TCC Ii Joseph Olegario
TCC Ii Joseph Olegario
TCC Ii Joseph Olegario
Joseph Olegario
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CENTRO UNIVERSITÁRIO PARAÍSO
JUAZEIRO DO NORTE
2020
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JOSEPH DA SILVA OLEGARIO
JUAZEIRO DO NORTE
2020
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CASA REFÚGIO NO SEMIÁRIDO CEARENSE:
Uma proposta utilizando conceitos da bio construção
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
5
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar,
é viva como uma comunidade de vida incomparável. As forças da natureza
fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providen-
ciou as condições essenciais para a evolução da vida. (A Carta da Terra)
6
Agradecimentos
Minha Família, minha mãe Lucimar, meu pai Raimundo e meus irmão Jefferson e
Jhony Lúcio, que durante todo o período do curso me apoiaram e me incentivaram, não me
permitindo desanimar.
Ao meu companheiro Carlos que me deu força durante todo período de cumprimento
do curso de Arquitetura, especialmente na reta final dessa graduação.
E por fim, obrigado ao universo por ter tido a oportunidade de chegar até aqui e me
tornar o que sou hoje.
7
RESUMO
Na perspectiva de explorar e compreender a forma de se fazer uma arquitetura voltada às
questões presentes na contemporaneidade, o presente trabalho trata-se de uma pesquisa
e laboratório, sobre arquitetura sustentável e bioconstrução. Resultando na elaboração do
anteprojeto arquitetônico de uma casa refúgio no semiárido cearense. Levantando questões
sobre a sustentabilidade, nossa relação com o meio ambiente, as principais características
do semiárido, um breve panorama sobre os aspectos arquitetônicos e construtivos presen-
tes na região, modelos construtivos realizados com princípios da bioconstrução a partir de
exemplos correlatos de arquitetura nacionais e da América Latina, métodos e técnicas da
bioconstrução, análise sobre a viabilidade de desenvolvimento do projeto arquitetônico de
uma residência no semiárido utilizando as técnicas, métodos e modelos bioconstrutivos, la-
boratório de estudo da implantação da edificação através de maquete física e análise sobre
material a partir da experiência na confecção de tijolos de adobe com a matéria prima retira-
da do próprio lugar de construção. Desse modo, todo o processo de estudos e pesquisa no
presente texto volta-se para exploração da arquitetura sustentável e bioconstrução.
8
ABSTRACT
From the perspective of exploring and understanding how to make an architecture focused
on the issues present in the contemporary world, the present work is a research and labo-
ratory, about sustainable architecture and bioconstruction. Resulting in the elaboration of
the architectural design of a refuge house in the semiarid Ceará. Raising questions about
sustainability, our relationship with the environment, the main characteristics of the semiarid
region, a brief overview of the architectural and construction aspects present in the region,
constructive models based on the principles of bioconstruction based on related examples
of national and American architecture Latin, methods and techniques of bioconstruction,
analysis of the feasibility of developing the architectural project of a residence in the semi-a-
rid region using bioconstructive techniques, methods and models, laboratory for the study of
building implementation through physical model and analysis of material from experience in
the manufacture of adobe bricks with the raw material taken from the construction site itself.
In this way, the entire process of studies and research in this text focuses on the exploration
of sustainable architecture and bioconstruction.
LISTAS
9
Siglas
Tabelas
10
Ilustraçõe
Figura 1: Mapa da Região metropolitana do Cariri. CE •27
Figura 2: Casa de taipa com dois pavimentos, Sítio Fundão, Geopark Araripe, Chapada do
Figura 5: Memorial Padre Cícero arquitetura modernista, Juazeiro do Norte, CE. •29
Figura 20:Fotografia interior Escola Nave Tierra, Argentina, detalhe garrafas de vidro na
alvenaria •50
Figura 26: Maquete virtual Projeto M & B, Serra Grande, BA •55
11
Figura 28: Vista superior da edificação construída. Projeto M & B, Serra Grande, BA
•56
Figura 29: Fotografia interior. Projeto M & B, Serra Grande, BA •57
Figura 30: Maquete virtual Planta do Projeto M & B, Serra Grande, BA •57
Figura 32: Distribuição das edificações no lote. Comunidade Aldeia da Luz, Barbalha
•59
Figura 35: Esquema de massa vegetativa a partir de imagem de satélite. Aldeia da Luz,
Barbalha, CE ;•61
Figura 38: Fotografia residência 04 Comunidade Aldeia da Luz, Barbalha, Ce •62
Figura 42: Ilustração, formato ideal para construções em região tropical seca, Lengen
•68
12
Figura 57: Maquete física, fachadas 1, 2, 3 e 4 •83
Figura 74: Telhado montado com caibros, ripas e telhas ecológicas. •95
13
Sumário
RESUMO....................................................................................................................................................................................... 8
ABSTRACT.................................................................................................................................................................................. 9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................................ 10
1 SOBRE SUSTENTABILIDADE............................................................................................................................................ 21
2 A CASA E O MORAR..................................................................................................................................................... 24
2.1 Breve panorama do morar no semiárido cearense ........................................................................................27
3 O SEMIÁRIDO.......................................................................................................................................................................32
4. SOBRE BIOCONSTRUÇÃO................................................................................................................................................39
5 ESTUDO DE CASO PROJETOS CORRELATOS ........................................................................................................ 46
5.1 Escola Nave Tierra: casa autossustentável de Michael Reynolds, Argentina.................................... 47
5.2 Casa em Cunha, Sp. Escritório Arquipélago Arquitetos................................................................................ 51
5.3 Projeto M & B: IrinaBiletska & Gonzalo Nadal arquitetura orgânica e bioconstrução, Serra Gran-
de, Bahia.................................................................................................................................................................................. 54
5.4 Comunidade Aldeia da Luz, Barbalha, CE..........................................................................................................58
6 A CASA REFÚGIO BIO CONSTRUÍDA NA ZONA RURAL DO SEMIÁRIDO CEARENSE ............................. 64
7 ESTUDO DE IMPLANTAÇÃO, VOLUMETRIA, MATERIAIS, CONCEITO E PROGRAMA ARQUITETÔNICO ..72
7.1 Estudos preliminares ................................................................................................................................................. 74
7.2 Observação do lote......................................................................................................................................................75
7.3 Conceito.............................................................................................................................................................................77
7.4 Partido...............................................................................................................................................................................78
7.5 Ventilação e insolação................................................................................................................................................79
7.6 Estudo de implantação através de maquete física ...................................................................................... 81
7.8 Lboratório tijolos de adobe..................................................................................................................................... 84
8 ELABORAÇÃO DO .............................................................................................................................................................88
ANTEPROJETO.........................................................................................................................................................................88
8.1 Panorama investigativo...............................................................................................................................................88
9 PRANCHAS ANTEPROJETO............................................................................................................................................101
10 REFLEXÃO SOBRE INICIATIVAS SUSTENTÁVEIS NA ARQUITETURA ......................................................137
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................... 139
14
INTRODUÇÃO
Pensar em sustentabilidade na contemporaneidade já não é mais uma questão de
opção, e sim uma necessidade (CARTA DA TERRA, 2000.). Partindo desse pressuposto, a
pesquisa aqui apresentada tem o interesse de investigar algumas das técnicas e materiais
existentes no processo de elaboração da casa contemporânea no semiárido cearense e a
partir dessa pesquisa desenvolver o anteprojeto de uma residência unifamiliar utilizando
conceitos da bioconstrução.
Outro elemento visto neste estudo, será a representação do projeto a partir da ma-
quete física e a experimentação de materiais com laboratório de confecção de tijolos de
adobe.
15
Contextualização e problemática
Justificativa
Assim, além dos benefícios ambientais que o projeto pode gerar em sua construção,
também será possível uma aproximação com a prática e construtiva.
16
Objetivo geral
Objetivos específicos
Processos Metodológicos
17
Desse modo o lote pretendido para implantação do projeto será analisado buscando
suas principais características naturais, na construção de um projeto arquitetônico da bio-
construção.
