Contos Mágicos Indianos Deleitura - Princesaenganoumorte

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Contos MÁGICOS INDIANOS

A princesa que enganou a morte e outros contos

A leitura de contos tradicionais nos abre um caminho para desvendar a cultura dos povos.
Neste caso, do povo indiano, tão distante da nossa cultura ocidental que nos leva, antes de mais
nada, a destacar alguns pontos para não perdermos significações importantes. São eles:
– Estamos falando de contos maravilhosos da tradição oral indiana, extraídos das obras
épicas: Mahabharata (considerada a Ilíada indiana), escritas por Vyâsa, cerca de 5 mil anos

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antes de nossa era, que tem como tema central a “Grande Guerra de Bharatha” e em torno do

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qual se tecem outros contos de sentido metafórico; e Ramayana (a Odisséia indiana), também
escrita em forma de poema pelo poeta Valmiki. Acredita-se que ambos tenham chegado a regis-
tros mais definitivos no séc. II d.C., portanto, bem posteriores à oralidade e distantes de suas

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versões originais.
– Os contos mágicos e as fábulas indianas se disseminaram pela Europa medieval, introdu-

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zindo-se na Grécia clássica através da Pérsia, misturados à literatura árabe.

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– A riqueza e o profundo misticismo da cultura indiana inspiraram uma literatura original e
unificadora de crenças e valores. Muitos contrastes podem ser observados, porém, tratando-se de
cultura e referências humanas, a diversidade não impede que encontremos elementos comuns às
nossas crenças, nosso modo de ser, viver e imaginar. São narrativas maravilhosas e profundas
que merecem ser conhecidas não apenas por sua beleza estética, mas por sua filosofia.

Temática e estrutura narrativa


Podemos identificar nos contos indianos Ritos de Iniciação e de Passagem caracterizados
pelas tarefas e provas enfrentadas pelos personagens, representando seu crescimento pessoal
e amadurecimento. Durante a trajetória, evidenciam-se as características dos deuses e o perfil e
objetivo dos personagens. Estas condições, muitas vezes antagônicas, estabelecem o viés por
onde o conto é narrado e criam relações de identificação ou negação com o leitor que vê, no
percurso do herói, aspectos de sua vida pessoal.

Observa-se também que, a despeito da reverência aos deuses, o homem pode dialogar e
quase duelar com eles. Pode expor seus ideais e vencer, desde que fundamentado na verdade
e na justiça.
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Outro dado importante é a condição feminina revelar uma falsa subordinação, pois embora
a mulher tudo faça por amor ao seu marido ou companheiro, deixa evidente possuir força e
determinação capazes de provocar mudanças importantes, pondo por terra a ideia de uma per-
sonalidade secundária e submissa.

Uma cultura de muitos deuses e sábios


Não podemos deixar de destacar alguns de seus deuses, sobretudo os mencionados nes-
tes contos selecionados:

Yama – O deus da Morte


Yama, voluntariamente, parte para o outro mundo, a terra de seus antepassados; a Morte é
seu reino. Ele pode condenar a alma tanto ao céu como ao inferno, baseando-se no equilíbrio do
Karma. No papel de juiz, é também chamado de Dharmaraja, o deus da justiça. Yama carrega
em sua mão um laço, o Yama Paasa, com o qual retira as almas de suas prisões mortais. A coruja
e o pombo são os mensageiros de Yama. Os cães farejadores são seus emissários usuais.

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Indra – o rei dos céus
Indra é o rei do trovão e das tempestades. Diz-se que Indra não é propriamente um indiví-
duo, mas o nome genérico para o rei dos céus. Ao fazer certos sacrifícios e penitências, um
mortal pode ascender ao paraíso e tornar-se rei dos céus até que outro o supere. Assim, Indra
sempre teme por sua posição e permanece atento aos mortais que realizam penitências, cuidan-
do para que eles não cumpram as condições para destroná-lo.

Varuna – o rei das águas


Varuna é o rei dos oceanos e senhor da noite.

Agni – o deus do fogo


Fogo – (em sânscrito agni, em latim ignis). Deificação do fogo celeste, do sol, da chama, da
lâmpada, Agni é também mensageiro dos pedidos dos homens aos deuses.

Brahma – o deus criador


É o criador do mundo material, tem características abstratas.

