Semiologia Crianca Recem Nascido

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 48

Semiologia da

criança e do
recém-nascido
Claudia Regina Lindgren Alves
Isabela Resende Silva Scherrer
Semiologia da criança
e do recém-nascido

Claudia Regina Lindgren Alves


Isabela Resende Silva Scherrer

Belo Horizonte
NESCON - UFMG
2018
© 2018, Núcleo de Educação em Saúde Coletiva

A reprodução total ou parcial do conteúdo desta publicação é permitida desde que seja citada a fonte, e a finalidade não seja comercial. Os créditos
deverão ser atribuídos aos respectivos autores.
Licença Creative Commons License Deed
Atribuição -Uso Não-Comercial Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil
Você pode: copiar, distribuir, exibir e executar a obra; criar obras derivadas sob as seguintes condições: atribuição - você deve dar crédito ao
autor original, da forma especificada pelo autor ou licenciante; uso não comercial - você não pode utilizar esta obra com finalidades comerciais;
compartilhamento pela mesma licença: se você alterar, transformar, ou criar outra obra com base nesta, você somente poderá distribuir a obra
resultante sob uma licença idêntica a esta. Para cada novo uso ou distribuição, você deve deixar claro para outros os termos da licença desta obra.
Qualquer uma destas condições pode ser renunciada, desde que você obtenha permissão do autor. Nada nesta licença restringe os direitos morais
do autor.

Creative Commons License Deed - <https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/deed.pt>.

ATUALIZE-SE
Novos protocolos editados por autoridades sanitárias, pesquisas e experiências clínicas indicam que
atualizações e revisões nas condutas clínicas são necessárias. Os autores e os editores desse curso
fundamentaram-se em fontes seguras no sentido de apresentar evidências científicas atualizadas para o
momento dessa publicação. Leitores são, desde já, convidados à atualização. Essas recomendações são
especialmente importantes para medicamentos e protocolos de atenção à saúde.

Recomenda-se a consulta a fontes de pesquisa correlatas:


Biblioteca Virtual do Nescon.
Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/>
Acervo de Recursos Educacionais em Saúde (ARES) - UNA-SUS.
Disponível em: <https://ares.unasus.gov.br/acervo/>

A474a Alves, Cláudia Regina Lindgren


Semiologia da criança e do recém nascido / Cláudia Regina Lindgren Alves,
Isabela Resende Silva Scherrer. -- Belo Horizonte: Nescon/UFMG, 2018.
44 p.
ISBN: 978-85-60914-57-9

1. Saúde da criança. 2. Saúde do adolescente. 3. Saúde da família. 4.


Bem-estar da criança. 5. Nutrição do adolescente. 6. Nutrição da criança. 7.
Desenvolvimento do adolescente. I. Scherrer, Isabela Resende Silva. II. Santos,
Luana Caroline dos. III. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de
Medicina. Núcleo de Educação em Saúde Coletiva. IV. Título.

NLM: WA 320
CDU: 614.053.2
Créditos

MINISTÉRIO DA SAÚDE Coordenadora Administrativa e Financeira: Mariana Lélis


Ministro da Saúde: Ricardo Barros Coordenadora de Design Educacional (DE):
Secretário de Gestão do Trabalho e de Educação na Saúde: Sara Shirley Belo Lança
Rogério Luiz Zeraik Abdalla Gerente de Tecnologias da Informação (TI): Gustavo Storck
Secretário de Atenção à Saúde: Francisco de Assis Figueiredo Gestora Acadêmica: Roberta de Paula Santos
Secretário Executivo da Universidade Aberta do SUS: Manoel Revisor Institucional: Edison José Correa e José Maurício Carvalho
Barral-Netto Lemos
Coordenação Técnico-pedagógica: Tarcísio Márcio Magalhães
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Pinheiro e Maria Rizoneide Negreiros de Araujo
Ministro: Rossieli Soares da Silva
Secretário da Educação Superior da SESU: Paulo Barone Produção
Desenvolvimento Web e Administração Moodle: Daniel Lopes
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) Miranda Junior, Leonardo Freitas da Silva Pereira, Simone Myrrha
Reitora: Sandra Regina Goulart Almeida Apoio Técnico: Leonardo Aquim de Queiroz
Vice-Reitor: Alessandro Moreira Michel Bruno Pereira Guimarães
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Fábio Alves Designer Educacional: Cacilda Rodrigues da Silva e Angela Moreira
Pró-Reitora de Extensão: Cláudia Mayorga Ilustrador: Bruno de Morais Oliveira
Diretora do Centro de Apoio à Educação a Distância: Eliane Web Designer: Juliana Pereira Papa Furst
Marina Palhares Guimarães Produtor Audiovisual: Edgard Antônio Alves de Paiva
Coordenador do Sistema Universidade Aberta do Brasil na UFMG Diagramador: João Paulo Santos da Silva
(EAD-UFMG): Maria do Carmo Barros de Melo
Coordenador Universidade Aberta do SUS na UFMG: Edison José
Corrêa Secretaria editorial / Núcleo de Educação em Saúde Coletiva
Nescon / UNA-SUS/UFMG:
Faculdade de Medicina (<http://www.nescon.medicina.ufmg.br>)
Diretor: Humberto José Alves Faculdade de Medicina /Universidade Federal de Minas Gerais –
Vice-Diretora: Alamanda Kfoury Pereira UFMG
Av. Alfredo Balena, 190 – 7º andar
Escola de Enfermagem CEP 30.130-100
Diretora: Sônia Maria Soares Belo Horizonte – MG – Brasil
Tel.: (55 31) 3409-9673
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional Fax: (55 31) 3409-9675
Diretor: Gustavo Pereira Côrtes E-mail: [email protected]

Faculdade de Odontologia
Diretor: Henrique Pretti

Conselho Regional de Educação Física de Minas Gerais – (CREF6/MG)


Presidente: Claudio Augusto Boschi

Núcleo de Educação em Saúde Coletiva


Diretor: Francisco Eduardo de Campos
Vice-Diretor: Edison José Corrêa
Coordenador Acadêmico: Raphael Augusto Teixeira de Aguiar
Sumário

Apresentação das autoras.............................................................................................................................. 6


