00 0,35
Annona neosericea H.Rainer 0,00 0,00 0,93 0,31
Annona sylvatica A.St.-Hil. 0,00 0,00 0,93 0,31
Artocarpus heterophyllus Lam. 0,00 0,00 0,93 0,31
Astronium graveolens Jacq. 0,00 0,00 0,93 0,31
Caesalpinia leiostachya (Benth.) Ducke 0,00 0,00 0,93 0,31
Clitoria fairchildiana R.A.Howard 0,00 0,00 0,93 0,31
Cordia sellowiana Cham. 0,00 0,00 0,93 0,31

349
Inga marginata Willd. 0,00 0,00 0,93 0,31
Matayba elaeagnoides Radlk. 0,00 0,00 0,93 0,31
Caesalpinia peltophoroides Benth. 0,00 0,66 0,00 0,22
Cedrela fissilis Vell. 0,00 0,66 0,00 0,22
Celtis sp. 0,00 0,66 0,00 0,22
Luehea grandiflora Mart. & Zucc. 0,00 0,66 0,00 0,22
Mimosa sp. 0,00 0,66 0,00 0,22
Psychotria nuda Cham. & Schltdl.) Wawra 0,00 0,66 0,00 0,22
Spondias venulosa (Engl.) Engl. 0,00 0,66 0,00 0,22
Vernonanthura divaricata (Spreng.) H.Rob. 0,00 0,66 0,00 0,22
Allophylus edulis (A.St.-Hil. et al.) Hieron. ex
Niederl. 0,41 0,00 0,00 0,14
Amaioua guianensis Aubl. 0,41 0,00 0,00 0,14
Cupania ludowigii Somner & Ferrucci 0,41 0,00 0,00 0,14
Eugenia florida DC. 0,41 0,00 0,00 0,14
Euterpe edulis Mart. 0,41 0,00 0,00 0,14
Piper sp. 0,41 0,00 0,00 0,14
Trichilia pallida Sw. 0,41 0,00 0,00 0,14
Total 100,00 100,00 100,00 100,00

Figura 1. Estimativa da regeneração natural por classe de altura para as dez espécies
com maior valor de regeneração natural total de uma floresta em processo de
restauração. RNC1 = Regeneração Natural na Classe 1 de altura; RNC2 = Regeneração
Natural na Classe 2 de altura; e RNC3 = Regeneração Natural na Classe 3 de altura.

A regeneração natural da classe 3 de altura obteve maior diversidade e


equabilidade que as demais classes, com valores de índice de Shannon e equabilidade de
3,47 e 0,92, respectivamente (Figura 2). A diversidade nas três classes apresentou média
de 3,05 e a equabilidade média de 0,81.

350
Figura 2. Índice de Shannon (H’) e equabilidade (J), por classe de altura, do estrato de
regeneração natural de uma área em processo de restauração.

DISCUSSÃO

Myrcia splendens, espécie com maior destaque nas classes de altura 1 e 2 e na


regeneração natural total, também foi amostrada com ênfase na regeneração natural em
fragmentos florestais no Sudeste do Brasil (Alves e Metzger, 2006; Higuchi et al., 2006)
e em florestas restauradas (Miranda Neto et al., 2012).
Anadenanthera peregrina, destaque na classe 3 de altura da regeneração, ocorre
em solos secos e úmidos, tolera solos rasos, compactados, mal drenados e encharcados,
com textura média a argilosa e apresenta crescimento moderado (Carvalho, 2003). No
entanto, uma forte dominância e efeitos alelopáticos de Anadenanthera peregrina
podem contribuir para um efeito seletivo sobre o banco de sementes e a regeneração, e
diminuir a diversidade de arbustos e espécies arbóreas em plantações monoespecíficas
para restauração florestal (Nascimento et al., 2009; Souza et al., 2012).
A família botânica Melastomataceae reúne espécies com vários hábitos de vida,
distribuídos em todos os tipos de fitofisionomias florestais no território brasileiro
(Baumgratz et al., 2010) e em áreas degradadas (Clausing e Renner, 2001). É
considerada a sexta maior família de angiospermas do Brasil (Forzza et al., 2010). Na
Floresta Atlântica, região deste estudo, esta família é considerada um grupo importante
devido à densidade de suas populações (Baumgratz et al., 2006).
É esperado que as espécies destacadas com alta capacidade de regeneração,
possivelmente, tendem a formar o futuro estrato adulto da floresta (Silva et al., 2010).
Porém, é importante salientar que a ocorrência de possíveis perturbações de ordem
natural ou antrópica podem modificar o processo de sucessão e a dinâmica da reposição
do dossel.
As espécies que apresentaram baixos valores de RNT podem encontrar maior
dificuldade de se regenerar ao longo do tempo e não conseguirem chegar ao dossel ou
compreendem as espécies tardias que estão entrando no ecossistema (Silva et al., 2010),
em função desse já propiciar características ambientais e ecológicas favoráveis ao seu
desenvolvimento.
O estrato de regeneração natural da classe 1 de altura apresenta baixa
diversidade florística (H’ = 2,58) e os estratos de regeneração natural das classes 2 e 3
apresentam média diversidade (H’ = 3,10 e H’ = 3,47, respectivamente). Além disso, as
três classes de altura evidenciaram que a floresta em restauração é floristicamente
heterogênea e com baixa dominância ecológica.

351
CONCLUSÃO

Myrcia splendens, Anadenanthera peregrina e as espécies do gênero Miconia


possuem alta capacidade de regeneração na floresta em processo de restauração. E
espera-se que essas espécies tendem a contribuírem para a futura formação do dossel da
floresta.
Como a regeneração natural é um ótimo bioindicador da restauração do
ecossistema, os resultados obtidos indicam que o projeto está atingindo sua meta, de
restaurar a floresta na área que foi minerada.

AGRADECIMENTOS

À Capes pela concessão da Bolsa de Doutorado do primeiro autor, ao CNPq


pelas Bolsas de Produtividade em Pesquisa do segundo autor de Doutorado da terceira
autora, e à Votorantim Metais pelo financiamento do projeto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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em Ciência Florestal) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.

MONITORAMENTO DA RESTAURAÇÃO EM ÁREA DEGRADADA DE UMA


PEDREIRA, NAVEGANTES, SC

E. M. Moratelli1 e G. M. Carmona2
1
Bióloga, Mestrado em Biologia Vegetal. Goldenbras Consultoria Ambiental Ltda.; Rua
Felipe Schmidt, 657, sala 402, CEP: 88010-001, Florianópolis, SC, Brasil; e-mail:
[email protected]; Telefones: (48) 99638 4481/3025 5056.
2
Engenheiro Civil. Carmona Consultoria Ambiental Ltda., Florianópolis/SC; e-mail:
[email protected], Telefone (48) 99962 0164.

RESUMO
A restauração de áreas degradadas pela atividade minerária além de ser uma
obrigatoriedade estabelecida pela legislação brasileira desperta interesse pela obtenção
de conhecimentos. Nessa pedreira que se encontra em contínua atividade de extração de
minério foram implantadas duas diferentes técnicas de restauração em três bancadas,
que atualmente se encontram em monitoramento. Na “técnica A” e, somente nessa
técnica, foram utilizados diferentes procedimentos e produtos, como a contenção das
bordas com sacas de solo-cimento, sistema de drenagem com britas, mantas de fibras de
coco, tubulações, colocação de solo formando grandes canteiros e o plantio das mudas.
A “técnica B” se diferencia principalmente na formação dos canteiros, constituídos pela
354
colocação do solo em forma de pequenos aglomerados (ilhas) contendo em torno de
1m3 de solo por aglomerado, distantes entre si em torno de 1,5m e, ligados por
caminhos de passagem, também formados por solo argiloso. Em cada aglomerado de
solo foram plantadas duas mudas de espécies nativas arbóreas. Nos paredões rochosos
foram distribuídas redes de pesca descartadas pelas atividades pesqueira da região, as
quais servem como suporte às trepadeiras. Na “técnica A”, implantada há 9 anos com
complemento há 5 anos as mudas possuem de 2 a 7m de altura. Na “técnica B” com 4
anos, as mudas possuem de 1 a 4m de altura. Os objetivos foram atingidos tanto na
colocação das redes quanto em ambas as técnicas aplicados nas bancadas, porém na
“técnica B” houve melhor custo/benefício, em termos de gastos energéticos.

Palavras chave: pedreira, restauração, redes de pesca, bancada

1. INTRODUÇÃO
A pedreira em questão, encontra-se inserida em área com vegetação pertencente a
Floresta Ombrófila Densa Submontana (Bioma Mata Atlântica), entre 30 a 400 m de
altitude (Veloso et al 1991). A cobertura original da região compõe-se de vegetação
nativa deste ecossistema. Apresentando um desenvolvimento de florestas exuberantes,
com diversas sinúsias, ricas em epífitas e lianas, além de uma elevada diversidade
biológica (Klein 1978; Leite & Klein, 1990). Dentre as espécies com maior frequência
encontradas no entorno da pedreira, destacam-se: Ficus cestrifolia, Ficus adhatodifolia,
Cyathea delgadii, Boehmeria macrophylla, Virola bicuhyba, Cecropia glaziovii,
Schizolobium parahyba, entre muitas outras.
A mineração é uma atividade que se diferencia das demais, por ter como particularidade
de ser definida a sua localização em função da existência da jazida, sendo que
geralmente ocorre em encostas montanhosas de preservação permanente (Thomé,
2013). Que, no entanto por ser considerada como atividades de interesse social, a
legislação permite a extração de rochas desses locais, porém da mesma forma, a
Constituição Federal do Brasil estabelece que tais áreas degradadas sejam recuperadas.
A restauração dessas áreas deve ser realizada através da execução de planos de
recuperação de áreas degradadas, que devem conter medidas corretivas específicas
visando a recuperação de natureza física, que contemple primeiramente a estabilização e
a segurança, para posteriormente promover a revegetação através da fixação de espécies
vegetais nativas do entorno ao local afetado, visando com isso o restabelecimento das
funções ecológicas do ambiente natural.
Visando-se, deste modo, restaurar áreas degradadas da pedreira, utilizaram-se diferentes
procedimentos nas bancadas, bem como a tentativa de restauração dos costões rochosos
através da colocação de redes de pesca, descartadas pela atividade pesqueira da região,
que serão detalhadamente descritos a seguir.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

355
A implantação do projeto de restauração na pedreira (Figura 01) ocorreu em dois
momentos distintos, ou seja, a primeira parte foi implantada em 2008 e a
complementação foi realizada em 2012.
Para a restauração das bancadas (bermas) da pedreira, foram utilizadas duas diferentes
formas, chamadas aqui por “técnica A” e “técnica B”, implantadas em diferentes
épocas, conforme segue.

Figura 01: Vista da pedreira com parte em atividade e parte em restauração.

2.1 Restauração de bancadas


2.1.1 Técnica A

O projeto de restauração através do método chamado de “técnica A”, teve início com
parte da sua implantação em 2008 em duas bancadas, sendo finalizada em 2012.
Portanto, atualmente parte das mudas possuem 9 e parte 5 anos.

Para a recuperação do solo das bancadas, em 2008 foi realizada a contenção nas bordas
das laterais do costão rochoso, através da colocação de sacas de ráfia ou juta contendo
solo-cimento, empilhadas (Figura 02). A mistura contida nas sacas foi composta por
argila e cimento.
Ainda, e somente na “técnica A” realizada em 2008, implantou-se um sistema de
drenagem, através da colocação de pedras-britas, fibras de coco e tubos de PVC (Figura
02).

356
Figura 02: Contenção das bordas e sistema de drenagem da bancada “técnica A”.

Para a formação dos canteiros (das duas bancadas), colocou-se uma camada de mais ou
menos 50 cm de solo argiloso (Figura 03) provindo do entorno, que serviu de substrato
para fixação e crescimento das mudas nativas plantadas. No momento do plantio, em
cada uma das covas, colocou-se adubo orgânico, composto por uma mistura de esterco
de bovinos e aves.

Figura 03: Colocação da camada de solo argiloso nas duas bancadas recuperadas
(“técnica A”).

Em 2008, após a formação dos canteiros, foi feito o plantio das mudas de espécies
nativas arbóreas, mas poucas sobreviveram. Então, em 2012 foi realizado um novo
plantio com covas maiores e adubação orgânica mais intensa (Figura 04).

357
Figura 04: Plantio das mudas arbóreas nativas em 2008 e 2012, respectivamente
“técnica A”.

2.1.2 Técnica B

A “técnica B” foi implantada em uma bancada de forma experimental no início de 2013,


portanto as plantas possuem 4 anos.
Foram formados pequenos canteiros (aglomerados de solo entre as rochas) ligados por
caminhos sobre as rochas com largura somente para a passagem de um carrinho de mão,
para que pudesse ser transportado o solo até o destino final (Figura 05 e 06). A mistura
era composta de solo argiloso e adubo orgânico (de bovinos e aves).

Figura 05: Bancada antes da recuperação e durante a implantação do projeto de


recuperação “técnica B”, respectivamente.

Os pequenos canteiros (aglomerados de solo) foram construídos com distâncias em


torno 1,5 metros entre si, sendo que em cada um deles colocou-se aproximadamente 1
m3 de solo. E, após a efetivação dos canteiros na bancada, foram plantadas, em cada um
dos aglomerados de solo, duas mudas de diferentes espécies arbóreas nativas.

358
Lembrando que no local onde foram feitos os aglomerados de solo, já existia algum
material (solo) que havia escorrido das bancadas superiores. O material se acomodou
por entre as rochas ou fendas e permitiu que algumas espécies de gramíneas crescessem
durante o verão (Figura 06). Assim, os aglomerados foram construídos por entre as
rochas e a vegetação que permaneceu no local, sendo que no início do outono a
vegetação secou e as rochas ficaram novamente visíveis, conforme pode ser visualizado
na Figura 07.

Figura 06: Formação dos pequenos canteiros (aglomerados de solo argiloso), em meio
às gramíneas pré-existentes “técnica B”, verão de 2013.

Figura 07: Mudas de espécies nativas plantadas nos aglomerados de solo por entre as
rochas semicobertas por vegetação seca “técnica B”, outono de 2013.
As principais espécies nativas arbóreas cultivadas nas bermas (bancadas), em ambos os
sistemas de restauração, foram: Schinus terebinthifolius (aroeira-vermelha), Mimosa
bimucronata (maricá), Inga edulis e Inga sessilis (ingás), Erythroxylum argentinum
(cocão), Citharexylum myrianthum (tucaneira), Trema micranta (grandiúva), Ficus
cestrifolia, Ficus adhatodifolia, Ficus spp. (figueiras), entre outras.

2.2 Paredões Rochosos


Com a finalidade de servirem de suporte às trepadeiras, durante seu desenvolvimento,
nos taludes rochosos foram distribuídas redes de pesca descartadas pela atividade
pesqueira da região (Figura 08).

359
Figura 08: Redes de pesca descartadas, dispostas nos paredões rochosos.

Utilizou-se vegetação do tipo trepadeira (cipós), das espécies: Cissus sicyoides,


Pyrostegia venusta, Cydista diversifolia, Smilax spp, Peixotoa reticlata, Ipomaea spp.,
entre outras, que foram plantadas junto aos paredões rochosos (no pé do talude), local
propício para que se desenvolvam apoiadas às redes de pesca.

3. RESULTADOS

3.1 Bancadas Recuperadas

Na imagem da Figura 09 (de 2017), têm-se uma vista geral das três bancadas
recuperadas. Sendo, a primeira debaixo pra cima, a técnica B, com a implantação em
“pequenas ilhas de plantio”. E as duas bancadas acima com plantio sistêmico, através da
técnica A.

Técnica A (9 anos)

Técnica A (9 anos)

Técnica B (4 anos)

Figura 09: Vista geral das três bancadas recuperadas.

360
3.1.1 Técnica A

Na “técnica A”, os resultados obtidos na restauração, após 2 anos da complementação,


com plantas de 0,50 a 2,5 metros (Figura 10). E, atualmente há 9 anos da implantação e
há 5 anos das complementações a altura das plantas varia entre 2 a 7 metros (Figura 11).

Figura 10: Vista dos resultados da restauração na “técnica A” após 2 anos (2014).

Figura11: Vista dos resultados da recuperação na “técnica A” (2017).

3.1.2 Técnica B

Na “técnica B”, os resultados obtidos na restauração, em 2014 após 1 ano e meio da


implantação, as plantas encontravam-se com 0,50 a 2 metros de altura, conforme pode
ser visto na Figura 12. E, atualmente há 4 anos da implantação, podem ser visualizados
na Figura 13, com altura que varia entre 1 a 4 metros.

361
Figura12: Vista dos resultados da restauração na “técnica B” (ilhas de plantio), após 1
ano e meio.

Figura 13: Vista dos resultados da restauração na “técnica B” (ilhas de plantio), após 4
anos.

Em ambos os taludes, ocorrem espécies nativas espontâneas como Cecropia glaziovii


(embaúba), Cedrela fissilis (cedro), Cortaderia selloana (capim dos pampas), cipós
entre outras.
No sub-bosque de grande parte das três bancadas implantadas, encontram-se
estabelecidas muitas plantas, que cresceram espontaneamente como, Thelypteris
dentata, Blechnum brasiliense (samambaias), Miconia pusilliflora, Miconia cinerascens
(pixiricas), Piper spp. Piper umbellatum (pariparobas), além de ciperáceas, gramíneas e
outras (Figura 14).
Também ocorre a presença de fauna no local, principalmente aves, répteis e insetos
polinizadores.

362
Figura 14: Vegetação do sub-bosque de grande parte das bancadas.

3.2 Paredões Rochosos

Os resultados obtidos através da colocação das redes de pesca e o plantio de trepadeiras


(cipós) cultivadas junto ao paredão rochoso, podem ser visualizados, em alguns pontos
dos paredões rochosos, através das imagens de 2014 (Figura 15) e, de 2017 (Figura16).

Figura 15: Cipós aderidos às redes de pesca, nos paredões rochosos da pedreira (Foto de
2014).

363
Figura 16: Cipós aderidos às redes de pesca, nos paredões rochosos da pedreira (Foto de
2017).

4. CONCLUSÕES
Até o momento, os objetivos vêm sendo atingidos em ambas as técnicas (A e B) de
restauração implantadas nas bancadas. Pois, as plantas se estabeleceram e estão se
desenvolvendo dentro da normalidade daquele ambiente, tanto que o ambiente formado
permitiu o desenvolvimento de um sub-bosque e, também a presença de fauna,
principalmente aves e insetos. No entanto, analisando-se em termos de custo energético,
a “técnica B” pode ser considerada a mais indicada por ser mais sustentável.
Quanto às redes de pesca descartadas pela atividade pesqueira da região, utilizadas nos
costões rochosos como auxílio para as trepadeiras se aderirem, considera-se uma
medida ambientalmente sustentável, pois foi dado um bom uso para algo considerado
“lixo”. No entanto, o uso dessa técnica deve ser avaliado por um período mais longo de
tempo.
Portanto, para o sucesso da restauração, além da escolha das espécies nativas mais
adequadas ao local, devem ser avaliadas as particularidades de cada ambiente a ser
recuperado para a implantação do método mais apropriado.

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Viçosa/MG. 268p. 2010.
RODRIGUES, E. Ecologia da Restauração. 1ª edição. Editora: Planta. Londrina/Pr.
300p. 2013.
THOMÉ, R. Manual de Direito Ambiental. Conforme Lei 12.727/2012. Editora Jus
Podivm. 3ª edição. 2013.
VELOSO, H.P.; RANGEL FILHO, A. L. R. R.; LIMA, J. C. A. Classificação da
vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. IBGE, Departamento de
Recursos Naturais e Estudos Ambientais, Rio de Janeiro, 1991. 12 4p.

CONTENÇÃO DE CARREAMENTO DE SEDIMENTOS POR MEIO DE


IMPLANTAÇÃO DE VEGETAÇÃO

R. O. Oliveira

RG Bioengenharia Ltda
Rua Marginal, 89 – Bairro Primavera I – Paracatu/MG - Brasil
[email protected]
Telefone: (38) 3672 4899

RESUMO

O trabalho apresentado tem como intuito descrever a implantação e manejo de


vegetação emergencial nas áreas afetadas pelo acidente do rompimento da Barragem de
Fundão, da empresa Samarco Mineração, em Mariana/MG, em novembro de 2015. O
acidente afetou mais de 400 km de extensão com a sobreposição da lama do rejeito de
mineração de ferro, o que alterou drasticamente os solos das margens dos Rios Gualaxo
e Carmo até a sua foz. O planejamento de recuperação ambiental das margens foi
composto por várias etapas, sendo uma delas a implantação de vegetação forrageira e
construção de mecanismos físicos como paliçadas e enrocamentos de trechos suscetíveis
à formação de processos erosivos. O trabalho apresenta as intervenções de maneira a
estabelecer a capacidade de substrato para dar suporte na formação de cobertura vegetal
sobre o rejeito da barragem. O trabalho apresenta três indicadores de qualidade para
implantações de futuras de florestas pré-existentes na região afetada: aspecto visual, ou
seja, cobertura total da área, densidade de plantas e diversidade de espécies por metro
quadrado. A finalidade é facilitar a tarefa de avaliação dos resultados da recuperação
ambiental nas áreas afetadas pelo acidente. Os indicadores adequados facilitam a
compreensão e a interpretação dos resultados da revegetação para diferentes categorias
de interessados, como: agentes públicos, técnicos especializados e comunidade em
geral. Os indicadores utilizados revelam-se eficazes para a avaliação pretendida, uma

365
vez que podem ser obtidos com procedimentos de baixo custo, demandam pouco tempo,
não requerem conhecimento especializado e representam satisfatoriamente o estado da
área vegetada. As áreas avaliadas foram Bicas e Paracatu. Os resultados apontam que a
cobertura vegetal obteve sucesso de fechamento em mais de 90% das áreas que
sofreram a intervenção da recuperação ambiental.

Palavras Chave: barragem de rejeito, recuperação ambiental, cobertura vegetal.

1 INTRODUÇÃO

Em 05 de Novembro de 2015 o país ficou estarrecido perante à maior tragédia


ambiental vivida na atualidade: o rompimento da Barragem de Fundão da mineradora
Samarco, em Mariana, Estado de Minas Gerais.
A Samarco Mineração que foi fundada em 1977, é uma empresa brasileira de
mineração, de capital fechado, controlada por dois acionistas: Vale S.A. e BHP Billiton.
O principal produto são pelotas de minério de ferro que transformam os minerais de
baixo teor em dois concentrados, instalados na unidade de Germano, localizada nas
cidades de Mariana e Ouro Preto, em Minas Gerais, que beneficiam o minério e
aumentam o seu teor de ferro, e três usinas de pelotização (que transformam o minério
em pelotas) na unidade de Ubu, no município de Anchieta, no Espírito Santo. As duas
unidades industriais são interligadas por três minerodutos, com quase 400 quilômetros
de extensão que transportam a polpa de minério de ferro entre os dois estados, passando
por 25 municípios.
O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados, de acordo com os indicadores
colocados, para melhor entendimento de todos os envolvidos e da comunidade em geral
no que se refere à recuperação ambiental desenvolvida e gerenciada pela RG
Bioengenharia & Soluções Ambientais, com base na legislação e normas ambientais
pertinentes à recuperação de áreas degradadas, por meio de semeadura manual,
aplicação de hidrossemeadura, construção de paliçadas e enrocamento.
O trabalho de campo foi iniciado em 17 de Fevereiro de 2016 na área de Bicas e
Paracatu.
A Resolução do CONAMA 001/86, conceitua impacto ambiental como sendo qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, afetando a
biota, as condições estéticas e a qualidade dos recursos ambientais. No entanto,as
margens que sofreram com a sobreposição da lama oriunda do rejeito da barragem
rompida é inapropriada ao estabelecimento de vegetais para formação de cobertura,
pois, se apresentou compactada, baixa capacidade de troca catiônica (CTC), baixas
concentrações de nutrientes. A visão sustentável deste trabalho foi de buscar condições
ambientais estáveis a serem desenvolvidas de acordo com a formação geomorfológica e
os valores estéticos e sociais da circunvizinhança. A vegetação imediata das áreas que
margeiam os cursos d’água afetados apresenta resultados que visem o controle de
processos erosivos, minimização da dispersão de poeira, redução do carreamento de
sedimentos e incorporação de matéria orgânica no solo, tornando essas práticas de
implantação e monitoramento em estudos inovadores, compatíveis com as
peculiaridades do local, tendo como base a Legislação Ambiental Brasileira pertinente.

366
2 MATERIAL E MÉTODOS

Para a execução das atividades utilizamos frentes de plantio com hidrossemeadura,


semeadura a lanço, construção de paliçadas e enrocamentos ao longo dos mais de 400
km de extensão das margens do Rio Doce até a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, que
fica entre os municípios de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado no Estado de Minas
Gerais.
Na sequência dos trabalhos foi realizado o coveamento das áreas com abertura de covas
de 10 x 10 cm, com profundidade entre 3 e 5 cm. Tal dimensionamento de tamanho se
deu para possibilitar a retenção e fixação dos insumos e sementes até a germinação de
todas as espécies.
O plantio do coquetel de sementes e fertilizantes foi feito através do jateamento por
equipamento de hidrossemeadura ou semeado manualmente. A escolha da utilização de

Proporção Mix
Nome vulgar Nome científico Classificação
(%)

cada técnica dependeu da área a ser trabalhada e possibilidades de acesso. Foram


utilizadas 15 (quinze) espécies, sendo 7 (sete) gramíneas e 8 (oito) leguminosas,
conforme especificações demonstradas na tabela abaixo.

Tabela 1: Mix de Sementes

367
Apaga Fogo Alternanthera tenella Leguminosa 10
Aveia Amarela – Aveia Avena spp. Gramínea 10
Preta
Azevém Lolium multiflorum Gramínea 5
Capim Custódio Pennisetum setosum Gramínea 10
Capim Vaqueiro Cynodon dactylon Gramínea 10
Chocalho de Cascavel Crotalaria spp. Leguminosa 5
Ervilhaça Vicia sativa Leguminosa 5
Estilosante Stylosanthes spp. Leguminosa 10
Feijão Guandu Cajanus cajan Leguminosa 7
Feijão de Porco Canavalia ensiformis Leguminosa 5
Grama Batatais Paspalum notatum Gramínea 15
Milheto Pennisetum glaucum Gramínea 20
Nabo Forrageiro Raphanus sativus Leguminosa 10
Soja Perene Glicyne wightii Leguminosa 3
Sorgo Forrageiro Sorghum bicolor Gramínea 3
TOTAL DE MIX UTILIZADO NO PLANTIO 330 KG/HA

Tabela 2: Fertilizante NPK

Adubos Descrição Qtde/ha

Plantio 4 30 10 220

Cobertura 20 0 25 150
Para
construção das paliçadas foram utilizadas as árvores tombadas que estavam no local do
acidente, buscando o aproveitamento do material para contenção e estabilização de
focos erosivos no decorrer do trecho.

Foto 1 - Paliçadas Foto 2 - Paliçadas

368
Os enrocamentos foram realizados com pedras calcárias para conter o transporte e os
processos erosivos junto à calha do curso d´água de modo a evitar o desbarrancamento
das margens.

Foto 3 - Enrocamento Foto 4 -


Enrocamento

Em toda área de plantio foram realizadas adubações de cobertura conforme consta na


Tabela 2.
O método usado para a determinação da diversidade de espécies refere-se à variedade
de espécies de organismos vivos de uma determinada comunidade ou região e, no caso
deste trabalho, nos locais denominados Fazenda PHC Bicas e Paracatu. A diversidade
de espécies é um aspecto muito favorável à ecologia local e, para análise, as espécies
foram contadas no quadrante de 1 m2. Para a formação do quadrante utilizamos a
marcação com a fixação de 4 estacas de madeira com distanciamento de 1m entre elas
formando um quadrado, ou seja, 1 m2.
Para o parâmetro analítico foi utilizado o Índice de Margalef ,1956 que tem a seguinte
expressão: I=[(n-1)]/ln N, onde I é a diversidade, n é o número de espécies presentes
e N é o número total de indivíduos encontrados (pertencentes a todas as espécies). A
notação ln denota o logaritmo do número.
Segundo Margalef, os valores inferiores a 2,0 são considerados como áreas de baixa
diversidade e valores superiores a 5,0 são considerados como indicador de grande
biodiversidade.

Foto 5 - Medições de Quadrante germinação Foto 6 - Medições de


quadrante plantas adultas

369
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O trabalho foi desenvolvido nas áreas de Bicas e Paracatu.

3.1 Área de Bicas

A área de Bicas apresentou fechamento maior que 85% de cobertura vegetal a olhos
nus. Os resultados dessa área foram bastante promissores a nível de cobertura vegetal
pois a lama tinha baixíssima concentração e disponibilidade de nutrientes necessários
para a fisiologia vegetal manter a planta e seu ciclo de geração de descendentes através
de suas sementes, como mostram as fotos 7, 8, 9, 10, 11 e 12.

Foto 7 – Plantio Bicas: 16/02/2016 Foto 8 – Monitoramento Bicas:


18/01/2017

Foto 9 – Foto Panorâmica da praia formada pelo rejeito: 21/02/2016

370
Foto 10 – Cobertura vegetal da praia: 02/02/2017 Foto 11 – Fechamento
parcial da área

Foto 12 - Área ajusante da PCH Bicas: Foto 13 – Cobertura


Total: 02/02/2017
21/02/2016

Para a análise quantitativa das espécies podemos afirmar que a ocupação dos indivíduos
se dá de acordo com o comportamento ecológico de cada espécie como, por exemplo, as
espécies de aveias, azevém e milheto, que são gramíneas que geram maior biomassa e
proporcionam a melhorias como: aeração do solo, incorporação de matéria orgânica e
aumento na fertilidade propriamente dita com a decomposição de sua biomassa.
Ao relacionar a quantidade de 0,03 gramas de sementes por m2 chegaremos ao total de
330 kg por hectare demostrado na Tabela 01. Comparando com os dados do Gráfico 01
mostra que a média de cobertura vegetal da área de Bicas foi de 45 plantas adultas por
m2, o que demonstra um número bastante expressivo segundo Scalea 1998, Maciel e
Tabosa 1982 e Pitol et al 1997, que preconizam a quantidade de 15 plantas adultas de
gramíneas como formação ideal para pastagens e cultivo para produção de sementes
para comercialização e plantio. Vale salientar que Scalea 1998, relata que a quantidade
de plantas adultas é para plantio em áreas produtivas em grãos, não para áreas em
recuperação ambiental que, no caso, compomos o mix de acordo com as características
de limitações físicas, químicas e biológicas que a área demonstro desde a identificação
do impacto. Por sua vez as sementes do mix promovem uma competitividade entre as
diferentes espécies determinando a dominância de ocupação de espaço por maior
número de indivíduos. Neste trabalho a espécie que mais se mostrou dominante foi o
Estilosante, que é leguminosa e auxilia na fixação de nitrogênio, além de ser nativa do
continente americano. O Apaga fogo e o Capim Custódio também se mostraram
bastante expressivos pois os dois foram incorporados ao mix buscando a inclusão de
espécies nativas para o plantio e juntos somaram 14 plantas adultas gerando sementes
após 1 anos de plantio.

371
Para o índice de diversidade usamos a equação de Margalef 1956.

S–1 15 – 1 14
D = _________ D = ________ D = _______ D = 8,23
Log N Log 51 1,70

Para análise da diversidade o 8,23 é um número considerado de alta diversidade apesar


de estarmos tratando de espécies para produção em grande escala e não nativas. Essa
diversidade favorece, e muito, por trazer condições edáficas para a fertilidade do solo
podendo ser fortemente usado como substrato para propágulos de espécies nativa
melhorando assim o acondicionamento para as plantas arbóreas nativas que serão
plantadas pela Samarco posteriormente.

Gráfico 1: Número de espécies por M2

3.2 Área de Paracatu

372
Foto 14 – Formação da praia de lama Foto 15 – Formação de
cobertura vegetal
01/03/2016 02/02/2017

Foto 16 – Conformação das margens Foto 17 – Cobertura


vegetal da área
01/03/2016 02/02/2017

Foto 18 – Margem totalmente assoreada Foto 19 - Formação de


Cobertura vegetal

Como na área de Bicas, a área de Paracatu teve o maior desenvolvimento por parte das
leguminosas que mostraram dominância em quantidades de indivíduos por m2, como as
espécies de Feijão Guandu, Estilosante e Crotalárias. Entretanto também tivemos menor
mortalidade de espécies no caso de Paracatu somente de duas espécies: Aveias e
Azevém. Temos que afirmar que a geração de sementes nestas plantas adultas é de total
importância para o ciclo biológico do vegetal e para a formação da microbiologia do
solo que está em processo de reconstrução, principalmente da formação de uma

373
superfície edaficamente equilibrada para poder receber as espécies arbóreas que darão
continuidade ao processo de recuperação ambiental das áreas atingidas pela lama de
rejeito.
A espécies consideradas nativas como Estilosante, Grama Batatais, Apaga Fogo e o
Capim Custódio tiveram expressivas evidências de dominância, principalmente pela
forração do solo, com poucas falhas de cobertura vegetal.
A área de Paracatu tem 93% de cobertura vegetal implantada como medida de
contenção de sedimentos por meio de vegetação com gramíneas e leguminosas. A
diversidade de espécie também foi bastante favorável mostrando que a inclusão de
espécies de nativas forrageiras é muito favorável para a recuperação ambiental dos
locais atingidos.
Para o índice de diversidade usamos a equação de Margalef 1956.

S–1 15 – 1 14
D = _________ D = ________ D = _______ D = 7,40
Log N Log 79 1,89

Os números mostrados pela equação, indicam alta diversidade, mais uma vez,
favorecendo a formação de camada fértil devido a matéria orgânica advinda da
biomassa das plantas introduzidas na recuperação ambiental da área do acidente.

374
Gráfico 2: Densidade de Plantas por M2

Também será necessário o acompanhamento para novos levantamentos de dados, tais


como: estudos relacionados à microbiologia do solo, fertilidade, dominância de espécie,
introdução de espécies nativas e elaboração de um planejamento de paisagens.
Precisamos buscar continuamente resultados que possam servir de discussões técnicas
sobre o assunto pois vivemos em um país que tem a mineração como um dos principais
setores da economia. O desenvolvimento de técnicas e práticas sustentáveis de
intervenção é o caminho a ser seguido.
A grande preocupação será o desenvolvimento e monitoramento dessas áreas de agora
por diante. A Samarco está fazendo várias ações simultâneas para a recuperação mas
também temos a carência de referência para recuperação ambiental de toda a área
afetada.

4 CONCLUSÃO

Todas as áreas de plantio e replantio somaram 494,2293 hectares.


Os plantios foram realizados nas áreas que sofreram influência do rejeito da Barragem
de Fundão que apresentam características físicas, químicas e biológicas distintas, e
encontram-se em diferentes graus de degradação. Para isso usamos técnicas de retenção
de sedimentos como as paliçadas em trecho com formação de processos erosivos nas
áreas de PCH Bicas e Paracatu. As paliçadas se mostraram bastante eficientes na
retenção de sedimentos nas áreas que foram implantadas. É preciso manter a atenção

375
principalmente com acesso de bovinos e equinos, conservando o cercamento das áreas
plantadas, assegurando e garantindo o sucesso germinativo e desenvolvimento foliares
das espécies.
As técnicas de plantio foram realizadas de acordo com as condições que o local
apresentava, sendo que, na maioria das áreas foi realizado o coveamento manual e a
semeadura a lanço, onde obtivemos resultados maiores de 90 % de germinação e cerca
de 89% de pega e desenvolvimento aéreo, ou seja, da parte foliar das espécies.
As áreas afetadas pelo rejeito apresentam características físicas, químicas e biológicas
bem peculiares e heterogêneas, e encontram-se em diferentes graus de degradação. Por
este motivo a taxa de germinação foi comprometida em algumas áreas e o
desenvolvimento do plantio variou ao longo do trecho revegetado.
Nas áreas onde houveram conformação do solo, escarificação do rejeito e
consequentemente mistura com o solo, observou-se maiores efeitos positivos quanto à
germinação e melhor qualidade do plantio. De acordo dom Raij (1981), o manejo é
essencial para qualidade e efetividade do plantio em relação à sua produção de
cobertura vegetal e sementes.
Dentre as diversas funções da cobertura vegetal implantada estão a fixação de elementos
essenciais como macro e micronutrientes no solo, geração de matéria orgânica e
formação de camadas edáficas para suporte da geração descendente das espécies
plantadas, além da proteção do solo contra o impacto das chuvas que promove o efeito
splash¸ o qual desagrega as partículas do solo, deixando-as mais soltas favorecendo
etapas posteriores do processo erosivo.
Vale salientar que é de extrema importância a realização de intervenções de melhoria,
ou seja, a manutenção destas áreas com adubação complementares necessária em cada
local, plantio de enriquecimento em áreas falhas, para melhor homogeneizar o substrato
em relação à fertilidade.
A implantação do projeto de plantio definitivo tem como pré-requisito a formação da
cobertura vegetal por gramíneas e leguminosas, que permitirão a dinâmica edáfica das
áreas para a sucessão das espécies nativas que serão implantadas e irão dinamizar a
ecologia das áreas plantadas e adjacências.
É de suma importância que se faça um mapa de fertilidade das áreas plantadas para
poder mensurar, qualificar e manejar as futuras ações tomadas para o sucesso do plantio
definitivo. Com isso pode se ter dados quantitativos para classificar o status de cada
área, a fim de propor ações planejadas, emergenciais e corretivas que sejam necessárias
para o trato da recuperação ambiental das áreas atingidas pelo acidente.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRA, Alfredo Gui; BORGHETTI, Fabian. Germinação: do básico ao


aplicado. Porto Alegre: Artmed, 2004.
RAIJ, Bernardo Van. Avaliação da fertilidade do solo. Piracicaba: Instituto da
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VALE, E. Fechamento de Minas. In: I JORNADA IBEROAMERICANA SOBRE
CIERRE DE MINAS, 2000, Espanha.
LA SCALEA, MA. 1998. Comportamento voltamétrico e mecanismo de ação biológica
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MARGALEF, R. (1956) Información y diversidad especifica en las comunidades de
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MARGALEF, R. (1963) On certain unifying principles in ecology. Am. Nat., 97: 357-
374 Margalef, R. (1991) Teoría de los Sistemas Ecológicos. Universitat de Barcelona
Editora: Barcelona

DESAFIOS NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NA


MINA CANA BRAVA EM MINAÇU/GO

L.D. Braga; R. O. Oliveira

Sama Minerações Associadas; RG Bioengenharia Ltda


Rua Marginal, 89 – Bairro Primavera I – Paracatu/MG - Brasil
[email protected]
Telefone: (38) 3672 4899

RESUMO

A Sama Minerações Associadas tem sua planta minero-metalúrgica instalada no


município de Minaçu/GO, a cerca de 3 km da área urbana, o que traz um impacto visual
muito grande. Uma das premissas gerenciais da Sama é a responsabilidade
socioambiental. Diante deste fato o programa de recuperação de áreas degradadas é um
dos passivos mais visados e monitorados por seus stakeholders. A formação de
cobertura vegetal não é tarefa fácil, principalmente em ambientes que apresentam solos
com baixa fertilidade e com falta ou pouca distribuição de elementos essenciais para o
desenvolvimento de espécies vegetais. Somado a estes fatores, o plantio é realizado em
áreas com inclinações maiores que 30º e com extensões superiores a 8 metros de altura,
sendo estes os taludes que formam as várias bancadas das pilhas de estéril e rejeito da
unidade. Os solos da região são classificados como solo residuais de rochas ultramáficas
e possuem vários fatores limitantes para a implantação de cobertura vegetal,

377
principalmente pela abundância de elementos como Fe, Al e Ni. A fim de desenvolver
técnicas e métodos que demostrem eficiência para a formação da cobertura vegetal,
foram realizados 4 testes com diferentes composições de sementes, insumos agrícolas e
preparo do solo para o plantio de herbáceas e forrageiras, que foram de suma
importância para a escolha e efetivação de procedimentos para recuperação de áreas
degradadas e gestão de paisagens aplicadas às pilhas de estéril e rejeito da mina Cana
Brava e que, além de assegurar o controle dos processos erosivos, agregará fatores
estéticos, geotécnicos e de segurança ambiental a operação da empresa. Neste sentido,
encontramos variações de desenvolvimento vegetal e melhoria na qualidade dos solos
em todos os testes, além dos mesmos promoverem economia operacional da construção
e intervenções nas pilhas, no entanto, teremos fatores limitantes para cada um como
mostrará o trabalho.

Palavras Chave: mina cana brava, pilhas de estéril e rejeito, recuperação de áreas
degradadas

1 INTRODUÇÃO

O gerenciamento de projetos relacionados aos aspectos de passivos ambientais em


empreendimentos de mineração, se torna cada dia mais presente, criterioso e avaliado
por todos os stakeholders.
A SAMA S.A. – Minerações Associadas é uma mineradora de sociedade anônima,
100% brasileira e de capital fechado. Localizada em Minaçu /GO, a 510 km da Capital,
Goiânia, e a 1.460 quilômetros de São Paulo/SP, onde mantém um escritório para
atividades administrativas e comerciais é a única mineradora a desenvolver a extração
da fibra mineral Crisotila em todo o território nacional e está entre as três maiores
produtoras mundiais de amianto Crisotila. Atualmente, produz cerca de 13% de toda a
fibra comercializada no mundo e utiliza o que há de mais moderno em tecnologia da
informação, beneficiamento e comercialização de amianto Crisotila, sendo um exemplo
que serve como padrão de desenvolvimento sustentável para mineradoras do Brasil e do
exterior.
Na busca da melhoria contínua a empresa tem como um dos focos o desenvolvimento
sustentável das paisagens em torno do seu empreendimento, principalmente, nas pilhas
de estéril, rejeito e cavas que são visualmente impactantes. A maior premissa da
empresa é condicionar e recuperar seus passivos de acordo com a paisagem
remanescente que circunda toda a extensão do empreendimento. Por isso tem
desenvolvido estudos para melhorar suas práticas de recuperação de áreas degradadas
cumprindo normas e legislações específicas de seus passivos sociais e ambientais de
forma contínua e eficaz. O Plano de Recuperação de Áreas Degradadas da Mina Cana
Brava, revisado pela empresa Pimenta de Ávila em 2014/2015, estabelece algumas
indicações de estudos para melhorar as etapas de aplicações de insumos e sementes para
maior sucesso da cobertura vegetal dos maciços que são pilhas de estéril e rejeito
378
recobertas com solos depauperados, ou seja, material de subsolo e que apresentam
variadas composições químicas.
As práticas de controle e monitoramento ambientais são as implantações de vegetações
nas pilhas de estéril e rejeito que fazem parte do rol de procedimentos praticados na
gestão dos passivos gerados pela operação da planta minero – industrial, com a
formação de grandes maciços de material inerte, sem valor para atividade, ou seja, o
rejeito da mineração de amianto. Após a formação dos maciços os mesmos são
recobertos por solos da região, oriundos de decapeamentos de áreas abertas para
exploração mineral, e logo após é realizado o plantio de herbáceas forrageiras com
posterior introdução de arbóreas nativas. Os solos da região são oriundos de rochas
máficas e ultramáficas com elevadas concentrações de elementos como Fe, Ni e Al
característicos da região do cerrado brasileiro que, por sua vez, é o segundo maior
bioma do território brasileiro e um dos hot points de conservação ambiental de acordo
com Mittermeier 2005. De acordo com Baker, 1981 as relações físico – químicas de
mobilização, absorção e disponibilização dos metais Al e Ni nestes solos promovem
efeitos diversos nos vegetais como: raquitismos, amarelamento, queda das folhas,
apodrecimento das raízes e morte de plântulas germinadas. Em geral escolhemos
vegetais de maior tolerância a esses minerais, chamadas de metalófitas que são um
grupo de plantas que crescem sobre solos com elevados teores de metais e que, portanto,
apresentam mecanismos para resistir às altas concentrações de elementos químicos
presentes ou acumulados em seus tecidos. Devido a essas características os vegetais
introduzidos apresentam alto potencial para serem utilizadas na recomposição de áreas
mineradas, principalmente na etapa final da implantação da vegetação das bancas. Para
melhor análise realizamos testes nas pilhas A e B, onde encontramos diversas
dificuldades na germinação e aporte nutricional para o desenvolvimento e formação de
cobertura vegetal no maciço. O conhecimento gerado a partir da implantação de
técnicas sequenciadas de plantios de herbáceas forrageiras trouxe subsídios para definir
as melhores estratégias para a reabilitação e recuperação da biodiversidade vegetal, o
melhoramento de espécies agronômicas adaptadas a solos ricos em Al e Ni para fins de
fito-remediação/fito-extração destes metais, levando ao equilíbrio na preservação e
conservação da biota remanescente.
Como objetivo desse trabalho, buscou-se desenvolver a melhor estratégia técnica em
eficácia e eficiência na recuperação e reabilitação de áreas degradadas para a formação
de cobertura vegetal, diminuindo o impacto visual da Mina de Cana Brava e
potencializando a economia para o empreendimento.
2 MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento dos trabalhos foi realizado inicialmente a divisão entre quatro
testes nomeados 1T, 2T, 3T e 4T que possibilitaram avaliar diferentes tratamentos,
conforme ilustração abaixo (fig. 01).

379
Figura 1 - Layout das pilhas A e B com a localização dos diferentes testes aplicados

Para os referidos testes foram selecionados os solos de cobertura mais férteis das áreas
de decapeamento onde a mina irá desenvolver e se fez necessário a limpeza das áreas.
Para selecioná-los foram realizadas análises de fertilidade. Esses esforços serão muito
importantes para ver a influência do material de cobertura de maior fertilidade edáfica
para suporte ao estabelecimento de plantas na superfície dos taludes.
Para melhor garantir a fixação das sementes e insumos até a germinação nas pilhas de
estéril e rejeito foram executados dois tipos de preparo de solo, coveamento (fig. 02) ou
microcanaletas em nível ao longo de todos os taludes(fig. 03), para a recepção das
sementes aplicadas por hidrossemeadura.

Figura 2 - Ilustração esquemática do coveamento e imagem de campo

380
Figura 3 - Ilustração esquemática da microcanaleta e imagem de campo.

A relação de sementes escolhidas foram espécies (tab. 1) que apresentam condições


fisiológicas, através de produção de sementes gerando descendentes férteis em um
ambiente limitante como os taludes trabalhados de acordo com a recomendação do
Plano de Recuperação de Áreas Degradadas de 2014/2015.

Tabela 1 - Relação de Mix de Sementes

Sementes utilizadas no plantio


Nome Popular Nome Científico
Braquiarão Brachiaria brizantha
Capim Agulha Brachiaria humidicula
Apaga fogo Alternanthera ficoidea
Capim Custodio Pennisetum setosum
Crotalaria ocholeuca Crotalaria ochroleuca
Crotalaria Crotalaria spectabilis
Estilosante Stylosantes guianensis
Feijão Guandu Cajanus cajan
Milheto Pennisetum glaucum
Mucuna Preta Mucuna afferina
Nabo Forrageiro Raphanus sativus

As aplicações de hidrossemeadura foram realizadas com 3 composições diferentes para


cada teste como pode se ver na Tabela 2.

Tabela 2 – Quantidade de insumos e sementes para o plantio

Aplicações de Hidrossemeadura Plantio


Tipos A1 A2 A3

381
Q/ha Q/ha Q/ha
N.P.K 6 -30 -6 300 kg 400 kg 500 kg
Mulch/Celulose 2.000 kg 3.200 kg 4.500 kg
Sementes 250 kg 350 kg 410 kg
Adesivo 50 litros 70 litros 90 litros
Gesso CaSO4 1.800 kg
Calcário Dolomítico CaCO3 1.800 kg 1.800 kg
Fosfato Decantado Ca3PO4 2.500 kg 2.500 kg

Para a melhor avaliação dos plantios foram acrescidas gradualmente as concentrações


de fontes fosfatadas PO4 e sementes, para determinar a influência nos resultados nos
quesitos germinação, desenvolvimento aéreo e desenvolvimento radicular das herbáceas
introduzidas no plantio. A utilização do fosfato otimiza as funções fisiológicas da
germinação de mitose, meiose e no crescimento vegetal. Já o acréscimo na quantidade
de sementes visou possibilitar um maior número de plântulas germinadas.
A utilização de adubações complementares aos plantios é necessária para o bom
desenvolvimento vegetal até o florescimento e até que a reprodução seja efetivada pela
emissão de sementes; as adubações de cobertura/manutenção também tiveram variação
de concentração de insumos e sementes R1, R2 e R3 (tab. 3 e 4).

Tabela 3 – Quantidades de insumos e sementes de cobertura e manutenção

Repasse e Cobertura
R1 R2 R3
Q/ha Q/ha Q/ha
N.P.K 6 -30 -6 N.P.K 6 -30 -6 150 N.P.K 6 -30 -6
100 kg kg 200 kg
Mulch/Celulose Mulch/Celulose 1.700 Mulch/Celulose
1.000 kg kg 2.500 kg
Sementes 150 Sementes 220 Sementes 310
kg kg kg
Adesivo 50 Adesivo 70 Adesivo 90
litros litros litros
N.P.K 20-0-20 N.P.K 20-0-20 N.P.K 20-0-20
200kg 250kg 250kg

Tabela 4 – Detalhamento do preparo de solo e aplicações de plantio e cobertura de


manutenção por teste

382
Preparo de Solo e Aplicações por testes
Área 1T 2T 3T 4T
Método Preparo de Microcanaleta Microcanaleta Coveamento 10cm Coveamento 10cm
Soloda Área
Tamanho 2,711 4,18 x 2,673
10cm - x3,622
10cm
Hidrossemeadura A3 A2 A1 A2
Repasse / Cobertura R3 R1 R3 R2

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados apresentados neste trabalho demonstram a quantificação de todos os


insumos e sementes utilizados para a realização dos testes de recuperação de áreas
degradadas do ano 2015/2016. Vale salientar que o estudo trouxe melhoria dos
resultados que evidenciam que a fertilidade é um fator limitante para a formação de
cobertura vegetal nas pilhas de estéril e rejeito da Mina de Cana Brava.
Nas tabelas abaixo foram relatados os quantitativos aplicados por área.

Tabela 5 – Quantidade aplicada por área.

Insumos Agrícolas

Área de Teste 1T 2T 3T 4T

Corretivos Agrícolas Fosfato decantado Fosfato decantado Gesso Fosfato decantado

Quantitativos em toneladas 6,78 10,45 6,67 9,05

Corretivos Agrícolas Calcário Calcário - Calcário Dolomítico


Dolomítico Dolomítico

Quantitativos em toneladas 4,87 7,52 - 6,51

Tabela 6 – Tipos de Insumos e aplicações empregadas por teste.

Aplicação de Cobertura e Manutenção

Testes 1T 2T 3T 4T

Adubo NPK 6 30 6 1.355 1.672 801 1.448


(kg)

383
Mulch/Celulose (kg) 12.199 13.376 5.340 11.584

Adesivos (litros) 244 295 135 254

Sementes(kg) 1.112 1.463 668 1.268

Adubo NPK 20 0 20 677,75 1.045 534,6 905,5


(kg)

Para melhor avaliar os cenários dos testes foi elaborado uma tabela (tab. 7) com as
porcentagens de áreas cobertas por vegetações incorporadas no plantio por
hidrossemeadura por área/teste. O método utilizado para a quantificação da cobertura
vegetal foi o método visual.

Tabela 7 – Resultados de cobertura por teste

Área/Teste Cobertura Vegetal

1T 100 %

2T 75 %

3T 90 %

4T 85 %

O teste 1T apresentou ótimos resultados de germinação e desenvolvimento das espécies.


A composição de plantio aplicada foi A3 e a composição de cobertura/manutenção R3.
Cerca de 2 meses após o plantio houve o fechamento total da área (fig. 04 e 05) e após
cobertura tivemos maior evidência da floração (fig. 06) e emissão de sementes com alto
valor cultural. O teste 1T também apresentou a melhor avaliação do crescimento aéreo
e radicular (fig. 07) das espécies implantadas nas áreas de teste como ilustra a imagem
abaixo.

384
Foto 1 - Fechamento total da área após 2 Foto 2 - Fechamento da área
meses

Foto 3 - Floração com diversidade de Foto 4 - Desenvolvimento radicular


espécies

O teste 2T não apresentou um bom sucesso de plantio, pois o fechamento da área foi
comprometido pela qualidade do solo de cobertura. A composição do solo desta área
foi bastante heterogênea, com grande presença de saprólito e esta heterogeneidade
influenciou na germinação e dominância das espécies, tendo os solos similares a
saprólitos pouca fertilidade. As falhas de germinação se mostraram por todo talude com
alta mortalidade das plântulas germinadas e a morte das que proliferaram com
características de amarelamento (fig. 08) das pontas e bordas das folhas, apodrecimento
de raízes e queima das folhas (fig. 09).
Os sintomas de amarelamento indicam carência e falta de nutrição mineral demostrando
que os vegetais não estão tendo absorção dos elementos essenciais para fisiologia. A
relação solo/planta é o principal foco do estudo, ou seja, a falta de fertilidade é o que
precisa ser sanado. Para a área de teste 2T foi aplicada a composição de plantio A2 e a
cobertura/manutenção R1.

Foto 5 - Falhas na germinação Foto 6 - Amarelamento das plantas em


partes dos taludes

O teste 3T apresentou bons resultados, porém o solo de cobertura era composto por
argila e bem estruturado agronomicamente quando aplicado a técnica antiga somente

385
com gesso agrícola CaSO4. O resultado positivo no fechamento na área (fig. 10), foi
testemunha dos plantios antigos onde foi aplicado a composição A1 e a manutenção R3.
Este teste teve um resultado bastante positivo para todo o processo de estudo e
investigação dos solos de cobertura das pilhas, pois foi constatado que a qualidade do
solo de cobertura é fundamental para o sucesso da implantação do vegetal nessas pilhas
que mostram o diferencial entre um material mais grosseiro similar ao saprólitos como
no caso da 2T que demostrou várias deficiências na formação de cobertura vegetal.

Foto 7 - Homogenidade na cobertura da Foto 8 - Período de seca


área

A área 4T tem sua formação com solos de cobertura bastante heterogêneos e no


primeiro momento, não houve uma boa germinação e pega das espécies (fig. 12).
Entretanto, com a adubação de manutenção R2 as sementes remanescentes do primeiro
plantio germinaram e as sementes da nova aplicação complementaram o fechamento de
toda a área do teste, ficando somente cerca de 15% da área com falhas que também
germinaram, mas com resultados divergentes dos outros testes (fig. 14 e 15).

Foto 9 - Presença de falhas no plantio. Foto 10 - Germinação > que 70% na área.

386
Foto 11 - Fechamento da área após aplicação Foto 12 - Desenvolvimento radicular
R2

Os testes apresentaram sucesso na formação de cobertura vegetal, influenciados pelo


tipo de solo de cobertura utilizado e a composição de insumos e sementes aplicados.
Vale salientar que a adubação de cobertura somada à complementação de fontes
fosfatadas para os plantios resultou em um efeito considerável para o fechamento das
áreas garantindo que as sementes plantadas gerassem descendentes férteis para as áreas
com ciclos de vida de cada espécie. As espécies que podemos destacar para o plantio
foram o Apaga Fogo (Alternanthera ficoidea), Milheto (Pennisetum glaucum) e
Crotalária (Crotalaria spectabilis) que garantiram o fechamento e a reposição de
matéria orgânica nos solos das pilhas, permitindo melhor suporte para renovação cíclica
das espécies.
A maior evidência do sucesso do plantio são os enraizamentos que chegaram a
profundidades > 20 cm de geotropismo positivo, produzindo toda uma camada edáfica
composta de nutrientes e matéria orgânica capaz de limitar a ação dos metais em
abundancia como Fe, Ni e Al.

Tabela 8 – Comparação de crescimento radicular das espécies plantadas e sua


diversidade de estabilização como cobertura das pilhas de estéril.

Área/Teste Tamanho das raízes Tamanho Aéreo

1T 10 – 30 cm 10 -160 cm

2T 5 – 12 cm 10 – 60 cm

3T 8 – 15 cm 10 – 120 cm

4T 5 – 18 cm 10 -40 cm

387
As áreas teste que melhor responderam aos plantios foram: 1T e 4T pois apresentaram
maior variedades de espécies germinadas e estabelecidas. A 3T obteve excelente
resultados mas houve a baixa diversidade de espécies que merece a atenção para os
futuros ciclos de sementes e descendentes. Se for necessário deverá se realizar
manutenções no plantio como enriquecimento de sementes e insumos para garantir a
maior cobertura vegetal dos taludes.
A maior evidencia de melhoria do processo foi em relação aos solos de cobertura, com
melhor qualidade de nutrientes e matéria orgânica, oriundo de decapeamento que
possibilitou o fechamento vegetal das aéreas, promovendo a estabilidade superficial dos
taludes.
A associação fosfato decantado Ca3PO4 e o calcário dolomítico CaCO3 demostrou ser
consideravelmente mais eficiente em relação a correção, do que a área que recebeu
somente gesso CaSO4, pois a diversidade de espécies mostra que o solo se tornou mais
propicio ao recebimento de sementes e novos plantios.

4 CONCLUSÃO

O trabalho foi de suma importância para entendermos melhor o manejo e aplicação de


técnicas adequadas para os plantios de formação de cobertura vegetal para as pilhas de
estéril e rejeito da Mina Cana Brava, em Minaçu-GO.
A definição de solos mais férteis como cobertura foi bastante evidente nos resultados
amostrados pois consolida que as práticas de pesquisa são ferramentas que ajudam a
melhorar o processo de forma constante.
Com os resultados apresentados neste trabalho foi possível concluir que as melhores
técnicas de preparação do solo a serem usadas na empresa para vegetação de taludes são
o coveamento com espaçamentos 10cm x 10cm, aplicação de composição A3 e a
manutenção R3 que foi realizada na área 1T.
As práticas de análises de solo nas áreas de plantio terão que ser constantes, anuais, com
manutenções um ano após o plantio para melhor desenvolver as espécies com o uso de
fontes fosfatadas e nitrogenadas. O fosfato decantado associado ao calcário dolomítico
foram os insumos de maior sucesso pois garantiram fonte fosfatada na área de plantio.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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heavy metals,1981.
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fitossociologia de um remanescente de vegetação caducifólia espinhosa arbórea em
Caruaru, Pernambuco. Acta Botânica Brasílica, v.17, n.2, 2003, p.287-303.
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BIODIVERSIDADE NO CERRADO. 98, 2009.

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ANDRADE, Leide Rovênia Miranda de. Relações entre os metais e a biodiversidade no
Cerrado: ferramentas para a conservação ambiental e a recuperação de áreas
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A BIODIVERSIDADE NO CERRADO. 226, 2013.
ANDRADE, Leide Rovênia Miranda de. Relações entre os metais e a biodiversidade no
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microbial biomass in the Autralian Seasonal Tropics. Restoration Ecology, v.5, n.2,
1997, p.109-14.
ART, H.W. (ed.). Dicionário de ecologia e ciências ambientais. São Paulo:
UNESP/Melhoramentos. 2001. 583.
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Agrophytos Solo SAAT. Viçosa, 2013.
CORREA, Rodrigo Studart. Recuperação de Áreas Degradadas pela Mineração no
Cerrado: Manual para revegetação. Brasília: Universa, 2009.

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE ESPÉCIES NATIVAS FRUTÍFERAS PARA


RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Wanderson Cleiton Schmidt Cavalheiro1; Marta Silvana Volpato Scooti1; Jhony


Vendrusculo1 Gilderlon dos Santos Soares1

Universidade Federal de Rondônia, Av. Norte Sul, 7300 – Nova Morada, Rolim de
Moura – RO, 78987-000, [email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]

RESUMO

Objetivou-se neste trabalho caracterizar os padrões de ocorrência de espécies nativas


frutíferas como ferramenta para identificar o potencial de uso das mesmas em
programas de recuperação de áreas degradadas no estado de Rondônia. O trabalho foi
realizado na reserva Biológica do Guaporé, com base em levantamento florístico e
fitossociológico em área conservada. Os dados foram obtidos em 10 parcelas
permanentes de 2500 m2, identificando-se as espécies e analisando-se a estrutura
horizontal, vertical (inferior (h < 9 m), médio (9,1 m ≤ h < 19 m), superior (h ≥ 19,1 m)
e grupo ecológico (pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias e climax) dos
indivíduos com diâmetro á altura do peito ≥ 10,0 cm. Posteriormente, selecionaram-se
espécies frutíferas de maior valor de importância observadas na estrutura da floresta
(Theobroma speciosum, Protium robustum, Euterpe precatoria, Inga striata e
Theobroma subincanum). As espécies T. speciosum, distribuída nos estratos inferior e
médio e P. robustum, distribuída em todos os estratos, foram classificadas como

389
secundárias tardias, apresentando VI de 3,85 e 3,67%. A espécie E. precatoria
caracterizada como pioneira ocorreu distribuída em todos os estratos e apresentou VI de
1,57%. O I. striata é classificado como secundária inicial, esteve presente nos dois
primeiros estrados, o VI foi de 1,24%, por fim a espécie T. subincanum classificada
como clímax ocorreu distribuída nos dois primeiros estratos com VI de 1,04%. As
espécies apresentam potencial para recuperação de áreas degradadas, salienta-se ainda a
importância do uso desses grupos de espécies, uma vez que elas atraem agentes
dispersores que possam auxiliar no avanço dos processos de sucessão na área a ser
recuperada.

Palavras Chave: Fitossociologia; Restauração florestal; Conservação. Floresta


Ombrófila Aberta

EVALUATION OF THE POTENTIAL OF NATIVE FRUIT SPECIES FOR


RECOVERY OF DEGRADED AREAS

Abstract

The objective of this work was to characterize the patterns of occurrence of native fruit
species as a tool to identify the potential for their use in recovery programs in degraded
areas in the state of Rondônia. The work was carried out in the Guaporé Biological
Reserve, based on a floristic and phytosociological survey in a conserved area. The data
were obtained in 10 permanent plots of 2500 m2, identifying the species and analyzing
the horizontal, vertical structure (lower (h < 9 m), medium (9,1 m ≤ h < 19 m), upper (h
≥ 19,1 m)), and ecological group (pioneers, early secondary, late secondary and climax)
of individuals with breast height diameter ≥ 10.0 cm. Subsequently, fruit species with
the highest value of importance were selected from the forest structure (Theobroma
speciosum, Protium robustum, Euterpe precatoria, Inga striata and Theobroma
subincanum). The species T. speciosum, distributed in the lower and middle strata and
P. robustum, distributed in all strata, were classified as late secondary, presenting VI of
3,85 and 3,67%. The E. precatoria species characterized as pioneer occurred in all strata
and presented VI of 1,57%. The I. striata was classified as secondary, was present in the
first two stages, the VI was 1,24%, finally the species T. subincanum classified as
climax occurred distributed in the first two strata with VI of 1,04%. The species present
potential for recovery of degraded areas, it is also important to use these groups of
species, since they attract dispersing agents that can aid in the progression of the
succession processes in the area to be recovered.

Keywords: Phytosociology; Forest restoration; Conservation. Open Ombrophilous


Forest

Introdução

O planejamento para a recuperação de áreas degradadas envolvem diversas


informações preliminares, visando à adoção das técnicas de manejo mais eficazes e

390
eficientes. Nesse contexto, verifica-se o potencial dos levantamentos florísticos e
fitossociológicos para preservação, conservação e recuperação de áreas degradadas, por
disponibilizar informações sobre a identificação, distribuição geográfica, ecologia e
comportamento das espécies na estrutura das florestas (CHAVES et al., 2013).

A utilização de espécies frutíferas pode acelerar a recuperação de áreas


degradadas, por atrair animais dispersores, que disseminam por meio das fezes não
somente as sementes das espécies introduzidas, mas também sementes de outras
espécies trazidas de ambientes do entorno (ATTANASIO et al, 2006). Além de acelerar
a recuperação, as espécies frutíferas apresentam potencial econômico ao elevar as fontes
de renda das propriedades rurais, consequentemente reduzindo a suscetibilidade
financeira das comunidades.

No estado de Rondônia, constata-se que existem trabalhos selecionando espécies


para recuperação de áreas degradadas, ou alteradas. Contudo, verifica-se a deficiência
de dados para seleção de espécies nativas na região por meio de levantamentos
florísticos e fitossociológicos. De acordo com Bentes Gama et al. (2008), a escolha de
espécies deve ter por base levantamentos fitossociológicos e florísticos, em condições
similares ao ambiente que pretende-se restaurar, por permitir a recomposição do
ambiente, deixando-o mais próximo possível da original.

Objetivou-se no presente trabalho realizar levantamento florístico e


fitossociológico de espécies frutíferas em ambiente conservado na reserva Biológica do
Guaporé, visando disponibilizar informações ecológicas sobre espécies que possam ser
utilizadas em programas de recuperação de áreas degradadas no estado de Rondônia.

Material e Métodos

O trabalho foi realizado na reserva Biológica do Guaporé, a qual abrange os


municípios de Alta Floresta D’Oeste e São Miguel do Guaporé no Estado de Rondônia
– RO (Figura 1). A região apresenta vegetação classificada como Floresta Ombrófila
Aberta (IBGE, 2012), clima Tropical Monção (Am), com temperatura média de 25,5°C
e precipitação pluviométrica de 2000 mm (ALVARES et al., 2013). Ao lado norte a
área é banhada pelo rio São Miguel do Guaporé.

391
Figura 30 - Localização geográfica da área de estudo na Reserva Biológica do Guaporé,
RO.

Os dados foram obtidos a partir da realização de inventário em dez parcelas


permanentes de 2500 m2 (50 x 50 m), subdivididas em unidades de 100 m2 (10 x 10 m).
As parcelas foram distribuídas de forma sistemática ao longo de três transectos (Figura
2) onde amostrou-se todos os indivíduos com DAP ≥ 10,0 cm. O DAP foi mensurado
utilizando-se fita diamétrica e a altura foi determinada utilizando uma régua de 6 m.

392
Figura 31 - Distribuição das parcelas em transectos em Floresta Ombrófila Aberta na
REBIO Guaporé.

De posse dos dados do levantamento selecionou-se as cinco espécies frutíferas


com os maior valor de importância observada na estruturada davfloresta, sendo elas,
Theobroma speciosum Willd. ex Spreng., Protium robustum (Swart) D. M. Porter,
Euterpe precatoria Mart., Inga striata Benth. e Theobroma subincanum Mart.

Para todas as espécies realizou-se a caracterização da estrutura horizontal feita a


partir dos parâmetros fitossociológicos: densidade absoluta (Equação 1), frequência
absoluta (Equação 2), dominância absoluta (Equação 3) (MARTINS, 2012) e valor de
importância (Equação 4 (FELFILI; VENTUROLI, 2000), todos calculados pelo
Programa Fitopac 2 (SHEPHERD, 2010).

(1)

Onde: = densidade absoluta da i-ésima espécie (ind.ha-1); = número de indivíduos


amostrados da i- i-ésima espécie (ind.); A = área total amostrada em hectare (ha).

393
(2)

Onde: = frequência absoluta da i-ésima espécie (%); = número de parcelas em


que ocorreu a i-ésima espécie; = número total de parcelas inventariadas.

(3)

Onde: = dominância absoluta espécie (m2.ha-1); = área basal espécie (m2); A =


área total amostrada (ha).

(4)

Onde: = Valor de Importância (%); = densidade relativa (%) da i-ésima espécie;


= dominância relativa (%) da i-ésima espécie; = frequência relativa (%) da i-
ésima espécie (%).

A análise da estrutura vertical seguiu-se o pressuposto de Souza et al. (2003),


onde se dividiu a floresta em três estratos de altura total, sendo: estrato inferior –
compreendendo as árvores com altura total (H) menor que a altura média ( ) menos
uma unidade de desvio padrão (1s) das alturas totais, ou seja,
; estrato médio – compreende as árvores com
; estrato superior – compreende as árvores .

Por fim, utilizou-se a classificação dos grupos ecológicos de acordo com


Budowski (1965) para descrever o comportamento das espécies quanto às exigências de
luz.

Resultados e Discussão

394
De posse dos dados do inventário florestal, foram amostrados na área de estudo
1.354 indivíduos (DA = 541,6 ind.ha-1), destes 1100 foram identificados em 90 espécies
e 31 famílias. As espécies frutíferas Theobroma speciosum Willd. ex Spreng, Protium
robustum (Swart) D. M. Porter, Euterpe precatoria Mart., Inga striata Benth. e
Theobroma subincanum Mart., ocuparam 4º, 6º, 11º, 18º e 27° posição em termos de
valor de importância na floresta em relação ao total de espécies amostradas.

A espécie Theobroma speciosum , conhecida como cacauí, apresentou densidade


absoluta de 33,20 ind. ha-1, apresentado indivíduos distribuídos em todas as parcelas
amostradas (FA=100%) (Tabela 2) demonstrando não ter preferencia por ambientes na
floresta, além disso, a sua ampla ocorrência pode estar associada a grande quantidade de
agentes dispersores, dentre os quais se destacam os primatas. Em trabalho realizado por
Alves (2013) constatou-se que a reserva Biológica do Guaporé abriga dez espécies de
primatas, destacando-se Ateles chamek (macaco-aranha), Mico melanurus (sagui-do-
cerrado) e Callicebus cf. Moloch (zogue-zogue). Espécies de aves como Mitu tuberosa
(mutum) e Penelope jacquacu (jacú), também realizam a dispersão das sementes do
cacauí, ao consumirem restos de frutos provenientes da alimentação dos primatas. Outro
fator preponderante para utilização dessa espécie está relacionado com a questão
econômica, onde as sementes dos frutos são usadas por comunidades humanas em toda
extensão da região Amazônica. (GUARIM NETO; SILVA, 2011).

Comportamento semelhante a espécie T. speciosum também foi observado para


o P. robustum que apresentou densidade de 30,40 ind. ha-1, distribuídos em 90% das
parcelas amostradas (Tabela 2). Como exemplos de agentes dispersores para esta
espécie, tem-se as aves (CAMPOS FILHO; SARTORELLI, 2015; LORENZI, 2009),
pacas, porcos e jabutis (SHANLEY; MEDINA, 2005). Em trabalho realizado por Pott e
Pott (2002) constataram que animais como aves, morcegos e quatis ajudam a dispersar
sementes, acelerando a regeneração natural.

A espécie P. robustum, além das características descritas, também apresenta


elevado índice de sobrevivência em plantio de sistemas silviculturais, alcançando 83,3%
no período de 37 anos após o plantio, como observado por Vieira (2014).

Tabela 30 - Parâmetros fitossociológicos observados para as espécies em Floresta


Ombrófila Aberta na Reserva Biológica do Guaporé, RO.
Nin DR FA Do Do VI VC
Espécies DAi FRi
d i i Ai Ri % %

Theobroma speciosum Willd. ex 33,2 6,1 10 3,4


83 0,41 1,97 3,85 4,05
Spreng. 0 3 0 5

Protium robustum (Swart) D. M. 30,4 5,6 3,1


76 90 0,47 2,28 3,67 3,95
Porter 0 1 0

395
1,4 2,7
Euterpe precatoria Mart. 19 7,60 80 0,11 0,55 1,57 0,98
0 6

1,1 2,0
Inga striata Benth. 16 6,40 60 0,10 0,46 1,24 0,82
8 7

0,8 2,0
Theobroma subincanum Mart. 11 4,40 60 0,05 0,24 1,04 0,53
1 7

Nind: número de indivíduos observados na amostra; DA: Densidade absoluta (ind. ha-1);
DR: Densidade Relativa (%); FA: Frequência absoluta (%); FR: Frequência Relativa
(%); DoA: Dominância Absoluta (m².ha-1); DoR: Dominância relativa (%), VI: Valor
de importância (%), VC: Valor de Cobertura (%).

A espécie Euterpe precatoria, conhecida como açaí solteiro, apresentou


densidade absoluta de 7,60 ind. ha-1, apresentado indivíduos distribuídos em 80% das
parcelas amostradas (Tabela 2). Essa espécie é frequentemente encontrada em regiões
conservadas, principalmente em áreas de veredas e galerias, e são dispersas por aves
(LORENZI, 1992) como Ara chloropterus (arara-vermelha), Ramphastos vitelinus
(tucano-do-bico-preto), Psittacara leucophthalmus (maritaca), Aratinga weddellii
(periquito-de-cabeça-suja), Pteroglossus castanotis (araçari-castanha) e Penelope
jacquacu (jacú), que são comuns na região (ROCHA; VIANA, 2004), e apresentam
grande alcance de dispersão.

Bentes-Gama et al. (2008), recomenda o uso dessa espécie para recuperação de


áreas em terra firme, principalmente em sistemas agroflorestais (SAF’s). No entanto, em
trabalho realizado por Rocha (2004), verificou-se que o açaí pode ser cultivado tanto em
áreas de várzea quanto para áreas de terra firme, apresentando maior potencial
ecológico e econômico em áreas de várzea, com regeneração abundante e alta
produtividade de frutos. Nesse, a baixa densidade observada para a espécie pode estar
associado ao tipo de ambiente analisado, uma vez que a área de estudo, apesar de estar
próximo das margens do rio São Miguel do Guaporé, representa um ecossistema de
terra firme.

Já as espécies Inga striata e Theobroma subincanum, além de apresentar menor


densidade em relação às espécies anteriores discutidas neste trabalho, também
apresentou menor frequência mostrando-se distribuídas em apenas 60% das parcelas
amostradas, sugerindo estar adaptadas a ambientes específicos na floresta (Tabela 2).
Ressalta-se, ainda que o maior número de indivíduos observados para I. striata
ocorreram nas parcelas 1 e 7, e o T. subincanum na parcela 1, que estão mais próximas a
área de influencia do rio São Miguel do Guaporé.

Segundo Nóbrega et al. (2007), citam que o I. striata é uma espécie adaptada a
longos períodos de alagamento (30 dias) e solos de baixa fertilidade (NÓBREGA et al,
2007), é recomendada para recuperação de matas de galeria (PONTARA et al., 2008).

396
Couto et al. (2010) complementa que a espécie apresentar grande densidade e volume
do sistema radicular, que possibilita maior eficiência no ancoramento de partículas do
solo, o que pode favorecer para o uso da espécie em programas de recuperação de áreas
ciliares. Como verificado para a E. precatoria, a baixa densidade e frequência
observada para essa espécie, pode estar associada as características do ambiente
estudado.

Dentre os dispersores desta espécie tem-se Ateles chamek (macaco-aranha),


Mico melanurus (sagui-do-cerrado), Callicebus cf. Moloch (zogue-zogue) (ALVES,
2013), além disso, durante as atividades de campo observou-se frutificação da espécie e
presença de animais como Penelope jacquacu (jacú), Psittacara leucophthalmus
(maritaca), Aratinga weddellii (periquito-de-cabeça-suja), Pteroglossus castanotis
(araçari-castanha) e Ara chloropterus (arara-vermelha) alimentando-se dos frutos de I.
striata.

Outros fatores observados para esta espécie, como o rápido crescimento


(LORENZI, 1992) e a capacidade de fixação de nitrogênio (FERNANDES et al., 2015),
que eleva a cobertura do solo diretamente pelo seu desenvolvimento, e indiretamente
por fornecer nitrogênio as demais espécies, demostram o potencial da espécie para
recuperação de áreas. A cobertura do solo é um fator essencial para a manutenção ou
melhoria da fertilidade do solo (LOBATO et al., 2009), uma vez que evita o contato
direto das gotas de chuva com a superfície do solo, reduzindo sua força de energia
cinética e consequentemente, o potencial de erosão (MARINHESKI, 2016).

Assim como as demais espécies, T. subincanum também faz parte da dieta de


diversas espécies dispersoras, incluindo macacos (LORENZI, 2009), como Ateles
chamek (macaco-aranha), Mico melanurus (sagui-do-cerrado) e Callicebuscf. Moloch
(zogue-zogue), comuns na região (ALVES, 2013).

Em relação a estrutura vertical, as espécies apresentaram altura média variando


de 10,5 a 15,8 m, com P. robustum e E. precatoria apresentando indivíduos em todos os
estratos da floresta, e as espécies I. striata, T. subincanum e T. speciosum com
indivíduos somente no estrato inferior e médio (Tabela 3). Segundo Lepsch (2002),
quanto maior o número de estratos, mais elevado é a proteção do solo, tendo em vista
que ocorrem subsequentes interceptações das gotas de chuvas nas copas. Assim,
constata-se a importância da utilização de espécies distribuídas em diferentes estratos.

Tabela 31 - Classificação da estrutura vertical e grupos ecológicos das espécies arbóreas


em Floresta Ombrófila Aberta na Reserva Biológica do Guaporé, RO.

Espécie h mínima (m) h média (m) h máxima (m)


S

Theobroma speciosum 4 10,05 19 3,29

397
Protium robustum 5 12,16 24 3,72

Euterpe precatoria 7 15,84 24 5,13

Inga striata 8 11,50 18 2,58

Theobroma subincanum 7 11,36 14 2,77

Espécie Estrato de dossel nij

E. I. (h < 9 m) 35

Theobroma speciosum E. M. (9,1 m ≤ h < 19 m) 48

E. S. (h ≥ 19,1 m) 0

E. I. (h < 9 m) 10

Protium robustum E. M. (9,1 m ≤ h < 19 m) 63

E. S. (h ≥ 19,1 m) 3

E. I. (h < 9 m) 3

Euterpe precatoria E. M. (9,1 m ≤ h < 19 m) 10

E. S. (h ≥ 19,1 m) 6

E. I. (h < 9 m) 3

Inga striata E. M. (9,1 m ≤ h < 19 m) 13

E. S. (h ≥ 19,1 m) 0

E. I. (h < 9 m) 3

Theobroma subincanum E. M. (9,1 m ≤ h < 19 m) 8

E. S. (h ≥ 19,1 m) 0

h = altura (m); S = Desvio Padrão (m); nij = Número de indivíduos amostrados em cada
estrato.

Na área de estudo observou-se a partir da estrutura vertical e densidade de


indivíduos em cada estrato verifica-se que as espécies P. robustum e E. precatoria
apresentaram comportamento de espécie clímax, ou seja, toleram a sombreamento na
fase jovem e na fase adulta necessitam de maior intensidade luminosa, já as espécies T.
speciosum, I. striata e T. subincanum indicam caráter mais esciófilo, estando adaptadas
a ambientes mais sombreados.

398
Nesse sentido, percebe-se que as espécies frutíferas avaliadas nesse estudo
apresentam potencial para recuperação de áreas, em consórcio com espécies pioneiras e
em enriquecimento de áreas em processo de recuperação. Ressaltando, que o I. striata e
T. subincanum poderão apresentar melhores resultados em áreas ciliares.

Conclusões

As espécies Theobroma speciosum, Protium robustum, mostraram-se adaptadas


a todos os ambientes da floresta que resultou em maior densidade e frequência de
ocorrência na amostra. Já as espécies Euterpe precatoria, Inga striata e Theobroma
subincanum, apresentaram menor densidade e preferência por ambientes na floresta, que
pode estar associado a influência de ambientes mais úmidos.

As espécies Protium robustum e Euterpe precatoria, apresentaram


comportamento de espécies adaptadas a estagio sucessional mais avançado, uma vez
que ocorreram no estrato inferior, médio e superior denotando caráter de espécie clímax,
já as espécies Theobroma speciosum, Inga striata e Theobroma subincanum, ocorreram
apenas no estrato inferior e médio sugerindo caráter de espécie secundária.

As espécies poderão apresentar potencial de recuperação em consórcio com


espécies pioneiras e em programas de enriquecimento.

Agradecimentos

Ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de


Costa Marques – RO por toda assistência prestada na execução dos trabalhos e a todos
os amigos que auxiliaram nas atividades de campo.

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401
ESTUDO PARA FORMAÇÃO DE COBERTURA VEGETAL DA PILHA DE
GESSO

R. O. Oliveira

RG Bioengenharia Ltda
Rua Marginal, 89 – Bairro Primavera I – Paracatu/MG - Brasil
[email protected]
Telefone: (38) 3672 4899

RESUMO

Aunidade da Vale Fertilizantes S/A em Uberaba/MGtem buscado cada vez mais


tecnologias para aprimorar a sustentabilidade da produção e beneficiamento de fosfato
mineral, usado principalmente na agricultura, com aplicações na indústria cimenteira e
alimentícia. A atividade gera grandes quantidades de um subproduto nominado de
fosfogesso que é conhecido na agricultura como gesso agrícola para correção de solos.
A composição do fosfogesso éo sulfato de cálcio CaSO4 2H20,oriundo deprocesso
industrialqueéobtido na fabricação do Ácido Fosfórico, usado para produção de
Superfosfato Triplo, MAP e DAP. Atualmente, na Vale Fertilizantes, o fosfogessso
édepositado em pilhas que ocupam uma área maior que 50 hectares. Otransporte e
deposição do material do processo industrial é feito por meio de bombeamento e é
acondicionado como formando bancadas com taludes de 15 metros de altura e
inclinações de 25° a 30°. Para o desenvolvimento de planejamento futuro da pilha de
gesso, a empresa tem realizado esforços para o fechamento sustentável do local e, por
isso, realizou os testes de recuperação ambiental,onde a empresaRG Bioengenharia &
Soluções Ambientais foi contratada para coordenar e fiscalizar um projeto piloto de
implantação, adequação e conformação da pilha de fofosgesso com intuito de formar
cobertura vegetal em toda área do depósito. O projeto foi elaborado pela empresa norte
americana com sede no estado da Florida Estados Unidos Ardamam & Associates,
Inc. o título do projeto é Side Slope Test Plots and Vale Fertilizantes – Uberaba
Facility Minas Gerais, Brazil, 2011 e Orientadas pelas Seções 1 a 7. Os plantios para
os testes de vegetação foram realizados em 7 (sete) canteiros, com situações de
tratamento diferentes, nomeados L1a, L1b, L1c, L2, L3, L4 e L5. O principal objetivo
deste trabalho foi escolher a melhor vegetação para recuperação ambiental da pilha de
fosfogesso que, além de influenciar na estética da área, promoverá uma barreira entre as
águaspluviais e a pilha, auxiliando na não contaminação destas águas que são de
tratamento industrial e com acidez com ph menor 3. Como forma de mensurar os dados
de acidez foram instalados lisímetros, para avaliar, monitorar e controlar o pH das águas
de drenagem. Todo esse trabalho foi realizado para consolidar a avaliação das práticas
que proporcionaram e nortearam os testes para análise que agregaramos fatores
ambientais e paisagísticos eindicar qual dos testes seria aprovado naclassificação do
infiltrado na pilha das águas pluviais, qual seria a melhor espécie de gramíneas que
promoveria a maior eficiência na estética da paisagem, controle de pH e estabilidade
dos taludes e prevenção e de processos erosivos pela face exposta aos intemperes
naturais na pilha. Passados mais de dois anosdo plantio inicial,podemosfazer uma
avaliação geral dos resultados de germinação e pega de espécies em cada teste e
tratamento montado na pilha de gesso.

Palavras Chave: pilha de fosfogesso, recuperação ambiental e controlede pH

402
1 INTRODUÇÃO

A ValeFertilizantes sabe que o sucesso de suas operações depende também de uma


convivência que respeite o meio ambiente. Para isso desenvolve estudos permanentes e
busca tecnologias cada vez mais modernas para controlar e reduzir impactos adversos
de suas atividades.Essas ações visam não somente recuperar áreas que tiverem sido
afetadas como também monitorar a qualidade ambiental. Muitas destas iniciativas
contam com a parceria da comunidade e empresas que desenvolvem atividades de
recuperação ambiental na mineração, que fazem parte da política de investimento
social da empresa.
A RG Soluções Ambientais & Bioengenharia, tem orgulho de participar e desenvolver
testes que possam servir como norteadoresde metodologias e técnicas a serem aplicadas
na recuperação ambiental e naestabilidade geotécnica da área da pilha de fosfogesso.Os
testes realizadosvisaram avaliar a melhor metodologia a ser aplicada para o fechamento
da pilha de fosfogesso de modo arecuperar e vegetar,harmonizando-o esteticamente,
bem como, selecionar a espécie que mais se adaptasse ao cenário e evidenciar indícios
positivos e negativos de cada variedade plantada, levantar possíveis substituições de
metodologia, diagnosticar o impacto e avaliar grau de eficiência da vegetação como
isolante de águas pluviométricas e condicionador de pH relacionado a infiltração de
aguas acidas.
Para melhor avaliação do projeto o mais importante é a sustentabilidade do
empreendimentodeterminando qual seria a melhor espécie de gramíneas a ser inserida
como ideal como cobertura vegetal a ser introduzida pelo longo da pilha de
fosfogessoque atendendo assim quesito de qualidade e o monitoramento e controle de
pH, norteadaspor princípios básicos de sustentabilidade, conservação e preservação
ambiental do meio onde está inserido e determinando qual o melhor custo-benefício nas
espécies e metodologias utilizadas para os testes de vegetação do maciço de fosfogesso,
depositado em pilha.

2 MATERIAL E MÉTODOS

No início dos trabalhos foram feitas as escolhas das áreas e, em sequência, a preparação
do terreno para instalação dos testes, apresentando os tratamentos necessários e
modelagem de terraplanagem e topografiasa serem seguidas de acordo com o projeto da
Side Slope Test Plots and Vale Fertilizantes – Uberaba Facility Minas Gerais,
Brazil, 2011Ardamam & Associates, Inc e Orientadas pelas Seções 1 a 7.
A localização dos canteiros está sob as coordenadas Lat/long19º 59’11.32”S –
47º52’32.21”O.

403
Foto 1 – Localização dos testes na Pilha de Gesso
Foram realizados ostrabalhos mecânicos de conformação e controle de águas
surgenciais,oriundasda própria operação de deposição de gesso vindo do processo de
beneficiamento minerológico do fosfato.A drenagem daságuas pluviais foram de
extrema necessidade para manter todas as áreas de trabalho bem drenadas e secas
durante a construção dos canteiros eproteção contra processos erosivos na superfície do
talude onde estão inseridos os canteiros.
O trabalho de correção de pH do fosfogesso foi norteado pelo projeto Side Slope Test
Plots and Vale Fertilizantes – Uberaba Facility Minas Gerais, Brazil, 2011
Ardamam & Associates, Inc. (Ardamam, 2011)
As áreas selecionadas foram conformadase dimensionadaspara canteiros de 180 m2com
a drenagem necessária eforam nomeadas na seguinte ordem: L1a, L1b, L1c, L2, L3, L4
e L5.
Para a correção do pH, foram realizadas as coletas do material nos locais destinados aos
canteiros obtendo resultados do fosfogesso in loco na pilha de gesso e amostradas na
Tabela 01, que mostramos resultados obtidos para cada canteiro.

Resultado pH 1º amostragem do substrato (solo) disposto na pilha de fosfogesso

Canteiros L 1a L 1b L1c L2 L3 L4 L5 Média

pH 2,6 2,8 2,8 2,5 2,6 2,8 2,9 2,3

Tabela 01 – pH antes das aplicação de insumos

O tratamento da acidez foi realizado com o lançamento do corretivocalcário dolomítico


– PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total)100% em dosagens de 2.350 kg/m2
para poder analisar a dinâmica da reativa no fosfogesso.
Para a calagem realizada nos canteiros foi levado em consideração aspráticasde três
fatores fundamentais: dosagem adequada, características do corretivo utilizado e
aplicação correta. A dosagem foi aplicada a 0,15 cm de profundidade com auxílio de
404
enxada rotativa acoplada em trator traçado e a homogeneizaçãofoi estabelecida com
base na análise e monitoradas. As aplicações foram feitas manualmente, a lanço, em
todos os canteiros. Após o lançamento a enxada rotativa mais uma vez foi passada para
homogeneização do corretivo nos canteiros.
Obs:No canteiro L3 foi retirado o fosfogesso e colocado 27m3 de argila como item dos
testes a serem realizadose também foi realizado a calagem nas mesmas proporções.
É importante destacarque, no primeiro momento,as correções de pH com as taxas de
aplicação tiveram que ser ajustadas no campo para um pH alvo de 5,0 ± 0,2, nos
canteiros L1a, L1b, L1c, L2 e L3 deacordo com a recomendação Ardamam, 2011.
O plantio foi executado entre os dias 24 e 26/11/2014, porém, os canteiros foram
susceptíveis a processos erosivos e precisamos utilizar o método de proteção nos
canteiros contra os efeitos das chuvas, principalmente naqueles que receberam a
semeadura manual. Neles foram instaladas mantas geotêxtis (biomantas) com oobjetivo
defazer a cobertura do solo, evitando a ação erosiva da pluviometria local, assegurando
uma fixação das sementes e insumos até sua germinação e estabelecimento da cobertura
vegetal.

Canteiros Variedade de Forma de


Espécies Plantio

L1a Cynodon dactylon Sementes

L1b Zoysia japônica Placas

L1c Paspalum notatum Placas

L2 Cynodon dactylon Placas

L3 Cynodon dactylon Sementes

L4 Cynodon dactylon Sementes

L5 Paspalum notatum Placas

Tabela 2 – Relação de espécies plantas de acordo com canteiro

Para a fertilização usamos a aplicação de N 2kg/canteiro, K2O 1 kg/canteiro, Mg 0,500


kg/canteiro e adubação de cobertura de N 1kg/canteiro, K2O 0,300 kg/canteiro e Mg
0,300 kg/canteiro. A adubação complementar ou cobertura foi feita 2 vezes.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Plantio
405
Foto 1 – Cenário após 3 replantios Foto2 – Fechamento parcial L -1a
Para base de dados, vale ressaltar que, para atingir o resultado disposto acima, o custo
foi quatro vezes maior e o cenário ainda pode ser melhorado com replantios nas partes
falhas e com erosões, ouseja, o custo e o tempo de fechamento da área tende a aumentar
consideravelmente.

Foto 3 – Fechamento total da área Foto 4 – Domínio e vigorosa aparência


A grama esmeralda teve uma adaptação muito boa, de 100% de fechamento da área e
germinação alta de seus estolões e rebrotas. A espécie se mostrou bem vigorosa no
canteiro.

Foto 5 – Fechamento Total da área 1º Mês Foto 6 – Alta performance no


fechamento
A grama batatais apresentou características bastante expressivas tendo em vista que é
nativa e teve uma facilidade na pega com 100% de fechamento e baixa rebrota de seus
estolões,isto, em primeiro momento. Logo após dois meses teve a morte geral do
canteiro onde não houve a adaptação da espécie sobre o fosfogesso.

406
Foto 7- Fechamento Total da área Foto 8– Desenvolvimento rápido e
vigoroso
O canteiro L2 teve sucesso satisfatório já no primeiro plantio e se adaptou muito bem ao
cenário das pilhas, tendo visíveis brotamentos de estolões, fechamento e germinação de
100%.

Foto 9 – Cenários após 2 replantios Foto 10 – Fechamento Parcial


A grama bermuda se mostrou bem adaptada em vários cenários da pilha de gesso,
principalmente no canteiro de L3 que é composto por argila, que se diferencia dos
outros física e quimicamente.
Obs: Este canteiro mostrou sucesso germinativo no primeiro momento o que garantiu
um sucesso de germinação das sementes lançadas e fechamento total do canteiro.

Foto 11– Baixa germinação e pouco domínio Foto 12– Cenário Atual
O canteiro L4 não apresentou o resultado esperado. Podemos afirmar que não houve
sucesso no canteiro por semeadura de bermuda, pouca germinação das sementese com

407
muitas invasoras típicas conhecidas como pé de galinha (Eleusine indica) e outras
espécies.
Obs: Foi o único canteiro que não tivemos sucesso com a grama bermuda.

Foto 13 – Fechamento Total da área Foto 14– Morte parcial após 4 meses de
plantio
No canteiro L5 tivemos sucesso no fechamento e na germinação de seus estolões e no
domínio superficial nos primeiros meses. Logo após 4 meses de plantio a espécie
começou a sentir limitações para sua proliferação e desenvolvimento radicular e aéreo,
sucumbindo de forma total do canteiro.

3.2 Teste de Enraizamento

O teste tem o objetivo de mostrar a propagação radicular das espécies plantadas nos
canteiros e com isso avaliar a eficiência de cada variedade vegetal na adaptação e
assimilação do fosfogesso como substrato para seu desenvolvimento.
O canteiro L1a teve bom desenvolvimento radicular com propagação de raízes maior
que 15 cm de comprimento, que assimila melhor a absorção de nutrientes diretos do
fosfogesso.Esse desenvolvimento radicular não definiu o canteiro como um sucesso,
pois a propagação de estolões e ramificação aéreas se mostrou com várias falhas e o
canteiro totalmente heterogêneo referente a ocupação da cobertura vegetal formada na
superfície que foi de 50 a 60%, ou seja, as sementes não se mostraram eficazes e
eficientes no método utilizado, o que não inviabiliza o uso da espécie, mas mostra a
afinidade da espécie com o fosfogesso. O sistema radicular é uma evidência nítida da
adaptação, mais vamos notar o comportamento da mesma espécie com a utilização de
placas no lugar da sementes.

408
Foto 415- Radículas desenvolvidas Foto 16 - Emissão de radículas >15cm
O Canteiro L1b obteve excelentes resultados de desenvolvimento radicular além de se
mostrar eficiente formando uma trama vegetal, fortalecendo e contendo o arraste de
material e insumos. O uso do tapete da grama esmeralda favoreceu diretamente a
adaptação da espécie formando e estabilizando o fechamento radicular e se
desenvolvendo com comprimentos maiores que 15 cm e mostrando condições de
fechamento da parte aérea com vigor e homogeneidade na cobertura vegetal do canteiro.

Foto 17 - Dominância das radículas Foto 18 - Radicular > 15 cm


A grama batatais não obteve sucesso no desenvolvimento,tanto superficial e radicular,
pois a espécie teve mortalidades> 60% no canteiro L1c, e se mostrou pouco resistente à
exposição no fosfogesso. A sua fragilidade foi demonstrada e constatada pelas emissões
deradículas que teve ocupação somente na parte que contém solo que veio junto às
placas. A espéciePaspalum notatumbatatais se mostrou frágil e vulnerável a fosfogesso
mostrando vários efeitos deletérios na cobertura vegetal do canteiro, comprometendo a
estrutura formada por atrair várias invasoras indesejadas como as espécies: pé de
galinha, braquiárias e outras.

Foto 19 - Pouco desenvolvimento radicular Foto 20 - Sem raízes a 5cm de


profundidade

O plantio de grama bermuda no canteiro L2apresentoubons resultados com cobertura


vegetal homogênea, bom enraizamento criando tramas enoveladas de radículas,
proporcionando maior estabilidade superficial e interação com o ambiente, dominando
profundidades de até 20 cm de comprimento.
O uso da grama bermuda em placa apresentou ser muito eficiente nos fatores cobertura,
dominância, e adaptação. Já tínhamos evidências no teste realizado no canteiro L1a que

409
a espécie teria geotropismo positivo, o que influencia no aprofundamento das raízes,
mostrando suas adaptações ao cenáriocom limites de fertilidade no substrato, no caso, o
fosfogesso.

Foto 21 – Trama de raízes alta adaptação Foto 22 – Radículas > 16 cm


A grama bermuda em semeadura obteve sucesso no canteiro L3 e se mostrou bastante
adaptável, principalmente com a cobertura superficial tratada com argila na etapa de
construções de canteiros. As condições físicas e químicas do canteiro são totalmente
favoráveisà germinação, desenvolvimento aéreo e radicular pois a argila ajuda na
retenção de matéria orgânica e nutrientes essenciais para a fisiologia vegetal, ou seja,
um cenário diferente dos outros que foram plantados diretos no fosfogesso.

Foto 23 – Formação de TramaFoto 24 –Raízes > 15cm de profundidade


No canteiro L4 não houve sucesso de germinação e nem de enraizamento, pois a espécie
semeada,a grama bermuda, não conseguiu se estabelecer e nem germinar. Após os
primeiros meses houve a invasão de espécies como:pé de galinha, braquiárias e outras.

Foto 25 - Cobertura vegetal < 30%Foto 26 – Desenvolvimento de raízes< 5 cm

O plantio do canteiro L5, tambémde grama em placa batatais, mostra a sua falta de
adaptação ao fosfogesso.

410
O canteiro L1c e L5 foram exatamente iguais na sua formação e plantio. A espécie não
desenvolveu radículas no fosfogesso e se mantiveram em condições de
desenvolvimento somente no solo que veio agregado às placas.

Foto 27 – Pouco brotamento radicular Foto 28 – Sem raízes a 15cm de


profundidade
Os testes de enraizamento nos canteiros mostraram que as espéciesgrama esmeralda
(Zoysia japônica) e grama bermuda (Cynodon dactylon) foram as que tiveram os
melhores resultados de cobertura vegetal e radicular na implantação e pega dos plantios.
Para melhor avaliar o condicionamento das espécies junto ao substrato, precisamos
aguardar o fim do período chuvoso completo.
Os sistemas radiculares mais desenvolvidos foram os L1b, L2 e L3.

3.3 Evoluçõesdas Análises de Solo

As condições para o plantio foram desenvolvidas para elevar o pH das águas infiltradas
na pilha de gesso. Através da revegetação da pilha tentamos desenvolver soluções para
o controle do passivo na geração de águas ácidas.
O gráfico 2 mostra a elevação do pH de cada canteiro, comparando os resultados da
coleta de solo em agosto/2014, setembro/2014 e os resultados de Julho/2015. Ele expõe
que o plantio influenciou diretamente para a elevação do pH e estabilização média do
pH do fosfogesso em 5,3, que, supostamente, foram infiltrados e percolados para o
sistema de drenagem da pilha.
Nos principais solos, a matéria orgânica é responsável por mais de 70% da CTC-
dependente de pH, conforme foi demonstrado por PAVAN et al. (1985).
Ao promover o aumento da CTC-dependente de pH, a matéria orgânica beneficia
a absorção de cátions trocáveis (Ca, Mg, K) mediante trocas com o H+ dos grupos
funcionais orgânicos, aumentando a saturação por bases. Por reduzir a velocidade
de oxidação da matéria orgânica, contribui para o aumento da saturação por bases
no complexo catiônico e a consequente melhoria da fertilidade dos solos
CALEGARI et al. (1992).

411
Monitoramento dos pH
ago/14 set/14 jul/15
6,1
g 5,215,3
5,12
5,015,3 5,195,2 5,5
/ 4,95 5,355,2
2,6 2,8
d 2,8 4,8
2,5 2,6
m 2,8
2,9 3,2
3

L 1a L 1b L1c L2 L3 L4
L5
Canteiros

Gráfico 1 – Níveis de pH

 As amostras ago/14 foram retiradas antes da aplicação de calcário, ou seja, in


loco da pilha de gesso.
 Amostras set/14 foram retiradas durante a correção dos canteiros.
 Amostras jul/15foram retiradas após a pega das espécies.

3.8 TISDALL & OADES (1982) mostraram que a matéria orgânica exerce papel
importante na formação e estabilização dos agregados do solo, pelas ligações de
polímeros orgânicos com a superfície inorgânica por meio de cátions polivalentes.

O aumento do teor de Corgânico e seus efeitos na agregação do solo depende

diretamente dos fatores ambientais e bióticos que afetam a dinâmica na matéria orgânica

no sistema solo planta. Biomassas com relação C/N mais ampla possuem maior efeito

agregação, devido à decomposição mais lenta e à formação de compostos orgânicos

intermediários que estarão contribuindo para o aumento do teor de matéria orgânica no

solo. Nessa situação, as gramíneas atuam de forma mais eficaz para promover a

formação de agregados, tanto pela ação direta das raízes como pelo suprimento de

resíduos orgânicos mais duradouros e estáveis (MUZILLI, 1996).

Ao favorecer a maior agregação de partículas, contribui para a melhoria da porosidade,


beneficiando a aeração e a infiltração e armazenamento da água no solo.
Os canteiros L2 e L3 são os que evidenciam maiores concentrações de matéria
orgânica. Os canteiros L2 e L3 já passaram por 3(três) roçadas que geraram cerca de 2.3
kg/m2, otimizando melhor o CTC e desenvolvimento da planta, o que também acontece
com acúmulo de carbono, propiciando melhores condições de matéria orgânica e para

412
melhor suporte da vegetação desenvolvidas nos canteiros.

Comparação da Matéria Orgânica pré e pós plantio

Título do Eixo
ago/14 jul/15
6,5 6,8

3,9
2,7 3,9

0,7 3,4 3,9


0,7
0,7
0,7
0,7
0,7
0,7
L 1a L 1b L1c L2 L3 L4
L5
Canteiros

Gráfico 2 – Presença de matéria orgânica

4 CONCLUSÃO

Os canteiros mais adaptados até o momento do teste da pilha de gesso da unidade Vale
Uberaba/MG são os L1b, L2 e L3, pois eles estão em contato direto com fosfogesso e
mostraram vigor e homogeneidade em toda a superfície, criando uma estética bastante
valorizada a olhos nus. O canteiro L3 se mostrou bastante adaptável e aqui vale a
observaçãopoiso canteiro é composto por argila que é um cenário ideal para o
desenvolvimento de plantas. Os canteiros de placas, além de fornecerem matéria
orgânica que vem junto ao tapete, oferecem a estética e a homogeneidade imediata aos
canteiros garantindo o sucesso do plantio, exceto nos L1c e L5, onde somente os
canteiros de placas do gênero Paspalum não obtiveram sucesso com o fosfogesso como
substrato primário para sua pega e estabelecimento vegetal.
Como conclusões afirmamos que os canteiros L1b e o L2 são os de maior sucesso de
cobertura vegetal pelos resultados apresentados até aqui, mas será necessário avaliar os
canteiros durante a estação chuvosa e pós-chuva, refazer as avaliações de solo e água e
ainda assegurar critérios que não comprometam os testes, tais como: rotina de adubação,
roçadas e avaliações químicas de solo e água coletados.
Os resultados apresentados neste relatório são preliminares e necessitam de outros
dados para ser complementado com avaliação do infiltrado e outros testes necessários
com fertilidade, matéria orgânica, pH do solo e condições climatológicas de acordo ao
local.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARDAMAM & ASSOCIATES. Side Slope Test Plots and Vale Fertilizantes – Uberaba
Facility Minas Gerais, Brazil, 2011

413
FERREIRA, Alfredo Gui; BORGHETTI, Fabian. Germinação: do básico ao aplicado.
Porto Alegre: Artmed, 2004.

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& Fosfato, 1981.

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Sousa Silva. Cerrado: caracterização e recuperação de matas de galeria. Planaltina:
Embrapa Cerrados, 2001.

CORREA, Rodrigo Studart. Recuperação de áreas degradadas pela mineração no


cerrado: manual para revegetação. Brasília: Universa, 2005.

GALVÃO, Paulo. M; SILVA, Vandereley Porfírio. Restauração florestal: fundamentos


e estudos de caso. Colombo: Embrapa Florestas, 2005.

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CIERRE DE MINAS, 2000, Espanha.

NBR 1328,Elaboração e apresentação de projeto de disposição de rejeito de


beneficiamento,em barramento em mineração,ABNT,Rio de Janeiro,1993.

NBR 1392,Elaboração e apresentação de projeto de disposição de estéril,em pilha e


mineração,ABNT,Rio de janeiro,1993.

VALE, E. Fechamento de Minas. In: I JORNADA IBEROAMERICANA SOBRE


CIERRE DE MINAS, 2000, Espanha.

414
UTILIZAÇÃO DEVEÍCULO AÉREO NÃO TRIPULADO (VANT) COMO
FERRAMENTA AUXILIAR NA IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃODE
ÁREAS DEGRADADAS NA FAIXA DE DOMÍNIO DE RODOVIAS

Jhonatan Tilio Zonta1; Cristhyano Cavali da Luz1; João Vinicius Sachet2; Rodrigo de Castro
Moro2; Nicole Cavali da Luz4; Durval Nascimento Neto2; Eduardo Ratton3
1
Fundação da Universidade Federal do Paraná - FUNPAR, Rua João Negrão, nº 280,
Curitiba - Paraná - Brasil. 2Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná - FUPEF, Av. Prof.
Lothário Meissner, nº 900, Curitiba - Paraná - Brasil. 3Universidade Federal do Paraná -
UFPR, Centro Politécnico, Departamento de Transportes, Av. Cel. Francisco H. dos Santos,
s/n, Curitiba - Paraná - Brasil. 4 Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, Rua
Imaculada Conceição, nº1155, Curitiba - Paraná - Brasil.
e-mail: [email protected]; [email protected]

RESUMO

A presença de área degradadas nas rodovias consiste na incidência de prejuízos diretos


ou risco ao patrimônio público, podendo afetar a segurança dos usuários e a qualidade
de vida das populações lindeiras bem como prejudicar seu funcionamento e
manutenção. A correta identificação e avaliação destas áreas é de suma importância
para as etapas seguintes de proposição de medidas corretivas e de recuperação funcional
do ecossistema ao seu entorno. O presente trabalho abordou uma sequência
metodológica para o levantamento e avaliação de áreas degradadas, localizadas na faixa
de domínio de uma rodovia federal, tendo como premissa a utilização de um Veículo
Aéreo Não Tripulado (VANT) como ferramenta auxiliar na identificação da área em
questão, de maneira que as propostas de reabilitação da mesma possam ser otimizadas.
A metodologia utilizada abordou desde a inspeção preliminar da área degradada nas
margens da rodovia federal BR-116/RS, passando pelo processamento digital através de
modernas técnicas de visão estereoscópica e avaliação do modelo tridimensional
aplicado à conceitos ambientais. Os resultados indicaram uma promissora vantagem
competitiva na utilização pontual de VANTs ante à inspeções terrestres para
identificação, avaliação de quantificação de passivos ambientais.

Palavras Chave: Veículo aéreo não tripulado, áreas degradadas, passivo ambiental,
rodovias.

Introdução

A carência de infraestrutura de transportes no país demonstra a demanda de um


sistema viário abrangente, técnica e ambientalmente bem concebido, para

415
compatibilizar as políticas de desenvolvimento do Governo Federal com um sistema
logístico de transporte que necessita ser competitivo.

O modal rodoviário, predominantemente a nível nacional, permite a


movimentação de pessoas e cargas, tornando-se vital para o crescimento da economia
do País (DNER, 1998). Entretanto, tem-se verificado uma crescente preocupação com
questões ambientais para a viabilização destes empreendimentos, cujos impactos
relevantes podem ocorrer tanto na sua fase de implantação quanto na operação de uma
rodovia.

A partir da Resolução nº 01, de 23 de janeiro de 1986, do Conselho Nacional do


Meio Ambiente (CONAMA), que determinou a necessidade de elaboração do Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente (RIMA)
em rodovias e outros projetos de grande porte, acelerou a necessidade da efetiva
incorporação da variável ambiental em projetos rodoviários, com vistas a prevenção e
mitigação de impactos negativos sobre o meio ambiente. Complementarmente, o Artigo
nº 225 da Constituição Federal de 1988 afirma que “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações”.

Assim, a gestão ambiental de rodovias, além de dotar o ambiente com ações e


atividades intencionalmente aplicadas para impedir ou atenuar manifestações
indesejáveis de impactos ambientais controláveis, deve monitorar as mesmas,
acompanhando as transformações geradas (Fogliatti et al., 2004).

Nos termos da gestão ambiental, uma área degradada pode ser compreendida
como locais onde existem processos causadores de danos ao meio ambiente, pelos quais
se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como a qualidade
produtiva dos recursos naturais (Brasil, 1989).

A presença de área degradadas nas rodovias consiste na incidência de prejuízos


diretos ou risco ao patrimônio público, podendo afetar a segurança dos usuários e a
qualidade de vida das populações lindeiras bem como prejudicar seu funcionamento e
manutenção. Por outro lado, pode também implicar em risco de degradação dos recursos
naturais na faixa de domínio e seu entorno e, também, ao patrimônio privado ao longo
das rodovias (Pimenta et al., 2014).

Portanto, a correta identificação e avaliação destas áreas é de suma importância


para as etapas seguintes de proposição de medidas corretivas e de recuperação funcional
do ecossistema ao seu entorno. O presente trabalho abordou uma sequência
metodológica para o levantamento e avaliação de áreas degradadas, localizadas na faixa
de domínio de uma rodovia federal, tendo como premissa a utilização de um Veículo
Aéreo Não Tripulado (VANT) como ferramenta auxiliar na identificação da área em
questão, de maneira que as propostas de reabilitação da mesma possam ser otimizadas.

416
Áreas degradadas em empreendimentos rodoviários

O Ibama (2011) define uma área degradada como área degradada como uma área
impossibilitada de retornar por uma trajetória natural, a um ecossistema que se
assemelhe a um estado conhecido antes, ou para outro estado que poderia ser esperado.
Portanto, uma área degradada dentro da faixa de domínio de uma rodovia é considerado
um passivo ambiental, ou seja, o conjunto de alterações ambientais adversas decorrentes
de (Brasil, 2013):

a) Construção, conservação, restauração ou melhoramentos na rodovia,


capazes de atuar como fatores de degradação ambiental, na faixa de
domínio ou fora desta, bem como de irregular uso e ocupação da faixa de
domínio;
b) Exploração de áreas de "bota-foras", jazidas ou outras áreas de apoio; e
c) Manutenção de drenagem com o desenvolvimento de processos erosivos
originados na faixa de domínio.
Cabe ressaltar que os passivos ambientais são constituídos por externalidades
geradas pela própria existência da rodovia sobre terceiros e por externalidades geradas
por terceiros sobre a rodovia. Embora os últimos sejam passivos gerados por terceiros,
nem sempre eles poderão ser identificados ou responsabilizados, obrigando o DNIT ou
outro órgão rodoviário a assumi-los em benefício da rodovia ou de seus usuários
(BRASIL, 2006).

A recomposição e a recuperação de áreas que venham a ser degradadas em


virtude das atividades rodoviárias é obrigatória e necessária. Seu principal objetivo é
evitar a formação de processos erosivos e retomar o uso original ou alternativo das áreas
de apoio utilizadas por atividades relacionadas à implantação do empreendimento.
Assim, em virtude das alterações a serem causadas pelas obras, devem ser tomadas
medidas corretivas para a recuperação das áreas degradadas nos locais diretamente
atingidos pelas obras, tais como canteiro de obras, acessos, áreas de apoio e taludes de
corte e aterro (DNIT, 2015).

A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto nº


99.274/90, dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos
de formulação e aplicação. Em seu Art. 4º, afirma que a Política Nacional do Meio
Ambiente visa a “obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário
da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”.

Também, o Decreto nº 97.632, de 10 de abril de 1989, dispõe em seu Art. 3º


sobre a finalidade de um Programa de Recuperação de Áreas Degradadas, como o
retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano
preestabelecido para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do meio
ambiente.

417
Utilização da plataforma VANT

A Portaria Normativa n° 606, de 11 de junho de 2004, do Ministério da Defesa,


caracteriza um Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT), através de seu Artigo 4º, como
uma plataforma aérea de baixo custo operacional que pode ser operada por controle
remoto ou executar perfis de voo de forma autônoma. A Diretoria da Agência Nacional
de Aviação Civil (ANAC), na decisão nº 127, de 29 de novembro de 2011, define
Aeronave Remotamente Pilotada (RPA) como aeronave não tripulada com a sua
operação conduzida a partir de uma estação remota de pilotagem, sendo uma
subcategoria de VANT.

Inúmeros trabalhos apresentaram as potencialidades de dados de sensoriamento


remoto levantados por câmeras imageadoras acopladas a VANT’s, sobretudo, no que se
refere ao mapeamento de aspectos de interesse em zonas de cultivo ou áreas de
preservação permanente (Herwitz et al., 2002; Lelong et al., 2008; Eisenbeiss, 2008;
Medeiros et al., 2007; Agüera et al., 2011). Tais estudos tiveram como foco o
aprimoramento dos métodos e técnicas utilizadas para o levantamento de imagens por
meio de VANT’s e trouxeram importantes contribuições.

Luz e Antunes (2015) validaram a utilização da tecnologia VANT na


atualização de bases de dados cartográficos geológicos em uma área cárstica sobreposta
por uma rodovia, avaliando a qualidade do produto final oriundo através da geração de
produtos cartográficos geológicos advindos de dados brutos adquiridos por um voo
autônomo. Luz e Kapp Júnior (2015) demonstraram a potencialidade de se utilizar uma
plataforma VANT no planejamento territorial, obtendo-se a melhor diretriz para uma
rodovia ante a imposição de critérios técnicos ambientais, tais como: evitar depressões,
proximidades com dolinas e demais áreas cársticas, linhas de drenagem propícias à
erosões pontuais, entre outros.

Considerando novas geotecnologias, sabe-se que a ocupação do solo e o uso do


território se compõem de maneira dinâmica, o que de pronto modo torna os produtos
cartográficos desatualizados. Essa propagação acarretou uma demanda por mais dados,
com maior qualidade, atualizações frequentes e resoluções cada vez maiores (Ferreira,
2014).

Objetivos

Realizar o levantamento de uma área degradadas localizada na faixa de


domínio de uma rodovia federal por meio de um VANT, de modo a se obter o modelo
digital de superfície que possibilite avaliar, mensurar e propor soluções eficazes para a
reabilitação da área.

418
Assim, são elencados os seguintes objetivos específicos:

a) Vistoria “in loco” para identificação e cadastro da área degradada;


b) Realização do voo com um VANT para aquisição de imagens aéreas;
c) Obtenção do modelo digital de superfícieda área degradada; e
d) Avaliação e mensuração dos dados obtidos.

Material e métodos

5.1 Área de Estudo

A área degradada vistoriada e imageada pelo presente estudo localiza-se no


município de Picada Café/RS (UTM: 486.558,00m E / 6.741.463,00m S – Zona 22) e é
caracterizada por um relevo montanhoso com ocorrência de argissolos e nitossolos.

A área compreende uma erosão localizada nas adjacências do km 192,2 da BR-


116, no município de Picada Café/RS (Figura 1). A instabilidade da encosta local,
somada as características pluviométricas da região, favorecem o aparecimento de novas
erosões, gerando riscos aos usuários da via.

Figura 1–Localização da área de estudo, inserida dentro da faixa de domínio da rodovia


BR-116/RS – Picada Café/RS.

5.2Veículo aéreo não tripulado

Utilizou-se uma aeronave multirrotor, modelo DJI Phantom 2 Vision, com


autonomia de voo entre15 e30 minutoscom uma bateria de 5.200mah de 11.1 volts, com
capacidade de aquisição de fotografias aéreas com resolução de até 14MP, monitoradas
por um dispositivo smarthphone ou tablet, acoplado num suporte específico anexado ao
controle, com visão em primeira pessoa - FPV (Front Person View) (Figura 2).

419
Figura 2–Sistema VANT utilizado para imageamento e inspeção da área degradada,
modelo DJI Phantom 2 Vision.

O VANT multirrotor modelo DJI Phantom 2 Vision também possui um sistema


inteligente de piloto automático com suporte do GPS integrado (Naza-M), podendo
atingir velocidades de voo horizontal de 10m/s e velocidades verticais de 6m/s.

420
5.3 Procedimentos metodológicos

Os métodos empregados para a execução deste trabalho encontram-se descritos


na Figura 3. Em dezembro de 2016 realizou-se uma campanha de campo a fim de
vistoriar “in loco” a área degradada na faixa de domínio da rodovia federal BR-116/RS.

Estudo Preliminar Realização do voo Processamento Avaliação


da Área a ser para aquisição digital das ambiental da área
Imageada das fotografias imagens de estudo
aéreas

Figura 3–Fluxograma dos métodos empregados.

Estudo preliminar da área degradada

O estudo preliminar da área degradada fez-se através de vistoria “in loco” na


faixa de domínio (40/40 metros para cada lado a partir do eixo da rodovia) da rodovia
federal BR-116/RS. Coletou-se, assim, informações referentes à caracterização do
segmento rodoviário, ou seja, o número de pistas, o tipo de pavimento, a presença de
acostamento, o relevo, bem como informações referentes ao passivo ambiental
identificado, a saber: distância da área degradada ao eixo da rodovia, lado da rodovia,
identificação técnica do passivo e mensuração aproximada “in loco”.

Todas informações coletadas possibilitaram determinar o nível de gravidade do


passivo,neste caso definido como a área degradada em questão, as possíveis causas
associadas, as prováveis consequências, entre outras informações pertinentes.

Realização do voo para aquisição das fotografias aéreas

A partir do estudo da área degradada e do seu relevo, foi estabelecida a rota


que o VANT deveria seguir para adquirir as fotografias aéreas verticais. A altura média
de voo variou entre 40 e 60 metros, de modo a contemplar um imageamento total de,
aproximadamente,13.000 m².

421
Figura 2–Realização do voo através de um VANT, tipo multirrotor, para aquisição das
fotografias aéreas.

Processamento digital das imagens

No que refere-se ao processamento digital das imagens, seguiu-se a


metodologia proposta pro Luz e Antunes (2015), ou seja, a construção de um modelo3D
da área de interesse através do software Agisoft PhotoScan, exportando o modelo digital
de superfície (MDS) e a ortofoto. O procedimento de processamentodas fotografias
adquiridas e da construção domodelo 3D compreendeu as fases descritas a seguir:

a) Alinhamento das fotografias: Ao adicionar as fotografias, o


Photoscan realizou a leitura das informações armazenadas nas imagens,
como por exemplo: a distância focal e a dimensão do pixel para a
orientação interna aproximada e os centros de projeção resultantes do
posicionamento do GPS instalado no VANT. Na sequência, procurou-
se por pontos homólogos entre as fotografias (orientação relativa de
pares de imagens) num processo único em bloco (Figura 3);

422
Figura 3–Esquerda: alinhamento aéreo das fotografias obtidas. Direita: vista
longitudinal das tomadas fotográficas obtidas pelo VANT, nas distintas alturas de 40 e
60 metros.

b) Construção da nuvem de pontos: o conhecimento das posições


aproximadas dos centros de projeção permitiu, através do ajuste de
feixes, se obter as orientações externas aproximadas. Como resultado,
formou-se uma nuvem de pontos esparsos, os quais auxiliaram
naconstrução do modelo 3D (Figura 4). Não foram obtidos pontos de
apoio com coordenadas geodésicas planialtimétricas para otimizar o
modelo.

Figura 4–Modelo 3D construído a partir da nuvem de pontos texturizada, obtida através


dos pontos homólogos localizados em distintas fotografias obtidas com o VANT e
processadas no Photoscan. Em detalhe: vista lateral do modelo, de com delimitação
préviada área degradada ao entorno de vegetação.

c) Construção da malha poligonal 3D: nesta etapa, o Photoscan


reconstruiu a malha poligonal 3D, a partir de todas asimagens, dando
origem à nuvem de pontosdensa. O Photoscan utiliza uma abordagem
“multi vision stereo”, descrita em detalhes por Furukawa e Ponce
(2010). Gerou-se, uma grade triangular irregular (TIN)(Figura 5) e o
respectivo MDS (Figura 6). Quanto maior a irregularidadedo relevo,
maior a densidade de pontos e,consequentemente, maior a densidade
detriângulos da grade irregular.

423
Figura 5– Grade triangular irregular – TIN obtida no processamento com o Photoscan.

Figura 6 – Malha poligonal 3D texturizada, obtida através do Photoscan, com


possibilidade de identificação e melhor delimitação da área degradada. Em detalhe:
prováveis áreas degradadas.

Resultados e Discussão

Considerando-se que o objetivo principal do presente trabalho foi utilizar um


VANT como ferramenta auxiliar na identificação de passivos ambientais, ora
delimitados apenas para áreas degradas na faixa de domínio das rodovias, os resultados
obtidos foram:

a) Para o processamento digital das imagens foram utilizadas 91


fotografias aéreas, obtidas em duas alturas distintas (40 e 60 metros).
Como resultado, obteve-se uma nuvem com 73.789 pontos homólogos
entre as fotografias;

b) De modo a otimizar o tempo “in loco”, na possibilidade de se


inspecionar várias áreas degradadas ao decorrer de um dia de trabalho,
um plano detalhado de voo não se fez necessários em decorrência do
tamanho da área a ser imageada ser pequena. Assim, em casos de áreas

424
maiores de imageamento, recomenda-se que se planeje o voo de modo a
se obter um alto índice de sobreposição lateral e longitudinal, superior à
90% em ambas, em razão da instabilidade da plataforma no instante de
tomada de cada fotografia e, também, há necessidade de se adquirir
uma quantidade maior de pontos homólogos durante o processamento,
evitando-se áreas sem recobrimento. Esta é uma importante condição
que deve ser respeitada ao se realizar mapeamento com plataformas
autônomas;

c) A aerotriangulação, através de uma grade irregular, gerou 10.000 faces


triangulares, distribuídas em 5.116 vértices. Segundo Santos et al.
(2008) A rotina computacional não utiliza a malha regular no
processamento por não ser adequada para representar a topografia de
uma área e pela dificuldade em se representar descontinuidades naturais
(divisores de água, canais, falhas geológicas e lagos) e artificiais
(reservatórios, prédios e taludes de rodovias) do terreno;

d) Através da integração entre softwares CAD, GIS e o dimensional do


terreno exportado do Photoscan, pode-se obter a área total degradada
igual a310,52 m² e um volume lixiviado de46,80 m³ de solo. Com tais
informações há a possibilidade de se estimar um provável custo de
recuperação da área, através da valoração das intervenções por meio do
Sistema de Custos Referencias de Obras (SICRO2) do DNIT, do
Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil
(Sinapi) e outras referências de preços.

Com relação à avaliação ambiental da área de estudo, a vistoria preliminar “in


loco” da área permitiu identificar o passivoquanto à sua localização, ou seja, no
acostamento e na faixa de domínio do lado direito da rodovia, e quanto à sua tipologia,
caracterizada como uma área degradada oriunda de erosão. Segundo Santos (2007), a
medida que a água superficial escoa nas zonas montanhosas carrega juntamente grande
quantidade de material de variadas dimensões representando alto poder destrutivo.
Essas áreas apresentam um escoamento de alta velocidade em função da inclinação
acentuada, o que contribui de forma significativa no carreamento dos materiais. Dessa
forma, o provável início da situação supracitada foi devido a drenagem deficiente, falta
de proteção vegetal ou ausência total de intervenção.

De acordo com o DNIT (2005), diante da necessidade do gerenciamento dos


recursos disponíveis para a realização das obras de recuperação dos passivos
ambientais, é necessária a priorização das intervenções, de modo a dirigir a execução
para o conjunto que represente o melhor e maior ganho ambiental possível em toda
malha viária.Para tanto, utilizou-se o método definido pela UFPR (2015), denominado
de Índice de Priorização (IP) para a recuperação do passivo ambiental, definido pela
soma do produto da Gravidade de Ocorrência (GO) do passivo ambiental, da
Interferência (I), da Intensidade do Tráfego (T) da rodovia, de questões Agravantes
(Ag), da Tendência de Evolução (TE) do passivo e de aspectos Atenuantes (At) e

425
respectivos pesos atribuídos. O valor de IP foi de 4,3 e corresponde à necessidade
urgente de recuperação da área, ou seja, indica passivos ambientais de gravidade
intermediária cujas ações de recuperação podem ser de médio prazo.

Por fim, pode-se afirmar que as possíveis causas associadas a ocorrência do


passivo ambiental remetem à ausência de um Programa de Recuperação de Áreas
Degradadas (PRAD), resultando na não recuperação imediata da área explorada pela
construtora. Como consequência tem-se a lixiviação e degradação do solo exposto.

Conclusões

A adoção de métodos automatizados de modelagem tridimensional do


terreno,por meio de fotografias com visão estereoscópica obtidas por
VANT,demonstrou ser uma alternativa eficiente para o detalhamento e quantificação de
áreas degradadas nas margens de rodovias pavimentadas.

O fácil acesso a estas áreas, a praticidade em realizar as operações de aquisição


das tomadas aéreas com plataformas autônomas e a eliminação da defasagem temporal
das imagens de satélite faz com que os VANTs se tornem uma alternativa viável para a
aquisição de parâmetros do terreno e demais características de interesse, com vistas à
identificação e quantificação de passivos ambientais.

Com relação à aspectos ambientais, a área degradada em questão advém de


uma erosão pontual, detectada com frequência em faixas de domínio das rodovias do
país, e a prática da utilização de um VANT como ferramenta auxiliar na identificação
desses locaisse apresenta como uma tendência inovadora, com levantamentos mais
fidedignos e precisos. Ainda há de se levar em consideração que muitas áreas com
passivos ambientais são de difícil acesso e a constatação das mesmas por via terrestre é
impraticável.

Ademais, embora possam ocorrer variações de métodos e técnicas a serem


envolvidos no levantamento, estudos detalhados devem ser realizados para cada caso e
uso específico. Entretanto, arrisca-se afirmar que os VANTs podem ser aplicados de
forma análoga ao proposto na presente pesquisa em ocorrências ambientais de
abrangência espacial semelhante, com resultados promissores.

Agradecimentos
Os autores agradecem ao Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNIT)e o Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura da
Universidade Federal do Paraná (ITTI/UFPR).

Referências bibliográficas

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operação aérea de Aeronave Remotamente Pilotada do Departamento de Polícia
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BRASIL. Casa Civil. Decreto 97.632 de 10 de abril de 1989. Dispõe sobre a


regulamentação do Artigo 2°, inciso VIII, da Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981,
e dá outras providências. Brasília, 1989.

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Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

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Ambiente. Brasília, 1981.

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Interministerial MMA/MT nº 288. Brasília, 2013.

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CONAMA. Resolução 001/1986. Brasília: 1986. Disponível em:

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Toronto. Anais… Worcester, MA, USA, 2002, p. 2726-2728.

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cases de dados cartográficos geológicos – Estudo de Caso: Sistema Cárstico do Rio
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1452. Nov/dez 2015.

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tripulados no planejamento territorial. X Congresso Brasileiro de
Agroinformática. Out, 2015.

MEDEIROS, F. A., Desenvolvimento de um veículo aéreo não tripulado para


aplicação em agricultura de precisão. 2007. 122 f. Dissertação (mestrado em
Ciências Rurais), Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2007.

PIMENTA, A.; RATTON, E.; BLASI, G.; SOBANSKI, M.; ALBACH, D. Gestão
para o licenciamento ambiental de obras rodoviárias – conceitos e procedimento.
Curitiba/PR, 2014.

428
11° SIMPÓSIO NACIONAL DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

APRESENTAÇÕES EM FORMATO DE PÔSTER

RECUPERAÇÃO DE ÁREA DEGRADADA POR GARIMPO DE


OURO NO RIO CREPORI-PA
5
A. C, da PENHA; R. S. P, CARDOSO; L. G, da SILVA.