Surya – o deus do sol


Tido como o olho de Deus, o rei de todos, calcula-se o tempo eterno a partir de seus movi-
mentos. Simboliza a vida e vivifica todos os seres com calor e luz. No Oriente, quem ama a vida
deve adorar o Sol.

Vayu – o deus do vento

Dharma – o deus da justiça


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Seu significado espiritual é o “caminho para a verdade superior”; é a base das filosofias,
crenças e práticas da Índia.

Hanuman – o deus macaco


Ele é o general do exército dos macacos, filho de Vayu, uma encarnação do poderoso deus
Shiva. Hanuman é o fiel amigo de Rama, no Ramayana. O salvador de Sita.

Shiva – o deus destruidor


O Destruidor (ou o transformador, o renovador) – aquele que destrói para construir algo
novo. Participa da Trimurti (trindade), junto com Brahma, o Criador, e Vishnu, o preservador.

Vishnu – o deus da manutenção do Universo


Manifestação direta do supremo, encarregado da Criação Cósmica. Sua esposa é Lakshmi,
deusa da prosperidade e da sorte. Seu veículo é Garuda, a águia gigante.

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Uma cultura carregada de simbologia

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Floresta – o verdadeiro santuário em estado natural; na India, local de retiro dos ascetas.
Ervas – símbolo de tudo o que é curativo e vivificante, restauram a saúde, a virilidade e a

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fecundidade.
Frutos – símbolo de abundância.

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Morte – símbolo ambivalente. Designa o fim absoluto, mas também revelação e introdução em

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novas esferas; mudança profunda; iniciação.
Templo – reflexo do mundo divino; centro do mundo.
Laço – função régia; símbolo da força mística; justiça; poder.
Palavra – manifestação da inteligência na linguagem, na natureza dos seres e na criação contí-
nua do universo; verdade e luz do ser.
Cisne – pode representar duas luzes: a do dia, solar e máscula; a da noite, lunar e feminina;
quando faz a síntese das duas, torna-se andrógino. No extremo Oriente, representa elegân-
cia, nobreza, coragem. Como montaria de Brahma, simboliza a elevação do mundo visível
para o céu do conhecimento.
Dilúvio – signo da germinação e da regeneração, sempre seguido de uma nova humanidade e de
uma nova história. Purifica e regenera como o batismo e é decidido por uma consciência
superior e soberana.
Água – fonte de vida; meio de purificação e regeneração.
Cesto – dentre outros significados, simboliza o corpo maternal; Moísés, Édipo e outros foram
encontrados em cestos, entregues à correnteza.
Peixe – símbolo do elemento água. Cavalgadura de Varuna, está associado ao nascimento ou à
restauração cíclica.
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Brinco (fivela) – elo; autodefesa; proteção; identificação.


Cervo – árvore da vida; pureza; velocidade; temor.
Lótus – flor que desabrocha sobre as águas geralmente estagnadas; na espiritualidade indiana,
porém, são tidas como algo puro, admirável, não maculado pelas águas; símbolo do cresci-
mento espiritual. Seu botão fechado equivale à realização de possibilidades contidas no ser;
o coração também é um lotus fechado.
Serpente – oposta e complementar ao homem. No plano humano é o símbolo duplo de alma e
libido. Na Índia, representa fecundidade (mulheres que querem ter filhos adotam uma naja).
Lágrima – gota que morre; testemunho da dor.
Ambrosia – alimento da imortalidade é, como o néctar, um privilégio do Olimpo.
Taça – vaso da abundância; poção da imortalidade; seio materno.
Sandália – o substituto do corpo; meio de locomoção.
Arco – poder e força. O arco na mão de Shiva faz dele o emblema do poder de Deus.
Flecha – simbolo universal de ultrapassagem de condições normais; antecipação mental da con-

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quista de um bem fora de alcance.
Caça – matar o animal: destruição da ignorância, das tendências nefastas; perseguir o animal:
seguir seu rastro, busca espiritual.
Bastão (cajado) – arma mágica; apoio do pastor e do peregrino: eixo do mundo.
Fogo – paixões: amor e cólera.
Lua – renovação, poder, reflexo.
Luz – divindade, vida, felicidade.

