Estudos Na CFW - Cap. 5 Da Providência

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DA PROVIDÊNCIA

Confissão de fé, cap. 5

5.1 Pela sua muito sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável
conselho da sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da
glória da sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e
governa todas as suas criaturas, todas as ações e todas as coisas, desde a maior até a menor.
Ref. Ne 9:6; Sl 145:14-16; Dn 4:34-35; Sl 135:6; Mt 10:29-31; Pv 15:3; 2Cr 16:9; At 15:18;
Ef 1:11; Sl 33:10-11; Ef 3:10; Rm 9:17; Gn 45:5.

Introdução
O capítulo 5 da Confissão nos apresenta a doutrina da providência. Ele nos ensina
sobre o caráter bondoso e sábio de Deus, que não é apenas o Grande Criador do
universo, mas também Aquele que cuida dele. Mais importante, a doutrina da
providência nos ensina sobre o cuidado especial que Deus tem com o ser humano,
sobretudo com aquelas pessoas a quem Ele ama.
Providência ocorre porque Deus se preocupa com o universo e com todos os que estão nele.
Significa perceber em certos lugares da vida que Deus esteve lá antes. É a evidência de que
Deus não deixou este planeta sozinho no vasto universo ou esqueceu por um momento a
situação humana. Deus visita, toca, comunica, controla e intervém, vindo antes e entre o
homem e suas necessidades. A providência é motivo de gratidão. 1

Providência
Significa literalmente “prevê” ou, como no grego, “premeditar”.
A previsão, no entanto, implica mais do que ver antecipadamente. Também implica
antecipação, de modo que sejam tomadas medidas para atender a uma necessidade vista ou
para levar a um resultado previsto ou planejado. É nesse sentido que a previsão se torna
provisão.2
Por isso nossa confissão afirma que a providência de Deus é “segundo a sua infalível
presciência” (At 15.18). Além disso, a providência juntamente com a criação são os
meios pelos quais Deus executa seus decretos, assim ela está em conformidade com o
“livre e imutável conselho de sua vontade” (Ef 1.11; Sl 33.10-11).
O que Deus faz pela providência?
O Catecismo Maior (p. 18) diz que “as obras da providência de Deus são a sua mui
santa, sábia, e poderosa maneira de preservar e governar todas as suas criaturas e
todas as suas ações, para sua própria glória”.
1) DEUS PRESERVA A CRIAÇÃO

1
ELWELL, Walter A.; BEITZEL, Barry J., Providence, in: Baker Encyclopedia of the Bible, Grand Rapids, MI:
Baker Book House, 1988, v. 2, p. 1791–1794.
2
BROMILEY, Geoffrey W., Providence, in: The International Standard Bible Encyclopedia, Revised, [s.l.:
s.n.], 1979, v. 3, p. 1020.

