Chico Xavier - Pelo Espírito Meimei - Pai Nosso
Chico Xavier - Pelo Espírito Meimei - Pai Nosso
Chico Xavier - Pelo Espírito Meimei - Pai Nosso
Pai Nosso
Índice
No Livro de Meimei..............................................................4
Primeira Parte: Pai Nosso, que estás nos Céus .....................5
1 - Pai Nosso, que estás nos Céus ............................................. 5
2 - Existência de Deus .............................................................. 6
3 - Presença Divina................................................................... 7
4 - Nosso Pai............................................................................. 9
5 - Pensamentos ...................................................................... 10
Segunda Parte: Santificado seja o Teu Nome.....................11
6 - Santificado seja o Teu Nome ............................................. 11
7 - Glorificando o Santo Nome ............................................... 12
8 - Cânticos de Louvor ........................................................... 14
9 - Louvado seja Deus ............................................................ 15
10 - Lembranças ..................................................................... 17
Terceira parte: Venha a nós o Teu Reino ...........................18
11 - Venha a nós o Teu Reino................................................. 18
12 - A Lição da Bondade ........................................................ 20
13 - Algo Mais........................................................................ 22
14 - Fé e Perseverança ............................................................ 24
15 - Uma Carta Materna ......................................................... 26
Quarta Parte: Seja feita a Tua vontade, assim na Terra
como no Céu .......................................................................28
16 - Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu.... 28
17 - O Serviço da Perfeição .................................................... 29
18 - O Pequeno Aborrecimento .............................................. 31
19 - A Alegria no Dever ......................................................... 32
20 - Reflexões......................................................................... 33
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 3
No Livro de Meimei
Meimei não é somente valorosa missionária do bem e da luz,
em nosso círculo de ação, mas também devotada orientadora de
crianças e que se desvela, no mundo espiritual, pela formação da
mente infantil à claridade do Evangelho Redentor.
Colocando a sensibilidade a serviço da inteligência, em seu
formoso ideal de servir, tomou a prece dominical e, com ela, com
pôs o delicado poema de comentários e contos, lendas e observa-
ções que vamos ler, recordando as lições inesquecíveis do nosso
Divino Mestre.
Para todas as situações difíceis e para todos os problemas da
luta humana encontrou na oração do Senhor um ensino e uma
solução, um apontamento e uma bênção, oferecendo-os às crian-
ças, nestas páginas que constituem fragmentos luminosos do seu
coração, em forma de letras.
Que Deus lhe multiplique as energias, na plantação do bem, e
que os raios de amor da sua abençoada maternidade espiritual se
irradiem, com crescentes fulgurações por toda a parte, em favor
dos pequeninos, são os nossos votos.
Emmanuel
Pedro Leopoldo, 12 de junho de 1952
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 5
Primeira Parte
Pai Nosso, que estás nos Céus
2 - Existência de Deus
Conta-se que um velho árabe analfabeto orava com tanto fer-
vor e com tanto carinho, cada noite, que, certa vez, o rico chefe de
grande caravana chamou-o à sua presença e lhe perguntou:
– Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe,
quando nem ao menos sabes ler?
O crente fiel respondeu:
– Grande senhor, conheço a existência de Nosso Pai Celeste
pelos sinais dele.
– Como assim? – indagou o chefe, admirado.
O servo humilde explicou-se:
– Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como
reconhece quem a escreveu?
– Pela letra.
– Quando o senhor recebe uma jóia, como é que se informa
quanto ao autor dela?
– Pela marca do ourives.
O empregado sorriu e acrescentou:
– Quando ouve passos de animais, ao redor da tenda, como
sabe, depois, se foi um carneiro, um cavalo ou um boi?
– Pelos rastros – respondeu o chefe, surpreendido.
Então, o velho crente convidou-o para fora da barraca e, mos-
trando-lhe o céu, onde a Lua brilhava, cercada por multidões de
estrelas, exclamou, respeitoso:
– Senhor, aqueles sinais, lá em cima, não podem ser dos ho-
mens!
Nesse momento, o orgulhoso caravaneiro, de olhos lacrimo-
sos, ajoelhou-se na areia e começou a orar também.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 7
3 - Presença Divina
Um homem, ignorante ainda das Leis de Deus, caminhava ao
longo de enorme pomar, conduzindo um pequeno de seis anos.
Eram Antoninho e seu tio, em passeio na vizinhança da casa
em que residiam.
Contemplavam, com água na boca, as laranjas maduras, e
respiravam, a bom respirar, o ar leve e puro da manhã.
A certa altura da estrada, o velho depôs uma sacola sobre a
grama verde e macia e começou a enchê-la com os frutos que
descansavam em grandes caixas abertas, ao mesmo tempo que
lançava olhares medrosos, em todas as direções.
Preocupado com o que via, Antoninho dirigiu-se ao compa-
nheiro e indagou:
– Que fazes, titio?
Colocando o indicador da mão direita nos lábios entreabertos,
o velho respondeu:
– Psiu!... psiu!...
Em seguida, acrescentou em voz baixa:
– Aproveitemos agora, enquanto ninguém nos vê, e apanhe-
mos algumas laranjas, às escondidas.
O menino, contudo, muito admirado, apontou com um dos
pequenos dedos para o céu e exclamou:
– Mas, o senhor não sabe que Deus nos está vendo?
Muito espantado, o velho empalideceu e voltou a recolocar os
frutos na caixa, de onde os havia retirado, murmurando:
– Obrigado, meu Deus, por haveres despertado a minha cons-
ciência, pelos lábios de uma criança.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 8
4 - Nosso Pai
Quando acordamos para a razão, descobrimos os traços vivos
da Bondade de Deus, por toda parte.
Seu imenso carinho para conosco está no Sol que nos aquece,
dando sustento e alegria a todos os seres e a todas as coisas; nas
nuvens que fazem a chuva para o contentamento da Natureza; nas
águas dos rios e das fontes, que deslizam para o benefício das
cidades, dos campos e dos rebanhos; no pão que nos alimenta; na
doçura do vento que refresca; na bondade das árvores que nos
estendem os galhos dadivosos, em forma de braços ricos de bên-
çãos; na flor que espalha perfume na atmosfera; na ternura e na
segurança de nosso lar; na assistência dos nossos pais, dos nossos
irmãos e dos nossos amigos que nos ajudam a vencer as dificulda-
des do mundo e da vida, e na providência silenciosa, que nos
garante a conservação da saúde e da paz espiritual.
Muitos homens de ciência pretendem definir Deus para nós,
mas, quando reparamos na proteção do Todo-Poderoso, dispensa-
da aos nossos caminhos e aos nossos trabalhos na Terra, em todos
os instantes da vida, somos obrigados a reconhecer que o mais
belo nome que podemos dar ao Supremo Senhor é justamente
aquele que Jesus nos ensinou em sua divina oração: – “Nosso
Pai”.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 10
5 - Pensamentos
* Deus é nosso Pai.
* Somos irmãos uns dos outros.
* Jesus é o Divino Mestre que Deus nos enviou.
* A oração é o meio imediato de nossa comunhão com o Pai
Celestial.
* Nossos melhores pensamentos procedem da inspiração do
Alto.
* A presença de Deus pode ser facilmente observada na bon-
dade permanente e na inteligência silenciosa da Natureza que nos
cerca.
* Devemos amar-nos uns aos outros.
* A voz divina pode ser reconhecida nos bons conselhos.
* Sempre que ajudarmos, seremos ajudados.
*
Em nossa terna Mãezinha,
Cheia de santa afeição,
Sentimos que Deus nos fala
No fundo do coração.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 11
Segunda Parte
Santificado seja o Teu Nome
8 - Cânticos de Louvor
Quando a vida começava no mundo, os pássaros sofriam bas-
tante.
Pousavam nas árvores e sabiam voar, mas como haviam de
criar os filhotinhos? Isso era muito difícil.
Obrigados a deixar os ovos no chão, viam-se, quase sempre,
perseguidos e humilhados.
A chuva resfriava-os e os grandes animais, pisando neles,
quebravam-nos sem compaixão.
E as cobras? Essas rastejavam no solo, procurando-os para
devorá-Los, na presença dos próprios pais, aterrados e trêmulos.
Conta-se que, por isso, as aves se reuniram e rogaram ao Pai
Celestial lhes desse o socorro necessário.
Deus ouviu-as e enviou-lhes um anjo que passou a orientá-las
na construção do ninho.
Os pássaros não dispunham de mãos; entretanto, o mensagei-
ro inspirou-os a usar os biquinhos e, mostrando-lhes os braços
amigos das árvores, ensinou-os a transportar pequeninas migalhas
da floresta, ajudando-os a tecer os ninhos no alto.
Os filhotinhos começaram a nascer sem aborrecimentos, e,
quando as tempestades apareceram, houve segurança geral.
Reconhecendo que o Pai Celeste havia respondido às suas o-
rações, as aves combinaram entre si cantar todos os dias, em
louvor do Santo Nome de Deus.
Por essa razão, há passarinhos que se fazem ouvir pela ma-
nhã, outros durante o dia e outros, ainda, no transcurso da noite.
Quando encontrarmos uma ave cantando, lembremo-nos,
pois, de que do seu coraçãozinho, coberto de penas, está saindo o
eterno agradecimento que Deus está ouvindo nos céus.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 15
10 - Lembranças
* O mundo em que vivemos é propriedade de Deus.
* Devemos agradecer as bênçãos de Nosso Pai Celestial, to-
dos os dias.
* O coração agradecido ao Senhor espalha a bondade e a ale-
gria em seu nome.
* Jesus rendia graças a Deus, auxiliando o próximo.
* A Natureza diariamente glorifica a Divina Bondade, na luz
do Sol, na suavidade do vento, no canto das aves e no perfume
das flores.
* Quem ajuda às plantas e aos animais revela respeito e cari-
nho na Criação de Nosso Pai Celestial.
* Devo ser bom para com todos, porque Deus tem sido infini-
tamente bom para comigo, em todas as ocasiões.
* Quem trabalha com alegria mostra reconhecimento ao Céu.
* Cooperando de boa-vontade com os outros, estaremos ser-
vindo a Deus.
*
No canto dos passarinhos,
No campo, no mar, na flor,
A vida está repetindo:
– Louvado seja o Senhor!...
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 18
Terceira parte
Venha a nós o Teu Reino
12 - A Lição da Bondade
Quando Jesus entrou vitoriosamente em Jerusalém, montado
num burrico, eis que o povo, alvoroçado, vinha vê-lo e saudá-lo
na praça pública.
Muitos supunham que o Mestre seria um dominador igual aos
outros e bradavam:
– Glória ao Rei de Israel!...
– Abaixo os romanos!...
– Hosanas ao vencedor!...
– Viva o Filho de David!...
– Viva o Rei dos Judeus!...
E atapetavam a rua de flores.
Rosas e lírios, palmas coloridas e folhas aromáticas cobriam
o chão por onde o Salvador deveria passar.
