Frida e Picasso
Frida e Picasso
Frida e Picasso
Pablo Picasso
RESUMO:
A participação no programa PDE oportunizou a reflexão teórica sobre arte, surdez, gênero,
possibilitando novas práticas docentes ao abrir caminhos para ações pedagógicas significativas, que
visam a superação dos constantes desafios em busca das possibilidades da arte na evolução crítica
do nosso aluno. Espera-se que haja uma aprendizagem significativa, de acordo com os conteúdos
selecionados para o ensino de arte e que, através da leitura da obra de arte, os alunos possam
ressignificar a própria realidade, transformando seu cotidiano. E também que, analisando as obras de
arte, nossos alunos possam superar o olhar que emite um julgamento moral e de senso comum,
passando a um olhar mais crítico, independente, observador e perceptivo através da mediação. Em
outras palavras, um olhar que possa, de fato, alcançar um melhor entendimento e compreensão da
arte e do mundo à sua volta, mormente por parte dos alunos surdos.
1
Professora de Arte da rede pública de ensino do Estado do Paraná, atuando no Colégio Estadual do
Iles em Londrina-PR, e participa do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da SEED-PR.
2
Mestra e Doutora em Educação, docente do Departamento de Arte Visual da Universidade Estadual
de Londrina e é orientadora no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da SEED-PR.
INTRODUÇÃO:
Já, Botelho reforça esse conjunto de ideias quando nos aponta que uma das
defesas dos surdos face à opressão dos ouvintes é o silêncio. “[...] ainda que os
surdos estejam rompendo com a dominação a que têm sido sujeitados [...] a cultura
do silêncio ainda se mantém”. (2005, p. 99-100).
Para Skliar (1999), ocorre um amordaçamento da língua surda! Percebemos
que o desconhecimento da língua de sinais na sociedade colabora para perpetuar as
diferenças no ambiente escolar, mantendo-se a lógica da discriminação dos
diferentes, como parte de uma sociedade cada vez mais sectária, onde prevalece o
conceito da eficiência sobre a existência da deficiência.
Em se tratando do debate sobre a igualdade de gênero, podemos perceber,
através de inúmeros recursos sociais e culturais, que ainda permanece uma
prevalência do mando masculino. Desde o discurso jurídico e considerando-se as
diversas esferas políticas e sociais, permanece ao longo da história da humanidade
a lógica androcêntrica perversa, que confina mulheres até os nossos dias e,
sobretudo, as pobres à segregação e discriminação nos diversos espaços da
sociedade.
Neste contexto, há que se pensar na potencialidade do ensino da arte como
uma construção de conhecimento e relações necessárias para se refletir acerca dos
diferentes papéis exercidos por diferentes mulheres sob uma perspectiva mais
igualitária. Faz-se necessário considerar os diversos lugares e tempos da história da
humanidade para, então, estabelecer relações de gênero a partir das considerações
acerca das possibilidades sócio/culturais apresentadas nas obras, numa perspectiva
dos conceitos e igualdade de gênero.
A LEITURA DA IMAGEM
Fizemos uma breve reflexão sobre a importância, vida e obra das mulheres
artistas: Artemísia Gentileschi, Mary Cassatt, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Frida
Kahlo, artista escolhida para trabalhar neste projeto.
Diante da necessidade de uma comunicação mais ágil, foi escolhido um
sinal para Frida Kahlo. Os próprios alunos, depois de atenta observação junto a
imagem da artista, que também renderam vários comentários sobre o buço e a
sobrancelha avantajada de Frida, decidiram que seu sinal seria a letra “F”
sinalizando na sobrancelha direita do interlocutor. Por ter sido uma discussão
coletiva, todos aprovaram o sinal. Durante estes debates, ficou clara uma forte
reação de interesse na história sofrida da artista. Suas dores, amores, traições,
superações, sua intensa luta pela vida e como tudo isso foi fundamental para seu
processo criativo. O drama humano foi percebido neste projeto como uma das
pontes que podem aproximar o aluno do rico universo da arte, e evidenciou-se como
é forte a necessidade do professor de arte atuando como mediador desses
processos. Alguns alunos relataram situações familiares que lembravam o
sofrimento pessoal de Frida e reconheceram como a expressão através da arte
poderia ser libertadora.
