Historia Do Choro
Historia Do Choro
Historia Do Choro
A HISTÓRIA DO CHORO
PAULA RIANELLI
Rio de Janeiro / RJ
Novembro de 2008
PAULA RIANELLI
A HISTÓRIA DO CHORO
Monografia de graduação do
curso de Comunicação Social,
com habilitação em Jornalismo,
apresentada como exigência
final do curso.
Disciplina: Projeto Experimental
(2º semestre / 2008)
2
Dedico este trabalho aos
meus pais, Wilson Rianelli
e Corrita Rianelli, que
tanto me apoiaram durante
toda minha vida
acadêmica. A vocês,
obrigada por tudo.
3
Agradeço à minha família em geral,
por todo amor e incentivo. Aos
amigos, que estiveram comigo
durante todo o processo de minha
graduação. Ao Henrique pela
confiança da minha capacidade. Ao
meu orientador, Carlos Deane, pela
orientação e apoio na elaboração
deste trabalho e à Faculdade Hélio
Alonso por todo o ensinamento e
credibilidade.
4
“Em cada chorão,
findou-se um baluarte,
que deixou em nosso
peito uma saudade,
que a germinar, corróe
por toda parte desde o
momento que subiram à
eternidade”
Max-Mar
(autor da frase)
5
RESUMO DO TRABALHO DE FIM DE CURSO
HISTÓRIA DO CHORO
PAULA RIANELLI
6
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO 08
DESENVOLVIMENTO
CAPÍTULO II 10
2.1 História do choro 10
2.2 Origens mais prováveis do termo choro 23
2.3 Choro, o estilo que virou gênero 25
2.4 Instrumentos 28
2.5 Improviso no choro 34
2.6 Choro ou chorinho? 40
2.7 Os chorões 42
2.8 Biografia do Pixinguinha 57
2.8.1 Discografia do Pixinguinha 69
CAPÍTULO IV – BIBLIOGRAFIA 73
ANEXO 75
Análise do músico e pesquisador Henrique Cazes, sobre o passado, presente e futuro
do choro
7
Introdução
9
2.1 História do choro
12
Quando Pixinguinha nasceu, em 1897, a polca já estava abrasileirada
através de formas híbridas. Durante um longo período da vida profissional e
adulta de Pixinguinha tocava-se também tangos, schottisches, valsas, mazurcas,
sambas, maxixes, entre outras danças. Mesmo assim, segundo seu relato “tudo
era polca”.
Os primeiros chorões tomaram a polca como o gênero musical favorito até
pelo menos os primeiros anos ou décadas do século XX. Em outro comentário do
relato de Pixinguinha ele afirma que a polca em certo aspecto podia ser choro.
Pixinguinha, além de sublinhar que o termo choro ainda não era entendido como
hoje o entendemos, destacou também a maneira chorona de tocar realizada por
músicos populares. A impressão de melancolia acabou referindo o nome choro a
tal maneira de tocar, e a designação de chorões aos músicos de tais conjuntos.
A data de 1920 é um momento de “plena-confusão” entre a polca e o
choro. O termo choro como é compreendido atualmente começou a fixar-se por
volta da década de 1930. A partir daí muitos chorões começaram a compor
choros e não polcas, sendo que por volta da década de 1940 ainda surgiam
diversas músicas choronas publicadas como polca-choro. O surgimento do que
foi denominado polca-choro (por chorões e/ou pelo mercado fonográfico como
forma de rótulo comercial), significa que a dança européia ainda estava presente
no meio musical brasileiro e que o vocabulário choro enquanto gênero musical
e/ou maneira de tocar já estava definido. Pode-se afirmar então, que a polca foi o
gênero dançante que se destacou com maior representatividade no início da
história do choro. Certamente outras danças como a mazurca, a schottisch e a
valsa possuem também elos de união com a história do choro.
A história do início do choro também é considerada levando-se em conta
os instrumentos. A flauta ao lado de violões e cavaquinhos, era o terceiro
instrumento mais popular na segunda metade do século XIX. O Maestro Batista
13
Siqueira, no seu entusiasmo pelo grande flautista Joaquim Antonio da Silva
Callado, Jr. dá o nascimento do choro a partir da inclusão da flauta.
Callado foi o organizador do que seriam os primeiros grupos de chorões.
O flautista tinha grandes conhecimentos musicais e conseguiu reunir em torno de
si os melhores músicos da época, os quais tocavam pelo simples prazer de fazer
música. Os conjuntos formados por Callado alguns anos antes de sua morte, em
1867, incluíam entre seus componentes alguns dos mais competentes músicos do
tempo, entre a turma estavam nomes como Viriato Figueira da Silva, Patola,
Saturnino, Luizinho, Silveira e inclusive a jovem pianista Chiquinha Gonzaga.
Callado é considerado segundo historiadores o criador do gênero. Compôs
aquele que é considerado o marco do início das composições que hoje são
consideradas choro: “A Flor Amorosa”, ele compôs como polca e assim está na
partitura original. Cabe ressaltar a importância de não creditarmos o início do
desenvolvimento de um processo social da criação do Choro a apenas um
instrumentista. Apesar disto, como já foi visto, é notória a importância de
Callado na época da formação dos primeiros grupos de choro e de sua enorme
contribuição para a fixação do estilo.
A partir de 1880, o sucessor de Callado, Viriato Figueira da Silva, (que
fora seu aluno e amigo), mostrou que o estilo choroso de tocar já possuía
características próprias, e começou a inspirar composições típicas de choro,
como a polca editada por Viriato que trazia no seu título, “Caiu, não disse?” E
assim também, em 1889, a primeira chorona, compositora e pianista do gênero,
Chiquinha Gonzaga pode acrescentar por sua parte outra prova da existência, já
consciente, do novo estilo, através do lançamento do tango característico
intitulado “Só no Choro”.
Em meados da década de 1880, com a proliferação dos pequenos grupos
de flauta, violão e cavaquinho, transformados em acompanhadores do canto de
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modinhas sentimentais e tocadores de polcas-serenatas à noite, pelas ruas, e em
orquestras de pobre, para fornecimento de música de dança nas casas dos bairros
e subúrbios cariocas mais humildes, a música do choro foi se tornando cada vez
mais popular. Os compositores dos conjuntos de chorões cariocas do fim do
século XIX e do inicio do XX eram formados na sua quase totalidade, por
pessoas simples e modestas representantes da baixa classe média do Segundo
Império e da Primeira República. Essa afirmação pode ser comprovada com um
simples levantamento das profissões de trezentos músicos, cantores,
compositores, mestres de bandas e boêmios ligados a grupos de choros, referidos
pelo carteiro carioca Alexandre Gonçalves Pinto em seu livro de memórias
intitulado “O choro – reminiscências dos chorões antigos”, publicado em 1936.
O simplório carteiro e tocador de violão relembra fatos de 1870 para cá, ou
seja, cobre um período de mais de sessenta anos. O livro se revelava mais
importante na indicação da condição social dos velhos componentes dos choros –
funcionários dos Correios, soldados de policia e outros componentes de bandas
de corporações fardadas, feitores de obras, pequenos empregados do comércio e
burocratas. No livro o carteiro aposentado faz desabrochar velhas lembranças em
que recorda os “chorões ao luar, os bailes das casas de família, aquelas festas
simples onde imperava a sinceridade, a alegria espontânea, a hospitalidade, a
comunhão de idéias e a uniformidade da vida”. Alexandre Gonçalves Pinto cita
ainda, as ruas em que moravam, os bairros em que se davam as principais festas
e quase sempre as suas profissões. Essas reuniões além de serem destinadas à
diversão eram também uma rica fonte de aprendizado e troca. Era como uma
espécie de escola de musicistas. Salva lembrar que, a aprendizagem e o repasse
do choro se davam, principalmente, mediante recursos de transmissão oral, não
formais.
15
E assim por esse precioso livro – “Pobre de literatura, porém, rico de
recordações”, como o próprio Alexandre admitia – que se sabe desde logo que o
choro não constituía um gênero, mas uma maneira de tocar, tendo-se estendido o
nome sugerido pela forma chorosa da execução também às festas em que se
reuniam os pequenos conjuntos à base do trio de flauta, violão e cavaquinho.