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Deus real e pessoalmente cuida do universo que Ele criou. A Bíblia não suporta a ideia
de um Deus ausente que criou o mundo como uma máquina autônoma, mas revela-
nos um Deus presente (imanente) envolvido no cuidado do mundo que Ele criou.
Mesmo após a queda, Deus se mantém presente e preservando aquilo que, por causa
do pecado, tende à deterioração (Ne 9.6). O mundo existe, primeiro, porque Deus o
criou e, depois, porque Ele o preserva (Hb 1.3).
A mesma coisa acontece com as nossas vidas. A cada dia, Deus providencia tudo que
necessitamos, a começar por suas misericórdias que se renovam a cada manhã (Lm
3.22-23). Ele cuida dos pardais e veste os lírios do campo a fim de nos assegurar que
mesmo nossos fios de cabelo estão debaixo de seu cuidado providente (Mt 6.26-30;
10.29-31). Estaremos livres da ansiedade quando confiarmos na providência de Deus.
Ele tem cuidado de nós (Mt 6.33-34; 1Pe 5.7).
Especialmente, Deus cuidou para que tivéssemos uma eternidade bem-aventurada
quando providenciou Jesus para nos substituir na cruz (Gn 22.8).
A doutrina da providência, portanto, ensina-nos sobre a bondade de Deus e sobre seu
cuidado geral com a criação e especial para conosco.
2) DEUS GOVERNA O UNIVERSO
O governo providencial de Deus é quem dirige o universo e as nossas vidas. As nações
são governadas por Ele. Os homens, anjos – até o Diabo e seus demônios – também.
Ele tem domínio sobre a natureza (Mt 8.27). Deus governa sobre tudo e todos.
Deus, consequentemente, também governa a história. Como já vimos em seu decreto
(CFW, cap. 3), Ele tem um plano que conduz todas as coisas para um fim, a sua própria
glória. Em sua providência, Deus dirige a história de forma que tudo convirja em Cristo
(Ef 1.10).
Portanto, a maneira certa de olhar para história é a partir da providência
cristocêntrica de Deus. Em vez de nos determos na tentativa de entendermos o
significado de fatos isolados, precisamos considerar que o propósito de Deus em sua
providência é operar a redenção de seu povo, fazendo-o mais semelhante a Cristo. É a
providência que nos dá esperança e segurança quando as coisas parecem sem
sentido.
Conclusão
A resposta que devemos dar à providência divina é gratidão e adoração. “Em sua
sabedoria e poder, e com justiça sacrificial, [Deus] nos mostra o esplendor de sua
providência dando-nos o seu Filho”.3

3
DIXHOORN, Chad Van, Guia de estudos da Confissão de Fé de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã,
2017, p. 92.

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A causa primária e as causas secundárias
5.2 Posto que, em relação à presciência e ao decreto de Deus, que é a causa primária, todas as
coisas acontecem imutável e infalivelmente, contudo, pela mesma providência, Deus ordena
que elas sucedam conforme a natureza das causas secundárias, necessária, livre ou
contingentemente. Ref. Jr 32:19; At 2:13; Gn 8:22; Jr 31:35; Is 10:6-7.
Há duas coisas a serem observadas nesse parágrafo sobre a providência:
1) DEUS É A CAUSA PRIMÁRIA DE TODAS AS COISAS
Aprendemos no capítulo 3 que por seu decreto eterno Deus preordenou tudo que
acontece. É exatamente por isto que as coisas acontecem: porque Deus as decretou.
Assim, “em relação à presciência e ao decreto de Deus, que é a causa primária, todas
as coisas acontecem imutável e infalivelmente”.
3) AS CAUSAS SECUNDÁRIAS
Ainda que as coisas aconteçam porque Deus as decretou, a Providência Divina usa
meios para que elas assim procedam. Esses meios são as causas secundárias, que
“sucedem conforme a natureza” delas:
a) Necessária: por exemplo, para iluminar nosso planeta, Deus criou o sol e a
lua (Gn 1.14-15; 8.22).
b) Livre: são as escolhas que fazemos. No exercício de nossa livre agência
fazemos escolhas que gerem consequências. Nesse sentido, nossas escolhas
livres são causas secundárias para determinados efeitos. (Gn 13.10-13)
c) Contingente: há outras coisas que são, na nossa perspectiva, incertas,
podendo ou não ocorrer, coincidentes. As “coincidências”, da mesma forma,
fazem parte da providência de Deus para causar determinados resultados.
(1Rs 22.28-38)
Deus não precisa de ajuda de ninguém. Se fosse da vontade dele, Deus poderia ter planejado
criar continuamente cada ação e evento, cada movimento e pensamento na história do mundo.
Em outras palavras, ele poderia permanecer como a única causa de todos os efeitos. 4

