(20210812-PT) Sete - Visão 1484
(20210812-PT) Sete - Visão 1484
(20210812-PT) Sete - Visão 1484
X
Tv. da Senhora do Monte, 30, Lisboa > T. 21 886 3115 > seg-dom
18h-24h, sex até 1h
N AT U R A L
Durante o processo,
não há intervenção.
O trabalho é feito
sobretudo na vinha
e menos na adega,
respeitando o
território. Também
se usam sulfitos,
mas primeiro
analisa-se a
quantidade de
leveduras das uvas
e só se adicionam na
medida necessária.
Como não são
filtrados, podem
ser turvos
BIOLÓGICO
É feito com uvas de
produção biológica,
em que os solos
são revitalizados
e enriquecidos
apenas com matéria
orgânica
BIODINÂMICO
Resulta de um
modo de produção
(biológica e
dinâmica), na
qual se leva em
consideração não
apenas as uvas, mas
um ecossistema
saudável, que vai das
Numa antiga garagem de automóveis, há agora uma galeria de arte, música ORANGE WINE
a cargo de um DJ e um bar de vinhos naturais, onde se destacam referências
Trata-se de
de Portugal, França, Itália, Áustria e, por vezes, da Geórgia, para saborear.
um vinho de
No Plantasia, nome inspirado no disco do compositor canadiano Mort
curtimenta. É feito
Garson, os vinhos mudam com frequência, até porque são de pequenos
com uvas brancas
produtores, explica Marcos Anjos, que com Alice Turnbull gere este projeto
e a produção é
que junta diferentes expressões artísticas em Arroios. Marcos cruzou-se
semelhante à dos
com estes vinhos, sem aditivos e de fermentação natural, por mero acaso.
tintos, em que as
“Provei pela primeira vez num restaurante em Lisboa e posso dizer que
películas não são
fiquei apaixonado.” No bar, aos vinhos brancos, tintos, rosés e espumantes
retiradas durante
juntam-se ainda os orange wines, produzidos a partir de uvas brancas e
a fermentação.
cujo processo de produção é semelhante ao dos tintos, em que as cascas
Apresenta cores
permanecem durante a fermentação.
fortes, desde o
âmbar ao laranja, e
X sabor mais intenso
R. de Arroios, 93, Lisboa > T. 96 026 0216 > qua-sáb 18h-24h
JOSÉ CARLOS CARVALHO
X
Cç. da Estrela, 15, Lisboa > T. 93 441 3708
> qua-dom 13h-21h
C A N D E L A B R O P O RTO
Abriu no final de 2020,
na porta contígua ao café
Candelabro, esta garrafeira,
com o mesmo nome, que
oferece uma extensa carta
JOSÉ CARLOS CARVALHO
X
Pç. das Flores, 62, Lisboa > T. 93 894 6752 > seg-sáb 17h-24h
LUCÍLIA MONTEIRO
copos de vinho e um torricado (de cogumelos, tomate ou presunto).
X
R. dos Caldeireiros, 136, Porto > T. 22 320 5226 > qui-dom e seg 18h-24h
O Prova merece.
X
R. Ferreira Borges, 86, Porto > T. 91 649 9121 > seg, qui-dom 17h-1h
I N Ê S B E L O [email protected]
Ó Balcão Santarém
Nova fase, a essência de sempre
Focada na valorização do produto e na tradição ribatejana, a cozinha do chefe Rodrigo Castelo
está mais delicada. Ali, transforma ingredientes simples em verdadeiras iguarias
MARCOS BORGA
Deixou cair Taberna no nome e ficou o lagostim e a camarinha – um camarão pequeno
Para tra- simplesmente Ó Balcão, mas há mais que serve de entretém enquanto se aguarda pelas
balhar as
diferenças para descobrir no entradas. À terra, o grão-de-bico, na sua versão
técnicas de
restaurante de Rodrigo Castelo, a verde e seca; o bimi, um legume que se parece com
preparação e
transforma-
funcionar há oito anos, em Santarém. brócolos; a amêndoa (de Salvaterra de Magos) e
ção dos ingre- Reaberto em junho, com outra o pistácio (de Torres Novas), por exemplo. É com
dientes, como decoração – agora salta à vista a garrafeira e os estes ingredientes que prepara a maionese de bimis
a salmoura, tons verdes –, tem também uma nova ementa e alho-francês (€11) e a salada de ovas de barbo
a cura, os que mostra a evolução do chefe escalabitano. com pescada grelhada e grão-de-bico. Segue-se
fumados, Habituado a cozinhar para amigos e família, no o apetitoso gratinado de rabo de toiro (de escolha
pickles ou restaurante aposta na valorização do produto e obrigatória!) e a fataça com caldo de peixe assado
escabeches, na tradição ribatejana, acrescentando-lhes o seu e pera grelhada, uma combinação de sabores
o chefe Ro- toque especial e técnicas como a salmoura, a original, apenas disponível no menu de degustação
drigo Castelo cura, os fumados e os escabeches. Muito do seu (com pratos selecionados pelo chefe, €75).
