Neuropsicologia Infância Villachan-Lyra - Almeida - Hazin

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Villachan-Lyra, P. Almeida, E. e Hazin, I. (no prelo).

Algumas contribuições da
Neuropsicologia e da Psicologia do Desenvolvimento para o campo da Educação
Infantil: O papel das relações afetivas. Em V. M. R. de Vasconcellos, K. Seabra e C.
A. Piccinini (orgs). Bebês em foco: Contribuições da Psicologia do Desenvolvimento
para Educadores/Profissionais da Educação Infantil. Livro produzido pelo grupo de
Trabalho “Interações Pais-Bebê/Criança da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
Graduação em Psicologia (ANPEPP).
Algumas contribuições da Neuropsicologia e da Psicologia do Desenvolvimento
para o campo da Educação Infantil: O papel das relações afetivas

Pompéia Villachan-Lyra
Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, PE
[email protected]

Eliana Almeida
Núcleo de Avaliação Neuropsicológica e Acompanhamento Psicoterapêutico, NANAP
[email protected]

Izabel Hazin
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
[email protected]

Defendendo ser importante construirmos novas aproximações entre os campos

da Educação e das Neurociências, esse capítulo tem por objetivo apresentar as

principais características do neurodesenvolvimento aos educadores e demais

profissionais envolvidos com o cuidar e educar na primeira infância. Destacaremos a

importância das relações afetivas construídas nos primeiros anos de vida para o

desenvolvimento infantil em todas as suas dimensões (afetiva, cognitiva, social e

neurológica).

Serão apresentados alguns fundamentos da neuropsicologia do desenvolvimento

na primeira infância e da Teoria do Apego, ressaltando de que maneira a construção de

uma relação de apego segura (ou insegura) no início da vida, inclusive na creche e na

escola, pode contribuir para o desenvolvimento infantil de forma positiva ou negativa.

Serão ainda feitas algumas sugestões de rotina e de atividades no ambiente escolar que

podem contribuir para a construção de relações de apego seguras e, assim, favorecer um

desenvolvimento infantil saudável.

Acreditamos ser possível e importante articular a compreensão sobre o processo

do (neuro)desenvolvimento na infância aos demais conhecimentos do profissional da


Educação Infantil, de modo a favorecer a construção de um ambiente escolar rico e

favorecedor de um desenvolvimento pleno e saudável.

Acreditamos na importância de se compreender o desenvolvimento infantil

considerando, ao mesmo tempo, os seus aspectos biológicos e neurológicos,

socioafetivos, cognitivos e culturais. Essa compreensão pode influenciar o modo como

os profissionais deste campo percebem a riqueza de oportunidades que pequenas ações

no cotidiano podem exercer sobre o desenvolvimento da criança em diversas áreas. Por

exemplo, o momento da alimentação é bastante rico para o desenvolvimento porque, se

bem aproveitado, pode contribuir não apenas para a alimentação do organismo

(dimensão biológica). Além disso, pode fazer com que ela sente-se adequadamente e

utilize os talheres de forma correta (dimensão cognitiva e psicomotora) e ao mesmo

tempo pode contribuir para o desenvolvimento da autonomia do alimentar-se sozinha,

do prazer com o alimento e do controle da saciedade (dimensão afetiva).

Noções introdutórias sobre Neurodesenvolvimento Infantil

Nesse momento, será explicitado como se dá o processo de

neurodesenvolvimento infantil, com destaque para o papel do ambiente na maturação e

organização do cérebro na primeira infância. De modo simples e acessível a quem não é

da área (em particular, considerando ser o profissional da educação infantil nosso

interlocutor) pretendemos explicar os conceitos de plasticidade cerebral, sinaptogênese,

poda sináptica e períodos sensíveis do desenvolvimento, com o objetivo de evidenciar a

importância do ambiente no processo de neurodesenvolvimento infantil. Uma noção

introdutória sobre esses conceitos é importante, sobretudo para os profissionais que

atuam nas creches, por ser esse um ambiente no qual os bebês e as crianças passam boa

parte do seu dia na primeira infância.


