Unicamp: Universidade Estadual de Campinas
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Unicamp: Universidade Estadual de Campinas
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS
UNICAMP
ÁREA DE EDUCAÇÃO APLICADA ÀS
GEOCIÊNCIAS
RACHEL PINHEIRO
i IJNICAMP
UNICAMP BIBLIOTECA CENTRAL
N~CPO-----
Pinheiro, Rachel
P655h As histórias da Comissão Científica de Exploração (1856) nas cartas de
Guilherme Schüch de Capanema I Rachel Pinheiro.- Campinas,SP.:
[s.n.], 2002.
ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
iii
Âo meu avô 1Jemé:5io;
iv
AGRADECIMENTOS
O que pode ser mais importante neste processo do que a família? Agradeço
a minha mãe, irmã e à Amanda, pela paciência e convivência.
E falando em paciência, agradeço especialmente à Margaret, que soube
entender as diferenças dos nossos ritmos e me construir neste trabalho de modo
muito competente.
Às Professoras Sílvia Figueirôa e Regina Gualtieri, pela atenção e
sugestões dadas no meu exame de qualificação.
Aos meus colegas do DGAE, por dividirem comigo esta experiência, e as
secretárias Ângela e Valdirene (o que seria deste Instituto sem vocês?).
Aos funcionários dos arquivos do Rio de Janeiro, pela boa vontade e
atenção prestada e ao Renato Abdalla, por me salvarem um moment:> de sufoco.
Ao Jefinho, lgor, Sávio e meu pai, por .me abrigarem no Rio e pela
descontração ao final de cada dia.
À Dorothy e Dona Olinda, por cuidarem de mim com muito carinho, assim
como a Renata, Paula, Michele, Victor, Diva, Bethânia e Chico.
v
"eu fiz com que o povo que a tomara
por sonho tornasse a acreditar nela".
Guilherme Schüch de Capanema, em carta escrita para Antônio
Gonçalves Dias em 1210111858, falando da Comissão Científica de
Exploração, da qual os dois faziam parte (Anais da Biblioteca Nacional
(1971, 174).
vi
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ..................................................................................................................IV
AGRADECIMENTOS ••.•..•.........••••••••.•....•....••••••••••••••........•.•••••••••••••••..•••......•••••••••••.•..•••••v
EPÍGRAFE ••••••••••....•...••••••••••••••••.•.••.•.•••••••••••.•.••.•.•.•••••••••••••••••••.....•.•••••••••••••••.•••••••••••••.. VI
RESUMO •...•...••••••••••...........••••••••••••••......•.•••••••••..•......••••••••••••••••••.•..••.•.••••••••••••.••.•..•.••••••• x
ABSTRACT ••••••.•.......•.••••••••...••••••••...•.•••••.•••••••.•...•.•••••.••••••••••.•••.•..•..••••••••••••••••••..••.••.••••• XI
INTRODUÇÃO ..•...•••••••••••••••••••..•..•.•••••••••••••..••.•••••.•••••••••••••.•..••••.•..•.•••••••••••....••••• 1
E INSTITUCIONAIS ••.••....•••••••••••••••••...•.••.•••...••••••••••••••••.•..•••...•.•••••••••••••••••••••••.•..•.•••••• 22
BRASILEIRA..•.••.•.•••••••••••••••••••••••.•..••••••••••••••••••..•.•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••.•.•.•••.•••••• 23
vi i
2.5. A ATUAÇÃO NO CEARÁ•••••••••••••••••••••••••.•••.••.•.••.••••••.•.••.•••••••.••.•.••.•••.••••••••.••.•.•.••••.•..• 91
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................181
v iii
FIGURA 2.2: MtRACRODRUON URUNDEUVA. ILUSTRAÇÃO DE FREIRE ALLEMÃO
INTEGRANTE DO 1° FOLHETO DE BOTÂNICA (TRABALHOS DA COMISSÃO
CIENTÍFICA, 1862).....................................................•....:.......... ,... :................ ;............. 101
IX
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS/
INSTITUTO .DE GEOCIÊNCIAS
RESUMO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Rachei Pinheiro
A presente Dissertação tem como objetivo destacar as histórias da
Comissão Científica de Exploração presentes nas cartas do mineralogista
Guilherme SchOch de Capanema - diretor da Seção Geológica e Mineralógica da
referida Comissão. Para tanto, tomamos as correspondências trocadas entre os
naturalistas integrantes da Comissão como nossa principal fonte de análise, e não
apenas como um material complementar a outras fontes. Trabalhando no âmbito
da cultura das Viagens Científicas, e baseando-nos nas correspondências de
Capanema, identificamos na Comissão os elementos culturais, políticos e sociais
presentes nas Viagens Científicas ocorridas até então.
X
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS/
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
ABSTRACT
Rachel Pinheiro
This study aims at exploring the histories of the Comissão Científica de
Exploração in the letters of Guilherme SchOch de Capanema - Director of the
Geology and Mineralogy Section of the Commission. So, we worked on the letters
exchanged among the Commission naturalist' analysis, and we didn't use these
documents as complementary sources. Working on the culture of the Scientific
Traveis, and based on Capanema's letters, we could identify in the Commission
the set of cultural, politicai and social elements present in scientific traveis.
xi
INTRODUÇÃO
Apresentação do tema:
1
A relação dos documentos levantados e suas localizações nos arquivos encontra-se no Anexo I
desta dissertação.
1
Guilherme Schüch de Capanema, personagem central nas histórias da Comissão,
como veremos ao longo desta dissertação. Nos Zig-zags, o naturalista incorpora o
personagem Manoel Francisco de Carvalho, que seria ajudante da Seção
Geológica e Mineralógica da Comissão e narrador dos episódios contidos nos Zig-
zags. Outro exemplo de documento praticamente não explorado
sistematicamente, e sobre o qual privilegiamos centrar nossas análises, é a
correspondência entre os membros integrantes da Comissão Científica. De tão
numerosas e ricas em informações, estas cartas mereceram uma análise a parte
no presente estudo, e acabaram por mostrar outras visões sobre o desenrolar da
Comissão Científica, revelando suas várias histórias, que igualmente às contadas
pelos documentos oficiais utilizados por Braga, também são 'verdadeiras', e por
vezes, bem mais 'pitorescas'.
2
Entre esses documentos inéditos, destacam-se também as imagens, que nesta Dissertação
utilizamos apenas algumas como ilustrações especificas. A localização do acervo iconográfico da Comissão
Cientifica nos foi indicada pela Profa. Lorelay Brilhante Kury, a quem agradeço.
2
considerar que, até mesmo na obra de Braga (op.cit.), as correspondências não
foram exploradas a fundo.
Voltando à citação de Pestre, no caso do Brasil de meados do século XIX,
os homens que detinham as práticas, habilidades e técnicas que envolviam a
história natural da época, compunham uma comunidade científica que estava se
consolidando (Lopes, 1997), e esta comunidade abrigava grupos e escolas que se
diferenciavam pelas filiações sociais e intelectuais, formando redes de convívio,
cujas intersecções podem ser compostas por relações pessoais, profissionais,
familiares, e até mesmo por instituições. Partindo disto, partilhamos as palavras de
Jardine & Spary (1996: 8), no que diz respeito à pesquisa sobre a história das
ciências naturais:
3
Salvo indicações, as traduções mencionadas no texto foram feRas por mim.
4
Esta análise, no contexto do laboratório, foi feita por Shapin (1988).
3
transmissão de informações para gerações futuras, usando uma linguagem
própria, comum entre os cientistas de cada época.
Kuklick e Kohler (1996: 2) vão um pouco mais além. Estes autores
diferenciaram a influência da 'bagagem cultural' pertencente aos homens da
ciência nas atividades científicas realizadas no laboratório e no campo, postulando
que os cientistas partem das suas reservas culturais, literárias e visuais, para
interpretar as suas observações.
As reservas culturais estão presentes em outros espaços de prática da
História Natural. Os espaços diferentes apresentam modos diferentes de ação e
observação do naturalista (Outram, 1996). Porém, no campo, além das suas
próprias cargas culturais, devemos atentar para outra influência que o naturalista
sofre, fruto do fato de que, no campo, o saber científico invariavelmente convive
com outros saberes. Esta afirmação é justificada por Kuklick e Kohler (op.cit.), que
argumentam que a prática de campo envolve personagens que residem no local e
detêm informações sobre caça, pesca, natureza, entre outras que são utilizadas
pelos naturalistas. Sendo assim, a interação cultural é intensa e, na maioria dos
casos, recíproca. Além disto, os autores atentam que o turista e o naturalista
podem, na prática de campo, coexistirem em uma só pessoa, e desta forma
convivem práticas culturais diferentes em um mesmo personagem.
Sobre este aspecto, Vessuri (1999: 16) coloca que
4
pela falta de conhecimento sobre as províncias nas quais os naturalistas da
Comissão Científica desenvolveram seus trabalhos, consideradas por eles
próprios as menos conhecidas do país, como já foi mencionado. Tais atividades
foram desenvolvidas no Ceará por naturalistas que preenchiam o papel de
cientistas, de turistas, e até mesmo estrangeiros, dada a distância cultural
existente entre a corte e a província do Ceará em nieados do século XIX.
A análise do aspecto cultural nas atividades científicas justifica o uso de
documentos particulares na história das ciências naturais, pois, assim como
Vessuri (1999), postulo que existe uma intimidade entre a vida e a obra de um
naturalista, que no conjunto de suas ações o pessoal e o profissional aparecem de
modo não dissociado, e nenhum documento escrito expressa melhor esta
proximidade do que as correspondências pessoais.
Partindo do exposto acima, o Capítulo I dessa Dissertação trata da cultura
científica das Viagens exploratórias. Mapear e definir certos aspectos e
componentes destas viagens é fundamental para localizar a Comissão do Ceará
no contexto político, científico e cultural do Rio de Janeiro e do Brasil em meados
do século XIX.
Caminhando para o Capítulo 11, será exposta a história mais conhecida da
Comissão, divulgada na historiografia, um panorama geral e a narrativa da
sucessão dos fatos que envolveram a Científica, que será útil como base para o
entendimento do Capítulo III, onde consideramos as correspondências pessoais
trocadas entre os naturalistas da Comissão Científica como principal fonte de
análise, tendo como eixo central a rede de contatos tecida por Guilherme de
Capanema em suas cartas.
5
CAPÍTULO 1: AS VIAGENS CIENTÍFICAS E SEUS
ELEMENTOS
5
Há uma vasta literatura sobre Alexandre Rodrigues Ferreira e sua Viagem Filosófica. Para mais
informações, consultar Rlho (1939), Simon (1983), Pataca (2001), entre outros.
6
O movimento de naturalistas estrangeiros no Brasil intensificou-se com a
vinda da família real em 1808 para o território brasileiro. Desde a sua vinda para o
Brasil, a corte portuguesa estimulou as Viagens de naturalistas estrangeiros, de
modo que este período chegou a ser chamado de o novo descobrimento do Brasil
(Holanda, 1993: 13). A exemplo do que aconteceu com as colônias espanholas
(Bourguet, 1997), a participação de brasileiros em tais explorações era reduzida.
Os naturalistas nacionais contribuíam em um trabalho conjunto com os
estrangeiros, que nem sempre ganhava relevância.
Apesar de muito numerosas, as Viagens Científicas que foram realizadas
do século ilustrado em diante, em geral, apresentaram certos elementos em
comum, que nos permitem categorizá-los e analisá-los separadamente.
Em uma esfera mais geral, podemos dizer que as Viagens Científicas
apresentavam uma fase preparatória, um segundo momento constituído pela
viagem em si e, por último, o trabalho posterior às atividades de campo, no qual os
naturalistas sistematizava os dados recolhidos em suas explorações.
Nestes três momentos, uma literatura de Viagens característica está
presente. Lisboa (1997: 34), baseada em Bender, usa uma definição ampla de
literatura de viagem, científica ou não, que se restringe apenas à condição de
retratar o deslocamento físico do autor pelo espaço geográfico, por tempo
determinado, e a transformação do objeto observado em narrativa. Os textos
variam de acordo com o momento histórico e a carga de subjetividade do autor,
possuidor de um olhar próprio. No caso dos relatos de viagem do século ilustrado
por exemplo, a narrativa, escrita por pessoas com formação ampla, inclusive em
História Natural, se apresenta de modo abrangente dentro desta área, servindo
como fonte para várias modalidades das ciências empíricas (Neuber, apud Lisboa,
op.cit.).
Ao longo do século XVIII e século XIX, as viagens de um modo geral
ganharam forte especialização, e consequentemente isso se refletiu na literatura
de viagens produzida neste período. Assim, as memórias, os relatos, os diários e
as Instruções de Viagem apresentam algumas transformações e continuidades no
decorrer da passagem do século XVIII ao XIX.
7
Lisboa (op.cit.: 34) postula que
8
interessadas em História Natural para observar as potencialidades do Reino de
Portugal.
Sendo assim, os ·motivos para a realização de uma Viagem Científica eram
variados. Existiam interesses tanto pessoais, dos próprios naturalistas viajantes,
como os interesses do Estado, que financiava as viagens.
Da parte dos naturalistas, havia uma certa curiosidade, atração para
conhecer terras exóticas, contendo uma natureza diferente da conhecida pelo
naturalista, que pode ser traduzida por interesse científico de pesquisa. Havia
também a busca pela aventura, além da consolidação de suas carreiras como
naturalistas. Como tudo tem seu preço, as Viagens, as vezes de tão longas e
distantes, causavam grande desgaste físico e mental no naturalista (Bourguet,
1997), de modo que um estudo sobre este tema é enriquecido com a presença da
análise de elementos pessoais dos exploradores, como sua correspondência ou
diário de viagem.
Da parte do poder público, os interesses giravam em torno de relações
diplomáticas, desenvolvimento científico e o levantamento de recursos {Lisboa,
op.cit.). Raminelli {2000: 27) coloca que
9
fomentar a produção de matérias-primas para a
industrialização em Portugal.
10
investigação de todos os aspectos da História do Brasil,
incluída a parte da sua História Natural .
11
realizado através de desenhos manuais. Nas palavras de Drouin (1998: 151), um
desenhador (.. .) é essencial em qualquer expedição científica. Por outro lado,
algumas modalidades dehtro da História Natural, como taxonomia vegetal por
exemplo, não sofreram mudanças significativas em relação ao método de registro
visual por conseqüência do surgimento da fotografia, continuando o desenho a
mão livre o modo mais usado.
A equipe que realizaria uma Viagem também apresenta algumas
características. A figura do viajante-naturalista, por exemplo, representava a
ligação entre as colónias e os museus, hortos e jardins botânicos das metrópoles
(Kury, op.cit.). Além disso, mais do que um aventureiro que parte para o
desconhecido, o viajante carrega uma missão pré-definida e com um destino
conhecido. O explorador sabia o que estava indo procurar antes de sua partida
(Bourguet, op.cit.). Em outras palavras, seus integrantes carregavam um
conhecimento prévio das circunstâncias da prática viagem.
Os naturalistas geralmente abrangiam um vasto conhecimento de diferentes
vertentes da História Natural em suas formações profissionais. Um ponto que
merece menção se refere aos estudos antropológicos, que estavam vinculados à
Zoologia até meados do século XIX, e portanto não deixavam de representar uma
vertente da História Natural.
As condições do regresso do naturalista também são dignas de atenção. Ao
longo do século XVIII, foram inúmeras as viagens sem regresso. Eram comuns
naufrágios, mortes por doenças ou por disputa com povos de outra cultura. De tão
longas as viagens e precárias as condições de envio de correspondências, muitas
vezes o naturalista era conservado em um estado de ignorância em relação à
situação política da sua terra natal.
Ao regressar, este naturalista poderia encontrar, por exemplo, a sua nação
em guerra, ao invés de uma recepção de boas vindas. O regresso da Viagem
Científica longa pode conter ainda outras surpresas desagradáveis, como a
dificuldade de interpretação do trabalho do naturalista, tão importante e nobre no
momento da partida, e que por vezes perde o sentido após os anos de ausência e
distância (Bourguet, op.cit.). Como veremos no Capítulo 11, algo semelhante
12
aconteceu com a Comissão Científica, que no momento de sua criação detinha
apoio popular, porém na ocasião de seu regresso, apresentaria sua história de
modo controverso.
A escolha dos nomes dos naturalistas envolvia também fatores sociais e
políticos, além dos científicos e profissionais. Geralmente, estas pessoas faziam
parte do cenário político de seu país, ou melhor dizendo, compunham as elites
dirigentes, e alguns destes escolhidos não apresentavam uma carreira de
naturalista consolidada, o que só aconteceria após o retorno da Viagem, quando
os dados recolhidos renderiam trabalhos científicos.
Além dos naturalistas, a equipe de Viagem era composta de ajudantes,
técnicos e homens responsáveis pelo registro iconográfico.
A literatura presente no preparo das Viagens Científicas é composta por
Instruções de Viagens e correspondências trocadas nesta fase. Através das cartas
e ofícios, podemos constatar as negociações que envolvem a escolha dos nomes
dos naturalistas integrantes da Viagem, o seu destino e outras particularidades,
além das encomendas de equipamentos e livros.
As Instruções de Viagem apresentam outros diversos aspectos históricos. A
demanda por Instruções de Viagem tornou-se evidente no século XVIII, devido à
ausência de sistematicidade das observações feitas pelos naturalistas nas
expedições. Tentou-se excluir o fator subjetivo do olhar do naturalista, que tornava
pessoal o relato de viagem, deixando-o vulnerável à interpretações diversas, corno
conseqüência de uma padronização que as instruções passaram a exigir,
tornando o mais homogêneo possível o olhar do naturalista (Kury, 1998). Em
outras palavras, as Instruções buscavam, acima de tudo, diminuir a tensão entre o
sujeito observador e o objeto observado.
Busca esta presente nas primeiras Instruções de Viagens, escritas por
Henrique André Nordblad, aluno de Linneo, em 1759, lnstructio peregrinatoris
(Brigola, 2000), onde há descrições das qualidades necessárias aos viajantes do
ponto de vista físico e intelectual (Bilbao, 1991), em uma tentativa de
homogeneizar o próprio naturalista. As Instruções de Nordblad, de certa forma,
foram base para muitas das Instruções de Viagem que surgiram posteriormente.
13
As características que o naturalista deveria possuir continuaram presentes em
Instruções posteriores, como é o caso por exemplo do Compêndio de
observações... , publicado por José Antônio de Sá em 1783, em Portugal.
Trocando em miúdos, o naturalista deveria apresentar um conjunto de qualidades,
que englobariam por exemplo condições de saúde, que o capacitaria à realizar
exercícios físicos, além de um rigor intelectual amplo e conhecimento profundo do
Latim, para a classificação das espécies (Larsen, op.cit.).
Acima de tudo, as Instruções de Viagem eram instrumentos de controle
essenciais para a produção do conhecimento científico da época, pois tomavam
possível o acompanhamento das Viagens de dentro dos gabinetes europeus. Por
conseqüência, apresentavam forte visão centralizadora das ciências, pois definiam
qual o conhecimento que deveria ser produzido, e até o que e como determinado
objeto científico deveria ser observado. Elaboradas nos museus de História
Natural, as Instruções orientavam sobre quais os produtos naturais e industriais a
serem recolhidos e como deveriam ser preparados, os locais a serem percorridos,
as observações etnográficas que deveriam ser feitas, a produção de diários de
viagem e desenhos, enfim, abordavam todo o instrumental teórico e prático das
Viagens. Além disso, o surgimento das Instruções permitiu também colocar em
evidência o trabalho preparatório da Viagem, anterior ao campo, ampliando a
visão do naturalista viajante somente como homem de campo, como veremos a
seguir.
Em meados do século XVIII, Portugal, acompanhando todo o movimento da
Filosofia Natural da época, delineou as estratégias das suas Viagens de
exploração. Entre outras medidas tomadas envolvendo este processo, foram
traduzidas e adaptadas Instruções para as Viagens. Sinalizada pela reforma da
Universidade de Coimbra (1772), a adesão de Portugal às ciências modernas, que
incluíam a Filosofia Natural, consolidaria um novo contexto político institucional.
Instituições como a Academia de Ciências (1779) e o Real Museu e Jardim
Botânico da Ajuda, em Lisboa tornaram-se centrais na implementação dos
projetas de catalogação geral das condições naturais e econômicas de Portugal e
suas colônia (Cardoso, 1991).
14
No ano de 1781, os naturalistas do Real Museu de Ajuda redigiram o
Método de recolher, preparar, remeter, e conservar os produtos naturais seguindo
do plano, que tem concebido, e publicado alguns naturalistas, para o uso dos
curiosos que visitam os sertões, e costas do mar (Aimaça, 1993), Instruções que
permaneceram manuscritas. Em muitos pontos, este manuscrito coincide com as
Breves instruções aos correspondentes da Academia das ciências de Lisboa
sobre as remessas dos produtos, e notícias pertencentes a Historia da Natureza,
para formar um Museu Nacíonaf, preparadas pela Academia de Ciências de
Lisboa.
Estas Instruções acima citadas abrigavam o objetivo de buscar produtos do
Reino de Portugal e de suas colônias para a formação de um Museu Nacional,
bem como o adiantamento das artes, Comércio, Manufaturas e todos os mais
ramos da Economía 7, e continham uma tabela explicativa de como deveria ser
elaborado um diário de campo, reforçando a idéia de padronização do olhar do
naturalista. De um modo geral, as Viagens Filosóficas da segunda metade do
século XVIII, organizadas por Domingos Vandelli, seguiram as Breves Instruções,
ou adaptações próximas (Pataca, 2001).
As Breves Instruções foram usadas também como modelo para a
elaboração, no Museu Nacional do Rio de Janeiro, das instruções luso-brasileiras
do século XIX, inclusive a Instrução para os viajantes e empregados nas colónias
sobre a maneira de colher, conservar e remeter os objetos de historia naturaf.
Estas Instruções concretizaram o ideal de funcionamento e organização do Museu
Nacional (Lopes, op.cit.), criado em 1818 no Rio de Janeiro, como será discutido
adiante.
Como gênero literário, a autoria e o público das Instruções eram
determinantes das suas particularidades. Por exemplo, as Breves Instruções,
usadas no século XVIII, foram elaboradas por diversos naturalistas da época,
6
Lisboa: Regia Oficina Tipográfica (1781).
7
Breves Instruções, 1781: 3-4. Agradeço à Ennelinda Pataca por me ceder este material
8
Arranjada pela administração do Real Museu de História Natural de Paris, traduzida do original
francês impresso em 1818, aumentada em notas das instruções aos correspondentes da Academia Real das
Ciências de Lisboa, impressas em 1781, e precedida de algumas reflexões sobre a história natural do Brasil e
estabelecimento do Museu e Jardim Botânico na corte do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Impressão Régia,
1819.
15
dirigidas para os correspondentes da Academia de Ciências de Lisboa que se
encontravam nas colónias portuguesas, não necessariamente versados em
História Natural. Isto fez com que se éonfigurasse um texto detalhado e minucioso
nas orientações sobre métodos e técnicas de observar, coletar, preparar e remeter
produtos de história natural para a metrópole. Já as Instruções usadas na
Comissão Científica apresentam outras particularidades e características, cujos
detalhes serão vistos no próximo Capítulo.
16
Cheios de apreciações e de observações sábias, de
pormenores, de datas e de lugares, estes diários são um
primeiro trabalho de registro, o mais isento e completo
possível, e, todavia, constituem já o primeiro critério de
seleção do conjunto dos fatos e das experiências do dia.
17
1.3. O trabalho após o campo:
18
Outro exemplo de naturalista que trabalharia até o fim da vida com os
resultados de sua Viagem é Johann Emanuel Pohl9 . Pohl veio para o Brasil em
1817, permanecendo aqui por mais de quatro anos. Ao regressar, entre os anos
de 1827 a 1831, elaborou a Plantarum Brasiliae ícones et descriptiones, contendo
a descrição de pelo menos quatro mil espécies de plantas. Este material viria
compor o Real Museu Brasileiro em Viena, e as duplicatas foram distribuídas para
diversos Museus europeus. Pohl faleceu em 1834, poucos anos após o seu
retorno à pátria e a publicação de sua principal obra (Ferri, 1976).
