Resenha - O Homem Que Sabia Javanês
Resenha - O Homem Que Sabia Javanês
Resenha - O Homem Que Sabia Javanês
O conto "O homem que sabia javanês" foi escrito por Lima Barreto (1881 - 1922) e
publicado no formato folhetim na Gazeta da Tarde em 1911. O personagem principal,
Castelo, narra em primeira pessoa uma conversa que teve com seu amigo Castro,
contando-lhe a história de como foi contratado para ser um professor de javanês sem
conhecer o idioma, e as consequências desta contratação.
Enquanto bebe com seu amigo, Castelo rememora os tempos em que vivia na miséria
no Rio de Janeiro, e que ao avistar no jornal um anúncio recrutando um professor de língua
javanesa, pensou ser essa uma excelente oportunidade para sair da miséria. Ele aprende o
alfabeto malaio e algumas poucas expressões antes de se apresentar ao seu futuro patrão, o
barão de Jacuecanga. Este era já avançado em idade, e buscava aprender o novo idioma para
cumprir um juramento feito por seu pai, que prometera que o filho entenderia um livro em
javanês, uma espécie de talismã da família.
Após ludibriar o barão, Castelo não apenas é contratado como cai nas graças dele e de
seus parentes, conseguindo através da indicação do nobre um cargo diplomático e recebendo
parte de sua herança. É até mesmo enviado para representar o Brasil num congresso
internacional de linguística, apesar de permanecer sempre ignorante do idioma no qual
supostamente é especialista.
O estilo do conto é leve, bem-humorado e muito fluido. Exceto por poucas
interrupções de Castro no diálogo, sente-se que o narrador está conversando diretamente com
o leitor. O personagem principal é um canastrão, que usa da malandragem para escapar da
miséria e chegar a uma posição de prestígio e conforto, sem muito escrúpulo ao mentir e
enganar. No entanto, o sucesso da farsa se dá mais pela sucessão absurda de eventos fortuitos
que favorecem Castelo do que por qualquer talento seu. Assim, por exemplo, o fato do barão
receber uma herança após começar a ter as aulas de javanês é interpretado como
consequência do cumprimento da promessa. Também por um golpe de sorte, o malandro
escapa de ser desmascarado no congresso de linguística por ser acidentalmente enviado para
a seção de tupi-guarani. Isto acentua o tom cômico do conto e alivia o peso da condenação
moral que poderia receber o narrador. A maior habilidade de Castelo não é a capacidade de
enganar, e sim seu descaramento, o fato de se lançar em situações com alta probabilidade de
terminar mal, e não apenas escapar ileso, mas ser sempre bem recompensado.
Lima Barreto escreveu um conto divertido sobre um personagem de caráter no
mínimo duvidoso, que sai da miséria e ascende socialmente com sua malandragem e
descaramento. Com um pouco de sorte, numa sociedade mais interessada na fama ou nas
recomendações que alguém tenha do que em seus conhecimentos e habilidades, o narrador
poderia igualmente ser diplomata ou "bacteriologista eminente".