Atividades sugeridas como aquecimento


• Como primeiro passo, sugerimos que se faça um reconhecimento geográfico da região
abrangida pela Índia e países vizinhos, salientando a noção de Oriente e Ocidente e levan-
tando aspectos culturais e regionais mais importantes.
• Como o misticismo e a religião são relevantes na cultura e fundamentam diversos contos,
introduzir noções relativas às principais crenças, à história política, ao sistema de castas e
à imobilidade social que elas determinam.
• Apresentar imagens e fotos que revelem paisagem, templos, tipos físicos, vestimentas,
objetos e outros dados, contextualizando o ambiente dos contos.

Uma interpretação possível


Importante lembrar que os contos tradicionais de conteúdo mágico não são dirigidos a um
público específico, mas a todas as pessoas. Seus primeiros ouvintes e leitores eram adultos.
Suas histórias e personagens fazem referência à experiência humana, permitindo reflexões so-
bre nossa própria vida. Algumas adaptações, mais tarde, surgiram especialmente direcionadas
aos pequenos (o que nos leva, muitas vezes, a crer estarem muito além da compreensão da
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criança e serem violentos e cruéis). Na verdade, o que os contos trazem são elementos ficcionais
que nos dão ferramentas para compreender nossos próprios conflitos – o que justificaria a sua
sobrevivência e pertinência em qualquer tempo e lugar.
Diante da riqueza da mitologia indiana e das inúmeras transformações por que passaram
tais narrativas, diante ainda das infinitas possibilidades de leitura, qualquer tentativa de análise
deve ser encarada apenas como uma das leituras possíveis, como um caminho de interpretação
– não único e definitivo – mas um exercício que nos permita desvendar seus conteúdos simbóli-
cos e levar o leitor a estabelecer relações e a criar significados durante a leitura.
Vários teóricos definiram linhas mestras para a análise dos contos maravilhosos. Muito
embora não criada especialmente para os contos orientais, para identificar alguns componentes,
vamos utilizar a terminologia do linguista russo, Vladmir Propp, que distingue, na base morfológica
dos contos de magia em geral, a existência de 31 funções dos personagens e elenca para eles 7
esferas de ação, a saber: o antagonista (ou malfeitor), o doador (ou provedor), o auxiliar, a
princesa e seu pai, o mandante, o herói, o falso herói.

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Para identificar elementos de cada conto, serão destacados: deuses e símbolos, função

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do personagem e sua esfera de ação, conforme aqui grafados.
Mahabharatha

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A princesa que enganou a morte – A personagem central é Savitri, jovem bela e gentil que dá
nome a versão original: A história de Savitri. Savitri se apaixona por Satyavan, o Verdadeiro, sem

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saber que paira sobre ele uma previsão cruel: sua vida será breve, logo Yama irá buscá-lo com seu

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laço. É Narada, o sábio, quem revela este fato a Savitri que, ainda assim, está determinada a ser
sua esposa. O pai de Savitri, Aswapati, concorda com o casamento. Fala, então, com Dyumatsena,
pai do rapaz, homem antes poderoso mas que, sem reino e sem visão, vive como um asceta.
Savitri passa a viver com a família de Satyavan até que chega o dia de Yama cumprir a profecia.
Savitri vai com o marido até a floresta sob o pretexto de ele colher ervas e frutas. Quando Yama
se aproxima, ela dialoga com ele tentando convence-lo a poupar a vida do amado.
Destaques: Yama; morte; laço; floresta, ervas, frutos; palavra. Savitri é a heroína,
Satyavan, o herói-vítima. Yama, o antagonista que, por poderoso e cumprindo uma ordem natu-
ral, causa o dano: laça a alma de Satyavan. Não se esconde e faz uso do seu laço com a
autoridade de um deus. Porém, Savitri, inconformada, reage (reação do herói) e, contrariando a
ideia de mulher submissa, combate com a força do amor e das palavras. Sua argumentação
inteligente, justa, convincente leva Yama a desatar o laço, devolvendo a vida a Satyavan, além
de restituir o reino e a visão a Dyumatsena (reparação do dano), passando de antagonista a
doador. É o deus quem detém o meio mágico da transformação. Chama atenção neste conto o
fato de, pelos méritos de Satyavan, ser o próprio Yama e não um de seus emissários a ir buscá-lo.
Destaca-se, ainda, a atitude firme de Savitri que não hesita em travar um duelo verbal com Yama
e dele sair vitoriosa (vitória).
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O nascimento de Bharata – O rajá Dushyanta encontra na floresta o templo do brâmane Kanva.


