Fichamento História Social Hebe Castro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – UFCG

CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES – CFP


UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS – UACS
DISCIPLINA: PROJETO DE PESQUISA III
DOCENTE: LUIZ MÁRIO BURITY
DISCENTE: LUCIANA ABRANTES NOBRE

Fichamento

CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História: Ensaios de


teoria e Metodologia. 5. Ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. Cap. 2, p. 45-65.

História Social – Hebe Castro

“A referência ao movimento dos Annales se faz necessária por ter-se tornado o


marco, real ou simbólico, de constituição de uma nova historia, em oposição às
abordagens ditas rankianas...” (p.45).

A autora coloca que referenciar o movimento dos intelectuais da Escola dos Annales
se faz necessário porque este surge como resposta a uma historiografia factualista,
que tinha como foco os grandes acontecimentos, jogos de poder, principalmente
entre os grandes, que acabava, segundo Bloch e Febvre – fundadores da revista e o
movimento -, se tratando de uma história de análise pobre por ignorar que além dos
grandes havia estruturas, grupos e indivíduos que acabavam sendo deixados de
lado. Ademais, História Social e Annales passam a ser relacionados por ter sido a
História Social um conceito muito utilizado pelos fundadores da escola dos Annales
para contrapor com a História tradicional.

“Contra ela, propunham uma história-problema, viabilizada pela abertura da


disciplina às temáticas e métodos das demais ciências humanas, num constante
processo de alargamento de objetos e aperfeiçoamento metodológico.” (p.46).

Contra a história de metodologias tradicionais e factuais, na qual tratava-se apenas


dos grandes acontecimentos, dando preferência ao uso de fontes legitimadas pelo
Estado, erigindo dessa forma uma história política e econômica para exaltar o
espírito nacional, propunham uma história-problema visando uma ampliação dos
objetivos de estudos, preocupada em resgatar os demais aspectos da história.

“[...] a história social passa a ser encarada como perspectiva de síntese, como
reafirmação do princípio de que, em história, todos os níveis de abordagem estão
inscritos no social e se interligam.” (p.46).

Fala-se de uma história visando o homem em sociedade, que acaba abrangendo as


abordagens da pesquisa histórica. A História Social nessa concepção generalizante
- que seria a história visando o homem em sociedade - dá-se a ideia de que todos os
campos do social se interligam. Apesar da tendência à fragmentação das
abordagens, esta acepção da expressão é mantida pela maioria dos historiadores.

“Conforme assinalou Eric Hobsbawm, em artigo já clássico sobre o tema, a


expressão “história social” foi utilizada principalmente, até a primeira metade do
século, ligada a três acepções diferentes.” (p.47).

Na primeira acepção, a História Social estava ligada a uma abordagem culturalista,


usada para designar a história das classes pobres e inferiores. Na segunda
acepção, em outro espectro político temos o desenvolvimento de uma história social
do trabalho e do movimento socialista em quase toda parte, advindo do avanço de
ideias socialistas e do movimento operário. Aqui a História Social tem como
distinção das abordagens anteriores a oposição entre individual e coletivo, tendo
como objeto a ação política coletiva.
Por fim, os Annales, desenvolvia desde a década de 1930 uma “história econômica
e social”, neste caso o termo social era usado em combinação com a história
econômica.

“Foi nas décadas de 1950 e 1960, entretanto, que uma história social, enquanto
especialidade, tendeu a se constituir no interior desta nova postura historiográfica,
que começava a se tornar hegemônica.”
(p.48).

As pesquisas históricas destas décadas foram marcadas pelo apogeu do


estruturalismo e também pelo uso da quantificação nas ciências sócias. Neste
momento, a história social já abordava como problema principal as classes, os
modos como se constituía os atores históricos dentro da coletividade e as relações
que confirmavam em história as estruturas sociais. A história econômica, a história
demográfica e mesmo a história das mentalidades, todas dentro da “Longa duração”,
tediam a desenvolver especificidades e metodologias próprias.

“Do ponto de vista metodológico, a história social, nas décadas de 1960 e 1970,
esteve fortemente marcada, como de resto toda a historiografia, por uma crescente
sofisticação de métodos quantitativos para a análise das fontes históricas [...] A
demografia histórica, tomada como método pela história social, daria dimensão até
então inusitada à história da família.” (p.51).
O método de reconstituição de famílias na frança, de Louis Henry, e o método de
analise da composição das unidades domésticas (households) na Inglaterra, de
Peter Laslett, mesmo que seus resultados tenham sido questionados, abriram
questionamentos bastante reflexivos, fundamentais para uma posterior evolução da
disciplina.

