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Teste de Avaliação Português

3º Ano Turma ___


Nome do/a aluno/a: ______________________________________________ N.º _____

Professora: __________________ 1

Grupo I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.
Na parte A, responde apenas às questões relativas ao romance de José Saramago que estudaste.

A
Lê o excerto de O Ano da Morte de Ricardo Reis.

Ricardo Reis diz, Lá lhe ficou uma lembrança, o Pimenta responde, Muito obrigado ao
senhor doutor, quando quiser alguma coisa é só dizer, todas estas palavras são inúteis, e isso
ainda é o melhor que podemos dizer delas, quase todas, em verdade, hipócritas, razão tinha
aquele francês que disse que a palavra foi dada ao homem para disfarçar o pensamento, enfim,
5 teria razão o tal, são questões sobre as quais não devemos fazer juízos perentórios, o mais
certo é ser a palavra o melhor que se pôde arranjar, a tentativa sempre frustrada para exprimir
isso a que, por palavra, chamamos pensamento. Os dois moços de fretes já sabem aonde
devem levar as malas, Ricardo Reis disse-o depois de se ter retirado Pimenta, e agora sobem a
rua, vão pela calçada para maior desafogo do transporte […]. A meio da rua têm os moços de
10 fretes de chegar-se para um lado, e então aproveitam para arrear a carga, respirar um pouco,
porque vem descendo uma fila de carros elétricos apinhados de gente loura de cabelo e rosada
de pele, são alemães excursionistas, operários da Frente Alemã do Trabalho, quase todos ves-
tidos à moda bávara, de calção, camisa e suspensórios, o chapelinho de aba estreita, pode-se
ver facilmente porque alguns dos elétricos são abertos, gaiolas ambulantes por onde a chuva
15 entra quando quer, de pouco valendo os estores de lona às riscas, que irão dizer da nossa civi-
lização portuguesa estes trabalhadores arianos, filhos de tão apurada raça […].
Estamos perto. Ao fundo desta rua já se veem as palmeiras do Alto de Santa Catarina, dos
montes da Outra Banda assomam pesadas nuvens que são como mulheres gordas à janela,
metáfora que faria encolher os ombros de desprezo a Ricardo Reis, para quem, poeticamente,
20 as nuvens mal existem, por uma vez escassas, outra fugidia, branca e tão inútil, se chove é só
de um céu que escureceu porque Apolo velou a sua face. Esta é a porta de entrada da minha
casa, […] agora entremos todos, as duas malas pequenas, a maior, repartindo o esforço, paga-
-se o preço ajustado, a esperada gorjeta, cheira a intenso suor, Quando tornar a precisar da
gente, patrão, estamos sempre ali, não duvidou Ricardo Reis, se com tanta firmeza o diziam,
25 mas não respondeu, E eu sempre aqui estarei, um homem, se estudou, aprende a duvidar,
muito mais sendo os deuses tão inconstantes, certos apenas, eles por ciência, nós por expe-
riência, de que tudo acaba, e o sempre antes do resto.
SARAMAGO, José, 2016. O Ano da Morte de Ricardo Reis. 22.ª ed. Porto: Porto Editora (pp. 250-252) (1.ª ed. 1984)

1. Justifica os comentários do narrador nas linhas 2-3, considerando o momento da ação.


2. Interpreta as referências aos “alemães excursionistas” (l. 12).

3. Relaciona a caracterização de Ricardo Reis apresentada no último parágrafo com os tópicos


temáticos da sua poesia.
A
1
Lê o excerto de Memorial do Convento.

Já o padre Bartolomeu Lourenço regressou de Coimbra, já é doutor em cânones,


confirmado de Gusmão por apelativo onomástico e firma escrita, e nós, quem somos
nós para nos atrevermos a taxá-lo do pecado de orgulho, maior bem nos faria à alma
perdoar-lhe a falta de humildade em nome das razões que deu, assim possam ser-
5 -nos perdoados os nossos próprios pecados, esse e outros, que ainda o pior de tudo
não será mudar de nome, mas de cara, ou de palavra. De palavra e cara não parece
ele que tenha mudado, para Baltasar e Blimunda de nome também não, e se el-rei o
fez fidalgo capelão de sua casa e académico da sua academia, são de tirar e pôr essas
caras e palavras, que, com o nome adotado, ficam ao portão da quinta do duque de
10 Aveiro, e não entram, embora se adivinhe o que fariam os três se chegassem à vista
da máquina, diria o fidalgo que são trabalhos mecânicos, esconjuraria o capelão a
obra diabólica ali manifesta, por ser isto coisa do futuro se retiraria o académico,
para só voltar quando fosse coisa passada. Ora, este dia é hoje. […]
Mora o padre cerca do paço, e ainda bem, pois muito o frequenta, não tanto por
15 obrigações firmes do seu título de capelão fidalgo, mais honorífico que efetivo, mas
por lhe querer bem el-rei, que ainda não perdeu de todo as esperanças, e já vão onze
anos passados, por isso pergunta, benévolo, Verei voar a máquina um dia, ao que o
padre Bartolomeu Lourenço, honestamente, não pode responder mais do que isto,
Saiba vossa majestade que a máquina um dia voará, Mas estarei cá para ver, Viva
20 vossa majestade nem tanto quanto viveram os antigos patriarcas do Testamento
velho, e não só verá voar a máquina, como nela voará. Parece ter seu quê de imper-
tinente a resposta, mas el-rei não faz reparo, ou reparou e usa de indulgência, ou o
distrai lembrar-se de que vai assistir à lição de música de sua filha, a infanta D. Maria
Bárbara, isto terá sido, faz um sinal ao padre para que se junte ao séquito, nem todos
25 se podem gabar destes favores.
Está a menina sentada ao cravo, tão novinha, ainda não fez nove anos e já gran- des
responsabilidades lhe pesam sobre a redonda cabeça, aprender a colocar os dedi-nhos
curtos nas teclas certas, saber, se o sabe, que em Mafra se está construindo um
convento, muito verdade é o que se diz, pequenas causas, grandes efeitos, por nascer
30 uma criança em Lisboa levanta-se em Mafra um montanhão de pedra e vem de Lon-
dres contratado Domenico Scarlatti.
SARAMAGO, José, 2014. Memorial do Convento. 56.ª ed. Porto: Porto Editora (pp. 173-174) (1.ª ed.:1982)