Lá conhece a linda Shakuntala que lhe conta a sua história. Filha adotiva de Kanva, abandonada
pela mãe ao nascer, Shakuntala é filha de Vishinamitra e Menaka que, por ordem de Indra, o
seduziu. Indra usou este artifício para evitar que Vishinamitra o superasse com suas penitências
e tomasse o seu lugar. Dushyanta se encanta pela jovem e com ela tem um filho. Shakuntala
impõe a condição de que seu filho seja herdeiro do trono e Dushyanta concorda. Anos depois, ao
reivindicar o trono, Dushyanta rejeita mãe e filho. Trava-se a partir daí um diálogo, no qual
Shakuntala enumera as virtudes de uma esposa e seu papel na vida de um homem. Diante de
seus argumentos, os deuses interferem e exigem que Dushyanta aceite seu filho como herdeiro,
dando a ele o nome de Bharata.
Destaques: Indra; floresta; templo; palavra. Shakuntala, heroína que vence seu antago-
nista (Dushyanta) a partir da argumentação e do bom uso da palavra. Além da coerência e da
paixão com que defende o filho, Shakuntala – que é também a princesa com uma tarefa difícil –
tem os deuses como auxiliares, determinando que o rajá aceite e sagre o filho seu herdeiro

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(reparação do dano), dando-lhe, então, (agora enquanto doador), o nome de Bharata.

Nala e Damayanti – Nala é um poderoso rajá que se apaixona por Damayanti, filha do também
poderoso Bhima. Nala vê dois cisnes nos jardins do seu palácio e captura um deles; em troca da
liberdade, o cisne promete fazer com que Damayanti retribua o amor de Nala. A profecia aconte-
ce, Damayanti ouve o cisne falar sobre Nala e por ele se apaixona. Triste e silenciosa, leva o pai
a convocar todos os rajás para visitarem seu reino e disputarem a filha em casamento. A beleza
de Damayanti, porém, seduz também os deuses. Indra, Agni, Varuna e Yama exigem que Nala
seja o intermediário para que a jovem escolha um deles. Mesmo sofrendo, Nala não se nega e os
deuses, para confundir a jovem, assumem a imagem de Nala. Ela, porém, os enfrenta e os
derrota. Vencidos, os deuses acatam e se afastam, revelando a própria grandeza.
Destaques: Indra, Agni, Varuna e Yama; cisne; palavras. Neste caso, temos a heroína e
princesa na figura de Damayanti, o pai, Bhima, que cria o confronto. Nala, o herói, sofre os danos
causados pelos seus antagonistas, os deuses, no momento em que estes com ele rivalizam e
fazem a exigência de que Nala interceda a favor deles. Mas vem, então, o início da reação do
herói que tudo revela à princesa. Os antagonistas usam um ardil e assumem as feições de Nala
para ludibriar a sua vítima que, segura, os enfrenta e desmascara (combate/desmascaramento/
vitória). O amor prevalece e Nala e Damayanti se casam.

Manu e o dilúvio indiano – Manu é um grande sábio penitente que vive na floresta. Um dia,
salva um peixe do riacho que, em troca, lhe promete recompensas. Uma delas: avisá-lo quando
se aproximar a dissolução do universo. Seguindo sua orientação, Manu é salvo do dilúvio e dá
início à criação de todos os seres. O peixe era a encarnação de Brahma, senhor das Criaturas. O
peixe (matsya) salva do dilúvio Manu, o legislador do ciclo presente.
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Destaques: Brahma; dilúvio, água, peixe. São vários os antagonistas que Manu, o herói,
enfrenta em combate, até merecer sua recompensa e a reparação dos danos. O peixe atua
como doador, responsável pelo salvamento. É ele o detentor do meio mágico. O conto é uma das
inúmeras versões de diferentes povos e culturas sobre o dilúvio e o início das civilizações, todas
muito semelhantes: uma divindade decide limpar a Terra de uma humanidade corrupta e escolhe
um homem bom para construir uma arca e abrigar sua criação durante a inundação. Para a
civilização ocidental, a história mais conhecida a respeito do dilúvio é a da Arca de Noé.

