Quatro Elementos Fundamentais

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QUATRO ELEMENTOS FUNDAMENTAIS

DE UM ESPAÇO LITÚRGICO

Por Frei José Ariovaldo da Silva, ofm

Deus se comunica com a gente através de sinais sensíveis. Ora, na celebração da


divina Liturgia é que temos um dos lugares mais excelentes em que Deus, no Cristo e
pelo Espírito Santo, comunica ao seu povo o dom de sua presença salvadora. Por isso, a
Liturgia – toda ela! – é feita de sinais sensíveis. Toda ela, em todos os seus detalhes,
tem – e deve ter! – sua indispensável dimensão simbólico-sacramental. A começar pelo
lugar físico em que acontece a celebração litúrgica.
Quatro são os elementos fundamentais que não devem faltar na organização
simbólico-sacramental do espaço litúrgico, pelos quais nos é dado perceber da presença
amorosa de Deus na celebração da divina Liturgia. Valorizar a presença destes quatro
elementos, com seu sentido profundamente teológico, eis um dos grandes desafios a
partir da nova sensibilidade litúrgica despertada (resgatada!) a partir do Concílio
Vaticano II. Cristo está real e vivamente presente na Liturgia (cf. SC 7). Ora, tal
presença deve ser percebida, sentida, como que de maneira palpável, já quando alguém
entra num local preparado para uma celebração litúrgica, seja numa igreja, seja em
outro espaço. O próprio espaço celebrativo, com a evidência destes quatro elementos
fundamentais em destaque, deve nos comunicar esta presença.

O altar

O centro de nossa fé cristã é o sacrifício de Cristo, sua total entrega por nós
confirmada pela Ressurreição e o dom do Espírito. Ou, no dizer dos antigos santos
Padres (Epifânio e Cirilo de Alexandria): Cristo se tornou para nós a vítima, o
sacerdote, e o altar de seu sacrifício.
E pensar que esta entrega se faz presente precisamente sobre o altar de nossas
igrejas, toda vez que celebramos o memorial da Páscoa, na santa Missa! Ou, como
explicita a nova Instrução Geral do Missal Romano: “O altar, onde se torna presente o
sacrifício da cruz sob os sinais sacramentais, é também a mesa do Senhor na qual o
povo de Deus é convidado a participar por meio da Missa; é ainda o centro da ação de
graças que se realiza pela Eucaristia” (n. 296).
Assim sendo, o centro de tudo, sobretudo da assembléia reunida, o ponto de
convergência e atenção, dentro do espaço celebrativo, só tem que ser sempre o altar. E
nada – e ninguém! – tem o direito de “roubar-lhe a cena”. A razão é simples: O altar re-
presenta (traz-nos sempre presente à memória) aquilo que é mais sagrado para nós,
Cristo em sua entrega total por nós, ontem, hoje e sempre. O altar é uma memória
permanente de que “o altar é Cristo”. Deus nos manifesta a presença do Sacrifício de
Cristo na centralidade simbólica do altar. Assim sendo, a primeira coisa que, de cara,
deveria nos “encher os olhos”, já desde que entramos numa igreja para a celebração
litúrgica, é a visão do altar do Sacrifício eucarístico, em torno do qual nos reunimos
para o banquete pascal.

A mesa da Palavra

Antes de celebrarmos o memorial do Sacrifício redentor de Cristo, Deus nos fala


quando são feitas as leituras, inclusive quando se canta o Salmo responsorial (que
também é palavra de Deus!). É o próprio Deus que se comunica conosco e nos
comunica o seu amor, quando é proclamada a sua palavra na celebração litúrgica. Como
explicitamente diz a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, do Concílio Vaticano II:
Cristo está presente “pela sua palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se lêem as
Sagradas Escrituras na igreja” (SC 7). Se assim é, pensemos na imensa dignidade desta
palavra, quando ela é proclamada! Pois é palavra do próprio Deus!...
Assim sendo, segundo nos orienta a nova Instrução Geral do Missal Romano, “a
dignidade da palavra de Deus requer na igreja um lugar condigno de onde possa ser
anunciada e para onde se volte espontaneamente a atenção dos fiéis no momento da
liturgia da Palavra” (n. 309). Trata-se da mesa da Palavra, ou ambão (do grego
“anabaino”, subir, porque costuma estar em posição elevada, de onde Deus fala). Cristo
é o protagonista da ação litúrgica, também no ambão, o espaço reservado para a
proclamação da palavra de Deus. Isto significa que este espaço possui, também ele, um
sentido simbólico-sacramental de fundamental importância. Ele nos evoca a presença
viva do Senhor falando para o seu povo.

O espaço da assembléia

Outro elemento fundamental de um espaço litúrgico: O lugar da assembléia. Por


que? É que a assembléia litúrgica não é uma simples congregação de pessoas, como
qualquer outra. Uma vez constituída, mais que um mero ajuntamento de pessoas, ela é
uma comunhão de cristãos e cristãs, dispostos a ouvir atentamente a palavra de Deus e
celebrar dignamente a Eucaristia. Melhor ainda: É o próprio corpo de Cristo, cujos
membros somos cada um de nós. E isto significa que, como tal, deve tratar-se de uma
assembléia altamente participativa (cf. SC 14).
Assim sendo, também o espaço da assembléia deve aparecer como um “espaço
do Cristo” enquanto corpo feito de muitos membros. E que todos os fiéis reunidos
possam senti-lo como tal, tanto pela disposição arquitetônica geral do espaço, como pela
disposição dos bancos ou cadeiras, em que todos os membros da assembléia possam
sentir-se realmente como corpo bem unido, na escuta atenta da Palavra e na participação
digna da Liturgia eucarística.

A cadeira da presidência

Na verdade, quem preside a Liturgia é o Cristo, na pessoa do presidente da


assembléia litúrgica. O sacerdote que preside a Eucaristia é o sinal sacramental de
Cristo Jesus que está presente, mas de maneira invisível. Ao presidir a celebração, ao
elevar a oração a Deus em nome de todos, ao explicar a palavra de Deus à comunidade,
o sacerdote atua em nome deste Cristo. Por isso ele preside, ou seja, ele se senta diante
de toda a assembléia, como representante do verdadeiro Presidente e Mestre, que é
Senhor Jesus. Para isso é que a Igreja o colocou diante de todos, por mediação do bispo.
Assim sendo, para visualizar o mistério da presidência de Cristo na pessoa do
ministro (cf. SC 14), a Igreja recomenda que se coloque em destaque a cadeira de quem
preside. Como vemos na nova Instrução Geral do Missal Romano: “A cadeira do
sacerdote celebrante deve manifestar a sua função de presidir a assembléia e dirigir a
oração” (n. 310). Em outras palavras, como já dissemos, a cadeira presidencial em
destaque evoca a presença invisível do Cristo que preside a Liturgia na pessoa do
ministro.

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