DESENVOLVIMENTO DE APLICATIVO PARA AUXÍLIO NA


DECISÃO DA REVEGETAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO
BIOMA CERRADO

10 R. S. S. S. R. França; E. É. V. Miranda;

Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul


Cidade Universitária de Dourados - Rodovia Itahum, Km 12, s/n - Jardim
Aeroporto, Cep: 79804-970, Dourados - MS, Brasil. (67) 3902-2360

A IMPLANTAÇÃO DO CADASTRO AMBIENTAL RURAL EM


IVINHEMA-MS

O. POKREVVIESKI; G. A. MORAIS
11
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Unidade de
Ivinhema, Av. Brasil, 771, Bairro Centro, CEP 79740-000, Ivinhema –
MS, Brasil, [email protected], (67) 3921 1480

SERAPILHEIRA PRODUZIDA EM ÁREAS DE MATA CILIAR


COM DIFERENTES ESTÁGIOS DE RECUPERAÇÃO NO
MUNICÍPIO DE MARMELEIRO, PARANÁ

Fabíola Aparecida Dopfer1; Luciana Pellizzaro2


12
1
Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas da Universidade
Paranaense – Unipar. Francisco Beltrão. e-mail: [email protected]
2
Orientadora, Professora Adjunta do Curso de Ciências Biológicas –
Unipar. Francisco Beltrão.

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA MATA DE GALERIA DO


RIBEIRÃO MOGI (UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS)
13 ASSOCIADO AO LEVANTAMENTO DA VEGETAÇÃO
ARBÓREA

B. B. ROSA; A. R. T. NASCIMENTO

429
Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Biologia, Av. Pará, nº
1720, Campus Umuarama, Uberlândia, Minas Gerais,
[email protected]

POLÍTICA, PROJETOS DE RESTAURAÇÃO AMBIENTAL E


RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

14 M. J. A. Silva

Departamento de Pós-Graduação em Geografia Humana/ FFLCH /USP.


E-mail: mjandrade [email protected]

PROCESSO INICIAL DE RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA


DEGRADADA NO MUNICÍPIO DE PATOS DE MINAS, MG

V. M. Machado1; V. F. Santos Filho2; W. G. Silva3; I. D. Peres² e W. M.


S. Junior3
(1)
20 Professor do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM.
Doutorando em Ciências Florestais – UnB; [email protected]
(2)
Engenheiro Sanitarista e Ambiental - Centro Universitário de Patos de
Minas – UNIPAM.
(3)
Acadêmico do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do Centro
Universitário de Patos de Minas – [email protected].
Rua Major Gote, 808, Patos de Minas - MG, CEP 38700-000.

ANÁLISE DA EFETIVIDADE DE TÉCNICAS DE NUCLEAÇÃO


PARA ENRIQUECIMENTO FLORESTAL EM ÁREAS URBANAS
NO MUNICÍPIO DE SOROCABA-SP

K.R. CASTELLI; A.M. SILVA


21
Instituto de Ciência e Tecnologia de Sorocaba – UNESP Sorocaba –
Avenida Três de Março, 511, Sorocaba/SP Brasil -CEP 18087-180. E-
mail: [email protected]; [email protected] Telefone
(55 15 3238-3411). Fax (55 15 3228 2842).

PERCEPÇÃO AMBIENTAL E ETNOBOTÂNICA EM ÁREA DE


PRESERVAÇÃO PERMANENTE RESTAURADA NA
AMAZÔNIA OCIDENTAL
22
A. P. EVARISTO; L. H. V. LENCI; SOUZA, W.; A. O.
CARVALHO; K. M. Q. TRONCO

Universidade Federal de Rondônia, Av. Norte Sul, 7300 - Nova Morada,

430
Rolim de Moura - RO, Brasil, [email protected], (69)
98459-9763

AVALIAÇÃO DO EFEITO INIBITÓRIO DE EXTRATO


HIDROETANÓLICO DE Myriophyllum aquaticum (Vell.) Verdc.
SOBRE O CRESCIMENTO DE Microcystis aeruginosa Kützing

31 R.S.A. Kitamura9; L. R. R Martins10; T. A.Pagioro2

Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Rua Deputado Heitor


Alencar Furtado, 4900 - Cidade Industrial, Curitiba - PR, Brasil, 8128030
¹[email protected]; [email protected]²;
[email protected]²

DIAGNÓSTICO DE UM REFLORESTAMENTO SOB A


INFLUÊNCIA DA Dodonaea viscosa, ARAÇOIABA DA SERRA/SP
32
A. M. Rodrigues; V. P. Almeida; D. C. C. Silva
Universidade de Sorocaba. Rod. Raposo Tavares, km 92.5, Sorocaba-SP,
Brasil. [email protected]. Tel: (15)2101-7000.

AVALIAÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS NO USO DOS


MÉTODOS NÃO DESTRUTIVOS PARA INSTALAÇÃO DE
GASODUTOS – Estudo de Caso: GASMIG – MINAS GERAIS

R. F. ; SILVA
33
Faculdade Pitágoras – Unidade Raja Gabaglia – Belo Horizonte (MG)
Endereço: Av. Raja Gabaglia, 1306 – Cidade Jardim - MG – CEP 30160-
041
Fone: (31) 2111-2800

FLORÍSTICA E ESTRUTURA FITOSSOCIOLÓGICA DE


DIFERENTES ÁREAS DE RESTINGA HERBÁCEA NA
LOCALIDADE DE BALNEÁRIO CAMPO BOM, JAGUARUNA-
SC
36
SCHLICKMANN, M. B.¹; DUARTE, E.¹; FERREIRA, M. E. A.²;
VARELA, E. P.²; PEREIRA, J. L.²

¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de


Ciências Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta Dinheiro -
Lages – SC, Brasil. CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-9100. E-mail:

431
[email protected]
² Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) - Av. Universitária,
1105 - Universitário, Criciúma, SC- Brasil. CEP: 88.806-000. Telefone:
(48) 3431-2500. E-mail: [email protected]

ESPÉCIES ARBOREA-ARBUSTIVAS ADOTADAS NA


RECUPERAÇÃO DE CORPOS
HÍDRICOS NO MUNICÍPIO DE RESERVA DO IGUAÇU,
PARANÁ, BRASIL
39
A. C. Boschetti; J. A. Mazon;

Faculdade Guairacá, Rua XV de Novembro, 7050 – 85010-000 – Centro,


Guarapuava - Brasil, [email protected], 42 99832-7730

ESTADO DE CONSERVAÇÃO E USO E OCUPAÇÃO DO SOLO


DE ÁREAS DE NASCENTES DA SUB–BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO PIAUTINGA, NO MUNICÍPIO DE SALGADO, SERGIPE

R.A. FERREIRA1, M.F.O TORRES2, SANTOS, T.I.S3, OLIVEIRA,


D.G4
1
Engenheiro Florestal, Prof. Doutor da Universidade Federal de Sergipe,
Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos, Av. Marechal
Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 São Cristóvão, Brasil.
[email protected]
²Engenheira Florestal, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
41
Agricultura e Biodiversidade, Universidade Federal de Sergipe, Cidade
Universitária Prof. José Aloísio de Campos, Av. Marechal Rondon, s/n
Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 São Cristóvão, Brasil.
[email protected]
3
Engenheiro Florestal, Mestrado em Agroecossistemas pela Universidade
Federal de Sergipe, Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos,
Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 São
Cristóvão, Brasil. [email protected]
4
Engenheiro Florestal, Mestrado em Ecologia da Conservação pela
Universidade Federal, Sergipe, Cidade Universitária Prof. José Aloísio de
Campos, Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000
São Cristóvão, Brasil. [email protected]

ANÁLISE DE FALHAS ESTRUTURAIS OCORRIDAS NAS


OBRAS DE DUPLICAÇÃO DA BR 470 NO VALE DO ITAJAÍ
43
F. A., Schorn; G. C., Kopper-Müller; M. P. Serbent; J. J. Aumond.

Universidade Regional de Blumenau, Rua São Paulo, 3.250 - Itoupava


Seca - CEP 89030 - 0000 - Blumenau - Santa Catarina - Brasil.

432
E-mail: [email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]

MEDIDAS FÍSICO-BIOLÓGICAS PARA RESTAURAÇÃO DE


UMA ÁREA COM DECLIVIDADE ACENTUADA E FORMAÇÃO
DE LAJES, RESULTADO PARA USO DE ALMOFADAS
ORGÂNICAS
44
F.T.A. Coelho; R.R.Silva; T.M.N.Santos

Gerência Executiva de Ferrosos Centro-Oeste, Rodovia Morro Santa


Cruz, CP 221, CEP 79301-970, Corumbá, MS, Brasil. E-mail:
[email protected], Fone (67) 3234-7722/981367212

ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE RESTAURAÇÃO EM ÁREA


DEGRADADA POR MINERAÇÃO DE ARGILA NO MUNICÍPIO
DE DOUTOR PEDRINHO/SC

F. A., Schorn; G. C., Kopper-Müller; M. P. Serbent; J. J. Aumond.


45
Universidade Regional de Blumenau, Rua São Paulo, 3.250 - Itoupava
Seca - CEP 89030 - 0000 - Blumenau - Santa Catarina - Brasil.
E-mail: [email protected]; [email protected];
[email protected].
Fone para contato: 047999290221; 047999180454; 048999895387.

RIO DE SABERES - AS MUITAS MARGENS DO RIO POMBA:


UMA AVALIAÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO DO
INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE CAMPUS SANTO
ANTÔNIO DE PÁDUA BASEADO NA AÇÃO DE
REFLORESTAMENTO DE MATA CILIAR
46
J. F. da S PERES1; A. C. R. da SILVA2
1
Mestrando em Geografia/Universidade Federal Fluminense
[email protected]
2
Professor EBTT Instituto Federal Fluminense
[email protected]

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DOS


FOCOS DE INCÊNDIO NO PANTANAL (2000-2016)
47
W. T. S. Ferreira(1,2); A. P. C. Rabelo (2); L. Larcher(2)
(1)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS/FAENG/PGRN

433
Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais
Avenida Costa e Silva, s/n - Bairro Universitário - Campo Grande/MS
(Brasil)
[email protected]; [email protected] / fone: (67) 3345-
7392
(2)
Instituto Homem Pantaneio - IHP
Ladeira José Bonifácio, 171, Porto Geral - Corumbá/MS (Brasil)
[email protected]; [email protected];
[email protected]

CONTEXTO ALTIMÉTRICO DE CÁCERES-MT:


SUSCEPTIBILIDADE A INUNDAÇÕES NO PERÍMETRO
URBANO

L, Santos¹; J; C; O; Soares²; C; A; G; P; Zamparoni²


51
¹Universidade do Estado de Mato Grosso, Cep 78200000, Cáceres-MT,
Rua Campos Sales, Bairro Jardim Cidade Nova Nº 290,
[email protected]
²Universidade do Estado de Mato Grosso.
[email protected]
²Universidade Federal de Mato Grosso. [email protected]

A RECUPERAÇÃO DA BACIA DO RIO DOCE IMPACTADA


PELO ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE FUNDÃO EM
MARIANA/MG: AÇÕES DE FISCALIZAÇÃO E
MONITORAMENTO PELOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS

Fernandes, P.R.M.1; Amparo, A. P2; Oliveira, G. B.2; Gomes, R.J.1; Melo,


M.F.1
52
1
Fundação Estadual do Meio Ambiente. End: Cidade Administrativa
Presidente Tancredo Neves, Rodovia Papa João Paulo II, 4143 - Edifício
Minas - 1º andar - Bairro Serra Verde, Belo Horizonte / MG, Brasil, Cep:
31630-900, e-mail: [email protected], Tel:
3915-1107; 2Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais.
End: Av. do Contorno, 8121 - Lourdes, Belo Horizonte/MG, 30110-051,
e-mail: [email protected], Tel: (31) 3555-6100.

IDENTIFICAÇÃO DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS EM


55 ÁREAS EM RECUPERAÇÃO AMBIENTAL:
O SENSORIAMENTO REMOTO COMO UMA
FERRAMENTA DE ANÁLISE

434
J. C. S. ROSA11; B. A. SOUZA12;; C. S. MACHADO13;; M.
GIANNOTTI14; J. A. QUINTANILHA15; L. E. SÁNCHEZ16
1
Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo – FAPESP,
doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral,
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Autor para
correspondência. Av. Professor Mello de Moraes 2373. CEP: 05508-900
São Paulo, SP. Brasil. [email protected] (11) 30915188.
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral,
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
1
Pós-doutoranda no Departamento de Engenharia de Transportes, da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
1
Professora do Departamento de Engenharia de Transportes, Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo.
1
Professor do Departamento de Engenharia de Transportes, Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo.
1
Professor Titular do Departamento de Engenharia de Minas e de
Petróleo, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS DE DEGRADAÇÃO DOS


SOLOS E DA VIABILIDADE SOCIOECONOMICA E
AMBIENTAL DE PRÁTICAS DE RECUPERAÇÃO E
CONSERVAÇÃO, COM BASE NOS CRITÉRIOS DE
SEGURANÇA ALIMENTAR (ASSENTAMENTO RURAL PDS
SANTA HELENA, SÃO CARLOS-SP)

F.E. CARDOZO; Fernanda Esteves Cardozo


Prof ª Drª Vania Silvia Rosolen
56
Programa de Pós Graduação em Geociências e Meio Ambiente
Instituto de Geociências e Ciências Exatas- UNESP- Campus Rio
Claro/SP
Avenida 24 A,1515 cep: 13506-900 Rio Claro - SP
[email protected] FONE: (19) 3526-9000

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DE


AMBIENTES FLORESTAIS NO PARQUE ESTADUAL DA
57 SERRA DO ROLA MOÇA

C. N. Costa; F. M. Vasconcelos; L. G. N. V. da Silva; M. U.


Vasconcelos.

435
Associação Mineira de Defesa do Ambiente - Amda
Rua Costa Pinto, 258, Vila Paris. Belo Horizonte - MG. CEP: 30380-700
www.amda.org.br / [email protected]
Telefax: (31) 3291 0661

LICENCIAMENTO AMBIENTAL: PROGRAMA DE


IDENTIFICAÇÃO, CONTROLE E CORREÇÃO DE PROCESSOS
EROSIVOS E PONTOS CRÍTICOS DE SISTEMAS DE
DRENAGEM APLICADO A MALHA FERROVIÁRIA SOB
CONCESSÃO DA RUMO LOGÍSTICA

Age, G.S¹; Cavalheiro, N.C.L²; Correia, C.C³; Ribeiro, R.P4; Zawadzki,


J.M5
1
Bióloga/Coordenadora de Licença de Operação na RUMO Logística.
58
Email: [email protected]
2
Geóloga/Auditora Ambiental na RUMO Logística. Email:
[email protected]
3
Geógrafa/ Auditora Ambiental na RUMO Logística. Email:
[email protected]
4
Engenheira Cartógrafa e Agrimensora/Auditora Ambiental na RUMO
Logística. Email: [email protected]
5
Engenheiro Ambiental/Auditor Ambiental na RUMO Logística. Email:
[email protected]

ESTOQUE DE CARBONO NA BIOMASSA VEGETAL EM


SISTEMAS AGROFLORESTAIS BIODIVERSOS NA REGIÃO
FRONTEIRIÇA DO BRASIL COM O PARAGUAI

M. P. PADOVAN1; G. R. SALOMÃO2; Z. V. PEREIRA2; L. F.


CARNEIRO3; S. S. L. FERNANDES4; J. S. NASCIMENTO2
62 1
Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS. Email:
[email protected]; 2Universidade Federal da Grande
Dourados, Dourados, MS. Email: [email protected],
giselebrito_gbs @hotmail.com, [email protected];
3
Universidade Federal de Goiás, Jataí, GO. Email:
[email protected]; 4Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul,
Dourados, MS. Email: [email protected]

DIAGNÓSTICO GEOFÍSICO DE VALA DE ATERRO


SANITÁRIO COM FURO NA GEOMEMBRANA
71
L.P.I.Helene1, C.A. Moreira2, L.M. Ilha3, F.T.G.Rosa4, S.F.Santos5, M.A.
Silva6
1, 2, 3, 4, 5, 6
Universidade Estadual Paulista “ Júlio de Mesquita Filho”,

436
Avenida 24 A n. 1515, Bela Vista. CEP 13506-900, Rio Claro, São Paulo
Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected].

SELEÇÃO DE PLANTAS PARA OBRAS DE ENGENHARIA


NATURAL NO PARQUE SÃO LOURENÇO EM CURITIBA – PR

L. G. ZORZAN¹; L. V. C. CASTELANI²; E. GAVASSONI³;


72
Universidade Federal do Paraná, Curitiba – PR
C.P. 19011, 81531-990
¹[email protected]
²[email protected]
³[email protected]

ANÁLISE DA MICRODRENAGEM NO BAIRRO CIDADE NOVA


LOCALIZADO NO MUNICIPIO DE BREVES ARQUIPELAGO
DO MARAJÓ (PA), ANO 2016

Rebeca Emmanuela de Azevedo Duarte(1)


Discente de Engenharia Ambiental da Faculdade Estácio de Belém –
IESAM
Letícia Karine Ferreira Vilhena(2)
Discente de Engenharia Ambiental da Faculdade Estácio de Belém –
IESAM
78
Daniele Miranda Pereira(3)
Discente de Engenharia Ambiental da Faculdade Estácio de Belém -
IESAM
Helenice Quadros Menezes(3)
Engenheira Sanitárista pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Pará
(UFPA).
Endereço(1): Rua Frederico Scheneipp, Vila são José, nº 7. Bairro do
Telegrafo - Belém - Pará - CEP: 66113230 - Brasil - Tel: +55 (91)
983342640 - e-mail: [email protected]

NORMAS E DIRETRIZES PARA A RESTAURAÇÃO


FLORESTAL: DESAFIOS DOS CRITÉRIOS DE PRIORIZAÇÃO
DE ÁREAS
80
J.S.Nascimento; R. U. Resende; M.R. Nascimento; J.C. Campanha
Iniciativa Verde, Rua João Elias Saada, 46, Pinheiros, São Paulo, SP,
Brasil
[email protected], contato: +55113647-9293

ENSINO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO


CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VÁRZEA GRANDE POR MEIO

437
DA PEDAGOGIA DE PROJETOS: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
81
W. de O. Rocha1; R. L. J. S. Villela2; K. D. B. Maas1
1
Professores do Curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário
de Várzea Grande – UNIVAG, Av. Dom Orlando Chaves, 2655, Cristo
Rei, Várzea Grande – MT, CEP 78118-900. E-mail:
[email protected] , Contato: (65) 3688-6215.
2
Professora do Plural Centro Educacional, Rod. Arquiteto Helder Cândia,
101 - Jardim Ubirajara, Cuiabá - MT, e Mestranda em Ensino de Ciências
Naturais – Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária, Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367,
Boa Esperança, Cuiabá – MT, CEP 78060-900. E-mail:
[email protected].

RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DE EXTRAÇÃO DE ARGILA NO


CERRADO

Alves, R. B. R.1; Ferreira, I. M.2; Figueiredo, T. A. B. R. A.3; Cruz, R. L.4


1
Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de
Geografia - Pós-graduação em Geografia. Contato:
[email protected]. Mestrando – bolsista - FAPEG.
2
82 Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de
Geografia - Pós-graduação em Geografia. Contato:
[email protected]. Professor Doutor.
3
Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Instituto de Ciências
Agrarias. Contato: [email protected]. Graduação em
Agronomia.
4
Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de
Geografia - Pós-graduação em Geografia. Contato:
[email protected]. Mestranda – bolsista - FAPEG.

DINÂMICA DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E O IMPACTO


NAS ÁREAS DE PERSERVAÇÃO PERMANENTE NO
MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO GUAMÁ-PA

Nayanna de Nazaré Brito Freitas1; Paulo Cezar Gomes Pereira2; Osmar


José Romeiro de Aguiar3.
86
1
Universidade do Estado do Pará – UEPA, Avenida Nazaré n°659 bairro
Vila Nova CEP: 68660-000, São Miguel do Guamá – PA, Brasil, e-mail:
[email protected]; 2Universidade do Estado do Pará – UEPA,
Conjunto Médici II rua Benfica n°175 bairro Marambaia CEP:66620-090,
Belém-PA, Brasil, e-mail: [email protected]; 3Universidade do Estado
do Pará – UEPA, Travessa Lomas Valentinas n° 645 bairro Pedreira
CEP: 66080322, e-mail: [email protected].

438
CADASTRO AMBIENTAL RURAL: DE POLÍTICA PÚBLICA A
FERRAMENTA DE GESTÃO TERRITORIAL NO ESTADO DE
MINAS GERAIS

M.L.M.S.L, MEGALE; J.M, PEREIRA; F.T, SILVA; F.A.R,


GUIMARÃES; D.F.S, CUNHA; J.C, CHAVES; G.F, MOREIRA;
87
G.L.G.F, FERNANDES; T.C, GELAPE;

INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS - Cidade Administrativa do


Estado de Minas Gerais-Rodovia João Paulo II, 4143- CEP: 31630-900 -
Bairro Serra Verde - Belo Horizonte - Minas Gerais-Brasil – email:
[email protected] Telefone: (031)3915-1159

RESTAURAÇÃO FLORESTAL EM ÁREAS PROTEGIDAS: UM


RELATO DO MOSAICO DO JACUPIRNGA, SP

Resende; R. U.
88
Bim, O. J. B. - [email protected]
Iniciativa Verde, Rua João Elias Saada, 46, Pinheiros, São Paulo, SP,
Brasil, contato: +55113647-9293

VIVEIRO FLORESTAL: COMPENSAÇÃO AMBIENTAL


APLICADA À RESTAURAÇÃO AMBIENTAL NO ESTADO DE
RORAIMA

M.M. Faria1,2; M.F.S. Lima2; F.F. Alves2; R. M. Campos2


90
Universidade Federal de Roraima – UFRR, Avenida Capitão Ene Garcez,
2413, Aeroporto, 69310-000, Boa Vista - RR, Brasil,
[email protected]; Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos – FEMARH, Av. Ville Roy, 4935, São Pedro, 69306-665, Boa
Vista - RR, Brasil, [email protected],
[email protected], [email protected].

UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DE GEOPROCESSAMENTO


PARA AVALIAÇÃO DE PASSIVOS AMBIENTAIS
DECORRENTES DE OPERAÇÕES DE MECANIZAÇÃO
AGRÍCOLA EM ZONAS RIPÁRIAS
94
Thayanne Cristine da Silva Carrilho1

Universidade Nilton Lins - Av. Professor Nilton Lins, 3259. Parque das
Laranjeiras - CEP: 69058-030 - Manaus/AM. Telefone: (92)3643-2000

439
USO DA CHUVA DE SEMENTES COMO INDICADOR DA
RESTAURAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS EM SOROCABA,
SP

Marín Paladines, Harvey1; Piotrowski, Ivonir2; Piña-Rodrigues, Fatima C.


M.(O)3 [email protected]
1
98 Mestrando em Planejamento e Uso de Recursos Renováveis,
Departamento de Ciências Ambientais, UFSCar Sorocaba, Rod. João
Leme dos Santos, Km 110, 18052-780, Sorocaba, São Paulo, Brasil.
2
Doutorando em Planejamento e Uso de Recursos Renováveis,
Departamento de Ciências Ambientais, UFSCar Sorocaba, Rod. João
Leme dos Santos, Km 110, 18052-780, Sorocaba, São Paulo, Brasil.
3
Departamento de Ciências Ambientais, Universidade Federal de São
Carlos Campus Sorocaba

PLANTIO COMPENSATÓRIO DAS OBRAS DE DUPLICAÇÃO


DA VIA FÉRREA DE CAMPINAS ATÉ EMBU-GUAÇU/SP NAS
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DEGRADADAS NO
MUNICÍPIO DE CRAVINHOS/SP
101
J. S. T. Gusso; S. M. Azuma

Rumo Logística S.A. - Rua Emilio Bertolini, nº 100, Vila das Oficinas,
Curitiba/PR, CEP 82920-030, site: www.pt.rumolog.com; email:
[email protected] – (41) 2141-9754.

QUALIDADE DE MUDAS DE Hymenaea courbaril L. EM


DIFERENTES SUBSTRATOS, PARA RECUPERAÇÃO DE
ÁREAS DEGRADADAS

Gilderlon dos Santos Soares1; Nayara dos Santos Queiroz1; Jairo Rafael
Machado Dias1; Nilson Reinaldo Fernandes dos Santos Júnior1; Diogo
Arthur Valiati Dantas1; Alessandra Alves Costa1; Wanderson Cleiton
103 Schmidt Cavalheiro1; Jhony Vendrusculo1

Universidade Federal de Rondônia, Av. Norte Sul, 7300 – Nova Morada,


Rolim de Moura – RO, 78987-000, [email protected];
[email protected]; [email protected];
nilsonrfs.junior @gmail.com; [email protected];
[email protected]; [email protected];
[email protected]

440
RECUPERAÇÃO DE ÁREA DEGRADADA POR GARIMPO DE OURO NO
RIO CREPORI-PA

A. C, da PENHA; R. S. P, CARDOSO; L. G, da SILVA.

RESUMO

O garimpo de ouro vem a décadas, causando severos danos ao meio ambiente, e o


crescente rigor da legislação ambiental e a fiscalização intensa, vem forçando os
garimpeiros a se ajustarem ou abandonarem sua atividade. Neste contexto, uma
cooperativa de garimpeiros buscou legalizar as suas atividades, e o resultado foi a
elaboração de um projeto que buscou viabilizar simultaneamente a exploração aurífera
com a recuperação ambiental. Para tanto, foi realizada uma análise e consulta jurídica
da situação, que culminou, em uma proposta de solução técnica, que visou a extração
aurífera, em que os rejeitos (arroto) do garimpo, passassem por processos de geotécnia
ambiental, para reconformação do relevo alterado e desassoreamento do leito do rio,
com posterior revegetação. Assim, a solução para um grave problema social e ambiental
na região pode ser visualizada, que é o garimpo sustentável.

Palavras Chave: degradação ambiental por garimpo, desassoreamento, controle de


erosão, reconformação de relevo, geotécnia ambiental

1. INTRODUÇÃO

O rio Crepori, localizado no estado do Pará (Figura 1), é um dos afluentes do rio Tapajós, onde
há intensa atividade de lavra garimpeira com foco na extração aurífera. A atividade garimpeira,
no conjunto da bacia hidrográfica do rio Tapajós, é uma grande fonte de impactos ambientais
negativos, que vem sendo alvo cada vez mais frequente de fiscalização por parte de Órgãos
governamentais, que buscam coibir tal atividade impactante na região.

Figura 32: Localização

441
No contexto do rio Crepori, os garimpeiros formaram cooperativas de garimpo, e por meio
destas, tentar legalizar suas atividades, adequando seus procedimentos extrativos com a
sustentabilidade ambiental, algo que vem sendo muito bem recebido por autoridades e órgão
competentes, que no desejo de cumprir suas funções oficiais, também almejam o
desenvolvimento sustentável regional, sendo o garimpo de ouro, um dos principais geradores de
emprego e renda nos municípios da região.

Por meio do interesse de uma cooperativa local, a COMIDEC – Cooperativa Mista de


Desenvolvimento do Crepurizão, de conciliar a atividade garimpeira com a legislação
ambiental, e poder desenvolver suas atividades de forma legal e ambientalmente sustentável, foi
realizado um estudo jurídico da situação, que identificou a possibilidade de tal iniciativa vir a ter
êxito. De posse das informações legais, foram acionados os órgãos competentes, para consulta
jurídica, dos quais se obteve resposta positiva.

Assim, com amparo legal, foi realizado no local de interesse de lavra garimpeira, um estudo
ambiental prévio, partindo do qual, foi elaborado um projeto, que abarca as atividades
garimpeiras com a recuperação ambiental.

A situação do local de interesse é de degradação severa do solo das margens, leito do rio
assoreado, intenso processo de erosão e queda de biodiversidade, dentre outros. E partindo
dessa situação ambientalmente negativa, pretende-se extrair o ouro do material depositado no
leito do rio, assumindo o passivo ambiental existente.

Para tanto, foi proposto, uma solução inédita na região, que se resume em extração aurífera do
leito do rio, com recuperação ambiental simultânea. Que consistirá na execução coordenada de
diversas técnicas de recuperação de áreas degradadas, aplicadas a cada tipo de degradação
identificadas no local, com a lavra garimpeira de ouro no leito do rio, de onde será conduzido o
material retirado do leio para as margens, onde será aplicada procedimentos de geotécnica
ambiental e posterior revegetação das margens.

Dependendo das condições das áreas degradadas locais, há a possibilidade da adoção de


propostas ou destinos de recuperação diversos, como os listados abaixo.

 Reabilitação das áreas degradadas por perturbações irreversíveis se não houver


intervenção antrópica efetiva;
 Preservação dos Remanescentes de Vegetação nas margens, e das áreas que já se
encontram em Recuperação Natural.
 Proteção das Áreas passiveis de Recuperação Natural.
 Utilização preferencial de técnicas e tecnologias de alta sinergia natural.

Estes objetivos foram elaborados para se alinhar com métodos de recuperação de áreas
degradadas, que prezam pela mínima interferência possível, e quando esta for inevitável, que
seja realizada de forma precisa, e com baixa intervenção de maquinário pesado ou reagentes
químicos externos, preferencialmente utilizando técnicas e tecnologias de Bioengenharia e
Engenharia Natural.

De forma a ilustrar os objetivos propostos de forma espacial, foi realizada uma análise da
paisagem e o resultado é o mapa temático abaixo (Figura 2) que representa as áreas de interesse
e o conjunto paisagístico atual e o pretendido.

442
Figura 33: Mapa Temático

Outra forma de ilustrar os objetivos, é o desenho esquemático (Figura 3) em perfil dos


diferentes cenários envolvidos, partindo da situação atual, para uma situação futura pretendida,
com a operação do empreendimento como ponte entre as duas situações.

Figura 34: Perfil Operacional

Sintetizando os objetivos de forma a compreender melhor a atividade proposta para o


empreendimento e levando em consideração as técnicas de Recuperação de Áreas Degradadas
propostas, o objetivo é levar uma área severamente degradada a uma situação futura que permita
a recuperação natural do meio ambiente, e seu funcionamento autorregulado, ou seja, sem mais
recuperação induzida, e que ao mesmo tempo permita uma extração aurífera sustentável entre as
duas situações, a atual e futura.

443
2. MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia proposta para executar a recuperação das áreas degradadas do rio Crepori, segue
os princípios expostos nos objetivos, que consiste na utilização reduzida de máquinas pesadas e
reagentes químicos.

A reabilitação ambiental será simultânea a extração aurífera, que utilizando da técnica S.M.G.I.
retirará as partículas de ouro fino do material dragado do leito do rio, operação esta que produz
rejeito (arroto), que será canalizado para a margem, para ser tratado e utilizado na recomposição
do relevo alterado, e por fim será realizada a revegetação do local. O diagrama abaixo ilustra
este procedimento.

2.1 Caracterização da Degradação

Para a caracterização da degradação, foram levantados dados em campo (dados primários) e


dados de fontes oficiais e referencias técnicas (dados secundários), de forma a subsidiar
uma análise prévia da situação ambiental e a previsão de impactos sejam positivos ou
negativos da implementação do empreendimento proposto.

Dados Primários:
 Levantamento fotográfico – Drone Phanton 3 Standard da DJI, com câmera Full
HD
 Levantamento em Vídeo – Drone Phanton 3 Standard da DJI, com câmera Full HD
 Verificação dos Equipamentos de Extração, Desmonte, Carga, Transporte e Apoio
 Coleta de pontos e coordenadas geográficas por meio de GPS de navegação

Dados Secundários:
 Aquisição de imagens de satélite – Landsat 8.

444
 Levantamento de dados e informações geográficas em órgãos oficiais (EMBRAPA,
IBGE, INPE, INMET)
 Processamento das imagens, dados e informações em Software SIG – Sistema de
Informações Geográfica
 Elaboração de mapas temáticos, desenhos e diagramas

Com o avanço do processo de licenciamento ambiental do empreendimento, será realizado


um estudo mais detalhado da degradação no local, com levantamento topográfico,
amostragem e análise do solo (Estrutural e químico), levantamento botânico e faunístico,
análise da qualidade da água do rio no local de interesse, batimetria e mensuração
sedimentar do leito do rio, dentre outros, que são de fundamental importância para a busca
por soluções de recuperação.
2.2 Extração Aurífera

A extração será realizada por Escariantes, Dragas flutuantes e Balsas de Desmonte


Hidráulico no leito do rio Crepori, o que de acordo com a NRM – 03 é classificada como
Lavra Especial. E como atividades correlatas e de apoio a extração serão utilizados
equipamentos e máquinas de Desmonte, Carga, Transporte e Apoio.

O diferencial que este empreendimento terá, será o destino do rejeito (Arroto) da extração,
que no garimpo tradicional e histórico é disposto no próprio rio, e agora o rejeito será
aproveitado para a reabilitação ambiental.

Para tanto, serão realizadas alterações nos equipamentos de extração conforme a Técnica
S.M.G.I - Smart System of Mining and Gold-Digging (PENHA, 2017), desenvolvida e
idealizada pelo Geólogo Antônio Carlos da Penha. Técnica esta, que permite a retirada de
Ouro fino, que no passado foi deixado pela garimpagem rustica que não dispunha das
tecnologias contemporâneas. Além das partículas finas de Ouro, o S.M.G.I permite o
desassoreamento do rio, de forma que o material dragado é levado para a margem para
tratamento geotécnico.

Os equipamentos utilizados para executar a lavra garimpeira e que também serão utilizados
quando cabível para a recomposição ambiental são os listados na Tabela 1, abaixo.

Tabela 32: Equipamentos e Máquinas


Equipamentos de Extração Escariantes, Dragas flutuantes, Balsas de
Desmonte Hidráulico
Equipamentos de Desmonte Tratores
Equipamentos de Carga Pás carregadeiras, Escavadeiras
Equipamentos de Transporte Caminhões, Basculantes
Moto-niveladoras, Caminhões pipa,
carregadeiras/empilhadeiras de pequeno
Equipamentos de Apoio porte, Comboios de abastecimento e
Equipamentos de suporte

2.3 Recuperação do Relevo

Nas áreas com alteração de relevo serão utilizadas técnicas de (I) Retirada de Material em
áreas com deposição de rejeitos antigos; (II) Aterramento de escavações e cortes, com
material proveniente tanto da dragagem do leito do rio, como da retirada de material com
acréscimos; (III) Retaludamento de escavações e voçorocas, com material remanejado do

445
leito e das margens provenientes das técnicas anteriores; (IV) Revegetação de escavações,
cortes, voçorocas, aterros e pilhas de rejeito estável (ZUQUETE, 2015).

Mas, pensando nas falhas e ineficiência eventual das técnicas acima apresentadas, as
alternativas para sanar essa situação, serão: (I) Medidas de Macrodrenagem; (II) Medidas de
Bioengenharia de contenção, desvio de fluxo, acúmulos e dispersões hidráulicas.

2.4 Controle de Erosão

Como medidas de recuperação das áreas com processos erosivos serão aplicadas as técnicas
de caráter Ecológico, Mecânico Estrutural e de bioengenharia, dando preferência para as
técnicas que envolvam uma grande sinergia natural. A lista abaixo, descreve o conjunto
geral de técnicas para contenção de processos erosivos (Adaptado de CALIJURI &
CUNHA, 2013):

 Técnicas Ecológicas:(I) Revegetação, (II) Faixas ripárias (III) Barreiras de galhos


(brush barrier)
 Técnicas Mecânicas: (I) Terraceamento, (II) Caixas de sedimentação, (III)
Aterramento, (IV) Plantio em contorno
 Técnicas Estruturais: (I) Proteção de taludes, (II) Dissipadores de energia, (III)
Drenos, (IV) Aterramento
 Técnicas de Bioengenharia: (I) Mantas de gramíneas, (II) Gabião vegetado, (III)
Geogrelha vegetada

O curso de ação pretendido será: (I) Técnicas Ecológicas (II) Técnicas de Bioengenharia.
Como curso de ação alternativa estão: (I) Técnicas Mecânicas, (II) Técnicas Estruturais, que
serão implementadas apenas em caso de falha das técnicas preferenciais.

2.5 Desassoreamento

446
Como medidas de recuperação das áreas assoreadas, passarão por dois caminhos
obrigatórios (I) Controle na fonte do material granular responsável pelo assoreamento e (II)
retirar o material granular das zonas assoreadas. As fontes de material granular
normalmente são oriundas de processos erosivos ou de movimentação de materiais
geológicos, assim as medidas que recaem para esta condição são aquelas citadas para as de
processos erosivos. De forma geral, o material granular/sedimentar do leito do rio Crepori
será dragado para a margem, onde serão aplicadas as técnicas de controle de relevo
(CALIJURI & CUNHA, 2013)

2.6 Revegetação

Para a recuperação da Flora local, foi levada em consideração a proximidade com as Áreas
Preservadas, dos fragmentos florestais e da Floresta Nacional do rio Crepori, para
determinação da técnica principal de recuperação da vegetação. Esta consistirá em uma
mescla de (I) regeneração natural com (II) transposição de solo e serrapilheira, (III)
transposição de galharia e (IV) criação de poleiros naturais e artificiais (SOARES, 2009). A
alternativa a essa técnica será o plantio heterogêneo com mudas ou semeadura e o
enriquecimento com espécies nativas.

I. Regeneração Natural

Nas áreas que já se encontram em recuperação natural, preferencialmente não


haverá interferência. E nas áreas onde há a possibilidade de ocorrer regeneração
natural, esta será priorizada, em detrimento das outras técnicas.

II. Transposição de Solo e Serrapilheira

Esta técnica consiste em retirar porções do solo junto com serrapilheira, das áreas
preservadas e fragmentos vegetais próximos, e coloca-las em fileiras, faixas ou ilhas
com espaçamento uniforme, nas áreas degradadas.

III. Transposição de Galharia

Esta técnica consiste em dispor desordenadamente nas áreas em recuperação, restos


vegetais (galhos, folhas e materiais reprodutivos), formando emaranhados de restos
vegetais, que proporcionam abrigo para pequenos animais, fungos e plantas
adaptadas a esses ambientes úmidos e sombreados.

IV. Poleiros Naturais e Artificiais

A implantação de poleiros é importante para a atração de aves e morcegos, que


através de suas fezes, secreções e excrementos, depositam sementes e propágulos,
que contribuem para a diversificação das espécies vegetais.

2.7 Recuperação da Fauna

Como medida de recuperação da fauna, tanto aquática como as terrestres e aves, serão
aplicadas as seguintes técnicas: (I) proibição da caça e pesca ilegal, (II) recuperação da
qualidade do ecossistema aquático, (III) Implementação de corredores ecológicos. Essas são
as medidas diretas para recuperação, mas deve-se levar em consideração as inter-relações
com as demais medidas de recuperação, que também afetarão a fauna de forma positiva
(SOARES, 2009).

I. Proibição da Caça e Pesca Ilegal:

447
Como medida de recuperação da fauna, a proibição da caça e da pesca ilegal, na
área do empreendimento, será de fundamental importância, para o retorno da fauna
ao local, para a propagação de sementes e propágulos, para a restruturação dos
serviços ecossistêmicos, para um retorno a zona de equilíbrio populacional das
espécies, dentre outros. Ressalta-se o termo caça e pesca ilegal, pois a caça e pesca
de subsistência das populações humanas, fogem ao escopo e autoridade da
cooperativa que irá implementar o empreendimento proposto.

II. Recuperação da qualidade do ecossistema aquático

A recuperação da qualidade do ecossistema aquático, está relacionado as medidas


de dragagem e desassoreamento do leito do rio Crepori, e as medidas de controle de
qualidade da água fluvial, que conjuntamente com a recuperação natural, levarão a
um lento retorno da biodiversidade aquática.

III. Implementação de corredores ecológicos:

Os corredores ecológicos, serão áreas de acesso restrito, onde sua função será a de
proteger a fauna e proporcionar sua livre circulação entre as áreas florestais, as áreas
preservadas, as áreas recuperadas e as áreas em recuperação, ou seja, sua função
será de vital importância para que ocorra uma recuperação ambiental de forma
natural e sustentável, já que para se aplicar essa técnica exigisse pouquíssimo aporte
de recursos.

2.8 Monitoramento e Avaliação

Uma vez iniciada a execução do Projeto, serão elaborados relatórios de monitoramento e


avaliação visando informar sobre a execução das medidas propostas; justificar as medidas
propostas não realizadas; informar os sucessos e insucessos da recuperação, com base nos
parâmetros monitorados; apontar e propor correções para possíveis falhas do processo de
recuperação da área. O relatório de monitoramento e avaliação que demonstrar que a área se
encontra satisfatoriamente recuperada irá solicitar autorização para o encerramento da
execução do Projeto.

Para este Projeto, foram levados em consideração as dificuldades que as propostas de


medidas de monitoramento e avaliação subjetivas e superficiais, podem causar, portanto, as
propostas aqui apresentadas, são todas objetivas, quantitativas e representativas dos
aspectos ambientais, de forma a impossibilitar quaisquer subjetividade e abertura para
contestação técnica. E apesar dos indicadores e aspectos aqui apresentados serem poucos, a
resposta para essa situação é o nível tecnológico, financeiro e técnico disponível, para que
outros métodos sejam aplicados com o devido rigor técnico-cientifico.

A padronização de amostras e parâmetros a serem amostrados é baseada no nível de


tecnologia amostral disponível, viabilidade econômica e na viabilidade técnica, de forma a
não se criar expectativas a serem frustradas por falta de tecnologia, recursos financeiros e
nem inviabilidade técnica, de ser coletado ou não, determinada amostra, e não for possível
sua análise laboratorial, ou ser muito custosa do ponto de vista financeiro, ou nem ainda
haver tecnologia disponível que meça adequadamente a amostra.

Assim para melhor esclarecer qual a metodologia de amostragem foi desenvolvida a Tabela
2, que descreve os dados a serem coletados, os indicadores e o método amostral.

448
Tabela 33: Dados, Indicadores e Métodos
UNIDADE DE
ASPECTO AMBIENTAL INDICADOR MÉTODO
MEDIDA
Registro de movimentos de massa,
Retirada de Material Volume de material removido medição in loco de volume m³
removido
Registro de movimentos de massa,
Acréscimo de Material Volume de material acrescido medição in loco de volume m³
acrescido
Registro de movimentos de massa,
Dragagem do Leito do Rio Volume de material dragado medição in loco de volume m³
despejado
Revegetação Área Reflorestada Medição via GPS das áreas Hectares/Mês
Consumo de recursos não
renováveis (óleos e Volume mensal consumido Registros de compra e consumo l/Mês
combustíveis)
Geração de resíduos
Quantidade gerada Registros de geração de resíduos Kg/Mês
sólidos
Extração de recursos Quantidade de minério extraída
Registos de minério extraído Kg/Mês
naturais não renováveis (Ouro)
71dB(A) a 20 m
Emissão de ruídos Nível máximo de pressão sonora Medições com decibelimetro
da operação
Carreamento de Volume de partículas por unidade de Medição de partículas e
t/Ano
partículas sólidas tempo sedimentação
Aumento ou redução das Superfície afetada, taxa de perda de
Medições e estimativas in loco T/Ha.ano
taxas de erosão solo
Criação de postos de Número de postos criado (Ep) por Registros de contratações e
Ep/Semestre
trabalho unidade de tempo dispensas
Incremento nas
Massa salarial por unidade de tempo Registros contábeis de pagamento Ms/Semestre
atividades comerciais
Aumento da arrecadação Massa tributaria por unidade de
Registros tributários Tributos/Ano
tributaria tempo

2.9 Reparo e Manutenção

As medidas de manutenção aqui apresentadas visam basicamente garantir a efetividade das


medidas de recuperação ao longo do tempo, até que a Projeto seja considerado encerrado.
As principais medidas de manutenção aplicáveis a este caso são:

 Reparo dos sistemas de contenção de erosão;


 Redimensionamento de volumes de dragagem;
 Manutenção de equipamentos e maquinas;
 Controle fitossanitário da revegetação;

A realização da manutenção das medidas de recuperação será realizada a partir da


finalização do primeiro ciclo do projeto, e será informada em detalhes nos relatórios
semestrais e anuais.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Muitos dos danos ambientais causados pelos processos de degradação remontam a décadas
atrás, quando houve exploração aurífera do leito e margens do rio Crepori, de forma intensa e
sem preocupação com as variáveis ambientais. Estes impactos ainda se mostram presentes
atualmente, mesmo que uma pequena parcela tenha sido recuperada naturalmente, há locais
erodidos, assoreados, desmatados e contaminados pela exploração garimpeira do passado.
Somando-se os danos do passado com os da atual exploração garimpeira, foi possível a

449
elaboração da Tabela 3 que descreve os danos ambientais e seus processos causadores no rio
Crepori.

Tabela 3: Danos e Processos causadores

FATORES RESPONSÁVEIS PELA DEGRADAÇÃO


PROCESSOS
TIPOS DE DEGRADAÇÃO TIPOS DE MODIFICAÇÃO
NATURAIS OU USO/OCUPAÇÃO
INDUZIDOS
Formato Desvios Escavação/Exploração
Curso Natural
Alteração de cursos de Margens Erosão Exploração das margens
drenagem Alteração de taxa de
Água Diminuição da vazão Exploração no Leito
infiltração na bacia
Estético; Alteração do Movimentos de
Acréscimo Aterro; Pilha de Rejeitos
fluxo de água massa gravitacionais
Alteração do relevo
Boçorocas; Ravinas;
(Formas do relevo) Estético; Concentração de
Retirada Sulcos; Escavação
água
Dolinas/Depressões
Diminuição da vazão;
Garimpagem; Escavação;
Cursos d'água Mudanças na Erosão
Pilha de rejeitos
Assoreamento biodiversidade
Diminuição do volume de Garimpagem; Escavação;
Lagos; Áreas Úmidas Erosão
água acumulada Pilha de rejeitos
Aumento e/ou
Geração de sedimento; concentração do Garimpagem; Exploração
Erosão Erodibilidade
Aumento de feições escoamento de Leito e Margens
superficial
Biomassa Desflorestamento Escavação; Garimpagem
Flora
Diminuição da diversidade Desflorestamento Escavação; Garimpagem
Declínio da biodiversidade Desflorestamento;
Infestações;
Fauna Caça ilegal; Falta de Assentamento humano;
Afugentamento
saneamento
Alteração das
Acumulo de metais
propriedades físicas e
Fonte Pontual pesados na água e Garimpagem
químicas (materiais
solo
geológicos e água)
Contaminação/Poluição
Alteração das
Dispersão de metais
propriedades físicas e
Fonte Difusa pesados na água e Garimpagem
químicas (materiais
solo
geológicos e água)

Em levantamento ambiental prévio, com uso da Tecnologia Drone de asa rotativa, foi possível
registrar o estado de degradação do solo das margens do rio Crepori como pode ser observado
abaixo, nas Figuras 4 e 5.

Figura 4: Área de Garimpo em


atividade na margem Leste do
rio Crepori.

450
Figura 5: Área de Garimpo
abandonada, na margem
Oeste do rio Crepori, dentro
da FLONA do Crepori.

3.1 Resultados Esperados:

Espera-se com este Projeto, recuperar e reabilitar o meio ambiente degradado pela atividade
garimpeira, sem que com isso, seja necessário a proibição de tal atividade na região, já que
mediante os resultados de uma exploração aurífera racional, pode ser possível a alcunha de
Garimpo Sustentável, levando em consideração, os aspectos, econômicos, ambientais e
políticos.

4. CONCLUSÕES

A possibilidade de conciliar a atividade garimpeira de ouro com a recuperação ambiental


simultânea se apresenta como uma solução ao grave problema que é o garimpo ilegal, e os
danos que este causa ao meio natural. Para que haja avanço das técnicas e tecnologias de
recuperação ambiental em áreas de garimpo, deve-se sempre avaliar a sua aplicabilidade a
realidade social e cultural do garimpo, onde virtualmente não há organização, e onde tanto os
operários quanto os lideres, não possuem estudo, sendo muitos analfabetos, o que dificulta a
aplicação de muitos métodos de recuperação de áreas degradadas. Levando todo este contexto
em consideração, a aplicação da recuperação ambiental em conjunto com a lavra garimpeira, se
mostra promissora na região.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DNPM. Norma Reguladora de Mineração – 03 – Lavras Especiais. Portaria Nº 12, de 22 de


janeiro de 2002.
SOARES, S. M. P. Técnicas de restauração de áreas degradadas. Juiz de Fora – MG:
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, 2009.
CALIJURI, M. C; CUNHA, D. G. F. Engenharia Ambiental, conceitos, tecnologia e gestão.
Rio de Janeiro, 1ª Ed, Editora Elsevier, 2013.
ZUQUETTE, L. V. (Org). Geotecnia ambiental. Rio de Janeiro, 1ª Ed, Editora Elsevier, 2015
PENHA, A. C. Smart System of Mining and Gold-Digging – S.M.G.I. No Prelo, 2017.

451
DESENVOLVIMENTO DE APLICATIVO PARA AUXÍLIO NA DECISÃO DA
REVEGETAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO BIOMA CERRADO

R. S. S. S. R. França; E. É. V. Miranda;

Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul


Cidade Universitária de Dourados - Rodovia Itahum, Km 12, s/n - Jardim Aeroporto, Cep:
79804-970, Dourados - MS, Brasil. (67) 3902-2360

RESUMO

Os aplicativos na área ambiental, ainda são tecnologia pouco difundida, apesar de


existirem plataformas gratuitas para desenvolvimento é preciso levantar dados concretos
para criar banco de dados que fornecem informações relevantes e realmente necessárias
para contribuir na gestão e conservação do meio ambiente. O Brasil é o país que abriga a
maior biodiversidade do mundo, e um dos biomas que estão ameaçados por sua constante
degradação e alteração é o Cerrado. E pela baixa densidade florestal em algumas de suas
fitofisionomias é constantemente alvo, para fins de agricultura e pecuária, principalmente
no estado de Mato Grosso do Sul, onde essas atividades predominam. Este trabalho tem
como objetivo desenvolver um aplicativo para auxiliar na escolha das atividades
necessárias para a recuperação de áreas degradadas. O aplicativo é baseado em uma Chave
para tomada de decisão para Recuperação de Áreas Degradas (Estado de São Paulo), com
perguntas sobre a situação da área, e as respectivas ações indicadas, esta, integrado a um
site, com informações a respeito do bioma Cerrado, com imagens, descrições e lista de
espécies mais frequentes em cada uma de suas fitofisionomias. O aplicativo foi
desenvolvido na plataforma MIT App Inventor da Android, que disponibiliza
gratuitamente o desenvolvimento de App, mas não possui suporte para uma grande
quantidade de dados. Assim o aplicativo foi integrado com um site da WIX, uma
plataforma de sites gratuitos de fácil utilização, que oferecerem planos premium para
recursos adicionais que foram necessários para o desenvolvimento do presente trabalho.

Palavras Chave: Software, Fitofisionomias, Recuperação, Ecossistema Degradado

1.0 INTRODUÇÃO

A redução da cobertura vegetal, a fragmentação e o isolamento de paisagens, com a consequente


perda da biodiversidade e de suas funções, são resultados, principalmente, da degradação ambiental
ocasionada por intervenções antrópicas. Assim, a necessidade de reverter o quadro atual de
degradação ambiental gera o desafio de se “recuperar” áreas desmatadas ou degradadas, tendo-se
como preocupação ações para o restabelecimento das funções e da estrutura dos ecossistemas
respeitando a diversidade de espécies, a sucessão ecológica e a representatividade genética entre
populações (RODRIGUES & GANDOLFI, 1996; BARBOSA, 2000).
O conhecimento sobre as formações florestais nativas em todos os seus aspectos, a reconstituição
de interações e da dinâmica dos ecossistemas, a fim de garantir a perpetuação e evolução de
reflorestamentos no espaço e no tempo, torna-se fundamental na tentativa de recuperar áreas
degradadas (PALMER et al., 1997; RODRIGUES & GANDOLFI, 2000; BARBOSA &
MARTINS, 2003).
Áreas degradadas são aquelas que não mais possuem a capacidade de repor as perdas de matéria
orgânica do solo, nutrientes, biomassa, estoque de propágulos etc (BROWN; LUGO, 1994). Os
ecossistemas terrestres degradados são aqueles que tiveram a cobertura vegetal e a fauna

452
destruídas, perda da camada fértil do solo, alteração na qualidade e vazão do sistema hídrico
(MINTER/IBAMA, 1990) por ações como intervenções de mineração, efeitos de processos
erosivos acentuados, movimentação de máquinas pesadas, terraplanagem, construção civil e
deposição de lixo, entre outras.
Como a degradação pode ter sido ocasionada por impactos de várias ordens e magnitudes deve-se
proceder analisando cada caso separadamente, várias estratégias para a recuperação podem ser
propostas e o primeiro passo a ser dado é identificar o fator degradante da área. Uma vez
identificado, esse fator deve ser eliminado. E deve-se ainda, evitar sua reincidência (BARBOSA,
2006).

A recuperação de áreas degradadas por revegetação consiste na cobertura vegetal do solo, a fim
de reduzir a ação das chuvas e do vento evitando, o desenvolvimento de processos erosivos que
favorecem o carreamento de partículas e a degradação do ambiente (SANTOS et al., 2011;
NOGUEIRA et al., 2012). A recuperação dessas áreas pode ser realizada utilizando-se diversas
espécies vegetais, incluindo leguminosas arbóreas e herbáceas que atuam em simbiose com fungos
micorrízicos e bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico (NOGUEIRA et al., 2012).
Os grandes ecossistemas terrestres caracterizados por tipos fisionômicos semelhantes de
vegetação são denominados biomas. A palavra bioma é utilizada para indicar as unidades
fundamentais que compõe os maiores sistemas ecológicos (HAVEN, 2001).
O Cerrado é um dos principais biomas do Brasil e o segundo mais rico em biodiversidade e
também o berço de muitas espécies endêmicas de vegetais e animais. E este importante ecossistema
está ameaçado. A agricultura e a pecuária de alta tecnologia são atividades que contribuíram para a
redução deste bioma (DURIGAN et al., 2011).
A contribuição do Cerrado para o equilíbrio ambiental é indiscutível. Esse bioma está incluído
entre os hotspots globais para a conservação devido a sua alta diversidade biológica e rapidez com
que está sendo destruído (GANEM, 2007). Os hotspots são habitats naturais que correspondem a
apenas 1,4% da superfície do planeta, onde se concentram cerca de 60% do patrimônio biológico
do mundo. Esta lista inclui o Cerrado brasileiro e a Mata Atlântica (DURIGAN et al., 2011).

RIBEIRO et al., 2008 com base na fisionomia (forma), definida pela estrutura, pelas formas de
crescimento dominantes e por possíveis mudanças estacionais diferencia os tipos fitofisionômicos.
São descritos onze tipos principais de vegetação para o bioma, enquadrados em formações
florestais (Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerradão) Savânicas (Cerrado sentido restrito,
Parque de Cerrado, Palmeiral e Vereda) e Campestres (Campo Sujo, Campo Limpo, Campo
Rupestre).

Nem todos os estados possuem uma legislação específica sobre a conservação do Cerrado, mas
há vários trabalhos acadêmicos disponíveis nos mecanismos de pesquisa em fontes científicas e
acadêmicas da web que ressaltam sua importância e, propõem mapas georreferenciados das áreas
que o abrangem para melhor gestão, entre outros trabalhos relevantes que priorizam a conservação.
Mas o uso de tecnologias de rede para gestão desse bioma, ainda é um recurso pouco difundido.
Aplicativos na área ambiental, ainda são ferramentas recentes. Alguns que estão disponíveis na
Google Play Store (loja oficial de apps do Google) podem ser citados com uma boa avaliação dos
usuários, como por exemplo: Plant. ai, EcoGuia, Monitor de Meio Ambiente, Defesa vegetal e
Solum, cada um deles com objetivos distintos voltados a área ambiental.
A criação de um software de auxílio na tomada de decisão para recuperar uma área degradada
parte da necessidade que técnicos, profissionais e até mesmo produtores rurais, aptos a realizar um
plano de recuperação de áreas degradadas, tem de obter informações importantes e claras.

São imprescindíveis ações para auxiliar na recuperação, através do uso de tecnologias. Este
trabalho visou o desenvolvimento de um aplicativo para celulares de fácil utilização online. O
usuário terá acesso a uma chave de decisão com as alternativas possíveis para recuperação de
vegetação, de acordo com as informações fornecidas por ele sobre o estado de degradação da área.
Além de fornecer uma lista de espécies mais frequentes nas fitofisionomias do Bioma Cerrado,
fornecida através de uma extensão do aplicativo (site da WIX).

453
2.0 MATERIAIS E MÉTODOS

O MIT App Inventor é uma plataforma para criação de aplicativos Android baseada na web,
que provê uma interface visual com o objetivo de permitir que qualquer pessoa, mesmo sem um
profundo conhecimento de codificação, possa construir aplicativos Android. O App Inventor é um
exemplo do conceito PaaS (Platform as a Service/ Plataforma como serviço) da Computação
Distribuída, pois a plataforma é oferecida como um serviço e está disponível para uso, bastando
apenas que o usuário tenha um computador conectado à internet e um browser. Foi traduzida para o
português, para popularizar o uso no Brasil. Como MIT App inventor é uma plataforma gratuita,
possui um número máximo (10) de telas usual, e uma capacidade máxima de uso de informações.
A plataforma é dividida em duas partes: App Inventor Designer, para a construção da interface
gráfica da aplicação, e o App Inventor Block Editor, para associar ações aos componentes da
interface.
Para iniciar o desenvolvimento do Aplicativo:
1° Passo: Para criação do aplicativo primeiramente deve-se entrar no site da plataforma
<http://ai2.appinventor.mit.edu/> e seguir o tutorial de como fazer a instalação do pacote de
software para configuração do App Inventor como é mostrado no site.
Após configurar o pacote no computador, é necessário logar com uma conta do google, (conta do
Gmail), para criar o aplicativo
2° Passo:
Figura 1 – Página da plataforma.

A figura 2 apresenta a página da plataforma, e a seta indica o botão de redirecionamento para


criação de aplicativos.
Figura 2 – Ambiente de criação e desenvolvimento das telas.

A seta indica onde deve ser clicado para iniciar um novo projeto ou as novas telas do App.
2.1 Projeções de Tela
A projeção de tela trata-se de como cada dela do App será feita, a figura 3, apresenta o ambiente
de criação inicial.
Figura 3 – Interface gráfica - Ambiente de criação inicial.

454
2.2 Criando a interface gráfica
A criação da interface gráfica é a primeira parte do desenvolvimento com o App Inventor. Para
tanto temos o ambiente de Design [Figura 3]. A seta indica na parte esquerda da tela está a Paleta
de componentes, que contém componentes visuais (botões, caixas de texto, etc) e não visuais
(elementos para arranjo de tela, sensores, etc). Para adicionar componentes à interface basta
arrastá-los da paleta para dentro do Visualizador, que possui uma tela central imitando a tela de um
dispositivo Android. À medida que elementos vão sendo inseridos na tela, eles aparecem na seção
Componentes. Para alterar as propriedades de um componente basta selecioná-lo na lista de
componentes e suas propriedades são habilitadas na parte direita da tela, na seção Propriedades.
Figura 4 – Tela 1 - interface gráfica (design)

Na tela 1 (figura 4) os componentes usados foram: imagem (referente ao logo do App,


intitulado RAD Cerrado), legendas, organização vertical das legendas e os componentes não-
visíveis, que não aparecem na tela (indicados pela seta) activitystarter1 (faz parte da programação
em blocos, responsável pelo redirecionamento a uma página da web) componente web (para a
função internet no click de redirecionamento) e o componente tynwebDB (banco de dados do App
inventor) para o armazenamento das telas.
2. 3 Adicionando ações aos objetos da interface

Figura 5 - Tela 1 – Programando em blocos

455
Uma vez que o design foi montado, foram colocadas as funções a cada um dos componentes
selecionados. Para isso é preciso clicar no botão “Blocks” (Blocos), que levará para uma nova tela.

A programação no App Inventor é baseada em blocos [Figura 5], que são combinados entre si.
Para usá-los basta arrastar do menu esquerdo (que possui três abas de componentes) para o centro
da tela, onde a montagem foi feita. Os Blocos são associados aos elementos definidos nesta
aplicação que representam ações relacionadas a botões, como Click.

O menu na lateral esquerda fornece duas abas de comandos: “Built-in”(Internos) que está em
destaque na Figura 5 (quadrado vermelho), e “Any component” (qualquer componente). Todos os
objetos inseridos no programa têm comandos de início na aba “Screen1” (referente a tela que está
sendo desenvolvida), ao passo que os comandos de execução estão localizados na aba “Built-In”
construídas em: controle, lógica, matemática, texto, listas, cores, variáveis e procedimentos. A
combinação de um ou mais comando de “Blocks” e comandos “Built-In” forma uma ação
completa. E para facilitar a construção das ações, os comandos são estruturados como peças de
quebra-cabeças. Apenas funções compatíveis se encaixam. Os blocos utilizados em comandos
“built-In” na tela 1 (Figura 5) foram: controle e texto.

Figura 6 - Tela 2 - Interface gráfica - Design

A tela 2 (Figura 6) possui componentes como o logo do RAD Cerrado (imagem), legendas e os
botões (componentes - da Paleta a esquerda) onde são colocadas imagens escritas “sim” e “não”. A
programação de blocos (figura 7 abaixo) em comandos “built-In” na tela 2 foram adicionados:
controle (do botão) e texto (para redirecionamento a tela 3).

Figura 7 – Tela 2 – programação em blocos.

456
Figura 8 - Tela 3 – Design.

A tela que mais possui perguntas e respostas (Figura 8 - tela 3 do App), com um design
composto do logo do App, perguntas (componente - legendas da Paleta a esquerda) e os botões
(componentes - da Paleta a esquerda) onde foram colocadas imagens escritas “sim” e “não”. A
figura (9) a seguir mostra a programação feita em blocos, onde foram colocados os comandos
“built-In” de controle (indicando ou controlando a função dos botões conforme o click do usuário)
e texto (para indicar as telas a serem redirecionadas)
Figura 9 – Tela 3 – Programação em blocos.

A tela 4 (figura 10, a seguir), possui apenas uma pergunta, e utiliza dos mesmos comandos
“built-In” de controle (indicando ou controlando a função dos botões conforme o click do usuário)
e texto (para indicar as telas a serem redirecionadas).
Figura 10 – Tela 4 – Design.

457
As telas 5, 6, 7, 8 e 9 são telas que possuem apenas a interface gráfica ou design, pois se tratam
de telas que apresentam ao usuário as respostas ou ações possíveis a serem possivelmente
realizadas, mas são interligadas às telas iniciais tornando-se interdependentes.

Ao finalizar o desenvolvimento do App (design e programação) é possível testar através do


emulador da plataforma ou em um celular com configurações recomendadas, no site da plataforma
é possível encontrar todas as instruções necessárias para testar o emulador ou como testar o App no
celular. A figura a seguir mostra como visualmente é exposto o emulador na plataforma.

Figura 11 – Emulador do App Inventor.

Uso da Chave de Recuperação Florestal – Conteúdo do App

Figuras 12 e 13 (abaixo) - Páginas da chave de decisão para Recuperação de áreas


degradadas - Roteiro para elaboração de Projetos de Recuperação Florestal para o fundo Estadual
de Recursos Hídricos do estado de São Paulo, 2007, na qual o conteúdo é baseado.
Figura 12 Figura 13

458
A chave de recuperação busca contemplar as diversas situações que possam ser encontradas
diante do processo de recuperação, principalmente de mata ciliar, apresenta-se uma chave que
considera inúmeras possibilidades de aplicação dos modelos já estabelecidos por instituições
(Instituto de Botânica de São Paulo, por exemplo), a respeito da recuperação (FAPESP, 2006).

3.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO


As telas do Aplicativo RAD Cerrado:
Figura 14 - Tela 1 Figura 15 - Tela 2

A tela 1, possui um design simples, mas com a uma programação importante: tem a função
principal de redirecionar o usuário ao site da WIX que possui informações a respeito de cada uma
das fitofisionomias descritas na tela, as listas de espécies, entre outras informações.

A tela 2, que inicia com a primeira pergunta da chave de recuperação, (Se a área possui ou não
remanescente florestal isolado) ao clicar no botão "sim" o usuário terá como ações possíveis as
ações possíveis na própria tela, ao clicar no botão "não" o usuário será redirecionado a tela 3.

Figura 16 - Tela 3 Figura 17 - Tela 4

459
A tela 3 (Tela só de perguntas) conforme cada pergunta é respondida com "sim" ou "não"
há o redirecionamento para outras telas, a pergunta 1 é dependente da pergunta 2 sendo a resposta
"sim" ou "não". Apenas a pergunta 2 ao ser respondida com "sim" irá redirecionar o usuário para
tela 8 (onde terá as possíveis ações a serem realizadas) e se a resposta for "não, o usuário deve
responder a pergunta abaixo. A pergunta 3 , ao ser respondida com "sim" irá redirecionar a tela 4,
e ao clicar em "não" a pergunta a abaixo deve ser respondida. A pergunta 4 ao ser respondida com
"sim" o usuário será redirecionado a tela 5, e ao clicar em "não" o usuário será redirecionado a tela
6 do aplicativo.

A tela 4 apresenta uma pergunta que ao ser respondida, ou ao clicar em "não" o usuário será
redirecionado a tela 9, se a resposta for "sim", as ações possíveis estará na própria tela.

Figura 18 - Tela 5 Figura 19 - Tela 6

As telas 5 e 6 (acima), 7, 8 e 9 (a seguir) todas referem-se a ações possíveis de serem realizadas


conforme as perguntas nas telas anteriores foram respondidas, são telas que não possuem
programações em blocos, mas são interligadas às telas iniciais tornando-se interdependentes, e têm
a função de proporcionar ao usuário o que se pode fazer a respeito da recuperação.

460
Apesar da plataforma MIT App Inventor disponibilizar até 10 telas para o desenvolvimento do
aplicativo, todos os testes inicias desconfiguraram com uso da quantidade máxima, fazendo com
que fossem utilizadas 9 telas.

A capacidade máxima de telas e a quantidade limite de informações para cada uma delas fez com
que o aplicativo tivesse algumas limitações no desenvolvimento ou no conteúdo das informações,
como por exemplo o caso da tela 4, que possui uma pergunta e logo abaixo as "respostas" ou ações
possíveis.

A extensão (O site WIX) do App (Figura 20)


(http://robertasamayara.wixsite.com/radcerradoms), além de pequenos trechos com informações
sobre as fitofisionomias, possui também fotos, um anexo com as listas de espécies, e alguns slides
em sua página final. Estes slides apresentam informações importantes como por exemplo, uma
tabela (Tabela 1. pg.29) com o significado dos termos da chave usados no App. RAD Cerrado.
Figura 20 – Extensão do App – Site da WIX.

A internet já é uma ferramenta que disponibiliza informações e vários manuais e até mesmo
listas que auxiliam qualquer pessoa física ou mesmo jurídica a recuperar uma área ou sítio
degradado. Assim, este trabalho é apenas um recurso a mais que traz a importância do bioma
Cerrado e suas fitofisionomia.

Figura 21 - Tela 7 Figura 22 - Tela 8

461
Figura 23 -Tela 9

4.0 CONCLUSÕES

O principal público do App Inventor, está dentro de universidades, para que alunos e
professores possam entender o básico, criando programas para fins educacionais e ajudando a
desenvolver um cenário de programação que não irá precisar de conhecimento de programação
para funcionar (GUIS, 2016).
As aplicações criadas não possui uma estética tão apresentável quanto as aplicações atuais, que
são criadas em plataformas mais complexas, e não possuem tantas limitações como a plataforma
usada, no entanto, são funcionais.
O site já é uma ferramenta disponível, podendo contribuir nas pesquisas sobre as
fitofisionomias e as espécies do Cerrado. O app foi testado no emulador, apresentando um
funcionamento normal, ao realizar o teste final em um celular com as configurações recomendadas,
e pagar a taxa de disponibilidade na rede, o app estará pronto para contribuir na recuperação de
uma área degradada.
O uso do App não implica no total êxito na recuperação ou revegetação de áreas, deve ser
levado em conta, que é uma ferramenta no auxílio dessas ações.

462
5.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA L. M. Manual para recuperação de áreas degradadas em matas ciliares do estado
de São Paulo. FAPESP nº 03/06423-9 – Instituto de Botânica de São Paulo, 2006.
BARBOSA, L.M. (coord.). Recuperação de áreas degradadas da Serra do Mar e formações
florestais litorâneas. São Paulo: SMA/CEAM/CINP, 2000. 138 p.
BROWN, S.; LUGO, A.E. Rehabilitation of tropical lands: a key to susteining developing.
Restoration Ecology, v.2, p.97-111, 1994.
DURIGAN G. et al. Manual para recuperação da vegetação de cerrado. [recurso eletrônico].
3.ed.rev. e atual. São Paulo : SMA, 2011. 19 p.
FAPESP nº 03/06423-9 – Instituto de Botânica de São Paulo. Manual para recuperação de áreas
degradadas do estado de São Paulo. 2006. Disponível
em:<http://www.ambiente.sp.gov.br/municipioverdeazul/files/2011/11/ManualRecupAreas%20De
gradadas.pdf > Acesso em 02/03/2016.
GANEM R. S.; Conservação da biodiversidade no bioma Cerrado: ameaças e oportunidades.
(Tese de Doutorado) – Centro de Desenvolvimento da Universidade de Brasília, Brasília. 2007. p.
335-365.
GUIS, A. Google App Inventor: o criador de apps para Android para quem não sabe programar.
Disponível em: <https://www.tecmundo.com.br/google/11458-google-app-inventor-o-criador-de-
apps-para-android-para-quem-nao-sabe-programar.htm> Acesso em: 12/11/2016.
HAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S.E. Biologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan. 2001. 906p.
MINTER/IBAMA. Manual de recuperação de áreas degradadas pela mineração: técnicas de
revegetação. Brasília: IBAMA, 1990. 96p.
MIT App Inventor. Disponível em: < http://appinventor.mit.edu/explore/about-us.html > Acesso
em: Acesso em 15 de Outubro de 2016.
NOGUEIRA, N. O.; OLIVEIRA, O. M.; MARTINS, C. A. S; BERNARDES, C. O. Utilização de
leguminosas para recuperação de áreas degradadas. Enciclopédia Biosfera, Goiânia.v.8, n.14; p. 21-
22, 2012.
RIBEIRO, J. F.; SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. Cerrado: Ecologia e Flora. 1° ed. Brasília, DF:
EMBRAPA: Informação Tecnológica. 876p. 2008.
RODRIGUES, R. R.; GANDOLFI, S. Conceitos, Tendências e ações para a recuperação de
florestas ciliares. In: RODRIGUES, R. R.; LEITÃO FILHO, H. F. Matas Ciliares: conservação e
recuperação. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Fapesp, 2000. p. 235-247.
RODRIGUES, R. R.; GANDOLFI, S. Recomposição de florestas nativas: princípios gerais e
subsídios para uma definição metodológica. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental,
Campinas, v. 2, n. 1, p. 4-15. 1996.
SANTOS, A. M.; TARGA, M. S.; BATISTA, G. T.; DIAS, N. W. Florestamento compensatório
com vistas à retenção de água no solo em bacias hidrográficas do município de Campos do Jordão,
SP, Brasil. Ambiente e Água, Taubaté. v. 6, n. 3, p. 110- 126, 2011.
WIX – Visão Geral. Disponível em: <https://pt.wix.com/support/html5/article/wix-vis%C3%A3o-
geral> Acesso em 15 de Outubro de 2016.

463
A IMPLANTAÇÃO DO CADASTRO AMBIENTAL RURAL EM IVINHEMA-
MS

O. POKREVVIESKI; G. A. MORAIS

Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Unidade de Ivinhema, Av.


Brasil, 771, Bairro Centro, CEP 79740-000, Ivinhema – MS, Brasil,
[email protected], (67) 3921 1480

RESUMO

Em Mato Grosso do Sul, o Cadastro Ambiental Rural (CAR-MS) foi implantado por
meio da Resolução SEMAC nº 11 de 15 de julho de 2014 como um módulo de
cadastramento disponível no SIRIEMA (Sistema IMASUL de Registros e Informações
Estratégicas de Meio Ambiente), destinado à inscrição, bem como à consulta e
acompanhamento da situação de regularização ambiental dos imóveis rurais. Caso os
produtores rurais não façam o CAR, isto implicará na restrição ao recebimento de
recurso financeiro junto às instituições bancárias. O objetivo deste trabalho foi verificar
a situação das propriedades rurais do município de Ivinhema quanto à inscrição no CAR
e o conhecimento dos proprietários sobre a sua importância ambiental. Foram
levantadas informações entrevistando diretamente 51 proprietários rurais do município e
junto a representantes de diferentes instâncias (estaduais e nacional). A maioria dos
entrevistados foi composta de pequenos proprietários que efetivaram sua inscrição no
CAR via AGRAER, que ficou responsável pelo apoio técnico e tem convocado os
proprietários para o cadastro de suas propriedades; a maioria conhece o tema em estudo,
mas não os motivos para sua criação. Nas instâncias municipais não há informações
centralizadas sobre o número, tamanho e regularização ambiental das propriedades
rurais de Ivinhema-MS. A pendência mais frequente acusada pelo sistema do CAR,
constatada até o final deste estudo, relacionava-se à sobreposição de áreas das
propriedades e não a pendências ambientais, provavelmente em função do caráter
declaratório do cadastro. O aspecto mais preocupante é o desconhecimento dos
proprietários sobre a importância ambiental do CAR, havendo necessidade de ações de
esclarecimento e sensibilização aos proprietários de áreas que precisam ser recuperadas
e/ou preservadas.

Palavras Chave: Regularização ambiental, CAR, propriedades rurais, Reserva Legal,


Área de Preservação Permanente

Introdução

A degradação do meio ambiente vem sendo uma prática histórica no Brasil,


prejudicando a fauna, flora, e colocando em risco as populações humanas, embora a legislação
ambiental seja ampla: Código Florestal (Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012; BRASIL, 2012),
Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010; BRASIL, 2010),
Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997; BRASIL, 1997),
entre outras. Porém, estas leis não têm sido cumpridas devidamente.

464
No sentido de sistematizar as informações sobre a situação das propriedades rurais
quanto ao atendimento à legislação ambiental foi criado o Cadastro Ambiental Rural - CAR. De
acordo com o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul - IMASUL (2015), o CAR é
um registro eletrônico, obrigatório para todos os imóveis rurais, que tem por finalidade integrar
as informações ambientais referentes à situação das Áreas de Preservação Permanente - APP,
das áreas de Reserva Legal, dos remanescentes de vegetação nativa, das áreas de uso restrito e
das áreas consolidadas das propriedades e posses rurais do país.

Criado pela Lei 12.651/2012 no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre Meio
Ambiente - SINIMA, a expectativa é que o CAR se constitua em base de dados estratégica para
o controle, monitoramento e combate ao desmatamento das florestas e demais formas de
vegetação nativa do Brasil, bem como para o planejamento ambiental e econômico dos imóveis
rurais (IMASUL, 2015).

Em Mato Grosso do Sul, o CAR (CAR-MS) foi implantado por meio da Resolução
SEMAC nº 11, de 15 de julho de 2014, como um módulo de cadastramento disponível no
SIRIEMA (Sistema IMASUL de Registros e Informações Estratégicas de Meio Ambiente),
destinado à inscrição, bem como à consulta e acompanhamento da situação de regularização
ambiental dos imóveis rurais. É importante destacar que o procedimento completo do CAR-MS
é realizado por meio eletrônico, não sendo necessária a entrega de documentos no IMASUL
(IMASUL, 2015).

O CAR tornou-se pré-requisito para acesso à emissão das Cotas de Reserva Ambiental e
aos benefícios previstos nos Programas de Regularização Ambiental – PRA e de Apoio e
Incentivo à Preservação e Recuperação do Meio Ambiente (Lei 12.651/12). Dentre os
benefícios desses programas, segundo o Ministério do Meio Ambiente (SICAR, 2016), podem
ser citados: a possibilidade de regularização das APP e/ou Reserva Legal cuja vegetação natural
tenha sido suprimida ou alterada até 22/07/2008 no imóvel rural, sem autuação por infração
administrativa ou crime ambiental; a suspensão de sanções por infrações administrativas
relacionadas ao desmatamento nestas mesmas áreas cometidas até 22/07/2008; a obtenção de
crédito agrícola, com taxas de juros menores e limites e prazos maiores que os praticados no
mercado; a contratação do seguro agrícola em condições melhores que as praticadas no
mercado; a dedução das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito
no cálculo do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural-ITR, gerando créditos tributários; o
acesso a linhas de financiamento voltadas para iniciativas de preservação voluntária de
vegetação nativa ou recuperação de áreas degradadas, entre outros; e isenção de impostos para
os principais insumos e equipamentos utilizados para os processos de recuperação e manutenção
das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito (fio de arame, postes
de madeira tratada, dentre outros).

Além das vantagens aos produtores rurais, Moura (2013) destacou algumas vantagens
da implantação do CAR aos órgãos ambientais, sendo: o auxílio na distinção entre
desmatamento legal e ilegal e no monitoramento e combate ao desmatamento; o apoio ao
licenciamento; o uso da ferramenta como instrumento para o planejamento de políticas; e a
melhora da gestão ambiental no âmbito rural.

Caso os produtores rurais não regularizem a propriedade perante o CAR, isto implicará
na restrição ao recebimento de recurso financeiro junto às instituições bancárias, ou seja,
restrição aos financiamentos destinados a produtores rurais (data limite prorrogada até 31 de

465
dezembro de 2017 pela Lei 13.295, de 14 de junho de 2016). O produtor passa a ficar irregular
junto aos órgãos ambientais federal e estadual e fica impossibilitado de vender e transferir a
terceiros sua propriedade.

Por outro lado, a lei que instituiu o crédito rural (Lei 4829, de 5 de novembro de 1965;
BRASIL,1965), até hoje um dos principais instrumentos da política agrícola, dizia
explicitamente em seu artigo 37 que não haveria qualquer objeção a sua concessão a um
produtor que tivesse infringido a legislação de proteção a florestas, desde que ele comprovasse
fundos suficientes para quitar as multas e o empréstimo (ARAÚJO; VALLE, 2013).

Diante destas incertezas e pelo histórico de protelações comuns na adoção de medidas


legais no país, parte dos proprietários do município de Ivinhema pode não aderir prontamente ao
CAR. Assim, objetivou-se verificar a situação das propriedades rurais do município de
Ivinhema quanto à inscrição no CAR, com ênfase nas informações levantadas junto aos
produtores rurais e em órgãos ambientais, bem como no conhecimento dos proprietários sobre a
importância ambiental deste cadastro.

Material e Métodos

Caracterização do município
O município de Ivinhema está situado no sul da região Centro Oeste do Brasil, no
Sudoeste de Mato Grosso do Sul, na Microrregião de Iguatemi, sob as coordenadas 22º18’17”
de latitude sul e 53º48’55” de longitude oeste (GYORFI; MOLINA NETO, 2012). Verifica-se
predominância de Latossolos, portanto com baixa fertilidade natural, os quais se apresentam
tanto com textura argilosa quanto média. Junto a algumas drenagens, há ocorrência de
nitossolos de textura arenoso-média e arenoso-argilosa, apresentando ainda planossolo álico.
Com uma altitude de 362 m, divide-se em duas unidades geomorfológicas: Sub-Bacias
Meridionais e Vale do Paraná (GYORFI; MOLINA NETO, 2012).
Está sob influência do clima tropical, sendo que ao norte e noroeste do município,
inclusive na sede municipal, o clima é úmido. No restante do município o clima é considerado
de úmido a sub-úmido (GYORFI; MOLINA NETO, 2012). O município encontra-se incluso no
Bioma Mata Atlântica e possui uma área total de 2.010,168 km2 (IBGE-CIDADES, 2016)
Segundo dados do Censo Agropecuário de 2006 (IBGE-CIDADES, 2016), o município
de Ivinhema conta com 1.475 estabelecimentos agropecuários (propriedades rurais), que
ocupam uma área de 195.915 hectares. Da vegetação original, representada pela Floresta
Estacional Semidecidual, restam poucos fragmentos, em geral de pequeno porte, sendo a
paisagem atual altamente antropizada, dominada por áreas de pastagem ou agrícolas (MATO
GROSSO DO SUL, 2006).

Coleta de dados
A coleta de dados para este estudo foi baseada em entrevistas a proprietários rurais de
Ivinhema, realizadas de fevereiro de 2015 a outubro de 2016, e a representantes de diferentes
instituições: da Agência de desenvolvimento Agrário e Extensão Rural – AGRAER,
Departamento de Tributação, do Cartório de Registro de Imóveis e do Ministério Público do
município de Ivinhema; do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA; da
Ambiental Consultoria, empresa contratada pela AGRAER para o cadastramento dos pequenos
proprietários do município; e do IMASUL.
Os proprietários foram abordados em diferentes locais e ocasiões, visando a obtenção de
uma amostra representativa dos diferentes tamanhos de propriedades. Assim, foram contatados

466
proprietários rurais que se dirigiram à AGRAER, tanto para assessorias técnicas ou quando
convocados para o (pré)cadastramento (27 proprietários), feirantes (6), participantes de eventos
promovidos pelo Sindicato Rural (3) e em visitas em domicílio (15).
Foi elaborado um instrumento para as entrevistas junto a estes proprietários, contendo
questões abertas e fechadas para verificar o conhecimento sobre o significado do CAR, os
motivos de sua criação, se a propriedade já estava cadastrada e por quê, além de coletar dados
sobre a propriedade.
Aos demais entrevistados, foram encaminhados ofícios ou e-mails com solicitações/
questionamentos que visaram à obtenção de dados sobre o quantitativo de propriedades rurais
no Estado e no município, sobre o andamento dos cadastros e sobre as formas de fiscalização,
sobre os motivos do adiamento do prazo, sobre o cadastramento em áreas de assentamento,
entre outros.
Os dados obtidos junto aos proprietários foram convertidos em porcentagem, analisados
e utilizados para a construção de gráficos. As questões abertas foram categorizadas e analisadas
quantitativamente. As informações prestadas pelos demais entrevistados foram utilizadas para
embasar as discussões referentes ao tema e encontram-se adequadamente identificadas no texto.
Todos os informantes foram convidados a participar da pesquisa e concordaram em
colaborar, assinando um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (proprietários e
engenheiro da Consultoria Ambiental) ou retornaram os questionamentos por escrito, estando
todo este material de posse do autor do trabalho.

Resultados e Discussão

4 Entrevistas com os proprietários rurais de Ivinhema


Foram entrevistados 51 proprietários rurais de Ivinhema MS, dos quais a maioria
(68,62%) afirmou saber o significado ou já ter ouvido falar sobre o CAR (Figura 1).
Dos 16 entrevistados que afirmaram não saber o significado, apenas 5 (31,3%) não
haviam feito o cadastro, contra 14 (40%), de um total de 35 entrevistados que sabiam o
significado ou já tinham ouvido falar sobre o CAR, mas que ainda não tinham se inscrito no
sistema. De forma geral, a maioria dos entrevistados já estava com a propriedade cadastrada ou
pré-cadastrada junto ao CAR (Figura 2).
Porém, a grande maioria não conseguiu apresentar qualquer motivo para a criação do
cadastramento pelo governo. Pouco mais de 30% relacionou o CAR com a regularização da
propriedade ou com questões ambientais. Houve ainda uma minoria que mencionou o CAR
como uma forma de informar dados sobre a propriedade. Apenas um entrevistado declarou
abertamente considerar o CAR como uma forma de autodenúncia (Figura 3).
50

45

40
35,29
35 33,33
31,37
% de entrevistados

30

25

20

15

10

0
sim não já ouviu falar
Resposta

Figura 1. Conhecimento dos entrevistados sobre o significado do CAR.

467
45

40 39,22
37,25

35

30

% de entrevistados
25 23,53

20

15

10

0
sim sim, pré-cadastro não
Resposta

Figura 2. Situação das propriedades rurais em relação à inclusão no CAR, de acordo com os
entrevistados.

não soube responder 60,78

auto-denúncia 1,96

regularizar a propriedade 15,69

levantar informações sobre a propriedade 5,88

relacionou com questões ambientais 15,69

0 10 20 30 40 50 60 70
% de entrevistados

Figura 3. Conhecimento dos entrevistados sobre os motivos da criação do CAR.

Além dos entrevistados que não realizaram o cadastro por não estarem informados
sobre o tema, os demais alegaram, como motivos para o não cadastramento, estar a espera da
iniciativa/auxílio do governo e/ou dificuldades financeiras (Figura 4). Considerando a questão
do custo para a contratação de um responsável técnico para a elaboração do CAR, inicialmente
não havia confirmação sobre a gratuidade do cadastramento para os pequenos proprietários e os
entrevistados que arcaram com esta despesa, relataram valores que variaram de R$ 500,00
(pequenos) a R$ 2.500,00 (grandes) /4.000,00 (médios proprietários).

468
Figura 4. Motivos apresentados pelos entrevistados para não terem efetivado o cadastramento de
suas propriedades.

Além disso, há outras particularidades que merecem destaque: o velho hábito de se


deixar para a última hora (“ainda há prazo”) e as propriedades em assentamentos que não
estavam tituladas. Este pensamento é reforçado pelas recorrentes prorrogações de prazo e
anistias, como aquela conferida pelo novo Código Florestal (Lei nº 12.651/ 2012), que trouxe
mais ainda incerteza quanto ao cumprimento da lei, uma vez que foram perdoados multas e
processos que responsabilizavam aqueles que desrespeitaram as leis ambientais no que se refere
a áreas de reserva legal e APPs. Esta quase certeza de impunidade reflete em aumento do
desmatamento ilegal em áreas de floresta nativa, sempre na expectativa de que algum novo
benefício vai livrar os infratores/criminosos das penalidades previstas.
O próprio prazo final para a realização do CAR já foi prorrogado duas vezes e o texto
da última prorrogação ainda deixa brecha para um novo adiamento: “Art. 29.§ 3o A inscrição no
CAR será obrigatória para todas as propriedades e posses rurais, devendo ser requerida até 31 de
dezembro de 2017, prorrogável por mais 1 (um) ano por ato do Chefe do Poder Executivo.”
(LEI Nº 13.295/2016).
As propriedades incluídas nesta pesquisa podem ser consideradas como pequenas,
apresentando, a maioria delas, menos de 120 hectares (Figura 5), ou seja, menos de 4 módulos
fiscais, sendo a pecuária, associada ou não a outra atividade, a atividade principal dessas
propriedades (Figura 6).

Figura 5. Distribuição das propriedades pesquisadas em função de suas áreas.

469
35 33,33 33,33
31,37
30

25

% de propriedades
20

15

10

5
1,96

0
agricultura pecuária agropecuária agrofloresta
atividade principal

Figura 6. Distribuição das propriedades pesquisadas em função da atividade principal.

Nenhum dos entrevistados mencionou a existência de qualquer irregularidade em sua


propriedade, inclusive aquelas com área de APP, embora 36 inquéritos civis ambientais tenham
sido levantados na Comarca de Ivinhema em 2014 e 15 em 2015 (Ofício n° 77/2ª PJIv/2016).
Sob este aspecto, é preciso ressaltar que, apesar da obrigatoriedade do CAR, a sua natureza é
declaratória (Art. 6º, DECRETO Nº 7.830/2012; BRASIL, 2012) Este mesmo artigo, em seu
parágrafo primeiro, alerta para o fato de que “As informações são de responsabilidade do
declarante, que incorrerá em sanções penais e administrativas, sem prejuízo de outras previstas
na legislação, quando total ou parcialmente falsas, enganosas ou omissas”.

Dados obtidos das outras fontes de pesquisa

Baseado na Lei 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, que leva em conta o módulo fiscal e não
apenas a área da propriedade, o INCRA (2016), classifica os imóveis rurais em:

1. Minifúndio – imóvel rural com área inferior a 1 (um) módulo fiscal;


2. Pequena Propriedade - o imóvel de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro)
módulos fiscais;
3. Média Propriedade - o imóvel rural de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze)
módulos fiscais;
4. Grande Propriedade - o imóvel rural de área superior 15 (quinze) módulos fiscais.
No município de Ivinhema, um módulo fiscal corresponde a 30 hectares, o menor valor
adotado no Estado, o qual apresenta municípios com até 110 hectares por módulo fiscal, como
Corumbá e Ladário. Feitas estas considerações, constatou-se que o município de Ivinhema é, em
sua maioria, formado por propriedades inferiores a 30 hectares (minifúndios), ficando as
pequenas propriedades em segundo lugar (Figura 7). Juntos, os minifúndios e as pequenas
propriedades totalizam 93% do número de propriedades rurais em Ivinhema, mas não
representam 20% da área rural (Figura 8), a qual é majoritariamente ocupada por grandes
propriedades.

Dessa forma, ficaria a encargo do governo, por meio da AGRAER, a incumbência de


cadastrar cerca de 2500 propriedades em Ivinhema, conforme prevê a Resolução SEMAC nº 11,
de 15 de julho de 2014. Este número pode ser menor em função de haver um proprietário com
duas ou mais áreas de até 4 módulos fiscais, mas que juntas totalizariam uma área acima do que
está previsto para ser custeado pelo governo, devendo este arcar com os custos do cadastro.

470
Considerando a diferença de área ocupada por cada categoria do imóvel rural no
município e as informações obtidas junto ao Ministério Público (Ofício n° 77/2ª PJIv/2016) de
que a inexistência de reserva legal nas propriedades rurais têm sido o principal objeto de ações
ambientais em Ivinhema, pode-se afirmar que os médios e grandes proprietários são os
principais responsáveis pelo quadro de degradação observado, devendo ser o foco das ações de
recuperação.

75; 3% 2; 0%
4; 0%
125; 4%

430; 16%

Minifúndio
Pequena
média
Grande
Não Classificada
sem informação

2110; 77%

Figura 7. Distribuição do número de imóveis rurais em Ivinhema, segundo a categoria do


imóvel. Fonte dos dados: INCRA/MS.

2.500; 0%
155; 0%
25077; 10%

24469; 9%

Minifúndio
Pequena
27247; 10% média
Grande
Não Classificada
sem informação

188575; 71%

Figura 8. Distribuição da área (ha) dos imóveis rurais em Ivinhema, segundo a categoria do
imóvel. Fonte dos dados: INCRA/MS.

Analisando os dados do Estado, percebe-se um panorama um pouco diferente no


número das propriedades, com uma distribuição mais uniforme entre pequenas (23%), médias
(18%) e grandes (13%), embora as propriedades com até quatro módulos fiscais ainda sejam

471
maioria, 68% neste caso (Figura 9). A diferença entre o valor do módulo fiscal por município
certamente influenciou neste resultado. Quando a área de cada categoria de propriedade é
considerada para o estado, há uma inversão total no resultado, com as grandes propriedades
novamente apresentando a maior ocupação (como ocorreu com o município de Ivinhema),
seguida pelas médias, pequenas e minifúndios (Figura 10).

De qualquer forma, a maior parcela de cadastros ficará sob a responsabilidade do


governo, o que talvez tenha sido um dos motivos para uma nova prorrogação do prazo para a
sua implantação, agora previsto para 31 de dezembro de 2017. Assim, o Conselho Monetário
Nacional (CMN) aprovou a prorrogação, para 1º de janeiro de 2018, do prazo a partir do qual
produtores rurais de todo país ficarão impedidos de acessar financiamentos caso não se
inscrevam no Cadastro Ambiental Rural (CAR) (ARMÔA, 31/10/2016).

272; 0% 648; 1%
12760; 13%

Minifúndio
16915; 18% 42003; 45% Pequena
Média
Grande
Não Classificada
sem informação

21522; 23%

Figura 9 . Distribuição do número de imóveis rurais em Mato Grosso do Sul, segundo a


categoria do imóvel. Fonte dos dados: INCRA/MS.

170006; 7359; 702517;


1953632;
0% 0% 2%
5%

6425722;
17%

Minifúndio
Pequena
Média
Grande
Não Classificada
sem informação

29593216;
76%

472
Figura 10. Distribuição da área (ha) dos imóveis rurais em Mato Grosso do Sul, segundo a
categoria do imóvel. Fonte dos dados: INCRA/MS.

Em entrevista, o Eng°. Agrônomo Willian Valdez Mangoni (CREA 15405), que está
responsável pelo cadastramento das pequenas propriedades do município de Ivinhema no
sistema SIRIEMA, informou que o IMASUL ficou responsável por prestar assessoria técnica
gratuita a todos os pequenos proprietários (propriedades ≤ 120 ha ou 4 módulos fiscais em MS)
por intermédio da AGRAER. Informou também que a elaboração do CAR exige a emissão de
uma ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), o que inviabiliza a sua efetivação pelo
“leigo”. Na opinião do engenheiro, foi uma forma do governo amarrar a execução do cadastro à
contratação de um profissional. Diante do atraso do governo no cumprimento do apoio previsto
aos pequenos proprietários, o prazo do CAR foi prorrogado até dezembro de 2017, relatou o Sr.
Willian. Também em função disso, os bancos e demais agências financiadoras têm orientado,
mas ainda não têm barrado a liberação de financiamentos.
Questionado ainda sobre como está sendo o procedimento agora com o apoio do
governo, o engenheiro relatou que a empresa de consultoria para a qual trabalha ganhou a
licitação (no procedimento aberto pela AGRAER) para prestar o serviço de cadastramento em
Ivinhema e que a AGRAER convocou os pequenos proprietários e realizou um pré-cadastro,
recolhendo os documentos necessários ao CAR. Agora os proprietários estão sendo novamente
contatados para comparecerem na sede da AGRAER em Ivinhema e, na presença do
engenheiro, realizarem a localização da propriedade via satélite utilizando o programa Google
Earth Pro. Neste momento, o engenheiro delimita a área e retira as suas coordenadas para serem
lançadas no sistema posteriormente, após a geração de um arquivo de dados em linguagem
apropriada.
A obtenção das coordenadas via Google Earth Pro, solicitado no CAR nacional, não era
o procedimento aceito inicialmente em Mato Grosso do Sul, que exigia o georreferenciamento
de fato, informou o engenheiro. Esta ação mais criteriosa também se mostrou financeiramente
inviável quando o governo teve que arcar com o cadastramento das pequenas propriedades,
continuou ele. Se há sobreposição de cadastros, o sistema acusa e os confrontantes são avisados
para procederem à correção.
Por outro lado, em contato com o IMASUL, a Sra. Évelyn Camila Casadias Pinheiro,
membro da Equipe SIRIEMA/IMASUL (Comunicação Pessoal, 04/11/2016), informou que
para o órgão ambiental do Estado, georreferenciar a propriedade significa simplesmente tornar
suas coordenadas conhecidas num dado sistema de referência, independente da forma como o
levantamento será feito, através do Google Earth, levantamento com GPS de navegação, GPS de
precisão ou outro software de SIG (sistemas de informações geográficas) utilizando-se imagens
georreferenciadas. Portanto, segundo ela, não é necessário que o imóvel tenha o perímetro
georreferenciado nos parâmetros do INCRA. Mas, nos casos em que o conflito de perímetros
acontece entre um imóvel já certificado pelo INCRA e outro não certificado, o imóvel
certificado tem prioridade e por isso não fica com pendência de conflito, e neste caso o imóvel
não certificado deve corrigir seu perímetro em relação ao imóvel certificado.
Além disso, o Decreto no. 7.620/2011 (BRASIL, 2011) prorrogou o prazo para o
georreferenciamento previsto na Lei de Registros Públicos (Lei n. 10267/2001), estendendo-o
de 10 a 20 anos, dependendo do tamanho da propriedade.
O Sr. Willian relatou que, em Mato Grosso do Sul, serão cerca de 80 mil CAR, mas o
número de propriedades rurais deve ser maior, visto que o IMASUL considera que propriedades
com várias matrículas, mas contínuas e de mesmo dono terão um CAR somente. Embora não
haja uma forma de acompanhar o número de propriedades já cadastradas, o engenheiro relatou
que a cada lançamento no sistema, um número sequencial é gerado e, até 30/09/2016 havia
33.067 cadastros lançados.
Entretanto, em abril deste ano, o MMA já informava que 70,3% da área prevista (2,6
milhões de imóveis rurais) já estavam cadastradas no sistema (PORTAL BRASIL, 2016). Em
maio, o Ministério divulgou dados mais expressivos ainda, visto que, levando em conta apenas

473
o Censo Agropecuário de 2006, feito pelo IBGE, 97% da área passível de cadastro estava
registrada, mas considerando as atualizações dos Estados e unidades de conservação de uso
sustentável, o registro era de 82,87% da área e de 67,9% a região Centro-Oeste (ALVES;
GIRARDI, 2016).
De acordo com a Sra. Évelyn Pinheiro, existem 1069 imóveis cadastrados no CAR no
município de Ivinhema, contando cadastros Inscritos, Pendentes e Incompletos, o que significa
que o município estaria, no momento, com o número de registros um pouco próximo desta
média do Estado, considerando os dados do Censo (72,5%).
Considerando os dados do INCRA, fornecidos pelo Sr. Celso Menezes de Souza, da
Superintendência Regional em Mato Grosso do Sul (Comunicação pessoal, 07/10/2016), o
cadastramento estaria concluído somente para 38,9% das propriedades, visto que consta para o
município um total de 2746 propriedades.
Questionado se haverá uma fiscalização posterior para verificar se o que foi declarado
no cadastro é correto ou se ainda há irregularidades e como isto seria verificado, a Sra. Évelyn
Pinheiro informou que o módulo de análise do CAR, que é a versão do sistema SIRIEMA, já
permite a fiscalização pelos técnicos do IMASUL que estão analisando os CARs Inscritos e
gerando pendências. O Sr. Willian Mangoni esclareceu que, havendo irregularidades, o
proprietário terá que apresentar um PRADA (Projeto de Recuperação de Área Degradada e
Alterada) em 3 meses. Por outro lado, a propriedade com excedente de reserva pode
disponibilizar cotas de reserva a outros proprietários.
Sobre as propriedades em área de assentamento, o Sr. Celso Menezes de Souza (INCRA
SR-16/MS) informou que a Superintendência Regional do INCRA lançou todos os projetos de
assentamento que ainda não foram titulados, enquanto que os projetos de assentamento já
titulados, serão lançados pela AGRAER, uma vez que são entendidos como pequenos
produtores, não sendo mais considerados como assentados.
Embora o prazo para a conclusão dos cadastros tenha sido novamente prorrogado,
Cristiano Vilardo, da CI-Brasil já havia previsto que seria um grande desafio completar o
cadastramento até maio de 2016 (primeira data final estabelecida), além de mencionar a
existência de focos de resistência, de setores inteiros que não se reconheciam no CAR e não
estavam apostando na existência do cadastro como ferramenta (VERDÉLIO, 2015).
No Estado do Amazonas, estudos demonstraram que a dificuldade está no fato de que
não foram estabelecidos os mecanismos necessários para o cumprimento das exigências da nova
legislação, como a instituição dos programas de regularização ambiental (PRA), o
funcionamento das cotas de reservas ambientais e os incentivos econômico para apoiar na
implementação do CAR (CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL, 2015). Embora alguns
estados já tenham desenvolvido sistemas próprios para cadastrar os imóveis, outros estão
definindo estratégias de mobilização e outros mais focados na obtenção de recursos para
estruturar os órgãos ambientais, sem nenhuma estratégia articulada e coordenada no âmbito
regional, revelam os estudos (CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL, 2015).
Apesar de pequenas, todas as propriedades podem contribuir com a melhoria da
qualidade ambiental do município, sendo importante a implementação de medidas neste sentido,
mas é preciso ter em mente que o CAR “não é capaz de alterar sozinho a realidade ambiental do
espaço rural e se não vier acompanhado da aplicação dos demais instrumentos da política
ambiental, como fiscalização, responsabilização e transparência, corre-se o risco de apenas
legitimar desmatamentos ilegais”, de forma que o registro no CAR deve ser visto apenas como a
porta de entrada para o longo processo de adequação ambiental, a exigir apoio aos produtores, o
monitoramento e a fiscalização dos compromissos pactuados (CONSERVAÇÃO
INTERNACIONAL, 2015).

Conclusões

474
Para a realização do trabalho foram encontradas dificuldades na obtenção das
informações no município, não havendo um setor, órgão ou secretaria que concentre dados
sobre o número, tamanho e regularização ambiental das propriedades rurais, nem mesmo a
própria Fundação Municipal de Meio Ambiente e Turismo (FUMATUR). O cartório de registro
de imóveis possui apenas o número total de matrículas na Comarca, que abrange Ivinhema e
Novo Horizonte do Sul e inclui imóveis rurais e urbanos. Assim, as informações foram obtidas
somente em órgãos estaduais e junto ao INCRA, revelando esta deficiência no município.
Apesar de regulamentado desde 2012, a adesão ao CAR somente tornou-se significativa
este ano (2016), com a atuação da AGRAER junto aos pequenos proprietários, recolhendo a
documentação necessária e convocando-os para a efetivação do cadastro na Unidade da Agência
no município.
Como há divergência no número de imóveis rurais no município (IBGE x INCRA), o
percentual de cadastros oscila entre um valor compatível com o andamento da implantação em
Mato Grosso do Sul e um valor que ainda é bem inferior.
Apesar das pendências mais frequentes estarem relacionadas à sobreposição de áreas
das propriedades, acredita-se que o caráter declaratório do CAR pode comprometer o sucesso de
sua implantação como uma ferramenta para a regularização ambiental das propriedades, sem
que haja uma adequada fiscalização e orientação aos proprietários.
Finalmente, destaca-se que o aspecto mais preocupante é o desconhecimento dos
proprietários sobre a importância ambiental do CAR, havendo, para além dos objetivos do
cadastramento, necessidade de ações de esclarecimento e sensibilização a estes cidadãos que
efetivamente serão responsáveis pela recuperação e manutenção das áreas de vegetação nativa.

Referências

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475
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jun. 2013. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/

476
camaras_setoriais/Hortalicas/35RO/CAR_hortalicas_28jun13_subst.pdf> Acesso em 30 out.
2016.
PORTAL BRASIL. Cadastro Ambiental Rural já atinge 2,6 milhões de imóveis. 14/04/2016.
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2016/04/cadastro-ambiental-rural-ja-
atinge-2-6-milhoes-de-imoveis> Acesso em: 30 out. 2016.
SICAR - Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural. CAR - Cadastro Ambiental Rural.
Disponível em: < http://www.car.gov.br> Acesso em 30 out. 2016.
VERDÉLIO, A. Implementação do Código Florestal ainda é desafio, dizem ONGs. Empresa
Brasil de Comunicação S/A – EBC, 23/05/2015. Disponível em: <
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-05/domingo-implementacao-do-codigo-
florestal-ainda-e-desafio-dizem-ongs> Acesso em 15 Nov 2015.

SERAPILHEIRA PRODUZIDA EM ÁREAS DE MATA CILIAR COM


DIFERENTES ESTÁGIOS DE RECUPERAÇÃO NO MUNICÍPIO DE
MARMELEIRO, PARANÁ

Fabíola Aparecida Dopfer1; Luciana Pellizzaro2


1
Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Paranaense – Unipar.
Francisco Beltrão. e-mail: [email protected]
2
Orientadora, Professora Adjunta do Curso de Ciências Biológicas – Unipar. Francisco
Beltrão.

RESUMO

Quantificar produção de serapilheira, material originado da vegetação caído no solo,


permite estimar, avaliar e comparar o desenvolvimento da sucessão, de mata ciliares
com impacto em sua biodiversidade devido práticas agrícolas, bem como a necessidade
de aplicação de medidas reparadoras. As áreas de estudo compreendem matas ciliares
em cinco propriedades. Para coleta da serapilheira distribuíram-se aleatoriamente 3
coletores de 1m2 de superfície em cada área. Realizaram-se seis coletas, 30 dias de
intervalo. Armazenou-se o material em sacos de papel identificados em seguida pesados
no laboratório. Após, estimou-se a média da produção em g.ha-1 e aplicou-se Teste T
(5%) para determinar a significância das diferenças, avaliou-se a retenção de umidade e
fez-se teste (Pearsen) para correlacionar produção com temperatura e precipitação. Os
resultados mostraram que a média/mês de produção foi de 59,7315,70 g/ha-1 na área
A; 36,539,84 na B; 12,121,50 na C; 7,231,22 na D e 70,2020,07 g/ha-1 na E.
Estatisticamente as áreas A, B e E não diferem entre si,mas ambas diferem de C e D,
que não diferem entre si, mesmo possuindo tempo de recuperação diferentes. O tempo
de recuperação pode influenciar na produção; porém, as áreas com mais de 6 anos de
recuperação não diferiram da área testemunho. Não houve diferença de retenção hídrica
entre essas áreas. A temperatura influenciou na produção; a precipitação, não. No
inverno houve maior produção de serapilheira. A área localiza-se em ecótono entre FES
e FOM, como a FES possui espécies arbóreas caducas, talvez isso explique a maior
produção nos meses mais frios também a maior produção em relação a outros trabalhos

477
feitos em FOM. A produção de serapilheira mostrou se sensível aos diferentes estágios
de recuperação entre as áreas analisadas, podendo ser utilizada como indicador
ambiental, quando comparada a áreas de mesmo ecótono.

Palavras Chave: Serrapilheira, mata ciliar, ecótono

Introdução

A Mata Ciliar, embora importante na proteção dos solos e na determinação da


qualidade da água, mesmo protegida por lei vem sendo retirada para dar espaço à
prática da agropecuária. Essa situação há tempos vem provocando impactos que
repercutem na redução da biodiversidade. Essa situação remete à importância de
recuperar esse ecossistema florestal através de métodos naturais (abandono) ou da
aplicação de técnicas de recuperação de áreas degradadas, pela reconstituição vegetal.
As espécies a serem plantadas devem estabelecer-se em condições limitantes, atrair a
fauna, crescer rápido e depositar serapilheira (BRITO e CÂMARA, 1998). A
serapilheira consiste do material caído no chão da floresta, originado da vegetação, e é
via de transferência de nutrientes das plantas ao solo. Para Moreira e Siqueira (2002), o
tipo de vegetação e as condições ambientais, como temperatura e precipitação, são os
fatores que mais influem na quantidade e qualidade do material que cai no solo.
Quantificá-la permite estimar, avaliar e comparar o desenvolvimento da sucessão
ecológica, bem como a necessidade de aplicação de medidas reparadoras, pois indica o
estádio de regeneração e conservação, consequentemente, o sucesso de um projeto de
recuperação de mata ciliar.

Trabalhos em relação à produção de serapilheira na região de ecótono entre


Floresta Ombrófila Mista e Floresta Estacional Semidecidual, que se apresenta nos
limites mais ocidentais da Região Sudoeste do Paraná, são inexistentes. Neste contexto,
este estudo visa quantificar a produção mensal de serapilheira, em áreas com mata ciliar
em diferentes estágios de recuperação no município de Marmeleiro, Paraná.

Material e Métodos

O presente trabalho foi desenvolvido nos meses de março a agosto de 2012, em


cinco propriedades rurais particulares no município de Marmeleiro - PR. A região

478
encontra-se em ecótono entre a Floresta Ombrófila Mista (FOM) e Floresta Estacional
Semidecidual (FES).

As áreas de estudo compreendem matas ciliares, cada uma com diferente tempo
de recuperação, que foram definidas como Área A (doze anos em recuperação),B (seis
anos),C ( quatro anos),D (10 meses) e E, mata secundária conservada e em fase clímax
de sucessão. Será considerada a área testemunho.

Para coleta da serapilheira distribuíram-se, aleatoriamente, 3 coletores de 1m2 de


superfície em cada área. Realizaram-se seis coletas do material ali caído, com 30 dias de
intervalo. Armazenou-se o material coletado em sacos de papel identificados e em
seguida conduziu-se ao Laboratório de Botânica da Unipar, e verificou-se o peso. Após,
estimou-se a média da produção em g.ha-1 e aplicou-se Teste T (5%) para determinação
da significância das diferenças, avaliou-se a retenção de umidade e fez-se teste
(Pearsen) para correlacionar produção de serapilheira com temperatura e precipitação.

Resultados e Discussão

Os resultados mostraram que a média/mês de produção foi de 59,7315,70 g/ha-1


na área A; 36,539,84 na B; 12,121,50 na C; 7,231,22 na D e 70,2020,07 g/ha-1 na
E. Estatisticamente as áreas A, B e E não diferem entre si. Porém, ambas diferem de C e
D, que não diferem entre si, mesmo possuindo tempo de recuperação diferentes.

A avaliação da umidade das amostras mostrou que a área que atingiu maior
retenção hídrica (RH) foi a E, com 21,69% de água em relação à média geral de
produção (70,20 g/m²), seguido da área A, com 16,02%; da B, com 14,34%; da C com
8,58% e da área D, com 6,43% em relação à media .Estatisticamente, as áreas A, B e E
não diferem entre si, assim como não diferem entre si as áreas B, C e D. Para a RH, os
resultados mostraram que a produção de serapilheira é diretamente proporcional à
retenção de água, quanto maior o tempo em recuperação, maior quantidade de retenção

O Coeficiente de Correlação de Pearson para relação produção de serapilheira e


temperatura foi de r = - 0,88, que mostra forte correlação linear, ou seja, quanto menor
for a temperatura maior a produção de serapilheira. E a correlação entre produção de
serapilheira e precipitação foi de r = 0,07, apontando fraca correlação linear, ou seja,

479
não há nenhuma segurança de que as variáveis realmente têm relacionamento, e o pouco
que tem, é provavelmente em função do acaso, assim demonstrando que a precipitação
não interfere no aumento da produção de serapilheira.

Conclusões

As áreas mais antigas de recuperação apresentam produtividade de serapilheira


semelhante à de área testemunho.

A maior produção de serapilheira ocorreu no inverno. A temperatura influenciou


na produção de serapilheira, porém a precipitação não.

A produção serapilheira mostrou se sensível aos diferentes estágios de


recuperação entre as áreas analisadas, podendo ser utilizada como indicador ambiental,
quando usada na comparação entre áreas de mesma formação florestal (ecótono).

Não houve diferença de retenção hídrica entre as áreas com mais de 6 anos de
recuperação, que, por sua vez, retêm maior quantidade de água que as áreas de menor
tempo.

Referências

BRITO.F.A,CÂMARA.J.B.D. Democratização e Gestão Ambiental: Em busca do


desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Vozes, v. 2, , 2001, pp. 332.

MOREIRA, F. M. S.; SIQUEIRA, J. O. Microbiologia e bioquímica do solo,


Lavras:Ufla, pp. 235-307, 2002.

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA MATA DE GALERIA DO RIBEIRÃO MOGI


(UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS) ASSOCIADO AO LEVANTAMENTO DA
VEGETAÇÃO ARBÓREA

B. B. ROSA; A. R. T. NASCIMENTO

480
Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Biologia, Av. Pará, nº 1720, Campus
Umuarama, Uberlândia, Minas Gerais, [email protected]

RESUMO

Matas de galeria são de grande importância devido aos recursos que oferece à fauna
durante a estação seca, pela regulação do microclima, por ser fonte de matéria prima e
pela regulação de recursos hídricos (Saueressig, 2014). Estas, devido à alta umidade e
ao ambiente heterogêneo, são hábitat para diversas espécies arbóreas responsáveis pelo
fornecimento de recursos e ciclagem de nutrientes (Silva Júnior et al, 2001). Entretanto,
devido a atividades humanas como desmatamento e poluição, esta fitofisionomia tem
sido muito degradada, afetando sua biodiversidade (Martins, 2007). Em vista disso, o
objetivo desse trabalho foi avaliar os principais impactos ambientais e inventaria flore
arbórea e m uma mata de galeria do ribeirão Mogi, Uberlândia, Minas Gerais. O
ribeirão Mogi é um curso de água de 3 km de extensão, localizado na região sul da
cidade de Uberlândia, entre dois bairros residenciais e constantemente afetado pelo
descarte de resíduos e pela erosão. O levantamento florístico foi feito através do
caminhamento livre (Filgueiras et al, 1994) e pela identificação de material fértil ou
estéril no Laboratório de Ecologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) ou
comparando com amostras do acervo do Herbarium Uberlandense (HUFU). Foram
identificadas 74 espécies nativas distribuídas em 30 famílias taxonômicas, e 18 espécies
exóticas de 12 famílias. A mata de galeria apresenta um número considerável de
espécies nativas, muitas de interesse econômico e com um bom potencial regenerativo.
Contudo, foi observada a presença de espécies exóticas competindo com as espécies
nativas e dificultado a regeneração local. Entre os principais impactos avaliados (N=10)
a erosão do solo, presença de lixo e espécies invasoras foram os mais significativos e
comprometem a recuperação da área. Assim, além da contenção dos processos erosivos
e plantios de enriquecimento nas áreas desmatadas, deve-se controlar as espécies
invasoras para o retorno do processo de sucessão natural.

Palavras Chave: Mata de Galeria, Espécies Lenhosas, Levantamento rápido,


Fragmentos urbanos.

POLÍTICA, PROJETOS DE RESTAURAÇÃO AMBIENTAL E


RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

M. J. A. Silva

Departamento de Pós-Graduação em Geografia Humana/ FFLCH /USP. E-mail:


mjandrade [email protected]

RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar o “Projeto de Recuperação Ambiental da Bacia


Carbonífera Sul Catarinense”. A implementação desse projeto foi para atender o
Processo de cumprimento de sentença nº 2000.72.04.002543-9, (Ação Civil Pública
n°.93.8000.533-4), no ano 2000, que condenou os réus: as mineradoras, o Estado de
Santa Catarina e a União a elaborar e implementar um projeto de recuperação para as

481
áreas degradadas pela extração do carvão. A Bacia Carbonífera abrange
aproximadamente 1.625 km², dos quais cerca de 490 km² estão degradados: o solo, a
fauna e a água. (MOREIRA et al, 2008). Apesar da relevância dessas questões, o
principal desafio que a região carbonífera enfrenta é a contaminação dos recursos
hídricos. Por essa razão, o Projeto de Recuperação na Bacia Carbonífera está voltado
para mitigar a contaminação das águas que drenam aquela região. Para nortear a análise
deste trabalho e ponderar a sua complexidade, optou-se por considerar os agentes
envolvidos na implementação e desenvolvimento do projeto, estabelecendo os
contrapontos e debates pertinentes à degradação ambiental na bacia carbonífera.

Palavras Chave: projeto ambiental, política, degradação ambiental e mineração

Introdução

O século XX foi marcado pelo avanço técnico-científico, ao mesmo tempo em


que se deparou com uma crise ambiental. A destruição do sistema ecológico afeta
diretamente a vida do homem. De acordo com Viola (1998, p. 5), “Enquanto espécie
temos sido sempre simultaneamente conquistadores e reféns da natureza, mas estas
implicações da aventura humana têm-se tornado muito mais complexas em fins do
século XX.” Essa realidade tem obrigado as nações a voltarem a atenção para os
problemas ambientais em nível local e global.
No Brasil, a questão ecológica foi tardia, passou a ganhar fôlego com a
aprovação da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente nº 6.938/81 e posteriormente
com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que contém leis especificas em
favor da natureza, donde os projetos ambientais passaram a ser implementados no
Brasil, como nos munícipios que compõem a bacia carbonífera de Santa Catarina.
A atividade carvoeira no Sul catarinense foi explorada durante várias décadas,
sem os cuidados necessários com o meio ambiente. Consequentemente, foi sendo
gerado um grande acúmulo de rejeitos de carvão em toda a região, transformando-se
num verdadeiro desastre ambiental. Essa realidade levou o Ministério Público Federal a
mover, no ano de 1993, um processo (nº. 93.8000533-4) perante a Justiça Federal em
Criciúma/SC, em desfavor das empresas carboníferas do Estado de Santa Catarina e da
União. Essa Ação foi julgada no ano de 2000, sendo os réus condenados por meio do
Processo de cumprimento de sentença (nº. 2000.72.04.002543-9), a apresentar um
projeto com vistas a mitigar os danos ambientais gerados pela extração do carvão.
Dois anos após os réus terem sido julgados e condenados, o estado de Santa
Catarina apresentou uma defesa. Afirmou que só a partir de 1980, com a Lei nº
5.793/80, obteve competência para licenciar atividades potencialmente poluidoras e
obrigar a entrega dos relatórios de impacto ambiental. Alegou que as sequelas
ambientais na bacia carbonífera eram de responsabilidade da União, devido à política
energética e o Código de Minas que a instrumentalizava com poderes de fiscalização e
controle ambiental. A defesa foi aceita em 2002 e o estado de Santa Catarina foi retirado
da ação (BRASIL, 1993). Dessa forma, os réus passaram a ser: a União e as
mineradoras.
Em cumprimento da ordem judicial, os réus elaboraram e implementaram o que
se denominou “Projeto de Recuperação Ambiental da Bacia Carbonífera Sul

482
Catarinense”. Desde então, o projeto tem sido monitorado e anualmente têm sido
elaborados relatórios de indicadores ambientais pelo Grupo Técnico de Assessoramento
à Execução da Sentença - GTA.
Para aprofundar o entendimento nesse assunto, propõe-se caracterizar a questão
ambiental da bacia carbonífera e analisar o “Projeto de Recuperação Ambiental da
Bacia Carbonífera Sul Catarinense”, o que envolve considerar os agentes envolvidos na
elaboração e implementação do projeto, o seu desenvolvimento e os resultados
alcançados até o momento. Para isso, recorrer-se-á aos dados emitidos nos relatórios
pelo GTA, que compreendem o resultado dos indicadores, quanto à qualidade dos
recursos hídricos superficiais e subterrâneos, da cobertura do solo e do meio biótico.
De igual importância, são os trabalhos de campo e a consulta de bibliografia existente
sobre o assunto, consulta a Leis, Decretos, e a utilização de mapas, tabelas e imagens.

1. Caracterização ambiental no sul catarinense

A indústria carbonífera no sul de Santa Catarina vem sendo desenvolvida há


mais de um século. Embora tenha contribuído para o progresso econômico da região,
por outro lado, tem provocado perturbações e degradação nas áreas onde é realizada a
mineração. A degradação ocorre quando o meio ambiente perde a capacidade de
resiliência, ou seja, não é capaz de se recuperar sozinho em um tempo razoável, sendo
necessária a intervenção humana. (CORRÊA, 2006). Para Sánchez (2008, p.27): “[...]
degradação ambiental pode ser conceituada como qualquer alteração adversa dos
processos, funções ou componentes ambientais, ou como uma alteração adversa da
qualidade ambiental.” Com base na definição da autora, o impacto negativo no meio
ambiente na bacia carbonífera pode ser classificado como degradação.
A extração do carvão no sul de Santa Catarina tem causado a perda da
biodiversidade, a perda da fertilidade natural do solo, alteração da topografia,
contaminação do solo, das águas superficiais e subterrâneas. Além disso, tem
contribuído para o surgimento de voçorocas. Esse fenômeno são sulcos que surgem no
solo quando está mal consolidado. Em geral, ocorre devido à erosão causada pela ação
das águas superficiais em áreas degradas, em depósito de rejeitos ou em áreas
recuperadas. As voçorocas começam com a devegetação de um área de relevo
suborizontal, ou na crista de uma escavação. Elas são comuns em áreas de lavras antigas
de carvão ou em depósitos antigos não recuperados ou abandonados, ou onde a lavra
está em andamento. (IBAMA, 1990). Apesar da relevância dessas questões, o problema
mais crítico que a bacia carbonífera enfrenta é a contaminação dos recursos hídricos.
A bacia carbonífera é drenada por três bacias hidrográficas, a saber: bacia
hidrográfica Tubarão, Araranguá e a bacia do rio Urussanga. (PORTAL DO CARVÃO,
2012; CASTILHOS et al. 2009). A figura 1 apresenta a delimitação dos municípios que
compõem a bacia carbonífera.

483
Bacia carbonífera

Figura 35- fonte: 10º relatório – GTA- 2016).


Os impactos negativos que a bacia carbonífera apresenta são mencionados por
Goulart (2002): “O maior legado deixado pela extração do carvão ao longo desses cem
anos, sem sombra de dúvida, foi também uma das maiores degradações ambientais
ocorridas no país: 2/3 dos mananciais hídricos estão contaminados com metais
pesados”.
Até o final de 1990, os rejeitos de carvão eram depositados sem o devido
cuidado, expostos a céu aberto em áreas próximas aos locais de mineração ou
beneficiamento do carvão. (CAMPOS et al. 2010; MILIOLI, 1995). A tabela 1 mostra
as áreas que foram impactadas pelos substratos de carvão.

Tabela 1- Classes das áreas impactadas (em hectares)


céu aberto depósitos de dep. de rejeitos em total de áreas passivos
rejeitos cavas a céu aberto impactadas ambientai
s
2.900,69 3.134,95 155,95 6.191,59 5.338,03
3.092,91 3.195,22 319,31 6.607,44 5.668,71
Fonte: /www.jfsc.jus.br/acpdocarvao/index.php

A quantidade expressiva de resíduos de carvão não aproveitáveis, que na maioria


das vezes eram descartados in natura, causaram assoreamento dos rios, o que
compromete a qualidade de suas águas. (BRANDELERO et. al, 2013). Segundo a
Agência Nacional de Águas - ANA (2013, p. 73), a “poluição decorre da infiltração da
água de chuva sobre os rejeitos gerados nas atividades de lavra e beneficiamento, que
alcançam os corpos hídricos superficiais e/ou subterrâneos”.
Cabe ressaltar, que atualmente os rejeitos de carvão continuam sendo um
problema na bacia carbonífera. Eles são armazenados em depósitos e posteriormente
cobertos com argila. Além de alterar a paisagem, durante o período em que estão sendo
armazenados, ocorre a infiltração da água da chuva, gerando água ácida, que é escoada
para os rios e compromete o lençol freático.
As bocas de minas abandonadas são mais um agravante na contaminação dos
recursos hídricos. A água da chuva, ao entrar pelas galerias, gera água ácida, que, ao
sair das galerias, escoa para a drenagem superficial, contaminando as águas superficiais
e comprometendo o lençol freático. (GEREMIAS, 2009; BITAR, 1997, KREBS, et al.,
2010). Essa situação pode ser observada na figura 2.

484
Boca de mina subterrânea

Figura 2-fonte:www. institutocarbonobrasil. (15/06/2010).

As águas acumuladas nas bocas de minas contribuem sistematicamente para a


contaminação dos recursos hídricos.
No tocante a esse assunto, Trein (2008, p.74, 78) revela que nas áreas onde a
atividade carvoeira foi desenvolvida, seja pelo depósito de rejeito piritoso, ou pela
mineração de carvão a céu aberto em subsuperfície, constatou-se que os aquíferos estão
em parte comprometidos.
A degradação nas bacias hidrográficas afeta a vida aquática, os peixes e outros
animais. Aliás, as pessoas que moram na região são impedidas de desenvolverem
atividades econômicas e de lazer, como: tomar banho nos rios, pescar, dessedentação de
humanos ou de animais, para irrigação, higiene e outras atividades mais. Segundo
Ubaldo, Borma e Barbosa (2006), a poluição dos rios causada pela drenagem ácida na
região carbonífera é o impacto mais significativo das operações de mineração.

2. Política e projetos ambientais na bacia carvoeira

O severo impacto ambiental da região carbonífera veio à tona após o


levantamento das áreas degradadas no Brasil na década de 1980, em que Criciúma, um
dos municípios mais afetados pela atividade carvoeira, ocupou a 14ª posição das áreas
mais degradadas do País. (Câmara dos Deputados. Decreto nº. 85.206, de 25 de
setembro de 1980, que dispõe de medidas sobre o controle da poluição industrial).
A partir disso, constatou-se a degradação ambiental na área que compreende a
bacia carbonífera de Santa Catarina, sendo necessárias ações que viabilizassem a
mitigação dos danos ambientais naquela área. Nesse caso, as políticas ambientais
mostram-se ser a ação do Estado em defesa do meio ambiente. Entretanto, esse campo
não compete apenas ao Estado, outros atores estão envolvidos na arena de decisões nas
políticas ambientais. Nesse processo, primeiro é feita a constatação do problema; o
passo seguinte é a elaboração, a escolha de instrumentos e implementação de políticas
públicas. (FREY, 2000, JENKINS, 1978).
A efetivação de projetos ambientais na região carbonífera veio em 1991, por
meio de um acordo feito entre o Governo Federal e o governador do Estado de Santa
Catarina, em conjunto com os municípios das áreas atingidas pela atividade carvoeira
para a criação de programas para a recuperação das áreas degradadas. Além disso, em
15.04.1993, o Ministério Público Federal, representado pelos procuradores da República
Rui Sulzbacher e José Ricardo Lira Soares, moveu uma Ação Civil Pública, de nº.
485
93.8000533-4, em desfavor das empresas de mineração da região, do estado de Santa
Catarina e da União. (PORTAL DO CARVÃO, 2013).
Essa ação envolveu o princípio do Poluidor-Pagador que está consagrado nas
legislações brasileiras, como a lei que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente
(Lei n.º 6.938/81): prevê no seu art. 4º. VII: “A imposição, ao poluidor e ao predador,
da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de
contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.” Encontra-se
também na Carta Magna de 1988, no capítulo próprio para o meio ambiente, que dispõe
o seguinte (art. 225, §3º.): “as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.
Nesse aspecto, o princípio "poluidor-pagador" é uma das ferramentas de
preservação ambiental a partir da internalização dos custos pelo próprio poluidor.
(ARAGÃO, 1997) e, com ele, a imputação da responsabilidade de um determinado
dano ambiental ao agente poluidor (MACHADO, 2012), de tal modo que a reparação
das áreas degradadas dever ser suportada pelo poluidor.
Isso denota que o Estado exerce forte influência na elaboração e implementação
de políticas públicas. Conforme Mello-Théory (2011), o Estado do século XXI continua
exercendo o papel de regulador na ordem política social e territorial sendo ele capaz de
definir linhas e de legitimar a implementação de projetos em favor da natureza.
Cabe lembrar que o avanço da consciência ecológica no Brasil tem forte
influência nas discussões ambientais que têm sido realizadas em âmbito global. Um
marco importante foi a Conferência das Nações Unidas em Estocolmo, em 1972, e
outras que a sucederam, como a que foi realizada no Rio de Janeiro - “Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - RIO 92”. Os debates
realizados nesses encontros e os acordos e tratados que foram produzidos influenciaram
as políticas ambientais no Brasil. (Ribeiro, 2010). Isso denota que as políticas
ambientais que têm sido implementadas no Brasil são também uma resposta às pressões
que o país tem recebido internacionalmente quanto à necessidade de estabelecimento de
estruturas técnicas e produtivas que minimizem a destruição ambiental e de
implementação de políticas ambientais nas áreas degradadas.
Isso levou o Brasil a criar medidas em favor do meio ambiente, como a criação
do SEMA, em 1973. Posteriormente foi aprovada a Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente nº 6.938/81. A esse respeito, Beltrão (2009, p. 90) sublinha que essa lei
"consiste no primeiro diploma legal em nosso direito positivo que disciplina de forma
sistematizada o meio ambiente, definindo meio ambiente, degradação da qualidade
ambiental, poluição, poluidor e recursos ambientais”.
A esse respeito, a Constituição Federal de 1988 foi decisiva na formulação de
leis em favor da natureza. Ela ressalta que todos têm o direito e o dever de proteger o
meio ambiente e estabelece que é de competência comum dos Estados, Distrito Federal
e Municípios cuidar da saúde, proteger o meio ambiente e combater a poluição em
qualquer de suas formas.
Isso nos remete à afirmação feita por Custódio (2012, p. 55): “de que a questão
ambiental é antes de tudo uma questão político-econômica [...]”. Nesse sentido, o
Projeto de Recuperação Ambiental da Bacia Carbonífera Sul Catarinense mostra ser um
exemplo concreto de uma ação político-econômica.

