Resumo Global para o Exame Nacional de Portugues

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Resumo global para o exame nacional de Português

portugues (Universidade do Porto)

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Fernão Lopes, Crónica de D. João I


1. Contextualização histórico:
A crónica de D. João I é, na realidade, uma legitimação da nova dinastia, a dinastia de
Avis, iniciada após um período conturbado entre dois reinos na monarquia portuguesa que
vai de 1383 a 1385 (crise política). Esta crónica é considerada a crónica medieval mais
importante, quer pelos acontecimentos que relata, quer pela qualidade literária da sua
prosa. Foi publicada pela primeira vez em Lisboa a 1644 e está dividida em duas partes:
→ a 1ª ocupa-se no espaço e no tempo desde a morte de D. Fernando até à eleição
de D. João I;
→ a 2ª relata o reinado deste monarca até à paz com Castela em 1411.

1.1. Pequeno resumo da obra:


A primeira parte da crónica descreve a insurreição de Lisboa na narração célere dos
episódios quase simultâneos do assassinato do conde Andeiro, do alvoroço da multidão que
acorre a defender o Mestre e da morte do bispo de Lisboa. Ao longo dos capítulos,
fundamenta-se a legitimidade da eleição do Mestre, consumada nas cortes de Coimbra, na
sequência da argumentação do doutor João das Regras, enquanto desfecho inevitável
imposto pela vontade da população. Nesta primeira parte, o talento do cronista na
animação de retratos individuais, como os de D. Leonor Teles ou D. João I, excede-se na
composição de uma personagem coletiva, o povo, verdadeiro protagonista que influi sobre
o devir dos acontecimentos históricos.
Na segunda parte, o ritmo narrativo diminui, tratando-se agora de reconhecer o rei
saído das cortes, e é de novo pela ação do povo que a glorificação do monarca é
transmitida, como, por exemplo, no modo como o acolhe a cidade do Porto. Um outro
momento de maior relevo é consagrado, nesta parte, à narrativa da Batalha de Aljubarrota,
embora aí não ecoe o mesmo tom de exaltação com que, na primeira parte colocara em
cena o movimento da massa popular.

2. Afirmação da consciência coletiva:


A crónica de D. João I constitui uma afirmação da consciência coletiva, no sentido em
que o verdadeiro herói que povoa na obra não é um herói individual como habitual (não é
um cavaleiro, um nobre…) mas sim um herói coletivo – o POVO. Fernão Lopes mostram-nos
com imenso realismo, vivacidade, pormenor descritivo e emotividade o povo que se revolta,
que irrompe as ruas de Lisboa à procura do Mestre, que defende a cidade contra os
castelhanos, que passa fome e privações por causa do cerco.
A voz do povo, o sentir dos homens e das mulheres, dos mesteirais, dos homens-bons, é
muitas vezes transmitida através de uma voz anonima e da multidão. Outras vezes é a própria
cidade que parece revelar essa consciência do todo, assumindo quase o estatuto de uma
personagem coletiva.
O povo manifesta o seu patriotismo e o seu apoio ao Mestre. O povo é o verdadeiro
herói da revolução e da crónica de Fernão Lopes.

3. Atores individuais e coletivos:


▪ Atores coletivos: as gentes de Lisboa, quer como uma massa, uma coletividade, quer
como grupos sociais (Ex: lavradores, homens-bons, as mulheres).
▪ Atores individuais:
✓ Mestre de Avis- é caracterizado como um homem vulgar, hesitante e vulnerável às
fraquezas. É um homem receoso, no seguimento do assassinato do conde Andeiro. Apesar
destes defeitos – que o tornam uma personagem profundamente realista –, D. João I mostra
também ser capaz de atos espontâneos de solidariedade, o que o converte numa figura
cativante. Líder “desfeito”, mas também solidário com a população, durante o cerco de
Lisboa.

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✓ Álvaro Pais- o burguês que espalha pelas ruas de Lisboa que estão a matar o Mestre,
influenciando o povo a correr a seu auxílio.
✓ D. Leonor Teles- a mulher que gera ódio na população e é apelidada de “aleivosa”
(traidora).

4. Capítulos 11, 115 e 148 da 1ª parte (+ importantes)


Uma das importâncias para Fernão Lopes era relatar a verdade objetiva e para isso o
cronista não só recolhe e compila registos anteriores, como também pesquisa, confronta e
recorre a documentos da Torre do Tombo, de cartórios etc… falamos então de uma critica
documental e histórica.
❖ Capítulo 11 (resumo):
• O pajem do Mestre de Avis grita pelas ruas, a caminho da casa de Álvaro Pais, que
matam o Mestre nos paços da rainha, o que leva as gentes, em agitação, a saírem para a
rua e a pegarem em armas;
• Álvaro Pais, que já estava preparado, dirige-se com o pajem e outros aliados para o
Paços, apelando à população para se junte e corra em auxílio de Mestre;
• Chegada às portas do paço, que estavam fechadas, a multidão mostra-se ansiosa e
agitada, querendo entrar para confirmar que o Mestre está vivo;
• Aconselhado pelos que estavam consigo e atendendo ao alvoroço das pessoas, o
Mestre aparece à janela para apaziguar os ânimos. Perante esta visão, a população
manifesta um “gram prazer”.
• Sentindo-se seguro, o Mestre deixa os paços e cavalga pelas ruas em direção aos
paços do Almirante, onde se encontrava o conde D. João Afonso, irmão da rainha.
• Pelo caminho, o Mestre contacta com a população, que se mostra aliviada, alegre e
disponível.
• Próximo dos paços do Almirante, o Mestre é acolhido pelo conde, pelos funcionários
da cidade e por outros fidalgos.
• Já à mesa, vêm dizer ao Mestre que as gentes da cidade querem matar o bispo. O
Mestre faz tenções de o ir socorrer, mas é aconselhado a permanecer ali (o bispo é morto
pela população).

❖ Capítulo 115 (resumo):


• Ao saberem da vinda do rei de castelo, o mestre e os habitantes de Lisboa começam
a recolher mantimentos e muitos vão buscar gado morto para alimentação.
• As populações movimentam-se: muitos lavradores deslocam-se para ao pé das
mulheres e dos filhos com tudo o que têm para dentro da cidade; outros vão para Setúbal e
Palmela; outros ficam em Lisboa e há quem permaneça em terras que apoiam os Castela.
• Começa-se por preparar a defesa da cidade: primeiro pensa-se na defesa a nível das
muralhas e das torres, tarefa que o mestre dá aos fidalgos e cidadãos honrados, que contam
com a ajuda de homens de armas. O mestre mostra preocupação em defender a cidade.
As gentes estão em alerta e são cuidadosos.
• Depois, analisa-se a defesa das portas da cidade: quem vigia as várias portas e que
cuidados devem ter.
• Depois, na ribeira foram construídas estacas para impedir e dificultar a passagem dos
castelhanos.
• Ainda sobre a defesa, há uma construção de um muro à volta das muralhas da cidade
que com a ajuda das mulheres sem medo, apanham pedras pelas herdades e cantam
cantigas a louvar Lisboa.
• O narrador salienta a coragem e a determinação dos portugueses que defendem a
cidade ao mesmo tempo que construem uma muralha, comparando-os com os filhos de
Israel.
• Todos pensavam em sintonia, num bem maior, o que leva o cronista a concluir o
capítulo num tom elogioso.
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No final, Fernão Lopes, menciona a superioridade do rei de Castela apenas para elogiar
o povo português que defendeu a cidade de Lisboa perante um adversário feroz.

❖ Capítulo 148 (resumo):


• A cidade está cercada e os mantimentos começaram a falhar, por causa da
quantidade de pessoas dentro das muralhas, o que leva a quem vá procurar comida fora
do cerco correndo perigo.
• As esmolas escasseiam e não há como socorrer os pobres. Começa se a estabelecer
quem deve ser colocado fora da cerca: as pessoas miseráveis, os que não combatem, as
prostitutas, os judeus... inicialmente os castelhanos recolhiam todos, mas após verem que tal
ato se devia à fome, recusaram.
• Na cidade há carência de todos os elementos (milho, vinho, trigo). O preço dos
produtos é elevado e por isso os hábitos alimentares alteraram-se, levando pessoas a
beberem água até à morte ou mesmo procurar apenas grãos de trigo na terra. A carne e os
ovos são outros alimentos caros e escassos.
• A criança não tem que comer e pedem pela cidade, mães já não têm leite para os
filhos e veem-nos morrer. A cidade está agora num ambiente de tristeza, de pesar e de
morte. As pessoas rezam. Circula um rumor de que o mestre vai expulsar todos os que não
tem comida, mas esse rumor é depois desmentido.
• O capítulo termina com um forte apelo ao leitor, representante da “geração que
depois vem”, que não teve de enfrentar os sofrimentos descritos anteriormente.

Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente


1. Pequeno resumo:
Inês Pereira é uma jovem solteira que sofre a pressão constante do casamento, e
reclama da sorte por estar presa em casa, aos serviços domésticos, cansando-se deles.
Imagina Inês casar-se com um homem que ao mesmo tempo seja alegre, bem-humorado,
galante e que goste de dançar e cantar, o que já se percebe na primeira conversa que
estabelece com sua mãe e Leonor Vaz. Essas duas têm uma visão mais prática do
matrimônio: o que importa é que o marido cumpra suas obrigações financeiras, enquanto
que Inês está apenas preocupada com o lado prazeroso, cortesão.
O primeiro candidato, apresentado por Leonor Vaz, é Pero Marques, camponês de
posses, o que satisfazia a ideia de marido na visão de sua mãe, mas era extremamente
simplório, grosseirão, desajeitado, fatos que desagradam Inês. Por isso Pero Marques é
descartado pela moça.
Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e Vidal,
que somente se interessam no dinheiro que o casamento arranjado pode lhes render, não
dando importância ao bem-estar da moça. Então lhe apresentam Brás da Mata, um
escudeiro, que se mostra exatamente do jeito que Inês esperava, apesar das desconfianças
de sua mãe.
Eles se casam. No entanto, consumado o casamento, Brás, seu marido, mostra ser tirano,
proibindo-a de tudo, até de ir à janela. Chegava a pregar as janelas para que Inês não
olhasse para a rua. Proibia Inês de cantar dentro de casa, pois queria uma mulher obediente
e discreta.
Encarcerada em sua própria casa, Inês encontra sua desgraça. Mas a desventura dura
pouco pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a guerra, onde morre nas mãos de um
mouro quando fugia de forma covarde.
Viúva e mais experiente, fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-
se com Pero Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se da ingenuidade de Pero, o
trai descaradamente quando é procurada por um ermitão que tinha sido um antigo

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apaixonado seu. Marcam um encontro na ermida e Inês exige que Pero, seu marido, a
leve ao encontro do ermitão. Ele obedece colocando-a montada em suas costas e levando
Inês ao encontro do amante.
Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "é melhor um asno que
me leve do que um cavalo que me derrube".

2. Recursos expressivos recorrentes nesta obra:


- Ironia;
- Comparação;
- Interrogação retórica;
- Metáfora.

Os Lusíadas, Luís de Camões


1. Visão global:
A epopeia “Os Lusíadas” é uma narrativa em verso destinada a celebrar feitos
grandiosos de um herói, neste caso coletivo – o povo.

2. Estrutura interna:
❖ Proposição: o poeta conta os feitos gloriosouus e heroicos dos portugueses.
❖ Invocação: Camões invoca as ninfas do rio Tejo, chamadas de “Tágides”.
❖ Dedicatória: a obra é dedicada a D. Sebastião, rei de Portugal.
❖ Narração: Camões narra a viagem de Vasco da Gama à Índia.

3. Estrutura externa: forma narrativa; versos decassilábicos; rimas com esquema abababcc;
estâncias - oitavas; poema dividido em dez cantos.

4. Os 4 planos e a sua interdependência:


a) Plano da viagem (plano central): a narração dos acontecimentos ocorrido durante
a viagem realizada entre Lisboa e Calecute:
• Partida a 8 julho de 1497.
• Peripécias da viagem - destaque para a grande coragem e valor guerreiro dos
marinheiros portugueses, para a tempestade, o escorbuto, as vitórias sobre traições entre
outras.
• Paragem em Melinde durante 10 dias.
• Chegada a Calecute (Índia) a 18 de maio de 1498.
• Regresso a 29 de agosto de 1498.
• Chegada da nau de Vasco da Gama a Lisboa em 29 de agosto de 1499.
A funcionalidade deste plano é conferir unidade ao poema. É, por isso, uma espécie de
“esqueleto” da epopeia.
b) Plano da História de Portugal (plano encaixado): relata factos marcantes da História
de Portugal:
• Em Melinde, Vasco da Gama narra ao rei os principais acontecimentos da nossa
história.
• Em Calecute, Paulo da Gama apresenta ao Catual episódios e personagens
representadas nas bandeiras portuguesas.
A função deste plano é relatar e enaltecer a História de Portugal.
c) Plano da Mitologia (plano paralelo): A mitologia permite e favorece a evolução da
ação: os deuses assumem-se como apoiantes (Vénus) ou como oponentes dos portugueses
(Baco):

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• Os deuses apoiam os Portugueses: consílio dos deuses no Olimpo.


• Consílio dos deuses marinhos.
• Ilha dos Amores.
A função deste plano é conferir beleza, ação e diversidade ao poema, ajudando no
processo de divinização dos Portugueses.
d) Plano do poeta (plano ocasional): Considerações, críticas, lamentos e opiniões do
poeta, expressas nomeadamente, no início e no fim dos cantos. Este plano serve para o
poeta transmitir as suas posições face ao mundo, aos outros e a si mesmo.
❖ O plano da viagem e o plano da mitologia ocorrem em simultâneo.
❖ A articulação entre o plano da viagem e da mitologia sai reforçada pelo estatuto
que os Portugueses conquistam, após chegarem à Índia – estatuto de divindade, por terem
concretizado algo de sobre-humano, como um prémio é-lhe oferecida uma recompensa
digna de deus- Ilha dos Amores.
❖ O plano da História de Portugal é um plano encaixado, que apresenta episódios de
guerra e líricos.
❖ O plano da história de Portugal funciona como analepse e prolepse.
❖ O plano das intervenções ou reflexões do poeta será vital para o entendimento do
pendor humanista da epopeia.

5. Reflexões do poeta:
Luís de Camões, n´Os Lusíadas, não consegue calar a voz crítica da sua consciência
nem a sua emoção. Então, interrompendo o tom épico, umas vezes, a sua palavra ganha
uma feição didática, moral e severamente crítica. Outras vezes, expressa o lamento e o
queixume de quem sente amargamente a ingratidão, ou os desconcertos do mundo.

Padre António Vieira, Sermão de Santo António


1. Visão global:
❖ Capítulo I
Exórdio – exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender a partir do conceito
predicável.
“Vos sois o sal da terra” é o conceito predicável (texto bíblico que serve de tema e de
acordo com o objetivo do autor, pretende demonstrar fé). Este elemento bíblico serve de
tema/ tese ao Sermão e a partir do qual vai desenvolver a sua argumentação: os pregadores
são o sal, a terra os homens.

O sal impede que os alimentos se estraguem. → Os pregadores impedem a corrupção.


O sal que salga - evita a corrupção;
O sal que não salga - é inútil e desprezado;
O pregador é como o sal – se a palavra não chega aos ouvintes ou não produz os seus frutos
é porque algo está errado.

❖ Capítulo II – Louvores em geral


Exposição - referência às obrigações do sal. Indicação das virtudes dos peixes em geral.
Crítica ao homem.
• As duas qualidades dos ouvintes são ouvir e não falar.

