2.1 - Pós Esa - Negociação de Conflitos

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Negociação e Conflitos

Pós-Graduação “lato sensu”


Profa. Raíssa Cólen Moreno
Pós-Graduação “lato sensu” | Negociação e Conflitos
Profa. Raíssa Cólen Moreno

Unidade I

JUSTIÇA EMOCIONAL
Aula 2.1

Prezados alunos, o tópico em questão objetiva situar a teoria e a prática quanto


ao tema, trazendo à reflexão momentos aos quais o advogado pode se deparar em
situações de conflito que, na maioria dos casos, apresentam-se como questões
emocionais individuais, familiares, de grupo de trabalho, etc como fatores
determinantes no comportamento do indivíduo e/ou do grupo social para possível
resolução da demanda.

1. JUSTIÇA EMOCIONAL: O QUE PODE SER ISSO?

Primeiramente, vamos falar um pouco sobre os termos “Justiça” e “Relações


Sociais” para adentrarmos ao matéria “Justiça Emocional”.

1.1 Justiça – Conceito e Apontamentos

A concepção de “Justiça” surgiu na antiguidade clássica. Vamos relembrar os


pensamentos de alguns filósofos importantes na história da filosofia e do direito para
compreender um pouco melhor o que é “justiça”.

Através dos filósofos Platão, Aristóteles, Thomas Hobbes poderemos discutir


um pouco e de forma sucinta sobre o tema “Justiça”, como ele era visto na
antiguidade e quais contribuições eles trouxeram para a compreensão desse tema tão
abstrato ao mundo jurídico.

PLATÃO [1] - Inicialmente, vamos falar do filósofo Platão que relacionava


diretamente o termo “justiça” com “sociedade ideal”, pois para ele a justiça deveria
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ser a mesma para todos os homens e constituir-se através da educação e que, por
meio da educação, as pessoas teriam conhecimento suficiente para saber conduzir a
sociedade ao caminho da felicidade, ou seja, pelo intermédio da educação haveria a
possibilidade de homogeneização do grupo social e o indivíduo se tornaria
pertencente desse grupo de modo unitário.

Platão compreende que a origem da sociedade ideal ocorre quando cada


indivíduo é consciente de sua responsabilidade para com o grupo social e de si
mesmo, tendo em vista que a sociedade nada mais é do que a extensão do próprio
homem, por ser composta por eles mesmos, ditos, cidadãos.

A ideia básica do filósofo Platão é que o ser humano se apresenta enquanto


indivíduo, mas também é um ser social, pois não há possibilidade de separar o
homem da sociedade.

Assim, para Platão, a concepção de “Justiça” nada mais é do que a harmonia


social vivenciada pelo homem através da sociedade ideal, por representar o grupo
social e ao mesmo tempo fazer parte dele.

ARISTÓTELES [2] - Aristóteles considerava a sociedade constituída antes do


indivíduo porque o “todo social” é necessariamente anterior à “parte/sujeito”, além
disso, pressupõe que a polis é autossuficiente em si mesma, melhor dizendo, que o
bem comum é anterior ao bem individual.

Aristóteles, também traz a ideia de que a justiça é a pré-disposição de caráter


que faz com que as pessoas tenham intenção de agir de acordo com o que é
considerado “justo”, isto é, suas atitudes e desejos são voltados para o justo.

Assim, ele considera a justiça uma virtude total, completa, pois o homem justo
pode exercer sua virtude não só em relação a si mesmo, como também em relação ao
próximo. Há, portanto, uma justiça construída através das relações sociais que
precisa estar de acordo com valores morais da sociedade.
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Em relação à lei, Aristóteles compreende que ela é determinada visando o bem


da comunidade. Assim, o indivíduo que respeita a lei é visto como homem probo e
justo, enquanto aquele que infringe a lei e é ganancioso é visto ímprobo e injusto.

THOMAS HOBBES [3] - Com uma visão diferente, o filósofo Thomas Hobbes
apresenta o tema “justiça” a partir da ideia do “pacto social”.

Inicialmente, Hobbes aponta o fato de não existir uma sociedade ideal,


tranquila e harmônica, porque isso seria um sonho utópico dos homens por sua
própria natureza má, egoísta e individualista.