Alexandre Gonçalves Pinto dá a perceber que, à falta de bailes públicos, onde os
melhores instrumentistas pudessem ficar conhecidos do público nas orquestras,
os chorões mais bem dotados firmavam desde o século XIX a sua fama nas
festas particulares de maior nomeada correndo a notícia do seu virtuosismo de
boca em boca, até firmar-se no consenso da população o seu conceito de grandes
tocadores.
Na casa de Adalto, por exemplo, que o velho carteiro citava como “pessoa
grata e de confiança do Marechal Floriano Peixoto”, as “brincadeiras eram
realizadas com chorões escolhidos, tomando parte Anacleto de Medeiros, Luis
de Souza, Lica, Gonzaga da Hora, José Cavaquinho, Mario, Irineu Batina,
Carramona, Neco, José Conceição, Luis Brandão, Horacio, Teberge, e muitos
outros daquela época”.
Através dessa sucessão de nomes recordados por Alexandre Gonçalves
Pinto, obtém-se informações diretas ou indiretas para identificação das
habilidades de pelo menos duzentos e oitenta e cinco chorões, entre os quais
oitenta como tocadores de violão, sessenta e nove de flauta, dezesseis de
cavaquinho, exclusivamente, (porque grande parte dos violonistas citados
também tocava cavaquinho, eventualmente) e quinze sopradores de oficlide, o
quarto instrumento mais popular do choro carioca, e que foi o antecessor do
saxofone.
Dentre todos os cento e vinte e oito músicos cujas profissões o velho
carteiro tornava possível determinar, cento e vinte e dois funcionários públicos,
16
entrando os Correios e Telégrafos com maior contingente, ou seja, com quarenta
e quatro daquele total de cento e vinte e oito pequenos funcionários. Assim,
depois dos Correios, a instituição de onde mais saiam músicos para os choros
cariocas eram as bandas militares, o que facilmente se compreendia: como o
recrutamento de músicos para as bandas era feito nas camadas mais baixas do
povo, bastava tirar a farda a um músico militar para encontrar nele um autêntico
chorão. E, realmente, o levantamento dos nomes citados por Alexandre
Gonçalves Pinto permite identificar vinte e sete seus contemporâneos ligados ao
choro como músicos militares, e isso sem contar como banda militar a do
Arsenal de Guerra, integrada pelos operários daquela repartição marinha.
As memórias de Alexandre Gonçalves Pinto serviram como a mais
perfeita segura amostragem: o autor do livro foi chorão e boêmio, tal como seus
biógrafos, e das três centenas de velhos camaradas de que se recordava ou tinha
referencias (alguns ele confessa não ter conhecido pessoalmente) conseguiu
guardar a lembrança dos empregos de quase a metade deles.
A comprovação final de que os conjuntos de chorões se formaram, durante
cinqüenta anos, com elementos quase que exclusivamente tirados da baixa classe
média anterior à Revolução de 1930, no entanto, é fornecida pela soma dos
dados obtidos ao longo do livro do carteiro carioca: dos cento e vinte oito
chorões cujos empregos Alexandre Gonçalves Pinto revelou, trinta e um eram
pequenos funcionários públicos federais, principalmente da “Alfândega”; oito
eram da “Central do Brasil”; quatro do “Tesouro”; quatro da “Casa da Moeda”; e
treze outros pequenos servidores municipais, trabalhando em cargos como os de
guarda municipal, chefe de turma da “Saúde Pública” (Agenor Flauta), feitor da
turma (flautista Carlos Spínola, pai da vedeta-cantora do teatro musicado Araci
Cortes), e até, como era o caso do violonista Quincas Laranjeira, ocupante da
curiosa função de “porteiro de higiene” da “Municipalidade”.
17
Fora das repartições públicas, o carteiro chorão só citaria com mais
freqüência a “Light”, ao lembrar os nomes de Juca Tenente (que diz ter sido
motorneiro de bonde, mas se esquece de esclarecer que instrumento tocava), o
cocheiro de bondes de burro Crispim, que tocava oficlide, e o flautista Loló, que
era condutor de bondes da “Companhia de São Cristóvão”, e morreu em
conseqüência de uma pedrada na cabeça, durante a revolta popular conhecida no
Rio por “Imposto do Vintém”. Entre outras atividades como artífices, ou
empregados de particulares, indicados como músicos de choro só aparecia um
palhaço de circo, o cantor de modinhas Júlio de Assunção, um “oficial de
ortopedia”, Raul, que tocava flautim, um sacristão da Igreja de Santo Antônio, o
flautista chamado muito a propósito de Pedro Sacristão, e um vendedor de
folhetos de modinhas, o cantor Francisco Esquerdo, que segundo Alexandre
Gonçalves Pinto, fazia a delícia dos passageiros dos trens suburbanos da
“Central do Brasil”, no Rio de Janeiro, ao percorrer os vagões cantando com sua
bela voz os últimos sucessos. E, finalmente, fato curioso, o velho carteiro
memorialista só se refere em todo o seu livro a um chorão como músico
profissional, ao afirmar que ele não tocava sem ser pago, era o tocador de
requinta Catanhede, cuja disposição se explica, talvez, pelo fato de os tocadores
de tal instrumento serem raros, pois, além dele, Alexandre Gonçalves Pinto só
cita um, de nome Juca Afonso. Isso permitira provavelmente ao Catanhede viver
ocupado com biscates, tocando como músico de teatro.
Em um tempo em que não havia nem o disco nem o rádio, os conjuntos de
tocadores de flauta, violão e cavaquinho foram, graças à sua formação
eminentemente popular, as orquestras dos pobres que podiam contar com um
mínimo de disponibilidades financeira para encarar as despesas das festas. Pelas
memórias do chorão Alexandre pode perceber-se que os componentes dos
grupos de choro se sentiam perfeitamente à vontade nessas festas onde eram
18
recebidos como iguais. Realmente, apenas o fato de possuir um instrumento
musical, um violão, um cavaquinho, um oficlide, uma flauta ou uma clarineta,
representava um poder aquisitivo que a massa do povo não podia evidentemente
alcançar. Acresce, ainda, que as atividades meramente braçais, como eram então
as profissões populares de assentadores de trilhos da Central, carregadores de
sacos no cais do porto, cavoqueiros, etc., eram incompatíveis com as noitadas em
claro dos chorões, que invariavelmente voltavam para casa ao amanhecer, só
podendo assim resistir fisicamente devido à relativa suavidade dos seus misteres
e horários como servidores públicos e pequenos burocratas.
Essa igualdade de condições econômicas, em uma camada em que o
mestiçamento aparecia em larga escala, explica também o fato de não existir
qualquer preconceito de cor entre os chorões. O fato de a sua maioria ser
constituída por brancos e mulatos claros não resultava de qualquer
incompatibilidade com os negros, mas resultava do fato de os negros, até 1888
escravos, em sua maioria, formarem o grosso das camadas populares mais
baixas, em sua condição de trabalhadores não qualificados ou sub-empregos. E a
prova está em que, quando por acaso em seu livro Alexandre Gonçalves Pinto se
refere ao fato de um chorão ser de cor preta, sente-se que isso se dá
incidentalmente, apenas para acrescentar mais um dado à descrição da figura do
biografado, como no trecho destacado:
19
executava as músicas daquele tempo
em sua harmônica.”
20
moderna fase de rápidos avanços tecnológicos), os músicos chorões puderam
perceber que o seu tempo tinha passado. De fato, após o maxixe ter suplantado
as polcas e mazurcas (porque as quadrilhas já se haviam transformado apenas em
dança pitoresca, exclusiva de festa de São João), viria logo a emergir o samba
como a primeira e mais avassaladora contribuição das camadas mais baixas,
enquanto a classe média já dividia seu interesse com a música dos jazz-bands
imitados dos norte-americanos, pondo fim à era sentimental dos chorões.