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• Retoma do conceito predicável. As duas propriedades do sal são – “conservar o são


e preservá-lo para que não se corrompa”.
- As propriedades das pregações de Santo António:
1. Louvar o bem (“para o conservar”);
2. Repreender o mal (“para preservar dele”).
O sermão será, desta forma, aos peixes (e, obviamente aos homens) e está dividido em dois
pontos: louvar as qualidades e repreender os vícios.

Qualidades e virtudes -> Defeitos dos homens


▪ A obediência -> o deslumbramento face a dar graxa para obter algo em troca.
▪ A “ordem, quietação e atenção” com que ouviram as palavras de Santo António -> a
arrogância e a presunção.
▪ O respeito e a devoção ao ouvirem as palavras de Deus-> a violência e a obstinação.
▪ O seu “retiro” e afastamento relativamente aos homens -> a crueldade irracional
▪ “só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam” -> o exibicionismo e a
vaidade.

❖ Capítulo III – Louvores em particular


Confirmação - louvores a alguns peixes em particular e consequente crítica aos homens.
1. O peixe Tobias:
- As suas entranhas curavam a cegueira dos homens tendo assim um poder curativo
(seu pai, que era cego, recuperaria a visão depois de, a conselho do Anjo Rafael, lhe ter sido
aplicado um pouco do fel extraído do peixe).
- O seu coração afugentava os demónios.
- Vestido de burel e atado com uma corda “este peixe parecia um retrato marítimo de
Santo António”.

2. A rémora:
- Peixe marinho cuja cabeça funciona como ventosa, o que lhe permite fixar-se a
embarcações (procurando conduzir ao bom caminho).
- Pequena no seu tamanho, mas com uma grande força, que conseguia imobilizar o
leme das naus (travando o mal).

3. O torpedo:
- Peixe, parecido com a raia, capaz de produzir pequenas descargas elétricas que
fazem tremer o braço do pescador, obrigando-o a lagar a cana (assim o torpedo não é
pescado).

Simbologia → também na terra os homens extorquem o que não lhes pertence, sem
recearem as consequências dos seus atos, ou seja, o castigo divino; as palavras de Santo
António transformaram vinte e dois homens desonestos que tomaram consciência dos
pecados, se arrependeram e confessaram, o que enaltefica a eficácia de Santo António; Tal
como há homens que não sentem as descargas elétricas do tropedo, também há homens
que ouvem a verdade e continuam o seu caminho errado; realça a importância que esses
peixes poderiam desempenhar para fazer tremer o braço daqueles que se desviam do
caminho certo. Assim, a descarga simboliza as palavras de Deus.

4. O quatro-olhos:
- Tem dois olhos “para se vingar das aves” e dois olhos “para se vingar dos peixes”.
- Simboliza que devemos olhar ou só para cima (considerando que há Ceu) ou só para
baixo (Inferno).
- Este peixe simboliza o dever que os cristãos têm, isto é, olhando para o céu, mas
lembrando sempre que há inferno.

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Outros peixes:
▪ Servem de alimento (as sardinhas são o sustento dos pobres e o salmão dos ricos);
▪ Ajudam à abstinência nas quaresmas;
▪ Com peixes, Cristo festejou a Páscoa;
▪ Ajudam a ir ao Céu;
▪ Multiplicam-se rapidamente (apenas aqueles que são consumidos pelos pobres).

❖ Capítulo IV - Repreensões em geral


Exposição - indicação das repreensões aos peixes em geral e critica aos homens.
• Os peixes, assim como as suas qualidades em geral (ouvem e não falam), irão agora
ouvir as repreensões:
1. Não só se comem uns aos outros como os grandes comem os pequenos;
2. Ignorância e a cegueira.
• Critica e repreensão aos peixes para melhor explicitar a condenação dos homens.
• Aspetos criticados: a “antropofagia social” e a “vaidade no vestuário”.

❖ Capítulo V – Repreensões em particular


Confirmação - repreensões a alguns peixes em particular; critica aos comportamentos
dos homens ambiciosos, vaidosos, hipócritas e traidores.
1. O roncador:
- Embora pequenos e aparentemente vulneráveis, estes peixes emitem um som forte;
esta autopromoção revela a sua soberba e arrogância (“quem tem muita espada, tem
pouca língua”);
- Exemplo de Pedro, discípulo de Cristo: apesar de ter afirmado que defenderia até à
morte o se Senhor, bastou-lhe uma simples inventiva de uma mulher para negar que
conhecia o seu Mestre;
- Se tal aconteceu com S. Pedro, muito menos razões terão os homens para exibirem a
sua arrogância;
- Outros exemplos bíblicos como David e Golias reiteram o facto dos arrogantes e os
soberbos pensarem que são Deus e acabarem diminuídos e humilhados.
- Santo António, símbolo de sabedoria, nunca se exibiu as suas capacidades,
confinando-se à sua condição de servo de Deus.

2. O pegador:
- Parasita que vive às custas do seu hospedeiro;
- O parasitismo foi aprendido com os portugueses, porque não há nenhum vice-rei ou
governador que parta para as conquistas sem ir rodeado de uma larga comitiva- critica ao
aparelho colonial português;
- Em termos humanos, os mais preguiçosos acabam como os pegadores, que, quando
o tubarão, que lhes serviu de hospedeiro, é pescado, morrem com ele, porque nele estão
pegados.
- Deus também tem os seus “pegadores”, aqueles que espalham a palavra com David
e Santo António, que se pegou a Cristo e ambos foram bem sucedidos.

3. O voador:
- Morfologicamente, possui umas barbatanas maiores que a generalidade dos peixes,
dai que queira imitar as aves;
- Esta ambição de se querer transformar naquilo que verdadeiramente não é só lhe traz
sofrimento porque está sujeito aos perigos do mar e do ar – no mar morre enganado pelo
isco e no ar morre cego pela ambição desmedida;
- Simboliza a ambição, a presunção e o capricho.

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- Santo António sempre se demarcou da ambição, porque reconhecia que as asas que
fazem subir também fazem descer, o que pode precipitar a destruição. Santo António
preferiu remeter-se à sua humilde.

4. O polvo:
- O polvo é caracterizado através de comparações sugestivas:
> “com aquele seu capelo na cabeça parece um monge” - aparenta santidade.
> “com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela” – aparenta beleza.
> “com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma
mansidão” – aparenta serenidade.
- Contudo, apesar da modesta aparência, o polvo é considerado o maior traidor do
mar. Esta traição consiste em enganar os outros peixes, caçando-os mais facilmente.
> “as cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia”;
> “as figuras que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício”;
> o polvo veste-se ou pinta-se “das mesmas cores a que está pegado”.
- Simboliza traição, a dissimulação, a hipocrisia e a falsidade e é, assim, pior que Judas,
o paradigma do traidor no Evangelho, porque o apóstolo planeou a entrega de Cristo às
escuras, mas executou a traição às claras, enquanto o polvo, escurecendo a água com a
sua tinta, rouba a luz à presa para a apanhar.
- Santo António é considerado um exemplar de candura, da verdade e da sinceridade.

❖ Capítulo VI – Peroração
Conclusão - última advertência aos peixes; retrato de Vieira como pecador; hino de
louvor.
O capítulo VI é a conclusão de todo “O Sermão de Santo António aos Peixes”, e Santo
António tem como objetivo a conversão dos homens à Fé de Deus.
Santo António revela que tem inveja dos Peixes, pois estes não ofendem Deus com a
sua memória e cumprem o objetivo da sua criação, enquanto que os Homens ofendem Deus
com as suas palavras, com os seus pensamentos e com a sua vontade, não atingindo o
objetivo da sua criação.
Assim, Santo António reflete sobre os Peixes e os Homens e conclui que os Peixes são
melhores que os Homens, e que a única solução para o Homem é a conversão, porque só
assim é que os Homens podem dar glória a Deus.
O hino de louvor final - “louvai, peixes, a Deus” - e as razões para o louvor: Deus dê-los
numerosos, belos e diversos, porque lhes deu a água para nela viverem e se multiplicarem.

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa


1. Contextualização histórico-literária:
“Em 1578, o rei D. Sebastião desapareceu na Batalha de Alcácer-Quibir. Não tendo
deixado herdeiros, houve uma longa disputa pela sucessão. Entre os pretendentes estava
Filipe, rei da Espanha, que anexou Portugal ao seu império em 1580. O domínio espanhol
duraria sessenta anos (1580 a 1640). Criou-se nesse período o mito popular do
"Sebastianismo", segundo o qual D. Sebastião, retornaria para reerguer o império português.
Entre os nobres desaparecidos em Alcácer-Quibir estava D. João de Portugal, marido de D.
Madalena de Vilhena.

Toda a ação se passa nos finais do séc. XVI, após o desaparecimento de D. Sebastião
na Batalha de Alcácer-Quibir. Com ele parte D. João de Portugal, personagem vital que
desaparece também desencadeando toda a ação dramática em Frei Luís de Sousa. Todos
estes acontecimentos decorrem sob domínio Filipino, 21 anos depois da Batalha de Alcácer
Quibir.

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Após o desaparecimento de D. João de Portugal, D. Madalena manda-o procurar


durante 7 anos, mas em vão. Casa então com D. Manuel de Sousa, nobre cavaleiro, de
quem tem uma filha de 14 anos. D. Madalena vive uma vida infeliz, cheia de angústia e de
tranquilidade, no receio de que o seu primeiro marido esteja vivo e acabe por voltar. Tal
facto acarretaria para Madalena uma situação de bigamia e a ilegitimidade de Maria, sua
filha. Esta é tuberculosa e vive, em silêncio, o drama da sua mãe que será o seu. Efetivamente
D. João de Portugal acaba por regressar, acarretando o desenlace trágico de toda a ação.

2. Importância do espaço na obra:


Simbologia:
Ato I - Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada: - A família vive em paz e aparente
• luxo e elegância da época; harmonia.
• porcelana, charões, sedas, flores... - O retrato de Manuel de Sousa
Coutinho
• duas grandes janelas donde se avista o Tejo e Lisboa; transmite a serenidade da sua
• retrato de Manuel de Sousa Coutinho vestido com o personalidade.
hábito da ordem de S. João de Jerusalém; - O incêndio e a consequente
destruição do seu retrato tornar-se-ão
• comunicação com o exterior e o interior do palácio. um prenúncio da catástrofe.

Simbologia:
Ato II - Palácio de D. João de Portugal, em Almada: - A ausência de luz prevê a catástrofe
• salão antigo de gosto melancólico e pesado; final.
- Os retratos, para além de carácter
• retrato da família e, em lugar de destaque, os de D. nacionalista que transmitem, também
Sebastião, D. João de Portugal e de Camões; evocam um passado extinto, mas
• reposteiros que impedem a vista para o exterior e a ameaçador, que dificulta o presente
e, também o futuro.
luz; - A comunicação com a capela da
• comunicação com a capela da Senhora da Senhora da Piedade indicia já o final
Piedade. trágico e demolidor do Ato III, que aí
ocorre.

Ato III - Parte baixa do palácio de D. João de Portugal: Simbologia:


• lugar vasto e sem decoração nenhum; - O espaço é símbolo da morte e da
impossibilidade de a superar.
• comunicação com a capela da Senhora da - A única saída para uma família
Piedade; católica que assume as convicções
• decoração com símbolos de morte (esquife) e de dor religiosas e sociais de forma clara e
rígida é a renúncia ao mundo e à luz.
(cruz, ornamentos característicos da Semana Santa).

3. Resumo dos atos:


Ato I - Palácio de Manuel de Sousa Coutinho
Cenas 1 e 2
A peça inicia-se com D. Madalena, sozinha em cena, refletindo sobre a paixão de D.
Pedro e de D. Inês de Castro narrada no canto III de Os Lusíadas, obra predileta desta
personagem. As reflexões que se seguem transmitem um presságio da desgraça que irá
acontecer, presságio esse que percorre toda a obra através da atmosfera da superstição,
das apreensões e dos pressentimentos de D. Madalena.
Telmo entra em cena e é evidente a relação de proximidade e respeito entre ambos.
Telmo foi o escudeiro de D. João de Portugal, primeiro marido de D. Madalena,
desaparecido em Alcácer Quibir, daí apresentar reservas quanto ao atual marido de D.
Madalena, Manuel de Sousa Coutinho. Este casal tem uma filha, Maria, de treze anos de
idade, que revela maturidade precoce e uma saúde frágil. Madalena empreendera buscas
contínuas, durante 7 anos, para encontrar D. João, acabando por casar com Manuel, sem
ter tido a confirmação da morte do primeiro marido.
Porém, Telmo nunca aceitou essa segunda união, que já dura há 14 anos, pois acredita
no regresso do seu amo.

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Cenas 3 e 4
Nestas cenas é possível detetar:
- A convicção patriótica e sebastianista de Maria;
- A angústia de Madalena face às palavras da filha e ao seu carácter precoce.
- A intuição por parte de Maria de que existe algo misterioso que envolve a mãe e a
família;
- A tristeza de Maria, porque é mulher e não homem para corresponder às expectativas
do pai.
Telmo e Maria eram, assim muito próximos, revelando uma cumplicidade que afligia
Madalena pela crença no mito sebastianista.

Cenas 5-8
Os governadores apoiantes de D. Filipe I querem instalar-se no palácio, o que inflamam
o ardor patriótico de Maria.
Manuel de Sousa Coutinho decide mudar de residência para o palácio que fora de D.
João de Portugal, apesar da posição contrária de Madalena, que lhe implora que não a
obrigue a voltar à sua antiga casa.
Manuel não cede ao pedido da sua mulher e decide avançar com o plano de deitar
fogo ao seu palácio, para que os governantes não se possam alojar aí.

Cenas 9-12
As cenas finais deste ato constituem o seu ponto culminante, já que Manuel incendeia
o palácio, tendo-se perdido o seu retrato, prenúncio da tragédia final. Para além disso, Maria
fica fascinada com o ato de coragem patriótica do pai, enquanto Madalena se sente
dominada por um terror imenso.

Ato II - Palácio de D. João de Portugal, também em Almada


Cena 1
O ato começa com um longo diálogo entre Telmo e Maria, que permite saber que:
> Madalena encontra-se, desde que entrou em casa de D. João de Portugal, num
estado doentio de angústia e ansiedade.
> Telmo alterou a sua opinião relativamente a Manuel de Sousa Coutinho,
considerando-o agora “um português às direitas”.
> A situação política provocada pelo incêndio é delicada.
> Maria tem um pressentimento quanto à identidade da figura representada no terceiro
retrato (de D. João), percebendo que Telmo lhe estava a mentir quanto ao paradeiro desse
quadro.
> Madalena refere-se à figura do retrato como “o outro”.
> Maria e Telmo acreditam na crença sebastianista do regresso do rei D. Sebastião.
> A forma enigmática como a cena termina revela que Maria pressente a verdade ou
parte dela relativamente à história de D. João de Portugal.

Cenas 2 e 3
Nestas cenas, Manuel revela a Maria a identidade do cavaleiro do retrato,
desaparecido na batalha de Alcácer Quibir, para além de dar a conhecer que os
governadores já não o perseguem.
Manuel repreende carinhosamente Maria pela sua imaginação demasiado fértil.
Para além disso, a cena 3 é revelante, porque as palavras de Manuel pressagiam o
destino funesto da filha, ao revelarem que a existência de um D. João implicaria a
inexistência de Maria.

Cenas 4-8
O momento do conflito deste ato é marcado pelo reencontro de Madalena e de
Manuel, onde este lhe diz que vai com Maria e Telmo a Lisboa (contra a vontade de

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Madalena) para visitar a prima Soror Joana, que, conjuntamente com o marido, tinham
abraçado a vida religiosa.
A angústia crescente de Madalena pelo facto de o seu marido e da sua filha irem a
Lisboa é evidente, não só porque a saúde de Maria é delicada e a “viração” no rio, à tarde,
pode fazer-lhe mal, mas também porque é sexta-feira, dia fatídico.