Após a refl exão sobre sustentabilidade, o processo social da moradia, análise so-
bre as questões referentes ao semiárido cearense, técnicas construtivas da bioconstrução,
projetos correlatos e características do lote, serão destacados os modelos que poderão ser
aplicados no projeto, buscando as melhores soluções dentro de uma proposta sustentável,
vistos os aspectos de consumo consciente dos recursos numa perspectiva renovável. Con-
tando também com a elaboração de maquete física para ilustrar melhor entendimento sobre
os volumes e distribuição dos ambientes e um laboratório de tijolos de adobe na exploração
do material.
18
Referencial teórico
Para dar suporte teórico a essa pesquisa , muito autores e trabalhos foram utiliza-
dos, formando a base de investigação deste estudo. Destaca-se a Carta da Terra que é um
documento escrito a partir de debates com a sociedade, e análise das relações humanas
e o meio ambiente, realizado pela UNESCO, apontando diretrizes para construção de um
mundo mais sustentável. Partindo deste estudo, Marcos Eduardo Serrador em sua disser-
tação de mestrado, Sustentabilidade em arquitetura: referências para projeto, nos apresen-
ta experiências internacionais e referências normativas ou certificação sobre a produção
dos principais materiais de produção no brasil e referências práticas no mercado nacional.
Para os projetos corretos utilizados neste trabalho, todos executados a partir das
técnicas da bioconstrução, teremos o exemplo da Escola Nave Tierra de Michael Reynol-
ds na Argentina, o projeto Casa em Cunha, SP, do escritório, Arquipélago Arquitetos, SP,
projeto M & B, BA do Escritório Irina Biletska, BA e o projeto da Aldeia da Luz, que é uma
comunidade sustentável, CE. Todos estes projetos serviram de referência para o desenvol-
vimento do projeto da edificação posteriormente.
Para uma melhor compreensão sobre o meio ambiente local no artigo Vegetação,
unidades fitoecológicas e diversidade paisagística do estado do Ceará, 2015 que destaca
de modo científico as características vegetativas presentes na região do semiárido cearen-
se.
19
Sobre as técnicas de bioconstrução encontramos no Manual do arquiteto descalço
de Johan Lengen, ed. 2014, o ensino de diversas técnicas construtivas sustentáveis a partir
da bioconstrução e através de Bill Mollison no livro Introdução à permacultura os princípios
aplicados pela permacultura no meio social e cultural, já através de Cecília Prompt, por
meio do Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural
Sustentável do Departamento de Desenvolvimento Rural Sustentável, Brasília, 2008, temos
o Curso de Bioconstrução, que aponta uma diversidade de métodos e técnicas construtivas
sustentáveis utilizadas no meio rural brasileiro.
Desse modo o estudo aqui apresentado tomará como base tais autores, sendo estes
apenas os autores que fundamentam o estudo, estando presente ao longo do texto outras
referência relevantes para esta pesquisa.
20
1 SOBRE SUSTENTABILIDADE
O desenvolvimento e evolução da humanidade, em todos os seus aspectos, trans-
formou o planeta em que vivemos. Na atualidade o pensamento sustentável sobre nossas
ações, e relações estabelecidas com o planeta, tornou-se uma constante necessária. Assim
é possível perceber através da A carta da terra, 2000, o quanto é grave e urgente ações
sustentáveis em todas as esferas humanas.
Visto que a naturalização do uso ilimitado dos recursos do planeta acabou contami-
nando todas as esferas de ações humanas. Observando desde as pequenas ações, como
os usos irresponsáveis de elementos do cotidiano, por exemplo, descartáveis, conservan-
tes químicos, poluição, extração irreversível, etc, são alguns dos exemplos presentes na
vida da civilização moderna.
21
A compreensão do contexto em que se insere o projeto de produção
de edifícios voltados a sustentabilidade pode ser determinante da realiza-
ção dos objetivos proposto pelo compreendimento, seja de ele de menor ou
maior dimensão. A amplitude do conceito de sustentabilidade exige o conhe-
cimento máximo de variáveis envolvidas no momento do projeto. Na tomada
de decisões, com a especificação de materiais e sistemas construtivos, de-
veria ser considerado todo ciclo de vida dos componentes empregados na
construção: qual o impacto sobre a reserva de agregados primários, qual
a possibilidade de reciclagem futura e qual o nível de geração de resíduos
no processo construtivo são exemplos da extensão das decisões projetuais.
(SERRADOR, 2008).
22
Portanto, pensar em projetos voltados a aplicar em seu processo, desde a ela-
boração do programa de necessidades, até a sua execução, diretrizes apontadas pelos
indicativos acerca da sustentabilidade, se faz essencial em todas as esferas da produção
arquitetônica.
23
2 A CASA E O MORAR
Entendo a necessidade humana na construção de abrigo para sua proteção, partin-
do desde o menir, segundo Pereira, 2005, cavernas e cabanas, construídas pelo homem
primitivo até a atualidade, podemos enxergar uma gigantesca mudança nos modos de ha-
bitar e nas técnicas construtivas. Porém, aqui focamos nas percepções da contemporanei-
dade sobre o morar, numa perspectiva de tendências culturais sustentáveis, cada vez mais
recorrentes no cotidiano das relações humanas e os meios de consumo de baixo impacto
ambiental.
Para chegar ao ideal dessa pesquisa, a construção de uma casa refúgio sustentável
contemporânea no semiárido cearense, é necessário refletir sobre as diversas formas de
morar na contemporaneidade. Ao longo dos tempos devido às mudanças sociais a forma de
habitar se transformou, e em um recorte, pensado para esta pesquisa, destaca-se a casa e
o morar no semiárido cearense, a partir dos modelos convencionais de habitação.
Saindo desse contexto mais abstrato do entendimento sobre habitar, numa rápida
busca através da história, podemos estabelecer o entendimento sobre habitar, a partir do
exemplo das habitações na Idade Média que compunha de familiares, empregados e apren-
dizes sob a tutela de um pai-patrão proprietário dos meios de produção, todos morando na
casa onde se sobrepõem, em muitos casos, em um único grande cômodo, habitação, traba-
lho e espaço de uso público (TRAMONTANO, 1998). Diante disso é possível entender que
esse modelo de morar caiu em desuso, percebendo que no período moderno a partir da
revolução industrial e segunda guerra, o morar deixou de incorporar o espaço de trabalho
e passou a ser habitada por pessoas ligadas por laços consanguíneos estreitos, surgindo
a tendência da família nuclear (CHARTIER, 1991), que se mantém fortemente na cultura
brasileira consequentemente no nordeste. O modelo de compartimentação, volumes e divi-
são do espaço de moradia se modificou, diante desses aspectos, os espaços tornaram se
amplos, versáteis e tecnológicos. Assim Rossetti em seu texto, “Morar brasileiro: Impres-
sões e nexos atuais da casa e do espaço doméstico”, nos diz que a arquitetura moderna
24
brasileira do século XX logrou um êxito considerável por seu caráter genuíno, tornando-se
um fenômeno bem sucedido, por ser tão paradoxalmente moderna e internacional, quanto
nacional.
25
ser aplicado no campo da arquitetura, buscando um baixo impacto ambiental, e consequen-
temente financeiro. Somando-se a proposta, as questões ligadas à eficiência energética
necessária aos confortos, térmicos, lumínicos e acústicos, é possível visualizar a constru-
ção de uma edificação completa, integrada e mais coerente na relação com o meio.
Se a casa é referência para aquele que nela habita, tornar esse espaço ideal em
suas funções, numa mudança de atitude em meio ao consumismo desenfreado, pode ser
uma forma de contribuir e ampliar o pensamento sobre a construção arquitetônica neces-
sária nos dias de hoje, na perspectiva de ao longo do tempo fazer a diferença frente aos
métodos convencionais. Sobre as reflexões relacionadas ao morar Rossetti nos diz que:
26
2.1 Breve panorama do morar no semiárido cearense
Desconstruindo a imagem sofrida do semiárido, podemos apontar diversos fatores
que compõem o cenário da região. Observando a região do Cariri cearense (Figura 1) in-
serida no semiárido, (IPECE,2012), localizamos a região metropolitana do Cariri composta
por nove municípios, seus habitantes se interrelacionam em laços consanguíneos, afetivos
e comerciais, gerando uma troca cultural direta.
27
Figura 2: Casa de taipa com dois pavimentos, Sítio Fundão, Geopark Araripe, Chapada do Araripe, Crato,
CE.
