On The Fence - Kasie West
On The Fence - Kasie West
On The Fence - Kasie West
Para Michelle Wolfson, que no processo de me ajudar a realizar meus sonhos, tornou-se
uma verdadeira amiga.
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA
SUMÁRIO
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
NOTAS
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
AVISO
A presente tradução foi efetuada pelo grupo Sofredoras Anônimas (SA), a fim de proporcionar ao
leitor o acesso à obra, incentivando à posterior aquisição. O objetivo do grupo é selecionar livros sem
previsão de publicação no Brasil, traduzindo-os e disponibilizando-os ao leitor, sem qualquer forma
de obter lucro, seja ele direto ou indireto.
A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, o grupo poderá, sem
aviso prévio e quando entender necessário, suspender o acesso aos livros e retirar o link de
disponibilização dos mesmos, daqueles que forem lançados por editoras brasileiras.
Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de que o download se destina
exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se de o divulgar nas redes sociais bem como tornar
público o trabalho de tradução do grupo, sem que exista uma prévia autorização expressa do mesmo.
Tradução: Alzira Soverosa
1ª Revisão: Felisbela Dinarte
2ª Revisão: Armanda Emiliano
Última Revisã e Diagramação: Tomásia Aurélia
Capítulo 1
O motor choramingou contra a minha tentativa de ir mais rápido. As linhas amarelas da
estrada passaram à minha esquerda em um borrão. O oceano à minha direita não parecia
afetado. Isso criou a ilusão de que eu não estava indo rápido o suficiente. As curvas suaves
nessa estrada imploravam para serem tomadas em alta velocidade. Eu abaixei mais um
centímetro o pedal do acelerador e o carro deu um solavanco. Meu coração acelerou e eu não
pude evitar o sorriso em meu rosto. Vento chicoteava através da cabine, fazendo meu cabelo
voar e secando o suor na minha testa do meu último treino do ano letivo.
Luzes vermelhas e azuis brilhavam no espelho retrovisor. Inutilmente levantei meu pé do
acelerador, como se isso pudesse ajudar. Procurei um lugar para tirar o carro da estrada, já
planejando a minha história. No momento em que o policial chegou à minha janela, bloco na
mão, pensei em duas grandes possibilidades.
Quando vi seu rosto, todas as minhas desculpas sumiram. Eu suspirei e rolei para baixo a
janela.
— Charlotte Reynolds, nos encontramos novamente — disse ele.
— Oi, oficial.
— O que é isto, a terceira vez?
— É? — Droga. Quais eram as chances que o mesmo policial teve de me parar ao três
vezes? — Meu pai diz oi.
Ele riu.
— Seu pai é um bom policial, mas o nome dele não vai safar você desta vez. Não quando
você estava indo vinte e cinco quilômetros acima do limite de velocidade.
— Mesmo? Não pode ter sido vinte e cinco.
— Foi. Eu preciso da sua licença.
— Posso olhar para o seu radar? Tem certeza de que leu certo?
Ele ergueu as sobrancelhas para mim e eu de má vontade entreguei minha licença. Meu pai
ia me matar.
Eu entrei pela porta da frente e joguei minha bolsa debaixo da mesa da entrada, ainda
zangada com a multa estúpida.
— Onde está todo mundo? — gritei. Segui os sons de risadas na cozinha. Um
liquidificador estava no meio da ilha, cercado por uma garrafa de molho de tabasco¹, ketchup
e cascas de ovo. Gage olhou para cima e chamou minha atenção.
— Charlie! Na hora certa.
Eu podia sentir o cheiro da porta, qualquer que fosse o smoothie horrível que eles tinham
criado, cheirava a tomate podre.
— Ah, não.
— Oh, sim. — Nathan serpenteou o braço em volta do meu ombro e me puxou até o
balcão. — Pegue outro copo.
Um copo foi adicionado aos outros no balcão.
— Em três nós bebemos — Gage disse, derramando um pouco da mistura nojenta do
liquidificador em cinco copos.
— Por que estamos fazendo isso? — perguntei, olhando para os quatro caras ao redor da
ilha da cozinha. Três deles eram meus irmãos — Jerom, Nathan e Gage — e o outro, bem,
poderia ter sido — Braden. Ele foi nosso vizinho por doze dos dezesseis anos da minha vida e
estava sempre por perto.
— Um, para provar que podemos. Dois, para endurecer nossos estômagos para as batidas
que eles vão receber no futebol amanhã.
— Então, em outras palavras, apenas para serem idiotas.
— Isso também — disse Gage, segurando o copo. — Pronto?
— Os perdedores serão humilhados — disse Braden.
— Sim, sim, vamos. Eu quero correr antes de anoitecer. — Dei uma olhada mais de perto.
Não deveria ter feito. Cheirava pior do que o armário de Gage.
— Ela não vai fazer isso. Charlie está se acovardando — disse Nathan, apontando para
mim.
— Não, você está enlouquecendo. — Ele estava certo. Eu não ia beber isso. Mas eles
também não. Esse era o lance do jogo aqui. Nós já havíamos feito isso antes. Bem não este
em particular, mas várias versões ao longo dos anos.
Na contagem de três, todos pulam na piscina. Na contagem de três, todo mundo grita: "eu
sou um perdedor", no meio do shopping. Na contagem de três, todo mundo lambe a pessoa a
sua direita. Era um jogo de blefes. Se uma pessoa fizesse isso, o resto tinha que fazer alguma
coisa estúpida como um castigo. Se ninguém fizesse isso, todos estavam seguros.
A única pessoa que eu desconfiava naquele momento era Braden. Os meus irmãos eram
tão fáceis de ler. Esta noite, eu sabia que eles não iriam beber no minuto que entrei na
cozinha, estava escrito em seus rostos, torcidos em desgosto. Mas Braden, mesmo depois de
todos esses anos, ainda era o curinga. Olhei para ele e ele sorriu para mim.
Assustada? Ele murmurou.
Balancei a cabeça e estudei seus olhos. Eles eram cor de avelã, às vezes mais verde e às
vezes mais marrom. Eles pareciam mais verdes naquele momento, e eu tentei descobrir o que
isso significava sobre sua intenção. Ele ia beber?
— Ok, feche os olhos — disse Jerom. — Copos prontos.
Fechei meus olhos. Eu não queria usar isso e ter que tomar dois banhos esta noite — antes
e depois da corrida.
— Um…
Braden pigarreou ao meu lado. Isso foi um movimento de blefe, não foi? Então isso
significava que ele não ia beber.
— Dois…
Ele bateu com o cotovelo no meu. Porcaria, ele estava tentando me enganar. De modo que
significava que ele ia beber.
— Três.
Melhor beber do que ser humilhada. Eu virei o copo em três grandes goles, engasgando
apenas um pouco.
— Charlie! — Nathan choramingou. — Sério?
— Todos seguraram um copo cheio na frente deles.
— Há! Humilhem-se. Todos vocês. — Olhei para Braden, que tinha um olhar orgulhoso
no rosto, embora tecnicamente ele tivesse perdido. Eu tive que aprender a dizer que no futuro
eu poderia evitar o gosto horrível que revestiu minha língua. Meu estômago também não
estava muito feliz. — Hummm, tem gosto de motor V8².
*
O cheiro persistente ao redor de Jerom enquanto corríamos me fez sentir mal do estômago.
Provavelmente porque o cheiro me lembrou do que estava no meu estômago. Não ajudava
que era uma noite abafada de verão. Calor combinado com umidade não era minha condição
de corrida favorita.
Me distraí tentando identificar as árvores no parque. Eu sabia que as grandes eram
eucaliptos. Eles cresceram em toda a costa. Eles devem ter gostado do ar salgado. Mesmo
onde morávamos, a dez quilômetros do oceano, eles prosperavam.
— Oito semanas de verão — disse Jerom, interrompendo minha tentativa fracassada de
nomear mais árvores. — Então seremos algemados pelas correntes opressivas novamente.
— Não me lembre. Pelo menos você tem alguma liberdade.
— Você acha que a faculdade é igual a liberdade?
— Uh... sim!
Ele riu.
— Ok, sim, meio que é. Mas ainda tenho aulas e futebol, então não é tão livre quanto
poderia ser.
— Você já avisou Nathan? Eu acho que ele está ansioso para alguma liberdade.
— Okay, certo. Se não houvesse regras para ficar dentro dos limites estritos, Nathan não
saberia o que fazer com ele mesmo.
— Verdade.
Ele olhou para mim, levemente sem fôlego. Foi bom saber que eu poderia ainda superar
meu irmão mais velho. Eu nem estava sem fôlego.
— E você? — perguntou. — Alguma ideia preconcebida sobre ser uma veterana que eu
precise esmagar?
— Oh, por favor, eu sou uma veterana há dois anos, considerando que andei com Nathan,
Gage e Braden toda a minha carreira no ensino médio.
— Verdade. Talvez eles tenham feito um desserviço com isso. Talvez devessem ter
deixado você sofrer nas trincheiras por um tempo antes de chamá-la.
— Talvez eu devesse correr até o topo da colina. — Apontei à nossa frente. A colina
marcava o começo da milha três. Meu estômago gorgolejou, não concordando com a minha
sugestão, mas assim que Jerom disse "você está pronta?", eu não poderia voltar atrás.
Quando subimos a colina, notei pela primeira vez que não estava apenas abafado; nuvens
negras pairavam no alto. Nuvens de chuva. Ele liderou pelos primeiros cinquenta metros mais
ou menos, mas era uma grande colina. Eu salvei minha velocidade para quando ele perdeu
sua energia, e passei correndo por ele. No topo, me inclinei, agora sem fôlego, e tentei
recuperar a respiração.
— Ser um atacante estragou você — eu disse. — Eu ouço praticamente todo o mundo
rindo de você.
— Tanto faz.
— Parece que vai chover — disse, olhando para o céu novamente. — Melhor ainda para
jogar amanhã.
— Oh, nós vamos jogar. Isso pode se transformar em futebol de lama. — Ele olhou para a
manga da blusa e depois jogou um pedaço de gosma vermelha fora.
A cena fez meu estômago revirar e o ácido subiu pela minha garganta.
— Espere um minuto. — Eu caminhei para o lado da estrada e comecei a vomitar em
alguns arbustos. O cheiro me fez querer repetir a ação, mas rapidamente caminhei para longe.
— Nojento — disse Jerom.
Limpei minha boca com as costas da minha mão.
— Sim, esses ovos crus misturados com o molho não se encaixam muito bem. Mas me
sinto muito melhor agora. — E eu me sentia. — Vamos!
Corri de novo, indo em direção ao caminho que levava ao redor do parque e depois de
volta ao nosso bairro.
— Você já pensou que você se esforça demais? — Jerom perguntou, uma vez que ele
estava ao meu lado.
— Isso vindo do Sr. eu vou para UNLV com uma bolsa de estudos de futebol? — Lembrei
quando ele foi premiado pela primeira vez com a bolsa de estudos. Apesar de Nevada ser a
faculdade dos seus sonhos, eu secretamente esperava uma faculdade mais próxima. Foi difícil
deixar de ver algum dos meus irmãos. Eu queria mantê-los perto. Seguros. Fiquei feliz
quando ele decidiu voltar para casa durante os verões. — Não, eu não acho que eu me esforce
demais. Você tem que fazer o seu melhor para ser o melhor, certo?
— Eu acho.
— Você acha? Você é quem sempre diz isso. A citação foi gravada na porta do seu quarto
por anos. Não me dê isso de "eu acho". Além disso — apontei de volta para os arbustos —
isso não tem nada a ver com me esforçar, e você sabe. Eu nem estou cansada. Isso tinha a ver
com uma bebida que eu não deveria ter tomado, os restos dos quais você ainda tem em toda a
sua blusa.
— Verdade. — Nós corremos mais alguns metros. — Por que você fez?
— Por que eu fiz o que?
— Por que você bebeu isso? Você sabia que não íamos.
Mas eu não sabia que Braden não.
— Como daquela vez que eu sabia que você não ia beijar uma estranha aleatória? Você
fez. Todos vocês fizeram, mesmo Nathan, e eu estava presa dizendo às próximas quatro
pessoas que eu vi que eu estava apaixonada pelo meu cachorro e perguntando se eles sabiam
onde eu poderia encontrar ajuda para isso.
Ele riu tanto que teve que parar de correr por um minuto.
— A punição foi engraçada, mas o desafio foi fácil. É por isso que todos nós fizemos isso.
Qual era o negócio? Você não gostou do estranho aleatório que escolhemos para você beijar?
— Algo assim. — Na verdade, o estranho aleatório era muito fofo. Minha questão era que
eu não achava que ele receberia meus avanços. Meus irmãos eram legais. Atraentes. A
maioria das garotas até os descreviam como gostosos, com suas formações altas e atléticas e
olhos cinzentos tempestuosos. Tenho certeza de que as meninas que eles haviam beijado
naquele dia ainda falavam sobre isto.
Eu era... um moleque. Naquele dia no shopping, o dia do “beijar um estranho aleatório”,
eu estava vestindo roupa de aquecimento do treino de basquete, meu cabelo estava oleoso e
puxado em um rabo de cavalo, e meus lábios estavam rachados. Eu não estava beijando
algum cara aleatório fofo que provavelmente teria vomitado.
— Ele não teria sido capaz de lidar com a minha grandiosidade.
Eu disse em voz alta quando pude dizer que Jerom estava esperando por uma resposta
melhor.
— Não são muitos que podem aguentar sua grandiosidade.
Desde o momento em que ele riu, nós tínhamos desacelerado para uma caminhada, e agora
eu peguei o ritmo.
— Acho que isso foi dito para soar como um insulto, mas vou aceitar que você concorda
comigo. Agora vamos nos mexer. Não há mais folga.
— Sim, treinadora.
Quando chegamos em casa, eu me senti pegajosa e com as pernas de borracha, mas meus
pulmões estavam abertos e adrenalina percorria meu corpo. Era uma das razões pelas quais eu
corria — eu me sentia nas alturas.
Naquela noite, depois de cair na cama, adormeci imediatamente e dormi como os mortos
— nem um único sonho.
E essa era a outra razão pela qual eu corria.
Capítulo 2
Aparentemente, choveu a noite toda — não que eu tenha ouvido — deixando o parque
uma bagunça encharcada. Mas, como Jerom disse, perfeito para o futebol de lama. Minha
equipe se amontoou e Jerom olhou para mim.
— Abra, está vindo para você. E, Charlie, pode ajudar se você sair daqui em vez disso.
— Você se preocupa com sua técnica, eu vou me preocupar com a minha — eu disse.
— Apenas uma sugestão.
— Eu sei jogar.
— Sim, Jerom. Charlie sabe como jogar — brincou Gage, batendo o ombro no meu. —
Não diga a ela o que fazer.
— Gage. — De todos os meus irmãos, ele era o mais próximo de mim, o único que eu
deixaria escapar dizendo isso. Principalmente porque ele me deu aquele sorriso extravagante
e eu não pude ficar brava com ele.
— Bom, então vamos fazer isso. — Jerom bateu palmas e nos alinhamos. A pontuação foi
empatada em sete com cinco minutos restantes. Minhas meias estavam encharcadas de lama e
minhas mãos escorregaram dos meus joelhos enquanto eu me agachava, mas eu ia pegar essa
bola. Eu decolei depois da jogada e Jerom deu um passe perfeito. Peguei e corri. Alguém
agarrou a parte de trás da minha camisa e eu o sacudi, quase deslizando pela grama
escorregadia.
Quando não havia defensores entre mim e os cones laranja, comecei a narrar minhas
jogadas.
— Ela sobrevoa uma poça e gira para a zona final. Touchdown! — Me virei e segurei a
bola no ar como um troféu. — Oh sim! Nós somos os melhores!
— Pare de se vangloriar — Braden murmurou, levantando-se do chão. — É irritante.
— Mau perdedor — eu tossi sob a minha respiração. Ele era como meus irmãos, ele
odiava perder.
Ele me colocou em uma chave de braço e esfregou as juntas no meu couro cabeludo.
Um cheiro de grama molhada, suor e sujeira encheu meu nariz.
— Ugh. Você cheira mau. Saia de mim.
— Esse é o fedor da vitória.
— Mais como o fedor do fracasso.
Ele me deixou ir logo acima de uma poça de lama, certificando-se de me desequilibrar.
Caí em minhas mãos, espalhando lama por todo o meu rosto.
— Você está morto. — Pulei em cima dele por trás, cavando meu joelho na parte inferior
das suas costas.
Ele soltou um grito enquanto gargalhava. Quando eu deslizei, fui para o lado, encontrei o
seu moletom, em seguida, limpei meu rosto com ele. Voltei para o campo, onde alguns caras
estavam amontoados, incluindo dois dos meus irmãos — Nathan e Jerom.
— O que estamos todos esperando? Vamos terminar essa coisa.
Jerom e Nathan me lançaram um olhar de advertência em silêncio. Não foi até eu chegar
mais perto que percebi que um dos caras, Dave, estava no telefone.
— Nenhuma emergência de namorada agora. Estamos no meio do jogo — eu disse, e
Dave olhou para cima, mas seus olhos não se concentraram em mim.
— Charlie, shiu — disse Nathan. — Algo está acontecendo.
Vários outros caras se aglomeraram.
— O que foi? — Braden perguntou da direita atrás de mim.
Dei de ombros.
— Eu não sei, eu fui silenciada. — Sobre o ombro de Braden, eu podia ver Gage pela
linha de partida jogando a bola no ar repetidamente. Ele chamou minha atenção e colocou os
braços no gesto “Por que está demorando tanto?”. Apenas balancei minha cabeça.
Finalmente, Dave desligou o telefone e disse:
— Eu tenho que ir. É minha avó.
— Você explicou à sua avó que estamos no meio de um jogo? — perguntei.
— Ela morreu.
— Oh.
Uma rodada de gemidos e desculpas deu a volta ao grupo. Dave parecia que estava em
choque, com os olhos arregalados.
— Quantos anos ela tinha? — perguntei.
Ele distraidamente passou a mão pelo ombro.
— Setenta e alguma coisa. Eu não estou certo.
— O que aconteceu?
— Ela teve câncer por cerca de um ano. Nós sabíamos que isso estava chegando. Nós
apenas não tínhamos certeza de quando.
— Isso é uma merda. — Esfreguei minhas mãos e olhei ao redor. Todos nós apenas
ficamos lá, sem saber o que dizer. — Devemos terminar o jogo, então?
Braden me deu uma cotovelada.
— O que? Isso tirará sua mente disso. E nós só temos cinco minutos restantes. Nós não
podemos desistir agora.
— Charlie — disse Jerom em sua repreensão oficial de irmão mais velho, ao mesmo
tempo que Nathan pegou um dos meus braços e Braden pegou o outro, me arrastando para
longe o grupo.
— Qual é a grande… — Eu não consegui terminar minha frase porque Braden apertou sua
mão sobre a minha boca.
— Nós, de todas as pessoas, devemos entender isso — disse Nathan em voz baixa. —
Mostre um pouco de empatia.
Mordi o dedo de Braden e ele soltou. Então eu me livrei do aperto deles.
— O que eu deveria entender sobre uma senhora morrendo de uma doença que estava
lutando?
Braden estendeu a mão, provavelmente tentando cobrir minha boca novamente. Eu saí do
seu alcance.
— Shhh! — Nathan assobiou, olhando por cima do ombro. — Você deveria entender
aquela...
— Bem. Tanto faz. Diga ao Dave que sinto muito. — Com isso, me virei e corri, pegando
o caminho ao redor do parque, depois mais longe. Por que eu deveria entender o que Dave
estava passando? Só porque alguém em sua vida morreu, como alguém tinha na minha vida?
Nossas situações não eram nada parecidas. Minha mãe tinha trinta e um anos quando ela
morreu. Eu quase não a conhecia. Tive uns miseráveis seis anos com ela. Seis anos que eu
nem lembrava.
O aperto no meu peito dificultava a respiração, o que dificultava a corrida. E isso me
deixou com raiva. Correr nunca foi difícil para mim. Me forcei a correr até que eu pudesse
respirar normalmente de novo. Demorou um pouco.
Quando cheguei em casa, o sol estava alto no céu e eu estava coberta de suor. Braden
estava no meu jardim da frente. Seu cabelo ruivo molhado do banho parecia preto. Ele era um
pouco mais alto que meus irmãos, o que o deixava mais magro, no entanto, seus ombros
largos deixaram claro que ele era um atleta.
— Ei, se sente melhor? — perguntou.
— Cheira melhor? — eu disse com um sorriso.
— Então, isso é um sim?
— Estou bem. Aparentemente sou apenas uma idiota, mas todos nós sabíamos disso. —
Braden se encolheu. Ele odiava a palavra idiota. É como todos nós chamamos o pai dele —
bem, é como Braden chamou, e todos nós concordamos. Era como se ele sentisse que aquela
palavra pertencia a seu pai e era um insulto muito grande para atribuir a qualquer outra
pessoa.
— Então Dave está bem?
— Jerom o levou para casa, então eu tenho certeza que ele está bem.
— O que há com Jerom? Dois anos na faculdade e de repente ele é todo paternal?
— Seu irmão sempre foi um bom ouvinte.
Ele era? E por que Braden sabia disso? Apontei para a sua garagem e para o caminhão de
trabalho branco estacionado lá.
— Seu pai saiu cedo hoje?
Ele acenou com a mão no ar, afastando a questão que aparentemente não merecia uma
resposta verbal, então voltou para mim.
— O que você vai fazer agora?
— Tomar banho. — Cheguei à minha porta da frente, em seguida, me virei. — Até mais.
Ele me parou dizendo:
— Nós vamos sair para o aniversário da minha mãe hoje à noite. Eu achei melhor ir ao
shopping e encontrar um presente para ela.
— Provavelmente é uma boa ideia.
Minha mão estava na maçaneta da porta quando ele perguntou:
— Alguma ideia do que dar a ela?
— Você está me perguntando? — Eu ri. — Engraçado.
— Eu poderia usar a opinião de uma menina.
— Então é melhor você ir encontrar uma.
— Bem, opinião ou não, você quer vir?
— Para o shopping? — Me virei. Ele tinha um olhar em seus olhos. Braden pode sempre
ter sido um coringa, mas eu ainda podia lê-lo a maior parte do tempo, e agora ele sentia pena
de mim. Sua piedade me deixou com raiva. — Olha, Braden, estou bem, ok? E,
aparentemente, se eu precisasse conversar, o ouvido de Jerom está disponível.
Ele ergueu as mãos em sinal de rendição.
— Tudo bem. — Seus olhos pareciam dizer: Talvez você tenha um coração frio e frio,
Charlie. Eu não poderia ter concordado mais.
Capítulo 3
Nathan estava no comando do jantar naquela noite e tinha acabado de puxar algum tipo de
prato de massa e carne para fora do forno, cronometrando-o perfeitamente com a chegada do
meu pai.
Puxa-saco. Quando meu pai entrou na cozinha direto da garagem, ele encontrou onde eu
estava sentada à mesa e estreitou os olhos para mim. Me perguntei qual dos meus irmãos
tinha falado e porque meu pai estava tão chateado com isso. Pelo amor de Deus, qual era o
problema de todos? Se eu tivesse começado a chorar sobre a avó de Dave, minha vida teria
sido muito mais fácil naquele momento. Talvez eu precisasse praticar algumas lágrimas
falsas.
Meu pai era um cara legal e na maioria das vezes uma pessoa fácil de conviver, mas
quando ele estava em seu traje policial completo e tinha aquele olhar em seu rosto, ele me
aterrorizava. Ele pendurou suas chaves em um gancho ao lado da porta, em seguida,
desfivelou e pendurou seu cinto de utilidades, bem como, a lanterna pesada batendo na
parede enquanto ele o fazia.
— Charlie — disse ele em uma voz cansada.
— Sinto muito. — Então eu fiz questão de dar a todos os meus irmãos um olhar mortal.
Gage jogou todo de olhos arregalados e inocentes.
— Você deveria estar, mas isso não vai ser bom o suficiente desta vez.
— Desta vez? — Eu tinha sido insensível aos parentes de um morto diferente dessa vovó
antes?
Meu pai se aproximou da mesa e colocou uma cópia rosa da minha multa por excesso de
velocidade na minha frente. Oh. Isso era pior do que ser insensível. Isso foi sobre eu
quebrando a lei.
Tentei falar do meu jeito.
— Eu não sabia o limite de velocidade e não o vi. Ele estava se escondendo em uma rua
lateral. Isso não é ilegal, como uma armadilha ou alguma coisa? Nathan? Isso não é ilegal?
Nathan escondeu um sorriso e trouxe um jarro de água gelada para a mesa. Nathan estaria
começando seu primeiro ano de faculdade no próximo ano. Seu objetivo final: advocacia.
Meu pai levantou um olhar duro para mim.
— Por que você não me contou sobre isso?
— Sinto muito. — Eu deveria ter sido honesta. Sempre era pior quando ele descobria
sobre as coisas de uma fonte externa.
— Esta é a segunda multa em poucos meses. E isso sem contar o que você escapou usando
meu nome.
Abaixei minha cabeça para esconder o calor que eu podia sentir nas minhas bochechas por
ter sido apanhada. Eu não precisava que meus irmãos tirassem sarro de mim por corar. Meu
pai estava certo. Eu tinha sido parada várias vezes. E usei o nome dele toda vez.
— Você sabe o quão embaraçoso é quando meus filhos ganham multas por excesso de
velocidade? Quando eu tenho que descobrir sobre as multas de alta velocidade por um colega
de trabalho?
— Eu sinto muito.
— Mas pior do que o constrangimento que você me causou é o golpe na minha conta
bancária. — Seu dedo caiu com força no papel rosa, pousando em um número escrito em sua
própria caligrafia que dizia R$264,00. Meus olhos se arregalaram. — Sim, isto é muito
dinheiro.
Balancei a cabeça.
— Você vai pagar por isso.
— O que?
— Você me ouviu. Eu não acho que você aprendeu sua lição da última vez porque eu
paguei sua multa. Então, você está pagando não apenas por esta, mas também pela última, e
os cem dólares extras por mês que você vai me custar do seguro.
— Mas eu não tenho essa quantia de dinheiro.
— Então encontre um emprego.
— Como? O acampamento de basquete começa em cerca de sete semanas, e depois há a
escola e o futebol depois disso.
— Papai — disse Gage, usando seu sorriso vencedor em minha defesa desta vez. —
Charlie é apenas uma garotinha. Não faça ela trabalhar. Ela nunca vai sobreviver.
Ok, então essa não era exatamente a defesa que eu estava procurando.
— Gage, fique fora disso — meu pai disse.
Ele saudou.
— Sim, oficial.
Meu pai virou seu duro olhar para Gage, mas assim como o resto de nós, ele não podia
ficar com raiva do Gage também. Então ele se virou para mim.
— Descubra um jeito, porque é minha decisão final. — Com isso, ele saiu da cozinha e foi
para o seu quarto para se trocar. Meus irmãos todos me encararam e, então, como se tivessem
contado até três, começaram a rir exatamente ao mesmo tempo.
— Sim, é tão engraçado — eu disse. — Como se vocês nunca tivessem sido parados antes.
Nathan levantou a mão.
— Nunca. — Claro que não.
— Duas vezes — disse Jerom.
Olhei para Gage. De todos os meus irmãos, ele e eu não éramos apenas os mais próximos,
mas os mais parecidos.
— Algumas vezes — ele disse. — Mas eu sempre me livrei das multas. Você tem que agir
um pouco mais inocente, Charlie. Você não pode ser agressiva com os policiais. Eles não
gostam disso.
— Como você sabe que eu fui agressiva?
Todos eles riram novamente. Essa rodada de risadas foi interrompida pelo toque de um
telefone celular, que estava sendo carregado no balcão. Gage pulou e deslizou pela ilha para
atendê-lo antes que fosse para o correio de voz.
Meu pai voltou, e a mudança em suas roupas pareceu mudar seu comportamento também.
Ele beijou o topo da minha cabeça. Talvez isso significasse que ele estava repensando a coisa
toda do trabalho.
— Você provavelmente deveria começar a procurar amanhã — disse ele. Então ele olhou
para Gage e falou: — Desligue o telefone.
Afundei mais na minha cadeira e me servi de um pouco da criação de macarrão de Nathan.
Meu pai disse uma oração (ser um policial nos últimos vinte anos colocara o temor de Deus
nele). Então todos nós comemos. O jantar em nossa casa era como uma corrida. E se você
não comesse rápido, você perdia em segundos. Eu não estava com vontade de repetir mesmo.
Deitei na minha cama, com os pés na cabeceira dela, e joguei uma bola de tênis contra a
parede uma e outra vez. Houve uma única batida na minha porta e, em seguida, alguém que
eu assumi que era Gage se deixou entrar. Ele foi o único que nunca esperou por uma resposta.
Inclinei a cabeça para trás e vi uma versão de cabeça para baixo de Gage antes que ele desse
um salto e pousasse na minha cabeça.
Eu grunhi minha desaprovação e ele saiu.
— Então, um trabalho, hein?
— Não me lembre.
— Eu acho que esse dia deve entrar para a história como o dia em que papai decretou que
uma de suas proles devesse procurar um emprego.
— Ah, sério. O que aconteceu com "a escola é o seu trabalho" ou "o esporte pode pagar
pela faculdade, então eu considero que é o seu trabalho"?
— Aparentemente, alguém com o nome de Speed Racer mudou isso. — Ele fez uma pausa
e - assim como Gage sempre vê o positivo em algo (que era um dos as únicas maneiras que
nós não éramos iguais), disse: — Encontrar um emprego é muito melhor do que ficar de
castigo. Se você está de castigo, todo o ar interior que seu corpo não está acostumado a
respirar secaria seus poros e faria com que você se debilitasse e morresse.
Ok, talvez não positivo, por si só, mas perto disso.
Ele empurrou a franja da testa.
— Bem, pelo que vale a pena, eu ofereço a minha ajuda na procura de emprego.
— Que consiste em?
— Acompanhando você e apontando para as lojas para que pegue as inscrições, ajudando
você a escrever seu nome em pequenas caixas. Você sabe, coisas inestimáveis como essa.
— O que eu faria sem você?
— É muito doloroso considerar isso, mas pode envolver a secagem e murchar os poros.
Capítulo 4
Eu saí da Urban Chic carregando um aplicativo e tive que esperar Gage terminar de falar
com uma ruiva e seu pequeno amigo. Escutei o som do oceano a apenas três quarteirões de
distância, e respirei fundo o ar da costa. A Old Town³ ficava apenas dez minutos de nossa
casa, mas o ar tinha um cheiro diferente aqui.
— Você veio me ajudar ou pegar garotas? — Depois do jeito que a moça atrás do registro
olhou para mim, eu tinha certeza que eu não seria uma futura empregada da Urban Chic. Por
mim tudo bem. Havia tantas lantejoulas refletindo a iluminação fluorescente naquela loja, eu
tinha certeza que produziria uma enorme dor de cabeça depois de cinco minutos.
— Posso fazer as duas coisas ao mesmo tempo — ele me assegurou. — Eu sou talentoso
assim.
A única razão pela qual escolhi Old Town para procurar um lugar de possível emprego foi
porque tinha muitas lojas próximas e eu não teria que dirigir por toda a cidade pegando
folhetos de inscrição. E ao contrário do shopping, esperava que ninguém que eu conheço
viesse aqui. Era perto da praia, então principalmente turistas ou tipos ricos compravam aqui.
As lojas eram principalmente de proprietários locais com produtos locais - muitos antiquários
e lojas de roupas vintage. E embora eu gostasse da sensação da área, o que eu
verdadeiramente e sinceramente esperava era que eu não fosse capaz de encontrar um
emprego. Talvez por isso eu fiquei com meu jeans e camiseta, meu cabelo puxado para cima
em um rabo de cavalo, ainda molhado do meu banho.
— Nunca namore um cara cujos jeans não cubram os tornozelos — disse Gage, apontando
para o cara vinte metros à frente. Ele estremeceu.
— Mas ele seria capaz de andar através de poças e outras coisas sem sequer obter o seu
jeans molhado. Ele é um planejador.
Muitas vezes me perguntei por que meus irmãos insistiam em fazer essas listas para mim.
Não era como se eu estivesse esperando ansiosamente nos bastidores para a campainha do
namoro tocar.
Ele riu e me guiou para a direita.
— Essa parece ser uma boa loja.
Até agora, as sugestões de emprego de Gage foram influenciadas pela existência de
garotas na vizinhança. Esta loja só aconteceu de ter uma fonte ao ar livre onde uma garota e
sua irmãzinha (talvez?) estavam jogando moedas dentro da água.
— Você acha que há duzentos e sessenta e quatro dólares em moedas lá? — Observei as
moedas ondulando a superfície. — Eu poderia vir aqui uma vez por semana e recolher o
dinheiro das fontes.
— Agora você está pensando criativamente — disse Gage. — Eu poderia totalmente
apoiar essa idéia. — Então ele limpou a garganta e falou um pouco mais alto. — Minha irmã
— ele sempre se certificava de que as garotas gostosas soubesse o nosso relacionamento — e
eu estávamos tentando adivinhar quanto dinheiro há nesta fonte.
— Um milhão de dólares — disse a menina.
— Veja, lá vai você — disse Gage, olhando para mim. — Problema resolvido.
A garota de cabelos escuros em jeans de cintura baixa atingiu o ombro de sua irmã e bateu
os cílios para Gage com uma risadinha. Antes de ser jogada para escanteio, entrei na loja
atrás dela e olhei em volta.
A loja cheirava a gente velha - como livros, pão e perfume. Era cheia de… coisas - caixas
espelhadas, lâmpadas coloridas, pequenas estátuas de cachorro. Pessoas compram estátuas de
cachorro pequeno?
Uma menina, com os cabelos loiros pintados de rosa, estava arrumando bugigangas em
uma estante.
— Oi. Eu poderia obter uma inscrição? — perguntei.
— Claro. — Ela caminhou até o balcão e puxou um papel debaixo dele. — Nós não
estamos realmente contratando agora, mas não faz mal tentar, certo?
— Certo.
Ela mordeu o lábio.
— Há uma loja duas portas abaixo. Uma pequena loja de roupas que é de uma senhora
chamada Linda. Você deveria tentar lá. Diga a ela que Skye Lockwood enviou você.
— Ok, obrigada. Eu sou Charlie.
— Prazer em conhecê-la.
Acenei e saí da loja.
— Como foi? — perguntou Gage.
— Não estão contratando.
— Droga. Bem, eu já marquei três números de telefone, então pelo menos um de nós está
realizando algo hoje.
— Obrigado. Muito motivador. — Apontei para o caminho. — A menina me disse para
tentar uma loja de roupas duas portas nesta direção, no entanto.
Nós andamos pela calçada e passamos por uma loja de bonecas.
— Oh, você precisa ir lá — disse Gage. Percebi que a garota que trabalhava no interior era
linda - é claro. Da próxima vez que fosse procurar emprego, deixaria meu irmão em casa. Ele
abriu a porta e um sino anunciou nossa chegada. Quando entramos, percebi que a loja estava
prestes a fechar ou à beira da abertura. Caixas estavam abertas no chão e estavam sendo
embaladas... desembaladas?
— Oh — ela disse quando nos viu. — Oi. Desculpe, estamos fechados. Xander deve ter
deixado a porta destrancada. — Ela nos entregou um cartão. — Mas se você está procurando
por uma boneca, esse é o nosso site. Estamos indo para o celular.
— Celular? — perguntou Gage.
— Como aplicativos, sites. — Ela continuou colocando o jornal em uma caixa.
— Você precisa de ajuda para arrumar as caixas? — perguntou Gage.
Agarrei Gage pelo braço e puxei-o para fora da loja.
— Você viu os olhos dela? — Ele colocou a mão sobre o coração e cambaleou alguns
passos.
Revirei os meus.
— Última loja — eu disse, apontando para a loja de roupas que Skye deve ter se referindo.
— Então eu estou pronta para comer ou algo assim.
— Vou esperar aqui fora. — Quando ele disse isso, apontou para um estúdio de dança ao
lado.
Uma garota que parecia da nossa idade estava dentro, praticando na frente dos espelhos.
— Eu juro, Gage. Você é tão homem. — Abri a porta. A loja pareceu livre de qualquer
pessoa que respirava. Cheirava a incenso queimando, mas eu não encontrei a fonte. Havia
alguns manequins sem cabeça usando minúsculos vestidos. Prateleiras circulares de roupas
enchiam o meio da loja e mais prateleiras forravam as paredes. Ao longo das costas haviam
grandes cabanas com pequenas garrafas de vidro. Eu não poderia dizer se elas estavam à
venda ou apenas em exibição. Uma luminária de chão com um lenço ficou apagada no canto.
— Olá? — chamei sem resposta. Assim que me virei para sair, uma mulher de meia-idade
saiu do quarto dos fundos segurando uma xícara de café. Sua camisa de cores brilhantes e
coloridas vindo diretamente para fora da Índia e suas pernas estavam vestidas com um par de
jeans escuros de boca larga.
— Oh. Olá. — Ela colocou a xícara no balcão, juntou as palmas das mãos e se curvou. —
Bem-vinda.
— Ok. Obrigada.
Ela deu um passo à frente e pude ver que seus pés estavam descalços.
— Como posso atendê-la?
Essa senhora era real? Eu tentei lembrar o nome da loja em que eu estava.
Crazy Lady Central? Eu entrei acidentalmente em uma loja de cura espiritual ou de
massagem terapêutica? Os manequins e prateleiras de roupas pareciam indicar o contrário,
mas não sou especialista em moda.
Levantei os papéis já na minha mão.
— Eu só queria pegar uma inscrição. Hum... Skye Lockewood disse que você pode estar
contratando.
— Ela disse? Eu não estou contratando. Sou só eu. Esta é a minha loja.
— Ok. Bem, obrigada mesmo assim. — Comecei a sair.
— Mas — ela disse enquanto eu estava quase fora da porta. — Pedi um sinal hoje e olha
você aqui.
— Um sinal? — Olhei para fora da janela, esperando que Gage viesse e me salvasse. Ele
estava encostado no vidro ao lado, olhando para dentro sonhadoramente. Nenhuma ajuda,
qualquer que seja.
— Eu… — Eu dei um passo para trás. — Tenha um bom dia.
— Você quer um emprego, certo?
Na verdade, não.
— Sim.
— Bem, venho pensando em expandir, trazendo novos negócios. E se Skye te indicou,
talvez você seja apenas a garota que eu estava esperando.
Eu não disse a ela que Skye tinha acabado de me conhecer.
— Tenho certeza que não sou a garota que estava esperando. Eu não tenho experiência,
nunca usei um registro em minha vida. Eu realmente não seria muito boa vendendo roupas
também. Quero dizer, olhe para mim.
Ela fez. Ela olhou minha camiseta desbotada do McKinley High, meu jeans da Target, e
meus tênis surrados.
— Então você está procurando um emprego, mas esperava que não encontrasse? Deixe-me
adivinhar. Pais te obrigando?
