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GESTÃO DE OBRAS

E PATOLOGIA DAS
ESTRUTURAS
Providências para
implantação do
canteiro de obras
Pedro Henrique Pedrosa de Melo

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Identificar as técnicas de terraplenagem.


>> Definir instalações provisórias e posicionamento de equipamentos no
canteiro de obras.
>> Explicar as diferentes técnicas de locação de obras.

Introdução
Uma edificação é sempre construída dentro de um canteiro de obras, e é nesse
espaço em que tudo acontece: armazenamento de materiais e equipamentos,
além de todos os processos e operações que são realizados para dar vida ao
projeto. Como espaço necessário para a gestão e para a execução da obra,
o canteiro incorpora escritório local, almoxarifado, depósitos, ambientes de
convivência e higiene, além, é claro, do espaço necessário para viabilizar desde
limpeza e escavação do terreno até os processos de acabamento da obra.
A implantação do canteiro de obras exige conhecimento sobre todos os
aspectos relacionados à edificação a ser construída, bem como o entendimento
da sua disposição em relação às ruas e edificações vizinhas, as quais podem
modificar completamente o layout do canteiro. Além disso, é preciso conhecer
as necessidades e exigências normativas no que se refere a armazenagem
2 Providências para implantação do canteiro de obras

material, operacionalidade de equipamentos, bem como garantia de segurança,


higiene e conforto dos trabalhadores.
Neste capítulo, serão apresentados os primeiros passos para a implantação
do canteiro de obras, partindo da limpeza e da terraplenagem do terreno,
passando pela construção do layout do canteiro até a definição das instalações
provisórias — como escritório, refeitório, depósitos — e o posicionamento
eficiente para os equipamentos — como betoneiras e guindastes — seguindo
todos as exigências normativas. Com o canteiro de obras delineado, este ca-
pítulo ainda abordará as técnicas de locação da obra, mostrando os principais
meios de transferir para o terreno o posicionamento correto dos elementos
da edificação que previamente estão apenas em projeto.

Técnicas e práticas de terraplenagem


A terraplenagem pode ser definida como o conjunto de operações que objeti-
vam conformar o terreno preexistente às necessidades do gabarito definido no
projeto. Um ponto importante é que as atividades de terraplenagem estão pre-
sentes em todas as obras civis, de pequeno a grande porte, mas se destacam
e possuem maior impacto financeiro nas obras de estradas e rodovias devido
ao alto volume de solo remanejado para alcançar as condições geométricas
do projeto. Também é importante destacar que os custos e especificações da
terraplenagem variam de acordo com as investigações geológico-geotécnicas
do solo utilizado, bem como dos resultados das sondagens e de outros ensaios
laboratoriais exigidos para o tipo de solo/edificação.
As operações de terraplenagem são antecedidas por destocamento, capine
e toda a limpeza do terreno, feita de forma a retirar toda a matéria orgânica
ali presente. Essa limpeza pode ser feita de forma manual ou mecanizada,
a depender das dimensões do lote, do tipo de vegetação presente e do volume
de solo orgânico (superficial) a ser removido.
Após a limpeza, inicia-se a terraplenagem, que, no geral, pode ser divididas
em três grandes etapas, que se dão isoladas ou em conjunto: as operações de
corte, constituídas por todas as atividades relacionadas a escavação e retirada
de solo; as operações de aterro, compostas por atividades de deposição e
compactação do solo; e, por fim, a compactação, que objetiva tornar o solo
mais firme e resistente.
Providências para implantação do canteiro de obras 3

A etapas de cortes e aterro são agrupadas e normalmente generalizadas


como etapas de movimentação de terra, retirada ou depósito, respectiva-
mente. Em relação à movimentação de terra, Azeredo (1997) diferencia quatro
tipos desse processo, como você confere a seguir.

„„ Manual: quando é feita pelo homem a partir de ferramentas como pá,


enxada e carrinho de mão.
„„ Motorizado: quando o transporte é feito por caminhão ou basculante,
mas a escavação (corte) é feita de forma manual.
„„ Mecanizado: quando a escavação e o carregamento da terra são feitos
por máquina.
„„ Hidráulico: quando a movimentação da terra é feita por meio de água,
como a dragagem.