Desde o período pré-natal a experiência pode influenciar o desenvolvimento do

sistema nervoso. Problemas que ocorrem com a gestante, tais como o uso de drogas e

álcool, desnutrição materna severa e exposição à radiação, podem repercutir muito

negativamente na formação do cérebro do feto. Da mesma forma, os hormônios

liberados pela mãe em situações de stress podem entrar na circulação do feto e também

prejudicar o seu desenvolvimento cerebral. Particularmente nos últimos meses de

gestação, a multiplicação de conexões sinápticas favorece o aumento de peso do

cérebro. No nascimento, o cérebro tem aproximadamente 25% do peso do cérebro de

um adulto e 160 bilhões de neurônios, que irão conectar-se entre si através das sinapses,

dando origem a trilhões de conexões que terão grande impacto no desenvolvimento

futuro e na aquisição de diversas capacidades físicas, cognitivas e emocionais.

Desde o período pré-natal e na primeira infância, como forma de garantir um

grande potencial de conexões sinápticas, o cérebro produz muito mais neurônios e

sinapses do que efetivamente necessitará ao longo da vida. Como forma de reorganizar

o sistema neurológico, o próprio cérebro programa um mecanismo de “limpeza” do

sistema, através da morte dos neurônios excedentes (apoptose) e da poda das sinapses

em desuso (seja porque já cumpriram a tarefa para a qual estavam previstos ou porque

nunca se constituíram como sinapses funcionais). As sinapses que serão construídas

(sinaptogênese), bem como quais serão os neurônios que sobreviverão serão largamente

influenciadas pelas experiências do indivíduo, sobretudo na primeira infância, e servirão

de base neurológica para a consolidação de novas aprendizagens. Assim, durante o

curso do neurodesenvolvimento, o cérebro se constitui através de um processo

dinâmico, que envolve tanto eventos aditivos/progressivos (a exemplo da

sinaptogênese), como eventos subtrativos/regressivos (a exemplo da poda ou apoptose).

Os eventos aditivos caracterizam-se por uma intensa produção neural e arborização


dendítrica, favorecendo o processo de formação de novas sinapses e definição de

circuitos neurais. Já os eventos subtrativos caracterizam-se por um processo de morte

neuronal programada (poda), agindo no sistema nervoso de modo a limpar os circuitos

neurais, eliminando as conexões que não são usadas, tornando o funcionamento cerebral

mais otimizado e eficiente (e.g. Miranda e Muszkat, 2004).

O processo de maturação do Sistema Nervoso Central (SNC) como um todo, se

consolida entre os 18 e 25 anos, sendo os 6 primeiros anos de vida o período no qual as

transformações se constituem como a base de todo esse processo de maturação, que

permitirá o aprendizado até o final da vida. Cerca de 50% do desenvolvimento cerebral

ocorre até o final do primeiro ano de vida. Por volta dos 3 anos de idade, o cérebro já

atinge cerca de 70% do seu peso adulto e ao final dos 6 anos já tem quase o tamanho de

um cérebro adulto. É importante ressaltar, contudo, que não é o tamanho ou o peso do

cérebro que se configura como parâmetro fundamental de avaliação do seu

desenvolvimento. É, sobretudo, a qualidade das conexões sinápticas que ocorrem ao

longo da vida que vai qualificar o seu desenvolvimento funcional. Essa plasticidade do

SNC no inicio da vida possibilita que o cérebro em desenvolvimento possa reorganizar

seus múltiplos padrões de resposta e conexões, em função da experiência e estimulação,

tornando os bebês e crianças pequenas extremamente sensíveis às influências

ambientais (Muszkat, 2006, 2008).

Vale ressaltar, no entanto, que ao longo do neurodesenvolvimento existem

períodos em que o cérebro está mais sensível a receber determinadas influências do

meio, sendo o seu desenvolvimento particularmente influenciado por tais experiências.