Apresentação................................................................................................................................................. 7
Unidade 1 | Roteiros para anamnese, exame físico, acompanhamento e finalização da consulta ................... 9
Unidade 2 | Demanda programada, a busca dos faltosos e demanda espontânea........................................ 17
Unidade 3 | O atendimento às crianças segundo critérios de risco ............................................................... 21
Unidade 4 | O atendimento ao recém-nascido ............................................................................................. 25
Seção 1 - A captação do recém-nascido.......................................................................................................... 27
Seção 2 - O primeiro atendimento médico do recém-nascido ....................................................................... 30
Seção 3 - O plano de atendimento ao recém-nascido .................................................................................... 33
Seção 4 - O recém-nascido com sinais gerais de perigo ................................................................................. 37
Seção 5 - O recém-nascido com icterícia......................................................................................................... 39
Conclusão .................................................................................................................................................... 43
Referências................................................................................................................................................... 45
6

Apresentação das autoras

Claudia Regina Lindgren Alves


Professora Adjunta do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG.
Doutora em Medicina. Membro do Grupo de Estudos em Atenção Primária em Pediatria
(GEAPPED) da Faculdade de Medicina da UFMG.

Isabela Resende Silva Scherrer


Médica Pediatra (UFMG), mestranda em Saúde da Criança e do Adolescente (UFMG).
Membro do Grupo de Estudos em Atenção Primária em Pediatria (GEAPPED) da Faculdade
de Medicina da UFMG.
7

Apresentação
Esta publicação tem por objetivo a apresentação de uma sistematização da semiologia e
do exame físico da criança. Objetiva atender às necessidades de clínicos gerais e médicos
de famílias e comunidades, pediatras, enfermeiros e outros profissionais da área da
saúde. Espera, também, ser útil ao aprendizado de futuros profissionais, em sua fase de
formação.
Unidade 1
Roteiros para anamnese,
exame físico, acompanhamento
e finalização da consulta
10

Unidade 1

Roteiros para anamnese, exame físico,


acompanhamento e finalização da consulta
Será apresentado, inicialmente, um roteiro para anamnese da criança e, posteriormente,
um roteiro para a anamnese e o exame físico (Quadros 1 e 2) e o roteiro para consultas de
acompanhamento (Quadro 3) e a finalização da consulta (Quadro 4).

Quadro 1 - Roteiro para anamnese da criança

Identificação: nome, naturalidade, data de nascimento, idade, sexo, cor, procedência, endereço,
encaminhado por.
Informante: anotar o nome, a ligação com a criança e se informa bem ou mal.
Queixa principal (QP): anotar qual é o motivo da consulta, nas palavras do informante ou da criança/
adolescente, se possível.
História da moléstia atual (HMA): anotar usando termos técnicos, se possível. Para cada queixa,
investigar quando, como e onde começou, qual foi a evolução até a consulta e como está no dia da
consulta, tratamentos realizados, com os nomes dos medicamentos, doses, tempo de uso e resposta.
Quais os resultados de exames complementares já realizados. Investigar sobre contatos com pessoas
doentes, viagens recentes e outros dados epidemiológicos pertinentes.
Anamnese especial (AE): fazer perguntas dirigidas para cada sistema:
Geral, COONG (cabeça, olhos, orelhas, nariz, cavidade bucal e garganta) e pescoço
SR (sistema respiratório), SCV (sistema cardiovascular), SD (sistema digestório), SGU (sistema
geniturinário), SL (sistema locomotor), SN (sistema nervoso).
História pregressa ou pessoal (HP): gestação, condições de nascimento, período neonatal, resultado
do “teste do pezinho”, doenças anteriores, desenvolvimento neuropsicomotor, alimentação pregressa,
banhos de sol, vacinação, medicamentos, alergias, dados epidemiológicos, segurança no domicílio e na
escola.
História familiar (HF): pai e mãe (saúde, idade, escolaridade, profissão), irmãos (saúde, idade, sexo).
Consanguinidade. Outros familiares ou coabitantes. Relações familiares (aspectos psicológicos).
História social (HS): profissão e escolaridade dos pais, renda familiar mensal, renda per capita,
composição familiar, habitação, saneamento básico.

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2018.


11

Quadro 2 - Roteiro para exame físico

Inspeção Visão de conjunto - Impressão geral do paciente


geral Estado de consciência
Aparência (saudável ou enfermo)
Grau de atividade
Desenvolvimento e distribuição do tecido adiposo

Cabeça Inspeção Fácies


Conformação do crânio
Cabelo: implantação, cor, tipo
Pelos: implantação, cor
Orelhas: forma e posição das orelhas, secreção, implantação do
pavilhão auricular
Pescoço: tumorações, pulsações

Palpação Crânio: conformação, fontanelas, craniotabes, perímetro cefálico


Olhos: mucosa conjuntival, nistagmo, estrabismo, exoftalmia, acuidade
visual, reflexos
Nariz: obstrução, mucosa, batimentos de asa de nariz
Orelhas: dor, otoscopia (se possível, nesse momento)
Boca: dentes, gengiva, língua, amígdalas, lábios, mucosa oral, palato
Linfonodos: número, tamanho, consistência, mobilidade e sinais
inflamatórios
Pescoço: tumorações, lesões, rigidez, palpação da traqueia, pulso venoso
(jugular) e impulsões venosas, fúrcula esternal, rigidez de nuca

Membros Inspeção Lesões de pele


superiores Cicatriz de BCG
Implantação de fâneros
Articulações: aumento de tamanho, simetria, coloração
Musculatura: simetria

Palpação Articulações: temperatura, edema, mobilidade, crepitação, dor, tamanho


Musculatura: trofismo, tônus, força muscular
Temperatura axilar
Cicatriz de BCG: medidas
Umidade da pele
Linfonodos axilares
Pulso radial
Unhas: tamanho, espessura, manchas, formato, coloração
Perfusão capilar
Baqueteamento digital
Reflexo de preensão palmar (nos lactentes), reflexos
Pesquisa de sensibilidade
Medida da pressão arterial

Percussão Reflexos

Fonte: VIANA, 2010.