1. Interpreta a afirmação “são de tirar e pôr essas caras e palavras” (ll. 8-9), no contexto em que
ocorre.
2. Apresenta dois traços caracterizadores de D. João V, fundamentando as tuas afirmações
com elementos textuais.
3. Relaciona o recurso ao provérbio “pequenas causas, grandes efeitos” (l. 29) com a
intencionalidade dos comentários do narrador, no último parágrafo.

B
1

Lê o excerto do “Sermão de Santo António” do Padre António Vieira.

Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão
Polvo, contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que São Basílio, e Santo
Ambrósio. O Polvo, com aquele seu capelo1 na cabeça, parece um Monge, com aqueles
seus raios estendidos, parece uma Estrela, com aquele não ter osso, nem espinha,
5 parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta,
ou desta hipocrisia tão santa, testemunham contestamente2 os dois grandes
Doutores da Igreja Latina, e Grega, que o dito Polvo é o maior traidor do mar. Con-
siste esta traição do Polvo primeiramente em se vestir, ou pintar das mesmas cores
de todas aquelas cores, a que está pegado. As cores, que no Camaleão são gala, no
10 Polvo são malícia; as figuras, que em Proteu3 são fábula4, no Polvo são verdade, e
artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no
lodo, faz-se pardo; e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma
estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe
inocente da traição vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada
15 dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro.
Fizera mais Judas? Não fizera mais; porque nem fez tanto. Judas abraçou a Cristo,
mas outros O prenderam: o polvo é o que abraça, e mais o que prende.
VIEIRA, Padre António, 2014. “Sermão de Santo António”. In Obra Completa (Direção de José Eduardo Franco e Pedro
Calafate). Tomo II. Volume X (Sermões Hagiográficos I). Lisboa: Círculo de Leitores (p. 162) (1.ª ed.: 1682)

1. capuz; 2. com testemunho uniforme; 3. deus do mar que tinha a capacidade de se metamorfosear; 4. falsidade; 5. traidor.

4. Interpreta a referência às “cores” (l. 8), no contexto da crítica dirigida ao polvo.

5. Estabelece uma relação entre a dimensão alegórica do excerto e os objetivos do sermão.

Grupo II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.
Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
Lê atentamente o texto.