— Sim. Meu pai.
— Qual o seu nome?
— Charlie.
— Charlie, eu sou Linda. Eu acho que posso dar-lhe o melhor negócio em toda a Old
Town. Das seis às oito às terças e quintas e quatro horas aos sábados pela manhã. Então o que
é isso? Oito horas por semana? Seu pai vai ser apaziguado e você dificilmente terá que
trabalhar.
Balancei a cabeça lentamente. Isso não parecia tão ruim. Mesmo que isso significasse
trabalhar com a senhora louca descalça.
Ela se mudou para uma pequena árvore de metal no registro onde pendiam os brincos e
endireitou um par, depois olhou para mim com expectativa.
— Qual é o pagamento? — Em outras palavras, quantas semanas me levariam para pagar
as multas e acabar com isso?
— Eu posso pagar dez dólares por hora, então cerca de cento e cinquenta dólares a cada
duas semanas, fora os impostos. Mas…
Claro que há um problema.
— Você precisaria usar algo mais apresentável. Se você não tem qualquer coisa, vou
dar-lhe um adiantamento de pagamento para comprar algumas roupas, mas você estará
trabalhando as primeiras duas semanas para pagar suas roupas.
Ugh. Roupas idiotas. Olhei para os manequins, que estavam mostrando mais perna do que
eu gostaria de ver.
— Eu não uso vestidos.
— Claro que não. Eu não colocaria você em um vestido assim. Está tudo errado para a sua
aura.
Minha aura? Eu não sabia que minha aura tinha uma opinião sobre vestidos.
— Que dia é hoje? — ela perguntou.
— Quarta-feira.
— Ok, por que você não vem amanhã antes do seu turno começar e você pode preencher
alguma papelada? Não esqueça de trazer sua carteira de motorista… Você tem dezesseis,
certo?
— Sim.
— Bom. Então depois disso eu vou te ajudar a escolher algumas coisas que servem em
você.
Amanhã. Vou ter que começar a trabalhar amanhã.
— Ok.
Ela sorriu, respirou fundo e se curvou novamente.
— Isso parece certo.
Eu balancei a cabeça e voltei a sair da loja. Era isso que "certo" parecia?
— Como foi? — perguntou Gage.
— Eu consegui um emprego.
— Sério? — Ele olhou para o nome da loja. — Bazar da Linda.
— Sim.
— E foi bizarro? — Ele mexeu os dedos.
— Você não tem ideia.
Capítulo 5
Meu pai pareceu surpreso quando eu lhe disse que tinha conseguido um emprego, como se
tivesse esperando que eu voltasse para casa com um fracasso. Eu não podia culpá-lo.
Também fiquei surpresa.
— Obrigado pelo voto de confiança, papai.
— Não é que eu não achasse que você poderia ter um, eu simplesmente não achava que
você realmente iria.
— Sim, sim.
— Você precisa de alguma coisa? — Ele me olhou de cima a baixo. — Uh... uniforme ou
alguma coisa?
Quando eu estava com meus irmãos, meu pai era perfeitamente normal, mas quando ele
falava comigo a sós, ele era tão estranho. E sempre atrasado. Ainda me lembrava de quando
eu tinha treze anos e meu pai se aproximou de mim um dia. Suor gelou seu lábio superior.
— Charlie — disse. — Carol do trabalho disse que você pode precisar de um sutiã. — Ele
disse isso tão rápido que eu quase não entendi. Então ambos os nossos rostos ficaram
vermelhos. — Eu poderia levá-la às compras — acrescentou. — Acho que eles têm lojas
onde eles ajudam você a encaixar... coisas. — Com meu rosto ainda vermelho, assegurei que
eu já tinha um sutiã.
Eu tinha aprendido no ano anterior, quando comecei a me trocar para a aula de ginástica,
que todas, menos eu, tinha um. Disse ao meu pai que eu precisava de dinheiro para chuteiras
e usei o dinheiro para comprar um. Mesmo que eu não a conhecesse, eram tempos como
aqueles que eu ansiava pela minha mãe.
— Linda, minha nova chefe, ela vai me ajudar a conseguir roupas.
Ele assentiu, aliviado.
— Bom. Bom. — Então ele me puxou para um raro abraço. — Eu estou orgulhoso de
você. — Meu pai era alto, então minha bochecha pressionou contra seu peito. Ele cheirava a
chiclete de canela.
— Não precisa ficar todo mole. São oito horas por semana.
— Estou orgulhoso de você também — disse Gage, jogando os braços em volta de nós e
enviando todos nós a desmonorar para o sofá.
— Gage — meu pai grunhiu, desembaraçando-se dos nossos corpos e ficando em pé.
Gage preencheu o espaço agora vazio, envolvendo um braço em volta do meu pescoço e o
outro atrás do meu joelho e me dobrou ao meio. Eu chutei e lutei para sair.
— Rendição — disse ele.
— Não quebre nada — meu pai disse e foi embora. — Oh, e parabéns, Charlie.
— Obrigada — falei, soando um pouco como Kermit, o Sapo, com o meu pescoço
dobrado assim. Belisquei Gage com força no lado e ele gritou, mas não soltou. Eu me
contorcia e chutava e não estava longe de morder, mas eu não conseguia segurar o braço dele.
Meus irmãos sempre me chamavam de trapaceira quando eu mordia, mas eles tinham o dobro
de músculos que eu, então tive que achar um modo para igualar o campo de jogo.
— Renda-se — ele disse novamente.
Empurrei o chão com o meu pé livre e quase consegui nos rolar para fora do sofá, mas ele
me colocou de volta no lugar.
— Charlie, sua criança teimosa, apenas admita que eu peguei você. Você não pode sair
disto.
Eu empurrei seu pescoço e ele engasgou um pouco, mas depois puxou meu braço em seu
domínio. A porta da frente abriu e fechou, e Braden disse:
— Ei, pessoal.
Gage olhou por cima, distraído, e eu forcei minha perna para fora do seu aperto, em
seguida, dei uma joelhada no estômago dele. Ele recuou e eu pulei nele, empurrando seu
rosto contra a almofada.
— Você é implacável — disse ele.
— Eu aprendi isso com você. — Deixei ele ir, então me levantei. — Ei, Braden. Como foi
o jantar de aniversário da sua mãe na noite passada?
— O mesmo de sempre. Sem novidades.
Inclinei a cabeça, querendo que ele continuasse. Braden era filho único, então ele era
sempre o centro das atenções... e expectativas. Às vezes eu sentia que ele vinha a nossa casa
com a frequência que ele fazia para ser cercado pelo caos. Para desaparecer. Olhei para ele,
mas ele não continuou. Ele pegou o controle remoto da ponta da mesa e ligou a TV.
— Eu pensei que tinha certeza que vocês estariam assistindo aos jogos.
— Uau! Que horas são? — Eu consultei o relógio do aparelho de DVD. — Porcaria. Já
está na metade do jogo. — Reivindiquei minha posição no sofá.
Era como se os sons do jogo chamassem meus irmãos de seus esconderijos, porque logo a
sala estava cheia, todo mundo gritando na TV, latas de refrigerante e chips abertos na mesa
de café. Nós não tínhamos um esporte favorito em nossa casa. Nós gostávamos de todos eles.
Meu pai desceu e gesticulou para que Gage saísse, o que significava que eu tinha que ir
para o lado duro de Braden. Ele moveu o braço para as costas do sofá para ganhar mais
espaço. O cheiro de seu desodorante agrediu meus sentidos.
— Você cheira bem.
Ele me puxou para uma chave de braço, me segurando lá por um minuto.
— Você está presa agora.
Abri minha boca, pronta para morder, quando ele deve ter percebido o que eu iria fazer
porque me empurrou com uma risada. Joguei minhas duas pernas em Gage e peguei o pote
de amendoim da mesa de café.
— Não! — Braden gritou para a televisão, bem no meu ouvido.
Dei uma cotovelada nele.
— Desculpe — disse ele, distraído.
Gage deu um tapinha no meu joelho com o punho fechado. Thump, Thump, Thump. E u
chutei um pouco e ele parou. Mas então Braden, bebendo um refrigerante, engoliu em seco
em voz alta no meu ouvido. Sério, ele era o maior engolidor do mundo? Fiquei em pé e
comecei a coletar latas vazias de refrigerante da mesa à nossa frente.
Braden estendeu a mão e me empurrou um pouco para que ele pudesse ver a TV.
— Oh, desculpe-me, eu estava no seu caminho?
— Sim, na verdade, então mova-o ou perca-o.
— Perder o quê?
Ele empurrou a parte de trás do meu joelho com o pé e minha perna saiu debaixo de mim,
fazendo-me cair, as latas de refrigerante caindo no chão.
— Morte para você.
Fiquei de joelhos no chão e peguei as latas de refrigerante, depois levei para a cozinha.
Quando cheguei à porta, olhei por cima do meu ombro. Todos os olhos deles estavam colados
na televisão. Calor subiu através do meu coração frio. Eu amo muito esses caras. Eles eram
minha vida e eu não conseguia pensar em nada melhor do que todos nós juntos, apenas
saindo e não fazendo nada. Devo ter demorado em meus sentimentos felizes por muito
tempo, porque Braden olhou para cima, encontrou meus olhos, então me deu sua cara de
"qual é o seu problema?" : uma sobrancelha levantada, boca torcida.
Franzi o nariz para ele e então entrei na cozinha.
Capítulo 6
Eu esperava muito que os caras nunca viessem me visitar no trabalho. Este era o meu
desejo no dia seguinte, eu estava na frente do que tinha que ser o mais terrível espelho no
mundo — ele mostrava três ângulos simultaneamente — experimentando a bilionésima roupa
para Linda. Eu parecia ridícula.
Estávamos atrás de grandes telas floridas na parte de trás da loja, então menos pessoas
andando na rua podiam testemunhar minha humilhação.
— Essas roupas se encaixam bem — disse ela, ajustando o top que pendia um pouco baixo
demais na frente para o meu gosto. Eu estava acostumada com a gola alta de uma camiseta.
E eu sempre achei que jeans fossem para conforto. Esses jeans pareciam estar tentando
segurar minhas coxas no lugar.
— É por isso que as modelos são tão altas. Porque as roupas ficam bem em pessoas altas.
É completamente injusto.
— Ok, acho que terminei de me vestir para sempre. Quais você quer eu compre?
— Bem, isso é com você, Charlie. Quais falam com você?
Tossi quando senti um grande cheiro do incenso que ela acendera para essa "experiência".
Acenei minha mão pelo ar.
— Nem uma única peça de roupa falou comigo.
Ela colocou um dedo na minha testa. Uma coisa que eu estava aprendendo rapidamente
sobre Linda era que ela não entendia o conceito de espaço pessoal. Não que eu tivesse muito
espaço pessoal na minha vida, mas geralmente os estranhos me davam muito.
— Encontre seu centro. Sinta sua aura — ela disse, com o dedo ainda na minha cabeça.
— Nem eu nem minha aura sabemos como escolher roupas. Quais você gosta?
— Ok. Isso é muito prático para você. Nós nunca somos juízes justos de nós mesmos. Um
observador externo tem muito mais probabilidade de nos dizer com precisão o que parece ser
o melhor em nós. — Ela estudou todas as roupas que eu tinha experimentado.
Um movimento à minha direita chamou minha atenção e eu olhei.
— Mama Lou, qual a idade dessa comida chinesa? — Skye, a garota de cabelo rosa que
me encaminhou para Linda, saiu do quarto dos fundos, segurando um recipiente e
inclinando-o para que pudéssemos ver o macarrão dentro. Eu nem sabia que ela estava aqui.
— Oh. Olá, Charlie. Roupa fofa. — Ela apontou para mim com um garfo.
Puxei o fundo da camisa desconfortável, me perguntando se estava transparente. O
material parecia tão fino.
— Obrigada.
Linda olhou surpresa.
— Skye. Quando você chegou aqui?
— Agora mesmo. Eu entrei pela porta dos fundos. — Ela se sentou em uma mobília
redonda vermelha ao lado dos espelhos e levantou uma garfada de macarrão.
— Eu não tenho certeza quanto tempo essa comida tem. Pelo menos alguns dias.
Skye cheirou e colocou na boca.
Linda começou a separar as roupas que eu havia experimentado em duas pilhas.
— Comprar agora. — Ela apontou para uma pilha. — Para comprar mais tarde. — Ela
acenou em direção a outra. Então ela olhou para a roupa ainda no meu corpo. O espelho na
minha frente me assegurou que o top não era transparente, mas parecia tão leve. E tinha um
padrão de flor. Eu poderia dizer com confiança que eu nunca tinha usado nada com flores
antes.
Bem, talvez quando eu tinha cinco anos.
— E para vestir agora — disse ela, referindo-se a roupa que eu usava.
— Uh... Eu não sei se a minha aura está pronta para pular direto para as flores.
Ela riu como se eu estivesse brincando, mas depois me jogou uma camisa listrada, que eu
troquei rapidamente.
— Deixe-me arrumar essas coisas, então você pode começar a trabalhar.
Parecia que eu estava trabalhando duro pela última hora experimentando aquelas roupas.
Era exaustivo, e eu esperava que nunca tivesse que fazer isso de novo. Me examinei em
frente ao espelho novamente. Eu não parecia eu mesma.
— Você está ótima — Skye me assegurou através de um bocado de macarrão.
Quando saí de trás das telas, Linda sorriu.
— Tão bom. — Ela suspirou como se ela tivesse acabado de realizar algum milagre e
estivesse satisfeita com os resultados. Pelo menos, até o olhar dela chegar ao meu rosto e
cabelo. Eu poderia dizer que ela queria dizer alguma coisa, mas uma coisa era dizer a alguém
para trocar de roupa; uma outra coisa era dizer a alguém que o rosto dela poderia precisar de
algum trabalho.
Ela se posicionou atrás do registro, e eu observei como o número da minúscula tela preta
ficou maior e maior.
— Skye — Linda chamou. — Eu tenho mais um corante colorido.
Skye saltou do banquinho baixo e dirigiu-se para a gaiola no canto.
— Verde. Ótimo. Estou voltando depois de fechar para que você possa me ajudar.
Linda ajudou-a a pintar o cabelo? Os pais de Skye devem ter sido muito descontraídos.
Bem, Skye parecia mais velha do que eu. Talvez ela não morasse com os pais dela.
Linda enfiou o recibo na gaveta, provavelmente para poder descontar do meu cheque de
pagamento mais tarde.
— Parece bom — disse ela. — Então corra para fora daqui. Eu preciso treinar Charlie
agora.
— Bem. Tudo bem. — Skye se dirigiu para a parte de trás, e um pensamento de repente
me ocorreu.
— Você e Skye são parentes?
— Ah, não. Sua mãe foi embora quando ela era jovem. — Um olhar de pena passou por
cima do rosto de Linda enquanto ela olhava para os fundos da loja onde Skye acabara de sair.
— Ela só precisa de uma dose extra de amor. Isso é tudo.
Minha respiração ficou presa. Foi assim que Linda via a falta de uma mãe no mundo?
Falta de alguma coisa? Eu não disse nada, mas não precisei. Linda preencheu o silêncio,
mostrando-me como dobrar camisas, organizar prateleiras por tamanhos e pendurar calças.
As duas horas passaram muito rápido, e eu mudei de volta para as minhas roupas normais,
então peguei minha bolsa de roupas novas e as chaves do meu carro.
— Então, vejo você no sábado às dez da manhã, Charlie. — Ela fez uma pausa, pensativa.
— Isso é um apelido?
— Abreviação de Charlotte. Mas Charlie se encaixa melhor comigo.
— Ele faz. — Ela apontou para a bolsa de roupas. — Você pode usá-las em casa, você
sabe. Eles são completamente laváveis na máquina.
— Oh, sim… — Encolhi meus ombros. — Se meus irmãos me vissem nestas roupas, eles
nunca me deixariam viver.
— Nós vivemos em nossas próprias mentes, criança.
Não em minha casa. Na minha casa, nós estávamos sempre entrando na cabeça um do
outro. Era difícil manter os caras longe sem lhes dar munição extra.
— Eu acho.
Ela tinha um conjunto de chaves em suas mãos e ela me seguiu até a porta, obviamente
prestes a trancar.
— E sua mãe? Tenho certeza que ela adoraria ver você nessas roupas.
Aquele olhar de pena que Linda tinha dado ao falar sobre o estado sem mãe de Skye
passou pela minha mente. Eu sabia como que isso parecia. Já tinha visto isso antes. Foi o
olhar que sempre veio depois da frase "minha mãe morreu quando eu tinha seis anos". Essa
foi minha frase recorrente. Geralmente seguida por um pedido de desculpas dos ouvintes e,
em seguida, o olhar. Às vezes o olhar permanecia por meses, toda vez que eles me viam. Era
difícil dizer o que era pior: o olhar, ou quando o olhar finalmente sumia, a lembrança da
minha história desaparecendo nos recessos de suas mentes. Como eles poderiam esquecer
quando eu não pude?
Eu não tinha visto aquele olhar dirigido a mim há algum tempo. A maioria das pessoas
simplesmente sabia. Nós vivemos na mesma casa e vamos para as mesmas escolas
praticamente toda a minha vida.
Abri minha boca para evitar a pergunta quando “minha mãe é como eu. Ela não sabe nada
sobre moda” saiu. Meu rosto ficou quente e eu saí sem me virar de volta. Eu realmente fingi
que minha mãe estava viva? Não só isso, dei a ela meu senso de moda. Sabia que isso nem
era verdade. Vi fotos suficientes dela para saber que ela sempre estava linda. A imagem para
qual minha mente sempre foi era a minha mãe em um longo vestido de verão amarelo, de pé
sobre a praia, olhando para as ondas.
Mas eu não sabia muito fora das fotos. Eu costumava fazer perguntas ao meu pai sobre ela,
mas à medida que fiquei mais velha notei a tristeza que acompanhava as respostas dele e
parei de perguntar. Parei de perguntar muito antes de poder começar a fazer perguntas que
realmente importavam. Me perguntava se eu teria motivação ou coragem para começar a
perguntar novamente.
Capítulo 7
Foi a primeira noite em muito tempo que eu acordei em um sobressalto. Minhas mãos
sacudiram e cerrei meus punhos, depois cruzei os braços sobre o peito para tentar parar o
tremor lá também.
O pesadelo sempre começou do mesmo jeito, minha mãe me colocando na cama, beijando
minha testa e se despedindo. A chuva bateu na janela como se tentasse fazê-la ficar, meu
coração parecendo acompanhar o rápido tamborilar.
Depois disso, foi uma variação. Às vezes, era um acidente de carro, o carro dela
deslizando ao lado de uma estrada e descendo um aterro. Aquele pesadelo fazia sentido
porque foi o que realmente aconteceu. Como tal, era o que eu tinha com mais frequência.
Mas às vezes havia versões diferentes: mãos feitas de chuva arrancando minha mãe de
onde ela estava na porta do meu quarto, instantaneamente liquefazendo ela; um vento forte
arrancando o telhado da nossa casa e sugando-a a noite. Esta noite ela estava na frente da
nossa casa, de pijama branco, e a própria chuva tinha feito cortes sangrentos em seu corpo até
que ela desmoronou na grama molhada, sua camisola branca agora vermelha, sua mão mole
preenchendo minha visão enquanto eu olhava sua falta de vida.
Meu novo emprego me privou da minha corrida no final da tarde, deixando meu corpo
menos exausto do que o normal. Eu teria que descobrir um novo cronograma de execução
para as terças e quintas. Meu pai não gostava que eu corresse sozinha à noite, e não era
frequente eu poder falar com um dos meus irmãos para ir comigo.
Fiquei ali olhando para o teto, imaginando o que meu cérebro faria comigo se caísse no
sono novamente. No final da manhã seguinte, deveríamos jogar um jogo de basquete no
asfalto ao ar livre da escola primária. Eu queria que fosse de manhã já.
Meu relógio marcava três da manhã, e meus nervos agora desgastados não me deixavam
dormir. Rolei para fora da cama e desci as escadas. Primeiro andei pela cozinha, então eu fui
lá fora. Antes de eu descobrir os efeitos surpreendentes de correr quatro anos mais cedo,
passei muitas horas na quietude do meu quintal.
Andei pelo cimento ao redor da piscina, olhando para a água escura como eu fazia. Um
conjunto de faróis varreu a escuridão quando o caminhão de Lewis estacionou próximo a
porta. Fiquei surpresa com o quão tarde ele estava chegando em casa. Luzes continuaram no
andar de cima alguns minutos depois, e foi aí que o grito começou.
Recuei para ter uma visão melhor do andar de cima. Mais algumas luzes acesas, e então a
porta dos fundos se fechou. Espiando através das rachaduras da cerca que separava nossas
casas, vi Braden sair vestindo um par de boxers e uma camisa apressadamente jogada, toda
torcida na parte inferior.
— Psiu — chamei através da cerca. — Braden.
Ele olhou em volta e depois direto para a cerca, incapaz de me ver, mas obviamente
sabendo que era alguém da vizinhança.
— Gage? — ele perguntou.
— Não, é a Charlie. O que está acontecendo?
Ele se aproximou.
— Onde está você?
Segurei minha mão acima da cerca, então ele foi direto para mim.
— Você está bem?
Ele sentou-se e encostou as costas contra as tábuas. Eu fiz o mesmo.
— Meu pai acabou de chegar em casa… dirigiu para casa... bêbado, fora de sua mente. Eu
quase desejo que o seu pai o visse dirigindo para que ele pudesse pará-lo.
— Por que ele sente a necessidade de acordar você e sua mãe quando ele está assim?
— Porque aparentemente ele se lembra de tudo o que ele odeia quando está bêbado e tem
um desejo irresistível de compartilhar seus sentimentos.
— Isso é uma droga. — A noite estava quente, e eu deixei isso encher meus pulmões.
Puxei um fio preso na parte inferior da minha calça de algodão. — Então você vem para fora
quando ele está assim?
— Geralmente. Acho que se eu for embora ele eventualmente esfria. Minha mãe ainda não
aprendeu essa lição depois de todos esses anos.
Ficamos calados, deixando apenas o som de gritos abafados vindo de sua casa.
— E ela... Ele não vai machucá-la… Ele vai?
— Não — Braden disse sombriamente.
Inclinei minha cabeça contra a cerca. Seus pais ou foram para a cama ou pararam de gritar
porque não pude ouvi-los mais.
A voz de Braden era mais clara quando ele perguntou:
— E o que te traz para fora nessa boa noite?
— Não consegui dormir.
— Mesmo? A melhor dorminhoca do universo não conseguiu dormir? Por quê?
— O emprego estúpido bagunçou minha agenda. Eu não tive a chance de correr esta noite.
— Oh, sim, o trabalho. Eu ouvi sobre esse evento milagroso. Como foi?
— Foi pura tortura. Estou contando os dias até ganhar os quinhentos dólares necessários
para terminar com esta fase.
— Seu pai não disse algo sobre cem dólares por mês depois disso também? Para seguro ou
algo assim?
Eu gemi.
— Você está certo. Eu acho que vou ter que ganhar mais algumas centenas e espero poder
negociar depois disso. Eu acho que quando a escola começar, isso será um enorme argumento
contra ter um emprego.
— Tenho certeza que você vai descobrir alguma coisa.
O silêncio assumiu por um tempo, e apenas quando eu comecei a pensar que ele tinha
caído dormindo ali contra a cerca, ele disse:
— Você está jogando bola amanhã?
— Claro. Você?
— Sim. Você está jogando para a equipe este ano na escola?
Balancei a cabeça, mesmo que ele não pudesse me ver.
— Uhum. Mal posso esperar para começar. Fale sobre exaustão. Escola, basquete,
academia, lição de casa, cama - isso é uma agenda que o meu corpo gosta.
— Por quê?
Porcaria. O problema em falar com a voz sem ver seu corpo era que ela me fez menos
reservada. Não parecia que eu estava falando com ninguém além do céu.
— Eu só gosto de dormir bem. Nada dessa porcaria de acordar às três da manhã.
— Inferno s im — ele disse em sua melhor imitação de mim (o que não era muito boa).
Toda vez que eu substituí uma palavra ruim por uma mais suave, ele tirou sarro de mim
fazendo sua própria substituição de palavra ruim para ruim. Suas provocações não iam me
pressionar para mudar as coisas. Eu estava mais com medo da regra do meu pai sem
palavrões do que ter Braden rindo de mim por isso.
— Sabia que você ia dizer isso — eu disse.
— Sério? Você sabia que eu ia dizer "inferno, sim"?
— Bem, alguma variação disso.
— Você acha que me conhece tão bem, hein?
— Sim. Cada último hábito irritante.
Ele deu uma risada.
— Bem, isso acontece nos dois sentidos. Na verdade, eu provavelmente conheço melhor
você.
— Você acha que me conhece melhor do que eu me conheço?
— Sim — ele disse confiante. — Porque eu te vejo todos os dias, e quando eu não vejo
você, eu ouço Gage falar sobre qualquer coisa ruim que vocês fizeram.
— E você não acha que Gage fala sobre todas as coisas que vocês fazem sem mim?
— Ok, jogo rolando. — Essa era sua voz de competição. Como ele disse isso, percebi que
sabia muito bem. Sua voz em geral era muito familiar para mim. Fiquei surpresa por poder
imaginar suas expressões enquanto eu o ouvia falar. Agora ele teria um sorriso presunçoso no
rosto. — Vamos provar quem sabe mais sobre o outro. Nós vamos e voltamos com os fatos.
Quem acabar primeiro perde.
— Vamos lá. Vou começar. Você tem olhos castanhos pantanosos.
Ele riu.
— Oh, uau, você está realmente começando com o básico.
— Sim. Eu disse que sabia tudo. Isso é parte de tudo. — A verdade é que eu não tinha
certeza se sabia tudo sobre Braden. Como o melhor amigo de Gage, ele era tão familiar para
mim como um irmão, mas de certa forma, ele era um mistério também. Mas assumi que eu
era o mesmo para ele, então eu tinha confiança de que o conhecia pelo menos tão bem como
ele me conhecia.
— Pantanoso? Mesmo? Você os faz parecer desagradáveis.
— Sim, eles são pantanosos. — Seus olhos eram incríveis - marrons entrelaçados com
verde. Era como se eles não conseguissem decidir qual time de cor eles queriam jogar. — Sua
vez.
— Bem. Você tem olhos cinza-aço.
— Oh, eu vejo como você está. Roubando meus fatos.
— Sim, devemos ser capazes de combinar com o fato da outra pessoa. Se eu não soubesse
sua cor dos olhos e você conhecesse os meus, eu deveria ter perdido ali mesmo. Então agora
você tem que combinar com o meu fato.
Eu balancei a cabeça.
— Ok. Entendi. Regras evolutivas. Então sua vez.
— Certo. Você é péssima em matemática.
Ofeguei em uma ofensa falsa.
— Grosseiro... mas é verdade. — Ok, então eu precisava pensar em um assunto na escola
que Braden era ruim. Problema. Braden era um excelente aluno. Então, minha resposta
poderia ter sido que ele não reprovou em qualquer matéria, mas eu não queria elogiá-lo
depois que ele acabou de me bater. — Oh! Consegui. Você é péssimo em coral. Evidência de
apoio: você foi voluntário para o solo no sétimo ano no Programa de Natal. Você esqueceu a
música. Você cantou as poucas palavras que você lembrou completamente desafinado. — Ri,
lembrando do momento digno de medo. — Eu acho que ainda temos isso gravado em algum
lugar.
— Ai. — Ele provavelmente agarrou seu peito, mas ele tinha pelo menos um meio sorriso
no rosto dele. Braden era bom em sorrisos tortos. — Para o registro, seu irmão me
voluntariou para esse solo quando eu estava ausente e bati nele por isso depois do fato. Mas
sim, eu sou horrível em coral.
— Minha vez — eu disse, evocando uma imagem mental de Braden para que eu pudesse
pensar em meu próximo fato. Quase disse que ele tinha uma cicatriz na sobrancelha direita,
mas, de repente, parecia muito pessoal. Talvez eu não devesse saber isso sobre ele.
Especialmente porque era quase imperceptível. — Você odeia perder.
— Isso é uma lavagem.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer, você também, então esses fatos se anulam mutuamente. Bem, na verdade
você realmente não gosta de perder e eu meio que não gosto de perder, então você
provavelmente está certa. Eu deveria pensar em algo que você simplesmente não gosta.
— Seja como for, punk! Você sabe que odeia perder tanto quanto eu. E a prova disso virá
quando eu bater em você neste jogo e você chorar como um bebê.
A discussão se renovou em sua casa e nós dois ficamos em silêncio. Ele suspirou.
— Eu acho que eu provavelmente deveria voltar para dentro e tentar voltar para o sono.
— Isso funciona?
— Às vezes.
— Boa sorte.
— Sim. — Depois que ele andou alguns passos arrastados para longe, eu o ouvi sussurrar.
— Isso não acabou. Eu vou bater você.
— Nunca — eu disse com um sorriso.
Na manhã seguinte, quando Braden entrou pela porta dos fundos da cozinha, onde eu
estava sentada tomando café da manhã, nós dois fingimos que a noite anterior não tinha
acontecido. Peguei a bola de basquete que eu tinha colocado aos meus pés e joguei na parte
de trás de sua cabeça enquanto ele passava. Ele se virou e caminhou de volta para onde eu
estava sentada no balcão. Passou o dedo no topo da minha manteiga de amendoim e depois
enfiou na boca enquanto ele se afastava.
— Nojento — falei atrás dele. Eu não tinha certeza do porquê nós dois decidimos fingir
que nada aconteceu, mas fiquei aliviada por ele não ter mencionado a conversa de fim de
noite na cerca. Quase fez parecer que ocorreu em uma realidade diferente.
Capítulo 8
Sábado de manhã no trabalho foi mais movimentado do que eu gostaria, mas não vi
ninguém que eu conhecia, então isso era bom. Linda me ensinou a usar o registro e terça-feira
ela teve a coragem de me deixar sozinha por uma hora enquanto jantava. Eu disse a ela que se
eu desse todo o dinheiro no registro era tudo culpa dela. Ela me disse que confiava em mim e
em minhas habilidades matemáticas. Não mencionei que eu odiava matemática.
Trinta minutos no meu tempo sozinha com o registro, Skye veio correndo pela parte de
trás. Seu cabelo era agora loiro platinado com listras verdes. Ela tinha uma camisa parecida
com um robe, muito parecida com uma das camisas que Linda me comprou e que eu não me
atrevi a usar ainda, e estava segurando um par de botas na mão, chamando "Mama Lou!". Ela
deslizou até parar no chão de madeira e olhou para mim.
— Oi, Charlie. Onde está Linda?
— Comendo.
Seus ombros caíram. Ela levantou uma das botas.
— Você vê isso?
Eu não tinha certeza do que ela queria que eu visse. Obviamente vi a grande bota preta que
ela segurava, então deve ter havido alguns detalhes sobre isso que eu deveria perceber, mas
juro pela minha vida: eu não vi nada além de uma bota.
— Uh… não?
— Eu tentei na bota esquerda no brechó. Esta é a inicialização correta. Eu nem sequer
notei que faltavam dois ganchos de renda bem no meio. Um erro total de novata.
Sorri com o uso de uma analogia esportiva.
— Você não sabe como consertar isso, não é?
Eu ainda nem sabia do que ela estava falando.
— Fita adesiva?
Ela riu.
— Linda pode consertar sapatos?
— Eu não sei. Ela sempre tem alguma solução criativa para meus problemas. Tem muito
tempo que ela saiu?
— Cerca de trinta minutos.
— Talvez eu espere. — Ela vagou até uma caixa e começou a se esguichar com uma
garrafa de vidro que pensei ser apenas para amostra.
Eu arrumei algumas camisas penduradas.
— Eu acho que te vi no outro dia, andando com alguém segurando um estojo de violão.
— Henry. Meu namorado. Ele toca para uma banda local. Bem, eu não deveria chamar
eles de locais mais. Eles estão fazendo alguns shows em todo o estado. É bem incrível. Eles
ainda tocam aqui às vezes, entretanto. — Ela pegou uma garrafa de vidro diferente e
caminhou até mim.
— Posso usar o seu braço? Eu não quero misturar os aromas.
Eu levantei meu braço e ela o virou, palma para cima, então pulverizou uma pequena
quantidade no meu pulso.
Ela colocou o braço ao lado do meu.
— Você é bronzeada.
— Minha mãe era mexicana. — Eu mordi minha língua, esperando que ela não pegasse o
era que eu joguei lá. Eu não queria ter que explicar essa palavra. Especialmente quando eu
disse a Linda que minha mãe estava viva.
— Ah. Bem, isso faz sentido. — Ela sorriu, então cheirou meu pulso e enrolou o lábio
dela. — Não com esse cheiro. — Ela substituiu a garrafa, em seguida, suspirou. — Acho que
vou tentar a ideia de fita adesiva depois de tudo. Poderia ficar muito bom com essas botas.
— Você será capaz de tirá-los?
Ela riu.
— Eventualmente. — Ela se dirigiu para os fundos.
Me perguntei por que ela sempre vinha desse jeito. Ela obviamente tinha uma chave, mas
se ela estava vindo de sua loja algumas portas abaixo, não seria mais fácil entrar pela porta da
frente?
— Obrigado pela boa ideia, Charlie. — Ela parou por um momento. — A propósito, você
parece muito fofa.
Ela saiu, e eu olhei para a minha roupa — um par de jeans e uma camisa preta acetinada
com um pouco de renda ao redor do decote. Eu tinha usado meus tênis para trabalhar e Linda
imediatamente ligou para um amigo, que trouxe um par de sandálias pretas.
Aparentemente eu havia cometido um erro de moda com meus sapatos. Tudo que me
importava era que as sandálias eram super confortáveis.
Um tempo depois, Linda voltou para a loja carregando um punhado de folhetos de
anúncios coloridos.
— O que é isso?
Ela os espalhou no balcão ao lado do registro.
— Anúncios de maquiagem. — Ela segurou um. — Eu acho que vou trazer maquiagens
para a loja. Uma garota veio no outro dia e perguntou se eu estaria interessada. Eu acho que
vai animar alguns negócios. O que você acha?
— Não tenho opinião nesses tipos de assuntos. Eu sou sem noção. Mas eu acho que não
pode ser ruim oferecer uma variedade maior de itens.
— Exatamente. Espero que tenhamos mais pessoas por aqui. Eu estive pensando sobre
isso por um tempo agora. A garota vai entrar e fazer uma demonstração. Ela está pensando
em oferecer aulas de maquiagem semanais para atrair as pessoas. Você pode ser sua tela em
branco para a aula.
Ela disse isso tão casualmente que eu não entendi o significado no começo. Quando
percebi o que ela disse, minha mão congelou acima do anúncio que eu tinha alcançado.
— Espere o que?
— Você só tem que se sentar lá. Você nem precisará dizer uma palavra.
— De jeito nenhum. Não mesmo. Você deveria ter Skye fazendo isso. Ela estava aqui um
pouco antes.
— Eu faria, mas Skye trabalha aos sábados. Além disso, acho que você seria melhor nisso.
— Em que universo? De jeito nenhum.
Ela respirou fundo e fechou os olhos. Segurando as mãos dela por cerca de uma polegada
de seu corpo, ela correu-os da cabeça até a cintura, depois abriu os olhos como se nada
tivesse acontecido.
— Apenas pense sobre isso. Eu vou te dar uma comissão dividida para o que nós fizermos
da aula. — Ela balançou as mãos para trás e para frente na minha frente como se limpando
um pouco de poeira invisível, na esperança de dar-lhe uma pista clara para o meu cérebro. —
Basta pensar sobre isso. — Ela me entregou um dos panfletos de maquiagem.
De volta para casa, eu andei pelo caminho, olhando para a menina na frente. Ela estava
coberta de maquiagem. Mais maquiagem do que eu já vi em um rosto real na vida. Não
parecia nada agradável para mim. Suspirei e abri a porta.
Uma arma Nerf foi enfiada na minha mão e Braden me agarrou pelo braço e me puxou
para a sala da frente escura, me empurrando contra a parede.
— Você agora está no meu time — ele sussurrou, não mais do que cinco centímetros do
meu rosto. Um pedaço de seu cabelo castanho-avermelhado caiu em seus olhos e ele
empurrou de volta. — Três tiros igual a morte. — Ele pegou o panfleto e a bolsa cheia de
minhas roupas de trabalho para fora da minha mão e jogou-os no sofá a cinco metros de
distância. O anúncio de maquiagem não chegou e voou para o chão em frente ao sofá.
— Você está pronta? — ele perguntou, recuando na minha frente. Ele estava tão perto que
seu quadril escovou contra o meu lado. Um calafrio passou por mim.
Ele inclinou a cabeça e seu rosto se aproximou do meu. Congelei. Então ele cheirou meu
cabelo e pescoço.
— Que cheiro é esse?
Por um segundo, não consegui responder. Minha respiração parecia presa na minha
garganta. Então eu levantei meu pulso, entre nossos rostos próximos demais.
— É um spray do trabalho. Uma menina, Skye, ela pulverizou em mim. — Minha voz saiu
forte e eu deixei minha mão cair de volta para o meu lado.
Braden abaixou a sobrancelha.
— O que há de errado? — ele disse. Seus olhos piscaram para os meus lábios, depois de
volta para os meus olhos.
Meu coração acelerou. O que estava acontecendo? Coloquei meus braços entre nossos
corpos, precisando de um pouco de espaço. O trabalho estava me deixando estranha, eu
decidi. Linda, com toda a conversa dela sobre auras, maquiagem e moda não era boa para
mim.
— Nada. — Olhei por cima do ombro para o corredor sombrio, com certeza meus irmãos
teriam nos ouvido agora. Nós provavelmente estávamos prestes a ser emboscados. — Quem
está jogando?
— Todos.
— Meu pai?
— Não. Ele está no trabalho.
Tirei meus sapatos para poder ficar mais furtiva, prendi meu braço ao dele e rastejei ao
longo da parede.
— Somos muito vitoriosos.
Braden sorriu grande.
— Eu sabia que fiz a escolha certa esperando por você chegar em casa.
— Direto em linha reta.
— Vamos chutar a algumas bundas — ele disse, em sua horrível imitação de mim.
Uma voz baixa do outro lado do corredor disse:
— Eu poderia ter matado vocês três vezes por enquanto. Pare de flertar com minha irmã e
coloque sua cabeça no jogo. Eu te darei uma vantagem de dez segundos.
Sua acusação fez meu coração pular. Mas isso era Gage. Ele sempre foi brincalhão. Além
disso, ele nunca parava de flertar. Nunca. Ele provavelmente assumiu que era o mesmo com
todos os outros.
— Cale a boca — eu disse, em seguida, puxei Braden para o caminho oposto da sala. Dez
segundos não foram muito longos.
Capítulo 9
Naquela noite no meu quarto, eu olhava para a menina no panfleto de maquiagem um
pouco mais. Maquiagem não era assim tão ruim. Não era prático com esportes — suor e
maquiagem não se misturavam bem, mas eu usava rímel de vez em quando. E o protetor
labial era meu melhor amigo.