(continua)
12

Quadro 2 – Roteiro para exame físico (continuação)

Tórax - Inspeção Forma, simetria, mobilidade


região Rosário costal
anterior Lesões de pele
Respiração: tipo, ritmo, amplitude, frequência, esforço
Ictus cordis: impulsões, tamanho
Mamas: desenvolvimento, simetria

Palpação Linfonodos supraclaviculares


Tumorações
Mamas: dor, calor, tumorações, coloração
Expansibilidade
Frêmito toracovocal
Frêmito cardíaco
Pontos dolorosos
Pesquisa de sensibilidade

Percussão Som claro pulmonar, timpanismo ou macicez

Ausculta Ruídos respiratórios audíveis sem estetoscópios


Sons respiratórios normais, ruídos adventícios
Precórdio: bulhas, sopros, estalidos

Tórax - Inspeção Forma


região Simetria
posterior Mobilidade
(no caso de Lesões de pele
a criança Tufos capilares na região sacral
estar em
decúbito Percussão Som claro pulmonar,
dorsal, timpanismo ou macicez
pode
Palpação Expansibilidade
ser feito
Frêmito toracovocal
depois
Pontos dolorosos (lojas renais)
da região
Pesquisa de sensibilidade
anorretal)
Ausculta Ruídos respiratórios audíveis sem estetoscópio
Sons respiratórios, ruídos adventícios

Fonte: VIANA, 2010.


13

Quadro 2 – Roteiro para exame físico

Abdome Inspeção Forma: plano, abaulado, escavado, distendido


Coloração
Cicatriz umbilical: forma, secreção, hiperemia
Massas visíveis, cicatrizes
Movimentos e alterações de parede
Circulação colateral
Lesões de pele

Ausculta Peristaltismo
Fístula arteriovenosa ‘sopros arteriais’ atrito esplênico

Palpação Sensibilidade
superficial Reflexos
Turgor e elasticidade da pele
Tensão da parede abdominal

Percussão Delimitação de vísceras


Sensibilidade
Espaço de Traube (https://www.youtube.com/watch?v=W7tpC1XQbX8)
Ascite

Palpação Anel umbilical, coto e cicatriz umbilical


profunda Diástase dos músculos reto-abdominais
Sensibilidade
Fígado, baço, massas, lojas renais, rins

Membros Inspeção Lesões de pele


inferiores Coloração
Unhas: tamanho, espessura, manchas, formato
Implantação de fâneros
Movimentos anormais: coreia, tiques, tremores, fasciculações,
mioclonia
Articulações: aumento de tamanho, simetria, hiperemia
Musculatura: simetria

Palpação Musculatura: trofismo, tônus, força muscular


Articulações: dor, edema, crepitações, mobilidade, tamanho, temperatura
Pulsos pedioso e dorsal dos pés
Medida da pressão arterial em um dos membros
Avaliação do subcutâneo: turgor, edema, linfedema
Manobra de Ortolani nos lactentes
Pesquisa de reflexo
Sensibilidade

Percussão Reflexos (plantar em extensão, preensão e da marcha nos lactentes)

Fonte: VIANA, 2010.

(continua)
14

Quadro 2 – Roteiro para exame físico

Genitália Inspeção Implantação da uretra


Coloração
Secreções
Lesões de pele
Pelos

Palpação Pulso femoral


Linfonodos inguinais
Genitália

Região Inspeção Coloração


anorretal Secreção
Tumorações, fissuras, prolapso retal
Lesões de pele
Nádegas: forma

Palpação Tumorações
Perfuração anal
Fosseta anal
Cicatrização

Percussão Som claro pulmonar,


timpanismo ou
macicez

Palpação Expansibilidade
Frêmito toracovocal
Pontos dolorosos (lojas renais)
Pesquisa de sensibilidade

Ausculta Ruídos respiratórios audíveis sem estetoscópio


Sons respiratórios, ruídos adventícios

Coluna Parada Curvaturas da coluna (escoliose, cifose e lordose)


vertebral, Curvaturas dos joelhos
joelhos e Curvaturas dos pés
pés

Andando Varismo e valgismo do joelho e dos pés


Movimento da cintura escapular
Movimento da cintura pélvica
Movimento dos braços

Mensuração Pode ser feita Comprimento/altura


no início ou Peso
no final do Perímetros cefálico, torácico e abdominal
exame físico Dados vitais: temperatura, frequência respiratória, pulsos
Pressão arterial nos membros superiores e em um membro inferior

Fonte: VIANA, 2010.


15

Quadro 3 - Roteiro para consultas de acompanhamento

ANAMNESE
Cumprimentar a mãe/acompanhante/criança cordialmente.
Apresentar-se.
Calcular a idade da criança pela data de nascimento e registrá-la no prontuário.
Perguntar à mãe/acompanhante sobre o estado da criança.
Manter contato visual e verbal com a criança.
Verificar a evolução do peso, da altura e do perímetro cefálico.
Verificar as vacinas e orientar sobre o calendário vacinal.
Investigar a alimentação detalhadamente.
Avaliar o desenvolvimento infantil.
Avaliar os sinais de perigo e as situações de risco.
Registrar os dados no prontuário e na Caderneta da Criança.
EXAME FÍSICO
Lavar as mãos com água e sabão e secá-las em papel-toalha.
Verificar temperatura, peso, altura, perímetro cefálico.
Realizar exame físico geral da criança.
Identificar lesões sugestivas de maus-tratos e/ou negligência.
Registrar o peso, a altura e o perímetro cefálico nos gráficos do prontuário e na Caderneta da Criança.
Registrar o exame físico no prontuário.

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2018.


16

Quadro 4 – Finalização da consulta

FINALIZAÇÃO DA CONSULTA
Orientar sobre cuidados com a higiene, o sono, a saúde bucal e o meio ambiente.
Orientar sobre a importância do aleitamento materno exclusivo, imunização.
Aspectos do desenvolvimento normal da criança, estimulação da criança com brincadeiras e
afetividade.
Orientar para que a mãe/acompanhante possa identificar os sinais de perigo e, na presença destes,
procurar a Unidade Básica de Saúde.
Orientar sobre o acompanhamento da criança pela Unidade de Atenção Básica em Saúde.
Solicitar exames complementares, se necessário.
Realizar prescrições, se necessário.
Verificar se a mãe/acompanhante compreendeu as orientações.
Agendar retorno, se necessário.
Despedir-se da criança/mãe/acompanhante.
Registrar as informações no prontuário e na Caderneta da Criança.

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2018.


