Inocência de Visconde de Taunay

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Inocência de Visconde de Taunay

Biografia do autor:
Nome: Alfredo d'Escragnolle Taunay
Nascimento: 22 de fevereiro de 1843
Carreira: Formou-se em Ciências Sociais e Matemáticas na Escola Militar.
Participando da Guerra do Paraguai, onde presenciou vários episódios importantes
que foram relatados no livro A Retirada de Laguna (1871), além de ter tido contato
com algumas regiões do interior do Brasil, principalmente o Mato Grosso, o que lhe
serviu de experiência e inspiração para desenvolver seu mais conhecido romance:
Inocência (1872), que obteve enorme sucesso popular. Além da carreira militar e
literária, destacou-se também na política: foi senador e deputado pelo partido
conservador em Santa Catarina. Com o advento da República, acabou se afastando
do meio político.
Com um estilo simples e agradável, e com características que às vezes fogem do
estilo romântico, Visconde de Taunay se impõe sempre como um observador ao
descrever as paisagens e personagens e ao desenvolver seus enredos. Seu romance
mais conhecido, Inocência, é considerado a maior obra regionalista brasileira. Nele,
Taunay consegue aliar a inocência, a pureza e a beleza da mulher romântica,
encarnada na personagem "Inocência", a uma descrição minuciosa da realidade, da
vida cotidiana do sertanejo, muitas vezes mostrado-o como rude e ignorante. Embora
seja um escritor do Romantismo, sua preocupação com a descrição detalhada do
cenário e das personagens já se mostra muito próxima aos idéias do Realismo, o que
caracteriza a obra do romancista carioca como uma fase de transição dentro de nossa
literatura. Porém, mais do que contar as desventuras amorosas da heroína, o objetivo
do livro é mostrar o confronto de dois mundos diferentes: o mundo dos costumes,
tradições, crenças e preconceitos do homem do sertão contra o mundo liberal e mais
intelectualizado do homem da cidade. Como no romance realista, algumas das
personagens criadas por Taunay são consideradas protótipos de grupos sociais,
sempre agindo e, ao mesmo tempo, sendo corrompidos pelo meio em que vivem.
Morte: 25 de janeiro de 1899 (55 anos), vítima de diabetes
Enredo do livro:
O jovem farmacêutico Cirino, em viagem de trabalho pelo sertão, hospeda-se na casa
de um homem que conhecera no caminho, o Sr. Pereira. Ali, conhece Inocência, filha
do dono da casa, e apaixona-se por ela, mas tem que lidar com alguns obstáculos. A
moça estava prometida em casamento a Manecão e Pereira se mostra bastante
zeloso da palavra empenhada, exercendo forte vigilância sobre o farmacêutico. Chega
ao lugar o cientista alemão Meyer, estudioso de borboletas, trazendo boas indicações
do irmão do Pereira. A admiração do estrangeiro pela beleza de Inocência transforma
a receptividade inicial do dono da casa em antipatia mal disfarçada. Em respeito ao
irmão, Pereira trata o estrangeiro com educação. Cirino, de sua parte, nutre certo
ciúme, desconfiado das intenções do cientista. Meyer nada percebe, mantendo-se
concentrado em suas pesquisas e parte assim que termina o trabalho. Cirino e
Inocência declaram-se um ao outro.
Prevendo a resistência do pai, a moça sugere que o amado visite seu padrinho,
Antônio Cesário, que mora em uma cidade próxima. A jovem acredita que o padrinho
pode ajudar a convencer o pai a romper o compromisso com Manecão. Cirino parte,
alegando que a viagem é para comprar medicamentos. O moço conquista a simpatia
de Cesário, que se compromete a ajudar o casal de apaixonados. Na ausência de
Cirino, Manecão aparece e reafirma os propósitos de matrimônio. Inocência recusa-se
a cumprir o compromisso assumido pelo pai e provoca a fúria deste e do noivo.
