Analise Ergonomica Colheitadeiras Arroz

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APRECIAÇÃO E DIAGNOSE ERGONÔMICAS NO TRABALHO DOS OPERADORES DE

COLHEITADEIRAS DE ARROZ

Henrique Brasil Salis*, José Andrei Silva dos Santos*, Aline Kirsch Figueiredo*, Angelita Nunes Palhano
Graduandos em Engenharia de Produção; (*)bolsistas de Iniciação Científica (NDE/LOPP/UFRGS)
[email protected]; [email protected]; [email protected], [email protected]

Raimundo Lopes Diniz, MSc


Doutorando em Engenharia de Produção, PPGEP/UFRGS
Laboratório de Otimização de Processos e Produtos (LOPP)
Núcleo de Design e Ergonomia (NDE)
[email protected]

Paulo Portich
Mestre em Engenharia de Produção, PPGEP/UFRGS
LOPP/NDE
[email protected]

Palavras-chave: intervenção ergonomizadora, operadores de colheitadeiras de arroz, constrangimentos ergonômicos

Este trabalho apresenta uma intervenção ergonomizadora, nas fases de apreciação e diagnose, realizada no
trabalho dos operadores de colheitadeiras de arroz. Usaram-se técnicas de entrevista aberta e observações
assitemáticas para o mapeamento dos constrangimentos ergonômicos e a dosimetria para a mensuração do
ruído. Os resultados mostraram a presença de constrangimentos ergonômicos de ordem interfacial,
informacional, acional, comunicacional, físico e químico-ambientais e operacionais.

Keywords: ergonomic intervention, rice combine harvester operator, ergonomic constraints.

This paper presents an ergonomic intervention (appreciation and diagnosis stages) in the rice combine
harvesters operator’s work. The techniques used are interviews and field observations for ergonomic
constraints survey and noise dose meter. In general, the results presented ergonomic constraints related to
complained operational, interface, informational, action field and environment physical and chemical
problems.

1. INTRODUÇÃO condições adequadas, podem acarretar em


constrangimentos ergonômicos.
A agricultura é uma das atividades econômicas mais
antigas realizadas pelo ser humano. Com a mudança da Uma das questões que mais influenciam um número
colheita manual por inovações tecnológicas elevado de constrangimentos ergonômicos no setor da
(equipamentos, veículos, ferramentas, etc.) tem-se agricultura é o maquinário agrícola, cerca de 18 a 35%
observado o surgimento de demandas que podem ser dos casos relatados (MCCURDY & CARROLL, 2000).
exploradas por intervenções ergonômicas. Há uma grande variedade de máquinas usadas na
agricultura, onde os problemas mais enfocados pela
De acordo com MCCURDY & CARROLL (2000), a ergonomia estão relacionados com, por exemplo, o
agricultura está entre as atividades ocupacionais que sistema de partida das máquinas, as colheitadeiras,
apresentam as mais elevadas percentagens de riscos, tratores, máquinas de feno, veículos, etc. Os aspectos
além de ostentar tarefas que impõem constrangimentos estudados relacionados a essas máquinas são o design,
ergonômicos relacionados à mortalidade e a morbidez a usabilidade, a antropometria, a postura adotada e
do trabalhador. McCurdy & Carroll apontam que o mantida num tempo prolongado e as condições
ambiente de trabalho da agricultura é caracterizado por ambientais (exposição a vibrações, ruídos, etc).
algumas questões como a usabilidade de máquinas,
equipamentos e ferramentas, condições ambientais e o A tabela 1 apresenta um levantamento sobre
convívio com animais que, se não estiverem em constrangimentos ergonômicos, relacionados ao
universo de trabalho da agricultura, realizado nos diagnose ergonômica, visando comprovar a queixa de
Estados Unidos (Department of Industrial Relations - ruído levantada pelos operadores.
Califórnia). Pode-se observar uma grande percentagem
de lesões em regiões corporais, principalmente na 2. CULTURAS DE ARROZ SISTEMATIZADAS E
região das costas em decorrência da NÃO-SISTEMATIZADAS
adoção/manutenção de posturas inadequadas.
Existem dois tipos de cultura de arroz: a cultura de
CARACTERÍSTICA Nº CASOS (%) arroz sistematizada e a cultura de arroz não-
Total de casos 11.830 (100) sistematizada (figura 1), o enfoque de nossa pesquisa.
Natureza do constrangimento Na cultura sistematizada as quadras são aplainadas no
Distensão, contorção 5.151 (43.5)
Ferimentos, contusões 909 (7.7) mesmo nível de lâmina d’água, e há ligações com as
Cortes e lacerações 730 (6.2) quadras situadas em níveis inferiores (FARINA &
Múltiplos ferimentos 545 (4.6) ZYLBERSZTAIN, 1998). Já na cultura não
Fraturas 467 (3.9) sistematizada as quadras são aplainadas de forma
Região corporal afetada desordenada, sem ligações entre as mesmas. Acredita-
Tronco (incluindo as costas) 4.797 (40.6) se que o trabalho realizado neste tipo de cultura
Costas 3.592 (30.4)
Membros superiores 2.226 (18.8)
(lavoura não-sistematizada) requer uma abordagem
Olhos 789 (6.7) ergonômica, pois a colheita é feita de maneira
Fonte do constrangim. rudimentar e sem estratégia exigindo do operador mais
Postura ou movimento 3.344 (28.3) técnica e exatidão de corte.
Mov. Manual de materiais 1.742 (14.7)
Piso, superfícies 1.453 (12.3) O plantio do arroz nas lavouras do Rio Grande do Sul é
Veículos 1.082 (9.1)
Agentes químicos 144 (1.2) realizado uma vez ao ano, especificamente, nos meses
Incidente ou exposição de agosto a dezembro quando ocorrem as etapas de
Contato com objetos ou equipamentos 3.128 (26.4) terraplanagem, plantio, etc. Após permanecer irrigada,
Esforço exc essivo 2.168 (18.3) de quatro a seis meses, a um nível constante de água, a
Quedas 1.546 (13.1) cultura entra em um período de amadurecimento. A
Acidentes no transporte 711 (6.0) partir daí, inicia -se a preparação da colheita, realizada
sob diversas restrições climáticas (umidade e calor, por
Tabela 1 – Levantamento de constrangimentos exemplo).
ergonômicos realizado nos EUA – Califórnia
(MCCURDY & CARROLL, 2000).

