Aços Ferramentas

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TRATAMENTO TÉRMICO TÊMPERA E REVENIDO DOS AÇOS

FERRAMENTAS: CONDIÇÕES E CUIDADOS.


Os aços ferramentas em geral, possuem grande quantidade de carbono em sua
composição. A grande maioria é caracterizada como hipereutetóide, ou seja, com teor de
carbono acima de 0,77% em peso na sua microestrutura. Este fato, por sua vez, garante
ao material uma grande resistência mecânica ao natural proveniente desta inserção do
carbono junto ao ferro. Aços como D2, M2, e H13 estão presentes nesta classe e têm
grande aplicabilidade na indústria. Para que não haja problemas em seu uso, são feitos
tratamentos térmicos visando a melhor performance possível em cada componente, uma
vez que esta é determinada pela composição química presente em cada peça. Tais aços
têm alta facilidade para serem endurecidos e isto é determinado pelo percentual de
carbono e pelos elementos de liga inseridos em sua microestrutura. Os beneficiamentos
mais comuns para estes aços são a têmpera, seguida do revenimento. Com o intuito de
aumentar ainda mais sua resistência mecânica, a têmpera visa a formação martensitica na
estrutura do material. O revenimento, feito logo após, tem a missão de aliviar as tensões
causadas pela alteração da rede cristalina causada pelo resfriamento intrínseco à têmpera.
Sabendo disto, a realização destes beneficiamentos demanda alguns cuidados,
visto que tais aços podem resultar em microestruturas não desejadas, podendo ter sua
resistência mecânica, em geral, diminuída caso não estejam sob monitoramento. Tomando
como exemplo o AISI D2 e seguindo as recomendações de BRYSON, William E. (2005)
Heat treatment, selection, and application of tool steels [1], tem-se:
Para o aço AISI D2, que possui na faixa de 1,4-1,6% de C, 11-13% de Cr, 0,701,20
de Mo e 1,10 de V, recomenda-se um pré-aquecimento, até 650°C, de 10 a 15 minutos,
visando harmonizar a microestrutura e contribuir para o alivio de tensões causadas pelos
processos anteriores, como a usinagem.[1].

Fonte: BRYSON, William E (2005). Heat treatment, selection, and application of tool steels.

Figura 1. Curva de pré-aquecimento aço D2.

Após este pré-aquecimento, o material é aquecido de forma gradual até sua


temperatura de austenitização que, no caso do aço D2, se dá em torno de 1000°C, tendo
duração de 1h para cada polegada da peça constituinte como indica a Figura 2 abaixo.
Fonte: BRYSON, William E (2005). Heat treatment, selection, and application of tool steels Figura
2. Curva de tratamento térmico aço ferramenta D2.

Ao esgotar o tempo de austenitização, o material deve ser resfriado de acordo com


