LEITE, Ana Mafalda - Oralidades
LEITE, Ana Mafalda - Oralidades
LEITE, Ana Mafalda - Oralidades
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Ana Mafalda Leite Oralldades &. Escritas
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Um dos pioneiros estudiosos das literaturas africanas, Janheinz spontanément rythme dês que l'homme est ému, rendu à Iui mê~
Jahn, distingue: "La literatura neoafrÍcana recíbe, pues, Ia heren- me à son authenticité. Oui Ia paroIe se fait poeme. (...) (1964:
,. 156).6 .
cia de una doble tradicÍón: Ia literatura africana tradicional y Ia
occidental. Una obra que no presente ning~n carácter europeo, A predominância da oralidade em África é resultante de
es dicir, que ni siquiera esté escrita, no pertenece a Ia literatura condições materiais e históricas e não uma resultante da
neoafricana, sino a la tradicional; [a frontera entre ambas es fácil "natureza" africana; mas muitas vezes este facto é confusamente
analisado7, e muitos críticos 1?ar~emdo princípio de que há algo
de trazar:
criw." es Ia24).,X-oralidade
(1971: línea ~_s..e.para.li.teratura
é também umaoral atitude
de literatura
perantees~
a de ontologicametlte oral em Africa, e que a escrita é um aconte-
.....realidade e não"'", busência de uma habilidade, e a frontek~_illt~ cimento disjuntivo e alienígeno para os africanos.
separa a Iiteratura da oralidade não é assim tão nítida. Fin- Ronorat Aguéssy em Visões e Percepções Tradicionais,
afinna.a este respeito: "Em primeiro lugar, lembramos que uma
sion has been the denial of a cléar-cut differentation between oral
I:. (,
das características das culturas africanas tradicionais, a sua carac-
"-negrtTí"e1TllJi'ã1 .oe ry a 1rma:~ ... a mam paIO 11 1SdiSCUS-~ terística fundamental, é a oralidade. Enquanto, no quadro da
. ~J.( , and written literature. Throughout the book I have rejected the
~\í (,i. : ,} .• / suggestion that there is something peculiar to 'oral poetry' which escrita, as fontes de valores são os "autores" e as suas obras, o
.\ \, I"!' radically distinguishes it from written poetry in nature, composit- que cria reflexos culturais que levam os pensadores a negar quaI~
l i}: .', .' ion, style, social context, or function." (1977: 272). quer réstea de pensamento onde não encontrem obras escritas,
~r\'! O termo prúpôsto de literatura neo-africana recdbre um cor- devemos hoje reconhecer que a oralidade ,pode produzir obras
~ ('" pus específico de textos produzidos peJos africanos em língua..<:; culturais muito ricas. (....) quando falamo_~e oral idade como
: (/.. ieuropeias, e distinguem-se por uma unidade fundamental de refe-
\; <~ g.racterística dQ ~mpo cultural a:tri.~?:noÇpensamosnuma aOm1':
.•• i \ .' ," rência e de visão do mundo. Esta visão era presumivelmente de- nante e não numa exc1rrsíViOãoe:»(1977.;'
~,:.' .\'' tectável através do conhecimento do pensamento africano tradi- . A questão trata-Se de assinalar a particularidade, sem perd~
:.. I /' < donal, difundido pelas obras de Placide Tempels, MareeI Griaule
\ •
I.
f • e Alexis Kagamé, entre outras. A postura jahniana deriva dos de vista outros aspectos, e ~r como descrever o acidental, o )
'\ \.' / iI'~ pressupostos essenciaJistas do movimento da Negritude, nomea-
••., 1\' l~ :- damente no que respeita ao uso do conceito de "nommd' como 6 Cf. "Senghor, num campo menos dúbio de interpretação do que a poesia,
\j
. um princípio operativo de neo-africanismo.5 encontrava uma f6rmula para explicar o que poderia haver de dicotómico,
, :i· A implicação idealista destes pressupostos faz jus ao discur- de frontalmente oposto, entre os valores ocidentais europeus e os que per~
~, tenceriartl à África negra: 'a emoção é negra como a razilo é helena'
O, I; , so negritudian~ (co~preensível no seu enquadramento histórico) (...)" Alfredo Margarido, "Negritude e Humanismo" in Estudos sobre
, I' acerca da poesia afrIcana, por exemplo, em q~e se defende tam- Literaturas das Nações Africanas de Língua Portuguesa, Lisboa, A Regra
(] "
bém esta essencial idade do oral. A poesia é encarada como per~ do Jogo, 1980, p. 159. .
feitamente compatível com a categoria de "oral", que conota es- 7 "Who could stake a claim lo serious critical, evaluative rights on the basis
pontaneidade, afinidade simpática com o ser e a espiritualidade. of Senghor's famous slogan: Emotion is Negro as Reason is Greel<? Even
Vejamos algumas da observações de L.S.Senghor a este respeito: to "native" critics eager to assert "natural" territorial rights to a virgin
"Le Negre singulierement, qui est d'un monde ou Ia parole se fait field, some of Senghor' s Negritudinist excesses could not but be a.,great
,embarrassment. Criticism- is, after aU, an eminentJy rarional activity,
whereas "emotion", "feeling", "inttÍition", "rhythm", and some of the
5]' Janh, Muntu, Paris, Seuil, 1962. Nesla obra Jahn procura provar a exis- other "keywords" of Negritude are characteristically relegated to the
tência de uma certa unidade li terária africana, gerada precisamente pelo margin of critica! enterprise.". Biodun Jeyifo, "The Nature of Things:
esti 10, sendo o ritmo o seu elemenlo unificador. A influência negritudianu Arrested Decolonization and Critical Theory", in Researeh in Afriean Li-
desta posição é signi ncativa. teratures, Spring 1990, p. 39.
