Vassalos Rebeldes: Motins em Minas Gerais No Século XVIII
Vassalos Rebeldes: Motins em Minas Gerais No Século XVIII
Vassalos Rebeldes: Motins em Minas Gerais No Século XVIII
Expressão desta corrente foi Gustave Le Bon que viu a multidão como uma
forma de vida inferior, embora potencia lmente perigosa. Segundo Le Bon,
Introdução "pouca apta para raciocinar, a multidão é, ao contrá rio, muito apta para a ação''
(HIRSCHMAN , 1992). Esta ação teria assumido. no mais das vezes, a forma de
"Talhe a natureza do vulgo, que para se alegrar e folgar com o seu próprio surtos ané.lmicos por parte de "multidões criminosas" ou de movimentos de
mal, basta ser novidade, e sem razão, por que tem como por hombridade, massa manipulados por lideres demagógicos.
e capricho, seguir tudo o que vem contra razão, oomra piedaae, e contra Por muito tempo, a retórica conservadora sustentou, e manteve viva nas
o agradecimento. Se nam hé que havemos de dizer. que posto que os ciências sociais, a tese da irracionalidade da mul tidão. Foi a partir de meados
homens sejam muito des1guaes em dezejos se conformam todos em hua deste século que, através da análise da composição social das massas, estu-
couza, que hé nam estar nunca contentes, e anhel/ar sempre mudãças, diosos procuraram recuperar a imagem dos ''desordeiros'', "rebeldes" e "amoti-
nam deixando jamais de favorecer as rebel/iões, e ajudar o m~o intento
dos sediciozos; poes se nam pode negar, que nam há quem se entenda
com o povo, porque ao mesmo tempo se enfada da páz, e aborrece as 1 A R volta de 1720 em Vi la Rica. Discurso lllstórlc:o Polltico Ouro Preto: Imprensa Ofticial de Minas Gerai s,
perturbações: se vive oprimido rompe em queixas, e se logra descanso, 1898, p. 45-46 .
3 Para _a conslruç o d a tlpoiogoa dos mollns, inspiramo-nos na amlhse de Claus Offe sobre 8 lógica da ação 5 ATAS da C mara d Ouro Preto Rcvlsl.a do Instituto Histórico c Geográfico Brasileiro. 49(1927):
colerov Ver Or~E. Ciaus e Wl ·SENTHAL, I f imur Duas lógicos d a açêo coletiva· noraçOOs re6rícas 270-273. (Ala de 20 de maio de 1713).
sobre ciass!l soc1a1e forma organizacional In. - Problemas estrutu rais do Estado Capitalista pp 9 1/1)2 6 Idem, obidem.
4 Algun s rnorms que requerem x me mars detodo. constoluem tipos ' mistos" de tuaçao do; atores _ 7 CARTA do Governador o Rei de 28 de maio de 1716. AROU IVO PUBLICO MINEIRO. Seção Colonial
combonam elementos , com maior ou menor intonsrdado. de ambos os topos. Códlc SG 0<1 fl s. 439 a 442
8 Idem, ibidem
30
31
para sempre da cobrança por bateias, fixando o valor do quinto em 30 arrobas ''... todo o paiz estava interessado a favor dos sob/evadas assim grandes
anua1s. Declaravam que não discutiam a justiça do pagamento do tributo com como pequenos por ser interesse commum de todos de tal sorte que já
o qual voluntariamente se dispunham a arcar, mas que nada pagariam caso os moradores da comarca do Sabará e Matto Dentro estarão prevenidos
a forma de arrecadação fosse alterada. esperando o sucesso para o que não sendo como desejavão virem ao
D. Brás não teve outra alternativa além de comunicar ao Rei a impossibili- socorro dos de Vila Rica, e assim por mais que o Governador fez não pode
dade de cobrar os quintos por bateias. Informava em carta de 28 de março de deixar de ceder ao povo, concedendo-lhe o que ped1ã0, porque do
17~5 ... __ a magoa (.... ) de nam poder dar a execução das ordens de [Sua] contrário entrarão os povos destas minas em uma geral soblevação ...13
MaJestade sobre o pagamento dos quintos ser por bateas... ".9
A mesma indisposição dos mineradores com a alteração da forma da Em 01 de Julho de 1720, o Conde de Assumar considerou a representação
cobrança do tri buto manifestou-se em Vila Rica e na do Ribeirão do Carmo. Da dos Procuradores do Povo de Vila Rica e publicou Edital, pelo qual concedia a
mesma maneira cedeu D. Brás, informando ao Rei que se insistisse na cobrança "todos os moradores da dita Vila e a outros quaisquer que se acharão no dito
por bateias" ... provocaria uma geral soblevação ... " . 1o tumulto, ou fossem cabeças dele, ou não, perdão ... ".14 Argumentava o Conde
Em Carta Régia de 04 de março de 1716, que concedia o perdão aos povos no termo de compromisso assinado com os amotinados: "na conjuctura presente
de Vila Real e Vil a Nova da Rainha que haviam se sublevado, o Rei de Portugal ern que a aceitação das Casas de Fundição estava tão melindrosa, mais
afirmava a O. Brás que fizera bem " ... em sossegar esses Povos com deixar de conveniente seria conceder se o perdão" .15
execu tar as ordens para se cobrarem os quintos por bateas ...", permitindo''... Em Termo de 02 de julho, foram deferidas, "como pedião", todas as
em que se continuasse com a forma estabelecida e assentada com lodos os reivindicações dos amolinados. Não obstante a posterior repressão ao motim