28
Figura 4: Fachada com traços da Art déco, Araripe, CE
Fonte da Imagem: Badalo. 2018. Disponível em: <www./badalo.com.br>. Acesso em 26 mar. 2020
29
Não limitado aos modelos aqui colocados como exemplo, a arquitetura plural da
região nos serve como referência as marcas deixadas pelos estilos vistos pela história da
arquitetura, com eles seus modelos construtivos referentes a cada época. Numa breve sín-
tese e ilustração dos estilos construtivos destaca-se: Quando observamos as construções
de taipa (Figura 2), enquanto construções herdadas da cultura popular, entendemos que a
construção vernacular com terra é uma prática milenar, presente na cultura construtiva tra-
dicional das mais diversas sociedades (CORDEIRO, BRANDÃO, DURANTE, CALLEJAS,
2018), assim podemos pensar na arquitetura pós colonização como herança de métodos
aplicados de maneira sustentável comumente praticadas no semiárido, por ser trabalhada
com materiais locais, usufruindo das riquezas presentes no ambiente de construção a edifi-
cação torna-se de baixo custo. Vemos através do exemplo (Figura 2) uma aproximação da
base de referências desse estudo, a bioconstrução.
Desse modo vemos que, sobre o adobe no Brasil, a técnica foi amplamente utilizada
no período colonial, passando por diversos cenários e tendências, tendo seu uso declinado
a partir da Revolução Industrial, pela oferta de novos materiais aparentemente vantajosos.
(BESSA, SANTOS, 2020).
O estilo Art déco (Figura 4), é algo recorrente nas fachadas das habitações urbanas,
característica de uma período marcante na arquitetura local.
30
mental. (CORREIA, 2010).
Com tudo, para o interesse dessa pesquisa os aspectos estéticos da casa refúgio
na zona rural se coloca presente numa perspectiva de análise e investigação de soluções
arquitetônicas preocupadas e comprometida com o debate e aplicação de iniciativas sus-
tentáveis. Em meio a isso as questões da habitação contemporânea, junto aos modelos
e técnicas construtivas, possíveis de serem aplicadas, de acordo com as limitações e po-
tencialidades, detectadas no lote em questão, serviram de base na composição do projeto
resultado desse estudo.
31
3 O SEMIÁRIDO
O Semi-Árido apresenta como características um clima com temperatu-
ras médias anuais entre 26 e 28ºC, insolação superior a 3.000 horas/ano,
umidade relativa em torno de 65%, precipitação pluviométrica anual abaixo
de 800 mm, solos com baixa profundidade e substrato predominantemen-
te cristalino, conforme o Ministério da Integração Nacional e a Secretaria
de Políticas de Desenvolvimento Regional, que em 2004 desenvolveram a
nova delimitação para a região. (RIBEIRO, SILVA, 2010).
Dentro desse contexto, podemos conferir que estamos diante de um clima que na
maior parte do ano, tem uma temperatura acima dos 25°C, característica marcante da re-
gião, esse primeiro fator orientará muitas das decisões tomadas para volumetria, conforto
térmico e iluminação natural. No mapa a seguir podemos visualizar as delimitações climáti-
cas levantadas pelo IPECE.
32
Figura 6: Mapa de Tipos climáticos do Ceará, 2011.
33
Figura 7: Detalhe Mapa de Tipos climáticos do Ceará, 2011.
34
Figura 9: Lote na zona rural de Caririaçu, e. CE
35
Figura 10: Mapa de Tipos climáticos do Ceará, 2011.
36
Figura 11: Detalhe Mapa de Tipos climáticos do Ceará, 2011
37
Sobre a relação de insolação presente no lote, é preciso observar quais fachadas
podem ser melhores trabalhadas para que haja uma boa distribuição de luz durante o dia,
sem que haja calor excessivo no interior da edificação, para tanto a escolha dos materiais
adequados e o aproveitamento das potencialidades topográficas no planejamento de exe-
cução da obra podem influenciar significativamente no tratamento interior necessário para
se obter um bom desempenho térmico e de iluminação natural. (LENGEN, 2014).
38
4. SOBRE BIOCONSTRUÇÃO
Para idealizar uma forma que possa ser executável no campo da construção, é pre-
ciso que se reflita sobre a materialidade que irá compor essa forma, atendendo às necessi-
dades pontuadas em um programa arquitetônico.
39
Partindo desses princípios abrimos a um vasto campo de exploração sobre técnicas
e materiais construtivos na bio construção. Também contida na óptica da arquitetura verna-
cular, a bioconstrução agrega diversos conhecimentos e práticas ancestrais, atualizadas,
revistas e adaptadas às necessidades atuais, e meios tecnológicos disponíveis. Nessa bus-
ca pelas bases teóricas que sustentam a prática da bioconstrução também vale ressaltar
o pensamento do arquiteto Frank Lloyd Wright, que defendia a arquitetura orgânica. Desse
modo Débora Foresti (2008) em sua dissertação aponta que, dentro do discurso de Wright,
a natureza representa mais que uma simples inspiração. É nela que o arquiteto verifica os
ensinamentos de sua formação universitária e vê a perfeição que deveria ser perseguida
para se criar uma verdadeira arquitetura: orgânica.
40
Em regiões de morros, construir as casas nas partes altas, onde há mais
movimento de ar; Paredes grossas, que retardam a penetração do calor
do dia e do frio da noite; Materiais: pedra, adobe, tijolos e blocos; Janelas
pequenas, para evitar a poeira e o sol; Casas bem juntas, com menos pare-
des expostas ao sol. Uma da sombra à outra; Uso de pátios internos, para
ventilar os quartos; Piso apoiado sobre terra para captar o frescor do solo.
(LENGEN, 2014).
Sobre os níveis no lote em questão, devemos considerar seu declive, por esta loca-
lizado em meio a uma colina, leva-se em consideração na elaboração do projeto o declive
natural que, entre outras questões, contribuirá no escoamento das águas. O declive pre-
sente no terreno também servirá de referência quanto às formas e volumes pretendidos
para a edificação.
41
Figura 15:Imagem aérea do lote Google Earth
Por estar na zona rural o entorno do lote, apresenta características de mata nativa
sem grandes interferências humanas, apresentando uma rica paisagem natural. Para o
sistema de cobertura Legen nos aponta o telhado plano, que contribui no conforto térmico
no interior da habitação.
42
Já para a fundação, o método convencional pode ser utilizado, com o escavamento
de trincheiras no formato de grelha. Também é visto a importância de proteger as paredes
maiores do sol, através do posicionamento da edificação, tamanho do telhado, com beiral
ou vegetação.
Sobre a estrutura básica, de modo geral, é possível pensar em fundações que pos-
sam ser trabalhadas em pedra e argamassa. Já para as alvenarias, existem algumas alter-
nativas, tendo em vista as características da região, como: o uso de tijolos de adobe ou solo
cimento, uso de superadobe, também existe a possibilidade da taipa de pilão ou de mão,
para a cobertura, no caso do projeto em análise por se tratar de uma zona seca e quente,
aconselha se o uso de teto plano, possibilitando o uso de madeira e lajotas, havendo tam-
43
bém a possibilidade de construção do teto verde com uso de bambu, lona plástica para
impermeabilização, e grama, entendendo que para um país tropical, um telhado de grama
é uma ótima solução para construir casas e edifícios (LENGEN, 2014).
Sobre as águas cinzas recebidas das pias, chuveiros e lavatórios, pode-se trabalhar
seu reuso na irrigação de plantas e canteiros. Já as águas negras, essas, numa perspec-
tiva de projeto ideal nem devem ser geradas, optando-se por sistema de banheiro seco,
num processo de uso dos dejetos convertidos em adubo, porém, caso não haja meios de
implantação desse modelo por conta de sua manutenção, pode-se trabalhar biodigestores
que garantam a liberação mínima, ou nenhuma, de poluentes para o solo. A captação de
águas pluviais também é uma alternativa bem vinda, que contribui na economia do uso da
água, direcionando essa água captada para irrigação e atividades secundárias, essa possi-
bilidade contribui imensamente na relação de uso da água, principalmente em regiões com
histórico de escassez.
A água potável deve-se armazenar de maneira adequada para uso seguro na edifi-
cação, através de caixas d’água de pvc ou alvenaria, utilizando a pressão atmosférica da
gravidade para distribuição.