a propriedade desejada, podendo ser em ar, óleo ou água. Para o caso do aço D2, o
resfriamento é feito ao ar, podendo ser feito em flash oil, para peças acima de 150mm [1].
Quando o material atinge a temperatura de 65°C, ocorre o reaquecimento para o
revenimento ser realizado. Nesta parte, o reaquecimento acontece até 515°C e segue
mantido por 2h/polegada da peça. O segundo revenimento é realizado quando se deseja
durezas acima de 62HRC.
Podemos elencar 3 fatores que, por si só, gerem a grande maioria dos tratamentos
térmicos. São estes: a temperatura, o tempo e o resfriamento. Para os aços ferramentas,
como o exemplo do AISI D2, têm-se uma lista com vários itens a ser cumprida visando a
obtenção das melhores propriedades possíveis.
A temperatura: Segundo SARTORI [3], “quando o aço é aquecido até a
temperatura de austenitização, não somente os carbonetos são parcialmente
dissolvidos, mas também a matriz é alterada, transformando-se de ferrita para austenita
graças ao reposicionamento dos átomos de carbono no reticulado cristalino”. Tal condição
permite que, no resfriamento rápido, ocorra a formação da estrutura martensítica. Esse
aquecimento deve ser lento para minimizar distorções e geração de tensões térmicas nas
peças em questão. Cada aço possui uma temperatura específica para a transformação de
ferrita em austenita a ser definida pelo fabricante da liga. O não seguimento destas
instruções poderá, juntamente com o não seguimento das instruções referentes ao tempo
e resfriamento, acarretar em propriedades indesejadas ao final do processo.
O tempo: Deve ser seguido à risca o material de consulta fornecido pelo
fabricante, uma vez que inúmeros testes para a determinação do, por exemplo, tempo de
austenitização e de revenido foram feitos.
O resfriamento: Segundo SARTORI, “No caso de ferramentas, a velocidade de
resfriamento deve seguir uma solução de compromisso entre a obtenção das propriedades
desejadas e uma mínima distorção. A velocidade deve ser alta o suficiente para evitar a
formação de carbonetos pró-eutetóides que roubam C e elementos de liga da matriz
(prejudicam o endurecimento secundário), e reduzem a tenacidade (precipitam em
contorno de grão). Dentre os meios de resfriamento podemos destacar: salmoura, água,
óleo, sal, nitrogênio sob pressão ou ar, dependendo sempre da temperabilidade do aço”.
Os melhores meios de resfriamento para aços ferramenta são a martêmpera em banho de
sal, resfriamento ao ar e resfriamento por nitrogênio sob pressão. Para aços temperados
ao óleo, a martêmpera exige cuidado, pois a permanência excessiva no banho, pode
formar bainita na microestrutura.
Tanto o AISI D2, citado como exemplo, como os outros aços ferramentas, têm
uma tendência a reter austenita na microestrutura pós-tratamento e isto pode ser um
problema. A retenção de austenita ocorre devida alta concentração de elementos de liga e
carbono e ocasiona a perda de dureza na ferramenta, visto que a austenita tem grau de
resistência mecânica, que neste caso entende-se como dureza, consideravelmente mais
baixo que a martensita e isto se deve a diferença de estrutura entre ambas. Existem
inúmeros problemas provenientes do aquecimento/resfriamento das peças e entre estes
estão a descarbonetação e a dilatação.
A descarbonetação, proveniente da facilidade com que o carbono se liga ao
oxigênio e a outros hidrocarbonetos presentes na atmosfera do forno, pode ocorrer e deve
ser evitada pelo seu efeito danoso, que se dá na superfície da peça tratada. O uso de
atmosferas de proteção, como atmosferas inertes, e embrulhamento em folhas de aço
inoxidável, podem reduzir ou eliminar a descarbonetação. Esta perda de carbono para o
meio interfere diretamente na propriedade mecânica final da peça, uma vez que se é
reduzida a quantidade presente de C, a dificuldade de formação martensítica aumenta.
Podem também ocorrer mudanças de volume quando o aço é aquecido à
temperatura de austenização antes do resfriamento. A dilatação ocorre como resultado da
expansão térmica. Por isso, deve-se dar especial atenção às condições de préaquecimento,
de forma que a ferramenta possa estabilizar em várias temperaturas abaixo da temperatura
de austenitização para um aquecimento uniforme. O pré-aquecimento e resfriamentos
adequados reduzem o risco de trincas e distorção em ferramentas de seção variável [4].
Para aços ferramentas, faz-se necessário o revenimento duplo, ou até revenimento
triplo, caracterizado pela remoção de austenita retida na microestrutura do material
prétemperado. Particularmente, em casos cuja aplicação requer uma tenacidade elevada
(ou a maior possível), é absolutamente indispensável a aplicação de dois ou mais
revenidos, para que a modificação desta austenita retida se transforme em martensita. Para
isto, o material/peça é reaquecido até que toda a retenção austenítica seja transformada
em martensita. Tem-se o exemplo do AISI H13, que necessita de revenimento triplo.
Fonte: SARTORI, C.H. Tratamentos Térmicos De Aços Ferramenta

Figura 3. Esquema de pré-aquecimento, têmpera e revenimento para o aço AISI H13.

Este aço, similar ao GGD H13, tem a aplicação em matrizes para forjamento por sua alta
resistência ao trabalho à quente como principal característica, necessita de
beneficiamentos prévios. Entre eles estão o alivio de tensões, realizados na faixa de 550°C
a 650°C, seguido de têmpera e revenimento. A empresa GGD Metals [6] recomenda que
estes tratamentos sigam restritamente os manuais de tratamento térmico para cada aço.
No caso do GGD H13, tem-se as seguintes normas:
Alívio de Tensões: “O tratamento deve ser feito entre 550 a 650ºC por no mínimo 2 horas
seguido de um resfriamento lento no forno até 200ºC, para depois levar ao ar”.
Para a Têmpera: “A austenitização deve feita ser em temperatura próxima de 1020ºC.
Aquecer por 1 hora para cada 25 mm de espessura e adicionar 1 hora para cada 25 mm
adicionais. Resfriar em ar, óleo morno, banho de sal ou pressão de nitrogênio em forno a
vácuo. Durante o aquecimento para a austenitização devem ser realizados 2
préaquecimentos para garantir uma homogeneidade de temperatura e minimizar
distorções. O resfriamento deve ser adequado à geometria e dimensão das ferramentas”.
Para o revenimento: “Este deve ser realizado imediatamente após a têmpera, quando a
temperatura atingir cerca de 70ºC. A temperatura de revenimento deve ser superior a
550ºC para não comprometer a resistência à fratura. Normalmente se utiliza
aproximadamente 610ºC para uma dureza típica de 45 HRC, recomendada pela North
American Die Casting Association para fundição sob-pressão de alumínio. Para outros
níveis de dureza selecionar a temperatura de revenimento de acordo com a curva típica
deste aço”.
Fonte: GGD Metals.

