Curso de Constelação Familiar - 06

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BONS ESTUDOS!

O que é Constelação Familiar e como ela


funciona?

Ao vir ao mundo no seio de uma família, não herdamos somente um patrimônio


genético, mas também sistemas de crença e esquemas de comportamento.
Nossa família é um campo de energia no interior do qual nós evoluímos. Cada
um, desde seu nascimento, ocupa um lugar único.

Nós somos mantidos em nosso campo familiar pessoal e individual num nível
determinado, que entrava ou faz crescer a nossa disposição para ser feliz,
escolher livremente, ter êxito naquilo que empreendemos, para fazer durar os
relacionamentos agradáveis, a saúde, o bem-estar e também as doenças.
Acontece que experimentamos o sentimento de termos sido mantidos nos
esquemas problemáticos desde tempos imemoriais.
As constelações familiares nos dão a oportunidade de compreender os
esquemas em seu nível mais profundo. Elas permitem que nos libertemos,
ao mesmo tempo que encontramos a paz e a felicidade.
A natureza do nosso campo de energia familiar é determinada pela história da
nossa família, principalmente sua religião e suas crenças. Nosso país de
origem, a religião em meio à qual nascemos, também desempenham um
papel. Essa natureza é moldada por acontecimentos marcantes, como a
história dos relacionamentos dos pais e dos avós, morte de uma criança muito
nova, aborto, parto prematuro, adoção, suicídio, guerra, exílio forçado, troca de
religião, incesto, antepassado agressor ou vítima, traição, ou mesmo a
confiança.
As ações generosas e altruístas de nossos pais e de nossos antepassados
são saudáveis para nós, enquanto suas más ações modificam o campo
energético familiar, obrigando as gerações posteriores a pagar o preço.

Entre as más ações estão: adquirir bens de forma duvidosa, trapacear ou


roubar, pertencer a uma corporação cuja função envolve matar (como o
exército, por exemplo), as diferentes formas de violência, a internação
psiquiátrica ou a prisão de membros da família, os acidentes que terminam em
morte, renegar sua religião ou seu país.

O comportamento dos nossos antepassados em relação às mulheres ou aos


homens afeta nossa aptidão para criar bons relacionamentos. A ausência de
respeito e da gratidão a que nossos antepassados têm direito também altera o
campo de energia. O provérbio bíblico “até a terceira e quarta geração”
confirma-se nas constelações familiares. Pode até ser que a influência decorra
daí.
Imersos no campo energético familiar, ignoramos sua influência que
permanece fora da nossa consciência. Estamos presos a comportamentos e
atitudes que nos derrotam e incitem a cometer atos que não compreendemos
e dos quais acabamos por nos arrepender.
As constelações familiares nos ensinam que a nossa família é a nossa sina.
Entretanto, não estamos irremediavelmente presos a essa sina e podemos
alcançar a cura. Ao compreender os mecanismos desse processo, ficamos
na posse do poder de controlar o nosso comportamento a fim de evitar
sofrimento para as gerações futuras.

O MÉTODO DE TRABALHO NAS


CONSTELAÇÕES FAMILIARES
Na maioria das vezes, as constelações familiares são conduzidas no seio
de um grupo de trabalho, mas certos profissionais as praticam em sessões
individuais, sejam elas somente de terapia ou de Coaching Estrutural
Sistêmico, com o auxílio de âncoras espaciais ou bonecos. De um modo ou de
outro, elas seguem um determinado número de etapas (leia o artigo até o
final).

CONSTELAÇÕES FAMILIARES E SESSÕES INDIVIDUAIS


Durante as sessões individuais, o terapeuta ou coach tem a possibilidade de
assumir o papel de todos os representantes ou de confiar essa tarefa ao
cliente. Há também a utilização de pedaços de papel (âncoras espaciais) nos
quais se escreve o nome de um membro da família, depois dobra-se uma
extremidade em ponta para figurar a orientação do olhar do representante.
Pede-se ao cliente que imagine que se trata de pessoas reais e não pedaços de
papel. O cliente forma a constelação normalmente.
Ele permanece em seguida ao lado de cada pedaço de papel e faz
somente o trabalho dos representantes. Se ele quiser compartilhar sua
experiência, ele deixa o espaço da constelação e senta-se afastado dela.
Ali, integra-se o que acabou de se passar. Esse método é muito eficaz.
Alguns profissionais consideram que não pode-se montar a constelação
individual em todos os casos ou com qualquer pessoa. Pois quando um cliente
está afastado de suas emoções, não pode-se pedir para ele ser
representante em sua própria constelação, quer se trate de um trabalho
individual ou de grupo.