3. Projeto Ambiental na Bacia Carbonífera

486
A implementação do Projeto Ambiental no Sul de Santa Catarina foi em
cumprimento do Processo de Sentença nº. 2000.72.04.002543-9 (Ação Civil Pública
n°.93.8000.533-4). Em linhas gerais, essa Sentença condenatória exigiu que os réus
apresentassem um projeto de recuperação ambiental que abrangesse os seguintes
aspectos:

[...] as áreas de depósitos de rejeitos, áreas mineradas a céu


aberto e minas abandonadas, bem como o desassoreamento,
fixação de barrancas, descontaminação e retificação dos cursos
d’água, além de outras obras que visem amenizar os danos
sofridos principalmente pela população dos municípios-sede da
extração e do beneficiamento[...]. (PORTAL DO CARVÃO,
2013, Processo de Cumprimento de Sentença nº.
2000.72.04.002543-9)

Logo que os réus foram julgados, iniciaram a elaboração dos projetos, com
vistas a mitigar os danos ambientais decorrentes da extração do carvão. Para isso, as
mineradoras buscaram apoio do Sindicato da Indústria de Extração de Carvão do Estado
de Santa Catarina-SIECESC, como seu representante, para coordenar o trabalho de
elaboração do projeto de recuperação ambiental que, por sua vez, contratou o Centro de
Tecnologia Mineral- CETEM, que contou com o apoio do CANMET - Recursos
Naturais do Canadá. Em setembro de 2000, a CETEM entregou um projeto preliminar,
em que constava o levantamento das informações disponíveis, a caracterização e
descrição do problema e proposta de uma metodologia de gestão. As empresas
mineradoras elaboraram projetos concernentes às áreas ambientais degradas, que foram
anexados ao Projeto Conceitual e entregues à justiça Federal em 08 de setembro de
2000.
O detalhamento das informações do projeto continuou sendo trabalhado, tendo
sido concluído em março de 2001. Nele foram inclusos mapas (escala I:50.000) de áreas
degradadas pela mineração que foram elaborados pela JJCA, em 1998, e dados
ambientais que haviam sido levantados pelo DNPM, em 1999, que mostravam a
degradação ambiental, especificamente, na bacia do rio Araranguá, e o beneficiamento
de carvão das empresas associadas do SIECESC.
Nesse ínterim, outro avanço importante foi a criação de um Comitê Gestor, que
foi instalado em 17 de abril de 2001 em Florianópolis. Esse comitê objetivava
coordenar, priorizar e incentivar os recursos para a recuperação ambiental da bacia
carbonífera. (Decreto Federal17 em 14 de dezembro de 2000).
O Comitê Gestor foi composto por dezessete representantes dos segmentos do
Governo Federal: o Ministério do Meio Ambiente - MMA, Ministério de Minas e
Energia - MME, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis- lBAMA; representantes do Estado de Santa Catarina: Ministério Público
Estadual – MPE, Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT. Representantes da
sociedade civil: Comitê da bacia do Rio Araranguá- CBHRA, Comitê da Bacia do Rio
Tubarão e Complexo Lagunar – CBHRTCL. Demais segmentos: Associação dos
Municípios do Extremo Sul de Santa Catarina - AMESC, Associação dos Municípios da
Região Carbonífera - AMREC, Associação dos Municípios da Região de Laguna -
AMUREL, Sindicato da Indústria de Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina –
SIECESC - e Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina - UNESC. A partir de
17
A criação de um sistema de gestão para o projeto das áreas degradadas no sul de Santa Catarina foi
proposta no IV Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas de Blumenau- SC no ano 2000.

487
Junho de 2003 foi proposta a inclusão formal da Fundação de Ciência e Tecnologia do
Estado de Santa Catarina - FUNCITEC, da Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais
- CPRM, da Federação dos Sindicatos de Trabalhadores na Extração de Carvão e de
uma ONG ambientalista a ser indicada pelo CONSEMA. (CETEM, 2000).
Desde sua implementação, o “Projeto de Recuperação Ambiental da Bacia
Carbonífera Sul Catarinense”, tem sido monitorado pelo Grupo Técnico de
Assessoramento à Sentença- GTA, composto por uma equipe de 21 instituições e inclui
os réus, a União e demais empresas carboníferas; o Departamento Nacional de
Produção Mineral -DNPM, a Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais – Serviço
Geológico do Brasil-CPRM e os comitês das bacias hidrográficas do Araranguá,
Urussanga e Tubarão, o Sindicato da Indústria da Extração de Carvão do Estado de
Santa Catarina –SIECESC, a Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa
Catarina, o Ministério Público Federal e a Fundação do Meio Ambiente de Santa
Catarina – FATMA. Para o melhor acompanhamento do projeto, o monitoramento tem
sido subdividido entre integrantes do GTA:
O monitoramento da cobertura do solo é realizado pelo GTA e o Centro Técnico
do Carvão Limpo-CTCL, por meio de convênio firmado com o Sindicato da Indústria
de Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina -SIECESC, com a Companhia
Siderúrgica Nacional-CSN e com a CPRM. O trabalho é realizado por meio de
aquisição de fotos e/ou imagens orbitais de alta resolução, com georreferenciamento e
retificação da base cartográfica. A partir das fotos, é feita a interpretação preliminar e a
validação de campo, para obtenção de informações qualitativas e quantitativas, de
acordo com as metas traçadas pelo GTA. Enquanto o monitoramento das águas
subterrâneas é executado por meio de convênio estabelecido entre a Companhia de
Pesquisa e Recursos Minerais -CPRM, a Associação Beneficente da Indústria
Carbonífera de Santa Catarina-SATC e a Secretaria de Mudanças Climáticas e
Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente –MMA. O MMA é a instituição
provedora dos recursos para a instalação dos poços monitores e a aquisição de imagens
para o monitoramento da cobertura do solo. Atualmente a rede monitorada é constituída
por 26 poços instalados, 2 poços integrados à rede e 9 poços a serem instalados.
Quanto aos recursos hídricos superficiais, são monitorados de forma sistemática,
de acordo com o plano desenvolvido pelo GTA, por meio de análises físico-químicas
das amostras de água coletadas nos rios e de medidas de vazão em 140 pontos situados
nas bacias hidrográficas do Araranguá, Urussanga e Tubarão, pontos que são
distribuídos a montante e a jusante das áreas impactadas pela mineração de carvão. (10º
Relatório de Monitoramento dos Indicadores Ambientais Novembro/2016).
Em geral, o GTA integra geograficamente os dados necessários para a
caracterização da situação ambiental da região carbonífera, por meio de um banco de
dados geográfico e do desenvolvimento de um Sistema de Informação Geográfica –SIG.
Desse banco, constam todos os dados sobre o andamento do Projeto, que incluem mapas
das áreas degradas, gráficos, resultados das análises, fotos, comparação de dados desde
a implementação do projeto.
O SATC, é o setor responsável pela administração, gerenciamento de segurança
e a estruturação do servidor e do banco de dados geográfico. Em novembro de 2016, o
GTA chega a sua 10ª edição de relatório, em que consta o resultado dos indicadores
ambientais de qualidade que compreendem o monitoramento dos recursos hídricos
superficiais e subterrâneos, da cobertura do solo e do meio biótico. Os relatórios são
elaborados anualmente e apresentados para o poder Público Federal, para a sociedade e
ao juízo. (10º Relatório de Monitoramento dos Indicadores Ambientais
Novembro/2016).

488
O “Projeto de Recuperação Ambiental da Bacia Carbonífera Sul Catarinense”,
em 2016, completou seu 16º ano desde sua implementação. Segundo os dados do GTA
(2016), de um total de 6.503,74 ha que correspondem às áreas impactadas, 4.436.54 ha
têm responsabilidade ambiental assumida. Desse total, cerca de 2.000 ha foram
restaurados, o que equivale a um percentual de 30% de áreas recuperadas. Isso denota
que a problemática ambiental na bacia carbonífera ainda é uma realidade.
De acordo com os dados do GTA (2016), as 30 minas abandonadas que são
monitoradas apresentaram valores elevados de condutividade elétrica, acidez, sulfato e
Fe dos efluentes monitorados. De forma similar, as minas a céu aberto contribuem para
contaminação dos recursos hídricos. Esse fato foi constatado durante o trabalho de
campo que realizamos na Bacia carbonífera em janeiro de 2017, conforme pode ser
observado na figura 3.

Minas abandonadas a céu aberto

Figura 3 - Fonte: Silva, Maria José Andrade da, (janeiro de 2017).

O acúmulo de rejeitos de carvão e os desníveis do solo produzidos pela extração


de carvão promovem o acúmulo da água da chuva, onde é gerada água ácida, o que
contamina as águas superficiais e compromete o lençol freático. Isso significa que os
recursos hídricos possuem diferentes dimensões, num sistema interligado, isto é, quando
as águas superficiais são afetadas, comprometem as subterrâneas e vice-versa.
(GEREMIAS, 2009; BITAR, 1997).
No que diz respeito às três bacias hidrográficas que drenam a bacia carbonífera,
encontram-se trechos de rios com pH (percentual de Hidrogênio) ruim.
Os dados do GTA (2016) mostram que na Bacia Hidrográfica do Araranguá, dos
474,0 km de trechos sob influência de áreas impactadas, 75% (357,1 km) têm pH < 4,5;
15% (72,3 km) e são classificados como tendo 4,5 ≤ pH < 6,0 e 9% (44,6 km) com pH ≥
6,0. Os trechos de rios com condição ruim (pH < 4,5) estão concentrados nas sub-bacias
do rio Sangão e do rio Fiorita, enquanto o curso do rio Mãe Luzia, Fiorita e Criciúma
apresentam pH médio. Esse quadro pode ser observado durante a pesquisa de campo
que realizamos em janeiro de 2017, em que observamos a coloração laranja, típica da
água na região, o que caracteriza a presença de óxidos e hidróxidos de ferro, conforme
ilustrado nas figuras 4 e 5:

489
Rio Mãe Luzia Rio Sangão

Figura 4 e 5- fonte: Silva, Maria José Andrade da. (17 de jan. de


2017).

A Bacia Hidrográfica do Urussanga apresenta um quadro de maior preocupação,


é a bacia que possui o maior percentual de rios impactados com drenagem ácida. Os rios
mais afetados pela mineração do carvão são os rios Carvão, Deserto, Caeté, América,
Linha Anta, Ronco d’Água, Cocal e Urussanga. Os rios que apresentam pH < 6,0
(12,5%) correspondem a 194,9 km de rios impactados, em 1.558 km de extensão dos
rios que compõem a bacia.
Na Bacia Hidrográfica do Tubarão, 3,9% (501,7 km) dos rios estão impactados
pela mineração de carvão e correspondem à maior extensão de rios impactados de todas
as 3 bacias. Desse total, 289,1 km (57,62%) possuem resultado de pH < 4,5 (condição
ruim) localizados, principalmente nas sub-bacias dos rios Rocinha e Palmeiras. Os
trechos dos rios na condição intermediária (4,5 ≤ pH < 6,0) estão localizados, em sua
maioria, no rio Amaral. (10º Relatório de Monitoramento dos Indicadores Ambientais
Novembro/2016).
Um dos fatores que interfere na qualidade das águas são os rejeitos peritosos que
ainda há em abundância na região, muitos deles encontrando-se nas margens dos rios.
Essa realidade foi observada durante o trabalho de campo realizado em janeiro de 2017,
como pode ser visualizado na figura 6.

Afluente do rio Sangão

Figura 6- fonte: Silva, Maria José Andrade da. 17 de jan. de 2017.


Os rejeitos de carvão ricos em minerais sulfetados, como pirita e marcassita,
quando entram em contatado com a fauna aquática implicam formação de drenagem
ácida, proporcionando uma carga de acidez e consequente redução do pH das águas.
(GONÇALVES e MENDONÇA, 2007).

490
Num quadro geral, a qualidade das bacias hidrográficas dos rios Turbarão,
Araranguá, Urussanga apresenta-se conforme a tabela 2.

Tabela 2- Áreas de bacias hidrográficas impactadas


Faixa de pH Faixa de % Faixa de % Faixa de % Total %
extensão extensão extensão
(km) BH (km) BH (km) BH
Ararangu Urussang Tubarão
á a
IMPACTAD 474 8,2 265,6 17 501,7 3,9 1.241,3 6,1
O
pH < 4,5 357,1 6,2 171,2 11,0 289,1 2,2 817,4 4,0
4,5 ≤ pH< 6,0 72,3 1,2 23,7 1,5 25,6 0,2 121,6 0,6
pH ≥ 6,0 44,6 0,8 70,8 4,5 187,0 1,5 302,4 1,5
Fonte: 10º relatório – GTA- (2016).

Esse quadro dá-se devido ao contato da pirita com o ar e com a água, sofrendo
consequentemente o processo de oxidação, ocasionando a alteração das características
da água e do solo, como redução do pH e influenciando no aumento de diversos metais
que auxiliam na acidez dos recursos hídricos.
No que diz respeito à vegetação, grande parte dela foi removida para a extração
do carvão. Porém, devido à contaminação que o solo sofre com os rejeitos de carvão, a
vegetação, que foi removida, perdeu seu poder de resiliência, ou seja, de o solo
recuperar-se sozinho, sendo consideradas como áreas degradas. Segundo Kageama et al,
(1992), “áreas degradadas, e, que após distúrbios teve eliminados seus meios de
regeneração natural apresentando baixo poder de recuperação”.
Dessa forma, a revegetação nas áreas degradadas pela mineração tem sido
realizada como parte do projeto de recuperação ambiental que foi implementado na
bacia carbonífera.
Nas áreas onde estão depositadas pilhas de rejeitos estéril e áreas mineradas em
geral, a revegetação é realizada após a recuperação da morfologia do terreno, precedida
da compactação adequada do substrato de camada de solo de cobertura e plantio de
espécies vegetais (gramíneas, leguminosas e arbustivas), como está ilustrado na figura
7.

Colocação de solo orgânico na área a revegetar

Figura 7- Fonte: Patrício, (2009).

Para o cultivo de gramíneas, recomenda-se que esses solos sejam espalhados


numa capa de 5 a 8 cm. Para o plantio de árvores ou arbustos, a profundidade deve ser
superior a 30 cm.
491
No caso da bacia carbonífera, a vegetação utilizada para esse procedimento tem
sido as gramíneas e arbustos. Contudo, a recuperação da camada vegetal só alcançaria o
resultado ideal se o solo fosse recuperado com espécies vegetais nativas. A área onde é
desenvolvida a mineração de carvão era coberta por floresta com espécie de árvores
perenifoliadas, de vinte a trinta metros de altura, de troncos grossos e copas densas. Ela
é caracterizada, também, pela presença de três estratos nítidos, dois arbóreos e um
arbustivo, podendo existir um rasteiro. (TEIXEIRA, 1994).
Cabe sublinhar que a degradação ambiental na bacia carbonífera afeta o meio
ambiente como um todo, como um sistema integrado - quando parte dele é atingido,
todo o restante é comprometido.

5. Considerações finais

O projeto de recuperação de áreas degradadas no sul de Santa Catarina tem


evoluído ao longo das últimas décadas, na busca de situações em que as áreas
degradadas sejam efetivamente corrigidas e que a estabilidade e a sustentabilidade do
ambiente sejam asseguradas.
A qualidade ambiental na bacia carbonífera está sendo monitorada desde a
implementação do projeto, contando com equipamentos com recursos tecnológicos
avançados, com sistema de imagens e resoluções sofisticadas. Apesar de todo esse
aparato tecnológico, ainda há cerca de 4.000 ha degradados na região.
A degradação ambiental causada pela atividade carvoeira contaminou o solo, a
água, a fauna e a flora; consequentemente a população tem sido prejudicada quanto a
desenvolver atividades econômicas e de lazer, além de acarretar prejuízos para a saúde.
Dessa forma, a crise ambiental exibe-se como uma demonstração da exclusão da
natureza, marcada por um padrão de desenvolvimento econômico baseado na intensa
utilização de recursos extraídos da natureza. (SANCHÉZ, 2006).
Neste caso, a bacia carbonífera é um exemplo concreto de exclusão da natureza
pelas consequências que são geradas. A atividade de extração de carvão mineral é de
relevância para o desenvolvimento econômico da região, porém, as principais
consequências para o ambiente causadas por esse setor são a perda da fertilidade natural
do solo e a interferência nos recursos hídricos da região.
Em vista disso, a implementação do projeto ambiental foi uma necessidade para
mitigar os danos ambientais advindos da produção do carvão. Como consideramos no
decorrer deste estudo, o projeto ambiental foi para atender o Processo de cumprimento
de sentença (nº 2000.72.04.002543-9), em que os réus foram obrigados a apresentar um
projeto para reparar os danos ambientais nas áreas de onde foi extraído o carvão. Por
tudo isso, foi possível observar o papel do Estado como agente capaz de implementar
medidas em defesa do meio ambiente.
Mas por outro lado, ainda que o projeto de recuperação ambiental na bacia
carbonífera tenha alcançado resultados positivos, acreditamos que esse não deva ser o
caminho a ser percorrido, ou seja, baseado no ciclo de degradação/ regeneração; antes
mesmo, todos os cidadãos, as empresas e o Estado devem estabelecer uma relação de
cuidado com o meio ambiente, com vistas a assegurar ambiente sadio, para a geração
atual e para as futuras.

6. Bibliografia

492
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Autor: Ministério Público Federal. Réu: Nova Próspera Mineração S.A. e outros.
Propõe a recuperação dos danos ambientais causados pela exploração de carvão mineral
na região sul de Santa Catarina. Petição inicial protocolada em 15 de abril de 1993.

___________. Ação Civil Pública/Poder Judiciário – Sentença da Justiça Federal,


janeiro de 2000, Criciúma, SC. Processo nº 2000.72.04.002543-9. Disponível em: www.
Portal do Carvão. com.br. Acesso em: janeiro de 2017.

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Ambiental da Bacia Carbonífera Sul Catarinense, CD-ROM, I0º Edição, ISBN 85-7227-
143-0. Disponível em: www.cetem.gov.br, 2001. Acesso em: janeiro de 2017.

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NATURAIS RENOVÁVEIS. Manual de Recuperação de Áreas Degradadas pela
Mineração. Brasília, IBAMA, 1990.

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Indicadores Ambientais do Processo de Cumprimento da Sentença nº.
2000.72.04.002543-9 e Ação Civil Pública n°.93.8000.533-4, CD-ROM 10ª edição,
ISBN 85-7227-143-0. Novembro de 2016.

PROCESSO INICIAL DE RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA DEGRADADA NO


MUNICÍPIO DE PATOS DE MINAS, MG

V. M. Machado1; V. F. Santos Filho2; W. G. Silva3; I. D. Peres² e W. M. S. Junior3


(1)
Professor do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM. Doutorando em
Ciências Florestais – UnB; [email protected]

495
(2)
Engenheiro Sanitarista e Ambiental - Centro Universitário de Patos de Minas –
UNIPAM.
(3)
Acadêmico do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do Centro Universitário de
Patos de Minas – [email protected]. Rua Major Gote, 808, Patos de
Minas - MG, CEP 38700-000.

RESUMO

O presente estudo foi realizado no município de Patos de Minas - MG, na Fazenda


Pântano com objetivo geral da recuperação de uma área degradada por meio do plantio
de enriquecimento com mudas de espécies diversificadas nativas do bioma Cerrado
sendo elas: Anadenanthera falcata; Campomanesia xanthocarpa; Cedrela fissilis;
Genipa americana; Hymenaea courbaril; Myracrodruon urundeuva; Myroxylon
peruiferum; Platymenia foliolosa e avaliando os seu desenvolvimento nos diferentes
manejos os quais são: Hidrogel; Hidrogel + Adubo Orgânico; Adubo Orgânico e
Testemunha. A avaliação do desenvolvimento do plantio foi avaliada em sete fases, no
intuito de verificar o desenvolvimento em altura (A) e diâmetro (D), índice de
sobrevivência (%M), incremento a altura Inc (%H) e diâmetro Inc (%D) e Regeneração
natural. Diante disso, obteve - se um índice de sobrevivência total das espécies de
64,51% sendo a espécie Myracrodruon urundeuva (Aroeira do Sertão) apresentando o
maior índice de sobrevivência (87,48%). Entre os manejos, a Testemunha obteve maior
índice de sobrevivência (87,23%) é o Hidrogel apresentou um índice mortalidade de
(66,67%.). A espécie Platymenia foliolosa (Vinhático) obteve a maior média de
crescimento dentre as espécies no incremento de altura diâmetro.

Palavras Chave: condicionante do solo, incremento, manejo, recuperação do Cerrado

1 INTRODUÇÃO
Segundo o IBRAM - Instituto Brasília Ambiental (2007) o bioma Cerrado
abrange 13 estados brasileiros, em uma área de cerca de 200 milhões de hectares, sendo
a savana mais rica em diversidade do mundo e o segundo maior bioma do país.
Entretanto, esse bioma sofre processos acelerados de degradação ambiental em grande
parte sua área.
Dentre as maiores causas de degradação ambiental do Cerrado, está o efeito da
expansão da agricultura e pecuária, nas quais degradam o ecossistema utilizando
técnicas para aumentar as áreas de lavouras e formar pastagens, isto é, quando não
utilizam técnicas de manejo de solo adequadas, intensificam ainda mais o processo de
degradação, pois o solo fica desprotegido durante os períodos chuvosos ocasionando
erosões.
O aumento da degradação ambiental se dá, pelas falhas na fiscalização por meio
das autoridades, pois a maioria o exploram o bioma desobedecendo às leis previstas de
utilização. Em contrapartida, poucas são as ações legislativas quanto à proteção do
Cerrado, que pela sua grande extensão é o bioma que possui menor porcentagem de
áreas naturais sob proteção integral.
No entanto nem todos exploram os recursos naturais do bioma, ao contrário,
muitos se preocupam em recuperar a área degradada possibilitando a reconstituição do
ecossistema diferente das condições originais da área. São inúmeras as formas de

496
recuperação dessas áreas e cada modelo descrevem os vários objetivos a serem
desenvolvidos para elaboração de projetos a fim de mitigarem os danos ambientais.
Identificar o local e o tipo de ecossistema a ser recuperado, o agente causador da
degradação, a necessidade de intervenções diretas para a recuperação, são atividades a
serem realizadas para elaboração de um bom e exequível projeto de recuperação de
áreas (CAMPOS et al., 2006).
Nos dias de hoje existem várias metodologias de recuperação do bioma Cerrado
e segundo o CONAMA, as mais indicadas e utilizadas são: a condução da regeneração
natural - recuperação de áreas em que os processos ecológicos ainda estão presentes e
são capazes de manter a condição de regeneração natural da área; o plantio por
sementes: as mesmas são lançadas diretamente no lugar a ser recuperado e tem um
prazo para que ocorra a germinação das sementes, possibilitando que as mudas se
adaptem e desenvolvam; outro método utilizado é o plantio de mudas (metodologia
utilizada no presente trabalho).
O plantio de mudas é um procedimento considerado mais oneroso, quando
comparado aos demais métodos, pelo fato das mudas serem produzidas em viveiros.
Estas são adaptadas as diferentes condições climáticas do local que irá realizar a
recuperação. Assim, o crescimento das mudas endêmicas do bioma é rápido e apresenta
alta eficácia na recuperação, pois são mais resistentes as pragas, doenças e as variações
do clima durante o ano (SILVA et al., 2004).
Visando cumprir os objetivos e alcançar bons resultados em um projeto de
recuperação, o mesmo deve ser avaliado por meio de indicadores de recuperação,
escolhidos em função das metas e dos objetivos desejados. Segundo o Ministério do
Meio Ambiente (2013), indicadores são informações quantificadas, de cunho científico,
de fácil compreensão usada nos processos de decisão em todos os níveis da sociedade;
são úteis como ferramentas de avaliação de determinados fenômenos, apresentando suas
tendências e progressos que se alteram ao longo do tempo.
Diante deste contexto, o presente trabalho tem por objetivo iniciar o processo de
recuperação de uma área degradada do bioma Cerrado em propriedade rural agrícola nas
proximidades de Patos de Minas - MG, por meio do plantio de enriquecimento com
espécies nativas do Cerrado.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE

O presente trabalho foi realizado na Fazenda Pântano, aproximadamente a 46


km da cidade de Patos de Minas – MG (Figura 1) sentido a comunidade de Pântano,
localizado nas coordenadas geográficas: latitude 18°37'58.69" S e longitude
46°49'29.82" W com altitude de 1.155m. A vegetação predominante no local de estudo
é caracterizada como campo sujo (RIBEIRO; WALTER, 2008).

497
Figura 36 - Mapa de localização da Fazenda Pântano, situada a 46 km da cidade da
cidade de Patos de Minas/MG.

Fonte: Autores (2015).

A fazenda possui cerca de 500 hectares especificamente voltados para o cultivo


de café para exportação, sendo 42 hectares de reserva legal e destes 0,3 hectares
destinados ao presente experimento (Figura 2).

Figura 37 - Reserva legal em processo de recuperação da Fazenda Pântano, em


amarelo, detalhe em vermelho para a área experimental do plantio de mudas.

Fonte: Autores (2015).

2.2 PROCEDIMENTOS DO PLANTIO

O plantio foi realizado no dia 14 de fevereiro de 2015, tendo um período de


avaliação de 209 dias após o plantio. Antes de realizar o plantio, foram realizadas
análises físico-químicas do solo, a fim de se saber qual a adubação de arranque mais

498
adequada para a tipologia de solo, realizado o combate de formigas e aplicação de
herbicidas evitando a matocompetição com mudas. Após essa etapa foi realizado
adubação.
Posteriormente foram feitas oito linhas de plantio com profundidade de setenta
centímetros e com espaçamento entre linhas de quatro metros, sendo cada linha com
aproximadamente cem metros de comprimento. As linhas de plantio foram feitas por
um sulcador, acoplado a um trator, a uma profundidade de 70 cm. A Figura 3 apresenta
a abertura das linhas e aplicação da adubação.

Figura 38 - Abertura das linhas de plantio na área de recuperação através de um


sulcador acoplado a um trator da marca BF-75- VALTRA e Adubação de base nas
linhas de plantio com adubo NPK 12.5.3 mais 0,14% de boro mais 0,5% de magnésio

Fonte: Autores (2015).


Assim deu-se início ao coveamento dentro das linhas de plantio utilizando o
espaçamento de quatros metros entre covas, já o plantio foi utilizado oito espécies
nativas do bioma Cerrado, sendo vinte e quatro indivíduos de cada espécie (Tabela 1).

Tabela 1 - Quantidade de mudas nativas com seus respectivos nomes, científicos e


populares, utilizados no plantio da área experimental
Nome científico Nome popular Quantidade (plantas)
Anadenanthera peregrina var.
Angico 24
falcata
Campomanesia xanthocarpa O.
Gabiroba 24
Berg
Cedrela fissilis Vell. Cedro 24
Genipa americana L. Jenipapo 24
Hymenaea courbaril L. Jatobá 24
Myracrodruon urundeuva Allemão Aroeira do sertão 24
Myroxylon peruiferum L. F. Bálsamo 24
Plathymenia foliolosa Benth. Vinhático 24
Fonte: Autores (2015).

Estas mudas descritas acima (Tabela 1) foram plantadas em quatro diferentes


manejos, a saber: MANEJO 1 (M1): Hidrogel. É um composto químico que adicionado
à água formando uma pasta gelatinosa que é colocada ao redor da planta junto ao
plantio, no intuito de assegurar umidade para planta. MANEJO 2 (M2): Hidrogel e
Adubo Orgânico.O Adubo Orgânico são rejeitos do processamento de seleção e limpeza

499
do café como os grãos ruins e a casca do café. MANEJO 3 (M3): Adubo Orgânico.
MANEJO 4 (M4): Testemunha.
As linhas foram enumeradas de 1 a 8 a fim de avaliar os diferentes manejos. Em
cada linha foram plantadas três mudas de cada espécie aleatoriamente, somando um
total de vinte e quatro mudas por linha e para cada manejo foi empregado duas linhas de
plantio (Tabela 2).

Tabela 2 - Esquema de identificação dos diferentes manejos nas linhas de plantio


Manejos Quantidade de mudas/ linhas Linhas
Hidrogel 24 1e2
Hidrogel + Adubo Orgânico 24 3e4
Adubo Orgânico 24 5e6
Testemunha 24 7e8
Fonte: Autores (2015).

2.2.1 Tratos silviculturas

Para que não houvesse danos as mudas em relação aos ataques de formigas, após
o plantio, constitui-se o controle das mesmas percorrendo toda a área de plantio e áreas
adjacentes diariamente durante o primeiro mês de avaliação. Verificando-se a presenças
das formigas e quando encontradas foi utilizada a isca formicida na forma de peletes à
base de Fipronil 0,016%. Já os demais controles foram feitos juntamente a coleta de
dados sendo nos dias 40°, 80°, 107°, 135°, 157°, 209 dias após o plantio.
O controle da matocompetição foi controlado aproximadamente a cada 45 dias
utilizando herbicida e pelo método manual (capina/roçada). O controle das plantas
daninhas visa à eliminação da competição por espaço, nutrientes e água; tais fatores
quando limitados, pode atrapalhar o desenvolvimento das espécies de interesse e muitas
vezes levá-la a morte. Esses procedimento utilizou o herbicida glifosato em
concentração de 300ml.20L-1 d'água, colocado em pulverizador costal manual. Já o
coroamento for realizado manualmente com auxílio de uma enxada.

2.3 AVALIAÇÃO DOS DADOS

O período de avaliação teve sete fases sendo a primeira iniciada aos primeiros
30° dia após o plantio no intuito de verificar o fator sobrevivência (S%), incremento da
altura (IncH), diâmetro (IncD) e regeneração natural, já as outras fases foram avaliados
nos dias 40°, 80°, 107°, 135°, 157°, 209 após o plantio, avaliando os mesmos dados.
Os dados de diâmetro e altura foram mensurados com a utilização de uma fita
métrica e paquímetro, o resultado das análises foram planilhados e posteriormente
obtidos suas medias de desenvolvimento inicial e final de todas as espécies nos
diferentes manejos. A Figura 4 demonstra alguns dos procedimentos supracitados.

500
Figura 4 - Mensuração dos indivíduos altura e diâmetro

Utilização de fita métrica Utilização do paquímetro


Fonte: Autores (2015).
5.3.3 Regeneração Natural

Entende-se quando a área degradada passar a ser autossustentável, ou seja,


dispensa as intervenções antrópicas. Esta avaliação foi realizada ao final do experimento
mês de outubro de 2015 com o propósito de quantificar e identificar as espécies que
entraram (chegaram) no sistema após o início do processo de recuperação.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 SOBREVIVÊNCIA POR MANEJO

Na Tabela 3 são apresentados as porcentagens da sobrevivência (%S) para os


manejos avaliados. A sobrevivência geral do plantio, em porcentagem, desconsiderando
os manejos aplicados, foi aproximadamente de 64,51%.

Tabela 3 - Índice de sobrevivência (%S) por manejo.


Manejo (%S)
Hidrogel 33,33
Hidrogel + Adubo Orgânico 54,16
Adubo Orgânico 83,33
Testemunha 87,23
Média sobrevivência 64,51
Fonte: Autores (2015).

Para este estudo a porcentagem encontra-se na margem esperada (64%), em que


inicialmente são perdidas quantidades consideráveis de mudas devido às adversidades
do meio. Para Souza (2002), uma porcentagem de sobrevivência acima de 60% e tida
como alta em áreas em processo de recuperação.
De modo geral o Manejo Testemunha foi o que apresentou a melhor
sobrevivência (87,27%), na qual as espécies Myracrodruon urundeuva (Aroeira do
Sertão), Platymenia foliolosa (Vinhático) e Hymenaea courbaril (Jatobá) obtiveram
valores de 100%, como pode ser observado na Tabela 4.
Os Manejos Hidrogel e Hidrogel + Adubo Orgânico foram os que apresentaram
menor sobrevivência, 33,33% e 54,16%, respectivamente (Tabela 3). O baixo índice
pode ser explicado devido às espécies de Campomanesia xanthocarpa (Gabiroba), a
qual indivíduos foram perdidos, e a espécie Genipa americana (Jenipapo), a qual
501
somente 16,66% respondeu positivamente ao plantio (Tabela 3), enfatizando que as
espécies não se adaptaram aos manejos submetidos.
A Tabela 4 apresenta os índices de sobrevivência por manejo.

Tabela 4 - Índice de sobrevivência (S%) das espécies por manejo.


Manejos
Hidrogel +
Hidrog Adubo Testemunh Média
Espécies Adubo
el Orgânico a sobrevivência
Orgânico
M. urundeuva 66,64 83,30 100,00 100,00 87,49
M. peruiferum 49,98 100,00 83,30 83,30 79,16
P. foliolosa 49,98 66,64 100,00 100,00 79,16
H. courbaril 32,20 83,30 83,33 100,00 74,70
G. americana 16,60 16,60 100,00 83,33 54,13
C.
xanthocarpa 0,00 0,00 16,60 83,33 25,00
C. fissilis 32,32 32,32 100,00 83,33 62,49
A. falcata 16,66 83,30 83,33 66,66 62,50
Média geral 33,17 58,31 83,33 87,50 65,58
Fonte: Autores (2015).

De acordo com as avaliações realizadas durante o plantio, as espécies


Myracrodruon urundeuva (Aroeira do Sertão); Myroxylon peruiferum (Bálsamo);
Platymenia foliolosa (Vinhático) e Hymenaea courbaril (Jatobá), apresentaram média
de sobrevivência acima de 74,00%, na qual a espécie Aroeira do Sertão obteve o maior
índice (87,49%). Já as espécies Anadenanthera falcata (Angico) e Cedrela fissilis
(Cedro Rosa) obtiveram média aproximadamente de 62,50% de sobrevivência.
As espécies, Jenipapo e Gabiroba, apresentaram as menores sobrevivências,
54,13% e 25,00%, respectivamente; sendo que, as mudas de Jenipapo e Guabiroba, não
responderam positivamente ao Manejo de Hidrogel e Hidrogel + Adubo Orgânico,
reduzindo a média final de sobrevivência diante aos outros manejos (Tabela 4), tal fato
pode ter ocorrido devido ao déficit hídrico ou baixo teor de matéria orgânica. Condições
de baixas precipitações na época do plantio, solos arenosos e de baixo teor de matéria
orgânica que têm baixa capacidade de retenção de água substrato podem causar grandes
perdas de mudas logo após o plantio (Ribeiro et al., 2010).
Os autores, Huttermann et al. (1999), enfatizam que alguns hidrogéis não
ofereceram efeitos benéficos à sobrevivência das árvores podendo ser até prejudiciais.
Visto que os conhecimentos científicos sobre a utilização do hidrogel como
condicionador de solo em diferentes condições ambientais ainda são pouco descritas,
necessita-se assim que haja mais estudos para conhecer melhor as características desses
polímeros (SARVAS, 2003; OLIVEIRA et al., 2004).
Em estudos executados em condições semelhantes ao presente trabalho,
Monteiro (2015) cita que ao avaliar o efeito do hidrogel em plantio de recuperação em
áreas degradadas no bioma Cerrado, a utilização do hidrogel não foi suficiente para
evidenciar em efeitos significativos na taxa de sobrevivência, o que corrobora com a
baixa sobrevivência dos manejos testados neste experimento.
No presente estudo, o hidrogel foi utilizado no período chuvoso, porém dias
após o plantio ocorreu um veranico que pode ter influenciado na não eficiência do
produto. Por ser um polímero higroscópico absorve água quando disponível, e quando

502
há ausência da mesma e em contato com a planta, o produto pode retirar água do
material vegetal, levando-o à morte.

6.2 DESENVOLVIMENTO FINAL EM ALTURA (H) E DIÂMETRO (D)

Dentre as espécies utilizadas neste projeto, a Aroeira do Sertão foi a que obteve
maior média de desenvolvimento final dentre as espécies plantadas, atingindo uma
altura final de 77,73 cm e diâmetro final de 6,18 mm, enquanto a espécie Guabiroba
obteve o menor desenvolvimento com 11,44 cm em sua altura e 1,80 mm de diâmetro
(Tabela 5).

Tabela 5 - Média do desenvolvimento final das espécies em altura (H) e diâmetro (D).
Espécie H (cm) D (mm)
M. urundeuva 77,73 6,18
M. peruiferum 48,49 6,43
P. foliolosa 47,13 6,01
H. courbaril 33,08 6,2
G. americana 35,1 6,51
C. xanthocarpa 11,44 1,8
C. fissilis 54,12 6,39
A. falcata 32,22 4,66
Fonte: Autores, (2015)

Vale ressaltar que a as mudas de Aroeira do Sertão vieram do viveiro em estágio


maior de desenvolvimento comparada às outras mudas.Verifica-se que todas as espécies
têm características de desenvolvimento diferentes, não é possível fazer uma análise
comparativa entre as mesmas, uma vez que cada espécie tem características intrínsecas
de desenvolvimento.
Na Tabela 6 são mostrados os valores paras as médias das espécies que
obtiveram o maior e menor desenvolvimento altura (H) e diâmetro (D), diferenciados
por manejo.

Tabela 6 - Média do desenvolvimento das espécies em altura (H) e diâmetro (D) por
manejo.
Manejos* Média por desenvolvimento Média geral
M M M M P N
1 2 3 4
Espécies H D H D H D
(cm) (mm) (cm) (mm) (cm) (mm)
M. P N 6,58 49,44 6,50 77,73 6,18
urundeuva
M. P N 7,49 40,96 5,81 48,49 6,43
peruiferum
P. P N 6,76 37,51 6,23 47,13 6,01
foliolosa
H. P 6,62 31,14 6,07 33,08 6,20
courbaril
G. N N P 6,25 31,80 6,22 35,1 6,51
americana

503
C. N* P 3,82 0,00 0,00 11,44 1,80
xanthocar
pa
C. fissilis P N 6,41 38,93 5,23 54,12 6,39

A. falcata N P 4,87 23,00 3,90 32,22 4,66


T1; Hidrogel; T2 Hidrogel + Adubo Orgânico; T3 Adubo Orgânico; T4 Testemunha
P = maior desenvolvimentos das espécies; N= menor desenvolvimento das espécies;
*mortalidade total da espécie no manejo.
Fonte: Autores (2015)

Como discutido acima, a Aroeira do Sertão foi a espécie que apresentou maior
média de crescimento, principalmente quando plantada nas linhas que receberam o
Manejo Adubo Orgânico, obtendo média final de altura de 90,93 cm e diâmetro médio
final de 6,58 mm, enquanto no Manejo Testemunha, a mesma apresentou o
desenvolvimento mais baixo, 49,44 cm e 6,50 mm, de altura e diâmetro,
respectivamente. Isso significa que a utilização do adubo orgânico para a presente
espécie foi positiva o que pode ser explicado pelo fato do adubo orgânico utilizado ser é
um resíduo rico em nutrientes como nitrogênio e potássio, que são essenciais ao
desenvolvimento destas espécies. Aplicação de resíduos vegetais no solo tem efeitos
benéficos sobre os nutrientes, sobre as suas condições físicas, sobre a atividade
biológica e sobre o desempenho das culturas (KANG et al., 1981; WADE; SANCHEZ,
1983, HULUGALLE et al., 2006).
Para a Guabiroba, o melhor desenvolvimento ocorreu no Manejo Testemunha,
com 25,50 cm em altura e 3,82 mm em diâmetro (Tabela 5). Vale ressaltar que a
Guabiroba não apresentou desenvolvimento nos Manejo Hidrogel e Hidrogel + Adubo
Orgânico, uma vez que houve a mortalidade de 100% das mudas (Tabela 4).

6.3 INCREMENTO EM ALTURA E DIÂMETRO

O incremento em altura e diâmetro pode ser entendido como a diferença entre a


leitura final e a leitura inicial dos indivíduos plantados nos diferentes manejos.
Assim, a Tabela 7 apresenta os incrementos em altura e diâmetro para as
espécies trabalhadas.

Tabela 7 - Média de desenvolvimento do incremento a altura (IcmH) e diâmetro


(IcmD) das espécies
Espécies IcmH (cm) IcmD (mm)
M. urundeuva 16,13 7,77
M. peruiferum 12,24 0,91
P. foliolosa 17,36 1,36
H. courbaril 9,59 4,64
G. americana 12,23 2,01
C. xanthocarpa 3,44 0,55
C. fissilis 9,12 1,71
A. falcata 13,47 2,12
Fonte: Autores (2015).

A espécie que apresentou maior incremento foi a Platymenia foliolosa


(Vinhático) obtendo incremento médio em altura de 17,36 cm e 1,36 mm no diâmetro,

504
crescendo por cada fase de avaliação uma média de aproximadamente 2,48 cm, 0,19
mm de altura e de diâmetro, respectivamente.
De acordo com Lorenzi (1992), o desenvolvimento dos indivíduos da espécie
vinhático no campo é lento e dificilmente ultrapassa 2,5m aos 2 anos e segundo Felfili
(2000), o desenvolvimento do incremento ao diâmetro da espécie P. foliolosa pode ser
classificado como muito lento (0 mm – 1,5 mm). Cabe ressaltar que o tempo de
avaliação entre as mensurações ainda é curto, visto que se trata de um experimento em
estágio inicial.
Pelo fato da área estar em processo inicial de recuperação, as espécies utilizadas
no plantio serem nativas (que já possuem crescimento lento), o fato de não haver
adubação de cobertura após o plantio e o tempo de avaliação de apenas 8 meses,
influencia nessa baixa taxa de incremento avaliado. Assim, mais avaliações devem ser
realizadas para poder quantificar a dinâmica da área.
A espécie Guabiroba foi a que apresentou a menor média de incremento durante
o período avaliado, sendo 3,44 cm de altura e 0,55 mm de diâmetro, conforme Tabela 7.
A espécie é considerada de crescimento rápido, os efeitos citado acima e as más
condições das mudas (mudas com presença de ferrugem e folhas necrosadas) no
momento do plantio, podem ter afetado seu desenvolvimento.
Na Tabela 8 são mostrados os valores da maior e menor média para o
incremento em altura (IncH) e diâmetro (IncD) das espécies por manejo.

Tabela 8 - Incremento em altura e diâmetro das espécies por manejo.


Manejos Desenvolvimento por manejo
M M M M P N
1 2 3 4
Espécies IncH IncD IncH IncD
(cm) (mm) (cm) (mm)
M. N P 26,94 1,40 8,76 0,57
urundeuva
M. N P 13,96 0,97 10,52 0,08
peruiferum
P. foliolosa P N 35,11 2,84 4,30 0,30
H. N P 11,18 1,51 7,71 1,27
courbaril
G. N P 8,50 2,79 6,80 1,26
americana
C. N* N* P 17,93 1,84 0,00 0,00
xanthocarp
a
C. fissilis N P 20,94 0,73 0,00 0,11
A. falcata N P 10,94 1,69 0,00 2,46
*T1; Hidrogel; T2 Hidrogel + Adubo Orgânico; T3 Adubo Orgânico; T4 Testemunha
P = maior crescimento das espécies; N= menor crescimento das espécies; *mortalidade
total da espécie no manejo.
Fonte: Autores (2015).

Quanto ao incremento por manejo, o que apresentou maior incremento em altura


foi a Testemunha para as espécies: Aroeira do Sertão, Bálsamo, Jatobá, Jenipapo e
Guariroba. Destaca-se o Vinhático por ter obtido maior incremento em altura no Manejo
Hidrogel devido aos efeitos mencionados anteriormente (Tabela 8).
505
O fato da Testemunha ter refletido em boas condições de sobrevivência e
desenvolvimento pode estar relacionado ao fato de sua localização na área. Por ser uma
área mais plana, parte da água escoada acumula nessa região, aumentando a umidade do
local, fazendo com que a água deixe de ser um fator limitante ao desenvolvimento.
Nesta área também se pode verificar menor presença de formigas cortadeira.

6.4 REGENERAÇÃO NATURAL E CONTROLE DE PROCESSOS EROSIVOS

Quanto à regeneração natural, é necessário o monitoramento do proprietário uma


vez por mês por um período de 16 meses no intuito de combater as formigas e o mato-
competição. O estágio de desenvolvimento o qual as espécies se encontram é de apenas
8 meses visto que o tempo mínimo é de 24 meses, momento estes que os indivíduos
passam a não depender de intervenções antrópicas para seu desenvolvimento, ou seja,
passam a ser autossustentáveis no sistema.
Em relação ao controle de processos erosivos, com o passar tempo o próprio
desenvolvimento dos indivíduos utilizadas no plantio perdem naturalmente galhos e
folhas. Tal perda forma uma camada vegetal no solo (serapilheira) que faz com que
diminua o impacto das gotas das chuvas diretamente ao solo, dificultando o carreamento
de sedimentos, impedindo e/ou minimizando as ações erosivas e assoreamento dos
corpos hídricos, bem como aumenta a fitomassa vegetal para o solo (ANDREDE et al.,
2003.), consequentemente os teores de matéria orgânica.

7 CONCLUSÃO

Conclui-se que a sobrevivência geral do plantio, em porcentagem foi satisfatória


com aproximadamente 64,51%.
O Manejo Testemunha foi o que apresentou maior índice de sobrevivência
(87,23%), enquanto o Manejo Hidrogel apresentou apenas 33,33%.
A espécie que apresentou maior índice de sobrevivência em todo plantio foi
Myracrodruon urundeuva (Aroeira do Sertão) (87,48%) enquanto a espécie
Campomanesia xanthocarpa (Guabiroba) obteve o menor índice (25,00%)
A Aroeira do Sertão obteve maior média de crescimento ente as espécies
principalmente quando plantada no Manejo Adubo Orgânico.
Como o projeto encontra-se em fase inicial de desenvolvimento (8 meses),
torna-se importante a continuidade do monitoramento nos próximos anos, bem como,
adotar as medidas de manejo necessárias. Os resultados satisfatórios ocorrerão de forma
mais acelerada, quanto maior for a dedicação à área trabalhada.

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ANÁLISE DA EFETIVIDADE DE TÉCNICAS DE NUCLEAÇÃO PARA


ENRIQUECIMENTO FLORESTAL EM ÁREAS URBANAS NO MUNICÍPIO
DE SOROCABA-SP

K.R. CASTELLI; A.M. SILVA

Instituto de Ciência e Tecnologia de Sorocaba – UNESP Sorocaba – Avenida Três de


Março, 511, Sorocaba/SP Brasil -CEP 18087-180. E-mail:
[email protected]; [email protected] Telefone (55 15 3238-3411).
Fax (55 15 3228 2842).

RESUMO

A crescente urbanização dos espaços causa uma grande perda da biodiversidade local.
Para atenuar esse efeito são construídos os parques urbanos, esses parques muitas vezes
apesar de possuírem faixas de vegetação nativa, necessitam ainda de medidas de
recuperação, com isso esse trabalho avaliou a efetividade de duas técnicas nucleadoras
(transposição e poleiro) em termos de acelerar o processo de recolonização em parques
públicos. Foram escolhidos três parques urbanos no município de Sorocaba - SP, nos
quais foram instaladas 54 unidades amostrais, sendo 32 poleiros, 09 transposições e 09
controles distribuídos uniformemente entre os parques. Por se tratar de áreas urbanas, o
fator antrópico tem sido muito relevante para as unidades amostrais na área do Parque
Chico Mendes. Houve grande depredação de alguns poleiros e áreas de transposição,
porém entende-se que, apesar de influenciar nos resultados, este seja um fator de analise
nas áreas urbanas. Apesar de haver indicio de crescimento de plântulas nas UAs não foi
verificada a presença de espécies zoocóricas e o crescimento de gramíneas foi bastante
relevante para a inibição das plântulas. A área do Parque Corredores da Biodiversidade
localiza-se em um local com maior presença de vegetação nativa no entorno, fator que
acredita-se ter inibido a utilização dos alimentos ofertados. Apesar de não ser constatada

509
grande efetividade para a recolonização da área com espécies da flora nativa, observou-
se que os poleiros são importantes mecanismos de alimentação e locais de pausa para
espécies da avifauna urbana as quais não tem áreas de fragmento para utilizarem de
pousio.

Palavras Chave: recuperação, áreas urbanas, técnicas nucleadoras

Introdução.

Um dos principais efeitos ambientais que o processo de urbanização causa é redução na


biodiversidade local (McKINNEY, 2008). Para atenuar este efeito negativo, há a
construção de áreas verdes públicas em locais pré-estabelecidos pelo poder público.
Esses locais possuem diversas funções sócio-ambientais. Em termos sociais, elas
servem para que as pessoas possam caminhar, descansar, em alguns casos praticar
exercícios físicos ou outras atividades de recreação. No contexto ambiental, a intenção é
que atuem como elementos da paisagem urbana com a função de melhorar as condições
estéticas da paisagem local, equilibrar o microclima e proporcionar localmente alguma
diversidade de plantas, além de abrigar a fauna local. (TYRVAINEN e VAANANEN,
1998)
A baixa biodiversidade nos ambientes urbanos e ainda a descontinuidade dos ambientes
florestais, alavanca perdas de biodiversidade, ou seja, as espécies de fauna que
poderiam visitar áreas urbanas, não são atraídas para tal em função de abrigos precários
e pouca fonte de alimentação. Nestas condições, apenas poucas espécies conseguem
sobreviver em áreas urbanas (BRUN et al., 2007).
Os espaços arborizados no contexto urbano podem desempenhar a importante função de
complemento de fontes alimentares a espécies típicas de matas nativas, por exemplo,
espécies que habitam matas nativas circundantes aos centros urbanos (DEABORN e
KARK, 2009). Esses espaços cumprem também função de trampolins
ecológicos,pequenos locais de Descanso que ligam áreas florestadas, os quais são
importantes mecanismos de conefctividade entre os fragmentos vegetais, mantendo a
dispersão de sementes e facilitando o fluxo gênico entre essas áreas, bem como
garantindo a preservação de espécies que muitas vezes não habitariam locais mais
degradados (BAUM et al., 2004)
Exemplificando, no município de Sorocaba-SP, a maciça maioria das árvores ocorrentes
nas praças é (considerando nomes populares): Sibipiruna, Ipês (predominantemente
amarelo), Salgueiro (ou chorão), Unha-de-vaca (ou Pata-de-vaca), Leucena, Tipuana
dentre outras. Todas estas citadas são de dispersão anemocórica ou autocórica e
algumas são exóticas e com potencial de bioinvasão, as espécies invasoras são
consideradas a segunda maior causa de extinção de espécies no planeta, afetando
diretamente a biodiversidade, a economia e a saúde humana (MMA, 2006).
O plantio de mudas muitas vezes é um processo bastante complexo e custoso, pois há
muitas etapas desde a coleta de sementes, preparo do local para produção de mudas e
finalmente a expedição das mudas para o local definitivo do plantio, e muitas vezes não

510
oferece o conjunto de espécies necessário para o re-estabelecimento ecológico da área
urbana.
Por outro lado, pesquisadores e técnicos que investigam e/ou trabalham na linha de
recomposição florestal em áreas degradadas, citam que técnicas de nucleação são
técnicas que priorizam aspectos ecológicos do processo de sucessão florestal, são de
baixo custo e vem sendo usados com relativo sucesso ao invés da técnica do plantio de
mudas (CORBIN e HOLL, 2012).
Entretanto as técnicas nucleadoras ainda não foram testadas em áreas urbanas com a
possibilidade de incrementar a biodiversidade local de forma a garantir à dispersão de
espécies que possam servir de abrigo à fauna urbana ou circundantes no meio urbano.
Promovendo assim a esses espaços status de ilhas de conectividade.
Neste projeto parte-se da hipótese de que técnicas nucleadoras podem ser também
efetivas em praças urbanas no sentido de alavancar o processo de recolonização local.
Trata-se de uma proposta inovadora em termos de aplicação (isto é, uso de técnicas de
nucleação em áreas urbanas). A efetiva recomendação de uso deste modelo em outras
regiões será feita após análise da eficiência do modelo e ajuste de eventuais
imperfeições. No contexto da Engenharia Ambiental, a importância deste projeto é
sobre a característica da reconstrução de novos ecossistemas com características
ecológicas mais próximas daqueles originalmente ocorrentes nas áreas hoje urbanizadas.
Dessa forma, neste trabalho buscou-se analisar a efetividade de duas técnicas
nucleadoras (transposição e poleiro) em termos de acelerar o processo de recolonização
em praças, parques e jardins públicos.

Materiais e Métodos

Localização e caracterização ambiental da área de estudo.


O estudo foi desenvolvido no município de Sorocaba, o qual é um município brasileiro
do interior do estado de São Paulo. A área total é de 450,38 km², onde 55% de área
urbana e 45% de área rural. Sua população estimada em 2014 é de 586.625 habitantes.
Trata-se do terceiro município mais populoso do interior de São Paulo e também o
quarto mercado consumidor do estado fora da região metropolitana da capital (IBGE,
2010).
O local constitui uma área de ecótono, onde há o encontro de dois biomas: Mata
Atlântica (vegetação semidecidual) e várias fitofisionomias do Cerrado (IBGE, 2012).
No município como um todo, um levantamento das espécies de vários grupos
taxonômicos apresentou que o município possui 441 espécies vegetais de angiospermas,
118 espécies de animais invertebrados pertencentes ao filo Arthropoda e duas espécies
pertencentes ao filo Mollusca. Dentre os vertebrados, são citadas 23 espécies de
anfíbios, 49 espécies de répteis, 280 espécies de aves e 48 espécies de mamíferos
(SMITH et al., 2014).
Para a realização do estudo foram escolhidos três parques urbanos com distintas
características para avaliação do potencial de restauração em cada um deles:

511
 Parque Natural Chico Mendes: está localizado próximo a prefeitura da cidade,
com altitude de 600 metros. O parque apresenta áreas de entretenimento contendo
parque infantil, quiosques para churrasqueiras, mesas de piquenique, pista de
caminhada, vegetação nativa e lagos. Apresenta uma vegetação característica da
Mata Atlântica com predomínio da Floresta Estacional Semidecidual e áreas
contendo Eucaliptos. O parque é caracterizado como uma Unidade de
Conservação de uso direto, por isso permite a interferência da população em
determinados espaços para fins recreativos, lazer, educaciona (MOTTA et al,
2013).
 Parque Jardim Botânico Irmãos Vilas Boas: foi inaugurado em março de 2014,
abrangendo uma área de sete hectares, com o objetivo de ser um centro de
conservação da biodiversidade e auxiliar na conscientização ambiental da
população por meios das atividades desenvolvidas no local. Apresenta vegetação
de transição entre Cerrado e Mata atlântica estacional Semi-decidual.
 Parque municipal Corredores da Biodiversidade: Inaugurado em 2013 é o único
parque caracterizado como unidade de Conservação, tem o objetivo de proteção
integral da fauna e flora específicos da região, aumentando as áreas de proteção
permanente dos afluentes do Rio Sorocaba (principal rio do município), assim
como, ampliar e conservar os corredores de biodiversidade na Zona Norte do
município, garantindo a conectividade e o fluxo gênico. O parque é uma unidade
de proteção integral, na categoria Parque Municipal, definida pela lei Federal nº
9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza (SNUC) por isso é permitido apenas o uso indireto dos recursos e
atividades como ecoturismo, lazer, educação ambiental e pesquisa cientifica

Procedimentos
Foram instaladas cinquenta e quatro amostras (UA) nos três parques municipais. As
unidades amostrais são círculos de um metro de diâmetro, onde foi removida a grama
existente com o auxílio de uma enxada e o solo descompactado com um rastelo, visando
remover eventuais diferenças na questão de compactação do solo entre as UAs. Os
círculos foram instalados distantes ao menos 05 metros entre si, assim como também ao
menos cinco metros distantes de calçamentos.
Para as UAs de transposição, foram coletadas amostras de serapilheira num fragmento
adjacente e cuja vegetação apresenta as melhores condições ecológicas possíveis. A
razão do critério da máxima proximidade é para que o banco de sementes contido no
material seja o mais próximo em termos de similaridade genética.
Em campo, as amostras foram coletadas usando uma armação plástica de um metro de
diâmetro. Foi coletado todo o material do horizonte “O” do solo (serapilheira) que
estivava dentro da armação, acondicionado num saco plástico e transportado para a área
escolhida. Numa UA previamente preparada, todo o material foi depositado e
manualmente espalhado.
A análise comparativa desta modalidade de técnica de nucleação com a técnica do
poleiro é importante, pois no banco de sementes há a possibilidade de haver sementes
de espécies anemocóricas, enquanto que nas UAs submetidas à técnica do poleiro, ao
menos em princípio, espera-se o aparecimento de espécies zoocóricas (Tabela 1)

Tabela 34

512
Tabela 34. Descrição das técnicas, variações e objetivos de cada opção.

Técnica de Nucleação Variações Objetivo

Poleiro com oferta de Investigar se a oferta de


alimento alimento (provavelmente
quirera) influencia na
Poleiro sem oferta de atratividade e preferência de
alimento visitação por parte de aves.

Investigar a atratividade apenas


Poleiros naturais pela presença de poleiros no
local.

Investigar se a cor influencia na


atratividade e preferência de
visitação por parte de aves.
Vermelho devido ao fato de
Poleiros pintados em
que a grande maioria dos frutos
Poleiros vermelho
possui estas cores,
isoladamente ou misturados,
quando os frutos estão
maduros.

A trepadeira buscará simular


Poleiro com trepadeira uma planta (árvore de pequeno
porte).

Assoalhos forrados com Verificar se a presença da brita


pedriscos (brita usada em fará diferença no controle de
construção civil) uma eventual invasão da grama
ora removida para instalação do
Assoalhos não forrados experimento.
com pedriscos (brita usada
em construção civil)

Investigar se o transporte deste


Transposição de serapilheira. tipo de material é mais eficiente
que os poleiros.

Foram instalados poleiros de cerca de 1,5 metros cada, confeccionados com troncos de
eucalipto de aproximadamente 10 cm de diâmetro, divididos em três modalidades de
combinação: Poleiros naturais, poleiros pintados de vermelho e poleiros com trepadeiras
Os poleiros possuem designs idênticos entre si. Para os poleiros onde foram instalados
comedouros, estes possuem formato circular e ali e a cada campanha é depositado cerca
de 200 gramas de quirera.

513
As instalações foram realizadas nos Parque Chico Mendes, Parque da Biodiversidade e
Jardim Botânico, em cada local foram instalados doze poleiros (quatro vermelhos dos
quais: dois com brita e dois sem brita, dois com alimento e dois sem alimento; Quatro
naturais com a mesma distribuição dos vermelhos e quatro com trepadeiras distribuídos
da mesma forma), três controles e três transposições.
O monitoramento foi efetuado durante o período de seis meses em frequência quinzenal.
Para cada dia de visita em cada UA, foi feita uma inspeção para verificar a presença de
vestígios de animais (para o caso das UAs de poleiros). Entende-se como vestígios de
animais: fezes, pegadas, rastros, penas, pêlos, cadáveres ou mesmo animais que
estiverem, por coincidência, presentes justamente no momento da visita (por exemplo,
aves sobre algum poleiro).
A presença de sementes na superfície do solo também foi inspecionada e verificado se
está ou não eventualmente inserido nas fezes ocasionalmente presentes no local. Foi
também observado o nascimento de plântulas dentro da área da UA e também
observado a evolução da muda.
Em área de instalação das UAs foram também avaliados os atributos microclimáticos no
momento da inspeção através de uma estação microclimatológica. Os atributos medidos
são: temperatura do ar, umidade relativa do ar, velocidade do vento e luminosidade,
além de ser anotado também ausência ou ocorrência de chuva. É também medida, com o
auxílio de um equipamento decibelímetro, o volume de som/ruídos na UA no momento
da inspeção.

Figura 39. Modelo de um poleiro vermelho com brita.

Analisou-se também o uso do solo no entorno dos parques objeto do estudo, através do
software Qgis versão 2.4. Foram demarcados os pontos centrais dos parques e projetado
um raio de um quilómetro de distância de cada parque, depois utilizando como base
fotos aéreas do software google Earth, foram demarcadas as categorias de uso do solo
em cada local.

514
Resultados e Discussões

Constatou-se que nas áreas urbanas as intervenções antrópicas são fatores relevantes ao
bom andamento das atividades de recuperação fato esse que no parque Chico Mendes
(Ch) houve diversas depredações do poleiro e também das unidades de transposição de
serapilheira e controle.
Em diversos poleiros foram retiradas as plataformas de pouso e em alguns as
plataformas foram quebradas dificultando sua reposição, nas áreas de controle e
transposição foram depositadas folhas mortas, galhos e outros materiais de limpeza do
parque.
No parque corredores da Biodiversidade (Bio) não há nenhum vestígio de depredação,
porém é o único parque onde não foi registrado consumo do alimento ofertado pela
avifauna local.
Apesar de ser verificada a presença de vestígios de visitação aos poleiros, as espécies
vegetais presentes nas UAs não foram espécies zoocóricas, as espécies registradas
foram prioritariamente anemocóricas, como Brachiaria spp. e Leucaena sp.
Nas unidades de transposição observou-se o crescimento de algumas plântulas nas UAs,
porém após aproximadamente um mês do aparecimento essas estavam mortas, acredita-
se que se deve ao fato do alto índice de luminosidade o qual em todas as áreas foram
maiores que vinte mil lux, fato que pode ocasionar tanto a desidratação das mudas,
quanto sua queima.
No que se relaciona as análises microclimáticas, os mais altos valores de temperatura
foram registrados no Jardim Botânico (Bot) com valores de 45,2ºC no dia 03 de
setembro e os menores valores foram verificados no ponto 01 do Parque da
Biodiversidade (Bio) 15,3ºC (Figura 40).

515
Figura 40. Variação da Temperatura ao longo das coletas.

Quanto a umidade relativa do ar os maiores e menores valores encontrados foram no dia


13 de outubro de 2016 nos parques Ch e Bot, com 23% e 65% (Figura 3)

Figura 41. Valores de umidade relativa do ar nas áreas de coleta.

516
Quanto aos níveis de ruídos os valores médios encontrados estão na faixa dos 45
decibéis (DBS), com pico de 60Dbs no Bio no dia 16 de novembro. É importante
ressaltar que os valores de ruídos sempre foram medidos aguardando a passagem de
carros e caminhões na área durante a coleta (Figura 4).

Figura 42. Distribuição de ruídos nas áreas de coleta.

A análise das áreas de entorno das áreas de estudo é importante para a avaliação do
potencial de dispersão de sementes pela comunidade de avifauna local.
O parque Bio é o parque com a maior mancha de vegetação arbórea no seu entorno
aproximadamente 30% da área é de vegetação desse tipo, não incide sobre a área
manchas urbanas o que é um fator importante para a manutenção da fauna local. A
presença de grandes fragmentos de vegetação no entorno da área pode ter sido fator
determinante para o baixo índice de consumo de alimentos no poleiro (Figura 5).

517
Figura 43. Imagem do Buffer de 1000 m a partir do Parque da biodiversidade.

O buffer de 1 km a partir do centro do parque nos parques Ch Bot se intersectam, nesses


parques a mancha urbana é muito presente em aproximadamente 90% da área no
entorno dos parques.(Figura 6)

Figura 44.Buffer de 1Km das áreas dos parques Chico Mendes e Jardim Botânico.

518
Conclusões

Apesar de não ter sido eficiente para a recuperação das áreas urbanas no que tange o
repovoamento com espécies zoocóricas, percebe-se que os poleiros são bastante
visitados pela avifauna local, o que propicia uma área de pouso entre os fragmentos
vegetais urbanos, cumprindo o papel trampolim ecológico para a avifauna urbana e
ainda o oferecimento de alimento serviu também como uma alternativa aos períodos
com menos oferta de alimento nas áreas.
Quanto as transposições apesar do alto crescimento de plântulas, acredita-se que dois
fatores foram importantes ao insucesso da técnica nas áreas urbanas, o primeiro se deve
a alta luminosidade de temperatura nesses locais, o que prejudicou o estabelecimento
das mudas principalmente nos períodos mais secos e o segundo pela falta de
recobrimento no entorno, o que propicia um alto índice de vento no local o que
dispersou boa parte da serapilheira nas UAs.
Embora tenha-se verificado inicialmente um sucesso abaixo do esperado, ressalta-se que
esta foi a primeira tentativa de aplicação destas técnicas em áreas urbanas. No sentido
de se gerar uma ecotecnologia potencialmente utilizável para restauração ecológica de
ambientes urbanos, avalia-se que o potencial não é desprezível, mas que alguns detalhes
técnicos podem ser modificados no sentido de consolidar o potencial de uso destas
técnicas, pois são técnicas baratas, com potencial de envolvimento da população local
(há também um apelo social) e está sempre buscando usar o próprio potencial natural
ainda existente na região (sementes de plantas nativas e avifauna local) para restaurar a
vegetação dentro de um contexto de biodiversidade local.

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Planing., V 43

PERCEPÇÃO AMBIENTAL E ETNOBOTÂNICA EM ÁREA DE


PRESERVAÇÃO PERMANENTE RESTAURADA NA AMAZÔNIA
OCIDENTAL

A. P. EVARISTO; L. H. V. LENCI; SOUZA, W.; A. O. CARVALHO; K. M. Q.


TRONCO

Universidade Federal de Rondônia, Av. Norte Sul, 7300 - Nova Morada, Rolim de
Moura - RO, Brasil, [email protected], (69) 98459-9763

520
RESUMO

A restauração de ecossistemas degradados mediante diversos usos antrópicos do solo,


vem apresentando relativa demanda por informações, de forma a incidir no sucesso do
projeto. Assim, analisar a percepção ambiental dos produtores e o conhecimento sobre
as espécies que compõem essas áreas podem auxiliar nessa busca por experiências
exitosas. Desta maneira, objetivou-se verificar a percepção ambiental e a etnobotânica
em área de preservação permanente restaurada na Amazônia Ocidental. Para isso,
realizou-se entrevista semiestruturada e, posteriormente, caminhada transversal na área.
Observou-se que a área possui nove anos e foi implantada com o objetivo de atender a
legislação. A área serve, atualmente, de corredor e abrigo para diversos animais. O
proprietário avalia de maneira positiva o projeto de restauração ambiental dada à
importância para a proteção dos recursos hídricos e benefícios à fauna local. Verificou-
se 11 etnoespécies, cujo uso madeireiro foi o mais citado.

Palavras Chave: RAD, uso múltiplo, conhecimento tradicional

Introdução

As riquezas naturais do Brasil são de caráter único. Isto porque esse país possui o
maior bioma de floresta úmida do mundo, a Amazônia, que contém, de forma disparada, a
maior parcela das florestas úmidas remanescentes. A Amazônia Legal cobre cerca de 60% do
território brasileiro e abriga 21 milhões de habitantes, 12% da população total, dos quais 70%
vivem em cidades e vilarejos. O Brasil também tem o maior manancial de água doce do mundo,
sendo que a região amazônica sozinha responde por quase um quinto das reservas mundiais
(MARGULIS, 2003). Embora essa região brasileira abrigue aproximadamente 10% de toda a
biodiversidade do planeta, atualmente muitas espécies da fauna e flora encontram-se ameaçadas
de extinção devido aos efeitos das atividades antrópicas (MMA, 2015). Inclusive, estudos
indicam que a maior ameaça à biodiversidade amazônica é o intenso desmatamento
desencadeado principalmente pelo recente processo migratório da região Norte do país.
A população da Amazônia brasileira apresentou aumento de 19 milhões de habitantes
nos últimos 50 anos, consequência dos planos de ocupação do governo, entre outros fatores.
Atrelado a esse crescimento, houve supressão de aproximadamente 80% de toda sua cobertura
florestal original nesse mesmo período (DAVIDSON et al., 2012). As maiores oscilações na
taxa de desmatamento estão fortemente ligadas a fatores econômicos, como a disponibilidade de
capital e o índice de inflação, se tornando um forte indicador de que a prática do desmatamento
é realizada em maiores proporções por médios e grandes fazendeiros. De acordo com o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE (2015), no período de 2004 o estado de Rondônia
apresentou aumento considerável no índice de desmatamento em relação ao último registro da
década anterior, chegando a 3.858 km²/ano, que pode ser parcialmente responsabilizado pelo
aumento da globalização, incentivado pelo marco crescimento do mercado internacional de soja
e, também a carne bovina (ALENCAR et al., 2004; KAIMOWITZ et al., 2004). Para tanto,
adotar ações de restauração florestal em áreas degradadas por esses processos se torna
fundamental.
Indo de encontro a esse pensamento, a restauração florestal vem ocorrendo em
diferentes regiões do estado, a partir de projetos promovidos em conjunto pelos órgãos públicos,
instituições privadas, movimentos sociais e organizações não governamentais. Essas são
iniciativas que buscam reverter o cenário de degradação em que se encontram os mananciais e
possuem metodologias que se diferenciam em alguns aspectos, pois procuram envolver as
comunidades e atores sociais das localidades em que as ações ocorrem (FERRONATO et al.,
2015).

521
Nesse sentido, as compreensões de como os atores sociais diretamente envolvidos
percebem o processo de restauração florestal se torna fundamental, haja vista que visto que os
resultados ocorrem a médio e longo prazo, com o desenvolvimento da vegetação,
estabelecimento da floresta, reprodução da biodiversidade local e melhoria da quantidade e
qualidade dos recursos hídricos (GONÇALVES; GOMES, 2014). Desta maneira, o indivíduo,
em sua particularidade, percebe, reage e responde de maneira diversa às ações sobre o ambiente
em que se encontra. Sendo que, as revelações daí conseguinte são resultados das percepções
individuais e coletivas, de processos cognitivos, julgamentos e expectativas (FERNANDES et
al., 2004). De acordo com Pacheco e Silva (2006), tratar conceitos de percepção ambiental não
se restringe apenas em dizer quais das ideias norteiam melhor a realidade, mas sim, que possam
esclarecer as perspectivas científicas, sociais ou políticas difundidas por meio da utilização
desse conceito. Entende-se ainda que, a internalização da percepção da população na gestão
ambiental municipal possibilita um apoio aos seus instrumentos, e serve de subsídio para o ciclo
político no que tange à formulação, implementação e avaliação das políticas públicas ambientais
locais (RODRIGUES et al., 2012). Aliado a percepção ambiental, está a etnobotânica, que é o
estudo das inter-relações direta entre pessoas, em suas culturas e as plantas do seu meio,
aliando-se a fatores culturais e ambientais, bem como as concepções desenvolvidas por esses
indivíduos a respeito das espécies vegetais e o aproveitamento que fazem destas
(ALBUQUERQUE, 2005).
Nesse sentido, o conhecimento sobre a percepção ambiental e a etnobotânica pode
trazer maiores informações sobre a composição florística das áreas restauradas, permitindo uma
compreensão maior sobre a razão de tal diversidade, do uso madeireiro e não madeireiro das
espécies, da relação que o proprietário tem com a área, do seu processo de instalação e outras
informações pertinentes.
Assim, objetivou-se com este trabalho verificar a percepção ambiental do proprietário
e a etnobotânica de uma área de preservação permanente restaurada na Amazônia Ocidental.

Material e Métodos

O estudo de caso foi desenvolvido em área de preservação permanente restaurada, no


Igarapé D'Alincourt. A área restaurada possui nove anos de idade, localizada no município de
Rolim de Moura – RO. O clima da região é caracterizado como tropical chuvoso do tipo Am
segundo classificação atualizada de Koppen, e apresenta altitude entre 200 e 300 metros,
temperatura anual média de 24-26˚C e precipitação anual de 2.200-2.500 mm (ALVARES et al.,
2013).
Foi realizada entrevista semiestruturada com o proprietário, objetivando elencar
informações a respeito do processo de restauração da área e percepção ambiental, na qual toda a
entrevista, após autorização, foi gravada com uso de celulares e as falas do agricultor transcritas
tais expostas durante o diálogo, da maneira mais fidedigna possível. Além disso, realizou-se
caminhada transversal, momento em que o proprietário listou as etnoespécies presentes,
expondo os usos conhecidos e manejos realizados na área, conforme metodologia sugerida por
Jerneck e Olsson (2013). Com o objetivo de sistematizar os dados coletados, agruparam-se as
etnoespécies em uso madeireiro e uso não madeireiro.
Para fins de estudos botânicos, as etnoespécies elencadas pelo produtor foram
identificadas ao menor nível taxonômico, pela comparação de características morfológicas com
literatura especializada, segundo APG III (TROPICOS, 2017). Ainda, as informações de uso
fornecidas pelo produtor foram comparadas com as descritas por Lorenzi (2002).

Resultados e Discussão

O proprietário do imóvel rural em que se encontra o projeto de restauração de área de


preservação permanente (APP) analisado neste estudo, B. V. V., 72 anos, informou que
comprou a propriedade em 2010 e que o reflorestamento havia sido realizado dois anos antes.
Quando indagado sobre as árvores presentes, Seu B. respondeu

522
“isso aqui ó [apontando para uma espécie nativa não identificada] não foi plantado,
isso é nativo, né, mas essas aroeira e essas de pinho foi tudo plantado”.

Quando questionado sobre o plantio das árvores, Seu B. salientou que

“o José faz o viveiro, né, e repassa as muda. Agora quem plantou mesmo, acho que
era o Seu J., né, que ele era o dono. Então, aí o José faz o viveiro e reparte as mudas pras
pessoa. Isso aqui foi o começo do reflorestamento”.

O José, ao qual o Seu B. se refere, é funcionário do projeto Viveiro Cidadão, iniciativa


patrocinada pela Petrobrás através do Programa Petrobrás Socioambiental, que visa ampliar as
ações de recuperação de áreas degradadas nos municípios de Rolim de Moura, Novo Horizonte
e Castanheiras, localizados na porção centro sul do Estado de Rondônia (PROJETO VIVEIRO
CIDADÃO, 2017).
A restauração da área se deu visando cumprir a legislação ambiental, já que

“é uma obrigação que as pessoa tem que reflorestar as beira dos córregos, e aí,
vamos supor, muita gente não pensava que era assim, mas isso é uma boa coisa que tem que
fazer... esse pedacinho de terra num atrapaia perder, né, o importante é a água, uma água
boa”.

Ao ser indagado se ele executaria o projeto de recuperação caso não tivesse sido feito
pelo proprietário anterior, Seu B. afirmou

“Eu acho que eu fazia. [...] Porque l não no s tio que eu tinha l embaixo na 21, eu
já tinha um córrego lá pra mim reflorestar. Tinha três áreas, duas ainda tava em mata virgem,
da eu at falei que não ia roçar aquele mato porque eu j ia ficar reflorestado aquele mato”.

Quando questionado sobre a recomendação da atividade de restauração de matas


ciliares, o produtor expôs

“se a pessoa vier me procurar, né, se tiver a oportunidade de conversar... eu acho


muito bom ter isso aqui... esse reflorestamento. Porque a pessoa tem mais conhecimento com as
coisa, ele tá vendo que é verdade, que precisa, que uma coisa é a precisão, que todo mundo
precisa da água. E tem muito risco de ficar com pouca água, né. [...] Então é o dever né, que a
pessoa valoriza explicar pra outra... [...] Então uma água depois que ela tá protegida é muito
bom.

Embora o proprietário reconheça importância dos órgãos ambientais e da legislação


ambiental, a iniciativa de restaurar áreas degradadas deve partir de cada proprietário

“porque cada um pensa de um jeito, né? Aí a gente não pode obrigar a pessoa a
fazer...”.

O proprietário informou que na área observa-se a presença de pássaros, macacos,


capivaras e lontras. Além disso, reconhece a importância dessas áreas como corredores
ecológicos e no fornecimento de alimentos para a fauna local

“os bicho do mato, eles sofre muito, né, pra gente pensar assim que eles não é que
nem nois que tem o alimento. Eles têm que sair procurando o alimento, e tem tempo que às
vezes é difícil de achar uma fruta ou uma comida, se as arvore nenhuma tem fruto (...) eles
saem de lá (se referindo a macacos) e entra aqui, chega aqui e passa ali para aqueles pés de
manga ali ó, quando tem manga ou quando não têm eles dá uma visitada ali assim, por ali tudo,
aquele cordão de bicho assim”.

523
A importância da percepção é destacada em função do bom andamento do projeto,
pois foi possível verificar, visualmente, árvores com copas bem desenvolvidas, diferentes
estratos de dossel sendo formados, serapilheira sendo depositada e não se verificou presença de
erosões.
O conhecimento sobre o potencial de uso madeireiro foi predominante entre as 11
etnoespécies registradas durante a caminhada transversal, embora o uso alimentício e medicinal
também tenha sido descrito (TABELA 01).

Tabela 01: Relação de Etnoespécies encontradas em Área de Proteção Permanente restaurada na


Amazônia Ocidental, 2017.
Etnoespécie¹ Nome Científico Descrição de uso¹
Açaí Euterpe oleraceae Esse aí é uma coisa boa (...) tem muita gente que
Mart. vende na feira
Aroeira Myracrodruon Ela é um cerno, dá uma madeira de mexer com
urundeuva Allemão curral, com cerca (...) é uma madeira muito boa.
(...) a casca da aroeira é remédio
Barriguda Ceiba speciosa ( A. Isso de primeiro o povo, minhas tias lá, meu povo
St. Hil ) Ravenna usava isso ai que ela dá um boi, um boi é uma fruta
assim, mas ela dá uma paina (...) e aquela paina
elas faziam os travesseiro daquilo lá
Cedro Cedrela fissilis Vell. É uma madeira muito especial para você serrar,
pra você fazer móvel, mesa, tudo quanto é tipo de
móvel ele dá um acabamento muito bacana
Goiaba Psidium guajava L. Só o fruto
Ipê Handroanthus sp. Madeira boa e a casca muita gente usa para fazer
tratamento (...) ele dá cerne
Jatobá Hymenaea courbaril Esse aqui dá fruto (...) tem muita gente que gosta
L. disso aí, porque isso aí faz o pó né? (...) e aquilo cê
ponha no leite
Jenipapo Genipa americana L. Tem uma fruta boa (...) e os bicho come
Mogno Swietenia Também é uma madeira boa para fazer móvel,
macrophylla King fazer casa
Pinho/Bandara Schizolobium Serve pra madeira também, fazer moveis
parahyba var.
amazonicum (Huber
ex Ducke) Barney
Teca Tectona grandis L. F. É uma madeira boa também, ela dá cerno (...) dá
árvore grande
¹De acordo com o agricultor.
²Descrição de uso e importância exposta pelo produtor na caminhada transversal.

Nas descrições de Lorenzi (2002) verificou-se que barriguda possui potencial


paisagístico, madeireiro e na fabricação de pasta celulósica, além de sua paina ser usada no
enchimento de colchões e travesseiros, sendo uma espécie com ótimo desenvolvimento em
plantios mistos. A aroeira possui uso madeireiro como principal característica, embora o uso
paisagístico também deva ser salientado. O jatobá destaca-se pelo uso da sua madeira e
potencial alimentício da farinha presente em seu fruto, na qual é bastante apreciada pelo homem
e animais silvestres, além de ser uma espécie essencial na composição de reflorestamentos
heterogêneos e arborização de parques e grandes jardins. O cedro, bastante empregado no
paisagismo, possui a madeira bastante apreciada na fabricação de móveis em geral, instrumentos
musicais, construção civil, e também possui indicação de uso na recuperação de áreas, em
conjunto com outras espécies. A goiaba, por possuir frutos comestíveis, é amplamente utilizada
em pomares domésticos e áreas de preservação permanente. O açaí possui uso ornamental e
alimentício, de modo que é possível aproveitar o palmito e os frutos, sendo os frutos avidamente

524
consumidos por diversas espécies de pássaros. O mogno, considerada uma árvore muito
ornamental, tem sua madeira indicada para confecção de mobiliário de luxo. O ipê é excelente
para uso paisagístico e sua madeira é utilizada em construções pesadas e estruturas externas,
tanto civis como navais. O jenipapo possui uso madeireiro, mas num projeto de recuperação,
sua utilização é decorrente do fornecimento de alimentação para a fauna, sendo que este fruto
também pode ser utilizado como corante e na alimentação humana. A bandara é ornamental,
indicada para plantios mistos e sua madeira é muito utilizada na fabricação de laminados. A teca
é uma espécie exótica, pioneira de rápido crescimento, e sua madeira é utilizada na construção
de pisos, móveis de uso externo, decoração de interior e exterior e na construção naval
(CACERES FLORESTAL, 2006).
Constata-se que os conhecimentos de uso expostos pelo produtor vão de encontro aos
usos citados na literatura. Assim, estudos nesse sentido são de suma importância para valorizar
o conhecimento tradicional, trazendo-o para o meio cientifico. Além disso, observa-se a
importância da percepção ambiental do produtor para o sucesso dos projetos de restauração
aliado ao conhecimento das espécies para seu uso, tanto madeireiro como não madeireiro.

Conclusões

O proprietário avalia de maneira positiva o projeto de restauração ambiental dada à


importância para a proteção dos recursos hídricos e benefícios à fauna local.
Verificou-se 11 etnoespécies, cujo uso madeireiro foi o mais citado.

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AVALIAÇÃO DO EFEITO INIBITÓRIO DE EXTRATO HIDROETANÓLICO


DE Myriophyllum aquaticum (Vell.) Verdc. SOBRE O CRESCIMENTO DE
Microcystis aeruginosa Kützing

R.S.A. Kitamura18; L. R. R Martins19; T. A.Pagioro2

Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Rua Deputado Heitor Alencar Furtado,


4900 - Cidade Industrial, Curitiba - PR, Brasil, 8128030
¹[email protected]; [email protected]²; [email protected]²

RESUMO

18
Mestrando do curso de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná. E-mail: [email protected].
19
Professores adjuntos do Departamento de Química e Biologia e do Mestrado em Ciência e Tecnologia
Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. E-mail: [email protected];
[email protected]

526
Microcysiys aeruginosa é uma das espécies de cianobactérias mais frequentes em
florações mundiais e que degradam os corpos hídricos. Tratamentos físicos e químicos
são eficazes, porém apresentam elevado custo e/ou resultam em efeitos nocivos para a
biota. Espécies de macrófitas aquáticas, em especial as submersas, apresentam
estratégias alelopáticas para controle do fitoplâncton, o que pode estar relacionada a
uma potencial atividade algicida. Estudos com espécies do gênero Myriophyllum têm
demonstrado potencial de inibição de cianobactérias. Deste modo, avaliou-se o efeito
de extrato hidroetanólico obtido a partir de biomassa seca de Myriophyllum aquaticum
sobre a inibição de crescimento de M. aeruginosa. Amostras vegetais foram coletadas
no reservatório do Rio Verde (Araucária-PR), lavadas em água potável, secas e
pulverizadas. Os extratos foram obtidos utilizando solução hidroetanólica 80% (v/v)
como líquido extrator e submetidos a ciclos de ultrassom. Para obtenção do extrato
seco, o líquido extrator foi rotaevaporado e liofilizado, sendo mantido sob refrigeração.
Para os experimentos, foram preparadas soluções do extrato (0,01; 0,1; 1; 10; 50; 100 e
250 mg L-1), diluídas em meio ASM-1 e tratamento controle, sendo realizados inóculos
de M. aeruginosa com concentração de 106 células mL-1. A averiguação do
crescimento celular foi realizada por contagem ao microscópio, a cada 48 horas, durante
nove dias. Alterações no aparato fotossintético foram verificadas por determinação de
clorofila-a, ao término do período de exposição. Observou-se efeito inibitório do extrato
de M. aquaticum sobre o crescimento de M. aeruginosa, ocorrendo diferença
significativa para todos os tratamentos, em relação ao controle, com valores de inibição
de até 86,79%. Houve redução de clorofila-a nas concentrações experimentais. Tais
resultados indicam que o extrato hidroetanólico de M. aquaticum apresenta potencial de
inibir o crescimento de M. aeruginosa, ratificando o potencial alelopático da espécie
que pode ser explorado como alternativa no controle de florações de cianobactérias.

Palavras Chave: Macrófita aquática. Alelopatia. Algicida. Cianobactérias.

INTRODUÇÃO

As florações de cianobactérias usualmente causam prejuízos econômicos,


riscos para a biota aquática, para organismos terrestres e para a saúde pública,
principalmente pelo decréscimo na qualidade das águas. Tais consequências são devidas
às alterações de estruturas tróficas, desoxigenação da coluna d’água, além da produção e
liberação de cianotoxinas no ambiente (CATHERINE et al., 2013; HEISLER et al.,
2008; LI et al., 2016; MENG et al., 2015; PAKDEL et al., 2013; PANTELIC et al.,
2013; RANGEL et al., 2016; VASCONCELOS et al., 2013). A presença de diferentes
classes de cianotoxinas resulta em diversos efeitos nocivos decorrentes da utilização de
mananciais contaminados pela população, tanto na ingestão direta ou como água de
abastecimento, quanto pela exposição dérmica; além disso, são evidentes os danos à
biota aquática local e a animais que utilizam essas águas, não sendo raros os episódios
de toxicidade aguda . (CORBEL et al., 2015; KUDELA et al., 2015; MEREL et al.,
2013; QIN et al., 2015; VASCONCELOS et al., 2014; ZHOU et al., 2015).
Dentre as espécies de cianobactérias, Microcystis aeruginosa Kutzing. é
comumente estudada por estabelecer florações em reservatórios mundiais e em outros
corpos hídricos, degradando-os, principalmente pela produção de microcistinas
(KUDELA et al., 2015; LI et al., 2016). As microcistinas fazem parte do grupo das
cianotoxinas hepatotóxicas (PEKAR et al., 2016; PUDDICK et al., 2013; ZHOU; TU;

527
XU, 2015), pois estão associadas a casos de intoxicação aguda e ocorrência de tumores
hepáticos decorrentes de exposição crônica (KUDELA et al., 2015).
Destaca-se como incidentes no Brasil, o caso ocorrido na cidade de Caruaru,
em 1996, no qual 52 pacientes de tratamento de hemodiálise morreram devido à
contaminação da água com microcistinas, que foi utilizada na aplicação do tratamento.
O caso foi conhecido principalmente pela verificação da ação direta das cianotoxinas no
organismo (PEKAR et al., 2016). Além disso, casos de florações têm sido registrados
como potenciais problemas em abastecimento público de água.
Tendo em vista os impactos nocivos dos eventos de florações de
cianobactérias, diferentes estratégias têm sido adotadas para seu controle, desde a
aplicação de algicidas (ex.: sulfato de cobre) ou por tratamentos físicos e químicos que
proporcionem a remoção e/ou degradação das cianotoxinas, tais como diferentes
processos de coagulação (ex.: eletrocoagulação, sistemas de floculação, entre outros),
adsorção e filtração, além de métodos oxidativos (ozonização, uso de peróxido de
hidrogênio ou processos avançados de oxidação) (BARRINGTON; REICHWALDT;
GHADOUANI, 2013; BARROS et al., 2011;HE et al., 2015; QIAN et al., 2010;
PANTELIC et al., 2013; XU et al., 2007). Entretanto, esses tratamentos, apesar de
eficazes, apresentam custo elevado, eficácia insuficiente e podem resultar em efeitos
nocivos para a biota, principalmente pela geração de poluentes secundários e/ou
acumulação de metais nos ecossistemas (BARRINGTON; REICHWALDT;
GHADOUANI, 2013; HUANG et al., 2016; MENG et al., 2015).
Por isso, o uso de tratamentos biológicos torna-se de interesse, devido ao baixo
custo, quando comparadas aos tratamentos físicos e químicos, além de promover
menores impactos nos ecossistemas (BARROS et al., 2011; LI et al., 2016). Dentre
estes tratamentos, estudos têm sido desenvolvidos na aplicação de subprodutos do
metabolismo secundário de macrófitas aquáticas produzidos em função de sua atividade
alelopática, como forma de inibição de cianobactérias (LI et al., 2016; MENG et al.,
2015; PAKDEL et al., 2013; WANG et al., 2016; ZHANG et al., 2014; ZHOU et al.,
2014). A alelopatia consiste no efeito positivo ou negativo que um organismo exerce
sobre outros pela liberação de compostos no ambiente, denominados de aleloquímicos
(HUANG et al., 2016; PAKDEL et al., 2013). Tal técnica é vantajosa, visto à
biodegradabilidade dos compostos e, dependendo da concentração aplicada, não é
observada geração de toxicidade aos organismos que compõe o ambiente (HUANG et
al., 2016; MENG et al., 2015).
Sabe-se que as macrófitas aquáticas submersas corroboram para a manutenção
dos corpos hídricos, dentre vários outros serviços ecossistêmicos, por meio da
oxigenação local, mas principalmente no controle do fitoplâncton, devido à liberação de
aleloquímicos no ambiente aquático, como forma de reduzir a competição por luz,
carbono e nutrientes (HUANG et al., 2016; PAKDEL et al., 2013; QIMING et al., 2006;
WANG et al., 2016; ZHANG et al., 2014; ZHOU et al., 2014).
O gênero Myriophyllum tem sido estudado devido à sua capacidade alelopática
sobre cianobactérias. Como principais aleloquímicos responsáveis pela inibição de
cianobactérias estão os compostos fenólicos (NAKAI et al., 1996; NAKAI et al., 2000;
ZHU et al., 2010). Dentro desse gênero, a espécie Myriophyllum aquaticum (Vell.)
Verdc. demonstrou efeito inibitório sobre M. aeruginosa conforme Cheng et al. (2008)
em experimentos in vivo. Entretanto, visa-se a necessidade de realizar a bioprospecção
de extratos das macrófitas aquáticas submersas, como M. aquaticum, para a inibição e
controle de cianobactérias, de modo a contribuir para o desenvolvimento de outros
métodos preventivos e de redução de florações. Deste modo, objetivou-se na presente
pesquisa, avaliar o efeito do extrato hidroetanólico obtido da biomassa seca de

528
Myriophyllum aquaticum (Vell.) Verdc. sobre a inibição de crescimento de Microcystis
aeruginosa.

METODOLOGIA

Cultivo de Microcystis aeruginosa

Os experimentos foram conduzidos com cepa cultivada de Microcystis


aeruginosa fornecida pelo Departamento de Botânica da Universidade Federal de São
Carlos (cepa BB005, obtida de floração da represa de Barra Bonita – SP). O cultivo foi
feito em sistema de batelada, utilizando meio estéril ASM-1, sob as seguintes condições
laboratoriais: temperatura de 22-28 ºC; intensidade luminosa de 3.14±0.33watts;
fotoperíodo de 12/12h claro/escuro e pH=7,4. Os frascos de cultivo eram inoculados em
condições assépticas e apresentavam concentração inicial de 1,6 X 105 cel mL-1 , sendo
mantidos sob agitação manual diária durante 30 dias (ALMEIDA et al., 2016).

Coleta e preparo dos extratos de M. aquaticum

Amostras de M. aquaticum foram obtidas no reservatório do Rio Verde,


localizado na região do município de Araucária, Paraná, nas coordenadas 25 S 908.1 49
W 28 03.1, as quais, foram utilizadas para a obtenção dos extratos vegetais.
1 As plantas coletadas foram lavadas em água corrente para a remoção de impurezas
ou sujidades e, posteriormente foram secas em estufa a 30 ºC por 15 dias para a
completa desidratação (SIMÕES, 2010). Após a secagem, o material foi triturado e
peneirado para a padronização granulométrica em peneiras de malha de 100 mm.
O processo de extração foi realizado em banho ultrassônico. Para tanto, o
material pulverizado da macrófita foi pesado e submetido a três ciclos de extração, com
45 minutos de duração cada com a utilização de solução hidroetanólica 80% (v/v) para o
procedimento (VICTÓRIO; LAGE; KUSTER, 2010). Posteriormente ao processo de
extração, os extratos foram filtrados e rotaevaporados para a remoção do solvente. Após
a obtenção dos extratos, foi feito o congelamento a -80 ºC em ultrafreezer (INDREL)
realizada a liofilização do material para armazenagem e utilização (liofilizador
LIOTOP-L101). Os extratos liofilizados foram armazenados a -20 ºC, até o preparo das
amostras para os testes de inibição

Testes de inibição

Os testes de inibição, foram realizados após a solubilização dos extratos em


meio ASM-1 e a partir dessa solução, foram preparados os experimentos nas seguintes
concentrações-testes: 0,01;0,1; 1; 10; 50; 100; 250 mg L-1 (mg de extrato por litro de
meio ASM-1) e Controle (sem adição de extrato no meio ASM-1)
Para a realização dos testes de inibição foram utilizados cultivos celulares com
a concentração inicial de 106 células mL-1, período que foi observado a fase exponencial
de crescimento da cepa de M. aeruginosa. Para os testes foram utilizados frascos de
Erlenmeyer de 125 mL aos quais foram adicionados um volume de 100 mL do meio
ASM-1 com as diferentes concentrações-teste e, posteriormente realizados o inóculo de

529
M. aeruginosa. Todos os testes foram mantidos sob as mesmas condições do cultivo
inicial e feita a distribuição aleatória dos experimentos sobre a bancada para reduzir
possíveis tendências. Para cada concentração-teste, o procedimento foi realizado em
triplicata.
O acompanhamento do realizado inibitório dos extratos sobre o crescimento
celular foi feita a partir da retirada de amostras a cada 48 horas durante nove dias, de
cada frasco teste, para verificar o crescimento celular por meio da contagem em Câmara
de Neubauer.
Após o período proposto, foi calculada a taxa de inibição conforme a equação
1, proposta por Cheng et al. (2008) para a verificação da eficácia dos extratos sobre a
cianobactéria.

TI = [1 – (N.N˳-1). 100
(1)

Em que:
TI= Taxa de inibição
N= Concentração celular (célula.mL-1) após 09 dias de exposição aos extratos
N˳= Concentração celular (célula.mL-1) após 09 dias sem a exposição aos extratos
(Controle).

Análise dos efeitos sobre clorofila-a

A análise dos efeitos dos extratos sobre os pigmentos fotossintéticos de M.


aeruginosa, foi realizada a partir da análise de clorofila-a. Para esse procedimento,
foram retiradas alíquotas de 6 mL, em triplicata, para a centrifugação a 10500 rpm em
ultracentrífuga (HITACHI-CF15RN) durante quatro minutos. Das amostras
centrifugadas, o sobrenadante foi descartado e, após ocorrer a precipitação celular,
foram adicionados 2 mL de acetona 80% (v/v), utilizada como o solvente de extração.
Após a homogeneização, a amostra foi mantida em resfriamento e sob ausência de luz
por um período de 24 horas para a extração dos pigmentos. Posteriormente, a amostra
foi novamente homogeneizada e centrifugada. A análise foi realizada pela leitura do
sobrenadante em espectrofotômetro (Varian-Cary50) nos comprimentos de onda de 646
e 663 nm. Para o cálculo de concentração de clorofila-a, foi utilizada a equação 2
(LICHTENTHALER; WELLBURN, 1983).

Clorofila-a (mg L-1) = 12,21.(A663)-2.81.(A646)


(2)

Testes do potencial algicida e algistático dos extratos

Para a verificação do potencial algicida e algistático dos extratos, foram


testadas todas as concentrações de extratos em novos cultivos de M. aeruginosa sob
mesmas condições de cultivo, luminosidade e temperatura por 10 dias e quantificados
por contagem em Câmara de Neubauer. Os testes foram feitos por meio de
reinoculações dos cultivos ao final dos experimentos de inibição, em tubos de ensaio
contendo 1 mL de inóculo para 9 mL de meio ASM-1, com a determinação do número
de células.mL-1 após 10 dias de cultivo.

530
Análise dos dados

Após a coleta dos dados, os valores foram tabulados e, posteriormente,


calculadas as médias e respectivos desvios-padrão por meio do programa Excel, da
Microsoft®, 2013. Para as análises estatística foram efetuados testes para verificar a
distribuição dos dados de normalidade pelo Teste de Shapiro-Wilk, seguidos de testes
paramétricos (Anova, seguido pelo teste de Dunn), considerando diferenças
significativas em que p 0,05 por meio do software Past versão 2.17c.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Efeitos dos extratos hidroetanólicos sobre o crescimento de M. aeruginosa

Constatou-se interferência dos extratos de M. aquaticum sobre a cinética de


crescimento de M. aeruginosa para todas as concentrações-testes desde o primeiro dia,
após a realização do inóculo, até o último dia de experimento (Fig. 1). Houve
normalidade para os dados de crescimento celular, conforme o teste de Shapiro-Wilk.
Verificou-se diferença significativa (p0,05) de todas as concentrações-testes quando
comparadas ao controle.

6,00
Concentração celular (cél mL/1. 106)

5,00
Controle
4,00 250 mg L
100 mg L
3,00
50 mg L
2,00 10 mg L
1 mg L
1,00
0,1 mg L

0,00 0,01 mg L
0 2 4 6 8 10
Dias

Fonte: O autor (2017)

Figura 1. Cinética de crescimento celular de Microcystis aeruginosa com exposição a


diferentes concentrações de extratos hidroetanólicos de Myriophyllum aquaticum

Ghobrial, Nassr e Camil (2015) e Gross, Erhard e Ivanyi (2003) citam que a
utilização de agentes extratores com propriedades lipofílicas intermediárias, como a
solução hidroetanólica e acetona, permite a extração de compostos que permitem a
atividade inibitória de cianobactérias, como M. aeruginosa.

531
Nota-se que quanto maior a concentração de extrato de M. aquaticum, maiores
as inibições. A taxa de inibição observada entre as diferentes concentrações variou de
34,31a 86,79% no nono dia de experimento (Fig. 2).

*
Letras diferentes indicam diferença significativa (p<0,05) pelo Teste ANOVA, seguido
pelo teste de Dunn.
Fonte: O autor (2017)

Figura 2. Inibição (%) de Microcystis aeruginosa pelo uso de diferentes concentrações


de extrato hidroetanólico de Myriophyllum aquaticum no 9º dia de experimento.

Constatou-se que a concentração de 250 mg L-1 do extrato de M. aquaticum foi


a mais eficiente para a inibição (86.79% ± 1.07) de M. aeruginosa. No intervalo das
concentrações de 1 mg L-1 a 100 mg L-1, a taxa de inibição foi de 81,59-83,89%,
demonstrando eficiência do extrato para a inibição da cianobactérias, mesmo em
concentrações baixas. A partir da concentração de 0,1 mg L-1 nota-se que há redução da
inibição, quando comparada às outras concentrações-teste.
Meng et al. (2015), realizaram testes de inibição com extrato hidroetanólico de
Alianthus altíssima por extração em Soxhlet. Estes autores obtiveram maior eficácia no
tratamento com 200 mg L-1, com taxas de inibição de 91,8%, após um período de cinco
dias. Ghobrial; Nassr; Kamil (2015), constaram que as concentrações mais eficazes
foram de 70 µL 100mL de extratos hidretanólicos 100% (v/v) de Potamogeton
pectinatus (99,80% de inibição) e 100 µL 100mL de extratos hidroetanólicos 100%
(v/v) de Ceratophyllum demersum (94,66% de inibição). Tais estudos demonstram a
ação de extratos das macrófitas aquáticas submersas para a inibição de M. aeruginosa,
corroborando com os resultados obtidos na presente pesquisa.
Wang et al. (2017) obtiveram efeitos de inibição pela liberação de
aleloquímicos de M. aquaticum em experimentos in vivo sobre as cepas de M.
aeruginosa e Anabaena flos-aquae. Como principal efeito observado, constatou-se a
inibição da enzima superóxido dismutase, sendo um dos possíveis fatores atribuídos à
morte das cianobactérias. Corroborando com os resultados obtidos de inibição, é
possível observar o potencial que esta espécie de macrófita apresenta frente à inibição
de M. aeruginosa devido aos aleloquímicos, seja por aplicações in vivo, quanto pelo
método utilizando extrato hidroetanólico.

Efeitos dos extratos hidroetanólicos sobre clorofila-a

532
Os extratos apresentaram efeitos no potencial fotossintético de M. aeruginosa,
devido às menores quantidades de clorofila-a, quando comparados ao Controle. Os
extratos em que foram observados maiores interferências foram em 10 mg L-1, 1 mg L e
10 mg L-1, respectivamente (Fig. 3). Os valores elevados da concentração de 250 e 100
mg L-1, podem estar associados com a clorofila pertencente à M. aquaticum, pois o uso
da solução hidroetanólica pode ter contribuído para tal extração, sendo uma possível
explicação para a não-correlação com os valores de inibição celular para essas
concentrações.

*
Letras diferentes indicam diferença significativa (p<0,05) pelo Teste ANOVA, seguido
pelo teste de Dunn.
Fonte: O autor (2017)

Figura 3. Concentração de clorofila-a de Microcystis aeruginosa após o uso de


diferentes concentrações de extrato hidroetanólico de Myriophyllum aquaticum.

Cheng et al (2008), cultivou M. aquaticum por um período de 30 dias e,


posteriormente filtrou o meio de cultivo da macrófitas e aplicou o mesmo, como
algicida. Neste trabalho, ele constatou a inibição de M. aeruginosa e principalmente
efeitos sobre os pigmentos fotossintéticos, como a ficocianina, aloficocianina e
clorofila-a. Tais pigmentos quando afetados, causam a morte celular ou interferência na
fotossíntese da cianobactéria.
Sabe-se que o gênero Myriophyllum apresenta como principais aleloquímicos,
os compostos fenólicos (NAKAI et al., 1996; NAKAI et al., 2000; NAKAI et al., 2012;
ZHU et al., 2010). Autores como Gross, Erhard e Yvanyi (2003), relatam que há uma
correlação forte entre esses aleloquímicos liberados com a interferência nos pigmentos
fotossintéticos.
Aleloquímicos pertencentes ao grupo dos compostos fenólicos, estudados de
Myriophillum spicatum, como o tellimagrandim II, quando em contato com as células
das cianobactérias afetam diretamente no fotossistema II, degradando os pigmentos
acessórios ou interferem na atividade dos mesmos, causando a morte celular por
inibição de enzimas como a fosfatase alcalina (LEU et al., 2002). Zhu et al. (2010)
citam que compostos fenólicos como catecinina, ácido gálico e elágico isolados de M.
spicatum também foram relatados como aleloquímicos que apresentam interferência
sobre o aparato fotossintético de M. aeruginosa

533
Avaliação do efeito algicida/algistático sobre M. aeruginosa

Foi verificado significativo efeito algistático dos extratos, visto que houve
crescimento após a reinoculação dos cultivos. Porém, é possível observar que nas
concentrações em que houve maiores índices de inibição, a concentração celular foi
inferior quando comparadas ao controle (Fig. 4).

*
Letras diferentes indicam diferença significativa (p<0,05) pelo Teste ANOVA, seguido
pelo teste de Dunn.
Fonte: O autor (2017)

Figura 4 Concentração celular de Microcystis aeruginosa após o 10 º Dia para verificar


o potencial algicida/algistático do uso de diferentes concentrações de extrato
hidroetanólico de Myriophyllum aquaticum.

Os tratamentos de 10 a 250 mg L-1 apresentaram concentrações celulares de


10 cél mL-1, enquanto o controle e a concentração de 0,01 mg L-1, que apresentaram os
4

maiores valores de crescimento celular durante os dias dos experimentos, obtiveram


concentração de 106 cél mL-1 . Tais resultados podem ser justificados diretamente pelo
elevado índice de inibição nos testes.
As espécies de macrófitas aquáticas submersas apresentam potencial para
estudos, visto que elas produzem aleloquímicos como forma de inibição e controle de
fitoplâncton, devido à competição por luz e nutrientes no ambiente (HILT; GROSS,
2008; HUANG et al., 2016; PAKDEL et al., 2013; QIMING et al., 2006; WANG et al.,
2016).
Nakai et al. (2012), citam que a identificação dos compostos aleloquímicos de
macrófitas aquáticas com potencial anti-cianobactérias e a frequência com que eles são
liberados, contribuem para a melhor compreensão dos efeitos e de aplicações. Neste
mesmo trabalho, o autor identifica cinco tipos de polifenóis e ácidos graxos liberados
por M. spicatum e observaram que cerca de 53% do efeito desses compostos estava
diretamente ligado ao efeito algicida.
Visto que houve efeitos na inibição, interferência na quantidade de clorofila-a
produzida e, houve um efeito algistático mesmo em concentrações inferiores, constata-
se o potencial de uso de extratos hidroetanólico de M. aquaticum para combater o
crescimento de M. aeruginosa.

534
CONCLUSÕES

Os resultados obtidos no presente estudo demonstram que os extratos


hidroetanólicos de M. aquaticum foram eficientes para a inibição de M. aeruginosa.
Foram constatados efeitos de inibição máxima de crescimento de 86,79%, redução de
crescimento da cianobactéria, mesmo na menor concentração-teste utilizada, além de
interferência na quantidade de clorofila-a produzida. Tais resultados, aliados ao efeito
algistático verificado, demonstram que esses extratos apresentam potencial de aplicação
e eficácia para a inibição de M. aeruginosa.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a CAPES pelo fomento à pesquisa e ao Departamento de


Química e Biologia (DAQBI) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná pela
infraestrutura disponibilizada.

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538
DIAGNÓSTICO DE UM REFLORESTAMENTO SOB A INFLUÊNCIA DA
Dodonaea viscosa, ARAÇOIABA DA SERRA/SP

A. M. Rodrigues; V. P. Almeida; D. C. C. Silva


Universidade de Sorocaba. Rod. Raposo Tavares, km 92.5, Sorocaba-SP, Brasil.
[email protected]. Tel: (15)2101-7000.

RESUMO

Dodonaea viscosa é uma espécie vegetal pioneira com 4 a 8 metros de altura que forma
populações de alta densidade com potencial alelopático, denominadas dodoneitos. Por ser
uma espécie pioneira, tem sido indicada para a recuperação de áreas degradadas, entretanto
é importante esclarecer se o seu efeito inibitório observado na germinação de espécies
também ocorre em condições de campo. O objetivo desse estudo foi diagnosticar a
influência da D. viscosa no desenvolvimento de espécies arbóreas nativas em uma área de
reflorestamento. Conhecendo o histórico e a metodologia de um plantio de mudas arbóreas
em um reflorestamento feito em 2012, foram feitas, após quatro anos, coletas de atributos
de estrutura do reflorestamento. Para subsidiar a avalição, foram comparadas a composição
florística, taxa de sobrevivência, diâmetro do caule e da copa, altura do dossel, presença de
regenerantes, análise da cobertura do solo e biomassa de gramíneas nas 03 áreas
reflorestadas, sendo elas: Parcela1 – mudas plantadas em área sem indivíduos de D.
viscosa; Parcela 2 – mudas plantadas em área com indivíduos de D. viscosa; Parcela 3 –
observação de regeneração natural em área com indivíduos de D. viscosa. Resultados: Não
houve diferença significativa entre a taxa de sobrevivência e nos parâmetros estruturais das
mudas plantadas. Na parcela 1 a espécie Baccharis dracunculifolia passou a dominar.
Como não houve fechamento do dossel nas 03 parcelas a entrada de luz permitiu
crescimento maciço de gramíneas.

Palavras Chave: Dodonaea viscosa, vassourão-vermelho, alelopatia, regeneração de área


degradada

INTRODUÇÃO

A vegetação de uma determinada área pode influenciar, direta ou indiretamente,


sobre as espécies que estão sendo inseridas no local, seja pelo modelo de sucessão
condicionado às plantas pré-existentes e às substâncias químicas que elas liberaram no
meio (FERREIRA; AQÜILA, 2000). Assim, espécies pioneiras podem ser facilitadoras em
ambientes degradados, alterando as condições ambientais para outras espécies mais
exigentes, como as secundárias e tardias. Já foi observado que algumas espécies pioneiras
dificultam o estabelecimento de outros vegetais sob suas copas, provavelmente devido à
liberação de substâncias alelopáticas por parte de algumas espécies (FONTES,1999) que
podem controlar o desenvolvimento de outras, diminuindo a competição por luz, nutrientes
e água.
A Dodonaea viscosa, família Sapindaceae, conhecida popularmente como
vassourão-vermelho, pode atingir de 4 a 8 metros de altura, é dotada de copa arredondada e
rala (LORENZI, 1998), ocorre principalmente em planícies e encostas litorâneas e em
outras formações do Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil (SOUZA; LORENZI, 2005;
CARVALHO, 2008).

2
Outras características que conferem rusticidade a espécie indicando-a para
utilização na recuperação de áreas degradadas, apesar de proporcionar pouca sombra, é sua
alta reprodução vegetativa, heliófila e seletiva xerófita, alta produção de flores que atraem
abelhas, sementes viáveis e dispersão do tipo anemocórica. Já em 1992, KAGEYAMA,
REIS e CARPANEZZI afirmaram que a espécie apresenta bom potencial de uso na
recuperação de áreas degradadas, principalmente por meio da condução e regeneração
natural, podendo também ser empregada em plantios com mudas ou sementes para
recuperar solos muito pobres em nutrientes e degradados. Por outro lado, a principal
característica contrária a sua utilização seria a capacidade da espécie para invadir áreas
degradadas com tendência ao desequilíbrio ecológico. Os mesmos autores mencionam que
a D. viscosa possui toxidade nas folhas, o que diminui a herbivoria, concluindo que áreas
com grandes agrupamentos de indivíduos dessa planta podem causar desequilíbrio na
comunidade, aumentando a sua população e, consequentemente, diminuindo as populações
nativas, o que a caracterizaria como espécie invasora causadora de infestação biológica.
Em condições laboratoriais o efeito inibidor na germinação de alface foi demonstrado
(MARIN et al., 2012). Em condições naturais foi provada a influência de indivíduos
adultos de D. viscosa na comunidade de plântulas de algumas espécies arbóreas (PARIS et
al., 2010), mas a influência destes populações com alta densidade de vasourão-vermelho
em plantios em áreas degradadas ainda não foi testada.
Espécies vegetais dominantes, isto é, presentes em alta densidade e que formam
comunidades homogêneas, influenciam nas condições do solo e da vegetação sob o dossel.
Tendo em vista que a Dodonaea viscosa apresenta a capacidade de formar populações
densas e dominantes, formando os conhecidos dodoneitos, torna-se necessária a
investigação da alelopatia dessa espécie, já que este fenômeno pode ser uma das estratégias
que contribui no estabelecimento dessas populações. (MARASCHIN-SILVA; ÁQUILA,
2005).
O presente trabalho teve por objetivo avaliar o reflorestamento implantado por
SANTOS e ALMEIDA (2012), através da observação da influência da Dodonaea viscosa
sobre a regeneração de uma área degradada da Divisão de Produção Rural do Zoológico de
São Paulo, conhecida como Fazenda do Zoo, a qual recebeu plantio de mudas de espécies
nativas em áreas distintas.

MATERIAIS E MÉTODOS

A área de estudo está dentro dos limites da Fazenda do Zoo, mantida pela Fundação
Parque Zoológico de São Paulo desde 1982, em uma área de 574 hectares, localizada no
interior de São Paulo, entre os municípios de Sorocaba, Araçoiaba da Serra e Salto de
Pirapora.
Foram utilizadas as 03 (três) parcelas definidas no projeto de revegetação de 2012,
de 20,0 m x 10,0 m, totalizando 200 m² cada parcela. Como há o histórico de implantação
do projeto de reflorestamento, foram observadas às interferências da Dodonaea viscosa na
regeneração do local, além de analisar a biomassa de gramíneas e presença de serrapilheira
nas 03 (três) parcelas, sendo elas: Parcela 1 – 49 mudas de 24 espécies plantadas em área
sem indivíduos de D. viscosa; Parcela 2 – 49 mudas de 22 espécies plantadas em área com
indivíduos de D. viscosa; Parcela 3 – observação de regeneração natural em área com
indivíduos de D. viscosa. Sendo este diagnóstico de grande importância para averiguar se a
D. viscosa influenciou positiva ou negativamente o processo de recuperação da área
degradada.
Para avaliação das 03 parcelas na área de estudo foram comparados os dados de
2012, quanto à composição florística. Para a caracterização estrutural dos indivíduos

3
arbóreos foram obtidas as medidas de altura total dos indivíduos (Ht) e a circunferência à
altura do peito (CAP). Para avaliação dos atributos de função ecológica foi medido o
percentual de solo exposto ou coberto por serrapilheira e gramínea, a cobertura de copa e
cobertura de gramíneas. Também foram verificadas a presença de regenerantes. O
levantamento florístico relacionou todas as espécies arbóreas dos indivíduos que
apresentam CAP maior ou igual a 5 cm a 1,30 m do solo. As coletas foram feitas mediante
a utilização de tesoura de poda no interior da área amostral. A identificação taxonômica foi
efetuada mediante consultas a especialistas e por meio da literatura.
A CAP foi mensurada diretamente em campo, por meio da utilização de trena
centimétrica, o que possibilitou a obtenção de um dado mais confiável. A medição da
circunferência da árvore foi feita a uma altura de 1,30 m do solo (FRANCEZ et al., 2010).
A Ht foi feita por meio de avaliação visual, com auxílio de uma vara de bambu de 3 m.
A partir da composição florística de cada parcela foi feita uma matriz dos índices de
similaridade de Sorensen (BROWER; ZAR, 1984). Para o cálculo desse índice foi
utilizado a equação (1):
IS=2C/(S1+S2) (1)
Sendo: C = número de espécies em comum entre as parcelas comparadas; S1 = número de
espécies da parcela “X” e S2 = número de espécies da parcela “Y”.
Para avaliar a espessura da camada de serrapilheira foram realizadas medições com
o auxílio de uma régua de 30 cm, em 05 (cinco) pontos distintos de cada parcela.
As análises de cobertura do solo foram realizadas a partir de avaliação visual em 5
(cinco) quadrantes de 0,5 m x 0,5 m em cada parcela.
Para a coleta de gramíneas, foi utilizado um quadro de 0,5 m x 0,5 m colocado em
05 (cinco) pontos distintos de cada parcela separados igualmente entre si. Toda gramínea
delimitada pelo quadro foi cortada a 5 cm do solo. Para determinar a biomassa, o material
colhido foi colocado em estufa até atingir peso constante (GUEDES, 2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na caracterização estrutural dos indivíduos arbóreos (Tabela 1), foram identificados


76 indivíduos na Parcela 1, correspondente a 7 famílias, 92 indivíduos na Parcela 2,
correspondente a 9 famílias e 98 indivíduos na Parcela 3, correspondente a 4 famílias.
Sendo, a maior representatividade na Parcela 1 da espécie Baccharis dracunculifolia,
representada por 53 indivíduos regenerantes, nas Parcelas 2 e 3 a maior representatividade
é da espécie Dodonaea viscosa. Apenas na Parcela 2 há presença de 2 indivíduos de
origem alócne que são exóticos, sendo eles Melia azedarach e Pinus elliottii.
Decorrido 4 anos do plantio, 10 mudas sobreviveram na Parcela 1, tendo uma taxa
de 20,41% de sobrevivência, 12 mudas sobreviveram na Parcela 2, expressando 24,49% de
sobrevivência. As taxas similares de sobrevivência dos indivíduos plantados em 2012
indicam que o dodoneito pode não exercer um papel inibitório sobre os indivíduos
plantados. Devido ao fato de não ter dados de quantos indivíduos de D. viscosa haviam em
2012, não é possível saber quantos nasceram nesses 4 anos nas Parcelas 2 e 3. Se tratando
de regeneração natural, é possível observar a presença de 66 indivíduos na Parcela 1,
representados em 4 famílias, na Parcela 2 nasceram 29 indivíduos, representados em 5
famílias, na Parcela 3 nasceram 10 indivíduos, representados em 3 famílias, em todas as
parcelas a maior representatividade de regenerantes é da espécie Baccharis dracunculifolia
(Tabela 2). O gênero Baccharis (Asteraceae) compreende em geral espécies invasoras,
pioneiras e colonizadoras de áreas degradadas (ACKERLY, 2004; MILLESON, 2005).
Pelo Índice de Sorensen, o menor valor de semelhança encontrado foi de 0,353, entre as
Parcelas 1 e 3, e o maior valor encontrado foi de 0,5, entre as Parcelas 1 e 2. Segundo

4
FELFILI e VENTUROLI (2000), quando o valor do Índice de Sorensen for superior a 0,5
ou 50% é que existe elevada similaridade entre os comparativos, reforçando que as
parcelas com dodoneito e sem dodoneito onde foram feitos o plantio de mudas são
similares, após 4 anos.
Na análise da cobertura do solo (Tabela 3) pode-se verificar que a Parcela 2
apresentou a maior espessura de serrapilheira e a menor biomassa de gramíneas, podendo
ser uma indicação do efeito inibitório de D. viscosa sobre o crescimento da braquiária ou
por alelopatia. Enquanto a Parcela 1, onde se encontra o menor número de indivíduos de
espécies arbóreas em relação as demais parcelas, apresentou a maior biomassa de
gramíneas.
A influência de D. viscosa sobre outras espécies pode ser mais complexa do que
uma simples inibição. PARIS et. al, (2010) em seu estudo sobre as implicações da D.
viscosa na estrutura e composição de um fragmento florestal, apresenta resultados que
reforçam seu potencial como espécie pioneira facilitadora, sua pesquisa feita no campo
com banco de plântulas mostrou que indivíduos das espécies Gochnatia polymorpha,
Rapanea ferruginea e Clethra scraba tiveram a maior frequência ao redor dos indivíduos
de D. viscosa o que sugere que estas espécies tenham desenvolvido certa tolerância aos
aleloquímicos liberados pela espécie. Essa característica é definida por ALVES et. al
(2004), como específica-específica, explicando a maior frequência desses indivíduos no
entorno da D. viscosa.
Outros estudos também abordam o potencial alelopático da D. viscosa, um deles
avaliou o efeito sob espécies florestais, cujos resultados mostraram que os extratos em
diferentes concentrações não inibiram a germinação das espécies estudadas e, em sementes
de alface o que se observou foi apenas atraso na germinação (BARBÉRIO & ALMEIDA,
2008). Acerca deste estudo, D. viscosa não influenciaria no desenvolvimento de espécies
florestais, o que pôde ser comprovado por ALVES et. al (2004). Esses estudos mostram a
amplitude de variantes a serem estudadas até que se chegue a um consenso.

5
Tabela 35 - Caracterização estrutural dos indivíduos arbóreos nas Parcelas 1, 2 e 3.
Classe Síndrome de
Família Espécie Nome popular Origem P1 P2 P3
Sucessional Dispersão
Anacardiaceae Schinus terebinthifolia Raddi Aroeira-pimenteira Pioneira Nativa Zoocórica 3 1 0
Anacardiaceae Tapirira guianensis Aubl. Peito-de-pombo Pioneira Nativa Zoocórica 0 0 3
Asteraceae Baccharis dracunculifolia DC. Alecrim-do-campo Pioneira Nativa Anemocórica 53 24 5
Asteraceae Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera Cambará Pioneira Nativa Anemocórica 0 1 1
Asteraceae Vernonia diffusa Less. Cambará-açu Pioneira Nativa Anemocórica 1 0 0
Fabaceae Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Angico-branco Pioneira Nativa Autocórica 1 2 0
Enterolobium contortisiliquum (Vell.)
Fabaceae Orelha-de-negro Pioneira Nativa Autocórica 3 1 0
Morong
Fabaceae Erythrina speciosa Andrews Mulungu Pioneira Nativa Autocórica 0 1 0
Fabaceae Erythrina verna Vell. Mulungu Pioneira Nativa Autocórica 1 1 1
Fabaceae Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze Espinho-de-maricá Pioneira Nativa Autocórica 1 3 0
Fabaceae Myrocarpus frondosus Allemão Cabreúva Não pioneira Nativa Anemocórica 0 1 0
Senna pendula (Willd.) H. S. Irwin &
Fabaceae Canudo-de-pito Pioneira Nativa Autocórica 2 0 0
Barneby
Lythraceae Lafoensia pacari A. St.-Hil. Dedaleiro Não pioneira Nativa Anemocórica 2 0 0
Meliaceae Cedrela odorata L. Cedro-rosa Não pioneira Nativa Anemocórica 0 1 0
Meliaceae Melia azedarach L. Cinamomo Pioneira Exótica Zoocórica 0 1 0
Myrsinaceae Rapanea ferruginea (Ruiz & Pav.) Mez Capororoca Pioneira Nativa Zoocórica 1 0 0
Capororoca-de-folha-
Myrsinaceae Rapanea lancifolia (Mart.) Mez Pioneira Nativa Zoocórica 0 1 0
miúda
Pinaceae Pinus elliottii Engler. Pinheiro Pioneira Exótica Anemocórica 0 1 0
Sapindaceae Dodonaea viscosa Jacq. Vassoura-vermelha Pioneira Nativa Anemocórica 6 51 88
Urticaceae Cecropia pachystachya Loefl. Embaúba Pioneira Nativa Zoocórica 0 1 0
Verbenaceae Citharexylum myrianthum Cham. Pau-viola Pioneira Nativa Zoocórica 2 1 0
Total 76 92 98
Tabela 36 - Sobreviventes e regenerantes nas Parcelas 1, 2 e 3.
2012 2016 Sobrev. Regenerante
Família Espécie
P1 P2 P1 P2 P3 P1 P2 P1 P2 P3
Schinus
Anacardiaceae 3 1 3 1 0 3 1 0 0 0
terebinthifolia
Tapirira
Anacardiaceae 0 0 0 0 3 0 0 0 0 3
guianensis
Annona
Annonaceae 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0
coriacea
Aspidosperma
Apocynaceae 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
parvifolium
Dendropanax
Araliaceae 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
cuneatus
Arecaceae Euterpe edulis 1 2 0 0 0 0 0 0 0 0
Baccharis
Asteraceae 0 0 53 24 5 0 0 53 24 5
dracunculifolia
Gochnatia
Asteraceae 0 1 0 1 1 0 1 0 0 1
polymorpha
Asteraceae Vernonia diffusa 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0
Tabebuia
Bignoniaceae 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
chrysotricha
Boraginaceae Cordia glabrata 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Cordia
Boraginaceae 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0
rufescens
Terminalia
Combretaceae 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0
catappa
Croton
Euphorbiaceae 2 2 0 0 0 0 0 0 0 0
urucurana
Mabea
Euphorbiaceae 1 2 0 0 0 0 0 0 0 0
fistulifera
Anadenanthera
Fabaceae 2 1 1 2 0 1 1 0 1 0
colubrina
Centrolobium
Fabaceae 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
tomentosum
Enterolobium
Fabaceae 0 0 3 1 0 0 0 3 1 0
contortisiliquum
Fabaceae Erythrina sp 3 3 1 2 1 1 2 0 0 1
Fabaceae Inga alba 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0
Mimosa
Fabaceae 1 4 1 3 0 1 3 0 0 0
bimucronata
Myrocarpus
Fabaceae 3 1 0 1 0 0 1 0 0 0
frondosus
Platymiscium
Fabaceae 4 1 0 0 0 0 0 0 0 0
pubescens
Fabaceae Senna multijuga 3 3 0 0 0 0 0 0 0 0
Fabaceae Senna pendula 0 0 2 0 0 0 0 2 0 0
Lafoensia
Lythraceae 3 0 2 0 0 2 0 0 0 0
pacari
Ochroma
Malvaceae 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0
pyramidale
Malvaceae Ceiba speciosa 4 1 0 0 0 0 0 0 0 0

2
Meliaceae Cedrela odorata 0 3 0 1 0 0 1 0 0 0
Meliaceae Melia azedarach 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0
Rapanea
Myrsinaceae 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0
ferruginea
Rapanea
Myrsinaceae 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0
lancifolia
Eugenia
Myrtaceae 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
uniflora
Hexachlamys
Myrtaceae 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0
edulis
Pinaceae Pinus elliottii 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0
Prunus
Rosaceae 1 3 0 0 0 0 0 0 0 0
brasiliensis
Dodonaea
Sapindaceae 0 0 6 51 88 0 0 6 - -
viscosa
Symploaceae Symplocos sp 1 2 0 0 0 0 0 0 0 0
Urticaceae Cecropia sp 0 3 0 1 0 0 1 0 0 0
Citharexylum
Verbenaceae 7 9 2 1 0 2 1 0 0 0
myrianthum
Total 49 49 76 92 98 10 12 66 29 10

Tabela 3 - Análise comparativa da cobertura do solo.


Cobertura do solo por Camada de Biomassa de
gramíneas (%) serrapilheira (cm) gramíneas – PS* (Kg)
Parcela 1 100 2,6 0,77
Parcela 2 100 3,3 0,46
Parcela 3 100 2,3 0,53
*PS: Peso Seco

A indicação para o uso de D. viscosa como componente do rol de pioneiras é


ainda incerto, muitos testes deverão ser feitos para garantir que métodos realmente
seguros sejam aplicados na recuperação de áreas degradadas.

CONCLUSÕES

Neste ensaio a Dodonaea viscosa não exerceu influência (negativa ou positiva)


no desenvolvimento das mudas plantadas no período de 4 anos. Entretanto, há
evidências de que dificultou o aparecimento de regenerantes das espécies plantadas,
sendo que este possível efeito negativo para áreas a serem recuperadas deve ser melhor
investigado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://www.sbpcnet.org.br/livro/61ra/resumos/resumos/6712.htm>. Acesso em: 20/08/
2012
3
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FERREIRA, A. G.; AQÜILA, M. E. A. Alelopatia: uma área emergente da
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KAGEYAMA, P. Y., REIS, A., CARPANEZZI, A. A. Potencialidades e restrições da
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Recuperação de Áreas Degradadas. Curitiba, PR, 25- 29 out. 1992. Curitiba: UFPR;
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Eletrônica de Biologia (REB). ISSN 1983-7682, [S.l.], v. 5, n. 1, p. 18-35, out. 2012.
ISSN 1983-7682. Disponível em:
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MILLESON MP. The role of birds and micrisites in the regeneration of South
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19º Encontro de Iniciação Científica da PUC/SP, 2010, São Paulo
SANTOS, L.; ALMEIDA, V. P. Influência de um dodoneito sob a regeneração de área
degradada que recebeu plantio de mudas na Fazenda da Fundação Parque Zoológico de
São Paulo em Araçoiaba da Serra/SP. Araçoiaba da Serra, São Paulo, 2012.
SÃO PAULO (Estado). Portaria CBRN nº 01, de 17 de janeiro de 2015. Estabelece o
Protocolo de Monitoramento de Projetos de Restauração Ecológica. Seção I São Paulo,
São Paulo.
SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botânica sistemática: guia ilustrado para a identificação
das famílias de Angiospermas da flora brasileira, baseado em APG II. Instituto
Plantarum, Nova Odessa, 2005.