“Esta aproximação com a antropologia levaria a história social, em sentido estrito, a


privilegiar progressivamente abordagens socioculturais sobre os enfoques
econômico-sociais até então predominantes.” (p. 53).

Um primeiro movimento, da pesquisa em história social dos anos 70, tendeu a


reforçar a ênfase do campo da problemática da construção das identidades sociais e
das relações que engendravam sobre as abordagens que privilegiavam as posições
sociais e estruturas hierárquicas. Nesse momento, com a História Social, a
antropologia vai possibilitar perceber na cultura de uma sociedade e nas
organizações das comunidades um objeto de estudo histórico- social. Outro tipo de
aproximação da história com a antropologia se fez sob a história vista de baixo. A
história social do trabalho, da tradição marxista britânica, e a obra de Thompson,
colocaram as noções de experiência e cultura no centro das análises sobre a ação
social, a partir daí, a problemática tendo como interesse inicial o ativismo operário,
vai se concentrar na compreensão das experiências das pessoas comuns, no
passado, e de suas reações a esta experiência. A história oral vai ser utilizada para
dar voz a essas pessoas.

“No crescente intercâmbio de antropologia e história, nesta perspectiva, a influência


da antropologia interpretativa de Clifford Geertz merece menção especial pela
freqüência com que tem inspirado diversas abordagens.” (p.55).

Temos em primeiro lugar a elaboração de uma noção de cultura percebida como


inerente a natureza do homem e que informa a ação social. A ação humana
culturalmente informada passa a ter sentindo dentro do contexto social. É essa ideia
de compartilhamento entre culturas que possibilita a sociabilidade nos agrupamentos
humanos, e clareza aos comportamentos sociais.

“Como procura salientar Giovanni Levi, a micro-história procuraria ir além da


interpretação para tentar formular explicações históricas.” (p.58).

A micro-história possibilitaria ao historiador o desenvolvimento de uma temática mais


específica no quesito temporalidade, reduzir a escala de observação do objeto na
pesquisa seria, em outras palavras, um ponto de partida pra um movimento mais
amplo, dando espaço para a observação de realidades que não são retratadas pela
história geral.

“No Brasil, a historiografia rankiana lançou frágeis bases na universidade [...] Ao


contrário da tradição europeia, aqui as ciências sociais organizaram-se
pioneiramente no mundo acadêmico, especialmente na Universidade de São Paulo.”
(p.59).

No Brasil, por volta dos anos 30, os institutos históricos e geográficos foram campos
muito privilegiados de atuação, neles foi desenvolvidas abordagens historiográficas
clássicas, que seriam oposição em relação a historiografia tradicional.

“A história da família definiu-se como campo específico no Brasil a partir da década


de 1980.” (p.60).

Os anos 60 e 70 foram influenciados pelas técnicas francesas de reconstituição de


família e pela análise de Household. Só depois dos anos 70 essa história veio se
constituir no Brasil.

“Desse modo, apesar da forte presença da demografia como base metodológica na


maioria dos trabalhos na área, as questões mais gerais, referentes à nupcialidade,
fecundidade, equilíbrio entre sexos e estrutura familiar, foram sendo
progressivamente substituídas por temas que exigiam um tratamento socialmente
diferenciado e que implicavam um nível bem menos de agregação dos dados, ou
mesmo questionavam o lugar central das fontes demográficas.” (p.61).

Deu-se uma maior atenção e importância a pluralidade social dos arranjos


familiares, das concepções de família e das estratégias adotadas pelos grupos
familiares em relação às generalizações teóricas dos modelos anteriores.

“Dentro deste conjunto, a história social do trabalho, solidamente organizada como


especialidade desde a década de 1960, mantém um perfil mais claramente
diferenciado...” (p.63)

Aqui Hebe Castro abordará temas como o movimento operário e cindical, suas
relações com o Estado, com as massas trabalhadoras e com o ambiente urbano,
como também devidas considerações sobre o cotidiano dos operários na construção
de uma identidade operária.

“Por último poderíamos reunir as pesquisas em historia social do Brasil Colonial e da


escravidão em sentido amplo [...] revisionista, de intensidade variada, em relação às
abordagens econômicas e sociológicas predominantes nos anos 60 e 70, parece-me
que estabelece um campo comum a este desenvolvimento.” (p.64).

Vemos referenciais comuns como o diálogo mais intenso com a historiografia


internacional sobre a Afro-América, uma redução da escala de abordagem, a
valorização da experiência e da cultura como matrizes explicativas e a utilização do
nome como elo condutor de análise de fontes.

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