Negros Islâmicos No Brasil
Negros Islâmicos No Brasil
Negros Islâmicos No Brasil
Negros
islâmicos
no Brasil
LIDICE MEYER
PINTO RIBEIRO
é professora nos
programas de
pós-graduação em
Ciências da Religião
e da graduação
da Universidade
Presbiteriana
Mackenzie.
A INTRODUÇÃO DO ISLAMISMO
NO BRASIL
De forma semelhante à distinção uti-
lizada pelo sociólogo Mendonça (2002,
p. 25) ao classificar os tipos de inserção
do protestantismo no Brasil, o islamismo
passou por três fases de implantação nas
terras brasileiras:
Negra baiana
retratada por
Jean-Baptiste
Debret com
o que parece
ser um amuleto
malê
se convertido ao protestantismo como for- e “álcalis, juízes, sagabanos, imediatos de 11 Foto de autoria do Dr.
Car valho Sobrinho, que
ma de reação contra o catolicismo oficial juízes, assivajiú”, que cuidavam da parte chegou às mãos de Abe-
brasileiro (Freyre, 1980, p. 312). jurídica da comunidade (João do Rio, 2006, lardo Duarte através do
Dr. Aloísio Freitas Melro.
Abelardo Duarte10 (1958, p. 41) defende p. 26). Para se tornar um alufá era necessário
Duar te também registra
terem os muçulmanos de Alagoas man- conhecer o árabe, a suma, realizar a circun- ter recebido informações
tido as tradições islâmicas misturadas ao cisão (kola) e passar por um exame. Após o sobre a comunidade islâmica
através de um jornalista,
catolicismo. É o caso do assumy ou jejum exame, os demais muçulmanos dançavam Jurandir Gomes, redator
anual (um dos cinco pilares do islã), que o opa-suma e conduziam o iniciado sobre principal do jornal A Gazeta
de Alagoas, publicada em seu
coincide com a Festa do Espírito Santo. um cavalo pelas ruas vestido de roupas livro (1949). A foto original
Os muçulmanos procuravam, assim, den- brancas e gorro vermelho. O informante encontra-se no Instituto
Histórico e Geográfico de
tro do catolicismo, encontrar brechas para de João do Rio, Antonio, explica que essas Alagoas.
praticar sua religiosidade com todo o rigor cerimônias sempre se realizavam em lugares
12 A mesma roupagem é
que a mesma exige. Abelardo Duarte não afastados, nos subúrbios cariocas. João do descrita por Arthur Ramos
só descreve a revolta de 1815 em Alagoas, Rio registrou que, apesar de os praticantes em 1934 na Bahia.
mas também fala da continuação da comu- do candomblé carioca e os muçulmanos 13 Corruptela da saudação
“As-salámu ‘alaykum”, signi-
nidade islâmica no local, incluindo em seu que encontrou possuírem hábitos exteriores ficando “Que a paz esteja
livro uma foto de um grupo muçulmano, semelhantes e praticarem “feitiçarias” da com você”.
BIBLIOGRAFIA
BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas no Brasil. Vols. 1 e 2. São Paulo, Pioneira/USP, 1971.
BRANDÃO, Theo. Folguedos Natalinos. Maceió, Museu Theo Brandão/Ufal, 2003.
CASTELNAU, Francis de. Renseignement sur l’Afrique Central et sur Une Nation d’Hommes à qujeu
qui s’y Trouverait. D’après le Rapport de Nègres du Soudan, Esclaves à Bahia. Paris, P. Bertrand
Librairie-Editeur, 1851.