4
AVALIAÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS NO USO DOS MÉTODOS NÃO
DESTRUTIVOS PARA INSTALAÇÃO DE GASODUTOS – Estudo de Caso:
GASMIG – MINAS GERAIS

R. F. ; SILVA

Faculdade Pitágoras – Unidade Raja Gabaglia – Belo Horizonte (MG)


Endereço: Av. Raja Gabaglia, 1306 – Cidade Jardim - MG – CEP 30160-041
Fone: (31) 2111-2800

RESUMO

A Avaliação de Risco ambiental é uma ferramenta para tomadas de decisões mais


racionais e efetivas no campo ambiental. A Avaliação de Riscos Ambientais (ARA)
tenta quantificar os riscos à saúde humana, aos bens econômicos e aos ecossistemas,
gerados a partir de atividades humanas e fenômenos naturais que causam perturbações
ao meio ambiente. Um dos aspectos chave da ARA está associado à determinação do
transporte e destino de produtos químicos nas águas de superfície e subterrâneas, ar e
solo. Outro aspecto chave, segundo os autores, está relacionado à determinação dos
efeitos desses químicos que são liberados na natureza. Entende-se por infraestrutura de
transporte de gás natural a rede de gasodutos que transporta o gás natural seco até os
pontos de entrega. Esta infraestrutura é composta por seções de gasodutos
interconectados e frequentemente possui estações compressoras localizadas em
intervalos que dependem das condições de pressão do gasoduto. os chamados Métodos
Não Destrutivos (MND) utilizam máquinas especiais que perfuram o subsolo
horizontalmente, entre dois poços de acesso, por onde serão passadas as tubulações.
Desta forma, não é necessário rasgar toda a extensão do piso por sob o qual passará a
instalação. Esse método é extremamente útil quando da travessia de vias de grande
tráfego, uma vez que o trânsito de veículos não será prejudicado pelas obras. A
execução por este processo também evita a reposição do pavimento por abertura de
valas, reposição esta que nem sempre é igual à situação original do pavimento. Os
processos de corrosão e outros associados indicam a possibilidade de que estas
instalações e especificações construtivas, diante da composição dos elementos
mecânicos e químicos que envolvem os gasodutos enterrados produzem interações
relevantes com o solo.

Palavras Chave: Avaliação de Riscos Ambientais, transporte de produtos químicos,


gasodutos

ABSTRACT

The Environmental Risk Assessment is a tool for more rational and effective decision
making in the environmental field. The Environmental Risk Assessment (ARA)
attempts to quantify the risks to human health, economic goods and ecosystems,
generated from human activities and natural phenomena that cause disruption to the
environment. One of the key aspects of ARA is associated with determining the
transport and destination of chemicals in surface and groundwater, air and soil. Another
key aspect, according to the authors, is related to the determination of the effects of
these chemicals that are released in nature. A natural gas transportation infrastructure is
5
the pipeline network that transports dry natural gas to the delivery points. This
infrastructure is composed of sections of interconnected pipelines and often has
compressor stations located at intervals that depend on the pressure conditions of the
pipeline. The so-called Non-Destructive Methods (MND) use special machines that drill
the subsoil horizontally, between two access wells, through which the pipes will be
passed. In this way, it is not necessary to tear the entire length of the floor under which
the installation will pass. This method is extremely useful when crossing high traffic
lanes, since vehicle traffic will not be hampered by works. The execution by this
process also avoids the replacement of the floor by opening of trenches, a replacement
that is not always the same as the original situation of the floor. Corrosion and other
associated processes indicate the possibility that these installations and constructive
specifications, given the composition of the mechanical and chemical elements that
surround the buried pipelines, produce relevant interactions with the soil.

Keywords: Environmental Risk Assessment, transport of chemicals, pipelines

1. INTRODUÇÃO

A Avaliação de Risco ambiental é uma ferramenta para tomadas de decisões


mais racionais e efetivas no campo ambiental. CARPENTER (1995) afirma que a ARA
(Avaliação de Riscos Ambientais) tenta quantificar os riscos à saúde humana, aos bens
econômicos e aos ecossistemas, gerados a partir de atividades humanas e fenômenos
naturais que causam perturbações ao meio ambiente. Segundo CARPENTER (1995), a
ARA representa a freqüência e a severidade de consequências adversas ao meio
ambiente de atividades ou intervenções planejadas, e sendo assim, o EIA (Estudo de
Impacto Ambiental) deve incluir a ARA quando o risco é importante, a fim de
complementar a análise de viabilidade ambiental de determinado empreendimento.

Para CANTER e KNOX (1990), um dos aspectos chave da ARA está associado
à determinação do transporte e destino de produtos químicos nas águas de superfície e
subterrâneas, ar e solo. Outro aspecto chave, segundo os autores, está relacionado à
determinação dos efeitos desses químicos que são liberados na natureza.

Entende-se por infra-estrutura de transporte de gás natural a rede de gasodutos


que transporta o gás natural seco até os pontos de entrega. Esta infra-estrutura é
composta por seções de gasodutos interconectados e freqüentemente possui estações
compressoras localizadas em intervalos que dependem das condições de pressão do
gasoduto (SANTOS, 2002). Os gasodutos podem ser de transporte ou distribuição. Para
o transporte de gás natural são utilizados sistemas especiais de tubulação. Atualmente,
este é o meio mais rápido para a distribuição de gás natural. Para que o gás seja
transportado, ele é pressurizado no gasoduto. Por essa razão, os gasodutos precisam ser
resistentes e o processo desta instalação exige procedimentos de segurança, testes e
avaliações (PETROBRAS, 2010).

6
De acordo com MASSARA (2007), os chamados Métodos Não Destrutivos
(MND) utilizam máquinas especiais que perfuram o subsolo horizontalmente, entre dois
poços de acesso, por onde serão passadas as tubulações. Desta forma, não é necessário
rasgar toda a extensão do piso por sob o qual passará a instalação. Esse método é
extremamente útil quando da travessia de vias de grande tráfego, uma vez que o trânsito
de veículos não será prejudicado pelas obras. A execução por este processo também
evita a reposição do pavimento por abertura de valas, reposição esta que nem sempre é
igual à situação original do pavimento. Sua aplicabilidade é destinada à execução de
serviços em tubulações de polietileno e aço para trabalhos até 2 metros de profundidade
que podem ser: transmissão e distribuição de energia elétrica; telecomunicações;
transmissão e distribuição de televisão, via cabo; distribuição de derivados de petróleo
e gás; travessia de avenidas, rodovias, rios e ferrovias; sistemas de drenagem de
subsolo; instalações industriais; substituição de tubulações, etc. (Figura 01).

Figura 01: SAAE Viçosa (2010)

O custo direto em muitos casos já é equivalente ao método com abertura de


valas contínuas, mas as vantagens são enormes: precisão na execução da obra; redução
de prazos; não interrupção do trânsito na área de trabalho; grande redução do custo
social. Esse avanço tecnológico da obra civil para locação dos dutos subterrâneos é um
assunto bastante debatido quando da avaliação dos órgãos públicos sobre a expansão de
rede em áreas urbanas já consolidadas. Junto à utilização do método não destrutivo, o
desenvolvimento do geoprocessamento, do material dos dutos e a legislação vigente na
fiscalização formam o conjunto de procedimentos que tendem a otimizar a instalação da
rede canalizada de gás natural para servir os usos urbanos. Por outro lado, MASSARA
(2007) afirma que MND (métodos não destrutivos) têm restrições que são representadas
por situações onde o espaço seja pequeno para inserção dos equipamentos, pela grande
densidade de instalações subterrâneas existentes na área a ser perfurada, em diâmetros
acima de 14” e em terrenos muito duros e de rocha.

7
2. HIPÓTESE

2.1. Segundo BUENO (2012), durante a instalação e operação dos dutos enterrados
através de Métodos Não Destrutivos não há riscos ambientais e eles podem ser
empregados para o transporte do petróleo e gás natural. No entanto, processos de
corrosão e outros associados, indicam a possibilidade de que estas instalações e
especificações construtivas, diante da composição dos elementos mecânicos e
químicos que envolvem os gasodutos enterrados produzem interações relevantes
com o solo.

2.2. Assim, a hipótese desta pesquisa é a de que a instalação e operação dos dutos
enterrados oferecem riscos ambientais nas áreas imediatamente próximas.

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

O objetivo geral da presente proposta de pesquisa consiste em avaliar e


investigar por meio de bases teóricas e empíricas, os riscos ambientais da
implantação de métodos não destrutivos para instalação de gasodutos de forma a
estabelecer o equilíbrio ecológico, bem como a promoção da inovação tecnológica e
das políticas públicas que envolvem a distribuição do gás natural.

3.2 Objetivos específicos

Com o intuito de alcançar o propósito central do estudo, os seguintes objetivos


específicos serão contemplados:

8
► Avaliar os procedimentos legais de implantação dos processos de expansão de
gasodutos sob responsabilidade da GASMIG (Companhia de Gás de Minas Gerais)
frente às particularidades da legislação ambiental brasileira.

► Estabelecer uma proposta de monitoramento de indicadores de riscos biológicos,


físicos e químicos para a implantação dos gasodutos.

► Avaliar a eficácia da Análise dos Riscos Ambientais em termos de gestão


ambiental, tendo como objeto de análise alguns dos procedimentos submetidos ao
processo de licenciamento ambiental preventivo.

► Verificar a possibilidade de condução de auditorias ligadas à Avaliação de Risco


Ambiental, com a finalidade de avaliar a precisão da previsão de riscos dos projetos
de expansão de gasodutos.

4. RELEVÂNCIA DA PESQUISA PROPOSTA

O risco sempre foi uma parte vital no gerenciamento ambiental e os riscos


tecnológicos passaram a ser analisados durante a II Grande Guerra em pesquisas de
operações militares e, mais adiante em energia nuclear e em exploração espacial
(CARPENTER, 1995).

A Avaliação de Riscos Ambientais é subdividida em áreas (risco à saúde humana,


ecologia e segurança), mas qualquer avaliação de risco tem início com a identificação
do perigo ou a definição do problema. Definidos os perigos, a próxima etapa é a
identificação das populações receptoras potenciais e os locais de exposição.
Posteriormente, na etapa de caracterização do risco, são caracterizadas natureza e
magnitude das consequências de tal exposição.

A necessidade de grandes obras de infra-estrutura é apenas um dos fatores


críticos que envolvem o mercado de gás natural e impede o crescimento da sua
participação na matriz energética brasileira. Em seminário realizado na sede da FIRJAN
(Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), em agosto de 2003
(Perspectivas de mercado para o gás natural), a Ministra de Estado de Minas e Energia,
e hoje, Presidente eleita do Brasil, Dilma Roussef, apontou como meta prioritária (ANP,
2004):

9
- Ampliação da infraestrutura de distribuição (malha de gasodutos no país).

Umas das vantagens do custo energético é a possibilidade de sinalizar a


tendência econômica de longo prazo na implantação dos gasodutos. COUTINHO
(2007) cita o fato de que a construção através do método não destrutivo, que há 3 anos
atrás custava 4 ou 5 vezes mais que pelo método tradicional, na análise energética se
apresentou menor. E hoje ele de fato custa o mesmo preço ou inferior ao método
tradicional. O custo energético na utilização de métodos não destrutivos, principalmente
em gasodutos de distribuição é menor do que os custos por métodos convencionais. Isto
explica o fato de essa metodologia estar cada vez mais competitiva em termos de custos.

As tubulações de gás compartilham o subsolo das cidades com as redes de outras


companhias nos segmentos de água, esgoto, eletricidade, telefonia, TV a cabo, internet e
outros. Dentre as ameaças às quais as redes de gás são sujeitas estão a falha nos
materiais, as movimentações de terra, erosões, corrosão, sendo as de maior relevância
aquelas causadas pelas obras de terceiros e este é um aspecto de suma importância
quando da utilização de métodos não-destrutivos.

A presente proposta de pesquisa, com caráter inédito e inovador, vem contribuir


e preencher significativa lacuna no âmbito científico especializado no estudo dos riscos
ambientais. O conhecimento científico é fundamental para a prática contemporânea e
futura das ciências ambientais, onde se encontra a aplicação de métodos não destrutivos
ligados aos estudos e projetos afetos ao meio ambiente que necessitam das teorias
analíticas para executá-las.

Por ser avaliação dos riscos ambientais, no âmbito das instalações de gasodutos,
os empreendedores como os próprios órgãos ambientais devem se voltar para essa
importante atividade, pois é por meio dos riscos ambientais analisados de forma clara e
objetiva que se possibilitará melhor gerenciamento ambiental do empreendimento. Os
EIAs/RIMAs (Estudos de Impactos Ambientais/Relatórios de Impactos Ambientais)
deveriam apresentar explicitamente a eficácia das medidas mitigadoras dos riscos
ambientais propostas para o empreendimento, bem como os resultados ambientais
esperados com a implantação de tais proposições. Dessa forma, a indicação de medidas
mitigadoras de riscos formuladas de maneira genérica seria suprimida de tais estudos
ambientais, tornando-os os mais objetivos e sintéticos.

5. ORIGINALIDADE DA PESQUISA

10
A malha de gasodutos de mais de 6.900 km tem capacidade de movimentar
milhões de metros cúbicos do produto por dia, por intermédio das distribuidoras,
abastecer residências, estabelecimentos comerciais, indústrias, posto de gás natural
veicular (GNV) e usinas de geração termelétrica. Devido às vantagens econômicas, o
consumo de gás natural foi ampliado significativamente nos últimos anos. E crescerá
ainda mais. Estima-se que o aumento médio anual entre 2009 e 2013 será de 6%. A
participação do gás natural na matriz energética nacional deverá atingir 12% até 2012.
Naquele ano, a expectativa é de que o fornecimento do produto chegue a 134 milhões de
m³/dia.

Ainda nesse enfoque, no que tange à expansão acelerada dos gasodutos, bem
como as ameaças passíveis às redes de gás referentes à falha nos materiais, às
movimentações de terra, erosões, corrosão, sendo as de maior relevância quando da
utilização de dutos enterrados quando concentrados em áreas urbanas saturadas podem
causar graves acidentes (VALLE, 2003):

I) Em 2001, na periferia de São Paulo, um gasoduto foi perfurado,


acidentalmente, por um bate-estaca, provocando a liberação de gás liquefeito de
petróleo em extensa área habitada, que teve de ser imediatamente evacuada; II) Outro
duto que conduzia óleo combustível rompeu-se, dias após, aparentemente por falha
mecânica, fazendo jorrar grande quantidade de óleo sobre um condomínio residencial;
III) Menos sorte tiveram habitantes de uma favela, a Vila Socó, em Santos, construída
praticamente sobre dutos que conduzem produtos inflamáveis de uma refinaria de
petróleo próxima, incendiou-se em 1984 em consequência de vazamento nos dutos. A
morte de uma centena de moradores, prejuízos materiais e danos ambientais de grande
monta foram os resultados desse acidente, que tem potencial para se repetir em centenas
de quilômetros dutos enterrados que transportam inflamáveis ao longo de áreas
povoadas nas cercanias de diversas cidades brasileiras; IV) Ainda nessa família dos
acidentes urbanos provocados por falhas em sistemas de dutos, cabe incluir o acidente
clássico são as explosões registradas em uma refinaria de petróleo no México, em 1984,
que provocaram a morte de cerca de 500 pessoas e mais de 4 mil feridas, moradoras na
região dos dutos instalados.

Podem também ser enquadrados os acidentes oriundos da contaminação


provocada por postos de revenda de combustíveis nas cidades. A infiltração de líquidos
inflamáveis nas áreas vizinhas dessas instalações pode assumir características bastante
graves quando atinge sistemas de dutos enterrados, ou quando esses fluidos percolam
para construções subterrâneas vizinhas (garagens de edifícios são exemplos comuns) ou
corpos d’água subterrâneos (Tabela 01).

CAUSA Percentual

11
Interferências de Terceiros 49,6%

Defeitos de Construção ou Fabricação 16,5%

Corrosão 15,4%

Movimentação de Terra 7,3%

Outros 11,3%

Tabela: 01: Quadro de acidentes com gasodutos

Fonte: TRANSPETRO (2015)

5.1 – Caracterização da empresa GASMIG – área de estudo: Estado de Minas


Gerais

A GASMIG (Companhia de Gás de Minas Gerais) é a distribuidora exclusiva de gás


natural canalizado em todo o território mineiro, por outorga de concessão pelo Estado
de Minas Gerais, atendendo aos segmentos industriais, uso geral, residencial, gás
natural comprimido, gás natural liquefeito, automotivo e termelétrico. A GASMIG
possui contratos de suprimento de gás a longo prazo com a PETROBRÁS, capazes de
garantir o abastecimento do mercado atual e de toda a expansão planejada para Minas
Gerais até o ano de 2026. Boa parte do gás distribuído pela GASMIG vem da Bacia de
Campos, no Rio de Janeiro, por meio do gasoduto de transporte GASBEL (Gasoduto
Rio de Janeiro-Belo Horizonte). A outra parte vem da Bolívia, por meio do gasoduto de
transporte GASBOL (Gasoduto Brasil-Bolívia). Através desses extensos gasodutos
subterrâneos, o gás chega até as Estações de Recebimento de Gás (ERG) da GASMIG,
de onde partem as redes de distribuição de gás natural que irão levá-lo até aos clientes
em diversas regiões do estado (GASMIG, 2010).

6. METODOLOGIA

12
O instrumento metodológico indicado à condução da ARA (Avaliação de Riscos
Ambientais) para expansão dos riscos ambientais de gasodutos é aquele utilizado em
auditorias ambientais, amplamente denominado AIA (Avaliação de Impacto Ambiental)
ou análises pós-projeto, desenvolvidas após a etapa de aprovação e implementação de
um empreendimento como cita SANCHEZ (2005) A presente proposta de pesquisa irá
conduzir uma análise da eficiência da Análise dos Riscos Ambientais em termos de
gestão ambiental utilizando-se das seguintes atividades: 1) revisão dos EIA (Estudo de
Impacto Ambiental) e RIMA (Relatório de Impacto Ambiental) no que tange a
identificação de riscos, à indicação de monitoramento de indicadores de riscos
biológicos, físicos e químicos; 2) análise de boletins de monitoramento e outros
documentos referente ao empreendimento arquivados no órgão ambiental; 3) visitas aos
empreendimentos licenciados com o objetivo de verificar a execução mas medidas
preventivas e de mitigação dos riscos.A contextualização do empreendimento a ser
estudado, quanto às condicionantes de interesse, e a compreensão dos fatores
intervenientes mais importantes orientarão a aquisição e compilação de dados. A base
conceitual, advinda por meio da revisão bibliográfica, fornecerá o arcabouço teórico à
pesquisa em todas as etapas. No tocante a contextualização do empreendimento de
expansão de gasodutos, quanto às condicionantes de interesse, e a compreensão dos
fatores intervenientes mais importantes orientarão a aquisição e compilação de dados. À
luz do cenário estabelecido, os dados resultantes de observações sistemáticas serão
analisados e confrontados aos de monitoramento periódico dos riscos ambientais que
envolvem o empreendimento de expansão de gasodutos no âmbito do equilíbrio
ecológico, promoção da inovação tecnológica e das políticas públicas que envolvem a
distribuição do gás natural.

6.1 – Análise dos documentos ambientais

Para efeito de condução desta etapa, serão selecionadas EIAs/RIMAs, seus


respectivos PCAs (Planos de Controle Ambiental) e outros documentos ambientais
arquivados na FEAM (Fundação de Meio Ambiente de Minas Gerais) referentes ao
empreendimento objeto de estudo. Para a execução desta etapa será feito leitura
completa dos EIAs com a finalidade de listar os riscos ambientais identificados nos
diferentes componentes ambientais, os métodos de identificação, previsão de magnitude
e avaliação de importância dos riscos ambientais, as ações de mitigação e de controle
ambiental propostas, os planos de monitoramento no que tange aos parâmetros
monitorados e os métodos de análise e de referência e as ações de gerenciamento de
riscos.Por serem considerados documentos de execução técnica, um estudo de todos os
respectivos PCAs apresentados no momento da solicitação da LI (Licença de
Instalação) para o empreendimento. Nesses documentos serão verificadas as medidas de
gerenciamento de riscos que serão adotadas pelo empreendedor, os planos de
13
monitoramento definido para acompanhamento dos riscos ambientais do
empreendimento. Os boletins de monitoramento de riscos ambientais, arquivados na
FEAM, também serão analisados, verificando-se, principalmente a conformidade com o
pré-estabelecido pelos documentos ambientais analisados e aprovados e pelas decisões
da FEAM, a continuidade de emissão de boletins, os parâmetros monitorados, os
resultados do monitoramento e as decisões do órgão ambiental frente aos resultados
apresentados. Quando disponibilizados, relatórios de monitoramento de riscos
elaborados pela GASMIG também serão analisados. Segundo JUNQUEIRA
(2005), outro marco referencial para o método de avaliação de riscos ambientais será
realizado a partir dos principais aspectos e impactos ambientais observados em países
em desenvolvimento, conforme metodologia prevista na norma ISO 14001, apontando
os riscos significativos. Esse método constitui-se em instrumento de grande valor, pois,
a partir dos aspectos ambientais mais notórios, permite identificar riscos ambientais
associados.

6.2 – Caracterização dos documentos inerentes aos projetos de expansão de


gasodutos no Estado de Minas Gerais

Após solicitação formal à GASMIG para consulta aos seus arquivos e


colaboração com o trabalho proposto, foram verificados os procedimentos legais de
implantação dos projetos de expansão de gasodutos no Estado de Minas Gerais frente às
particularidades da legislação ambiental brasileira. Posteriormente, após solicitação
formal às respectivas prefeituras dos municípios envolvidos, serão verificados os planos
diretores buscando levantar as questões do uso e ocupação do solo, planejamento
urbano e pontos relevantes no âmbito ambiental. PIRES (2007) cita que o Plano Diretor
é um instrumento de preservação dos bens ou áreas de referência urbana, previsto
constitucionalmente e também através do Estatuto da Cidade, é uma lei municipal que
estabelece diretrizes para a adequada ocupação do município, determinando o que pode
e o que não pode ser feito em cada parte do mesmo.

6.3– Consolidação e tratamento dos dados

Para fins de leituras, classificações, manipulações, armazenamentos, tratamentos


estatísticos, processamentos e análises dos dados advindos da GASMIG,
SEMAD/FEAM, Planos diretores dos municípios envolvidos no projeto será utilizado o

14
software SPSS 11.5 for Windows, da SSPSS Inc. licenciado para o
CEDEPLAR/FACE/UFMG para a criação de banco de dados e análises descritivas
(figura 02).

6.4 – Visitas técnicas

Como atividade de obtenção de dados complementares foram realizadas visitas


técnicas ao empreendimento com uso entrevistas dirigidas aos responsáveis do
empreendimento, bem como da população local através de entrevistas e abordagens
diretas. Para fins de consolidação de registro às fases de execução dos empreendimentos
de expansão de gasodutos, será elaborada uma coleção de material fotográfico em
arquivo digital.

15
Revisão dos EIAs/RIMAs

Análise dos boletins de


monitoramento de riscos
da

GASMIG
Visitas aos
empreendimentos

(gasodutos) licenciados
Estudo dos PCAs

Observação da norma

ISO 14001

Consulta aos arquivos da


GASMIG

Consulta aos Planos


Diretores

Consolidação e tratamento

de dados

Visitas técnicas aos

empreendimentos

Figura 02: Fluxograma aproximado para avaliação de riscos ambientais no uso de


métodos não destrutivos para instalação de gasodutos em Minas Gerais

16
7. RECURSOS NECESSÁRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO
TRABALHO

Os recursos para a aquisição de informações e dados foram dados por


questões dirigidas aos responsáveis na oportunidade das visitas técnicas ao
empreendimento selecionado, contatos com a população local e por observações
diretas em campo, que serão registradas por instrumento de coleta de informações
e, material fotográfico em arquivo digital mediante autorização que servirão de
base para elaboração da pesquisa em seus pontos principais para posterior
organização e compilação junto à redação do trabalho de pesquisa.

8. CONCLUSOES

Com o intuito principal de analisar a eficácia do procedimento da AIA como


instrumento de gestão ambiental em empreendimentos de instalações de gasodutos, o
presente trabalho levantou um conjunto de informações que permitiu verificar, em cada
um dos casos estudados, como o EIA/RIMA, sua análise pelo órgão ambiental (que
culminou com o licenciamento ambiental) e a efetiva implantação e operação do
empreendimento resultaram em ações de controle da qualidade ambiental na área de
influência de cada projeto. Vale destacar que no estudado as atividades de instalação
dos gasodutos já haviam sido encerradas. Assim, de acordo com a presente pesquisa,
pode-se afirmar que, em todos os casos estudados, apesar das deficiências detectadas,
como ausência de alternativas para a análise do projeto, problemas na análise dos
impactos ambientais, ausência de levantamentos de impactos cumulativos, falhas na
coleta de dados de base relacionados ao plano de monitoramento e a própria condução
dos programas de monitoramento, que a AIA resultou, de forma geral, em intervenções
(projetos) que buscaram, mesmo por exigência legal, minimizar os efeitos de ordem
ambiental, já que os empreendedores do segmento de fornecimento de gás natural vêm
implementando as principais medidas mitigadoras e de recuperação ambiental
apresentadas nos EIAs/RIMAs e PCAs (Planos de Controle Ambiental) de seus
empreendimentos. Sendo assim, pode-se afirmar que o processo, como um todo, tem
relativa eficácia em termos de proteção ambiental e consequentemente desenvolve
funções de gestão ambiental.

Por outro lado, os impactos negativos ao ambiente natural causados por


vazamentos ou instalação de gasodutos compreendem, de maneira geral, não apenas a
contaminação de solos, subsolos, corpos de água e os danos aos vegetais e animais
presentes nas proximidades das tubulações. no momento do seu rompimento. Abrangem
também a movimentação de terra, a supressão vegetal e o impacto à toda micro e macro
fauna associada, durante os trabalhos na faixa dos dutos.

17
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BIOCOMBUSTÍVEIS. Gás Natural Veicular: Mercado em Expansão. ANP, 2004.

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19
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Universidade Federal de Minas Gerais, 2005.

FLORÍSTICA E ESTRUTURA FITOSSOCIOLÓGICA DE DIFERENTES


ÁREAS DE RESTINGA HERBÁCEA NA LOCALIDADE DE BALNEÁRIO
CAMPO BOM, JAGUARUNA-SC

SCHLICKMANN, M. B.¹; DUARTE, E.¹; FERREIRA, M. E. A.²; VARELA, E. P.²;


PEREIRA, J. L.²

¹ Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Centro de Ciências


Agroveterinárias. Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta Dinheiro - Lages – SC, Brasil.
CEP: 88.520-000. Telefone: (49) 3289-9100. E-mail: [email protected]
² Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) - Av. Universitária, 1105 -
Universitário, Criciúma, SC- Brasil. CEP: 88.806-000. Telefone: (48) 3431-2500. E-
mail: [email protected]

RESUMO

As restingas são um conjunto de formações vegetais costeiras que, devido a sua


localização, sofrem intervenção direta da topografia e condições ambientais, incluindo
influências marítimas e continentais. Tais aspectos fazem com que a restinga seja
considerada um ecossistema frágil. Apesar da sua importância, esse ambiente vem
sofrendo rápida degradação por diversas ações antrópicas, entre elas a pressão de
empreendedores do ramo imobiliário. Neste aspecto, o estudo avaliou e comparou a
composição florística de duas áreas, sendo uma com maior influência antrópica e uma
com menor influência, na localidade de Balneário Campo bom, no munícipio de
Jaguaruna, sul de Santa Catarina. Para realização do levantamento, utilizou-se o método
de parcelas, sendo utilizadas 10 parcelas com dimensões de 2mx2m em cada área do
estudo, totalizando 20 parcelas. Cada parcela apresentou distância de 4m entre si. A
cobertura de cada espécie foi estimada pela escala de Causton. A identificação
taxonômica seguiu o sistema proposto por APG IV (BYNG et al., 2016) para
angiospermas. No presente estudo foram identificadas 19 espécies
herbácea/subarbustiva, sendo 17 destas registradas na área não degradada, e apenas 8
espécies na área degradada. Asteraceae foi a família de maior riqueza específica (5),
seguida por Poaceae (3). As mesmas possuem polinização e dispersão pelo vento,
característica importante na distribuição das espécies neste ecossistema. Dentre as
espécies encontradas na área não degradada, Panicum racemosum apresentou o maior
valor de importância, seguido de Sporobolus virginicus, Oxypetalum tomentosum, e
Androtrichum trigynum. Já na área degradada, as espécies mais representativas foram
Androtrichum trigynum, Sporobolus virginicus, Spartina alterniflora e Blutaparon
portulacoides, respectivamente.

Palavras Chave: Áreas degradadas, fitossociologia, levantamento florístico

INTRODUÇÃO
20
O litoral brasileiro possui mais de 9.000km de extensão, destes,
aproximadamente 5.000km são ocupados por restingas (FURLAN et al., 1990), que são
ambientes associados ao Bioma Mata Atlântica (TEIXEIRA et al.,1986). Este tipo de
formação compreende diferentes tipos de vegetação, ocupando todo o litoral leste do
Brasil e, às vezes, estendendo-se em sentido oeste para o interior do país
(FALKENBERG, 1999).
As restingas são de origem sedimentar do início do Quaternário e são
ocupadas por comunidades vegetais bastante diversificadas, que sofrem intervenção
direta da topografia e condições ambientais, incluindo influências marítimas e
continentais (ARAÚJO et al., 2004). A ação de fatores físicos como alta salinidade,
frequência do vento, excesso de calor e luminosidade, falta ou excesso de água,
soterramento pela areia e pobreza de nutrientes no solo caracterizam os ecossistemas de
restinga como frágeis (BRESOLIN, 1979; WAECHTER, 1985; HESP, 1991). Nesse
sentido, a vegetação de restinga se torna fundamental para estabilização dos sedimentos
e manutenção da drenagem natural, além de disponibilizar alimentos e locais seguros
para nidificação e proteção da fauna residente e migratória (BRASIL, 1999).
Apesar de apresentar tal importância, a restinga é um dos ecossistemas com
maior perda de biodiversidade (ZAMITH e SCARANO, 2006), principalmente devido à
expansão das áreas de agropecuária, especulação imobiliária e invasão de espécies
exóticas (SCHERER et al., 2005). O uso inadequado dos recursos naturais acarreta na
degradação do ecossistema, causando enchentes e aceleração dos processos erosivos
(VALCARCEL e SILVA, 2004).
Para restauração de ambientes perturbados, os estudos fitossociológicos têm
se mostrado eficazes, não somente na escolha das espécies, mas também na utilização
eficiente em projetos de recuperação (CORRÊA; MELO, 1998).
Na região sul do Brasil foram realizados diversos estudos sobre as
comunidades de restinga tanto herbácea como arbórea, que contribuíram para o
conhecimento florístico ou da estrutura comunitária deste ambiente, entre eles cita-se:
Reitz (1954 e 1961), Pfadenhauer e Ramos (1979), Klein (1984), Waechter (1985, 1990
e 1992), Souza et al. (1986), Danilevicz et al. (1990), Rossoni e Baptista (1994),
Falkenberg (1999), Citadini-Zanette et al. (2001), Scherer et al. (2005) e Guimarães
(2006).
Dessa forma, este estudo avaliou a composição florística de duas diferentes
áreas (degradada e não-degradada), objetivando mensurar o impacto causado pela ação
antrópica na vegetação de restinga, da localidade de Balneário Campo Bom, município
de Jaguaruna, Santa Catarina.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo - O estudo foi realizado em uma área de restinga herbácea na


localidade de Balneário Campo Bom, município de Jaguaruna, sul do estado de Santa
Catarina (Figura 1). Esta região possui clima classificado, segundo Köppen, como Cfa -
clima temperado úmido com verão quente e seco, inverno úmido e precipitação
abundante distribuída ao longo do ano (ALVARES et al., 2013). A temperatura média
anual varia de 17,0 a 19,3ºC, sendo que a temperatura média normal das máximas varia
de 23,4 a 25,9ºC e das mínimas de 12,0 a 15,1ºC (EPAGRI; CIRAM, 2001).

21
A área do estudo foi dividida em dois ambientes: Ambiente 1 (A1),
coordenadas 28°42'34,5"S e 49°02'26,7"W e Ambiente 2 (A2), coordenadas
28°43'01,3"S e 49°03'10,9"W (Figura 1). Ambos apresentam o mesmo tipo
vegetacional, no entanto, o Ambiente 2 (A2) sofre forte interferência humana com
grande quantidade de residências próximas as dunas e saneamento básico precário, com
efluentes domésticos desembocando direto no mar passando pelas dunas, e,
consequentemente, desestruturando e impedindo o desenvolvimento da vegetação, e
ocasionando grande erosão no local, isso é observado em uma diversidade de locais na
costa brasileira (ROCHA; ESTEVES; SCARANO, 2004).

Figura 1. Localização da área de estudo florístico e fitossociológico, em destaque Ambiente 1 (A1) -


coordenadas 28°42'34,5"S e 49°02'26,7"W e Ambiente 2 (A2) - coordenadas 28°43'01,3"S e
49°03'10,9"W, Balneário Campo Bom, Jaguaruna-SC.

Para análise da composição florística e da estrutura comunitária utilizou-se


o método de parcelas proposto por Mueller-Dombois e Ellenberg (1974). Desta forma,
foram utilizadas 10 parcelas com 2x2m (4m²) distribuídas ao longo de um transecto,
com equidistância entre as parcelas de 4 metros, totalizando uma área amostral de 20m²
em cada um dos ambientes.
Em cada uma das parcelas foi registrada a presença das espécies e a
cobertura destas, por meio da escala de cobertura proposta por Causton (1988). Com
base na cobertura apresentada pelas espécies amostradas foram calculados os
parâmetros fitossociológicos como, as frequências (F) e coberturas (C), absolutas (A) e
relativas (R) e o índice de valor de importância (IVI)
A identificação taxonômica seguiu o sistema proposto por APG IV (BYNG
et al., 2016) para o grupo das angiospermas e os nomes científicos, bem como sua
autoria, foram confirmados de acordo com a Flora do Brasil 2020 (2017). As espécies,
22
quando possível, foram identificadas in loco, porém, as não identificáveis no campo
foram coletadas para posterior identificação. A coleta de dados florísticos e
fitossociológicos foi realizada entre os dias 17 e 24 de dezembro de 2016.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registradas nas 20 parcelas amostradas, 19 espécies distribuídas em


19 gêneros e 11 famílias botânicas. Dessas 17 espécies foram registradas no Ambiente 1
e oito espécies no Ambiente 2 (tabela 1).
Dentre as famílias identificadas, Asteraceae apresentou o maior número de
espécies (26%), seguido de Poaceae (16%), Convolvulaceae e Solanaceae (11%) cada.
As demais famílias, Amaranthaceae, Apocynaceae, Araliaceae, Boraginaceae,
Calyceraceae, Cyperaceae e Polygalaceae, apresentaram apenas uma espécie cada (5%),
somando juntas 35% do total amostrado (figura 2).

Tabela 1. Lista florística e áreas onde as espécies foram identificadas na restinga do Balneário Campo
Bom, Jaguaruna-SC.; A1= área não-degradada; A2= área degradada

FAMÍLIA
NOME POPULAR ÁREA
Espécie
AMARANTHACEAE
Blutaparon portulacoides(A.St.-Hil.) Mears. Bredo-da-praia A1/A2
APOCYNACEAE
Oxypetalum tomentosum Wight ex Hook. & Arn. Cipó-de-leite A1
ARALIACEAE
Hydrocotyle bonariensis Lam. Erva-capitão A1/A2
ASTERACEAE
Baccharis radicans DC. Vassourinha-da-praia A1
Conyza blakei (Cabrera) Cabrera. A1
Gamochaeta americana (Mill.) Wedd. A1
Noticastrum psammophilum (Klatt) Cuatrec. A1
Senecio crassiflorus (Poir.) DC. Margarida-da-praia A1
BORAGINACEAE
Varronia curassavica Jacq. Erva-baleeira A1
CALYCERACEAE
Acycarpha spathulata R. Br. Roseta A1
CONVOLVULACEAE
Ipomoea pes-caprae (L.) R.Br. Batata-da-praia A1
Ipomoea imperati (Vahl) Griseb. Campainha-branca A2
CYPERACEAE
Androtrichum trigynum (Spreng.) H.Pfeiff. Junco-da-praia A1/A2
POACEAE
Panicum racemosum (P. Beauv.) Spreng. Capim das dunas A1/A2

23
Spartina alterniflora Loisel. Capim-marinho A2
Sporobolus virginicus (L.) Kunth. Grama-da-praia A1/A2
POLYGALACEAE
Polygala cyparissias A.St.-Hil. & Moq. Gelol-da-praia A1
SOLANACEAE
Petunia littoralis L.B.Sm. & Downs. A1
Solanum capsicoides All. Melância-da-praia A1/A2

As famílias Asteraceae e Poaceae são as famílias mais representativas para a


composição florística das restingas herbáceas, sendo observado alto número de espécies
pertencentes a estas famílias em diferentes estudos realizados nesse ecossistema
(DANIEL, 2006; GUIMARÃES, 2006; KLEIN; CITADINI-ZANETTE; SANTOS,
2007). Ambas famílias apresentam o vento como vetor para a realização da polinização
e dispersão, que é constante e determina a distribuição de suas espécies principalmente
nas dunas frontais (PALMA; JARENKOW, 2008). Poaceae e Asteraceae também são
encontradas com elevada contribuição nas dunas frontais da América do Norte
(BARBOUR, 1992).
Foi possível identificar que a família Asteraceae restringiu sua distribuição
somente na área não degradada (A1), assim como as famílias Apocynaceae,
Boraginaceae, Calyceraceae e Polygalaceae, considerando-se que em detrimento de uma
maior exposição a agentes degradadores, ambas famílias não conseguem obter
condições de crescimento.

Figura 2. Distribuição das espécies por família levantadas na restinga da localidade Balneário Campo
Bom, Jaguaruna, Santa Catarina.

Por meio a amostragem fitossociológica do Ambiente 1, verificou-se como a


espécie mais frequente, Panicum racemosum, presente em 85% das unidades amostrais.
A espécie também apresentou o maior valor de importância, sendo citada por vários
24
autores como importante fixadora de dunas e também como espécie dominante de dunas
frontais (WAECHTER, 1985; FALKENBERG, 1999; SOUZA, 2004; ROCHA;
ESTEVES; SCARANO, 2004). Sua distribuição estende-se desde a cidade de Buenos
Aires na Argentina, até o Estado do Maranhão no Brasil, sendo mais abundante no
extremo sul do país (CORDAZZO; SEELIGER, 1995).
As espécies Sporobolus virginicus, Blutaparon portulacoides, Oxypetalum
tomentosum e Noticastrum psammophilum, também são citadas por Falkenberg (1999)
como predominantes nas dunas frontais, onde segundo o autor recebem grande
influência de salinidade advinda das ondas, respingos e maresia. Tais espécies foram
encontradas na Ambiente 1 com frequências moderadas, de 50% a 40% (tabela 2)
refletindo a condição de preservação do ambiente.
A espécie Sporobolus virginicus apresentou VI igual a 30,39%, o segundo
mais alto entre as espécies encontradas na Ambiente 1. Segundo Waechter (1985) a
mesma também é de grande importância na fixação de dunas, assim como a espécie
Blutaparon portulacoides (VI=12,85%). Segundo Teixeira et al. (1986) e Cordazzo e
Seelinger (1995) Blutaparon portulacoides possui grande tolerância a salinidade,
favorecendo o seu estabelecimento sobre dunas embrionárias, onde exerce um papel
fundamental na fixação destas, constituindo a primeira barreira contra as ressacas do
mar. A vegetação psamófila é de extrema importância, tanto na formação quanto na
fixação das dunas frontais. Estas espécies são normalmente herbáceas, estoloníferas e
rizomatosas, apresentando rápido crescimento e grande capacidade de regeneração.
(PFADENHAUER, 1978).
Oxypetalum tomentosum, Androtrichum trigynum e Noticastrum
psammophilum, também apresentaram valores de importância relevantes: 25,53%,
16,80% e 16,74% respectivamente, as espécies foram observadas nas dunas internas,
resultados semelhantes foram encontrados por Rampinelli (2011) estudando áreas de
preservação permanente na restinga da localidade de Morro dos Conventos em Santa
Catarina.
As dunas internas apresentam em seu substrato propriedades semelhantes
às dunas frontais, porém a mobilidade da areia já não é tão grande, observando-se
assim, uma maior densidade de espécies nessas áreas (DANIEL, 2006), pelas condições
do local serem menos seletivas que as de dunas frontais.
As demais espécies encontradas apresentaram baixa frequência, e
apareceram aparecendo em no máximo três parcelas, sendo elas: Gamochaeta
americana, Hydrocotyle bonariensis, Acycarpha spathulata, Ipomoea pes-caprae,
Varronia curassavica, Polygala cyparissias, Baccharis radicans, Senecio crassiflorus,
Solanum capsicoides, Conyza blakei e Petunia littoralis.

Tabela 2. Parâmetros fitossociológicos estimados para as espécies herbáceas-subarbustivas do ambiente 1


(não degradado) do Balneário Campo Bom, Jaguaruna, SC. Npi= Número de Parcelas com a espécie;
Hmáx= Altura máxima observada para a espécie; CA= Cobertura absoluta; CR= Cobertura Relativa;
FA= Frequência absoluta; FR= Frequência relativa; VI= Valor de importância.

ESPÉCIE Npi CA CR FA FR VI
Panicum racemosum 8 17 16,50 80 16 32,50
Sporobolus virginicus 5 21 20,39 50 10 30,39
Oxypetalum tomentosum 5 16 15,53 50 10 25,53

25
Androtrichum trigynum 5 7 6,80 50 10 16,80
Noticastrum psammophilum 4 9 8,74 40 8 16,74
Blutaparon portulacoides 4 5 4,85 40 8 12,85
Gamochaeta americana 3 4 3,88 30 6 9,88
Hydrocotyle bonariensis 3 3 2,91 30 6 8,91
Acycarpha spathulata 2 4 3,88 20 4 7,88
Ipomoea pes- caprae 2 4 3,88 20 4 7,88
Varronia curassavica 2 3 2,91 20 4 6,91
Polygala cyparissias 2 2 1,94 20 4 5,94
Baccharis radicans 1 2 1,94 10 2 3,94
Senecio crassiflorus 1 2 1,94 10 2 3,94
Solanum capsicoides 1 2 1,94 10 2 3,94
Conyza blakei 1 1 0,97 10 2 2,97
Petunia littoralis 1 1 0,97 10 2 2,97

A amostragem fitossociológica do Ambiente 2 revelou uma comunidade


vegetal com baixa riqueza específica, oito espécies, onde destaca-se Androtrichum
trigynum como a espécie com o maior valor de importância (VI = 48,91%) (tabela 3).
Segundo Marangoni (2003) e Daniel (2006) esta espécie é comumente encontrada em
dunas internas e também em áreas de baixadas, sendo considerada indicadora de áreas
protegidas do pós-dunas (SEELIGER, 1992).
Assim como Ambiente 1, a espécie Sporobolus virginicus também
apresentou para o Ambiente 2, altos valores de FA e VI, 80% e 47,22 %,
respectivamente. Esta espécie é normalmente encontrada com alta frequência em
trabalhos em áreas de restinga, juntamente com P. racemosum (ASSUMPÇÃO;
NASCIMENTO, 2000).
Spartina alterniflora também demonstrou grande importância no estudo,
apresentando 28,37% de VI. A espécie foi amostrada nas áreas mais próximas e/ou ao
lado do canal de drenagem pelo qual escoa o efluente doméstico que desemboca no mar.
Segundo Yamagata (2007) é uma espécie de hábito herbáceo emergente e adaptada a
condições de saturação do solo e encontra-se presente em habitats lacustres, pântanos e
zonas costeiras, explicando, desta forma, a sua grande frequência neste ambiente.
A espécie Blutaparon portulacoides, predominante de dunas frontais
(FALKENBERG, 1999), também obteve uma frequência moderada assim como na área
1, apresentando 60% de FA e 28,27% de VI. As demais espécies encontradas no
Ambiente 2 apresentaram baixa frequência, sendo registradas em três parcelas como
Panicum racemosum e em duas ou uma parcela como Solanum capsicoides,
Hydrocotyle bonariensis e Ipomoea imperati (Tabela 3). Esta última apesar de ter
mostrado baixa frequência na área, apresenta ampla distribuição no litoral brasileiro
(O’DONELL, 1960; FALÇÃO, 1976a; FALÇÃO & FALÇÃO, 1976b), tendo sua
ocorrência nas dunas móveis e semifixas e funcionando desta forma como fixadora
(BRESOLIN, 1979).

Tabela 3. Parâmetros fitossociológicos estimados para as espécies herbáceas-subarbustivas do ambiente 2


(degradada) do Balneário Campo Bom, Jaguaruna, SC. Npi= Número de Parcelas com a espécie; Hmáx=

26
Altura máxima observada para a espécie; CA= Cobertura absoluta; CR= Cobertura Relativa; FA=
Frequência absoluta; FR= Frequência relativa; VI= Valor de importância.

ESPÉCIE Npi CA CR FA FR VI

Androtrichum trigynum 6 19 30,16 60 18,75 48,91


Sporobolus virginicus 8 14 22,22 80 25 47,22
Spartina alterniflora 4 10 15,87 40 12,5 28,37
Blutaparon portulacoides 6 6 9,52 60 18,75 28,27
Solanum capsicoides 2 7 11,11 20 6,25 17,36
Panicum racemosum 3 4 6,35 30 9,38 15,72
Hydrocotyle bonariensis 2 2 3,17 20 6,25 9,42
Ipomoeae imperati 1 1 1,59 10 3,13 4,71

A curva de acumulação de espécies dos dois ambientes do estudo, mostraram


que houve um maior recrutamento de espécies entre a segunda e a terceira parcela, e a
partir da quarta a quantidade de espécies recrutas decaiu, mostrando tendência a
estabilização (Figura 3 e 4). Segundo Brower & Zar (1977), o número de amostras é
considerado suficiente quando a curva se encaminha para a estabilização. Neste sentido,
as 10 parcelas instaladas em cada ambiente mostraram-se suficientes para o estudo das
áreas em questão.

Figura 3- Curva de acumulação de espécies, intervalos de confiança 95%, para Ambiente 1,


da restinga da localidade de Balneário Campo Bom-SC.

27
Figura 4- Curva de acumulação de espécies, intervalos de confiança 95%, para Ambiente 2, da
restinga da localidade de Balneário Campo Bom-SC.

Com o estudo florístico e parâmetros fitossociológicos calculados e


avaliados nas duas áreas, foi possível traçar uma comparação entre ambas. É visível que
no ambiente 2 (degradado) existe um menor número de espécies (8 espécies),
evidenciada pela grande interferência antrópica que esta área sofre constantemente.
Segundo Scherer et al. (2005), a restinga é um dos ecossistemas brasileiros mais
impactados, desta forma, estudos que demonstrem o estado de conservação destes
lugares são de grande importância (RANGEL; NASCIMENTO, 2011).
O menor número de espécies registradas para o Ambiente 2 pode ser
explicado pela maior exposição deste, a fatores antrópicos como o descarte de efluentes,
favorecendo a formação de áreas brejosas, que proporcionam a constituição de um
ambiente seletivo. Além disso, a abundância de indivíduos da espécie exótica invasora
Casuarina equisetifolia pode ter corroborado com baixa riqueza de espécies presentes
no local. Dentre as espécies levantadas, S. alterniflora, foi encontrada somente no
ambiente 2 (degradada), a mesma apresenta características ao ambiente brejoso como
descrito acima, corroborando com a sua forte dominância nesta área.
Já no Ambiente 1 o número de espécies encontrada foi superior ao
registrado no Ambiente 2, totalizando 17 espécies. Nesta área é possível identificar uma
menor interferência antrópica, refletindo em uma comunidade mais preservada, tendo
em vista que não existem moradias próximas. Além disso o local é de difícil acesso,
impedindo deste modo, o pisoteio sobre a vegetação. Segundo Castellani et al. (2007) e
Talora (2007) o pisoteio e soterramento da vegetação de restinga representam impactos
negativos sobre estas, ocasionando na perda da biomassa em todas as fases de
desenvolvimento.
As espécies N. psammophilum e P.littoralis, são citadas por Falkenberg
(1999) como endêmicas, raras e ameaçadas de extinção, as mesmas foram encontradas
no ambiente 1, corroborando com o grau de conservação encontrado na área. No geral,
as espécies que representaram a restinga das diferentes áreas estudadas são, em sua
maioria, plantas herbáceas comumente providas de estolões ou rizomas, com
distribuição em geral esparsa ou formando touceiras (KLEIN et al. 2007) e típicas das
formações de restinga do estado de Santa Catarina.

CONCLUSÃO

Pode-se identificar no levantamento florístico um total de 19 espécies,


dentre elas 17 foram amostradas no Ambiente 1 e apenas oito no Ambiente 2, sendo as
famílias mais representativas: Asteraceae (26%) e Poaceae (16%). Diversos estudos em
áreas de restinga apresentam resultados semelhantes quanto a representatividade destas
famílias.
Como o presente estudo foi dividido em dois ambientes (degradada e não
degradada) foi possível reconhecer que além da maior riqueza de espécies encontrada na
área não degradada (área 1), identificar também a alta frequência das espécies Panicum
racemosum, Sporobolus virginicus e Blutaparon portulacoides, contribuindo
positivamente neste ambiente, pois as mesmas são de grande importância para a fixação
das dunas.

28
Já na área degradada (ambiente 2), foi possível identificar uma espécie bem
adaptada a áreas lacustre e encontrada somente nesta área, como a Spartina alterniflora.
Considerando que a ação antrópica sofrida no local está alterando de forma drástica não
só o ambiente, mas também a sua composição florística, explicada pela baixa cobertura
vegetal encontrada neste local.
A amostragem de 10 parcelas em cada ambiente foi suficiente para
representar a comunidade vegetal do local. Estudos florísticos e fitossociológicos em
áreas pertencentes ao ecossistema de restinga são de suma importância para que se
possa compreender o seu funcionamento, objetivando futuras propostas para sua
conservação e definição de critérios para o uso sustentável.

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32
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ESPÉCIES ARBOREA-ARBUSTIVAS ADOTADAS NA RECUPERAÇÃO DE


CORPOS HÍDRICOS NO MUNICÍPIO DE RESERVA DO IGUAÇU, PARANÁ,
BRASIL

B. C. Boschetti; J. A. Mazon;

Faculdade Guairacá, Rua XV de Novembro, 7050 – 85010-000 – Centro, Guarapuava -


Brasil, [email protected], 42 99832-7730

RESUMO

No Código Florestal o termo “mata ciliar” é definida como “área protegida, coberta ou
não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e
flora e assegurar o bem-estar das populações humanas” (Art. 3.º, II, lei 12.651/2012).
Sabendo-se da sua importância, o objetivo deste estudo foi apresentar as espécies
arbóreas e arbustivas utilizadas para o reflorestamento de corpos d’água no município
de Reserva do Iguaçu, Paraná, Brasil em 2014. Os dados são oriundos de documentos
concedidos pela COPEL, onde a mesma autorizou o uso. Em 2014, o município de
Reserva do Iguaçu reflorestou 08 ha de mata ciliar, com o plantio de 7.451 mudas
arbóreas e arbustivas nativas em 10 propriedades do município, com o Projeto
Cooperação Florestal. Dentre as 24 famílias representadas por 52 espécies, destacam-se:
Fabaceae, com plantio de 1.809 indivíduos de 14 espécies distintas, Euphorbiaceae com
1.197 mudas e 02 espécies e Myrtaceae, com 1.000 mudas plantadas e 06 espécies. O
Sarandi (Gymnanthes schotiana Müll.Arg.) representante da família Euphorbiaceae foi
a espécie mais utilizada (1.007 mudas), pois é adaptada as condições de reofilia, sendo a
mais indicada para auxiliar no controle de deslizamentos, prevenindo erosões. Observa-
se alta gama de espécies. As famílias amostradas figuram entre as mais utilizadas e
inventariadas em levantamentos realizados em faixas ciliares do estado do Paraná.

33
Palavras Chave: floresta ciliar, reflorestamento, código florestal, recursos hídricos,
nascentes

1. Introdução
As matas ciliares atuam como barreira física, regulando os processos de troca
entre os ecossistemas terrestres e aquáticos e desenvolvendo condições propícias à
infiltração (FERREIRA e DIAS, 2004). Sendo protegida pelo Código Florestal,
conforme a lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012 é definida como “área protegida,
coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos
hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações
humanas”, conforme é exposto no Art. 3.º, II, da lei 12.651/2012.
O Termo “mata ciliar” aplica-se aos tipos vegetacionais formados ao longo dos
corpos hídricos supracitados (PASDIORA, 2003), e que são definidas na referida lei
como área de preservação permanente (APP), cujas limitações são definidas e
delimitadas por meio do ato jurídico do Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Protetoras da água, flora e fauna, as matas ciliares preservam a manutenção dos
meios de produção (GARCIA et al., 2009). A incidência de nascentes e córregos é
maior nas pequenas propriedades rurais, sendo os produtores protagonistas no processo
de proteção e recuperação das matas ciliares.
Grandes empresas privadas e estatais do setor energético têm contribuído com o
desenvolvimento de metodologias de recuperação de matas ciliares, principalmente
através de projetos de revegetação das margens dos reservatórios de suas usinas
hidrelétricas e também proteção de nascentes e olhos d'água (VALENTIM, 2014).
A implantação de matas ciliares às margens dos reservatórios das usinas tem
sido uma preocupação das empresas ligadas ao setor de geração de energia, com o
objetivo de minimizar a erosão e os impactos ambientais causados pela criação dos
reservatórios, como a submersão de matas nativas (DAVIDE et al., 2005).
Universidades e centros de pesquisas também desenvolvem ótimos trabalhos, gerando
diferentes tipos de modelos de recuperação de matas ciliares.
Segundo Neri et al. (2011) escolher corretamente a comunidade de plantas que
irá iniciar o processo de sucessão em uma área degradada é um dos pontos críticos do
processo de recuperação. Estudos fitossociológicos de ambientes naturais preservados e
alterados têm como propósito não apenas a escolha de espécies, mas também descobrir

34
como empregá-las eficientemente nos projetos de recomposição e recuperação
(FERRETTI, 2002; ATTANASI, 2008; NERI et al., 2011).
Tendo em vista a importância da mata ciliar como APP, é objetivo deste estudo
apresentar as espécies da flora arbórea e arbustivas mais utilizadas e em potenciais para
a recuperação e reflorestamento de corpos hídricos no município de Reserva do Iguaçu,
Paraná, Brasil, por meio de um levantamento de número de mudas plantadas e revisão
bibliográfica, a fim de contribuir para a formação de uma base de dados florístico
estruturais de ambientes inseridos no centro-sul paranaense.

2. Materiais e métodos
2.1. Área de Estudo
O município de Reserva do Iguaçu está localizado na Região Centro-Sul
Paranaense, pertencente ao núcleo de Guarapuava (Figura 01), com Latitude -
25.8418958m, Longitude -51.9791849m (datum WGS84) e elevação de 966 m. Sua
população estimada em é de 7.038 habitantes (IBGE, 2004). O município possui áreas
de agricultura, pecuária e madeira. É nele que está localizada a Usina Hidrelétrica
Governador Ney Aminthas de Barros Braga (Usina Hidrelétrica de Segredo).

Figura 01. Localização de Reserva do Iguaçu no mapa do estado do Paraná


Fonte: Prefeitura de Reserva do Iguaçu (2016)

35
O município em questão está inserido na bacia do Rio Iguaçu. O Rio Iguaçu é,
entre os rios paranaenses, o de maior bacia hidrográfica, abrangendo uma área de
aproximadamente 72.000 km², da qual 79% pertencem ao Estado do Paraná, 19% ao
Estado de Santa Catarina e 2% à Argentina (ELETROSUL, 1978). Devido a sua
dimensão no estado é de suma importância a preservação das nascentes e olhos d'água
que deságuam neste grande rio.

2.2. Coleta de dados


Os dados foram obtidos por documentos fornecidos pela COPEL Geração e
Transmissão SA, sendo autorizado o uso dos dados pela mesma, a qual realizava um
trabalho denominado de Cooperação Florestal com objetivo de reflorestar e recuperar
corpos hídricos que compõe a bacia do Rio Iguaçu. Os documentos consistem em:
Cadastro das Propriedades (CP), Termos de Compromisso (TC) e Recibo de Entrega de
Mudas (REM). O Cadastro é de suma importância para ter rastreabilidade de onde estão
sendo realizados os plantios.
Quando a recuperação é realizada em locais particulares, os TC’s são lançados
dados do proprietário, quantidade de mudas, corpo d'água beneficiado e área
reflorestada, em hectares (ha). Assinados pelo proprietário do imóvel declarando ciência
de não mais utilizar intensivamente a área reflorestada. Nos REM’s consta a espécie,
porte e quantidade de indivíduos plantados em cada uma das propriedades particulares
ou não com áreas recuperadas. O número de espécies, a quantidade plantada, as áreas
recuperadas, em hectares, são referentes ao ano de 2014 o qual obteve grande eficiência
de plantio, reflorestamento e recuperação. Após análise e interpretação dos dados os
mesmos foram comparados e associados à bibliografia consultada para posterior
discussão.

3. Resultados e Discussão
Na análise documental observou-se grande diversidade florística, foram
amostrados 7436 indivíduos, uma variedade de 24 famílias botânicas e 51 espécies
identificadas conforme expresso na Tabela 01.
Tabela 01. Quadro florístico dos indivíduos amostrados no levantamento.
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME POPULAR Ni
Anacardiaceae
Schinus terebinthifola Engl. Aroeira-vermelha 170

36
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME POPULAR Ni
Annonaceae
Annona cacans Warm Areticum-cagão 25
Annona sylvatica A.St.-Hil. Areticum 150
Aquifoliaceae
Ilex brevicuspis Reissek Voadeira 75
Araucariaceae
Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze Pinheiro-do-paraná 385
Asteraceae
Moquiniastrum polymorphum (Less.) G. Sancho. Cambará 140
Boraginaceae
Cordia americana (L.) Gottschling & J.S.Mill. Guajuvira 205
Cordia ecalyculataVell. Café-de-bugre 160
Cordia trichotoma(Vell.) Arráb. ex Steud. Louro-pardo 150
Cannabaceae
Celtis ehrenbergiana (Klotzsch) Liebm. Esporão-de-galo 20
Ebenaceae
Diospyros obovata Jacq. Maria-preta 30
Erythroxylaceae
Erythroxylum deciduum A.St.-Hil. Fruta-de-pombo 150
Euphorbiaceae
Gymnanthes klotzschiana Müll. Arg. Branquilho 190
Gymnanthes schottiana Müll. Arg. Sarandi 1007
Fabaceae
Albizia niopoides (Spruce ex Benth.) Burkat Farinha-seca 110
Anadenanthera colubrina (Griseb.) Altschul Angico-vermelho 140
Calliandra tweedii Benth. Caliandra 457
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Timbaúva 90
Inga marginata Willd. Ingá 100
Mimosa scabrella Benth. Bracatinga 35
Senegalia tenuifolia (L.) Britton & Rose Unha-de-gato 412
Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr. Grápia 30
Clethra scabra Pers. Carne-de-vaca 20
Holocalyx balansae Micheli Alecrim-de-campina 15
Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. Canafístula 160
Erythrina falcata Benth. Corticeira 60
Myrocarpus frondosus Allemão Cabreúva 155
Dahlstedtia muehlbergiana (Hassl.) M.J. Silva &
25
A.M.G. Azevedo Rabo-de-bugio
Lamiaceae
Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke Tarumã 40
Lauraceae
Nectandra lanceolata Ness Canela-amarela 230
Ocotea odorífera (Vell.) Rohwer Canela-sassafrás 110
Ocotea puberula (Rich.) Ness Canela-guaicá 115

37
FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME POPULAR Ni
Laxmanniaceae
Cordyline spectabilis Kunth & Bouché Varaneira 50
Loganiaceae
Strychnos brasiliensis Mart. Pula-pula 115
Lythraceae
Lafoensia pacari A.St.-Hil. Dedaleiro 205
Malvaceae
Ceiba speciosa (A.St.-Sil.) Ravenna Paineira 110
Luehea divaricata Mart. &Zucc. Açoita-cavalo 80
Meliaceae
Cedrela fissilisVell. Cedro 85
Moraceae
Ficus L. Figueira 155
Myrtaceae
Campomanesia guazumifolia (Cambess.) O. Berg Sete-capotes 20
Campomanesia xanthocarpa (Mart.) O. Berg Guabiroba 150
Eugenia involucrata D. C. Cereja 285
Eugenia pyriformis Cambess. Uvaia 150
Eugenia uniflora L. Pitanga 170
Myrciaria trunciflora Cambess. Jabuticaba 225
Primulaceae
Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. ex Roem. & Schult. Capororoca 120
Rosaceae
Prunus brasiliensis (Cham. & Schltdl.) D. Dietr Pessegueiro-bravo 95
Rutaceae
Balfourodendron riedelianum (Engl.) Engl. Pau-marfim 20
Metrodorea stipularis Mart. Laranajeira-do-mato 150
Sapindaceae
Allophylus edulis (A.St.-Sil. et al) Hieron. ex
Vacum 60
Niederl

Dentre as Famílias Botânicas encontradas no estudo algumas se destacaram


quanto àriqueza de espécies: Fabaceae (14), Myrtaceae (06), Boraginaceae (04) e
Lauraceae (03), as quais juntas representam 53% das espécies identificadas.
Ainda pode-se observar, conforme expresso na figura 02, que as famílias
Annonaceae, Malvaceae, Rutaceae e Euphorbiaceae possuem pouca diversidade de
espécies, as outras 16 famílias tiveram apenas 01 espécie para cada.

38
Figura 02. Abundância de espécies por família

Nota-se a que as famílias Fabaceae e Myrtaceae destacam-se quanto a


quantidade de indivíduos plantados: 1.809 e 1.000 indivíduos, respectivamente. A
família Euphorbiaceae também obteve destaque em quantidade, com 1197 mudas,
outras famílias possuem quantidade significativa conforme expresso na figura 03.

Figura 03. Quantidade de indivíduos plantados por família

Gymnanthesschottiana Müll.Arg. (figura 04) representante da família


Euphorbiaceae foi a espécie mais utilizada (1.007 mudas), pois é adaptada areofilia,
resistente às variações extremas de umidade ou seca e dispõe de denso sistema radicial,
suportando a força da água nas enchentes, tornando-se de grande utilidade ecológica,
auxiliando na recuperação de áreas degradadas e no controle de deslizamentos

39
prevenindo erosões., suportando a força da água nas enchentes, tornando-se de grande
utilidade ecológica, auxiliando na recuperação de áreas degradadas e no controle de
deslizamentos prevenindo erosões.

Figura 04. Características morfológicas do Sarandi (Gymnanthes schottiana Müll.Arg.)


Fonte: SIDOL - Sistema de Identificação Dendrológica Online - Floresta Ombrófila
Mista, 2017

Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze (figura 05) conhecida popularmente


como pinheiro-do-paraná figura entre as mais utilizadas com o total de 385 mudas, de
ocorrência natural no Brasil (mapa 01). Segundo Reitz& Klein (1966), o pinheiro-do-
paraná é uma espécie pioneira e heliófila, avançando e irradiando-se sobre os campos de
modo a formar continuamente novos capões, cuja composição varia de acordo com
condições edáficas e climáticas.

Figura 05. Características morfológicas do pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia


(Bertol.) Kuntze)

40
Fonte: SIDOL - Sistema de Identificação Dendrológica Online - Floresta Ombrófila
Mista, 2017

O plantio desta espécie é de suma importância uma vez que as florestas com
araucária encontram-se altamente reduzidas entre 1 a 2% de sua área original, devido à
intensa exploração no primeiro ciclo econômico ocorrido no Sul do Brasil, e atualmente
seus remanescentes são protegidos por lei devido à importância ambiental e científica
desta formação (RODE et al., 2011).
Gymnanthes klotzshiana Müll.Arg. é mencionada como espécie característica do
estrato arbóreo de florestas ciliares (GIBSS e LEITÃO-FILHO, 1978) e ocorre quase
exclusivamente nas planícies aluviais, onde, não raramente, se torna a espécie
dominante (CORDEIRO e RODRIGUES, 2007), formando 60 a 80% do estrato
contínuo das florestas de galeria (REITZ, 1988).
Enterolobium contortisiliqumm (Vell.) Morong popularmente conhecida como
timbaúva, é uma planta decídua no inverno, heliófita, seletiva higrófita, pioneira,
dispersa em várias formações vegetais (LORENZI, 2002). Considerada uma espécie
adaptada a condições de inundação temporária (REBRAF, 2006) por esse motivo é
interessante o plantio desta espécie em torno das nascentes, olhos d'água, lagos e
reservatórios.
Projetos de restauração de florestas ciliares como o apresentado neste estudo,
mostram-se de importantes para a proteção dos recursos hídricos e da biodiversidade e,
por isso muitos esforços têm sido destinados à sua restauração.

4. Conclusões
Araucaria angustifolia, Gymnanthes schottianae Strychnos brasiliensis são
espécies pioneiras, características de Floresta Ombrófila Mista, que detêm caráter de
rusticidade, conferindo-lhes assim atributos potenciais para que sejam utilizadas na fase
inicial de programas de recuperação de áreas degradadas.
Gymnanthes klotzschiana, Ocotea puberula, Luehea divaricata, Cedrela fissilis
e Allophylus edulis pertencentes ao grupo das secundárias iniciais, apresentam
adaptabilidade às condições ambientais inerentes as Áreas de Preservação Permanente
associadas a cursos d’água, viabilizadoras, dessa forma, em programas de
enriquecimento.

41
Campomanesia xanthocarpha representa o grupo das secundárias tardias nas
formações de Floresta Ombrófila Mista, podendo compor as etapas finais de programas
de enriquecimento, em ambientes ondas espécies pioneiras e secundárias iniciais já
estão estabelecidas. Tais espécies podem contribuir para a interação com a fauna,
auxiliando o restabelecimento da dinâmica e do equilíbrio dos ecossistemas.
Pode-se constatar que as espécies amostradas no estudo figuram geralmente
entre as mais utilizadas e inventariadas em levantamentos realizados em faixas ciliares
do estado do Paraná é de grande importância a preservação desses ambientes, pois os
mesmo surgem como alternativa para o resgate e a manutenção da biodiversidade.

5. Referências Bibliográficas
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Ciliar e da Reserva Legal para a Certificação Agrícola – Conservação da
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2017.

6. Agradecimentos
A Divisão de Biodiversidade para Operação (VBOP) da Companhia Paranaense
de Energia (COPEL).

ESTADO DE CONSERVAÇÃO E USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DE ÁREAS


DE NASCENTES DA SUB–BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIAUTINGA, NO
MUNICÍPIO DE SALGADO, SERGIPE

R.A. FERREIRA1, M.F.O TORRES2, SANTOS, T.I.S3, OLIVEIRA, D.G4

43
1
Engenheiro Florestal, Prof. Doutor da Universidade Federal de Sergipe, Cidade
Universitária Prof. José Aloísio de Campos, Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa
Elze - CEP 49100-000 São Cristóvão, Brasil. [email protected]
²Engenheira Florestal, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agricultura e
Biodiversidade, Universidade Federal de Sergipe, Cidade Universitária Prof. José
Aloísio de Campos, Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 São
Cristóvão, Brasil.
[email protected]
3
Engenheiro Florestal, Mestrado em Agroecossistemas pela Universidade Federal de
Sergipe, Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos, Av. Marechal Rondon, s/n
Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 São Cristóvão, Brasil. [email protected]
4
Engenheiro Florestal, Mestrado em Ecologia da Conservação pela Universidade
Federal, Sergipe, Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos, Av. Marechal
Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 São Cristóvão, Brasil.
[email protected]

RESUMO

As matas ciliares atuam como principal ferramenta no processo de recarga das bacias
hidrográficas. Neste sentido, as áreas ciliares da Sub-Bacia Hidrográfica do Rio
Piauitinga desempenham um papel importante para o Estado de Sergipe, uma vez que
abastece uma parcela considerável da população. Visto isso, este trabalho foi realizado
com o objetivo de avaliar o estado de conservação e o uso e ocupação do solo de áreas
do entorno de nascentes da Sub–Bacia Hidrográfica do Rio Piautinga, localizadas no
município de Salgado, Sergipe, visando dar suporte às ações de recuperação e
preservação destas. As nascentes foram avaliadas de acordo com seu tipo de área de
recarga, estado de conservação, possíveis indicadores de perturbação ambiental e uso e
ocupação do solo. Observou-se que 97% das áreas de entorno das nascentes encontram-
se degradas, e que a presença de animais, plantas daninhas e supressão por meio de
corte raso da vegetação caracterizam–se como os principais agentes perturbadores. As
atividades de uso e ocupação do solo mais frequentes consistem de pastagem e plantios
de culturas temporárias e perenes. Percebe-se quem a atividade agropecuária exerce
uma forte influência sobre a vegetação ciliar nas áreas de entorno das nascentes, nesta
região, agindo como um promotor de degradação ambiental.

Palavras Chave: Recuperação de Nascentes, Supressão Florestal, Corpos D’agua.

INTRODUÇÃO
A água é um bem comum a todos e assegurada por lei. Entende-se como água
potável, todo liquido incolor, inodoro e insípido que se bebe ou se utilize para
necessidades básicas ao homem (REBOUÇAS, 2004). Este recurso, quando do tipo
doce, apresenta-se como o mais precioso, até mesmo quando comparado ao petróleo, já
que a inexistência deste ultimo não afetaria tanto a vida humana quando comparada com
a inexistência da água (SUGUI, 2006; BELLUTA, 2008).
A importância dos recursos hídricos está relacionada ao abastecimento público,
ao uso agropastoril, comercial, industrial e aos serviços, os quais atuam no processo de
crescimento e desenvolvimento de uma nação (SOUZA & RODRIGUES, 2016) .
A produção de água dá-se a partir da existência de um corpo hídrico, cujo início
é denominado de nascente, que consiste no afloramento da água subterrânea para a
44
superfície o solo (PALIVODA & POVALUK, 2016). Por sua vez, as nascentes
assumem papel de grande importância para as bacias hidrográficas e para as
comunidades humanas, pois são responsáveis pelo seu abastecimento. Por isto, são
protegidas por lei e denominadas de áreas de preservação permanente (APP’s), segundo
a Lei no 12.651, do novo código florestal brasileiro, o qual estabelece que se preserve
uma faixa limite de 50 metros de vegetação ciliar no entorno destas (BRASIL, 2012).
Mesmo apresentando grande importância ambiental e sendo protegidas por lei,
essas áreas ainda são devastadas de maneira desordenada em diversos locais do país, o
que acarreta malefícios à produção de água. Ao diminuir a área de vegetação nativa,
consequentemente, ocorre um aumento significativo dos processos de erosão dos solos,
com prejuízos à hidrologia regional, diminuição da vazão e da qualidade da água nas
bacias hidrográficas, diminuição e perda da biodiversidade de flora e fauna e
degradação de áreas anteriormente preservadas (OLIVEIRA, et al., 2012).
A retirada das matas ciliares provocam erosão nos leitos dos cursos d’água e o
assoreamento dos mesmos , elevam a turbidez da água e transportam substâncias
poluidoras como defensivos e fertilizantes agrícolas, ou seja, uma vez alterada a área de
recarga de uma bacia hidrográfica, se altera também a qualidade da mesma (
NOWATZKI et al., 2010; SOARES et al., 2013).
A má ou ausência de administração e de um manejo inadequado de bacias
hidrográficas gera sérios problemas ambientais, sociais e econômicos, ocasionados por
fatores como uso desordenado do solo para agricultura, pecuária e urbanização e, ainda,
a permanência de extrativismo florestal predatório, que são capazes de desregular todo o
sistema hidrológico de uma bacia hidrográfica, além causar prejuízos a todo um ciclo
ecológico, desde as vidas aquáticas até às terrestres (SANTOS, 2009).
A Sub–Bacia Hidrográfica do Rio Piautinga consiste na principal unidade que
abastece a Bacia Hidrográfica do Rio Piauí. Porém, atualmente, encontra-se com grande
parte dos seus mananciais em avançado estado de degradação, gerado pela expansão
agrícola irracional e pela criação de animais bovinos nas áreas ciliares (OLIVEIRA et
al., 2012). Esta ainda, assume grande importância socioeconômica para a região Centro-
Sul do Estado de Sergipe, pois é responsável pelo abastecimento de parte da população
dos municípios de Estância, Salgado, Lagarto, Boquim, Simão Dias, Riachão do Dantas
e Poço Verde (MOREIRA, 2008)
Santos (2009), constatou que 95,38% das áreas de recarga de uma das
microbacias desta região (Riacho Grilo) já se encontra em avançado estado de
degradação, o que apenas nos alerta para a importância dos estudos sobre a vegetação e
uso do solo das áreas de entorno das nascentes. Estes trabalhos quando associados aos
de fitossociologia, fornecem informações importantes para se elaborar projetos que
visem recuperar e/ou restaurar a vegetação ciliar, pois auxiliam no entendimento da
dinâmica dos cursos d’água (OLIVEIRA et al, 2012).

Deste modo, o objetivo deste trabalho foi avaliar o estado de conservação e o


uso e ocupação do solo de áreas do entorno de nascentes da Sub–Bacia Hidrográfica do
Rio Piautinga, localizadas no município de Salgado, Sergipe, visando dar suporte às
ações de recuperação e preservação destas.

MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Diagnóstico e classificação das nascentes
A área de estudo encontra-se localizada na região Centro-Sul do Estado de
Sergipe, mais precisamente no município de Salgado inserida na Sub-Bacia

45
Hidrográfica do Rio Piauitinga, um dos rios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio
Piauí, que compreende a área total de 411,98km2 (Figura 1).

FIGURA 1 – Mapa de localização do município de Salgado, na sub-bacia hidrográfica do rio


Piauitinga, Sergipe FONTE:OLIVEIRA et al, 2012. Adaptado de Sergipe (2004).

O Município abordado, encontra-se entre as coordenadas 11º01’50" e


11°09’57’’S; e 37º28’05" e 37°32’51’’ W, em uma altitude de 102 m, ocupando uma
área de 255,8 km² com contribuição de 56,05% do seu território para a área da bacia
hidrográfica e sua população residente na área estimada em 2016 é de
aproximadamente 20.126 habitantes. Localizada entre as coordenadas geográficas (SAD
69) 10º34’10" e 10º45’12" S (latitude) e 37º22’20" e 37º34’22" W (longitude), esta sub-
bacia hidrográfica drena partes dos territórios dos Municípios de Salgado, Lagarto,
Itaporanga D’Ajuda, Boquim e Estância (SILVA, 2002).
Diante disto, a fim de avaliar a atual situação das nascentes elaborou-se uma
ficha de campo com base nos trabalhos realizados por Pinto et al. (2004) e Santos
(2009), onde foram levadas em consideração as seguintes informações: localização
(município e povoado), nome do proprietário, número da nascente, tipo de nascente,
estado de conservação da vegetação do entorno, tipo de perturbações na área, uso do
solo no entorno e coordenada da nascente.
A classificação das nascentes foi feita de acordo com o tipo de reservatório a que
estão associadas, em pontuais ou difusas (PINTO et al, 2004). Entende-se como
nascentes pontuais aquelas que apresentam fluxo d’água em apenas um local no terreno.
Enquanto as difusas, são aquelas que não há um ponto definido no terreno e apresentam
vários olhos d’água, sendo exemplos dessa categoria os brejos e voçorocas.
Para avaliar o estado de conservação das nascentes foi adotado o mesmo método
utilizado por Pinto et al. (2004), onde a vegetação foi mensurada com o auxilio de uma
trena, no entorno da nascente até um raio de 50m. Neste caso, a vegetação foi medida

46
em quatro raios: acima (R1), abaixo (R2), direita (R3) e esquerda (R4), sendo as
margens direita e esquerda orientadas pelo sentido do escoamento do leito principal do
rio.
As nascentes foram classificadas em três categorias, quanto ao seu estado de
conservação (PINTO et al., 2004):
 Preservadas, quando apresentaram pelo menos 50 metros de vegetação natural
no seu entorno, medidas a partir do olho d’água em nascentes pontuais, ou a
partir do olho d’água principal em nascentes difusas;
 Perturbadas, quando não apresentaram 50 metros de vegetação natural no seu
entorno, mas com bom estado de conservação;
 Degradadas, quando apresentaram um alto grau de perturbação, muito pouco
vegetada, solo compactado, presença de gado, com erosões, assoreamento e
voçorocas.

Para classificar o tipo de perturbação de entorno foram selecionadas seis


categorias:
 Corte raso – eliminação de toda e qualquer vegetação existente na área.
 Corte seletivo – manejo de remoção eventual de espécies nativas.
 Queimadas – áreas com danos causados pelo fogo.
 Animais – presença de animais domésticos como bovinos, equinos, caprinos,
etc.
 Plantas invasoras – espécies vegetais que não fazem parte do bioma local.
 Lixo – presença de materiais inertes e poluentes na área.

Para a classificação do uso e ocupação do solo, adotou-se a nomenclatura do


Manual Técnico de Uso da Terra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2006) e adicionou-se, ainda, a classe regeneração. As áreas no entorno das
nascentes foram classificadas nas seguintes categorias:
 Cultura temporária: cultura de plantas de curta ou média duração, geralmente de
ciclo vegetativo inferior a um ano, que após a produção deixa o terreno
disponível para outro plantio;
 Cultura permanente: cultura de ciclo longo que permite colheitas sucessivas,
sem a necessidade de novo plantio à cada ano.
 Pecuária extensiva: sistema de criação em que o gado é criado solto na
vegetação natural.
 Mata: considerou-se como florestais as formações arbóreas.
 Regeneração: área sem, ou com pouca vegetação, porém, apresenta estágio de
regeneração natural inicial.

2.2 Analise de dados


Os diagnósticos foram realizados no ano de 2009 e as informações foram tabuladas
em planilhas de dados do Software Microsoft Excel. A a partir daí foram realizadas as
devidas análises das informações obtidas em campo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na área de estudo foram diagnosticadas trinta e três nascentes, consideradas as
principais contribuintes para a produção de água na Sub-Bacia Hidrográfica do Rio
Piauitinga. Destas, vinte e três foram classificadas em relação a sua área de recarga

47
como pontual e dez como difusas (Tabela 1). Pode-se inferir que o maior número de
nascentes pontuais está relacionado ao fato das nascentes estarem situadas nas partes
mais altas (cabeceira) desta unidade de planejamento, possuindo assim, maior número
de nascentes em áreas com maior declividade (SANTOS, 2009).
Tabela 1. Classificação de nascentes da Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Piauitinga, no
município de Salgado-SE, quanto as áreas de recarga, estado de conservação e tipos de
indicadores de perturbação ambiental. C.R – corte raso; C.S – corte seletivo; Q – queimada; A –
presença de animais domésticos; P.I – presença de plantas invasoras; L – lixo.
Recarga Estado de Conservação Indicadores de Perturbação Ambiental
Degradada Preservada C.R C.S Q A P.I L
Difusa 10 0 2 0 0 4 5 2
Pontual 22 1 16 4 2 14 17 7
Total 32 1 18 4 2 18 22 9

Em relação ao estado de conservação, observou-se que 97% das nascentes


encontram-se degradadas (32) e apenas uma preservada (3%). Destaca-se que não foram
encontradas nascentes perturbadas. Este resultado, consequentemente está relacionado
com os fatores de perturbação ambiental e o uso e ocupação do solo (Tabela 2), já que a
área de estudo encontra-se em uma zona de grande atividade agrícola.

Tabela 2. Classificação de nascentes da Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Piauitinga, no


município de Salgado-SE, quanto as áreas de recarga, estado de conservação e ao uso e
ocupação do solo. C.P – culturas perenes; C.T – culturas temporárias; Past. – pastagem; Reg. –
regeneração; M. – matas ou florestas.
Recarga Estado de Conservação Uso e ocupação Do Solo
Degradada Preservada C.P C.T Past. Reg. M
Difusa 10 0 3 2 4 1 0
Pontual 22 1 10 6 12 4 5
Total 32 1 13 8 16 5 5

Os indicadores de perturbação ambientais mais atuantes foram os de corte raso


da vegetação, presença de animais domésticos e presença de plantas invasoras (Tabela
1). Se associarmos a presença destes com o uso e ocupação do solo (Tabela 2) podemos
visualizar que todos eles estão relacionados às atividades agrossilvopastoris (pastagem,
culturas temporárias e perenes), de maior intensidade na área.
A presença de plantas invasoras ou daninhas comporta-se como fator negativo,
já que são capazes de gerar competição com as plantas nativas, além de consumir a água
e nutrientes do solo das mesmas, por maior competição, dificultando o processo de
regeneração natural das espécies vegetais nativas, nas áreas de entorno das nascentes aí
situadas (SANTOS, 2009).
Ambientes de pastagens estão relacionados com a criação de animais de pisoteio
ou ruminantes, como a bovinocultura. Assim, é comum a população local suprimir a
vegetação das matas ciliares para que se faça possível a expansão pecuária (OLIVEIRA
et al., 2010). No entanto, a prática extensiva desse tipo de atividade torna-se prejudicial
ao ambiente, pois ocorre de forma desordenada e sem respeitar os limites das Áreas de
Preservação Permanente (APPs), incluindo-se as nascentes dos cursos d’água.

48
Oliveira et al. (2010), em seu trabalho de diagnóstico do estado de conservação
de nascentes do Rio Gongogi, na Bahia, observaram que a atividade agropecuária é o
principal fator que contribui para o desmatamento das áreas de entorno das nascentes
neste curso d’água, baseada ainda na utilização excessiva do solo e direcionada à
atividade extensiva e com tecnologia primária.
Comprovadamente, o pastoreio de animais de grande porte em áreas de
nascentes acarreta sérios problemas tais como, compactação do solo, eliminação da
regeneração natural e erosão do solo, contaminação dos lençóis freáticos por meio de
fezes e urina (SOARES et al., 2016). Nestes casos, o resultado desta atividade nas áreas
de entorno de nascentes culmina inevitavelmente na sua degradação, prejudicando de
maneira significativa a saúde da bacia hidrográfica e reduzindo a biodiversidade de flora
e fauna, local e regional.
Uma vez compactado, o solo perde ou diminui a sua capacidade de escoamento
de água entre seus poros capilares alterando assim a sua qualidade (maior quantidade de
sedimentos na água ocasionado por assoreamento) e quantidade de água capturada nos
lenções freáticos, o que altera a vazão das nascentes (SANTOS, 2009; CASTRO et al.,
2007). Quanto maior a descarga de água da superfície para o solo, maior será a vazão
das nascentes. Vazão nada mais é que o volume de água que atravessa um perfil (seção
no rio) do manancial por unidade de tempo (L/s; m3/dia). A quantidade e a qualidade da
água está diretamente relacionada com essa característica (IPA - INSTITUTO
PROJETOS AMBIENTAIS, 2011)
Segundo a resolução CONAMA 357/05 (BRASIL, 2005), a qualidade da água
está relacionada com a sua finalidade diante dos requisitos exigidos para cada tipo de
aplicação, mediante suporte legal. Contudo, essa qualidade é definida em função dos
seus parâmetros físicos e químicos (QUEIROZ et al., 2010). No entanto, é de suma
importância ressaltar que a relação qualidade versos uso/finalidade dos recursos hídricos
deve levar em consideração o conceito de sustentabilidade, fatores econômicos,
viabilidade técnica e as políticas ambientais (COSTA, 2007).
A perda da capacidade quantitativa e qualitativa das nascentes ocorre devido a
alterações, provocadas pelo homem, em seus ambientes de contribuição de recarga
natural, ou seja, alterações na sua área de entorno, o que compromete a produção e o
reabastecimento futuro de água (RODRIGUES, 2006). Este fato pode ser corroborado
neste trabalho, uma vez que as atividades antrópicas realizadas no entorno das nascentes
foram responsáveis diretamente pelo acentuado processo de degradação das nascentes
diagnosticadas.
As matas ciliares ou APP’S além de funcionarem como áreas de descargas para
captação de água no solo, atuam como barreira física, pois são capazes de regular os
processos de troca entre os ecossistemas terrestre e aquático, auxiliam o processo de
infiltração, sendo responsáveis pela redução da contaminação dos rios por sedimentos,
por resíduos de adubos e por defensivos agrícolas, que são incorporados ao solo através
do escoamento superficial da água no terreno (SANTOS, 2009).
Diante disto, observa-se que se faz necessário a recuperação das áreas de entorno
das nascentes situadas na Bacia Hidrográfica do Rio Piauitinga, no município de
Saldgado-SE, já que mediante os resultados expostos pode-se constatar que 97% das
nascentes encontram-se degradadas, o que coloca em risco a produção de água com
qualidade nesta unidade de planejamento e, também, pelo dano causado à
biodiversidade de flora e fauna (supressão e perda). Enfatiza-se que se estas nascentes
não forem recuperadas/restauradas rapidamente, tais danos podem ser irreversíveis.

49
CONCLUSÃO
A Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Piautinga apresenta maior número de áreas de
recarga do tipo pontual, o que comprova que estas estão situadas na região denominada
de cabeceira.
Os fatores de perturbação ambiental como presença de animais domésticos e
plantas daninhas são, de forma direta, os maiores causadores do desequilíbrio ecológico
nas nascentes estudadas. As atividades agropecuárias promovem perda da qualidade da
água nas nascentes, pois trazem consigo fortes danos ao ambiente.
As nascentes estudadas na Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Piautinga encontram-
se em avançado processo de degradação, sendo de suma importância atentar-se para
essa situação, a fim de solucionar esse problema mediante a aplicação de politicas
publicas e gestão ambiental, de modo a promoverem a recuperação/restauração destas,
antes que possam ocorrer colapsos no abastecimento de água para as populações
humanas e para as atividades agropecuárias desenvolvidas na região

AGRADECIMENTOS:
A toda equipe do Projeto Adote um Manancial que através do Grupo Restauração,
um dos grupos de pesquisa assistido pela Universidade Federal de Sergipe sob a
coordenação do Prof. Dr° Robério Anastácio Ferreira em parceria com a Sociedade
Semear e Governo do Estado de Sergipe, fez possível a realização deste.

1. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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50
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ANÁLISE DE FALHAS ESTRUTURAIS OCORRIDAS NAS OBRAS DE


DUPLICAÇÃO DA BR 470 NO VALE DO ITAJAÍ

F. A., Schorn; G. C., Kopper-Müller; M. P. Serbent; J. J. Aumond.

Universidade Regional de Blumenau, Rua São Paulo, 3.250 - Itoupava Seca - CEP
89030 - 0000 - Blumenau - Santa Catarina - Brasil.
E-mail: [email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]

RESUMO

A ocorrência de desastres naturais do tipo movimentos de massa é comum na região do


Vale do Itajaí devido principalmente a suas características geológicas, geomorfológicas,
hidrológicas e climáticas e que se agravam ainda mais com as ações antrópicas. A
recuperação rodoviária dos escorregamentos inclui despesas associadas tanto a
equipamentos, quanto a mão de obra. Diante deste contexto, este trabalho objetiva
analisar as possíveis causas associadas à queda de taludes construídos ao longo da
duplicação da BR 470 e, finalmente, propor medidas mitigatórias, caso não haja
condições de sanar a problemática advinda dos eventos meteorológicos adversos. No
empreendimento rodoviário da BR 470, localizada no Vale do Itajaí - SC., foram
realizados levantamentos in loco em 28 locais correspondentes às obras de
retaludamento rodoviário, levando em consideração fatores como drenagem, vegetação
no talude, vegetação no topo, fraturas, tipo de movimentos de massa e erosão para
análise geotécnica.

Palavras Chave: BR 470, retaludamento rodoviário, movimentos de massa, análise


geotécnica, empreendimento rodoviário.

INTRODUÇÃO
A mobilidade do homem tem papel fundamental na evolução da sociedade. A
construção de rodovias foi e é um dos métodos encontrados e, largamente disseminado
e usado no Brasil, visando o desenvolvimento e progresso a qualquer custo e
manifestando pouco interesse na preservação ambiental, como se os recursos naturais
fossem inesgotáveis, sem haver sensibilidade e responsabilidade coerentes com os
princípios que regem o funcionamento dos sistemas naturais. Em obras como a

52
construção ou ampliação de rodovias deve ser contemplada a existência de riscos, sejam
eles derivados de origem natural ou antrópica, como erosões, movimentos de massa,
deslizamentos de terra ou outros eventos que geram ameaças à estabilidade das obras e
segurança de seus usuários, evitando, assim, consequências socioambientais,
econômicas e à própria vida.
De acordo com a United Nations Office for Disaster Risk Reduction (Estratégia
Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres), na última década tem
aumentado, em larga escala, a ocorrência de desastres, ampliando o interesse e a
participação dos cidadãos nas questões ambientais de modo a exigir a aplicação de
medidas efetivas para reduzir os impactos negativos causados em atividades de
construção, melhorias e ampliações de rodovias (UNISDR, 2015). O aumento das
ocorrências de desastres e das áreas de risco traz grandes preocupações sobre suas
causas e consequências (RIFFEL et al., 2016). Como exemplo disto, na BR 470 no vale
do Itajaí, em Santa Catarina, tem sido observado a ocorrência de riscos e desastres no
entorno e nas obras de pavimentação, demandando a implantação de medidas
preventivas aos riscos e desastres, bem como na recuperação e restauração de áreas
degradadas ou que apresentam riscos de degradação com prejuízos materiais, bióticos e
abióticos, inclusive de perda de vidas, sob pena de lei.
Os eventos de precipitação e escoamento, tanto superficiais quanto subterrâneos,
podem afetar e prejudicar obras em andamento e rodovias concluídas, pois,
normalmente, demandam grandes movimentações de terra, sendo elas de terraplenagem
ou de cortes de morro resultando na necessidade de (re)taludamento. Estas práticas
quando bem executadas, cumprem seu papel perfeitamente, porém, quando a execução
não é bem-sucedida, acabam por ocasionar movimentos de massa - fenômenos de
ordem geológica - que podem ser desencadeados por condições meteorológicas
extremas. Os movimentos de massa constituem, juntamente com as enchentes, um dos
desastres que apresenta o maior grau de recorrência em todo o mundo e, portanto, são
causadores de danos e prejuízos às sociedades, particularmente em cidades densamente
povoadas em zonas de relevo acidentado (RIFFEL et al., 2016). As formas em que esses
movimentos de massa ocorrem incluem, a movimentação de material inconsolidado
encosta abaixo sob a ação da força da gravidade, quedas/tombamento (falls),
escorregamentos, corridas de massa (de solo ou detritos) e escoamento/rastejo (creep),
entre outros. Tais fenômenos são observados em diversas condições geomorfológicas e
climáticas em diversas partes do globo (PIAZZA et al., 2015).
Um deslizamento é um movimento de descida de rocha, solo, ou ambos, em
declive, que ocorre na ruptura de uma superfície — ruptura curva (escorregamento
rotacional) ou ruptura plana (escorregamento translacional) — na qual a maior parte do
material move-se como uma massa coerente ou semi coerente, com pequena
deformação interna. Deve-se observar que, em alguns casos, os deslizamentos podem
envolver outros tipos de movimentos, tanto no desencadeamento da ruptura ou posterior
a ele, se as propriedades são alteradas durante o movimento do material (HIGHLAND;
BOBROWSKY, 2008).
Alguns fenômenos meteorológicos, como as precipitações prolongadas e as
precipitações intensas de curta duração, propiciam a ocorrência de movimentos de
massa. As encostas situadas na Serra do Mar são as mais vulneráveis a tais fenômenos,
pois, geralmente, encontram-se sem cobertura florestal e/ou com solo exposto, além de
não possuírem estruturas de apoio à estabilização (ou quando existentes não satisfazem
o propósito) (PIAZZA, et al., 2015).
A ocupação ou utilização inadequada do solo é outro fator que compromete a
estabilização física das encostas. Com efeito, muitas cidades brasileiras apresentam um

53
histórico de ocorrência de movimentos de massa (AUGUSTO FILHO, 1997;
AUMOND; SEVEGNANI, 2009, KOBIYAMA et al., 2015). Mesmo os pequenos
deslizamentos podem causar enormes transtornos, principalmente em áreas urbanas – o
bloqueio de vias de circulação e o soterramento de casas e veículos causam prejuízos
tanto nas esferas sociais, como nas econômicas (SIEBERT, 2012).
Deslizamentos podem ser classificados em diferentes tipos com base na
categoria de movimento e no tipo de material envolvido. Resumidamente, o material em
uma massa deslizante é rocha ou solo (ou ambos); o solo é descrito como terra, se
composto principalmente de partículas granuladas como areia, ou mais finas, e detritos,
se composto de partes mais graúdas. O tipo de movimento descreve a mecânica interna
de como a massa é deslocada: queda, envergamento, escorregamento, espalhamento ou
escoamento. Assim, os deslizamentos são descritos pelo uso de dois termos que se
referem respectivamente, ao tipo de movimento e ao material (ou seja, queda de rocha,
de detritos, etc.), que também podem formar uma ruptura complexa, que pode incluir
mais de um tipo de movimento, ou seja, deslizamento de rocha e fluxo de detritos
(HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008).

Obras de implantação de rodovias


A escolha adequada do tipo de obra implica uma correta avaliação das
características do meio físico (tipos e características dos materiais, inclinação da
encosta, condições hidrogeológicas, etc.) e dos processos de instabilização envolvidos,
pois cada obra tem eficiência restrita para certas condições e faixas de solicitação. Além
disso, as obras devem ser dimensionadas adequadamente e sua implantação deve ser
acompanhada por fiscalização técnica competente.
Os tipos de obras voltados para a estabilização de encostas evoluem
constantemente, em função de novas técnicas adotadas e dos conhecimentos, cada vez
mais aprofundados, a respeito dos mecanismos de instabilização, tais obras de
estabilização fazem parte das ações estruturais para prevenção de acidentes e redução de
risco, e de acordo com Coutinho (2008) são compostas da seguinte abordagem:
- Elaboração de planos de intervenções estruturais integradas
considerando os aspectos técnicos, econômicos e socioculturais;
- Inclusão de obras de contenção em programas de
reurbanização ou consolidação geotécnica;
- Avaliação de reuso da área de risco para fins habitacionais
voltados a população de baixa renda, utilizando técnicas
construtivas adequadas às condições geotécnicas das encostas.

As rodovias são classificadas como obras lineares, pois possuem uma de suas
dimensões significativamente maior que as demais. Devido à grande extensão dessas
obras, principalmente em um país continental como o Brasil, elas atravessam diversas
condições de relevo, solo e hidrologia. Essas condições têm que ser estudadas e
consideradas no projeto de cada trecho de um empreendimento (TONUS, 2009). Ainda
de acordo com esse autor, os gastos financeiros gerados a partir de um deslizamento de
terra incluem desde o custo da tentativa de resgate de eventuais sobreviventes soterrados
até os altos investimentos em obras emergenciais para refrear novos escorregamentos e
posterior recuperação e estabilização da encosta. Assim sendo, é primordial que seja
feito um estudo do talude rodoviário antes mesmo de sua implantação e de qualquer
projeto relacionado a obras rodoviárias. A estabilidade e a segurança da rodovia são de
grande importância e na maioria dos casos só são estudadas depois que algum
deslizamento acontece (TONUS, 2009).

54
Em relação a obras da Engenharia Civil, a contenção de encostas e estabilização
de taludes é uma atividade essencial em Engenharia que garante a preservação de
muitos empreendimentos e evita acidentes muitas vezes catastróficos (ALMEIDA et al.,
2016). Isto é fundamental considerando que o Brasil encontra-se em uma situação de
acentuada degradação no sistema rodoviário, no sistema de necessitar reparos em sua
atual infraestrutura (SIMONETTI, 2010). Em estudo prévio realizado em Santa Catarina
acerca da estabilidade de talude rodoviário Malko et al., (2014) reconhecem a
importância de conhecimentos técnicos provenientes de estudos sobre a geologia e solo,
sondagem, levantamentos topográficos, utilização de imagens de satélite para o
desenvolvimento de trabalhos geotécnicos.
Embora a prática de gestão de riscos tenha sido desenvolvida ao longo do tempo
e em muitos setores a fim de atender às necessidades diversas, a adoção de processos
consistentes em uma estrutura abrangente pode ajudar a assegurar que o risco seja
gerenciado de forma eficaz, eficiente e coerentemente (ABNT, 2009).

Gestão de Riscos de Desastres

Os desastres compõem um tema fortemente presente no cotidiano das sociedades


e geram impactos sobre a população. Portanto, torna-se urgente ampliar os processos de
gestão de riscos, especialmente em nível local, com atuação integrada das instituições
públicas e privada, bem como a sociedade de modo geral (UNISDR, 2015). Ao
considerarmos a frequência com que ocorrem eventos naturais extremos, percebemos a
urgência em assumir a tarefa de gerir os riscos de desastres, sejam eles naturais ou
antrópicos, o que demanda incrementar as decisões administrativas, organizacionais e
operacionais que são realizadas por órgãos de governo em conjunto com a sociedade
organizada, neste caso em específico podemos mencionar as empreiteiras que realizam
os trabalhos de construção, recuperação, ampliação de rodovias como a BR 470.
A demanda de condições que possibilitem enfrentar eventos adversos é passível
de absorção pela gestão de riscos de desastres, concebida pela Estratégia Internacional
para Redução de Desastres (EIRD) e Organização das Nações Unidas (ONU) como um:

Conjunto de decisões administrativas, de organizações e de


conhecimentos operacionais desenvolvidos por sociedades e
comunidades para implantar políticas, estratégias e fortalecer
suas capacidades a fim de reduzir os impactos de ameaças
naturais e de desastres ambientais e tecnológicos consequentes.
Isto envolve todo o tipo de atividade, incluindo medidas
estruturais e não estruturais para evitar (prevenção) ou limitar
(mitigação e preparação) os efeitos adversos dos desastres.
(EIRD/ONU, 2004, p. 18).

Com o exposto, evidencia-se a importância e necessidade de aplicar a Gestão de


Riscos e Desastres adotando medidas de prevenção, mitigação, recuperação, bem como
políticas públicas apropriadas para evitar a exposição e minimizar a vulnerabilidade aos
riscos de desastres naturais e antrópicos a que estão expostas as rodovias em construção,
ampliação e recuperação, possibilitando melhorar a capacidade de redução e
enfrentamento aos riscos naturais e antrópicos que estão expostas as áreas ao entorno,
visando assegurar o meio físico e biológico, ou seja, a vida. Identificar riscos demanda
clareza do processo de busca, reconhecimento e descrição das fontes geradoras de risco,
seu potencial e consequências para a comunidade, sendo necessário considerar o

55
contexto local e o conhecimento local e global de especialistas e partes interessadas,
pois, avaliar riscos consiste em produzir entendimento sobre o processo de
identificação, análise e mitigação (ABNT, 2009), pois o risco pode ser tangível ou
intangível.

Materiais e Métodos
O método de abordagem deste trabalho pauta-se na metodologia sistêmica que
envolve as principais variáveis e suas interações em cada estudo de caso. A pesquisa
possui caráter qualitativo e de acordo com o objetivo é de tipo exploratório e descritivo.
O trabalho aborda pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, realizadas a partir do
levantamento de dados in loco, ou seja, nos próprios taludes existentes no trecho da
referida obra de duplicação da BR 470, além de base no conhecimento empírico dos
autores.

Caracterização da área de estudo


A BR 470 é uma rodovia de ligação no Sul do Brasil. Com início no município
de Navegantes (litoral centro de Santa Catarina) percorre 472 km de extensão até o
município de Camaquã no Rio Grande do Sul. O presente estudo foi realizado entre o
quilometro 13 a 46 da BR-470 entre os municípios de Ilhota, Gaspar e Blumenau,
Estado de Santa Catarina.
As obras de duplicação da rodovia se encontram em fase de andamento, onde o
percurso afetado pelo empreendimento agrega os municípios de Navegantes, Ilhota,
Gaspar, Blumenau e Massaranduba, encerrando no município de Indaial. O Órgão
responsável pelas obras é o Ministério dos Transportes, o qual designou 870 milhões de
reais dos cofres públicos para as obras de duplicação da BR 470 (BRASIL, 2016).

Geologia da região

De acordo com Silva (1984), esta área possui formação rochosa denominada de
Grupo Itajaí, a qual ocorre desde a BR-101, situada a margem esquerda do rio Itajaí, até
o município de Ibirama - SC, formando uma antiga bacia sedimentar que possui largura
na ordem de 15 quilômetros e comprimento de 70 quilômetros, com direção geral
nordeste e sua idade provável varia de 546 a 588 milhões de anos. Este grupo de rochas
é constituído por dois pacotes de rochosos, denominados de Formação Campo Alegre e
Formação Gaspar – este último corresponde ao foco deste trabalho.
A Formação Gaspar, inclui sedimentos clásticos formados por cascalheiras,
arenitos (metaconglomerados e metarenitos) e ardósias. O topo desta sequência, mais
recente em idade, é formado por sedimentos mais finos e coloração verde a cinza-
escuro, apresentando alternância rítmica de arenitos finos a sílticos e argilitos que
constituem os metarenitos, metassiltitos e ardósias. Estes conglomerados ocorrem nas
áreas correspondentes a Navegantes, Ilhota, Gaspar e Blumenau, município em que sua
exposição pode ser observada na área urbana central. O material destes conglomerados
e utilizado com frequência pelas secretarias de obras dos referidos municípios para
macadamização de vias (estradas) municipais.
De acordo com o Mapa Geológico de Santa Catarina, produzido pelo Serviço
Geológico do Brasil (CPRM) no ano de 2014, em escala 1:500.000, a área de estudo
conforme a Figura 1, apresenta depósitos Colúvio-Aluvionares com conglomerados,
arenitos conglomeráticos, cascalheiras e sedimentos síltico-argilosos, recobrindo
vertentes e encostas, calhas de rio e planícies de inundação. Inclui os depósitos

56
aluvionares recentes, de expressão restrita, com grande variação granulométrica e
estratificação incipiente ou ausente.

Figura 1 - Mapa Geológico de Santa Catarina.

Fonte: Adaptado de CPRM (2014).

Coleta dos dados


Para a coleta de dados realizou-se a coleta de dados em 28 taludes entre os
quilômetros 13 a 46 da rodovia BR 470, localizada no Vale do Itajaí - SC, considerando
os seis diferentes critérios constituídos por presença de drenagem, presença de
vegetação, vegetação no topo, presença de fraturas, deslizamento e, algum outro tipo de
erosão. A classificação de cada critério foi estabelecida como presente ou ausente. Em
cada um dos 28 pontos foram coletadas as coordenadas geográficas com auxílio de
equipamento GPSMAP Garmin 76CSx para posterior mapeamento e localização dos
taludes conforme demonstra a Figura 2, assim como foram realizados registros
fotográficos para melhor reconhecimento dos mesmos.
Figura 2. Localização dos pontos de amostragem

Fonte: Schorn (2017)


Durante o percurso de 33 quilômetros, espeço correspondente ao levantamento
dos dados em análise, foram observados apenas os taludes concluídos (Figura 3),
demonstrando a importância das coordenadas geográficas (Tabela 1) para a
identificação e localização dos mesmos, já que muitos outros ainda estavam em fase de
implantação no mesmo trajeto. Outro ponto a ser considerado é que em nenhum dos

57
taludes concluídos, mesmo apresentando algum tipo de deficiência, estava ocorrendo
qualquer tipo de intervenção de correção.

Tabela 1. Coordenadas geográficas da área analisada


COORDENADAS PONTO COORDENADAS PONTO

26°54'45.28"S 15 26°50'18.00"S 1

48°57'38.93"O 48°45'52.30"O

26°54'46.50"S 16 26°50'18.80"S 2

48°57'45.95"O 48°46'2.61"O

26°54'48.79"S 17 26°50'13.13"S 3

48°58'0.14"O 48°46'20.93"O

26°54'16.98"S 18 26°50'15.02"S 4

48°58'46.28"O 48°46'31.92"O

26°54'0.27"S 19 26°50'21.92"S 5

48°59'2.53"O 48°47'4.51"O

26°53'26.49"S 20 26°50'22.80"S 6

48°59'21.09"O 48°47'10.20"O

26°53'13.50"S 21 26°50'23.43"S 7

48°59'33.00"O 48°47'26.30"O

26°53'1.90"S 22 26°53'27.30"S 8

48°59'42.93"O 48°53'3.70"O

26°52'55.09"S 23 26°53'35.89"S 9

48°59'49.18"O 48°53'49.80"O

26°52'50.41"S 24 26°53'36.90"S 10

48°59'53.43"O 48°54'9.20"O

26°52'45.46"S 25 26°53'33.20"S 11

48°59'59.51"O 48°54'38.21"O

26°52'34.79"S 26 26°53'35.75"S 12

49° 0'11.08"O 48°54'52.69"O

26°52'16.81"S 27 26°54'11.20"S 13

49° 1'0.65"O 48°56'5.00"O

26°52'15.90"S 28 26°54'45.20"S 14

49° 1'7.23"O 48°57'32.62"O


Fonte: Schorn (2017)

58
Figura 3 - Taludes na BR 470, trecho entre quilômetros 13 a 46
A B

C D

A) Deslizamento e ausência de vegetação. B) Erosão por sulcos. C) Movimento de massa em forma de


cunha delimitado por falhas. D) Deslocamento dos blocos com o rejeito. Fonte: Autores (2017)

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após o levantamento dos dados foram realizadas as análises e conforme a figura
1, podemos observar a frequência da ocorrência das variáveis levantadas em campo
como a existência de drenagem, vegetação, vegetação no topo, fraturas, deslizamento,
erosão e outros.
Destacamos a presença de fraturas na maioria dos taludes e algum tipo de erosão
em mais da metade das amostras levantadas. Pode ser observado na Figura 4, uma
frequência considerável de deslizamentos. A vegetação no topo somente foi observada
em menos da metade das obras existentes.
Nas visitas in loco é possível verificar que intervenções como drenagem foram
registradas em menos de 60% dos taludes, considerando que a inexistência ou obstrução
de drenagem, propicia o acúmulo de água no local do movimento de massa. Relevante
destacar que essas variáveis interagem entre si, podendo amplificar as forças de
cisalhamento dos taludes, dependendo das condições locais, como ângulo do talude,
comprimento do pendente, grau de alteração do substrato rochoso, entre outros.
Eventos de ocorrências de movimentos de massa às margens de rodoviárias têm
sido relatados constantemente no Brasil. Um estudo publicado em 2013 relaciona os
movimentos de massa à deficiência e manutenção das formas de drenagem, associadas à
ação intempérica, numa região de média suscetibilidade à erosão, nas margens da BR
101, no município de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro (DIAS FILHO et al.,

59
2013). Estes autores enfatizam a importância dos levantamentos de campo e o grande
desafio brasileiro para oferecer manutenção adequada às suas obras públicas.

Figura 4 - Frequência das variáveis levantadas em campo.

Fonte: Autores (2017)


As relações entre as variáveis levantadas in loco podem ser demonstradas através da
análise de Cluster, onde através da similaridade da ocorrência ou ausência de cada variável, se
apresenta uma estreita relação, alguma relação ou baixa relação. Segundo VALLI (2012), a
análise de Cluster frequentemente é o primeiro passo de uma análise dados, onde é realizado um
julgamento dos valores, classificando a série de dados através de um agrupamento natural de
indivíduos. A figura 5 demonstra o gráfico de relações por similaridade das variáveis.

Figura 5 -Teste de correlação por análise de Cluster

1. Drenagem, 2. Vegetação, 3. Fraturas, 4. Vegetação no topo, 5. Deslizamento, 6. Erosão outros


Fonte: Autores (2017)
Diante dos resultados demonstrados na figura 5, é evidente a presença de
correlação entre as variáveis. Vegetação no topo (4) e erosão outros (6), bem como
fraturas (3) e drenagem (1), são os que apresentam maiores índices de relação. O
deslizamento também possui considerável relação com a drenagem e as fraturas. A
relação de vegetação (2) com fratura (3), drenagem (1) e deslizamento (5) é
insignificante por se aproximar de zero.
60
É possível observar que o item de correlação negativa correspondente a -0,16,
indica que ocorre uma relação inversa entre os itens vegetação no topo (4) e erosão
outros (6) com os itens fratura(3), drenagem(1), deslizamento(5) e vegetação(2).

CONCLUSÕES
Os requerimentos de intervenções como sistema de drenagem profunda e outras
medidas geotécnicas devem basear-se em investigações de campo, incluindo um estudo
sistemático da topografia, geologia, pedologia e cobertura vegetal, assim como um
conhecimento da pluviometria da região. Todas estas variáveis estão interligadas entre
si, e eventos meteorológicos intensos podem desencadear efeitos multiplicadores que
diminuem a resistência ao cisalhamento dos taludes. Nos casos analisados nesta
pesquisa, não foram considerados ou não foram analisados com a profundidade e
detalhes necessários.
Mesmo apresentando uma frequência baixa de deslizamentos, essa variável é
muito importante pois representa grande perda econômica no empreendimento, onde
diante dos projetos e planejamentos propostos, a ocorrência dos mesmos deveria ser
nula. Enfatiza-se assim a relevância da elaboração de estudos geotécnicos aprofundados
antes mesmo da implantação e de qualquer projeto relacionado a obras rodoviárias e da
participação de profissionais tecnicamente preparados na equipe de trabalho.
Por outro lado, ressalta-se a obrigação de se realizar estudos acerca da percepção
de risco de desastre ambiental das comunidades dos municípios afetados para poder
trabalhar no estabelecimento de medidas de precaução e pressão em forma conjunta
com órgãos públicos. É de grande importância que as empresas que realizam trabalhos
de construção, recuperação, ampliação de rodoviárias sejam conscientes dos riscos
associados às obras que estão sob sua responsabilidade, já que estas não somente são
realizadas com dinheiro público, representando elevados custos para os cofres
nacionais, senão também pelos eminentes riscos associados. A falta de informações para
os usuários sobre as condições da infraestrutura rodoviária assim como a falta de
intervenção de correção devem ser remediadas com urgência, revertendo esta situação
para segurança de todos os usuários que trafegam na área de estudo.

REFERÊNCIAS
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5-2030.pdf>. Acesso em: 12 Dez. 2016.

MEDIDAS FÍSICO-BIOLÓGICAS PARA RESTAURAÇÃO DE UMA ÁREA


COM DECLIVIDADE ACENTUADA E FORMAÇÃO DE LAJES, RESULTADO
PARA USO DE ALMOFADAS ORGÂNICAS

F.T.A. Coelho; R.R.Silva; T.M.N.Santos

Gerência Executiva de Ferrosos Centro-Oeste, Rodovia Morro Santa Cruz, CP 221,


CEP 79301-970, Corumbá, MS, Brasil. E-mail: [email protected], Fone (67)
3234-7722/981367212

RESUMO

O trabalho tem como objetivo demonstrar que é possível revegetar uma área com
declividade acentuada e formação de lajes, através da aplicação de medidas físico-
biológicas para sua restauração. A localidade denominada Mina 3 (RAD 397/09), está
localizada na mina Morro Santa Cruz, da Mineração Corumbaense Reunida/VALE,
município de Corumbá-MS. As medidas físico-biológicas para restauração dessa área
contemplou duas etapas metodológicas. A primeira etapa consistiu na deposição de
camadas de 20 cm de espessura de topsoil, e a segunda, no enchimento de sacos de
algodão com solo coletado em área com Autorização de Supressão de Vegetação. Após o
enchimento, as almofadas com mudas nativas foram alocadas em pontos estratégicos,
com acentuada declividade, enfileirados e direcionados de forma a garantir a contenção
da água da chuva. Ainda, houve alocação onde se formavam as “lajes”, áreas inférteis
onde o desenvolvimento vegetacional é baixo. Em 0,31 hectares foram plantadas 7.004
mudas, pertencentes a 12 espécies, 11 gêneros e seis famílias botânicas. As mudas
foram analisadas quanto à forma de vida, resultando em 65,19% (4.566) de espécies
herbáceas, 32,67% (2.288) arbustivas e 2,14% (150) arbóreas. As famílias mais
representativas foram Poaceae (cinco espécies) e Asteraceae (três espécies). Dos táxons
envolvidos no plantio, apresentaram maior número de mudas plantadas Axonopus

63
pellitus (Nees ex Trin.) Hitchc. & Chase com 3.336 (47,63%), Schizachyrium
sanguineum (Retz.) Alston com 859 (12,26%) e Chromolaena laevigata (Lam.)
R.M.King & H.Rob. com 818 (11,68%). O restante dos táxons (nove) contribuiu com
1.991 (28,43%) mudas plantadas. A técnica de plantio em almofadas orgânicas
apresentou uma série de benefícios, tais como, maior retenção e infiltração da água no
solo contido dentro do saco, redução da perda de nutrientes por lixiviação. Conclusão
depois de 6 meses de plantio que não houve mortalidade, o que significa dizer que o
percentual de estabelecimento das mudas foi de 100%.

Palavras Chave: medidas para restauração, áreas degradadas, mineração a céu aberto,
lajedos, almofadas orgânicas

1. Introdução

A manutenção da biodiversidade e da beleza cênica é obrigação das empresas


mineradoras que possuem licença de lavra (VENTUROLI et al., 2013).
As atividades de mineração a céu aberto têm causado diversos impactos ambientais.
Alinhada ao pilar de desenvolvimento sustentável, a VALE vem implantando
tecnologias de restauração ambiental em suas áreas mineradas.
O termo restauração é utilizado para definir um conjunto de ações ou estratégias de
recuperação. Assim, a recuperação de um ecossistema degradado pode ser entendida
como a reconstrução de suas funções e estruturas (RODRIGUES e GANDOLFI, 2000;
CARPANEZZI, 2005).
Nos casos de áreas degradadas pela mineração, a restauração contempla um conjunto de
estratégias, entre elas, o reflorestamento buscando a aceleração da sucessão
(PARROTTA et al., 1997a).
As medidas físico-biológicas facilitam as condições de estabelecimento de propágulos,
além dos agentes dispersores (PARROTTA et al., 1997b).
O uso de topsoil (solo orgânico) no âmbito da mineração envolve procedimentos que
implicam em remoção e recolocação do material orgânico na área a ser restaurada
(ZHANG et al., 2001). Constitui um substrato importante para a recomposição natural
da cobertura vegetal, em função de ter em sua composição material orgânico, banco de
sementes e microorganismos (SILVA, 2012).
O trabalho tem como objetivo demonstrar que é possível revegetar uma área com
declividade acentuada e formação de lajes, através da aplicação de medidas físico-
biológicas para sua restauração.

2. Material e Métodos

2.1. Área de estudo

64
A área de implantação das almofadas orgânicas abrange 0,310 hectares, denominada
operacionalmente Mina 3 (RAD 397/09), Mineração Corumbaense Reunida/VALE,
empreendimento localizado no Morro Santa Cruz, município de Corumbá, estado de
Mato Grosso do Sul.

As áreas de lavra da mina Morro Santa Cruz se concentram nas partes altas do
Pantanal Sul Mato-grossense, na unidade geomorfológica Planalto Residual do
Urucum. O Morro Santa Cruz especificamente apresenta uma morfologia residual e
estrutural com topos planos e encostas íngremes.

As altitudes variam entre 640 a 1.000 m, atingindo seu ápice no extremo noroeste do
anfiteatro (Morro das Antenas), com elevações de 1.065 m de altitude, declividades
entre 20% e 40% e graus fracos a moderados de dissecação. O relevo na área é
composto por formas estruturais e formas de dissecação. O empreendimento da mina
Morro Santa Cruz está inserido numa região caracterizada pelas elevadas altitudes em
relação aquelas do Pantanal do Mato Grosso, e as quais consistem nas áreas alagáveis
em função do transbordamento do Rio Paraguai nos períodos chuvosos na região do
Pantanal (ANJOS e OKIDA, 2000).

2.2. Métodos

O método consistiu no enchimento (na própria área do plantio) de sacos de 55/75 cm


com solo orgânico coletado em área de Autorização de Supressão da Vegetação – ASV
vigente, misturado ao solo de compostagem produzido na própria área do
empreendimento. Após o enchimento com substrato, em cada almofada foi feita três
aberturas de 10 cm de largura; em cada abertura uma cova com auxílio de uma pá de mão;
no interior da cova foi adicionado 250 ml de polímero hidrogel (para manter a umidade
das raízes), e em posterior a muda. As bordas da almofada foram costuradas com agulha e
linha de algodão e/ou barbante. Após esse procedimento, as almofadas foram alocadas em
pontos estratégicos, com acentuada declividade, enfileirados e direcionados de forma a
garantir a contenção da água da chuva. Ainda, houve alocação onde se formam as “lajes”,
áreas inférteis onde o desenvolvimento vegetacional é baixo.

As espécies nativas produzidas no viveiro florestal da mina Morro Santa Cruz foram
selecionadas com base no tipo de vegetação de ocorrência no local (Cerrado campo
limpo e campo sujo). A identificação das espécies foi realizada por meio de consulta à
literatura especializada. A circunscrição das famílias está de acordo com o sistema de
classificação da APG IV (2016). A validade da nomenclatura das espécies em
conformidade com a Lista de Espécies da Flora do Brasil (FORZZA et. al., 2017).

3. Resultados e Discussão

65
Entre os meses se junho e julho de 2016, foi plantado nas almofadas orgânicas um total
de 7.004 mudas nativas pertencentes a 12 táxons, 11 gêneros e seis famílias botânicas
(Tabela 1), acrescida do grau de ameaça à extinção, raridade e endemismo..

As mudas introduzidas foram analisadas quanto a forma de vida, resultando em 65,19%


(4.566) de espécies herbáceas, 32,67% (2.288) arbustivas e 2,14% (150) arbóreas.

A estratégia de plantar maior quantidade de mudas de espécies herbáceas de gramíneas


foi para forrar o substrato e estabelecer o início da colonização vegetal, pelo fato de se
tratar de pioneiras, rústicas, produção massiva de biomassa e sementes,
consequentemente, acelerando o rápido recobrimento da área.

Conforme evidencia a Tabela 1, as famílias mais representativas foram Poaceae com


cinco espécies e Asteraceae com três espécies Dos táxons envolvidos no plantio, os que
apresentaram maior número de mudas plantadas foram Axonopus pellitus (Nees ex
Trin.) Hitchc. & Chase com 3.336 (47,63%), Schizachyrium sanguineum (Retz.) Alston
com 859 (12,26%) e a Asteraceae Chromolaena laevigata (Lam.) R.M.King & H.Rob.
com 818 (11,68%). O restante dos táxons (9) contribuiu com 1.991 (28,43%) mudas
plantadas (Figura 1).

Tabela 1. Lista com respectivas quantidades de mudas plantadas em almofadas na área da Mina
3 (RAD 397/09), classificada por família, táxon e nome comum; táxons analisados
quanto ao grau de ameaça à extinção, raridade e endemismo, mina Morro Santa
Cruz, Corumbá-MS, entre junho e julho de 2016.

Nome Rar End Quant


Família Táxon MMA
comum . . .

Aldama squalida (S.Moore) E.E.Schill. &


Asteraceae viguiera - - CO 180
Panero

Asteraceae Aspilia grazielae J.U.Santos aspília EN Sim MS 280

Chromolaena laevigata (Lam.) R.M.King &


Asteraceae mata-pasto - - - 818
H.Rob.

Bignoniaceae Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. ipê-verde - - - 30

Mimosa debilis Humb. & Bonpl. ex Willd.


Fabaceae mimosa - - - 810
var. debilis

Melastomatace
Miconia albicans (Sw.) Triana pixirica - - - 380
ae

Poaceae Aristida riparia Trin. capim- - - - 90


rabo-de-

66
Nome Rar End Quant
Família Táxon MMA
comum . . .

raposa

capim-
Axonopus pellitus (Nees ex Trin.) Hitchc. &
Poaceae barba-de- - - - 3336
Chase
bode

capim-
Poaceae Axonopus pressus (Nees ex Steud.) Parodi - - - 89
bananeira

capim-
Poaceae Paspalum foliiforme S.Denham - - - 12
macegão

capim-
Poaceae Schizachyrium sanguineum (Retz.) Alston - - - 859
vermelho

pau-terra-
Vochysiaceae Qualea cryptantha (Spreng.) Warm. - - FA 120
da-areia

Total 7.004

Legenda: MMA = Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção – Portaria
nº 443, de 17 de dezembro de 2014; Rar. = Raridade (GIULLIETI et al., 2009); End. = Endemismo
(CNCFlora, 2016); EN = Em perigo; MS = Mato Grosso do Sul; BR = Brasil; FA = Floresta Atlântica.

Figura 1. Porcentagem de mudas introduzidas com maior índice na área plana da Mina 3 (RAD
397/09), mina Morro Santa Cruz, Corumbá-MS, entre junho e julho de 2016.

67
As gramíneas (Poaceae) representam o grupo de maior importância econômica e
ecológica. Características morfológicas, tais como, meristemas intercalares, bainhas
protetoras nas folhas, e colmos conferem tolerância a herbivoria, fogo e alagamento. A
grande distribuição espacial, produção massiva de sementes e investimento em
reprodução assexuada são fatores preponderantes para seu estabelecimento nos mais
diversificados habitats (WATSON, 1990), predominando na fitofisionomia terrestre.
Constituem, portanto, as gramíneas recursos essenciais para restauração da vegetação de
Cerrado.

4. Conclusões

A técnica de plantio em almofadas orgânicas alavancou o potencial de estabelecimento


das mudas de nativas em áreas que apresentavam desvantagens devido às ações no
ambiente. Os resultados evidenciados para um total de 7.004 mudas plantadas, revelam
depois de 6 meses de plantio que não houve mortalidade, o que significa dizer que o
percentual de estabelecimento foi de 100% tanto nos locais com declividade acentuada,
quanto naqueles com formações de lajes.

5. Referências bibliográficas

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MARTINELLI, G.; LIMA, H.C.; PRADO, J.; STEHMANN, J.R.; BAUMGRATZ,

68
J.F.A.; PIRANI, J.R.; SYLVESTRE, L.; MAIA, L.C.; LOHMANN, L.G.; QUEIROZ,
L.P.; SILVEIRA, M.; COELHO, M.N.; MAMEDE, M.C.; BASTOS, M.N.C.; MORIM,
M.P.; BARBOSA, M.R.; MENEZES, M.; HOPKINS, M.; SECCO, R.;
CAVALCANTI, T.B.; SOUZA, V.C. Introdução. in Lista de Espécies da Flora do
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69
ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE RESTAURAÇÃO EM ÁREA DEGRADADA
POR MINERAÇÃO DE ARGILA NO MUNICÍPIO DE DOUTOR
PEDRINHO/SC

F. A., Schorn; G. C., Kopper-Müller; M. P. Serbent; J. J. Aumond.

Universidade Regional de Blumenau, Rua São Paulo, 3.250 - Itoupava Seca - CEP
89030 - 0000 - Blumenau - Santa Catarina - Brasil.
E-mail: [email protected]; [email protected];
[email protected].
Fone para contato: 047999290221; 047999180454; 048999895387.

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo realizar uma análise comparativa das estratégias
de restauração aplicadas em área degradada por atividades de mineração de argila no
município de Doutor Pedrinho - SC. Apesar de estar historicamente associada ao
desenvolvimento socioeconômico e a qualidade de vida das pessoas, a mineração
representa exploração de recursos naturais não renováveis com consequências
negativas na qualidade das áreas exploradas. Embora exista legislação específica para a
recuperação de área degradada pela mineração percebem-se dificuldades, devido,
principalmente, a falhas técnicas e procedimentais. As ações de recuperação podem ser
realizadas por meio de medidas edáficas (sistematização de terreno) e vegetativas
(restabelecimento da cobertura vegetal).

Palavras Chave: Mineração de argila, recuperação de área degradada, estratégias de


restauração.

INTRODUÇÃO
A utilização de recursos naturais pelo homem historicamente sempre ocorreu e,
por vezes, de maneira abusiva, gerando impactos negativos e irreversíveis ao meio
ambiente como é muitas vezes o caso da mineração. Esta atividade tem beneficiado o
desenvolvimento socioeconômico e a qualidade de vida das pessoas, mas, também
aumentou o consumo e exploração de recursos naturais não renováveis. Como toda
exploração de recurso natural, a mineração provoca impactos ao ambiente, na
paisagem, assim como pela geração de resíduos. O solo que foi danificado pela
mineração é normalmente instável, sujeito à erosão e desprovido de vegetação
(BEGON et al, 2007). Com respeito à degradação resultante da exploração de áreas
para mineração, alguns aspectos podem ser reduzidos e controlados com o emprego de
métodos e técnicas adequadas de extração e posterior restauração das áreas (SCALCO
e FERREIRA, 2013).
Por outro lado, é importante destacar a dificuldade em realizar a restauração
ecológica que, em geral, não ocorre de forma a contemplar um processo eficiente e
eficaz de recuperação ambiental. Considerando a base legal existente no Brasil, a
recuperação de áreas degradadas encontra respaldo na Constituição Federal de 1988,
em seu art. 225:

70
Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao Poder Público: I - preservar e
restaurar os processos ecológicos essenciais e
prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas;
[...]
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica
obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica
exigida pelo órgão público competente, na forma
da lei. (grifo nosso) (BRASIL, 1988).