Se não há essa sociedade ideal, com a possibilidade dos homens vivendo


conjuntamente obedecendo aos comandos das leis naturais, garantindo assim sua
autopreservação, então há a necessidade da criação do Estado, constituído por leis.
Assim, essas leis podem se tornar o instrumento para assegurar a justiça, pois a
justiça é o resultado simbólico do cumprimento do pacto, uma vez que cumprindo a
lei ou o pacto, o homem estaria cumprindo sua própria palavra.

Para Hobbes, como o homem pensa em si mesmo de maneira individual, isto


é, quando desejam a mesma coisa e não podem desfrutá-la por igual, eles tornam-se
inimigos, mesmo havendo distribuição equitativa, porque na natureza humana
sempre houve disputa entre os homens, através da competição e da desconfiança
com o intuito de se conquista a glória.

Sendo assim, Hobbes frisa a importância da existência do “pacto social” que


nada mais é que o cumprimento de acordo para inserção da justiça. .

Nesse sentido, percebe-se o elo entre a lei e a justiça, pois apesar de ser
considerada justa a atitude da sua natureza humana quando age pelos impulsos da
paixão e do desejo, visando conquistar aquilo que é do “outro”, o homem deve
renunciar ou abandonar alguns de seus direitos para se viver em paz, e esta
transferência mútua de direitos, chama-se contrato. Sendo o descumprimento desse
contrato acordado no pacto entendido com injustiça. Deste modo, o devido
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cumprimento do pacto é a maneira correta de se agir, é agir corretamente é sinônimo


de justiça que se define pela equação: justiça = pacto.

Por um longo período da história prevaleceu a ideia da lei de que as relações


entre os homens são inerentemente naturais e, por isso, as normas eram resultado
das leis naturais como fonte autêntica de poder que impunha a submissão entre os
homens representada pela distribuição desigual de renda.

Somente após muitos anos, que a justiça passou a ser concebida como valor
intrínseco de moralidade, cuja lei natural deve ser voltada para o bem comum
pautada sobre os termos do contrato social.

Atualmente, o significado de Justiça ainda é de difícil definição, pois demanda


a interação de vários conceitos, onde se pretende chegar a um resultado próximo
daquilo que é compreendido no âmbito judicial e que, na medida do possível, tenta
aproximar a decisão Judicial à situação fática quando não for possível existência de
um acordo entre as partes.

1.2 Relações Sociais – Conceito e Pontos Importantes

Para que possamos poder refletir e entender melhor sobre a chamada “Justiça
Emocional”, será necessário falarmos um pouquinho sobre como são construídas as
relações sociais, como também atentarmos para a complexidade inerente do ser
humano quando falamos de “convivência em grupo”, considerando grupo como
sociedade civil.

Desde os primatas, os estudos científicos nos mostram que os seres humanos


não conseguem viver isoladamente. Naquela época, os homens viviam em “bando” e
haviam papéis definidos para cada um do grupo. Mesmo assim, haviam conflitos
entre os membros e entre outras pessoas de outros grupos, o que era mais comum.

Nascemos e morremos nos relacionando com outras pessoas, seja de forma


positiva ou, as vezes, negativa, pois, os relacionamentos são cada vez mais
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complexos e a sociedade mostra-se sempre dinâmica, com pessoas interagindo a todo


instante e de várias formas possíveis.

Os seres humanos são, necessariamente, seres sociais e, a partir dessa


afirmação, pode-se entender que a sociabilização é fundamental para o
desenvolvimento da sociedade, uma vez que ela integra os grupos sociais.

Para um pessoa integrar um grupo social, seja ele família, escola, trabalho ou
algum outro, ela passa por um processo de assimilação e identificação, ou seja, a
identificação do indivíduo com o grupo faz com que ele faça parte do grupo.

Outro fator para entender o que são as relações sociais e como elas se
constroem é, acima de tudo, compreender que a sociedade começa dentro da família,
a primeira “célula” social. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e
também informal, assim como representa o local onde são absorvidos os valores
éticos e humanitários. Ela é a referência fundamental para qualquer indivíduo, é na
família que se aprende e incorpora valores éticos, e onde são vivenciadas
experiências afetivas, representações, juízos e expectativas, independentemente de
sua configuração. Seja por meio de uma família chamada de tradicional” ou outros
tipos de arranjos familiares.