Esses são os chamados períodos sensíveis do desenvolvimento. As experiências vividas

nesses momentos poderão impactar na organização das conexões cerebrais e na

aquisição de determinadas competências por parte do bebê e da criança. Por exemplo,


no inicio da vida, as habilidades visuais e auditivas, a linguagem e as respostas aos

estímulos sociais são particularmente influenciadas pela experiência (e.g., Katz & Shatz,

1996; Knudsen, Heckman, Cameron & Shonkoff, 2006). Além disso, é importante

mencionar que diferentes tipos de experiências são importantes em diferentes idades da

criança, uma vez que a maturação dos circuitos neurais ocorre em momentos diferentes,

sendo que os circuitos mais simples desenvolvem-se primeiro e, apenas posteriormente

os circuitos mais complexos, e isso é chamado de “experiência apropriada à idade”

(Black & Greenough, 1986). Por exemplo, nos primeiros meses de vida, as experiências

sensoriais, sociais e emocionais são essenciais para favorecer o desenvolvimento dos

circuitos mais simples do cérebro (low-level circuits), enquanto que para as crianças

mais velhas, experiências mais sofisticadas como a apresentação ao universo simbólico

da linguagem falada e escrita são de grande importância para o desenvolvimento dos

circuitos mais complexos (higher-level circuits) (National Scientific Council on the

Developing Child, 2007). Assim, não adianta sobrecarregar o bebê ou a criança com

atividades muito mais complexas e sofisticadas do que o seu desenvolvimento

neurológico permite que ela dê conta.

Nesse sentido, é fundamental a existência de um ambiente familiar e escolar rico

em oportunidades e estimulação desde o início da vida do bebê. São diversas as

possibilidades para estimular uma criança em atividades do cotidiano. Por exemplo,

com atividades lúdicas envolvendo músicas, danças e conversas, trocas de vocalizações,

exposição a interações sociais diversas, brincadeiras e jogos, dentre outros. Vale

ressaltar ser importante que essa estimulação aconteça em meio a um contexto afetivo

de acolhimento e confiança, sendo fundamental que as brincadeiras ocorram em um

ambiente envolto por carinho e estabelecimento de bons vínculos afetivos. É relevante

esclarecer, no entanto, que um ambiente rico em estimulação não deve ser confundido
com um ambiente de sobrecarga de atividades. O excesso de atividades pode, inclusive,

elevar os níveis de stress infantil, na medida em que, em meio a tantos afazeres, a

criança não desfrute do tempo necessário para brincadeiras.

Diante de tudo o que foi visto até aqui, temos que o neurodesenvolvimento

infantil não deve ser entendido como um processo contínuo e homogêneo, muito menos

endógeno, que tem o seu curso independente das experiências vividas pelo bebê e pela

criança. Pelo contrário, trata-se de um processo dinâmico e plástico, dependente da

interação entre múltiplos fatores, tanto aqueles relacionados ao curso maturacional do

sistema nervoso, como, e sobretudo, aqueles decorrentes da interação com o contexto

sociocultural e afetivo.

Relações socioafetivas no início da vida e o curso do neurodesenvolvimeto infantil

Um ambiente de relações estáveis, estimadoras e protetoras favorece a

construção de fundações sólidas para uma vida saudável e de bom desenvolvimento,

sendo fundamental o estabelecimento e a manutenção de boas relações afetivas. Com

ênfase na teoria do apego (Bowlby, 1984), pretendemos ressaltar as principais

características dos diferentes padrões de apego (seguro e inseguro), bem como a

importância do estabelecimento de relações socioafetivas de confiança no inicio da vida

escolar. Será também realizado um paralelo entre esses diferentes padrões de apego e o

curso do neurodesenvolvimento infantil, articulando tal discussão aos aspectos

apontados anteriormente, característicos do neurodesenvolvimento no início da vida.