O Mestre, contudo, sobre o animalzinho cansado, parecia tris-
te e pensativo. Talvez refletisse que a alegria ruidosa do povo não
era o tipo de felicidade que ele desejava. Queria ver o povo con-
tente, mas sem ódio e sem revolta, inspirado pelo bem que ajuda a
conservação das bênçãos divinas.
O glorificado montador ia, assim, em silêncio, quando linda
jovem se destacou da multidão, abeirou-se dele e lhe entregou
uma braçada de rosas, exclamando:
– Senhor, ofereço-te estas flores para o Reino de Deus.
O Cristo fixou nela os olhos cheios de luz e indagou:
– Queres realmente servir ao Reino do Céu?
– Oh! sim... – disse a moça, feliz.
– Então – pediu-lhe o Mestre –, ajuda-me a proteger o burrico
que me serve, trazendo-lhe um pouco de capim e água fresca.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 21
13 - Algo Mais
Um crente sincero na Bondade do Céu, desejando aprender
como colaborar na construção do Reino de Deus, pediu, certo dia,
ao Senhor a graça de compreender os Propósitos Divinos e saiu
para o campo.
De início, encontrou-se com o Vento que cantava e o Vento
lhe disse:
– Deus mandou que eu ajudasse as sementeiras e varresse os
caminhos, mas eu gosto também de cantar, embalando os doentes
e as criancinhas.
Em seguida, o devoto surpreendeu uma Flor que inundava o
ar de perfume, e a Flor lhe contou:
– Minha missão é preparar o fruto; entretanto, produzo tam-
bém o aroma que perfuma até mesmo os lugares mais impuros.
Logo após, o homem estacou ao pé de grande
Árvore, que protegia um poço d’água, cheio de rãs, e a Árvo-
re lhe falou:
– Confiou-me o Senhor a tarefa de auxiliar o homem; contu-
do, creio que devo amparar igualmente as fontes, os pássaros e os
animais.
O visitante fixou os feios batráquios e fez um gesto de repul-
sa, mas a Árvore continuou:
– Estas rãs são boas amigas. Hoje posso ajudá-las, mas depois
serei ajudada por elas, na defesa de minhas próprias raízes, contra
os vermes da destruição e da morte.
O devoto compreendeu o ensinamento e seguiu adiante, atin-
gindo uma grande cerâmica.
Acariciou o barro que estava sobre a mesa e o Barro lhe dis-
se:
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 23
14 - Fé e Perseverança
Três rapazes suspiravam por encontrar o Senhor, a fim de fa-
zer-lhe rogativas.
Depois de muitas orações, eis que, certa vez, no campo em
que trabalhavam, apareceu-lhes o carro do Senhor, guiado pelos
anjos.
Radiante de luz, o Divino Amigo desceu da carruagem e pôs-
se a ouvi-los.
Os três ajoelharam-se em lágrimas de júbilo e o primeiro im-
plorou a Jesus o favor da riqueza. O Mestre, bondoso, determinou
que um dos anjos lhe entregasse enorme tesouro em moedas, O
segundo suplicou a beleza perfeita e o Celeste Benfeitor mandou
que um dos servidores lhe desse um milagroso ungüento a fim de
que a formosura lhe brilhasse no rosto. O terceiro exclamou com
fé:
– Senhor, eu não sei escolher... Dá-me o que for justo, segun-
do a tua vontade.
O Mestre sorriu e recomendou a um dos seus anjos lhe entre-
gasse uma grande bolsa.
Em seguida, abençoou-os e partiu...
O moço que recebera a bolsa abriu-a, ansioso, mas, oh! de-
sencanto!... Ela continha simplesmente uma enorme pedra.
Os companheiros riram-se dele, supondo-o ludibriado, mas o
jovem afirmou a sua fé no Senhor, levou consigo a pedra e come-
çou a desbastá-la, procurando, procurando...
Depois de algum tempo, chegou ao coração do bloco endure-
cido e encontrou aí um soberbo diamante. Com ele adquiriu gran-
de fortuna e com a fortuna construiu uma casa onde os doentes
pudessem encontrar refúgio e alivio, em nome do Senhor.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 25
APONTAMENTO
Quarta Parte
Seja feita a Tua vontade,
assim na Terra como no Céu
17 - O Serviço da Perfeição
Um velho oleiro, muito dedicado ao trabalho, certa feita ado-
eceu gravemente e entrou a passar enormes dificuldades.
Os parentes, aos quais ele mais servira, moravam em regiões
distantes e pareciam haver perdido a memória...
Sem ninguém que o auxiliasse, passou a viver da caridade
pública, mas, quando esmolava, caiu na via pública e quebrou
uma das pernas, sendo obrigado a recolher-se à cama por longo
tempo.
Chorando, amargurado, fez uma prece e rogou a Deus alguma
consolação para os seus males.
Então, dormiu e sonhou que um anjo lhe apareceu, trazendo a
resposta pedida.
O mensageiro do Céu conduziu-o até o antigo forno em que
trabalhava, e, mostrando-lhe alguns formosos vasos de sua produ-
ção, perguntou:
– Como é que você conseguiu realizar trabalhos assim tão
perfeitos?
O oleiro, orgulhoso de sua obra, informou:
– Usando o fogo com muito cuidado e com muito carinho, no
serviço da perfeição. Alguns vasos voltaram ao calor intenso duas
ou três vezes.
– E sem fogo você realizaria a sua tarefa?
– Indagou, ainda, o emissário.
– Nunca! - Respondeu o velho, certo do que afirmava.
– Assim também esclareceu o anjo, bondoso -, o sofrimento e
a luta são as chamas invisíveis que Nosso Pai Celestial criou para
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 30
18 - O Pequeno Aborrecimento
Um moço de boas maneiras, incapaz de ofender os que lhe
buscavam o concurso amigo, sempre meditava na. Vontade de
Deus, disposto a cumpri-la.
Certa vez, muito preocupado com o horário, aproximou-se de
um pequeno ônibus, com a intenção de aproveitá-lo para a traves-
sia de extenso trecho da cidade em que morava, mas, no momento
exato em que o ia fazer, surgiu-lhe à frente um vizinho, que lhe
prendeu a atenção para longa conversa.
O rapaz consultava o relógio, de segundo a segundo, deixan-
do perceber a pressa que o levava a movimentar-se rápido, mas o
amigo, segurando-lhe o braço, parecia desvelar-se em transmitir-
lhe todas as minudências de um caso absolutamente sem impor-
tância.
Contrafeito com a insistência da conversação aborrecida e i-
nútil, o jovem ouvia o companheiro, por espírito de gentileza,
quando o veículo largou sem ele.
Daí a alguns minutos, porém, correu inquietante notícia.
A máquina estava sendo guiada por um condutor embriagado
e precipitara-se num despenhadeiro, espatifando-se.
Ouvindo com paciência uma palestra incômoda, o moço fora
salvo de triste desastre.
O jovem refletiu sobre a ocorrência e chegou à conclusão de
que, muitas vezes, a Vontade Divina se manifesta, em nosso
favor, nas pequenas contrariedades do caminho, ajudando-nos a
cumprir nossos mais simples deveres, e passou a considerar, com
mais respeito e atenção, as circunstâncias inesperadas que nos
surgem à frente, na esfera dos nossos deveres de cada dia.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 32
19 - A Alegria no Dever
Quando Jesus estava entre nós, recebeu certo dia a visita do
apóstolo João, muito jovem ainda, que lhe disse estar incumbido,
por seu pai Zebedeu, de fazer uma viagem a povoado próximo.
Era, porém, um dia de passeio ao monte e o moço achava-se
muito triste.
O Divino Amigo, contudo, exortou-o a cumprir o dever.
Seu pai precisava do serviço e não seria justo prejudicá-lo.
João ouviu o conselho e não vacilou.
O serviço exigiu-lhe quatro dias, mas foi realizado com êxito.
Os interesses do lar foram beneficiados, mas Zebedeu, o ho-
nesto e operoso ancião, afligiu-se muito porque o rapaz regressara
de semblante contrafeito.
O Mestre notou-lhe o semblante sombrio e, convidando-o a
entendimento particular, observou:
– João, cumpriste o prometido?
– Sim – respondeu o apóstolo.
– Atendeste à Vontade de Deus, auxiliando teu pai?
– Sim – tornou o jovem, visivelmente contrariado –, acredito
haver efetuado todas as minhas obrigações.
Jesus, entretanto, acentuou, sorrindo calmo:
– Então, ainda falta um dever a cumprir – o dever de perma-
neceres alegre por haveres correspondido à confiança do Céu.
O companheiro da Boa Nova meditou sobre a lição e fez-se
contente.
A tranqüilidade voltou ao coração e à fisionomia do velho
Zebedeu e João compreendeu que, no cumprimento da Vontade de
Deus, não podemos e nem devemos entristecer ninguém.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 33
20 - Reflexões
Podemos discernir a Vontade de Deus, em todas as situações:
No sofrimento, é a Paciência.
Na perturbação, é a Serenidade.
Diante da maldade, é o Bem que auxilia sempre.
Perante as sombras, é a Luz.
No trabalho, é o devotamento ao Dever.
Na amargura, é a Esperança.
No erro, é a Corrigenda.
Na queda, é o Reerguimento.
Na luta, é o Valor Moral.
Na tentação, é a Resistência.
Junto à discórdia, é a Harmonia.
À frente do ódio, é o Amor.
No ruído da maledicência, é o Silêncio.
Na ofensa, é o Perdão Completo.
Na vida comum, é a Bondade em favor de todos.
Quinta parte
O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje
22 - A Necessidade do Esforço
Conta-se que, no principio da vida terrestre, o alimento das
criaturas era encontrado como oferta da Divina Providência, em
toda parte.
Em troca de tanta bondade, o Pai Celeste rogava aos corações
mais esforço no aperfeiçoamento da vida.
O povo, no entanto, observando que tudo lhe vinha de graça,
começou a menosprezar o serviço.
O mato inútil cresceu tanto, que invadia as casas, onde toda a
gente se punha a comer e dormir.
Ninguém desejava aprender a ler.
A ferrugem, o lixo e o mofo apareciam em todos os lugares.
Animais, como os cães que colaboram na vigilância, e aves,
como os urubus que auxiliam nas obras de limpeza, eram mais
prestativos que os homens.
Vendo que ninguém queria corresponder à confiança divina,
o Pai Celestial mandou retirar as facilidades existentes, determi-
nando que os habitantes da Terra se esforçassem na conquista da
própria manutenção.
Desde esse tempo, o ar e a água, o Sol e as flores, a claridade
das estrelas e o luar continuaram gratuitos para o povo, mas o
trabalho forçado da alimentação passou a vigorar como sendo
uma lei para todos, porque, lutando para sustentar-se, o homem
melhora a terra, limpa a habitação, aprende a ser sábio e garante o
progresso.