44
A partir do breve panorama aqui exposto, serão retomados alguns dos temas colo-
cados, após a análise dos projetos correlatos a seguir. Definindo dessa maneira, as princi-
pais técnicas e metodologias, possíveis de serem utilizadas em uma residência unifamiliar
refúgio no semiárido cearense.
45
5 ESTUDO DE CASO PROJETOS
CORRELATOS
Para garantir a precisão na escolha dos elementos que farão parte do projeto, a
observação e análise de outros projetos com partidos arquitetônicos que se aproximam da
proposta em questão se faz necessária, através da investigação de outras experiências na
área, permite compreender quais soluções podem ser adotadas no momento de elabora-
ção e execução do projeto.
É importante frisar que para essa pesquisa apenas alguns pontos sobre os proces-
sos construtivos, aspectos e características das edificações em análise serão destacados,
num levantamento parcial dentro do contexto geral, na composição de um panorama de
referências relacionadas ao tema de estudo dessa pesquisa, uma casa refúgio unifamiliar
no semiárido cearense.
46
5.1 Escola Nave Tierra: casa autossustentável de Michael
Reynolds, Argentina.
Michael Raynolds arquiteto formado pela a Universidade de Cincinnati em 1969.
Envolvido em diversas polêmicas pelo seu modo de trabalhar arquitetura, Reynolds insere
em seu projetos iniciativas sustentáveis em biocostrução, na reutilização de materiais des-
cartáveis combinados com métodos construtivos convencionais.
47
O projeto “Tol-Haru, la Nave Tierra del Fin del Mundo” - localizado em
Ushuaia, Argentina (em um terreno doado pelo Município) - está sendo com-
pletamente construído com materiais reciclados e poderá gerar energia atra-
vés dos ventos e do sol para seu próprio aquecimento e resfriamento, além
de reutilizar a água da chuva e reciclar seus próprios resíduos. (FRANCO,
2014).
48
Figura 19: Planta baixa Escola Nave Tierra, Argentina
Outra questão a ser destacada no projeto Nave Tierra, seria o uso de técnicas cons-
trutivas que contribuem para eficiência energética, o uso de energia solar, posicionamento
de aberturas, sistema de sombreamento, inércia térmica, vegetação, entre outras técnicas,
são aplicadas garantindo conforto térmico e lumínico sem a necessidade de recursos não
renováveis.
49
Figura 20:Fotografia interior Escola Nave Tierra, Argentina, detalhe garrafas de vidro na alvenaria
Apesar de não se tratar de uma residência, o projeto Nave Tierra destinado a uma
escola de bioconstrução, nos mostra quais potencialidades construtivas podem ser aplica-
das e experimentadas dentro do projeto de uma edificação que garanta proteção, seguran-
ça e conforto.
50
5.2 Casa em Cunha, Sp. Escritório Arquipélago Arquitetos
Observando as edificações que possuem traços marcantes e mantém um padrão es-
tético marcante produzidas na atualidade, a casa em Cunha, SP, do escritório Arquipélagos
Arquitetura, confere uma distribuição espacial de volumes e modelo construtivo, que revela
como é possível trabalhar uma arquitetura com traços minimalista que seja ergonômica,
funcional e sustentável. Diferente do projeto Nave Tierra que nos apresenta uma estrutura
com traços orgânicos, sobre a casa em Cunha vemos que:
A edificação construída com finalidade de habitação, nos serve como modelo que se
aproxima do programa arquitetônico do projeto que será desenvolvido ao final desse estu-
do. Assim, vemos através das imagens a seguir, o quanto a ortogonalidade é predominante
na definição dos volumes da edificação.
51
rísticas de dureza, inércia térmica, cor, brilho, tatilidade, são fatores decorrentes das carac-
terísticas físicas e químicas daquele solo específico.(ArchDaily Brasil, 2020).
52
Figura 23:Fotografia Interior Casa em Cunha, SP
53
Desse modo a casa em Cunha torna-se referência para este trabalho em sua con-
cepção estética em linhas ortogonais, planta baixa descomplicada e métodos construtivos
sustentáveis dentro das possibilidades na bioconstrução.
54
A combinação de paredes de hiperadobe com telhado verde cria uma considerável
massa térmica, deixando a casa fresca mesmo nos dias mais quentes. Além disso, a aber-
tura no telhado verde permite a ventilação e iluminação natural em toda casa ( IrinaBiletska
& Gonzalo Nadal arquitetura orgânica e bioconstrução, 2016). Uma das grandes vantagens
no uso da bioconstrução são suas propriedades térmicas, que contribuem na melhoria do
conforto e no controle da temperatura interna da edifi cação, nesse caso o uso das técnicas
construtivas de superadobe e do teto verde proporcionam um controle térmico no interior
da edifi cação gerando uma temperatura sempre menor que a temperatura externa.
Desse modo essa propriedade térmica pode ser um artifício viável na proposta aqui
em desenvolvimento. Além da resistência a insolação do dia, garantida pelo superadobe, a
maleabilidade do material proporciona uma fl exibilidade nas linhas de planta, possibilitando
um desenho de traços orgânicos, saindo do ortogonalismo recorrente nas edifi cações con-
vencionais.
55
Outro fator que pode-se destacar no Projeto M & B, é seu sistema de gerenciamento
da água, baseado em uma proposta de saneamento sustentável. Sobre o sistema sanitário
da edifi cação é colocado pelo escritório que, completando o ciclo de integração ambiental,
as águas cinzas são tratadas em círculos de bananeiras e as águas negras vão para a fos-
sa de evapotranspiração. Para o aquecimento da água foi utilizado um sistema híbrido (elé-
trico e solar). (IrinaBiletska & Gonzalo Nadal arquitetura orgânica e bioconstrução, 2016).
Figura 28: Vista superior da edifi cação construída. Projeto M & B, Serra Grande, BA
Com aparente atmosfera de uma residência familiar acolhedora, seu interior segue
mantendo aspectos rústicos em seu contexto estético. Também detecta-se o uso das textu-
ras naturais dos elementos estruturais, como o bambu, a argila, madeira, palha, entre ou-
tros, dispensando a necessidade de outros materiais de revestimento, para o acabamento.
56
Figura 29: Fotografi a interior. Projeto M & B, Serra Grande, BA
A edifi cação é composta por três quartos, três banheiros, sendo dois inter-
nos e um de serviço, escritório, sala de estar, jantar e cozinha integradas, área de serviço
e duas varandas, podendo abrigar uma família de até seis pessoas. O projeto M & B nos
mostra que é possível se conceber o projeto de uma residência unifamiliar bioconstruída.
57
5.4 Comunidade Aldeia da Luz, Barbalha, CE
A Comunidade Aldeia da Luz em Barbalha, CE, é tomada como correlato para esse
estudo por estar localizada na mesma região, criando uma relação de proximidade com o
clima e biodiversidade características. A Comunidade Aldeia da Luz, é composta por um
conjunto de bioconstruções para habitação e atividades culturais. Seu projeto, segundo
depoimentos da proprietária, Francisca Santos, que participou ativamente na construção
do projeto, foi realizado em parte superadobe, combinados com reuso de materiais desti-
nados ao descartes, aqui podemos sentir uma aproximação ao projeto Escola Nave Tierra,
quanto ao reuso de materiais não destinados à construção, como garrafas de vidro, sucatas
e restos de construções.
Mantendo um traço orgânico em suas plantas, o terreno é composto por quatro resi-
dências, sendo uma principal ao centro do terreno, e uma cozinha comunitária.
No esquema da fi gura 32, é possível ver a distribuição das edifi cações dentro do lote.
58
Figura 32: Distribuição das edifi cações no lote. Comunidade Aldeia da Luz, Barbalha, CE
Diferente dos projetos residenciais unifamiliares vistos até aqui, as edifi cações pre-
sentes na Aldeia da Luz, funcionam de modo independentes, possuindo cada uma cômo-
dos com versatilidade que adaptam-se ao seu uso, possuindo todas seu próprio espaço
para cozinha e banheiros. A edifi cação principal, residência 02, possui dois pavimentos,
sendo o pavimento superior uma suíte e no térreo, fi cam a cozinha, sala de estar, banheiro
social, outro quarto suíte, uma sala multiuso e área de serviço com uma pequena dispensa.
