Douglas Wilson - Sua Filha em Casamento

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D A S É RI E BEST- SELLER S O B R E F A M Í L I A

Sua Filha em
Casamento
Cortejo bíblico no m undo moderno
Sua Filha em Casamento
Cortejo bíblico no mundo moderno

DOUGLAS WILSON
Outros títulos da série:

Futuros Homens
Criando meninos para enfrentar gigantes

Reformando o Casamento
A vida conjugal conforme o Evangelho

Fidelidade
Como ser marido de uma só mulher

O Marido Federal
A liderança bíblica no lar

O Fruto de Suas Mãos


O respeito e a mulher cristã

Sua Filha em Casamento


Cortejo bíblico no mundo moderno

Minha Vida por Você


Caminhando pelo lar cristão

Firmes nas Promessas


Um manual para a educação bíblica de filhos
Sua Filha em Casamento
Cortejo bíblico no mundo moderno

DOUGLAS WILSON
© CLIRE 2019. Authorized translation of the
American-English edition © 1997, Canon Press.
Todos os direitos reservados.

Originalmente publicado em inglês sob o título


Her Hand in Marriage: Biblical Courtship in the Modem World

Primeira edição em português, 2019.

Publicado com a permissão da Canon Press,


P.O. Box 8729, Moscow, ID 83843.

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida


por quaisquer meios sem permissão por escrito dos editores, salvo
em breves citações, com indicação da fonte.

PRODUÇÁO EDITORIAL
Editor: Waldemir Magalhães
Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Revisão: Waldemir Magalhães, Gerson Júnior
Designer: Heraldo Almeida

Salvo outra indicação, todas as citações bíblicas foram extraídas da


versão Almeida Revista e Atualizada, 2.a edição.

www.editoraclire.com.br

ISBN: 978-85-62828-54-6
Para Bem e Bekah, a quem o Senhor
tem abençoado com o pacto da graça...
vinculum matrimonii
SUMÁRIO

IN T R O D U Ç Ã O ....................................................................................................9

Capítulo 1: A AUTORIDADE DOS P A IS .............................................23

Capítulo 2: PREPARANDO FILHOS PARA O CORTEJO.............43

Capítulo 3: PREPARANDO FILHAS PARA O CORTEJO.............57

Capítulo 4: CULMINAÇÃO DO CORTEJO..........................................83

Capítulo 5: DETALHES DO CO RTEJO ........................ ...................... 99

Apêndice: O JARDIM................................................................................119

ÍNDICE DE REFERÊN CIAS B Í B L I C A S .............................................123


INTRODUÇÃO

“Há três coisas que são maravilhosas demais para


mim; na verdade, há quatro que eu não entendo:
o caminho da águia no céu, o caminho da cobra
na rocha, o caminho do navio no meio do mar e
o caminho do homem com uma moça” — Agur,
filho de Jaque (Pv 30.18-19 - Nova ARA).

“Gostamos de dar as mãos e estar


enamorados” — Merle Haggard

“Sentados no alpendre, apenas se


entreolhando” — Stevie Ray Vaughn

odo mundo namora. Ou, pelo menos, se supõe que


deveria. Se não namora, ou alguma coisa está errada
ou o sujeito é feio, não é mesmo? Mas hoje os relaciona­
mentos entre rapazes e moças, homens e mulheres, marido
e mulher estão em estado de coma. O fato de que o orgu­
lho está no centro desse problema pode ser visto no modo
como lidamos com as dificuldades que surgem em nosso
relacionamento. Quanto pior ficam os nossos problemas,
mais apostamos em nossos métodos e procedimentos.
Assim como ocorreu com a mulher enferma descrita no
evangelho de Lucas, o tratamento que recebemos dos mé­
dicos não melhora nosso estado e nem nos traz a cura. E,
igualmente àquela mulher, nossa subsistência está se es­
vaindo (Lc 8.43). O modelo de namoro recreativo, que é o
ponto de partida para muitos dos relacionamentos matri­
moniais da atualidade, pode seguramente ser considerado
como um modelo falido.
Consideremos como tal modelo funciona. Um jovem
vê uma moça que o atrai. Ele a chama para sair, e ela aceita.
Eles ficam juntos, e uma de duas coisas acontece. Ou gos­
tam um do outro ou não gostam, e essas duas possibilidades
trazem alguns problemas. Se nenhum dos dois gostar um
do outro, então ambos tiveram uma experiência ruim. Se
derem certo, então a provável tentação à imoralidade será
forte, especialmente se forem dois jovens — adolescente, di­
gamos. “Estou feliz que vocês estão gostando um do outro.
Agora, não toquem em nada pelos próximos oito anos!”.
“O k, mamãe!”. E, é claro, se um estiver interessado em per­
manecer junto e o outro não, as possibilidades de conflitos
emocionais e complicações posteriores são quase infinitas.
Se um rapaz e uma moça saírem algumas vezes, é mui­
to fácil eles “caírem” para o que pode ser chamado de zona
de vulnerabilidade. Trata-se daquele lugar no qual não se
pode romper o relacionamento sem se machucar. Em al­
gum momento de um relacionamento, o homem ou a mu­
lher chegará a um ponto no qual, se romperem tal relacio­
namento, sairão machucados. Uma vez que estão dentro
dessa zona , estão vulneráveis. Enquanto um dos dois está
fora dessa zona , não são em nada ameaçados pelo relacio­
namento — pois este é apenas um relacionamento em po­
tencial. E, claro, em um relacionamento, o grau de vulne­
rabilidade que sentem um para com o outro irá depender
de uma série de fatores. Se um casal somente esteve junto
umas três ou quatro vezes, pode ser que não haja grande
dano — talvez isso só aconteça após estarem juntos muitas
outras vezes. Algumas coisas se acumulam. Se outro casal
namorou durante três anos, se tornaram bons amigos, e
não tiveram relações sexuais, a separação não é nada mais
do que um divórcio sem honorários advocatícios.
Isso significa, é claro, que um homem e uma mulher
unidos pelo casamento estão tão dentro da “zona de vul­
nerabilidade” quanto se possa imaginar. Não há meio de
um casal se divorciar sem que de algum modo os dois aca­
bem devastados. Deus odeia o divórcio e sua Palavra cer­
tamente provê proteção contra os danos provocados pela
desobediência. Consequentemente, Deus não nos dá per­
missão para entrar na zona de vulnerabilidade sem cons­
truir uma cerca de proteção à nossa volta. Essa cerca é o
voto pactuai; aquilo que chamamos de casamento. E feito
perante Deus e diversas testemunhas, um pacto de união
sexual permanente e fiel; homem e mulher declaram que
estão para entrar nessa área e permanecer nela. Eles irão
viver ali pelo resto da vida.
Mas, em nossa cultura, homens e mulheres são treina­
dos para se tornarem insensíveis de tal modo que possam
sair mais facilmente de um relacionamento para outro. Vez
por outra isso envolve fazer e quebrar um voto de casamen­
to. Sair de um relacionamento para outro tem se tornado
um “passatempo nacional”. As pessoas começam muito
cedo no namoro recreativo e, apesar dos alertas, muitos
namoros hoje conduzem essas pessoas ao relacionamento
sexual. Nesse aspecto, o padrão de comportamento entre
os jovens que são cristãos professos não é muito diferente
do mundo. Uma vez que a igreja adotou amplamente o
modelo de namoro mundano, os muros de proteção de­
signados por Deus para os nossos filhos desmoronaram.
Estamos dando a eles um tipo de cristianismo suficiente
para lhes assegurar que se sintam culpados ao cometerem
fornicação, mas não suficiente para lhes assegurar que vi­
vam de modo puro.
O modelo de namoro recreativo ruiu; é tempo de re­
tornar ao padrão de união bíblica. Há muitas conseqüên­
cias destrutivas — de ordem emocional, sexual e espiritual
— para os que não adotam um namoro ou cortejo bíblico.
Mas se um jovem busca iniciar um relacionamento, e assu­
me total responsabilidade perante o pai da moça, há pres­
tação de contas e proteção bíblica. O propósito deste livro
é definir, defender, e descrever como funciona um cortejo
ou namoro bíblico.
E muito fácil questionar esse modelo moderno de na­
moro. Basta fazer a seguinte pergunta: por que não vemos
sucesso nem final feliz em um modelo desses, a não ser
nos filmes e nas novelas que são exibidos na TV? Três res­
postas podem ser dadas. Primeiro, é certo que toda pessoa
de bom senso se alegrará quando um casal cristão piedo­
so começa a namorar, age de modo adequado, e então se
casa. O problema não são as histórias de sucesso dentro
do modelo de namoro recreativo moderno; elas certamente
existem. Nada do que diremos nas próximas páginas deve
ser tomado diretamente contra cristãos piedosos que se
uniram dentro desse modelo de namoro. A crítica é diri­
gida contra o modelo considerado genericamente enquan­
to modelo. As pessoas também sobrevivem a quedas de
aviões, algumas delas sem um arranhão sequer, e devemos
todos ficar felizes por isso. Mas reconhecer um fato desses
não nos impede de fazer oposição à queda de aviões.
Isso nos remete ao segundo ponto. Generalizações
são legítimas somente quando descrevem, honestamente,
um padrão abrangente. Consequentemente, as generaliza­
ções não refutam contraexemplos individuais ou particu­
lares. Havia fariseus honestos no tempo de Cristo, e nem
por isso Cristo deixou de denunciar e atacar severamente
todo aquele grupo religioso. De fato, uma indicação da
honestidade de um fariseu seria a disposição em reconhe­
cer a justiça da crítica mordaz feita por Cristo. Da mesma
forma, as generalizações a respeito do modelo de namoro
recreativo não são universalmente verdadeiras — são ge­
neralizações. O que devemos perguntar a respeito de uma
generalização é se é justa e honesta, e não se é verdade em
todos os casos.
Terceiro, as “histórias de sucesso” não são tão abun­
dantes como se presume quando olhamos para os exem­
plos ao nosso redor. O s cristãos não são tão abertos so­
bre seu comportamento sexual quanto os pagãos, e lábios
fechados podem ser enganosos. Nossa tendência é julgar
com base na aparência externa, e todo mundo na igreja
com certeza parece ter bom procedimento moral. Mas,
no aconselhamento pré-matrimonial, muitos pastores vão
além desse olhar superficial. Tragicamente, muitos deles
hoje ficam surpresos quando encontram casais de namo­
rados cristãos que estão se envolvendo sexualmente. “Vo­
cês?”. Não são animadoras as informações objetivas sobre
casais cristãos não casados envolvidos no jogo do namoro
moderno.
O modelo moderno de namoro, considerado enquan­
to modelo, não prepara biblicamente os rapazes e moças
para o casamento — ao menos para o casamento tal como
ordenado por Deus. Algumas poucas razões básicas são
suficientes para servir de introdução ao assunto deste li­
vro. O moderno modelo de namoro não prepara os jovens
para que possam estabelecer um relacionamento, mas uma
série de relacionamentos; e, além disso, os deixam à von­
tade para romper facilmente um relacionamento após o
outro. N o fim das contas, esse modelo é muito mais uma
preparação para o divórcio do que para o casamento. Basta
a outra pessoa passar a vestir “um número maior”, que ela
simplesmente passará despercebida.
Além disso, o moderno modelo de namoro recrea­
tivo encoraja enlaces afetivos fora da proteção de uma
“cerca pactuai”. Isso tem sido apropriadamente descrito
como promiscuidade emocional. Homem e mulher não po­
dem ter um relacionamento romântico sem se tornarem
emocionalmente vulneráveis um ao outro. Não há nada de
errado com essa vulnerabilidade; é que nós devemos ser
sensíveis o bastante nesse ponto para exigir proteção antes
de entrar em tal estágio, uma proteção que a Bíblia chama
de “proteção pactuai”.
Além disso, o modelo moderno de namoro também
deixa o pai da moça quase inteiramente de fora da ques­
tão. O pai, que deveria estar protegendo a pureza sexual
da filha, a entrega “às escuras” para um jovem bastante
interessado, e então faz o que ele pensa que é sua única
obrigação: ficar preocupado. “Bem, querida”, ele diz à
esposa, “só podemos orar. Isso estava para acontecer”. E
ele deve mesmo se preocupar, porque o modelo moderno
de namoro pressupõe certo grau de envolvimento físico. E
verdade, a versão cristã evangélica desse modelo permite
apenas certas preliminares suficientes para deixar o casal
preocupado com as conseqüências e não permitir que nada
de “errado” aconteça. De algum modo, pensamos que um
bom cristão é aquele que consegue “pré-aquecer o forno
sem assar a comida”.
Há um caminho melhor? Nas páginas deste livro, irei
tratar dos princípios bíblicos implícitos no padrão que se
pode chamar de cortejo ou namoro bíblico. Atualmente, o
modelo de namoro recreativo é encarado como algo posi­
tivo, da mesma forma que a comida, o ar, o pôr do sol, e
é considerado uma parte normal e natural do crescimento
— o que pode ser mais saudável do que chamar uma moça
para um baile de formatura? Isso nos faz recordar de quan­
do tínhamos 15 anos, quando as coisas ainda não haviam
degenerado tanto em nossa sociedade. Bem, o modelo de
namoro recreativo é um padrão que começou no século
X X , e era inteiramente desconhecido no tempo em que
a Escritura nos foi dada. Isso significa que, para aqueles
que levam a sério o ensino bíblico sobre a família, devemos
considerar o que a Bíblia tem a dizer sobre a formação das
famílias.
Os homens são criados e chamados a iniciar, e as mu­
lheres são criadas e chamadas a responder. Mas não somos
robôs — Deus não quer que tomemos a iniciativa ou res­
pondamos de modo tolo. Primeiro, a Bíblia chama homens
e mulheres a cumprir seus respectivos papéis no cortejo e,
em segundo lugar, os chama a cumpri-los com sabedoria. Tal
sabedoria requer que sigamos o projeto revelado por Deus.
Quando há pessoas ensinando que todo homem e mu­
lher solteiros são agentes solitários, que os dois sexos são
exatamente iguais, e que cada um deles pode lidar com um
relacionamento em potencial da mesma forma, aqueles que
estão dando ouvidos a isso logo enfrentarão problemas.
Porque a mulher foi feita para responder, e o homem para
iniciar. Isso nunca é mais verdadeiro do que no começo
do relacionamento, durante o cortejo. Iniciar e responder
fornecem um padrão que marido e mulher irão seguir ao
longo do casamento até a morte. Esse padrão de iniciação
e resposta está tão profundamente arraigado em nós que há
uma cerca de proteção para nos guardar de usá-lo de modo
instintivo ou tolo. Essa cerca se chama cortejo; a ausência de
tal cerca é ilustrada no modelo moderno de namoro.
Não há nada que as mulheres odeiem mais do que to­
mar a iniciativa , e isso acontece quando ninguém toma tal
iniciativa. Se há um vácuo de liderança, as mulheres vão ser
tentadas a preencher esse vazio. Isso não deve ser confun­
dido com o desejo natural de tomar iniciativa que também
é inerente às mulheres; elas ficam infelizes quando isso se
torna a regra. Esse padrão cercado de iniciação e resposta é
visto claramente no padrão bíblico de autoridade e submis­
são ao pai antes do casamento, e de submissão ao marido
durante o casamento.
Liderança no casamento não significa que as mulhe­
res se submetem aos homens; significa que uma deter­
minada mulher se submete a um determinado homem. A
submissão dela ao marido a protege de ter de se submeter
a outros homens. Antes do casamento, sua submissão ao
pai a protege dessa situação. Não há nenhuma exigência
bíblica abrangente para que as mulheres sejam submissas
aos homens em geral. O padrão bíblico é que uma esposa
deve responder à iniciativa e liderança de seu próprio ma­
rido, e somente a ele. Ela é preparada e treinada para isso
por meio da submissão ao pai.
Se uma mulher tivesse que se submeter aos homens
em geral, sua vida seria insuportável — ninguém pode ser­
vir a dois senhores. Mas uma mulher que atende a um ho­
mem piedoso é protegida de ter de se submeter a outros
homens, muitos dos quais não são nada piedosos. C on ­
sequentemente, ela tem mais liberdade do que uma mu­
lher que não está protegida dessa maneira. Sendo assim, a
chamada mulher “independente” não está debaixo desse
tipo de proteção. Ela se protege por conta própria, mas
o resultado é que ela é agredida por todo tipo de homem.
Porém, se o pai dela está fazendo o que deve fazer, ou se
ela está em um relacionamento conjugal no qual o marido
está fazendo o que deve fazer, então ela está protegida dos
insultos e importunações dos outros homens. Isso explica
por que algumas das mulheres mais “independentes” são
tão inseguras, e porque algumas das mulheres mais sub­
missas têm uma real segurança e poder de convicção. Não
há como escapar do fato de que as mulheres precisam de
piedosa proteção masculina contra a própria importunação
masculina; aquelas que recusam a proteção do pai ou do
marido devem buscar proteção da polícia. Mas mulheres
que deliberadamente insistem em “não ter proteção mas­
culina” podem estar, inconscientemente, colocando-se em
risco diante de uma sociedade que é vítima de violências
sexuais. Sempre que alguém se põe contra o padrão proje­
tado por Deus, os resultados serão problemas terríveis. A
Bíblia diz que encontramos o caminho do verdadeiro au-
toconhecimento por meio da autorrenúncia. Aqueles que
se exaltam serão humilhados, e vice-versa. N o movimento
feminista das últimas décadas, as mulheres têm buscado a
si mesmas, mas não conseguem se encontrar. Isso aconte­
ce porque estão tentando encontrar e identificar seu papel
fora daquilo que Deus projetou. A beleza do cortejo bíbli­
co é que ele nunca deixa as mulheres desprotegidas.
Os homens foram criados por Deus para iniciar e li­
derar, e as mulheres foram criadas para responder. Na for­
mação do casamento, o homem é designado por Deus para
tratar com o pai da mulher que lhe despertou o interesse.
A mulher deve responder ao pretendente que lhe despertou
o interesse em submissão ao seu próprio pai.
Para dar um exemplo dessa proteção, se um homem
espera que uma mulher responda a algo que ele ainda não
iniciou, ele é como alguém que espera que um parceiro de
tênis rebata a bola que ele mesmo não se deu ao trabalho de
sacar. Esse é um “caminho mais fácil” — os jovens homens
cristãos geralmente se eximem usando desse artifício. Eles
querem saber qual seria a resposta da moça, caso tomassem
a iniciativa — sem realmente arcar com os riscos. Uma vez
que sabem que ela irá responder positivamente, então vão
adiante. Essa é a opção do covarde, deixando o peso da ini­
ciativa sobre a mulher. Quando o homem assim se exime,
a mulher está sendo levada a tomar a iniciativa. Tratar com
o pai da garota previne tudo isso; o que significa que um
homem que está iniciando um relacionamento deve assu­
mir o risco de falar com o pai da moça. Mas Deus criou as
coisas de modo que o homem é o único que deve assumir
tal risco. Ele inicia e, se receber a bênção do pai, ela respon­
de. Isso é cortejo bíblico.
Mas antes de considerar os argumentos bíblicos que
estabelecem isso como padrão para o cortejo, devemos
primeiro dedicar algum tempo tratando de alguns alertas
preliminares.
O primeiro tem a ver com a distinção profundamente
importante entr e princípios e métodos. Uma vez que a nos­
sa prática contemporânea de namoro recreativo falhou tão
miseravelmente, muitos cristãos estão “famintos” por mé­
todos alternativos. Eles exclamam: “Apenas nos diga o que
fazer!”. Nessa e em outras áreas, a vida cristã é vista como
se fosse um daqueles desenhos com números indicando
as cores a se preencher. Mas, em nenhum lugar, o pensa­
mento do tipo “ligue os pontinhos” é mais eficaz para tra­
zer desastres do que quando se trata de cortejo. Somos
homens e mulheres com filhos e filhas, não engenheiros
sociais brincando com brinquedos descartáveis que pen­
sam e se interconectam automaticamente. Essa mentali­
dade simplista e destrutiva se revela em questões como:
“Quantas vezes um jovem deve aparecer até que o pai da
moça deva permitir que ele se sente próximo a ela durante
o jantar?”. Francamente, confesso que a resposta não é da
minha conta, e que realmente não me importo com esse
tipo de questão. Procure entender o princípio, e os m éto­
dos adequados fluirão.
A segunda preocupação diz respeito aos “term os”. Já
falei sobre cortejo ou namoro bíblicos e sobre o mode­
lo de namoro recreativo. O que esses termos significam?
Em um livro como este, não devemos lidar somente com o
sentido denotativo dos termos, mas também com as cono­
tações. Para alguns, a questão é bem simples. Um namoro
é quando um rapaz e uma moça saem juntos por conta
própria, e cortejo é quando um jovem segue o que o pai da
moça exige. Bem, digamos que seja mais ou menos isso.
Mas quais são as conotações ? Para alguns cristãos, o namo­
ro traz â memória uma série de más recordações ao lembrar
o que acontecia no banco traseiro do carro em algum lugar
deserto; para outros, uma série de memórias felizes e agra­
dáveis culminando em um casamento maravilhoso. Mas o
termo “cortejo” é ainda mais problemático. Cada vez mais
cristãos estão respondendo aos problemas criados pelos
métodos de união da cultura incrédula por meio da adoção
do padrão de “cortejo”. Mas também estão acrescentando
ao termo algumas conotações que ultrapassam o sentido
bíblico. Para alguns, cortejo significa que devemos todos
vestir, falar e agir como no século X V I. A moça cortejada
usa um vestido rendado e chapéu, e o sujeito vai de cavalo
até a igreja no domingo. E eles estão sentados no alpendre
da casa, como no trecho de Stevie Ray Vaughn menciona­
do no início, “apenas se entreolhando”.
Outros voltam ao passado e vão ainda mais longe, e
com a palavra cortejo se referem a Cam elot1 e donzelas em
perigo. Isso realmente está bem próximo da origem da pa­
lavra “cortejo”. Esse termo deriva da palavra latina cohors,
de onde tiramos a palavra coorte, que significa um pátio
fechado, e inclui a comitiva de homens que podem se reu­
nir nesse tipo de pátio. Por meio do processo óbvio, nas­
ceram palavras como corte e corretor. E também cortesia ,
que é agir de modo educado o suficiente para os padrões
da corte. Além de cortesã, uma mulher promíscua que a
alta classe julgava apta a servir a corte. Cortejar tem relação
com a prática do amor cortês medieval. N o ideal da cava­
laria, a dama em questão geralmente estava casada com al­
guém. Com o termo , “cortejo” tem sua origem etimológica
em uma prática tão antibíblica quanto o modelo moderno
de namoro recreativo. Quem estava sendo cortejada era a
mulher, não o pai dela. Aquela que estava sendo cortejada
provavelmente já era casada. Que coisa, não?
Vivemos em um mundo caído. Uma das evidências
disso é que já não temos um termo adequado para descre­
ver o modo pelo qual rapazes e moças cristãos se unem.
Talvez algum tempo depois de os cristãos retornarem a

1 O termo “Camelot”, ou “Camalote”, é usado aqui para se referir à ci­


dade e aos castelos lendários que, nas histórias medievais associadas
ao Ciclo Arturiano da Matéria da Bretanha, foram sedes da corte do
grande Rei Artur. - N. do E.
uma prática de maior obediência, teremos feito isso tão
bem, e por tanto tempo, que sejamos capazes de arranjar
um nome para isso. Nesse meio tempo, devemos usar os
termos que temos à nossa disposição, isto é, cortejo bíblico
ou namoro bíblico. Devemos rejeitar o padrão de fuga de
responsabilidades, da desobediência e da imoralidade se­
xual que vemos ao nosso redor; portanto, rejeitemos o na­
moro recreativo ou o modelo moderno de namoro. Mas, ao
fazer isso, devemos evitar usar os termos que escolhemos
em um sentido impróprio. Alguns casais que “namoram”
estão mais próximos da conformidade ao padrão bíblico
do que outros que abraçam o modelo de “cortejo”. Assim,
neste livro, irei geralmente me referir ao cortejo, ou corte­
jo bíblico, e algumas vezes ao namoro bíblico. Se um casal
que pratica o cortejo “avança o sinal”, não devemos entrar
em pânico e considerar isso um horror semelhante a uma
guerra entre nações, ou reino contra reino. Calma, ainda
não é o fim do mundo.
C a p ít u l o i

A AUTORIDADE DOS PAIS

ortejo é um assunto de interesse geral. Por exemplo,


talvez alguns leitores queiram aplicar os princípios bí­
blicos referentes ao cortejo a si mesmos, enquanto que ou­
tros estão interessados em beneficiar seus filhos ou netos
com tais princípios. Não é uma questão indiferente saber
como homens e mulheres se conhecem, como se casam,
como entram em um casamento pactuai. Um bom começo é
meio caminho andado, e precisamos entender o que a Bíblia
ensina sobre o começo do nosso relacionamento conjugal.
Com o cristãos, temos de entender o que a Bíblia re­
vela sobre a formação e a estrutura da família. Se estudar­
mos a Escritura, aprenderemos que ela não somente revela
como a estrutura das famílias que já existem deve ser, mas
também como as famílias devem vir à existência. A Bíblia
nos dá diretrizes para lidar com essa questão crucial.
N o mundo moderno, homens e mulheres se unem
por meio do modelo que chamamos de namoro recreativo.
Ele é tão predominante em nossa cultura que pensamos
que sempre existiu em todas as épocas e lugares. Acha­
mos que o namoro recreativo é algo positivo, necessário
para o desenvolvimento normal de um jovem, e, de alguma
forma, uma atividade da qual ninguém pode fugir. Na rea­
lidade, esse modelo é uma prática que começou no século
X X , jamais se ouviu falar dele nos tempos bíblicos, e era
desconhecido na maior parte da história de nossa cultura.
Na Bíblia, não se encontra esse modelo no qual um
rapaz se interessa por uma moça, pede para sair com ela
e, depois, decide se gosta dela ou não (e, é claro, ela faz o
mesmo com ele). Porém, não significa que isso seja auto­
maticamente algo pecaminoso ou errado. Também não se
pode encontrar automóveis e computadores na Bíblia. Há
muitas coisas que não são mencionadas na Escritura, e nem
por isso se constituem práticas necessariamente antibíbli-
cas em si mesmas.
Então, como devemos abordar essa questão? Uma
série de problemas com o atual modelo de namoro recrea­
tivo é revelada quando lemos a Palavra de Deus com cuida­
do. Devemos buscar o que a Bíblia ensina sobre a estrutura
da família. Se, de fato, levamos a sério o ensino da Bíblia
sobre a estrutura da família, devemos levar igualmente a
sério o que a Palavra diz sobre a formação das famílias.
Em primeiro lugar, de acordo com a Bíblia, como surgem
novas famílias?
À medida que o tempo passa, nossos filhos crescem,
ficam mais velhos, e não demora muito para que se tornem
grandes o bastante e tenham idade suficiente para pensar
no que querem ser quando chegar o tempo de saírem de
casa. Eles começam a pensar com quem irão se casar. Em­
bora muitos pais prefiram tirar essa ideia da cabeça dizen­
do “não, ainda não estou pronto”, Deus ainda exige que os
pais estejam prontos. Ele não dá aos pais a vida toda para se
preparem; num padrão normal, ele dá entre uns dezenove
e vinte poucos anos. Além disso, não é uma boa ideia os
pais tentarem descobrir o que devem fazer após o processo
já ter começado. Pais e filhos precisam entender bem essas
coisas muito antes.
Então, o que a Bíblia ensina?