Ademais, a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política


Nacional do Meio Ambiente, menciona, no seu artículo segundo, o objetivo de
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendido, entre outros, o
princípio de recuperação de áreas degradadas (BRASIL, 1981).
As ações de recuperação podem ser realizadas por meio de medidas e vegetativas
(restabelecimento da cobertura vegetal). A maioria das propostas de restauração
desenvolvidas apresenta deficiência em seu processo, descumprindo a exigência legal
de recuperação de áreas degradadas pela mineração, em vigor no Brasil, desde a
Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), conforme o já mencionado artigo 225 §
2º; bem como pela lei no 7.805 (BRASIL, 1989) que cria o regime de permissão de
lavra garimpeira e dispõe sobre as responsabilidades segundo critérios fixados pelo
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Apesar da existência de
legislação específica para a restauração de área degradada pela mineração é possível
perceber que as dificuldades subsistem, estando o reparo aquém do explicitado na
legislação, possivelmente, devido falhas técnicas e procedimentais (BITAR, 1997).
Atualmente é possível encontrar áreas de mineração abandonadas, outras com
projeto de recuperação ineficiente e ineficaz para o processo de restauração e sucessão
ecológica. O sucesso da restauração de uma área de mineração deve ser estudado por
diferentes aspectos, escolhendo critérios e parâmetro que possibilitem monitorar e
avaliar os resultados do processo de recuperação ambiental considerando solo, flora e
fauna e os serviços ambientais com análises periódicas.
Mas, existe a necessidade e obrigatoriedade de reabilitação da área degradada,
ou seja, torná-la produtiva, proporcionando à sucessão biológica adequada a espécie
com equilíbrio (CORRÊA, 2005). Conforme norma técnica NBR 13030, da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1999) que trata especificamente sobre
mineração, encontramos o conceito de reabilitação, definindo como “conjunto de
procedimentos através dos quais se propicia o retorno da função produtiva da área
degradada ou dos processos naturais, visando adequação ao uso futuro”.

71
A exploração de argila no Brasil consiste em um segmento significativo na
atividade industrial da mineração, com reservas espalhadas em todo o território
nacional.
O setor de cerâmica vermelha para construção utiliza basicamente como
matéria-prima a argila. O Ministério de Minas e Energia prevê para 2030 valores
superiores a 400 milhões de toneladas de argila para cerâmica vermelha (MME, 2011
apud DNPM, 2016). Por outro lado, as exportações de caulim e argila, ultrapassaram os
90 milhões de dólares, de acordo com dados de comércio exterior das substâncias
minerais no Brasil, publicados em 2016 (DNPM, 2016).
No Estado de Santa Catarina, a mineração de argila é uma atividade comum,
sendo esta matéria prima, utilizada para a produção de telhas, tijolos e cerâmicas
diversas (AUMOND, 2003), de forma que a recuperação de áreas degradadas por esta
atividade é fundamental. Visando a recuperação de áreas degradadas por mineração, há
a necessidade de preparo do terreno para a readequação topográfica e a construção de
superfícies irregulares com rugosidades que aceleram a restauração devido ao processo
de internalização dos fatores ecológicos no sistema degradado, como água, nutrientes e
solo, além de amenizar a temperatura (AUMOND, 2003).
Considerando a importância de se avaliar a eficiência das técnicas utilizadas
para recuperação de áreas degradadas, este trabalho objetiva uma análise comparativa
de estratégias de restauração em área degradada por mineração de argila no município
de Doutor Pedrinho – SC, inserida no bioma mata atlântica, onde foram aplicados dois
tratamentos distintos, o processo convencional de regularização do terreno e o de
irregularização do solo com implantação das rugosidades.

METODOLOGIA

Local de estudo
A área escolhida para este trabalho foi implantada em janeiro de 2004 e está
situada na localidade de Campo Formoso (26º39’15,0’’ S e 49º29’15,2 W), distante 13
quilômetros do centro do município de Doutor Pedrinho - SC, a 904 m de altitude, em
mina de argila refratária desativada da empresa Mineração Portobello Ltda. O clima da
região é mesotérmico úmido (Cfb), sem estação seca, com variações quentes,
apresentando temperatura média anual de 19,7ºC e precipitação total anual entre
1.600mm a 1.700mm (GAPLAN, 1986).

Figura 1. Localização de Campo Formoso, município de Doutor Pedrinho, Santa Catarina


(S 6º39’15,0’’ e W 49º29’15,2, 904m de altitude). .

Fonte: Balistieri (1996)

72
As dimensões da área na qual foram escolhidas quatro parcelas aleatórias de
100cm x 100cm (1m2) e retirados os dados da pesquisa, é de aproximadamente 70m X
100m, com aplicação de tratamento de regularização do terreno e o outro com
implantação das rugosidades, técnica que consiste na abertura de cavas com
aproximadamente 100 centímetros de largura, 150 centímetros de comprimento e 50
cm de profundidade (FIGUEREDO et al., 2007). A escolha das parcelas de 1m2 para a
coleta da cobertura vegetal foi aleatória, sendo duas parcelas na área que recebeu
tratamento convencional de regularização da superfície e duas parcelas na área com
rugosidades, conforme descrito por Aumond (2003) na literatura.
O trabalho de campo consistiu na identificação das áreas de lavra desativadas
com diferentes estratégias de recuperação após a interrupção da atividade de exploração
de argila. Os locais foram demarcados com uso de GPS (Global Position System) e os
dados de abundância e riqueza de plantas foram anotados em tabela de campo.

Análise da vegetação
O levantamento florístico da regeneração natural nos dois locais sob diferentes
abordagem de recuperação foi realizado a partir de duas (2) parcelas com tamanho de 1
x 1 m (1 m2). O levantamento foi realizado em dezembro de 2016. Os indivíduos foram
identificados quanto à espécie, e medidas as alturas dos exemplares.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os gráficos a seguir mostram os dados de riqueza e abundância nas parcelas
estudadas, discriminando as faixas de alturas preponderantes da sucessão vegetação
após a recuperação de área degradada com o uso de rugosidade. O levantamento dos
dados nos permite verificar que a sucessão ecológica está ocorrendo e que após a
recuperação primária da vegetação a área está efetivamente em regeneração. Nos
gráficos correspondentes a coleta dos dados em quatro áreas escolhidas aleatoriamente,
é possível identificar a ocorrência da sucessão autônoma da vegetação após 12 anos da
aplicação das rugosidades para recuperação da área degradada.
O gráfico 1 correspondente a coleta de dados da parcela 1, onde ocorreu a
implantação das rugosidades e é possível identificar os diferentes estágios da sucessão
vegetal na área recuperada de mineração de argila. Esta parcela apresentou o menor
índice de indivíduos de todas as parcelas levantadas, sendo 41 exemplares com
distribuição de três espécies de cobertura vegetal, composta por diferentes estágios de
Brachiaria sp., Tibouchina sp., e “coqueiros” com alturas entre 20 e 160 cm. Oportuno
salientar que a Brachiaria sp. destacou-se em número de indivíduos comparadas às
demais espécies.

Gráfico 1. Número de indivíduos presente na parcela 1 de área de regeneração vegetal .

73
Fonte: Autores (2017)
Os dados da segunda parcela de coleta (gráfico 2) apresentou 51 indivíduos na
área com rugosidades, distribuídos em quatro espécies sendo elas, Aroeira, Tanheiro
sp., (espécies arbustivas) e Tibourchina sp. e Brachiaria sp. (gramíneas) diferenciando-
se em duas espécies se comparado a primeira parcela. Em relação ao tamanho das
alturas, os dados são semelhantes e permanecem entre 20 e 160 cm. Novamente
observamos o destaque da Brachiaria sp., quando se refere ao número de indivíduos,
comparadas às demais espécies presentes na parcela 2.

Gráfico 2. Número de indivíduos presente na parcela 2 de área de regeneração vegetal.

Fonte: Autores (2017)


Os dados da parcela três apresentaram 56 indivíduos em área de tratamento de
regularização do terreno, distribuídos em apenas duas espécies, Tibourchina sp. e
Brachiaria sp. em que novamente se destacou no número de indivíduos. Também foi a
parcela que apresentou menores alturas dos indivíduos, ficando entre 20 cm e 100 cm,
conforme observamos no gráfico 3.

74
Gráfico 3. Número de indivíduos presente na parcela 3 de área de regeneração vegetal.

Fonte: Autores (2017)

A quarta parcela também apresentou 56 indivíduos em área de aplicação de


tratamento de regularização do terreno distribuídas em duas espécies, sendo elas
Tanheiro sp., Tibourchina sp., e Brachiaria sp., que se destacou em relação ao número
de indivíduos presentes. E assim, como a parcela três e quarta também apresentou
menor altura dos indivíduos, ficando entre 20 e 100 cm, conforme observamos no
gráfico 4.

Gráfico 4. Número de indivíduos presente na parcela 4 de área de regeneração vegetal.

Fonte: Autores (2017)


Sendo o processo de sucessão variável no tempo e no espaço, necessita ser
acompanhado ao longo de anos para se comprovar a influência e eficácia do tratamento
(FIGUEREDO et al., 2007) , que neste caso específico, tem se mostrado eficiente e
com grande potencial da regeneração sucessional da vegetação para a recuperação da
área degradada por mineração de argila.
Observa-se que ocorre a sucessão vegetal em ambos os tratamentos do solo. A
diferença observada é que na área com rugosidades encontramos a sucessão em

75
diferentes estágios sucessionais e com maior número de espécies, o que caracteriza a
ocorrência de melhores condições ambientais para a sucessão e regeneração, quando há
o tratamento de irregularização do solo com rugosidades da área em recuperação.
Dentre os aspectos positivos associados à irregularização do terreno podemos
destacar a formação de nichos ecológicos diversificados, diminuição dos extremos de
temperatura, retenção de nutrientes, água e solo nas concavidades dentro do sistema,
entre outros (AUMOND, 2003), realidade presente na área em análise na mina de argila
da empresa Mineração Portobello Ltda, município de Doutor Pedrinho - SC. Conforme
descrito por Ferreira et al., (2007) a presença de capim Brachiaria sp. proporciona alta
competição à regeneração natural e a necessidade de tratamentos adequados para o seu
controle para o estabelecimento dos indivíduos regenerantes, fato comprovado na mina
de argila do município de Doutor Pedrinho - SC.
É importante destacar que no mesmo município, encontra-se localizada a gleba
maior (3.868 hectares) da Reserva Biológica Estadual do Sassafrás, criada em 1977
pelo Decreto nº 2.221, com característica de representar uma zona de transição entre as
Florestas Ombrófilas Densa e Mista (SANTA CATARINA, 1977), razão pela qual os
estudos referentes à restauração vegetal de áreas próximas são de grande significância.

CONCLUSÃO
A densidade de indivíduos encontrados na área de tratamento com rugosidade
apresentou a média de 51 exemplares por parcela aos 12 anos após a implantação da
recuperação da área degradada (RAD) com tratamento de rugosidade e pode ser
considerada promissora frente aos dados levantados e apresentados nos gráficos. A
presença de Brachiara sp. como espécie dominante tem sido mencionada em trabalhos
prévios, com destaque para a competição que a mesma representa para o
estabelecimento da vegetação nativa.
Baseado na recuperação da mina de argila desativada no município de Doutor
Pedrinho – SC, como exemplo de RAD, é possível afirmar que houve evolução nas
técnicas empregadas ao longo dos tempos, pois, além de restabelecer as condições
originais do sítio, o uso da técnica de rugosidades possibilita mitigar as situações de
impactos ambientais e efetivamente corrigir e estabilizar o ambiente, de modo a
assegurar a sustentabilidade do ambiente com condições seguras e estáveis. Portanto,
concluímos que a RAD por mineração possibilita a estabilidade do meio ambiente com
possibilidade de planejar o uso produtivo do solo.

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apresentação de projeto de reabilitação de áreas degradadas pela mineração. Rio de
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77
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RIO DE SABERES - AS MUITAS MARGENS DO RIO POMBA: UMA


AVALIAÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO DO INSTITUTO FEDERAL
FLUMINENSE CAMPUS SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA BASEADO NA AÇÃO
DE REFLORESTAMENTO DE MATA CILIAR

J. F. da S PERES1; A. C. R. da SILVA2

1
Mestrando em Geografia/Universidade Federal Fluminense
[email protected]
2
Professor EBTT Instituto Federal Fluminense
[email protected]

RESUMO

O presente trabalho visa analisar o grau de satisfação e a contribuição do projeto


desenvolvido no Campus Santo Antônio de Pádua para formação dos alunos que
participaram do mesmo durante o ano de 2015, início de 2016. Nesse contexto, foi feito
uma analise da percepção qualitativa dos alunos através do levantamento de dados por
meio de entrevista aplicada por intermédio de um questionário, o que permitiu aferir a
percepção dos alunos em relação ao projeto desenvolvido. A elaboração do questionário
levou em consideração os aspectos ligados ao perfil dos alunos, sua percepção quanto à
formação escolar e social. A definição da amostra e análise dos dados, por sua vez, se
deu através da utilização ferramentas matemáticas. Com base nessa metodologia,
espera-se auxiliar os educadores para vindouras práticas pedagógicas inovadoras,
permitindo sempre o desenvolvimento de melhorias contínuas, como o observado no
projeto Rio de Saberes desenvolvido no âmbito dessa instituição.

Palavras Chave: Mata ciliar, conservação ambiental, práticas inovadoras de ensino,


politecnia

1. INTRODUÇÃO
Na atual conjuntura, marcada pelo consumo desenfreado e por práticas altamente
degradantes no ponto de vista ambiental, a importância da disseminação de uma cultura
ambientalmente ativa se torna necessária, ao passo que os recursos naturais se colocam
de maneira finita no planeta em que se vive.
Nessa esteira, as instituições de ensino, em especial os Institutos Federais de
educação, tidas como organizações cujo princípio é formar o cidadão em sua
integralidade, não devem ficar alheias ao uso de técnicas, ferramentas e novas
abordagens de ensino atreladas a essa necessidade social.

78
Dentro dessa perspectiva, as práticas pedagógicas devem ter sempre como elemento
integrante o caráter omnilateral, entendido como aquela que liberta o indivíduo da mera
reprodução do trabalho, uma vez que forma pessoas conscientes de sua realidade e
capazes de promover mudanças.
Nesse sentido, o projeto político pedagógico implementado no Campus Santo
Antônio de Pádua, do Instituto Federal Fluminense, no ano de 2015, se preocupou em
dar ao seu corpo discente, não só a visão da realidade, mas também quis despertar nos
alunos sua capacidade de promover mudanças sociais.
O Projeto “Rio de Saberes - as muitas margens do rio Pomba” teve o objetivo de
promover um novo modelo pedagógico, ao passo que adotou um projeto integrador que
nortearia todas as atividades docentes ligadas ao conhecimento tradicional, que
passaram a atuar ao lado das práticas ligadas a realidade social, com vistas na mudança
do contexto do rio no município de Santo Antônio de Pádua.
O referido projeto não só foi capaz de oferecer aos alunos os conhecimentos que se
espera das séries iniciais do ensino médio, mas também foi capaz de dar uma visão
crítica da realidade do município de Santo Antônio de Pádua, tendo como mote o rio
Pomba, mostrando aos alunos que eles são capazes não só de identificar sua realidade,
mas também de promover mudanças nessa realidade a que estão inseridos.
Assim, em um nível latu, pretende-se conscientizar a população sobre o uso racional
dos recursos naturais e da necessidade de práticas sustentáveis e de recuperação
ambiental, haja vista sua escassez, disseminando, assim, uma cultura sustentável com o
condão de formar novos cidadãos ambientalmente ativos.
Pretende-se, ainda, analisar a percepção dos alunos em relação ao desenvolvimento
de um projeto político pedagógico diferenciado, tendo o trabalho como princípio
educativo, e como pano de fundo, ações sustentáveis desenvolvidas no projeto
institucional realizado no ano de 2015.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1.Da importância da educação ambiental – recursos hídricos


É inegável a preocupação do mundo com a questão envolvendo a escassez de
recursos hídricos, já que seu uso descontrolado e os altos índices de poluição podem
comprometer sua disponibilidade (REBOUÇAS, 2004).

O planeta terra tem cerca de 71% de sua superfície coberta por água em estado
líquido. Não obstante isso, nem todo esse volume pode ser utilizado para consumo
imediato, sendo que essa parcela passível de uso está se tornando cada vez mais escassa
e contaminada pelas ações do homem (BOUDOU, 2001).
Nesse contexto, medidas sustentáveis que visam conscientizar a população, assim
como adotar novas práticas de conservação são de extrema importância para a
manutenção da vida em nosso planeta, devendo o ambiente escolar ser o pioneiro dado
seu caráter formador do ser humano em seu aspecto integral (CARVALHO, 2004).
As práticas sustentáveis ligadas a preservação das águas não é algo novo, os gregos
já conheciam técnicas para reaproveitar os esgotos nas irrigações de plantações. De
medidas simples e caseiras às técnicas mais sofisticas, a água pode ser reutilizada de
diversas maneiras (BROWN, 2010).
A partir dessa problemática, o trabalho em comento tem como proposição
primordial o desenvolvimento de um projeto, atrelado aos conhecimentos tradicionais e

79
formais, com vistas em uma prática sustentável, haja vista a posição atual do Campus
Santo Antônio de Pádua no noroeste fluminense.
Assim, em sendo uma referência em educação no noroeste fluminense, o Campus
Santo Antônio de Pádua tem o ônus de promover, não só uma educação de excelência,
mas também ser tida como instituição formadora de cidadãos em sua integralidade, em
especial no que tange a atitudes sustentáveis.
O desenvolvimento sustentável, assim definido como desenvolvimento capaz de
suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a necessidade das futuras
gerações, deve nortear todas as práticas pedagógicas, não só da instituição em estudo,
mas também de todo o ambiente escolar, dado o seu potencial de preservação da vida na
terra, e de promotor de mudança no individual (BARONI).
Dentro dessa perspectiva, a utilização racional da água, em especial dentro de uma
instituição formadora do pleno cidadão, deve ser encarada como uma boa prática que
propicia uma melhor eficiência de seu uso, dada sua escassez latente, não podendo,
todavia, a instituição ficar voltada para o seu espaço interno, devendo essa, a instituição
promotora de ensino, adotar práticas extramuros, o que no caso do Campus Santo
Antônio de Pádua se deu através do projeto Rio de Saberes, onde, além de promover o
intercâmbio com o ensino tradicional que se espera de uma escola, quebrou-se o
paradigma ao integrá-los a práticas pedagógicas no mundo real e social, no contexto a
que se inseria o referido projeto, promovendo, assim, não só o ensino formal, mas
também a preservação local da mata ciliar do município.

2.2.Da preservação da mata ciliar


O Brasil, país tropical por predominância, é possuidor da maior parte da
biodiversidade do planeta, visto ter suas florestasa maior quantidade de espécies de
plantas e de animais (ARAUJO, 2007).

As bacias hidrográficas brasileiras detêm espécies de peixes e de répteis inexistentes


em qualquer outro lugar do mundo, devendo essa biodiversidade ser preservada e
mantida a fim de abrigar e perpetuar todas as espécies da flora e da fauna (ANGELO,
2005).

As matas conceituadas como “ciliares”, possuem basicamente cinco funções: servir


de abrigo para inúmeras espécies, fornecer alimentos à fauna, proteger os cursos d’água,
evitar erosões nos solos e preservar a biodiversidade, devendo, assim, dado sua
contribuição para a biodiversidade, ser preservada pelo homem (MARTINS, 2007).

Nesse contexto, percebe-se uma inter-relação necessária entre a floresta e a água,


onde não se pode ter uma sem a outra, ou vice e versa, já que mata ciliar tem a função
proteger os rios, nascentes, corpos d’água, lagos e lagoas.

Embora haja importância em práticas de preservação, em especial no que se refere à


mata ciliar, percebe-se no Brasil uma grande devastação pelas queimadas, pelo corte de
árvores, pela expansão das fronteiras agropecuárias, o que demanda de uma intervenção
estatal com vistas na manutenção da ordem ambiental (FREITAS, 1999).

Um dos grandes avanços na ordem protecionista do estado brasileiro no que diz


respeito à proteção ambiental se deu por intermédio da Constituição Federal de 1988,

80
elevando, assim, a questão ambiental ao maior status da legislação pátria, por se tratar
de norma originária superior aos outros elementos normativos (OLIVEIRA, 2013).

No âmbito infraconstitucional, vale destacar o Código Florestal Brasileiro, instituído


pela Lei nº 12.651/2012, promulgada recentemente, com vistas a adequar a legislação
ambiental a atualidade, constituindo-se em norma geral que disciplina a questão de
preservação ambiental, onde se insere a mata ciliar (BRASIL, 2012).

A mata ciliar pode ser entendida como área de preservação permanente, nos termos
Código Florestal Brasileiro, consistindo em uma faixa de vegetação estabelecida ao
longo dos cursos d’águas, nascentes, reservatórios, destinados à manutenção da
qualidade das águas, que deverão ser preservadas ao longo do território nacional
(BRASIL, 2012).

Assim, a legislação pátria considera que os atos de preservação deverão se da de


forma permanente (APPs), devendo tal proteção recais não só sobre as florestas, mas
também sobre as formas de vegetação naturais existentes nas nascentes dos rios
(VARGAS, 1999).

Nesse diapasão, com base no referido texto normativo, os proprietários de terras,


onde se encontrem corpos d’águas nos limites de seus domínios, devem conservar a
mata ciliar ao longo dos mesmos, assim como nos locais de nascentes e represas, que
deverão levar em consideração sua largura e volume de água, de acordo com as
dimensões estabelecidas na lei ou em ato normativo (BRASIL, 2012).

Desse modo, o que se pretende com tais regulamentações legais é atender ao


princípio da proteção, determinando-se condutas cogentes com o fito de coibir práticas
lesivas ao equilíbrio ambiental, em especial os relativos às matas ciliares, dada a
relevância da biodiversidade e florestas situadas às margens de rios, lagos, nascentes,
etc., protegendo, assim, um bem indispensável à vida humana, sem contar os recursos
hídricos, que representam a existência da vida no planeta (STRECK, 2007).

2.3.Das práticas pedagógicas de preservação ambiental – Rio de Saberes


O Campus Santo Antônio de Pádua, no Noroeste Fluminense, situado na Av. João
Jazbick, no bairro aeroporto, fruto de uma parceria entre o IF Fluminense e o Poder
Público Municipal, foi criado com o objetivo de promover uma educação inovadora,
tendo o trabalho como princípio educativo (IFF, 2017).
Nesse contexto, visando à construção de uma racionalidade crítica e emancipatória
dos alunos a partir de novas abordagens pedagógicas, o Campus se propõe a realizar
mudanças significativas no modo como as pessoas se relacionam com o trabalho e seu
meio, não excluindo dessa abordagem a questão ambiental e o desenvolvimento
sustentável (Projeto Político Pedagógico, 2017).
Com vistas nessa metodologia, o que se pretende é a realização de uma intervenção

81
mais direta no modo como a educação vem sendo trabalhada nesses últimos tempos,
sendo a prática da concepção filosófica da Politecnia um caminho escolhido pelo
Campus como forma de pensar a educação.
Á partir dessa filosofia norteadora, uma das práticas adotadas pelo Campus foi à
abordagem pragmática de conceitos institucionalizados, atrelados a uma dinâmica
social, onde os conteúdos tradicionalmente trabalhados em sala de aula gravitaram em
torno de um projeto social tendente a realizar mudanças no contexto espacial onde a
instituição se insere, tendo como pano de fundo o rio Pomba (Plano de Ensino, 2015)
O rio Pomba nasce na Serra Conceição, pertencente à cadeia da Mantiqueira, em
Barbacena, a 1.100m de altitude,passando pelo município de Santo Antônio de Pádua a
90 m, sendo o mesmo importante para a economia local, tendo o mesmo como
principais afluentes os rios Novo, Piau, Xopotó, Formoso e Pardo (JACOVINE, 2007).

Apesar de contribuir de forma relevante para a população do município, seja através


da economia, seja através do consumo deste recurso, o mesmo não vem sendo
reconhecido, visto que há falta de tratamento de esgotos doméstico, o que resulta no
lançamento in natura dos efluentes domésticos diretamente nos cursos d’água, e outras
medidas degradantes, que evocam a adoção de práticas de preservação e
conscientização da população.

Outra característica relevante é a degradação da cobertura vegetal, implicando


carreamento relevante de sedimentos para as calhas dos cursos d’água (JACOVINE,
2007).

Nesse contexto de desinformação ou desinteresse, o Campus Santo Antônio de


Pádua se insere com o objetivo de promover a mudança social, tendo como mote sua
peculiar forma de trabalhar o ensino, cumprindo, assim, sua função social não só de
educar, mas também gerar transformações profundas em seu meio.

Partindo dessa filosofia, e, principalmente da concepção do trabalho como princípio


educativo, buscando a construção de um individuo capaz de entender a realidade de
forma crítica e atuar sobre ela, necessário se faz um estudo e uma medida de ação, o que
se deu sobre o rio Pomba, através de um projeto desenvolvido pelo Campus.

A primeira etapa do projeto foi responsável por levantar, inicialmente, dados


referentes aos diversos aspectos do Rio Pomba, através da pesquisa de registros
históricos e socioculturais, bem como parâmetros físico-químicos e biológicos. Desta
forma, proporcionando ao aluno vivências diretas com o objeto de estudo, atrelando
sempre a investigação da realidade aos conceitos tradicionalmente trabalhados nas
séries correspondentes.

Em um segundo momento, foi desenvolvido a infraestrutura necessária para dar


suporte à revegetação, o que envolve a construção de estufas, preparação do solo,
seleção de espécies vegetais e produção de mudas, através do trabalho do aluno,
trabalhando nessa fase, não só os conceitos das disciplinas propedêuticas, mas também
as disciplinas das áreas técnicas oferecidas pelo Campus, quais sejam, administração,
automação e edificações.

82
Por fim, a última etapa cuidou da mobilização do aluno em trabalhar os
conhecimentos construídos ao longo do ano, a fim de alterar a realidade de degradação
consolidada, através de ação direta em uma determinada área do rio, sendo realizado o
plantio de mudas em uma relação dialética do IF Fluminense Campus Santo Antônio de
Pádua com a comunidade local (Projeto Político Pedagógico, 2015).

Após a realização deste trabalho, que envolveu a atuação dos alunos matriculados no
Campus Santo Antônio de Pádua, do Instituto Federal Fluminense, o que se pretende
neste momento, é mensurar a percepção desses alunos ao trabalho desenvolvido durante
toda a etapa do projeto, e a contribuição desse ao seu aprendizado, sendo realizada uma
pesquisa junto aos mesmos, para aferir os resultados obtidos.

2.4. Metodologia
Pretende-se avaliar a percepção acerca do projeto desenvolvido no âmbito de uma
instituição de ensino através da utilização de uma ferramenta denominada questionário,
tendente a mesurar o grau de qualidade auferido pelos membros participantes do projeto
e sua relevância para formação acadêmica dos mesmos.

O questionário aplicado nesse estudo visa identificar aspectos relacionados à


abordagem do tema, sua relevância para a formação acadêmica e conscientização social
de seus participantes, assim com sua capacidade de interagir com outras áreas do
conhecimento, dada sua capacidade de interdisciplinaridade gravitacional junto a outros
temas e ramos do conhecimento.

Para tanto, com vistas em avaliar tal percepção, o referido questionário fora aplicada
a uma amostra dos alunos do Instituto Federal Fluminense, Campus Santo Antônio de
Pádua, os quais compuseram a proposta metodológica aplicada durante o ano letivo de
2015, início de 2016.

De acordo com Pasquali (1999), a amostra inicial de itens deve ser realizada a partir
do levantamento dos itens constantes em diferentes instrumentos de medida de
construto semelhante, sendo que no caso do estudo em questão a seleção da amostra se
deu em uma margem de erro amostral de 10%, a um índice de confiança na ordem de
95%, obtidos através do seguinte cálculo (SANTOS, 2017):

Onde:

n - amostra calculada

83
N – população

Z - variável normal padronizada associada ao nível de confiança

p - verdadeira probabilidade do evento

e - erro amostral

Ressalta-se que na escolha da amostra foi observado os critérios proporcionais


relacionados a sexo, curso frequentado e nível sócio-econômico, tendo este último sido
levado em consideração através dos programas de bolsa oferecidos pela instituição, com
o objetivo de representar toda a população objeto da pesquisa.

O questionário aplicado foi estruturado em dois blocos. O primeiro bloco possui


questões que visam coletar informações relacionadas ao perfil dos alunos, que pode,
inclusive, ser o ponto de partida para novas pesquisas e novas abordagens sobre o tema.

O segundo bloco, por sua vez, foi estruturado com questões fechadas, sendo essas
graduadas de acordo com a percepção dos alunos, obedecida a escala de Likert, onde o
fator determinante da satisfação dos alunos se dá através da gradação dos
questionamentos analisados.

A escala gradativa do tipo Likert contem as seguintes gradações:

0 – Indiferente

1 - Insatisfeito

2- Pouco Satisfeito

3-Satisfeito

4- Muito Satisfeito

5- Plenamente Satisfeito

Prefiro não opinar

Os questionários foram aplicados no mês de fevereiro de 2017 aos alunos do


segundo ano dos cursos técnicos integrados, áreas de administração; infraestrutura e
automação, todos do Campus Santo Antônio de Pádua, do Instituto Federal Fluminense.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O Campus Santo Antônio de Pádua do Instituto Federal Fluminense fica situado no
Noroeste Fluminense e atende uma clientela que está difundida por diversos municípios
da região banhados, na sua maioria, pela bacia do rio Pomba, um afluente do rio Paraíba
do Sul. O rio Pomba apresenta, assim como diversas outras bacias, problemas
84
relacionados à preservação da Mata Ciliar. O próprio município de Santo Antônio de
Pádua sofre periodicamente com as consequências da má administração dos recursos
hídricos como enchentes e altos níveis de poluição.

O gráfico abaixo apresenta a origem da população cuja amostra foi objeto da


pesquisa realizada no período de janeiro a fevereiro de 2017:

Gráfico1: Local de origem dos entrevistados.

Município de residência:

9%

13%
Santo Antônio de Pádua
Aperibé
Itaocara
18% Miracema
63% Outro

0%

Fonte: PERES e SILVA 15/02/2017

Um dos itens da pesquisa diz respeito à participação do discente em algum tipo de


projeto de preservação em alguma escola anterior ao seu ingresso no Instituto Federal
Fluminense. Essa pergunta evidencia uma carência preocupante de projetos que
envolvam a questão da preservação ambiental, visto que foi observado que 73% dos
alunos entrevistados nunca tinham participado de qualquer projeto do tipo, conforme se
pode analisar através do gráfico abaixo. Nesse sentido, se demonstra aparente a
necessidade da escola assumir o papel de difundir a conscientização do individuo na
manutenção de um ambiente saudável, sendo, portanto, constatado, a partir da análise
dos dados, uma falha nesse quesito. Além disso, a questão ambiental é por si só, um
assunto interdisciplinar que possibilita a interação entre diversos conteúdos do currículo
comum em ações que podem proporcionar momentos específicos, inclusive fora da aula
expositiva tradicional.

85
Gráfico2: Participação em projeto de preservação ambiental.

Você já tinha participado de algum projeto de preservação


ambiental?
80%
73%
70%

60%

50%

40%

30%

20% 15%

10%

0%
Sim Não

Fonte: PERES e SILVA 15/02/2017

O projeto “Rio de saberes – as muitas do Rio Pomba” foi subdividido ao longo do


ano letivo em três etapas onde na primeira parte foi feito um trabalho específico de
reconhecimento das necessidades e condições de degradação do rio Pomba
principalmente na porção urbana de Santo Antônio de Pádua. O objetivo desta etapa era
levantar, inicialmente, dados referentes aos diversos aspectos do rio, através da pesquisa
de registros históricos e socioculturais, bem como parâmetros físico-químicos e
biológicos. Na segunda etapa, buscou-se criar uma infraestrutura para transformara
realidade constatada e dar suporte à revegetação, o que envolvia a construção de estufas,
preparação do solo, seleção de espécies vegetais e produção de mudas.
A terceira etapa não foi completamente efetivada por falta de tempo no ano letivo,
referia-se ao processo de reflorestamento tendo como objetivo fazer com que o aluno
mobilize os conhecimentos construídos ao longo do ano, a fim de alterar a realidade de
degradação consolidada, através de ação direta em umadeterminada área do rio. Para
tanto, seria realizado o plantio de mudas em uma relação dialética do IF Fluminense
Campus Santo Antônio de Pádua com a comunidade local.
Com base nisso, algumas perguntas do questionário foram focados na avaliação dos
alunos quanto o papel do projeto sobre a importância da preservação da Mata Ciliar,
como se pode notar através dos gráficos que se seguem, em especial àquele que
demonstra a contribuição do projeto na formação dos alunos descrita abaixo:

86
Gráfico3: Contribuição do projeto para a formação do aluno.

Em sua opinião, qual o grau de contribuição do projeto " Rio de


Saberes - as muitas margens do Rio Pomba" para seu
entendimento sobre preservação da Mata Ciliar?

Plenamente Satisfeito 15%


Muito Satisfeito 28%
Satisfeito 50%
Pouco Satisfeito 5%
Insatisfeito 3%
Indiferente 0%
Prefiro não opinar 0%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Fonte: PERES e SILVA 15/02/2017

Quanto à contribuição do projeto para o entendimento sobre os diversos assuntos


que envolvem a questão preservacionista da Mata Ciliar e a divulgação do assunto para
a comunidade escolar foi observado uma ação positiva onde mais de 60% dos alunos
conferiram avaliação de satisfatória à plenamente satisfatória tanto para o seu
entendimento quanto a importância do assunto no cotidiano escolar, sendo tal aspecto
corroborado pela percepção da importância da preservação que se pode observar no
gráfico a seguir:

Gráfico4: Quanto à importância da preservação da Mata Ciliar.

Qual sua avaliação sobre a divulgação da importância da


preservação da Mata Ciliar?
Prefiro não opinar
25%
20%
Plenamente Satisfeito Indiferente
15%
10%
5%
0%

Muito Satisfeito Insatisfeito

Satisfeito Pouco Satisfeito

Fonte: PERES e SILVA 15/02/2017

87
Avaliou-se, também, à interação entre o projeto e os conteúdos trabalhados pelas
diversas disciplinas do currículo básico. Nesse caso mais de 70% dos entrevistados
deram uma avaliação de satisfatória à plenamente satisfatória, indicando que na visão
dos discentes, houve uma preocupação constante em manter uma indissociabilidade
entre as diversas práticas do projeto e os conteúdos das disciplinas, conforme gráfico
abaixo:

Gráfico5: Relação do projeto com conteúdo disciplinar

Quanto o conteúdo teórico, qual sua avaliação em relação ao


diálogo com os conteúdos disciplinares

Plenamente Satisfeito 15%


Muito Satisfeito 30%
Satisfeito 38%
Pouco Satisfeito 10%
Insatisfeito 5%
Indiferente 0%
Prefiro não opinar 3%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%

Fonte: PERES e SILVA 15/02/2017

Um dos pontos importantes do projeto foi às atividades práticas desenvolvidas pelos


discentes, sempre fundamentados em uma problematização, onde trabalho prático
contribuiu para que, durante os tempos destinados a ação, houvesse um rompimento
com a lógica de aula expositiva. Nesse ponto, buscava-se a produção de resultados
concretos como a elaboração de gráficos, maquetes, acicata entre outros.

Nesse aspecto pode-se observar que mais de 70% dos entrevistados deram uma
avaliação positiva entre satisfatório e plenamente satisfatório para as ações práticas,
conforme descrito no gráfico abaixo:

88
Gráfico6: Quanto às ações do projeto.

Quanto às ações práticas desenvolvidas, essas foram adequadas


ao propósito do projeto?
45% 43%
40%
35%
30%
25% 23%
20% 18%
15%
15%
10%
5% 3%
0% 0%
0%
Prefiro não Indiferente Insatisfeito Pouco Satisfeito Muito Plenamente
opinar Satisfeito Satisfeito Satisfeito

Fonte: PERES e SILVA 15/02/2017

Em um último momento foi solicitado aos discentes entrevistados uma avaliação


geral do projeto, levando-se em consideração o conjunto de ações práticas e sua
associação como instrumento interdisciplinar para assimilação dos conteúdos
disciplinares. Nesse ponto merece destaque a avaliação positiva, onde mais de 70% dos
discentes se mostraram entre satisfeitos e plenamente satisfeitos, conforme se pode
notar pelo gráfico abaixo:

Gráfico7: Avaliação do projeto

Sua avaliação do projeto é:


Plenamente Satisfeito 23%

Muito Satisfeito 33%

Satisfeito 28%

Pouco Satisfeito 13%

Insatisfeito 5%

Indiferente 0%

Prefiro não opinar 0%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Fonte: PERES e SILVA 15/02/2017

89
4. CONCLUSÃO
O fracasso na aprendizagem, característico do sistema educacional brasileiro é um
dos aspectos que reforçam o aumento do abismo econômico e social, atingindo,
sobretudo as classes populares.Uma das consequências são os baixos índices atingidos
pelos alunos brasileiros nas diversas formas de avaliação institucionais.

Repensar os meios de ensino e a atualização das práticas dos professores num


contexto atual é procurar utilizar todas as possibilidades, das mais remotas às mais
atuais, no sentido de inovar a forma de ensinar e inserir o sujeito cidadão no seu tempo,
no seu momento.

A educação escolástica, com lápis, papel e borracha de um lado, quadro negro e giz
de outro, ou seja, a educação tradicional é confrontada com a obsolescência do conteúdo
programático e a dificuldade em manter a atenção do aluno em uma aula clássica.

Diante disso fica cada vez mais claro que a educação é na sua totalidade, uma
prática interdisciplinar, já que envolve a difusão do conhecimento que em geral se
apresenta além das matérias compartimentadas. Pela prática já observada em sala de
aula, a curiosidade e o prazer são fatores determinantes para a boa compreensão da
matéria pelo aluno. Sendo assim, qualquer prática que saia da rotina, sendo em
atividades divertidas ou em conteúdos estimulantes e não tradicionais, envolve a todos
no desenvolvimento do conhecimento.

Essas diversas iniciativas mostram sua importância no aumento do interesse dos


alunos, principalmente naqueles que apesar de não demonstrarem tão bons resultados no
modelo mais tradicional e mecânico de estudar, se mostram concentrados e obedientes
em tais projetos.

Sendo assim, podemos concluir que a despeito das dificuldades evidentes do


desenvolvimento e aplicação do projeto, o objetivo geral de efetivar um envolvimento
maior dos alunos e a melhoria da articulação entre os professores e coordenação foi
alcançado de forma razoavelmente satisfatória.

E por fim o aprendizado do conteúdo explorado, e a interação maior entre os


próprios alunos em atividades de grupo, demonstram que a questão ambiental é
evidentemente um excelente tema gerador de ações interdisciplinares capazes não só de
sedimentar o conhecimento, como também de interferir na realidade. Outra forma de
tornar a educação mais interessante é a capacidade de atrair os alunos para trabalhos
práticos que forneçam uma fuga construtiva da rotina de aulas expositivas, além de
elevar sua capacidade criativa.

Os projetos interdisciplinares são partes importantes no cotidiano de uma unidade


escolar, envolvendo diversos profissionais da instituição como professores,
coordenadores, direção e não raro a comunidade externa. Esses projetos possuem a
finalidade de conectar ou agregar as diversas disciplinas escolares em torno de temas

90
transversais, através de eventos que permitam a ampla participação do aluno
promovendo o conhecimento reflexivo e a intervenção na realidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DOS FOCOS DE


INCÊNDIO NO PANTANAL (2000-2016)

W. T. S. Ferreira(1,2); A. P. C. Rabelo (2); L. Larcher(2)

(1)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS/FAENG/PGRN
Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais
Avenida Costa e Silva, s/n - Bairro Universitário - Campo Grande/MS (Brasil)
[email protected]; [email protected] / fone: (67) 3345-7392
(2)
Instituto Homem Pantaneio - IHP
Ladeira José Bonifácio, 171, Porto Geral - Corumbá/MS (Brasil)
[email protected]; [email protected];
[email protected]

RESUMO

Entre os biomas brasileiros, o Pantanal é um dos biomas mais propensos a queimadas


pelas características estruturais de suas fitofisionomias, em decorrência de condições
climáticas ou provocados por práticas de manejo inadequadas de queimas em pastagem.
O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise espaço-temporal das queimadas no
Pantanal entre os anos de 2000 a 2016, para identificar a distribuição espacial e
temporal desses eventos, utilizando o software ArcGIS 10.1 para elaboração dos mapas
de densidade de Kernel. Os resultados reforçam a necessidade de preservação do bioma
e atenção frente as queimadas, que tem influenciado no regime hídrico e na
biodiversidade do Pantanal. As queimadas ocorrem todos os anos e sua intensidade não
segue um padrão, entretanto, estão extremamente ligadas ao regime hídrico da região,
sendo menos frequentes no período úmido provocado pelas cheias.

Palavras Chave: queimadas, pantanal, densidade, kernel.

1. Introdução

93
Diante do desafio de conservação dos ecossistemas, as queimadas e incêndios
florestais estão entre os principais problemas. O fogo está associado não somente ao
lançamento de gases do efeito estufa e ao aquecimento global, mas também a inúmeros
prejuízos econômicos, sociais e ambientais, como desertificação e desflorestamento
(IBAMA, 2013). Com relação à biodiversidade, o excesso de queimadas pode causar
impactos na estrutura e composição da vegetação, bem como impactos direto e indiretos
na fauna local (Matos, 2014).

Entre os biomas brasileiros, o Pantanal é um dos biomas mais propensos a


queimadas pelas características estruturais de suas fitofisionomias, em decorrência de
condições climáticas ou provocados por práticas de manejo inadequadas de queimas em
pastagem (PCBAP, 1997). Apesar desta prática ser tradicionalmente empregada no
Pantanal por pelo menos 200 anos, por vezes, áreas que possuem gramíneas tenras e
umidade de solo para prolongar o crescimento das mesmas (PCBAP, 1997), e, por
consequência, não necessitam de manejo, acabam sendo queimadas de forma
descontrolada (Rodrigues et al 2002).

Vários são os estudos realizados no pantanal a fim de estudar o uso e ocupação


da planície pantaneira, onde tem se destacado estudos sobre a cobertura vegetal, fauna e
sobre a geomorfologia fluvial (Ponce 1995, Collischonn et al. 2001, Assine et al. 2009,
Cordeiro et al. 2010, Silva 2010, Facincani 2011, Zani et al. 201, Silva et al. 2012).
Entretanto, as estudos voltados a análises dos focos de incêndio ainda são escassos, e
dos poucos realizados dá-se destaque ao monitoramento realizado pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espacias (INPE), o de Gonçalves et al (2006) que em seu
trabalho fez a identificação e delimitação das áreas queimadas no Pantanal; o trabalho
de Souza Junior et. al. (2006) que utilizou a imagens MODIS para o monitoramento dos
focos, e também o trabalho de Mâcedo et. al (2009) que fez uma avaliação das
queimadas do Pantanal na região de Corumbá e Ladário no Pantanal do Paraguai. As
queimadas são fenômenos comuns no pantanal mato-grossense, que ocorre tanto por
ação antrópica como por ação natural.

O bioma Pantanal é formado pelo mosaico hídrico de rios que compõem a Bacia
do Rio do Prata, a segunda maior planície inundável e uma das maiores áreas úmidas
contínuas do planeta (ANA, 2014). A área calculada do Pantanal é de 138.183 km², dos
quais 48.865 km² (35,36%) estão no Estado do Mato Grosso (MT) e 89.318 km²
(64,64%) no Estado do Mato Grosso do Sul (MS). Sua importância ecológica é
reconhecido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura) como Reserva da Biosfera e sítio de Patrimônio Nacional, pela
Constituição Federal Brasileira. Entretanto, os ecossistemas inseridos neste bioma são
frágeis e estão constantemente ameaçados por tendências de desenvolvimento
econômico (SFB, 2014).

O rico ecossistema do Pantanal depende do fluxo hidrológico dos cursos d'água


que o alimentam. A bacia hidrográfica do rio Paraná é a maior contribuinte do sistema
da Bacia do Rio da Prata, seguida pela bacia do rio Paraguai, também conhecida como

94
Bacia do Alto Paraguai (BAP). A BAP tem grande importância, pois divide-se em
207.249 km² pertencentes ao estado de Mato Grosso do Sul e 188.551 km² no Mato
Grosso. A BAP constitui um mosaico hidrológico bem definido, com a ocorrência de
dois grandes ecossistemas: o Planalto, caracterizado pelo bioma Cerrado, e a Planície,
formando o bioma Pantanal (Figura 1).

O histórico de ocupação da planície pantaneira tem alterado de maneira


considerável o uso das terras e o estoque de recursos naturais (Swarts, 2000). Na região
da BAP, as queimadas são expressivas e causam grandes danos a biodiversidade local.
Dada a importância da BAP para a manutenção do bioma Pantanal, é importante
compreender a variação sazonal e espacial de queimadas na região, na perspectiva de
sinalizar e estabelecer políticas públicas de controle e combate a focos de incêndio
(Cardoso et al 2013).

Neste estudo procurou-se analisar os focos de incêndio do bioma pantanal numa


série histórica de 17 anos com o uso do sensoriamento remoto e fazer um debate sobre o
período de queimadas nesta região (causas e consequências), para identificar a
distribuição espacial e temporal desses eventos.

95
Figura 1 - Bacia do Alto Paraguai (BAP) e os ecossistemas:

(Planície - Pantanal / Planalto - Cerrado)

2. Materiais e métodos

Para o desenvolvimento do trabalho, foram utilizados dados de focos de calor,


no formato shapefile, da região do pantanal, datadas de 01/01/2000 a 31/12/2016.
Foram utilizados dados vetoriais obtidos dos IBGE, ANA e do INPE, para a geração de
mapas. O limite do bioma Pantanal usado, foi elaborado o PROBIO (Projeto de
Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira) que é
coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

96
Os dados de focos de calor, utilizados nesta pesquisa, foram provenientes de
sensores a bordo dos satélites NOAA – AQUA – TERRA – GOES – METEOSAT –
NPP – ATRS/ESA, computados e disponibilizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE) através do Banco de Dados de Queimadas do Centro de Previsão de
Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC).
A partir da aquisição dos dados, estes foram tratados em ambiente SIG, sendo
modelado e gerado os mapas de densidade de Kernel, feito uma correção de função
bidimensional realizando um contagem de todos os pontos dentro de um área de
influência. Possibilitando assim uma visão qualitativa dos focos na região do Pantanal.
O software utilizado para o processamento dos dados e interpolação dos focos de calor
foi o ArcGIS 10.2 em sua extensão Spatial Analyst.
Para melhor representação e análise dos resultados da interpolação, definiu-se 5
classes de densidade: 1) muito baixa, 2) baixa, 3) média, 4) alta e 5) muito alta.
Para as análises de relação entre número de focos de incêndio e pluviosidade,
foram utilizados dados de pluviosidade mensais para os anos de 2000 a 2013,
fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET,) através da Estação -
Corumbá/MS (83552) e da Estação Nhumirim Nhecolândia/MS (83513) que se
encontram no Pantanal. Apesar da estação apresentar-se como operante, não foram
fornecidos dados completos para os anos de 2014, 2015 e 2016. Portanto, estes anos não
foram utilizados para o cálculo das médias mensais de pluviosidade para o Pantanal.

3. Resultados e discussão

O fogo sempre foi importante para a formação das primeiras sociedades, ainda
mais importante para o pantanal, em que a pecuária é a principal atividade desenvolvida
na região e o fogo é usado para ampliar ou formar áreas de pastagem. Mas antes da
utilização intencional do fogo para manejo de áreas, já haviam queimadas na região da
BAP e no Pantanal, causadas naturalmente e/ou pelos índios (PCBAP, 1997). A
caracterização do padrão de ocorrência de focos proporciona um panorama espacial e
temporal que pode facilitar e priorizar ações de combate aos incêndios, uma vez que,
por conta da sua extensão e dificuldades de acesso, torna-se difícil realizar o trabalho in
loco.

A partir da análise dos dados feito, nos últimos 16 anos, foram quantificados
cerca de 460 mil focos de calor neste bioma, detectados pelos diversos sensores que
monitoram os focos de queimadas em todo o Brasil (Figura 2). Os mapas de distribuição
dos focos (Figura 3), gerados a partir da disponibilização dos dados pelo INPE, revelam
o comportamento espacial destes na área de estudo ao longo da série temporal,
analisando assim a recorrência dos eventos de fogo. A distribuição dos focos no
pantanal, entre os anos analisados seguem o mesmo padrão de distribuição, sendo bem
distribuído na área de estudo, mesmo nos anos com menor quantidade.

97
Figura 2. Quantitativo de focos de incêndio por ano (2000 - 2016).

2000 2001 2002 2003

2004 2005 2006 2007

98
2008 2009 2010 2011

2012 2013 2014 2015

2016

Figura 3. Mapas de distribuição dos focos de incêndio no Pantanal (2000-2016).

A partir da análise feita dos números de focos por esta estado (Figura 4), fica
evidente que o maioria dos focos se encontram no estado do Mato do Grosso do Sul
(MS), levando em consideração que a área territorial do pantanal é maior que no estado
de Mato Grosso (MT). Somente no ano de 2010 que o número de focos do MT foram
maiores que no MS, por conta de uma anomalia nos eventos climáticos na região.

99
Figura 4. Quantitativo dos focos de incêndios no Estados do Mato Grosso
e Mato Grosso do Sul (2000 - 2016)

Analisando a distribuição temporal e espacial dos focos de incêndio é possível


observar que as áreas com maior densidade populacional são susceptíveis a queimadas
que ocorrem anualmente. No Brasil, as estatísticas sobre as ocorrências de incêndios
florestais mostram que a maior parte dos focos de incêndio são iniciados a partir de
fontes relacionadas direta ou indiretamente às atividades humanas (Matos, 2014).
Também é possível observar grande ocorrência de focos na região oeste do Pantanal, na
divisa entre Brasil e Bolívia. Muitos focos que se originam no país vizinho não são
controlados e se alastram até áreas do pantanal brasileiro, que nesta região, são
susceptíveis a grandes queimadas. Aparentemente, a incidência de focos de incêndio é
maior nas áreas de pantanal de solo arenoso do que em pantanais de solos argilosos
(Matos, 2014), o que parece estar relacionado coma topografia e hidrologia da região.
Por exemplo, há maior incidência de focos de incêndio em zonas mais altas e secas
(Allem e Valls, 1987).

Os resultados analisados mostram que focos de incêndio ocorrem todos os anos,


entretanto, há variação sazonal na ocorrência com maior frequência de focos de
incêndio no período de seca do Pantanal e no período onde a média de chuva é menor
(Figura 6). O mapeamento a partir da densidade e o estudo do levantamento espaço-
temporal das queimadas no pantanal é de extrema importância, pois permite fazer a
análise de onde o fogo tem ocorrido com maior frequência, qual a intensidade e
proporção em que ocorre (Figura 7).
100
Figura 6. Relação dos focos de incêndio com a pluviosidade.

2000 2001 2002 2003

101
2004 2005 2006 2007

2008 2009 2010 2011

2012 2013 2014 2015

2016

Figura 7. Mapas de densidade do Pantanal (2000-2016).

102
Em geral, queimadas extensas ocorrem no período seco, uma vez que no período
chuvoso grande parte da região encontra-se inundada (PCBAP 1997), o que resulta em
mudanças bem mais significativas na estrutura e composição florística da vegetação do
que as queimadas ocorridas na época chuvosa (Miranda e Sato 2005). Entretanto, o
regime de chuvas tem variado anualmente, o que pode representar variações no período
de maior ocorrência dos focos de incêndio (FIGURA 8). Macedo e colaboradores
(2009) registraram a diminuição do nível do rio Paraguai, devido à diminuição das
precipitações de chuva em sua bacia, o que pode resultar em um conjunto de fatores
favoráveis às queimadas nestas regiões.

Figura 8. Pluviosidade do Pantanal (2000 - 2016)

Outros fatores podem influenciar na dinâmica de distribuição dos focos de


incêndio na BAP, como a quantidade de material orgânico, vivo ou morto, acima do
solo, capaz de entrar em combustão e o tipo de cobertura vegetal. Por exemplo, uma
floresta aberta, com pouca deposição de material no solo, permite maior penetração dos
raios solares e do vento, proporcionando aumento da temperatura do combustível e da
taxa de evaporação, consequentemente, o potencial de propagação do fogo é maior
evaporação (Soares e Batista 2007). Na região da BAP, algumas mudanças no ambiente,
em decorrência de ações antrópicas, podem ter influenciado o aumento do número de
focos de incêndio. Nas últimas décadas, o processo de ocupação humana e o
crescimento das atividades antrópicas na região de Planalto têm alterado de forma
drástica o bioma e o fluxo hídrico da Planície pantaneira (PCBAP 1997). A pecuária é a
atividade antrópica mais representativa, seguida pela agricultura que tem se expandido
principalmente nas áreas de antigas pastagens, ambas atividades associadas ao uso do
fogo para o manejo da vegetação.

103
Embora os impactos de queimadas recorrentes sobre a biodiversidade não
tenham sido suficientemente documentados, a intensificação das queimadas deve ser
considerada um fator de susceptibilidade desse ecossistema. Os impactos das queimadas
sobre o Pantanal são de longo prazo e por isso as consequências sobre sua fauna e flora
são praticamente desconhecidos. A análise da frequência e distribuição dos focos de
incêndio demonstram a necessidade de novas investigações sobre seus padrões de
ocorrência.

4. Conclusões

Os resultados obtidos reforçam a necessidade de preservação do bioma e atenção


frente as queimadas, até mesmo pelo ritmo acelerado de crescimento de
desenvolvimento da BAP que, direta ou indiretamente, tem influenciado no regime
hídrico e na biodiversidade do Pantanal. As queimadas ocorrem todos os anos e sua
intensidade não segue um padrão, entretanto, estão extremamente ligadas ao regime
hídrico da região, sendo menos frequentes no período úmido provocado pelas cheias. O
uso de geotecnologias, técnicas e aplicações de sensoriamento e remoto e
geoprocessamento tem se tornado um grande aliado no auxilio e quantificação no
monitoramento dos focos, sendo importante para análise das áreas onde ocorrem as
queimadas, principalmente nas áreas de difícil acesso como o pantanal.

5. Referência bibliográficas

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CONTEXTO ALTIMÉTRICO DE CÁCERES-MT: SUSCEPTIBILIDADE A


INUNDAÇÕES NO PERÍMETRO URBANO

L, Santos¹; J; C; O; Soares²; C; A; G; P; Zamparoni²

¹Universidade do Estado de Mato Grosso, Cep 78200000, Cáceres-MT, Rua Campos


Sales, Bairro Jardim Cidade Nova Nº 290, [email protected]
²Universidade do Estado de Mato Grosso. [email protected]
²Universidade Federal de Mato Grosso. [email protected]

RESUMO

O perímetro urbano do município de Cáceres-MT é afetado periodicamente pelas


inundações do Rio Paraguai, que ocupam suas planícies de inundações. Na área urbana
e possível aferir pontos com topografia inferiores ao leito do rio Paraguai que varia de
90 a 120 metros de altitude. A pesquisa objetivou caracterizar o contexto altimétrico e
as áreas susceptíveis as inundações no perímetro urbano de Cáceres-MT, tais
ocorrências têm apresentado nas últimas décadas maior ritmo de intensidade e
magnitude. A área de estudo se localiza, entre as coordenadas geográficas 16º 08’ 42” a
16º 0’ 44”, latitude Sul e 57º 43’ 52” a 57º 37’ 22”, longitude Oeste. Para caracterização
do contexto altimétrico e áreas susceptíveis as inundações, utilizou-se de mapas
altimétrico e de suscetibilidade de inundação, elaborados a partir das cartas topográficas
DSG (1:100.000) e SRTM (resolução - 30 m). Com os mapas foi possível aferir os
índices de susceptibilidade a inundações. Dos 75,238 Km² mapeados, a área
correspondente aos setores de baixa, média e alta susceptibilidade é equivale a 22,792
Km² (30,3%), 32,012 Km² (42,5%) e 20,434 Km² (27,2%), respectivamente. Portanto,
defende-se que a temática se inscreve com fundamental relevância, pois se sabe que o
ser humano no atual estágio de desenvolvimento inerente a urbanização se vê
vulneráveis diante dos impactos relacionados à ocupação desordenada sobre áreas
impróprias as atividades humanas.

Palavras Chave: Inundações, susceptibilidade e urbanização

INTRODUÇÃO

O acelerado processo de produção e transformação espacial coloca-se novas


questões e desafia a buscar soluções para problemas que afligem a sociedade de modo
geral. Assim, os problemas ligados aos riscos enfrentados pelo homem frente aos
impactos causados pelo sistema natural são os de maiores destaques, principalmente em
áreas densamente ocupadas.

107
Desta forma, podemos dizer que nas cidades tais alterações se manifestam em
maior ritmo, por serem estes espaços o lócus das atividades humanas, afetando direta e
indiretamente as sociedades que residem nestes locais. As inundações assumiram papel
de destaque entre os problemas ambientais na maioria das cidades brasileiras, pois o
processo de urbanização ocorrido no Brasil nas últimas décadas tem estampado suas
marcas por áreas não adequadas ás edificações humanas. Em processos desta natureza
diminui-se a percolação de água no solo, aceleram o escoamento superficial e
vulnerabiliza os espaços urbanos diante das inundações, as quais se manifestam com
maior severidade, intensidade e magnitude.
Entre os fenômenos catastróficos que se apresentam às cidades, as inundações
merecem destaque especial, pois causam sérios danos e prejuízos aos indivíduos,
principalmente os assentados em área vulneráveis a tais ocorrências.
A partir da problemática em evidência, propôs-se caracterizar o contexto
altimétrico e as áreas susceptíveis as inundações no perímetro urbano de Cáceres-MT,
assentado em planícies inundáveis periodicamente pelo rio Paraguai. Para Silva e
Abdon (1998), a região constitui um complexo sistema, condicionado pela vasta
planície sedimentar com topografia plana, altitudes variando de 90 a 120 metros, sujeita
a inundação anual.
Com base nas evidências do contexto urbano-ambiental, o recorte espacial
estabelecido para a pesquisa, compreendeu o perímetro urbano do município de
Cáceres, situado a sudoeste do Estado de Mato Grosso, na Microrregião do Alto
Pantanal e na Mesorregião do Centro-sul Mato-grossense, com uma área territorial de
24.796,8 km2 (IBGE, 2000). A área de estudos situa-se a margem esquerda do rio
Paraguai, localizada nas coordenadas geográficas a 16º 0’ 44” a 16º 08’ 42” latitude Sul
e 57º 37’ 22” e 57º 43’ 52”, longitude Oeste, com extensão de 75, 238 Km², altitude
média de 118 metros em relação ao nível do mar e distante a 215 km da capital do
Estado (Cuiabá).
A temática é de fundamental relevância por abarcar questões de natureza física e
humana, uma vez que, as inundações deflagram impactos socioeconômicos e ambientais
em diferentes espaços, incluindo-se a área selecionada para a pesquisa. Na atual
conjuntura ambiental sabe-se que o ser humano embora se esforce para conhecer e
controlar as forças naturais se vê vulnerável diante de tais eventos, principalmente os
inesperados como os hidráulicos.

MATERIAIS E MÉTODOS

O recorte espacial estabelecido corresponde ao perímetro urbano do município


de Cáceres, situado no extremo norte da planície do Pantanal, a sudoeste do estado de
Mato Grosso, na Microrregião do Alto Pantanal e Mesorregião do Centro Sul
Matogrossense.
A área de estudo se localiza a margem esquerda do rio Paraguai, entre as
coordenadas geográficas 16º 08’ 42” a 16º 0’ 44”, latitude Sul e 57º 43’ 52” a 57º 37’
22”, longitude Oeste, com uma área territorial de 75, 238 km . A cidade de Cáceres-MT
foi edificada na unidade geomorfológica depressão do Rio Paraguai, entre o Pantanal de
Cáceres, subunidade do Pantanal Matogrossense e a região conhecida como Morraria
(Província Serrana).
A área de estudo foi definida para realização desta pesquisa, a partir dos eventos
periódicos de inundação em Cáceres-MT, os quais têm assolado a população cacerense,
principalmente os moradores assentados em áreas consideradas susceptíveis a este tipo
de ocorrências. A localização da área de estudo, está representada no mapa (Figura 1).

108
Figura 01: Mapa de localização do perímetro urbano de Cáceres-MT. Fonte: Elaborado a partir da base
hidrográfica do Estado estabelecida pela SEPLAN-MT (2007) e adaptado de acordo com as imagens de
satélite SPOT-5, resolução - 5m (Jul/2007).

TÉCNICAS APLICADAS À PESQUISA

Para esta pesquisa, elaborou-se mapas altimétrico e de suscetibilidade de


inundações para o perímetro urbano do município de Cáceres-MT a partir da base
hidrográfica das cartas topográficas DSG (1:100.000) e SRTM (resolução - 30 m). Tais
mapas foram gerados a partir do Software Arcgis 9.3 no módulo ArcCatalog, função:
Spatial Analyst Tools – Surface – Contour.
De acordo com estudo realizado por Nascimento (2008), a cidade de Cáceres-
MT apresenta altitude que varia entre 118 a 380 metros, esse perfil considerou a
margem do rio Paraguai e as terras elevadas da Província Serrana. Silva Filho e Cunha
(2008), salientam que a cota de fundo do rio Paraguai em Cáceres é de (107,35 m). Kux
et al (1979) salienta que, o Município de Cáceres se encontra numa área geomorfológica
formada por planícies e pelos pantanais mato-grossenses, portanto, área sujeita às
inundações, quer pluvial, quer fluvial, que apresentam altitudes variáveis entre 80 e 150
metros no contato com as depressões circundantes. Essas informações subsidiaram a
adoção do parâmetro hepisométrico adotado para elaboração do mapa altimétrico que
seguiu os seguintes fatiamentos de classes hipsométricas 110, 120, 130, 140, 150 e 160
metros de altitudes.
O mapa altimétrico subsidiou a elaboração do mapa de suscetibilidade a partir
das classes de alta, média e baixa susceptibilidade de inundações. Para cada faixa
definiram-se os seguintes parâmetros de altitude: abaixo de 120 metros, entre 120 e 130
metros e acima de 130 metros, respectivamente. Assim, considerou a cota de fundo do
109
rio Paraguai de 107,35 metros e altitude de 118 metros tomada da margem em relação
às terras elevadas da Província Serrana.
As condições hepisométricas apresentadas na Figura 01, quando associadas ao
período chuvoso na região que perdura segundo Maitelli (2005) de setembro a março
são fundamentais para entendermos e analisarmos os episódios de inundações na cidade
de Cáceres-MT, uma vez que, entre a primavera e o verão, o regime pluviométrico da
região se avoluma. Quando este fato ocorre, as inundações periódicas são favorecidas
pela topografia do terreno, pois a área urbana do Município se encontra localizada numa
estrutura geológica e geomorfológica fortemente influenciada pelo regime do Rio
Paraguai no contexto da Formação Pantanal.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Em Cáceres-MT, as áreas de acumulação, inundáveis periodicamente, estão


diretamente relacionadas às variações topográficas que ocorrem na região, atuando
como um regulador do regime das águas superficiais e subsuperficiais. Segundo Ross
et al. (2005), nessa dinâmica distinguem-se as áreas de fraco, médio e forte alagamento,
posicionadas de forma diferenciada em relação ao eixo principal da drenagem local (Rio
Paraguai), em razão da variação altimétrica que apresentam. Nas posições mais
distantes, a altitude varia entre 150 a 180 metros, podendo chegar até a níveis inferiores
a 100 metros nas posições mais próximas às drenagens e nas confluências dos principais
cursos fluviais.
Os dados altimétricos anteriormente citados serviram de parâmetro para
determinar as áreas de alta, média e baixa susceptibilidade a inundações para o
perímetro urbano de Cáceres-MT. Do levantamento topográfico da região, resultou a
elaboração de um mapa altimétrico (Figura 2) com as seguintes classes de valores: 110,
120, 130, 140, 150 e 160 metros em relação ao nível do mar. Cumpre ressaltar que
ainda se encontram em discussão as metragens das áreas com maior e menor
susceptibilidade a inundações. O mapeamento evidenciou que a área urbana do
município apresenta variações altimétricas na faixa de 110 a 160 metros e que esta se
descortina entre o leito fluvial do Rio Paraguai e as terras elevadas da Província
Serrana, como pode ser observado na Figura 2.

Figura 2: Mapa altimétrico do perímetro urbano do Município de Cáceres-MT. Fonte: Base hidrográfica
das cartas topográficas DSG (1:100.000) e SRTM (Resolução-30 m).

110
O mapa acima nos mostra que as terras com altimetria inferior a 120 metros em
relação ao nível do mar se localizam próximas ao leito principal do Rio Paraguai. Por
outro lado, quanto mais distantes deste ponto e mais próximas à Província Serrana,
mais elevada fica a altimetria das terras representadas.
A cidade de Cáceres-MT está localizada em terreno relativamente plano,
cercada por terras elevadas adjacentes, o que lhe permite atuar como um exutório das
águas pluviais que se precipitam nas regiões elevadas do entorno. Esta característica
aumenta a susceptibilidade da área a inundações principalmente no decorrer da estação
das chuvas torrenciais na região.
Os Córregos Fontes, Sangradouro, Lavapés, Renato, Olho-D’água e Junco são
os principais cursos de água que formam a rede hidrográfica urbana de Cáceres-MT.
Desta relação, somente o Córrego do Renato tem suas nascentes localizadas no Bairro
Vila Mariana, próximo ao centro da cidade, em terras com altitudes inferiores a 120
metros. Os demais nascem fora do perímetro urbano, em cotas altimétricas superiores a
140 metros em relação ao nível do mar.
Neste trabalho procuramos estabelecer uma associação entre a concentração
populacional urbana e a disposição real dos córregos que cortam a cidade a fim de
dimensionar o quanto esta configuração contribui para a formação de áreas susceptíveis
a inundação em Cáceres-MT. Na área de estudo foi constatado que o aumento da
concentração populacional é diretamente proporcional à proximidade das áreas em que
se encontram: o médio e baixo curso dos Córregos Fontes, Sangradouro, Lavapés e de
toda extensão do Córrego do Renato. Tal fato não se aplica aos Córregos Olho-D’Água
e Junco, os quais se localizam em regiões com baixo índice de urbanização, como pode
ser observado no mapa da Figura 3.

Figura 3: Imagens de satélite ilustrativas da concentração populacional e urbana em relação aos


principais córregos do perímetro urbano de Cáceres-MT. Fonte: Base hidrográfica das cartas
topográficas DSG (1:100.000) e Imagens de Satélite Spot 5 (resolução de 2,5 m - Jul/2007).

Observa-se na imagem da Figura 3, além dos principais córregos e suas


distribuições na área urbana de Cáceres-MT, o trajeto dos Córregos Fontes, Lavapés e
Sangradouro, que segue para a região central da cidade antes de atingir o leito do Rio
Paraguai. Este fato, aliado ao índice de urbanização, à impermeabilização do solo, à
intensidade e magnitude das chuvas durante a estação chuvosa, à declividade do terreno
e à pequena velocidade do escoamento superficial e fluvial, forma um conjunto de

111
fatores potencializadores de inundações, que atinge ruas, avenidas e casas, causando
transtornos e danos à população cacerense de modo geral.
Quando a cidade de Cáceres-MT é atingida por grandes volumes pluviométricos,
sua dinâmica urbana se torna comprometida, porque muitos dos bairros que a compõe
não só estão em áreas de preservação permanente (APP) inundáveis naturalmente, como
tomados por atividades humanas, principalmente as ligadas à urbanização, o que
contribui para agravar ainda mais o quadro aqui descrito.
No decorrer desta pesquisa, verificou-se que os problemas relativos às
inundações acompanham a história da cidade, estando agravados na atual conjuntura
urbana. A expansão desordenada e o uso inadequado do solo urbano acentuaram e
ultrajaram os impactos ambientais, principalmente os ligados às inundações.
O Córrego do Renato, mesmo não se direcionando para a o centro da cidade de
Cáceres-MT, secciona a leste cinco bairros até desaguar na Baia da Palha (Rio
Paraguai). Os bairros drenados por este curso de água apresentam índice de urbanização
considerável, principalmente os mais antigos como Cohab Velha e Vila Mariana, que se
reduz à medida que o córrego alcança os bairros Maracanãzinho, Santa Cruz, São
Lourenço e Jardim Imperial. O percurso seccionado por este córrego pode ser observado
na Figura 4.

Figura 4: Imagem aérea parcial da malha urbana da cidade de Cáceres, destacando os bairros
seccionados pelo Córrego do Renato. Fonte: (Adaptado de Google Earth, 2012).

A Figura 4 retrata as nascentes do Córrego do Renato que, por estarem


localizadas próximo à região central da cidade de Cáceres-MT, numa área destinada à
construção da praça do Bairro Vila Mariana, vizinho a Cohab Velha, contribuem para
que este local seja um dos pontos mais afetados pelas inundações durante o período
chuvoso. Segundo informação de alguns moradores, no passado, o local das nascentes
era uma lagoa que, devido ao processo de urbanização, foi sendo aterrada para ceder
lugar a casas e ruas. Em consequência da ocupação irregular, o lençol freático, que na
região é muito superficial, aflora à superfície no período chuvoso, provocando
inundações constantes.

112
Figura 5: Vista parcial da área de nascente do Córrego do Renato no Bairro Vila Mariana,
detalhes para o afloramento do lençol freático. Município de Cáceres MT. 16º 04’ 47” S e 57º
40’ 56” W.

O Córrego do Renato, apesar de se encaixar em terras com altimetria inferior a


120 metros em relação ao nível do mar, é responsável por escoar as águas que se
acumulam no interior da cidade (setor leste). Essa vazão, entretanto, se torna reduzida,
retardando o escoamento pluvial e fluvial em decorrência de alguns fatores como a
pequena declividade do leito, associada ao aumento pluviométrico que atinge a região
durante a estação chuvosa, e o grande volume de resíduos sólidos e vegetação
macrófitas que obstruem sua calha. Em conjunto, tais fatores aumentam a
susceptibilidade a inundações nos bairros drenados por suas águas.

Figura 6: Vista parcial do Córrego do Renato, com destaque para urbanização e vegetação em seu leito.
Município de Cáceres-MT. 16º 05’ 02” S e 57º 41’ 23” W.

Localizado aproximadamente a sete quilômetros de distância do centro da


cidade de Cáceres-MT, o Córrego Olho-D’água percorre uma extensão de cerca de
3,5 quilômetros, passando por áreas ocupadas por chácaras. Estas áreas são
caracterizadas pelo baixo índice demográfico e por construções bastante esparsas. Essa
combinação, ao contrário das áreas de alta concentração humana, em que há a
impermeabilidade do solo, facilita o escoamento das águas pluviais.
As nascentes do Olho-D’Água se encontram em terras acima de 150 metros de
altitude, estando localizadas próximo ao bairro de mesmo nome. A partir dos primeiros
500 metros, no sentido jusante, seu leito atinge terras inferiores a 130 metros. As

113
poucas áreas abaixo desta altimetria não são caracterizadas por construções, ruas ou
avenidas; mas por pastagens e pequenas plantações de subsistência, que ajudam a
reduzir o risco de os poucos moradores que habitam o seu entorno sofrerem com
inundações. Segundo Kobyama et al. (2006) “o risco somente é caracterizado quando
há a presença humana”. Durante a realização desta pesquisa não encontramos
informações acerca de alagamentos ou enchentes nesta região.

Figura 7: Vista parcial do Córrego Olho-D’água, destaque para as plantações e poucas residências.
Município de Cáceres-MT. 16º 02’ 39” S e 57º 38’ 55” W.

Dentro do perímetro urbano, o Córrego do Junco percorre uma extensão de


cerca de 5 quilômetros, indo da Rua Joni Oliveira Fontes até a margem do Rio
Paraguai. Em seu trajeto, secciona áreas de baixo índice de urbanização, a exemplo do
trecho entre a Rua Joni Oliveira Fontes e a Avenida Radial I, no Bairro Rodeio, em que
a paisagem se destaca pelas chácaras com pastagens e pequenos plantios de
subsistência, como demonstra a figura a seguir.

Figura 8: Vista parcial do Córrego do Junco, pastagem e processo de erosão em suas margens.
Município de Cáceres-MT. 16º 06’ 10” S e 57º 41’ 14” W.

Observamos que as margens do Córrego do Junco se encontram totalmente descobertas


de vegetação e que parte do volume de água é desviada para abastecer tanques de
criação de peixes ou servir bebedouro de animais. Em seu percurso, passa pelos bairros:
Santo Antônio, Vila Real, Junco, Jardim Panorama, Rodeio e Jardim das Oliveiras,
trecho de baixo curso, em que se verifica que a atividade urbana se intensifica com

114
ruas, avenidas e construções margeando seu leito. Desde que atinge o perímetro urbano,
o Córrego do Junco se assenta em terras com altitudes inferiores a 130 metros. Em
alguns pontos as cotas altimétricas assumem valores inferiores a 120 metros, o que
potencializa a susceptibilidade da região a inundações.
As informações prestadas ao longo do texto revelaram os problemas e impactos
potencializados pelas inundações que periodicamente atingem a cidade de Cáceres-MT.
Tais Impactos são causadores de onerosos prejuízos e desconfortos, principalmente aos
grupos e indivíduos que ocupam áreas que deveriam ser protegidas, mas, que hoje
abrigam atividades humanas em áreas de mananciais, nascentes e próximas aos
córregos urbanos. De acordo com Assad (2007), a Legislação Ambiental do Estado de
Mato Grosso considera, em seu artigo 58, área de preservação permanente as florestas e
demais formas de vegetação que estiverem ao longo de qualquer curso de água, ou ao
redor de lagoas, lagos, reservatórios naturais, nascentes (mesmo que intermitentes) e
olhos-d’água, num raio mínimo de 100 metros.
Não dispondo de mecanismos de planejamento do uso e ocupação do solo, a cidade de
Cáceres-MT sofre com sérios problemas socioeconômicos e ambientais, decorrentes da
ocupação de áreas de preservação permanente para realização de atividades humanas
diversas.
Com base no mapa altimétrico do perímetro urbano foi possível aferir os índices
de susceptibilidade a inundações na cidade de Cáceres-MT. De um total de 75, 238
Km² mapeados, apurou-se que a área correspondente aos setores de baixa, média e alta
susceptibilidade a inundação equivale a 22,792 Km², 32,012 Km² e 20,434 Km²,
respectivamente. Em termos percentuais, cada uma destas áreas, na devida ordem,
corresponde a 30,3%, 42,5% e 27,2%. Tais informações podem ser analisadas na tabela
a seguir.
Tabela 2: Índice de susceptibilidade a inundação por setor
SETOR ÁREA POR SETOR PORCENTAGEM

BAIXO 22, 792 Km2 30,3 %

MÉDIO 32, 012 Km2 42,5 %

ALTO 20, 434 Km2 27,2 %

PERÍMETRO (ÁREA 75, 238 Km2 100 %


TOTAL)
Fonte: Mapa das áreas com baixo, médio e alto índice de susceptibilidade a inundação.

A partir da tabela exposta percebe-se que o perímetro urbano do Município de


Cáceres-MT é caracterizado por extensas áreas propícias a ocorrência de inundações,
em função do processo de urbanização ocorrido ao longo do tempo. Em locais onde há
peculiaridades favoráveis à manifestação de fenômenos de natureza hidráulica, são
evidentes os problemas decorrentes de inundações causados à população cacerense.

Em relação a esse assunto, Pinto e Pinheiro (2006, p. 9) esclarecem que “um dos
efeitos da urbanização são as enchentes lentas ou rápidas (...)” e que “isso se deve à
ocupação desordenada do solo”.

115
O mapa a seguir apresenta o índice de susceptibilidade a inundações para
Cáceres-MT, conforme seja a vocação da localidade para alagamento: alta, média ou
baixa susceptibilidade.

Figura 9: Mapa das áreas com baixo, médio e alto índice de susceptibilidade a inundação. Fonte: Base
hidrográfica das cartas topográficas DSG (1:100.000) e do SRTM (resolução - 30 m).

O mapa da Figura 9 foi elaborado, a partir das classes altimétricas determinadas


no Mapa da Figura 2. Os índices de susceptibilidade a inundação para área urbana da
cidade de Cáceres-MT foram distribuídos em três classes altimétricas: alta, média e
baixa. Para cada faixa definiram-se os seguintes parâmetros de altitude: abaixo de
120metros, entre 120 e 130 metros e acima de 130 metros, respectivamente.
Esta classificação permitiu a identificação dos bairros mais afetados pelas
inundações: Garcês, Jardim das Oliveiras, Rodeio, Jardim Paraíso, São Lourenço, Santa
Cruz, São Luiz, Bairro da Ponte, Marajoara, Maracanãzinho, Vila Mariana, São
Miguel, Cohab Velha, Cidade Alta, Centro, Lavapés, Joaquim Murtinho, Cavalhada I,
II e III, Betel, Vila Nova, Massa Barro, Santa Rosa e Distrito Industrial. Em conjunto,
esses bairros correspondem, como descrito anteriormente, a 27,2% da área de estudo.
No mapa exposto na Figura 9, é possível observar que todos os 25 bairros acima
mencionados apresentam áreas pertencentes às classes de alta e média susceptibilidade
a inundação. Vale ressaltar que as áreas de média susceptibilidade ainda podem ser
afetadas por inundações dependendo intensidade e magnitude dos eventos chuvosos.
Não foi detectada qualquer ocorrência da classe de baixa susceptibilidade a inundação
nestes bairros, o que nos levou a considerar que estas são áreas periodicamente afetadas
por este fenômeno.
Levando em consideração as áreas totalmente planas e com pequena declividade
onde estão localizados os bairros cacerenses cortados por córregos urbanos, além da
posição geográfica da cidade às margens do Rio Paraguai, pode-se inferir, num
primeiro momento, que a principal causa de inundações na área de estudo está
relacionada a fatores eminentemente naturais. Segundo Tucci e Genz (1995), o rio
geralmente de médio ou grande porte, ocupa o seu leito maior (várzea) no período das
cheias, quando a ocupação humana nesta área traz grandes prejuízos socioeconômicos e
ambientais, além de elevar os níveis das enchentes à jusante, decorrentes da obstrução
do escoamento natural.
De modo geral, este cenário aplica-se à área urbana de Cáceres-MT, uma vez
que, durante o período chuvoso, o Rio Paraguai ocupa suas planícies naturalmente

116
inundáveis. No caso em questão, os problemas se agravaram, pois tais áreas encontram-
se ocupadas por urbanização que se desenvolveu de forma desordenada no tempo e no
espaço, acarretando elevados prejuízos à população e aos aspectos ambientais da área
em evidência. Segundo Tucci e Genz (1995), as enchentes nas cidades são processos
gerados principalmente pela falta de disciplinamento da ocupação urbana.
No processo de expansão urbana cacerense sobre áreas impróprias para tal uso,
desconsideraram-se as margens dos córregos e as áreas de nascentes. Em decorrência
da inobservância aos limites mínimos das áreas de proteção ambiental, os problemas
relativos às inundações se agravaram durante as últimas décadas. Logo, faz-se
necessária a gestão integrada da ocupação das áreas urbanas, meio ambiente e pessoas,
o que requer a adoção de um conjunto de medidas políticas, que precisam ser tratadas
em diferentes escalas, tendo como suporte, o planejamento ou replanejamento
urbanístico que atenda e garanta um ambiente ecologicamente equilibrado para as
atuais e futuras sociedades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como já mencionamos, as inundações na área urbana de Cáceres-MT


assumiram maior expansão espacial nas ultimas décadas, pois defendemos que este fato
mantém estreita ralação com a evolução e expansão demográfica, intensificação do uso
e ocupação do solo urbano, que se processou sobre áreas com baixíssimo potencial a
este tipo de atividade, acarretando na atual conjuntura urbana impactos de diversa
natureza. Neste sentido, destacamos os relacionados ao fenômeno em destaque que
periodicamente atingem a área de estudo.
Esta pesquisa possibilitou o mapeamento das áreas de alto, médio e baixo risco
de enchentes no Município de Cáceres-MT. Desta forma, percebemos que cerca de 27,2
% da área de estudo se descortina sobre terras inferiores a 120 metros de altitude,
periodicamente alagáveis e que 42,5 % apresentam ocorrência de médio risco, o que
não quer dizer que essas áreas não são afetadas por enchente, pois dependendo da
magnitude e intensidades dos episódios pluviométricos as mesma também são
severamente castigadas, o restante da área de estudo pertence a classe de baixo risco de
enchente.
Por estar assentar em terras alagáveis naturalmente do pantanal mato-grossense,
aludimos que as enchentes em Cáceres-MT obedecem aspectos potencialmente
naturais, mas, não negamos a interferência humana no processo de expansão espacial
deste fenômenos nos últimos tempos, pois o homem agindo de maneira interrupta em
um determinado espaço, cria condições para modificá-lo, acarretando prejuízos aos
aspectos naturais e condiciona um conjunto de medidas favoráveis a manifestação de
fenômenos calamitosos como as enchentes.
Em decorrência do processo de urbanização experimentando pela cidade de Cáceres-
MT, as margens dos córregos e as áreas naturalmente inundáveis pelas águas do Rio
Paraguai não foram consideradas. Portanto, os problemas relativos às enchentes se
evolumaram, fato este, que tem suscitado a necessidade de um conjunto de medidas,
que precisam ser tratadas em diferentes escalas, tendo como suporte, um planejamento
ou re-planejamento que atenda e garanta um ambiente ecologicamente equilibrado as
presentes e futuras sociedades.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

117
ASSAD, Z. Pedro. Legislação Ambiental de Mato Grosso. Editora de Liz, Cuiabá,
2007.
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Urbana. Tucci, C.; Porto, R.; Barros, M. (org.) Editora da Universidade, ABRH-
Associação Brasileira de Recursos Hídricos. 1995, p278-347.

A RECUPERAÇÃO DA BACIA DO RIO DOCE IMPACTADA PELO


ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE FUNDÃO EM MARIANA/MG: AÇÕES
DE FISCALIZAÇÃO E MONITORAMENTO PELOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS

Fernandes, P.R.M.1; Amparo, A. P2; Oliveira, G. B.2; Gomes, R.J.1; Melo, M.F.1

1
Fundação Estadual do Meio Ambiente. End: Cidade Administrativa Presidente
Tancredo Neves, Rodovia Papa João Paulo II, 4143 - Edifício Minas - 1º andar - Bairro
Serra Verde, Belo Horizonte / MG, Brasil, Cep: 31630-900, e-mail:
[email protected], Tel: 3915-1107; 2Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente e Recursos Naturais. End: Av. do Contorno, 8121 - Lourdes, Belo
Horizonte/MG, 30110-051, e-mail: [email protected], Tel: (31) 3555-6100.

RESUMO

Este artigo trata das ações desempenhadas pelos órgãos públicos ambientais do Estado
de Minas Gerais, SEMAD, FEAM, IGAM e IEF e; pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, em relação às áreas

118
diretamente afetadas pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana/MG,
ocorrido em novembro de 2015. Ao longo do texto é apresentado um histórico que
contextualiza o evento, as ações executadas pela Samarco e pela Fundação Renova no
âmbito do Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC), que foi assinado
pela Samarco e suas acionistas – Vale S.A e os governos federal, de Minas Gerais e do
Espírito Santo, para nortear todos os programas socioeconômicos e socioambientais
realizados na bacia do rio Doce e algumas iniciativas de acompanhamento e
monitoramento realizadas pelos órgãos ambientais de forma isolada, ou por meio de
parcerias interinstitucionais, em busca da recuperação das áreas impactadas. À medida
que o desastre ambiental trouxe uma gama incontável de impactos socioambientais, ele
tem possibilitado a integração e a busca de soluções conjuntas entre as instituições
públicas que lidam diariamente com o tema, trazendo um novo olhar sobre o
monitoramento e acompanhamento de empreendimentos minerários e sobre a gestão de
barragens de rejeitos, aproximando os órgãos ambientais federal e estaduais, na busca
de soluções integradas, que minimizem os riscos e tragam maiores benefícios a curto e
longo prazo.

Palavras Chave: Áreas degradadas, recuperação ambiental, barragem de rejeitos,


gestão ambiental, bacia do rio doce

1. INTRODUÇÃO
No dia 05 de novembro de 2016, a barragem de Fundão, da empresa Samarco
Mineração S.A, no município de Mariana/MG, se rompeu liberando milhões de metros
cúbicos de rejeito de minério na bacia do rio Doce, afetando diretamente as paisagens
naturais e as práticas econômicas e culturais das populações residentes naquela bacia.
O barramento, classificado como classe III, de alto potencial de dano ambiental,
pela Deliberação Normativa COPAM nº 62 de 17 de dezembro 2002, era destinado a
receber e armazenar o rejeito gerado pela atividade de beneficiamento de minério de
ferro. A barragem continha 56,4 milhões de m³ de rejeitos de mineração de ferro, sendo
que o rompimento liberou inicialmente 32,2 milhões de m³ de rejeitos e ao final de
2016, estimava-se que 43,6 milhões de m³ de rejeitos já estavam dispostos no meio
ambiente.
Inicialmente, o rejeito atingiu a barragem de Santarém logo a jusante, causando
seu galgamento, e seguiu pelas calhas do rio Gualaxo do Norte, rio do Carmo e rio
Piranga até chegar na Usina Hidrelétrica (UHE) de Risoleta Neves, conhecida como
UHE Candonga, que reteve parte do rejeito e reduziu a energia da onda de lama
(Relatório da Força-Tarefa, 2016). Após essa barreira, a parte coloidal do rejeito seguiu
pela calha principal do rio e foi carreada até a foz do rio Doce no Oceano Atlântico. No
total, 663,2 km de corpos hídricos foram diretamente impactados pelo rompimento.
A maior parte do rejeito liberado, aproximadamente 67%, encontra-se entre o
município de Bento Rodrigues e a UHE Candonga. Esta região sofreu os maiores
impactos ambientais e sociais, ocorrendo inclusive perda de vidas (Relatório da Força-
Tarefa, 2016) e, por isso, tem prioridade nas ações de recuperação e é denominada de
Área Ambiental 1. Nesta área, cerca de 1.600 hectares, 120 tributários e 102 km de
calhas de rios foram atingidos pela onda de lama. A degradação dos locais variou muito
de acordo com suas características geomorfológicas e tipo de ocupação, sendo que em
alguns locais a onda de lama carreou completamente a vegetação e o solo, enquanto em
outros ocorreu uma grande deposição de lama sobre o terreno natural.

119
Desde o evento, a Samarco em conjunto com suas acionistas, as empresas Vale
S.A e BHP Billiton Brasil LTDA., vem realizando uma série de intervenções visando
garantir a segurança das estruturas remanescentes, impedir a continuidade da liberação
de rejeitos e recuperar as áreas impactadas, em ações que podem ser classificadas como
emergenciais e a longo prazo.
Estas ações vêm sendo acompanhadas por diversos órgãos
reguladores/fiscalizadores, correlacionados a temática ambiental, da esfera federal e
estadual no âmbito de Minas Gerais e Espirito Santo através de instrumentos
específicos.
Diante do exposto, este artigo tem como objetivo apresentar as medidas que
estão sendo tomadas para recuperar as áreas afetadas pelo romprimento da barragem de
Fundão, em Mariana/MG, bem como as estratégias adotadas pelo IBAMA e pelo
SISEMA para acompanhar e fiscalizar a execução das obras.

2. MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi executado a partir de um levantamento das ações de
recuperação ambiental realizadas no trecho denominado Área Ambiental 01,
correspondente aos primeiros cem quilômetros impactados pelo rompimento da
barragem de Fundão até a UHE Candonga, e do acompanhamento dessas intervenções
por parte das instituições públicas ambientais.
Em relação as intervenções realizadas pela Samarco, foram consultados os
documentos apresentados aos órgãos ambientais, o conteúdo e exigências do Termo de
Transação e Ajustamento de Conduta. As ações de acompanhamento e fiscalização
realizadas pelos órgãos ambientais foram levantadas em relatórios técnicos, documentos
de vistorias, autos de fiscalização e de infração e atas de reunião.
Após a análise de todos os documentos, foi realizada uma análise crítica entre o
que vem sendo executado pela empresa e como os órgãos ambientais estão
acompanhando o processo, visando verificar a efetividade de atuação e pontos que
devem ser melhorados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) e ações executadas


pela Samarco visando a recuperação ambiental da bacia do rio Doce
A partir do rompimento da barragem de Fundão, várias ações foram adotadas
pelos diversos órgãos ambientais envolvidos, objetivando, dentre outros aspectos,
garantir a gestão do rejeito liberado no ambiente, a recuperação, mitigação, reparação
das áreas atingidas e a segurança das estruturas remanescentes no complexo minerário.
Em 02 de março de 2016, a Samarco e suas acionistas – Vale S.A e BHP
firmaram com os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo, o Termo de
Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC), a fim de estabelecer uma gestão
consensuada e organizada quanto às respectivas competências, direitos e deveres dos
envolvidos. O objeto do TTAC é o desenvolvimento de diversos programas que se
dividem em dois grupos: socioeconômicos e socioambientais, visando reparar e
compensar os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão. As ações e
medidas que compõe os programas são fiscalizadas pelo poder público, nos termos do
Acordo. Para execução de todas as medidas previstas nos programas socioeconômicos e
socioambientais foi criada uma entidade gestora denominada Fundação Renova. Esta
entidade é de direito privado, sem fins lucrativos, instituída pela Samarco e suas
acionistas.
120
As ações contempladas no TTAC são avaliadas por 10 (dez) Câmaras Técnicas
(CT’s), que foram criadas com o intuito de disciplinar os temas, estabelecendo um
fórum de discussão com definições e solicitações às empresas envolvidas. Elas são
formadas por representantes dos governos federal, estadual e municipal, nas diversas
áreas de conhecimento e por representantes das empresas. Dentro de cada uma dessas
Câmaras, são realizadas discussões e encaminhadas propostas e ações interinstitucionais
que subsidiam as tomadas de decisões do Comitê Interfederativo (CIF). O CIF é uma
instância multi-institucional de discussão técnica e de tomada de decisões, concretizadas
na forma de Deliberações. A validação das ações pelo Comitê deve levar em
consideração os princípios do Acordo, sem prejuízo da necessidade de obtenção das
licenças ambientais junto aos órgãos competentes ou autorizações de outros órgãos
públicos.
Em relação às ações de recuperação ambiental, as ações propostas pela Samarco
são analisadas pelas CTs de Gestão de Rejeitos e Segurança Ambiental (CTRejeitos), de
Restauração Florestal e Produção de Água (CTFlor) e de Conservação e Biodiversidade
(CTBio). Nestas Câmaras, ocorre a participação ativa dos órgãos ambientais federal e
estadual de Minas Gerais, prefeituras, Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Doce, além
de professores e pesquisadores convidados.
As ações de recuperação ambiental da bacia do rio Doce fazem parte do Plano
de Recuperação Ambiental Integrado (PRAI), que está alinhado às clausulas do TTAC.
A recuperação das áreas degradadas executada pela Samarco e Fundação Renova pode
ser dividida em duas fases: emergencial e definitiva.
Emergencialmente, as ações focaram a segurança das estruturas remanescentes
da empresa, com a ampliação da capacidade de armazenamento de rejeitos e também a
contenção e controle da erosão das áreas impactadas ao longo dos rios. A segurança das
estruturas focou o reforço das barragens, a dragagem da UHE Candonga e a construção
de novas estruturas, como a Nova Santarém, e os diques S3 e S4, este último, localizado
em Bento Rodrigues. Para controle da erosão, a principal atividade foi a revegetação de
800 ha e a desobstrução e recuperação dos tributários mais impactados.
Passada a fase emergencial, foi iniciado o desenvolvimento de diversos estudos
geomorfológicos, hidrológicos e hidrosedimentológicos para conhecer a nova dinâmica
estabelecida na bacia, pós evento e também definir áreas prioritárias de recuperação,
devido à dimensão da área afetada, auxiliando na tomada de decisão. Com base nestes
estudos, a Samarco selecionou 16 Áreas Prioritárias para Recuperação, todas localizadas
entre a barragem de Fundão e a UHE Cadonga, na denominada Área Ambiental 1.
Visando a recuperação definitiva da bacia do rio Doce, a Fundação Renova vem
desenvolvendo um Plano de Manejo para seleção dos locais onde é viável e
tecnicamente recomendável a retirada parcial/total do rejeito. A definição destes locais
também estará embasada em estudo de análise de risco a saúde humana e ecológica. A
princípio, diversas medidas deverão ser adotadas levando-se em consideração a
dimensão e as diferentes características das áreas afetadas.

3.2 Ações do IBAMA


O IBAMA tem acompanhado os desdobramentos do rompimento da barragem
de Fundão desde a ocorrência do evento e tem realizado diversas ações de resposta ao
desastre como vistorias, fiscalizações, monitoramento e outras medidas administrativas
correlatas. Ressalta-se que não cabe ao órgão autorizar ou licenciar obras de contenção
de rejeitos que não seja sejam de atribuição federal, nos termos da Lei Complementar
140/2011. Além disso, por força da Política Nacional de Segurança de Barragens (Lei

121
Federal 12334/2010), a instituição não tem atribuição de fiscalizar a segurança de
barragens de mineração, sendo suas ações apenas complementares aos órgãos de
competência originária.
Dentre algumas das ações realizadas pelo Instituto, destacam-se as análises para
verificar as alterações na qualidade da água; o direcionamento das ações de resgate
preventivo (e destinação) da ictiofauna nas áreas até então não afetadas; a solicitação de
ações para contenção da lama e prevenção de acidentes com as estruturas
remanescentes; a entrega de notificações administrativas com pedidos de providências a
serem executadas pela Samarco e autos de infração por transgressão de diversos
dispositivos da legislação ambiental por parte dessa empresa.
Inicialmente a participação do órgão se deu no âmbito do Posto de Comando
Unificado, desmobilizado em 04/12/2015, para que cada instituição envolvida utilizasse
sua própria estrutura. Ainda no início dos trabalhos relacionados ao rompimento da
barragem, em 26/11/2015, o órgão emitiu o primeiro relatório consolidado sobre o
desastre, Laudo Técnico Preliminar (IBAMA, 2015) em que aponta os danos
ambientais, econômicos e sociais constatados na região, diferenciando-os em: impactos
às áreas de preservação permanente; impactos à ictiofauna; impactos socioeconômicos e
impactos à qualidade da água. Previamente foi indicado que os impactos diagnosticados
não se limitavam a danos diretos, sendo necessário considerar a interação entre os
processos, podendo-se desencadear novos efeitos em toda a área atingida. Além disso,
ressaltou-se o longo tempo necessário para reparação dos danos, quando viáveis.
Em janeiro de 2016, o IBAMA criou o Grupo de Apoio Técnico com o objetivo
de coordenar as ações do órgão relacionadas ao desastre ambiental e suas repercussões
em toda a bacia do rio Doce até a região costeira afetada. Posteriormente, a partir da
Consolidação do Comitê Interfederativo (CIF), a autarquia passa a exercer sua
presidência e coordenar a CTFlor e a CTRejeitos, dividindo espaço e competências com
outras instituições públicas federais e estaduais, sobretudo aquelas que lidam com
assuntos relacionados à questão ambiental. Em relação à recuperação das áreas,
destacam-se os trabalhos desenvolvidos na nas supracitadas Câmaras, espaços cujas
discussões delineiam as estratégias para recuperação das áreas degradadas pela onda de
rejeitos oriunda do rompimento da barragem.
A principal estratégia adotada pelo Ibama e referendada pela CTFlor para
acompanhar a recuperação ambiental da área ambiental 1 é a Operação Áugias. Esta
Operação compreende visitas regulares às áreas afetadas, e se baseia em quatro
principais eixos estratégicos: i) metodologia sistemática de acompanhamento, ii)
transparência, iii) envolvimento de pesquisadores e iv) articulação interinstitucional.
A metodologia sistemática concebida consiste em três passos. Primeiro são
utilizadas imagens de satélite de alta resolução para o levantamento dos pontos a serem
visitados. Neste primeiro momento priorizaram-se os tributários atingidos e os locais
com grande deposição de rejeito nas calhas principais.
Em seguida são visitados os pontos levantados, preenchendo-se um relatório
padronizado. Este relatório compreende 32 itens, que abordam aspectos do diagnóstico
da área, avaliação da resiliência do ecossistema, avaliação das intervenções já realizadas
pelas empresas e recomendações que as equipes de campo consideram necessárias.
Ao voltar de campo, as informações coletadas através do relatório padronizado
são processadas no software estatístico R (R Core Team 2015), gerando-se mapas e
dados estatísticos sobre cada um dos itens avaliados. Assim, esta metodologia permite
um diagnóstico fiel do cenário encontrado pelas equipes de campo. Além disso, o
relatório padronizado é reaplicado a cada visita de campo nos mesmo pontos, o que
permite um acompanhamento temporal de cada aspecto analisado.

122
Todas os relatórios padronizados preenchidos em campo pelas equipes são
integralmente repassados à Fundação Renova, proporcionando total transparência às
ações do Ibama no âmbito da Operação. Desta forma, A Fundação tem acesso à todas as
recomendações e avaliações exaradas pelos técnicos que visitaram as áreas. Ademais, os
relatórios de cada fase da Operação são integralmente disponibilizados no site do
Ibama, com livre acesso a qualquer cidadão.
Desde o princípio procurou-se o envolvimento de pesquisadores nas visitas de
campo e nas discussões sobre possíveis soluções para as áreas. Já foram envolvidos 07
professores e 03 estudantes de cinco instituições de pesquisa. Este envolvimento
confere um forte subsídio científico às decisões, o que é essencial face a complexidade
do tema.
Por fim, a Operação Áugias busca uma sólida articulação interinstitucional entre
os órgãos que fazem parte da gestão pública das ações relacionadas ao desastre.
Destaca-se neste ponto a participação efetiva dos órgãos ambientais de Minas Gerais
nas visitas de campo, o que proporciona o intercâmbio técnico entre os servidores
envolvidos. Este aspecto é fundamental para o alinhamento entre os órgãos, buscando o
consenso interinstitucional na busca de soluções para a recuperação das áreas.
Já foram realizadas quatro vistorias da Operação Áugias, divididas na fase
Hélios (junho/2016), Fase Argos etapa I (agosto/2016), Fase Argos etapa II
(setembro/2016) e Fase Argos etapa III (novembro/2016). Durante estas vistorias foram
visitados 174 pontos e elaborados dois relatórios (IBAMA 2016a e IBAMA 2016b), em
um total de 926 páginas.
De acordo com o relatório da Fase Argos II (Ibama, 2016b), foram vistoriados
78 pontos, sendo verificado que: 75% dos pontos apresentaram camadas de rejeitos
acima de 50cm; 87% dos pontos apresentaram processos de ravinamento e erosão
laminar; 87% dos pontos apresentaram espécies nativas em regeneração; 45% dos
pontos não apresentaram nenhuma ação de reafeiçoamento dos terrenos impactados;
71% dos pontos não apresentaram técnicas de conservação do solo; 53% dos pontos não
apresentaram reconformação da linha de drenagem do curso d’água; 53% dos pontos
não apresentaram obras de contenção; 62% dos pontos não apresentaram intervenções
para melhoria da drenagem; 53% dos pontos não apresentaram ações de bioengenharia
90% dos pontos apresentaram condições péssimas, ruins ou insatisfatórias da semeadura
(feita diretamente sobre o rejeito).

Figura 1: Verificação das ações de recuperação ambiental realizadas, com a colocação de enrocamento nas
margens do tributário.

123
Figura 2: Verificação das ações de recuperação ambiental realizadas nos tributários, com a reconformação dos
taludes e implantação de biomanta.

Ao passo em que o IBAMA vem atuando em ações relacionadas à recuperação


ambiental de forma mais específica, como é o caso da Operação Áugias, outra frente de
atuação tem participado das discussões da CTRejeitos, cujos objetivos relacionam-se à
quantificação, qualificação e manejo dos rejeitos, incluindo as avaliações das ações de
retirada, disposição, contenção e estabilização destes nas áreas afetadas, considerando o
caráter emergencial e a segurança dos comportamentos ambientais envolvidos. Desse
modo, a autarquia tem realizado vistorias periódicas para avaliação das estruturas de
contenção previstas, tais como: Eixo 1, barragem de Santarém, dique S3 e S4,
barramento A e B, e a dragagem do reservatório da UHE Candonga.
No que concerne às atividades de fiscalização, até o mês de fevereiro de 2017, o
IBAMA emitiu 80 notificações administrativas e 19 autos de infração destinados a
Samarco. Tais procedimentos visam a execução, por parte da empresa, de ações que
possam diminuir ou cessar a degradação, seja qual for o nível de dano que venha a ser
causados ao ambiente e à saúde pública.

3.3 Ações do Estado de Minas Gerais


Devido à gravidade do ocorrido, as atividades de beneficiamento de minério no
Complexo do Germano da Samarco Mineração S.A. foram suspensas pela Secretaria de
Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) após o
rompimento. Esta suspensão permanece em vigor, entretanto não impede a realização de
obras emergenciais e de recuperação ambiental pela Samarco.
Para avaliação dos efeitos e desdobramentos do rompimento da barragem de
Fundão, o Estado de Minas Gerais instalou no dia 20 de novembro de 2015, a “Força-
Tarefa Barragem do Fundão” (Decreto nº 46.892/2015). O Relatório Final da Força-
Tarefa foi publicado em fevereiro de 2016 com a análise dos impactos em escala
microrregional, com o diagnóstico sobre os danos ambientais, danos materiais e danos
humanos, logo após o ocorrido (Relatório da Força-Tarefa, 2016).
Em paralelo a instalação da “Força-Tarefa Barragem do Fundão” e visando
uma avaliação das normativas vigentes sobre a gestão de barragens, o governo do
Estado de Minas Gerais instituiu em 20 de novembro de 2015, por meio do Decreto n°
46.885/2015, uma Força-Tarefa, com a finalidade de diagnosticar, analisar e propor
alterações nas normas estaduais relativas à disposição de rejeitos de mineração.
O resultado desta Força Tarefa foi a publicação do Decreto N° 46.933, de 02
de maio de 2016, que institui a Auditoria Técnica Extraordinária de Segurança de
Barragem e da Resolução Conjunta SEMAD/FEAM nº 2.372, que estabelece diretrizes
para realização da Auditoria Técnica Extraordinária de Segurança de Barragens de
rejeito com alteamento para montante e para a emissão da correspondente Declaração
Extraordinária de Condição de Estabilidade de que trata o Decreto nº 46.993/2016.
124
Além da revisão da legislação, com o estabelecimento de novas regras para o
licenciamento e fiscalização das barragens com alteamento para montante, o SISEMA
representado pela SEMAD e FEAM vem realizando acompanhamento periódico das
obras de contenção e reforço das estruturas remanescentes no Complexo de Germano,
visando garantir a estabilidade das mesmas.

Figura 3: Barragem de Fundão após o rompimento e construção da nova barragem de Santarém,


respectivamente

Figura 4: Alteamento do dique S3 e Dique S4 em construção, respectivamente

Em relação a regularização ambiental, o SISEMA vem realizando uma série de


análises, sendo as mais importantes: emissão de autorização prévia para intervenções
nos cursos d’água visando a recuperação das áreas impactadas; análise do processo de
Licença Prévia do Sistema de Disposição de Rejeitos na Cava Alegria Sul, análise da
situação ambiental das áreas selecionadas para construção da Nova Bento Rodrigues e
Nova Paracatu de Baixo, análise do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas de
Fundão e instrução do processo de licenciamento corretivo do Complexo Minerário de
Germano. Todas estas atividades vêm sendo executadas por uma equipe
multidisciplinar, regulamentada através do Ato Conjunto SEMAD/FEAM/IEF/IGAM nº
01 e Resolução Conjunta SEMAD/FEAM/IEF/IGAM nº 2410, ambas de 05 de outubro
de 2016. No que concerne às atividades de fiscalização, até o mês de fevereiro de 2017,
o SISEMA lavrou 32 Autos de Infração que totalizam R$ 187.643.863,85, que
abrangem penalidades relacionadas aos impactos ambientais causados e
descumprimentos de solicitações e prazos estabelecidos pelo órgão ambiental.
Após a participação dos órgãos ambientais estaduais, na Operação Áugias e da
definição das 16 áreas prioritárias de recuperação pela Samarco, foi verificado que era
necessária uma maior integração entre os órgãos ambientais estaduais e federais,
visando a divisão dos trabalhos, ampliando o alcance da fiscalização ambiental.
Desta maneira, o SISEMA criou a Operação Watu, com o objetivo de fiscalizar
as ações de recuperação nas calhas principais dos rios Gualaxo, Carmo e Doce, até a
UHE de Candonga, complementando o que já vinha sendo realizado pelo IBAMA nos

125
rios tributários. A metodologia aplicada pelo IBAMA na Operação Áugias foi adaptada
pelos órgãos ambientais estaduais, visando manter a mesma análise ambiental.
De maneira geral, a Operação Watu verificou que em todas as 16 áreas houve
uma grande perda de solo e de vegetação, alta deposição de rejeito na calha dos rios e
planícies de inundação, focos erosivos do tipo laminar e de ravinas por rejeitos, árvores
e galhos mortos. As principais intervenções observadas em campo foram contenção de
sedimentos, obras de drenagem, plantio de mix de sementes através de plantio direto e
semeadura e reconformação dos taludes marginais. Em nenhuma das áreas que estavam
sendo recuperadas, houve a retirada de rejeitos, antes da implementação das ações de
bioengenharia.

Figura 5A: Retentores de sedimentos implantados nas Figura 5B: Colocação de enrocamento nas
margens da callha principal. margens do rio.

Figura 6A: Revegetação na planície de inundação em Figura 6B: Reconformação dos taludes para
estágio inicial. implantação de obras de bioengenharia.

A primeira fase da Operação Watu foi realizada em novembro de 2016, e contou


com 15 servidores do SISEMA e 3 técnicos do Instituto Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos (IEMA) do Espírito Santo. A fase II da mesma operação ocorreu em
dezembro de 2016 e contou com 08 servidores do SISEMA.

126
Figura 7: Comparação entre a recuperação ambiental em trecho do rio Gualaxo do Norte, verificado na
Operação Watu Fase I e Fase II, respectivamente.

Como na Operação Áugias, a Operação Watu gerou uma série de


recomendações repassadas a Samarco e Fundação Renova, com o objetivo de melhorias
nos processos de recuperação e o estabelecimento de um efetivo manejo do rejeito
depositado ao longo da bacia.
Com o foco de acompanhar as ações de recuperação ambiental desenvolvidas
nas áreas impactadas, além da execução da Operação Watu, os órgãos ambientais
mineiros participam em conjunto com o Ibama da CTFlor e da CTRejeitos. Além disso,
o IGAM participa ativamente da Câmara Técnica de Segurança Hídrica e Qualidade da
Água.

3.4 Análise das ações dos órgãos ambientais


A reabilitação das áreas afetadas pelo rompimento da barragem de Fundão se
configura como um desafio tanto para a mineradora quanto para os órgãos ambientais.
No Brasil, nenhum tipo de passivo ambiental ou área degradada pode servir de modelo
único para as ações de recuperação da bacia do rio Doce, sendo que as soluções devem
ser construídas respeitando as características da região e do impacto ocorrido.
O poder público, principalmente representado pelos órgãos ambientais tanto da
esfera federal quanto estadual, teve um grande desafio para se reestruturar tanto
internamente quanto para a realização dos trabalhos em conjunto, tendo que se adaptar a
uma nova realidade no planejamento e execução de ações de monitoramento e análise
dos estudos apresentados pela Samarco.
Nos primeiros meses após o evento, a Samarco priorizou as ações
emergenciais de reforço das estruturas de contenção remanescentes e de recuperação de
infraestrutura críticas. Com isso, os ritos de regularização e intervenção ambiental
tiveram que ser adaptados, eliminando-se etapas e autorizações que ocorreriam em
processos de licenciamento tradicionais, devido a urgência em se realizar uma série de
medidas antes do período chuvoso de 2016.
Ações de recuperação e revegetação executadas em áreas com grandes depósitos
de rejeitos, com o objetivo de evitar que os materiais depositados nas planícies e
margens dos rios fossem carreados para as calhas dos rios, também foram adotadas
como medidas emergenciais.
Passado o primeiro momento, de esforços emergenciais, os órgãos ambientais
têm o papel de identificar quais medidas e intervenções realmente irão beneficiar o meio
ambiente a longo prazo e em quais locais novas intervenções, como a retirada do rejeito,
é necessária. Assim, uma nova etapa se inicia com um maior embasamento técnico e
uma análise mais aprofundada dos projetos e ações de recuperação definitiva.

127
As operações de fiscalização realizadas pelos órgãos federais e estaduais
verificaram que a Samarco e suas contratadas vem adotando em campo as práticas mais
consagradas de recuperação de áreas degradadas. Entretanto, em diversos casos foi
observado uma baixa eficiência das medidas adotadas, tendo em vista, as peculiaridades
do ambiente degradado, tais como alta espessura de camada de rejeito, ausência de solo
e problemas de drenagem.
O relatório final da Áugias (Ibama, 2016) indica que há grande necessidade de
que sejam feitas avaliações técnicas para o manejo correto do rejeito localizado em
planícies de inundação, tributários e calha principal da região impactada.
A necessidade de se ampliar o conhecimento dos técnicos que vem
acompanhando as ações de recuperação e também solicitar apoio na análise de estudos,
fez com que os órgãos ambientais se aproximassem das Universidades. Um bom
exemplo, foi a realização do I Curso de Capacitação Técnica das Equipes envolvidas na
Operação Áugias, entre os dias 28/11 a 02/12/2016, composto por aulas expositivas em
campo, ministrados por professores de universidades federais de Minas Gerais. As
discussões promovidas ao longo do curso culminaram na elaboração de um Relatório
Técnico Interinstitucional, com o objetivo de orientar as próximas ações dos órgãos
ambientais, bem como uma maior uniformidade nas exigências relacionadas a
recuperação ambiental das áreas afetadas.
Os órgãos ambientais entendem que a Samarco e a Fundação Renova devem
fazer uso do conhecimento acadêmico para nortear as ações e evitar o desperdício de
esforços, ampliando as bases de fundamentação das ações empreendidas e qualificando
os resultados através da ampliação do monitoramento.

4 CONCLUSÕES
A recuperação das áreas afetadas pelo rompimento da Barragem de Fundão se
configura um desafio tanto para a Samarco quanto para os órgãos ambientais e de
controle dada a magnitude dos impactos gerados.
As dificuldades encontradas na tomada de decisão emergencial, por parte de
todos os entes envolvidos, evidenciaram a necessidade de se elaborar procedimentos
específicos que agilizem a tomada de decisão e a definição clara das competências de
cada órgão ambiental frente a eventos desta magnitude.
A elaboração de instrumentos específicos de controle a acompanhamento de
ações, como o TTAC, vem se mostrando essenciais, contudo estes instrumentos devem
estar sempre em consonância com embasamentos técnicos e jurídicos, na busca de
soluções integradas e duradouras.
A comunicação entre os órgãos ambientais da esfera federal e estadual evoluiu
em decorrência do acidente e os frutos gerados no processo evidenciam a necessidade
da manutenção deste diálogo entre os mesmos para outros assuntos.
O acompanhamento das atividades executas em campo pela Samarco/Fundação
Renova, por parte do IBAMA e SISEMA, é fundamental para oferecer transparência ao
processo de recuperação e garantir que as medidas adotadas tragam melhorias para toda
a sociedade.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei
nº 12.334, de 20 de setembro de 2010. Estabelece a Política Nacional de Segurança de
Barragens destinadas à acumulação de água para quaisquer usos, à disposição final ou
temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais, cria o Sistema Nacional

128
de Informações sobre Segurança de Barragens e altera a redação do art. 35 da Lei no
9.433, de 8 de janeiro de 1997, e do art. 4o da Lei no 9.984, de 17 de julho de 2000.
Portal da Legislação, Brasília, set. 2010. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12334.htm>. Acesso
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BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei
Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011. Fixa normas, nos termos dos incisos
III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a
cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações
administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção
das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição
em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora; e altera a
Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Portal da Legislação, Brasília, dez. 2011.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp140.htm>. Acesso
em: 16 fev. 2017.

CONSELHO ESTADUAL DE POLÍTICA AMBIENTAL (Minas Gerais). Deliberação


Normativa nº 62, de 17 de dezembro de 2002. Dispõe sobre critérios de classificação de
contenção de rejeitos, de resíduos e reservatórios de água em empreendimentos
industriais e de mineração no Estado de Minas Gerais.

Grupo da Força-Tarefa. Relatório - Avaliação dos efeitos e desdobramentos do


rompimento da barragem de Fundão em Mariana/MG. Governo do Estado de Minas
Gerais. Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, Política Urbana e Gestão
Metropolitana. Belo Horizonte. Fevereiro de 2016.

IBAMA. Laudo Técnico Preliminar – Impactos ambientais decorrentes do desastre


envolvendo o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais. Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama / Diretoria
de Proteção Ambiental – DIPRO / Coodenação Geral de Emergências Ambientais –
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Disponível em: http://ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/relatorios/2016-
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129
MINAS GERAIS. Decreto nº 46.892, de 20 novembro de 2015. Institui Força-Tarefa
para avaliação dos efeitos e desdobramentos do rompimento das Barragens de Fundão e
Santarém, localizadas no Distrito de Bento Rodrigues, no Município de Mariana.
Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, Diário do Executivo, Governo do Estado,
Atos e Decretos, Belo Horizonte, MG, 21 nov. 2015. Caderno 1, p. 2. Disponível em: <
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R Core Team (2015). R: A language and environment for statistical computing. R


Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. URL https://www.R-
project.org/.

IDENTIFICAÇÃO DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS EM ÁREAS EM


RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: O SENSORIAMENTO REMOTO COMO
UMA FERRAMENTA DE ANÁLISE

J. C. S. ROSA20; B. A. SOUZA21;; C. S. MACHADO22;; M. GIANNOTTI23; J.


A. QUINTANILHA24; L. E. SÁNCHEZ25

RESUMO

Atestar o sucesso de iniciativas de recuperação de áreas degradadas ainda é um grande


desafio prático. Com o desenvolvimento de novos sensores e redução de custos, vem
crescendo o uso de imagens de satélite como um instrumento de monitoramento da
recuperação ambiental. Ao mesmo tempo, o conceito de serviços ecossistêmicos ganha
espaço na discussão dos processos que degradam o meio ambiente, por explicitar a
dependência da humanidade pelos benefícios ofertados “gratuitamente” pelos
ecossistemas. Utilizar o conceito de serviços ecossistêmicos como um indicador do
progresso da recuperação torna-se uma oportunidade de demonstrar os ganhos sociais
da recuperação. Neste trabalho apresenta-se como os serviços ecossistêmicos em
20
Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo – FAPESP, doutoranda do Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Mineral, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Autor para
correspondência. Av. Professor Mello de Moraes 2373. CEP: 05508-900 São Paulo, SP. Brasil.
[email protected] (11) 30915188.
21
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral, Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo.
22
Pós-doutoranda no Departamento de Engenharia de Transportes, da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo.
23
Professora do Departamento de Engenharia de Transportes, Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo.
24
Professor do Departamento de Engenharia de Transportes, Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo.
25
Professor Titular do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo, Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo.

130
recuperação podem ser identificados com uso de técnicas de sensoriamento remoto,
configurando o primeiro passo para utilização do conceito no processo de
monitoramento de recuperação de áreas degradadas. Especialmente, o foco do trabalho
é demonstrar como o sensoriamento remoto pode ser útil no planejamento da coleta de
dados primários para identificação dos serviços ecossistêmicos, evitando longos e
custosos trabalhos de campo. Como estudo de caso, utiliza-se uma mina de bauxita,
localizada no munícipio de Juruti, Pará, em áreas de floresta amazônica. Os resultados
apresentam as principais etapas para identificar os serviços ecossistêmicos, desde o
mapeamento da cobertura do solo até a identificação de beneficiários e seleção de
serviços com potencial de utilização no monitoramento.

Palavras Chave: Mineração, bauxita, RAD, sensoriamento remoto, classificação de


imagens.

1. Introdução

Atividades de alto potencial de causar impactos negativos levam à inevitável


perda da capacidade dos ecossistemas em fornecer benefícios à sociedade, os chamados
serviços ecossistêmicos (Alcamo, 2003). Avaliar impactos de novos projetos sobre
serviços ecossistêmicos passou a ser uma exigência dos Padrões de Desempenho
Socioambientais da Corporação Financeira Internacional (IFC) desde 2012. Dentre os
desafios de avaliar esses impactos está a coleta de dados sociais em escala local e
respectiva definição da área de estudo (Rosa e Sánchez, 2016). Especialmente na
mineração, avaliar, monitorar e gerenciar esses impactos é, muitas vezes, vista como
fonte de custos para o projeto, especialmente devido aos trabalhos de campo. O alto
custo desses trabalhos está relacionado às características de estudos sociais necessários
para plena utilização do conceito de serviços ecossistêmicos, pois esses estudos têm
longa duração, requerem escala local e apresentam baixa capacidade de generalizações
(Castro et al., 2008).
Historicamente, o sensoriamento remoto tem sido utilizado para monitorar
mudanças no uso e cobertura do solo. Com o surgimento de novos e mais sofisticados
produtos obtidos pelo sensoriamento remoto, os dados de observação da Terra podem
contribuir para a pesquisa, modelagem e mapeamento de serviços ecossistêmicos, se
associados a bem planejadas coletas de dados sociais (Paudyal, et al., 2015). A
integração das tecnologias de sensoriamento no processo de gestão ambiental auxilia a
conservação da biodiversidade, promove o uso sustentável de recursos naturais e a
restauração de ecossistemas (Barbosa et al., 2015).
Neste artigo, discute-se a utilização do sensoriamento remoto como ferramenta
auxiliar das etapas fundamentais da análise de serviços ecossistêmicos. Parte-se do
princípio de que o elemento básico para analisar serviços ecossistêmicos é um mapa de
cobertura do solo (Ayanu et al., 2012; Barbosa et al., 2015), com escala adequada a
análises ecológicas – 1:20.000 até 1:50.0000 (Treweek, 1999). Portanto, o objetivo
desse artigo é demonstrar como o processamento digital de imagens de satélite pode ser
utilizado para identificar ecossistemas, seus serviços e beneficiários, que são os passos
fundamentais no processo de utilização do conceito como indicador do sucesso da
recuperação ambiental (Rosa. et al., 2016).

2. Caracterização do caso em estudo


A empresa Alcoa detém direitos minerários para bauxita em Juruti desde 1975.
A partir de 2000, intensificou as atividades de pesquisa mineral e iniciou em 2005, o
processo de licenciamento ambiental do “Projeto Mina Juruti”, com a finalização do
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) (CNEC, 2005). O Projeto Mina Juruti é composto
por uma mina, uma usina de concentração mineral, três bacias de rejeito, estruturas de
apoio, uma ferrovia de 55 km e uma rodovia de 56 km, que liga a Mina ao Porto,
localizado as margens do rio Amazonas. O processo de extração mineral é feito por
lavra em tiras, o que facilita o processo de recuperação ambiental, uma vez que, quase
que imediatamente após a extração mineral ocorre a recuperação da área, sem que haja
necessidade de estocagem de solo por exemplo (CNEC, 2005).
O depósito de bauxita ocorre próximo ao chamado Lago Grande de Juruti,
formado em uma planície fluvial alagada, caracterizada geomorfologicamente como
“lago de barragem”, que ocorre a jusante de rios que têm sua foz afogada ou barrada. A
bauxita ocorre em áreas planas situadas cerca de 80 m acima da cota do lago, em platôs
dissecados cobertos por floresta ombrófila densa submontana. Há comunidades
ribeirinhas ao longo do Lago Grande Juruti, que desenvolvem atividades de
extrativismo vegetal, pesca e agricultura em pequena escala (MME/DNPM, 1976;
CNEC, 2005). A população de Juruti, desde os anos de 1970, é predominantemente
rural e continua até os dias atuais. Entretanto, é possível perceber que a chegada da
mineração induziu um aumento significativo da população, fazendo com que pequenas
vilas ao longo do Lago Grande Juruti crescessem. Um assentamento agroextrativista
(PAE) denominado Juruti Velho foi criado em 2005 na área que engloba parte das
jazidas de bauxita (Figura 1).

Figura 45: Localização da área dede estudo.

A definição da área de estudo para coleta de dados em EIAs ainda é um desafio


na prática. No caso em questão, a área foi definida segundo recortes geográficos
especificados como “comunidades próximas ao empreendimento”. Nesses locais houve
coleta de dados qualitativa sem preocupação com amostragem representativa. O
objetivo dessa coleta foi caracterizar as condições de vida das famílias (habitação,
saúde, educação, trabalho, renda e composição familiar). Para tanto, ao longo do EIA
foram realizadas reuniões coletivas, entrevistas estruturadas com lideranças locais e
moradores das comunidades (CNEC, 2005). A apresentação dos dados no estudo está
organizada por temas, o que não permite compreender as diferenças entre as
comunidades, um problema causado pela definição da área de estudo. Esse é um
problema recorrente em EIAs e uma das principais dificuldades de se avaliar impactos
sobre serviços ecossistêmicos (Rosa, Sánchez, 2016).

3. Metodologia

As principais etapas para identificação de serviços ecossistêmicos foram


descritas em forma de guia por (Landsberg et al., 2013) e testados por Rosa e Sánchez
(2016). Nesta pesquisa, procurou-se aplicar estas etapas com vistas a uma futura
utilização do conceito no monitoramento de áreas em processo de recuperação.
Essencialmente para uma análise de serviços ecossistêmicos deve-se identificar: (i)
ecossistemas; (ii) serviços ecossistêmicos; (iii) beneficiários dos serviços.
Para identificação dos ecossistemas é necessário realizar um mapeamento da
área com detalhes compatível com escala 1:25.000, recomendada em estudos ecológicos
(Treweek, 1999). Para tanto, foram utilizadas imagens do satélite RapidEye, com
resolução espacial de 5m. As imagens foram obtidas gratuitamente pelo site
“Geocatalogo” do Ministério de Meio Ambiente, processadas (classificação não
supervisionada e supervisionada) no programa de sensoriamento remoto, ENVI 5.3. 26 A
metodologia de processamento das imagens estruturou-se em etapas sequenciadas
(Figura 1).

26
Licença adquirida pelo departamento de Engenharia de Minas e Petróleo da EPUSP
Figura 46: Fluxograma da metodologia da pesquisa.

A partir do mapeamento da área, foi possível identificar os serviços


ecossistêmicos potencialmente afetados, seguindo a metodologia de Burkhard et al.
(2012), e seus beneficiários por meio, de aplicação, em campo, de questionários e
entrevistas com atores chave (Rasmussen, et al., 2016). O mapeamento também foi
muito útil na otimização dos trabalhos de campo, que foram focados em comunidades
mais próximas e/ou com acesso aos ecossistemas potencialmente afetados pelo projeto.

4. Resultados
A partir dos resultados obtidos pela técnica de Análise da Componente Principal
(ACP), geraram-se imagens que mostram a variação das mudanças na cobertura do solo.
A ACP permite o tratamento de imagens com elevado número de bandas espectrais e a
obtenção de informações de dados multitemporais (Crosta, 1992).
A segunda componente principal realçou as formas de relevo, destacando a
borda do platô e as cabaceiras de drenagens. A partir dessa característica, foi possível
concluir que o projeto não afeta diretamente os ecossistemas aquáticos da região, uma
vez que todas as nascentes se encontram fora da área do platô. Tal conclusão conduziu a
pesquisa a excluir os serviços ecossistêmicos fornecidos pelos ecossistemas aquáticos --
como pesca, fornecimento de água etc. Esse resultado foi comprovado a partir de
análise de monitoramento da qualidade da água realizados pelo empreendedor e
entrevistas realizadas nas comunidades. A partir da análise da componente principal e
classificação não supervisionada, foi planejada a coleta de dados para servirem como
referências ou “verdades” de campo, realizada entre os dias 8 e 18 de novembro de
2015. Para cada classe pré-definida, como regiões de interesse, foi coletado pelo menos
um ponto de referência que foi utilizado para testar a classificação supervisionada por
meio da matriz de confusão (Quadro 1).
A classificação supervisionada com todas as bandas foi realizada a partir de uma
cuidadosa coleta de amostras, utilizando o algoritmo “Maximum Likelihood” do
software ENVI. Outra estratégia adotada na classificação supervisionada foi manter o
foco somente na área de interesse da cena, o que diminuiu os conflitos entre as classes.
É possível perceber uma concentração de áreas em processo de recuperação. Essa classe
foi diferenciada tanto da vegetação nativa, quanto da vegetação degradada no entorno
direto do empreendimento e de estradas e acessos (Figura 2).
Classes Coordenadas (UTM) Fotos Ecossistemas

Floresta Ombrófila Densa


Vegetação 0594551
Submontana (Floresta de
nativa 9724690
Platô)

Vegetação 0594550 Floresta Ombrófila Densa


degradada 9724484 Submontana Explorada

Vegetação em 0588787 Ecossistema florestal em


recuperação 9725381 recuperação

Vegetação 0589073 Floresta Ombrófila Densa


alagada 9730913 Aluvial (Floresta de Baixo)

0591689
Solo exposto Não há
9723873

Áreas
0586799 Mosaico de usos pastoris,
antrópicas ou
9729160 agricultura e capoeirinhas
Comunidades

0592549
Rio Ecossistema aquático
9721998

Quadro 1: Classes e pontos de interesse coletados em campo para classificação supervisionada para
Juruti
Figura 2: Mapa de cobertura do solo para Juruti, imagem RapidEye 2014
O índice Kappa da classificação, obtido a partir da matriz de confusão, foi
0,8960 e a acurácia geral foi de 93%. Isto indica um bom resultado, com ampla
diferenciação entre classes. O foco de confusão na classificação se concentrou na classe
vegetação degradada, com a vegetação em recuperação (Quadro 11). Tal fato demonstra
que ainda que a acurácia da classificação tenha obtido um bom resultado, as classes de
interesse para o estudo não foram bem classificadas.
Ainda que o erro de omissão tenha sido alto, ou seja o algoritmo deixou de
classificar 51% dos pixels das classes vegetação em recuperação, poucos pixels de
outras classes foram considerados pertencentes desta classe (erro de comissão). Além
das referências de campo, coletadas durante o trabalho de campo, o empreendedor
forneceu arquivos no formato Shapefile, das áreas que estão sendo recuperadas de
acordo com o ano em que a recuperação foi iniciada (Figura 2).
De posse dessa informação foi possível confirmar que a maior parte da
classificação está correta. Algumas áreas indicadas pelo empreendedor em que a
recuperação foi iniciada em 2014, foram classificadas como solo exposto, porque esse
processo começou depois da captura da imagem. Portanto, considera-se que a
classificação supervisionada foi razoável para diferenciar os diversos estágios da
vegetação na área de estudo. Este resultado preliminar indica que pode ser possível
utilizar imagens de satélite para mapear serviços ofertados pela vegetação em
recuperação.

