N4 F AUhyr
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N4 F AUhyr
3, 3304 (2011)
www.sbfisica.org.br
R.L. Viana1
Departamento de Fı́sica, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil
Recebido em 2/7/2010; Aceito em 16/6/2011; Publicado em 5/10/2011
Oscilações de relaxação são mantidas por uma influência externa constante e apresentam duas escalas de
tempo diferentes (lenta e rápida). Elas têm propriedades diferentes das oscilações pendulares que, para peque-
nas amplitudes, reduzem-se às oscilações harmônicas. Neste primeiro trabalho apresentamos as diferenças entre
oscilações pendulares e de relaxação, mostrando exemplos ilustrativos de aplicações de oscilações de relaxação
em um sistema mecânico (vaso de Tântalo) e num circuito elétrico.
Palavras-chave: oscilações de relaxação, oscilações não-lineares, oscilações auto-sustentadas.
Relaxation oscillations are maintained by a constant external influence and present two different timescales
(fast and slow). They have properties different from the pendular oscillations which, for small amplitudes, re-
duce to harmonic oscillations. In this first paper we present the differences between relaxation and pendular
oscillations, showing illustrative examples of application of relaxation oscillations in a mechanical system (Tantal
vase) and an electric circuit.
Keywords: relaxation oscillations, nonlinear oscillations, self-sustained oscillations.
1. Introdução
111111111111111111111111
000000000000000000000000
000000
111111
000000
111111
“lenta”, durante a qual pouco acontece no sistema (em
termos de variação de alguma quantidade), e uma escala Figura 1 - Figura esquemática de um monjolo.
“rápida”, durante a qual grandes mudanças são produ-
zidas. Um exemplo bastante familiar de oscilações de
O movimento da haste do pilão é uma oscilação de
relaxação é o monjolo, uma das mais antigas máquinas
relaxação essenciamente por repetir-se a intervalos de
rurais da Humanidade, e bastante comum em sı́tios e tempo constantes (ou seja, é um movimento periódico),
chácaras no Brasil. Ele consiste de uma haste de ma- mas também por exibir duas escalas de tempo: a
deira onde uma das pontas está ligada a um pilão, “lenta”, enquanto o cocho vai sendo preenchido com
enquanto a outra é trabalhada na forma de um re- água, e a “rápida”, enquanto o cocho é esvaziado e o
ceptáculo (chamado “cocho”) que recebe água de uma pilão desce. Há outras caracterı́sticas comuns às os-
calha de forma contı́nua (Fig. 1). Enquanto a água cilações de relaxação que podemos exemplificar com
vai preenchendo o cocho, a haste com o pilão na outra o monjolo. A amplitude das oscilações é fixada pelas
ponta vai lentamente se inclinando para cima devido ao próprias caracterı́sticas do monjolo, como o tamanho da
atrito sobre o eixo. Quando o cocho atinge uma certa haste e a forma com que o cocho foi cavado na haste. A
altura, a água nele contida verte rapidamente e o ou- amplitude é portanto bastante difı́cil de modificar por
tra ponta da haste com o pilão desce também de forma meio de intervenções externas. Já o perı́odo depende
rápida. O impacto do pilão pode ser usado para socar essencialmente do fluxo de água que vem da fonte, pas-
grãos como milho, arroz ou amendoim. sando pela calha. Se o fluxo de água pela calha for
1 E-mail: [email protected].
diminuido, fechando parcialmente a entrada da calha cilações de relaxação em livros didáticos elementares
por exemplo, o cocho é preenchido mais lentamente, é que tais oscilações são intrinsecamente não-lineares,
e o perı́odo do movimento do monjolo será maior (ou ao contrário das oscilações pendulares, que podem ser
seja, ele oscila mais “lentamente”). Caso desobstrua- descritas de forma aproximada por equações lineares. O
mos a calha, permitindo a entrada de um fluxo maior objetivo principal desse artigo é dar ao leitor elemen-
de água, o perı́odo pode ser aumentado para um valor tos básicos identificar as principais caracterı́sticas de
desejado. oscilações de relaxação, assim como fornecer uma idéia
Por outro lado, os profissionais e estudantes de fı́sica da ampla gama de aplicações que estas possuem. A pre-
estão mais acostumados a trabalhar com outro tipo de paração fı́sica para compreender os argumentos teóricos
oscilação, que podemos chamar de pendular, e cujo pa- envolvidos resume-se à fı́sica básica, e a parte ma-
radigma é justamente o pêndulo sı́mples: uma massa temática é totalmente compreensı́vel a nı́vel do Cálculo
puntiforme suspensa por um fio. Fazemos um pêndulo Diferencial e Integral que é visto no segundo ano do
oscilar inclinando a massa presa ao fio em relação à sua curso de fı́sica.