Cenas 9-15
O desenlace deste ato corresponde, igualmente, ao clímax da ação dramática, sendo
de destacar:
> As revelações de Madalena a Frei Jorge relativamente ao seu passado marcado pelo
pecado de ter amado Manuel, ainda em vida do seu primeiro marido.
> A referência, por parte de Madalena, ao caracter fatídico da sexta feira.
> A chegada do Romeiro, que traz a notícia de que D. João de Portugal está vivo, o
que mergulha Madalena num estado de perfeito descontrolo emocional.
> A resposta do romeiro à questão de Frei Jorge sobre a sua identidade – “Romeiro
(apontando com o bordão para o retrato de D. João de Portugal) - Ninguém!”

Ato III - Parte baixa do palácio de D. João de Portugal:


Cena 1
Longo diálogo entre o Frei Jorge e Manuel, que permite perceber a angústia que
domina este segundo, uma vez que:
> Se culpabiliza pelo fim do casamento com D. Madalena e pela situação de socio-
afetividade de Maria.
> Se mortifica pelo estado de saúde de Maria.
> Apercebe-se que ele e o irmão conhecem a verdadeira identidade do romeiro.

Cenas 2-9
O desenrolar da ação dramática nestas cenas prende-se com:
> As informações sobre o estado cada vez mais débil de Maria.
> O conflito interior de Telmo, ao aperceber-se de que ama mais Maria do que D. João
de Portugal.
> A tentativa de D. João, ao saber que Madalena o procurou por sete anos, de desfazer
o mal que, involuntariamente, provocou.
> O último encontro entre Madalena e Manuel, que faz ver à esposa que não lhes resta
outra solução digna a não ser a entrada no convento.

Cenas 10-12
As cenas finais são constituídas por uma sucessão de momentos dolorosos, em que
Madalena e Manuel tomam o hábito no momento em que Maria aparece em cena,
desfigurada, dizendo que, se os pais vão morrer, ela os acompanhará.
Assim Maria morre de vergonha nos braços da mãe, ao ouvir a voz do Romeiro, que,
escondido, pede a Telmo que reverta a situação.

Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco


1. A obra como crónica da mudança social:
▪ Crítica ao ser vs. parecer.
▪ Critica à sociedade do séc. XIX.
▪ Denúncia dos privilégios das classes superiores.
▪ Condenação dos casamentos por conveniência.
▪ Oposição a uma sociedade repressiva e retrógrada, associada ao poder de instituições
como a justiça e a igreja.
▪ Defesa da liberdade individual e da valorização dos ideais nobres.

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2. Resumo dos capítulos:


Capítulo I
- Apresentação da família de Simão Botelho.
- Caracterização de Simão que aos 15 anos era rebelde e estudante em Coimbra.
Capítulo II e III
- Simão e Teresa (filha de Tadeu Albuquerque) veem-se pela primeira vez e apaixonam-se.
- As famílias de Simão e Teresa opõem-se ao amor dos jovens, devido ao ódio entre ambas.
- Tadeu de Albuquerque pretende casar Teresa com o seu sobrinho Baltasar.
Capítulo IV
- Teresa recusa o casamento e o pai decide mete-la num convento.
- Escrita de uma carta a Simão, na qual Teresa explica a sua situação.
- Simão regressa a Viseu e fica alojado em casa do ferrador João da Cruz.
Capítulo V-IX
- Breve encontro entre Teresa e Simão.
- Mariana, filha de João da Cruz, apaixona-se por Simão.
- Baltasar prepara uma emboscada a Simão e este é ferido. Simão consegue fugir com a
ajuda de João da Cruz que matam os dois criados de Baltasar.
- Tadeu decide encerrar Teresa num convento em Viseu. Simão fica em casa de João da
Cruz que devia um favor ao pai de Simão.
- Mariana cuida de Simão em casa de João da Cruz.
Capítulo X
- Simão vai ao encontro de Teresa, quando a jovem parte do convento de Viseu para o
convento de Monchique, no Porto.
- Simão mata Baltasar.
- Simão é preso.
Capítulo XI-XX
- Mariana continua ao lado de Simão, na prisão.
- É condenado à forca.
- Teresa chega ao convento de Monchique, no Porto, e toma conhecimento da
condenação de Simão.
- Doença de Teresa que anseia pela morte, apesar de Simão, através de Mariana, a incentiva
a não desistir.
- Decisão de Tadeu em trazer a filha de volta para Viseu quando sabe do estado frágil dela,
e quando sabe que que Simão está também na cidade do Porto.
- Recusa de Teresa em fazer a vontade do pai.
- Assassínio de João de Cruz.
- Simão é condenado ao degredo por 10 anos e Mariana tem intenção em acompanhá-lo.
- Suplica de Teresa para que Simão não aceite o degredo e que cumpra o tempo na cadeia
onde já esta.
- Partida de Simão para a Índia, na companhia de Mariana, no momento em que é
informado da morte de Teresa.

Conclusão
- Morte de Simão passados 10 dias e suicídio de Mariana, que se atira ao mar na companhia
do corpo do seu amado.

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3. Relações entre as personagens:

Simão:
- apaixonado por Teresa;
- fiel aos seus princípios.
Família Botelho:
- Domingos Botelho: Oponente da
relação entre o filho e Teresa, visto
que o pai desta é seu inimigo.
- D. Rita Preciosa: Maternal e
preocupada com o filho, é incapaz
de se opor à decisão do marido.
- Irmãos de Simão: Indiferentes ao
irmão, sendo que apenas Rita (tia
que acolheu Camilo após a morte
Teresa: Mariana: da mãe) se preocupa com Simão.
- apaixonada por Simão; - apaixonada por Simão;
- corajosa perante o seu - cúmplice dos dois
pai. amantes.

Família Albuquerque: Outras personagens:


- Tadeu de Albuquerque: Oponente da - Mariana: Apaixonada por simão, mesmo
relação entre a sua filha e simão, visto sabendo que não é correspondida,
que o pai deste é seu inimigo. sacrifica o seu amor próprio ao partir com
- Teresa Albuquerque: jovem de 15 anos, ele para o degredo, anulando, com a
rica, herdeira e bonita, revela uma força morte de simão, a sua vida.
de carácter excecional para a época, - João Cruz: Protetor de Simão, por dívida
quando se opõe às decisões do seu pai. de gratidão para com o pai dele,
- Baltasar Coutinho: convencido, Domingos Botelho.
prepotente e egoísta, não se conforma - Mendiga: intermediária entre os
de a prima o ter ignorado. amantes, entregando e recolhendo as
cartas.
- Corregedor: sensível à coragem de
Simão, troca a pena para o degredo, em
vez da forca.

Os Maias, Eça de Queirós


1. Espaços:
Espaço geográfico:
• Coimbra: espaço de boémia estudantil, artística e literária; espaço de formação de
Carlos cuja existência surge ainda marcada pelo Romantismo que a sua geração procura
rejeitar. Ambiente propício ao diletantismo e ociosidade.
• Lisboa: é o espaço com maior importância na obra, isto é, é o local onde ocorrem os
principais acontecimentos. As ruas, as praças, os hotéis, os locais de convívio, os teatros
são caracterizados como personagens ao longo da obra. Lisboa é o símbolo da sociedade
portuguesa da Regeneração, incapaz de se modernizar (obras da Avenida da Liberdade)
e que agoniza na contemplação de um passado glorioso.
• Sintra: A ida a Sintra de Carlos, Cruges e Alencar constitui um dos momentos mais
poéticos hilariantes da obra. Sintra é o paraíso romântico perdido, é o refúgio campestre
e purificador.
• Santa Olávia: É um local de extrema importância para as personagens, sendo como
refúgio aos problemas e um local calmo que proporciona um ambiente agradável para
pensamentos.

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Espaços interiores:
• Ramalhete: a degradação do edifício acompanha o percurso da família e a passagem
de Carlos por Lisboa, sendo considerado um marco referencial importante. Símbolo desse
percurso é a descrição do jardim (aspeto simbólico oposto ao racionalismo naturalista):
- 1º momento: o jardim tem um aspeto de abandono e degradação; corresponde ao
desgosto de Afonso após a morte de Pedro;
- 2º momento: é o renascimento da esperança, renovação da casa por Carlos;
- 3ª momento: «areado e limpo, mas sombrio e solitário», simboliza o fim de um sonho e a
morte de uma família.
• O consultório: A descrição do consultório revela-nos algumas facetas de Carlos:
diletantismo, entusiasmos passageiros, projetos inacabados.
• A casa de Dâmaso: a sua excentricidade faz um contraste com a personalidade
mesquinha e cobarde de Dâmaso e com a sua embaraçada aflição no episódio da carta.
• A Vila Balzac: A caracterização da casa remete para a própria personalidade de Ega.
Os móveis escolhidos, nomeadamente a cama, acentuam a exuberância afetiva e
erótica de Ega o espelho à cabeceira insinua a extravagância, um temperamento
exibicionista e narcisista.
• O Hotel Central / a casa da rua de S. Francisco / a Toca: Carlos tenta descobrir facetas
da personalidade de Mª Eduarda através da observação dos objetos que a rodeiam. A
decoração da Toca simboliza a excentricidade, a anormalidade e a tragédia que
caracterizarão as relações de Carlos e Mª Eduarda. Foi à entrada desse Hotel que Carlos
e Maria Eduarda se terão avistado pela primeira vez.

2. Personagens:

3. Resumo dos capítulos:


Capítulo I:
A história de “Os Maias” começa no outono de 1875 quando Afonso da Maia se instala
numa das casas da família, o Ramalhete. Durante vários anos esteve desabitada e servia
apenas para guardar as mobílias do palacete de Benfica, que fora vendido. Carlos, neto de
Afonso é a única família que lhe restava, tinha acabado o curso de Medicina em
Coimbra nesse ano e queria abrir um consultório em Lisboa, razão pela qual Afonso decidiu
deixar Santa Olávia, a sua quinta no norte do país, e acompanhar o neto para Lisboa. Afonso
da Maia, agora velho e calmo, fora um jovem apoiante do Liberalismo, ao contrário do seu
pai, um Absolutista. Por esta razão, Afonso foi expulso de casa, mas, por influência de sua
mãe, foi-lhe oferecida a Quinta de Santa Olávia. Alguns anos depois, Afonso partiu para
Inglaterra, onde esteve algum tempo, mas de onde teve que voltar devido à morte do seu
pai. Foi então que conheceu a mulher com quem viria a casar, D. Maria Eduarda Runa, de
quem teve um filho e com quem partiria para o exílio, de volta a Inglaterra. Porém, D. Maria
Eduarda, mulher de fraca saúde e católica devota, não se habituou à falta do sol quente
que tinha em Lisboa nem ao Protestantismo. Assim, ordenou a um bispo português que viesse
educar o seu filho, Pedro, já que não consentia que o seu filho fosse educado por um inglês,
muito menos num colégio protestante. Por isso, apesar de Afonso se tentar impor, Pedro

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cresceu frágil, medroso e excessivamente mimado pela mãe. Algum tempo depois, a
doença de D. Maria Eduarda agravou-se e a família voltou para Lisboa, onde ela acabou
por morrer, causando um enorme desgosto no seu filho Pedro. Um dia, Pedro, recuperado
do luto, apaixonou-se por Maria Monforte, uma mulher muito bela e elegante, filha de um
negreiro. Por causa disto, Afonso da Maia opôs-se fortemente à relação do seu filho com
Maria Monforte, mas, apesar disso, eles casaram-se às escondidas e partiram para Itália,
deixando Afonso sozinho e desgostoso com a atitude do seu filho, cujo nome não foi
pronunciado durante muitos anos naquela casa.

Capítulo II:
Pedro e Maria casam às escondidas, sem o consentimento de Afonso da Maia e partem
para Itália. Porém, a mulher suspirava por Paris, para onde se mudaram pouco tempo depois,
até Maria aparecer grávida. Nessa altura resolveram voltar para Lisboa, mas não sem antes
escreverem a Afonso, pai de Pedro, anunciando a sua partida e o nascimento do seu
primeiro neto, na esperança de que ele os perdoasse e os recebesse como família. Contudo,
quando chegaram a Lisboa, ficaram a saber que Afonso tinha voltado para Santa Olávia, a
sua quinta no norte do país, no dia anterior.
Assim, o tempo passou e Maria Eduarda, filha do casal, nasceu. Pedro não informou o
seu pai do nascimento da filha, por estar ainda magoado com a atitude dele, mas, quando
o seu segundo filho nasce, põe a hipótese de se conciliar com o pai e resolve ir a Santa
Olávia apresentar-lhe os netos. Contudo, esta visita foi adiada porque Pedro, numa caçada
com os amigos, feriu acidentalmente um italiano, o Tancredo, que tinha sido condenado à
morte e andava fugido. Por isso, Tancredo ficou a restabelecer-se durante muito tempo em
casa de Pedro e Maria – tempo suficiente para Maria o conhecer, e se apaixonarem sem
ninguém ter conhecimento, até ao dia em que Pedro descobre que ambos fugiram levando
com eles a sua filha, Maria Eduarda. Pedro decide então procurar consolo junto do pai, que
o acolheu, assim como ao seu neto, Carlos, na casa de Benfica, para onde se tinha mudado,
entretanto. Porém, nesse mesmo dia, Pedro suicida-se ao saber que a mulher o tinha deixado
para ir viver com o napolitano e Afonso decide fechar a casa de Benfica, vende-la e muda-
se com o seu neto, Carlos, para a quinta de Santa Olávia.

Capítulo III:
A infância de Carlos é passada em Santa Olávia, e é descrito um episódio onde se dá
uma visita de Vilaça, o procurador dos Maias, à quinta. Descreve-se a educação liberal de
Carlos, com um professor Inglês que dá primazia ao exercício físico e as regras duras que
Afonso impõe ao neto. Também ficamos a conhecer os Silveiras: Teresinha, a primeira
namorada de Carlos, a sua mãe e sua tia, e o seu irmão Eusebiozinho, o oposto de Carlos,
muito frágil, tímido, medroso e estudioso. É sobretudo um capítulo de contraste entre as
educações tradicional (Eusebiozinho) e à inglesa (Carlos). Vilaça dá notícias de Maria
Monforte e de sua filha a Afonso, e segundo ele a sua neta morrera em Londres. Vilaça morre,
o seu filho substitui-o como procurador da família. Alguns anos depois Carlos faz exame
triunfal de candidatura à universidade.

Capítulo IV:
Carlos descobre a sua vocação para Medicina e matricula-se com alegria na
Universidade de Coimbra. Para que os seus estudos sejam mais sossegados, Afonso oferece
ao neto uma casa em Celas, onde este, pelo contrário, exerce um tipo de vida quase
boémio, sempre rodeado de amigos com ideias filosóficas e liberais. É sobretudo chegado a
João da Ega, que estudava Direito e era sobrinho de André da Ega, amigo de infância de
Afonso. Pela altura da formatura de Carlos, deu-se uma grande festa na sua casa de Celas,
depois da qual este partiu para uma viagem de um ano pela Europa. Ao fim desse tempo,
Afonso esperava-o no Ramalhete, onde se iriam instalar (fim da grande analepse). Carlos
tencionava montar um consultório e um laboratório em Lisboa, vontades que depressa
satisfez com a ajuda do avô: o laboratório foi montado num velho armazém, e o consultório

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num primeiro andar em pleno Rossio. Carlos recebeu com alegria a visita do seu amigo Ega,
que lhe anunciou que ia publicar o livro que andava a escrever havia já alguns anos –
“Memórias de um Átomo” – que todos os que tinham ouvido falar esperavam com
impaciência. Esse livro falava da história de vida de um átomo, que viveu desde o início da
Terra até aos tempos de hoje.

