Dicionário Filosofia Da Ciencia

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Dicionário de filosofia da ciência

Anomalia- corresponde a um enigma teórico ou prático que deveria ser resolvido dentro de
um determinado paradigma, mas que resiste às tentativas de resolução. Segundo Kuhn, a
única forma de fazer ciência é através dos paradigmas científicos, os quais dão origem a leis
e a novos conceitos. Quando um determinado paradigma sofre de problemas e enigmas de
difícil resolução e, sobretudo quando estes problemas afetam as bases do próprio
paradigma, resistindo às tentativas de resolução, este paradigma entra em crise. Quando o
novo paradigma é adotado, a área de investigação científica em causa entra num estádio a
que Kuhn chama de ciência normal, a qual não tem como objetivo direto a descoberta de
novos fenómenos ou teorias, mas aumentar o sucesso do novo paradigma. Para isso, a
ciência normal dedica-se à resolução de enigmas ou puzzles sugeridos aos cientistas, os
quais usam as regras do próprio paradigma para encontrar as respostas e as soluções.
Contudo, mais tarde ou mais cedo surgirá um enigma ao qual os cientistas, por mais que se
esforcem, não conseguem dar resposta tendo em conta as regras e técnicas propostas pelo
paradigma.
É a este tipo de enigmas que Kuhn chama de anomalias.
Certeza-é o estado da mente ou o processo mental que não envolve vacilação. Toda a
certeza é certeza de alguém sobre alguma coisa. De fato, um sujeito pode estar certo acerca
da falsidade e incerto sobre a verdade. A certeza surge em graus. Entretanto, a tentativa de
igualar grau de certeza com probabilidade é desencaminhadora, porque variações na
certeza não são conhecidas como acontecimentos eventuais: a maioria deles resulta do
aprendizado.
Ceticismo- conceção segundo a qual o conhecimento do real é impossível à razão humana.
Portanto, o homem deve renunciar à certeza, suspender seu juízo sobre as coisas e
submeter toda afirmação a uma dúvida constante.
Ciência- é um conjunto de conhecimentos explicados, relacionados e sistematizados, e são
essa explicação, esse relacionamento e essa sistematização que caracterizam o
conhecimento científico e o diferencia do conhecimento vulgar, ou empírico, que se limita a
verificar os fatos sem lhes buscar uma explicação racional, nem as suas relações inteligíveis
com os outros fatos, sistematizando. O que distingue uma ciência de outra ciência não é a
natureza dos objetos que estuda, mas o ponto de vista sob o qual os estuda.
Ciência extraordinária- é a oposta à ciência normal, e, ou reconduz a ciência à sua anterior
normalidade ou dá lugar a um novo paradigma.
O “novo paradigma” e o “velho” serão diferentes e incompatíveis. Segundo Kuhn
paradigmas rivais são incomensuráveis em função da profundidade das diferenças entre
eles, que implicam ver o Mundo de formas diferentes não compatíveis. Por exemplo: o
paradigma geocêntrico, que colocava a Terra no centro do Universo e o paradigma
heliocêntrico, que afirma ser o Sol o centro do Universo.
Ciência normal- define o período durante o qual se desenvolve uma atividade científica
baseada num paradigma. Esta fase ocupa a maior parte da comunidade científica,
consistindo em trabalhar para mostrar ou pôr à prova a solidez do paradigma no qual se
baseia.
Conjetura- é uma ideia, fórmula ou frase, a qual não foi provada ser verdadeira, baseada em
suposições ou ideias com fundamento não verificado. As conjeturas utilizadas como prova
de resultados matemáticos recebem o nome de hipóteses.
Na área do Direito a conjetura só pode ser usada como tese argumentativa, pois a Justiça
não pode ser baseada em suposições, mas em evidências e provas.
Corroboração- é a ausência de algo negativo: uma teoria corroborada, para Popper, é uma
teoria que, tendo sido sujeita a testes empíricos dignos desse nome, não foi refutada ou
falsificada. Se uma teoria tiver sido submetida a muitos testes rigorosos e tiver sobrevivido a
todos eles, terá um elevado grau de corroboração.