Povos em 1rinta arrobas de ouro por anno .. .".11 O Rei de Portugal informava ainda empreendida pelo Governador e a execução de Rlipe dos Santos, medida
ao Governador ter levado em conta também as considerações do Ouvidor Geral arbitrária de o. Pedro de Almeida, em Alvará de 26 de março de 1721 o rei de
da Comarca do Rio das Velhas e dos oficiais das Câmaras das vilas envolvidas Portugal confirmou "a concessão das ditas proposições na forma que lhe farão
no motim sobre a injustiça da cob rança por bateias" .. . em razão de ser inserta outorgadas pello mesmo Conde Govor''. 16
nos escravos a ocupação de minerar... ". 12 Uma certa noção de legitimidade do movimento fica patente em carta de
06 de julho de 1720, na qual o Conde de Assumar afirmava aos oficiais da
A Sedição de 1720, não obstante a execução de Filipe dos Santos, é, sem
Câmara de Vila Rica que a cobrança exorbitante dos tributos ("a barbaridade
dúvida, o caso mais paradigmático de um motim dentro das regras do jogo
da propozição") "fas logo reconhecer o seu impocivel" e ordenava que o Doutor
colonial e o mais próximo ritual mente dos food-riots e tax-rebellions europeus.
Ouvidor Geral, "pedra de escandallo" da revolta de 1720, se retirasse da
A revolta eclodiu em Vila Rica no governo de O. Pedro de Almeida, Conde de
Comarca.17
Assumar, contra o estabelecimento das casas de fundi ção, os abusos de poder
Nos movimentos contra a alteração da forma de arrecadação dos impostos
do Ot,Jvidor Geral da Comarca e dos oficiais da Câmara de Vila Rica, entre outras
e distribuição inicial das terras, tica claro que não se colocava em xeque o
reivindicações. As 14 condições apresentadas pelos amotinados ao Conde de
pagamento do tributo ou a organização da exploração do ouro, A população
Assumar, exigência para dar tim ao movimento, estavam contidas, todas elas,
aceitava as regras do jogo colonial e lutava nos seus parametros, buscando
nos parâmetros delimitados pela polftica metropolitana para as Minas.
preservá-las como, de inicio, haviam sido acordadas.
Na sua luta, os revoltosos contaram com o irrestrito apoio da população da É interessante ressaltar que as origens e a ritualistica desses levantamentos
Capitania. O Senado da Cêrnara de Vila Rica informava ao Rei de Portugal que contra a mudança nas reg ras do jogo colonial foram também as mais comuns
era imperativa a tolerância do Governador com os amotinados porque
32 33
mayor parte da negraria destas Minas a levantarence contra os brancos, tratarão
entre os camponeses da América Espanhola, em especial do México, ao lado das de urdir hua soblevação geral. .. ''.19 Em março do mesmo ano, D. Pedro de
rebeliões contra o abuso de poder das autoridades metropolitanas (Taylor, 1979). Almeida Já havia prevenido o Ouvidor Geral da Comarca do Rio das Mortes da
possibi lidade do levantamento dos negros. Em carta, o Governador expressava
Os motins referidos às formas políticas coloniais menor preocupação com o possível sucesso da empreitada dos escravos do
que com o provével "terror pênico" dos brancos que, ao tomarem conhecimento
Neste segundo tipo de motins, as revoltas escravas foram os movimentos que da eminente revolta, poderiam promover incontrolável desordem. O levantamen-
mais preocuparam as autoridades portuguesas, sendo considerados os negros o to estava previsto para a quinta-feira de Endoenças quando os negros atacariam
as casas da população branca, reunida nas igrejas, rouba riam suas armas e a
''. .. inimigo mais perniciozo por q' sendo estas Minas so cultivada com mata ria. 20 O cuidado do Governador, ao prevenir o Ouvidor Geral do Rio das
gente preta barbara de Africa, e Guine q' todos os moradores possuem, Mortes, era tanto maior pelo receio da generalização da revolta em partes
huns mais, e outros menos conforme su(:'Js posses (.. .), e estando as distintas da Capitania. A movimentação dos negros era noticiada no Furquim,;! 1
mesmas Minas tão abastadas destes bárbaros, inda q' do mestiço a força em Ouro Preto, especialmente no Morro do Ouro Podre onde mineravam quase
do temor e inclinados s6 a fazerem mal, e matarem os brancos, q' julgão quatro mi l escravos, e em São Bartolomeu.22 Segundo O. Pedro de Almeida, os
oapitaes inimigos, pelo privar da. liberdade, e contandosse ;:P cada hum negros entendiam-se " ... conformandosse lodos em parte muy distantes por
branco mais Cie cem Etíopes, q' como barbaros impelidos da sua natural meyo de varias emissarios que anda vão de huas para outras paragens ...".23 Para
frieza, tem por varias intentado despojamos das proprias vidas, e nossas o sucesso da sedição os escravos escolheriam seu rei, rainha e demais oficiais
mulheres, e filhas cativarem. .. '' 18 militares que seriam os líderes do movimento.