Deus dá tudo.
O solo, a chuva, o calor, o vento, o adubo e a orientação cons-
tituem dádivas dEle à Terra que povoamos e que devemos apri-
morar, mas o preparo do pão de cada dia, através do nosso próprio
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 37
23 - O Exemplo da Árvore
Dizem que quando a primeira árvore apareceu na Terra, trazia
do Pai Celestial a recomendação de alimentar o homem e auxiliá-
lo, em nome do Céu, por todos os meios que lhe fosse possível.
Resolvida a cumprir a ordenação do Senhor, certo dia foi visi-
tada por um ladrão, perseguido pela Justiça.
Ele sentia fome e, por isso, furtou-lhe vários frutos.
Em seguida, decepou-lhe muitos galhos, deles fazendo macia
cama para descansar e refazer-se.
A árvore não se agastou com o assalto. Parecia satisfeita em
ajudá-lo e até se mostrava interessada em adormecê-lo, agitando
harmoniosamente as folhas, tangidas pelo vento.
Erguendo-se, fortalecido, o pobre homem ouviu o ruído dos
acusadores que o buscavam e, angustiado, sem saber que rumo
tomar na várzea deserta, notou que o nobre vegetal, em silêncio,
como que o convidava a asilar-se em seus ramos.
Imediatamente, à maneira de um menino, o infeliz escalou o
tronco e escondeu-se na copa farta.
Os guardas vieram e, desistindo de encontrá-lo em razão da
busca infrutífera, retiraram-se para lugarejo distante.
Foi então que o desventurado desceu para o solo, impressio-
nado e comovido, reparando que se achava à frente de humilde
mensageira do Céu.
Roubara-lhe os frutos e mutilara-lhe as frondes; entretanto,
oferecera-lhe, ainda, seguro abrigo.
O homem infeliz começou a meditar no exemplo da árvore
venerável, incumbida por Deus de cooperar na distribuição do
alimento de cada dia na Terra, e, nela reconhecendo verdadeira
emissária do Céu, que lhe saciara a fome e lhe dispensara mater-
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 39
24 - O Alimento Espiritual
O professor lutava na escola com um grande problema.
Os alunos começaram a ler muitas histórias de homens maus,
de roubos e de crimes e passaram a viver em plena insubordina-
ção.
Queriam imitar aventureiros e malfeitores e, em razão disso,
na escola e em casa apresentavam péssimo comportamento.
Alguns pronunciavam palavrões, julgando-se bem-educados,
e outros se entregavam a brinquedos de mau gosto, acreditando
que assim mostravam superioridade e inteligência.
Esqueciam-se dos bons livros.
Zombavam dos bons conselhos.
O professor, em vista disso, certo dia reuniu todas as classes
para a merenda costumeira, apresentando uma surpresa esquisita.
Os pratos estavam cheios de coisas impróprias, tais como
pães envolvidos em lama, doces com batatas podres, pedaços de
maçãs com tomates deteriorados e geléias misturadas com fel e
pimenta.
Os meninos revoltados gritavam contra o que viam, mas o ve-
lho educador pediu silêncio e, tomando a palavra, disse-lhes:
– Meus filhos, se não podemos dispensar o alimento puro a
beneficio do corpo, precisamos também de alimento sadio para a
nossa alma. O pão garante a nossa energia física, mas a leitura é a
fonte de nossa vida espiritual. Os maus livros, as reportagens
infelizes, as difamações e as aventuras criminosas representam
substâncias apodrecidas que nós absorvemos, envenenando a vida
mental e prejudicando-nos a conduta. Se gostamos das refeições
saborosas que auxiliam a conservação de nossa saúde, procuremos
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 41
25 - Notas
* Há saúde do corpo e saúde da alma. Ambas devem estar
juntas.
* Deus concede-nos recursos mil, cada dia, para alimentar-
nos o espírito com as melhores emoções.
* Absorvemos os pensamentos uns dos outros.
* Auxilia a produção útil da Natureza e estarás cooperando
com a Providência Divina.
* Cede ao próximo o pão que sobra em tua mesa e o Senhor
te enriquecerá de bom ânimo e alegria.
* Atendendo a Deus, a Terra gasta milhões de vidas, cada dia,
a fim de sustentar-nos.
* Falar mal dos outros, ao invés de ajudá-los, é o mesmo que
envolver nossos sentimentos em lama invisível, ao invés de fazê-
los brilhar.
* Os frutos que te deliciam são os resultados do esforço da-
queles que passaram no mundo, antes de ti. Prepara a sementeira
de agora para os que virão no futuro.
* Planta uma árvore amiga e ajudarás aos que te ajudam.
Sexta Parte
Perdoa as nossas dívidas, assim como
perdoamos aos nossos devedores
27 - O Perdão Justo
Em certa cidade européia, um homem ignorante, considerado
malfeitor, foi condenado à morte na forca.
O juiz fora severo no julgamento.
Afirmava que o infeliz era grande criminoso e que só a pena
última podia solucionar-lhe a situação.
Alguns dias antes do enforcamento, o magistrado veio ao cár-
cere, em companhia de um filho, jovem alegre e de bom coração
que, em se aproximando de velho soldado, pôs-se a examinar-lhe
a arma de fogo.
Sem que o rapaz pudesse refletir no perigo do objeto que re-
virava nas mãos, um tiro escapou, rápido, e, com espanto de to-
dos, a bala, em disparada, alojou-se num dos braços do condenado
à morte, que observava a cena, tranqüilamente da grade.
Banhado em sangue, foi socorrido pelo juiz e pelos circuns-
tantes e, porque a palavra do magistrado fosse dura e cruel para o
filho irrefletido, o prisioneiro lembrou os ensinamentos de Jesus,
ajoelhou-se aos pés do visitante ilustre e suplicou-lhe desculpas
para o moço em lágrimas, afirmando que o jovem não tivera a
mínima intenção de magoá-lo.
O juiz notou a profunda sinceridade da rogativa e, em silên-
cio, passou a reparar que o condenado era portador de nobre
coração e de inexprimível bondade.
No dia imediato, promoveu medidas para a revisão do proces-
so que lhe dizia respeito e, em pouco tempo, a pena de morte era
comutada para somente alguns meses de prisão.
Perdoando ao rapaz que o ferira, o prisioneiro encontrou o
perdão justo para as suas faltas, conseguindo, desse modo, reco-
meçar a vida, em bases mais sólidas de paz, confiança, trabalho e
alegria.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 46
28 - O Efeito da Cólera
Um velho judeu, de alma torturada por pesados remorsos,
chegou, certo dia, aos pés de Jesus, e confessou-lhe estranhos
pecados.
Valendo-se da autoridade que detinha no passado, havia des-
pojado vários amigos de suas terras e bens, arremessando-os à
ruína total e reduzindo-lhes as famílias a doloroso cativeiro. Com
maldade premeditada, semeara em muitos corações o desespero, a
aflição e a morte.
Achava-se, desse modo, enfermo, aflito e perturbado... Médi-
cos não lhe solucionavam os problemas, cujas raízes se perdiam
nos profundos labirintos da consciência dilacerada.
O Mestre Divino, porém, ali mesmo, na casa de Simão Pedro,
onde se encontrava, orou pelo doente e, em seguida, lhe disse:
– Vai em paz e não peques mais.
O ancião notou que uma onda de vida nova lhe penetrara o
corpo, sentiu-se curado, e saiu, rendendo graças a Deus.
Parecia plenamente feliz, quando, ao atravessar a extensa fila
dos sofredores que esperavam pelo Cristo, um pobre mendigo,
sem querer, pisou-lhe num dos calos que trazia nos pés.
O enfermo restaurado soltou um grito terrível e atacou o
mendigo a bengaladas.
Estabeleceu-se grande tumulto.
Jesus veio à rua apaziguar os ânimos.
Contemplando a vítima em sangue, abeirou-se
do ofensor e falou:
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 47
29 - Mãezinha
Quando o Pai Celestial precisou colocar na Terra as primeiras
criancinhas, chegou à conclusão de que devia chamar alguém que
soubesse perdoar infinitamente.
De alguém que não enxergasse o mal.
Que quisesse ajudar sem exigir pagamento.
Que se dispusesse a guardar os meninos, com paciência e ter-
nura, junto do coração.
Que tivesse bastante serenidade para repetir incessantemente
as pequeninas lições de cada dia.
Que pudesse velar, noites e noites, sem reclamação.
Que cantarolasse, baixinho, para adormecer os bebês que ain-
da não podem conversar.
Que permanecesse em casa, por amor, amparando os meninos
que ainda não podem sair à rua.
Que contasse muitas histórias sobre a vida e sobre o mundo.
Que abraçasse e beijasse as crianças doentes.
Que lhes ensinasse a dar os primeiros passos, garantindo o
corpo de pé.
Que os conduzisse à escola, a fim de que aprendessem a ler.
Dizem que nosso Pai do Céu permaneceu muito tempo, exa-
minando, examinando... e, em seguida, chamou a Mulher, deu-lhe
o título de Mãezinha e confiou-lhe as crianças.
Por esse motivo, nossa Mãezinha é a representante do Divino
Amor no mundo, ensinando-nos a ciência do perdão e do carinho,
em todos os instantes de nossa jornada na Terra. Se pudermos
imitá-la, nos exemplos de bondade e sacrifício que constantemen-
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 49
30 - O Silêncio
O silêncio ajuda sempre:
Quando ouvimos palavras infelizes.
Quando alguém está irritado.
Quando a maledicência nos procura.
Quando a ofensa nos golpeia.
Quando alguém se encoleriza.
Quando a crítica nos fere.
Quando escutamos a calúnia.
Quando a ignorância nos acusa.
Quando o orgulho nos humilha.
Quando a vaidade nos provoca.
O silêncio é a gentileza do perdão que se cala e espera o tem-
po.
O PERDÃO
O perdão, em qualquer tempo,
É sempre um traço de luz,
Conduzindo a nossa vida
À comunhão com Jesus.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 51
Sétima parte
Não nos deixes cair em tentação
32 - O Problema da Tentação
O educador, em aula, tentava explicar aos meninos que o mó-
vel das tentações reside em nós mesmos; contudo, como os apren-
dizes mostravam muita dificuldade para compreender, ele se fez
acompanhar pelos alunos até ao grande pátio do colégio.
Ai chegando, mandou trazer uma bela espiga de milho e per-
guntou aos rapazes:
– Qual de vocês desejaria devorar esta espiga tal como está?
Os jovens sorriram, zombeteiramente, e um deles exclamou:
– Ora vejam!... quem se animaria a comer milho cru?
O professor então mandou vir à presença deles um dos cava-
los que serviam à escola, instalou alguns obstáculos à frente do
animal e colocou a espiga ao dispor dele, sobre pequena mesa.
O grande eqüino saltou, lépido, os impedimentos e avançou,
guloso, para o bocado.
