TCC Pedro Lucas

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UniAGES

Centro Universitário
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

PEDRO LUCAS BOMFIM DE OLIVEIRA

O SOBRADO DA CUTIA:
Proposta de restauro e reinserção na dinâmica sociocultural da
cidade de Paripiranga

PARIPIRANGA
2021
PEDRO LUCAS BOMFIM DE OLIVEIRA

O SOBRADO DA CUTIA:
Proposta de restauro e reinserção na dinâmica sociocultural da
cidade de Paripiranga

Monografia apresentada no curso de


Arquitetura e Urbanismo do Centro
Universitário AGES como um dos pré-
requisitos para obtenção do título de
bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Elso de Freitas Moisinho Filho

PARIPIRANGA
2021
PEDRO LUCAS BOMFIM DE OLIVEIRA

O SOBRADO DA CUTIA:
Proposta de restauro e reinserção na dinâmica sociocultural da
cidade de Paripiranga

Monografia apresentada como exigência


parcial para obtenção do título de bacharel em
Arquitetura e Urbanismo à Comissão Julgadora
designada pela Coordenação de Trabalhos de
Conclusão de Curso do UniAGES.

Paripiranga, ____ de ________ de _____.

BANCA EXAMINADORA

Prof. MS. Elso de Freitas Moisinho Filho


UniAGES

Prof. Sicrano de Tal


UniAGES

Prof. Sicrano de Tal


UniAGES
AGRADECIMENTOS

A Deus, por me guiar e não me deixar desistir nos momentos mais difíceis da caminhada
acadêmica.
Aos meus pais: Elizeu Ferreira de Oliveira e Giselia Alves do Bomfim, que me deram
todo o suporte e apoio em todos esses anos de estudo. Exemplo de pessoas guerreiras e
batalhadoras.
Aos orientadores (as) e arquitetos (as): Elso de Freitas Moisinho Filho, Flávio Novaes
Dantas, Renata Dantas Rosário Sachs e Andréa dos Reis Fontes. Que por vários semestres,
demonstraram generosidade na partilha do conhecimento na área da arquitetura. Todos vocês
são inspirações para mim; exemplos de educadores e profissionais éticos que amam a profissão.
A todos professores que participaram dessa minha jornada acadêmica e somaram
positivamente na minha formação profissional.
A minha tia, historiadora Ana Maria Ferreira de Oliveira, por todo o suporte na pesquisa,
me mostrando caminhos certo em seguir. Obrigada pela troca de conhecimentos, conselhos e
ensinamentos de vida.
Aos meus colegas de classe, pela ajuda mútua, pela parceria sempre nas dificuldades e
nas conquistas; em especial a Dayse Santos Morais, pela amizade e companheirismo; por todo
apoio, e pelos bons conselhos. Obrigada por não me deixar desistir em momentos de ajuda nos
momentos de angústia, na reta final.
A Arisvaldo Geraldo do Nascimento, atual proprietário do Sobrado da Cutia, pela
generosidade em colaborar com a pesquisa, permitindo o acesso e a análise da estrutura do
prédio.
Ao Centro Universitário AGES, a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram
para que este sonho se tornasse real. A todos com quem tive o privilégio de dividir os dias de
trabalho, a minha gratidão.
“Acredito que as coisas podem ser feitas de
outra maneira, que a arquitetura pode mudar a
vida das pessoas e que vale a pena tentar”

Zaha Hadid
RESUMO

Esta monografia aborda uma questão que vem ocupando cada vez mais espaço nas discussões
acerca do patrimônio histórico cultural e da arquitetura: a importância da preservação das
características históricas dos prédios. O desenvolvimento da pesquisa leva ao estudo e a
proposição de uma intervenção restauradora do Sobrado da Cutia, localizado na zona rural da
cidade de Paripiranga, na Bahia. Edifício construído na década de 30, com um estilo
arquitetônico neocolonial. Planejado inicialmente como residência particular, tornou-se ponto
de apoio e proteção das famílias da comunidade da Cutia, durante o período de eminência do
Cangaço e constantes ameaças do bando de Lampião, que aterrorizou a região. Porém, a
degradação visível na estrutura arquitetônica do prédio deve-se à ação do tempo e ao abandono.
O desenvolvimento de um projeto de restauração do Sobrado é motivado pelo reconhecimento
de sua relevância, não só por seu valor arquitetônico - um dos poucos exemplares
remanescentes da arquitetura neocolonial no município, mas também por ser um testemunho
da História Local, fazendo parte da vivência e da memória de várias gerações e, ainda hoje,
uma referência histórica singular. A metodologia utilizada nesse trabalho de conclusão de curso
caracteriza-se como exploratória, com pesquisa de campo, pesquisa documental, levantamento
bibliográfico e procedimento monográfico. Conclui-se que, a restauração e a conservação
propostas para o Sobrado, expressam a importância da preservação do patrimônio cultural como
ação contribuinte para a identidade e coesão social, de modo a proporcionar a reinserção do
Sobrado da Cutia na dinâmica sociocultural da cidade, através de uma nova proposta de
utilidade e uso, que consiste na destinação do seu espaço à criação de um museu voltado para
a História e a cultura paripiranguense.

Palavras-Chave: Arquitetura. Patrimônio Cultural. Restauro. Sobrado da Cutia.


ABSTRACT

This monograph addresses an issue that has been occupying more and more space in discussions
about historical and cultural heritage and architecture: the importance of preserving the
historical characteristics of buildings. The development of the research leads to the study and
the proposition of a restoring intervention for the Sobrado da Cutia, located in the rural area of
the city of Paripiranga, Bahia. Building was built in the 1930s, with a neocolonial architectural
style. Initially planned as a private residence, it became a point of support and protection for
the families of the community of Cutia, during the period of eminent cangaço and constant
threats from Lampião's gang, who terrorized the region. However, the visible degradation in
the architectural structure of the building is due to the action of time and abandonment. The
development of a restoration project for the Sobrado is motivated by the recognition of its
relevance, not only for its architectural value - one of the few remaining examples of
neocolonial architecture in the municipality, but also for being a testimony of local history, part
of the experience and memory of several generations and, even today, a unique historical
reference. The methodology used in this course conclusion is characterized as exploratory with
field research, documentary research, bibliographical survey, and monographic procedure. It is
concluded that the restoration and conservation proposed for the Sobrado express the
importance of preserving the cultural heritage as an action that contributes to the identity and
social cohesion in order to provide the reinsertion of the Sobrado da Cutia in the socio-cultural
dynamics of the city, through a new proposal of utility and use that consists in the destination
of its space for the creation of a museum focused on the history and culture of Paripiranguense.

Keywords: Architecture. Cultural Heritage. Restoration. Cutia’s Sobrado.


LISTA DE FIGURAS

1: Museu do Pão ....................................................................................................................... 29


2: peças e utensílio históricos do Museu do Pão ...................................................................... 30
3: Foto para identificação dos materiais utilizados na construção .......................................... 31
4: Imagem em 3D da Implantação do Museu do Pão............................................................... 32
5: Implantação Finalizada - Museu do Pão .............................................................................. 32
6: Conexão entre os blocos - Museu do Pão ............................................................................ 33
7: Vista externa do porão - Museu do Pão .............................................................................. 34
8: Vista da passarela que interliga os blocos - Museu do Pão ................................................. 34
9: Mapa da Bahia com a Localização de Paripiranga ............................................................. 36
10: José Martins de Santana ..................................................................................................... 39
11: Sobrado da Cutia - 2014 ..................................................................................................... 40
12: Sobrado da Cutia - 2019 ..................................................................................................... 40
13: Ananias Oliveira Carvalho ................................................................................................. 41
14: Perspectiva da lateral do prédio - 2019 .............................................................................. 47
15: Visão Frontal do Sobrado - 2014 ....................................................................................... 47
16: Detalhes do beiral e da Laje com estrutura de madeira...................................................... 48
17: Detalhes da Escada ............................................................................................................ 48
18: Estrutura de Adobe de argila queimada e massa de argila e água...................................... 49
19: Localização geográfica da Cutia ........................................................................................ 50
20: Detalhes do Método de Construção .................................................................................. 51
21: Levantamento Cadastral do Perímetro Térreo ................................................................... 52
22: Levantamento Cadastral do Primeiro Pavimento .............................................................. 53
23: Foto em Perspectiva pintura da lateral da fachada curral e do depósito ............................ 54
24: Mapa de Danos da Fachada Frontal ................................................................................... 56
25: Mapa de Danos da Fachada dos Fundos ............................................................................ 57
26: Mapa de Danos da fachada Sudoeste ................................................................................. 57
27: Mapa de Danos da Fachada Noroeste ................................................................................ 58
28: Imagem em 3D da Ampliação ............................................................................................ 62
29: Fachada do Sobrado e Fachada do Anexo ......................................................................... 63
30: Lateral e Fundo do Sobrado da Cutia, com vista para o Estacionamento .......................... 64
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Legenda demonstrando danos e patologias encontradas ......................................... 55


Tabela 2: Quadro demonstrativo do estado de conservação da parte interna do Sobrado ...... 59
LISTA DE SÍGLAS

IPHAN: O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional


KM: Quilômetros
RS: Rio Grande Do Sul
ICOMOS: Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios
SHU: Sítios Históricos Urbano
2D: 2 (Duas Dimensões)
3D: 3 (Duas Dimensões)
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas
IAB: Instituto de Arquitetos do Brasil
PÁG: Página
LEPH: Laboratório de Ensino e Pesquisa em História
UniAGES: Centro Universitário AGES
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 11

2 RESTAURO............................................................................................................................... 13
2.1 Definição de Patrimônio Histórico.................................................................................. 13
2.2 Marco Teórico ................................................................................................................. 15
2.3 Cartas Patrimoniais e recomendações ............................................................................. 18
2.4 Métodos e técnicas de restauro ....................................................................................... 25
2.4.1 Restauro Contemporâneo - Recomendações do IPHAN ......................................... 25

3 REFERÊNCIA ARQUITETÔNICA ................................................................................... 29


3.1 Museu do Pão ................................................................................................................ 29

4 O SOBRADO DA CUTIA E A PROPOSTA DE RESTAURO NA


CONTEMPORANEIDADE ........................................................................................................... 36
4.1 Paripiranga/Ba ................................................................................................................. 36
4.2 Projeto de Restauro ......................................................................................................... 38
4.2.1 História do Sobrado da Cutia ................................................................................... 38
4.2.2 Metodologia ............................................................................................................. 42
4.3 Caracterização do bem .................................................................................................... 45
4.4 Levantamento de dados ................................................................................................... 49
4.5 Diagnóstico da edificação ............................................................................................... 55

5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ...................................................................................... 61


5.1 Memorial Descritivo ....................................................................................................... 61

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 65

7 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 67

APENDICE ........................................................................................................................................ 71

ANEXO ............................................................................................................................................... 75
11

1 INTRODUÇÃO

O trabalho a seguir trata-se de uma proposta de intervenção de restauro referente a


conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Ages, em
Paripiranga/BA; tem como finalidade aprofundar e aplicar teoricamente as técnicas de restauro
de acordo com as exigências de IPHAN e com referencial teórico, para confrontar ideias de
acordo com o tipo de intervenção escolhida para o local. A proposta de restauro consiste na
transformação do edifício histórico, que está sem uso, em um Museu, com temática voltada
para a história local, bem como para a importância do monumento para a cidade.
Para a aplicação das técnicas de restauro, foi escolhido um sobrado que está localizado
na zona rural no povoado Cutia, aproximadamente 2.5km da cidade de Paripiranga/BA. O
edifício é popularmente conhecido em toda cidade como ‘O Sobrado da Cutia’; uma obra da
década de 30, e também um símbolo da cidade contra o movimento do Cangaço, que
aterrorizava uma grande parte do Nordeste brasileiro entre os anos de 1920 a 1940.
Foi preciso um estudo detalhado para que pudesse chegar a um resultado convincente.
Primeiramente estudar sobre os tipos de restauros e cartas patrimoniais para que pudesse definir
o tipo de restauro que irá ser proposto, em seguida ter um conhecimento do Bem; pesquisar
sobre a história e a importância do edifício para a localidade; se já havia passado por alguma
reforma anterior, o tipo de arquitetura, tipo de estrutura, e todo o ambiente que tem em torno
do Sobrado. Seguindo todas as orientações do IPHAN, cada etapa foi realizada com muita
atenção e cuidado para que não houvesse a definição de falso histórico no futuro, após a
conclusão da intervenção.
No segundo capitulo é feito um embasamento teórico, deixando claro para o leitor a
definição de Patrimônio Cultural, tipos de restauro, cartas patrimoniais e recomendações do
IPHAN para a prática. Para falar sobre os tipos de restauro, foi utilizado livros sobre teorias de
arquitetos e historiadores: de Viollet-Le-Duc, John Ruskin, Camilo Boito, Cezare Brandi e
Alois Riegel, e cartas patrimoniais, cuja primeira foi criada no ano de 1931 (Carta de Atenas);
sendo que até o presente momento, existe entre cartas, normas, decretos, declaração e
recomendações, mais de 40 documentos que orientam nessas práticas (Incluindo as
recomendações do IPHAN).
O terceiro capitulo é dedicado ao Museu do Pão, importante referência de obra de
restauro e revitalização realizada no Brasil. Localizado na cidade de Ilópolis/RS, o Moinho
Colognese (como era chamado antes do processo de restauro) é um edifício construído no final
12

do século XIX e início do século XX por imigrantes Italianos que povoaram essa região do país.
O processo de restauro teve como objetivo preservar uma construção do século passado e toda
a sua identidade local, utilizando o método de revitalização, foram construídos dois anexos em
volta do Moinho, de modo a preservar sua arquitetura original, e transformá-lo em um museu
que une i passado com o presente, dando-lhe uma nova utilidade, preservando o patrimônio
histórico cultural do local sendo ele material e imaterial.
O capitulo quatro, traz a análise feita a partir das visitas técnicas realizadas ao edifício.
Essa etapa do projeto é a mais importante de todo o processo, pois o recolhimento correto dos
dados é fundamental para o decorrer do trabalho. O conhecimento adquirido acerca do Sobrado
é o que vai confirmar que realmente o edifício é um patrimônio histórico para a cidade, e que
precisa ser restaurado para manter viva a história a importância do prédio para a comunidade,
no tempo presente, bem como para as gerações futuras. Posteriormente, realizou-se o
diagnóstico geral sobre o estado de conservação do Sobrado, através de fotografias e mapa de
danos e patologias; bem como a identificação do tipo de arquitetura correspondente. A partir
dessa análise, observa-se o que realmente está degradado para que, na proposta de restauro,
possa-se recuperá-lo e deixa-lo o mais próximo possível de sua estrutura, e de sua aparência
original.
Por se tratar de um edifício que faz parte da história da cidade de Paripiranga/Ba, o
trabalho em geral tem como finalidade realizar uma intervenção de restauro de acordo com o
IPHAN, gerar um documento e fazer o pedido de tombamento do edifício, e além disso
transformar o local em um museu que levará o nome do primeiro dono e idealista da construção:
“Casa de Memória Ananias Oliveira Carvalho”.
13

