Características Que Diferenciam Os Seres Vivos: O Que Sabem Alunos de Diferentes Etapas de Ensino

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CARACTERÍSTICAS QUE DIFERENCIAM OS SERES VIVOS: O QUE

SABEM ALUNOS DE DIFERENTES ETAPAS DE ENSINO

FUJII, Rosangela Araujo Xavier – UEM


[email protected]

Eixo Temático: Didática: Cultura, Currículo e Saberes


Agência Financiadora: PIBIC/CNPq-Fundação Araucária-UEM

Resumo

Diferentemente da matéria inanimada (barro, areia, rochas, água...) constituída por uma
mistura de compostos químicos, os seres vivos possuem atributos extraordinários, onde todas
as intricadas estruturas parecem ter um padrão específico e altamente organizado, com
propósito e função. No presente estudo, objetivou-se investigar como os alunos percebem e
descrevem as características que diferenciam os seres vivos dos seres não vivos. Participaram
da pesquisa 350 alunos, sendo 138 da Educação Básica (EB) e 212 do Ensino Superior (ES) -
primeiro e último ano dos cursos de Direito, Medicina e Ciências Biológicas; da rede estadual
de ensino da região Noroeste Paranaense. Os dados foram obtidos através de questionário
dissertativo, analisados e interpretados segundo os pressupostos teóricos e metodológicos da
Análise de Conteúdo de Bardin (1977). A pesquisa revelou que para 11,1% dos alunos da EB
e 16,2% dos alunos do ES, os seres vivos são aqueles que apresentam um ciclo vital, ou seja,
“nascem, crescem, reproduzem, envelhecem e morrem”; para 42,5% dos alunos da EB e 77,9
dos alunos do ES os organismos vivos são aqueles que apresentam funções orgânicas como
nutrição e respiração; 4,8% dos alunos da EB e 84,9% do ES afirmaram que os seres vivos
apresentam “estrutura e sistemas celulares” (como: célula, mitocôndrias e DNA); mas para
5,7% dos alunos da EB os seres vivos são aqueles que apresentam “pensamento/raciocínio”.
A pesquisa demonstrou que apesar de conteúdos estruturantes relacionados à organização dos
seres vivos, mecanismos biológicos e biodiversidade serem ressaltados nas grades
curriculares da EB, poucos alunos deste nível de ensino, conseguiram ressaltar em suas
respostas critérios fisiológicos mais complexos, relacionados à obtenção de energia,
metabolismo e relação com o meio. Tais dificuldades podem estar relacionadas à falta de
domínio da base científica decorrente de um ensino que valoriza apenas a memorização.

Palavras-chave: Ensino, Aprendizagem, Formação de Conceitos


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Introdução

Estudos realizados em vários países, incluindo o Brasil, revelaram que muitas


pessoas, mesmo depois de concluída a educação básica, apresentam dificuldades de empregar
os conhecimentos científicos, apreendidos na escola, em outros contextos de sua vida
cotidiana (GIORDAN E VECCHI, 1996; SGANZERLA, et al., 2004).
Sob a hipótese de que essa problemática é reflexo de um ensino que privilegia a
memorização em detrimento da compreensão, foram realizados estudos com o intuito de
investigar como se processa a formação de conceitos de biologia durantes a escolaridade
básica, incluindo os conhecimentos obtidos com as atuais descobertas científicas na área de
genética e biologia molecular (CORAZZA-NUNES et al., 2006; PEDRANCINI, et al. 2004
ab; 2005). As análises qualitativas dos dados obtidos nesses estudos mostraram que, apesar
dos alunos terem estudado os conceitos básicos de biologia, em diferentes níveis de
complexidade, prevaleciam em seus diálogos idéias alternativas, de senso comum, muitas
vezes destituídas de significados, a respeito dos seres vivos, células, composição química e
função do material genético. A maioria dos estudantes também expressou dificuldade em
definir o que é vida e, ao caracterizar um ser vivo, utilizaram apenas critérios
comportamentais e fisiológicos observáveis, relacionados às trocas gasosas, alimentação e
movimento (PEDRANCINI, et al. 2005).
Isso pode ser um indício de que a aprendizagem de conhecimentos científicos que
ocorre durante a escolaridade está sendo insuficiente para possibilitar aos alunos o
desenvolvimento e, por conseguinte, a utilização dos conceitos como instrumentos do
pensamento em situações que extrapolam o contexto escolar.
Somando-se à investigação acima apontada, outras pesquisas realizadas em diversos
países têm revelado que o ensino transmitido na escola está sendo pouco eficaz na promoção
do desenvolvimento do pensamento conceitual dos estudantes e, portanto, a maior parte do
saber científico ensinado acaba sendo rapidamente esquecida (CABALLER; GIMÉNEZ,
1993; BANET; AYUSO, 1995; BARRABÍN; SANCHEZ, 1996; GIORDAN; VECCHI,
1996; BANET; AYUSO 1998).
Nos anos recentes, estudiosos e pesquisadores da educação que almejam mudanças
nesse sistema tem direcionado o olhar para um fator fundamental: como o ser humano
constrói significados em relação aos conteúdos que estão sendo ensinados, de forma a não
reproduzirem informações sem o entendimento. A transferência de informação sem
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entendimento ocasiona a não transferência da informação apresentada para a solução de