Comissão Omissão Comissão Omissão


Classe
(%) (%) (pixels) (pixels)
Rios e lagos 0 0 0/88868 0/88868
Área de extração mineral 0,96 2,08 353/36897 778/37322
Mosaicos de usos 91,69 99,04 684/746 6413/6475
Ecossistema florestal em recuperação II 2,59 51,04 684/746 2976/5831
Ecossistema Florestal em recuperação I 80,04 31,59 10320/12893 1188/3761/
Floresta ombrófila densa submontana 0,01 15,31 26/235545 42579/278098
Floresta ombrófila densa aluvial 69,94 10,01 44540/63684 2129/21273
Quadro 1: Erro de comissão e omissão para classificação da imagem RapidEye 2014.

Com relação a análise dos serviços ecossistêmicos, verifica-se que a paisagem


de Juruti é marcada pelo extrativismo e, portanto, mesmo que degradada, a floresta
oferta serviços às comunidades locais. O solo exposto representa o ponto de zero
fornecimento de serviços e a vegetação nativa o ponto máximo de fornecimento. O que
se espera verificar é se a classe de vegetação em recuperação encontra-se mais próxima
da classe solo exposto ou da vegetação nativa. Ainda que o mapa de cobertura não
demonstre o fornecimento de serviços ecossistêmicos, este por si só auxilia o processo
de identificação dos serviços. Além disso, os mapas demonstram a mudança na
paisagem em apenas dois anos, onde já é possível diferenciar os tipos de vegetação de
interesse. Portanto, o mapa em si, já é um instrumento de comunicação com os
beneficiários afetados, para que estes possam ser envolvidos no planejamento,
implementação e avaliação do programa de RAD em Juruti.
A metodologia aplicada nesta etapa, está de acordo com Burkhard et. al. (2012),
que, por meio de uma matriz, relacionou as unidades de paisagem, por meio de
mapeamento da área de estudo, com o fornecimento de serviços ecossistêmicos. A partir
das classes de cobertura do solo geradas no processo de mapeamento da área de estudo,
que possibilitou a identificação dos ecossistemas da área de estudo, mais as informações
observadas em campo e extraídas do EIA do empreendimento, os serviços
ecossistêmicos da área em estudo (Figura33) foram identificados. Por questão de
apresentação, apenas os serviços fornecidos pela área foram mantidos na matriz.
Serviços ecossistêmicos
Provisão Regulação Cultural Suporte

Regulação da qualidade da água

Regulação da qualidade do solo


Regulação da qualidade do ar
Combustível de biomassa

Regulação do clima local

Ciclagem de nutrientes
Comentários suportes baseados no estudo de impacto

Fornecimento de água

Regulação de doenças

Valores educacionais
Purificação de águas
Alimentos silvestres

Regulação de pestes
Ecossistemas ambiental, trabalho de campo e relatórios de monitoramento.

Recursos genéticos
Criação de animais

Controle de erosão

Produção primária
Culturas agrícolas

Fibras e resinas

Bioquímicos

Polinização
Recreação
Madeira

Habitat
Pesca

Caça

Floresta A relação dos beneficiários com a floresta com conservada é


ombrófila praticamente extrativista, poucos mantém plantações de
densa mandioca nesta área.
Ecossistema Não houve análise de dados suficientes até o momento para
florestal em ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? inferir quantidade de fornecimento de serviços ecossistêmicos
recuperação nas áreas em recuperação.
Floresta
Essa típica vegetação amazônica é responsável pelo controle de
Ombrófila
erosão. Além disso, é local com muitas nascentes e onde as
Densa
comunidades começam a ocupação.
Aluvial
O EIA e trabalhos de campo demonstraram que as comunidades
Ecossistema utilizam os rios para pescar, recreação e despejar esgotos. Além
aquático disso ecossistemas aquáticos são responsáveis por regular fluxos
de água e auxiliar na manutenção da qualidade do solo.
As comunidades criam galinhas, gado e suprimem a vegetação
Mosaico de
para plantar mandioca, que utilizar para produzir farinha em
usos
escala de subsistência. Há retirada de maneira e coleta de lenha.
Essa classe representa as áreas de solo exposto recentemente que
Áreas
não foram recuperadas ou são acessos permanentes. Sendo assim
mineradas
não há fornecimento de serviços ecossistêmicos.
Figura 347: Matriz de identificação de serviços ecossistêmicos fornecidos, a partir das classes de cobertura do solo mapeadas. Baseado em Burkhard et al., (2012).
Nota: Verde: Potencial máximo de fornecimento do serviço, Laranja: Potencial médio de fornecimento de serviço, Salmão: Não há fornecimento.
O Projeto Juruti afeta diretamente as comunidades que compõem o PAE Juruti
Velho. A identificação de beneficiários de serviços ecossistêmicos só foi possível a
partir de trabalhos de campo (Rosa, Sánchez, 2016). Trabalhos de campos são longos e
custosos e por isso seu planejamento deve ser cuidadosamente realizado. Utilizamos as
informações coletadas durante o mapeamento da área de estudo para selecionar as
comunidades alvo do trabalho de campo, assim como fizeram Castro et al. (2008), ao
planejar um levantamento rápido rural na Colômbia. A partir dessa seleção, foi realizada
um rápido reconhecimento de campo pelas comunidades, com objetivo de confirmar o
mapeamento realizado.
Do total de 52 comunidades que compõem o PAE Juruti Velho, foram
selecionadas quatro como beneficiários diretos do platô Capiranga (atualmente em
explotação). São elas: Pompom, Capiranga, Jauri e Pau D’Arco. Para tanto, construiu-se
um roteiro de entrevistas (Gunther, 2003) com objetivo de compreender como, as
comunidades utilizavam as áreas antes da mineração e com isso foi possível identificar
serviços ecossistêmicos que poderiam ser utilizados para monitorar a recuperação.
Foram aplicados 19 questionários entre os dias 1 e 17 de agosto de 2016.
Durante a aplicação dos questionários não houve uma preocupação de realizar uma
amostragem representativa porque o objetivo foi demonstrar a aplicabilidade do
procedimento, por meio de exemplos, e não realizar um diagnóstico exaustivo.
A partir de análise de dados secundários (CNEC, 2005; Gavidia, 2015) e com os
dados coletados em campo identificou-se que os beneficiários afetados utilizavam as
florestas de Platô para coletar principalmente, castanha do Pará (serviço: Alimentos
silvestres) e Ambé e Titica, espécies de cipós (Serviço: Resinas e fibras) utilizado para
construir paneiro, utensílio para coleta das castanhas. Além disso, segundo as
entrevistas, 100% dos respondentes afirmam que eles coletavam plantas medicinas
(serviço: bioquímicos), como andiroba e copaíba, nas áreas onde hoje a mineração
ocorre. As áreas de platôs eram também utilizadas para extração de madeira,
especialmente itaúba (serviço: Madeira), utilizada na construção de casas, canoas e
remos.
A caça é frequente na região até os dias atuais, sendo cotias, veados, tatus, pacas
e antas os animais mais visados. Segundo os entrevistados a caça foi prejudicada pela
atividade de mineração devido a supressão de vegetação e geração de ruídos que
causam o impacto de “afugentamento da fauna”. Dentre os serviços fornecidos pela
região que não foram afetados pela mineração destaca-se culturas agrícolas (plantações
de mandioca) e lenha (combustível de biomassa) utilizada na produção de farinha,
porque são atividades desenvolvidas próximas a suas casas e não apresentam nenhuma
relação com os ecossistemas dos platôs. Os serviços fornecidos pelos ecossistemas
aquáticos e floresta ombrófila densa aluvial, como pesca, fornecimento de água,
recreação, regulação da qualidade da água, controle de erosão, purificação da água não
foram afetados pelo projeto.
Embora o processo de RAD possam recuperar diversos serviços ao mesmo
tempo, por questões práticas o empreendedor terá que optar por alguns serviços que
sejam capazes de demonstrar se o processo de recuperação está sendo satisfatório. Para
tanto é necessário determinar critérios de priorização de serviços ecossistêmicos, prática
realizada no processo de determinação do escopo de avaliação de impactos (Landsberg
et al., 2013). A partir de revisão bibliográfica, seguindo Harris e Diggelen (2010) que
descrevem as barreiras do processo de recuperação ambiental, neste trabalho sugere-se
cinco critérios para seleção de serviços com potencial de serem usados no
monitoramento da recuperação. Os dois primeiros selecionam aqueles serviços que
foram impactados pelo projeto com pelo menos média significância de impacto. Os três
últimos critérios procuram selecionar serviços com potencial para demonstrar a
estabilidade física do ecossistema que está sendo recuperado ou seu equilíbrio ecológico
ou ainda aqueles serviços que são importantes para os beneficiários afetados pelo
empreendimento.
Para o caso em estudo, como forma de exemplo, são prioritários os seguintes
serviços, Alimentos silvestres, Madeira, Fibras e resinas, Caça e Bioquímicos (Plantas
medicinais), que poderão indicar o retorno de um benefício social, todos são serviços de
provisão. O equilíbrio ecológico ou uma recuperação do ambiente biótico pode ser
demonstra pelo serviço de suporte Produtividade primária e Habitat. Por fim, serviços
que podem indicar a estabilidade do meio físico são Produtividade do solo e Controle de
erosão, que são serviços de regulação.

5. Conclusões

Um mapa de cobertura do solo é a principal fonte que está sendo usada


internacionalmente para modelos de mapeamento de serviços ecossistêmicos. Como a
quantificação de serviços ecossistêmicos está fortemente relacionada aos indicadores da
área, que representam os serviços, o mapeamento dos serviços é muito dependente da
resolução espacial da imagem e da acurácia da classificação. Portanto, apresentar e
discutir os dados de acurácia da classificação utilizada para desenvolvimento do mapa
de cobertura do solo é essencial, para determinar a eficiência do mapeamento dos
serviços ecossistêmicos.
A identificação de beneficiários de serviços ecossistêmicos só foi possível a
partir de trabalhos de campo. Trabalhos de campos são longos e custosos por isso seu
planejamento deve ser cuidadosamente realizado. Utilizamos as informações coletadas
durante o mapeamento da área de estudo para selecionar as comunidades alvos do
trabalho de campo. A partir dessa seleção foi realizado um rápido reconhecimento de
campo pelas comunidades, com objetivo de confirmar o mapeamento realizado, o que
otimizou os custos do trabalho de campo. Neste sentido, a utilização do sensoriamento
remoto auxilia o identificação e mapeamento de serviços em áreas com poucos dados
disponíveis ou com acesso limitado, como é o caso frequente da atividade minerária.
Além disso as duas abordagens, coleta de dados com as comunidades e mapeamento da
área por meio de classificação de imagens, são complementares, uma vez que a primeira
é pouco replicável e é difícil de medir sua acurácia enquanto a segunda é altamente
replicável e sua acurácia pode ser avaliada.
A incorporação do conceito de serviços ecossistêmicos ao monitoramento de
áreas em recuperação tem potencial de aproximar os resultados ecológicos da
recuperação ambiental de seus resultados sociais. O conceito exige a participação das
comunidades afetadas no processo e pode auxiliar no estabelecimento de metas para
recuperação. Além disso, conforme demonstrado neste artigo, utilizando ferramentas
como o sensoriamento, o processo de monitoramento não se torna necessariamente mais
longo e custoso. Em um monitoramento focado em serviços ecossistêmicos, o objetivo
principal da recuperação é demonstrar que os benefícios sociais dos ecossistemas
afetados estão sendo recuperados, ao longo do tempo. Portanto, parece que a
incorporação do conceito de serviços ecossistêmicos ao processo de planejamento e
monitoramento da recuperação ambiental, depende mais da organização, integração e
análise de dados do que de sofisticadas e custosas coletas de dados primários.

6. Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP/CAPES 2014/22927-
1) pela concessão de bolsa de estudo à primeira autora. Ao Ministério de Meio
Ambiente (MMA), pelo fornecimento gratuito das imagens de satélite do sensor
RapidEye. À empresa Alcoa do Brasil, pela permissão de acesso a área de estudo,
fornecimento de documentos e acompanhamento durante os trabalhos de campo. Ao
departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo, pela aquisição dos softwares ENVI 5.3 para processamento
das imagens e o pacote Office 2015 para desenvolvimento do trabalho.

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AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS DE DEGRADAÇÃO DOS SOLOS E DA


VIABILIDADE SOCIOECONOMICA E AMBIENTAL DE PRÁTICAS DE
RECUPERAÇÃO E CONSERVAÇÃO, COM BASE NOS CRITÉRIOS DE
SEGURANÇA ALIMENTAR (ASSENTAMENTO RURAL PDS SANTA
HELENA, SÃO CARLOS-SP)

F.E. CARDOZO; Fernanda Esteves Cardozo


Prof ª Drª Vania Silvia Rosolen

Programa de Pós Graduação em Geociências e Meio Ambiente


Instituto de Geociências e Ciências Exatas- UNESP- Campus Rio Claro/SP
Avenida 24 A,1515 cep: 13506-900 Rio Claro - SP
[email protected] FONE: (19) 3526-9000

RESUMO

O presente trabalho objetiva a avaliação do grau de degradação das áreas pertencentes


aos lotes produtivos das famílias assentadas em um projeto de reforma agrária, a fim de
buscar alternativas economicamente viáveis de recuperação dos processos de
degradação que comprometem a produção. Ainda se pretende, por meio da obtenção do
diagnóstico da degradação, estabelecer um zoneamento adequado, indicando as
atividades propícias a cada região analisada nos lotes do assentamento. A pesquisa
ainda em fase inicial será realizada por meio de levantamentos bibliográficos, análises
em campo e laboratoriais. Serão avaliados atributos físicos, químicos e biológicos do
solo de modo a compor um diagnóstico consistente dos processos de degradação e,
consequentemente, as medidas adequadas a serem tomadas, com vistas à garantia da
segurança alimentar da produção local, dos trabalhadores e comunidade.

Palavras Chave: recuperação; degradação do solo; assentamento rural; diagnóstico

Introdução
A identificação das causas e a recuperação de solos degradados são temas sensíveis
enfrentados pela população mundial. Por ser considerado um recurso finito e de extrema
importância para sustentação da humanidade, pesquisas sobre os solos e a recuperação de
áreas degradadas devem ser enfatizadas, de forma que, as causas e consequências da
degradação sejam compreendidas e soluções econômicas, sociais e ambientalmente viáveis
sejam encontradas. A perda de solo fértil é uma das principais causas de insegurança
alimentar, pobreza e instabilidade social e política nos países em desenvolvimento.
Segundo CARVALHO (2006), a ocupação e uso dos solos pelo homem quando
efetuados de maneira desordenada, ocasiona sérias consequências, dentre as quais podem
ser incluídas, a perda de camadas férteis, o assoreamento dos cursos d’água e reservatórios,
consequente redução do volume de água disponível para abastecimento humano rural e
urbano, e também, a produção de energia elétrica, tendo em vista que mais de 95 % da
energia produzida no país provém de hidrelétricas (ANEEL, 2002). Além disso, também
se observa a ocorrência de desastres urbanos, em consequência à degradação dos solos, tais
como deslizamentos de terra em áreas de risco.
De acordo com KOBIYAMA et al (2001), as principais causas da degradação dos solos
tem sido o desmatamento, o manejo inadequado da agricultura, o superpastejo, a
exploração da vegetação para combustível e as atividades industriais de modo geral.
O estudo será realizado no Assentamento Santa Helena, no município de São Carlos/SP,
que contempla lotes com 14 famílias assentadas pelo INCRA (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária), com área total de 102,5 ha, incluindo áreas comunitárias,
área de preservação permanente e reserva legal.
O Assentamento enquadra-se na Portaria nº 477/99, do INCRA, na modalidade de
assentamentos rurais denominada PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável). Tal
modalidade preconiza a conciliação de assentamentos humanos de populações não
tradicionais em áreas de interesse ambiental, com o desenvolvimento sustentável dessas
regiões. De acordo com a mesma Portaria, a concessão do uso da terra para exploração
condominial deve obedecer à aptidão agrícola da área, combinada à vocação das famílias
dos agricultores e ao interesse ecológico de recomposição vegetal, atendendo à legislação
ambiental (CANUTO et al, 2013).

Apesar de objetivar o desenvolvimento sustentável da região, a área pertencente ao


assentamento Santa Helena, no município de São Carlos, tem um histórico de degradação
ambiental, com a total retirada de cobertura vegetal original para a implantação de áreas de
monocultura de cana-de- açúcar, com a utilização de fertilizantes químicos e agrotóxicos.

O uso e o manejo anteriores provocaram a modificação da estrutura do solo, aumento da


densidade, redução da macroporosidade, da atividade orgânica e, consequentemente, do
armazenamento e retenção de água, ocasionando assim, a diminuição da qualidade
produtiva do solo.
De acordo com o relatório elaborado pela FAO (Food and Agriculture
Organization/ONU) em 2015, 80% dos alimentos do mundo são produzidos por
agricultores familiares que possuem cerca de 12% das terras produtivas do planeta. Essas
famílias detém baixos rendimentos, devido à baixa produtividade e elevada utilização de
insumos agrícolas. Sendo assim, incentivos ligados ao desenvolvimento de ferramentas e
tecnologias que melhorem as condições e infraestrutura para o aumento da produtividade
são muito bem vindos.
O conceito de Segurança Alimentar (Food Security) preconiza o acesso e a
disponibilidade de alimentos seguros e nutritivos em quantidade suficiente para suprir as
necessidades básicas diárias de toda a população mundial. Algumas definições incluem
também o acesso à insumos não alimentícios porém igualmente fundamentais como
saneamento básico e cuidados com a saúde (FAO, 2003).
A Segurança Alimentar possui múltiplas dimensões, que podem ser expressas por três
principais componentes: a disponibilidade nutricional, o acesso à nutrição e a utilização
dos alimentos. Dentro desses três eixos, é possível desenvolver estratégias relacionadas à
macro e microeconomia, isto é, respectivamente, ligadas ao comércio exterior e taxas de
câmbio e à adoção de novas tecnologias que aumentem a produtividade e,
consequentemente, a disponibilidade de alimentos (BORATINSKA et al, 2016)
Dentro desse contexto, o presente projeto de pesquisa tem como objetivo a construção
de um diagnóstico dos processos de degradação do solo do Assentamento PDS Santa
Helena, por meio de análises de campo e laboratoriais. A partir do diagnóstico, pretende-se
propor zoneamentos adequados das atividades desenvolvidas, aliados à processos de
recuperação e conservação do solo. Além disso, pretende-se avaliar, com a utilização de
metodologia específica, como é possível garantir que haja segurança alimentar na produção
de alimentos dos lotes analisados.

Material e Métodos
Por meio de levantamentos bibliográficos, análises em campo e laboratoriais, pretende-
se averiguar os procedimentos mais adequados para os fins de elaboração de um
diagnóstico consistente e um plano adequado para a diminuição do grau de degradação
observado no início da pesquisa. Além disso, a pesquisa tem a intenção de utilizar
metodologia ou modelos capazes de avaliar os critérios relacionados à manutenção da
segurança alimentar na produção dos alimentos dos lotes analisados no Assentamento PDS
Santa Helena.

-Levantamento bibliográfico
Revisão bibliográfica a respeito de métodos de avaliação do grau de degradação dos
solos, bem como, de recuperação desse recurso, de acordo com as condições sociais,
econômicas e ambientais observadas na área de estudo.
Pesquisa aprofundada em metodologias relacionadas à avaliação da segurança alimentar
(Food Security) de modo a garantir que os lotes do Assentamento sejam ainda mais
produtivos, com a utilização de técnicas que propiciem a recuperação e conservação do
solo local, tendo como consequência, maior oferta de alimentos seguros e nutritivos aos
consumidores.
-Análises de campo e laboratoriais
Serão coletadas amostras de solos para avaliação das propriedades físicas
(granulometria e densidade) e químicas (teor de matéria orgânica e fertilidade). As
propriedades iniciais e as respostas após a implantação das técnicas de restauração serão
feitas por meio do desenvolvimento de estruturas e incorporação de matéria orgânica. A
avaliação será feita através das medidas de densidade do solo usando um anel volumétrico,
das observações da matriz em escala microscópica e de análise granulométrica conjunta.
Para a confecção das lâminas, serão coletadas amostras de solo indeformadas para
posterior impregnação com resina araldite confeccionadas seções delgadas de 3 x 5 cm. A
descrição será feita em microscópio petrográfico Zeiss Axioskop 40 (Departamento de
Petrologia e Metalogenia/UNESP). As lâminas serão descritas de acordo com Bullock et
al. (1985).

-Avaliação da Segurança alimentar


O conceito de Segurança alimentar é recente e atual, por conta disso, os modelos de
avaliação da SA ainda estão em fase de estudos e desenvolvimento. Tais modelos tratam
de questões por vezes subjetivas e de difícil mensuração. Um dos modelos analisados, por
exemplo, proposto por ABDULAI (2000), adota variáveis como: características dos
alimentos avaliadas pelo indivíduo (gosto, textura, aceitação social, entre outros); o estado
de saúde do indivíduo; consumo de bens e serviços; além de outros critérios de avaliação.
As reflexões básicas desses modelos costumam prever a relação existente entre as
capacidades físicas e cognitivas de cada indivíduo e os benefícios decorrentes de uma
alimentação saudável segura e nutritiva (BORATINSKA, 2016). Além disso, questões
relacionadas ao aumento na produtividade e ao incentivo à obtenção de crédito por parte
dos agricultores também são diretamente proporcionais ao aumento nos níveis de
segurança alimentar, principalmente em países em desenvolvimento (FAO, 2015).
Serão colhidas informações a respeito de Políticas Públicas de Segurança Alimentar na
Agricultura familiar. Aspectos legais federais, estaduais e municipais serão observados, a
fim de traçar um panorama dos programas existentes e notar quais estratégias ligadas ao
poder público ainda devem ser implementadas, a fim de que um maior número de
agricultores familiares possam se beneficiar e que haja a garantia da Segurança Alimentar
na produção nacional.

Resultados e Discussão
-Caracterização Geológico-Geomorfológica
Os lotes encontram-se sobre a Formação Pirambóia, constituída por arenitos de origem
eólica sobre o qual se formam solos extremamente arenosos, frágeis e de baixa fertilidade
(Latossolo Vermelho- Amarelado) com relevo de colinas suaves e baixa declividade.

-Visitas de campo e coleta de amostras


As características locais e o histórico de uso e ocupação do solo na região dos lotes
analisados do Assentamento PDS Santa Helena por si só já apontam para a alta
vulnerabilidade à processos de degradação do solo. Nesse sentido, o diagnóstico feito com
base em visitas de campo e análises laboratoriais físicas e químicas vem comprovar e
ajudar a entender os processos que levaram ao elevado grau de degradação observado à
campo.
As fotos abaixo, tiradas em outubro de 2016 ilustram e evidenciam a necessidade da
realização de pesquisas relacionadas a métodos de recuperação dos lotes analisados.

A área, de acordo com algumas famílias de assentados, era utilizada anteriormente para
o plantio de cana-de-açúcar, com uso de fertilizantes químicos e pesticidas, durante anos.
O histórico de uso do local é de fundamental importância para o conhecimento do grau de
degradação e pode indicar quais práticas devem ser evitadas, visando a recuperação
conservação do recurso, com manejo adequado às condições ambientais e coerentes com as
características físicas, químicas e biológicas do solo trabalhado.
As amostras coletadas em campo foram estrategicamente definidas de montante para a
jusante, em cinco pontos, sendo que o primeiro representa uma área preservada e de
controle para parâmetros posteriores. Nos outros pontos de coleta, foi observado elevado
grau de compactação do solo, pela ocorrência de criação de gado livre e pastagens sem
manejo adequado.
Também foi observado solo exposto em alguns pontos e a ocorrência de “buracos”,
caracterizados, segundo os moradores, por atividades de desmatamento no passado. Tais
aberturas no solo são agravadas por processos erosivos, que acabam por aumentar a
degradação e tornar essas áreas improdutivas para as famílias.

-Etapas de trabalho

Atualmente, parte do trabalho de levantamento bibliográfico e duas visitas técnicas


(setembro e outubro de 2016) foram realizadas. Nessas visitas, houve coletas de amostras e
início da realização das análises físicas de solo, mais especificamente, do processo de
impregnação das amostras indeformadas no LAFS (Laboratório de Solos- Depto. de
Planejamento e Geoprocessamento- IGCE/ UNESP-RC) para posterior análise da
micromorfologia do solo.
Já foram coletadas amostras deformadas, para a realização dos ensaios de granulometria
conjunta e densidade, que serão realizadas no início do primeiro semestre de 2017, bem
como as análises químicas, de estoque de carbono e matéria orgânica.
Simultaneamente à realização das análises, segue o trabalho de mapeamento e pesquisa
bibliográfica para a avaliação dos critérios relacionados à segurança alimentar da produção
de alimentos do Assentamento PDS Santa Helena.

Conclusões
A pesquisa ainda se encontra em fase de tratamento de dados e elaboração de um plano
adequado para a recuperação e conservação do solo nos lotes do Assentamento Santa
Helena, no município de São Carlos/SP. Entretanto, já é possível perceber uma série de
estratégias que podem ser tomadas no que diz respeito ao manejo da terra e utilização de
insumos coerentes com a proposta de um Assentamento rural modalidade PDS, destinado
ao desenvolvimento de atividades sustentáveis, como descrito na Portaria nº 477/99, do
INCRA.
Esse trabalho representa um grande laboratório para a reflexão sobre a criação de
políticas públicas no sentido de incentivar a adoção de práticas agrícolas que não
desencadeiem processos de degradação do solo, mas que sejam capazes de fortalecer tal
recurso, bem como as famílias que trabalham com ele e a população de modo geral.

Referências Bibliográficas

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BORATINSKA, K; HUSEYNOVB, R.T.(2016 ) An innovative approach to food
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CANUTO, J. C.; ÁVILA, P. C.; CAMARGO, R. C. R. de. Assentamentos rurais
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INCRA. Portaria nº 477/99. Implantação de Projeto de Desenvolvimento Sustentável. 1999
KOBIYAMA, M.; MINELLA, L. P. G; FABRIS, R. Áreas degradadas e sua recuperação.
Informe agropecuário, Belo Horizonte. v. 22. n. 210, p. 10-17, 2001

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DE AMBIENTES


FLORESTAIS NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO ROLA MOÇA

C. N. Costa; F. M. Vasconcelos; L. G. N. V. da Silva; M. U. Vasconcelos.

Associação Mineira de Defesa do Ambiente - Amda


Rua Costa Pinto, 258, Vila Paris. Belo Horizonte - MG. CEP: 30380-700
www.amda.org.br / [email protected]
Telefax: (31) 3291 0661

RESUMO

Sucessivos incêndios que ocorreram no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, em


função do predomínio de gramíneas exóticas, levaram à retração das matas ciliares,
afetando, de maneira significativa, a função de corredores migratórios e de
recolonização de novos ambientes exercida pelas matas de galerias. Estudou-se o
processo de recuperação de ambientes florestais em condições de manejo de gramíneas
e de plantios de espécies arbóreas, com a adoção de diferentes tratamentos de correção
do solo e adubação, em áreas ocupadas no passado por matas de galeria e cerradão. O
experimento foi instalado na cabeceira do córrego do Barreiro, Parque Estadual da Serra
do Rola Moça, município de Belo Horizonte, Minas Gerais. Os trabalhos desenvolvidos
monitoraram o desenvolvimento de 10 espécies arbóreas típicas da mata ciliar e do
Cerradão envolvente, em diferentes condições de fornecimento de nitrogênio, fósforo e
potássio e de calagem do solo. Foram definidas nove parcelas amostrais, cada uma com
dimensão média de 1.000 m², demarcadas e divididas em três blocos para cada espécie
com os tratamentos “esterco + insumos”, “esterco” e “controle”. A avaliação ocorreu
nos anos 2012, 2013 e 2015, sendo este último em função de incêndio florestal que
atingiu a área de estudo em setembro de 2014, inviabilizando a amostragem neste ano.
Entretanto, foi realizada avaliação da taxa de sobrevivência em cada tratamento após
passagem do fogo. O trabalho mostrou que adubação fosfatada adicionada ao uso de
matéria orgânica, combinada com a correção do solo com calcário dolomítico
(tratamento E+I), pode contribuir para o melhor desenvolvimento de algumas espécies
florestais, colaborando para a aceleração do processo de recuperação da vegetação. O
uso da adubação química e orgânica mostrou ainda ser eficiente na resiliência das
espécies florestais usadas, em relação aos incêndios florestais.

Palavras Chave: áreas degradadas, incêndios florestais, plantio, tratamento, solo

1.Introdução

Com os sucessivos incêndios florestais no Parque Estadual da Serra do Rola


Moça, as matas ciliares foram perdendo espaço para tipologias abertas, muitas das quais
dominadas hoje pela presença de gramíneas exóticas, com predominância do capim
meloso (Melinis minutiflora), braquiária (Urochloa decumbens e Urochloa brizantha) e
colonião (Panicum maximum).
Em seu estudo, Melo et al. (2007) observou que ervas e gramíneas aumentam
em proporção na área queimada e as outras formas de vida, principalmente árvores, têm
sua densidade diminuída. Desta forma, um dos efeitos do fogo na vegetação é o
favorecimento da estrutura herbácea em detrimento da arbórea, podendo transformar
ambientes florestais em formas savânicas. A baixa resistência das árvores ao fogo, em
contraponto à alta resiliência de diversos arbustos e ervas, leva áreas sujeitas a
frequentes incêndios a apresentarem características mais campestres.
Outro ponto que demonstra o forte impacto das queimadas sobre os ambientes
naturais é a notável redução da capacidade de absorção de água pelo solo após incêndios
florestais, decorrente principalmente da destruição da fitomassa e da repelência
desenvolvida pelo solo. Com a redução da capacidade de absorção o teor de umidade
também é afetado (OLIVEIRA et al., 1994).
Além disso, a remoção da serrapilheira pelo fogo expõe o solo mineral
diretamente aos impactos das gotas de chuva, causando perdas de estrutura nas camadas
superficiais, principalmente em função da ação erosiva, que é considerada um dos
efeitos mais duradouros e de maior magnitude, decorrentes do fogo (OLIVEIRA et al.,
op.cit). À medida que o solo fica desprotegido pela remoção da vegetação e da
serapilheira, intensifica-se a ação erosiva das águas de chuva.
A utilização do fogo em alto regime, além de empobrecer o solo, acarreta
transformações em suas características físicas e químicas as quais favorecem a
ocorrência de elevadas taxas de erosão e perda de solo (SWANSON, 1981; KUTIEL;
INBAR, 1993) devido à combinação do impacto das gotas da chuva e escoamento
superficial com a redução da estabilidade de agregados e baixa cobertura superficial
(BENAVIDES-SOLORIO; MC DONALD, 2001). A intensidade com as quais os
processos erosivos decorrentes das alterações na densidade vegetativa e compactação do
solo pós-fogo variam de acordo com o regime, intensidade e tempo de permanência do
fogo e a sensibilidade geomorfológica de determinado local, pois queimadas intensas
em áreas de grande potencial erosivo vão gerar uma grande produção de sedimento e
causar maiores alterações ao meio ambiente (SWANSON, 1981 apud COSTA et al.,
2015).
Percebe-se que em alguns trechos da área de estudo, onde os incêndios foram
mais severos, a mata sofreu enorme impacto, restando apenas alguns pequenos capões
isolados e afetando, de maneira significativa, a função de corredores migratórios e de
recolonização de novos ambientes exercida pelas matas de galerias. Para Hoffman apud
Silva et al. (2011), o fogo promove a morte e prejudica o estabelecimento de plântulas
de espécies arbóreas, reduz o crescimento radial, mata rebrotas e diminui a reprodução
sexual pela destruição direta de estruturas sexuais, o que reduz a produção de sementes
no ano subsequente.
Neste contexto, foram realizados trabalhos de recuperação dos ambientes
florestais no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, que visam contribuir na mitigação
dos impactos negativos causados pelos incêndios florestais ocorridos na região. Para
Tavares (2008) a recuperação de áreas degradadas proporciona o restabelecimento das
condições de equilíbrio e sustentabilidade existentes anteriormente em um sistema
natural, possibilitando levá-los à condição de potencialmente sustentáveis.
O Parque Estadual da Serra do Rola Moça, criado pelo governo do Estado em
1994, é considerado uma das maiores Unidades de Conservação - UC das regiões
metropolitanas brasileiras, com quase 4.000 hectares. Sua área abrange, além da capital
mineira, trechos dos municípios de Ibirité, Brumadinho e Nova Lima. A área abriga seis
importantes mananciais utilizados no abastecimento hídrico da Região Metropolitana de
Belo Horizonte – RMBH.
A importância da UC está relacionada não só à proteção de mananciais hídricos,
mas também à existência de significativas amostras de ecossistemas naturais. Ocorrem
em seus limites importantes remanescentes das tipologias de Cerrado e Mata Atlântica.
Destacam-se os conhecidos campos sobre canga ferruginosa, com grande diversidade
biológica e ocorrência de expressiva quantidade de endemismos.
A diversidade de ambientes naturais na UC e em outras áreas no entorno, além
da abundância de abrigos rochosos, vêm permitindo a sobrevivência de populações de
espécies da fauna consideradas endêmicas, raras e ameaçadas de extinção na região.
Destacam-se entre os mamíferos alguns inseridos na lista oficial de espécies ameaçadas,
publicada pelo governo estadual COPAM (1997), como destaque para o Chrysocyon
brachyurus (lobo-guará), Puma concolor (onça-parda), Myrmecophaga tridactyla
(tamanduá-bandeira), Puma yagouaroundi (gato-mourisco), Leopardus pardalis
(jaguatirica) e Urubitinga coronata (águia-cinzenta).
Dessa forma, a recuperação das áreas degradadas apresenta enorme importância
no restabelecimento das funções de corredores ecológicos e de refúgios úmidos que as
matas de galeria cumprem para a fauna da unidade de conservação e entorno.
Para Chaer (2008) a melhoria contínua da qualidade do solo ou substrato de
áreas degradadas sob processo de recuperação é fator essencial para promover a
manutenção do crescimento vegetal, restabelecimento dos mecanismos de sucessão
ecológica e aumento da biodiversidade. Pretende-se, através do presente projeto, avaliar
o processo de recuperação de ambientes florestais em condições de manejo de
gramíneas e de plantios de espécies arbóreas, com a adoção de diferentes tratamentos de
correção do solo e adubação, em áreas ocupadas no passado por matas de galeria e
cerradão. Os trabalhos desenvolvidos monitoraram o desenvolvimento de 10 espécies
arbóreas típicas da mata ciliar e do Cerradão envolvente, em diferentes condições de
fornecimento de nitrogênio, fósforo e potássio e de calagem do solo. Os parâmetros
utilizados foram taxa de mortalidade e altura das mudas. As variáveis avaliadas foram: a
taxa de mortalidade e incremento em altura (cm). A avaliação ocorreu nos anos 2012,
2013 e 2015.

2. Material e Métodos

O experimento foi instalado na cabeceira do córrego do Barreiro, Parque


Estadual da Serra do Rola Moça, município de Belo Horizonte, Minas Gerais. De
acordo com o Plano de Manejo da UC (MINAS GERAIS, 2007), o ambiente físico da
região apresenta um regime climático tipicamente tropical, ocorrendo uma estação
muito chuvosa e outra seca. O período chuvoso tem início por volta de meados de
setembro e seu término pode prolongar-se até meados de abril. Aproximadamente 88%
da precipitação é observada no intervalo de outubro a março correspondente, os 12%
restantes distribuem-se no intervalo abril-setembro. A média pluviométrica anual é de
1.528,6 mm, com umidade relativa média maior durante o verão (75,8%) e menor no
inverno (67,1%). Dentre as principais características da área, identifica-se altitude em
torno de 1.340 metros, rochas do Supergrupo Minas e Grupo Caraça (MINAS GERAIS,
2007) e solos do tipo Cambissolos da unidade RLd (UFV et al. 2010).
O espaçamento utilizado foi de 3x3m, utilizando 10 espécies classificadas em
diferentes categorias sucessionais com ocorrência na área do Parque: cedro (Cedrela
fissilis); ipê-amarelo (Handroanthus serratifolius); vinhático (Plathymenia foliolosa);
pau-d’óleo (Copaifera langsdorffii); ingá (Inga marginata); canafístula (Peltophorum
dubium); candeia (Eremanthus erythropappus); aroeirinha (Schinus terebinthifolius);
jacaré (Piptadenia gonoacantha); embaúba (Cecropia pachystachya). A distribuição
dos espécimes nas parcelas foi realizada de acordo com a classe de sucessão de cada
espécie, verificada através de pesquisas e da avaliação da distribuição natural das
espécies no Parque. Espécies secundárias tardias (C. fissilis, H. serratifolius, P.
foliolosa e C. langsdorffii) foram posicionadas nas covas mais próximas ao corpo
d’água, seguidas das espécies que se comportam como secundárias iniciais (I.
marginata e P. dubium) e pioneiras (E. erythropappus, S. terebinthifolius, P.
gonoacantha e C. pachystachya).
Foram definidas nove parcelas amostrais, cada uma com dimensão média de
1.000 m². Estas parcelas foram demarcadas de modo a abranger uma área o mais
uniforme possível, tanto em relação ao relevo como em relação às características físicas
e químicas do solo. As covas das mudas foram abertas seguindo o mesmo padrão de
forma e dimensão (diâmetro e profundidade de 50 cm), com o mínimo de interferência
no espaço circundante e respeitando ao máximo o processo de recuperação espontânea
da área.
As parcelas foram demarcadas e divididas em três blocos para cada espécie com
os tratamentos definidos pela Tabela 1.

Tabela 1: Delineamento amostral para cada espécie


TRATAMENTO BLOCO PLANTAS/PARCELA
Esterco + insumos (E+I) 1 16
Esterco + insumos (E+I) 2 16
Esterco + insumos (E+I) 3 16
Esterco (E) 1 16
Esterco (E) 2 16
Esterco (E) 3 16
Controle (C) 1 16
Controle (C) 2 16
Controle (C) 3 16
TOTAL 144

O delineamento estatístico proposto foi o de blocos casualizados, com três


tratamentos, incluindo o controle e três repetições em cada.
As parcelas foram subdivididas em ruas, que foram demarcadas com estacas de
madeira com as extremidades pintadas. As ruas cuja numeração apresenta-se como
múltipla de três são compostas por mudas que não foram monitoradas e apresentam
estacas com coloração diferente das demais. A divisão das parcelas com diferentes
tratamentos foi feita com a utilização de mourões.
Todas as mudas florestais usadas no experimento foram protegidas por palha de
capim seco proveniente da operação de roçada na área, de maneira a evitar o excessivo
ressecamento nas fases de pegamento e de desenvolvimento inicial. Aquino et al.
(2012) citado por Lima (2014) afirma que os resíduo de biomassa vegetal provenientes
de roçadas, deixadas no local de plantios sobre o solo, fornece matéria orgânica e
protegem o solo contra o aumento da temperatura, erosão e perda da umidade. As
mudas foram ainda estaqueadas com varas de bambu para a correta condução e
marcação.
As mudas utilizadas no primeiro ano de plantio foram provenientes de viveiros
comerciais da região de estudo. A partir do segundo ano, foram utilizadas mudas
produzidas em viveiro próprio, cujas sementes foram coletadas na região de
desenvolvimento do projeto.
Durante quatro anos após o plantio foram realizadas atividades de manutenção e
cuidados das mudas, envolvendo coroamento, poda e condução. Durante o período de
estiagem, foi mantido aceiro de proteção da área reflorestada com o objetivo de reduzir
os riscos de incêndio.
Para avaliação do desenvolvimento das espécies, foi determinada a medição
anual de cada uma das mudas, totalizando 1.440. Foram ainda contabilizadas as mudas
mortas e o estado geral dos indivíduos plantados.
As alturas das mudas foram medidas a partir da base do caule ao meristema
apical, havendo bifurcação do caule foi considerado o meristema mais alto. Utilizou-se
baliza graduada para medição e anotou-se a altura em centímetros, sem decimais.
Para avaliação dos resultados, foram levantados: taxa de mortalidade/ ano/
espécie; taxa de mortalidade espécie/ ano/ tratamento; variação da altura das mudas por
tratamento; altura média/ tratamento/ ano.

3. Resultados e Discussão

A medição dos dados teve início em 2012. Em função de incêndio que atingiu a
área do experimento em setembro de 2014, optou-se por aguardar a rebrota, no primeiro
semestre de 2015, para verificação dos dados em campo. Esta coleta permitiu analisar a
resposta das diferentes espécies quanto a rebrota nos tratamentos propostos.

3.1. Taxa de mortalidade

Para Durigan e Silveira (1999) citados por Monteiro (2014) a sobrevivência de


mudas em plantio de recuperação de áreas degradadas é um importante parâmetro para
se avaliar a qualidade ecológica do ambiente e da aplicação das técnicas utilizadas no
projeto.
De modo geral, observou-se a redução da taxa de mortalidade entre os anos 2012
e 2013, excetuando-se a espécie P. dubium. Em 2012 foi registrada taxa de mortalidade
de 21% e 14% em 2013. No ano de 2015 houve aumento considerável na taxa de
mortalidade em função de incêndio florestal que atingiu toda a área do plantio
experimental, acarretando perda de 44% dos espécimes. Observa-se ainda que as
espécies C. langsdorffii, P. dubium, E. erythropappus e P. gonoacantha apresentaram
menor resiliência ao fogo (Tab. 2).

Tabela 2: Taxa de mortalidade por espécie


ESPÉCIE Taxa de mortalidade
2012 2013 2015*
S. terebinthifolius 5% 3% 33%
P. dubium 10% 24% 65%
E. erythropappus 34% 19% 63%
C. fissilis 38% 24% 53%
C. pachystachya 16% 13% 20%
I. marginata 15% 4% 36%
H. serratifolius 10% 13% 8%
P. gonoacantha 31% 27% 60%
C. langsdorffii 33% 21% 74%
P. foliolosa 20% 3% 29%
TOTAL 21% 14% 44%
* Alteração da medição de dez. de 2014 para abril de 2015 em função de incêndio florestal que atingiu a área do experimento

A análise da taxa de mortalidade por espécie para cada tratamento para os anos
de 2012, 2013 e 2015 é apresentada na tabela a seguir (Tab. 3).

Tabela 3: Taxa de mortalidade por espécie/ ano/ tratamento


ESPÉCIE 2012 2013 2015*
E+I E C E+I E C E+I E C
S. terebinthifolius 0% 6% 8% 4% 0% 6% 15% 31% 53%
P. dubium 4% 10% 17% 10% 33% 27% 70% 57% 69%
E. erythropappus 35% 27% 40% 23% 15% 21% 66% 58% 65%
C. fissilis 25% 40% 48% 13% 13% 27% 53% 48% 57%
C. pachystachya 16% 15% 17% 6% 13% 19% 21% 15% 26%
I. marginata 8% 19% 17% 4% 4% 4% 4% 44% 60%
H. serratifolius 10% 10% 10% 6% 17% 15% 4% 8% 13%
P. gonoacantha 31% 35% 27% 27% 19% 35% 49% 63% 69%
C. langsdorffii 31% 40% 29% 15% 17% 31% 85% 71% 67%
P. foliolosa 19% 17% 25% 8% 0% 2% 27% 31% 30%
Total 18% 22% 24% 12% 13% 19% 39% 42% 50%
* Alteração da medição de dez. de 2014 para abril de 2015 em função de incêndio florestal que atingiu a área do experimento
Legenda: E+I=esterco+insumos (adubação química e calcário); E=esterco; C=controle

Através da análise da Tabela 3 é possível observar que houve maior taxa de


mortalidade para o tratamento “C”, seguido do “E” e “E+I” em todos os anos
amostrados. Observa-se ainda a alta taxa de rebrota após a ocorrência de incêndio
florestal para as espécies S. terebinthifolius, I. marginata e H. serratifolius quando
submetidas ao tratamento “E+I”, apresentando taxa de mortalidade de 15%, 4% e 4%,
respectivamente. Em estudo realizado por Sampaio (2007), a mortalidade do H.
serratifolius ficou maior que no presente estudo, alcançando 14% em/ substrato com
uso de esterco, adubo químico (NPK) e calcário.
Para as espécies S. terebinthifolius e I. marginata, observa-se ainda grande
variação na taxa de mortalidade quando submetidas ao tratamento “C”, com 53% e
60%, respectivamente, em contraposição aos 15% e 4% registrados para o tratamento
“E+I” após a ocorrência de incêndio. Em contraposição, para as espécies E.
erythropappus e C. langsdorffii houve menor taxa de rebrota para o tratamento “E+I”
quando comparado ao tratamento “C”, sendo registradas taxas de mortalidade de 66% e
85% para o tratamento “E+I”, respectivamente, em contraposição aos 65% e 67%
registrados para o tratamento “C”.

3.2. Altura das mudas


A tabela a seguir apresenta a média de desenvolvimento anual (crescimento em
centímetros) das mudas monitoradas por espécie em cada tratamento. Cabe ressaltar
que, devido ao incêndio ocorrido em 2014, houve redução no tamanho médio das
mudas. Desta forma, a média de desenvolvimento anual foi calculada apenas entre os
anos de 2012 e 2013.

Tabela 4: Média de desenvolvimento por espécie por tratamento entre os anos de 2012 e 2013
ESPÉCIE DESENVOLVIMENTO MÉDIO DAS MUDAS (cm)
E+I E C
S. terebinthifolius 66 47 2
P. dubium 13 24 47
E. erythropappus 62 65 78
C. fissilis 19 18 31
C. pachystachya 29 19 10
I. marginata 34 28 24
H. serratifolius 17 8 6
P. gonoacantha 57 20 13
C. langsdorffii 4 9 13
P. foliolosa 80 72 46
Legenda: E+I=esterco+insumos (adubação química e calcário); E=esterco; C=controle

Pode-se observar que, de modo geral, as mudas no tratamento esterco+insumos


desenvolveram mais que as mudas plantadas no tratamento esterco e controle. Apenas
as espécies P. dubium, C. fissilis, E. erythropappus e C. langsdorffii apresentaram maior
crescimento nas parcelas com tratamento controle, sem uso de esterco e insumos (Tab.
5). Estes dados, levando-se em consideração os processos iniciais de adubação, podem
indicar menor resistência dessas espécies às condições de fermentação da matéria
orgânica utilizada em condições de chuvas escassas, conforme registrado nesta etapa do
plantio. Em geral, as espécies que obtiveram maior crescimento durante um ano de
experimentos foram E. erythropappus e P. foliolosa, enquanto as espécies H.
serratifolius e C. langsdorffii apresentaram um crescimento mais lento.

Tabela 5: Média de altura por espécie por tratamento entre os anos de 2012 e 2015
ALTURA MÉDIA (cm)
ESPÉCIE 2012 2013 2015*
E+I E C E+I E C E+I E C
S.
terebinthifolius 84,08 58,58 59,00 139,21 103,96 48,19 51,56 35,55 24,55
P. dubium 25,33 20,17 18,42 40,96 51,50 40,62 14,36 12,20 13,71
E.
erythropappus 50,67 40,83 42,75 90,96 109,78 93,85 31,88 34,74 40,59
C. fissilis 21,83 22,67 18,92 50,22 50,00 45,98 28,33 21,88 18,25
C.
pachystachya 56,55 39,83 40,17 78,96 58,85 51,60 52,97 31,59 25,94
I. marginata 26,33 18,50 15,42 66,23 50,00 36,38 36,96 31,15 17,89
H. serratifolius 29,83 28,00 20,00 34,89 33,92 25,73 36,78 29,89 20,17
P.
gonoacantha 25,75 26,75 25,00 81,86 48,88 39,62 72,68 33,67 46,67
C. langsdorffii 15,25 11,25 13,08 26,30 28,21 30,48 11,29 14,15 12,21
P. foliolosa 46,58 43,75 20,42 127,71 99,27 49,04 72,57 61,73 40,61
* Alteração da medição de dez. de 2014 para abril de 2015 em função de incêndio
florestal que atingiu a área do experimento
Legenda: E+I=esterco+insumos (adubação química e calcário); E=esterco; C=controle

Conclusões

A prática das queimadas, largamente usada nas regiões campestres das serras
mineiras, vem provocando, entre outros efeitos, a retração da vegetação florestal que
originalmente ocupava os fundos de vale e encostas mais úmidas, além de acelerar os
processos erosivos do solo. Entre as consequências mais graves das sucessivas
queimadas praticadas nestes ambientes estão a perda da matéria orgânica do solo e sua
exposição à erosão e ao ressecamento. Estes fatores, combinados com a baixa fertilidade
natural dos solos nos ambientes serranos, tornam difícil a tarefa de recuperação da
vegetação natural nas áreas originalmente ocupadas por florestas, que deve passar,
necessariamente, pela recomposição da fertilidade nestes trechos.
O trabalho desenvolvido no Parque Estadual da Serra do Rola Moça mostrou
que a adubação fosfatada adicionada ao uso de matéria orgânica, combinada com a
correção do solo com calcário dolomítico (tratamento E+I), pode contribuir para o
melhor desenvolvimento de algumas espécies florestais, colaborando para a aceleração
do processo de recuperação da vegetação.
Neste contexto, os resultados do plantio experimental indicam que as espécies
mais promissoras, quanto ao desenvolvimento médio das mudas foram S.
terebinthifolius (aroeirinha), E. erythropappus (candeia), P. gonoacantha (jacaré) e P.
foliolosa (vinhático) para os tratamentos E+I, exceto para a espécie E. erythropappus,
que apresentou maior desenvolvimento para o tratamento Controle (C). A taxa de
crescimento por tratamento é variável de acordo com cada espécie. As espécies S.
terebinthifolius (aroeirinha), C. pachystachya (embaúba), I. marginata (ingá), H.
serratifolius (ipê-amarelo) e P. foliolosa (vinhático) tiveram maior altura média
verificada para o tratamento E+I em todos os anos amostrados. Para as demais espécies
houve variação no tratamento em que houve registro de maior altura média durante os
três anos amostrados.
O uso da adubação química e orgânica mostrou ainda ser eficiente na resiliência
das espécies florestais usadas, em relação aos incêndios florestais, fato que pode estar
relacionado ao melhor desenvolvimento do sistema radicular das mudas florestais
plantadas.
As espécies que apresentaram maior resiliência foram H. serratifolius (ipê-
amarelo), I. marginata (ingá) e S. terebinthifolius (aroeirinha) para o tratamento E+I.
Cabe ressaltar que a espécie C. pachystachya (embaúba) apresentou alta resiliência no
tratamento E. A espécie H. serratifolius (ipê-amarelo) apresentou alta resiliência para os
três tratamentos.
Considerando as baixas taxas de crescimento das espécies florestais em áreas de
solos naturalmente de baixa fertilidade e os grandes riscos de incêndios florestais nestas
regiões serranas de Minas (riscos estes agravados pela invasão de espécies de gramíneas
exóticas), o uso combinado de adubação fosfatada/correção do solo/fornecimento de
matéria orgânica pode contribuir para acelerar o processo de recuperação da vegetação,
aumentando a eficiência de esforços neste sentido. Ao acelerar o processo de
desenvolvimento das mudas plantadas, poderá contribuir também para a aceleração do
processo de sombreamento das gramíneas invasoras, reduzindo desta forma, os riscos de
incêndios florestais severos.
Recomenda-se que trabalhos sejam realizados nesta mesma linha de pesquisa,
envolvendo, além de maior duração, análises estatísticas mais aprofundadas.

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do Meio Ambiente. Mapa de solos do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2010.

LICENCIAMENTO AMBIENTAL: PROGRAMA DE IDENTIFICAÇÃO,


CONTROLE E CORREÇÃO DE PROCESSOS EROSIVOS E PONTOS
CRÍTICOS DE SISTEMAS DE DRENAGEM APLICADO A MALHA
FERROVIÁRIA SOB CONCESSÃO DA RUMO LOGÍSTICA

Age, G.S¹; Cavalheiro, N.C.L²; Correia, C.C³; Ribeiro, R.P4; Zawadzki, J.M5
1
Bióloga/Coordenadora de Licença de Operação na RUMO Logística. Email:
[email protected]
2
Geóloga/Auditora Ambiental na RUMO Logística. Email:
[email protected]
3
Geógrafa/ Auditora Ambiental na RUMO Logística. Email:
[email protected]
4
Engenheira Cartógrafa e Agrimensora/Auditora Ambiental na RUMO Logística.
Email: [email protected]
5
Engenheiro Ambiental/Auditor Ambiental na RUMO Logística. Email:
[email protected]

RESUMO

A licença de operação (LO), pertencente a um dos estágios do licenciamento ambiental


no Brasil, é a etapa mais importante no gerenciamento dos impactos ambientais
causados pelos grandes empreendimentos. No Plano Básico Ambiental, ferramenta da
LO, são apresentados os programas ambientais a serem aplicados pelos
empreendimentos. Dentre os programas desenvolvidos pela RUMO Logística, o
Programa de Identificação, Controle e Correção de Processos Erosivos e Pontos Críticos
de Sistemas de Drenagem auxilia na proposição de medidas a serem tomadas para o
controle das ações e dos possíveis efeitos que tais processos podem causar no meio o
qual estão inseridos, preservando a operação ferroviária, a comunidade lindeira, os bens
patrimoniais e o meio ambiente. Em escritório, os dados georreferenciados coletados em
campo são armazenados e analisados em ambiente SIG por meio do cruzamento com
outros dados socioambientais, tais como APPs, Terras Indígenas, Unidades de
Conservação, geologia, pedologia, hidrologia e geomorfologia que direcionam as ações
preventivas e corretivas a serem realizadas pela companhia.
Anualmente, essa base de dados é reportada ao órgão ambiental, juntamente com as
analises e ações realizadas pela empresa.

Palavras Chave: processo erosivo, licença de operação, impacto ambiental.

ESTOQUE DE CARBONO NA BIOMASSA VEGETAL EM SISTEMAS


AGROFLORESTAIS BIODIVERSOS NA REGIÃO FRONTEIRIÇA DO
BRASIL COM O PARAGUAI

M. P. PADOVAN1; G. R. SALOMÃO2; Z. V. PEREIRA2; L. F. CARNEIRO3;


S. S. L. FERNANDES4; J. S. NASCIMENTO2
1
Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS. Email: [email protected];
2
Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, MS. Email:
[email protected], giselebrito_gbs @hotmail.com,
[email protected]; 3Universidade Federal de Goiás, Jataí, GO. Email:
[email protected]; 4Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Dourados,
MS. Email: [email protected]

RESUMO

Com esse estudo objetivou-se quantificar o estoque de carbono na biomassa vegetal em


sistemas agroflorestais biodiversos (SAFs) e na vegetação nativa, e identificar as
espécies arbóreas que sobressaem em estoque de carbono na sua biomassa. O estudo foi
realizado no Município de Amambai, no Estado de Mato Grosso do Sul (23°006' S e
55°014' W, com altitude média de 480 m). A vegetação nativa dessa microrregião
predomina a transição entre Cerrado e Floresta Estacional Semidecidual. Foram
avaliados quatro SAFs, em diferentes desenhos, arranjos e idades de implantação, os
quais foram tratados conforme a predominância da espécie, sendo: SAF Bananal (B);
SAF Pomar (P); SAF Erval (E) e SAF Macaubal (M), bem uma a testemunha
representada pela vegetação nativa (MT) adjacente aos SAFs. Para estimar o estoque de
carbono na biomassa vegetal, foram demarcadas seis parcelas de 100m² em cada
sistema e na vegetação nativa, sendo avaliados os arbustos e árvores que apresentaram a
circunferência igual ou superior a 10 cm à altura do peito (1,30 m de altura), e
estimados a sua altura total (Ht). O cálculo da biomassa foi realizado para cada
indivíduo. Para obter os valores de carbono na biomassa, os dados foram agrupados por
espécie, aplicando-se equação alométrica. Para identificar as melhores espécies que
sobressaem como estocadoras de carbono, os valores de carbono fixado obtidos por
cada indivíduo foram agrupados, resultando em valores totais fixado em cada parcela t
600 m2 e, posteriormente, convertido em t ha-1. O estoque de carbono nos sistemas
agroflorestais e em sua respectiva área de vegetação nativa adjacente são semelhantes e
as espécies com maior potencial e estocar carbono na sua biomassa foram:
Enterolobium contortisiliquum, Ceiba speciosa, Cecropia pachystachya, Peltophorum
dubium e Acrocomia aculeata, apresentando potencial para composição de SAFs
biodiversos em projetos com intuito de estocagem de carbono na biomassa vegetal.

Palavras Chave: recuperação de áreas degradadas, SAFs, espécies arbóreas e


arbustivas, princípios agroecológicos, sequestro de carbono

Introdução
Com a utilização de áreas de formas errôneas e seus efeitos antrópicos, houve e
há um aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera que contribui
para a elevação da temperatura média global, provocando o derretimento das calotas
polares, aumento do nível médio dos oceanos, propagação de doenças tropicais,
migração e até extinção de espécies, prejudicando a biodiversidade (NISHI et al., 2005).
Percebe-se, portanto, a necessidade de se buscar medidas mitigadoras para a diminuição
das emissões desses gases de efeito estufa, pois a maior preocupação reside na
acumulação progressiva desses gases na atmosfera (YU, 2004).
Em diferentes fóruns mundiais, desde o início das discussões sobre as mudanças
climáticas, devido ao efeito-estufa, as florestas e o uso adequado dos solos foram
considerados mecanismos importantes para mitigar as mudanças climáticas. No entanto,
esse assunto ainda gera muita polêmica quando se refere às emissões de dióxido de
carbono (CO2) decorrentes de desmatamentos em todo o mundo (PAIXÃO et al., 2006).
Com a emergência dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo no âmbito da
Convenção sobre Mudanças Climáticas, o sequestro de carbono por meio de sistemas
agroflorestais biodiversos (SAFs) poderá representar oportunidades reais de
complemento de renda aos agricultores, além de produzirem outros serviços ambientais
(KITAMURA, 2003). O autor salienta que os SAFs, especialmente aqueles que são
concebidos em bases agroecológicas, são substitutos estratégicos para o sistema de
derruba-e-queima, uma vez que imita os sistemas naturais e, portanto, contribuem
diretamente para a conservação da biodiversidade.
O uso de SAFs biodiversos contribui para o sequestro de carbono, pois a adoção
desses sistemas diminui a pressão sobre florestas naturais (NASCIMENTO, 2016), que
são, segundo Montagnini e Nair (2004), os ecossistemas terrestres mais eficientes na
fixação de carbono. Sharma (2013), Moressi (2014) e Nascimento (2016) sustentam que
sistemas agroflorestais bem manejados, podem contribuir, em curto prazo, para o
armazenamento de grandes quantidades de carbono na biomassa dos arbustos e árvores.
May et al. (2005) enfatizam que os SAFs garantem um volume maior de carbono
fixado em determinado período, quando comparados aos arranjos de produção com
cultura anual ou de pastagens, pelo fato de estocarem carbono por prazo superior à
maioria das práticas florestais comerciais conduzidas na forma de monocultivos, que
visam corte após atingir o crescimento máximo de biomassa.
Além disso, há outros valores proporcionados pelos SAFs, destacando serviços
ambientais como o aumento da biodiversidade, manutenção dos ciclos biogeoquímicos,
manutenção do clima e a reciclagem de nutrientes, recuperando funções essenciais para
a sustentabilidade, além de fornecer renda e produção de subsistência aos agricultores
(ARATO; MARTINS; FERRARI, 2003; SHARMA, 2013; MORESSI, 2014;
NASCIMENTO, 2016).
Nesse contexto, desenvolveu-se um estudo com os objetivos quantificar o
estoque de carbono na biomassa vegetal em SAFs biodiversos e na vegetação nativa, e
identificar as espécies arbóreas que sobressaem em estoque de carbono na parte aérea
das plantas.

Materiais e Métodos

Área de estudo
O estudo foi realizado no ano de 2014, no Município de Amambai, Estado de
Mato Grosso do Sul, região fronteiriça com o Paraguai (coordenadas de 23°006' S e
55°014' W, com altitude média de 480 m). Originalmente, na vegetação nativa dessa
microrregião predomina a transição entre Cerrado e Floresta Estacional Semidecidual,
de clima tropical; apresenta inverno seco e estação chuvosa no verão, devido à ação da
massa tropical atlântica, segundo a classificação de koppen (GALVANI, 2008).
A coleta de dados foi realizada em uma propriedade rural denominada “Sítio da
Mata”. Trata-se de uma propriedade agrícola com proposta de ocupação por diferentes
arranjos de sistemas agroflorestais biodiversos, empreendida pela iniciativa privada,
especificamente pelo antropólogo e agricultor experimentador Paulo Pepe, in memorian,
cujo método de implantação e manejo dos SAFs se baseia no processo de sucessão
natural proposto por Götsch (1995).
Dentre os SAFs biodiversos existentes na propriedade, foram identificados
quatro módulos (arranjos), cultivados concomitantemente com espécies vegetais de usos
múltiplos, compostos por exóticas e nativas. Esses SAFs seguem princípios
agroecológicos, e são formados por diferentes desenhos, arranjos e idade de
implantação, os quais foram tratados conforme a predominância da espécie, sendo: SAF
Bananal (B), implantado em 2008; SAF Pomar (P) e SAF Erval (E), implantados em
1996, e SAF Macaubal (M), (implantado em 1997), bem uma testemunha representada
pela vegetação nativa (MT), adjacente aos SAFs.
De maneira geral, os quatro SAFs estudados foram iniciados a partir de cultivos
agrícolas, onde, gradualmente, foram inseridas mudas e sementes de espécies arbóreas e
arbustivas, tentando-se ocupar os diversos extratos oferecidos pelo ambiente. Na
concepção inicial dos sistemas, privilegiou-se a presença de espécies vegetais que
fornecem rapidamente maiores quantidades de biomassa, através de podas para
cobertura do solo. Com o avanço dos SAFs, o manejo consistiu em podas de abertura e
de sincronia para auxiliar a manutenção de determinados consórcios existentes e manter
a produção agrícola.
Métodos de amostragem
A identificação botânica foi realizada através de comparação com o acervo do
herbário DDMS da Universidade Federal da Grande Dourados e com consulta à
literatura especializada e especialistas. As espécies amostradas foram classificadas
conforme Angiosperm Phylogeny Group (APG, 2009) e a atualização taxonômica foi
realizada mediante consulta a banco de dados “Lista de Espécies da Flora do Brasil”
(LEFB, 2012). O levantamento quantificou o número de plantas (indivíduos), famílias e
espécies vegetais existentes nos SAFs e na área de vegetação nativa.
Para estimar o estoque de carbono na biomassa vegetal, utilizou-se delineamento
experimental de blocos ao acaso, com seis parcelas de 10 m x 10 m (100 m²) em cada
sistema (seis repetições): P, M, B, E e na MT. Em cada sistema, foram avaliados as
árvores e arbustos que apresentaram a circunferência igual ou superior a 10 cm à altura
do peito (1,30 m de altura), e estimados a sua altura total (Ht), conforme descrito por
Arévalo, Alegre e Vilcahuaman (2002).
Cálculos para quantificar o estoque de carbono
O cálculo da biomassa foi realizado para cada indivíduo, através da equação de
Brown et al. (1989). Os valores das circunferências obtidas foram transformados em
diâmetro, através da fórmula:

DAP = CAP/π
Onde:
DAP = diâmetro do caule da planta à altura do peito
CAP = circunferência do caule da planta à altura do peito
π - 3,1414

Para obter os valores de carbono na biomassa, foram utilizados os valores da


altura das plantas e o diâmetro do caule, onde os dados foram agrupados por espécie,
aplicando-se a equação alométrica proposta por Higuchi et al. (1998), obtendo-se o
valor do peso fresco em kg árvore-1:
PF = -2,694 + 2,038 ln D + 0,902 ln H
onde:
In = logarítmo natural;
D = Diâmetro a 1,30 m do solo, em centímetros;
H = Altura total da árvore ou arbusto, em metros.

Após a utilização dessa equação, adotou-se o fator de conversão para estimar o


valor de carbono. Segundo a equação alométrica de Higuchi et al. (1998), do peso
fresco obtido na amostra, 60% refere-se ao peso seco e 40% à água, obtendo-se o total
do carbono fixado que corresponde a 48% do peso seco.
Para identificar as melhores espécies que sobressaem como estocadoras de
carbono, foram utilizadas aquelas com 10 ou mais indivíduos, utilizando todos os
indivíduos da espécie, somando os valores do carbono através da equação alométrica,
obtendo a média do carbono estocado por cada indivíduo em kg árvore-1. Para estimar o
estoque de carbono em cada SAF e na MT, os valores de carbono fixado obtidos por
cada indivíduo através da equação alométrica foram agrupados, resultando em valores
totais fixado por todos os indivíduos de cada parcela, sendo apresentados em t 600 m2 e,
posteriormente, convertidos em t ha-1.

Resultados e discussão
Foram inventariados 1.004 indivíduos pertencentes a 112 espécies em toda a
área de estudo. No SAF Bananal foram encontrados 142 indivíduos pertencentes a 37
espécies, predominando a Musa paradisiaca L. Também foram identificados 277
indivíduos, os quais estão distribuídos em 57 espécies no SAF Erval, e as espécies Ilex
paraguariensis A.St.-Hil., Musa paradisiaca L., Handroanthus chrysotrichus (Mart. ex
DC.) Mattos, Albizia niopoides (Spruce ex Benth.) Burkart e Guarea guidonia (L.)
Sleumer apresentaram os maiores números de indivíduos. No SAF Macaubal, 250
indivíduos foram inventariados e 52 espécies identificadas, sendo que Acrocomia
aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart., Coffea arabica L., Anadenanthera peregrina (L.) Speg.
e Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong. estão presentes com maior frequência.
Já no SAF Pomar, foram identificados 162 indivíduos distribuídos em 34 espécies,
predominando Coffea arabica L., Musa paradisiaca L., Albizia niopoides (Spruce ex
Benth.) Burkart e Mangifera indica L. Na área de vegetação nativa (MT), 162
indivíduos e 34 espécies foram identificados, com predominância de Guarea guidonia
(L.) Sleumer, Trichilia elegans A. Juss. e Anadenanthera peregrina (L.) Speg. A síntese
desses resultados é apresentada na Tabela 1.
De maneira geral, os quatro SAFs estudados foram iniciados a partir de cultivos
agrícolas, onde, gradualmente, foram inseridas mudas e sementes de espécies arbóreas e
arbustivas, com manejo inicial das espécies que fornecem maiores quantidades de
biomassa rapidamente.

Tabela 1. Número total de indivíduos, número de famílias e de espécies em sistemas


agroflorestais biodiversos e na vegetação nativa na região fronteiriça do Brasil com o Paraguai.
Sistemas Nº de indivíduos Nº de espécies Nº de famílias
SAF Bananal 142 37 21
SAF Erval 277 57 24
SAF Macaubal 250 52 22
SAF Pomar 173 44 21
MATA 162 34 15

A partir da utilização da equação alométrica de Higuchi et al. (1998), pode-se


identificar as espécies arbóreas que estocam maiores quantidades de carbono em sua
biomassa aérea.
Os valores de carbono variam de acordo com as espécies, cabendo ressaltar que
o número de indivíduos por espécie também variou (Tabela 1). Assim, utilizou-se a
média de cada espécie para os cálculos de biomassa.
A espécie com maior acúmulo de carbono foi Enterolobium contortisiliquum
(Vell.) Morong (tamboril), com 128,46 Kg C ind.-1. Trata-se de uma árvore decídua e
frondosa, utilizada em reflorestamentos de áreas degradadas pela sua rusticidade, boa
adaptabilidade e crescimento rápido (CARVALHO, 2008).
Apresentam, também, bom potencial para estocagem de carbono na sua
biomassa as espécies: Ceiba speciosa (A.St.-Hil.) Ravenna (paineira), com 77,50 kg C
ind.-1; a Cecropia pachystachya Trécul (embaúba), com 66,31 kg C ind.-1; a
Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. (canafístula), com 56,37 Kg C ind.-1 e Acrocomia
aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart). (macaúba), com 53,52 Kg C ind.-1 (Tabela 2). Essa
diferença nos resultados está relacionada com a dinâmica de crescimento de cada
espécie e com a quantidade de biomassa lenhosa presente em cada indivíduo avaliado.
A diferença no acúmulo de carbono é peculiar de cada espécie arbórea e
arbustiva. Esse processo é evidenciado com maior precisão quando tal avaliação é
realizada durante alguns anos. Renner (2004) constatou acúmulo de 4,6 Kg C ind-1 ano
em P. dubium. No mesmo estudo, constatou-se que Annona cacans acumulou 26,9 Kg
C ind-1 ano, Mimosa scabrella (24,9 Kg C ind-1 ano), Bastardiopsis densiflora (17,6 Kg
C ind-1 ano), Piptadenia gonoacantha (17,4 Kg C ind-1 ano) e Mimosa scabrella var.
aspericarpa (15,6 Kg C ind-1 ano), destacando-se como as que mais acumularam
carbono na parte aérea das plantas.
Em um estudo realizado em Goiânia-GO, Sousa et al. (2011) constataram
acúmulo de 63,03 kg ind.-1 por C. speciosa, destacando-se das demais, enquanto a
espécie com menor potencial foi a G. americana, com 4,97 kg ind.-1.
A identificação de espécies arbóreas com elevado potencial de estocagem de
carbono na biomassa aérea contribuirá para a implementação de projetos de restauração
ambiental, principalmente aos produtores que visa retorno financeiro através de projetos
de PSAs e o controle de emissões de Dióxido de Carbono (CO2) na atmosfera.
Nesse estudo realizado em Mato Grosso do Sul, também foram identificadas as
espécies com menor estocagem de carbono na sua biomassa aérea. Constatou-se que
Trichilia elegans A. Juss. (pau-de-ervilha) teve o menor desempenho, com 0,34 kg C
ind.-1; Coffea arabica L. (café), com 0,83 kg C ind.-1 e Eugenia florida DC. (guamirim)
que acumulou 1,0 kg C ind.-1 (Tabela 2).
Tabela 2. Nome de espécies arbustivas e arbóreas, número de indivíduos, carbono total
acumulado por espécie e média por indivíduo em sistemas agroflorestais biodiversos e em uma
área de vegetação nativa na região fronteiriça do Brasil com o Paraguai, em 2014.
Nº de Carbono Média de C por
Nome comum Espécies
Ind. total (kg) indivíduo (kg)
Manga Mangifera indica L. 13 358,34 27,56
Café Coffea arabica L. 74 61,67 0,83
Banana Musa paradisiaca L. 91 3110,63 34,18
Pau-de-
Trichilia elegans A.Juss. 41 14,32 0,34
ervilha
Cedro Cedrela fissilis Vell. 23 222,31 9,66
Carrapeta Guarea guidonia (L.) Sleumer 67 130,58 1,94
Pariparoba Piper amalago L. 10 23,01 2,30
Albizia niopoides (Spruce ex
Farinha-seca 52 2347,37 45,14
Benth.) Burkart
Goiaba Psidium guajava L. 10 73,97 7,39
Enterolobium contortisiliquum
Tamboril 35 4496,42 128,46
(Vell.) Morong
Embaúba Cecropia pachystachya Trécul 10 663,19 66,31
Amora-brava Rubus brasiliensis Mart. 11 355,31 32,30
Handroanthus chrysotrichus
Ipê-amarelo 28 129,06 4,60
(Mart. ex DC.) Mattos
Handroanthus impetiginosus
Ipê-roxo 10 261,69 26,16
(Mart. ex DC.) Mattos
Aspidosperma polyneurum
Peroba-rosa 13 24,17 1,85
Müll.Arg.
Mamona Ricinus communis L. 10 18,49 1,84
Peltophorum dubium (Spreng.)
Canafístula 24 1353,062 56,37
Taub.
Guamirin Eugenia florida DC. 20 20,01 1,00
Limão-rosa Citrus bigaradia Loisel 13 18,76 1,44
Erva-mate Ilex paraguariensis A.St.-Hil. 54 158,18 2,92
Angico-da- Anadenanthera peregrina (L.)
56 1600,36 28,57
mata Speg.
Pausangue Machaerium brasiliense Vogel 10 233,71 23,37
Nectandra megapotamica
Canela- preta 11 182,10 16,55
(Spreng.) Mez
Ceiba speciosa (A.St.-Hil.)
Paineira 12 930,05 77,50
Ravenna
Acrocomia aculeata (Jacq.)
Macaúba 22 1177,65 53,52
Lodd. ex Mart.

As espécies Euphorbia cotinifolia (saboneteira) e Tabebuia pentaphylla (ipê-


rosado) foram estudados por Reigado e Santos (2014), em Belo Horizonte-MG,
apresentando valores de carbono estocado na biomassa aérea de 0,61 kg C ind-1 e 0,55
Kg C ind-1, respectivamente.
Pesquisas no bioma Mata Atlântica, apresentam em média, que a cada 5 árvores
plantadas, é possível neutralizar a emissão de 1 ton de carbono. Cada hectare comporta,
em média, até 2.000 árvores, ou seja, pode neutralizar até 400 ton de carbono. A relação
árvores/tCO2 varia em função das características de cada bioma – Cerrado, Floresta
Tropical e Semiárido, por exemplo. Há projetos que assumem que apenas 1 árvore
absorve de 400 a 1.000 Kg de carbono ao ano, já que durante a fotossíntese no seu
crescimento ocorre muita absorção de CO2 na biomassa da planta acima e abaixo do
solo (INICIATIVA VERDE, 2010).
Os valores de C ind -1 em cada SAF e na MT foram agrupados, sendo que o
carbono estocado no SAF Pomar foi superior aos demais, com 92,3 t C ha-1 (Figura 1).
Esse valor mais representativo de EC se deve possivelmente pelo início da implantação
do SAF Pomar e suas respectivas espécies presentes, que ocorreu em 1997, em um
antigo pomar de citrus sp.

MATA 74,7

SAF POMAR 92,3

SAF MACAUBAL 66,8

SAF ERVAL 75,5

SAF BANANAL 81,2

0 20 40 60 80 100
tC ha-1

Figura 1. Carbono estocado na parte aérea de espécies arbóreas e arbustivas em sistemas


agroflorestais biodiversos e em uma área de vegetação nativa na região fronteiriça do Brasil
com o Paraguai, em 2014.

Sabe-se que florestas plantadas, sejam com espécies nativas e/ou exóticas,
apresentam taxas de crescimento mais aceleradas em relação às florestas naturais e,
consequentemente, maiores incrementos de biomassa e carbono, segundo Brianézi
(2012). Esse conhecimento facilita a compreensão de que alguns SAFs se destacam em
relação a áreas de vegetação nativa concernente ao acúmulo de carbono na biomassa das
plantas, pois são manejados por meio de podas e até com desbaste de árvores que se
encontram em densidade excessiva. Assim, favorecem-se processos sucessionais, com o
surgimento de novas espécies nos sistemas. Arbustos e árvores já estabelecidas se
encontram em pleno desenvolvimento vegetativo e, consequentemente, acumulando
boas quantidades de carbono.
No SAF Bananal, foi estimado acúmulo de 81,2 t C ha-1 na biomassa dos
arbustos e árvores, destacando-se em relação à área de vegetação nativa. Já no SAF
Erval, estimou-se o estoque de carbono em 75,5 t C ha-1, semelhante ao SAF Macaúba
(66,8 t C ha-1), os quais não diferiram da área com vegetação nativa, que acumulou 74,7
t C ha-1 (Figura 1).
O carbono estocado na biomassa da parte aérea das plantas constatado neste
estudo (Figura 1) foi muito superior às quantidades estimadas por Nascimento (2016),
utilizando a mesma equação alométrica, em cinco SAFs biodiversos na região Sudoeste
de Mato Grosso do Sul, ou seja, de 4,1 a 28,01 t C ha-1. Entretanto, a autora também
observou significativa diferença de acúmulo de carbono entre os SAFs
Ribeiro et al. (2009) encontraram valor médio de 84 t C ha-1 estocado em um
Floresta Madura da Mata Atlântica, no município de Viçosa-MG. Porém, deve-se
ressaltar a diferença de vegetação em relação às áreas utilizadas nesse estudo.
Entretanto, os resultados obtidos (Tabela 2) indicam a eficiência de SAFs biodiversos
como importantes prestadores desse serviço ambiental, como sistemas com bom
potencial de estocagem de carbono na biomassa vegetal.
Essas diferenças de acúmulo de carbono na parte aérea de arbustos e árvores nos
SAFs (Figura 1) se devem às suas composições florísticas; o número de indivíduos de
cada espécie vegetal, a densidade em que as espécies estão presentes (Tabela 1), bem
como a idade de cada sistema, conforme enfatizam Delitti, Megura e Pausas (2006) e
Carvalho et al. (2014). Outro aspecto que pode ter influenciado nesse resultado é a
forma de ocupação e manejo de cada área antes da implantação dos SAFs. Delitti,
Megura e Pausas (2006) salientam que os diferentes valores de biomassa entre
ecossistemas distintos são atribuídos à variação da própria estrutura, pois são
fisionomias distintas com porte e densidade de árvores diferentes. Quanto às diferenças
de biomassa e estoque de carbono dentro de uma mesma fisionomia, deve-se às
variações edafoclimáticas e às características inerentes à flora local e aos arranjos de
plantas estabelecidos.
Em um estudo realizado no Cerrado, no município de Grão Mogol, em Minas
Gerais, por Rocha et al. (2014), também foram constatados diferentes acúmulos de
carbono em SAFs. No estudo foram envolvidos três SAFs implantados em 2003, e duas
áreas com vegetação nativa. Constatou-se os seguintes acúmulos de carbono pelas
espécies arbustivas e arbóreas: SAF1 (9,98 t C ha-1), SAF 2 (7,87 t C ha-1), SAF 3 (1,67
t C ha-1) e na vegetação nativa 1 (1,94 t C ha-1) e na vegetação nativa 2 (10,54 t C ha-1).
Os estoques de carbono verificados pelos autores, foram muito inferiores aos
constatados neste estudo (Figura 1).
Ao comparar o sequestro de carbono em quatro SAFs em Pium, TO,
Kurzatkowski (2007) estimou valores entre 9,66 e 3,18 t C ha-1, com espécies de grande
porte, como: Cedrela fissilis Vell. (cedro-rosa), Diptery xalata (baru), Syzygium sp.
(jambo) e Tamarindus indica (tamarindo), valores muito inferiores aos constatados
neste estudo, os quais variaram de 92,3 a 66,8 t C ha-1 (Figura 1).
Nair, Kumar e Nair (2004 e 2009) ressaltam que o potencial de estoque de
carbono em sistemas agroflorestais advém da combinação de informações sobre o
carbono da parte aérea e do solo. O autor chama a atenção sobre as dificuldades
metodológicas para estimar a biomassa e o carbono e que, sob condições variáveis,
essas dificuldades se agravam pela ausência de estimativas confiáveis obtidas em áreas
de sistemas agroflorestais, nos impulsionando para novos estudos.

Conclusões

O estoque de carbono em sistemas agroflorestais biodiversos pode ser maior que em


áreas de vegetação nativa antropizadas, dependendo dos arranjos de SAFs estabelecidos.
Neste estudo desenvolvido na região fronteiriça do Brasil com o Paraguai, dois SAFs
acumularam mais carbono que na área de vegetação nativa adjacente.

Sistemas agroflorestais biodiversos constituem-se em importante alternativa para a


redução do dióxido de carbono da atmosfera, somando-se às áreas de vegetação nativa.

As espécies com maior potencial para sequestrar e estocar carbono na biomassa aérea
no estudo realizado na região fronteiriça do Brasil com o Paraguai foram: Enterolobium
contortisiliquum (Vell.) Morong (tamboril), Ceiba speciosa (A.St.-Hil.) Ravenna
(paineira), Cecropia pachystachya Trécul (embaúba), Peltophorum dubium (Spreng.)
Taub (canafístula) e a Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart (macaúba), podendo
ser recomendadas para a composição de SAFs biodiversos visando a redução de
emissão de CO2 para a atmosfera.

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RESUMO

Os aterros sanitários são o principal destino dos resíduos sólidos domiciliares coletados
no Brasil. A sua ampla utilização é devida a fatores como: tecnologia relativamente
simples e conhecida; fácil operação; eficiência em termos de disposição; e, quando
construído seguindo parâmetros técnicos, é uma alternativa ambientalmente adequada.
Dentre os parâmetros técnicos, a impermeabilização da base do aterro com
geomembrana é uma das mais importantes, pois essa se comporta como uma barreira
entre o chorume gerado pelos resíduos e o solo/aquífero. Quando o chorume atinge a
água subterrânea este a torna imprópria para diversos usos, como o abastecimento
humano e irrigação. O diagnóstico desse tipo de contaminação pode ser realizado por
meio de métodos geofísicos elétricos como o da eletrorresistividade, que permite
identificar o contaminante nas células de disposição de resíduos, no solo e nas águas
subterrâneas. Esse método foi aplicado no aterro sanitário de Vila Nova do Sul (RS)
com o objetivo de verificar a contaminação do aquífero local pelo chorume. Os
resultados em termos de resistividade elétrica permitiram identificar a resistividade
mínima natural para a área e compará-la com as demais linhas, que apresentaram
valores abaixo do mínimo natural em decorrência da presença de chorume, que
caracteristicamente apresenta baixos valores de resistividade devido a presença de sais
orgânicos dissolvidos. Os dados processados pela interpolação das seções 2D em
modelos de visualização 3D e a apresentação dos dados em camadas de acordo com a
profundidade demonstraram que o chorume está concentrado em profundidade de até 4
metros, coincidente com a profundidade da geomembrana instalada no aterro.
Entretanto, a presença de chorume é também encontrada em alguns pontos específicos
em profundidade de 10 metros, onde se inicia o aquífero local. Dessa forma, os
resultados apontam para a contaminação do aquífero pelo chorume e de zonas
específicas onde ocorre um furo na geomembrana.

Palavras Chave: contaminação, resistividade elétrica, resíduos sólidos, geomembrana

INTRODUÇÃO

Os aterros sanitários devem ser projetados de forma a garantir a qualidade


ambiental do meio, o que inclui em seus aspectos construtivos a presença de uma
geomembrana impermeável na base da célula que recebe os resíduos; fluxo
gravitacional do chorume gerado; estabilidade geotécnica; canaletas de coleta de
chorume; sistema de coleta de gases, sistema de tratamento do chorume, além de amplo
plano de monitoramento de águas subterrâneas e superficiais (Christensen, 2011;
Deublein & Steinhauser, 2011). A operação adequada dos aterros, como compactação e
cobertura diária dos resíduos, também colabora na garantia da eficiência desse tipo de
disposição.
Ainda assim, são frequentes os problemas ambientais detectados em aterros
sanitários como a instabilidade geotécnica, liberação de metano para atmosfera, erosão
da massa de resíduo ou da célula de cobertura, problemas na coleta de chorume, dentre
outros (Yung-Tse et al., 2014; Pawlowska, 2014).
Um problema de grande impacto ambiental é o vazamento de lixiviado para o
aquífero, devido à perfuração ou instalação incorreta de geomembrana. Em muitos
casos, este problema é detectado após o fechamento da área, essencialmente por meio
de poços, dispositivos planejados para monitorar as águas subterrâneas quanto a
presença de chorume, mas que não possibilitam a detecção da fonte de vazamento (Lehr
et al., 2001; Sara, 2003; Twardowska et al. 2006; Bhandari et al. 2007; Hernandez-
Soriano, 2014).
A contaminação de águas subterrâneas pelo chorume. Os aquíferos possuem
lenta renovação de suas águas e em alguns casos são ausentes de processos que
favoreçam a degradação do contaminante, podendo abrigar a contaminação por muitos
anos. A presença de contaminantes pode apresentar riscos à saúde púbica quando essas
águas são captadas para abastecimento ou irrigação.
O chorume é um contaminante constituído de uma mistura de substâncias
orgânicas e inorgânicas provenientes da decomposição de resíduos sólidos urbanos. A
constituição do chorume assim como seu volume de geração depende do tipo de
resíduos incorporados ao solo; da precipitação pluviométrica sobre a área do aterro, do
escoamento superficial, da infiltração subterrânea, da umidade natural dos resíduos, do
grau de compactação e da capacidade do solo em reter umidade (Orth, 1981).
O uso de métodos indiretos no diagnóstico de situações complexas de
contaminação de águas subterrâneas é atrativo no sentido de que apresentam
versatilidade, baixo risco e permitem a delimitação do contaminante. Especialmente os
métodos geofísicos elétricos apresentam uma larga utilização em área de impactos
ambientais na subsuperfície devido à sensibilidade do método a mudanças nos
parâmetros físicos naturais do ambiente, o que possibilita o reconhecimento dos
principais contaminantes (Sequeira Gómez et al, 2010; Arango-Galván et al., 2011;
Dena et al., 2012; Belmonte-Jiménez et al., 2012; Chávez et al., 2014; Moreira et al.,
2016).
A detecção de contaminantes no ambiente subterrâneo pela geofísica é um
instrumento de diagnóstico importante e eficiente. Apesar de ser uma ferramenta
clássica na detecção de chorume na subsuperfície, a aplicação do método no diagnóstico
da fonte de contaminação no furo na geomembrana e seu monitoramento temporal é
inovador em termos de remediação de aterros.
O aterro sanitário estudado neste trabalho está localizado no município de Vila
Nova do Sul (RS), na região centro-sul do Estado do Rio Grande do Sul e que possui
uma população estimada em 4421 habitantes e economia baseada na atividade
agropecuária, mineração, comércio e serviços. A prefeitura municipal é responsável
pela coleta, transporte e disposição de cerca de 130 toneladas de resíduos sólidos
domiciliares por mês.
Este aterro possui atualmente uma célula de resíduos exaurida e outra em fase de
abertura. A célula desativada possui profundidade aproximada de 4m, recoberta por solo
escavado durante sua abertura, e impermeabilização por manta asfáltica em sua base,
com canalização de chorume por fluxo gravitacional até dois tanques localizados a
jusante.
Embora possua aterro sanitário próprio, projetado e implementado em 2008, esta
área está atualmente embargada pela FEPAM (Agência ambiental do Estado do Rio
Grande do Sul), que proíbe a disposição final de resíduos no local diante da
contaminação do ambiente subterrâneo pelo líquido percolado do aterro (chorume). O
funcionamento do aterro só poderá voltar a ocorrer normalmente após a interrupção da
contaminação e criação de mecanismos que impeçam novas fontes de contaminação.
Neste sentido, o presente trabalho visou o diagnóstico e o monitoramento
geofísico de uma célula de resíduos em aterro sanitário, que apresenta problemas de
vazamento de chorume para o aquífero, numa tentativa de acompanhamento de sua
eficácia e estimativa de tempo de recuperação.

MATERIAIS E MÉTODOS

O método de monitoramento da contaminação foi realizado pelo método da


Eletrorresistividade, que tem por objetivo realizar medições de resistividade elétrica,
propriedade física intrínseca dos materiais que pode ser entendida como a maior ou
menor facilidade de um material de propagar uma corrente elétrica.
A aquisição de dados de resistividade elétrica é baseada na introdução de uma
corrente elétrica no subsolo em diferentes profundidades de investigação por dois
eletrodos, denominados A e B com o objetivo de medir o potencial gerado em outros
dois eletrodos denominados M e N.
Para tanto, o trabalho de campo consistiu na realização de 12 linhas de
tomografia elétrica de 100 metros. O espaçamento entre as linhas foi de 5 metros,
espaçamento entre eletrodos de 5 metros em arranjo Schlumberger. A alocação das
linhas ocorreu sob a área da célula de resíduo exaurida (linhas 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 10)
e na extremidade superior (linha 9) e inferior (linha 11), além de uma linha de referência
para comparações dos valores obtidos no aterro com os valores naturais para a área
(linha 12) (Figura 1).
O equipamento geofísico utilizado foi o resistivímetro Terrameter LS, fabricado
pela ABEM Instrument, que consiste em módulo único de transmissão e recepção de
sinais automatizado a partir de programação prévia, com 250 W, resolução de 1 µV e
corrente máxima de 2,5 A. O aparelho permite a extração dos dados por interface USB
para posterior processamento.
O processamento ocorreu pelo software Res2dinv, que realiza iterações para
representar da melhor maneira o valor medido em campo e os valores reais da área. O
resultado corresponde a seções de resistividade elétrica 2D em termos de distância e
profundidade em escala logarítmica com representação dos valores em cores.
Para um entendimento mais apurado do diagnóstico, os dados geofísicos 2D
foram processados e reunidos em modelos de visualização 3D, posteriormente fatiados
em diversos níveis de profundidade, com ênfase para a profundidade relativa a
geomembrana de impermeabilização da célula.
Figura 1 – Localização e disposição das linhas de tomografia elétrica

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A geração de chorume nos aterros sanitário é consequência da degradação dos


resíduos sólidos lançados na célula. Cerca de 51% da massa de resíduo coletada no
Brasil corresponde a matéria orgânica passível de decomposição (Cempre, 2013; Jacobi
& Besen, 2011).
A degradação dos compostos orgânicos ocorre por meio de processos físicos,
químicos e principalmente biológicos que resultam na geração de efluente líquido e
gasoso. A constituição e o volume do efluente varia de acordo com o tipo de resíduo,
pluviosidade, infiltração e grau de compactação dos resíduos (Lema et al., 1998).
Os processos envolvidos na degradação ocorrem a princípio em condições
aeróbicas e em seguida anaeróbicas, com geração de subprodutos característicos.
O entendimento dessas fases de degradação é fundamental para a interpretação
dos dados geofísicos. Em termos de resistividade elétrica, é esperado uma queda nos
valores naturais de resistividade devido a presença do chorume com elevado conteúdo
de sais dissolvidos.
O processamento dos dados geofísicos resultou em seções de inversão de

referência (linha 12), alocada na estrada de acesso à área, define o padrão de


resistividade natural para a área, uma vez que está a montante da célula de resíduos. Os

linha de referência até a profundidade de 10 metros; a partir dessa profundidade os


valores de resistividade apresentam uma queda significativa, atribuída ao alcance do

As linhas posicionadas sobre a célula de resíduos (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8)


apresentam valores inferiores ao mínimo natural da área definido para a área, assim, o

resistividade que representa indicativos de percolação no solo e na água subterrânea do


chorume gerado pela decomposição dos resíduos.
Localizada na lateral nordeste da célula de resíduos, a linha 09 apresenta

inferiores ao natural para a área. A seção 11, na lateral externa sudeste a jusante da
célula de resíduos também apresenta valores inferiores aos naturais nas posições 40 e 60
metros.
A partir da interpolação das seções 2D, foram gerados modelos de visualização
3D sobre o qual foram posicionadas as linhas de aquisição de dados. Os modelos
permitem definir a abrangência espacial do chorume dentro da célula de resíduos
seguindo o fluxo potenciométrico da área assim como a extrapolação do chorume para
além dos limites da célula (Figura 2).

Figura 2 – Modelo de visualização 3D em vista superior, com sentido de fluxo da água


subterrânea e posicionamento das linhas de tomografia elétrica.

Os dados construtivos da célula de resíduos indicam que a geomembrana foi


instalada a -4 metros de profundidade, cobrindo toda a base a lateral da célula. Por outro
lado, as seções 2D apontam para uma profundidade do nível freático de -10 metros.
Assim, a interpolação dos dados 2D possibilitou a geração de camadas de resistividade
elétrica para essas profundidades, da geomembrana e no nível freático (Figura 3).

Figura 3 – Modelos de resistividade para -4m e -10 de profundidade, com modelamento


de isosuperficie de 7 .m e 14 .m, com ponto de vista superior e inferior.

A análise da vista superior da camada da geomembrana (-4 metros) demonstra


uma concentração central de valores de resistividade inferiores aos de referência,
indicando a produção de chorume e o perfil construtivo que visa o fluxo gravitacional
para a coleta de chorume e posterior encaminhamento para tanque posicionados a
jusante da célula.
A camada referente ao nível freático apresenta valores de resistividade padrão
para águas subterrâneas, entretanto, em alguns pontos, os valores são muitos inferiores
ao mínimo do aquífero para a área, o que representa percolação do chorume pela manta
e contaminação do aquífero.
Este processo é evidenciado pela análise do modelo de resistividade elétrica para
-10m de profundidade, horizonte correspondente ao nível aquífero local. A análise deste
modelo revela um padrão onde ocorrem três pontos com resistividade em torno de 14
Em relação à posição destas áreas na interface da geomembrana, as duas áreas
menores de resistividade ocorrem deslocadas cerca de 5m no sentido sudeste, uma das

pequeno deslocamento entre os níveis e a reduzida expressão destas áreas no nível


aquífero, é um indicativo da pequena quantidade de chorume vazado e de sua atenuação
natural, além de um fluxo basicamente em vetor quase vertical em solo seco.
Nesta interface, a área de maior abrangência também possibilita o modelamento
endência de fluxo para dentro
do aquífero, deslocada cerca de 25m no sentido sudeste em relação a possível fonte de
vazamento na geomembrana. O grande deslocamento revelado neste caso pode ser
atribuído a um expressivo vetor de fluxo horizontal, diretamente relacionado ao fluxo da
água subterrânea.

CONCLUSÕES

O método geofísico da eletrorresistividade é uma ferramenta usual e eficiente na


detecção da contaminação de chorume em meio subterrâneo. Os dados obtidos nas
seções de tomografia elétrica possibilitam um tratamento dos dados de forma a
identificar o contaminante e também entender seu comportamento nos processos de
transporte de fluxo subterrâneo. Diferenças na salinidade entre a camada de resíduos e a
solo abaixo permitem a definição de zona de vazamento por uma assinatura de baixa
resistividade, sob a ótica dados de Eletrorresistividade.
O caso do aterro de Vila Nova do Sul (RS) ratifica a sensibilidade do método em
identificar zonas de contaminação do chorume dentro da célula de resíduos e também,
com o posterior tratamento 3D a partir das seções 2D, indicar possíveis vazamentos na
geomembrana de impermeabilização instalada.
Este estudo demonstra a aplicabilidade do método da Eletrorresistividade no
monitoramento ambiental de aterros sanitários, que podem apresentar eventuais falhas
de projetos apesar do planejamento envolvido na construção, especificamente
relacionado à contenção de chorume. Tais locais são passíveis de detecção por meio de
ferramentas de investigação indiretas e não invasivas, além de auxiliar a elaboração de
sistemas de remediação pontuais, precisos e pouco dispendiosos, num contexto
particularmente complexo. Procedimentos tradicionais de investigação como a
instalação de poços de monitoramento sobre o aterro apresentam sérias limitações,
diante da possibilidade de geração de novos pontos de vazamento.

REFERÊNCIAS

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Orth, M. H. A. Aterros sanitários: defesa do sistema hídrico. São Paulo:


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Tuck Link, 1114 pp.
SELEÇÃO DE PLANTAS PARA OBRAS DE ENGENHARIA NATURAL NO
PARQUE SÃO LOURENÇO EM CURITIBA – PR

L. G. ZORZAN¹; L. V. C. CASTELANI²; E. GAVASSONI³;

Universidade Federal do Paraná, Curitiba – PR


C.P. 19011, 81531-990
¹[email protected]
²[email protected]
³[email protected]

RESUMO

Com o desenvolvimento da tecnologia, a Engenharia vem aplicando materiais cada vez


mais complexos, tanto da perspectiva de seu uso como de produção. A madeira e a
pedra, comuns até a revolução industrial, foram gradativamente perdendo lugar para a
alvenaria, o aço e o concreto. Hoje, fala-se do uso de polímeros e pré-moldados,
preparados de forma industrial para serem aplicados no canteiro. Contudo, novas
demandas vêm surgindo, que tornam a capacidade técnica de uma solução como mais
uma das partes importantes de um projeto de Engenharia. O uso de plantas vivas como
elemento estrutural é uma técnica antiga, remontando a 28 A.C. (LEWIS, 2000), mas
vem ganhando nova forma nos últimos anos. A chamada Engenharia Natural assume o
papel de entender e usar plantas vivas para dimensionar obras de Engenharia,
minimizando impactos ambientais e, principalmente, integrando a obra ao ambiente
onde será construída. O presente trabalho visa mostrar a importância dos processos de
seleção e utilização das plantas vivas no contexto da Engenharia Natural, usando como
estudo de caso a recuperação das margens do lago de um parque público de Curitiba –
PR. O parque São Lourenço, foco do projeto de estabilização, foi implantado há 45 anos
e desde então, vêm apresentando uma série de problemas de instabilidade hidráulica e
geotécnica não solucionados pelas constantes intervenções do poder público municipal
no local. O número de espécies com potencial para uso em obras de Engenharia Natural
mostra como um olhar diferenciado acerca dos problemas pode prover alternativas mais
simples, baratas e eficientes que o usual. Buscando apresentar uma solução inovadora
para os problemas, objetivou-se tratar o problema não com uma solução tradicional e
rígida de Engenharia, mas por meio da sinergia entre a dinâmica natural do Parque e os
interesses da sociedade sobre ele.

Palavras-chave: Engenharia Natural, Bioengenharia de Solos, Dendrologia,


recuperação de área degradada, seleção de espécies

1 INTRODUÇÃO

Durante a elaboração de um projeto de Engenharia, a equipe responsável é


incumbida a definir, dimensionar e descrever soluções para um desafio específico.
Entretanto, algumas outras características não necessariamente técnicas, mas de grande
importância, devem ser levadas em consideração. Aspectos culturais, sociais e
ambientais sempre afetam e são afetados pelas intervenções de Engenharia. Dessa
forma, um projeto se aproxima mais do sucesso pleno se for capaz não só de desenhar
uma solução ao problema técnico, mas também de entender a necessidade social e
ambiental envolvida.

Foram várias as vezes na história da humanidade em que a observação da


natureza serviu como inspiração para a evolução humana. Da forma de um trem-bala até
a dinâmica de estabilidade de um curso de água, a natureza proporciona os melhores e
mais eficientes projetos de Engenharia. Nesse sentido, uma técnica utilizada desde as
antigas civilizações da Ásia e da Europa, conhecida como Engenharia Natural ou
Bioengenharia de Solos, apresenta-se como uma alternativa viável na recuperação de
áreas degradadas ao devolver ao local sua condição de equilíbrio natural.

Em meio ao surgimento de várias novas tecnologias de materiais, a


Bioengenharia utiliza componentes mais antigos que a própria civilização. Surgidas há
mais de 500 milhões de anos, as plantas vivas são os principais elementos estruturais
das obras dessa técnica. Portanto, projetar em Engenharia Natural envolve uma visão
holística acerca dos mecanismos atuantes, das soluções possíveis e, principalmente, das
características das espécies a serem utilizadas. Assim como o estudo das propriedades
do concreto é importante para o sucesso de grande parte das obras executadas
atualmente no Brasil, entender o comportamento das plantas vivas é essencial para uma
intervenção em Engenharia Natural.

Com o objetivo de apresentar a importância do processo de escolha dos


materiais vivos para obras em Engenharia Natural, o presente trabalho utiliza como
estudo de caso a recuperação das margens do lago do Parque São Lourenço, em Curitiba
– PR, e a verificação da disponibilidade de espécies para uma possível intervenção
usando a Engenharia Natural. Desde o processo de coleta e identificação de amostras até
a definição das melhores soluções para o local, o trabalho apresenta uma proposta de
recuperação que visa reestabelecer a condição natural do Parque tanto quanto possível,
mostrando como a Engenharia Natural pode apresentar soluções eficazes e conscientes
para questões urbanas atuais.

2 ENGENHARIA NATURAL

A Bioengenharia de Solos é uma técnica de Engenharia utilizada há muitos


séculos em diversas sociedades do mundo. Definida pelo uso de plantas vivas para
obtenção de alguma função de Engenharia (POLSTER, 2002), a área ganhou rigor
técnico mais recentemente, a partir dos anos 1980, com o exemplo de diversas obras no
continente Europeu. Em geral, a Engenharia Natural é uma ferramenta efetiva para o
tratamento de diversos problemas de instabilidade e erosão de solos, possuindo diversos
exemplos de sucesso no Brasil como os expostos por Sutili (2004). Dentre as possíveis
aplicações, destacam-se a estabilização de taludes (HOLANDA et al, 2008), o controle
de processos erosivos (MAFFRA et al, 2014) e a estabilização de processos hidráulicos
em cursos de água naturais (MAFFRA et al, 2016). Apresenta-se como uma opção
social, ambiental e economicamente viável: social por não requerer mão de obra
especializada; ambiental por utilizar materiais naturais e vivos como insumo para a
construção; econômica por preconizar obras com baixo custo.

A Engenharia Natural pode ser, sobretudo, uma tentativa de recuperação da


condição natural de um ambiente. Isso implica em solucionar problemas que a excessiva
alteração proposta pelos modelos tradicionais não resolveu por completo, pois tira ao
ambiente de seu estado de equilíbrio dinâmico, o colocando em conflito com a
intervenção. Cita-se, por exemplo, a retificação de canais e a impermeabilização de
margens que, em muitos casos, ainda permitem a ocorrência de cheias em grandes
centros urbanos. Já em encostas naturais, o uso de estruturas flexíveis, como as
propostas pela Bioengenharia, permite aumentar a versatilidade e adaptabilidade de
contenções.

Segundo Lewis (2000), embora com limitações, a Bioengenharia de Solos


oferece projetos adaptados às características de regiões específicas, o que implica em
menor impacto ao ambiente natural, podendo esta característica ser potencializada com
a utilização de materiais e plantas nativas. As obras de Engenharia Natural objetivam
adaptar-se de modo acelerado e com o mínimo de alteração aos ambientes naturais,
como margens de rios e lagos, tendo como fator determinante seu principal material de
construção: plantas vivas.

3 AS PLANTAS NA ENGENHARIA NATURAL

Obras de Bioengenharia não apresentam seu maior potencial de controle de


instabilidade no momento da sua finalização. A eficiência das intervenções aumenta
com o tempo desde a execução até atingir um ponto de equilíbrio (Figura 48). O tempo
para que a obra atinja seu máximo aproveitamento é também o tempo necessário para a
germinação, fixação e crescimento das plantas utilizadas como elementos estruturais
principais. Segundo Sousa (2015), o uso de plantas em intervenções de Engenharia
apresenta não só a vantagem de assegurar a proteção superficial e a estabilização do
solo, como também cria um ecossistema em equilíbrio dinâmico que se renova de
tempos em tempos. Nesse sentido, é de vital importância para o sucesso de uma obra
nesse estilo a escolha adequada das plantas, levando em consideração suas diversas
características de sobrevivência, crescimento e interação umas com as outras.
Figura 48 - Eficiência de obras de Engenharia em algumas de suas modalidades (SOUSA, 2015).

A plantas, em Engenharia Natural, exercerão várias funções hidrológicas e


mecânicas que alterarão as propriedades geotécnicas do local, incrementando a
resistência dos solos e influenciando a solicitação sobre o mesmo. Destaca-se, também,
a função estética do material vegetal (SOUSA, 2015) em ambientes naturais ou de lazer,
tais como parques urbanos. Dentre as principais funções das plantas, destacam-se:
interceptação da precipitação, aumento da infiltração, aumento do fluxo subsuperficial,
reforço do solo, proteção mecânica superficial do solo, ancoragem e escoramento de
encostas.

As propriedades biotécnicas são as propriedades técnicas e biológicas que


algumas espécies vegetais apresentam e que são essenciais para o sucesso das
intervenções de Engenharia Natural (SOUSA, 2015 apud ABATE; GROTTA, 2009;
CORNELINI; FERRARI, 2008). Elas podem ser definidas como uma propriedade do
material que, através de suas características morfo-mecânicas, desempenham uma
função técnica trazendo efeitos positivos para as propriedades de engenharia dos solos.
Sutili et al (2004) apresentam que as principais características biotécnicas a serem
procuradas são a possibilidade de reprodução vegetativa, a capacidade de suportar
condições extremas (no Brasil, especialmente a submersão por longos períodos), o
enraizamento denso, forte e profundo, entre outras.

Uma vez que um dos objetivos da Engenharia Natural é projetar um ecossistema


em equilíbrio, não podem ser levados em consideração apenas aspectos técnicos na
escolha dos materiais de construção. Alguns critérios fundamentalmente ecológicos são
propostos por Sousa (2015) por meio de uma metodologia de especificação de plantas
com potencial biotécnico. Segundo a autora, o principal critério é a utilização de plantas
autóctones, ou seja, plantas nativas da região de execução da obra. Tais espécies são
adaptadas às condições climáticas, são mais resistentes às pragas recorrentes e possuem
maior possibilidade de sobrevivência no longo prazo. Além disso, comunidades
compostas por plantas nativas aumentam a biodiversidade florística sem alteração da
dinâmica já existente. A inserção de espécies exóticas, por sua vez, apresenta-se como
uma ameaça devido a colonização espontânea da comunidade autóctone. É muito difícil
garantir o futuro de espécies nativas após a inserção de plantas originárias de locais
distintos. Exemplo claro é o Hedychium coronarium, da família Zingiberacea e mais
conhecido como cardamomo. Planta de origem africana, colonizou de forma intensa
várias regiões brasileiras até o ponto de dominar diversas paisagens por completo.

Desse modo, são quatro os principais critérios a serem considerados na escolha


das espécies para uma obra de Engenharia Natural: uso de plantas nativas, plantas com
características reprodutivas adequadas ao tipo de obra (reprodução por estacas,
capacidade de se reproduzir por feixes), sobrevivência ao habitat (temperatura,
precipitação e tipo de solo), resistência às pragas e à competição e especificidades que
remetem ao local de intervenção (como, por exemplo, a submersão).

Assim como na Engenharia tradicional o controle tecnológico do concreto e seus


componentes é essencial para garantir a qualidade e durabilidade final das estruturas, na
Engenharia Natural a especificação do material principal garante a viabilidade e
segurança da obra. A utilização de plantas com propriedades bem conhecidas,
adequadas ao clima e tipo de intervenção e que apresentem potencial biotécnico
constituem a base para o sucesso da recuperação de áreas degradadas.

4 ESTUDO DE CASO: PARQUE SÃO LOURENÇO

4.1 PROPOSTA DE ESTABILIZAÇÃO BIOTÉCNICA

O Parque São Lourenço localiza-se na porção norte da cidade de Curitiba –


Paraná. Banhado pelas águas do Rio Belém, o Parque possui em sua área de 20,3 ha um
extenso lago originado pelo rompimento de uma antiga represa localizado no bairro São
Loureço. Criado em 1972, o Parque São Lourenço é visitado diariamente, em média,
por 2885 pessoas (HILDEBRAND, 2001).

Desde a sua criação, as feições do lago do Parque São Lourenço mudaram


consideravelmente. Suas margens sofrem constantemente com problemas de erosão e
deslizamento de terra (Figura 49), implicando em gastos públicos onerosos de dragagem
e manutenção. Dentre as principais causas para os problemas encontrados destacam-se
os problemas de drenagem e origem aluvionar dos solos, com propriedades
insatisfatórias de Engenharia (CASTELANI et al., 2016). Este cenário de
desestabilização compromete, também, a estética do local – um parque urbano – e o
volume disponível para armazenagem de cheias. Estruturas tradicionais de contenção de
solos já foram executadas e não obtiveram sucesso no longo prazo. Surge, então, a
possibilidade de uso das técnicas de Engenharia Natural para projeto e execução de
contenções e drenagens mais duráveis e que se adaptem melhor ao ambiente do local.
A B
Figura 49 - Em A, local de estudo no Parque São Lourenço. Em B, um dos problemas identificados pelos
autores.

A proposta deste estudo de caso é fornecer à Prefeitura de Curitiba um projeto executivo


completo de intervenções em Engenharia Natural para estabilização das margens do
lago do Parque São Lourenço. Das várias frentes necessárias para um projeto de elevado
nível técnico, a principal está ligada com a escolha das plantas utilizadas na solução
final. São elas que garantirão o sucesso e a segurança ou não da proposta inovadora e
tecnicamente mais eficiente.

4.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS

O município de Curitiba compõe o bioma da Mata Atlântica. Suas principais vegetações


nativas envolvem plantas da Floresta Ombrófila Mista e da Estepe Gramíneo-Lenhosa
(BIONDI; LEAL, 2008). No contexto da urbanização, as áreas de vegetação original
foram quase totalmente suprimidas, sendo que a parcela restante é integrante do sistema
de parques e praças da capital.

Concebido para ser uma importante instalação sanitária da capital paranaense, o lago do
Parque São Lourenço tem como principal função a contenção das cheias na região à
jusante: o centro da cidade. Destaca-se, também, sua importância social em atividades
de lazer e arborização em um grande centro urbano densamente urbanizados. O Parque
São Lourenço encontra-se inserido na bacia hidrográfica do Rio Belém, cuja área de
drenagem à montante do Parque é de 4,61 km². O rio principal encontra-se quase
completamente canalizado em concreto, mas devido à pequena inclinação de seu leito,
as velocidades de fluxo são baixas na região estudada.

Conforme exposto por Castelani et al (2016), são três as principais causas observadas
para a perda de instabilidade das margens: a composição dos solos, os problemas de
drenagem e a presença de lentes de material granular. Há evidências de processos de
movimentação de massa e erosão constante nas margens. As cicatrizes deixadas pelas
movimentações, além dos problemas de acúmulo excessivo de água, diminuem o espaço
destinado ao lazer. A deposição do solo erodido, por sua vez, diminui o volume de
contenção de cheias do lago.

4.3 ESCOLHA DAS OBRAS

Em um projeto de Engenharia, são três as etapas essenciais de elaboração: o projeto


Conceitual, Básico e Executivo. Em ordem crescente de complexidade, os três passos
são essenciais para que, como resultado, se tenha um projeto completo e que englobe
uma complexidade próxima do mundo real. A fase atual da proposta de estabilização
biotécnica das margens do lago do São Loureço é a Básica, onde as soluções são
determinadas, dimensionadas e verificadas quanto a viabilidade e segurança. Para o
processo de escolha das soluções que mais se adequam a cada tipo de problema, é
necessário ter em posse um número mínimo de espécies disponíveis que poderão
exercer sua função tendo em vista aspectos de sucessão natural, situações extremas e
adaptação ao ambiente.

Gray e Sotir (1996) apresentam informações detalhadas sobre as diversas técnicas de


Engenharia Natural existentes. Dentre as obras elencadas pelos autores, cinco foram
escolhidas para solucionar os fenômenos identificados nas margens do lago do Parque
São Lourenço, sendo estas divididas de acordo com a sua função. A fim de estabilizar
os taludes das margens e incrementar a resistência do solo, foram escolhidas obras como
a parede Krainer, o enroncamento vegetado, o plantio em banquetas e a trança viva. Já
para melhoria da condutividade hidráulica do solo e redução de tensões no solo, foi
recomendado uso de canaletas com feixes vivos. A Figura 50 apresenta a locação das
soluções no Parque com seus respectivos desenhos esquemáticos.
3

4
1

Figura 50 - Soluções elencadas para os problemas detectados. 1 – trança viva; 2 – plantio em banquetas; 3
– parede Krainer; 4 - enroncamento vegetado; 5 – trincheira drenante viva.

As tranças vivas são constituídas de plantas cujos galhos ou feixes são vergados
com facilidade (DURLO; SUTILI, 2005). Esses ramos vivos são fixados por estacas
vegetativas longitudinalmente a margem. Dentre as técnicas de remodelagem de talude,
no plantio em banquetas é necessário utilizar estacas com capacidade de enraizamento e
brotação. Mudas de crescimento rápido também são indicadas para a proteção
superficial. A parede Krainer é uma estrutura de contenção formada por gavetas nas
quais podem ser locadas estacas, mudas e sementes, as quais estarão protegidas até o
estabelecimento da vegetação. O complemento com feixes vivos deve ser executado
para proteção física. Para o uso do enroncamento vegetado, recomenda-se o plantio de
estacas ou o uso de feixes vivos (DURLO; SUTILI, 2005) pois são necessárias plantas
mais rústicas para crescimento dentre as rochas inertes. As trincheiras com feixes vivos
são confeccionadas com galhos, ramos ou feixes de material com potencial vegetativo e
é necessária a proteção superficial imediata para garantir o crescimento da planta. São
necessárias grandes quantidades de material vegetal, especialmente em forma de feixes
e sementes.

4.4 CRITÉRIOS DE ESCOLHA DAS PLANTAS

O passo mais essencial para o sucesso do projeto para o Parque São Lourenço é
o levantamento das espécies mais adequadas para os problemas identificados. Essa
escolha leva em conta um criterioso processo de levantamento de informações. Segundo
a metodologia proposta por Sousa (2015), requisitos determinados pelas formas de uso,
pelas exigências técnicas e pelas especificidades do local de implantação resultam no
sucesso da vegetação e, por consequência, da obra como um todo. É possível, nesse
sentido, levantar características que são essenciais às plantas e que dependem do tipo de
aplicação das técnicas de Engenharia Natural. A Tabela 37 apresenta os três principais
problemas que podem ser corrigidos por obras de Engenharia Natural e as
características específicas das plantas para estas soluções (SOUSA, 2015).

Tabela 37 - Propriedades das plantas relacionados aos três principais tipos de obras de Bioengenharia

Problema a
Objetivo Parte aérea Parte subterrânea
solucionar
Prevenir a perda da Copas ramificadas e
Sistemas radiculares
Erosão superficial camada superficial densas; aumento da
laterais
do solo rugosidade
Sistemas radiculares
Correção de
densos e profundos;
Instabilidade problemas de perda Copas densas,
raízes pivotantes
geotécnica de capacidade de ramificadas e baixas
mais longas e
suporte do solo
resistentes
Plantas flexíveis; não Sistemas radiculares
Corrigir problemas
Instabilidade obstrução da seção; densos e laterais;
relacionados com
hidráulica copas ramificadas e alta resistência à
corpos de água
densas; tração

Além das propriedades de Engenharia, capacidade de reprodução, competição vegetal,


capacidade de colonização, resistência às pragas e às condições extremas (solos
arenosos e submersão, por exemplo) e a disponibilidade são condições mínimas para o
sucesso da obra em Engenharia Natural. Nesse sentido, optou-se por utilizar plantas
nativas do bioma da cidade de Curitiba, aumentando a probabilidade de sucesso no
desenvolvimento vegetal e minimizando os impactos da obra.

Por se tratar de uma intervenção em um parque público municipal, levou-se em


consideração a viabilidade econômica da estabilização das margens do lago. Prezou-se
pela utilização de plantas disponíveis dos Hortos Municipais e que representam maior
facilidade na obtenção de mudas pelas equipes da Prefeitura. O respeito a esse critério
resulta em maiores chances de execução da obra, visto que torna menos complexo o
processo de aquisição de material.

4.5 PROCESSO DE LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES

Foi realizado um intenso trabalho de revisão bibliográfica para identificação de


plantas com potencial biotécnico no Brasil. Foram elencadas espécies a partir de três
frentes principais: plantas nativas já utilizadas em obras de Engenharia Natural, plantas
nativas com potencial para serem utilizadas em obras e plantas nativas localizadas nas
regiões do entorno do Parque São Lourenço. Essas três frentes visaram cruzar dados a
fim de obter uma quantidade razoável de espécies que garanta o equilíbrio dinâmico do
sistema que será proposto ao Parque São Lourenço.

As duas primeira frentes obtiveram resultados a partir das consultas em material


bibliográfico, com destaque para os trabalhos de Sutili (2004), Sutili et al (2004), Sousa
(2015) e Alcantara et al (2008). Os dados da Prefeitura Municipal de Curitiba referentes
às plantas encontradas nas proximidades do bairro São Lourenço, às plantas nativas da
bacia hidrográfica do Rio Belém e às plantas cultivadas nos Hortos Municipais
permitiram um estudo mais cuidadoso acerca de espécies com potencial biotécnico. A
terceira frente de trabalho envolveu um intenso trabalho de coleta e identificação de
espécies nativas.

A coleta de espécies foi realizada no Parque São Lourenço e na região à jusante


de seu lago (Figura 51). O processo seguiu os princípios da Dendrologia – ramo da
botânica que estuda as plantas lenhosas e sua classificação. Para a identificação das
amostras, é importante garantir que a amostra permita verificar a disposição dos ramos
e, quando possível, a presença de flores, frutos e outras estruturas. Após a coleta, com
identificação do local de retirada da planta, procedeu-se a transferência das exsicatas
para o Laboratório de Dendrologia do Departamento de Ciências Florestais da
Universidade Federal do Paraná.

Com o auxílio dos profissionais especializados do Laboratório, as plantas


coletadas foram classificadas segundo a sua família e sua espécie, conforme apresentado
na Tabela 38. As plantas foram separadas em três categorias: as aptas possuem
embasamento teórico e científico suficiente para permitir sua utilização em obras de
Engenharia Natural; plantas com uso possível apresentam os pré-requisitos mínimos
mas necessitam de estudos mais criteriosos na apuração de suas características
biotécnicas; plantas inaptas não são recomendadas para utilização nas obras de
recuperação das margens do Parque São Lourenço. Nesse processo, o objetivo foi
localizar plantas com potencial biotécnico na região próxima ao Parque São Lourenço.
Além disso, a identificação capacitou os autores em uma área do conhecimento que foge
do escopo da Engenharia Civil tradicional, mas que é essencial quando se projeta em
Engenharia Natural.
Crinum x powellii Philodendron Hedychium Calliandra tweediei
bipinnatifidum coronarium
Figura 51 – Algumas das plantas utilizadas nas coletas e seus nomes científicos (16/11/2016).

Tabela 38 - Lista de espécies identificadas com ocorrência nas proximidades do Parque São Lourenço

Avaliação
Família Nome científico
preliminar
Asteraceae Conyza canadensis Possível
Fabaceae Bauhinia tomentosa Inapta
Bignoniceae Campsis grandiflora Possível
Asteraceae Bidens rubifolia Possível
Myrtaceae Psidium cattleianum Inapta
Myrtaceae Campomanesia xanthocarpa Possível
Lamiaceae Vitex megapotamica Possível
Lamiaceae Hyptis pectinata Inapta
Polygonaceae Rumex obtusifolius Possível
Lamiaceae Rhaphiodon echinus Possível
Amaranthaceae Alternanthera philoxeroides Inapta
Cyperaceae Cyperus odoratus Inapta
Sapindacea Cupania vernalis Inapta
Buxacea Buxus sempervirens Inapta
Fabaceae Calliandra brevipes Possível
Fabaceae Calliandra tweediei Possível
Liliacea Torenia fournieri Inapta
Amaryllidacea Crinum x powellii Inapta
Balsaminaceae Impatiens walleriana Inapta
Araceae Philodendron bipinnatifidum Inapta
Zingiberaceae Hedychium coronarium Inapta
Oxalidaceae Oxalis corymbosa Inapta
Sapindaceae Koelreuteria paniculata Inapta
Asteraceae Synedrella nodiflora Possível
Solanaceae Brugmansia suaveolon Inapta
Ericaceae Rhododendron thomsonii Inapta
Asteraceae Conyza canadensis Inapta
Onagraceae Ludwigia leptocarpa Possível
Tiphaceae Typha domingensis Inapta

5 RESULTADOS

As plantas, por serem um material vivo, apresentam grande variabilidade em


suas propriedades e características. Por este motivo, é arriscado, em obras de
Engenharia Natural, utilizar apenas uma espécie como elemento estrutural principal. A
combinação de espécies garante que, caso exista uma oscilação nas condições edafo-
climáticas da região, ainda tenham-se espécies resistentes que conseguirão sobreviver
(SOUSA, 2015). O processo de escolha das plantas para uma determinada solução é
extremamente importante e complexo na mesma medida. Nesse sentido, utilizou-se as
metodologias propostas de levantamento biotécnico para a seleção de espécies
adequadas para uso.

A escolha das plantas para as obras de recuperação das margens do lago do


Parque São Lourenço levou em consideração os seguintes critérios: origem,
disponibilidade para produção de mudas e/ou estacas, adaptação ao clima e condições
locais e potencial biotécnico. Foram utilizados como base a lista de espécies indicadas
pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP, 2016) para recuperação de áreas degradadas,
os dados de cultivo da Prefeitura Municipal de Curitiba, a identificação visual de
espécies na região metropolitana de Curitiba e as experiências de utilização das espécies
citadas em obras de Engenharia Natural. A Tabela 39 resume as espécies com potencial
de uso no detalhamento do projeto de estabilização do São Lourenço.

Tabela 39 - Lista de espécies indicadas para uso na recuperação das margens do lago do Parque São Lourenço

Nome
Nome científico Hábito Propriedades Solução
popular
Raízes radiculares laterais
Calliandra densas, copas densas, Parede Krainer e
Anjiquinho Arbusto
brevipes espécie heliófila, plantio em banquetas
multiplicação por estacas
Raízes radiculares laterais
Calliandra Quebra- densas, copas densas, Parede Krainer e
Arbusto
tweediei foice espécie heliófila, plantio em banquetas
multiplicação por estacas
Raízes profundas, copa Trança viva, plantio
Salix
Salgueiro Árvore densa e ramificada, em banquetas,
humboldtiana
necessidade de poda enroncamento vivo,
parede Krainer,
trincheiras drenantes
Trança viva, plantio
Raízes radiculares laterais,
em banquetas,
Sebastiania copa flexível, adaptável a
Sarandi Arbusto enroncamento vivo,
schottiana variações de umidade,
parede Krainer,
produz feixes
trincheiras drenantes
Trança viva, plantio
Raízes profundas, árvore em banquetas,
Schinus
Aroeira Árvore pioneira e rústica, enroncamento vivo,
terebinthifolius
facilidade de reprodução parede Krainer,
trincheiras drenantes
Raízes profundas, rústica e
Enroncamento vivo,
Sebastiania de margem de rios,
Branquilho Árvore trincheiras drenantes,
commersoniana secundária, heliófita,
planta auxiliar
demanda poda
Enroncamento vivo,
Raízes profundas, assume
trincheiras drenantes,
Tibouchina porte arbustivo e denso,
Quaresmeira Árvore plantio em
granulosa ramos fracos, pioneira e
banquetas, parede
rústica
Krainer
Raízes radiculares, Plantio em
Abutilon Lanterninha reprodução por estaquia, banquetas, parede
Arbusto
megapotamicum chinesa pode ser trepadeira, Krainer, trincheiras
rústica drenantes
Trança viva, plantio
Raízes radiculares, climas
Brinco de em banquetas,
Fuchsia regia Arbusto frios, arbusto ramificado,
princesa parede Krainer,
produz estacas
trincheiras drenantes

Foi possível perceber o grande potencial de utilização em obras de Engenharia


Natural das espécies nativas encontradas. Suas propriedades distintas permitem criar um
sistema dependente, dinâmico e mais resistente aos problemas eventuais em locais de
recuperação de áreas degradadas. O número de espécies possíveis apresenta-se como
um ponto positivo para o sucesso da obra ao criar mais possibilidades de sobrevivência
em situações extremas.

6 CONCLUSÃO

Plantas vivas são os elementos que diferenciam a Engenharia Natural das


soluções usuais de Engenharia. Da mesma forma que o controle de qualidade dos
materiais garante a segurança das obras, a escolha das plantas mais adequadas está
intimamente ligada ao sucesso da recuperação usando a Bioengenharia, pois essas
possuem uma importante função estabilizadora, protetora e de manutenção. O
conhecimento acerca das características das plantas, como o hábito, a disposição das
raízes e a sobrevivência em condições de submersão ajudam no projeto de uma solução
mais eficiente e duradoura. Contribuindo para a existência de um sistema vivo em
constante equilíbrio, as plantas possuem um efeito grande no ponto de vista da
estabilidade das massas de solos. Em geral, elas melhoram suas propriedades de
Engenharia por meio da absorção de água e da ancoragem que proporcionam. As
propriedades hidráulicas, mecânicas e ecológicas das plantas enquadram um conjunto
de características que determinam o potencial biotécnico de uma planta, ou seja, a
probabilidade de seu uso bem-sucedido em obras de Engenharia Natural. Conhecer a
fundo o potencial biotécnico garante a viabilidade econômica, social e ambiental das
obras de recuperação.

Utilizou-se como estudo de caso o processo de reconhecimento de espécies com


potencial biotécnico para a proposta de recuperação das margens do Parque São
Lourenço. As obras que se mostraram mais adequadas a corrigir processos de
instabilidade identificados foram: a parede Krainer, o enroncamento vegetado, o plantio
em banquetas, a trança viva e as trincheiras drenantes. Cada uma dessas obras possui
necessidades vegetais distintas, tanto no que se refere às suas características como a sua
disponibilidade. A locação das obras também figura como um fator importante visto que
muitas espécies não sobrevivem a períodos de submersão. A trança viva, as tricheiras
drenantes e o enroncamento vegetado, por exemplo, necessitam de plantas com
capacidade de reprodução por feixes e que possuam ramos flexíveis e resistentes.

A fim de levantar as espécies disponíveis para execução das já citadas obras,


foram realizados intensos estudos na literatura disponível, observações da ocorrência de
espécies na Região Metropolitana de Curitiba e a coleta de exsicatas na região do
Parque. As amostras foram identificadas no Laboratório de Dendrologia da
Universidade Federal do Paraná e, com o auxílio de especialistas da área da botânica e
da Engenharia Florestal, foi possível determinar as com potencial adequado para
utilização em obras de Engenharia Natural. O objetivo do trabalho foi cumprido ao se
comprovar a disponibilidade de plantas nativas e adaptadas como elementos estruturais
principais das intervenções propostas. As espécies escolhidas que apresentaram maior
potencial foram a Calliandra brevipes, Salix humboldtiana, Sebastiania schottiana,
Tibouchina granulosa e a Schinus terebinthifolius.

O conhecimento aprofundado acerca da disponibilidade e características do


principal material de construção da Engenharia Natural é importante, pois torna possível
uma intervenção desse porte em um parque público ao garantir a exequibilidade da obra
com os materiais disponíveis, reduzir custos. Além disso, a recuperação das margens do
lago do Parque São Lourenço trará benefícios no sentido da redução da onerosidade da
manutenção do Parque, do retorno de um ambiente de lazer para a população e da
manutenção da estabilidade tanto dos taludes do entorno quanto do curso fluvial do Rio
Belém. O próximo passo do projeto de estabilização das margens é o projeto Executivo,
no qual serão especificadas as quantidades de material vivo por m² e as datas de plantio
de acordo com ciclos naturais das espécies escolhidas. Além disso, serão detalhados os
locais de coletas de espécies, os quantitativos e preparativos para preparação de mudas e
estacas nos Hortos além das instruções de transporte, armazenagem e implantação do
material nas obras.

AGRADECIMENTOS

Os autores deste trabalho agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Ministério da Educação pelas bolsas concedidas
no Programa de Educação Tutorial (PET). Além disso, agradecem ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento dos
equipamentos que deram suporte aos trabalhos de campo e ao Laboratório de
Dendrologia do Departamento de Ciências Florestais da UFPR por todo o apoio na
identificação de espécies, em especial ao Prof. Dr. Christopher Thomas Blum.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2004.