A movimentação de terra ainda pode necessitar de desmonte de rocha,


a qual pode ser feita utilizando massa expansiva, também chamada de
desmonte a frio, em que não se faz uso de explosivos. Nesse desmonte,
as rochas são perfuradas e preenchidas com a massa expansiva, que, de
forma progressiva, aumentará de volume, acarretando a quebra das rochas.
Em casos de rochas em estágios elevados de dureza, pode ser necessário o
uso de explosivos, o que se conhece como desmonte a fogo.
Além dessas etapas, pode-se destacar, ainda, que a terraplenagem é
composta por serviços preliminares e delineamento dos caminhos de serviços,
troca de solo, drenagem e prevenção de erosão, operações que veremos a
seguir.

Serviços preliminares e caminhos de serviços


Esta etapa constitui a operação mais básica e primordial para o início da obra
e implantação do canteiro de obras. Dentro dos serviços preliminares, estão
a retirada dos elementos naturais e artificiais, os quais não estão inclusos
no projeto final e podem interferir, direta ou indiretamente, nas necessi-
dades do espaço do canteiro de obras. Como elementos naturais a serem
retirados, podemos citar arbustos, árvores, suas raízes e pedras. Já como
elementos artificiais temos tocos, cercas, entulhos e até mesmo elementos
de edificações antigas.
4 Providências para implantação do canteiro de obras

Ainda dentro dos serviços preliminares, o engenheiro ou responsável pelo


projeto já deve ter uma previsão de todas as necessidades do canteiro de
obra e, assim, já solicitar alguns ajustes, como:

„„ realocação de postes de energia;


„„ retirada ou reestruturação de calçadas para passagem de veículos;
„„ demolição de muros e rearranjo das entradas do terreno;
„„ construção de rampas de acesso para maquinário.

Entendendo a terraplenagem como uma das etapas iniciais da obra, tem-se,


então, que abrir os caminhos de forma a permitir a entrada de equipamentos
que podem servir para depósito e retirada dos cortes feitos, bem como cami-
nhos para os depósitos de solos, que, em muitos casos, podem, ou não, ser
diretamente depositados no seu local de uso (aterro). Nessa etapa, também
estão incluídas as atividades que garantem acesso aos materiais que serão
utilizados para pavimentação e drenagem, como pedras britadas e areias
(BARROS; MELHADO, 2002).

Cortes
Os cortes agrupam as operações que destinam a escavação do terreno, natural
ou já modificado, até alcançar a profundidade do projeto. As operações de
escavação são regidas pela “NBR 9061: Segurança de escavação em céu aberto”,
cujo objetivo é fixar as condições de segurança na execução de escavações
de obras civis, a céu aberto, tanto em solo quanto em rochas (ABNT, 1985).
A mesma norma exige que os equipamentos utilizados garantam segurança
ao operador, além do mínimo de dano aos espaços vizinhos; assim, temos os
seguintes maquinários (Figura 1):

„„ retroescavadeira — para retiradas de solo acima do nível de escavação;


„„ pá carregadeira — para retiradas de solo no nível de escavação;
„„ caminhão basculante — pode ser simples ou com Truck (acima 12m³).
Providências para implantação do canteiro de obras 5

a b

Figura 1. Maquinário utilizado no processo de escavação do terreno: (a) acima ou abaixo


do nível de escavação — retroescavadeira; (b) no nível de escavação — pá escavadeira;
(c) transporte do material retirado — caminhão basculante.
Fonte: (a) CNI (2021, documento on-line); (b) Aberta... (2020, documento on-line); (c) Caminhão...
(2014, documento on-line).

Uma classificação comum para as operações de corte é feita de acordo


com a remoção, ou não, da terra do terreno. Nesse caso, temos a escavação
com remoção de terra, que utiliza caminhões basculantes para transporte
da terra para locais denominados aterros ou bota-fora, que estão fora das
delimitações da obra. O segundo tipo de classificação é para escavação sem
remoção de terra, no qual a terra é escavada nas regiões acima das cotas do
projeto e, depois, utilizada como aterro nos locais abaixo da cota de projeto —
assim, a terra é aproveitada dentro da própria obra. É importante destacar que
essa última classe de corte é muito conhecida como “corte e compensação”,
sendo uma condição ideal, pois reverte em economia para a obra.

