Efeitos Da Radiação No Ambiente: Acidentes 1: Faculdade JK - Campus Asa Sul

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FACULDADE JK – CAMPUS ASA SUL

José Hilson da Rocha Araújo Júnior


Matrícula: 11605936
Radiologia 6º Semestre – Asa Sul
Welber de Sousa Costa Santos
Matrícula: 201606172

Efeitos da radiação no ambiente: acidentes 1


Submarino K-19 (União Soviética)

Brasília – DF
2020
Introdução

Neste trabalho iremos falar sobre o acidente radioativo soviético que


aconteceu no ano de 1961. Para entender esse acidente precisaremos saber o
contexto histórico e cultural da época, e brevemente, as funções e as razões de um
submarino e um reator nuclear. Sobre como foi evitado um acidente de maior escala
e o que o Brasil faz para que acidentes como esse não aconteçam conosco.

Contexto Histórico: Guerra Fria

Tendo início após a Segunda Guerra Mundial no ano de 1945 e com término
próximo a extinção da União Soviética em 1991 a Guerra Fria foi o conjunto de
disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União
Soviética, disputando a hegemonia política, econômica e militar no mundo.

A URSS buscava implantar o modelo político conhecido como socialismo, que busca
a igualdade social, para que pudessem expandir em outros países. Enquanto os
Estados Unidos, a outra potência mundial defendia o sistema capitalista.

Dentro de toda a rivalidade e tentativa de influenciar outros países, os USA e a


URSS não conflitavam diretamente com armamentos, pois tinham grande
quantidade de armamento nuclear, e um conflito direto significaria o fim dos dois
países e, possivelmente, de toda a humanidade. Por isso, chama-se Guerra Fria,
dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear. Porém ambos acabaram
alimentando conflitos indiretos como, por exemplo, na Coreia e no Vietnã. (SÓ
HISTÓRIA, [s.d.])

Reator Nuclear

Para saber sobre o submarino precisamos entender como funciona um reator


nuclear. Ele é um dispositivo usado para controlar a reação de fissão nuclear. Essa
reação acontece normalmente de forma descontrolada, como em explosões de
bombas atômicas. Por isso os reatores são usados, para controlar essa reação e
para transformá-la em energia elétrica. Esses reatores são montados com barras de
combustível físsil feitos basicamente de Urânio enriquecido (que é o urânio com
grande quantidade de urânio 235) ou de plutônio 239 que intercalam com barras de
moderador de nêutrons feitos de grafite ou cádmio ou de água pesada (D 2O).

Nêutrons liberados na ruptura nuclear colidem com núcleos dos moderadores,


absorvendo nêutrons sem que haja ruptura. O resultado natural é que a reação fique
controlada.

A energia gerada em forma de calor faz com que a temperatura da água se eleve, a
ponto de ela ser transformada em vapor. Esse vapor aciona uma turbina, que gera a
energia elétrica de forma mecânica. (FOGAÇA, [s.d.])

Submarino nuclear

A diferença entre um submarino comum e o submarino nuclear está apenas


no combustível. Normalmente quando se fala de submarino nuclear as pessoas
pensam que se trata de um submarino com armas nucleares, mas na verdade, a sua
propulsão é que é nuclear.

No início dos anos 50, a marinha americana obteve um avanço tecnológico


desenvolvendo um reator nuclear pequeno o suficiente para caber dentro do
submarino. Esse reator gera grande quantidade de energia em forma de calor, de
acordo com o modelo de reator que apresentamos acima.

Como o reator nuclear não precisa de ar fresco, o submarino pode ficar submerso
por tempo ilimitado com oxigênio suficiente e necessário para a sobrevivência da
tripulação. (MUNDO ESTRANHO, 2011)

Acidente K-19

O K-19 foi um dos dois primeiros submarinos soviéticos da classe Hotel 658
(submarinos com grande capacidade de ocupação), a primeira geração submarinos
nucleares equipados com mísseis balísticos nucleares. Sabe-se nem todos tiveram
conhecimento de que o mundo chegou a ponto de sofrer a maior catástrofe nuclear da
história no dia 4 de julho de 1961, dia em que se comemora na América a
independência dos Estados Unidos. O primeiro submarino atômico soviético, sofreu
uma grave intercorrência entre Groenlândia e Noruega. No caso de explosão, o
cataclismo teria superado os de Chernobyl e Fukushima. Além disso, os Estados
Unidos teriam interpretado o acidente como uma provocação por parte da União
Soviética no meio da crise dos mísseis de Cuba, o que teria desembocado na tão
temida Terceira Guerra Mundial.

