Guia Metodologico Projetos Redd
Guia Metodologico Projetos Redd
Guia Metodologico Projetos Redd
AUTORES:
Idesam
Pedro Gandolfo Soares Ficha Catalográfica
Ycaro Verçosa dos Santos
Isabele Goulart
Bibliotecário CRB-11 287
Mariano Colini Cenamo
Cristiano Alves S196g Soares, Pedro Gandolfo.
Anexos 25
Anexo I – Elementos para processos de CLPI 25
Anexo II – Proposta de modelo para apresentação das atividades do projeto 27
Anexo III – Proposta de critérios para definição de Reserva Técnica do projeto 29
6
Introdução
7
Introdução
A proposta de criar um “Guia Metodológico” simplificado projetos relacionados a geração de serviços ambientais, trazendo foco
para apresentação e avaliação de Projetos de Pagamento para ações de manutenção de estoques de carbono através da redução
por Serviços Ambientais de Carbono Florestal(PSA) em de emissões geradas por desmatamento em pequenas propriedades e
Pequenas Propriedades e Comunidades na Amazônia comunidades na Amazônia brasileira. Este guia metodológico tem como
foi motivada por três (03) razões principais: (i) pequenos premissa fundamental oferecer uma ferramenta crível, consistente,
agricultores, importantes provedores de serviços ambientais, simplificada e de baixo custo de aplicação para empresas, produtores
há anos vêm desempenhando papel fundamental na e comunidades.
conservação das florestas e consequentemente na redução
Para a construção da metodologia aqui proposta, além da expertise do
de emissões de gases de efeito estufa (GEE) na Amazônia
Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia
e precisam ser reconhecidos e recompensados por esses
(Idesam) e da Natura Cosméticos S.A., foi realizada ampla análise técni-
esforços; (ii) empresas que apoiam projetos e comunidades
ca e metodológica de padrões de certificação existentes, como o “Guia
locais necessitam de ferramentas práticas e transparentes
Metodológico” do Forest Carbon Partnserhip Facility (FCPF)¹ do Banco
para avaliar e contabilizar os impactos de seus projetos e
Mundial e metodologias do Verified Carbon Standard – VCS². O pro-
atividades para o clima, biodiversidade e conservação das
cesso contou também com a estruturação de um Comitê de Revisores
florestas e; (iii) as metodologias e padrões de certificação
formado por experts sobre o tema de PSA de Carbono Florestal para
atualmente disponíveis (ex: VCS, CCB, etc.) possuem alto custo
análises e revisões da metodologia proposta.
de transação e regras pouco aplicáveis a projetos de micro e
pequena escala, que acabam por inviabilizar tais projetos. É valido ressaltar, ainda, que este guia é um documento vivo que de-
verá ser revisado periodicamente, buscando manter a conexão e com-
Este documento apresenta uma proposta de apresentação de
preensão sobre os agentes de conservação e provedores de serviços
projetos de PSA de Carbono Florestal e um guia prático, inspirado
ambientais na Amazônia.
nas metodologias consolidadas, para avaliação e monitoramento de
¹https://www.forestcarbonpartnership.org/carbon-fund-methodological-framework
²http://www.v-c-s.org/methodologies/find-a-methodology?keywords=0015&tid=All
8
Aplicabilidade deste Guia Metodológico: Estrutura do documento
Este Guia Metodológico foi desenvolvido para a aplicação em projetos de Este documento está organizado em duas seções:
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) que sejam desenvolvidos por
comunidades e pequenos agricultores na Amazônia. Em linhas gerais, o
projeto deve atender as seguintes características básicas:
1 Considerações iniciais para desenvolvimento e apresentação de um
projeto de PSA de carbono florestal (conservação e desmatamento
evitado), assim como explicação dos principais conceitos que devem ser
• Ser um projeto de pequena escala (composto majoritariamente por utilizados para o desenho de projetos em pequenas propriedades e co-
produtores com propriedades rurais de até 4 módulos fiscais); munidades tradicionais;
•
Localizado no bioma Amazônia;
9
Capítulo 1
Elementos-chave para Desenvolvimento de Projetos de PSA de
Carbono Florestal em Pequenas Propriedades e Comunidades
10
Elementos-chave para Desenvolvimento de Projetos de PSA de
Carbono Florestal em Pequenas Propriedades e Comunidades
Atualmente, existe uma série de padrões de certificação e padrões de certificação voltados aos mercados voluntários de
voltados a avaliação de projetos de redução do desmatamento carbono. Este Guia Metodológico tem como objetivo fundamental
em regiões de florestas tropicais. A grande parte destes padrões, incluir os pequenos agricultores da Amazônia dentro de mecanismos
entretanto, acabou se tornando de grande complexidade, de difícil e estratégias de pagamento por serviços ambientais atrelados
aplicação em regiões de mosaico de pequenas propriedades rurais, a redução de emissões de GEE por desmatamento de forma
acarretando em altos custos transacionais para sua aplicação e transparente e simplificada, prezando sempre por boas práticas de
monitoramento. desenho e apresentação de projetos e, sobretudo, da mensuração e
monitoramento dos benefícios para o clima.