Aterros e compactação
Segundo Barros e Melhado (2002), os aterros são depósitos de solo cuja
finalidade é atingir a altura estabelecida em projeto; assim, são utilizados em
situações em que a cota do terreno está abaixo da cota estabelecida para a
edificação. Os aterros podem ser divididos em dois tipos: com ou sem impor-
tação de terra. O primeiro tipo ocorre quando não há no terreno o material
6 Providências para implantação do canteiro de obras

necessário para alcançar ou nivelar a cota de projeto, realizando-se, assim,


a importação do solo de outro terreno em que a remoção seja necessária. Para
o caso de aterro sem importação de terra, é empregado, dentro do canteiro,
o chamado “corte e compensação”, de maneira que o solo seja remanejado
dentro do próprio terreno com cortes e aterros. É importante destacar que,
no cálculo da compensação, deve-se considerar o fator de empolamento, que
se refere à variação do volume do solo em relação ao grau de compactação.
Sempre que é necessário realizar o aterro, essa operação deve ser seguida
pela compactação, que, como o nome indica, objetiva compactar o solo com a
utilização de equipamentos manuais, “sapos” mecânicos ou rolos compacta-
dores, os quais comprimirão o solo utilizando seu peso e vibração, tornando-o
mais resistente e firme de acordo com o projeto. Um ponto importante é
que a compactação ocorre, na maioria das vezes por etapas, ou seja, é feita
conforme são criadas camadas de aterro. Além disso, a compactação ocorre
com solo úmido, facilitando o rearranjo dos grãos comprimidos. O maquinário
comumente utilizado na compactação é apresentado na Figura 2.

a b

Figura 2. Maquinário utilizado no processo de compactação do aterro: (a) sapo e (b) rolo
compactador.
Fonte: (a) Compactador... (2021, documento on-line); (b) Rolo... (2021, documento on-line).

Troca de solo, drenagem e prevenção de erosão


Em muitas situações, o solo do terreno de construção não apresenta as
características de resistência e firmeza necessárias para suportar a carga
da edificação, sendo, nesses casos, necessário fazer a troca desse solo.
Mas como saber se o solo apresenta as características ideais? O estudo mais
simples para isso é a sondagem, um ensaio de estudo laboratorial em que
Providências para implantação do canteiro de obras 7

são removidas partes do solo em profundidades específicas. Por meio dessa


análise, é possível obter a cota em que o solo apresenta maior resistência
e condições para sustentar a edificação. Todo o solo acima dessa cota é re-
movido, sendo substituído por meio do aterro de solo com as características
necessárias para o projeto. Esse solo também deve passar pelo processo de
compactação, de forma a adequar-se às condições e aos níveis necessários
para o projeto (BARROS; MELHADO, 2002).
Segundo Borges (2009), o solo exposto pode apresentar, em época de
chuvas, um excesso de umidade, e essa água acumulada percola pelo solo,
criando veios e até mesmo valas, que, além de transportar a água, acabam
por carregar partículas do próprio solo. As indicações para a não ocorrência
desses processos é a criação de canais de drenagem, os quais vão captar a
água em excesso no solo e, de forma direcionada, retirá-la sem perdas de
material e sem afetar a compactação. Algumas indicações importantes para
a drenagem do solo são:

„„ quando a edificação é próxima a uma nascente, o aterro deve distanciar-


-se de um raio de aproximadamente 50 metros dela, criando, nessa
região, um canal que desvie a água originada para fora do terreno da
edificação;
„„ em relação ao excesso de umidade por meio de águas pluviais (chuvas),
indica-se inclinar o aterro ou terreno suavemente, de forma que a
água não se acumule em uma região específica do montante de solo
— além disso, deve-se construir um canal de drenagem na parte mais
baixa do terreno que permita escoar a água para as vias públicas de
drenagem pluvial.