Os EUA tinham acabado de lançar o submarino atômico George Washington, e a


URSS não podia ficar atrás. A resposta foi o K-19, uma embarcação construída pelos
soviéticos de 114 metros de comprimento, capaz de submergir a 300 metros de
profundidade e que levava três mísseis balísticos nucleares de 1,4 megaton cada um.
(ORTEGA, 2011)

O K-19, fora carinhosamente apelidado pelos tripulantes de Hiroshima e também de


Fazedor de Viúvas. Foi um projeto feito corrido para dar uma plataforma para seus
mísseis de curto alcance. Feito de maneira irresponsável.

Fora o heroísmo da tripulação por salvar algo que parecia impossível, todo o resto
pode ser substituído velha incompetência soviética. O K-19 saiu do estaleiro já com
uma dívida de sangue, pois pelo menos 10 trabalhadores morreram em acidentes
durante sua construção.

Em sua viagem inaugural o sistema de resfriamento do reator falhou. O capitão


mandou acionar o sistema de reserva, mas com a pressa de lançar o submarino,
decidiram por não instalar. (CARDOSO, [s.d.])

O reator foi desligado, mas o calor continuou aumentando, a temperatura começou a


subir e a radiação se propagava por toda a embarcação. (CARDOSO, [s.d.]) A
intercorrência ocorreu quando o submersível estava perto da ilha norueguesa de Jan
Mayen, que acolhia então uma base da OTAN. O capitão e 139 tripulantes
permaneceram a bordo para reparar o sistema. "A avaria do reator direito é grave.
Há sinais de radiação. Existe ameaça de explosão. Retornamos à base a dez nós de
velocidade. A base não responde", relembra Zateev. Todo mundo pensava que o
reator era confiável. Uma avaria era algo impensável. Com o risco de o reator
derreter, o capitão Vladimir Zateev ordenou que fosse construído um sistema de
resfriamento na base da gambiarra com água potável, o que significava trabalhar
direto no compartimento do reator. "Então, o tenente Yuri Filin teve a ideia de encher
de água a área ativa do reator para diminuir a temperatura, através do encanamento
conectado à bomba de ar do reator estragado", conta. "Junto com o capitão Kozirev,
entramos no sexto compartimento para comprovar se tudo andava segundo o
previsto. Honestamente, não fui ali por esse motivo. Fui, já que tinha certeza que
enviava os homens para uma morte certa. Devia animá-los, dar-lhes a entender que
seu comandante estava com eles no momento de mais dificuldade", continua. "Desci
ao sexto compartimento. Nesse momento a porta se abriu e do interior do reator saiu
Boris Korchilov. Ele tirou a máscara e vomitou uma espuma amarelada", diz em suas
memórias.

A ideia funcionou, mas custou a vida de vários tripulantes. Oito marinheiros que
participaram diretamente na reparação do incidente morreram em questão de dias, e
15 morreram nos dois anos seguintes.

"Todos começamos a sentir náuseas. Fui para meu camarote, me deitei. Devia agir
salvar a tripulação do submarino. O importante eram as pessoas. Estava claro que,
todos os que tinham passado pelo sexto compartimento estavam condenados. Mas,
o que podia fazer? Restavam 1,5 mil milhas para chegar à base. A dez nós,
chegaríamos em casa em seis ou sete dias. Morreríamos todos. E de repente me
lembrei do mapa das manobras navais. Um submarino a diesel soviético devia estar
na região. Não conhecia suas coordenadas. Uma possibilidade entre um milhão",
comenta.

Houve também uma ameaça de motim a bordo. "Parecia o roteiro de um filme ruim
de piratas. Ameaçaram-me com um motim e com a detenção. Não tinha a menor
dúvida da lealdade dos meus marinheiros e que ninguém respaldaria os
amotinados", disse.