9
Doutor em medicina pela Universidade de Praga, desenvolveu intensos estudos sobre a flora da
Bohemia (Ferri, 1976).
19
CAPITULO 2: A COMISSÃO CIENTÍFICA DE EXPLORAÇÃO
10
RIHGB (1856: 12). Agradeço à Prof. Silvia Figueirõa por me ceder o material do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro.
11
RIHGB (1856: 18).
20
Comissão. Estava formada então a Imperial Comissão Científica, também
chamada de Comissão Exploradora das Províncias do Norte, chamada pelos seus
integrantes apenas como Científica. Posteriormente, ficou também conhecida
como Comissão do Ceará, e pejorativamente como Comissão Defloradora e das
Borboletas.
A Científica organizou-se em cinco seções, que abrangiam cinco áreas
específicas da história natural. Manoel Ferreira Lagos, o porta-voz da proposta,
assumiu o posto de diretor da Seção Zoológica da recém criada Comissão. As
outras quatro Seções eram as seguintes: Botânica; Geológica e Mineralógica;
Astronómica e Geográfica; e Etnográfica e Narrativa da Viagem; dirigidas por
Francisco Freire Allemão, Guilherme Schüch de Capanema, Giacomo Raja
Gabaglia e Antônio Gonçalves Dias respectivamente. Cada diretor de Seção ficou
encarregado de escrever as Instruções de Viagem da sua própria seção. Porém,
as Instruções da Seção Astronómica e Geográfica e Etnográfica e Narrativa da
Viagem foram excepcionalmente redigidas pelo conselheiro Cândido Batista de
Oliveira e Manoel de Araújo Porto Alegre respectivamente, pois os diretores de
ambas as Seções, Raja Gabaglia e Gonçalves Dias, encontravam-se fora do país.
Além disso, foram redigidas Instruções gerais para a Comissão Científica pelo
Ministro do Império Sérgio Teixeira de Macedo (Braga, op.cit.). Aproveitando a
permanência de Gonçalves Dias e Raja Gabaglia na Europa, ambos foram
encarregados da compra de instrumentos e livros que seriam úteis à Comissão
Científica. Francisco Freire Allemão, além de encarregado da Seção Botânica,
também ocupou o cargo de Presidente da Comissão.
Além dos diretores das Seções, a Comissão Científica contava ainda com a
presença do pintor formado na Escola de Belas Artes e condiscípulo de Manuel de
Araújo Porto Alegre, José Reis de Carvalho, e adjuntos para cada Seção. Eram os
adjuntos Manuel Freire Allemão- sobrinho de Francisco Freire Allemão, também
chamado de Freirinha; João Martins da Silva Coutinho - que viria a ser o guia e
conselheiro da expedição de Agassiz ao Amazonas após retornar das atividades
da Comissão Científica, onde colaborou com Guilherme de Capanema na Seção
Geológica; João Pedro e Lucas Antônio Vila-Real - naturalistas preparadores que
uNICAMP
21 BIBLIOTECA CENTRAL
- - - ' : f - - · - - · · · ..... - -
conservaram os animais coletados pela Seção Zoológica; Capitão Agostinho
Victor de Borja Castro e os Primeiros Tenentes Antônio Alves dos Santos Sousa,
Francisco Carlos Lassance Cunha, João Soares Pinto, Caetano de Brito de Sousa
Gaioso e Basílio Antônio de Siqueira Barbedo - todos componentes da Seção
Astronômica e Geográfica, a mais numerosa das cinco; e Francisco de Assis
Azevedo Guimarães- requisitado por Gonçalves Dias após o início das atividades
da Comissão Científica.
22
2.1.1. O Museu Nacional como palco da emergente Comunidade
Científica brasileira
Os fortes laços entre o contexto da criação da Comissão Científica e o
Museu Nacional do Rio de Janeiro são explícitos. Já na fala de Ferreira Lagos,
durante a proposta de formação da Comissão Científica, o objetivo de coletar os
produtos naturais e artificiais para abastecer o Museu Nacional é destacado.
O Museu Nacional foi criado em 1818. A sua construção está diretamente
relacionada a vinda da família real para o Brasil. Dentro da periodização
relacionada à dinâmica de funcionamento do Museu Nacional construída por
Lopes (op.cit.), a fase do Museu Nacional de maior interesse para o presente
assunto se estende de 1842 a 1870, período que abriga a iniciativa, idealização e
atuação da Comissão Científica. A autora localiza neste período também a
consolidação de urna comunidade científica brasileira, e como veremos, o Museu
Nacional estava pondo em prática o seu novo ideal de funcionamento. Como bem
coloca Sá (2001: 900):
23
politica brasileira, que é o segundo reinado. Este momento, segundo o autor, seria
caracterizado pelo amadurecimento do poder imperial, já que em 1848 os
conservadores sobem plenamente ao poder, sob a presidência de Pedro de
Araújo Lima (Visconde de Olinda), após 5 anos de domínio dos liberais.
Durante esta fase, o Museu Nacional possuiu quatro diretores: Custódio
Alves Serrão (1842-1847), Frederico Leopoldo César Burlamaque (1847-1866),
Francisco Freire Allemão (1866-1874) e Ladislau de Sousa Melo Neto (1875-
1893), sendo que os três últimos contaram com a indicação direta do governo para
assumir o cargo. Estes personagens colocaram em prática o novo ideal de
funcionamento do Museu Nacional, iniciado com o então novo regulamento de 03
de fevereiro de 1842 (Lopes, op.cit.). Mais diretamente relacionados a Comissão
estão Burlamaque, diretor do Museu na época da formação da mesma, e Freire
Allemão, que como já foi visto, foi presidente da Científica e coordenou seus
trabalhos que abrangiam a botânica. Além destes, veremos que vários integrantes
da Científica apresentaram laços institucionais com o Museu Nacional, ou antes,
ou após suas atividades.
O regulamento de 1842 dividiu o Museu em quatro seções: 1a) Anatomia
Comparada e Zoologia; 2a) Botânica, Agricultura e Artes Mecânicas; 3a)
Mineralogia, Geologia e Ciências Físicas e 4a) Numismática e Artes Liberais,
Arqueologia, Usos e Costumes das Nações Modernas. Além disso, estipulou que
cada seção teria um Diretor responsável, e de acordo com a necessidade adjuntos
e ajudantes. Estes seriam cargos oficiais do Museu com salários, juntamente
como os cargos de Diretor Geral e Secretário.
O novo ideal de funcionamento presente no regulamento de 1842 buscava
tornar o Museu Nacional um espaço privilegiado para a articulação do olhar dos
naturalistas, como eram os museus europeus. Na prática, buscou-se por
diferentes meios a formação de um acervo de objetos naturais, principalmente
brasileiros, pois segundo vários naturalistas estrangeiros que visitaram o Museu, e
mesmo naturalistas nacionais, a falta de objetos que demonstrassem a variedade
natural do Brasil consistia uma grande deficiência do Museu. Este foi exatamente
24
um dos argumentos usados na proposta da Comissão. Além disso, as coleções já
existentes eram consideradas pelos mesmos em mal estado de conservação.
Esta foi a opinião do Conde de Castelnau, em 1844, do botãnico inglês
Gardner, em 1846, e daquele que seria o Diretor do Museu de História Natural de
Buenos Aires a partir de 1862, Hermann Burmeister, em 1850 na ocasião de suas
visitas à Instituição (Lopes, 1993).
Foram tomadas várias iniciativas para aprimorar o funcionamento do Museu
e melhorar as suas coleções. Dentre elas, a contratação de viajantes estrangeiros,
a formação de comissões temporárias, como a Comissão Científica de
Exploração, o intercâmbio com outros museus do Brasil e do mundo, e até ordens
oficiais para os Presidentes das províncias remeterem objetos de história natural
de suas províncias para o Museu, além da contratação de técnicos e homens da
ciência especializados na conservação, classificação e reclassificação dos
objetos, já que as normas conceituais de classificação estavam em constante
modificação em meados do século XIX. Com estas medidas, buscava-se suprir as
necessidades do Museu citadas anteriormente: aumentar e conservar melhor as
coleções, sendo prioritária a criação de um acervo com objetos nacionais. A
importância de tais objetos seria evidenciada na primeira Exposição científica
organizada no Museu, em 1861, justamente com o material trazido pela Comissão
do Ceará.
As relações entre o Museu Nacional e outras instituições científicas e de
ensino também são numerosas, e interferiram diretamente na implantação do seu
novo ideal de funcionamento. Uma de suas salas era ocupada pela Sociedade
Auxiliadora da Indústria Nacional e pelo Instituto Fluminense de Agricultura. As
salas e coleções também eram usadas para cursos ministrados por professores
da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Escola Central, Escola de Medicina,
Imperial Colégio Pedro 11, entre outras instituições.
Em relação aos intercâmbios internacionais, o Museu Nacional neste
período trocou informações e material com o Instituto Escola Teórico - Prático
d'Agricultura, da Quinta Normal de Santiago do Chile. Também foi remetido ao
longo do século material para o Uruguai, Estados Unidos, Alemanha e França
25
(Lopes, 1997, op.cit.). Na segunda metade do século XIX, o Museu Nacional
realizou exposições nacionais, à moda dos museus europeus, e se integrou na
dinâmica das exposições universais, muito em voga nas instituições européias da
época.
Os elos institucionais entre a Comissão Científica de Exploração e o Museu
Nacional são explícitos no histórico profissional de alguns de seus integrantes.
Mas estes também conviviam dentro de outros espaços institucionais que não o
Museu Nacional, além de apresentarem ligações sociais entre si. Vejamos então
quem eram os naturalistas e quais as instituições que corporificavam os elos entre
a Comissão Científica e o Museu Nacional, usando como ponto de partida uma
breve biografia de um personagem central na história da Científica, e suas
comunicações com o restante da rede que envolveu a Comissão:
Guilherme Schüch de Capanema (1824- 1906) ocupou o cargo de Diretor
Adjunto da Seção de Geologia e Mineralogia do Museu Nacional a partir do ano de
1849 até 1876. Frederico Burlamaque, presidente do Museu Nacional no momento
da formação da Comissão Científica, era amigo íntimo de Guilherme de
Capanema. Ambos tinham interesses em mineralogia, e Lopes (op.cit.) afirma que
durante a diretoria geral de Burlamaque (1847-1866) no Museu, que coincidiu com
a gestão de Capanema como responsável pela Seção de Geologia e Mineralogia
na Instituição, esta apresentou o seu momento mais dinâmico até então na história
do Museu Nacional. Capanema, por influência e pedido de Burlamaque, iria à
Bahia no seu trajeto para o Ceará estudar terrenos que possivelmente continham
potencial mineralógico de acordo com algumas amostras da região existentes na
coleção do Museu Nacional.
Além da amizade com Burlamaque, Guilherme de Capanema tinha laços
familiares com Manoel de Araújo Porto Alegre 12, autor das Instruções da Seção
Etnográfica e Narrativa da Viagem da Comissão Científica, como já mencionado, e
diretor da Seção de Numismática e Artes Liberais, Arqueologia, Usos e Costumes
26
das Nações Modernas do Museu Nacional entre 1854 e 1859 e cunhado de
Capanema. Porto Alegre e Capanema mantinham intensa correspondência,
inclusive muitas cartas tratavam sobre assuntos pessoais relacionados a Antônio
Gonçalves Dias, com quem ambos mantinham grande amizade. Dias também era
professor de latim no Colégio Pedro 11 e padrinho de Henriqueta, filha de
Capanema.
As amizades de Guilherme de Capanema atingiam os mais altos cargos
sociais e políticos dentro da corte. Filho de Roque Schüch de Capanema,
bibliotecário e conservador do gabinete de História Natural da Imperatriz
Leopoldina, Guilherme foi amigo de infância do Imperador Pedro 11.
Capanema nasceu em Minas Gerais, estudou na Bergakademie Freiberg,
centro referencial em Mineralogia da época e famosa pela atuação de Abraham
Gottlob Werner13 (1749-1817). De volta ao Brasil, doutorou-se em Ciências
Físicas e Matemáticas pela Escola Militar do Rio de Janeiro, instituição que
manteve laços com o Museu Nacional nas suas atividades educacionais, inclusive
após tomar-se Escola Politécnica. Capanema foi também sócio muito ativo do
IHGB, instituição que sempre contou com o apoio decisivo de seu amigo, o
Imperador. Em 1858, foi engenheiro chefe da estrada de ferro que ligaria Niterói a
Campos. Após chefiar a Seção de Geologia da Comissão Científica em 1856, foi
diretor geral dos Telégrafos Elétricos e recebeu as mais altas condecorações do
Império, como as da Ordem da Rosa, Major Honorário Titular do Exército,
Conselheiro do Imperador, além da Ordem de Cristo (Lopes 1997, op.cit.;
Figueirôa, 1997):
12
Manoel de Araújo Porto Alegre (1806 -1879), que foi também diretor da Academia de Belas-Artes
entre 1854 e 1857, foi aluno de Debret e o acompanhou a Europa em 1831, onde idealizou e editou o
periódico Niterói -revista brasiliense de ciências, letras e arles (Pinassi, 1998), juntamente com Gonçalves de
Magalhães e Sales Torres-Homem. Editou também a MineNa Brasiliense e a Guanabara. Foi também lente
substituto de desenho da Escola Militar, vereador suplente na Câmara Municipal da Corte, cônsul geral na
Saxónia e representante da Legação de Lisboa, onde faleceu (Lopes, op.cit.).
13
Werner publicou em 1786 o livro Breve classif'teação e descrição das rochas, onde difundiu o termo
geognosia fundado por ele. Suas teorias iniciaram a separação entre geologia causal e geologia histórica
(Laudan, 1987; Gohau, 1987).
27
Em 1862 fundou uma sociedade de engenheiros, que viria a ser o Instituto
Politécnico Brasileiro, da qual foi presidente, e Raja Gabaglia, chefe da Seção
Astronómica da Comissão Científica, foi primeiro secretário, como está relatado
em correspondência a Dias:
Como pode ser visto, Capanema faz parte de uma geração de naturalistas
brasileiros do século XIX que exerceu intensa atividade científica e social.
Apresentou na sessão ordinária do IHGB de 24 de novembro de 1854 o artigo
Quais as tradições ou vestigios geológicos que nos levam à certeza de ter havido
terremotos no Brasil, publicado no tomo XXII da Revista do IHGB de 1859. Propôs
em 1850, junto com Francisco Freire Allemão, a criação da Sociedade Velosiana,
objetivando aumentar os estudos sobre a História Natural do Brasil, sendo diretor
da Comissão Permanente de Mineralogia da Sociedade.
Em 1858, escreveu as Apostilas de Mineralogia destinadas ao ensino. Em
1865, portanto na época de penmanência da expedição de Louis Agassiz no Brasil,
Capanema ministrou uma lição popular, com o título Decomposição dos Penedos
no Brasil, de linguagem fácil. O objetivo de Capanema era divulgar a sua opinião
contrária à ocorrência de glaciação nos primórdios do Brasil, cujo defensor era o
próprio Agassiz. Segundo a interpretação de Capanema, o que Agassiz julgou ser
produto da glaciação, nada mais era do que ação do intemperismo na
decomposição do terreno. Capanema chegou a comparar o processo de
cristalização com o endurecimento de uma calda de açúcar para facilitar a
14
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (op.ctt.: 317). Carta n• 266 para Dias. S/1, 07/04/1864.
15
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (op.cit: 273). Carta n° 226 para Dias. Rio de Janeiro,
25/11/1862.
28
compreensão pelo público leigo. A partir de 1874, Capanema parece se dedicar
exclusivamente à Diretoria da Repartição Geral dos Telégrafos, que havia
assumido em meados da década de 60 (Figueirôa, 1997, op.cit.). Também
realizou estudos envolvidos com a Sociedade Velosiana e identificou a presença
de cádmio pela primeira vez no Brasil, em amostras de sulfureto de zinco
originárias do Ceará e depositadas no Museu Nacional, além de descrever um
novo gênero vegetal. Capanema publicou estes seus estudos no periódico
Guanabara.
A Sociedade Velosiana, fundada em 1850, representou a construção de
outro espaço de sociabilidade científica entre os naturalistas integrantes da
Comissão do Ceará. Foi também uma das instituições científicas que apresentou
fortes laços com o Museu Nacional e tem especial importância no presente
estudo. Suas reuniões aconteciam nas salas do Museu por autorização do
governo, desde a criação da Sociedade em 1850. Dos quinze sócios iniciais da
Sociedade Velosiana, alguns nomes já foram citados neste estudo, como
Francisco Freire Allemão, Guilherme de Capanema, Frederico Burlamaque e
Custódio Alves Serrão16 .
O naturalista Francisco Freire Allemão foi seu grande idealizador e
presidente, e pretendia reunir periodicamente naturalistas com uma certa
experiência para discutir assuntos exclusivamente relacionados à história natural,
bem como a organização interna da Sociedade. A criação da Sociedade
representa o início de uma separação institucional entre a História Natural e as
outras ciências, como a História e a Geografia. Em outras palavras, a ciência
começaria a funcionar em áreas especializadas, o que também pode ser
interpretado como um aspecto importante no surgimento e consolidação de uma
comunidade científica (Figueirôa, 1997, op.cit.; Lopes, 1997, op.cit.). Os
integrantes da Sociedade Velosiana encontravam-se periodicamente para discutir
as atividades científicas realizadas por eles ou por algum outro naturalista, fosse
ele nacional ou não.
16
Os outros sócios iniciais eram Cândido de Azeredo Coutinho, Alexandre Antônio Vandelli, Luis
Riedel, Bernardo José de Serpa Brandão, Emílio Joaquim da Silva Maia, Teodoro Descourtilz, Antônio Manuel
de Melo e Inácio José Mafia, mais três adjuntos.
29
As dificuldades da existência da Sociedade Velosiana foram retratadas por
Francisco Feire Allemão, em um discurso proferido por ele em 1872, na ocasião
da tentativa de fazer renascer a Sociedade:
17
Coleção Freire Allemão: Biblioteca Nacional, 1-28-9-80.
18
Coleção Freire Allemão: Biblioteca Nacional, 1-28-9-80.
30
1851 e 1855 no periódico Guanabara, revista artística, científica e literária, ainda
não estudado sistematicamente, que teve Manoel de Araújo Porto Alegre como
um de seus editores. O fim da Velosiana também não está esclarecido na
historiografia. Figueirôa (1997, op.cit.) atribui à criação da Comissão Científica de
Exploração, em 1856, como um possível fato que possa ter levado a Sociedade a
se desfazer, já que parte significativa dos seus membros estariam envolvido nos
trabalhos da Comissão Científica, e posteriormente se ausentariam do Rio de
Janeiro na Expedição para o Ceará.
Como foi o caso de Francisco Freire Allemão de Cisneiros, nascido em
1797 no Rio de Janeiro. Em 1822 iniciou seus estudos na Escola Anatômica,
Cirúrgica e Médica do Rio, para em 1829 começar os seus estudos em botânica
na Faculdade de Medicina de Paris, recebendo o título de Doutor em Medicina.
Como Guilherme de Capanema, Freire Allemão também era amigo pessoal do
Imperador, tanto que foi professor das princesas e médico da Casa Imperial. Foi
condecorado com a Ordem da Rosa, e como Cavalheiro de Cristo e da Ordem de
Francisco I de Nápoles.
A partir de 1833, tornou-se lente de Botânica da Faculdade de Medicina do
Rio de Janeiro, e em 1858, lente proprietário da cadeira de Botânica na ocasião da
reforma da Escola Militar em Escola Central, recebendo o título de major. No
momento da criação da Sociedade Velosiana e da Comissão Científica, Freire
Allemão já passava dos 50 anos de idade, e contava com um certo prestígio e
experiência dentro do quadro científico nacional e internacional. Por isso, além de
ter sido nomeado para o cargo de diretor da Seção Botânica da Comissão
Científica, ainda ocupou o cargo de presidente da mesma. Atualmente, Freire
Allemão é considerado um dos maiores botânicos brasileiros.
Em 1866, após a realização das atividades da Comissão Científica, Freire
Allemão foi nomeado Diretor do Museu Nacional, por indicação di reta do governo,
onde permaneceu até sua morte, em 1874 (Lopes, 1997, op.cit.; Altomani, 1998).
Freire Allemão escreveu sobre sistemática, fitologia, histologia e fisiologia
vegetal. Também deixou dez volumes de manuscritos inéditos, contendo diversos
desenhos. Apresentou nove memórias sobre plantas brasileiras na Sociedade
31
Velosiana só no ano de 1851. Sua Seção dentro da Comissão Científica foi uma
das mais dinâmicas, tendo produzido um longo relatório contendo vasta
iconografia, publicado no livro Trabalhos da Comissão Científica, em 1862.
Juntamente com Custódio Alves Serrão, Ladislau Neto e Saldanha da Gama,
Freire Allemão organizou o catálogo referente às plantas brasileiras que
integraram a segunda exposição universal, realizada em Paris no ano de 1866.
A participação de Freire Allemão e Capanema em cargos oficiais no Museu
Nacional nos remete a mais um elo que compõe a rede que está sendo descrita.
Manoel Ferreira Lagos (1816-1871), além de apresentar ligações com os dois
naturalistas por ser o chefe da Seção Zoológica da Comissão Científica, também
ocupou cargo de chefia no Museu Nacional.
Nascido no Rio de Janeiro, Lagos formou-se em Medicina nesta mesma
cidade. Após a realização das atividades da Comissão Científica, Lagos ficaria
responsável pela biblioteca de livros de ciências naturais do Museu Nacional, a
qual havia sido incrementada com a adição dos livros adquiridos pela Comissão,
chegando a quase 2000 exemplares. Logo após, foi nomeado diretor da Primeira
Seção de Zoologia e Anatomia Comparada do Museu Nacional, entre 1866, ano
em quem completou o catálogo da biblioteca, e 1871 (Lopes, 1993, op.cit.).
Anteriormente, Lagos já ocupava o cargo de adjunto da mesma seção. De certa
forma, estes dados mostram que sua carreira como naturalista ganhou força
através da Comissão Científica, já que de adjunto, tornou-se diretor da Seção do
Museu na qual trabalhava.
Lagos foi também secretário perpétuo do IHGB, tornando-se posteriormente
3° vice-presidente do mesmo instituto, além de ser oficial arquivista da Secretaria
dos Negócios Estrangeiros (Lopes, 1997, op.cit.). Segundo Braga (op.cit.), Ferreira
Lagos contava com a confiança de todos os ministros, por sua personalidade
altamente diplomática.
Ao retornar de suas atividades, Lagos esteve a frente da primeira
Exposição Nacional realizada no Museu Nacional em 1861, sobre a qual
falaremos adiante, o que também pode ter influenciado na sua promoção a Diretor
na mesma instituição.
32
A rede que entrelaça a comunidade científica no Brasil se estende com os
elos entre Lagos e Gonçalves Dias, chefe da Seção Etnográfica e Narrativa da
Viagem dentro da Comissão Científica: os dois trabalharam na mesma época na
Secretaria dos Negócios Estrangeiros.
Professor de História e Latim do Imperial Colégio Pedro 11, no Rio de
Janeiro, Gonçalves Dias ficou largamente conhecido como o responsável pela
explosão do indianismo no Brasil, mais intensamente presente no livro Ottimos
Cantos, publicado em 1951, e como criador da poesia nacional, adquirindo
também a competência de etnógrafo e lingüista (Sousa, 1976) após a Comissão
Científica.
Nascido em 1° de agosto de 1823, Gonçalves Dias estudou latim, francês e
filosofia. Em 1838, com apenas 16 anos incompletos, se dirigiu à Portugal para
freqüentar o curso de jurisprudência da Universidade de Coimbra, onde se tornou
bacharel em 1844. Em 1846, já no Rio de Janeiro, publicou seu primeiro livro de
poesias, Primeiros Cantos, e em 1848, publicou Segundos Cantos19 .
Apresentou no IHGB algumas memórias, dentre elas a mais importante,
considerada pelo próprio autor, Brasil e Oceania, onde comparou os caracteres
físicos, morais e intelectuais dos indígenas destas duas porções de mundo,
considerados no tempo da descoberta para deduzir destas comparações qual
deles oferecia mais probabilidade à civilização20.