A drenagem do solo evita o surgimento de veios internos do maciço de


solo, mas o escoamento superficial das águas sobre o solo também pode
ocasionar erosão devido, principalmente, à alta velocidade de escoamento da
água, que acaba, também, carregando partículas de solo, criando até mesmo
valas. A fim de se evitar esse processo, são indicadas ações que diminuam
a velocidade de escoamento da água. Uma das principais é a construção
de curvas de nível, que são cortes feitos ao longo do talude que captam o
escoamento direto das águas superficiais, direcionando-as para um canal de
drenagem específico. A quantidade de curvas de nível depende da inclinação
e da extensão do talude, mas é indicado que, quando o talude tiver inclinação
próxima a 45°, as curvas de nível sejam espaçadas a cada 5 ou 6 metros na
direção do declive do solo.
8 Providências para implantação do canteiro de obras

Delimitação das áreas e definição do layout


do canteiro de obras
Após realizados todos os serviços preliminares de limpeza do terreno e mo-
vimentações de terra, dá-se início à instalação do canteiro de obra, que deve
ser projetado e planejado para atender os diferentes estágios da construção
da edificação. O primeiro ponto a ser observado, segundo Qualharini (2018),
é a região em que o canteiro será instalado, quando se deve identificar se será
em uma zona urbana ou não, pois isso implicará nos acessos e no período
de trabalho.
Outro ponto destacado por Qualharini (2018) é o espaço físico: é preciso
fazer uma análise dos serviços a serem executados relacionados com as áreas
disponíveis. Assim, será possível definir os locais para depósito e estoque,
posicionamento de máquinas e equipamentos, assim como os prazos para
transporte e mobilização de operários e equipamentos.
A “Norma Regulamentadora NR 18 — Condições e Meio Ambiente de Trabalho
na Indústria da Construção” (BRASIL, 2020) tem o objetivo, então, de controlar
os serviços na indústria da construção para trazer segurança nos processos
executados. Para determinar o perímetro da obra e a área de trabalho, devem
ser utilizados tapumes, que, de acordo com a NR 18 (BRASIL, 2020), são obriga-
tórios sempre que for realizada alguma atividade da indústria da construção.
A função principal do tapume, então, é tanto proteger a obra quanto impedir
o acesso de pessoas indesejáveis. Os tapumes devem, em função disso, ter
altura mínima de 2,20 metros e, em edificações de mais de dois pavimentos
executadas no alinhamento do logradouro, devem ser previstas galerias sobre
o passeio com altura livre de 3 metros. Já em casos nos quais o serviço for
realizado sobre o passeio, a galeria poderá ser executada na via pública, desde
que sinalizada e respeitando a legislação em vigor (BRASIL, 2020).
Os tapumes podem ser, normalmente, de madeira ou metálicos, e podem
ser aliados na divulgação do empreendimento, servindo como propaganda
da obra e como um elemento de destaque.

Áreas de vivência e áreas operacionais


O canteiro de obras é composto por basicamente duas áreas gerais: de vivência
e operacionais. As áreas de vivência são regiões destinadas aos operários da
obra para proporcionar conforto, segurança e higiene — de acordo com a NR
18 (BRASIL, 2020), incluem instalações sanitárias, vestiário, alojamento, local
Providências para implantação do canteiro de obras 9

de refeições, cozinha, lavanderia, área de lazer e ambulatório. Cada instalação


é definida de acordo com o tamanho da obra, com a quantidade de operários
e outras particularidades, conforme será discutido a seguir.
As instalações sanitárias devem ser distantes no máximo 150 metros do
posto de trabalho, na proporção de um conjunto sanitário (vaso sanitário e
pia) para cada grupo de 20 trabalhadores e um chuveiro para cada grupo de
10 trabalhadores (BRASIL, 2020). Também podem ser utilizados banheiros
químicos, que ocupam aproximadamente uma área de 1,2 por 1,2 metros.
Outra opção é situá-los junto ao vestiário, conforme exemplifica a Figura 3.
Os vestiários devem possuir armários individuais e bancos em número sufi-
ciente para os usuários.

Figura 3. Layout de instalações sanitárias acopladas a vestiário.


Fonte: Qualharini (2018, p. 98).