Figura 4. Curva de revenimento aço GGD H13

O GGD M2[5] (sua composição química, ligado ao tungstênio, molibdênio e


vanádio lhe garante um nível de endurecimento elevado no revenimento, em torno de 64,5
HRC) é utilizado em operações de corte e conformação a frio, em matrizes e punções,
ferramentas nas quais pode ser utilizado com menor dureza de acordo com a
particularidade de aplicação. Tais características tornam o M2 um aço ferramenta.
Visando a melhor performance, este aço necessita de tratamentos térmicos. Segundo a
empresa GGD Metals, o GGD M2 deve sofrer alivio de tensões pré-tratamento em uma
temperatura na faixa entre 550°C e 650°C e posteriormente, ter o decréscimo lento até
200°C, diminuindo as tensões causadas pela conformação e pela usinagem. Após este
alívio de tensões, realiza-se a têmpera. Este processo é descrito por GGD Metals a seguir:
“A recomendação é que se faça a austenitização em temperaturas entre 1190 e
1200ºC. O tempo de resfriamento é crítico para este aço e deve ser considerado
em função da sua seção transversal. Pode ser temperado em banhos de sais ou em fornos
a vácuo. Resfriar em ar, óleo morno, banho de sal ou pressão de nitrogênio em forno a
vácuo. Durante o aquecimento para a austenitização devem ser realizados 2 pré-
aquecimentos para garantir uma homogeneidade de temperatura e minimizar distorções”.
Após a tempera, necessita-se do revenimento. Tal processo também é descrito pela
empresa seguindo as características intrínsecas deste aço. A recomendação parte do
princípio a seguir:
“O revenimento deve ser realizado imediatamente após a têmpera quando a
temperatura atingir cerca de 70ºC. A temperatura de revenimento deve ser em torno de
550-560ºC. Em operações de trabalho a frio, para durezas inferiores as recomendadas para
operações de corte por remoção de cavaco, 64-65 HRC, não deve se praticar o aumento
da temperatura de revenimento. Durezas menores devem ser conseguidas com a
modificação na temperatura de austenitização, com a manutenção da temperatura
de revenimento”. A recomendação sugere 2h para cada etapa de revenido, no caso de
revenimentos múltiplos.
Fonte: GGD Metals.

Figura 5. Curva de revenimento aço M2


REFERÊNCIAS
[1] BRYSON, William E (2005). Heat treatment, selection, and application of tool
steels. Pág. 29.
[2] CIMM. Recomendações Gerais para os Tratamentos Térmicos dos Aços
Ferramentas. Disponível em:
<https://www.cimm.com.br/portal/material_didatico/6374recomendacoes-gerais-
para-os-tratamentos-termicos-dos-acos-ferramentas>. Acesso em: 28 de set. de 2020.
[3] AÇO AISI D2. Disponível em: https://favorit.com.br/produtos/acos-
ferramenta/acoaisi-d2 . Acesso em: 28 de set. de 2020.
[4] SARTORI, C.H. Tratamentos Térmicos De Aços Ferramenta. Disponível em:
https://www.itarai.com.br/files/H.pdf. Acesso em: 28 de set. de 2020.
[5] GDD METALS. GGD M2. Disponível em:
https://ggdmetals.com.br/wpcontent/uploads/2015/07/A%C3%87O-M2.pdf. Acesso em:
29 de set. de 2020.
[6] GGD METALS. GGD H13. Disponível em: <
https://ggdmetals.com.br/wpcontent/uploads/2018/04/A%C3%87O-H13.pdf>. Acesso
em: 29 de set. de 2020.

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