TÓREN & ÖBERG (2001) dizem que ao dirigir um


trator agrícola ou uma colheitadeira, o trabalhador está
exposto a problemas como vibrações, postura sentada
prolongada e a adoção de posturas com torção lateral de
tronco. Conforme TORÉN ET AL. (2002) o trabalho
com tratores e colheitadeiras em tempo prolongado
resulta no aumento de desconforto/dor na região das
costas, região ciática e nos quadris.

Levando-se em consideração todos estes fatores


relatados pela literatura condizentes a ergonomia e o
trabalho nas lavouras agrícolas, buscou-se neste Figura 1 – Cultura de arroz não-sistematizada
trabalho realizar uma intervenção ergonomizadora (nas
fases de apreciação e diagnose) no trabalho dos Quando o arroz atinge o ponto ideal, dá-se início à
operadores de colheitadeiras de arroz, em duas lavouras colheita. Esta deve ser feita entre períodos restritos de
localizadas no Rio Grande do Sul que lidavam com tempo devido a fatores ambientais que influem na
cultura não sistematizada. Na etapa da apreciação qualidade do produto, como a umidade. Baseado nessas
ergonômica foram realizadas entrevistas abertas e restrições, o operador é imposto a trabalhar em um
observações assistemáticas para o mapeamento de período pré-estabelecido e com rendimento máximo
constrangimentos ergonômicos. Num segundo para não causar uma quebra na produção.
momento, fez-se a medição de ruído na etapa da
É neste contexto que está inserido o sistema alvo da postos a serem diagnosticados e modificados; sugestões
pesquisa: a colheita do arroz/operador de colheitadeira. preliminares de melhoria e predições que se relacionam
à provável causa do problema a ser enfocado na
3. MÉTODOS E TÉCNICAS diagnose.