Na segunda década dos setecentos, o grande medo das autoridades
Por isso a Metrópole preocupou-se em adotar volume considerável de portuguesas nas Minas era a formação de um Palmares na Capitania. Para evitar
medidas preventivas que se estend1am do controle da vida cotidiana dos que negros armados fizessem frente à ordem púb lica e à população branca, O.
escravos aos castigos mais severos, culminando com as execuç5es sumárias. Pedro de Almeida publicara bando pelo qual proibia os escravos de andarem
Nas Minas do século XVI II, a turbulência escrava não foi pequena. Desta- armados e estipulava penas rigorosas para os senhores que permitissem o porte
camos, em especia l, a ameaça de uma geral sublevação negra, em1719, que de armas pelos seus escravos. O -Governador recomendara enfaticamente ao
da Comarca do Rio das Mortes se estenderia por todas as regi5es da Capitania, Ouvidor Geral do Rio das Mortes que, como exemplo para a população,
a qual marcou profundamente as autoridades por tuguesas e impregnou a obedecesse a legislação, desarmando seus negros. 24
retórica da ordem na Capitania. A escolha dos Reis das nações Mina e Angola Cabe ressaltar que as tentativas das autoridades de controlar os escravos
e a ameaça da fundação de uma ''república negra" na capitania, após o não foram tímidas nas Minas durante o sécu lo XVII I. Proibiram-se os batuques,
exterm1nio da população branca das Minas, deixaram marcas que aparecem na
documentação pós-1720 alusiva aos movimentos sediciosos na região. O temor
da generalização da rebeldia escrava e da contaminação dos motins referjdos. 19 SOBRE a soblevaçao que os negros lntentarao fazer a estas Min es. CSf\a do Governador ao Re1 de
às formas políticas coloniais gerou o que chamamos do mi1t0 do "Rei Neg ro" Portugal em 20 de abril de 1719. ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. See,.:âó Colonial. Códice SG 04 fl s,
e a repressão violenta a estes movimentos. 587-596.
20 CARTA do Governador das Minas para o Ouvidor Geral do Rio das Mortas em 24 da março de 1719.
AROU IVO PUBLICO MINEIRO. Secção Colonl I. Códice SG 11, fls. 1181 , I IBv.
21 Em 1711, os negros mina do Furquim, localidade nas Imediações do RibeirGo do Carmo (Ma riana)
planejaram uma soblevaçao com o intuito de m laram toda a populaçilo branca O ontao Govern dor
A revolta neg ra de 1719- A construção do mito do "Rei Negro" das Min11s. Antônio de Alburquerque, mandou tirar devassa e •... [Jroceder na 1orma OB!õ Leys de S.
Mage stade , e com hú exemplar cas ttgo que sirva de exemplo em caso l!lo irnpo11an1e ao b m comum ... "
Em abril de í719. o Governador das Minas, D. Pedro de Almeida, Conde ORDEM qo Senhor Governador e Cepiram Mor p r e c Superintendente Joseph Rebello Perdit:JãO tirar
de Assumar, informava ao Rei de Portugal que" ... tendosse ajustado entre sy a devassas do lev ntamento quo lntenlavao os negros minas do ribeyrao abaixo A110UIVO f>UI'lliCO
MINEIRO. Secçao Colonial Códice SG 07, 11. 98
22 CARTA do Gove rnador pare o Ouvidor Geral do Rio das Velhas em 24 de março de 171!J ARQUIVO
PÜSLICO M INEIRO. Secção Colonial. Códice SG 11, fls. 117v, 11BV.
23 SOBRE a soblavaç;ao q ue os negros lntent rao lazer e estas Minas. doc. clt. nola 19
18 CARlA de O. Ma•ia ao Governador das Minas em 09 de novembro de 1778. ARQUIVO PÚBLI CO 24 CARTA do Governador para o Ouvidor Geral do Rio d'ls Mortes em 24 de março do 1719 Doc . cll.