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~ue ~ críticonase culturas
a oralIdade equilibrado .na sua e~sserção
afncanas quànd? ~os
uma "caractenstlca cebI~os,
dommou deve consIderar-se
o estudo a afncanas.
das culturas . pologra con:o._a
o elos dis~phn~ q,u
e concepçoes cLi
G"f~~tual,
observação
dominante", ~as, não ~ única e exclusiv~. No enta,n~o este tip~ de
° considerar
sem nuo e mUIto frequente
como ~~;~'dO
no dIscursoà cnt1co
ord~m dos afnca- .i~ a VIda
Para .
~nt:opológicas mo!daram a aprê~Iaçao os. eu:opeus ~m re~ação
e cultura
compree~der
af~. a As
forma
teonas
como
evolUclomstas,
e~tes trabalh~s
cu]as
~o~am
orIgens
H~
re~w ~
K" U fo.J;
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nistas. .,,) /1 . podem ser procuradas desde a antiguidade grega, passando por
" /" ..(.( (,.t ...",-/,,·":,J ._./",.;; . :....: ':.~"- ,./.......,J C.Vl ..6·6;e-c ~M"1("·i'.:. . :,/, Pascal e especialmente pela filosofia do século XVIII, deram ori-
A\ 1./ //'ré{ g~m às premissas. d~ .estudQs como La M entalité Primitive .de
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« : Lévy~BruhJ ou PnmUlve Culture de Tylor. A Europa exempI1fi-
I Oralidade: entre nostalgr.ae utop~a.... i·;!:;:.::·i··,,~:;.,:. ?:!ti.·:; cava o .estado adulto da civilizaçã?, enquanto as cultu.ras n~o-
. .., ,;.;'...:.:'..' .::j, ': -europelas eram encaradas como slmbolos d.e um estádIO de m~
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Há du~s atitudes extrex;nadas para com a oralidade. qid~j: ;:.'):
uma deI as e reveJadora das ?Iferent~s formas ~o~o se apr.eendy ~.." ..: :, '.'
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fância, .através do q.u~Ia Europajá tjn~a passad~.l?~carada sobre
este pnsma, a tradlEQ oral era cQns!d~ada prImItIva. e os ~1-
/1 •.:.'\
~,/1 ('. ,) I rel~ção
socIedades
entreoraIS
~s (e
textos
as tradlçoes)
or~l~ e esc~lt?~.
pnlTlltlvas,
A. pnmeIra
a segundaconsId~rw,a~
consIde.r~-:,~.!,:.}:"
:l::;: : <;.J\;~:
.:"" :';:",\"' 1 ,Jfcloristas
rando-o como
europeus
formasestuc@ra~ o seu pam!!1ÓD~O.0!~1conside-
sobrevlventeL9~n:LS~..stádi.o.J.OlCJa1. .
~. --:- -as exemplares. Por outras palavras, em certos momentos· da i~::: '..; i\:";' ~. cJ-1.9-- As teorias evolucionistas contribuiram muito para ~ dicoto~
',', (/"~:r.;!r{~7' história ~ociaJ e inteJ~ctual do Ocidente~ e depe,nd~ndo dos p()~t :;:::::;)
. '.: <::;"Y ~)JC\ mia entre oral e, escr~to. literau:,ra or,aJ,era e~çarada cQm~ um~ ~J -!"-
-\ ,íp).(Ú'fA, tos d.e vista do estudl~SO: o mesmo fenomeno ~ vI~tOcO~O.·~VI-:::',:'"..'.. . :,.:; UY_'''j-, manifestação pnmária, sImpJe~Q Slljelta a trabalho refleXIVO,e
1., (t-i1 d~nc!a, tant? de supenor~dade, como de ~ecad.en~la, da clvlllza-i: ::.... ,: '. O' (f.l um produto de urna comuniCfa.?e, enquanto a literatura escrita r~-
~.v '1.,({: ~ çao europel~ ~: co~com~antemen~e, da mfeno~l~a,de ou bem-i,... ':,; ". . velava o oposto, final conclUSIVOde um rOc sso de. desenvolvl-
c. 1\1 ~estar das clvl1Jzaçoes nao-europelas.
.. ' A rever$lblhdade destes! ;:. ':" 'ír>lmento: complexa, e resultante do tra a o de um só autor E~ta Q.,
z:, \ julgamentos é um exemplo notável do resultado das intenções doi '. ,f\<t visão não se modificou muito com a antropologia uncional. Ruth
,.. ,J .• .., investigador e das conclusões que daí podem ser tiradas. O im-: .' YJ' Finnegan (1970:38) .afirma que muitos estudos antropológIcos
~' "~r-o portante para a nossa reflexão é estar consciente de que 'esses: .....:': .., ri: defenderam que as instituições e produções criativas dos africa-
,/ I'", ,/ I ,J f pontos ~evista ~rabaJham m~ítas vezes, latentement,e, na nossa' , . :.. IJ~ nos eram puramente funcionais, normativas e com intuito de ('F"V.-0(
.::'.
, ,\ ,;-": I"_? .J., percepçao das literaturas
nossas interrogações afncanas, ae que
e as conclusões porventura dlstorcem as·
chegamos.. ..,: t;vJ manter
O'-~<'«W'"'l Se aasordem
teoriassocial.JO
evolucionistas e funcionalistas acab~Q~. / /,,;:::.:.0
iJ_ /
:O", A"" \', Como se sabe, a preocupação com a literatura oral afncana j ser ultrapassadas nas suas teses, a antropologia ocidental, "na se.'. .' r Ç/,..A~~
..; ,':' 1- iniciou-se ~os finais do. sé~ulo pas~a,do, enquadrada pe)~ activi- v' (oUl.7vIh.Vl Çz~ O\.M..k () cfú.. frvrr<--, rX...9-Il, ilt-l,": Lv J .~ ) (/ ;<;
_,./,1 I d~de, colom~l e p~la cUrJ~sl~ade ~xotlca que as exploraçoes eco- ( v) <{ { ( -1. ~ .' (:~ .~
. nomlcas e clentlfJcas de Afnca VIeram despertar, quer na Europa .." 9 Um interessante artigo de Graham Huggan "Anlhropologlsts and other ~~~
.. (!. I; . Jecções
quer nose Estados
recolhas Unidos.