problemas equivalentes em outros contextos.
Este fator, associado à falta de incentivo e recursos para a educação, à deficiente
formação dos docentes e às vulneráveis políticas educacionais que se alteram de acordo com o
governo instituído, contribuem para a não superação do ensino pautado na transmissão e
memorização de conteúdos fragmentados e dissociados da realidade.

Muitos pesquisadores acreditam que a aprendizagem significativa de novos


conteúdos requer o desenvolvimento do pensamento significativo, processo pelo qual o
indivíduo se apropria dos elementos fundamentais do conceito, os abstrai e os generaliza,
sendo capaz então de “um contexto argumentativo, que dialeticamente propicia a elaboração
de novas aproximações ao significado” (CANDELA, 1998, p.162).

Desenvolvimento

Com o objetivo de se conhecer as concepções apresentadas por estudantes dos


diferentes níveis de ensino: fundamental (8a série), médio (3o ano) e superior (primeiro e
último ano dos cursos de Ciências Biológicas, Medicina e Direito), em relação as
características capazes de diferenciar os seres vivos dos seres não vivos, elaborou-se um
questionário dissertativo, com a questão: Em sua opinião quais as principais características
que diferenciam SERES VIVOS dos SERES NÃO VIVOS?
Para uma avaliação prévia da questão, bem como sua compreensão e aceitação por
parte dos entrevistados, foi realizada uma amostra (teste-piloto) com alguns alunos (três) de
cada um dos diferentes níveis de ensino que participaram da pesquisa.
Para análise das respostas obtidas, optou-se pelos pressupostos teóricos e
metodológicos da Análise de Conteúdo de Bardin (1977), sendo esta uma técnica de análise
interpretativa, onde o pesquisador retira do texto escrito o conteúdo manifesto ou latente.
Bardin explica que o termo “Análise de Conteúdo” reúne:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por


procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
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relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens


(BARDIN, 1977, p. 42).

Assim, a finalidade da Análise de Conteúdo é explicar e sistematizar o conteúdo da


mensagem e o significado desse conteúdo por meio de deduções lógicas e justificadas, tendo
como referencia sua origem e o contexto da mensagem ou os efeitos dessa mensagem. Ela
pretende superar as dúvidas e enaltecer a compreensão de um texto, mediante regras para a
fragmentação do mesmo. Tais regras, determinantes de categorias, devem ser homogêneas,
exaustivas, objetivas e pertinentes.
Esta metodologia começa com uma leitura flutuante, na qual o pesquisador, num
trabalho gradual de apropriação do texto, estabelece vários momentos de idas e voltas entre o
documento analisado e as anotações, até que comecem a surgir as primeiras unidades de
registro. As unidades de registro, que podem ser palavras, conjunto de palavras ou temas
geradores, são definidas passo a passo pelo pesquisador e sirvam de guia na busca das
informações contidas no texto. A definição precisa e as ordenações rigorosas das unidades de
registro ajudarão o pesquisador a controlar suas próprias perspectivas, ideologias e crenças,
controlando sua subjetividade a favor de uma reconhecida sistematização que levará à
objetividade e generalização dos resultados.
A etapa final da Análise de Conteúdo consiste na definição das categorias, ou seja, na
classificação dos elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente,
por reagrupamento, segundo o gênero que tenha critérios anteriores definidos. As categorias
são então, rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos sob um título genérico,
podendo ter critérios semânticos, os quais são categorias temáticas que utilizam o tema como
unidade de registro. Neste trabalho, que fez parte do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC/CNPq-Fundação Araucária-UEM-2007/2008), para realização da
categorização obedeceram-se as seguintes condições recomendadas por Bardin (1977):
a) A exclusão mútua: estipula que cada elemento não pode existir em mais de uma
divisão, mas sendo este dependente da homogeneidade das categorias, na qual
diferentes níveis de análise devem ser separados em outras tantas análises sucessivas;
b) A pertinência: determina que, para uma categoria ser considerada pertinente, deve
estar adaptada ao material de análise escolhido e pertencer ao quadro teórico definido;
c) A objetividade e a fidelidade: as diferentes partes de um mesmo material devem ser
codificadas da mesma maneira, mesmo quando submetidas a várias análises;
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d) A produtividade: um conjunto de categorias é produtiva se fornecer resultados férteis