Resta-nos apenas um chefe de Seção da Comissão Científica para ser
integrado à rede: Giacomo Raja Gabaglia. Este personagem apresenta elos com
Capanema, pois também foi formado na Escola Militar, além de ter sido primeiro
secretário da sociedade de engenheiros fundada por Capanema em 1862.
Giacomo Raja Gabaglia bacharelou-se em matemática no ano de 1853, após já ter
se tornado 2° tenente e nomeado lente substituto da Academia da Marinha. Na
ocasião da proposta da Comissão Científica em 1856, Raja Gabaglia estava na
Europa estudando hidráulica aplicada a portos e canais. Mesmo estando longe, o
IHGB o nomeou para diretor da Seção Astronômica e Geográfica da Comissão
Científica.
33
2.1.2. O IHGB, o Museu Nacional e a Sociedade Velosiana: elos entre a
ilustração e a construção da ciência nacional
Lopes (1993, op.cit.) localiza por volta de 1840 uma tentativa de ruptura
com a concepção antiga de funcionamento e papel dos Museus de História
Natural, concomitantemente com a consolidação do Estado Imperial Brasileiro.
Temos então, no âmbito tanto da ciência quanto da política, uma busca por novas
formas de ação e pensamento, para que então o Brasil, mesmo que seguindo os
modelos europeus, se diferenciasse e assumisse uma identidade política e
científica própria.
Neste contexto, dentro da prática científica, havia uma necessidade de
compreensão, interpretação e construção da imagem do Brasil prioritariamente
pelos olhos de naturalistas nacionais, que até então não haviam participado
efetivamente da criação da imagem do Brasil tecida pelos naturalistas
estrangeiros. Esta imagem, segundo o contemporâneo do período Gonçalves
Dias, nem sempre adequava-se à 'verdade' quando feita por estrangeiros. Ele
explicita a sua indignação na Parte Histórica do livro Trabalhos da Comissão
Científica, como mostra o trecho a seguir:
19
Apontamentos (notas auto-bio-bibliográficas) (Biblioteca Nacional -livros raros: 80, 3, 34 n° 3).
20
Apontamentos (notas auto-bio-bibliográficas) (Biblioteca Nacional -livros raros: 80, 3, 34 n° 3).
34
Precisamos estudar o Brasil nos autores estrangeiros,
consultamos suas cartas marítimas até na nossa navegação
de· cabotagem, e mesmo na apreciação política dos
acontecimentos remotos ou recentes da nossa história o
estrangeiro como que tem, e leva a palma ao nacional, bem
que as mais das vezes escreva sob as inspirações deste
último. Contudo, nem sempre aqueles, conquanto dedicados
a ciência, conquanto por amor dela se hajam sujeitados a
longas peregrinações e a fadigosas viagens tinham bastante
retidão e senso crítico para nos julgarem sem prevenção, ou
firmeza para se não deixarem levar de informações alheias
da verdade, ou das primeiras impressões, que disparatavam
com os hábitos adquiridos e as suas idéias já formada!i 1•
21
Dias, in: Trabalhos da Comissão Científica (op.cit.: VIII).
35
O inovador, descrito acima, e o tradicional conviviam dentro da Comissão
Científica. Buscar as tradições faria parte do futuro que se pretendia construir. Ao
mesmo tempo que em que estes naturalistas buscaram firmar uma ciência
nacional, praticada por nacionais e definindo a identidade nacional, eles
realizaram resgates da história natural do final do século XVIII, e muitos destes
resgates influenciaram diretamente nas atividades da Comissão.
Neste sentido, tem importância especial para os naturalistas da Comissão
Científica as Viagens Filosóficas portuguesas. Ambas, considerando os diferentes
contextos de suas épocas, visavam realizar o inventário dos recursos de seus
territórios para o seu melhor aproveitamento.
As Viagens Filosóficas, coordenadas por Domingos Vandelli, assim como
faria explicitamente a Comissão Científica, também carregavam os objetivos de
abastecer um Museu Nacional. Este aspecto, juntamente com o fato de Portugal,
no final do século XVIII, estar consolidando seu processo de adesão às ciências
modernas, e o Brasil de meados do século XIX apresentar uma emergente
comunidade científica, faz com que existam algumas continuidades entre os dois
momento acima expostos. Os elos concretos entre os naturalistas da Comissão
Científica e os filósofos naturais ilustrados aparecem sob a forma de alguns
resgates textuais e metodológicos realizados pelos científicos brasileiros do século
XIX.
Domingos Vandelli, médico italiano, foi contratado durante a administração
pombalina afim de ensinar a Filosofia Natural na Universidade de Coimbra, assim
como conhecer e explorar os produtos naturais de Portugal e suas colônias. Este
naturalista tinha um vasto projeto de elaboração de uma História Natural das
Colónias, coordenado pela Academia Real das Ciências e apoiado na criação do
Real Museu e Jardim Botânico de Ajuda, em Lisboa. Para abastecer esta
instituição com produtos naturais e artificiais e coletar informações sobre a história
natural das colônias, Vandelli elabora as Viagens Filosóficas. Em 1783, partiram de
Lisboa os componentes das Viagens Filosóficas: o naturalista Manoel Gaivão da
Silva, o jardineiro José da Costa e o riscador Antônio Gomes para Moçambique; o
naturalista José Joaquim da Silva, o desenhador José Antônio e o naturalista e
36
desenhador Ângelo Donati para Angola; o naturalista João da Silva Feijó para as
Ilhas de Cabo Verde; e a comitiva de Alexandre Rodrigues Ferreira para o Pará.
Comandada pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, a Viagem
Filosófica pelas capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá (1783-
1792) foi reflexo de um novo contexto sócio-cultural, formado por uma emergente
comunidade científica luso-brasileira. O trabalho do naturalista foi complementado
pela elaboração de desenhos por José Joaquim Freire e Joaquim José Codina,
assim como pela preparação dos espécimes pelo Jardineiro Agostinho do Cabo. A
Viagem Filosófica de Ferreira deixou como frutos uma vasta iconografia e
memórias que permaneceram manuscritas (Pataca, op.cit.).
Destas memórias, 48 textos manuscritos de Alexandre, versando sobre
vários temas relacionados à Filosofia Natural, pertenciam à Coleção Lagosiana no
catálogo de Alfredo do Vale Cabral (1876, 1877, 1878), composta por papéis
pessoais de Manoel Ferreira Lagos, diretor da Seção Zoológica da Comissão
Científica, o que evidencia um interesse explícito de Lagos pelos trabalhos de
Alexandre Rodrigues Ferreira. Um dos manuscritos pertencia à viúva de Ferreira
Lagos, e foi posteriormente doado à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, onde
se encontra atualmente.
Francisco Freire Allemão, presidente da Comissão Científica também
buscou inspiração na produção de Alexandre Rodrigues Ferreira, homenageando
este filósofo naturalista com o nome de uma planta, descrita por Freire Allemão:
Ferreirea spectabi/is, popularmente conhecida como Sucupira Amarela ou
Guaiçara Macaniba Amarela, cuja madeira é usada para carpintaria, tacos e
dormentes.
Porém, quanto aos elos de continuidade entre a Comissão Científica e os
naturalistas do século XVIII, um nome se destaca: João da Silva Feijó, que
também foi integrante das Viagens Filosóficas, e influenciou de modo mais direto a
Comissão Científica por ter feito até então o trabalho mais completo sobre a
história natural do Ceará, como veremos agora22 .
22
Urna primeira versão desse resgate e da atuação de Feijó no Ceará está para ser publicada por
Pinheiro e Lopes.
37
João da Silva Feijó nasceu em 1760, em Guaratiba, Capitania do Rio de
Janeiro. Faleceu em 10 de março de 1824. Como parte integrante de uma elite
nascida na colónia, Feijó graduou-se pela Universidade de Coimbra, tomando-se
bacharel em matemática. Lecionou Botânica em Lisboa. Feijó foi integrante do
grupo de alunos de Domingos Vandelli, e mereceu senão poucas e incompletas
menções no amplo estudo de Simon (op.cit.) sobre as expedições científicas
portuguesas no Ultramar. Segundo o autor, aparentemente sem maiores
informações, Feijó, que partira antes do final de 1782 para uma relativa
obscuridade em Cabo Verde em sua variada carreira de químico, oficial militar e
professor, eventualmente teria retornado ao Rio de Janeiro. A atuação do
naturalista João da Silva Feijó em Cabo Verde, já foi considerada em alguns
aspectos por Guedes (1997), mas muito pouco ainda se tratou de seus trabalhos
desenvolvidos por quinze anos na então Capitania do Ceará Menor atenção ainda
recebeu até agora o resgate dos trabalhos do naturalista Feijó pelos integrantes
da Comissão Científica de Exploração.
Feijó, antes de partir para Cabo Verde, teria examinado a mina de carvão
de pedra de Buarcos em companhia de Alexandre Rodrigues Ferreira. Já em
Cabo Verde, secretariou o governo da ilha de São Tiago, sobre a qual escreveu
um ensaio, publicado nas Memórias económicas da Academia Real das Ciências
de Lisboa (Barroso, 1962; Braga, op.cit.).
Mas foi em 1799 que aconteceu a vinda do naturalista João da Silva Feijó
para o Brasil, mais especificamente para a atual província do Ceará. A obra deste
naturalista, como veremos, apresenta estreitos laços com a Comissão Científica,
especialmente com Francisco Freire Alemão e Guilherme SchOch de Capanema.
A vinda de Feijó para o solo brasileiro aconteceu no mesmo ano da
elevação do Ceará à condição de capitania independente de Pernambuco. Feijó
foi designado para o posto de sargento mór das milícias, conforme o documento
de sua nomeação de 25/02/1799, e vinha de Portugal incumbido de tratar vários
assuntos da História Natural do Ceará, como mostra um fragmento do ofício
transcrito abaixo:
38
Algarves (. ..) faço saber aos que esta minha carta patente
virem. Que eu hei por bem fazer mercê a João da Silva Feijó
da Patente de Sargento Mór de Milícias da Capitania do
Ceará, para onde deve partir, incumbido de vários objetos de
história Naturaf3.
23
Doe. n° 1: Patente de João da Silva Feijó no posto de Sargento Mór das Millcias da Capitania do
Ceará, incumbido de vários objetos de História Natural. in Nobre (1978: 177).
39
contrária aos interesses do Estado em Cabo Verde - deixou o Ceará e retornou ao
Rio de Janeiro, onde se apresentava como lente de Historia Natural na Real e
Imperial Academia Militar do Rio de Janeiro, em 1818, vindo a ministrar aulas
práticas versando sobre História Nacional uma vez por semana no Museu
Nacional24 .
Como seus trabalhos abrangeram o amplo espectro da História Natural da
época é possível encontrar, por exemplo, em suas considerações sobre as antigas
lavras de ouro da Mangabeira, os registos de coleções de petrificações de peixes
e anfíbios, que estando inteiramente convertidos em cristal spatozo contrariavam
as idéias comuns entre os naturalistas de então de que jamais se poderiam
petrificar as partes moles e musculares dos animais. Sua correspondência com O.
Rodrigo de Souza Coutinho e autoridades locais, informa também sobre seus
envios de coleções para o Jardim Botânico da Ajuda e Jardim Botânico de Berlim.
Pelo volume de informações sobre a História Natural e a economia do
Ceará, as obras de Feijó são consideradas umas das mais completas da época,
sendo ele eleito por Braga (op.cit.) como o melhor conhecedor da capitania do
Ceará de sua época. Estes trabalhos de Feijó foram retomados pelos membros da
Comissão Científica no final da década de 1850, e os conhecimentos por ele
produzidos permaneceram de tal maneira válidos, que foram referência para as
investigações em ciências naturais após passados mais de 30 anos de sua morte.
Sobre o interesse por Feijó e suas Memórias, dentre os membros da
Comissão Científica de Exploração, merecem destaque Francisco Freire Allemão
e Guilherme de Capanema, por estes dois naturalistas claramente encontrarem
inspiração nas suas obras sobre a capitania do Ceará de João da Silva Feijó para
a realização dos seus trabalhos no contexto da Comissão Científica (Lopes;
Pinheiro, op.cit.).
Os interesses de Freire Allemão pela botânica cearense datam desde pelo
menos 1847, época da qual existem cartas que documentam a atenção de Freire
Allemão pelo trabalho do naturalista Feijó. Allemão e Emílio Joaquim da Silva
24
Doe. Mus. Nac. 11, pasta 1. Agradeço à Prof. Maria Margaret Lopes por me emprestar seus
documentos referentes ao Museu Nacional.
40
Maia25 , em 1847, recuperaram26 e organizaram para posterior publicação alguns
manuscritos de Feijó, que compõem hoje a Coleção descritiva das plantas da
capitania do Ceará, até então inédita.
Não só os trabalhos botânicos de Feijó foram resgatados pela Comissão
Científica. Suas Memórias sobre a mina de ferro do Cangatí, suas considerações
sobre vulcanismo, sobre os principais minerais da região seriam avaliados,
contestados ou confirmados por Capanema, também membro da Comissão.
Capanema faz menção direta ao naturalista Feijó no Relatório das atividades da
Seção Geológica e Mineralógica:
25
Silva Maia também representa um elo importante na rede institucional da história natural. Ele foi
sócio-fundador do IHGB, da SAIN, Sociedade Velosiana, entre outras instituições. Foi professor do Colégio
Pedro 11, Diretor da Seção de Zoologia do Museu Nacional, posteriormente escolhido como secretário e diretor
interino desta instituição. (Lopes, 1997, op.cit.).
26
Segundo Nobre (op.cit.), os manuscritos de Feijó estariam sendo usados para embalar produtos de
uma confeitaria do Rio de Janeiro, chamando a atenção de Silva Maia ao freqüentar o estabelelcimento.
27
Capanerna, in: Trabalhos da Comissão Científica, op.cit.: CXXIV-CXXV
41
As Memórias sobre Mineralogia de Feijó, ganham menção ainda nas
palavras de Antônio Gonçalves Dias, chefe da Seção Etnográfica e Narrativa da
Viagem na Comissão Científica. Ao escrever o Proêmio, contido no Trabalhos da
Comissão Científica (op.cit.: 11), Gonçalves Dias fala na crença de que o solo do
nordeste brasileiro seria o mais metalífero de todo o Brasil, e a metrópole o
acreditara, nomeando no reinado da Senhora O. Maria I o naturalista Feijó para
examinar as suas minas e tratar de explorar algumas de/as.
O Ensaio filosófico, e político sobre a Capitania do Ceará, escrito por Feijó
em 1808, continuaria sendo a referência para os estudos geográficos e geológicos
da região, aos quais se somariam às investigações da Comissão Científica no livro
Ensaio estatístico da Província do Ceará, escrito por Thomás Pompeu de Souza
Brasil em 1863. O Senador Pompeu tinha grande prestígio na sociedade grande
quantidade de dados recolhidos pela Comissão Científica e por Feijó, sendo mais
cearense, nos meios políticos, científicos e religiosos28 . Em seu livro, Brasil usa
um elo concreto entre os ilustrados do final do século XVIII e os naturalistas de
meados do século XIX. Brasil menciona os estudos de Feijó, que na ocasião
haviam sido ou não confirmados durante o trabalho da Comissão Científica.
A Sociedade Velosiana de Freire Alemão apresenta também ligações fortes
com o passado das investigações em História Natural no Brasil. Posteriormente a
algumas reuniões acontecidas, a Sociedade Ve/osiana atentou também para
aspectos históricos brasileiros, criando algumas linhas novas de investigação.
Foram elas: catalogar cronologicamente todos os artigos sobre a história natural
do Brasil, tanto nacionais como estrangeiros, assim como avaliar criticamente tais
obras, escrever sobre as tentativas de formação de instituições científicas no
Brasil, como museus e hortos, e elaborar biografias dos naturalistas brasileiros.
Em discurso proferido por Freire Allemão em 1872, já citado neste trabalho, na
ocasião da tentativa de fazer renascer a Sociedade, Allemão faz uma breve
retrospectiva histórica, explicitando quais teriam sido alguns dos objetivos da
Sociedade:
42
ter o cuidado de indagar dos jornais estrangeiros tudo o que
houver de novo da ciência; informar-se do que se passa
pelas províncias que tenha relação com as ciências naturais,
ou pelos jornais, ou vocalmente; enfim investigar as obras e
escritos antigos sobre o Brasil, tudo o que se achar por aí
perdido e esquecido, para com estas informações porem-se
ao fato das coisas do país e oferecer uma discussão
proveitosa29 •
Sob o ponto de vista de Lopes (1997, op.cit.), o trecho acima mostra que a
Velosiana buscava estabelecer uma tradição científica brasileira. Busca esta
presente inclusive na escolha do nome da Sociedade, que resgatou e
homenageou um importante botânico ilustrado brasileiro, Frei José Mariano da
Conceição Veloso, autor da Flora Fluminensis.
Figueirôa (1997: 92, op.cit.) vê na concepção da Sociedade um forte cunho
nativista, pois ela se propunha a inventariar tudo o que já fora escrito sobre o
Brasil, levantar sua história institucional do ponto de vista das ciências aqui
desenvolvidas e delimitar o espaço do que era 'nativo' e do que era 'de fora' no
meio ambiente (grifos da autora).
Este objetivo também era buscado no IHGB, mas diferentemente da
Velosiana, o Instituto não tratava apenas de assuntos ligados à História Natural. O
IHGB está bem mais presente na historiografia brasileira do que o Museu Nacional
e a Sociedade Velosiana. Porém, dentro da historiografia dedicada às ciências no
Brasil, o IHGB foi pouco contemplado, frente ao favorecimento da pesquisa
histórica e literária (Figueirôa, 1997, op.cit.).
O IHGB foi fundado em 1838, e desde o seu início a instituição buscou
investigar as questões que se relacionavam com o passado da nacionalidade
brasileira (Filho, 1962) e inspirando-se nas nações européias, conquistar o seu
28
Thomaz Pompeo de Sousa Brasil foi presbítero secular, bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas,
professor de Geografia e História do Uceo do Ceará, deputado da Assembléia Geral Legislativa. sócio
correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, do da Bahia , do de Pernambuco e de
outras sociedades literárias (Brasil, 1997; Neto, 1997).
29
Coleção Freire Allemão: Biblioteca Nacional, 1-28-9-80.
43
reconhecimento. Sob este ponto de vista, Squeff (1998: 209) sintetiza, em uma
visão retrospectiva, o papel do IHGB:
44
projeto nacional, tais viagens obtiveram apoio de uma
instituição cultural como o IHGB e , em última análise, do
próprio Estado, que termina por financiá-las.
45
política e ciências. Nas palavras de Figueirôa os cientistas que atuaram no Brasil,
de igual modo que no restante da América Latina, foram ao mesmo tempo
religiosos, funcionários públicos, diretores de repartições públicas, militares,
membros de associações diversas, escritores e até literatos (Figueirôa, 1998:
120).
Esta elite letrada era composta por alguns nomes, que talvez por serem em
número reduzido, estavam a frente de uma série de iniciativas, tanto científicas,
quanto administrativas e políticas. Eram, como definiu Mattos (1990}, os dirigentes
e construtores do Império. No âmbito das ciências naturais, estes dirigentes
iniciavam uma tradição científica que se traduziu na formação de uma comunidade
científica, como já nos referimos.
A proposta da formação da Comissão Científica foi feita em uma das
reuniões do IHGB. Isto torna mais evidente a proposta política da Comissão.
Assistida e apoiada pelo Imperador Pedro 11, a formação da Comissão Científica
encontrou no Instituto o modo de viabilizar a sua existência oficial. Os objetivos da
Comissão coincidiam com os do IHGB, de levantar informações de caráter
estratégico sobre a história natural do Brasil e promover um 'auto-conhecimento'
do território nacional, inclusive no âmbito histórico e cultural. Este era o papel da
Seção Etnográfica e Narrativa da Viagem, dirigida por Gonçalves Dias. Como bem
explicitou o poeta:
Dias, por sua vez, já estava envolvido em uma outra Comissão com objetivo
de inventariar a história do Brasil. Em 1856, no momento da formação da
Comissão Científica, Gonçalves Dias estava na Europa, para onde partira em
1854, a fim de levantar documentos que versassem sobre a história do Brasil nas
bibliotecas e arquivos europeus. Foi nesta época também que Dias editou em
46
Leipzig o Dicionário da Língua Tupi, assunto muito presente em correspondências
entre ele e o lmperador1 .
30
Dias in Trabalhos da Comissão Científica (op.cit.: IX).
31
Anais da Biblioteca Nacional (1964, vol. 84).
32
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971:88, op.cit.). Carta n° 67 para Dias. s/1,
04/12/1856.
33
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 113, op.cit.). Carta no 91 para Dias. orianda,
24/02/1857.
47
A autoria destas Instruções contribuiu para que elas apresentassem certas
particularidades, como um texto pouco rico em detalhes técnicos, que seriam
muito bem conhecidos pelos naturalistas. Quando necessário, os mesmos
lançavam mão da consulta a manuais já prontos, como mostra Lagos, chefe da
Seção Zoológica:
34
Lagos. ín RIHGB (1856: 59. op.cít.).
48
contemporâneos quer essencialmente no juízo de nossos
vindouros35.
35
Gabaglia. in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 103-104. op.cit.). Carta n° 83 para Dias. Londres.
07/02/1857.
49
respeito à exploração de recursos minerais. Aliado a isso, propõe coletar dados
geológicos e mineralógicos para a confecção de um mapa geológico da região.
No primeiro item das Instruções da Seção Geológica e Mineralógica,
Capanema sugere maior atenção para a procura de indivíduos perfeitos, tendo em
vista estabelecer a sene mais completa possível das combinações
36
cristalográficas . A procura por indivíduos perfeitos diz respeito ao hábito dos
cristais e às suas formas regulares, que permitem a classificação mineral, e
consequentemente o seu reconhecimento.
A classificação mineral sofreu várias modificações desde a sua
sistematização por Georgius Agrícola (1494-1555). O modelo de classificação de
Agrícola permaneceu relativamente estável por um século e meio, pois como seus
predecessores e sucessores, Agrícola, em termos gerais, baseava-se nas reações
que os minerais apresentavam quando expostos ao calor e à água (Laudan,
op.cit.). A esta altura do século XIX e com o advento da Química, muitas
discussões sobre classificação mineral já haviam ocorrido. No caso de Capanema,
a procura por indivíduos perfeitos nos remete ao modelo de René-Just Haüy,
criado em 1784, fortemente baseado na estrutura externa do mineral e no critério
da regularidade das formas geométricas para o seu reconhecimento (Figueirôa,
1997 op.cit.; Laudan, op.cit.). Além disso, Haüy já havia sido usado por outros
naturalistas anteriores a Capanema, como foi o caso de José Bonifácio de
Andrada e Silva (1763-1819) 37 em seus trabalhos práticos de mineração no âmbito
do seu cargo de Intendente das Minas no início do século XIX (Varela, 2001 ).
O resgate do nome de Haüy ganha importância no presente estudo, porque
de certa forma, seu sistema classificatório serviu como base para praticamente
todos os outros que foram desenvolvidos posteriormente, e seu uso por
naturalistas nacionais do início do século XIX, nos permite constatar que houve no
Brasil uma discussão, paralela a que acontecia na Europa, sobre os métodos de
classificação mineral e suas transformações.
36
Capanema, in: RIHGB (1856: 44, op.cit.).
37
Amplamente conhecido como o 'patriarca da independência', Bonifácio também apresentava um
perfil de naturalista, que, apesar de menos aparente, era indissociável do seu perfil de homem público e
estadista. Vale lembrar que o modelo de Haüy era usado por este naturalista em complemento com outros
sistemas de classificação. Para mais detalhes, ver Varela (2001).
50
Estas discussões estão documentadas na carreira de Capanema desde
pelo menos o contexto da criação da Sociedade Velosiana, em 1850. Na ocasião
da criação da Velosiana, Capanema teria sugerido a adoção de uma nomenclatura
mineral invariável, adquirindo a simpatia de Frederico Leopoldo Burlamaque pela
sua proposta, como mostra o documento abaixo:
38
Autor da carta geológica da França, juntamente com De Beaumont (Oliveira; Leonardos, 1978).