conta com a conhecimento vem dos livros, mas também das Para finalizar, o chefe sugere o Café das Velhas
parceria com conversas com pescadores, agricultores, (€5,50), uma sobremesa inspirada no café que
a Escola Su- produtores e chefes, ao qual junta a paixão pela a sua avó bebia à lareira e “adorava acompanhar
perior Agrária profissão – dois ingredientes que se refletem nos com fatias paridas”, aqui servidas com gelado
de Santarém, seus pratos. de canela, e o Nem Tudo é Limão (€5,50), mais
onde estudou Na região, rica em agricultura e peixes de rio, refrescante, que apresenta o citrino em vários
durante seis Rodrigo Castelo encontra quase tudo o que precisa sabores e texturas. Aos 41 anos, Rodrigo Castelo
anos. para cozinhar (“não fico preso a estas raízes, se assume uma forma de cozinhar diferente. “Era
encontrar um bom produto noutro lugar, uso”, diz, mais abrutalhado, agora estou mais delicado”,
dando o exemplo da carne dos Açores e de Trás-os- afirma, deixando uma promessa no ar: “Vamos
Montes). Ao rio, vai buscar o caranguejo, a fataça, voltar a ter pratos do antigamente.” Sandra Pinto
X
R. Pedro de Santarém, 73, Santarém > T. 243 055 883 > seg-sáb 12h-16h, 19h-22h30
GRÃO-DE-BICO
“Produzido pela empresa Casal Vouga,
é o primeiro grão-de-bico certificado do
Ribatejo. À mesa, uso o grão verde, de
sabor mais intenso, e o seco. A primeira
versão, antes de ir à mesa, é apenas X
R. José Gomes Ferreira, 191, Porto > T. 93 648 1062 > seg 14h-18h, ter-sex 10h-19h,
bringida, como se faz com as ervilhas” sáb 10h-14h
Castas portuguesas
perfeito. Manifestamente
gastronómico.
€7,80
Nesta seleção, calharam três vinhos varietais de raiz nacional, Maçanita Douro Rosé 2020
cada qual com o seu estilo, mas todos manifestamente bons Cem por cento Touriga-
-Nacional, mostra-se fiel
à casta na qualidade dos
A Adega de Penalva, que integra cerca de mil associados e aromas, da fruta e da
reúne o maior conjunto de vinhas do Dão – perto de 1500 textura. Muito atrativo
hectares, em diferentes lugares, com algumas vinhas muito na sua viva cor rosada
velhas e castas raras na região –, distingue-se não só pelo de tons acerejados, no
volume de vinhos que produz mas também pela sua aroma intenso a frutos
qualidade, sob controlo dos enólogos Virgílio Loureiro e vermelhos, sobretudo
a morangos silvestres,
António Pina. Bom exemplo é a Série Especial, lançada em 2015 por
com o inevitável toque
Virgílio Loureiro, com merecido sucesso e assente em vinhos varietais,
floral, e no paladar
como o Encruzado 2019, agora disponível no mercado. Diz o seu fresco, elegante,
autor, a propósito desta casta nobre do Dão: “Quando vinificada saboroso e fortemente
sozinha, é capaz de originar um vinho completo; é quando mostra apelativo. Para a mesa,
melhor as suas qualidades: muito equilibrada, delicada no aroma, com sem hesitações.
boa estrutura e uma grande capacidade de envelhecimento. Ao fim €8,50
de dois ou três anos, começa a mostrar o seu valor, e à medida que
envelhece, vai subindo de qualidade e aprimorando as suas
características.” Pois bem: o Adega de Penalva Encruzado Dão 2019 Dorina Lindemann Tinta-
é vinho para beber já, guardar e, em ambos os casos, saudar.