Capítulo V:
Este capítulo inicia-se com uma festa no escritório de Afonso, no Ramalhete, que
contava com a presença de D. Diogo, do general Sequeira, do Cruges, do Eusébio Silveira e
do Conde Steinbroken. Todos sentiam a falta de Ega, pois ninguém o via há já vários dias.
Entretanto, o negócio na clínica de Carlos já começara a ter alguma popularidade, devido
ao seu sucesso com o caso da Marcelina (a mulher do padeiro que tivera às portas da
morte). Mais tarde, Carlos finalmente encontra Ega e é desvendado o mistério do seu
desaparecimento: estava
apaixonado por Raquel Cohen, que era, infelizmente, casada. Durante uma conversa
entre Carlos e Ega, Ega propõe a Carlos conhecer a família Gouvarinho. Carlos aceita. Após
a um encontro com estes amigos de Ega, Carlos não parava de pensar na Condessa
Gouvarinho. Estava apaixonado. Este capítulo acaba com uma ida de Carlos com a família
Gouvarinho à ópera, e durante esta ocasião, a condessa mostra-se interessada em Carlos.

Capítulo VI:
Carlos pretende fazer uma visita surpresa a Ega, na Vila Balzac, casa que este comprara,
mas tem muitas dificuldades em encontrar a sua casa. E quando finalmente chega ao local,
não estava ninguém em casa para o receber. Depois ao encontrar Ega, dias mais tarde, este
mostra-se indignado com o sucedido e combinam uma visita na sua casa. Carlos foi muito
bem recebido, com o pajem à porta, muito champanhe e Ega mostra-lhe a sua casa. Muito
exuberante e decorado tal e qual o temperamento do proprietário. Ega convida-se para
jantar com Carlos e quando se prepara para sair, falam sobre a Gouvarinho e sobre o súbito
desinteresse de Carlos pela senhora, após uma grande atração. Esta atitude de Carlos para
com as mulheres, era frequente e os dois conversam sobre o assunto. Na ida para o jantar,
cruzam-se com Craft, amigo de Ega. Ega apresenta Carlos ao amigo. Combinam jantar no
dia seguinte no Hotel Central. Ega faz questão que os dois amigos se conheçam melhor. Após
alguns contratempos, Ega consegue marcar o jantar no Hotel Central com Carlos, Craft,
Alencar, Dâmaso e Cohen (banqueiro e marido da sua amante), a quem Ega fez questão
de homenagear, com um dos pratos: “Petits pois à la Cohen”. Discutiram vários temas ao
longo do jantar como a literatura e as suas críticas, as finanças, e a história da política em
Portugal naquele momento. O jantar acaba e Alencar acompanha Carlos a casa,
lamentando-se da vida, do abandono por parte dos amigos e falando-lhe de seu pai, de
sua mãe e do passado. Carlos recorda como soubera a história dos seus pais: a mãe fugira
com um estrangeiro levando a irmã, que morrera depois, o pai suicidara-se. Carlos, já em
casa, antes de adormecer e enquanto aguarda um chá, sonha com a mulher deslumbrante,
uma deusa, com quem se cruzou à porta do Hotel Central, enquanto aguardava com Craft
os restantes amigos para o jantar.

Capítulo VII:
Depois do almoço, Afonso e Craft jogam uma partida de xadrez. Carlos tem poucos
doentes e vai trabalhando no seu livro. Dâmaso à semelhança de Craft, torna-se íntimo da
casa dos Maias, seguindo Carlos para todo o lado e procurando imitá-lo. Ega anda ocupado
com a organização de um baile de máscaras na casa dos Cohen. Carlos, na companhia de
Steinbroken em direção ao Aterro, vê, pela segunda vez, Maria Eduarda acompanhada do
marido. Carlos desloca-se várias vezes, durante a semana, ao Aterro na esperança de ver
novamente Maria Eduarda. A condessa Gouvarinho, com a desculpa que a filha se
encontrava doente, procura Carlos no consultório. Ao serão no Ramalhete, joga-se dominó,
ouve-se música e conversa-se. Carlos convida Cruges a ir a Sintra no dia seguinte, pois

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tomara conhecimento, por intermédio de Taveira, que Maria Eduarda aí se encontrava na


companhia de seu marido e de Dâmaso.

Capítulo VIII:
Neste capítulo, Carlos da Maia e o seu amigo, o maestro Cruges, vão visitar Sintra. A
ideia é de Carlos que obriga Cruges a ir com ele. Cruges, que já não visitava Sintra desde os
9 anos, acaba por ficar rendido à ideia e prepara-se para desfrutar do passeio. Esta viagem
tem o propósito escondido por Carlos, de procurar um encontro fortuito coma Sra. Castro
Gomes, que ele julgava em Sintra. Após algumas horas de viagem de break, chegam a Sintra
e logo se vão instalar no Hotel Nunes, por sugestão de Carlos, que temeu que ao instalarem-
se no Lawrence’s Hotel, se cruzassem de imediato com os Castro Gomes, perdendo o seu
encontro aquele efeito de casualidade que ele lhe procurava empregar. Aí encontram o
amigo Eusebiozinho, acompanhado por um amigo, Palma, e duas senhoras espanholas,
acompanhantes de ambos. Após um pequeno episódio cómico, em que uma das
espanholas se enfureceu, Carlos e Cruges, partem num pequeno passeio pedestre para
visitar Seteais. Pelo caminho encontram outro amigo, Alencar, o poeta, vindo justamente de
Seteais, mas que fez questão de os acompanhar lá, fazendo aquele caminho pela segunda
vez nesse dia. Chegados a Seteais, Cruges, que não conhecia o local, ficou desapontado
quando verificou o estado de abandono em que se encontrava a construção. Depressa
Alencar o fez pensar doutro modo, ao apontar-lhe os pormenores do local e a beleza da
vista. De volta ao casario, passaram pelo Lawrence e foram ver, por breves instantes, o Paço
e o seu Palácio, após o que voltaram ao e se sentaram a tomar um cognac. Carlos já
informado sobre o destino dos Castro Gomes, que haviam deixado Sintra na véspera, decide
voltar para Lisboa. Resolveram jantar no Lawrence, para evitarem o amigo Eusebiozinho e
sua trupe. No entanto, como tiveram de ir ao Nunes para pagar a conta, lá acabaram por
encontrar o amigo de quem depressa se despediram. De volta ao Lawrence, onde Alencar
os esperava para o jantar especial de bacalhau, preparado pelo próprio, mercê de especial
favor da cozinheira, iniciaram-se no belo repasto, que só acabou já passava das oito. Depois
do jantar lá se sentaram no break de volta a Lisboa, dando boleia a Alencar que também
estava de partida.

Capítulo IX:
Já no Ramalhete, no final da semana, Carlos recebe uma carta a convidá-lo a jantar
no Sábado seguinte nos Gouvarinhos; entretanto, chega Ega, preocupado em arranjar uma
espada conveniente para o fato que leva nessa noite ao baile dos Cohen. Dâmaso também
aparece de repente, pedindo a Carlos para ver um doente "daquela gente brasileira", os
Castro Gomes - a menina Rosa. Os pais tinham partido essa manhã para Queluz. Ao chegar
ao Hotel, Carlos verifica que a pequena já estava ótima. Carlos dá uma receita a Miss Sara,
a governanta.
Ega vai ao Ramalhete pedir emprestado uma espada para a sua máscara para a festa
na Casa dos Cohen em honra dos anos de Raquel. Às 10 horas da noite, ao preparar-se para
o baile de máscaras, aparece Ega (mascarado de Mefistófeles), dizendo que o Cohen o
expulsara (ao que parece, descobrira o caso de Raquel e Ega), e Ega quer desafiar o Cohen
num duelo, mas Carlos e Craft desmotivam-no. No dia seguinte, nada acontece, excepto a
vinda da criada de Raquel Cohen, anunciando que ela tinha sido espancada pelo seu
marido e que partiam para Inglaterra, deixando Portugal. Ega dorme nessa noite no
Ramalhete e decide deixar Lisboa.
Na semana seguinte, só se ouve falar do Ega e do mau carácter que ele é. "Todos caem-
lhe em cima", pois para além disto, só lhe acontecem desgraças. Carlos vai
progressivamente ficando íntimo dos condes de Gouvarinho. Visita a Gouvarinho e dá-lhe
um tremendo beijo, mesmo antes da chegada do conde Gouvarinho.

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Capítulo X:
Passam-se 3 semanas. Carlos sai de um coupé, onde acabara de estar com a
Gouvarinho, mas já estava farto dela e dos seus encontros às escondidas, e quer ver-se livre
da Gouvarinho. Nessa altura vê Rosa a acenar de um coupé com a sua mãe, que lhe sorri.
Combina com o Dâmaso, no Ramalhete, levar os Castro Gomes a ver o bricabraque do
Craft, nos Olivais, mas isto não se concretiza, pois o Sr. Castro Gomes partira para o Brasil em
negócios. Chega o dia das corridas de cavalos e há uma grande confusão à porta do
hipódromo. É descrito o ambiente dentro do hipódromo. Depois há uma grande confusão
com um dos jóqueis que perdera uma corrida. E anda tudo á briga, num rebuliço total! Lá
nas corridas, encontra a Gouvarinho, que lhe propõe irem de comboio ate Santarém, uma
vez que ela ia para o Porto (pois o seu pai estava mal), e dormiam no hotel em Santarém
(uma "rapidinha"), e daí cada um seguia para o seu lado. Depois, fazem-se apostas; todos
apostam em Minhoto, mas Carlos aposta em Vladimiro, que vence e Carlos ganha 12 libras,
facto muito comentado. Encontra Dâmaso, que lhe informa que o Castro Gomes afinal tinha
ido para o Brasil e deixara a mulher só por uns 3 meses – Carlos fica todo contente. Discute
com a Gouvarinho, mas acaba por aceder ao desejo do encontro em Santarém, mas agora
apenas consegue pensar na mulher de Castro Gomes. Ao descobrir que ela vivia no prédio
de Cruges, pois alugara a casa à mãe do Cruges, proprietária do prédio, Carlos vai à rua de
São Francisco com o pretexto de visitar o Cruges, mas ele não estava. Volta para o
Ramalhete e lá descobre que tinha uma carta da Castro Gomes pedindo-lhe que a visite no
dia seguinte, por ter "uma pessoa de família, que se achava incomodada". Carlos fica todo
contente.

Capítulo XI:
Carlos vai visitar a Sra. Castro Gomes, e descobre o seu nome, Maria Eduarda (descrição
de Maria Eduarda - uma deusa). É a governanta, Miss Sara, que estava doente - tinha uma
bronquite. Carlos conversa com Maria Eduarda, passa-lhe a receita e diz-lhe quais os
cuidados que deve ter com Sara, dizendo que terá de observá-la diariamente.
Nessa noite Carlos iria ter com a Sra. Gouvarinho para a fantástica noite em Santarém,
mas Carlos começava a repudiá-la, a odiá-la. Por sorte, o Gouvarinho decidiu à última da
hora ir com a mulher para o Porto, o que convém muito a Carlos, assim como a morte de um
tio de Dâmaso em Penafiel, deixando-lhes os "entraves" fora de Lisboa. Nas semanas
seguintes, Carlos vai-se familiarizando com Maria Eduarda, graças à doença de Miss Sara.
Falam ambos das suas vidas e dos seus conhecidos. Dâmaso volta de Penafiel e vai visitar
Maria Eduarda. Ao chegar lá vê Carlos com "Niniche" (a cadela de Maria) ao colo, que lhe
rosna e ladra - Dâmaso fica zangado e cheio de ciúmes. Os Cohen regressam de Inglaterra
e Ega está para chegar de Celorico.

Capítulo XII:
Ega chega de Celorico e instala-se no Ramalhete. Informa Carlos de que viera com a
Gouvarinho, e de que o conde os convidara para jantar na próxima 2ª feira. Depois, nesse
jantar, a Gouvarinho zangada com Carlos e com ciúmes da sua proximidade com Maria
Eduarda, passa o tempo a mandar-lhe indiretas. O clima suaviza-se durante o jantar, devido
aos ditos irreverentes do Ega. De seguida, a pretexto de um mal-estar de Charlie (filho dos
Gouvarinho), a Teresa beija Carlos nos aposentos interiores, como que reconciliando-se e
perdoa-lhe.
Na 3ª feira, depois de um encontro escaldante com a Gouvarinho na casa da sua titi,
Carlos chega atrasado à casa de Maria Eduarda. No meio da conversa, Domingos anuncia
Dâmaso e Maria Eduarda recusa-se a recebê-lo - Dâmaso fica furioso. Maria fala a Carlos
sobre uma
possível mudança de casa (e ele pensa logo na casa do Craft, decidindo comprá-la
para ela). Carlos deixa escapar que a "adora" depois de uma troca de olhares, beijam-se.
Na 4ª feira, Carlos conclui o negócio da casa com o Craft. Maria Eduarda fica um pouco
renitente com a pressa de tudo, mas acaba concordando, com um novo beijo.
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Ega, mostra-se insultado pelo segredo que Carlos faz de tudo, mas este acaba por lhe
contar que se apaixonou e envolveu com Maria Eduarda.

Capítulo XIII:
Ega informa a Carlos de que Dâmaso anda a difamá-lo a ele e a Maria Eduarda. Carlos
fica furioso, querendo matá-lo e ao encontrá-lo na rua, ameaça-o. Depois, faz os
preparativos para a mudança de Maria Eduarda para os Olivais.
No sábado, Maria Eduarda visita a sua nova casa nos Olivais (descrição da casa e das
suas belas coleções). Depois da visita e do almoço, Carlos e Maria Eduarda envolvem-se.
No domingo é o aniversário de Afonso da Maia, e todos os amigos da casa estão
presentes. Descobre-se que Dâmaso estava a namorar a Cohen. Depois a Gouvarinho
aparece querendo falar com Carlos - acabam por discutir sobre a ausência de Carlos e
depois terminam tudo.

Capítulo XIV:
Afonso parte para Sta. Olávia e Carlos fica sozinho no Ramalhete, pois Ega parte para
Sintra (e curiosamente os Cohen também). Maria Eduarda instala-se nos Olivais, e Carlos
passa a frequentar a casa todos os dias, e eles pretendem fugir até outubro para Itália e
casar lá, mas Carlos pensa no desgosto que dará ao avô (porém a sua felicidade supera).
Descreve-se as idas de Carlos aos Olivais: os encontros com Maria Eduarda e as relações que
tinham no quiosque japonês e também as noites que Carlos passa com ela, às escondidas.
Acaba por alugar uma casa perto dos Olivais para ele ficar, enquanto não está com Maria
na Toca (nome dado aos Olivais). Numa dessas noites, descobre Miss Sara enrolada no jardim
da casa com o jornaleiro. Sente vontade de contar tudo a Maria Eduarda, mas, à medida
que pensa no caso, decide não dizer nada.
Chega setembro. Craft, regressado de Sta. Olávia para o Hotel Central, diz a Carlos que
pareceu-lhe estar o avô desgostoso por Carlos não ter aparecido por lá. Então, Carlos decide
ir visitar Afonso, mas antes leva Maria a visitar o Ramalhete (e Maria Eduarda refere que às
vezes Carlos faz-lhe lembrar a sua mãe e conta-lhe a sua história - a mãe era da ilha da
Madeira que casara com um austríaco e que tinha tido uma irmãzinha, que morrera em
pequena).
Uma semana depois Carlos regressa de Sta Olávia e fala com Ega que voltara de Sintra.
Nessa noite, Castro Gomes aparece no Ramalhete, com uma carta anónima que lhe tinham
mandado para o Brasil, dizendo que a sua mulher tinha um amante, Carlos da Maia. Carlos
fica estupefacto, e acaba pró perceber que era a letra de Dâmaso. Depois, Castro Gomes
conta-lhe que não é marido de Maria Eduarda, nem pai de Rosa, e que apenas vivia
amigado com ela. Diz-lhe também que se vai embora, e que Maria Eduarda se chama
Madame Mac Gren. Furioso pela mentira de Maria, Carlos decide ir confrontá-la. Ao entrar,
sabe por Melanie, a criada, que o Castro Gomes já lá tinha estado. Maria Eduarda, a chorar,
pede perdão a Carlos de não lho ter contado, pois tinha medo que ele a abandonasse, e
conta então a verdadeira história da sua vida. Depois de uma grande cena de choro, Carlos
pede-a em casamento.