M INEIRO. Secç o Colonial COdlce SG 216 . fl s. !89, 190. 19 1, 192, 193
35
34
a v nda de aguardente nas áreas de mineração, o porte de armas, o livre trânsito Tal constatação fica explicitada em car ta de 1725 de D. João V a D.
p los caminhos. Lourenço de Almeida, Gov rnador da Capitania. Arirmava D. João que como
Contudo. temia o Governador pela ineficácia de suas determinações. nas Minas
A1irmava ao Rei que as possibilidades da sublevação eram grandes porque os
negros tinham a seu favor a sua "multidão" e a "necia confiança de seos "... os negros intentarão soblevarem se contra os brancos, o q' consegui-
senhores, que não so lhes fiavão todo o genero de armas, mas encobrião as riam, se não houvesse entre elles a diferença de que os negros de Angola
suas insolencias e os delictos".25 queriam que fosse Rey de todos hum do seo Reyno, e os Mina também
Se a revolta não foi bem sucedida, tal fato deveu-se ao desentendimento de q' fosse da sua mesma palria cuja conjuraçam se descobria por
entre os escravos mna e os angola que disputavam a liderança do movim ento, especial favor de Oeos e se acodio a tempo de se atalhar o danno que
o que permitiu romper o segredo da sedição na Comarca do Rio das Mortes e este movimento podia occasionar a conservação dessas minas, as quaes
transpirar a movimentação escrava no Furquim e em Ouro Preto. Imediatamente absolutamente se perderião se elles a dominassem, e entrariamos no
o Governador tomou medidas para evitar a sublevação. Preveniu à população cuidado de dar hua guerra a qual não so seria muito custosa mas
acautelar-se na quinta- eira de Endoenças, impedindo o acesso dos negros às arriscada, sendo necessarias todas as forças do Brasil para nos tornar-
suas armas e cuidando de sua segurança nas igrejas. Para a Comarca do Rio mos a restituir da que/la porção de terra q' elles possuhissem. .. "
das Mortes, onde a população negra excedia consideravelmente à branca,
enviou o Tenente General João Ferreira Tavares para prender os cabeças. João Para evitar ta l situação, o governador devia tratar da conveniência de só
Ferreira prontamente enviou para Vila do Ribeirão do Carmo os reis das nações permitir a en trada na Capitania de negros de Angola, considerados mais
Mina e Angola e outros negros nomeados oficiais militares. obedientes do que os Mina, "... a quem seo furor e va lentia pode animar a
Em 171 a revolta escrava foi controlada. Porém, afirmava o Governador entrarem em algua deliberação de se opporem contra os brancos ... " 27
das Minas ao Rei de Portugal que não obstante tenha sido possfvel evitar a No mesmo ano de 1725, os oficiais da camara de Vila Rica representavam
sublevação, como ao rei, solicitando que, tendo em vista as" ... tam repetidas insolencias, mortes,
q' nestas minas sucedem feytas por escravos a seos senhores e com o pouco
"se lhes não podem tirar os pensamentos e os desejos de Liberdade, nem temor do castigo ... ", fosse permitido que por esses deli tos merecessem os
por esta cauza se podem extinguir todos sendo tão necessários para a negros morte natural e se executa se nas Minas a sentença sumariamente. Os
subsistência dopas sempre este fica exposto a suceder lhe cada dia o oficiais da Câmara de Vila Rica sugeriam que para tal fosse dada jurisdição do
mesmo... " 26 Governador ao Ouvidor Geral da Comarca de Ouro Preto e ao Provedor da
Fazenda Real - da mesma forma que se praticava na cidade do Rio de
A parti r de '1 719, a ameaça de um novo Palmares passou a conviver com a Janeiro.28
ameaça do "Rei Negro" , mito mobilizador dos escravos, como recurso retórico Em 1731 , D. João V conferiu aos ouvidores gerais das Comarcas a mesma
da ordem nas Minas. A figura mftica do "Rei Negro" passou a corporificar o temor jurisdição que tinham os do Rio de Janeiro de sentenciarem à morte negros
da Metrópole que homens de "perniciozicimo procedimento'' impedissem o considerados culpados em Junta com o Governador e demais magistrados. Por
sossego das Minas. Este Rei mltico simbolizava a possibilidade da fundação de resolução do Conselho Ultramarino de 21 de fevereiro de '1731 , o Rei concedeu
uma "repúbli ca" negra na Capitania. Se a formação de qui lombos representou ao Governador das Minas a mesma jurisdição do Governador do Rio de Janeiro
a "negação da ordem escravista", não obstante a convivência com os atores do e do de São Paulo" ... que sentenciassem em última penna aos rlelinquentes (... )
sistema colonial (GUIMARÃES, 1983), uma generalizada sublevação escrava convocando à Junta os ouvidores de quatro comarcas e o Juiz da Vila do Ribeirão
podia representar a fundação de uma nova ordem e a perda do controle das do Carmo, com o Provedor da Fazenda ... ".29 •
Minas.