O dinheiro extra ajudando Linda com este projeto parecia ótimo no que eu devia ao meu
pai para que eu pudesse sair desse trabalho mais rápido. Mas não havia como eu vir para casa
com o meu rosto coberto de coisas. Eu nunca ouviria o final disso. Suspirei e empurrei o
anúncio na gaveta da minha escrivaninha.
Nós não estávamos nem em cinco minutos na aula e eu sabia que nunca queria fazer isso
de novo. Ela estava explicando ao grupo como arrancar adequadamente as sobrancelhas e
meu rosto estava cru de dor. Até agora eu tinha conseguido me manter longe de gritar em voz
alta, mas eu não tinha certeza se poderia continuar assim. Meu nariz coçou e meus olhos
lacrimejaram.
— Charlie já tem uma sobrancelha muito bem formada, então não iremos muito longe.
Apenas um pouco de limpeza.
Eu me perguntava como seria a limpeza. Entrei em uma zona, desligando completamente
tudo ao meu redor. Meu cérebro passou para o jogo de basquete e meus ombros relaxaram
imediatamente. Mais cinco semanas até o acampamento, quando eu tinha certeza que meu pai
me deixaria sair desse emprego. Apenas não seria prático mantê-lo sendo que eu tinha que
sair por uma semana e, em seguida, começaria a escola assim que voltasse. Ele veria a lógica.
Além disso, até então, eu teria… Fiz a matemática em minha cabeça e sabia que eu não teria
o suficiente para cobrir minhas multas. Ainda assim, ele me deixaria sair. Ele tinha que
deixar.
Foi difícil dizer quanto tempo passou. Acho que eu poderia ter contado as palavras de
Amber e descobrir dessa maneira. Ela não tinha parado de falar o tempo todo. Mas em um
ponto ela pisou para o lado e disse:
— E isso é um look diurno com a linha Max.
Algumas pessoas disseram:
— Oooooh.
E eu não sabia se isso era uma coisa boa ou ruim.
— Na próxima semana vamos mostrar o visual da noite. Existem formulários de inscrição
no seu folheto, e por favor, sintam-se livre para me fazer qualquer pergunta. A maioria dos
produtos eu tenho em estoque. Eu também vou estar montando uma exibição aqui no Bazar,
caso você não possa comprar todas as coisas que você tem na sua lista hoje.
Me perguntei quanto tempo eu tinha que sentar lá antes que pudesse ir para trás e lavar
meu rosto. Minha perna saltou e se contraiu enquanto eu esperava. Eu já estava sentada por
muito tempo. Algumas pessoas se aproximaram para falar com Amber e apontaram coisas
diferentes no meu rosto como se eu não estivesse lá. Não que eu fosse capaz de responder às
suas perguntas, mas ainda parecia estranho.
Linda se aproximou e deu um tapinha no meu ombro.
— Você foi tão bem, e parece surpreendente.
Dei de ombros.
— Sente-se ainda por um minuto, eu vou pegar minha câmera na parte de trás para que eu
possa tirar uma foto para a sua mãe.
Meu estômago se contorceu de culpa.
Quando Linda saiu, Amber disse:
— Obrigado, Charlie. Você é a tela perfeita. Seus traços foram feitos para mostrar
maquiagem. Eu não acredito em quão grande seus olhos parecem com rímel.
E olhos enormes eram uma coisa boa?
Amber voltou sua atenção para a fila de pessoas que haviam se formado, com os pedidos
em mãos, e começou a abrir caminho através deles. Linda voltou com a câmera e tirou várias
fotos minhas.
— Vou imprimir um desses lá do outro lado da rua. Olhe a loja para mim.
— Você realmente não precisa fazer isso — eu disse.
Mas ela acenou com a mão pelo ar e continuou andando.
A fila finalmente diminuiu e as pessoas segurando bolsas roxas fofas com tecido de papel
saíram da loja, conversando.
— Não se esqueça de contar aos seus amigos, e volte para o rosto da noite na próxima
semana — Amber disse enquanto cada uma delas se afastava.
Duas garotas que pareciam tão maquiadas quanto Amber se juntaram a nós na frente
depois que todos tinham ido.
— Você é boa, Amber.
— Então, o que vocês acham meninas? Fácil, certo? Vocês poderiam montar a sua própria
loja. Talvez uma de vocês possa abrir uma loja no centro da cidade. Isso definitivamente vai
me fazer ganhar o suficiente para o meu guarda-roupa de outono.
— Então, Linda disse que você pode ter um demaquilante para mim? — perguntei antes
que ela e suas amigas ficassem ocupadas demais falando sobre roupas.
— Você vai tirar? — disse uma delas.
— Bem, eu estou jogando bola depois disso, então não é muito prático.
Amber sorriu, enfiou a mão na bolsa e tirou um pacote verde.
— Estes são lenços faciais. Você deve precisar de apenas um.
Eu peguei eles.
— Obrigada.
— Oh, e se você quiser, Charlie, eu vou te vender toda a maquiagem que eu usei em você
hoje a preço de custo.
— Hum... Eu não fui paga ainda.
Ela pegou um dos grossos catálogos de maquiagem, virou para a primeira página onde
havia uma foto dela e circulou seu número de telefone.
— Bem, me ligue se você mudar de ideia. Eu posso entregar. — Ela me entregou.
Linda voltou e eu apontei para os fundos. Ela assentiu.
Comecei a ir embora.
— Charlie — Amber chamou. Eu me virei. — Nós vamos sair para almoçar, nós três. —
Ela apontou para duas amigas. — Você quer vir?
Eu não conseguia pensar em nada pior do que sentar com três garotas que eu mal conhecia
e ter que pensar em algo para dizer.
— Eu tenho planos hoje. Próxima vez?
— No próximo sábado. — Ela sorriu. — Eu estou contando com você para isso.
Quando me afastei, tirei um lenço e comecei a esfregar meu rosto imediatamente. Quando
cheguei ao banheiro, parei em frente à pia. Minhas respiração ficou presa quando me vi no
espelho. A imagem me lembrou de uma foto pendurada no nosso corredor — minha mãe no
dia do casamento. Meu coração apertou. Eu esfreguei mais rápido.
*
— O que você está fazendo? — perguntou Gage, entrando no meu quarto depois de uma
batida.
Virei a foto que Linda tinha tirado de mim com a face para baixo na mesa.
— Nada.
— Uh, tudo bem. Vou te deixar sozinha porque não sei se quero saber depois de uma
reação como essa.
— Sim, você deveria. O que você quer?
Ele caiu de volta na minha cama.
— Amanhã vamos jogar golfe de disco no Parque Woodward. Você vai?
— Claro. — Olhei para o relógio. Dez horas. — Ei, você vai correr comigo?
— Quando?
— Agora mesmo.
— Não, mas obrigado por perguntar.
— Obrigada por nada.
— São dez horas. Se eu for correr agora vou ficar acordado a noite toda.
Se eu não for correr agora, eu vou ficar.
— Por favor, Gage. Eu te amaria para sempre.
— Hmmm, eu tenho certeza que já tenho isso fechado, mas talvez um suborno diferente
iria funcionar. Como me mostrar o que quer que seja isso. — Ele apontou para a foto na
minha mesa.
De jeito nenhum.
— Sim, não vai acontecer. Eu não preciso correr mesmo.
Enfiei a foto na gaveta da minha escrivaninha.
— Hã. Mesmo? Agora é meu objetivo na vida descobrir o que você está escondendo.
— Esse é um objetivo muito tolo.
— Verdade. Mas eu tenho esse sentimento aqui — ele apontou para o coração — de que
valerá a pena.
— Saia daqui antes que eu tenha que chutar sua bunda.
No seu caminho para fora ele agarrou meu rabo de cavalo, puxando eu e minha cadeira
para trás, em seguida, abaixou a cadeira suavemente no chão.
— Você é um idiota — eu disse, olhando para ele da minha nova posição.
*
A chuva bateu na minha janela. Chuva vermelha. Tão forte que uma única rachadura se
formou na parte superior do vidro e lentamente se dividiu em uma linha afiada. Eu assisti
isso, a linha branca dividindo minha janela em partes iguais. E então, de repente, quebrou,
enviando cacos de vidro para o meu quarto.
Eu sentei com um solavanco.
Se eu pudesse controlar minha mente subconsciente, jamais sonharia. Tinha que ter
alguma maneira de resolver este problema. Hipnose ou algo assim. Talvez apenas uma
esteira. Quais eram as chances de meu pai me comprar uma dessas?
Lá embaixo, fiz um chocolate quente e liguei o laptop. Eu pesquisei interpretação dos
sonhos e procurei a palavra chuva. S empre houve chuva em meu sonho. Eu li: A chuva
caindo é uma metáfora para lágrimas, choro ou tristeza. Sim, tanto faz. Eu não conseguia
lembrar a última vez que chorei. Fui para sonhos recorrentes.
Sonhos são mensagens, coisas que nossas mentes querem que aprendamos. Sonhos
recorrentes podem ser mensagens realmente importantes. Eles geralmente vêm na forma de
pesadelos. Sonhos recorrentes podem representar um problema da vida real não tratado ou
resolvido. Superando ou resolvendo esse problema pode ajudar alguém a passar pelo sonho
recorrente.
Eu li o parágrafo novamente. Quais credenciais um site estúpido de interpretações de
sonhos tem? Eu poderia inventar um lixo assim. Fechando o laptop, fui até a porta dos fundos
e olhei para a casa de Braden. Eram duas da manhã; não havia como ele estar acordado de
novo. Seria completamente egoísta mandar mensagem para ele. Eu sabia disso, e ainda assim
peguei meu telefone e fiquei olhando o nome dele por um longo tempo.
Desliguei o telefone, decidi ir contra ele e fui para fora. A janela do seu quarto estava
escura. A casa toda estava escura. Talvez ele saísse por conta própria como ele fez pela
primeira vez. Isso não seria egoísta da minha parte. Estiquei meu pescoço para ver se o carro
de seu pai estava em sua garagem.
Espera.
Eu estava esperando que seu pai chegasse em casa bêbado e levasse Braden para fora?
Isso era mais egoísta do que se eu apenas mandasse uma mensagem para ele.
— Desculpe — sussurrei. — Espero que ele nunca volte para casa desse jeito novamente.
— Minha palma em cima da cerca, como se eu tivesse de alguma forma enviado essa
mensagem para Braden.
Então me sentei na terra. Estava quente entre meus dedos.
— Eu sonho com minha mãe — eu disse para a lua. — Como é possível sentir falta de
alguém que eu nunca conheci?
Se Braden estivesse aqui fora, qual seria seu fato emparelhado? Sobre o que ele sonhava?
Ir embora deste lugar? Ele era um ano mais velho do que eu, como Gage. Ele seria um sênior
este ano. E então o que? Eu sabia que no meu coração ele iria embora assim que ele usasse
suas roupas de formatura. Com uma vida em casa como a dele, o que ele tinha para ficar?
Meu coração afundou com esse pensamento. Eu esperava que a amizade dele com a nossa
família, com o Gage… comigo, pudesse mantê-lo aqui.
Capítulo 11
— Eu sei como jogar — disse, apertando a mão de Braden do meu braço. — Não seja tão
condescendente comigo.
— Estou apenas tentando ajudar sua técnica, Charlie.
— Me desculpe, você se tornou um instrutor de golfe profissional e esqueceu de dizer a
algum de nós?
Ele grunhiu.
— Você é tão teimosa.
— Se eu tivesse pedido ajuda, aceitaria sua ajuda.
Jerom se juntou a ele.
— Esse é o problema, você nunca pede ajuda.
— Porque eu não preciso de ajuda. Agora volte antes que eu bata a todos na cabeça com
isso.
Braden deu um passo grande e deliberado para trás.
Analisei as posições das árvores ao nosso redor, esperando não ter atingido nenhuma delas
e provar que ele está certo. A natureza tinha fornecido muitos obstáculos neste parque. Um
cão à nossa esquerda latiu e depois correu atrás de nós, correndo atrás de uma bola de tênis;
seu dono soltou um assobio.
Sacudi as distrações para fora, levantei-me mais ereta e joguei o frisbee, que pousou
dentro de cinco metros da cesta. Muito mais perto do que onde o de Braden sentou a pelo
menos três metros do meu.
— Veja.
Ele revirou os olhos como querendo que o destino tivesse me ensinado uma lição naquele
momento e estivesse frustrado. Talvez ele devesse abrir os olhos e ver que o destino pode ter
tentado lhe ensinar uma lição.
Gage e Braden trocaram um olhar, e com base no sorriso malicioso de Gage, eu sabia eles
tinham concordado secretamente sobre alguma forma de punição pelo meu comportamento.
— Já vou — disse Gage. Ele começou a atirar quando Nathan o deteve.
— Seu pé está acima do seu marcador.
Todos nós olhamos para o pé dele, que estava a vários centímetros da linha onde o seu
marcador indicado deveria estar.
— Nathan, não seja um cuzão — disse Gage.
— Tudo bem, se você quiser enganar, isto é com você.
Gage rosnou e recuou o pé para trás. Ele atirou seu frisbee. Ele se inclinou em um arbusto
para a direita e Nathan riu.
— Você entrou na minha cabeça, Nathan.
— Você me deixou entrar, otário.
Gage saiu para encontrar seu frisbee. Quando ele saiu do mato, tirou a sua camiseta por
inteiro e levantou o seu próprio frisbee tingido e um outro vermelho brilhante.
— Eu encontrei uma alma perdida.
— A informação do dono deve estar na parte de trás — disse Jerom.
Gage virou o assunto.
— Veja aqui. Este Frisbee pertence a uma senhorita Lauren Fletcher.
— Uma menina que joga golfe de disco? — disse Jerom. — Isso é quente.
Gage enrolou o lábio.
— Eu não sei. Uma garota que joga golfe de disco? Ela provavelmente é um cachorro.
Alguma coisa agressiva e corpulenta.
Os caras riram, parecendo não perceber que eu estava bem ali… jogando golfe de disco.
Talvez seja assim que eles me viam. Talvez seja assim que a maioria dos caras me viam.
Nathan pegou o disco de Gage e o enfiou na sacola do equipamento.
— O mínimo que podemos fazer é devolver o frisbee.
— Fique à vontade — disse Gage.
Não foi até perto do final do curso que eu soube o que Braden e Gage haviam concordado
secretamente antes. Quando passamos por um lago lamacento, que tentava fingir que era um
lago cênico, Braden me agarrou pelos braços e Gage pegou os meus pés. Eu chutei e lutei,
mas eles seguraram firme.
— Você vê, Jerom — disse Braden —, deixe-me ensinar-lhe a maneira correta de jogar o
corpo de alguém na água.
— Eu sempre quis saber se minha técnica estava um pouco fora de moda — disse ele,
esfregando uma mecha de cabelo desalinhado que havia crescido no queixo. — Por favor,
compartilhe maneiras para que eu possa melhorar.
— Bem, primeiro — disse Gage, e consegui uma perna livre para chutá-lo no peito. Ele
engasgou, mas agarrou minha perna novamente. — Você os balança. Assim. — Moveu-se de
um lado para outro em um balanço grande e arqueado.
— Ok, sim, eu vejo.
— Nós vamos ser expulsos do curso se você jogá-la — disse Nathan.
— Sim, escute Nathan, por favor — eu implorei. As plantas que enchiam a lagoa surgiram
na minha visão periférica em cada balanço.
Gage riu.
— Quem vai nos expulsar? A polícia do parque?
— Então — Braden continuou —, quando seu alvo atinge a altura do balanço, você solta.
— E eles fizeram exatamente isso. Eu aterrissei de bunda no raso da água, esmagando as
plantas embaixo de mim. Um casal de patos levantou vôo e me deixei afundar na água
lamacenta que o sol do verão transformou em um calor pantanoso. Ela escorria entre meus
dedos enquanto eu me empurrava para baixo.
— Vocês dois são excelentes professores — disse Jerom. — Obrigado por transmitir seu
conhecimento para mim.
Parei, grandes bolas de lama caindo de volta ao lar.
— Quem precisa de um tratamento em um spa quando eu tenho terapia de lama de golfe
de disco? — Eu corri a mão do meu ombro para meu pulso, raspando mais lama, e depois fiz
o mesmo no outro braço.
Quando eu saí, fui direto para Gage, pronto para dar-lhe um grande abraço. Ele sabia do
jogo e saiu correndo. Na minha perseguição de Gage, eu consegui pegar Braden
desprevenido, dobrando de volta. Eu passei meus braços ao redor dele por trás.
— De quem é o carro que dirigimos hoje? — eu disse, meu rosto pressionado contra suas
costas. — Oh, está certo. Eu vou na frente. — Senti ele gemer.
— Seu porta malas é bem grande — Nathan falou.
Eu ofeguei e soltei Braden.
— Nathan!
Suas bochechas estavam rosadas.
— Eu não estava falando sério.
Eu sorri. Como se ele precisasse esclarecer isso. Gage voltou para trás, mantendo um boa
distância entre nós.
Os jogadores no percurso atrás de nós riram quando eles viram a cena, então perguntaram:
— Uh, podemos jogar?
— Sim — eu disse, a água ainda espremendo entre os dedos dos pés enquanto caminhava.
— Fique à vontade. Estamos indo embora.
— Estamos indo? — Braden disse, fingindo incredulidade. — Mas nós só temos dois
buracos à esquerda. Vamos, Charlie, não podemos parar agora.
Eu sabia que ele estava tirando sarro de mim e o que eu tinha feito com Dave por algumas
semanas atrás no futebol, quando ele recebeu o telefonema sobre sua avó. A repreensão
velada ardeu.
— Ok, vamos continuar jogando.
— Eu estava apenas brincando. — Ele colocou o braço em volta do meu ombro.
Dei de ombros.
— Não, eu quero brincar. Você está certo, estamos quase terminando.
— Mas você tem lama saindo de seus shorts — disse Braden. — E a imagem não é boa.
— Cale a boca. Quem está dentro? — perguntei enquanto os jogadores agora à nossa
frente terminavam o buraco. Peguei um frisbee e marquei para o ponto de partida.
*
Naquela noite não consegui dormir. Meu cérebro continuou girando. Era só meia noite,
mais cedo do que o meu despertar normal no meio da noite, então quando olhei para fora da
janela e vi a luz acesa no quarto de Braden, mandei uma mensagem:
"De pé?"
"Sim, vejo você em um minuto.", e le mandou uma mensagem de volta quase
imediatamente.
Ouvi sua porta dos fundos fechar logo após a minha. Chegamos juntos à cerca. Ele
encostou o ombro nela e eu senti o cheiro do desodorante. Era um cheiro forte e limpo.
— O que foi? — perguntou.
— Sentindo-me inquieta. — Sentei, de costas para a cerca, e ouvi quando ele fez o mesmo.
— Não correu de novo hoje?
— Não.
— Você está aqui toda noite quando não corre?
— Não. Além das duas noites com você, eu só estive aqui outra vez.
— Você deveria ter me mandado uma mensagem.
— Eram duas da manhã.
— E daí?
— Eu posso ser egoísta, mas até eu me senti mal com isso.
Ele riu.
Eu não sabia porquê mandei uma mensagem para ele vir aqui. Não era como se eu tivesse
qualquer coisa importante para discutir. De certa forma, era bom saber que eu não estava
sozinha no meu mundo no meio da noite. Meus irmãos dormiam como os mortos. Como foi
que meu cérebro não desligou? Me senti culpada perguntando aos meus irmãos sobre minha
mãe. Não queria ser a única a fazer todos os outros miseráveis quando eles seguiram em
frente.
Talvez eles tivessem se mudado porque eles tinham memórias reais para segurar enquanto
o meu cérebro tinha que fazer as suas próprias. Por que meu cérebro tem que ser tão mórbido
sobre isso?
— Por que você corre tanto assim?
— Eu preciso ficar em forma para o basquete ou estarei com dor nas primeiras semanas da
prática.
— Então você corre, o que, dez… onze quilômetros por dia para se salvar de duas semanas
de dor? Parece que você está treinando para uma maratona, não para um jogo de basquete.
— Bem, isso me ajuda a dormir também.
— A maioria das pessoas não precisa se exaurir para dormir.
— Verdade. Muitas pessoas tomam pílulas para dormir.
Ele soltou uma risada, do jeito que ele sempre fazia quando alguém dizia algo que o
surpreendia.
— Sim. Eu acho que o seu jeito é mais natural.
Houve uma longa pausa.
— Você é boa em evitar perguntas, mas o que eu estou perguntando é por que você não
consegue dormir.
Ele era apenas uma voz desencarnada, eu disse a mim mesma. Eu poderia falar com uma
voz desencarnada. Ou a lua. Eu sempre poderia falar com a lua. Encontrei o céu cuidando de
seu próprio negócio, apenas meio iluminado.
Finalmente, disse:
— Eu tenho pesadelos.
Ele deve ter percebido que era melhor falar o mínimo possível, porque ele apenas esperou.
— Sobre minha mãe e a noite que ela morreu. Meu cérebro parece achar divertido me dar
todos os cenários, até os impossíveis. É praticamente a única lembrança que tenho de quando
eu era pequena… daquela noite. Eu nem sei se alguma delas é real ou se minha mente fez
tudo isso.
Nunca tinha contado a ninguém sobre meus pesadelos, nem mesmo Gage, que sabia mais
do que a maioria sobre o funcionamento interno do meu cérebro. Parecia estranhamente
libertador, como se eu estivesse colocando para fora, para a lua lidar.
— O que acontece neles?
— Coisas diferente, chuva, janelas quebrando e carros. E minha mãe, é claro.
— Eu sinto muito.
— Odeio isso. Correr é igual a noites sem sonhos.
— Bem, isso faz muito mais sentido do que a desculpa do basquete.
— Também ajuda no basquete.
— Tenho certeza. — Depois de vários minutos, ele disse: — Você aprendeu a andar na
sua bicicleta quando tinha quatro anos. Eu estava com tanto ciúme porque ainda tinha
rodinhas de apoio na minha.
Fiquei aliviada por ele ter mudado para o nosso jogo de fatos inúteis e disse:
— Eu me lembro das suas rodinhas de apoio.
— Você lembra? Porque logo depois que você aprendeu a andar de bicicleta, passei o
sábado inteiro aprendendo a andar sem elas. Você me envergonhou.
Sorri e tentei pensar em algo que eu lembrava dele quando criança para combinar com o
fato dele.
— Que tal na primeira série, quando você disse à sua professora que meu pai era
realmente seu pai e você gritou "esse homem está tentando me sequestrar! " quando seu pai
tentou te levar pra casa? Seu pai ficou tão envergonhado.
— Sim, isso foi um dos dias em que eu estava com ciúmes que todos vocês se tinham e eu
não tenho irmãos.
— Agora você está preso na loucura. Você é um de nós, baby, quer você queira ser ou…
— Eu parei com sua verdadeira intenção de trazer minha bicicleta como assunto.
Isso bateu em mim. Ele não estava pulando de volta para o jogo.
— Espera. Eu tinha quatro anos?
— Sim.
— Então minha mãe estava viva quando aprendi a andar de bicicleta. — Procurei em
minha memória, me esforçando para imaginá-la lá, na frente de casa, me observando
aprender. Eu poderia imaginar meu pai segurando a parte de trás da minha bicicleta, correndo
ao meu lado. Eu continuei dizendo a ele para me deixar ir. Ele não faria isso. Era minha mãe
nos assistindo?
Apertei meus olhos fechados.
eu dissera.
— Deixe-me andar pelo quarteirão —
— Eu vou com ela — Jerom ofereceu.
Ele estava andando em círculos ao meu redor. Ele provavelmente tinha quase nove na
época. Nós fomos ao redor do quarteirão, e não foi até a primeira esquina que eu percebi que
eu não tinha praticado curvar sem rodinhas ainda.
O medo me impediu de tentar e eu corri direto para a placa da rua. Jerom escolheu me
colocar de volta na bicicleta e me apontou na direção certa. Eu caí em cada esquina, mas
cheguei em casa com apenas um joelho raspado.
Minha mãe cuidou disso?
Não. Era meu pai. Eu sabia. Me lembrei de sentar no balcão enquanto ele soprava e me
dizia que eu era durona. Como era possível eu ter essas memórias detalhadas e não me
lembrar de diferentes momentos, eventos diferentes, onde a minha mãe passou tempo
comigo?
— Ela parecia muito com você agora.
Minha garganta se contraiu um pouco.
— Sim. — Eu já sabia disso. Além da foto do casamento no hall, tínhamos uma caixa de
fotos dela. É assim que eu me lembrava dela, em fotos paradas - ao meu lado quando apaguei
três velas em um bolo, olhando para cima em surpresa de onde ela se sentou no sofá lendo
um livro, usando um boné de beisebol e aplaudindo Jerom em seu pequeno jogo da liga. Me
lembrava das fotos, não dos eventos.
— O que mais você se lembra dela?
— Ela era quieta… — Ele hesitou. — Ela costumava vir e falar com minha mãe. Uma vez
eu fui para a cozinha onde elas estavam conversando e ela estava chorando.
— O que?
— Eu lembro claramente porque eu tinha medo que minha mãe ficasse brava comigo por
interrompê-las.
— O que minha mãe teria para ficar triste?
— Não tenho certeza. Minha mãe estava esfregando as costas e ela estava…
— Quantos anos você tinha? — Eu ajustei minhas costas contra a cerca.
— Eu não sei. Por volta dos sete, eu acho.
— Como você pôde se lembrar disso?
— É apenas uma daquelas memórias vívidas.
Raiva irracional surgiu no meu peito e eu não tinha certeza do porquê.
— Bem, talvez ela estivesse preocupada com a sua mãe. Talvez ela estivesse implorando
para que sua mãe largasse seu pai idiota.
— Meu pai não começou a beber até a lesão nas costas há cinco anos. — Sua voz estava
apertada, machucada.
Fiquei de pé.
— Bem, minha mãe teve uma vida perfeita, então eu não sei o que ela teria para ficar
triste.
— Charlie.
— Estou cansada.
Voltei para casa, deixando a porta fechar mais forte do que eu deveria ter deixado.
Capítulo 13
Na manhã seguinte eu acordei para encontrar Gage olhando o catálogo de maquiagem que
Amber tinha me dado.
— Há algo que você precisa me dizer? — perguntou. — Desde quando você…
Joguei meu travesseiro em sua cabeça.
— Talvez eu tenha decidido ficar mulherzinha.
— Até parece. Papai enlouqueceria se ele te visse com tanta maquiagem. Além disso, não
é você.
Eu não entendi o que isso significava. Olhei para a garota na frente do catálogo que ele
pegou. Ela era suave, feminina e bonita — como na foto de casamento da minha mãe no
corredor. Então, qual parte disso não era eu?
Eu virei para o meu estômago e coloquei meus braços sobre a minha cabeça. Quem eu
estava enganando? Nada disso era eu.
— Alguém me pagou para fazer isso no meu trabalho no outro dia.
— Amber? — perguntou, virando o catálogo para mim e me mostrando a foto na frente
onde ela circulou seu nome em tinta azul. — É essa garota aqui? Porque se assim for, você
tem que nos apresentar. Ela é gostosa.
Rolei para fora da cama e peguei o catálogo dele.
— O que você quer?
— Estamos indo jogar futebol na praia. Vamos lá.
— Eu não estou com vontade hoje.
Ele parou congelado, depois olhou em volta como se estivesse em algum mundo
alternativo.
— Hum… que? Você não sente vontade de jogar futebol? — Ele colocou a mão na minha
testa, então me virou em um círculo completo. — O que você fez com a minha irmã?
A verdade era que eu não queria ver Braden porque sabia que me comportara mal na noite
anterior. O que ele disse me pegou desprevenida, e eu acabei jogando ele e a família dele
debaixo de um ônibus para me fazer sentir melhor. E mesmo que eu soubesse que isso o
machucou, o que ele disse ainda me incomodava, então eu não estava pronta para pedir
desculpas.
— Eu tenho que trabalhar em algumas horas. — Eu não tinha que trabalhar hoje. Ele não
notou a minha mentira.
— Essa coisa toda de trabalho está realmente estragando seu estilo. Você precisa falar com
o pai sobre o fato de você ter aprendido sua lição. Tenho certeza que ele só queria ver se você
conseguiria um emprego.
— Sim, tenho certeza. Eu vou falar com ele em breve. — Mais tarde. Eu estava finalmente
me dando bem financeiramente... e o trabalho não era tão ruim quanto parecia a princípio. Era
algo diferente que meus irmãos nunca tinham feito, e eu meio que gostei disso.
— Então, realmente? Nada de futebol?
— Sim.
Deitei na minha cama, jogando uma bola de futebol no ar repetidamente. Era meia noite.
Eu não conseguia encarar o sono. Me perguntei se Gage, cujo quarto compartilhava uma
parede com o meu, ia me dizer para ficar quieta. Eu peguei a bola com um forte tapa e depois
puxei meu braço para trás, pronta para arremessá-la contra a parede. Isso o acordaria.
Suspirei e a deixei rolar para fora dos meus dedos, aterrissando no chão com um baque. Eu
não queria falar com Gage. Eu queria falar com o Braden. Eu precisava pedir desculpas. É
por isso que a luz do meu quarto ainda estava acesa — afinal, uma esperança de que ele veria
isso. Seu quarto estava escuro, no entanto. Eu sentei e plantei meus pés no chão.
Forçando-me a ficar de pé, fui até o interruptor de luz e desliguei, em seguida, deitei-me
novamente.
As cortinas da janela do meu quarto não estavam bem fechadas, e uma faixa de luz da lua
cortou meu teto. Era como se a lua estivesse tentando me dizer para parar de ser tão teimosa.
Fiquei de pé novamente e marchei pelas escadas e para fora. Então sentei lá no chão perto da
cerca. Eu deveria ter apenas mandado uma mensagem para ele, mas eu não pude. E se ele
ignorasse isso? Pelo menos assim, se ele não viesse, eu poderia dizer a mim mesma que era
porque ele estava dormindo.
Eu não tinha certeza de quanto tempo passou quando me sentei lá. Tempo suficiente para
me perguntar por que ainda estava ali. Me levantei e andei pela cerca. Se ele não viesse
quando chegasse aos cinquenta, voltaria para dentro e esqueceria isso. Comecei a contar.
Quando cheguei aos quarenta e nove, decidi que cem era um número muito melhor. Eu
precisava dar a ele uma chance, afinal. Cinquenta segundos era pouco mais do que um
centroavante precisava para conseguir passar uma bola de futebol.
Os números passavam pela minha cabeça, um para cada passo que eu dava ao longo da
linha da cerca.
— Setenta e seis — sussurrei em voz alta, meu pé descalço pousando em uma pedra. —
Ai. — Eu parei e cerrei meus punhos. Isso era ridículo. Assim que me virei para voltar para
casa, ouvi sua porta de trás se fechar. Me virei para enfrentar a cerca de novo e observei-o
andar lentamente em direção a ela. Ele não sabia que eu estava lá.
Eu deveria ligar para ele. Se ele soubesse que eu estava lá, ele me diria como sem coração
eu era pelo que eu disse na outra noite? Fiquei surpresa quando ele caminhou até a minha
cerca e inclinou a testa contra ela.
— Ei — disse ele.
Me inclinei nela também.
— Oi — sussurrei. — Eu não achei que você poderia me ver.
— Você está vestindo branco. Praticamente brilha através das fendas.
Olhei para a minha camiseta de acampamento de basquete.
— Oh.
— Você ainda está com raiva de mim? — perguntou ele.
— Não… — Fechei meus olhos e respirei fundo. Alívio inundou meu corpo. Eu tinha
sentido falta dele mais do que eu percebi. — Eu sinto muito.
— Por quê?
— Pelo que eu disse sobre sua mãe e seu pai. Minha família está longe de ser perfeita,
você sabe disso tão bem quanto qualquer um. Me desculpe por jogar de volta em você. Eu
apenas fiquei surpresa. — Enfiei minhas mãos nos bolsos do meu suéter. — Talvez minha
mãe fosse diferente do que eu imaginava.
— Sua família é incrível, Charles. — Eu o ouvi respirar fundo.
Talvez ele estivesse aliviado por estarmos falando de novo também.
— Eu não deveria ter dito isso sobre sua mãe. Eu não estava pensando. Aqui estava você
chateada por não conseguir lembrar nada sobre ela e o que eu faço? Dou-lhe estas memórias
deprimentes que nem são suas. Havia tantas razões pelas quais ela poderia ter ficado triste.
Talvez seus irmãos estivessem brigando demais naquele dia e ela estava no fim de sua
paciência. Ela teve quatro filhos em seis anos. Isso deve ter sido trabalhoso às vezes.
Ao contrário de quando nos sentamos de costas contra a cerca, eu pude sentir sua
respiração escoar através da rachadura e tocar minhas bochechas. Eu ainda não abri meus
olhos. Nós estávamos tão perto que o ar cheirava a ele. Eu não sabia que sabia como Braden
cheirava até aquele momento.
— Obrigada. — Eu torci, me afastando do cheiro dele, o que estava fazendo minha cabeça
girar. Coloquei minhas costas para a cerca mais uma vez, então olhei para as estrelas da noite.
Ele não fez a mesma coisa, porque sua voz era cristalina ao lado da minha orelha.
— Meu pai é um idiota e minha mãe deveria deixá-lo.
— Não. Eu não deveria ter dito isso. Ele está doente. Se ele simplesmente parasse de
beber…
— Não começou há cinco anos atrás. Quer dizer, a bebida sim, mas ele sempre foi um
idiota. Você sabe disso. O álcool só piora. Por que você acha que eu aleguei que seu pai era o
meu na escola naquele dia? Eu queria que ele fosse meu pai. Eu queria ser da sua família.
— Você é da nossa família.
— Não, eu não sou.
— É de todas as maneiras que importam. Eu te disse na outra noite que você está preso.
Você não pode nos negar agora.
— Eu não quero — ele sussurrou. Meu coração achou que era a hora de bater fora de
controle. Tentei responder, mas não consegui pensar em nada para dizer. A cerca entre nós
nunca pareceu como uma barreira para mim. Sempre me pareceu como proteção - a única
razão pela qual eu podia dizer algumas das coisas que eu poderia fazer aqui.
Mas esta noite, eu queria senti-lo ao meu lado. Eu queria consolá-lo.
Ele respirou fundo duas vezes e disse:
— Você perdeu uma das mais engraçadas birras já vistas no campo no outro dia devido a
uma suposta falta.
Relaxei, feliz que ele mudou de assunto. Minha reação provou que estava ficando muito
intenso.
— George?
— Claro.
— Quem fez a falta?
— Essa é a questão. Ninguém fez.
— Então você fez. O que você fez?
Ele riu.
— Eu mal tropecei nele. Mal tropecei! Ele nem sequer caiu. Eu estava indo para a bola.
Seu pé ficou no caminho. Ninguém mais teria chamado isso de falta.
— George é um bebê.
— Sim. Nunca namore com alguém que você não tenha visto praticar esportes. Diz muito
sobre um cara.
Era verdade que você poderia dizer muito sobre alguém pela forma como eles jogavam.
Eu sabia que Jerom era um líder, Nathan seguia todas as regras à risca e Gage era
descontraído, por diversão. E quanto a Braden? O que eu aprendi sobre Braden ao longo dos
anos ao vê-lo jogar? Ele era um jogador de equipe, nunca segurou a bola ou a levou quando
ele não podia entregar. Ele aguentava bastante nos bastidores, esperando até que alguém
precisasse de ajuda. Então ele era… o que? Observador? Não-egoísta?
— E nunca, nunca namore um cara que age como se estivesse jogando na final de um
evento esportivo profissional quando ele está realmente jogando um amistoso.
Nós rimos muito sobre isso. Pessoas que levavam um amistoso tão a sério que perdiam a
paciência ou jogavam uma birra sobre as coisas são mais as mais estúpidas.
— E se ele está jogando na final de um evento esportivo profissional?
— Então é perfeitamente aceitável. E você deve descobrir como liberar ingressos para a
temporada.
Eu ri.
— O que me traz de volta ao jogo dos fatos. Eu tenho um. Se você pudesse só ter
ingressos de temporada para um esporte seria beisebol.
— Você tem certeza? Há tantos esportes que eu gosto. Este poderia ser o fato de que você
mais perde.
— Só se eu errar e você puder responder o mesmo sobre mim e conseguir acertar. Mas eu
não estou preocupada. Você deixa poças de baba no chão quando você assiste ao jogo dos
A’s. Se você pudesse assistir um jogo no Coliseu, eu acho que seu coração pararia.
Ele soltou uma pequena explosão de ar.
— Sim. É verdade. Mas eu não acho que sei essa resposta sobre você.
— Eu sabia o tempo todo que te conheço melhor. Só demorei um pouco para provar isto.
— Podemos instituir uma regra de três tiros?
— Não.
— Bem. Me dê um minuto para refletir sobre isso, então.
Cantarolei a música tema de Jeopardy!. O engraçado é que eu não sabia se eu sabia a
resposta para essa pergunta sobre mim mesma. Eu adoraria assistir quase qualquer esporte ao
vivo. Então, tecnicamente, eu provavelmente deixaria ele escapar com qualquer resposta
desde que fosse uma equipe que eu realmente gostasse.
— Seus irmãos. — Ele disse com tanta confiança que eu quase imediatamente acreditei
nele. Mas então percebi o que ele disse não fazia sentido.
— O que?
— Se você pudesse ter ingressos para a temporada em qualquer evento esportivo, seria
para o time de futebol Rebels da UNLV para que você pudesse assistir a cada um dos jogos
dos seus irmãos das arquibancadas. Você estaria no céu.
Eu comecei a negar, dizer que não era tecnicamente um jogo porque não era equipe
profissional, mas depois lembrei-me de como me sentia triste cada vez que o Jerom me dizia
que ele jogou em um jogo e eu não estava lá.
— Você deveria ver o olhar em seu rosto quando assistiu seus irmãos jogarem. Eu não
penso que já vi alguém mais orgulhoso do que você.
Eu não pude dizer nada. Eu não confiava na minha voz. Ele estava certo. Não havia outros
jogos no mundo que eu prefira assistir do que os que envolvem meus irmãos.
— Eu sei que não são tecnicamente ingressos para a temporada ou uma equipe profissional
de esportes, mas eu acho que é o mais preciso.
Ele estava certo. Ele me conhecia bem. Melhor do que eu pensava que ele faria. Eu não
achei que ele estava prestando muita atenção ao longo dos anos. Ele sempre esteve por perto,
e sendo um ano mais nova, eu estava sempre interessada no que ele e meu irmão estavam
fazendo. Mas não achei que fosse dos dois lados.
— Sim, isso conta — eu disse rapidamente.
— O que é que foi isso?
— Um sim.
— Sua voz parece engraçada.
— Sim, bem, seu rosto parece engraçado. Vejo você amanhã. — Me afastei da sua risada.