2 RESTAURO

2.1 Definição de Patrimônio Histórico

Para compreender a definição de patrimônio histórico e saber em qual tipo de patrimônio


esse conceito se enquadra, é preciso ter o conhecimento de uma sequência de fatos históricos
que ocorreram ao longo do tempo. Os patrimônios históricos são bastante importantes para
concretizar fatos marcantes do passado, definição de cultura, arquitetura e elementos
representativos marcante de cada fase da vida humana.
Até 1837, ano que ocorreu a primeira comissão de monumentos históricos, os
patrimônios históricos valorizados eram objetos de pequeno porte, como moedas, jarros,
quadros artísticos, estatuas, entre outros. A valorização por esses tipos de objetos ocorria apenas
por pessoas em países da Europa, e essa especialidade foi nomeada Antiquariados, que, na
atualidade, correspondem a colecionadores dos diferentes tipos de antiguidades. Choay (2001)
em sua obra intitulada Alegoria do Patrimônio, o Antiquariado sem dúvidas nenhuma foi o
precursor do conceito de Patrimônio como é conhecido atualmente.
Na primeira comissão de monumentos Históricos que ocorreu na França, foram
definidas 03 categorias de acordo com monumentos. A primeira categoria era referente a
edifícios remanescente da antiguidade; a segunda, referia-se a edifícios religiosos da idade
média, e a terceira categoria tratava dos castelos que existiam na época. Com isso, também
passou a ser considerado elementos arquitetônicos de grande porte como monumentos
históricos.
Mesmo com esse acréscimo dos elementos arquitetônicos como monumentos históricos,
vários outros edifícios de arquitetura históricos com uma grande representatividade local que
não se encaixavam nessas três categóricas, e, sem qualquer valorização ou proteção, acabaram
sendo demolidos ao longo do tempo.

Até a década de 1960, o quadro cronológico em que se inscreviam os monumentos


históricos era, como hoje, praticamente ilimidado “a montante”, coincidindo, nesse
aspecto, como o da pesquisa arqueológica. (...) os belgas lamentam o desaparecimento
da Maison du Peuple (1896), obra-prima de Horta, demolida em 1968; e os franceses,
Les Halles, de Baltard, destruído em 1970, apesar dos vigorosos protestos que se
levantaram em toda a França e no mundo inteiro. Por mais prestigiosas que fosse,
essas vozes eram de uma pequena minoria diante da indiferença geral. (CHOAY, 2001
p.13).
14

Em meados de 1870, o Estados Unidos mesmo sem participar das reuniões sobre
patrimônio histórico que aconteciam apenas com países da Europa, deu um grande passo e se
torna o primeiro país a proteger o seu patrimônio. Diferente das três categorias ditas
anteriormente, os edifícios históricos preservados pelos Americanos foram residências de
grandes personalidades nacionais, como casas de antigos políticos e artistas famosos, assim
como alguns edifícios governamentais dos Estados Unidos.
No século XX, ocorreram eventos importantes onde foram reestabelecidos critérios
para que hoje um monumento se torne um patrimônio histórico. A primeira Conferência
Internacional para a Conservação de Monumentos Históricos ocorreu em 1931, na cidade de
Atena; esse evento contou com a participação apenas de países da Europa e foi dado inícios a
uma serie de criações de Cartas Patrimônios que servem de orientação para a realização de
intervenções de restauro, assim como a definição dos elementos importantes que um edifício
ou que os centros urbanos precisam ter para serem considerados Patrimônio Histórico.
Mais tarde, em 1964, aconteceu a Segunda Conferência Internacional, na cidade de
Veneza. Nessa Conferência teve a participação de três países distantes desse centro Europeu,
que foram: Peru, México e Tunísia. De acordo com Choay (2001), a parti desse evento, diversos
outros países começaram a perceber a importância de preservar o seu patrimônio histórico e,
15 anos mais tarde, 80 países assinaram a Convenção do Patrimônio Mundial.
Com essas mudanças, o patrimônio histórico passou a constituir-se não apenas edifícios
como estabelecido pelas três categorias definidas pela comissão de monumentos Históricos que
ocorreu na França. Foram acrescentadas as aglomerações de edifícios que fazem parte de uma
malha urbana envolvendo, uma arquitetura marcante para a determinada época da construção,
bem como preservação de toda a paisagem que envolve um contexto único. Um dos principais
exemplos desse contexto é a preservação e o tombamento da cidade Ouro Preto, em Minas
Gerais. Um conjunto de arquitetura colonial que compõe uma cidade marcante para fatos
históricos que aconteceram no Brasil.
É também de fundamental importância destacar a definição de monumento e
monumento histórico nos dias atuais. O uso da palavra monumento se refere a uma obra
construída que tem o objetivo de durar por tempo indeterminado na memória da população; se
refere a qualquer edificação com uma enorme estrutura, belíssima estática e que chame a
atenção das pessoas; já os monumentos históricos são edifícios que trazem às lembranças de
fatos históricos, que marcaram toda uma sociedade. São elementos que fazem parte de um
contexto histórico e são titulados a obrigatoriedade de preservação e tombamento.
15

O monumento tem por finalidade fazer reviver um passado mergulhado no tempo. O


monumento histórico relaciona-se de forma diferente com a memória viva e com a
duração. Ou ele é simplesmente constituído em objeto de saber e integrado numa
concepção linear do tempo – neste caso, seu valor cognitivo relega-o inexoravelmente
ao passado, ou antes à história em geral, ou à história da arte particular. (CHOAY,
2001 p. 26)

Dessa forma, é possível identificar através de relatos, os fatos históricos, para hoje se
tenha um conceito definido sobre o que é Patrimônio Histórico e que são Monumentos
Históricos. Tendo início na França, em 1837, a definição de que elementos arquitetônicos
também são considerados Patrimônio, seguiu uma linha do tempo, e a realização da Conferência
Internacional de Conservação dos Monumento Históricos, possibilitou a criação das cartas
patrimoniais e novas definições do que pode ser considerado Patrimônio Histórico.
Na atualidade, o Patrimônio Historio pode ser identificado entre os bens materiais e
imateriais, documentos, edifícios, sítios arqueológicos, cidades, centros urbanos, edifícios
arquitetônicos, e toda uma paisagem que aglomere fatores históricos de um determinado local.
Envolvendo toda um serie de importância para uma população sendo um ligar de memória para
a cidade, região ou até mesmo para o país inteiro.

2.2 Marco Teórico

Existem alguns arquitetos e historiadores importantes que criaram a sua forma de


conservar e restaurar edifícios históricos de acordo com a sua própria concepção de como é
correto realizar esse ato. Sempre quando acontece alguma obra de restauro e conservação, os
profissionais baseiam-se nas teorias de Viollet-le-Duc; John Ruskin; Camilo Boito; Cezare
Brandi e Alois Riegel.
Viollet-Le-Duc foi um arquiteto Francês que trabalhava na área de restauro e buscava
uma pureza no seu trabalho. A sua maneira de restaurar era a reconstituição, procurando
sempre uma reformulação ideal para o edifício, seguindo sua própria opinião de como era para
ter sido construído em sua época; se tornou conhecido como o restauro crítico. Dessa maneira,
Viollet-Le-Duc trabalha com um esquema que segue 3 (três) passos: Passo 01 - entender
profundamente todo o sistema construtivo da época do edifício; Passo 02 - criar um modelo
ideal de acordo com as suas convicções; Passo 03 - impor ao projeto esse seu esquema
idealizado.
16

“A palavra e o assunto são modernos. Restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo


ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode não ter existido nunca em um
dado momento." (LE-DUC; 2013. p.29). Seguindo sua teoria, e trazendo os seus métodos para
o restauro do Sobrado da Cutia, Viollet-Le-Duc iria reconstruir toda a parte degradada a parti
de suas ideias, e talvez não seguisse a linha de raciocínio do estilo arquitetônico já existente na
edificação.
O escritor inglês John Ruskin (2008), praticava o chamado restauro romântico, a
conservação é fundamental, pois ele defende que o edifício é intocável, e quando acontece
alguma intervenção de restauro, seria uma releitura ao passado, trazendo uma arquitetura do
passado para o presente realizando assim um falso histórico. Dessa forma, ele acreditava que
um edifício não necessitava de restauro, mas sim preservar e realizar manutenções sem agredir
a arquitetura raiz.
"Podemos viver sem a arquitetura de uma época, mas não podemos recordá-la sem a sua
presença. Podemos saber mais da Grécia e de sua cultura pelos seus destroços do que pela
poesia e pela história". (Ruskin, 2008, p. 10). Dessa forma, o processo de restauro realizado por
John Ruskin no edifício seria remover toda aquela parte degradada, fazer uma limpeza geral de
todos os ambientes, e preservar o restante do edifício, com manutenções para evitar que
futuramente não ocorra um possível desmoronamento.
Já o arquiteto italiano do final do século XIX, Camillo Boito (2014), realizou alguns
projetos de restauro importantes, praticando o restauro filosófico. Sua característica de restauro
tinha como base as teorias Le-Duc (2013) e John Ruskin (2008). Para ele é mais importante
preservar do que praticar o restauro, mas quando o restauro fosse necessário teria que ser
realizado. Suas obras de restauro pautavam-se na necessidade de registros fotográficos e
documentos que provem a verdadeira forma antes da degradação, levando em consideração
também a utilização dos materiais diversos.
Para Boito (2014), é preciso seguir 07 princípios fundamentais para realizar uma obra
de restauro justa. Dar valor a documentos que comprovem características do edifício; evitar
acrescentar elementos pudesse criar um falso histórico; utilizar matérias diversos nas partes
danificadas mantendo a mesmo forma, mas, deixando claro que ali ocorreu uma intervenção;
projetos de consolidação deveriam ser optativos e limitarem-se estritamente ao que realmente
é necessário; respeitar todas as fases do edifício; realizar registros durante todo o processo de
restauro, seja fotográfico e documentos; registrar no local a data exata do restauro que foi
realizado. Deste modo, Boito (2014) só iria realizar o restauro no Sobrado da Cutia, se existisse
relatos provando as verdadeiras características do edifício, e só iria restaurar toda a parte
17

degradada, mantendo as características e usando materiais que foi utilizado na época, o restante
seria preservado assim como toda a parte restaurada.
Na perspectiva do arquiteto italiano Cesare Brandi (2008), um dos principais
idealizadores do restauro crítico; o restauro precisa ser eficiente, dando uma nova vida ao
edifício, oferecendo uma funcionalidade, em que a naturalidade da intervenção de restauro
sempre deverá ter um foco exclusivo para ressuscitar um monumento abandonado. Dessa
forma, Brandi (2008) criou 02 axiomas, que constituem as diretrizes a serem tomadas na
realização da pratica do restauro. O primeiro afirma que o restauro deve acontecer apenas na
matéria do edifício, sem modificar e interferir a sua forma original, mas, deixando a amostra
que foi realizando um restauro com outros tipos de materiais, evitando cometer um falso
histórico.

Foi dito que a obra de arte goza de uma dúplice historicidade, ou seja, aquela que
coincide com o ato de sua formulação, o ato da criação, e se refere, portanto, a um
artista, a um tempo e a um lugar, e uma segunda historicidade que provém do fato de
insistir no presente de uma consciência, e, portanto, uma historicidade que se refere
ao tempo e ao lugar em que está naquele momento. (BRANDI, 2008, p. 32)

O segundo axioma de Brandi (2008), diz que o edifício restaurado não pode voltar com
as características no momento da sua criação, irá preservar a forma, mas não o uso das mesmas
matérias primas e técnicas utilizadas no passado. É preciso que o monumento carregue as
marcas que o tempo lhes deixa. “A restauração constitui o momento metodológico do
reconhecimento da obra de arte na sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e
histórica, com vistas à sua transmissão para o futuro” (BRANDI, 2008, p. 30).
Alois Riegl (2014) foi um Australiano historiador que que tinha como principal objetivo
de estudo, entender o valor de um monumento para sociedade. Sua característica é um pouco
parecida com a teoria de Ruskin (2008), seguindo a linha da conservação, porém aceita a
restauração se for justificável de acordo com as leis naturais.
O monumento histórico para Riegl (2014) é uma obra criada pelo ser humano, e dessa
maneira é preciso conservar para sempre. Dessa forma, só assim é possível que as gerações
futuras tenham o conhecimento de uma determinada obra; como por exemplos as construções
da Idade Média que se tornaram símbolos de uma época totalmente diferente de hoje (século
XXI). O monumento é ligado a memória coletiva de uma localidade.

“(...) tudo aquilo que foi, e não é mais hoje em dia. No momento atual, nós
acrescentamos ainda a esse termo a idéia de que aquilo que foi não poderá jamais se
reproduzir, e que tudo aquilo que foi constitui um elo insubstituível e intransferível
de uma cadeia de desenvolvimento”. (RIEGL, 2014, p. 49)
18

Observando toda essa opinião de cada teórico sobre como pode e deve ser realizado uma
obra de restauro, deve ser analisado que todo tinha uma única preocupação que é valorizar o
edifício histórico. Nessa perspectiva, conclui-se que única forma errada de se realizar um
restauro é praticando um falso histórico, e denegrindo a imagem pura do monumento histórico.
A preservação e o restauro servem para deixar viva as marcas do passado no presente, para que
assim as pessoas possam ter o determinado do monumento como referência cultural e história
dos seus antepassados.