Unidade 2
Demanda programada,
a busca dos faltosos
e demanda espontânea
18

Unidade 2

Demanda programada, a busca dos


faltosos e demanda espontânea
Os roteiros para consultas são especialmente úteis para as consultas programadas, a inicial
e os acompanhamentos, em um trabalho coordenado de toda a equipe de Saúde da Família
(ESF) ou de Atenção Primária à Saúde (EAPS) e o Núcleo Ampliado à Saúde da Família na
Atenção Básica (NASF-AB). As famílias das crianças faltosas às atividades programadas deverão
ser visitadas pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS) para identificação dos motivos da sua
ausência e orientação aos familiares.

Atenção especial deve ser dada às crianças em situações de risco. Quando não comparecerem
a qualquer atividade agendada na Unidade de Atenção Primária à Saúde (Unidade Básica de
Saúde), as famílias deverão ser contatadas com urgência. As consultas perdidas deverão ser
agendadas novamente. Em caso de internação da criança, a equipe deverá entrar em contato
com o hospital para informações e, assim, programar uma visita/consulta imediatamente
após a alta.

O atendimento da demanda espontânea

Todas as crianças que são levadas à Unidade Básica de Saúde fora de data agendada para
atendimento devem ser atendidas. O processo de acolhimento envolve uma constante
postura de escuta e responsabilização pelo cidadão que procura o serviço. Para que o fluxo do
atendimento da criança seja eficaz, ele deve passar pelas ações de: receber, escutar, construir
vínculos, analisar, decidir e, então, resolver, encaminhar ou informar.

Assim, o acolhimento significa o esforço e o compromisso da equipe para resolver o


problema que motivou a procura ao serviço, podendo resultar em informação para a família,
agendamento, consulta não programada imediata ou até encaminhamento para serviço de
urgência.
19

Na organização da agenda das atividades do médico, do enfermeiro e da equipe, deve-


se reservar um espaço para essas consultas não programadas e, sequencialmente, o
retorno às atividades programadas.

A presença de algum dos sinais de perigo apresentados no Quadro 5 e na Figura 2 indica


a necessidade de atendimento médico imediato e/ou encaminhamento ao serviço de
urgência. Cada contato entre a criança e a equipe, independentemente do motivo, deve
ser tratado como uma oportunidade para a análise integrada e uma ação resolutiva de
promoção da saúde, com forte caráter educativo.

O fluxograma a seguir (Figura 1) é um resumo de como deve ser planejada a atenção à


saúde da criança até os cinco anos de idade.
20

Figura 1 – Fluxograma para a atenção à saúde da criança até os cinco anos de idade

Fonte: Adaptado pelas autoras de MINAS GERAIS, 2005.


Unidade 3
O atendimento às crianças
segundo critérios de risco
22

Unidade 3

O atendimento às crianças segundo


critérios de risco
Em geral, as crianças são consideradas de baixo risco ou risco habitual, na maioria das
comunidades, e devem ter um plano de atenção compatível com esta situação. Entretanto,
outras, por condições ligadas à sua história pregressa ou às condições familiares, sociais e
culturais, merecerão cuidados mais frequentes e especiais, por serem consideradas crianças
em situação de risco.

No Quadro 5, são listados dois grupos de crianças consideradas em situações de risco. As


crianças do grupo I estão em risco, mas poderão ser acompanhadas pela equipe, porém com
calendário especial. Já as crianças do grupo II necessitarão de acompanhamento do pediatra
e/ou de outros especialistas, mas deverão manter acompanhamento concomitante com a
equipe de saúde.
23

Quadro 5 - Classificação de crianças segundo grupos de risco

Grupo I Grupo II

Acompanhamento pela equipe Acompanhamento pelo pediatra/especialista de


de saúde com calendário especial referência em conjunto com a equipe de saúde

• Mãe com baixa escolaridade • Baixo peso ao nascer


• Mãe adolescente • Prematuridade
• Mãe deficiente mental • Desnutrição grave
• Mãe soropositiva para HIV, toxoplasmose • Triagem neonatal positiva para
ou sífilis com criança negativa para essas hipotireoidismo, fenilcetonúria, anemia
doenças falciforme ou fibrose cística
• Morte materna • Intercorrências importantes no período
• História de óbito de menores de um ano na neonatal notificadas na alta hospitalar
família • Crescimento e/ou desenvolvimento
• Condições ambientais, sociais e familiares inadequados
desfavoráveis
• Pais ou responsáveis dependentes de drogas
lícitas e ilícitas
• Recém-nascido retido na maternidade
• Desnutrição
• Internação prévia

Fonte: MINAS GERAIS, 2005.

Para as crianças em situação de risco, o intervalo entre os atendimentos pode variar, mas
nunca deverá ser superior a 30 dias no primeiro ano de vida.
Unidade 4
O atendimento ao
recém-nascido
26

Unidade 4

O atendimento ao recém-nascido
Recém-nascido (RN) é a designação de toda criança do nascer até o 28º dia de vida. Durante
essa fase, o ser humano encontra-se vulnerável, biológica e emocionalmente, necessitando,
pois, de cuidados especiais. Crescimento e desenvolvimento acelerados, imaturidade funcional
de diversos órgãos e sistemas, dependência de um cuidador são algumas das características
que vão exigir uma abordagem diferenciada em relação às outras faixas etárias.

A construção da relação mãe-filho não é um processo instintivo. O vínculo entre mãe e filho
inicia-se antes do nascimento da criança. A Unidade Básica de Saúde (UBS) deve representar
um espaço de escuta das necessidades afetivas da mãe/família nesse momento e ajudar na
construção de referenciais essenciais para uma relação familiar de qualidade.

A assistência prestada ao binômio mãe-filho no pré-natal, no parto e no puerpério imediato


tem grande impacto na evolução da criança e deve incluir:
• pré-natal de qualidade, com controle de patologias maternas;
• humanização da atenção ao pré-natal, parto e puerpério;
• assistência adequada em sala de parto, evitando sofrimento fetal agudo;
• cuidados adequados aos recém-nascidos de alto risco;
• assistência adequada em alojamento conjunto, valorizando o estabelecimento do
aleitamento materno, contornando as suas dificuldades;
• método Mãe-Canguru no cuidado de recém-nascidos prematuros;
• rotinas hospitalares e ambulatoriais que valorizem o vínculo RN-família;
• programas específicos de acompanhamento das famílias dos RN baixo-peso;
prematuros e com doenças que necessitem de cuidados especiais.
27

Seção 1
A captação do recém-nascido e
visita domiciliar
O acompanhamento do RN deve iniciar-se durante a gravidez, orientado pela tarefa comum
de fazer com que a gestação evolua nas melhores condições biofísicas e psicológicas, e que
o desenvolvimento do feto ocorra em condições favoráveis.

