Financiamento e Crédito Bancário

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FINANCIAMENTO E

CRÉDITO BANCÁRIO

autor do original
VANESSA ANELLI BORGES

1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial durval corrêa meirelles, jair do canto abreu júnior, andreia
marques maciel

Autor do original vanessa anelli borges

Projeto editorial roberto paes

Coordenação de produção rodrigo azevedo de oliveira

Projeto gráfico paulo vitor bastos

Diagramação fabrico

Revisão linguística aderbal torres bezerra

Imagem de capa shutterstock

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmiti
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 20

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

B732f Borges, Vanessa


Financiamento e crédito bancário / Vanessa Borges.
Rio de Janeiro : SESES, 2014.
104 p. : il.

ISBN 978-85-5548-021-8

1. Crédito bancário. 2. Risco de crédito. 3. Política de crédito.


4. Linhas de crédito. I. SESES. II. Estácio.
CDD 330

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. Crédito: introdução, conceito, abrangência e


importância 10

Conceito de crédito 10
Função social do crédito: importância do crédito para a economia
do Brasil 12
Noções gerais de economia 13
A atividade de intermediação financeira 15
Crédito e finanças: maximização do lucro x risco 20

2. Risco de crédito 30

Conceito de risco de crédito 30


Classificação do risco de crédito bancário 34
Pontuação de crédito (Credit score) 36
Classificação de crédito (Rating) 38
Classificação das operações de crédito 41

3. Política de crédito – Parte I 48

Definição de política de crédito 49


Componentes da política de crédito 51
Outros fatores para o estabelecimento de uma política de crédito
61
4. Política de crédito – Parte II 68

Limite de crédito 68
Composição e formalização dos processos 71
Análise de crédito 72
Garantias 77

5. Política de crédito – Parte III 92

Linhas de Crédito 92
Linhas de Crédito Pessoa Jurídica 94
Prefácio
Prezados(a) estudante

Nos últimos anos, nos noticiários econômicos, vemos manchetes como: “Ina-
dimplência do consumidor tem 2a alta seguida no ano, diz Serasa”, “Número de
famílias com dívida em atraso sobe em julho”, “SP lidera ranking de empresas
inadimplentes”, entre outras, todas a respeito da chamada inadimplência.
Mas o que vem a ser inadimplência e como ela pode afetar a vida das pessoa
principalmente das empresas?
Inadimplente é a pessoa ou empresa que não paga seus compromissos em d
Tal fato afeta diretamente o fluxo de caixa das empresas, pois, ao deixar de rec
determinado valor em certa data, elas podem ter dificuldades financeiras em ho
rar os seus compromissos com terceiros.
Fatores como crédito farto e fácil no mercado brasileiro, altas taxas de juros,
desemprego, falta de organização e educação financeira, má-fé, falta de capita
giro, entre outros, fazem com que uma empresa ou pessoa deixe de cumprir co
seus compromissos em algum momento de sua vida.
Em função desses eventos, a gestão financeira de uma organização deve ser
eficiente na administração dos seus valores a receber, profissionalizando sua an
lise de crédito.
Neste módulo, conheceremos as principais características do crédito e verifi-
caremos qual o impacto no fluxo de caixa da empresa em função de uma má ge
tão na carteira de clientes.
Para tanto, serão estudados conceitos como crédito, risco de crédito e com-
posição de uma política de crédito eficiente, em termos de condições de venda,
padrões, política de cobrança, limite de crédito, garantias e linhas de crédito ofe
recidas para pessoa física e jurídica.

7
8
Crédito: introdução,
conceito,
abrangência e
importância
1 Crédito: introdução, conceito, abrangência
e importância

No primeiro capítulo, abordaremos os aspectos gerais e o conceito do crédito.


Será discutido qual o papel de crédito na sociedade, apresentando suas carac-
terísticas, além dos diversos benefícios oferecidos aos vários agentes econômi-
cos. Também, focaremos qual a relação do crédito com a administração finan-
ceira das organizações.

OBJETIVOS
•  Conhecer o conceito de crédito;
•  Identificar a importância do crédito para a economia de um país;
•  Apresentar o crédito como um importante instrumento alavancador dos negócios;
•  Verificar como funciona o ciclo da intermediação financeira.

REFLEXÃO
Você se lembra de quando você, ou alguém que conhece, desejava muito adquirir um auto
móvel, mas não tinha o dinheiro para pagar à vista? E que a concessionária oferecia divers
planos para aquisição do mesmo automóvel a prazo? Pois bem, quando uma empresa ofere
seu bem ou serviço nessas condições, dizemos que a empresa concede crédito ao seu clien
que não possui condições de adquirir o bem ou serviço à vista, o que os clientes podem cap
recursos junto aos bancos para realizar seus projetos de investimentos.

1.1 Conceito de crédito

As primeiras formas de crédito surgiram nas sociedades muito antigas, voltadas


exclusivamente para as atividades rurais e agrícolas, em que o prazo entre o plan-
tio e a colheita determinava a necessidade da antecipação da entrega, aos produ-
tores, de semente e implementos agrícolas.
Segundo Lemes Junior (2010), na Grécia Antiga, após o surgimento do di-
nheiro, as atividades comerciais deram origem às primeiras instituições bancá-

10 • capítulo 1
rias, que passaram a realizar operações de crédito sob diversas formas, embora
muito longe das formas praticadas atualmente.
Mas o que significa crédito? Conheceremos os diversos significados desse
conceito, segundo o Novo Dicionário Aurélio:
Crédito. (Do lat. creditu.) S. m. 1. Segurança de que alguma coisa
é verdadeira; confiança: Suas afirmações merecem crédito. 2. Boa
reputação; boa fama; consideração: Cometeu um deslize profis
sional e perdeu o crédito. 3. Autoridade, influência, valia, impor-
tância: Tem crédito no meio político. 4. Fé na solvabilidade. 5
Facilidade de obter dinheiro por empréstimo ou abrir contas em
casas comerciais. 6. Facilidade de conseguir adiantamentos de
dinheiro para fins comerciais, industriais, agrícolas etc. 7. Soma
posta à disposição de alguém num banco, numa casa de comér-
cio etc., mediante certas vantagens. 8. O que o negociante tem a
haver. 9. O haver de uma conta. 10. Direito de receber o que se em
prestou. 11. Quantia correspondente a esse direito. 12. Autoriza-
ção para despesas dada por autoridades que estabelecem, votam
ou regulamentam os orçamentos. 13. Troca de bens presentes
por bens futuros .... (Cf. crédito do V. creditar, e débito). Crédito
capital. Crédito de corporação. Crédito de confiança. Prova de
confiança ou nova oportunidade dada a alguém de quem se tem
motivo para desconfiar. Crédito de corporação. Crédito resultan-
te do lançamento de debêntures pelas sociedades anônimas; cré-
dito capital. Crédito fiscal. Fin. Dívida para com o poder público.
Crédito real. O que tem por base uma garantia constituída sobre
propriedade imóvel ou direito de natureza real. Crédito seletivo.
Fin. Política financeira governamental que consiste em restringir
o crédito para os setores da economia em que existe alta de preços
A crédito. Recebendo o objeto comprado sem o pagar no ato da
compra, ou entregando-o sem receber no ato o pagamento; fiado:
comprar a crédito; vender a crédito. Levar a crédito. Creditar (3).
Segundo Silva (2008), a palavra crédito, dependendo do contexto do qual tra
ta, tem vários significados. Em um sentido restrito e específico, crédito consiste
na entrega de um valor presente mediante uma promessa de pagamento futuro
Para Lemes Junior (2010, p. 393), é a disposição de alguém para ceder tem-
porariamente parte do seu patrimônio ou prestar serviços a terceiros, com a ex

 •11
capítulo 1
pectativa de receber de volta o valor cedido ou receber pagamento, depois de de-
corrido o período estipulado, na sua integralidade ou em valor correspondente.
Por exemplo: em uma loja de calçados, a venda a crédito é caracterizada pela
entrega da mercadoria (calçados) ao cliente, mediante promessa de pagamen-
to, em uma ou mais parcelas, em prazo futuro, definido de comum acordo en-
tre as partes.
Outro exemplo: em um banco, que tem a intermediação financeira como
sua principal atividade, o crédito consiste em colocar à disposição do cliente
(tomador de recursos) certo valor, sob a forma de empréstimo ou financiamen-
to, mediante promessa de pagamento em uma data futura. O banco compra
uma promessa de pagamento, pagando ao tomador (vendedor) determinado
valor para, no futuro, receber um valor maior.

1.2 Função social do crédito: importância do crédito para a


economia do Brasil

Para iniciar o estudo do mercado financeiro, torna-se necessário relembrar al-


guns conceitos básicos de Economia.
Segundo Assaf Neto (2003, p. 21) é por meio do conhecimento da econo-
mia que se forma uma visão mais ampla e crítica de todo funcionamento do
mercado financeiro, permitindo que se responda às diversas questões que en-
volvam poupança, investimentos, desenvolvimento, etc.
Passos (2005, p. 3) complementa afirmando que atualmente o conheci-
mento sobre assuntos econômicos se faz mais necessário do que nunca, uma
vez que a maior parte dos complexos problemas das sociedades modernas,
entre eles a globalização, a pobreza e a questão do meio ambiente, está atrela-
da a problemas de natureza econômica.
Neste capítulo, veremos também o conceito de agentes econômicos e suas
classificações, cujo conhecimento se faz necessário para podermos discutir as
relações entre eles e daí o papel da intermediação financeira.
A presença dos intermediários financeiros é fundamental nos mercados
financeiros, especialmente com as características globais da economia atu-
al. Uma atividade de intermediação financeira competente ajuda a garantir
o cumprimento da função do mercado financeiro, ou seja, uma interação efi-
ciente entre poupadores e tomadores de recursos, o que vem a promover in-
vestimentos e o crescimento da economia.

12 • capítulo 1
1.3 Noções gerais de economia

O problema econômico central da sociedade é a escassez, motivo pelo qual


há a necessidade de se estudar economia.

ANDREA HAASE | DREAMSTIME.COM


Figura 1 – Importância do acompanhamento da Economia.

Segundo Passos (2005, p. 4) a escassez existe porque as necessidades


manas a serem satisfeitas através do consumo dos mais diversos tipos de bens
(alimentos, roupas, casas etc.) e serviços (transporte, assistência médica, etc.)
são infinitas e ilimitadas. Entretanto, os recursos produtivos (máquinas, fábri-
cas, terras agricultáveis, matérias-primas etc.) à disposição da sociedade e que
são utilizados na produção dos mais diferentes tipos de produtos, são finitos e
limitados. Ou seja, são insuficientes para se produzir o volume de bens e servi-
ços necessários para satisfazer às necessidades de todas as pessoas.

Recursos
Necessidades
X Produtivos
Humanas Ilimitadas
Limitadas

Escassez de Bens

Figura 2 – Problemas básicos da economia


Fonte: Adaptado de Passos (2009)

capítulo 1  •13
Escassez é diferente de pobreza. Enquanto pobreza significa ter poucos
bens, escassez significa mais desejos do que bens para satisfazê-los, mesmo
que haja muitos bens. É preciso também não confundir escassez com limi-
tação. Um bem pode ter sua oferta limitada. Entretanto, se esse bem não for
desejado, se não houver procura por ele, ele não será escasso.
Assaf Neto (2003, p. 22) afirma que se os recursos existissem em abundân-
cia na natureza e a economia pudesse distribuir de forma ilimitada seus bens
produzidos, os problemas básicos deixariam de existir.
Concluindo, Passos (2005, p. 4) afirma que a escassez é a preocupação bá-
sica da Ciência Econômica. Somente devido à escassez de recursos em rela-
ção às ilimitadas necessidades humanas é que se justifica a preocupação de
utilizá-los da forma mais racional e eficiente possível.
Em função da escassez, surge a necessidade da escolha. Se não pode pro-
duzir tudo o que as pessoas desejam, mecanismos devem ser criados de uma
maneira que auxiliem as sociedades a decidir quais bens serão produzidos e
quais necessidades serão atendidas.
A partir do conhecimento, no sentido econômico da escassez, podemos
definir o conceito de Economia.
A palavra “economia” vem do grego oikos (casa) e nomos (norma). Assim, te-
mos a palavra oikonomia, que significa “administração da casa” ou de um estado.
Em economia, estudam-se as maneiras como as sociedades administram
seus limitados recursos, na produção de bens e serviços, de modo a satisfazer
às ilimitadas necessidades da população.
Desta maneira, Passos (2005, p. 5) define Economia como “a Ciência So-
cial que estuda como as pessoas e a sociedade decidem empregar recursos
escassos, que poderiam ter utilização alternativa, na produção de bens e ser-
viços de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a
fim de satisfazer às necessidades humanas”.
Assaf Neto (2003, p. 23) complementa que a Economia estuda a riqueza, as
transações de troca que se verificam entre as pessoas. Segundo o autor, procu-
ra compreender a decisão de utilização de recursos produtivos escassos, que
carregam um custo de oportunidade, no processo de transformação e produ-
ção de diversos bens e serviços, e sua distribuição para consumo.
Essencialmente, a Economia volta-se para como seus vários agentes deci-
dem sobre os recursos escassos, na produção de bens e serviços orientados ao
atendimento dos objetivos de toda a sociedade.

14 • capítulo 1
1.4 A atividade de intermediação financeira

Conforme Kaufman (1973, p. 77), a atividade de captar recursos junto a entida-


des econômicas superavitárias e repassá-las às unidades econômicas deficitá-
rias é chamada de mediação.
De acordo com Clemente e Kühl (2006, p. 3), a atividade de intermedia-
ção financeira nasceu da necessidade da destinação eficiente dos recursos
financeiros disponíveis dos diversos agentes econômicos superavitários aos
diversos agentes econômicos deficitários.
As operações financeiras de transferência de recursos dos agentes econô-
micos superavitários para os deficitários poderiam ser diretas, no entanto, os
agentes econômicos superavitários, em sua maioria, não têm como foco d
suas atividades a destinação de seus recursos excedentes, com vistas a finan-
ciamento dos agentes econômicos deficitários. É nessa lacuna, entre agentes
econômicos superavitários e deficitários, que surge o intermediário financeiro.
Dessa forma, os intermediários financeiros proporcionam o encontro
dos recursos financeiros excedentes dos agentes econômicos superavitários
com a necessidade de financiamento dos agentes econômicos deficitários.
Os primeiros receberão juros sobre os recursos financeiros disponibiliza-
dos. Os segundos pagarão esses juros, acrescidos das receitas operacionais
da intermediação, necessárias para cobrir os custos e as despesas dos inter-
mediários, além de seus lucros. (CLEMENTE; KÜHL, 2006, p. 3).
Assaf Neto (2003, p. 33) afirma que economias mais desenvolvidas apre-
sentam, por característica, um sistema de intermediação financeira bas-
tante diversificado e ajustado às necessidades de seus agentes produtivos,
possibilitando executar sua função primordial de direcionar recursos de
unidades superavitárias para financiar unidades com carência de capital de
investimento.
Em suma, toda economia de mercado objetiva, mediante sua estrutura de
intermediação financeira, conciliar os interesses conflitantes de poupado-
res e investidores, com o interesse de viabilizar seu crescimento econômico.

 •15
capítulo 1
Intermediários
Fornecedores Financeiros Fornecedores
de Fundos de Fundos

Bancos
Pessoas  investimentos Pessoas
Físicas  desenvolvimento Físicas
 comerciais
 múltiplos
Pessoas Caixas Econômicas Pessoas
Jurídicas Jurídicas
Sociedade Crédito Imobiliário

Governos Seguradoras Governos


• federal • federal
• estadual Fundos de Pensão • estadual
• municipal • municipal
Factoring

Soc. Crédito Financ. Investimento

Soc. Arrendamento Mercantil

Estas Transferências são viabilizadas por meio de:

Mercados financeiros

Figura 3 – Processo da intermediação financeira


Fonte: Pinheiro (2009, p. 26)

Lopes e Rossetti (1998, p. 409) conceituam a atividade de intermediação fi-


nanceira:
[...] cuja atividadeconsisteem viabilizar o atendimentodas
necessidades financeiras de curto, médio e longo prazos, ma-
nifestadas pelos agentes carentes, e a aplicação, sob riscos mi-
nimizados, das disponibilidades dos agentes com excedentes
orçamentários. Trata-se, pois, de uma atividade que estabelece
uma ponte entre os agentes que poupam e os que se encontram
dispostos a despender além dos limites de suas rendas corren-
tes.

Para Carvalho et al. (2000, p. 242) a atividade de intermediação financeira


se divide em duas, sendo uma a atividade financeira intermediada e outra a ati-

16 • capítulo 1
vidade financeira desintermediada. A primeira atividade é executada por ins-
tituições intermediárias, normalmente instituições financeiras, que captam
recursos junto aos agentes econômicos superavitários, assumindo a obrigação
de honrar a exigibilidade destes recursos e emprestam aos agentes econômicos
deficitários. A segunda atividade é executada diretamente entre os agentes eco
nômicos superavitários e os agentes econômicos deficitários, em que o papel
das instituições financeiras é simplesmente promover a corretagem de valores.
Segundo Gurley e Shaw (apud ROSSETTI, 2002, p. 629), alguns dos pressupo
tos básicos para a existência da intermediação financeira são:
• a existência da moeda como demonstrativo de maturidade e desenvolvi-
mento do sistema econômico;
• existência de agentes econômicos deficitários e superavitários dispostos
a arcar com os riscos e os custos envolvidos;
• existência institucional de operadores da intermediação financeira.
A canalização dos recursos excedentes dos agentes econômicos supe-
ravitários para os agentes econômicos deficitários, financiando assim as
necessidades de investimentos, dispêndios de consumo e necessidade de
capital de giro, é a principal função dos intermediários financeiros.
Mayer (1982, p. 172) afirma que a justificativa para a existência dos interme
diários financeiros tem como base o fato de que muitos dos agentes econômi-
cos deficitários não teriam como captar recursos financeiros diretamente no
mercado. Com a ausência das instituições financeiras que intermedeiam negó-
cios entre agentes econômicos, estes gastariam muito tempo e dinheiro para se
encontrarem (KAUFMAN, 1973, p. 75).
De acordo com Assaf Neto (2003, p. 33), a presença de intermediação finan-
ceira está fundamentada no desequilíbrio entre o nível de poupança e in
timento de uma economia. Se todos os agentes se apresentassem capazes de
gerar volume de poupança igual a seus dispêndios de capital, a existência de
ativos financeiros e, por conseguinte, a intermediação financeira, não seriam
necessárias diante do equilíbrio de caixa evidenciado pelos agentes.
Segundo Rossetti (2002, p. 632) a existência dos intermediários financeiros
também se justifica pelos seguintes benefícios privados e sociais:
• Canais permanentes de negociação de operações de aplicação ou de cap-
tação de recursos;
• Especialização na atividade de intermediação;
• Diluição dos riscos entre um grande número de agentes econômicos;

 •17
capítulo 1
• Ganho de eficácia na alocação dos recursos, principalmente em ativida-
des produtivas;
• Sustentação das atividades produtivas e expansão de fluxos reais de ma-
nutenção e crescimento das atividades econômicas.
Numa outra perspectiva também se justifica a existência dos intermediários
financeiros pela opção dos agentes econômicos superavitários por maior segu-
rança, porque os agentes intermediários diluem o risco por meio do grande vo-
lume de negócios. Além disso, os agentes financeiros desfrutam de ganhos de
escala (MAYER, 1998, p. 172).
Conforme Assaf Neto (2003, p. 33), os recursos econômicos são movimentados
no mercado por intermediários financeiros, em sua maior parte, os quais traba-
lham de forma especializada e voltados para entrosar expectativas e interesses de
agentes econômicos com capacidade de poupança com os tomadores de recursos
Tal intermediação é processada pela colocação de títulos e valores econômicos no
mercado por meio de instituições, como bancos, caixas econômicas, fundos
pensão, entre outras.