Outra grande casta do Dão – não só desta região mas também do
-Barroca Regional Alentejano
resto de Portugal e do Mundo – é a Touriga-Nacional, mãe de tantos Tinto 2017
vinhos de categoria. Surpreendam-se os que ainda têm reservas sobre Só de uvas da casta
os vinhos rosés e acreditem que o Maçanita Rosé Douro 2020 é um Tinta-Barroca, com
belíssimo vinho. “A Touriga-Nacional, a nossa casta de excelência, fermentação em lagares
apresenta-se aqui em todo o seu esplendor floral e frutado. Uma tradicionais e estágio de
verdadeira Touriga-Nacional! Mas em Rosé”, sublinham os enólogos 14 meses, em barricas
e irmãos Joana e António Maçanita, que o fizeram. Provem-no e verão de carvalho-francês.
que é mesmo assim. Apresenta cor rubi,
Finalmente, um varietal da casta Tinta-Barroca, que a Quinta da carregada, aroma intenso
Plansel incluiu no seu conjunto de verão para “mostrar que já lá vai a a frutos vermelhos, em
ideia de que os tintos não casam com calor”. Neste pacote promocional, especial ao da cereja,
com preço fixo de €40, contam-se vinhos das duas gamas mais com leves notas florais
conhecidas da casa: Dorina Lindemann Tinta-Barroca 2017, Dorina e de especiarias; paladar
Lindemann Branco 2020, Dorina Lindemann Rosé 2020, Plansel Branco com boa estrutura, cheio,
2020, Plansel Rosé 2020 e Plansel Verdelho 2020. O tinto parece talhado macio e guloso. Surpresa
muito agradável.
à medida dos bons grelhados que ninguém dispensa nesta época.
€11,50
#eubebovinhosdelisboa
oa
C OMP RA R
ARLINDO CAMACHO
ARLINDO CAMACHO
Symbols, JAK Shoes e Studio BYOU + Raquel Poço Lisboa
Sustentabilidade e bom senso
A cidade ganhou três novas montras. Moda, acessórios, design e até livros, num embrulho
perfeito para lavar a vista
Na Estefânia, Vanessa Vodant e Alexandra Smet resume Vanessa. Entre a seleção de marcas que
a Studio junta nasceram em França, são as melhores ali habitam, França está bem representada,
duas marcas amigas há mais de 20 anos e quis o nomeadamente através das sandálias feitas com
portuguesas: destino que ambas se mudassem para padrão de cornucópias da Arizona Love ou das
uma de roupa Lisboa recentemente. Com carreiras carteiras bordadas à mão da Olympia Le-Tan,
e outra de joias; diferentes – Vanessa foi buyer de mas há uma vontade de ter cada vez mais peças
a Symbols, coleções de moda em Paris, Alexandra trabalhou portuguesas. Ficam como exemplo os quimonos
em Santos-o- para marcas de luxo em Londres –, juntaram-se da Moon Society, marca de uma amiga francesa,
-Velho; os ténis para dar vida a uma concept store em Santos-o- bordados à mão pelas senhoras que integram o
da portuguesa
-Velho. Da roupa aos acessórios, da joalharia às projeto da Avó Veio Trabalhar, ou as almofadas
JAK Shoes,
peças decorativas, a Symbols reúne marcas de da Déjà Vu Lisboa, também bordadas à mão,
no Chiado
(da esquerda
várias nacionalidades e com preços para todos sobre tecidos em segunda mão, por uma mãe e
para a direita) os bolsos. uma filha. “Há muito simbolismo neste projeto”,
A loja na Calçada Marquês de Abrantes conta Vanessa, e é por isso que as escolhas dos
é grande e foi desenhada com um conjunto produtos são feitas com tanto cuidado. E bom
de painéis modulares, que serve também de gosto, reforce-se.
mostruário para as peças e que está em constante
movimento para criar novos ambientes de PEÇAS PARA A VIDA
exposição. No centro, há uma grande mesa, Comprar uns ténis da JAK Shoes é uma
bem apetrechada, de coffee table books, com experiência pensada ao pormenor. Cada par vem
obras escolhidas a dedo das editoras Phaidon, acompanhado de um pequeno kit com um par
Rizzoli ou Taschen; ao fundo, dentro de armários extra de palmilhas forradas a couro e mais finas,
envidraçados, estão algumas joias de maior um par de atacadores suplente e um saco de
valor. “O espírito é mudar, partilhar, cuidar”, pano para os transportar. Fundada, em 2014, por
D.R.