Zateev dispensou a ajuda vindas de navios americanos que navegavam pela


região. "Estávamos no meio da Guerra Fria e atracar em ilhas onde provavelmente
haveria uma base naval do inimigo era considerado traição a uma pátria que nos
confiou seu único submarino nuclear", relatou.
Quando o desespero começou a se espalhar, surgiram dois submarinos soviéticos,
que recolheram a tripulação do K-19: "Os marinheiros tiveram que ficar nus e jogar a
roupa ao mar para não contaminar os navios".

"A tripulação do K-19 deixou a embarcação. Encontro-me a bordo do submarino S-


159. No caso de as forças navais da OTAN se aproximarem do K-19 e tentarem
entrar no navio, eu mesmo o torpedearei. Comandante do submarino K-19. Capitão
de segunda categoria, Zateev. 5 de Julho de 1961", diz a última mensagem de
Zateev, que morreu em 1998. (ORTEGA, 2011)

Sem poder pedir socorro a Moscou, pois o rádio havia quebrado, o K-19 viajou até o
ponto de encontro com outro submarino soviético e foi rebocado, se tornando um
pesadelo radioativo para as equipes de manutenção. O chefe da seção de mísseis,
Gleb Bogatski, perdeu a viagem, pois ficou doente antes das manobras do K-19. No
entanto, no retorno do submarino estragado foi designado chefe da missão de
descontaminação da embarcação, com centenas de pessoas. (CARDOSO, [s.d.])

Depois disso o K-19 foi reformato, voltou à ativa e se envolveu em vários outros
acidentes, incluindo uma colisão com um submarino americano e só foi
descomissionado em 1990. Antes de morrer Vladimir deixou escrito um relato
detalhado sobre a travessia, no qual conta como o objetivo do K-19 era lançar um
míssil de teste a cerca de 500 milhas marítimas do litoral americano. A embarcação
zarpou no dia 18 de julho com 139 tripulantes a bordo. Até que foi desmontado em
2003.

Alguns especialistas dizem que uma explosão no reator do submarino poderia


também ter causado a explosão dos mísseis e torpedos a bordo do submarino, o
que teria sido interpretado como um ataque preventivo pelos Estados Unidos e
poderia ter desencadeado uma terceira guerra mundial. (ORTEGA, 2011)

O incidente não foi divulgado porque a operação foi vista como um fracasso e os
membros da tripulação como não merecedores de reconhecimento. Os primeiros
membros da tripulação mortos foram enterrados secretamente em caixões de
chumbo a seis metros de profundidade para conter a radiação de seus corpos.
(ESTADO, 2006)

Os militares só foram reconhecidos depois da queda do governo soviético, quando o


ex-líder Mikhail Gorbachev defendeu que os membros da tripulação do K-19
mereciam receber o Prêmio Nobel da Paz pelos seus feitos. (ORTEGA, 2011)

Níveis de radiação

“O nível de radiação era 17 mil vezes maior do que o permitido. Deram-nos


trapos e camisetas, galões de água e nada mais e com isso deviam limpar cada
centímetro do navio. Conseguimos fazer isso em cinco meses", disse Bogatski, que
também recebeu altas doses de radiação, e por isso foi aposentado em 1964.

Nikishin considera que o K-19 merece um Nobel, já que mudou o modo de uso da
energia atômica. "Paradoxalmente, a avaria do submarino soviético abriu passagem
para uma revolução tecnológica, já que a partir daí todos os países começaram a
introduzir em seus reatores sistemas de esfriamento. A princípio, era um segredo de
Estado, mas a realidade é que o acidente contribuiu para garantir a segurança
nuclear", opinou.

Pouco antes de morrer, o comandante deixou escrito que fosse criado um museu em
honra do K-19 para que ninguém esquecesse um dos eventos mais dramáticos da
Guerra Fria. O museu seria como o “último acorde da Guerra Fria”. (ORTEGA, 2011)

Cinema

O acidente serviu de base para o filme de Hollywood em 2002, "K19: The


Widowmaker" estrelado por Harrison Ford e Liam Neeson. (HESSEL, 2002)

Sobreviventes dizem que o filme foi um insulto por não apresenta-los como heróis,
mas como alcoólatras analfabetos. Igor Kurdin, um dos capitães da fragata diz que
“não é um filme sobre os russos, mas sim um filme sobre o que os americanos
pensavam sobre os russos”. Por outro lado, Kurdin acredita que as críticas dos
sobreviventes são demasiadamente agressivas, pois “as pessoas de idade sempre
idealizam sua juventude”. (ESTADO, 2002)