Já os alojamentos só são obrigatórios no caso de permanência dos tra-


balhadores na obra. Nesse caso, os alojamentos devem ter uma área de 3m²
para o módulo cama/armário, incluindo circulação, e sua construção deve
ser feita com materiais adequados, que garantam salubridade ao ambiente
(BRASIL, 2020). Outra opção é utilizar pensões ou alugar residências perto da
localidade, tudo de acordo com a necessidade e com as condições da obra.
10 Providências para implantação do canteiro de obras

Os refeitórios são obrigatórios no canteiro de obras e devem atender


todos os trabalhadores presentes no horário das refeições. Já as cozinhas
não são estruturas obrigatórias, mas:

[...] independentemente do número de trabalhadores e da existência ou não de


cozinha, em todo canteiro de obra deve haver local exclusivo para o aquecimento
de refeições, dotado de equipamento adequado e seguro para o aquecimento
(BRASIL, 2020, documento on-line).

Com a presença de trabalhadores alojados na obra, surge a necessidade de


estruturas de lavanderia e área de lazer. As lavanderias podem ser substitu-
ídas pela contratação de empresa terceirizada para esse fim, e os refeitórios
podem ser utilizados como locais de atividades recreativas.
Em obras com mais de 50 trabalhadores, é necessário ambulatório para
maior segurança dos usuários. Essa estrutura deve alocar pelo menos duas
pessoas e propiciar os primeiros atendimentos a ocorrências que, porventura,
ocorram.
Além da área de vivência, há áreas operacionais, destinadas à execução
e ao controle de toda a obra. Nessas áreas, deve-se dispor de locais para
armazenamento dos materiais, produção e preparo de insumos para a obra,
além de toda a área de controle.
De acordo com a NR 18 (BRASIL, 2020, documento on-line), para armaze-
nagem e estocagem dos materiais, é preciso atender os seguintes critérios:

18.24.1. Os materiais devem ser armazenados e estocados de modo a não prejudicar


o trânsito de pessoas e de trabalhadores, a circulação de materiais, o acesso aos
equipamentos de combate a incêndio, não obstruir portas ou saídas de emergên-
cia e não provocar empuxos ou sobrecargas nas paredes, lajes ou estruturas de
sustentação, além do previsto em seu dimensionamento.
18.24.2. As pilhas de materiais, a granel ou embalados, devem ter forma e altura
que garantam a sua estabilidade e facilitem o seu manuseio.
18.24.2.1. Em pisos elevados, os materiais não podem ser empilhados a uma distância
de suas bordas menor que a equivalente à altura da pilha. Exceção feita quando
da existência de elementos protetores dimensionados para tal fim.
18.24.3. Tubos, vergalhões, perfis, barras, pranchas e outros materiais de grande
comprimento ou dimensão devem ser arrumados em camadas, com espaçadores e
peças de retenção, separados de acordo com o tipo de material e a bitola das peças.
18.24.4. O armazenamento deve ser feito de modo a permitir que os materiais
sejam retirados obedecendo à sequência de utilização planejada, de forma a não
prejudicar a estabilidade das pilhas.
18.24.5. Os materiais não podem ser empilhados diretamente sobre piso instável,
úmido ou desnivelado.
18.24.6. A cal virgem deve ser armazenada em local seco e arejado.
Providências para implantação do canteiro de obras 11

18.24.7. Os materiais tóxicos, corrosivos, inflamáveis ou explosivos devem ser


armazenados em locais isolados, apropriados, sinalizados e de acesso permitido
somente a pessoas devidamente autorizadas. Estas devem ter conhecimento prévio
do procedimento a ser adotado em caso de eventual acidente.
18.24.8. As madeiras retiradas de andaimes, tapumes, fôrmas e escoramentos
devem ser empilhadas, depois de retirados ou rebatidos os pregos, arames e
fitas de amarração.
18.24.9. Os recipientes de gases para solda devem ser transportados e armazenados
adequadamente, obedecendo-se às prescrições quanto ao transporte e armaze-
namento de produtos inflamáveis.