Isabel Silva e José Reffoios, ambos fãs de ténis, as peças criadas pela fisioterapeuta que lhe dá o SYMBOLS
a marca portuguesa aposta no calçado de alta nome. Juntas abriram, em junho passado, uma
qualidade e com bastante durabilidade, produzido loja-estúdio, num casamento tão harmonioso X
Cç. Marquês de
numa fábrica familiar em Santa Maria da Feira. que é difícil perceber onde começa uma e Abrantes, 67A,
“São semiclássicos, unissexo, intemporais e termina a outra. Lisboa > T. 21 396
minimalistas”, diz José Reffoios. A JAK Shoes deu A BYOU apresenta as suas peças femininas de 0327 > seg-dom
10h30-19h30
os primeiros passos no online e depois cresceu, linhas simples e minimalistas. Vestidos curtos e
primeiro para uma loja no Porto, na Rua de Santa compridos, calções, blazers, tops, desenhados JAK SHOES
Catarina, desde 2019, a seguir para uma loja e produzidos em Lisboa, sem obedecer a
própria em Lisboa, na Rua Nova da Trindade, grandes coleções e a puxar por materiais o mais X
R. Nova da
já em maio deste ano. Ambas têm projeto do sustentáveis possível. Recentemente, juntou- Trindade, 4A,
arquiteto Tiago Silva Dias, que se inspirou nas -lhe uma linha de criança em algodão orgânico Lisboa > T. 21 053
cores, nos materiais e no desenho dos ténis – os e outros materiais reciclados, também a seguir 3663 > seg-sex
10h-19h, sáb-dom
bancos são feitos da mesma pele (couro de grão uma lógica de roupas perduráveis no tempo. No 10h-15h30 > R. de
integral), e as paredes e estantes são da mesma centro da loja, está a última coleção desenhada Santa Catarina,
paleta cromática. Atualmente, existem 14 modelos por Raquel Poço, chamada Três Marias, uma 28 Porto > T. 22
766 8607 > ter-
(a marca não lança coleções, garantindo o mínimo homenagem às mulheres da sua vida (avó, mãe e sáb 10h30-13h,
desperdício possível), em 53 variações de cores e filha), mas também aos três nomes que fizeram 13h30-19h >
solas, disponíveis do número 36 ao 48 (a partir História no movimento feminista em Portugal, jakshoes.com
de €150), nas cores branca, preta e outros tons com as Novas Cartas Portuguesas, de 1972, Maria STUDIO BYOU +
neutros. “Como não seguem as tendências, não Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel RAQUEL POÇO
correm o risco de ficar fora de moda”, afirma a Barreno. Com brincos, anéis, colares e pulseiras
dupla que compara a construção de um sapato trabalhados à mão, pensados para se manterem X
R. Gonçalves
a uma obra de engenharia ou de arquitetura, na moda, vai buscar, nesta e noutras coleções, Crespo, 52,
em que tudo é pensado ao pormenor, lá está. traços das técnicas artesanais portuguesas, como Lisboa > seg-sex
Na zona da Estefânia, uma antiga padaria a cerâmica e a cestaria. Com a mesa de joalharia 12h-19h, sáb
10h-13h
com tetos lindíssimos deu lugar à Studio. De ao fundo da loja e um ambiente propício ao
um lado está a BYOU, marca de roupa assente na slow shopping – parar, apreciar, experimentar,
qualidade dos tecidos e na intemporalidade dos comprar –, estes 30 metros quadrados cheios
modelos, fundada por Patrícia Gouveia há sete de pinta merecem a visita até nos quentes dias
anos; do outro está a Raquel Poço Jewellery, com de agosto. Mariana Correia de Barros e Sandra Pinto
IKFEM Valença
Maria João Pires e Júlio Resende Faro Tendo como fio condutor
Língua franca
os instrumentos de teclas
(piano, fortepiano, órgão,
concertina, cravo, acordeão,
sanfona, keytar e piano
eletrónico), esta nona edição
Os pianistas apresentam ao vivo um novo projeto conjunto, “Diálogos”, do festival IKFEM divide-se
que começou no Centro de Artes de Belgais, em Escalos de Baixo, Castelo entre ambas as margens
Branco, no final de 2019 do rio Minho, unindo assim
Portugal e Espanha através
da música. O pianista Miguel
Borges Coelho (18 ago), o
fadista Marco Rodrigues (19
ago) e o cantor João Afonso
(22 ago) integram o cartaz
composto por artistas da
Península Ibérica.
X
Jardim das Amoreiras, Valença,
e Passeio Fluvial do Club de Remo,
Tui > 18-22 ago, qua-qui, sáb-dom
22h, sex 19h e 22h30 > €6
X
Lg. da Sé, Faro > 13 ago, sex 21h30 > €35 a €40
X
Centro de Arte Contemporânea Graça Morais > R. Abílio Leça, 105, Bragança > T. 273 3024 10
> até 23 jan 2022, ter-dom 10h-18h30 > €2,09
O sentido da vida
onde se coloca a câmara.