0 STATUS D A S F I L H A S
O Senhor quer que sejamos cristãos bíblicos ao refletirmos
sobre esse assunto, e o ensino da Bíblia sobre o status ou
a posição das filhas deve ser nossa primeira área de consi­
deração. Iremos começar tratando do status das filhas em
uma família bíblica:

Quando, porém, uma mulher fizer voto ao S e n h o r ou se obri­


gar a alguma abstinência, estando em casa de seu pai, na sua
mocidade, e seu pai, sabendo do voto e da abstinência a que
ela se obrigou, calar-se para com ela, todos os seus votos serão
válidos; terá de observar toda a abstinência a que se obrigou.
Mas, se o pai, no dia em que tal souber, o desaprovar, não será
válido nenhum dos votos dela, nem lhe será preciso observar a
abstinência a que se obrigou; o Senhor lhe perdoará, porque
o pai dela a isso se opôs. Porém, se ela se casar, ainda sob seus
votos ou dito irrefletido dos seus lábios, com que a si mesma se
obrigou, e seu marido, ouvindo-o, calar-se para com ela no dia
em que o ouvir, serão válidos os votos dela, e lhe será preciso
observar a abstinência a que se obrigou. Mas, se seu marido o
desaprovar no dia em que o ouvir e anular o voto que estava
sobre ela, como também o dito irrefletido dos seus lábios, com
que a si mesma se obrigou, o S e n h o r lho perdoará. No tocante
ao voto da viúva ou da divorciada, tudo com que se obrigar
lhe será válido. Porém, se fez voto na casa de seu marido ou
com juramento se obrigou a alguma abstinência, e seu marido
o soube, e se calou para com ela, e lho não desaprovou, todos
os votos dela serão válidos; e lhe será preciso observar toda a
abstinência a que a si mesma se obrigou. Porém, se seu marido
lhos anulou no dia em que o soube, tudo quanto saiu dos lábios
dela, quer dos seus votos, quer da abstinência a que a si mesma
se obrigou, não será válido; seu marido lhos anulou, e o S e­

nhor perdoará a ela. Todo voto e todo juramento com que ela
se obrigou, para afligir a sua alma, seu marido pode confirmar
ou anular. Porém, se seu marido, dia após dia, se calar para com
ela, então, confirma todos os votos dela e tudo aquilo a que ela
se obrigou, porquanto se calou para com ela no dia em que o
soube. Porém, se lhos anular depois de os ter ouvido, respon­
derá pela obrigação dela. São estes os estatutos que o S enhor

ordenou a Moisés, entre o marido e sua mulher, entre o pai e


sua filha moça se ela estiver em casa de seu pai. (Nm 30.3-16)

Nessa passagem, temos um pai confirmando votos


que sua filha fez enquanto está vivendo em sua casa. Ve­
mos também um marido que confirma qualquer voto que a
esposa faz estando na casa dele. Também somos instruídos
acerca de como essa autoridade é transferida. Se um jovem
recém-casado “herda” um voto específico feito por sua es­
posa, no dia em que ele o ouvir, pode dizer “não”. Se ele
o ouvir e nada disser, ou se o ouvir e achar que é uma boa
ideia, então, como é óbvio, o voto permanece de pé. Se ele
ouvir o voto e disser “não”, o voto estará anulado.
Se ele ouve o voto e não diz nada, vemos aí como o
princípio da abdicação é ilustrado na Escritura. Se ele ouve
e não diz nada, está confirmando o voto com o seu silên­
cio. De acordo com a Escritura, então, um marido ou pai
não pode deixar de agir. Ele está agindo até mesmo quando
não age. Um homem nessa situação não pode se esquivar e
dizer que esse assunto o aborrece. Ele não pode dizer: “Eu
não gosto dessa situação, não quero tratar desse voto, não
quero ser incomodado com essas coisas”. Na Escritura, tal
recusa em agir é claramente chamada de ação.
N o final das contas, a questão não é a natureza do
voto, embora o contexto mostre que se trata de um voto
ao Senhor. Porque a mulher votou que daria ao Senhor
uma oferta de alguma natureza, alguns podem objetar e
dizer que essa passagem está simplesmente falando sobre
votos eclesiásticos, ou algum tipo de voto direto ao Se­
nhor. Mas devemos raciocinar aqui do menos para o mais
evidente. Se um marido ou pai tem a autoridade de anular
um voto feito a Deus , quanto mais não poderá anular um
acordo feito com uma babá?
Por exemplo, suponha que uma mulher tolamente
promete cuidar dos filhos da vizinha pelos próximos 18
meses; e, ao chega em casa, se olha no espelho, e diz: “O h
não! O que foi que eu fiz?”. Quando o marido toma co­
nhecimento, ele não está limitado pelas palavras da esposa.
Ele tem autoridade para dizer que a promessa ainda não
está estabelecida; ainda não foi confirmada. De acordo
com o mandamento bíblico, ele tem autoridade para dizer
que sua esposa não está presa àquele compromisso. Até
que ele ouça do que se trata e diga “sim”, ou ouça e não
diga nada, ela não está comprometida definitivamente.
Ora, se tal autoridade repousa sobre o pai ou marido
a respeito de um voto feito ao Senhor, quanto mais não se
aplicará a outros assuntos? E quanto mais não se aplicará
a coisas tais como o compromisso que uma filha possa ter
firmado com um pretendente que despertou o seu interes­
se? O voto que uma mulher faz ao Senhor deve ser o mais
solene e “pesado” de todos os votos. Se seu pai ou marido
podem descartar esse tipo de voto, então eles certamente
têm autoridade para anular qualquer outro voto menor.
Outra aplicação dessa passagem é o fato de que não
há nenhuma indicação aqui de um período “intermediário”
de “independência” para as filhas. Algumas vezes presu­
mimos que, de algum modo, quando as meninas crescem
devem ser tratadas da mesma forma que os meninos. Isso
é errado — na Escritura, os filhos deixam o lar, as filhas
são dadas. Esse é o padrão bíblico. Um filho deixa o lar
para tomar uma esposa, e estabelecer um novo lar. A filha
é dada a um jovem que está estabelecendo tal lar. A ideia de
que uma moça pode chegar aos 18 ou 19 e deixar a casa de
seu pai e viver por conta própria não é bíblica. Ela perma­
nece debaixo da autoridade de seu pai — mesmo se estiver
fisicamente longe de casa — e, então, quando é dada em
casamento, passa a estar debaixo da autoridade de seu ma­
rido. Esse é o padrão bíblico normal.
Mas também vemos na passagem de Números 30.3­
16 que algumas mulheres servem como cabeças indepen­
dentes de seus lares: “N o tocante ao voto da viúva ou da
divorciada, tudo com que se obrigar lhe será válido” (v.
9). Vemos o mesmo princípio no Novo Testamento. Lídia
creu e foi batizada, e toda a sua casa também (At 16.15).
Lídia é tratada como cabeça de sua casa, do mesmo modo
que o carcereiro de Filipos é tratado como cabeça de sua
casa. Não sabemos exatamente qual o status de Lídia (se
ela era viúva ou não), mas sabemos que a Escritura a trata
como cabeça de sua casa. A mulher divorciada certamente
podia retornar para a casa de seu pai (Lv 22.13), mas a Es­
critura não exigia tal coisa.
Aprendemos que todo voto com o qual a viúva ou
a mulher divorciada se obrigar lhe será válido. Ora, uma
mulher idosa, uma viúva independente ou mulher divor­
ciada não está sob a autoridade de seu pai. De acordo com
a Bíblia, se tal mulher está sendo cortejada, ela pode deci­
dir por si mesma. “A mulher está ligada enquanto vive o
marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar
com quem quiser, mas somente no Senhor” (lC o 7.39).
Obviamente, se uma mulher ficou viúva aos 50 anos, e seu
pai tenha 75, não há obrigação bíblica para que ela se mude
para a casa de seu pai e volte a estar debaixo da autoridade
dele. A Escritura não exige tal coisa. Ela é agora cabeça de
sua própria casa, e é assim que deve ser. O mesmo princí­
pio se aplica às jovens viúvas ou divorciadas.
Entretanto, isso é bem diferente do caso de uma jo ­
vem de 18 anos tentando se virar por conta própria. Tal
jovem não pode dizer que não precisa da autoridade de
seu pai, por que ainda não tem a autoridade de um marido.
Essa “independência intermediária” não é o padrão bíblico.
A medida que examinamos a Escritura, vemos fre­
quentemente a frase “casar e dar em casamento”. Os fi­
lhos se casam , as filhas são dadas em casamento. Para um
exemplo disso, considere o Salmo 78.63. O propósito aqui
não é expor o salmo inteiro, mas simplesmente exibir uma
expressão bíblica comum. Ele diz: “O fogo devorou os
seus jovens, e as suas moças não foram dadas em casamen­
to ” (versão Almeida Corrida Fiel). Embora trate de outro
assunto, essa frase simplesmente demonstra o modo bí­
blico de pensar sobre o casamento. Os filhos se casam , as
filhas são dadas em casamento. Dadas por quem? Com o
temos visto, a Bíblia ensina que o pai tem autoridade sobre
as filhas não casadas, tal como o marido tem autoridade
sobre a esposa. Além disso, há uma transição natural de
autoridade entre o pai e o marido, como se pode ver na
frase “dada em casamento”. A autoridade do pai, portanto,
claramente se estende aos interesses românticos da filha.
Tendo usado a palavra “romântico” de modo tão
descuidado, devemos fazer aqui uma digressão. Durante
muitos anos, toda a questão da união entre homem e mu­
lher tem sido palco da propaganda em favor do sentimen-
talismo moderno. Não devemos nos surpreender ao ver
o cumprimento do princípio bíblico de que quando uma
coisa é apreciada de modo idólatra, ela é perdida. O culto
ao sentimento é a destruição do sentimento. Mas o mundo
não vê desse modo. Quantas vezes já ouvimos, ad nau-
seam ,2 nas músicas, filmes e livros que o coração de uma
pessoa é problema só dela. E comum ouvirmos coisas do
tipo: “Bem, ela o ama”. Ou “ele a ama”. E, é claro, o ver­
dadeiro amor supera todos os obstáculos — e o obstáculo
central nas histórias modernas de amor é a oposição cega
dos pais. O verdadeiro amor deve superar toda oposição,
principalmente aquele “papai antiquado” que está no meio
do caminho. Muitas vezes vemos a propaganda em favor
dessa cultura do culto à juventude, no qual se presume que
o inocente e imaturo tem sabedoria, e que o mais velho e
maduro em termos bíblicos não possui sabedoria alguma.
Acredita-se que o “romance” é “a coisa” que faz o
casamento durar e, além disso, que os jovens entendem a
dinâmica do romance muito mais do que os mais velhos.
Ora, a atração e ligação emocional por alguém é um dom
de Deus. Mas o romance tem a mesma função que as corti­
nas de uma casa — não serve, como o concreto, para dar o
alicerce. O que estabelece o fundamento de qualquer casa­
mento piedoso é a fidelidade pactuai ao Deus que nos deu
o casamento. Ele nos deu os princípios, as normas, as leis

2 A exp ressão latina “a d n auseam ” se refere a um a argu m en tação p or


rep etição, que co n siste em rep etir insistentem en te a m esm a afirm ação
até, m etaforicam en te, “p ro v o car náusea”. - N . do E .
que governam o casamento, e servimos a Deus de todo o
coração à medida que guardamos essas coisas no coração, e
então tratamos nosso cônjuge de modo legítimo e obedien­
te a essa boa lei, dependendo inteiramente da graça de Deus
em Cristo. Um homem deve, de todo o coração, buscar
saber de que modo a Bíblia exige que ele trate a esposa. A
esposa deve ter a mesma preocupação sobre o modo como
tratar o marido. Quando cristãos entram em um pacto de
casamento desse modo, são abençoados com um casamento
maravilhoso. Não é de surpreender que um marido e uma
esposa obedientes tenham entre si fortes vínculos românti­
cos e emocionais. Mas quando o romance é o fundamento ,
não demora muito até a casa começar a ruir.
Assim, a Bíblia ensina que o pai tem autoridade legí­
tima sobre os interesses românticos de sua filha. Ela pode
estar emocionalmente atraída por um pretendente. A atra­
ção também pode ser espiritual, ou talvez sexual; ou pode
ser uma combinação dessas três coisas. Pouco importa. A
autoridade do pai se estende aos interesses românticos de
sua filha.
N o livro de Deuteronômio, vemos essa autoridade
paterna expressamente aplicada ao casamento de uma filha:

Se um homem casar com uma mulher, e, depois de coabitar


com ela, a aborrecer, e lhe atribuir atos vergonhosos, e contra
ela divulgar má fama, dizendo: Casei com esta mulher e me
cheguei a ela, porém não a achei virgem, então, o pai da moça
e sua mãe tomarão as provas da virgindade da moça e as le­
varão aos anciãos da cidade, à porta. O pai da moça dirá aos
anciãos: Dei minha filha por mulher a este homem; porém ele
a aborreceu; e eis que lhe atribuiu atos vergonhosos, dizendo:
Não achei virgem a tua filha; todavia, eis aqui as provas da vir­
gindade de minha filha. E estenderão a roupa dela diante dos
anciãos da cidade, os quais tomarão o homem, e o açoitarão, e
o condenarão a cem siclos de prata, e o darão ao pai da moça,
porquanto divulgou má fama sobre uma virgem de Israel. Ela
ficará sendo sua mulher, e ele não poderá mandá-la embora
durante a sua vida. Porém, se isto for verdade, que se não
achou na moça a virgindade, então, a levarão à porta da casa
de seu pai, e os homens de sua cidade a apedrejarão até que
morra, pois fez loucura em Israel, prostituindo-se na casa de
seu pai; assim, eliminarás o mal do meio de ti. (Dt 22.13-21)

Antes de retirar aplicações dessa passagem, algumas


questões devem ser esclarecidas. Alguns talvez possam
reagir dizendo: “Essa é uma lei do Antigo Testamento! O
que dizer da mulher adúltera levada a Jesus no evangelho
de João? Cristo não mudou tudo isso? Quem não tiver
pecado que atire a primeira pedra”. Ora, a mulher descrita
no evangelho de João foi “surpreendida em adultério”, e
sob a lei mosaica aquele era um crime para ser punido com
a pena capital. Ela receberia a pena de morte, mas a levaram
a Jesus a fim de pegá-lo em contradição com a lei. “Tu,
pois, que dizes?”. Porém, de acordo com a lei, aquele era
um crime capital para quem ? A lei claramente exigia que a
pena de morte recaísse sobre as duas partes — o homem
e a mulher. Aquela mulher foi apanhada em flagrante adul­
tério, mas de algum modo ela foi pega como se ela tivesse
adulterado sozinha.
Vemos em ação aqui o duplo padrão, muito comum,
para homens e mulheres. Ela é surpreendida em ato de
adultério sem que o homem seja capturado. O padrão de
Deus para a moralidade sexual não se conforma aos pa­
drões dos homens — Deus não usa “dois pesos e duas
medidas”. Ele espera que os homens sejam tão puros se­
xualmente quanto as mulheres. Não existe padrão duplo
na lei de Deus. Se uma mulher era adúltera, ela poderia ser
executada em razão disso; e se um homem fosse adúltero,
ele também poderia ser executado por essa mesma razão.
Então, o duplo padrão por parte dos adversários de Cristo
se torna evidente aqui. Eles capturam somente a mulher
que estava cometendo adultério e levam-na para ser ape­
drejada!
Quando Jesus diz “quem não tiver pecado atire a pri­
meira pedra”, não está querendo dizer “quem nunca pe­
cou”. Isso seria revogar a lei da Escritura e eliminar qual­
quer possibilidade de se encontrar justiça em algum lugar.
Jesus não está dizendo “os presbíteros não podem exercer
disciplina bíblica porque todos os presbíteros já pecaram
alguma vez na vida”. Jesus também não está dizendo “ne­
nhum magistrado civil pode mandar executar um assassi­
no em série porque o magistrado já pecou alguma vez na
vida”. Jesus não está ensinando que se alguém é pecador
não pode fazer julgamentos. A Bíblia exige julgamentos, e
exige que pecadores façam tais julgamentos.
Contudo, a Bíblia ensina que um juiz não pode con­
denar alguém por fazer aquilo de que o próprio juiz é cul­
pado. Por essa razão, creio que Jesus está dizendo que al­
guém que não tenha cometido o pecado de adultério deve
atirar a primeira pedra. E o texto é muito interessante
nesse ponto — ele diz que todos os acusadores da mulher
passam a ir embora, começando pelos mais velhos. Os mais
velhos sabiam que estavam encurralados, e então começam
a deixar o local. Por fim, quando Jesus diz à mulher que
não a condena, não está dizendo que teria sido errado con­
dená-la. Ele tem autoridade para condená-la ou absolvê-la.
Não teria sido errado condená-la, se ela tivesse realmente
sido apanhada no ato de adultério e as leis bíblicas para o
flagrante tivessem sido observadas. Se ela tivesse morri­
do em tais circunstâncias, não teria recebido nada mais do
que merecia. N o entanto, o que estava sendo apresentado
a Jesus era nada menos do que um fingimento de justiça,
e Cristo não tinha nada a ver com aquilo. Consequente­
mente, não é possível pôr essa famosa passagem contra a
passagem de Deuteronômio. Essa não é uma área na qual
houve uma mudança de ensino entre o Antigo e o Novo
Testamentos. Cristo não está mudando a definição de jus­
tiça na transição do Antigo para o Novo; ele está insistin­
do que a definição permanente de justiça seja aplicada de
forma zelosa e adequada.
Então, o que a passagem de Deuteronômio 22.13-21
exige? Primeiro, vemos que os anciãos da cidade não eram
santarrões ou hipócritas. Eles não temiam investigar as
evidências da virgindade de uma mulher. Em muitos casos,
os cristãos modernos não agem de modo bíblico porque
lidam com as questões sexuais de forma muito melindrosa
— ou agem assim, ou com a indecência dos pagãos. Com o
cristãos bíblicos, devemos tentar manter nossa definição
de decência alinhada com a definição dada pela Escritu­
ra. Em segundo lugar, não vemos nessa passagem uma lei
exigindo que a mulher fosse executada em razão de sua
imoralidade. Repito: esse não era um caso de execução em
razão de imoralidade sexual.
Na Bíblia, adultério — imoralidade sexual em viola­
ção a um pacto matrimonial existente — era um crime ca­
pital. Mas, em muitas situações, o comportamento sexual
antes do pacto de casamento ou noivado não era um crime
capital. A pena de morte na passagem de Deuteronômio se
devia à fraude envolvida. O homem tinha casado com uma
mulher crendo que ela era virgem. Ele descobre, ou suspei­
ta, que ela não era mais virgem quando eles se casaram, e,
consequentemente, levanta essa acusação contra ela. Bem,
essa era um acusação de fato muito séria. Se tal acusação
fosse verdadeira, ela não seria executada. E se a acusação
fosse falsa, ele seria multado, e jamais poderia divorciar-se
daquela mulher. Ele deveria sustentá-la porque fora culpa­
do de difamar o seu nome.
Se a mulher fosse culpada de imoralidade, o problema
que exigia execução era a fraude nele envolvida. A virgin­
dade era uma herança sem preço, que as jovens moças leva­
vam ao casamento. Ora, se uma mulher não fosse virgem,
e o homem com quem ela noivou soubesse disso, e ainda
assim se cassasse com ela, então essa lei de modo algum
se aplicaria. Mas se ele pensasse que ela era virgem, e ele
estimasse grandemente esse quesito (como deveria fazer),
e, então, viesse a descobrir que ela havia perdido a virgin­
dade, então a lei se aplicava.
N o Novo Testamento, podemos ver o paralelo disso
no dilema de José e Maria. José acreditava (corretamente)
que Maria era virgem. Mas quando ela apareceu grávida,
José sabia que não era o pai da criança, e isso significava
que alguém era. Por isso, ele pensou que ela lhe havia sido
infiel. Uma vez que, naquele período, os judeus estavam
sob a autoridade romana, essa lei de Deuteronômio não
poderia ser seguida, já que os romanos não permitiriam.
Portanto, José, sendo homem justo, tenta resolver as coi­
sas divorciando-se secretamente. Mas José estava equivo­
cado sobre os fatos envolvendo a questão (pelo que ele
pode ser desculpado), mas a Bíblia em parte alguma indica
que ele estivesse errado por querer deixar Maria. Antes,
pelo contrário, ele é descrito, em meio às suas resoluções,
como um homem justo.
Assim, em Deuteronômio 22.13-21, a lei trata de um
caso de fraude sexual — isto é, alguém está fingindo. Ora,
a questão crucial envolve o que é dito no caso de as acusa­
ções feitas pelo marido ciumento serem verdadeiras. Se as
acusações fossem procedentes, e tal mulher se prostituísse
em Israel, então os homens da cidade deveriam levá-la e
apedrejá-la. O que mais chama a nossa atenção é que eles
fariam isso à porta da casa de seu pai. Eles não a executam
em uma penitenciária no meio da noite; mas à porta da casa
de seu pai.
Ora, por que “à porta da casa do pai”? A resposta bí­
blica é que o pai é o responsável pela pureza sexual da filha.
Quando deu a filha em casamento a um homem, ele a apre­
sentou como virgem. Mas ele não cumpriu suas responsa­
bilidades; não cuidou de sua filha do modo como deveria.
A virgindade era uma herança inestimável a ser levada ao
casamento; nesse caso, a fraude consistia na falsa alegação
de possuir tal herança. Em razão de tal fraude, a mulher era
executada à porta da casa de seu pai.
Em Exodo 22.16-17, vemos novamente que a imorali­
dade sexual não era um crime capital em Israel, e novamen­
te vemos o papel e a responsabilidade do pai:

Se alguém seduzir qualquer virgem que não estava desposada


e se deitar com ela, pagará seu dote e a tomará por mulher.
Se o pai dela definitivamente recusar dar-lha, pagará ele em
dinheiro conforme o dote das virgens. (Ex 22.16-17)

Em outras palavras, se um homem seduzisse uma vir­


gem, ele deveria pagar o dote por ela, e poderia ter de ca­
sar com ela. A única exigência possível aqui recai sobre o
sedutor. D o pai, contudo, não se exigia que desse sua filha
em casamento a tal pessoa. Se, definitivamente, o pai se
recusasse a dar sua filha a tal homem, este ainda assim de­
veria pagar em dinheiro de acordo com o dote das virgens.
Ora, quem determinava se isso aconteceria ou não?
O texto é bastante claro: o pai. O pai da moça — não ela
mesma, nem quem a seduziu, muito menos “o amor ver­
dadeiro”, como acontece nos filmes e novelas. O velho pai
tomava a decisão. Bem, obviamente a filha tinha visto algo
naquele que a seduzira. Mas o pai não; ou talvez tivesse
visto, mas tivesse uma opinião diferente.
Um erro comum entre os cristãos é pensar que, se o
ato sexual entre um homem e uma mulher é consumado,
então eles estão casados “aos olhos de Deus”. Muitas com ­
plicações terríveis ocorrem na cultura contemporânea pelo
fato de adotarmos a ideia de que as pessoas podem estar
casadas aos olhos de Deus sem estarem casadas. E difícil
dizer onde tal ideia se originou, mas ela tem causado muito
dano. Se um homem e uma mulher se casam e depois se
divorciam ilegalmente, muitos cristãos presumem que os
dois estão “ainda casados aos olhos de Deus”. A resposta
bíblica é: “Não, eles estão divorciados aos olhos de Deus”
— esse é o pecado deles! Eles deveriam estar casados. Mui­
to embora não tenham permissão bíblica para o divórcio,
isso não significa que estão em um estado transcendente e
invisível de casados fora deste planeta.
Também podemos ver o caos que essa afirmação pode
causar quando a consideramos conjuntamente com as con­
seqüências da imoralidade. Pensamos que a essência do
casamento é um compromisso sexual. Então, quando um
homem seduz uma virgem e se deita com ela, acreditamos
que há uma obrigação de casamento. Mas isso é verdade
somente em parte. Uma obrigação pode ser imposta sobre
o homem em questão pelo pai da moça. Tal obrigação pode
ser imposta sobre ele, mas não necessariamente. De acor­
do com a Bíblia, o casamento é definido como um relacio­
namento sexual dentro dos limites de um compromisso
pactuai formalmente confirmado. O relacionamento se­
xual, por si só, não constitui casamento.
Quando o apóstolo Paulo fala sobre o problema da
prostituição cultuai em C orinto, ele recorre à Gênesis,
onde é dito que o homem deixará pai e mãe e se unirá à
sua esposa e os dois se tornarão uma só carne (lC o 6.16).
Paulo ensina que um homem se torna uma só carne com
uma prostituta da mesma forma que se torna uma só carne
com sua esposa. Mas isso não torna a prostituta em espo­
sa. Aquilo que constitui um casamento é um pacto confir­
mado em torno de um relacionamento sexual. Se não há
pacto, não há casamento. Se não há relacionamento sexual,
não há casamento.
O casamento é um ato pactuai público. Então, se um
homem seduz uma virgem e se deita com ela, deve pagar o
valor do “dote das virgens” para que ela se torne sua espo­
sa. E se o pai dela se recusa a dar a filha em casamento, o
homem paga da mesma forma. O pai tem autoridade para
não permitir o ato público de casamento — não importan­
do o que o casal tenha feito em privado.
Ora, se o pai tem autoridade para dizer não quando já
existe um relacionamento sexual, então quanto mais autori­
dade não terá para dizer não quando tudo o que existe é ape­
nas um mero interesse emotivo ou sexual? Se ele pode dizer
não quando o casal já está há cinqüenta quilômetros de dis­
tância, quanto mais quando está há apenas alguns metros?
Temos visto o que a Bíblia diz a respeito da autorida­
de dos pais sobre os compromissos da filha. Em Números
30, o padrão normal era que a mulher estivesse sob a au­
toridade do pai até que passasse à autoridade do marido.
Há exceções — viúvas e mulheres divorciadas — que são a
cabeça de seu próprio lar. Citamos Lídia, que era cabeça de
sua casa. Mas o padrão moderno de “independência inter­
mediária” entre o pai e o marido simplesmente não existe
na Bíblia. A ideia de que uma jovem pode dizer: “Eu tenho
18 anos e posso fazer o que eu quero” não tem nenhuma
semelhança com o modelo bíblico de pensamento. Em ou­
tras palavras, o pai tem autoridade bíblica legítima sobre os
interesses românticos de sua filha.
Esse conceito está implícito no enunciado bíblico
comum “dar em casamento”. Esse “dar” não era um ato
simbólico, como acontece nos casamentos modernos. Era
uma dádiva genuína, oferecida com genuína autoridade (SI
78.63; Lc 20.34; Mt 24.38). H oje, temos apenas vestígios
dessa compreensão em nossas modernas cerimônias de ca­
samento. (“Quem deu essa mulher em casamento a esse
homem?”) Mas nos tempos bíblicos, isso era mais do que
uma tradição vazia. As filhas realmente eram dadas em ca­
samento.
Devemos nos lembrar do ensino bíblico sobre a
autoridade dos pais com respeito aos compromissos da
filha. Para tanto, podemos analisar o texto de Números
30.3-16, com uma atenção especial para o versículo 5: “Se
o pai, no dia em que tal souber, o desaprovar, não será váli­
do nenhum dos votos dela, nem lhe será preciso observar
a abstinência a que se obrigou; o S en h or lhe perdoará,
porque o pai dela a isso se opôs”. C om o essa passagem
mostra, o padrão normal na família bíblica era que a mu­
lher estivesse sob a autoridade do pai até que passasse à
autoridade do marido.
Alguns podem argumentar que a exigência de Núme­
ros 30.3-16 se refere somente a um voto religioso — um
voto perante o Senhor. Mas se o pai poderia anular um
voto feito a Deus, quanto mais não teria a autoridade de
anular uma promessa feita a um jovem pretendente? Mas
não precisamos nos apoiar em um argumento a fortiori, a
própria Escritura reconhece a autoridade do pai em uma
situação que se relaciona diretamente à questão do casa­
mento: “Se alguém seduzir qualquer virgem que não estava
desposada e se deitar com ela, pagará seu dote e a tomará
por mulher. Se o pai dela definitivamente recusar dar-lha,
pagará ele em dinheiro conforme o dote das virgens” (Êx
22.16-17). Isso demonstra que o pai tem autoridade legí­
tima quanto aos interesses românticos de sua filha. Nessa
situação, houve uma falha no lar — a filha não foi criada
para resistir efetivamente aos sedutores — mas a autorida­
de do pai não diminui em razão disso.
Em Deuteronômio 22.13-21, vemos que o pai era
considerado diretamente responsável pela pureza sexual da
filha. Quando um homem acusa a noiva de fraude sexual,
os pais se defendem contra o acusador produzindo provas
da virgindade da filha. Se a acusação fosse verdadeira, en­
tão a noiva era executada à porta da casa de seu pai. Essa
não era uma morte em razão da fornicação, mas por causa
da fraude sexual. A virgindade era uma herança, levada ao
casamento, protegida e assegurada pelo pai.
“Deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tor­
nando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24). O filho é criado
para a independência. Ele é preparado para deixar, embora
ainda respeitando os conselhos piedosos de seus pais. A fi­
lha é criada para ser transferida3 de um estado de dependên­
cia para outro. O s filhos partem, as filhas são dadas.
N o cortejo bíblico, a autoridade prática e ativa do pai
sobre o processo é plenamente reconhecida e apreciada.
N o modelo moderno de namoro recreativo, a autoridade
do pai é tratada como um vestígio de um mundo distante,
ou como uma piada. O desafio que se apresenta diante de
nós é que os pais comecem a pensar sobre si mesmos de um
modo bíblico. O desrespeito que os filhos têm para com
os pais nessa área é simplesmente um eco do desrespeito
que os pais têm por seu próprio ofício. Então, quando um
pai procura verificar por si mesmo a piedade, inteligência,
diligência etc., de um pretendente de sua filha, ele não está
sendo intrometido.
A pureza sexual da filha é protegida e garantida pelo
pai no modelo de cortejo bíblico. Ele é seu guardião per­
manente, ofício que recebeu de Deus. N o modelo moder­
no de namoro recreativo, alguns graus de atividade sexual
são esperados, desde que não se chegue “até o fim”, e o
responsável por definir esses limites é o próprio casal — o
que geralmente significa que a mulher é quem carrega o
peso da responsabilidade. Espera-se que ela diga não , se
quiser deter os procedimentos eróticos, enquanto o sujei­
to geralmente espera conseguir tudo que puder.
N o cortejo bíblico, o ato de cortejar está publicamen­
te relacionado à vida da família, muito provavelmente à fa­
mília da jovem moça. N o namoro recreativo, a privacidade
do casal é a regra.

3 O termo “transferência” empregado aqui não é pejorativo, mas quer


dizer simplesmente que a mulher dada em casamento sai da autoridade
e cuidado do pai para a autoridade, cuidado e amor sacrificial do mari­
do, que passa a ser o responsável por amá-la e dedicar-se inteiramente a
ela. - N. do E.
A virgindade é uma herança que se leva ao casamento,
e o pai da noiva é responsável por preservar tal herança.
Mas, embora a virgindade seja importante, se alguém des­
perdiçou tal herança, a Bíblia não exige que morra — isso
se vê claramente no caso anterior de Exodo, no qual uma
virgem foi seduzida. Ela não foi condenada à morte; aquele
que a seduziu tinha de casar com ela, se o pai o permitisse.
O padrão é diferente para os filhos homens. Desde o
início, Deus projetou que os filhos deixassem o lar a fim de
estabelecer um novo lar (Gn 2.24). Mas quando nos lem­
bramos da autoridade do pai da noiva, vemos que quando
um jovem deixa o lar, ele não se torna autônomo. Ele pre­
cisa tratar com o pai da mulher com a qual deseja casar.
C a p ítu lo 2

PREPARANDO FILHOS PARA 0 CORTEJO

o primeiro capítulo, estabelecemos o importante


princípio bíblico de que o cortejo envolve direta­
mente os pais, especialmente o pai da moça. Eles têm real
autoridade no que diz respeito a casar suas filhas. C ontu­
do, mesmo quando essa autoridade é entendida e aceita,
muitas questões práticas surgem. Não basta entender o
princípio — o princípio deve ser aplicado. E na aplicação
que a autoridade é vista, e a autoridade dos pais é, conse­
quentemente, muito real na área do cortejo. Os pais não
são opcionais, eles têm verdadeira autoridade nas questões
do coração. Mas quando chegamos à questão de como os
filhos homens são preparados para o casamento, vemos
uma diferença na aplicação.
A Bíblia ensina que os filhos homens deixam os pais.
“Deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornan­
do-se os dois uma só carne” (Gn 2.24). Isso significa que,
em contraste à contínua proteção dirigida às filhas, o filho
deve ser minuciosamente instruído antes de deixar o lar.
Portanto, a preparação dos filhos deve ser feita antes
do processo de cortejo ter realmente começado. Se uma fi­
lha está na casa de seu pai, e um jovem aparece e pede per­
missão para começar um cortejo, o pai da moça pode dizer
que sua filha ainda não está pronta. Ele pode continuar a
exercer autoridade sobre ela até que veja que ela está pron­
ta para ser dada em casamento. Mas um pai deve se anteci­
par enquanto prepara seu filho homem para que deixe o lar,
e equipá-lo a ir antes que chegue a hora. Um filho deve ser
instruído em todos os detalhes antes de deixar o lar.
Em Gênesis 2, temos uma afirmação muito clara do
padrão de Deus para a criação de novas famílias. A Bíblia
não dá qualquer base para se viver como as tribos patriar­
cais, tal como um governo de unidade familiar. O padrão
para um homem na Bíblia é crescer, deixar os pais, e con­
quistar uma esposa. Tendo sido dada em casamento, a es­
posa teve sua submissão transferida do pai para o marido.
Se o pai for sábio, criará a filha de tal modo que ela esteja
disposta a prontamente ter sua submissão transferida para
o marido. O s pais devem equipar seus filhos para isso,
prestando especial atenção às diferenças entre meninos e
meninas.
Claramente, Deus infundiu de modo tão profundo
esse padrão em nossa natureza criada que tal padrão, de
algum modo, virá à tona não importando se preparamos
ou não os nossos filhos. Depois de crescerem, os filhos
farão isso de alguma forma, mas se não houver ensino ex­
plícito, farão a coisa de modo ruim, e os pais terão de lidar
com as conseqüências. Quando eles saem de casa, os pais
não devem se espantar: “O que há de errado?”. A resposta
é que nada está errado — era de se esperar que saíssem.
Um pai deve desejar que a filha queira deixar o lar quando
o “homem certo” aparecer para ela. O pai deve desejar que
sua filha queira transferir sua obediência para o marido.
Antes de tomar uma esposa, os filhos devem ser ins­
truídos em certas áreas fundamentais. A primeira é o que
a Bíblia ensina sobre o próprio casamento. Isso significa
instrução na lei de Deus com respeito ao matrimônio: o
que a Bíblia ensina sobre casar com incrédulas? Primas? O
princípio encontrado em passagens como 1 Coríntios 6-7,
Levítico 18 e Marcos 6.18 deve ser ensinado e vivido no
lar. O filho deve ser instruído em todos esses detalhes da
Escritura sobre a natureza e doutrina do casamento.
Deus define o que é o casamento. A Palavra dele é a
lei inalterável a respeito do casamento. Quando João Ba­
tista foi até Herodes, disse que não era lícito que Herodes
tomasse a esposa do irmão. O problema era que Herodes a
tinha “roubado” e casado com ela. Mas a Palavra de Deus é
nossa autoridade sobre casamento — não o nosso coração,
não as leis civis, e nem as práticas dos reis. O que aconte­
ce quando o “casamento” homossexual começa a ser re­
conhecido pelas autoridades civis? A Bíblia ensina que tal
legislação rebelde não pode tornar em “casamento” o que
Deus declarou ser “perversão”. Isso não se aplica apenas às
uniões homossexuais. O mesmo princípio pode ser apli­
cado ao casamento entre irmão e irmã — a lei de Deus
proíbe. Isso significa que é possível ter casamentos hete­
rossexuais que estão fora dos limites da Palavra de Deus. A
Escritura ensina que um homem não pode tomar a mulher
de seu irmão, como o fez Herodes. Portanto, é crucial que
nossos filhos sejam ensinados sobre a definição, significa­
do e propósito do casamento.
Os filhos devem aprender sobre 1Coríntios 7.39: “A
mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se fa­
lecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas
somente no Senhor”. Um princípio básico pode ser visto
aqui: um cristão deve se casar com um cristão. O s cren­
tes não têm autoridade sequer para cogitar casar com um
não cristão. Então, o que acontece se alguém se casa com
um incrédulo? Esse casamento é válido? A resposta é sim ;
mas em que isso difere das outras situações mencionadas
acima? A resposta se encontra naquilo que a Bíblia ensina
sobre tais casamentos. A Bíblia diz que é possível entrar de
forma desobediente em um casamento de fato, enquanto
outras formas de desobediência não resultam necessaria­
mente em casamento, mas em perversões. Há uma diferen­
ça entre um casamento desobediente e uma desobediência
que aparenta ser casamento. Mesmo se as proibições espe­
cíficas da Escritura não se apliquem a eles, é extremamente
útil para os filhos entenderem o que a Bíblia ensina sobre
os limites do casamento. E útil estabelecer na mente deles
que Deus é o Senhor do casamento.
A Escritura nos mostra que o casamento é uma união
pactuai, não uma união metafísica.4 O casamento é um re­
lacionamento terreno, um pacto terreno, rodeado de pro­
teções bíblicas postas por Deus para nós. Se alguém viola
os termos desse pacto, se alguém faz um voto solene e não
é fiel a ele, então quebrou a aliança. Jesus trata diretamente
disso em seu ensino sobre a questão do divórcio; ele per­
mite o divórcio e o novo casamento com base na impureza
sexual. De modo similar, o apóstolo Paulo lida com “casa­
mentos m istos”, e o que fazer quando o incrédulo aban­
dona seu cônjuge crente. Se o incrédulo se aparta, o crente
deve deixa-lo ir, não está preso em tais circunstâncias. Fica
livre para casar novamente.
Um filho deve saber o que constitui a formação de
um casamento com suas obrigações e limites, e o que con­

4 Pelo c o n te x to , o term o “m etafísica” é aqui usado não para d en o tar uma


disciplina filosófica, mas para indicar apenas algo que transcende ou
ultrapassa a natureza física das coisas. - N . do E.
diciona a aplicação de uma dissolução legítima do casa­
mento. E incrível como as pessoas estão casando o tempo
todo e ninguém jamais pensa em perguntar a elas que de­
finição têm daquilo que fazem. Se alguém dissesse: “Estou
indo para a Europa”, ele provavelmente saberia responder
questões do tipo “onde fica a Europa?”, e assim por diante.
Contudo, muitos se casam sem nem saber o que é um ca­
samento. Se alguém ingressa no Exército sem saber o que
é o Exército, tal pessoa é tola. Portanto, um jovem homem
não deve buscar a posição de casado sem que tenha um
conceito claro do que isso significa aos olhos de Deus. Se ele
não o faz, então é um tolo, e seus pais são igualmente to ­
los, porque não o ensinaram o que significa ser um homem
casado, e o que Deus exige dele enquanto homem casado.
O s filhos homens devem também aprender o que é
a atmosfera da vida de casado tal como Deus a planejou.
Nesse sentido, a melhor coisa que pais piedosos podem
fazer é dar aos filhos várias décadas de testemunho con­
sistente de vida cristã dentro do casamento, no lar no qual
os filhos nasceram. Isso tem valor inestimável. A Bíblia
ensina que aprendemos pela imitação (lC o 4.16; 11.1).
O apóstolo Paulo encoraja a que os cristãos o imitem, tal
como ele imitava a Cristo. Encontramos ensino similar em
Efésios 5.1, onde é dito que devemos ser seguidores, imi­
tadores de Deus, como filhos amados e andar em amor. As
crianças aprendem por imitação. Ao nascerem, nossos fi­
lhos se inscrevem num curso com 18 a 20 anos de duração
chamado “Com o tratar um marido ou esposa”. As crian­
ças vão todo o tempo assimilando o modo como papai e
mamãe falam um com o outro. Claro, isso não significa
que os filhos gravam cada má lição que lhes é ensinada.
Sabemos e reconhecemos que todos os pais são pecadores.
Nenhum pai é um exemplo perfeito, mas mesmo quando
pecam, os pais ainda podem dar bom exemplo de como
humildemente confessar e reconhecer os erros. Tampouco
Deus fica limitado pela desobediência constante da parte
dos pais. A graça de Deus é muito maior do que isso; ele
pode graciosamente intervir na vida de alguém que cresceu
com pais completamente desobedientes. Mas nunca deve­
mos pecar para que a graça superabunde. E sempre uma
bênção incalculável para os filhos crescerem de tal modo
que tenham assimilado profundamente o modo amável de
como se deve falar com uma esposa e respeitar um mari­
do. Quando alguém lhes pergunta por que vivem do modo
como vivem, eles ficam surpresos. “Isso é normal, não é?”.
Fui muito abençoado por crescer em um lar no qual
nunca ouvi meus pais levantarem a voz um com o outro —
18 anos de calma graciosidade. Quando os filhos crescem
em um lar como esse, que lição específica podemos dizer
que eles aprendem? Não é nenhuma lição específica, mas
uma atitude, uma “atmosfera” para o lar. O lar deve ser
o lugar no qual há, todo o tempo , um aroma de piedade.
Quando o marido fala com a esposa, ele está treinando
seus filhos para falarem com a esposa que terão. Essa é uma
grande oportunidade de ensinar os filhos a como viverem a
vida de casados, de “dentro para fora”. Quantos filhos que,
por crescerem em um lar pagão, só podem ver casamentos
cristãos à distância? Eles podem ouvir sermões e ler livros
sobre o assunto — e Deus age através de tais meios — mas
isso não ensina todas as nuances intangíveis de um lar pie­
doso. Os filhos crescem em um lar cristão têm liberdade e
acesso constante a esses maravilhosos meios de instrução.
Assim, a primeira coisa a ensinar a um filho homem é
o que é um casamento piedoso; a segunda é ensinar como é a
vida em um casamento piedoso. Outro assunto importante
é o da masculinidade. Os filhos devem aprender a masculi­
nidade bíblica. A Bíblia ensina que no relacionamento ma­
trimonial, a iniciativa, a liderança deve estar com o homem.
Isso começa a ser visto no cortejo, e continua no relaciona­
mento conjugal em si. Aquele que aspira ser o cabeça de um
lar não deve agir no cortejo como se pretendesse ser o pé.
Isso significa que um filho deve ser equipado e ensinado a li­
derar uma mulher. Um marido bíblico deve estar disposto a
ser cabeça da mulher assim como “Cristo é cabeça da igreja”.
Enquanto tratam dos meninos que aparentam ter essa
iniciativa e masculinidade em excesso, os pais podem errar
ao deixá-los inteiramente sem disciplina, ou podem bus­
car corrigir o problema na masculinidade do filho. Bem,
meninos agressivos podem produzir tipos interessantes de
situações disciplinares. A medida que ensinam e discipli­
nam, os pais não devem buscar oprimir a masculinidade
dos meninos, mas canalizá-la numa boa direção.
Por exemplo, quando veem um garoto que não sabe
do que está falando, mas que age como se soubesse, é muito
fácil para os adultos ceder ao ímpeto de desencorajá-lo para
que se cale e aprenda a ser um pouquinho humilde. Mas
meninos devem ser treinados para assumir riscos, o que
significa ser confiante em meio ao desconhecido. Enquanto
fazem isso de forma imatura, os pais devem trabalhar com
eles, e ensiná-los, sem destruir o ímpeto masculino.
O cortejo revela quão necessária é a masculinidade.
Muitos rapazes hoje procuram uma moça e são até sérios
quanto às suas intenções, mas têm medo de estar inter­
ferindo na vida dela. “Você sabe, ela vai terminar a escola
em breve, mas ela quer fazer faculdade em outro estado,
e eu realmente não quero ir morar lá, e mostrar interesse
nela seria mexer com todos os planos que ela tem”. Mas
a questão toda do cortejo é mexer mesmo com os planos
da moça. Uma jovem mulher piedosa não vai ficar por aí
adiando o casamento. Antes, vai estar se preparando para
casar. Isso significa que será liderada em uma direção espe­
cífica, e não fica esperando passar o tempo. Um jovem não
deve temer alterar os planos dela, porque o casamento é,
por sua própria natureza, uma reviravolta no modo como
ela vivia. Mas há muitos rapazes que têm uma atitude do
tipo: “me desculpe por querer alterar seus” — a qual não é
muito masculina — quando chegam a um relacionamento
potencialmente sério com uma jovem mulher. Esse tipo de
“masculinidade” defensiva e medrosa não é o que os pais
devem querer estimular em seus filhos. Um rapaz não deve
ter medo de tomar a iniciativa em tais questões.
A moça pode não querer que sua vida seja abalada por
ele, mas isso significa que o objetivo dela é sempre man­
ter as coisas como estão, o problema dela é exatamente
com aquele rapaz específico. Em tal caso, o pai dela precisa
dizer ao jovem: “N ão”. Essa pode ser uma expectativa in-
quietante para alguns, e é por isso que os meninos devem
ser “maduros” o bastante para resistir a esse tipo de trata­
mento. Estimular essa resistência é muito importante. Os
homens serão nocauteados no decurso da vida; eles devem
aprender como lidar com isso quando ainda são jovens.
Um filho deve também ser ensinado sobre a centra-
lidade da paternidade num lar piedoso. Uma das melho­
res maneiras de proteger um filho da imoralidade sexual
é instruindo-o na Palavra de Deus. Para dar um exemplo
dessa instrução por parte dos pais, podemos considerar o
capítulo 5 de Provérbios:
Filho meu, atende a minha sabedoria; à minha inteligência
inclina os ouvidos para que conserves a discrição, e os teus
lábios guardem o conhecimento; porque os lábios da mulher
adúltera destilam favos de mel, e as suas palavras são mais
suaves do que o azeite; mas o fim dela é amargoso como o
absinto, agudo, como a espada de dois gumes. Os seus pés
descem à morte; os seus passos conduzem-na ao inferno. (...)
Bebe a água da tua própria cisterna e das correntes do teu
poço. Derramar-se-iam por fora as tuas fontes, e, pelas pra­
ças, os ribeiros de águas? Sejam para ti somente e não para os
estranhos contigo. Seja bendito o teu manancial, e alegra-te
com a mulher da tua mocidade, corça de amores e gazela gra­
ciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te
sempre com as suas carícias. Por que, filho meu, andarias cego
pela estranha e abraçarias o peito de outra? (Pv 5.1-5, 15-20)