Quando esse momento chegou, às vésperas da revolução de 1930, a
maioria dos músicos chorões, já velhos, ensacou seus violões ou meteu suas
flautas nos baús. Alguns para sobreviver, profissionalizaram-se como músicos
tocando em orquestras de cinema ou nas orquestras dos teatros de revistas.
Outros, tentando salvar-se aderindo à moda, incorporaram-se a novidade dos
jazz-bands, trocando o oficiclide pelo saxofone, num primeiro sintoma de
alienação que marcava o advento da influência esmagadora da música popular
norte-americana no Brasil.
Nem tudo, porém, havia sido em vão porque, afinal, meio século de
experiência com solos e contracantos à base de flautas, violões e cavaquinhos
salvava-se uma nova forma de música popular, um novo gênero nascido do estilo
chorado de tocar, o choro instrumental, depois também transformado em canção,
resultado da cristalização daquela maneira lânguida que os músicos chorões
imprimiam à execução mesmo das peças mais alegres, e que constituía, afinal, a
maior herança das antigas bandas de negros das fazendas, em combinação com o
sentimento piegas com que as camadas médias do Rio de Janeiro interpretaram
os transbordamentos do romantismo europeu.
Hoje, depois de quase 150 anos de história, entre os extremos da glória e
do descaso total, vemos o choro tomando um novo alento, com a juventude se
21
reconhecendo nele, sendo tratado com mais carinho até pela mídia, que o havia
enterrado por meados da década de 1950.
Gênero forte e vigoroso, o choro é considerado matéria obrigatória como
embasamento de estudo da cultura musical brasileira, popular e urbana. E, além
disso, pela sua importância como sendo a primeira música urbana tipicamente
brasileira. O choro tem sido apontado como uma verdadeira escola musical, em
sua essência, passando, hoje em dia, por uma importante fase de renovação.
Excelentes produções fonográficas vêm sendo lançadas no mercado,
incentivando o surgimento de novos grupos e rodas de choro, curiosamente
formados, em sua maioria, por jovens estudantes de música. Este fato culmina
com a mudança do perfil do antigo chorão que, geralmente, desconhecia a teoria
musical. O maior desafio do músico atual é, justamente, conciliar a necessidade
de estudar música, para atender às exigências de um novo mercado de trabalho,
em que a excelência é requisito básico.
22
2.2 Origens mais prováveis do termo choro
24
2.3 Choro, o estilo que virou gênero
27
2.4 Instrumentos
28
Nazareth, a partir das suas composições para piano, deu à música popular um
caráter de música de concerto.
A ambientação chorona criada através de violões, cavaquinhos, e outros
instrumentos característicos, se deu porque eram aqueles os instrumentos que os
músicos populares tinham em mãos no momento. O tipo de sentimento que um
chorão expressa em seu instrumento parece ser imutável, pois as gravações mais
antigas demonstram o mesmo tom nostálgico que hoje podemos ouvir em uma
roda de choro.
Rico em harmonia e melodia, este gênero possui uma gama enorme de
timbres, técnicas ou recursos instrumentais. O choro é uma música feita de
arquétipos que exigem do músico muito domínio de seu instrumento e uma
apurada percepção de códigos e senhas que se encaixam em gigantescos
improvisos. Instrumental por natureza, quando se ouve violões, cavaquinho,
pandeiro e algum instrumento solista, como o clarinete, o bandolim, a flauta, e
outros, logo se percebe que se trata de um choro.
Apesar de o choro ser um gênero musical basicamente instrumental, vez
por outra, algum compositor coloque letra na música fazendo dela um sucesso
popular. E essa é uma das principais discussões sobre o choro, se deve ou não ter
letra. Essa polêmica sempre foi discutida entre os chorões, que tem opiniões
diversas. O exemplo mais famoso é o de “Carinhoso” de Pixinguinha que
recebeu letra de João de Barro e foi gravado por Orlando Silva obtendo
gigantesco sucesso. Em meio a essa polêmica, não há regras que digam se o
choro deve ou não ter letra, mas é notório que em certos casos o acréscimo da
letra à melodia acaba dando o “ar à graça” e enriquecendo a música.
29
Cavaquinho,
Waldir Azevedo explorou de forma inédita as potencialidades do mesmo
Flauta transversal,
instrumento de Joaquim Calado, Patápio Silva, Benedito Lacerda e Altamiro
Carrilho
Bandolim,
o virtuoso Jacob do Bandolim é o mais conhecido bandolinista de choro
30
Pandeiro,
faz o papel de marcador de ritmo no choro
Violão de 7 cordas,
foi introduzido no choro para se obter notas mais graves
31
Abel Ferreira e Paulo Moura são exemplos de clarinetistas
Piano,
instrumento dos chorões Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Arthur M.
Lima
32
Trombone,
instrumento de Raul de Barros
33
2.5 Improviso no choro
35
Naturalmente que cada músico irá corresponder à bagagem musical que carrega.
Um importante comentário sobre o improviso no choro veio de Jacob do
Bandolim (1918-1969) na capa de seu disco “Na Roda do Choro – Jacob e seus
chorões” (RCA Victor, 80.2223, 1960). Assim se referiu o bandolinista:
Para Villa-Lobos:
36
Ocorre também que, a opção de não improvisar em determinado choro é
bastante admissível e comum. Apesar da grande importância histórica e teórica
do improviso no choro, a plenitude de uma peça chorona pode ser deflagrada
mesmo prescindindo de um improviso mais significativo, graças à riqueza
melódica e rítmica que possui a maioria das composições choronas. A idéia de
que todo choro deve ser sempre improvisado é um tanto quanto tolhedora,
quando um dos aspectos que conferem a este gênero musical a qualidade de ser
inusitado ou imprevisível é justamente a contribuição composicional do
intérprete. Este pode dar a ele próprio o direito de contribuir simplesmente com
alguns ornamentos.
É fundamental observar que o improviso em seu contexto universal, seja
no choro ou em qualquer outro gênero de música, pode assumir características,
conotações, atitudes e/ou valores diferentes, conforme o contexto cultural ou
musical em que estiver inserido. Ao tratarmos do improviso no choro é
necessário considerar que um chorão, ao improvisar, impõe naturalmente durante
sua execução diversas feições e características improvisatórias inerentes ao
universo do choro. Possivelmente existe o que poderíamos chamar de uma
maneira chorona ou chorística de improvisar generalizada entre os chorões.
Não se espera de um músico chorão que ele simplesmente improvise
melodias que porventura venham à sua mente ou aos seus dedos, compondo
assim em público ou não, uma espécie de choro instantâneo. O improviso chorão
nasce de um choro previamente concebido, portanto ele possui um referencial
que será também o seu limite. Poderíamos chamar realmente de improviso no
contexto do choro as variações melódicas realizadas espontaneamente no
decurso de um choro que esteja sendo executado. A transmissão de uma maneira
de tocar, com toda a sua riqueza de ritmos, seria também bastante prazerosa e,
portanto segura. Além do ritmo, a própria melodia é propícia à memorização e
37
também prazerosa. Por conseguinte a memorização de um choro, ou de uma
maneira de tocar, seria duplamente segura.
Na história do choro, nota-se que sempre houve uma tendência ao seu
aprendizado muito mais por vias orais do que formais. E isto se dá pela seguinte
razão: o que é fundamentalmente passado de forma oral ou informal é a maneira
de tocar choro, que ao situar-se na impossibilidade de ser escrita com precisão e
fidelidade, faz com que a melodia pura e simples (e que poderia ser passada
formalmente) se submeta ao processo informal. Nota-se que em algum ponto da
trajetória do choro a leitura musical (que fazia parte do contexto choromeleiro e
mais tarde também do ambiente de Joaquim Callado e de outros flautistas
chorões) foi sendo esquecida por uma razão ou por outra. Embora ela tenha sido
retomada mais tarde, o que é importante observar é que o choro não deixou de
seguir o seu caminho normalmente. Isto quer dizer que este gênero musical é
essencialmente oral. O que vem sendo passado oralmente de chorão para chorão
depende da sensibilidade e do talento desenvolvidos por cada músico. Trata-se
do aspecto sentimental, algo nostálgico ou dolente que invade a alma do músico
e o incita a expressar em seu instrumento o que sente e que justifica o nome dado
a este gênero musical. O chorão utiliza então toda aquela estrutura musical para
transmitir a sua natureza chorona.