Hoje as instituições financeiras oferecem uma série de produtos financeiros a fim de


atender às necessidades dos agentes com déficit de caixa, como o Crédito Direto ao
Consumidor (CDC), Crédito Consignado, Antecipação de 13º salário, entre outros.

Com a ocorrência de uma demanda por recursos para investimento supe-


rior à poupança disponível, justifica-se a criação da atividade de intermediação
e de seus instrumentos financeiros. O agente econômico com déficit de caixa
irá recorrer a empréstimos que serão viabilizados por unidades com superávit
(poupadores), por meio da emissão de diferentes ativos financeiros, por exem-
plo, debêntures, ações, CDB, no caso de bancos, etc. (ASSAF NETO, 2003, p. 33).
De acordo com Assaf Neto (2003, p. 34), a finalidade do mercado financeiro
se cumpre quando ocorre uma eficiente interação entre poupadores e toma-
dores de recursos, o que promove investimentos e crescimento da economia.
Nesse mercado, a intermediação financeira deve permitir a aproximação entre
os vários agentes econômicos, promovendo transferências de poupanças a um
custo mínimo e nível de risco reduzido.
Intermediação financeira é a captação de recursos disponíveis junto aos
agenteseconômicossuperavitários,pelos agentesintermediários,normal-

18 • capítulo 1
mente entidades financeiras, e repasse para aos agentes econômicos deficitá-
rios. (CLEMENTE; KÜHL, 2006, p. 5).

1.4.1 Desenvolvimento, crescimento econômico e intermediação financeira

Segundo Assaf Neto (2003, p. 32), desenvolvimento e crescimento econômico


possuem conceitos diferentes, embora muitas vezes sejam usados como se fos-
se a mesma coisa.
Crescimento econômico envolve a expansão quantitativa da capacidade
produtiva de um país ao longo do tempo. Quando há elevação da quantidade de
bens e serviços produzidos por um país superior ao de sua população de manei
ra continuada ao longo do tempo, diz-se que houve crescimento econômico.

CONEXÃO
O crescimento econômico do Brasil é medido pelo Produto Interno Produto, mais conhec
como PIB. Para ver a evolução histórica do crescimento econômico de nosso país, acess
site do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE: -http://www.ibge.gov.br/hom
estatistica/indicadores/pib/defaultcnt.shtm

Desenvolvimento econômico, além das varáveis abordadas no crescimento


econômico, aborda outros aspectos como as condições de vida da população
de um país, além dos mais diversos setores da economia, dificultando uma de-
finição mais conclusiva. De acordo com Assaf Neto (2003, p. 33) não pode ser
analisado somente pela evolução da produção de um país, necessitando outros
indicadores sócioeconômicos de renda, saúde, educação, etc.
As economias mais desenvolvidas apresentam um sistema de intermedia-
ção financeira bastante diversificado de forma a executar sua função de direcio
nar recursos de unidades superavitárias para financiar unidades com carência
do capital para investimento. Assim, mediante sua estrutura da intermediação
financeira, toda economia de mercado objetiva conciliar os interesses confli-
tantes dos poupadores e investidores, com o intuito de viabilizar seu cres
mento econômico.
Conforme Assaf Neto (2003, p.33), o objetivo do crescimento e desenvolvi-
mento econômico pelos países elevou a importância do papel do sistema finan-
ceiro por meio, principalmente, do seu aporte de liquidez ao mercado e oferta

capítulo 1 •19
diversificada de recursos para financiamento.
Neste caso, foram criados instrumentos financeiros mais sofisticados e
uma rede mais qualificada dos intermediários financeiros com grande penetra-
ção no mercado. Trouxe, ainda, melhores alternativas de prazos nas operações,
bem como um eficiente controle do risco para os emprestadores do capital.
Os intermediários financeiros movimentam os recursos da economia de for-
ma especializada e voltados para entrosar as expectativas e os interesses dos age
tes econômicos com capacidade da poupança com os tomadores dos recursos.
Essa intermediação se processa pela colocação dos títulos valores econô-
micos no mercado por meio de instituições, como bancos, caixas econômicas,
fundos de pensão, entre outras. (ASSAF NETO, 2003, p. 33)
O aperfeiçoamento dos mecanismos da intermediação financeira contribui
de forma essencial para economia de um país, atuando sobre os níveis da pou-
pança, investimento, rendas, taxas do emprego, consumo entre outros.
Complementando, Pinheiro (2009, p. 30), afirma que a atuação dos inter-
mediários financeiros traz diversos benefícios ao sistema econômico:
• Devido ao seu elevado grau de especialização e sofisticação, os interme-
diários financeiros podem oferecer produtos e serviços mais adequados
para uma clientela diferenciada;
• Ao conectar-se com vários ofertantes e tomadores de recursos, os inter-
mediários podem aumentar a agilidade e reduzir custo através da escala
com que trabalha, diferentemente dos agentes econômicos que operam
de forma isolada;
• Ao manejar um grande fluxo de informações sobre tomadores e oferece-
dores, os intermediários podem evitar a alocação de recursos de forma
improdutiva, o que leva à perda desses para a economia;
• Os intermediários financeiros promovem a liquidez do mercado à medi-
da que viabilizam o fluxo de negociações com ativos financeiros.

1.5 Crédito e finanças: maximização do lucro x risco

O crédito deve ser visto como parte integrante do próprio negócio da empresa.
Segundo Silva (2008), no comércio, de um modo geral, o crédito assume o
papel de facilitador da venda. Possibilita ao cliente adquirir o bem para atender
sua necessidade, ao mesmo tempo em que incrementa as vendas do comer
ciante. Em propagandas, é comum vermos frases do tipo: “calçados em n par-

20 • capítulo 1
celas”, “aceitamos cheques para n dias” e “aceitamos cartões de crédito”, entre
tantos outros possíveis apelos. Em algumas atividades comerciais, o ganho no
financiamento das mercadorias chega a ser maior que a própria margem prati-
cada em sua atividade principal.
Silva (2008) complementa que, na indústria, também o crédito assume o pap
de facilitador de venda. Um fabricante de equipamentos hospitalares, por exem
plo, pode abrir linhas de crédito para vendas de seus produtos e, com isso, poss
bilitar a vários médicos, clínicas e hospitais a aquisição de seus equipamentos.
Caso não houvesse a alternativa de crédito, a quantidade de compradores
poderia ser muito menor e, consequentemente, o lucro do fabricante também
seria reduzido. É possível dizer que a facilidade do crédito pode ser um diferen-
cial competitivo, quer pelo financiamento direto pelo fabricante, seja pela sua
interveniência junto a uma instituição financeira.
Em muitas empresas, a força e a presença do crédito são de tal ordem que
chega a ser comum encontrarmos preços estabelecidos em catálogos para pa-
gamento em 30, 60, 90 dias ou outros prazos.
No caso dos bancos, o crédito é o elemento tradicional na relação clie
te-banco, isto é, é o próprio negócio. Como o banco capta recursos junto aos
clientes aplicadores e empresta tais recursos aos clientes tomadores, é fácil vi-
sualizar o crédito como parte integrante da atividade bancária.
Em uma empresa comercial ou industrial, por exemplo, é possível vender à
vista ou a prazo. Em um banco, não há como fazer um empréstimo ou financia-
mento à vista. A principal fonte de receita de um banco deve ser proveniente de
sua atividade de intermediação (SILVA, 2008).
Conhecer o cliente é fundamental para orientar o relacionamento mercado-
lógico, visando a atender às suas necessidades. Um bom cadastro e um sistema
de crédito eficaz podem ser um excelente meio para alavancagem de negócios.
De acordo com Silva (2008), áreas de crédito com postura pró-ativa, avalian-
do empresas, conhecendo a forma como essas empresas operam, bem como
suas necessidades de recursos, podem dar às empresas condições de saírem na
frente, com vantagem competitiva.
Muitos gerentes de negócios deveriam usar sua habilidade de vendas para
vender ao cliente a conveniência de fornecer as informações para gerar
relação de parceria mais clara e segura, em vez de dizerem que os clientes não
gostam de fazer cadastro.
Para estruturar uma operação, a empresa precisa conhecer o cliente, além

 •21
capítulo 1
de identificar entre seus produtos, aqueles que se ajustam às necessidades
dele. É evidente que deve também, e principalmente, avaliar o risco de crédito.
De acordo com Santos (2006, p. 15), crédito, em finanças, é definido como
a modalidade de financiamento destinada a possibilitar a realização de transa-
ções comerciais entre empresas e seus clientes.
Na atividade econômica, a oferta de crédito por parte de empresas e insti-
tuições financeiras deve ser vista como um importante recurso estratégico para
alcançar a meta principal da administração financeira, ou seja, a de atender às
necessidades de todos os supridores de capital e agregar valor ao patrimônio
dos acionistas.
O crédito, segundo Santos (2006, p. 15), inclui duas noções fundamentais:
confiança, expressa na promessa de pagamento, e tempo, que se refere ao perí-
odo fixado entre a aquisição e a liquidação da dívida.
Para vários autores, crédito refere-se à troca de um valor presente por uma
promessa de reembolso futuro, não necessariamente certa, em virtude do fator
risco. Assim, há a necessidade de que o credor faça uma análise cuidadosa da ca-
pacidade financeira de todos os clientes antes de conceder um financiamento.
Ainda segundo Santos (2006), o crédito estende-se no tempo, abrangendo
todo tipo de atividade, além de atender a múltiplas necessidades econômicas,
tais como as apresentadas a seguir:
a) Financiamentos às pessoas físicas
• Compra de bens (imóveis, veículos, equipamentos eletrônicos etc.)
• Reforma de imóveis
• Gastos com saúde, educação, lazer e moradia
b) Financiamentos às empresas
• Compra de matéria-prima
• Compra de máquinas e equipamentos
• Ampliação da fábrica
• Financiamento do comércio exterior
• Financiamento ao cliente

Ao atender a essas necessidades, o reembolso do crédito deve ser cuidadosa-


mente analisado, baseando-se na compatibilidade das fontes primárias de recei-

CONEXÃO
ta do cliente com o plano de amortização proposto.

22 • capítulo 1
Quer conhecer o valor atualizado das taxas de juros das operações de crédito oferecidas
las maiores instituições de crédito do país? Acesse o site do Banco Central do Brasil: htt
www.bcb.gov.br/?TXJUROS.

YANGRILL / DREAMSTIME.COM
O gerente de crédito, de acordo com Santos (2006), deve lembrar-se sempre
de que, ao vender um crédito, automaticamente compra um risco, com todos
os problemas e benefícios que a transação envolve. A qualquer momento, acon
tecimentos imprevistos e adversos, como os decorrentes de recessão econômi-
ca, podem afetar as fontes primárias de pagamento de empresas e de pessoas
físicas, reduzindo a probabilidade de recebimento do crédito.

ATIVIDADE
1. Conceitue crédito.

2. Destaque a importância do crédito, como parte dos negócios de uma empresa come
ou industrial.

3. Explique a função social do crédito.

4. Correlacione os objetivos da administração financeira com a função de crédito.

REFLEXÃO
capítulo 1  •23
Crédito é a disposição de alguém para oferecer produtos ou prestar serviços a terceiros, ou
até mesmo recursos financeiros, com a expectativa de receber de volta o valor cedido ou
receber pagamento, depois de tempo estipulado, na sua integralidade ou em valor corres-
pondente. Ou seja, consiste na entrega de um valor presente mediante uma promessa de
pagamento futuro.
No mundo dos negócios, o crédito apresenta-se como item importante no dia a dia das e
presas. Para um comércio, o crédito facilita as vendas, possibilitando ao cliente adquirir o b
para atender a sua necessidade. Nessa atividade, inclusive, o ganho no financiamento das
cadorias chega a ser maior que a própria margem praticada em sua atividade principal. É o
vemos constantemente nas propagandas de lojas de departamento oferecendo produto em
24 vezes “sem juros”.
Na indústria, a facilidade do crédito pode ser um diferencial competitivo, quer pelo finan
ciamento direto pelo fabricante, quer pela sua interveniência junto a uma instituição financ
ra. Esta facilidade também propicia que a quantidade de compradores seja maior.
Já em uma instituição financeira, cuja atividade é captar recursos junto aos clientes apli
dores, e depois, emprestar tais recursos aos clientes tomadores, é fácil visualizar o crédito
parte integrante da atividade bancária.
Um bom cadastro e um sistema de crédito eficaz podem ser um excelente meio para
alavancagem de negócios.
Quando analisamos o crédito sob a ótica da administração financeira, podemos defini-lo
como a modalidade de financiamento destinada a possibilitar a realização de transa
comerciais entre empresas e seus clientes, com o objetivo de atender às necessidades de
todos os supridores de capital e agregar valor ao patrimônio dos acionistas.
Porém, o crédito apresenta o risco de inadimplência, que pode resultar na diminuição da
receita e da lucratividade de empresas e instituições financeiras. Esse risco basicamente ac
tece devido a fatores internos e externos à empresa, conforme estudaremos no capítulo 2.

LEITURA RECOMENDADA
No site www.creditoecobranca.com, há diversos artigos relacionados a crédito e cobrança,
escritos por profissionais especializados na área.
A seguir, apresentamos um texto que aborda a questão do crédito para a criação de novos
negócios.

Novas atribuições para crédito e cobrança

24 • capítulo 1
Por Dr. Denis Siqueira
A boa avaliação do risco de crédito contribui para a criação de novos negócios e a poten
lização dos já existentes.
Cada vez mais, a atuação do crédito e cobrança ultrapassa as atividades básicas de ava
ção do risco de crédito ou de recuperação de ativos. Contribui também na criação de no
negócios ou potencialização dos já existentes. Isso vai ao encontro do conceito moderno
que todos os departamentos de uma empresa devem participar do desenvolvimento e d
maximização da lucratividade do negócio.
Essa mudança se tornou possível porque hoje o acesso às informações para aná
crédito é mais ágil. Anteriormente, para se verificar o comportamento de um cliente na
por exemplo, perdia-se muito tempo nos contatos telefônicos ou enviando fax solicitand
ferências. Com os novos serviços de informações, baseados no compartilhamento de da
tem-se rapidez e segurança. A informação é disponibilizada imediatamente e não
dúvidas quanto à idoneidade de quem a fornece.
O resultado de tudo isso é um tempo menor de análise de crédito. Nestas condições, o p
do analista se transforma e surge a oportunidade deste profissional desenvolver novos t
balhos, focando seus esforços também na ampliação dos negócios. Claro que esse dese
volvimento tecnológico provocou também a redução das equipes de crédito e cobrança.
isso, é natural que haja resistência a essas mudanças. Mas, na verdade, é preciso enxer
como uma oportunidade de superação profissional e pessoal.
“É preciso manter a equipe sempre afinada com os avanços e as inovações”
Estar aberto a novas ideias, desprender-se dos velhos paradigmas, este é o pressuposto
que as novas atribuições sejam assumidas por crédito e cobrança. Na outra ponta, a áre
comercial não deve encarar esse novo papel de uma área originalmente financeira com
interferência no seu trabalho. As informações a que tem acesso o setor de crédito podem
contribuir efetivamente para o crescimento do negócio. Portanto, o melhor caminho é es
tar o relacionamento dessas duas importantes frentes na empresa.
Sejam ferramentas para prospecção, potencialização das vendas, higienização de cadas
ou gerenciamento de carteiras, elas em si não são suficientes. Para que novas informaç
recursos sejam utilizados em sua plenitude, é imprescindível que haja constante treinam
e qualificação do pessoal de crédito e cobrança. E uma ótima forma de atualizar-se é ap
veitar as oportunidades de treinamento em novos produtos oferecidas pelas instituições
informações de crédito, que, além do mais, não acarretam custos, pois na maioria das v
são gratuitos.
A cada dia são oferecidos novos e melhores recursos para crédito e cobrança. São servi
que surgem pela necessidade dos negócios e pela constante evolução do mercado. Tam

 •25
capítulo 1
bém é extraordinário o aperfeiçoamento de serviços já existentes, cada vez mais precisos e
muitas vezes, personalizados a cada ramo específico de atividade. Acompanhar esses pro-
gressos é fundamental para que se possa experimentar todos os seus benefícios na prática
verificando os bons reflexos nos negócios. Para isso, é necessário manter a equipe de crédi
e cobrança afinada com as novas tecnologias e serviços.
Disponível em: <http://www.creditoecobranca.com/Artigo10.asp>.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

FILGUEIRAS, Claudio. Manual de contabilidade bancária mais de 300 questões


com gabarito. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

LEMES JUNIOR, A. B. et al. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas


brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

SANTOS, J. O. dos. Análise de crédito: Empresas e pessoas físicas. São Paulo: Atlas,
2006.

SECRETARIA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS. Mecanismos de financiamento pri-


vado a exportação. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/sain/temas/exportacoes.
asp>. Acesso em: 27 jul. 2010.

SILVA, José Pereira da. Gestão e análise de risco de crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MATIAS, A. B. (Coord.).
Finanças corporativas de curto prazo, volume 1: a gestão do valor
do capital de giro. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

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Administração financeira: corporate finance. 2. ed.
São Paulo: Atlas, 2002.

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

BERCHIELLI, Francisco O. Economia Monetária. São Paulo: Saraiva, 2000.

26 • capítulo 1
CARVALHO, Fernando Cardim de et al. Economia monetária e financeira. Rio de Ja-
neiro: Campus, 2000.

CLEMENTE, Ademir; KÜHL, Marcos Roberto. Intermediação financeira no Brasil: influ-


ência na taxa de captação sobre a taxa de aplicação. In: Congresso USP de Controladori
Contabilidade, 6., 2006, São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 2006, CD-ROM.

KAUFMAN, George G. El dinero, el sistema financeiro y la economia. Barcelona:


Ediciones Universidade de Navarra, 1973.

LOPES, João do Carmo; ROSSETTI, José Paschoal. Economia Monetária. 7 ed. rev., ampl.
e atual. São Paulo: Atlas, 1998.

MAYER, Paul A. Monetary economics and financial markets. Illinois: Ed. Richard D.
Irvin, 1982.

PASSOS, Carlos R. M; NOGAMI, Otto. Princípios de Economia. 5ª Ed. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2005.

PINHEIRO, Juliano Lima. Mercado de Capitais: fundamentos e técnicas. 5ª Ed. São


Paulo: Atlas, 2009

ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 19 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, iremos discorrer sobre risco de crédito, abordando seu conceito, cl
ficação e conhecendo o que determina a Resolução 2.682/99, do Banco Central do Brasi

 •27
capítulo 1
Risco de crédito
2 Risco de crédito
O risco de crédito representa a possibilidade de uma instituição financeira não
receber os valores prometidos pelos títulos que mantém em sua carteira de ati-
vos recebíveis. Como exemplos desses ativos apontam--se, principalmente, os
créditos concedidos pelos bancos e os títulos de renda fixa emitidos pelos deve-
dores. (ASSAF NETO, 2011).
A perda com inadimplência pode colocar em risco a continuidade de qual-
quer negócio, ao afetar negativamente a saúde financeira da empresa. Assim,
torna-se indispensável a mensuração e o gerenciamento do risco de crédito.

OBJETIVOS
•  Classificar os principais riscos inerentes ao crédito;
•  Reconhecer as principais determinações da Resolução 2.682/99 do BACEN, que diz res-
peito à classificação do risco de operação;
•  Compreender o conceito de rating para decisão de crédito;
•  Identificar as agências internacionais de rating e suas classificações de risco de crédito.

REFLEXÃO
Você se lembra de alguma ocasião em que precisou solicitar linhas de crédito junto à institu
financeira em que opera? Caso sua resposta seja positiva, você notou que todas as condiçõ
da operação realizada estavam condicionadas ao seu perfil de risco?