Ainda que seja possível “agrupar” projetos para aumentar a escala
e reduzir os custos metodológicos, essa prática gera outros custos Como ponto de partida, para iniciar o desenho de um projeto de
e problemas de gerenciamento do projeto devido a características PSA em áreas de pequenos agricultores na Amazônia, algumas
como: (i) fragmentação e heterogeneidade de florestas, (ii) elevado ações preparatórias são necessárias, para garantir a devida
número e dispersão de participantes; (iii) diversidade de atores inclusão e participação dos atores locais nas tomadas de decisão e
e condições legais, fundiárias e ambientais das propriedades e levantamentos iniciais do potencial de desenvolvimento deste projeto.
comunidades, (iv) diferentes demandas e acordos de repartição de Sendo assim, as primeiras etapas para desenvolvimento de um projeto
benefícios decorrente dos pagamentos por serviços ambientais, entre de PSA, são:
outros.
11
1) Elaboração de estudo de viabilidade técnica e econômica: O Anexo I deste documento apresenta alguns elementos adicionais
para desenho de um processo de CLPI. É fundamental que todas as
Voltado a um levantamento preliminar do potencial da região foco do
etapas sejam devidamente registradas (atas, fotos, documentos) e que
projeto para desenvolver um projeto de PSA. O Estudo de viabilidade
comprovem como foi feito o processo de consultas e discussões sobre o
deve portanto, avaliar:
projeto).
a. Localização do projeto e propriedades rurais que poderão vir a fazer
Após decorridas as etapas preparatórias - e havendo aceitação e
parte do projeto;
nivelamento sobre os objetivos do projeto de PSA - passa-se para a etapa
b. Dinâmicas de desmatamento e uso da terra nas propriedades e região de desenho e apresentação do projeto. A princípio, alguns elementos-
de entorno; chave devem ser considerados no desenho e apresentação de um projeto
de PSA de Carbono Florestal voltado para pequenas propriedades rurais
c. Sistemas de governança e participação (via associações locais,
e comunidades tradicionais. São eles:
cooperativas de produtores, etc);
c. resultados iniciais obtidos durante o Estudo de Viabilidade; • Quais atividades especificamente serão propostas para o
d. parceiros e instituições que poderão colaborar; atingimento da ação definida acima?
e. compreender as demandas e necessidades dos produtores locais que Ex.: Ações de reflorestamentos de espécies nativas com viés econômico
poderão ser atendidas pelo projeto de PSA; (óleos, frutos, essências, madeira); plantios agroflorestais, práticas
produtivas consorciadas (atividades silvipastoris ou agrosilvipastoris);
f. direitos e deveres de cada instituição e produtor participante do projeto. manejo florestal comunitário, etc.
12
2. Localização do projeto e contexto da região 3. Identificação dos agentes provedores dos
serviços ambientais (beneficiários)
Breve descrição do local aonde as atividades são desenvolvidas (distrito,
município, região, Estado). A descrição do contexto geopolítico e de uso O desenho do projeto deve avaliar e identificar quem são os atores
da terra e a inclusão de mapas de localização é fundamental. que estão de fato garantindo a provisão dos serviços ambientais e a
geração de reduções de emissões (agentes de conservação), através
da implementação de práticas produtivas sustentáveis - ou seja, quem
Perguntas norteadoras: serão de fato os beneficiários de um projeto de PSA.
Ex. 1: Percepção do aumento na pressão do desmatamento e • Qual é a organização proponente do projeto, como foi eleita e
retirada de madeira na região; a localização do projeto será afetada qual sua forma de representação dos produtores e comunidades
por novas obras de infraestrutura; falta de aplicação de leis de envolvidos com o projeto?
monitoramento e assistência técnica aos produtores. • Existem organizações ou instituições parceiras (parceiros técnicos
Ex. 2: Percepção de oportunidades voltadas a geração de renda a e comerciais)?
partir de modelos e práticas produtivas sustentáveis; melhoria da
• Quais serão os “papéis e responsabilidades” de cada instituição
qualidade de vida das populações locais; manutenção de estoques
participantes do projeto?
de carbono florestal e provisão de serviços ambientais.