27 CARTA o Rei de Ponugal ao Governador das Minas. D. Lovr nço de Almeida em 18 de junho de 1725
ARQUIVO PÜBLICO MIN IRO. Secção Colonial Cód1ce SG 23, fi 47.
25 SOBRE a soblevaçêo que os negros intentar o estas Minas. Doc. clt .
26 Idem, Ibidem. 28 CARTA dos ofl cl ls d Câmara de Vila Rica o Rei de Ponug I em 29 de dezembro de t 725 . AnQU IVO
PÜBLICO MIN IRO. Secçao Colonial. Cód1ce CMOP 09, ri 12.
36
37
As dificuldades de reunir a Junta, de acordo com a Resolução do Conselho do Rey Negro q' V. E. tem na lembrança ... " 32. Se por um lado o Gover~ad?r
Ultramanno de 1731. e os constante atos sediciosos dos escravos resultaram Interino das Minas aproximava o conteúdo das revoltas, por outro usava de tronta
no afrouxamento das exigênc ias para a punição dos negros. tanto ao referi r-se à figura mftica que tmpregnava o discurso da ordem nas Minas
Em 1735, uma revolta escrava em Catas Altas, com a morte de alguns quanto ao tratar da liderança da Sedição de 1736. Segundo Marlinho de
brancos, e a constatação da " .. . liberdade com que vivem os escravos nessas Mendonça
Minas. sendo principal mot1vo de suas dezordes o verem que não se punem os
atrozes delictos que escandalozamente cometem ... " motivaram D. João, após "O capitão da Tropa dos amotinados me parece que o he tanto na
nova consulta ao Conselho Ultramanno, ordenar que se sentenciassem os realidade como o foy o Rey do Rio das Mortes, pois(._.) aquelle fallava
negros nas Minas com o número de quatro ministros, da mesma forma que fora latim aplicando texlos a prepozitos, e este he hum mama Luiz filho de hua
decidido para as Capitanias de Pernambuco e Parafba. Para que não cresces- carijó, nascido e criado no Rio de S. Francisco... " 33
sem as culpas dos negros e as queixas dos moradores, a Junta poderia ser
composta pelo Ouvidor de Vi la Rica, o Juiz de Fora do Ribeirão do Carmo e O Governador Interino demorou muito tempo para se dar conta da genera-
outros dois magistradas que se achassem mais acessfveis, um dos quais, se lizada sublevação no ser tão do São rancisco. Para Diogo de Vasconcelos
posslvel, o Juiz do Fisco.ao (1918, p . 98), Martinho de Mendonça teria ocultado a violência dos motins do
Com a resolução do Conselho Ultramarino de 1735 pretendia-se infundir Sertão" ... para não confessar a enorme responsabi lidade dos factos ... ". Ainda,
temor aos negros e controlá-los pelas faCilidades da execução de sentenças segundo Vasconcellos. não se encontra na '' ... história de Minas tempestade
sumárias . mais temerosa em todo perlodo colonial'' . Basta constatar que a documentação
Os levantamentos dos negros e a formação de quilombos não eram referente à Sedição de 1736 ocupa quatro códices da Secretaria do Governo da
contudo, a única preocupação das autoridades. Os demais motins referidos ã~ Secção Colonial.
formas políticas coloniais representavam para Portugal tan to perigo quanto as A comprovação de que o Governador Interino se deu conta, ainda que
revoltas exclusivamente escravas. tardiamente, da gravidade da Situação do São Francisco fica patente em carta
Na .sedição .d e 1736, ocorrida no Sertão do São Francisco, composta por de novembro de 1737 ao Juiz de Fora da Vila do Ribeirão do Carmo.
uma. s~ne de motrns da população con tra a cobrança da taxa de capitação, fica O inicio de um mot1m em Vila do Carmo, com vozes sediciosas de "Viva o
explicitada a aproximação dos con teúdos das revoltas escravas e demais Povo e Morra Martinho de Mendonça", levou o Governador Interino a prevenir o
movimentos referidos às fonnas políticas coloniais. Liderada inicialmente por Juiz de tora que
potentados do norte de Minas, a revolta de 1736 foi gradati vamente apropriada
por camadas mais baixas da população da área dos Currai s. A época. o "... em semelhante matéria se não deve desprezar qualquer princfpio,
Governad?r In terino das Minas, Martinho de Mendonça de Pina e Proença, teve como mostrou a experiência nos motins do certão ahonde não se fazendo
grandes dificuldades em se informar da real magnitude do rnovi.mento em virtude cazo das vozes que se dicerão huma noute na barra do Rio das Velhas
da dist~ncia da reg 1ão amotinada da sede do governo e do desencontro das se experimentou ao depois huma formal rebellíão ... " 34
noticias vindas do Sertão.31
Em carta a Gomes Freire de Andrade, em agosto de 1736, Martinho de Os motins ocorridos em Campanha da Rio Verde, entre 17 43 e 1746, foram
Mendonça afirmava que os levantes dos moradores do Sertão parecia'' ... couza identiflcados pelas autoridades portuguesas como formação de um quilombo.