A assistência ao RN na Unidade Básica de Saúde deve iniciar-se logo após a alta da maternidade.
A equipe da Unidade Básica de Saúde poderá captar essas crianças por meio:
• de visita domiciliar à puérpera e ao RN nas primeiras 24-48h horas após a alta
hospitalar;
• da notificação das maternidades pela DN (Declaração dos Nascidos Vivos) e/ou por
telefone;
• do atendimento do RN durante as ações da Primeira Semana Saúde Integral.

Após esse primeiro contato, a equipe definirá o tipo de acompanhamento que o RN necessita
receber, levando em conta sua classificação – sem risco, risco do Grupo I ou risco do Grupo
II – conforme exposto na Figura 2.
28

Figura 2 - Fluxograma: a assistência ao recém-nascido

Fonte: Adaptado pelas autoras de MINAS GERAIS, 2005.

O ACS deverá fazer visita domiciliar à puérpera e ao recém-nascido nas primeiras 24-48 horas
após a alta. São objetivos dessa visita:
• orientar os pais sobre as melhores atitudes e comportamentos em relação aos
cuidados com o RN;
• identificar, precocemente, os RNs com sinais gerais de perigo.

Além de orientar os pais quanto aos cuidados com o RN (Quadro 6), cabe ao ACS verificar se a
mãe está seguindo as recomendações recebidas na maternidade, como o uso de medicações
e a técnica de amamentação, e se tem tido qualquer problema de saúde, como sangramento
excessivo e/ou com odor pútrido (fétido) e febre.
29

Quadro 6 - Cuidados com o recém-nascido:


orientações durante as visitas domiciliares

HIGIENE PESSOAL
Orientar o banho diário e a limpeza do RN.
Orientar a lavagem das mãos antes de manipular o RN.
Orientar que não se deve usar perfume ou talco no RN.
Orientar a limpeza da região anal e perineal a cada troca de fraldas para evitar lesões na pele.
Explicar que, nas meninas, a higiene da região anal e perineal devem ser feitas no sentido da vulva
para o ânus.

CUIDADOS COM O COTO UMBILICAL


Explicar a importância de cuidar adequadamente do coto umbilical para evitar infecções.
Manter o coto umbilical sempre limpo e seco.
Após o banho, depois de secar bem o umbigo, limpar com álcool absoluto e envolvê-lo em uma gaze.
Não cobrir o umbigo com faixas ou esparadrapo.
Desaconselhar o uso de moedas, fumo ou qualquer outra substância para “curar” o umbigo.

HIGIENE DO AMBIENTE
Cuidar das roupas do RN, mantendo-as limpas.
Ferver a água do banho, se essa não for tratada.
Manter limpo o lugar em que o RN dorme.
Manter a casa arejada e usar mosquiteiros, se necessário.

Fonte: Adaptado pelas autoras, 2018.

O ACS deverá observar o RN e perguntar aos familiares se há presença dos sinais de perigo
descritos no Quadro 4. Sendo detectada qualquer anormalidade, encaminhá-lo imediatamente
para a Unidade Básica de Saúde, onde será avaliado pela enfermeira e/ou pelo médico. Se
nenhuma alteração for constatada, o ACS deverá orientar a mãe a procurar a Unidade Básica
de Saúde, juntamente com seu filho, para as ações da Primeira Semana Saúde Integral. Se,
nesse intervalo, for observada qualquer alteração na mãe ou no RN, deve-se procurar a
Unidade Básica de Saúde imediatamente.
30

Seção 2
O primeiro atendimento médico
do recém-nascido
O primeiro atendimento do RN na Unidade Básica de Saúde deve ser personalizado, tendo
como referencial a existência de situações de risco na gravidez e no parto.

A presença de situações de risco para a mãe e/ou para o RN determinará a necessidade de


atendimento precoce pela equipe, isto é, antes da visita à Unidade Básica de Saúde no 5º dia
de vida.

Para estabelecer grupos de risco, prognóstico e ações profiláticas específicas, o RN deve ser
classificado de acordo com:

1º Idade gestacional (IG):


• pré-termo ou prematuro (RNPT) – IG até 36 semanas e seis dias;
• termo – IG de 37 a 41 semanas e 6 dias;
• pós-termo ou pós-maturo – IG de 42 semanas ou mais.

2º Peso de nascimento (PN):


• baixo peso (RNBP) – PN menor que 2.500g;
• peso elevado – PN igual ou maior a 4.500g.

3º Idade Gestacional e o Peso de Nascimento:


• adequado para a idade gestacional (AIG) – PN entre os percentis 10 e 90 para a IG;
• pequeno para a idade gestacional (PIG) – PN menor que o percentil 10 para a IG;
• grande para a idade gestacional (GIG) – PN maior que o percentil 90 para a IG.

As impressões maternas e de familiares quanto à adaptação da mãe e do RN ao novo


ambiente devem fazer parte da anamnese.
31

Para algumas mães, os primeiros dias com o RN constituem momentos de muita angústia e
ansiedade. Escutar e trabalhar as dificuldades maternas pode mudar o curso do estabelecimento
do vínculo mãe e filho.

Atenção especial deve ser dada à amamentação. A amamentação do RN no consultório


proporcionará uma visão da adaptação entre mãe e RN e criará espaço para intervenção.

Após anamnese completa, com informações sobre o pré-natal, parto e período neonatal, o
médico irá realizar o exame físico do RN.

Particularidades do exame físico

A antropometria (peso, comprimento e perímetro encefálico) deve ser realizada a cada


atendimento, anotada no Cartão da Criança e analisada em curvas de crescimento adequadas
(ver capítulo “O Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento”).

Idealmente, o exame não deve ser realizado quando o RN estiver com fome e irritado, nem
imediatamente após a amamentação. Logo após a mamada, o RN encontra-se hipotônico,
sonolento e hiporreflexivo; além disso, a palpação do abdome pode provocar a regurgitação
do leite ingerido.