• Quantos produtores (número de lotes/propriedades) estão
• Quais mudanças locais o projeto pretende gerar?
envolvidos com o projeto? Como serão definidos os critérios para
Ex. 1: Melhorar a organização social local; ampliar escala de participação?
produção; incluir novas técnicas produtivas; etc
• Quais serão os mecanismos de construção participativa do
projeto e pactuação das tomadas de decisão?
14
• Como serão os processos de tomadas de decisão do projeto? Em • Quais serão os critérios utilizados para distribuição dos benefícios?
quais instâncias? Serão adotados sistemas de escuta e resolução
Ex.: Pagamento de acordo com área de florestas, área de produção
de conflitos?
agroflorestal, produtividade da propriedade, regularidade
ambiental, atividades produtivas sustentáveis?
b) Estruturação da proposta de distribuição de benefícios
O projeto deve contar com uma proposta de distribuição de benefícios
O Anexo I apresenta elementos e diretrizes aplicados em experiências
discutida e acordada entre os participantes do projeto (beneficiários, anteriores de PSA na Amazônia, que podem apoiar o desenvolvimento
equipe técnica e parceiros do projeto). A proposta deve envolver as de processos de Consentimento Livre, Prévio e Informado (CLPI) e
formas de repartição dos benefícios (recursos financeiros, humanos, construção participativa de projetos de PSA
Importante destacar que uma iniciativa de PSA não envolve Perguntas norteadoras:
necessariamente compensação financeira. Outras formas de apoio
às demandas dos participantes também podem ser consideradas: • Qual a data (ano) de formação do grupo/organização que está
propondo o projeto (cooperativa, associação, etc.)?
Ex.: Apoio à transferência patrimonial (como a obtenção de um
título de propriedade), a oferta de serviços para a comunidade, • Qual é a data de início das atividades voltadas a redução do
investimentos em infraestrutura, assistência técnica, entre outros. desmatamento, reflorestamentos (SAFs, etc.) na região?
• O que será distribuído? • Qual a data de início a partir da qual será contabilizada a geração
Ex.: Recursos financeiros, assistência técnica, direito a hora-máquina; de redução de emissões pelo projeto?
acesso a insumos; etc. • Tempo de duração do projeto em anos (por quanto tempo o
• Quem terá direito ao benefício? projeto pretende monitorar a geração de reduções de emissões?)
Ex.: produtores participantes do projeto; cooperativa/associação O início do período de creditação pode ser retroativo (considerando
que representa os produtores; ambos. anos anteriores) desde que se justifique a lógica para tal reivindicação.
15
Sugere-se que o projeto funcione em um horizonte de médio/longo prazo,
de forma a gerar um compromisso mútuo entre o pagador (parceiro
7. Agentes e vetores do desmatamento e
comercial) e populações locais (provedores), como reconhecimento do degradação florestal
papel histórico prestado pelos atores locais na provisão dos serviços
ambientais. Para esta seção, devem ser avaliadas as causas principais que geram
o desmatamento e a degradação florestal na região, assim como os
Projetos de longo prazo podem adotar estratégias de ‘períodos de
atores e causas subjacentes.
revisão’ e ‘balanços do projeto’, flexibilizando o período de compromisso.
Ou seja, uma iniciativa de longo prazo pode ser trabalhada em sub- Desmatamento: Corte raso da floresta. Substituição de uma área de
períodos, permitindo a entrada e saída de participantes ao longo do
floresta para uma área aberta (pastagens, agricultura, etc).
ciclo do projeto.
Degradação florestal: Corte seletivo ou extração de árvores. A área se
mantém como uma floresta mais “pobre” e perde as suas características
originais de vegetação nativa.
Perguntas norteadoras:
• O que gera o desmatamento na região? Quais são as principais
causas que levam ao desmatamento no entorno das áreas do
projeto?
16
8. Proposta de Plano de Atividades: 9. Análise de adicionalidade
Projetos de PSA podem vir acompanhados de um Plano de Atividades Envolve uma avaliação e levantamento das ações positivas que estão
voltados a fortalecer ações para reduzir o desmatamento e a sendo implementadas nas áreas do projeto e que contribuem diretamente
degradação florestal nas áreas do projeto. As definições relacionadas para a conservação florestal, a redução de emissões por desmatamento
ao Plano de Atividades que será desenvolvido e a alocação de recursos e/ou o fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis (restauração
deve idealmente ser objeto de discussão em processos preparatórios, florestal, Sistemas Agroflorestais, etc). É importante destacar quais
como por exemplo nos processos de Consentimento Livre, Prévio e são as ações positivas desenvolvidas, quem está promovendo essas
Informado (CLPI) do projeto. ações e como elas se contrapõem com as atividades tradicionalmente
desenvolvidas no entorno das áreas do projeto.