A partir aproximadamente do início do século XX, diversos segmentos da
música popular brasileira encontraram junto a pesquisadores, compositores e
arranjadores, um auxílio para a memória musical através da escrita. Embora a
preocupação de um registro oral contínuo tenha sido bastante aliviada, a escrita
musical tem exercido no choro a função de registro e não de fundamento.
Mesmo com o registro assegurado, observamos que a notação musical de uma
determinada peça chorona nunca corresponde exatamente às diferentes
performances realizadas em torno dela. Um chorão pode interpretá-la de diversas
38
maneiras diferentes, sem nunca repetir a interpretação anterior. Isto quer dizer
que a maneira de tocar choro caracteriza-se por uma liberdade de execução que
transcende à partitura. Um choro no momento em que é lido na partitura, a
melhor execução será aquela onde o chorão imprimi a sua interpretação pessoal.
Ao escutarmos uma gravação de um choro executado por algum grupo de
chorão, por exemplo, da década de 1930 ou 1940, e confrontando-a com outra de
um conjunto atual, é possível que haja algumas diferenças, que depende da
formação e da intenção dos chorões atuais. Mas a essência continua praticamente
a mesma.
39
2.6 Choro ou chorinho?
Para ele o termo chorinho não lhe remete a algo de menor valor nem
desvaloriza o gênero. O mestre Pixinguinha falava “chorinho”. Como pode ser
observado na sua entrevista para o “Museu da Imagem e do Som” - MIS:
40
música popular....”
MIS - Depois desses cabarés na Lapa,
como é que você foi parar no teatro Rio
Branco?
Pixinguinha: -“Eu já fazia os meus
“chorinhos” e tocava minha flauta ...”
41
2.7 Os chorões
42
para todos que tinham a
felicidade de ouví-lo. Callado nao
era só músico para tocar de
primeira vista, como também
para compor qualquer choro de
improvisso, quantas vezes
achava-se tocando em um baile
de casamento, batizado,
aniversário ou outra qualquer
reunião e se nesta ocasião
qualquer dama ou cavalheiro
pedisse para escrever um choro
em homenagem ao festejado,
Callado, não dizia que não,
passava a mão em qualquer
papel, riscava a lápis e zaz!
Punha-se a escrever o momento e
entregava a um chorão presente
que executando-a tornava-se um
delírio para todos os convivas
pela clareza e linda inspiração da
mesma. Callado foi o rei da
música daquele tempo.”
43
ilustre pioneiro foi o clarinetista e compositor carioca Anacleto de Medeiros
(1866-1907), que realizou as primeiras gravações do gênero, em 1902.
O violonista e compositor Sátiro Bilhar (1860-1927), foi uma das figuras
mais conhecidas e queridas no meio musical, pertenceu à primeira geração dos
chorões. Embora não fosse um virtuose do violão, sua execução peculiar
chamava mais a atenção do que o próprio repertório. Sua ação e importância
como músico se desenvolveu na área dos músicos de choro das gerações
anteriores à profissionalização dos instrumentistas de música popular, primeiro
no disco, depois no rádio.
Essencial para a formação da linguagem do gênero foi a obra do pianista
Ernesto Nazareth (1863-1934), músico de trajetória erudita e ligado à escola
européia de interpretação, compôs clássicos como “Brejeiro”, “Odeon” e
“Apanhei-te Cavaquinho”, que romperam a fronteira entre a música popular e a
música erudita. A sofisticação de sua obra era tamanha, que só foi
definitivamente integrada ao repertório básico dos chorões nos anos 40 e 50.
Outro chorão de grande representação foi, Catulo da Paixão Cearense (1863-
1946), exímio compositor, cantor e primeiro poeta do sertão. Apesar do nome,
nasceu em São Luís, no Maranhão. Com 10 anos mudou-se com a família para o
interior do Ceará e aos 17 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro. Recebeu grande
influência dos cantadores do nordeste com quem conviveu durante parte de sua
juventude. Considerado grande mulherengo, envolveu-se ao longo de sua vida
com diversas mulheres, tendo dedicado a algumas delas várias de suas obras.
Poeta, antes de tudo, estilizou e pôs letra em canções que se transformaram em
grandes sucessos, como “Caboca de Caxangá”, “Ontem ao luar” e “Luar do
sertão”. Catulo foi um dos poucos, talvez o único, poeta popular no Brasil que,
em vida, recebeu todas as glórias, todas as honras e uma grande adoração
popular.
44
Músico e compositor brasileiro de choro Irineu de Almeida (1873-1916),
foi oficlidista, trombonista e executante de bombardino. Integrando a banda do
Corpo de Bombeiros, foi companheiro dos grandes chorões da época. Autor de
várias composições de sucesso, muitas das quais receberam versos de Catulo da
Paixão Cearense.
O virtuoso da flauta Patápio Silva (1881-1907), ficou famoso por ser o
primeiro flautista a fazer um registro fonográfico. Também genial foi, Alfredo da
Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha (1897-1973), tenor, arranjador, saxofonista e
flautista, foi também um dos maiores compositores da música popular brasileira.
Contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma definida. Na
época inovou compondo os choros “Lamentos” e “Carinhoso”.
Considerado um dos melhores violonistas brasileiros de todos os tempos,
Dino 7 Cordas (1918-2006) ficou reconhecido como maior influência do violão
de 7 cordas, instrumento musical no qual desenvolveu sua linguagem e técnica.
Dino 7 Cordas, não inventou o instrumento que lhe serve de sobrenome artístico,
mas foi o principal responsável pelo desenvolvimento de sua técnica e de sua
linguagem. Dino entrou definitivamente para a história da música popular por
seu exímio trabalho de acompanhador.
Outra personalidade de peso na história do gênero foi o carioca Jacob Pick
Bittencourt, o Jacob do Bandolim (1918-1968), famoso não só por seu
virtuosismo como instrumentista, mas também pelas rodas de choro que
promovia em sua casa, nos anos 50 e 60. Sem falar na importância de choros de
sua autoria, como “Remeleixo”, “Noites Cariocas” e “Doce de Coco”, que fazem
parte do repertório clássico do gênero. Contemporâneo de Jacob, Waldir
Azevedo (1923-1980) superou-o em termos de sucesso comercial, graças a seu
pioneiro cavaquinho e choros de apelo bem popular que veio a compor, como
45
“Pedacinhos do Céu” e “Brasileirinho” o maior sucesso da história do gênero,
gravado por Carmen Miranda e, mais tarde, por músicos de todo o mundo.
Os antigos chorões moravam, entre outros bairros, na Cidade Nova, no
Engenho Velho, no Estácio, em Vila Isabel, na Tijuca, no Andaraí, no Jardim
Botânico, na Piedade, no Catumbi, na Glória, em Jacarepaguá, em Inhaúma e no
Catete. O bairro Cidade Nova, surgido após o aterro dos antigos alagadiços
vizinhos do canal do Mangue por volta de 1860 foi um dos mais habitados pelos
chorões.
Nas ocasiões de aniversários, batizados ou casamentos, os chorões eram
procurados em pontos certos como no Botequim da Cancella no Catete, na
Confeitaria Bandeira do Estácio, no Gato Preto, no Botequim Braço de Ouro no
Andaraí, no Botequim do Major Ávila no Engenho Velho, numa vendinha que
existia no Largo de São Francisco, esquina com Rua dos Andradas no centro da
cidade e na confeitaria do “velho Chico”, também no centro da cidade. Eram
ponto dos chorões os “chás de música” na Rua dos Ourives 50, de propriedade
de Buschmann, Guimarães e Bevilacqua (antigas editoras de músicas, tendo
editado partituras de Chiquinha Gonzaga, entre outras), no Cavaquinho de Ouro
na Rua da Carioca, e na Rebeca de Ouro, na mesma rua.