2.1 Conceito de risco de crédito

Dois fatores com tendência a ser determinantes do risco de inadimplência:


• Fraca qualidade no processo de análise de crédito (fator interno);
• Agravamento da situação macroeconômica, que pode resultar na escas-
sez de clientes saudáveis (fator externo).
Essa situação tende a influenciar na maior concentração de crédito com clien-
tes de alto risco, o que pode resultar na diminuição da receita e da lucratividade
de empresas e instituições financeiras.
O risco total na concessão de crédito é função direta da associação dos dois
fatores abordados anteriormente:

30 • capítulo 2
Risco total na concessão de crédito = fatores internos + fatores externos
Entre os fatores internos identificados como responsáveis pelas perdas fi-
nanceiras em concessões de crédito, usualmente são citados os seguintes, de
natureza administrativa:

• Profissionais desqualificados 
• Controles de riscos inadequados 
• Ausência de modelos estatísticos 
• Concentração de crédito com clientes de alto risco

Quadro 2.1 – Fatores internos


Fonte: Santos (2006, p. 17)

Os fatores externos, de acordo com Santos (2006, p. 17), são de natureza m


econômica e, por isso, relacionam-se diretamente com a liquidez (capacidade d
pagamento) de empresas e pessoas físicas no mercado de crédito. A figura 4 ap
senta exemplos de fatores externos à atividade empresarial.

Concorrência Inflação

Fatores
Carga Tributária Taxa de Juros
Externos

Caráter dos clientes Pariedade Cambial


Figura 4 – Fatores externos de risco
Fonte: Santos (2006, p. 17)

Para minimizar o risco total na concessão de crédito, é importante que as


decisões sejam realizadas por profissionais qualificados e baseadas no acesso
a arquivos de dados, de posse de informações atualizadas do cliente, da transa
ção de crédito e da conjuntura econômica. Essa condição, de acordo com San-
tos (2006), pressupõe que os credores, continuamente, direcionem recurso
para os seguintes investimentos:
1. Atualização de conhecimentos e treinamento dos analistas de crédito;
2. Implantação de técnicas estatísticas para concessão e monitoramento
do risco de inadimplência;

capítulo 2  •31
3. Desenvolvimento de simulações sobre o comportamento de fatores sis-
temáticos para mensurar possíveis impactos sobre o risco (inadimplên-
cia) e o retorno (lucratividade) em carteiras de crédito.

No caso das duas primeiras estratégias, podemos dizer que são conhecidas
e executadas por parte das empresas credoras. Os investimentos em recursos
humanos estão relacionados com a atualização de técnicas gerenciais, princi-
palmente por meio de reuniões, palestras e cursos voltados a introduzir e/ou
adaptar conceitos associados com os riscos na concessão de crédito.
Os investimentos para a implantação de técnicas estatísticas, como os mo-
delos para pontuação do risco do cliente (credit scoring) visam possibilitar a agi-
lização decisorial e economias de escala sobre grandes volumes de propostas
de crédito.

CONCEITO
Credit scoring é o método baseado na classificação de candidatos a crédito em grupos, de
acordo com seus prováveis comportamentos de pagamento. Calcula-se a probabilidade de
co à organização, estimada com base nas informações que o tomador fornecer na data do p
dido de concessão, servindo como fundamento para a decisão de aprovação ou não do créd

A terceira estratégia considera o desenvolvimento de modelos para avaliar


o desempenho de carteiras de crédito (risco e retorno) em diferentes cenários
econômicos, como, por exemplo, a técnica de Monte Carlo, a qual possibilita a
avaliação de carteiras, usando amostras de dados em cenários diferenciados de
taxas de juros.
Para Santos (2006), embora as estratégias citadas sejam de grande impor-
tância para a tarefa de concessão e monitoramento do risco de crédito, as em-
presas enfrentam algumas limitações para concretizá-las, tendo em vista a con-
jugação de quatro aspectos:
1. Dependência do risco de crédito da ocorrência de fatores sistemáticos
ou externos;
2. Utilização, por parte dos clientes, de informações imperfeitas na fase
da análise de crédito;

32 • capítulo 2
3. Ausência de banco de dados com informações dos clientes em todo o
mercado de crédito;
4. Dificuldades no ajustamento de estratégias de diversificação de riscos
em carteiras de crédito.

2.1.1 Dependência do risco de crédito da ocorrência de fatores sistemáticos

Para determinar o risco de crédito, deve-se considerar o impacto de fato


externos sobre a capacidade de pagamento dos clientes. Por exemplo, um au-
mento na taxa de juros pode desencadear situações desfavoráveis à prática de
concessão de crédito, em face da maior probabilidade de redução no nível de
atividade econômica, recessão e desemprego. Como consequência, empresas
e pessoas físicas tendem a enfrentar maiores dificuldades para honrar suas dí-
vidas, expondo os credores a maior probabilidade de perdas financeiras com a
inadimplência.

2.1.2 Utilização de informações imperfeitas na fase de análise de crédito

Segundo Santos (2006, p. 20), a determinação do risco de crédito baseia


veracidade dos dados financeiros disponíveis no mercado e fornecidos pel
clientes. Todavia, empresas e pessoas físicas podem omitir e/ou manipular in-
formações (financeiras, patrimoniais e de idoneidade), visando beneficiar-se na
análise de crédito. Consequentemente, aprovações de crédito baseadas em info
mações não compatíveis com a real situação financeira dos clientes expõem os
credores ao problema da seleção adversa, ou seja, da concessão de financiame
to para clientes de alto risco.

2.1.3 Ausência de banco de dados com informações dos clientes em todo o


mercado de crédito

Um dos principais problemas nas fases de análise e monitoramento do risco de


crédito é a dificuldade enfrentada pelos credores para a obtenção de informaçõ
dos clientes. Esse problema é ocasionado, em parte, pela inexistência de banco
de dados munidos com informações completas do histórico de crédito e da posi
ção atual de risco dos clientes, com todos os seus supridores de financiamentos

 •33
capítulo 2
2.1.4 Dificuldades de ajustamento de estratégias de diversificação
em carteiras de crédito

De acordo com Santos (2006), após o trabalho pioneiro de Markowitz (1952), com
ênfase nos benefícios da diversificação em carteiras de ativos, alguns autores co-
meçaram a questionar a aplicabilidade dessa estratégia à redução de risco em
carteiras de crédito. O ponto central desse questionamento considera as dificul-
dades enfrentadas pelos credores para obter informações históricas e atualiza-
das da situação financeira dos clientes.

2.2 Classificação do risco de crédito bancário

Os riscos de crédito bancário podem ser classificados em quatro tipos: risco da


operação; risco do cliente ou intrínseco; risco de concentração; e risco da admi-
nistração do crédito, conforme apresentado a seguir.

2.2.1 Risco da operação

Pereira da Silva (2008) afirma que um empréstimo ou financiamento específico


carrega certas características de risco inerentes à sua finalidade e à sua natureza.
Os principais componentes de uma operação são: (I) o produto; (II) o montante;
(III) o prazo; (IV) a forma de pagamento; (V) as garantias; (VI) o preço. Cada um
desses componentes tem sua potencialidade de risco. A inadequação na deter-
minação do produto ou do valor pode levar o tomador à inadimplência. O prazo
de uma operação tem peso significativo no risco de crédito, pois é necessário
que o mesmo seja compatível com a capacidade de pagamento do cliente.
Ainda segundo o autor, por outro lado, à medida que aumenta o prazo, o fu-
turo torna-se mais incerto e novos eventos poderão ocorrer e mudar o rumo da
empresa, do país ou mesmo do mundo. A globalização da economia e a abertu-
ra às importações também são exemplos de fatores que comprovam que o tem-
po é um componente de risco. Adicionalmente, a inadequação do prazo pode
levar o tomador à inadimplência. Merecem destaque a liquidez e a suficiência
da mesma. A separação do risco do cliente e da operação possibilita análise e
decisão mais ajustadas.

34 • capítulo 2
2.2.2 Risco do cliente ou intrínseco 

Esse tipo de risco é inerente ao tomador e decorre de suas características. Por-


tanto, o não cumprimento da promessa de pagamento pelo devedor pode de-
correr de um conjunto de fatores associados ao próprio devedor (PEREIRA DA
SILVA, 2008). Vejamos a figura a seguir:

Crédito

Empréstimos e Financiamentos

Banco Tomador

Promessa de Pagamento

Risco
Caráter Capacidade Condições Capital
Conglomerado

Classificação (Rating)

Colateral (Garantias Colaterais)

Figura 5 – Representação do crédito associado ao risco.


Fonte: Pereira da Silva, J., 2008.

O crédito, conforme exposto, consiste em o banco colocar à disposição do to-


mador determinado valor sob a forma de empréstimo ou financiamento, me-
diante uma promessa de pagamento futuro. Isso implica no risco de que a pro-
messa não seja cumprida. Os chamados Cs do Crédito (Caráter, Capacidade,
Condições, Capital e Conglomerado) contêm as variáveis relacionadas ao risco
do cliente, as quais poderão fornecer a base rating
para ode crédito. Essa clas-
sificação possibilitará melhor decisão na precificação do empréstimo ou finan-
ciamento e também deve levar a uma adequada escolha das garantias. (PEREI-
RA DA SILVA, 2008).

 •35
capítulo 2
2.2.3 Risco de concentração do crédito

De acordo com Pereira da Silva (2008), no gerenciamento do crédito, a decisão


de conceder ou não determinado limite ou operação a um cliente depende, em
grande parte, de dois fatores principais: do risco e do retorno esperados em re-
lação ao negócio específico. A análise do risco da operação em si, compreen-
dendo a natureza da mesma e as garantias associadas, fornece o complemento
de apreciação de risco necessário à tomada de decisão.
Portanto, para o autor, o risco de concentração decorre da composição da
carteira de recebíveis do banco, quanto à maior ou menor concentração que
a mesma apresenta. Uma administração estratégica de crédito requer uma
política adequada de diversificação da carteira de recebíveis, visando reduzir
o risco. No entanto, por exemplo, se um banco distribuir suas aplicações em
segmentos econômicos que tenham alta correlação positiva, isto, do ponto de
vista de risco, não representará diversificação.

2.2.4 Risco de administração do crédito

Muitas vezes, ouvimos menções relativas às causas dos créditos problemáticos


nas empresas e nos bancos. Fatores como crises econômicas e caráter dos deve-
dores são frequentemente citados. Sabe-se que muitos dos créditos problemá-
ticos decorrem da capacidade e da seriedade do banco na avaliação do risco do
cliente. A estrutura de crédito do banco deve ser dotada das diversas unidades
especializadas na coleta, na organização, no armazenamento, na análise e no uso
das informações sobre clientes atuais e potenciais. (PEREIRA DA SILVA, 2008).

2.3 Pontuação de crédito (Credit score)

O primeiro passo no processo de análise de crédito é a coleta de dados do clien-


te. Posteriormente, para cada um dos dados coletados, devemos atribuir uma
nota. Quanto maior for a nota atribuída, menor será a chance de o cliente vir a
se tornar insolvente (não pagar a dívida).
Ao final deste procedimento, ao se atribuir um “peso” para cada nota e so-
má-las, cada cliente terá uma
pontuação de crédito (também conhecida como
). O “peso” é atribuído para cada uma das notas porque alguns da-
credit score
dos são considerados mais importantes que outros (para dados mais importan-

36 • capítulo 2
tes é atribuído um peso maior). Segundo Gitman (2003), a pontuação final de
crédito é tirada de uma média ponderada de notas obtidas em características-
chave financeiras e de crédito.
Cada organização deve definir internamente as notas e os pesos para
um dos dados coletados dos clientes, pois, segundo Matias (2007), os sistemas
credit score são únicos porque são baseados em experiências individuais dos cre-
dores com seus clientes. Para desenvolver um sistema de notas e pesos, a orga
zação deve escolher uma amostra aleatória de seus clientes e analisá-la estatis
mente, visando a identificar os dados que poderão ser utilizados para demonstr
credibilidade: “A toda mudança na economia faz-se necessário um acompanha-
mento do sistema de credit score para adaptá-lo às mudanças do cenário de cada
época, pois, apesar de ser uma ferramenta fundamental para o gestor de crédit
não se constitui na própria decisão de crédito.” (MATIAS, 2007, p.71)

Quando a organização finaliza o processo, cada cliente terá sua pontuação de crédito
(credit score). É importante ressaltar que, em tese, quanto maior for a pontuação obtida
menor será a probabilidade de o cliente se tornar insolvente.

Para ilustrar um sistema de credit score, recorre-se ao exemplo apresen-


tado por Megliorini e Da Silva (2009), o qual contempla as seguintes variá-
veis com as respectivas pontuações, pesos e pontuação de crédito:

PONTUAÇÃO
VARIÁVEIS PONTUAÇÃO PESO PONDERADA
Tempo de atividade 40 30% 12

Faturamento mensal 60 20% 12

Imóvel próprio 100 20% 20

Histórico de pagamentos 80 30% 24

Total 100% 68

Quadro 2.2 – Modelo de credit score


Fonte: Megliorini e Da Silva (2009)

capítulo 2  •37
Conforme diretrizes da organização, para cada variável é atribuída uma
pontuação que se altera entre 0 e 100. Os pesos de cada variável são ponderados
pela pontuação a ela atribuída, o que determina a pontuação final do cliente. O
total de pontos é confrontado com os padrões de crédito da organização, defi-
nindo-se, então, o limite de crédito do cliente ou negando-se o crédito a ele. Os
padrões de crédito da organização são:
• até 50 pontos: negado o crédito;
• entre 51 e 70 pontos: aprovado o crédito até um valor máximo estipulado
pela diretoria da organização;
• acima de 71 pontos: concedido crédito em condições especiais.

2.4 Classificação de crédito (Rating)

Depois de definir as pontuações de crédito de cada um de seus clientes, a organi-


zação deve classificá-las, levando em conta o risco de insolvência que apresentam
Tal procedimento é mais conhecido no mercado como rating. Utilizando o exem-
plo de credit score que apresentamos (vide Quadro 2.2), a organização poderia ela-
borar a seguinte classificação de seus clientes (rating):

PONTUAÇÃO CLASSIFICAÇÃO
PONDERADA DO CLIENTE
91 a 100 A
81 a 90 B
71 a 80 C
61 a 70 D
51 a 70 E
0 a 50 F

Quadro 2.3 – Modelo de rating de clientes

A elaboração da classificação dos clientes é muito importante para as organiza-


ções, pois ela permite que se forneçam condições melhores de crédito àqueles que
apresentem menores riscos de insolvência. Observando o quadro 2.3 e conhecen-
do os padrões de crédito da organização, que foram apresentados anteriormente,
você pode constatar que os clientes classificados como “F” teriam o crédito nega-

38 • capítulo 2
do, podendo comprar somente à vista. Por outro lado, para os clientes classifica
como “A”, podem ser oferecidas taxas de juros menores, limites de crédito e pr
de pagamento maiores.
As classificações de crédito também são elaboradas para pessoas jurídicas
e para países. Quando você ouve dizer que o “risco Brasil” aumentou, significa
que o “mercado” visualiza que nosso país aumentou sua probabilidade de não
arcar com seus compromissos (dívidas).
Normalmente, o risco de um país aumenta quando surge algum tipo de “cri-
se” que gere instabilidade neste país. A crise pode ser política ou econômica, ou
mesmo devido a algum tipo de catástrofe natural que venha gerar sérios prejuí-
zos. Com o aumento do risco, os investidores internacionais passam a exigir um
taxa de juros mais alta para manterem seus recursos financeiros. Do contrário,
acabam levando seus recursos para outros países, onde o risco é mais baixo.
REPRODUÇÃO

Fonte: banco de imagens da Editora COC - ID: 912981.

CONCEITO
Risco país: é um conceito econômico-financeiro que diz respeito à possibilidade de 
danças no ambiente de negócios de um determinado país impactem negativamente
dos ativos de indivíduos ou empresas estrangeiras naquele país. (http://pt.wikipedia.

capítulo 2  •39
As classificações de risco de países são elaboradas por agências interna-
cionais especializadas em rating, como a Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s, e
agências nacionais, como a Atlantic Rating, Risk Bank e ABM Rating. No caso do
rating elaborado pela Standard & Poor’s, há 10 tipos de classificações (AAA, AA,
A, BBB, BB, B, CCC, CC, C e D). Por intermédio do Quadro 2.4, você poderá ob-
servar as descrições e considerações sobre as quatro principais classificações.

DESCRIÇÕES CONSIDERAÇÕES
A capacidade do emissor de hon-
rar seus compromissos financeiros
AAA Maior classificação possível
relativos à obrigação é extrema-
mente forte.

O  emissor  poderá  sofrer  redução 


As obrigações exibem parâmetros
na capacidadede honrar seus de proteção adequados, mas po-
BBB
compromissos financeiros relativos
dem ser afetadas por condições
à obrigação. econômicas adversas.

O  emissor  depende  de  condições 


Não haverá condições de honrar os
econômicas,  financeiras  e  comer-
CCC compromissos em caso de condi-
ciais favoráveis para honrar seus
ções adversas.
compromissos.

D Insolvência #

Quadro 2.4 – Características do Rating de crédito elaborado pela Standard & Poor’s
Fonte: Adaptado de Matias (2007).

Segundo Santos (2003), os ratings são opiniões sobre a capacidade futura


de os devedores efetuarem, dentro do prazo, o pagamento do principal e dos
juros de suas obrigações. Assim, refletem o conjunto de observações e percep-
ções de risco das agências especializadas e não devem, em hipótese alguma,
ser utilizados isoladamente como parâmetro para justificar decisões seja em
propostas de crédito, seja em investimentos em títulos de renda variável ou
em transações financeiras estruturadas etc.

40 • capítulo 2
Santos (2003) também lembra que, uma vez publicado o rating, este per-
manecerá sob constante monitoramento do “classificador”, que tem a prer-
rogativa de ir ao mercado para informar os investidores acerca de eventuais
alterações no risco percebido. Os sistemas de ratings estão sujeitos a vari
ções qualitativas, influenciadas, entre outros, pelos seguintes aspectos: com-
petência técnica e experiência dos avaliadores, metodologia de mensuração
de riscos empregada; modelo de coleta, qualidade e confiabilidade das fontes
de informações utilizadas no desenvolvimento da análise.

2.5 Classificação das operações de crédito

De acordo com Nyama (2009, p. 55), a Resolução Bacen n° 2.682, de 1999, de-
terminou a classificação das operações de crédito, de arrendamento mercantil
e outros créditos em geral, nos níveis de risco “AA”, “A”, “B”, “C”, “D”, “E”, “F”,
“G” e “H”, observados os seguintes aspectos:
I – em relação ao devedor e seus garantidores:
a) Situação econômico-financeira;
b) Grau de endividamento;
c) Capacidade de geração de resultados;
d) Fluxo de caixa;
e) Administração e qualidade de controles;
f) Pontualidade e atrasos nos pagamentos;
g) Contingências;
h) Setor de atividade econômica;
i) Limite de crédito;
II – em relação à operação:
a) Natureza e finalidade da transação;
b) Características das garantias, particularmente quanto à suficiên-
cia e liquidez;
c) Valor.
O art. 3º da Resolução Bacen n° 2.682 determina que a classificação
operações de crédito de um mesmo cliente ou grupo econômico deve ser defi-
nida considerando aquela que apresentar maior risco, admitindo-se excepcio-
nalmente classificação diversa para determinada operação e deve ser revista,
no mínimo:

 •41
capítulo 2
I – mensalmente, por ocasião dos balancetes e balanços, em função de atra-
so verificado no pagamento de parcela de principal ou de encargos, devendo ser
observado o que segue:
a) Atraso entre 15 e 30 dias: risco nível B, no mínimo;
b) Atraso entre 31 e 60 dias: risco nível C, no mínimo;
c) Atraso entre 61 e 90 dias: risco nível D, no mínimo;
d) Atraso entre 91 e 120 dias: risco nível E, no mínimo;
e) Atraso entre 121 e 150 dias: risco nível F, no mínimo;
f) Atraso entre 151 e 180 dias: risco nível G, no mínimo;
g) Atraso superior a 180 dias: risco nível H.