— Quem sabe de quem melhor agora? — ele gritou.
Balancei minha cabeça com um sorriso. Ele era muito bom. Eu teria que intensificar meus
fatos. Ele não iria me ganhar neste jogo.
Capítulo 15
Limpei meus pés no tapete e abri a porta dos fundos. A cozinha estava mal iluminada pela
luz acima do fogão. Fechei a porta devagar, tranquei, depois virei-me. Gage estava sentado
no balcão com uma tigela de cereal. Eu pulei, prendendo o grito na minha garganta antes que
ele saísse.
— Você me assustou.
Ele olhou para a porta atrás de mim e depois de volta para mim.
— O que você está fazendo e por que você tinha um sorriso bobo no rosto quando entrou
aqui? Você estava se esgueirando? Existe algum menino que eu preciso bater?
Minhas bochechas coraram involuntariamente. Ninguém sabia sobre minhas conversas na
cerca com Braden e eu planejava que continuasse assim.
— Não. Não estou me esgueirando por aí. Eu estava andando pelo quintal porque você não
foi correr comigo hoje à noite e eu não conseguia dormir. — Antes que ele tivesse a chance
de analisar essa afirmação, eu joguei para ele. — Você acabou de chegar em casa? Papai vai
matar você.
— Não. Eu estava em casa. Eu só fiquei com fome.
Puxei uma tigela do armário e servi-me um pouco de Cocoa Krispies.
Ele deslizou um pouco e eu me juntei a ele no balcão.
— Você está dizendo que você fofocaria sobre mim se eu tivesse acabado de chegar em
casa?
Tomei uma colherada de cereal e assenti.
— Sim. Estou cansada de ser a pessoa em apuros. Talvez ele fizesse você arrumar um
emprego.
Gage me mostrou seu sorriso.
— Oh. Você acha que Linda me contrataria? Eu poderia ajudar as garotas a escolher
roupas. Eu seria bom nisso.
— Flertar com as meninas não é o mesmo que ajudá-las, Gage.
Ele encolheu os ombros.
— Papai nunca me faria arranjar um emprego de qualquer maneira. Eu sou seu favorito.
— Todos nós sabemos que Nathan é o seu favorito.
— Verdade. Bem, eu tenho certeza que eu era o favorito da mamãe.
Minha colher parou a meio caminho da minha boca e meus olhos dispararam para ele. Não
eram muitas vezes que a palavra "mamãe" era usada em nossa casa. Gage era apenas um ano
mais velho que eu. Eu pensei que não havia como ele lembrar mais do que eu.
— Você era? — Perguntei em uma voz logo acima de um sussurro. Ele despenteou meu
cabelo e deslizou para fora do balcão.
— Foi só uma piada, Charlie. Eu estou certo de que mamãe não tinha um favorito.
Ele colocou sua tigela vazia na pia.
— Mas se ela tivesse, seria eu. Quem poderia resistir a esse rosto?
— Eu, por exemplo.
— Oh, por favor. Você é a mais facilmente persuadida. Você faz qualquer coisa que eu
peço.
Eu chutei ele nas costelas e ele soltou um grunhido.
— Nos seus sonhos.
— Sem chutes.
O chutei de novo, mas desta vez ele agarrou meu pé.
— Sério, isso dói. Se você não tivesse pernas enormes, eu deixaria você me chutar.
— Enormes?
— Você viu seus músculos da coxa ultimamente? Seu treinador de futebol vai ficar tão
feliz.
Puxei meu pé para longe dele, jogando leite na minha mão. Eu limpei o leite no meu suéter
e dei outra colherada.
— Ela já foi para algum de seus jogos?
— O que? Quem?
Eu mal podia engolir minha boca cheia de cereais.
— Mamãe. Ela já foi a algum de seus jogos de futebol?
— Você acha que eu lembro? Eu tinha sete anos quando… — Ele parou. Não é como
fosse necessário ele terminar. Eu sabia. Todos nós sabíamos como essa frase terminou.
Quando ela morreu.
Quando o carro dela saiu da estrada na chuva e entrou em uma vala. E normalmente essa
frase apertava meu peito e não soltava por vários minutos. Mas hoje, meu cérebro se agarrava
à primeira parte de sua declaração. Ele não se lembrava. Assim como eu. Então éramos
jovens demais para ter alguma lembrança real. Ou... ou nada. Nós éramos jovens demais.
— Vou para a cama — disse ele.
Balancei a cabeça, meio que me arrependendo de empurrar o assunto da mamãe. Era por
isso que eu não fazia. Tinha um jeito de deixar Gage triste. Eu gostaria de não ter conseguido
uma tigela de cereal porque agora eu sentia que tinha que terminar. E em vez dos sentimentos
vertiginosos que eu trouxe para dentro depois da minha conversa com Braden, meu estômago
doía. Gage fez uma pausa, respirou fundo como se fosse dizer alguma coisa, depois parou.
Segurei minha respiração em antecipação, mas então seus olhos foram para a porta dos
fundos. Me preocupei que ele fosse colocar dois e dois juntos sobre Braden e eu. Então fiz a
única coisa que pude imaginar. Eu joguei uma colherada de Cocoa Krispies nele.
*
A manhã de sábado chegou, para meu espanto. Ela me bombardeou com vibrações
nervosas de que eu não conhecia desde tentei entrar para o time de basquete no primeiro ano.
Eu sabia que não poderia fugir do almoço com Amber e suas amigas hoje. Mas se eu fosse,
elas descobririam que eu era uma fraude. Que eu não sabia nada sobre o que elas gostariam
de conversar. Meninas como ela não me davam a hora do dia na escola. Concedido, eu me
cercava bem, com minha parede de irmãos de um lado e minhas companheiras de equipe do
outro, mas meninas como Amber realmente não se misturavam com garotas como eu. Não
tínhamos nada em comum. Eu não estava ansiosa por isso. Tirei algumas das minhas roupas
fofas da parte de trás do meu armário e joguei-as na minha mochila para mudar no trabalho.
— Charlie, posso falar com você? — Meu pai chamou da cozinha enquanto me dirigia
para a porta da frente.
— Claro. — Eu virei de volta e enfiei a cabeça pela porta da entrada da cozinha. Por um
segundo, o pânico me invadiu, pensando que Gage tinha dito ao meu pai sobre eu estar
vagando pelo quintal a uma da manhã. Mas então me lembrei que era Gage. Ele não me
deduraria.
— Você tem trabalhado duro — meu pai disse, apontando para o banco do balcão em
frente a ele.
Me sentei.
— Sim, eu acho.
— Eu acho que nós dois provamos o ponto. Eu sei que você tem o acampamento de
basquete começando logo.
Balancei a cabeça. Quatro semanas. E eu estava me perguntando se seria uma luta para ele
me deixar ir.
— Você ganhou o suficiente para pagar sua multa mais recente?
— Sim.
— Então por que você não vai com mais calma até o acampamento começar?
— Eu não tenho que trabalhar mais?
— Não.
Sorri, animada por poder ter meu verão de volta, mas depois o rosto de Linda passou pela
minha mente e me senti culpada.
— Não posso simplesmente desistir assim. Eu deveria provavelmente dar a minha chefe
um aviso prévio de duas semanas.
— Isso seria muito responsável da sua parte.
Eu não queria ser responsável. Eu queria desistir. Antes que eu tivesse que sair hoje com
as meninas não tinha nada em comum.
— Ok. Obrigada, papai. Hum... eu estarei em casa um pouco mais tarde hoje.
— Você tem um turno mais longo?
— Não… Eu vou sair com um colega de trabalho depois… se estiver tudo bem.
— Eu o conheço?
— Oh, é uma garota. Eu e algumas meninas vamos sair.
Meu pai me deu o olhar mais perdido do mundo, não ajudando em nada com a minha
confiança.
— E fazer o que?
— O que as garotas fazem.
Ele riu.
— Você não tem ideia do que é isso, não é?
— Claro que sim... tipo…
— Bem, tente pelo menos parecer que você está se divertindo.
— Obrigada. — Eu deslizei para fora do banquinho.
— O que tem na bolsa? — Meu pai apontou para a mochila que eu segurava ao meu lado.
— Hum… somente… coisas de menina. Você sabe.
Ele abaixou a sobrancelha por um momento, depois seus olhos se arregalaram.
— Oh. Certo. Você tem isso coberto? Tudo bem?
Eu tentei não rir.
— Sim. Tudo bem. — Meu pai tentando explicar meu período para mim naquele fatídico
dia há quatro anos era uma experiência que jamais esquecerei. Ele soou como um livro de
ciências. Ele se atrapalhou com os detalhes técnicos, então comprou-me alguns absorventes e
me deixou para que me virasse. Eu tive que ler as instruções.
Saí da cozinha e atravessei a sala de estar. No meu caminho pela porta da frente, eu bati
em Braden, que estava chegando.
— Maldição — engasguei, voando para trás.
Ele agarrou meus braços, impedindo-me de cair. Algo que ele nunca teria feito antes do
bate-papo. Ele teria me deixado cair na minha bunda e então eu teria tentado varrer as pernas
dele debaixo dele. Nossos olhos se encontraram o mais breve dos momentos e então ele
rapidamente me liberou. Como se percebendo que ele violou alguma regra não escrita, ele
agarrou meu braço, abaixou-se e me jogou por cima do ombro.
Andando até o sofá, ele sem cerimônias me deixou cair de costas.
— Pronto. Se você vai cair de bunda — disse ele, seus olhos brilhando enquanto ele disse
a palavra — escolha um lugar melhor.
Instinto assumindo, minha mão disparou e agarrou-o pelo pulso antes que ele pudesse ir
embora. É aqui que eu colocaria um pé nas costelas ou na cabeça do seu estômago e depois
sentiria como se tivesse ganhado. Em vez disso, o instinto não seguiu através da linha e eu
congelei, deitada de costas no sofá, segurando seu pulso. Foi forte e familiar. Sua pele era
mais clara que a minha e eu estudei o modo como meu dedos ficaram contra sua pele. Solta,
meu cérebro gritou, este é Braden, o melhor amigo de Gage, mas minha mão não se abria.
Um lampejo de confusão passou pelo seu rosto, depois um amolecimento de sua testa,
quase como se ele quisesse se inclinar mais perto. Mas então ele apertou a mandíbula e jogou
um cotovelo no meu estômago. Não foi forte, mas inesperado, por isso bateu fora de mim. Eu
tomei uma respiração ofegante de ar, alivio inundando através de mim.
— Eu acho que são dois para fechar, maninha — disse ele, centímetros do meu rosto, em
seguida, levantou-se e foi embora.
O que estava errado comigo? Eu silenciosamente agradeci a ele por me chamar de
maninha. Isto me lembrou da nossa história. Nossos anos de história. Fechei e abri a minha
mão. Estava quente. Cada centímetro de mim estava quente. Eu precisava parar o jeito que
meu corpo estava reagindo a Braden ultimamente. Nós éramos amigos. Muito perto de querer
explorar essas novas reações estúpidas e arriscar perdê-lo para sempre. Eu parei e
praticamente corri para fora de casa.
Se eu pensava que a semana anterior de maquiagem era ruim, essa semana não foi nada
além de torturante. Duas horas! Eu mantive o controle desta vez. Como uma pessoa poderia
gastar duas horas trabalhando no meu rosto? Concedido, havia um monte de perguntas e
muito mais maquiagem. Eu podia ver meus cílios quando pisquei. Foi estranho. Mas duas
horas? Eu poderia ter jogado um jogo de basquete inteiro nesse tempo, com time-outs,
intervalo, lances livres e tudo mais.
Suas amigas da semana passada nos encontraram depois que a sessão terminou.
— Vou lavar meu rosto — eu disse, apontando para os fundos. Talvez elas esquecessem
de mim e partissem enquanto eu estivesse fora.
— De jeito nenhum. Nós estamos saindo como as rainhas da beleza que somos — disse
Amber, agarrando meu braço. — Você está maravilhosa. Não toque na minha obra de arte.
Ou não.
Capítulo 16
Nós sentamos na mesa de canto de um café, bebendo bebidas geladas e conversando. Bem,
Amber, a locutora olímpica estava fazendo a maior parte da conversa, mas eu estava
surpreendentemente entretida. E não só porque um jogo do Cubs5 estava passando na
televisão montada no canto. Nós conversamos sobre os últimos livros que lemos e as matérias
da escola que temos dificuldade (matemática, no meu caso). Eu era realmente capaz de
contribuir para aquelas conversas. Então, talvez elas não fossem muito diferentes das minhas
companheiras de equipe e de mim. Então o assunto mudou para os meninos.
— Eu juro que tudo o que eles pensam é sobre comida e sexo — disse Savannah.
Eu ri.
— Não. Isso não é verdade. Eu tenho três irmãos. Eles realmente têm outros pensamentos.
— Como o quê?
— Como tudo. Meu irmão, Nathan, levou dez minutos para ligar para uma garota no outro
dia.
— Por quê?
— Porque ele estava analisando demais e estava inseguro. E meu irmão Gage usa o humor
para cobrir como ele realmente se sente. E Jerom, ele se preocupa com tudo.
Amber sorriu.
— Impressionante. Charlie consegue ser uma "Intérprete de Garoto" agora.
— Sim, eu não tenho certeza se estou pronta para um título ou qualquer coisa.
— E por falar em caras que precisam interpretar, não posso mais ignorar aquela mesa —
Amber disse.
— Eu sei — disse Savannah — eles estão totalmente fixados.
— Eu pensei que nós estávamos apenas fingindo que eles não existiam — acrescentou
Antonia.
— Quem? O quê? — perguntei.
Elas riram.
— Aqueles caras — disse Amber.
— Ok, eles perceberam que percebemos — disse Savannah. — Eu dou a eles dois minutos
antes de caminharem até aqui.
— Dois minutos é generoso — disse Antonia.
Eu ainda não tinha olhado. E se eles fossem amigos dos meus irmãos?
— Veja, eu te disse — disse Antonia.
Desta vez eu olhei e vi um cara andando em nosso caminho. Ele pegou uma cadeira no seu
caminho e deslizou pelo chão de ladrilhos até que descansou bem na frente da nossa mesa.
Então ele se sentou. Eu não o conhecia. Isso me deixou feliz.
— Posso ajudá-lo? — Amber disse, legal e profissional.
— Nós nos perguntamos se vocês, senhoritas, queriam se juntar a nós.
— Desculpe, tempo de garotas — disse Amber. — O que obviamente significa apenas
meninas.
Me perguntei se Amber e as outras tinham caras chegando nelas assim o tempo todo. Era a
primeira vez para mim, e eu achei divertido. Segurei uma risada e esperei para ouvir que
linha ele entregaria. Eu provavelmente poderia dar-lhe algumas dicas. Meus irmãos eram
especialistas. Agora ele estava sendo o Gage do nosso grupo. Gage nunca poderia se conter.
Ele tinha que saltar com os dois pés, mesmo que Jerom e Braden lhe dissessem para esfriar o
jogo por um tempo.
Me perguntei em quem esse cara estava interessado. Provavelmente Amber. Ela era a mais
bonita, com a típica aparência de boneca Barbie — cabelos loiros, olhos azuis, dentes
perfeitos, bronzeada. Ou talvez Antonia; ela tinha o tom mais bonito da pele de café.
Ele cruzou os braços sobre o peito.
— Oh, eu vejo como é. Você deveria ter pendurado uma placa que dizia: "nenhum garoto
é permitido".
Dei uma risadinha. Ele não deveria ter tirado o jogo do ego lesionado cedo. Não era
cativante. O que ele deveria ter feito foi dito algo como eu posso me enfiar em um clube de
garotas, me experimentem. Talvez meu título deveria ter sido Moderadora em vez de
Intérprete. Eu decidi ajudá-lo porque era óbvio que ele precisava disso. E ele era bem fofo, só
um pouco sem noção.
— Aposto que ele se encaixaria bem no clube das meninas — eu disse, e todos olharam
para mim.
— Com certeza — disse ele, um sorriso iluminando seu rosto.
— Vamos testá-lo. Quatro perguntas que toda garota saberia. Cada uma de nós faz uma. E
se você responder certo, você tem meia hora.
Amber sorriu, parecendo gostar deste jogo.
— Eu vou começar — eu disse. — Nomeie quatro itens de maquiagem.
As meninas zombaram.
— Muito fácil.
— Para uma menina — disse ele. Concordei. Eu não achava que meus irmãos pudessem
citar dois.
Ele olhou para cima, mordendo o lábio.
— Ok, hum, aquela coisa preta que você coloca nos seus cílios.
— Nomes oficiais — eu disse.
— Espere, eu estou pensando. — Ele bateu na mesa. — Rímel?
— Boa.
— Então há — ele apontou para os lábios — batom.
— Isso é dois.
— Cor de bochecha.
Amber riu.
— Essa é sua resposta final?
— Não. É… — Os outros caras vieram. — Bochechas, pessoal — disse ele. — Como é
chamado?
— Nenhuma ajuda de seus amigos — disse Antonia.
— Talvez devêssemos deixá-los colocar seus cérebros juntos — eu disse. Especialmente
desde que um dos caras era quente e eu não me importaria de ele sair por um tempo. Eles se
encolheram por um minuto, sussurrando, e Amber riu.
— Isto é divertido — disse ela. Eu verifiquei a pontuação na TV enquanto os caras
estavam ocupados.
— Ok, nós temos uma resposta — anunciou ele. — Blush.
— Muito bom. São três. Mais um.
— Você já disse rímel? — perguntou o Garoto Quente.
— Sim, e batom.
— Tem mais alguma coisa? — O outro cara, um ruivo, perguntou.
— Muito mais — Amber assegurou-lhes.
O cara original estalou os dedos.
— Oh, oh, e sobre aquela coisa marrom que elas usam para cobrir suas espinhas e outras
coisas.
Antonia engasgou e eu ri.
— Como é chamado?
— Nenhuma idéia.
Garoto Quente me estudou por um minuto e eu me mexi desconfortavelmente no meu
lugar.
— Qual é o material em suas pálpebras? — ele perguntou. Eu quase tinha esquecido que
tinha coisas nas minhas pálpebras. Coisas em todo o meu rosto.
— Sombra alguma coisa… sombra de olhos! — o primeiro cara gritou. — Passei.
— Você ainda tem mais três perguntas, e essa foi a mais fácil — Amber disse.
— Mandem.
O ruivo pegou outra cadeira. Havia três deles e quatro de nós.
Como era esse esquema, eu me perguntava, quando éramos em números ímpares assim?
Garoto Quente pairou ao meu lado da mesa, e desde que eu sentei no final, me aproximei e
ofereci-lhe o assento ao meu lado. Ele pegou. Ele cheirava muito bem, como cereja
ChapStick e algo limpo… sabão para a roupa, talvez.
— Minha vez — disse Amber. — Nomeie dois penteados de cabelo preso.
— Cabelo preso? — perguntou o primeiro cara.
— Sim, penteados onde seu cabelo está cima em vez de para baixo.
— Rabo de cavalo — disse o ruivo.
— Ok, eu contarei isso. Mais um.
— O que se chama aquele enrolado? — Perguntou o primeiro cara.
Todos eles encolheram os ombros. Eu não tinha ideia de como era chamado também. Era
triste que eu estava seguindo seus processos de pensamento mais do que as meninas, que
estavam rindo presunçosamente.
— E que tal a coisa da bibliotecária?
— Um coque. É totalmente um coque. Próxima questão.
Antonia foi rápida com a sua pergunta, como se tivesse pensado nisso no minuto que ela
ouviu o jogo.
— Qual é a segunda pele que usamos nas pernas como calças?
— Nylons — o ruivo respondeu sem pensar duas vezes.
Os outros dois olharam para ele e gemeram.
— O que? — ele disse. — Eu estou no jogo.
— Então você deveria saber todas essas respostas.
— Tanto faz.
— Ok, última pergunta — o primeiro cara disse, olhando para Savannah. Ela apertou-a
lábios juntos como se tentassem pensar em algo que nunca imaginariam. Então seus olhos se
iluminaram. — Quem escreveu Orgulho e Preconceito?
Todos ficaram instantaneamente em silêncio.
— Uma pequena ajuda aqui — o cara ao meu lado disse em voz baixa.
— Absolutamente nenhuma ideia — eu disse.
— Todas as meninas do grupo não deveriam poder responder a pergunta também? — ele
disse em voz alta, me chamando.
— Eu garanto a você que toda garota saberá a resposta para isso.
Tentei dar a Amber olhos arregalados, dizendo-lhe para não fazer qualquer garantia.
— Então, se todas vocês não podem, nós vencemos por padrão? — ele perguntou.
— Você é um sacana — eu disse, e ele sorriu, seus olhos se iluminando.
— Sim, tudo bem — Amber concordou com seu adendo.
Levantei minha mão com vergonha.
— Eu não sei a resposta.
Os caras aplaudiram, e Savannah bufou de brincadeira e jogou um lenço de guardanapo
para mim.
— Desculpe — eu disse, segurando minhas mãos para afastar os outros guardanapos que
vieram voando no meu caminho.
— Então, o que ganhamos? — perguntou Garoto Quente.
— Nós ficamos juntos por trinta minutos — disse o primeiro cara. — Elas não estavam
indo nos dar a hora do dia.
Garoto Quente encontrou meus olhos.
— Agora temos a hora do dia? — Meu coração deu um pulo.
— Pelo visto.
— O que a hora do dia implica?
Dei de ombros.
— Nomes, definitivamente nomes — o primeiro cara disse. — E números de telefone —
ele parecia adicionar um capricho.
— De jeito nenhum. Você ganhou trinta minutos... e nomes. Eu sou Amber.
— Eu sou Dustin — o primeiro cara disse. Dustin tinha cabelos loiros e um punhado de
sardas no nariz. Ele parecia um cara com quem joguei softball alguns anos atrás.
— Antonia — disse ela com um pequeno aceno.
— Savana.
Eu dei um aceno de cabeça e parei de repente.
— Charlie.
O ruivo acenou.
— Eu sou Luke e…
Ele apontou para o cara sentado ao meu lado e estava prestes a dizer seu nome quando
Garoto Quente olhou direto para mim e disse:
— Eu sou Evan. — Evan tinha uma linda pele bronzeada e olhos castanhos profundos.
— Então, de onde estão vindo as damas? — Dustin perguntou, e eu tirei minha atenção de
Evan e de volta para ele.
— Uma sessão de maquiagem — disse Amber ao mesmo tempo em que eu disse:
— Trabalho. — Eu não queria dizer a esses caras o que estávamos fazendo. Eu estava
envergonhada. Se eu pudesse os convencer de que tínhamos jogado futebol com tanta
maquiagem, eu teria dito.
— Trabalhamos com maquiagem — disse Antonia, cobrindo para mim.
Demorou um segundo para perceber que eram caras, não meus amigos. Caras que estavam
tentando nos pegar, não nos perguntar se estávamos interessadas no jogo de beisebol.
Eles não estavam querendo tirar sarro de mim.
— Foi o que eu quis dizer — eu disse. Isso trouxe muitas perguntas sobre o que
exatamente nós fizemos. Meus olhos continuavam indo para o jogo na televisão enquanto os
caras faziam as perguntas mais idiotas de todos os tempos. Os Cubs perdiam por um e estava
nos últimos minutos. Eu gemi quando Castillo saiu, deixando apenas mais um chance de
marcar. E todos sabiam que Borbon não era um rebatedor. A maioria das pessoas nessa área
eram fãs do Giants, mas nós sempre torcemos para o A’s, e foi por isso eu estava votando nos
Cubs.
— Esta é a sua última chance de marcar — disse Evan, apontando para a tela. — Eles têm
dois eliminados.
Eu quase disse “duh”, mas mordi minha língua. A voz de Jerom ecoou através da minha
ntão ao invés disso, apenas
cabeça: é difícil deixar um cara se sentir útil de vez em quando? E
acenei com a cabeça, porque eu não conseguia dizer "por favor, me conte mais". Por alguma
razão ele deve ter pensado que foi exatamente o que eu quis dizer, porque ele começou a
explicar o jogo para mim em termos leigos, dizendo coisas como "os caras nas camisas
brancas precisam colocar a bola por cima do muro e, em seguida, eles serão classificado para
os playoffs”. Quase disse:
— Na verdade, eles não estão nem perto de ir aos playoffs este ano, mas pelo menos vai
acabar com a surra de derrota de três jogos seguidos e vão reconquistar um pouco de
dignidade e uma confiança muito necessária.
Mas novamente, provavelmente não deixaria ele se sentir útil.
— Ali, agora o treinador está dizendo ao lançador o que fazer. — A câmera foca no
treinador.
Eu sabia que Posey, o apanhador dos Giants, chamava os jogos. E até mesmo se o gerente
tivesse chamando o campo, como muitos faziam, ele estaria dando os sinais para o
apanhador, não o arremessador. Estava me matando para não corrigi-lo, mas meus irmãos
teriam ficado tão orgulhosos que não fiz. O interior da minha boca provou o salgadinho dos
meus dentes apertando minhas bochechas, no entanto.
— Você gosta de assistir beisebol? — Evan perguntou.
— Sim.
— Meu pai tem quatro ingressos para a temporada. Talvez pudéssemos dobrar em algum
momento com um par de amigos.
Tentei conter a onda de alegria que explodiu no meu peito.
— Sim, eu tenho alguém que te amaria para sempre se você nos levasse — eu disse,
pensando em como Braden me deveria por isso. Então ocorreu-me, de repente, que Evan
provavelmente se referia a uma das minhas amigas sentadas à mesa, não um do meus amigos.
— Sim?
Cruzei meus braços na minha frente, percebendo que tinha agarrado à borda da mesa na
minha excitação.
— Hum. Quero dizer, sim, provavelmente posso encontrar alguém para vir.
Ele pegou um guardanapo do suporte.
— Eu acho que talvez eu deva pegar o seu número então para que eu possa organizar isso.
Disse a ele o meu número e ele escreveu, em seguida, colocou-o em seu bolso da calça
jeans. Amber me deu uma inclinação na cabeça que parecia dizer que eu dava isso fácil
demais.
Mas ela estava ocupada demais conversando para saber que eu tinha acabado de marcar os
ingressos dos A’s. Claro, eu teria que ir com o Sr. "eu vou dar todo meu conhecimento
medíocre de beisebol para você", mas considerando que ele era quente e legal, isso era
definitivamente um sacrifício que eu estava disposta a fazer.
Capítulo 17
Era meia-noite. Eu não achei que Evan ligaria à meia-noite, mas sentei na mesa do meu
quarto olhando para o meu telefone de qualquer maneira. Eu deveria ter pego o seu número,
então eu não tenho que ceder todo o controle disso. Esfreguei os olhos, agora sem
maquiagem, e me perguntei se Evan ainda teria pedido o meu número se ele pudesse me ver
agora: suor, cabelos emaranhados, olhos cansados e tudo.
Meu telefone tocou e ofeguei.
ra Braden.
"Você está acordada?" E
Meus braços formigaram pelos arrepios e eu os esfreguei. "Sim". Desliguei minha
lâmpada, silenciosamente me acusando de colocar Braden em primeiro lugar, então fiz meu
caminho para fora.
— Onde você estava o dia todo hoje? — Braden perguntou do outro lado da cerca.
— Tive que trabalhar. — Se eu quisesse contar a alguém sobre minhas sessões de
maquiagem, seria a Braden, mas eu não queria contar a ninguém.
— O dia todo?
— Eu saí depois.
— Você saiu? — A surpresa em sua voz me fez perceber que ele pensava que eu queria
dizer em um encontro.
— Não, com algumas garotas — disse rapidamente.
— Você fez isso? — Ele parecia ainda mais surpreso.
Eu ri.
— Sim. E foi estranho.
— Como assim?
— Bem, eu pensei que talvez elas não gostassem de mim, mas elas gostaram.
— Por que elas não gostariam de você?
— Porque eu não sei nada sobre compras, cabelo ou qualquer outra coisa.
Ele riu.
— E você acha que é tudo que as garotas gostam de fazer?
— Eu não sei. Talvez eu achasse que é o que as garotas normais gostavam. Nunca tive um
ponto de referência.
— O que você quer dizer com "meninas normais"?
— Garotas que não gostam de esportes. As únicas garotas com quem eu saio são muito
parecidas comigo. Grandes e corpulentas — acrescentei para aliviar o clima que de repente
parecia mais pesado do que eu queria.
— Você não é grande e nem corpulenta, Charlie. Você é alta e forte. Tem uma grande
diferença. E talvez você seja o normal e as outras garotas sejam normais também.
Eu ri disso enquanto pensava em Amber — o ponto mais alto do sonho de todo cara.
— Tanto faz. Isso não me incomoda. Foi exatamente como me senti hoje. Estranha. —
Mas não necessariamente ruim. Eu realmente gostava de Amber, e talvez isso fosse estranho
também. — E quanto a você? O que fez hoje?
— Assisti a um clássico da NBA.
— Ugh. Eu odeio assistir esses.
— Eu sei.
Sorri. Havia algo reconfortante naquele momento sobre Braden me conhecer tão bem.
Talvez fosse porque eu acabei de sair com um monte de pessoas que não me conheciam.
— Mesmo? Você sabe?
— Sim. Você os odeia porque já sabe quem vence. Mas às vezes é divertido assistir a um
jogo quando o vencedor já está determinado.
— Onde está a excitação nisso? — Mordi o lábio, o sorriso ainda persistindo ali. — Era
Jordan?
— Claro. — Eu pensei ter ouvido um sorriso em sua voz. Talvez ele estivesse feliz que eu
também o conhecia muito bem.
— Ele é incrível de assistir. Aquele pulôver saltador6. — Coloquei minha mão sobre o
meu coração mesmo que ele não pudesse me ver.
— E esses são os tipos de coisas que uma garota normal deve saber — disse ele.
Eu ri.
— Nos seus sonhos.
— Então eu provavelmente deveria chegar a eles. — Ele falou com um grunhido. — Boa
noite, Charlie.
— Esses contaram como nossos fatos hoje à noite, então?
— Claro. Mas se você precisar de outro, você ronca enquanto dorme.
Eu suspirei.
— O que?
— O quarto de Gage fica bem ao lado do seu. Acho que vou te dar aquela máquina de
ressonar em seu aniversário.
— Máquina de ressonar?
— Você sabe, aquela máquina que tem uma máscara e você a usa à noite e te impede de
roncar.
Sabia que ele estava usando as mãos para tentar descrevê-lo e pressionei meus lábios
juntos para não rir.
— Eu não tenho ideia do que você está falando.
— Você sabe exatamente do que estou falando.
Eu ri. Eu fazia.
— Bem, você baba em seu sono.
— Só quando estou muito cansado.
— Eu acho que vou te dar uma máquina de babador. Tem essa coisa de máscara e estas
correias…
— Engraçado.
— Eu pensei que fosse.
Me levantei, passei minhas mãos em minha calça de pijama de flanela e caminhei para
trás alguns passos, meus olhos ainda na cerca.
— Hoje foi chato — disse ele. — Não trabalhe o dia todo novamente.
Meu coração deu um pulo e eu o repreendi. Ele só queria jogar bola ou algo do tipo e não
tinha ninguém por perto para brincar... exceto meus irmãos e todos os outros.
— Boa noite, Braden. — Me virei e corri para casa, tentando conter meu sorriso.
Olhei fixamente para as camisas alinhadas na prateleira, suas cores se misturando. Por quê
eu estava tendo tanta dificuldade em contar a Linda que eu tinha que sair? Talvez porque,
tipo, gostei do meu trabalho. Era relaxante. O último cliente me disse que eu era fácil de
comprar porque eu era descontraída e sem pressão, mas muito útil. Eu nunca tinha ouvido
algo assim antes e me senti bem.
— Você poderia vestir o manequim da janela? — perguntou Linda.
— Claro. — Me virei e estendi minha mão, esperando que ela tivesse uma roupa para eu
vestir ele. Quando ela não o fez, eu estava confusa.
— Com o que?
— Por que você não escolhe algo? Ela está vestindo a mesma coisa por algumas semanas.
— Você não me quer escolhendo algo.
— Claro que sim. — Ela apontou para a roupa que eu usava. Eu tinha colocado uma das
blusas de seda que ela me fez comprar em cima de uma camiseta com padrão diferente que
tinha escolhido sozinha. Eu não tinha certeza se elas combinavam juntas, mas pensei que
parecia legal.
Ela estava prestes a me dizer que parecia horrível?
— Você vai fazer um ótimo trabalho.
Suspirei e caminhei pela loja. Peguei uma saia de renda na parede oposta que combinava
com uma blusa de verão. Enquanto despia o manequim, eu disse:
— Linda, todo verão eu vou ao acampamento de basquete por uma semana.
— Que divertido. Eu não sabia que você jogava basquete.
— Sim. Eu jogo. E o acampamento começa daqui a algumas semanas.
— Oh. — Ela puxou sua bolsa e procurou através dela, achando um pequeno calendário.
Ela virou as páginas.
— Então, quais são as datas?
— Primeiro a oito de agosto.
Ela escreveu algo.
— Tranquilo. Eu marquei essa semana como sua folga.
— Oh. — Tempo de folga. Eu gostei mais dessa ideia. — Obrigada. — Continuei a
desabotoar a camisa do manequim.
— Você pode pensar que não tem estilo, Charlie — disse Linda, avaliando as roupas que
eu tinha pendurado no gancho ao meu lado —, mas essa combinação de roupas não é um
básico. Você pegou o tema da estação, não o esquema de cores. Isso diz muito.
Esse elogio não deveria ter me deixado tão orgulhosa. Eu provavelmente já tinha visto um
cliente comprar esta roupa ou algo assim.
— Eu disse a você que nosso negócio subiu 10% desde que começamos a vender a
maquiagem?
— Não, isso é ótimo. — Dobrei a roupa removida e deslizei a camisa que eu tinha
selecionado sobre o pescoço da dama sem cabeça. Então olhei para o braço inflexível branco,
imaginando como eu deveria colocar isso na manga.
— É ótimo. — Ela colocou a bolsa de volta sob o balcão.
— Hum… — Tentei torcer o braço para cima e ele caiu no chão.
Linda olhou para cima e riu quando viu meu rosto.
— Ele coloca de volta. Você vai pegar o jeito. Já volto. — E com isso ela desapareceu
para os fundos, deixando-me com um manequim de um braço só.
Finalmente percebi que os braços tinham que sair para encaixar a camisa, mas eu não tinha
ideia de como a saia caberia em sua postura larga. Eu a deitei de costas e ajoelhei ao lado
dela, deslizando a saia rendada pelas pernas.
Foi assim que Skye me encontrou quando entrou na loja.
— Ei, Charlie.
— Oi. Linda está nos fundos.
Nós duas olhamos para o manequim meio vestido no chão e depois uma para a outra. Skye
riu.
— Alguma dica sobre o manequim?
— Surpreendentemente, eu nunca fiz isso antes. — Ela deu um passo à frente e agarrou as
pernas, tentando empurrá-las juntas. — Oh. Elas não se movem.
— Sim.
— Aqui. Eu vou segurar o pescoço dela e você enfia a saia.
— Isso parece tão errado — eu disse enquanto nós duas tomamos nossas posições.
— Ela não tem cabeça, então ela não sabe que está sendo violada.
Eu ri e finalmente coloquei a saia até a cintura dela. Nós a colocamos de pé e ambas a
encaramos.
Skye inclinou a cabeça.
— Os braços dela estão tortos? — Ela tentou mover o direito dele e ele saiu. — Eu quebrei
ela.
— Não, ele volta.
Ela balançou o braço e me bateu na bunda com a mão do manequim.
— Ei, eu tenho uma cabeça e estou plenamente ciente de que fui violada.
Skye riu, e eu coloquei o braço de volta e empurrei o manequim para vitrine antes que a
estragássemos ainda mais.
— Obrigada por me resgatar.
— Não tem problema. — Skye se dirigiu para Linda nos fundos, mas parou. — Oh,
lembra daquela banda que eu estava falando? Meu namorado, Henry?
— Sim.
Ela puxou um panfleto de sua bolsa e apontou para uma foto de um sapo achatado na
frente.
— É sexta-feira. Subindo a rua. Você deveria vir.
— Sim. Vou tentar. Obrigada.
— Sem problema. — Eu a vi entrar no quarto dos fundos. Eu me perguntei sobre o que ela
e Linda falavam. Como elas tinham algo em comum?
O som de papel amassado me fez olhar para baixo. Percebi que eu tinha o panfleto em um
aperto de morte. Talvez eu deva ir a esse show. Eu era o tipo de garota de evento esportivo,
não um evento de música alta. Pelo menos é o que sempre pensei. Mas aqui estava eu de pé
nesta loja, com essas roupas, ouvindo o som de risadas no quarto dos fundos, e percebendo
que talvez houvesse mais para mim do que eu imaginava.
Capítulo 18
Só porque eu decidi que iria para o show não significava que eu tinha que ir sozinha. Eu
impulsivamente liguei para Amber ir comigo. Percebi que ela era mais o tipo de concerto de
rock do que qualquer outra pessoa que eu conhecia.
Ela estava a caminho da minha casa, mas eu estava no meu quarto, presa pelos sons dos
meus irmãos lá embaixo. Deveria ter sido fácil para mim marchar até lá embaixo com essas
roupas que eu estava usando no trabalho há semanas e dizer a eles que estava saindo. Não foi.
Eles ainda não me viram assim. E eu me senti como uma fraude. Como se isso fosse só um
jogo de fingir. Como se eles me ligassem a esse fato.
O riso deles foi levado para o meu quarto, embora eu tivesse a porta firmemente fechada.
Eles eram altos. Olhei para a minha roupa mais uma vez — um par de jeans justos e uma
camisa que mostrava mais do meu peito do que eu estava acostumada a mostrar. Meu cabelo
pendurado nas minhas costas realmente parecia brilhante e cheio hoje com a ajuda de
algumas dicas que aprendi com Amber.
Joguei meus ombros para trás e me dirigi para a porta. Eu poderia fazer isso. Senti a
maçaneta como um peso na minha mão, muito pesada para virar. A derrota não costumava ser
uma sensação com a qual eu me permitia viver, mas desta vez eu sabia que estava vencida.
Andei para o meu armário, peguei uma camiseta grande, e vesti. Então peguei um elástico da
minha mesa, puxei meu cabelo para trás e desci as escadas.
— Charlie! — disse Gage no minuto em que cheguei ao patamar. — Depressa, chega aqui.
Eu aposto que Braden poderia jogar cinco pedaços de pipoca na sua boca em menos de trinta
segundos.
— O que?
— Fique aí. — Ele apontou para um ponto de dez pés na frente dele.
Olhei para Braden, que estava sentado no sofá, com os pés na mesa de café.
Um lado de sua boca se levantou em um sorriso. Por que seu sorriso me fez querer fazer
isto?
— Ele não pode fazer isso — disse Braden.
— Por que eu sou a pessoa que tem que estar no final desta aposta?
Gage encolheu os ombros.