O ordinário e o extraordinário na providência de Deus


5.3 Na sua providência ordinária Deus emprega meios; todavia, ele é livre para operar sem
eles, sobre eles ou contra eles, segundo o seu arbítrio. Ref. At 27:24, 31; Is 55:10-11; Os1:7;
Rm 4:20-21; Dn 3:27; João 11:34-45; Rm 1:4.
Quando se refere à “providência ordinária”, a Assembleia de Westminster tem em
mente que Deus ordinariamente usa os meios, de acordo com a natureza deles, para
executar seu decreto. No tópico anterior vimos, por exemplo, que ordinariamente
Deus mantém o mundo iluminado e as estações em ordem por meio do sol e da lua.
(Gn 1.14-15). É ordinário porque comumente Deus realiza assim seu plano.
Por exemplo, em sua providência ordinária Deus levanta impérios para trazer
restauração ao seu povo (2Cr 36.23). Da mesma forma, aprendemos sobre ela no

4
Ibid., p. 93.

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Salmo 104. O Senhor criou meios e os usa para cumprir o decreto que Ele mesmo
estabeleceu.
A crença na providência ordinária de Deus deve nos fazer sérios em nossas decisões
livres, na maneira como cuidamos do nosso corpo, gastamos nosso tempo,
aproveitamos as oportunidades e exercitamos a diligência em nossos negócios. Deus
ordinariamente age por meios e negligenciá-los é falta de sabedoria.
Contudo, Deus não está preso aos meios para executar seus planos. Se quisesse, Ele
poderia ser, não só a causa primária de todas as coisas, mas a única causa. Portanto, é
importante sabermos que “ele é livre para operar sem eles (Os 1.7; 2Rs 19.35-36),
sobre eles (Rm 4.19-21) ou contra eles (2Rs 6.6; Dn 3.27), segundo o seu arbítrio”.
Assim, quando em sua providência, Deus executa seu decreto eterno sem meios ou
apesar deles, estamos diante de um milagre.
Conclusão
A Deus, que é todo poderoso e pode, se quiser, fazer todas as coisas sozinho sem
depender de nada ou ninguém (At 17.25), agrada dispor do nosso serviço para
executar seu decreto eterno. Ele nos chama a cooperar com Ele (1Co 3.9) em sua obra
redentora, uma vez que nos deu a missão de evangelizar e fazer discípulos. O serviço a
Deus deve ser encarado como um privilégio, uma condescendência de Deus, graça.
Servir ao propósito Dele é algo do que podemos nos orgulhar, não em nós, mas em
Deus (Rm 15.15-17).
Uma vez que Deus age por meios, e nós, nossas escolhas e ações também são meios,
precisamos ser responsáveis. A lei do plantio e da colheita deve ser observada com
cautela.
Nessa doutrina também encontramos segurança. Mesmo coisas insignificantes e as
meras coincidências são meios que Deus usa para promover o nosso bem (Rm 8.28).
Deus está livre para agir sem os meios ou apesar deles. Assim, sempre que não houver
recursos humanos e naturais ou mesmo que esses estiverem contra nós, podemos
confiar na providência de um Deus que opera milagres.

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A Queda, o pecado e a Providência
5.4 A onipotência, a sabedoria inescrutável e a infinita bondade de Deus, de tal maneira se
manifestam na sua providência, que esta se estende até a primeira queda e a todos os outros
pecados dos anjos e dos homens, e isto não por uma mera permissão, mas por uma permissão
tal que, para os seus próprios e santos desígnios, sábia e poderosamente os limita, regula e
governa em uma múltipla dispensação, mas essa permissão é tal que a pecaminosidade dessas
transgressões procede tão somente da criatura e não de Deus, que sendo santíssimo e
justíssimo, não pode ser o autor do pecado nem pode aprová-lo. Ref. Is 45:7; Rm 11:32-34; At
4:27-28; Sl 76:10; 2Rs 19:28; At 14:16; Gn 50:20; Is 10:12; 1Jo 2:16; Sl 50:21; Tg 1:17.