39
Documentos do Museu Nacional de 1851, pasta 4, apud Lopes (1997:30, op.cit.).
40
Secord (1986) coloca que apesar da geologia ganhar novos rumos definidores no velho mundo na
primeira metade do século XIX, a Inglaterra continuou a priorizar os debates sobre o processo de formação
dos estratos e a sua relação com o tempo geológico, assim como a nomenclatura e classificação mineral,
tendo em vista a grande influência da controvérsia do Devoniano exercida sobre os homens da ciência nesta
época.
51
Dando continuidade a análise das Instruções da Seção Geológica da
Comissão, além da preocupação com a identificação e classificação dos minerais,
Capanema, ainda no primeiro item das Instruções atenta para os minerais isolados
e a causa que os teria separado de sua matriz. Para completar esta observação,
no item 11 Capanema reforça que esses minerais isolados poderiam ser indícios de
reservas nas proximidades, sendo função da sua Seção fazer o possível para
localizar a sua fonte de origem. Atenção especial seria dada, nas palavras de
Capanema, para os minerais como indícios de formação útil, principalmente
metalífera, [e uma vez localizados], serão as pesquisas continuadas até que se
encontre o tronco donde partiram41 •
Após reconhecer e localizar os depósitos metalíferos, o próximo passo seria
determinar a viabilidade de exploração económica da reserva. Sendo assim
Capanema no item III instrui a observação de:
41
Capanema, in: RIHGB (1856: 45. op.cit.).
42
Idem nota 41.
52
conseguirem informações sobre a História Natural local. Nas Breves Instruções,
que como vimos foi base para as Instruções de Viagem brasileiras, este aspecto
aparece da seguinte forma:
43
Breves Instruções (op.cit.).
44
Idem nota 41.
53
O enxofre representa aqui um mineral altamente estratégico. Em meados
do século XIX, a quantidade de ácido sulfúrico produzida por uma nação era
relacionada com o seu grau de civilização, como mostra Silva Maia (1808- 1859)
em um artigo francês apresentado na Academia Imperial de Medicina em 1830
(Kury, 1998, op.cit.). Até recentemente, o ácido sulfúrico, considerado um mineral
estratégico, ainda é usado como indicador da produção industrial de um país,
como nos mostra Abreu (1973: 34-35):
Ainda neste item das Instruções, outro aspecto pode ser ressaltado, que
são os estouros subterrâneos presentes, referenciados também na Memória sobre
o ferro do Cangati, de João da Silva Feijó, cujo fragmentos foram publicados na
obra já mencionada Ensaio Estatístico da Província do Ceará de Thomas Pompeo
de Souza Brasil, o Senador Pompeu, quando a Memória ainda era inédita. Um
destes fragmentos versa justamente sobre os estouros subterrâneos:
54
terreno era rico em salitre, betume e metais diversos, sempre sofrendo ação
intensa do fogo (Carvalho, 1987).
Vulcões e terremotos apresentam uma ligação entre as obras de
Capanema e Feijó, tendo o primeiro escrito a Memória sobre a última erupção
vulcânica da Ilha do Fogo, e o último Quais as tradições ou vestígios geológicos
que nos levam à certeza de ter havido terremotos no Brasil.
Um último aspecto a ser ressaltado no trecho das Instruções transcrito
acima diz respeito à indústria. Fica clara nas palavras de Capanema a ligação
entre os interesses da indústria brasileira e as atividades da Seção Geológica na
Comissão Científica.
A questão do progresso da indústria brasileira está muito presente em
vários outros trechos das Instruções de Capanema. Percebe-se a busca pela
independência da indústria no Brasil. Independência no que diz respeito ao
suprimento de matéria prima, e principalmente independência tecnológica, na
tentativa de diminuir as importações. Vale lembrar, que a concepção de indústria
na época abrangia também trabalhos manuais, que envolviam transformação de
algum material em bem de consumo, como o artesanato ou seja, era uma
definição relativamente ampla.
O elo entre a Comissão Científica e a busca pelo progresso da indústria
brasileira é evidente na figura de Frederico Burlamaque. A esta altura do século
XIX, Burlamaque ocupava ambos os cargos de direção do Museu Nacional e
secretário honorário e perpétuo e presidente da Seção de Agricultura da SAIN
(Lopes, 1997, op.cit.). E como vimos anteriormente, este naturalista mantinha
intensas relações profissionais com Capanema nesta época. Em conseqüência
disto, podemos evidenciar alguns dos ideais da SAIN nas presentes Instruções.
55
que valha a pena exportar, sendo próximo as costas; ou sal
comum, indispensável para o uso da população e para
sustento do gado, sendo no interior" 5.
45
Capanema, in: RIHGB, (1856: 45-46, op.cit.).
46
Capanema, in: RIHGB, (1856: 46, op.c~.).
56
que prometiam para o futuro47•
57
Um ponto de destaque neste trecho diz respeito ao conhecimento sobre a
realidade da mineração brasileira por Capanema. Além disso, ainda neste trecho,
mais uma vez aparece explicitamente a intenção de exploração dos recursos
minerais da província que iria ser estudada.
A partir do item VIl das Instruções da Seção Geológica, Capanema volta a
sua atenção para o recolhimento de dados com o intuito de se fazer um mapa
geológico da região. Dividido em 8 parágrafos, o item VIl das Instruções traz as
recomendações sobre o estudo geognóstico. Convém lembrar que o termo
geognose, usado aqui por Capanema, é de criação de Abraham Gottlob Wemer
(1749 -1817), e se define como:
58
infusórios, que muitas vezes representam um papel tão
importante na petrografia de um país, além de
caracterizarem perfeitamente as formações em que são
encontradas49
59
2001). Discutiremos à frente os interesses de Capanema pela fotografia e seus
processos.
Outro ponto digno de destaque é a influência de fatores adversos típicos do
trabalho de campo nas atividades científicas. Quando Capanema coloca que os
dados deveriam ser coletados com a maior exatidão que as circunstâncias
permitam, nos mostra que a determinação das atividades pelas condições do
campo já era considerada por Capanema.
Um último aspecto a ser ressaltado neste fragmento das Instruções da
Seção Geológica diz respeito a idéia prévia de colaboração entre as diferentes
Seções da Comissão Científica.
Finalizada a parte geológica/mineralógica propriamente dita nas Instruções
da Seção Geológica, do item VIII em diante aparecem as recomendações em
relação aos estudos do solo e da agricultura. Capanema fala sobre a necessidade
de se recolher amostras de solo, juntamente com a vegetação correspondente.
Destas amostras, após experimentos, poderiam surgir respostas quanto a
melhoria da agricultura da região, inclusive através da sistematização do uso de
fertilizantes. Como explicita Capanema:
60
interior, dando inicialmente especial atenção à Província do Maranhão, onde
existiam fazendas produzindo gêneros agrícolas apenas para uso interno. O autor
anónimo propõe que a Comissão Científica deveria
No trecho acima, destaco pelo menos dois pontos que podem nos ajudar a
entender o contexto cultural da criação da Comissão. Um deles é a condenação
da agricultura de subsistência, a favor da produção em larga escala, favorecendo
o comércio dentro e, principalmente fora do Brasil, de gêneros agrícolas. Um
segundo ponto diz respeito ao cunho progressista da carta, buscando a riqueza e
prosperidade através do aumento do consumo dos gêneros agrícolas e do
aprimoramento da indústria local. O autor anónimo continua:
61
investigar a presença de água subterrânea e as possibilidades da construção de
poços artesianos. Aproveitando o processo de abertura do poço, Capanema
chama a atenção para se observar
62
Dando continuidade as suas Instruções, Capanema nos itens IX e X chama
atenção para o recolhimento de amostras de água para posterior investigação
química de seu gases, sais e matéria orgânica e inorgânica, para o estudo sobre
possíveis usos medicinais destas águas.
Nos itens XI e XII, Capanema trata da erosão eólica e marítima, prevendo a
formação de bancos de areia. Ele se justifica, mostrando a importância desse tipo
de estudo:
63
Esta relação entre o plantio de árvores e terrenos secos aparece também
no livro de Tomas Pompeu de Souza Brasil, que como já vimos, foi um
personagem de destaque no quadro político-científico cearense:
64
nas Instruções de Capanema, foi diagnosticada por Lopes (1997: 49, op.cit.), ao
falar sobre a atividade da Seção Geológica do Museu Nacional, quando este
estava sob direção de· Burlamaque. Lopes afirma que o principal interesse do
governo continuou sendo a análise dos produtos minerais e particularmente de
combustíveis fósseis, para o que, a julgar pelo volume de documentos, o museu
foi de grande utilidade. Na obra da mesma autora, encontra-se a informação que
as primeiras amostras, que possivelmente conteriam carvão, vindas do Ceará
datam de 1830. Aliado a isto, no ano da partida da Comissão, em 1859, achou-se
petróleo nos Estados Unidos, o que aumentou o interesse pela descoberta de tais
combustíveis no Ceará, e no Brasil como um todo.
65
A população local serviria como fonte de informação sobre os nomes e usos
tradicionais de cada vegetal, podendo ainda ser instruída para posterior coleta de
material, se no momento da passagem da Seção Botânica não fosse possível
realizar tal tarefa. Tais intenções de coleta nos remete ao exposto no Capítulo I
desta dissertação, onde foi tratado, entre outras coisas, do trabalho após as
atividades de campo, que englobaria nomear, classificar e catalogar os objetos,
para então constituir uma coleção.
Também incluso na primeira parte dos objetivos estaria o estudo da
Geografia Botânica:
66
É impossível não notar ao longo das Instruções da Seção Botânica a
intenção da exploração dos recursos vegetais e do solo, que aparece explícita nas
palavras de Allemão.
67
segundo algum sistema particular; ou estatisticamente como
manancial de riqueza, e apreciados segundo a sua
importância. Interessa que sejam estudados de ambas as
maneiras, o que compete ao membro da Expedição
Científica encarregado da parte Zoológica 65.
68
tratar da antropologia, visto estar privativamente sob a
responsabilidade de outro membro a parte etnográfica dos
trabalhos da Comissão Científica 58
No trecho acima, Lagos coloca em voga o estudo das relações entre o meio
e o indivíduo. Este tipo de investigação, no contexto das Instruções da Seção
Zoológica, está diretamente ligada com a intenção do uso dos animais pelo
homem. Como bem afirma Lagos:
69
tanto vivos quanto mortos70•
70
Finalizando a parte do estudo das aves, Ferreira Lagos segue adiante com
a ictiologia, que teria por fim
71
Atenta ainda para as observações que devem ser feitas acerca do estado e
organização das pescarias, desenhando, descrevendo, recolhendo amostras de
instrumentos e estudando as técnicas usadas, e se necessário, tornando a
pescaria mais produtiva. A Figura 2.1 mostra o pescador em sua prática de
trabalho.
Lagos parte então para o que ele considera a quarta e última classe dos
vertebrados, composta pelos répteis, os quais dividiu em Cheloneos, Saureos,
Batrichios e Ophidios. Inicia esta parte das Instruções comentando sobre a
necessidade de reconhecer, dassificar e nomear as cobras brasileiras, usando
também informações da cultura local, quanto aos nomes e potencial do veneno
dos ofídios. Quanto a isto, Lagos coloca:
72
influências do ambiente no nascimento e desenvolvimento desses insetos. E
depois completa:
73
possível, seria o suficiente para depositar no Museu Nacional, em outros museus
brasileiros e, trocar com museus estrangeiros.
Uma segunda questão levantada por Lagos tràta da preparação· e fixação
dos animais coletados. O naturalista resgata neste momento de suas Instruções a
Instrução arranjada pelo Museu de Paris, e traduzida por profissionais do Museu
Nacional, e o Manual do naturalista preparador, de Boitard, que seriam obras
referenciais para o bom preparo do material coletado. Sobre este tema, Lagos
ressalta a importância da confecção de desenhos fieis às cores, sobretudo
fazendo uso de uma escala cromática, para evitar que os desenhos pequem pelo
lado do falso colorido, como se observa principalmente na e/asse dos insetos83.
Uma terceira questão levantada versa sobre a importância da coleta e do
bom acondicionamento de ossadas e vísceras. Os ossos, segundo Lagos, teriam
papel fundamental na paleontologia, que na época começou a confrontar os ossos
das gerações perdidas com os das existentes em nossos dias84 . Nas vísceras, se
deveria procurar os caracteres genéricos e específicos dos animais, segundo
ensina o imortal Cuviel5.
A seguir, Lagos trata do envio de animais vivos para a Corte, e a devida
instrução que deveria ser dada sobre o tratamento destes animais durante a
viagem. Sobre o destino dos exemplares vivos, Lagos coloca:
74
Figura 2.1: Vendedores de peixe. Imagem elaborada pelo pintor da Comissão
Científica, José dos Reis Carvalho (Museu D. João VI, Escola de Belas Artes-
RJ)s3_
83
Agradeço a Prof. Ora. Lorelay Brilhante Kury pela indicação da localização do acervo iconográfico
da Comissão Científica.
75
Tanto neste fragmento das Instruções, como no que Lagos fala em troca de
exemplares zoológicos com museus estrangeiros, vemos explícitas algumas
medidas tomadas pelos diretores do Museu Nacional para a implantação do seu
novo ideal de funcionamento (Lopes, 1997, op.cit.), já discutido no presente
trabalho.
E por último, Lagos destaca a questão do diário de campo, colocando que
77
Açúcar, situado no Rio de Janeiro, seria usado como meridiano referência nas
Instruções, juntamente com mais dois outros pontos que seriam definidos no
campo, durante as atividades.
Para marcar os locais determinados, as Instruções aconselham que se siga
um método um tanto interessante:
78
O chefe da Seção Astronómica encarregará um dos seus
adjuntos de descrever, em um livro apropriado para servir de
jornal das operaçôes a seu cargo, cada um dos trabalhos
executados, com a devida regularidade 92•
79
E, finalmente, comentaremos sobre as Instruções da Seção Etnográfica.
80
Em relação ao conhecimento indígena, as Instruções atentam para as suas
estratégias e meios relacionados principalmente à medicina, orientação espacial,
produção agrícola e seus usos industriais. Também propõe o estudo de sua
religião, crenças e superstições. Neste ponto das Instruções, é explícita a intenção
conhecer para dominar, atraindo para a indústria tantos braços perdidos98.
Finalizando a parte etnográfica, Porto Alegre nas Instruções coloca a
importância do recolhimento de utensílios, instrumentos musicais, armas e
ornatos, assim como tudo que possa servir de prova da indústria, usos e costumes
dos indígenas99•
As Instruções referentes à narrativa da Viagem chamam a atenção para
alguns aspectos importantes de serem observados diariamente, como
curiosidades, tanto dos indígenas como dos membros da Comissão Científica em
geral, comércio, indústria e dados estatísticos da província que seria explorada,
além de obter cópias dos documentos que a Seção julgasse importantes para o
melhor entendimento da história e geografia brasileiras.
81
Esta concepção de integração do território encontrava legitimação em
setores da elite letrada brasileira, como expressa o trecho a seguir extraído de um
jornal da época:
82
porto do desembarque da Comissão Científica, e a província do Ceará aquela pela
qual haveriam de estrear103 . Mas existem indícios, tanto nas Instruções como em
correspondências pessoais entre os membros da Comissão Científica, de que a
província do Ceará já era uma candidata forte, pelo menos mais forte do que quis
mostrar Gonçalves Dias e estabeleceu Braga (op.cit.), para tornar-se sede dos
trabalhos da Comissão Científica.
De acordo com o exposto por Dias, as Instruções de Viagem das cinco
seções foram redigidas 104 e publicadas anteriormente à escolha oficial do ponto de
partida da Comissão Científica e do local exato do desenvolvimento de seus
trabalhos.
As Instruções da Seção Astronômica e Geográfica por um lado contêm
indícios de que o destino da Comissão Científica não era conhecido. O
conselheiro Cândido Baptista de Oliveira, o autor das referidas Instruções, refere-
se à província em que deverá encetar os seus trabalhos regulares, ou à província
onde houver de fiXar-se temporariamente a Comissão Exploradora 105 . Por outro
lado, em outros dois trechos, a província do Ceará é especificamente mencionada:
Do citado acima, podemos extrair que havia, senão uma definição, mas
uma predileção para os trabalhos da Seção Astronômica e Geográfica serem
desenvolvidos na região da província do Ceará.
Já no trecho a seguir das mesmas Instruções, o Ceará aparece como rota
certa e obrigatória, não apenas para a Seção Astronômica, mas para a Comissão
Científica inteira:
83
devastadoras,.(...) a seção Astronómica fará um estudo
acurado sobre a conveniência e praticabilidade da abertura
de comunicações fáceis entre os centros de produção do
interior da província do Ceará e os seus portos 107.
84
um interesse em integrar as populações indígenas aos mercados de trabalho e
consumo, em uma tentativa de desenvolver a indústria brasileira. Esta intenção foi
explicitada nas Instruções da mesma Seção:
85
estava o funcionamento de minas de ouro e prata em São José dos Cariris e na
Serra de Uruburetama, assim como de salitre em Pilão Arcado e Salinas de cima,
distrito da Nova Vila do Rio Grande. Em 12 de setembro de 1758, uma ordem
régia recomendaria a interrupção de todos os trabalhos de exploração de minas
da Capitania, locais que o naturalista Feijó percorreria ao chegar no Ceará em fins
do século XVIII.
Acreditamos que a escolha do destino da Comissão Científica- o Ceará-,
tenha sido influenciada também por essas iniciativas pioneiras e suas
sistematizações pelas obras de Feijó, dado o interesse de Freire Allemão
previamente despertado por tais obras e por aquela província, e o importante
papel de Allemão dentro da Comissão Científica, já que além de diretor da Seção
de Botânica, ocupava juntamente o cargo de Presidente da Comissão109. A obra
de Feijó - Coleção Descritiva das plantas da Capitania do Ceará -, sistematizada
por Freire Allemão possivelmente entre os anos de 1803-1805 e em parte
recuperada por Silva Maia, como já foi citado, seria um guia para os trabalhos
botânicos no Ceará.
Se não são muito precisos os motivos da escolha da província do Ceará,
Gonçalves Dias justifica tal escolha a posteriori com um argumento de peso, que
aparece no Proêmio do Trabalhos da Comissão Científica (op.cit.: VIII) publicado
em 1862:
86
informação que o solo da província do Ceará tinha potencial de riqueza,
principalmente ferro e salitre. Alguns autores, como Alegre (op.cit.: 207-208),
afirmam categoricamente que a presença de metais preciosos foi a razão
fundamental da escolha do Ceará como província a ser explorada. Porém tal
afirmação merece estudos complementares, já que o próprio Gonçalves Dias ao
considerar este aspecto, após um levantamento histórico, cita de forma crítica as
origens da crença sobre a suposta riqueza da província:
87
Podemos porém ter claro que o Ceará era uma província considerada fértil para as
ciências naturais pelos próprios naturalistas, com uma história oficial ligada às
ciências desde o Brasil colonial, e que a escolha pot esta província de maneira
alguma foi neutra, já que, de acordo com o exposto, podemos dizer que havia
interesses pessoais e profissionais para se realizar uma expedição científica no
Ceará.
88
Agora a respeito de nossa Comissão já terás lido o meu
relatório ao Instituto [IHGB] a respeito dela, eu fiz com que o
povo que a tomara por sonho tomasse a acreditar nela, mas
tão bem ficou concebendo a causa das demoras, que o
governo terá o cuidado de prolongar (...) 112
89
e nos jornais. Fala-se muito em elevação da receita e sobre o espírito empresarial,
embutido em propostas como a navegação no Rio Amazonas, São Francisco e a
iluminação a gás no Rio de Janeiro.
A crença no futuro do país proveria de uma transformação baseada no
desenvolvimento material, impulsionado dentro da admiração imperial pelas
novidades das técnicas. A década de 50 seria um ponto de referência na história
da construção de um Brasil mais rico e firme, segundo a concepção de riqueza
dominante do período, representado, como já vimos, pelo advento da indústria,
fosse ela agrícola, manual ou siderúrgica. lglésias completa que este objetivo
único seria um dos grandes responsáveis pela breve e aparente conciliação entre
liberais e conservadores, trazendo consigo uma unidade na política brasileira. Esta
conciliação teve o seu fim oficial com a queda do Marques de Olinda da sua
segunda presidência no ministério, em 1858.
Em 1857, ainda dentro do período discutido acima, lglésias situa a vasta
discussão sobre os altos preços dos gêneros alimentícios, principalmente os da
agricultura, reflexo do desenvolvimento das máquinas agrícolas dos países
estrangeiros e a alta evasão da mão de obra escrava, que preferencialmente na
época se concentraria nas cidades e vilas, compondo uma classe de
consumidores e prestando serviço às famílias. Além disso, a mão de obra escrava
que restava na agricultura estaria em sua maioria nas grandes lavouras de café,
açúcar e algodão. Em linhas gerais, como conseqüência de uma economia
fortemente apoiada no desenvolvimento agrícola, o fruto deste debate foi a criação
do Ministério da Agricultura, em 1860.
Tais aspectos reforçam a idéia de que a Comissão do Ceará faria parte de
um plano político de crescimento da nação. O apoio dado à Científica por parte do
governo imperial, e consequentemente a importância para a carreira dos
naturalistas envolvidos está presente na fala de Freire Allemão, em 3 de dezembro
de 1858:
90
digna da nossa confiança, e de tão alta proteção. Neste
ponto só posso assegurar-vos que cada um de seus
membros vai animado do mais ardente desejo de bem servir
a ciência e ao país114.
Pinto (1955: 113) afirma que ficou para a Zoologia pouco mais que o breve
relatório do Dr. Manoel Ferreira Lagos, vindo à luz nos Trabalhos da Comissão
Científica de Exploração, e uma série de exemplares, na sua maioria ornitológicos,
e ainda em parte conservados no Museu Nacional. Ferri (1995) não cita resultado
algum das atividades durante a Comissão, apenas destaca os nomes de Freire
Allemão e Capanema, como sendo personagens importantes na ciência brasileira
da época. Franco (1991), ao publicar sobre a história da mineralogia e da
petrografia no Brasil, apesar de mencionar o nome de Capanema, nem se quer
cita a existência da Científica.
Acredito que a historiografia não apurou de modo crítico a atuação da
Comissão no norte brasileiro, assim como seus resultados concretos e benefícios
para o Museu Nacional. Vejamos então, o que os relatórios dos integrantes da
Comissão nos revelam sobre a sua atuação no nordeste brasileiro.
91
2.5.1. O relatório da Seção Botânica
Como pode ser percebido, esta parte do Relatório da Seção Botânica não
se restringe apenas ao caminho percorrido, e sim apresenta informações
complementares sobre o trabalho de campo realizado em cada ponto do território,
que vão desde as práticas de fixação e conservação das coletas, informando-nos
sobre as técnicas utilizadas, como aparece no trecho acima, até detalhes sobre os
transportes utilizados e contratempos sofridos pela Seção durante o trajeto:
92
quase restabelecido. Qual é a salubridade daqueles
sertões!117
93
Fortaleza, embarcando em 13 de julho para o Rio de Janeiro. Allemão termina
esta parte do Relatório da Seção Botânica com a seguinte frase:
Ao que nos parece, ou pelo menos, ao que nos fez parecer, Freire Allemão
não teve maiores problemas com as elites cearenses, como, veremos adiante,
aconteceu com Guilherme de Capanema e Gonçalves Dias durante suas
atividades.
A Segunda parte do Relatório da Seção Botânica trata sobre a vegetação
do Ceará propriamente dita. Freire Allemão dividiu a provincia em três Regiões
Botânicas, como ele mesmo delimitou: litoral, serras e sertões, as quais, segundo
o naturalista, apresentam as suas diferenças de flora devido a composições
mineralógicas do solo, relevos, latitudes, alturas e freqüências de chuvas distintos.
Allemão completa ainda que, em relação às águas, o Ceará não tem um só rio que
valha esse nome 122, mostrando com este comentário que os recursos hidricos
cearenses são o grande fator limitante para a sua vegetação.