O professor benevolente e amigo esclareceu, então, bondo-
samente, ante os alunos surpreendidos:
– A tentação nos procura, segundo os sentimentos que traze-
mos no campo íntimo. Quando cedemos a alguma fascinação
indigna, é que a nossa vontade permanece fraca, diante dos nossos
desejos inferiores. As forças que nos tentam correspondem aos
nossos próprios impulsos. Não podemos imaginar ou querer aqui-
lo que desconhecemos. Por esse motivo, necessitamos vigiar o
cérebro e o coração, a fim de selecionarmos as sugestões que nos
visitam o pensamento.
E, terminando, afirmou:
– As situações boas ou más, fora de nós, são iguais aos pro-
pósitos bons ou maus que trazemos conosco.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 54
33 - A Necessidade da Educação
No tempo em que não existia a locomoção fácil na Terra, um
grande rei simpatizou com fogoso cavalo de cores claras, da cria-
ção de sua casa; mas, ao desejá-lo para os serviços do palácio, foi
assim informado pelo chefe das cavalariças:
– Majestade, este animal é vitima de muitas tentações. Basta
que se movimente, de leve, para assustar-se e ocasionar desastres.
Uma simples folha seca na estrada é razão para inúmeros coices.
O rei ouviu, atencioso, e afirmou que remediaria a situação.
No dia seguinte, mandou atrelá-lo a enorme carroça de limpe-
za, onde o cavalo se viu tão preso que não pôde fazer outros mo-
vimentos, além dos necessários.
Depois de algumas semanas, o monarca determinou fizesse
ele o duro serviço dos burros, transportando cargas pesadíssimas.
A princípio, o animal se rebelava, escouceando o ar e relin-
chando fortemente; entretanto, foi tantas vezes visitado pelos
gritos e pelos chicotes dos peões e tantos fardos suportou que, ao
fim de algum tempo, era um modelo de mansidão e brandura,
sendo colocado no serviço real, com grande contentamento para o
soberano.
Assim acontece conosco, na vida.
Destinados ao trabalho da Vontade de Deus, se vivemos en-
tregues às tentações do mal, desobedientes e egoístas, determina o
Senhor que sejamos confiados à luta e à provação, à dificuldade e
ao sofrimento, os quais, pouco a pouco, nos ensinam a humildade
e o respeito, a diligência e a doçura.
Depois de passarmos pelos variados processos de educação
indispensável ao nosso burilamento, seremos então aproveitados,
com êxito e segurança, nos serviços gerais da Bondade de Deus,
junto de nossos irmãos.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 55
34 - A Tentação do Repouso
Num campo de lavoura, grande quantidade de vermes deseja-
va destruir um velho arado de madeira, muito trabalhador, que
lhes perturbava os planos e, em razão disso, certa ocasião se
reuniram ao redor dele e começaram a dizer:
– Por que não cuidas de ti? Estás doente e cansado...
– Afinal, todos nós precisamos de algum repouso ...
– Liberta-te do jugo terrível do lavrador!
– Pobre máquina! A quantos martírios te submetes!...
O arado escutou... escutou... e acabou acreditando.
Ele, que era tão corajoso, que nem sentia o mais leve incô-
modo nas mais duras obrigações, começou a queixar-se do frio da
chuva, do calor do Sol, da aspereza das pedras e da umidade do
chão.
Tanto clamou e chorou, implorando descanso, que o antigo
companheiro concedeu-lhe alguns dias de folga, a um canto do
milharal.
Quando os vermes o viram parado, aproximaram-se em mas-
sa, atacando-o sem compaixão.
Em poucos dias, apodreceram-no, crivando-o de manchas, de
feridas e de buracos.
O arado gemia e suspirava pelo socorro do lavrador, sonhan-
do com o regresso às tarefas alegres e iluminadas do campo...
Mas, era tarde.
Quando o prestimoso amigo voltou para utilizá-lo, era sim-
plesmente um traste inútil.
A história do arado é um aviso para nós todos.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 56
35 - A Bênção do Trabalho
É pela bênção do trabalho que podemos esquecer os pensa-
mentos que nos perturbam, olvidar os assuntos amargos, servindo
ao próximo, no enriquecimento de nós mesmos.
Com o trabalho, melhoramos nossa casa e engrandecemos o
trecho de terra onde a Providência Divina nos situou.
Ocupando a mente, o coração e os braços nas tarefas do bem,
exemplificamos a verdadeira fraternidade, e adquirimos o tesouro
da simpatia, com o qual angariaremos o respeito e a cooperação
dos outros.
Quem não sabe ser útil não corresponde à Bondade do Céu,
não atende aos seus justos deveres para com a Humanidade nem
retribui a dignidade da pátria amorosa que lhe serve de Mãe.
O trabalho é uma instituição de Deus.
SENDA DE PERFEIÇÃO
Quem move as mãos no serviço,
Foge á treva e à tentação.
Trabalho de cada dia
É senda de perfeição.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 58
Oitava Parte
Livra-nos do mal, porque Teu é o Reino,
o poder e a glória para sempre.
Assim seja.
Por isso, se somos escravos das nossas criações que, por ve-
zes, gastamos muito tempo a retificar, continuamos sempre livres
para desejar e imaginar.
E sabemos que qualquer serviço ou realização começa em
nossos sentimentos e pensamentos.
Saibamos, desse modo, conservar a nossa vontade à luz da
consciência reta, porque, rogando a Deus nos liberte do mal, é
preciso, por nossa vez, procurar o caminho do bem.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 60
37 - O Exemplo da Fonte
Um estudante da sabedoria, rogando ao seu instrutor lhe ex-
plicasse qual a melhor maneira de livrar-se do mal, foi por ele
conduzido a uma fonte que deslizava, calma e cristalina, e, se-
guindo-lhe o curso, observou:
– Veja o exemplo da fonte, que auxilia a todos, sem pergun-
tar, e que nunca se detém até alcançar a grande comunhão com o
oceano. Junto dela crescem as plantas de toda a sorte, e em suas
águas dessedentam-se animais de todos os tipos e feitios.
Enquanto caminhavam, um pequeno atirou duas pedras à cor-
rente e as águas as engoliram em silêncio, prosseguindo para
diante.
– Reparou? – disse o mentor amigo – a fonte não se insurgiu
contra as pedradas. Recebeu-as com paciência e seguiu trabalhan-
do.
Mais à frente, viram grosso canal de esgoto arremessando de-
tritos no corpo alvo das águas, mas a corrente absorvia o lodo
escuro, sem reclamações, e avançava sempre.
O professor comentou para o aprendiz:
– A fonte não se revolta contra a lama que lhe atiram à face.
Recolhe-a sem gritos e transforma-a em benefícios para a terra
necessitada de adubo.
Adiante ainda, notaram que, enquanto andorinhas se banha-
vam, lépidas, feios sapos penetravam também a corrente e pareci-
am felizes em alegres mergulhos.
As águas amparavam a todos sem a mínima queixa.
O bondoso mentor discípulo e terminou:
– Assinalemos o exemplo da fonte e aprenderemos a libertar-
nos de qualquer cativeiro, porque, em verdade, só aqueles que
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 61
marcham para diante, com o trabalho que Deus lhes confia, sem
se ligarem às sugestões do mal, conseguem vencer dignamente na
vida, garantindo, em favor de todos, as alegrias do Bem Eterno.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 62
38 - A História do Livro
O mundo vivia em grandes perturbações.
As criaturas andavam empenhadas em conflitos constantes,
assemelhando-se aos animais ferozes, quando em luta violenta.
Os ensinamentos dos homens bons, prudentes e sábios eram
rapidamente esquecidos, porque, depois da morte deles, ninguém
mais lhes lembrava a palavra orientadora e conselheira.
A Ciência começava com o esforço de algumas pessoas dedi-
cadas à inteligência; entretanto, rapidamente desaparecia porque
lhe faltava continuidade. Era impraticável o prosseguimento das
pesquisas louváveis, sem a presença dos iniciadores.
Por isso, o povo, como que sem luz, recaia sempre nos gran-
des erros, dominado pela ignorância e pela miséria.
Foi então que o Senhor, compadecendo-se dos homens, lhes
enviou um tesouro de inapreciável importância, com o qual se
dirigissem para o verdadeiro progresso.
Esse tesouro é o livro. Com ele, apareceu a escola, com a es-
cola, a educação foi consolidada na Terra e, com a educação, o
povo começou a livrar-se do mal, conscientemente.
Muitos homens de cérebro transviado escrevem maus livros,
inclinando a alma do mundo ao desespero e à ironia, ao desânimo
e à crueldade, mas, as páginas dessa natureza são apressadamente
esquecidas, porque o livro é realmente uma dádiva de Deus à
Humanidade para que os grandes instrutores possam clarear o
nosso caminho, conversando conosco, acima dos séculos e das
civilizações.
É pelo livro que recebemos o ensinamento e a orientação, o
reajuste mental e a renovação interior.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 63
39 - A Salvação Inesperada
Num país europeu, certa tarde, muito chuvosa, um maquinis-
ta, cheio de fé em Deus, começando a acionar a locomotiva com o
trem repleto de passageiros para longa viagem, fixou o céu escuro
e repetiu, com muito sentimento, a oração dominical.
O comboio percorreu léguas e léguas, dentro das trevas den-
sas, quando, alta noite, ele viu, à luz do farol aceso, alguns sinais
que lhe pareceram feitos pela sombra de dois braços angustiados a
lhe pedirem atenção e socorro.
Emocionado, fez o trem parar, de repente, e, seguido de mui-
tos viajantes, correu pelos trilhos de ferro, procurando verificar se
estavam ameaçados de algum perigo.
Depois de alguns passos, foram surpreendidos por gigantesca
inundação que, invadindo a terra com violência, destruíra a ponte
que o comboio deveria atravessar.
O trem fora salvo, milagrosamente.
Tomados de infinita alegria, o maquinista e os viajores procu-
raram a pessoa que lhes fornecera o aviso salvador, mas ninguém
aparecia. Intrigados, continuaram na busca, quando encontraram
no chão um grande morcego agonizante, O enorme voador batera
as asas, à frente do farol, em forma de dois braços agitados, e
caíra sob as engrenagens. O maquinista retirou-o com cuidado e
carinho, mostrou-o aos passageiros assombrados e contou como
orara, ardentemente, invocando a proteção de Deus, antes de
partir. E, ali mesmo, ajoelhou-se, ante o morcego que acabava de
morrer, exclamando em alta voz:
– Pai Nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome,
venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na Terra
como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje, perdoa as
nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores, não
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 65
40 - Prece
Senhor, ensina-nos a oferecer-te o coração puro e o pensa-
mento elevado na oração.
Ajuda-nos a pedir, em Teu Nome, para que a força de nossos
desejos não perturbe a execução de teus desígnios.
Ampara-nos, a fim de que o nosso sentimento se harmonize
com a tua vontade e que possamos, cada dia, ser instrumentos
vivos e operosos da paz e do amor, do aperfeiçoamento e da ale-
gria, de acordo com a tua Lei.