ATIVIDADE
1. O que você entende por risco de crédito?

2. Como as perdas com inadimplência impactam a continuidade das empresas?

3. Como são classificados os riscos de crédito bancário?

REFLEXÃO
No geral, empresas decidem oferecer crédito para seus clientes com o objetivo de aumenta
suas  vendas,  já  que  os  indivíduos  que  não  têm  poder  de  compra  com  pagame
passam a ter condições de tomar decisões de consumo no presente, mas com pagamento
futuro. As transações de crédito são como contratos, pois são trocados bens e serviços hoje
por uma promessa de fluxo de caixa futuro.
Nos bancos a transação não muda muito. De maneira bem resumida, as instituiç
financeiras realizam captações de recursos junto aos agentes superavitários e empresta ao
agentes deficitários. O ganho dessas operações está em remunerar o capital a taxas m
res do que o que se cobra ao emprestar.
No entanto, independentemente de ser crédito em empresas ou crédito bancário, semp
que a operação é realizada, automaticamente cria-se o risco de inadimplência, ou seja, o ri
que o cliente não cumpra com sua parte no contrato. Esse risco tem impacto direto na cont
dade de qualquer empresa, uma vez que grandes perdas com inadimplência podem prejud
saúde financeira da organização, levando-a, inclusive, à insolvência.

42 • capítulo 2
Assim, destaca-se a importância de conhecer e controlar bem o risco de crédito e tod
outros riscos, internos e externos, aos quais se está exposto diariamente.

LEITURA RECOMENDADA
Para complementar o que foi discutido anteriormente, aprofundando-se no impacto 
da por inadimplência pode ter na saúde financeira da empresa, especialmente em term
redução das entradas de fluxo de caixa esperadas, recomenda-se a Gestão
leituradodo artigo
fluxo de caixa para gerenciamento de pequenos empreendimentos,disponível em: <http://gpi.
aedb.br/seget/artigos07/1321_Gestao%20do%20Fluxo%20de%20Caixa.pdf>.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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LEMES JUNIOR, A. B. et al. Administração financeira: princípios, fundamentos e prátic
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capítulo 2  •43
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2008

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litativa  dos  processos  em  empresas.  Disponível  em:  <http://www.ead.fea.usp.br/cad
arquivos/v07-3art02.pdf > Acesso em: 28 jul. 2011.

44 • capítulo 2
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, iremos discorrer detalhadamente sobre política de crédito – pa
A política de crédito é composta, basicamente, pelas condições de venda ou do 
oferecido ao cliente, pelos padrões de crédito, representados pelas características m
que um cliente deve ter para receber o benefício do crédito, e pela política de cobr
tada pela empresa. Todos esses fatores, alinhados às normas legais, à estratégia e aos
tivos da empresa, garantem mais eficiência ao processo de análise e concessão de créd

capítulo 2 •45
Política de crédito –
Parte I
3 Política de crédito – Parte I
As políticas de crédito, de acordo com Lemes Junior (2010, p. 394), são a base
da eficiente administração de valores a receber, pois orientam a forma como
o crédito é concedido, definindo padrões de crédito, prazos, riscos, garantias
exigidas e diretrizes de crédito.
Tais políticas definem as formas de concessão de crédito com base nas
condições presentes e expectativas futuras da situação econômico-financeira
da empresa, das condições da economia e do mercado em que a empresa ou
instituição financeira atuam.
A política de crédito sofre forte influência da área financeira, a fim de re-
duzir riscos, mas por outro lado, certas decisões podem levar a condições de
crédito excessivamente severas que impedirão as vendas. Já condições muito
brandas podem facilitar as vendas, mas também podem dificultar o seu rece-
bimento. Segundo Lemes Junior (2010), é melhor não vender, do que vender
e não receber.

OBJETIVOS
•  Compreender o papel da política de crédito dentro do contexto da análise de crédito de
um cliente;
•  Reconhecer os principais fatores que são considerados na política de crédito;
•  Reconhecer a importância da estratégia empresarial no contexto da política de crédito d
uma instituição;
•  Compreender e identificar os itens que compõem a análise de crédito.

REFLEXÃO
Você se lembra de ter visto alguma propaganda na televisão, em que uma loja oferece um
produto em 24 vezes sem juros? Esta decisão faz parte da política de crédito da empresa,
que oferece um determinado período de tempo ao cliente para efetuar o pagament
compromisso assumido.

48 • capítulo 3
3.1 Definição de política de crédito

As políticas de crédito vão estabelecer as condições mínimas que o cliente deve


possuir para receber crédito da empresa. Estão diretamente relacionadas com o
risco de não recebimento do todo ou parte do valor da venda.
Normalmente uma empresa, de acordo com Blatt (1999), pode estabelecer
cinco possíveis políticas de crédito:

1. Crédito liberal / cobranças rigorosas – este tipo de política pode produzir


ótimos lucros, entretanto, ocorre o aumento dos custos do pessoal de co
brança e perdas com dívidas incobráveis.

2. Crédito rigoroso / cobranças liberais – essa política geralmente resulta


em uma carteira de contas a receber de alta qualidade, mas as vendas e
receitas não são otimizadas.

3. Crédito rigoroso / cobranças rigorosas – Esta política minimiza o risca


de perdas e aumenta a qualidade da carteira de clientes, porém, essa
política restringe o crescimento do volume de vendas e produz baixos
níveis de lucro.

4. Crédito liberal / cobranças liberais – essa política resulta em menos lu-


cro ou maiores perdas do que em qualquer outro tipo de política.

5. Crédito moderado / cobranças moderadas – um crédito moderado


com uma política de cobrança moderada dá condições para a otim
zação do crescimento de vendas, condições de recebimento, margens
de lucro e fluxo de caixa, contribuindo para o melhor equilíbrio no
negócios. Custo de avaliação de crédito e perdas podem ser mantidos
em patamares aceitáveis.

Segundo Lemes Junior (2010), os padrões de crédito influenciam as seguin-


tes variáveis:

1. Vendas: condições mínimas muito exigentes restringem o universo de


pretendentes a crédito e, consequentemente, de compradores. Isso di-

 •49
capítulo 3
ficulta a realização das vendas. Já padrões menos exigentes ampliam
este universo, abrindo as portas para a realização de maiores vendas.

2. Valores a receber: padrões de crédito que facilitam a realização de ven-


das são indicativos de aumento da necessidade de mais recursos para
financiamentos de valores a receber.

3. Riscos: os riscos de não recebimento de valores a receber aumentam


com a definição de padrões de créditos menos exigentes, aumentando
o risco de perdas pelo não recebimento.

Conforme Silva (2000), políticas são instrumentos que determinam padrões


de decisão para resolução de problemas semelhantes. Segundo Sousa e Chaia
(2000), na política de crédito são definidos os parâmetros básicos para a reali-
zação de vendas a prazo. Nela, são encontrados os elementos necessários para
a concessão, monitoramento e cobrança dessas vendas, devendo ser encarada
como um fator de alavancagem das receitas e uma demanda por investimentos
em ativos financeiros (crédito futuro).
No mundo corporativo atual, a imensa maioria das organizações possui um
porcentual maior de vendas a prazo do que à vista. É importante ressaltar que,
quanto maior for o prazo de pagamento oferecido aos clientes, maior será o ciclo
de caixa da organização.
Na verdade, segundo Weston e Brigham (2000), as organizações prefeririam
vender à vista a vender a prazo. Porém, as pressões competitivas (concorrência)
forçam a maioria delas a oferecer crédito a seus clientes. No entanto, as vendas
a prazo sujeitam as organizações a riscos que não existem nas vendas à vista.
E esses riscos estão associados à possibilidade de não recebimento da venda
efetuada. Para contornar este outro problema, é necessário que a organização
defina uma política de crédito.

ATENÇÃO
O “fornecimento de crédito” ocorre quando é feita a venda de um produto ou serviço, cujo
recebimento ocorrerá no futuro.

50 • capítulo 3
No estudo da Administração das Organizações, a palavra
política, de acordo
com Oliveira (1998), significa: parâmetro ou orientação para a tomada de deci-
são, definição dos níveis de delegação, faixas de valores e/ou quantidades-limit
e de abrangência das ações para que os objetivos sejam atingidos.
cré-A palavra
dito, segundo Assaf Neto (2003), diz respeito à troca de bens presentes por ben
futuros. De um lado, uma organização que concede crédito troca produtos por
uma promessa de pagamento futuro. Já uma organização que obtém crédito re-
cebe produtos e assume o compromisso de efetuar o pagamento futuro.
Diante das duas definições, pode-se conceituar
política de crédito como o
conjunto de parâmetros, regras e procedimentos utilizado por uma organiza-
ção para fornecer crédito aos seus clientes.

3.2 Componentes da política de crédito

Os principais componentes da política de crédito são:


1. Condições de venda
2. Padrões de crédito
3. Política de cobrança

As características de cada grupo serão abordadas a seguir.

3.2.1 Condições de venda

As condições de venda podem ser divididas em três grupos:


1. Prazo de concessão de crédito
2. Desconto para pagamento à vista
3. Instrumento de crédito

3.2.1.1 Prazo
Ao estipular um prazo de crédito, uma empresa deve considerar que exis
probabilidade de o cliente não pagar o que deve, caso contrário, o crédito con-
cedido torna-se uma inadimplência. Isso é importante para a fixação dos pra-
zos, pois restringe as condições de crédito que a empresa pode oferecer.

 •51
capítulo 3
O preço dos bens também é fundamental para a determinação dos prazos.
Bens com baixo preço tendem a ter prazo de crédito reduzido. Se o preço dos pro-
dutos for muito baixo, a empresa terá um custo muito elevado para administrar
seus valores a receber frente ao que receberá no momento da quitação do crédito
Finalmente, a durabilidade do produto comercializado importa para a con-
cessão de prazos, uma vez que o próprio produto vendido serve como garantia
ao crédito. Se o produto for perecível em um curto espaço de tempo, a empresa
deve limitar sua concessão de crédito enquanto puder recuperar sua venda, en-
curtando o tempo de crédito concedido.
Os prazos de concessão de crédito variam, principalmente, entre os setores
a que pertencem as empresas. Assim sendo, os prazos para pagamento de pro-
dutos alimentícios tendem a ser menores do que aqueles concedidos por empre-
sas fabricantes de eletrodomésticos, pois, conforme discutido, os alimentos são
procurados por uma variedade muito grande de compradores, dificultando dife-
renciar os bons dos maus pagadores; têm, em geral, um preço não muito elevado,
o que não compensa para as empresas concederem longos períodos de crédito;
e perdem a validade em um curto espaço de tempo, reduzindo o prazo em que
podem ser recuperados.
Apesar dos fatores citados acima, para qualquer setor produtivo, aumentos
nos prazos de crédito concedido aos clientes aumentam as vendas, dado que o
preço do bem para quem o consome torna-se mais barato.

3.2.1.2 Desconto para pagamento à vista


Os descontos para pagamentos à vista visam estimular o pagamento imedia
das vendas, ao invés de vender a prazo. Porém, deve-se comparar, no momento
da negociação do desconto, o montante do benefício do recebimento à vista para
o caixa da empresa com o custo da transação. Como benefícios, a empresa teria
aumento nas vendas e entrada antecipada de recursos; por outro lado, os custos
iniciais seriam mais altos e o desconto diminuiria o recebimento por transação.
Assim sendo, é importante que a empresa tenha um crescimento nas vendas que
compense os maiores custos devido à elevação na quantidade vendida.

52 • capítulo 3
3.2.1.3 Instrumentos de crédito
As formas mais usadas de crédito ao cliente são:

a) Crédito em conta corrente: o cliente assina um termo de que recebeu os


produtos comprados, conforme fatura enviada juntamente à entrega dos
produtos; feito isso, o pagamento gradual da compra a prazo ocorre dire-
tamente entre a empresa e seus consumidores.

b) Nota promissória: a assinatura de nota promissória é exigida principal-


mente quando há o risco de inadimplência ou quando os valores envolvi-
dos são muito elevados, como em grandes compras, firmando um acor-
do formal de crédito.

c) Letras de câmbio: maneira de exigir o pagamento antes da entrega


mercadoria, ao contrário das notas promissórias que são assinadas após
a entrega feita. Por este método, a empresa e o cliente assinam um acor-
do formal de crédito e a empresa emite uma letra de câmbio que é en-
viada a algum banco, juntamente com as faturas da negociação. Após o
envio ao banco, as mercadorias são enviadas ao cliente, o qual deve paga
seu crédito diretamente ao banco.

d) Aceite bancário: mecanismo similar às letras de câmbio, mas são contra-


tos de crédito garantidos pelo banco, ou seja, o banco intermediador da
transação garante o recebimento do crédito à empresa e torna-se respon-
sável pela cobrança.

e) Contrato de venda condicional: normalmente feito para pagamentos


que envolvem muitas parcelas, com cobrança de juros, onde a emp
sa detém a propriedade legal da mercadoria até que o crédito seja total-
mente pago, podendo recuperá-la a qualquer momento, caso não haja o
pagamento prometido.

 •53
capítulo 3
Os prazos de crédito são uma boa maneira de estimular o crescimento das ven-
das, mas deve-se sempre contar com os efeitos negativos da concessão de crédito
destacando-se a probabilidade de inadimplência. Os descontos para pagamentos
à vista têm como objetivo antecipar o recebimento dos pagamentos, e os instru-
mentos de crédito visam garantir os pagamentos acordados, mas é importante
que, ao analisar os prazos para vendas a prazo, as empresas considerem os custos
de tal tipo de venda em relação aos benefícios para o capital de giro, lembrando
que quanto menor o ciclo operacional, melhor será para o caixa da empresa.

3.2.2 Padrões de Crédito

Gitman (1997) acredita que um dos insumos básicos à decisão final de crédito é
o julgamento subjetivo que o analista financeiro faz para determinar se é válido
ou não assumir riscos. Segundo o autor, a experiência adquirida do analista e a
disponibilidade de informações (internas e externas) sobre o caráter do cliente
são requisitos fundamentais para a análise subjetiva do risco de crédito.
As informações que são necessárias para a análise subjetiva da capacidade
financeira dos clientes são tradicionalmente conhecidas como Cs do Crédito:
caráter, capacidade, capital, colateral e condições.

Caráter Idoneidade no mercado de crédito

Capacidade Habilidade em converter investimentos em receita

Capital Situação Financeira

Colateral Situação Patrimonial

Condições Impacto de fatores externos

Figura 6 – Cs do crédito
Fonte: Adaptado de Santos (2006)

O padrão de crédito tem relação com os critérios mínimos para a liberação


de crédito a um cliente. Estes critérios podem ser rígidos ou não. Quanto mais
rígidos forem, em tese, menores serão os riscos de inadimplência e insolvência,
mas também menores serão os volumes de venda.

54 • capítulo 3
3.2.3 Política de Cobrança

A concessão de crédito representa um instrumento de aumento nas vendas e n


faturamento das empresas, desde que adequadamente planejada.
A comparação entre os benefícios das políticas de concessão de crédito e os
seus custos faz com que as empresas estabeleçam o montante ideal de crédito
a ser fornecido, os melhores instrumentos para sua concessão e os prazos mais
adequados à manutenção do ciclo operacional. Não deve ser esquecido, entre-
tanto, que as taxas de juros e de inadimplência são fatores externos às empre-
sas, mas que também devem ser observados na decisão de conceder crédito.
A política de cobrança é a forma como a empresa requer o pagamento do
crédito concedido aos clientes nas vendas a prazo. Em outras palavras, trata-se
da estratégia da empresa para o recebimento do crédito.
As empresas contam com diversos mecanismos de cobrança, entre eles: via
banco, carteira, representante e mecanismos alternativos, como financeira
próprias. O volume de risco de inadimplência que a organização está disposta a
assumir é crucial para a escolha dos mecanismos de cobrança de um negócio.
Dentre os procedimentos de cobrança comumente utilizados estão contato t
lefônico, cartas, visitas pessoais, contratação de agências de cobrança e protes
judicial. No entanto, vale ressaltar a importância da relação custo X benefício na
escolha desses procedimentos.
Por melhor que seja o processo de análise de crédito de uma organização, co
certeza existirão clientes que não pagarão sua dívida na data do vencimento. P
tanto, além de se definir uma política de crédito, é imprescindível que também
definida uma política de cobrança, ou seja, um conjunto de parâmetros, regras
procedimentos que a organização utilizará para cobrar os clientes que não quita
suas dívidas nas datas corretas.

ATENÇÃO
Dados de instituições financeiras do período de 2000 a 2004 indicam que, em média, os
adimplentes representam em torno de 85% dos clientes, os inadimplentes cerca de 11%
os insolventes, aqui entendidos como os que não pagam há mais de 180 dias, cerca de
(MATIAS, 2007).

capítulo 3 •55
De acordo com Matias (2007), existem cinco tipos de comportamento de paga-
mento por parte dos clientes, os quais apresentaremos a seguir.

• Pagamento antecipado – O cliente prefere honrar antecipadamente seu


débito, quer para evitar perder o dia do pagamento quer para tentar ob-
ter descontos.

• Pagamento na data do vencimento – Esta é a situação mais comum*.

• Pagamento com atraso – Parte dos clientes atrasa o pagamento de seus


compromissos, sendo alguns de forma eventual e outros de forma contí-
nua. Os clientes que eventualmente atrasam o fazem, normalmente, em
razão de problema temporário de fluxo de caixa. Os clientes que habitu-
almente atrasam o fazem em razão de descontrole contínuo do fluxo de
caixa ou para aproveitamento de maior prazo com consequente menor
necessidade de capital de giro. Consideram-se, aqui, atrasos até 30 dias
da data do vencimento da obrigação.

• Pagamento com renegociação – Constituem-se em clientes com maior


dificuldade para pagamento, que acabam por renegociar seus débitos
com o credor. Consideram-se, aqui, atrasos entre 31 e 180 dias.

• Não pagamento – Constitui-se na perda de crédito. Consideram-se, aqui,


atrasos superiores há 180 dias e que passam a fazer parte de ações judi-
ciais para recuperação do crédito.

Em decorrência dos cinco tipos de comportamento de pagamento, os clien-


tes podem ser classificados em três grupos, conforme descrição a seguir.

a) Adimplentes: são clientes que pagam em dia ou antecipadamente, ou


seja, aqueles que não apresentam nenhuma obrigação “em aberto” com
a organização.

b) Inadimplentes: são clientes que pagam com atraso de até 30 dias.

56 • capítulo 3
c) Insolventes: são clientes que estão em fase de renegociação de dívi
vencidas há mais de 31 dias. A recuperação de créditos é o grande objetiv
do processo de cobrança e pode ser classificada como amigável (acordo
entre as partes) ou judicial (envolve uma ação na justiça).

A renegociação de dívidas pode ser classificada como uma técnica amigável


para recuperação de créditos e, segundo Matias (2007), é o meio mais tranquilo
e seguro para que credor e devedor, juntos, façam uma composição adequada,
em que possam ser estabelecidos novos valores e prazos para pagamento, assi
como garantias. É a medida mais saudável em um contexto de inadimplência,
pois ambas as partes acordam para a legítima liquidação da dívida.
A renegociação, que pode ser feita por intermédio do telefone ou pess
almente, é uma técnica muito importante, porém, não é a primeiro passo
ser dado no processo de cobrança. Gitman (2003) apresenta diversas out
técnicas de cobrança, lembrando que à medida que uma conta se torna cada
vez mais vencida, o esforço de cobrança deve se tornar cada vez mais pessoal
e mais intenso. Diante dessa afirmação, você pode concluir que as técnicas de
cobrança devem ser utilizadas dentro de uma sequência lógica. A seguir, serão
listadas sugestões de algumas técnicas de cobrança, apresentadas dentro da
ordem na qual devem ser utilizadas.