Atualmente, já se sabe que os bebês e as crianças pequenas não são passivas

perante o seu processo de desenvolvimento. Desde o nascimento, os bebês são

sensíveis, ativos e atentos, dotados de inúmeras competências que favorecerão o seu

engajamento social e a sua consequente sobrevivência (reconhece o cheiro e a voz da

própria mãe; enxerga melhor a uma distância de aproximadamente 30 cm, que é


aproximadamente a distância entre os seus olhos e os olhos maternos durante a

amamentação; seletivamente prefere o padrão da face humana, etc). Do ponto de vista

do neurodesenvolvimento, como dito anteriormente, o número de sinapses que serão

construídas bem como quais serão os neurônios que sobreviverão será largamente

influenciado pela experiência do indivíduo, sobretudo na primeira infância. Nesse

momento, cabem as perguntas: Em que ambientes esses bebês e crianças construirão

suas experiências? Quem são as pessoas que estarão nessa mediação? Qual a

importância da construção de uma relação de confiança e segurança entre

bebês/crianças e os seus cuidadores(as) e educadores(as)?

Certamente esses ambientes serão o familiar e o escolar. Não resta dúvida de que

a qualidade das relações socioafetivas estabelecidas entre o bebê/criança e os seus

cuidadores(as) (familiares e equipe psicopedagógica da escola) exercerá forte influência

na qualidade dessas experiências e, consequentemente, no curso do seu

(neuro)desenvolvimento. Nesse sentido, considerando ser a Educação Infantil um

direito da criança e sabendo que é nesse ambiente que esta passa boa parte do seu dia, é

fundamental destacar a importância dos profissionais envolvidos com o cuidar e educar

esse bebê e criança durante a primeira infância. Dentre outros aspectos, essa

importância se dará no processo de construção de uma relação de confiança (relação de

apego) que perpassará toda a vida escolar da criança, principalmente no momento

inicial de adaptação ao ambiente escolar.

Como mencionado anteriormente, defendemos que a emergência das

competências sociais, psicológicas e biológicas não pode ser compreendida

separadamente da relação estabelecida com as pessoas significativas para o

bebê/criança, que se responsabilizam por seu cuidado e proteção. Uma das principais

funções daqueles que se ocupam do cuidar na primeira infância consiste em promover


um ambiente facilitador da construção do senso de conforto e segurança para o bebê e a

criança pequena, o que se dá por meio do relacionamento que estabelecem entre si, na

rotina diária. Para interagir com seu meio social, e em particular com aquele que se

constitui como o(a) seu(sua) principal cuidador(a), o bebê usa, desde o seu nascimento,

suas capacidades sensoriais, em particular o olfato, audição, paladar e o toque. Por volta

dos dois meses de vida ocorre uma importante mudança no cérebro do bebê, mais

precisamente no córtex occipital - envolvido na percepção visual da face humana - que

favorecerá um grande avanço nas capacidades sociais e emocionais do bebê (Shore,

1998, 2003). Assim, as trocas face-a-face são intensificadas por volta dos dois meses de

vida, em um primeiro contexto de brincadeira social. Engajada neste tipo de brincadeira,

a criança é exposta a um alto nível de estimulação cognitiva, social e afetiva, ao mesmo

tempo em que constrói uma relação de apego. Esta relação bebê-cuidador(a) é

acompanhada por fortes emoções que podem ser evidenciadas nas expressões faciais,

tom de voz, postura, modificações fisiológicas, gestos, vocalizações e movimentações

corporais.

Assim, entre si, bebê e cuidador(a) regulam suas emoções através destas trocas

face-a-face e novas conexões sinápticas vão sendo construídas, estimulando a definição

e fortalecimento dos circuitos neurais anteriormente mencionados. Além disso, neste

contexto de interação com o bebê, é construído um senso de confiança que vai favorecer

o uso da figura de apego como uma fonte de proteção e conforto. O uso da figura

materna como uma base segura favorece um movimento de exploração do bebê e da

criança em relação ao seu ambiente físico e social, passando esta a confiar na

disponibilidade e suporte de seu cuidador(a). Ao se permitir a exploração do ambiente, a

criança vivencia novas experiências, o que favorece a estimulação cerebral. Ao mesmo


tempo, desenvolve também uma confiança em seu ambiente, no outro com quem se

relaciona e em si mesma (Villachan-Lyra, 2008).

Por outro lado, quando a figura de apego não é concebida pela criança como

uma fonte de proteção e segurança (apego inseguro), este movimento exploratório pode

se constituir como um evento bastante estressor, uma vez que a criança tenderá a

perceber-se como sozinha, não podendo contar com o apoio de alguém mais experiente.