Quando um filho é instruído por um pai que é um


cristão piedoso e consistente, o mero pensamento de criar
um filho fora das proteções do pacto matrimonial é sufi­
ciente para deixá-lo doente. Um filho deve ser ensinado
que o apetite sexual que possui é um presente de Deus — e
que ele ficará com “fom e” por mais alguns anos. Isso exige
inculcar uma mentalidade de domínio próprio, mas os pais
não têm de esperar até que seu filho esteja envolvido pela
tentação sexual para que possam instruí-lo sobre como
responder à tentação.
Há muitas outras áreas que exigem domínio próprio
nas quais essa virtude pode ser adquirida e tornada em há­
bito, desde o tempo em que os meninos são apenas ga-
rotinhos. Em Provérbios 5.15-20, qual o contexto desse
ensino? N o verso 1, o pai diz que seu filho deve atender à
sabedoria. Esse não é o ensino de um homem cristão para
outro homem cristão; é o ensino de um pai a seu filho. Ele
ensina seu filho a ficar longe da mulher adúltera que irá
destruir a sua alma. O filho nem mesmo havia pensado a
respeito. Mas um pai só pode ensinar o domínio próprio
de modo eficaz se estabelecer um padrão de ensino do do­
mínio próprio ao longo dos anos.
Muitos pais tentam ensinar seus filhos sobre o do­
mínio próprio na área sexual depois que a tentação sexual
se torna um problema. Mas o domínio próprio sexual é
somente uma espécie do gênero “domínio próprio”. O do­
mínio próprio na área sexual é um ramo do domínio pró­
prio. Os pais devem inculcar o domínio próprio primeiro,
ao longo de toda a vida do menino. Quando um jovem
começa a choramingar, e tenta exigir algo, e os pais dizem
“não”, eles estão ensinando domínio próprio. Isso se tor­
na um hábito estabelecido em seu caráter muito antes de
ele chegar à adolescência. Quando a tentação sexual come­
ça, a resposta necessária de autonegação não deve ser um
conceito inteiramente novo. Se os pais cedem às emoções
do menino, a seus caprichos e birras, o que irá acontecer
com esse menino quando ele estiver ardendo em desejos
sexuais? Ele irá se consumir como uma palha no fogo. Por
que, um menino, que nunca disse não a nenhuma de suas
paixões, de repente, depois que se tornou adulto, diria
“não” a essas paixões incrivelmente fortes?
Outro modo importante pelo qual os pais podem
proteger seus filhos da imoralidade sexual, e prepará-los
para a fidelidade sexual no casamento, é demonstrando a
importância da paternidade. Um exemplo da minha infân­
cia ilustra esse ponto muito bem — eu devia estar no ensi­
no fundamental. Lembro-me de um jovem rapaz que certa
vez estava na parada de ônibus gabando-se das façanhas
sexuais de seu pai. O pai dele tinha estado no Pacífico Sul
durante a Segunda Guerra Mundial, e esse garoto estava
muito contente pelo fato de ter muitos irmãos por parte
de pai, espalhados por todo o Pacífico Sul. Seu pai havia
agido de modo muito imoral, e aparentemente havia os­
tentado seus feitos perante o filho. Esse tipo de sentimen­
to pode ser muito sedutor para a mente de um homem não
cristão, e, sem dúvida, aquele jovem pensava que iria agir
da mesma forma. Com o destaquei anteriormente, se um
filho foi adequadamente ensinado, se um exemplo piedoso
de paternidade tem sido posto perante ele, se ele conse­
quentemente tem uma visão elevada do matrimônio, e uma
elevada e respeitosa visão das mulheres, apenas a ideia de
gerar um filho fora do casamento deve ser suficiente para
deixá-lo doente. “Saber que existe uma criança por aí que
eu gerei e que está crescendo sem um pai pactuai? Não
quero nem pensar!”. Só imaginar tal situação já é suficiente
para revirar seu estômago. Mas isso somente irá acontecer
se ele tiver visto o que o casamento deve ser. Ele deve ter
uma visão excepcionalmente elevada dos filhos, do estado
de casado, e do que significa ser marido e pai. Ele adoece
só em pensar na ideia da atividade sexual fora do casamen­
to porque isso leva a filhos fora da proteção pactuai. Um
jovem cristão que foi adequadamente ensinado, e tendo
visto o exemplo certo, não dará sua contribuição para a
propagação de filhos fora do casamento.
Por fim, o pai deve ensinar a seu filho que, no mundo
moderno, ser cavalheiro é algo profundamente necessário.
Um problema comum no modo como muitos homens
hoje buscam iniciar um relacionamento pode ser ilustrado
pelo fato de porem a responsabilidade sobre as mulheres.
N o cortejo, a proteção fundamental da mulher é provida
por seu pai. Mas isso não significa que seu pretendente não
tenha a responsabilidade de agir como um cavalheiro. Su­
ponha que o pai tenha dado permissão para um jovem cor­
tejar sua filha. Quando um homem piedoso se aproxima
de uma mulher, ele deve assumir todo o risco. Para dar um
exemplo, ele não deve dizer que esse relacionamento é “da
vontade de Deus” ou que ela é a “escolhida de Deus” para
ele. Ele não deve dizer a ela o que Deus quer da vida dela.
Ele não é um profeta. Tiago proíbe severamente agirmos
como se soubesse o que o futuro nos reserva:

Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a


cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos
lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa
vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e
logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor qui­
ser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo.
Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes preten­
sões. Toda jactância semelhante a essa é maligna. (Tg 4.13-16)

Um jovem pretendente não tem absolutamente que


dizer à moça que está “orando a respeito”, e que o Senhor
quer que ela se case com ele. Ele deve agir com base na­
quilo que crê ser a vontade de Deus para ele ; a vontade
de Deus não é um “cassetete” com o qual ele pode bater
nela. O homem deve dizer a ela o que ele está fazendo e
o que, se Deus permitir, fará. Não deve dizer o que Deus
disse que ela deve fazer. Esse é um modo covarde de pôr
a responsabilidade sobre a mulher, e Tiago classifica toda
presunção desse tipo como maligna.
Nossa vida é uma neblina. Devemos crer que estamos
andando de acordo com a vontade de Deus, mas enten­
demos isso pela fé, não por vista. Não fazemos ideia se a
vontade de Deus será que façamos amanhã o mesmo que
fizemos hoje. Se Deus quiser, faremos. Caso contrário, ele
é o Senhor. Quando um jovem pede uma moça em casa­
mento, ele não sabe se a vontade do Senhor é que eles se
casem — eles podem morrer em um acidente de carro uma
semana antes da festa. Ele deve simplesmente confiar que
está dentro da vontade de Deus enquanto pede a mão da
moça em casamento, e deve também, como um cavalheiro,
não tentar forçá-la a aceitar por meio de apelos indevidos
à “vontade de Deus”.
Se, por alguma razão, ela disser não , ele jamais deve
pressioná-la para descobrir as razões. Ela não lhe deve ex­
plicações. Nem ele deve se proteger tentando descobrir,
primeiro , quais os sentimentos dela antes de expressar suas
próprias intenções. Claro, um ponto positivo de ir procu­
rar o pai da moça primeiro é evitar surpresas desagradáveis.
Mas, seja como for, sempre que alguém tiver de sentir al­
guma pressão, que seja o pretendente.
Portanto, os filhos precisam ser preparados para se­
rem cavalheiros. Cavalheiros não ficam choramingando;
eles assumem responsabilidades por outros. Temos visto
que, no processo de cortejo, a proteção fundamental é for­
necida pelo pai da moça. Mas se o pai é sábio, somente
irá admitir um pretendente que seja o tipo de homem dis­
posto a ser o segundo na linha de proteção daquela jovem.
Um jovem está agindo de modo covarde quando diz coi­
sas do tipo: “Bem, eu estava pensando sobre nós — o que
você pensa sobre nós?”. Ele não está dizendo o que pensa
a respeito, apenas quer descobrir primeiro o que ela pensa
sobre o assunto. Ele não está assumindo risco, o que sig­
nifica que não está agindo de modo masculino. Um filho
deve ser criado para assumir todo e qualquer risco que seja
possível assumir.
O fato de que um pretendente deve abordar, primei­
ro, o pai da jovem significa que muitos desses problemas
não ocorrerão, ou ocorrerão em uma extensão muito me­
nor do que os que ocorrem no modelo moderno de namo­
ro recreativo. Há táticas que funcionam com a moça, mas
que não funcionam muito bem com o pai dela, porque o
pai tem boa memória. “Eu me lembro dessa tática, e eu sei
aonde você quer chegar, meu jovem”.
C a p ítu lo 3

PREPARANDO FILHAS PARA 0 CORTEJO

stabelecemos o conceito da autoridade dos pais no


processo de cortejo, e tratamos de como eles devem
responsabilizar-se pela preparação de seus filhos homens.
Chegamos agora à preparação das filhas para o cortejo. Por
razões óbvias, isso é algo muito importante. Se uma filha
não coopera, a prática do cortejo não irá funcionar.
A confiança está no centro de toda a vida da família.
Confiança é o que torna tolerável o exercício da autori­
dade. Vimos o princípio de que a autoridade dos pais se
estende às questões do coração dos filhos. Os filhos estão
debaixo da autoridade dos pais nas questões relacionadas
ao cortejo; e isso é particularmente verdadeiro para as fi­
lhas. Também vimos na Escritura como os filhos deixam a
casa, e as filhas são dadas em casamento. O homem deixa
pai e mãe, epede a mão da moça em casamento ao pai dela.
Ele fala com o pai dela e pede a permissão para ter o pri­
vilégio de se aproximar de sua filha. O pai irá conceder ou
negar tal permissão. Obviamente, se for um pai piedoso,
nunca tomará essa decisão de forma arbitrária, ou capri­
chosa, ou sem consultar a esposa e a filha.
Para que uma filha se alegre em sua submissão aos
pais nesse quesito, ela obviamente tem de confiar neles.
Essa confiança deve ser construída ao longo dos anos nas
pequenas coisas. Um pai caprichoso e ditador nas pequenas
coisas não pode esperar uma submissão natural e espontâ­
nea de sua filha em uma questão tão importante. Temos de
reconhecer que estabelecer esse padrão de comportamen­
to não é algo que pode ser feito com um estalar de dedos. E
algo que deve ser estabelecido no decorrer de muitos anos.
O apóstolo Paulo insiste que os pais cristãos devem
ser homens sensatos. “Pais, não irriteis os vossos filhos,
para que não fiquem desanimados” (Cl 3.21). Essa pas­
sagem provê uma prescrição geral para o pai. Ela não diz
o que pode deixar um filho desencorajado, mas simples­
mente traz uma exortação geral aos pais. Ora, suponha
que um pai, que está criando uma filha, negligencie essa
admoestação bíblica. Ou, em outras palavras, suponha que
ele desobedeça a ordem dada por Paulo e esteja em peca­
do. Seus filhos estão desanimados porque, por exemplo,
ele constantemente lhes traz dificuldades, criticando-os de
maneira maldosa. Após 17 anos nesse ritmo, sua filha está
se tornando uma linda mulher (ao menos exteriormente),
e os garotos estão começando a rodeá-la. Para infortúnio
da moça, seu pai acaba de comprar este livro e começa a
falar sobre como ele deve assumir a responsabilidade sobre
todo esse negócio de cortejo. A filha está pensando: “Ah,
que ótimo. Ele arruina minha vida, e agora quer estragar
minha única chance de me mandar daqui?”.
A paternidade arrogante e importuna é uma receita
para o desastre. Se os pais não estão construindo a confian­
ça em suas filhas, desde quando elas são pequenas, por meio
do amor, cuidado, compaixão, e a severidade quando ne­
cessária, então a filha terá muita dificuldade em confiar no
pai quanto a um assunto tão importante. Gostamos de nos
enganar, pensando que podemos ser egoístas nas pequenas
coisas porque nossos filhos são pequenos, mas que, quan­
do alguma coisa realmente importante surgir, estaremos lá
para agir de modo altruísta. Essa é uma mentira lisonjeira.
Os pais devem se preparar para agir da maneira certa nas
grandes coisas agindo da maneira certa nas pequenas coi­
sas. A exortação do apóstolo Paulo aqui se dirige especial­
mente aos pais. Se um homem tem por hábito, como pai,
ser egoísta nas pequenas coisas, também será egoísta nas
grandes coisas. Se seus filhos crescem vendo-o como uma
pessoa egoísta, e o pai então começa a exercer autoridade
em questões relacionadas ao cortejo bíblico, no mínimo os
filhos ficarão irritados. E poderia ser diferente?
A Bíblia ensina que nós colhemos aquilo que semea­
mos. Agradecemos a Deus por sua misericórdia, porque
certamente não colhemos tudo o que semeamos. Mas por­
que Deus tem misericórdia de nós em diversas situações, a
nossa tentação é começar a tirar conclusões erradas sobre
a graça de Deus e pensar que temos o “direito” de desfru­
tar de tal graça em todas as nossas tolices. Não queremos
ter de arcar com as conseqüências do modo de tratamento
desobediente e desencorajador que temos para com nossas
filhas. A Bíblia ensina que essa é uma esperança vazia.
Uma jovem que foi devidamente criada ouvirá esse
ensino sobre cortejo e se sentirá aliviada. Ela não tem de
“enfrentar” os rapazes sozinha. Mas ela só poderá ficar ali­
viada se tiver um pai que vem lhe fazendo o bem de modo
consistente ao longo dos anos, e ela sabe disso. Esse é o
tipo de padrão que os pais devem vivenciar a fim de esta­
belecer suas “credenciais de cortejo”.
Na Escritura, permanece a verdade de que se um ho­
mem não tem sido um pai obediente, nem por isso perde
sua autoridade paterna. Ele pode ter sido um péssimo pai,
mas continua sendo pai. Então, mesmo se o pai tem sido
desobediente, isso não dá à filha o direito de ser indiferente
ao que ele diz. O que estou dizendo aqui é que um homem
simplesmente estará tornando a vida mais difícil para si mes­
mo e para sua filha, se ele não a tratar da forma certa ao longo
da vida. Deve haver amorosa confiança entre pai e filha. Ela
deve saber que, quando chegar a uma questão dessa impor­
tância, ninguém tentará impor sobre ela alguma “mercadoria
de segunda categoria” por algum motivo egoísta. Seu pai ja­
mais aprovaria algo sem ter em mente sempre o melhor para
sua filha. E ela sabe que ele não será egoísta nas grandes coi­
sas porque sabe que ele não tem sido egoísta nas pequenas.
Com isso em mente, que tipo de direção e preparação
os pais devem prover para suas filhas?

M O D É S T IA E IN TR A N S IG Ê N C IA
A Bíblia claramente exige que as mulheres cristãs sejam
modestas. Frequentemente percebemos que há uma clara
relação entre o modo como uma mulher se veste e o fato
de haver ou não homens em volta dela — e, é claro, há
outra conexão relacionada ao tipo de homens que estarão
ao seu redor. E importante para os pais perceberem que a
modéstia exclui duas práticas que hoje, infelizmente, são
comuns entre os cristãos.
A Bíblia ensina que as mulheres não devem se vestir
de modo provocante (Mt 5.28). A tentação à concupiscên-
cia varia entre filhos e filhas. O s rapazes querem perceber ,
as moças querem ser percebidas. Nenhum dos sexos deve
ceder a esse impulso.
Os homens respondem visualmente às mulheres.
Imagine um jovem que vê uma garota na rua, a encara, e
fica louco para conhecê-la. Ao que ele está respondendo?
A sua grandeza de alma? A sua mente brilhante? A do­
çura e gentileza de seu espírito? E claro que não! Ele está
respondendo à sua aparência. Ora, em si, não há nada de
errado nisso, nem com mulheres buscando ser lindas e
atrativas. Mas há uma profunda diferença entre buscar ser
atrativa e tentar ser sedutora.
Os pais são responsáveis pela modéstia de suas filhas.
Já foi mencionado neste livro que certo tipo de “proble­
ma de relacionamento” não é de fato um problema real de
relacionamento. Se um rapaz simplesmente fala com uma
garota e imagina que ela gosta dele, e constrói esse rela­
cionamento intenso em sua cabeça, então ele tem um pro­
blema pessoal. D o mesmo modo, se uma mulher atrativa é
“cobiçável”, esse é um problema do homem. A Bíblia não
exige que as garotas bonitas usem “roupas dos tempos da
vovó” para não ser motivo de tropeço para o seu próximo.
Também é muito claro que as mulheres podem fazer
certas coisas que irão atrair “um olhar errado”, e estimular
os homens a responder de modo impuro. Dizendo de modo
simples, uma garota deve se “cobrir”. Ela não deve vestir-se
de um modo que um homem piedoso tenha de desviar-se
pegando outro caminho ou subir numa árvore para esca­
par dela. Se ele tem de olhar para cima sempre que fala com
ela, um jovem piedoso deve pensar: “Onde está o pai dela?
Com o o pai permite que ela saia vestida desse jeito?”.
A resposta é que o pai dela a deixa sair vestida dessa
forma porque ele abdicou de sua responsabilidade. O prin­
cípio é muito simples; se as meninas se vestem de forma
despudorada, elas irão atrair o tipo errado de atenção. Ga­
rotos gostam de desejar e as garotas gostam de ser desejadas.
Os pais devem ensinar a suas filhas o domínio próprio por
meio do amor dentro de um relacionamento seguro que
exclua qualquer tendência à exibição. Além disso, as mães
piedosas irão ensinar às suas filhas as técnicas da modéstia.
Muitas vezes o pai cristão tem mais reservas do que o
mundo em tratar desse assunto com sua filha. Ele não quer
dizer: “não se vista assim, minha filha!”, por medo de fazê­
-la pensar que ele tem uma mente maliciosa. E realmente
não quer ter de explicar à sua filha que cinqüenta por cento
da população mundial irá perceber o que ele acaba de no­
tar, e ele não quer dizer a ela exatamente o que aqueles cin­
qüenta por cento irão pensar. Ela pode fingir que não sabe,
mas, é claro, ela conhece perfeitamente que tipo de reação
aquele tipo de roupa irá causar. Ela pode não ter pensado
sobre isso profundamente, mas essa é a reação que deseja:
uma reação carnal. Ela deve aprender a fazer tal concessão.
O pai não deve esperar que, depois de se casar, o marido
dela ponha ordem na casa. Ou que talvez o novo padrão de
roupas da escola cristã local resolva o problema. Ele não
deve esperar que outra pessoa trate disso. O pai não pode
fugir da responsabilidade que pesa sobre ele.
Em segundo lugar, as mulheres cristãs não devem se
adornar de modo exagerado (lP e 3.3). Não devem pen­
sar que têm o direito de ficar se exibindo no Shopping (Is
3.16-26). Em resumo, uma filha virgem deve ser ensinada
a vestir-se de modo compatível com a atitude do homem
honrado que irá pedir sua mão em casamento. Se a sua ma­
neira de se vestir é sedutora, em vez de atrativa, então nem
todo homem que sentir-se atraído por ela estará interessa­
do em casamento.
N o contexto de 1Pedro 3.3, vemos a instrução apos­
tólica às mulheres casadas, mas o ensino se aplica igual­
mente às solteiras. O modo como as jovens mulheres se
comportam quando são virgens também afeta o modo
como se comportam quando são casadas. Pedro diz que as
mulheres não devem deixar a “beleza” ser uma questão de
adorno exterior. Contudo, os cristãos modernos gostam
de reagir desproporcionalmente a quaisquer referências a
esse ensino apostólico, e acusam aqueles que mencionam
esse versículo de querer instituir uma “ditadura de roupas
cafonas”. A questão se complica ainda mais em razão da­
queles crentes que pensam que o apóstolo está endossando
a simplicidade para as mulheres. Com o em muitos outros
assuntos, o equilíbrio encontra-se no meio.
Temos de entender a história e a cultura do primeiro
século. Na cultura do Império Romano, as mulheres cos­
tumavam realmente extrapolar os limites na aparência pes­
soal. O problema tratado por Pedro não é, em si, a questão
dos arranjos no cabelo, ou a falta de modéstia das tranças.
Não, Pedro está dirigindo sua atenção às mulheres que es-
tavam ostentando, exibindo-se. As mulheres daqueles dias
chegavam a trançar joias no cabelo, e, depois, salpicá-lo
com pó de ouro. Pedro está dizendo que as mulheres cris­
tãs não devem se expor desse modo imodesto.
Alguns cristãos defendem, baseados num entendi­
mento errado dessa passagem, que “é pecado usar maquia­
gem”. Pedro está ensinando que é pecado para uma mulher
parecer que caiu com a cara no estojo de maquiagem, ou
que se maquiou com uma colher de pedreiro. “Não seja o
adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos,
adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém
A questão é que as mulheres devem procurar ser belas
de certo modo, através do “homem interior” do coração.
Esse não é o equivalente cristão do “ela tem uma persona­
lidade linda”. Sara é o exemplo dado por Pedro. D o mesmo
modo que ela obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor,
as mulheres cristãs devem buscar ser filhas dela, pratican­
do o bem. Sara foi externamente uma mulher muito bonita,
mesmo na velhice, mas sua beleza se originava do interior
e, então, vinha à tona. D o mesmo modo, as filhas devem
ser ensinadas a cultivar a beleza interior de um espírito
manso e tranqüilo. A paz deve permear o comportamento
de uma jovem mulher. Deve haver uma ausência de ansie­
dade, de modo que a mansidão interior se exteriorize. E tal
mansidão tornará as filhas belas em seu exterior.
Em nossa sociedade, as mulheres ouvem ad nauseam ,
por aqueles pacotes de mentiras periódicas chamados de
“revistas femininas”, que é responsabilidade delas vestir-se
de tal forma a conseguir “segurar” seu homem. Uma mu­
lher pode ser capaz de fazer isso com sucesso aos 20 anos,
e ter de trabalhar um pouco mais duro nisso aos 30 e 40
anos. Sendo que, se ela ainda engole toda essa tolice, ela
realmente terá de trabalhar nisso aos 50 e 60 anos, porque
estará sempre competindo com as mulheres de 20 anos. Se
uma esposa trata a fidelidade no casamento como um prê­
mio a ser obtido por meio da competição, então, em algum
lugar, em algum momento, ela será derrotada. Esse é o ca­
minho do mundo. Mas se ela age como uma mulher cristã,
quanto mais velha se torna, mais linda e serena se torna
(lP e 3.5). Isso significa que os pais que estão preparando
suas filhas para serem dadas em casamento não devem dei­
xar que elas se exibam em ostentação.
Considere o que Isaías pensa das filhas de Sião que
gostavam de exibir sua formosura no mercado. Deus não
tem consideração pela beleza externa quando ela é a única
coisa que existe. Se a beleza se limita simplesmente a uma
crosta externa, o resultado é drástico. Com o Provérbios
comenta, uma mulher linda sem discrição é como uma joia
de ouro no focinho de um porco. Essas duas coisas não
combinam. Uma mulher que é externamente atrativa sem
um espírito manso é, segundo a Escritura, antipática.