1º. Cartas: depois de um certo número de dias, a organização envia uma


carta educada lembrando ao cliente de sua conta vencida. Se a co
não for paga dentro de certo período após o envio da carta, uma segun-
da carta mais exigente é enviada, podendo conter um aviso de possível
inclusão do nome do cliente em Instituições de Proteção ao Crédito
(ex.: Serasa), caso a conta não seja paga até certa data.

2º. Telefonemas: se as cartas não surtirem o efeito desejado, um telefone-


ma pode ser feito para o cliente, solicitando o pagamento imediato
Caso o cliente tenha uma desculpa razoável, um acordo pode ser feito
para estender o período do pagamento. Um telefonema do advogado do
credor pode ser usado se todas as outras discussões parecerem não ter
obtido sucesso.

 •57
capítulo 3
3º. Visitas pessoais: essa técnica é muito mais comum ao nível de crédito
ao consumidor, mas também pode ser empregada por fornecedores da
indústria. Enviar um vendedor local ou um cobrador para confrontar o
cliente pode ser muito eficiente. O pagamento pode ser feito no local.

4º. Empresas de cobrança: uma organização pode levar suas contas não co-
bradas para uma empresa de cobrança ou para um advogado. As taxas
para esses serviços são um tanto altas e a organização pode receber me-
nos que 50 centavos sobre a unidade monetária de uma conta cobrada
dessa forma.

5º. Ação judicial: é o passo mais rigoroso no processo de cobrança. É uma


alternativa para o uso da empresa de cobrança. Não apenas sua ação
legal direta é cara, mas pode forçar o devedor a ir à falência, por conse-
guinte reduzindo a possibilidade de um futuro negócio sem garantir ao
final o recebimento do montante vencido.

JOHN FOXX / STOCKBYTE / GETTY IMAGES

ATENÇÃO
Caso aempresa de cobrança não queira estruturar um departamento de cobrança, pode
terceirizar tal serviço para empresas especializadas nesta atividade, concentrando-se, dess
forma, somente em sua atividade principal, que é produzir e vender seu produto ou serviço

58 • capítulo 3
Cada organização deve definir sua política de cobrança de acordo com as ca
racterísticas de seu negócio e de seus clientes. Portanto, os prazos para se colo
car em prática as técnicas de cobrança podem variar. Weston e Brigham (2000)
sugerem, por exemplo, que uma carta amigável pode ser enviada aos clientes
quando uma conta venceu há dez dias; uma carta mais severa, seguida de um
telefonema, pode ser enviada se o pagamento não é recebido dentro de 30 dias
a conta pode ser entregue a uma empresa de cobrança após 90 dias.

3.2.4 Alertas de risco

Segundo Santos (2006), existem alguns exemplos de fatores evidenciadores da


deterioração financeira dos clientes que devem ser monitorados pelos analis-
tas, ao longo do relacionamento.

• Aparecimento de apontamentos restritivos no mercado de crédito (ex.:


atrasos, cheques devolvidos, protestos etc);

• deterioração de índices contábeis e financeiros;

• apresentação de constantes descasamentos de caixa (saídas de caix


maiores que entradas);

• constatação de que o mercado de crédito esteja recusando financiamen-


tos ou concedendo-os em termos e condições rígidos;

• descumprimento ou violação de cláusulas contratuais;

• pedidos constantes de prorrogação nos prazos de vencimento de dívidas;

• com fornecedores, bancos e outras entidades;

• frequentes saldos devedores em contas correntes;

• constantes renovações de principal e encargos;

• solicitação de créditos urgentes ou não previstos;

• aceitação de taxas ou condições contratuais diferentes das habituais;

• significativa variação entre projeções e dados reais de receitas, custos e


despesas;

 •59
capítulo 3
• diminuição significativa nas vendas e nos pedidos;

• redução dos padrões de crédito para aumentar vendas;

• venda de ativos operacionais;

• relutância em facilitar visitas de analistas;

• repentina reversão de posição aplicadora para posição devedora nos


bancos;

• dificuldade de obter informações financeiras para renovação cadastral;

• repentina sucessão administrativa, e;

• repentina solicitação de desvinculação de garantias acessórias do con-


trato de crédito.

Outro ponto que podemos destacar com relação à inadimplência é a falta


de educação financeira dos consumidores brasileiros. Sobre este tema, veja o
artigo publicado no portal Fator Brasil, no dia 27.07.2011.

3.2.5 Créditos problemáticos

As causas dos créditos problemáticos podem ser agrupadas em três categorias:


(i) erros por parte do credor; (ii) práticas fracas de negócios; (iii) eventos exter-
nos adversos (PEREIRA DA SILVA, 2008).
No primeiro grupo estão as causas sobre as quais o credor tem relativo con-
trole. É possível citar como exemplos: fraca entrevista de empréstimo, anális
financeira inadequada, estruturação inadequada do empréstimo, suporte ina-
dequado ao empréstimo, documentação inadequada, gerenciamento de crédito
inadequado, frágil investigação de crédito, entre outras.
O segundo grupo, práticas fracas de negócios, diz respeito à capacidade
técnica e gerencial que o cliente apresenta ao gerir seus negócios.Exemplos:
mau gerenciamento; a deterioração dos produtos; práticas fracas de marke-
ting; fragilidade nos controles financeiros.
Por fim, o grupo de eventos externos adversos diz respeito às ameaças e opor-
tunidades que surgem em torno da empresa.Exemplos: fatores ambientais; fato-
res econômicos; fatores competitivos; fatores reguladores; fatores tecnológicos.

60 • capítulo 3
Dentre as consequências dos crédito problemáticos podemos destacar a
perda dos valores emprestados ou dos financiamentos feitos aos clientes; pro-
cessos judicias contra o credor; custo de oportunidade do capital empregado;
e, ainda; custos incorridos no processo de cobrança dos recursos emprestados.

3.3 Outros fatores para o estabelecimento


de uma política de crédito

A seguir, serão apresentados fatores importantes para o estabelecimento


uma política de crédito para bancos.

3.3.1 Normas legais

Na fixação da política de crédito de um banco, haverá necessidade de observaç


das normas emitidas pelas autoridades monetárias. Como exemplo, Pereira da
Silva (2008, p. 86) cita os parâmetros definidos pela Resolução nº 2.099 do Ban
co Central do Brasil. As normas para funcionamento das instituições financeiras
não fazem parte da política de cada instituição, porém constituem-se em condi-
cionantes para sua forma de operar.

3.3.2 Definição estratégica do banco

Aqui reside a base para as políticas de crédito do banco. Fatores como o porte
das empresas, áreas de atuação geográfica, segmentação de mercado e produ-
tos financeiros serão decisivos na determinação dos padrões de crédito. Operar
com grandes empresas e grandes negócios requer padrões de avaliação de risc
compatíveis. (PEREIRA DA SILVA, 2008).

3.3.3 Objetivos

As metas de lucratividade e os objetivos de negócios a serem alcançados serão


componentes da política geral do banco, que, por sua vez, irão interferir na po-
lítica de crédito. (PEREIRA DA SILVA, 2008).

 •61
capítulo 3
3.3.4 Delegação de poderes

Segundo Pereira da Silva (2008, p. 87), a principal fonte de receita de um banco


deve ser a intermediação financeira. Adicionalmente, todos os bancos precisam
e devem fazer empréstimos. Isto exige que cada banco esteja estruturado para
decidir com rapidez e segurança, uma vez que as decisões de crédito envolvem o
risco de que a promessa de pagamento não seja cumprida. Criar uma estrutura
capaz de responder com rapidez às solicitações de empréstimos e financiamen-
tos dos clientes é uma condição fundamental para a competitividade.
A alçada de decisão é uma forma de delegação de poder. Veja, a seguir, as
principais formas de decisão:

ALÇADA INDIVIDUAL

ALÇADA CONJUNTA

ALÇADA COLEGIADA

Figura 7 – Principais formas de decisão.


Elaborada pelo autor.

Pela definição de Pereira da Silva (2008), a alçada individual é aquela atribu-


ída a um indivíduo em decorrência do cargo que ocupa na organização. Pode
compreender desde a alçada de um gerente de uma agência bancária até a al-
çada do presidente do banco. A alçada conjunta ocorre quando duas ou mais
pessoas podem assinar conjuntamente. A alçada colegiada é típica dos chama-
dos Comitês de Crédito. Nessa categoria pode haver desde comitês de agências
bancárias, formadas pelos gerentes, passando por comitês formados por mem-
bros das áreas técnicas de crédito, com ou sem participação das áreas comer-
ciais, até o comitê máximo do qual pode participar até o presidente do banco.

62 • capítulo 3
ATIVIDADE
1. O que você entende por política de crédito?

2. Conceitue alçada de decisão e explique os três tipos de alçada encontrados em um


banco.

REFLEXÃO
Foi visto, no decorrer deste capítulo, que o prazo de pagamento, os descontos para pag
tos à vista e os instrumentos de crédito utilizados são os principais fatores quando cons
radas as condições de venda. Além disso, a informação acerca da capacidade de pagam
de cada cliente é determinante da receita futura esperada quando as empresas fazem v
das a prazo, e neste ponto as agências de crédito, como o SERASA e o SPC, são redutora
de custos empresariais. Por todos esses motivos, a concessão de crédito tem bastante r
vância na administração financeira de curto prazo, devendo ser analisada cuidadosame

LEITURA RECOMENDADA
Existem diversos artigos que apresentam como empresas de diversos setores da econom
estabelecem suas políticas de crédito. Acesse os links abaixo para conhecer, na
alguns exemplos destas políticas.
1. A influência da política de crédito na liquidez e rentabilidade do segmento de agron
cios brasileiro: http://www.aedb.br/seget/artigos08/273_Artigo.pdf

2. Análise da política de crédito adotada pelas microempresas varejistas de confecçõe


http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2005_Enegep0703_0866.pdf

3. Avaliação da política de crédito rural e a teoria insumo-produto: um artigo-re


http://www.sober.org.br/palestra/12/06O340.pdf

capítulo 3 •63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BLATT, A. Avaliação de risco e decisões de crédito: um enfoque prático. São Paulo:
Nobel, 1999.

GITMAN, J.L. Princípios de Administração Financeira. 7 ed. São Paulo: Harbra, 1997.

LEMES JUNIOR, A. B. et al. Administração Financeira: princípios, fundamentos e práti-


cas brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010

NIYAMA, J. K.; GOMES, A. L. O. Contabilidade de instituições financeiras. 2. ed. São


Paulo: Atlas, 2002

RENDE, Rômulo (Org.). Como elaborar um plano de cadastro, crédito e cobrança. –


Belo Horizonte: SEBRAE/MG, 2007.

SANTOS, J. O. dos. Análise de Crédito: Empresas e Pessoas Físicas. São Paulo: Atlas,
2006

SILVA, José Pereira da. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6 ed. São Paulo: Atlas,
2008

SOUSA, Almir Ferreira de; CHAIA, Alexandre Jorge. Política de crédito: uma análise qua-
litativa dos processos em empresas. Disponível em: <http://www.ead.fea.usp.br/cadpesq/
arquivos/v07-3art02.pdf > Acesso em: 28 jul. 2011.

ASSAF NETO, Alexandre; MARTINS, Eliseu. Administração financeira: as finanças das empres
sob condições inflacionárias. São Paulo: Atlas, 1986.

BRIGGS, Roy. How to find your break-even .point


Upholstery Design & Manufacturing
(UDM). January, 2000.

GITMAN, LawrencePrincípios
J. de administração financeira
– essencial. 2. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2001.

64 • capítulo 3
WELSCH, Glenn Albert. Orçamento empresarial. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

WESTON, J. Fred;BRIGHAM, Eugene F. Fundamentos da administração. financeira


São
Paulo: Makron Books, 2000.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, continuaremos a estudar os fatores que são considerados na defin
de uma política de crédito.

 •65
capítulo 3
Política de crédito –
Parte II
4 Política de crédito – Parte II
No capítulo anterior, foi apresentada a primeira parte da formulação de uma
política de crédito. Neste capítulo, a continuidade do estudo da política de cré-
dito está relacionada com limite, função, análise de crédito e garantias

OBJETIVOS
•  Conceituar limite de crédito;
•  Compreender a importância do limite de crédito dentro da análise do risco de crédito de
um cliente;
•  Discutir a função e a importância da análise de crédito;
•  Conhecer os principais tipos de garantias reais e pessoais.

REFLEXÃO
Você se lembra de ter utilizado limite de cheque especial em sua conta corrente? Caso sua
resposta seja positiva, você deve se lembrar também do custo elevado dessa operação,
que, em parte, justifica-se como um “prêmio” que o cliente paga pelo risco que oferece par
a instituição financeira.

4.1 Limite de crédito

O limite de crédito refere-se ao valor total de crédito que determinado cliente


poderá ter com a organização. Quanto maior for o limite, mais o cliente poderá
comprar, aumentando, assim, o faturamento. Por outro lado, quanto maior for
o valor devido, maior será a perda, caso o cliente não pague.
Para Pereira da Silva (2008), a decisão de crédito pode ser restrita à análise
de uma proposta específica para atender a uma necessidade de um cliente, ou
pode ser mais abrangente, fixando-se um limite para atendimento ao cliente
em diversos produtos e por um prazo determinado. A sistemática de trabalhar
com limites requer uma análise mais completa e possibilita maior agilidade
nas decisões. Na análise caso a caso, cada vez que o cliente precisa de um
empréstimo ou de um financiamento, o banco analisa cada proposta e toma
a decisão na alçada competente.

68 • capítulo 4
Conforme afirma Santos (2012), para o financiamento das necessidades
básicas, os clientes podem recorrer à obtenção de duas modalidades de linhas
de crédito: as linhas rotativas e as linhas pontuais. As linhas rotativas compre-
endem os limites de crédito que ficam à disposição do cliente para o fin
ciamento de suas necessidades, dentro de valores, prazos e garantias previa-
mente definidos por políticas de crédito. Em parte, essa modalidade é m
arriscada, tendo em vista as incertezas quanto ao real direcionamento que o
cliente dará para a utilização dos recursos financeiros. As linhas pontuais des-
tinam-se a financiar necessidades com caracterização definida quanto à fina-
lidade, ao valor, ao prazo e à garantia. Essa modalidade de crédito apresenta
forma de amortização parcelada ou concentrada na data do vencimento.
Pereira da Silva (2008) afirma que no critério limite de crédito, uma v
que fixado o chamado limite rotativo, as operações poderão ser feitas co
maior rapidez e sem depender de nova análise, desde que estejam enquadra-
das nas condições predefinidas. O limite pode ser aprovado para uma empre-
sa particular ou para um grupo de empresas. Pode ser específico para u
linha de produtos ou pode ter caráter global. Pode estar associado a um tipo
de garantia ou não.
Ainda segundo o mesmo autor, é importante não confundir limite com al-
çada. A política de crédito define quem tem poder para decisão em sua própria
alçada e quem pode fixar limites de crédito. Uma vez fixado o limite de crédito,
o gerente poderá efetuar operações dentro desse limite, mas isto não represen
ta que essa decisão seja de sua alçada. Para os pequenos negócios, os sistemas
de credit scoring e rating, estudados anteriormente, podem ser utilizados como
facilitadores da fixação dos limites de crédito.

4.1.1 Parâmetros fundamentais na definição do limite de crédito

A análise de risco de crédito e a identificação das necessidades do cliente e dos


produtos do banco que satisfaçam tais necessidades estão entre os fatores ne-
cessários à estruturação de qualquer proposta de crédito, em termos de prazo
e limite de pagamento.
Para definição do valor a ser disponibilizado pela instituição financeira são
utilizados alguns parâmetros, que variam de banco para banco, em função da
política de crédito de cada um.

 •69
capítulo 4
Estes parâmetros podem ser classificados em três grupos básicos: legais,
ligados à política de crédito e técnicos, todos apresentados com mais deta-
lhes a seguir.

4.1.1.1 Legais
O crédito está regulamentado pelas normas legais e as instituições financeiras
estão subordinadas ao cumprimento das regras estabelecidas pelas autoridades
monetárias bem como aos diplomas legais que disciplinam o sistema financei-
ro. Há uma preocupação das autoridades quanto à segurança nas operações de
crédito, no que diz respeito às exigências de seletividade, cadastro e conduta do
cliente, inclusive na emissão de cheques sem provisão de fundos, ao mesm
tempo em que busca a pulverização das aplicações não as concentrando num
mesmo setor de atividade ou em poucos clientes. (PEREIRA DA SILVA, 2008).

4.1.1.2 Ligados à política de crédito


Segundo Pereira da Silva (2008), neste grupo de parâmetros concentram-se as
regras ordinárias da orientação da filosofia administrativa da instituição quan-
to às grandes diretrizes. Então, definem-se:

a) Limite máximo de empréstimos e financiamentos atingido junto aos


clientes;

b) Destinação de recursos para cada região geográfica em que a institui-


ção atua;

c) Destinação de recursos para cada setor da economia;

d) Nível de pulverização das operações;

e) Perfil do risco dos clientes com os quais se pretende trabalhar;

f) Porte das empresas com as quais se pretende trabalhar.

Ainda segundo o mesmo autor, todos esses parâmetros representam guias,


mas são flexíveis. Há grande número de instituições financeiras que tendem a
uma atuação mista, operando com grandes clientes por meio de plataformas
específicas e no varejo por meio da rede de agências, da mesma forma que há
os bancos com atuação direcionada exclusivamente para o varejo e os especiali-
zados em “pacotes” para atenderem à ampla necessidade do cliente.

70 • capítulo 4
4.1.1.3 Técnicos
Os parâmetros técnicos estão ligados às chamadas áreas técnicas de análise de
crédito nos bancos, cuja função básica consiste em apreciar uma proposta ou
um limite de crédito e emitir um parecer sobre a viabilidade técnica de a em-
presa pagar o empréstimo na época do vencimento. (PEREIRA DA SILVA, 2008).

4.2 Composição e formalização dos processos

As normas de crédito devem definir quais documentos compõem um processo


de crédito. Podemos citar alguns exemplos:

Contrato social e Apresentar os sócios da empresa;


Participação dos sócios no capital social;
alterações
Poderes de cada sócio e por quanto tempo.

Ficha cadastral pessoa


Informações relevantes para a decisão de crédito.
jurídica e sócios

Demonstrações Assinadas pelos responsáveis pela empresa e pelo contador;


Outras informações de caráter financeiro;
financeiras
Planilhas de análise das informações financeiras.

Relatórios de análise
Informações para subsidiar a decisão de crédito.
de crédito e de visita

Pesquisa de restrições Pesquisa sobre restrições da empresa, dos diretores e


sobre o cliente dos sócios

Figura 8 – Documentos que compõem proposta de crédito.


Elaborado pelo autor.

Muitas dessas informações devem ser gerenciadas de forma integrada,


vendo estar disponíveis por meio magnético. Quanto à formalização, a experiên
cia tem demonstrado que muitos bancos têm tido prejuízo por desatenção no
cumprimento de determinadas formalidades legais, como falta de assinatura pe
los clientes nos contratos de empréstimos ou mesmo por falta de formalização
de garantias. (PEREIRA DA SILVA, 2008).

 •71
capítulo 4
4.3 Análise de crédito

Após uma organização definir as características dos elementos que compõem


sua política de crédito, deve definir como será seu processo de análise de cré-
dito. Santos (2003) comenta que o objetivo do processo de análise de crédito
é o de averiguar se o cliente possui idoneidade e capacidade financeira par
amortizar a dívida.

EXEMPLO
A profundidade de uma análise de crédito está diretamente relacionada ao valor que está
sendo pleiteado. Quanto maior for o valor, maior será a profundidade da análise. Você pode
verificar tal diferença ao observar os processos bancários de análise para concessão
cheque especial e financiamento habitacional. O processo de análise para o cheque especia
é bem mais simples, pois o valor a ser liberado é bem menor.