Critério de demarcação- refere-se à grande dificuldade outrora existente na distinção entre
teorias científicas e teorias não-científicas, à dificuldade em definir as linhas em torno do
que seja ciência. Refere-se à natureza e propriedades das fronteiras que promovem a
distinção entre ciência e não-ciência, entre ciência e pseudociência, entre ciência e filosofia,
entre ciência e religião. Uma forma desse problema, conhecido como o problema
generalizado de demarcação engloba todos os três casos simultaneamente.
Dedução lógica- é uma espécie de argumento no qual a forma lógica válida garante a
verdade da conclusão se as premissas forem verdadeiras.
Dúvida- estado da mente ou processo mental que consiste no fato de uma pessoa ser
incapaz ou não ter vontade de asseverar ou negar uma proposição (ou um conjunto de
proposições) por ignorar se ela é verdadeira ou falsa. A dúvida é a marca registrada do
ceticismo. Todavia, enquanto os céticos radicais duvidam de tudo, os moderados duvidam
apenas diante da evidência incompleta ou contraditória. É típico o fato de que cientistas e
tecnólogos, quando em trabalho, sejam céticos moderados. Mas até eles são por vezes
ingênuos ao se extraviarem em outros campos.
Epistemologia- o termo emprega-se hoje, frequentemente, para designar o estudo crítico
das ciências naturais e matemáticas. As ciências podem ser estudadas segundo o conteúdo
ou segundo a forma, entendendo-se por conteúdo a matéria ou objeto que a ciência trata e
por forma a estrutura racional que confere o caráter científico. A epistemologia é o estudo
crítico da forma (e não do conteúdo) da ciência. Ao longo da história da filosofia, a
epistemologia tem-se traduzido num critério de avaliação da autonomia das várias ciências
em relação à filosofia e num critério de distinção dos vários ramos do saber.
Falsificabilidade- é uma qualidade que indica a capacidade de uma teoria ser submetida a
testes experimentais. Pode-se assim concluir que a falsificabilidade permite selecionar as
teorias científicas, e é estas, ao terem sucesso, passam a ser teoria corroboradas, pelo facto
de não serem refutadas. Só se considera corroborada uma teoria se ela resistiu às tentativas
de falsificação.
Falcificacionismo- é a ideia de que a ciência se diferencia da pseudociência ou da
superstição porque hipóteses científicas devem ser capazes de ser falsificadas por meio da
observação e de experimentos. Além, de acordo com o filósofo, os cientistas, através de
seus experimentos, devem testar suas teorias para saber se não são falsas ao invés de fazer
de tudo para mostrar que são verdadeiras.
Hipótese- proposição ou conjunto de proposições que constituem o ponto de partida de
uma demonstração, ou então, uma explicação provisória de um fenômeno, devendo ser
provada pela experimentação. Enquanto os empiristas veem no ciclo experimental uma
sequência mecânica de operações, a epistemologia contemporânea estabelece que a
hipótese não é concluída a partir da observação, mas inventada.
Ideia- é o primeiro e mais óbvio dos atos da perceção pelo facto de se limitar ao simples
conhecimento de algo. Trata-se de uma imagem ou representação mental de um objeto.
A ideia é também o conhecimento puro e racional, que se deve às naturais condições do
nosso entendimento; ao plano e à disposição que se ordena na fantasia para a formação de
uma obra; e à intenção de fazer algo.
Ideal regulador- maneira como Popper caracteriza a verdade.
Incomensurabilidade- é a ideia de que não há padrões objetivos e compartilhados de
avaliação da teoria científica, de modo que não existam padrões externos ou neutros que
determinem univocamente a avaliação comparativa de teorias concorrentes. Esta ideia foi
desenvolvida a partir das rejeições de Kuhn e Feyerabend da visão tradicional de que uma
característica distintiva da ciência é um método científico uniforme e invariável, que
permanece fixo ao longo de seu desenvolvimento. Feyerabend argumentou que todas as
regras metodológicas propostas foram frutificamente violadas em algum momento no
decurso do avanço científico, e que, somente ao violar tais regras, os cientistas poderiam ter
feito progresso. Ele concluiu que a ideia de um método científico fixo, historicamente
invariante, é um mito. Para ele não há regras metodológicas universalmente aplicáveis.
