Antero de Quental

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Antero de Quental

“Antes de Antero de Quental praticamente não houve literatura


portuguesa. Antes disso, o que existia era preparação para uma futura
literatura ou uma literatura estrangeira escrita em língua portuguesa”
(PESSOA, 1915). A máxima do poeta Fernando Pessoa ajuda a dimensionar a
importância do escritor e filósofo Antero de Quintal para a gênese da literatura
portuguesa, de maneira geral, e para a chamada Geração de 70 (ou Geração
de Coimbra), de modo específico.

No contexto dessa geração de intelectuais, Quental teve papel


destacado, sendo um nome forte do realismo português, cujas discussões
filosóficas davam contas de temas de grande relevância social para o período.
Nascido nos Açores, na Ilha de São Miguel, estudou Direito na Universidade de
Coimbra, onde se tornou líder da chamada Sociedade do Raio, cuja ambição
era repudiar o romantismo e renovar a literatura daquele país.

Deu-se o nome de “Questão Coimbrã”às querelas observadas


entre intelectuais portugueses a partir de uma série de poemas, artigos
em periódicos e cartas abertas publicadas nos anos de 1865 e
1866, que acabaram por expor divergências nas formas de se
pensar aliteraturaportuguesae, de forma mais ampla, a situação de
Portugalao final do século XIX. O adjetivo que a denominou está
diretamente ligado à Universidade de Coimbra, local de formação
dos principais envolvidos e da publicação de alguns de seus escritos.
(FARIAS BRITO, 2015)

Os primeiros livros de Quental a serem publicados foram Visão dos


Tempos e Tempestades sonoras, ambos em 1864. Mas foi em Odes Modernas
(1865) que o poeta deixou transparecer sua total desvinculação ao romantismo,
ao sentimentalismo e à poesia tradicional. Ficaram claras, a partir de então, o
quanto estariam presentes na sua obra ideias de justiça e liberdade, em vez da
recorrente religiosidade lírica de outrora (FERREIRA, 1988).

Este livro é uma tentativa, em muitos pontos imperfeita,


seguramente, mas sempre sincera, para dar à poesia
contemporânea a cor moral, a feição espiritual da sociedade
moderna,fazendo-a assim corresponder à alta missão que foi sempre
a da Poesia em todos os tempos (...) –isto é, a forma mais pura
daquelas partes soberanas da alma coletiva de uma época, a crença e
a aspiração. (QUENTAL, 1865, p.151)

A partir de uma troca de farpas públicas com o poeta Antônio Castilho,


defensor do romantismo, as ideias de Quental ganharam fôlego e publicidade,
constituindo aquilo que viria a ser a Questão Coimbrã. Acusado de ser
exibicionista e obscuro, o poeta realista levantava a bandeira da liberdade e da
independência de escritores, que seriam capazes de renovar a literatura,
suplantando os românticos. Esse foi um divisor de águas entre o romantismo e
o realismo (LOPES, SARAIVA, 1975).

Militante de causas sociais e artísticas, Antero de Quental chegou a


fundar um partido, um jornal e uma série de conferências. Em sua obra, nota-
se grande influência dos filósofos Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Pierre-
Joseph Proudhon (PIRES, 1992). De modo geral, essa produção poética pode
ser classificada em três fases: uma inicial, com influências múltiplas, sem
direção muito clara; uma segunda, de caráter militante; e uma última,
existencial e metafísica, pautada pela angústia.

Entre suas principais produções, estão Sonetos de Antero (1861), Bom


Senso e Bom Gosto (1865), A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais
(1865), Portugal perante a Revolução de Espanha (1868), Primaveras
Românticas (1872), Considerações sobre a Filosofia da História Literária
Portuguesa (1872), A Poesia na Actualidade (1881), Sonetos Completos
(1886), Tendências Gerais da filosofia na Segunda Metade do Século XIX
(1890), Raios de extinta luz (1892).

REFERÊNCIAS

FARIAS BRITO, R. DE J. “Questão Coimbrã”: a problematização sobre Portugal através de


uma polêmica literária pela Geração de 70 (1865-1866). Oficina do Historiador, v. 8, n. 2, p.
154-173, 23 nov. 2015.

FERREIRA, Alberto; MARINHO, Maria José. A questão coimbrã (Bom senso e Bom gosto).
Coleção Textos Literários. Lisboa: Editoria Comunicações, 1988
LOPES, Oscar. SARAIVA, Antônio José. História da literatura portuguesa. 8ª Ed. Porto:
Porto Editora, 1975.

MACHADO, Álvaro Manuel. A Geração de 70 – uma revolução cultural e literária. 3º Ed.


Lisboa: Ministério da Educação e Cultura, 1986.

PESSOA, Fernando. Carta a William Bentley, 1915.in Correspondência 1905-1922, ed.


Manuela Parreira da Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 1999, p. 197, ISBN 972-37-0505-2.

PIRES, Antônio Machado. A ideia de decadência na geração de 70. 2º Ed. Lisboa: Vega,
1992

QUENTAL, Antero de. Odes Modernas. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1865. Disponível
em: http://books.google.com.br/books?id=mUMuAAAAYAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Acesso em 07.06.2021.

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