Perguntas norteadoras:
Perguntas norteadoras:
• Quais são as atividades que devem ser fortalecidas para frear o
avanço dos agentes e vetores do desmatamento e degradação • Quais atividades estão sendo desenvolvidas para evitar o
florestal listados acima? desmatamento nas áreas do projeto?
• Quem serão os responsáveis pela implementação destas ações? • Como elas se contrapõem ao uso da terra convencional no entorno
das áreas do projeto?
• Quem são os parceiros que podem ajudar a implementar ou
coordenar essas ações? • Quem está promovendo essas atividades?
• Qual o prazo de execução destas ações? • Quais são os principais desafios para implementação e
manutenção destas atividades?
• Qual o orçamento anual estimado para implementação destas
ações? • Quais são as estratégias adotadas pelo projeto para superar
esses desafios?
17
Capítulo 2
Componentes metodológicos e de Contabilidade de benefícios ao Clima
(Geração de redução de emissões e estoques de carbono)
Componentes metodológicos e de Contabilidade de benefícios ao Clima
(Geração de redução de emissões e estoques de carbono)
Sua estruturação deve considerar as seguintes questões: Para complementar as respostas às perguntas acima, algumas etapas
são necessárias:
http://rioterra.org.br/pt/essential_grid/resex
Estudo de caso:
Projeto de Carbono das Nascentes do Xingu
20
Entende-se por áreas de influência direta, aquelas nas quais as Etapa 1: Cálculo anual de mudanças de uso da terra para os 10 anos
dinâmicas de desmatamento sejam as mais prováveis de ocorrer nas
anteriores a data de início do período de creditação do projeto
áreas do projeto, na ausência das atividades propostas ou apoiadas
pela iniciativa de PSA (cenário de linha de base). O cálculo das taxas e mudanças de uso da terra na região de referência
tem como objetivo principal determinar a taxa média de desmatamento
que será considerada para o cenário de linha de base do projeto. Os
O cinturão pode ser feito adotando um raio de 3 a 5 km em relação cálculos devem ser realizados em programa de Sistemas de Informação
aos limites dos lotes e propriedades participantes do projeto e das vias Geográfica (SIG)³ levando em consideração o “período de referência” do
acesso identificadas.
projeto, composto pelos 10 anos anteriores a data de início do projeto.
Recomenda-se que a Região de Referência seja uma área contínua e
que tenha uma área total de cerca de 20 a 40 vezes o tamanho das As informações sobre as áreas de florestas e de desflorestamentos
áreas do projeto. podem ser obtidas pelos dados oficiais do governo brasileiro (Projeto
PRODES – Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por
Satélite), produzida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
A Região de Referência será então utilizada para o cálculo das taxas
anuais de desmatamento no cenário de linha de base do projeto, Os dados anuais de desflorestamento do PRODES Digital abrangem
conforme apresentado na seção a seguir: a Amazônia Legal Brasileira desde o ano 2000, sendo possível obter
taxas anuais desde 2001 até 2014 (último dado disponibilizado).
Passo 2: Cálculo das taxas históricas de desmatamento Após obter as informações em formato SHAPEFILE do PRODES-INPE,
deve-se projetar os arquivos para um sistema de coordenadas planas
na Região de Referência Universal Transversal de Mercartor - UTM em sua zona determinada4.
É recomendado o uso do DATUM WGS1984. O DATUM e o sistema de
Após a definição da área do projeto passível de geração de créditos coordenadas devem estar padronizados em todos os arquivos.
e dos limites da região de referência, o próximo passo é realizar os
cálculos das taxas históricas de desmatamento observadas na Região
de Referência, que serão utilizadas para construção do cenário de linha
de base do projeto.
Programa livre recomendado: QGIS: http://www.qgis.org/pt_BR/site/ ; Programa pago recomendado: ArcGIS: http://www.img.com.br/arcgis-desktop?sc_lang=pt-BR
3
21
Para os cálculos de área, sempre deve ser utilizada a projeção Albers Período de referência: Período de 10 anos anteriores a data de início do
Equal Area Conic Projection. projeto.
Utilizando o arquivo SHAPEFILE do PRODES deve se recortar apenas a A taxa média de desmatamento anual (%/ano) para a região de
área da região de referencia do projeto e calcular a área inicial de floresta referência é então calculada pela seguinte fórmula:
em t1 (referente ao primeiro ano do período de referência do projeto).