Capítulo XV:
Na manhã seguinte, perguntam a Rosa se quer o Carlos como "papá", que fica toda
feliz e aceita. Maria Eduarda conta toda a sua vida detalhadamente. Dias depois, Carlos
conta tudo o que se passara a Ega que lhe diz que seria melhor esperar que o avô morresse
para então se casar, pois Afonso estava velho e débil e não aguentaria o desgosto.
Carlos e Maria Eduarda começam a dar jantares de amizade dados nos Olivais, e todos
os amigos de Carlos se começam a familiarizar com ela. Mais tarde, Carlos descobre através
do Ega, que um n.º da Corneta do Diabo o difama, denunciando o passado de Maria
Eduarda e a sua relação com ela. Carlos passa-se e decide matar quem escreveu o artigo;
descobre depois, com a ajuda de Ega, o editor do artigo, Palma, que o tinha feito a pedido
de Dâmaso e Eusebiozinho, e Palma entrega-lhe as provas (tendo isto um custo para Carlos

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claro). Carlos manda os seus padrinhos, Ega e Cruges, pedir a honra ou a vida a Dâmaso,
que acaba por escrever uma carta de desculpas a Carlos, ditada por Ega, em que afirmava
ser um bêbado. Satisfeito, Carlos entrega a carta a Ega agradece-lhe. Depois, Ega ao ver
Dâmaso com Raquel e ainda o provocar por isso, decide publicar a carta no jornal e assim
humilhar Dâmaso, que envergonhado parte para a Itália. Afonso regressa de Sta. Olávia,
Carlos abandona a casa que alugara perto dos Olivais e Maria Eduarda volta para o
apartamento da mãe de Cruges na Rua de S. Francisco, deixando a Toca.

Capítulo XVI:
Carlos e Ega vão ao sarau da Trindade ouvir o Cruges e o Alencar, que nessa noite vão
lá estar. Aí, ouvem o discurso de Rufino sobre a família real e Ega conhece Mr. Guimarães, o
tio de Dâmaso que vivia em Paris e trabalhava no jornal, que lhe viera pedir explicações
sobre a carta que Dâmaso escrevera, que lhe disse ter sido Ega a obrigá-lo a fazer. Ega e
Guimarães acabam por resolver tudo e ficam amigos. Cruges toca, mas é um fiasco, pois
ninguém lhe liga nenhuma. Depois, Carlos vê o Eusebiozinho e vai atrás dele e dá-lhe uns
"abanões" e um pontapé devido á história da carta. Quando regressa ao sarau já Alencar
começara a declamar o sue poema "Democracia" e a encantar a sala. Todos adoraram o
que Tomás dissera acerca do estado da política em Portugal, um puro exemplo de realismo,
o estilo que agora predominava. Mais tarde, quando Ega se ia embora, Guimarães aparece
dizendo-lhe que tem um cofre da mãe de Carlos para entregar à família, que esta lhe tinha
pedido antes de morrer. No meio da conversa, Ega descobre que Carlos tem uma irmã, e
Guimarães diz tê-los visto aos três numa carruagem: Carlos, Ega e a irmã, Maria Eduarda.
Depois, Guimarães conta a Ega o passado de M.ª Monforte inclusive a mentira que ela
dissera a Maria Eduarda sobre o seu pai, e diz que Maria é filha de Pedro da Maia, pois ele
era amigo da família e nessa atura já os visitava. Fala também da fuga da Monforte com
Tancredo, da filha que eles tiveram e morreu em Londres, e depois, da vida de Maria Eduarda
no convento, que ele próprio a visitara. Guimarães entrega o cofre a Ega, que chocado com
a verdade, decide pedir ajuda a Vilaça para contar tudo a Carlos.

Capítulo XVII:
Ega sem coragem para contar tudo a Carlos, procura Vilaça e conta-lhe tudo. Juntos,
abrem o cofre da Monforte e acham lá uma carta dela para Maria Eduarda onde diz toda
a verdade: ela é filha de Pedro da Maia. No dia seguinte, Vilaça e Ega contam a verdade a
Carlos, que não acredita no que lhe contam, e aflito, procura o avô e conta-lhe tudo, com
esperança que este lhe desminta a história. Mas Afonso acaba por confirmar, e em segredo
diz a Ega que sabe que Carlos tem um caso com Maria Eduarda. Apesar de já saber a
verdade, nessa noite Carlos vai ter com Maria Eduarda; primeiro pensara em dizer-lhe tudo
e depois fugir para Sta. Olávia, mas depois, incapaz, acaba por deixar-se levar por ela e ali
ficar. Continuava a ama-la, e o facto de serem irmãos não mudava o que ele sentia.
Afonso da Maia sabe que Carlos continua a encontrar-se com Maria Eduarda, e fica
desolado. Ega furioso com o comportamento de Carlos, confronta-o e ele decide partir no
dia seguinte para os Olivais. No dia seguinte, Baptista (o seu criado) chama-o, dizendo a
Carlos que o avô estava desmaiado no jardim. Carlos corre para lá e vê o avô morto
(suponho ser trombose, visto que tinha um fio de sangue aos cantos da boca). Carlos fica
triste, desolado, e culpa-se a si mesmo da morte do avô, pois achava que era pelo avô saber
tudo que tinha morrido. Ega escreve um bilhete a informar Maria Eduarda do facto. Vilaça
toma as providências para o funeral. Os amigos da família reúnem-se no velório e recordam
Afonso e a juventude. Dá-se o enterro e Carlos parte para Sta. Olávia, pedindo a Ega para ir
falar com Maria Eduarda e lhe contar tudo e dizer-lhe que parta para Paris, levando 500
libras. Ega fala com Maria Eduarda, que parte no dia seguinte para Paris, para sempre.

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Capítulo XVIII:
Passam-se semanas. Sai na "Gazeta Ilustrada" a notícia da partida de Carlos e Ega numa
longa viagem pelo mundo: Londres, Nova York, China, Japão. Um ano e meio depois Ega
regressa trazendo consigo a ideia de escrever um livro, "Jornadas da Ásia"e contando que
Carlos ficara em Paris, onde alugara um apartamento, pois não queria mais lembrar a
Portugal.
Dez anos depois Carlos chega a Lisboa para matar saudades e almoça no Hotel
Bragança com Ega, que lhe conta as novidades: que a sua mãe morrera, que a Sra.
Gouvarinho herdara uma fortuna. Aparece o Alencar e o Cruges, que falam desses anos que
passaram: Alencar cuidava agora da sobrinha, pois a sua irmã morrera e Cruges escrevera
uma ópera cómica, a “Flor de Sevilha” que lhe valera o merecido reconhecimento; Craft
mudara-se para Londres; O marquês de Souzela morrera; D. Diogo casara-se com a
cozinheira; O general Sequeira fora morto; Taveira continuava o mesmo; e Steinbroken era
agora ministro em Atenas. Depois, combinam um jantar e Ega e Carlos vão visitar o
Ramalhete. Pelo caminho encontram o Dâmaso, que casara com a filha mais nova de um
comerciante falido e que para além de ter de sustentar toda a família, a mulher traia-o. Aos
poucos, Carlos toma consciência do novo Portugal que existe agora, anos passados. Vêm
Charlie que passa por eles e Carlos vê que ele está um homem (Ega insinua que ele é
maricas). Depois, encontram Eusébio, que fora obrigado a casa com uma mulher forte, pois
o pai dela apanhara-os a namorar.
No Ramalhete, a maior parte das decorações (tapetes, faianças, estátuas) já tinham ou
estavam a ser despachadas para Paris, onde Carlos vivia agora, e que lá se guardavam os
móveis e outros objetos trazidos da Toca. Carlos relembra Maria Eduarda e conta a Ega que
recebera uma carta dela. Ia casar com um tal de Mr. de Trelain, decisão tomada ao fim de
muitos anos, e que tinha comprado uma quinta em Orleães, “ Les Rosières”. Carlos encara
este casamento de Maria Eduarda como um final, uma conclusão da sua história, era como
se ela morresse, como se a Maria Eduarda deixasse de existir e passasse apenas a haver a
Madame de Trelain. Passam pelo escritório de Afonso que lhes trás tristes recordações e
depois, Ega e Carlos dizem que não vale a pena viver, pois a vida é uma treta. Por mais que
tentemos lutar para mudá-la, não vale a pena o esforço, porque tudo são desilusões e
poeira. Saem do Ramalhete e veem que estavam atrasados para o jantar e ao verem o
coche ir-se embora, correm atrás dele…

Cesário Verde, O sentimento de um ocidental


1. Estrutura interna:
Assistimos ao percurso de um sujeito poético que percorre Lisboa à medida que as horas
passam e a noite se vai adentrando. As quatro partes correspondem, pois, a fases do fim do
dia: fim da tarde, chegada da noite, noite instalada e iluminada pelos candeeiros a gás e a
noite cerrada das «Horas mortas».

2. Estrutura externa:
O poema encontra-se organizado em quatro partes, cada qual com onze quadras,
formadas por um decassílabo e três alexandrinos. Na edição de O livro de Cesário Verde, as
quatro partes receberam os títulos: «Ave-Marias» (seis da tarde), «Noite fechada», «Ao gás» e
«Horas mortas».

3. Resumo:
I. “Ave Marias” (questão épica crónicas navais)
A primeira parte do poema situa-se ao fim da tarde ("ao anoitecer"), à hora em que os
sinos das igrejas chamam para a oração vespertina - a ave-maria.

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O sujeito poético, à medida que deambula pelas ruas junto ao Tejo, descreve vários
espaços citadinos - edifícios em construção, "boqueirões", "becos", "varandas", "arsenais",
"oficinas", "hotéis da moda" -, referindo as "personagens urbanas" que neles se movimentam
- "carpinteiros", "calafates", "dentistas", "obreiras", "varinas", "um trôpego arlequim", "os
querubins do lar", "os lojistas". Em relação ao grupo de personagens descrito, é evidente a
simpatia solidária que o sujeito poético revela para com as personagens populares, com
destaque especial para as varinas que "... embalam nas canastras / Os filhos que depois
naufragam nas tormentas" e que trabalham "(...) Nas descargas do carvão, / Desde manhã
à noite, (...) / E apinham-se num bairro aonde miam gatas, / E o peixe podre gera os focos
de infeção!" A impressão geral que decorre desta primeira descrição da cidade é de que se
trata de um espaço soturno e melancólico, pouco luminoso, que apresenta uma "cor
monótona e londrina", despertando no "eu" sentimentos contraditórios - "E o fim da tarde
inspira-me; e incomoda!"
Nesta primeira parte do poema, é também nítida a oposição entre o real e a fantasia.
Na verdade, face a uma realidade que lhe desperta "um desejo absurdo de sofrer", o sujeito
poético anseia partir para outras dimensões, e exprime o seu desejo de evasão:
• para outros espaços reais: "Levando à via-férrea os que se vão. Felizes! / Ocorrem-me
em revista exposições, países: /Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!";
• para outros tempos, outras glórias - "Evoco, então, as crónicas navais: / Mouros, baixéis,
heróis, tudo ressuscitado! / Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado! / Singram soberbas
naus que eu não verei jamais!".
Esta evocação das grandezas passadas aparece logo seguida da referência aos
Lusíadas.

II. Noite Fechada


O sujeito poético continua o seu percurso, observando a realidade que o rodeia,
enumerando os novos espaços que observa:
• as cadeias • as igrejas
• o Aljube • "as íngremes subidas"
• a "velha Sé" • "o recinto público e vulgar"
• os andares • "um palácio em face de um casebre"
• as tascas • os quartéis
• os cafés • as "montras dos ourives"
• as tendas • os magasins
• os estancos • a brasserie

Destes espaços mórbidos, pouco iluminados, desprende-se uma sensação de


enclausuramento, de solidão, de pessimismo progressivo - "E eu desconfio, até, de um
aneurisma / Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes", "Chora-me o coração que se
enche e que se abisma.", "E eu sonho o Cólera, imagino a Febre", "Triste cidade! Eu tem que
me avives / Uma paixão defunta!".
Surgem, então, novas figuras citadinas, a que o sujeito poético se refere como "uma
acumulação de corpos enfezados" - presos, velhinhas, crianças, soldados, as elegantes, as
costureiras, as floristas ("E muitas delas são comparsas ou coristas") e os emigrados que jogam
dominó.
O tom melancólico e disfórico presente na descrição da cidade não nasce apenas do
relato dos espaços e das personagens que neles evoluem, mas também do tipo de
sensações empregues pelo sujeito poético para concretizar essa mesma descrição:
• auditivas - "Toca-se as grades, nas cadeias. Som / Que mortifica e deixa umas loucuras
mansas!", "E os sinos dum tanger monástico e devoto.", "...ao riso...";
• visuais - "... ao acender das luzes", "à crua luz";
• térmicas - "Derramam-se por toda a capital, que esfria".

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Nesta segunda parte, face à desolação e à soturnidade do presente, o sujeito poético


também evoca o passado ("Assim que pela História eu me aventuro e alargo") através do
"severo inquisidor", do "épico de outrora" e da Idade Média.

III. Ao Gás (tradição católica)


O deambular progressivo do sujeito poético permite-lhe completar o quadro citadino.
Novos espaços e personagens são referidos:
Espaços: Personagens:
• os "passeios de lajedo" • "as impuras"
• os "moles hospitais" • as "burguesinhas do Catolicismo"
• as "lojas tépidas" • "o forjador"
• a "catedral de um comprimento imenso" • um "ratoneiro imberbe"
• o "cutileiro" • "a lúbrica pessoa"
• a "padaria" • uma "velha, de bandós!"
• as "casas de confeções e modas", com • "os caixeiros"
longos balcões de mogno • "um cauteleiro rouco"
• as "longas descidas" e as esquinas • o "velho professor (...) de latim"

IV. Horas Mortas


A quarta parte do poema corresponde ao momento final do percurso do sujeito
poético, percurso esse que se vai progressivamente tornando mais angustiante e fechado.
Assim, estamos no domínio total da noite, as estrelas brilham no céu - "Vêm lágrimas de
luz dos astros com olheiras" - e "os guardas, que revistam as escadas, / caminham de lanterna
(...)".
Este é também o momento em que as personagens marginais dominam a cidade: as
"imorais", os assassinos, os "tristes bebedores", os "dúbios caminhantes" e até os cães, que se
transformam em lobos - "E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes, / Amareladamente, os
cães parecem lobos".
É também o momento em que o espaço se torna agressivo para o sujeito poético, essa
agressividade está presente:
• no colocar dos taipais e no ranger das fechaduras;
• na consciência de que a cidade é uma prisão, uma antecâmara da morte - "Mas se
vivemos, os emparedados. / Sem árvores, no vale escuro das muralhas!..."; "prédios
sepulcrais";
• no sentir de um nojo físico pela cidade - "Nauseiam-me (...) os ventres das tabernas".