Como foi dito, não há registros das plantas baixas, a descrição feita neste estudo parte de
visitas realizadas a edifi cação. As edifi cações 01, 03 e 04, são menores sendo compostas
por sala, quarto e cozinhas integrados, e um banheiro, a cozinha comunitária possui aber-
turas amplas, composta por uma grande coberta e balcão de serviço.
Todas edifi cações presentes na Aldeia da luz, são frutos de um processo de biocons-
trução com base na permacultura e construções vernaculares, seu acabamento também
foi realizado com materiais orgânicos, aproximando dos princípios também utilizados no
projeto M & B, Ba.
Em conversa com a proprietária, ela classifi ca a casa como uma “casa ecológica”,
diante de seu baixo impacto construtivo, porém ainda dependente de diversos meios não
sustentáveis. As edifi cações em conjunto formam um ambiente de convívio e trocas, sendo
um ponto positivo em relação ao uso do espaço, bem como seus critérios de manutenção,
sendo a edifi cação rodeada por árvores, preservadas durante o planejamento, incluindo-as
no contexto da edifi cação. A proprietária relatou não haver uma planta baixa, sendo todo
processo de construção do espaço de modo intuitivo, o respeito a vegetação existente no
terreno é um fator, a ser destacado pensando que o processo de posicionamento das edifi -
cações dentro do lote mantém relação com seu entorno.
59
Figura 33: Fotografi a entrada Comunidade Aldeia da Luz, Barbalha, Ce
Mesmo não constando um programa de necessidades bem defi nido, o projeto Aldeia
da Luz em Barbalha, CE, nos revela possibilidades e iniciativas no uso dos meios de bio-
construção, que possam contribuir em projetos construtivos efi cientes e de baixo impacto,
a seguir podemos visualizar através de imagem de satélite o lote e seu entorno em segui-
da podemos ver um esquema a partir da imagem da distribuição de massa vegetativa.
60
Figura 35: Esquema de massa vegetativa a partir de imagem de satélite. Aldeia da Luz, Barbalha, CE
61
Figura 37: Fotografi a residência 03 Comunidade Aldeia da Luz, Barbalha, Ce
62
Desse modo as possibilidades de implantação de uma edificação cuja construção
ocorrerá a partir da arquitetura apropriada, com princípios da bioconstrução, que é uma das
pétalas da permacultura, no semiárido, é uma realidade que já vem sendo testada. Para
esse estudo, o modelo da Comunidade Aldeia da Luz foi utilizado como exemplo, porém,
existem outros experimentos construtivos na região que não foram destacados e diversas
construções típicas de origem vernacular utilizando a taipa de mão, recorrente na zona ru-
ral e periferias da cidade, erguidas em geral pelos próprios moradores, sendo construções
sem instruções técnicas, e em geral precárias, não nos servindo como exemplo.
A partir das observações apontadas nos projetos correlatos, é possível criar relações
entre as propostas que contribuem para análise dos elementos técnicos possíveis de traba-
lhados em uma bioconstrução, utilizando tais referências, confere-se de modo sintetizados
os modelos de técnicas construtivas e seus desempenhos, proporcionando possibilidades
para escolha do que será aplicado ao projeto arquitetônico desenvolvido após a conclusão
dessa pesquisa.
63
6 A CASA REFÚGIO BIO CONS-
TRUÍDA NA ZONA RURAL DO
SEMIÁRIDO CEARENSE
Após essa breve investigação para composição deste projeto, aqui falaremos sobre
as viabilidades técnicas para o projeto em questão, relacionando as características do lote
em questão aos projetos citados anteriormente.
Com isso, detecta-se que o modelo construtivos com base na construção vernacular
oriundas de construções populares (Figura 3), na região, apresenta a potencialidade da
técnica da taipa de mão, essa técnica permite alvenarias leves e estruturais. Ao longo dos
anos, visto que o anseio da sociedade por edificações mais modernizadas, para assim
suprir suas necessidades não mais correspondidas pelas técnicas construtivas rudi-
mentares, subsidiou o desenvolvimento de materiais industrializados na construção
civil (CORDEIRO, 2019).
64
do essa, feita sobre o mesmo princípio da taipa de mão existente na região, composta por
uma trama de varas no interior da alvenaria, sustentada por esteios e preenchida com arga-
massa a base do barro retirado do próprio solo onde será erguida a edifi cação. Para tanto,
Legen (p. 381) nos mostra sobre a técnica de Pau-a-pique a seguinte ilustração.
Sobre a técnica de Pau-a-pique Lengen também destaca três pontos a serem traba-
lhados em relação a estrutura e fundação sendo eles:
65
Figura 40: Ilustração, pontos de destaque feito por Lengen
Apesar de não ser citado a taipa de pilão em construções locais, por falta de detec-
ção de modelos construtivos executados nessa técnica, a aplicação dessa técnica tam-
bém é visto como uma possibilidade viável para o projeto, como visto no projeto Casa em
Cunha, Sp (Figura 21 e 22). De modo geral essa busca serve para identifi car quais as me-
lhores combinações de métodos e técnicas para obtenção de um resultado que mantenha
a efi ciência energética da edifi cação através da metodologia estrutural melhor adaptada às
questões de relevo, clima, vegetação, paisagem, entre outros, relacionadas ao lote (Figura
9 e 10).
66
Nos projetos correlatos apresentados, e com base nas diretrizes apontadas por
Johan Van Lengen no Manual do arquiteto descalço, o processo estrutural para construção
da casa refúgio podem ser compostos dentro de uma perspectiva sustentável. Até aqui
pode-se defi nir a fundação em grelha de pedra e argamassa, as paredes com função estru-
tural pode-se pensar na taipa de pilão ou tijolos em adobe, e as paredes internas e de ve-
dação na possibilidade do uso da taipa de mão ou uso de tijolos em adobe ou solo-cimento.
A abundância de pedras disponível no local também é uma potencialidade possível de ser
agregada às alvenarias.
Para coberta busca-se por uma laje que possa suportar o teto verde como no exem-
plo do Projeto M & B, Ba, (Figura 41), no caso usa-se madeira fi nalizando com imperme-
abilizante que possa suportar a vegetação superfi cial. Combinar as alvenarias produzidas
com barro ao teto verde pode gerar um melhor controle de temperatura interna garantindo
proteção do calor e insolação. Para o controle de temperatura também pode-se pensar na
possibilidade do uso de inércia térmica, a partir do rebaixamento do nível piso, enterrando
parcialmente a edifi cação no solo, evitando a incidência da insolação do dia, nas alvenarias
externas da edifi cação, podemos ver o exemplo da Escola Nave Tierra, que insere uma
camada de areia enterrando as paredes para protegê-las da insolação direta, retardando a
penetração do calor no interior da edifi cação. (Figura 21).
67
Aproveitando o desnível do terreno, também é visto que o tipo de fundação em de-
graus pode servir como estratégia para a edifi cação estando atento à possibilidade de
captação de águas pluviais através da cobertura, numa forma de solucionar a escassez de
água, sendo direcionada a uso em atividades secundárias como a irrigação. Além do teto
verde, também vale destacar o uso de telhas de confeccionadas com caixas de leite , visto
que é possível que não seja viável o uso de teto verde em toda a edifi cação.
Sobre as aberturas vemos em Lengen que para edifi cações em regiões quentes o
ideal é uso de pátios internos que possam receber a ventilação resfriá-la e distribuí pelos
cômodos e aberturas pequenas voltadas para o exterior (fi gura 42). Outras técnicas de ven-
tilação também podem ser utilizadas como torres de vento (Figura 43), ventilação através
do subsolo (Figura 44), ou captadores com água (Figura 45).
Figura 42: Ilustração, formato ideal para construções em região tropical seca, Lengen
68
Figura 43:Torre de vento, construções em região tropical seca, Lengen
69
A partir da observação do conjunto estético da arquitetura presente na região, rela-
cionando aos projetos correlatos e de acordo com as técnicas e limitações da bioconstru-
ção, a distribuição dos volumes da edificação segue no pensamento de uma edificação que
esteja ajustada ao programa de necessidades estabelecido para uma habitação refúgio no
semiárido cearense, para uma família de até seis pessoas.