Sandra Kogut faz um retrato
exemplar dos escândalos
de corrupção do Brasil
dos últimos anos, com
Um filme-poema búlgaro que surpreende pela sua beleza e que nos convida empresários e políticos
a admirar as coisas simples presos, bens penhorados e
obras embargadas. Só que,
em vez de apontar a câmara
aos corruptos, deixa-a ficar
ao nível de Madá, a enérgica
caseira da residência de
férias da família. O resultado
é magnífico, até porque o
papel de Madá é interpretado
pela maravilhosa Regina
Casé.
O filme divide-se em três
partes a que correspondem
três verões na mansão.
O primeiro é o da fartura e
da boémia; a casa é nova,
o novo-riquismo por vezes
extravagante, a festa de
Natal é aperaltada por luxos,
havendo sempre uma ideia
transversal de “esquema”
que abrange, na escala de
D.R.
A poesia é quase tão boa como a água para estes dias de estio e lassitude. Eis cinco livros imprescindíveis,
recentemente chegados às livrarias, que têm propriedades hidratantes e epifanias garantidas
Tomo monumental
traduzida por encontradas
recebe-nos aqui José Gardeazabal para dias longos,
João Luís Barreto no Mosteiro
com esta confissão: permite ler em
Guimarães, olha de Singeverga.
“Olá, não é para Tal como a sua ficção, este longo português, pela
para o passado Respeitando
todos isto/ de ser poema dividido em cinco partes primeira vez, toda
sem nostalgia, as ausências
selvagem com é uma máquina implacável, a produção do
preferindo o documentais,
o volume/ da subvertendo ritmos, linguagem, gigante alemão
estilete da lucidez. seguindo o fio da
bagagem ocidental; Hölderlin (1770-
“Não olhes para associações de ideias – “idem frase, do verso,
no clímax da 1843), desde as
trás, dizem eles:/ ibidem dem dem bidem”. Uma sempre em
meia-idade/ é obras de juventude,
previsível já a
tornar-te-ás ode triunfal em que ecoam Pessoa contacto com as
influenciadas
sal./ Mas porque (“diante de uma janela absoluta fontes teológicas,
quase-/-invariável pelo mundo
não? Porque não não/ comentemos tabacarias”) e o livro faz escutar
rotina: i)/ achar grego antigo, até
olhar?/ Não é tão Cesário Verde (“a esta hora do dia/ cinco homens em
que não é para aos hinos e odes
brilhante?/ Não não é normal termos sentimentos cinco dias, cinco
mim; ii)/aquiescer, que o tornaram
é tão bonito, lá de ocidental”), lançam-se farpas vozes que aspiram
eu, treinada/ em autor-deus, e aos
atrás?” Cabem a quem as apanhar (“há cães/ a transcendências.
variações de bardo fragmentos finais.
aqui passaportes desconhecidos/ a decidir o cânone”), “Ponho a minha
(Deus, faz com que Um “Hölderlin de
colecionados, mão esquerda
nunca seja/ uma contempla-se a contemporaneidade corpo inteiro que
ameaças diante do espelho.
poeta ressabiada).” (“os atos são aves predadoras/ nos faltava”, refere
ambientais, a gata Agora já medito
Recentrando a as palavras plantinhas/ símbolos se não há do outro
o tradutor João
demente da casa
(sua) experiência redondos sorriem-nos do fim das Barrento. E que
e até uma imagem lado outra mão
feminina e o frases/ vivemos sob o signo das deixa motes assim:
do tempo como que se possa
cânone, estes cicatrizes”) e ausculta-se o estado “Se esquecerdes
mão de zombie... tocar.”
poemas são do mundo (“Um estranho pergunta- os amigos, se
autobiográficos, Bertrand > 240 págs. nos de onde somos/ e isto/ ou Assírio & Alvim > 160 desprezardes
desconcertantes > €16,60 é/ curiosidade/ ou é racismo”). págs. > €15,50 o artista / E
e habitados por E a pandemia crava agulhas: os virdes o espírito
afetos: casas, profundo de forma
“óbitos em dominó”, a “felicidade
cúmplices, mesquinha e
de formiga”, a “canção ferida da
computadores vulgar/ Deus vos
perdidos, Elizabeth
claustrofobia”. “A pior mortalidade perdoará – mas
Bishop... é a mortalidade dos vivos”, lê-se. Eis nunca perturbeis/ A
a nossa civilização “parada como paz dos amantes.”
Tinta-da-China > 126 pompeia/ segundos antes de…”
págs. > €13,41
Assírio & Alvim >
Relógio D’Água > 64 págs. > €15 664 págs. > €44
E Se... Disney+
O objetivo é trocar as
voltas a todos os fãs de
super-heróis. As regras?