posição de equilı́brio de um certo ângulo, que deter- A estrutura desse artigo é a seguinte: na Secão II nós
mina a amplitude das suas oscilações. Podemos mudar discutiremos qualitativa e quantitativamente um sis-
facilmente a amplitude das oscilações simplesmente co- tema mecânico (vaso sifonado ou vaso de Tântalo) que
locando a massa mais ou menos inclinada em relação à exibe oscilações de relaxação. Na seção III abordaremos
vertical. O perı́odo das oscilações do pêndulo, no en- um exemplo na eletricidade (circuito com lâmpada de
tanto, não é tão fácil assim de variar. Sabemos que, neônio). As similaridades entre os sistemas mecânico e
para pequenas oscilações de um pêndulo sı́mples, o elétrico e as suas diferenças com oscilações pendulares
perı́odo é proporcional à raiz quadrada do comprimento são discutidas na seção IV. Na seção V abordaremos o
do fio dividido pela aceleração da gravidade. Ou seja, papel de um forçamento periódico sobre oscilações de
o perı́odo que é determinado por parâmetros cuja mu- relaxação, comparando-as com as oscilações pendula-
dança é difı́cil, ao contrário da amplitude. Finalmente, res. A última seção é dedicada às nossas conclusões.
no movimento do pêndulo encontramos uma única es-
cala de tempo, que é determinada pela frequência de
2. O vaso de Tântalo
suas pequenas oscilações.
O termo “oscilação de relaxação” vem do fato que O vaso de Tântalo, ou vaso sifonado, é um dos ex-
seu perı́odo é essencialmente determinado dado pela es- perimentos demonstrativos mais antigos da fı́sica, en-
cala de tempo lenta (o pilão do monjolo cai muito mais contrado em diversos museus de instrumentos antigos
rapidamente do que enquanto seu cocho é preenchido (Fig. 2). Ele é baseado no princı́pio do sifão, e é um
de água, por exemplo). Em certos circuitos eletrônicos, dos sistemas fı́sicos mais simples que exibem oscilações
por exemplo, essa escala de tempo representa o car- de relaxação [12]. Vertemos continuamente água para
regamento de um capacitor, e por isso o perı́odo da dentro do vaso até que o nı́vel d’água atinja o ponto
oscilação é proporcional à constante de tempo do cir- mais alto do sifão, após o que este passa a descarregar
cuito, também chamada tempo de relaxação. O estudo a água até que o nı́vel chegue até a entrada do sifão. O
sistemático das oscilações de relaxação iniciou-se com sifão pára de funcionar e o vaso volta a ser preenchido
os trabalhos de Balthazar Van der Pol na década de até o processo repetir-se. Desta forma o nivel d’água
1920 [1], e forneceu motivação para investigações pionei- apresenta oscilações cuja amplitude é constante (deter-
ras da teoria dos sistemas dinâmicos [2–4]. Oscilações minada pela diferença entre os nı́veis mais alto e mais
de relaxação continuam sendo uma área de intensa pes- baixo do sifão) mas com um perı́odo que pode variar
quisa teórica e experimental, principalmente nas suas aumentando ou diminuindo a vazão de água que verte
múltiplas aplicações a problemas na fı́sica [5–7], enge- de uma torneira.
nharia [8], fisiologia [9], e mesmo na economia [10].
