Metalurgia Do Pó (Fabricação)

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Engenharia de Fabricação Metalúrgica – SMM176

1o Sem./2007

Notas de Aula

Prof. Marcelo Falcão de Oliveira

Tema: Metalúrgica do pó

O que é metalurgia do pó?

A metalurgia do pó é uma rota alternativa à fusão na produção de peças


metálicas. Basicamente consiste na compactação de pós metálicos na forma
desejada e sua posterior sinterização.

Por que conhecer esse processo é importante?

A metalurgia do pó apresenta vantagens na produção de muitos


componentes metálicos, principalmente do ponto de vista econômico.
Primeiramente porque utiliza exatamente a quantidade necessária de metal na
confecção das peças, portanto sem desperdícios. Permite ainda a produção em
massa; todo o processo pode ser automatizado. As peças apresentam excelente
acabamento superficial e tolerância dimensional, sem rebarbas ou excessos,
eliminando totalmente ou reduzindo muito as operações de acabamento. As
temperaturas envolvidas no processo de sinterização são menores do que aquelas
exigidas na fusão, e portanto economizam energia.

Além desses aspectos econômicos outras vantagens são:


- possibilidade de produzir peças de metais refratários (W, Mo, Ta, etc).
impossíveis ou muito difíceis de serem obtidas por processos
convencionais envolvendo fusão.
- Possibilidade de se obter peças com porosidade controlada (filtros
metálicos, mancais auto-lubrificantes, etc)
- possibilidade de obtenção de materiais compósitos (metais com não-
metais) como discos de fricção, discos de corte, metal duro, etc.
- possibilidade de associação de diferentes metais na peça acabada.

Embora o processo apresente limitações quanto à presença de


porosidades, ao tamanho e quantidade de peças produzidas (há uma
quantidade mínima para que o processo seja competitivo) as propriedades
obtidas são comparáveis àquelas obtidas em peças produzidas por
processos convencionais de fundição e conformação.
No setor automobilístico é comum o uso de componentes produzidos
por essa rota, como, engrenagens, discos, mancais, etc.
A produção dos pós metálicos

A primeira etapa da metalurgia do pó é a fabricação dos pós metálicos. As


principais rotas são:

- Reações químicas
- Atomização
- Deposição etrolítica
- Processos mecânicos

Produção de pós por reações químicas

O método mais comum é a redução de óxidos metálicos por um agente


redutor gasoso (CO) ou sólido (carbono). Os metais mais comumente produzidos
por essa técnica são o Fe, o Cu e o Mo.
Na produção do pó de ferro o processo mais tradicional é o método
Hoganaes. Nesse processo, basicamente, pó de minério de ferro é colocado em
contato (sem mistura) com uma mistura de coque-calcário a uma temperatura de
1270oC. O óxido de ferro é reduzido pelo CO produzindo uma “esponja de ferro”
que depois passa por processos de moagem e peneiramento.
Outros gases utilizados na redução de minérios são o hidrogênio e amônia
dissociada, por exemplo na produção de pó de Cu, W e Mo.

Atomização

Consiste na fusão do metal e posterior dispersão do mesmo em gotas muito


finas. É um processo versátil que permite não só a produção de pós de metais
puros mas como também de ligas metálicas. A microestrutura dos pós é muito
refinada devido ao processo de solidificação rápida envolvido. Em alguns casos
especiais pode-se obter pós metálicos amorfos. Os métodos de atomização mais
comuns são:
- atomização a água: limitado a metais que não sofrem muita oxidação
ou cujos óxidos possam ser facilmente reduzidos posteriormente.
Produz partículas irregulares.
- atomização a gás: as partículas são mais regulares (mais próximas da
geometria esférica) é um processo que pode ser muito limpo quando
utiliza-se gases inertes como Ar ou He. Pode-se utilizar também o ar ou
N2. O ar é limitado a metais e ligas pouco reativos.
- Eletrodo rotativo: o arco elétrico funde um eletrodo em rotação
produzindo gotículas metálicas. As partículas são esféricas.
- atomização a vácuo: densintegração do líquido pela expansão de
gases em solução sob vácuo. Produz partículas esféricas e é um
processo de elevada pureza.
- atomização por disco rotativo: um disco rotativo pulveriza um jato de
metal líquido produzindo partículas esféricas e de elevada pureza.
Deposição Eletrolítica

Consiste na deposição de metais no ânodo de células eletrolíticas.


Utiliza-se como eletrólito uma solução de um sal contento a espécie
metálica desejada. No caso do Cu, por exemplo, usa-se sulfato de cobre.
Permite a produção de metais muito puros que na forma de placas
friáveis ou esponjas são depois moídos.