Em seguida, procede-se com o mesmo procedimento para o ano t10 Etapa 2: Análise sobre as pressões futuras esperadas para a região
(último ano do período de referência do projeto – que se configura como
o ano anterior a data de início do projeto). Além das análises das taxas históricas de desmatamento, os
proponentes do projeto podem incluir também uma análise das
A lógica em realizar os cálculos das taxas de desmatamento na pressões futuras de desmatamento que possam vir a representar riscos
Região de Referência (RR) do projeto utilizando apenas informações para a conservação florestal na área do projeto. Estas análises poderão
de remanescentes florestais é o de se obter maior acurácia nas taxas vir a compor ajustes nas taxas históricas observados nos últimos anos,
calculadas, que serão compostas apenas pela perda de florestas incluindo um componente de risco futuro a conservação das florestas
nativas desde o ano 1 do período de referência (t1) até o ano 10 (t10). na região.
Período de referência: Período de 10 anos anteriores a data de início do Ex.: Novas obras de infraestrutura (rodovias, hidrelétricas, etc),
projeto. pavimentação de rodovias, expansão de áreas agropecuárias, expansão
de centros urbanos, crescimento populacional, etc.
A taxa média de desmatamento anual (%/ano) para a região de
referência é então calculada pela seguinte fórmula:
22
• Existem publicações e trabalhos científicos que apresentem Passo 4. Abordagem para vazamentos
cenários e projeções de taxas médias de perda de cobertura
florestal por obras de infraestrutura, como as previstas para a O conceito de vazamento refere-se a potenciais emissões que venham
região de referência? a ocorrer fora das áreas do projeto e que sejam diretamente atribuídas
as ações de conservação e controle do desmatamento realizadas pela
iniciativa de PSA. É um conceito muito comum para projetos de carbono
Passo 3. Definição dos reservatórios tradicionais, desenvolvidos em grandes áreas contínuas de florestas
e estoque de carbono tropicais.
Para permitir os cálculos das emissões esperadas no cenário de linha de Em projetos de pequena escala o conceito de vazamento deve ser
base do projeto, é necessário determinar os reservatórios de carbono avaliado seguindo a lógica e critérios de aplicabilidade determinados
que serão monitorados e calcular os estoques médios de carbono nas para este Guia Metodológico. As perguntas a seguir podem ajudar a
áreas do projeto. Em geral, os principais reservatórios de carbono a definir qual a probabilidade de que vazamentos ocorram devido a
serem contemplados, são: estruturação de um projeto de PSA, de pequena escala, em áreas de
produtores rurais e agricultores familiares.
1. Reservatórios mandatórios (valores de referência):
(i) O projeto de PSA e as ações de conservação florestal propostas
a. Biomassa acima do solo: 132,3 tC/ha5
podem alterar o comportamento de atores externos (agentes de
b. Biomassa abaixo do solo: 21%, em relação à biomassa por árvores a desmatamento) que passariam a buscar novas áreas para desmatar,
partir de 10 cm DAP6 devido as ações de conservação nas Áreas do Projeto?
2. Cálculo do Fator de Emissão do projeto (FE): (ii) O tamanho e a escala das áreas do projeto justificam essa mudança
de comportamento pelos atores externos?
a. Soma dos reservatórios que serão monitorados e contabilizados e
subtração do estoque de carbono médio esperado no cenário pós- (iii) Sobre os participantes do projeto de PSA (produtores rurais): o
desmatamento (vegetação secundária): 12,82 tC/ha7 (Matriz de Markov). projeto irá formalizar um termo de cooperação e/ou de adesão ao
projeto, gerando um compromisso dos produtores de não utilizar o
recurso obtido com o projeto de PSA para abertura de novas áreas de
florestas nativas?
5
Fonte: Decreto Federal 7.390/2010
6
Nogueira, 2005
7
Fearnside 1996 (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/0378112795036474)
23
(iv) Quais são os acordos estabelecidos para àqueles que descumprirem Passo 5. Definição da reserva técnica do projeto
os compromissos assumidos?
A reserva técnica representa uma boa prática dos desenvolvedores e
Por fim, os proponentes do projeto consideram os riscos de vaza- parceiros do projeto de PSA, voltada a estabelecer um “seguro” contra
mentos como altas, médias ou baixas? Por que? imprevistos que venham a ocorrer durante a implementação do projeto
e que impossibilite a geração das reduções de emissões esperadas
Os valores apresentados devem ser avaliados como valores de inicialmente (desistências de participação, queimadas, invasões, etc).
referência, que poderão ser utilizados caso não existam dados locais,
gerados por exemplo por atividades de inventário de biomassa nas
Devido ao tempo de duração de uma iniciativa de PSA, de médio a
florestas da região ou trabalhos científicos. Dados coletados localmente longo prazo, a Reserva Técnica se torna um importante instrumento de
são naturalmente mais precisos e devem sempre ser priorizados em mitigação de riscos e garantia da integridade ambiental do projeto.
relação aos valores de referência.