Caso o processo de análise de crédito seja eficaz, a lucratividade da organi-


zação aumentará, pois serão reduzidas as perdas com clientes que se tornam
insolventes (não conseguem quitar sua dívida). Isto ocorre pelo fato de tais
clientes não terem seus créditos aprovados.
Entre as técnicas utilizadas para se realizar uma análise de crédito, a mais uti-
lizada pelas organizações é chamada de análise subjetiva. De acordo com Santos
(2003), a análise subjetiva, ou a de caso a caso, é baseada na experiência adquirid
pelos analistas de crédito, no conhecimento técnico no bom senso e na disponi-
bilidade de informações (internas e externas) que possibilitem diagnosticar se o
cliente possui idoneidade e capacidade de gerar receita para honrar o pagamento
do crédito concedido.
A análise subjetiva consiste na coleta de dados do cliente que está pleitean-
do o crédito. Posteriormente, os dados serão avaliados pelo analista de crédito
e a venda a prazo será liberada ou não. Caso o crédito seja liberado, o analista
deve estipular, dentro dos parâmetros da política definida pela organização, as
características do crédito liberado: limite, taxa de juros, prazo e garantia.
Como as pessoas físicas (pessoas) e jurídicas (organizações) possuem caracte-
rísticas diferentes, os processos de análise de crédito para analisá-las são diferen-
tes. Para que você conheça um modelo, apresentaremos as etapas de um process
de análise de crédito para pessoas físicas a seguir.

72 • capítulo 4
1 º. Análise de idoneidade: sugere-se que seja a primeira informação averi
guada. Caso o cliente não apresente informações negativas, ou tenha re
rizado as restrições existentes, as demais informações deverão ser coleta
As informações sobre a idoneidade do cliente podem ser obtidas por inte
médio de organizações de proteção ao crédito, tais como: Serasa e SPC.

2 º. Análise cadastral: refere-se à análise de dados de identificação dos clien-


tes, tais como: escolaridade, estado civil, idade, número de dependentes
tipo de moradia (própria ou alugada), tempo no emprego atual etc.

3 º. Análise financeira: consiste na identificação da renda do cliente e pos-


teriormente na análise de compatibilidade com o crédito que está sendo
pleiteado. Normalmente, o valor da parcela mensal do crédito não
ultrapassar 30% da renda total do cliente. A fonte mais usual para deter-
minação da renda do cliente é o demonstrativo de pagamento (holerite).

4 º. Análise de relacionamento: baseia-se em informações sobre o caráter do


cliente e seu relacionamento com o mercado de crédito. Tais informaçõe
podem ser obtidas em instituições financeiras (referências bancárias), em
outras organizações com as quais o cliente se relaciona (referências com
ciais) e com pessoas físicas (referências pessoais).

5 º. Análise patrimonial: é importante que os credores obtenham informa-


ções sobre o patrimônio dos clientes, para que possam vinculá-lo em con
tratos de crédito, sempre que constatarem aumento de risco e/ou julgare
necessário. O patrimônio de uma pessoa física pode ser obtido por interm
dio da declaração do imposto de renda ou de documentos que comprove
a posse de um bem (documento de um veículo ou escritura de um imóve

6 º. Análise do negócio: quando pessoas físicas têm suas rendas extraídas de


atividade empresarial, liberal ou autônoma, os analistas de crédito devem
coletar informações (cadastrais, de idoneidade e financeiras) do negócio
de seus gestores. A análise do negócio é importante para que se verifiqu
se a renda obtida pela pessoa física tem perspectivas de continuidade ou
pode cessar a qualquer momento. Exemplo: uma pessoa que trabalhe em
um segmento de mercado que esteja em crise pode perder o emprego a
qualquer momento e vir a se tornar inadimplente.

 •73
capítulo 4
4.3.1 Cadastro

Segundo Rende (2007), o instrumento a ser utilizado para levantar os dados ca-
dastrais dos clientes é a Ficha Cadastral. Esta ficha nada mais é do que o cadastro
do cliente, em que serão colhidas as informações necessárias para a análise pri-
mária de crédito, necessária para elaborar um conceito a respeito da capacidade
e condição dos clientes de pagarem as prestações geradas pela venda a prazo.
Esta ficha não deve ser muito longa e complicada, a fim de não tomar tempo
do cliente nem do profissional responsável pela análise de crédito.
Todos os dados registrados na Ficha Cadastral, de acordo com Rende (2007),
devem ser conferidos com base nos documentos apresentados pelo cliente,
que geralmente são:
• Carteira de Identidade
• CPF
• Comprovante de residência
• Comprovante de renda

DADOS PESSOAIS
Nome Completo
Comprador
Carteira de Orgão Carteira Série Outro documento
identidade Profissional

CPF Nacionalidade Natural de Data de Nascimento

Filiação Pai Mãe

Endereço Residencial Nº Apto.

Bairro Cidade Estado Telefone

CEP Casa Própia/Alugada/Com os pais/Hotel/República/Há quanto tempo

Empresa que trabalha Seção / Sala

Endereço Nº Telefone

Bairro Cidade Estado Data admissão Renda Mensal Cargo

Estado Civil Nome do Esposo(a) Profissão Renda Mensal

REFERÊNCIAS COMERCIAIS
Referência Referência
Referência Referência
Pessoas Conhecida
Nome

Endereço Telefone

Figura 9 – Modelo de Ficha cadastral


Fonte: acidelrei.com.br

74 • capítulo 4
Outros documentos também deverão ser apresentados no momento da ela-
boração do cadastro, como a carteira de trabalho, contracheque, declaração do
IR, escritura de imóvel, entre outros, com o objetivo de comprovar a capacidade
de pagamento do cliente.
Na hora de conferir os dados com os documentos apresentados, Rende
(2007) chama a atenção para o seguinte:

a) A assinatura constante no documento de identidade deve ser semelhan-


te à feita na Ficha Cadastral.

b) Confira a foto no documento de identidade para reforçar a identificação


do cliente.

c) Verifique a vigência do contrato de trabalho do cliente pelas das anota-


ções na Carteira de Trabalho e no contracheque.

d) Indícios de adulteração de documentos, como rasuras ou colagens, de-


vem servir de alerta para uma averiguação mais rigorosa sobre a pessoa
que está querendo comprar a prazo.

4.3.2 Pesquisa cadastral

Outro procedimento importante no momento de conceder o crédito é a pesqui-


sa cadastral dos seus clientes utilizando os serviços de centrais de informação
e de proteção ao crédito. Essas organizações fornecem dados de cartórios di-
versos (protestos), de instituições financeiras e de empresas associadas. Entre
elas, podemos destacar:
• SERASA;
• Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC);
• Associações comerciais;
• Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) das Câmaras de Dirigente
jistas (CDL).

CONEXÃO
Entre no site http://www.equifax.com.br/ e conheça uma empresa que apresenta um do
maiores bancos de dados de operações comerciais de consumidores no país.

 •75
capítulo 4
Em muitos casos, Rende (2007) afirma que essas centrais fornecem solu-
ções para dar segurança às micro e pequenas empresas na hora de vender
prazo, tais como proteção para o recebimento de cheques, consultas cadastrais
imediatas e sistema de acompanhamento de dados de pessoas físicas e jurí
dicas que contemplam, entre outras, informações sobre protestos, ações judi-
ciais, emissão de cheques sem fundos, pendências financeiras, participação
em empresas falidas e dívidas vencidas.

4.3.3 Análise das informações

A partir da confirmação das informações sobre o cliente, Lemes Junior (2010,


p. 400) afirma que a empresa dispõe dos elementos necessários para elaborar
a análise dessas informações que, preferencialmente, será realizada com o au-
xílio de programas de processamento de dados específicos para essa função.
Os aspectos mais importantes na análise das informações são:

a) Pessoas Jurídicas
• Comparação entre o período médio de pagamento e cobrança (sin
cronização do fluxo de caixa).

• Análise temporal e setorial dos índices financeiros da empresa

• A organização, experiência no ramo

• Frequência e volume de negócios para se conhecer o nível de ativi


dade da empresa

• Análise de dados conseguidos com as consultas realizadas junto às


empresas e agências especializadas é útil para a tomada de decisões.

b) Pessoas Físicas
• Adequação do valor do crédito pretendido com o nível de re
confirmado.

• Nível de comprometimento dos ganhos do cliente quando adicio-


nado o crédito pretendido.

• Desenvolver mecanismos alternativos para pessoas que não conse


guem comprovar renda como, por exemplo, aumento das garantias
exigidas.

76 • capítulo 4
4.4 Garantias

Conforme discutido anteriormente, na parte relativa aos chamados Cs do Cré-


dito, o colateral refere-se à capacidade do cliente em oferecer garantias com-
plementares.
Segundo Silva (2010), a garantia é uma espécie de segurança adicional e, em
alguns casos, a concessão de crédito precisará dela para compensar as fraque-
zas decorrentes dos outros fatores de risco. Uma empresa com excelente clas-
sificação de crédito, provavelmente, não estará disposta a oferecer garan
em operações de curto prazo, podendo ocorrer o contrário, ou seja, a empresa
solicitar o cadastro e as demonstrações contábeis do banco para avaliar
mesmo é sólido o suficiente para merecer suas aplicações.
Entretanto, mesmo que a empresa mereça uma excelente classificação de
risco, em se tratando do financiamento de um projeto de longo prazo, a tendên
cia é de que o credor solicite garantias, dada a incerteza em relação ao futuro.
No outro extremo, entretanto, poderíamos encontrar uma situação, cuja clas-
sificação de crédito da empresa é muito ruim, representando alto risco. Nesse
caso, a garantia por si só poderia não justificar a decisão de crédito.

De acordo com Silva (2010), alguns fatores são relevantes na definição da


garantia:
a) o risco representado pela empresa e pela operação;

b) a praticidade em sua constituição;

c) os custos incorridos para sua constituição;

d) o valor da garantia em relação ao valor da dívida, isto é, deve ser suficien


para cobrir o principal, encargos e despesas eventuais;

e) a depreciabilidade do bem oferecido como garantia;

f) o controle do credor sobre a própria garantia; e

g) a liquidez, ou seja, a facilidade com que a garantia pode ser convertida


em dinheiro para liquidar a dívida.

 •77
capítulo 4
Cabe ao profissional de risco identificar as fragilidades do devedor e da ope-
ração, bem como recomendar o tipo de garantia necessária, tendo em vista a
liquidez e a segurança propiciada por ela. Por outro lado, afirma Silva (2010),
cabe às áreas jurídicas especializadas fornecer a orientação necessária para dar
segurança à operação a ser realizada.

4.4.1 Garantias pessoais


Segundo Santos (2006), são as garantias que, em vez de serem constituídas so-
bre coisas específicas, repousam sobre pessoas (físicas ou jurídicas). Não vincu-
la nenhum bem específico do cliente ou do garantidor, mas recai sobre a tota-
lidade dos bens que ambos possuírem, no momento da liquidação do crédito.
Silva (2010) complementa que a garantia pessoal ocorre quando se exige do
devedor apenas a promessa de pagamento, contentando-se o credor com a ga-
rantia comum que lhe possa dar o patrimônio presente e futuro do devedor ou
do garantidor (avalista ou do fiador).
Entre as garantias pessoais, temos o aval e a fiança.

4.4.1.1 Aval
Segundo Silva (2010), o aval é uma
ML12NAN / DREAMSTIME.COM

garantia pessoal em que o avalista


assume a mesma posição jurídica
do avalizado, tornando-se solidário
pela liquidação da dívida. Consti-
tui-se pela assinatura do avalista no
verso ou no anverso do respectivo
título. No aval, assim como na fian-
ça, há necessidade da assinatura do
cônjuge, sob pena de invalidação da
garantia outorgada. O aval é uma obrigação autônoma em relação à obrigação
principal. Uma operação de crédito pode ter vários avalistas e caso o devedor
principal não cumpra com a obrigação, é facultado ao credor cobrar a dívida de
qualquer um dos avalistas, inclusive sem precisar cobrar do devedor principal.
Para Santos (2006), é uma garantia pessoal do pagamento de um título de
crédito, dada por pessoa (física ou jurídica), que fica solidariamente responsá-
vel com o devedor pelo pagamento do crédito.

78 • capítulo 4
O aval garante apenas o valor que está expresso no título de crédito avalizad
Muitos credores exigem que os avalistas assinem o contrato, fazendo com que
assumam também as responsabilidades por obrigações que vão além das previ
tas na promissória, o que é um expediente que, às vezes, funciona nos tribunais
Santos (2006) cita alguns cuidados a serem tomados sobre garantias em ava

• O título de crédito deve estar bem formalizado (preenchimento


lores, endereços, dados corretos, ausência de rasuras);

• Conferência das assinaturas, com a colocação do visto de confe


cia;

• Conferência dos poderes de quem assinou (procuração e estatu


ou contrato social);

• Que o(s) avalista(s) seja(m) o(s) mesmo(s) citado(s) no con


que o título estiver vinculado, e que os dados sejam os mesmos ci-
tados no contrato;

• Que o valor do título de crédito seja suficiente para cobrir o valo


crédito com os respectivos encargos;

• Se quem assinou é pessoa física casada – caso em que se recom


que o outro cônjuge deva também assinar;

• Que normalmente as promissórias tenham vencimento à vista,


que, em caso de vencimento antecipado do contrato, o título po
derá ser protestado e cobrado, sem a necessidade de aguardar um
vencimento posterior.

4.4.1.2 Fiança
De acordo com Silva (2010), a fiança é um tipo de garantia pessoal em que o
fiador promete satisfazer à obrigação de um terceiro para maior segurança do
credor. Na fiança, poderá haver o denominado “benefício da ordem”, isto é, o
credor deverá acionar primeiro e diretamente, o devedor e, após, o fiador, salvo
se este renunciar o benefício. Do mesmo modo que o aval, a fiança prestada po
pessoa física só tem validade se houver a concordância e a assinatura do côn-

 •79
capítulo 4
juge. Se se tratar de fiança prestada por empresa, complementa Silva (2010), é
importante que as pessoas que assinaram o contrato ou a carta tenham poderes
para tal ato, previsto nos estatutos.
As empresas, em alguns casos, podem exigir de seus clientes fiança ban-
cária. Não confiando na solidez de seu cliente, ou por não disporem de um
estrutura de análise que lhes possibilite avaliar o risco de crédito, é uma forma
de acobertarem-se com a fiança prestada pelo banco para determinados limi-
tes de crédito.
Santos (2006) apresenta alguns cuidados a serem tomados sobre garantias
em fianças:
• Verificar se a fiança foi prestada por escrito;

• Se é suficientemente clara quanto à obrigação assumida pelo fiador;

• Se tem vencimento compatível com a obrigação garantida;

• Se houve renúncia expressa aos benefícios de ordem;

• Se quem assinou tinha poderes suficientes para assumir a obrigação;

• Se a(s) assinatura(s) é(são) autêntica(s);

• Se quem assinou é pessoa física casada – caso em que o outro côn


juge deve também assinar o contrato;

• Se o limite garantido é corrigido ou não, e de que forma, para que


dívida esteja suficientemente coberta, ao longo do tempo.

4.4.2 Garantias reais

As garantias reais, de acordo com Silva (2010), ocorrem quando, além da pro-
messa de pagamento, o devedor confere ao credor o direito especial de garantia
sobre uma coisa ou uma universalidade de coisas móveis ou imóveis.
Santos (2006) complementa que são as garantias que se constituem sobre a
vinculação de bens tangíveis do cliente, como, por exemplo, veículos, imóveis,
máquinas, equipamentos, mercadorias e duplicatas.

80 • capítulo 4
No caso da garantia real, o garantidor destaca um ou mais bens de seu patri
mônio para assegurar o cumprimento da obrigação. Esse bem estará comprome
tido legalmente com o contrato de crédito, ao qual se vincula. Caso o cliente nã
apresente condições financeiras de amortizar o valor total do crédito, o bem est
rá à disposição do credor que, mediante processo, poderá recorrer à recuperaçã
do financiamento, via venda judicial.
Assim, a garantia real assegura ao credor, entre outras vantagens, o direito
preferencial de receber a dívida, em relação aos demais credores, cabendo res-
saltar que tal preferência está subordinada à classificação dos créditos, no caso
de falência.

4.4.2.1 Penhor
O penhor, afirma Silva (2010), é garantia real que recai sobre bens móveis,
suscetíveis de alienação, cuja posse, salvo no caso do penhor rural, industrial,
mercantil e de veículos, deverá ser transferida ao credor. Ele poderá efetuar a
venda, judicial ou amigável, do bem para liquidar a dívida, da qual o penhor é
acessório.
Como garantia de dívida, o penhor pode ser oferecido pelo devedor ou por
terceiros, de modo que o credor mantém a posse do bem com o propósito de
garantia sem, entretanto, ser-lhe permitido seu uso. Ao mesmo tempo, se o de-
vedor não pagar a dívida nas condições contratadas, poderá o credor provocar
a venda judicial ou, se assim contratada, a venda amigável, sendo vedad
mesmo tempo apropriar-se do bem.
Silva (2010) complementa que o penhor permite, no caso de falência, que
o credor seja pago preferencialmente em relação aos demais credores e desde
que respeitado o rol legal de preferência dos créditos. Considerando a natureza
acessória do penhor, uma vez liquidada a obrigação principal, isto é, a dívida,
cessa também o penhor.
Santos (2006) sugere alguns cuidados a serem observados no penhor mer-
cantil:
• Observar a adequada especificação das mercadorias dadas em
rantia, ou seja, as características qualitativas e quantitativas dos
bens envolvidos;

• Evitar a aceitação de mercadorias de fácil deterioração.

 •81
capítulo 4
4.4.2.2 Hipoteca
A hipoteca, segundo Silva (2010), tam-
bém é outra modalidadede garantia
real, acessório de uma dívida, que inci-
de sobre bens imóveis. Na hipoteca, o
DMITRIY MELNIKOV | DREAMSTIME.COM

bem hipotecado permanece em poder


do devedor ou de terceiros. Como no
penhor, o credor não pode apropriar-se
do bem hipotecado, mas tem sobre este
preferência para venda judicial, visando
à liquidação da dívida. Apesar de o objeto da hipoteca ser bens imóveis, existem
alguns casos especiais de hipoteca de bens que são móveis por essência, como as
aeronaves e os navios. Por ter natureza acessória, a hipoteca extingue-se quando
findo o contrato principal, entre outras hipóteses previstas na lei civil.
Um mesmo bem pode ser hipotecado junto a vários credores simultanea-
mente, havendo preferência do credor pela ordem de registro. De acordo com
Silva (2010), após a primeira hipoteca, os credores sucessivos não podem pro-
mover a venda judicial antes de seu vencimento (da 1ª hipoteca), entendendo-
se que o credor da 2ª hipoteca (e as sucessivas, se houver) terá direito sobre o
que restar da primeira. Se o preço obtido na venda judicial não for suficiente
para pagar a dívida da segunda hipoteca, seu credor (da 2ª) passará à condição
de quirografário.
Outra, entre as características da hipoteca, é a de conferir ao credor o cha-
mado direito de sequela, ou seja, a eventual venda do bem não afeta
1
, o gravame
podendo o credor executar judicialmente a garantia, mesmo que o bem já este-
ja na propriedade de terceiros.
A hipoteca deve ser registrada no cartório de imóveis da circunscrição de lo-
calização do bem, a fim de constituir o gravame e possibilitar o conhecimento
aos interessados de que o imóvel está hipotecado.

1 Gravame financeiro é o vínculo que impede que o bem dado como garantia seja comerci
lizado durante a vigência do contrato.