FALANDO DA CONSTELAÇÃO EM GRUPO


Num primeiro momento, o coach ou terapeuta esclarece o problema ou a
questão do cliente. São então escolhidos representantes entre os membros do
grupo: a constelação é montada e se desenrola progressivamente até a sua
solução, ou até o momento em que fica evidente que sua solução é
impossível – que é, de certo modo, uma solução à parte. Podemos
introduzir um ritual de encerramento de sessão, assim como conselhos
sobre a maneira de integrar aquilo que a constelação revela.

O CRIADOR DA CONSTELAÇÃO SISTÊMICA FAMILIAR


Hoje, quando se faz menção à terapia familiar sistêmica, pensa-se em Bert
Hellinger e seu método das constelações familiares. Hellinger nasceu na
Alemanha em 1925. Trabalhou como missionário na África do Sul entre os
zulus durante dezesseis anos, período em que foi ao mesmo tempo padre e
diretor de uma escola de tamanho considerável.
Na qualidade de sacerdote, viu-se diante dos costumes, dos rituais e da
música zulus. Uma formação ecumênica somada a dinâmica de grupo
fundada no diálogo, na fenomenologia e na experiência humana marcou para
ele uma etapa decisiva. Depois de 25 anos como padre, deixou sua
congregação religiosa, voltou a Alemanha e partiu para uma formação em
psicanálise.
Hellinger estudou inúmeras abordagens terapêuticas, algumas baseadas na
respiração e no corpo, na Gestalt, na análise transacional, na terapia
familiar sistêmica, em constelações familiares, na programação
neurolinguística, em terapia provocativa e na terapia do abraço.
Ele qualifica seu método de fenomenológico. É um método profundamente
empírico, cujo estudo experimental lhe permitiu descobrir inúmeras leis
que governam nossa vida e nosso destino. Quando Hellinger aborda a questão
dessas leis, ele se recusa a ser categórico, com medo de alienar sua preciosa
liberdade para evoluir e aprender. Ele incessantemente põe à prova essas leis,
como o fazem todos aqueles que praticam as constelações. Elas são validadas,
adaptadas e até mesmo revogadas por seu método fenomenológico.

O PASSO-A-PASSO DE UMA
CONSTELAÇÃO EM GRUPO
1ª ETAPA
A definição do problema
O terapeuta pergunta ao cliente qual é o problema, ou seja, ele quer
saber o que o leva a uma constelação familiar. A informação que o
terapeuta procura é então puramente factual. Ele não está interessado na
história, em interpretações, julgamentos e explicações que a acompanham. O
problema pode ser, por exemplo: “Não consigo me sentir feliz” – “Tenho
câncer” – “Meu filho é deficiente”- “Não consigo cuidar do meu pai idoso
sem tomar o seu lugar no sistema” – “Tenho depressão”.
O fundamento do método fenomenológico consiste em se concentrar nos fatos,
naquilo que é. Quando um cliente diz: “Minha mãe não me ama”, ele dá um a
interpretação do comportamento de sua mãe. O profissional tentará obter
informações factuais ao lhe perguntar, por exemplo: “Como é que você
sabe disso?”
O cliente não tem como saber. O que esse trabalho nos ensina é que quando
uma criança se sente mal-amada, sua mãe se acha envolvida ou
comprometida num esquema de bloqueio, que a impede de dar livre
curso a seu desejo de ser uma mãe amorosa. O que as constelações
familiares revelam é a verdade fundamental que mantém a situação dolorosa.
Uma vez formulado o problema, a pergunta que surge com mais
freqüência é: “O que se passou na sua família?”
ESTUDO DE CASO
O terapeuta: “Qual é o seu problema?”
A cliente: “Vivo um relacionamento positivo e, no entanto, não consigo me
sentir feliz.”
O terapeuta: “O que se passou na sua família?”
A cliente: “Minha mãe perdeu um filho. Isso aconteceu antes do meu
nascimento.”
O terapeuta: “Quanto tempo antes do seu nascimento?”
A cliente: “Dois anos.”
Para muitos terapeutas, essas informações são suficientes para começar.
Outros desejarão saber mais e farão mais perguntas.
O terapeuta: “Você tem irmãos e irmãs?” A cliente: “Sim, um irmão mais velho
e uma irmã caçula.”
O terapeuta: “Como vão eles?” A cliente: “Minha irmã divorciou-se no ano
passado e meu irmão está sempre com problemas de saúde.”
O terapeuta: “Você sabe o sexo da criança que seus pais perderam?”
A cliente: “Não.”
O terapeuta: “Seus pais continuam juntos?”