Como exemplo, em relação aos itens anteriormente citados da NR 18, os


sacos de cimento de 50kg devem ser empilhados com no máximo 10 sacos;
já para cal de 20kg, o máximo permitido é de 15 sacos e, para argamassa de
20kg, são indicados 20 sacos. É importante ressaltar que, no caso desses
materiais, o seu contato diretamente com o solo deve ser evitado, já que os
produtos reagem com a umidade, sendo necessário, assim, sempre forrar o
terreno com lona ou empilhar os sacos sob paletes.
Materiais como aço e madeira também necessitam de cuidados especiais;
por exemplo, sempre devem ser armazenados em local coberto e não devem
ser colocados diretamente sobre o solo. Além disso, a madeira deve ser
armazenada em local nivelado, sempre na horizontal, evitando a ocorrência
de empenamento.
Dessa forma, o gestor da obra deve sempre atentar-se às especificações
e particularidades de cada produto de acordo com os fornecedores e fabri-
cantes — desde a fase inicial de planejamento do canteiro —, criando espaços
ideais que minimizam desperdício e retrabalho.

Antes do início da obra, devem ser providenciadas as ligações pro-


visórias de água, esgoto e energia.
Deve-se prever e executar, para a ligação provisória de água, o abrigo e o
cavalete para receber a instalação do hidrômetro e, em casos de não existência
de rede pública de água, realizar a perfuração de poços artesianos devidamente
calculados.
Todo o sistema sanitário utilizado durante a obra deve ser direcionado para
a rede de esgoto pública ou para fossa séptica provisória ou definitiva, de modo
a atender toda a obra.
A rede de energia elétrica provisória deve ser definida para dar conta de
toda a demanda da obra, com fios ou cabos, quadros e sistema de proteção
dimensionados de acordo com as normas pertinentes.
12 Providências para implantação do canteiro de obras

Layout do canteiro
Definir o melhor arranjo do canteiro é a premissa de uma obra bem orga-
nizada. O canteiro de obras pode ser único, do início ao fim — o que não é
recomendado tendo em vista que a obra está em constante alteração —,
ou variar de acordo com a etapa de execução da construção. Uma estrutura
aliada na flexibilização do canteiro de obras são os contêineres, estruturas
resistentes, de variados tamanhos, que podem ser facilmente transportadas,
facilitando o rearranjo do canteiro.
Saurin e Formoso (2006) recomendam que, para melhor definição do layout
do canteiro de obras, é necessário realizar um planejamento embasado em
um procedimento sistematizado em cinco etapas: análise preliminar, arranjo
físico geral, arranjo físico detalhado, detalhamento das instalações e crono-
grama de implantação.
A análise preliminar é o ponto de partida e a etapa fundamental para
a eficiência do canteiro de obras. Nessa etapa, é definido o programa de
necessidades do canteiro, bem como são coletadas as informações sobre o
terreno e o entorno da obra. Deve-se conhecer, também, os requisitos técni-
cos, assim como os cronogramas físicos de mão de obra e equipamento. Um
exemplo é a necessidade de instalação de gruas, as quais podem ser fixas e
ainda exigir uma fundação para sua operação; assim, a análise preliminar já
deve ter como resposta o local de sua instalação, considerando seu alcance
e a realização dos procedimentos de sua fixação.
Por conseguinte, é feito o arranjo físico geral do canteiro, basicamente um
croqui, chamado de macrolayout. Deve-se estabelecer as interações entre as
diversas áreas e funcionalidades do canteiro para que, então, possa definir-
-se o arranjo físico detalhado, o qual apresenta todas as especificações do
layout do canteiro — desde a localização de uma área de vivência até a melhor
posição de um equipamento.
Na Figura 4, você vê representado um layout de um canteiro, com o posi-
cionamento dos elementos, para uma construção urbana, com dois acessos.
Providências para implantação do canteiro de obras 13

Figura 4. Exemplo de layout de canteiro de obras.


Fonte: Qualharini (2018, p. 125).

Com o layout definido, é preciso determinar como serão as instalações,


caracterizando os materiais e a infraestrutura necessária para o completo
funcionamento do canteiro, de maneira a definir o seu cronograma de im-
plantação e utilização.