82 • capítulo 4
4.4.2.3 Caução de duplicatas
Duplicata, de acordo com Santos (2006), é um título de crédito que se origina d
uma venda ou prestação de serviços com recebimento a prazo.
É uma garantia muito utilizada pelos credores, já que possibilita a diminui-
ção do risco de crédito por meio da vinculação de duplicatas selecionadas ao
financiamento solicitado. A caução de duplicatas é uma espécie de penhor e,
como tal, constitui-se como garantia real.
A palavra caução em vez de penhor é utilizada para distinguir o objeto do
penhor que, no caso de títulos de crédito, trata de bens incorpóreos (créditos).
Segundo Santos (2006), a caução de duplicatas só produz efeitos a partir da
efetiva entrega dos títulos ao credor. Portanto, na caução de duplicatas, somen
te podemos considerar a existência da garantia, a partir do momento em que o
títulos forem entregues ao credor.
Na prática, observa-se que as duplicatas representam uma das mais eficazes
garantias sobre concessões de crédito, principalmente quando observados os
seguintes cuidados (SANTOS 2006, p. 38):

• Evitar concentração de sacados, procurando obter do cliente du


catas diversificadas e com histórico de liquidez;

• Verificar se as duplicatas são sacadas contra empresas idôneas

• Conhecer o risco de crédito do sacado através de análise


informações financeiras, patrimoniais e de idoneidade;

• Confirmar no sacado a veracidade da origem do título para evit


ocorrência de duplicatas “frias” ou falsas;

• Verificar se o prazo de vencimento das duplicatas é compatível


o prazo de vencimento da operação;

• Verificar se as duplicatas são sacadas contra os principais clien


do proponente;

• Receber as duplicatas devidamente endossadas por quem tenh


ficientes poderes.

 •83
capítulo 4
4.4.2.4 Caução de cheques
De acordo com Santos (2006), cheque é uma ordem de pagamento à vista dada
por alguém que possui conta de depósito em uma instituição financeira. Sendo
ordem de pagamento à vista, deve ser paga no momento de sua apresentação.
Como garantia, refere-se a vinculação de cheques ao contrato de crédito.
Em face da elevada exposição à inadimplência – principalmente em épocas
de recessão –, algumas empresas financeiras e não financeiras excluem essa
modalidade de garantia de suas políticas de crédito.
Santos (2006) sugere alguns cuidados a serem tomados na caução de cheques:

• Evitar
concentraçãode emitentes,procurandoobter do cliente
maior diversificação;

• Verificar se os cheques são emitidos por pessoas idôneas;

• Conhecer o emitente por meio de informações cadastrais, evitando


o recebimento de cheques emitidos por pessoas com situação finan-
ceira ruim, e que apresentem registros de restrições no mercado de
crédito (cheques devolvidos, protestos, ações etc.);

• Verificar a quantidade e o valor dos cheques emitidos/devolvidos;

• Verificar se a data de vencimento dos cheques é compatível com o


prazo de vencimento do crédito;

• Verificar se o valor dos cheques que o cliente está desconta


compatível com seu histórico de faturamento.
LUNAMARINA / DREAMSTIME.COM

84 • capítulo 4
4.4.2.5 Alienação fiduciária
É uma garantia real constituída sobre veículos, máquinas e equipamentos.
Consiste na transferência para o credor, de acordo com Santos (2006), do domí
nio do bem, embora o devedor permaneça com a posse. Nessa situação,
vedor assume a figura de “fiel depositário”, não podendo vendê-lo, aliená-lo ou
onerá-lo sem a prévia concordância do credor, sob pena de prisão administrativ
Seguem alguns cuidados a serem observados na alienação judiciária (SAN-
TOS, 2006):

• Certificar-se de que os bens alienados pertencem realmente a quem está


alienando-os. Isso poderá ser feito por meio da apresentação da respecti-
va nota fiscal, onde o credor poderá apor um carimbo ou escrever a men-
ção alienado fiduciariamente;
• Verificar se os bens alienados apresentam-se registrados;
• Receber e arquivar uma cópia da apólice de seguro dos bens alienados,
com cláusula de benefício em favor do credor;
• Ter e arquivar um laudo de avaliação dos bens alienados, ou, pelo me-
nos, um documento confiável que ateste o valor deles;
• Verificar os estatutos, contrato social e procuração do garantidor, para
saber se há restrições.

A análise financeira de uma empresa constitui um dos estudos mais impor-


tantes da administração financeira, e um dos seus principais usuários é o pro-
fissional responsável pela análise de crédito.
Segundo Silva (2008, p.181), podemos conceituar a análise financeira como
o exame das informações obtidas por meio das demonstrações financeira
com intuito de compreender e avaliar aspectos como:

1. A capacidade de pagamento da empresa por intermédio da geraçã


de caixa;
2. Capacidade de remunerar os investidores gerando lucro em níveis
compatíveis com suas expectativas;
3. Nível de endividamento, motivo e qualidade de endividamento;
4. Políticas operacionais e seus impactos na necessidade de capital de
giro da empresa;
5. Diversos outros fatores que atendam ao propósito do objetivo da aná-

 •85
capítulo 4
lise.
Padoveze (2004, p. 3) complementa que a análise financeira consiste em um
processo meditativo sobre os números de uma entidade, para avaliação de sua
situação econômica, financeira, operacional e de rentabilidade. Da avaliação
obtida pelos números publicados, o analista financeiro extrairá elementos e
fará julgamentos sobre o futuro da entidade objeto de análise.
Porém, a análise externa,segundo
THOMAS PERKINS | DREAMSTIME.COM

Assaf Neto (2005), desenvolvida basica-


mente por meio das demonstrações fi-
nanceiras, usualmente publicadas pelas
empresas,traz dificuldadesadicionais
de avaliação, em função das limitações
de informações contidas nos relatórios
publicados.
Assim, a análise financeira não deve
se restringir às demonstrações financei-
ras, devendo abranger todos os demais
fatores que possam interferir na situa-
ção financeira da empresa. De acordo
com Silva (2008), há a necessidade de
o analistafinanceiro ter uma adequa-
da compreensão de outras disciplinas como economia, administração geral,
marketing e algumas particularidades do direito, entre outros conhecimentos.
Os dados para análise financeira, que serão expostos neste capítulo, ba-
seiam-se nos diversos valores e rubricas constantes das demonstrações finan-
ceiras normalmente levantadas pelas empresas, e que vamos discutir no próxi-
mo item. A estas informações, complementadas com índices de mercado, são
aplicados vários critérios de análise, visando obter conclusões sobre o desem-
penho retrospectivo, presente e futuro da empresa.

ATIVIDADE
1. Quais as principais diferenças entre garantias pessoais e garantias reais?

86 • capítulo 4
2. Quais as principais diferenças entre análise e concessão de crédito para pessoas físi
e pessoas jurídicas?

REFLEXÃO
O estabelecimento dos limites de crédito está diretamente ligado ao processo de análise
risco de inadimplência dos clientes. No geral, aqueles que apresentam melhor pontuaçã
em termos de capacidade e histórico de pagamento, com base em diversas característic
que os sistemas de análise de crédito utilizam para criar ratings (renda, cadastro no SPC/
SERASA, comportamento histórico no mercado de crédito, profissão, imóveis próprios, e
tantos outros) tem direito a limites maiores e melhores linhas de crédito.
Tal processo é necessário por permitir que as empresas e bancos ofereçam condiçõe
melhores para os melhores clientes, não deixem de oferecer crédito para os clientes de
ting intermediário, mas evitem perdas com aqueles com pontuação muito abaixo do ace
A garantia é uma espécie de segurança adicional e, em alguns casos, a concessão de
crédito precisará dela para compensar as fraquezas decorrentes dos outros fatores de ri

LEITURA RECOMENDADA
ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005

ASSAF NETO, A. Matemática Financeira e suas aplicações. 8. ed. São Paulo: Atlas,
2003

ASSAF NETO, A.; Tibúrcio, C.A.S. Administração do Capital de Giro. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 2002

GITMAN, L.J. Princípios de Administração Financeira. 12 ed. São Paulo: Pearson


Prentice hall, 2010.

capítulo 4 •87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira – essencial. 2. ed. Porto


Alegre: Bookman, 2001.

MATIAS, Alberto Borges (coordenador). Finanças corporativas de curto prazo: a gestão do


valor do capital de giro. São Paulo: Atlas, 2007.

MEGLIORINI, Evandir; DA SILVA, Marco Aurélio Vallim Reis. Administração financeira:


uma abordagem prática. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

Planejamento
OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. estratégico: conceitos, metodolo-
gia e práticas. 12. ed. São Paulo: Atlas, 1998.

SANTOS, José Odálio dos. Análise de crédito: empresas e pessoas físicas. 2. ed. São Pau-
lo: Atlas, 2003.

WESTON, J. Fred; BRIGHAM, Eugene F. Fundamentos da administração financeira. São


Paulo: Makron Books, 2000.

BLATT, A. Avaliação de risco e decisões de crédito: um enfoque prático. São Paulo:


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GITMAN, J.L. Princípios de Administração Financeira. 7 ed. São Paulo: Harbra, 1997.

LEMES JUNIOR, A. B. et al. Administração Financeira: princípios, fundamentos e práti-


cas brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010

NIYAMA, J. K.; GOMES, A. L. O. Contabilidade de instituições financeiras. 2. ed. São


Paulo: Atlas, 2002

RENDE, Rômulo (Org.). Como elaborar um plano de cadastro, crédito e cobrança. –


Belo Horizonte: SEBRAE/MG, 2007.

88 • capítulo 4
SANTOS, J. O. dos. Análise de Crédito: Empresas e Pessoas Físicas. São Paulo: Atlas,
2006

SILVA, José Pereira da. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6 ed. São Paulo: Atlas,
2008

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litativa dos processos em empresas. Disponível em: <http://www.ead.fea.usp.br/cadpes
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ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2005.

MATARAZZO, D. C. Análise Financeira de Balanços: abordagem básica e gerencial. 6


ed. São Paulo : Atlas, 2003.

PADOVEZE, C. L. Análise das Demonstrações Financeiras. São Paulo: Pioneira Thom-


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BLATT, A. Cobrança por telefone e negociação com inadimplentes. São Paulo: No-
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SIQUEIRA, Denis. Motivação em crédito e cobrança. Em: < http://www.creditoeco-


branca.com/Artigo08.asp>. Acesso em: 31 julho 2011.

BLATT, A. Cobrança por telefone e negociação com inadimplentes. São Paulo: No-

capítulo 4  •89
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BRACHFIELD, P. J. O segredo do sucesso na cobrança de não-pagos está na co-


municação e na negociação. Disponível em: <http://www.creditperformance.com.br/
notas/2007-03-00/o-segredo-do-sucesso-na-cobran-a-de-nao-pagos-esta-na-comunica
-ao-e-na-negocia-ao/>. Acesso em: 31 jul. 2011.

FISHER, R. Como chegar ao sim: negociação de acordo sem concessões. Rio de Janeiro:
Imago ed, 2005.

GHISI, F. A.; MARTINELLI, D. P. Negociação: aplicações práticas de uma abordagem sistê-


mica. São Paulo: Saraiva, 2006.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo vamos falar sobre as linhas de crédito colocadas à disposição de pes-
soas físicas e jurídicas.

90 • capítulo 4
Política de crédito –
Parte III
5 Política de crédito – Parte III
As linhas de crédito permitem que o processo de intermediação financeira
ocorra, ou seja, é por meio delas que pessoas físicas e jurídicas têm acesso aos
recursos necessários para realizar seus projetos de investimentos. E a partir de
agora passaremos a conhecer grande parte delas.

OBJETIVOS
•  Reconhecer as principais linhas de crédito utilizadas pelas pessoas físicas;
•  Reconhecer as principais linhas de crédito utilizadas pelas pessoas jurídicas.

REFLEXÃO
Você se lembra de ter utilizado alguma linha de crédito de pessoa física ou jurídica para rea
lização de um projeto de investimento? Qual?
É sempre interessante comparar diversas opções de linhas de crédito e condições ofereci-
das por várias instituições financeiras antes de decidir qual delas utilizar.

5.1 Linhas de Crédito

A finalidade do crédito deve estar vinculada com a necessidade do cliente e


para isso, é necessário conhecê-lo detalhadamente quanto à situação financei-
ra e patrimonial, a fim de oferecer-lhe uma linha de crédito compatível com
suas necessidades de financiamento e sua capacidade de amortização.
Segundo Santos (2006), as linhas de crédito podem atender a três necessida-
des básicas, a seguir expostas.

a) Pessoas físicas
• Créditos emergenciais: destinam-se a atender às necessidades imediatas
do cliente, para cobrir eventuais desequilíbrios orçamentários ou mesmo
financiamentos de compras. Os créditos emergenciais são operações de
curtíssimo prazo (inferior a um mês), com a amortização concentrada na
data de vencimento.

92 • capítulo 5
•  Financiamentos de compras: permitem ao cliente adquirir produ-
tos e serviços para consumo e bem-estar, tais como alimentos, ves-
tuário e bens eletrodomésticos. Os financiamentos de compras são
operações de curto prazo (inferior a 12 meses), com forma de amor-
tização parcelada ou concentrada na data de vencimento.
•  Investimentos: possibilitam ao cliente adquirir bens de maior valor
para integrar seu patrimônio ou mesmo desempenhar suas ativida-
des profissionais, como, por exemplo, imóveis, veículos, máquinas
e equipamentos. Os investimentos são operações de longo prazo
(superior a 12 meses), com forma de amortização parcelada.

b) Empresas
• Hot money: destina-se a cobrir eventuais descasamentos de caixa, o
seja, desequilíbrios entre os prazos de recebimento e pagamento, ocor-
ridos por poucos dias.
• Capital de giro: são recursos para financiar o ciclo operacional das empres
– período que vai desde a aquisição da matéria-prima até o recebimento d
venda do produto acabado ou serviço prestado. Durante o ciclo operacion
empresas com descasamentos de caixa buscam financiamentos para amo
tizar dívidas com os fornecedores, funcionários e entidades governamenta
• Investimentos: recursos para financiar imobilizações (instalações, má-
quinas, equipamentos e veículos), visando a aumentar a capacidade pro-
dutiva das empresas.

As linhas de crédito tradicionais oferecidas por bancos comerciais às pes-


soas físicas são:
• Limites rotativos (cheque especial e cartão de crédito);
• Contrato de crédito;
• Crédito direto ao consumidor;
• Crédito imobiliário;
• Leasing.
Essas modalidades de crédito são direcionadas ao atendimento de necessi-
dades temporárias ou eventuais dos clientes, como, por exemplo, as decorren-
tes de gastos básicos (moradia, alimentação, saúde, educação, combustível) e
com a aquisição de bens (móveis e imóveis).
As linhas de crédito oferecidas às empresas são direcionadas ao financia-
mento de capital de giro e de investimentos.

 •93
capítulo 5
As necessidades de capital de giro compreendem os gastos operacionais
para financiar a produção, enaquanto as necessidades de investimentos são
aquelas que abrangem os gastos com imobilizações (instalações, máquinas,
equipamentos e veículos).
A seguir, apresentaremos alguns exemplos de modalidades de linhas de cré-
dito às empresas.

5.2 Linhas de crédito pessoa jurídica

5.2.1 Desconto de cheques e duplicatas

É uma operação de crédito muito utilizada pelas empresas, que envolve, princi-
palmente, cheques e duplicatas. No desconto, de acordo com Assaf Neto (2003,
p. 118), a instituição concede empréstimo mediante a garantia de um título re-
presentativo de um crédito futuro. É uma forma de antecipar o recebimento de
crédito por meio da cessão de seus direitos a um mutuante.
Nessas operações, a responsabilidade final da liquidação do título negocia-
do junto ao banco, caso o sacado não pague no vencimento, é do cedente, ou
seja, do tomador de recursos. Assim, o desconto constitui-se mais efetivamente
em empréstimo. Há uma liberação menor de dinheiro, equivalente ao recurso
tomado emprestado, um encargo que será pago no vencimento, quando se li-
quidar a dívida total assumida.

5.2.2 Conta garantida

Segundo Filgueiras (2010, p. 121), é uma abertura de crédito na conta-corren-


te das pessoas jurídicas ou físicas, em que se tem um limite de utilização, até
onde a instituição financeira (IF) acata os cheques emitidos pelo cliente. Este
saca recursos até o limite contratado para saldar suas necessidades imediatas
de caixa.
Quando o cliente depositar recursos nessa conta, os valores serão transferidos
para a IF de volta, a fim de cobrir o saldo devedor da conta garantida.
Existem também algumas contas garantidas as quais têm caráter apenas de
conta devedora, funcionando separadamente da conta-corrente e que, normal-
mente, exigem do cliente o aviso prévio dos montantes a serem sacados, permi-
tindo que a IF trabalhe com taxas de juros menores.

94 • capítulo 5
Os juros são cobrados dos clientes ao fim do mês e calculados sobre o saldo
que permanecer a descoberto.

5.2.3 Créditos rotativos

Semelhantes às contas garantidas, diferenciando pela exigência de duplicatas c


garantia da operação. De acordo com Assaf Neto (2003, p. 119), por meio da en
de duplicatas como garantia da operação, a instituição bancária abre uma linha
crédito com base em um percentual calculado sobre o montante caucionado. D
maneira, conforme as duplicatas são liquidadas, a empresa (cedente) deve sub
tuí-las por outras, visando a manter o limite e a rotatividade do crédito concedid

5.2.4 Hot money

Segundo Filgueiras (2010, p. 120), é um tipo de empréstimo de curtíssimo pra-


zo, normalmente por um ou dois dias, e que dificilmente se estende por muito
mais tempo, pois seu custo costuma ser elevado.
Para seus clientes tradicionais, as instituições financeiras podem criar uma li
nha de hot, que é um contrato-padrão o qual estabelece as regras desse empré
O custo dessa operação é baseado na taxa do dia do CDI (certificado de de-
pósito interbancário) acrescida do spread cobrado pelo banco intermediador.

CONCEITO
O spread bancário é a diferença entre os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos
a pessoas físicas e jurídicas e as taxas pagas por eles aos investidores que colocam seu
dinheiro em aplicações do banco. Quanto maior o spread bancário, maior é o lucro que
bancos têm nas operações de crédito.

5.2.5 Empréstimos para capital de giro

São operações bastante tradicionais e, de acordo com Filgueiras (2010, p. 121),


normalmente vinculadas a um contrato específico, em que a instituição finan-
ceira costuma fixar o prazo, as taxas e, conforme a situação, a vinculaçã
valores como garantia. É muito comum a exigência de duplicatas como garan-

capítulo 5 •95
tia destas operações, cujos valores correspondem a, pelo menos, 120% do prin-
cipal emprestado, variando de acordo com a classificação de risco da empresa
perante o banco.
O sistema de amortização geralmente utilizado nesse tipo de empréstimo
é o Price, em que as parcelas a serem pagas pelo cliente são iguais durante o
período contratado.

5.2.6 Vendor

Segundo Assaf Neto (2003, p. 120), é uma operação de crédito em que uma ins-
tituição bancária paga à vista, a uma empresa comercial, os direitos relativos às
vendas realizadas e recebidos em cessão, em troca de uma taxa de juros de in-
termediação. No vendor, a empresa vendedora atua como cedente do crédito e o
banco, como cessionário e financiador do comprador.
Nesse caso, a instituição financeira paga à vista, ao vendedor, o valor do
créditos recebidos, descontado dos respectivos encargos financeiros, sendo, da
empresa compradora a responsabilidade do pagamento dos títulos ao banco, .
As principais vantagens do vendor para a empresa comercial vendedora
são identificadas na possibilidade de recebimento à vista e redução da base de
cálculo de impostos e comissões incidentes sobre o faturamento (PIS, Cofins,
ICMS, IPI etc.). Para a empresa compradora, o interesse maior são as taxas de ju-
ros cobradas pelo banco na operação, normalmente mais baixas que se tomasse
o empréstimo de forma isolada no mercado.

5.2.7 Adiantamento de contrato de câmbio (ACC) / Adiantamento sobre cambiais


entregues (ACE)

Segundo a Secretaria de Assuntos Internacionais, são as modalidades de finan-


ciamento a exportações, representando um incentivo aos exportadores. Nessas
operações, o exportador recebe antecipação, parcial ou total, em moeda nacio-
nal, do valor equivalente à quantia em moeda estrangeira, descontada a uma taxa
de juros internacional, à qual é somado o spread que embute o risco da operação.
Essa antecipação dá meios ao exportador para custear o processo de industriali-
zação e comercialização a taxas inferiores às do mercado doméstico.