O RN tolera pouco a exposição ao frio, com risco de hipotermia; por isso, o exame deve ser
rápido e completo.

Inicia-se pela avaliação da frequência respiratória (contar em um minuto) e cardíaca, seguida


da ausculta desses aparelhos. Esta etapa do exame deve ser realizada, de preferência, com
o RN ainda vestido, pois a manipulação desencadeia reflexos primitivos, choro e taquicardia,
falseando a avaliação. Estimular a sucção do RN nesse momento do exame pode acalmá-lo e
facilitar o procedimento.

Na sequência do exame, avaliar a atividade espontânea do RN, sua reatividade e seu tônus,
a qualidade do seu choro, sua temperatura corporal, estado de hidratação, perfusão capilar
e reflexos primitivos (Moro, sucção, preensão palmar, tônico-cervical, plantar e da marcha).

Na pele e nas mucosas, verificar se há cianose, icterícia, pletora ou palidez.

Na cabeça, pesquisar assimetrias, cavalgamento de suturas e tumefações (bossa serossanguínea


e cefaloematoma), além do tamanho e grau de tensão das fontanelas.
32

Nos olhos, verificar se há secreção purulenta, hemorragia subconjuntival, catarata e


malformações das estruturas oculares.

Realizar a palpação abdominal em toda sua extensão, para afastar a presença de visceromegalias
ou massas palpáveis. No exame do umbigo, observar se há secreção, odor e hiperemia da pele
ao seu redor.

No exame dos genitais, avaliar a conformação da vulva, dos testículos e do pênis. Nas meninas,
verificar se há corrimento e/ou sangramento vaginal, se o hímen está preservado e se há
sinéquia dos pequenos lábios.

As hérnias inguinais e/ou escrotais podem estar presentes desde o nascimento. Avaliar a
presença de hidrocele nos RNs do sexo masculino, se os testículos estão na bolsa e se há
hipospádia ou epispádia.

Pesquisar tocotraumatismos, como fraturas (clavícula, fêmur e úmero) e paralisia braquial,


além da displasia coxofemoral.
33

Seção 3
O plano de atendimento ao recém-nascido
No primeiro atendimento ao RN, três possibilidades de conduta surgirão a partir da anamnese
colhida cuidadosamente e da avaliação do RN:
• encaminhamento imediato para um serviço de maior complexidade, de preferência
a maternidade de origem;
• agendamento de consulta médica tão logo seja possível e antes de um mês de vida;
• agendamento de acordo com o calendário de atenção à criança.

Nesse processo de decisão (Figura 3), as seguintes questões devem ser consideradas:
• o RN é prematuro ou de baixo peso?
• o RN ou a mãe apresentam dificuldades no aleitamento materno?
• o RN tem icterícia? Em caso positivo, consultar o item “O RN com icterícia”.
• o RN teve alguma intercorrência no pós-parto imediato?
• o RN recebeu alta da maternidade em uso de alguma medicação?
• o RN tem malformações ou problemas genéticos?
• o RN apresenta algum sinal geral de perigo?
• a mãe tem sinais de depressão?
34

Figura 3 - Primeiro atendimento do recém-nascido na Unidade Básica de Saúde

Fonte: Adaptada pelas autoras de MINAS GERAIS, 2005.

Em casos de prematuridade e/ou baixo peso ao nascer, o atendimento médico deve ser feito
com 15 dias de vida ou logo após a alta hospitalar naqueles RNs que ficaram retidos na unidade
neonatal.
O plano de cuidados definido pela unidade neonatal deve ser verificado e seguido com precisão.

Para os RNs a termo, com peso adequado e sem intercorrências neonatais imediatas, o
atendimento deve ser realizado de acordo com o calendário de atenção à criança, ou seja, o
RN receberá um atendimento de enfermagem entre 15 e 21 dias de vida, ficando a consulta
médica para o primeiro mês.

A mãe e o RN que apresentam dificuldades no aleitamento materno devem receber cuidados


diários, realizados pelo ACS nas visitas domiciliares ou no espaço da Unidade Básica de Saúde
pelos outros membros da equipe. A atenção deve ser priorizada até que os obstáculos iniciais
à amamentação sejam resolvidos.

O RN ictérico deverá ser avaliado de acordo com a Figura 4. Independentemente da intensidade


da icterícia, o RN deve ser avaliado imediatamente pelo médico e, se isso não for possível,
encaminhado para um serviço de urgência ou, de preferência, para a maternidade de origem.
35

Figura 4 - Fluxograma de abordagem do recém-nascido com icterícia


Fonte: Adaptado pelas autoras de MINAS GERAIS, 2005.
36

Nos recém-nascidos com malformações ou problemas genéticos, naqueles em uso de


medicações e naqueles que tiveram intercorrências no pós-parto imediato, a primeira
consulta médica na Unidade Básica de Saúde deve ser antecipada tão logo seja possível.
Nessa oportunidade, o médico avaliará a necessidade de encaminhamento para o pediatra e/
ou outro especialista.

O encaminhamento imediato a um serviço de maior complexidade (maternidade de origem


ou serviço de urgência) será necessário sempre que o RN apresentar sinais gerais de perigo
(Figura 3).

O plano de cuidados definido pela unidade neonatal deve ser verificado e seguido com
precisão.

É bem reconhecida a relação entre transtorno do humor e o período puerperal. Estima-se que
80% das mulheres vivenciam flutuações de humor nas fases de pré ou pós-parto, enquanto
10% a 20% delas irão desenvolver, de fato, algum transtorno do humor, de acordo com os
critérios diagnósticos da Classificação Internacional de Doenças (CID 10).

São sintomas da depressão materna: insônia, transtornos alimentares, humor deprimido,


irritabilidade, falta de energia e incapacidade funcional, isolamento social, dificuldades de
interpretação dos desejos do RN, problemas de memória, concentração ou pensamentos
recorrentes, além de confusão, desorientação e angústia. Identificados esses fatores, a mãe
deve ser encaminhada para atendimento especializado.

Em 0,1% a 0,2% dos quadros depressivos, pode haver associação com sintomas psicóticos,
principalmente aquelas mães que já apresentem transtorno bipolar. Nesses casos, pode
existir, de fato, risco de vida para o RN e para a mãe, e a internação materna em caráter de
urgência deve ser realizada, mesmo se involuntária.
37

Seção 4

O recém-nascido com sinais gerais


de perigo
Os RNs apresentam risco aumentado de doença grave devido à imaturidade do seu sistema
imunológico. São mais vulneráveis a infecções bacterianas, fúngicas e virais.