Fazê-lo com criatividade.
Inspirada na banda
desenhada homónima
dos anos 1980, E Se…
estreia-se na quarta, 11,
no Disney+, e promete
revirar, ao longo dos
seus nove episódios, os
enredos de alguns dos
mais aclamados filmes
do universo Marvel.
Cruzando e recuperando
personagens que já
todos achávamos para
lá do futuro da marca
cinematográfica norte-
D.R.
-americana (quem disse
que já não havia nada
X
Qui 23h10 > 12 episódios
PAULO ABREU
O Caderno das Virtudes
O primeiro Compromisso impresso que guiava as Confrarias de Misericórdia
no seu apoio aos desvalidos data de 1516. Foi descoberta agora uma rara edição
deste texto em Melgaço. Motivo mais do que suficiente para visitar esta vila nortenha
S
ofrer com paciência as fraque-
zas do próximo. Este é talvez o
melhor conselho para a vida. Até Obras de Misericórdia
porque a noção de “próximo” é
SETE CORPORAIS
subjectiva: para nós, o próximo é o outro,
mas para o outro, o próximo somos nós. – Dar de comer
Esta regra intemporal, e com inúmeras – Dar de beber
variações – Dante diria “errar é huma- – Vestir quem necessita
no, perdoar é divino” –, é conhecida por – Dar pousada aos peregrinos
muitos como uma das 14 obras de mise- – Assistir aos enfermos
ricórdia (ver caixa). E porque nem sempre – Visitar e ajudar o sustento e o
é preciso flagelar o corpo para iluminar a tratamento dos presos pobres
mente, vale a pena tirar um fim-de-sema- – Enterrar os mortos, incluindo
na para passear por Melgaço e reflectir so- os condenados à pena capital
bre esta e outras virtudes do ser humano.
PAULO ABREU
SETE ESPIRITUAIS
Uma das raras edições do primeiro
Compromisso impresso da Santa Casa – Dar bons conselhos
da Misericórdia de Lisboa (SCML) foi re- – Ensinar os que não sabem
centemente descoberto na Santa Casa de – Corrigir com caridade os que
Misericórdia de Melgaço. Este Compro- erram sas. Fundo este que apoia a conclusão de
misso é datado de 1516, ano em que pas- – Consolar os tristes obras sociais e a recuperação de patrimó-
saram a ser impressos estes documentos. – Perdoar as injúrias nio cultural nas diferentes misericórdias
O seu objectivo era orientar, com base nas – Sofrer com paciência do país. Os Compromissos podem ser
obras de misericórdia, o funcionamento as fraquezas do nosso próximo consultados no Arquivo Municipal de
das diversas Confrarias de Misericórdia – Rogar a Deus por vivos Melgaço, de segunda a sexta das 9h às17h.
do país. Num golpe de sorte, dentro deste e defuntos Depois, sobra tempo para conhecer
volume do Compromisso de 1516 foi des- esta vila do distrito de Viana do Castelo.
coberto o único exemplar conhecido até Convém não deixar de visitar a Igreja da
ao momento da edição de 1609. recuperados pelo Gabinete de Conser- Misericórdia, de arquitectura medieval,
O Compromisso de 1516 tem o fron- vação e Restauro do Arquivo Histórico que também está a ser recuperada com
tispício decorado com a imagem de da Misericórdia de Lisboa. Um projecto o apoio do Fundo Rainha Dona Leonor.
Nossa Senhora da Misericórdia, com o desenvolvido no âmbito do Fundo Rai- No caminho para casa, calmo e revigora-
seu manto aberto para cobrir e prote- nha Dona Leonor, criado pela SCML e do, pode sempre aproveitar para praticar
ger todos. Ambos os exemplares foram pela União das Misericórdias Portugue- mais obras de caridade.