A reserva técnica seria composta por um determinado percentual
Projetos localizados em áreas de transição (como áreas de cerrado)
dos benefícios climáticos gerados pelo projeto que ficarão retidas
devem ajustar os valores dos estoques de carbono adotados por
hectare, através de levantamentos e inventários de biomassa por um tempo pré-determinado. Esta reserva pode retornar para a
realizados localmente. contabilidade do projeto caso não ocorram imprevistos que afetem a
geração das reduções de emissões.
O Projeto PSA RECA, adotou como reserva técnica um total de 20% das
reduções de emissões alcançadas pelo projeto.
24
Passo 6. Quantificação das reduções de emissões de GEE
As reduções de emissões esperadas de serem geradas pelo projeto, brutas e líquidas, assim como quantidade de créditos que ficarão retidos como
reserva técnica devem ser apresentados seguindo a estrutura abaixo:
Monitoramento
Linha de Base Ex post Ex post
(emissões do projeto) Reduções de emissões brutas
Mudança nos estoques de (ex post)
Ano do Mudança nos estoques de carbono Reserva técnica Reduções de emissões líquidas
carbono
projeto
anual acum. anual acum. anual acum. anual acum. anual acum.
tCO2-e tCO2-e tCO2-e tCO2-e tCO2-e tCO2-e tCO2-e tCO2-e tCO2-e tCO2-e
25
Passo 7. Estratégias e Procedimentos para A partir destes dois parâmetros, é possível calcular os resultados
Monitoramento do Projeto atingidos pelo projeto durante o período de monitoramento, sendo:
Parte fundamental do desenho de um projeto de PSA-Carbono é a a) Taxa de desmatamento nas áreas do projeto (%/ano): Divisão simples
definição dos procedimentos e pârametros de monitoramento das dos parâmetros b/a;
atividades e resultados do projeto. Os monitoramentos deverão indicar
(incremento do desmatamento no ano i / remanescente de florestas
de forma clara e objetiva qual foi o desempenho alcançado pelo projeto,
nativas no mesmo ano i) x 100;
em determinado período de tempo, em relação a conservação florestal
e geração de reduções de emissões. Para isso, algumas etapas são b) Redução do desmatamento verificado nas áreas do projeto:
necessárias: Subtração do desmatamento esperado no cenário de linha de base do
projeto no ano i em relação ao incremento verificado no mesmo ano i
Etapa 1: Parâmetros a serem monitorados
(parâmetro b);
Os proponentes do projeto devem determinar os parâmetros a serem
c) Reduções de emissões geradas pelo projeto: Multiplicação da
monitorados e qual será a periodicidade e responsável por cada
redução do desmatamento calculada no item “b” pelo fator de emissão
avaliação. Os monitoramentos devem ser realizados abrangendo
do projeto.
toda(s) a(s) área(s) do projeto. Basicamente, o projeto deverá contemplar
os seguintes parâmetros:
26
Atualizações do Cenário de Linha de Base
Adicionalmente, sugere-se que o cenário de linha de base (ou cenário de referência) do projeto seja atualizado em um prazo máximo de até 10 anos a
contar da data de início do projeto.
A reavaliação do cenário de linha de base envolve a atualização dos pressupostos e taxas de desmatamento observadas na região de referência do
projeto.
Atualizar os limites da
PRODES (fonte
região de referência do
oficial)
projeto, considerando a Em até 10 anos Ver Etapa 2 (acima):
Limites geográficos da região de Proponente do projeto Global Forest
entrada/saída de lotes, após a data de Definição da região de
referência / parceiros técnicos Watch
áreas de florestas rema- início do projeto referência
MapBiomas
nescentes e novas vias
OpenForis
de acesso
27
Após atualizados e monitorados os parâmetros acima, deve-se seguir Passo 9. Registro e gestão das informações
com os cálculos:
Um processo de grande importância para a gestão de projetos de médio
(i) Atualização da taxa média de desmatamento a ser utilizada no a longo prazo está relacionado a gestão e registro das informações
cenário de linha de base do projeto (ver Etapa 1, acima: Cálculo anual de sobre o projeto. É necessário definir procedimentos e estratégias para
mudanças de uso da terra para os 10 anos anteriores a data de início do assegurar que as informações não se percam ao longo do tempo, seja
período de creditação do projeto); por troca das equipes que iniciaram o projeto, troca de computadores e
equipamentos que continham as informações do projeto, etc.
(ii) Atualizar as análises dos agentes e vetores do desmatamento na
região do projeto (ver componente 7, acima: Agentes e Vetores do Em primeiro lugar, sugere-se que os proponentes padronizem o
Desmatamento e Degradação Florestal). armazenamento e backup das principais informações do projeto na
nuvem, garantindo que elas estejam disponíveis e acessíveis em qualquer
Passo 8. Avaliações por terceira parte lugar e por qualquer computador (desde que se tenha a senha e login
de acesso).