1) A QUEDA E O PECADO
Gostamos, às vezes inadvertidamente, de pensar que a rebelião de Satanás, a Queda
de Adão e Eva e os demais pecados dos homens são eventos não planejados por Deus
e que, portanto, estão fora da sua providência. Confesso que seria mais fácil admitir
que isso é verdade. Contudo, não é esse o ensino bíblico. Na verdade, o ensino das
Escrituras afirma que a providência de Deus “se estende até a primeira queda e a
todos os outros pecados dos anjos e dos homens”.
Ora, uma vez que o decreto eterno de Deus e a execução desse decreto por meio da
obra da providência abrange todas as coisas, fica claro que isto inclui a rebelião de
Satanás no céu e a rebelião do homem na terra. Assim, os pecados dos homens e dos
anjos fazem parte de um plano eterno, sábio e perfeito de Deus e, por sua
providência, eles acontecem.

Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o


SENHOR, faço todas estas coisas. (Is 45.7)
Ainda que não seja uma tarefa fácil entender e explicar os inescrutáveis desígnios de
Deus, é correto afirmar que nem mesmo o pecado está fora da sua providência. A
Bíblia nos dá alguns exemplos: a) O censo levantado por Davi: 2Sm 24.1 e 1Cr 21.1. b)
A crucificação de Jesus: At 4.27-28. c) O caso de Jó.
Por meio de Providência Deus manifesta sua onipotência, sabedoria inescrutável e
bondade infinita. Depois de discutir esse assunto, Paulo glorifica a Deus (Rm 11.32-
34). Mesmo a maldade e o pecado dos homens redundarão em glória ao Senhor (Sl
76.10). Nossa atitude diante desse assunto deve ser a mesma do apóstolo, louvar ao
nome de Deus.
4) DEUS PERMITE O PECADO
A expressão “Deus permitiu” é bastante usada na tentativa de explicar o pecado e o
mal de uma forma geral. Ela nos dá impressão de que Deus tem uma atitude passiva
diante do pecado das pessoas, simplesmente permitindo que ele ocorra ou se
omitindo, mas isso não reflete o ensino das Escrituras.
Ainda que Deus não se agrade do pecado, nem tente ninguém a praticá-lo, nem
peque, em sua providência, Ele usa o pecado “para os seus próprios e santos
desígnios”. A permissão de Deus é mais bem explicada desta forma:

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É o tipo de permissão que “sábia e poderosamente” o [o pecado] limita. Deus governa sobre o
pecado e pecadores. Deus decide até que ponto o pecado irá reinar e até que ponto ele será
restringido no mundo dele e na vida de todo homem, mulher e criança. 5

Pois até a ira humana há de louvar-te; e do resíduo das iras te


cinges. (Sl 76.10)
Dois exemplos chamam atenção para o fato de que, quanto ao pecado, Deus o
“limita, regula e governa em uma múltipla dispensação”: o caso de José do Egito (Gn
50.20) e o do espinho na carne do apóstolo Paulo (2Co 12.7-10).
5) A SANTIDADE DE DEUS
A última coisa que precisamos ver nesse parágrafo é de suma importância. Deus,
embora permita o pecado, a responsabilidade por cometê-lo é de seus agentes
humanos ou angélicos. “Deus, que sendo santíssimo e justíssimo, não pode ser o autor
do pecado nem pode aprová-lo”. Com clareza a Bíblia afirma que: a) Deus não tenta as
pessoas: Tiago 1.13. b) Todo dom perfeito vem de Deus: Tiago 1.17. c) Em Deus não
há trevas: 1 João 1.5
Aplicação
Sabermos que Deus governo o pecado dos homens e o mal de Satanás deve nos dar
segurança. Pois, mesmo quando pecam contra nós, a ação desse pecado estará dentro
dos limites estabelecidos por Deus a fim de nos fazer bem e glorificar o seu nome.
Mesmo o nosso pecado será governado por Deus. Ele será usado para nos fazer mais
humildes, mais dependente de Jesus, mais vigilantes em oração, mais compenetrados
na Palavra e ambiciosos pela santificação do Espírito.
Contudo, o pecado nunca é bom e nunca é agradável a Deus. a natureza do pecado é
destruidora. São diabolianos6 que residem em nossos corações. Devemos matá-lo em
vez de viver pacificamente com ele. Se pecarmos a responsabilidade é nossa e sempre
será errado. O pecado mata.
A administração do pecado humano Deus trouxe salvação para seus eleitos. Pela
iniquidade dos fariseus e Pilatos, Deus cumpriu seu propósito em Cristo de nos salvar.