Fernando Pessoa, Ortónimos e Heterónimos


ORTÓNIMOS
1. Temáticas:
a) A dor de pensar é uma das linhas temáticas da poesia de Fernando Pessoa ortónimo,
na qual se expressa a dualidade consciência/inconsciência e a problemática sentir/pensar.
O poeta, ser consciente, constata que a extensão dos seus sentimentos é constantemente
diminuída pela vastidão o seu pensamento que corrompe a inconsciência inerente a própria
felicidade de viver. Assim, a sua consciência surge como um fardo e uma fatalidade que
desencadeia no poeta um estado de desencanto e impotência perante o absurdo da
existência, já que por um lado não consegue libertar-se do peso da reflexão, mas também
não alcança a alegre inconsciência da ceifeira, mantendo intacta a sua própria
consciência. Simplesmente paradoxal, pois consciente de que jamais será consciente, sofre
a dor de pensar e paga caro a extrema lucidez que possui. (“Ela canta, pobre ceifeira “;
“Gato que brincas na rua”).

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→ "Ela canta, pobre ceifeira," - O poema caracteriza o drama interior do sujeito poético
por oposição à felicidade da ceifeira, tendo em conta as seguintes dualidades:
consciência /inconsciência; felicidade / infelicidade; euforia / disforia / sentir / pensar.
Num primeiro momento, o sujeito poético evoca o canto da ceifeira, evidenciando:
• a suavidade;
• o carácter inconsciente da alegria da voz;
• a pureza;
• a harmonia;
• o contraste entre a dureza da "lida" do campo e a leveza do canto.

→ "Gato que brincas na rua" - Pessoa parte de uma imagem-símbolo, o gato, para chegar
a uma reflexão:
• a imagem-símbolo é o gato que brinca na rua, de forma instintiva e natural - "Como se
fosse na cama";
• o sujeito poético inveja esse viver instintivo do gato, a sua irracionalidade e,
consequentemente, a sua felicidade;
• a inevitável consciência da fragmentação interior domina o sujeito lírico - "vejo-me e
estou sem mim";
• o processo de auto-análise é permanente - "Conheço-me e não sou eu".

→ "Cansa sentir quando se pensa." - O poema expõe, uma vez mais, a dor resultante do
pensar, presente através de aspetos como:
• a incapacidade de conciliar o sentir e o pensar - "Cansa sentir quando se pensa";
• a solidão e a tristeza - "Há uma solidão imensa / (...) Neste momento insone e triste / (...)
Pesa-me o informe real que existe";
• a indefinição - "Em que não sei quem hei-de ser";
• a constatação da incapacidade de viver - "E não poder viver assim. / (...) Ah, nada é
isto, nada é assim!";
• a incapacidade de relacionamento com os outros e com o mundo - "Mas noite, frio,
negror sem fim, / Mundo mudo, silêncio mudo".

→ "Não sei ser triste a valer" - O sujeito poético refere, através da analogia entre o florir das
flores e a inevitabilidade do pensar, a sua dor e angústia. Atente-se em aspetos como:
• a indefinição - "Não sei ser triste a valer / Nem ser alegre deveras";
• a constatação de que não sabe ser - "Acreditem: não sei ser.";
• o prazer de "não sentir" - "Com que prazer me dá calma / (...) Florir sem ter coração!";
• a identificação entre "florir" e "pensar", porque ambos são superiores à "vontade" das
flores e dos homens - "O que nela é florescer / Em nós é ter consciência. / (...) Vamos florir
ou pensar.";
• a inevitabilidade da morte - "Surgem as patas dos deuses / E a ambos nos vêm calcar"

b) A nostalgia da infância é um dos aspetos focados na poesia ortonímica e surge como


consequência do desejo do poeta regressar aos tempos em que foi criança e feliz, a época
longínqua do bem, da unidade, da inconsciência e da verdade. A infância surge sempre
como a época inocente em que não havia ainda o drama da dor de pensar, é sinónimo de
segurança, pureza e felicidade e o poeta evoca esses tempos através da memória que
acaba por trazer-lhe mais angustia e solidão, quando se apercebe que essa época não é
mais do que um paraíso longínquo, perdido na memoria do tempo. Assim, ao negar lhe toda
a sua felicidade, o Presente funciona como o marco de sublimação do Passado, abrindo
passagem para a típica saudade nostálgica dessa infância lembrada e esquecida.
(“Quando era criança” ; ”Pobre velha música”).

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c) O sonho e a realidade é também um dos temas que percorre a poesia ortonímica e


retrata a multiplicidade do “EU” que faz introspeção, inquieta-se e desdobra-se noutros seres,
despersonalizando-se. Marcado pelo fluir continuo do tempo, Pessoa sente-se separado de
si próprio, distante do passado e do futuro, restando-lhe apenas o ser que é no instante que
passa e não aquele que existe na duração do tempo. Assim, Pessoa exprime nos seus
poemas um misto de inquietação e absurdo perante esta divisão do Ser que o faz sentir-se
estranho de si mesmo, fragmentado entre o Real e o Ideal e acabando, efetivamente, por
ser um ser perdido no labirinto de si mesmo, não encontrando o fio que o conduziria à saída
e lhe permitiria alcançar o equilíbrio interior. (“Não sei se é sonho, se realidade”).

d) O fingimento artístico é uma das dialéticas da poesia do ortónimo, na qual o poeta


sofre uma forte tensão que conduz ao anti sentimentalismo e à intelectualização da
emoção. Para Pessoa, fingir é inventar, ou seja, é elaborar conceitos que exprimem
emoções, gerando uma nova conceção da arte, anti-romântica, despersonalizada,
expressão de sensações intelectualizadas, onde a imaginação ocupa o papel principal e a
arte é criada a partir de inspiração individual. Pessoa não transmite na sua poesia a emoção
pura e simples, mas submete-a sempre ao exame da inteligência e da razão poética,
deixando que a racionalize, afastando-se do tradicional sentimentalismo, típico do passado.
Assim, a arte nasce da realidade e consiste no fingimento dessa realidade, ou seja, na sua
intelectualização, a qual e materializada em texto. (“Autopsicografia”). Neste âmbito, a
composição de um poema nunca ocorre no momento da emoção, mas no momento da
recordação dessa emoção. Para Fernando Pessoa ortónimo, o poeta necessita de ser
fingidor. No entanto, é necessário ter em mente que fingidor difere de mentiroso.

Existem 3 níveis de dor para Fernando Pessoa:


• A dor sentida (real): Dor vivida no imediato, dor não racionalizada;
• A dor pensada (fingida): Dor refletida, momentos mais tarde, após o acontecimento
que a originou;
• “Dor lida”: Dor sentida por parte do leitor, ao ler o que o poeta escreve, tendo em
conta as suas vivências.
A dor sentida e pensada caracterizam a produção artística; e a perceção do leitor em
relação à dor transmitida no poema constitui a receção. Conclui-se, então, que a poesia,
para Pessoa ortónimo, é a intelectualização dos sentimentos e emoções.

2. ALBERTO CAEIRO – o poeta “bucólico”:


Na obra de Caeiro, há um objetivismo absoluto ou anti metafísico. Não lhe interessa o
que se encontra por trás das coisas. Recusa o pensamento, sobretudo o pensamento
metafísico, afirmando que “pensar é estar doente dos olhos".

- O fingimento artístico: o poeta “bucólico”:


❖ Contemplação da Natureza.
❖ Integração, comunhão e harmonia com os elementos naturais e afastamento Social.
❖ Simplicidade e felicidade primordiais (ideais do sujeito poético).
❖ Existência tranquila do tempo presente.
❖ Bucolismo como máscara poética (resultante do fingimento artístico).

- Reflexão existencial: o primado das sensações:


❖ Sensacionismo: a sensação sobrepõe-se ao pensamento (não o anula!).
❖ O poeta do olhar. (verbos associados à visão da realidade).
❖ Observação objetiva da realidade.

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❖ Rejeição do pensamento abstrato e da intelectualização.


❖ “Filosofia” da antifilosofia (pensamento anti pensamento). - anti metafísica.

3. RICARDO REIS – o poeta “clássico”:


- O fingimento artístico: o poeta “clássico”:
❖ Neoclassicismo: revivalismo da cultura da Antiguidade Clássica (sobretudo, a grega).
❖ Neopaganismo: hierarquização ascendente – animais, homens, deuses e Fado, que
a todos preside.
❖ Epicurismo: efemeridade da vida e inevitabilidade da morte; busca da felicidade e
do prazer relativos; indiferença perante as emoções excessivas e preferência pelo estado de
ataraxia (serenidade e ausência de perturbação ou inquietação).
❖ Estoicismo: aceitação das leis do Tempo e do Destino; resignação perante a frágil
condição humana e o sofrimento; culto da autodisciplina e da abdicação voluntária de
sentimentos e compromissos.
❖ Horacianismo: carpe diem (fruir o momento com moderação); visão estoicoepicurista
da existência; perceção da transitoriedade temporal, da brevidade da vida e
inevitabilidade da morte e do Destino; presença do locus amoenus; autodomínio que evita
as paixões e aceitação voluntária do Destino.
❖ Contemplação da Natureza e desejo de com ela aprender a viver; afastamento
social e rejeição da práxis (proatividade).
❖ Classicismo como máscara poética.

- Reflexão existencial: a consciência e encenação da mortalidade:


❖ Consciência da efemeridade da vida; da inexorabilidade do Tempo e da
inevitabilidade da Morte.
❖ Tragicidade da vida humana.
❖ A vida como “encenação” da hora fatal (previsão e preparação da morte):
despojamento de bens materiais, negação de sentimentos excessivos e de compromissos.
❖ Intelectualização de emoções e contenção de impulsos.
❖ Vivência moderada do momento (o presente como único tempo que nos é
concedido).
❖ Preocupação obsessiva com a passagem do tempo e com a inelutável Morte (apesar
do esforço empreendido na construção da máscara poética).

4. ÁLVARO DE CAMPOS – o poeta da “modernidade”:


- O fingimento artístico: o poeta da modernidade:
❖ Deliberada postura provocatória e transgressora da moral, com o propósito de
escandalizar e chocar.
❖ Futurismo: apologia da civilização contemporânea moderna, industrial e tecnológica.
❖ Sensacionismo: exacerbação e simultaneidade das sensações; a sensação como
método cognitivo da realidade.
❖ Apologia da vertigem sensorial – “sentir tudo de todas as maneiras” - congregando
em si toda a complexidade sensitiva.
❖ Concatenação (ligação) no momento presente de todos os tempos e de todos os
génios do passado.
❖ Tensão, insatisfação e frustração perante a incapacidade de abarcar a totalidade
das sensações.

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- Reflexão existencial: sujeito, consciência e tempo; nostalgia da infância.


❖ Consciência dramática da identidade fragmentada.
❖ Ceticismo perante a realidade e a passagem do tempo.
❖ Angústia existencial, solidão, abulia, cansaço e morbidez.
❖ Introspeção e pessimismo – Dor de pensar.
❖ A náusea, a abjeção e o “sono” da vida quotidiana.
❖ Evasão para o mundo da infância feliz, irremediavelmente perdido.

Fernando Pessoa, Mensagem


Mensagem é a única obra completa publicada em vida de Fernando Pessoa. Contém
44 poemas. Os seus poemas, apesar de compostos em momentos diversos, têm como fio
condutor da sua unidade a visão mítica da Pátria.
1. A Estrutura Tripartida:
Os 44 poemas que constituem a Mensagem encontram-se agrupados em três partes
que correspondem às etapas da evolução do Império Português – nascimento, realização e
morte.

2. Brasão:
Esta primeira parte corresponde ao nascimento do Império Português. Portugal na
Europa e em relação ao Mundo, procurando atestar a sua grandiosidade e o valor simbólico
do seu papel na civilização ocidental.

3. Mar Português:
Nesta segunda parte surge a realização da vida. Em “Mar Português”, Pessoa procura
simbolizar a essência do ideal de ser português vocacionando para o mar e para o sonho.

4. O Encoberto:
A terceira parte corresponde à desintegração. Começa por manifestar a esperança e
o “sonho português”, pois o atual Império encontra-se moribundo. Mostra a fé de que a morte
contenha em si o gérmen da ressurreição.

5. Discurso da Mensagem:
Em Brasão, “Os Campo”, “Os Castelos”, “As Quinas”, “A Coroa” e “O Timbre”, são
marcas de afirmação do passado, de mágoa do presente e de antevisão do que há de vir.
Em Mar Português, há um presente de glórias, que já não existe, mas que faz parte da
memória e alma portuguesa, capaz de fazer renascer uma nova luz, de permitir o advento
do Quinto Império.
O Encoberto, depois de manifestar a crença num regresso messiânico, considera que,
após a tempestade atual, a chama há de voltar e a luz permitirá o caminho certo. Por isso é
que acredita que “É a Hora” de traçar novos rumos e caminhar na construção de um
Portugal novo.

6. Relação Intertextual Mensagem / Lusíadas:


• O épico fala dos heróis que construíram e alargaram o Império Português, para que a
sua memória não seja esquecida, enquanto Pessoa escolhe aquelas figuras históricas
predestinadas a essa construção imperial, mas, através delas procura simbolizar a essência
do ser português que acredita no sonho e se mostra capaz da utopia para a realização de
grandes feitos.

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• Nos Lusíadas há a viagem à India, na Mensagem temos a avaliação do esforço,


considerando que a glória advém da grandeza da alma humana, apesar das vidas perdidas
e de toda a espécie de sacrifícios dos nautas, mas também das mães, filhos e noivas.
Camões procurou em Os Lusíadas cantar os feitos gloriosos dos portugueses que deram
início ao grande império que se estendeu pelos diversos continentes. Pessoa, em Mensagem,
cantou o fim do Império territorial, procurando incentivar o aparecimento de um império de
língua, de cultura e de valores.
As Dificuldades - “O Mostrengo” da Mensagem ou o “Adamastor” de Os Lusíadas
aproximam-se na sua mais profunda imagem comunicativa. Ambos exprimem os perigos da
aventura marítima para exaltar o espírito dos nautas e do povo português.

Contos
Sempre é uma companhia, Manuel da Fonseca
1. Resumo do conto:
“Carregado de tristeza, o entardecer demora anos. A noite vem de longe, cansada;
tomba tão vagarosamente que o mundo parece que vai ficar para sempre naquela
magoada penumbra. Lá vêm figurinhas dobradas pelos atalhos, direito às casas
tresmalhadas da aldeia. Nenhuma virá até à venda falar um bocado, desviar a atenção
daquele poente dolorido. São ceifeiros, exaustos da faina, que recolhem. Breve, a aldeia
ficará adormecida, afundada nas trevas. E António Barrasquinho, o Batola, não tem ninguém
para conversar, não tem nada que fazer. Está preso e apagado no silêncio que o cerca.”
Este conto relata a solidão da velhice nos povos do interior, como sendo o caso de
Batola, o chapeirão redondo, pobre, sozinho e sempre a beber vinho, e da sua mulher, uma
senhora bastante diferente dele, alta e robusta, que abre a venda de manhã e atende todos
os fregueses. Batola era um homem baixo, carrancudo, que passa os seus dias sentado no
banco em frente à venda, onde só apareciam ceifeiros, já cansados e exaustos da faina,
que recolhem para as suas casas. Era uma rotina, uma solidão imensa.
No meio da sua monotonia desolada, Batola recorda o seu amigo, o velho Rata, a sua
única companhia, um mendigo que se suicidara.
Numa tarde, ouviu-se um motor, coisa que não se ouvia há muito tempo na aldeia. Era
um carro, com dois homens, um de fato de ganga e outro muito bem vestido. Era um
vendedor e o seu motorista, que pararam em frente à venda de Batola para pedir uma bilha
de água. Puseram-se à conversa e é então que, o vendedor pede a Calcinhas, o motorista,
para tirar a “caixa” do modelo pequeno. Um rádio. Este diz-lhe que quando quisesse, podia
ouvir música toda a noite e todo o dia, canções, fados e guitarradas, e até noticias da
guerra.
Batola, surpreendido e apaixonado pelo aparelho, pondera comprá-lo, mas a sua
mulher diz-lhe que se o fizer, ela sai de casa. É uma escolha que ele tem de fazer. O vendedor,
apressado, sugeriu-lhes que, se ao prazo de 1 mês não o quisessem, poderiam devolvê-lo a
preço zero. A mulher concordou, e a partir daquele dia, todos se reuniam para ouvir as
canções, comentar as notícias de última hora, e assim por diante.
O velho Batola, antes sozinho e vivendo uma vida em que as horas passavam devagar,
renasceu. Acordava cedo para vender coisas aos fregueses e fazia notar a sua vivacidade,
a sua vontade de saber mais. Nunca algo deste género tinha acontecido na aldeia. Por
contradição, a sua mulher, refugiou-se em casa, e ninguém soube dela durante o mês inteiro.