O Rio de Janeiro é a incontestável capital do choro, mas não faltaram
músicos originários de outras partes do país. Um dos pioneiros foi o violonista
João Pernambuco (1883-1947), que trocou o sertão pernambucano pelo RJ, em
1904. Autor de “Sons de Carrilhões”, trouxe do sertão sua forma típica de canção
e enriqueceu o gênero com elementos regionais, colaborando para que o violão
deixasse de ser um mero acompanhante na música popular. Além de ter feito
parte do conjunto “Os Oito Batutas”, até hoje é cultuado pelos violonistas
brasileiros, que continuam interpretando suas composições para violão.
46
Incentivado pelos “Batutas”, o paraibano Severino de Carvalho, o
“Ratinho” (1896-1972), também migrou para o Rio, em 1922. Um dos pioneiros
na utilização do sax soprano, além de compositor de clássicos do gênero, como
“Saxofone, Por Que Choras?”, ficou mais conhecido, porém, ao formar a famosa
dupla caipira “Jararaca e Ratinho”. Outro solista nordestino de destaque, nos
anos 20 e 30, foi o clarinetista e saxofonista sergipano Luís Americano (1900-
1960), que integrou o inovador “Trio Carioca”, ao lado do pianista e maestro
Radamés Gnattali (1906-1988), em 1937. Já o bandolinista pernambucano
Luperce Miranda (1904-1977), radicou-se no Rio de Janeiro, em 1928 e ao lado
do pianista Zequinha de Abreu (1880-1935), autor de “Tico-Tico no Fubá”,
fizeram sucesso nacional impulsionados pelas gravadoras de discos e pelo
advento do rádio. Notável também foi o violonista e compositor Francisco
Soares de Araújo, o “Canhoto da Paraíba” (1928- 2008), que surpreendia ao
tocar seu instrumento sem inverter a posição das cordas, apesar de ser canhoto.
Outro centro de cultivo e desenvolvimento do gênero foi São Paulo, onde
se destacaram chorões como o flautista Copinha (1910-1984), os violonistas
Armandinho Neves (1902-1976), Antônio Rago (1916-2008) e, especialmente o
multi-instrumentista, Aníbal Augusto Sardinha, o “Garoto” (1915-1955), que
acompanhou a cantora Carmen Miranda nos EUA, em 1939. O contato direto
com o jazz influenciou sua obra, inclusive seus choros, que hoje são tocados por
violonistas de vários cantos do mundo, incluindo o também paulista Paulo
Bellinati (1950), um dos principais divulgadores da obra de Garoto.
Veteranos chorões, como flautista Copinha (1910-1984) e Abel Ferreira
(1915-1980), revelaram talentos mais jovens, como os bandolinistas Joel
Nascimento (1937) e Déo Rian (1944), sem dúvida, o músico mais brilhante
dessa nova geração foi o violonista carioca Rafael Rabello (1962-1995), que
47
apesar de ter morrido prematuramente, aos 32 anos, em 1995, deixou gravada
uma obra de peso.
Na década de 70 surgiram grupos jovens dedicados ao gênero, como “Galo
Preto” e “Os Carioquinhas”. Já a partir dos anos 80, o choro passa a estabelecer
outras conexões musicais. Grupos de espírito chorão, como a “Camerata
Carioca” e a “Orquestra de Cordas Brasileiras”, também traziam em seus
repertórios música erudita de Bach, Vivaldi e Villa-Lobos, ou mesmo o tango
contemporâneo de Astor Piazzolla. Por outro lado, a música popular brasileira
passou a flertar mais com o choro através de obras de influentes compositores e
letristas, como Paulinho da Viola (1942) e Chico Buarque (1944), ou
instrumentistas, como Hermeto Pascoal (1936) e Arthur Moreira Lima (1940).
Na década de 90 o choro recebeu uma ênfase especial na parceria do violonista e
compositor Guinga (1950) com o veterano letrista Aldir Blanc (1946), que
elevaram o patamar das experiências com o choro vocal. Entre os músicos da
atualidade que dedicam considerável parte de seu repertório ao choro chamam
atenção o pianista Leandro Braga (1955), o gaitista Rildo Hora (1939), o
clarinetista e saxofonista Nailor Proveta Azevedo, os flautistas Antônio Carlos
Carrasqueira e Dirceu Leitte (1961) e Henrique Cazes (1959), considerado hoje o
melhor solista de cavaquinho, lançou vários discos e se apresentou no Japão,
Europa e Estados Unidos e em 1998 publicou o livro "Choro, do Quintal ao
Municipal". Mas o chorão mais antigo e ativo na atualidade é o respeitado
flautista e compositor Altamiro Carrilho (1924). Pode-se considerar que ele é
praticamente uma lenda viva do choro, já gravou mais de 100 discos, fez mais de
200 composições e já se apresentou em mais de 40 países difundindo o gênero.
Hoje, músicos, entre outros, como Paulo Moura (1933), Hamilton de
Holanda (1976), Hélio Delmiro (1947), Turíbio Santos (1943) e também os
conjuntos “Época de Ouro”, “Água da Moringa”, “Trio Madeira Brasil”,
48
“Premeditando o Breque”, “Galo Preto” e muitos outros, mantêm em atividade
essa manifestação instrumental popular que os grandes centros urbanos do Brasil
produziram e produzem.
O choro com uma bagagem de mais de 130 anos, encontra-se
completamente firmado como um dos principais gêneros musicais do Brasil. São
milhares de discos gravados e centenas de chorões que ao longo do tempo vem
marcando sua presença e assim henriquecendo cada vez mais esse gênero
musical. Além de ser um gênero musical rico e complexo, é também um
fenômeno artístico, histórico e social. O choro foi a prova do gênio miscigênico
da raça brasileira e retemperou a alma carioca dos autores que começaram a
fazer a história da música popular brasileira.
Certamente existiram diversos outros chorões que deixaram sua
contribuição ao gênero, porém neste capítulo dediquei-me a expor aqueles que
em análise tiveram forte representatividade, porém não desconsidero os que aqui
não foram citados.
49
Os chorões:
50
Ernesto Nazareth Catulo da Paixão Cearense
(1863-1934) (1863-1946)
51
Zequinha de Abreu João Pernambuco
(1880-1935) (1883-1947)
52
Luiz Americano Luperce Miranda
(1900-1960) (1904-1977)
53
Abel Ferreira Garoto
(1915-1980) (1915-1955)
54
Waldir Azevedo Altamiro Carrilho
(1923-1980) (1924)
55
Henrique Cazes Raphael Rabello
(1959) (1962-1995)
56
2.8 Biografia do Pixinguinha
57
“flautinha de folha”, com a qual executava os choros que aprendia de ouvido nas
reuniões em sua casa.
Aprendeu as primeiras noções teóricas de música com César Borges Leitão,
tocador de bombardino e colega de seu pai nos Telégrafos.
Pixinguinha e sua família moravam em um casarão no bairro do Catumbi, que
ficou conhecida por “Pensão Vianna” pela hospitalidade com que seu pai
Alfredo da Rocha Vianna abrigava os amigos músicos. Nomes como Sinhô,
Bonfiglio de Oliveira e o grande músico Irineu de Almeida moraram lá. Irineu
encantado ao ver o garoto tocar a tal flautinha, percebeu a facilidade que ele
tinha para a música e praticamente assumiu sua educação musical, ensinando-o a
ler e escrever música. O contato com Irineu de Almeida, aliás, parece ter sido
fundamental na carreira de Pixinguinha. Além de ter sido bom professor, Irineu
passaria a ter muita confiança no menino, convidando-o, ainda jovem a participar
de festas e eventos em que era contratado para tocar. Tratava-se, portanto, de
atividades já profissionais. Nesses eventos Pixinguinha levava o cavaquinho e a
flauta do pai, mas começava a demonstrar preferência pelo segundo instrumento.
O pai de Pixinguinha parece não ter resistido aos fatos e importou uma flauta
moderna, de prata.