— Eu não sei. Braden disse que seria mais difícil ou algo assim, então eu mandei você
descer aqui. Eu estava prestes a enviar uma mensagem para você.
Braden me queria aqui em baixo. Eu olhei para ele novamente.
— Eu não queria óleo no meu rosto — disse ele, mas suas bochechas pareciam iluminar
com um tom de rosa. — Apenas abra sua boca. Há dinheiro na linha aqui.
Revirei meus olhos.
— Não, eu não tenho tempo para vocês esta noite. Vou sair.
— Onde você está indo? — perguntou Gage.
Eu queria dizer a eles onde eu estava indo, e se fosse apenas Braden, eu pode ter dito. Mas
eu não estava pronta para perguntas de Gage.
— Trabalhos. Inventário. — Menti para ele. Nós éramos próximos. Eu costumava
dizer-lhe tudo.
— Divirta-se. — Comecei a me afastar, pensando que deveria me virar e contar que eu ia a
um show. Talvez eles até quisessem ir comigo. Mas então Gage disse:
— Braden, vai lá. Eu posso fazer cinco pontos.
— Você tem certeza de que está pronto para perder cinco dólares?
— Faça.
Olhei uma vez por cima do meu ombro enquanto me dirigi para a porta e vi Braden de pé
para ser o alvo da pipoca de Gage. Nossos olhos se encontraram por um momento, e
normalmente eu teria dito algo como "você não deveria ter feito uma aposta assim quando
sua boca é tão grande" o u "pipoca no olho parece divertido". M as em vez disso eu apenas
fiquei olhando até meu pé ficar preso na beira do tapete e eu pular para a frente, quase caindo
de cara no chão. O som de risadas atrás de mim me impulsionou para fora da porta.
Quando eu pulei no banco da frente do carro de Amber, tirei o elástico do meu cabelo,
então tirei minha camiseta e joguei no banco de trás. Ela saiu para longe do meio-fio.
— Você não está usando muita maquiagem.
Eu geralmente não usava nenhuma. Mas esta noite eu tinha aplicado uma cobertura de
rímel e meu brilho labial. Eu nunca faço, eu deveria ter dito a ela, mas ao invés disso disse:
— Eu não tive tempo para colocar muita coisa em ação.
— Há um estojo roxo na minha bolsa nos fundos. Você pode pegar emprestado alguma
coisa.
Estendi a mão e abaixei a viseira na minha frente, revelando um espelho.
Uma imagem passou pela minha mente sentada no banco de trás de um carro, vendo
minha mãe aplicar maquiagem. Ela olhou para mim, a luz do sol girando o contorno de seu
cabelo escuro pálido, e sorriu. Então ela colocou a mão no meu joelho antes de voltar para
sua tarefa.
A memória foi como um choque na minha mente. Apertei meus olhos e sacudi a viseira de
volta.
— Eu acho que estou bem.
— Ok. Ah, eu queria te perguntar se você poderia ser a tela para Antonia. A garota que ela
arrumou saiu, e esta é a primeira aula dela nessa loja. — Ela abriu o console central e tirou
um panfleto. — Eu disse a ela que você poderia fazer isso. Eu faria isso, mas estou fazendo a
maquiagem da minha prima para o casamento dela. É neste domingo.
Respirei fundo, tentando esquecer o flash de memória, e olhei para o panfleto, não
processando nada.
— Que horas?
— À tarde, eu acho. Não diz aí?
Dizia.
— Certo. Eu só tenho igreja de manhã, mas terminamos às onze, então vai dar certo.
— Obrigada. Ela ficará tão aliviada.
Amber encontrou uma vaga para estacionar na rua e nós saímos. Mesmo antes de
chegarmos às portas, a música saiu do prédio para a noite. O lugar estava lotado e a energia
das pessoas fluiu contra mim enquanto percorríamos nosso caminho para dentro. Eu não
estava acostumada a sentir tanta excitação zumbindo fora de um evento esportivo. Não sabia
o que fazer com isso. Normalmente eu corro ou empurro de volta ou carrego. Este não era
exatamente o lugar para isso. O grupo no meio do clube estava pulando para cima e para
baixo ao ritmo da música. Talvez eu precisasse estar lá.
A música ficou quieta, e o cara no palco anunciou que a próxima banda sairia em cinco
minutos. Eu esperava que não tivéssemos perdido a única que Skye queria que eu visse — a
banda do namorado dela. Depois de procurar por um tempo, encontramos Skye nos fundos.
— Charlie! Você veio. — Ela me deu um abraço lateral. — Eu não tinha certeza se você
faria. Você está linda.
— Obrigada.
— Não que eu esteja surpresa. Você tem um estilo matador.
Soltei uma risada, mas fiquei surpresa quando nem ela nem Amber riram comigo. Então
isso não era uma piada.
— Oh, olha, o Toad7 está de volta — disse Skye.
— Toad? — perguntei.
— Henry. — Ela gesticulou em direção ao palco. — É um apelido que meu amigo deu a
ele e pegou.
— É por isso que eles se nomearam The Crusty Toads?
— Na verdade não. O apelido veio depois.
Eu tive muitos apelidos na minha vida. "Sapo" não era pior do que "Charles Barkley8”, que
era como meus irmãos me chamavam às vezes.
— Quem é o cantor? — Amber perguntou. — Ele é um sonho.
— Mason — disse Skye, em seguida, aproximou-se para que pudéssemos ouvi-la sobre a
música. — Então eu estava conversando com Linda outro dia, Charlie, e ela me mostrou as
suas fotos. Eles ficaram ótimas.
— Ela mostrou? Desculpe, você ter que aguentar isso. Ela está apenas orgulhosa.
— Claro que ela está. Ela vai ser sua Mama Lou também — Skye disse, me dando uma
piscada.
Minha mente voltou para a imagem da minha mãe no carro, sorrindo para mim.
— Ela não vai ser minha mãe.
Devo ter dito isso com um pouco de brutalidade, porque os olhos de Skye se arregalaram.
— Eu não quis dizer sua mãe real. Só quis dizer que ela é a mãe de todos.
Minha pele coçava.
— Eu acho que vou dançar por um tempo. — Apontei para o grupo no centro da sala. Eu
precisava queimar a energia estagnada ao meu redor.
— Eu também — disse Amber, seguindo atrás de mim.
Dançar não era exatamente o mesmo que correr… ou qualquer esporte, para esse assunto.
Eu não sentia que tinha um propósito, um objetivo. Mas depois de um tempo deixei minha
mente relaxar e percebi que nem tudo tinha que ter um ponto. Algumas coisas poderiam ser
apenas para a diversão. Olhei para Amber dançando ao meu lado. Ela sorriu, então pegou o
meu braço e me girou ao redor. Minha visão embaçou e eu aproveitei o momento decidida
que esta noite era algo que eu poderia fazer novamente.
Capítulo 19
O local de maquiagem de Antonia era maior que a loja de Linda. A notícia sobre as
demonstrações deve ter espalhado porque havia mais pessoas também. Provavelmente perto
de cinquenta. Eu passei pelos grupos até chegar à frente e encontrei uma Antonia,
ligeiramente em pânico.
Ela agarrou meu braço, alívio inundando seus olhos.
— Eu pensei que você não viesse.
— Eu sinto muito. Estou atrasada? — Olhei para o meu celular, que mostrava que eu tinha
um atraso de um minuto.
— Não. Estou apenas nervosa. Tem tantas pessoas. Eu acho que há um show de casamento
na cidade neste fim de semana e todas essas noivas estão aqui.
Olhei em volta e vi muito branco.
— Oh, esta é uma loja de noivas.
Ela riu.
— Sim. Estou mostrando a linha da noiva hoje.
— Ok. Onde você me quer?
Ela apontou para um banco alto e eu me posicionei nele. Um homem em um terno se
aproximou e se apresentou como o dono da loja.
— O fotógrafo estará aqui em breve para tirar algumas fotos da sessão.
— Fotos?
Ele abriu uma pasta que segurava, depois passou o dedo pela primeira página.
— Eu tenho a autorização de seus pais para isso, certo? Você é…
Antonia ficou com os olhos arregalados de onde ela estava ligeiramente atrás dele.
— Chloe. Ela é Chloe. — Ela me deu um olhar suplicante.
— Certo — eu disse. — Eu sou Chloe.
— Certo. Vejo você por aqui. Obrigado. — Ele se afastou.
— Sinto muito — disse Antonia. — Eu esqueci sobre a autorização estúpida que ele disse
para Chloe trazer quando eu pensei que ela estava fazendo isso. Obrigada por cobrir para
mim. É para que ele possa tirar fotos para o portfólio que ficará na exibição na loja. Você está
bem com isso?
— Tudo bem.
Ela deve ter pensado que eu não quis dizer isso, porque ela continuou.
— Não é realmente um grande negócio. Quase sempre são grandes closes de seus olhos ou
de seus lábios. Ninguém vai saber que é você.
Grandes closes não eram uma boa maneira de vender qualquer coisa. Mas eu sabia o que
ela quis dizer.
— Está tudo bem — eu disse novamente.
Ela apertou meu braço.
— Obrigada.
Antonia não estava brincando sobre os grandes closes. Parecia que o fotógrafo estava a
centímetros do meu rosto ao longo da sessão, tirando fotos de como Antonia progrediu
através dos estágios. Eu estava vendo estrelas de flash no momento em que acabou.
Quando as últimas pessoas saíram, Antonia se virou para mim e soprou ar entre seus lábios
em uma expressão de alívio.
— Estou tão feliz que acabou. Foi muito mais difícil na vida real do que na prática.
Eu ri. Agora que eu poderia conversar. Meus nervos sempre eram muito mais intensos em
um jogo real do que durante o treino.
— Deixe-me pagar o seu jantar por me salvar.
Eu sorri.
— Parece divertido
Já era tarde quando cheguei em casa. Eu ainda estava totalmente maquiada (Antonia não
tinha lenços demaquilantes, como Amber), eu podia sentir a base grossa no meu rosto, e meus
cílios estavam pesados com rímel. Além disso, meu cabelo estava solto porque eu tinha
esquecido de trazer um elástico. Eu precisava entrar na casa sem ser vista.
Caminhei furtivamente pelo caminho da frente da minha casa. A janela ao lado da frente
da porta estava escura, então me permiti relaxar enquanto deslizava a chave na fechadura e
abria a porta. Gage se reclinou no sofá, assistindo televisão, e ele olhou para cima com um
aceno de cabeça — então deu uma segunda olhada, parecendo demorar um pouco para
processar minha identidade.
— Acabei de ter alguns pensamentos muito sujos sobre a minha irmã passando pela minha
cabeça. Eu me sinto nojento agora.
Ofereci um sorriso fraco de desculpas.
— Você parece diferente. — Ele apontou para seu próprio cabelo e rosto. — Você está
usando porcaria em todo o seu rosto? Eu não deveria estar preocupado que você trabalhe no
sinal vermelho do distrito à noite, certo?
Enrolei meu moletom e joguei na cabeça dele. Desde que a sua pergunta foi retórica, no
que me dizia respeito, continuei para o andar de cima, peguei meu pijama, e depois pulei no
chuveiro.
Eu esfreguei a maquiagem no meu rosto, querendo que fosse embora. Em casa, aquela
outra parte da minha vida parecia tão estranha.
Quando saí, encontrei Gage sentado na minha cama, junto com Nathan.
Revirei meus olhos.
— Ela não parece diferente para mim — disse Nathan.
Gage sacudiu a cabeça e apontou para o meu rosto.
— O cabelo dela estava ondulado ou alguma coisa assim e ela estava usando muita
maquiagem. Seus cílios e seus lábios e suas bochechas…
— Gage. Fora.
— Não até você explicar.
— Ugh. Não é nada. Eu acabei de ser a modelo para uma linha de maquiagem. — Pensei
na minha escolha de palavras e no manequim estúpido na loja de Linda. Eu me sentia assim
ultimamente — como se todas as minhas peças tivessem sido retiradas e colocadas juntas
assimetricamente.
— O quê? — Nathan perguntou. Então ele olhou para Gage quando não respondi. — O
que isso significa?
— Você quer dizer modelagem? Você está modelando? — perguntou Gage.
— Na verdade, não. Apenas fico sentada lá enquanto uma garota coloca maquiagem em
mim. Agora saia antes que eu te bata.
— Papai sabe?
Eu gemi.
— Não. E ele não precisa. — Ele morreria se soubesse que eu estava mentindo para ele
sobre isso. Ambos me olharam com ceticismo. — Posso comprar seu silêncio? Vou dar para
cada um cinquenta dólares se nenhum de vocês disserem outra palavra sobre isso.
— O que você é, Sra. Saco de Dinheiro agora? Exatamente que tipo de modelagem você
está fazendo?
— Oh. Meu. Deus. Saia.
Gage apontou para minha cômoda num momento de luz.
— Aquela garota. Amber. Você realmente a conhece. Você trabalha com ela.
— Seu gênio não conhece limites. — Desta vez eu agarrei-o pelo braço e arrastei-o para a
porta. Nathan seguiu de bom grado. Antes de sair, Nathan voltou-se e disse:
— Se você não contar ao pai, você sabe que eu vou ter que fazer isso.
— Claro que sei disso, Nathan. Você nunca quebrou uma regra em sua vida. Suas
entranhas estão torcendo agora com o meu segredo? — Era para ser uma piada, mas minhas
entranhas estavam todas torcidas.
Nathan sorriu, mas não negou minha acusação.
Gage, cujo braço eu ainda segurava e que eu estava tentando empurrar para fora da porta,
finalmente saiu, mas não antes de ele dizer:
— Desde quando você guarda segredos de mim? — A maneira como ele disse isso, e a
tristeza em seus olhos, doeu. Antes que eu pudesse me defender, ele foi embora.
Capítulo 20
Me mexi e virei até o relógio dar a meia-noite. Deslizei da cama e fui até o banheiro, onde
joguei água fria no rosto. Me inclinei no balcão e olhei para os meus olhos vermelhos. A água
escorria pelo meu rosto e na pia. Peguei uma toalha e enxuguei.
Lá embaixo, eu peguei a caixa de fotos que meu pai guardava em uma gaveta embaixo da
mesa de centro. Folheei devagar as fotos da minha mãe. Eu queria que elas me dissessem
algo diferente. Algo que elas nunca me disseram antes. Pistas sobre sua vida. Sobre a
personalidade dela. Mas elas não fizeram. Elas apenas me disseram o que elas sempre faziam.
Ela era bonita. As pessoas diziam que eu parecia com ela e talvez nossos rostos
parecessem um com outro, mas seu corpo era magro e suave. Mesmo em fotos eu poderia
dizer que ela era graciosa. Talvez ela pudesse ter me ensinado a ser graciosa. Me perguntei se
ela teria ficado desapontada com uma filha alegre. Ou talvez ela ficasse desapontada com
quem me tornara ultimamente — mentirosa e falsa.
Coloquei as fotos de volta na caixa e fui para o meu quarto. A luz foi apagada, então a
primeira coisa que vi quando entrei foi meu celular iluminado. Era um texto de Braden:
"Você está acordada?"
"Sim. No meu caminho para fora."
— Tudo bem? — perguntei a ele na cerca.
Ele não respondeu por vários batimentos.
— Bem.
— Braden. Não minta para mim.
Ele suspirou.
— É apenas a mesma coisa antiga. Qual é o ponto em falar sobre isso?
— Seu pai?
— Sim.
Mordi o lábio inferior, sem saber como ajudá-lo com isso.
— Por que você não fala com ele?
— Sobre o que?
— Eu não sei. Sobre como ele é com você e sua mãe.
— Não vai ajudar.
— Você tentou?
— Não. Mas minha mãe tenta o tempo todo. Você já ouviu os resultados.
— Eu sinto muito.
— É. — Ele deu de ombros com aquele som. Eu não conseguia ver, mas sabia bem. —
Isto poderia ser pior. E você? Porque está acordada tão tarde? Mais pesadelos?
— Sim.
— Eles estão ficando piores?
Sim.
— Eu não sei.
— Você disse antes que às vezes sonha com o acidente de carro. O que acontece nesses
sonhos?
Pensei nisso. Foi definitivamente o sonho que mais tive.
— Coisas diferentes toda vez. Eu basicamente só vejo o colapso da minha mãe. Vidro.
Sangue. — E eu não queria falar sobre isso mais. — Meus irmãos descobriram algo que eu
não queria que soubessem esta noite e agora eu tenho que dizer ao meu pai algo que eu não
quero dizer a ele.
— Por favor, seja mais vaga. Eu acho que você está falando muito claramente.
— Eu tenho sido modelo de maquiagem. — Tossi a palavra, e ele teve que me perguntar
para repeti-la duas vezes.
— Modelagem?
— No sentido mais frouxo da palavra.
— E por que você não pode dizer ao seu pai?
— Eu poderia ter dito, a princípio. Mas eu não fiz. E agora é como se eu estivesse
mentindo para ele. Ele vai se perguntar por quê. Ele vai pensar que é mais importante do que
é. Ele vai pensar que eu estou no fundo do poço.
— Você está?
Eu ri.
— Eu quero ver.
— Ver o que?
— Seu trabalho.
Pensei sobre isso. Mostrar ao Braden desencanado pode não ser tão ruim… mas… o
verdadeiro Braden…
— Não, não posso, é muito estranho. Parece tão fora de mim mesma quando faço isso. E
então, quando me vejo, sinto que estou olhando alguém que nem sou eu. É como o anti-eu.
Quase como se eu tivesse duas vidas.
— Às vezes me sinto assim.
— Sim?
— Esta vida, nossa vida na cerca. E então a nossa vida diária.
— Eu sei o que você quer dizer.
— Por que nós fazemos isso? Por que fingimos durante o dia que isso não acontece? —
Nossas costas devem ter estado perfeitamente alinhadas contra a cerca esta noite porque eu
podia sentir sua voz vibrando através da tábua entre nós.
Pensei sobre a sua pergunta, perguntei por que eu não podia falar sobre isso durante o dia
com ele.
— Porque isso é como um sonho. Não precisa ser real. Quase parece que estamos
flutuando apenas fora da consciência e podemos dizer o que quisermos, e de manhã, como
com sonhos, apenas desaparece lentamente para longe. É como se você estivesse em sua
cama dormindo e eu estivesse na minha e nossas mentes subconscientes estão conversando.
— E durante o dia eu… o consciente… Você não gosta dessa versão?
— O que? Não, claro que não. Eu amo essa versão. Esse é o meu Braden. Eu não quero
perder isso para essa versão chorosa de mim mesma.
— Não há nada de chorosa sobre você, Charles.
— Mas o seu subconsciente sabe que eu sou mais fraca aqui à noite, porque você começou
a me chamar assim.
— O que?
— Charles. Esse é o nome que você me chamava quando éramos pequenos.
— Não, se você se lembra direito, esse é o nome que eu te chamei quando passamos a
conversar mais. Nós costumávamos conversar mais.
Eu normalmente podia imaginar as expressões de Braden em minha mente quando
conversávamos, mas agora eu não podia. Sua voz soava quase inexpressiva, eu não sabia
dizer como ele se sentia sobre o que acabara de dizer.
— Eu sei. O que aconteceu?
— Gage.
— O que?
— Você cresceu, e então Gage me olhava engraçado quando eu procurava você ou quando
nos juntamos a ele depois de estarmos sozinhos juntos. Eu me senti como se ele aparentasse
dizer: "é hora de se distanciar da minha irmã".
— Sério? — Isso era novidade para mim.
— Eu acho que ele não confiava em mim. Ele pensou que eu tinha segundas intenções. —
Sua voz inexpressiva estava me deixando cega de como ele se sentia sobre tudo isso.
E você tem? Eu quero perguntar. Mas essa pergunta não sairia. Havia muito a perder com
essa pergunta.
— Ele confia em você. Você é como nosso irmão.
— Mas você é irmã deles.
— E sua.
— Você não é minha irmã, Charlie. E eles sabem disso. Eles são muito protetores com
você. Mais do que você poderia saber.
— O que é que isso quer dizer? — Soava tão enigmático.
— Você disse que esta é a nossa realidade alternativa, certo? Onde podemos dizer alguma
coisa?
Eu estava cautelosa.
— Sim.
— Eu preciso te contar uma coisa… Eu acho que isso pode ajudar… — Ele parou. — Mas
eu preciso ir aí para fazer isso. — Sem esperar pela minha resposta, ele pulou a cerca e sua
voz incorpórea estava acima de mim, muito encorpada. Agora eu entendia porque sua voz
soou sem emoção - porque seus olhos tinham alegado toda a emoção. Eles eram tão intensos
que meu coração pulou no meu peito.
Me levantei e recuei contra a cerca.
— Uau, você deveria ser um saltador profissional. Você já tentou isso na escola? — Se eu
fingisse que isso era normal, talvez meu coração pararia de tentar escapar. Eu não queria que
as coisas mudassem. Eu não queria que ele me dissesse o que quer que ele quisesse em pé na
minha frente com fogo em seus olhos. Ele era meu amigo. Meu melhor amigo, eu percebi.
Havia muito a perder.
— Não. Eu não deveria.
— Você deveria, com saltos assim. Essa cerca tem oito metros de altura e eu estou certa de
que você não saltou do chão ou algo assim, mas…
— Charlie.
— Você colocou um pé na cerca ou você usou suas mãos para ajudá-lo? Porque…
— Por favor, Charlie, eu não posso mais manter isso dentro de mim. Você precisa saber.
— Pare. Eu não quero saber. — Eu empurrei minhas palmas para os meus olhos. Muitas
coisas desconhecidas estavam acontecendo comigo ultimamente, e eu não precisava que ele
acrescentasse isso.
Ele agarrou meus pulsos, afastando minhas mãos dos meus olhos.
— Não se esconda a partir disso. Você já sabe. Você tem que saber.
— Eu não.
— Pense, Charlie.
Ele soltou meus pulsos e eu estava tão nervosa que precisei de algo para me apoiar.
Pressionei as duas mãos contra o peito dele. Eu podia sentir seus peitorais através do tecido
fino, seu coração batendo descontroladamente.
— Você sabe. — Não era uma pergunta.
— Eu acho, mas eu não quero. — Eu não queria perdê-lo como amigo. Agora não, quando
eu mais precisava dele. Eu não sabia como me sentia agora sobre qualquer coisa.
Sabia que não era completamente eu mesma. Me senti mal. E isso não era justo para ele.
Agora não era o momento de tentar descobrir como eu me sentia sobre ele, quando eu nem
sequer sabia como me sentir sobre mim.
— Está na hora. Você é mais velha agora. Só pode ajudar as coisas. Eles não acham que é
uma boa ideia, mas você é forte, eu sei que você pode lidar com isso.
Agora eu estava confusa.
— Quem não acha que é uma boa ideia?
— Seus irmãos.
— Não é da conta deles.
— Claro que é.
— Eles não podem dizer para você parar de ter sentimentos por mim.
Ele congelou no meio da cabeça.
— O quê? — Uma onda de confusão correu pelo seu rosto, e então uma luz de
compreensão. Ele deu um passo para trás, minhas mãos escorregando de seu peito. — Eu...
Não é disso que se trata. É isso que você pensou que eu estava tentando te contar?
Ele colocou a mão na testa.
— Cara, me desculpe. Não, isto é sobre algo completamente diferente…
Apertei meus olhos e limpei minhas mãos em minhas coxas.
— Eu sou uma idiota. — Com uma risada desconfortável, eu disse: — Ainda bem que isso
aconteceu em nosso mundo dos sonhos para que amanhã não seja incrivelmente estranho.
Contornei em torno dele e me dirigi para casa.
— Não, espere, Charlie, por favor.
Levantei minha mão em um silencioso adeus sem me virar, então deixei a porta se fechar
atrás de mim. Claro que Braden não gostava de mim assim. Eu era sua amiga, sua irmã. Uma
garota corpulenta que praticava esportes. A única maneira que um cara gostaria de mim era
eu estando com uma camada grossa de maquiagem. Não que isso importasse. Eu não gostava
dele assim também. Bem, talvez eu tenha sim por um segundo, mas ele acabou de fazer esses
sentimentos mais fácil de resistirem.
Capítulo 21
No dia seguinte, e no dia seguinte, Braden não veio para a minha casa. Isto foi o mais
longo tempo que ele já ficou longe. Obviamente, ele estava me evitando. Estava tudo bem
para mim porque eu estava evitando ele também. Me senti como a maior idiota. Eu pensei
que esse sentimento poderia desaparecer depois de alguns dias. Mas se alguma coisa, mais o
tempo passou, e mais estúpida eu me senti. O que ele queria me dizer naquela noite de
qualquer forma? Por que eu não o forcei a falar sobre isso? Talvez porque eu não queria
saber. Parecia sério. E se ele tivesse convencido a sua mãe a deixar o seu pai e agora ele
estava indo embora com ela? Não gostei desse pensamento. Eu não queria o Braden indo
embora. Não. Isso era egoísmo. Se isso significasse que ele seria mais feliz, então é claro que
ele precisava ir. O pensamento fez meu coração torcer.
Tentei resolver a tensão correndo mais, às vezes até duas vezes por dia. Senti-me bem para
abrir meus pulmões e deixar minhas pernas trabalharem a energia quicando através do meu
corpo. No quarto dia após "A Conversa Vergonhosa", eu entrei na cozinha depois de um
longo tempo e vi Braden e Gage sentado no bar.
— Ei, perdedores. — Eu poderia fingir que nada aconteceu. Era uma conversa na cerca
apesar de tudo. Peguei uma garrafa de água fria da geladeira e tomei vários goles.
— Braden e eu estávamos discutindo o fato de Amendola ter sido escolhido pelos
Patriotas. Eu acho que isso significa que eles são o time mais forte do campeonato por causa
da dupla de receptor e quarterback. Será como Montana e Rice novamente. Mas Braden acha
que a dupla Rodgers-Cobb ainda é a mais forte. Rompa o empate.
— Nem Broncos e nem Manning. Fim da história.
— Uma pessoa não faz um time.
— Isso acontece se for Manning.
— Manning é superestimado — disse Gage.
Eu joguei um pouco da minha água em Gage.
— Você é superestimado. — Braden sorriu e alívio correu através de mim. Eu só queria
que as coisas voltassem ao normal. Nada desse negócio desajeitado de saltos para conclusões
estúpidas. Não mais pensando sobre o que mais ele poderia querer me dizer.
— O que há de errado? — perguntou Gage.
— Nada.
— Você já não correu uma vez hoje? — Ele inclinou a cabeça como se estivesse confuso
sobre isso, quando meu celular, que estava carregando no balcão, vibrou com uma chamada
recebida. Antes que eu pudesse pegá-lo, Gage roubou e atendeu.
— Olá? — Uma pequena pausa. — O que você quer dizer com "quem é"?
Tomei um gole de água e revirei os olhos. Alguém ligando no meu celular tinha lidado
com meu irmão antes. Eles saberiam que ele era um brincalhão.
— Quem é você? — perguntou Gage.
Levantei meu dedo para esticar minha panturrilha quando Gage disse:
— Evan quem? — Eu parei de repente, meu coração dando um salto inesperado. Oh.
Exceto Evan. Ele não conheceria. Eu estendi minha mão para o telefone.
— Acho que isso depende — disse Gage ao telefone, não fazendo nem mesmo o menor
movimento que ele pretendia dar a mim.
— Vou matar você, Gage. Me dê meu telefone.
Ele ouviu, então se levantou quando me viu chegando pela ilha para recuperar o telefone
dele pela força. Quando passei por Braden, prestes a pegar Gage, Braden me agarrou pela
cintura e me segurou firme. Porque ele estava sentado, seu rosto estava no nível do meu
pescoço.
— Traidor — eu disse, batendo na cabeça dele algumas vezes e depois lutando para me
libertar. — Espero que meu cheiro de corrida esteja queimando suas narinas agora.
Ele pressionou o nariz no meu pescoço e tomou um grande aroma.
— Cheira a sol e arco-íris.
Parei de me mover quando um calafrio percorreu todo o meu corpo e me forcei a não
tremer com isso. Uma vez no controle, peguei um punhado de seu cabelo para puxá-lo longe
de mim, mas congelei quando Gage começou a falar novamente.
— E como você conhece Charlie? — Ele me deu um olhar estranho. — Um café? Tem
certeza de que você está falando da mesma Charlie?
— Gage Joseph Reynolds. Eu vou ligar para todas as garotas em seus contatos hoje à noite
e dizer a elas que você é gay. — Eu empurrei Braden para longe de mim e ele finalmente me
soltou.
Gage riu.
— Oh, você sabe o que, Charlie acabou de entrar. Aqui está ela.
Eu dei um soco no estômago de Gage e respirei fundo duas vezes.
— Olá.
— Oi, Charlie. É o Evan.
Um sorriso tomou conta do meu rosto.
— Oh. Oi, Evan Como você está?
— Quem era aquele?
— Meu irmão. Ele é um pouco lento, mas nós o amamos de qualquer maneira.
— Ei — gritou Gage. — Eu sou o mais esperto nesta casa.
Eu podia ouvir o sorriso na voz de Evan quando ele disse:
— Ele estava obviamente tentando te irritar.
— Não é isso que os irmãos mais velhos fazem?
— Eu não saberia, só tenho uma irmã e ela é cinco anos mais velha que eu.
— Ah, bem, aceite minha palavra.
Ele riu.
— Então, eu só estava me perguntando se você ainda queria ir para uma partida de
beisebol comigo, porque meu pai disse que poderíamos usar seus ingressos para este sábado.
— Este sábado! — Eu percebi que tinha gritado na minha excitação, então eu limpei
minha garganta e tentei acalmar minha voz. — Com certeza. Estou dentro.
— Ótimo. Hum… há quatro bilhetes, então eu pensei que poderíamos levar Dustin
conosco também. Você acha que pode conseguir uma das outras garotas para vir? Amber,
talvez?
— Certo. Eu vou perguntar a ela. Onde devemos nos encontrar?
— Eu poderia te pegar. Cinco, talvez? Leva cerca de uma hora e meia para dirigir lá para
cima, dependendo do tráfego.
— Parece bom. Vou te mandar meu endereço por mensagem de texto. E apenas um aviso:
foi apenas um dos meus irmãos. Eu tenho quatro. — Sim, eu incluí Braden nessa contagem,
desde que aparentemente é exatamente assim que ele me via. — E meu pai é um policial.
— Uau. Que bela maneira de fazer um cara se sentir à vontade.
— Você vai ficar bem. Vejo você no sábado. — Desliguei o telefone, o sorriso ainda no
meu rosto. Não havia nada que fizesse uma garota se sentir melhor sobre um cara que a
humilhava do que um cara bonito e diferente a convidando para sair.
Atrás de mim, Gage disse em voz baixa:
— Ele não vai ficar bem. — Então ele riu maniacamente.
Me virei.
— Se você fizer isso de novo, algo realmente ruim vai acontecer com você.
— Como em você vai fazer algo ruim para mim, ou o destino vai fazer a pontuação? Eu
realmente preciso saber, porque isso fará diferença na minha decisão.
Balancei a cabeça.
— Quem é Evan? — Braden perguntou, seus olhos castanhos em mim.
— Alguém que está me levando para o jogo do A’s neste sábado. E eu sei que ambos
sabem quem são os A's. É isso mesmo, os Gigantes. — Eu cantei uma arremessada nota de
insultos. — Quem está com inveja? — Eu sabia que Braden estava. Eu sabia além qualquer
coisa que ele adoraria ir para aquele jogo, e me senti péssima. Mas esfregar em seu rosto
parecia a maneira correta de lidar com esses sentimentos.
Gage foi até a gaveta da cozinha embaixo do telefone e tirou um papel e caneta.
— Ok, você precisa escrever o nome completo dele aqui para que papai possa executar
uma verificação de antecedentes.
Suspirei.
— Não.
— Como você o conheceu? Onde ele vai para a escola? Quantos anos tem ele? Ele é
mesmo um fã dos A’s?
— Tenho certeza que ele é fã dos A’s, já que ele tem ingressos para a temporada.
— Ligue para ele e pergunte se ele tem algum extra — disse Gage.
— Ele tem, mas esses são para meus outros amigos. Que má sorte.
— Não é o casamento de "qual seu nome” no sábado de qualquer maneira? — Braden
perguntou.
— Quem é “qual seu nome”? — perguntei. — Espere, eu esqueci de algum casamento em
que eu deveria estar?
Gage me dispensou.
— Não. É esse cara que conhecemos há anos e anos no acampamento de futebol. Ele é um
par de anos mais velho que Jerom.
Apontei para Braden.
— Mas, obviamente, você não o conhece ou você realmente sabe qual é o nome dele.
— Eu nunca fui ao acampamento de futebol, Charlie.
— Eu sei. — Não estabelecemos que eu conhecia sua vida muito bem? — Pessoas do
acampamento de futebol realmente deixam o acampamento de futebol em algum momento.
Gage interrompeu qualquer retorno de Braden dizendo:
— O nome dele é Ryan, e você está certo, o casamento dele é no sábado. Porcaria. Como
vamos humilhar o encontro de Charlie? — Ele deu um tapinha no ombro de Braden. —
Parece que está tudo com você, meu irmão. Nos faça orgulhosos.
— Eu farei o meu melhor.
Gage se levantou para sair, Braden seguindo atrás dele.
— Por favor, não faça nada com Evan — eu disse a Braden quando ele chegou à porta.
Ele se virou de volta.
— Não se preocupe. Eu vou ficar longe.
— Obrigada. — Como se eu acreditasse nele.
Capítulo 22
Cheguei em casa do meu turno na loja no sábado a tempo de ver os meu irmãos todos
vestidos para o casamento.
— Olha quem está agradável agora — eu disse.
— Olha quem fala — murmurou Gage.
— Divirta-se — disse, subindo as escadas. Eu só tinha cerca de duas horas antes de Evan
aparecer na minha porta, e não tinha planejado exatamente o que eu estava indo vestir ainda.
Na última vez que Evan me viu, eu estava vestindo minhas roupas de trabalho e mais
maquiagem do que eu já tinha usado na minha vida. Sabia que não ia replicar isso, mas eu
não tinha ideia de quão longe eu queria usá-lo.
Meu telefone tocou e eu atendi.
— Olá?
— Ei, Charlie, é Amber. Então, eu comprei uma camiseta fofa dos A’s para vestir para o
jogo porque eu não tinha ideia do que vestir para algo assim. E então eu perguntei-me se isso
é o que eu deveria usar e eu não queria me sentir estúpida sendo apenas a única vestindo uma
camisa dos A’s.
Ela honestamente achava possível que ela fosse a única vestindo uma camisa dos A’s em
um jogo dos A’s?
— Então eu comprei uma para você também. Elas não são as mesmas porque eu não
queria ser gêmeas ou qualquer coisa, mas elas eram meio chatas, então eu as costumizei.
Costumizar? O que diabos era isso?
— Espero que esteja bem. O que você acha?
— Isso é legal. Camisetas são boas. Obrigada. Quanto eu te devo?
— Não, nada. Deixa comigo.
— Você tem certeza? Camisetas são caras.
— Tenho certeza. Quando você quer que eu vá? Eu poderia ir em breve e podemos nos
arrumar juntas. Você quer que esperar ou prefere que eu vá aí antes de os caras virem nos
buscar?
— Sim, por que você não vem? Eu não decidi o que fazer com meu rosto ainda. Você
pode me ajudar.
Eu a ouvi bater palmas.
— Yay. Vou levar meu estojo de maquiagem.
E quando ela disse “estojo de maquiagem”, ela quis dizer uma grande maleta que abriu e
expandiu ainda mais com diferentes camadas e divisorias.
— Só mais natural desta vez, ok? — Afinal, meu pai estava lá embaixo. Ele iria me ver.
— Claro. Este é um jogo de beisebol, não uma noite no clube.
— Certo.
Ela começou a trabalhar imediatamente no meu rosto.
— O que você vai fazer com o seu cabelo? — ela perguntou.
— Eu só ia jogá-lo de volta em um rabo de cavalo.
— Sim, isso vai ser fofo. Então o nosso cabelo não vai ofuscar a nossa incrível camiseta.
— Verdade. — Ela ainda não tinha me mostrado essas camisetas supostamente incríveis,
mas eu estava começando a sentir-me nervosa com elas. E eu estava certa em me sentir
assim, porque quando ela as revelou, aprendi que customizar significava transformar algo
legal em uma atrocidade cintilante. Minha boca ficou aberta por um minuto inteiro enquanto
eu observava o A ouro brilhante na camiseta verde com decote em V.
— Eu sei, incrível, certo? — ela disse, jogando-a para mim, em seguida, tirando a camisa
e colocando sua própria camiseta. A dela era preta com um A prata. Não havia maneira de
não usar isso e eu sabia disso. Então, em vez disso, tirei a camiseta que desejava estar vestida
e coloquei a camiseta deslumbrante, agradecendo de qualquer forma a boa sorte por tornar
possível que meus irmãos tivessem partido para o casamento de “não sei o nome”.
— Você parece tão bem — disse Amber.
Ela fez um círculo completo, e eu percebi que o código da garota me obrigava a devolver o
elogio.
— Sim, você também.
Meu telefone tocou e eu atendi.
— Olá?
— Charlie, ei, é o Evan.
— Oi. O que houve? — Olhei para o relógio digital na minha mesa de cabeceira. Eram
quatro e trinta.
— Más notícias.
Por um milésimo de segundo eu esperava que ele estivesse ligando para cancelar para que
eu pudesse tirar essa camisa.
— Dustin está doente. Na verdade, além do doente. Vômito e tudo mais. Eu estive
tentando pela última hora encontrar um substituto, mas sem sorte. Você acha que um dos seus
irmãos podem ir conosco em vez disso?
— Meus irmãos estão em um casamento… — Parei e olhei para Amber, que estava
verificando a parte de trás de sua camisa no meu espelho, um grande sorriso no rosto. — Eu
encontrarei alguém.
— Você tem certeza?
— Sim. Vejo você em meia hora.
— Desculpe — ele disse quando desligou.
— Eu já volto — disse a Amber.
No corredor, coloquei o telefone no ouvido e escutei tocar três vezes.
— Olá?
— Braden.
— Você não precisa me dar nenhum discurso ameaçador. Eu realmente não estava
planejando incomodar seu encontro essa noite.
— O fato de você lembrar que eu tenho um encontro me faz duvidar disso completamente.
Espere, por que ele se lembra? Isso o incomodou? Não. Isso não importava. Éramos
amigos.
— Mas, na verdade, tenho as melhores notícias de todas. Você vai me amar por toda a
eternidade.
— Uh-oh.
— Não é uma coisa ruim.
— Ok. O que eu tenho que fazer?
— Um dos nossos amigos adoeceu gravemente hoje…
— Uau, isso é uma boa notícia.
Eu ri.
— Bem, eu acho que não é uma boa notícia. Mas sua má sorte é seu ganho, porque ele não
pode ir para o jogo. Você quer vir conosco?
— Para o jogo dos A’s? — Eu podia ouvir a emoção em sua voz.
— Sim.
— Então estou substituindo um cara ou uma menina?