2ª ETAPA
A escolha dos representantes
A cliente escolhe os participantes para representar os membros
selecionados da família e para representá-la. Normalmente, no início de
uma constelação, o terapeuta se prende a um número mínimo. No nosso
exemplo, ele chama os representantes da cliente, de seu companheiro e
de seu irmão morto.
O terapeuta pode, ao longo do trabalho, integrar outros representantes.
Neste caso, em particular, trata-se provavelmente dos pais da cliente, de
seu irmão e de sua irmã que ainda vivem. Isso, entretanto, não é de
nenhum modo obrigatório, já que cada constelação é única e jamais
podemos predizer com certeza o desenrolar de uma constelação.

3ª ETAPA
Montagem da constelação
O terapeuta pede à cliente que disponha os representantes no espaço e
que lhes transmita uma orientação que dê conta das relações que uns
mantêm com os outros. A cliente se concentra profundamente, coloca-se
atrás de cada representante, um após o outro, pega-os pelos ombros e os
move lentamente até que cada um se encontre numa posição que lhe
convenha. A colocação dos representantes em seus lugares se faz
intuitivamente, sem reflexão. É na atribuição de seus lugares que a
constelação emerge e que um campo de energia autônomo se cria.
Uma vez formada a constelação, a cliente senta-se entre os participantes e
observa o que se passa.
Pode acontecer que o terapeuta monte a constelação familiar ou que
uma cliente seja sua própria representante. Em nosso exemplo (ver
diagrama 1 a seguir), a cliente instala os representantes dela mesma
(C1), de seu falecido irmão (†F) e de seu companheiro (C). Ela os dispõe de
modo que a sua representante olhe na direção do seu irmão morto, e que os
representantes de seu companheiro e do seu irmão morto olhem para sua
representante.
A constelação mostra que a atenção da cliente está focalizada no irmão
morto, enquanto a do seu companheiro está direcionada para ela.
Certamente, o diagrama não pode refletir as expressões de seus
representantes, mas elas certamente são visíveis para o terapeuta, a
cliente e os membros do grupo. Todos podem ver o olhar terno trocado
entre a cliente e seu irmão morto assim como o olhar inquieto que seu
companheiro lhe lança.

C1 = a representante da cliente
†F = o representante do irmão morto
C = o representante do companheiro da cliente
4ª ETAPA
O processo de solução
Existem duas formas de trabalhar nas constelações familiares. A primeira
traz a intervenção do terapeuta, que pede a cada um dos representantes
que descreva o que lhe acontece. As informações que ele recebe desse
modo são puramente factuais e fenomenológicas, sendo excluídas todas
as explicações ou interpretações. O terapeuta pode assim mover os
representantes a fim de que eles possam se ver ou se afastar uns dos
outros. Pode ser até que ele os faça sair da constelação. Mas, quando os
representantes ficam habituados a se deixar guiar pelo campo de energia, o
terapeuta não intervém mais, deixa o campo operar. Os movimentos são lentos
e a energia é muito intensa; nós os
chamamos de “movimentos da alma”, e eles podem levar uma constelação até
sua solução sem que se pronuncie uma só palavra.
Em nosso estudo de caso, o terapeuta intervém e faz perguntas:
O terapeuta dirigindo-se à representante da cliente (C1): “O que está
acontecendo?”
A representante da cliente: “Só consigo me interessar pelo meu irmão falecido
(† F). Não enxergo o meu companheiro (mostrando o representante do
companheiro: C).”
O terapeuta ao representante do companheiro: “O que está acontecendo?”
O representante do companheiro: “Só vejo ela (C1), não me interesso por ele (†
F), quero ir na direção dela.”
O terapeuta ao representante do irmão morto: “O que está
acontecendo?”
O representante do irmão morto: “Amo minha irmã, quero ir em sua direção.”
O irmão falecido e sua irmã caminham lentamente um na direção do outro e se
abraçam. Ela apoia a cabeça no ombro dele e chora emocionada

O terapeuta faz uma pausa longa, depois pede à cliente que tome seu lugar na
constelação.

Neste momento substitui o representante pelo cliente .