cresceramNoem progressão
decorrer geométrica,
do século actuaJ, nornea-
as co- , obras
frauds"literárias 9ue c:itica~
(in Compara e ~arodizam
tive Literature, Springa 1994)
o p~pelanalisa
do. antropólogo
o papel depara
três ~" ~:)
-.\)}I damente a partir da década de sessenta.a . ·v .f 2'3. . com os povos nao oClçientuls.. Suo elas ~ Devotr d~ VlO'en~e de Ya~bo
_.1:..jJ Q . ;/-"_ Ouologuem, Os Passos PerdIdos de AleJo CarpentIer e Flytng Fax zn a
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Este fenómeno decorre, em parte, do acesso às independências da .
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as rele-
.'t!\.\ dos países africanos na década de sessenta e do desejo crescente de co- F~ .(/ vant o~Jy m so f?r as ~heycould be fitted mt~ thlS. framework' Fmnegan.
'~e nhec~mento e revaJorizaçãó do seu pa~~i;~~:.Ooral. '. O .... :c' ') Oral Llterature m Afnca, Oxford, Oxford Umverslty Press. 1977, p, 38. J /fu.Á/uo
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Oralldades & Escritas
Ana Mafaldll Leite
nhecimento dos textos mais longos e especiais, como a epopeia, ladora, ainda, das preocupações relacionadas com a ídeia de uma
as genealogias ou a crónica histórica.1J estética, uma visão do mundo, africanas, de que as tradições
Se as posturas teóricas dos ocidentais se extremam entre um orais fazem naturalmente parte.
~ de nostalgia e a utopia, as posturas dos africanos tendem a De uma forma geral, a posição dos escritores africanos frao-
ser também7Por vezes, excessivas no seu julgamento em relação cófonos admÍte a legitimidade e reivindica o uso de línguas afri-
à literat.!:}.!J;\.g,raL --- --.._-~._~-_ .._.__ ._-,------ canas e europeias. E a maioria dos escritores anglófonos admite
acaso mais relevante é a atitude do escritor queniano Ngugi também similar legitimidade. No entanto, nos últimos anos este
Wa Thiong'o que, na sua obra Decolonising lhe Mind: The tem sido um tema debatido, a partir da publicação da obra do im-
Politics of Language i/1 Ajrican Literature, reivindica para as li- portante escritor queniano que só considera legítimo o uso das
teraturas africanas o uso exclusivo das línguas africanas, segundo línguas africanas. Esta posiçã~aJistal5 recente mostra,
ele, mais capazes de apreender a cultura africana, isto é, implici- uma vez mais, que o equilíbrio teórico necessário para o enqua-
dramento da oralidade se enconfrâ envolvido por uma complexa
"Language as culture is the col1ective memory bank of a \; '.
tamente, experience
people's também as intradições
history. oraisJ4:
Culture is almost indistinguishabJe "".. ) ~ rede Por
ideológica, resultante oainda
razões históricas, dos resquíCIõs-coloniai~
perfillingulshco õe cãIDrpãís--africa-
from the language that makes possible its genesis, growth, bank- -- no faz hoje coexistir pelo menos uma língua europeia, que fun-
ing, articulation and indeed its transmission fram one generation ciona na maioria dos casos como língua oficial, e um número va-
to the next (...) Janguage carries cuJture, a'nd culture carríes, par- riável de línguas africanas. A língua oficial tem contribuído, na
ticulary through orature and literature, the entire body of values maioria dos casos, para" a realização de uma coesão nacional
by which we come to perceive ourselves and QUI' place in the nestes países pluriétnicos. No que respeita à literatura, ela tem-se
world (n.) Language is thus inseparable from ours'elves as a com- desenvolvido, enquadrada dentro desta diversidade linguística.\f"
munity of human beings with a specific form and character, a ainda um princípio nostálgico, idealista e essencialista, pensar em
specifjc history, a specific reJationship to the worId ..." (1981: l~) termos estáticos na recuperação de uma mundividêncía pré-
Se por um lado a questão Jinguístíca é um dos problemas -colonial, não levando em linha de conta as transformações sofri-
ideologicamente cruciais da fixação do discurso colonial e das nestas sociedades com o colonialismo, as indel2endências e a
anticolonial no âmbito das literaturas africanas, por outro é reve- modernização. -_._---.-.~..." .....~-'" .."..-_.._..
nSlSIr numa visão monolítica e indiferenciada de uma esté-
l:t Em certos textos mais esotéricos, como os textos iniciálicos, é guardada a tic~_W:.icana·é umé(Jorm~ém di<_I\eg~~tero&~Pilj~~~::'_~ __r
razão do conhecimento, mais do que a razão de conhecer, emendida a
primeira como abrangendo a via para aceder à verdadeira percepção do
~~e)d~ad~ do univ~r~o c~~~ur~L.a.~i.~~no.
maiiífestaçãOuem.m,vlS'llinreo-panafncana, queE encara
talvez oainda
contI-.a
nente como indifereneiada totaTIdãae,Jíeste final do século,
mundo e da essência das coisas. O conteúdo revelável é guardado para o
iniciado e o acesso ao sentido essencial subjaz na repetição ordeoada dus
_._-~. ~ -... ..'