Buscou-se neste estudo, aplicar a intervenção A diagnose ergonômica permite aprofundar os


ergonomizadora sobre o trabalho dos operadores de problemas priorizados e testar predições. De acordo
colheitadeiras de arroz. O estudo em questão foi com o recorte da pesquisa ou conforme a explicitação
desenvolvido em duas regiões produtoras de arroz, da demanda pelo decisor, fazem-se a análise
localizadas no Rio Grande do Sul, sendo elas Dom macroergonômica e/ou a análise das atividades dos
Pedrito (localidade de Passo Fundo) e Viamão sistemas homem-tarefa-máquina. Considera-se a
(localidade de Águas Claras). A coleta de dados contou ambiência tecnológica, o ambiente físico e o ambiente
com a participação direta e integral dos operadores, organizacional da tarefa. É o momento das observações
conforme os princípios da Ergonomia Participativa. sistemáticas das atividades da tarefa, dos registros de
Durante todos os estágios da pesquisa realizaram-se comportamento, em situação real de trabalho.
discussões com os operadores a fim de permitir o Realizam-se gravações em vídeo, entrevistas
confronto entre questões identificadas por eles e pelos estruturadas, verbalizações e aplicam-se questionários e
pesquisadores. escalas de avaliação. Registram-se freqüências,
seqüências e/ou duração de posturas assumidas,
3.1. Intervenção ergonomizadora tomadas de informações, acionamentos, comunicações
e/ou deslocamentos. Os níveis, amplitude e
3.1.1. Apreciação ergonômica profundidade dos levantamentos de dados e das
análises dependem das prioridades definidas, dos
Segundo MORAES & MONT’ALVÃO (1998), a prazos disponíveis e dos recursos orçamentários. Esta
intervenção ergonomizadora pode ser dividida nas etapa se encerra com o diagnóstico ergonômico que
seguintes grandes etapas: compreende a confirmação ou a refutação de predições
e/ou hipóteses. Conclui-se com o quadro de revisão da
Ø Apreciação ergonômica; literatura, as recomendações ergonômicas em termos de
Ø Diagnose ergonômica; ambiente, arranjo e conformação de postos de trabalho,
Ø Projetação ergonômica; seus subsistemas e componentes; programação da
Ø Avaliação, validação e/ou testes ergonômicos; tarefa – enriquecimento, pausas, etc.
Ø Detalhamento ergonômico e otimização.
3.2. Entrevistas e Observações assistemáticas
Aqui serão descritas apenas as etapas envolvidas na
pesquisa propriamente dita: a apreciação e a diagnose Na etapa de apreciação ergonômica usou-se a técnica
ergonômica. de entrevista aberta para a percepção dos operadores
sobre Itens de Demanda Ergonômica (IDE’s) durante o
Apreciação ergonômica é uma fase exploratória que uso de 5 (cinco) modelos de colheitadeiras da marca
compreende o mapeamento dos problemas John Deere®, 1 (um) modelo da marca Ideal® e 1 (um)
ergonômicos. Consiste na sistematização do sistema modelo da marca Cleiz ®. As entrevistas foram
homem-tarefa-máquina e na delimitação dos problemas realizadas individualmente com 7 operadores, com
ergonômicos – posturais, informacionais, acionais, idade variando entre 35 e 57 anos e a estatura entre
cognitivos, comunicacionais, interacionais, 1,67m e 1,75m. Para o mapeamento dos
deslocacionais, movimentacionais, operacionais, constrangimentos ergonômicos foram realizadas
espaciais, físico e ambientais. Fazem-se observações observações assistemáticas (por meio de registros
assistemáticas no local de trabalho e entrevistas não fotográficos e em vídeo) em situação de campo.
estruturadas com supervisores e trabalhadores.
Realizam-se registros fotográficos e em vídeo. Esta 3.3. Critério adotado na avaliação da exposição ao
etapa termina com o parecer ergonômico que ruído
compreende a apresentação ilustrada dos problemas, a
modelagem e as disfunções do sistema homem-tarefa- Entende-se por ruído contínuo ou intermitente, para os
máquina. Conclui-se com: a hierarquização dos fins de aplicação de limites de tolerância, o ruído que
problemas, a partir dos custos humanos do trabalho, não seja ruído de impacto, de acordo com as
segundo a gravidade e urgência; a priorização dos especificações da NR 15 (Portaria 3214/78 - NR 15 -
Atividades e Operações Insalubres, 115.000-6 – MTE, (MORAES & MONT’ALVÃO, 1998). A seguir, tem-
anexo 1). se a ordenação hierárquica do sistema observado (a
colheita de arroz/operador da colheitadeira de arroz) e a
Para a avaliação do ruído contínuo ou intermitente caracterização do sistema operando (figuras 2 e 3).
utilizou-se o critério de referência que embasa os
limites de exposição diária, que compreende a uma
dose de 100% para uma exposição de oito horas ao
nível de 85 dB (A). O critério de avaliação diária
considera também, além do critério de referência, o
incremento de duplicação de dox (q) igual a 5 (cinco) e
o nível linear de integração igual a 80 dB(A). A
avaliação de exposição do operador ao ruído na
colheitadeira foi feita por meio da dose diária do ruído
e o nível de exposição - Leq (Nível equivalente) –
parâmetros estes representativos da exposição. A
dosimetria de ruído e o nível equivalente são
parâmetros idênticos. Para a efetivação da amostragem
dos níveis de ruído nas máquinas, monitoraram-se duas
delas, ambas da marca John Deere®, modelo 1135
Hydro. Na monitoração do ruído foi utilizada a técnica
de dosimetria, medição integradora dos níveis de ruído
instantâneo e intermitente gerados pelas máquinas. Figura 2 – Ordenação hierárquica do sistema colheita
de arroz/operador de colheitadeira.
Nas medições do nível de pressão sonora gerada pela
atividade das prensas e equipamentos acessórios foi
utilizado um medidor integrador de precisão, marca
Quest®, modelo 2700, um filtro de freqüência por
divisão de bandas de oitava, marca Quest®, modelo
QC-10 e um medidor de dose individual (dosímetro de
ruído) marca Quest® modelo Q-400. Antes de
iniciarem-se as medições verificaram-se as condições
eletromecânicas e a calibração dos equipamentos
utilizados. Também verificou-se o comportamento de
resposta dos instrumentos, condições de carga das
baterias e parâmetros de medições. Durante as
medições o microfone foi posicionado sobre o ombro
dos 2 (dois) trabalhadores amostrados na ocasião, afim
de que os dados obtidos fossem representativos da
exposição ocupacional diária de ruído. Cálculo da dose
diária: 2D = Te/480 ×100 × 2 (Ne – 85 / 5)