Podem adoecer e morrer em um curto intervalo de tempo. Normalmente, não é localizado


o foco infeccioso, e o diagnóstico dos quadros sépticos se faz através de sinais clínicos
gerais. A evolução clínica pode ser insidiosa e lenta ou rápida e explosiva, com deterioração
hemodinâmica e choque irreversível em poucas horas.
Deve-se estar atento aos sinais de alerta iniciais para que as devidas providências sejam
tomadas em tempo hábil.

Diante de um RN séptico, a intervenção deve ser imediata, realizada por profissionais


especializados em ambiente hospitalar e fazendo uso de medicações endovenosas. Se o
diagnóstico não for precoce, a mortalidade é muito alta.

Situações de risco relacionadas à gravidez e ao parto estão fortemente associadas ao risco


de sepse no RN. Informações sobre essas situações podem ser obtidas do sumário de alta da
maternidade e durante a anamnese.

O Quadro 7 sistematiza as manifestações clínicas da sepse neonatal. A presença de uma


ou mais dessas manifestações deve orientar o encaminhamento imediato do RN e de sua
mãe para um serviço de maior complexidade, onde a propedêutica e a terapêutica serão
estabelecidas de forma particularizada e imediata.
38

Quadro 7 - Manifestações clínicas da sepse neonatal

PARÂMETRO SINAIS PRECOCES SINAIS TARDIOS


Temperatura Instabilidade térmica Hipertermia ou hipotermia

Estado geral Piora do estado geral Hipoatividade intensa


Hipoatividade Hipotonia
Pele mosqueada Letargia

Cardiovascular Taquicardia Choque (perfusão lenta, extremidades frias, pulsos


Hipotensão finos e oligúria)
Bradicardia

Sistema Irritabilidade Hiperreflexia


nervoso Hipoatividade Hipotonia
Tremores Abaulamento de fontanela
Dificuldade de mamar Letargia
Convulsões

Hematológicos Palidez cutânea Petéquias


Icterícia
Hemorragias

Digestivos Intolerância às dietas Diarreia


Vômito Distensão abdominal
Colestase

Metabólicos Hiperglicemia Acidose grave


Acidose metabólica

Respiração Piora do padrão Crises graves de apneia


respiratório Esforço respiratório grave
Aumento da FR ou pausas Respiração acidótica
respiratórias até a apneia Palidez intensa ou cianose central
Esforço respiratório leve
a moderado

Fonte: Adaptado de OLIVEIRA, 2005.

Diante de um RN com sinais gerais de perigo, toda a equipe da Unidade Básica de Saúde
deve se organizar no sentido de providenciar a transferência, após contato e em condições
adequadas, para um serviço de maior porte, o mais rapidamente possível. O RN deve ser
acompanhado pelo médico responsável.

Logo que receber alta do hospital, o RN deverá reiniciar seu acompanhamento na Unidade
Básica de Saúde, de acordo com suas novas necessidades.
39

Seção 5

O recém-nascido com icterícia


A icterícia caracteriza-se pelo aumento das bilirrubinas – direta ou indireta – e se torna
visível clinicamente quando atinge o nível sérico de 5mg/dl. Ocorre em mais de 50% dos RNs
a termo e em mais de 70% dos RNs pré-termo.

Tanto o aumento da bilirrubina indireta como o da bilirrubina direta devem ser valorizados.
No primeiro caso, teme-se o desenvolvimento da encefalopatia bilirrubínica (kernicterus)
e, no segundo, a colestase neonatal. A encefalopatia bilirrubínica, à custa da bilirrubina
indireta, tem consequências irreversíveis, como o retardo mental, as paralisias e a surdez.
A hiperbilirrubinemia indireta é tratada pela fototerapia e, em alguns casos, também por
exsanguinotransfusão. Essas intervenções são feitas em hospitais, na maioria das vezes, na
maternidade de origem.

O aumento da bilirrubina direta sugere a presença de colestase neonatal, cujas causas mais
comuns são a atresia de vias biliares e a hepatite neonatal. O quadro clínico caracteriza-
se por icterícia de intensidade variada, fezes hipocoradas ou acólicas, além de urina
escura. O encaminhamento para o gastroenterologista pediátrico deve ser imediato, pois o
esclarecimento diagnóstico e a intervenção cirúrgica devem ocorrer em período inferior a
dois meses. O tratamento da hiperbilirrubinemia direta não será abordado nesse protocolo.

A icterícia pode ser precoce ou tardia. A precoce é aquela que se apresenta clinicamente nas
primeiras 24 horas de vida e será abordada nas maternidades. A icterícia tardia é aquela de
aparecimento após 24 horas de vida.

Intervenção da equipe da Unidade Básica de Saúde em casos de icterícia: diante do potencial


de gravidade na evolução da icterícia e da relativa facilidade de seu diagnóstico, cabe à
equipe da Unidade Básica de Saúde:
• identificar precocemente o RN ictérico;
• indicar propedêutica no momento adequado;
• esclarecer se a hiperbilirrubinemia é direta ou indireta;
• acompanhar clinicamente os casos leves;
40

• encaminhar os casos que necessitarão de fototerapia e/ou exsanguinotransfusão,


os casos de icterícia prolongada e de hiperbilirrubinemia direta para esclarecimento
diagnóstico;
• acompanhar o RN após a alta hospitalar.

Nas visitas domiciliares realizadas pelo ACS, a avaliação da icterícia deve ser uma prioridade.

Todos os casos detectados devem ser encaminhados para a Unidade Básica de Saúde, quando
então serão avaliados pela enfermeira ou pelo médico.

A icterícia apresenta uma distribuição craniocaudal progressiva e pode ser avaliada


clinicamente pela observação de cor amarelada na pele das várias partes do corpo após a
compressão digital.

Deve-se avaliar o RN, de preferência, sob a luz natural, pois a luz artificial pode falsear o
exame.

Clinicamente, sua evolução pode ser estimada pelas “Zonas de Kramer” (Quadro 8). A
estimativa clínica dos níveis de bilirrubina proposta por Kramer não deve ser utilizada nos
casos de RN prematuros ou com sinais de hemólise.