ANÁLISE DA MICRODRENAGEM NO BAIRRO CIDADE NOVA


LOCALIZADO NO MUNICIPIO DE BREVES ARQUIPELAGO DO MARAJÓ
(PA), ANO 2016

Rebeca Emmanuela de Azevedo Duarte(1)


Discente de Engenharia Ambiental da Faculdade Estácio de Belém – IESAM
Letícia Karine Ferreira Vilhena(2)
Discente de Engenharia Ambiental da Faculdade Estácio de Belém – IESAM
Daniele Miranda Pereira(3)
Discente de Engenharia Ambiental da Faculdade Estácio de Belém - IESAM
Helenice Quadros Menezes(3)
Engenheira Sanitárista pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Ciências
Ambientais pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Endereço(1): Rua Frederico Scheneipp, Vila são José, nº 7. Bairro do Telegrafo -
Belém - Pará - CEP: 66113230 - Brasil - Tel: +55 (91) 983342640 - e-mail:
[email protected]
RESUMO

O presente artigo aborda sobre a análise da microdrenagem no bairro cidade nova,


localizado no município de Breves, Arquipélago do Marajó, estado do Pará. O
município vem vivenciando um acelerado e desordenado crescimento urbano
populacional, tal aspecto traz consequências para a saúde coletiva e o planejamento
urbano, principalmente por conta da ausência de gestão adequado da infraestrutura
Municipal da área. Isso se reflete na carência de infraestrutura no saneamento básico,
como é o caso da microdrenagem no bairro centro, tema abordado no trabalho. Foi
elaborado a avaliação geoespacial do bairro, com o intuito de aplicar a metodologia de
analise dos resultados obtidos, de acordo com a revisão bibliográfica e a utilização de
ferramentas SIG’s para obtenção dos resultados, e geração de mapa para elucidar os
resultados obtidos.

Palavras Chave: Análise, Breves, Micro drenagem, Município, Saneamento Básico

INTRODUÇÃO
O município de Breves é um dos mais populosos de Belém-Pará, sendo fundado
em uma região de várzea às margens do Rio Parauaú. A maioria da população de Breves
reside na área urbana (IGBE, 2013). O ambiente urbano é naturalmente recortado por
igarapés e áreas lamosas e ilhas de terra firme formando um ambiente urbano bastante
diversificado.
O município vem vivenciando um acelerado e desordenado crescimento
populacional, principalmente pela grande oferta de emprego na indústria madeireira, tal
aspecto traz consequências drásticas para a saúde coletiva e o planejamento urbano.
A urbanização e desenvolvimento das cidades elevaram a qualidade de vida da
sociedade em muitos aspectos, porém trouxe também alguns problemas, principalmente
em relação ao meio ambiente, mais especificamente, interferências no Sistema de
Recursos hídricos. Com o aumento das áreas urbanizadas, o que acarreta grande
elevação no índice de impermeabilização do solo; a ausência ou ineficiência das
tubulações implantadas; a desordenada ocupação de áreas sujeitas à inundação e de
fundos de vale, onde em muitos casos os cursos d’água foram desconsiderados, existem
vários problemas de drenagem.
A principal função do sistema de Microdrenagem é coletar e conduzir a água
pluvial até o sistema de macrodrenagem, além de retirar a água pluvial dos pavimentos
das vias públicas, evitarem alagamentos, oferecerem segurança aos pedestres e
motoristas e evitar ou reduzir danos.
O saneamento básico é fator necessário para se promover a saúde seja esta
ambiental ou humana. Haja vista, que é algo fundamental, pois todo cidadão deve ter
acesso ao tratamento de água, canalização e tratamento de esgotos, limpeza pública de
ruas e avenidas, coleta e tratamento de resíduos orgânicos em aterros sanitários
regularizados e a reciclagem de materiais. Em Breves há predominância de casas de
madeira suspensas sobre terrenos alagados (palafitas) em que os dejetos domiciliares
(cozinha e banheiro) produzidos nestas moradias são liberados diretamente no meio
ambiente, a maioria embaixo da própria residência. O descaso da população em geral, e
a ocupação desordenada do município compromete os fatores ambientais, que
consequentemente causam transtornos urbanos. É comum o lançamento de resíduos
industriais, esgotos sanitários, e lixos em geral, nos canais que cortam a área.
MATERIAIS E MÉTODOS
ÁREA DE ESTUDO
Município de Breves, no arquipélago do Marajó, localizado no estado do Pará.
Localiza-se ao sudoeste da Ilha de Marajó no estado, a latitude 01° 40' 56" sul e a uma
longitude 50º28'49" oeste, estando a uma altitude de 40 metros sua área de unidade
territorial é 9.562,240 Km2. Sua população em 2015 era de 98.231 habitantes, sendo,
portanto a maior e principal cidade da Ilha de Marajó.

Figura 1: Localização da área de estudo.


Fonte: IBGE, 2010.
COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi efetuada, por meio do georreferenciamento, com o auxilio


do equipamento receptor do Sistema de Posicionamento Global (GPS). Com a coleta de
coordenadas, pontos estratégicos dos fatores de riscos ambientais de contaminação,
foram utilizados para analises, tais como: lançamento de esgotos em áreas que contem
palafitas, áreas de alagamento e despejos inadequados de resíduos sólidos em contato
com a água e outros correlatos.

PROCESSAMENTO DOS DADOS


O processamento dos dados de produtos cartográficos, são gerados em ambiente
computacional como, software ArcGIS 10.1 que foi disponibilizado pela Faculdade
Estácio de Belém. Na sequência, realizou-se análise temática das informações e o
processamento digital das imagens digitais de satélites. A integração dos dados ocorreu
com a coleta de dados em campo através de imagens de satélite e geração de produtos
cartográficos. O processamento dos dados de produtos cartográficos, são gerados em
ambiente computacional como, software ArcGIS 10.1 que foi disponibilizado pela
Faculdade Estácio de Belém.

RESULTADOS
De acordo com a pesquisa de campo efetuada, e os dados obtidos, foi possível
constatar a ausência de microdrenagem no bairro Cidade Nova, em Breves, estado do Pará.
Para elucidar essa afirmação, foi efetuado o levantamento fotográfico de três áreas
pertencentes ao bairro Cidade Nova, imagens abaixo, para caracterizar a precariedade do
saneamento básico local.
Figura 2: área alagada e casas de palafita, localizada na rua Portel.
Fonte: Autores, 2016.

Figura 3: Área alagada na rua Gurupá.


Fonte: Autores, 2016.

Figura 4: Rua Melgaço, bairro cidade nova, Breves- Marajó, Pa.


Fonte: Autores, 2016.
A ausência de microdrenagem, na área urbana, relacionada a ocupação desordenada
do solo, causa inúmeros prejuízos para o bem estar da população local. Por conta, da
ausência de direcionamento e suporte do volume de água pluvial recebido. Portanto, áreas
alagadas são formadas no bairro Cidade Nova, e essas áreas em contato com despejos
irregulares de resíduos sólidos ou esgoto doméstico, causam a proliferação de vetores.

MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRAFICA

Figura 5: Bacia hidrográfica do Marajó e localização dos pontos georreferenciados.


Fonte: Autores, 2016

A hidrografia do Município é bastante complexa, representada pelo emaranhado


de furos, paranás e igarapés. O mais importante é o rio Jacaré Grande, na porção centro-
norte do Município. Este rio se intercomunica com vários furos e igarapés em todas as
direções, sendo o maior deles - o Furo dos Macacos - que vai até o sul do Município,
interligando-se com outros furos, inclusive o rio Breves, onde está a sede do Município.
O rio Jacaré Grande deságua no central do Vieira Grande, no norte do Município e esse,
por sua vez, comunica-se com o Amazonas. Recebe o rio Jacaré Grande um tributário
importante que é o rio Araumã, limite natural entre Breves, Afuá e Anajás.

MAPA DE DISTRIBUICÃO ESPACIAL DOS PONTOS DE AREAS


ALAGADAS
Os procedimentos iniciais da análise incluem o conjunto de métodos genéricos
de análise exploratória e a visualização de dados, em geral através de mapas. Essas
técnicas permitem descrever a distribuição das variáveis de estudo, identificar
observações atípicas, não só em relação ao tipo de distribuição, mas também em relação
aos vizinhos, e buscar a existência de padrões na distribuição espacial.

Figura 6: Localização da distribuição espacial de áreas alagadas no bairro Cidade Nova,


Breves(PA).
Fonte: Autores, 2016.
MAPA DE KERNEL
Figura 7: Estimador de densidade de Kernel, áreas em vermelho mais suscetível a degradação
ambiental.
Fonte: Autores, 2016.

O estimador de densidade de Kernel, foi utilizado para obter o mapa das áreas de
risco de contaminação de doenças de veiculação hídrica, de acordo com os pontos de
alagamento georreferenciados, no bairro Cidade Nova de Breves, optou-se pelo
estimador de intensidade Kernel (figura 4), por este ser um método muito útil, de fácil
uso e interpretação para o conhecimento da distribuição de eventos de primeira ordem.
Esse estimador realiza uma contagem de todos os pontos dentro de uma região de
influência, ponderando-os pela distância de cada um á localização de interesse.

GRÁFICOS
Os gráficos abaixo foram efetuados com base nos dados obtidos por meio do
relatório solicitado ao hospital municipal Maria Santana Rocha Franco. Enviado pela
coordenadora Claudia Suely Santos. Os dados abaixo possuem informações sobre o numero
de casos de ocorrências de doenças como a hepatite e diarreia, no hospital da área de
estudo. Essas doenças são caracterizadas pelo contato direto com água contaminada, seja
por ingestão ou contato. Os dados obtidos são referentes ao primeiro semestre do ano de
2015 (gráfico 1) e primeiro semestre do ano de 2016 (gráfico 2).
Figura 8: Gráfico de ocorrência nos casos de diarreia e hepatite doenças, no ano de 2015.
Fonte: Autores, 2016.

Figura 9: Gráfico de ocorrências nos casos de diarreia e hepatite, ano de 2016.


Fonte: Autores, 2016.

O crescimento demográfico ações antrópicas do homem, ocupação irregular de


áreas proximas aos rios e ausência de gestão da infraestrutura de saneamento básico
área, culminam como fatores de risco ambiental que implicam no bem estar da
população local. O gráfico acima exemplifica os danos causados a população por conta
da ausência de microdrenagem no bairro centro. De acordo com os danos acima, é
possível analisar que houve um aumento no numero de ocorrências nos casos das
doenças acima, do ano 2015 para o ano de 2016.
CONCLUSÃO
Para amenizar o problema da microdrenagem urbana no bairro é necessário a
implantação de obras estruturais (canalização de alguns pontos da microdrenagem),
investimento na infraestrutura da cidade (instalação de galerias) e uma educação à
população acerca do correto gerenciamento dos seus resíduos. São medidas neste
sentido que se propõe, ao bairro afetado, como muito outros no Pará, Brasil e no mundo
por problemas decorrentes de um falho e ineficiente sistema de drenagem urbana.
Espera-se direta ou indiretamente que o presente artigo venha contribuir para outras
pesquisas sobre drenagem urbana, sejam elas micro drenagem ou macro-drenagem, e
que se desenvolvam com a finalidade de diminuir os graves resultados causados pelas
mesmas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOUVEIA, N. Saúde e meio ambiente nas cidades: os desafios da saúde ambiental. Revista
Saúde e Sociedade, v.8, n. 1, p.49-61, São Paulo, 1999.
IBGE. Estatística, Instituto Brasileiro Geografia. Disponível em:
cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=150180&search=para|breves.
MANTELLI, L. R. Analise do modelo de elevação do terreno com base em dados SRTM na
região de Breves, sudeste da ilha do Marajó. 2008. 141 p. Dissertação ( mestrado em
sensoriamento remoto) – instituto nacional de pesquisa espaciais, São Jose dos Campos, 2008.
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SIOLI, H. Amazonia – fundamentos de ecologia da maior região de florestas tropicais
Petrópolis: vozes, 1985.
SILVA, J. N. Urbanização e Saúde em Maceió, AL: o caso dos bairros Vergel do Lago, Jacintinho
e Benedito Bentes. Maceió, AL, 2011. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de
Alagoas, 2011.

NORMAS E DIRETRIZES PARA A RESTAURAÇÃO FLORESTAL:


DESAFIOS DOS CRITÉRIOS DE PRIORIZAÇÃO DE ÁREAS

J.S.Nascimento; R. U. Resende; M.R. Nascimento; J.C. Campanha


Iniciativa Verde, Rua João Elias Saada, 46, Pinheiros, São Paulo, SP, Brasil
[email protected], contato: +55113647-9293
RESUMO

As ações de recuperação florestal no Estado de São Paulo são orientadas por diversas
políticas específicas e que quase sempre definem áreas prioritárias para a recuperação
de vegetação nativa. Neste estudo foi realizada uma verificação entre diferentes
diretrizes de âmbito estadual, regional e local, a partir da Resolução SMA 7/2017, dos
Planos de Bacias e Planos Diretores e do Plano Municipal da Mata Atlântica, buscando
entender possíveis limitações das classificações de áreas prioritárias para a recuperação
florestal. Verificou-se que as diversas políticas classificam de formas diferentes um
mesmo território e incentivam que o direcionamento de ações e investimentos sigam
suas respectivas classificações. Conclui-se que, para se alcançar os objetivos da
recuperação florestal é fundamental considerar diversos fatores, para além dos
relacionados aos meio físico e biótico, e integrar as políticas existentes e observar a
motivação do envolvidos.

Palavras Chave: Legislação ambiental, Restauração ecológica, Resolução SMA 7,


áreas prioritárias, plano de bacia.

Introdução
O Brasil tem cerca de 21 milhões de hectares de déficit de vegetação nativa em Áreas de
Preservação Permanente e Reserva Legal, esta é uma estimativa recente apresentada na versão
preliminar do Plano Nacional de Recuperação de Vegetação Nativa, publicado em 2014 pelo
Ministério do Meio Ambiente. Estas áreas representam uma parcela importante das áreas
degradadas dos ecossistemas brasileiro. O país passou por um processo de ocupação de seu
território que desencadeou uma série de degradação aos seus recursos naturais. As florestas, ou
a falta delas, é um forte exemplo desse processo de degradação. Todos os biomas brasileiros
possuem histórico de pressão no uso de seus recursos, o que ao longo dos anos colocou ao
Brasil o desafio da recuperação de áreas degradadas.
De acordo com a definição do Ministério do Meio Ambiente, Recuperação de Área Degradada
está ligada à ciência da restauração ecológica, que consiste no processo de auxílio ao
restabelecimento de um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído. A Amazônia, o
Cerrado e a Mata Atlântica estão entre os biomas que historicamente vivem com a realidade da
perda de vegetação nativa, dando lugar, sobretudo, às atividades agropecuárias que ocupam
cerca de 300 milhões de ha, sendo que 232 milhões de ha correspondem a pasto (MMA, 2014).
No contexto brasileiro, o desmatamento não ficou restrito ao início do processo de ocupação do
território, atualmente é o principal responsável pela contribuição de acréscimo de Gases do
Efeito Estufa na atmosfera, sendo um importante contribuidor para a intensificação do
aquecimento global. A recuperação de áreas degradadas aparece como um dos compromissos
assumidos no Acordo de Paris em 2016.
No estado de São Paulo o padrão de ocupação intensiva do território não foi diferente em
relação ao conjunto do país, ainda que com suas especificidades em relação a algumas
atividades que tomaram o espaço da vegetação. Estima-se que o estado possui um déficit de
vegetação de 600 mil hectares (BARBOSA in MELO, 2005). Conforme Boletim Informativo de
dois anos do CAR, quando o estado estava com 89% de imóveis cadastrados registrava-se um
déficit de vegetação nativa de ao menos 580.765 ha só em Área de Preservação Permanente
(SFB, 2016). Composto por Cerrado e Mata Atlântica, o estado vive a realidade de dois biomas
com características particulares de biodiversidade e com pressão intensa da agropecuária. Assim
foram desenvolvidas ações específicas ao estado de São Paulo, sobre conservação e recuperação
florestal, além das de alcance nacional.
Em 2006, a Lei 11.428, conhecida como Lei da Mata Atlântica que regulamentou o uso e a
exploração de seus remanescentes e recursos naturais, criou o Plano Municipal de Conservação
e Recuperação da Mata Atlântica, com o objetivo de incentivar os munícipios a definirem metas
e estratégias para conservação e recuperação do bioma. No estado de São Paulo sabe-se que
quatro municípios o elaboraram, definindo áreas prioritárias para as ações.
Em maio de 2012 foi assinada a Lei nº 12.651, definindo o Novo Código Florestal. Nela estão
previstas regras para conservação e recuperação das florestas brasileiras. Para além das
mudanças relacionadas às áreas protegidas, definiu uma série de instrumentos visam a
adequação ambiental de imóveis rurais à legislação, com destaque para o Cadastro Ambiental
Rural e o Programa de Regularização Ambiental.
Em 2014, o Ministério do Meio Ambiente divulgou a versão preliminar do Plano Nacional de
Recuperação da Vegetação Nativa – PLANAVEG, no qual define a meta de recuperar 12,5
milhões de hectares nos próximos 20 anos. Em janeiro de 2017 instituiu a Política Nacional de
Vegetação Nativa.
Também com o intuito de recuperação da vegetação nativa, sobretudo nas áreas ciliares, alguns
Comitês das Bacias Hidrográficas do estado apontam em seus planos de bacia esta ação como
uma necessidade para a manutenção da qualidade dos recursos hídricos e disponibilidade para
abastecimento. Alguns Comitês foram mais longe e desenvolveram planos específicos para e
recuperação florestal, indicando áreas prioritárias.
O Estado de São Paulo é reconhecido por seu pioneirismo quando o assunto é a elaboração de
políticas para a recuperação florestal. Especificamente quanto às normas que tratam das
orientações técnicas tem-se uma sequência, iniciada de forma pioneira com a Resolução SMA
21, de 21/11/2001), substituída depois, em um processo de aprimoramento, pelas Resoluções
SMA 47, de 27/11 de 2003, SMA 08, de 07/03/2007 e atualmente pela SMA 32, de 03/04/2014,
que estabelece as orientações, diretrizes e critérios sobre restauração ecológica no Estado. O
debate sobre o efeito destas normas nos processos de restauração é bem exemplificado por
exemplo nos trabalhos de Aronson (2010), Brancalion et ali (2010) e Durigan et ali (2010). O
presente trabalho não busca tratar dos aspectos técnicos das normas, mas dos efeitos destas na
indução ao financiamento e execução de projetos.
Dentre estas destacam-se duas mais recentes: o Programa Nascentes e a Resolução 7/2017. Em
2015 foi lançado o Programa Nascentes, uma ação do Governo do Estado de São Paulo com o
objetivo de ampliar a proteção e conservação dos recursos hídricos e da biodiversidade por meio
de diversas ações, inclusive a conversão de obrigações de compensação florestal no
financiamento de projetos recuperação florestal em áreas prioritárias.
Mais recentemente, em janeiro de 2017, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA)
publicou a Resolução 7, definindo “critérios e parâmetros para compensação ambiental de
áreas objeto de pedido de autorização para supressão de vegetação nativa, corte de árvores
isoladas e intervenções em Área de Preservação Permanente no Estado de São Paulo”. A
Resolução definiu classes de prioridade para a realização das compensações.
É comum observa-se questionamentos sobre até que ponto as políticas de restauração
incentivam e implicam em efetivo aumento da vegetação nativa no país (DURIGAN, 2010).
Independentemente da resposta, é dado que elas estão em vigor com objetivos definidos e o que
o que se propõe neste artigo é verificar quais as possíveis limitações das classificações de áreas
prioritárias que estas políticas trazem para a recuperação florestal no estado.
Materiais e Métodos
O estado de São Paulo foi considerado como área de abrangência para este estudo, a partir de
uma escala estadual, regional (Bacias Hidrográficas) e local (municípios).
A Resolução 7 da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, publicada em janeiro de 2017, foi
escolhida como a principal base de dados para a verificação. A escolha se deu devido a
abrangência estadual e por ser uma política recente que definiu classificações com graus de
prioridade, o que direcionará a recuperação florestal por meio de compensações ambientais no
estado de São Paulo.
A partir de pesquisas bibliográficas e em sites, foram levantadas algumas políticas específicas
que definem prioridades para a recuperação florestal, sendo elas:
 Planos de Bacia Hidrográfica
 Planos de Restauração ou Recomposição Florestal definidos pelos Comitês de Bacias;
 Plano Municipal da Mata Atlântica
Após uma avaliação dos resultados obtidos, considerando uma comparação simples, a discussão
procurou abordar as diferentes interferências no processo de recuperação florestal e o papel das
políticas específicas.

Resultados e Discussão
A Resolução 7/2017, definiu áreas prioritárias para a restauração da vegetação nativa no estado
de São Paulo. Seguiu a classificação de Baixa, Média, Alta e Muito Alta. A definição levou em
conta a importância da vegetação nativa para a conservação dos recursos hídricos, para a
conectividade entre fragmentos visando à conservação da biodiversidade, considerou os
mananciais prioritários para abastecimento público e as áreas de vulnerabilidade do aquífero. Os
resultados do Projeto Biota – FAPESP foram base para o mapa.
A aplicação da Resolução direcionará as compensações respeitando determinados critérios de
estágios de regeneração da vegetação e tipo de Bioma. A diretriz destaca as Bacias
Piracicaba/Capivari/Jundiaí (PCJ) e Alto Tietê (AT) como exclusivas para recebimento de
compensações quando a supressão ocorrer em território de uma delas. A grande maioria dos
municípios inseridos nestas bacias foi classificada como “Muito Alta” prioridade. Outra regra
importante da Resolução é a definição de que as Unidades de Conservação de Proteção Integral
correspondem a “Muito Alta” prioridade, deixando as Unidades de Conservação de Uso
Sustentável com prioridades respectivas às atribuídas para seu município.
Para todas as situações foi determinado que a compensação deverá ser realizada em classe de
igual ou maior prioridade para a conservação e restauração de vegetação nativa. Quando ocorrer
a compensação em área de maior prioridade, em relação à área originalmente suprimida, haverá
redução em 20%, 30% ou 50% da área de obrigatoriedade para recuperação. Este “desconto”
visa incentivar que as ações de restauração sejam feitas nas regiões priorizadas.
Ao todo, 138 municípios foram classificados como “Muito Alta”, 98 como “Alta”, 259 como
“Média” e 150 como “Baixa”. Observando o mapa, pode-se notar que a maior parte dos
municípios classificados com “Baixa” e “Média” prioridade estão localizados no Oeste Paulista,
região com histórico de intensa pressão à vegetação nativa ainda existente e substituição das
florestas para culturas agropecuárias ao longo das décadas.
Figura 52 – Áreas prioritárias para restauração da vegetação nativa, Resolução SMA
7/2017

A figura a seguir mostra a cobertura de vegetação para cada estado brasileiro, indicando ativos e
passivos ambientais. Observa-se que o estado de São Paulo apresenta um elevado passivo
ambiental em praticamente todo seu território, e que há uma concentração ainda maior desse
passivo no Oeste Paulista.

Figura 53 – Cobertura vegetal - ativos e passivos ambientais.


Valores em percentuais às áreas de cobertura de vegetação determinadas para o cumprimento da
Lei nº 12.651/2012. Valores positivos de percentagem indicam ativo ambiental e os valores
negativo em percentagem indicam passivos ambientais. (SAE in PLANAVEG, 2014).
Planos de Bacias e Planos Diretores para recuperação florestal nas bacias hidrográficas de
São Paulo
 Unidades de Gestão de Recursos Hídricos priorizadas na Resolução 7 – Piracicaba,
Capivari e Jundiaí e Alto Tietê
Em maio de 2005 o Comitê do PCJ divulgou o seu Plano Diretor para Recomposição Florestal.
A partir de um estudo detalhado das suas sub-bacias os municípios foram classificados em graus
de prioridade “Muito Alta”, “Alta”, “Média”, “Baixa” e “Muito Baixa” para a recomposição
florestal visando à produção de água. Esta classificação é o que direciona possíveis fontes de
recursos financeiros às ações de recuperação florestal, como o Fundo Estadual de Recursos
Hídricos - FEHIDRO.
A figura 3 demonstra a distribuição das áreas conforme a classificação de prioridade indicada
pelo Plano Diretor de Recomposição Florestal da Bacia. Já na figura 4 temos a classificação de
prioridade da Resolução SMA 7/2017, para a mesma bacia.

Figura 54 – Áreas prioritárias para recuperação florestal definidas no Plano Diretor de


Recomposição Florestal do PCJ

Figura 55 - Áreas prioritárias para recuperação florestal definidas no Resolução SMA


7/2017
Ao contrário do que ocorre para o PCJ, o Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto-Tietê não
produziu um Plano específico norteando as ações de recuperação florestal na bacia. Em seu
Plano de Bacia publicado em 2016 e com diretrizes até 2019, destaca o processo de
interferências ambientais nas florestas localizadas em seu território. Conforme levantado, há
uma área remanescente de vegetação de 1.773 Km², ocupando 30% da área da UGRHI,
distribuídas majoritariamente em Unidades de Conservação de Proteção Integral e de Uso
Sustentável (FABAHAT, 2016), conforme indica a figura abaixo:

Figura 56 – Áreas Remanescentes de vegetação do Alto-Tietê

Apesar de coincidir com a Região Metropolitana de São Paulo, com as evidentes implicações da
relação agua e floresta, chama a atenção o fato do Plano de Bacia não traçar diretrizes para
recuperação florestal, ressaltando-se que esta Bacia ser uma das duas priorizadas na Resolução
estadual. O documento trouxe a lista de empreendimentos indicados pelo Comitê para
financiamento com recursos FEHIDRO no período de 2010 a 2015 e indicou a ordem de
prioridade das atividades. Para a ação de Recuperação de Áreas Degradadas e Recomposição da
Vegetação foi instituída “Média” prioridade. Neste período não existiu nenhum financiamento
relacionado a recomposição vegetal por parte do Comitê.

 Unidades de Gestão de Recursos Hídricos com políticas para a recuperação


florestal
Para além das Unidades de Gestão de Recursos Hídricos dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
e da do Alto Tietê, verifica-se que outras UGRHIs apresentaram políticas específicas para
recomposição florestal. São os casos da UGRHI 11, Ribeira de Iguape Litoral Sul, UGRHI 13,
Tietê/Jacaré e UGRHI 16, Tietê Batalha, que desenvolveram planos específicos para
recuperação de vegetação nativa. Já a UGRHI 9, Mogi-Guaçu definiu tais políticas em seu
Plano de Bacia.

 Ribeira de Iguape e Litoral Sul


A Bacia do Ribeira de Iguape e Litoral Sul desenvolveu em 2014 o Plano Diretor para
Recuperação de Nascentes e Matas Ciliares da Bacia. Produzindo informações estratégicas e
uma ampla articulação e mobilização envolvendo os diversos setores públicos e sociais da
região, para participar de maneira efetiva dos processos de gestão ambiental compartilhada,
proteção e restauração dos sistemas hidroecológicos e conservação dos recursos hídricos da
região (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2014).
Um dos resultados do plano foi a definição de prioridades para restauração das matas ciliares,
conforme mostrado na figura a seguir:

Figura 57 - Áreas prioritárias para recuperação florestal definidas no Plano Diretor de


Recuperação Florestal do Ribeira de Iguape e Litoral Sul

Visto que esta é uma região com grande cobertura florestal em seu território, boa parte foi
classificada como média e baixa prioridade, no entanto há áreas de preservação permanente com
ocupações com diferentes usos, gerando prejuízos econômicos e ambientais. (INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL, 2014).
Provavelmente esta condição de alta cobertura vegetal existente induziu que os municípios desta
bacia fossem classificados pela Resolução 7, em sua maioria, como baixa prioridade. Pode-se
identificar certa convergência entre a classificação de prioridade do Plano e da Resolução
estadual, mas pelo fato desta úmtima considerar os municípios como undiade de análise não são
cosideradas situações particulares apontadas noestudo do Comitê.
Figura 58 - Áreas prioritárias para recuperação florestal definidas na Resolução SMA
7/2017

 Tietê Jacaré
A UGRHI 13, Tietê/Jacaré classificou suas microbacias quanto ao grau de prioridade
para Restauração Florestal, com o objetivo de conservação e proteção de nascentes e
cursos d’água, assim como de proteção e preservação da biodiversidade (INSTITUTO
PRÓ-TERRA, 2013). A partir desta classificação o Comitê direciona ações estratégicas
para cumprir as metas do plano até 2025. A figura abaixo traz a classificação feita pelo
Plano Diretor de Restauração Florestal.

Figura 59 - Áreas prioritárias para recuperação florestal definidas no Plano Diretor de Recuperação
Florestal do Tietê-Jacaré
Para a mesma UGRHI temos uma classificação de prioridade na Resolução 7 em que a
maioria dos munícipios da bacia são indicados como de “Baixa” e “Média” prioridade.

Figura 60 - Áreas prioritárias para recuperação florestal definidas na Resolução SMA 7/2017

 Tietê Batalha, Mogi Guaçu e Baixada Santista


Para as Unidades de Gestão de Recursos Hídricos Tietê/Batalha (UGRHI 16) e Mogi-
Guaçu (UGRHI 9) foram encontrados resultados com detalhamentos diferentes em
relação aos apresentados anteriormente. Já em relação à Baixada Santista (UGRHI 7)
foi verificado uma intenção futura para elaboração de um plano que norteie as ações de
recomposição florestal no território local.
O Comitê de Bacia do Tietê Batalha desenvolveu um plano de recuperação com
detalhamento por sub-bacia municipal, sendo assim, cada município inserido na UGRHI
16 contou com uma identificação de áreas degradadas em Áreas de Preservação
Permanente, quantificando estas em hectares, dando uma ideia do passivo de vegetação
do território. O estudo também resultou em uma classificação de priorização de áreas
para recomposição florestal. Como um exemplo nesta UGRH tem-se o município de
Borborema. Para este foram identificados 4.155,03 hectares para restauração florestal,
sendo que 3,5 ha foram classificados como Alta-Alta, 1.075,5 ha Alta-Média, 1.383,6
ha Média-Média e 0,12 ha como Média-Baixa. Na Resolução 7, o município de
Borborema aparece por inteiro como Baixa prioridade.
No caso do Mogi-Guaçu as diretrizes para recuperação de áreas degradadas por meio da
recomposição florestal foram definidas no próprio Plano de Bacia. Para a região foram
consideradas áreas prioritárias as “Áreas de Preservação Permanente, já que é nessas
áreas que ocorre a maioria das autuações por irregularidades ambientais e que, em geral,
apresentam o maior potencial de dano ambiental” (CBH MOGI-GUAÇU, 2015).
Lembra ainda, a importância das APPs para a preservação dos recursos hídricos e na
composição de corredores ecológicos.
Já a Bacia Hidrográfica da Baixada Santista, publicou em 2016 o Plano de Bacia com
vigência até 2027, entre as ações previstas está a elaboração do Plano Regional
Ecossistêmico de Arborização e Recuperação Florestal até 2019. Para a efetivação deste
plano, estima-se um investimento de R$ 400.000,00, sendo que este deverá incluir a
indicação de áreas prioritárias para restauração.
Plano Municipal da Mata Atlântica
O Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica é um instrumento
criado pelo art. 38 da Lei 11.428/06, como um mecanismo de incentivo ao
envolvimento dos governos mancipais na gestão deste Bioma. Observa-se que no
decreto 6.660/2008, de regulamentação da lei da Mata Atlântica um dos critérios
definidos para a elaboração do plano é a indicação de áreas prioritárias para
conservação e recuperação da vegetação nativa.
Conforme o Observatório dos Planos Municipais de Mata Atlântica
(OBSERVATORIO, 2017) em São Paulo apenas um município este Plano já em fase de
implementação (Sorocaba) e dois tem o mesmo aprovado (Bauru e Barueri). Conforme
a Resolução SMA 7 Bauru é de “Baixa Prioridade”, e Barueri e Sorocaba são de “Muito
Alta”. O plano de Bauru destacou que este município possui 2.722 ha de APP
degradada em zona rural, 139 ha em zona urbana e das 465 nascentes, 316 precisam de
ações para recomposição da vegetação nativa.

O papel das políticas específicas e os diferentes fatores que influenciam a


recuperação florestal
Vimos que há um esforço na definição de diretrizes para recuperação de vegetação
nativa no estado. Reconhecendo o histórico de perda de vegetação e o atual passivo
florestal, diferentes atores buscam apontar e definir maneiras de otimizar os benefícios
ecossistêmicos obtidos a partir da recomposição pontual de vegetação nativa. Todas as
políticas aqui estudadas demonstraram o empenho de definir ações e sobretudo, áreas
prioritárias que contribuam para o cuidado com os recursos hídricos, para a conservação
da biodiversidade, para a recuperação do solo e para a redução da emissão de gases do
efeito estufa. Cada uma com sua metodologia, abordando escala estadual, regional ou
municipal, trouxe informações relevantes na busca de reverter o quadro de áreas
degradadas do estado.
Os resultados das comparações demonstraram diferentes definições de prioridades para
um mesmo território. Estas definições costumam servir de base para direcionar recursos
destinados às ações de recuperação e conservação florestal, o que demonstra o papel
decisivo das políticas instituídas.
A existência de políticas públicas específicas de restauração funciona como suporte e
catalisador de outras iniciativas não-governamentais, ao garantir o aporte de recursos
financeiros e técnicos destinados à finalidade e a possibilidade de ações conjuntas entre
Estado e Sociedade Civil (CBH MOGI-GUAÇU, 2015). O debate sobre as
contribuições e barreiras de instrumentos legais nos processos de restauração ecológica
não é de agora. Para alguns, a adoção de instrumentos legais pode servir como
importante instrumento de política pública ambiental e induzir a restauração de florestas
(BRANCALION et. al., 2010), no entanto é importante considerar que há limitações na
definição das mesmas e o cumprimento das diretrizes não garante o sucesso da
recuperação florestal, se consideradas isoladamente.
Outros fatores que influenciam a recomposição florestal devem ser objetos de análise no
processo de elaboração das diretrizes. Aronson (2010) faz uma abordagem interessante
quando coloca que a restauração de ecossistemas degradados depende da relação de
fatores econômicos, ecológicos, sociais, culturais e políticos.
Figura 61 – Os cinco elementos da restauração ecológica (ARONSON, 2010).

Programas de recuperação demandam sistemas de gestão que sejam abrangentes e


flexíveis, possibilitando alterações no curso do processo, considerando os seus
resultados parciais e/ou mudanças nas preferências e prioridades da comunidade
humana envolvida (MELO, 2005).

Conclusões
A definição de graus diferentes de prioridade para um mesmo território, a partir de
diferentes políticas, não significa que a busca por priorização de áreas para a
recuperação da vegetação nativa represente um erro, mas coloca a necessidade de
reconhecer as limitações destas definições.
É necessário observar os riscos da exclusão de determinadas áreas, de programas de
recuperação florestal. Observa-se que mesmo com uma classificação de prioridade
baixa, todos os territórios, quando trabalhados em escala local, apresentam áreas
degradadas que merecem atenção. Os critérios de priorização devem apontar mais para
a indução do que a exclusão.
Deve-se reconhecer a contribuição da definição de diretrizes para as ações de
recuperação de áreas degradadas, contudo fica evidente a importância da integração
entre as políticas existentes. Caso continuem caminhando isoladamente, a possibilidade
de que uma prejudique a outra ficará cada vez mais forte, resultando em um desperdício
de esforços e investimentos ao longo das últimas décadas.
Pensar em restauração ecológica, particularmente em recuperação florestal, deve ser
acompanhado de questionamentos em relação à outros critérios para além dos
relacionados aos meio físico e biótico, incluindo os aspectos econômicos, sociais e
institucionais, e de não menor importância, a motivação e interesse do proprietário ou
possuidor de cada área em restaurar. Assim é importante que as políticas públicas não
representem uma barreira para o próprio objetivo definido.

Referências Bibliográficas
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Árvore, v. 34, n.3, p. 451-454, 2010.
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de florestas tropicais biodiversas. Revista Árvore, v. 34, n.3, p. 455-470, 2010.
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P. 1.
COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MOGI GUAÇU. Plano da Bacia
Hidrográfica do Rio Mogi Gaçu 2016-2019. 2015.
COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO TIETÊ BATALHA. Plano Diretor de
Recomposição Florestal visando à conservação dos Recursos Hídricos - Bacia
Hidrográfica do Tietê-Batalha. 2012.
COMITÊ DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS PIRACICABA, CAPIVARI
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DURIGAN, G. et al. Normas jurídicas para a restauração ecológica: uma barreira a mais
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2010.
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MELO, A.C.G. A legislação como suporte a programas de recuperação florestal no
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OBSERVATÓRIO dos Planos Municipais de Mata Atlântica (http://pmma.etc.br/),
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PREFEITURA DE BAURU. Plano Municipal de Conservação e Recuperação da
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SÃO PAULO. Resolução SMA n. 7, de 18 de janeiro de 2017. Dispõe sobre os critérios
e parâmetros para a compensação ambiental de áreas objeto de pedido de autorização
para supressão de vegetação nativa, corte de árvores isoladas e para intervenções em
Áreas de Preservação Permanente no Estado de São Paulo. Diário Oficial do Estado de
São Paulo, São Paulo, 20 jan. 2017. Seção 1, p. 54/57.
SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO. Cadastro Ambiental Rural. Boletim
Informativo – 2 anos. Estados. Brasília; 2016. p. 127.

ENSINO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO CENTRO


UNIVERSITÁRIO DE VÁRZEA GRANDE POR MEIO DA PEDAGOGIA DE
PROJETOS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

W. de O. Rocha1; R. L. J. S. Villela2; K. D. B. Maas1


1
Professores do Curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário de Várzea
Grande – UNIVAG, Av. Dom Orlando Chaves, 2655, Cristo Rei, Várzea Grande – MT,
CEP 78118-900. E-mail: [email protected] , Contato: (65) 3688-6215.
2
Professora do Plural Centro Educacional, Rod. Arquiteto Helder Cândia, 101 - Jardim
Ubirajara, Cuiabá - MT, e Mestranda em Ensino de Ciências Naturais – Universidade
Federal de Mato Grosso – UFMT, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária,
Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367, Boa Esperança, Cuiabá – MT, CEP 78060-900. E-
mail: [email protected].

RESUMO

A aprendizagem significativa proposta pela pedagogia de projetos é uma nova


alternativa aos métodos educacionais que, visam formar competências nos discentes
para a inserção no mercado de trabalho. Assim, o objetivo deste estudo foi formar
alunos críticos e capazes de resolver problemas, apresentando soluções práticas, de
forma a aumentar as habilidades e competências destes em recuperação de áreas
degradadas enquanto futuros egressos de Engenharia Ambiental do UNIVAG. Assim,
foi utilizada uma propriedade particular em Chapada dos Guimarães – MT, desde
2016/1, onde através da interdisciplinaridade de quatro disciplinas do curso em um
projeto de ensino pela pedagogia de projetos, foram diagnosticadas as degradações
ambientais ocorridas na área, principalmente em decorrência de ações antrópicas que,
estabeleceram alto processo erosivo em APPs, prejudicando a restauração ecológica
destas após o abandono das mesmas e, posterior utilização para fins de turismo de
aventura. Sob a tutoria dos professores, os alunos propuseram, aplicaram e
acompanharam, em aulas de campo, medidas e técnicas restauradoras de solos e da
vegetação nativa, utilizando material disponível na localidade. Foram implantadas
técnicas como construção de paliçadas e encaixe de seixos para controle da erosão e
retenção de substrato, controle de Brachiaria sp. para estímulo da regeneração natural,
transposição de serapilheira e transplante de plântulas potenciais para acelerar a
restauração ecológica, além da manutenção destas. Neste tempo de aplicação do projeto,
foi verificado pelos próprios alunos e professores a eficiência das técnicas implantadas
na área para restaurá-la, além desta formulação de ensino-aprendizagem reduzir a taxa
de reprovações do alunado nas disciplinas envolvidas e evoluir competências e
habilidades pessoais e profissionais dos discentes quanto à proatividade, trabalho em
equipe e contextualização e resolução de problemas práticos. Portanto, a
interdisciplinaridade proposta pela pedagogia de projetos no ensino de recuperação de
áreas degradadas contribuiu para a formação dos estudantes de engenharia ambiental do
UNIVAG.

Palavras Chave: restauração ecológica, metodologias ativas, educação superior,


cerrado

1 INTRODUÇÃO

A busca por uma melhoria na prática docente deve ser nata no educador.
Participar da formação do educando com compromisso, independente da fase de
escolarização que este se encontra pode libertar o individuo de uma caverna escura,
chamando-o a transformar a sua realidade. Para que o aluno aprenda, são necessárias
diversas condições que estão ligadas não só à estrutura de ensino e dos mestres que os
orientam, mas também do que esse aluno conhece do mundo, como ele se relaciona com
as informações e em que contexto ela tem significância para o mesmo (aspectos
socioculturais).
Sem dúvida, na grande área da educação, os desafios são diversos,
principalmente porque muitos alunos que chegaram ao nível superior passaram por um
ensino mecanizado, onde as informações por vezes foram “armazenadas” na forma de
memorização ou se encontram perdidas e desconectadas, de forma a torná-los passivos e
pouco críticos durante a formação profissional. Quando nos deparamos com essa
realidade, somos chamados a refletir em nosso cotidiano profissional de como
poderíamos remediar essa realidade brasileira em relação ao ensino e ao
desenvolvimento de cidadãos críticos e atuantes, na busca de promover por meio da
educação, as mudanças, as descobertas cientificas e, porque não, a paz?
Pensadores importantes que versam sobre as teorias da aprendizagem
preconizam essa idéia, onde o ambiente ou conteúdos de ensino têm que ser percebidos
pelo aprendiz em termos de problemas, relações e lacunas que ele deve preencher, afim
de que a aprendizagem seja considerada significante e relevante. (MOREIRA, 1999).
Jerome Bruner (1977) disponibilizou um método interessante para
utilizarmos em nossas práticas docentes, chamada por ele de método da descoberta ou
processo das descobertas, através da exploração de alternativas. Percebamos então que
além de instigar o aluno, devemos orientá-los previamente sobre os conceitos básicos
que regem o tema em questão e os objetivos a serem alcançados com a atividade
proposta. E não podemos esquecer que esse aluno tem dentro de si conceitos que lhes
são próprios, que vem sendo elaborados no seu processo de aprendizado ao longo da sua
vida. Usar desses conceitos já existentes pode auxiliar esse aluno a uma aprendizagem
significativa, transformando-lhe em um autor da sua própria historia.
A aprendizagem significativa é, por excelência, o mecanismo humano para
adquirir e reter a vasta quantidade de informações de uma gama de conhecimentos.
Segundo Moreira (1999), a aprendizagem significativa é um processo por meio do qual
uma nova informação relaciona-se com um aspecto especificamente relevante da
estrutura de conhecimento do individuo, ou seja, este processo envolve a interação da
nova informação com uma estrutura de conhecimento específica, a qual é definida por
ele de conceito de subsunçor ou subsunçores existentes na estrutura cognitiva do
indivíduo (RAPOSO, 1995).
Podemos entender como “subsunçor” ou “subsunçores”, um conceito, uma
ideia, uma proposição já existente na estrutura cognitiva, capaz de servir de
“ancoradouro” a uma nova informação de modo que ela adquira assim significado para
o indivíduo: a aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação “ancora-se”
em conceitos relevantes preexistentes na estrutura cognitiva (RAPOSO, 1995;
MOREIRA, 1999).
A aprendizagem significativa é conceito comum aos docentes que atuam
com metodologias ativas no processo que envolve o ensino e a aprendizagem. Na ânsia
de mudarmos a nossa estratégia de trabalho para obtermos melhores resultados,
partimos para a busca de propostas que nos auxiliasse a aprendizagem significativa e,
então, nos encontramos com a aprendizagem baseada em projetos, uma metodologia
ativa que avaliamos ser capaz de atender à formação dos acadêmicos que cursam
Engenharia Ambiental nesta instituição de ensino, o Centro Universitário de Várzea
Grande – UNIVAG.
Esta prática pedagógica por projetos alia-se perfeitamente com a
necessidade de habilidades e competências (NOGUEIRA, 2014), que o futuro
engenheiro ambiental deve possuir para o diagnóstico ambiental de áreas degradadas, e
então, projetar e implantar de forma apropriada a recuperação destas.
Assim, a ideia de projeto envolve o sentido da antecipação de possibilidades
factíveis e modificáveis no tempo, intrinsecamente voltadas para o novo, para aquilo
que não se encontra previamente determinado, e que, imprime sentido e direção à
existência humana (BOUTINET, 2002).
Essas características podem ser resumidas da seguinte forma: a metodologia
de pedagogia por projetos para o ensino de Recuperação de Áreas Degradadas tem foco
em uma aprendizagem autêntica, que envolve problemas formulados com base no
mundo real, sendo necessário um trabalho cooperativo, onde os estudantes precisam
planejar em equipe e solucionar os problemas, desenvolver planos de ação e elaborar
um produto final em grupo, que pode ser relatórios, matrizes de interação, planos de
gestão ou artigos técnico-científicos, conforme o solicitado pelos professores das
disciplinas envolvidas.
O objetivo da adoção dessa metodologia foi formar alunos críticos e com a
capacidade de resolver problemas por meio do ensino com base na pedagogia de
projetos, apresentando soluções práticas e aplicáveis a casos reais, de forma a aumentar
as habilidades e competências destes em recuperação de áreas degradadas enquanto
futuros egressos do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário de Várzea
Grande – UNIVAG.

2 MATERIAL E MÉTODOS

A área para aplicação prática desta metodologia de ensino está localizada no


município de Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, onde por meio de parceria entre a
Instituição de Ensino Superior e o proprietário desta, criou-se a Área de Cooperação
Técnico-científica para os alunos do Centro Universitário de Várzea Grande –
UNIVAG.
A propriedade encontra-se no bioma Cerrado, em meio a vales e morros
com fitofisionomia predominante de Floresta Estacional Semidecidual. Esta propriedade
apresenta-se em Áreas de Preservação Permanente (APPs), com perímetros degradados
e abandonados após cultivo de frutíferas e pastagens em um tipo de roçado de
subsistência. Porém, com as técnicas tradicionais aplicadas e o posterior abandono da
área, estabeleceu-se um processo de erosão laminar e em sulcos, principalmente nos
declives do vale; e nos locais de cultivo abandonado estabeleceu-se Brachiaria sp., o
que dificulta a regeneração natural da área.
Atualmente, a propriedade é utilizada para ecoturismo e turismo de
aventura, por meio de trilhas para caminhada, contemplação e acesso à cachoeiras,
trilhas para mountain bike, entre outros esportes radicais. As trilhas são grandes
contribuintes para a erosão do local, mesmo em meio à vegetação, fazendo-se necessária
a aplicação de técnicas de minimização do processo erosivo e manutenção da
capacidade de suporte dessas trilhas.
Entre os perímetros degradados da propriedade, foi dado enfoque a dois
destes: Perímetro 1 (P1) - a antiga área de pomar abandonado onde a cobertura do solo
foi totalmente colonizado por Brachiaria sp. com aproximadamente 1.800m2 (60m x
30m); Perímetro 2 (P2) – área de resgate das bicicletas do praticantes de mountain bike
e turistas que percorrem as trilhas, aberta por trator no sentido do declive do morro
(média de 35° de declividade), o que contribuiu para a formação de erosões laminar e
em sulcos, ao longo do perímetro, com área de 3.200 m2 (800m x 4m).
No intuito de solucionar estes problemas ambientais, houve a junção de
quatro disciplinas no que tange às atividades relacionadas à aprendizagem por projetos,
ministradas aos acadêmicos no último semestre do curso de Engenharia Ambiental. As
disciplinas envolvidas foram as de: Recuperação de Áreas Degradadas, Controle de
Poluição Ambiental e Saúde Ambiental, Geologia e Mecânica dos Solos e Geotecnia
Ambiental. Assim, em reunião realizada entre o colegiado de curso, idealizaram-se
junto às disciplinas abordadas, alguns projetos que pudessem auxiliar na resolução de
problemas ambientais pelo qual a área em questão estava passando, algo exigido pelo
proprietário da área.
Para fomentar uma prática acadêmica interdisciplinar, os principais
conceitos da aprendizagem baseada em projetos foram repassados e elucidados aos
acadêmicos para um melhor entendimento por parte destes (NOGUEIRA, 2014), e
assim, pudessem contribuir de forma direta e ativa nesse processo.
Dentro dessa proposta, passamos a usar este local como laboratório natural
de ensino a partir do semestre letivo de 2015/1, levando os nossos alunos a projetar
dentro de um contexto real as possibilidades para aplicar técnicas e resolver, de forma
engenhosa, a melhoria desse ambiente.
Após os conteúdos básicos de cada disciplina terem sido expostos e
discutidos em sala de aula, os discentes foram estimulados a pesquisar sobre temas
concretos que seriam abordados em campo, anterior à visita técnica e coleta de dados.
Em campo, numa aula interdisciplinar com duração média de três dias, os alunos
precisaram diagnosticar os fatores de degradação e então, propor métodos de
recuperação que utilize material encontrado na propriedade e que tornem a mitigação
dos impactos o menos onerosa possível.
Os alunos foram divididos em grupos, onde cada equipe deveria colocar em
prática suas propostas para iniciar a recuperação da área, além de instalar metodologias
para coleta científica de dados da sucessão florestal ocorrente nas áreas degradadas e
preservadas.
No final do semestre, cada grupo apresentou um artigo técnico-científico
com os resultados prévios alcançados, como meio de avaliação da aprendizagem prática
aliada à recuperação do solo e revegetação alcançadas até o final do semestre.
Nos semestres seguintes, cada turma que passou pelo mesmo núcleo de
disciplinas citadas acima, de acordo com a interdisciplinaridade do projeto, realizaram a
mesma aula prática, com o diferencial de que deveriam avaliar e monitorar as técnicas
já empregadas pelas turmas anteriores, realizando manutenção das mesmas e propondo
readequações para o sucesso da recomposição dos solos e revegetação da área.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, realizávamos as aulas de campo nesta área apenas para ensinar


aos alunos sobre os tipos de vegetação, fauna, solo e aspectos de degradação ambiental
por atividades diversas. Um modelo de aula expositiva, onde o aluno fazia o papel de
observador, e então, gerando um relatório das características ambientais e da
degradação do local abordadas pelos professores. Percebemos, então, que a assimilação
prática, assim como a formação de habilidades e competências dos alunos não estavam
sendo alcançadas, tendo como indicadores a quantidade de reprovações e os pedidos de
ajuda aos professores por parte dos egressos durante a vida profissional para sanar
dúvidas quanto à projetos de recuperação e/ou biorremediação de áreas degradadas.
Nos quatro semestres em que esta metodologia de ensino foi aplicada,
percebeu-se um desenvolvimento acelerado na escrita dos alunos, na organização de
ideias em forma de texto e dos dados coletados em campo, na motivação dos
acadêmicos quando confrontados com a realidade que enfrentarão no seu campo
profissional, no que diz respeito às questões éticas e técnicas.
Os alunos passaram a questionar e debater mais em sala de aula após a
ocorrência das visitas in loco, a participar ativamente da construção do seu
conhecimento, propondo com criatividade soluções interessantes, e ainda, tornaram- se
mais próximos dos professores, desenvolvendo uma relação de cumplicidade na troca de
saberes.
Em suma, podemos destacar dois pontos importantíssimos alcançados pelos
alunos que vivenciaram essa metodologia: aumento da motivação e envolvimento dos
estudantes com as disciplinas e a mobilização desses estudantes para a aprendizagem
significativa aplicada à vida profissional.
A literatura nos mostra que estamos na direção certa, pois a aprendizagem
baseada em projetos aumenta a motivação e o interesse dos estudantes pelos temas
aprofundados na disciplina, gerando competências pessoais e profissionais neles
próprios, como a resolução sistemática de resultados, a capacidade de trabalho em
equipe e proatividade (BENDER, 2014). Estas conquistas visíveis no comportamento
do alunado integra em grande parte o objetivo dos professores ao ensiná-los e conduzi-
los ao mercado de trabalho, contribuindo para a formação dos egressos em engenharia
ambiental.
Em uma análise geral, as reprovações nas disciplinas envolvidas neste
projeto de ensino diminuíram progressivamente ao longo dos quatro semestres
lecionados com base na pedagogia de projetos. A média de reprovações anterior a
aplicação desta metodologia, era de 30% entre todas as quatro disciplinas, onde agora,
após a interdisciplinaridade aplicada, esta média foi reduzida para 10% em 2016/2.
Conforme a política pedagógica do UNIVAG, além de estimular a
interdisciplinaridade por meio dos projetos integradores para uma formação completa
do egresso, utiliza-se avaliações com questões elaboradas nos moldes do Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) do ensino superior. Estas questões
possuem contextualização prática e enfoque na resolução de problemáticas,
principalmente em relação à degradação e recuperação ambiental. Devido a este modelo
de aplicações de questões que, colocam a prática profissional no papel e exige
resoluções adequadas, o alunado tendia a justificar seus erros e consequentes
reprovações nessas quatro disciplinas contempladas neste relato.
Esta justificativa dos discentes denota que, estes não aprenderam a
contextualizar informações e gerar resoluções de problemas durante os ensinos
fundamental e médio, cabendo ao ensino superior prepara-los melhor neste sentido.
Percebemos então, nestes quatro últimos semestres que, a pedagogia de projetos
propiciava uma melhor preparação dos alunos para a vida profissional diante da
resolução prática de problemáticas ambientais.

3.1 Técnicas De Restauração Implantadas

Dentre as soluções para a restauração ecológica da área de estudo, os grupos


propuseram e aplicaram diferentes técnicas simples e baratas para cada perímetro
trabalhado:

 Perímetro 1 (P1):

Os alunos projetaram e implantaram ao longo dos últimos quatro semestres,


a retirada constante da Brachiaria para viabilizar o processo de regeneração natural de
P1, sempre incorporando ao solo o material vegetal seco deste capim, além de
realizarem o transporte de serapilheira, oriunda de diversos locais da propriedade com
características ambientais semelhantes, para este perímetro.
À medida que, o banco de sementes desta serapilheira foi se mostrando
presente por meio da germinação, suas plântulas foram sendo conduzidas pelos discente
realizando-se o coroamento dessas, de foram que a Brachiaria regenerante não
inviabilizasse o desenvolvimento da regeneração nativa. Esta técnica demonstrou de
forma prática aos alunos, a dificuldade em regenerar uma área com Brachiaria
estabelecida, porém com o trabalho em grupo e progressivo de diversas turmas ao longo
dos semestres, um quarto deste perímetro encontra-se com indivíduos acima de 2 metros
de altura provenientes do banco de sementes transportado na serapilheira.
Os alunos foram estimulados pelos professores a pesquisarem espécies em
fase de plântulas para que pudessem realizar o transplante desta para P1. Nisto,
verificou-se o comportamento de uma espécie herbácea na localidade com potencial
para subjugar gramíneas (Poaceae) ocorrentes em P1, e ainda, apresentando sistema
radicular profundo que poderia ajudar na retenção de solos no local. Os alunos
coletaram alguns indivíduos desta espécie pra herborização, e então, identificação
taxonômica no Herbário do UNIVAG, classificando-a em nível específico como
Stachytarpheta spathulata Moldenke. (Verbenaceae).
No semestre seguinte, os alunos da turma seguinte realizaram a coleta e o
transplante de plântulas de S. spathulata encontradas por toda a propriedade para P1, no
intuito de aumentar a competição destas sobre a Brachiaria, processo este que ainda
está em avaliação.

 Perímetro 2 (P2):

Os discente propuseram a contenção e formação de substratos (partículas de


solo e material orgânica da serapilheira) em P2, pois devido à erosão, praticamente não
existia substrato disponível para a regeneração natural e muito menos para o plantio de
mudas. Esta contenção de substrato trazido de áreas adjacentes pela erosão laminar foi
aplicada por meio da construção de paliçadas com 30 cm de altura equidistantes 15
metros entre si.
Para a construção dessas barreiras físicas, os alunos utilizaram troncos
caídos naturalmente e cipós da vegetação da propriedade. Nos sulcos e pequenas ravinas
já formadas ao longo de P2, os discentes aplicaram a simples técnica de encaixe de
rochas (seixos) de diferentes tamanhos encontrados pela propriedade, para que, os
substratos ao serem carregados superficialmente pelas águas pluviais fossem retidos
entre as rochas, promovendo coesão com estas, e então, diminuindo a profundidade dos
sulcos e ravinas, retendo maior quantidade de solos com o passar do tempo.
Verificou-se neste tempo de condução do projeto interdisciplinar que, houve
acúmulo médio de substratos nas paliçadas em torno de 20 cm, enquanto que, os sulcos
e ravinas, em sua maioria, foram fechados, diminuindo assim a velocidade das
enxurradas no perímetro e favorecendo a infiltração de água no perfil do solo.
Com este acúmulo de partículas de solo e maior quantidade de matéria
orgânica retida em P2, verificou-se o início da regeneração natural no local através do
banco de sementes dispersadas livremente a partir das bordas de vegetação que
circundam P2, diminuindo a largura do perímetro degradado em aproximadamente 1,5
metros. Além disso, foi implantado o transplante de plântulas de S. spathulata neste
perímetro, onde esta espécie demonstrou, até então, potencial capacidade para
distribuir-se sobre o substrato acumulado nos antigos sulcos e ravinas de P2,
contribuindo para agregação das partículas de solo devido ao seu sistema radicular.
Portanto, a cada semestre desde o início do projeto de ensino, uma nova
turma realiza o acompanhamento das técnicas já implantadas, sugerindo melhorias e/ou
inovações para regenerar os dois perímetros de forma mais rápida, barata e ecológica.
Estas técnicas conseguidas na prática do ensino podem ser demonstradas, como neste
caso, aos produtores rurais, em especial aos pequenos e médios, e assim, aplicadas pelos
mesmos para aumentar a restauração ambiental dentro de suas propriedades.

4 CONCLUSÕES

Sonhos à parte, nós conseguimos realizar junto aos nossos acadêmicos do


Curso de Engenharia Ambiental do UNIVAG, uma aprendizagem mais coesa, que tenha
significado com o quê esse aluno veio buscar na academia de ensino, propiciando a
interlocução de conhecimentos aplicados à prática profissional por meio da pedagogia
de projetos.
Este método de ensino-aprendizagem comprovou que, por meio de
metodologias ativas que estimulem os alunos a serem protagonistas da aula e que, os
professor tornem-se tutores da contextualização crítica deste alunado, pode formar
egressos do curso em questão com competências e habilidades profissionais e pessoais
com real aderência ao mercado de trabalho, principalmente relacionadas ao campo de
atuação de avaliação de impactos ambientais e recuperação de áreas degradadas.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o


século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014.

BOUTINET, Jean-Pierre. Anthropologie du projet. France: PUF, 1990.

BRUNER, J. The process of education. Harvard University Press: Cambridge, 1977.


MOREIRA, M. A. Teorias de Aprendizagens. São Paulo: EPU, 1999.

NOGUEIRA, N. R. Pedagogia dos Projetos: etapas, papéis e atores. 4. Ed. São Paulo:
Érica, 2014.
RAPOSO, N. A teoria de Jerome Bruner e as suas implicações pedagógicas. In Estudos
de Psicopedagogia. Coimbra: Coimbra Ed., 1995.

RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DE EXTRAÇÃO DE ARGILA NO CERRADO

Alves, R. B. R.1; Ferreira, I. M.2; Figueiredo, T. A. B. R. A.3; Cruz, R. L.4


1
Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de Geografia - Pós-
graduação em Geografia. Contato: [email protected]. Mestrando – bolsista -
FAPEG.
2
Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de Geografia - Pós-
graduação em Geografia. Contato: [email protected]. Professor Doutor.
3
Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Instituto de Ciências Agrarias. Contato:
[email protected]. Graduação em Agronomia.
4
Universidade Federal de Goiás – UFG. Regional Catalão, Instituto de Geografia - Pós-
graduação em Geografia. Contato: [email protected]. Mestranda –
bolsista - FAPEG.

RESUMO

O Brasil possui uma das maiores biodiversidades, e grande parte dela encontra-se no
bioma Cerrado. Empreendimentos que envolvem a remoção do solo causam profundas
modificações no equilíbrio ambiental dos ecossistemas, sendo importante o teste de
hipóteses que modifique as características químicas e físicas do subsolo remanescente,
sendo que, a partir da implantação de sistemas de recomposição do extrato orgânico
para a formação de solo com o uso de mecanismos que proporcionem melhorias nas
características químicas e físicas, como a semeadura de gramíneas e leguminosas
(culturas que possuem menor exigência nutricional), capazes de se desenvolverem em
ambiente desfavorável e produzindo biomassa, proporcionando a cobertura orgânica do
subsolo exposto e condições favoráveis ao desenvolvimento de outras espécies (nativas)
mais exigentes nutricionalmente, capazes de se desenvolverem e atingirem seu clímax
na área.

Palavras Chave: Cerrado. Equilíbrio ambiental. Adubação verde.

Introdução
O modelo de desenvolvimento econômico adotado pelo sistema Capitalista, em
que se deve consumir cada vez mais para ser necessário produzir mais bens de consumo
duráveis e não duráveis, e que garantam um estilo de vida que promova um modelo de
sociedade humana com base no consumo de luxo, conhecido como o ideal da sociedade
moderna, adotado como um padrão de avaliação do desenvolvimento e estabilidade
econômica do Estado ou, de acordo com Pereira et al. (2015), o desenvolvimento
humano acaba consistindo em alargar as escolhas das pessoas, partilhando os recursos
naturais oferecidos pelo ambiente, o que leva a graves crises, tanto de cunho social e/ou
como ambiental.
Nesse contexto, a produção de energia é essencial para manutenção do sistema
econômico vigente, no caso o capitalista, pois a energia é mercadoria e o seu consumo é
determinado e direcionado por lógicas do mercado, sendo necessária a produção de
energia elétrica, o que leva à necessidade da construção de Usinas Hidrelétricas e/ou
outro modelo de produção, como a energia a parti dos bioenergéticos como a cana-de-
açúcar. Contudo para as construções de barragens para a geração de energia hidrelétrica
é necessário um grande volume de argila, utilizada para sustentar as rochas no processo
de enrocamento do eixo da barragem, que geralmente é extraído de áreas próximas às
futuras instalações da hidrelétrica, com isso surgem as “áreas de empréstimo” que, no
Brasil nas décadas anteriores a 1980, não previam a recuperação destas áreas de
extração de argila, tendo sido estabelecido os processos de recuperação pela Resolução
CONAMA 001/1986, que estabeleceu a elaboração dos Estudo de Impactos Ambientais
e o Relatório de Impactos ao Meio Ambiente - EIA/RIMA.
Nesse contexto de ausência da legislação, geralmente o subsolo remanescente
ficava exposto e sujeito a intensos processos de impactos ambientais, com destaque para
uma maior intensidade de processos erosivos causados pela associação: subsolo exposto
- índice de precipitação - declividade.
Atividades humanas que necessitam da utilização das camadas do solo, a
exemplo da retirada de argila (área de empréstimo) e mineração, devem preservar,
armazenar e retornar o horizonte orgânico superficial do solo, que é chamado de
“topsoil” ou solo superficial (camada superior, mais externa do solo, em geral entre 0 a
20 cm de profundidade), onde é encontrado a mais alta concentração de matéria
orgânica, microrganismos vivos e atividades biológicas diversas (HALL et al., 2010).
Quando esse procedimento não é possível, um novo solo superficial deve ser criado
para servir como substrato para o desenvolvimento da vegetação futura, considerando os
aspectos físico-químicos da área e os demais processos inerentes à formação do solo.
Para construção de barragens de terra é utilizado argila retirada de áreas
próximas aos projetos a serem construídos, o que até os anos 1980 não previam
qualquer projeto para recuperação ambiental dessas áreas após sua exploração. No
entanto após 1980 os projetos de recuperação das áreas de empréstimo tinham como
objetivo cessar os processos erosivos lineares e implantar uma vegetação nativa que
proporcione uma paisagem mais próxima à encontrada no Bioma Cerrado.
Porem, as paisagens encontradas em áreas com projetos de recuperação, não se
aproxima das paisagens encontradas no Bioma Cerrado, pois em um planejamento de
recuperação de áreas degradadas, o grande desafio a ser alcançado é o estabelecimento
de um horizonte A para o solo, para que, a partir daí, o processo de formação do solo
seja catalisado pela biosfera, podendo surgir outros horizontes, conforme o
condicionamento natural. Desse modo, interfere-se em um ou mais fatores de formação
do solo, numa tentativa de acelerar sua gênese, considerando, conforme Jeny (1941
apud MONIZ, 1972) que esse processo é composto pela interação entre o material de
origem, as condições do relevo, a ação dos agentes do clima, a ação biológica dos
organismos vivos e a ação do tempo.
Diante dos fatos, novos processos de intervenção visando o aprimoramento de
técnicas para a estruturação do solo devem ser empregados na recuperação de áreas
utilizadas para retirada de argila que tenha como objetivo uma possível recuperação
paisagística para as mesmas.

2.1 O bioma Cerrado

Cerrado é um domínio fitogeográfico, com bioma do tipo Savana, sendo o


segundo maior Bioma que ocorre no Brasil, com uma diversidade vegetacional que
engloba a forma campestre aberta, como os Campos Limpos, até formas relativamente
densas, florestais, como o Cerradão, entre esses extremos fisionômicos, há uma gama de
formas intermediárias, com fisionomia de Savana, como os Campos Sujos, os Campos
Cerrado, mas as fitopaisagens predominantes são o Cerrado Típico, o Cerradão e a
Vereda (FERREIRA, 2003).
Ferreira (2003) também relata que:

As primeiras citações e descrições sobre as características do


Cerrado foram feitas pelos Bandeirantes que adentravam os
“sertões” do Brasil à procura de minerais preciosos e índios para
escravizarem. Nessas viagens, geralmente, eram acompanhados
por algum estudioso responsável pela descrição e relato da
viagem. Posteriormente, os viajantes estrangeiros passaram a
incursionar pelas paisagens brasileiras, coletando espécies e
fazendo descrições detalhadas dos aspectos paisagísticos que
compunham o espaço brasileiro. (FERREIRA, 2003, p. 39).

A expansão da fronteira agrícola brasileira levou à redução dessas áreas de


cobertura original e a altas taxas de extinção de espécies, sendo que ate os dias atuais, é
continua a destruição dos ecossistemas que constituem o Cerrado. Machado et al.
(2004), em estudo utilizando imagens do satélite MODIS do ano de 2002, concluiu que
54,9% do Cerrado já foi desmatado ou transformado pela ação humana. Nesse sentido,
Tristão e Mendes (2015) relatam as causas e efeitos da degradação do Cerrado, além das
dificuldades para a interversão favorável à preservação desse Bioma:

A expansão produtiva em áreas de Cerrado tem ocasionado


consequências ambientais, e vem deixando de considerar à
influência que este exerce sobre os demais ecossistemas
nacionais, o papel fundamental desse bioma para reposição
hídrica, e a sua diversidade biológica. Dessa forma, as
comunidades biológicas são alteradas de forma contundente,
sendo que o fator econômico e a desvalorização da paisagem do
Cerrado dificultam que ocorram maiores intervenções a favor da
preservação desse bioma. (TRISTÃO; MENDES, 2015, p. 13).

O Brasil possui uma das maiores biodiversidades mundial, e grande parte dela
encontra-se no bioma Cerrado. O Cerrado abrange cerca de 200 milhões de hectares
(22% do território nacional), compreendendo uma larga variedade de fisionomias
específicas que dominam o Centro-Oeste Brasileiro, como as Matas de Galerias que se
desenvolvem ao longo dos rios e córregos e Matas Secas que medram sobre solos
quimicamente mais ricos, bem como vegetação de transição nas bordas com outros
biomas. (MENDONÇA et al. 1998; UNESCO, 2001).

2.2 A geração de Energia e o impacto ambiental

A geração de energia esta envolvida diretamente com a história do


desenvolvimento socioeconômico da humanidade, como exemplos temos a revolução
industrial, com destaque a introdução no sistema produtivo da máquina a vapor e,
posteriormente, o motor a combustão. Atualmente, o acentuado uso de fontes
energéticas não renováveis, como os de origem mineral e nuclear associado ao alto
padrão de consumo de energia, criou uma serie de questionamentos ambientais,
destacando-se os poluentes emitidos com a queima de combustíveis fosseis que
ultrapassam as fronteiras mundiais, alterando a concentração dos gases responsáveis
pelo efeito estufa, principalmente o Dióxido de Carbono (CO2), causando, no contexto
mundial, a elevação da temperatura. Desse modo, se fosse cientificamente possível fazer
uma relação custo-benefício de todo o processo civilizatório, a conclusão seria
provavelmente pessimista, em que os problemas advindos do mundo moderno
ultrapassariam em grande escala os benefícios produzidos pela sociedade pós-industrial
(PHILIPPI JÚNIOR; SILVEIRA, 2004).
Na busca da humanidade por uma energia limpa e renovável, o potencial
hidráulico dos cursos d’água é destacado, e a conversão desta energia potencial em
energia elétrica depende da construção das usinas hidrelétricas, onde, com a utilização
de turbinas movimentadas pela água e ligadas a alternadores, ocorre a conversão da
energia potencial em energia mecânica e posteriormente em energia elétrica. Nesse
contexto, Bossoi e Guazelli (2004), ressaltam, ainda, que o uso da água para geração de
energia é muito desenvolvido no Brasil, uma vez que detém o terceiro lugar na
produção de energia hidrelétrica, com 10% da produção mundial, atrás do Canadá e dos
Estados Unidos, cada um com 14% da produção mundial.
As usinas hidrelétricas, com o objetivo de obter o uso do maior potencial
energético são, muitas vezes, construídas em locais distantes dos centros consumidores,
sendo então transmitida por fios condutores até as cidades, ocorrendo assim à elevação
dos gastos com o transporte dessa energia, o que também dificulta a percepção, por
parte de diferentes grupos sociais, quanto aos diferentes impactos ambientais e sociais
causados com a construção das usinas hidrelétricas, visto que os benefícios da produção
da energia elétrica são de fácil reconhecimento da população humana, pois mesmo
sendo uma energia renovável e não ocorrer a emissão de poluentes, a energia elétrica
gerada por usinas hidrelétricas são responsáveis por inúmeros danos sociais, como a
relocação da população de pequenos agricultores, indígenas, ribeirinhos, entre outras, e
impactos ambientais como alteração do curso e do regime hídrico dos rios, inundação de
extensas áreas de vegetação nativa, extinção de espécies da biota, alterações do
microclima, dentre outros. Nesse sentido, Bossoi e Guazelli (2004), afirmam que o uso
da água para a produção de energia elétrica não modifica sua qualidade; no entanto,
altera o ambiente e a vida aquática, visto que um ambiente que era lótico torna-se
lêntico.

2.3 A recuperação de áreas degradadas

A recuperação de áreas degradadas começou a ter um destaque maior a partir das


décadas de 1960 e 1970, principalmente devido à pressão dos órgãos ambientais e da
sociedade organizada, culminando pelo estabelecimento da Resolução do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 001/1986, que estabeleceu normas e critérios
para os projetos de intervenção ambiental no Brasil, culminando na obrigatoriedade da
apresentação e execução dos Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADE) e
os Estudos de Impacto Ambiental e Relatórios de Impactos ao Meio Ambiente (EIA-
RIMAs) e uma legislação subsequente cada vez mais especifica. A escassez de
informações ainda dificulta a sua efetiva implantação, sendo fatores limitantes a
ausência de plantas adaptadas a condições inóspitas ao crescimento vegetal em solos
degradados e um planejamento socioeconômico e ambiental de uso das espécies de
interesse para sua recuperação na região da degradação. Além disso, verifica-se ainda a
falta de conhecimento quanto à interação das diferentes espécies potenciais com
diferentes tipos de solo e materiais e sua ciclagem de nutrientes (SPERÂNDIO, 2013).
A implantação de uma cobertura vegetal sobre superfícies de áreas degradadas é
a medida mais comum de recuperação, mas requer a construção de um ambiente edáfico
que seja compatível com as espécies vegetais a serem utilizadas (CORRÊA; BENTO,
2010). Nesse cenário, as leguminosas se destacam como espécies potenciais para
inserção em ambientes com pouca ou nenhuma resiliência, por possuírem alta deposição
de serrapilheira e, principalmente, pela fixação biológica de Nitrogênio atmosférico no
solo (LONGO et al., 2011).
Para uma eficiente revegetação e utilização de novas práticas e formas de
manejo para a recuperação de áreas degradadas, é necessária a intensificação de
pesquisas que contemplem a interação dos conhecimentos das propriedades químicas,
físicas e biológicas do solo, da fenologia e da ciclagem de nutrientes das espécies
vegetais, sendo que, por falta de conhecimento, é usual assumir que protegendo a
vegetação está se resguardando todos os seres vivos que aí vivem, toda a sua vida ou
pelo menos parte de seu ciclo de vida. Essa é a posição possível com o conhecimento
disponível, mas ela não garante o sucesso do controle e da gestão de áreas verdes. Com
a evolução do conhecimento será permitido um controle mais seguro com bases
científicas e monitoramento mais adequado (BONONI, 2004).
Empreendimentos que envolvem a remoção do solo, e deixam o substrato
litólico exposto, envolvem profundas modificações no equilíbrio ambiental dos
ecossistemas, podendo demandar várias dezenas de anos para adquirir níveis de
equilíbrio homeostático incipiente. Os substratos remanescentes, além de estarem
desprovidos de atributos físicos e químicos, que permitam a colonização vegetal
espontânea, apresentam-se suscetíveis a ação dos processos erosivos. “A crescente
conscientização ambiental da sociedade organizada, aliada às ações dos ambientalistas,
tem acelerado a busca de novas “equações ambientais”, que objetivam a minimização
dos impactos socioambientais a um baixo custo” (D’ALTERIO; VALCARCEL, 1996).
A sucessão ecológica é definida por Horn (1974), como sendo um fenômeno que
envolve gradativas variações na composição específica e na estrutura das comunidades
tróficas, iniciando-se o processo em áreas que, mediante ações perturbatórias ou não, se
apresentam disponíveis à colonização de plantas e animais e outros seres vivos,
prosseguindo até determinado período onde tais mudanças se tornam lentas, sendo o
ecossistema resultante designado como clímax. Essas variações são determinadas por
mudanças na vegetação, na biota, no solo e no microclima de uma área com o decorrer
do tempo.
O uso da cobertura vegetal (medida biológica) como medida mitigadora dos
impactos ambientais é uma opção coerente, prática e econômica, embora possa
apresentar dificuldades de adaptação inerentes à declividade do terreno e a composição
física e química do substrato (D’ALTERIO; VALCARCEL, 1996).
Quando se avalia a relação custo/benefício ambiental, o uso de recursos naturais
apresenta a melhor relação quando comparados aos demais métodos de recuperação de
áreas degradadas (MACHADO et al., 2003). Neste sentido, a implantação de
leguminosas lenhosas associadas a microrganismos é uma alternativa para minimizar as
perdas de nutrientes por percolação e erosão, alcançar a autossuficiência em nitrogênio
através da fixação biológica e obter máxima reciclagem de nutrientes no ambiente
(LASTE, 2008).

2.4 A adubação verde


Os adubos verdes são obtidos através do cultivo de plantas com características
que possibilitam a melhoria em médio e longo prazo de propriedades físico-químicas do
solo, redução na competição entre espécies, além do cultivo para fins comerciais os
adubos verdes são cultivados para utilização como cobertura morta em áreas com
histórico de manejo inadequado do solo. Alguns exemplos de adubos verdes são a
Cajanus cajan (feijão guandu), a Crotalaria juncea (crotalária) e o Stylosanthe
multilinea (estilozantes). Em Áreas de Proteção Permanente, as APPs, em processos de
revegetação, essas espécies podem ser utilizadas em consórcios com espécies arbóreas,
pois a busca por novas alternativas, como agregação de valores, cogeração de energia
elétrica e novos sistemas de administração, são constates (TEODORO et al., 2011).
O estudo referentes ao uso dos adubos verdes tem demonstrado um grande
potencial na recuperação da produtividade do solo e, dentre as diversas leguminosas
usadas como adubo verde, a Crotalária mostra-se muito eficiente como produtora de
massa vegetal e como fixadora de Nitrogênio nos solos. A prática de adubação verde,
embora apresente várias vantagens, é pouco utilizada pela maioria dos agricultores,
principalmente durante o verão, pois para eles o cultivo de uma espécie de adubo verde
não propicia retorno econômico imediato, ou seja, ocupa o espaço de outra cultura de
renda (DOURADO et al., 2001). Isto ocorre em função do desconhecimento dos efeitos
benéficos das plantas de cobertura nos sistemas de produção. Por outro lado, Skora Neto
(1993) sugere que é desejável que a adubação verde seja considerada uma prática
economicamente rentável, principalmente para a recomposição de matéria orgânica nos
solos.
A simbiose mutualista planta-bactéria diazotróficas-fungos micorrízicos, adquire
a capacidade de incorporar Carbono (C) e Nitrogênio (N) atmosféricos ao solo, sendo
mais eficientes na absorção de nutrientes, tornando as plantas mais tolerantes aos
estresses ambientais (FRANCO; BALIERO, 2000).
Vilela (2004), avaliando a exigência nutricional de gramíneas e leguminosas
forrageiras, encontrou uma larga variação em relação à exigência e adaptação entre as
espécies forrageiras e conclui que entre as leguminosas verifica-se que o Stylosanthes
captata é mais tolerante ao Alumínio (Al) e menos exigente ao Fósforo (P), enquanto a
soja perene se apresenta como mais exigente em Fósforo e Cálcio (Ca) e menos
tolerante ao Alumínio e que uma pastagem formada com uma planta mais exigente,
como um Panicum sp., terá um período de uso pequeno, se não houver atenção à
adubação de manutenção.
A discussão sobre “Qualidade do Solo” intensificou-se no início dos anos 1990,
quando a comunidade científica, consciente da importância do solo para a qualidade
ambiental, começou a abordar, nas publicações, a preocupação com a degradação dos
recursos naturais, a sustentabilidade agrícola e a função do solo nesse contexto
(VEZZANI, 2009).
O solo, sem a proteção da sua superfície, sofre grandes perdas, não só de terra,
como também de Carbono (C) e Nitrogênio (N). O Carbono Orgânico Total (COT) é a
principal fonte de N e serve para determinar a qualidade do solo e tem uma importância
muito grande na agricultura sustentável. As propriedades físicas, químicas e biológicas
do solo são estimadas pela fração orgânica, determinada pelo Carbono Orgânico Total
(COT). Em geral, a matéria orgânica do solo contém 58% de Carbono (C). A
degradação do solo influi diretamente no teor de N, pois o COT é a principal fonte deste
nutriente (BRAGA, 2011), pois dependendo da magnitude do fluxo de Carbono
propiciado pelo subsistema vegetal, haverá maior ou menor atividade biológica,
produção de compostos orgânicos secundários, agregação do solo e aparecimento de
outras propriedades emergentes do sistema solo. De modo geral, as propriedades
emergentes do ciclo do C no solo (teor de matéria orgânica, agregação, porosidade,
infiltração de água, retenção de água, aeração, Capacidade de Troca Catiônica - CTC,
balanço de N, dentre outras) melhoram a qualidade do solo (VAN BREEMER, 1993).
A localização geográfica das áreas degradas a serem rescuperadas deve ser
considerada, visto que, no bioma Cerrado há espécies que ocorrem somente em solos
ácidos, outras são restritas aos solos calcários e outras indiferentes quanto à acidez e/ou
fertilidade do solo (RATTER et al., 1977). Assim, Jordan (1987) destaca a proporção de
N, Ca e Magnésio (Mg) que é encontrado nos troncos das arvores, sendo que esses
nutrientes servirão de estoque do ecossistema durante sucessão secundária, reforçando a
importância da vegetação na proteção do solo e ciclagem dos nutrientes.
Santos et al. (2001), trabalhando com duas leguminosas (Feijão guandu -
Cajanus cajan L. e Siratro - Macroptilium atropurpureum L.) e duas gramíneas
(Capim-pangola - Digitaria decumbens L. e Capim-elefante - Pennisetum purpureum
L.) não havendo incorporação da biomassa verificou pelas análises químicas efetuadas
que as culturas melhoraram os teores de nutrientes no solo, promovendo aumento nos
teores de carbono orgânico total e na capacidade de troca de cátions, indicando serem
viáveis na recuperação de solos degradados, sendo que o siratro apresentou melhor
resposta em relação à CTC e o capim-elefante proporcionou maior acúmulo da manta
vegetal sobre o solo.

Considerações finais
Os estudos referentes ao uso dos adubos verdes com o objetivo de melhorar as
características químicas e físicas do solo tem demonstrado um grande potencial, sendo
que a Crotalária se destaca por sua eficiência na produção de biomassa e como eficiente
fixadora de Nitrogênio nos solos. Contudo plantas com baixa exigência nutricional
como a Brachiaria sp. e Stylosanthes sp. demonstram capacidade de desenvolvimento
em ambiente desfavorável, possuem características como alta produção de biomassa e
quando utilizadas em conjunto, proporcionam diferenças em suas relações C/N, além
disso, podem ser utilizadas como pastagem, o que torna um meio de recuperação de área
degrada com possibilidade de auto manutenção dos custos para a recuperação da área a
ser contemplada.
A fertilização mineral e o uso de material orgânico contribuem para a melhoria
das características químicas, físicas e biológicas do solo, proporcionando melhores
condições para que as espécies possam exercer as funções de produção biológica, e
possível sustentabilidade do ambiente, pois em um ambiente desprovido de vegetação, e
também de material orgânico não decomposto que proporcione a cobertura do solo, é
comum observar a incidência de erosão laminar, sendo que as áreas de empréstimos,
após a extração de suas camadas superficiais, ficam com o subsolo exposto, e assim as
características químicas, físicas e biológicas estarão comprometidas e a interação entre
tais características também.
Com isso, o desenvolvimento da biomassa fica comprometido, afetando o
volume de cobertura vegetal e também o volume de material orgânico não decomposto,
consequentemente será menor o volume de matéria orgânica decomposta, não
proporcionando a proteção do subsolo exposto, aumentando, assim, a erosão laminar
que em uma reação em cadeia será cada vez maior ao longo dos anos.

Referências
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2004. CD.

DINÂMICA DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E O IMPACTO NAS ÁREAS


DE PERSERVAÇÃO PERMANENTE NO MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO
GUAMÁ-PA

Nayanna de Nazaré Brito Freitas1; Paulo Cezar Gomes Pereira2; Osmar José Romeiro de
Aguiar3.
1
Universidade do Estado do Pará – UEPA, Avenida Nazaré n°659 bairro Vila Nova
CEP: 68660-000, São Miguel do Guamá – PA, Brasil, e-mail:
[email protected]; 2Universidade do Estado do Pará – UEPA, Conjunto
Médici II rua Benfica n°175 bairro Marambaia CEP:66620-090, Belém-PA, Brasil, e-
mail: [email protected]; 3Universidade do Estado do Pará – UEPA, Travessa Lomas
Valentinas n° 645 bairro Pedreira CEP: 66080322, e-mail: [email protected].

RESUMO

As ações antrópicas têm relação direta com impactos do meio ambiente, na Amazônia
as causas que acarretam estes os impactos estão emparelhados por motivos históricos
que sucederam a expansão das atividades produtivas que consequentemente inferiu na
dinâmica do uso e ocupação da terra. Diante disto, o objetivo do trabalho é analisar a
dinâmica de uso e cobertura do solo no município de São Miguel do Guamá - PA,
utilizando os dados do projeto TerraClass referentes aos anos 2004, 2008, 2010, 2012 e
2014, determinar os impactos que as classes temáticas inferem nas áreas de preservação
permanente e sugerir meios de recuperação para as áreas degradadas em torno dos
cursos d’agua. Diante as analise, observou que o uso e cobertura do solo do município
em estudo em maior proporção estão sendo utilizada para atividade pecuarista, esta
também se destacou em ser o principal motivo de degradação em torno de APP de curso
d’agua. Por fim, verificou a necessidade de o município possuir políticas públicas que
venham a preservar a vegetação das matas ciliares e a recuperação das áreas que se
encontram degradadas.

Palavra Chave: Geoprocessamento; Projeto TerraClass; Áreas degradadas; Amazônia.


1 INTRODUÇÃO
Dentre as principais causas de degradação gerada pelas atividades antrópicas
ocasionadas ao meio ambiente, destacam-se: desmatamento, queimadas, uso do solo
intensivo nas atividades agropecuárias, loteamentos em locais impróprios, obras de
infraestrutura sem planejamentos. As causas naturais como as mudanças climáticas e
condições ambientais também afetam o uso da água e o abastecimento hídrico, como os
eventos climáticos El Niño e La Ninã. Outras causas que ocasionam a degradação em
torno do afluente que merecem destaque por serem muitas praticadas no Estado do Pará
são: o desmatamento para expansão de áreas agrícolas e urbanas, os incêndios florestais
estes criminais ou causas naturais e extração de minérios principalmente o ouro e
bauxita.
Inferindo-se sobre os impactos ambientais ocasionados pelas ações antrópicas é
de suma importância discorrer sobre o Marco Regulatório do dia 22 de julho de 2008,
este foi essencial para a implementação do novo código florestal brasileiro, pois o
mesmo auxilia no controle do desmatamento que ocorriam de forma demasiada
principalmente em áreas privadas, assim, o marco deu subsídios para que o código
florestal estabelecesse decretos a conservação ambiental por meio de limitações ao uso
da terra.
No dia 22 de julho de 2008, ficou estabelecido como ponto de corte, este dia
sinaliza a publicação do Decreto 6.514/2008 que regulamenta as infrações contra o meio
ambiente utilizando como base a lei 9.605/1998, este dia é considerado como marco
para a regularização ambiental nas propriedades rurais, pois desmatamentos realizados
nos anos anteriores a essas datas são consideradas áreas consolidadas e a parti de então
autorizadas realizar atividade de baixo impacto ambiental como sistema
agrossilvipastoril e ecoturismo, já as áreas que são desmatadas após essa data são
consideradas infrações ambientais e serão tomadas as devidas providencias legal. Para
tanto, o Marco Regulatório regeu de regras mais claras sobre as áreas que são
protegidas, nas quais estas quando degradadas devem realizar projetos que venham
recuperar a área afetada.
O Novo Código Florestal instituído pela lei n°12.651 de 25 de maio de 2012
impõe regras para que possa ser realizada a proteção de cursos d’água onde se deve
manter uma faixa de vegetação variando os tamanhos desta faixa de acordo com sua
natureza, para tanto, a mesma firma que locais que apresentem nascentes e demais
cursos d’água devem ser consideradas Áreas de Preservação Permanente – APP sendo
proibida qualquer interferência antrópica. Desta forma, as nascentes sendo um recurso
importante para o ecossistema, destacando-se o abastecimento de água para o consumo
e funções ecológicas, diante das suas importâncias são necessárias que se faça a
preservação desta regularmente.
Na região amazônica os principais indutores dos impactos ambientais
consequência do desflorestamento são as expansões das atividades produtivas, desta
forma, por uma descontrolada expansão ocasionada por questões históricas, o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE analisando a necessidade do governo em obter
o controle do desmatamento, foi uns dos precursores no mapeamento e identificação dos
padrões de ocorrência do desflorestamento proporcionando por meio de imagens a
realização de demais trabalhos e analises relacionada às questões ambientais (Coutinho
et al. 2013).
No Pará, a degradação ao meio ambiente foi advinda por motivos históricos
que colaborou de forma negativa a expansão do desmatamento, iniciou nos meados da
década de 1950 com a ocupação urbana que aumentou consideravelmente no período
conhecido como a época da borracha, onde o governo federal por meios incentivos
fiscais estimulava o ingresso de empreendimentos privados e implantação de núcleos de
colonização, na década de 70 destacaram-se outros programas que contribuíram com
degradação ecológica do Estado como o Programa para a Integração Nacional (PIN) e o
Programa de desenvolvimento regional “Grande Carajás” (ADAMI et al., 2015).
Coutinho et al. (2013) relatam que as demandas apontadas aos impactos
ambientais surgiram a partir dos problemas sociais como conflitos fundiários e reforma
agrária, e as questões macroeconômicas que envolvem a expansão agropecuária e
madeireira; estes foram desencadeados pelas políticas públicas implantadas no início da
ocupação da região Amazônica nas décadas de 1930 a 1940 através de políticas de
colonização que manaram um intenso movimento de migrantes para a Amazônia.
Observando os fatores que acarretam degradação do meio ambiente e
consequentemente afetam os recursos hídricos, preservar e proteger as áreas de proteção
permanente torna-se obrigatório transformando-se como medida mitigatória para que
assim possa manter a perpetuação da Biodiversidade. Desta forma, o objetivo deste
trabalho foi determinar o impacto da dinâmica do uso e ocupação do solo com destaque
para as áreas de preservação permanente dos cursos d’água utilizando os dados do
projeto TerraClass no munícipio de São Miguel do Guamá – PA, e sugerir meios de
recuperação para as áreas.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
A área de estudo é o município de São Miguel do Guamá – PA, este abrange
uma área de 1.110, 175 km² e encontra-se a 150 km de Belém, pertence a mesorregião
Nordeste Paraense, possui as seguintes coordenadas geográficas: latitude de 1°37’40”
Sul e longitude de 47°28’55” Oeste (IBGE, 2017). Há como confrontantes os
municípios de Santa Maria do Pará e Bonito (Norte), Ourém (Leste), São Domingos do
Capim e Irituia (Sul), Inhangapi e Castanhal (Oeste).
São Miguel do Guamá apresenta clima equatorial húmido segundo a
classificação climática de Köppen. O município não possui estações do ano definida, o
mesmo apresenta períodos chuvosos (novembro a maio) e menos chuvosos (junho a
outubro) com regime pluviométrico anual geralmente de 2.250 mm. A temperatura
média anual é em torno de 25°C e o solo predominante é o latossolo amarelo
(HUFFNER, 2015).
Referente a hidrografia, o rio Guamá é o que apresenta maior importância para
o município, este serve de limites territorial entre os municípios de Irituia, São
Domingos do Capim e Bujaru, possui também os rios Mururé e Cuxiú que fazem limite
com a região leste de Ourém; apresenta como afluentes os igarapés Cuperé, Muraiteua,
Matupireteua, Ajuaí, Crauteua, Aracuí, Urucuri, Matari, Itaqui- Açu, Menino-Deus e
São João.
Para a realização das análises usou-se os dados do projeto TerraClass dos anos
2004, 2008, 2010, 2012 e 2014, utilizou-se o shapefile do município em estudo onde
este se situa na órbita/ponto 223/61 e fuso 22 S. As análises procederam através das
observações realizadas da ocupação do solo em torno dos limites da hidrografia que
através do Sistema de Informação Geográfica (SIG) Arcgis 10.1 possibilitou a
elaboração das cartas imagens.
O projeto TerraClass está direcionado para a área da Amazônia legal brasileira,
este foi criado visando ampliar a compreensão sobre os acontecimentos e processos que
ocasionam as transformações da paisagem na Amazônia. O projeto promove avanços na
qualificação dos dados produzidos pelo sistema Prodes, possui o objetivo de identificar,
quantificar e caracterizar os diferentes usos do solo em áreas que se encontram
desflorestadas, desta forma, resultou em mapas temáticos apresentando a dinâmica do
uso e ocupação do solo em uma década de monitoramento.
O Programa de Monitoramento do Desflorestamento das Formações Florestais
da Amazônia Legal (Prodes) produz a parti de levantamentos sistemáticos estimativos
sobre a taxa anual e extensão territorial do desmatamento (Coutinho et al. 2013). O
projeto TerraClass para mapear o uso e cobertura da terra utiliza os polígonos de
desflorestamento que são disponibilizados pelo Prodes e para as demais classificações
do uso do solo como pecuária e área urbana, o projeto utilizou como base informações
geradas pelo Inpe.
As classes temáticas de uso e ocupação do solo definidas pelo projeto
TerraClass consideraram as classes já utilizadas pelo programa PRODES que são:
floresta, não floresta e hidrografia, e outras classes definidas a partir da qualificação e
mapeamento das áreas desflorestadas que são: agricultura, pasto limpo, pasto sujo, área
urbana, mineração, área não observada, agricultura anual, vegetação secundária,
desmatamento, pasto com solo exposto e outros (ALMEIDA et al., 2014).
Para elaboração dos mapas temáticos, os dados de pasto limpo, pasto sujo e
pasto com solo exposto foram unidos formando no caso uma única classe que foi
denominada como pastagem, desta forma, para analise deste trabalho considerou as
seguintes classes temáticas: floresta, não floresta, vegetação secundária, pastagem,
hidrografia, área urbana e outras classes.
A hidrografia foi delimitada a partir de dados geomorfométricos ou
representações pictóricas do projeto TOPODATA, que permitem a elaboração de MDE
(Modelo Digital de Elevação) a partir do cruzamento de imagens de satélites da Shuttle
Radar Topography Mission (SRTM).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para análise da dinâmica de uso e ocupação do solo do município em estudo,
realizou-se uma comparação entre as classes temáticas e os respectivos anos. Assim, de
acordo com os dados gerados observou-se que no município existe a predominância da
classe pastagem.
A área urbana teve aumento relativo em todos os períodos, este como
demonstrado nas figuras 1 a 5 situou-se sempre nas margens dos afluentes e ao redor da
cidade já consolidada, a expansão urbana no ano de 2004 apresentou 6,6 km2, 8,3 km2
em 2008, em 2010 8,8 km2, no ano de 2012 9,0 km2 e em 2014 11,2 km2. Utilizando os
dados do projeto TerraClass para analisar a dinâmica de uso e cobertura do solo no
município de Parauapebas-PA, Andrade et al. (2015), ao contrário do que resultou
neste trabalho, na classe área urbana acarretou em um expressivo aumento da
urbanização no município, justificaram o ocorrido por questões históricas direcionada a
intensa imigração no início da década de 1980, motivada pela exploração mineral, tal
fato ocorreu pelo aumento de 6,37 km² da área de mineração de 2008 para 2010,
acompanhado do aumento de 32,7 km² de área urbana de 2008 para 2010.
Analisando o gráfico da Figura 6, pode-se perceber uma queda considerável na
classe do desflorestamento, onde no ano 2004 apresentou uma área desmatada de 33,80
km2, 4,6 km2 em 2008, 2010 apresentou 0,1 km2, 2012 teve um avanço comparado ao
ano anterior (1,1 km2) e no ano de 2014 teve desmatamento equivalente a 0,2 km2.
A queda considerável no índice do desmatamento pode ser explicada pela
implantação de políticas públicas de comando e controle através de programas do
governo federal e estadual, para prevenção e controle do desmatamento na Amazônia
Legal, que tem como objetivo reduzir de forma contínua e consistente 80 % do
desmatamento até 2020, além da definição do marco regulatório adotado no novo
código florestal (ALENCAR, 2015, CASTELO, 2015).
Em relação ao desflorestamento, este como observado nos mapas,
principalmente no ano de 2004, maior incidência ao redor dos cursos d’água e em locais
que já realizam a prática da pecuária. Entre os anos de 2004 a 2014 o desmatamento
apresentou um total de 39,7 km2, sendo que 10,7 km2 foram convertidos em pastagem,
correspondendo a 3,1% da área total de pastagem de 344,6 km2 apresentada em 2014
(Figura 7).
O aumento do desmatamento na Amazônia está atrelado a questões
econômicas, destacando-se a expansão da oferta de terra para agricultura e/ou pecuária e
extração de madeira. Carvalho et al. (2016) analisando a contribuição da floresta
desmatada para o crescimento econômico e emprego na Amazônia Legal, mostraram
que o desmatamento contribuiu somente com 0,1% do crescimento do Brasil entre 2006
a 2011, a parti deste resultado os mesmos consideraram que além das atividades
apresentadas as áreas desmatadas podem apresentar outras finalidades como construção
de estradas, desta forma, os autores sugeriram que o governo endurecesse as políticas de
combate ao desmatamento, vista que em termos de crescimento econômico, tendo em
vista o histórico de crescimento da produtividade da terra nos últimos anos (3,26% ao
ano entre 2000 e 2005).
A classe de vegetação secundária apresentou aumento de área onde no ano de
2008 possuía 79,3 km2, saltando para 389,9 km2 no ano de 2010. A vegetação
secundária apresenta importante acúmulo de nutrientes no solo, assim, o
desenvolvimento desta vegetação é de ampla valoração para recuperar as áreas
degradadas possibilitando o funcionamento do uso da terra para futuros cultivos
(SOUZA e DENICH, 1996); desta forma, subtende-se que as áreas de pastagens
encontravam-se entre o ano 2004 a 2006 deteriorada, provavelmente pela prática
inadequada de manejo de pastegem ou fatores abióticos como excesso ou falta de chuva,
observou-se que os latifundiários executaram uma forma acessível de recuperar suas

áreas ao realizar no pasto o sistema de pousio, após nos anos 2012 e 2014 verificou-se a
prática de renovação do pasto pelo progresso da classe pastagem nesses respectivos
anos (Figura 7).
Figura 1: Mapa temático de uso e ocupação do solo no ano de 2004 para o município
de São Miguel do Guamá-PA, com base nos dados do Terraclass.
Fonte: Autor.

Figura 2: Mapa temático de uso e ocupação do solo no ano de 2008 para o município de
São Miguel do Guamá-PA, com base nos dados do Terraclass..
Fonte: Autor.

Figura 3: Mapa temático de uso e ocupação do solo no ano de 2010 para o município de
São Miguel do Guamá-PA, com base nos dados do Terraclass..
Fonte: Autor.
Figura 4: Mapa temático de uso e ocupação do solo no ano de 2012 para o município de
São Miguel do Guamá-PA, com base nos dados do Terraclass.
Fonte: Autor.

Figura 5: Mapa temático de uso e ocupação do solo no ano de 2012 para o município de
São Miguel do Guamá-PA, com base nos dados do Terraclass.
Fonte: Autor.

No período do monitoramento a classe floresta foi reduzida de 21,1% em 2004


para 15,1% em 2014 em relação a área total do município, sendo que 85% dessa
redução ocorreu no ano de 2004, perdendo 33,8 km² de vegetação primária e 10,3% (4,1
km²) no ano de 2008.
Os mapas temáticos (figura 1 a 5) mostram a predominância da classe floresta
ao longo dos cursos d’água, ao analisar os resultados obtidos no gráfico nota-se que a
classe em determinado período apresentou-se em equilíbrio, nos anos de 2008 a 2014 a
floresta retratou em média 15,2 km2 de área.
Nascimento e Fernandes (2017) analisando o uso e ocupação do solo ao redor
da bacia hidrográfica BHP localizada no município de Capitão Poço-PA, para esta
categoria nos períodos de 2008, 2010 e 2012 constatou que pequeno fragmento de
floresta é mantido preservado próximo ao exultório do igarapé, representando 0,40% da
área total. Para tanto, São Miguel do Guamá para esse mesmo período apresentou
15,3% da área total estudada, confirmando um elevado grau de antropização do

município.

Figura 6: Dinâmica do uso e ocupação do solo no período de uma década de monitoramento


para o município de São Miguel do Guamá-PA.
Fonte: Autor.

As classes temáticas exercem influencias umas sobre as outras, como


observado na Figura 7, onde percentagem de floresta, desflorestamento, outras classes,
áreas não observadas e vegetação secundária se transformaram em áreas de pastagem,
mostrando a consolidação da atividade pecuária do município.
Salienta-se que mesmo ao apresentar um crescimento na classe de vegetação
secundária no ano de 2010, consequentemente nos outros anos posteriores estas áreas
não foram usadas para atividades diferentes como agricultura ou reflorestamento, assim,
ao analisar os mapas e gráfico, percebe-se um acréscimo a esta classe e um aumento da
classe de pastagem, desta forma, subtende-se que as áreas de vegetação secundária
voltaram a ser utilizadas para a pastagem, isso pode ser explicado pelo fato de que as
áreas que eram vegetação secundária encontravam-se em regime de pousio e ao passar
do tempo foram novamente aproveitadas para a prática pastoril como apresenta nos
resultados dos anos de 2012 e 2014.
Nascimento e Fernandes (2017) explicam que a dinâmica das classes de
pastagem e vegetação secundária evidenciam a formação de um ciclo de uso e ocupação
do solo, quando em atividade desenvolvidas este considerado pasto e em inatividades
propiciará a regeneração da vegetação que é caracterizada como vegetação secundária

que pode voltar a ser pastou ou não.

Figura 7: porcentagem e quantidades em áreas das classes temáticas influenciando na classe de


pastagem.
Fonte: Autor.

Ponderando-se aos fatos que acarretam impacto ao meio ambiente, a pastagem


foi à classe temática que apresentou maior evidencia de degradação ao município, esta
atenuação foi examinada nas imagens e apontou que as áreas afetadas por essa classe se
situa principalmente ao redor do curso d’água e nascentes (Figura 8), desta forma, será
apresentado sistemas de recuperação de áreas degradadas sugerindo possíveis formas de
reedificar a APP.
Ao observar a figura 8 nota-se que no ano de 2004 possuía um acentuado
desmatamento, respectivamente representava 2,7% da área total da APP (41%), e no
ano de 2014 o desmatamento em torno da APP de curso d’água foi zero, isso pode ser
explicado devido à falta de controle do desmatamento na Amazônia antes do ano de
2004, pois não existiam políticas publicas voltada a preservação do meio ambiente.
Outro ponto importante relatar é sobre a vegetação secundária, pois no ano de
2014 apresentou 10,6 km² equivale 25,9% da área total da APP, significando que as
áreas anteriores que se se encontravam desmatadas, estas se encontravam em regime de
resiliência, demonstrando ser um ponto positivo ao se tratar de área de preservação
expressando que o local está se recuperando sem intervenções humanas.
A degradação em APP advinda pela pratica da pecuária é ocorrida devida a
necessidade dos animais em saciar sua cede, assim, a maneira mais prática e viável
economicamente para o pecuarista é criar passagem sobre a floresta ao invés de
implantarem cocho de água em vários pontos no pasto. Ao desmatar consequentemente
tornará o solo sem nutrientes e expostos aos processos erosivos, com os sucessivos
pisoteio dos animais ocasiona a compactação do solo que em certo modo auxilia no
escoamento superficial da água no solo levando nutrientes e outros matérias para o
afluente, este processo causa o assoreamento dos rios que agravado pelo período do
inverno amazônico.

Figura 8: Classes observadas nas áreas de preservação permanente em cursos d’água no


município

Figura 8: Delimitação e determinação das classes que ocupam as áreas de preservação


permanente dos cursos d’água e dinâmica da ocupação após uma década de
monitoramento no município de São Miguel do Guamá.
Fonte: Autor.

Na Amazônia três práticas são utilizadas para realizar a recuperação do solo e


consequentemente restaurar a biodiversidade que são: condução da regeneração natural,
plantio de mudas e transposição de chuva de sementes.
A regeneração natural decorre no método natural de restabelecer o ecossistema
da floresta, a técnica é simples, pois o próprio ecossistema se encarrega de promover a
restauração, assim, na área degradada possui seu banco de semente formada pelos seus
propágulos e dispersores, onde com auxílio dos fatores climáticos, isolamento da área,
remoção de ervas daninhas e intervenções silviculturas estimulam a quebra de
dormência das sementes e consequentemente o desenvolvimento das mudas
(MARTINS, et al., 2014; SOUZA F. , 2015).
O Plantio de muda é considerada uma técnica mais onerosa vista que necessita
de uma estrutura para servir de viveiro para as mudas até possuir estrutura resistente
para após serem implantadas no campo. Este método pode ser realizado de diversas
formas, no que diz respeito a sua distribuição no campo Soares, (2009) apersenta três
manieras diferentes, este podendo ser ao acaso onde as mudas são plantadas sem
espaçamento definido, plantio em linha com espécie pioneira e não pioneira utilizando
espaçamento 2 x 3 m ou 2 x 2 m, ou plantio adensado onde os espaçamento entre mudas
são muitos pequenos.
Por fim, outro método de recuperação é o denominado transpobsiçãob de chuva
de semente, conhecido tamém como método chuva de sementes, este consiste em
dispersar sementes no local onde são semeadas diretamente na área a ser restaurada, a
sementes são de espécies nativas e coletadas de matrizes oriundas da região, para a
coleta são utilizados coletores que podem ser fabricados de madeira, tubo PVC ou metal
neste são fixados tecidos no qual são depositadas as sementes (SOARES, 2009).
Salienta-se nesta técnica o cuidado ao armazenar as sementes e controle fitossanitário
que deve possuir para não propagar sementes com doenças.

4 CONCLUSÃO
As principais causas de degradação em torno de áreas de preservação
permanente de curso d’água no município de São Miguel do Guamá são ocasionadas
pelo processo de expansão do ciclo produtivo que é pecuária. As análises dos dados
permitem concluir também que existe a necessidade de implantação de políticas
públicas voltadas para a proteção de áreas de preservação permanente, vistas que essas
áreas são de suma importância para a perpetuação dos afluentes e manutenção da
biodiversidade.

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Ministério do Meio Ambiente - MMA.

CADASTRO AMBIENTAL RURAL: DE POLÍTICA PÚBLICA A


FERRAMENTA DE GESTÃO TERRITORIAL NO ESTADO DE MINAS
GERAIS

M.L.M.S.L, MEGALE; J.M, PEREIRA; F.T, SILVA; F.A.R, GUIMARÃES; D.F.S,


CUNHA; J.C, CHAVES; G.F, MOREIRA; G.L.G.F, FERNANDES; T.C, GELAPE;

INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS - Cidade Administrativa do Estado de


Minas Gerais-Rodovia João Paulo II, 4143- CEP: 31630-900 - Bairro Serra Verde -
Belo Horizonte - Minas Gerais-Brasil – email:
[email protected] Telefone: (031)3915-1159

RESUMO

Com a implementação e execução do Cadastro Ambiental Rural-CAR, como política


pública nacional, voltada para regularização florestal de imóveis rurais, os Órgãos
Estaduais de Meio Ambiente (OEMAs) têm buscado nesta ferramenta auxílio para a
gestão florestal do país. Além disso, tal instrumento vem sendo difundido como
promissor na proposição para ações de regularização ambiental e gestão territorial, mas
principalmente balizador de ações pertinentes à restauração florestal, políticas de
mudanças climáticas, mercados florestais, dentre outras potencialidades. Nesse sentido,
o estado de Minas Gerais tem planejado as estratégias ambientais de forma a inserí-lo
como ferramenta auxiliar na extração de informações ambientais, a fim de subsidiar o
levantamento do quantitativo de áreas de preservação permanente preservadas e/ou a
recuperar, remanescentes de vegetação, reserva legal a recompor, preservadas,
compensadas dentro ou fora de Unidade de Conservação, área consolidada, uso restrito,
além das outras informações contidas ao longo do cadastro. Ainda que de forma
declaratória, o CAR subsidiará como instrumento de apoio às ações de priorização
estaduais para a recuperação de áreas degradadas, ativos ambientais, dados de produção,
serviços ambientais, mercado de carbono, educação ambiental, assistência rural,
formação de corredores ecológicos, dentre outras. A potencialidade do instrumento
requer ainda que o mesmo necessite de regulamentações e ajustes em âmbito federal e
estadual, a fim de delinear pontos de conflitos e procedimentos aos entes federativos,
para que assim possam implementar de forma mais efetiva tal política pública. Para
tanto, no presente trabalho além de relatar um histórico evolutivo da implementação do
CAR no estado de Minas Gerais, entraves diagnosticados ao longo do processo, trará as
potencialidades e as perspectivas de utilização desse instrumento de gestão territorial
para a execução de políticas públicas estaduais existentes, visando a extração e
utilização das informações ambientais no que tange a formulação de uma política de
fomento florestal no estado.

Palavras Chave: gestão territorial, informações ambientais, legislação ambiental,


fomento florestal

INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos a questão ambiental vem ganhando, cada vez mais, espaço e
repercussão nos diversos setores da sociedade brasileira preocupados com a alteração
descontrolada da cobertura de vegetação nativa nos biomas do país, ocasionada pela
expansão das fronteiras agrícolas e das zonas urbanas e, mais recentemente, com as
mudanças climáticas globais.
No processo de regulação dos espaços territoriais temos um dos regramentos,
motivador de grandes e acaloradas discussões, que é o Código Florestal Brasileiro,
instituído em 1965 no apogeu da exploração ambiental e impulsionado pelas atividades
agrícolas no país. Revogado em 2012, várias alterações foram incluídas em uma nova
legislação florestal brasileira, a Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012, que após
uma acirrada discussão, com foco de muita atenção da mídia, caracterizou de um lado
os interesses dos ambientalistas e do outro, os interesses econômicos dos ruralistas em
favor do crescimento das fronteiras agrícolas. (CUNHA e MELLO-THERY, 2010).
Em meio as alterações do novo ordenamento ambiental, inovações e adaptações
aos antigos diplomas legais se fizeram necessárias, com o intuito de repassar à
sociedade a questão ambiental de forma que pudesse ser cumprida de maneira menos
burocrática, mas visando o cumprimento de alternativas de recuperação ambiental em
áreas degradadas, e a conservação dos remanescentes existentes, conforme as exigências
da nova legislação ambiental.
Com o objetivo de solucionar as falhas de monitoramento da aplicação do
Código Florestal de 1965, surge um importante instrumento criado pela Lei nº 12.651,
de 25 de maio de 2012, o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que visa constituir uma
base de dados estratégica para o controle, o monitoramento e o combate ao
desmatamento das florestas e demais formas de vegetação nativa do Brasil
(LAUDARES e BORGES, 2014).
Essa inovação, trazida pelo novo regramento, foi disciplinada anteriormente pelo
Programa Mais Ambiente e tinha como principal objetivo a regularização ambiental dos
imóveis rurais, de modo a atender as necessidades e criar alternativas necessárias aos
imóveis rurais do país, para que cumprissem com o passivo ambiental. (BRASIL,
2009).
Conforme mencionado anteriormente, a instituição do CAR foi sancionada, em
âmbito nacional, com a publicação da Lei nº 12.651/2012, conforme destacado no artigo
29, tornando-se um instrumento obrigatório para a regularização ambiental dos imóveis
rurais do país.
“Art. 29. É criado o Cadastro Ambiental Rural - CAR, no âmbito do
Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente - SINIMA,
registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos
os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações
ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados
para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e
combate ao desmatamento.”
Esse instrumento passa a configurar como um registro dos imóveis rurais junto
as Organizações Estaduais de Meio Ambiente- OEMAs, para fins de controle,
monitoramento ambiental, facilitação dos processos de licenciamento das atividades
rurais, gestão integrada dos territórios, acompanhamento dos ativos ambientais das
propriedades e maior facilidade na liberação de crédito rural. Assim, finalmente, com a
definição do novo Código Florestal, o CAR foi oficializado no Sistema Nacional de
Informação sobre o Meio Ambiente (SINIMA), que é o instrumento de gestão da
informação ambiental do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). (TNC,
2015).
O cadastro ambiental da propriedade rural apresenta benefícios tanto para o setor
público, como para o dono do imóvel, no que tange à administração e tomada de
decisão. Para os órgãos públicos gestores, o CAR auxilia no planejamento territorial, na
delimitação de áreas importantes tanto do ponto de vista social como ambiental, na
promoção da recuperação de áreas degradadas, na identificação de passivos e ativos
ambientais, focos de desmatamento, na formação de corredores ecológicos e de forma
geral contribui para a conservação dos demais recursos naturais (CORDEIRO et al,
2013).
Apesar das críticas quanto ao seu processo de implementação, o CAR tem se
configurado como uma ferramenta crucial, pois será um subsídio para o processo de
regularização ambiental dos imóveis rurais, uma vez que, por meio de um sistema
eletrônico, o proprietário ou possuidor delimita as áreas passíveis de serem
regularizadas, como: áreas de preservação permanente (APPs), reservas legais (RLs),
áreas com uso alternativo do solo, áreas consolidadas, de interesse social, de utilidade
pública, de uso restrito e remanescentes de vegetação nativa localizados no interior dos
imóveis (TNC, 2015; MMA, 2015).Considerando que o CAR é uma ferramenta
catalizadora para cumprimento das políticas públicas ambientais vigentes, o presente
trabalho tem como objetivo realizar um panorama da sua implementação e traçar
perspectivas futuras quanto à sua utilização na proposição e planejamento estratégico
para definição de áreas prioritárias para recuperação da vegetação nativa, além de
elencar as potencialidades de utilização dessa ferramenta como instrumento de gestão
territorial para o Estado de Minas Gerais.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho foi conduzido através de pesquisa bibliográfica e


documental do processo de criação e implantação do CAR em Minas Gerais, bem como
da análise quali-quantitativa dos dados do cadastro até o presente momento no Estado.
A pesquisa foi alicerçada no levantamento de normas jurídicas e técnicas que regem o
CAR e o PRA, com foco no Estado de Minas Gerais. O método hipotético-dedutivo de
abordagem permitiu a adequação da problematização à sua hipótese de incidência
Para construção desse artigo foram empregados o método histórico, utilizado na
busca do retrospecto doutrinário e legislativo sobre as normas que disciplinam o CAR e
o método funcionalista, usado na perspectiva de se tentar descrever o funcionamento
dos principais órgãos públicos e entidades que atuam no CAR (LAKATOS e
MARCONI, 2007).
Sendo assim, no panorama proposto pelo presente trabalho serão apresentadas, a
seguir, as estratégias utilizadas no Estado de Minas Gerais que viabilizaram a
implementação e execução do CAR. Além disso, posteriormente, serão citadas
estratégias de planejamento para a definição de procedimentos futuros quanto à
execução da política florestal estadual, com foco na gestão territorial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

1- O CAR NO ESTADO DE MINAS GERAIS

A proposta do CAR é proporcionar uma verdadeira “radiografia” do interior do


imóvel utilizando como ferramenta principal as imagens de satélite atualizadas de alta
resolução espacial e/ou do Google Earth, no caso de Minas Gerais, permitindo expor a
lógica de ocupação do imóvel rural, com seus remanescentes florestais e passivos
ambientais (MMA, 2011).
Em atendimento a essa ferramenta de cadastramento rural, trazida pela nova lei
florestal e acompanhada pela lei estadual, o estado de Minas Gerais se articulou de
forma a executar as políticas públicas nacionais vigentes. Nesse sentido, em 2012, o
processo do CAR no estado se iniciava com o desenvolvimento e execução de uma
ferramenta de cadastramento próprio, o Sistema de Cadastro Ambiental Rural de Minas
Gerais – SICARMG, de forma on line, e integrado à plataforma de cadastro nacional.
Portanto, todas as informações inscritas no cadastro estadual migravam para a base
nacional e permitiam a emissão do Recibo do Imóvel Rural, que é o documento oficial
emitido pelo governo federal.
No ano de 2013 com o desenvolvimento do sistema on line concluído o estado
necessitou customizar toda lógica do sistema em virtude da aprovação da nova lei
florestal mineira, a Lei nº 20.922, de 16 de outubro de 2013. E em maio de 2014, com o
lançamento da ferramenta em âmbito nacional, o estado necessitou adaptar algumas das
funcionalidades do sistema de forma atender a integração com o sistema federal off line,
quando do seu lançamento.
Em meio aos entraves identificados no decorrer da execução da ferramenta on
line, como aumento do número de acessos em um mesmo servidor, que ocasionava o
travamento da ferramenta, e a existência de algumas funcionalidades disponíveis no
sistema federal fizeram com que o estado de Minas Gerais se adaptasse aos moldes da
plataforma de cadastro federal, mas, entretanto preservava as particularidades existentes
no sistema, em cumprimento à legislação estadual.
Nesse sentido, em setembro de 2015 Minas Gerais passou a aderir à plataforma
de cadastro nacional e integrou o rol de estados que aderiram à plataforma nacional. Tal
adesão propiciou uma maior integração nas discussões entre os entes federativos quanto
à implementação do cadastro, além de convergir os esforços quando da proposição das
melhorias evolutivas do módulo de cadastro.
Portanto, atualmente, é por meio do SICARMG que as informações inerentes ao
CAR são recebidas pelo Instituto Estadual de Florestas, órgão gestor do cadastro
atualmente, e o Estado possui um endereço eletrônico próprio de acesso
www.car.mg.gov.br.Nesse ambiente qualquer usuário que possua um imóvel no
território do estado e queira realizar a inscrição poderá obter todas as informações
necessárias para tal, além de fazer o download do módulo de cadastro e consultar a
situação do recibo de inscrição.
Outra funcionalidade existente nesse ambiente estadual e de grande relevância
para o órgão ambiental é a Intranet (Módulo de Relatórios), local desenvolvido para que
os usuários internos (servidores do SISEMA e parceiros), cadastrados pelo órgão,
tenham à disposição as informações cadastradas pelos usuários, a possibilidade de
download dos recibos e dos polígonos das camadas cadastradas de todo o território do
Estado.
Nesse contexto de extração das informações ambientais inseridas no CAR o
órgão ambiental tem discutido a melhor forma de extrair e disponibilizar a grande
quantidade de informações geradas, sendo que, os dados dos usuários, considerados
como sigilosos, ficam restritos e não são divulgados.
Anteriormente ao CAR, de acordo com BACHA (2005), não existiam dados
sistemáticos sobre o número de imóveis rurais e a proporção daqueles que mantêm as
áreas de Reserva Legal, em suas propriedades. Os únicos dados existentes são os
cadastros de imóveis rurais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária -
INCRA, que repassam as informações prestadas diretamente pelos proprietários rurais,
ainda que com erros, em virtude da apresentação de informações errôneas ou que
possam comprometer os proprietários. Isso confirma a importância do CAR para
identificação do passivo ambiental das áreas de reserva legal e de preservação
permanente, de modo que a recuperação dessas áreas é fundamental para a preservação
da biodiversidade e para garantia dos serviços ambientais.
O estado de Minas Gerais, de acordo com dados do Censo Agropecuário do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2006) possui cerca 551.621
estabelecimentos agropecuários em aproximadamente 33,08 milhões de hectares de
área, portanto estima-se que 6,6 milhões de hectares deveriam ser destinados às áreas de
Reservas Legais, conforme a legislação estadual.
Como exemplo da extração de informações ambientais HERINGER &
MEDINA (2012), inferiram que apenas 11% do território do estado detêm Reservas
Legais regularizadas, o que representa apenas 60 mil propriedades e posses rurais. Entre
o período de 2004 a 2011 o Sistema Estadual de Meio Ambiente - SISEMA regularizou
cerca de 30 mil Reservas Legais, destas, cerca de 5.000 Reservas Legais foram
regularizadas em 2010 (equivalente a 150 mil ha) e cerca de 3.900 em 2011
(aproximadamente 130 mil ha), demonstrando um aumento na proporção de Reservas
Legais regularizadas nesses últimos anos.
Desde a implantação do CAR até meados de fevereiro de 2017 foram inscritas e
declaradas 673.559 áreas correspondentes a camada ambiental de Reserva Legal no
SICARMG, totalizando uma área de 6.065.224 hectares. Para as Áreas de Preservação
Permanente o estado tem declarado um total de 224.875 de camadas, totalizando uma
área de 1.246.558 hectares.
Conforme apresentado na FIGURA 01 o percentual de APP e RL declarados
para o estado de Minas Gerais são consideráveis em termos quantitativos. Entretanto
deve ser ponderado a magnitude territorial e a questão da análise das informações que
ainda não ocorreu pelo estado, o que provavelmente ocasionará alteração dos
percentuais.
FIGURA 01: Tabela com as áreas de preservação permanente e reserva legal declaradas
no estado de Minas Gerais.

2-INSCRIÇÃO E ANÁLISE NO ESTADO DE MINAS GERAIS

Diante da implementação do CAR o estado adotou estratégias de execução do


novo instrumento ambiental que visavam à efetivação da inscrição do imóvel rural no
referido cadastro, conforme apresentado na FIGURA 02, que exemplifica o fluxo das
etapas para implementação do CAR em Minas Gerais.

FIGURA 02: Fluxograma de implementação do Cadastro Ambiental Rural em Minas Gerais.

A Divulgação do CAR foi realizada através uma ampla sensibilização de parceiros,


com aderência à nova ferramenta, e para técnicos do órgão ambiental, a fim de
apresentar os aspectos gerais do CAR. A etapa de discussão com os parceiros abrangeu
diferentes momentos do processo de implementação, pois necessitou da continuidade de
sua realização para que fossem alcançados os resultados esperados com o apoio dos
parceiros envolvidos no processo. A posteriori o estado de Minas Gerais realizou
inúmeras capacitações com parceiros envolvidos e servidores do órgão ambiental, com
o objetivo de repassar as orientações e subsidiar para que pudessem ser efetivadas as
inscrições no cadastro. A Divulgação focada na etapa de inscrição concentrou os
esforços no repasse da prática e das formas de utilização da ferramenta. Finalmente deu-
se início a inscrição dos imóveis, de modo que o resultado final esperado era o cadastro
efetivado.
Com a adoção de tais estratégias, o estado de Minas Gerais é um exemplo positivo
no balanço geral do país (FIGURA 03) no quantitativo de cadastros inscritos no CAR.
Nesse contexto, atualmente o estado possui cerca de 600.832 de imóveis inscritos no
módulo de inscrição, segundo dados extraídos até fevereiro de 2017.

FIGURA 03: Quantitativo de cadastros realizados por estado

Esse quantitativo supera os 551.621 estabelecimentos agropecuários diagnosticados


pelo Censo Agropecuário do IBGE (2006), entretanto deve-se ressaltar que, esse
número deverá sofrer alterações quando iniciado o processo de análise por parte do
órgão ambiental, já que poderão ser diagnosticadas inscrições fracionadas, em áreas
urbanas e até mesmo “inscrições testes” que foram incluídas no CAR.
Para dar seguimento à política pública de regularização ambiental das propriedades
rurais, é necessário avançar na discussão sobre qual fluxo deverá ser seguido para
efetivar a implementação do CAR em âmbito federal. Duas situações serão possíveis e
que merecem ser discutidas e alinhadas entre governo federal, entes federativos e
estado, sobre quais os impactos ou não de sua aplicação para o usuário inscrito no CAR,
conforme a FIGURA 04.
FIGURA 04: Fluxogramas para o processo de implementação do CAR.

A primeira situação nos remete a possibilidade de os órgãos ambientais estaduais


realizarem a análise dos cadastros inscritos no CAR em uma etapa anterior a execução
do PRA. No segundo caso, a situação seria a possibilidade de adesão do
proprietário/possuidor e preenchimento do PRA anterior à análise do cadastro pelo
órgão ambiental.
Cabe destacar que, as disparidades estaduais existentes poderão subsidiar uma
decisão tendo em vista que, o número de cadastros existentes em um dado estado, a
serem analisados, impacta diretamente na tomada de decisão do fluxo que deverá ser
realizado.
Portanto, cada ente federativo poderá adotar uma estratégia para a análise dos
cadastros inscritos no CAR, tendo em vista o número de cadastros, o quadro
operacional, a rede de parcerias, dentre outros fatores.
Sobre as perspectivas para a implementação de uma análise dos imóveis
inscritos no CAR, até o presente momento os estados aguardam as diretrizes do governo
federal, para assim proceder com a regulamentação, customização e execução da
análise, de forma a atender as demandas e realidades existentes em cada um dos estados
do país.

3- PROGRAMA DE REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL

O grande passivo ambiental gerado nos imóveis rurais tem demandado cada vez
mais a intervenção dos órgãos de controle e fiscalização, que passaram a exigir as
medidas corretivas necessárias para o cumprimento dos dispositivos legais estabelecidos
pelo Código Florestal.
As áreas de um imóvel rural, que em função da legislação brasileira, encontram-se
com as situações das Áreas de Preservação Permanente – APPs, Reserva Legal – RL em
desacordo com a legislação florestal deverão proceder com a adequação ambiental do
passivo (IPAM, 2015, MMA, 2011).
A adequação ambiental dos imóveis constitui no cumprimento das exigências
previstas no Código Florestal, que se referem, especialmente, a algumas restrições
relacionadas ao uso de áreas de preservação permanente e reservas legais. A legislação
ambiental visa garantir a continuidade das mais diversas atividades desempenhadas pelo
produtor rural sem negligenciar o uso racional, sustentável e permanente dos recursos
naturais(MMA, 2011)
O novo Código Florestal também trouxe um programa de apoio e incentivo à
preservação e recuperação do meio ambiente que deverá promover a adequação
ambiental, que incentivará a adoção de tecnologias e boas práticas que conciliem a
produtividade agropecuária e florestal com a redução dos impactos ambientais, de forma
a impulsionar o desenvolvimento ecologicamente sustentável (TNC, 2015).
Conforme supracitado, o PRA será o subsídio às diretrizes e metodologias, definidas
e regulamentadas pelo governo federal e posteriormente pelos estados, e voltadas à
estruturação das atividades de restauração dos passivos mapeados em APP e RL,
propostos pelos proprietários (MMA, 2015, TNC, 2015).
Esse importante instrumento de ação visa fortalecer a gestão ambiental por meio
da atuação compartilhada dos órgãos ambientais dos três níveis de governo, propiciando
uma rede de parcerias. Ao reconhecer as atribuições e responsabilidades dos órgãos
estaduais no que tange a gestão florestal, o programa visa prover –se de meios e
recursos técnicos e políticos para que efetivamente gerenciem os processos de
regularização ambiental dos imóveis rurais, ao mesmo tempo em que, de forma
compartilhada, defina estratégias cooperadas para apoiar os produtores rurais nas
atividades de recomposição das áreas de preservação permanente e de reserva legal. O
PRA é visto como um dos mais importantes instrumentos do Código, trazido pelo artigo
59, para a reversão dos passivos ambientais dos produtores rurais. A medida é
fundamental para que os produtores se alinhem ao Código, com a adesão condicionada à
inserção dos seus imóveis rurais no CAR. (TNC, 2015)
Por isso, o PRA deverá incluir mecanismos que permita o acompanhamento de
sua implementação, considerando os objetivos e metas nacionais para florestas como a
implementação dos instrumentos previstos pelo novo Código Florestal; a adesão dos
proprietários e possuidores de imóveis rurais ao CAR; a evolução da regularização das
propriedades e posses rurais; o grau de regularidade do uso de matéria-prima florestal; e
o controle e prevenção de incêndios florestais.
Para que tais instrumentos possam ser efetivamente executados será necessária a
compreensão e o amadurecimento de uma nova gestão florestal no país. O estado e a
sociedade civil devem discutir mais sobre a implementação de um programa de
regularização ambiental que culmine na efetiva conservação dos recursos naturais.