96 • capítulo 5
Apesar de serem modalidades idênticas quanto à forma de operação, a Secreta
ria de Assuntos Internacionais afirma que os ACCs compreendem as operações
pré-embarque (adiantamento até 180 dias do embarque, podendo ser estendi-
do a 360 dias, para liquidação do câmbio), ao passo que os ACEs englobam as
operações pós-embarque (até 60 dias após o embarque, podendo o prazo ser
estendido até 180 dias). Com isso, os ACCs objetivam o financiamento da pro-
dução, enquanto os ACEs destinam-se quase que exclusivamente à geração de
capital de giro. Uma operação conjugada de ACC e ACE obtém prazo de até 540
dias para liquidação.
A taxa dessas operações varia em função do risco de crédito da empresa ex-
portadora, do valor da operação, do país de destino, das flutuações nas taxas in
ternacionais etc., situando-se na faixa de LIBOR + 2,5% a.a. Operações de ACC
ACE, apesar de não contarem com nenhuma outra garantia que não o contrato
de câmbio, representam crédito preferencial, com precedência sobre todos os
outros créditos, inclusive tributários, nos termos do Artigo 65 da Lei nº 4.728.
No mercado financeiro existe uma série de produtos financeiros disponíveis,
torna-se necessário reconhecê-los, assim como suas características princip
Com esse intuito neste capítulo são explorados os principais produtos financeiro
enfatizando-se suas principais referências e particularidades.

5.2.8 Commercial Papers

, conforme Assaf Neto (2003, p. 185), são títulos de cré-


Commercial papers
dito emitidos visando a captação pública de recursos para o capital de giro das
empresas. Constitui-se em importante mecanismo de financiamento para as
companhias de capital aberto alternativamente ao sistema bancário.
Entre suas vantagens, em relação as operações convencionais de emprésti-
mos, estão o baixo custo financeiro e a maior agilidade em tomar recursos no
mercado, devido a eliminação da intermediação bancaria. Ao necessitar de re-
cursos de curto prazo, uma empresa pode colocar títulos de sua emissão junto
a investidores no mercado.
Empresas que estejam negociando empréstimos maiores e de mais longo
prazo podem usar a captação mais ágil do
commercial como um credito
paper
ponte. (ASSAF NETO, 2003, p. 185)
Além dos juros pagos, a empresa emitente dos títulos incorre também
despesas de emissão, tais como registro na CVM, publicações etc.

capítulo 5 •97
Commercial papers são negociados no mercado por um valor descontado
(deságio), sendo recomprados pela empresa emitente pelo seu valor de face (va-
lor nominal), sendo que na negociação do titulo com deságio sobre seu valor no-
minal, fica implícita uma taxa efetiva de juros que titulo paga aos investidores.
Estes títulos também podem ser colocados no mercado pordealers
meio. de
Esses agentes adquirem os títulos das sociedades emitentes e os revendem ao
publico em geral, auferindo uma margem de lucro (comissão).
Os commercial paperscostumam apresentar boa liquidez, devido principal-
mente a possibilidade de recompra pela própria empresa emitente ou pelos dealer

5.2.9 Factoring

Segundo Assaf Neto (2003, p. 182), o é uma operação voltada à pres-


factoring
tação de serviços às pequenas e médias empresas, como gestão de caixas e es-
toques, controle de contas a pagar e receber, negociações com fornecedore
etc. Em função desses serviços prestados, a empresafactoringde
adquire os
direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo realizadas por em-
presas clientes.
Conforme Fortuna (2005, p. 781), no Brasil, a operação
factoring,deem
essência, caracteriza-se pela venda de um direito de crédito, realizada direta-
mente pelo detentor deste crédito (o sacador) a uma instituição compradora
(o factor
), o qual fornece recursos ao sacador, por meio de um deságio sobre o
valor de face deste direito creditório que pode ser, por exemplo, uma duplicata
ou um cheque.
Portanto trata-se de uma atividade de prestação de serviço comercial asso-
ciada à aquisição de direitos de um contrato de venda mercantil, desenvolvida
por uma empresa de caráter comercial.
Ressalta-se que a empresa de
factoringnão é classificada como uma ins-
tituição financeira, não sendo assim permitida a realização de operações de
concessão de crédito. Assimfactoring
o consiste em adquirir, não descontar,
os títulos de crédito provenientes da atividade empresarial de forma definitiva,
assumindo todo o risco inerente ao crédito concedido pela empresa vendedora.
Segundo Assaf Neto (2203, p. 183), uma empresa de não capta re-
factoring
cursos junto aos poupadores de mercado, assim os empresários respondem in-
tegralmente pelos resultados de seus negócios.
A diferença entre o valor nominal dos créditos mercantis e o preço pago

98 • capítulo 5
pela compra dos títulos é que forma o lucro de uma empresa de .
factoring

5.2.10 Crédito Direto ao Consumidor (CDC)

As operações de CDC (Crédito Direto ao Consumidor) são exclusividade das fi-


nanceiras ou do bancos múltiplos com carteira dc financeira, sendo uma ope-
ração tipicamente destinada a financiar aquisições de bens e serviços por con-
sumidores. A garantia da operação usualmente é a alienação fiduciária.
Segundo Faria (2003, p. 81) os cálculos que envolvem as operações do CDC
são originários da tabela Price que, por sua vez, constitui um caso particular c
mais usado do Sistema Francês de Amortização o qual, no final das contas, é
a cópia exata das Rendas Uniformes Constantes na Capitalização Composta.
As rendas ou são definidas como uma série dc capitais que vão sendo dis-
poníveis periodicamente, todos submetidos a determinada taxa de juros.

5.2.11 Arrendamento mercantil

A operação de arrendamento mercantil ( ) pode ser compreendida como


leasing
uma forma especial de financiamento. Basicamente, essa modalidade é pratica
da mediante a celebração de um contrato de arrendamento (aluguel) efetuado
entre um cliente (arrendatário) e uma sociedade de arrendamento mercantil (a
rendadora), visando à utilização, por parte do primeiro, de certo bem durante u
prazo determinado, cujo pagamento é efetuado em forma de aluguel (arrenda-
mento) (ASSAF NETO, 2011, p. 84).
O arrendamento mercantil para pessoa física trata-se de uma operação de
arrendamento ou aluguel de veículos de passeio. A amortização dessa moda-
lidade de financiamento ocorre de forma mensal e a longo prazo – opcional-
mente em 24 ou 36 meses. Após a aprovação do crédito, o bem é adquirido pel
arrendadora, seguindo as especificações técnicas fornecidas pelo cliente. A
final do contrato o cliente poderá optar por uma das três alternativas: comprar
o bem pelo seu valor residual, apresentar interessados na compra do bem pelo
valor residual ou devolver o bem à arrendadora (SANTOS, 2011, p. 13).
Um arrendamento mercantil pode ser financeiro ou operacional, de acordo
com suas características, devendo a classificação ser feita no início do contrato
A classificação adotada pelo CPC 06 leva em consideração de quem são os ris-
cos e benefícios inerentes à propriedade do bem, do arrendador ou do arrenda-

 •99
capítulo 5
tário. Ainda na classificação, é observada a essência da transação e não a forma
do contrato (IUDICIBUS el al., 2010, p. 255).
As prestações do aluguel do bem, comumente denominadas contraprestações,
são normalmente mensais, iguais e sucessivas, nada impedindo que sejam esta-
belecidas outras formas de pagamento. Essa modalidade de arrendamento é de-
nominada deleasing financeiro
, amplamente adotada no Brasil. O denominado
, apesar
leasing operacional de bastante difundido no exterior, expressa pouco uso
no Brasil. Essa modalidade constituiu-se em locação de um bem, em que o valor
residual obtido ao final do contrato é avaliado por seu preço de mercado. Os valore
pagos na locação não podem ultrapassar 75% do valor do bem, correndo todas as
despesas de manutenção por conta da empresa de
(arrendadora). O bem é
leasing
geralmente devolvido à empresa de ao final do prazo contratado, permitin-
leasing
do que seja novamente arrendado no mercado (ASSAF NETO, 2011, p. 85).

CONEXÃO
Para maiores informações acerca das operações de leasing acesse o CPC 06 – Operações
de arrendamento mercantil – pelo link http://www.cpc.org.br/pdf/CPC06_R1.pdf

ATIVIDADE
1. Quais são as principais linhas de crédito disponíveis no mercado para financiamento de
pessoa física? Explique as principais diferenças entre elas.

2. Quais são as principais linhas de crédito disponíveis no mercado para financiamento de


pessoa jurídica? Explique as principais diferenças entre elas.

REFLEXÃO
Neste capítulo você conheceu alguns dos instrumentos financeiros mais utilizados pe
agentes econômicos, tanto superavitários como deficitários oferecidos pelas instituições fi-
nanceiras.
A diversidade de produtos é bastante positiva para pessoas e empresas, uma vez que

100• capítulo 5
permite flexibilidade na escolha da linha de crédito que melhor atende as necessidades
prazo, custo e risco para o cliente.

LEITURA RECOMENDADA
FARIA, Rogério Gomes de. Mercado Financeiro: instrumentos e operações. São Pau-
lo: Prentice Hall, 2003.

Esta obra apresenta os principais instrumentos financeiros usados no mercado financeir


brasileiro, atualizados e mostrados através de casos reais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

FILGUEIRAS, Claudio. Manual de contabilidade bancária mais de 300 questões


com gabarito. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

LEMES JUNIOR, A. B. et al. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas


brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

SANTOS, J. O. dos. Análise de crédito: Empresas e pessoas físicas. São Paulo: Atl
2006.

SECRETÁRIA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS. Mecanismos de financiamento pri-


vado a exportação. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/sain/temas/exportacoes
asp>. Acesso em: 27 jul. 2010.

SILVA, José Pereira da. Gestão e análise de risco de crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

BRITO, Osias Santana de. Mercado financeiro. São Paulo: Saraiva, 2005.

FARIA, Rogério Gomes de. Mercado Financeiro: instrumentos e operações. São Pau-
lo: Prentice Hall, 2003.

FORTUNA, Eduardo. Mercado financeiro: produtos e serviços. 16. ed. Rio de Janeiro:

capítulo 5 •101
Qualitymark Ed., 2005.

ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

BM&F BOVESPA. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/home.aspx?idioma=p-


t-br >.

BRITO, O. Mercado financeiro: estruturas, produtos, serviços, riscos, controle gerencial. 1.


ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

CAVALCANTE, F; MISUMI, J. Y; RUDGE, L. F. Mercado de capitais: o que é, como funcio-


na. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

KERR, R. Mercado financeiro e de capitais. 1. ed. São Paulo: Pearson, 2011.

PINHEIRO, J. L. Mercado de capitais: fundamentos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas,


2005.

PORTAL DO INVESTIDOR. Disponível em: < http://www.portaldoinvestidor.gov.br/>.

SANTOS, J. O. dos. Análise de crédito: empresas e pessoas físicas, agronegócio e pecu-


ária. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

EXERCÍCIO RESOLVIDO
Capítulo 1

1. Conceitue crédito.
Segundo Silva (2008), a palavra crédito, dependendo do contexto do qual trata, tem
vários significados. Em um sentido restrito e específico, crédito consiste na entrega de
um valor presente mediante uma promessa de pagamento futuro.
Para Lemes Junior (2010, p. 393) é a disposição de alguém para ceder temporariamen-
te parte do seu patrimônio ou prestar serviços a terceiros, com a expectativa de recebe
de volta o valor cedido ou receber pagamento, depois de decorrido o período estipulado
na sua integralidade ou em valor correspondente.

102• capítulo 5
2. Destaque a importância do crédito, como parte dos negócios de uma em-
presa comercial ou industrial.
Segundo Silva (2008), no comércio, de um modo geral, o crédito assume o papel de
facilitador da venda. Possibilita ao cliente adquirir o bem para atender sua necessida
ao mesmo tempo em que incrementa as vendas do comerciante. Na indústria, tamb
o crédito assume o papel de facilitador de venda. Um fabricante de equipamentos h
pitalares, por exemplo, pode abrir linhas de crédito para vendas de seus produtos e,
isso, possibilitar a vários médicos, clínicas e hospitais a aquisição de seus equipame
No caso dos bancos, o crédito é o elemento tradicional na relação cliente- banco, ist
é, é o próprio negócio. Como o banco capta recursos junto aos clientes aplicadores e
empresta tais recursos aos clientes tomadores, é fácil visualizar o crédito como part
integrante da atividade bancária.

3. Explique a função social do crédito.


O problema econômico central da sociedade é a escassez. Somente devido à escass
de recursos em relação às ilimitadas necessidades humanas é que se justifica a preo
pação de utilizá-los da forma mais racional e eficiente possível. Essencialmente, a Ec
nomia volta-se para como seus vários agentes decidem sobre os recursos escassos,
produção de bens e serviços orientados ao atendimento dos objetivos de toda a soc
de. Assim, o crédito exerce papel fundamental de oferta de mais recursos para reali
de projetos de todos os agentes deficitários que fazem parte da economia de um pa

4. Correlacione os objetivos da administração financeira com a função de crédito.


De acordo com Santos (2006, p. 15), crédito, em finanças, é definido como a modali
de financiamento destinada a possibilitar a realização de transações comerciais entr
presas e seus clientes. Na atividade econômica, a oferta de crédito por parte de emp
e instituições financeiras deve ser vista como um importante recurso estratégico par
cançar a meta principal da administração financeira, ou seja, a de atender às necess
de todos os supridores de capital e agregar valor ao patrimônio dos acionistas.

Capítulo 2

1. O que você entende por risco de crédito?

capítulo 5 •103
O risco de crédito representa a possibilidade de uma instituição financeira não receber
os valores prometidos pelos títulos que mantém em sua carteira de ativos recebíveis
(ASSAF NETO, 2011).

2. Como as perdas com inadimplência impactam a continuidade das empresas?


A perda com inadimplência pode colocar em risco a continuidade de qualquer negócio,
ao afetar negativamente a saúde financeira da empresa. Assim, torna-se indispensável
mensuração e o gerenciamento do risco de crédito.

3. Como são classificados os riscos de crédito bancário?


1. Risco da operação: Pereira da Silva (2008) afirma que um empréstimo ou financia-
mento específico carrega certas características de risco inerentes à sua finalidade
e à sua natureza. Os principais componentes de uma operação são: (I) o produto; (II
o montante; (III) o prazo; (IV) a forma de pagamento; (V) as garantias; (VI) o preço.
Cada um desses componentes tem sua potencialidade de risco. A inadequação na
determinação do produto ou do valor pode levar o tomador à inadimplência. O praz
de uma operação tem peso significativo no risco de crédito, pois é necessário que o
mesmo seja compatível com a capacidade de pagamento do cliente.
2. Risco do cliente ou intrínseco: esse tipo de risco é inerente ao tomador e decorre de
suas características.
3. Risco de concentração do crédito: decorre da composição da carteira de recebíveis
do banco, quanto à maior ou menor concentração que a mesma apresenta.
4. Risco de administração do crédito: a estrutura de crédito do banco deve ser dotada
das diversas unidades especializadas na coleta, na organização, no armazenamento
na análise e no uso das informações sobre clientes atuais e potenciais.

Capítulo 3

1. O que você entende por política de crédito?

104• capítulo 5
As políticas de crédito vão estabelecer as condições mínimas que o cliente deve pos
para receber crédito da empresa. Estão diretamente relacionadas com o risco de nã
recebimento do todo ou parte do valor da venda. Definem, ainda, as formas de conc
são de crédito com base nas condições presentes e expectativas futuras da situação
econômico-financeira da empresa, das condições da economia e do mercado em qu
empresa ou instituição financeira atuam.

2. Conceitue alçada de decisão e explique os três tipos de alçada encontrados


em um banco.
Alçada individual, alçada conjunta, alçada colegiada.
Pela definição de Pereira da Silva (2008), a alçada individual é aquela atribuída a um
indivíduo em decorrência do cargo que ocupa na organização. Pode compreender de
a alçada de um gerente de uma agência bancária até a alçada do presidente do ban
alçada conjunta ocorre quando duas ou mais pessoas podem assinar conjuntamente
alçada colegiada é típica dos chamados Comitês de Crédito. Nessa categoria pode h
desde comitês de agências bancárias, formadas pelos gerentes, passando por comit
formados por membros das áreas técnicas de crédito, com ou sem participação das
comerciais, até o comitê máximo do qual pode participar até o presidente do banco.

Capítulo 4

1. Quais as principais diferenças entre garantias pessoais e garantias reais?


Segundo Santos (2006) as garantias pessoais, repousam sobre pessoas (físicas ou ju
rídicas). Não vinculam nenhum bem específico do cliente ou do garantidor, mas reca
sobre a totalidade dos bens que ambos possuírem, no momento da liquidação do cré
Já as garantias reais, de acordo com Silva (2010), ocorrem quando, além da promes
pagamento, o devedor confere ao credor o direito especial de garantia sobre uma co
uma universalidade de coisas móveis ou imóveis.

2. Quais as principais diferenças entre análise e concessão de crédito para


pessoas físicas e pessoas jurídicas?
Os aspectos mais importantes na análise das informações são:

capítulo 5 •105
a) Pessoas Jurídicas
•  Comparação entre o período médio de pagamento e cobrança (sincronização do fluxo
de caixa).
•  Análise temporal e setorial dos índices financeiros da empresa.
•  A organização, experiência no ramo.
•  Frequência e volume de negócios para se conhecer o nível de atividade da empresa.
•  Análise de dados conseguidos com as consultas realizadas junto às empresas
agências especializadas é útil para a tomada de decisões.
b) Pessoas Físicas
•  Adequação do valor do crédito pretendido com o nível de renda confirmado.
•  Nível de comprometimento dos ganhos do cliente quando adicionado o crédito pre-
tendido.
•  Desenvolver mecanismos alternativos para pessoas que não conseguem comprovar
renda como, por exemplo, aumento das garantias exigidas.

Capítulo 5

1. Quais são as principais linhas de crédito disponíveis no mercado para fi-


nanciamento de pessoa física? Explique as principais diferenças entre elas.
1. Créditos emergenciais: destinam-se a atender às necessidades imediatas do cliente,
para cobrir eventuais desequilíbrios orçamentários ou mesmo financiamentos de
compras. Os créditos emergenciais são operações de curtíssimo prazo (inferior a
um mês), com a amortização concentrada na data de vencimento.
2. Financiamentos de compras: permitem ao cliente adquirir produtos e serviços para
consumo e bem-estar, tais como alimentos, vestuário e bens eletrodomésticos. Os
financiamentos de compras são operações de curto prazo (inferior a 12 meses),
com forma de amortização parcelada ou concentrada na data de vencimento.
3. Investimentos: possibilitam ao cliente adquirir bens de maior valor para integrar seu
patrimônio ou mesmo desempenhar suas atividades profissionais, como, por exem-
plo, imóveis, veículos, máquinas e equipamentos. Os investimentos são operações
de longo prazo (superior a 12 meses), com forma de amortização parcelada.

2. Quais são as principais linhas de crédito disponíveis no mercado para finan-


ciamento de pessoa jurídica? Explique as principais diferenças entre elas.
1. Hot money: destina-se a cobrir eventuais descasamentos de caixa, ou seja, dese-

106• capítulo 5
quilíbrios entre os prazos de recebimento e pagamento, ocorridos por poucos dia
2. Capital de giro: são recursos para financiar o ciclo operacional das empresas – p
ríodo que vai desde a aquisição da matéria-prima até o recebimento da venda d
produto acabado ou serviço prestado. Durante o ciclo operacional, empresas com
descasamentos de caixa buscam financiamentos para amortizar dívidas com os
necedores, funcionários e entidades governamentais.
3. Investimentos: recursos para financiar imobilizações (instalações, máquinas, equ
mentos e veículos), visando a aumentar a capacidade produtiva das empresas.

capítulo 5 •107

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