Oscilações de relaxação são, portanto, bastante dife-
rentes das oscilações pendulares, e ocorrem em diversos
problemas fı́sicos e biológicos de importância. É curioso
o fato da maioria dos livros didáticos contemporâneos
a nı́vel elementar não tratar de modo suficientemente
preciso e/ou motivante as oscilações de relaxação, em
detrimento das não menos importantes oscilações pen-
dulares (em mecânica e eletricidade). Isso não se veri-
fica, porém, em textos didáticos mais antigos, especial- Figura 2 - Ilustração antiga de um vaso de Tântalo usado em
demonstrações experimentais.
mente aqueles de autores franceses [5–7]. Além disso,
vários artigos em revistas especializadas têm abordado O termo vaso de Tântalo refere-se à incapacidade do
oscilações de relaxação há várias décadas [11–16]. Uma vaso de ser totalmente preenchido devido à sifonação, e
justificativa possı́vel para a ausência de menções a os- remete-nos à Mitologia Grega, segundo a qual Tântalo
Oscilações de relaxação e suas aplicações - I 3304-3
considerar o fluxo lı́quido no sifão como sendo dado por contribuição do termo logarı́tmico na Eq. (12) é aproxi-
q(h) − Q [11]. Escrevendo a definição de vazão numa madamente 23 vezes menor que a contribuição do termo
forma diferencial (V é o volume de água no vaso) temos que supõe apenas o esvaziamento pelo sifão; e pode ser
desprezado sem problemas.
dV Sdh
− =− = q(h) − Q, (7) A equação que descreve a evolução do nı́vel d’água
dh dt h(t) no vaso durante seu esvaziamento pode ser obtida
onde o sinal negativo na derivada indica que o volume a partir do mesmo raciocı́nio que usamos para a de-
d’água diminui com o passar do tempo, de forma que, terminação do tempo de escorvamento. Integrando a
sendo a derivada ela mesma negativa, o fluxo lı́quido Eq. (7) entre os nı́veis máximo (hA + hB ) e h(t), e fa-
q(h) − Q continue sendo positivo. zendo a mesma substituição de variáveis anterior, che-
O tempo de escorvamento ∆T ′′ nesse caso pode ser gamos à equação
obtido integrando-se a Eq. (7) S { √ √
∫ hB t= 2 − 2gh(t) + 2g(hA + hB )−
s g
∆T ′′ = −
Sdh
, (8) [ √ ]}
hA +hB q(h) − Q Q s 2gh(t) − Q
∫ hB ln √ . (14)
dh s s 2g(hA + hB ) − Q
= −S √ , (9)
hA +hB s 2gh −Q Em vista, porém, do termo logarı́tmico ter sido mos-
onde usamos a Eq. (4). Fazendo a mudança de variável trado há pouco desprezı́vel em relação ao outro, pode-
√ mos negligenciá-lo aqui também. Fazendo isso, e iso-
x = s 2gh − Q obtemos
lando o nı́vel d’água, temos
∫ s√2g(hA +hB )−Q
′′
− 2
S 1 [√ sg ]2
∆T =
s g s√2ghB −Q
dx(x + Q) (10) h(t) ≈ 2g(hA + hB ) − t , (15)
2g S
S { √ √
= − 2 s 2ghB − s 2g(hA + hB ) (11) durante a fase de esvaziamento.
s g
[ √ ]}
s 2ghB − Q 2.2. Oscilações de relaxação no vaso de Tântalo
+ Q ln √ ,
s 2g(hA + hB ) − Q 80
como
40
{ [ ]} (a)
S qmax − Q
∆T ′′ = 2 (qmax − qmin ) + Q ln . 20
s g qmin − Q 0
3,0
100 200 300 400
(12)
q (x 1000 cm /s)
2,5
3
Como ∆T ′′ ≪ ∆T ′ , podemos tomar o tempo de preen- uma interessante experiência demonstrativa em sala de
chimento como uma aproximação razoável do perı́odo aula, feiras de ciências, etc. [22].
das oscilações do nı́vel d’água no vaso de Tântalo. Uma
consequência importante é que as oscilações apresentam 3.1. Modelo matemático do circuito
duas escalas de tempo bem definidas: o preenchimento
do vaso ocorre lentamente, ao passo que seu escorva- O circuito com lâmpada de neônio, como oscilações de
mento ocorre rapidamente. Temos, pois, duas escalas relaxação em geral, apresenta duas escalas de tempo
de tempo: uma lenta (0 < t < ∆T ′ ) e outra rápida distintas, que podem ser tratadas separadamente: o
(∆T ′ < t < T ). carregamento “lento” do capacitor e a sua descarga
Observe que a amplitude das oscilações é definida “rápida” pela lâmpada de neônio. Denotamos a capa-
por parâmetros de construção do vaso de Tântalo, e citância, a resistência e a força eletromotriz da fonte por
cuja variação (caso necessária) seria bastante difı́cil, C, R, e E, respectivamente. As correntes no capacitor e
pois terı́amos de mudar a posição da dobra do tubo em na lâmpada são indicadas por iC e i, respectivamente,
U, ou então o ponto de entrada do sifão. Já o perı́odo, sendo V a tensão entre os terminais tanto da lâmpada
T ≈ ShA /Q, depende de um parâmetro cuja variação como do capacitor.