Kuhn desafiou a visão tradicional do método científico como um conjunto de regras,
alegando que os padrões de avaliação teórica, como simplicidade, precisão, consistência,
alcance e fecundidade, dependem e variam de acordo com o paradigma atualmente
dominante. Ele argumentou que não há "algoritmo neutro para a escolha da teoria, nenhum
procedimento de decisão sistemático que, aplicado corretamente, deve necessariamente
levar cada indivíduo no grupo à mesma decisão". Kuhn desenvolveu a ideia de que tais
padrões epistêmicos não funcionam como regras que determinam a escolha da teoria
racional, mas como valores que meramente o guiam.
Lei científica- é uma regra com base em algum fenômeno que ocorra com regularidade
observada. É uma generalização que vai além das nossas observações limitadas, que, sendo
exaustivamente confrontada, testada e validada frente a um amplo e diverso conjunto de
fatos, dá-lhes sempre sentido cronológico, lógico e causal, podendo fazer previsões
testáveis para o futuro, e por tal recebe um título "honorífico" que a destaca entre as
demais, o título de lei.
Método- é um processo intelectual de abordagem de qualquer problema mediante a análise
prévia e sistemática de todas a as vias possíveis de acesso à solução. Opõe-se, pois, a um
modo de trabalhar confiado exclusivamente na improvisação ou na inspiração repentina. O
método é apenas uma disciplina mental, e não pode, por si, suprir o talento nem muito
menos a genialidade. Entretanto, um talento, mesmo modesto, trabalhando
metodicamente, pode conseguir resultados maiores e mais duradouros, do que um grande
gênio habituado à boêmia intelectual.
Método científico- é um conjunto de regras para a obtenção do conhecimento durante a
investigação científica. É pelas etapas seguidas que se cria um padrão no desenvolvimento
da pesquisa e o pesquisador formula uma teoria para o fenômeno observado. A teoria
científica é considerada fiável quando a correta aplicação do método científico faz com que
ela seja repetida indefinidamente, conferindo confiabilidade aos resultados.
Método hipotético-dedutivo- é um conceito utilizado em diversas áreas e que está
relacionado com as distintas formas de raciocinar, é um processo de análise de informação
que nos leva a uma conclusão. Dessa maneira, usa-se da dedução para encontrar o
resultado final.
O método já era utilizado na antiguidade. O filósofo grego Aristóteles contribuiu para sua
definição por meio do que ficou conhecido como lógica aristotélica, que por sua vez, está
pautada na doutrina do silogismo, isso porque desde de Aristóteles, são encontradas
condições necessárias para as proposições verdadeiras, para que, por fim, obtenham-se
conclusões verdadeiras.
Método indutivo- é um tipo de argumento utilizado em diversas áreas do conhecimento.
Esse método tem o intuito de chegar a uma conclusão. O método indutivo tem como ponto
de partida a observação para, daí, elaborar uma teoria.
Sendo assim, ele é muito utilizado nas ciências no qual parte de premissas verdadeiras para
chegar em conclusões que podem ou não serem verdadeiras. Nesse sentido, a indução
acrescenta informações novas nas premissas que foram dadas anteriormente.
Objetividade- é a qualidade daquilo que é objetivo, externo à consciência, resultado de
observação imparcial, independente das preferências individuais. Em epistemologia, o
conceito de objetividade caracteriza a validade de um conhecimento ou de uma
representação relativa a um objeto. Em outras palavras, o que é real e como sabemos se é
verdadeiro o que inferimos a respeito da realidade? Isto depende, por um lado, do conceito
do objeto alvo da atenção e, por outro, das regras normativas próprias da área em questão.
Assim, do ponto de vista epistemológico, a objetividade não é sinônimo de verdade.