Existem vários tipos de relações, dentre elas podemos citar:

TIPOS DE RELAÇÕES [4]

Como a relação de uma pessoa


com o outro através do diálogo;
Relação interpessoal

É a maneira como a pessoa se


relaciona consigo mesma. Nesse sentido,
Relação intrapessoal
a pessoa tem que lidar com suas próprias
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expectativas, seus pensamento e


sentimentos, bem como eles se articulam
perante nós mesmos.

É a forma de relacionar com os


grupos, seja na família, na escola, no
Relação sistêmica
trabalho e em outros espaço coletivos.
Essa relação ocorre devido aos acordos
entre as partes, buscando atender às
necessidades de todos, por isso são
relações bem complexas.

Também podemos entender que as relações sociais são caracterizadas por


processos de socialização, que ocorrem entre pessoas, entre grupos sociais e as
próprias pessoas e grupos formam a sociedade, resultando na construção da
sociedade. Assim, pode-se dizer que: o conjunto de pessoas e grupos sociais (e suas
relações) que compõem uma sociedade.

As relações sociais remete ao conceito de um conjunto de diferentes interações


entre os indivíduos ou grupos sociais, seja em casa, na escola, no trabalho e essas
interações ocorrem em diversos espaços sociais, podendo ser de maneira.

Dentro das relações sociais, os indivíduos se identificam e também são


parâmetros de identificação para outras pessoas, seguindo num sistema intrínseco de
cada pessoa. Sendo assim, faz-se necessária a harmonia nas relações sociais para uma
boa conivência entre os membros do grupo social e essa harmonia só poderá existir
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através dos elementos que permeiam a “justiça”. Podemos trazer a esse contexto,
alguns elementos basilares da justiça, que são: moral, reciprocidade, igualdade,
integridade, ética e equidade.

Ao aventarmos a questão do elemento justiça, percebe-se que é inevitável


entende-la sem considerar a relação direta entre relações sociais – sociedade – justiça.

Enfim, as relações sociais nada mais são do que os pilares da sociedade, onde
são constituídas as causas da harmonia e do desequilíbrio do grupo social. Para
tanto, a compreensão dessas causas perpassam por muitas variáveis – objetivas e
subjetivas – as quais tentaremos expor no próximo tópico – A Justiça Emocional.

1.3 Justiça Emocional

Os profissionais que trabalham na área jurídica conseguem perceber que há


uma quantidade significativa de processos em que as partes desistem no meio do
caminho e outros que se prolongam por muitos anos, não por culpa da própria
burocracia do andamento processual, mas pelo conflito gerado em meio às questões
de cunho emocional.

São muitos os casos em que as solicitações e decisões judiciais são


determinadas, mas as questões emocionais estendem-se e se mostram maiores que as
reais razões e necessidades existentes no caso, comprometendo a atuação do
advogado, a situação das partes e a resolução da demanda judicial.

Quando uma pessoa procura o Poder Judiciário, ele não coloca sua vida
particular, seus anseios, desejos, emoções numa “gaveta” trancada e se veste com a
couraça de imunidade emocional. As pessoas, em geral, recorrem ao Judiciário
buscando soluções aos seus conflitos e espera que a justiça seja feita conforme sua
visão do problema.

Os valores de justiça, do correto, da moral e da ética, somente serão


encontradas na vida em sociedade, entre as relações sociais, nunca isoladamente,
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sendo natural a problematização da distinção entre o que é de um e o que é do outro.


Conforme o filósofo Thomas Hobbes, acima citado, ele define a justiça na seguinte
frase: “a justiça é a vontade constante de dar a cada um o que é seu”

O indivíduo recorre ao Poder Judiciário, em geral, porque quer uma medida


legal. Em muitos casos, as pessoas chegam ao judiciário para atendimento e se
encontram no limite de um estresse emocional, com grande comprometimento
racional, já com suas relações afetivas e sociais deterioradas, pois, não conseguiu
resolver seus problemas pessoais, seja nas relações com membros do grupo familiar,
no trabalho ou na sociedade. Então, o sistema judicial passa a ser única forma de
conseguir uma resposta objetiva, de soluções rápidas para sua demanda,
principalmente porque acredita que, através de uma decisão judicial seus problemas
irão se resolver, inclusive os sentimentos que estão causando estresse, sofrimento e
angústia.