O filme Frida foi levado a eles com recortes, objetivando dinamizar o tempo
destinado para a exibição do filme, como também focar nos conteúdos mais
pertinentes às ações da arte, desejadas e contempladas no projeto. Notou-se que
mais alunos identificaram o sofrimento da artista e relacionaram sua vida à sua
poética. Identificaram em seus quadros o sofrimento e as turbulências de sua vida.
Os alunos puderam, assim, debater e questionar várias passagens do filme, como o
acidente sofrido por Frida, seu relacionamento tumultuado com Diego Rivera, seus
abortos e como tudo isso foi retratado em suas pinturas. Em nossas conversas, o
debate artístico se tornava cada vez mais rico e os olhares mais atentos, frente às
obras que agora povoavam o ambiente da sala de aula. Percebendo possíveis
viagens em torno da artista, solicitei aos alunos que pesquisassem na internet as
obras de Frida Kahlo, observando sua poética e também a representação feminina
presente em seu fazer, em seu mundo e em seu discurso que se apresenta
atemporal.
OS CORAÇÕES DE FRIDA
DA LEITURA À PRODUÇÃO
Iniciando a reflexão sobre as obras de Picasso, foi proposto aos alunos a
leitura descritiva da imagem “A Mulher Chorando”. Os alunos foram instigados a
analisar a imagem através dos seguintes questionamentos:
a) O que a imagem sugere a você?
b) Quais são os Elementos Visuais presentes na obra “A mulher
Chorando” (1937) de Picasso?
c) As principais linhas apresentadas na obra descrevem quais movimentos
ou condutas visuais? Diagonais? Curvas?
d) Existe a presença de contrastes? Quais são eles?
e) Quais aspectos da Arte Contemporânea que você vê já presentes nesta
obra de Picasso? Lembrando que Picasso em algumas condutas de seu fazer e
poéticas antecede a Arte Contemporânea e também questões da Abstração.
Relacionando os conhecimentos já adquiridos com Frida Kahlo, optamos por
fazer um painel coletivo em grandes dimensões, como forma de levar o aluno a
apropriar-se dos conteúdos visuais percebidos na obra.
Dando seguimento aos olhares mediados frente às obras de Picasso, os
alunos produziram retratos e a partir destas produções e foram desafiados a citar
elementos do Cubismo, como forma de apropriação de conteúdos que o aproximem
da poética de Picasso, abrindo espaço para, no futuro, os alunos entenderem como
a produção de Picasso torna-se um contraponto e caminho para a Abstração. Para
Canton, no Cubismo, a fragmentação das imagens projetava simbolicamente a
própria fragmentação do mundo da industrialização. Na arte abstrata, procurava-se
uma síntese que transcendesse uma realidade de guerras, destruições e
desigualdades. Temos abaixo uma amostra nas figuras 26/30.
Figura 26 Figura 27 Figura 28
Figura 29 Figura 30
NOVAS VIAGENS...
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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_______________. A Imagem no Ensino da Arte: anos e novos tempos. São Paulo: Perspectiva,
2005.
BUORO, Anamelia Bueno. Olhos que pintam: a leitura da imagem e o ensino da arte. São Paulo:
Cortez, 2002.
MARTINS, Mirian Celeste (Coord.). Curadoria educativa: inventando conversas. Reflexão e Ação –
Revista do Departamento de Educação/UNISC, Santa Cruz do Sul, v. 14, n. 1, p. 9-27, jan./jun. 2006.
MARTINS, Mirian Celeste e outros. Didática no Ensino de Arte: Língua do Mundo, Poetizar,Fruir
e Conhecer Arte. São Paulo: FID, 1998.Mediação: provocações estéticas. Universidade Estadual
Paulista, Instituto de Artes.Pósgraduação, vol.1, 2005.
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ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Porto Alegre:
Mediação, 2009.
SKLIAR, Carlos (Org.) Atualidade da educação bilíngue para surdos: interfaces entre pedagogia e
linguística. Porto Alegre: Meditação, 1999.
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