A seguir, Freire Allemão faz uma breve caracterização sobre a flora
encontrada nas regiões serranas, compostas, segundo Allemão, por montanhas
granitico-argilosas, humidecidas por fontes perenes123, o que fazia com que estas
regiões apresentassem uma cobertura pomposa, sempre verde, com árvores
grandes, semelhantes às da flora fluminense. A seguir, Allemão lista as principais
espécies contidas nesta região. Ainda dentro das serras, Allemão distingue uma
sub-região botânica, que abrange os entornas das montanhas, com solo rico em
nutrientes vindos das encostas, e novamente apresenta os nomes das espécies
contidas nesta sub-região. De modo geral, Freire Allemão, sem deixar de
94
mencionar o caráter de utilidade da vegetação, caracterizou a região das serras da
seguinte forma:
95
plantas é de simplicidade primitiva. Neste caso, toda a
ciência agronômica dos nossos lavradores cifra-se no
conhecimento empírico dos terrenos, onde vem melhor tal ou
tal planta, e do tempo apropriado a sua semeadura126.
96
Porém, pouco mais de seis meses depois da publicação do seu relatório em
dezembro de 1861, Allemão lança um primeiro folheto contendo a sistemática,
principais características e ilustraÇões das plantas que até então já estavam
organizadas, lançando um segundo folheto em abril de 1864. Um terceiro saiu em
fevereiro de 1866. Todos contendo inúmeros desenho das espécies, além de suas
descrições (Figuras 3.1, 3.2 e 3.3). Ainda em dezembro de 1862, Manoel Freire
Allemão publicou Considerações sobre as plantas medicinais da flora cearence.
Todas estas obras foram anexadas ao livro Trabalhos da Comissão Científica.
Porém, sua morte súbita em 14 de maio de 1863 o impediu que desse
continuidade aos seus escritos, como comunica Capanema ao seu amigo
Gonçalves Dias:
97
reservas de pirita em alguns pontos da região, vindo a concluir que na Bahia
ser{iam] ainda descobertos preciosos jazigos metalíferos 130.
Em seguida, Capanema conta em seu Relatório da Seção Geológica, que
excursionou até Santo Antônio do Catu, para verificar a possível existência de
cobre, mineral presente em amostras do Museu Nacional provindas daquela
região, porém não encontrando o menor vestígio de cobre 131 •
Realizando observações na Ilha de ltaparica, Capanema detectou um
levantamento da costa, que segundo o naturalista, chegaria a aproximadamente
nove palmos. No mesmo local, encontrou cristais de pirita e galena.
Os problemas existentes nas Viagens Científicas da época não deixaram de
existir na viagem da Comissão Científica. Estes também foram relatados por
Capanema, na ocasião em que o chefe da Seção Geológica procurava
diagnosticar a possível presença de carvão:
98
e do Ceará 133.
Através do trecho acima, podemos ver que, apesar de a Comissão ter sido
acusada em relação à gastos excessivos, as condições para a realização dos
99
trabalhos ainda não eram as ideais. O trecho acima do Relatório da Seção
Geológica evidencia também a presença de tópicos científicos convivendo com
assuntos relacionados aos apoios, ou à falta deles, recebidos pela Científica.
Dando continuidade as suas atividades na Viagem, Capanema na Paraíba
afirma ter observado a presença de calcário argiloso, com potencial para uso
industrial. Em relação a isso, Capanema escreveu:
100
Figura 2.2: Miracrodruon urundeuva. Ilustração de Freire Allemão
integrante do 1° Folheto de Botânica (Trabalhos da Comissão
Científica, op.cit.).
101
Figura 2.3: Jussiaea f/uctunas. Ilustração de Freire Allemão integrante do 2°
Folheto de Botânica (Trabalhos da Comissão Científica, op.cit.).
103
Figura 2.4: Lucuma minutiflora. Ilustração de Freire Allemão integrante
do 3° Folheto de Botânica (Trabalhos da Comissão Científica, op.cit.).
105
Aratanha, onde detectou a presença de granito, e próximo a sua fronteira
com a serra de ltatinga, havia dolomita (carbonato de cálcio e magnésio) e
turmalina, que, segundo o naturalista, já havia sido confundida com carvão de
pedra.
Ainda nesta região, Capanema relata ter contraído erisipela, que retardou a
continuação dos trabalhos da Seção Geológica.
Quando foi possível continuar, Capanema se dirigiu para o Acarape, onde
observou a presença de mármore:
107
aproveitar a mineira de ferro para obter materia/139•
108
alguns pedaços de rocha havia fragmentos que tem aspecto
de mineral estanífero; só a análise poderá solver a dúvida 143.
109
classificou, pertencentes à formação Cretácea (. ..). Não
param só nisso os nossos achados, ainda uma porção de
coprólitos, ossadas talvez de sáurios, dentes de peixes, e
uma planta de folhas imbricadas atrotaxites, que até hoje não
se conheciam, tiramos do mesmo lugar146•
Era pois uma rica colheita científica [de fósseis] que eu tinha
adiante de mim, e com prazer eu me atiraria a ela, pois creio
que bons trabalhos científicos feitos no país e por filhos da
terra dariam crédito ao Brasil, manifestando a sua tendência
ao progresso, e um pouco de bom nome compensaria bem o
não se descobrirem minas de ouro e diamantes, que além
disso no Ceará talvez trariam, nas condições atuais, males
em vez de benefício; a província não pode cuidar em
mineração enquanto deixar perder os seus grandes recursos
para alimentação 147.
Em seguida, fica claro que a crítica feita por Capanema seria direcionada
contra o governo, que, segundo o naturalista, a esta altura já havia diminuído o
orçamento para a Comissão:
110
quais não estávamos autorizados se quiséssemos nos
demorar; (. ..) tratamos de regressar para a capital da
província com a maior brevidade, porque as sobras do nosso
orçamento não davam margem para demoras 148•
111
Apesar de tempestades, escassez de alimento, tanto para os cavalos
quanto para os naturalistas, falta de dinheiro, Capanema em seu regresso à
capital continuaria a fazer observações geológicas, e as relatou no Relatório de
sua Seção, principalmente as que dizem respeito ao movimento das areias e ao
levantamento do litoral, pois estes fenômenos interferem diretamente na
construção e localização de portos e ancoradouros.
O porto de Fortaleza , naquela época, já seria famoso por seus problemas.
Capanema os referencia nas suas Instruções da Seção Geológica, no Relatório, e
também em correspondência para Dias:
112
modo extraordinário , segundo as localidades 153•
113
Partiremos agora para uma breve exposição sobre o conteúdo do relatório
da Seção Zoológica, dirigida por Ferreira Lagos.
114
Feitos tais comentários, Ferreira Lagos finalmente parte para seus relatos
sobre as atividades da Seção Zoológica no Ceará. O naturalista coloca que desde
os primeiros dias na Capital Fortaleza iniciara os estudos sobre a fauna local, a
coleta de exemplares animais e a reunião de informações importantes junto aos
cearenses, sobretudo com os pescadores.
Em relação à pesca, Lagos inicia uma breve caracterização desta atividade,
informando que a jangada era muito usada por ser a única embarcação que
suportaria os mares bravios da região. Outro artifício usado pelos pescadores
seriam as redes de arrastões predatórios, já proibidas pelas leis municipais da
época, que segundo Lagos, igualmente já desrespeitadas.
Em seguida, Lagos descreve os diferentes tipos de jangadas, suas
dimensões, materiais usados em sua construção, etc, e também atenta para os
aparatos levados pelos pescadores em suas atividades, que, como foi observado
pelo naturalista, as vezes teria duração de mais de uma semana em alto mar. Na
falta de conhecimentos relacionados à bússola, de acordo com as informações
coletadas por Lagos, os pescadores usavam os ventos, sol e a via-láctea para
definirem suas direções, tendo em vista o longo tempo de permanência no mar.
Dando continuidade ao Relatório, Lagos, mesmo sem fazer referência direta
a acusação alguma, acaba por responder outra crítica que pesou sobre a
Comissão Científica como um todo: a esperança da descoberta de minas ricas e
lucrativas em território cearense, bem como critica a administração e o poder
público local:
115
E lamenta que o fomento para a pesca no Ceará provenha de particulares e
não do Governo, e além de tudo as jangadas pagam imposto, e se cobra dízimo
do peixe 159 •
Em seguida, Lagos faz uma breve descrição sobre os peixes da costa
cearense, afirmando que alguns deles são das mesmas espécies encontradas no
litoral do Rio de Janeiro, porém apresentando modificações morfológicas
evidentes, e que são inúmeras as espécies distintas às da corte. E completa:
116
não foram vistos, apesar de o povo cearense afirmar que até a algum tempo atrás
estes eram abundantes. Segundo Lagos, alguns poucos exemplares de
mamíferos foram capturados vivos, coerentemente com o proposto nas Instruções
de Viagem da Seção Zoológica, a fim de suprir um Jardim Zoológico que, na
época, era idealizado pelo Conselheiro Cândido Batista de Oliveira. No total,
Lagos conta que realizou
117
tema com uma crítica, tanto ao estado da pecuária no local, e, novamente, quanto
ao atraso de certos ramos da Zoologia na província:
118
adiante, e confirmaremos a afirmação acima sobre as técnicas de preparo e
fixação dos exemplares ornitológicos, que foram as melhores da época.
Já narrando sobre os répteis, Lagos dá continuidade em seu Relatório:
119
Finalizando, Lagos assegura que este relatório trataria apenas brevemente
das suas atividades no Ceará, e que outros trabalhos viriam, tanto no âmbito da
Zoologia como fora dele:
120
escavações em diversos lugares para estudar a natureza do
solo; e também já tinha feito excursões às montanhas
próximas à capital; infelizmente não pode desenvolver toda a
sua atividade, pois esteve dois meses doente 173.
121
2.6. Os camelos e as borboletas
122
companheiros das orgias, formando um grupo, vestidos
indecentemente com calças largas chamadas bombachas,
de jaquetas, chinelos e chapéus de palha, percorriam as ruas
mais públicas, e se alguma moça encontravam a janela,
faziam-lhe provocações, e dirigiam-lhes gracejos tão
atrevidos como impudicos 177•
123
em experiências bem sucedidas da Sociedade Zoológica de Aclimatação de Paris
no sentido de introduzir camelos não nativos em regiões áridas, idealizou a vinda
desses animais para o nordeste brasileiro. Os camelos seriam usados para
transporte de materiais e mantimentos que acompanhariam a Comissão, o que era
coerente, levando em conta o estado precário das vias de comunicação terrestre
naquela região, e mesmo a falta de água e alimento para os animais comumente
usados, como bois e cavalos.
Foram doados pela Sociedade de Aclimatação quatorze camelos, quatro
machos e dez fêmeas, e providenciados quatro homens com experiência no
cuidado desses animais, que chegariam a Fortaleza em 24 de julho de 1859
(Braga, op.cit.). Os animais se reproduziram, alcançando o número de vinte
indivíduos 180 . Em 1863, estavam reduzidos a apenas três, por conseqüência de
uma doença já conhecida nas outras tentativas de aclimatação desses animais
(Vila, 2000). Os camelos que sobreviveram permaneceriam na fazenda do Coronel
181
Francisco Fidelis Barroso, por indicação da SAIN, até a morte .
124
das mais palmares demonstrações 182.
125
pessoais e no relatório das atividades da Seção Geológica e Mineralógica. Em
correspondência a Dias, por exemplo, o naturalista contou sobre a proposta de
unir forças contra os possíveis ataques do Governo:
O infeliz e o feliz irmão são os nomes satíricos usados por Capanema para
designar Gabaglia e Lagos respectivamente, como veremos melhor no Capítulo 3.
Além da declaração de alguns dos integrantes da Comissão sobre o fim dos
trabalhos no Ceará, o naturalista coloca em correspondência a Dias algumas
outras razões para o retorno da Científica ao Rio de Janeiro:
126
Nos anos posteriores, entre 1864 a 1870, a situação estria voltada para a
Guerra do Paraguai, o que causou gastos do orçamento público, e acabou por
prejudicar o financiamento das ciências como um todo no Brasil, diminuindo
inclusive a verba repassada para o Museu Nacional. Politicamente, o ano de 1868
lembra a queda da terceira e última presidência Gabinete de Zacarias de Góis,
evidenciando uma profunda crise ministerial, já antecipando o fim da monarquia no
Brasil (lglésias, op.cit.), o que afetaria diretamente a Comissão.
Quanto aos resultados concretos e imediatos da Científica, vinculado à
Comissão, além das Instruções de Viagens relativa às atividades da sua seção e o
seu relatório da expedição, Capanema produziu alguns artigos sobre a seca: As
secas do Ceará 188, Apontamentos sobre a seca do Ceará 189 e A seca no norte190,
usando como dados as informações recolhidas durante a Expedição. Redigiu
também, entre os anos de 1860 e 1862, sob o pseudónimo de Manoel Francisco
de Carvalho, o já mencionado Zig-zag da Seção Geológica da Comissão
Científica, onde Capanema conta aspectos importantes do dia a dia dos
naturalistas na Comissão, e dá ainda informações adicionais sobre a política
cearense. Relacionado à cultura cearense, Capanema contribuiu com os
Apontamentos acerca das bebidas fermentadas, usadas pelos indígenas do Ceará
(Braga, op.cit.).
A Seção Botânica, além das Instruções, o Relatório e os três folhetos sobre
a flora cearense já expostos no presente trabalho, produziu também as
Considerações sobre as plantas medicinais, escrito por Manoel Freire Allemão.
Ferreira Lagos escreveu Observações de costumes... 191 , contendo um
capítulo sobre a Linguagem popular do Ceará, que, segundo Braga (op.cit.), trata-
se da primeira contribuição literária ao folclore cearense.
Gabaglia escreveu sobre o problema dos portos marítimos de Fortaleza,
publicados no Correio Mercantil, além da monografia A questão das secas na
Província do Ceará (Braga, op.cit.).
Gonçalves Dias se ateve em escrever o Proêmio e a Parte Histórica dos
Trabalhos da Comissão Científica (op.cit.), largamente referenciado neste
trabalho.
127
Além da produção literária descrita acima, a existência da Comissão
Científica rendeu para o Museu Nacional e para a comunidade científica como um
todo grande quantidade de material botânico e zoológico (tendo em vista que as
amostras geológicas afundaram com o iate Palpite), além de instrumentos, livros e
vasta literatura originada dos trabalhos da Comissão. Lopes (1996, op.cit.) afirma
que as amostras da Seção Botânica constituíram a maior contribuição do gênero
já recebida pelo Museu Nacional até então. O mesmo é evidenciado por Pacheco
(1995) em relação à coleção das aves trazidas por Ferreira Lagos, além de
dispensar elogios às técnicas de taxidermização, já que, em 1983, a coleção
ornitológica de Lagos continuaria em bom estado de conservação. Braga (op.cit.)
também chama a atenção para a perfeição na fixação dos pássaros da Seção
Zoológica, que, juntamente com outros produtos, foi atração de destaque na
Exposição da Indústria Cearense.
Contrariando algumas expectativas de encontrar enormes riquezas
minerais, a Comissão Científica entre outras coisas reuniu um bom volume de
material informativo para ser base dos estudos sobre a História Natural do Brasil
(Barroso, op.cit.). Sobre a primeira Seção do IHGB que os integrantes da
Comissão Científica participaram após o retorno, Capanema escreveu à Dias que
128
Finalizando o Segundo Capítulo, partiremos para o Capítulo 3, onde
trabalho mais intensamente com a correspondência de Guilherme de Capanema,
e as histórias sobre a Cómissão Científica presentes nestas ricas fontes.
129
CAPÍTULO 3: AS CORRESPONDÊNCIAS DE CAPANEMA
130
Dias, por ele ter sido um famoso literato brasileiro. Isto fez com que Gonçalves
Dias merecesse dois volumes dos Anais da Biblioteca Nacional: o volume 84
contém sua correspondência ativa e o 91 é composto por sua correspondência
passiva.
Entre as correspondências presentes no volume 84, 46 cartas são dirigidas
a Guilherme de Capanema, entre os anos de 1856 a 1864, justamente o período
da criação da Comissão e a permanência desses personagens no Ceará. Das
restantes da mesma obra, 25 são destinadas ao Imperador D. Pedro 11, 15 a
Manoel de Araújo Porto Alegre e 12 a Francisco Freire Allemão, entre outros.
Em contrapartida, no volume 91 dos Anais, Capanema é o remetente de 45
cartas a Gonçalves Dias, que foram enviadas neste mesmo período. Além destas,
a presente obra contém 14 do Professor Glasl, que veremos ter desempenhado
importante papel nos preparativos da Viagem da Comissão, 10 de Porto Alegre, 6
de Raja Gabaglia, 2 de Francisco Freire Allemão e 1 de João Martins da Silva
Coutinho.
Outro bloco de correspondências que merece destaque são as 52 cartas
levantadas, escritas por Manoel de Araújo Porto Alegre para Capanema, entre os
anos de 1858 a 1868, localizadas principalmente nos arquivos do IHGB e no
Museu Imperial de Petrópolis, não publicadas e em sua maioria manuscritas.
Já a Coleção Freire Allemão da Biblioteca Nacional -detalhada no ANEXO
1 desta Dissertação, no que se refere à Comissão Científica, contém quatro cartas
escritas por Allemão dirigidas a Guilherme de Capanema, duas a Gabaglia e uma
para Gonçalves Dias. A correspondência passiva do Conselheiro Allemão é
composta por dez cartas de Capanema, nove de Gabaglia, cinco de Ferreira
Lagos e uma de João Martins da Silva Coutinho, adjunto da Seção Geológica,
entre outras, e um ofício manuscrito do Marquês de Olinda.
Foram levantadas ainda, nos arquivos do IHGB, Biblioteca Nacional e do
Museu Imperial, dentro do período de 1856 a 1868, cinco cartas de D. Pedro 11,
quatro de Coutinho, uma de Gabaglia e uma de Tomas Pompeu de Souza Brasil,
todas dirigidas a Guilherme de Capanema, além de dois ofícios manuscritos do
131
Marquês de Olinda e um de Porto Alegre, tratando de assuntos referentes à
Comissão Científica.
Especificamente nó caso de Capanema, as cartas ganham uma importância
histórica maior pelos acontecimentos. Como já é fato conhecido, os resultados e
observações feitas por Capanema durante a Comissão foram a pique junto com o
Palpite. Dado este fato, oficialmente, relacionado as suas atividades científicas
nos sertões, nos restou para análise apenas o Relatório da Seção Geológica e
Mineralógica, dois artigos versando sobre as secas do Ceará e alguns
apontamentos geológicos publicados no Diário do Rio de Janeiro, como ressalta
Braga (op.cit.). O próprio Capanema, relatando o fato a seu amigo Dias, explicita
as suas perdas por conseqüência do naufrágio:
193
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 335, op.cit.). Carta n° 281 para Dias. Fortaleza,
13/04/1861.
132
Gabaglia
t
Remetente
194
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 235, op.cit.). Carta n° 194 para Dias. Pacatuba,
28/05/1861.
133
a Figura 3.1 representa visualmente a rede de correspondências que foram
levantadas entre os naturalistas da Comissão, e outros personagens que estavam
diretamente relacionados à ela.
De qualquer forma, as práticas em história natural, no conceito mais amplo
de Jardine e Spary (1996), presentes nas correspondências de Capanema,
compõem um importante objeto de estudo, principalmente se levarmos em conta a
perda de documentos relativos ao trabalho de campo da Seção Geológica por
conseqüência do naufrágio do Palpite. Sendo assim, este capítulo apresenta-se
centrado na análise da correspondência de Capanema, nunca ainda analisada em
seus detalhes. O recorte escolhido para o presente trabalho, como não poderia
deixar de ser, foi a presença de assuntos relacionados com a Comissão Científica
nas cartas pessoais de nosso personagem, o que contribuiria para um melhor
entendimento sobre a História Natural da época.
135
A sistematização da correspondência nos levou a elencar certas categorias,
de modo a organizar a exposição do resultado do trabalho realizado sobre tal
material. Então, vejamos cada um desses itens.
195
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 111, op.cit.). Carta n° 90 para Dias. Orianda,
23/02/1857.
136
Besser & Mauke, em Hamburgo, que já tem costume de
mandar livros para cá, e por intermédio deles vem as
remessas da Academia de Ciências de Viena para o Instituto
[IHGB], (... ) no mesmo caso estão em Londres Sotheran &
Willis, Great Tower Street 96 .
196
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 112). Carta n° 91 para Dias. Orianda,
24/02/1857.
197
Dias, in: Anais da Biblioteca Nacional (1964: 228). Carta n° 134 para Capanema, Paris,
03/09/1857.
198
Dias, in: Anais da Biblioteca Nacional (1964: 232, op.cit.). Carta n° 137 para D. Pedro 11, Desdre,
04/11/1857.
137
seriam usados pela Seção Astronômica e Geográfica de Raja Gabaglia, como
aparece ainda na mesma carta de Capanema. No mesmo trecho, surge outro
personagem, o Professor Glasl, que veremos ter importância especial no que diz
respeito à compra de tais instrumentos:
(. ..) vai uma carta para o Professor Glasl em Viena, que tem
de encomendar um planímetro, um nível de algibeira, dois
telescópios e tem de se entender com os diretores das
Seções do Museu para lhe mandarem vir os vidros 199•
199
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 112, op.cit). Carta n° 91 para Dias, Orianda,
24/02/1857.
200
Glasl, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 140, op.cit.). Carta n° 119 para Dias, Waering,
11/08/1857.
201
Glasl, in: Anais da Biblioteca Nacional, (1971: 165, op.cit.). Carta n° 136 para Dias, Viena,
03/12/1857.
138
De certa forma, Capanema contava não só com os contatos de Glasl, mas
também com a competência e conhecimento do Professor sobre História Natural,
como está documentado na correspondência de Glasl para Dias, de 24 de agosto
de 1857:
202
Glasl. in: Anais da Biblioteca Nacional, (1971: 145, op.cit.). Carta n° 122 para Dias, Viena,
2410811857.
203
Dias, in: Anais da Biblioteca Nacional (1964: 235, op.cit.). Carta n° 140 para D. Pedro 11, Desdre,
0310211858.
139
Na Alemanha publicaram-se uma porção de compêndios de
fotografia há três anos, a esta parte encomenda tudo;
encomenda os dois aparelhos [fotográficos], traz vidros
bastantes (doze de cada tamanho), mas em porção traz
gelatina, porque para ela se passa todos os positivos e
negativos, e conservam-se em muito pequeno espaço, numa
já experimentei o negócio e vai muito bem. Não te esqueças
de aprender com o Leguay, olha que tu és o nosso fotógrafo,
tens de ensinar aos outro:l04.
204
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 150, op.cit.). Carta no 125 para Dias, Rio de
Janeiro, 14/10/1857.
205
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 156, op.cit.). Carta n° 130 para Dias. Rio de
Janeiro, 12/11/1857.
140
Monchtorens, Legrags. É do doutor Silva que se presta ao
nosso clima e aos nossos hábitos (. ..). Quero ainda fazer
uma experiência que me falta, manda-me meia dúzia de
garrafinhas de colódio sensível de Bertsch, quero ver se
serve ou se é pulha 'comme tous les autreseos
Um outro aspecto importante que pode ser ressaltado no trecho acima seria
a adaptação das técnicas estrangeiras para a realidade nacional. Dentre as várias
receitas de 'Omies', 'Legrags' e outros, é justamente a de 'Silva' que melhor serviu
frente as condições climáticas brasileiras. Além disso, mesmo a técnica brasileira
ainda apresentaria a possibilidade de ser aprimorada pelos experimentos de
Capanema.
A fotografia coloca em voga um tema de suma importância inserido dos
estudos sobre a história da História Natural, que é o papel das imagens no
trabalho de campo, classificadas por Lisboa (op.cit.) dentro do amplo conceito do
que pode ser considerado literatura de Viagem. Apesar de não conterem as
palavras propriamente ditas na iconografia de uma Viagem Científica, existe forte
correlação entre texto e imagem presente na História Natural, já mais uma vez
constatada por Rudwick (op.cit.), Figueirôa (1997, op.cit.), e recentemente por
Pataca (op.cit.) no caso da Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira.