2.3 Cartas Patrimoniais e recomendações

As Cartas Patrimoniais são as conclusões geradas em forma de documento sobre os


discursões realizados nos encontros onde são discutidas soluções para a conservação e restauro
de monumentos históricos. Elas determinam os procedimentos corretos a serem respeitados em
atividades de restauro, preservação e intervenção, para determinar o que pode e não pode ser
feito em um patrimônio. O site do Iphan apresenta cartas, normas, decretos, declaração e
recomendações que somam mais de 40 documentos que oriente nessas práticas. A análise dessas
cartas é de suma importância a análise e discussão dessas cartas para uma melhor compreensão
do ideal de patrimônio.
As primeiras cartas patrimoniais criadas foram as de Atenas, em 1931-1933. De acordo
com o IPHAN, a Carta de Atenas, 1931 tinha como principal objetivo oferecer orientações para
preservar os edifícios históricos que estavam sendo degradados na época. Já a Carta de Atenas
de 1933, define como deveriam ser as cidades futuras; uma vez que, por se tratar de um período
de guerras, era importante proteger os seus patrimônios que resistiram, e definir um novo
destino para a cidade moderna sem agredir os seus monumentos, pensando em um novo
urbanismo.
No ano de 1937, no Brasil, foi criado a Lei de Tombamento (Decreto 25/37)1 definindo
que os elementos históricos do Brasil só serão considerados patrimônio se estiverem integrados
em um dos livros do tombo. O primeiro livro do tombo representa elementos arqueológicos,
etnográficos e paisagísticos; no segundo, se encaixam as obras de artes históricas; no terceiro

1
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0025.htm. Acesso em 10 de janeiro de 2021.
19

as obras das Belas Artes, e quarto livro do tombo, obras que se incluírem na categoria das artes
aplicadas, nacionais e internacionais.

Art. 5º O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios
se fará de ofício, por ordem do diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer, ou sob cuja guarda
estiver a coisa tombada, afim de produzir os necessários efeitos. (BRASIL, Decreto-
Lei nº 25/37, 1937, On-line)

Em 1962 foi criada o documento chamado Recomendações de Paris, ela se resume a


Salvaguarda relacionado as paisagem e sítios, que são naturais envolvendo todo o espaço
urbano e rural. Suas medidas preventivas devem proteger poluição do ar e água, desmatamentos
(especialmente em encontras de vias, avenidas e ruas) e que novas construções de edifícios a
serem construídos, respeitassem primeiramente as leis, e além disso todos o contexto histórico
que envolve toda a paisagem do local.

Para os efeitos da presente recomendação, entende-se por salvaguarda da beleza e do


caráter das paisagens e sítios a preservação e, quando possível, a restituição do aspecto
das paisagens e sítios. Naturais, rurais ou urbanos, devidos à natureza ou obra do
homem, que apresentam um interesse cultural ou estético, ou que constituem meios
naturais característicos. (IPHAN – Recomendações Paris, 1962, p. 02)2.

Em maio de 1964, aconteceu o II Congresso de Internacional de Arquitetos e Técnicos


de Monumentos Históricos, e toda documentação gerada através das discussões culminou na
Carta de Veneza. Essa carta é uma das mais influentes na área de restauro até os dias atuais,
pelo fato dela expandir o significado dos patrimônios, passando a ser visualizada por arquitetos
e historiadores, como representatividade histórica, cultural, tradicional e temporal, e não é
permitido que um monumento seja afastado da história em que se pertence e está inserido. A
parti disso, não existe um monumento histórico isolado da sociedade, ela se tornou parte de um
contexto urbano histórico.

Artigo 1° - A noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica


isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização
particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-
se não só às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido,
com o tempo, uma significação cultural. (IPHAN – Carta de Veneza, 1964, p. 01).

“Artigo 2° - A conservação e a restauração dos monumentos constituem uma disciplina


que reclama a colaboração de todas as ciências e técnicas que possam contribuir para o estudo

2
IPHAN. Carta de país – Recomendação da Conferência Geral das Nações Unidas Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Recomendacao%20de%20Paris%201962.pdf. Acesso em 20
de janeiro de 2021
20

e a salvaguarda do patrimônio monumental”. (IPHAN – Carta de Veneza, 1964, p. 02)3. No ano


de 1967, na cidade de Quito, no Equador, ocorreu uma reunião para discutir a conservação e
utilização de monumentos e lugares de interesse histórico e artístico, para gerar economia para
os países da América que estavam passando por dificuldades financeiras. O principal objetivo
dessa reunião é definir normas que facilitassem a utilização desses monumentos históricos sem
diminuir o significado como edifício, porque os monumentos estão implicitamente destinados
a desempenharem uma função social, e, dessa maneira, as normas de Quito têm como principal
objetivo, influenciar o governo na realização de investimentos nesses edifícios históricos que
em muitos casos estão abandonados, para implantar uma nova utilização e futuramente ser um
ponto turístico, trazendo melhoras na economias dos países.

Valorizar um bem histórico ou artístico equivale a habilitá-lo com as condições


objetivas e ambientais que, sem desvirtuar sua natureza ressaltem suas características
e permitam seu ótimo aproveitamento. Deve-se entender que a valorização se realiza
em função de um fim transcendente, que, no caso da América Ibérica, seria o de
contribuir com o desenvolvimento econômico da região. (IPHAN – Normas de Quito,
1967, p. 05).

No Brasil, também foram criadas importantes Cartas Patrimoniais com o intuito de


proteger todo o patrimônio cultural; a primeira delas foi chamada de Compromisso de Brasília,
de 1970. Nela evidenciou-se a falta da mão de obra especializada em restauro, e trouxe
contribuição para a criação de programas governamentais voltados para a formação de
arquitetos restauradores, envolvendo toda área de restauro: pintura, museologia, restauração de
documentos, escultura, entre outras especialidades. (IPHAN – Compromisso de Brasília,
1970)4.
No ano seguinte, acorreu o II Encontro de Governadores para Preservação do
Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural do Brasil, denominado Compromisso
de Salvador. Esse encontro foi realizado para reafirmar todos os assuntos debatidos no
Compromisso de Brasília, em 1970, e também para criar recomendações que foram de suma
importância para a preservação do Patrimônio Histórico Brasileiro. Dentro dessas
recomendações, destaca-se a ideia de criar um Ministério da Cultura e Secretarias; elaborar uma

3
IPHAN. Carta de Veneza. II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos.
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Veneza%201964.pdf.
Acesso em 10 de janeiro de 2021
4
IPHAN. Compromisso de Brasília. 1º Encontro dos Governadores de Estado, Secretários Estaduais da Área
Cultural, Prefeitos de Municípios Interessados, Presidentes e Representantes de Instituições Culturais. Disponível
em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Compromisso%20de%20Brasilia%201970.pdf. Acesso
em 10 de janeiro de 2021
21

legislação eficaz para tornar mais visível a importância do bem tombado, e estabelecer critérios
de proteção mais competentes. (IPHAN – Compromisso de Salvador, 1971)5.
Em 1972 foi criada a Carta do Restauro, nela contem 12 artigos com diretrizes
orientadoras do processo de restauração em todos os tipos de patrimônios cultural. Nesta carta,
define-se a pratica de restauração como qualquer intervenção, aquelas envolvendo a
revitalização (dar uma funcionalidade), proteger os edifícios históricos facilitando a leitura do
passado no presente. (IPHAN – Carta do Restauro, 1972)6. Neste mesmo ano de 1972 foi criada
a Declaração de Estocolmo, relacionada ao meio ambiente. Reconhecendo que a paisagem em
conjunto com o meio ambiente também faz parte de um patrimônio cultural, a Declaração de
Estocolmo traz uma grande preocupação com as gerações futuras, e dessa forma, o seu principal
foco é destacar ações que preservem esse meio ambiente, envolvendo todos os recursos
naturais, terra, ar, água, fauna, flora, e todo o ecossistema.

O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrar judiciosamente


o patrimônio representado pela flora e pela fauna silvestres, bem assim, o seu habitat,
que se encontra atualmente em grave perigo por combinação de fatores adversos. Em
consequência ao planejar o desenvolvimento econômico, deve ser dada a devida
importância à conservação da natureza, incluídas a flora e a fauna silvestres. (IPHAN
– Declaração de Estocolmo, 1972, p. 01).

Em 1876, foi criada pelo Conselho Internacional dos Monumentos e dos Sítios
(ICOMOS) a Carta de Turismo Cultural7. Ela define o turismo cultural como sendo uma forma
das populações terem o conhecimento de monumentos e sítios histórico-artísticos que fizeram
parte do antepassado, gerando também economia, envolvimento social e cultural entre a nova
e antiga geração. Dessa forma, esse turismo cultural incentiva que haja esforços a favor de
preservação e manutenção do patrimônio histórico e artístico, e para que realmente se tenha
essa preservação, é preciso que se aplique medidas políticas em instrumentos básicos para ter a
continuação da manutenção.

O turismo cultural é aquela forma de turismo que tem por objetivo, entre outros fins,
o conhecimento de monumentos e sítios-artísticos. Exerce um efeito realmente
positivo sobre estes tanto quanto contribui – para satisfazer seus próprios fins – a sua

5
IPHAN. Compromisso de Salvador. II Encontro de Governadores para a Preservação do patrimônio Histórico,
Artístico, Arqueológico e Natural do Brasil – Ministério da Educação e Cultura. 1971. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Compromisso%20de%20salvador%201971.pdf. Acesso em
10 de janeiro de 2021
6
IPHAN. Carta de Restauro. Ministério da Instrução Pública – Governo da Itália. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20do%20Restauro%201972.pdf. Acesso em 10 de
janeiro de 2021
7
IPHAN. Carta do Turismo Cultural. ICOMOS; Bruxelas, Bélgica; 08 de novembro de 1976. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Turismo%20Cultural%201976.pdf. Acesso
em 10 de janeiro de 2021.
22

manutenção e proteção. Esta forma de turismo justifica, de fato, os esforços que tal
manutenção e proteção exigem da comunidade humana, devido aos benefícios
socioculturais e econômicos que comporta para toda a população implicada. (IPHAN
– Carta do Turismo Cultural, 1976, p. 02).

A Declaração de Nairóbi, de 1976, criada pela Organização das Nações Unidas,


representa a importância da salvaguarda do Patrimônio Histórico. O documento envolve a
proteção contra degradação e alterações abusivas ou desprovidas de sensibilidade, que atentam
contra a autenticidade; de modo que todos os conjuntos históricos ou tradicionais bem como
sua ambiência, deveriam ser preservadas ativamente, contra qualquer degradação. (IPHAN –
Recomendações de Nairóbi, 1976)8.
A Carta de Burra, criada em 1980, com as mesmas ideias e métodos de conservação e
restauração, manutenção e reconstrução já definidas anteriormente. Em seus 29 artigos, traz
recomendações e instruções para serem seguidas nos procedimentos relacionados as práticas
definidas anteriormente com destaque para os Artigos: “Art. 2° - O objetivo da conservação é
preservar a significação cultural de um bem, (...). ” (IPHAN – Carta de Burra, 1980, p. 02);
“Art. 11° - A preservação se impõe nos casos em que a própria substancia do bem, no estado
em que se encontra, oferece testemunho de uma significação cultural especifica, (...). ” (IPHAN
– Carta de Burra, 1980, p. 02); “Art.13° - A restauração só pode ser efetivada se existirem dados
suficientes que testemunhem um estado anterior de substância do bem e se restabelecimento
desse estado conduzir a uma valorização significativa cultural do referido bem”. (IPHAN –
Carta de Burra, 1980, p. 03); e “Art. 17° - A reconstrução deve ser efetivada quando constituir
condição sine qua non de sobrevivência de um bem cuja integridade tenha sido comprometida
por desgastes ou modificações, (...)”. (IPHAN – Carta de Burra, 1980, p. 04).
A Carta de Florença, criada em 1981, tem como preocupação a preservação dos jardins
históricos em toda parte do mundo. Esses jardins históricos devem ser preservados por inúmeros
fatores que englobam todo o contexto, sendo: o seu estilo (livre ou simétrico), suas combinações
de cores, topografias, volumes, harmonização, estética; e pelo principal motivo, que nos dias
atuais, o paisagismo está indo em decadência por fatores políticos; como consta em seu “Artigo
1° - Um jardim histórico é uma composição arquitetônica e vegetal que, do ponto de vista da
história ou da arte, apresenta, um interesse público. Como tal é considerado monumento”.
(IPHAN – Carta de Florença, 1981, p. 01).

8
IPHAN. Recomendação de Nairóbi. 19º Sessão UNESCO – Recomendação Relativa à Salvaguarda dos Conjuntos
Históricos e sua Função na Vida Contemporânea. Nairóbi, Quênia; novembro de 1976. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Recomendacao%20de%20Nairobi%201976.pdf. Acesso em
10 de janeiro de 2021.
23

A Declaração de Tlaxcala 1982 fala sobre os perigos que existe sobre os patrimônios
histórico de toda a América, existindo uma falta importância e tornando assim vários
monumentos depredados. Essa declaração recomenda-se que:

(...) qualquer ação que vise à conservação e a revitalização das pequenas localidades
seja inserida em um programa que leve me contra os espetos históricos,
antropológicos, sociais e econômicos da região e as possibilidades de revitalizá-la,
sem o que a referida ação será condenada à superficialidade e à ineficácia. (IPHAN –
Declaração de Tlaxcala, 1982, p. 03).

Em 1985, ocorreu no México a Conferência Mundial Sobre as Políticas Culturais, a


conclusão deste evento gerou a Declaração do México. Essa Conferência trouxe como objetivo
definir conceitualmente patrimônio cultural, identidade cultural e cultura, também foi
relacionado à temática, fatos da sociedade, como ciência, educação e comunicação; com
recomendações que fundamentais para a aproximação entre diferentes culturas. “Cada cultura
representa um conjunto de valores únicos e insubstituível já que as tradições e as formas e
expressão de cada povo constituem sua maneira mais acabada de estar presente mundo”.
(IPHAN – Declaração do México, 1985, p. 02).