é mais fácil, no caso o fluxo de água fornecida pela tor- Carregameanto do capacitor. Enquanto a tensão nos
neira. terminais da lâmpada for inferior a V ′ esta não se acen-
derá e teremos um circuito RC. A evolução temporal da
carga nas placas do capacitor qC é descrita pela lei de
3. Circuito com lâmpada de neônio Kirchhoff na forma da seguinte equação diferencial
ic + i
ic i O tempo ∆T ′ de carregamento pode ser calculado fa-
zendo V (T ′ ) = V ′ , que é o valor para o qual a lâmpada
N
ε
C V
acende ( )
′ E − V1
∆T = τR ln ≡ k ′ τR , (20)
E −V′
Figura 5 - Esquema de um circuito elétrico com lâmpada de onde k ′ é uma constante pois depende unicamente de
neônio que exibe oscilações de relaxação. parâmetros nominais dos elementos do circuito.
Ligando-se a fonte de tensão no instante t = 0, esta Descarga do capacitor. Quando V = V ′ a lâm-
carrega o capacitor “lentamente” como num circuito pada se acende por conduzir corrente elétrica, curto-
RC convencional, desde que a tensão nos terminais da circuitando o capacitor e provocando a sua descarga.
lâmpada seja menor que a tensão de ignição (V < V ′ ), Como a resistência da lâmpada r é tipicamente muito
pois nesse caso a lâmpada não conduz corrente e está baixa comparada à do resistor (r ≪ R), podemos su-
em circuito aberto. Quando V = V ′ a lâmpada se por que a fonte de tensão permanece em circuito aberto
acende por conduzir corrente elétrica, o que faz com durante a descarga do capacitor (E ≈ 0). Nesse caso,
que esta descarregue o capacitor “rapidamente”, até como a corrente no resistor i + iC é praticamente zero,
que a tensão caia até o valor V1 para o qual a lâmpada temos que a corrente na lâmpada é aproximadamente
se apaga e o processo reinicia. O resultado é uma os- i = −iC . Aplicando novamente a lei de Kirchoff te-
cilação da tensão nos terminais da lâmpada de neônio mos, para a carga nas placas do capacitor, a seguinte
com amplitude V ′ − V1 e um perı́odo bem definido. O equação diferencial
fato da lâmpada piscar enquanto o capacitor se descar- dqC 1
rega em cada ciclo de oscilação faz este tipo de circuito r + qC = 0 (21)
dt C
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80
(a) cuito (elétrico
) é dado aproximadamente por (20) como
70 E−V1
τR ln E−V ′ , onde o termo no argumento do logaritmo
V(V)
60
50
depende de caracterı́sticas da lâmpada e não pode ser
40
facilmente alterado, como vimos. No entanto, a cons-
tante de tempo resistiva τR = RC pode ser facilmente
30
8 (b) alterada usando tanto um resistor variável (reostato)
i (10 A)
a b
(mais fácil) ou a indutância (mais difı́cil, implicando em
K colocar um núcleo ferromagnético no interior da bobina,
por exemplo). De modo geral, nas oscilações pendulares
C L o perı́odo é fixo, enquanto para oscilações de relaxação
ε ele é mais facilmente variado.
Outra diferença essencial consiste em que, nessa dis-
cussão que fizemos das oscilações pendulares, tivemos
Figura 8 - Um circuito LC. de deixar claras as hipóteses de que não havia per-
Um outro exemplo de oscilação pendular é o circuito das de energia (dissipação) e fontes de energia. Dito
LC, consistindo de uma bobina (indutor) e um capa- de outra forma, oscilações pendulares estacionárias só
citor associados em série com uma bateria (Fig. 8), a são possı́veis na ausência de dissipação, ou quando a
qual pode ser ligada ou desligada ao circuito por meio dissipação é compensada por uma fonte de energia.