O ano de 1911 seria importante para a carreira de Pixinguinha, com
quatorze anos de idade desfilou como integrante da orquestra do “Grupo
Carnavalesco Filhas da Jardineira”, que tinha como diretor de harmonia seu
“mestre” Irineu de Almeida. No mesmo ano, Pixinguinha teria outra experiência
profissional importante que ilustrou bem sua personalidade musical. Antônio
Maria Passos, flautista da orquestra do “Teatro Rio Branco”, ficou doente e com
isso foi necessária uma substituição temporária. Na época, tanto o flautista
quanto o teatro gozavam de grande prestígio. Pixinguinha foi indicado por Tute
(um dos pais do violão de sete cordas), que na ocasião tocava bombo e prato na
58
orquestra. Paulino Pinto do Sacramento era então regente da orquestra e, à
primeira vista, sentiu certa desconfiança ao ver um garoto de quatorze anos
substituindo Antônio Maria. Mas Pixinguinha era músico de choro, já lia música
bem e era capaz de realizar improvisos e variações; não se prendia, portanto, à
partitura. Deu conta do trabalho e, ainda por cima, executou idéias próprias que
foram aprovadas tanto pelos músicos da orquestra quanto pelo regente. Ainda em
1911, o garoto começou a tocar em bailes e quermesses nos finais de semana e
fez também sua primeira composição de choro, nomeando-a “Lata de leite”. Sua
primeira gravação conhecida foi a polca “Nhonhô em sarilho”. Em 1912, Irineu
colocaria Pixinguinha na função de diretor da orquestra do “Rancho Paladinos
Japoneses”, uma posição um tanto importante para um rapaz da sua idade. Daí
passou a ser requisitado para tocar em orquestras de cinema, teatros e cabarés.
A partir de 1914, Pixinguinha começou a desfilar no Carnaval como
integrante do “Grupo de Caxangá”, ao lado de João Pernambuco, Donga e
outros, e em 1919 obteria seu primeiro grande sucesso comercial com o samba
“Já te digo”, composto em parceria com seu irmão China. A primeira música
editada e gravada de Pixinguinha foi o tango “Dominante”, em 1916. A
gravação foi feita pelo “Bloco dos Parafusos”. Em 1917, gravaria pela primeira
vez tendo seu nome apontado como líder de grupos; com o “Grupo do
Pixinguinha”, dois maxixes chamados “Morro da favela” e “Morro do Pinto”;
com o “Choro Pixinguinha”, o tango “Sofres porque queres”, que regravaria
mais tarde com Benedito Lacerda, e a valsa “Rosa”, duas de suas músicas mais
conhecidas. O fato de Pixinguinha “dar nome” a grupos indica que seu status no
meio musical já era grande e que exercia uma liderança entre os músicos que o
acompanhavam, isso tudo com apenas vinte anos de idade.
Desde 1915 Pixinguinha atuava na orquestra da sala de projeções do
“Cinema Palais”, mas em 1919 o gerente do cinema pediu para que ele e Donga
59
organizassem um grupo para tocar na sala de espera. Surgia aí o conjunto “Oito
Batutas”, de formação instrumental brasileiríssima. O repertório tinha modinhas,
sambas, polcas e canções sertanejas. O grupo era formado por, Pixinguinha na
flauta, Donga no violão, China no violão e no canto, Nelson Alves no
cavaquinho, Raul Palmieri no violão, Jacob Palmieri na bandola e no reco-reco e
José Alves de Lima no bandolim. O contrato com o “Cinema Palais” seria um
passo importante na vida profissional dos músicos. Sendo um dos cinemas mais
elegantes da cidade e gozando de grande prestígio, a casa funcionou como uma
“vitrine” para o conjunto que passou também a ser convidado para animar festas,
participar de espetáculos e eventos em geral. Os “Oito Batutas” foram recebidos
de forma positiva pelo público, alcançaram grande sucesso e chegaram a
excursionar por vários estados do Brasil. Em 1921 passaram a tocar no “Cabaré
Assírio”, no subsolo do “Teatro Municipal”, e foi lá que conheceram Arnaldo
Guinle, milionário e fã do grupo. Os “Oito Batutas” sugeriram a ele que
financiasse uma viagem do grupo à Paris. Este assim o fez, e em 1922, durante
seis meses, “Les Batutas” (apenas sete viajaram, pois um adoecera) se
apresentaram no “Dancing Scheherazade” na França. Nesse mesmo ano, após
breve retorno, os “Oito Batutas” (oito mesmo) foram à Argentina e lá ficaram até
o início do ano seguinte. Sempre nas notícias e críticas de jornais, era ressaltado
o brilhantismo musical de Pixinguina. Mas além de muitos e sinceros elogios,
vez por outra publicava em suas páginas duras críticas ao conjunto. Eram críticas
agressivas, revelando a mentalidade preconceituosa de algumas pessoas
pertencentes à classe alta que frequentava o “Cinema Palais”. É que os “Oito
Batutas” tocavam música popular e além de usarem em seu figurino trajes
característicos do nordeste, metade do grupo era negro. Mesmo com todo esse
preconceito o grupo construiu uma carreira de sucesso, lotaram teatros, fizeram
enormes saraus na casa do milionário Arnaldo Guinle, tocaram para os reis da
60
Bélgica, Albert e Elizabeth, em uma ocasião em que estiveram no Brasil e ainda
tiveram seis músicas gravadas pela “Odeon”, famosa gravadora da época.
Pixinguinha não renegava trabalho. Tinha um comportamento inquieto e
estava sempre atento às informações que o rodeavam. A partir de 1924
Pixinguinha assumiu novas funções, de regente e orquestrador, embora
continuasse atuando em shows, teatro e boates como flautista e saxofonista. 1928
foi o ano em que mais gravou e foi gravado. Como intérprete, aparece em discos
gravados, conforme as identificações, por “Pixinguinha e seu conjunto”,
“Orquestra Típica Pixinguinha”, “Orquestra Típica Pixinguinha-Donga” e
“Orquestra Típica Oito Batutas”. Como compositor, embora fosse muitas vezes
identificado exclusivamente com o choro, teve vários sambas. Em 1928 e 1929
foram gravados os choros mais famosos, “Lamentos” e “Carinhoso” pela
“Orquestra Pixinguinha-Donga”. Ainda em 1929 a gravadora “RCA Victor do
Brasil” contratou-o como arranjador exclusivo. Pixinguinha desenvolveu uma
linguagem de orquestração pioneira para a música popular brasileira, com grande
destaque para o naipe das percussões. Muitas canções carnavalescas devem parte
de deu sucesso a seus arranjos.
Em 1931 organizou o “Grupo da Guarda Velha”, que contava com alguns
dos maiores instrumentistas da época, como Bonfiglio de Oliveira, no trompete,
Luís Americano, no sax e clarineta, João da Baiana, no pandeiro e Donga no
violão, este último o parceiro mais constante de sua carreira. O grupo gravou
dezenas de discos na “Victor” e acompanhou os grandes compositores da época,
como Carmem Miranda, Mário Reis e Silvio Caldas. Incentivado por amigos,
Pixinguinha resolveu em março de 1933 prestar concurso para o terceiro ano do
curso de “Teoria Musical do Instituto Nacional de Música”. Aprovado com nota
sete, iniciou o curso imediatamente e concluiu em outubro do mesmo ano.
61
Durante a década de 30 Pixinguinha atuou em várias emissoras de rádio,
como solista, arranjador ou atuando em grupos que acompanhavam os maiores
cantores da época. Em 1937 Pixinguinha fundou o grupo “Os cinco
companheiros”, cuja formação instrumental era a típica dos “regionais” de choro:
o próprio na flauta, Tute no violão de sete cordas, José Valeriano no violão de
seis cordas, Luperce Miranda no cavaquinho e João da Baiana no pandeiro.