Tal como os seres humanos são mamíferos, os polvos são cefalópodes. A palavra
é grega, significa “cabeça-pé” e remete para a sua estranha anatomia: os braços dire-
tamente ligados a um dos lados da cabeça e o “tronco” (o manto semelhante a um
saco) ao outro. […] 1
5 Na atualidade, existem mais de 750 espécies vivas conhecidas de cefalópodes.
Além de cerca de trezentas espécies de polvos, há ainda um amplo leque de lulas e
chocos (ambos animais com dez membros) e algumas espécies de náutilos, animais
estranhos que possuem 90 tentáculos e vivem no interior de carapaças. Os polvos
contemporâneos são uma família muito diversificada.
O polvo-gigante-do-pacífico é, como o seu nome sugere, gigantesco. Cada tentá-
culo de um indivíduo de grande porte pode atingir dois metros de comprimento e o
animal pode pesar mais de cem quilogramas. Outros, como o polvo-pigmeu, são
10
ínfimos, pesando menos de trinta gramas. […]
Os polvos e chocos que vivem em águas pouco profundas e são caçadores diur-
nos são os campeões mundiais da camuflagem. Como é evidente, o disfarce não é
invulgar: muitas criaturas evoluíram de maneira a assemelhar-se a algo que não são.
15
[…]
O que torna os polvos e os chocos (e, em menor grau, as lulas) diferentes é a sua
capacidade para se disfarçarem num ápice, ora assemelhando-se a corais, ora a um
molho de algas, ora a um pedaço de areia. É como se utilizassem a pele para elaborar
imagens tridimensionais de objetos localizados perto de si. Como conseguem fazê-
-lo? O disfarce do polvo é composto por três elementos principais. Um deles é a cor.
20
Os polvos geram cor através de um sistema de pigmentos e refletores. […]
No seu conjunto, os refletores e os órgãos dos pigmentos permitem ao polvo
criar uma enorme variedade de cores e padrões. O segundo elemento de disfarce é a
textura da pele. Contraindo músculos especiais, os polvos conseguem alterar a pele,
que deixa de ser lisa para passar a ser espinhosa. […]
25
A terceira componente do disfarce é a postura. O modo como um polvo se com-
porta pode fazê-lo dar mais ou menos nas vistas. Há alguns polvos, por exemplo,
que se enrolam de maneira a assemelhar-se a um monte de coral e, utilizando apenas
dois braços, deslizam suavemente sobre o fundo do mar.
Como conseguiram os polvos ser tão bem-sucedidos no disfarce? A resposta
curta é: evolução. Ao longo de dezenas de milhões de anos, os espécimes mais capa-
30
zes de disfarçar-se foram tendo mais probabilidades de fugir aos predadores e gerar
descendência. E existem muitos animais – incluindo enguias, golfinhos, camarões
louva-a-deus, corvos marinhos, muitos peixes e até outros octópodes – que são en-
tusiásticos devoradores de polvos. Como os polvos não têm ossos, os predadores
30
podem comer o animal inteiro.
JUDSON, Olivia, 2016. “O poder do oito”. National Geographic Portugal,n.º 188, novembro de 2016 (pp. 47-56)
1. De acordo com o texto,
(A) é comum a todos os cefalópodes a capacidade de se camuflarem.
(B) o desenvolvimento da capacidade de camuflagem do polvo decorreu de necessidades
de proteção e defesa.
(C) as alterações cromáticas mais rápidas verificam-se nos polvos que vivem
essencialmente no fundo do mar.
(D) através de um sistema de pigmentos e refletores, os polvos conseguem mudar a cor e a
1
textura da sua pele.

2. A utilização das palavras “cefalópodes” (l. 1), “polvos” (l. 6), “lulas” (l. 6), “chocos” (l. 7) e “náutilos” (l. 7)
exemplifica o processo de coesão

(A) referencial.
(B) lexical por substituição (holonímia-meronímia).
(C) lexical por repetição.
(D) lexical por substituição (hiperonímia-hiponímia).

3. Com o recurso aos complexos verbais “pode atingir” e “pode pesar”, nas linhas 11-12,
concretiza-se
(A) a modalidade epistémica com valor de certeza.
(B) a modalidade deôntica com valor de permissão.
(C) a modalidade epistémica com valor de probabilidade.
(D) a modalidade apreciativa.

4. O constituinte “por três elementos principais” (l. 21) desempenha a função sintática de
(A) complemento oblíquo.
(B) complemento do adjetivo.
(C) complemento agente da passiva.
(D) modificador.

5. Ao utilizar a interrogação retórica, nas linhas 20-21 e 31, a autora


(A) solicita uma informação e reforça uma opinião, respetivamente.
(B) reforça uma opinião e introduz um argumento, respetivamente.
(C) introduz uma explicação, em ambos os casos.
(D) introduz um argumento, em ambos os casos.

6. Contribui para a coesão frásica


(A) a utilização do determinante possessivo, na linha 2.
(B) a presença do predicativo do sujeito “uma família muito diversificada”, na linha 9.
(C) o recurso à conjunção “ora”, nas linhas 18 e 19.
(D) a enumeração de “animais”, nas linhas 34 e 35.

7. O texto é constituído por sequências


(A) explicativas e descritivas.
(B) explicativas e argumentativas.
(C) descritivas e argumentativas.
(D) narrativas e descritivas.

8. Refere o valor aspetual da frase: “Ao longo de dezenas de milhões de anos, os espécimes mais
capazes de disfarçar-se foram tendo mais probabilidades de fugir aos predadores e gerar
descendência.” (ll. 32-34).
1
9. Indica o princípio associado à coerência textual concretizado com o recurso às expressões “três
elementos principais” (l. 21), “Um deles” (l. 21), “O segundo elemento” (l. 24) e “A terceira
componente” (l. 27).

10. Classifica a oração subordinada introduzida por “Como”, na linha 36.

Grupo III

No excerto de O Ano da Morte de Ricardo Reis transcrito no grupo I, o narrador alude a


Stendhal, autor francês dos séculos XVIII e XIX, quando afirma: “razão tinha aquele francês que
disse que a palavra foi dada ao homem para disfarçar o pensamento” (ll. 3-4).

Redige um texto de opinião em que defendas um ponto de vista pessoal sobre a perspetiva
veiculada pela frase citada.

Escreve um texto bem estruturado, de duzentas a trezentas palavras, respeitando as marcas do


género.

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