Quadro 8 - Concentração de bilirrubinas (mg/dL) e correspondência clínica


(segundo Kramer)

RNT RNPT
Zonas dérmicas
Variação Média ± 1dp Variação Média ± 1dp

Cabeça e pescoço I 4,3 – 7,8 5,9 ± 0,3 4,1 – 7,6 ---

Tronco acima do
II 5,4 – 12,2 8,9 ± 1,7 5,6 – 12,1 9,4 ± 1,9
umbigo

Região
hipogástrica e III 8,1 – 16,5 11,8 ± 1,8 7,1 – 14,8 11,4 ± 2,3
coxas

Joelhos e
cotovelos até
IV 11,1 – 18,3 15,0 ± 1,7 9,3 – 18,4 13,3 ± 2,1
tornozelos e
punhos

Mãos e pés,
V > 15 --- > 10,5 ---
palmas e plantas

Fonte: Modificado de KRAMER, 1969.


RNT: recém-nascido a termo; RNPT: pré-termo ou prematuro; dp: desvio padrão.
41

Os RNs a termo com icterícia nas zonas 1 e 2 de Kramer devem ser acompanhados clinicamente
com avaliação diária – ou até mesmo duas vezes ao dia – durante o período de pico da
icterícia fisiológica.

A icterícia fisiológica do RN a termo é transitória, tem seu pico no 3º ou 4º dia de vida,


e, geralmente, o nível máximo de bilirrubina indireta é 13 mg/dl. Normalmente, o RN
encontra- se anictérico no final da primeira semana de vida. Já no RN prematuro, o pico
da hiperbilirrubinemia é em torno do 5º ou 6º dia de vida, e o nível máximo de bilirrubina
indireta é, na maioria das vezes, de 15mg/dl.

Os RNs com icterícia nas zonas 3, 4 ou 5 de Kramer devem realizar os seguintes exames
laboratoriais:
• grupo sanguíneo;
• fator Rh;
• Coombs direto;
• dosagem de bilirrubinas direta e indireta;
• eritrograma;
• reticulócitos.

Para a indicação da conduta adequada, a equipe deve levar em conta a presença de fatores
de risco, a idade gestacional do RN, sua idade cronológica e seu peso de nascimento (Quadro
9).
42

Quadro 9 - Indicação de fototerapia e exsanguinotransfusão em


recém-nascido a termo e saudável com icterícia não hemolítica

Nível sérico de bilirrubina total (mg/dl)


Idade (horas)
Fototerapia Exsanguinotransfusão + Fototerapia*

RNs a termo clinicamente ictéricos < 24 horas não são considerados saudáveis e requerem
< 24
investigação.

25 a 48 >12 <20

49 a 72 >15 <25

> 72 >17 <25

Fonte: Adaptado de AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, 1994.


*Utilizar fototerapia dupla quando houver aumentos significativos dos níveis de bilirrubina com risco aumentado
de exsanguinotransfusão.

O encaminhamento para o serviço de referência deve ser imediato, em casos de:


• diagnóstico de icterícia nas primeiras 24 horas de vida;
• icterícia e sinais gerais de perigo;
• Coombs direto positivo (icterícia hemolítica);
• indicação de fototerapia;
• RN prematuro e/ou baixo peso ao nascer.

Nessas situações, a encefalopatia bilirrubínica poderá ocorrer com valores de bilirrubinas


mais baixos, e há necessidade de intervenção nos possíveis fatores agravantes da
hiperbilirrubinemia.

Os RNPTs serão encaminhados para fototerapia com níveis mais baixos de bilirrubina.

Os RNPTs de muito baixo peso ao nascer serão tratados na maternidade, já que permanecerão
internados, geralmente, por dois a três meses. Os RNPTs limítrofes, ou seja, os de 35 a 36
semanas e seis dias, quando ictéricos, deverão ser avaliados com rigor, idealmente duas vezes
por dia. Os exames devem ser solicitados se a icterícia estiver presente na zona 2 de Kramer.
Níveis de bilirrubina próximos aos valores para fototerapia orientam o encaminhamento
para um serviço de referência.

A icterícia que se prolonga por mais de 15 dias de vida deverá ser investigada por especialista.
É importante, nesses casos, examinar as fezes do RN, já que acolia ou hipocolia fecal sugerem
colestase neonatal, e a intervenção deve ser imediata.
Conclusão
44

Conclusão
Esta publicação visou à apresentação de uma sistematização da semiologia e exame físico
da criança. Objetiva atender às necessidades de clínicos gerais e médicos de famílias e
comunidades, pediatras, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde. Espera,
também, ser útil ao aprendizado de futuros profissionais, em sua fase de formação.

Como recurso educacional aberto do módulo “Atenção à saúde da criança: aspectos básicos”,
de Curso de Especialização em Saúde da Família, disponibiliza o conteúdo para livre utilização
nos processos de atenção à saúde de crianças, bem como para processos de educação em
saúde, para comunidade, e para educação permanente de profissionais, especialmente os
membros das equipes de Saúde da Família ou da Atenção Básica.

Recomenda-se a consulta a outras publicações disponíveis na Biblioteca Virtual Nescon


(<https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/>) e no Acervo de Recursos Educacionais
em Saúde (ARES), (<https://ares.unasus.gov.br/acervo/>).
Referências
46

Referências

AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS: Provisional Committee for Quality Improvement


and Subcommittee on Hyperbilirubinemia. Practice parameter: management of
hyperbilirubinemia in the Healthy Term Newborn. Pediatrics, v. 94, n. 4, p. 558-565, 1994.
Disponível em: <http://pediatrics.aappublications.org/content/pediatrics/94/4/558.full.pdf>

KRAMER, L. I. Advancement of Dermal Icterus in the Jaundiced Newborn. Am J Dis Child., v.


118, n. 3, p. 454–458, 1969.

MINAS GERAIS. Secretaria Estadual de Saúde. Programa Viva Vida. Atenção à Saúde da
Criança. Belo Horizonte: SES-MG, 2005.

OLIVEIRA, R. O. Blackbook: pediatria. 3. ed. Belo Horizonte: Blackbook, 2005.

VIANA, M. R. A. Exame Físico. In: MARTINS, C. Semiologia da criança e do adolescente. Rio


de Janeiro: Medbook, 2010.

Você também pode gostar