Na busca pela redução dos danos causados ao meio ambiente, e gerar um ciclo de
uso da água com eficiência, alguns construtores da bioconstrução desenvolveram modelos
de sistemas de saneamento sustentável, em Lengen (p. 644) vemos modelos de sanitários
com água, construção de latrina, poço de absorção, sanitários secos Bason e biodiges-
tores, dentre estes destaca-se o banheiro seco que mantém um ciclo mais sustentável
porém mais trabalhoso por conta de sua manutenção, por não utilizar água no momento
de descarga, os dejetos depositados na fossa são transformados em adubo utilizado como
fertilizante para plantas, com uso do banheiro seco gera-se um impacto positivo na eco-
nomia de águas além do beneficiamento através da adubagem da vegetação. Porém, para
esse projeto a fossa séptica biodigestora com círculo de bananeiras poderá ser uma opção
viável, na pretensão de agregar um método de descarga funcional e de baixo impacto.
Sobre a drenagem Lengen (p. 676) nos diz que quando a casa é construída em ter-
reno em declive, deve-se tomar cuidado para que a água não fique acumulada nas partes
altas da casa. A água deve escoar por drenagens instaladas de ambos os lados da casa,
ilustrando da seguinte maneira:
70
Figura 46: Ilustração, sistema de drenagem de água, Lengen
Dessa forma a partir dessa breve análise, dos principais pontos de observação dos
elementos que compõem o projeto de uma edifi cação bioconstruída, pôde-se estabelecer
algumas das possibilidades construtivas e estéticas viáveis para o desenvolvimento do
anteprojeto arquitetônico em questão. Apesar de não haver uma defi nição de quais méto-
dos e técnicas serão utilizadas, os modelos aqui colocados servirão de referência para o
momento de elaboração do anteprojeto, defi nindo e adequando as soluções mais viáveis e
coerentes com a proposta.
71
7 ESTUDO DE IMPLANTA-
ÇÃO, VOLUMETRIA, MATERIAIS,
CONCEITO E PROGRAMA AR-
QUITETÔNICO
72
Tabela 02: Organograma metodológico
73
7.1 Estudos preliminares
Diante dos estudos apresentados, das técnicas e modelos construtivos que emba-
sam e contextualizam essa proposta. O principal eixo que orienta o presente estudo se
ancora na perspectiva do desenvolvimento de um anteprojeto sustentável utilizando princí-
pios e técnicas da bioconstrução.
Para tanto uma questão que ajudou na orientação desse anteprojeto é o interesse
em proporcionar o conforto térmico da edificação tendo em vista os fatores climáticos que
afetam a região. Assim, para dar inicio a conformação da edificação a possibilidade de
enterrar a edificação a 50 cm do nível do terreno, foi algo pensado para criar uma inércia
térmica, que contribui para climatização interna da edificação.
A forma de distribuição dos espaços internos também foi pensada de modo que
pudesse favorecer a ventilação interna, para isso foi utilizado a referência das casas pátio
vista como alternativa para regiões de temperaturas elevadas. Dessa maneira a edificação
se desenvolve em torno de uma área interna ampla, compreendida pela cozinha, estar, jan-
tar, escada e jardim (fossa ecológica) integrados permitindo a passagem e troca da térmica
interna, a relação das aberturas de esquadrias também é outro fator de importância, sendo
essas posicionadas de maneira que permitam a ventilação dos ambientes fechados, como
os quartos e banheiros.
74
para o piso pode-se pensar em blocos de adobe com tratamento e acabamento que permita
sua manutenção e durabilidade ao longo do tempo.
75
Figura 48: Ilustração corte, declive do terreno
A declividade presente no lote limita a área em 18,00m x 11,00m num total de 198m²
de área com terraplanagem previamente realizada. Desse modo optou-se por desenvolver
o projeto de uma edificação que pudesse aproveitar o máximo das possibilidades do lote.
76
maiores voltadas para direção que mais recebe ventilação, gerando na edificação a troca
de calor em sua parte interna.
7.3 Conceito
Caracterização da clientela:
c) visitas eventuais;
Obs. Não é cogitado, no caso, aumento de pessoas na família. Nãos será necessário gara-
gem. Também não será necessário área de serviço e dependência de empregados.
77
7.4 Partido
Para isso fez-se o estudo de um programa de necessidades que pudesse atender
a uma família de até seis pessoas. A edificação foi então organizada em dois níveis, onde
o nível inferior corresponde aos ambientes privados, divididos em dois quartos, uma suíte,
um banheiro social, uma cozinha integrada ao ambientes de estar, jantar, e um jardim re-
sultante da implantação de uma fossa ecológica biodigestor no centro da edificação, e do
lado externo um tanque para área de serviço.
Já o segundo pavimento foi destinado a área social, num espaço amplo e integrado
contendo uma cozinha coletiva, um espaço de estar e convivência amplo, possível de ser
transformado em espaço para hóspedes, também possui um banheiro social, lugar para
lareira e uma área aberta, referente a cobertura verde sobre o pavimento inferior.
78
7.5 Ventilação e insolação
Na busca por um melhor desempenho térmico e lumínico no interior da edificação,
algumas estratégias foram adotadas como, a abertura das esquadrias maiores voltadas
para fachada de maior incidência de ventos, no caso a fachada sul, e as aberturas menores
no lado oposto. Também foi pensado a inclinação do telhado de modo que sua ventilação
pudesse contribuir na captação dessa ventilação. No caso temos um terreno em que a ven-
tilação sudeste é predominante. Como pode ser visto nos desenhos a seguir.
A incidência da luz do sol também é outro fator que requer atenção. No caso as maio-
res aberturas estão voltadas para as fachadas que recebem maior incidência de luz pela
79
manhã, enquanto as fachadas com maior incidência de luz no período da tarde, são colo-
cadas a s menores aberturas, esse rebatimento de luz também é alcançado pelas varandas
entorno de toda edificação somada ao uso de teto verde. O uso de esquadrias com vidro
também é outra estratégia para permitir a passagem de luz para o interior da edificação.
80
7.6 Estudo de implantação através de maquete física
Na busca por um melhor entendimento sobre a implantação da edificação no terreno
desenvolveu-se uma maquete física que auxiliou no esclarecimento de como poderia ser
distribuído e trabalhado os ambiente na edificação.
Assim como podemos conferir nas imagens, a maquete feita na escala de 1:125,
representa de maneira tridimensional a volumetria pretendida, a relação da edificação com
terreno e seu entorno. Desse modo a maquete foi construída de forma que ela pudesse ser
desmontada, possibilitando o acesso aos principais ambientes internos, conferindo também
as aberturas e mudanças de nível.
Por conta de sua dimensão reduzida e textura do material, seria inviável construir
os menores detalhes, porém para o objetivo que seria, de identificar o posicionamento e
volume da edificação, a maquete foi uma solução que contribuiu muito.
81
mostrando como são distribuídos os ambientes dentro da edificação.
A partir da maquete foi possível enxergar com clareza quais os pontos deveriam ser
trabalhadas as aberturas, sendo as maiores aberturas voltadas para o sul e as menores
para o norte. A edificação também foi pensada de forma que pudesse conter a maior inte-
gração possível, ficando os ambientes sociais de uso coletivo juntos em uma amplo espaço
que consiste na cozinha, estar e jantar, mantendo os ambientes privados fechados, no caso
os dormitórios. Nesse contexto as áreas privativas de uso constantes ficaram no pavimento
um enquanto o espaço de lazer de uso esporádico ficou no piso superior.
82
Figura 57: Maquete física, fachadas 1, 2, 3 e 4
Através da maquete foi possível desenvolver as plantas com maior precisão. Mesmo
não sendo fiel a todos os detalhes presentes na maquete física, a partir desse experimento
foi possível detectar quais seriam as possibilidades construtivas. Dessa maneira o progra-
ma de necessidades ficou da seguinte forma: Pav. 1, dois quartos; uma suíte; sois banhei-
ros sociais, duas cozinhas integradas a sala de estar e cozinha e um pátio externo sob o
teto verde.
83
7.8 Lboratório tijolos de adobe
Para prática de confecção dos tijolos foi solicitado o auxílio de alguém que pudesse
compartilhar o conhecimento em olaria, assim o Sr. Raimundo, agricultor experiente em
atividades rurais e de subsistência, dotado de conhecimentos populares sobre a terra e a
lida no cotidiano do trabalho rural, foi de fundamental importância para esse experimento in-
dicando e auxiliando na escolha do ponto de retirada do material seu preparo e finalização.