LUCÍLIA MONTEIRO
A fachada não destoa dos restantes em marmorite a contrastarem com apontamentos A localização
edifícios típicos da rua mais antiga de em rosa ou em verde-água, seja no mobiliário central do
Amarante, onde se concentra grande feito à medida pelos arquitetos seja nos materiais Covelo é ideal
parte das confeitarias e tasquinhas, arrojados utilizados, sobretudo o mármore, com o para quem
à beira do Tâmega. Apenas um qual jogam constantemente. Aqui e ali, surge uma quer descobrir
pormenor a distingue, dois círculos peça recuperada da casa dos avós, a lembrar-nos Amarante
de mármore rosa, a dar uma pista sobre o das origens familiares deste edifício. Um olhar e usufruir
interior do alojamento boutique. O nome Covelo atento vai descobrindo, aos poucos, curiosidades de tudo o que
– The Original Rooms and Suites condiz com o como o corrimão ou as paredes ondulantes, a cidade tem
para oferecer
vanguardismo do projeto arquitetónico, assinado a remeter para um imaginário da década de
pelo Fala Atelier, do Porto. “Queríamos um 80 do século XX. “Esperamos que as pessoas
projeto diferente, mas que continuasse a ser identifiquem estes pormenores e percebam que
atrativo para o público”, explica João Baptista este alojamento foi feito com alma e não copiado
que, com Laura Pinto, divide a gestão de outros de uma revista”, sublinha João. O Covelo dispõe de
empreendimentos e alojamentos locais na cidade. seis quartos e de uma suíte, sendo que o do último
“Este é inteiramente nosso e foi pensado do piso tem uma pequena varanda com vista para o
início ao fim”, acrescenta. rio e para o centro histórico, a chamar para uns
Toda a casa nasce à volta de uma chaminé, a da passeios. Os pequenos-almoços são servidos na
lareira fora da caixa que ocupa um lugar central Lai Lai, a confeitaria histórica na porta em frente,
na sala comum. Logo ali se percebe o estilo muito conhecida pelos doces conventuais, impossíveis
particular, com as tonalidades neutras do chão de resistir. Joana Loureiro
X
R. 31 de Janeiro, 109, Amarante > T. 91 606 0041 > a partir de €70 > coveloamarante.com
Pedro
Caeiro Quiosque Lisboa
Situado na Praça do Príncipe
Real, tem uma esplanada “ótima
Açores
“Tenho pena de ainda não ter podido
conhecer todo o arquipélago. Mas
as ilhas que conheci conseguiram
transportar-me para longe.
É importante descobrir estes lugares
Cervejaria
Sé da Guarda O ator Naruto
adora tascas. É do tempo em que os miúdos
E esta, na zona saíam a correr da escola para
de Algés, para ver o Dragon Ball. “Era de
onde se mudou loucos”, recorda. Mais recentemente,
recentemente, terminou os cerca de 500 episódios de
tem “boa comida, Naruto, adaptação dos livros escritos e
preços acessíveis, ilustrados por Masashi Kishimoto. “Fala
imperiais bem de relações humanas e políticas, num
tiradas... o que mundo Ninja, que podia muito bem ser
se quer!” o nosso.”
Palavras cruzadas
>> H O R IZONTAIS >> 1. Pessoa de que se fala sem nomear.
Aguentar (pop.). // 2. Chupar, sorver. Nome da letra “N”. // 3.
Justificação do réu, que consiste em provar ter estado fora do lugar
em que foi cometido o crime de que é acusado. Festa que celebra o
nascimento de Cristo. // 4. Movimento em torno de um eixo, em torno
de si mesmo ou em volta de um objeto. Cesto grande de palha em
feitio de alguidar. // 5. Dar a forma que convém, cortando os excessos.
Viagem ou saída de casa para outra parte. // 6. Desejava. No caso de,
dando-se a circunstância de. // 7. Remendo de cabedal em sapato ou
bota. // 8. Cãozinho (fam.). Aéreo, desvairado. // 9. Combinar, ajustar,
conciliar. Prosseguir após interrupção. // 10. Calçado para patinar.
Dono da casa em relação às pessoas que estão ao seu serviço. // 11.
Grande cão de fila. Escorpião. >> VERTICAIS >> 1. Nome genérico
das lendas escandinavas. Jornada. // 2. Género das liliáceas muito
cultivado nos jardins. Curva fechada, composta por quatro arcos de
círculo iguais, dois a dois, que se ligam entre si. // 3. Atuaram. Gigante
mitológico que quis escalar o céu e destronar Júpiter. // 4. Oficina de
química, de farmácia, de fotografia, etc. // 5. Graceja. Centésima parte
da pataca. // 6. Berrar (veado e outros animais). // 7. Mamífero cervídeo
de grande porte, que vive nas regiões frias do Hemisfério Norte e
que é domesticável. Peça de máquina que serve para transmitir e
modificar movimentos de vaivém em movimentos de rotação.
// 8. Examinara. // 9. Cada uma das duas partes iguais em que se
divide um todo. Apertar com nó ou laçada. // 10. Camareira. Senhora
educada. // 11. Cilindro. Derramou lágrimas.
Titã. // 4. Laboratório. // 5. Ri, Avo. // 6. Bramar. // 7. Rena, Biela. // 8. Analisara. // 9. Metade, Atar. // 10. Aia, Dama. // 11. Rolo, Chorou.
