George Fichainformativa 1

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Escola Secundária da

PORTUGUÊS – 12.º ANO RAMADA


2020-2021
Maria Judite de Carvalho, “George”
Ficha informativa 1

1. A complexidade da natureza humana

[I]ndicia[-se] a linguagem como representação do mundo ou, se quisermos, do real: a escritora desenha retratos ou
quadros [...] de uma sociedade, composta de personagens homens e mulheres, vistos tanto em situação como
entrando nas suas consciências, num notável trabalho sobre o monólogo interior e outras técnicas de que é cultora
exímia. Lembre-se o traquejo de reportagem e de registo jornalístico, representado nas suas crónicas, textos curtos ou
mais longos, demonstrando a agudeza da observação e o realismo da arte de criar cenas e cenários. [...]
Assim, temas como o já mencionado retrato social juntam-se à criação dos universos interiores de personagens
entregues aos seus pequenos mundos, ao quotidiano, ao malogro, à felicidade precária, às estratégias de sobrevivência
e de desistência de gente comum, equilibrada no arame dos dias [...]. A obra de Maria Judite descreve um tempo que,
nos anos 60, era de fechamento e desistência, mas depois de 1974 prossegue a linha do profundo conhecimento de
um tempo e de uma sociedade em que os leitores se podem continuar a rever.
Paula Morão & Cristina Almeida Ribeiro (org.), Maria Judite de Carvalho – Palavras, Tempo, Paisagem,
V. N. Famalicão, Edições Húmus, 2015, p. 8.
2. Metamorfoses da figura feminina

Abreviatura provável de Georgina, o nome desta pintora consagrada de quarenta e cinco anos evoca o pseudónimo
literário de duas conhecidas romancistas do século XIX: a francesa George Sand (1804-1876) e a inglesa George Eliot
(1819-1880), que com a protagonista apresentam em comum, não apenas o sucesso num mundo predominantemente
masculino, mas também um estilo de vida normalmente interdito às mulheres – e ainda hoje pouco aceite no sexo
feminino, se bem que por muitos visto como sinal de emancipação. Pleno de sugestões, o nome da personagem
condensa assim, se não o essencial da sua personalidade, pelo menos a parte que nela se diria indissociável da sua
pertença a uma elite intelectual e artística cuja diferença passa não só pela independência económica conseguida
graças ao seu próprio esforço, mas também, com alguma frequência, pelo escândalo das ligações sentimentais à
margem das convenções – às vezes mesmo pela adoção de comportamentos e formas de apresentação pouco comuns
(o hábito de fumar em público ou o uso frequente de indumentária masculina por parte de George Sand, por exemplo…
as diversas e por vezes extravagantes cores que vão tingindo os cabelos de George). […] Acresce, em George, a
consciência plena do envelhecimento e da solidão, que combate iludindo-se com a possibilidade de vir a escapar à
última graças ao dinheiro acumulado ao longo de anos de uma bem-sucedida carreira artística. Famosa além-fronteiras,
George configura, pois, o protótipo da mulher independente e profissionalmente realizada, aparentemente sem razões
para lamentar o passado e, ainda menos, temer o futuro. E, no entanto, esse temor assalta-a de modo tão imprevisto
quanto cruel ao regressar à terra natal. É aí, nessa vila parada do interior, de onde partira vinte e três anos antes em
busca da liberdade que lhe permitira tornar-se uma artista de renome e aonde jamais regressara, que vamos encontrá-
la no início do conto.
Maria João Pais do Amaral, in Maria Isabel Rocheta & Serafina Martins (coord.),
Conto Português [séculos XIX-XXI]: Antologia Crítica, vol. 3, Porto, Edições Caixotim, 2011, pp. 121-123.

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