4. RESULTADOS DA PESQUISA

4.1. Apreciação ergonômica

4.1.1. Modelagens Sistêmicas

Segundo a técnica de abordagens de sistemas, para que


se possa definir a obtenção do sistema, é necessário
propor os modelos do sistema operando. Ao se
elaborarem os modelos de sistematização tem-se uma
melhor compreensão do sistema como um todo e de
Figura 3 – Caracterização e posição serial do sistema
suas partes neste todo o que pode facilitar a obtenção
colheita de arroz/operador de colheitadeira.
de melhores resultados ao se intervir nesse sistema
Pode-se notar que a delimitação do sistema alvo é o da adoção da postura sentada durante um tempo
recorte do sistema e, conseqüentemente, o objeto de prolongado, em função da localização dos componentes
estudo deste trabalho: colheita de arroz/operador de informacionais das exigências de comando da tarefa e
colheitadeira. da localização de componentes acionais, do arranjo
físico e do design da cabine da colheitadeira
4.1.2. Entrevistas abertas (visualização do espelho retrovisor, visualização da
plataforma de colheita). Há também falta de
Os resultados das entrevistas abertas, juntamente com acomodação adequada e conforto do tronco e/ou
as observações assitemáticas, contribuíram para o pernas, por falta de um maior grau de liberdade de
delineamento da problematização do SHTM. Para a movimentos do assento (figuras 4 e 5).
priorização dos IDE’s na próxima etapa da intervenção
ergonômica (diagnose) levou-se em consideração a
ordem de freqüência das citações dos entrevistados,
devido ao tamanho reduzido da amostra. A tabela 2
apresenta um exemplo da priorização dos IDE’s por
ordem de freqüência da entrevistas.

IDE’s Somatório
Pó da palha 6
Ruído elevado 6
Acionamento da plataforma é duro 5
Gosta do trabalho 3
O trabalho é longo e exaustivo 3
Gosta da máquina 3
Dor nas costas 3
Banco afastado da plataforma 3
Falta de espaço para os pés 3
Comando pesado (marcha) 3 Figura 4 – Flexão lateral de pescoço do operador de
Espelhos poderiam ser mais largos 2 colheitadeira quando da visualização do espelho
Mais regulagens para o banco 2 retrovisor.
Apoio para os braços mais baixos 2
Assento bom e cômodo 1
Máquina fácil de manejar 1
Muito tempo cuidando da plataforma 1

Tabela 2 – IDE’s citados pelos entrevistados,


ordenados por ordem de freqüência.

Pode-se notar que os itens “pó da palha” (resíduos da


palha de arroz que ficam suspensos no ar) e “ruído”
foram os mais citados pelos entrevistados.