A década de 40 não começou bem para Pixinguinha, estava com sérios
problemas pessoais e financeiros. O mercado já não estava bom, com a música
americana predominando nas rádios, e ele, por viver sua pior fase com o
alcoolismo, andava um tanto afastado do meio musical e com pouco trabalho
pela frente. Desde o final da década de 30, esforçava-se para estar em dia com as
prestações de uma casa que comprara para ele e para sua mulher, Albertina da
Rocha Vianna, “Betí”, na Rua Belarmino Barreto, no bairro de Ramos. Sabe-se
que o músico possuía uma relação muito pouco íntima com o dinheiro e
extremamente íntima com a bebida. Desde muito jovem, para trabalhar com os
músicos, acabou habituando-se a beber. Sua carreira parecia entrar num declínio
inevitável e ele sabia que a situação não andava nada boa. Com pouco dinheiro,
bebendo uma garrafa de “Aguardente” toda manhã e com prestações atrasadas
para pagar, decidiu então parar de beber. Foi a ocasião em que compôs o choro
“Briguei com Virgínia”. “Virgínia” era a marca cachaça. Em 1942 gravou pela
última vez tocando flauta, nos choros de sua autoria “Chorei” e “Cinco
Companheiros”.
A troca definitiva da flauta pelo sax tenor realizada por Pixinguinha nunca
foi devidamente esclarecida. Quanto ao motivo da troca, há três explicações
possíveis; a primeira está associada ao alcoolismo, que o teria feito perder a
precisão na digitação da flauta devido as mãos trêmulas; a segunda se refere à
62
perda da embocadura para o instrumento devido a um problema dentário; a
última é a soma das duas explicações anteriores.
Benedito Lacerda, conhecido no meio musical e líder do principal
conjunto regional da época, foi quem primeiro apareceu para ajudar Pixinguinha.
Convidou-o para formar uma dupla e gravar 25 discos pela “RCA Victor”. O
acordo previa, de um lado, o retorno de Pixinguinha aos estúdios e ao contato
com o público, além de um adiantamento para pagar as prestações atrasadas da
casa; de outro, que Benedito contasse como co-autor dos choros gravados que
fossem compostos por Pixinguinha.
Entre 1946 e 1950, Benedito Lacerda na flauta e Pixinguinha no sax tenor
realizaram uma série de gravações memoráveis, acompanhados de Canhoto no
cavaquinho e Dino e Meira nos violões de seis cordas. O início da década de 50
assistiu ao aumento da popularidade do bolero e do samba-canção. Com isso,
Pixinguinha afastou-se um pouco do público, mas não deixou de compor. Atuou
inclusive como professor de música em duas escolas, “João Alfredo” e “Vicente
Licínio”, nas quais também formava conjuntos musicais com os alunos.
Os festivais da “Velha Guarda” organizados pelo radialista Almirante em
1954 e 1955 marcaram o reencontro de Pixinguinha com o público. Esses
festivais tinham como objetivo reunir artistas populares das décadas anteriores, e
alcançaram grande sucesso. Pixinguinha formou o grupo “Velha Guarda”, que
gravou três long playings pela gravadora “Sinter”. O “Velha Guarda” contava,
além de Pixinguinha no sax tenor, com músicos como Bide na flauta, Donga no
violão, João da Baiana no pandeiro e Almirante e J. Cascata cantando.
Em 1956, Pixinguinha e Villa-Lobos foram nomeados presidentes de
honra da “União dos Músicos do Brasil”, instituição que teria o objetivo de
defender os interesses profissionais dos músicos brasileiros, mas que não durou
muito tempo. 1957 foi um ano produtivo em termos de gravações. Gravou cinco
63
long playings com a orquestra “Pixinguinha e sua banda”, além de um disco com
duas músicas de sua autoria, “Marreco quer água” e “Paciente”. Mas foi em
1958 que gravou um long playing marcante: “Os cinco companheiros”, que nada
teve a ver com o grupo formado 21 anos antes. O repertório incluía alguns dos
seus choros mais conhecidos, como “Um a zero”, “Naquele Tempo”, “Ingênuo”
e “Lamentos”.
Em 1961, o então presidente da República, Jânio Quadros, o nomeou
membro do “Conselho Nacional de Música”. Como Jânio logo renunciou, o
órgão não chegou a funcionar. Pixinguinha enveredou pelo cinema em 1962,
compondo em parceria com Vinícius de Morais a trilha sonora do filme “Sol
sobre a lama”, de Alex Viany. Vinícius pôs letra em músicas como “Lamentos”
e “Mundo melhor”, samba que foi regravado por vários intérpretes.
Foi na terceira complicação cardíaca, em 1964, que ele compôs uma série
de músicas na clínica em que ficou internado, dentre elas o choro-canção “Fala
Baixinho”, com o qual se classificaria em quinto lugar no “II Festival
Internacional da Canção”, em 1967. Nos últimos anos de sua vida, trabalhou
esporadicamente, mas recebeu diversas homenagens, as maiores delas ao
completar 71 anos, quando todos pensavam que estava completando 70, Jacob do
Bandolim descobriu o engano em 1968 através da certidão de batismo de
Pixinguinha, quando já se comemoravam seus 70 anos. Pixinguinha, então,
pediu-lhe que guardasse segredo. Só mais tarde veio a público o conhecimento
da verdade. Entre as homenagens que Pixinguinha recebeu na ocasião estiveram
uma exposição retrospectiva no “MIS” - Museu da Imagem e do Som, uma
sessão comemorativa na “Assembléia Legislativa no Rio de Janeiro” e um
concerto no “Teatro Municipal”, que foi gravado e deu origem ao disco
“Pixinguinha 70”, relançado em cd pelo “MIS” em 1996.
64
Depois de 45 anos de casamento com Betí, em 1972 ela ficou seriamente
doente e precisou ser internada. O coração de Pixinguinha já fraco, não
agüentou, sofreu um enfarte e foi parar no mesmo hospital que a esposa, mas ela
nunca soube disso. Como o estado de Betí era bem mais grave do que o de
Pixinguinha, pai e filho combinaram que todos os dias, no horário de visita, ele
trocava a roupa hospitalar por um terno e com um buquê de flores subia alguns
andares para vê-la. Alguns dias depois Albertina acabou falecendo. A morte dela
mudou em muito a vida de Pixinguinha que faleceu poucos meses depois, em
fevereiro de 1973, aos 75 anos.
Pixinguinha esteve em contato desde pequeno com músicos de choro,
além de ter convivido também com o samba. Aliás, quando nasceu, tinha se
iniciado há pouco o período em que a música popular brasileira começava a
adquirir características nacionais próprias. Os gêneros europeus aqui
introduzidos desde a metade do século XIX, principalmente a polca, já tinha
originado uma série de formas híbridas por sofrerem influências dos batuques e
lundus. Os tangos, sambas e maxixes começavam a proliferar. Alguns dos
precursores da música popular brasileira eram vivos e já haviam produzido parte
essencial de suas obras: Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Anacleto de
Medeiros, Henrique Alves de Mesquita, fora Joaquim Antonio da Silva Callado,
que morrera alguns anos antes.
Pixinguinha viajou muito pelo Brasil e teve contato com a música de
outros estados. Chegou a compor frevos e maracatus, embora não muitos. Da
influência americana, compôs alguns foxes.
Pixinguinha declarou ao “MIS”:
65
Ele não recusava desafios. No entanto, por mais que flertasse aqui e ali
com influências estrangeiras, seu trabalho era calcado em raízes brasileiras.
Mesmo com a aquisição do saxofone, na viagem dos “Lês Batutas” para a França
por influência das jazz-bands, Pixinguinha manteve uma linguagem brasileira.
Afinal de contas, o saxofone já existia no choro desde o início do gênero, em
meados de 1870. O “mestre” tinha um conhecimento musical riquíssimo e era
um improvisador de mão cheia. Diversas homenagens póstumas lhe foram
prestadas, entre elas, a da “Portela”, que, no ano seguinte de sua morte levou
para a Avenida o samba-enredo “O mundo melhor de Pixinguinha”, com autoria
de Jair Amorim, Evaldo Gouveia e Velha, que lhes rendeu o segundo lugar.
Exigente e magistral em tudo que fazia, fosse tocando flauta ou saxofone,
foi um dos maiores instrumentistas que o país já teve. Pixinguinha levou o título
de ser o primeiro orquestrador da Música Popular Brasileira. É dele a famosa
introdução da música “O teu cabelo não nega” de Lamartine Babo. Considerado
uma expressão máxima do choro, ele deixou cerca de duas mil composições,
muitas ainda inéditas. Um talento que impressionou os maestros Villa-Lobos e
Tom Jobim.