22 23
Oralidades & Escritas
Ana Mafalda Leite
de uma parte das sociedades africanas continuar a ser fundamen-
talmente camponesa e agrícola; e manter as tradições orais como ')
quando as diferentes nações africanas constroem há .várins déc;;
forma de preservação da sua bagagem cultural, não Siglllf!ca que •
das o seu per~o lit~:_~ próprio e_~~fe~~~--
o conto, a forma mais popular de transmissão de conhecimento e ~
de cul~~~ja necessarf~mê~fe"ã"'f~rm~~nãturãIll-ou"'"'ê'SS'elrcia:I"":s
Oralidade, Literatura: Conto Oll Romance? (--:&-ta dicotomia, considerada
,..,.---êie i"ecOnheclmentoda afncamdade antagónica - conto/romance
Ilterana. ~-~._----'~\ -
enquadra-se obviamente em outras dictomias mais vastas, implí-
Os pressupostos teóricos mais OU menos extremados, idea- citas, do gênero: África! OcideA·tg.r~ir-i.toLn\.zã.Q,...n.atureza/cul-
listas e mitificados acerca da oralid;ide ..e.das-tr-adições orais afri- -.....-.-_------
tura, oralidade/ escrita, literatura. O
.•.
facto de o "romance" ser en-
canas levaram naturalmente a assefções._º.e.~:Últuadas,ou pouco carado como estranho a Afrlca, e uma forma levada pelos euro-
claras, no âmbito do estudo e da anáÍise crítica das literaturas peus para o continente africano, n~o signif~, que entre-
african~~co na sequência da<fdeia ~rit~...?--ºf..9.)dLa tanto não ganhe raízes nesse novo espaço. Outtas formas lite-
rárias, tomemos o caso do haiku, apesm-dãrua origem oriental,
mals ou menos inatos. Um africano nasceria supostamente já
,
com, o espírito da dança e por isso seria naturalmente vocaeio- ou
gemdoé soneto
semita, cuja origem é italiana,
encontram-se difundidasou eainda do salmo
anexadas cuja ori-
e readaptadas I
(0emrenado para"natural"'nos
o jazz, o canto,
africanos, r~'---::---'----"'-'-'-
etc. a dança e a mÚSICasão talentos um pouco por todas as literaturas dos diferentes continentes.
\ __.._... --'fambém noâmbitõãã-H'têratur(.~ conto foi e continua a Tal visão é, apesar disso, proposta por Mohamadou Kane,
ser, muitas vezes, encarado como a "f~ITi1ãj';-ãdeq.ü'ã(fã;"-õ-insrni-:-·-- professor e ensaísta senegalês, autor de várias importantes obras
mento narrativo por excelência "africano". Um exemplo desta
postura crítica encontrá:-se-nãS--pãfáviã( de Adrian Roscoe ao sobre
Ia o contoafricaine
littérature e romance africanos:
modetne "L'avenir
semble dti conte
mieux assuré. écrits'a'git,
II n'y dans
afirmar que O romance não tem tradição em África e que não tout compte fait, que de l'ouverture d'un geme traditionnel'à Ia
constitui um elemento significativo na tradição afticara: "The "modernité". De lã vient Ia faveur que le public africain lui té-
african child (...) is faced in school with a written literary fonn moigne. Les autres genres sont tous d'importation. Le roman est
imposed on him (...) He may acquire a taste for the novel; but his nouveau, iJ ne progresse que lentement. l! rompt brutalement
\ife, bis society' s history ,;..i\1 a word, his culture - pre-dispose avec Ia tradition de l'oralité." (1981:234).
h'irn naturally to the story." (1971:76). Mais recentemente ainda, Mbwil Ngal na sua obra Giamba-
Ora, talvez mais do que qualquer outro gênero, o conto oral rista Viko ou le vial du discours afrieain, escreve sobre inte-
é universal e comum a todas as culturas e continentes.16 O facto lectual africano que deseja amalgamar a estória oral com o ro- '
mance, considerando o género corno "discurso ocidental":
"Accoucher d'un roman! C'est en effet tenir un discours occiden-
16 Lourenço do Rosário fez, em Portugal, a primeira tese de doutoramento tal. C'est évoluer dans I'espace visuel. Faire évoluer un récit dans
dedicada 11 Oralidade africana, e afinna a respeito do conto oral: "No que Ia dimensiQn spatio-temporelle. (...) Le pouvoir du mot tres
diz respeito à existência múltipla, não carece de demonstração o facto de
se verificar que o mesmo motivo temático pode ser abordado em pontos
tão diversos do mundo, alguns dos quais sem que nunca tenham tido
amoindri
que perd de (..~cune
de I'oralité. cette efficacité que lul
rigidité connaí'tcelle
pareil1~._~ l'univers ~
du roman! .J
contacloS directos ou mesmo indirectos. Por exemplo, um camponês de
uma aldeia Sioux isolada nas reservas indígenas do território americano
será capaz de narrar eom os mesmos motivos ou semelhantes que um melhor através da sua inteligência e argúcia, sobre um adversário mais
camponês de uma qualquer aldeia isolada da África ou Ásia, falando da poderoso.", in A Narrativa Africana, Lisboa, Icalp. 1989, p. 62,
origem da morte, da chuva, ou das aventuras de um herói que ~eva a
25
24
'I' ,
\'\":
~'S:~
"',
..,
Véritable cercle infernal, l'espace romanesque! Je rêve d'un 1'0- ser determinada pela forma como fazem eco, ou filtram, as tradi-
man sur le modêle du conte." (1984: 12-13). ções orais, parece-nos desajustada dos diferen~~ercursos de
" cada umã.Clas literaturas nacionais, do diverso e heter0.Kéneo
continente africano, e ainda eivada de preconceitos ideológicos,
Oralidade, Literatura:
com o seu exagero nas definições delimitativas. I :--;:k-
Já mais moderada e aceitável é a opinião de A. Irele 9..uando
continuidade ou transformação? I consider a oralidade um aradigma central, mas não único:
"Despite t e undoubted impact of print culture on African