4.1.3. Problematização do Sistema Homem-Tarefa-


Máquina (SHTM)

1) Disfunções ergonômicas
Figura 5 – Flexão frontal de pescoço do operador
Problemas interfaciais: adoção/manutenção de posturas quando da visualização da plataforma de colheita.
prejudiciais, durante um tempo prolongado, resultantes
de inadequações do campo de visão, tomada de
informações, do envoltório acional, alcances do Acionais: há uma exigência (biomecânica) do operador
posicionamento de componentes comunicacionais; para um esforço repetitivo dos membros superiores
durante os comandos acionais da colheitadeira, como o
1. A tarefa exige do operador de colheitadeira de arroz
constantes flexões laterais e frontais do pescoço , além
manejo do câmbio e do volante, o que pode acarretar do trator com o graneleiro de transporte no momento
em problemas crônicos de LER/DORT (figuras 6 e 7). em que sua capacidade se esgota.

Físico-ambientais: presença constante de ruído ao


longo da jornada de trabalho, provocada pela elevada
rotação do motor associado a polias e engrenagens;
presença de vibração, proporcionada pelos movimentos
da bandeja de seleção de grãos.

Químico-ambientais: presença de partículas suspensas


no ar (aerodispersóides) provenientes do corte e da
seleção dos grãos de arroz que pode acarretar em
problemas para as vias aéreas superiores e para os olhos
dos operadores (figura 8).

Figura 6 – acionamento de uma alavanca. Operacionais: ritmo de atividade intenso, conciliado a


repetitividade e monotonia; pressão no prazo da
colheita em função das condições do tempo
(intempéries), condições financeiras e controle de
qualidade.

Figura 8 – resíduos da palha do arroz no braço do


operador.

4.2. Diagnose ergonômica

4.2.1. Monitoração dos níveis de ruído


Figura 7 – Acionamento do câmbio e do volante de
direção da colheitadeira. O estudo de monitoração dos níveis de pressão sonora,
gerado pelas colheitadeiras, visou identificar a real
Informacionais: há uma deficiência na detecção, situação da exposição dos operadores aos níveis de
discriminação e identificação de informações, ruído no período em que trabalharam na lavoura. A
resultantes da má compreensibilidade de signos visuais referida amostragem dos níveis de pressão sonora
com prejuízo para a percepção e para a tomada de (ruído) foi feita no dia 19 de maio de 2001 e durou três
decisão. O operador, ás vezes, confunde as alavancas horas e trinta minutos. Neste intervalo de tempo
de comando. inspecionou-se o andamento da atividade na lavoura. A
fonte de ruído identificada foi o motor da colheitadeira,
Comunicacionais: falta de dispositivos de comunicação o qual funciona durante maior parte do tempo em alta
a longa distância; dificuldade para acionar o operador rotação.
Os valores obtidos nas medições realizadas durante a vibrações. Além disso, é crucial atentar para o material
colheita, foram plotados em um gráfico (ver figura 9) que envolve todo assento, dando-se ênfase para
levando-se em consideração os valores relativos ao materiais que facilitem a ventilação e que sejam
limite permitido: confortáveis.

85

ruí
do
(d
B)
Colheitadeira 1
Colheitadeira 2

0
00:00:00 00:10:00 00:20:00 00:30:00 00:40:00 00:50:00 01:00:00 01:10:00 01:20:00 01:30:00

Tempo (min)

Figura 9 – Gráfico referente aos valores da medição de


ruído.