Uma boa prática adotada por Projetos de Carbono, sejam eles de
caráter florestal ou de outros escopos, é o de contar com uma avaliação
Entende-se por ‘nuvem’ os espaços de armazenamento online, tais
de terceira parte após o término do desenho e monitoramento do como: Google Drive e Dropbox.
projeto.
O princípio é o de ter uma avaliação imparcial, feita por uma instituição Os arquivos armazenados na nuvem devem seguir um modelo para
com conhecimentos prévios nos temas de carbono florestal e identificação da versão do documento (controle de versões), podendo
desenvolvimento de projetos ambientais, para assegurar que todas se utilizar numeração (versão 1.0, 2.0, 3.0, final) ou relacionado a data
as premissas, cálculos e abordagens desenvolvidas pelo projeto estão de atualização (versão 10/maio/2017; 05/junho/2017; etc). Este controle
robustas, corretas e não ferem os princípios básicos de (i) integridade é de suma importância para que as informações atualizadas estejam
ambiental do sistema climático, (ii) transparência das informações disponíveis e devidamente identificadas e organizadas.
e tomadas de decisão, e (iii) participação no desenvolvimento e
implementação do projeto (atendimento aos princípios de salvaguardas Por fim, é importante contar com uma pessoa ou instituição
socioambientais). Ao final deste processo, as revisões e recomendações responsável pelo armazenamento e controle das informações do
devem tornar o projeto mais robusto e completo. projeto (documentos, planilhas, cadastro de participantes, relatórios
de monitoramento, etc). Normalmente, essa instituição responsável
pelo armazenamento é a proponente do projeto, que deve ser a mais
interessada em manter as informações organizadas e disponíveis para
futuras avaliações, auditorias e em demais casos.
28
Anexos
Anexo 1
Elementos para processos de CLPI
Elementos e Diretrizes para Desenvolvimento de Processos Sugestão de temas a serem abordados durante oficinas:
de “Consentimento Livre, Prévio e Informado” para Iniciativas (i) Conceitos relacionados as mudanças Climáticas e REDD;
de PSA em Pequenos Agricultores na Amazônia.
(ii) O funcionamento de um projeto de PSA e REDD na prática;
Objetivo:
(iii) Como o carbono é medido e monitorado;
Construção de um processo participativo para desenho e “pactuação”
dos objetivos de uma iniciativa de PSA. (iv) Precificação e mercado de reduções de emissões;
(v) Tempo de duração do projeto;
Premissas:
(vi) Papeis & responsabilidades das partes envolvidas (direitos & de-
Mapeamento dos atores (produtores rurais, comunidades tradicionais) veres);
– provedores de serviços ambientais - que farão parte do Projeto de
PSA. (vii) Mapeamento conjunto dos potenciais riscos e benefícios envolvidos
em um projeto de carbono;
Avaliar estrutura de organização atual e divisões previamente acorda-
das pelo grupo (ex. Divisão por grupo de produtores, linhas produtivas, (viii) Construção de planos de mitigação de riscos;
núcleos, etc).
(ix) Mecanismos de repartição de benefícios;
Mapear fluxo e agenda de reuniões destes grupos e reuniões gerais, as-
(x) Adequação ambiental das propriedades;
sembleias, etc.
(xi) Cadastro Ambiental Rural;
Objetivos fundamentais:
(xii) entre outros.
- Construir e pactuar as regras do projeto (direitos e deveres).
- Construir e acordar processos de distribuição de benefícios.
- Identificar principais demandas e gargalos produtivos.
30
Sugestão de perguntas norteadoras para um processo de CLPI Recomendações gerais:
- O que são as mudanças climáticas? • Os principais questionamentos levantados pelos participantes durante
o processo de CLPI devem ser registrados e discutidos;
- O que é um projeto de desmatamento evitado? E de restauração flo-
restal? • Os facilitadores devem propor encaminhamentos e respostas para cada
questionamento e debate-los com o grupo nas próximas oficinas;
- Como estes projetos contribuem para o clima?
• A participação das reuniões de CLPI deve ser registrada por meio de
- Quem pode participar de um projeto desta natureza?
lista de presença;
- Quem será a instituição proponente do projeto? E quem serão os par-
• Deve ser garantido o aviso prévio sobre a ocorrência e o acesso livre às
ceiros técnicos e comerciais?
reuniões.
- Como serão tomadas as decisões sobre o projeto? E como elas serão
comunicadas e pactuadas?
- Quais são os principais desafios produtivos na região?
- Qual será o mecanismo de resolução de conflitos do projeto?
- Quais são as responsabilidades, direitos e deveres dos participantes
do projeto?
- Quais serão os compromissos e pactos que deverão ser assumidos?