Objeto- A noção de objeto caracteriza-se por oposição ao sujeito, ou seja, designa tudo
aquilo que constitui a base de uma experiência efetiva ou possível, tudo aquilo que pode ser
pensado ou representado distintamente do próprio ato de pensar. Nesse sentido, o objeto
constitui-se sempre numa relação com o sujeito, sendo um conceito tipicamente
epistemológico.
Paradigma- Com Kuhn, o conceito de paradigma assume um significado epistemológico e é
usado em diversas aceções, integráveis, como afirmou o seu autor, em dois significados
básicos. O paradigma é o conjunto das teorias, dos valores e das técnicas de pesquisa de
determinada comunidade científica. Entendido dessa maneira global, ou seja, no sentido de
"tradição pragmática", o termo paradigma pode ser substituído por "matriz disciplinar".
Matriz porque "composta de elementos ordenados de vários gêneros, cada um dos quais
exige maior especificação". Disciplinar porque "se refere à posse, comum aos que estão
engajados na pesquisa, de uma disciplina específica". Em segundo lugar, o paradigma é o
exemplar das soluções concretas para os quebra-cabeças que constituem a organização
típica da ciência normal, ou seja, da "pesquisa estavelmente fundada em um ou mais de um
resultado atingido pela ciência do passado, resultados aos quais determinada comunidade
científica, por certo período de tempo, atribui a capacidade de constituir o fundamento da
sua práxis ulterior".
Perceção- capacidade psíquica de conhecer os fenómenos e as situações através dos
sentidos, nomeadamente a tomada de consciência sensorial de objetos ou acontecimentos
sensoriais exteriores.
Questões de facto- conhecimento a posteriori, baseiam-se naquilo que estamos a observar,
sentir ou que recordamos de ter sentido. São preposições conhecidas pela experiência.
Realidade- característica ou qualidade daquilo que existe.
Refutações- esta etapa corresponde à fase em que o cientista testa a hipótese e testar a
hipótese consiste em confrontá-la coma experiência.
Basta encontrar na experiência um elemento que contrarie a hipótese para que esta seja
afastada (refutada pela experiência).
Este teste refutador deve ser conclusivo.
Revolução científica- Kuhn rejeita a ideia de transformação linear em favor da ideia de
"revolução científica". A escolha desse termo se deve a analogia com as revoluções políticas.
Quando chega o momento de uma revolução política, observa-se que os problemas em
questão se esgotaram, para que haja a transformação é necessário recorrer a meios
externos à política, sendo eles a persuasão de massas e à violência.
Quando se esgotam os recursos internos, com a ajuda de argumentos externos, é possível
transformar o próprio paradigma. Quando ocasiona atritos entre paradigmas cada cientista
busca superar o paradigma do outro. Não havendo uma base para demonstrar que nenhum
paradigma é melhor que outro, assim não podendo haver uma discussão.
Teoria científica- é um conceito que descreve um conjunto de hipóteses que formam um
sistema dedutivo, isto é, organizado de uma maneira de que, consideradas premissas todas
as hipóteses, delas decorram as demais.
Uma teoria científica é o grau máximo de confirmação de uma hipótese. Quando algo é
supostamente descoberto por alguém, dá-se a esse nome Hipótese. Quando a hipótese
possuí evidências científicas falseáveis, ela é chamada de Teoria. Quando finalmente uma
Teoria possuir evidências científicas sólidas, ela é chamada de Teoria científica.
Verdade- do latim "veritas, veritatis", com o mesmo sentido. Podemos distinguir duas
aceções fundamentais do termo. A primeira é a aceção epistemológica, pela qual a verdade
é a adequação entre a inteligência e a coisa, e se opõe ao erro. A segunda é a aceção moral,
pela qual a verdade é a adequação entre a inteligência e a sua expressão manifestativa e,
nesse sentido, opõe-se à mentira.
Verificabilidade- de acordo com o critério da verificabilidade, diz-se que uma teoria é
científica apenas quando o conteúdo de uma hipótese pode ser, pelo menos em princípio,
verificado pela experiência. De acordo com este critério, a verificação do conteúdo de uma
hipótese ou teoria consiste na demarcação do valor de verdade dessa teoria.

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