Assim seja.
Índice
No Livro de Meimei..............................................................4
Primeira Parte: Pai Nosso, que estás nos Céus .....................5
1 - Pai Nosso, que estás nos Céus ............................................. 5
2 - Existência de Deus .............................................................. 6
3 - Presença Divina................................................................... 7
4 - Nosso Pai............................................................................. 9
5 - Pensamentos ...................................................................... 10
Segunda Parte: Santificado seja o Teu Nome.....................11
6 - Santificado seja o Teu Nome ............................................. 11
7 - Glorificando o Santo Nome ............................................... 12
8 - Cânticos de Louvor ........................................................... 14
9 - Louvado seja Deus ............................................................ 15
10 - Lembranças ..................................................................... 17
Terceira parte: Venha a nós o Teu Reino ...........................18
11 - Venha a nós o Teu Reino................................................. 18
12 - A Lição da Bondade ........................................................ 20
13 - Algo Mais........................................................................ 22
14 - Fé e Perseverança ............................................................ 24
15 - Uma Carta Materna ......................................................... 26
Quarta Parte: Seja feita a Tua vontade, assim na Terra
como no Céu .......................................................................28
16 - Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu.... 28
17 - O Serviço da Perfeição .................................................... 29
18 - O Pequeno Aborrecimento .............................................. 31
19 - A Alegria no Dever ......................................................... 32
20 - Reflexões......................................................................... 33
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 3
No Livro de Meimei
Meimei não é somente valorosa missionária do bem e da luz,
em nosso círculo de ação, mas também devotada orientadora de
crianças e que se desvela, no mundo espiritual, pela formação da
mente infantil à claridade do Evangelho Redentor.
Colocando a sensibilidade a serviço da inteligência, em seu
formoso ideal de servir, tomou a prece dominical e, com ela, com
pôs o delicado poema de comentários e contos, lendas e observa-
ções que vamos ler, recordando as lições inesquecíveis do nosso
Divino Mestre.
Para todas as situações difíceis e para todos os problemas da
luta humana encontrou na oração do Senhor um ensino e uma
solução, um apontamento e uma bênção, oferecendo-os às crian-
ças, nestas páginas que constituem fragmentos luminosos do seu
coração, em forma de letras.
Que Deus lhe multiplique as energias, na plantação do bem, e
que os raios de amor da sua abençoada maternidade espiritual se
irradiem, com crescentes fulgurações por toda a parte, em favor
dos pequeninos, são os nossos votos.
Emmanuel
Pedro Leopoldo, 12 de junho de 1952
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 5
Primeira Parte
Pai Nosso, que estás nos Céus
2 - Existência de Deus
Conta-se que um velho árabe analfabeto orava com tanto fer-
vor e com tanto carinho, cada noite, que, certa vez, o rico chefe de
grande caravana chamou-o à sua presença e lhe perguntou:
– Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe,
quando nem ao menos sabes ler?
O crente fiel respondeu:
– Grande senhor, conheço a existência de Nosso Pai Celeste
pelos sinais dele.
– Como assim? – indagou o chefe, admirado.
O servo humilde explicou-se:
– Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como
reconhece quem a escreveu?
– Pela letra.
– Quando o senhor recebe uma jóia, como é que se informa
quanto ao autor dela?
– Pela marca do ourives.
O empregado sorriu e acrescentou:
– Quando ouve passos de animais, ao redor da tenda, como
sabe, depois, se foi um carneiro, um cavalo ou um boi?
– Pelos rastros – respondeu o chefe, surpreendido.
Então, o velho crente convidou-o para fora da barraca e, mos-
trando-lhe o céu, onde a Lua brilhava, cercada por multidões de
estrelas, exclamou, respeitoso:
– Senhor, aqueles sinais, lá em cima, não podem ser dos ho-
mens!
Nesse momento, o orgulhoso caravaneiro, de olhos lacrimo-
sos, ajoelhou-se na areia e começou a orar também.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 7
3 - Presença Divina
Um homem, ignorante ainda das Leis de Deus, caminhava ao
longo de enorme pomar, conduzindo um pequeno de seis anos.
Eram Antoninho e seu tio, em passeio na vizinhança da casa
em que residiam.
Contemplavam, com água na boca, as laranjas maduras, e
respiravam, a bom respirar, o ar leve e puro da manhã.
A certa altura da estrada, o velho depôs uma sacola sobre a
grama verde e macia e começou a enchê-la com os frutos que
descansavam em grandes caixas abertas, ao mesmo tempo que
lançava olhares medrosos, em todas as direções.
Preocupado com o que via, Antoninho dirigiu-se ao compa-
nheiro e indagou:
– Que fazes, titio?
Colocando o indicador da mão direita nos lábios entreabertos,
o velho respondeu:
– Psiu!... psiu!...
Em seguida, acrescentou em voz baixa:
– Aproveitemos agora, enquanto ninguém nos vê, e apanhe-
mos algumas laranjas, às escondidas.
O menino, contudo, muito admirado, apontou com um dos
pequenos dedos para o céu e exclamou:
– Mas, o senhor não sabe que Deus nos está vendo?
Muito espantado, o velho empalideceu e voltou a recolocar os
frutos na caixa, de onde os havia retirado, murmurando:
– Obrigado, meu Deus, por haveres despertado a minha cons-
ciência, pelos lábios de uma criança.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 8
4 - Nosso Pai
Quando acordamos para a razão, descobrimos os traços vivos
da Bondade de Deus, por toda parte.
Seu imenso carinho para conosco está no Sol que nos aquece,
dando sustento e alegria a todos os seres e a todas as coisas; nas
nuvens que fazem a chuva para o contentamento da Natureza; nas
águas dos rios e das fontes, que deslizam para o benefício das
cidades, dos campos e dos rebanhos; no pão que nos alimenta; na
doçura do vento que refresca; na bondade das árvores que nos
estendem os galhos dadivosos, em forma de braços ricos de bên-
çãos; na flor que espalha perfume na atmosfera; na ternura e na
segurança de nosso lar; na assistência dos nossos pais, dos nossos
irmãos e dos nossos amigos que nos ajudam a vencer as dificulda-
des do mundo e da vida, e na providência silenciosa, que nos
garante a conservação da saúde e da paz espiritual.
Muitos homens de ciência pretendem definir Deus para nós,
mas, quando reparamos na proteção do Todo-Poderoso, dispensa-
da aos nossos caminhos e aos nossos trabalhos na Terra, em todos
os instantes da vida, somos obrigados a reconhecer que o mais
belo nome que podemos dar ao Supremo Senhor é justamente
aquele que Jesus nos ensinou em sua divina oração: – “Nosso
Pai”.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 10
5 - Pensamentos
* Deus é nosso Pai.
* Somos irmãos uns dos outros.
* Jesus é o Divino Mestre que Deus nos enviou.
* A oração é o meio imediato de nossa comunhão com o Pai
Celestial.
* Nossos melhores pensamentos procedem da inspiração do
Alto.
* A presença de Deus pode ser facilmente observada na bon-
dade permanente e na inteligência silenciosa da Natureza que nos
cerca.
* Devemos amar-nos uns aos outros.
* A voz divina pode ser reconhecida nos bons conselhos.
* Sempre que ajudarmos, seremos ajudados.
*
Em nossa terna Mãezinha,
Cheia de santa afeição,
Sentimos que Deus nos fala
No fundo do coração.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 11
Segunda Parte
Santificado seja o Teu Nome
8 - Cânticos de Louvor
Quando a vida começava no mundo, os pássaros sofriam bas-
tante.
Pousavam nas árvores e sabiam voar, mas como haviam de
criar os filhotinhos? Isso era muito difícil.
Obrigados a deixar os ovos no chão, viam-se, quase sempre,
perseguidos e humilhados.
A chuva resfriava-os e os grandes animais, pisando neles,
quebravam-nos sem compaixão.
E as cobras? Essas rastejavam no solo, procurando-os para
devorá-Los, na presença dos próprios pais, aterrados e trêmulos.
Conta-se que, por isso, as aves se reuniram e rogaram ao Pai
Celestial lhes desse o socorro necessário.
Deus ouviu-as e enviou-lhes um anjo que passou a orientá-las
na construção do ninho.
Os pássaros não dispunham de mãos; entretanto, o mensagei-
ro inspirou-os a usar os biquinhos e, mostrando-lhes os braços
amigos das árvores, ensinou-os a transportar pequeninas migalhas
da floresta, ajudando-os a tecer os ninhos no alto.
Os filhotinhos começaram a nascer sem aborrecimentos, e,
quando as tempestades apareceram, houve segurança geral.
Reconhecendo que o Pai Celeste havia respondido às suas o-
rações, as aves combinaram entre si cantar todos os dias, em
louvor do Santo Nome de Deus.
Por essa razão, há passarinhos que se fazem ouvir pela ma-
nhã, outros durante o dia e outros, ainda, no transcurso da noite.
Quando encontrarmos uma ave cantando, lembremo-nos,
pois, de que do seu coraçãozinho, coberto de penas, está saindo o
eterno agradecimento que Deus está ouvindo nos céus.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 15
10 - Lembranças
* O mundo em que vivemos é propriedade de Deus.
* Devemos agradecer as bênçãos de Nosso Pai Celestial, to-
dos os dias.
* O coração agradecido ao Senhor espalha a bondade e a ale-
gria em seu nome.
* Jesus rendia graças a Deus, auxiliando o próximo.
* A Natureza diariamente glorifica a Divina Bondade, na luz
do Sol, na suavidade do vento, no canto das aves e no perfume
das flores.
* Quem ajuda às plantas e aos animais revela respeito e cari-
nho na Criação de Nosso Pai Celestial.
* Devo ser bom para com todos, porque Deus tem sido infini-
tamente bom para comigo, em todas as ocasiões.
* Quem trabalha com alegria mostra reconhecimento ao Céu.
* Cooperando de boa-vontade com os outros, estaremos ser-
vindo a Deus.
*
No canto dos passarinhos,
No campo, no mar, na flor,
A vida está repetindo:
– Louvado seja o Senhor!...
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 18
Terceira parte
Venha a nós o Teu Reino
12 - A Lição da Bondade
Quando Jesus entrou vitoriosamente em Jerusalém, montado
num burrico, eis que o povo, alvoroçado, vinha vê-lo e saudá-lo
na praça pública.
Muitos supunham que o Mestre seria um dominador igual aos
outros e bradavam:
– Glória ao Rei de Israel!...
– Abaixo os romanos!...
– Hosanas ao vencedor!...
– Viva o Filho de David!...
– Viva o Rei dos Judeus!...
E atapetavam a rua de flores.
Rosas e lírios, palmas coloridas e folhas aromáticas cobriam
o chão por onde o Salvador deveria passar.