Diz ainda mais o Se n h o r : Visto que são altivas as filhas de


Sião e andam de pescoço emproado, de olhares impudentes,
andam a passos curtos, fazendo tinir os ornamentos de seus
pés, o Sen h o r fará tinhosa a cabeça das filhas de Sião, o Se­
nhor porá a descoberto as suas vergonhas. Naquele dia, tirará
o Sen h o r o enfeite dos anéis dos tornozelos, e as toucas, e os
ornamentos em forma de meia-lua; os pendentes, e os bra-
celetes, e os véus esvoaçantes; os turbantes, as cadeiazinhas
para os passos, as cintas, as caixinhas de perfumes e os amu­
letos; os sinetes e as joias pendentes do nariz; os vestidos de
festa, os mantos, os xales e as bolsas; os espelhos, as camisas
finíssimas, os atavios de cabeça e os véus grandes. Será que
em lugar de perfume haverá podridão, e por cinta, corda; em
lugar de encrespadura de cabelos, calvície; e em lugar de veste
suntuosa, cilício; e marca de fogo, em lugar de formosura. (Is
3.16-24)

O profeta Isaías aparentemente não tinha um bom


conceito das supermodelos de sua época, ou das mulheres
que queriam ser iguais a elas. E óbvio que a questão não é a
legitimidade de uma pulseira ou de um brinco. A questão é
de atitude. Deus odeia o orgulho e a arrogância, que certa­
mente podem ser manifestados por meio de um pendente
no tornozelo, e por vários outros adereços. Uma rápida
passada num Shopping Center demonstrará o quanto es­
tamos dedicados a deixar as mulheres bonitas apenas pelo
lado de fora. A questão não é se as mulheres podem se
vestir bem, mas se há uma dedicação idólatra. Deus amea­
çou trazer juízo sobre Israel em razão dessa arrogância e
orgulho estéticos, exibidos nas ruas do antigo Israel. Os
pais cristãos, portanto, não devem deixar suas filhas vir­
gens agirem como se não fossem virgens, ou como se não
quisessem ser virgens.
Se uma filha se veste de tal modo que atrai sobre si
atenção sexual, isso é sedutor e errado. Ela deve vestir-se
de uma maneira que qualquer um que se sinta atraído por
ela possa, de modo sincero e honesto, dirigir-se ao pai dela
e contar a ele sobre tal desejo. Se ela está se vestindo de
maneira modesta e um jovem se aproxima de modo errado,
ele não irá poder falar honestamente com o pai dela. E o
pai, quando sabe o que está acontecendo, não vai permitir
que ele se aproxime dela para cortejá-la. O pai procurará
um pretendente que se sinta atraído por sua filha, desde
que a atração seja piedosa e honrada.
Nossa cultura age como se tudo fosse sexo; a permis-
sividade sexual é um de nossos grandes deuses. O s pagãos
modernos veem sexo em tudo, até que os cristãos façam
o mesmo. Quando isso acontece, os pagãos respondem:
“Este é o problema com vocês, cristãos: vocês veem sexo
em tudo”. Devemos ignorar esse padrão dúbio porque
nosso único padrão é a Palavra de Deus. Quando um pai
deixa sua filha sair em público, ele é responsável pela forma
como ela se veste, e ele deve estar disposto a responder
pelo que ela aparenta, e que tipo de homens ela atrai. Se ela
está sempre atraindo “o tipo errado de homem”, é porque
seu pai é “o tipo errado de pai”.
Os cristãos não são ingênuos; sabemos que somos
seres sexuais, e que somos sempre assim. O que distingue
o cristianismo do mundo não é a falta de consciência da
presença de nossa sexualidade em tudo. Antes, os cristãos
entendem a constante presença da aliança de Deus gover­
nando cada aplicação de nossa sexualidade. Consequente­
mente, conduzimos nossos relacionamentos de cortejo de
maneira muito cautelosa, não porque a sexualidade é algo
sujo, mas por causa de seu potencial de dominar.
O mundo zomba de nós, e diz que temos pavor de
sexo. Mas olhe para a cultura que está a nossa volta e con­
sidere se estamos corretos em temer o poder destrutivo do
sexo quando ele é deixado fora da proteção pactuai de Deus.
Tais proteções pactuais são, em grande medida, proteções
para as mulheres. C. S. Lewis certa vez comentou que “uma
sociedade na qual a infidelidade conjugal é tolerada sempre
será, no fim das contas, uma sociedade inimiga das mulhe­
res”. Eis uma grande verdade: nossa cultura odeia e despre­
za as mulheres, a despeito de toda a retórica feminista em
contrário. E quando uma sociedade odeia as mulheres, é
dever supremo dos pais proteger sua esposa e filhas.
O pai não tem a obrigação de resguardar sua filha do
sexo; se tem tal pretensão, ele está desobedecendo a Deus.
A questão importante diz respeito a moralidade, não a
um pudor exacerbado. E falso e antibíblico tratar o corte­
jo como se ele fosse uma coisa inteiramente “espiritual”,
quando não o é. O relacionamento de cortejo bíblico deve
ser tratado de maneira cuidadosa pelos cristãos porque ele
é um relacionamento sexual instável. O fato de ele não ser
um relacionamento consumado não o livra de ser sexual.
Quando um jovem aborda o pai de uma garota, de forma
alguma ele está pretendendo que algo platônico ou espi­
ritual aconteça. “Seu Antônio, o senhor me permite falar
com sua filha sobre missões?”. O jovem casal está lá fora
jantando em um restaurante, não no terceiro céu. O rela­
cionamento sexual está lá, como uma pistola carregada e
engatilhada, pronta para disparar. Um jovem piedoso que
vai tratar com o pai de uma garota está buscando um rela­
cionamento sexual com a filha de tal homem. O fato de o
pretendente ir até o pai não significa que o pai deve fingir
que não existe atração sexual pela sua filha por parte do
pretendente. Simplesmente significa que ele está buscando
um relacionamento sexual honesto de um modo honrado
e bíblico.

P O R O U T R O L A D O ...
A Bíblia é muito clara em exigir que os pais protejam suas
filhas. A Escritura é igualmente clara em dizer que os de-
veres femininos incluem ser modesta e fugir do exibicio­
nismo ostentador. Por isso ser tão claro, muitos cristãos
conservadores têm enfatizado apenas esse ensino, em de­
trimento de tudo o mais que a Bíblia diz a esse respeito. E
óbvio que quando uma garota sai de casa com uma blusa
desabotoada, o pai dela a está deixando desprotegida. E
menos óbvio que se ela reagir contra sua própria femini­
lidade, e vestir um macacão o tempo todo, ela está igual­
mente desprotegida, embora em uma área diferente.
A Bíblia tem em grande estima a importância da bele­
za feminina. Isso é mencionado com frequência; é enfati­
camente louvado. Além disso, o aspecto sexual envolvido
nisso não é oculto ou desprezado. Esse entendimento é
também algo que o pai deve cuidar em inculcar em seu lar.
Há três áreas que devem ser mencionadas aqui. A pri­
meira diz respeito à beleza feminina, a segunda abrange o
alerta bíblico quanto ao enxerto cosmético à beleza femi­
nina, e a última área envolve o elemento sexual. Todas elas
devem estar em harmonia com a discussão anterior sobre a
admoestação do apóstolo Pedro, e igualmente com a preo­
cupação expressa pelo apóstolo Paulo: “Da mesma sorte,
que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modés­
tia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou
pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras
(como é próprio às mulheres que professam ser piedosas)”
(lT m 2.9-10).
Primeiro, a Bíblia reconhece e aprova o fato óbvio da
beleza feminina — ela a admite como parte da criação de
Deus. O patriarca Abraão casou-se com uma mulher boni­
ta. “Quando se aproximava do Egito, quase ao entrar, disse
a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher de formosa
aparência” (Gn 12.11). Quando Abraão chegou ao Egito,
ficou claro que os egípcios partilhavam dessa opinião (Gn
12.14). O interesse por mulheres bonitas aparentemente
se disseminou na família, porque Isaque também despo-
sou uma linda mulher. “A moça era mui formosa de aparên­
cia, virgem, a quem nenhum homem havia possuído [...]”
(Gn 24.16). Jacó seguiu o exemplo de seu pai e do seu avô,
quando amou e desposou a Raquel. “Raquel era formosa
de porte e de semblante” (Gn 29.17). Por várias razões,
reagimos contra afirmações bíblicas tão claras. Uma razão
é que vivemos em uma época igualitária, e dizer que uma
mulher é muito bonita implica que outra mulher possa ser
um pouco menos bonita. A implicação está correta; o erro
está na conclusão igualitária de que há alguma injustiça
nisso.
A outra preocupação pode vir da parte de muitos
cristãos “conservadores” e santarrões, que se embaraçam
com o fato de a Bíblia registrar que Raquel era linda como
se tivesse sido esculpida à mão. Talvez digam: “Isso não é
muito bíblico”. Mas, de fato, a Bíblia é quem define aqui­
lo que é bíblico ou não. O autor de Gênesis não diz sim­
plesmente que ela era linda do pescoço para cima; ele nos
diz que ela tinha uma bela forma. Discutiremos isso mais
adiante, mas a modéstia cristã não exige que a mulher pa­
reça um homem.
Abigail foi uma combinação maravilhosa de beleza
e inteligência (lSm 25.3). Ester era uma mulher linda (Et
2.7) que substituiu Vasti, outra linda mulher (Et 1.11). As
filhas de Jó foram comparadas em beleza a todas as outras
filhas de sua terra, e a Bíblia nos diz que elas eram mais
formosas (Jó 42.15). A beleza da noiva-descrita no livro
Cântico dos Cânticos era grande o suficiente para fazer o
marido temer (C t 6.4). Em várias partes da Bíblia, vemos a
beleza feminina sendo descrita e louvada. Claramente, não
há nada errado em que as filhas da igreja cristã busquem ser
bonitas desse modo. Isso é parte da ordem criada por Deus.
Os cosméticos também são parte do projeto divino.
Ao lerem as passagens anteriormente mencionadas, alguns
concluem erroneamente que maquiagem é algo pecami­
noso, e que é vaidade para uma jovem adornar-se artifi­
cialmente. C om o já discutimos, há um ponto quando uma
mulher está confiando em seus cosméticos e joias de um
modo pecaminoso. Mas esse ponto não é necessariamente
quando ela faz uso de tais coisas.
O Senhor se descreve adornando sua noiva pactuai,
Israel, desse modo. Obviamente, o exemplo seria impró­
prio se Deus estivesse fazendo com sua noiva aquilo que
não é lícito a um homem fazer com sua própria noiva. Ve­
jamos a descrição bíblica:

Passando eu por junto de ti, vi-te a revolver-te no teu sangue


e te disse: Ainda que estás no teu sangue, vive; sim, ainda
que estás no teu sangue, vive. Eu te fiz multiplicar como o
renovo do campo; cresceste, e te engrandeceste, e chegaste a
grande formosura; formaram-se os teus seios, e te cresceram
cabelos; no entanto, estavas nua e descoberta. Passando eu
por junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de
amores; estendi sobre ti as abas do meu manto e cobri a tua
nudez; dei-te juramento e entrei em aliança contigo, diz o S e ­
nhor Deus; e passaste a ser minha. Então, te lavei com água,
e te enxuguei do teu sangue, e te ungi com óleo. Também te
vesti de roupas bordadas, e te calcei com couro da melhor
qualidade, e te cingi de linho fino, e te cobri de seda. Também
te adornei com enfeites e te pus braceletes nas mãos e colar
à roda do teu pescoço. Coloquei-te um pendente no nariz,
arrecadas nas orelhas e linda coroa na cabeça. Assim, foste
ornada de ouro e prata; o teu vestido era de linho fino, de seda
e de bordados; nutriste-te de flor de farinha, de mel e azeite;
eras formosa em extremo e chegaste a ser rainha. Correu a
tua fama entre as nações, por causa da tua formosura, pois era
perfeita, por causa da minha glória que eu pusera em ti, diz o
Sen h o r Deus. (Ez 16.6-14)

Nessa passagem, o Senhor Deus adornou sua noiva.


Ele a lavou com água, ungiu com óleo, a vestiu de roupas
bordadas, enfeites, braceletes, e uma coroa. Tudo isso são
presentes de Deus, e são tratados de modo muito distinto
do vestir-se arrogante e altivo descrito por Isaías. Em várias
passagens da Escritura, o costume das mulheres de ador­
nar-se com joias é reconhecido e praticado. Quando a bele­
za interna é esquecida, e as mulheres começam a adorar-se
apenas externamente, e começam a confiar apenas no exte­
rior, os resultados são, biblicamente falando, horrorosos.
Mas quando uma mulher teme a Deus e adorna-se para seu
marido, tal prática é louvada. Quando o servo de Abraão
encontrou Rebeca pela primeira vez, ele pôs um pendente
no nariz dela (Gn 24.47). Depois, lhe deu “joias de ouro
e de prata e vestidos” (Gn 24.53). A noiva que o livro de
Cântico dos Cânticos descreve adornou-se com perfume.
“Que belo é o teu amor, ó minha irmã, noiva minha! Quan­
to melhor é o teu amor do que o vinho, e o aroma dos teus
unguentos do que toda sorte de especiarias!” (C t 4.10).
A prática das jovens de adornar-se era tão comum en­
tre o povo de Deus que foi facilmente usada como uma
comparação corriqueira. Quando Isaías profetizou uma
grande bênção para o povo de Deus, ele a expressou deste
modo: “Levanta os olhos ao redor e olha: todos estes que
se ajuntam vêm a ti. Tão certo como eu vivo, diz o S e ­
nh o r , de todos estes te vestirás como de um ornamento e
deles te cingirás como noiva” (Is 49.18). A salvação é glo­
riosa; a salvação é maravilhosa; a salvação é como uma joia.
“Regozijar-me-ei muito no S e n h o r , a minha alma se alegra
no meu Deus; porque me cobriu de vestes de salvação e
me envolveu com o manto de justiça, como noivo que se
adorna de turbante, como noiva que se enfeita com as suas
joias” (Is 61.10). Jeremias pergunta: “Acaso, se esquece a
virgem dos seus adornos ou a noiva do seu cinto? Todavia,
o meu povo se esqueceu de mim por dias sem conta” (Jr
2.32). Esquecer-se do Senhor é comparado àquilo que uma
noiva jamais faria: esquecer ou perder seus ornamentos
nupciais. N o Antigo e no Novo Testamentos, as noivas
se adornam, e elas fornecem uma maravilhosa imagem da
graça salvadora de Deus para com seu povo. “Vi também a
cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte
de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu espo­
so” (Ap 21.2). Em suma, a crença que alguns cristãos têm
de que joias, maquiagem, perfumes, boas roupas, etc., são
necessariamente coisas mundanas é completamente equi­
vocada. Quando os pais estabelecem padrões para seu lar,
eles devem ser cuidadosos em exigir equilíbrio de suas fi­
lhas. Não existe qualquer exigência bíblica para que as ga­
rotas andem vestidas “com lençóis”; ao mesmo tempo, não
há um cheque em branco para que imitem as várias formas
de ostentação exibidas pelo mundo.
O último aspecto a ser tratado talvez seja o mais pro­
blemático para alguns pais. A Bíblia exige modéstia sexual
e decoro das filhas de famílias bíblicas. Contudo, essa não
é uma exigência para que as mulheres finjam que são outra
coisa e não mulheres, ou para que os homens finjam que as
mulheres são outra coisa. A exigência de modéstia não é
uma exigência de assexualidade.
Em Israel, quando uma moça era madura o suficien­
te para um relacionamento sexual, ela era considerada apta
ao casamento. Na passagem de Ezequiel, mencionada an­
teriormente, quando o Senhor olhou para a nação de Israel
e viu que seu tempo era “tempo de amores”, a palavra he­
braica dodim indica que ela estava pronta para o ato sexual.
Quando uma pequena garota se torna uma jovem virgem,
sua aptidão sexual não é um segredo sombrio. N o Cântico
dos Cânticos, os irmãos da Sulamita (e os irmãos sempre
fazem isso) não acreditam que ela já está pronta — “Temos
uma irmãzinha que ainda não tem seios; que faremos a esta
nossa irmã, no dia em que for pedida?” (C t 8.8). A Sulamita
responde indignada a essa afirmação, dizendo: “Eu sou um
muro, e os meus seios, como as suas torres; sendo eu assim,
fui tida por digna da confiança do meu amado” (C t 8.10).
O equilíbrio é que uma mulher deve ser preparada
para ser modesta, e não ostentar seu corpo ou exibi-lo
de maneira lasciva. Ao mesmo tempo, não se deve fazê-la
pensar que é pecado ter uma silhueta de mulher. A defi­
nição cristã de modéstia feminina colide não apenas com
a impudicícia do mundo, mas também com as restrições,
por exemplo, do islamismo.

PRO TEÇÃO PATERNA


Na tarefa de proteger as filhas, o pai deve entender que o
caminho que ele lhes aponta é diferente do caminho a ser
apontado para os filhos. Ele está estabelecendo um exem­
plo para que seus filhos homens o imitem. Eles querem ser
como o pai, aprender dele, tratar a esposa como o pai trata
a mãe deles. O filho vai imitando o modo como seu pai
se comporta. Porém, a filha não está usando o pai como
um padrão a ser imitado, está antes olhando para ele como
um padrão ou exemplo a ser usado quanto a um potencial
marido. Ela não está se tornando como o pai; ela deve que­
rer casar com alguém que seja como seu pai. Um pai deve
ser capaz de dizer, com boa consciência: “Eu não quero
que você sequer pense em um homem a menos que você
o respeite tanto quanto você me respeita”. Esse não é um
padrão inimaginável; Deus criou as filhas para responde­
rem favoravelmente a isso. As filhas são capacitadas para
honrar e respeitar outro homem mais do que a seu próprio
pai, mas ele tem de ser o tipo certo de homem. Um pai não
estabelece esse padrão para assegurar que ela não encontre
homem algum. Antes, está assegurando que ela irá conse­
guir um bom homem, alguém que irá cuidar dela.
Quando a Bíblia diz que a esposa deve honrar o ma­
rido, ela está também dizendo às filhas virgens o que elas
devem se preparar para fazer. O s pais precisam firmar um
padrão de amor pela esposa de modo que sirva de treina­
mento para os filhos homens quanto a como amar uma
mulher, e que as filhas possam saber o que é razoável espe­
rar de um homem piedoso. Uma vez que as filhas associam
amor com segurança, é muito importante o modo como o
pai trata a esposa, e como trata suas filhas. Se uma jovem
não está sendo amada biblicamente, o resultado é insegu­
rança. E insegurança deixa uma filha com fragilidades na
área sexual.
Nossa cultura nos diz tantas mentiras sobre os ho­
mens e mulheres que é difícil saber por onde começar a
desmascará-las. Uma mentira central é que as mulheres
que são imorais estão interessadas em sexo do mesmo
modo que os homens. Isso é simplesmente falso. Homens
imorais têm problema com o domínio próprio quanto ao
apetite carnal. Mulheres imorais geralmente estão deses­
peradas pela segurança de um relacionamento duradouro;
elas estão algumas vezes tão desesperadas que tentam de
tudo. Agora, é claro que as mulheres podem ter o coração
tão endurecido igualmente a qualquer homem. A mulher
adúltera descrita no livro de Provérbios podia limpar a
boca e dizer: “Não cometi maldade”. As mulheres podem
se tornar tão endurecidas que passam a agir como os ho­
mens em sua atitude quanto a relações sexuais. N o pri­
meiro capítulo de Romanos, Paulo diz que “até mesmo as
mulheres” podem atingir esse nível de depravação sexual.
Então, como um pai pode proteger sua filha? Primei­
ro, ele deve ensiná-la a honrar o pai e a mãe para que, quan­
do ela se casar, saiba como honrar e respeitar seu marido.
Em segundo lugar, o pai deve amar a filha de uma manei­
ra tangível. Ele deve comunicar esse amor e segurança —
mostrar para que ela entenda, receba, e se aproprie desse
amor, de tal modo que isso se torne uma parte permanen­
te de seu estado de espírito. Ela não deve ser entregue à
“fome” de atenção masculina. Pais que deixam suas filhas
“famintas” dessa forma irão arranjar problemas quando a
inevitável atenção dos jovens chegar.
Lembro-me de uma conversa que meus pais tiveram
no carro certa vez quando eu era garoto, a respeito de uma
visita a alguns conhecidos. Naquela família, havia uma ga­
rota muito jovem, e no caminho de casa meu pai comentou
com a minha mãe que os pais daquela garota teriam proble­
mas com relação aos homens tão logo ela ficasse um pou­
co mais velha. Alguns anos depois, foi exatamente o que
aconteceu. Mas como ele sabia disso? Quando sentou-se
naquela casa, sendo praticamente um desconhecido para
aquela pequena garota, percebeu que ela estava vidrada
nele, “faminta” de atenção. Quando uma pequena garota
não recebe do pai a atenção de que necessita, ela continua
“faminta” de atenção masculina e irá buscá-la em outro lu­
gar. Ora, quando uma pequena garota faz isso com alguém
que não conhece, ela provavelmente vai dar dor de cabeça.
E o que acontece quando essa jovem garota, ainda “famin­
ta” de atenção masculina, de repente amadurece e se tom a
sexualmente atrativa? Ela ainda tem a mesma “fom e” que
tinha há muitos anos. Ela é agora sexualmente desejável,
mas seu interesse em relacionamentos com homens não é
um interesse sexual. Ela está “faminta” por causa da segu­
rança que seu pai não lhe deu. Essa história triste tem se re­
petido com muita frequência. E claro que histórias tristes
não servem de base se estão dissociadas da lei de Deus. A
falta de amor e atenção de um pai não pode justificar, e de
fato não justifica, a imoralidade por parte da filha.
Entretanto, a lei de Deus se aplica a outras áreas além
das questões sexuais, incluindo a proibição de fazer o pró­
ximo tropeçar — isso também inclui as filhas. O s pais não
devem deixar suas filhas desprotegidas nesse quesito. Eles
devem dar segurança; a filha deve estar protegida, e ela
deve saber disso. Quando ela encontra um homem a quem
respeita e honra, o pai não deve se espantar com a ideia de
que ela se ligue tanto a esse homem ao ponto de ir embora
com ele. Deus a fez de modo que ela quer ser dada por um
homem piedoso a um homem piedoso. Ela quer ser despo-
sada, e quer transferir sua lealdade ao seu novo lar.