Pereira desconfia de imediato de alguma influência de Meyer na decisão da moça,
mas Tico denuncia os amores de Inocência e Cirino. Cego de ódio, Manecão parte em
busca do farmacêutico. Encontra-o no meio do caminho e, depois de rápido e ríspido
diálogo, mata-o. Antônio Cesário chega ao local do crime ainda a tempo de encontrar
Cirino com vida, ouvindo de seus lábios a última palavra: Inocência. A menina morre e,
dois anos depois, Meyer celebra, na Europa, o sucesso de sua descoberta: uma nova
espécie de borboleta que ele batiza com o nome da moça.
Personagens principais:
Inocência – tem cabelos longos e pretos, nariz fino, olhos matadores, beleza
deslumbrante e incomparável, faces mimosas, cílios sedosos, boca pequena e queixo
admiravelmente torneado. De beleza rara, Inocência é simples, bonita, arisca, humilde,
meiga, carinhosa, indefesa e eternamente apaixonada.
Cirino – autointitulado médico, mas é prático em farmácia. Possuía um famoso
Dicionário de Medicina Popular para orientá-lo no tratamento das doenças populares
do sertão. Apesar de sua instrução, que o liga ao mundo urbano, suas origens e sua
profissão mantêm-no ao mundo rural. Ele conhece e respeita os valores desse
universo, embora discorde da postura de Pereira com relação à mulher. “Era homem
que trajava ainda à moda antiga, usando de sapatos de fivela, calções de braguilha, e
cabeleira empoada com o competente rabicho. A sua reputação de pessoa abastada
era, em toda a cidade de Ouro Preto, tão bem firmada quanto a de refinado sovina,
chegando a voz público a afirmar que o seu dinheiro, e não pouco, estava todo
enterrado em numerosos buracos no chão da alcova de dormir.” (página 18) “Tinha
quando muito vinte e cinco anos, presença agradável, olhos negros e bem rasgados,
barba e cabelos cortados quase à escovinha e ar tão inteligente quanto decidido.”
(página 9)
Pereira – pai de Inocência. Homem rude, com visão machista e patriarcal, de mais ou
menos 45 anos, gordo, bem disposto, cabelos brancos, rosto expressivo e franco. O
narrador chama-lhe “legítimo sertanejo, explorador dos desertos”. Pessoa honesta,
hospitaleiro, severo e não trocava a sua palavra nem pela vida, zeloso do
compromisso de honra assumido com Manecão, a quem prometera entregar a filha em
casamento.
Meyer – alto, rosto redondo, juvenil, olhos claros, nariz pequeno e arrebitado, barbas
compridas, escorrido bigode e cabelos muito louros. Pessoa de boa índole, esperto em
sua função e simples ao pronunciar as suas palavras. Admirador da natureza e da
beleza de Inocência.
Manecão – noivo de Inocência. Homem rude, mas decente, trabalhador, sério e
acumulou fortuna, era dotado também de certa macheza. Alto, forte, pançudo e usava
bigode. Enfim, vaqueiro bruto do sertão. Pessoa fria que matava, se fosse preciso, em
defesa de sua honra.
Maria Conga – escrava de Pereira que cuidava dos afazeres domésticos
Antônio Cesário – padrinho de Inocência. Homem respeitado, de palavra, honesto e
justo. Fazendeiro do sertão.
Tico – o anão guardião de Inocência. Mudo, raquítico, esperto e fez por um momento,
o papel de fofoqueiro.
José Pinho (Juque) – ajudante de Meyer. Era muito intrometido em conversas alheias.
Pessoa boa e de confiança de seu patrão.
Análise da visão de Brasil
Inocência é uma história de amor impossível, envolvendo Cirino, prático de Farmácia
que se autopromoveu médico, e Inocência, uma jovem do Sertão de Mato Grosso,
filha de Pereira, pequeno proprietário típico da mentalidade vigente entre os habitantes
daquela região.
A realização amorosa entre os jovens é invisível porque Inocência fora prometida em
casamento pelo pai de Manecão, um rústico vaqueiro da região; e também porque
Pereira exerce for vigilância sobre a filha, pois, de acordo com seus valores, ele tem
de garantir a integridade de Inocência até o dia do casamento.