O Mestre, contudo, sobre o animalzinho cansado, parecia tris-
te e pensativo. Talvez refletisse que a alegria ruidosa do povo não
era o tipo de felicidade que ele desejava. Queria ver o povo con-
tente, mas sem ódio e sem revolta, inspirado pelo bem que ajuda a
conservação das bênçãos divinas.
O glorificado montador ia, assim, em silêncio, quando linda
jovem se destacou da multidão, abeirou-se dele e lhe entregou
uma braçada de rosas, exclamando:
– Senhor, ofereço-te estas flores para o Reino de Deus.
O Cristo fixou nela os olhos cheios de luz e indagou:
– Queres realmente servir ao Reino do Céu?
– Oh! sim... – disse a moça, feliz.
– Então – pediu-lhe o Mestre –, ajuda-me a proteger o burrico
que me serve, trazendo-lhe um pouco de capim e água fresca.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 21
13 - Algo Mais
Um crente sincero na Bondade do Céu, desejando aprender
como colaborar na construção do Reino de Deus, pediu, certo dia,
ao Senhor a graça de compreender os Propósitos Divinos e saiu
para o campo.
De início, encontrou-se com o Vento que cantava e o Vento
lhe disse:
– Deus mandou que eu ajudasse as sementeiras e varresse os
caminhos, mas eu gosto também de cantar, embalando os doentes
e as criancinhas.
Em seguida, o devoto surpreendeu uma Flor que inundava o
ar de perfume, e a Flor lhe contou:
– Minha missão é preparar o fruto; entretanto, produzo tam-
bém o aroma que perfuma até mesmo os lugares mais impuros.
Logo após, o homem estacou ao pé de grande
Árvore, que protegia um poço d’água, cheio de rãs, e a Árvo-
re lhe falou:
– Confiou-me o Senhor a tarefa de auxiliar o homem; contu-
do, creio que devo amparar igualmente as fontes, os pássaros e os
animais.
O visitante fixou os feios batráquios e fez um gesto de repul-
sa, mas a Árvore continuou:
– Estas rãs são boas amigas. Hoje posso ajudá-las, mas depois
serei ajudada por elas, na defesa de minhas próprias raízes, contra
os vermes da destruição e da morte.
O devoto compreendeu o ensinamento e seguiu adiante, atin-
gindo uma grande cerâmica.
Acariciou o barro que estava sobre a mesa e o Barro lhe dis-
se:
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 23
14 - Fé e Perseverança
Três rapazes suspiravam por encontrar o Senhor, a fim de fa-
zer-lhe rogativas.
Depois de muitas orações, eis que, certa vez, no campo em
que trabalhavam, apareceu-lhes o carro do Senhor, guiado pelos
anjos.
Radiante de luz, o Divino Amigo desceu da carruagem e pôs-
se a ouvi-los.
Os três ajoelharam-se em lágrimas de júbilo e o primeiro im-
plorou a Jesus o favor da riqueza. O Mestre, bondoso, determinou
que um dos anjos lhe entregasse enorme tesouro em moedas, O
segundo suplicou a beleza perfeita e o Celeste Benfeitor mandou
que um dos servidores lhe desse um milagroso ungüento a fim de
que a formosura lhe brilhasse no rosto. O terceiro exclamou com
fé:
– Senhor, eu não sei escolher... Dá-me o que for justo, segun-
do a tua vontade.
O Mestre sorriu e recomendou a um dos seus anjos lhe entre-
gasse uma grande bolsa.
Em seguida, abençoou-os e partiu...
O moço que recebera a bolsa abriu-a, ansioso, mas, oh! de-
sencanto!... Ela continha simplesmente uma enorme pedra.
Os companheiros riram-se dele, supondo-o ludibriado, mas o
jovem afirmou a sua fé no Senhor, levou consigo a pedra e come-
çou a desbastá-la, procurando, procurando...
Depois de algum tempo, chegou ao coração do bloco endure-
cido e encontrou aí um soberbo diamante. Com ele adquiriu gran-
de fortuna e com a fortuna construiu uma casa onde os doentes
pudessem encontrar refúgio e alivio, em nome do Senhor.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 25
APONTAMENTO
Quarta Parte
Seja feita a Tua vontade,
assim na Terra como no Céu
17 - O Serviço da Perfeição
Um velho oleiro, muito dedicado ao trabalho, certa feita ado-
eceu gravemente e entrou a passar enormes dificuldades.
Os parentes, aos quais ele mais servira, moravam em regiões
distantes e pareciam haver perdido a memória...
Sem ninguém que o auxiliasse, passou a viver da caridade
pública, mas, quando esmolava, caiu na via pública e quebrou
uma das pernas, sendo obrigado a recolher-se à cama por longo
tempo.
Chorando, amargurado, fez uma prece e rogou a Deus alguma
consolação para os seus males.
Então, dormiu e sonhou que um anjo lhe apareceu, trazendo a
resposta pedida.
O mensageiro do Céu conduziu-o até o antigo forno em que
trabalhava, e, mostrando-lhe alguns formosos vasos de sua produ-
ção, perguntou:
– Como é que você conseguiu realizar trabalhos assim tão
perfeitos?
O oleiro, orgulhoso de sua obra, informou:
– Usando o fogo com muito cuidado e com muito carinho, no
serviço da perfeição. Alguns vasos voltaram ao calor intenso duas
ou três vezes.
– E sem fogo você realizaria a sua tarefa?
– Indagou, ainda, o emissário.
– Nunca! - Respondeu o velho, certo do que afirmava.
– Assim também esclareceu o anjo, bondoso -, o sofrimento e
a luta são as chamas invisíveis que Nosso Pai Celestial criou para
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 30
18 - O Pequeno Aborrecimento
Um moço de boas maneiras, incapaz de ofender os que lhe
buscavam o concurso amigo, sempre meditava na. Vontade de
Deus, disposto a cumpri-la.
Certa vez, muito preocupado com o horário, aproximou-se de
um pequeno ônibus, com a intenção de aproveitá-lo para a traves-
sia de extenso trecho da cidade em que morava, mas, no momento
exato em que o ia fazer, surgiu-lhe à frente um vizinho, que lhe
prendeu a atenção para longa conversa.
O rapaz consultava o relógio, de segundo a segundo, deixan-
do perceber a pressa que o levava a movimentar-se rápido, mas o
amigo, segurando-lhe o braço, parecia desvelar-se em transmitir-
lhe todas as minudências de um caso absolutamente sem impor-
tância.
Contrafeito com a insistência da conversação aborrecida e i-
nútil, o jovem ouvia o companheiro, por espírito de gentileza,
quando o veículo largou sem ele.
Daí a alguns minutos, porém, correu inquietante notícia.
A máquina estava sendo guiada por um condutor embriagado
e precipitara-se num despenhadeiro, espatifando-se.
Ouvindo com paciência uma palestra incômoda, o moço fora
salvo de triste desastre.
O jovem refletiu sobre a ocorrência e chegou à conclusão de
que, muitas vezes, a Vontade Divina se manifesta, em nosso
favor, nas pequenas contrariedades do caminho, ajudando-nos a
cumprir nossos mais simples deveres, e passou a considerar, com
mais respeito e atenção, as circunstâncias inesperadas que nos
surgem à frente, na esfera dos nossos deveres de cada dia.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 32
19 - A Alegria no Dever
Quando Jesus estava entre nós, recebeu certo dia a visita do
apóstolo João, muito jovem ainda, que lhe disse estar incumbido,
por seu pai Zebedeu, de fazer uma viagem a povoado próximo.
Era, porém, um dia de passeio ao monte e o moço achava-se
muito triste.
O Divino Amigo, contudo, exortou-o a cumprir o dever.
Seu pai precisava do serviço e não seria justo prejudicá-lo.
João ouviu o conselho e não vacilou.
O serviço exigiu-lhe quatro dias, mas foi realizado com êxito.
Os interesses do lar foram beneficiados, mas Zebedeu, o ho-
nesto e operoso ancião, afligiu-se muito porque o rapaz regressara
de semblante contrafeito.
O Mestre notou-lhe o semblante sombrio e, convidando-o a
entendimento particular, observou:
– João, cumpriste o prometido?
– Sim – respondeu o apóstolo.
– Atendeste à Vontade de Deus, auxiliando teu pai?
– Sim – tornou o jovem, visivelmente contrariado –, acredito
haver efetuado todas as minhas obrigações.
Jesus, entretanto, acentuou, sorrindo calmo:
– Então, ainda falta um dever a cumprir – o dever de perma-
neceres alegre por haveres correspondido à confiança do Céu.
O companheiro da Boa Nova meditou sobre a lição e fez-se
contente.
A tranqüilidade voltou ao coração e à fisionomia do velho
Zebedeu e João compreendeu que, no cumprimento da Vontade de
Deus, não podemos e nem devemos entristecer ninguém.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 33
20 - Reflexões
Podemos discernir a Vontade de Deus, em todas as situações:
No sofrimento, é a Paciência.
Na perturbação, é a Serenidade.
Diante da maldade, é o Bem que auxilia sempre.
Perante as sombras, é a Luz.
No trabalho, é o devotamento ao Dever.
Na amargura, é a Esperança.
No erro, é a Corrigenda.
Na queda, é o Reerguimento.
Na luta, é o Valor Moral.
Na tentação, é a Resistência.
Junto à discórdia, é a Harmonia.
À frente do ódio, é o Amor.
No ruído da maledicência, é o Silêncio.
Na ofensa, é o Perdão Completo.
Na vida comum, é a Bondade em favor de todos.
Quinta parte
O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje
22 - A Necessidade do Esforço
Conta-se que, no principio da vida terrestre, o alimento das
criaturas era encontrado como oferta da Divina Providência, em
toda parte.
Em troca de tanta bondade, o Pai Celeste rogava aos corações
mais esforço no aperfeiçoamento da vida.
O povo, no entanto, observando que tudo lhe vinha de graça,
começou a menosprezar o serviço.
O mato inútil cresceu tanto, que invadia as casas, onde toda a
gente se punha a comer e dormir.
Ninguém desejava aprender a ler.
A ferrugem, o lixo e o mofo apareciam em todos os lugares.
Animais, como os cães que colaboram na vigilância, e aves,
como os urubus que auxiliam nas obras de limpeza, eram mais
prestativos que os homens.
Vendo que ninguém queria corresponder à confiança divina,
o Pai Celestial mandou retirar as facilidades existentes, determi-
nando que os habitantes da Terra se esforçassem na conquista da
própria manutenção.
Desde esse tempo, o ar e a água, o Sol e as flores, a claridade
das estrelas e o luar continuaram gratuitos para o povo, mas o
trabalho forçado da alimentação passou a vigorar como sendo
uma lei para todos, porque, lutando para sustentar-se, o homem
melhora a terra, limpa a habitação, aprende a ser sábio e garante o
progresso.
Deus dá tudo.