Por trás do processo judicial, percebe-se que, em geral, o indivíduo busca


soluções aos seus anseios, mas não conseguem, na maioria, compreender os motivos
que o levaram à situação-problema.

Em alguns casos, ele nem reconhece que existe um problema mais complexo e
que vai além de sua demanda judicial. Também não consegue perceber a diversidade
de fatores emocionais que vão além dos fatos e que, ao seus olhos, terá uma solução
através das decisões judiciais. Em outros casos, o desejo pela resolução rápida é tão
evidente que, mesmo que haja uma decisão extremada, é melhor do que não
conseguir decisão alguma, pois, assim, é possível eliminar o sofrimento (estresse) e
voltar a vida cotidiana, não reconhecendo os motivos reais que o levaram à situação-
problema. Nesse caso, provavelmente, ao longo do tempo, outras raízes ligadas ao
problema inicial crescerão e se tornarão evidentes, provocando novos infortúnios em
sua vida e, assim por diante.

Existem, também, outros casos em que a intervenção, seja ela provisória ou


definitiva (decisões judiciais), possuem uma eficácia temporária e se tornam
processos crônicos, demandas que não se resolvem em tempo razoável, pelo fato das
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partes não permitirem um desdobramento possível. A provocação de brigas judiciais


intermináveis, a não aceitação de possíveis acordos, etc., desejos de vingança,
frustação de um sonho, sentimento de fracasso de um projeto de vida, entre outros
sentimentos, demonstram que a solução não é o objeto da demanda, mas sim, são as
questões emocionais que permeiam a problemática e não permitem dissolução da
causa até mesmo porque o próprio processo pode ser uma forma de se manter o
vínculo com o outro ou um propósito adquirido.

Ocorre que, o discurso apresentado pelo indivíduo pode ser um pedido de


“socorro” aos seus anseios emocionais e que, de certa forma, o sistema de justiça não
pode e não consegue auxiliá-lo da maneira que necessita. Se por um lado, as pessoas
estão buscando a realização de seus desejos ou necessidades através da atuação da
Justiça, o que não necessariamente significa cumprir as leis pelo ato em si, mas ter a
Justiça como forma de apoio emocional e segurança.

Nem sempre o pedido de intervenção da justiça está relacionado à aplicação


da lei, apesar de ser “aparentemente” a intenção do indivíduo, mas pode sim, a
solicitação estar ligada aos sentimentos e necessidades emocionais do solicitante.

Em alguns casos, o indivíduo a buscar uma ação judicial e não sabe claramente
quais são as motivações internas que o levou a tomar tal atitude, podendo ser
impulsionado por um momento crítico que está vivenciando. Pode acontecer que,
após ajuizar a ação e, no decorrer do processo, seus sentimentos mudam, suas
relações com o “outro – pessoa ou grupo” mudem, levando-o a não querer mais o
prosseguimento da ação, o cumprimento das determinações judiciais e até mesmo a
finalização de todo o procedimento judicial. A essa dinâmica de instabilidade
emocional que leva o indivíduo à procura de justiça por questões emocionais, pode-
se chamar de “Justiça Emocional”[5]
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1.4 Casos Práticos

Para finalizar, vamos trazer alguns casos práticos para que a teoria possa ser
compreendida melhor.

1.4.1 Caso 1

Dois motoristas foram flagrados durante uma briga de trânsito na rodovia BR-
101, na altura do município da X. Os condutores, ainda não identificados, foram
apartados por outros motoristas, mas o confronto acabou continuando na estrada.

Vídeos gravados por um motorista que seguia atrás dos envolvidos mostra o
momento em que um homem de camisa verde gesticula para outro indivíduo, ao
lado de um veículo modelo V. Um outro sujeito, de camisa preta, salta de uma picape
e dá início às agressões.

Motoristas que estavam nas proximidades saem dos carros para apartar a
briga. Enquanto é acalmado por uma pessoa, o rapaz de camisa verde chega a tirar a
camisa e tenta avançar novamente contra o agressor.

Momentos depois, um outro vídeo registra os motoristas já dentro do carro e


seguindo pela rodovia, que estava com o trânsito congestionado. O homem que
estava na picape subitamente dá ré no veículo e atinge a parte dianteira do V.