Ao lado dos acontecimentos, que constituem a trama amorosa, há também o choque
de valores entre Pereira e Meyer, um naturalista alemão que se hospedara na casa de
Pereira à procura de borboletas, evidenciando as contradições entre o meio rural
brasileiro e o meio urbano europeu.
Nos romances sertanejos, há o destaque da oposição entre campo e cidade, natureza
e cultura, o que também se verifica em Inocência. Nesta obra, o campo representa um
lugar intocável, mantêm-se inalterados os costumes, o patriarcalismo, a palavra
jurada, a honra familiar, a submissão da filha ao pai. A cidade, que podemos
representá-la pela presença de Cirino e Meyer, forasteiros que trazem a civilização e
também a modernidade a lugares quase ermos, cria conflitos na medida em que há
alteração na casa de Pereira quanto aos seus preceitos, que, inicialmente,
encontravam-se inabaláveis.
Todavia, quando interferem, opinando sobre a posição da mulher naquele mundo
arcaico, algo deve ser feito para que não se modifiquem os padrões já instituídos,
tentando-se reparar aquilo que pode ser mudado. Cirino, ao penetrar no quarto de
Inocência sem a presença do pai, invade um lugar sagrado e intransponível para
estranhos; os elogios incessantes de Meyer à moça marcam diretamente o
posicionamento de ambos e convergem para o confronto da mentalidade do campo e
da cidade.
Pereira retrata os pais tradicionais encarregados de manter em rédea curta as
mulheres, especialmente as filhas. Elas eram consideradas perigosas, podiam arruinar
uma família, por isso deveriam ficar atentos a elas. Assim, as mulheres eram uma
ameaça constante para o equilíbrio familiar e, por isso, ficava mais fácil casá-las para
transferir a responsabilidade para o esposo.
A composição e o relacionamento entre os membros familiares estimulavam a
afirmação e dependência da autoridade paterna e a solidariedade entre os parentes.
Nos primeiros séculos de colonização, a família localizada no ambiente rural
condicionou seus membros a estabelecerem relações aparentemente estáveis,
permanentes e tradicionais. O chefe da família cuidava dos negócios e tinha por
princípio preservar a linhagem e a honra familiar, exercendo sua autoridade sobre a
mulher, os filhos e os demais dependentes sob sua influência, que ocorria sempre em
família numerosa.
Conforme a concepção do pai, a filha significava um estorvo pelos cuidados que
necessitava, e o casamento traria alívio para ele, transferindo a responsabilidade da
moça para o futuro marido, além disso, traria um amparo, pois não sabia o paradeiro
do seu irmão e não tinha mãe para dela cuidar.
Manecão aparece para realizar a única ação que contida no romance, um desfecho
trágico que cabia a ele realizar. Para o sertanejo, estava dentro dos padrões usar a
violência em nome da honra, pela convivência e o apoio para tal atitude,
diferenciando-se do homem civilizado nesse ato, ainda tradicional, de resolver
assuntos passionais e honrar a familiar com o sangue de outro. Para Manecão e
Pereira, a punição significa justiça, uma manifestação da postura de ambos diante da
sociedade, além de evidenciar a sua dignidade e boa índole.
O duelo e a batalha são componentes imprescindíveis para se adquirir mais honra ou
recuperá-la sem ser pela desonra alheia. A derrota não desmerece o homem, o
combate com inimigo mais forte já sabendo de sua derrota é das ações mais nobres
que existem. Derramar o sangue redime e reconcilia. O sangue tem suas virtudes,
revigora a honra e fortalece a nobreza. Vigiar a mulher significa proteger sua
castidade, nada mais habitual em privá-la da vida social e as influências que poderiam
desvirtuá-la.
Um atributo inerente ao machismo é a honra. O homem tem a obrigação de defendê-
la, pois é necessário manter a reputação de macho. Quando desafiado, ele deverá
reparar a ofensa seguindo seus códigos de valores e, para reafirmar-se como homem,
é obrigado a cobrá-la.

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