A utilização do conteúdo formal de um quilombo para qualificar o tumulto do
Sapucaí pode ser até mera figura de retórica Mas os acontecimentos na
29 REGISTRO d hua ordem de Sua Magd9 q' ao Dr. Ouvidor g. 1 pa se fazer junta em q' &a conden!ac:em
a mona as pessoas nell .declaradas de 24 de fevereiro de 1731 ARQUIVO PÚ BI.I CO MINEIRO. ~cção
Coloni al, CMOP 07 - Regrstro de ordens. alvarás e patentes régias - 1718-1738. fl s. 92v. 93. 93v ,
30 O~DEM do Ral de Portugal ao Goverrr dor da C pltanla de Minas de 31 de dezembrode1735 . ARQUI VO 32 CARTA de Marlinho de Metldonça a Gomes Freire de Andrad om 24 de agosro de 1736 ARQUIVO
PUBLICO MINEIRO. Seoçao Co lonial Códlca 46 ti . 27r, PÚBLI CO MINEIRO. Secçao Colonial Códice SG 55
31 Subre a Sedlçêo de 1736 ver : ANASTASIA. C ria. M .~ . Potentados e bandidos: os motins do sao 33 CARTA de Martlnho de Mendonç a Gomes Freire do Andrada em 23 de lulho do 1736 ARQUIVO
Francisco. Revista de História da FAFICH/UFMG 9 (1989): 74-85 . A documenraçao. volumosa, referente PÚBLICO MINEIRO . Secção Colonial. códlce SG 65,
à Sediçêo de 1736 cMcontra-se nos códices d Secç!!o Colon,al; Sec•ota1 la de Governo, nQs 54 55 66 34 CARTA de M rtlnho do Mendonça ao Dr Jurz de fora d VIla do Ribe~rêo do Carmo em 03 d nov mbro
57. 61 e 62. ' ' ' de 1737 ARQUIVO PUBLICO MINEIRO. Secção Colonial COdlce SG 61. fts 64. 64v
38 39
~omarca do Rio das Mortes exigiram redobrada atenção dos agentes metropo- distantes dos seos quilombos se encontrarão partidas de 20, 30 e de mais
litanos. com espingardas, baonecas, patronas e mais armas de loda a sorte de q'
A população da freguesia do Rio Verde - homens brancos livres mame- q'uzão tão destramente como qualquer soldado; cahem dos atrevimentos
lucos, negros e índios- negou-se a obedecer as ordens do Guarda-M~r Bento q' cometem nas estradas, não duvidão insuflar aos moradores q· possu-
Pe~e~a de Sá, nomeado pelo Governador da Capitania, encarregado d~ distri- hem fabricas grandes, nas suas próprias fazendas, e cazas, não sempre
bUJçao das datas pelo Superintendente das Minas, alegando pertencer a região são ressaxados, obrando nas dos pobres, em q 'a chão menos resistencia,
ao ~overno de ~ão Paulo. e que o Capitão General desta Capitania jé havia e com suas famflias brancas, os mayores atrevimentos, a q' pode chegar
des1gnado ranc1sco Mart1ns Lustoza para efetuar a repartição das terras. Em a sua maldade: amarrando-lhes suas mulheres, e filhas, levando consigo
vão os oficiais da Câmara de São João dei Rei tentaram tomar posse do termo huas, e desflorando outras, .§ sua vista ... " 38
de Sapucaí, sendo rechaçados um sem número de vezes pelos amotinados
armados, entricheirados nos barrancos do Rio Sapucaf.35 A desobediência e levantamentos dos mineradores e a desordem e violên-
O Guarda-Mor Bento Pereira de Sá atirmava em carta a Gomes Freire de cia escrava na Comarca do Rio das Mortes fizeram com que as autoridades
Andrada, Governador das Minas que não havia visto portuguesas aproximassem os conteúdos dos movimentos.