O patrimônio cultural de um povo compreende as obras de seus artistas, arquitetos,


músicos, escritores e sábios, assim como as criações anônimas surgidas da alma
popular e o conjunto de valores que dão sentido à vida. Ou seja, as obras materiais e
não materiais que expressam a criatividade desse povo: língua, os ritos, as crenças, os
lugares e monumento históricos, a cultura, as obras de arte e os arquivos e bibliotecas.
(IPHAN – Declaração do México, 1985, p. 04).

As duas Cartas de Washington, uma de 1986, a partir do Conselho Internacional dos


Monumentos e dos Sítios (ICOMOS), e a outra de 1987, um complemento a Carta de Veneza
de 1964. A primeira Carta trata de valores que devem ser preservados em pequenas ou grandes
cidades, bairros históricos e centro urbanos:

[...] a forma urbana definida pelo traçado e pelo parcelamento; as relações entre os
diversos espaços urbanos, espaços construídos, espaços abertos e espaços verdes; a
forma e o aspecto das edificações (interior e exterior) tais como são definidas por sua
estrutura, volume, estilo, escala, materiais, cor e decoração; as relações da cidade em
seu entorno natural ou criado pelo homem; as diversas vocações da cidade adquiridas
ao longo de sua história. (IPHAN – Carta de Washington, 1986, p. 02).

A Carta de Petrópolis, criada em 1987, no 1º Seminário Brasileiro para Preservação e


Revitalização de Centros Históricos, traz a discussão cerca da preservação dos Sítios Históricos
Urbanos – SHU, e concretização da cidadania; assim como reforça a precisão de dar ao
patrimônio utilidade na vida da sociedade brasileira:
24

Na preservação da SHU é fundamental a ação integrada dos órgãos federais, estaduais


e municipais, nem como a participação da comunidade interessada nas decisões de
planejamento, como uma das formas de pleno exercício da cidadania. Nesse sentido,
é imprescindível a viabilização e o estímulo aos mecanismos institucionais que
asseguram uma gestão democrática da cidade, pelo fortalecimento da participação das
lideranças civis. (IPHAN – Carta de Petrópolis, 1987, p. 02).

A carta de Brasília, criada em 1995, discute a autenticidade e a sua relação com outros
conceitos com identidade, mensagem, contexto e materialidade. No entendimento dos
representantes dos países do Cone Sul, todas essas nações têm uma cultura sincretista, e são
perceptíveis as heranças deixadas pelos povos do passado:

[...]“a primeira é o resultado das culturas pré-colombianas, a contribuição indígena; a


segunda é o legado europeu inicial; a terceira herança foi à crioula e a mestiça, à qual
se soma a contribuição africana; e finalmente, o legado das diferentes imigrações a
partir do fim do século passado”. (IPHAN – Carta Brasília, 1995, p. 02).

O último documento produzido, relacionado à pratica de restauro e conservação


registrado pelo IPHAN, é a Carta de Brasília de 2010. Esse documento feito por jovens de
diversas nacionalidades, apresentando suas opiniões sobre a importância do patrimônio. Neste
documento destacam-se fatos reais referentes à valorizado o Patrimônio Histórico, na
atualidade; a partir da última Carta de Brasília foram apresentadas 09 recomendações
representativas de que os “(...) jovens do mundo comprometidos com a preservação do
patrimônio. Assumimos a responsabilidade de cuidá-lo e divulga-lo, sendo esta uma
responsabilidade recíproca com as autoridades competentes; uma aliança pela identidade”.
(IPHAN – Carta Brasília, 2010, p. 01).
Contudo, todas essas orientações ditas nas cartas patrimoniais devem ser implantadas
em determinadas obras de restauro. Cada carta tem as suas orientações para determinado tipo
de restauro e preservação, e, desta forma, é preciso primeiramente verificar, após passar por
diferentes processos e identificação, a qual tipo o monumento se enquadra, no que tange à
pratica de restauro e conservação. Após isso, é ter os conhecimentos das cartas que focam no
tipo de restauro desejado para o determinado monumento.
25

2.4 Métodos e técnicas de restauro

2.4.1 Restauro Contemporâneo - Recomendações do IPHAN

No brasil, o órgão responsável pela preservação do patrimônio material e imaterial é o


IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Para realizar essa pratica no
país, é preciso seguir algumas recomendações para diferentes etapas que contribuem para uma
análise eficaz. Além das cartas patrimoniais servirem para orientações, o Manual de Elaboração
de Projeto de Preservação do Patrimônio Cultural, explica todo o processo de analises, de modo
que a realização do restauro fora desse processo torna-se inviável. “Este Manual tem o objetivo
de estabelecer diretrizes, orientar e sistematizar a Elaboração de Projetos para Preservação do
Patrimônio Edificado e de Espaços Públicos Urbanos integrantes do Patrimônio Cultural,
protegido na forma da legislação pertinente”. (BRASIL, 2005, p. 13)
De acordo com o manual, o profissional que estiver responsável pelo restauro de um
monumento histórico e tombado pelo IPHAN, deve realizar uma consulta previa ao
departamento, para buscar orientações e não realizar um restauro que fuja da lei; detalhar o
projeto, mostrando o que irá ser preservado e restaurado e assinar termos transferindo toda a
responsabilidade do projeto para o profissional. O profissional que estiver responsável pelo
restauro deve respeitar “os valores estéticos e culturais do Bem, com o mínimo de interferência
na autenticidade do mesmo, seja autenticidade estética, histórica, dos materiais, dos processos
construtivos, do espaço envolvente, ou outras”. (BRASIL, 2005, p. 15)
Após as etapas mencionadas serem concluídas e o IPHAN aprovar o projeto, os
profissionais passam para a segunda fase do projeto. Em seguida, são realizadas 03 fases: 1°
Identificação e Conhecimento do Bem; 2° Diagnostico e 3° Projeto Executivo (estudo
preliminar; projeto básico e projeto executivo).

Recomenda-se que o Projeto seja desenvolvido gradualmente, em etapas,


possibilitando o acompanhamento, avaliações e orientações por parte dos órgãos
competentes, no que diz respeito às suas atribuições. Sabe-se que estas etapas são
complementares e interdependentes e, a qualquer momento da elaboração do Projeto,
poderão ser revisadas. (BRASIL, 2005, p. 19).

Na primeira fase que se refere a identificação do Bem, o profissional precisa realizar


uma pesquisa aprofundada acerca dos fatores históricos e culturais que envolve o edifício. Nesta
pesquisa, é preciso recolher informações importantes como: fontes bibliográficas (livros e
26

publicações existente sobre o assunto); fontes orais (entrevista com pessoas que presenciaram
etapas das construção e história do edifício); saber o contexto histórico em que a edificação foi
construída, datas especificas e intervenções que foram feitas no local; quem foram os autores
do projeto; o tipo de arquitetura existente; quais métodos de construção foram utilizados; quais
as funções que o edifício teve no passado, e a atual utilização do mesmo na atualidade.
Ainda nessa mesma etapa do projeto, se inicia o levantamento físico. “Compreende as
atividades de leitura e conhecimento da forma da edificação. Obtidos por meio de vistorias e
levantamentos, representados gráfica e fotograficamente”. (BRASIL, 2005, p. 21)
Indo até o edifício, é iniciado o levantamento cadastral detalhado, com o máximo de
informações e medidas possíveis, para que sejam criadas as plantas baixas; planta de situação;
localização; fachadas; cortes; plantas de cobertura; topografia do terreno; fotos internas e
externas. A partir de então, inicia-se uma análise tipológica do edifício, identificando os
materiais que foi utilizado e como foi o seu sistema construtivo.

Esta atividade consolida criticamente o conjunto de informações obtido na pesquisa


histórica, levantamento cadastral e prospecções, analisando de forma pormenorizada
a tipologia arquitetônica, os materiais empregados, o sistema construtivo da
edificação e o contexto no qual está inserida. (BRASIL, 2005, p. 26)

Para a finalização da primeira fase, é feito o processo de Prospecções. Esse é um


processo mais aprofundado sobre o edifício, é identificado alterações na estrutura, vãos que
tenham sido abertos ou fechados, o estado de conservação, cor de pintura de janelas, portas,
paredes e demais elementos decorativos, tipo de forro, entre outros, gerando assim um relatório
envolvendo fotografias e informando a tais mudanças. Para a realização dessa atividade, que é
bastante importante para se ter o conhecimento totalmente do bem é necessário a utilização de
ferramentas manuais e elétricos.
A segunda fase do processo de restauro, como já foi citada anteriormente, é o

Diagnóstico. “É a etapa de consolidação dos estudos e pesquisas anteriormente realizados, na

medida em que complementa o conhecimento do objeto, analisando de forma pormenorizada


determinados problemas ou interesses específicos de utilização do Bem”. (BRASIL, 2005, p.
28). Nelas, serão feitas o Mapeamento de danos; Análise do estado de conservação; Estudo
Geotécnicos e Ensaio de testes. O mapeamento de danos, ou melhor, a criação do Mapa de
Danos, que pode ser representado por gráfico, desenho em 2D ou 3D, mostrará todos os danos
existentes no edifício, causados naturalmente ou por interferência humana. “São considerados
danos todos os tipos de lesões e perdas materiais e estruturais, tais como: fissuras, degradações
27

por umidade e ataque de xilófagos, abatimentos, deformações, destacamento de argamassas,


corrosão e outros”. (BRASUL, 2005, p. 26)
A etapa da Análise do Estado de Conservação consiste simplesmente no estudo da
sequência as informações obtidas na primeira fase, e analisar profundamente o estado de
conservação de cada elemento, como: a conservação dos materiais; do sistema estrutural;
identificar os agentes degradados; caracterizar os danos de fundação e danos estruturais. Nesse
processo, o estudo geotécnico é feito para que se possa realizar a conclusão das causas dos
danos destacados anteriormente. “A necessidade dos estudos geotécnicos é decorrente das
análises preliminares e das hipóteses levantadas nesta etapa de diagnóstico e objetiva fornecer
elementos precisos para identificação das causas dos danos verificados da edificação”.
(BRASIL, 2005, p. 29). Na etapa da segunda fase aplica-se o Ensaio e Teste que:

(...) consiste basicamente na análise dos materiais existentes na edificação, por meio
de ensaios e testes requeridos pelas necessidades do projeto, tanto para compreender
os danos dos materiais, como para definir a intervenção, a exemplo de: limpeza de
pedras, definição do traço de argamassas. (BRASIL, 2005, p.29)

Na terceira e última fase desse processo, começa a ser realizada a proposta de


Intervenção. “Compreende o conjunto de ações necessárias para caracterizar a intervenção,
determinando soluções, definindo usos e procedimentos de execução, abordados técnica e
conceitualmente” (BRASIL, 2005, p. 29). Assim, para uma boa proposta de intervenção ser
completa, é necessário realizar três procedimentos interdependentes: Estudo preliminar; Projeto
Básico e Projeto executivo.
O estudo preliminar é basicamente apresentar o “(...) conceito e fundamentos da
Proposta de Intervenção, com indicativos de soluções para os problemas e questões levantadas
no diagnóstico e no programa de uso para a edificação. Tem também o propósito de subsidiar
a consulta prévia”. (BRASIL, 2005, p.30) Desenvolvendo assim um Memorial descritivo
(necessário para o entendimento do partido arquitetônico a ser seguido, explicando soluções
técnicas e justificando modificações); Apresentar materiais e serviços; Estimativas de custos de
cada setor em que será realizada a intervenção; e apresentar uma proposta inicial com
representações gráficas, obtendo: plantas baixas, cortes, fachadas, perspectivas, maquete
volumétrica e digital, para que assim possa ter uma primeira aprovação do cliente.
O projeto básico de intervenção é a continuação do estudo preliminar; após a primeira
aprovação, começa a ser realizado o projeto técnico de acordo com as normas ABNT.
28

Nesta etapa deverão ser desenvolvidos todos os elementos e informações necessários


para definir a intervenção proposta, nos seus aspectos técnicos, conceituais,
quantitativos e executivos, com vistas à execução. É resultante da Identificação e
Conhecimento do Bem, das análises processadas no Diagnóstico - quando alternativas
começam a ser sinalizadas - das alternativas técnicas e de materiais disponíveis, das
condições de prazo e outros. (BRASIL, 2005, p. 30-31)

O memorial descritivo deve estar em um formato A4, contendo: conceito, a definição


do uso; a viabilidade técnica, especificar detalhamento os materiais e serviços e uma planilha
orçamentária. As representações gráficas são representadas em pranchas, cujo formato varia
para cada representação. Planta de situação (escala 1:500 ou 1:1000); Planta de locação (escala
1:100 ou 1:200); Plantas baixas de todos os pavimentos (escala 1:50 ou 1:100); Fachadas (escala
1:50 ou 1:100); Cortes (escala 1:50); Planta de Cobertura (escala 1:20, 1:50 ou 1:100).
O projeto executivo é a última etapa antes de iniciar a pratica. E preciso que sejam
revisadas todas as plantas anteriores, observando os detalhamentos, se faltou algo a ser
destacado, já visando a execução da intervenção; fixar o prazo para início e fim da obra junto
com o orçamento final. Também são realizados projetos complementares de detalhamento de
determinadas áreas; se necessário detalhamento de fundações e estruturas, instalações
hidráulicas e sanitárias, instalações de prevenção e combate a incêndios, instalações mecânicas
e instalações elétricas e eletrônicas:

Recomenda-se que esta etapa final do Projeto seja desenvolvida após aprovação
preliminar do Projeto Básico junto ao IPHAN, e a outras instituições de preservação,
quando for o caso, aos órgãos públicos, em especial a Prefeitura Municipal,
concessionárias de serviços públicos, Corpo de Bombeiros e outros. (BRASIL, 2005,
P. 35)

Conclui-se que para ser realizada uma intervenção em edifico histórico, é necessário ter
bastante embasamento teórico e estar por dentro de todas as recomendações do IPHAN.
Principalmente, é necessário ter todo o conhecimento do Bem, analisar as suas degradações,
pensar em uma proposta que acrescente positivamente para a sociedade local sem realizar falso
histórico e não agredir a cultura local. O restauro é importante para manter vivos edifícios que
fazem parte da história de um povo, de uma cultura, uma tradição; o restauro é simplesmente
mantar vivas nas vidas das pessoas, os sentimentos, e determinadas ações que ocorreram no
passado têm influenciado bastante os dias atuais.
29

3 REFERÊNCIA ARQUITETÔNICA

3.1 Museu do Pão

Figura 1: Museu do Pão


Fonte: Disponível no site: https://www.archdaily.com.br/br/01-8579/museu-do-pao-moinho-colognese-brasil-
arquitetura. Acesso em 10 de janeiro de 2021.