Em função disso, as relações sociais e afetivas tendem a serem vistas com cautela e

desconfiança, levando-a a evitar situações novas, a sentir-se insegura e pouco eficiente,

o que, por sua vez, favorecerá a construção de uma baixa autoestima. Do ponto de vista

neuropsicológico, além desse cenário não promover o movimento exploratório e as

importantes estimulações dele decorrentes, como dito anteriormente, poderá levar a um

aumento na liberação de cortisol (hormônio estressor). Esse aumento, se crônico e

intenso, poderá ter importantes repercussões, tornando o cérebro dessa criança mais

vulnerável a processos que podem destruir neurônios e reduzir o número de sinapses em

algumas regiões cerebrais, levando ao atraso no desenvolvimento infantil (cognitivo,

motor e social) e a alterações no metabolismo e no sistema imunológico da criança

(Shonkoff, 2011).

No que se refere especificamente à neurofisiologia das relações de apego, o

sistema límbico apresenta-se como particularmente relacionado às mudanças no

desenvolvimento associadas com o aparecimento dos comportamentos de apego (Andes

& Zeanah, 1984). O período específico entre sete e quinze meses tem se mostrado um

importante período de mielinização e maturação do sistema límbico e áreas corticais

associadas. Schore (2003) defende também que a qualidade da relação de apego, a

sincronia interacional das trocas face-a-face de sorriso e vocalizações entre o bebê e sua

mãe está relacionada ao desenvolvimento do circuito do córtex orbital pré-frontal, uma


área corticolímbica que tem o período de maior crescimento na segunda metade do

segundo ano de vida (Schore, 1997, 1998, 2003). Este é o período de grande

importância para o desenvolvimento das relações de apego, uma vez que será um

período de importantes aquisições no desenvolvimento infantil, que irá favorecer o

aumento do movimento exploratório por parte da criança. Nesse sentido, entendemos

que uma das principais funções dos pais e profissionais envolvidos na Educação Infantil

consiste em promover um ambiente facilitador da construção do senso de conforto e

segurança para a criança, promovendo um ambiente seguro e acolhedor para a mesma,

de modo a favorecer o seu movimento de exploração e autonomia.

Desta forma, em uma relação de apego segura, a figura de apego tende a

encorajar o movimento exploratório da criança e, ao mesmo tempo, demonstra-se

disponível às suas necessidades, caso esta se sinta ameaçada e precise do suporte. Desta

forma, os(as) professores(as) oferecem proteção à criança quando esta está sob

circunstancias por eles(as) avaliadas como ameaçadoras, favorecendo a realização de

uma exploração segura. A criança tende, então, a sentir-se encorajada a ousar mais em

suas brincadeiras, a perguntar ao professor(a) quando tiver dúvidas, a lançar-se mais em

situações concebidas como desafiadoras, uma vez que sente que pode contar com o(a)

professor(a) quando estiver precisando de suporte. Dessa forma, defendemos que: 1.

uma boa adaptação escolar no inicio da vida, 2. a construção de uma relação de

confiança com o(a) professor(a) durante os anos da Educação Infantil e 3. a existência

de um ambiente físico e socioafetivo rico em oportunidades e de boa qualidade, se

apresentam como fundamentais para o bom desenvolvimento da criança na primeira

infância. Alem disso, será durante esses anos de sua vida que a criança irá construir uma

primeira relação com o próprio ambiente escolar, podendo passar a percebê-lo como um
ambiente agradável, prazeroso e seguro, repleto de boas e memoráveis experiências, e

não como um lugar ameaçador e temido.