Karna, o Moisés indiano – Pritta, uma das esposas de Pandu, recebeu do sábio Durvasas um
mantra capaz de levar ao amor um ser celestial. Pritta murmurou o mantra diante de Surya, o
deus do sol. Os dois se apaixonaram e tiveram um filho: uma criança de olhos de leão, ombros
de touro e os brincos celestiais de Surya. Pritha escondeu a criança e, um dia, colocou-o numa
cesta de vime e soltou-o sobre as águas do rio. O menino foi adotado por Radha e recebeu o
nome de Karna, poderoso arqueiro que mais tarde enfrentaria Arjuna.

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Destaques: Surya; cesto, água, brincos. Esta (como indica o nome do conto) é uma das

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versões da história de Moisés, profeta israelita da Bíblia Hebraica (conhecida entre os cristãos
como Antigo Testamento).

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Pandavas e Kauravas – Pritha escolheu o rei Pandu como seu marido, guerreiro valente sobre
o qual pairava a profecia de que, um dia, morreria nos braços de uma de suas esposas. Pandu

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apaixonou-se por Madri e fez dela sua segunda e favorita esposa. Depois de ferir mortalmente

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um veado que era, na verdade, um brâmane, Pandu recebeu a profecia e se pune vivendo
isolado. A profecia se cumpre e Pandu morre na floresta, nos braços de Madri. As mulheres
disputam para, seguindo costume da época, serem enterradas com o marido. A honra cabe a
Madri que morre, na pira, abraçada ao seu senhor. Seus descendentes, Pandavas e Kauravas,
travarão, anos depois, a Grande Guerra dos Bharatas.
Destaques: Dharma, Vayu, Arjuna, Surya (citados); cervos (veados) Fogo (pira). Mais
uma vez, neste conto, observa-se a determinação obstinada das mulheres na defesa de seus
direitos, princípios e sentimentos. A profecia, como antagonista maior, causa o dano, desta vez,
não reparado por magias. Cumpre-se o esperado: Pandu morre.

As idades do Universo – Bhima, filho humano de Vayu, sai a procura da flor de lotus para
presentear sua rainha. A flor rara nasce na região de Kuvera, num bosque protegido por demôni-
os. Filho do vento, Bhima tudo abala como um furacão; agita árvores, assusta animais, até que
acorda Hanumam. Este lhe conta sobre as idades do Universo e o deixa seguir em sua busca. O
jovem luta e vence. Bebe da água do lago, colhe os lótus celestiais e os leva para a rainha.
Destaques: Hanuman; bosque/floresta, flor de lotus, palavra. Neste conto, o herói é
Bhima, que enfrenta uma série de antagonistas, a começar pelos demônios que protegem o
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bosque. O herói se submete a uma prova, os demônios representam uma proibição. Há um


combate. Como doador e facilitador, surge o deus-macaco que, a princípio, se zanga, mas de-
pois assume o dom da palavra e permite que Bhima realize a sua tarefa: o meio mágico passa às
mãos do herói. A flor é colhida, a rainha – princesa – presenteada.

O brâmane e sua noiva – Mais um conto sobre o amor de um jovem por uma princesa:
Pramadarva, a mais linda de todas as jovens mulheres, é picada pela serpente e morre, tornan-
do-se, então, a mais bela entre todas as noivas mortas. Inconsolável, o jovem Ruru entra na
floresta e chora até que os deuses enviam um emissário em seu socorro. É feita a proposta:
desista da metade da sua vida em benefício de Pramadarva. Ruru, aceita. Yama permite. Desafio
do herói superado, Pramadarva se torna a mais sorridente esposa entre todas as outras.
Destaques: Yama; serpente, floresta, lágrima. Mais uma vez, por amor, o herói supera um
deus poderoso: é por amor que Yama, deus da morte, se comove e permite que a noiva volte à
vida. O antagonista é a morte, simbolizada aí pelo mito da serpente. O herói reage com lágrimas

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e preces verdadeiras. Por seus méritos, os deuses (doadores, e portadores dos meios mágicos)
concedem a realização do seu desejo (reparação do dano). O preço: anos de sua própria vida.
Está feita a barganha possível.