Coincidentemente, em 16 de junho de 1746 quando, além dos atos insolen-
". .. m~yor ins?llencia daquelles rebeldes criminosos e levantados que tes dos negros fugidos, a disputa entre os amotinados do Sapucal e os oficiais
para VIverem livres de perseguiçoens dos acr dores, e outros por se hirem do Senado da Câmara da Vila de São João del Rei tornou-se incontrolável,
publicas os seos insultos buscão aque/le quilombo para não serem Gomes Freire de Andrada determinou a organização de uma expedição para
administradas de justiça desta Capitania ... " 3 combater os qui lombos na Comarca do Rio das Mortes. Justificava o Governador
a necessidade da expedição, que foi financiada pelos Senados da Câmara de
. A C~marca do .Rio das. M?rtes, pela maioria da população negra e pela Vila Rica, Mariana, Vila de São João dei Rei, Vila de São José, Vila Real de Sabará
res1stênc1a em respe1tar a JUnsdlção das autoridades da Capitania de Minas era e Vila Nova da Rainha, pelos
foco de queixas constantes da população branca estabelecida e de preoc~pa
ção dos agentes metropolitanos. "... perniclozicimos estragos, executados t -o barbaramente por mais de
Em 1743, o Governador das Minas recomendava ao Ouvidor Geral da 600 negros que conta estarem em quilombos, com Rey e Rainha, a quem
Comarca trato rigoroso com a população pois" ... os criminosos e mal contentes rendem obediência, com fortaleza. cautela e petrechos ... "
queriam ter as justiças em mayor distancia para obrarem com a antiga liberda-
de ... " 37 Preocupava-se o Governador que" ... passado a tolerancia adeante vere-
No ano de 1745, os ofi ciais da Câmara de São João dei Rei denunciavam mos sem dúvida o cazo sucedido em Palmares de Pernambuco ... " Tornava-se
~ d~sord~m na Comarca do Rio das Mortes provocada pelos negros e a imprescindfvel aplicar um castigo que vencesse de vez o mal e colocasse em
1nquJetaçao dos moradores da região. . paz a Capitania.39
Para tanto, Gomes Freire de Andrada determinou que houvesse em todas
"... pelos contínuos roubos e mortes q'fazem os negros fugidos; tendo as povoações certo número de capitães do mato, pagos pelo povo, que deviam
chegado a sua insolência a tal extremo, q'ainda sem o enterece do roubo,
matão por devoção aos brancos, q'lhe cahem nas mãos, ou nas suas "... sem a mfnima piedade matarem todo o negro q' encontrassem armado
cylladas: sendo em tanto número estes malfeitores, q' em partes muy
38 REPRESENTAÇÃO dos 011icraes da Cãmara da Vila de Silo João de El Rey ao Rei de Portugal em 28 da
35 CARTA do Otflcl es da CamarÇI da Vil de S o Jo o de I Rey a Gomes Freire de Andrada em 22 da abril d 1745. ARQUIVO PUBLICO MIN IRO Documentaç o vul s d Cepit nl da Minas G r i~ SG
setembro de 1746. A~OU IVO PUBLICO MINEIRO. Secção Colonial . C6dlce SG 76. Os. 90v, 91 . 04 Doc. 02.
36 CARTA de Bonlo Pererrade Sá a Gomes Fr ire de Andrad em 24 de maio do 1746. ARQUIVO PUBLICO 39 EXP OIÇÃO rnand d f zer por Gom s Frerre d Andrada p r b ter os qurlombos. Revista do Archlvo
MINEIRO. Secção Colontal. C6dice SG 76 fls. 81. 81 v. 82. Público Mineiro. 1903:61 9·621 Para a expedrçao. as Câmar s contnbufram com 2750 orlavas de ouro.
37 PARA o Ouvidor Ger l_da Comarca do Rio das Mortes. o Doutor José Antonio Calledo em 13 d fevereiro responsabilizando-se pelam nutençâo do p rticipantas, llcando as rmas, pólvoras e balas por conta
do 1743. ARQUIVO PUBLICO MINEIRO. Secção Colonial . Códice SG 84 Jl. 3v, 4r. do Rei de Portugal.
40 41
fora do domfnio de seo senhor(. ..) e mandando os mesmos senhores q' Em 1778, o. Maria I, Rainha de Portugal, ordenava ao Governador das Minas
lhes não permitissem ajuntamentos, nem asembleas, nas quaes maqui- que se tomasse providências e" ... prompto remedio para evadir os perigos que
45
navão a intentada soblevação. recomendando os capitães das ordenan- a estes Povos podem resultar da multidão, e crueldade dos Pretos ... " .