Prosseguindo com as análises das cartas, já iniciadas as suas atividades no
Ceará, Capanema narra á Gonçalves Dias as suas atividades com a máquina
fotográfica:
206
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 174, op.cit.). Carta n° 143 para Dias. sn,
10/1857.
207
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 235, op.cit.). Carta no 194 para Dias. Pacatuba,
28/05/1861.
141
A necessidade da importação do material de revelação fotográfica é
justificada por Capanema em correspondência, reforçando o fato que o naturalista
tinha bom conhecimento sobre as técnicas que envolviam a fotografia na época:
208
Capanema. in: Anais da Biblioteca Nadonal (1971: 156, op.cit.). Carta n° 130 para Dias. Rio de
Janeiro, 12/11/1857.
209
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nadonal (1971: 218, op.cit.). Carta n° 184 para Dias. Lagoa
Funda, 31/101860.
°
21
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nadonal (1971: 219, op.cit.). Carta n° 185 para Dias. Ceará,
set,out/1860.
142
Além de estudar o potencial de trabalho das máquinas, Capanema também
faria propostas sobre a política de produção destas máquinas junto ao poder
público. Relacionado a isto, escreveu para Dias:
211
Idem nota 209.
212
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 238, op.cit.). Carta n° 195 para Dias. Fortaleza,
02/07/1861.
143
estudo voluntário, talvez por interesse pessoal. O trecho acima mostra também
que o naturalista detinha conhecimento de morfologia das plantas aquáticas, e
saberia como encontrá-las, coletá-las e classificá-las, e segundo ele mesmo, tão
bem ou até melhor que os especialistas europeus.
Suas pesquisas continuariam:
213
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 242, op.cit.). Carta no 196 para Dias.
Pernambuco, 17/07/1861.
214
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 244, op.cit.). Carta n° 198 para Dias. Rio de
Janeiro, 06/08/1861.
144
veremos que tal questão aparece constantemente na correspondência entre os
dois amigos.
O intercâmbio de produtos naturais entre Capanema e Gonçalves Dias nos
parece freqüente, estando presente em mais de uma carta. Dias, ainda no norte
do país, remeteria e receberia plantas e sementes para o Rio de Janeiro, onde
Capanema realizaria seus estudos:
215
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 255, op.cn.). Carta n° 211 para Dias. Rio de
Janeiro, 22/04/1862.
216
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 265, op.cn.). Carta n° 220 para Dias. Rio de
Janeiro, 05/09/1862.
217
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 272, op.m.). Carta n° 226 para Dias. Rio de
Janeiro, 25/11 1862.
145
Por ocasião de uma enfermidade nos pulmões em meados de 1863,
seguindo orientação médica, Capanema se dirigiu para a região de São Paulo,
tendo por lá a oportunidade de dar continuidade aos estudo com as plantas:
218
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 305, op.cit.). Carta n° 256 para Dias. S. J. do
Ipanema 12/10/1863.
219
Capanema, in: Anais da Biblioteca Nacional (1971: 302, op.cil.). Carta n° 253 para Dias. S. J. do
Ipanema, 06/10/1863.
146
preparo para as suas atividades. É o que demonstra o fragmento abaixo, escrito
por Gonçalves Dias:
E através do trecho abaixo escrito por Dias, podemos ver que suas
descrições seriam satisfatórias, completas o suficiente para possibilitar os
naturalistas a reconhecerem o mineral:
220
Dias. in: Anais da Biblioteca Nacional (1964: 227, op.cit.). Carta n° 134 para Capanema, Paris,
03/09/1857.
221
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 335, op.cit.). Carta n° 281 para Dias. Fortaleza,
13/0411861.
147
descrições! Depois que a viu ficou perplexo; mas, pendendo
para o carvão. E se há carvão, entre o Solimões e Rio
Negro?! com transporte facílimo para as margens de ambos
- com o Madeira à porta ... Que dizes tu? Estou desconfiado
de tanta fortuna=!
= Dias, in: Anais da Biblioteca Nacional (1964: 292, op.cit.). Carta n° 189 para Capanema, Manaus,
25/05/1861.
223
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 239-240, op.cit.). Carta n° 195 para Dias.
Fortaleza, 02/07/1861.
148
3.2. O retomo à Corte: trabalhos a serem concluídos.
Como já foi citado, em julho de 1861, os integrantes da Comissão Científica
retornaram à Corte, exceto Gonçalves Dias, que permaneceria percorrendo a
região norte.
De acordo com as correspondências, as discussões envolvendo a volta ao
Rio de Janeiro iniciaram em meados de março de 1861. Capanema, em reunião
com os demais integrantes, proporia o retorno para viabilizar a discussão sobre
novos rumos que seriam tomados pelos naturalistas em relação à Comissão.
Sobre este aspecto, trataremos com mais detalhes no próximo item.
Diante desta situação, e estando Gonçalves Dias nos arredores de Manaus,
Capanema chamaria pelo amigo, e como acontece freqüentemente, o
mineralogista usou de piadas e bom humor:
224
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 251, op.cit.). Carta n° 206 para Dias. Lagoa
Funda, 03105/1861.
149
chocalhou o maracá e foi ecoar pela Aratanha (...) que só os
primeiros raios de sol fizeram emudecef25•
225
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 234, op.cit.). Carta n° 194 para Dias. Pacatuba,
28/05/1861.
226
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 236, op.cit.). Carta n° 194 para Dias. Pacatuba,
28/05/1861.
227
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 239, op.cit.). Carta n° 195 para Dias. Fortaleza,
02/07/1861.
150
No trecho acima, Capanema mostra uma suposta falta de seriedade de
seus companheiros em relação às ordens Imperiais, e condena a passividade do
Governo frente a tal situação.
Uma vez de volta ao Rio de Janeiro, Capanema narra ao amigo Dias o
encontro com o Ministro do Império, em uma reunião repleta de desencontros,
onde se discutiriam o andamento dos trabalhos resultantes das atividades da
Comissão:
228
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 248, op.cit.). Carta n° 203 para Dias. Rio de
Janeiro, 11/09/1861.
229
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 258, op.cit.). Carta n° 214 para Dias. sll,
07/08/1862.
151
outras coisinhas consumirão mais 30, vê lá se te queixa~3fJ.
Eu só tenho prontas as estampas para a minha primeira
memória texto, eles não pilham sem mé pagar os três meses
de gratificação vencida, e sem me darem o preparador que
231
em março requisitei. .
Ainda sobre os livros, Capanema comenta com Dias das ordens oficiais
recebidas para completar a biblioteca da Comissão Científica, biblioteca esta que,
como já mencionamos, se tornaria uma contribuição significativa para o Museu
Nacional:
23
° Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 264, op.cít.). Carta no 217 para Dias. Rio de
Janeiro, 24/08/1862.
231
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 269, op.cít.). Carta n° 223 para Dias. s/1,
08/10/1862.
232
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 277, op.cít.). Carta n° 229 para Dias. Rio de
Janeiro, 08/12/1862.
233
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 279, op.cít.). Carta n° 230 para Dias. Rio de
Janeiro, 24/01/1863.
152
Os livros que encomendei por ordem do governo para a
Comissão já se devem estar encaixotando, a lista foi de 9 de
abril, eu mandei-lhe dizer que remetesse conta de junho e
inclusive mesmo aqueles que ele {Brockhaus] só poderá
fornecer mais tarde, a fim de esgotarmos a verba existente,
assim ficamos com boa biblioteca234 • Recebemos ordem de
organizar a lista das obras que ainda carecemos para
completar a biblioteca da Comissão Científica, creio que é
coisa que se quer embutir ao orçamento235.
234
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 242, op.cit.). Carta n° 230 para Dias. Rio de
Janeiro, 25105/1863.
235
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 282, op.cit.). Carta n° 234 para Dias. Rio de
Janeiro, 07/02/1863.
236
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 310, op.cit.). Carta no 260 para Dias. Rio de
Janeiro, 23/01/1864.
153
que já em 1810, foi criada a Real Fábrica de Ferro na Fazenda Ipanema. Havia,
desde esta época, um esforço do Governo em promover a siderurgia no Brasil.
Sinal disto foi que, em 1808, criou-se a Real Fábrica de Ferro em Minas Gerais, e
mineralogistas empregados da Corte teriam recebido a missão de examinar minas
de ferro e carvão no Rio Grande do Sul e Bahia. Também foram solicitados
técnicos estrangeiros, principalmente da Alemanha, a fim de sistematizar a
mineração e siderurgia no Brasil do início do século XIX (Figueirôa, 1997, op.cit.).
Dando continuidade a viagem de Capanema pela região de São Paulo, o
naturalista realizou também estudos sobre as algas, além de ter estado atento às
questões ligadas a mineralogia. Abaixo estão indícios de que Capanema pretendia
publicar algo sobre as algas, juntamente com conselhos para que Dias escrevesse
também os resultados de seus estudos no Ceará:
237
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 316, op.cit.). Carta n° 264 para Dias. Rio de
Janeiro, 21/04/1864.
154
3.3. O desenvolvimento das relações entre Capanema e outros personagens
ligados à Comissão Científica
Não te posso dar novas do que vai por aqui, pois logo que
cheguei nos primeiros 4 dias, fui visitado por meus
numerosos amigos, três por junto! Ora, já vês que sou
homem o mais estimado deste mundo238. Estou me
convencendo de que sou um indivíduo horrorosamente
antipático, só para ti e para aquele bom Freirinha é que não a
tinham ainda encontrado tal propriedade239•
238
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 172-310, op.cit.). Carta n° 260 para Dias. Rio
de Janeiro, 23101/1864.
239
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 172-315, op.cit.). Carta n° 263 para Dias. Rio
de Janeiro, 08/02/1864.
155
preciso arrebanhá-los em Curitiba, Mato Grosso, Rio Grande,
etc. em quanto tempo é que se reunirão esses sujeitinhos?
logo que chegue o nosso infeliz colega~40
Enfim com sonora voz fez atroar os ares o infeliz colega! (. ..)
supunha que viríamos para cá como irmãos, viajaríamos
como irmãos, comeríamos e beberíamos como irmãos (. ..), tu
sabes de que maneira estrambótica o jovem infeliz colega
procedeu comigo quando em mandei-lhe pedir uns dados da
Pacatuba/241
240
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 172-173, op.cit.). Carta n° 143 para Dias. s/1,
10/1857.
241
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 228, op.cit.). Carta n° 193 para Dias. Ceará,
14/04/1857.
156
como quer que ele fosse irmão'f242
242
Idem nota 240.
243
Idem nota 240.
244
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 203, op.cit.). Carta n° 171 para Dias. Rio de
Janeiro, 06/02/1859.
157
ingenioso hidalgo y caballero' 245.
245
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 172-173, op.cit.). Carta n° 193 para Dias.
Ceará, 14/04/1857.
248
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 207-208, op.cit.). Carta n° 184 para Dias. Lagoa
Funda, 31/1011860.
158
namorar em vez de trabalhar, e isso com escândalo, outras
acusações abundam e não vá ele nos levar a câmara, há
deputadinho que nos tem vontade247.
247
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 206, op.cit.). Carta n° 174 para Dias. Bahia,
11/03/1859.
248
Idem nota 246.
249
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 227, op.cit.). Carta n° 193 para Dias. Ceará,
14/04/1861.
159
Prosseguindo com seu relatos ao amigo, Capanema fez referência,
novamente satírica, sobre as atividades de coletas dos produtos da indústria local,
realizadas por Lagos:
250
Idem nota 248.
251
O Cearense, de 04/10/1861, apud Braga (op.cit.: 116).
160
Na mesma matéria, ainda falando sobre a Exposição, é esclarecido um
conceito fundamental para o presente trabalho, já mencionado no Capítulo 11, que
envolve a idéia de indústria da época:
252
O Cearense, de 04/10/1861, apud Braga (op.cit.: 127-128).
253
Capanerna, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 230-231, op.cit.). Carta n° 193 para Dias.
Fortaleza, 14104/1861.
161
realizado por completo pelo menos um dos objetivos da Seção Zoológica. Fica
claro também que na opinião de Capanema, os gastos feitos pela Seção de Lagos
contribuíram para que a Comissão Científica fosse vista como um consumo
desnecessário do dinheiro público, como quis fazer acreditar o literato Melo Morais
e o Senador Antônio Luiz Dantas (Braga, op.cit.). Este último teve seu nome
mencionado inúmeras vezes nos Zig-zags de Capanema:
254
Zig-zag da Seção Geológica da Comissão Científica do Norte. Diário do Rio de Janeiro de
11/09/1860.
255
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 244. op.cit.). Carta n° 198 para Dias. Rio de
Janeiro, 6/08/1861.
162
rendas, redes e bicos que trouxera do Ceará; pediu-me que
dissesse alguma coisa, fi-lo nos diários de 7 e 9 de
setembro256.
Porém, no trecho a seguir, podemos ver que Capanema não foi tão duro em
suas críticas como afirmou anteriormente que seria, e se justifica para Gonçalves
Dias:
256
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 248, op.cil.). Carta n° 203 para Dias. Rio de
Janeiro, 11/10/1861.
257
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 248-249, op.cit.). Carta n° 203 para Dias. Rio
de Janeiro, 11/10/1861.
258
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 249, op.cit.). Carta no 203 para Dias. Rio de
Janeiro, 11/10/1861.
163
Além de Lagos, Gabaglia também colaborou com o desgaste da Comissão
na opinião de Capanema:
Mas como Capanema ainda tinha o que fazer como todos os diabos261 ,
resolveu então propor
259
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 335, op.cit.). Carta n° 281 para Dias. Fortaleza,
13/04/1861.
260
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 227, op.cit.). Carta n° 193 para Dias. Fortaleza,
14/04/1861.
261
Idem nota 260.
262
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 228, op.cit.). Carta n° 193 para Dias. Fortaleza,
14/04/1861.
164
que ele tem feito, Gabag/ia, segundo o que eu tenho podido
coligir, valerá 10%, e creio que sou generoso -portanto tu e o
conselheiro tem que salvar a honra científica do BrasiP63.
263
Capanema. in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 335, op.cit.). Carta n° 281 para Dias. Fortaleza,
13/04/1861.
264
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 276, op.cit.). Carta n° 229 para Dias. Rio de
Janeiro, 08/12/1862.
165
Como podemos concluir, Capanema foi extremamente crítico com alguns
integrantes da Comissão em relação às suas capacidades científicas. Porém
paralelamente às críticas de Capanema, podemos notar que os trabalhos de tais
naturalistas teriam algum reconhecimento na época, evidenciado no livro de
Tomás Pompeu Brasil, que teria usado dados referentes à astronomia da
província do Ceará, coletados por Gabáglia, e a grande repercussão obtida pela
Exposição de Lagos no Museu Nacional.
Em relação a Gonçalves Dias, Capanema possuía uma opinião diferente.
Além de não colocar em dúvida a competência profissional de Dias, Capanema dá
amostras explícitas de profunda amizade pelo poeta em sua correspondência. O
fragmento abaixo demonstra esta afirmação:
265
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional {1971: 231, op.cit.). Carta n° 194 para Dias. Pacatuba,
28/05/1861.
266
Idem nota 264.
166
obras literárias de Dias impressas na Europa na mesma época, como mostra o
trecho abaixo:
Com esta grande afinidade presente entre os dois, Capanema proporia uma
maior aproximação entre as Seções Geológica e Etnográfica durante as atividades
da Comissão:
267
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 149-150, op.cit.). Carta n° 127 para Dias. Rio
de Janeiro, 14/09/1857.
268
O livro Timbiras é composto de quatro cantos, sendo que o primeiro, redigido em 1847, foi
publicado apenas em 1857.
269
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 174, op.cit.). Carta n° 144 para Dias. Praia
Grande, 12/01/1858.
167
colegé/71 . Não preciso te repetir que disponhas de mim em
tudo quanto estiver ao meu alcance, eu estou cada dia vendo
que diabo de coisa é essa a que se chama amigos, há
pessoas a que hoje só posso fazer boa cara forçado, que me
inspiram repugnância, a ti deve acontecer o mesmif72.
27
° Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 261, op.cit.). Carta n° 217 para Dias. Praia
Grande, 24/08/1862.
271
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 228, op.cit.). Carta n° 193 para Dias. Fortaleza,
14/04/1862.
272
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 258, op.cit.). Carta n° 214 para Dias. S/1,
07/08/1862.
273
Idem nota 271.
274
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 269, op.cit.). Carta n° 223 para Dias. S/1,
08/10/1862.
168
era amigo e companheiro, sobre essa matéria o único com o
qual se podia conversar, não fazes idéia que terrível
sentimento de abandono é esse quando se tem trabalho sem
viva alma que o compreendé/ 75•
275
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 305, op.cit.). Carta n° 256 para Dias. S. J. do
Ipanema 12110/1862.
276
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 294, op.cit.). Carta n° 245 para Dias. Engenho
Novo, 08/07/1863.
169
Ainda dentro dos contatos cultivados por Capanema, o mineralogista narrou
para Dias sobre o seu encontro com a Expedição Austríaca, com a qual travou
relações diplomáticas:
277
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 151, op.cit.). Carta n" 125 para Dias. Rio de
Janeiro, 14/09/1857.
278
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 174, op.cit.). Carta n" 145 para Dias. Río de
Janeiro, 12/01/1858.
279
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 202, op.cit.). Carta n° 171 para Dias. Rio de
Janeiro, 06/02/1859.
170
Comissão e a do BrasiP80.
171
serviço para publicação. Mas as ordens nos não vieram as
mãos, e enquanto as secretarias pertencerem a família dos
quelônios, isso não admira, portanto não perco a
paciência 283. Já sabes? Vou divertir o Instituto lendo-lhe
alguns capítulos do Manoel Francisco, o primeiro será sobre
caboclos da Serra Grande, estabelecendo paralelo entre eles
e o povo alemão (.. .), depois provarei que mais porco que o
caboclo são os fidalgos da sociedade escolhida do mundo
das luzes, que comem miolo de tripa de narceja e carniça!
Tudo isso irá imprimir na 'Revista Brasileira' que já está com
dores de parto284•
283
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 250, op.cit). Carta n° 205 para Dias. Rio de
Janeiro, 03/11/1861.
284
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 266, op.cit). Carta n° 220 para Dias. Rio de
Janeiro, 05/09/1862.
285
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 217-218, op.cit). Carta n° 184 para Dias. Lagoa
Funda, 31/10/1860.
172
cometa como tu na câmara para por em andamento, sabes
que estou pronto para te ajudar até com a pena aquém e
além mar se for preciso286•
286
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 219, op.cit.). Carta n° 185 para Dias. Ceará,
set. ou ouV1860.
287
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 289, op.cit.). Carta n° 242 para Dias. Rio de
Janeiro, 25/05/1863.
288
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 302, op.cit.). Carta n° 253 para Dias. S. J. do
Ipanema 06/10/1863.
289
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 309, op.cit.). Carta n° 260 para Dias. Rio de
Janeiro, 23/01/1864.
173
Apesar da afirmação acima, Capanema não levou adiante seus planos de
se eleger, e como já foi comentado neste trabalho, o naturalista se dedicaria a
chefia do setor de telegrafia brasileira até o seu falecimento, em 1906.
Dando continuidade as análises, passaremos para um outro ponto: como foi
citado anteriormente, a preocupação com o sustento é assunto constante na
correspondência de Capanema. Após o retorno ao Rio de Janeiro, os naturalistas
assumiriam novamente os seus cargos de origem, porém não deixariam de
receber encargos relacionados à Comissão, já que estariam elaborando os
trabalhos referentes às suas atividades. É o que consta no fragmento abaixo:
O Lagos foi mal ouvido pelo Olinda, que supôs que ele se
contentava com os 4:000$ da secretaria, aquele declara que
quer 6, eu sustentei a pretensão para que te igualassem a
ela, creio que não haverá dúvida a esse respeito291 .
290
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 217, op.cil.). Carta n° 184 para Dias. Lagoa
Funda, 31/1011860.
291
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 266, op.cit.). Carta n° 220 para Dias. Rio de
Janeiro, 05/09/1862.
174
Machado a fazer um ofício ao Freire Allemão que tu estás
trabalhando, visto eu ter te mandado as estampas da
caboclaria, que estão se acabando, e no entretánto te não
pagam, verás como te dão dinheiro 292.
Até pelo menos meados de 1863, Capanema ainda estaria cuidado dos
assuntos financeiros de Dias, como atesta o trecho abaixo:
292
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 336, op.cit.). Carta n° 282 para Dias. Rio de
Janeiro, 25/11/1862.
293
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 263, op.cit.). Carta n° 218 para Dias. Rio de
Janeiro, 24/09/1862.
294
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 288, op.cit.). Carta n° 242 para Dias. Rio de
Janeiro, 25/0511863.
175
luxo 295•
295
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 273, op.cít.). Carta n° 226 para Dias. Rio de
Janeiro, 02111/1862.
296
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 279, op.cít). Carta n° 230 para Dias. Rio de
Janeiro, 24/01/1863.
297
Capanerna, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 282, op.cít). Carta n° 234 para Dias. Rio de
Janeiro, 07/0211863.
298
Capanema, in Anais da Biblioteca Nacional (1971: 276, op.cít). Carta n° 229 para Dias. Rio de
Janeiro, 08/1211862.
176
Talvez o trabalho para o Governo não fosse uma das opções do naturalista,
mas sim, a única delas, pelo menos no que diz respeito aos planos de
continuidade da Comissão Científica.
177
CONSIDERAÇÕES FINAIS
178
Museu Nacional também foi mais um ponto em comum entre os objetivos das
várias Viagens e da Científica.
A compra de livros, instrumentos e materiais para as atividades científicas é
processo obrigatório no preparo de uma Viagem. No caso da Comissão, os
manuais adquiridos e os fabricantes de instrumentos contratados contavam com
grande prestígio do ponto de vista dos naturalistas integrantes da Científica.
Possivelmente eram os mesmos usados nas Viagens européias, constituindo mais
um aspecto em comum.
Os diversos naturalistas também apresentavam condições semelhantes em
relação às Viagens: os integrantes da Comissão partiram para a expedição com
objetivos pré-definidos, sabendo o que iriam procurar, como iriam proceder e
conscientes dos imprevistos possíveis impostos em qualquer atividade de campo.
Tal aspecto, como foi discutido no Capítulo I, também estaria presente na prática
dos naturalistas viajantes europeus. Intimamente ligadas a isso estão as
Instruções de Viagens, presentes em todas a Viagens Científicas da época,
inclusive na realizada pela Comissão. As Instruções usadas na Científica,
apresentaram características comuns com as outras Instruções de Viagens
usadas nas Viagens européias: definiam qual o tipo de conhecimento científico
que deveria ser produzido, qual objeto merecia o olhar do naturalista e que modo
deveriam ser abordados, de forma a adquirir o 'status' de ciência nas atividades
que iriam ser desenvolvidas, e conseguir resultados considerados legítimos no
mundo científico.
Finalmente a partida: a mesma ansiedade presente nos naturalistas
europeus estaria presente nos integrantes da Comissão. Acompanhar o trabalho
de carregar para a embarcação todo o material para iniciar a Viagem foi tarefa de
todo naturalista viajante. Dadas as dificuldades de transporte e correio da época,
nada poderia ser esquecido.
Comuns a todas a atividades científicas de campo, os imprevistos e
dificuldades, como excesso de chuva ou falta dela, e até mesmo doenças,
também estiveram presentes nas atividades da Comissão. Largamente
referenciadas nas cartas de Capanema e nos Relatórios das diversas Seções, tais
179
adversidades constituem mais um aspecto comum entre as Viagens européias e a
nossa Comissão. Até mesmo os naufrágios, como o do late Palpite, também
seriam elementos comuns constituintes das Viagens Científicas, como foi o caso,
por exemplo, dos naufrágios da famosa Viagem de Lapérouse.
Resgatamos ainda a consideração de Bourguet (op.cit.) sobre as Viagens
Científicas em geral: o tempo decorrido entre a partida e o regresso dos
naturalistas a sua pátria, poderia causar dificuldades de interpretação dos
resultados dos seus trabalhos. No caso da Comissão, algo semelhante aconteceu:
por inúmeros motivos, expostos ao longo da Dissertação e presentes na
correspondência de Capanema (ver nota 257), os trabalhos dos naturalistas,
considerados relevantes no momento da partida para o Ceará, já não despertaram
tanto a atenção na ocasião do retomo da Científica para o Rio de Janeiro.
