O Contratualismo de John Locke
O Contratualismo de John Locke
O Contratualismo de John Locke
O contratualismo em Locke
Semelhantemente à Hobbes, Locke pensa que o contrato social conduz a passagem do
estado de natureza para a sociedade civil. Mas, ao mesmo tempo, opõe-se à
concepção de que o Estado detém um poder absoluto sobre os indivíduos.
Seu liberalismo enfatiza duas ideias. Primeiramente a ideia de que o Estado deve
garantir os direitos naturais dos indivíduos. Por conta disso o liberalismo de Locke está
relacionado ao jusnaturalismo, a teoria segundo a qual os seres humanos possuem
direitos naturais inalienáveis, tais como o direito à vida, à propriedade e à liberdade. A
segunda ideia é que os cidadãos podem destruir os governantes, caso estes não
cumpram suas funções.
Críticas ao absolutismo
Teorias diferentes surgiram entre os séculos XVI e XVII, teorias que procuravam
legitimar o absolutismo. Uma delas, a doutrina do direito divino dos reis, é uma
tentativa de defesa da monarquia absoluta. Ela parte de que a vontade divina é
onipotente e infalível e, depois, acrescenta o pressuposto de que Deus concede aos
reis a autoridade de governar os homens. Os monarcas seriam como herdeiros de
Adão, ao qual Deus outorga o poder real, um poder igualmente absoluto ao de Deus, e
sem erros.
De acordo com Locke, nenhuma pessoa tem, como direito natural concedido por Deus,
a faculdade de governar os seres humanos. O erro da teoria do direito divino dos reis
consiste exatamente em submeter os indivíduos aos desejos arbitrários e despóticos
do monarca e negar-lhes o direito à liberdade.
Essa objeção de Locke, não consegue atingir Hobbes, já que este não era defensor do
direito divino dos reis. O esforço de Hobbes era de justificar o Estado com bases
racionais. Como também, Hobbes, não considerava a monarquia absolutista como o
único tipo de governo legítimo. Ele pensa em uma autoridade que pode ser exercida
por um só governante ou por uma assembleia.
A ideia de Locke é que, se a guerra fosse característica do estado de natureza, não
existiria a possibilidade de conflitos surgirem na sociedade civil. Contudo, não é isso o
que realmente acontece. Ao longo da história, muitas sociedades tratavam lutas
intensas entre si, e mesmo no interior de uma única sociedade, ocorriam disputas pelo
poder. Portanto, contrariamente a Hobbes, não é correto afirmar que a “guerra de
todos contra todos” é um elemento que distingue o estado de natureza da vida em
sociedade.
Estado de natureza
Locke pensa que, no estado de natureza, os indivíduos tendem a comportar-se
segundo um princípio moral a que ele chama lei da natureza. Essa lei ordena que não
devemos prejudicar os outros nem violar seus direitos naturais, exceto em situações
de autodefesa. Entre os principais direitos naturais das pessoas se destacam a
liberdade, a igualdade e a propriedade.
Hobbes Locke
Igualdade + Liberdade + Escassez Igualdade + Liberdade + Prosperidade
Guerra de todos contra todos Ameaça aos direitos naturais
A prosperidade é outro direito natural dos seres humanos. A partir dele, Locke indica
tudo aquilo que pertence aos indivíduos. A propriedade é, então:
Aquilo que fornece o direito à propriedade é o trabalho com que produzimos os bens.
Se um indivíduo trabalha para produzir algo, e ao fazê-lo, não prejudica nenhum
indivíduo, então tem o direito de usufruir dos frutos de seu trabalho e dispor de seus
bens da maneira que o for conveniente e que quiser.
Mas se no estado de natureza, os seres humanos possuem tantos direitos, por que os
renunciariam?
Contrato social
Locke pensa que a vida em tais condições naturais pode trazer certos inconvenientes.
O principal deles é que o respeito aos direitos naturais não está completamente
assegurado. Apesar do estado de natureza não ser um estado de guerra, a ausência de
um poder capaz de resolver eventuais conflitos facilita a ocorrência de lutas.
Ele diz que no estado de natureza, os conflitos não são contínuos nem generalizados,
pois os seres humanos tendem evitar a violência a fim de não recebê-la em troca. O
estado de natureza é uma situação de paz e harmonia relativas.
O grande problema é que, sem uma autoridade capaz de impedir a violação dos
direitos naturais, está sempre aberta a possibilidade de alguém ameaçar a vida de
outras pessoas e se apoderar de suas posses.
O contrato não elimina os direitos naturais dos seres humanos, muito pelo contrário,
ao legitimar e fundamentar a autoridade do Estado, assegura-se a proteção desses
direitos naturais.
A partir dessa perspectiva sobre o estado de natureza, Locke se inspira a propor uma
posição política chamada de liberalismo.
O contrato social não significa uma ruptura completa com o estado de natureza, pois
os indivíduos transferem ao Estado o direito de punição aos infratores e de defesa.
Por conta disso, o exercício do poder não é ilimitado. Caso prejudique os interesses e
direitos dos indivíduos, o Estado perde sua legitimidade.
Separação de poderes
Um aspecto importante do liberalismo é a separação de poderes. Locke acreditava que
os governantes não devem concentrar toda a autoridade em suas mãos. Muito pelo
contrário, é necessário dividir o poder a fim de evitar abusos que permitam aos
governantes deixarem de cumprir sua função de assegurar o bem dos cidadãos.
Os responsáveis pela elaboração das leis não devem ser ao mesmo tempo
encarregados de pô-las em prática. Caso contrário, os governantes fariam leis que
beneficiassem a si próprios em vez de visar o bem do povo.
Direito de resistência
O povo possui o direito de rebelar-se contra os governantes. O contrato é uma espécie
de concessão de poder que se faz entre os cidadãos e os governantes. O Estado precisa
visar o bem público e assegurar os direitos naturais. Sendo uma concessão, o contrato
estabelece uma relação de confiança entre ambas as partes. Se um governante quebra
a relação de confiança, o contrato perde validade. Portanto, torna-se permitido aos
cidadãos se rebelarem contra o poder constituído.
Nos dois casos, há um mau uso da autoridade que o povo conferiu aos governantes.
Podendo ocasionar em um governo tirânico, ao começar a abusar dos direitos dos
indivíduos, ou pode torna-lo ser ineficiente, se deixa de defendê-los.