O solo, a chuva, o calor, o vento, o adubo e a orientação cons-
tituem dádivas dEle à Terra que povoamos e que devemos apri-
morar, mas o preparo do pão de cada dia, através do nosso próprio
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 37
23 - O Exemplo da Árvore
Dizem que quando a primeira árvore apareceu na Terra, trazia
do Pai Celestial a recomendação de alimentar o homem e auxiliá-
lo, em nome do Céu, por todos os meios que lhe fosse possível.
Resolvida a cumprir a ordenação do Senhor, certo dia foi visi-
tada por um ladrão, perseguido pela Justiça.
Ele sentia fome e, por isso, furtou-lhe vários frutos.
Em seguida, decepou-lhe muitos galhos, deles fazendo macia
cama para descansar e refazer-se.
A árvore não se agastou com o assalto. Parecia satisfeita em
ajudá-lo e até se mostrava interessada em adormecê-lo, agitando
harmoniosamente as folhas, tangidas pelo vento.
Erguendo-se, fortalecido, o pobre homem ouviu o ruído dos
acusadores que o buscavam e, angustiado, sem saber que rumo
tomar na várzea deserta, notou que o nobre vegetal, em silêncio,
como que o convidava a asilar-se em seus ramos.
Imediatamente, à maneira de um menino, o infeliz escalou o
tronco e escondeu-se na copa farta.
Os guardas vieram e, desistindo de encontrá-lo em razão da
busca infrutífera, retiraram-se para lugarejo distante.
Foi então que o desventurado desceu para o solo, impressio-
nado e comovido, reparando que se achava à frente de humilde
mensageira do Céu.
Roubara-lhe os frutos e mutilara-lhe as frondes; entretanto,
oferecera-lhe, ainda, seguro abrigo.
O homem infeliz começou a meditar no exemplo da árvore
venerável, incumbida por Deus de cooperar na distribuição do
alimento de cada dia na Terra, e, nela reconhecendo verdadeira
emissária do Céu, que lhe saciara a fome e lhe dispensara mater-
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 39
24 - O Alimento Espiritual
O professor lutava na escola com um grande problema.
Os alunos começaram a ler muitas histórias de homens maus,
de roubos e de crimes e passaram a viver em plena insubordina-
ção.
Queriam imitar aventureiros e malfeitores e, em razão disso,
na escola e em casa apresentavam péssimo comportamento.
Alguns pronunciavam palavrões, julgando-se bem-educados,
e outros se entregavam a brinquedos de mau gosto, acreditando
que assim mostravam superioridade e inteligência.
Esqueciam-se dos bons livros.
Zombavam dos bons conselhos.
O professor, em vista disso, certo dia reuniu todas as classes
para a merenda costumeira, apresentando uma surpresa esquisita.
Os pratos estavam cheios de coisas impróprias, tais como
pães envolvidos em lama, doces com batatas podres, pedaços de
maçãs com tomates deteriorados e geléias misturadas com fel e
pimenta.
Os meninos revoltados gritavam contra o que viam, mas o ve-
lho educador pediu silêncio e, tomando a palavra, disse-lhes:
– Meus filhos, se não podemos dispensar o alimento puro a
beneficio do corpo, precisamos também de alimento sadio para a
nossa alma. O pão garante a nossa energia física, mas a leitura é a
fonte de nossa vida espiritual. Os maus livros, as reportagens
infelizes, as difamações e as aventuras criminosas representam
substâncias apodrecidas que nós absorvemos, envenenando a vida
mental e prejudicando-nos a conduta. Se gostamos das refeições
saborosas que auxiliam a conservação de nossa saúde, procuremos
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 41
25 - Notas
* Há saúde do corpo e saúde da alma. Ambas devem estar
juntas.
* Deus concede-nos recursos mil, cada dia, para alimentar-
nos o espírito com as melhores emoções.
* Absorvemos os pensamentos uns dos outros.
* Auxilia a produção útil da Natureza e estarás cooperando
com a Providência Divina.
* Cede ao próximo o pão que sobra em tua mesa e o Senhor
te enriquecerá de bom ânimo e alegria.
* Atendendo a Deus, a Terra gasta milhões de vidas, cada dia,
a fim de sustentar-nos.
* Falar mal dos outros, ao invés de ajudá-los, é o mesmo que
envolver nossos sentimentos em lama invisível, ao invés de fazê-
los brilhar.
* Os frutos que te deliciam são os resultados do esforço da-
queles que passaram no mundo, antes de ti. Prepara a sementeira
de agora para os que virão no futuro.
* Planta uma árvore amiga e ajudarás aos que te ajudam.
Sexta Parte
Perdoa as nossas dívidas, assim como
perdoamos aos nossos devedores
27 - O Perdão Justo
Em certa cidade européia, um homem ignorante, considerado
malfeitor, foi condenado à morte na forca.
O juiz fora severo no julgamento.
Afirmava que o infeliz era grande criminoso e que só a pena
última podia solucionar-lhe a situação.
Alguns dias antes do enforcamento, o magistrado veio ao cár-
cere, em companhia de um filho, jovem alegre e de bom coração
que, em se aproximando de velho soldado, pôs-se a examinar-lhe
a arma de fogo.
Sem que o rapaz pudesse refletir no perigo do objeto que re-
virava nas mãos, um tiro escapou, rápido, e, com espanto de to-
dos, a bala, em disparada, alojou-se num dos braços do condenado
à morte, que observava a cena, tranqüilamente da grade.
Banhado em sangue, foi socorrido pelo juiz e pelos circuns-
tantes e, porque a palavra do magistrado fosse dura e cruel para o
filho irrefletido, o prisioneiro lembrou os ensinamentos de Jesus,
ajoelhou-se aos pés do visitante ilustre e suplicou-lhe desculpas
para o moço em lágrimas, afirmando que o jovem não tivera a
mínima intenção de magoá-lo.
O juiz notou a profunda sinceridade da rogativa e, em silên-
cio, passou a reparar que o condenado era portador de nobre
coração e de inexprimível bondade.
No dia imediato, promoveu medidas para a revisão do proces-
so que lhe dizia respeito e, em pouco tempo, a pena de morte era
comutada para somente alguns meses de prisão.
Perdoando ao rapaz que o ferira, o prisioneiro encontrou o
perdão justo para as suas faltas, conseguindo, desse modo, reco-
meçar a vida, em bases mais sólidas de paz, confiança, trabalho e
alegria.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 46
28 - O Efeito da Cólera
Um velho judeu, de alma torturada por pesados remorsos,
chegou, certo dia, aos pés de Jesus, e confessou-lhe estranhos
pecados.
Valendo-se da autoridade que detinha no passado, havia des-
pojado vários amigos de suas terras e bens, arremessando-os à
ruína total e reduzindo-lhes as famílias a doloroso cativeiro. Com
maldade premeditada, semeara em muitos corações o desespero, a
aflição e a morte.
Achava-se, desse modo, enfermo, aflito e perturbado... Médi-
cos não lhe solucionavam os problemas, cujas raízes se perdiam
nos profundos labirintos da consciência dilacerada.
O Mestre Divino, porém, ali mesmo, na casa de Simão Pedro,
onde se encontrava, orou pelo doente e, em seguida, lhe disse:
– Vai em paz e não peques mais.
O ancião notou que uma onda de vida nova lhe penetrara o
corpo, sentiu-se curado, e saiu, rendendo graças a Deus.
Parecia plenamente feliz, quando, ao atravessar a extensa fila
dos sofredores que esperavam pelo Cristo, um pobre mendigo,
sem querer, pisou-lhe num dos calos que trazia nos pés.
O enfermo restaurado soltou um grito terrível e atacou o
mendigo a bengaladas.
Estabeleceu-se grande tumulto.
Jesus veio à rua apaziguar os ânimos.
Contemplando a vítima em sangue, abeirou-se
do ofensor e falou:
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 47
29 - Mãezinha
Quando o Pai Celestial precisou colocar na Terra as primeiras
criancinhas, chegou à conclusão de que devia chamar alguém que
soubesse perdoar infinitamente.
De alguém que não enxergasse o mal.
Que quisesse ajudar sem exigir pagamento.
Que se dispusesse a guardar os meninos, com paciência e ter-
nura, junto do coração.
Que tivesse bastante serenidade para repetir incessantemente
as pequeninas lições de cada dia.
Que pudesse velar, noites e noites, sem reclamação.
Que cantarolasse, baixinho, para adormecer os bebês que ain-
da não podem conversar.
Que permanecesse em casa, por amor, amparando os meninos
que ainda não podem sair à rua.
Que contasse muitas histórias sobre a vida e sobre o mundo.
Que abraçasse e beijasse as crianças doentes.
Que lhes ensinasse a dar os primeiros passos, garantindo o
corpo de pé.
Que os conduzisse à escola, a fim de que aprendessem a ler.
Dizem que nosso Pai do Céu permaneceu muito tempo, exa-
minando, examinando... e, em seguida, chamou a Mulher, deu-lhe
o título de Mãezinha e confiou-lhe as crianças.
Por esse motivo, nossa Mãezinha é a representante do Divino
Amor no mundo, ensinando-nos a ciência do perdão e do carinho,
em todos os instantes de nossa jornada na Terra. Se pudermos
imitá-la, nos exemplos de bondade e sacrifício que constantemen-
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 49
30 - O Silêncio
O silêncio ajuda sempre:
Quando ouvimos palavras infelizes.
Quando alguém está irritado.
Quando a maledicência nos procura.
Quando a ofensa nos golpeia.
Quando alguém se encoleriza.
Quando a crítica nos fere.
Quando escutamos a calúnia.
Quando a ignorância nos acusa.
Quando o orgulho nos humilha.
Quando a vaidade nos provoca.
O silêncio é a gentileza do perdão que se cala e espera o tem-
po.
O PERDÃO
O perdão, em qualquer tempo,
É sempre um traço de luz,
Conduzindo a nossa vida
À comunhão com Jesus.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 51
Sétima parte
Não nos deixes cair em tentação
32 - O Problema da Tentação
O educador, em aula, tentava explicar aos meninos que o mó-
vel das tentações reside em nós mesmos; contudo, como os apren-
dizes mostravam muita dificuldade para compreender, ele se fez
acompanhar pelos alunos até ao grande pátio do colégio.
Ai chegando, mandou trazer uma bela espiga de milho e per-
guntou aos rapazes:
– Qual de vocês desejaria devorar esta espiga tal como está?
Os jovens sorriram, zombeteiramente, e um deles exclamou:
– Ora vejam!... quem se animaria a comer milho cru?
O professor então mandou vir à presença deles um dos cava-
los que serviam à escola, instalou alguns obstáculos à frente do
animal e colocou a espiga ao dispor dele, sobre pequena mesa.
O grande eqüino saltou, lépido, os impedimentos e avançou,
guloso, para o bocado.