De acordo com a plotagem do gráfico na figura 9,


pode-se notar que as medições nas duas colheitadeiras
monitoradas mostraram que o nível de ruído se
encontra acima dos 85 (dB), ou seja, os operadores
estão expostos aos níveis de pressão sonora superiores Figura 10 – Direção hidráulica de um trator por meio
aos estabelecidos pelas normas de segurança. de um controle em forma de um joystick
(KUTZBACK, 2000 – p. 245).
5. RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS
Para os problemas de ordem físico e químico-
Com relação aos problemas interfaciais e acionais ambientais as recomendações ergonômicas foram
recomendam-se novas propostas para o redesign da calcadas em dados obtidos na literatura. A primeira
cabine da colheitadeira no que diz respeito aos aspectos recomendação para o problema do ruído seria a redução
antropométricos; redesign e reposicionamento dos deste na fonte por meio do redesign e manutenção
comandos (volante, câmbio, etc.); redesign do assento regular da colheitadeira ou, ainda, o controle do ruído
(visando proporcionar ao operador graus de liberdade na trajetória por meio de barreiras protetoras e, em
entre o assento e o encosto, material de revestimento do último caso, de acordo com a NRR 4 (que trata de
assento); melhoria da compreensibilidade dos signos equipamentos de proteção individual no caso de ruídos
visuais. excessivos) seria a utilização de protetores auriculares
durante a realização da atividade.
KUTZBACH (2000), diz que o desenvolvimento de
projetos para o redesign de tratores e colheitadeiras tem Para o problema de vibração, a recomendação seria,
sido contínuo nos últimos 20 anos. O autor fala de uma também, o redesign da colheitadeira e/ou a sua
nova proposta para o volante destes veículos o qual manutenção.
seria substituído por um Joystick (figura 10). O joystick
é uma espécie de alavanca que oferece um apoio para o O problema das partículas suspensas ou
antebraço e apresenta um controle eletrônico para as aerodispersóides (resíduos da palha do arroz), pode ser
válvulas hidráulicas ligadas aos cabos de direção do solucionado com o redesign e manutenção da
veículo. plataforma de corte. Uma outra recomendação seria um
sistema de condicionamento de ar. Em último caso, a
Para MEHTA & TEWARI (2001) os principais pré- recomendação seria o uso de respiradores com filtros
requisitos para o design do assento de tratores e mecânicos como instrumento de proteção das vias
colheitadeiras são: manter o operador numa posição respiratórias.
onde ele possa operar o veículo de formas a ter uma
visão privilegiada da área de colheita, por exemplo, É claro que é recomendável, principalmente, a
deixá-lo afastado das possíveis fontes de ruído e concessão de pausas ao longo da jornada de trabalho.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS TÓREN, A., ÖBERG, K. Change in twisted trunk
postures by the use of saddle seats – a conceptual
De acordo com os resultados preliminares desta study. Journal of Agricultural Engineering Research.
pesquisa, pode-se notar que o trabalho dos operadores Silsoe Research Institute: 2001. nº 78 (1), p. 25 – 34.
de colheitadeiras de arroz apresenta constrangimentos
ergonômicos. Os resultados corroboram com a
literatura (MCCURDY & CARROLL, 2000; TÓREN
& ÖBERG, 2001; TORÉN ET AL., 2002),
apresentando problemas relativos ao design da cabine,
fatores ambientais (ruído, vibração, resíduos da palha
do arroz) que podem impor aos trabalhadores
desconforto/dor, doenças musculoesqueléticas e outras
psicopatologias do trabalho.

Considerando os resultados das medições de ruído


(diagnóstico ergonômico), verificou-se que os
operadores das máquinas de colheitadeira estão
expostos a um nível de pressão sonora superior aos
estabelecidos pelas normas de segurança (NR15).

Por fim, vale enfatizar que o objetivo principal deste


trabalho é fornecer subsídios para projetos que queiram
intervir no design de colheitadeiras de arroz para uma
melhor eficiência, segurança e qualidade de vida do
operador/trabalhador das lavouras de arroz.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARINA. E.M.M.Q. & ZYLBERSZTAIN, D.


Competitividade no Agribusiness Brasileiro, vol
III.PENSA/ FIA/FEA/USP, 1998. 107 p.

KUTZBACH, H. D. Trends in power and machinery.


Journal of Agricultural Engineering Research. Silsoe
Research Institute: 2001. nº 76, p. 237 – 247.

MEHTA, C. R., TEWARI, V. K. Real time


characteristics of tractor seat cushion materials.
Journal of Agricultural Engineering Research. Silsoe
Research Institute: 2001. nº 80 (3), p. 235 – 243.

MORAES, Anamaria De. MONT'ALVÃO, Claudia.


Ergonomia: conceitos e aplicações. Rio de Janeiro:
2AB, 1998. 120 p.

MCCURDY, Stepehen A., CARROLL, Daniel J.


Agricultural injury. American Journal of industrial
medicine. Wiley-Liss: 2000. nº 38, p. 463 – 480.

TORÉN, A., ÖBERG, K., LEMBKE, B., ENLUND,


K., RASK-ANDERSEN, A. Tractor-driving hours and
their relation to self-reported low-back and hip
symptoms. Applied Ergonomics. Elsevier Science Ltd:
2002. nº 33, p. 139 – 146.

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