5
Ibid., p. 97.
6
John Bunyan, em “A guerra da famosa cidade de Almahumana”, usa esse termo para referir-se ao pecado
remanescente no coração dos crentes.

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A providência de Deus e a queda de seus filhos
5.5 O mui sábio, justo e gracioso Deus muitas vezes deixa por algum tempo seus filhos
entregues a muitas tentações e à corrupção dos seus próprios corações, para castigá-los pelos
seus pecados anteriores ou fazer-lhes conhecer o poder oculto da corrupção e dolo dos seus
corações, a fim de que eles sejam humilhados; para animá-los a dependerem mais íntima e
constantemente do apoio dele e torná-los mais vigilantes contra todas as futuras ocasiões de
pecar, para vários outros fins justos e santos. Ref. 2Cr 32:25-26, 31; 2Sm 24:1, 25; Lc 22:31-
32; 2Co 12:7-9.
Sempre ficamos confusos quando testemunhamos a queda em pecado e aparente
apostasia de um crente. Neste capítulo da nossa Confissão, veremos o que a Bíblia diz
sobre o papel e o propósito da Providência na queda temporária dos filhos de Deus.
1) DEUS DEIXA SEUS FILHOS ENTREGUES ÀS TENTAÇÕES E CORRUPÇÕES
DO CORAÇÃO , MAS APENAS POR UM TEMPO
Há certas ocasiões na vida do crente nas quais, Deus, que é sábio, justo e gracioso,
“deixa por algum tempo seus filhos entregues a muitas tentações e à corrupção dos
seus próprios corações”. Essa queda no pecado, porém, não é definitiva, mas
temporária, ou seja, no tempo determinado, o Senhor proverá ocasião de
arrependimento e restauração. Casos assim são ilustrados pela parábola do “Filho
Pródigo” (Lc 15.11-31) e têm um exemplo concreto na experiência do apóstolo Pedro.
6) O PROPÓSITO DA PROVIDÊNCIA NA QUEDA DOS FILHOS DE DEUS

a) Castigar pecados anteriores (não tratados): o pecado remanescente em nossos


corações deve ser mortificado (Cl 3.5; Rm 8.13), porém, muitas vezes, tornamo-
nos indulgentes com ele. Negligenciamos as convocações ao arrependimento e
nos tornamos impenitentes. Entregar-nos temporariamente ao nosso próprio
pecado é um meio de disciplina que Deus usa para que compreendamos a
gravidade e o perigo de vivermos pecando.
b) Dar a conhecer a corrupção do nosso coração: na maioria das vezes somos cegos
sobre “o poder oculto da corrupção e dolo” – o pecado interior – do nosso coração.
Dessa forma, muitas vezes não fazemos o uso devido dos meios de graça e
consentimos com o cultivo de pecados em nossas vidas. A fim de revelar essa
corrupção e dolo dos nossos corações, Deus por um tempo nos entrega aos nossos
desejos pecaminosos e, assim, podemos ver com mais clareza a pecaminosidade
ainda residente em nós. Entregar seus filhos temporariamente ao pecado é um
meio que Deus usa para ensiná-los sobre seus próprios corações (2Cr 32.31).
c) Fazer-nos mais humildes, dependentes e vigilantes: a experiência da queda em
pecado, após cumprir os dois primeiros propósitos, tem o objetivo de nos
humilhar, quebrando o orgulho espiritual (Mt 5.1), fazer-nos dependentes da
graça e dos recursos do Deus Trino, em vez de confiarmos na carne (Jo 15.5) e nos
tornar mais “vigilantes contra todas as futuras ocasiões de pecar”.