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O tempo passou tao rápido, que o final do mês chegara e Batola tivera se esquecido de
tentar convencer a mulher.
O conto termina com Batola, a guardar o aparelho e a sua mulher, ternuramente, a
dizer-lhe “Olha… Se tu quisesses, a gente ficava com o aparelho. Sempre é uma companhia
neste deserto.”

2. Solidão e convivialidade:
O título «Sempre é uma companhia» remete para a companhia que a rádio vinha trazer
à população isolada, invadindo a taberna e as suas vidas, com as notícias da II Guerra
Mundial.
No conto de Manuel da Fonseca, as primeiras páginas anunciam o isolamento
geográfico, a solidão e o silêncio, bem como referem a chegada do automóvel.
Os habitantes de Alcaria viviam em condições indignas, de tao forma que perderam,
praticamente, as suas características humanas.
A chegada da rádio viria a permitir a ligação com o mundo, a tomada de contato com
informação nova e que permitia aos habitantes ter novos assuntos de conversa. Até mesmo
as mulheres, que não costumavam frequentar a taberna, passaram a fazê-lo.
Se a vinda da rádio havia interferido com a vida do casal, a possibilidade de ficarem
sem a rádio era dolorosa, pois os habitantes regressariam novamente ao seu isolamento. A
mulher de Batola, apresenta-se, no final, com um ar ternurento, contrastando com a altitude
altiva inicial, afirmando que a radiofonia «sempre é uma companhia neste deserto».

3. Caracterização das personagens:


- António Barrasquinho, o Batola – preguiçoso, improdutivo, sonolento, bêbado, bate na
mulher; tem nome e alcunha típica do Alentejo; a sua indumentária é própria do homem
alentejano. A Sebenta Português 12º ano Liliana Vieira Conde 3 morte do seu amigo Rata,
acentua a sua solidão. É «atarracado, as pernas arqueadas», usa «chapeirão» e um «lenço
vermelho atado ao pescoço».
- Mulher do Batola – expedita, trabalhadora, incansável, é ela quem abre a venda e
atende os clientes, voltando depois para a lida da casa; ela é «alta, grave, um rosto ossudo»,
dotada de um sossego único, característica advinda da sua possibilidade de por e dispor do
governo da casa e do negócio.
- Rata – era mendigo e viajante, uma espécie de mensageiro. Quando Batola o
escutava a tarde inteira, parecia que também ele havia viajado pelo mundo. Quando
deixou de poder viajar, suicidou-se.
- Caixeiro-viajante – vendedor de aparelhos radiofónicos, comerciante e amigo.
- Os homens de Alcaria – figurinhas metaforicamente apresentadas com gado e que
vivem em casas «tresmalhadas»: «o rebanho que se levanta com o dia, lavra, cava a terra,
ceifa e recolhe vergado pelo cansaço e pela noite. Mais nada que o abandono e a solidão.»
Têm falta de esperança numa vida melhor. Batola contrasta com estes, pois pode preguiçar,
bebe o melhor vinho da venda, tem um fio de ouro no colete, mas é solidário com os aldeãos.
Partilha com este, a condição animalesca dos conterrâneos: “rumina” a revolta; os suspiros
saem-lhe “como um uivo de animal solitário”.

4. O tempo:
• Tempo histórico: anos 40 do século XX (referência à eletricidade e à telefonia).
• Passagem do tempo condensada: “há trinta anos para cá”, “todas as manhãzinhas”.
• Tempo sintetizado: da chegada do vendedor à partida do vendedor e prazo de
entrega do aparelho – um mês.

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5. O espaço:
• Aldeia de Alcaria: “quinze casinhas desgarradas e nuas”.
• Estabelecimento do casal Barrasquinho: “a venda” é um local onde reina o desleixo.
• “Fundos da casa”: espaço de habitação sombrio separado da venda.
• Locais “longínquos” por onde viajava Rata: Ourique, Castro Marim, Beja.

Poetas contemporâneos
1. Temáticas:
- Representação do quotidiano - são abordados assuntos do quotidiano e
representações dele à imagem do poeta em questão;
- Tradição literária - Influência de outras correntes e de outros autores faz-se sentir nos
poetas contemporâneos, seja através de temas como o amor, a passagem do tempo e a
complexidade da natureza humana;
- Figurações do poeta - remete para a caracterização do poeta e reflexão sobre o
papel do mesmo, tanto na vida como no mundo ou poesia;
- Arte poética - ocorre uma reflexão sobre a própria composição poética. Remete para
a centralidade que a própria poesia e o seu autor ocupam no seu processo de criação.

Representação do Figuração do
Poeta Tradição literária Arte poética
contemporâneo poeta
Miguel Comprometimento - Temos ligação à - Paixão pela Terra. Processo de
Torga político e social com o condição humana: - Consciência criação como
seu tempo (de duelo homem / social e ética. algo rigoroso e
ditadura). Presença da mundo; homem / - Inquietação, que implica
Natureza. Deus; homem / agonia e rebeldia sofrimento.
criação poética. do “eu” poético
- Influência de face ao seu tempo.
correntes e poetas - Inconformismo
tradicionais, como quanto à condição
Pessoa e Camões. humana.

Manuel Comprometimento Diálogo intenso com Visão do poeta Poesia


Alegre político, denúncia Camões e com as enquanto ser enquanto arma
da opressão da cantigas de amigo. comprometido contra a
ditadura salazarista com o seu tempo, opressão, a
(e do drama da batalhando pela violência e a
Guerra Colonial). defesa da falta de
Defesa da liberdade. liberdade. liberdade.

Memorial do Convento, José Saramago


A análise de Memorial do Convento permite constatar a existência de duas narrativas
simultâneas: uma de carácter histórico – a construção do convento de Mafra – e outra
ficcionada – a construção da passarola que engloba a história de amor entre Baltasar e
Blimunda.
A ação principal diz respeito à concretização do plano de D. João V – a edificação do
convento. Mas nesta encaixam-se outras ações, constituindo diferentes linhas de ação que
se articulam com a primeira.

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1. Linhas de ação:
- 1ª linha de ação: A do rei D. João V
Abrange todas as personagens da família real e relaciona-se com a segunda linha de
ação, uma vez que a promessa do rei é que vai possibilitar a construção do convento. Esta
linha tem como espaço principal a corte e, depois, o convento, na altura da sua
inauguração, no dia de aniversário do rei.
- 2ª linha de ação: A dos construtores do convento
Esta é a linha principal da história, a par da quarta – a que respeita à construção da
passarola. Esta segunda linha de ação vai ganhando relevo e une a primeira à terceira: se o
convento é obra e promessa do rei, é ao sacrifício dos homens, aqui representados por
Baltasar e Blimunda, que ela se deve. Glorificam-se aqui os homens que se sacrificam,
passam por dificuldades, mas que também as vencem.
- 3ª linha de ação: A de Baltasar e Blimunda
Nesta linha relata-se uma história de amor e o modo de vida do povo português. As
duas personagens (Baltasar e Blimunda) são as construtoras da passarola; a figura masculina
é também, depois, construtora do convento, constituindo-se paradigma da força que faz
mover Portugal – a do povo.
- 4ª linha de ação: A de Bartolomeu Lourenço
Esta relaciona-se com o sonho e o desejo de construir uma máquina voadora. Articula-
se com a primeira e segunda linhas de ação, porque o padre é o mediador entre a corte e
o povo. Também se enquadra na terceira linha, dado que a construção da passarola resulta
da força das vontades que Blimunda tem de recolher para que a passarola voe.

2. Aspetos simbólicos
➢ Convento de Mafra
- Representa a ostentação régia e o místico religioso, mas também testemunha a dureza
a que o povo está sujeito, a miséria em que vive, a exploração a que é sujeito apesar da
riqueza do país.
➢ Passarola voadora
- Simboliza a harmonia entre o sonho e a sua realização, o desejo de liberdade;
- Permitiu a união entre Bartolomeu Lourenço, Baltasar e Blimunda, que juntaram a
ciência, o trabalho artesanal, a magia e a música para construir e fazer voar a passarola;
- Símbolo de fraternidade e igualdade capaz de unir os homens cultos e os populares.
➢ Blimunda
- Representa um elemento mágico difícil de explicar: possui poderes sobrenaturais que
lhe permite compreender a vida, a morte, o pecado e o amor.
- Através de Blimunda o narrador tenta entrar dentro da história da época e denunciar
a moral duvidosa, os excessos da corte, o materialismo e hipocrisia do clero, as perseguições
i injustiças da inquisição, a miséria e diferenças sociais.
➢ Número “sete”
- É o número de dias de cada ciclo lunar, que regula os ciclos de vida e da morte na
Terra.
- Símbolo de sabedoria e de descanso no fim da criação.
➢ Sete-Sóis / Sete-Luas
- O sete associa-se ao sol e à lua:
1. O sol símbolo de vida, associa-se ao povo que trabalha incessantemente, como o
próprio Baltasar, apesar de decepado.
2. A lua não tem luz própria, depende do sol, tal como Blimunda depende de
Baltasar. A lua atravessa fases, o que representa a periodicidade e a renovação.
➢ Cobertor
- Símbolo de afastamento, da separação que marca o casamento de convivência
entre o rei e a rainha.
- Liga-se à frieza do amor, à ausência do prazer, esconde desejos insatisfeitos.

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➢ Colher
- Símbolo de aliança, da “união de facto”, de compromisso sagrado.
- Exprime o amor autêntico numa relação de paixão.

3. Tópicos essenciais por capítulo


Capítulo I
• Anúncio da ida de D. João V ao quarto da rainha.
• Desejo de D. Maria Ana: satisfazer o desejo do rei de ter um herdeiro para o reino.
• Passatempo do rei: construção, em miniatura, da Basílica de S. Pedro de Roma.
• Premonição de um franciscano: o rei terá um filho se erguer um convento franciscano em
Mafra.
• Promessa do rei: mandar construir um convento se a rainha lhe der um filho no prazo de
um ano.
• Chegada do Rei ao quarto da rainha, decidido a ver cumprida a promessa feita a Frei
António de S. José.

Capítulo II
• Referência a milagres franciscanos que auguram a promessa real: história de Frei Miguel
da Anunciação (o corpo que não corrompia e os milagres); história de Sto. António (seus
milagres e castigos); os precedentes franciscanos.
• Visão crítica do narrador face às promessas e milagres dos franciscanos: o mundo
marcado por excesso de riqueza e extrema pobreza.

Capítulo III
• Reflexões sobre Lisboa: condições de vida; visão abjeta da cidade no Entrudo; crítica a
hábitos religiosos, à procissão da penitência, à Quaresma.
• O estado de gravidez da rainha (da condição de mulher comum à sua infinita
religiosidade).
• O sonho da rainha com o cunhado (tópico da traição).

Capítulo IV
• Apresentação de Baltasar Mateus: Sete-Sóis, 26 anos, natural de Mafra, maneta à
esquerda, na sequência da Batalha de Jerez de los Caballeros (Espanha).
• Estava em Évora, onde pede esmola para pagar um gancho de ferro e poder substituir a
mão.
• Percurso até Lisboa, onde vive muitas dificuldades.
• Indecisão de Baltasar: regressar a Mafra ou dirigir-se ao Terreiro do Paço (Lisboa) e pedir
dinheiro pela mutilação na guerra.
• Encontro de Baltasar Sete-Sóis com um amigo, antigo soldado: João Elvas.
• Referências ao crime na cidade lisboeta e ao Limoeiro.

Capítulo V
• Fragilidade de D. Maria Ana, com a gravidez e com a morte do seu irmão José (imperador
da Áustria).
• Apresentação de Sebastiana Maria de Jesus, mãe de Blimunda (Sete Luas) - condenada
ao degredo (Angola), por ter visões e revelações.
• Espetáculo do auto de fé assistido por Blimunda, na companhia do padre Bartolomeu
Lourenço.
• Proximidade de Baltasar Mateus (Sete-Sóis), que trava conhecimento com Blimunda assim
que esta lhe pergunta o nome.
• Paixão de Baltasar pelos olhos de Blimunda.
• União de Bartolomeu Lourenço, Blimunda e Baltasar, após o auto de fé, tendo o ex-
soldado acompanhado o padre e Blimunda a casa desta, onde comeram uma sopa.

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• Apresentação de Blimunda como vidente (quando está em jejum vê as pessoas “por


dentro”).
• Consumação do amor de Baltasar e Blimunda (19 anos, virgem), com esta a prometer que
nunca o olhará por dentro.

Capítulo VI
• Visão crítica das leis comerciais.
• Narrativa de João Elvas, a Baltasar, sobre um suposto ataque dos franceses a Lisboa (que
mais não era do que a chegada de uma frota com bacalhau).
• Conflito de Baltasar: saber a cor dos olhos de Blimunda.
• Deslocação do Padre Bartolomeu Lourenço ao Paço para interceder por Baltasar (a fim
de este receber uma pensão de guerra) e compromisso de falar com o Rei, caso tarde a
resposta.
• Apresentação, por João Elvas, de Bartolomeu Lourenço como o Voador (as diversas
tentativas levadas a cabo pelo padre para voar, justificando-se, este, que a necessidade
está na base das conquistas do homem; o conhecimento da mãe de Blimunda, dadas as
visões que esta tinha de pessoas a voar).
• Questão de Baltasar ao padre: o facto de Blimunda comer pão, de manhã, antes de abrir
os olhos.
• Apresentação da passarola a Baltasar, pelo Padre B. Lourenço (S. Sebastião da Pedreira).
• Descrição da passarola, a partir do desenho que o padre mostra a Baltasar.
• Convite do Padre para que Baltasar o ajude na construção da passarola.

Capítulo VII
• Trabalho de Baltasar num açougue.
• Evolução da gravidez da rainha, tendo o rei de se contentar com uma menina.
• Rendição das frotas portuguesas do Brasil aos franceses.
• Visita de Baltasar e Blimunda à zona enfeitada para o batismo da princesa, estando
aquele mais cansado do que habitualmente, por carregar tanta carne para o evento.
• Morte do frade que formulou a promessa real; fidelidade de D. João V à promessa.

