2.1 - Pós Esa - Negociação de Conflitos
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Unidade I
JUSTIÇA EMOCIONAL
Aula 2.1
ser a mesma para todos os homens e constituir-se através da educação e que, por
meio da educação, as pessoas teriam conhecimento suficiente para saber conduzir a
sociedade ao caminho da felicidade, ou seja, pelo intermédio da educação haveria a
possibilidade de homogeneização do grupo social e o indivíduo se tornaria
pertencente desse grupo de modo unitário.
Assim, ele considera a justiça uma virtude total, completa, pois o homem justo
pode exercer sua virtude não só em relação a si mesmo, como também em relação ao
próximo. Há, portanto, uma justiça construída através das relações sociais que
precisa estar de acordo com valores morais da sociedade.
Pós-Graduação “lato sensu” | Negociação e Conflitos
Profa. Raíssa Cólen Moreno
THOMAS HOBBES [3] - Com uma visão diferente, o filósofo Thomas Hobbes
apresenta o tema “justiça” a partir da ideia do “pacto social”.
Nesse sentido, percebe-se o elo entre a lei e a justiça, pois apesar de ser
considerada justa a atitude da sua natureza humana quando age pelos impulsos da
paixão e do desejo, visando conquistar aquilo que é do “outro”, o homem deve
renunciar ou abandonar alguns de seus direitos para se viver em paz, e esta
transferência mútua de direitos, chama-se contrato. Sendo o descumprimento desse
contrato acordado no pacto entendido com injustiça. Deste modo, o devido
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Profa. Raíssa Cólen Moreno
Somente após muitos anos, que a justiça passou a ser concebida como valor
intrínseco de moralidade, cuja lei natural deve ser voltada para o bem comum
pautada sobre os termos do contrato social.
Para que possamos poder refletir e entender melhor sobre a chamada “Justiça
Emocional”, será necessário falarmos um pouquinho sobre como são construídas as
relações sociais, como também atentarmos para a complexidade inerente do ser
humano quando falamos de “convivência em grupo”, considerando grupo como
sociedade civil.
Para um pessoa integrar um grupo social, seja ele família, escola, trabalho ou
algum outro, ela passa por um processo de assimilação e identificação, ou seja, a
identificação do indivíduo com o grupo faz com que ele faça parte do grupo.
Outro fator para entender o que são as relações sociais e como elas se
constroem é, acima de tudo, compreender que a sociedade começa dentro da família,
a primeira “célula” social. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e
também informal, assim como representa o local onde são absorvidos os valores
éticos e humanitários. Ela é a referência fundamental para qualquer indivíduo, é na
família que se aprende e incorpora valores éticos, e onde são vivenciadas
experiências afetivas, representações, juízos e expectativas, independentemente de
sua configuração. Seja por meio de uma família chamada de tradicional” ou outros
tipos de arranjos familiares.
através dos elementos que permeiam a “justiça”. Podemos trazer a esse contexto,
alguns elementos basilares da justiça, que são: moral, reciprocidade, igualdade,
integridade, ética e equidade.
Enfim, as relações sociais nada mais são do que os pilares da sociedade, onde
são constituídas as causas da harmonia e do desequilíbrio do grupo social. Para
tanto, a compreensão dessas causas perpassam por muitas variáveis – objetivas e
subjetivas – as quais tentaremos expor no próximo tópico – A Justiça Emocional.
Quando uma pessoa procura o Poder Judiciário, ele não coloca sua vida
particular, seus anseios, desejos, emoções numa “gaveta” trancada e se veste com a
couraça de imunidade emocional. As pessoas, em geral, recorrem ao Judiciário
buscando soluções aos seus conflitos e espera que a justiça seja feita conforme sua
visão do problema.
Em alguns casos, ele nem reconhece que existe um problema mais complexo e
que vai além de sua demanda judicial. Também não consegue perceber a diversidade
de fatores emocionais que vão além dos fatos e que, ao seus olhos, terá uma solução
através das decisões judiciais. Em outros casos, o desejo pela resolução rápida é tão
evidente que, mesmo que haja uma decisão extremada, é melhor do que não
conseguir decisão alguma, pois, assim, é possível eliminar o sofrimento (estresse) e
voltar a vida cotidiana, não reconhecendo os motivos reais que o levaram à situação-
problema. Nesse caso, provavelmente, ao longo do tempo, outras raízes ligadas ao
problema inicial crescerão e se tornarão evidentes, provocando novos infortúnios em
sua vida e, assim por diante.