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A Providência e o endurecimento dos ímpios
5.6 Quanto àqueles homens malvados e ímpios que Deus, como justo juiz, cega e endurece em
razão de pecados anteriores, ele não somente lhes recusa a graça pela qual poderiam ser
iluminados em seus entendimentos e movidos em seus corações, mas às vezes tira os dons que
já possuíam, e os expõe a objetos que a sua corrupção torna ocasiões de pecado; além disso os
entrega às suas próprias paixões, às tentações do mundo e ao poder de Satanás: assim acontece
que eles se endurecem sob as influências dos meios que Deus emprega para o abrandamento
dos outros. Ref. Rm 1:24-25, 28, 11:7; Dt 29:4; Mc 4:11-12; Mt 13:12, 25:29; 2Rs 8:12-13;
Sl81:11-12; 1Co 2:11; 2Co 11:3; Êx. 8:15, 32; 2Co 2:15-16; Is 8:14.
Nesse parágrafo da Confissão se expõe que Deus, o justo juiz, em sua providência,
“cega e endurece” os ímpios. E, assim o faz, para castigá-los por seus próprios pecados
(Rm 1.24-28), em especial, o de não lhe darem glória.
Diferentemente do que acontece com alguns crentes, nos ímpios, esse endurecimento
é definitivo e constitui-se de Deus recusar-lhes sua graça “pela qual poderiam ser
iluminados em seus entendimentos e movidos em seus corações”, sendo assim,
levados ao arrependimento (Mc 4.11-12). Além disso, Deus lhes tira dons que
porventura possuam (Mt 13.12) e os expõe a situações que “a sua corrupção torna
ocasiões de pecado” (2Ts 2.7-12). Nesse estado, tais “homens malvados e ímpios” são
entregues “às suas próprias paixões, às tentações do mundo e ao poder de Satanás”.
Para esses, os meios que Deus usa para quebrantar uns, a eles endurecem (2Co 2.15-
16).
A providência e o cuidado especial de Deus sobre a Igreja
5.7 Como a providência de Deus se estende, em geral, a todos os crentes, também de um modo
muito especial ele cuida da Igreja e tudo dispõe a bem dela. Ref. Am 9:8-9; Mt 16:18; Rm
8.28; 1Tm 4: 10.
O capítulo da Providência se encerra dando-nos a plana convicção de que o propósito
de Deus em relação ao seu povo é fazer-lhe bem. Muitas coisas podem acontecer na e
contra a Igreja de Cristo (Rm 8.31-39), mas nenhuma delas prevalecerá sobre ela ou
lhe causará dano definitivo. A Igreja triunfará com Cristo (Rm 8.28).
Conclusão
A Bíblia nos ensina que tanto crentes como ímpios podem ser endurecidos por Deus.
Em tal estado não há como distinguir um do outro e, até que aconteça, não
saberemos se haverá arrependimento ou não.
O arrependimento não é algo fácil! Por isso devemos buscá-lo enquanto somos
sensíveis ao pecado e podemos ouvir a voz de Cristo na pregação do seu Evangelho. É
prudente buscarmos o conserto enquanto o tempo é oportuno.
Se não mortificarmos o pecado, ele provocará nosso endurecimento. Podemos cair de
tal forma que talvez não encontremos mais lugar de arrependimento (Hb 12.14-17).

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Referência bibliográfica
BROMILEY, Geoffrey W. Providence. In: The International Standard Bible
Encyclopedia, Revised. [s.l.: s.n.], 1979, v. 3, p. 1020.
DIXHOORN, Chad Van. Guia de estudos da Confissão de Fé de Westminster. São
Paulo: Cultura Cristã, 2017.
ELWELL, Walter A.; BEITZEL, Barry J. Providence. In: Baker Encyclopedia of the Bible.
Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1988, v. 2, p. 1791–1794.

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