Na busca pelo material, o barro, colocado nesse termo pelo agricultor, seguiu-se pelo
leito do rio perene, presente nas proximidades do lote, no momento de retirada da matéria
84
prima para os tijolos, o rio estava seco, por conta da escassez de chuvas, a confecção dos
tijolos foi realizado no dia 12 de outubro, portanto num período de pouca chuva na região.
É importante destacar que o período para confecção dos tijolos é algo a ser observado pelo
fato de sua secagem que deve ser a sol pleno.
Numa comparação dos tijolos convencionais, vemos que o tijolo de adome mostra-
-se com uma resistência menos a umidade e força, por tanto aqui a experiencia é exposta
como laboratório para um melhor entendimento sobre a reação dos matriais.
Por não passar pelo processo de cozimento, o tijolo de adobe torna-se mais frágil e
de pouca resistência. Como não houve a possibilidade de testes laboratoriais com os tijolos
produzidos, para obter resultados científicos e fazer comparativos de força, o laboratório
serviu de experiência de aproximação com a viabilidade de materiais.
Ainda assim, o anteprojeto desenvolvido aqui usará as dimensões dos tijolos produ-
zidos como referência nesse estudo. No caso os tijolos de adobe será utilizado na constru-
ção em alvenarias de vedação, sem assumir posição estrutural tendo em vista sua fragili-
dade. Podemos na sequencia de imagens a seguir o processo de confecção.
85
Fonte: Elaborado pelo autor 2020.
Os tijolos foram feitos de maneira muito rústica, sem medidas exatas de água e bar-
ro, todo o processo foi feito pelo Sr. Raimundo, que possui prática na confecção de tijolos,
as medidas e o ponto da massa para a moldagem foi feita de maneira intuitiva e visual.
Retirado o barro do leito do rio, o agricultor foi aos poucos molhando a massa até ganhar
uma consistência pastosa, segundo seu relato, o ideal para massa ganhar uma boa consis-
tência e liga seria deixá-la molhada por 24 h, após esse período a massa vai para as fôrma
e o tijolo é moldado e segue para secagem. Com a confecção de tilos foi possível observar
sua viabilidade, apesar da falta de estudos laboratoriais o tijolo ganhou consistência em sua
secagem e demostrou possuir um a possibilidade de uso em uma edificação.
86
Figura 60: Tijolos de adobe após secagem
87
8 ELABORAÇÃO DO
ANTEPROJETO
8.1 Panorama investigativo
Finalizado o estudo de implantação a partir da maquete física e o laboratório de experi-
mento com tijolo, partimos para elaboração do ante projeto. Visto todas as informações até aqui
expostas, situar a edificação no lote foi a primeira ação observando a maquete previamente con-
feccionada.
A partir da observação do lote foi possível chegar a uma representação do terreno. Verifi-
cando que a área possível de ser utilizada para construção seria de 11.0 x 18.0 m conferindo um
total de 198.0 m².
88
Na expectativa de um melhor desempenho térmico no interior da edificação bus-
cou-se enterrar a edificação a 50 cm abaixo do nível do terreno, provocando uma inércia
térmica no interior da edificação que contribuirá na preservação da temperatura interna.
Podemos ver a partir do detalhe como foi pensado essa questão:
89
Com isso foi possível construir o traçado da fundação base da seguinte forma:
Os pilares que sustentam a laje tembé foram posicionados de modo que o peso pu-
desse ser distribuído de forma equilibrada até a fundação. Partindo desse croqui pode-se
estabelecer a distribuição dos ambiente na edificação na elaboração da planta baixa do
primeiro pavimento. Inspirado em projetos de casa pátio, que permitem a circulação da
ventilação no interior da edificação a planta baixa foi elaborada de modo que todos os am-
bientes estão interligados ao salão central ocupados pela cozinha estar e jantar integrados.
90
Figura 65: Desenho layout pavimento 01
A paginação de piso foi pensada dentro de critérios que pudessem trazer a susten-
tabilidade como referência para tanto, foi pensado no uso de tijolos artesanais para o piso
da varanda nas dimensões de 14x10 cm, uso de ladrilho cerâmico de 15x0,05 cm para as
áreas comum como a cozinha estar jantar e circulação, já para os dormitórios e banheiros
optou-se pelo uso da pedra cariri no corte de 20x20 cm.
Apesar da busca por uma edificação que pudesse ser completamente bioconstruí-
da, por ser uma edificação com dois pavimentos, seria necessário a construção de uma
laje que pudesse suportar as cargas do pavimento superior. Para solucionar a construção
da laje a sugestão seria trabalhar com método tradicional de construção, trabalhando os
pilares, vigas e laje em concreto pré-moldado, utilizando armação de aço galvanizado e
91
concreto para os pilares e vigas, para o preenchimento da laje a sugestão seria o uso de
vigotas de concreto pré-fabricado, lajotas de solo-cimento e concreto.
Sobre a laje ficará então o pavimento superior que contará com um cozinha inte-
grada sala de jantar e jantar, contendo ainda um espaço para instalação de uma lareira,
mesmo com boa parte do ano de calor intenso, no período de temperatura mais baixas, o
uso da lareira é seria uma forma de reunir as pessoas, tendo em vista que na elaboração
nesse projeto não se deu prioridade a equipamentos eletrônicos como televisão, no intui-
to de criar um certo distanciamento do mundo externo, voltando a atenção dos usuários
para a paisagem ao redor, e estimular as relações entre as pessoas, sem a necessidade
da comunicação virtual. Por tanto podemos conferir no desenho, como se configurou esse
ambiente.
92
Figura 69: Layout Pavimento superior
93
Figura 70: Desenho paginação de piso pav. superior
94
Figura 72: Telha ecológica
Fonte:< https://www.setorreciclagem.com.br/reciclagem-de-material-de-construcao-civil/telha-ecologica>
95
Para as alvenarias foi pensado ouso de tijolos de adobe retirado do próprio local de
construção, para tanto o laboratório de confecção de tijolos serviu na construção dessa
aproximação com o material. Assim as alvenarias terão um papel importante no desempe-
nho térmico da edificação, propõe-se então, o uso de paredes mais largas, sendo as pare-
des do pavimento inferior com 30 cm e as paredes do pavimento superior com uma média
de 25cm. A escolha de alvenarias robustas, se deu pelo aspecto experimental da proposta
tendo em vista a resistência do tijolo de adobe, que por não passa pelo processo de quei-
ma, apenas de cura em ambiente aberto, acaba não alcançando uma boa resistência as
cargas solicitadas, a técnica de se usar paredes mais largas também contribui para desace-
leração do aquecimento no interior da residência, retardando a entrada de calor durante o
dia e mantendo a temperatura interna no período da noite. A forma de posicionamento dos
tijolos na alvenaria também foi pensada de uma forma que construísse um amarração re-
sistente. Para o pavimento inferior foi trabalhado um modelo de amarração e no pavimento
superior outro como podemos ver a seguir:
96
Outro fator relevante nessa proposta, é a inclusão do biodigestor de evapotranspi-
ração, para quem está habituado com os métodos construtivos convencionais, sabe que a
maioria das fossas sépticas geralmente são posicionadas no lado externo da edificação,
quando possível. Porém, aqui sugerimos a inclusão do biodigestor no interior da edifica-
ção compondo no espaço interno d edificação um jardim que fica na camada superior do
biodigestor, a vegetação presente no biodigestor é de fundamental importância sendo elas
que vão fazer o processo de filtragem e decomposição dos dejetos lançados na câmara de
decomposição feita de pneus usados. no detalhe poderemos entender melhor seu funcio-
namento.
Já para águas cinzas vindas dos lavatórios e ralos dos banheiros, outro tipo de bio-
digestor foi pensado, onde a água passa por um processo de decantação e em seguida
é direcionada para o reuso na irrigação de plantas, utilizando a força da gravidade no es-
coamento da água. A preocupação com o saneamento da edificação surge por não haver
sistema de saneamento público na localidade, sendo essa uma solução possível para um
menor impacto de contaminação do solo. O uso dessas técnicas beneficia os usuários na
produção de alimento, no caso é indicado o plantio de bananeiras e hortaliças no canteiro
do biodigestor, contribuindo também para o resfriamento do microclima no interior da edi-
ficação, e economia no uso da água para irrigação da vegetação do lado externo da edifi-
cação. Para entender melhor o funcionamento do biodigestor de águas cinzas podemos
acompanhar na representação a seguir.