Garuda e a ambrosia – Garuda, o rei das aves, roubou a ambrosia para livrar Diti, sua mãe,
prisioneira dos demônios que impuseram esta condição para salvá-la. Tarefa difícil, pois o néctar
guardado dentro de uma taça protegida por chamas terríveis. Mas Garuda tudo faz para salvar a
própria mãe, vencendo os maiores desafios, sofrendo a perseguição dos deuses. O néctar é
entregue aos demônios, mas Indra faz partir a taça com um raio.
Destaques: Indra; ambrosia, taça, fogo. Garuda, o herói, trava um violento combate com
seus antagonistas, sofre a perseguição dos deuses, até que um trovão de Indra parte a taça e o
nectar é derramado.
Ramayana

Rama e Sita – Rama é filho de Dasaratha com sua primeira esposa, Kausalya e, assim, seu
herdeiro natural. Rama vai ser coroado, mas Kaikevyi, a outra esposa, cobra de Dasaratha uma
promessa e exige que seu filho, Bharata, ocupe o trono e que Rama e sua esposa, Sita, vivam no
exílio por 14 longos anos. Lakshmana, irmão de Rama, os acompanha. O rei morre, mas
Bharata não assume o posto. Fiel a Rama, reina à distância mantendo sobre o trono o par de
sandálias, simbolizando a presença e o poder de Rama. Os exilados penetram cada vez mais na
floresta e visitam sábios e lugares sagrados. Após anos, retornam, renovados e maduros,
recepcionados pelo povo, dando início a uma nova era.
Destaques: Shiva e Vishnu, deuses citados; floresta, sandália, arco . O arco quebrado por
Rama representa o poder e a força suprema que ele é capaz de vencer e faz dele um herói. A
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inveja faz com que Kaikevy (antagonista), mãe de Bharata (doador), trame um ardil contra o
herói que, em respeito ao pai, não reage. Acata a ordem, o exílio, a penitência, penetra na densa
floresta e volta amadurecido (crescimento pessoal depois da prova), renovado. Vence pela supe-
ração e realização da tarefa difícil que lhe foi imposta e pelo reconhecimento, reassumindo seu
posto com pompas e honrarias ( regresso).
Folclore

Um santo verdadeiro – Este conto fala sobre a soberba de um devoto diante de um eremita,
verdadeiro sábio com alto grau de elevação. Grau que o devoto quer conquistar. Diante de um
mantra que ele acha mal pronunciado, atreve-se a se julgar superior ao eremita, real conhecedor
das coisas. Assim pensa até ver o sábio caminhando ao seu lado sobre as águas. Narrativa
simples, extraída do folclore, sugere ensinamento. Traz em si uma parábola: imagem simbólica,
dentro de relato de sentido próprio.

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A cama, a bolsa e a tigela – Este conto do folclore, vem carregado de sígnificados, alguns deles

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contidos no próprio conto, como os objetos do título: cama, bolsa, tigela. Assim, temos um prín-
cipe que caça nas florestas, porém, é proibido pelos pais de sair de seus limites, há o medo de

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que ele conheça novos horizontes, encontre a princesa Labam. Princesa que é a motivação para
que o herói transgrida a proibição. Nessa busca, ele encontra papagaios, formigas e leões (doa-
dores) que ele primeiro salva e depois o ajudam, além de uma cama (transporte); uma bolsa

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(roupas, jóias, alimento); uma tigela (água), e de um cajado, objetos mágicos que serão seus

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auxiliares para enfrentar muitos desafios. Encontra também uma velha senhora (auxiliar)em uma
cabana, que lhe pergunta de onde vem e para onde vai (tal qual faz a Baba-Yaga nos contos
russos) e lhe dá abrigo. Ela lhe conta onde vive Labam, a princesa que à noite sobe ao telhado
do castelo e brilha mais que a lua, iluminando o país inteiro (luz). O príncipe e herói, apaixonado,
vence também os desafios (carência, perseguição) que lhe são impostos pelo pai da princesa
(antagonista), mas consegue recuperar as buscas, casa com Labam e retorna à sua terra (re-
gresso). Guarda com ele a cama, a bolsa e a tigela e, menciona o conto: jamais usou seu cajado
(arma), pois seu reino foi de paz. Mas cabe a pergunta: teria ele conservado o cajado por simbo-
lizar agora seu eixo de mundo?