— Um cara. Dustin. Seu encontro é Amber. Ela é gostosa. Outra razão pela qual você
deveria estar eternamente grato a mim. — Eu não podia acreditar que estava fazendo isso. Eu
estava armando Braden com Amber. Ele realmente se apaixonaria por ela. Isso era uma coisa
boa, eu disse a mim mesma. Exatamente o que precisava acontecer para que Braden e eu
pudéssemos manter a incrível amizade que tivemos por anos.
Ele riu.
— Tudo certo. Você me convenceu
— Se apronte em meia hora.
Capítulo 23
Meu pai olhou para mim como se eu estivesse falando outra língua. Eu estava convencida
que ele tinha superado o choque inicial de me ver maquiada e com a camisa deslumbrante e
agora passou a tentar processar o que eu estava dizendo a ele.
— Por quê você não mencionou que estava indo para Oakland antes? Isso é uma grande
coisa, Charlie.
— Eu não sei. Eu não achei que você se importaria. É o jogo do A’s, papai. Vamos lá.
Esperava que Amber, que ainda estava no andar de cima dando os toques finais em seu
cabelo, não pudesse nos ouvir.
— Bem, eu me importo.
Cada um de nós respirou fundo. Minhas mãos se fecharam em punhos. Ele olhou para
mim novamente e seu rosto suavizou um pouco. Ele fechou os olhos e quando os abriu ele
disse:
— Você parece muito com ela.
Meu coração falhou no meu peito. Então foi sobre isso o choque inicial.
Com maquiagem, eu parecia mais com minha mãe. Era a hora errada para isso, mas todo o
meu corpo esperava ansiosamente que ele dissesse outra coisa. Ele não fez.
Em vez disso, aquele olhar familiar de culpa encheu seus olhos. Aquele que dizia que
desejava que outra pessoa estivesse no comando de mim, porque ele não tinha ideia do que
fazer comigo e com esta situação, e ele se sentiu mal com isso. Hesitei, então disse:
— É por isso você está tão nervoso em me deixar ir? Porque eu vou estar dirigindo a longa
distância em um carro? Estaremos a salvo.
Suas sobrancelhas baixaram.
— Não, Charlie. Não é por isso. Isso não é nada como aquilo.
Como isso não era nada assim? Minha mãe morreu em um acidente de carro e agora ele
estava preocupado comigo dirigindo uma hora e meia em um carro. Não parecia tão diferente
para mim. Ele olhou para as escadas como se ele também percebesse que esse fosse um
tempo ruim, com Amber logo ali. Ele beliscou a ponte do nariz e a culpa no olhar se
transformou em um olhar triste. Ótimo, agora eu o fiz pensar na minha mãe. Maquiagem
estúpida.
— Vou ligar e verificar você a cada hora. Você pode até ter um carro da polícia nos
seguindo se quiser.
Essa sugestão o fez sorrir um pouco, mas ele ainda disse:
— Eu simplesmente não me sinto confortável com isso.
— Papai, você vai gostar do Evan. Ele é realmente responsável e simpático e… — Eu não
podia pensar em qualquer outro adjetivo para Evan, já que mal o conhecia. Eu não estava
nem certa se o primeiro adjetivo o descrevia. Então, sim, isso não era a minha ideia mais
brilhante.
Ouvi a porta se abrir e fechar atrás de mim e meu pai olhou para mim.
— Ei, Sr. R — disse Braden.
Apertei meu rabo de cavalo e suspirei, porque de repente eu percebi que no final meu pai
não ia me deixar ir.
— Boa camisa, Charlie — disse Braden, puxando as costas, provavelmente absorvendo
cada jóia falsa berrante.
— Sim, Amber fez isso.
— Eu espero que você não cegue o lançador com as joias saindo dessa coisa, porque eu
não quero nenhum lançador com raiva de mim esta noite.
— Espere. — Meu pai apontou para Braden. — Você está indo?
— Sim.
Eu realmente podia ver os músculos da mandíbula do meu pai realizarem.
— Por que você não disse então, Charlie?
Por que eu não disse isso? Eu deveria saber que isso faria diferença.
— Eu não sei. Então podemos ir?
— Sim. Tenha cuidado e me ligue quando estiver vindo para casa.
— Obrigada. — Me virei e fui agradecer a Braden também. Os olhos dele se arregalaram.
— O que? — perguntei, mas depois me lembrei de quão diferente eu devo estar em uma
camisa de gola V e mais maquiagem do que eu usava normalmente. — Não diga uma
palavra. Eu sei que pareço uma palhaça.
Ele balançou a cabeça para trás e para frente.
— Não. Você parece... diferente.
— Obrigada pelo aumento da confiança.
— Desculpa. Não é ruim. — Ele olhou para a minha camisa, depois para o meu rosto
novamente. — Esta só não é você.
— Duas vidas, lembra? — Foi o mais próximo que eu cheguei de referenciar nossa
conversa na cerca durante o dia. — Oh, não olhe agora, aqui vem o seu encontro quente.
Amber desceu as escadas e até eu sabia que ela era linda. Camisa enfeitada e tudo. Na
verdade, ela meio que possuía a camisa enfeitada.
Braden sorriu seu lindo sorriso torto para ela, e eu observei como ela tinha uma expressão
com agradável surpresa. Ela não estava feliz quando eu contei pela primeira vez a ela, mas a
convenci de que Braden seria um encontro muito melhor que Dustin. E agora, olhando para
Braden e imaginando como seria vê-lo pela primeira vez, como ela estava, percebi o quão
lindo ele era. Seu cabelo ruivo caía na sua testa de um jeito infantil, mas não havia nada de
infantil nele. Ele tinha crescido, preenchido, amadurecido. Seus ombros eram largos, sua
mandíbula forte.
Assisti os dois se juntarem e sorrirem timidamente um para o outro. Uma pontada de
ciúme irradiava através do meu peito.
Afastei esses sentimentos inúteis quando ele apertou a mão de Amber e apresentou-se. Isso
ia ser difícil. Eu não deveria ter convidado ele. Cinco minutos depois, a campainha tocou e eu
abri a porta. Evan me cumprimentou com um um sorriso que não era nem de perto tão
familiar quanto o de Braden.
— Você está bonita — ele disse.
Ele parecia baixo. Nosso primeiro e único encontro foi no café, sentado ao redor da mesa.
Eu não percebi o quão alto ele era na época, mas estávamos basicamente olho no olho.
Concedido, eu tinha 1,70 de altura e estava cercada por pessoas com mais de 1,90 na minha
vida cotidiana, então eu não estava acostumada com a média.
— Obrigada. Entre. Meu pai quer conhecer você.
Ele respirou fundo como se estivesse se preparando para o encontro.
— Pai, este é Evan.
Meu pai segurou a mão dele com firmeza.
— Dirija sabendo que se alguma coisa acontecer com a minha filha no seu carro, eu vou
responsabilizá-lo pessoalmente.
— Papai.
— Eu vou, senhor.
— Bom. — Ele finalmente soltou sua mão.
Consegui segurar um revirar dos olhos.
— Ok, nos vemos mais tarde.
Quando estávamos saindo, notei meu pai apertar a mão no ombro de Braden e dizer algo
em voz baixa. Braden sorriu e acenou com a cabeça, e então meu pai deu-lhe um tapinha
amigável nas costas.
— Divirta-se — disse ele.
— O que foi tudo isso? — perguntei a Braden quando saímos de casa.
— Oh, você sabe, instruções sobre proteção a Charlie.
— Engraçado.
Braden deu a Evan, que estava andando no caminho à nossa frente, um cumprimento. Não
foi até que Braden olhou para os sapatos de Evan que percebi o que ele estava usando.
Braden ergueu as sobrancelhas para mim e eu quase ri.
Evan diminuiu sua caminhada para que Braden e eu nos encontrássemos.
— Eu sou Evan.
— Oh, desculpe — eu disse, percebendo que eu não tinha apresentado eles. — Este é
Braden. Braden, este é Evan.
Eles apertaram as mãos e voltamos para o carro. Assim que chegamos lá, ficamos todos
um segundo — cada um, com certeza, tentando descobrir os arranjos de assentos para a longa
viagem.
— Garotas atrás? — sugeri, sem saber qual era o protocolo do encontro.
— Eu vou sentar na parte de trás — disse Braden. — Por que você não senta na frente,
Charlie?
— Você tem certeza? Há mais espaço para as pernas lá. — Amber me deu um olhar
fulminante que parecia dizer "deixe-o sentar atrás comigo".
— Tenho certeza — disse ele, e eu me perguntei se ele estava tão animado quanto Amber
sobre os lugares próximos.
Balancei a cabeça e eles subiram na parte de trás quando Evan abriu a porta para mim.
— Você é alta — ele disse assim que eu comecei a entrar. Era difícil dizer se ele estava
desapontado que eu era alta ou feliz com isso. Então eu acabei de entrar sem falar nada.
Em momentos como estes, eu estava grata pela natureza tagarela de Amber. Ela manteve a
conversa no carro fluindo naturalmente. Uma vez lá, eu assisti a reação de Braden quando
entramos no estádio. Seus olhos se iluminaram e pareciam absorver cada detalhe,
comprometendo-os com a memória. Foi muito digno de respeito. Anos assistindo beisebol na
televisão não me prepararam para o quão bonito e grande o Coliseu seria. A grama era mais
verde do que qualquer outra que eu já tinha visto e as bases brilhavam brancas. Linhas e filas
de assentos de plástico verde enchiam o pátio acimentado.
Evan riu ao meu lado.
— Você parece chocada.
— É incrível.
Nós trabalhamos o nosso caminho até os lugares que eram bastante próximos, bem ao lado
da primeira base. Cutuquei o braço de Braden para que pudéssemos compartilhar um visual
tão incrível. Ele sorriu para mim, depois apertou minha mão uma vez. O gesto me
surpreendeu, e apenas quando eu estava prestes a olhar para Braden para ver se havia alguma
dica em seus olhos como o que isso significava, Evan colocou o braço em volta dos meus
ombros e apontou para a casa da equipe.
— É ali onde os A’s vão se sentar.
Balancei a cabeça como se ele estivesse transmitindo algum tipo de nova sabedoria para
mim.
— Você vê aquela rede? É onde eles se aquecem.
— Ela não é uma idiota — disse Braden. — Ela sabe o que é uma tela de prática.
Olhei para Braden enquanto todos nós tomamos nossos lugares. Amber eu acabamos
sentadas ao lado da outra com os caras do lado de fora. Provavelmente uma coisa boa
considerando as observações anteriores de Braden. Me encontrei me curvando um pouco,
então eu não me sentava mais alta que Evan.
— Estou com sede — disse Amber no minuto em que nos sentamos. — Charlie e eu
vamos pegar algumas bebidas antes do jogo começar. — Ela me puxou pelo meu braço.
— Ok. Acho que vamos pegar algumas bebidas. Você quer alguma coisa? — perguntei a
Evan.
Ele enfiou a mão no bolso e tirou um vinte.
— Sim, você pega um Dr. Pepper?
— Certo.
Amber olhou para Braden.
— Não, eu estou bem — E então, como se ele lembrasse que ele deveria ser o encontro
dela, ele rapidamente recuperou algum dinheiro de sua carteira e entregou a ela.
Ela sorriu seu sorriso mais brilhante.
— Obrigada. — A coisa que me incomodou foi que a única razão pela qual peguei o
dinheiro de Evan foi porque ele pediu um refrigerante. Eu estava totalmente destinada a pagar
por mim mesma. Então agora eu me senti mal porque eu incentivei Braden a dar dinheiro a
Amber.
Enquanto subíamos os degraus até os estandes de concessão, Amber disse:
— Nossa, Charlie, quando você estava falando sobre o quão legal, engraçado e doce
Braden era, eu achei que ele devia ser feio porque você estava se concentrando tanto em sua
personalidade. Tudo o que você tinha a dizer era que ele era gostoso e eu teria sido comprada.
Balancei a cabeça, tentando o meu melhor para não ficar incomodada. Havia muito mais
em Braden que sua aparência.
— Sim, eu o conheço toda a minha vida, então eu o conheço muito bem.
— Você acha que ele gosta de mim?
É melhor que não.
— Ele acabou de conhecer você.
— Mas você não acredita no destino? Quer dizer, aqui eu deveria sair com Dustin e de
repente ele fica doente e quem deve ocorrer para tomar o seu lugar, o homem dos meus
sonhos? Deve ser o destino.
— Deve ser.
— Eu vou comprar-lhe uma bebida de qualquer maneira — disse ela quando chegamos à
frente do balcão. — Qual é o seu favorito?
Você não quer dizer que ele vai comprar uma bebida?
Eu queria dizer, mas decidi que estava sendo injusta com ela só porque ela era o encontro
de Braden. Eu era aquela que o convidou para começar. Honestamente achava que Amber
não acharia ele atraente e vice-versa?
— Ele não gosta muito de refrigerante, na verdade. Pegue a ele água ou Gatorade e ele
ficará feliz.
Quando ela pediu um Gatorade de cereja, mantive minha boca fechada no começo,
sabendo esse era o menos favorito dele. Tudo com sabor de cereja lembrava-o de remédio
para tosse. Mas, finalmente, me senti culpada o suficiente para dizer:
— Limão é o seu favorito.
— Obrigada. — Ela sorriu para mim com seus dentes perfeitos e mudou o pedido. O jeito
que eu estava agindo não estava bem. Eu precisava sair disso.
Nós éramos amigos. Isso foi o que nós dois decidimos. Nada mais. E desde quando eu tive
ciúmes de Braden com uma garota linda e divertida? Pensei nisso. Tinha sido um tempo
desde que eu o vi com uma garota. Claro, ele tinha seus encontros aleatórias aqui e ali, mas
ele não tinha uma namorada há mais de um ano. Eu não estava chateada naquela época. Eu
não ficaria chateada agora. Porque éramos amigos.
Capítulo 24
Amber passou todo o jogo perguntando a Braden sobre as regras e regulamentos do
beisebol, jogando o exemplo perfeito de fazer um cara se sentir útil. Passei todo jogo fingindo
estar interessada em Evan dando-me o jogo-a-jogo enquanto tentava realmente assisti-lo. No
final do jogo, Amber perguntou quanto tempo um dos lançadores tinha na equipe.
— Ele parece tão jovem — disse ela.
Braden se inclinou para frente.
— Você sabe, eu não tenho certeza sobre isso, mas Charlie estava apenas me contando
sobre ele no outro dia. Há quanto tempo ele está na equipe?
Eu não conhecia todas as datas de entrada dos jogadores, mas por acaso eu conhecia a sua
sim, ele era jovem. Todos olhavam para mim. A voz do locutor soou o alto-falante:
— No prato está Dunning e no convés está Lopez.
— Hum, sim. Ele tem vinte e quatro. Este é o segundo ano dele.
— Ela provavelmente conhece suas estatísticas também — disse Braden. — Ela é como
uma enciclopédia de bola de beisebol. — Ele se inclinou para trás como se seu trabalho
estivesse terminado. E seu trabalho estava terminado - eu estava louca.
— Você deveria ter dito alguma coisa — disse Evan. — Eu provavelmente estive te
chateando até morrer.
— Não, não mesmo. — Dei-lhe um sorriso fraco. Apenas estar aqui no jogo era mais do
que eu poderia ter esperado. E apesar da lição da escola no beisebol, eu estava me divertindo.
Ou foi, até que Braden me fez sentir como uma idiota. Eu sabia que ele fez isso de propósito
também. Vi o olhar presunçoso em seus olhos quando ele se inclinou para trás.
— É bastante impressionante que uma garota que pareça como você saiba tanto sobre
beisebol.
Ouvi Braden rir um pouco e queria dar um soco nele. Só porque ele não me achava
atraente não significava que ele tinha que me fazer sentir estúpida que outra pessoa fizesse.
— Você quer andar antes da última entrada? — perguntei.
— Claro — disse Evan, levantando-se e estendendo a mão. A peguei e tentei me
convencer de que não era só para deixar Braden louco. Embora eu não tinha ideia do porquê
ele ficaria. Exceto pelo fato de que talvez ele não achasse que Evan estivesse à altura do
padrões impossíveis que ele e meus irmãos estabeleceram para os meus encontros — ele
estava usando mocassins, afinal.
Evan passou pelas pernas de Braden bem quando caminhávamos pelo corredor para sair da
fileira, mas eu bati em um joelho, quase tropeçando, e não consegui manobrar em torno de
seu outro. Evan olhou para trás, ainda segurando minha mão. Dei uma olhada em Braden e
ele se fez de inocente. Pisei com força no seu pé.
— Oh, desculpe, foi o seu pé?
Ele sugou o ar e finalmente puxou as pernas para trás.
Acabou sendo uma coisa boa que Braden tinha me outorgado (não que eu fosse agradecer
ele em breve), porque então falamos sobre coisas além do beisebol. Nós falamos sobre a
escola e como ele queria ser um consultor financeiro quando ele formasse, como seu pai.
Agora, finanças era algo que eu sabia pouco ou nada sobre, então eu tinha todo o tipo de
perguntas para ele. Depois de um tempo, eu disse:
— Sim, você me perdeu quando você entrou naquela coisa de venda a descoberta. Não
faço ideia do que você está falando.
Ele riu, e eu notei como era incrível que seus olhos parecessem todos iluminados com isso.
— Qual é o seu esporte favorito? — perguntei.
— Para assistir ou jogar?
— Ambos, eu acho.
— Eu não sei se isso conta como um esporte para você, mas eu amo o wakeboard.
— Totalmente conta. Fantástico. Então você tem um barco?
— Meu pai, sim. Ele nos deixa sair às vezes. Você esquia ou faz wakeboard?
— Já fiz algumas vezes, mas não sou muito boa.
— Nós devemos ir. Vou te dar algumas dicas.
— Isso seria muito divertido. Talvez pudéssemos levar meus irmãos. Eu acho que você
gostaria deles. — E eles ficariam super impressionados se ele fosse bom em wakeboard.
— Sim, com certeza. Vou planejar isso. — Ele não soltou minha mão enquanto
caminhávamos em torno do nível de concessão do estádio, onde eles vendiam nachos,
cachorros-quentes, Dippin’ Dots e cones de waffle. Parecia bom, nem mesmo úmido ou
qualquer coisa.
— Você quer comer alguma coisa? — ele perguntou.
— Não, eu estou bem.
Ele suspirou.
— Eu não acho que Braden gosta muito de mim.
— Braden é um idiota — eu disse. — E ele gosta muito de você. Acho que era para mim
que ele estava tentando provar um ponto. — Se eu não soubesse melhor, eu acharia que ele
estava com ciúmes.
— Ele realmente não parece nada com você.
le não é meu irmão. Me desculpe, eu deveria ter esclarecido isso. Ele é meu
— Oh. E
vizinho. Mas eu o conheço há doze anos, então o reivindico como irmão, e ele é tão chato
quanto um, então funciona bem.
— Oh. — Ele olhou para onde nossos assentos estavam, como se ele pudesse ver Braden
daqui. — Seu vizinho.
Evan tinha uma expressão estranha no rosto que eu não conseguia identificar.
— Devemos voltar? O jogo está quase no fim — eu disse, apertando sua mão.
— Sim.
*
No meu quarto, depois de encontrar um dos calções de Gage e mandá-lo para o banheiro
para se trocar, eu puxei minha única peça. Ele ia ficar muito desapontado. Eu só usava trajes
de banho para o esporte, então era muito chato.
Nós nos encontramos no corredor em um tipo estranho de "nós damos as mãos no caminho
para a piscina?”, troca que terminou com a mão dele na minha parte inferior das costas.
Tentei não olhar para seu peito e abdômen definidos. Então eu mantive meus olhos em frente,
embora eu meio que queria ver se ele tinha mais arranhões do jogo. Não, eu não veria; eu já
estava com raiva o suficiente em Braden.
Liguei os jatos na banheira de hidromassagem e entramos.
— Assim… — Evan disse depois de alguns momentos de silêncio. — Eu falhei
miseravelmente?
— Não. Você estava bem. Mesmo.
— Eu não sou um grande jogador de futebol. Se fosse beisebol, eu teria dado uma melhor
exibição. — Sua mão encontrou a minha sob a água e agarrou-a, jogando com meus dedos.
— Você não precisa se desculpar por um jogo idiota. Os meus irmãos estavam indo duro
com você.
— Seus irmãos estavam bem… Era Braden que tinha um problema comigo.
— Não. Ele não tem um problema com você. Nós brigamos ontem à noite. Ele estava com
raiva de mim e descontando em você.
— Talvez. Mas é mais que isso.
— O que você quer dizer?
— Eu acho que ele está com ciúmes.
— Do que?
— De mim namorando você. Eu acho que ele gosta de você.
Ri enquanto pensava na noite em que o acusei e ele parecia que queria morrer.
— Não. Eu te asseguro. Ele não gosta. Sério, Evan, não é como isso. Ele é apenas rápido
para julgar. Ele virá aos poucos.
— Se você diz isso. — Ele se inclinou para mais perto. — E se eu fizesse isso? — Ele
beijou minha bochecha, então permaneceu lá. — Isso o faria chegar mais rápido ou mais
devagar?
— Talvez ele entenda mais rápido — disse.
— Então isso ajudaria ainda mais — ele sussurrou, e virou meu rosto para o dele. Eu sabia
que ele ia me beijar e eu congelei em pânico. E se eu fizesse errado?
Ele encontrou meus olhos, parecendo pedir permissão, mas ainda não me mexi. Ele deve
ter tomado isso como consentimento porque seus lábios encontraram os meus. Eles se
sentiram excepcionalmente macios e eu me perguntei se isso significava que os meus
estavam secos. Eu não sabia exatamente o que fazer, o que fez meu estômago cair para os
meus pés. Me preocupei que fosse óbvio. Deixei ele pegar o controle e parecia ir bem. Eu
tentei tomar nota de tudo o que ele fez — o caminho que ele moveu a cabeça, como ele
posicionou o lábio inferior logo abaixo do meu, a velocidade da sua respiração, sua mão no
meu pescoço — de modo que da próxima vez eu seria melhor nisso.
Gage fazendo uma bala de canhão na piscina ao nosso lado, pulverizando água fria ao lado
do meu rosto me tirou do beijo. Quando Gage subiu para o ar, ele disse:
— Parecia que você precisava se refrescar. — Ele estava totalmente vestido. Eles devem
ter parado o jogo de volta por minha causa.
— Sim, obrigada.
— E, vocês — Gage gritou de volta para a porta de vidro —, não pule na contagem de
três. Vocês todos me devem um jantar.
Olhei por cima do meu ombro e vi Braden, Nathan e Jerom em pé na porta. Nathan e
Jerom estavam rindo. Braden foi embora.
Naquela noite, no jantar, meus irmãos todos deram suas primeiras impressões sobre Evan.
Elas eram melhores do que eu poderia ter esperado. Braden, que ficou para comer conosco
zombou de cada comentário agradável até que finalmente Jerom olhou para ele e disse:
— Braden, você tem algum problema com Evan?
— Sim! Ele é ridículo. Ele é tudo o que dissemos a ela para não procurar em um cara.
— Ele bebe V8? — perguntou Gage, zombeteiro.
Braden grunhiu.
— Ele é… deixa pra lá. Aparentemente ele é perfeito. Divirta-se, Charlie.
— Charlie — disse Linda com um sorriso quando entrei. — Sua aura parece vermelha
hoje. Você está chateada com alguma coisa?
Ela estava começando a me enganar com sua conversa sobre a aura, que geralmente
acertava o alvo.
— Estou bem. Meninos são estúpidos.
Ela riu.
— Você precisa conversar?
Levantei a mochila de roupas que eu precisava trocar. Não tinha certeza porque eu ainda
esperava chegar até o trabalho para mudar. Todo mundo em casa tinha me visto agora com
minhas roupas mais legais. Era tradição, aparentemente, mudar no trabalho.
— Não, eu só preciso tirar minha mente das coisas. — Eu entrei no quarto dos fundos e
rapidamente me troquei.
Quando voltei, Linda segurou minhas duas mãos nas dela.
— Tenho certeza que a sua mãe te diz isso o tempo todo, mas é sempre bom ouvir com
frequência: não podemos deixar os meninos definirem como nos sentimos sobre nós mesmas.
Você tem que saber quem você é antes que você deixe qualquer menino valer alguma coisa.
Eu tentei não me encolher com a referência da mãe. Minha mãe não me diz nada. E u
queria dizer. Mas não pude. Era tarde demais para falar a verdade. E além disso, eu sabia
quem eu era. Pelo menos eu pensava que sim. Eu era uma garota que cresceu sem a mãe e,
portanto, não tinha ideia de como ser uma garota. Aqui estava eu agindo como uma enorme
farsa não só para Linda, mas para Amber e suas amigas. Quando me tornei tão insegura
comigo mesma? Quando eu precisei ser como outra pessoa? Eu só precisava cair fora. O
acampamento de basquete seria uma boa pausa. Balancei a cabeça.
— Obrigado, Linda.
Ela apertou minhas mãos e disse:
— Eu tenho alguns papéis para trazer na volta.
Para estar segura, quando cheguei em casa, verifiquei o correio. Feliz por ver a pilha de
envelopes dentro, o que significava que eu fui a primeira a verificar isso hoje, eu os juntei em
meus braços e folheei a pilha. Havia alguns anúncios, mas não o temido. Agora que o choque
havia passado, minha mente girou. Eles me usaram em um anúncio. Sem minha permissão.
Isso foi tão errado. Então me lembrei do cara me perguntando se eu tinha assinado. Ah, não.
Alguma outra garota assinou um papel dando-lhes permissão para usar sua imagem e
preencheu naquele dia. Isso era tão injusto. Me perguntei se ela estava sendo paga por isso.
Fechei a caixa de correio e dei alguns passos em direção à casa de Braden. Eu precisava de
alguém para conversar e ele foi o primeiro rosto que passou na minha mente.
A meio caminho da porta dele, parei com um suspiro. Ele ainda estava bravo comigo e eu
ainda estava zangada com o quão severo ele foi sobre Evan. E quão maldoso ele tinha sido
para mim por causa disso.
Peguei meu telefone e liguei para Amber.
— Que coincidência. Acabei de desligar o telefone com Braden.
Minha cabeça voou para a casa de Braden como se ele estivesse lá, desligando o telefone.
A varanda estava, claro, vazia. Eu dei um olhar sujo e caminhei até a porta da frente, entrando
na casa.
— Mesmo? Como Braden está? — Eu não quis dizer seu nome com uma pitada de
sarcasmo, acabou de saindo dessa maneira.
— Ele é legal. Ele me disse que você estava indo para algum tipo de acampamento de
basquete essa semana.
— Sim. Eu jogo.
— Eu não sabia que você jogava basquete.
Respirei fundo.
— Eu jogo. E futebol.
— Legal. Mas pena que você vai embora porque eu vou fazer uma festa essa semana. Eu
gostaria que você pudesse vir.
Legal? Era assim tão simples ser eu mesma? Só tinha que contar a ela? Me senti estúpida.
— Sim. Eu vou sair. Mas nós sempre fazemos alguma coisa no final de verão aqui na
minha casa depois que eu voltar. Você deveria vir.
— Claro. Parece divertido.
Subi as escadas, meus pés me dizendo que eu ainda estava chateada com o anúncio por
quão alto eles soavam em cada passo.
— Então, ei, você por acaso viu o anúncio da loja de noivas hoje?
— Não. Por quê?
— Estou nele. — Percebi que eu disse essa frase muito alto e olhei em volta para
certificar-me de que ninguém tenha me ouvido. A barra estava limpa, então eu fui para o meu
quarto e fechei a minha porta.
— O que? Eu não sabia que você modelou.
Resisti revirar os olhos e disse:
— Eu não sei. São imagens para sua nova linha de maquiagem. Eu estava lá naquele dia
ajudando Antonia. Acho que a garota que deveria ter ido foi lá e assinou um formulário.
Aleguei que eu era ela porque eles estavam sendo todos estranhos sobre a permissão dos pais
naquele dia. Agora eu sei o por quê.
— Oh, droga. Isso é uma merda.
— Exatamente. O que devo fazer?
— Infelizmente, parece que você… bem, ela… tipo assinou os direitos criativos à sua
imagem. Eu acho que se você tem um advogado envolvido você pode ser capaz de desafiá-lo.
Mas você mentiu sobre isso, então eu não acho que você terá muito o que recorrer lá. Você
está com um grande problema?
— Você está brincando comigo? Meu pai não viu, e ele não vai se eu puder evitar.
— É apenas um anúncio local, Charlie. Poderia ser pior.
Afundei na minha cama, sentindo-me derrotada.
— Eu sei. — Este era o meu retorno para todas as mentiras que eu disse ultimamente.
— Tente não deixar isso chegar até você. É algo que as pessoas jogam em suas lixeiras
recicláveis depois de mal olhar.
— Você está certa. Estou feliz por sair por uma semana. Espero que isso tire minha mente
de tudo. — E havia tantas coisas que "tudo" significava.
Capítulo 28
Peguei minha mochila e pendurei no meu ombro, meu travesseiro, e me dirigi para as
escadas.
— Papai, precisamos sair em quinze minutos — eu chamei pelo corredor, então desci as
escadas de dois em dois e larguei minhas coisas na porta da frente. Na cozinha, eu peguei
uma tigela e me servi de cereal. A campainha tocou e, como eu era a única de pé e pronta
para o dia, fui atender.
"Pronta" era um termo relativo. Eu tinha acordado, tomei banho, joguei meu cabelo em um
rabo de cavalo e coloquei alguns moletons. Então, quando abri a porta e vi Evan parado ali,
eu tentei resistir ao impulso de empurrar meu travesseiro na frente do meu rosto. Ele nunca
tinha me visto sem maquiagem. Franzi meus lábios juntos. Não. Isso era bom. Era assim que
eu normalmente ficava, e isso provaria que ele não se importava.
— Oi — ele disse com um sorriso. — Eu não queria que você saísse por uma semana sem
dizer tchau pessoalmente.
— Oh. Ótimo. Entre. — Dei um passo para o lado. — Eu estava prestes a tomar um café
da manhã. Você quer alguma coisa?
— Não. Já comi. Mas não me deixe te impedir.
Quando derramei o leite no meu cereal, senti Evan olhando. Olhei para cima questionando
com um levantar de sobrancelhas.
— Você parece diferente de manhã — disse ele.
Eu não sabia se era diferente ou ruim.
— Eu não estou usando maquiagem — disse. Porque eu geralmente não uso, a menos que
eu esteja saindo, eu deveria ter adicionado.
— Certo. — Ele limpou a garganta. — Então, isso é um acampamento de meninas ou é
misturado?
— É misturado. Mas cada um de nós tem nossos próprios dormitórios, é claro. — Dei uma
colherada no meu cereal.
— Isso é legal. Eu estava apenas pensando… antes de sair… que talvez devêssemos
definir o que nós…
A porta dos fundos se abriu e Braden entrou, os olhos travando com os meus. Eu não sabia
se ele viu Evan sentado no banco da ilha. Braden parecia uma merda. Seu cabelo estava uma
bagunça, seus olhos pareciam mais verdes do que marrom hoje, vermelhos em volta, como se
ele não tivesse dormido por dias. Sua camisa estava enrugada e ele usava um short atlético e
chinelos. Vendo ele assim fez meu coração doer. Queria dizer a ele que sentia muito por o
chamar de idiota. Havia tanta coisa que eu queria dizer, mas não podia, não com um público.
— Sinto muito pela outra noite. Eu não quero deixar as coisas assim — disse ele, sem
pestanejar. — Trégua?
Olhei para Evan, depois de volta para Braden. Braden finalmente notou Evan e sua
expressão ficou escura.
— Ei, cara — disse Evan.
Braden apenas assentiu, então voltou sua atenção para mim.
— Divirta-se no acampamento. — Ele recuou para porta antes que eu pudesse detê-lo.
Pensei em ir atrás dele para conversar sobre as coisas. Eu odiava como as coisas estavam
entre nós também, mas quando dei um passo em direção à porta, meu pai entrou na cozinha.
— Quase pronta, Charlie?
— Sim.
— Oh, olá, Evan.
Evan se levantou.
— Oi.
Peguei algumas colheradas do meu cereal e coloquei a tigela na pia.
— Estou pronta. Eu vou sair logo.
Ele saiu da cozinha e eu dei a Evan um encolher de ombros de desculpas. Eu não estava
me desculpando, no entanto. Não queria que ele terminasse a conversa que ele estava
tentando começar antes de Braden entrar. Não queria definir o nosso relacionamento antes de
eu voltar. Precisava do tempo livre para pensar sobre o nosso relacionamento.
— Quando você chegar em casa, eu quero te levar para sair — disse Evan, vindo ao redor
do balcão e me dando um abraço.
— Parece bom. — Comecei a me afastar, mas depois percebi que ele queria um beijo
também, então eu dei um passo para frente novamente e logo pisei em seu pé. — Oh,
desculpe. — Eu olhei para baixo, mas aparentemente ele ainda estava esperando pelo beijo,
porque nós batemos as cabeças. — Eu não estou indo bem esta manhã.
Ele deslizou a mão na parte de trás do meu pescoço.
— Oh — eu disse. — Terceira vez é um encanto? — Me inclinei para frente e nossos
lábios finalmente se encontraram. Sabendo que meu pai estava esperando no carro — e com o
olhar que eu tinha visto no rosto de Braden, momentos atrás passando pela minha mente —
me afastei mais rápido do que eu poderia ter de outra forma. — Obrigada.
Ele sorriu.
— Divirta-se. — Ele apertou minha mão, em seguida, a segurou enquanto nós
caminhamos em direção à porta da frente. Meu pai deve ter levado minhas coisas, porque não
estavam lá mais.
— Charlie! — Um grito alto ecoou lá de cima, então o que soou como uma manada
correndo desceu. Gage me envolveu em um abraço.
— Seja uma boa menina. Não trabalhe tanto até vomitar como fez no ano passado.
— Suas palavras de sabedoria são inestimáveis.
— Você vomitou no ano passado? — Evan disse.
Gage recuou.
— Oh, ei, Evan.
— Oi…
— Gage.
Evan apontou.
— Certo. Ainda aprendendo.
— Deveríamos sair enquanto Charlie está fora.
— Sim… certo.
Mordi o lábio, sem saber como me sentia sobre isso. Eu queria que meus irmãos
chegassem a conhecer Evan. Eu gostei de Evan. Mas eu estava me sentindo inquieta, como se
ainda precisasse descobrir meus sentimentos. Apertei a mão de Gage, subi na ponta dos pés e
sussurrei:
— Leve Braden para sair hoje, ok? — Ele acenou com a cabeça contra a minha bochecha.
Recuei em direção ao carro. — Bem, eu vejo vocês depois.
Subi no carro e afundei contra o assento com um suspiro alto.
— Problemas de menina? — meu pai perguntou.
Esfreguei minhas mãos nas minhas coxas. Eu realmente poderia falar com meu pai sobre
isso? Provavelmente o deixaria desconfortável. Eu voltaria do acampamento e ele teria novos
conselhos de sua colega de trabalho, Carol, que estava começando a parecer um pouco
intrometida para mim.
— Eu não sei. Isso tudo é tão novo para mim que eu nem sei o que "problema de menina"
significa.
Ele riu.
— Não pense muito. E você não precisa pular em um relacionamento com o primeiro
garoto que acha você legal, Charlie. Se você não gosta dele, não há nada de errado com isso.
— O que faz você pensar que eu não gosto dele?
— O olhar de terror em seu rosto quando eu entrei na cozinha um minuto atrás.
Comecei a acenar, mas depois lembrei que o olhar não era para Evan. Meu pai entrou na
cozinha logo depois que Braden saiu.
— Eu não sei como me sinto. — E essa era a verdade. Eu esperava que o acampamento
me ajudasse a resolver as coisas.
Capítulo 29
O acampamento ocorreu em uma pequena faculdade privada na costa, três horas ao sul de
onde morávamos. Durante os dois primeiros dias no acampamento, eu afastei todos e tudo,
até os meus amigos que eu não via desde o verão passado. Eu entrei na zona, focando apenas
no jogos. Foi bom deixar meu corpo assumir e minha mente pensar apenas em basquetebol.
— Continue jogando assim, Charlie, e você vai ter a sua escolha de faculdades — disse
um dos treinadores enquanto eu jogava a minha bola no cesto para deixar a academia à noite.
— Obrigada, treinador.
Deixei a academia e respirei o ar da costa. Eu não costumava correr na praia. Não sabia
por que. Nossa casa ficava a apenas dezesseis quilômetros do interior. Eu não queria amarrar
o carro a minha corrida diária. Mas o oceano me ajudou a afundar mais longe na minha rotina
sem cérebro. Seu ritmo repetitivo e firmeza ajudaram o meu fechamento completo do mundo
ao meu redor. Então eu fui para a praia para um pré-jantar executado. Foi libertador não ter
restrições sobre a hora do dia em que podia correr. Algumas outras crianças do acampamento
tiveram a mesma ideia, e eu caí em sintonia com um grupo de caras que eu conheci do verão
passado.
Todos nos cumprimentamos, mas não atrapalhamos nossa corrida com conversa. Isso era o
que eu gostava do acampamento — um monte de pessoas concentradas se unindo. Esta era
eu.
Já esta semana tinha me redirecionado, me lembrou do que eu amava. Os jogos. A
competição. Então isso significa que não havia lugar na minha vida para outras coisas?
Não. Eu só tinha que me trazer para o jogo e ter certeza de que todos ainda queriam fazer
parte da minha vida. Braden estava certo, tão difícil quanto admitiria: Evan não sabia de tudo
que eu era. Mas ele estava errado sobre a outra parte - que Evan não gostaria de mim se ele
soubesse. Eu pensava que ele gostaria. Sorri e peguei meu ritmo.
Com o meu cabelo ainda molhado do meu banho, eu fui para o meu dormitório, pronta
para dormir bem esta noite. Abri a porta. Susie olhou para cima de onde ela estava deitada na
cama, olhando para o celular. Ela tinha sido minha colega de quarto nos últimos dois anos.
— Ei, Charlie.
Nossos horários haviam sido cancelados este ano porque estávamos em equipes diferentes,
então essa foi a primeira chance que eu realmente tive de falar com ela. Larguei minhas
sandálias e joguei minha mochila no canto.
— Oi.
— Você está matando lá fora esse ano. Eu preciso de qualquer treino que você tenha
usado.
Sorri.
— Chama-se programa tentando-deixar-os-meninos-fora.
Ela se sentou na cama e jogou o celular na mesa de cabeceira.
— Eu estou ouvindo.
Gemi.
— Não há nada para contar. Um menino está me deixando louca e outro garoto pode não
ser O Garoto. — Eu afundei na minha cama com outro gemido.
— Me fale sobre ele.
— Qual?
Ela encolheu os ombros.
— Ambos.
— Evan. Ele é fofo e legal e divertido.
— Mas…
Eu ri.
— Mas talvez eu não tenha sido completamente eu em torno dele.