Hoje, no Brasil, uma das principais referências de Museu premiado e elogiado por todos
que o visitam e por profissionais da área de arquitetura e especialistas em restauro, é o Museu
do Pão. Situado na cidade de Ilópolis, no estado do Rio Grande do Sul, essa é uma obra de
revitalização de um Moinho Colonial, construído entre o final do século XIX e do século XX,
por imigrantes de vários países, como: Japão, Alemanha, Polônia, Itália, Líbano e Ucrânia.

O projeto do Museu do Pão, apresentado em 2005 na publicação “Francisco Fanucci,


Marcelo Ferraz: Brasil Arquitetura”, momento em que ainda estava em execução,
posteriormente obteve como reconhecimento o Prêmio Rodrigo Melo Franco de
Andrade na categoria preservação de bens móveis e imóveis, foi finalista no World
Architecture Festival em Barcelona, e obteve também o Prêmio Rino Levi ex-aequo
IAB em São Paulo; todos no ano de 2008 . (EDELWEISS; BORTOLI; VOLPATTO,
2015, p. 08)

A ideia de realizar essa intervenção de restauro no Moinho era preservar e valorizar a


cultura dos Moinhos, que, por um determinado tempo, era a principal fonte de renda daquela
região e uma identidade local trazida por imigrantes. O Moinho Colognese, como era chamado
30

antes de se tornar o Museu do Pão, além de ser restaurado, teve a preservação de um acumulo
de peças e utensílios diretamente ligados aos colonizadores italianos (figura 2). Por se tratar de
um conjunto de condicionantes, com uma arquitetura diferenciada e que se envolve diretamente
com a cultura daquela região, o Museu do Pão é considerado um patrimônio material e
imaterial.
Conforme exposto, a iniciativa do projeto do Museu do Pão, aliada à proposição de
valorização cultural do Caminho dos Moinhos, constitui um primeiro passo no sentido
da viabilização da rota cultural. O Moinho Colognese, por sua arquitetura, atua como
patrimônio material e imaterial. Sua imagem é capaz, de maneira iconográfica, de
representar a memória cultural da região. Neste sentido, entende-se a preexistência,
por seu potencial iconográfico, como um elemento passível de salvaguarda e interesse
cultural. (EDELWEISS; BORTOLI; VOLPATTO, 2015, p. 09)

Figura 2: peças e utensílio históricos do Museu do Pão


Fonte: Disponível no site: https://www.archdaily.com.br/br/01-8579/museu-do-pao-moinho-colognese-brasil-
arquitetura. Acesso em 10 de janeiro de 2021.

Assim como o Sobrado da Cutia, o Moinho Colognese também é situado em um


ambiente rural e tem uma ligação direta com a cultura e arquitetura local trazida por imigrantes.
A estrutura do moinho é basicamente “construído de ripas de madeira de araucária, material em
abundância no território e empregado pelos imigrantes na ocasião, e telhado de duas águas
apresenta-se como referência para o gesto da intervenção”. (EDELWEISS; BORTOLI;
VOLPATTO; 2015, p. 10).
31

Figura 3: Foto para identificação dos materiais utilizados na construção


Fonte: Disponível no site: https://www.archdaily.com.br/br/01-8579/museu-do-pao-moinho-colognese-brasil-
arquitetura. Acesso em 10 de janeiro de 2021.

A preocupação dos arquitetos que realizarão o restauro do Moinho, era planejar uma
restauração que não provocasse a perda da identidade do local. Com isso, os dois blocos que
foram construídos para fazer parte do Museu, levam uma arquitetura contemporânea, a base de
concreto e vidro, formando um (L) em volta do moinho e utilizando passagem entre os anexos,
com estrutura de madeira, fazendo assim uma ligação entre os dois tipos de arquitetura
presentes, e, de certa forma, também deixando perceptível para os visitantes que no processo
de restauro houve uma implantação. A imagem 03 mostra o 3D da implantação no local, e na
imagem 04, amostras da finalização do projeto.

O partido parte da implantação de dois volumes novos, em concreto aparente,


articulados em “L” e conectados por passagem aberta em madeira, típica das
residências dos colonos italianos, que conformam a esquina pela ocupação do Museu
e o fundo do lote, que se alinha ao curso d’água existente, pela Oficina. O museu,
assim, tem seu programa dividido entre três edificações, duas delas contemporâneas,
e a terceira preexistente, o moinho Colognese. As duas novas edificações abraçam a
preexistência de maneira sutil, possibilitando a criação de um percurso, permitindo ao
visitante um passeio arquitetônico, que se inicia pela entrada na nova edificação que
abriga o museu e o auditório, em seguida segue para a edificação da oficina de pães e
por fim o moinho de madeira de araucária restaurado. (EDELWEISS; BORTOLI;
VOLPATTO, 2015, p. 09)
32

Figura 4: Imagem em 3D da Implantação do Museu do Pão


Fonte: Disponível no site: https://www.archdaily.com.br/br/01-8579/museu-do-pao-moinho-colognese-brasil-
arquitetura. Acesso em 10 de janeiro de 2021.

Figura 5: Implantação Finalizada - Museu do Pão


Fonte: Disponível no site: https://www.archdaily.com.br/br/01-8579/museu-do-pao-moinho-colognese-brasil-
arquitetura. Acesso em 10 de janeiro de 2021.

Para conectar os novos anexos construídos, foi utilizado “o concreto armado, em sua
fabricação, tem o emprego de fôrmas de ripas de madeira, estabelecendo um diálogo com o
desenho das ripas verticais do Moinho existente”. (EDELWEISS; BORTOLI; VOLPATTO,
2015, p. 10). É de suma importância que haja essa conexão, para que assim é criado elementos
33

que fazem uma harmonia entre a construção antiga com o contemporâneo, isso se pode observar
na imagem 06.

Figura 6: Conexão entre os blocos - Museu do Pão


Fonte: Disponível no site: https://www.archdaily.com.br/br/01-8579/museu-do-pao-moinho-colognese-brasil-
arquitetura. Acesso em 10 de janeiro de 2021.

No projeto de restauro também é preciso analisar a topografia do ambiente, e no caso


da revitalização do Moinho Colognese não foi diferente. Através de analises, os arquitetos
decidiram criar um porão de pedra nos novos anexos, assim como também já existe em baixo
do Moinho antigo, e, com isso, todos os blocos ficaram no mesmo nível. Para ter o acesso dos
blocos entre si, os arquitetos implantaram passarelas de madeira interligando as três
construções.

Os arquitetos do Brasil Arquitetura, optaram por seguir a proposta tipicamente italiana


do porão de pedra no pavimento do subsolo, fazendo um alinhamento do porão da
construção preexistente com o subsolo proposto no bloco da oficina. Já na edificação
do museu e auditório optaram pela elevação do volume por meio de pilares assim
como ocorre no porão do moinho Colognese. (EDELWEISS; BORTOLI;
VOLPATTO; 2015, p. 11).
34

Figura 7: Vista externa do porão - Museu do Pão


Fonte: Disponível no site: https://www.archdaily.com.br/br/01-8579/museu-do-pao-moinho-colognese-brasil-
arquitetura. Acesso em 10 de janeiro de 2021

Figura 8: Vista da passarela que interliga os blocos - Museu do Pão


Fonte: Disponível no site: https://www.archdaily.com.br/br/01-8579/museu-do-pao-moinho-colognese-brasil-
arquitetura. Acesso em 10 de janeiro de 2021

O museu do Pão é um exemplo de projeto de restauro que foi usado o conceito de


revitalização para implantar uma nova utilidade ao edifício histórico. Unindo Arquitetura e
Urbanismo em um único projeto, o Museu do Pão é a porta de entrada de todo o contexto que
35

envolve o Caminho do Moinhos, trazendo toda infraestrutura necessário para a comunidade,


que vale ressaltar é situada em um ambiente rural. Obras como essa tem que servir de referência
para as demais que se encontram nesse mesmo estado de conversação.
No tocante à cultura regional, do início ao fim do processo de restauro foi-se respeitado
todo o patrimônio cultural material e imaterial. “Entende-se, portanto, a intervenção
arquitetônica como estratégia para a produção do lugar na escala regional” (EDELWEISS;
BORTOLI; VOLPATTO), trazendo todo o suporte de infraestrutura, qualidade de vida,
melhoria na economia, e o pronto principal é a preservação do Patrimônio Histórico. Pode
destacar, que o restauro ele pode ser implantado em diversos contextos, independente da região,
cultura e fatores socioeconômico.
36

4 O SOBRADO DA CUTIA E A PROPOSTA DE RESTAURO


NA CONTEMPORANEIDADE

4.1 Paripiranga/Ba

A presente proposta restaurativa, localiza-se na cidade de Paripiranga-Bahia; situada na


fisiografia do Nordeste; BA-220, dividida pelo rio vaza-barris, situada à 110 km da capital
sergipana (Aracaju), e aproximadamente 340 km de Salvador / Ba9.
Seu maior índice de residentes está na zona rural, distribuída por vários povoados que
possuem maior destaque por sua área territorial e estrutura física: Lagoa Preta, Conceição de
Campinas, Roça Nova; Povoados que que englobam, e contribuem para a principal atividade
econômica do município em questão, que é a agricultura e pecuária, mantendo o destaque para
a produção e exportação de milho, feijão e abóbora; fatores e manejos que sempre contribuíram
para a apropriação privada de bens desde os primeiros ocupantes10.

Figura 9: Mapa da Bahia com a Localização de Paripiranga


Fonte: Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/paripiranga/panorama. Acesso em
20 de janeiro de 2021

9
Ver site: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/paripiranga/panorama
10
Ver site: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/paripiranga/panorama
37

Como aponta Oliveira, (2016), a evolução histórica da respectiva cidade de Paripiranga


ocorre em distintos os períodos; onde de início envolve a chegada dos índios, os quais foram
designados como os primeiros habitantes desta região, estes que são apelidados como os Índios
Tapuias, que fundaram nas matas regionais a aldeamento nomeado de “Cerca Verde”. De
maneira seguinte, compreende-se o princípio de atuação dos colonos com a repartição de
sesmarias. São escassas as fontes que tratam da ocupação das terras de Malhada Vermelha, a
Paripiranga do tempo presente; seja em relação aos povos indígenas, ou aos colonos
dominadores que edificaram a pequena Vila que deu origem à cidade. Sabe-se que as primeiras
penetrações ocorreram por volta do século XVII, com a fixação dos colonos, para prática da
agricultura e da pecuária extensiva; a partir da fama perante a fertilidade das terras da região
que logo se espalhou, a cada ano chegara ainda mais deles dos mais distintos locais da Bahia,
de Alagoas, e Sergipe.
Segundo Santana Jr, (2005), escritor local, dado o presente município de Paripiranga
tem sua ascendência histórica e social comparável às cidades de sua circunvizinhança, sejam
estas no estado de Sergipe, ou Bahia; sendo que estas são ligadas culturalmente e historicamente
por um passado semelhante, tendo sua colonização fortemente ligada ao exercício da pecuária
extensiva no século XVIII, em decorrência do aumento das sesmarias pertencentes aos D’Ávila.
As primeiras penetrações territoriais fizeram nascer a povoação de Malhada Vermelha,
assim nomeada por conta da abundância de terrenos argilosos apelidado na localidade de
“selão”. Com o aglomerado de casas e o surgimento o perímetro urbano, bem como a
construção da Capela sob a invocação de Nossa Senhora do Patrocínio. A partir de então, o
lugar passa a denominar-se Vila de Patrocínio do Coité; uma referência à Padroeira e ao
engenho e povoação do Coité, local onde iniciou-se o processo de ocupação da terra. Para
alguns a denominação surge do tupi “terra vermelha”, nome primitivo da presente região; já a
segunda versão trata-se da ligação de vocábulos onde: “Pari” (cercado de peixes) e “Piranga”
(vermelho), de onde passar a existir também Ipiranga, o antigo nome do Rio Vaza-Barris, que
corta as terras de Paripiranga11.
De acordo com pesquisa realizada pelo IBGE, no ano de 2019; A partir das
condicionantes econômicas e sociais do município, é possível conhecer as bases da economia
local, marcada pela forma da agricultura; cujo modo de produção acontece vezes de maneira
temporária (onde é fielmente esperado por condicionantes climáticas e determinadas épocas
propicias para a produção) ou a plantação constante, que ocorre por meio da irrigação de

11 Ver site: https://www.paripiranga.ba.gov.br/site/dadosmunicipais


38

terrenos e maior estruturação artificial para a seguinte produção. Em ambos os modos de


produção, predomina o cultivo de grãos (milho e feijão) ou frutos (banana, tomate, laranja e
manga). Além disso, a pecuária voltada para a criação/revenda de animais, apresenta-se como
grande aliada da economia local; desde bovinos, equinos, galináceos e caprinos. Em torno
dessas condições já citadas onde atua o maior percentual econômico municipal, ainda existem
a porcentagem menor, com salário médio mensal dos trabalhadores formais 2.1 salários
mínimos (7.7% da população); além de um percentual da população com rendimentos nominal
mensal per capita de até ½ salário mínimo (54,5% da população) / IBGE 201912.
Para Oliveira (2016), o modo de exploração da pecuária que apresentou como
complementação da vida dos respectivos moradores, a prática da policultura agrícola; originou
a dilatação das probabilidades de assentamento de populações e a viabilização da criação de
gado no desenvolvimento de fazendas. Nesse método, o vaqueiro passa a representar a figura
de maior importância. De tal maneira que lhe é admitido adquirir uma terra para a citada
fazenda, de maneira a garantir os cuidados imprescindíveis com a boiada, assim como a
presença portuguesa na terra.