97
Figura 78: Detalhe biodigestor águas cinzas
Para as esquadrias foi pensado o uso de ferro e vidro para as aberturas principais
de acesso a edificação e portas de madeira para os cômodos no interior da edificação. As
esquadrias de ferro e vidro foram pensadas de modo que sua confecção seja realizada sob
medida, com interesse que essas, sejam fabricadas a partir de sucatas e materiais de des-
carte, e vedação em vidro de rejeitos de vidraçarias, permitindo dessa maneira a entrada de
luz natural, seu formato também segue um padrão irregular de linhas, gerando uma dina-
micidade nos vitrais, variando suas janelas entre pivotantes e basculantes, essas aberturas
também terão um papel importante no controle da entrada e saída da ventilação. Já para as
esquadrias de janelas na parede sugere-se o uso de janela de corre em alumínio com vidro,
e para as portas dos ambientes privados, sugere-se o uso de portas de abrir em madeira
para criar uma unidade visual com o restante da edificação, que no geral apresentará fortes
características de rusticidade e integração com a natureza.
98
Figura 79: Detalhe vitral fachada sul acima do biodigestor
99
Figura 81: Perspectiva pavimento superior
Outra questão colocada sobre a laje do pavimento superior, é sua união com o lote
através do engaste da lage ao muro de contenção na fachada sul, que sustentará o declive
evitando a erosão, deslizamento de terra e enxurrada, ligando o pátio teto verde ao nível do
lote no pavimento superior cria-se uma maior integração e contato com a natureza.
Ciente das informações a qui apresentadas, foi possível desenvolver as plantas téc-
nicas que nos servirá de referência para o projeto executivo. As plantas baixas são traba-
lhadas em escala enquanto os detalhes são trabalhados em croquis e vista isométrica.
100
9 PRANCHAS ANTEPROJETO
101
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103
104
105
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107
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136
10 REFLEXÃO SOBRE INICIATI-
VAS SUSTENTÁVEIS NA AR-
QUITETURA
A construção de um ambiente sustentável traz autonomia às comunidades.
Uma comunidade com autonomia é aquela que tem a capacidade de satis-
fazer as suas próprias necessidades sem depender de grupos ou pessoas
de fora da comunidade. O domínio das técnicas construtivas e a valorização
das técnicas tradicionais são mais um passo rumo a essa autonomia. Auto-
nomia é sinônimo de liberdade para uma comunidade, pois com isso ela não
precisa depender de recursos externos ao ambiente onde vive. Se cuidar-
mos da natureza, teremos para sempre os recursos necessários para a nos-
sa sobrevivência e a das futuras gerações no local onde vivemos.(PROMPT,
2008).
Sobre autonomia colocada por Prompt, é possível chegar a conclusão que quando
trabalhamos nossas ações voltadas a uma integração com meio ambiente, passamos a
depender menos do meio produtivo industrial, refreando no sistema extrativista e não reno-
vável. Unindo a iniciativa de muitos em busca da sustentabilidade, poderíamos então gerar
meios de consumos mais saudáveis e benéficos ao meio ambiente.
No presente momento de elaboração desse estudo, o mundo passa por uma trans-
137
formação irreversível causado por uma pandemia de nível mundial que marca a história da
humanidade do século XXI de modo significativo. A pandemia gerada pelo Corona vírus
causador da Covid-19, que trata-se de uma patologia com alto grau de letalidade, gerando
uma série de medidas sanitárias colocadas pela Organização Mundial de Saúde, OMS,
dentre elas o distanciamento social e estados de quarentena tornaram-se recorrentes em
todo planeta, desestabilizando a população mundial. Sobre isso no site das Nações Unidas
Brasil- ONU, 2020 Bachelet e Grandi sobre desafios e consequências do vírus nos diz que:
Faz-se esse destaque a pandemia do Covid-19 por entender que o momento vivido
no presente marcará profundamente em todas as esferas de relações e meios de se pensar
as necessidades cotidianas. Desse modo a arquitetura também passará por uma transfor-
mação, e pensar em espaços como uma casa refúgio, estando esta contida em um sistema
de construção sustentável, surge como possibilidade de pensar modelos sociais e culturais,
voltadas para uma visão de mundo mais saudável e equilibrado. Tendo em vista que a casa
refúgio trata-se de uma segunda residência, geralmente afastada do movimento urbano,
torna-se então uma possibilidade de fuga, no contexto de crise como o que vivemos na
atualidade.
138
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar no fortalecimento das relações do ser ser humano com a natureza e como
planeta já não é mais uma alternativa, e sim uma necessidade. A reflexão sobre nossas
atitudes em relação ao meio ambiente se faz imprescindível, e no campo da arquitetura
também se faz necessário enxergar possibilidades dentro desse contexto. Partindo desse
pressuposto podemos ver na Carta da Terra,2000, o seguinte:
Neste momento em que o mundo passa por uma transformação planetária devido a
pandemia do Coronavírus, pensar em soluções arquitetônicas em sintonia com a sustenta-
bilidade torna-se uma iniciativa que contribui imensamente nesse novo modo de pensar e
se relacionar, na preocupação consigo, com o próximo e com o mundo.
139
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146
APÊNDICES
ESTADO DA ARTE
Tabela 2:
147
HOLANDA, Ar- Roteiro para Holanda apresenta
mando de. Reci- construir no Nor- uma variedade de
fe: Programa de deste. técnicas e materiais
Pós-Graduação em utilizado nas cons-
Desenvolvimento truções nordestinas,
Urbano da Facul- observados durante
dade de Arquitetu- sua pesquisa sobre
ra, UFPE, 1976 arquitetura no nor-
deste brasileiro.
RIBEIRO, Elisa de Um retrato do se- O trabalho reúne
Castro. SILVA, Mª miárido cearense. através de fontes
Micheliana da Cos- oficiais caracterís-
ta. Texto para dis- ticas presentes no
cussão n° 76, Go- semiárido cearense
verno do Estado do
Ceará Secretaria
do Planejamento e
Gestão, SEPLAG.
Instituto de Pes-
quisa e Estratégia
Econômica do Ce-
ará, IPECE, Forta-
leza-CE, Janeiro de
2010.
GURGEL, Ana Pau- Entre serras e ser- O texto apresenta
la Campos. 2012. tões A(s) (trans) uma série de fato-
129 f. Dissertação formaç(ões) de res geográficos e
(Mestrado em Con- centralidade(s) da sociais contribuíram
forto no Ambiente Região Metropoli- para formação da
Construído; Forma tana do Cariri/CE. região metropolita-
Urbana e Habita- na seu mapeamen-
ção) - Universida- to e índices estatís-
de Federal do Rio ticos.
Grande do Norte,
Natal, 2012.
Semiárido cea-
rense
148
Escola Nave Tier-
ra: a casa autos-
sustentável de
Michael Reynolds
na Argentina
Casa em Cunha /
Arquipélago Ar-
quitetos, SP
Casa ecológica
Irina Biletska. BA
Projetos corre- MARIA, Alana. Ca- Aldeia da Luz: Breve artigo ex-
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Análise do lote CASTRO, A.S.F. Vegetação, unida- O texto destaca de
Caririaçu.CE COSTA, R.C. des fitoecológi- maneira científica
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MORO, M.F. MOU- paisagística do vegetativas presen-
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guésia. vol.66 n°.3 semiárido cearense.
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2014. construtivas sus-
tentáveis a partir da
bioconstrução
MOLLISON, Bill. Introdução à per- O livro define quais
Curso de Design macultura. são os princípios
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Yankee Permacul- macultura no meio
ture.Centro de Per- social e Cultural.
macultura Barking
Frogs. 1981.
149
Impactos na co- PROMPT, Cecí- Curso de Bio- O manual do curso
munidade lia. Brasil. Minis- construção. de bioconstrução
tério do Meio Am- aponta uma diver-
biente. Secretaria sidade de métodos
de Extrativismo e e técnicas constru-
Desenvolvimento tivas utilizadas no
Rural Sustentável. meio rural brasileiro.
Departamento de
Desenvolvimento
Rural Sustentá-
vel. Brasília: MMA,
2008.
150
Tabela 3:
151