O professor benevolente e amigo esclareceu, então, bondo-
samente, ante os alunos surpreendidos:
– A tentação nos procura, segundo os sentimentos que traze-
mos no campo íntimo. Quando cedemos a alguma fascinação
indigna, é que a nossa vontade permanece fraca, diante dos nossos
desejos inferiores. As forças que nos tentam correspondem aos
nossos próprios impulsos. Não podemos imaginar ou querer aqui-
lo que desconhecemos. Por esse motivo, necessitamos vigiar o
cérebro e o coração, a fim de selecionarmos as sugestões que nos
visitam o pensamento.
E, terminando, afirmou:
– As situações boas ou más, fora de nós, são iguais aos pro-
pósitos bons ou maus que trazemos conosco.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 54
33 - A Necessidade da Educação
No tempo em que não existia a locomoção fácil na Terra, um
grande rei simpatizou com fogoso cavalo de cores claras, da cria-
ção de sua casa; mas, ao desejá-lo para os serviços do palácio, foi
assim informado pelo chefe das cavalariças:
– Majestade, este animal é vitima de muitas tentações. Basta
que se movimente, de leve, para assustar-se e ocasionar desastres.
Uma simples folha seca na estrada é razão para inúmeros coices.
O rei ouviu, atencioso, e afirmou que remediaria a situação.
No dia seguinte, mandou atrelá-lo a enorme carroça de limpe-
za, onde o cavalo se viu tão preso que não pôde fazer outros mo-
vimentos, além dos necessários.
Depois de algumas semanas, o monarca determinou fizesse
ele o duro serviço dos burros, transportando cargas pesadíssimas.
A princípio, o animal se rebelava, escouceando o ar e relin-
chando fortemente; entretanto, foi tantas vezes visitado pelos
gritos e pelos chicotes dos peões e tantos fardos suportou que, ao
fim de algum tempo, era um modelo de mansidão e brandura,
sendo colocado no serviço real, com grande contentamento para o
soberano.
Assim acontece conosco, na vida.
Destinados ao trabalho da Vontade de Deus, se vivemos en-
tregues às tentações do mal, desobedientes e egoístas, determina o
Senhor que sejamos confiados à luta e à provação, à dificuldade e
ao sofrimento, os quais, pouco a pouco, nos ensinam a humildade
e o respeito, a diligência e a doçura.
Depois de passarmos pelos variados processos de educação
indispensável ao nosso burilamento, seremos então aproveitados,
com êxito e segurança, nos serviços gerais da Bondade de Deus,
junto de nossos irmãos.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 55
34 - A Tentação do Repouso
Num campo de lavoura, grande quantidade de vermes deseja-
va destruir um velho arado de madeira, muito trabalhador, que
lhes perturbava os planos e, em razão disso, certa ocasião se
reuniram ao redor dele e começaram a dizer:
– Por que não cuidas de ti? Estás doente e cansado...
– Afinal, todos nós precisamos de algum repouso ...
– Liberta-te do jugo terrível do lavrador!
– Pobre máquina! A quantos martírios te submetes!...
O arado escutou... escutou... e acabou acreditando.
Ele, que era tão corajoso, que nem sentia o mais leve incô-
modo nas mais duras obrigações, começou a queixar-se do frio da
chuva, do calor do Sol, da aspereza das pedras e da umidade do
chão.
Tanto clamou e chorou, implorando descanso, que o antigo
companheiro concedeu-lhe alguns dias de folga, a um canto do
milharal.
Quando os vermes o viram parado, aproximaram-se em mas-
sa, atacando-o sem compaixão.
Em poucos dias, apodreceram-no, crivando-o de manchas, de
feridas e de buracos.
O arado gemia e suspirava pelo socorro do lavrador, sonhan-
do com o regresso às tarefas alegres e iluminadas do campo...
Mas, era tarde.
Quando o prestimoso amigo voltou para utilizá-lo, era sim-
plesmente um traste inútil.
A história do arado é um aviso para nós todos.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 56
35 - A Bênção do Trabalho
É pela bênção do trabalho que podemos esquecer os pensa-
mentos que nos perturbam, olvidar os assuntos amargos, servindo
ao próximo, no enriquecimento de nós mesmos.
Com o trabalho, melhoramos nossa casa e engrandecemos o
trecho de terra onde a Providência Divina nos situou.
Ocupando a mente, o coração e os braços nas tarefas do bem,
exemplificamos a verdadeira fraternidade, e adquirimos o tesouro
da simpatia, com o qual angariaremos o respeito e a cooperação
dos outros.
Quem não sabe ser útil não corresponde à Bondade do Céu,
não atende aos seus justos deveres para com a Humanidade nem
retribui a dignidade da pátria amorosa que lhe serve de Mãe.
O trabalho é uma instituição de Deus.
SENDA DE PERFEIÇÃO
Quem move as mãos no serviço,
Foge á treva e à tentação.
Trabalho de cada dia
É senda de perfeição.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 58
Oitava Parte
Livra-nos do mal, porque Teu é o Reino,
o poder e a glória para sempre.
Assim seja.
Por isso, se somos escravos das nossas criações que, por ve-
zes, gastamos muito tempo a retificar, continuamos sempre livres
para desejar e imaginar.
E sabemos que qualquer serviço ou realização começa em
nossos sentimentos e pensamentos.
Saibamos, desse modo, conservar a nossa vontade à luz da
consciência reta, porque, rogando a Deus nos liberte do mal, é
preciso, por nossa vez, procurar o caminho do bem.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 60
37 - O Exemplo da Fonte
Um estudante da sabedoria, rogando ao seu instrutor lhe ex-
plicasse qual a melhor maneira de livrar-se do mal, foi por ele
conduzido a uma fonte que deslizava, calma e cristalina, e, se-
guindo-lhe o curso, observou:
– Veja o exemplo da fonte, que auxilia a todos, sem pergun-
tar, e que nunca se detém até alcançar a grande comunhão com o
oceano. Junto dela crescem as plantas de toda a sorte, e em suas
águas dessedentam-se animais de todos os tipos e feitios.
Enquanto caminhavam, um pequeno atirou duas pedras à cor-
rente e as águas as engoliram em silêncio, prosseguindo para
diante.
– Reparou? – disse o mentor amigo – a fonte não se insurgiu
contra as pedradas. Recebeu-as com paciência e seguiu trabalhan-
do.
Mais à frente, viram grosso canal de esgoto arremessando de-
tritos no corpo alvo das águas, mas a corrente absorvia o lodo
escuro, sem reclamações, e avançava sempre.
O professor comentou para o aprendiz:
– A fonte não se revolta contra a lama que lhe atiram à face.
Recolhe-a sem gritos e transforma-a em benefícios para a terra
necessitada de adubo.
Adiante ainda, notaram que, enquanto andorinhas se banha-
vam, lépidas, feios sapos penetravam também a corrente e pareci-
am felizes em alegres mergulhos.
As águas amparavam a todos sem a mínima queixa.
O bondoso mentor discípulo e terminou:
– Assinalemos o exemplo da fonte e aprenderemos a libertar-
nos de qualquer cativeiro, porque, em verdade, só aqueles que
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 61
marcham para diante, com o trabalho que Deus lhes confia, sem
se ligarem às sugestões do mal, conseguem vencer dignamente na
vida, garantindo, em favor de todos, as alegrias do Bem Eterno.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 62
38 - A História do Livro
O mundo vivia em grandes perturbações.
As criaturas andavam empenhadas em conflitos constantes,
assemelhando-se aos animais ferozes, quando em luta violenta.
Os ensinamentos dos homens bons, prudentes e sábios eram
rapidamente esquecidos, porque, depois da morte deles, ninguém
mais lhes lembrava a palavra orientadora e conselheira.
A Ciência começava com o esforço de algumas pessoas dedi-
cadas à inteligência; entretanto, rapidamente desaparecia porque
lhe faltava continuidade. Era impraticável o prosseguimento das
pesquisas louváveis, sem a presença dos iniciadores.
Por isso, o povo, como que sem luz, recaia sempre nos gran-
des erros, dominado pela ignorância e pela miséria.
Foi então que o Senhor, compadecendo-se dos homens, lhes
enviou um tesouro de inapreciável importância, com o qual se
dirigissem para o verdadeiro progresso.
Esse tesouro é o livro. Com ele, apareceu a escola, com a es-
cola, a educação foi consolidada na Terra e, com a educação, o
povo começou a livrar-se do mal, conscientemente.
Muitos homens de cérebro transviado escrevem maus livros,
inclinando a alma do mundo ao desespero e à ironia, ao desânimo
e à crueldade, mas, as páginas dessa natureza são apressadamente
esquecidas, porque o livro é realmente uma dádiva de Deus à
Humanidade para que os grandes instrutores possam clarear o
nosso caminho, conversando conosco, acima dos séculos e das
civilizações.
É pelo livro que recebemos o ensinamento e a orientação, o
reajuste mental e a renovação interior.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 63
39 - A Salvação Inesperada
Num país europeu, certa tarde, muito chuvosa, um maquinis-
ta, cheio de fé em Deus, começando a acionar a locomotiva com o
trem repleto de passageiros para longa viagem, fixou o céu escuro
e repetiu, com muito sentimento, a oração dominical.
O comboio percorreu léguas e léguas, dentro das trevas den-
sas, quando, alta noite, ele viu, à luz do farol aceso, alguns sinais
que lhe pareceram feitos pela sombra de dois braços angustiados a
lhe pedirem atenção e socorro.
Emocionado, fez o trem parar, de repente, e, seguido de mui-
tos viajantes, correu pelos trilhos de ferro, procurando verificar se
estavam ameaçados de algum perigo.
Depois de alguns passos, foram surpreendidos por gigantesca
inundação que, invadindo a terra com violência, destruíra a ponte
que o comboio deveria atravessar.
O trem fora salvo, milagrosamente.
Tomados de infinita alegria, o maquinista e os viajores procu-
raram a pessoa que lhes fornecera o aviso salvador, mas ninguém
aparecia. Intrigados, continuaram na busca, quando encontraram
no chão um grande morcego agonizante, O enorme voador batera
as asas, à frente do farol, em forma de dois braços agitados, e
caíra sob as engrenagens. O maquinista retirou-o com cuidado e
carinho, mostrou-o aos passageiros assombrados e contou como
orara, ardentemente, invocando a proteção de Deus, antes de
partir. E, ali mesmo, ajoelhou-se, ante o morcego que acabava de
morrer, exclamando em alta voz:
– Pai Nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome,
venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na Terra
como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje, perdoa as
nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores, não
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei 65
40 - Prece
Senhor, ensina-nos a oferecer-te o coração puro e o pensa-
mento elevado na oração.
Ajuda-nos a pedir, em Teu Nome, para que a força de nossos
desejos não perturbe a execução de teus desígnios.
Ampara-nos, a fim de que o nosso sentimento se harmonize
com a tua vontade e que possamos, cada dia, ser instrumentos
vivos e operosos da paz e do amor, do aperfeiçoamento e da ale-
gria, de acordo com a tua Lei.
Assim seja.