4.2 Projeto de Restauro

4.2.1 História do Sobrado da Cutia

O edifício que se tornou objeto de estudo deste trabalho monográfico, e onde será
realizada a intervenção de restauro, situa-se no povoado Cutia, há aproximadamente 2.5km do
perímetro urbano do município de Paripiranga/BA. Popularmente conhecida como ‘O Sobrado
da Cutia’, a residência foi construída no ano de 1933, por Ananias Oliveira Carvalho,
idealizador da obra e primeiro morador do prédio, um dos mais antigos do município.
Segundo Antônio Ferreira de Oliveira (2011) sobrinho do senhor Ananias, a construção
do Sobrado deu-se pela ação dos próprios familiares, contando com a participação de pessoas
da comunidade.

O Zé, o Tio José, o Zé pai de Eliezer, que era o pedreiro que trabaiava lá, Tio José é
irmão de Ti Nania... E, os outro eu num sei... Eu era muito pequeno, num tenho
lembrança não; mas Tio José, eu me lembro de Tio José trabaiando lá! E Ti Nania já

12
Ver site: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/paripiranga/panorama
39

tinha a budega, fez a budeginha do lado onde tem.... No lado onde hoje tem a murada,
que abandonaram e já caiu. (OLIVEIRA, 2011, p. 05)

O Tio José mencionado Por Antônio Ferreira (2011) é José Martins de Santana, Irmão
do Senhor Ananias, Conhecido na região como Zé Pedralhão, apelido que lhe foi concedido por
conta de suas habilidades como exímio pedreiro e mestre de obras, considerado um dos
melhores na função. Coube ao Zé Pedralhão a responsabilidade de conduzir as obras de
construção o Sobrado, contando com apoio de tios, irmãos, primos e vizinhos. Ao final, ergueu-
se um prédio imponente, cuja estrutura arquitetônica e beleza estática, destoava e ainda destoa
de todas as existentes no Povoado Cutia, e muito rara no município.

Figura 10: José Martins de Santana


Fonte: Arquivo da neta: Maria da Piedade
Custodio Santana Oliveira

De acordo com Antônio Ferreira (2011), o Sobrado foi construído apenas para moradia
do proprietário Ananias, mas a sua estrutura já foi pensada como proteção caso acontecessem
ataques de cangaceiros, uma vez que o bando de Lampião agia nas redondezas da cidade. Ao
lado do prédio, já existia uma pequena casa que servia como comercio do próprio Ananias; lá
ele trabalhava com venda de ouro (anel, brincos, colares, etc.), além de bebidas e gêneros
alimentícios e remédios. Ou seja, uma Bodega e um espaço para Cabeleireiro. Na atualidade,
restam apenas ruínas desses ambientes. Na figura 11, o registro fotográfico de 2014 mostra
40

apenas das paredes da Bodega e da Barbearia. A figura 12, captura fotográfica do sobrado
datada do ano de 2019, verifica-se a ausência das paredes da antiga Bodega e da barbearia.
Resultado da situação e abandono em que se encontra o prédio, desde o início dos anos 90.

Figura 11: Sobrado da Cutia - 2014


Fonte: Acervo Digital do LEPH – UniAGES, Paripiranga/BA

Figura 12: Sobrado da Cutia - 2019


Fonte: Acervo Digital do LEPH – UniAGES, Paripiranga/BA
41

O ponto de vista de Carregosa (2019), o sobrado representa uma marca viva da presença
do cangaço na cidade de Paripiranga e proximidades, servindo durante anos como fortaleza para
abrigar famílias da comunidade dando proteção contra a violência do cangaço, que aterrorizou
boa parte do Nordeste entre 1920 a 1940.

Figura 13: Ananias Oliveira Carvalho


Fonte: Acervo Digital do LEPH – UniAGES, Paripiranga/BA

Além de abrir as portas da sua residência, Ananias foi pessoalmente até o comandante
da Volante responsável pela segurança da cidade, e solicitou armamentos e munição para os
moradores da Cutia. De acordo com Antônio Ferreira de Oliveira (2011), o comandante da
Volante cedeu armamento para mais ou menos 15 pessoas, que, todas as noites iam para o
Sobrado e fazer rondas pelas redondezas garantindo a segurança dos moradores. Existiam
também pontos de apoio em outras comunidades próximas, e a forma de comunicação eram
através de fogo de artificio, quando alguém tinha notícias de Lampião ou outro grupo de
cangaço, enviava o sinal com três tiros ou três foguetes, para que as comunidades vizinhas
viessem em auxilia na emboscada. Com a morte de Lampião e o fim do Cangaço em 1938,
todas as armas foram devolvidas a polícia da cidade de Paripiranga.
42

Iracema Maria Oliveira (2011), segunda esposa de Ananias Oliveira Carvalho, afirma
que o grupo de Lampião passou por povoados de Paripiranga (Povoado 07 Portas, Taquara e
Lagoa Preta, Quixaba, Serra do Capitão), mas ao saber que a população do povoado Cutia e
moradores da cidade estavam bem armados e protegidos, não houve uma aproximação do
cangaceiro Lampião a essas localidades, apesar das constantes ameaças de invasão, e “recados”
enviados ao Sr. Ananias Oliveira que sempre respondia em tom desafiador, afirmando que o
povoado estava preparado para defender-se do possível ataque.
Desde de 1932 até 1940, o sobrado serviu como fortaleza e defensa da população do
povoado. Nesse período não há relatos de nenhum tipo de confrontos entre Volantes ou
moradores contra cangaceiros, de modo que as ameaças frequentes não evoluíram para ações
concretas. Logo após o fim do cangaço, e em decorrência do falecimento de sua primeira
esposa, uma jovem de saúde muito frágil, Ananias vendeu o sobrado mudou-se para a zona
urbana de Paripiranga-Ba.
Após a venda, O Sobrado da Cutia foi propriedade de três famílias diferentes. O primeiro
a comprar foi a família de José Ferreira; a segunda família a possuir foi a de Vitor Conde de
Santana, e hoje em dia é propriedade de Arisvaldo Geraldo do Nascimento. Com o decorrer dos
anos, o edifício passou por algumas reformas e manutenções realizadas por cada um dos
moradores, para adaptar o Sobrado às suas necessidades, deixando-o com características de
moradia da época, e, de certo modo preservando a edificação. Atualmente, a residência serve
como deposito de materiais agrícolas. Todos os donos possuíam relação de afetividade ou
parentesco com o construtor, e a consciência de se tratar de uma edificação histórica, o que
contribuiu para que ao menos sua estrutura original fosse mantida, mesmo sem conhecimento
técnico ou orientação educativa voltada para a Educação Patrimonial.

4.2.2 Metodologia

Para a elaboração do presente trabalho, foi preciso seguir diferentes etapas


metodológicas com uma linha de raciocino coerente para ter um levantamento de dados
completo. A primeira etapa foi ir em buscas de informações sobre a história do sobrado,
assistindo entrevistas gravadas e arquivadas de pessoas que conviveram diretamente com o
contexto histórico do Sobrado nos tempos passados; Pesquisa bibliográfica a teóricos que são
referência até nos dias atuais; estudar as cartas patrimoniais e entender todo um processo
43

histórico que envolve o conceito de patrimônio histórico; ter o conhecimento da legislação


responsável por esse tipo de projeto (As recomendações do IPHAN, suas técnicas e
procedimentos ideias). Dessa maneira, a metodologia utilizada nesse trabalho de conclusão de
curso se caracteriza como exploratória com pesquisa de campo, pesquisa documental e
levantamento bibliográfico.

A pesquisa exploratória realiza discrições precisas da situação e quer descobrir as


relações existentes entre seus elementos e componentes. Esse tipo de pesquisa requer
um planejamento bastante flexível para possibilitar a consideração dos mais diversos
aspectos de um problema ou de uma situação. (CERVO; BERVIAN; DA SILVA,
2007, p.32).

De início, foi preciso ir em busca de matérias, arquivos, entrevistas que descrevesse a


importância do Sobrado da Cutia para não apenas aquela comunidade, mas para a cidade de
Paripiranga. De acordo com o material encontrado no Acervo Digital do LEPH - UniAGES,
Paripiranga, Bahia, que consiste em bem como fotografias e entrevistas gravadas e transcritas,
entre as quais destacam-se os relatos de Antônio Ferreira de Oliveira, sobrinho de Ananias
Oliveira Carvalho (o construtor e primeiro dono do Sobrado da Cutia) e Iracema Maria Oliveira,
viúva de Ananias. A riqueza de detalhes presente nos depoimentos dos entrevistados, permite
a obtenção de preciosas informações acerca da construção do sobrado, bem como dos processos
sociais e históricos a envolvem; data aproximada da construção, que, ao que consta, teve início
ao final do ano de 1932, e foi concluída em 1º de maio de 1933 para atender a uma demanda
pessoal do construtor; porém com o passar dos dias, e o decorrer dos fatos, o Sobrado assumiu
sua posição de fortaleza em defesa da comunidade em que se insere. As fontes consultadas e o
trabalho de campo possibilitaram a percepção das mudanças que o Sobrado sofreu de acordo
com algumas reformas realizadas por diferentes donos (aberturas e fechamento de vãos), entre
outros. Também foi utilizado como base o Livro “Entro Padres e Coronéis” do escritor local
Antônio Santana Carregosa, que traz relatos sobre a passagem de cangaceiro pela cidade e cita
o edifício como um ponto de segurança.
A partir do levantamento de dados históricos, foi realizada a primeira visita ao Sobrado.
Nesta visita foi feito o primeiro levantamento cadastral de toda a área, bem como registros
fotográficos das partes internas e externas, uma breve analise do sistema construtivo, tipos de
materiais utilizado, observando as partes degradadas do edifício e que foram restauradas no
projeto de restauração, também foram observadas e destacadas as modificações citadas nas
entrevistas. Além dessa primeira visita, foram realizadas mais duas visitas posteriormente, para
44

a conclusão do levantamento cadastral e levantamento de dados para a construção do mapa de


danos.
Com todas as informações em mãos, iniciou-se a busca por embasamento teórico para
justificar a futura proposta de restauro. É preciso entender todo um processo histórico sobre o
que é considerável patrimônio histórico, os tipos de restauro de acordo com cada teórico; ter o
conhecimento das cartas patrimoniais e trabalhar de acordo com as recomendações do IPHAN.
Através disso, ciente do que era permitido e proibido ser feito na edificação histórica foi dado
início a proposta de intervenção para restaurar o monumento histórico da cidade de
Paripiranga/BA.
Para o projeto de restauro, a ideia foi transformar o sobrado em um Museu, cuja temática
não esteja limitada apenas às memórias do cangaço, mas também às memórias da cidade como
um todo. O projeto de restaurado o sobrado da Cutia contempla a transformação dos cômodos
existentes em salas de exposições, e me sua parte interna propõe-se duas modificações: a
remoção de uma parede que pelo tipo de material utilizado já faz parte de uma reforma que não
foi identificada a época, abertura de uma porta na lateral esquerda (mais detalhes na planta de
reforma em anexo).
Para acolher os visitantes com conforto, foi projetado para o fundo e lateral esquerda,
dois blocos de suporte com característica arquitetônica modernista; para demonstrar claramente
o patrimônio e a intervenção realizada. Em um desses blocos, foi projetado um auditório com
capacidade para 100 pessoas, com o intuído de que hajam palestras temáticas acerca do contexto
histórico do prédio e do acervo, antes que haja a visitação na parte interna; em outro bloco, foi
projetada uma loja de artesanato ligada ao cangaço e cultura local, uma lanchonete para vendas
de alimentos com suporte de banheiros feminino e masculino, assim como um deposito para
guardar materiais de limpeza, entre outros.
O principal desafio dessa proposta de intervenção de restauro foi criar algo que não
agredisse a cultura e tradição local; tomando bastante cuidado desde escolha dos materiais a
serem utilizados na nova construção, assim como a restauração de partes do sobrado que
estavam degradas, e até a escolha do nome do museu, que se chamará “Casa de Memória
Ananias Oliveira Carvalho”, em homenagem ao idealizador e dono do prédio. A transformação
do Sobrado da Cutia em um ponto turístico para a cidade de Paripiranga ajudará a sempre
manter o edifício vivo na história da comunidade.
45

4.3 Caracterização do bem

É perceptível observar que o edifício analisado tem características que remetem ao


passando histórico do Brasil. Mas é preciso uma análise mais profunda para identificar qual é
o tipo de arquitetura do Sobrado, pois existe diferentes fatores que podem ter modificado a
arquitetura predominante da época, para uma arquitetura única e que só existe no sertão
nordestino.
Segundo FREYRE (1936), no início de século XX, teve uma grande aceleração no
processo de urbanização em todos os centros comerciais do Brasil e principalmente nas capitais
nordestinas. Em decorrência disso, começou a ser criado um novo estilo de casas (Os sobrados
com varandas) que abrigavam aquelas famílias de classe alta. Essas famílias eram os que
dominavam toda importação das matérias primas (açúcar, algodão...), e faziam questão de
demostrar suas riquezas, colocando revestimentos de azulejos e beiras em seus sobrados ou
residências.