Após a nova agressão, o rapaz sobe no acostamento e foge pelo outro sentido
da via. O homem que dirigia o V. chega sair do carro e tenta abrir a porta do carona
do outro veículo, mas não consegue.

Procurada, a Polícia Militar informou que não chegou a ser acionada no


momento da agressão. O condutor do V. registrou boletim de ocorrência.

O motorista da caminhonete branca conta a sua versão. Eis o relato dele:


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"O trânsito estava todo parado e eu estava com minha mulher e meu filho no carro. De
repente, esse outro motorista tentou passar pelo corredor. Falei com ele que tava tudo parado,
que ele não precisava fazer aquilo. Ele começou a me agredir verbalmente e eu respondi. Foi
então que ele desceu do carro, veio até minha janela e me deu um soco. Eu saí do carro e fui me
defender, que foi quando começaram a gravar o vídeo. Em seguida, ele veio com uma chave de
roda na mão e, por isso, eu dei a ré no carro dele. Fui à delegacia registrar um boletim de
ocorrência porque quem começou as agressões, física e verbal, foi ele", disse o motorista da
caminhonete branca.

Observações:

1. Percebe-se claramente que os dois motoristas estavam alterados durante o


episódio que acabou na briga relatada na história.

2. Também é possível inferir que ambos não optaram pela resolução pacifica
do conflito existente, tendo em vista que não conseguiram nem iniciar uma conversa
para se chegar a um possível acordo.

3. Claro está a gama de emoções negativas subjacentes na história relatada,


pois nenhum dos envolvidos se conheciam e não havia inicialmente um motivo
relevante para começar a briga da maneira que os fatos ocorreram, mostrando que as
questões emocionais são fatores preponderantes para dissolução de conflitos.

1.4.1 Caso 2

Maria e João, namoraram 2 (dois) anos, e estão casados há 5 (anos). Dessa


união nasceu uma filha e após o nascimento da criança, começaram os
desentendimentos e brigas conjugais que resultaram na separação de fato do casal.
Após essa separação, que aconteceu há 6 (seis) meses, Maria tentou entrar em um
acordo sobre a pensão alimentícia da criança com João, mas sempre acabavam
brigando mais e por isso Maria ingressou com ação na justiça para resolver o
problema. Em audiência, o técnico judiciário informou-lhes que era uma audiência
de conciliação e logo lhes perguntou se havia acordo. De imediato, Maria respondeu:
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- “Não, eu já tentei um acordo com ele antes e foi mesmo que nada, eu nem queria
entrar na justiça, mas ele não concordou e aqui o juiz resolve”.

O técnico judiciário informou a João que é dever do pai cumprir com as


obrigações paternas e pagar pensão ao filho, que se ele não chegasse a um acordo o
juiz iria arbitrar um valor, e que se este não fosse pago João seria preso. Continuou
perguntando-lhe quanto seria possível ele pagar e João respondeu: - “Só posso dar
R$50,00 (cinquenta reais), porque não tenho trabalho fixo”.

O técnico perguntou se ele vinha contribuindo financeiramente com a criação


da filha e João respondeu que não, pois Maria não o deixava ver sua filha. Maria, já
alterada emocionalmente, disse – “Não deixo João ver a filha porque ele não ajuda
em nada e esse valor proposto por ele é um absurdo, pois convivi 7 (sete) anos com
ele e sei que ele pode dar muito mais. Ele se prende ao fato de não ter emprego fixo
pra não contribuir com as despesas da minha filha, mas na época que estávamos
juntos, mesmo ele fazendo “bicos”, ele recebia bem e poderia ajudar com R$300,00
(trezentos reais) por mês, sendo R$150 (cento e cinquenta reais) na primeira quinzena
do mês e R$150 (cento e cinquenta reais) na outra quinzena”.

João interrompeu Maria e disse: - “Você está fazendo um crime em me proibir


de ver minha filha, eu sei que ela merece mais, você não merece, mas minha filha
merece muito mais. Pois vou tentar dar R$100,00 (cem reais) por mês”.

Maria irritada não aceitava, e repetia tudo que havia dito. João em um tom de
voz mais grave disse: - “Eu fico estressado só em escutar o nome dela”. (O nome de
Maria).