Locação de obras
Após definir os projetos e detalhar o canteiro de obras, é preciso materializar
a edificação no terreno. A locação de obras é, nesse contexto, o processo de
transferência dos elementos do projeto para o terreno — erros ocasionados
nessa etapa podem causar danos irreversíveis à edificação.
De acordo com Azeredo (1997), a obra deve ser locada com rigor, de modo a
ser o mais precisa possível; para isso, deve-se levar em consideração questões
de altimetria e planimetria do projeto de locação.
14 Providências para implantação do canteiro de obras

O processo de locação de obras pode ser realizado de duas formas: pro-


cesso dos cavaletes ou da tábua corrida. Salienta-se que podem ser utilizados
outros métodos mais precisos para a locação, com equipamentos topográficos.
Os cavaletes, segundo Qualharini (2018, p. 38):

[...] são constituídos por duas pernas de madeira cravadas no solo e uma travessa
pregada sobre elas, não sendo um método preciso, pois permite fácil deslocamento
do conjunto por batidas de carrinhos de mão, tropeços, entre outros.

A Figura 5 ilustra esse método.

Figura 5. Locação por cavaletes.


Fonte: Azeredo (1997, p. 26).

O processo de locação por cavaletes é indicado para elementos isolados,


para obras muito pequenas ou com poucos elementos estruturais. Já o se-
gundo método, a locação por tábua corrida, também conhecida por gabarito
ou tabeira, é mais preciso e possibilita maior controle do posicionamento
dos elementos.
Providências para implantação do canteiro de obras 15

A locação por tábua corrida (Figura 6) consiste na cravação de pontaletes,


normalmente afastados entre si 1,5 metros e de 1,2 a 1,5 metros até a divisa
da edificação, quando possível. Nos pontaletes, devem ser pregadas tábuas
sucessivas, com no mínimo 40 centímetros do solo, até completar todo o con-
torno da edificação, formando uma cinta. As tábuas devem estar niveladas, de
preferência com nível de mangueira e no esquadro, para que, então, possa-se
prosseguir o processo de locação e marcação dos pontos (BORGES, 2009).

Figura 6. Locação por tábua corrida.


Fonte: Borges (2009, p. 44).

Todo o processo de locação deve ser executado no esquadro e, para isso,


podemos utilizar o processo triângulo-retângulo, que consiste em medir a
partir do canto do gabarito 3 metros em uma direção e na outra, sua per-
pendicular, 4 metros. Assim, a garantia do esquadro é a de que a hipotenusa
(diagonal entre a partir dos pontos anteriores) gerada tenha 5 metros. Além
dessas medidas, podem ser adotados outros valores que satisfazem a relação
do triângulo-retângulo. Outra opção para conferir o esquadro é aferir a medida
das duas diagonais principais do gabarito, que devem possuir o mesmo valor
para que todos os ângulos dos cantos sejam de 90°.
Tanto para o processo de cavaletes como para o de tábua corrida, o re-
ferencial inicial é o que vai garantir conformidade e posicionamento correto
da edificação de acordo com o projeto. O referencial inicial pode ser adotado
como qualquer ponto, sendo indicada a escolha de pontos fixos que não pos-
sibilitem a alteração, como postes, meio-fio ou um ponto materializado pelo
topógrafo. Para garantir o alinhamento da locação a algum elemento — por
exemplo, a rua e o meio-fio —, é necessário realizar pelo menos duas medidas
de referência para que se possa demarcar a linearidade do elemento locado.
16 Providências para implantação do canteiro de obras

A partir do referencial inicial, começa-se a execução da locação.


Pela Figura 7, percebe-se que há um ponto de referência A no canto
inferior esquerdo do loteamento, possibilitando, então, posicionar o gabarito
a 2m na horizontal e a 1,5m na vertical.

Figura 7. Locação por tábua corrida, ponto de referência.


Fonte: Borges (2009, p. 44).