// 8. Totó, Airado. // 9. Avir, Reatar. // 10. Patim, Amo. // 11. Alão, Lacrau. >> V E RT I CA I S > > 1. Saga, Etapa. // 2. Tulipa, Oval. // 3. Agiram,
> > H O R I ZO N TA I S > > 1. Tal, Gramar. // 2. Sugar, Ene. // 3. Álibi, Natal. // 4. Giro, Balaio. // 5. Aparar, Ida. // 6. Amava, Se. // 7. Tomba.
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O país
dos teimosos
POR RICARDO ARAÚJO PEREIRA
S
e tivesse de apostar, diria que Fernando Pes- peço ao leitor que se prepare para um aleijão moral dos
soa (Álvaro de Campos, para os picuinhas) mais infamantes: “Confiar.” Ou do desgraçado que tem
escreveu o Poema em Linha Recta depois de muita dificuldade em lidar com esta sua repugnante
ter lido um questionário de verão. É aque- característica: “Achar sempre que todos têm sentido de
le poema em que ele desabafa: “Arre, estou humor.” Ou a pobre inquirida que não se conforma com
farto de semideuses! / Onde é que há gente o facto de “compreender demais”.
no mundo?” Trata-se de uma boa pergunta. Em 66 inquiridos há um preguiçoso, um egoísta, um
Todos os verões, tenho estudado os questio- guloso e um vaidoso – e aproveito para saudá-los. São
nários de Proust dos jornais, particularmente os únicos que confessam defeitos apresentáveis. Eu, já
a única pergunta que me interessa: “Qual é agora, também sou preguiçoso, guardo rancores e caio
o seu principal defeito?” Até hoje, para minha surpresa, demasiadas vezes na tentação de ser cruel. E a exibição
ninguém confessou ser um filho da mãe reles e mau. destes negros defeitos, por contraste com o pudor com
A existir algum em Portugal, que eu tenha visto nunca que outros escondem os seus, ainda consegue deixar-
respondeu a um destes inquéritos de verão. Este ano, o -me vaidoso, o que acrescenta mais um pecado mor-
DN e o Público (a formulação do Público é ligeiramen- tal à lista anterior, que já tinha pelo menos dois. Como
te diferente: “Na sua personalidade, que característica calculam, sinto-me especialmente diminuído perante
mais o irrita?”) têm continuado a sua busca meritória inquiridos como os que indicam, como defeito maior, o
por um ser humano verdadeiramente defeituoso. Das facto de serem viciados em trabalho. Imagino que não
66 pessoas já inquiridas este ano, a maior parte são, sem seja fácil viver com o receio de chegar às portas do céu
surpresa, teimosas. Apresentar a teimosia como defeito e ter de admitir: “Eu fui muito trabalhador. Estou arre-
parece-me, em si mesmo, um defeito, uma vez que se pendido e peço clemência.”
trata da mais chata e insignificante das falhas de carác- Os inquiridos mais interessantes, no entanto, vêm do
ter. A ser este o principal defeito de alguém, creio que a mundo da política. Joacine Katar Moreira, por exem-
decência recomendaria que a pessoa mentisse, e con- plo, enche-se de uma admirável coragem e alega que o
fessasse um defeito a sério. Talvez injustamente, incluí seu principal defeito (sublinho “principal” e “defeito”)
neste lote um inquirido que, como defeito mais impor- é a “persistência”. David Justino está profundamente
tante, apontou: “a determinação. Perto da teimosia”. Ele insatisfeito (e como não?) com a sua perniciosa inclina-
não chega a ser teimoso, mas está lá perto. Ou seja, creio ção para “a incessante busca da racionalidade”. Ascen-
que tem como principal defeito o facto de nem teimoso so Simões, por mais que tente, não consegue livrar-se
conseguir ser. do maldito vício de “pensar em demasia nos outros”.
Depois dos teimosos vem, este ano, um grupo quase Finalmente, Luís Filipe Menezes confessa, com um
tão numeroso de impacientes. Como é evidente, este desassombro admirável, a sua “estúpida capacidade de
defeito dos inquiridos manifesta-se apenas porque o esquecer e perdoar”. Embora acrescente: “Mas estou a
mundo lhes esgota a paciência. O que nos conduz a ou- melhorar.” O que significa que a sua torpe inclinação
tro grande clássico dos questionários de verão: grandes natural para se comportar como Jesus Cristo vai sendo,
imperfeições que são, na verdade, imperfeições dos pouco a pouco e certamente com esforço, contrariada.
outros. É o caso da inquirida cujo principal defeito é – e Ufa. Ainda bem. [email protected]
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