ças o fizessem assim praticar com graves penas aos trangressores ... 4D o temor da fundação de uma "república " negra acompanhou as autonda-
des durante todo o perfodo impenal. O rece1o de uma haitlnização do Brasil
No geral, estas tentativas de controle não foram eficazes. Em 1748, os rev1gorou a f1gura m1t1ca do "Rei Negro".
oficiais da camara de Vila Rica recebiam representação dos moradores que Palavras sábias as de D. Pedro de Almeida, quando da revolta de 1719,
sol icitavam medidas contra os escravos e qui lombolas que continuavam a antevendo a impossibilidade de vencer a rebeldia escrava:
praticar"... grandes ex trosoins e prejulzos, mortes e rabos ... " 41
Como se pode perceber. a rebeldia escrava não podia ser facilmente ". .. como se /11es não podem tirar os pensamentos e dos desejos de
controlada. Em 1770, o conde de Va ladares, Governador das Minas, em razão Liberdade, nem por esta cauza se podem extinguir to~os sendo tão
das constantes queixas dos moradores quanto às "... perturbações, roubos e necess8rios para a subsistência do pafs sempre este f1ca exposto a
desordens ... " praticados pelos negros, ordenou ao Capitão Mor José Alvares sucederlhe cada dia o mesmo... " 46
Maciel que
''.. . todas as companhias; não só do Distrito da sua capitania mor. mas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
das confinantes dos termos de Minas.· e São José que formem hum sircu/o, DAVIS, Natalle z.Culturas do povo. Alo de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
GU IMARÃES. Carlos Magno. Uma Negação da Ordem Escravista: quilombos em Minas
sendo o centro esta Vila (Vila Rica), e distando del/a tres fegoas: fazendo Gerais no século XVIII. Belo Horizonte: DCP/UFMG, 1983 (mlmeo) .
(. ..) sahir da Vila todas as Companhias e pedestres também em sfrculo a HIRSCHMAN. AlbertO . A. retórica da Intransigência. São Paulo: Cia. das Letras. 1992.
encontrar o outro referido; predendo todos os negros e vadios... " 42 HUNT, 1 ynn. Charles Tilly's COIIectlve Action. In: SKOCPOL, Theda. Vlslon and method In
Hlstorlcal Soclology. Cambridge University Press, 1984. . . .
OFFE, Claus. Problemas estruturais do Estado Capitalista. Rio de Janeno: Tempo Bras1le1ro ,
A estratégia militar do Conde de Valadares parece não ter sido bem 1984.
sucedida. Em 1771 , reiterou a necessidade de rlgido patrulhamento devido a ROGER, Nicolas. "Popular Protest In Early Hanoverian London ." Past & Present. 79 (1978) :
muitos ".. . pardos, cnoulos e pretos cativos nascendo destes certas premissas 70-100.
RUO~. George . A multidão na história. Rio de Janeiro: Campus, 199 1.
irreparáveis prejufzos ao público e ao Real Serviço ... " 43 TAYLOR, William B. Orlnklng, Homlclde and rebelllon In colon ial Mexlcan Vlllages. Stanrord:
No governo de O. Antônio de Noronha, em 1778, um grande levantamento Stantord University Press, 1979. .,
THOMPSON. E. P. "La Economia Moral" de la Multltud en la ln~lat_erra ~~I slglo XVII I . In: - ·
escravo toi preparado para o dia do Espírito Santo. O Governador buscou cortar Tradlclón, revuelta y consciencla de clase. Barcelona: Edrtonal Critica : 1984. .
o mal pela raiz. Determinou que o comandante dos Carijós averiguasse cuida- VASCONCELOS, Dlogo de. Historla Media de Minas Gerais. Bello Horizonte: imprensa OfflclaJ.
dosamente o rumor de vozes sediciosas prendesse os cabeças, castigando- 1918.
os ..." asperisimamente com asoutes em o Mourão que (mandara) levantar nesse
deslricto ... " O Governador reiterou a necessidade de ser obedecido o Bando
que mandara publicar proibindo os escravos de portarem armas (mesma proi-
bição intentada pelo Conde de Assumar em 1719), e castigar duramente aqueles
que fossem encontrados armados.44
40 CARTA de D. Maria ao Governador das Minas em 09 de novembro de i na. Doc. cit. nota 18.
~1 TEnMOS de Aeordãos. 16 do outubro de 1748. ARQUIVO PÚBLICO M I NI:II~O Secç!lo Colonial . COdice
CMOP 52 tis 202 v. 203.
42 CARTA do Conde de Valadares ao Capit o Mor José Alvar s Maciel m 13 de maio de 1770. AROU IVO 44 CARTA de D Antonio de Noronha ao Comandante dos CarijOs. Bernardo Martins Perelr , em O~ de abril
PÚBLICO MINEIRO. Secção Colonial. Códic SG 19 doc. 11r. v. do 1777. AnOUIVO PUBLICO MINEIRO Secçêo Colonial C6dice SG 2 1511s. 38, 3Bv.
43 CARTA do Conde de Vil! d res ao Ouv1dor da Comarca do Rio das Velhas em 16 de ju lho d i 77 1. 45 CARTA de D. Marla ... 1778~ Doe Cil . .
ARQU IVO PÚBLICO MINEIRO Secção Colonial. Códice SG 17911. 8ôv. 46 SOBRE a sob1ev ç o que os negros intentarão a estas Mmas . Doe C li.
42 43