Construído o sistema de apoio para a demarcação dos pontos, os cavaletes


ou a tábua corrida, pode-se dar início à próxima etapa de demarcação dos
pontos para os eixos dos elementos do projeto. A partir do referencial inicial,
são demarcados os pontos consecutivos de acordo com a planta de locação.
Nos pontos, são cravados pregos que, posteriormente, serão utilizados para a
materialização dos eixos do projeto com linhas ou arames. Para tanto, devem
ser demarcados os pontos em todos os lados, garantindo a linearidade dos
eixos (AZEREDO, 1997).
Após a demarcação dos pontos e a cravação dos pregos, deve-se esticar
linhas ligando os pontos equivalentes nos lados opostos da marcação e
garantir o esquadro entre os encontros das linhas em direções opostas.
Então, é realizada a última etapa da locação: o posicionamento dos elementos
pontuais (como estacas e pilares) e a locação dos elementos lineares (como
vigas e alvenaria).
Providências para implantação do canteiro de obras 17

Com o projeto de locação e com os eixos materializados no canteiro de


obra a partir das linhas, é possível começar a demarcação dos elementos
pontuais, conforme mostra a Figura 8. No encontro das linhas 1 e 2, há um
elemento pontual (estaca X), e sua transmissão para o solo é feita a partir de
um prumo de ponta. O prumo de ponta é posicionado no encontro das linhas
e solto até o encontro do solo, demarcando o ponto do elemento desejado.
É recomendado o destaque do ponto utilizando uma estaca (piquete) ou
uma barra de aço para que, além da materialização do ponto, seja de fácil
visualização a demarcação.

Figura 8. Demarcação de elementos pontuais.


Fonte: Adaptada de Borges (2009).

Após a demarcação e a execução dos elementos pontuais, deve-se fazer


os mesmos procedimentos com os elementos lineares, que podem ser de-
marcados por meio dos eixos ou das faces externas, de forma semelhante à
realizada com os elementos pontuais. O diferencial é que é necessário trans-
mitir para a região de interesse dois pontos para possibilitar a determinação
da posição do elemento linear.

Referências
ABERTAS inscrições para cursos de operador de pá carregadeira e operador de escava-
deira hidráulica em Toledo. Toledo News, 2020. Disponível em: https://www.toledonews.
com.br/noticia/abertas-inscricoes-para-cursos-de-operador-de-pa-carregadeira-e-
-operador-de-escavadeira-hidraulica-em-toledo. Acesso em: 14 fev. 2021.
ABNT. NBR 9061: segurança de escavação a céu aberto. Rio de Janeiro: ABNT, 1985.
18 Providências para implantação do canteiro de obras

AZEREDO, H. A. O edifício até sua cobertura. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1997.
BARROS, M. M. S. B.; MELHADO, S. B. Serviços preliminares de construção e locação de
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BORGES, A. C. Prática das pequenas construções. 9. ed. São Paulo: Edgard Blucher,
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em: http://transponteslocacoes.com.br/blog/caminhao-basculante-2/. Acesso em:
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CNI. Operador de escavadeira hidráulica. Ribeirão Preto: CNI, 2021. Disponível em:
https://www.cni-sp.com.br/cursos/formacao-operador-escavadeira-hidraulica/. Acesso
em: 14 fev. 2021.
COMPACTADOR de Solo tipo sapo a Gasolina 6.5 HP Motor Loncin Motor de 4 tempos
- NCSLON – Nagano. Agrotama: São Paulo: [s. n.], 2021. Disponível em: https://www.
agrotama.com.br/produtos/compactador-de-solo-tipo-sapo-a-gasolina-65-hp-motor-
-loncin-motor-de-4-tempos-ncslon/nagano-101014894,59,167/. Acesso em: 14 fev. 2021.
QUALHARINI, E. L. Canteiro de obras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
ROLO compactador: é melhor comprar o seu ou alugar? In: SANY. Betim: Sany, 2021.
Disponível em: https://sany.centrooestemg.com.br/blog/rolo-compactador/. Acesso
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SAURIN, T. A.; FORMOSO, C. T. Planejamento de canteiros de obra e gestão de processos.
Porto Alegre: ANTAC, 2006.

Leituras recomendadas
AGOPYAN, V. et al. Alternativas para redução do desperdício de materiais nos canteiros
de obra. Coletânea Habitare, v. 2. Disponível em: http://www.habitare.org.br/pdf/
publicacoes/arquivos/104.pdf.
ARAÚJO, V. M. Práticas recomendadas para a gestão mais sustentável de canteiros de
obras. 2009. 229 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-28102009-
173935/publico/Araujo_Diss_Ed_Rev.pdf. Acesso em: 12 fev. 2021.

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