As cartas de Capanema também nos mostraram o trabalho realizado por
nossos naturalistas após o retomo da Viagem. A Seção Botânica, por exemplo,
realizou as atividades de identificação e classificação das espécies coletadas e
fixadas durante a Viagem, produzindo inclusive manuais sobre plantas medicinais.
A Seção Zoológica realizou uma importante exposição com os produtos recolhidos
no Ceará. Estas duas Seções foram responsáveis por um crescimento significativo
do acervo de produtos nativos do Museu Nacional.
Possuidora de todos os elementos comuns às Viagens Científicas, a
Comissão do Ceará merece ser abordada e considerada como tal, de modo a
ocupar seu lugar de destaque na historiografia das ciências no país, com seus
estudos desvinculados das controvérsias relacionadas a ela.
Essa pesquisa nos intriduziu no mundo das correspondências dos
naturalistas brasileiros de meados do século XIX. Existe ainda muito a ser
decifrado no material reunido nesta Dissertação, e o mais importante, muitos
documentos inéditos, nunca trabalhado anteriormente, que ainda podem nos
revelar outras histórias 'pitorescas', como as contidas neste trabalho.
180
BIBLIOGRAFIA
1. Fontes
181
DIAS, A.G. Proêmio ;Parte Histórica. Trabalhos da Comissão Científica, 1862.
STUDART, Barão de. Datas e factos para a história do Ceará, tomo 11. Fac-
símile da edição de 1896. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2001.
2. Bibliografia utilizada
182
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183
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184
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185
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186
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novos objetos, novas abordagens. Cadernos IG/UNICAMP, v.6 (1): 3-56,
1996. Tradução de FIGUEIRÓA, S.F.M.
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187
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VILA, M.A. Vida e morte no sertão: história das secas no nordeste nos
séculos XIX e XX. São Paulo: Ed. Ática, 2000.
188
ANEXO 1
18g
15. DL 712.46: Carta de Capanema a Henrique de Beaurepaire-Rohan
manifestando-se sobre o trabalho recebido e sugerindo exigir maiores informações no
tocante à constituição geológica, sambaquis, estudos da costa e rios; sobre a lavoura,
criação, sistema de viação; estudo científico das riquezas naturais, tudo em relação ao
Brasil (s/1, s/d).
16. DL 141.98: Ofício de Capanema ao 1° Secret. Do IHGB, José Ribeiro de Souza
Fontes, devolvendo 6 pareceres da Comissão de Geografia (não acompanha pareceres)
(04/08/1876).
17. Lata 311-doc. 15: Carta do B. de Capanema ao Secret. Do IHGB contestando
afirmativa sobre inscrição fenícia na Paraíba do Sul (2 fls) (21/11/1872).
18. Lata 351-doc. 37: Carta do B. de Capanema ao Gen. Paulo Barbosa da Silva
descrevendo a vida em Paris e a parte do Brasil na Exposição Universal de Paris (1855).
19. Lata 216-doc. 50: Cópias de cartas com atribuição anônima a Capanema
dirigidas aparentemente a Dias, em linguagem bastante íntima, comentando a
organização da Comissão Científica a ser mandada ao Ceará.
20. Lata 355-docs. 19, 20, 21, 22 e 23: Cartas de Manuel de Araújo Porto Alegre a
seu cunhado Capanema (1859-1874).
21. Lata 686-pasta 22: Cartas (2) do 1o Secret. Do IHGB, Manuel de A. Porto
Alegre, a Capanema, solicitando um resumo biográfico para a nova matrícula dos sócios e
pedindo entregue ao portador os livros do IHGB que estão em seu poder (02 e
03/03/1857).
22. Lata 92-doc. 27: Informações e documentos acerca da demarcação de limites
do Brasil com a Guiana lngleza pelos Drs. Capanema e L. A. Cunha Mattos (RJ,
21/08/1857).
23. Lata 216-doc. 41: Instruções (cópia) do Min. Dos Negócios do Império (ass.
Marques de Olinda) a Capanema sobre as providências a tomar para o aproveitamento do
oferecido pela Imperial Soe. Zoológica da França, tentar a introdução de dromedários no
Brasil (RJ, jul-ago, 1857).
24. Lata 333-doc. 24: Ofício de Capanema ao Secret. Do IHGB sobra a admissão
de sócios (05/11/1878).
25. Lata 427-doc. 14: Ofício (reservado) de José Francisco Diana, Min. Do
Negócios Estrangeiros, enviando a Afonso Celso de Assis Figueiredo, pres. Do Cons. de
Ministros, o trabalho de Capanema sobre os limites do Brasil com a Argentina.
"Complemento ao contra-memorandum brasileiro." Acompanha o trabalho (1889).
26. Lata 436-doc. 10: Ofícios e cartas do Barão de Nogueira da Gama ao Dr.
Perdigão Malheiro consultando-o sobre assuntos da Mordomia da Casa Imperial:
escritura de quitação de dívidas solicitada por Capanema, etc (1872-1878).
27. Lata 209-doc. 29: Relatório do investigador que, por parte de alguns membros
da comissão científica enviada ao Ceará, apurou os escândalos e desmandos ali
provocados por Capanema e outros (entre os quais Dias); anexo 1 exemplar no 56 do
periódico "Pedro 11", de Fortaleza, contemporâneo dos acontecimentos, com 1 artigo sobre
o mesmo assunto (RJ, 14/09/1865).
Iconografia (Capanema):
1. 194.6.2 no 5-retrato (iniciador da fabricação de papel no Brasil).
2.1F96
3. IL 1.23 - retrato
4. Lt 353-pasta 68: IC
5. lP 360-foto em grupo
6. 95, 7, 17-IC retrato
7. 135, 4, 16-IC retrato
8. IL 6.138-último retrato, 5 dias antes da morte (21/07/1908).
190
Documentos de Freire Allemão:
1. L113-doc. 1: Biografia e apreciação dos trabalhos do botânico brasileiro, por
José de Saldanha da Gama (s/1, s/d-75fls). Publicado na revista trimestral (?) de 1875,
tomo38.
2. L 311-doc. 61: Carta de Allemão despedindo-se do IHGB pois está acometido
de grava doença sem esperança de restabelecimento (s/1, janeiro de 1873).
3. L310-doc. 40: Carta do Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia, Cândido B. Caetano e
Allemão ao presidente do IHGB, pedindo abrigar a Sociedade Vellosiana no seu edifício
(Rio, 1 de julho de 1853).
4. Lata 574-pasta 17: Carta de Allemão ao Dr. Joaquim Manuel de Macedo,
explicando as razões pelas quais ainda não apresentou o seu trabalho sobre as principais
plantas aclimatadas no Brasil.
5. Lata 16-doc. 2: Descrição de várias plantas por Allemão (RJ, 1850 a 1854, 14
fls).
6. Lata 48-doc. 20: Exercícios botânicos: considerações sobre a structura e uzos
de alguns pelos e orgãos analogos (Rio, 1851-1857, 10 fls). Ilegível.
7. Lata 119-doc. 8: O jequitibá da Serra de San'anna. Brasiliana dedicada ao Dr.
Allemão por M. de Araújo Porto Alegre (S. Pedro, 14/12/1845).
8. Lata 353-pasta 50: 1° centenário de morte do cientista brasileiro Francisco
Freire Allemão. Estado do Paraná, Secret. De Educação e Cultura. Curitiba, 1974.
9. Lata 574-pasta 12: Proposta de Allemão: pedir aos Presidentes das províncias
informações sobre tribos indígenas e florestas; que haja uma arca fechada com 2 chaves
para guarda de notícias históricas contemporâneas.
Documentos da Comissão Científica:
1. Lata 216-doc. 50: Cartas (cópias) com atribuição anónima a Capanema,
dirigidas aparentemente a Dias, em linguagem bastante íntima, comentando a
organização da Comissão Científica a ser mandada ao Ceará pelo govemo Imperial (P.
Grande, Rio, Bahia, Ceará, 1858/61-Col. Marques de Olinda).
Documentos sobre o Ceará:
1. Lata 317-doc. 7: Memória sobre a Capitania do Ceará pelo sargento-mor João
da Silva Feijó, naturalista (livro manuscrito).
2. Lata 480-doc. 14: Jomais do Ceará. cópia fotográfica das primeiras páginas dos
jomais: O Cearense e outros.
3. Lata 512-doc. 14: Relação dos presidentes do Ceará, de 1824 a 1916, pelo
Barão de Studart.
4. Lata 317-doc. 13: Lista dos presidentes do Ceará (do 1° ao 42°) com notícias
biográficas pelo Dr. Paulino Nogueira (recortes de jomal). Col. Alencar Araripe.
Documentos sobre Feijó:
1. Lata 73Q-pasta 9: Artigos de Gustavo Barroso: O Sobradinho do naturalista
Feijó. 1953-1957, s/d-5 does. Oferta do IBGE.
2. Lata 51Q-pasta 35: Carta de Tomás Pompeu de Souza Brasil oferecendo ao
IHGB a Memória escrita em 1814 pelo naturalista Feijó. Copiei a mão.
Documentos de Gonçalves Dias:
1. Lata 177-doc. 82: Carta de Dias agradecendo ao Instituto a indicação de seu
nome para figurar como membro da Comissão Científica (Desdre, 04/01/1857).
2. Lata 177-doc. 69: Carta de Dias enviando um manuscrito, o "Roteiro da Viagem
do Pará até a última povoação do Rio Negro" (Pará, 10/09/1851).
3. Lata 142-doc. 119: Carta do Dr. Cláudio Luiz da Costa ao Cônego Joaquim
Caetano Femandes Pinheiro, desculpando-se por não comparecer à Sessão do IHGB,
por ter lido nos jomais o falecimento do seu genro (25/07/1862).
191
4. Lata 222-doc. 45: Carta Imperial nomeando Dias para a seção etnográfica da
Comissão (Palácio do Rio de Janeiro, 07/03/1857).
5. Lata 467-pasta 17: Cartas a Dias. 21 pastas contendo 112cartas, 1852-64. Col
A. H. Leal.
6. Lata 48-doc. 11: Exposição Universal em Paris. Relatório da Com missão e do
commissário brasileiro (Paris, 21/01/1856).
7. Lata 467-pasta 7: Relatório do Dr. Dias, membro da Comissão de Exposição
nomeada pelo presidente da província (Ceará?).
8. 133, 7, 5-6: gav. 7: Guanabara. Revista mensal artística scientífica e literária.
Rio de Janeiro, Typ da Emp-Dous de Dezembro-de Paula Brito, 1851-1855, 2 vols. (20 x
12), tomos I e 11.
192
Relatório do anno de 1866 apresentado a Assembléia Geral Legislativa na 1•
sessão da 13" legislatura (publicado em 1867).
RIHGB, vol. 45, 11 (1950, pp. 351-361): Questões propostas sobre alguns
vocábulos da língua geral braziliana.
Correspondência ativa:
Américo de Urzedo.
Emílio Joaquim da Silva Maia (13/01/1851).
Capanema (18/11/1851 ).
Paula Brito.
Dr. Silveira (RJ, 4/05/1852).
Custódio de Abreu (Senna, 30/11/1852).
Destinatário ignorado (6/11/1853).
193
Emílio Joaquim da Silva Maia (14/12/1853).
Francisco Antônio, irmãos Marques (RJ. 14/06/1854)
Capanema (Porangaba, 15/03/1855).
Emílio Joaquim da Silva Maia (5/06/1857).
Diretor da Escola Central (11/1858).
Relatório ao Ministro dos Negócios do Império sobre os primeiros trabalhos da
Seção Botânica da Comissão (Fortaleza, 31/07/1859).
XXXXXX. Aracatí, 11/09/1859 +rascunho e 8/08.
Destinatário não mencionado (lcó, 20/10/1859).
Relatório ao Ministro João de Almeida Ferreira sobre a Seção Botânica
(20/02/1860)
Destinatário não mencionado (Fortaleza, 3/05/1860).
Gonçalves Dias tratando de assuntos da Comissão (Fortaleza, 5/1 0/1860).
Gabáglia
Ofício para João de Almeida falando da dificuldade de por em prática a nova tabela
da Comissão (Sobrai, 10/01/1861).
João Pereira (Ceará, 13/04/1861 ).
Ministro e Secretário dos Negócios do Império (Ceará, 13/0411861 ).
Ministro Imperial (Fortaleza, 23/05/1861).
Tomás Pompeu de Sousa Brasil (31/1011861).
Frederico Burlamaqui (12/11/1861).
José lldefanso de Sousa Ramos (RJ. 15111/61).
Ministro dos Negócios do Império (1861).
Domingos Machado Homem de Gusmão.
Capanema (RJ. 26/07/1862).
Marques de Olinda (26/07/1862).
Ministro do Império (RJ. 26/07/1862).
Marques de Olinda (16/10/1862).
Gabáglia e Francisco Xairer Lopes de Araújo (1862).
Capanema (27/03/1865).
Michele Temere (1865).
John Miers (incompleta).
Manoel de Araújo (Porto Alegre, 1869).
Correspondência passiva:
Manoel de Araújo (Desdra, 6/06/1856).
Dürer, H. (Barra Mansa, 17/10/1857).
Burlamaqui e Marques de Abrantes (RJ. 21/11/1858).
Ofício de Sérgio Teixeira ao Presidente da Comissão estipulando a quantia
destinada a comedoria dos chefes de seção e adjuntos (19/05/1859).
Ofício de Capanema ao Presidente da Comissão propondo uma colaboração mais
estreita entre os membros da Comissão (Fortaleza, 27/07/1859).
João Franklin de Lima (Ceará, 10/09/1859).
Incompleta e sem assinatura (RJ. 12/09/1859).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 26/09/1859).
Roberto Correia de Almeida e Silva (lcó, 4/1 0/1859).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 25/09/1859).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 11/01/1860).
Ofício de Gabáglia ao Presidente da Comissão com o relatório que enviara ao
ministério sobre os trabalhos da Seção de Astronomia e Geografia. (S. Benedito, Serra
Grande. 15/02/1860).
194
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 5/04/1860).
Antônio Freire Allemão (20/04/1860).
Francisco Carlos L. Cunha (Russas, 26/04/1860).
Joaquim Antônio Gerreiro Lima (RJ. 21/07/1860).
Gabaglia (Sobrai, 20/0711860).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 28/07/1860).
Henrique Beaurpaire Rohan (RJ. 21/09/1860).
Ofício de João de Almeida Pereira Filho ao Presidente da Comissão com cópia da
tabela de vencimento do pessoa da Comissão (RJ. 10/10/1860).
Gabaglia (Lago Grande, 10/10/1860).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 16/10/1860).
Capanema (Fortaleza, 17/10/1860).
Coutinho (12/12/1860).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 12/12/1860).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 19/01/1861).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 12/02/1861).
Capanema (Sobrai, 14/02/1861).
João de Almeida Pereira Filho (RJ. 19/02/1861).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 24/02/1861 ).
Capanema (Manguarape, 22/03/1861).
Gabaglia (21/04/1861 ).
Gabaglia (Fortaleza, 1/05/1861).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 31/05/1861).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará,9/05/1861).
Antônio Joaquim de Oliveira (Ceará, 17/05/1861).
Capanema (Pacatuba, 31/05/1861).
Gabaglia (24/06/1861 ).
Capanema (Ceará, 16/07/1861).
Ofício de Gabaglia ao Presidente da Comissão tratando da frequencia do pessoal
lotado na Seção de Astronomia e Geografia (RJ. 26/09/1861 ).
Gabaglia (Vapor Paraná, 30/09/1861).
Tomás Pompeu de Sousa Brasil (Fortaleza, 20/09/1861).
João Franklin de Lima (Engenho Monguba, 17/10/1861).
Capanema (15/11/1861).
Capanema indagando sobre a possibilidade de se prosseguir com as escavações
que eram feitas no Ceará (RJ. 28/06/1862).
Ofício do Marques de Olinda ao Presidente da Comissão autorizando a
continuação das escavações de Capanema (RJ. 13/0811862).
Manuel Ferreira Lagos (14/1111863).
Lagos (RJ. 10/09/1864).
Lagos (RJ. 27/10/1864).
Burlamaqui dando conta de providências tomadas no Museu Nacional (31/12/1866)
Capanema (28/09/1867).
Ladislau Neto (Museu Nacional, 30/06/1868).
Manuel Freire Alemão.
Capanema (29/06).
Gabaglia.
Capanema.
Capanema.
Ministro dos Negócios do Império (RJ. 11/10/1864).
Ferreira Lagos.
195
Inácio José Mota.
Tomas Pompeu de Sousa Brasil (12/05).
Inácio José Mota (RJ. 23/05/1851).
Lagos (RJ. 1/01/1859).
Determinação de Sérgio Feisceira de Macedo às autoridades para prestar todas as
facilidades aos membros da Comissão (Palácio do RJ. 25/01/1859).
Ofício a Antônio de Oliveira (RJ. 24/11/1863).
Escritos e notas:
Notas sobre o precário estado do vapor em que a Comissão deveria regressar ao
RJ (Fortaleza, 29/06/1861 ).
Observações a respeito do caráter de alguns membros da Comissão (Ceará).
Correio Mercantil (notícias sobre a Comissão). Crato, 09/02/1860).
Relatório da Seção Botânica da Comissão (RJ. 04/12/1861).
Notícias sobre os naturalistas Joaquim Veloso de Miranda e José Mariano da
Conceição Veloso, 1849.
Notas sobre o naturalista Manoel A. Gamara, 1848.
Notas biográficas sobre a botânico Frei Leandro do Sacramento, 1848-53.
Notas sobre o naturalista Antônio Correia de Lacerda colhidas em conversa com
José Joaquim Rodrigues Lopes (Engenho Velho, 1/07/1850)
Notas sobre o botânico Frei José Mariano da C Veloso (RJ. 1851-53).
Notas sobre o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (RJ. 12/05/1853).
Notas sobre Monevidéu e Buenos Aires em conversa com o Sr. Candido Ferreira
Sousa (Petrópolis, 20/03/1856).
Notas sobre a obra de João Barbosa Rodrigues sobre orquídeas (07/1860).
Discurso pronunciado na Sociedade Velosiana (RJ.).
Notas sobre um naturalista brasileiro.
Extrato de uma carta de Martius a Ladislau Neto.
Notas sobre o botânico Arruda Câmara e padre João Ribeiro Montenegro.
Sugestões sobre a maneira mais coerente de se publicar os trabalhos da
Comissão.
196
1-5, 13, 10: "A Comissão Científica de 1859". Artigo de Sílvio Fróes de Abreu,
impresso na Rev. Trim. do Ceará, t. 33, p. 198-207, imp 10p.
"Memória sobre a ultima erupção vulcanica do Pico da Ilha do Fogo, sucedida em
24/01/1785". O Patriota, 2• subscrição, n° 5, XI. 1813 (23-32).
"Ensaio político sobre as Ilhas de Cabo Verde para servir de plano para a História
Philosóphica das mesmas". O Patriota, 38 subscrição, n° 3, V-VI. 1813 (29-54).
"Memória sobre a Capitania do Ceará". O Patriota, 3• subscrição, n° 1, 1-11. 1813
(46-62).
Pasta 3 (1845-1850)
136. nomeação de Guilherme Schuch de Capanema para Diretor Adjunto da Seção
de Mineralogia, Geologia e C. Físicas do Museu Nacional.
157. estatutos da Sociedade Vellosiana.
Pasta 5 (1855-1857)
18. ministro encaminha amostras do Maranhão
19. ministro exige cópia de relatórios de análise de minerais vindos da Bahia.
20. ministro remete amostras vindas da Bahia. Acompanha relatório de
encarregado da exploração.
27. ministro remete material arqueológico vindo da Bahia (fóssil).
33. ministro pede análise de amostra mineral (nafta, petróleo), proveniente da
Bahia. Acompanha relatório.
90. ministro envia e pede informações sobre mineral vindo da Bahia (manganês).
Acompanha relató.io.
102. relatório anual de atividades (1856).
103. relatório financeiro.
115. ministro encaminha caixotes com amostras de terrenos vindos de Santa
Catarina cumprindo pedido de Capanema.
124. sobre remessa de caixotes contendo amostras de terreno de Santa Catarina.
134. ministro envia amostras de terrenos para exame pelo Dr. Capanema.
145. relatório anual de trabalhos (1857).
146. relatório financeiro
Pasta 6 (1858-1861)
8. ministro envia provisoriamente para o Museu objetos da Comissão Científica.
1O. carta ao Diretor do Museu oferecendo fósseis encontrados no Ceará.
13. ministro envia ao Museu livros importados para a Comissão Científica.
17. sobre recepção de livros da Comissão Científica no Museu.
19. ministro envia amostra de mineral para análise da Bahia.
39. ministro pede análise de amostras de minerais vindas da Bahia.
43. ministro pede análise de amostras de minerais e do relatório que as
acompanhou, enviadas da Bahia.
55. ministro encaminha amostras de turfa vindas da Bahia.
59. ministro pede parecer do Diretor do Museu sobre proposta de melhoramento
para a agricultura, feita por Capanema.
61. resposta do Diretor do Museu sobre proposta para melhoramento da
agricultura.
197
77. ministro remete carta do naturalista francês Richard sobre introdução de
camelos no Brasil.
78. resposta do Diretor do Museu da carta recebida do naturalista francês.
129. ministro manda receber 46 caixões com objetos de mineralogia e bitânica
coligidos pela Comissão Científica, no Ceará.
Pasta 7 (1862-1865)
10. ministro nomeia Diretor do Museu e Capanema, para proceder análise de
mineral de São Paulo.
13. ministro nomeia Guilherme de Capanema, para proceder análise de mineral de
Mato Grosso.
15. ministro nomeia Diretor do Museu e Capanema, para proceder análise de
mineral de Mato Grosso.
16. ministro pede informações sobre projeto para agricultura, feito por Guilherme
de Capanema.
23.0 ministro envia caixote com fósseis do Sergipe. Inclui cópia do ofício do
remetente.
38. sobre possibilidade do Museu dispor de sala para abrigar coleções zoológicas
e botânicas, feitas pela Comissão Científica.
46. relatório anual das atividades de 1862.
50. ministro remete resposta de consulta de Guilherme de Capanema, sobre
amostras de enxofre e salitre do Rio Grande do Norte.
51. resposta sobre amostras de enxofre e salitre do Rio Grande do Norte.
65. ministro pede providências para liberar salas do Museu, com fim de receber
objetos da Comissão Científica.
77. suspende temporariamente alocação de objetos da Comissão Científica, para
salas do Museu.
78. sobre livros da Comissão Científica.
84. relatório do Museu para 1863.
Pasta 8 (1866-1869)
7. nomeação de Allemão para Diretor do Museu e da Seção de Mineralogia,
Geologia e C. Físicas.
34. ministro pede ao Presidente da Comissão Científica de Exploração o envio de
relatório para ser apresentado na Assembléia Legislativa.
90. resultado da análise feita em pedra enviada de Goiás, por Guilherme de
Capanema.
159. relação das madeiras do Ceará.
166. envio das amostras de minerais do Ceará, enviadas pelo Engenheiro F. A.
Pimenta Bueno.
167. relação das amostras enviadas (doe. 166).
198
alimentos e de medicamentos para a sua viagem ao Ceará Ountamente com a Comissão).
Juiz de Fora, 6 de março de 1859.
GS crp 169- carta de Halfeld com comentários de fundo político. Juiz de Fora, 22
de dezembro de 1858.
GS pi 6- apontamentos sobre "Seca do Ceará" pelo Dr. Guilherme Schuch de
Capanema, Rio de Janeiro, Tip. Nac. 1878.
GS pi 10.1/2- comentário sobre a notícia publicada no Jornal do Commércío "O
Ceará no presente e no futuro", escrito por Capanema (?). s/1, s/d.
GS pí 17.1/10- relatório de Capanema (aparentemente incompleto) acerca de sua
estadia no Ceará (04/12/1861).
GS pi 18.1/16- artigo de Capanema intitulado "A seca no norte", publicado no
Jornal do Commércio. S/d.