Às vezes, os clientes representam a si mesmos no começo da constelação. Em
outras ocasiões, como no nosso exemplo, esse lugar é ocupado por
uma pessoa qualquer até o momento em que o terapeuta pede ao
cliente que assuma o lugar que seu representante agora deve abandonar.
Isso ocorre muito lentamente e com muita delicadeza.
O terapeuta: “Diga a ele: A vida inteira senti sua falta’.”
A cliente: “A vida inteira senti sua falta.” Muito emocionada, ela
acrescenta por conta própria: “Eu queria muito ter você como irmão.”
A cliente parece aliviada ao pronunciar essas palavras; ela balança a
cabeça lentamente diversas vezes, à medida que entende o alcance do que
acabou de dizer. Depois de algum tempo, a energia se desloca. A cliente deixa
seu irmão se afastar dela e recua um passo. Sem soltar sua mão, ela olha seu
companheiro pela primeira vez. Ela sorri.
O terapeuta: “Diga a seu irmão: ‘Este é o meu companheiro’.”
A cliente ao representante do irmão falecido: “Este é o meu companheiro.”
O irmão morto olha o companheiro amigavelmente. A cliente atrai seu
companheiro para junto de si e solta a mão do irmão morto. Eles ficam diante
do irmão e o olham com carinho.
O terapeuta: “Diga a ele (aponta para o irmão morto): ‘Você continua a viver
em mim. Eu o reverencio, eu o respeito, e você ocupa um lugar no meu
coração. Em algum momento, quando chegar a minha hora, eu me juntarei a
você. Enquanto isso, eu lhe peço que vele por mim’.”

5ª ETAPA
A solução
O irmão morto sorri para ela. O casal se abraça. O irmão se aproxima
e envolve o casal em seus braços.
O terapeuta: “Ficaremos por aqui.”
A solução de uma constelação dá aos seus membros a sensação de livrar-se de
um peso. Traz paz e satisfação ao seio do campo de energia familiar.

6ª ETAPA
O ritual de encerramento
Existem inúmeras maneiras de deixar seu papel de representante. Às
vezes, os representantes circulam pela sala ou saem para esticar as pernas.
Desempenhar o papel de representante numa constelação familiar é uma
experiência muito profunda, o que explica por que às vezes é difícil deixá-lo. O
cliente pode ser bem-sucedido nessa tarefa ao se aproximar de cada
representante, pegar-lhe a mão e agradecer-lhe, dizendo:
“Obrigado por ter aceitado representar minha mãe/meu pai/meu
companheiro/meu irmão… Agora, pode voltar a ser você mesmo (diga o nome
do representante).”
7ª ETAPA
Conselhos para integrar as constelações
O campo de energia de uma constelação é muito sensível. As constelações são
capazes de produzir mudanças profundas. Elas põem em movimento
mudanças importantes de processos de cura, que progridem lentamente e
se estendem, pouco a pouco, aos diferentes domínios da vida do cliente. Isso
pode levar às vezes dois anos. É primordial deixar que siga seu curso
livremente, sem intervenções.
Por isso, o terapeuta costuma aconselhar o cliente a não falar disso nem com
pessoas da família nem com membros do grupo. Ele pede também aos
representantes que não falem com um cliente sobre sua constelação, nem
lhe perguntem sobre mudanças ocorridas ou sobre os membros de sua família.
Falar do que se passou reduz a intensidade de energia disponível para a
solução da constelação. Isso diminui a liberdade que os clientes têm de
trabalhar e integrar sua experiência a seu modo, enfraquecendo assim
essa experiência.
No entanto, no fim de uma constelação, muitas vezes o grupo troca
idéias sobre suas reflexões. Os representantes podem querer dar ao
cliente informações que ele achará úteis. E, ocasionalmente, já que esse
trabalho não obedece a nenhuma regra absoluta, mas sim ao respeito total
àquilo que é (de acordo com a abordagem fenomenológica), o cliente é
convidado a contar sua experiência aos membros da família envolvidos na
situação.
Nos grupos de Formação em Constelação Familiar em que são colocadas as
questões, ou se pede ao cliente que saia da sala, ou se delega a ele a
responsabilidade de decidir se quer ficar ou sair.
O cliente deve ter a vontade de integrar aquilo que lhe foi mostrado pela
constelação. Isso é feito com sucesso quando seu nível de responsabilidade
individual é elevado. Quando esse não for o caso. mas se tratar de clientes que
procuram pretextos e desculpas e tornam os outros responsáveis por sua vida
infeliz, eles integrarão mal o resultado desse trabalho cujo fundamento é
“aceitar as coisas como elas são”.

Texto extraído e adaptado do livro: A Constelação Familiar em Sua Vida Diária – Joy Manné

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