- Como será a estratégia de distribuição de benefícios?
- Qual a data de início do projeto e período de duração? Haverá perío-
dos de revisão e “balanço” do projeto?
- Como irão funcionar os processos de revisão do projeto?
- Quais são as áreas que irão participar do projeto. Como serão
definidas?
- Qual será a estratégia de monitoramento adotada pelo projeto?
- Quem serão as pessoas/comunidades afetadas pelo projeto?
- Quais são os papéis do setor público e autoridades locais frente
às atividades do projeto?
31
Anexo 2
Proposta de modelo para apresentação das atividades do projeto
Fundos Gap
ORÇAMENTO (R$) TOTAL
Apresentação das Atividades do Projeto Responsável Disponíveis (Carbono)
(R$)
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 (R$) Fonte (R$)
1. Coordenação e governança (equipe)
Coordenador do projeto
Coordenador atividades produtivas
Coordenador de monitoramento e impactos sociais
Estudos estratégicos: jurídico, agentes e vetores de
desmatamento, administrativo
2. Desenvolvimento de atividades produtivas
Implementação de novas áreas produtivas
Assistência técnica
Equipamentos
Pecuária e silvipastoril
Implementação de unidades produtivas
Insumos
3. Monitoramento do uso a terra
Monitoramento anual de uso da terra (SIG)
Monitoramentos in loco (nas áreas do projeto)
Logística (combustível, transporte)
Diárias
Levantamentos sociais e produtivos
32
Fundos Gap
ORÇAMENTO (R$) TOTAL
Apresentação das Atividades do Projeto Responsável Disponíveis (Carbono)
(R$)
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 (R$) Fonte (R$)
4. Infraestrutura e equipamentos
Manutenção de escritório
Veículos
Computadores e equipamentos (softwares, GPS,
câmeras)
5. Custos de manutenção
Manutenção de escritório
Manutenção de veículos
Viagens e prospecção de parceiros
A. TOTAL (R$)
33
Anexo 3
Proposta de modelo para apresentação das atividades do projeto
a. Produtores locais e instituições técnicas de apoio (no desenho e implementação do Sim 1 ponto
projeto REDD+) possuem termo de cooperação e histórico de parcerias e trabalhos
em conjunto (mais de 5 anos de parceria). Não 3 pontos
b. Equipe técnica possui experiências anteriores com desenho e validação de proje- Sim (quais projetos) 1 ponto
tos de REDD+ por padrões aprovados internacionalmente (ex. VCS, CCBA)? Não 3 pontos
c. Equipe de gestão e implementação possui indivíduos com experiência significa- Sim 1 ponto
tiva e comprovada para empreender as ações de combate ao desmatamento nas
áreas do projeto (ao menos 5 anos de experiência com desenvolvimento de projetos Não 4 pontos
REDD+)?
d. Equipe de gestão e implementação possui base/sede no local de execução do pro- Sim 1 ponto
jeto? Não 3 pontos
100% dos participantes do projeto
2 pontos
foram consultados
e. Produtores locais envolvidos com o projeto foram devidamente consultados e infor-
Mais de 50% dos participantes do
mados sobre os objetivos do projeto, direitos e deveres e responsabilidade (através 4 pontos
projeto foram consultados
do processo de Consentimento Livre, Prévio e Informado)?
Abaixo de 50% dos participantes
8 pontos
do projeto foram consultados
Não houve CLPI Pré-requisito
f. Para restauro: Os produtores assumiram algum compromisso em manter e cuidar Sim (contratos, termos de respons-
0 pontos
das áreas reflorestadas? abilidade, etc)
Não 4 pontos
34
Todos os documentos referentes ao CLPI devem estar disponíveis para os avaliadores do projeto
Observação/
Resposta Pontuação
justificativa
100% de adesão 1 ponto
f. Produtores locais estão aderindo ao CAR? Mais de 50% de adesão 3 pontos
Abaixo de 50% de adesão 5 pontos
Não 15 pontos
Sim 5 pontos
a. Existem planos governamentais de construção de obras de infraestrutura na
região, que possam impactar as áreas participantes do projeto REDD+ (rodovias,
hidrelétricas)? Não 0 pontos
Baixo 0 pontos
Riscos de vazamentos pelas atividades do projeto Médio 5 pontos
Alto 10 pontos
Curto (até 10 anos) 3 pontos
4 – Tempo de duração do projeto Médio (10 a 20 anos) 5 pontos
Longo (mais que 20 anos) 7 pontos
Definição da reserva técnica do projeto: Soma dos resultados acima (riscos internos + riscos externos).
Proposta de prazo para que a reserva técnica volte para a contabilidade do projeto: A cada 5 anos, caso não ocorram imprevistos que levem a não-
permanência dos créditos.
35