A visão essencialista da oralidade tem perturbado a impor- I
I experience and its role in the determination of new cultural mo"
tante tarefa neste domínio dos estudos comparativos. fundmnen- des, the tradition of orality remains predominant, serving as a
I
tal para a nossa área, entre formas orais e escritas. I
central paradigm for varíous kinds of expression on the continent
Alioune Tine, em "Pour une théorie de Ia littérature africaine
(...) ln this primary sense, orality functions as lhe matrix of an
écrite" afirma' que: "La littérature africaine se définit comme une African mode of discourse, and where literature is concerned, the
littérature située entre l'oralité et I'écríture. Cette idée a permis Ia
réalisation d'un vaste consensus qui va des critiques africanistes griot is its embodiment i~ e~ery sense ?f the w~rd. C?rall.iter~ture /i
aux écrivains" (1985:99) e, mais adiante ainda, afirma que aquilo
que constitui o traço específico da literatura africana é a noção
thus represents
(1990: 56). the baslc mtertex of the Afncan lmagmatlOn,"
-------. j'
Ainda assim, haverá limitações a colocar na proposta de
de "oralité feinte" (1985: 102), "oralidade fingida". lrele. Isto, porque nem todas as literaturas africanas recorrem
Julgamos que a asserção de A.Tine só é parcialmente verda- predominantemente a este intertexto de base, e as literaturas afri-
deira, uma vez que exclui a possibilidade da escrita de uma nar- canas de língua portuguesa constituem, apesar de a ele recorre-
rativa, romance ou conto que prescinda da recorrência aos rem também, uma exemplar e singular excepção neste domín\Q..-
! ,
modelos da oralidade. Ou seja. o argumento pode caricatura!-
como teremos ocasião de verificar mais adiantei::âda literatura '
mente ser lido do seguinte modo: a narrativa, segundo este pres-
~sto, será ocidental até ao momento em que não faça uso da ve-se segundo moldes estéticos e linguísticos, cuja distintivídade '
mstrumentação oral africana; apenas aquele material lhe dará a
creditação necessária da africanidade, Parece-nos que o funda-
nacionalnão
resulta só dastem
africana diferenças
as suas culturais étnicaspróprias
características de base,e desenvol·
mas tam- I
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África, q~rerà
controvl(rsa? Serádlier que ele será·
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conta as especificidades J:egionais".e,naçion,aisafdcanas.
Nesta medida, parece-nos que o julgamento de"Chidi Amuta
nos merece toda a atenção quando nos afirma que o reconheci-
de mento de África exige mais do que autodefinição e afirmação
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Radicação quem está nascendo (sujeito, obra, espaço) vive a inocente ale-
gria de ser 'evidência, pura origem lactente: "E faz-se gorda a
É então no movimento, diria "transumânCÍa"da reflexão/procu- terra! e lhe estremece a carne-madre farta! contente e abundante,!
'. ra poética, do questionamento/renascimento do sujeito, da fixa- saciada! bem parida e já refeita,! acarinhada./ Sobram quindas de
ção/desfixação gráfica, geo-gráfica e re-identlficativfl, que se po- mel pelos outeiros/ e o peito escorre, generoso e alto./Dorme a
de apreender a modernidade, o carácter multímodo da poesia de terra em verde luzi imensurável mesa de um anual banquete/ que
Ruy Duarte de Carvalho. festeja! a imanência fêmea e mãe/ da natureza" (CO, p. 69).
No primeiro livro, Chão de Oferta (1972), os aspectos refe- Se no primeiro livro o sentido se oferece na sua imanência,
ridos demarcam-se tenuemente. Inaugural, a obra apresenta-se A Decisão da Idade (1976), segundo volume do autor, propõe
como um hino em louvor da terra, mais precisamente "O sul", um processo de distanciação e de pesquisa, em que as formas, o
título do poema de abertura. Processa-se uma fusão entre ser- espaço/cultura e o sujeito começam a redefinir-se. Lemos aí:
-terra-escrever, onde harmonicumente a escrita circunscreve, "renovo a nitidez das referências/ A vaga geografia das ausências
grava o sujeito ofertado ao chão. Acto de envolvência totali- impondo uma paisagem! reassumida renovada de ardor e nitidez
zante, a lírica não questiona, mas abraça, enovela; o sujeito não amável.! Adquiro assim um depurado entendimento do que é a
se desdobra, mas entranha-se, nasce, na telúrica feminina; a geo- posse.! Tenho também que o meu crescer se faz de cinza acumu-
grafia dá-se a conhecer como presença - Novembrina Solene. lada pelos regressos" (DI, p. 29).
E neste enquadramento de posse, reconquista pela distância,
Lemos no poema Gravação do rosto: "Na superfície branca que se esboça uma nova proposta poética. Texto em que a ence-
do desertol na atmosfera ocre das distâncias/ no verde breve da nação dramática se conjuga à dimensão épica, ao procurar o su-
chuva de Novembro/ Deixei gravado o meu rosto,! minha meio! jeito dar consistência a uma herança cultural africana, englobante
minha vontade e meu esperma:/ prendi aos montes os gestos de na noção de continente: "Habito um corpo móvel de paisagens/
entrega (...) Aqui me deixei, aqui me fiz / desfiz, refiz amores" protegidas por clareiras de fartura! Habito o movimento e a mi-
(p.47/50). Semelhante homologia entre ser e terra torna-se nha pátria/ é todo o continente de que não sei o fim" (DI, p. 63).