de uma chave K. A capacitância e a indutância são Então faz sentido, para as oscilações pendulares, a clas-
denotadas, respectivamente, por C e L, enquanto E é a sificação usual entre oscilações livres, amortecidas, e
força eletromotriz fornecida pela bateria. Inicialmente forçadas; ao passo que, nas oscilações de relaxação, essa
posicionamos a chave na posição A indicada na Fig. 8 distinção deixa de ter significado.
e aguardamos até que as placas do capacitor estejam Com tantas diferenças entre oscilações pendulares e
totalmente carregadas com uma carga Q = CE. De- de relaxação, pode parecer que uma nada tem a haver
pois colocamos a chave K na posição B, desconectando com outra. No entanto, há sistemas fı́sicos que apresen-
a bateria do circuito, e monitoramos a tensão V entre tam, como situações-limite, tanto oscilações pendulares
as placas do capacitor. como de relaxação. O exemplo mais importante dessa
As placas do capacitor, em se descarregando com classe de sistemas é a famosa equação de van der Pol,
o tempo, geram uma corrente elétrica que passa pela que será o objeto da seção VI.
bobina, tal que a energia elétrica é convertida em
magnética e vice-versa, de modo que a tensão en-
tre as placas do capacitor oscila harmonicamente com
5. O efeito de uma perturbação perió-
frequência angular [23] dica
1 Além das diferenças vistas na seção anterior, outra dis-
ω=√ , (32)
LC tinção importante entre oscilações pendulares e de re-
e o perı́odo das oscilações, tanto da carga q(t) do capa- laxação diz respeito a seu comportamento ante uma
citor como da corrente i(t) na bobina, é dado por perturbação externa (ou “forçamento”) periódico no
tempo. Essa perturbação deve necessariamente atuar
2π √ sobre um dos fatores que influem sobre o perı́odo de
T = = 2π LC, (33)
ω uma oscilação de relaxação.
onde estamos desprezando as perdas de energia devido
h A2
à resistência elétrica dos fios e outras causas (como uma ∆h
A
possı́vel histerese no núcleo ferromagnético do indutor). hA0
∆h
Por que as oscilações do circuito LC são pendula- A
h
A1
res? Pois a amplitude das oscilações é determinada pela
carga inicial do capacitor q(0), a qual é facilmente va- h (t)
A
Vimos anteriormente que, para um nı́vel máximo do sistema a essa perturbação é tal que a frequência das
sifão fixo hA , o perı́odo das oscilações do nı́vel d’água é oscilações pendulares ω ajusta ao valor da frequência de
dado por ∆T ≈ ShA /Q. De forma semelhante, vamos excitação Ω ou a um dos seus harmônicos (múltiplos)
designar por ∆T1 e ∆T2 , respectivamente, os perı́odos nΩ, onde n é um inteiro positivo [7].
correspondentes aos nı́veis mı́nimo hA1 e máximo hA2 . Como a frequência é o inverso do perı́odo (ω =
Como o perı́odo depende essencialmente da altura do 2π/T ), isso significa que o perı́odo da oscilação pen-
nı́vel d’água no vaso, se este varia é natural que o dular se ajusta a um sub-múltiplo do perı́odo da força
perı́odo também se ajuste a essa variação. externa. Por exemplo, suponha que o perı́odo da os-
Como um exemplo, suponhamos que o perı́odo ∆T cilação do sistema massa-mola seja T0 = 2π/ω0 , e que
seja um pouco superior a 4T0 [7]. No instante inicial o o perı́odo da força externa seja T = T0 /n, onde n é
nı́vel máximo do sifão está na posição hA (0) = hA0 , e um inteiro positivo não-nulo. A interação da força ex-
nos instantes logo a seguir o nı́vel máximo está descendo terna periódica com o oscilador leva a um movimento
(hA (t) . hA0 ), e o sifão está escorvando o vaso. Após periódico cujo perı́odo é o do mais lento. Em geral, o
um intervalo de tempo t = 4T0 temos praticamente perı́odo do movimento resultante é o menor múltiplo co-
um perı́odo da perturbação externa: o nı́vel máximo mum dos perı́odos dos movimentos componentes, T0 /m
do sifão estará novamente em hA0 em movimento des- e T0 /n [7].