Atividades que podem favorecer o desenvolvimento infantil, com ênfase na afetividade

Diversas atividades da vida cotidiana – tais como brincar, interagir com outras crianças

ou envolver-se em atividades artísticas – contribuem para a formação dos bebês e

crianças. Além de favorecer bem-estar e segurança, a realização de tais atividades

contribui para o desenvolvimento de redes neurais em seus cérebros plásticos e

imaturos, que poderão vir a ser utilizadas em diversas aprendizagens posteriores,

inclusive naquelas relacionadas à educação formal. Assim, concebendo os bebês e

crianças como seres globais, ativos e sensíveis, é importante elaborar estratégias

pedagógicas provocativas que, ao mesmo tempo em que estimulem o seu

desenvolvimento, favoreça também o estabelecimento e manutenção de relações

afetivas positivas nas creches. Com o objetivo de contribuir nessa direção, faremos

abaixo algumas sugestões de atividades práticas que podem ser realizadas no cotidiano

da creche. Quanto menor for o bebê, maior a necessidade de estimulação individual. Na

medida em que vai crescendo, considerando a maior possibilidade de interação da

criança, bem como a realidade do cotidiano das creches, passa a ser mais interessante a

realização de atividades que envolvam várias crianças.

A escolha destas atividades teve como objetivo principal contribuir para a

estimulação de aspectos socioafetivos, os quais promovam a construção de uma relação

de confiança com os parceiros interacionais de modo a favorecer a exploração do

ambiente, o que, por sua vez, favorece também o desenvolvimento da autoconfiança,

independência, autonomia e autoestima. Além disso, pode favorecer também a

possibilidade de vivenciar e superar as experiências de medo, frustração, insegurança.

Tudo isso é oportunizado pela presença de um adulto mediador que se constitua como
base importante de suporte e acolhimento. Figura esta que não superprotege mas está

disponível para dar suporte diante da necessidade.

Atividade 1: Pedindo Ajuda

Objetivo: Essa atividade tem como objetivo específico estimular o bebê a pedir ajuda

diante de uma dificuldade, mostrando a ele que existe um adulto disponível para ajuda-

lo e incentivando-o, dessa forma, a pedir ajuda em outros momentos de dificuldade.

Faixa etária: A partir de 7 meses


Descrição: Essa atividade consiste em escolher um objeto de grande interesse do bebê,

chamar a sua atenção para esse objeto e colocá-lo dentro do seu campo visual, mas fora

do seu alcance. O adulto, neste caso, deixa o bebê buscar tentar pegar o objeto sem

ajudá-lo, mesmo sabendo que o bebê não vai conseguir pegá-lo sozinho. Somente diante

de um gesto do bebê que sinalize um pedido de ajuda é que esse adulto vai efetivamente

ajudá-lo.

Atividade 2: Pulando Obstáculos

Objetivo: Esta atividade tem por objetivo ajudar o bebê/criança a enfrentar e superar

dificuldades que se colocam em seu caminho, na busca de atingir os seus objetivos, bem

como fortalecer a confiança no adulto que lhe dará suporte na superação desses

obstáculos. Além disso, ajuda a exercitar os braços e pernas, estimular a coordenação de

movimentos de deslocamento, desenvolver a agilidade e o sentido de equilibro e

potencializar o controle da motricidade.

Faixa etária: A partir de 6 meses, podendo ser usada também com crianças maiores,

adequando o nível de dificuldade dos obstáculos.

Descrição: Disponibiliza brinquedos do interesse do bebê e, entre ele e os brinquedos,

coloca-se alguns obstáculos que dificulte o acesso da criança a esses brinquedos, tais

como almofadas, colchonetes, cadeiras e os próprios adultos que podem ficar no meio
do caminho. O bebê é então estimulado a buscar acesso ao brinquedo do seu interesse.

Para tanto, o bebê precisará vencer os obstáculos que se colocam no caminho para

alcançar o seu objetivo. O papel do adulto, nesse caso, é dar suporte pra que a superação

desses obstáculos seja feita de forma segura, algumas vezes ajudando a criança a subir e

descer, quando for o caso, e participar afetivamente, motivando-o, demonstrando alegria

e entusiasmo com as conquistas realizadas. Na medida em que a criança é mais velha, o

nível de dificuldade para superação dos obstáculos deve ser ajustado e algumas regras

podem ser propostas como, por exemplo, ter que passar um obstáculo sem tocar nele

(nem empurrar nem pisar); ter que recolher determinados objetos que estejam no

caminho; posteriormente, pode-se combinar a superação dos obstáculos de olhos

vendados, tendo a criança que atender aos comandos dados pelo adulto (construção de

confiança). De modo geral, essa atividade pode ser organizada para ser realizada

coletivamente, sobretudo com crianças mais velhas.