GS pi 28- cópia de Memória sobre minerais de ferro do Cangati do Xoró na
Capitania do Ceará, escrita por Feijó 24 de outubro de 1814.
GS do 8- carta imperial nomeando-o para a Seção Geológica e Mineralógica da
Comissão Científica. 07/março/1857.
GS cl 6- recibo de venda de 1 daccharímetro optico com balaça e mas pertences à
Comissão Científica de Exploração, por Antônio Maria de Mascarenhas. Rio de Janeiro,
20/07/1859.
GS cl 7- recibo de compras de um marcador de tempo para observações
astronómicas, efetuada pela Comissão Científica de Exploração, à Antônio Maria de
Mascarenhas. Rio de Janeiro, 04/04/1860.
GS ic 1- retrato branco e preto de um homem jovem de pé, Capanema (?). s/1, s/d.
199
00006 - BUZELIN, Antônio. 1-DIF-13.05.1857-Buz.c: Carta de Antônio Buzelin a
Guilherme Schüch de Capanema - Referindo-se à liquidação de uma hipoteca. Ouro
Preto, 13/0511857.
MFN:03811
00007 - CAPANEMA, Guilherme Schüch de. 1-DIF-21.08.1857-Cap.c Barão de
Capanema: Carta com assinatura ilegível, dirigida a Capanema - Comunicando que
estava à disposição do destinatário, uma máquina de moer açúcar, mediante o
pagamento de estipulada quantia. Bahia, 21/08/1857.
MFN:03812
00008- CAPANEMA, Guilherme Schüch de. 1-DIF-14.10.1857-Cap.c 1-2 Barão de
Capanema: Cartas (2) de Guilherme Schüch de Capanema a Augusto Delamare -
Pedindo que enviasse notícias diariamente dos trabalhos efetuados na fábrica de papel -
Indagando sobre fornecimento e pagamento de papel na Paraíba. Petrópolis, Fragoso,
Estrela, 14/10 e 19/10/1857.
MFN:03813
00009- CARDOSO, Francisco José. 1-DIF-29.12.1857-Car.o: Ofício de Francisco
José Cardoso a Guilherme Schüch de Capanema - Solicitando que na qualidade de
engenheiro-chefe da estrada de ferro Niterói-Campos, procedesse a um reconhecimento
e planos de construção da mesma - Assinam também: barão de São Gonçalo e José
Duarte Gaivão. Rio de Janeiro, 29112/1857.
MFN:03814
00010- ARAÚJO, Manuel Luís de. 1-DIF-08.01.1858-Ara.c: Carta de Manuel Luís
de Araújo a Guilherme Schüch de Capanema. Bahia, 08/01/1858.
MFN:03815
00011 - CAPANEMA, Guilherme Schüch de. 1-DIF-09.02.1858-Cap.c Barão de
Capanema: Carta assinada por P. de A Lisboa ao barão de Capanema - Solicitando o
parecer ao requerimento que tratava da utilização dos resíduos animais. Rio de Janeiro,
09/02/1858.
MFN:03816
00012 -1-DIF-12.04.1858-Do: Documento em logogrifo. Monte Formoso,
12/04/1858.
MFN:03817:
00013- LIMA, Pedro de Araújo, 1-DIF-15.11.1858-Lim.o Marquês de Olinda: Ofício
do ministro do Império, Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda, ao marquês de
Abrantes - Dizendo enviar amostras de sal amargo, cedidas pelo cônsul geral do Brasil
em Angola, para ser informada sua utilidade pela Sociedade Auxiliadora da Indústria
Nacional. Rio de Janeiro, 15/11/1858.
MFN:03818
00014 - DIAS, Antônio Gonçalves. 1-DIF-1859/1862-Dia.c 1-9: Cartas (9) de
Antônio Gonçalves Dias a Guilherme Schüch de Capanema - Dando conta das pesquisas
que vinha realizando como membro da comissão da científica encarregada de explorar as
riquezas do solo brasileiro. Ceará, Maranhão, Manaus, Paris, 14/04/1859 a 1862 e uma
sem data.
MFN:03819
00015- BRASIL, Tomás Pompeu de. 1-DIF-28.11.1860-Bra.c Sousa, padre: Carta
do padre Tomás Brasil a Matias José Pacheco - Pedindo informações para atender a
uma solicitação de Capanema, sobre a influência do vento para o transporte de areias.
Fortaleza, 28/12/1860. No mesmo documento há a resposta do destinatário.
MFN:03820
00016- COUTINHO, O. 1-DIF-28.11.1860-Cou.c 1-4: Cartas (4) de O. Coutinho a
Guilherme Schüch de Capanema, barão de Capanema - Sobre as pesquisas realizadas
200
no Norte, como membro da comissão científica de exploração. Ceará, Manaus, 28/11 e
11/12/1860 e 26/04 e 11/06/1861.
MFN:03821
00017 - BRASIL, Tomás Pompeu de. 1-DIF-03..12.1860-Bra.c Sousa, padre: Carta
do padre Tomás Brasil a Guilherme Schüch de Capanema, barão de Capanema - Sobre
possível desordem no Crato, após a morte do juiz de paz José Romão, segundo diziam,
por envenenamento. Fortaleza, 03/12/1860. Anexo: Bilhete de Guilherme Schüch de
Capanema a Tomás Pompeu de Sousa Braeil.
MFN:03822
00018 - CAPANEMA, Guilherme Schüch de. 1-DIF-12.06.1861-Cap.c Barão de
Capanema: Carta (rascunho) de Guilherme Schüch de Capanema, barão de Capanema,
a d. Pedro 11, imperador do Brasil - Referindo-se à moléstia que o acometia - Sugerindo
que o imperador consultasse seus médicos se o mal era ou não contagioso, uma vez que
iria lecionar mineralogia às princesas. 12/06/1861.
MFN:03823
00019 - GABAGLIA, Giacomo Raja. 1-DIF-22.06.1861-Gab.c: Carta de Giacomo
Raja Gabaglia a Guilherme Schüch de Capanema. Fortaleza, 22/06/1861.
MFN:03824
00020 - PEDRO 11, imperador do Brasil. 11-DIF-1 0.11.1862-PII.B.d: Decreto
nomeando Guilherme Schüch de Capanema para membro do conselho fiscal do Imperial
Instituto Fluminense de Agricultura. Rio de Janeiro, 10/11/1862.
MFN:03825
00021 - PEDRO 11, imperador do Brasil, 1-DIF-1862/1864-PII.B.c 1-8: Cartas e
memorandos (8) a Guilherme Schüch de Capanema - Referindo-se à sessão da diretoria
do Instituto de Agricultura - Sobre as aulas de mineralogia às princesas - Sobre a criação
de uma fazenda-escola, por intermédio do Instituto Agrícola - Indagando se poderia
utilizar as idéias de Capanema sem revelar a sua origem. 11/07/1862; 22/03 e
17/05/1863; 01/02 e 08/0511864. Na carta de 22/03/1863, há quesitos acerca da proposta
de Langsdorff para três escolas: para pequenos lavradores, proprietários etc. e ainda
texto em alemão.Acompanha uma sobrecarta com anotações no verso.
MFN:03826
00022 - Instituto Histórico e Geográfico. 1-DIF-1863-Ins.rb Brasileiro. Rio de
Janeiro: Recibo do pagamento efetuado por Guilherme Schüch de Capanema, como
sócio do I.H.G.B. 1863.
MFN:03827
00023 - ALBUQUERQUE, Cândido A. D. 1-DIF-[1863]-Aib.c: Carta de Cândido
Albuquerque a Guilherme Schüch de Capanema. [1863].
MFN:03828
00024- PORTO ALEGRE, Manuel de. 1-DIF-1863/68-Por.c 1-16 Araújo, barão de
Santo Ângelo: Cartas (16) do barão de Santo Ângelo a Guilherme S. de Capanema -
Dizendo enviar um exemplar de sua obra "Brasilianas", para o imperador - Sobre sua
transferência do consulado da Alemanha para o de Paris - Referindo-se à exposição em
Paris e aos participantes estrangeiros - Destacando a colaboração de Lages para o
brilhantismo da parte brasileira - Criticando as legações de Paris e Londres - Prometendo
enviar impressos referentes a fios e cabos elétricos - Falando de suas dificuldades
financeiras. Dresden, Lisboa, 20/08/1863 a 13/05/1868.
MFN:03829
00025 - NOGUEIRA, Batista Caetano de Almeida. 1-DIF-16.04.1866-Nog.c: Carta
de Batista Caetano Nogueira a Guilherme Capanema - Dando conta do andamento dos
trabalhos realizados em Parati, Mangaratiba etc. na qualidade de vice-diretor da
Repartição Geral dos Telégrafos. Rio de Janeiro, 16/04/1866.
201
MFN:03830
00026- DENIS, Jean Ferdinand. 1-DIF-24.08.1866-Den.c: Carta (em francês) de
Jean F. Denis a Guilherme Schüch de Capanema- Fazendo referências ao volume que o
destinatário lhe enviou - Apresentando sugestões para o problema da seca no Ceará -
Referindo-se ao falecimento de Marques Lisboa. Paris, 24/08/1866.
MFN:03831
00027 - FERRAZ, Luís Pedreira do. 1-DIF-1866/1868-Fer.c 1-22. Couto, visconde
do Bom Retiro: Cartas (22) do visconde do Bom Retiro, presidente do Imperial Instituto de
Agricultura, a Guilherme S. de Capanema -Sobre a cultura e pesquisa da cana de açúcar
e do envio de amostras de mudas de cana imperial para a Sociedade de Aclimação de
Paris - Sobre entendimentos que tivera com o Dr. Glasl, diretor do Jardim Botânico do Rio
de Janeiro acerca da distribuição de mudas - Dizendo que concordava com o preço
estipulado para a baunilha, palmeiras - Instando para que o dr. Glasl preparasse seus
trabalhos de pesquisa sobre os produtos que obtivera de certas plantas a fim de serem
publicados - Sobre certos estudos anatômicos de canas doentes. Rio de Janeiro,
20/01/1866 a 27/11/1868 e uma sem data. Anexo Telegrama do visconde do Bom Retiro a
Capanema.
MFN:03832
00028- RYLANDS, Brothers. 1-DIF-30.03.1867-Ryl.c: Carta (em inglês) dirigida a
Guilherme Schüch de Capanema, diretor da Repartição Geral dos Telégrafos - Enviando
orçamento e especificações para o fornecimento de material telegráfico. Warrington,
30/03/1867.
MFN:03833
00029 - VASCONCELOS, Mariano Alves de. 1-DIF-13.04.1867-Vas.c: Carta de
Mariano Alves de Vaconcelos a Guilherme Schüch de Capanema - Dizendo enviar
amostras de cristais encontrados em S. Fidélis e, Muramente, enviaria amostras de
minerais- Referindo-se à linha telegráfica de Campos. Macaé, 13/04/1867.
MFN:03834
00030- MACEDO, Joaquim Manuel de. 1-DIF-07.07.1867-Mac.c 1-2: Cartas (2) de
Joaquim de Macedo a Guilherme Schüch de Capanema - Solicitando um emprego de
guarda na linha telegráfica de Porto das Caixas para Luís Custódio da Costa - Indagando
sobre a estrada de ferro Pedro 11. ltaboraí, 07/07/1867 e 05/02/1872.
MFN:03835
00031 - CAPANEMA, Guilherme Schüch. 1-DIF-14.08.1867-Cap.bi de, barão de
Capanema: Bilhete sem assinatura, dirigido a Guilherme Schüch de Capanema - lguape,
14/08/1867.
MFN:03836
00032 - PORTO ALEGRE, Manuel de Araújo. 1-DIF-13.05.1868-Por.c Barão de
Santo Ângelo: Carta do barão de Santo Ângelo a Joaquim Manuel de Macedo - Dizendo
que lutava com grande dificuldade para manter-se com sua família em Lisboa, onde
exercia o cargo de cônsul do Brasil - Que era muito estimado pelo rei e por dom
Fernando, que o fizeram vice-presidente da Sociedade Propagadora das Belas Artes, cujo
presidente era o marquês de Sousa Holstein. Lisboa, 13/05/1868.
MFN:03837
00033 - MONTEIRO, Cândido Borges. 1-DIF-05.08.1872-Mon.c Visconde de ltaúna:
Carta (reservada) do ministro da Agricultura, Cândido B. Monteiro, a Guilherme S. de
Capanema - Para que no pagamento da repartição que dirigia [Telégrafos] fosse usado
maior número de níquel e bronze, para dar pronto curso à grande quantidade depositada
na Casa da Moeda. Rio de Janeiro, 05/08/1872.
MFN:03839
202
00034 - TERESA CRISTINA, imperatriz do Brasil. -DIF-1874/1888-TC.B.c 1-54:
Cartas (54) de d. Teresa Cristina, imperatriz do Brasil, a Maria Cândida de Araújo Viana
Figueiredo, dama da imperatriz - Correspondência familiar. Petrópolis, Rio de Janeiro e
Cannes, 30/01/1874 a 03/12/1888.
MFN:03839
00035 - RODRIGUES, João Barbosa. 1-DIF-06.02.188[6]-Rod.c: Carta de João
Barbosa Rodrigues a Guilherme S. de Capanema - Referindo-se a estudos sobre
botânica.Rodeio/[RJ],06/02/188[6].
MFN:03840
00036 - ALEMÃO, Francisco Freire. 1-DIF-s/d-Aie.bi: Bilhete de Francisco Freire
Alemão a Guilherme Capanema. Sem data.
MFN:03841
00037 - CAPANEMA, Guilherme Schüch de. 1-DIF-s/d-Cap.c Barão de Capanema:
Carta sem assinatura, dirigida ao barão de Capanema. Sem data.
MFN:03842
00038 -OLIVEIRA, J. J. 1-DIF-s/d-Oii.c: Carta de J. J. Oliveira a Guilherme S. de
Capanema - Sobre a vinda ao Brasil de um astrônomo do Observatório de Paris. Sem
data.
MFN:03843
00039 - OLIVEIRA, João Alfredo Correia de. 1-DIF-s/d-Oii.bi: Bilhete de João
Alfredo de Oliveira a Teodoro - Sobre as vagas existentes no internato do Colégio de
Pedro 11. Sem data.
MFN:03844
000401-DIF-s/d-Do: Documento (rascunho)- Trata-se de uma sátira. Sem data.
MFN:03845
000411-DIF-s/d-Rç: Relação de correspondência. Sem data.
MFN:02058
SANTOS, João da Cruz e, barão de URUCUÍ. I-DPP-30.10.1884-San.c1-3-C.P.III:
Cartas (3) de João da Cruz e Santos, barão de Urucui, dando noticias da atuação do
partido liberal na campanha eleitoral, ressaltando que seus candidatos estavam
prejudicados pelo apoio dado ao projeto governamental relativo aos escravos -
Mencionando seu desagrado quanto à atitude do professor interino de francês do Liceu
daquela cidade que conseguira adiamento do concurso para preenchimento da càtedra, o
que viria a prejudicar um parente seu candidato à mesma -Agradecendo a recomendação
feita ao barão de Capanema e ao dr. Borges da Fonseca, juiz de Direito de Oeiras -
Congratulando-se pela vitória do partido na província. Teresina, 30/10, 28/11 e 30/12/884.
A Carta de 30/12 está também assinada pelos seguintes membros do partido
liberal: Joaquim Dias de Santana, A[ugusto] Colin da Silva Rios, Cândido de Holanda
C[os]ta Freire, José Joaquim Avelino e Mariano Gil de Cast[el]o Br[an]co.
CAPANEMA, Guilherme Schüch de, barão de 1-DPP-09.02.1889-Cap.c1-3 (Livro
N°. 16)
CAPANEMA: Cartas (3) de Guilherme Schüch de Capanema, barão de Capanema,
a João Lustosa da Cunha Paranaguá, marquês de Paranaguá - Contendo dados e
informações sobre a questão de limites com a república Argentina. Rio de Janeiro, 09/02,
27/09 e 09/10/1889. As de 09/02 e 09/10 trazem a nota "confidencial".
MFN:02951
00018- CAPANEMA, Guilherme Schüch. 1-DAS-1894/1904-Cap.c 1-109 de, Barão
de Capanema: Cartas, cartões e bilhetes (109) a Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa -
Encarregando-o de adquirir terras no Pará, pedindo discriminação das condições de valor
de Timbopeba quanto a matas, terras, cultura e mineração - Que fora eleito como um dos
diretores da Guruopy Gold Mines Ltda - Extração de pirita, sobre as possibilidades de
203
reduzi-la a pó; negociações com as minas de Gurupi - Solicitando relatório minucioso
comparativo de Gurupi, Minas e Goiás, a fim de remetê-lo a Londres - Solicitando a
descrição da formação aurífera de Gurupi - Que fora nomeado representante da Siemens
Brothers de Londres no Brasil (fornecedora de material telegráfico), pelo delegado da
mesma, que estava interessado nas minas sul-africanas; recomendando a Lisboa que
fizesse comparações em seu relatório e sobre a impressão do mesmo, lembrou a Lauro
Sodré a possibilidade de ser realizada pelo Museu Paranaense - De risco que corriam se
no Pará tiverem conhecimento das riquezas das minas, antes definitivamente demarcadas
e adquiridos mais terrenos - Solicitando cópia do mapa geral de Viseu e Gurupi, com as
indicações das minas, que remeteria para Londres - Preocupando-se com o propósito dos
americanos em ocupar terras do Brasil, desejosos de expansão territorial - Comentando
os estudos e empreendidos por seus filhos, Otávio, que desejava aperfeiçoar-se em
química e Leopoldo que o contrariava, uma vez que ocupara-se com análises de vidros
ferruginosos, quando o desejo de Capanema era que se firmasse em análise orgânica e
depois seguisse um curso prático de vinificação e preparação dos respectivos fermentos
puros pela propagação da cultura da videira no Brasil - Dando notícias das transações
entaboladas com outros países no campo exploratório da cultura e da mineralogia em
solo brasileiro - Referindo-se insistentemente ao risco que corriam em perder a concessão
de prazos mineralógicos - Pedindo relatórios e exposições a fim de recorrer ao congresso
do Pará - Autorizando Miguel Lisboa a efetuar estudos da riqueza mineral na fazenda de
Timbopeba, de propriedade de Capanema - Refere-se ainda às providências que
deveriam tomar acerca da caducidade da concessão exploratória - Solicitando relatório
completo dos trabalhos realizados, incluindo mapas levantados e os obstáculos que
Lisboa encontrou na Europa devido ao descrédito do Pará, etc. - Recomendando a
Siemens, no que necessitava para fins telegráficos e cabos submarinos. 1804 a 1904.
Anexo: Carta de Otávio Capanema ao dr. Lisboa, em nome de seu pai, barão de
Capanema, trecho em alemão. Rio de Janeiro, 13/07/1889; carta em alemão.
MFN:02953
00021 - CAPANEMA, Guilherme SchOch de. 1-DAS-27.01.1896-Cap.c Barão de
Capanema: Carta de Guilherme SchOch de Capanema a Joaquim Miguel Ribeiro Lisboa -
Dando notícias dos negócios que vinha realizando com os ingleses, relativamente à
mineralogia. Rio de Janeiro, 27/01/1896.
MFN:02955
00022- BOCAIUVA, Quintino Ferreira. 1-DAS-26.10.1901-Boc.c de Sousa: Carta
de Quintino Ferreira de Sousa Bocaiúva ao barão de Capanema - Sobre papéis relativos
aos terrenos requeridos pelo destinatário cujos domínios ainda não foram regularizados;
aconselhando-o a dirigir-se ao dr. Arrojado Lisboa. Petrópolis., 26/10/1901. No mesmo
documento há um despacho deste último.
MFN:04232
00097 - ORLEANS, Gastão de. 1-AMI-19.12.1888-0rl.c conde d'EU: Carta do
conde d'Eu ao barão de Capanema. Petrópolis, 19/12/1888.
MFN:11785
MARTIUS, Carlos Frederico Filipe von, DMI-2: Carta de Carlos Frederico Filipe von
Martius, secretário da Real Academia de Ciências da Baviera, a Manuel de Araújo Porto
Alegre, barão de Santo Ângelo, cônsul na Prússia e Saxónia - Agradecendo as
expressões de gratidão que lhe professara - Dizendo merecedor da simpatia dos
brasileiros, pois ainda se vê rodeado de trabalhos relativos ao Brasil e que se sente meio
brasileiro - Aceitando sua oferta de ajudá-lo com conselhos na sua tarefa de ilustrador do
Brasil - Dizendo ter gostado de saber que Guilherme SchOch de Capanema era seu
cunhado e que lera, com interesse, suas obras, por ele enviadas - Informando que
remetera a Capanema o fascículo da Flora Brasiliensis - Solicitando materiais mais
204
recentes para a construção de um mapa geográfico do Império para servir de base para
ilustração, fltogeográficas e geográficas, que deviam acompanhar a Flora Brasiliensis -
Pedindo indicar Capabema para manter relações com a academia. Munique, 18/02/1862.
Maço 102- Doe. 5005: Carta de Guilherme [Schüch] a seu pai [Roque Schüch)-
Dando notícias - Dizendo que a análise dos minerais não estava concluída devido ao
atraso no recebimento - Falando a respeito do avanço em seus estudos e de suas
pretensões. Viena, 14/05/1843.
Maço 103- Doe. 5047: Petição (impressa) de Roque Schüch à Assembléia Geral
Legislativa - Solicitando a concessão de duas loterias para capacita-lo 2 consertar sua
fábrica de ferro e possibilitá-lo a dar andamento em suas pesquisas das minas de metais
já descobertas. Quinta da Boa Vista, 16/0611841.
Maço 103 - Doe. 5062: Carta de Guilherme Schüch a Paulo Barbosa da Silva -
Dando notícias- Comentando sobre os cursos que está fazendo. Viena, 18/12/1841.
Maço 105- Doe. 5114: Carta de Guilherme Schüch a d. Pedro 11, imperador do
Brasil - Congratulando-o pela passagem do seu aniversário - Fazendo comentários a
respeito de seus estudos. Viena, 02/12/1842.
Maço 106 - Doe. 5131: Cartas (4) de Guilherme Schüch a d. Pedro 11, imperador
do Brasil - Relatando sobre seus estudos no Instituto Politécnico - Comentando sobre a
aparição de um cometa e dizendo que os astrónomos de Viena lamentaram não ter
recebido nenhuma observação da América do Sul onde o cometa foi mais visível -
Dizendo que Lomonosoff [ministro russo] trouxera do Brasil uma amostra da pedra
elástica onde se achavam embutidos diamantes bem cristalizados. Viena, 21/02/, 25/05,
08/08 e 02/12/1843.
Anexos 2: Cartas de Guilherme Schüch a seu pai [Roque Schüch)- Dando notícias
- Falando de seus estudos - Dizendo que as notícias nocivas do Império do Brasil já
foram desmentidas- Remetendo a biografia de João Natterer. Viena, 02 e 25/07/1843.
Maço 107- Doe. 5175: Cartas (2) de João Diogo Sturz, cônsul geral na Prússia, a
José Paulino Soares e Sousa, ministro de Estrangeiros. 05 e 19/02/1844. A de 05/02 traz
a nota "Reservada e Parti~•.Jiar" e a de 19/02 a de "Reservada". Anexo: Memória sobre
"Admissão dos açúcares Brasil ao mercado da Inglaterra e questão da escravatura.
Documento em mau estado de conservação.
Maço 109- Doe. 5336: Cartas (3) de Guilherme Schüch a d. Pedro 11, imperador
do Brasil - Agradecendo os meios concedidos para sua viagem de férias - Falando sobre
seus estudos - Pedindo permissão para passar um ano na Academia Montanística de
Freiberg - Relatando a sua presença na Academia de Minas em Freiberg - Fazendo
comentários de suas viagens. Viena, 20/04 e 02/08/1846 e Freiberg, 15/11/1846.
Maço 110- Doe. 5416: Cartas (4) de Guilherme Schüch a d. Pedro 11, imperador
do Brasil -Comentando sobre sua viagem geológica na Franconia - Falando sobre seus
estudos e suas viagens. Viena, 2801, Unterlaitterbach, 25/06, Zabrze, 14/08 e Munique,
15/12/1847.
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