— Por quê?
— Eu não sei. Pensei que ele não iria gostar de mim.
— Bem, isso não é bom.
— Eu sei.
— E o outro garoto? Ele é um candidato na corrida pelo seu coração também?
— Eu não acho que haja realmente uma corrida. Mas não, ele não é. Ele é meu vizinho e
aparentemente acha que ele é meu chefe. Ele está com raiva de mim por namorar Evan. Ele
não gosta dele.
— Braden?
Virei minha cabeça em direção a ela.
— Este é nosso terceiro verão juntas, Charlie. Eu sei das coisas.
— Certo. E sim, Braden.
— O que ele não gosta dele?
— Ele acha que ele é… — Eu tentei pensar na palavra que Braden usou para descrever
Evan. — Ridículo.
— Por quê?
— Eu não sei. Porque ele usa mocassins ou algo assim. Nenhuma boa razão.
Ela sorriu conscientemente.
— Então Braden está com ciúmes. Você não me disse que Braden gostava de você.
— Não. Ele não gosta.
— O que faz você pensar que ele não gosta de você?
Eu rolei para o meu lado, abraçando meu travesseiro no meu peito.
— Ele me disse.
— Ouch.
— Não. Não é desse jeito. Eu não gosto do Braden. Bem, ok, eu tive um crush por ele por
um tempo, mas somos amigos. Nós não podemos gostar um do outro assim. É mais
embaraçoso do que doloroso — disse, lembrando da humilhação da noite da cerca.
— Ele gosta de outra garota?
— Não. Bem, na verdade sim. Uma que eu apresentei a ele.
— O que ela tem que você não tem?
Eu dei uma risada.
— Feminilidade
Ela jogou uma meia enrolada em mim.
— Quem quer isso?
— Aparentemente os caras.
Susie riu.
— Então, ouça. — Ela rolou de costas. — Se ele não quiser você sendo você, então ele
não vale a pena.
Braden não tinha dito exatamente as mesmas palavras para mim quando se referia a Evan?
Eu ri.
— Susie. Você não está me ouvindo. Eu não quero o Braden… não mais. Nossa amizade é
mais importante para mim. — Mas nós ainda tínhamos isso? Meu coração afundou com o
pensamento de que talvez eu tivesse arruinado isso. Ou ele arruinou.
— Então você vai tentar com Evan?
— Eu não sei. Ele é legal. Ele apenas conhece o outro eu, não o meu eu verdadeiro.
Ela levantou uma sobrancelha.
— Outra você?
— Sim, eu tenho um pouco de personalidade dupla, aparentemente. Longa história.
— Nós temos a noite toda.
Eu a preenchi sobre o meu trabalho e o que eu tinha feito para conseguir. Sobre como
conheci Evan, e a reação de Braden para ele.
— Espere, então se Braden odeia suas entranhas e Evan é realmente um cara legal, você
não acha que Braden está com ciúmes?
— Não, Braden acha que eu estou sendo falsa em torno de Evan.
— E você está?
— Às vezes.
— Mas por que Braden se importaria tanto, a menos que ele se importasse? Você sabe o
que acho que significa?
— Ele se importa. Só não é assim. — Eu reorganizei meu travesseiro e ajustei minha
posição. — Estou feliz por estar aqui. Eu precisava de uma folga dos dois.
— As folgas são boas. Talvez o tempo longe ajude a esclarecer as coisas.
Isso é exatamente o que eu esperava.
— Você apaga a luz? — perguntei.
— Você está mais perto.
— Não estou.
Ela pegou uma bola de basquete recheada ao lado dela e jogou-a do outro lado da sala no
painel de luz, mergulhando-nos na escuridão.
— Belo tiro — eu disse.
— Obrigada.
Susie roncou. Eu sabia disso porque não conseguia dormir. Ela precisava de um daqueles
máquinas de ressonar. Eu teria que contar a Braden.
Eram apenas onze, mas eu deveria estar exausta. Meu cérebro não se calava. Eu disse a
Susie que eu esperava que essa semana me ajudasse a esclarecer as coisas, mas eu percebi
que não estava tentando esclarecer nada. Eu estava tentando fechar tudo.
Era por isso que eu estava trabalhando tanto. O esforço físico me fazia esquecer; a
adrenalina, a alta da competição me ajudou a bloquear todo o resto.
O que eu realmente precisava agora era sentar perto da cerca e falar sobre o meu
problemas com Braden. Eu queria ouvir o timbre de sua voz enquanto ele respondia para
mim. Ele tinha uma voz muito suave. E ele sempre soube o que dizer… exceto que ele
parecia estar dizendo todas as coisas erradas ultimamente e me deixando louca.
Ninguém podia me deixar tão louca quanto ele podia. Era provavelmente porque ele me
conhecia tão bem que ele sabia o que mais me incomodava.
Eu poderia imaginar seu rosto perfeitamente - olhos cor de avelã, cabelos ruivos, muitas
sardas polvilhadas. O jeito que suas bochechas ficavam vermelhas quando ele também
trabalhava muito. Como naquela noite ele correu atrás de mim por nove quilômetros quando
estávamos brigando, apenas assim então eu não correria sozinha. Suas bochechas estavam tão
vermelhas naquela noite.
Eu me mudei para o meu lado e reajustei meus cobertores. Fechei meus olhos, mas tudo
que eu podia ver era seu rosto com seu sorriso torto. Esse era o meu favorito. Era quando ele
era divertido, mas não queria admitir isso. Ele me deu muito aquele olhar. Como a vez que
ele me bateu no basquete no mano a mano. Gostei que ele não me deixou ganhar, mas eu
estava tão louca que ele ganhou. Ele achou isso muito divertido.
Eu não estava me divertindo agora. Agora eu ainda estava ferida que Braden não achava
que Evan poderia gostar de mim por mim mesma. Por que eu me importava com o que
Braden achava de qualquer maneira?
Não importava. Meus irmãos pareciam pensar que Evan era legal. Isso era o suficiente.
Mas não era.
Por que não era?
Rosnei e me movi de costas, encarando as sombras no teto, esperando que eles pudessem
me dizer a resposta para essa pergunta. A única coisa que vi no teto era o rosto de Braden.
Meu coração deu um solavanco e me sentei. Porcaria.
Eu sabia por que me importava. Porque isso importava muito. Porque sua opinião era a
única coisa que importava.
Eu tinha mais do que apenas uma queda por ele. Eu amava Braden.
Capítulo 30
Olhei para o meu celular. Eu sabia que deveria ligar para Braden. O jeito que ele parecia
quando saí me assombrou. Ele parecia atormentado. Eu gostaria de não me importar tanto.
Não. Eu gostaria que ele se importasse mais. Não. Isso também estava errado. Era óbvio que
ele se importava. Eu desejava que ele se importasse de uma forma diferente.
Empurrei meus punhos para os meus olhos e quis que a dor fosse embora. Como eu não
sabia que amava Braden? Quer dizer, eu sabia que estava reagindo a ele de uma forma
diferente. Mas eu não tinha percebido o quão profundos os meus sentimentos eram. Há
quanto tempo eu o amava? É por isso que doeu tanto na cerca quando ele me disse que não
gostava de mim. Porque eu queria seriamente que ele gostasse. Eu tinha acabado de pensar
que estava humilhada, mas estava desapontada. Se minha mãe ainda estivesse viva, eu ligaria
para ela para contar algo como isto? Teríamos sido próximas? Ouvi pessoas dizerem o tempo
todo que odiavam suas mães. Me perguntei se eu teria garantido se eu a tivesse por todo esse
tempo. Certamente não poderia ligar para o meu pai. Ele não teria ideia do que dizer. Ele
provavelmente me diria para não estragar minha amizade com Braden falando sobre isso. Ele
talvez estivesse certo. Esta era uma situação impossível. Eu precisava de Braden na minha
vida. Eu não podia perdê-lo dizendo que eu o amava.
Meu telefone tocou e meu coração pulou. Olhei para a mensagem. Era de Gage. Tentei não
ficar muito desapontada enquanto lia.
"Se você encontrar um cara chamado Fredrick, diga que ele ainda me deve dois dólares.
Sinto sua falta."
Eu mandei uma mensagem de volta:
"Você quer que eu diga a Fredrick que ele lhe deve dois dólares e que você sente a falta
dele?"
"Ha ha"
Eu sorri.
"Sinto sua falta também."
Eu olhei para o meu telefone, esperei ele dizer mais alguma coisa. Ele não fez. Eu estava
ficando enlouquecida pelos dois minutos de silêncio. Finalmente, eu digitei:
"Você já saiu com Braden?"
"Sim."
"E?"
"E o que?"
Meu irmão era tão denso às vezes. Eu só queria saber se Braden estava bem. Mas agora
que admiti para mim mesma que estava apaixonada por ele, parecia que todos veriam isso.
Talvez todos tivessem visto. Todos menos eu sabiam que eu estava apaixonada por Braden?
Suspirei.
"E nada. Eu só queria saber se vocês estavam morrendo sem mim."
"Claro que estamos."
Provavelmente não morrendo como eu estava. Cara, eu precisava correr duas vezes mais
longe amanhã.
"Noite, Gage."
"Noite, Charles Barkley."
Eu não usei maquiagem por oito dias. Foi legal. Não tive que esfregar meu olhos todas as
noites com a lavagem do rosto. Também me senti bem em ser competitiva novamente. Antes
de vir para o acampamento, eu não tinha jogado um jogo com meus irmãos em mais de uma
semana. Eu sentia falta disso.
Susie levantou uma meia.
— Isto é seu?
— Oh. Sim.
Ela jogou para mim e eu enfiei na minha mochila, preparando tudo para deixar pronto para
amanhã.
— Você vai ter que ir no Facebook para me dizer tudo sobre como o seu problema com
meninos terminou.
Eu ri.
— Sim, estou curiosa para ver. — Eu gostava de Susie. Se ela morasse mais perto de mim,
seríamos melhores amigas. Eu sabia que estava sentindo falta desse tipo de amizade na minha
vida. Talvez eu pudesse ter com Amber um dia... Eu só tinha que ser mais honesta com ela.
Precisava ser honesta com Linda também. Ela trouxe algo para a minha vida que eu nunca
tive antes. Ela podia ler minhas emoções como os homens em volta de mim nunca poderiam.
Eu precisava de alguém para me entender. Para me ajudar a me entender. Mas primeiro tinha
que ser clara. A grande mentira que eu disse a ela tornou difícil que eu me aproximasse.
Mas a única verdade que estava acima dos outros que eu tirei do acampamento era que eu
estava apaixonada por Braden Lewis. Eu o amava tanto que doía. Isso machucava porque eu
sabia que ele não poderia me amar de volta do jeito que eu precisava que ele fizesse. E eu
teria que aprender a viver com isso, porque eu não poderia perdê-lo. Eu teria que ser feliz
com qualquer parte de Braden que pudesse ter.
Houve uma batida na janela e Susie olhou para mim. Eu encolhi os ombros e a abri.
— Charlie. É a última noite. Você disse que era noite de travessuras — veio um sussurro
da praia abaixo.
Susie gemeu.
— Estamos muito cansadas.
— Não sejam bebês — alguém chamou.
Minha natureza competitiva se intensificou.
— Vamos sair em um minuto. — Fechei a janela.
— De verdade? — Susie me perguntou, rolando para o lado dela.
Sorri um sorriso perverso.
— É tradição.
— Bem. O que estamos fazendo este ano?
— Enchendo o dormitório de Fredrick com bolas de basquete. Ele deve ao meu irmão dois
dólares. Eu acho que isso será melhor do que coletar o dinheiro.
Ela riu.
— Bem, por que você não disse isso para começar?
— Eu acabei de pensar nisso.
— Como podemos obter as chaves para o ginásio?
— Nós vamos descobrir.
Capítulo 31
Deixei escapar um suspiro feliz quando Jerom entrou na nossa garagem. O acampamento
foi divertido, mas era tão bom estar em casa. Eu queria checar Braden, ter certeza de que ele
estava bem.
Eu deveria ter ligado para ele enquanto estava fora. Isso é o que um bom amigo teria feito.
Me senti mal por estar muito ocupada lambendo minhas feridas para ser uma boa amiga.
Jerom estacionou o carro na garagem e entramos pela cozinha.
Nathan estava sentado no balcão com uma garota que eu nunca havia conhecido antes.
— Você está em casa, Charlie.
— Estou em casa.
Jerom passou por mim com minha bolsa.
— Vou colocar isso no seu quarto.
— Obrigada. Você é o melhor.
— Eu sei.
Revirei os olhos, mas ele não viu minha expressão porque ele já estava fora da cozinha.
Voltei para olhar a estranha sentada ao lado de Nathan.
— Eu não sei quem é você.
Ela sorriu. Ela era fofa. Uma pequena garota asiática com longos cabelos negros e um
grande sorriso.
Nathan se levantou e me deu um abraço.
— Esta é Lauren. E Lauren, esta é minha irmã, Charlie.
— Lauren? Como a dona do disco de golfe, Lauren?
Nathan concordou.
— Sim. Esta é a que devolvemos o Frisbee.
— Uau. Você não me parece grande ou corpulenta — eu disse a ela como Braden disse,
alto e forte. E pelo jeito que meu irmão sorriu para ela, eu poderia dizer que ele estava na
dela. Meu coração afundou um pouco. Não porque eu não queria que Nathan gostasse dela,
mas porque eu não achava que Branden seria capaz de me olhar daquela maneira.
— Desculpe?
— Piada interna. Desculpa. Bom te conhecer, mas acabei de chegar do acampamento e…
— Você precisa de um banho — Nathan interrompeu.
Dei um soco no braço dele.
— Muito obrigada. Eu ia dizer cochilo. Nós ficamos acordados a noite toda. Mas tomarei
banho primeiro, eu acho.
Eu deixei ele e a Garota do Frisbee na cozinha e entrei pela porta na sala de estar. Eu
queria me virar e sair de novo. Amber estava sentada no sofá, entre Braden e Gage enquanto
assistiam televisão.
Braden parecia bem. Feliz mesmo. Seus olhos estavam claros. Seu cabelo estava
perfeitamente bagunçado.
Meu coração deu uma vibração animada ao vê-lo e eu tive que forçá-lo a se acalmar,
lembrá-lo de quem estava sentado mais perto do que o necessário ao lado dele. Gage deu um
pulo no segundo em que me viu e me envolveu em um abraço.
— Eu senti sua falta, Charles Barkley.
Fechei os olhos, tentando ignorar o ardor lá.
— Senti sua falta também.
— Você fede.
Eu bati nas costas dele.
— Obrigado. Eu cobrei seus dois dólares de Fredrick… tipo isso.
— Conte.
— Ele estava dormindo à noite e enchemos o chão do seu dormitório com bolas de
basquete. Foi incrível. — Eu tentei fazer minha voz soar leve e feliz enquanto contava a
história. Como se eu tivesse toda a diversão do mundo enquanto estive fora.
Pareceu funcionar, porque Gage riu.
— Você é o cara... bem A Cara.
— Obrigada — eu murmurei. Acenei para Amber e Braden. — Oi. Me disseram que eu
precisava de um banho... duas vezes agora… Mas vocês estão ficando por um tempo?
Ambos disseram:
— Sim — então se entreolharam e riram. Meu estômago fechou. Eu saí por uma semana,
mas, de repente, entre a nova garota de Nathan e agora Braden, parecia que eu tinha ficado
fora por meses.
Perdi minha chance. Eu não deveria ter saído. Braden precisava de mim e eu tinha ido
embora. Talvez Amber o tenha ajudado a sair do seu terror.
— Ok. Eu volto já.
No chuveiro, a água escorria pelo meu rosto. Meu estômago doía, meus olhos
machucavam e minha cabeça latejava. Um nó estranho se formou na minha garganta e eu me
perguntei se eu estava ficando doente. Então um soluço escapou. Um soluço que fez meu
coração torcer e meu interior querer sair. Inclinei minha testa contra o azulejo quando outro
veio, seguido de lágrimas. Doeu chorar. Eu não gostei disso. Mas eu não pude parar. Qual era
o meu problema? Não era como se eu tivesse perdido alguma coisa. Sabia que Braden não
gostava de mim do jeito que eu finalmente admiti gostar dele. Mas eu não esperava ter isso
jogado na minha cara tão cedo ao retornar.
Desliguei o chuveiro, me enxuguei com a toalha e me vesti. Eu rastejei pelo corredor para
o quarto do meu pai e bati. Jerom tinha me dito que meu pai estava trabalhando no turno da
noite, então eu imaginei que ele estaria dormindo. Não queria acordá-lo, mas eu precisava de
alguém para conversar. Ele não respondeu, então eu me deixei entrar. Sua cama estava feita e
vazia.
Afundei e puxei seu travesseiro contra o peito. Minha mão esbarrou em algo duro. Um
livro. Eu olhei para o t ítulo por um longo tempo: como criar uma garota adolescente. Ele
precisava de um livro sobre como me criar? Ele deve ter pensado que eu estava dando errado.
As páginas do livro eram cheias de orelhas e usadas, bem usadas.
E elas obviamente não ajudaram. Eu ainda não tinha dado certo. A garota estúpida na capa
parecia mais normal do que eu. Meus olhos colidiram com o nome do autor no final da capa:
Carol Franks. Essa era Carol? Esta foi quem lhe deu conselhos sobre mim nos últimos anos?
Eu precisava da minha mãe. Mais lágrimas tentaram me dominar. Era doloroso chorar,
mas pareceu afrouxar algo no meu peito. Empurrei o livro de volta debaixo do travesseiro e
verifiquei meu rosto no espelho para ter certeza de que nenhuma evidência da minha fraqueza
aparecesse. Olhei para o meu reflexo. Esta era eu. Sem esperança. Fiz o meu caminho de
volta para baixo. Todo mundo ainda estava na mesma posição de antes no sofá. Eu olhei para
a televisão.
— O que vocês estão assistindo? — Definitivamente não eram esportes. Parecia com
algum tipo de comédia romântica. Eu entrei na zona do crepúsculo?
Amber sorriu.
— Algo que você vai amar. Esses meninos precisam deixar as meninas escolher de vez em
quando, certo? E foi a minha escolha hoje. — Sua declaração implicava que eles estavam
saindo há vários dias. — Além disso, eles perderam uma aposta.
— Que aposta foi essa?
Amber riu e não conseguiu parar. Gage se juntou a ela. Eu estava começando a me
perguntar se a aposta era quem poderia ser o mais chato, porque eu podia ver como Amber
facilmente venceria isso.
— Amber teve uma festa esta semana — disse Braden. — E ela tem esse enorme quintal,
então estávamos jogando bolas de golfe tentando acertar um... uh...alvo…
Todos eles riram novamente.
— E ela acertou — Braden foi finalmente capaz de terminar.
Eles provavelmente queriam que eu perguntasse qual era o alvo, mas isso os faria rir mais.
E eu me sentiria ainda menos parte dessa piada interna.
Conhecendo meus irmãos, o alvo provavelmente era a bunda de alguém ou o carro de
alguém.
Então, em vez disso, eu disse:
— Sério? Ela bateu Gage?
— Eu fiz! — Amber gritou, levantando ambos os braços no ar.
— E ninguém recebeu uma concussão como resultado ou qualquer coisa, certo?
Gage soltou uma gargalhada.
— Havia capacetes.
Braden se aproximou de Amber e deu um tapinha na almofada do sofá ao lado dele.
Respirei fundo. Sim. Eu precisava ir sentar com ele. Para mostrar a ele que poderíamos ser
amigos como sempre fomos. Uma boa amiga que não notaria que ele foi para mais perto de
Amber para dar o lugar a mim, em vez de mais longe dela. Não só uma boa amiga não notaria
isso, mas ela ficaria feliz por ele ter encontrado uma garota tão legal e divertida como Amber.
Eu cravei minhas unhas na minha palma e me aproximei. Ele olhou para cima e notei que seu
olho esquerdo estava escuro. Suspirei.
— O que aconteceu?
Ele sorriu.
— Eu acho que o capacete não ajudou? — perguntei, percebendo que ele provavelmente
tomou um rumo como um dos alvos da bola de golfe. Às vezes eles eram os maiores idiotas.
Eu sentei ao lado dele. Seu cheiro familiar tomou conta de mim e ameaçou trazer lágrimas
de volta aos meus olhos. Sentei o mais longe possível dele no do sofá, praticamente
abraçando o braço do móvel. Meu esforço apenas forneceu uma polegada de espaço entre
nossos corpos. Não era suficiente.
Ele passou o braço contra o meu.
— Estamos bem? — perguntou.
Mordi o lábio e assenti.
— Bom, porque eu estava errado sobre Evan. Eu estava sendo um idiota por julgá-lo.
Não, eu queria gritar. Você não estava. E agora, se você gosta dele, isso significa que você
não estava realmente sendo ciumento.
— Ele é realmente muito legal — disse ele quando eu não respondi.
— Muito legal — Amber intrometeu-se. — Ele esteve saindo com a gente esta semana.
Você sabia que Evan tem um barco? Você deveria ver essas fotos que ele tem de si mesmo
praticando wakeboard. Ele até esteve em um torneio.
Será que Braden e eu realmente estamos na frente de Amber? Eu me senti enganada. Eu
queria uma maquiagem de vedação, onde tínhamos a lua e as estrelas e mais ninguém, só nós
dois. Onde temos que nos contar o quão estúpidos nós fomos e quão grandes amigos nós
éramos.
— Legal — foi tudo que consegui.
— Você está bem? — ele perguntou.
Balancei a cabeça novamente.
— Senti sua falta.
Me concentrei muito na televisão, determinada a não chorar. Eu desejei que o filme
meloso que se desenrolasse na minha frente fosse um jogo de beisebol.
— Não estamos perdendo os A's por isso, estamos?
Braden rosnou.
— Estamos gravando o jogo — disse Amber. — Uma aposta é uma aposta.
Desde quando Braden deixou uma aposta superar um jogo? Eu não deixaria isso me
incomodar. Agarrei o braço mais forte. Uma de suas mãos foi para o meu joelho e ele
começou a escrever palavras com o dedo. Tentei me concentrar, mas cada palavra enviou
arrepios na minha perna. Eu não tinha ideia do que ele estava escrevendo. Dei de ombros e
ele começou de novo. Desta vez eu me concentrei mais. NÃO FIQUE LOUCA. EU QUERO
ASSISTIR O JOGO TAMBÉM.
Peguei a mão dele e levantei a palma do meu joelho, depois escrevi VÁ A MERDA.
Ele riu.
A garota do filme estava dando algum tipo de discurso para sua melhor amiga sobre por
que ela precisava lutar pelo cara. Eu não tinha ideia do que ela estava dizendo, porque a mão
de Braden permaneceu no meu joelho, com a palma para cima, muito tempo depois que
terminei minha mensagem para ele. Foi a única parte dele que me tocou, e meu joelho inteiro
queimou. Isso me distraiu de qualquer pensamento coerente. Por que ele deixou lá? Ele não
deveria movê-la? Ele estava apenas concentrado no filme e não sabia onde estava a mão dele?
Nós nos sentamos ao lado um do outro no sofá por anos. Ele provavelmente estava tão
confortável comigo que nem sequer pensou duas vezes sobre a mão no meu joelho. E, no
entanto, aqui estava eu ficando obcecada por isso — pensando muito mais do que era
necessário. Era uma mão. Era um joelho. Eles estavam se tocando.
Grande negócio.
— Você já ligou para o Evan? — Amber perguntou. — Nós deveríamos convidá-lo.
Vamos fazer algo divertido esta noite.
— Eu tenho que trabalhar amanhã e estou super cansada — disse. — Tem sido uma longa
semana. — Eu sabia que precisava falar com Evan sozinho antes de termos um encontro em
grupo de qualquer tipo. Eu tinha que dizer a ele que eu não estava sentindo isso. Meu coração
não estava nele. Quando meu coração pudesse deixar Braden, talvez eu estivesse mais aberta
para algo com outra pessoa. Mas eu não estava em nenhum lugar para namorar ninguém
agora.
— Bem, ainda temos tempo antes do início das aulas. Talvez ele possa nos levar para
andar de barco na próxima semana.
— Terá que ser antes da grande festa de fim de verão. — Braden apertou meu joelho,
enviando um fio de eletricidade através do meu corpo, e então movi sua mão de volta ao seu
próprio colo. Eu devo ter engasgado com a sensação, porque ele olhou para mim com uma
sobrancelha franzida.
Não é nada, Braden, mas toda vez que você toca, meu corpo reage, isso é tudo.
Fiquei de pé.
— Bom ver todo mundo, mas vou tirar um cochilo agora. — E fugir de Braden.
Braden segurou meu braço e me puxou de volta para o lado dele.
— Não. Nós não te vimos em uma semana. Você tem que ficar aqui embaixo.
— Estou cansada.
— Vá dormir então.
— Eu estava tentando ir.
— Não. Bem aqui.
— Sim — disse Gage. — Não nos deixe.
— Oh meu Deus, vocês se transformaram em bebês quando eu saí. Bem. Eu ficarei.
Braden tateou por trás dele e pegou um dos travesseiros. Me posicionei no braço do sofá e
deitei. No passado, eu teria jogado minhas pernas sobre as dele, mas não consegui. Parecia
tão óbvio agora. Ele saberia se eu fizesse isso.
Ele, obviamente, não preocupado com aparências, arrastou as minhas pernas para o seu
colo.
— Veja, agradável e confortável.
Eu esperava que ele não pudesse notar a diferença na minha respiração causada por sua
ação. Eu não tinha certeza se conseguiria dormir agora.
Capítulo 32
A chuva batia contra as janelas e o vento uivava. Eu sabia que era um sonho, eu sabia
exatamente que sonho era, e ainda assim não consegui acordar. Minha mente estava
paralisada enquanto esperava que o elemento final entrasse em cena — minha mãe. Só que
desta vez, ela não apareceu no meu quarto como ela sempre fez. Em vez disso, fui
transportada para o carro dela. No banco de trás, ao longo da estrada, parecendo soprar para
frente e para trás com o vento.
Lá fora só havia escuridão. Eu não pude ver a paisagem, apenas a chuva vermelha batendo
nas janelas. Eu não queria estar no carro. Pela primeira vez, notei que o rosto da minha mãe
estava manchado de lágrimas. Ela estava chorando. Soluçando.
Eu não podia sentir o carro caindo, mas eu vi o mundo girar — os braços da minha mãe
voando no ar, os estilhaços de vidro em um padrão em torno de nós, suas bordas afiadas
brilhando — e então tudo estava parado. A chuva se foi, o vidro se foi, e tudo que eu pude
ver entre os bancos da frente era o braço pálido da minha mãe, mole e vermelho de sangue.
Eu gritei.
Meus olhos se abriram para o silêncio, minha mandíbula apertada. Levou três respirações
para lembrar onde eu estava. Braden ainda estava sentado lá, preso pelas minhas pernas. Mas
todo mundo tinha ido embora. Risos vieram da cozinha e percebi que Gage e Amber estavam
lá. Tomei várias respirações profundas para tentar equilibrar minha respiração. Foi só quando
Braden apertou minha mão que me dei conta de que ele a estava segurando. Rapidamente
soltei e me sentei, enxugando o suor do meu rosto.
— Fale comigo — disse Braden. — Você estava tendo um pesadelo?
— Sim.
— Sobre a sua mãe?
— Sim. — Eu abracei meus joelhos no meu peito e olhei para o espaço na almofada entre
nós. — Não há muito o que falar. Foi apenas um sonho. — E eu tinha certeza de que minha
mãe estava chorando dessa vez por causa do quanto eu tinha chorado hoje. Sonhos eram
estranhos assim.
Ele respirou fundo várias vezes.
— Quando você tinha dez anos, você abriu a sua janela, saiu por ela e subiu em seu
telhado. Você se lembra disso?
Eu pensei de novo, imaginando por que ele estava lembrando disso.
— Sim.
— Você estava com medo, Charlie? Porque eu lembro quando todos nós descobrimos
você depois de horas de procura no bairro, você estava apenas sentada lá, agindo como se não
fosse nada grande.
— Não me lembro de sentir muita coisa. Talvez eu estivesse com um pouco de medo.
— Você se lembra por que você subiu lá?
— Não. Por que, você sabe?
— Sim.
Finalmente encontrei seus olhos e o olhar de pena enviou um choque de medo através de
mim.
— Por quê? Por que você está olhando assim para mim? Por que você está me contando
isso?
Ele agarrou minha mão e segurou firme na sua. Isso me deixou ainda mais com medo.
— Você se lembra que seu pai e seus irmãos queriam ter uma conversa com você sobre
sua mãe?
— Minha mãe? — Eu pensei de volta, tentando juntar os fragmentos da minha memória de
dez anos. Me lembrei de subir as escadas para chegar ao meu quarto. Lembrei-me de subir
minha janela e subir ao telhado. Não me lembrava do motivo, apesar disso. Minha cabeça
doeu quando eu empurrei meus pensamentos. Meu pai me sentou no sofá e começou a falar
sobre a minha mãe. Eu lembro que minha cabeça ficou confusa e meus ouvidos pareciam
estar cheios de algodão. Eu precisava de ar. Foi por isso que eu tinha saído pela minha janela.
— O que ele estava tentando me dizer?
A voz de Braden tornou-se suave, seu polegar fazendo círculos na parte de trás da minha
mão.
— Seu pai queria dizer o que realmente aconteceu com sua mãe aquela noite.
— Quando ela sofreu um acidente de carro?
Ele me olhou com força.
— Você realmente não lembra o que ele disse? Se não, Charlie, não é meu lugar para
dizer. Eu apenas pensei que você se lembrava e você precisava de alguém para conversar
sobre isso. Pensei que fosse por isso que você estivesse tendo os pesadelos.
Um homem grisalho de óculos brilhou em minha mente. Eu estava sentada em uma
cadeira com meus pés pendurados. Eu devia ser mais nova. Ele me fez desenhar imagens. Eu
desenhei chuva e vidro. Chuva vermelha. Apertei meus olhos fechados. A imagem de uma
mão pálida e sem vida encheu a escuridão.
— Me conte.
— Shh. Está tudo bem. — Ele me puxou contra seu peito, e foi quando eu senti o umidade
nas minhas bochechas. Limpei rapidamente, envergonhada por sua presença.
— Você é tão forte, Charlie. Você vai lembrar. Eu estarei aqui quando você fizer.
Parte de mim queria implorar para ele me contar. A outra parte, a parte que ainda estava
envergonhada pelas lágrimas nos meus olhos, queria calá-lo e nunca pensar nisso novamente.
Queria entrar em um carro e fugir do meu passado.
A batida do coração dele contra a minha bochecha em um ritmo constante. Cada batida me
aproximou dele. Sua mão começou a fazer breves círculos preguiçosos nas minhas costas.
Esta seria a definição de tortura, eu tinha certeza disso — amar alguém que só queria ser seu
amigo.
— Eu quero saber — finalmente disse. Eu senti que poderia lidar com qualquer coisa com
ele ali.
— Então você precisa falar com seu pai.
— Ele está trabalhando no turno da noite. Eu não vou vê-lo até depois de trabalhar
amanhã. Você não pode me dizer?
— Eu não posso. Não é meu lugar.
Outra risada alta veio da cozinha, e eu senti o olhar de Braden mudar para a porta. Me
perguntei se ele gostaria de estar lá com Amber. Se ele estava nervoso com Gage passando
tempo com ela. O pensamento foi o suficiente para me fazer sentar em linha reta,
afastando-me de Braden.
— Eu estou bem — disse, enxugando os olhos para me certificar de que eles estavam
livres de quaisquer vestígios de lágrimas. — Eu acho que estou muito cansada. Foi uma
semana longa.
— Então você provavelmente não quer jogar futebol esta tarde? Seu irmão organizou um
jogo. — Ele estava tentando me fazer sentir melhor. Ele pensou que futebol me ajudaria. E
normalmente teria, mas agora eu queria ligar para o meu pai e descobrir o que todo mundo
parecia estar escondendo de mim. — Sinto muito. Você tem muito para processar agora.
Eu forcei um sorriso.
— Pare de me ler. É assustador.
— Mas você é como um livro. Eu te disse, eu sei mais sobre você do que você sabe sobre
mim.
Nossos olhos se encontraram. Sua referência às nossas conversas da cerca, jogadas lá fora
tão descaradamente durante o meio do dia, fizeram minhas bochechas ficarem quentes por
um momento. E o que ele estava tentando dizer com essa afirmação? Que ele sabia o que eu
descobri no acampamento? Que meus sentimentos por ele estavam claramente escritos em
todo o meu rosto?
A risada de Amber nos tirou do nosso olhar. Ela enfiou a cabeça na sala.
— Braden, Gage está fazendo isso de novo. Venha espancá-lo.
Mais piadas internas das quais eu não fazia parte. Eu me levantei abruptamente.
— Preciso dormir mais.
Braden agarrou meu pulso.
— Cerca hoje à noite?
Eu dei o menor aceno e subi as escadas.
Capítulo 33
Brinquei com a borda da colcha na minha cama. Eu tentei ligar para o meu pai várias
vezes, mas ele devia ter estado ocupado, porque a ligação foi direto para a caixa postal. Eu
não senti que isso era algo sobre que eu poderia deixar uma mensagem.
Braden não disse a hora para nos encontrarmos na cerca. Era meia-noite agora.
Todo mundo estava dormindo. Mas o quarto de Braden também estava escuro. Agarrei
meu celular perto e deitei, esperando pelo texto dele ou pelo meu pai me ligar de volta.
A próxima coisa que eu sabia, um raio de sol estava brilhando nos meus olhos. Sentei e
olhei para o relógio na minha mesa de cabeceira. Porra, eu ia me atrasar para o meu primeiro
dia de volta ao trabalho. Eu procurei na minha cama pelo celular e o encontrei enrolado nas
cobertas. A tela estava em branco, sem textos perdidos. Ele também deve ter dormido na
noite passada. Ou talvez ele tivesse saído com Amber.
No caminho pelo corredor, enfiei a cabeça no quarto do meu pai. Ele estava dormindo. Eu
resisti à vontade de acordá-lo, fazê-lo falar. Mas eu já estava atrasada. Teria que esperar um
pouco mais. Esperei anos, aparentemente; o que eram mais algumas horas?
Foi uma viagem tranquila de volta à loja, de onde saímos do outro carro. Meu pai
continuava abrindo a boca para dizer alguma coisa e depois fechá-la novamente.
Eventualmente, ele cuspiu para fora:
— Você tem perguntas. Quais são elas?
Eu não tinha pensado sobre as questões ainda, mas eu sabia que precisava.
— Ela viu alguém? Tentou conseguir ajuda?
— Ela via alguém regularmente. Mas ela estava constantemente indo e saindo de sua
medicação. Ela pensava que ela estava melhor. Eu também vi alguém, logo depois que ela
morreu. Fiz todos vocês verem alguém.
Sim, eu tinha lembranças do homem grisalho me fazendo desenhar.
— Por que você não me disse mais cedo?
— Eu tentei, Charlie. Você não estava pronta. Você se fechou. Você subiu no telhado e me
assustou até a morte. Eu decidi esperar depois disso. Você estava indo muito bem, eu não
queria que isso definisse você.
— Eu me sinto estúpida. Sou tão fraca.
— Charlie. Não. — Sua mão foi para o meu ombro. — Não, você não é. Que filho quer
pensar isso sobre a mãe deles? Ela era seu mundo.
Não. Ela não era. Ela mal fazia parte da minha vida.
— Jerom, Nathan… Gage?
— Eles sabem.
Tossi para tentar me livrar do nó na garganta e coloquei minha bochecha contra a janela do
lado do passageiro.
— Eu me sinto idiota. — Não é de se admirar que meu pai e meus irmãos pensassem que
eu era tão frágil. Por que eles me protegeram tanto? — Me desculpe por não ser outro garoto.
— O que? — Nós chegamos à loja e ele estacionou o carro.
— Eu não saí certo. Estou quebrada.
— Oh, Charlie. Não.
— Eu encontrei aquele livro no seu quarto. Carol, sua "colega de trabalho".
Suas bochechas ficaram vermelhas.
— Querida, isso é só para me ajudar a falar com você sobre coisas de meninas. E eu
obviamente não sou muito bom nisso. Eu só queria fazer isso direito. Para ser o que você
precisava. Eu sei que não sou. Eu não sou sua mãe. Ela teria feito melhor.
Agarrei sua mão na minha com tanta força. Eu não choraria novamente.
— Você fez certo. — Eu engasguei. — Você fez certo.
Ele pegou meu rosto em suas mãos e beijou minha testa.
— Eu devo ter feito algo certo porque olhe para a pessoa incrível que você acabou se
tornando. Confiante, inteligente, atlética e bonita. Eu amo você, garota.
— Amo você também.
Ele acariciou minhas bochechas.
— Eu preciso voltar ao trabalho. Eu vou ligar para um de seus irmãos vir te buscar.
— Não. Papai. Por favor. Eu preciso dirigir. Preciso me sentar com essa coisa toda da
mamãe sozinha.
Ele baixou as sobrancelhas.
— Por favor. Eu vou tomar cuidado. Eu não vou demorar muito.
Ele assentiu.
— Vou enviar um APB9 em uma hora, se você não estiver em casa.
Revirei os olhos, mas depois percebi que ele estava falando sério.
— Ou você poderia simplesmente me ligar. — Levantei meu celular. Eu sabia que ele
tinha um desses rastreadores no meu telefone, então não era como se minha localização fosse
um segredo.
Ele assentiu. Ele enviaria alguém para mim em uma hora. Então eu teria que ter certeza de
que fosse bem rápido.
— Oh, e Charlie? — ele disse quando eu abri a porta.
— Sim?
— Você está de castigo até a festa.
Olhei para o anúncio jogado no console entre nós, amassado em uma bola.
— Eu sei. Me desculpe por ter mentido para você.
Ele sorriu. O primeiro que vi desde que ele me pegou.
— Todos nós cometemos erros.
Eu saí do carro dele e me dirigi para o meu. Olhei para a loja da Linda, sabendo que eu
deveria entrar e explicar, mas eu não consegui fazer isso naquele momento. Primeiro eu tinha
outro lugar para estar.
Olhei para a lápide dela. Eu não tinha visitado o túmulo dela há mais de um ano, então
pensei que talvez tivesse me lembrado das palavras erradas, mas lá estava, gravada em pedra:
mãe amorosa.
Raiva surgiu através de mim. Essas palavras pareciam a maior mentira do mundo para
mim. Se ela era tão amorosa, por que ela fez o que fez? Ela era egoísta.
Eu chutei uma pedra e ela ricocheteou em sua lápide.
Ouvi o barulho de cascalho sendo pisado atrás de mim.
— Não faz nem trinta minutos — eu disse, irritada, meu pai não podia me dar uma hora
para pensar nisso.
— Ele me disse para não vir ainda, mas eu estava preocupado.
Me virei para Jerom. Seu rosto estava cheio de preocupação.
Eu não estava com raiva só da minha mãe. Eu estava com raiva de meus irmãos também.