Atividade 3: Brincando de Cabana

Objetivo: Essa atividade tem por objetivo favorecer a exploração de um ambiente

diferente, superar possíveis medos de escuro, de ambiente pequeno e fechado, dividir o

espaço com outros coleguinhas, desenvolver imaginação e criatividade.

Faixa etária: A partir de 12 meses

Descrição: Se não tiver uma cabaninha pronta, pode-se criar o cenário da cabana usando

varias estratégias como, por exemplo, colocar um lençol sobre uma mesa ou sobre duas

cadeiras separadas. Com a cabana “construída”, pode-se contar uma historinha que

envolva a cabana e, em seguida, convidar as crianças a entrar. É interessante que o

adulto observe como as crianças lidam com esse cenário nos seguintes aspectos: Se

demonstram medo e insegurança de entrar, se aceitam ou não compartilhar o espaço

com outras crianças, se depois que entram, aceitam “fechar a porta”, quanto tempo são
capazes de ficar lá dentro, como negociam a ordem de entrada na cabana, etc. Cabe ao

adulto, além de observar, mediar todo esse processo, de modo a promover a sensação de

segurança e compartilhamento de espaço, mediar possíveis conflitos, promovendo

atitudes de cooperação e partilha, bem como estimular a imaginação e criatividade.

Com objetivos dessa ordem, outras atividades podem ser pensadas, envolvendo

uso do espelho, ou uso de expressões faciais que ajudem as crianças a reconhecerem

emoções, em si e nos outros, dentre outras.

Considerações Finais

Compartilhamos da ideia de que existem evidências importantes que defendem

que a qualidade das relações sociais e afetivas estabelecidas pelo bebê e pela criança no

início da vida com seus principais cuidadores apresenta-se como um importante

elemento no processo de organização estrutural e funcional do cérebro.

A partir dessas descobertas, não há como negligenciar a importância da

interação social e das relações afetivas, nem tão pouco da promoção de ambientes

escolares que propiciem o desenvolvimento da melhor potencialidade da criança. Nesse

sentido, há uma convergência entre o que propõe o campo das neurociências com o que

já é, há muito tempo, conhecimento valioso no campo da Psicologia. A saber, a

afirmação de que diversas atividades da vida cotidiana – tais como brincar, interagir

com outras crianças ou envolver-se em atividades artísticas – contribuem para a

formação dos bebês e crianças. Além de favorecer bem-estar e segurança, a realização

de tais atividades contribui para o desenvolvimento de redes neurais em seus cérebros

plásticos e imaturos, que poderão vir a ser utilizadas em diversas aprendizagens

posteriores, inclusive naquelas relacionadas à educação formal.

Os achados produzidos pelas neurociências nos dizem que os anos iniciais da vida de

uma criança constituem o alicerce sobre o qual se desenvolve e se consolida o seu potencial de
aprendizagem, regido pela integração dinâmica entre influências genéticas, biológicas e

psicossociais. Ambientes familiares e escolares enriquecidos de maneira adequada estimulam e

favorecem o desenvolvimento saudável do bebê e da criança.

Defendemos que a articulação entre os conhecimentos produzidos pelas neurociências e

a educação carece de esforços mútuos de ambos os domínios para que se efetive. As

neurociências precisam de educadores que apliquem seus achados no interior das salas de aula.

Por sua vez, os educadores dependem de formação específica que possibilite a compreensão e a

utilização de tais achados, tornando-os autores do processo, aptos a questionar e ampliar o

alcance do conhecimento produzido (Puebla & Talma, 2011). Trata-se de um grande desafio

cuja superação demanda a intervenção de articuladores que promovam a complementaridade

entre os dois domínios.

REFERÊNCIAS

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Villachan-Lyra, P. (2008). Relações de apego mão-criança: um olhar dinâmico e
histórico-relacional. Recife: Editora da UFPE.

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