cendente, mas ainda não estará cheio. Quando estiver
cheio e se escorvar, o nı́vel máximo será um pouco infe-
rior a hA0 . Logo, para chegar a um novo preenchimento 6. Conclusões
do sifão e realizar a terceira escorvagem, o tempo ne-
cessário será um pouco menor que ∆T . Como ∆T foi Oscilações de relaxação ocorrem em vários sistemas
suposto um pouco maior que 4T0 , o tempo necessário fı́sicos e biológicos importantes, e caracterizam-se por
para a terceira escorvagem será mais próximo de 4T0 , terem uma amplitude fixa, ou difı́cil de ser alterada; ao
ou seja, o perı́odo da oscilação tende a se ajustar natu- passo que seu perı́odo é mais flexı́vel e pode ser facil-
ralmente a 4T0 . mente alterado. Nas oscilações de relaxação há sempre
duas escalas de tempo que, adicionadas, compõem o
No exemplo do circuito com a lâmpada de neônio,
perı́odo da oscilação: uma escala “lenta” e uma escala
podemos substituir a fonte de tensão contı́nua (bateria
“rápida”. Por esse motivo, as oscilações de relaxação
de fem constante E) por um gerador de tensão alter-
não podem ser caracterizadas por um único harmônico,
nada E = E0 + ∆E sin(2πt/T0 ), onde T0 é o perı́odo
ou modo de Fourier. Nas oscilações pendulares, mais
e ∆E é a amplitude das oscilações da tensão, com
familiares a estudantes e profissionais em fı́sica, a am-
um viés E0 . Vimos que o perı́odo das oscilações de
plitude é mais facilmente variável, enquanto o perı́odo é
tensão na lâmpada é dado, com boa aproximação, por
praticamente fixo, e consiste de uma escala de tempo, o
∆T = RC ln [(E − V1 )(E − V ′ )]. Logo, o perı́odo mu-
que permite sua representação por um pequeno número
dará conforme os valores instantâneos da fem do gera-
de modos, ou harmônicos.
dor, com valores extremos ∆T1 e ∆T2 correspondendo,
Devido à existência de mecanismos de injeção e dis-
respectivamente, aos nı́veis mı́nimo Emin = E0 − ∆E e
sipação de energia, que compensam-se mutuamente, as
máximo Emax = E0 + ∆E.
oscilações de relaxação não são amortecidas, no sen-
Como ilustração, seja o perı́odo da oscilação da
tido que damos habitualmente às oscilações pendulares.
tensão na lâmpada igual a um valor um pouco me-
Por outro lado, as oscilações de relaxação respondem
nor que 3T0 , onde T0 é o perı́odo da fem externa al-
de forma diversa a um forçamento externo harmônico:
ternada. Com o tempo, o perı́odo irá ajustar-se de
caso o perı́odo da oscilação de relaxação seja próximo
forma espontânea ao valor 3T0 . De forma geral, po-
(mas não igual) a um múltiplo inteiro do perı́odo do
demos dizer que, caso o perı́odo da oscilação de re-
forçamento externo, o perı́odo da oscilação ajustar-se-á
laxação seja próximo (mas não igual) a um múltiplo
a esse valor múltiplo. Por outro lado, nas oscilações
inteiro n = 1, 2, 3, . . . do perı́odo da perturbação ex-
pendulares é a frequência que se ajusta à frequência
terna, o perı́odo da oscilação ajustar-se-á espontânea
do forçamento externo (ressonância). Neste trabalho
e exatamente a nT0 .
procuramos motivar o interesse pelas oscilações de re-
A situação que descrevemos acima é radicalmente laxação, apresentando em detalhes dois exemplos fı́sicos
diferente em oscilações pendulares. Nelas, é a na mecânica (vaso de Tântalo) e na eletricidade (cir-
frequência, e não o perı́odo, das oscilações que ajusta- cuito com lâmpada de neônio).
se à frequência da perturbação externa periódica. Por
exemplo, consideremos um sistema massa-mola, √ cuja
frequência de oscilações naturais é ω0 = k/m, onde Agradecimentos
k é a constante elástica da mola e m é a massa. Vamos
considerar ainda uma força externa horizontal agindo Este trabalho foi realizado com auxı́lio financeiro do
sobre o sistema, variando periodicamente com o tempo CNPq, CAPES, e Fundação Araucária (Estado do Pa-
na forma F = F0 sin(Ωt). Sabemos que a resposta do raná).
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