R E S P O S TA S P IED O S A S
Há quatro situações básicas para as quais uma garota cris­
tã precisa ser preparada. Se foi bem criada, ela irá combi­
nar em seu comportamento uma mansidão de espírito —
pronta a responder a um pretendente piedoso — com uma
firme e articulada habilidade de mandar alguém embora.
Vamos começar com as situações mais fáceis.
Primeiro, as filhas precisam saber como lidar com es­
tranhos. Isso significa que garotas cristãs precisam aprender
um tipo de “indelicadeza piedosa”. Em uma cultura corrup­
ta como a nossa, essa habilidade é cada vez mais necessária.
Se foi bem ensinada, ela irá aprender a incorporar em seu
comportamento uma mansidão de espírito que resultará em
beleza cristã, junto com uma firme e articulada habilidade
de dizer não de todas as maneiras apropriadas. Se a filha é
irresistivelmente atraente, ela precisará aprender uma “santa
indelicadeza”. Na rua, ela será abordada por homens des­
pudorados que irão dar cantadas e fazer propostas sexuais.
Jovens cristãs precisam saber como responder secamente.
Em certas situações, ser educado é comprometer a fé.
Muitas mulheres cristãs têm aprendido que ser inde­
licada é, digamos, indelicado. Mas quando a glória de Deus
está em questão, bem como a honra de uma virgem cristã,
as garotas cristãs precisam aprender a ser indelicadas. Essa
habilidade de reagir fortemente está sendo cada vez mais ne­
cessária à medida que nossa cultura se deteriora. Quando os
anjos visitaram Ló em Sodoma, a casa dele foi logo rodeada
por sodomitas que queriam alguma diversão. Não estamos
longe dessa atitude que considera a atratividade sexual em
qualquer lugar como um tipo de propriedade pública.
Vários anos atrás, durante “O Caso Irã-Contras”,3
um pequeno incidente no meio da grande controvérsia re­
velou o fato de que nós já tínhamos a mentalidade de So­
doma. Talvez o leitor se recorde de que o secretário Oliver
N orth nomeou Fawn Hall, e ela era uma mulher muito
atraente que se tornou uma figura pública em razão da bal-
búrdia política. Uma das revistas pornográficas de sucesso
na época a convidou para pousar nua. Nossa sociedade ha­
via chegado a um ponto no qual, se alguém é sexualmen­
te atrativo, presume-se que existe o “direito” de exigir de
tal pessoa favores sexuais. Em uma cultura tal como essa,
as mulheres cristãs devem estar preparadas (no nome do
Senhor, para a glória de Deus) a dizer aos homens que a
abordam que “vão catar coquinho [...]” ou “vão ver se es­
tou na esquina”.
Em segundo lugar, as moças cristãs precisam ser en­
sinadas a “criar uma distância regulamentar” para conhe­
cidos casuais. Filhas e pais precisam evitar ser ingênuos
quanto a desconhecidos amigáveis, seja na igreja, escola,
grupo de jovens, etc. Moças cristãs precisam saber como
“criar uma distância regulamentar” para conhecidos sem
ser grosseiras. Uma jovem cristã não deve pensar que só

5 N o m e dado a um escândalo p o lítico -eco n ô m ico o co rrid o nos E stad os


U n id os, na década de 80. - N . do E.
porque ele “não me chamou para sair” ou “não falou com
meu pai”, isso significa que ele não está interessado nela.
Se ele está em volta, se “acontece” de ele estar ali frequen­
temente, se ele aparece em todo estudo bíblico em que ela
está, então é melhor concluir que ele está interessado. Esse
flerte disfarçado pode ser agradável e parecer inofensivo
em situações de grupo, mas é extremamente tolo. Em con­
textos sociais com vários conhecidos, uma jovem precisa
saber como ser calorosa, amigável e distante. Esse procedi­
mento é algo que ela deve aprender com seus pais.
Em terceiro lugar, uma moça deve saber como lidar
com os homens que, de modo aberto e honrado, se apro­
ximam dela — homens que a pedem em namoro. Suponha
que o rapaz venha e diga: “Podemos sair juntos?”. A moça
deve estar preparada para dizer: “Você precisa falar com
meu pai”. Desse modo o pai é reconhecido por ela como
sendo a autoridade nessa questão. Se o jovem então vai ao
pai, este não deve confirmar nada até ter uma chance de
falar com a filha acerca do pretendente. Ele dirá a ela o que
pensa sobre o jovem, e perguntará o que ela acha.
N em sempre é possível o rapaz falar prim eiro com
o pai da moça. Ele pode não saber quais os padrões de
cortejo mantidos pela família, pode não saber quem
é o pai dela, etc. O im portante é que a autoridade do
pai seja representada pela filha em qualquer conversa
com pretendentes em potencial. Tal autoridade deve ser
imediatamente reconhecida pelos pretendentes. Usado
da forma correta, esse é um trem endo alívio para a filha.
Se o pai sempre dem onstrou buscar o bem -estar dela
sob a autoridade da Palavra de Deus, então ela pode
descansar segura. Isso dá segurança , porque ela sabe que
seu pai irá protegê-la.
Por fim, é importante saber que um jovem que vai
primeiro ao pai da moça — alguém que está “fazendo a
coisa certa” — nem por isso tem necessariamente qualquer
vantagem. Falar com o pai de uma moça não garante uns
pontinhos a mais nem torna o pretendente mais legal. Sim­
plesmente porque descobriu o procedimento para cortejá­
-la não significa que o sujeito é o homem correto para ela.
O s pais devem ser cuidadosos e se resguardar do preten­
dente que diz: “Na igreja deles há uma ênfase no cortejo,
isso significa que tenho de bajular os pais”. Praticamen­
te toda comunidade tem jovens que tentam ser populares
com os mais velhos, e que são igualmente detestáveis aos
seus pares. Tais jovens são um verdadeiro perigo na prá­
tica do cortejo. Os pais precisam ser crentes de oração,
sábios na Palavra, e intrometidos quando se trata da forma­
ção, histórico, estilo de vida, relacionamento com os pares,
etc., de seus filhos. Os pais não são vulneráveis à bajulação
que é comumente dada às jovens, mas são vulneráveis a um
tipo diferente de bajulação. Eles não devem se deixar ma­
nipular. Não devem ceder facilmente a qualquer pedido.
A questão do cortejo deve ser um tópico regular de
conversação em volta da mesa de jantar à medida que a
família conversa e interage. O s pais não devem esconder
o que pensam sobre os jovens, homens e mulheres, de sua
comunidade cristã. Os pais jamais devem ser como Isa-
que e Rebeca, que estavam preocupados com as esposas de
Esaú, mas não falaram nada até que já fosse tarde demais
(Gn 26.34-35; 28.8-9).
Muitas vezes, os jovens não seguem a sabedoria de
seus pais porque não estão preparados para as provocações
que imaginam que irão escutar dos irmãos. O s pais devem
ser cuidadosos em disciplinar zombarias destrutivas. Tais
zombarias devem ser mantidas dentro dos limites — é
muito perigoso permitir que uma criança discuta possíveis
interesses de cortejo com a família como se fosso adulto.
Em todo o tempo, o pai deve saber que o modo como
ele prepara suas filhas irá culminar no modo como elas se­
rão dadas em casamento.
C a p ítu lo 4

CULMINAÇÃO DO CORTEJO

hegamos agora ao ponto no qual devemos juntar alguns


C detalhes sobre o cortejo bíblico. Devemos considerar
primeiro o critério do cortejo, alguns detalhes gerais, e, por
fim, as questões regem a formação piedosa de famílias.
Por qual padrão um futuro cônjuge deve ser escolhi­
do? Com o sabemos quem será um bom marido para nossa
filha? Se um filho pede conselho sobre o cortejo de uma
jovem, com que base tal conselho deve ser dado? Nossa
situação não melhora muito se sairmos de um modelo que
se baseia em uma jovem garota que “gosta” de um garoto
para um modelo do tipo os pais da garota “gostam” do ga­
roto — do modelo de namoro recreativo para um padrão
de cortejo baseado em achismos e caprichos. Tais decisões
são muito importantes, e não podem ser deixadas ao capri­
cho de quem quer que seja. A discussão a seguir é traçada
de acordo com os padrões que os pais de uma garota de­
vem ter, mas se aplicam igualmente à discussão anterior a
respeito dos filhos.
A decisão sobre o futuro cônjuge irá afetar a felicida­
de dos filhos, netos, e bisnetos. E uma decisão muito im­
portante. Mas como ela traz consigo uma série de variáveis
desconhecidas, não podemos basear a decisão em nosso
conhecimento de todos os detalhes futuros. Não podemos
tomar nossa decisão baseados no que prevemos que pode
acontecer daqui a 20 anos. Antes, devemos agir baseados
naquilo que Deus revelou em sua Palavra. Deus conhece o
futuro, por isso nós devemos obedecê-lo. Quando obede­
cemos os princípios e leis estabelecidos por ele, podemos
então confiar nele quanto aos resultados. Sabemos que ele
é soberano sobre todas as variáveis desconhecidas, e ele
exige que nos submetamos àquilo que ele diz em sua Pa­
lavra. Ele não somente não exige que tentemos descobrir
nosso próprio futuro, ele nos proíbe.
Assim, o primeiro princípio é que todo cortejo cris­
tão deve ser no Senhor. “A mulher está ligada enquanto
vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para
casar com quem quiser, mas somente no Senhor” (IC o
7.39). Esse texto se refere a uma mulher que havia sido
casada, mas claramente podemos ver o princípio geral que
o apóstolo Paulo está invocando aqui — quando se trata
de um casamento pactuai, os crentes não devem entrar em
jugo desigual com os incrédulos.
Nessa passagem, Paulo está falando sobre o que uma
mulher deve fazer quando seu marido morre. Podemos
ver o apóstolo aplicando uma regra geral a uma situação
particular. A regra geral é: “não entre em jugo desigual”.
Isso se aplica não somente ao casamento, mas a tudo que
se constitua um jugo. Cristãos não devem estar associados
àqueles que não estão interessados em fazer as coisas “do
jeito de Deus”. Um jugo desigual predispõe o cristão à de­
sobediência e condescendência com o erro. Consequente­
mente, Deus proíbe tal jugo.
Ao aplicar esse princípio, Paulo diz que a esposa está
“ligada” pela lei durante o tempo em que o marido viver;
porém, se ele morrer, ela pode casar com quem ela dese­
jar — mas somente no Senhor. Se uma mulher foi casada
durante 20 anos e seu marido morreu, então quem é seu
“cabeça” agora? A Bíblia é clara em dizer que ela é livre
para casar com quem ela quiser; ela não precisa voltar a
estar debaixo da autoridade de seu pai. Mas se o marido
está vivo, a lei do casamento bíblico o considera o cabeça
da casa, não importa se ele quer ou não. Se uma mulher não
tem marido, mas tem filhos, então ela é a cabeça.
O apóstolo Paulo aplica o princípio geral à questão
específica criada pelas viúvas que desejam casar novamen­
te. O princípio é casar “somente no Senhor”, e não entrar
em jugo desigual. O mesmo princípio se aplica aos jovens
que ainda não casaram. Isso significa que os pais piedosos
devem ensinar seus filhos sobre o dever de cortejar e casar
“somente no Senhor”.
Alguém pode levantar a seguinte objeção: “A Bíblia
diz que não se pode casar com um incrédulo, mas não diz
que não se pode namorar com um [...]”. Isso é totalmente
verdadeiro, mesmo porque a Bíblia não fala sobre “namo­
rar” com ninguém — seja cristão ou não. Mas há aqui um
problema: no mundo moderno, o namoro é visto como
uma atividade romântico-sexual que está legitimamente
desatrelada de todos os compromissos pactuais, isto é,
não há qualquer desejo por um jugo pactuai. Consequen­
temente, muitos pensam que no namoro não existem peri­
gos, porque o namoro está desconectado de qualquer laço.
E verdade que o namoro não é um jugo, mas todos os rela­
cionamentos românticos entre um homem e uma mulher
devem formar laços. Se há laços de cortejo, então o casa­
mento está em vista. E se o casamento está em vista, então
o cortejo deve ser restrito somente aos crentes. Argumen­
tar que a Bíblia proíbe somente casar com um incrédulo,
mas não proíbe o cortejo de incrédulos, é como argumen­
tar que a Bíblia proíbe o assassinato, mas não proíbe a ten­
tativa de homicídio. Os cristãos somente devem cortejar
cristãos, e somente podem ser cortejados por cristãos.
Mas o que é um cristão? Vivemos em uma era apósta­
ta, e o termo “cristão” tem sido grandemente vilipendiado.
Um jugo desigual pode certamente ser estabelecido entre
um crente genuíno e um falso cristão professo. Muitas jo ­
vens têm mentido para si mesmas exatamente nesse ponto.
“Ele é um cristão?”. “Bem, ele vai à igreja comigo”. “Nós
falamos sobre Deus”. “Ele lê a Bíblia às vezes”. Sobre esse
tipo de cara, minha irmã mais nova costumava dizer: “Ele
conhece a história de N oé”.
Sob pressões românticas, uma jovem pode come­
çar a racionalizar as exigências de Deus. Se isso começa a
acontecer, seu pai deve jogar a “água fria” da obediência.
Se ela realmente gosta de um homem, ela pode começar a
questionar seriamente se a maneira como ela foi criada está
totalmente correta. Mas nisso tudo ela não é uma obser-
vadora isenta, objetiva; ela está mudando de ideia porque
está sendo tentada, tal como Eva. “Foi isso o que Deus
disse?”. Eis por que é tão importante que o pai mantenha
sua autoridade, a fim de poder proteger suas filhas.
O s pais não devem estar contentes com um genro ou
nora que pode ir para o céu quando morrer. A Bíblia exige
que todos os crentes pensem a mesma coisa. Consequen­
temente, nossos filhos somente devem cortejar aqueles
que têm o mesmo modo de pensar (Fp 2.2). Se todos os
cristãos devem pensar a mesma coisa, quanto mais marido
e esposa? Negligenciar isso é trazer a desobediência deli­
berada a esse mandamento para o lar e o casamento.
Nessa questão, os pais devem estar atentos a dois
aspectos. Primeiro, devem buscar por unidade de mente
naquilo que é doutrinariamente afirmado e compreendido.
Por exemplo, devem permitir que suas filhas sejam cor­
tejadas por homens que não entendem ou não aceitam a
doutrina da graça soberana de Deus? E claro que nãol Um
imenso número de questões matrimoniais práticas estão
diretamente ligadas a essa doutrina.
Quando Paulo exige unidade de pensamento, ele está
buscando por algo que “complete sua alegria”. Essa exigên­
cia é posta sobre toda a igreja. Com o crentes, ansiamos pelo
tempo em que Deus terá terminado de edificar sua igreja,
purificando-a de toda mácula ou ruga, ou de qualquer outro
defeito. Essa exigência de unidade de pensamento será cum­
prida. Mas esse grande dia ainda não chegou, e os cristãos
disputam e discordam sobre muitas coisas. Se, entretanto,
falhamos miseravelmente como cristãos em obedecer ao Se­
nhor nesse ponto, devemos nos arrepender e buscar a bênção
do Senhor à medida que oramos e esforçamo-nos por unida­
de de pensamento. Devemos lamentar e confessar nosso pe­
cado, e, em cada área onde temos qualquer responsabilidade,
devemos perseguir tal unidade. Isso tem implicação óbvia na
formação de novas famílias. Quando se trata do cortejo de
nossos filhos, se Deus exige que todos os cristãos em toda
parte tenham um só pensamento, quanto mais não devem
marido e mulher pensar a mesma coisa? Isso é especialmente
verdade diante do fato de que a esposa deve considerar seu
marido como seu cabeça, e honrá-lo do mesmo modo que
ela honra a Cristo. Tais questões doutrinárias afetam o modo
pelo qual as crianças resultantes de tal união serão instruídas,
se crescerão para servir e cultuar a Deus de maneira adequa­
da, se serão batizadas na infância, e assim por diante.
Se um jovem casal tem diferenças doutrinárias pro­
fundas e fundamentais, os dois terão sérios problemas em
seu casamento. Um pai que entende a majestade e sobera­
nia de Deus deve permitir que sua filha seja cortejada por
um homem que questiona a soberania de Deus? E óbvio
que não! Tais questões não são controvérsias teológicas
frias e abstratas. Elas afetam tudo o que fazemos. Quando
um jovem casal tem um filho que morre em seu primeiro
ano de vida, como o jovem marido irá confortar sua es­
posa? De que forma poderá confortá-la, se ele tem uma
teologia que diz que Deus queria evitar tal tragédia, mas
não conseguiu?
Isso não significa que marido e esposa devem con­
cordar a respeito de tudo na Bíblia antes de se casarem.
Algumas coisas reveladas na Escritura são menos impor­
tantes do que outras. Além disso, certas discordâncias não
são um problema porque as pessoas envolvidas estão clara­
mente em busca de mais unidade de pensamento. Em outras
palavras, as discordâncias existentes não são permanentes.
Entretanto, todas essas questões devem ser tratadas com
muita sabedoria.
Ter um mesmo pensamento é algo que pode ser visto
naquilo que fazemos. Um jovem pode partilhar da mesma
profissão de fé dos pais (e fazê-lo alegremente, se a moça
for bonita o bastante), mas nem por isso vai viver como se
cresse em tal confissão. Ele aplica a Bíblia a cada aspecto
da vida — trabalho, educação, política, televisão, etc.? Em
outras palavras, ele é obediente a Deus? Um homem pode
não conhecer tanto quanto outro, mas ele é obediente na­
quilo que aprendeu?
A Bíblia diz que não devemos “adornar” nossa dou­
trina; não devemos fazer acréscimos àquilo em que cre­
mos. Muitos dizem crer em determinada doutrina, mas
não vivem como se cressem em tal doutrina. Obediência
está intimamente ligada à verdadeira unidade de pensa­
mento. Unidade de pensamento não é apenas um exercício
intelectual; é uma concordância com a verdade de Deus,
abraçada na íntegra. Os pais devem querer que a filha seja
cortejada por alguém que pertence à mesma igreja ou de­
nominação, mas que não põe em prática o que ele diz crer?
Por exemplo, ele aplica sua compreensão da soberania de
Deus a todas as coisas — seu trabalho, o que faz no tempo
livre, como irá educar seus filhos? Se não o faz, então ele
deve ser desqualificado com base na falta de unidade de
pensamento.
Um terceiro princípio da Escritura tem a ver com a
estabilidade financeira e a responsabilidade do pretenden­
te. Em nossa discussão anterior sobre a sedução, vimos que
um jovem que seduz uma moça podia ser forçado a casar-se
com ela, a menos que o pai da moça o proibisse. Mas qual­
quer que fosse o caso, quer ele a desposasse ou não, o jovem
deveria pagar aquilo que era chamado de dote. Esse dote
obrigatório também é visto em Deuteronômio 22.28-29:

Se um homem achar moça virgem, que não está desposada,


e a pegar, e se deitar com ela, e forem apanhados, então, o
homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinqüenta
siclos de prata; e, uma vez que a humilhou, lhe será por mu­
lher; não poderá mandá-la embora durante a sua vida.

Em casos de sedução e estupro, o pagamento do dote


era obrigatório. Isso significava que a mulher era dotada e,
além disso, não poderia ser deixada. Nos templos bíblicos,
o preço da imoralidade era alto, e recaía sobre o homem.
Cinqüenta ciclos de prata era um bocado de dinheiro,
quantia superior ao dote que poderia ser negociado em
circunstâncias normais.
Esse sistema bíblico de dote significava que se pode­
ria exigir do pretendente estabilidade financeira e proteção
econômica para a mulher. Em modelos ímpios, o dote é
dado pela família da noiva ao noivo; do ponto de vista bíbli­
co, pode-se exigir do jovem que demonstre sua responsabi­
lidade financeira pagando um dote pela sua noiva. N o caso
de Davi, Saul exigiu que demonstrasse sua destreza militar
ao definir o dote por Mical em “100 prepúcios” de filisteus
(ISm 18.25). O fato de Saul estar tentando matar Davi não
muda o fato de que o dote havia sido estabelecido e nego­
ciado. O encargo pelo dote recaía sobre o pretendente.
E óbvio que não se requer que a família da noiva exija
um dote. Mas naquela sociedade, uma jovem sem tal pro­
teção era uma escrava, não uma esposa dotada livre. A dis­
tinção entre os dois tipos de esposa é claramente refletida
e sublinhada na Escritura. Por exemplo, esperava-se que
uma concubina desposada fosse fiel ao seu futuro marido,
mas se ela não o fosse, a penalidade era menor do que a
estabelecida para uma esposa adquirida mediante dote. “Se
alguém se deitar com uma mulher, se for escrava desposada
com outro homem e não for resgatada, nem se lhe houver
dado liberdade, então, serão açoitados; não serão mortos,
pois não foi libertada” (Lv 19.20). Para uma esposa possuí­
da mediante o pagamento de um dote, fosse desposada ou
casada, a penalidade pela infidelidade era a morte.
Em Êxodo 21.7-11, encontramos outras informações
sobre a questão do dote. Nessa situação, a jurisprudência
talvez indique um status intermediário entre o de uma es­
posa dotada e o de uma concubina. Pois, havia um dote,
mas o pagamento provinha da família da noiva, e não re­
presentava uma proteção para a própria noiva. Mesmo as­
sim, ela ainda recebia uma série de proteções significativas:

Se um homem vender sua filha para ser escrava, esta não lhe
sairá como saem os escravos. Se ela não agradar ao seu senhor,
que se comprometeu a desposá-la, ele terá de permitir-lhe o
resgate; não poderá vendê-la a um povo estranho, pois será
isso deslealdade para com ela. Mas, se a casar com seu filho,
tratá-la-á como se tratam as filhas. Se ele der ao filho outra
mulher, não diminuirá o mantimento da primeira, nem os
seus vestidos, nem os seus direitos conjugais. Se não lhe fizer
estas três coisas, ela sairá sem retribuição, nem pagamento em
dinheiro (Êx 21.7-11).

