Constantino e A Cruz
Constantino e A Cruz
Constantino e A Cruz
1 INTRODUÇÃO
LITFIN, Bryan M. Conhecendo os Mártires da Igreja Primitiva: uma introdução evangélica (VIDA
NOVA, 2019, p.175)
3 História de Constantino (Livro I) de Eusébio de Cesaréia (ESCRIBA DE CRISTO, 1969, Cap. 29)
3
presença de guirlandas de luz que afirma ter visto junto do sinal e, apenas
posteriormente, teria buscado por alguém que o orientasse e então recebeu o ensino
de que se tratava da cruz de Cristo. Após um período de provavelmente dois anos,
entre 310 e 312 d.C., ocorreu durante o sono do futuro imperador mais uma visão,
onde afirma que lhe apareceu o Cristo e lhe revelou que, para ganhar a batalha, ele
deveria usar aquele sinal que havia visto no céu há muito.4
Rapidamente após a segunda visão, Constantino reuniu seus homens e passou
a confeccionar este símbolo para usar em batalha. Foi feita uma grande lança com
uma barra transversal sobre ela, ambas revestidas de ouro e, na ponta, uma coroa de
ouro e pedras preciosas com o símbolo conhecido como ChiRho gravado sobre esta,
visto que este símbolo é composto pelas duas iniciais do nome de Jesus Cristo em
grego (X e P).5
Segundo Bruce L. Shelley, após a grande derrota de Maxêncio diante de Constantino
na ponte Mílvia e após a publicação do Édito de Milão em 312 d.C., os líderes cristãos
passaram a ser beneficiados com a isenção de impostos que outros sacerdotes
pagãos antes desfrutavam com exclusividade, o imperador também baniu as batalhas
de gladiadores e a execução por crucificação.6
Como Shelley aponta, existem alguns fatores que levam muitos a desconfiar da
suposta conversão do imperador como sendo mera manobra política, como o fato dele
ter mantido o seu título de Pontifex Maximus, título este com cunho religioso. Diante
desse fator, muitos levantam suspeitas sobre a influência que Constantino pode ter
exercido sobre a religião cristã, afirmando que o mesmo teria alterado
substancialmente diversos elementos do cristianismo primitivo. Entre essas
acusações, levantam-se os membros do Corpo Governante das Testemunhas de
Jeová que afirmam que, devido às palavras gregas usadas na Bíblia para identificar o
objeto onde Jesus havia sido pendurado (“Stauros” e “Xýlon”) poderem ser traduzidas
4 LITFIN, Bryan M. Conhecendo os Mártires da Igreja Primitiva: uma introdução evangélica (VIDA
NOVA, 2019, p.176 e 178)
5 História de Constantino (Livro I) de Eusébio de Cesaréia (ESCRIBA DE CRISTO, 1969, Cap. 30 e 31)
6 SHELLEY, Bruce L. História do Cristianismo: Uma obra completa e atual sobre a trajetória da igreja
cristã desde as origens até o Século XXI (THOMAS NELSON, 2018, p.114)
4
apenas como “estaca”, Constantino teria deturpado o símbolo e substituído pelo que
teve em sua visão. A cruz como conhecemos, de acordo com estes, é um símbolo
pagão.7
É fato que as palavras utilizadas para indicar o objeto de execução de Jesus
na Bíblia, assim como a sua variante latina, podem ser simplesmente traduzidas como
“estaca” e, também, que um símbolo tão simples quanto duas linhas retas que se
cruzam transversalmente, tenha sido utilizado por outras religiões anteriormente.
Segundo a revista “Despertai!”, Cristo havia sido
pendurado em uma estaca única de tortura e, segundo
ilustrações posteriormente usadas pela mesma, com seus
braços cruzados sobre sua cabeça e atravessados por um
prego único. Esta representação é chamada Crux
Simplex. Se considera o fato de os Testemunhas de Jeová
ainda reconhecerem que haviam crucificações realizadas
em objetos de punição como a cruz conhecida hoje, então
não será abordado esse quesito e haverá apenas o foco
na execução de Cristo e como ela foi representada nos
tempos antigos.
afirma ser da mesma forma como Jesus, porém de cabeça para baixo 8 , há um
argumento de que Cristo também havia sido executado em uma cruz com haste
transversal.
8 LITFIN, Bryan. Após Atos: Explorando as vidas e as lendas dos apóstolos (BVBOOKS, 2018, p.
151153)
9 Carta de Barnabé 12:2. Padres Apostólicos (PAULUS, 1995, p. 305)
10 Carta de Barnabé 9:8. Padres Apostólicos (PAULUS, 1995, p. 301)
6
forma que o autor da Epístola de Barnabé sobre o relato da batalhe entre Israel e
Amelec, indicando que esta interpretação era provavelmente comum entre os cristãos.
Mais adiante, o autor afirma que a cruz seria como “os chifres do unicórnio” citados
em Deuteronômio 33, que são duas estacas, uma vertical e outra transversal.11 Assim
também, associa o cordeiro pascal com Cristo, afirmando que este cordeiro era
assado em duas estacas, uma vertical e uma transversal, que prefiguravam a cruz.12
Além destes dois, poderíamos ponderar sobre o
relato de Tertuliano acerca do uso do sinal da cruz no
cotidiano cristão 13 e como este sinal seria estranho
caso fosse um símbolo de uma única estaca vertical,
levando em conta que é outro texto escrito muito antes
do nascimento de Constantino. Porém, a presente
análise é suficiente para levantar informações
importantes sobre o assunto.
11 Diálogo com Trifão 91:1, 2. Justino de Roma: I e II Apologias / Diálogo com Trifão (PAULUS, 1995,
p. 252)
12 Diálogo com Trifão 40:3. Justino de Roma: I e II Apologias / Diálogo com Trifão (PAULUS, 1995, p.
169)
13 TERTULIANO, De Corona Militis 13:1-2 (THE TERTULLIAN PROJECT, 2002, disponível em:
http://www.tertullian.org/latin/de_corona.htm)
7
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
14 Um exemplo do uso da Crux Comissa na história cristã popular vem dos relatos sobre a vida
de São Francisco de Assis, que costumava marcar os ferimentos curados e as celas que visitava com
o símbolo da Cruz Tau.