Em alguns casos, o indivíduo a buscar uma ação judicial e não sabe claramente
quais são as motivações internas que o levou a tomar tal atitude, podendo ser
impulsionado por um momento crítico que está vivenciando. Pode acontecer que,
após ajuizar a ação e, no decorrer do processo, seus sentimentos mudam, suas
relações com o “outro – pessoa ou grupo” mudem, levando-o a não querer mais o
prosseguimento da ação, o cumprimento das determinações judiciais e até mesmo a
finalização de todo o procedimento judicial. A essa dinâmica de instabilidade
emocional que leva o indivíduo à procura de justiça por questões emocionais, pode-
se chamar de “Justiça Emocional”[5]
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Para finalizar, vamos trazer alguns casos práticos para que a teoria possa ser
compreendida melhor.
1.4.1 Caso 1
Dois motoristas foram flagrados durante uma briga de trânsito na rodovia BR-
101, na altura do município da X. Os condutores, ainda não identificados, foram
apartados por outros motoristas, mas o confronto acabou continuando na estrada.
Vídeos gravados por um motorista que seguia atrás dos envolvidos mostra o
momento em que um homem de camisa verde gesticula para outro indivíduo, ao
lado de um veículo modelo V. Um outro sujeito, de camisa preta, salta de uma picape
e dá início às agressões.
Motoristas que estavam nas proximidades saem dos carros para apartar a
briga. Enquanto é acalmado por uma pessoa, o rapaz de camisa verde chega a tirar a
camisa e tenta avançar novamente contra o agressor.
Após a nova agressão, o rapaz sobe no acostamento e foge pelo outro sentido
da via. O homem que dirigia o V. chega sair do carro e tenta abrir a porta do carona
do outro veículo, mas não consegue.
"O trânsito estava todo parado e eu estava com minha mulher e meu filho no carro. De
repente, esse outro motorista tentou passar pelo corredor. Falei com ele que tava tudo parado,
que ele não precisava fazer aquilo. Ele começou a me agredir verbalmente e eu respondi. Foi
então que ele desceu do carro, veio até minha janela e me deu um soco. Eu saí do carro e fui me
defender, que foi quando começaram a gravar o vídeo. Em seguida, ele veio com uma chave de
roda na mão e, por isso, eu dei a ré no carro dele. Fui à delegacia registrar um boletim de
ocorrência porque quem começou as agressões, física e verbal, foi ele", disse o motorista da
caminhonete branca.
Observações:
2. Também é possível inferir que ambos não optaram pela resolução pacifica
do conflito existente, tendo em vista que não conseguiram nem iniciar uma conversa
para se chegar a um possível acordo.
1.4.1 Caso 2
- “Não, eu já tentei um acordo com ele antes e foi mesmo que nada, eu nem queria
entrar na justiça, mas ele não concordou e aqui o juiz resolve”.
Maria irritada não aceitava, e repetia tudo que havia dito. João em um tom de
voz mais grave disse: - “Eu fico estressado só em escutar o nome dela”. (O nome de
Maria).
No entanto, logo depois do referido acordo, João disse que já queria que seu
advogado entrasse com outra ação para poder regulamentar as visitas, pois quer ver
a filha de qualquer jeito.
Observações:
REFERÊNCIAS
2. GOES, Maria Cecília Rafael de. A formação do indivíduo nas relações sociais: contribuições
teóricas de Lev Vigotski e Pierre Janet. Educ. Soc. [online]. 2000, Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/es/v21n71/a05v2171.pdf
5. VAINER, Ricardo. O litígio como forma de vínculo. Anais do III Congresso Ibero-
americano de Psicologia Jurídica. São Paulo/SP,1999. Disponível em:
http://newpsi.bvs-psi.org.br/eventos/AnaisPgsIntrod-parteI.pdf