Em circunstâncias normais, uma esposa recebida me­


diante pagamento de dote tinha um “divórcio seguro” com
certo valor dado a ela por seu pai, e com algum dinheiro
dado a ela no dote que fora pago por seu então futuro ma­
rido. Mas mesmo quando o dinheiro era proveniente da fa­
mília da noiva, como é o caso aqui, ela ainda era protegida.
De modo que o sistema de pagamento de dote não era um
sistema no qual as mulheres eram compradas e vendidas
como gado; a questão era a garantia de proteção financei­
ra das filhas. Em contraste, na sociedade atual, as mulhe­
res são extremamente vulneráveis financeiramente. Hoje,
quando um homem deixa sua esposa, seu padrão de vida
geralmente cai, enquanto o padrão de vida da esposa aban­
donada cai dramaticamente. Em uma sociedade fielmente
guiada pela Bíblia, isso não aconteceria. Temos aprendido
as lições do “romanticismo” tão profundamente que temos
a tendência a ignorar as óbvias conseqüências econômicas
do casamento moderno, tratando-as como “questões se­
paradas”. Visto que na Escritura essas questões não são
tratadas como coisas separadas (porque, para ser franco,
elas não são), concluímos equivocadamente que, naquela
sociedade baseada na Bíblia, as mulheres tinham o status
de mobília. Mas, na realidade, as mulheres daquela época
tinham muito mais segurança financeira do que as mulhe­
res modernas.
Conquanto as aplicações para as famílias cristãs de
hoje não sejam tão óbvias, contudo podemos ao menos ver
que, quando o pai de uma jovem inquiria sobre a estabili­
dade financeira do pretendente, ele não estava querendo
bisbilhotar a vida alheia. A propaganda romântica de nos­
sos dias geralmente retrata todas essas preocupações como
desprezíveis e materialistas — todos sabem que “quando
a gente ama, não pensa em dinheiro”. Mas nossa rebelião
contra os caminhos de Deus sempre tem conseqüências.
O sistema de dote significava que um jovem não somente
tinha de ser capaz de sustentar uma esposa, mas que ele
tinha de juntar dinheiro às suas palavras, e provar que po­
deria continuar a fazê-lo dali em diante. À medida que os
cristãos crescem e amadurecem em sua compreensão da
ética bíblica, poderemos ver um retorno à perspectiva bí­
blica que busca o privilégio do dote para nossas filhas e es­
posa. Até lá, não devemos nos surpreender quando nossas
filhas forem maltratadas, uma vez que lhes demos apenas
as proteções que, em outras épocas, estariam associadas ao
concubinato.
Um quarto princípio bíblico é que nossas filhas so­
mente devem ser cortejadas por alguém que elas conside­
rem sexualmente atraente. A Bíblia é muito clara ao dizer
que o casamento inclui deveres conjugais, e esses possuem
tal natureza que não devem ser cumpridos como um peso
por meio do casamento com alguém que não consideramos
atraente. “Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por
mútuo consentimento, por algum tempo [...]” (IC o 7.5).
Os autores bíblicos não eram santarrões, e nós tam­
bém não deveríamos ser. Talvez seja mais correto dizer que
os autores bíblicos eram puritanos, isto é, que eles tinham
uma visão altamente elevada do ensino de Deus acerca da
moralidade sexual. Mas isso não é de modo algum o mes­
mo de ser cheio de “pudor hipócrita” quanto ao sexo. Po­
de-se definir tal pudor em extremo como o desejo de fingir
que o sexo no casamento não é sexual, o que é uma menti­
ra do diabo. Os jovens cristãos devem cortejar alguém, ou
serem cortejados por alguém, a quem achem sexualmente
atrativos, em um sentido amplo.
Com o dissemos anteriormente, as duas coisas que
definem um casamento são o relacionamento sexual e o
pacto matrimonial. Atividade sexual sem um pacto não é
um casamento, e uma cerimônia de casamento sem ativi­
dade sexual não é casamento. Casamento é sexo pactuai,
com responsabilidades pactuais atreladas. De acordo com
o apóstolo Paulo, um homem que se deita com uma pros­
tituta se torna uma só carne com ela, apesar de não ter
se casado com ela. Qual a responsabilidade de tal homem
quando se arrepende de sua fornicação? Sua responsabili­
dade óbvia e clara é deixá-la. Um homem não tem a res­
ponsabilidade de casar com a última prostituta com quem
se deitou. Ele deve se apartar do pecado, e deve deixar a
mulher com quem estava pecando.
Assim, o casamento é um pacto feito em torno de
um relacionamento sexual. Deus nos fez macho e fêmea,
e planejou que marido e mulher desejassem um ao outro.
O s pais que amam seus filhos não irão colocá-los na emba­
raçosa situação de ter de obedecer a tal exigência quando
ela é tão “pesada”. Feita de forma bíblica, a cerimônia de
casamento é um momento de alegre tensão sexual. O b ­
viamente, isso também deve ser um elemento durante o
período do cortejo. A noiva se adorna para estar bonita,
e o noivo se regozija com a beleza dela (Is 61.10; 62.5).
Obviamente, à medida que a cerimônia é conduzida, e o
casamento é consumado, a beleza da noiva é atrativa para
o noivo; é sexual.
Em suma, a Bíblia mostra que aqueles que se envol­
vem no cortejo devem ser irmãos em Cristo, tendo uma
união de pensamento, e deleitando-se na companhia um
do outro; o homem deve ser capaz de mostrar que irá sus­
tentar bem a esposa; e eles devem gostar da ideia futura de
dormirem juntos.
Além desses claros princípios bíblicos, há outras
questões que permanecem para serem resolvidas pela sa­
bedoria. Os pais e o casal devem considerar coisas como
formação cultural, educação e inteligência, vocação, traços
de personalidade, etc. Quando se trata de tais questões, as
decisões não devem ser tomadas de modo impulsivo.
Quando alguém se casa em desobediência às claras
exigências da Escritura, os presbíteros da igreja devem es­
tar preparados para exercer a disciplina eclesiástica. Mas
há muitas áreas que são simplesmente questões de sabedo­
ria; nenhum ensino bíblico específico proíbe o casamento
entre um homem e uma mulher com formações culturais
extremamente diversas. Ao mesmo tempo, pais sábios irão
levar em conta todas essas questões. O s pais devem con­
siderar também o seu “pano de fundo cultural”. Quando
a lua de mel acaba, tais coisas podem se tornar mais im­
portantes do que eram durante o cortejo, e são uma fonte
constante de atrito para o jovem casal. O s pais devem ser
capazes de antecipar tais problemas.
Para exemplificar, os níveis de formação educacio­
nal e inteligência são importantes. Exige-se que o homem
seja o líder, e a mulher deve respeitá-lo em tal liderança. E
quando há uma disparidade em suas habilidades que tor­
na tais tarefas difíceis? Há também a questão da vocação.
Se ele tiver o chamado para ser missionário, será que ela
está pronta para aceitar? E o que dizer da compatibilidade
de seus traços de personalidade? Essas coisas precisam ser
completamente consideradas e trabalhadas a tempo.
Também dissemos anteriormente que outra área que
os pais devem avaliar é a disposição e a habilidade do jovem
para assumir responsabilidades. Isso inclui sua habilidade
de ser firmemente masculino. Suponha que João quer se
casar com Maria. Mas ele sabe que, após ela se formar, ela
irá tentar conseguir um emprego em outra cidade, onde
vivem os avós dela. Ele vai até o pai dela e diz que iria pedi­
-la em casamento, mas ela tem outros planos. Ora, se João
está realmente interessado em Maria, e se ele é homem o
suficiente, ele deve amavelmente querer interferir nos pla­
nos dela. Se ela não estiver interessada no casamento, não
vai se importar de ele pedir ao pai; não haverá imposição
alguma. O pai dela simplesmente dirá não. Se ela estiver
interessada nele, tampouco haverá qualquer imposição.
A mulher não deve cruzar os braços e esperar que
apareça um homem que queira se casar com ela. Ela deve
sempre fazer algo produtivo na vida nesse meio tempo.
Consequentemente, os homens que estão buscando uma
auxiliadora terão de buscar tal companheira dentre as mu­
lheres que estão na contramão da nossa era. Um homem
que entende o que é masculinidade e casamento deve saber,
de modo geral, o que quer fazer, e deve buscar uma mulher
que concorde em segui-lo. Não há um caminho alternativo.
Ele não está entrando na vida dela para ajudá-la em seu
chamado vocacional. E claro que se um marido ama a es­
posa como Cristo amou a igreja, ele irá ajudá-la de muitas
formas. Mas a direção e orientação básicas da vida deles
não deve envolver abrir mão, por causa da esposa, de tudo
que Deus o chamou a fazer. A Bíblia ensina que a mulher
foi feita para o homem, não o homem para a mulher (IC o
11.9). Portanto, no casamento, homem e mulher devem
orientar-se de modos distintos.
Os pais da jovem devem estar atentos para três tipos
de homens: (1) aqueles que são confiantes de um modo
piedoso; (2) não cristãos que são confiantes de um modo
ímpio; e, (3) cristãos e não cristãos que são igualmente
inseguros, e que carecem de confiança masculina. A con­
fiança arrogante é algo que Deus proíbe, mas na mente de
muitas mulheres é muito claro que tal confiança é melhor
do que não ter confiança alguma. Muito embora ele a des­
trate, isso demonstra ao menos algum tipo de força mas­
culina. Quando os homens se afastam do Senhor, eles o
fazem por várias razões — dinheiro, carreira, mulher, sexo,
drogas, álcool, etc. Mas quando as mulheres se afastam do
Senhor, quase invariavelmente há um homem envolvido. E
muitas vezes, esses homens que são pedras de tropeço são
fortes de um modo ímpio e rebelde. Mas ao menos, pen­
sam algumas mulheres, eles são fortes.
Se uma mulher é deixada sem proteção por seu pai,
ela está no deserto, abrasada e sedenta. Quando dá de cara
com um oásis com uma placa que diz que a água está es­
tragada, ela ainda assim será tentada a beber desse oásis de
alguma forma. Em nossa geração, muitos homens cristãos
abdicaram de seu papel dado por Deus de força e humilda­
de. Com o conseqüência, as mulheres cristãs são deixadas
sem rumo — especialmente quando o pai não as protege.
Consequentemente, as mulheres cristãs geralmente es­
colhem um homem não cristão, mas centrado, decidido,
mesmo que ele seja tóxico para ela. Ela faz isso mesmo co­
nhecendo muitos homens cristãos — caras legais, mas que
nunca se afirmam quanto a nada. Muitas mulheres estão
tão famintas de iniciativa, liderança e autoridade que irão
tolerar um monte de lixo para obter uma cópia falsificada
de tais coisas.
Felizmente, essas não são as duas únicas opções. As
mulheres não estão limitadas aos homens cristãos que ab­
dicaram de sua masculinidade, e aos homens ímpios que
abusam de sua masculinidade por meio do destrato às mu­
lheres. Há uma terceira opção, muito embora ela tenha se
tornado relativamente rara nas últimas gerações. Trata-se
do homem que é decidido e forte por causa de outra pessoa.
Ele exerce sua força, não para fazer as coisas do seu jeito,
mas para liderar, ajudar e servir. Ele exerce autoridade do
modo como Cristo exercia — verdadeira autoridade com
um coração de servo. Esse é o tipo de rapaz que os pais de
uma moça devem se deleitar em ver.
À medida que os pais supervisionam a filha sendo
cortejada, eles devem ser cuidadosos em manter uma com ­
preensão realística e prática do casamento. Eles não devem
buscar a união da filha com base em sentimentos. E isso
não porque o sentimento é algo errado; mas porque o sen­
timento é um fundamento pobre. E essa também é uma
questão de sabedoria.
C a p ítu lo 5

DETALHES DO CORTEJO

S e um jovem mostra interesse numa garota e ela não tem


interesse nele (digamos, se ele é o cara que chegou para
entregar a pizza), ela não tem de dizer: “fale com o meu
pai”, ela pode simplesmente recusá-lo. Mas se ele é conhe­
cido e sério, ela deve encaminhá-lo ao pai.
O pai da moça deve ouvir o rapaz em particular. Se
ele sabe que de maneira alguma daria permissão, ele deve
amigavelmente negar o pedido do jovem para conhecer sua
filha melhor. Se o pai acha que o jovem tem alguma chance,
então deve agradecê-lo, e dizer-lhe que voltarão a se falar
dentro de alguns dias. O pai deve ser muito amigável com
o jovem pretendente. Falar com o pai de uma garota da
qual você gosta é algo difícil de fazer, por isso o pai não
deve tornar as coisas desnecessariamente mais complica­
das para o jovem.
Obviamente, o pai deve orar a respeito da situação, e
deve ter uma conversa com a esposa e a filha. Se ele con­
versar com a sua filha e ela simplesmente não estiver in­
teressada, seja qual for a razão, o pai deve procurar o pre­
tendente e dizer não. Se ela não tem interesse no jovem,
então o pai deve informá-lo de que ele não tem permissão
para cortejar sua filha. O pai deve fazer muito esforço para
ser amigável, mas deve ser firme. A proteção que isso gera
para a filha é algo evidente. Quando uma garota diz não
a um jovem, ele geralmente sente-se à vontade para pres­
sioná-la a respeito das razões para a resposta negativa. Ela
pode até não namorar com ele, mas geralmente tem de ar­
gumentar com ele. Quando ela dá uma razão, ele se sente
à vontade para tentar convencê-la do contrário. “Se fosse
desse jeito, então a gente poderia se ver?”. É quase impos­
sível para um jovem conseguir sair vivo fazendo isso com
o pai da garota.
Se a filha está interessada no pretendente, então o
pai deve voltar até ele e dizer: “Não, você não pode levar
minha filha para sair, mas você pode nos levar para sair”.
Porque houve interesse, o jovem recebe permissão para
passar tempo com a família. Se tudo correr bem, ele pode
começar a passar algum tempo sozinho com a filha sob a
supervisão vigilante do pai. O jovem está sendo convidado
a passar tempo com a família. Irmãos mais novos ajudam
num bom exemplo de cortejo quando estão de frente para
o casal, mas eles devem aprender a não zombar e rir — ao
menos não muito. Um dos melhores jeitos de dobrá-los é
lembrá-los de que a hora deles vai chegar.
Essas não são regras rígidas e fixas. Dependendo
das circunstâncias, o pai pode dar ao jovem a permissão
de levar sua filha para jantar, ou sair naquilo que algumas
pessoas poderiam chamar de “encontro”. A questão não é
“quantas idas à casa até que possa fazer um convite”, mas,
antes, se o pai está sendo ou não cauteloso e responsável.
Algumas vezes poderá ser tolice o pai permitir um encon­
tro, e outras vezes tal permissão é sábia.
Se a família tem uma boa impressão e o jovem conti­
nua a mostrar interesse na filha, ele pode começar a passar
mais tempo “sozinho” com ela sob a supervisão do pai.
Uma vez que ele se torna “parte da família”, ainda não é
sábio deixar a filha adentrar a escuridão de um automó­
vel com o jovem pretendente e dizer: “voltem dentro de
seis horas”. Isso é tempo suficiente para qualquer pessoa
se meter em todo tipo de “confusão”. Ele deve ter a per­
missão de passar um período seguro de tempo com ela, em
casa ou fora dela, em um encontro. De todo modo, ele é
responsável perante a família, e primeiramente perante o
pai da moça.
Caso durante o cortejo fique claro que o jovem não é
adequado, então é dever do pai explicar-lhe que ele não está
livre para continuar circulando da mesma forma que antes.
Ele não tem mais a permissão do pai para aproximar-se de
sua filha do mesmo modo como tinha feito até então. Se
for necessário, o pai pode ser extremamente gracioso (e
igualmente firme). Quando o pai percebe que esse cortejo
não resultará em casamento, nada se ganha ao postergar a
dura conversa com o pretendente.
Obviamente, um rapaz não terá de passar por tudo
isso se não estiver pensando seriamente em casamento. A
medida que o relacionamento progride, ele deve ir até o
pai e pedir a mão da filha em casamento. Se ele não parece
estar indo a lugar algum (e se ele já teve todo o tempo que
um homem sensato levaria para tomar uma decisão), o pai
deve chamá-lo em particular para uma conversa. Se o rapaz
é um pretendente adequado, mas é lerdo, o pai da jovem
deve encorajá-lo. Se o jovem tem dúvidas sobre tudo o que
envolve cortejo e casamento, então o pai dela deve gracio­
samente despedi-lo mostrando-lhe onde fica a porta.
Mas em circunstâncias normais, todo candidato deveria
estar disposto ao casamento, e marcar a data da cerimônia.
0 CASAM ENTO
Quando tudo dá certo, uma data para o casamento será
definida. Com o dissemos acima, a cerimônia de casamen­
to é uma troca de votos pactuais que envolvem um rela­
cionamento sexual, que resulta no estabelecimento de um
pacto público de casamento. Deus junta um homem e uma
mulher, e homem algum tem autoridade em si mesmo para
dissolver esse acordo com sua própria vontade.
Uma vez que a decisão de casar é tomada, os pais
devem cuidar para não se perderem com a liturgia da ce­
rimônia: ela é simplesmente uma porta de entrada na casa
do matrimônio. Não há problema em “decorar” essa por­
ta — a prática de adornar as noivas e a abundância de vi­
nho para os convidados certamente é bíblica — por isso,
os pais da noiva devem se sentir livres para gastar algum
dinheiro e ter um festa cheia de alegria. Mas muitos estão
tão presos e entusiasmados com a cerimônia de casamen­
to que chegam ao ponto de “destruir” o interior da casa
com o objetivo de decorar a entrada. Esse pecado afeta
a tranqüilidade do lar que está sendo formado. Os pais
não devem deixar que essas coisas externas os distraiam
daquilo que é realmente importante: Deus está formando
um novo lar.
Uma das melhores formas de manter um foco ade­
quado durante uma cerimônia de casamento é manter uma
cerimônia pactuai, e manter uma perspectiva bíblica e dou-
trinariamente clara ao longo do casamento. A melhor for­
ma de fazer isso é compreendendo os papéis dos vários
governos envolvidos num casamento bíblico.
Deus estabeleceu três governos entre os homens —
sendo o primeiro deles o governo da família. Esse governo
foi estabelecido no Éden, e é a pedra fundamental dos ou­
tros dois governos ordenados por Deus — o governo da
igreja, e o governo civil.
Evidentemente, no cortejo e casamento o governo
central é o governo da família. Em uma cerimônia de ca­
samento, a família está dando à luz; está reproduzindo a
si mesma. Através dessa cerimônia, está ocorrendo uma
transação entre representantes de duas famílias, que com ­
parecem para formar uma nova, uma terceira família.
De acordo com a Bíblia, os outros dois governos tam­
bém têm autoridade na cerimônia de casamento, mas tal
autoridade pode não ser o que muitos supõem. Primeiro,
com respeito à igreja, em geral cristãos protestantes não
admitem a ideia de que seus ministros exerçam qualquer
função “sacerdotal”, exceto em casamento. Mas o casamen­
to não é um sacramento; é um voto pactuai cercado por
um relacionamento sexual legítimo. A Bíblia ensina que
os votos perante o Senhor não devem ser feitos de modo
leviano, e por isso a igreja tem interesse em testemunhar
tais votos, e insistir para que eles sejam mantidos.
Todos os governos são ministeriais — não legislati­
vos. Deus não permite ao Estado e nem à igreja inventar e
alterar leis divinas. Ambos são encarregados por Deus, em
suas respectivas áreas de atuação, para administrar e aplicar
as leis que Deus deu através da sua Palavra. Assim, a igreja
tem um interesse legítimo nos protocolos de uma cerimô­
nia de casamento e deve, portanto, ter seus representan­
tes, os presbíteros, presentes e envolvidos. O adultério,
por exemplo, é uma ofensa que deve ser disciplinada pela
igreja. Mas a igreja não pode exercer disciplina a menos
que saiba quem casou com quem. Assim, os presbíteros da
igreja têm um papel legítimo aqui. Eles estão testemunhan­
do votos que têm ramificações eclesiásticas para todos os
membros da igreja. A menos que a igreja reconheça e en­
tenda quem está casado com quem, a palavra “adultério ” se
torna sem sentido. Em razão da solenidade e seriedade dos
votos, é inteiramente adequado um ministro da igreja estar
presente para administrar os votos, e servir como testemu­
nha em nome da igreja. Contudo, essa não é uma função
clerical ou sacerdotal. Quando “pronuncia” que eles são
marido e mulher, isso deve ser feito de tal modo que não
pareça que é ele quem os está tornando marido e mulher,
mas, antes, apenas declarando os resultados dos votos dos
quais ele e os demais presentes foram testemunhas.
A cerimônia de casamento é uma questão de obser­
var, testemunhar e confirmar os votos. A igreja está com
sua autoridade observando as famílias agirem dentro de
sua esfera de autoridade. A igreja diz ao casal: “Nós ouvi­
mos e observamos vocês, e declaramos à assembleia aqui
reunida que vocês trocaram votos de casamento. E não o
fazemos porque somos nós que criamos o casamento, mas
porque testemunhamos tais votos perante Deus”. Isso é
feito publicamente, e todos os presentes se tornam parte
do ato. A cerimônia de casamento é o melhor momento
para essa declaração ser feita.
O magistrado civil também tem um papel legítimo e
necessário em tais cerimônias. Um pacto está sendo feito
— um pacto de união — e esse é um pacto que envolve
propriedade , herança, a custódia de crianças, etc. Quando
uma querela acerca de tais coisas surge entre os cidadãos,
o magistrado civil tem, biblicamente, a posição de árbitro.
A situação não se altera caso as partes em litígio sejam ca­
sadas. Suponha que um homem abandone a esposa e, ao
fazer isso, ele se aproprie de todo o patrimônio da família.
Claramente, o magistrado deve estar envolvido na solução
dessa disputa. Mas se o magistrado não sabe da aliança que
foi feita, então se está exigindo que ele seja árbitro de uma
disputa que ele não tem condições de arbitrar. Isso signifi­
ca que o magistrado também deve ter um representante na
cerimônia de casamento, que registre os resultados da ce­
rimônia de um modo que o magistrado possa reconhecer.
Tradicionalmente, tem sido delegada ao ministro da igreja
essa função civil, mas outro representante poderia também
desempenhá-la. Talvez fosse melhor fazer uma distinção
de representações para que a congregação pudesse ter cla­
reza sobre essas importantes distinções.
O magistrado civil também tem um papel a desempe­
nhar quando as pessoas tentam se casar dentro de vínculos
proibidos pela Escritura. Em tais situações, o magistrado
tem a responsabilidade de intervir — por exemplo, em
uma sociedade piedosa, as tentativas atuais de formalizar
as uniões homossexuais podem ser frustradas pela auto­
ridade civil. De acordo com a Escritura, o papel legítimo
do magistrado civil é o de testemunhar os votos familiares
que necessariamente tenha natureza civil.
Assim, o magistrado civil tem uma participação legí­
tima e bíblica na formação de um casamento, embora não
tenha o papel que ele atualmente pensa ter. Se uma dis­
puta sobre determinada propriedade é iniciada entre dois
vizinhos, o magistrado civil é competente para ser o árbi­
tro da questão. Contudo, o magistrado não é o dono das
propriedades, mas antes o juiz das disputas entre os donos
de propriedades. Em nossa sociedade “estatista”, normal­
mente pensamos que o governo civil tem mais autoridade
do que aquela que a Bíblia ensina. Mas o Estado deve ser
o juiz em certas áreas. Uma vez que o casamento envolve
questões como propriedade, herança, e herdeiros, o ma­
gistrado civil deve ser formalmente notificado a respeito
dos casamentos que são realizados antes de poder ser um
árbitro imparcial, quando este for o caso e a necessidade o
obrigue. Isso significa que ele deve ter algum representan­
te presente quando um pacto de casamento é feito.
Embora o magistrado civil tenha um papel legítimo a
desempenhar, o papel tirânico que nosso Estado moderno
tem assumido pode ser visto em termos da concessão de
“licenças” de casamento. O Estado autoidólatra moder­
no supõe ter autoridade sobre tudo; os cristãos também,
muitas vezes, consentem em tal usurpação. N osso gover­
no civil está se tornando cada vez mais tirânico, e pensa
que tem autoridade para conceder ou negar autorização
para tudo. Quando os casais vão pedir uma licença de ca­
samento, eles devem reconhecer que o Estado não possui,
em si mesmo, o direito de casar ninguém — tal autoridade
é concedida por Deus. Se o governo civil ruir, o casamen­
to, enquanto instituição divina, ainda pode ser legitima­
mente formado e consumado tendo o próprio Deus por
testemunha. Se dois cristãos desejam se casar, e a lei de
Deus permite tal casamento, o Estado não tem autoriza­
ção divina para proibi-lo. A autoridade para proibir vem
da Bíblia, e não da autoridade legislativa do magistrado
que concede a licença.
Devemos sempre lembrar que numa cerimônia de ca­
samento bíblica a principal autoridade está sendo exercida
pela família da noiva, e em menor grau, pelo noivo e a fa­
mília deste. Um jovem cristão e uma jovem cristã virgem,
com a bênção de suas respectivas famílias, fazem um voto
na presença de representantes da igreja e da ordem civil.
Esses dois governos publicamente impõem a eles respon­
sabilidade pelos votos que fizeram. Mas essa responsabili­
dade não é o que origina o voto; para os dois governos ela
é ministerial.

PR EOC U PAÇ ÕES D IVER S A S E Q U E S TIO N A M E N TO S


Os princípios bíblicos do cortejo e casamento devem ser
obedecidos para que sejam de fato considerado algo bom.
Mera concordância não é suficiente. “Tornai-vos, pois,
praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganan­
do-vos a vós mesmos” (Tg 1.22). Se o conhecimento bí­
blico não é posto em prática, simplesmente escutar uma
informação verdadeira é iludir-se a si mesmo. Em nenhum
lugar essa verdade é mais evidente do que no ensino bí­
blico sobre cortejo e casamento. Parece haver uma rela­
ção inversamente proporcional entre o número de livros e
seminários sobre relacionamento de sucesso e, por outro
lado, o número de casamentos de sucesso.
O casamento amplifica aquilo que você é. Aquele que
vive um cristianismo maduro, também será maduro sen­
do ele solteiro ou casado. Muitos são infelizes e solteiros.
Seus problemas variam da tentação sexual à solidão, e eles
pensam que o casamento irá resolver esses problemas. Mas
quando se casam, descobrem que as coisas não são tão fá­
ceis quanto pareciam. Não há nada como o casamento para
revelar quão egoísta uma pessoa realmente é. E tal egoísmo
pode facilmente se esconder por detrás das emoções que
parecem ser amor. E comum ouvir os garotos dizerem: “Eu
amo Fulana”. Isso não necessariamente significa que eles
estão preocupados com o melhor para ela, antes, significa:
“eu gosto das sensações que sinto quando ela está por per­
to ”. Quando um garoto diz: “Eu amo sorvete”, ele não está
preocupado com o melhor para o sorvete. Ele ama a sensa­
ção que o sorvete lhe proporciona. Resumindo, ele se ama.
Quando alguém está solteiro, pode pensar que é
muito mais maduro espiritualmente do que realmente é.
E fácil para os pais de tal pessoa equivocadamente che­
garem à mesma conclusão. Por isso, é muito importante
que o solteiro seja um cristão robusto e maduro antes do
casamento.
Com o todos os relacionamentos entre os seres cria­
dos, o relacionamento entre marido e mulher é horizontal.
A Bíblia nos ensina que nosso dever primário é com nos­
so relacionamento vertical, com Deus. Primeiro, devemos
amá-lo, acima de tudo. Sua Palavra deve ser obedecida e
posta em prática por meio do amor ao próximo. Mas a
obediência à sua Palavra inclui obediência aos princípios
do cortejo e namoro bíblicos.
Um dos principais problemas do ensino moderno so­
bre cortejo e casamento (incluindo muito ensino cristão) é
que a ênfase é horizontal. Mas o segredo para que hajam ca­
samentos que honram a Deus é marido e mulher honrarem
a Deus acima de todas as coisas. Deus deve ser o primeiro.
Aquele que genuinamente ama Deus, o Pai, por meio de
seu Filho Jesus Cristo sabe quais são os seus deveres para
com o seu cônjuge.
Problemas no casamento sempre são o resultado de
centrar-se em si mesmo. Em outras palavras, maridos e es-
poas se desentendem por causa do pecado. Casais que estão
em comunhão com Deus sabem como manter comunhão
um com o outro. Casais que não sabem como andar com
Deus não podem dizer o mesmo. Frequentemente, alguns
casais tomam decisões com foco em si mesmos, em vez de
focar em Deus. Ao fazerem isso, estão plantando as semen­
tes de muitos problemas futuros. Não há nada de errado
com nossos desejos, desde que estejam centrados em Deus.
Assim, quando alguém está solteiro deve usar o
seu tempo para se preparar para o casamento. Isso é im­
portante mesmo se tal pessoa nunca chegue a casar. E
por isso que a preparação bíblica para o casamento não
é outra coisa senão aprender a seguir a Jesus C risto e a
amar ao próximo. Em outras palavras, a preparação para
o casamento é basicamente a mesma que se faz para a
vida cristã. Os cristãos devem se preparar para o casa­
mento aprendendo a autonegação, subjugando o orgu­
lho, e pondo o próximo em primeiro lugar. Uma vez que
aprendem a amar a Deus e ao próximo, estão prepara­
dos para entrar em uma aliança de casamento com o seu
próximo. Essas questões devem estar em primeiro plano
para todo pai cujos filhos se aproximam da idade de cor­
tejo e casamento.