circular, repetível ao infinito: "Venho de um sul! medido clara- Poema operátíco, "ptlra cinco vozes e coros", introduz na
mente (...) de um tempo circular/ liberto de estações.! De uma poesia de Ruy Duarte o clima e as condições do espectáculo. As
nação de corpos transumantes/ confundidos/ na cor da crosta referências córicas, as vozes solo, o uso da canção e das falas de
acúleal de um negro chão elaborado em brasa" (CO, p. 44). personagens-símbolo como a mulher, o feiticeiro, o herói e o rei,
Com o verso "Aqui me fiz" percebe-se um primeiro acto de emblematizam novas vertentes coreográficas na escrita. Elemen-
gestação do sujeito, provocado a partir do chão do sul. Está re- tos fundamentais para a representação de um tempo festivo a que
presentada a cena inicial, a geometria do espaço de ohde emerge a então recente independência angolana remete. Nota-se um
a entidade outra, que não o autor, o poeta. Logo, a poesia entra alargamento temático e compositivo, concentrando-se a poética
em consonância com o acto de nascimento do sujeito com a na exploração de elementos musicais, cênicos, espectaculares e
terra: "Escolhe a colina! de cálido silêncio/ Repouso borbulhante/ dramáticos que melhor se adequam aos sentidos culturais/orais
da obra em gestação" (CO, p. 45). em que o genotexto da geografia africana se ritma. Verificamos
Chão de Oferta é, de facto, um livro onde tudo se inicia. também que os elementos - sujeito-obra-espaço - de novo se ir-
Iniciação e nascimento do poeta como sujeito e como obra, mas manam para se completar, complementar.
entre a obra, o s.ujeito e o chão, não há rupturas, antes afinidades A noção de sujeito, que se outra dinamicamente para entrar
uterinas, placentárias rítmicas, copuladas justaposições, pois em consonância com o novo espaço de posse e a diversa poética
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Ana Mafalda Leite Oralidades & Escritas
experimentada, dá lugar à noção de personagem: "Um homem Um dos contos, As águas do Capembáua, composto de um
chega e assume a personagem. Ilustra-se de faces, decompõe a fé, enredo mais ou menas policial, incorpora três níveis que gra-
possui-se de um vigor insuspeitado, desvenda as claridades do seu dualmente se vão. esclarecendo.. Partindo. de um acontecimento
peito, produz formosas coisas com os seus dedos põe-se a reordenar inicial, uma morte, procura-se a solução de várias fontes explica-
os horizontes, atinge mortalmente as formas com o olhar, progride tivas que provocarão a integração final na contexto religioso e
nas tarefas de conquista e chama a si as referências do lugar C.,,) Um feiticista da área. Deparamos, no deco.rrer do conto, com a se-
homem vem fundir geografias, polarizar as forças da manhã deserta, guinte observação do narradar: "Surge-me aqui a primeira difi-
vem fecundar as latitudes nuas (...) um homem que alterou culdade ao arriscar-me como cantador de histórias que, na reali-
conjugações de estrelas, é uma noção de espaço conquistado e em dade, não soú ( ... ) (CSM, p. 20). Este processo de negativização
espaço se transmuta renovado" (DI, p. 49/51). acentua o cunho experimental, cujo resultada ultrapassa, no en-
Como se o mundo não tivesse leste (1977), volume de contos, tanto, o mero amadorismo, pois a obra testemunha grande quali-
faz a passagem à ficção anunciada por muitos dos 'elementos já dade estética e demonstra que a ficção é um dos domínios possi-
utilízados no livro anterior. Após um alargamento temático, o veis na actividade de Ruy Duarte de Carvalho.
escritor regressa de novo à topografia circunscrita das terras de Como nos foi esclarecido pela frase citada, que funciona re-
Chão de Oferta, agora investindo~se de diferentes procedimentos flexivamente como processo de questionamenta da escrita, o en-
formais. Movimento/deslocação que não é contraditório e que orga- veredar pelo dOTIÚnio narrativo constitui, de certo modo, uma
niza a pluralidade pela singularidade umbilical de onde a noção de fase de reinvestimento da própria noção de sujeito, enquadrado
sujeito provém. Os contos desempenham um duplo papel na activi- geo-culturalmente, instituindo-se assim o domínio ficcional como
dade do múor:,p.or:,!Jm1<)do de nava, insistentem~nte, 3, aproximação. lugar, não diria confessional, más testemunhal, de um tempo/es-
estética dá temática que lhe é tão cara - as características e a modus
paço sentido como herança, percurso potencial e fragmentaria-
vivendi dos pastores do sul; por outro um investimento pessoal, en- mente bíografemático, que institui uma vez mais a radicação do
quanto sujeito, na compreensão da sua relação cam essa terra. Le-
sujeito como noção identitária e enunciação existencial, unida de-
mos no início: "Sinto-me envolvido por um clima de entendimento finitivamente às terras d.o sul angolano.
do qual não tentarei dar testemunho, tão insensato me parece querê- A narrativa torna-se assim lugar temporário de novo baptis-
-10 ( ... ) Cheguei há pouco da onganda do Tchimutengue onde, a mo (do sujeito-abra-espaço) suscitado pelo desejo de adequação.
convite do José, participei nas últimas cerimónias da festa de puber- entre linguagem e cultura. Também em termos profissionais Ruy
dade da sua fIlha mais nova (...) Devo-lhe a minha definitiva voca-
Duarte foi progressivamente deslocando a sua activídade no sen-
ção a uma geografia e a um povo" (CSM, p. 9).
tido de a aprofundar: inicialmente regente agrícola, dedica-se
A vocação geográfica, ao delimitar-se, complementa a identi-
mais tarde ao cinema e à antropolagia, campos o.nde tem desen-
tária ou vice-versa, experimentando-se na ficção, nava forma para
volvido trabalho importante, e que, paralelamente, entram em
escrever ° mesmo camo outro, a trama que leva a essa tão especial
consonância com as experiências criativas do autor.
