Rosalind Franklin

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Rosalind Franklin

Rosalind Franklin (1920-1958) é uma dessas cientistas cujo trabalho não


obteve o reconhecimento que merecia: ela capturou a foto que demonstrou que
o DNA era uma dupla hélice. Foram James Watson, Francis Crick e Maurice
Wilkins, entretanto, que ganharam o Nobel de Medicina em 1962 por seus
descobrimentos sobre a estrutura molecular dos ácidos nucleicos, quatro anos
após a morte da cientista britânica por um câncer nos ovários. Sua pesquisa
também serviu como base para compreender o RNA, o carvão, o grafite e os
vírus.

A vida de Rosalind

Nascida em Londres em 1920, Rosalind Franklin se destacou nas aulas de


ciências desde muito nova, tendo estudado em uma das poucas escolas para
garotas que ensinavam física e química na sua época. Decidiu que queria ser
cientista aos 15 anos, contrariando a vontade de seus pais, que não viam
futuro para ela nessa área dominada por homens e gostariam que sua filha
estudasse serviço social. Em 1939, entrou no Newham College, que faz parte
da universidade de Cambridge, graduando-se em físico-química em 1941. No
ano seguinte, Rosalind tornou-se pesquisadora, analisando a estrutura física de
materiais carbonizados usando raios-x.

Já trabalhando na British Coal Utilization Research Association, desenvolveu


estudos que se tornaram fundamentais sobre as microestruturas do carbono e
do grafite – assuntos que foram a base de seu doutorado em físico-química em
Cambridge, em 1945. Entre 1947 e 1950, Franklin trabalhou no Laboratoire
Central des Services Chimiques de L’Etat, em Paris, onde usou a técnica da
difração dos raios-x para analisar materiais cristalinos.

No ano seguinte, acabou voltando para a Inglaterra, onde se juntou à equipe de


biofísicos do King’s College Medical Research Council no laboratório de
biofísica de Maurice Wilkins. Lá, a cientista começou a aplicar seus estudos
com difração do raio-x para determinar a estrutura da molécula do DNA. Suas
observações e anotações permitiram aos bioquímicos James Dewey Watson e
Francis Crick, juntamente de seu chefe Wilkins, confirmar a dupla estrutura da
molécula do DNA, o que rendeu ao trio o prêmio Nobel de Fisiologia ou
Medicina em 1962.

Exatamente: Rosalind conduziu o estudo que permitiu a observação do formato


helicoidal do DNA, mas seu nome não levou os créditos pela descoberta. Por
isso, a cientista é tida como uma das mulheres mais injustiçadas da ciência
moderna e, nessa época, foi vítima de ofensas diversas por parte de Wilkins,
que chegou a chamá-la de bruxa e conspirar contra a cientista junto a outros
profissionais da área.
Então, em 1953, a cientista acabou se mudando para o laboratório de
cristalografia J.D Bernal, do Birkbeck College, em Londres. Lá, Rosalind deu
continuidade a seu trabalho sobre a estrutura mosaical do vírus do tabaco e,
quando começou a pesquisar sobre o vírus da poliomielite em 1956, descobriu
que estava com câncer no ovário.

Seu último trabalho foi publicado em 1958, sobre as estruturas do carvão, e


Rosalind Franklin acabou morrendo jovem, aos 37 anos, por conta do câncer
descoberto tardiamente

A polêmica briga entre Rosalind e Wilkins

Nos anos 1950, as mulheres ainda eram extremamente desvalorizadas na


academia. Em muitas universidades, por exemplo, apenas homens tinham
permissão para utilizar os restaurantes do campus, e diversos
estabelecimentos não permitiam a entrada de mulheres, sobrando a elas os
espaços exclusivamente femininos (que não costumavam ser exatamente
científicos).

Nesse contexto surge a tensão entre Rosalind e Wilkins por conta da autoria da
descoberta da estrutura dupla do DNA. Em cartas reveladas nos anos
recentes, trocadas por Crick e Watson com Wilkins, os cientistas a chamavam
de “bruxa” e conspiravam contra a presença dela no laboratório. “Espero que a
fumaça de bruxaria saia logo das nossas vistas”, escreveu Wilk em uma carta
enviada a Francis Crick em 1953.

Dois grupos competiam para mostrar como era exatamente a construção do


DNA: de um lado, Wilkins, chefe do laboratório onde Rosalind trabalhava; do
outro, Crick e Watson, em Cambridge. Apesar da rivalidade entre os dois
grupos para ver de quem seria a primeira descoberta, eles acabaram se unindo
contra Rosalind, que foi autora da “fotografia 51” – imagem com ótima definição
do DNA obtida pela cientista, sendo o melhor registro fotográfico da estrutura já
obtido até então. No entanto, a cientista observou as imagens por nove meses,
mas não teve o insight de perceber que a estrutura se tratava de uma dupla
hélice.

Intrigado, um aluno de Franklin levou (sem o consentimento da cientista) a tal


fotografia para Wilkins, com o intuito do chefe do laboratório dar alguma
observação interessante. Wilkins então se apossou da imagem,
compartilhando-a com seus colegas de Cambridge. Foi então que Crick e
Watson tiveram o insight que Rosalind não teve e, em 1953, publicaram na
renomada revista Nature um artigo com a proposta da estrutura, que é aceita
até os dias de hoje. Rosalind Franklin não foi citada no documento, e seu nome
foi totalmente deixado de fora da descoberta.
Reconhecimento póstumo

Quando morreu, em 1958, a cientista não tinha obtido o justo reconhecimento


pelo seu trabalho, que foi essencial para as conclusões do trio ganhador do
prêmio Nobel. A cientista não ganharia a premiação, de qualquer forma, pois
não há Nobel póstumo.

Contudo, as cartas trocadas pelo trio mostram que eles tinham plena
consciência de que não teriam conseguido essa façanha profissional sem o
trabalho de Rosalind. Somente a partir dos anos 1960 que ela passou a ser
reconhecida pela comunidade científica como autora das imagens que
permitiram a observação da dupla hélice e, no ano 2000, o próprio Watson
acabou citando o nome de Franklin como tendo papel fundamental para sua
descoberta. Segundo ele, a cientista só não soube interpretar seus próprios
dados, e Rosalind Franklin acabou ficando conhecida como a “dama sombria”
da descoberta da dupla hélice do DNA. Contudo, Watson, mesmo idoso, não
deixa de se envolver em novas polêmicas: recentemente ele declarou que
negros são menos inteligentes do que brancos e que seria uma ótima ideia
usar a genética para deixar todas as mulheres mais bonitas.

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