PO S S ÍVEIS O B JEÇ Õ E S AO C O R T E JO
Temos mostrado que os pais possuem autoridade legíti­
ma nas “questões do coração”. Ao usar a expressão “ques­
tões do coração”, devemos nos lembrar de que, em nossa
cultura, há uma tendência a pensar que o “coração” é que
possui a verdadeira autoridade soberana. Em questões do
coração, como é possível alguém se intrometer e dizer a
outrem o que se deve fazer? Pensamos que o romance é a
regra maior, ou o que manda é o “final feliz”. Mas, biblica-
mente falando, isso é completamente errado.
Uma objeção comum é dizer que os pais podem se
equivocar. Isso certamente acontece — vivemos em um
mundo caído, e os pais podem, e irão, se equivocar. Mas
o coração também é sujeito a erros, assim como pode ser
equivocada a resposta emocional de uma mulher, e o ímpe­
to emocional que faz com que um homem importune uma
mulher, ou os jovens casais serem arrastados pela tenta­
ção sexual. Todos esses comportamentos são exemplos de
queda, erro e pecado. Ao considerar o que devemos fazer, a
questão não é: “Poderemos errar indo por este caminho?”,
mas, antes: “O que a Bíblia ensina?”. Com o temos visto,
os exemplos bíblicos de autoridade paterna incluem pais
que não fizeram tudo que deveriam ter feito.
Outra objeção frequentemente apresentada é esta:
“Com o posso exigir que nossos filhos façam aquilo que
nós não fizem os?”. O s pais podem se perguntar se o com­
portamento deles durante o cortejo (ou falta de cortejo) os
desqualifica para ensinar seus filhos nessa área. A resposta
bíblica para isso é: “de forma alguma” — devemos ensinar
aos nossos filhos a lei de Cristo, e não nossas próprias ex­
periências pessoais. Nossa experiência pode ser usada para
nos ajudar a ensinar a lei de Deus, mas ela não “define o
conteúdo do ensino”. Quem define é a Bíblia.
Muito embora a maioria dos pais que estão preparan­
do seus filhos para o cortejo não tenha se casado por meio
do cortejo bíblico, nem por isso estão desqualificados. Essa
é uma oportunidade que eles têm de voltar a uma prática
cultural tão antiga, como é o caso do cortejo bíblico. Esse
costume está sendo restaurado entre muitos cristãos. De
acordo a Palavra de Deus, o cortejo costumava ser parte
de nossa cultura, mas agora é uma prática cultural que está
quase em total desuso, e, como conseqüência, praticamen­
te ninguém sabe nada a respeito. Por isso, possivelmente
nenhum leitor deste livro chegou ao casamento como re­
sultado de um modelo de cortejo. Não é de surpreender
que essa questão ocorra a alguns leitores, e talvez a mesma
questão ocorra a seus filhos. Um filho pode chegar diante
dos seus pais e dizer: “Eu ouvi a história de como vocês
dois ficaram juntos — então, por que vocês estão queren­
do me regular assim desse jeito?”.
A resposta básica é que a Bíblia ensina o que nós de­
vemos fazer, e nossa experiência não pode estabelecer o
conteúdo daquilo que ensinamos aos nossos filhos. Ensi­
namos aos nossos filhos aquilo que a Bíblia ensina. Se os
pais têm uma experiência bíblica realmente boa de cortejo,
então essa experiência irá fornecer boa sabedoria prática
no ensino daquilo que a Bíblia diz. Mas se os pais não tive­
ram tal experiência, isso não significa que estão desqualifi­
cados para ensinar a seus filhos aquilo que a Bíblia diz. Para
dar um exemplo extremo, muitos pais não mantiveram a
pureza sexual antes do casamento. Então essa desobediên­
cia deve ser uma permissão para que seus filhos pratiquem
desobediência similar? A Bíblia estabelece um padrão de
moralidade e pureza sexuais. Os pais não devem ensinar
aquilo que fizeram como sendo a norma — a menos que,
biblicamente, o seja. Os pais que se mantiveram puros es­
tão em uma posição melhor para ensinar aquilo que a Bí­
blia exige que se ensine, mas todos os pais devem ensinar
o mesmo padrão. Se a obediência dos pais corresponde ao
ensino da Bíblia, então isso é verdadeiramente uma grande
bênção. Mas essa bênção não faz parte das qualificações
para que os pais possam ensinar. Os pais ensinam a seus
filhos porque Deus o exige. Em outras palavras, tais coi­
sas não são exigências impostas pelos pais; são exigências
da Palavra de Deus. O s pais não têm de se defender ou
se desculpar para legitimar tais exigências; se elas estão na
Palavra, então eles devem transmiti-las a seus filhos.
Outra questão que pode ser levantada é: “Com o nos­
sa família vai conhecer esses outros jovens?”. Pode parecer
simplista, mas os pais devem conhecer os jovens trazendo-
-os para a sua casa de vez em quando. Os pais de jovens
devem ser hospitaleiros com outros jovens. Contudo, ao
fazer isso, devem ter o cuidado de se resguardar contra
qualquer tipo de “quase namoro” não supervisionado. Gru­
pos de jovens reunidos num lar para atividades sociais não
devem ser “separados” tendo garotas de um lado e garotos
de outro, quando todos eles sabem quem fica com quem.
Seis jovens, sendo três garotas e três garotos, é tecnicamen­
te “um grupo”, mas isso pode rapidamente se transformar
em outra coisa. Os pais devem esforçar-se para ter um clima
receptivo em casa, que seja relativamente “livre de riscos”.
Em tal contexto, os jovens podem conhecer uns aos outros
sem necessariamente assumir compromisso. Ao fazer isso,
manter uma quantidade distinta, e grupos com diferentes
idades (dentro do razoável) irá ajudar um pouco.
E claro que a prática do cortejo bíblico não torna o
mundo um lugar perfeito. Alguns jovens irão ter proble­
ma em situações de grupo, mas isso não é realmente um
problema típico da relação menino/menina. Imagine uma
linda menina que não fez nada mais do que dizer “oi” a
algum pobre garoto, e ele imediatamente disse a si mesmo:
“ela me notou; ela gosta de mim”. Ele fica então desolado
quando ela cumprimenta outro menino da mesma forma.
Isso é certamente um problema, mas não é um problema
de relacionamento — é, antes, um problema pessoal. Se
alguém insiste em construir relacionamentos imaginários,
um grupo estabelecido não irá ajudar muito. Entretan­
to, isso é uma falha de caráter, e não um problema com
o grupo, ou com a menina. Se alguém se machuca como
resultado de seu próprio delírio, então tal jovem precisa
de ensino, encorajamento e admoestação de seus pais de
modo pessoal.
Quando pais cristãos são hospitaleiros com os filhos
dos seus amigos, isso irá prevenir a suposição de que “se
meu filho não tiver um namoro recreativo, a única coisa
que nos resta é procurar o nome de sua futura esposa na
lista telefônica, ou, talvez, se tivermos sorte, no rol de
membros da igreja”. Há muitas formas de conhecer outras
pessoas sem recorrer ao namoro recreativo. Em muitas si­
tuações de grupo de jovens reunidos, é possível um rapaz
chegar a conhecer uma moça melhor do que em uma situa­
ção de namoro. Namoro não é o melhor jeito de se conhecer
alguém, mas é o melhor modo de se envolver com alguém.
Quando um rapaz chama uma menina para sair e ela aceita,
ela não estava tentando descobrir maneiras de causar a pior
primeira impressão possível. E ele pensa da mesma forma:
quer causar uma boa impressão também. Mas longe da
sabedoria e maturidade bíblicas, é muito mais difícil para
alguém saber aquilo que irá impressionar outra pessoa em
uma situação de grupo. Se um garoto chama uma garota
para jantar, ele pode dizer coisas amáveis — isso sempre
cai bem. Praticamente todo mundo conhece as regras para
causar boas impressões em uma situação de namoro. Mas
em um grupo, pequenos atos individuais de egoísmo pra­
ticados contra outra pessoa , e não àquela na qual ele está
interessado, irão revelar muita coisa a seu respeito.
Se uma garota quer ser impressionada por um jovem,
ela precisa ver como ele fala com a própria mãe em casa, e
não quão doce ele pode ser do outro lado da mesa de jantar
de um restaurante onde está uma linda garota. Se ela quer
saber como ele irá falar com ela como esposa dentro de
dez ou quinze anos (e se for bem ensinada por seu pai, ela
deve querer saber), deve prestar bastante atenção no modo
como ele fala com a mãe. Ela não irá aprender isso no baile
de formatura, quando ele está mostrando o melhor de si e
ela está fazendo o mesmo. Eles podem enganar a si mes­
mos ao pensar que, se namorarem desse modo, chegarão
a conhecer um ao outro. Em certo sentido isso é verdade:
eles estão por conhecer um ao outro, mas estão se unindo
primeiro. Antes de conhecerem um ao outro, enquanto es­
tão ainda no campo das aparências, eles estão se unindo.
Isso significa que, quando souberem como o outro real­
mente é (e eles fatalmente chegarão a saber), estarão na
difícil posição de não serem capazes de sair do relaciona­
mento sem se ferir.
Assim, os pais podem prevenir tal coisa mesmo “dei­
xando a turma à vontade”. E quando outros pais fazem o
mesmo, eles devem deixar que seus filhos freqüentem a
casa um do outro. Grupos sociais reunidos são simultanea­
mente informativos e práticos.
Quando um casal se forma, e o garoto encoraja uma
resposta emocional da garota, e então consegue tal respos­
ta, essa união foi resultado daquilo que os dois estavam
fazendo. N o momento em que eles descobrirem aquilo
que precisam saber antes de se unirem formalmente , des­
cobrirão que já estão informalmente unidos. Por exemplo,
muitos anos atrás, um jovem veio me pedir conselhos.
Talvez ele não tivesse feito a coisa certa ao preparar sua
namorada para aceitar casar com ele. Parecia que ele havia
trabalhado deliberadamente nisso, mas quando me apre­
sentou suas dúvidas, ficou claro que ele não estava fazen­
do nada disso. Tendo feito todo esse preâmbulo, ele então
me disse: “Com o podemos saber se encontramos a pes­
soa certa?”. Assim como alguém que “procura o que não
perdeu e quando acha não conhece”, muitos garotos não
sabem o que fazer e nem como fazer. E esse jovem não
tinha a menor ideia. Ele não tinha qualquer base objetiva
para fazer aquilo que estava fazendo. Sua namorada estava
presumindo que ele sabia o que estava fazendo, o que era
um terrível engano. Ela estava achando que ele estava to ­
mando a iniciativa de propósito e conscientemente, e por
isso ela estava respondendo emocionalmente. Nesse caso,
o problema foi o modelo de união por meio do namoro
recreativo.
Definitivamente, esse não é um bom modelo. A cerca
pactuai protege os jovens. A aliança de casamento também
protege. Ninguém pode entrar em um relacionamento de
casamento para descobrir o que significa estar casado com
alguém sem que tal pessoa já esteja casada com ela. Isso
significa que com o modelo bíblico de cortejo, o compro­
misso vem primeiro, e o verdadeiro conhecimento íntimo
do cônjuge, depois. Nós não vamos primeiro descobrir
aquilo que outros conhecem em detalhes e, depois, assumir
um compromisso. A lógica dos namoros dos incrédulos
assemelha-se mais a um test drive do que ao cortejo de uma
virgem cristã. Por causa dessa mentalidade de test drive ,
não é de surpreender que a imoralidade esteja prevalecen­
do. Se um homem precisa conhecer uma mulher antes de
assumir um compromisso, então porque ele deve se abster
do privilégio de conhecer como ela é na cama? N o padrão
de Deus, a sabedoria é exercida à medida que a informação
pública acerca de um pretendente, ou sobre uma jovem,
é cuidadosamente reunida. Toda intimidade se dá após o
compromisso; no padrão bíblico, nenhuma intimidade
precede o compromisso.
O utro possível problema é o do ciúme. Quando se
trata de cortejo {com vários pretendentes em potencial), é
preciso ter cuidado com ciúme ou competições entre os
pais. Em Colossenses 3.12-13, encontramos um princípio
geral aplicado ao relacionamento de um cristão com os de­
mais crentes. O princípio geral também se aplica especifi­
camente ao modo como agimos à medida que nossos filhos
crescem, deixam o lar, e tomam uma esposa. Esse princí­
pio é o de que devemos revesti-nos, “de ternos afetos de
misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de
longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos
mutuamente”. Isso é importante e necessário em todas as
nossas relações, mas especialmente nesse assunto. Quando
um homem toma iniciativa e uma mulher responde com a
aprovação de seu pai, tudo é maravilhoso. Mas, geralmen­
te, se a jovem é atrativa, mais de um homem estará interes­
sado, e há a possibilidade óbvia de competição e rivalidade.
Agora, o fato de que os pais estão envolvidos no pro­
cesso de cortejo não elimina a tentação de tais ciúmes. Por
exemplo, com o modelo moderno de namoro recreativo,
se um rapaz está interessado em uma garota específica e ele
pede para sair com ela, e alguém mais quer fazer o mesmo,
ele pode ficar com ciúme. Mas, como um cristão, ele sabe
que ela não está comprometida pactualmente com ele, ou
com algum outro rapaz. Consequentemente, seu ciúme
não tem base e ele sabe disso. A Bíblia ensina que dentro
do pacto matrimonial o marido deve ser ciumento; o ciúme
piedoso é exigido para a proteção da cerca do casamento
pactuai (2C o 11.2). Obviamente, se não há qualquer alian­
ça, então não há qualquer base bíblica para ciúme — não há
nenhum compromisso pactuai, e, portanto, não há nenhu­
ma quebra de pacto. Portanto, é fácil para um jovem cris­
tão ver que seu ciúme é despropositado em situações de
namoro. E claro que a situação muda quando um garoto
e uma garota estão se vendo regularmente. Então, o ciúme
pode facilmente surgir sem garantia pactuai porque ambos
estão agindo com base em um pacto informal, implícito.
Tais pactos não representam proteção alguma, mas ajudam
a complicar ainda mais as coisas.
Porque o problema é evidente , um jovem cristão na
situação descrita anteriormente sabe que seu ciúme com ­
petitivo não é correto; é algo ímpio. Mas em uma situa­
ção de cortejo, os pais podem estar sujeitos a tentações
similares, e podem estar menos prevenidos contra isso
porque toda a preocupação deles é “altruísta” — eles que­
rem o melhor para o outro, no caso, seu filho ou filha. Por
ser algo feito em nome do outro , eles não se veem como
egoístas. Os pais ficam com um sentimento como se es­
tivessem preocupados com mais alguém; isso não é outra
coisa senão amor paternal. Porque a contenda é em nome
do outro (seu filho ou filha), pode não ser fácil identifi­
car as emoções como pecado — mas se trata de um peca­
do pernicioso apesar de tudo. Cada cônjuge em potencial
em qualquer lugar do mundo tem o pleno direito de estar
perfeita e completamente desinteressado na filha ou filho
de alguém sem com isso ofendê-lo. Se tal falta de interesse
ofende, então os pais estão sendo possessivos com alguém
fora dos vínculos de um relacionamento pactuai. E isso é
pecado.
0 JARDIM

E nquanto meu cavalo trotava sofregamente pela estrada,


pude ver os muros de um lindo jardim adiante. Fora
do portão estava uma igualmente linda mulher. Ao som da
minha saudação, ela se virou e retribuiu o gesto. “Olá, Se­
nhor... bom dia”.
Olhei para ela, e então para os muros do jardim que
se estendiam para a direita e para a esquerda. Atrás dela,
estava o portão do jardim.
Eu disse: “Estou com muita sede... de algo limpo”.
Ela sorriu, e seu sorriso me deixou com muito mais
sede. Mas ela não disse nada.
“Há água por aqui?”, perguntei eu.
“Há um manancial dentro do meu jardim”. Sua afir­
mação era simplesmente a afirmação de um fato; não havia
ali qualquer tipo de convite.
Perguntei: “Posso entrar e beber?”
“N ão”, disse ela. “O dono do jardim da minha mãe
não o permite”.
“Por qual razão? Outras mulheres me deixam beber
da água do jardim delas”. Olhei para os galhos cheios de
frutos que eram visíveis por sobre o topo do muro do jar-
dim. “Você tem um jardim adorável, mas aquelas que me
deixam beber têm jardins tão bonitos quanto o seu”.
Ela sorriu com isso, e aquele sorriso era de fato alegre.
“Não tenho dúvidas de que você tenha estado em al­
guns jardins adoráveis. Mas a água era pura?”.
“N ão”, respondi eu, e, contra mim mesmo, virei a
cabeça e olhei para baixo. Ela continuou com a pergunta.
“Foi por isso que você não permaneceu nos jardins guar­
dados por essas mulheres?”.
Envergonhado, não lhe dei resposta. Em vez disso,
olhei para além dela em direção ao jardim. O caminho atra­
vés do portão desapareceu após uns poucos passos, não
deixando ver a ninguém na estrada.
“E uma vergonha para tal jardim tamanho desperdício”.
Ela parecia estar confusa e, ao mesmo tempo, diver­
tindo-se. “Que tipo de desperdício?”.
“Algum homem já bebe de seu manancial?”.
“Não, nem homem algum o roubou”.
“Isso não é um desperdício? O seu manancial não foi
feito para extinguir a sede dos viajantes?”.
“Sinto dizer que você está seriamente equivocado.
Ele foi feito para matar a sede, não dos viajantes, mas do
senhor do jardim”.
“O h ”, disse eu, “esse jardim tem dono?”.
“N ão”, ela respondeu.
“Então não compreendo. Você está falando por enigmas?”.
Ela sorriu. “Não, não estou. O jardim um dia terá um
senhor, embora ainda não seja o caso. O manancial é ape­
nas para ele”.
“E quem será tal senhor?”.
“Quando o senhor de minha mãe consentir, será
aquele a quem eu designar”.
“Com o pode alguém menor designar quem será
maior?”.
“Com o pode não ser assim? Quando meu senhor
chegar, irei conceder a ele meu jardim. Mas, a menos que
eu o faça, ele é apenas mais um viajante”.
“E o que você está procurando? Estou certo de que
há muitos que batem em seu portão”.
Com isso ela enrubesceu levemente, mas olhando-me
diretamente, disse: “Eu não terei um senhor se ele mesmo
não tiver um senhor — o meu senhor deve ter um voto de
lealdade ao grão-senhor”.
“O grão-senhor? Quem ele é?”.
“Ele é o dono de todos os jardins ao longo dessa es­
trada. Para chegar ao meu jardim, meu senhor deve fazer,
perante o grão-senhor, um juramento de que cuidará bem
do meu jardim. Ele deve também jurar que não entrará em
nenhum outro jardim”.
Nunca ouvi tais palavras antes. “Quanto tempo ele
deve permanecer longe dos outros jardins?”.
“Para sempre”.
“Mas e se ele tiver nascido para ser um viajor?”.
“Então, ele não nasceu para o meu jardim”.
“Percebe-se”, disse eu, um tanto quanto irritado.
“Então, por que eu nunca tinha ouvido antes falar em tal
voto? E olhe que estive em muitos jardins”.
“Sim, você já me contou isso. Mas a água era pura? O
jardim estava cuidado? Está vendo o que acontece quando
não existe um voto?”.
“Mas é só isso? Se alguém faz um voto perante o
grão-senhor, você o torna seu senhor?”.
“N ão”.
“Bom, e o que mais então?”.
“Há muitos homens que pensam que podem cuidar
bem do meu jardim, e que estariam dispostos a fazer um
voto perante o grão-senhor afirmando tal coisa. Mas isso
não significa que o senhor da minha mãe, ou eu, partilhe­
mos dessa convicção”.
“O que você quer dizer?”.
“Digo que eu sei a extensão do meu jardim. Tenho
dele um conhecimento que não pode ser obtido a partir da
estrada. Mas nenhum homem pode partilhar de tal conhe­
cimento a menos que primeiro eu faça dele meu senhor e
marido. Por isso devo julgar tal homem primeiro”.
“Então o que o homem deve fazer? Parece ser algo
muito trabalhoso”.
Ela sorriu outra vez. “Há muito trabalho. Há também
muito fruto”.
“Então, o que um homem deve fazer?”.
“A primeira coisa é...”.
“Sim, eu sei. Ele deve jurar ao grão-senhor. E de­
pois? .
“Deve retornar a mim, e pedir para ver o senhor da
minha mãe”.
“E o que deve dizer?”.
“Isso depende do homem”. Com esse comentário di­
visor, ela se voltou e caminhou lentamente de volta para
o jardim, deixando fechado o portão atrás de si. Esporei
o meu cavalo, que começou a trotar pela estrada. Eu não
sabia o que pensar, mas precisava encontrar esse grão-se­
nhor.
ÍNDICE DE REFERÊNCIAS BÍBLICAS

VELHO TESTAMENTO

Gênesis 30—39 30.18-19—9


2—44 30.3-16—28,39, 40 5.1-5, 15-20—51
2.24—40, 42, 43 Deuteronômio Cântico dos
12.11—69
22.13-21—32, 34, Cânticos
12.14—69
24.16—69 36, 40 4.10—72
24.47—72 22.28-29—89 6.4—70
24.53—72 8.8—73
1 Samuel
26.34-35—80 8.10— 73
18.25—90
28.8-9—80
25.3—70 Isaías
29.17—69
3.16-24—65
Ester
Êxodo 3.16-26—62
1.11—70 49.18—72
21.7-11—91
2.7— 70 61.10—72
22.16-17—36, 40
21.7-11—90 61.10—94

22.16-17—36 62.5—94
42.15—70
Levítico Jeremias
Salmos
18—45 2.32—72
78.63—29
19.20—90
78.63—39 Ezequiel
22.13—28
16.6-14—7]
Provérbios
Números
5.15-20—51
30.3-16—26
NOVO TESTAMENTO

Mateus 6-7—45 1 Timóteo


5.28—60 7.5— 93 2.9-10—69
24.38—39 7.39—29, 45, 84
11.1—47 Tiago
Marcos 11.2— 116 1.22— 107
6.18—45 11.9—96 4.13-16—54

Lucas Efésios 1 Pedro


8.43— 10 5.1 —47 3.3—62
20.34—39 3.5—64
Filipenses
3.3—62
Atos 2.2—86
16.15—28 Apocalipse
Colossenses
21.2—72
1 Coríntios 3.21—58
4.16—47 3.12-13— 116
6.16—38
O que há de errado com o modelo de
namoro recreativo?

E o que é cortejo
ou n a m o r o b í b l i c o ?
E M N O S S O M U N D O M O D E R N O , h o m e n s c m ul h er es são
pre par ados para se d e s s e n s ib iliz a re m de m o d o que p o ss a m sair mais
f a c i l m e n t e de um r e l a c i o n a m e n t o para o u t r o . F r e q u e n t e m e n t e isso
envol ve f a z e r q q u e b r a r o v o t o de c a s a m e n t o . Sair de um r e l a c i o n a m e n t o
para o u t r o t em se t o r n a d o um “p a s s a t e m p o n a c i o n a l ”. As pessoas
c o m e ç a m m ui t o c e d o no n a m o r o r ec re a t i v o e, a pesar dos alertas,
m u i t o s desses n a m o r o s levam a um r e l a c i o n a m e n t o sexual p r e c o c e .

Nesse aspecto, o padrão de comportamento entre os jovens cristãos não é


muito diferente do mundo. Uma vez que a igreja adotou amplamente o
modelo de namoro mundano, os muros de proteção designados por Deus
para os nossos filhos desmoronaram.

O modelo de namoro recreativo ruiu; é tempo de retornar ao padrão de união


bíblica. Há muitas conseqüências destrutivas — de ordem emocional, sexual
e espiritual — para os que não adotam o modelo de namoro ou cortejo
bíblico. O propósito deste livro é definir, defender, e descrever como
funciona um cortejo ou namoro bíblico.

D O U G L A S WILSON é p a s t o r da C h r i s t C h u r c h em M o s c o w ,
I d a h o , E s t a d o s U n i d o s , e e d i t o r da r e v i s t a C r e d e n d a / A g e n d a .
E l e é a u t o r de R e f o r m a n d o o C a s a m e n t o e F i d e l i d a d e , da s érie
b e s t - s e lle r s o b r e f a m í l i a , a m b o s p u b l i c a d o s pela e d i t o r a C L I R E .
C a s a d o c o m N a n c y , t e m t r ê s f i l h o s e um m o n t ã o de n e t o s .

CEN TRO
DE LITERATURA
REFORMADA

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