Os advogados das partes tentaram acalmar os ânimos de João e Maria e


centralizar a discussão em torno da filha, expondo que o valor pago seria para suprir
as necessidades da filha e não para Maria. Que essa animosidade não era bom para a
filha.
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Então, Maria consentiu em reduzir o valor inicial para R$150 (cento e


cinquenta reais) por mês. João não aceitava e voltava a expor sua última proposta, no
entanto já se baseava no discurso dos advogados, e logo disse: - “Maria, a gente não
pode confundir nossos problemas pessoais com a nossa filha, eu quero ter uma boa
relação com você”.

O técnico interrompeu em um momento e disse que tinha que começar a outra


audiência, e os advogados voltaram a negociar os possíveis valores. Depois de
muitas propostas e contrapropostas, concordaram que o valor da pensão ficaria
estabelecido em 26% do salário mínimo, equivalente a R$120 (cento e vinte reais) por
mês, o pagamento seria semanalmente no valor de R$30,00 (trinta reais). Foi
acordado também que a pensão seria paga à tia de Maria, mediante recibo, pois as
partes não queriam se ver.

No entanto, logo depois do referido acordo, João disse que já queria que seu
advogado entrasse com outra ação para poder regulamentar as visitas, pois quer ver
a filha de qualquer jeito.

Observações:

1. Há um conflito aparente foi originado pela ausência de uma boa relação


entre eles, devido a todos os desentendimentos da separação e aos ressentimentos
que cada um tem contra o outro, que, na verdade, seria o conflito real, pois se
existisse um bom relacionamento entre o casal e ausência de toda essa carga
emocional advinda da separação, eles não estariam com esse problema de
inadimplemento da pensão alimentícia.

2. Apesar do acordo feito quanto à pensão, é notório que o Poder Judiciário


não solucionou o real conflito, e que a partir deste irão surgir tantos outros conflitos,
até que consigam resolver efetivamente o real conflito
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REFERÊNCIAS

1. LOPES, Beatriz Pardo e BIAZON, Isabela Silva. A Concepção de Justiça de acordo


com Filósofos. Encontro de Iniciação Científica. Presidente Prudente/SP, 2017.
Disponível em:
http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/viewFile/
6413/6111

2. BRYCH, Fabio. O ideal de Justiça em Aristóteles. Revista Âmbito Jurídico. São


Paulo/SP, 2007. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-36/o-ideal-de-justica-em-
aristoteles/

3. CAPPELLARI, Rodrigo Toaldo. A concepção de justiça em Thomas Hobbes e a


ligação entre sociedade, lei, política e Direito. Periódico Lex Humana, Petrópolis,
2014. Disponível em: http://hdl.handle.net/10316.2/36525.

4. ABDALA, Fernanda. Relacionamento Intrapessoal, Interpessoal e Sistêmico. Gente


Inova: Desenvolvimento Pessoal, Jul/2018. Disponível em:
https://www.genteinova.com.br/relacionamento/

5. BERNO, Rosely. Justiça emocional. Anais do III Congresso Ibero-americano de


Psicologia Jurídica. São Paulo/SP,1999. Disponível em: http://newpsi.bvs-
psi.org.br/eventos/AnaisPgsIntrod-parteI.pdf
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SITES PARA PESQUISA

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Disponível em:
http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/6100/1/VILSON%20ROCHA%20FILHO.
pdf

2. GOES, Maria Cecília Rafael de. A formação do indivíduo nas relações sociais: contribuições
teóricas de Lev Vigotski e Pierre Janet. Educ. Soc. [online]. 2000, Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/es/v21n71/a05v2171.pdf

3. ARANHA, Maria Salete Fábio. A interação social e o desenvolvimento humano. Pepsic -


Temas psicol. Ribeirão Preto, dez/1993. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
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4. EVANGELISTA, Kelly Cristiny Martins; BAPTISTA, Tadeu João Ribeiro e


VERISSIMO, Jean Fabricio Dias. O indivíduo como ser social. Agosto, 2017. Disponível
em:
https://www.researchgate.net/publication/319270521_O_INDIVIDUO_COMO_SER
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5. VAINER, Ricardo. O litígio como forma de vínculo. Anais do III Congresso Ibero-
americano de Psicologia Jurídica. São Paulo/SP,1999. Disponível em:
http://newpsi.bvs-psi.org.br/eventos/AnaisPgsIntrod-parteI.pdf

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