(...) estilo da era colonial já acomodado à paisagem: casas quadradas, de quatro águas,
o beiral com as pontas orientalmente arrebitadas em asas de pombo ou cornos de lua.
Datam também dos princípios do século XIX os sobrados com cornijas construídas a
molde; o estuque; as vergas de alvenaria. (FREYRE, Gilberto, 1936, p. 285)

Dessa forma, foi dado início nesse período uma cultura que predomina em todo território
brasileiro até os dias atuais. Essas construções de Sobrados no período colonial, serviam para
duas funções, na parte térrea existiam comercio (onde eram vendidos ouro, alimentos, remédios
e entre outros produtos), já no primeiro pavimento servia como moradia. Todas essas
características ditas vêm do período colonial no Brasil e duram até a atualidade.
No início século XX, o estilo arquitetônico que predominava no Brasil, principalmente
no Nordeste, era o neocolonial, mas era perceptível que a cada construção que era realizada,
estavam ocorrendo algumas modificações em suas características. Segundo FREYRE (1936), a
partir do ano de 1839, vieram alguns profissionais europeus para o Brasil (Mecânico, pedreiros
e carpinteiros) e começaram a modificar aos poucos a arquitetura predominante, e, com o
decorrer do tempo, verificou-se uma mistura entra arquitetura neocolonial e a arquitetura
europeia, que marcava o início da entrada do modernismo no Brasil.
Embora a década a que remonta essa edificação seja a mesma que marcou o início da
entrada do modernismo no Brasil, suas características apresentam peculiaridades próprias de
uma arquitetura um pouco fora do contexto, tendo em vista o que era produzido nas grandes
46

cidades brasileiras na mesma época, a desenvolvida no nordeste brasileiro é classificada como


“arquitetura sertaneja” (DINIZ, 2013).
Pode-se considerar também uma arquitetura neocolonial, considerando que, na época,
existia uma grande resistência das pessoas ao estilo europeu; à entrada do estilo modernista no
Brasil; é um estilo fundamental para discutir sobre obras realizadas nesses períodos:

O neocolonial aparece mais como referência quase obrigatória aos que se debruçam
sobre a arquitetura do século XX do que propriamente como objeto principal das
atenções; uma das etapas finais na longa sequência de modismos que se estende do
Brasil Colônia à modernidade. (KESSEL, 2011, p.03)

Dessa maneira, pode considerar que o edifício analisado sobre o qual se debruça a
proposta de restauro para a implantação de um Museu, tem como estilo principal o Neocolonial,
mas também pode ser considerado uma Arquitetura Nordestina, por que esse tipo de construção
apresenta fatores únicos do Nordeste, que influenciaram bastante ao estilo arquitetônico, de
modo a se tratar de obras raras na região. Observando as imagens abaixo, pode observar alguns
traços marcantes da época.
As casas e sobrados com estilos Coloniais e Neocoloniais, eram construídas em todo o
limite do terreno, sem o uso de recuos, as telhas eram feitas manualmente de barro, em olarias
artesanais existentes nas comunidades vizinhas; bem maiores do que as telhas de cerâmicas
atuais e com total falta de simetria, já que não haviam formas para padronização de tamanhos
e espessuras; o modelo de cobertura era apenas em “duas águas”, uma para frente da casa e
outra para trás. O uso do concreto não é perceptível, de modo que se observa em sua estrutura
a construção com blocos de adobe e barro, pedras, taipa de pilão, troncos, entre outros materiais
aproveitados da própria natureza ao redor; as escadas e lajes eram feitas todas de madeira de
lei, resistente ao tempo e a ação e pragas; o beiral que representava o nível financeiro da família;
uso de cornija e outras formas artísticas nas fechadas. Analisando as imagens abaixo, pode
observar alguns traços do Sobrado da Cutia como as telhas de barro, telhado em duas águas,
beiral, cornijas na fachada frontal, estrutura de bloco de adobe e barro; escada e laje de madeira,
entre outros elementos comprovam a construção tem o estilo Neocolonial ou como foi dito
anteriormente, uma arquitetura Nordestina.
47

Figura 14: Perspectiva da lateral do prédio - 2019


Fonte: Acervo Digital do LEPH, UniAGES, Paripiranga/BA

Figura 15: Visão Frontal do Sobrado - 2014


Fonte: Acervo Digital do LEPH, UniAGES, Paripiranga/BA
48

Figura 21: Detalhes da escada vista por baixo


Fonte: Acervo Digital do LEPH, UniAGES,
Paripiranga/BA

Figura 16: Detalhes do beiral e da Laje com estrutura de madeira


Fonte: Acervo Digital do LEPH, UniAGES, Paripiranga/BA

Figura 17: Detalhes da Escada


Fonte: Acervo Digital do LEPH, UniAGES, Paripiranga/BA
49

Figura 18: Estrutura de Adobe de argila queimada e massa de argila e água


Fonte: Acervo Digital do LEPH, UniAGES, Paripiranga/BA

4.4 Levantamento de dados

Como foi dito anteriormente, de acordo com as orientações do IPHAN, é preciso seguir
uma sequência idealizada por eles para se chegar a um resultado final de qualidade e sem ferir
o monumento histórico. O levantamento de dados faz parte da segunda fase desse processo, que
comtempla a Identificação e conhecimento do bem a ser restaurado, e neste tópico será
demonstrado todo o levantamento cadastral do atual estado da edificação.
No tópico anterior, que se inicia a segunda fase do processo, foi dito sobre a história do
sobrado, as suas características arquitetônicas, datas da construção e a sua importância para a
localidade e o porquê de o sobrado ser considerado um patrimônio histórico para a cidade de
Paripiranga. Todas essas analises foram feitas através de pesquisas por pessoas que moram na
comunidade e que possuem relação próxima de parentesco os primeiros donos do sobrado.
A edificação possui uma localização estratégica em um ponto mais elevado do terreno e
em uma encruzilhada (cruzamento entre três estradas de acessos), com sua fachada frontal e
acessos principais voltados para a estrada (via) mais íngreme possibilitando um maior ângulo
de visão das áreas externas frontais.
50

Figura 19: Localização geográfica da Cutia


Fonte: Google Earth

No interior, uma escada de madeira com largura de 0,86m, dá acesso ao pavimento


superior, que possui um piso em tijolos de argila queimada assentado sobre uma laje de madeira
(tablado de madeira maciça). Todo restante da edificação possui o mesmo piso em tijolos de
argila queimada medindo 0,22m por 0,22m assentado com uma massa argilosa (barro feito com
argila e água apenas).
A edificação foi construída com adobe de argila queimada (técnica muito utilizada no
Brasil Colonial) unidos com barro (massa cremosa de argila e água) e rebocada com uma massa
de Areia e Cal. Não há indícios de pilares estruturais, apenas paredes largas como a frontal e
laterais medindo 0,63m; o que nos leva a perceber que devido ao tipo de solo da região ser
firme, não havia preocupação quanto a desabamento e como foi possível observar no local não
há indícios de rachaduras ou fissuras.
51

Figura 20: Detalhes do Método de Construção


Fonte: Acervo Digital do LEPH, UniAGES, Paripiranga/BA

Sua configuração arquitetônica consiste em pavimento térreo contendo sala de estar frontal (1),
hall de acesso (2) em baixo da escada, sala de jantar (3), quarto (4), sala de apoio a cozinha (5)
e cozinha (6); mais um único cômodo no superior o quarto do casal (9). Além da escada de
acesso composta por base de quatro degraus em cimento e o restante em tabuas madeira fixadas
entre as paredes laterais. Ao lado do sobrado existe um curral (7) e um deposito (8), com
materiais: madeira, adobe de argila queimada e argila e água.
52

Figura 21: Levantamento Cadastral do Perímetro Térreo


Fonte: Produzido pelo autor
53

Figura 22: Levantamento Cadastral do Primeiro Pavimento


Fonte: Produzido pelo autor

Em termos de modificações, de acordo com Iracema Maria Oliveira (2011), ocorreram


algumas alterações em seu formato arquitetônico, havendo a abertura de duas portas frontais,
uma janela na cozinha, localizada na lateral esquerda e a retirada de um muro de proteção da
lateral direita. Os pisos e o telhado são originais, a pintura em que se encontra hoje é branco
nas laterais e parte interna, e amarelo na fachada principal. A edificação é toda feita em adobe
54

de argila queimada assentado em barro (massa de argila e água) com paredes extensas e sem
pilares estruturais, havendo apenas nos fechamentos das portas peças em madeira maciça.
Nessa segunda etapa do processo de restauro foi realizado o levantamento de dados do
edifício a sofrer o processo de intervenção. Como foi dito anteriormente, essa etapa é a base de
um bom projeto de restauro que será apresentada futuramente; pois seguindo o passo a passo
estabelecido pelo manual do IPHAN, se chega a um documento rico de informações e bem
detalhado com o levantamento cadastral de todo o edifício e as dimensões do terreno.
Para um levantamento de dados ainda mais detalhado, era necessário uso de materiais
fundamentais para realizar os procedimentos de prospecções e o levantamento topográfico do
terreno. As demais plantas (seguindo as normas da ABNT) como localização, situação, plantas
baixas, cortes, planta de cobertura, fachadas, representações em 3D serão apresentadas em
anexo, junto com demais fotografias referentes ao Sobrado da Cutia e o seu real estado de
conservação.

Figura 23: Foto em Perspectiva mostrando a pintura da lateral da fachada e também a construção do curral e
do depósito
Fonte: Acervo Digital do LEPH, UniAGES, Paripiranga/BA
55

4.5 Diagnóstico da edificação

Essa fase do processo é fundamental ser bastante detalhada, é a partir daqui que será
analisado o estado de conservação do edifício. Através do mapa de danos e fotografia, deverá
ser mapeada a parte externa e interna do Sobrado da Cutia, demostrando todos os danos
existentes; aqueles que foram causados supostamente por interferência humana ou por
abandono do bem.

Portanto, sob o ponto de vista operativo, mapas de danos são instrumentos eficazes de
auxílio tanto para o planejamento das diretrizes projetuais de restauro/conservação
(limpeza, consolidação ou mesmo de substituição controlada de materiais ou de partes
extremamente degradadas) e das previsões orçamentárias, como podem também
instruir ações de monitoramento preventivo para garantir a boa conservação dos
artefatos no tempo. (TIRELLO; CORREA, 2012 p. 17)

Com as análises feitas nas fachadas (Frontal, Laterais e fundo), de acordo com a legenda
abaixo foram identificados 5 tipos de patologia.

Tabela 1: Legenda demonstrando danos e patologias encontradas


Fonte: Produzido pelo autor
56

Observando a representação gráfica da fachada principal (imagem 19) é perceptível que


existem poucos danos na área. Em baixo das janelas da fachada, existem elementos estáticos
chamados de Cornijas, representado no mapa de danos na cor Cyan; este detalhe da primeira
janela foi totalmente danificado, sofrendo perda em toda a sua forma. Na cor Cinza, existe uma
pequena degradação no reboco que feito de massa a partir da mistura de areia e cal; nas portas
e janelas, representada na cor verde escuro, os danos existentes são as dobradiças enferrujadas
e quebradas, assim como também a pintura danificada com manchas, assim como em toda
pintura da fachada na cor amarela, e também apresenta danos.

Figura 24: Mapa de Danos da Fachada Frontal


Fonte: Produzido pelo autor
57

Na fachada do fundo (Imagem X) a gravidade dos danos encontrados é superior as


demais fachadas. Bastante parte do reboco está degradado (destacado na cor cinza) e na cor
magenta está representando uma pintura 100% danificada, sem indícios de camadas amarela ou
branca.

Figura 25: Mapa de Danos da Fachada dos Fundos


Fonte: produzido pelo autor

Nas fachadas laterais, sentido sudoeste (imagem X) e nordeste (imagem X) foram


encontrados os 5 diferentes tipos de danos presente no sobrado. Foi identificado fissuras com
pequena gravidade, representadas na cor azul; também é encontrado perda de elementos da
cornija (representada na cor Cyan); portas, janelas e reboco ocorrem os mesmos danos da
fechada principal; a pintura das laterais é na cor branca, que também sofreram danificação.

Figura 26: Mapa de Danos da fachada Sudoeste


Fonte: Produzido pelo autor
58

Figura 27: Mapa de Danos da Fachada Noroeste


Fonte: produzido pelo autor

A possível causa desses danos, certamente foi a falta de cuidados ao longo do tempo,
por se tratar de uma construção antiga. A pintura das paredes externas, portas e janelas do
sobrado estão danificadas por manchas de sujeiras, e de acordo com uma rápida análise das
visitas realizadas, chega-se a uma conclusão que a principal causa deste dano é a grande
quantidade de chuva que ocorre na região causando infiltrações, além do fato que nunca existiu
uma manutenção na pintura. Em relação ao problema das fissuras, elas apenas atingem a parte
do reboco sem alcançar na alvenaria.
Todos esses danos não são de gravidade alta, chegasse a uma conclusão que a falta de
manutenção é a principal causa de todos eles. Com a busca e tendo essas informações sobre o
estado de conservação das fachadas, os tipos de danos encontrados são de baixa gravidade e
não atingem o sistema estrutural do Sobrado, facilitando assim o processo de intervenção e
criação de uma proposta de restauro.

No caso das edificações históricas, se feito criteriosamente, um Mapa de Danos resulta


em um importante documento ilustrado na medida em que pode agrupar grande
número de informações relativas a quantidade, qualidade e intensidade das avarias
dos materiais e estruturas dessas construções. (TIRELLO; CORREA, 2012, p. 13)

No quadro abaixo, apresenta-se as análises de conservação da parte interna do Sobrado


da Cutia. Deixando claro, que essa analise não foi possível ser mais aprofundada por falta de
equipamentos técnicos necessários para realização dos procedimentos.
59

Tabela 2: Quadro demonstrativo do estado de conservação da parte interna do Sobrado


Fonte: produzido pelo autor
60

Infelizmente não foi possível detectar os prováveis dados do sistema estrutural do


sobrado. Por falta de ferramentas fundamentais para a realização de tal tarefa, deste modo, não
se tem uma conclusão precisa sobre rela estado das fundações do edifício.
Observando os danos do interior do Sobrado, conclui-se que a parte mais degradada é a
escada feita de madeira, que dá acesso ao pavimento superior junto com a laje que é feita de
madeira e revestimento de tijolos de argila. Foi analisado que boa parte dos degraus e da laje
estão em péssimo estado de conservação, o apodrecimento da madeira deixa inseguro o acesso
de pessoas ao pavimento superior. Em relação a cobertura do sobrado, estão em perfeito estado,
pois o atual dono realizou recentemente uma reforma (não um restauro) quando trocou toda o
madeiramento (caibros e ripas).
A parti das análises de conservação de todo o edifício a ser restaurado, será feita uma
faxina geral no edifício. Já pensando na proposta de restauro para o Sobrado da Cutia, a
finalização desta etapa é identificar os materiais que necessitam ser substituídos para a saúde
do monumento. A parti disso, no próximo capítulo, será apresentada a proposta de intervenção
de restauro, planejada de modo a não evitar interferências ou danos nos valores históricos do
Sobrado da Cutia.
61