conjugação entre ser-terra-escrita. Estórias para circunscrever a
História, a história pessoal, o elo entre sujeito activado, recriado, n.o
espaço em pennanente conquista. Consciente de mais uma nova
opção experimental criativa, o narrador afirma: "Desde os primeiros Recomposição
contactos com o material que haVeria de conduzir-me ao. arrojo
destas linhas eu sentira dever-me, em termos de satisfação pessoal, Em Exercícios de Crueldade (1978) deparamos com uma
um circunstanciado entendimento dos casos como se disso depen- fase de reflexão e pausa que ante,cedem navas rumos que a es-
desse a organização da minha vida futura" (p. 10). crita irá tomar. Continua a processo de invenção da noção do
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Ana Mafalda Leite Oralidades & Escritas
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sujeito, questionamento que a obra, agora de temática predomi- pe." (EC, p. 36). Em Sinais Misteriosos temos uma citação ex-
nantemente amorosa, estimula: "Mergulho na hereditariedade plicitando: "Depois fundou o modelo: os poetas futuros com
~. como se fosse em mim mesmo.! Governo os genes com toda a máquinas de filmar nas mãos". Se por um lado a fotografia pa-
segurança (...) Decomponho a carne em adições de uma rece ajustar-se melhor enquanto processo criativo, verificamos
exaustiva cirurgia.! Numa folha de papel, de preferência em que a introdução da imagem, que oscila entre fotografia e dese-
branco, projecto/ o animal a que me voto.! O seu contorno nho, em montagem permanente, permite acentuar o distancia-
caligráfico.! Do corpo transito ao gene. Defino-lhe o carácter.! mento do sujeito em relação ao objecto poético.
Depois retorno ao corpo" (EC, p. 23). A câmara escura interpõe-se entre o criador/operador e o
Semelhante "vocação animal" sugere, de imediato um dos objecto criado/spectrum (palavra que conserva através da raiz
títulos da poesia de Herberto Hélder, poeta que marca intertex- uma relação com o espectáculo", Barthes, 1980: 23), dando-se
tualmente de forma muito nítida a escrita do autor angolano. A como que uma travessia simbólica da vida para a morte, do real
relação evoca ainda a procura de uma linguagem onde a metáfo- para o espectro, para a imagem "embalsamada", corpo inerte,
ra surrealizante atende à minuciosa efabulação amorosa. A par sobre o qual o trabalho do operador recai, na separação necessá-
deste mergulho do sujeito numa zona, diríamos, anterior ao ser, ria e objectal que lhe permite a atitude Júdica, o carácter concep-
sanguínea, fetal, de determinação genética/gráfica do propósito tual da criatividade e a emoção formal. A raiz de espectáculo que
'. de uma poesia, por excelência, lírica, cuja intenção é consciente- a iconografia comporta permite processualmente ao poeta apro-
mente referida nos versos primeiramente citados, observa-se a ximar-se, pelo desdobramento compositivo, da sua intencional i-
!atência de outra área poética que aspira ganhar lugar, forma e dade recriativa do mundo da tradição oral mumuíla, centro das
palavra: "Havia um texto para encerrar um livro e havia um Ji- preocupações de Sinais Misteriosos. Ou seja, a disseminação dos
vro/ para encerrar um tempo. E eu precisava de um lugar na meios, o experimentalismo que o leva a actuar em simultâneo
noite.lde tempo simultâneo sobreposto ao meu. de uma matriz de com a fotografia, o desenho e a palavra, são a dimensão plural
areia! aonde o verso se ajustasse ao vento para esculpir no necessária para centrar, enquadrar, a realização oral e o inves-
tlanco/ das falésias um texto de silêncios que excedesse os livros" timento técnico no âmbito de uma obra poética moderna.
(EC, p. 59). Assim, o gestus cultural, histórico, da oratura dos povos do
O livro aqui referido pode ser lido, enigmaticamente como a sul de Angola, é captado, encenado através dos ícones. O que
'grande obra', a palavra ou. sopro que é reveJadora/divina, a pa- nos separa enquanto spectator/leitor das imagens/poemas é tam-
lavra que falta para decifrar o mundo; esse livro/verbo é a anula- bém a distância histórico-cultural; esse intervalo é preenchido
ção da ideia de representação, o lugar de coincidência entre o pelas marcas de uma "ressurreição fugitiva" que nós partilhamos
sujeito e O universo, a adequação do som com o pensamento do pelos dados compositivos: as vestes, os adornos, a pose. A pose
som, o 'acesso ao conhecimento de si, da poesia e da geografia. institui-se como paragem, momento de medi(t)ação entre o olhar
Mas, porque o criador é humano, a coincidência apenas pode ser preso à imagem e o olhar atento à palavra, Este processo de
achada pela diversidade. E um outro livro, um ano depois, em actualização permite-nos analisar a relação inteligente que o poe-
1979, Sinais misteriosos ... já se vê ..., vem prolongar essa procura ta estabelece com o universo cultural mumuOa; a escrita não
ideal de "um texto de silêncios". É quando surge a fotografia, permite a reposição integral deste diferente mundo.
tentativa, afinal, de fazer coincidir a palavra com o silêncio, a Por isso mesmo não se pretende repôr, o que sem dúvida seria
imagem com o seu referente. uma atitude idealista, mas compôr, acrescentar, recompô,., investir-
Ainda em Exercícios de Crueldade lia~se: "Toda a moral en- -se o sujeito na rede parcelar dos elementos que aglutina, decompõe
cerra uma palavra.! proponho fotografar'! O adjectivo corrom- e organíza como operador e conhecedor dos materiais que utiliza.