A cidade de Marfim – Mais um conto do folclore que, como o anterior, inicia com um príncipe que
pratica a arte do arco e flecha. Flecha que, acidentalmente, fere uma mulher e dá início ao
conflito: o rajá expulsa o filho do reino. Com ele vai seu fiel amigo, filho do grão-vizir. Num lago
dos arredores, o príncipe vê a imagem de uma fada. É a princesa Gulizar, por quem ele se
apaixona perdidamente. Tem início uma busca cheia de percalços (desafios, tarefa difícil). No
caminho, há uma cabana onde vive uma velha senhora que lhes dá abrigo (auxiliar). O maior
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auxiliar do herói, porém, é o amigo que o acompanha. Embora sejam vários, podemos dizer que,
num certo momento, o maior antagonista, passa a ser o ciúme doentio que Gulizar passa a ter do
amigo, chegando a tramar contra a sua vida. De princesa amada ela passa a antagonista, cau-
sando uma reviravolta e um plano. A princesa é marcada com uma espátula quente (marcar a
ferro e fogo?) o malfeitor é desmascarado, perdoado e tudo acaba bem com a volta do principe
ao seu reino (regresso) e seu casamento com Gulizar.

Atividades pós-leitura
• Geografia Física e Humana – relembrar características dos contos, situando semelhan-
ças e diferenças culturais entre Oriente e Ocidente.
• Povos e Culturas – desenvolver pesquisas relacionadas a diferentes culturas, identifican-
do semelhanças e contrastes.
• Signos e Símbolos – propor debates ou competições sobre os símbolos presentes no
nosso cotidiano e na nossa cultura, buscando identificar seus vários significados;

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• História e Religião – relacionar o conto Manu e o dilúvio com a Arca de Noé. Relacionar o
conto Karna, o Moisés indiano, com a história e vida de Moisés.
• História Geral e do Brasil – desenvolver trabalhos e pesquisas relacionados à descoberta
do Caminho para as índias; à rota marítima dos descobrimentos; datas, personagens e
motivações; as especiarias e outras riquezas etc.
• História Contemporânea – pesquisar sobre monumentos como, por exemplo, o Taj Mahal,
recentemente anunciado como uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno. Bus-
car a história de amor que costuma ser associada à sua construção.

Filmes
As Mil e Uma Noites (Alf Lailah Oua Lailah)
DVD. Obra clássica da literatura, coleção de contos orientais (entre eles, indianos) compilados prova-
velmente entre os séculos XIII e XVI. Lançamento: 2006 – Direção: Steve Barron, (EUA-2000), 148
minutos, faixa etária 12 anos.

Historia da Índia (série de documentários)


DVD. BBC e Revista Vida Simples – do historiador inglês Michael Wood. Um passeio pela milenar
cultura indiana: Da Pré-História à Civilização; Espiritualidade no dia-a-dia; Rota das Especiarias e da
Seda; Cheiros, Cores e Aromas que Atraíram Comerciantes; Rota da Seda; A Era de Ouro das Artes;
Sincretismo Religioso; Do Domínio à Liberação. Lançamento 2008, 330 min.

Planeta Estranho – Índia Exótica (documentário)


DVD. Do jornalista Arthur Veríssimo – Log on Editora.
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Bibliografia
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
CORSO, Diana Lichtenstein e Mário. Fadas no Divã. Porto Alegre: Artmed Editora, 2006.
GOTLIB, Nadia Batella. Teoria do conto. São Paulo: Ática, 2000.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1984.
MOISÉS, Massaud. A Criação Literária – Prosa I – São Paulo: Cultrix, 1998 – 16ª. ed. rev.
PROPP, Vladimir I. Morfologia do conto maravilhoso. Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária, 1984.
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa On-line, disponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?

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ROTEIRO DeLeitura elaborado pela socióloga e escritora Sonia Salerno Forjaz; Bacharel em
Ciências Sociais pela FFLCH/USP; Licenciada pela FE/USP; Especialista em Português, Língua
e Literatura pela UMESP; autora de literatura infanto-juvenil.

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