Eles haviam escondido isso de mim.
— Estou bem.
— Mesmo?
— Não. Estou ferrada.
— Charlie. — Sua voz era rouca. — Não faça isso. Você não está ferrada. Você tem todo
o direito de ficar chateada com isso.
— Mas você acha que sou fraca. É por isso que você é tão protetor comigo. Você acha que
estou prestes a quebrar.
— Não. Você é forte. Muito forte, às vezes. Você acha que precisa segurar tudo isso
sozinha. — Ele colocou o braço em volta do meu ombro e olhou para a lápide comigo. —
Nos deixe estar aqui para você.
— Mas isso é o que acontece. Nós não estamos aqui um para o outro, estamos? Eu pensei
que nós éramos a melhor família do mundo, mas vocês nem mesmo me disseram.
— Papai tentou. Nós apenas pensamos que seria melhor se esperássemos.
— Até quando?
Ele suspirou, obviamente frustrado também.
— Eu não sei. Mas, Charlie, isso — ele apontou para a lápide da minha mãe — não é a
nossa família. Isso é algo que aconteceu com a nossa família. Nossa família era forte antes
disso e ainda é forte. Nada mudou.
Eu leio a frase em sua lápide uma e outra vez. Mãe amorosa.
— Toda a minha vida eu pensei que ela teria sido minha melhor amiga. Que ela me
ensinaria todas as coisas que eu precisava saber sobre ser mulher. E de certa forma, isso me
fez ressentir com o papai um pouco. Que ele não poderia fazer como ela faria. E agora eu
descubro que ela não queria. Ela não queria ser minha mãe. Estou brava com ela.
Ele apertou meu ombro e sua respiração engatou. Eu nunca tinha visto meu irmão nem
perto de chorar, então isso me surpreendeu.
— Você tem todo o direito de estar.
— Eu não sei como superar isso.
— Você só pode passar por isso.
O sono era meu amigo. Eu não lembro da última vez que dormi tanto. Especialmente
desde que eu não fiz nenhuma atividade naquele dia. Eu pensei que teria o pesadelo sobre a
minha mãe e tudo mais, mas eu não tive. Não sonhei com nada. Uma nebulosidade se
instalou na minha cabeça e eu queria me perder nela.
Meu pai deve ter dito aos meus irmãos para me deixarem em paz porque ninguém me
incomodou por horas. Uma faixa de luz solar percorreu meu corpo ao longo do dia e
finalmente encontrou o seu caminho até meu rosto. Tudo o que eu tinha que fazer era fechar
as cortinas para me livrar dele, mas eu não conseguia encontrar a energia para me levantar.
Eu estava tão cansada. Em vez disso, eu apenas puxei meu travesseiro sobre a minha cabeça.
Uma batida soou na minha porta. Não respondi. Se fosse o Gage, ele apenas entraria. A
porta rangeu se abrindo.
— O quê? — perguntei, minha voz soando abafada por causa do travesseiro. Me perguntei
se todos eles se revezariam tentando me ajudar.
— Ei. — Era Braden.
Fiquei feliz por estar com a cabeça debaixo do travesseiro, porque minhas bochechas
coraram com a presença dele. Esperei para recuperar o controle, depois tirei o travesseiro.
— Oi.
Ele caminhou todo o caminho para o meu quarto.
— O que aconteceu na outra noite?
A outra noite? Eu procurei na minha memória ao que ele poderia estar se referindo e me
lembrei que deveríamos nos encontrar perto da cerca.
— Adormeci. Desculpe. — Eu provavelmente não parecia tão triste quanto deveria,
porque estava muito ocupada sentindo pena de mim mesma.
Ele segurou uma bola de futebol e começou a jogar de um lado para o outro com os
joelhos.
— Quer jogar?
Ele estava tentando me animar, e embora achasse muito doce, eu não estava com vontade
de sair com Braden naquele momento. Seria apenas mais um lembrete de outra coisa que eu
não poderia ter e o quanto minha vida estava uma droga agora.
— Na verdade não. Mas diga a todos oi por mim.
— Bem, isso seria difícil, já que "todo mundo" não estará lá. Sou só eu.
Pior ainda.
— Gage está aqui, eu acho. Ele provavelmente estaria pronto para isso.
Ele bateu a bola em um arco alto e ela caiu no final da minha cama.
— Gage não está aqui e eu quero você. — Eu não consegui impedir minhas bochechas de
corarem desta vez. Ele precisava assistir o efeito de suas palavras. Ele não pareceu notar
porque acrescentou: — Vamos lá. Por favor.
Ele foi para o meu armário e tirou meus sapatos.
— Estou bem, Braden. Não preciso me animar. Eu prometo.
Ele sentou na cama ao meu lado, empurrando meu cabelo do meu rosto.
— Por que você precisaria se animar? Aconteceu alguma coisa?
Ele não ouviu? Bati nas mãos dele e empurrei meu cabelo para trás.
— Nada que eu queira reviver agora.
— Bem, veja, eu não estou aqui para animá-la. Estou aqui por razões egoístas. — Ele
estendeu a mão e me deu um olhar de cachorrinho. — Não me faça implorar.
Eu meio que queria vê-lo implorar. Olhei para a mão dele. Ele a manteve firme, pairando
no ar entre nós. Eu a peguei.
Capítulo 35
Eu não conseguia decidir se Braden tinha ouvido falar sobre o que aconteceu ou não, mas
de qualquer forma, ele sabia que correr em um campo e chutar uma bola de futebol, poderia
tirar minha mente de qualquer coisa. Bem, quase tudo. Parecia que chutar uma bola ao lado
de Braden não conseguia tirar minha mente dele. Enquanto corríamos, eu o empurrei e roubei
a bola.
— Falta — disse ele com uma risada.
— Se você puder me pegar, eu vou te dar essa falta.
Driblei a bola mais rápido, em direção à rede. Eu podia sentir ele se aproximando. Assim
que cheguei ao objetivo, ele pegou e envolveu um braço em volta da minha cintura, me
arrastando para uma parada. Então ele me virou para longe da bola, soltou e pegou a bola de
volta. Eu pulei nas costas dele.
— Desista, Lewis.
— Você acha que isso vai me impedir de marcar? — Ele agarrou minhas coxas com as
mãos, me impedindo de pular, e continuou a driblar a bola.
— Me ponha para baixo.
— Você é a única que pulou aqui.
— Não me faça te morder. — Eu abri minha boca e apertei meus dentes levemente contra
o pescoço dele.
Ele diminuiu a velocidade até parar.
— Você não ousaria, trapaceira.
— Eu totalmente faria. — Minhas palavras saíram arrastadas contra o seu pescoço, e
adicionei um pouco mais de pressão à minha mordida. Eu não deveria ter começado este
jogo; estava fazendo meu coração disparar, sentir sua pele contra meus lábios, gosto salgado.
— Charles — ele advertiu em voz baixa.
Eu ri.
— Você só tem que soltar minhas pernas.
Ele soltou, e eu dei a ele uma mordida brincalhona de qualquer maneira e pulei, pronta
para roubar a bola. Mas ele imediatamente me agarrou e me puxou contra ele.
— Sua pirralha.
Eu ri.
— Você está caindo. — Usei uma das minhas pernas para varrer a dele. Ele tropeçou, mas
não me soltou como eu achava que ele iria, e nós dois caímos no chão. Ele rolou, então eu
estava presa sob seus quadris e seu braço direito.
— Você não deveria ser capaz de me derrubar tão facilmente. Você é incrivelmente forte,
você sabia? É incrível.
Congelei, meu corpo inteiro em chamas. Eu sabia que se me movesse uma polegada,
apenas aumentaria a sensação correndo através de mim de seus pontos de contato comigo.
— O que há de errado? — perguntou, de repente sério. — Eu machuquei você?
— Não, apenas me deixe levantar.
No começo ele parecia confuso, então um sorriso lento se espalhou por seus lábios.
— Por quê?
— Você ganhou. Apenas me deixe levantar.
— Eu venci? Você acabou de conceder? Isso já aconteceu alguma vez na história?
— Sim. Você ganhou. Braden, por favor. — Eu estava sem fôlego e minha voz soou
firme.
— Mas eu te devo uma mordida. — Ele abaixou a cabeça para o meu pescoço. Meu
coração bateu contra minhas costelas. — É justo.
Sim, esta era a definição de tortura. Se ele soubesse o que isso estava fazendo comigo, ele
não poderia continuar.
Seus dentes roçaram levemente contra a minha pele e sua respiração aqueceu meu
pescoço. Meus dedos cavaram em seus ombros.
— Acabe logo com isso — eu respirei.
Ele soltou uma risada baixa e ofegante e, em seguida, aplicou um pouco mais de pressão
em sua mordida. Eu mal consegui conter o gemido no fundo da minha garganta, mas eu não
consegui impedir meus olhos de fechar.
Ele levantou a cabeça.
— Eu preciso te contar uma coisa.
Meus olhos se abriram e encontraram os dele. Minha guarda imediatamente voltou a subir.
Ele ia me contar sobre a minha mãe. Mal sabia ele que eu já tinha ouvido. Me perguntei se
teria sido melhor se Braden tivesse sido o único a me dizer na cerca naquela noite. Teria sido
menos devastador? Provavelmente não. De qualquer forma, já era tarde demais, e eu
realmente não queria falar sobre isso.
— Eu já sei.
— Você sabe?
— Sim. Meu pai me contou.
— Seu pai?
— Sim.
— Gage — ele rosnou, em seguida, rolou de costas, finalmente me libertando. — Ele quer
me matar?
Meu corpo inteiro estava frio sem ele perto de mim.
— Não. Por que ele iria? Não é sua culpa.
— É verdade, mas isso não significa que ele gostaria que eu lhe contasse.
— Eu pensei que você não ia me dizer. Que não era o seu dever de falar. — Meus olhos
começaram a doer, e eu só queria levantar e chutar a bola novamente.
Ele se apoiou no cotovelo.
— Espera. Do que você está falando?
— Do que você está falando?
— Você primeiro.
— Eu sei sobre a minha mãe.
Ele respirou fundo e sentou-se de joelhos. A preocupação moldou sua testa.
— Seu pai contou sobre sua mãe… sobre como ela...
— Sim. — Eu arrastei as costas da minha mão ao longo da minha bochecha e estremeci.
Ele se esticou ao meu lado novamente e me puxou para perto.
— Por que você não me contou?
— Pensei que você soubesse. E eu não queria pensar sobre isso.
— Eu sinto muito. Você quer ir para casa?
Balancei a cabeça e enterrei meu rosto em seu peito. Eu não queria ir a qualquer outro
lugar.
— Então não é isso que você ia me dizer?
— Não. Quero dizer, é isso que eu queria dizer a você naquela noite na cerca antes de
perceber que não era o meu lugar para lhe dizer. Talvez eu devesse ter dito. Talvez eu
devesse ter te dito anos atrás. Eu sinto muito.
— Não é sua culpa. Foi você quem me fez confrontar o meu pai. — Me afastei para poder
olhar nos olhos dele. — Então o que? O que você ia me contar hoje?
— O momento está errado agora. Eu vou te contar mais tarde.
— Não. Por favor. Eu quero saber agora. Estou cansada de segredos.
Ele me encarou por um longo tempo, como se estivesse tentando ler minha sinceridade.
Sua respiração tocou meus lábios. Levou tudo de mim para não fechar a distância entre nós.
Quando seus lábios roçaram nos meus, soltei um suspiro involuntário. Eu fiz isso?
— Estou lendo errado? — ele perguntou.
Balancei minha cabeça em um não. Eu não conseguia encontrar minha voz, não podia
acreditar que isso significava o que eu achava que significava.
Ele soltou um suspiro lento de ar que cheirava tão familiar.
— Eu ia lhe dizer isso.
— Você ia me dizer que queria me beijar?
Ele assentiu.
— Isso vai mudar tudo?
— Eu certamente espero que sim. — Ele sorriu e seu olhar foi dos meus olhos para a
minha boca e depois para o meu cabelo.
Ele enfiou uma parte atrás da minha orelha.
— Você é tão bonita.
Minhas bochechas aqueceram.
— Não deveríamos fazer isso na cerca?
— Não. Eu não quero que isso esteja em nossa realidade alternativa. Eu quero que isso
seja na nossa vida real. — Ele encontrou meus lábios com os dele. Meu coração parecia ter
acabado de passar por maratonas; correndo para a vida. Eu agarrei seus ombros e o puxei para
mais perto. Contra meus lábios, ele acrescentou:
— Mas podemos fazer isso de novo hoje à noite na cerca, se você quiser.
Eu sorri.
— Espera. E quanto a Amber?
— O que tem ela?
— Eu pensei que você e ela...
Ele se afastou, seus olhos se arregalando.
— O que? Não! Seu irmão está todo nisso.
— Gage?
— Sim, eles se aproximaram enquanto você estava fora. Ele não te contou?
— Não.
— Você pensou… Amber e eu?
— Sim. Você estava saindo com ela. E no sofá no outro dia, você se aproximou dela para
abrir espaço para mim.
Ele olhou para cima, pensando sobre.
— Oh. Isso é porque você parecia super aborrecida com ela. Eu pensei que estava te
salvando de ter que sentar perto dela.
Soltei uma risada.
— Pare de me ler.
Ele curvou o lábio.
— Amber? Vamos, Charlie, me dê algum crédito.
Ele agarrou uma parte da minha camiseta na minha cintura.
— Ela usa palavras brilhantes em sua bunda. Você me disse para não namorar ninguém
que fizesse isso. — Ele pressionou seus lábios nos meus novamente. — E quanto a Evan?
— Sim, não. — Eu tracei as palavras em sua camiseta com o dedo. — Seria difícil estar
com alguém quando eu não conseguia parar de pensar em outra pessoa.
— Naquela noite, perto da cerca, quando você pensou que eu ia te dizer que eu gosto de
você...
— Você não precisa explicar.
Ele balançou sua cabeça.
— Não. Eu quero. Eu gosto de você. Mas eu tinha me convencido de que não poderia te
dizer isso. Eu não queria estragar a nossa amizade. Então você me pegou de surpresa porque
não era o que eu ia te dizer naquela noite. Me assustou um pouco que você soubesse que eu
gostava de você, de qualquer maneira. Eu não sabia como você aceitaria, como sua família
aceitaria isso.
— E agora?
— E agora eu ainda não sei como sua família vai aceitar, mas naquela noite, você ficou tão
magoada que me deixou esperançoso de que pelo menos você aceitaria bem. Eu pensei que
talvez você estivesse me dizendo naquela noite que você também gostava de mim, e pela
primeira vez me deu motivos para pensar que isso não estragaria nada.
— Eu não sei como meus irmãos vão reagir, mas meu pai te ama.
Ele enterrou o rosto no meu pescoço.
— Gage já sabe.
Eu tentei afastá-lo para que eu pudesse olhar para o rosto dele. Ele não se mexeu.
— O que ele disse?
— Ele está louco.
Finalmente consegui afastá-lo e olhá-lo. A primeira coisa que vi foi o roxo sob o olho
direito.
— Espere. Gage fez isso em você?
— O que?
Corri um dedo levemente ao longo do roxo.
— Oh. Não.
— Então foi uma bola de golfe?
Ele balançou a cabeça negativamente.
— Isso foi… — Seus olhos olharam em volta de mim, mas não para mim. — Meu pai.
Sentei-me rapidamente e minha cabeça ficou leve.
— Seu pai bateu em você?
Ele sorriu, o que pareceu a reação oposta à minha declaração.
— Sim. Eu finalmente o confrontei. Ele me acertou. Minha mãe o expulsou.
— Braden! Por que você não me contou? Você está bem?
— Sim. Por anos eu quis que ela o expulsasse. Eu não sabia que levá-lo a me bater faria
com que ela finalmente fizesse isso. Eu deveria tê-lo confrontado há muito tempo. — Seu
rosto ainda estava iluminado por um sorriso, mas eu o conhecia. Eu vi mágoa em seus olhos.
Ele não queria que o pai fosse embora. Ele queria que seu pai o amasse o suficiente para
querer mudar.
— Eu sinto muito. — Passei a mão pelo cabelo dele, e ele moveu a cabeça para o meu
colo.
Ficamos assim por um tempo, sua cabeça descansando em mim, meus dedos vasculhando
seu cabelo.
— Então, por que o Gage está bravo com você?
— Você é irmã dele, Charlie.
— Isso não faz sentido. Ele não ficou bravo com Evan.
— Eu acho que ele sabe que você nunca esteve a fim de Evan.
— Mas ele pensou que eu estava a fim de você?
— Eu não sei. Ele provavelmente pensou que eu teria mais potencial para machucá-la
seriamente. Mas eu não vou. Eu prometo que não vou... Eu te amo.
Meu coração bateu contra minhas costelas e meu fôlego me deixou. Eu abaixei meus
lábios para os dele.
— Eu também te amo.
Capítulo 36
— Eu ainda vou te arrebentar no futebol — disse, olhando para baixo, onde ele estava no
meu colo como se ele nunca quisesse se mover.
— O que? Eu não tenho privilégios de namorado?
Ouvi-lo dizer a palavra namorado fez meu coração explodir de alegria. Então eu
imediatamente me senti culpada por estar feliz quando acabei de descobrir sobre minha mãe.
Olhei para o céu sem nuvens.
— Isso é muito estranho? Muito rápido?
Eu peguei a mão dele na minha.
— Não. — Ele era minha felicidade agora. Eu não estava indo desistir disso.
Ele estendeu a mão e traçou uma linha entre minhas sobrancelhas, e eu me perguntei se
estava fazendo cara feia.
— Apenas me sinto culpada.
— Por causa de sua mãe?
Balancei a cabeça.
— Eu sinto que deveria estar de luto ou algo assim.
— Charlie, você está de luto há dez anos.
— Verdade. — A luz do sol tocou as pontas de seu cabelo escuro, e seus olhos cor de
avelã pareciam mais marrons hoje.
Ele me deu um sorriso preguiçoso.
— O que?
— Nós nos beijamos.
Ele riu e sentou-se, indo para atrás de mim. Ele me envolveu por trás, me puxando de volta
contra seu peito.
— Eu sou um beijador melhor do que o Evan?
— Hummm...
Ele soltou um grunhido indignado.
— Isso é uma competição?
— Absolutamente.
Dessa vez eu ri e me contorci, pressionando meus lábios nos dele.
— Sim, Braden, você vence. — Ele era um beijador incrível.
*
O dia se transformou em noite quando voltamos para a minha casa, chutando a bola de
futebol entre nós enquanto íamos.
— Assim...
Ele arqueou uma sobrancelha para mim.
— O que?
— Você vai contar à minha família sobre nós ou eu vou?
— Provavelmente vai ser melhor se você fizer. Eu já tenho um olho roxo.
— Engraçado... Espera, você não acha que meus irmãos iriam bater em você, não é?
— Espero que não.
Agora eu estava com medo. Braden estava certo; isso era diferente do que apenas alguns
caras aleatórios que conheci. Este era Braden. Ele era praticamente parte da família. Eu sabia
quanta pressão isso nos causava. Sabia que meus irmãos e pai também entenderiam isso.
Braden estudou meu rosto.
— Oh, ótimo. Você está aterrorizada. Se você está com medo, como eu deveria me sentir?
— Eu já te disse para parar de me ler.
— Eu posso ler você porque eu te conheço melhor.
— Nos seus sonhos.
— Sim, você também esteve lá.
Eu o acertei no estômago, mas não pude parar de sorrir.
Quando entramos em casa com um pé de espaço entre nós, meu pai olhou para cima do
jogo que ele estava assistindo — um clássico da NBA.
— Nem pense nisso — eu disse a Braden, cujos olhos se iluminaram quando ele viu o que
estava na televisão.
— Onde você esteve, Charlie? — meu pai perguntou. — Você deveria estar de castigo.
— Oh, é mesmo. Eu esqueci.
— Você está de castigo? — Braden perguntou. Seus olhos pareciam dizer "se você já está
de castigo, talvez devemos contar mais tarde".
Eu sentia o oposto — se eu já estivesse de castigo, poderia muito bem tirar isso também.
Eu não podia entrar em mais nenhum problema.
— Podemos conversar? — perguntei.
Os olhos do meu pai se voltaram para Braden como se procurassem pistas sobre o que eu
estava prestes a dizer. Ele não iria encontrar suas respostas em Braden neste momento.
— Talvez devêssemos colocar todo mundo aqui — eu disse.
— Todo mundo? — Braden perguntou. — Agora mesmo? Você não quer apenas
conversar com seu pai primeiro?
— Não. Posso também conversar com todos de uma vez.
— Isso soa sério — meu pai disse, finalmente usando o controle remoto para desligar o
jogo.
— É sério. Mas é um sério bom.
Ele estreitou os olhos.
— Ok.
Eu fui até as escadas e gritei para meus irmãos e logo os três, além do meu pai, estavam
amontoados em nosso longo sofá. Eles mal cabiam ombro a ombro. Fiquei na frente deles
com Braden atrás de mim.
Estalei os meus dedos e respirei fundo.
— Ok. Assim… — Eu não tinha ideia de por onde começar. Senti que precisava de uma
introdução, mas o que eu poderia dizer a eles que eles não sabiam?
Espere. Gage já sabia como Braden se sentia. Ele havia contado aos outros? Eu olhei para
Gage, e ele me deu um olhar duro e raro, me desafiando a confessar para toda a família o que
ele já sabia.
Minha boca ficou seca e tentei engolir. Minha língua parecia duas vezes maior do que
deveria. Finalmente, apertei meus olhos e cuspi para fora.
— Eu amo ele. — Apontei por cima do meu ombro e abri meus olhos ao mesmo tempo.
A mandíbula de Gage se apertou. Então ele ainda não tinha se acostumado com a ideia.
Todos os outros apenas olharam para mim como se estivessem esperando que eu terminasse o
meu ponto. Todos eles amavam Braden. Eles não entenderam o que eu quis dizer.
Tateei atrás de mim cegamente, esperando que ele me ajudasse. Não levou mais de um
segundo para colocar a mão na minha.
— Estamos juntos — eu disse.
Eu não tinha certeza de quem começou a explosão, mas logo eles estavam falando ao
mesmo tempo e não nos parabenizaram. Jerom foi o primeiro a se levantar, e ele disse:
— Como você se atreve a tirar proveito dela agora? — Seu olhar frio estava em Braden.
Todos pareciam se levantar em uníssono depois disso. Eu levantei minha mão antes que
alguém dissesse algo doloroso.
— Pare. Ele foi o único que teve a coragem de até mesmo sugerir que algo mais aconteceu
com a mamãe. Então não se atreva a agir como se ele estivesse se aproveitando de mim.
Jerom apertou as mãos dele.
— Com certeza parece assim.
— Eu não sou frágil. Vocês não entendem tudo isso? Eu posso lidar com as coisas. Eu
posso tomar minhas próprias decisões. Isso não aconteceu hoje. Eu gosto dele já faz tempo.
Nós acabamos de admitir isso hoje.
— Eu a amo, pessoal — disse Braden.
Nathan se adiantou como se fosse dar ao olho roxo de Braden um par. Meu pai o agarrou
pelo braço.
— Isso é o suficiente, rapazes — disse ele, e todos ficaram quietos. — Eu pedi a esse
rapaz que ficasse de olho em Charlie em várias ocasiões. Como é justo dizer agora que não
confio nele?
Eu podia sentir a tensão drenar de Braden ao meu lado. Meu pai olhou para ele e disse em
uma voz assustadora:
— É melhor você não trair a minha confiança.
— Não, senhor.
— Então está resolvido. Mas você ainda está de castigo até a festa, Charlie. — e olhou
para Braden. — Então saia daqui.
Braden nunca tinha sido expulso quando eu estava de castigo antes. Mas ele nunca foi meu
namorado antes também. Eu apertei a mão dele e ele saiu. Assim que a porta se fechou, meus
irmãos sorriram de novo.
— Eu me perguntava quando ele diria alguma coisa.
— Era tão óbvio.
— Mas, Charlie — disse Gage —, não fazia ideia de que você sentia o mesmo.
Balancei a cabeça e eles continuaram a falar sobre quem sabia sobre o que e desde quando.
Então, um por um, todos ficaram em silêncio. Foi a primeira vez em que todos estivemos no
mesmo lugar ao mesmo tempo, desde que descobri sobre a mamãe. Eu estava evitando isso.
Olhei para o meu pai.
— Acho que é hora de todos falarmos sobre a mamãe. Juntos. — Peguei a caixa cheia de
fotos debaixo da mesa. Eu ainda estava zangada com ela, mas sabia que o primeiro passo para
superar isso era aprender mais sobre ela através das pessoas que a conheciam melhor do que
eu.
Sentei no sofá e abri a caixa. Todos eles ainda estavam lá, olhando, como se eu tivesse
perguntado a eles quem escreveu Orgulho e Preconceito. Então Gage pegou uma foto da
caixa e a segurou.
— Este foi o dia em que Nathan me empurrou em uma árvore porque ele disse que eu
estava trapaceando no esconde-esconde. Mamãe ficou totalmente do meu lado, a propósito.
— Você estava trapaceando. Você sempre trapaceia — disse Nathan, sentando ao meu
lado e pegando uma pilha de fotos. Meus irmãos todos tinham as mãos na caixa agora e
estavam conversando um com o outro novamente. Eu olhei para cima e vi meu pai parado ali,
olhando para a pilha de fotos na mesa. Ela estava na maioria delas. Sua expressão era dura e
parecia que ele também ainda estava com raiva da minha mãe. Mas então ele encontrou meus
olhos e toda a sua aura se iluminou com um sorriso. Parecia dizer que "ela me deu você,
Charlie, e eu sempre vou amá-la por isso". Isso era muito para uma aura dizer, mas eu tinha
certeza que Linda teria concordado.
Capítulo 37
Prendi a respiração e entrei no Bazar. Eu esperei muito tempo para entrar, mas eu estava
aqui agora. Linda olhou de onde estava atrás do registro.
— Sinto muito. — Eu não sabia mais o que dizer. Não havia uma boa desculpa para minha
mentira. Eu dei alguns passos para mais perto quando ela não respondeu. — Eu acho que
minha aura está azul hoje.
Isso tirou um pequeno sorriso dela.
— Eu não entendo, Charlie.
— Eu também não. Acho que não queria que você sentisse pena de mim. Faz tanto tempo
desde que eu conheci alguém que não sabia que minha mãe tinha ido embora. — Eu não senti
que Linda precisava saber os detalhes da morte da minha mãe. Isso era algo entre minha
família e eu. Mas ela não merecia a mentira que eu disse a ela.
Ninguém merecia.
— As pessoas não estão autorizadas a sentir pena de sua perda?
Dei de ombros.
— Eu não sou boa com sentimentos, aparentemente.
Ela se aproximou de mim e eu fiquei tensa, esperando por sua palestra ou para ela me
dizer para sair ou… alguma coisa. Ela me olhou de cima a baixo.
— Você não pode trabalhar vestida assim.
— Eu... — Olhei para o meu short de basquete. — Eu ainda posso trabalhar aqui?
Ela colocou as mãos nos meus braços em um toque suave, então encontrou meus olhos.
— Charlie, eu sinto muito pela sua perda.
Meus olhos ficaram quentes.
— Eu também.
— Se você precisar conversar, eu estou aqui.
— Obrigada.
— Eu comprei esses novos tops de seda no último carregamento que ficariam fabulosos
em você. Você quer adicionar um ao seu guarda-roupa de trabalho desde que você não trouxe
nenhuma roupa?
Balancei a cabeça.
— Eu também preciso de jeans... ou uma saia.
Sua cabeça se levantou para olhar para mim e eu ri. Eu não planejei trabalhar hoje, mas eu
não queria desistir. Ela pegou o top e um par de jeans e os levou para o registro. Eu a segui. A
exibição de maquiagem de Amber estava em uma grande prateleira próxima de mim. Por um
capricho, peguei um brilho labial brilhante e coloquei no balcão.
Linda ergueu as sobrancelhas para mim, mas não disse uma palavra quando passou as
minhas roupas.
Eu paguei e enfiei as roupas no meu peito.
— Estamos fazendo um churrasco na minha casa amanhã à noite. Fazemos isso todos os
anos antes do início das aulas.
— Eu não tenho você na agenda para amanhã.
— Não. Eu estava te convidando. Você virá?
Ela sorriu então.
— Sim. Eu adoraria ir.
— Bom. — Eu fui para a parte de trás para me trocar.
Perto do fim do meu turno, Skye enfiou a cabeça para fora do quarto dos fundos.
— Charlie! Venha para a praia quando você sair. Show improvisado na fogueira.
— Não posso. Estou de castigo.
Ela riu.
— Vadia. Próxima vez, então.
— Sim. Eu estou tendo uma festa na minha casa amanhã. Você virá?
— Absolutamente. — Ela desapareceu nos fundos. Eu sorri. Era incrível o que acontecia
quando você se deixa abrir para coisas novas.
Eu amava nossas festas de fim de verão. Todo mundo estava de volta à cidade das férias e
as pessoas estavam animadas para ter um último evento. Elas vieram em grupos.
Havia pelo menos cinquenta pessoas no meu quintal. Ainda mais este ano. Fechei minhas
cortinas e me virei para encarar Amber.
Ela havia me convencido a deixá-la fazer minha maquiagem para o evento. Ela apontou
que eu não tinha que usar muito o tempo todo, mas sempre era bom para ocasiões especiais.
Eu deixei, porque ela estava certa. Seria bom sair da minha zona de conforto de vez em
quando.
— Você está ótima — ela disse quando eu puxei meu cabelo para cima em um rabo de
cavalo.
Eu sorri.
— Obrigada.
Ela riu para si mesma, em seguida, disse:
— Você me odiou naquele jogo de beisebol, não é?
— O quê? Não.
— Eu estava lá com Braden, bajulando ele, falando sobre como ele era fofo.
— Ok, talvez um pouco.
Ela riu.
— Bem, eu nunca tive uma chance. Já te falei sobre como ele falou sobre você sem parar
quando você foi para o acampamento de basquete? — Ela aprofundou a voz e disse: —
Charlie ama golfe. Se Charlie estivesse aqui, ela pediria a pizza do amante de carne. Charlie
odeia comédias românticas. — Ela sorriu. — Tudo deu certo no final porque Gage é uma
combinação melhor para mim de qualquer maneira.
Eu ri.
— Vamos lá, vamos descer.
— Ok.
Nós entramos no quintal. Meu pai e Jerom cuidavam do churrasco. Nathan e Gage
jogavam uma bola de futebol de um lado para o outro no canto do quintal. As pessoas
nadavam e comiam e conversavam. Eu estava tão feliz.
Um par de braços me envolveu por trás.
— Futebol mais tarde?
Me inclinei de volta para Braden.
— Sim.
— Eu senti sua falta esta semana.
— Eu também.
Ele beijou minha bochecha.
— Vou pegar um pouco de comida. Eu já volto. — Ele caminhou pelo quintal para se
juntar ao meu pai e Jerom na churrasqueira.
Dave atravessou a grama, segurando um refrigerante. Eu balancei a cabeça para Amber.
— Eu vou me misturar.
— Ok.
— Você deveria se juntar a Gage. Pegue algumas bolas de futebol.
— Okay, certo.
Eu apontei para o meu rosto e a maquiagem lá. Ela riu.
— Bem. Vou tentar.
— Exatamente.
Caminhei para enfrentar Dave, uma desculpa muito atrasada se formando em meus lábios,
e a primeira coisa que ele disse foi:
— Eu nunca tive medo de seus irmãos.
— Hum… o que?
— Não é por isso que eu nunca te chamei para sair. Eu estava com medo de Braden.
Eu ri.
— Justo o suficiente. — Chutei a grama com o meu pé, tendo dificuldade em falar com as
palavras certas. — Sinto muito por sua avó, Dave. — Ele pode não saber como eu me sentia
na época, mas eu sabia que precisava pedir desculpas. Eu tinha sido insensível.
Ele sorriu.
— Obrigado, Charlie. Isso realmente significa muito.
Balancei a cabeça, então girei e quase empurrei o prato de Braden cheio de comida em seu
peito.
— Opa — disse ele, levantando-o no ar e salvando-o.
— Desculpa.
Ele acenou para Dave, que disse:
— Ei, Braden. Mais uma vez obrigado, Charlie.
— Claro.
Dave saiu, indo para a piscina.
Braden me deu um sorriso.
— Aquilo foi legal.
— Eu sou legal às vezes.
Ele estendeu o prato.
— Eu tenho comida para você.
— Aw. Você conhece o caminho para o meu coração.
Nós nos sentamos em uma mesa e comemos no mesmo prato.
— Oh, oh — disse Braden quando eu peguei a última batata.
— Você quer isso?
— Não. Apenas… seus irmãos estão vindo para cá e eles têm um olhar malicioso em seus
olhos.
Me virei e tive menos de três segundos para processar antes de Gage agarrar um dos meus
braços. Eu sabia o que estava acontecendo antes mesmo de Nathan pegar o outro.
— Não! Você vai estragar minha maquiagem.
Jerom agarrou meus pés com uma risada.
— Ela já disse isso antes em sua vida? — Eles me pegaram e levaram para a piscina.
— Sério mesmo. Vocês estão todos indo junto se vocês fizerem isso.
— Braden? Você não vai nos ajudar? — perguntou Gage.
Ele ergueu as mãos.
— E enfrentar a ira dela? Eu acho que estou fora.
— Você não vai me ajudar? — perguntei.
Seus olhos brilharam.
— Não.
— Morto. Você está todo morto para mim.
— Eu só queria ver se eu aprendi a jogar alguém na água — disse Jerom. — Eu fui
ensinado no mês passado e preciso testá-lo.
Eu tinha meu pé solto e chutei ele no peito. Ele agarrou o músculo do peito.
— Ouch. Isso dói mais do que parece.
— Não, é? — disse Gage. — Por que você acha que eu peguei o braço dela dessa vez?
— Eu odeio todos vocês.
— Você nos ama. — Eles chegaram à beira da piscina e me jogaram com um grande
balanço arqueado.
Eu emergi, cuspindo água.
— É melhor você pegar Amber em seguida.
Ouvi um grito e eu ri. Braden fez uma bola de canhão ao meu lado, totalmente vestido. Eu
mergulhei de volta quando ele veio.
Na segunda vez que ele apareceu com seu meio sorriso, eu o puxei para um abraço.
— Você sabia que acabaria aqui de qualquer maneira, então você pensou em se juntar a
mim por conta própria, hein?
— Não. Você não teria conseguido me pegar. Eu estava apenas com calor.
— Seja como for, eu totalmente teria pegado você.
Ele deu de ombros, os olhos verdes com a água refletindo neles.
— Eu acho que nós nunca vamos saber.
— O que significa que eu ganho — nós dois dissemos ao mesmo tempo.
Ele me beijou.
— Então, como é que me sinto o vencedor?
Ainda estava escuro quando meus olhos se abriram. Eu olhei para o teto por um tempo,
sem saber o que me acordou. Não foi um pesadelo. Meu telefone tocou na minha mesa.
Balancei meus pés para o chão e me levantei. Eu não peguei o telefone para ler a mensagem.
Apenas sorri e corri para fora, para a cerca. A lua estava cheia esta noite, perfeita para uma
conversa.
NOTAS
1. Um molho de pimenta fabricado nos EUA.
2.Um V8 é uma configuração de motor de combustão interna em que 8 cilindros estão dispostos em
duas bancadas de 4 cilindros, unidas pela parte de baixo, formando um "V".
3.Cidade.
4.Marca de cereal de chocolate.
5.Time de beisebol.
6. Um desvanecimento ou queda no basquete é um arremesso feito ao pular para trás, longe da cesta.
O objetivo é criar espaço entre o atirador e o zagueiro, dificultando o bloqueio do chute. O atirador
deve ter uma precisão muito boa e deve usar mais força em um período de tempo relativamente curto.
7.Sapo.
8. Jogador profissional de basquete.
9. Um acrônimo que significa All Points Bulletin - um boletim transmitido a todos os policiais,
geralmente com informações sobre um suspeito que deve ser detido.
AGRADECIMENTOS
Eu gostaria de começar agradecendo aos meus incríveis leitores. Vocês são os melhores
encorajadores que qualquer autor poderia pedir. Sempre que me sinto insegura (o que é mais
frequente do que não), posso sempre contar com vocês para alegrar o meu dia e me dar a
motivação para continuar a escrever. Então, obrigada!
Como sempre, este livro não existiria sem algumas pessoas incríveis:
A agente extraordinária Michelle Wolfson, a editora suprema Sarah Landis, a sempre
aterrorizante Alice Jerman e o restante da equipe HarperTeen. Obrigado por toda sua
sabedoria, percepção e apoio.
Mesmo antes de chegar na caixa de entrada do meu editor ou agente, eu tenho brilhantes
leitores beta que ajudam a transformá-lo em forma: Stephanie Ryan, Candice Kennington,
Jenn Johansson, Renée Collins, Natalie Whipple, Michelle Davidson Argyle, Sara Raasch,
Julie Nelson e Kari Olson. Eu amo essas senhoras.
Elas são minhas amigas mais próximas.
Eu também gostaria de agradecer a alguns outros autores que ajudaram a me guiar no meu
ano de estreia: Ellen Oh, Elsie Chapman, Megan Shepherd, Erin Bowman, Brandy Colbert,
Shannon Messenger, Alexandra Duncan, April Tucholke e Mindy McGinnis. Obrigado por
compartilhar a viagem comigo.
E, é claro, eu não seria capaz de escrever se não fosse pelo apoio do meu melhor amigo e
marido, Jared, e dos meus filhos incríveis, Hannah, Autumn, Abby e Donavan. Eu realmente
me sinto tão abençoada por ser sua mãe. Falando de mães, a minha é incrível. Obrigado, mãe,
por tudo.
Já que este é um livro sobre irmãos, eu sinto a necessidade de agradecer pessoalmente aos
meus por me ensinar como irmãos incríveis (e irritantes) podem ser. Eu não poderia ter
escrito este livro sem saber o vínculo que uma garota pode compartilhar com seus irmãos.
Te amo, Jared e Spencer.
Eu tenho a melhor família do mundo, mais solidária (e muito grande). Se eu tentar
nomeá-los, tenho certeza que vou deixar alguém de fora e então me sentirei culpada pela vida
toda. Então, vou apenas agradecer aos meus sogros: Vance e Karen (que eu adoro); a todas as
minhas irmãs: Heather, Stephanie, Rachel D, Zita, Shar, Rachel B, Angie e Emily; para o
resto dos meus irmãos: Eric, Brian, Jim, Rick, Dave e Kevin; e para todas as crianças que vão
com todas essas pessoas. Eu amo todos vocês.
SOBRE A AUTORA
KASIE WEST mora com sua família no centro da Califórnia, onde o calor tenta matá-la
com seus alongamentos de 46 graus. Ela se formou na Fresno State University com uma
licenciatura que não tem nada a ver com a escrita.
Visite-a on-line em www.kasiewest.com