5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

5.1 Memorial Descritivo

Para o trabalho de conclusão de curso de Arquitetura e Urbanismo, é realizado uma


proposta de intervenção de restauro a um monumento histórico da cidade de Paripiranga/BA.
Conhecido em toda a cidade como “O Sobrado da Cutia”, esse edifício fica situado no povoado
Cutia, a aproximadamente 2.5km do centro da cidade. Construído em 1933, serviu como ponto
de apoio da população contra as ameaças do cangaço que aterrorizavam a região. Com
características arquitetônicas diferencias das demais, o edifício de destaca e infelizmente está
sem uso nos dias atuais.
A proposta de intervenção ao Sobrado, é transformá-lo em um Museu, que conte a
história de Paripiranga, e também sobre as ameaças do cangaço a Paripiranga e suas formas de
defesa. Em homenagem ao construtor e primeiro dono da residência, o Museu será denominado:
Casa de Memória, Ananias Oliveira Carvalho.
Para essa proposta de restauro, foi seguido os princípios teóricos de Camillo Boito e
Viollet-Le Duc. Como mencionado no segundo capítulo, Camillo Boito só praticava o restauro,
caso houvesse comprovação em documentos ou fotos da verdadeira identidade do edifício
histórico, e dessa maneira realizaria o restauro apenas nas partes degradas com materiais
diferentes do que foram usados na época, para mostrar evidencias que houve uma intervenção
ali; Já Viollet-Le Duc, tinha defende que, o edifício histórico poderia sim ser modificado em
suas composições para a melhorias do ambiente.
Dessa forma, a intervenção no Sobrado passará por pequenas mudanças na parte
interna, que será aberturas de portas aquentando-o a NBR 9050 de acessibilidade, assim como
e retirada uma parede para o crescimento da sala de exposição 03; os demais espectros serão
mantidos, inclusive toda a sua estética externa.
A primeira etapa do projeto consistiu no levantamento cadastral de todo o edifício e seu
perímetro. Nesse levantamento cadastral, foram construídas plantas técnicas de Situação,
Locação, Planta Baixa Térrea, e 1° pavimento, bem como fachadas, cortes e planta de cobertura.
As plantas e sequências são estabelecidas pelo manual técnico do IPHAN.
Depois disso, realizou-se a construção das plantas de reforma e ampliação. Para a
reforma, a proposta é demolir o deposito e curral construídos a algumas décadas ao lado do
62

sobrado, e fazer uma limpeza na área externa, para desfaze o pasto existente; na parte interna
do Sobrado, todas as portas (exceto a da escada) que tem menos de 0.90cm de largura serão
deixadas com essa determinada largura e em forma de vãos; na sala de exposição 02, será aberta
uma porta dede acesso à parte externa, com dimensão aproximada de 0.90 x2.10. Também será
retirada a parede que divide a cozinha de um quarto, deixando um ambiente único e que será a
sala de exposição 03. No pavimento superior, a única modificação será a abertura de um vão
para o elevador que vai ser implantado para acesso de deficientes.
Em relação a escada e a laje que tem uma estrutura de madeira, é preciso uma análise
mais detalhada com materiais específicos para tirar conclusões sobre o seu estado de
conservação. A pintura de toda a parte interna do edifício vai ser na cor branca, assim como
está atualmente, e em toda a parte externa na cor amarela (atualmente só tem amarelo na fachada
principal). O piso interno precisa ser modificado na sala de exposição 03, pois em algumas
partes está quebrado ou pisos há pisos ausentes.
Para a ampliação, a proposta prevê a construção de anexo na lateral do edifício. Com
um estilo contemporâneo, o anexo deixará evidente aos olhos do visitante que ali existiu uma
interferência de restauro e poderá identificar os tipos de arquitetura presentes no local: a
arquitetura do Sobrado que é neocolonial e a arquitetura do anexo que é contemporânea.

Figura 28: Imagem em 3D da Ampliação


Fonte: Construído pelo autor
63

O anexo, contará ainda com um auditório com capacidade para 100 pessoas; banheiros
masculino e feminino; uma loja para vendas de artesanato; sala para administração, um elevador
com capacidade para duas pessoas que dá acesso à parte superior do Sobrado, e um café
(contemplando cozinha, despenca, e praça de alimentação interna e externa).
As fachadas, nesse novo anexo, terão um revestimento amadeirado com uma pintura na
cor de areia, e na parte interna, uma pintura na cor branca; as janelas e portas serão de vidro; pé
direito de 03 metros, laje com espessura de 0,12cm, e cobertura de telha de fibrocimento 8mm
(10% de inclinação).

Figura 29: Fachada do Sobrado e Fachada do Anexo


Fonte: Construído pelo autor

Em cima dos banheiros, foi projetado para obter 4 caixas d’água com 5.000L cada,
totalizando 20.000L para abastecer os banheiros, cozinha e café. As fachadas da administração
e loja de artesanato, além do piso amadeirado, terão detalhes de madeira deixando todo o
ambiente com harmonização.
A praça de alimentação externa terá uma cobertura de pergolado com cobertura de
policarbonato, assim como o pergolado em frente ao auditório, e o pergolado que une o Sobrado
com a o novo anexo. Na lateral que dá acesso a estrada, ter construir-se-á um estacionamento
com ângulo de 45° e capacidade para 07 carros, além de e mais um estacionamento para no
máximo 05 motos.
64

Figura 30: Lateral e Fundo do Sobrado da Cutia, com vista para o Estacionamento
Fonte: construção do autor

No fundo do Sobrado, um apequena área será destinada à plantação de uma muda de


Cresentia Cujete (Coitezeira), árvore símbolo do município, e m em seu entorno, organizar-se-
á um jardim e bancos para sentar. Toda essa interferência no ambiente e no prédio, segue as
normas do IPHAN, desde a parte de fundamentação teórica, até a análise do estado de
conservação. A proposta de restauro definida estará respeitando toda a cultura local,
preservando o Sobrado da Cutia que é o bem maior, e dando uma funcionalidade ao edifício
que até então agoniza por falta de cuidados e vida útil.
65

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho efetivou a demonstração de técnicas de restauração eficazes, em


concordância com as exigências previstas pelo IPHAN, como também, a aplicação prática das
mesmas na restauração de um edifício histórico situado na cidade de Paripiranga, com o
objetivo de transformá-lo em um museu.
Nessa vertente, pode-se afirmar que a restauração se constitui como um importante
processo para preservar memórias de uma determinada cultura; contudo, devem ser observados
alguns parâmetros determinados pelo IPHAN, principalmente no que se diz respeito à mínima
interferência na autenticidade do projeto, seja nos preceitos estéticos, materiais, construtivos,
entre outros.
Dessa forma, o projeto de restauração do “Sobrado da Cutia”, com o objetivo de
transformá-lo em um museu, contou com as etapas determinadas pelo IPHAN, para restauração
de edifícios históricos: identificação e conhecimento do bem; diagnóstico e planejamento do
projeto executivo.
Como Referência Arquitetônica escolhida para o desenvolvimento do presente projeto,
foi Museu do Pão, em Ilópolis/RS. Um modelo de restauração de edifícios, preservando e
valorizando a cultura dos moinhos a ser seguido por todos.
Alguns preceitos fundamentais para um projeto de restauração já citados, foram
utilizados nesse projeto, tais como: valorização da identidade e da cultura local, bem como a
sua preservação; uso de técnicas que liguem o projeto com a arquitetura presente; disposição
do projeto para que que haja harmonia entre a construção antiga a contemporânea; e, nova
utilidade para o edifício.
Dessa forma, o projeto de restauração, com base nos critérios estabelecidos pelo
IPHAN, no primeiro momento, seguiu todos os processos e etapas necessárias, desde a busca
histórica, por meio de entrevistas arquivadas; a sua visitação, observando das modificações; sua
estrutura, materiais utilizados, criação e levantamento de dados para formular o mapa de danos;
determinação de utilidade com a finalidade de transformar o edifício em um museu,
representativo da História Local e Regional.
A planta construída, contou, portanto, com adição de dois blocos de suporte com
características modernistas, com o intuito de delimitar o patrimônio e a intervenção realizada.
Em um dos blocos projetou-se um auditório, com capacidade para 100 pessoas, com o objetivo
66

de informar aos visitantes sobre a história local e os espaços do museu. No segundo bloco
projetou-se uma lanchonete, loja de artesanatos e um depósito.
Ainda na primeira fase do projeto, foi observado que o prédio contava com algumas
características da arquitetura neocolonial, como telhas de barro, telhados em duas águas, beiral,
escada e laje de madeira, entre outras especificações. A construção foi feita a partir de adobe
de argila queimada, unidos com barro e rebocada com areia e cal; sem risco presente de
desabamento, pois não foram encontrados indícios de rachaduras.
Quanto às modificações ocorridas ao longo do tempo, percebeu-se que o formato
arquitetônico foi alterado, adicionando duas portas na frente da edificação, e janelas; como
também, retirou-se um muro de proteção na lateral direita. No entanto, pisos e telhados não
foram modificados, e sua pintura atual é branca nas laterais e nas partes internas, o amarelo
predomina na fachada.
Na segunda fase do projeto, ou melhor dizendo, no diagnóstico da edificação, foram
mapeados os danos da construção; tais como: na sua pintura, coberta por manchas e
degradações; perda de alguns elementos estéticos; degradação do reboco; manchas em portas e
janelas; fissuras por algumas partes da sua estrutura. Tais danos surgiram, principalmente, por
conta da falta de manutenção estrutural e dos agentes naturais.
Na proposta de intervenção de restauro ao Sobrado da Cutia haverá a remoção do
deposito e curral que não compõem a parte interna. O projeto prevê ainda a construção de um
anexo de apoio, composto por: auditório, banheiros masculino e feminino, loja de artesanato,
sala da administração e um café tendo praça de alimentação interna e externa, cozinha e
despenca; além de um pequeno estacionamento com 07 vagas para carros e 05 vagas para
motos. No fundo do Sobrado e em frente ao auditório, será plantado uma muda de Coitezeira
Arvore de cuia, na língua Tupi), planta símbolo da cidade de Paripiranga de acordo com o
projeto de lei nº 15/2017, de 13 de dezembro de 2017.
Toda as interferências realizadas estão de acordo com as normas do IPHAN, de modo a
serem cumpridas todas as etapas do processo, a partir da fundamentação teórica até a análise
do estado de conservação. A proposta de restauro definida estará respeitando toda a cultura
local, preservando o Sobrado da Cutia que é o bem maior, e dando uma funcionalidade ao
edifício, trazendo-o de volta ao contexto sociocultural de Paripiranga, como já ocorreu no início
do século XX.
67

7 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Lei Nº 08. Código de Posturas do Município de Patrocínio do Coité. 38p. 2928. Patrocínio
do Coité/BA. Acervo do Laboratório de Ensino e Pesquisa em História. UniAGES,
Paripiranga/BA

OLIVEIRA, Ana Maria Ferreira de. Sob o signo da cruz, a Malhada Vermelha Floresce: a
origem de Paripiranga nas memórias paroquiais de (1840-1900). (Monografia). Aracaju: UFS,
2016.

OLIVEIRA, Ana Maria Ferreira de; SANTOS, Maria Nely. Sob o Signo da Cruz, a Malhada
Vermelha Floresce: a origem de Paripiranga nas memórias paroquiais de (1840-1900).
Publicado no VIII Encontro Estadual de História. ANPUH/BA: Feira de Santana, 2016.

OLIVEIRA, Antônio Ferreira de. Transcrição de Entrevista. Entrevista concedida a Ana


Maria Ferreira de Oliveira. Projeto Vozes e Memórias de Paripiranga. Acervo Digital do LEPH-
UniAGES; Paripiranga/BA. p. 05. Agosto de 2011.

OLIVEIRA, Iracema Maria. Transcrição de Entrevista. Entrevista concedida a Ana Maria


Ferreira de Oliveira. Projeto Vozes e Memórias de Paripiranga. Acervo Digital do LEPH-
UniAGES; Paripiranga/BA. p. 05. Agosto de 2011.

PARIPIRANGA. Lei Orgânica do Município de Paripiranga. 53p. 1990. Acervo do


laboratório de Ensino e Pesquisa em História. UniAGES, Paripiranga/BA.

SANTANA JR, Sebastião Araújo de. Meus Passos pela vida: Autobiografia. Aracaju.
Publicação Independente. 2005. 278 p.
71

APENDICE
72

Imagem 2: Atividade de campo para coleta de dados


Fonte: Arquivo pessoal do autor
73

Imagem 3: Atividade de Campo - Participação em Oficina sobre Cangaço, a convite do


LEPH do UniAGES - 2019
Fonte: Arquivo pessoal do autor

Imagem 4: Atividade de Campo - Participação em Oficina sobre Cangaço, a convite do LEPH do


UniAGES - 2019
Fonte: Arquivo pessoal do autor
74
75

ANEXO
76

TERMO DE RESPONSABILIDADE

RESERVADO AO TRADUTOR DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: INGLÊS, ESPANHOL OU


FRANCÊS.
Anexar documento comprobatório da habilidade do tradutor, oriundo de IES ou instituto de
línguas.

Eu, Elaine Gonçalves Santos Viana, declaro inteira responsabilidade pela tradução do
Resumo (Abstract/Resumen/Résumé) referente ao Trabalho de Conclusão de Curso
(Monografia), intitulado:
77

O SOBRADO DA CUTIA: proposta de restauro e reinserção na dinâmica sociocultural da


cidade de Paripiranga, a ser entregue por Pedro Lucas Bomfim Oliveira, acadêmico (a) do
curso de Arquitetura e Urbanismo.

Em testemunho da verdade, assino a presente declaração, ciente da minha responsabilidade


pelo zelo do trabalho no que se refere à tradução para a língua estrangeira.

Paripiranga, 22 de fevereiro de 2021.

Assinatura do tradutor

TERMO DE RESPONSABILIDADE

RESERVADO AO REVISOR DE LÍNGUA PORTUGUESA


Anexar documento comprobatório de habilidade com a língua, exceto quando revisado pelo
orientador.

Eu, Elaine Gonçalves


Santos Viana, declaro
inteira responsabilidade pela revisão da Língua Portuguesa do Trabalho de Conclusão de Curso
(Monografia), intitulado:
78

O SOBRADO DA CUTIA: proposta de restauro e reinserção na dinâmica sociocultural da


cidade de Paripiranga, a ser entregue por Pedro Lucas Bomfim Oliveira, acadêmico do curso de
Arquitetura e Urbanismo.

Em testemunho da verdade, assino a presente declaração, ciente da minha responsabilidade no


que se refere à revisão do texto escrito no trabalho.

Paripiranga, 22 de fevereiro de 2021.

Assinatura do revisor

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