66
“Qualquer avaliação que se faça da obra de Pixinguinha mostrará
que o artista soube reunir, em sua música, elementos que andavam
dispersos nas primeiras décadas da formação do choro, além de, sem abrir
mão de um estilo próprio, ter assimilado tudo o que foi feito pelos
compositores das gerações anteriores. Pixinguinha, assim, produziu as
suas obras, criou uma linguagem para si e para os outros e alicerçou toda
uma cultura, sendo considerado pela maioria dos estudiosos, músicos e
amantes da música, um dos maiores nomes da música brasileira de todos
os tempos”.
Sergio Cabral
67
Galeria de Fotos:
68
2.8.1 Discografia do Pixinguinha
O JOVEM PIXINGUINHA
Pixinguinha
69
5 COMPANHEIROS (1956)
Pixinguinha e os chorões daquele tempo
ALEGRIA (1960)
Pixinguinha e sua orquestra
70
CARNAVAL DOS BONS TEMPOS (1967)
Pixinguinha e sua banda
71
3.1 CONCLUSÃO
72
4.1 Bibliografia
Livros:
Monografias:
Dicionários:
1) Dass grosse Lexikon der Musik [Editado por marc Honegger e Günther
Massenkeil]. Friburgo: Herder, 1976. Alemanha.
2) Aurélio da língua portuguesa, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
3) The new Grove dictionary of music and musicians [Editado por Stanley
Sadie]. Londres: Macmillan, 1980, vol.18.
73
Enciclopédia:
Home pages:
http://www.chiquinhagonzaga.com/
http://www.collectors.com.br/CS06/cs06_05d.shtml
http://almanaque.folha.uol.com.br/choro.htm
http://www.hist.puc.cl/historia/iaspmla.html
http://www.secrel.com.br/elismar/artchoro/histchoro.htm
http: www.pixinguinha.com.br
http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/musica/mus11.htm
http://www.altamirocarrilho.com.br/
Reportagens:
1)(http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM819540-7823-
DIA+NACIONAL+DO+CHORO,00.html)
Reportagem – MG TV 1º edição – quinta-feira,24/04/2008
2)(http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM819047-7823-
DIA+NACIONAL+DO+CHORO+E+COMEMORADO+COM+MUITA+MUSICA,00.html)
Reportagem- RJ TV 1º edição - quarta-feira, 23/04/2008
Arquivos:
MIS - Museu da Imagem e do Som , Rio de Janeiro
Discos:
Disco “Os Carioquinhas no Choro”, Som Livre, 403.6132, 1977
74
Anexo:
Henrique Cazes
75
fim dos anos 20, Pixinguinha partiu para suas experiências com choros
orquestrais e apesar de ter alcançado resultados como “Carinhoso” e “Lamentos”
o choro já caminhava para o afunilamento em termos de formato, fixando o
"conjunto regional" que marcou a “Era do Rádio”. O chamado “regional” era um
grupo formado por dois ou três violões, cavaquinho, pandeiro e um solista
(flauta, bandolim, etc) e era pau pra toda obra. Um grupo que não precisava de
arranjo escrito e acompanhava até o que não conhecia.
Os solistas mais importantes dessa época foram o clarinetista e saxofonista
Luis Americano e o flautista Benedito Lacerda. O bandolim de Luperce Miranda
também brilhou no período, onde apareceu o toque modernizador de Radamés
Gnattali, especialmente nas gravações do “Trio Carioca” com Americano no
clarinete e Luciano Perrone na bateria. Para as gravadoras da época os registros
“chorísticos” aproveitavam a mão de obra contratada de solistas e arranjadores,
mas não representavam volume comercial expressivo.
O tempo passou e só em meados da década de 40 começaram a surgir
novidades realmente positivas. Pixinguinha fez acordo com Benedito Lacerda,
passou para o sax e realizou entre 46 e 51 uma preciosa série de gravações. Outra
novidade foi o choro tocado por formações influenciadas pelas big-bands
americanas como a “Orquestra Tabajara” e a “Orquestra de Fon-Fon”. A
inclusão de “Tico-tico no Fubá” em nada menos que cinco filmes americanos e o
fato da gravação da organista Ethel Smith ter alcançado o hit parade, davam uma
pista que o choro podia ser algo realmente vendável.
No finzinho de 1949 aconteceu o estouro de “Brasileirinho” e o começo do
período de maior relevância comercial para a música e os músicos do choro.
Waldir Azevedo na “Continental”, Jacob do Bandolim na “RCA Victor”, Garoto
na “Odeon”, Zé Menezes na “Sinter”, disputavam espaço numa concorrência
extremamente produtiva. Num mesmo ano, o de 54, Altamiro Carrilho estourou
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com o maxixe “Rio Antigo” e Chiquinho do Acordeon e Garoto arrebentaram
com o dobrado “São Paulo Quatrocentão”. As emissoras de rádio reservavam
quartos de hora para seus solistas e os nomes já citados se tornaram
nacionalmente conhecidos.
A ascensão da bossa-nova, seguida da jovem guarda e outras ondas,
fizeram da década de 60 um período de ocaso para o choro. Para piorar Jacob, o
maior líder dessa fase, morreu repentinamente em 69, deixando uma impressão
de que o choro estava pela “bola sete”. O pior é que em 73 foi a vez do maior
gênio do estilo, Pixinguinha, ir embora. Quando tudo apontava para baixo veio
uma fase que parecia ser de renascimento e que apesar de efêmera, revelou
nomes como Joel Nascimento, Déo Rian e Zé da Velha. Dos grupos novos que
surgiram nos anos 70 só dois chegaram ao disco “Os Carioquinhas” e o hoje
longevo “Galo Preto”. Os outros grupos demoraram a amadurecer e quando
viram a onda já tinha passado.
Seguiu-se então o período menos fértil em termos fonográficos de toda a
história do choro. Os músicos jovens em sua maioria só queriam estudar em
Boston e tocar fusion. O começo da década de 80 foi a fase em que tocar choro
era quase uma iniciativa suicida.
Passados alguns anos a situação foi mudando. Começou a surgir uma
produção fonográfica alternativa, em discos independentes ou através de
pequenos selos, uma novidade no meio fonográfico de então. Posso dizer sem
falsa modéstia, que trabalhei arduamente na reconstrução de um espaço
fonográfico para a musicalidade “chorística”. São dessa fase meus primeiros
discos de solista, os discos da “Orquestra Pixinguinha”, da “Orquestra de Cordas
Brasileiras”, a série “Sempre com Pixinguinha”, Jacob e Radamés, entre vários
outros.
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Na segunda metade da década passada vimos ressurgir uma parte da
discografia em CDs o que ajudou a colocar lenha na fogueira. Os novos grupos
que surgiram no período já estrearam com qualidade de produção mais
profissional, o que exolica, por exemplo, a rápida ascensão do “Trio Madeira
Brasil”.
Em 2000 foi a vez de surgir a “Acari”, primeira gravadora especializada
em choro e que está marcando sua atuação por lançar discos de artistas que não
estavam disponíveis como solistas. Por fim chegamos a um fenômeno curioso.
Depois de cuspir o choro para fora do mercado nos anos 80, as grandes
gravadoras brasileiras começam a redescobrí-lo, normalmente através de
produções feitas para o exterior como “Bach no Brasil” (EMI) e “Café Brasil”
(Teldec-WEA). O sucesso da caixa de três CDs com os registros de Jacob do
Bandolim (BMG) encorajou outras empresas e são aguardados produtos
semelhantes abordando as gravações de Pixinguinha e Benedito Lacerda, Waldir
Azevedo e os anos 50 de Pixinguinha com a “Velha Guarda”. Quem viver
ouvirá.
Henrique Cazes é músico dos mais atuantes na cena instrumental brasileira,
produtor, compositor e autor do livro “Choro, do Quintal ao Municipal”.
Fonte: http://cliquemusic.uol.com.br
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