4- O CAR COMO FERRAMENTA DE GESTÃO TERRITORIAL: PÓS


ANÁLISE, PERSPECTIVAS FRENTE AOS ATIVOS FLORESTAIS E O
FOMENTO FLORESTAL NO ESTADO DE MINAS GERAIS

A situação das florestas tropicais brasileiras no que tange à conservação da


biodiversidade é considerada uma das mais alarmantes do mundo, em virtude da rápida
conversão da vegetação remanescente mediante a utilização de seus recursos naturais
disponíveis. Esta conversão está relacionada ao uso antrópico não planejado dos
recursos naturais, associados à exploração econômica, caça, extrativismo, poluição,
dentre outros usos que levam consequentemente a danos ambientais irreversíveis e a
perda de uma biodiversidade única, em conjunto com a degradação progressiva dos
habitats (AYRES, et al., 2005; DRUMMOND et al., 2005).
Nesse sentido, o CAR exerce pelo menos três funções primordiais que auxiliam na
gestão territorial: 1- planejamento do imóvel rural e da paisagem local e regional, haja
vista que possibilita a coerente caracterização das Áreas de Preservação Permanente e
da Reserva Legal, bem como permite a proposição de corredores ecológicos no
conjunto dos imóveis rurais; 2- subsidia a regularização ambiental do imóvel rural,
definindo claramente os espaços produtivos; e o monitoramento remoto do
desmatamento.
A partir do CAR o Estado de Minas Gerais terá conhecimento do déficit de áreas
de preservação permanente e de reserva legal nos imóveis rurais, considerados como
passivos ambientais, sendo que a obrigatoriedade de recomposição dessas áreas,
garantida pela lei florestal, trará grande demanda de políticas públicas de fomento
florestal para apoio aos produtores e trabalhadores rurais, em especial para a agricultura
familiar.
Nesse sentido os artigos 103 e 104 da Lei nº 20.922/2013, determinam que o
poder público, por meio dos órgãos competentes, crie normas de apoio e incentivos
fiscais, e conceda incentivos especiais para a pessoa física ou jurídica que recupere
áreas degradadas com espécies nativas e proteja e recupere corpos d’água. Entre os
incentivos especiais estão a preferência na prestação de serviços oficiais de assistência
técnica e de fomento, notadamente ao pequeno produtor rural e ao agricultor familiar; o
fornecimento gratuito de mudas de espécies nativas ou ecologicamente adaptadas,
produzidas com a finalidade de recompor a cobertura vegetal nativa; o apoio técnico-
educativo no desenvolvimento de projetos de preservação, conservação e recuperação
ambiental; a concessão de incentivo financeiro, no caso de proprietário e possuidor
rural, para recuperação, preservação e conservação de áreas necessárias à proteção da
biodiversidade e ecossistemas especialmente sensíveis, nos termos da legislação
vigente. Além disso, no artigo 117, fica definido que poder público criará mecanismos
de fomento para produção florestal e extrativista com vistas à conservação do solo e à
regeneração, à recomposição e à recuperação de áreas degradadas ou em processo de
desertificação; à proteção e à recuperação das APPs e à inclusão do componente
florestal nas propriedades rurais do Estado (MINAS GERAIS, 2013).
Em Minas Gerais o Instituto Estadual de Florestas-IEF tem por finalidade
executar a política florestal do Estado e promover a preservação e a conservação da
fauna e da flora, o desenvolvimento sustentável dos recursos naturais renováveis e da
pesca, bem como a realização de pesquisas em biomassa e biodiversidade. Com
aderência ao CAR e PRA, compete ao IEF, entre outras atribuições, coordenar, orientar,
desenvolver, promover e supervisionar a execução de ações e pesquisas relativas à
manutenção do equilíbrio ecológico e à proteção da biodiversidade, bem como
promover o mapeamento, o inventário e o monitoramento da cobertura vegetal e da
fauna silvestre e aquática, a elaboração da lista atualizada de espécies ameaçadas de
extinção no Estado, a recomposição da cobertura vegetal natural, a recuperação de áreas
degradadas e a restauração dos ecossistemas naturais, terrestres e aquáticos; fomentar,
apoiar e incentivar, em articulação com instituições afins, o florestamento e o
reflorestamento com finalidade múltipla, exceto a de exploração econômica, bem como
desenvolver ações que favoreçam o suprimento de matéria prima de origem vegetal
mediante assistência técnica prestação de serviços, produção, distribuição e alienação de
mudas (MINAS GERAIS, 2011b).
Para alcançar esses objetivos e cumprir suas atribuições o IEF está em processo
de construção da Política Estadual de Fomento Florestal, na qual serão traçadas
estratégias e metas, bem como elaborados procedimentos e metodologias com vistas,
entre outros, a contribuir para a execução do Programa de Regularização Ambiental em
Minas Gerais, e consequentemente para o aumento da cobertura vegetal nativa, com
todos os seus desdobramentos positivos.
Por outro lado, existem propriedades rurais com excedentes de vegetação nativa,
e que demandam políticas públicas para gestão desses ativos ambientais. De fato, sem
incentivos econômicos, os proprietários com mais vegetação nativa do que a lei manda,
cedo ou tarde, poderiam desmatar essas áreas “excedentes”, pois teriam esse direito, em
alguns biomas. Com essa expansão do desmatamento, talvez fossem necessárias novas
estradas, escolas, postos de saúde e outros tipos de infraestrutura, além de crédito, que
permitiriam a propriedades em áreas remotas serem exploradas. Por outro lado, mesmo
sem considerar os benefícios ambientais da recuperação, os proprietários que tivessem
que recuperar suas próprias áreas teriam custos mais altos, com um possível impacto na
produção, geração de empregos, e arrecadação de impostos, dentre outros. Em muitos
casos, a possibilidade de compensar a falta da Reserva Legal, desde que constatada até
22 de julho de 2008, com outra área conservada por meio da aquisição de Cotas de
reserva ambiental-CRAs faz um grande sentido econômico (IPAM, 2015). Essas
possibilidades só são viáveis com a efetiva implementação do CAR e do PRA.
No entanto, essa valorização econômica da floresta em pé é ainda um desafio de
implementação para os órgãos ambientais. Apenas a extração e venda de produtos
madeireiros e não-madeireiros não têm sido suficiente fonte de renda, e não captura
todo o valor dos serviços ecossistêmicos providos pela floresta. Como valorar o ativo
florestal? E como viabilizar a floresta como fonte de receita para os pequenos
proprietários? De onde poderia vir esse incentivo econômico sem que se onerassem os
cofres públicos? De acordo com o legislador, poderia vir dos proprietários que precisam
compensar ou recuperar suas áreas de reserva legal. (IPAM, 2015)
A identificação dos passivos e ativos ambientais de cada território do Estado de
Minas Gerais, a partir da eficiente implantação do CAR, por meio do módulo de análise,
dará condições ao poder público, parceiros e o proprietário rural de planejar a
adequação ambiental das propriedades rurais, no âmbito do PRA, com foco na unidade
produtiva e na paisagem, e com isso promover a gestão territorial.

CONCLUSÃO

No que tange os aspectos da execução do CAR no estado de Minas Gerais


verifica-se que um dos principais entraves à implementação da política é a existência de
conflitos que dificultam o entendimento jurídico ambiental pois impedem uma melhor
celeridade no processo e na aplicação das inovações propostas, por parte do Poder
Público e sociedade.
Além disso, em virtude do estado de Minas Gerais deter de um sistema de
inscrição e gestão do CAR próprio, e uma legislação estadual, se faz necessária a
publicação de um marco jurídico regulatório para esta ferramenta, a fim de ajustá-la as
peculiaridades estaduais.
Diante das questões expostas acima sugere-se a realização de estudos e oficinas
de discussão regionais que objetivariam uma maior articulação e participação dos
diversos atores atuantes e envolvidos nas decisões de planejamento relacionados a
implementação do CAR e as potencialidades propostas pela Lei nº 12.651/2012 para o
estado de Minas Gerais.
Atualmente o CAR proporciona a junção de uma base de dados de informações
ambientais que vem sendo disponibilizada, como nunca antes possuía e esteve
anteriormente aos órgãos ambientais, mas que ainda não vem sendo utilizada de acordo
com seu potencial.
O entendimento jurídico acerca da normatização de acesso às informações
ambientais disponíveis no CAR e a elaboração de um instrumento estadual que
regulamenta a disponibilização dessas requer ainda um maior amadurecimento tanto do
governo federal como do governo estadual.
Transpor a aplicação teórica de suas funcionalidades e aplicá-la de forma eficaz para
que possa ser utilizada pelo Poder Público é um dos grandes desafios que devem ser
trabalhados com afinco pelo Poder Público a fim de quê não se perca os objetivos da
proposição dessa ferramenta para a gestão territorial.
A possibilidade de integração e sincronização com outros sistemas de informações
ambientais existentes no estado de Minas Gerais como de unidades de conservação, de
fomento florestal, infrações ambientais e outros deverá ser pautada no decorrer das
especificações e considerada ao longo do processo de amadurecimento da análise e do
PRA.
A utilização dos dados existentes nas informações ambientais inscritas e transformá-
las em diretrizes, estratégias e políticas públicas de gestão ambiental é o resultado
principal e esperado para o CAR. Extrair dessa ferramenta de gestão as informações que
subsidiarão uma gestão estadual estratégica e planejada é um dos produtos mais
eficazes, e que deverá embasar o Estado no planejamento de diretrizes mais
condizentes, como por exemplo a criação do Mapa Estadual de Áreas Prioritárias para
Recuperação para o PRA, o auxílio na delimitação das áreas de reservas legais no
interior dos imóveis, a criação de banco de áreas de compensação em Unidades de
Conservação Estaduais (MEGALE, 2012), a criação das áreas potenciais para
proposição de corredores ecológicos, a criação de áreas prioritárias para análises dos
cadastros inscritos no CAR, a possibilidade de extração dos dados brutos serem
trabalhos com outras bases de referência, dentre as outras possibilidades da ferramenta.
Planejar o território de forma a executar a política florestal de maneira a transformar
os ativos florestais e as áreas recuperadas com um viés econômico é um dos desafios
adicionais à política pública proposta e que o governo deverá considerar nos passos
posteriores. Por isso, a utilização e a definição dos instrumentos legais se fazem tão
importantes.
Em virtude da extensão do território do estado de Minas Gerais e os recursos
orçamentários disponíveis, a recomendação seria o Poder Público, conforme citado,
priorizar as áreas mais relevantes para que se possa executar da forma mais eficaz e com
resultados concretos os esforços para a conservação e recuperação ambiental, buscando
a articulação e participação de diversos atores nas decisões de planejamento dessas
áreas.
No contexto do cenário atual a proposta é a criação de um grupo de trabalho para
discussão dos aspectos legais da política ambiental, da divulgação e da inclusão do
CAR e suas potencialidades dentro do órgão ambiental, parceiros do Poder Público e do
setor privado, mas que discuta principalmente a utilização das iniciativas existentes e
positivas durante a implementação da política florestal.
Diante das inúmeras potencialidades diagnosticadas para a ferramenta de gestão
territorial, que é o CAR, o estado de Minas Gerais tem trabalhado no intuito de
aprimoramento da ferramenta, da implementação mas principalmente de transformá-la
em política estratégica estadual com o retorno efetivo aos envolvidos no processo.

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RURAL – CAR Nasce a Identidade do Imóvel Rural. Paraná: 2015. 145p. Il.

RESTAURAÇÃO FLORESTAL EM ÁREAS PROTEGIDAS: UM RELATO DO


MOSAICO DO JACUPIRNGA, SP

Resende; R. U.

Bim, O. J. B. - [email protected]
Iniciativa Verde, Rua João Elias Saada, 46, Pinheiros, São Paulo, SP, Brasil, contato:
+55113647-9293

RESUMO

A região do Vale do Ribeira e Litoral Sul do Estado de São Paulo concentra os maiores
remanescentes de Mata Atlântica e também grande quantidade de Unidades de
Conservação de Uso Sustentável e de Proteção Integral. Dentre estas o Mosaico de
Unidades de Conservação do Jacupiranga (MOJAC) é um território com grandes
demandas socioambientais, incluindo a restauração ecológica de grandes áreas. A
Iniciativa Verde é uma organização não governamental que tem implantado projetos de
restauração na região com diferentes formatos. Além dos aspectos técnicos é importante
observar pontos como o financiamento dos projetos e as relações com as comunidades e
as implicações na gestão destas Unidades de Conservação. A questão do financiamento
é limitante neste tipo de projetos, e os recursos privados de compensações ambientais
cada vez contribuem para viabilizar tais projetos. Conclui-se pela importância de
parcerias e de arranjos institucionais que permitam a articulação de diversos atores nos
processos de restauração.

Palavras Chave: restauração ecológica, políticas públicas, Unidades de Conservação,


Mosaico do Jacupiranga
Introdução
A região do Vale do Ribeira e Litoral Sul do Estado de São Paulo concentra os maiores
remanescentes de Mata Atlântica e também grande quantidade de Unidades de
Conservação de Uso Sustentável e de Proteção Integral. Este último grupo abrange
cerca de 30 % do território da região.
Apesar disto o tema restauração ecológica é pertinente na gestão das áreas protegidas,
devido a diversas questões, ambientais e sociais. Pretende-se aqui expor e discutir
algumas experiências neste sentido, especialmente no interior do Mosaico de Unidades
de Conservação do Jacupiranga (MOJAC), situado nos municípios de Barra do Turvo,
Cananéia, Cajati, Eldorado, Iporanga e Jacupiranga. Além dos aspectos técnicos é
importante observar pontos como o financiamento dos projetos e as relações com as
comunidades e as implicações na gestão destas Unidades de Conservação.
O antigo Parque Estadual do Jacupiranga com 139.418,3 ha se converteu em um
Mosaico de 234.000 ha, contendo três Parques (Caverna do Diabo, Lagamar de
Cananéia e Rio Turvo), cinco Reservas de Desenvolvimento Sustentável - RDSs
(Pinheirinhos, Barreiro/Anhemas e Itapanhapima), quatro Áreas de Proteção Ambiental
– APAs (dos Quilombos do Médio Ribeira, de Cajati, do Rio Vermelho e Rio Pardinho
e do Planalto do Turvo) e duas Reservas Extrativistas – RESEXs (Taquari e Ilha do
Tumba).
A responsável pela área é a Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do
Estado de São Paulo, órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, que tem por
objetivo contribuir para a conservação, manejo e ampliação das florestas de proteção e
produção, sendo responsável pela gestão das Unidades de Conservação de Proteção
Integral e de Uso Sustentável do Estado de São Paulo.
Antes de se tornar Mosaico de Unidades de Conservação este território estava quase
totalmente inserido dentro do antigo Parque Estadual de Jacupiranga (PEJ), um dos
maiores Parques do Estado com 150 mil hectares. Em 2008 (Lei 12.810, de 21/02/2008)
o PEJ foi subdividido em 14 Unidades de Conservação, formando o Mosaico de
Jacupiranga (MOJAC). O PEJ apesar de contar com uma biodiversidade complexa e
importante e englobar várias comunidades tradicionais (quilombolas, caiçaras e
caboclas) nunca foi implantado de fato. A criação do MOJAC se deu após um período
em que os conflitos socioambientais se agravaram. A divisão em Unidades de Proteção
Integral e de Desenvolvimento Sustentável visou garantir o melhor manejo dos recursos
naturais com diferentes graus de proteção, compatibilizando a proteção ambiental e o
desenvolvimento das comunidades.
A implantação de Mosaicos de Unidades de Conservação no Brasil é recente e está
prevista na Lei Nº 9.885/07/2000, que criou o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC 2000). Geralmente, o Mosaico é estabelecido junto a um conjunto
pré-existente de áreas protegidas. No caso do MOJAC porém este processo se deu a
partir da fragmentação e múltiplas recategorizações de uma área protegida á existente.
A respeito do significado da palavra Mosaico Bim (2015) observa que este:

...“vai al m da morfologia da paisagem que composta por fragmentos de


habitats naturais ou não, de diferentes formas, conteúdos e funções. O
conjunto de Unidades de Conservação é considerado um mosaico quando sua
gestão é feita de maneira integrada, pois assim como os ecossistemas ali
presentes são interdependentes, suas administrações também devem ser. Com
base no Decreto Federal nº 4.340/2002, que regulamentou o SNUC, este
modelo de gestão integrada tem como objetivo compatibilizar, integrar e
aperfeiçoar as atividades desenvolvidas em cada Unidade de Conservação,
tendo em vista especialmente os usos nas fronteiras e entre as unidades, o
acesso às unidades, a fiscalização, o monitoramento e a avaliação dos Planos
de Manejo, a pesquisa científica e a alocação de recursos financeiros, assim
como estreitar a relação com as populações residentes na região do Mosaico.
(BIM et ali, 2105).”

Figura 62 – Mosaico de Unidades de Conservação do Jacupiranga, Vale do Ribeira, São Paulo


Este processo ainda está em andamento, com diversos avanços e também lacunas. No
aspecto ecológico é importante avaliar se a paisagem deste conjunto de áreas protegidas
atende aos objetivos da conservação, além de se ter uma expressiva quantidade de áreas
degradadas em função principalmente das ocupações das últimas décadas por atividades
agropecuárias de extração de madeira e de palmito. A extensão destas áreas com
demanda de restauração chega a 2 mil ha, em diferentes condições de degradação e de
responsabilidades por sua restauração. No campo socioeconômico ainda persistem
conflitos fundiários, com posseiros ainda no interior de UCs de Proteção Integral por
exemplo. As comunidades situadas nas UCs de Usos sustentável ainda enfrentam
muitos problemas em relação a emprego e renda, com poucas opções de atividades
econômicas e infraestrutura precária (BIM, 2010, BIM et ali 2015).
A gestão deste conjunto de Unidades conta com Conselhos Consultivos e Deliberativos
(no caso das RDS). Para a consolidação dos objetivos do MOJAC diversos projetos são
desenvolvidos pelo órgão responsável pela sua gestão, a Fundação Florestal, além de
diversos outros atores, como as prefeituras, Universidades e organizações da sociedade
civil. Estas ações abrangem temas como pesquisa, assistência técnica, infraestrutura,
regularização fundiária, restauração ambiental, dentre outros.
Dentre estes destacam-se as ações voltadas para a valorização da Mata Atlântica e de
seus moradores, através do aprimoramento das atividades agroflorestais e manejo não
madeireiro comunitário de espécies florestais e o fortalecimento de diversos viveiros
comunitários. As atividades de recuperação ambiental dentro dos Parques, que são UCs
de Proteção Integral, públicas, fazem parte deste processo, inclusive ao significar
oportunidades de oferta de serviços e produtos (como mudas e sementes florestais) por
parte destas comunidades que vivem no entorno, em Unidades de Uso Sustentável.
Assim, podem ser destacados três exemplos. O primeiro é o Projeto Modelo de
Restauração Participativa no MOJAC, que em 2010 promoveu a recuperação de seis
hectares e a capacitação de 25 moradores locais em atividades de restauração
(RESENDE et ali 2010). O segundo o Projeto Formando Florestas, financiado pelo
TFCA/FUNBIO, executado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Vale do
Ribeira (IDESC) que incluiu a implantação de projetos demonstrativos de sistemas
agroflorestais, apoio a viveiros florestais e capacitação de agricultores das comunidades
do MOJAC. Por fim o Projeto de Reflorestamento com Espécies Nativas no Bioma
Mata Atlântica, de responsabilidade da ONG The Nature Conservancy -TNC, com
recursos da Iniciativa BNDES Mata Atlântica, com objetivo e restauração 60 hectares
de florestas (IDESC, 2015 e QUARTIER et ali, 2015).
A Iniciativa Verde é uma associação civil com sede em São Paulo (SP) que atua na
preservação e conservação do meio ambiente. Trabalha com os temas mudanças
climáticas, recomposição florestal, manejo sustentável de florestas, serviços ambientais
e educação ambiental. Fundada em 2006, tem como principal atividade o
desenvolvimento de projetos de compensação de emissões de gases de efeito estufa
(GEE) por meio do reflorestamento em locais protegidos como a mata ciliar em Áreas
de Preservação Permanente (APPs) e em Unidades de Conservação (UCs), como
Parques e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).
Seus projetos, situados em sua maioria no Bioma Mata Atlântica, reúnem variadas
experiências em termos de captação de recursos e de arranjos institucionais e
operacionais para a recuperação ciliar. Dentre os principais exemplos de atividades
desenvolvidas e com maior interface com áreas protegidas tem-se:
 O Carbon Free, um programa criado pela Inciativa Verde que visa a
compensação voluntária de emissões de gases de efeito estufa por pessoas e
empresas, com o financiamento de recuperação florestal. Foi iniciado em 2006 e
tem execução continuada desde então, resultando em mais de 350 ha
implantados em diversas regiões do Brasil.
(http://www.iniciativaverde.org.br/programas-e-projetos-carbon-free.php).
 A Iniciativa BNDES Mata Atlântica é um apoio não reembolsável a projetos
escolhidos mediante seleção pública pelo BNDES para a recuperação florestal
na Mata Atlântica
(http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Areas_de_Atuacao/Meio
_Ambiente/Mata_Atlantica/). Realizado a partir de 2012 este projeto promoveu
a recomposição florestal de 425 hectares de áreas degradadas no Bioma.
 O Projeto Plantando Aguas, patrocinado pelo Programa Petrobras
Socioambiental, teve como objetivo a adequação ambiental de imóveis da
agricultura familiar em diversos assentamentos e comunidades no interior de
São Paulo, incluindo recuperação de matas ciliares, implantação de
agroflorestas, saneamento com tecnologias sociais e educação ambiental
(http://www.iniciativaverde.org.br/plantandoaguas.php)
 O Programa Nascentes, que é uma ação de governo do Estado de São Paulo que
visa ampliar a proteção e conservação dos recursos hídricos e da biodiversidade
(http://www.ambiente.sp.gov.br/programanascentes/) por meio de diversas
ações. O Programa reúne diversas ações para a recuperação florestal, das quais
destacamos a articulação das áreas que precisam ser restauradas com empresas
que precisam cumprir Termos de Compromisso de Recuperação Ambiental
(TCRAs) na condição de financiadores.
 Execução de projetos de compensação ambiental de forma direta, como Termos
de Compromisso de Recuperação Ambiental (TCRAs), sem participação no
Programa Nascentes.
Com a edição da nova Lei Florestal e diversos compromissos internacionais assumidos
pelo Brasil as demandas de restauração florestal se consolidam. Um importante exemplo
é o lançamento, em 2014, pelo Ministério do Meio Ambiente da versão preliminar do
Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa – PLANAVEG, no qual define a
meta de recuperar 12,5 milhões de hectares nos próximos 20 anos. Neste a questão dos
mecanismos de financiamento da restauração é considerada prioritária, compondo uma
das diretrizes estratégicas desta proposta (MMA, 2015).

Materiais e Métodos

São descritos os projetos desenvolvidos pela organização não governamental Iniciativa


Verde no âmbito do MOJAC no período entre 2014 até o início de 2017.
Após uma breve apresentação do histórico destes projetos, dos participantes e arranjos
envolvido e dos resultados obtidos, busca-se fazer uma avaliação. A partir desta
discussão de pontos positivos e negativos são feitas algumas considerações e propostas
no sentido de aprimoramento destes processos.

Resultados e Discussão

A Iniciativa Verde tem desenvolvido diversos projetos de restauração em áreas


protegidas estaduais em São Paulo. A tabela a seguir resume dados de projetos desta
organização já implantados ou em andamento, indicando também a fonte dos recursos
utilizados. Observa-se a extensão destes tem aumentado nos últimos anos,
concentrando-se no PERT (Parque do Rio Turvo).
O acesso a programas de financiamento com recursos não reembolsáveis, como o
Iniciativa BNDES Mata Atlântica (BNDES, 2015) apesar de sua grande importância,
atualmente tem sido mais restrito, principalmente devido ao cenário político econômico.
Desta forma os principais recursos disponíveis para projetos deste tipo tem sido os
decorrentes de compensações obrigatórias decorrentes de processos de licenciamento
ambiental, seja execução direta de TCRAs seja por meio do Programa Nascentes.
Tabela 40 - Projetos da Iniciativa Verde em áreas protegidas estaduais em São Paulo

Área do Ano de Programa/


Unidade Municípios
projeto (ha) início Projeto financiador
APA São Francisco São José dos
39,00 2007 Carbon Free
Xavier Campos
APA Piracicaba- Joanópolis e
Iniciativa BNDES
Juqueri- Nazaré 51,90 2012
Mata Atlântica
Mirim/Cantareira Paulista
Iniciativa BNDES
APA de Silveiras Silveiras 4,53 2012
Mata Atlântica
Eldorado e
APA da Serra do Mar 25,00 2012 Carbon Free
Sete Barras
Botucatu,
Iniciativa BNDES
APA de Botucatu Pardinho, 20,00 2013
Mata Atlântica
Torre de Pedra
Iniciativa BNDES
APA de Ibitinga Ibitinga 30,00 2013
Mata Atlântica
Parque Estadual do Rio Barra do Iniciativa BNDES
20,00 2014
Turvo (PERT) Turvo Mata Atlântica
Parque Estadual do Rio Barra do
9,30 2015 Carbon Free
Turvo (PERT) Turvo
APA Piracicaba-
Juqueri- Joanópolis 4,00 2015 Programa Nascentes
Mirim/Cantareira
Parque Estadual do Rio Compensação
Cajati 72,00 2016
Turvo (PERT) Autopista Regis
Parque Estadual do Rio
Cajati 50,00 2016 Programa Nascentes
Turvo (PERT)
APA Piracicaba-
Juqueri- Joanópolis 5,90 2016 Programa Nascentes
Mirim/Cantareira
Parque Estadual do Rio Barra do Compensação
3,59 2016
Turvo (PERT) Turvo e Cajati Autopista Regis
Parque Estadual do Rio Barra do
42,50 2016 Programa Nascentes
Turvo (PERT) Turvo
Área total em
377,72
recuperação

No interior do MOJAC tem-se os cinco projetos, em diferentes situações de


implantação:
• BNDES Mata Atlântica (20 ha) - concluído
• TCRAs Autopista (3,59 ha) - implantado, em manutenção
• Nascentes Cajati 1 (50,0) - implantado, em manutenção
• Nascentes Barra do Turvo 1 (28,0) - em implantação
• Capelinha Compensação Autopista (72,0) - implantado, em manutenção.
O regulamento do Programa Nascentes (Resolução SMA 72/2015) prevê o mecanismo
da árvore equivalente (AEQ), que permite fazer a relação das obrigações ambientais
(passivos) com as áreas a serem recuperadas (ativos), considerando a importância
ambiental de cada uma e direcionando o reflorestamento em áreas estratégicas, de maior
potencial de serviços ecossistêmicos. É importante destacar a importância deste
instrumento, que permite a entrada de novos recursos para recuperação ambiental, o
envolvimento de diversos atores (governo, empresas, sociedade cível e proprietários
rurais), permitindo a otimização de esforços e recursos para a recuperação ecológica em
regiões prioritárias, e ao mesmo tempo, apoiar a regularização ambiental de imóveis
rurais, em especial os pequenos. Estes arranjos podem ser feitos de diversas formas,
mas um formato importante é via ONGs. As organizações da sociedade civil, como a
Iniciativa Verde, agem neste caso em duas direções:
1 - Contribuindo para uma política pública -As ONGs organizam parcerias locais,
fazendo o envolvimento de proprietários, e preparam os documentos das áreas,
relatórios e mapas e, em especial, o Cadastro Ambiental Rural (CAR). A inscrição no
CAR é obrigatória e a lei determina que o Poder Público deve ajudar os pequenos
agricultores a fazê-lo. Ao final são preparados projetos de recuperação, que são
apresentados à Secretaria de Meio Ambiente do Estado. Após aprovação estes vão para
a chamada Prateleira de Projetos
(http://www.ambiente.sp.gov.br/programanascentes/category/projeto-aprovado/). Até
chegar a este ponto é necessário um trabalho técnico, de mobilização e articulação, que
permite a fase seguinte de captação de recursos para recuperação florestal em áreas de
importância ambiental, como mananciais e Unidades de Conservação.
2 – Prestando serviços - Na sequência os projetos aprovados no Programa Nascentes
podem ser contratados por empresas que têm obrigações de recuperação decorrentes de
licenciamento que possam ser cumpridas nestas áreas. Nesta fase a ONG atua como
uma prestadora de serviço, executando a recuperação, para tanto mobilizando serviços e
materiais na região, remunerada pelas empresas. Para tanto são feitos contratos, onde se
define as obrigações das partes.
As AEQs podem ser entendidas como cotas de compensação, facilitando o atendimento
das obrigações decorrentes de licenciamento na extensão devida.
A Iniciativa Verde hoje é uma das principais responsáveis pelo cadastro de projetos
deste tipo. No momento já foram aprovados oito projetos, somando mais de 280 mil
AEQs em diversas áreas do Estado.
No MOJAC já foram apresentados e aprovados dois projetos, Cajati 1 e Barra do Turvo
1, que somam 78 hectares. Foram captados recursos de diferentes empresas, devedores
de TCRAs e a implantação concluída no início de 2017 e em fase manutenção.
Figura 63 – Projetos de restauração ecológica em execução pela Iniciativa Verde no MOJAC.
Estes dois locais foram selecionados para fazer parte do projeto considerando os
seguintes fatores:
- Trata-se de áreas legalmente protegidas, de domínio público, tanto pelo fato de
estarem inseridas em uma Unidade de Conservação conforme o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação - SNUC (Lei 9.985/2000) quanto em boa parte serem
consideradas de Preservação Permanente conforme a Lei 12.651/2012.
- Apesar de degradadas, nelas não incidem obrigações de recuperação decorrentes de
compensações ou exigências de licenciamento ambiental, termos de compromissos de
reposição, termos de ajustamento de conduta (TAC) ou autuações administrativas por
infrações à legislação florestal, ou oriundas de quaisquer outras obrigações similares.
Nos casos aqui relacionados os antigos ocupantes, mesmo quando identificados, não
foram responsabilizados por desmatamentos havidos anteriormente.
- A ação é coerente com o processo de gestão do MOJAC na medida em que envolve as
comunidades do entorno do Parque, habitantes das APAs (Área de Proteção Ambiental)
do Planalto do Turvo e do Rio Pardinho e Rio Vermelho, com o fornecimento de
serviços e insumos (mudas).
- A recomposição florestal destas áreas reforça o processo de consolidação do Parque,
inibindo novas ocupações irregulares em pontos críticos, sujeitos a pressões deste tipo.
Outro exemplo é o projeto em andamento de reposição florestal em área de 72 hectares
situada no Parque Estadual do Rio Turvo (PERT), Núcleo Capelinha, como parte das
medidas compensatórias das obras de duplicação da Regis Bittencourt da BR-116, na
Serra do Cafezal.
Para tanto a Inciativa Verde foi contratada pela concessionária Autopista Regis
Bittencourt para, além da implantação da restauração, equacionar a liberação da área por
parte dos antigos ocupantes e destinação da mesma para a finalidade como Unidade de
Conservação. Ação esta que foi concluída, com a homologação de Transação
Extrajudicial pelo Poder Judiciário. Os ocupantes se retiraram no período e condições
acordadas e o projeto está em andamento, dentro dos prazos previstos. A experiência
está sendo bem positiva, incluindo efeitos como geração de empregos e renda na região
do MOJAC, com a aquisição de mudas de espécies nativas de viveiros comunitários.
Uma atividade complementar foi a implantação de saneamento com tecnologia social
(fossa biodigestora e jardim filtrante) em uma casa existente, usada como base para
equipe do projeto. Na ocasião foi feita uma oficina com 50 participantes (moradores,
trabalhadores, técnicos e estudantes).
Destaca-se que são usadas diversas metodologias, como plantio total, enriquecimento de
capoeiras e manejo de bananais, inclusive com semeadura direta de espécies nativas.
Tais ações estão sendo acompanhadas por pesquisadores do Instituto Florestal e da
Universidade Paulista (UNESP), buscando registrar, monitorar e avaliar estes processos,
para melhoria de procedimentos para restauração.
Dentre os resultados diretos destes projetos pode-se destacar, em termos de geração de
emprego e renda que, no ano de 2016, foram gerados cerca de 20 empregos diretos e
indiretos, além da aquisição de pouco mais cerca de 150 mil mudas nos viveiros
regionais.

Conclusões
Considerado as grandes demandas para restauração florestal no Brasil a consolidação de
mecanismos financeiros, normativos e institucionais é fundamental. No atual cenário
político e econômico com grande dificuldade para a obtenção de recursos orçamentários
de entidades públicas e mesmo de doações não reembolsáveis de outras fontes a busca
de novos mecanismos de financiamento é essencial para o desenvolvimento destas
ações.
Os recursos provenientes de compensações, sejam as voluntárias no caso de projetos
relacionados às emissões de gases de feito estufa, sejam principalmente as obrigatórias,
como as decorrentes de licenciamento, representam hoje as melhores oportunidades
neste sentido.
A consolidação e a gestão de Unidades de Conservação, em especial as que apresentam
situações com grande complexidade e que necessitam de ações de restauração, como o
MOJAC, constituem um espaço importante para execução deste tipo de iniciativas.
Para isso a importância de ações em formato de parceiras é evidente, uma vez que é
importante aproveitar a sinergia dos diversos tipos de atores.
As diretrizes e normas pertinentes devem possibilitar a montagem de diversos arranjos,
com múltiplas finalidades e diferentes formatos. A geração de renda, resolução de
conflitos fundiários, a pesquisa e educação são compatíveis com a implantação de
projetos de restauração. Além dos órgãos públicos gestores responsáveis pela gestão
destas áreas protegidas e pelas ações de comando e controle ambientais tem-se as
empresas que podem financiar projetos, de diferentes maneiras. E as organizações da
sociedade civil, que podem contribuir com a flexibilidade para executar projetos
integrando os diversos atores e atividades. E fundamentalmente e a sociedade que
sempre deve participar destes processos, para que estes sejam sustentáveis de fato.

Referências Bibliográficas

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Geografia Física) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade
de São Paulo, 2012.
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do Jacupiranga: Conservação, Conflitos e Soluções Socioambientais no Vale do
Ribeira/SP, 7º Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa
em Ambiente e Sociedade, Brasília, 2015, in
http://anppas.org.br/novosite/index.php?p=viienanppas
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http://www.idesc.org.br/arquivos/docs/IDESC_Formando%20Floresta_FINAL.pdf
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Florestas com o apoio da Comunidade no Vale do Ribeira, in: Restauração ecológica:
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Barbosa -- São Paulo: Instituto de Botânica, 2015.
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áreas protegidas: uma experiência no Mosaico do Jacupiranga. In: Reginaldo Barboza
de Silva; LIn Chau Ming. (Org.). Relatos de pesquisas e outras experiências vividas no
Vale do Ribeira. Jaboticabal: Maria de Lourdes Brandel, 2010,
SÃO PAULO. Resolução SMA n. 72, de 22 de outubro de 2015. Define a metodologia
a ser adotada para a conversão das obrigações de reposição florestal e projetos de
recomposição de vegetação na unidade padrão Árvore-Equivalente - AEQ, e dá outras
providências para a implementação do Programa de Incentivos à Recuperação de Matas
Ciliares e à Recomposição de Vegetação nas Bacias Formadoras de Mananciais de
Água - Programa Nascentes, criado pelo Decreto nº 60.521, de 05 de junho de 2014,
com as alterações dos Decretos nº 61.137, de 26 de fevereiro de 2015; nº 61.183, de 20
de março de 2015, e nº 61.296, de 03 de junho de 2015.

VIVEIRO FLORESTAL: COMPENSAÇÃO AMBIENTAL APLICADA À


RESTAURAÇÃO AMBIENTAL NO ESTADO DE RORAIMA

M.M. Faria1,2; M.F.S. Lima2; F.F. Alves2; R. M. Campos2

Universidade Federal de Roraima – UFRR, Avenida Capitão Ene Garcez, 2413,


Aeroporto, 69310-000, Boa Vista - RR, Brasil, [email protected]; Fundação
Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – FEMARH, Av. Ville Roy, 4935, São
Pedro, 69306-665, Boa Vista - RR, Brasil, [email protected],
[email protected], [email protected].

RESUMO

O desenvolvimento das ações de proteção ao meio ambiente ganhou impulso na década


de 70 com o inicio das conferencias mundiais para debate e deliberações de ações para
proteção e conservação do meio ambiente para as populações futuras. A legislação
ambiental dispões de mecanismos e instrumentos para proteção do meio ambiente,
sendo o licenciamento ambiental um destes, o presente trabalho discorre sobre a
implantação de um viveiro florestal como medida compensatória pra construção de uma
usina termoelétrica no Estado de Roraima. A medida foi implantada após revisão
processual e complementação de estudos solicitadas pelo órgão responsável pela análise
do processo de licenciamento ambiental, resultando na implementação de uma medida
que poderá oferecer ao Estado uma compensação ampla aos passivos gerados na
emissão de gases pela usina. As mudas produzidas no viveiro tem objetivo de recuperar
áreas degradadas no Estado e estimular a implantação de novas tecnologias de sistemas
agroflorestais, além de poderem ser utilizadas em atividades de educação ambiental e
sensibilização da população com plantio de espécies nativas. A efetividade da ação
depende da colaboração dos empreendedores em regularizar sua situação perante a
legislação ambiental, com o recebimento e manejo adequado das mudas e
disponibilização de sementes para replicação no viveiro florestal implantado. A
Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos está empenhada no
firmamento de parcerias com Secretarias de Estado e instituições de ensino com intuito
de expandir os horizontes de utilização das mudas produzidas no viveiro para
recuperação ambiental de áreas degradas no Estado de Roraima.

Palavras Chaves: restauração ambiental, Roraima, espécies nativas, compensação


ambiental
Introdução
A resolução CONAMA n° 001 de 1986 orienta acerca das medidas mitigadoras
de impactos ambientais advindos de empreendimentos ou atividades. Conforme o
Artigo 6° dessa lei todo projeto que produza impactos ambientais negativos deve haver
a definição de medidas mitigadoras para estes. Além disso, existe na lei um indicativo
de que todas as possibilidades de viabilidade de implementação do projeto submetido ao
licenciamento devem ser analisadas, e de que aqueles impactos que não há uma forma
de ser evitado devem ser mitigados. Sendo assim, a legislação vigente se assemelha da
hierarquia de mitigação atualmente difundida no meio técnico-cientifico internacional,
que indica que primeiramente deve-se evitar os impactos, e somente quando não for
possível evitar, estes devem ser mitigados e somente em última opção deve haver a
promoção das compensações (FERREIRA et al., 2014; BBOP, 2012).
As definições para a compensação ambiental, foram modificadas em 1996 com a
publicação da Resolução CONAMA 02 e no ano de 2000, as mesmas regras ganham
status de lei com a sanção da Lei 9.985, conhecida como Sistema Nacional de Unidades
de Conservação (SNUC).
Em seu Artigo 36, o SNUC institui a compensação ambiental como aparelho de
gestão ambiental a ser empregado em empreendimentos com relevante impacto
ambiental. O SNUC apresenta que compete ao órgão ambiental responsável pelo
licenciamento a determinação se o empreendimento será enquadrando no artigo
supracitado. Para isso, os analistas do órgão se baseiam no Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) e no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA).
Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo analisar as consequências da
implementação de um viveiro florestal como medida compensatória para instalação de
uma usina termoelétrica no estado de Roraima.

Material e Métodos

Área de estudo
A área de estudo será o estado de Roraima, localizado na região Norte do país,
com área de aproximadamente 225.000 km², com população de cerca de 505 mil
habitantes (IBGE, 2015). O estado faz divisa com a Venezuela, a noroeste e norte, com
a Guiana, a leste, com o Pará, a sudeste, e, com o Amazonas, a sul e oeste (Figura 1).
Figura 1. Localização do estado de Roraima.

Analise das consequências da implementação do viveiro florestal


A análise das consequências da implementação do viveiro florestal como medida
compensatória para a instalação de uma usina termoelétrica no estado de Roraima foi
realizada com base na consulta aos estudos integrantes do processo de licenciamento do
empreendimento, tais como Relatório ambiental simplificado, Estudo de sequestro de
carbono, dentre outros. Além desses, foram consultados os registros dos projetos que
têm sido desenvolvidos utilizando-se as mudas produzidas pelo viveiro florestal. Todos
os documentos consultados encontram-se de posse da Fundação Estadual de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos do Estado de Roraima (FEMARH).

Resultados e discussões
As medidas mitigadoras e compensatórias e os programas ambientais têm por
objetivo minimizar, compensar e, eventualmente, eliminar os impactos negativos do
empreendimento, uma vez que este já tenha sido instalado (Lima, 2015). Cabe ao órgão
licenciador realizar a analise e posterior aprovação ou não das medidas apresentadas.
O caráter emergencial para construção e operação da usina termoelétrica (UTE)
no estado de Roraima foi determinada pelo decreto do Governo do Estado de Roraima
numero 17276-e de 8 de julho de 2014. Além disso, o decreto instituiu uma equipe
interinstitucional com objetivo de realizar a analise do processo, gerando um relatório
que atendesse as solicitações dos órgãos envolvidos no licenciamento ambiental.
Durante o processo de licenciamento os empreendedores propuseram que a
compensação ambiental para a UTE fosse a instalação de um cinturão verde no entorno
da usina, realização de atividades de sensibilização ambiental com colaboradores e
terceirizados e ainda a utilização de logística reversa. Em seguida foi proposto a
implantação de um viveiro para fornecimento de 10 mil mudas, não especificando em
qual tempo essas seriam produzidas.
No entanto após elaboração do Estudo de Sequestro de Carbono, estudo componente do
processo de licenciamento, foi constatado que o numero de mudas sugerido era
insuficiente. Visto que ao considerar que a principal fonte de emissão atmosféricas
advém do funcionamento de trinta e quatro geradores, com estimativa de 915.256
toneladas de CO2/ano, considerando regime de operação de 24 horas por dia. A
metodologia utilizada para calculo de Incremento Médio Anual (IMA) de carbono foi
proposta por Lacerda et al. (2009). O estudo realizado constatou um IMA de carbono de
7 kg por arvore, correspondente a 140 kg por arvore num ciclo de 20 anos. Os valores
calculados foram mais restritos, podendo haver um índice maior de IMA considerando a
maior biomassa da região amazônica quando comparada a Mata Atlântica. A
justificativa apresentada para utilização da metodologia proposta por Lacerda et al.
(2009) foi a carência de estudos e pesquisas do gênero na região amazônica.
O cálculo realizado constatou a necessidade da produção de 1 milhão de mudas
anuais, muito além do proposto inicialmente, o que ressalta a importância de uma
analise criteriosa do processo de licenciamento ambiental e consequentes revisões e
complementações posteriores.
A inauguração da estrutura do viveiro ocorreu em 2014 com a presença de
funcionários da FEMARH, ELETROBRAS e da empresa empreendedora. Na Figura 2 é
apresentada imagem aérea do viveiro florestal e de uma das estufas do mesmo.

Figura 2. Vista aérea do local de funcionamento do viveiro florestal e uma das estruturas que estão
sendo utilizadas para o cultivo das mudas.
Fotos: Neto Figueredo e Rubem Leite

Durante o segundo semestre de 2016 foram produzidas 2.181 mudas,


distribuídas entre espécies florestais frutíferas e madeireiras (Figura 3). As mudas foram
utilizadas em ações de educação ambiental desenvolvidas na capital e nos municípios do
interior do estado (Figura 4), além disso, as mesmas foram utilizadas em ações de
fortalecimento e incentivo da agricultura familiar, na recuperação de áreas degradadas e
no reflorestamento de áreas de preservação permanente. Além disso, as mudas estão
sendo doadas a instituições que trabalham com atividades relacionadas à conservação
do meio ambiente e com o estimulo da sensibilização ambiental, principalmente àquelas
que já possuem áreas experimentais empregando técnicas agroecológicas ou com
sistemas agroflorestais.

Figura 3. Número de
mudas de espécies florestais frutíferas e madeireiras produzidas durante o ano de 2016.

Figura 4. Diferentes açõesde distribuição de mudas na capital e nos municípios do interior do


estado.
Fotos: Assessoria de imprensa FEMARH.

Durante o primeiro trimestre do ano de 2017 serão distribuídas 2.181mudas


(Figura 5) que serão empregadas na recuperação de uma área de preservação
permanente e no incremento de um sistema agroflorestal existente no campus de uma
das instituições de ensino do estado. O incremento do sistema agroflorestal terá por
objetivo a difusão dos sistemas agroflorestais junto aos pequenos agricultores da região
norte do estado.
No mês de abril durante campanha de fortalecimento da agricultura familiar,
com enfoque na geração de outra fonte de renda pelos agricultores tendo como objetivo
a prevenção da abertura de novas áreas para plantio, serão distribuídas 35.000 mudas de
espécies frutíferas comerciais, sendo 20.000 mudas de maracujá e 15.000 mudas de
açaí. Ainda no primeiro semestre do corrente ano serão produzidas cerca de 20.000
mudas a serem empregadas na continuação da campanha anteriormente mencionada,
estando essas distribuídas conforme demonstrado na Figura 6.
Concomitantemente as ações descritas anteriormente e ao longo do ano de 2017
serão produzidas mudas de mais de duzentas espécies florestais nativas a serem
empregadas na recomposição de áreas degradadas, matas ciliares e reservas legais nas
diferentes regiões do estado, tais como anona (Annona hypoglauca), Bacupari mirim
(Garcinia brasiliensis), camu-camu (Myrciaria dubia), Paricá (Schizolobium
amazonicum), dentre outras. A produção dessas se justifica pelo fato da recomendação
da utilização de elevada diversidade florística e vegetacional em processos de
restauração florestal, visto que este fato corrobora para com a sustentabilidade das
comunidades restauradas (RODRIGUES, MARTINS e GANDOLFI, 2007;
CALEGARI et. al., 2011 ). Além disso, a produção dessas se justifica pelas premissas
presentes no Novo Código Florestal (Lei n° 12.651/2012), onde áreas com passivos
ambientais devem ser recuperadas por meio, dentre outras técnicas, do plantio de
espécies nativas; plantio de espécies nativas combinadas com a regeneração natural, ou,
ainda; pelo plantio consorciado de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo e
exóticas com nativas de ocorrência regional, em até 50% da área total a ser recomposta.

Figura 5. Número de mudas de espécies florestais frutíferas e madeireiras que serão distribuídas
durante no primeiro trimestre de 2017.

Figura 6. Número de mudas de espécies florestais frutíferas e madeireiras a serem produzidas


durante o primeiro semestre de 2017.

Um dos principais gargalos para a produção de mudas de espécies florestais


nativas é a coleta de sementes, seja pela baixa quantidade de coletores ou até mesmo
pela baixa produção de sementes ou, ainda, pela longevidade do período de
sazonalidade da produção. Somado a isso, outro desafio é o aumento da taxa de
germinação das mesmas.

Conclusões

A implantação do viveiro amplia as vertentes da restauração florestal, das


políticas de incentivo a implantação de sistemas agroflorestais do estado de Roraima.
Além disso, este tem corroborado para a realização de atividades de conscientização e
sensibilização ambiental junto à população roraimense.
Muitos serão os esforços demandados para que as políticas ligadas ao processo
restauração ambiental sejam efetivas em Roraima, visto que ainda essas possuem baixa
popularidade junto aos produtores rurais do estado. Porém o órgão ambiental estadual
por meio de seu viveiro florestal tem buscado promover ações de popularização dessas,
além de apoiar projetos que busquem comprovar o potencial produtivo das áreas de
preservação permanente e reserva legal áreas como forma de impulsionar a adequação
ambiental das propriedades rurais do estado.

Referências bibliográficas
BRASIL. Lei n. 9985 de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II,
III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da
BRASIL. Lei n° 12.651, de 15 de maio de 2012. Institui o Novo Código Florestal
Brasileiro. Diário Oficial da União, 15 maio 2012.
BUSINESS AND BIODIVERSITY OFFSETS PROGRAMME (2012). Guidance Notes
to the Standard on Biodiversity Offsets. Washington D.C., mar 2012.
CALEGARI, L. et. al. Produção de mudas de espécies arbóreas nativas em viveiro via
resgate de plantas jovens. Revista Árvore, Viçosa-MG, v.35, n.1, p.41-50, 2011.
FERREIRA, J.; et al. Brazil’s environmental leadership at risk: Mining and dams
threaten protected areas. Science, v.346, n.6210, p. 706–707, 2014.
LACERDA, J. S.; COUTO, H. T. Z.; HIROTA, M. M.; PASISHNYK, N; POLIZEL, J.
L.: Estimativa da Biomassa e Carbono em Áreas Restauradas com Plantio de Essencias
Nativas. METRVM, 2009. Disponível em<
http://cmq.esalq.usp.br/wiki/doku.php?id=publico:metrvm:start.>. Acesso em: 22 de
fevereiro de 2017.
Leis/L9985.htm>. Acesso em: 15 jan. 2017.
LIMA, G. R. Compensação Ambiental de Usinas Hidreletricas: Analise da Gestão
Federal e Propostas de Aplicação. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Planejamento Energético, COPPE, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em
Planejamento Energético. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2015.
Natureza e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
RODRIGUES, R. R.; MARTINS, S. V.; GANDOLFI, S. (Eds.). High diversity forest
restoration in degraded areas: methods and projects in Brazil. New York: Nova Science
Publishers, 2007.
UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DE GEOPROCESSAMENTO PARA
AVALIAÇÃO DE PASSIVOS AMBIENTAIS DECORRENTES DE
OPERAÇÕES DE MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA EM ZONAS RIPÁRIAS

Thayanne Cristine da Silva Carrilho1

Universidade Nilton Lins - Av. Professor Nilton Lins, 3259. Parque das Laranjeiras -
CEP: 69058-030 - Manaus/AM. Telefone: (92)3643-2000

RESUMO

O agronegócio é um dos setores que mais avançam na economia do país, atualmente o


setor vem se desenvolvendo por meio de inovações tecnológicas e incentivos
governamentais, a mecanização agrícola é um exemplo desse desenvolvimento, ela
viabiliza a obtenção de altas produtividades agropecuárias e racionalização dos custos
operacionais. Com o aumento do desenvolvimento do setor de agronegócio, também
aumentam-se os índices de desmatamentos e ocupações de áreas inadequadas, inclusive
ocupação de Zonas Ripárias. Essa exploração muitas vezes acontece por falta de
acompanhamento técnico e por imprudência do proprietário da área. Visto que o Estado
do Amazonas sofre com o difícil acesso em algumas regiões do interior do estado,
temos como ferramenta para monitoramento e controle ambiental, o SIG, que é uma
ferramenta do Geoprocessamento utilizada para realizar análises ambientais por meio de
imagens de satélite. O presente artigo tem como objetivo fundamental avaliar passivos
ambientais decorrentes de operações de mecanização agrícola em zonas ripárias do
município de Autazes, com o propósito de que as ferramentas do geoprocessamento
venham a auxiliar na regularização ambiental de áreas degradadas, evitando situações
que estejam em desacordo com as legislações ambientais.

Palavras Chave: Agronegócio. Desmatamento. Geoprocessamento.

INTRODUÇÃO

Muito se tem discutido sobre os problemas ambientais relacionados ao uso e


ocupação de terras no território nacional envolvendo atividades relacionadas ao
agronegócio e mineração. Essa exploração afeta diretamente a qualidade e a
disponibilidade dos recursos naturais, podendo assim influenciar em outros fatores
como perda da biodiversidade, esgotamento da água doce, poluição das águas, geração
de resíduos, desmoronamentos, e outros danos ambientais. (RIBEIRO et al., 2005)
Atualmente no Estado do Amazonas o principal setor em desenvolvimento é
o agronegócio. Visando intensificar e aprimorar sua produção, muitos agricultores
familiares estão recorrendo às operações de mecanização agrícola, que segundo a
Secretaria de Estado da Produção Rural - SEPROR (2015) é uma prática agropecuária
que visa melhorar o nível de uso do esforço físico do trabalhador, melhorando o
processo de exploração e, conseqüentemente, proporcionando melhores condições para
exploração agropecuária e vislumbrando produtividade mais elevada, melhorando
também a qualidade física do solo.
O principal fator técnico que contribuiu para a expansão do setor de
mecanização agrícola, foi o acesso ao crédito rural através de programas do Governo do
Federal, que possibilitou a compra de máquinas e implementos agrícolas, para a
realização de operações como enleiramento, destoca, aração, gradagem, entre outras.
Este trabalho dá ênfase à análise das áreas exploradas para a execução destas operações.
(FILHO & HAMANN, 2016)
Com a chegada da mecanização agrícola no Amazonas, observou-se o
aumento nos índices de desmatamentos e ocupações de áreas inadequadas, inclusive
ocupação de Zonas Ripárias27, também conhecidas como Áreas de Preservação
Permanente28. Essa exploração muitas vezes é realizada sem acompanhamento técnico e
consequentemente sem licenciamento ambiental, acarrentando assim, em passivos
ambientais29, entrando em desacordo com algumas legislações como o Decreto nº
6.514/2008, que trata sobre infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, a Lei
nº 12.651/2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa, que é um dos
principais eixos norteadores ambientais atualmente, entre outras legislações específicas.
Dessa forma, visando identificar e resolver situações em desacordo com a
legislação ambiental, antes mesmo que chegue a um regime jurídico mais severo, temos
como ferramenta para controle e monitoramento ambiental, o SIG – Sistema de
Informação Geográfica que é uma ferrameta do geoprocessamento30. Um SIG pode ser
definido segundo Tôsto et al. (2014), como uma geotecnologia31 que representa a união
de hardware e de software capazes de armazenar, analisar e processar dados
georreferenciados. Os SIGs podem conter arquivos digitais no formato raster (imagens
de satélite e fotos aéreas) ou vetorial (pontos, linhas ou polígonos).
As ferramentas do Geoprocessamento influenciam positivamente no
planejamento rural moderno, o mesmo ocorre nos planejamentos urbanos, análise de
recursos naturais, transportes, comunicações, energia, está principalmente ligado à
cartografia. Temos como algumas das ferramentas: o Sensoriamento remoto, Sistema de

27
São áreas de saturação hídrica, permanente ou temporária, cuja principal função é a proteção dos
Recursos Hídricos de uma microbacia. (ATTANASIO et al., 2012)
28
Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de
fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. (BRASIL, 2012)
29
Obrigações adquiridas em decorrência de transações anteriores ou presentes, que provocou ou
provoca danos ao meio ambiente ou a terceiros de forma voluntária ou involuntária, os quais deverão
ser indenizados através da entrega de benefícios econômicos ou prestação de serviços em um momento
futuro. (GALDINO et. al. 2002)
30
Ramo da ciência que estuda o processamento de informações georreferenciadas utilizando aplicativos
(normalmente SIGs), equipamentos (computadores e periféricos), dados de diversas fontes e
profissionais especializados. Este conjunto deve permitir a manipulação, avaliação e geração de
produtos, relacionados principalmente à localização de informações sobre a superfície da terra. (PIROLI,
2010)
31
Tecnologias para coleta, processamento, análise e oferta de informações com referência geográfica.
(ROSA, 2005)
Informação Geográfica, Sistema de Posicionamento Global, softwares como o Arcgis,
Qgis e Google Earth Pro, entre outros. (CÂMARA & DAVIS, 2001)
Sendo assim, o presente trabalho consiste em utilizar ferramentas do
geoprocessamento para identificar e analisar passivos ambientais decorrentes de
operações de mecanização agrícola em zonas ripárias do município de Autazes. Tendo
assim, o propósito de que essas ferramentas venham a auxiliar na regularização
ambiental dessas áreas, evitando situações que estejam em desacordo com as legislações
ambientais.

METODOLOGIA

Área de Estudo

A área de estudo corresponde ao Município de Autazes, localizado ao sudeste da


Região Metropolitana de Manaus, no estado do Amazonas, entre as latitudes 03° 34' 48"
sul e longitudes 59° 07' 51" Oeste.

Figura 1: Mapa do Município de Autazes, produzido no software (Arcgis Versão 10.2.2).

Autazes ocupa uma área de 7.623,268 km e sua população, estimada pelo


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2016, é de 37.752 habitantes,
sendo assim o décimo-sexto município mais populoso do estado do Amazonas e o
quinto de sua microrregião. Faz limites com os municípios de Nova Olinda do Norte,
Borba, Careiro Castanho e Careiro da Várzea. As principais atividades ligadas ao
agronegócio no município são: milho, feijão, cupuaçu, guaraná, banana e laranja,
destacando-se o cultivo da mandioca como o principal responsável pelo desmatamento
na localidade. (MONTEIRO, 2014)

Instrumentos Metodológicos
Os arquivos referentes as Áreas Mecanizadas foram adquiridos por meio do
Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do
Amazonas – IDAM, sob o protocolo de autorização de uso de dados para fins científicos
nº 0145/2016, órgão responsável por prestar assistência técnica aos produtores rurais,
onde possui um banco de dados de áreas que foram mecanizadas com incentivos
governamentais no município de Autazes, contendo apenas o perímetro de propriedades
e das áreas mecanizadas.

As áreas de estudo estão localizadas na comunidade Cajuçara, distante 58 km da


sede municipal de Autazes. Essas áreas foram mecanizadas no ano de 2014. Ao todo na
comunidade foram mecanizadas 27 parcelas, somando 35 hectares (ha), contando com

propriedades privadas e áreas de uso coletivo da comunidade. Legenda

Áreas analizadas

Outras áreas mecanizadas

Figura 2: Área pertencente à comunidade Cajuçara, produzido no software (Arcgis Versão


10.2.2).

Para o estudo foram analisadas 8 áreas mecanizadas, tendo como critério de escolha a
largura média de curso d´água, e qualidade das imagens, somando um total de 12 ha. Entre as
áreas estão, 3 localizadas na AM 254 entre os km 44 e km 47, e 5 localizadas no Ramal do Jatuá
entre os km 1 e km 5. Todas as áreas mecanizadas têm como atividade de ocupação, a
mandiocultura.

Tabela 1: Áreas mecanizadas analisadas na comunidade Cajuçara no município de Autazes.


Identificação da Localização da área Coordenadas Área
Propriedade Mecanizada Mecanizada
Latitude Longitude
(ha)
a
Prop 1 AM 254 Km 44 3° 35' 38,476" S 59° 35' 14,019" O 1,991
a
Prop 2 AM 254, Km 47 3° 35' 56,360" S 59° 33' 38,453" O 3,027
b
Prop 3 Ramal do Jatuá Km 2,5 3° 37' 32,164" S 59° 33' 34,787" O 2,034
b
Prop 4 Ramal do Jatuá Km 2,5 3° 37' 26,414" S 59° 33' 41,630" O 0,995
a
Prop 5 AM 254 Km 44 3° 35' 36,827" S 59° 35' 23,529" O 1,072
b
Prop 7 Ramal do Jatuá Km 5,5 3° 38' 43,553" S 59° 33' 28,485" O 1,084
b
Prop 6 Ramal do Jatuá Km 2,5 3° 37' 41,466" S 59° 34' 8,479" O 0,916
b
Prop 8 Ramal do Jatuá Km 1 3° 36' 47,819" S 59° 33' 59,223" O 1,023
a
estrada asfaltada; b estrada de terra

Os dados foram analisados por meio do software Arcgis 10.2.232. Estes foram
convertidos para o Datum33 atual SIRGAS 2000 - Sistema de Referência Geocêntrico
para as Américas, de acordo com metodologia proposta pelo IBGE (2005).

Para a realização dos mapeamentos foram utilizadas imagens do satélite


LANDSAT 8, do ano de 2016, adquiridas por meio do site do INPE, com 15 m de
resolução espacial. Foram adquiridas também imagens Rapdye por meio do IDAM,
visto que é um satélite comercial, apenas para fins de consulta, com 5 m de resolução
espacial e o recurso da linha do tempo do Google Earth Pro para identificar as áreas
consolidadas34. Para averiguar os dados já mapeados foi realizada a consulta ao módulo
público do Cadastro Ambiental Rural do município de Autazes em relação as áreas de
vegetação nativa, cursos dágua, nascentes, áreas consolidadas, áreas de reserva legal, e
outras áreas pré definidas pelo CAR.

A hidrografia foi mapeada através da interpretação visual das imagens,


considerando critérios como textura, cor e padrões das feições existentes na imagem.
Para auxiliar foram utilizados modelos digitais de elevação - MDE35 de dados SRTM,
para dar mais credibilidade ao mapeamento dos cursos d’água.

32
Conjunto de aplicativos computacionais de Sistema de Informações Geográficas, desenvolvido pela
empresa norte-americana ESRI, que fornece ferramentas avançadas para a análise espacial,
manipulação de dados e cartografia (SANTOS et al., 2014)
33
Refere-se ao modelo matemático teórico da representação da superfície da Terra ao nível do mar
utilizado pelos cartógrafos numa dada carta ou mapa. O datum providencia o ponto de referência a
partir do qual a representação gráfica dos paralelos e meridianos, e consequentemente do todo o resto
que for desenhado na carta, está relacionado e é proporcionado. (INPE)
34
Área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22.07.2008, com edificações,
benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio
onde é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de
turismo rural. (BRASIL, 2012)
35
Consiste em uma matriz com um valor de elevação em cada célula (pixel), ou seja, são arquivos
estruturados em linhas e colunas georreferenciados, contendo registros altimétricos. Assim, um MDE é
Com base na hidrografia foram delimitadas as Áreas de Preservação Permanente
com a utilização do recurso buffer do software Arcgis. O mapeamento das distâncias
das APP’s foi baseado na Lei nº 12.651/2012, conforme as Tabelas 2 e 3:

Tabela 2: Regra Geral de largura mínima de Área de Presevação Permanente.

Largura do Rio (m) <10 10 - 50 50 – 200 200 - 600 >600 Nascente


Largura da Mata Ciliar (m) 30 50 100 200 500 Raio 50

Tabela 3: Regra de recomposição mínima, no caso de áreas consolidadas, em Áreas de


Preservação Permanente no entorno de lagos e lagoas naturais e nascentes.

36
Tamanho do Módulo Fiscal <1 >1 – 2 >2 – 4 >4
Cursos d’água naturais (qualquer largura) 5m 8m 15 m 30 m
Nascentes e olhos d’água perenes Raio de 15 m

Por fim, foi realizado o levantamento das áreas degradadas, áreas a serem
recompostas, analisando cada caso, e verificando quais proprietários possivelmente
terão complicações no futuro se não atenderem a legislação, dando uma estimativa ao
final de quantas áreas (ha) estão em acordo e quantas estão em desacordo com a
legislação ambiental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verificou-se de acordo com imagens do Google Earth Pro que as parcelas das
propriedades 1 a 6 já haviam sido exploradas antes de 22 de julho de 2008, sendo assim
consideradas áreas consolidadas, conforme art. 3º do Capítulo I da Lei nº 12.651/2012.

Figura 3: Imagem da parcela 2 no ano de Figura 4: Imagem da parcela 2 no ano


2007 (Fonte: Google Earth Pro) de 2016 (Fonte: Google Earth Pro).

uma representação tridimensional do relevo, e pode ser usado para extrair variáveis geomorfométricas
do mesmo, como declividade, orientação de vertentes e curvatura do terreno, servindo de suporte para
a análise geomorfológica. (VALERIANO, 2008)
36
Trata-se de uma unidade de medida de área (expressa em hectares) fixada diferentemente para cada
município. (BRASIL, 1964).
Já as parcelas das propriedades 7 e 8 não foram consideradas áreas consolidadas, pelo
fato de terem sido exploradas após 22 de julho de 2008.

Figura 5: Imagem da parcela 7 no ano de Figura 6: Imagem da parcela 7 no ano de


2007 (Fonte: Google Earth Pro) 2016 (Fonte: Google Earth Pro)

Toda essa análise foi realizada porque as regras mudam de acordo com período
de desmatamento das áreas, devido ao Decreto nº 6.514 que dispõe sobre as infrações e
sanções administrativas ao meio ambiente, onde frisa o fim da obrigação de se recuperar
áreas desmatadas ilegalmente até 22 de julho de 2008, incluindo topos de morros,
margens de rios, restingas, manguezais, nascentes, criando assim, a figura da área rural
consolidada. Fazendo com que os Estados criem programas de regularização ambiental.
Suspendendo todas as multas aplicadas antes de julho de 2008. (BRASIL, 2008)
Segundo Lima (2016) todo proprietário da área, sendo ela consolidada ou não,
no ato do Cadastro Ambiental Rural - CAR37, ao aderir o Programa de Regularização
Ambiental - PRA38, poderá regularizar a situação ambiental de sua propriedade ou posse
rural por meio de benefícios, como suspensão de processos criminais e administrativos,
acesso facilitado ao crédito rural e proprietários com passivos ambientais terão mais
facilidades e maiores prazos.
Na propriedade 1 (Figura 7), observou-se a presença de uma barragem na área
vizinha, que possivelmente foi feita para a construção de tanques de piscicultura. Essa
prática trás impactos visíveis ao meio ambiente, um exemplo é a alteração no fluxo da
água e correntes, as malhas e demais estruturas dos tanques promovem redução na
corrente de água, com implicações no transporte de sedimentos, causando
assoreamentos. (AGOSTINHO, 1996)
37
Registro eletrônico de abrangência nacional junto ao órgão ambiental competente, no âmbito do
Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente - SINIMA, obrigatório para todos os imóveis
rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais,
compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico, e
combate ao desmatamento. (BRASIL, 2012)
38
Conjunto de regras sobre o processo de regularização perante o novo Código Florestal. Tem como
base o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que definirá os passivos de APPs e RLs a regularizar, prevê que o
produtor deverá propor um Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas ou Alteradas (PRADA). (LIMA,
2016)
Figura 7: Propriedade 1. Figura 8: Barragem área vizinha à propriedade 1.

Contudo, observando que a área onde o proprietário realizou a operação de


mecanização é considerada uma área consolidada, estando próxima ao curso d’água, o
proprietário/posseiro deverá aderir as regras de recomposição mínima de área de
preservação permanente (Tabela 3), que é baseada no tamanho do módulo fiscal, assim
como essa propriedade, todas as outras têm o tamanho de até 1 módulo fiscal. Tendo
que recompor dentro da área mecanizada apenas 0,02 ha de área de preservação
permanente. Perdendo uma pequena parte da área de produção, conforme Figura 16.
Identificou-se também outras áreas degradadas no curso dágua existente na propriedade
constatando-se que o proprietário deverá recuperar um total de 0,41 ha, incluindo a
recuperação de parte da área mecanizada.
Na propriedade 2 (Figura 9) encontrou-se um pequeno curso d’água menor que
10 m de largura, em que o proprietário deverá recuperar o minímo de 5 m de APP em
ambos os lados do curso d’água, totalizando uma recuperação de 0,14 ha dentro da área
mecanizada.

Figura 9: Propriedade 2. Figura 10: Delimitação da APP e Curso d’água.

Na propriedade 3 (Figura 11) foi identificada uma nascente, conforme consulta


ao CAR. Por ser considerada uma área consolidada, o proprietário deverá recuperar a
APP o raio de 15 m referente a nascente, visto que a mesma área encontra-se degradada.
O mesmo proprietário deverá recuperar ainda 0,20 ha referente a sua área mecanizada,
totalizando (a contar da nascente até a área mecanizada) a recuperação de 0,34 ha.
Na proriedade 4, o proprietário/posseiro deverá recuperar 0,10 ha dentro da área
mecanizada, já no restante da propriedade apenas 0,20 ha de APP.

Figura 11: Propriedades 3 e 4.

Não há necessidade de recuperação das Áreas Mecanizadas das propriedades 5


(Figura 12) e 6 (Figura 13), visto que elas são áreas consolidadas, sendo necessário
apenas a recuperação referente aos cursos d’águas presentes nas propriedades, onde a
propriedade 5 deverá recuperar 0,09 ha de APP e a propriedade 6, 0,35 ha.
Contudo, caso essas áreas não fossem consolidadas, elas teriam que seguir a
regra geral de recomposição de APP, que é baseado na largura do curso d’água, visto
que nessas propriedades os cursos d’água são largos (propriedade 5 = 5 m - 22 m) e
(propriedade 6 = 24 m - 70 m) pela regra geral a recomposição da APP atingiria uma
grande parte da propriedade e até da área mecanizada.
Todas essas regras de recomposição estão previstas no Novo Código Florestal
que dá o conceito de área consolidada, como dito anteriormente esse conceito parte da
anistia de crimes ambientais cometidos antes de 22 de julho de 2008. Segundo o SOS
Florestas, o principal efeito de qualquer anistia é estimular novas ilegalidades, pois
reforça a sensação de impunidade. Diversos crimes ambientais cometidos durante 43
anos serão ignorados e perdoados pela adesão e cumprimento do programa de
regularização ambiental. Esse conceito premia os infratores, que poderão continuar se
beneficiando financeiramente das atividades instaladas em áreas desmatadas
ilegalmente (desde que o dano tenha sido praticado até a data definida), e constitui uma
grande injustiça aos que vem cumprindo a lei.
Figura 12: Propriedade 5. Figura 13: Propriedade 6.

As propriedades 7 e 8 não foram consideradas como consolidadas, tendo que


recuperar a APP, de acordo com a regra geral (Tabela 2) perdendo uma grande parte da
propriedade e da área mecanizada. Pelo fato das duas propriedades terem cursos dágua
de até 10 m de largura, elas terão que recuperar aonde for necessário, 30 m de APP.
Segundo o mapeamento realizado, a propriedade 7 terá que recompor 0,21 ha
na área mecanizada e 1,14 ha no restante da propriedade. Já na propriedade 8 o
proprietário/posseiro terá que recompor 0,50 ha e no resto da propriedade 0,90 ha.

Figura 14: Propriedade 7. Figura 15: Propriedade 8.

A Figura 16 simula as perdas de área de produção, para recuperação da


vegetação ripária. Nela observou-se que algumas áreas estão regulares dentro da área
mecanizada, como as propriedades 5 e 6, onde não houve perda de parte da área da
produção de mandioca, podendo o produtor prosseguir sem restrições na sua atividade.
Já as propriedades 7 e 8 foram as que mais perderam parte de sua área de produção,
respectivamente, cerca de 23% e 49% da área deverão ser perdidas por conta das áreas
não serem consideradas consolidadas, fazendo com que os produtores suspendam as
atividades quase que na área total mecanizada.
3,5
3
2,5 Área Mecanizada antes da
2 Recuperação da APP
1,5
1
0,5 Área Mecanizada depois da
0 Recuperação da APP
PROP 1 PROP 2 PROP 3 PROP 4 PROP 5 PROP 6 PROP 7 PROP 8
0,8% 4,6% 9,8% 10,1% 0% 0% 22,9% 48,9%

Figura 16: Variação percentual de perda de área mecanizada após recuperação da vegetação
ripária.

Na Figura 17, podemos perceber que há um desequilíbrio quanto as regras de


delimitação de Áreas de Preservação Permanente. No gráfico (Figura 17) observa-se
que foram contabilizadas 6 propriedades com áreas consideradas consolidadas, que
totalizam 1,63 ha para recuperação de APP na área total da propriedade e apenas 2
propriedades foram contabilizadas como áreas não consolidadas, dando um total para
recuperação de 2,75 ha. Percebendo-se assim que as áreas não consolidadas são as mais
prejudicadas pelas regras do Novo Código Florestal.

3
2,5 Propriedades com áreas
2 consolidadas
1,5
1
Propriedades com áreas
0,5 ha
não consolidadas
0
Quanto recuperar

Figura 17: Quantidade de hectares a serem recuperados em propriedades com áreas


consolidadas e áreas não consolidadas.

Analisando de forma geral, se os proprietários no ato do CAR não aderirem ao


PRA, terão sérios problemas em relação às sanções penais e administrativas. Um
exemplo é o artigo 50 do Decreto nº 6.514/2008 que traz a seguinte punição:

Detruir ou danificar florestas ou qualquer tipo de vegetação


nativa ou de espécies nativas plantadas, objeto de especial
preservação, sem autorização ou licença da autoridade ambiental
competente: Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por hectare
ou fração.
Em relação ao licencimento ambiental segundo o art. 6º da Lei Estadual nº
3.785/2012:

Ficam dispensados do licenciamento ambiental estadual, desde


que sejam considerados com potencial poluidor/degradador
reduzido assim definido pelo IPAAM, os empreendimentos ou
atividades agropecuárias com pequeno potencial poluidor e
degradador, desde que a mesma não implique em intervenção
em áreas de preservação permanente ou supressão de vegetação
nativa.

Concluindo, se houve supressão da vegetação nativa em áreas de preservação


permanente antes de 22 de julho de 2008, o proprietário terá que aderir ao PRA, para
que seja beneficiado durante a recuperação da área, por meio de incentivos, porém se
não aderir, terá que arcar com as sanções previstas no Decreto nº 6.514/2008.
Já os proprietários que desmataram após a data limite, além de seguir regras
mais rígidas de recuperação de APP (tabela 2), terão que arcar com sanções penais e
administrativas previstas no Decreto nº 6.514/2008, podendo a área ser embargada pelo
órgão competente, tendo que aderir o PRA para receber benefícios durante a
recuperação, auxiliando na regularização ambiental da propriedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho baseou-se no Novo Código Florestal, que atualmente, é um dos eixos


norteadores em relação à proteção do meio ambiente, ele surgiu com a problemática do
desmatamento e envolveu pontos ruralistas e ambientalistas, utilizando como ferramenta
para a regularização ambiental, o CAR, tornando-o obrigatório, fazendo com que o
proprietário/posseiro rural se responsabilize pela recuperação das áreas degradadas, com
a ajuda de incentivos governamentais.
Para alguns, o Novo Código Florestal e outras legislações específicas não
passam de balela. É preciso que os proprietários/posseiros tenham apoio dos órgãos
públicos ambientais para auxiliar no planejamento rural de sua propriedade, é preciso
também que se tenha uma maior fiscalização por parte das autoridades, no CAR por
exemplo, cadastros estão sendo realizados de forma errônea, muitos
proprietários/posseiros estão utilizando o CAR para escapar de possíveis multas e
sanções penais e administrativas, havendo injustiças, nesses casos.
O ponto chave deste trabalho é a problemática do mal planejamento rural, áreas
mecanizadas estão concentradas em zonas ripárias, isso já trás uma grande preocupação
com o futuro do nosso recurso hídrico. Visto que a vegetação ripária é de grande
importância para a preservação dos cursos d’água, onde reduz os problemas de erosão
do solo, é utilizada como corredor ecológico e também mantém a qualidade das águas
dos rios e lagos da propriedade.

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USO DA CHUVA DE SEMENTES COMO INDICADOR DA


RESTAURAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS EM SOROCABA, SP

Marín Paladines, Harvey1; Piotrowski, Ivonir2; Piña-Rodrigues, Fatima C. M.(O)3


[email protected]

1
Mestrando em Planejamento e Uso de Recursos Renováveis, Departamento de Ciências
Ambientais, UFSCar Sorocaba, Rod. João Leme dos Santos, Km 110, 18052-780,
Sorocaba, São Paulo, Brasil.
2
Doutorando em Planejamento e Uso de Recursos Renováveis, Departamento de
Ciências Ambientais, UFSCar Sorocaba, Rod. João Leme dos Santos, Km 110, 18052-
780, Sorocaba, São Paulo, Brasil.
3
Departamento de Ciências Ambientais, Universidade Federal de São Carlos Campus
Sorocaba

RESUMO

A chuva de sementes é responsável pela inserção de novos indivíduos e/ou espécies em


uma área, alteração na diversidade genética das populações, aumento da riqueza de
espécies e distribuição geográfica de futuros indivíduos. Por estas e outras funções
essenciais, a chuva de semente pode ser utilizada como um bioindicador para averiguar
o grau de degradação ou recuperação de um ecossistema. O estudo objetivou avaliar o
aporte de chuva de sementes como indicador do processo de restauração ecológica e
diversidade de espécies existente, em uma área degradada recomposta sob o modelo
denso-diverso funcional (DDF) em outubro/2011, denominado de “Morizukuri”. A
metodologia envolveu coleta mensal de serapilheira num período de outubro/2014 a
maio/2016 por meio de 54 coletores cônicos de helanca distribuídos em seis mounds no
fragmento de Floresta Atlântica Semidecidual, em Sorocaba - SP. As sementes e frutos
foram triados, identificados quanto a síndrome de dispersão e em nível de espécie
quando possível e quantificadas quanto ao número de propágulos no período de
julho/2015 a maio/2016. No período de 19 meses coletou-se 53 morfoespécies de
semente, sendo identificadas no nível de espécie 45,3% e no período de julho/2015 a
maio/2016 totalizou-se 24.729 propágulos, tendo pico de deposição em meses chuvosos.
Em todos os mounds a diversidade (H) encontrada foi considerada como baixa (H’<
1,90) e o índice de Pielou em cada mound foi inferior a 0,5 representando a dominância
de algumas espécies na chuva de semente. A divergência entre os mounds, quanto a
quantidade de propágulos e espécies, foi resultante de suas diferentes composições
florística e localização na paisagem. A área estudada apresentou dominância de espécies
autóctones, zoocóricas e pioneiras, sendo as mais frequentes a Croton urucurana e
Mimosa bimucronata, sendo classificada em estágio inicial de sucessão. Apesar disso, a
proximidade dos dados obtidos com de outras áreas indica que a área estudada está se
regenerando e apresenta níveis de aporte de propágulos semelhantes à locais mais
protegidos e formação florestal mais antigas. Portanto, o modelo de restauração
adotado, o DDF, já apresenta aos cinco anos condições que propiciam a atração da
fauna e a chegada de propágulos para a futura regeneração visando a criação de floresta
rápida, se igualando ou superando outras áreas florestais mais antigas.

Palavras Chave: Chuva de semente; Serapilheira; Restauração

PLANTIO COMPENSATÓRIO DAS OBRAS DE DUPLICAÇÃO DA VIA


FÉRREA DE CAMPINAS ATÉ EMBU-GUAÇU/SP NAS ÁREAS DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE DEGRADADAS NO MUNICÍPIO DE
CRAVINHOS/SP

J. S. T. Gusso; S. M. Azuma

Rumo Logística S.A. - Rua Emilio Bertolini, nº 100, Vila das Oficinas, Curitiba/PR,
CEP 82920-030, site: www.pt.rumolog.com; email: [email protected]
(41) 2141-9754.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo avaliar as condições de recuperação ambiental do


plantio compensatório oriundo do Projeto de Duplicação da via férrea no Estado de São
Paulo, das cidades de Embu-Guaçu e Campinas, totalizando 162,250 km, com base nos
indicadores estabelecidos pelos órgãos ambientais e o licenciador Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis - IBAMA. A supressão em fragmentos
nativos, indivíduos isolados e áreas de preservação permanente necessárias para
execução da obra de duplicação resultaram num plantio compensatório de 119.000
mudas de essências arbóreas nativas, medida compensatória baseada nas legislações
específicas dos Biomas Cerrado e Mata Atlântica. O plantio compensatório visou a
recuperação e instauração de condições ambientais nas áreas degradadas no município
de Cravinhos/SP, totalizando 66 hectares. No local foram tomadas medidas
silviculturais de pré-plantio, plantio, pós-plantio e 5 monitoramentos do
desenvolvimento ao longo de 3 anos. No total, 123 diferentes espécies arbóreas foram
utilizadas em plantio 3x2 metros (6m² por indivíduo). Os valores médios dos
indicadores utilizados nos monitoramentos após os 3 anos foram: Densidade
(indivíduos/ha): 1771; Número de mudas mortas (unidade): 6; Taxa de mortalidade (%):
3%; Classe de altura < 1 m (%): 17%; Classe de altura 1 a 2 m (%): 11%; Classe de
altura 2 a 3 m (%): 23%; Classe de altura 3 a 4 m (%): 23%; Classe de altura > 4 m (%):
26%; Altura média plantio (metros): 3,31; Altura máxima plantio (metros): 6,7; Taxa de
herbivoria (%): 1%; Cobertura de gramíneas(%): 12%; Área basal (m²): 1,43; Área
basal (m²/ha): 71,14; Número de indivíduos regenerantes (unidade): 201; Densidade de
regenerantes (indivíduos/ha): 1303; Riqueza (número de espécies): 14. Com base nos
resultados apresentados, concluiu-se que o plantio compensatório de alta densidade
realizado com as medidas adotadas de manutenção e monitoramento demonstram a
restauração da APP atendimento dos índices almejados.
Palavras Chave: Recuperação de Área Degradada, Plantio de Mudas, Plantio
Compensatório, Área de Preservação Permanente, Recuperação Ambiental

INTRODUÇÃO

Em 2010 a Rumo iniciou os investimentos na duplicação da ferrovia no trecho


Campinas-Santos (SP), o qual possui uma extensão de 264 quilômetros e liga o interior
de São Paulo até o Porto de Santos. Esta ligação até Santos era anteriormente um
gargalo para a destinação dos commodities de exportação, por ser local destino da
produção de grande parte dos polos agrícolas dos Estados do Mato Grosso e São Paulo.
Este trecho faz parte do mais importante corredor de transporte ferroviário no Brasil, a
sua duplicação foi medida estratégica de utilidade pública, com ampliação da
capacidade do transporte ferroviário no Brasil, propiciando melhores condições
logísticas ao escoamento de commodities agrícolas ao Porto de Santos.
Em 2012 o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – IBAMA concedeu a Licença de Instalação - LI nº862/2012 à América
Latina Logística Malha Paulista S.A (hoje RUMO Logística S.A) e a Autorização de
Supressão de Vegetação – ASV nº657/2012 para a execução da duplicação entre os
pátios ferroviários de Boa Vista (Campinas) e Embu-Guaçu, que totalizam 167,250 km.
O projeto interceptou os municípios de Campinas (Boa Vista), Indaiatuba, Salto, Itu,
Alumínio, Mairinque, São Roque, Cotia, Itapecerica da Serra, São Lourenço da Serra e
Embu-Guaçu, nos Biomas Mata Atlântica e Cerrado.
A compensação ambiental para o projeto foi determinada de acordo com os
impactos avaliados e apresentados em estudos específicos solicitados pelo órgão
licenciador no que tangem as facetas nos meios, físico, biótico e socioeconômico. O
projeto de recuperação das áreas degradadas apresentado neste trabalho foi uma das
ações tomadas para a compensação ambiental realizadas pela RUMO Logística S.A.
referente ao Projeto de duplicação da via férrea no Estado de São Paulo, entre Campinas
e Embu Guaçu, objeto da LI 862/2012.
Considerando que o projeto se trata de um empreendimento linear abrangendo
dois biomas, Cerrado e Mata Atlântica, com diferentes fitofisionomias da vegetação e
áreas legalmente protegidas o cálculo de compensação ambiental foi baseado em
diversas legislações com base no respectivos biomas, seguindo o apontado na Lei
nº12.651, Capítulo V, Art. 26. § 4º O requerimento de autorização de supressão de que
trata o caput conterá, no mínimo, as seguintes informação: I- a localização do imóvel,
das Áreas de Preservação Permanente , da Reserva Legal e das áreas de uso restrito, por
coordenada geográfica, com pelo menos um ponto de amarração do perímetro do
imóvel; II – a reposição ou compensação florestas, nos termos do §4º do Art. 33; III - a
utilização efetiva e sustentável das áreas já convertidas; IV- o uso alternativo da área a
ser desmantada.
Em áreas protegidas a supressão foi licenciada nesse projeto de duplicação por
se tratar de um caso de utilidade pública, conforme dispõe o Código Florestal Lei
nº12.651/2012, Capítulo II, Seção II, Art. 8º “A intervenção ou supressão em Áreas de
Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de
interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta lei”.
A supressão nos casos da supressão de indivíduos nativos isolados e indivíduos
nativos isolados de espécies ameaçadas de extinção (indivíduos classificados como
Vulnerável IUCN e que compõe listagens oficias, federais do âmbito do Ministério do
Meio Ambiente - MMA e estaduais Secretarias de Meio Ambiente - SMA entre outras
listas para espécies ameaçadas) o cálculo seguiu o previsto na Decisão da Diretoria
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB nº287/2013. Nos casos de
fragmentos florestais nativos os valores seguiram as diretrizes da Resolução SMA/SP
086/2009. Para os casos de intervenções em APP foi tomada a Resolução CONAMA
nº369/2006 e Lei Federal nº4.771/1965 e nº12.651/2012 como base para a compensação
ambiental. A Lei Estadual/SP nº13.550/2009 foi utilizada como parâmetro nos cálculos
para supressão de fragmento de vegetação nativa do Bioma Cerrado nos diferentes
estágios sucessionais.
De toda a supressão realizada no projeto de duplicação entre Campinas e Embu-
Guaçu resultou em uma compensação de 119.000 mudas de essências arbóreas nativas
para a recuperação de uma área total equivalente de 79,833 hectares base, que com
redução do espaçamento de plantio resultaram em 66 hectares. O projeto de
compensação previu a realização do plantio de mudas nativas para recuperação de APP
de forma compensatória vinculada à ASV nº657/2012, em uma área denominada de
Fazenda Santa Ignácia (coordenadas Latitude -21.298067°; Longitude -47.701447°)no
município de Cravinhos, nordeste do Estado de São Paulo, local para plantio
devidamente aprovado pelo órgão licenciador.
Para seleção do local de plantio foi priorizado uma área unificada objetivando
explorar formação de corredores ecológicos dentre as áreas plantadas e entre outros
fragmentos remanescentes, e propiciando ligação de fragmentos florestais e, portanto,
facilitando o deslocamento da fauna e o fluxo gênico entre as populações de espécies
animais e vegetais (METZGER et al., 1998; JOLY et al., 2004). Além de promover
outras inúmeras funções ecológicas a restauração representa o restabelecimento da
biodiversidade, da estrutura e das funções de ecossistemas que apresentam ainda um
nível suficiente de resiliência (ARONSON et al., 1995;SMITH, 1980, 1986.
KAGEYAMA; GANDARA; 2000).
Desta forma, este trabalho teve por objetivo apresentar as medidas
compensatórias tomadas na recuperação das APPs degradadas na fazenda Santa Ignácia
no Estado de São Paulo, demonstrando os resultados obtidos oriundo de um plantio
direto de mudas, apresentando a metodologia utilizada e os indicadores empregados,
estes para a avaliação do desenvolvimento das áreas e indivíduos, durante os diferentes
monitoramentos realizados. Buscando concretizar e balizar a execução de plantios
compensatórios, que atendam as condicionantes ambientais de licenças, dentro do prazo
estabelecido pelo órgão licenciador competente, atendendo de forma efetiva as
condicionantes impostas e os indicadores de plantio utilizados para a avaliação dos
plantios compensatórios realizados nesses moldes.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo
O estudo foi realizado no plantio compensatório executado para recuperação das
áreas degradadas em APP situados na zona rural do município de Cravinhos, nas
proximidades da cidade de Ribeirão Preto, nordeste do Estado de São Paulo, local
nominado como Fazenda Santa Ignácia, fazenda que tem como principal atividade o
cultivo de cana-de-açúcar.
A área total selecionada conta com 66 hectares, abrangendo Áreas de
Preservação Permanente em duas modalidades de mata ciliares, sendo matas ciliares de
rios e nascentes. Segundo o Código Florestal, Lei nº12.651/2012, que dispõe
primeiramente no Art.4, alínea I “as faixas marginais de qualquer curso d’água natural
perene e intermitente, excluindo os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular,
em largura mínima de: inciso a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de
10 (dez) metros de largura;” e na alínea IV “as áreas no entorno das nascentes e dos
olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50
(cinquenta) metros.
A vegetação nativa nas áreas de preservação permanente na fazenda foram
degradadas principalmente pela pressão exercida pelas pastagens, vinculado à visitação
de gado de corte, como também a própria cultura extensiva da cana-de-açúcar com o
passar das décadas, onde as áreas não apresentavam cobertura arbórea, apenas por
herbáceas exóticas. O remanescente de vegetação nativa na região é constituída
principalmente por matas estacionais e por cerrado em menor escala. Segundo a
resolução SMA/SP nº 007/2017 o município de Cravinhos consta com a superfície de
31.134 hectares, destes a cobertura vegetal nativa correspondem a 1.797 hectares, que
representa apenas 5,8% de toda a área do município.
Os solos são predominantemente Latossolos, os Latossolos vermelhos estão
associados as formações da Floresta Estacional Semidecidual e a Decidual, já nas áreas
com características de cerrado tem-se a presença de Latossolos vermelho-amarelos e
Latossolos amarelos. O relevo varia entre plano e suava ondulado. O clima segundo a
classificação de Köppen é enquadrado com Cwa, descrito como Tropical de Altitude,
com pluviosidade média de 1.344 mm.

Plantio e Manutenção
O plantio das mudas realizado seguiu o delineamento em linhas de plantio, com
espaçamento de 3 metros entre as linhas de plantio e 2 metros entre mudas na linha de
plantio, resultando em um plantio cartesiano de 6m² por muda plantada. As atividades
de plantio e subsequentemente as atividades de manutenção contempladas nos projetos
ficam listados conforme apresentado abaixo:
Atividades de pré-plantio:

 Preparo de solo: visando a descompactação e limpeza da vegetação nas


áreas;
 Correção de pH do solo: eventual correção da acidez presente nos solos;
 Controle de formigas cortadeiras: minimizando impactos negativos ao
desenvolvimento das mudas causados pela herbivoria e a eventual
mortalidade;
 Coveamento: abertura dos “berços” com dimensões de 0,3x0,3x0,3 metros;
 Adubação pré-plantio: nos “berços” antes do plantio das mudas;
 Aquisição de mudas: aquisição de mudas regionais de essências arbóreas
nativas.
Atividades de plantio:

 Plantio: adequação das mudas de essências arbóreas nativas nos “berços”,


respeitando os critérios de orientação “vertical” e altura do coleto no
momento do plantio;
 Irrigação: irrigação das mudas antes e na realização do plantio.

Atividades de pós-plantio ou manutenção do plantio:

 Controle de plantas competidoras: o controle da vegetação herbácea


competidora ou o coroamento das mudas, realizado nas fases inicias de
crescimentos nos meses após o plantio, com cerca de 0,5 m de raio ao
entorno da muda;
 Controle de formigas: o controle de formigas durante as fases inicias do
plantio e áreas de replantio, somente realizado nas áreas julgadas como
necessárias.
 Adubação de cobertura: realizada nas mudas que apresentaram menor
crescimento e nas áreas de replantio, também realizada nos monitoramentos;
 Replantio: realizado nas áreas que apresentaram a taxa de mortalidade no
plantio acima de 5% ou de sobrevivência das mudas abaixo de 95%.
Espécies utilizadas
O número de espécies nativas utilizadas para a recuperação das APPs ficou em
torno de 123 diferentes espécies arbóreas, sendo considerado um plantio de alta
diversidade, as espécies utilizadas são pertencentes aos Biomas Mata Atlântica e
Cerrado. As espécies apresentam características sucessionais entre pioneiras,
secundárias e clímax foram distribuídas aleatoriamente em toda a área selecionada de
plantio. Algumas das espécies de maior frequência utilizadas estão apresentadas na
listagem a seguir, em ordem alfabética:

 A: Acacia polyphylla; Aegiphila sellowiana; Albizia hassleri; Albizia


niopoides; Alchornea glandulosa; Alchornea triplinervia; Anadenanthera
sp.; Apeiba tibourbou; Aspidosperma sp.; Astronium graveolens.
 B: Bastardiopsis densiflora; Bauhinia longifólia; Bixa olerana.
 C: Caesalpinia férrea; Calophyllum brasiliense; Campomanesia
guazumifolia; Casearia gossypiosperma; Casearia sylvestris; Cassia
ferrugínea; Cassia grandis; Cassia leptophylla; Cecropia pachystachya;
Cedrela fissilis; Ceiba speciosa; Celtis iguanaea; Citharexylum
myrianthum; Colubrina glandulosa; Cordia ecalyculata; Cordia sellowiana;
Cordia sp.; Cordia superba; Cordia trichotoma; Croton floribundus; Croton
urucurana.
 D: Dalbergia nigra; Dictyoloma vandellianum; Duguetia lanceolata.
 E: Enterolobium contortisiliquum; Erythrina cristae-galli; Erythrina
falcata; Esenbeckia leiocarpa; Eucalyptus sp.; Eugenia brasiliensis;
Eugenia florida; Eugenia pyriformis; Eugenia sp.; Eugenia uniflora.
 F: Ficus guaranítica; Ficus insipida; Ficus sp. .
 G: Gallesia integrifólia; Genipa americana; Gochnatia polymorpha;
Guarea guidonia; Guazuma ulmifolia.
 H: Handroanthus impetiginosus; Handroanthus vellosoi; Holocalyx
balansae; Hymenaea courbaril; Hymenaea courbaril.
 I: Inga laurina; Inga sp.; Inga vera; Jacaranda cuspidifolia; Lafoensia
pacari; Lonchocarpus sp.; Luehea divaricata.
 M: Mabea fistulifera; Machaerium aculeatum; Machaerium hirtum;
Machaerium nyctitans; Machaerium stipitatum; Machaerium villosum;
Maclura tinctoria; Mimosa bimucronata; Mimosa sp.; Myracrodruon
urundeuva; Myrciaria cauliflora; Myrciaria glazioviana; Myroxylon
peruiferum.
 N: Nectandra megapotamica; Peltophorum dubium.
 P: Pera glabrata; Piptadenia gonoacantha; Platypodium elegans;
Poecilanthe parviflora; Prunus sellowi; Psidium guajava; Psidium rufum;
Pterocarpus violaceus; Pterogyne nitens.
 R: Rapanea ferrugínea; Rapanea gardneriana; Rapanea guianensis;
Rapanea umbelata; Rhamnidium elaeocarpum.
 S: Sapindus saponária; Schefflera morototoni; Schinus molle; Schinus
terebinthifolius; Schizolobium parahyba; Senna alata; Senna macranthera;
Senna multijuga; Senna pendula; Senna sp.; Solanum paniculatum; Solanum
paniculatum; Solanum sp.; Syzygium jambos.
 T: Tabebuia roseoalba; Tapirira obtusa; Terminalia argentea; Triplaris sp.;
Vernonia polyanthes; Zanthoxylum rhoifolium; entre outras espécies
arbóreas.
Monitoramento
Os monitoramentos visaram acompanhar o desenvolvimento e recuperação das
áreas plantadas com a utilização de indicadores de plantio, estes indicadores abrangem
diferentes fatores de interação entre as mudas e o ambiente, comparando com o que
anteriormente era encontrado na área. Os indicadores utilizados foram quantitativos e
qualitativos, sendo os mais indicados pelos órgão licenciadores e em pesquisas,
conforme:

 Número de mudas vivas (indivíduos nas parcelas);


 Densidade de mudas vivas (indivíduos/ha):
 Número de mudas mortas (unidade);
 Taxa de mortalidade (%);
 Frequência de mudas por classe de altura (%);
 Altura máxima do plantio (metros);
 Altura média do plantio (metros);
 Taxa de herbivoria (%);
 Cobertura de herbáceas invasoras e superdominantes (%);
 Área basal (m² e m²/ha);
 Número de indivíduos regenerantes (unidade);
 Densidade de regenerantes (indivíduos/ha);
 Riqueza de regenerantes (número de espécies).
As diretrizes acima citadas seguiram o apresentado no Protocolo de
Monitoramento de Restauração Florestal da Mata Atlântica (2011), os levantamentos
foram realizados no total de 43 parcelas permanentes, instaladas no interior das áreas de
plantio, as quais foram divididas em 7 áreas nominadas de “A” até “G”. O indicador
imposto no Licenciamento do IBAMA é a taxa de mortalidade máxima de 5% após os 3
anos de plantio.
As parcelas permanentes foram instaladas em distribuição sistemática, em toda a
área de plantio, considerando distâncias entre 150 e 200 metros umas das outras,
parcelas circulares de raio equivalente a 8,00 metros, que corresponderam
individualmente a 201 m² e totalizaram 8.643m² de área amostrada. Cada uma das
parcelas foi georreferenciada, seus marcos centrais demarcados com tubos de pvc
branco, medindo 50mm de diâmetro e 0,8 metros de altura sobre o solo em cada parcela.
No interior de cada parcela foram plaqueteadas as mudas, desde o primeiro
monitoramento semestral em dezembro de 2013 e em todas as campanhas de
monitoramento as mudas foram identificadas, medidas e avaliadas para condições como
herbivoria e mortalidade. Nas mesmas parcelas foram avaliados indicadores de
regeneração natural. Todas as mudas foram quantificadas e identificadas através de seu
nome popular, nome científico e família botânica. As obrigações sobre o plantio
compensatório se encerram em 3 anos ou anterior quando os indicadores do plantio são
atendidos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ações de Plantio e Manutenção
As atividades de plantio foram realizadas em março e agosto de 2013, e
subsequentemente as de manutenção, com a realização de 5 monitoramentos entre o
pós-plantio e encerramento da demanda de compensação ambiental junto ao órgão
licenciador. O monitoramento com periodicidade semestral nos primeiros 2 anos, que
resultaram em 4 monitoramentos realizados nos meses de dezembro 2013, junho de
2014, dezembro de 2014 e junho de 2015, e 1 monitoramento de conclusão no terceiro
e último ano, este último monitoramento realizado durante os meses de novembro e
dezembro de 2016.
Tabela 41 – Quadro das atividades realizadas durante o plantio compensatório em Cravinhos/SP.

2013 2014 2015 2016


mar/13

nov/16
ago/13

ago/16
dez/13

dez/14

dez/16
out/13

fev/14
abr/14
jun/14
out/14

fev/15
jun/15

set/16

Atividade s

Preparo do solo X X
Correção do pH X X
Controle de formigas X X
Pré -plantio
Coveamento X X
Adubação pré-plantio X X
Aquisição de mudas X X
Plantio X X
Plantio
Irrigação X X
Controle de plantas competidoras X X X X X X X X X X X
Pós-plantio / Controle de formigas X X X X X X X X X X X
Manute nção Adubação de cobertura X X X X
Replantio X X X X
Avaliação de campo X X X X X X
Monitorame nto Relatório X X X X X X X
Acompanhamento do plantio X X X X X X X X X X X X X X X

Indicadores do Plantio
Os indicadores de plantio são apresentados a seguir, sendo que para cada área
são considerados a média ou soma dos valores das parcelas, ficando dispostos:
 Número de mudas vivas (indivíduos na parcela): somatória das mudas vivas
nas parcelas de cada área;
 Densidade de mudas vivas (indivíduos/ha): média da densidade das parcelas
de cada área para hectares;
 Número de mudas mortas (unidade): somatória das mudas mortas nas
parcelas de cada área;
 Taxa de mortalidade (%): porcentagem da relação total de mudas mortas
dividido pelo total de mudas, para cada área;
 Classe de altura: média da porcentagem de classe de alturas das parcelas de
cada área;
 Altura média e altura máxima do plantio (metros): média das parcelas de
cada área;
 Cobertura de gramíneas (%): média da porcentagem de cobertura de
gramíneas das parcelas de cada área;
 Área basal (m²): média da área basal das parcelas de cada área em metro
quadrado;
 Área basal por hectare (m²/ha): média da área basal por hectare das parcelas
de cada área.
 Número de indivíduos regenerantes (unidade): somatória dos indivíduos
regenerantes encontrados nas parcelas de cada área;
 Densidade de regenerantes (indivíduos/ha): média da densidade das parcelas
de cada área;
 Riqueza de regenerantes (número de espécies): somatório do número de
espécies existentes nas parcelas de cada área.
Os indicadores de plantio para as parcelas avaliadas no último monitoramento
resultam:
Tabela 42 – Tabela de indicadores avaliados nas 43 parcelas divididas nas 7 áreas de “A” a “G”, no 5º e último
monitoramento realizado no plantio compensatório de Cravinhos/SP.

Indicadores A B C D E F G Média
Número de mudas vivas (unidade) 221 258 382 173 67 107 333 220
Densidade (indivíduos/ha) 1833 1834 1728 1721 1667 1774 1841 1771
Número de mudas mortas (unidade) 2 1 10 6 3 3 14 6
Taxa de mortalidade (%) 1% 0% 3% 3% 4% 3% 4% 3%
Classe de altura < 1 m (%) 23% 30% 15% 9% 11% 14% 16% 17%
Classe de altura 1 a 2 m (%) 16% 8% 10% 10% 9% 8% 19% 11%
Classe de altura 2 a 3 m (%) 22% 19% 16% 23% 23% 34% 22% 23%
Classe de altura 3 a 4 m (%) 11% 23% 18% 30% 28% 24% 29% 23%
Classe de altura > 4 m (%) 29% 20% 41% 28% 30% 19% 15% 26%
Altura média plantio (metros) 3,16 2,87 3,74 3,53 3,53 3,21 3,11 3,31
Altura máxima plantio (metros) 7,75 6,79 6,91 6,3 5,75 5,83 7,56 6,7
Taxa de herbivoria (%) 1% 1% 0% 0% 0% 0% 3% 1%
Cobertura de gramíneas(%) 35% 5% 13% 5% 5% 12% 12% 12%
Área basal (m²) 0,98 2,37 1,48 0,83 1,36 1,51 1,48 1,43
Área basal (m²/ha) 48,74 117,77 73,59 41,51 67,76 74,97 73,65 71,14
Número de indivíduos regenerantes (unidade) 75 95 113 65 19 41 997 201
Densidade de regenerantes (indivíduos/ha) 622 675 511 647 473 680 5511 1303
Riqueza (número de espécies) 11 15 23 11 7 12 20 14
A taxa de mortalidade do plantio, taxa de herbivoria e densidade são
apresentadas na tabela a seguir, realizando uma comparação entre os valores obtidos nos
3º, 4º e 5º monitoramento. Os valores obtidos são comparados com valores padrões
estabelecidos pela legislação que dispõe para esses quesitos a Resolução SMA nº
32/2014. Os resultados demonstram boa evolução e recuperação das condições
ambientais em relação às áreas anteriormente degradadas nas APPs da propriedade, que
agora apresentam o reflorestamento de espécies nativas.
Tabela 43 – Quadro de comparação dos indicadores da taxa de Mortalidade (Mort.), taxa de Herbivoria
(Herb.) e Densidade, para os 3 últimos monitoramentos realizado no plantio compensatório de Cravinhos/SP.

3° Monitoramento 4° Monitoramento 5° Monitoramento


Mudas Densidade Herb. Mort. Mudas Densidade Herb. Mort. Mudas Densidade Herb. Mort.
vivas (indiv./ha) (%) (%) vivas (indiv./ha) (%) (%) vivas (indiv./ha) (%) (%)
Áreas
A 168 1400 3,6 17,9 163 1358 3,2 19,4 221 1833 1 1
B 192 1371 3,1 21,5 184 1314 1,8 26,3 258 1834 1 0
C 310 1409 1,9 22,5 305 1386 2,8 25,4 382 1728 0 3
D 150 1500 4 37,1 141 1410 2,2 40,5 173 1721 0 3
E 62 1550 9,7 21,5 59 1475 0 28,6 67 1667 0 4
F 94 1567 6,4 24,4 90 1500 5,7 26,3 107 1774 0 3
G - - - - - - - - 333 1841 3 4
Total 976 1435 3,7 24,4 942 1385 2,7 27,7 1541 1771 0,7 2,6
Esperado - 1612 < 10% < 5% - 1667 < 10% < 5% - 1667 <10% <5%

Na avaliação do porte do plantio foram avaliados as médias das alturas das


mudas das 43 parcelas, estas divididas nas áreas de “A” até “G”, em cada um dos 5
monitoramentos realizados durante o período dos 3 anos.
Tabela 44 – Quadro com os valores médios das alturas nos 5 monitoramentos realizados no plantio
compensatório de Cravinhos/SP.

Áreas 1º Monitoramento 2º Monitoramento 3º Monitoramento 4º Monitoramento 5º Monitoramento


A 0,84 1,8 1,95 3,35 3,16
B 0,61 1,6 2,03 3,26 2,87
C 0,64 1,73 2,54 3,68 3,74
D 0,53 1,59 2,49 3,71 3,53
E 0,59 1,59 2,71 4,03 3,53
F 0,63 1,35 2,23 3,56 3,21
G - - - - 3,11
Média Geral 0,64 1,61 2,31 3,56 3,31

Pode-se notar uma pequena queda em alguns dos valores das alturas do 4º para o
5º monitoramento, isso se justifica pela realização da atividade de replantio que teve de
ser executada visto a taxa de mortalidade do 4º monitoramento. Também, devido a
herbivoria e condições climáticas desfavoráveis para algumas espécies utilizadas no
plantio compensatório.
A densidade, riqueza e regeneração natural foram indicadores avaliados nos 5
monitoramentos, os valores obtidos nas avaliações foram a Densidade de Indivíduos
(D.I) e o Número de Espécies (N.E) para todas as áreas e a média geral do
reflorestamento executado. Quando a quantidade de indivíduos regenerantes for nula na
parcela, ou seja, quando não houve o ingresso ou regeneração do banco de sementes,
este indicador será representado pelo número zero (0).
Tabela 45 – Quadro de indicadores de regeneração natural das áreas de plantio nos 5 monitoramentos
realizados no plantio compensatório de Cravinhos/SP.

1° Monitoramento 2º Monitoramento 3º Monitoramento 4º Monitoramento 5º Monitoramento


Áreas D.I. N.E. D.I. N.E. D.I. N.E. D.I. N.E. D.I. N.E.
A 25 2 25 2 50 3 33 3 622 11
B 171 7 71 8 79 6 43 5 675 15
C 9 2 14 3 41 2 9 1 511 23
D 0 0 20 2 140 4 90 2 647 11
E 50 2 25 1 50 2 50 2 473 7
F 67 1 0 0 0 0 0 0 680 12
G - - - - - - - - 5511 20
Total 51 13 28 15 62 15 34 11 1303 40
D.I. – densidade de indivíduos (indiv./ha); N.E. – número de espécies.

Os valores de densidade e riqueza de regenerantes no 4º monitoramento foram


de 34 indivíduos/hectare, distribuídos em 11 diferentes espécies, já avaliando os
mesmos valores para a 5º monitoramento. A densidade e riqueza foi de 1303
indivíduos/hectare em 40 espécies diferentes, onde a área “G” se apresentou como um
ponto fora da curva, avaliando os valores totais sem a área “G” temos indicadores de
densidade e riqueza de 600 indivíduos/hectare.
Estes valores indicam ótimos índices de recrutamento de plântulas, decorrente da
frutificação de espécies pioneiras do reflorestamento e alta visitação e nidificação de
espécies da fauna regional. Algumas outras espécies da fauna foram observadas no
local, como teiús, pássaros e um tatu, entre diversos insetos. A presença de fauna com
hábitos diversificados tanto comportamental como alimentar contribuíram para a
polinização e dispersão de sementes, esta visitação evidencia a melhora nas condições
ambientais das áreas recuperadas.
A Resolução SMA 32/2014 estabelece valores de referência para alguns
indicadores de restauração ecológica no Estado de São Paulo, os valores base indicam
quando comparados para plantios de 3 anos:

 A densidade de regenerantes no plantio compensatório de maneira geral


obteve valores de 1303 indivíduos/hectare este valor encontra-se na categoria
“adequado”, quando acima de 200 indivíduos por hectare;
 A riqueza de regenerantes do plantio compensatório resultou em 40 espécies,
valor se encontra na categoria “adequado”, quando acima de 3 espécies.
CONCLUSÃO
Os aspectos observados no plantio compensatório após o 5º monitoramento,
momento este em que é dado como encerradas as obrigações de acompanhamento
(manutenção e monitoramento) das condições ambiental do plantio, demonstram por
meio dos indicadores que houve atendimento das demandas de recuperação dentro do
prazo. Algum dos pontos que se mostraram importantes e alguns dos resultados obtidos
estão listados:

 A execução de replantio de mudas de espécies nativas da região em todas as


áreas de recuperação quando os níveis de mortalidade se mostraram
elevados, não permitindo que ocorresse a perda das condições ambientais já
instauradas nas áreas;
 As manutenções silviculturais realizadas nas áreas, como o controle de
pragas e plantas daninhas e adubação de cobertura, foram atividades que se
mostraram fundamentais e suficientementes dado as condições do local;
 O plantio de alta densidade e diversidade de espécies demonstrou que a
escolha da realização de um plantio linear com grande quantidade de
espécies é um indicador que demonstra que a heterogeneidade de espécies é
positivo a formação e desenvolvimento do fragmento florestal.
 O desenvolvimento das plantas em altura, diâmetro e tamanho de copa,
principalmente de espécies pioneiras, de modo que as áreas revegetadas
apresentam árvores com altura superior a 9 metros, além de exemplares
menores, compondo diferentes estratos verticais na composição da
fisionomia florestal, onde a escolha das espécies se mostrou adequada, com
um grande número de espécies diferentes;
 O sombreamento do solo e formação de camada de serapilheira contínua em
muitos dos locais onde foram realizados os plantios compensatórios, com
isso as espécies competidoras de porte herbáceo não tinham condições de se
desenvolver, dando oportunidades para as espécies regenerantes e o ingresso
de novas espécies;
 A alta quantidade de indivíduos e espécies regenerantes presentes em todas
as áreas de plantio em estado jovem, apresentando crescimento,
desenvolvimento e sanidade adequados, mostrando que as condições
ambientais melhoraram fomentando o desenvolvimento e germinação do
banco de sementes presente e em formação;
 A ausência de processos erosivos, nas áreas agora com cobertura vegetal;
 O isolamento das áreas de plantio com cercas, que impede a entrada de gado
e pessoas contribuiu para os resultados visto que a limite de acessos gera
condições do sub-bosque se desenvolver.
Alguns pontos como a presença de insetos de espécies como Cicada sp. foram
observados, eles podem prejudicar o crescimento dos indivíduos quando em grandes
populações. Outro ponto foi a dominância da espécie herbácea exótica Digitaria
insularis nas margens e clareiras das áreas reflorestadas, espécie que apresenta
característica de pressionar as áreas regeneradas limitando a expansão natural da
regeneração das espécies pioneiras.
E com os dados apresentados conclui-se que o reflorestamento de alta densidade
implantado como medida ambiental compensatória do Projeto de Duplicação da Via
Férrea de Campinas – Embu-Guaçu apresenta-se bem estabelecido e desenvolvendo-se
adequadamente, mostrando que o prazo de 3 anos para encerramento das atividades é
um prazo suficiente. A realização de medidas de monitoramento e manutenção nos
plantios compensatórios nesse padrão podem até ser encerrados em menores prazos
quando os indicadores utilizados forem alcançados e mantidos durante monitoramentos.
Os indicadores estipulados demonstram a maturidade do reflorestamento, o
elevado recobrimento do solo e capacidade de ingresso e regeneração mostram que não
se fazem mais necessárias intervenções antrópicas de manutenção e monitoramento, e
esse plantio pode ser utilizado como padrão para outros projetos de plantio
compensatório que apresentem as mesmas condições de degradação ambientais iniciais
em Áreas de Preservação Permanente – APPs..
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
METZGER, J.P.; Goldenberg, R.; Bernacci, L.C. (1998).Diversidade e estrutura de
fragmentos de mata de várzea e de mata mesófila semidecíduasubmontana do rio
Jacaré-Pepira (SP).Revista Brasileira de Botânica, v. 21, n.3. (p. 321-330), 1998.

ARONSON, J. et al. Restauration et réhabilitation des écosystèmes degradés en


zones arides et semi-arides: le vocabulaire et les concepts. Paris: Eurotext, p. 11- 9,
1995.

LORENZI, HARRI, 1949. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de


plantas arbóreas do Brasil, vol. 1 / Harri Lorenzi. 5° Ed. Nova Odessa, SP. Instituto
Plantarum, 2008.

PACTO PELA RESTAURAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA: referencial dos


conceitos e ações de restauração florestal / [coordenação geral: Laboratório de Ecologia
e Restauração Florestal – CB/ESALQ/USP; organização e edição de texto: Ricardo
Ribeiro Rodrigues, Pedro Henrique Santin Brancalion, Ingo Isernhagen]. 3 ed. Ver. –
São Paulo: LERF,2010. 259 p.

PORTARIA MMA Nº 443, 17/12/2014 – Dispõe sobre as espécies da flora brasileira


ameaçadas de extinção aquelas constantes da "Lista Nacional Oficial de Espécies da
Flora Ameaçadas de Extinção".

RESOLUÇÃO SMA SP Nº48, 22/09/2014 – Estabelece as espécies da flora do Estado


de São Paulo ameaçadas de extinção, seguindo recomendação do Instituto de Botânica
de São Paulo.

QUALIDADE DE MUDAS DE Hymenaea courbaril L. EM DIFERENTES


SUBSTRATOS, PARA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Gilderlon dos Santos Soares1; Nayara dos Santos Queiroz1; Jairo Rafael Machado Dias1;
Nilson Reinaldo Fernandes dos Santos Júnior1; Diogo Arthur Valiati Dantas1;
Alessandra Alves Costa1; Wanderson Cleiton Schmidt Cavalheiro1; Jhony Vendrusculo1

Universidade Federal de Rondônia, Av. Norte Sul, 7300 – Nova Morada, Rolim de
Moura – RO, 78987-000, [email protected]; [email protected];
[email protected]; nilsonrfs.junior @gmail.com;
[email protected]; [email protected]; [email protected];
[email protected]

RESUMO

Objetivou-se avaliar o crescimento de Hymenaea courbaril L. em diferentes substratos.


O trabalho foi realizado em casa de vegetação, sem cobertura (pleno sol), no município
de Rolim de Moura. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com 10
tratamentos e 5 repetições (3 plantas por repetição). Os tratamentos são formados por
substratos compostos por SM (T1), SM + NPK + micronutrientes (T2), SM + NPK +
301

micronutrientes + calagem (T3), SM + NPK + micronutrientes + gessagem (T4), SM +


NPK + micronutrientes + calagem + gessagem (T5), SM + areia fina (T6), SM + areia
fina + NPK + micronutrientes (T7), SM + areia fina + NPK + micronutrientes +
calagem (T8), SM + areia fina + NPK + micronutrientes + gessagem (T9) e SM + areia
fina + NPK + micronutrientes + calagem + gessagem (T10). As mudas foram irrigadas
com 250 mL de água dia-1 planta-1. Aos 30 e 60 dias após o transplantio foram
mensurados o diâmetro do colo, altura e índice de clorofila. Os parâmetros diâmetro do
colo e altura não foram alterados pelo tipo de substrato, independente da época de
avaliação. O índice de clorofila foi maior no T4 em relação ao T7 em ambos períodos, e
maior que o T8 e T9 em 60 dias após o transplantio. Os resultados sugerem que o jatobá
é tolerante a baixa disponibilidade de nutrientes no solo. O substrato composto por solo
de mata + NPK + micronutrientes + gessagem, é recomendado para produção de mudas
de jatobá, visando à recuperação de áreas degradadas a pleno solo, e o enriquecimento
de sistemas agroflorestais e capoeiras.

Palavras Chave: exigência nutricional, jatobá, manejo do substrato, produção de


mudas

INTRODUÇÃO

O estado de Rondônia apresenta alta pluviosidade (1.400 a 2.600 mm ano-1)


(SEDAM, 2012), que associado a práticas inadequadas de atividades agropecuárias,
ocasionam a degradação do solo. Esse problema tem ocasionado reduções na
produtividade de alimentos, afetando inclusive o setor madeireiro, por dificultar o
crescimento de espécies arbóreas.
O processo de recuperação de áreas degradadas exige um planejamento prévio,
com base em várias informações, incluindo as espécies a serem utilizadas. Geralmente
selecionam-se as espécies levando em consideração alguns fatores como adaptação ao
ambiente degradado e potencial econômico, visando à eficiência na recuperação e o
retorno financeiro.
O jatobá (Hymenaea courbaril L.) é uma espécie florestal pertencente à família
Fabácea, e apresenta características como tolerância a luminosidade (Campos; Uchida,
2002), baixa disponibilidade de água (Nascimento, 2011), e a forrageiras do gênero
Brachiaria (Gandini et al., 2011), que permite sua utilização para recuperação de áreas
degradadas e de matas ciliares ocupadas por pastagens. Essa espécie também apresenta
grande potencial econômico para fins madeireiros, sendo a 2° no ranking de exportação
(Angelo et al., 2001), e não madeireiros por ser utilizada na alimentação e para fins
medicinais (Costa et al., 2011).
Áreas degradadas geralmente apresentam condições que dificultam o
crescimento e desenvolvimento da vegetação, destacando-se a baixa disponibilidade de
água e nutrientes. Em função destas condições limitantes recomenda-se o uso de mudas
com boa qualidade, visando à elevação dos índices de sobrevivência, crescimento e
desenvolvimento. Mudas que apresentam estruturas bem desenvolvidas, realizam mais
fotossíntese, e absorvem mais de água e nutrientes, que mudas raquíticas.

MATERIAL E MÉTODOS
302

A condução do experimento foi realizada em casa de vegetação, sem cobertura (a


pleno solo), envolta lateralmente com sombrite a 50%, na Universidade Federal de
Rondônia, município de Rolim de Moura. O clima é do tipo Aw (quente e úmido)
(KÖPPEN GEIGER, 1936), com temperatura média de 25,2ºC, precipitação média de
1.850 mm, e umidade relativa em torno de 75%, apresentando seca bem definida entre
os meses de abril a setembro (SEDAM, 2012).
O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado com 10
tratamentos (Tabela 1) e 5 repetições (3 plantas por repetição), totalizando 150 unidades
experimentais.

Tabela 1 - Tratamentos utilizados no experimento.

T Substrato
T1 SM
T2 SM + NPK + micro
T3 SM + NPK + micro + calagem
T4 SM + NPK + micro + gessagem
T5 SM + NPK + micro + calagem + gessagem
T6 SM + AF
T7 SM + AF + NPK + micro
T8 SM + AF + NPK + micro + calagem
T9 SM + AF + NPK + micro + gessagem
T10 SM + AF + NPK + micro + calagem + gessagem
T: tratamento; SM: solo de mata; AF: areia fina;* testemunha.

Os tratamentos T6 até T10 apresentam SM e AF na proporção de 1:1.


A adubação de NPK e micronutrientes foi realizada com base no adubo
FH 444, e aplicações complementares de N (ureia) e K (KCl).
O adubo FH 444 foi aplicado na dose de 2.146,87 mg dm-3, levando-se
em consideração uma adubação padrão de fósforo, e uma dose mínima dos
micronutrientes. Este adubo contêm nutrientes nas seguintes proporções: N =
2%, P2O5 = 16%, K2O = 6%, Ca = 10%, S = 7%, Mg = 1%, B = 0,1%, Mn =
0,06%, Mo = 0,01% e Zn = 0,2%.
As adubações complementares de ureia e KCl, foram realizadas para
alcançar a teores de 2% de N e 6% de K, utilizando duas doses de 4,089g de
ureia e duas doses de 2,79g de KCl por tratamento. Estas adubações foram
parceladas em duas aplicações, uma no dia do transplante (30/11/2016) e a
outra na metade do experimento (14/01/2017), com 45 dias de andamento.
A quantidade de calcário foi recomendada considerando uma saturação
por bases de 80%, sendo aplicado 6,3116 g de calcário dolomítico com PRNT
de 100% em cada sacolinha (equivalente à 2,9288 t ha -1), no dia do
transplante. A quantidade de gesso aplicada foi de 1,5779 g por sacolinha,
valor equivalente a 0,7322 t ha-1, no dia do transplante.
As sementes de H. Courbaril foram coletadas na mesma planta matriz,
posteriormente realizou-se a quebra de dormência por meio de escarificação
mecânica, e o plantio em sementeiras contento areia lavada e peneirada, para

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303

germinação. Após 20 dias ocorreu a germinação, e efetuou-se o transplante


das plântulas para sacolas de polietileno contendo 4,31 dm³ de solo peneirado,
proveniente da camada de 0-20 cm de um Latossolo Vermellho-Amarelo
(Tabela 2).

Tabela 46 - Atributos químicos e físicos do Latossolo Vermelho-Amarelo, na camada de 0-20 cm.

Químico
pH P K+ Ca2+ Mg2+ Na+ Al3+
água mg dm-3 ------------- cmolc dm-3 -------------
5,40 3,80 0,25 3,70 1,50 0,00 0,11
H+Al SB t T MO V M
--------- cmolc dm-3 --------- g kg-1 ---- % ----
5,00 5,45 5,56 10,46 25,20 52,0 1,97
Físico
Areia Silte Argila Textura
--------------- g kg-1 ---------------
527 76 397 Argila arenosa
SB: soma de bases; t: CTC efetiva; T: CTC potencial; MO: matéria orgânica; V:
saturação por bases; m: saturação por Al3+.

As mudas foram irrigadas diariamente com 250 ml de água por planta. Aos 30 e
60 dias após o transplantio (30/12/2016 e 29/01/2017), foram mensurados os seguintes
parâmetros: diâmetro do colo (paquímetro), altura (trena) e índice de clorofila
(clorofilômetro, folha mediana).
Os dados foram submetidos a análise de variância (ANOVA), e quando
significativo (p < 0,1), as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p < 0,05)
(SAS, 2014).

Resultados e Discussão

No presente trabalho verificou-se diferença significativa apenas para o índice de


clorofila (Tabela 3), independente do período de avaliação.

Tabela - 3. Resumo da análise de variância para os resultados de diâmetro do colo (DC), altura (H) e
índice de clorofila (IC).

P GL SQ QM F cal Pr > F

30 dias

DC 9 0,004858 0,000540 1,05 0,42ns

H 9 110,64158 12,29351 1,10 0,39ns

IC 9 199,73760 22,19307 1,94 0,07°

60 dias

DC 9 0,00735 0,00082 0,97 0,48ns

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304

H 9 141,79596 15,75511 0,88 0,55ns

IC 9 328,73670 36,52630 4,02 < 0,01**

P: parâmetro; GL: grau de liberdade; SQ: soma dos quadrados; QM: quadrado médio;
ns
: não significativo; ** e °: significativo a 1 e 10 % de probabilidade, respectivamente.

Na primeira avaliação (30 dias), observou-se que o índice de clorofila foi maior
no T4 (44,43 µg cm2) em relação ao T7 (36,99 µg cm2), os demais tratamentos não
apresentaram diferença significativa (Tabela 4).

Tabela 4 - Valores médios para diâmetro do colo (DC), altura (H) e índice de clorofila (IC), após 30 dias
do transplantio.

Tratamento DC H IC

------------ cm ------------ µg cm2

T1 0,39 a 34,90 a 41,07 ab

T2 0,37 a 31,87 a 42,92 ab

T3 0,37 a 32,37 a 43,88 ab

T4 0,37 a 35,43 a 44,43 a

T5 0,38 a 34,87 a 42,93 ab

T6 0,37 a 34,00 a 42,69 ab

T7 0,39 a 36,77 a 36,99 b

T8 0,38 a 32,46 a 40,80 ab

T9 0,38 a 35,24 a 40,97 ab

T10 0,37 a 33,83 a 41,74 ab

Letras minúsculas iguais na mesma coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.

Na segunda avaliação (60 dias), verificou-se que o T4 (46,28 µg cm2) tem maior
índice de clorofila que os tratamentos T7 (39,23 µg cm2), T8 (39,09 µg cm2) e T9
(38,44 µg cm2), não havendo diferença significativa em relação aos outros tratamentos
(Tabela 5).

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Tabela 5- Valores médios para diâmetro do colo (DC), altura (H) e índice de clorofila (IC), após 60 dias
do transplantio.

Tratamento DC H IC

------------ cm ------------ µg cm2

T1 0,44 a 39,09 a 43,25 ab

T2 0,45 a 39,30 a 44,26 ab

T3 0,44 a 38,30 a 42,93 ab

T4 0,43 a 38,98 a 46,28 a

T5 0,47 a 43,76 a 44,63 ab

T6 0,45 a 41,76 a 44,52 ab

T7 0,44 a 40,58 a 39,23 b

T8 0,47 a 41,70 a 39,09 b

T9 0,43 a 38,29 a 38,44 b

T10 0,45 a 40,43 a 42,12 ab

Letras minúsculas iguais na mesma coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.

A falta de resposta no crescimento das mudas de jatobá até 60 dias (diâmetro do


colo e altura), podem estar relacionados com a adaptação das mudas as condições de
baixa fertilidade, tendo em vista que, a saturação por bases da testemunha é de apenas
52%. Esses resultados estão de acordo com os resultados obtidos por Vieira et al.
(2015), que ao avaliar o efeito da saturação por base no crescimento de mudas de jatobá,
observaram os maiores valores para as características morfológicas com saturação de
40%.
A adaptação a solos de baixa fertilidade é uma característica desejada para
recuperação de áreas degradadas, visto que, estas áreas na região amazônica geralmente
apresentam baixa fertilidade natural (Moreira; Malavolta, 2002). Essa adaptação esta
relacionada com a alta eficiência de nutrientes do solo.
Em trabalho realizado por Haddad et al. (2004), verificou-se que a Hymenaea
courbaril, quando comparada com a espécie Croton priscus, apresenta menor absorção
de N do solo, menor teor de compostos nitrogenados nas folhas, maior tempo de vida da
folha e maior massa foliar específica, indicando maior eficiência de uso de N. Esse
mecanismo esta associado com exigência de N para o crescimento da espécie, que chega
a ser superior as exigências de P e K (Nascimento et al., 2014).
O aumento do número de tratamentos com diferença significativa com a
elevação do período de avaliação sugere que o índice de clorofila não é afetado

305
306

inicialmente pelo tipo de substrato, provavelmente em função da reserva de nutrientes


disponível na semente. De acordo com Souza et al. (2012), a semente jatobá apresenta
valores significativamente maiores de carboidrato (381,53 mg g-1), P (6,49 mg 100 g-1),
Ca (5,45 mg 100 g-1) e S (2,01 mg 100 g-1), que as espécies pente de macaco, flor de
paca e murici manso. Contudo, conforme há redução dessa reserva com ao longo tempo,
o substrato torna-se responsável por nutrir a planta, afetando o índice de clorofila.
O índice de clorofila está diretamente relacionado com a capacidade
fotossintética das plantas. Assim, observa-se que as mudas provenientes do T4, quando
comparadas aos tratamentos T7, T8 e T9 aos 60 dias, tendem a apresentar maior
eficiência fotossintética em áreas sombreadas, sendo recomendadas tanto para
recuperação de áreas degradadas a pleno solo, quanto para sistemas agroflorestais
(SAF's) implantados e sistemas enriquecimento florestal. Portanto, o T4 produz mudas
de jatobá com melhor qualidade para o plantio.

CONCLUSÕES

O diâmetro do colo e a altura da Hymenaea courbaril não é alterado pelo tipo de


substrato, indicando tolerância a baixa disponibilidade de nutrientes no solo.
O substrato composto por solo de mata + NPK + micronutrientes + gessagem,
eleva a qualidade da mudas por aumentar o índice de clorofila, possibilitando a
recuperação de áreas degradadas a pleno solo, e o enriquecimento de sistemas
agroflorestais e capoeiras.

AGRADECIMENTOS
Ao Viveiro Cidadão, pelo apoio na coleta e preparo das sementes para
germinação, e produção de mudas.

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