Processos Mecânicos

Consiste na moagem dos metais. É aplicada em metais duros e frágeis,


como aqueles na forma de esponjas. Há vários tipos de moinhos, o mais comum é
o moinho de bolas. Durante a moagem há formação de superfícies metálicas livres
e que causam a fácil soldagem e aglomeração das partículas. Para evitar esse
inconveniente normalmente utilizam-se lubrificantes. A formação de superfícies
reativas também pode causar oxidação indesejada o que é melhorado com o uso
dos lubrificantes, pode-se também utilizar moinhos selados com gás inerte.

Compactação do pó (peça verde)

O pó metálico, depois de classificado para apresentar uma distribuição


granulométrica que facilite a compactação, é normalmente misturado a
lubrificantes. Essa mistura é então compactada para formar a “peça verde”.
A compactação ocorre basicamente em 3 estágios que na realidade se
sobrepõem:
1 – re-arranjo das partículas eliminando parcialmente os vazios
2 – deformação plástica das partículas reduzindo ainda mais os vazios
3 – quebra das partículas (devido ao encruamento) e formação de
aglomerados por soldagem a frio.

Existem várias técnicas de compactação, mas aqui serão apresentadas


somente as mais usuais.

Prensagem uniaxial

Alta produção, mas limitada na dimensão axial (devido à não total


transferência de pressão pelo pó). Pode ser de ação simples ou dupla e feita em
múltiplos estágios para garantir densidade uniforme na peça verde. A prensagem
pode ser realizada também a quente (já promovendo total ou parcial sinterização).

Prensagem isostática

O pó metálico é colocado num invólucro flexível que sofre a compressão de


um líquido (prensagem a frio) e, posteriormente, pode ser compactado sob a ação
isostática de um gás a quente. Permite uma transmissão de tensão mais uniforme
pelo pó (produção de peças com grande relação comprimento/diâmetro) e permite
a produção de peças com geometrias que não podem ser prensadas
uniaxialmente. Ainda, a prensagem isostática a quente pode produzir peças já no
estado final de densificação, isto é, compactadas e sinterizadas.

Extrusão a quente

O pó é geralmente colocado num recipiente e então extrudado. Consiste


numa combinação entre compactação a quente e conformação mecânica.

Laminação

O pó metálico é comprimido entre dois cilindros rotativos produzindo uma


tira ou chapa compactada.

Forjamento e laminação de pré-conformados

Combina operações de forjamento e laminação (que veremos em outra


aula) usando tarugos de pó previamente compactado.

Compactação por injeção

Utilizam-se ligantes termoplásticos aos pós que sob ação de calor permite a
injeção dos mesmos em moldes. O processo consiste na injeção e simultânea
compressão da mistura no molde. Permite a produção de peças complexas,
resistentes e uniformes, mas é um processo mais caro do que a prensagem usual.

Sinterização

A sinterização consiste na compactação final da peça verde em alta


temperatura, normalmente de 2/3 a 3/4 da temperatura absoluta de início de fusão
do metal ou liga. Ocorre, portanto, no estado sólido embora possa ocorrer
sinterização com a presença de fase líquida.
A força motriz para a sinterização é a redução da superfície livre das
partículas. Quanto maior a superfície específica das mesmas maior a tendência de
sinterização. A temperatura aplicada fornece apenas a energia de ativação
necessária para o processo.
A sinterização é basicamente controlada pelo processo de difusão atômica.
A difusão de átomos do contorno entre partículas para a superfície do “pescoço”
entre elas é o principal mecanismo de compactação e redução da porosidade. A
presença de defeitos cristalinos facilita esse processo, já que fornecem “caminhos”
energeticamente mais favoráveis para a difusão como é o caso de contornos de
grão, encruamento, etc.
A sinterização é normalmente realizada em fornos com atmosfera
controlada para evitar principalmente a oxidação do metal. As atmosferas mais
usuais são compostas de CO, CO2 (normalmente produtos da queima de gases
como metano e propano), são também usados metanol ou etanol dissociados,
amônia dissociada, hidrogênio e nitrogênio.
Operações Complementares

Após a sinterização as peças podem sofrer operações complementares


para ajustes dimensionais, como por exemplo:

- re-compressão: para aumentar a densidade da peça.


- calibragem: consiste numa leve prensagem para corrigir pequenos
empenamentos e distorções
- cunhagem: para imprimir detalhes nas superfícies.

Outra operação bastante comum é a infiltração onde um metal líquido é


forçado para o interior das porosidades da peça por capilaridade ou sob vácuo. A
infiltração permite a obtenção de peças totalmente densas e praticamente sem
porosidades. Além de melhorar as propriedades finais da peça pode ser usada
para facilitar operações de usinagem. A impregnação de óleos também é usada
em buchas ou peças autolubrificantes.
Embora a usinagem seja indesejável, já que encarece o produto final, em
alguns casos ela é necessária principalmente quando certas tolerâncias ou
acabamentos superficiais são muito rígidos.

Bibliografia

CHIAVERINI, Vicente, Metalurgia do pó, São Paulo: ABM, 4a ed., 2001.

HIRSCHHORN, J. S., Introduction to powder metallurgy. New Jersey, APMI, 1976.

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