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Ana MafaIda Leite Oralidades & Escritas
Este tipo de trabalho citacional pressupõe uma segunda forma quase passiva, o sujeito se activar como receptor/produtor
mão, dividida entre a câmara, a caligrafia e o traço, que fitualiza de um legado que é também sua pertença: "Savana verde bem
na literatura moderna o legado tradicional, retrabalhando-o e fresca! savana verde verdadeiramente aberta! à fome dos reba-
moldando-o num novo cor pus poético. Os textos anteriores são
nhos/ exposta aos rebanhos famintos/ savana verde/ não se apos-
fragmentados, interpretados, investidos de novos sentidos, reno-
sou a terra ainda! do meu corpo/ e eu posso abrir os prados da
vada a sua força significante e rítmica num texto moderno que
leva o lehor à descoberta dos "sinais misteriosos". palavra / Deslumbramento,surpresa!/ Já existia o que se aprende
agora! e o que acontece acontecia .i~../Mas como havia de sabê-
A investigação, quase laboratorial, desenha o percurso de
-10 então/ quando a torrente me arrastava ainda! e eu via a minha
uma dispersão compositiva que é, afinal, o modo de apreensão
fa,ce renovar-se?" (OSB, p. 41).
do espaço cultural e geográfico em que o autor se nasceu como
sujeito poético e como obra. Espécie de construção heteronímica Hábito da terra (1988) retoma, mais uma vez, as referências
pelas formas, em que a identidade se joga pela coexistência da ao sul e faz uso ainda de provérbios, citações, recombinando, re- '~.
pluralidade dos vários registos técnico-compositivos que procu- construindo; desdob\'amentos de processos fonnâis anteriores. O
ram, tàmbém, a reposição da noção geográfica na assunção do uso do potencial gráfico da página, do espaço branco, onde os
sujeito que se escreve nas diversas falas culturais. textos disseminados dialogam e os itálicos criam linhas de dife-
rentes leituras possíveis.
Reescrita que impregna o seu sujeito /to constante renasci-
mento das falas/jormas em que se outra, e se renasce como su-
Reescrita jeito; demanda, revelação fragmentária, travessia dos lugares,
geo-grafias dos processos compositivos empregues na sua rein-
Ondula Savana Branca. (1982) persiste no percurso de venção cénica. Os nomes não chegam para definir o que se ama,
aproximação entre a palavra poética e o legado oral africano. para se dizer quem é, onde se está, donde se provém. O livro
São três tipos de desdobramentos a que o autor recorre, a ver-
está sempre por escrever, até que um dia seja o silêncio: "tran-
são, a derivação e a reconversão. Lemos; "Cada conquista! pro- quilas são as paisagens onde a idade não conta".
vém de outra conquista! e a posse da ciência é discernir/ como se
Mas, o que viémos anotando acerca do percurso de escrita
entrança nelas o saber.! É casa já também! o pátio que precede a
de Ruy Duarte de Carvalho, encontra-se, afinal, bem explícito na
cQnstruçãol transformação! transformação" (OSB, p. 42). As- Arte Poética deste livro. Distanciando-se, aproximando-se, do
sistimos de novo à busca de entrosamento entre o sujeito e o es-
zoom no grande plano, o sujeito sabe que o ~·chã,.ode oferta" é a
paço telúrieo-culturaI, representado peja oratura. O aeto poético
terra onde todos os seus sinais se gravam, se apagam, se torh-àm
entremeia-se entre a traição produtiva à tradução e a recrinção de
a inscrever. Citamos, para concluir, aqui refeito, o seu teXto: ",
um texto, onde a tradição se intertextualiza na dimensão autoral,
"Um texto é como um esforço de existir. Assim na vida,
de uma obra, que quase prefere esquecer o seu sujeito individunl
quer dizer, no texto, Que se constrói/ Um texto ou um percurso?
para assumir as vozes anónimas (localizadas na sua origem),
fragmentadas nos registos orais, cultuais, que conjura. Assim um gesto, quer dizer um texto. Há um lugar que invade
O sujeito que reescreve os textos, interiormente tecidos na outro lugar e esse lugar estará presente noutro. Não há lugar
sua própria poesia, ondula numa entidade pluralizada, máscara achado sem lugar perdido. Partir de uma palavra. Partir numa
embutida no próprio rosto, espaço preenchido pela transforma- palavra. Confirmações possíveis. fidelidade a quê? Texto, lugar
ção do verbo em palavra. Desdobramento consentido para, de
de encontro. Casam-se além, as falas de um lugar. no encontro
da memória com a matriz.
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142
Tendo em conta a importância da oralidade, como um para·
digma diferenciador importante, se não fundamental, para o
estudo das literatul'as africanas, este livro de ensaios procurou
situar teoricamente, na sua primeira parte, os pressupostos ideo-
lógicos que se prendem com a sua utilização e concepção em
vários discursos críticos, reveladores de formulações por vezes
idealistas e por vezes uniformizantes. Procurou também equacio-
nar o enquadramento das literaturas africanas de língua portu-
guesa no seu específico relacionamento com as oralidades, evi- '-
denciando algumas das particularidades que neste domínio se
apresentam ao estudioso das matérias.
Há que levar em conta os factores contextuais - históricos,
sociológicos, antropológicos - de formação e desenvolvimento
das literaturas africanas de língua portuguesa, e ainda a sua parti-
cular vertente de adequação em cada uma das literaturas nacio-
nais. A língua portuguesa apresenta-se, neste quadro de diferen-
tes realizações, como um dos primeiros elementos propiciadores
de ser usado como meio revelador e transformador das diversas
oralidades.
Num segundo momento destes ensaios procurou-se estabe-
lecer os elos dessas oral idades com as escritas nas literaturas afri-
canas de língua portuguesa - ou a forma de fazer a ponte entre a
escrita dos livros e a escrita da alma47 - mostrando, em especial,
formas de tl'atamento da língua e sua manipulação a fim de serem
receptáculo das oral idades, bem como diferentes modos de l'ef!e-
xão temática sobl'e o assunto inscritas em obras de ficção e de
poesia angolanas e moçambicunus.
Através de textos de Mia Couto, de Fernando Fonseca
Santos, de Ungulani Ba Ka Khosa e de Manuel Rui pudémos
percorrer uma p<lrte do universo de transfiguração dos modos de
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