em hipóteses novas e em dados exatos.

Como o estudo envolveu alunos da etapa final do Ensino Fundamental, etapa final
do Ensino Médio e alunos de três cursos universitários (alunos do primeiro e último ano), para
discussão e apresentação dos dados, considerou-se como G1 os alunos da etapa final do
Ensino Fundamental; já os alunos da etapa final do Ensino Médio foram considerados como
sendo G2; primeiro ano do curso de Direito G3; primeiro ano do curso de Ciências Biológicas
G4; primeiro ano de Medicina G5; último ano de Direito G6; último ano de Ciências
Biológicas G7 e os acadêmicos do último ano do curso de Medicina como sendo G8,
conforme especificado no quadro 1.
As respostas obtidas também apresentaram uma grande variedade de considerações e
especificidades, e seguindo os pressupostos da Análise de Conteúdo, foram analisadas e
consideradas em quatro categorias, sendo elas: Ciclo Vital, Estruturas e Sistemas, Trabalho e
Raciocínio, e Vida. Entre os alunos que descreveram que os seres vivos são aqueles que
apresentam um Ciclo Vital, alguns consideraram em suas respostas as funções orgânicas, já
outros, consideram a existência de relações dos organismos com o meio, assim a Categoria 1
(Ciclo Vital) foi subdividida em outras duas categorias, conforme pode ser observado no
quadro1.

CATEGORIAS DE G1% G2% G3% G4% G5% G6% G7% G8%


RESPOSTAS
Categoria 1 – Ciclo Vital 13,0 9,2 14,3 19,7 21,0 14,3 19,6 8,3
Categoria 1.1 – Funções 40,5 44,5 71,3 80,4 73,6 71,4 81,8 66,7
Orgânicas
Categotia 1.2 - Relação com 13,1 14,7 17,8 67,5 42,0 33,2 44,2 33,3
Meio
Categoria 2 – Estruturas e 4,8 18,5 57,0 73,2 63,1 76,2 85,2 83,3
Sistemas
Categoria 3 – Trabalho e 6,0 5,5 7,1 2,8 0,0 4,7 0,0 0,0
Raciocínio
Categotia 4 - Vida 17,8 44,4 14,3 21,1 10,5 9,5 9,6 8,3
Quadro 1: Respostas obtidas a questão: Em sua opinião quais as principais características que diferenciam
SERES VIVOS dos SERES NÃO VIVOS?
Fonte: Pesquisa direta (2007)
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Assim considerou-se como pertencente à Categoria 1 (Ciclo Vital) aqueles


porcentual de alunos, em cujas respostas descreveram que os seres vivos são aqueles que
nascem, crescem, reproduzem, envelhecem e morrem; estes alunos consideram em suas
respostas os fenômenos comportamentais e fisiológicos normalmente observáveis nos
organismos animais e vegetais. Esse tipo de resposta foi observado tanto pelos alunos da
Educação Básica, como pelos universitários dos diferentes cursos pesquisados:

“Os seres vivos são aqueles que nascem, crescem, envelhecem, se


reproduzem (de forma assexuada ou sexuada) e depois terminam o
ciclo morrendo” (ALUNO DE G4)

“Os seres vivos tem a capacidade de nascer, crescer, reproduzir,


envelhecer e morrer, já os seres não vivos simplesmente passam a
existir, sofrem modificações ou transformações, mas não são capazes
de reproduzir deixando descendentes” (ALUNO DE G7)

Muitos alunos lembraram-se do ciclo vital, ao descreveram que os organismos


apresentam funções orgânicas, como metabolismo, nutrição, respiração e homeostase. Estes
alunos tiveram suas respostas agrupadas na Subcategoria 1.1:

“Os seres vivos nascem, precisam de energia para crescer, respirar,


reproduzir e realizar outras atividades. Os seres não vivos não
realizam nenhuma atividade metabólica” (ALUNO DE G4)

“Seres vivos são aqueles que se alimentam, que metabolizam, produz


energia, libera calor, excretam. Já os seres não vivos não fazem isto”
(ALUNO DE G2)

“Seres vivos são aqueles que possuem metabolismo, ou seja, que


realizam funções como respiração... Seres não vivos são aqueles que
são inanimados, ou seja, não possuem metabolismo” (ALUNO DE
G3)

“Seres vivos tem metabolismo celular, respiratório, ou seja, tem a


presença de células e seres não vivos não tem nada disso” (ALUNO
DE G5)

Muitos alunos em suas respostas também consideraram que os seres vivos


apresentam um ciclo vital e são capazes de manter relação com o meio, através de
sensibilidade a estímulos, reatividade, irritabilidade, adaptação, comunicação ou locomoção.
Estes alunos tiveram suas respostas agrupadas na Subcategoria 1.2:
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“Os seres vivos nascem, crescem, reagem a certos estímulos como


presença de luz ou alimento, e conseguem realizar movimentos para
obter aquilo que precisam; já os seres não vivos são incapazes de
realizar qualquer uma destas atividades” (ALUNO DE G4)

“Os seres vivos respiram, sentem dor, tem sentimentos. Os seres não
vivos não tem nenhum tipo de sentimento nem de dor” (ALUNO DE
G1)

“Seres vivos são organismos que respiram ou que interagem com o


ambiente e seres não vivos são aqueles que não possuem metabolismo
e nenhum tipo de reação ao ambiente” (ALUNO DE G2)

“Os seres vivos nascem, precisam de nutrientes para se desenvolver e


reproduzir, também são sensíveis a alterações internas e externas, os
seres não vivos não sentem nada, não precisam de nada” (ALUNO
DE G5)

“Os seres vivos apresentam a capacidade de reagir perante a


presença de determinados elementos no meio interno (vitaminas,
minerais, maturidade sexual) e elementos no meio externo como
presença de alimento, presença de predador, ou coisas mais simples
como alteração de pH, de umidade ou pressão, os não vivos não
apresentam reação perante estes elementos” (ALUNO DE G7)

Muitos alunos ressaltaram que os seres vivos são constituídos por estruturas e/ou
sistemas orgânicos, como por exemplo, célula(s) e tecidos celulares; este alunos tiveram suas
respostas agrupadas na categoria 2. Observarmos que conseguiram se lembrar desta
característica apenas 4,8% dos alunos que estão terminando o Ensino Fundamental; 18,5%
dos alunos que estão terminando o Ensino Médio; 76,2% dos formandos em Direito; 83,3%
dos formandos em Medicina e 85,2% dos formandos em Ciências Biológicas.

“Os seres vivos tem a presença de células” (ALUNO DE G2)

“A presença ou não de certas organelas como por exemplo o material


genético” (ALUNO DE G2)

“Seres vivos são formados por sistemas, órgãos, tecidos e células,


possuindo assim atividades metabólicas, capacidade reprodutiva,
conjuntos bioquímicos que formam uma estrutura vital. Seres não
vivos são formados de matéria bruta, sem capacidade reprodutiva,
conjunto de elementos não orgânicos” (ALUNO DE G3)
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“O que diferencia os seres vivos é a presença de células, tecidos,


órgãos (mas tem também aqueles organismos mais simples como
bactérias e protozoários que são formados por uma única célula)”
(ALUNO DE G7)

“Os seres vivos apresentam células (ou célula) e estruturas celulares,


os vírus por exemplo não são considerados seres vivos (por muitos)
porque não possuem as estruturas celulares próprias que
proporcionam as atividades biológicas” (ALUNO DE G7)

“O que basicamente diferencia os seres vivos é a presença de


célula(s) e material genético” (ALUNO DE G8)

Mas para muitos estudantes “a vida” é o fator que caracteriza e define um ser vivo,
estes alunos não quiseram (ou não conseguiram) descrever as características que segundo sua
opinião sintetizam o que vem a ser um ser vivo, reduzindo o conceito à palavra. Este tipo de
resposta foi observado entre os alunos de todos os níveis de ensino:

“Ser vivo tem vida e o ser não vivo não tem vida” (ALUNO DE G1)

“Os seres vivos são os organismos que apresentam vida” (ALUNO


DE G4)

“Um ser vivo é aquele que tem vida” (ALUNO DE G6)

Constatou-se também em algumas respostas, um pensamento mais elaborado, com


resposta que poderia ser classificada dentro de várias categorias:

“Os seres vivos apresentam células (ou célula), metabolismo,


homeostase, relação com o meio externo e apresentam a capacidade
de deixar descendentes férteis (seja pela reprodução sexuada ou
assexuada) diferentemente dos seres não vivos que são inertes e
apenas sofrem modificações devido ao meio em que se encontram”
(ALUNO DE G5)

“Os seres vivos apresentam movimentos (mesmos os vegetais


direcionam-se para onde tem mais luz), precisam de energia externa
para manter seu metabolismo, são capazes de se reproduzir e podem
sofrer alterações genéticas (como as mutações) e também apresentam
a capacidade de se adaptar ao meio em que se encontra e evoluir”
(ALUNO DE G5)

“Os seres vivos são formados por células, possuem composição


química mais complexa, possuem a capacidade de movimentação,
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precisam se alimentar, reagem a estímulos, se reproduzem, possuem


ciclo vital, eles tem capacidade de se adaptar, já os seres não vivos
não passam de matéria bruta imóvel” (ALUNO DE G4)

“Existem organismos que são unicelulares mas mesmo nestes existe a


presença de estruturas como membrana celular, material genético e
necessidade de obter energia do meio (mas existem seres vivos que
produzem seu próprio alimento como é o caso dos vegetais), os seres
vivos se movimentam e se comunicam (as vezes por sinais químicos),
reagindo com mudanças que ocorrem no meio” (ALUNO DE G7)

“Os seres vivos tem vida, podem se reproduzem, reagem de diferentes


maneiras quando ocorrem mudanças no ambiente onde vivem,
precisam de energia (alimento), apresentam metabolismo, e
apresentam a capacidade de morrer tendo sua estruturas convertidas
aos elementos químicos” (G8)

Considerações Finais

As concepções e opiniões manifestadas por muitos estudantes, principalmente do


Ensino Fundamental e Médio em relação as características que diferenciam os organismos
vivos, revelaram que tais alunos apresentam uma compreensão sobre este tema cujos
elementos essenciais deste conceito não foram totalmente compreendidos, e por isso a
dificuldade de argumentar e descrever com mais detalhes justificáveis.
Muitos também utilizaram termos e conceitos divulgados situações de ensino, no
entanto demonstraram dificuldades em esclarecê-los, reduzindo o conceito à palavra ou à
definição destituída de significado. Tais dificuldades podem estar relacionadas à falta de
domínio da base científica que possibilita a compreensão dessas definições, o que pode ser
decorrência de um ensino que valoriza a memorização.
Sobre esta questão VYGOTSKY diz:

(...) a experiência pedagógica nos ensina que o ensino direto de conceitos sempre
se mostra impossível e pedagogicamente estéril. O professor que envereda por
esse caminho costuma não conseguir senão uma assimilação vazia de palavras,
um verbalismo puro e simples que estimula e imita a existência dos respectivos
conceitos na criança mas, na prática, esconde o vazio. Em tais casos, a criança
não assimila o conceito, mas a palavra, capta mais de memória que de
pensamento e sente-se impotente diante de qualquer tentativa de emprego
consciente do conhecimento assimilado. No fundo, esse método de ensino de
conceitos é a falha principal do rejeitado método puramente escolástico de
ensino, que substitui a apreensão do conhecimento vivo pela apreensão de
esquemas verbais mortos e vazios (VYGOTSKY, 2001, p. 247).
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Cabe, portanto, à escola, e principalmente aos docentes uma prática voltada ao


ensino de conteúdos significativos capazes de promover uma educação que possibilita aos
alunos/cidadãos a apropriação de conhecimentos com base nos quais possam tomar decisões
conscientes e esclarecidas e dessa forma, sejam capazes de se posicionar e argumentar em
relação a assuntos variados. Os dados analisados indicam que, no que se refere aos conceitos
biológicos que favorecem a compreensão do conteúdo Seres Vivos, os conhecimentos
ensinados na escola não tem possibilitado a todos o entendimento da diversidade e realidade
atual e, por conseguinte o pensar e o falar sobre.

REFERÊNCIAS

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