Capítulo VIII
• Relação amorosa de Baltasar e Blimunda.
• Procura de Baltasar a propósito do misterioso acordar de Blimunda: esta conta-lhe que,
em jejum, consegue ver o interior das pessoas; daí comer o pão ao acordar para não ver
o interior de Baltasar.
• Indicação de Blimunda, a Baltasar, acerca do seu dom: vê o interior dos outros e “vê” a
nova gravidez da rainha.
• Falha na obtenção da tença pedida ao Paço para Baltasar e despedimento do local
onde este trabalhava (açougue).
• Nascimento do segundo filho do rei, o infante D. Pedro.
• Deslocação de El-rei a Mafra, para escolher a localização do convento (um alto a que
chamam Vela).

Capítulo IX
• Auxílio de Baltasar ao padre Bartolomeu Lourenço na construção da passarola, tendo-lhe
este dado a chave da quinta do duque de Aveiro, onde se encontra a “máquina de voar”.
• Visita de Baltasar à quinta, acompanhado de Blimunda.
• Inspeção de Blimunda, em jejum, à máquina em construção para descobrir as suas
fragilidades.
• Atribuição, pelo Padre B. Lourenço, dos apelidos de Sete-Sóis e Sete-Luas, respetivamente,
a Baltasar e a Blimunda (ele “vê às claras” e ela “vê às escuras”).
• Deslocação do Padre à Holanda, para aprender com os alquimistas a fazer descer o éter
das nuvens (necessário para fazer voar a passarola).

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• Realização do novo auto de fé, mas Baltasar e Blimunda permanecem em S. Sebastião da


Pedreira.
• Partida de Baltasar e Blimunda para Mafra e do padre para a Holanda, ficando aqueles
responsáveis pela passarola.
• Ida à tourada, antes de Baltasar e Blimunda partirem de Lisboa.

Capítulo X
• Visita de Baltasar à família, com apresentação de Blimunda e explicação da perda da
mão.
• Vivência conjunta e harmoniosa na família de Baltasar.
• Venda das terras do pai de Baltasar, por causa da construção do convento.
• Trabalho procurado por Baltasar.
• Comparação entre a morte e o funeral do filho de dois anos da irmã de Baltasar e a morte
do infante D. Pedro.
• Nova gravidez da rainha, desta vez do futuro rei.
• Comparação dos encontros de Baltasar com Blimunda e do rei com a rainha.
• A frequência dos desmaios do rei e a preocupação da rainha.
• O desejo de D. Francisco, irmão do rei, casar com a rainha, à morte deste.

Capítulo XI
• Regresso de Bartolomeu Lourenço da Holanda, passados três anos, e o abandono da
abegoaria (quinta de S. Sebastião da Pedreira).
• Constatação do padre de que Baltasar cuidara da passarola, conforme lhe havia pedido.
• Deslocação a Coimbra, passando por Mafra para saber de Baltasar e Blimunda.
• Reflexão sobre o papel que cada um tem na construção do futuro, não estando este
apenas nas mãos de Deus.
• Atribuição de bênção a quem a pede, deparando o padre, no caminho para Mafra, com
trabalhadores (comparados a formigas).
• Conversa do Padre com um pároco, ficando a saber que Baltasar e Blimunda casaram e
onde vivem.
• Visita do padre ao casal de amigos e conversa sobre a passarola.
• Bartolomeu Lourenço na casa do padre Francisco Gonçalves, a pernoitar.
• Encontro de Blimunda e Baltasar com padre B. Lourenço, de manhã muito cedo, quando
ela ainda está em jejum.
• Apresentação, a Baltasar e Blimunda, do resultado de aprendizagem do Padre na
Holanda: o éter que fará voar a passarola vive dentro das pessoas (não é a alma dos
mortos, mas a vontade dos vivos).
• Pedido de auxílio do Padre a Blimunda: ver a vontade dos homens (esta consegue ver a
vontade do padre) e colhê-la num frasco.
• Deslocação de Bartolomeu Lourenço a Coimbra para aprofundar os seus estudos e se
tornar doutor.
• Ida de Blimunda e Baltasar para Lisboa: ela, para recolher as vontades; ele, para construir
a passarola.

Capítulo XII
• Tomada da hóstia, em jejum: Blimunda descobre que o que está dentro desta é o mesmo
que está dentro do homem – a religião.
• Festividades da inauguração da construção do convento e do lançamento da primeira
pedra (três dias), a ter lugar numa igreja–tenda ricamente decorada e com a presença
de D. João V.
• Baltasar e Blimunda na inauguração.
• Passada uma semana, partida do casal para Lisboa.

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Capítulo XIII
• Verificação de Baltasar relativamente ao estado enferrujado da máquina, seguida dos
arranjos necessários e da construção de uma forja enquanto o padre não chega.
• Chegada do padre, dizendo a Blimunda que serão necessárias, pelo menos, duas mil
vontades para a passarola voar (tendo ela apenas recolhido cerca de trinta).
• Conselho do Padre para que Blimunda recolha vontades na procissão do Corpo de Deus.
• Regresso do Padre a Coimbra para concluir os seus estudos.
• Trabalho de Baltasar e Blimunda na máquina, durante o inverno e a primavera, e
chegada, por vezes, do padre com esferas de âmbar amarelo (que guardava numa
arca).
• Perspetivas de a procissão do Corpo de Deus ser diferente do normal.
• Perda da capacidade visionária de Blimunda, com a chegada da lua nova.
• Saída da procissão (8 de junho de 1719) – só no dia seguinte, com a mudança da lua,
Blimunda recupera o seu poder.

Capítulo XIV
• Regresso do Padre Bartolomeu Lourenço de Coimbra, doutor em cânones.
• Novo estatuto do padre: fidalgo capelão do rei, vivendo nas varandas do Terreiro do Paço.
• Relação do padre com o rei: este apoia a aventura da passarola, exprimindo o desejo de
voar nela.
• Lição de música (cravo) da infanta D. Maria Bárbara (8 anos), sendo o seu professor o
maestro Domenico Scarlatti.
• Conversa do padre com Scarlatti, depois da lição.
• Audição, em toda a Lisboa, de Scarlatti a tocar cravo, em privado.
• Scarlatti em S. Sebastião da Pedreira, a convite de Bartolomeu Lourenço (após dez anos
de Baltasar e Blimunda terem entrado na quinta).
• Apresentação a Scarlatti do casal e da máquina de voar.
• Convite a Scarlatti para visitar a quinta sempre que quiser.
• Ensaio do sermão de Bartolomeu Lourenço para o Corpo de Deus (tema: Et ego in illo).

Capítulo XV
• Censura do sermão de Bartolomeu Lourenço por um consultor do Santo Ofício.
• S. Sebastião da Pedreira recebe o cravo de Scarlatti.
• Vontade de Scarlatti voar na passarola e tocar no céu.
• Ida de Baltasar e Blimunda a Lisboa (dominada pela peste), à procura de vontades.
• Doença estranha de Blimunda, após a recolha de duas mil vontades.
• Apoio de Baltasar e recuperação de Blimunda após audição da música de Scarlatti.
• Encontro do casal com o padre Bartolomeu Lourenço.
• Remorsos de Bartolomeu Lourenço por ter colocado Blimunda em perigo de vida.
• Vontade de Bartolomeu Lourenço informar o rei de que a máquina está pronta, não sem
a experimentar primeiro.

Capítulo XVI
• Reflexão sobre o valor da justiça.
• Morte de D. Miguel, irmão do rei, devido a naufrágio.
• Necessidade de o Rei devolver a quinta de S. Sebastião da Pedreira ao Duque de Aveiro,
após anos de discussão na Justiça.
• Vontade do Padre experimentar a máquina para, depois, a apresentar ao rei.
• Receio do Padre face ao Santo Ofício: o voo entendido como arte demoníaca.
• Fuga do Padre, procurado pela Inquisição, na passarola.
• Destruição da abegoaria para a passarola poder voar.
• Voo da máquina com o Padre, Baltasar e Blimunda e descrição de Lisboa vista do céu.
• Abandono do cravo num poço da quinta para Scarlatti não ser perseguido pelo Santo
Ofício.

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• Perseguição de Bartolomeu Lourenço pela Inquisição.


• Divisão de tarefas na passarola e preocupação do Padre: se faltar o vento a passarola
começa a cair e o mesmo acontecerá quando o sol se puser.
• Visão de Mafra a partir do céu: a obra do convento, o mar.
• Ceticismo dos habitantes que veem a passarola nos céus.
• Descida e pouso da passarola numa espécie de serra, com a chegada da noite.
• Tentativa de destruição da passarola, por Bartolomeu Lourenço (fogo), mas Baltasar e
Blimunda impedem-no.
• Fuga do padre e camuflagem da máquina com ramos das moitas, na serra do Barregudo.
• Chegada de Baltasar e Blimunda, dois dias depois, a Mafra, fingindo que vêm de Lisboa.
• Procissão em Mafra em honra do Espírito Santo, que sobrevoou as obras da basílica (na
perspetiva dos habitantes).

Capítulo XVII
• Trabalho procurado por Baltasar e Álvaro Diogo com a hipótese de ele trabalhar nas obras
do convento.
• Baltasar na Ilha da Madeira, local de alojamento para os trabalhadores do convento.
• Descrição da vida nas barracas de madeira (mais de 200 homens que não são de Mafra).
• Verificação do atraso das obras (feita por Baltasar) – motivos: chuva e transporte dos
materiais dificultam o avanço.
• Notícias de um terramoto em Lisboa.
• Regresso de Baltasar ao Monte Junto, onde se encontra a passarola.
• Visita de Scarlatti ao convento e encontro com Blimunda, sendo esta informada de que
Bartolomeu de Gusmão morreu em Toledo, no dia do terramoto.

Capítulo XVIII
• Enumeração dos bens do Império de D. João V.
• Enumeração dos bens comprados para a construção do convento.
• Realização de uma missa numa capela situada entre o local do futuro convento e a Ilha
da Madeira.
• Apresentação dos trabalhadores do convento e apresentação de Baltasar Mateus (já
com 40 anos).

Capítulo XIX
• Os trabalhos de transporte de pedra-mãe (Benedictione).
• Mudança de serviço no trabalho de Baltasar: dos carros de mão à junta de bois.
• Notícia da necessidade de ir a Pero Pinheiro buscar uma pedra enorme (Benedictione).
• Trabalho dos homens em época de calor e descrição da pedra.
• Ferimento de um homem (perda do pé) no transporte da pedra (“Nau da Índia”).
• Narrativa de Manuel Milho (história de uma rainha e de um ermitão).
• Segundo dia do transporte da pedra e retoma da narrativa de Manuel Milho.
• Chegada a Cheleiros e morte de Francisco Marques (atropelado pelo carro que
transporta a pedra) bem como de dois bois.
• Velório do corpo do trabalhador.
• Manuel Milho retoma a narrativa.
• Missa e sermão de domingo.
• Final da história narrada por Manuel Milho.
• Chegada da pedra ao local da Basílica, após oito dias de percurso.

Capítulo XX
• Regresso de Baltasar, na primavera, ao Monte Junto, depois de seis ou sete tentativas.
• Companhia de Blimunda, passados três anos da descida da passarola, nesse regresso.
• Confidência de Baltasar ao pai: o destino da sua viagem e o voo na passarola.
• Renovação da passarola graças à limpeza feita por Baltasar e Blimunda.

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• Descida do casal a Mafra, localidade infestada por doenças venéreas.


• Morte do pai de Baltasar.

Capítulo XXI
• Auxílio desmotivado da Infanta D. Maria e do Infante D. José na construção da Basílica de
S. Pedro (brinquedo de D. João V).
• Encomenda de D. João V ao arquiteto Ludovice para construir uma basílica como a de S.
Pedro na corte portuguesa.
• Desencorajamento de Ludovice, convencendo o rei a construir um convento maior em
Mafra.
• Conversa de D. João V com o guarda-livros sobre as finanças portuguesas e preparativos
para o aumento da construção do convento em Mafra.
• Intimação de um maior número de trabalhadores para cumprimento da vontade real.
• O rei e o medo da morte (que o possa impedir de ver a obra final).
• Vontade de D. João V em sagrar a basílica no dia do seu aniversário, daí a dois anos
(22/10/1830).
• Chegada de um maior número de trabalhadores a Mafra (500).

Capítulo XXII
• Casamento da Infanta Maria Bárbara com o príncipe D. Fernando de Castela e
casamento do príncipe D. José com Mariana Vitória.
• Participação de João Elvas no cortejo real para encontro dos príncipes casadoiros.
• Parida do rei para Vendas Novas.
• Percurso do rei na direção de Montemor.
• Trabalho de João Elvas no arranjo das ruas, após chuva torrencial, para que o carro da
rainha e da princesa possa prosseguir para Montemor.
• Esforço dos homens para tirar o carro da rainha de um atoleiro.
• João Elvas recorda o companheiro Baltasar Mateus junto de Julião Mau-Tempo.
• Conversa destes e a suspeita de que Baltasar voou com Bartolomeu de Gusmão.
• Tempo chuvoso no percurso de Montemor a Évora.
• Lembrança da princesa de que desconhece o convento que se está a erguer em favor
do seu nascimento, depois de ver homens presos a serem enviados para trabalhar em
Mafra.
• Encontro do rei com a rainha e os infantes em Évora.
• Cortejo real dirigido para Elvas, oito dias após a partida de Lisboa para troca das princesas
peninsulares.
• Reis de Espanha em Badajoz.
• Chegada do rei, da rainha e dos infantes ao Caia, a 19 de janeiro.
• Cerimónia da troca das princesas peninsulares.

Capítulo XXIII
• Cortejo de estátuas de santos em Fanhões.
• Deslocação de noviços para Mafra nas vésperas de sagração do convento.
• Chegada dos noviços.
• Regresso de Baltasar a casa depois do trabalho.
• Ida de Baltasar e Blimunda ao local onde se encontram as estátuas.
• Apreensão de Blimunda ao saber que passados seis meses Baltasar vai ver a passarola.
• O casal no círculo das estátuas e reflexão sobre a vida e a morte.
• Despedida amorosa de Baltasar e Blimunda na barraca do quintal.
• Chegada de Baltasar à Serra do Barregudo.
• Entrada de Baltasar na passarola, seguida da queda deste e do voo da máquina.

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Capítulo XXIV
• Espera de Blimunda e posterior busca de Baltasar.
• Entrada do rei em Mafra.
• Grito de Blimunda ao chegar ao Monte Junto, depois de descobrir que a passarola não se
encontrava no local habitual.
• Encontro de Blimunda com um frade dominicano que a convida a recolher-se numas
ruínas junto ao convento.
• Tentativa de violação de Blimunda pelo frade e morte deste com o espigão que ela lhe
enterra entre as costelas.
• Blimunda faz o caminho de regresso a casa.
• A ansiedade de Blimunda depois de duas noites sem dormir.
• Final das festividades do dia, em Mafra.
• Informação de Álvaro Diogo sobre quem está para chegar a Mafra.
• Dia do aniversário do rei e da sagração da basílica.
• Cortejo assistido por Inês Antónia e Álvaro Diogo, acompanhados por Blimunda.
• Bênção do patriarca na Benedictione.
• Final do primeiro dos oito dias de sagração e saída de Blimunda para procurar Baltasar.

Capítulo XXV
• Procura de Baltasar por Blimunda ao longo de nove anos.
• Apelido de Blimunda: a voadora.
• Identificação de Blimunda com a terra onde ela permaneceu por largo tempo a ajudar
os que dela se socorriam: Olhos de Água.
• Passagem de Blimunda por Mafra e tomada de conhecimento da morte de Álvaro Diogo.
• Sétima passagem desta por Lisboa.
• Encontro de Blimunda (em jejum) com Baltasar, que está a ser queimado num auto de fé,
junto com António José da Silva (O Judeu).
• Recolha da vontade de Baltasar por Blimunda.

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