"A realidade foi mais aterrorizante do que o filme", comentou após vê-lo o almirante
Vladimir Chernavin, o último comandante-em-chefe da Marinha soviética. (ORTEGA,
2011)

"Hoje pagamos tributo a pessoas que morreram salvando o barco. Se o barco


tivesse morrido, todos os oceanos do mundo teriam morrido, e ninguém conseguiria
formar um quadro completo da magnitude das consequências disso", disse Nikishin.
(ESTADO, 2006)

Brasil e Radioproteção

No Brasil existem programas de submarinos nucleares, porém, dentre os sete


países que são capazes de construir um equipamento desses, é o único que não
tem planejamento para armamento nuclear. (FILHO, 2012)

Hoje a Marinha do Brasil se vê preparada para atuar caso ocorra algum acidente
radiológico em nosso território ou onde se encontra algum militar brasileiro. Há
vários estudos acadêmicos, pesquisas, artigos e cursos de radioproteção a
acidentados disponibilizados pela própria Marinha, por exemplo, o Curso de
Proteção Radiológica e Atendimento ao Paciente Radio acidentado para Praças
Enfermeiros, com o objetivo de capacitar praças enfermeiros a executar
procedimentos de rotina ou urgência em pacientes irradiados.

Com a justificativa de que, em caso de acidente nuclear, o atendimento a vítimas


precisa ser rápido, eficaz e estruturado para que a resposta seja efetiva, dada a
movimentação do submarino com sua tripulação, e o impacto de acidentes
radiológicos e nucleares, o acidente/socorro não pode ocorrer apenas em uma Base
de Submarinos, mas em qualquer lugar do território nacional. Assim, há de se
manter profissionais capacitados por todo o território nacional.

A capacitação, o treinamento e o adestramento adequado de militares, atuantes na


tragédia de Goiânia demonstraram que o universo de implicações e de entrosamento
entre os profissionais que participaram do atendimento e do socorro às vítimas, inter-
relacionou administração funcional, tempo, cuidados e espaço físico com grande
precisão. Com essa experiência brasileira, o preparo para lidar com outros tipos de
acidentes ficou mais eficiente. (DE MIRANDA, 2012)

Conclusão

É fato que tivemos em nossa história muitos casos de descaso com material
radioativo. No início sofremos com o desconhecimento do que é novo e também com
a imperícia dos governantes, porém, energia nuclear e radioatividade, como
qualquer outra tecnologia é tão segura quanto decidimos que ela seja. Por isso, hoje
podemos contar com estudos científicos e informação suficiente que nos ajuda a ter
os devidos cuidados. O acidente com o K-19 nos mostra o quanto é importante o
cuidado detalhado e aprofundado com o desconhecido.
Referências:

CARDOSO, Carlos. ‘‘Submarino nuclear russo vazando radiação 100 mil vezes
acima do normal, mas calma, não é terrível’’; Meiobit [s.d.] Disponível em:
<https://meiobit.com/403524/submarino-nuclear-russo-vazando-radiacao-100-mil-
vezes-acima-do-normal-mas-calma-nao-e-terrivel/> Acesso em 01 de maio de 2020

ORTEGA, Ignacio. ‘‘Acidente nuclear em 1961 quase desencadeou 3ª guerra mundial’’;


Terra 15 de out. de 2011. Disponível em:
<https://www.terra.com.br/noticias/mundo/acidente-nuclear-em-1961-quase-
desencadeou-3-guerra-
mundial,27c92352316fa310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html > Acesso em 01 de
maio de 2020

FOGAÇA, Jennifer. ‘‘Reator nuclear’’; Brasil Escola [s.d.] Disponível em:


<https://brasilescola.uol.com.br/quimica/reator-nuclear.htm> Acesso em 01 de maio de 2020

ESTADO, Agencia. ‘‘Veteranos lembram acidente com submarino soviético’’; A


Tarde 04 de jul. de 2006. Disponível em:
<http://atarde.uol.com.br/mundo/noticias/1427659-veteranos-lembram-acidente-com-
submarino-sovietico> Acesso em 01 de maio de 2020

ESTADO, agencia. ‘‘Marinheiros russos criticam filme de Harrison Ford’’; Estadão 22


de jul. de 2002. Disponível em:
<https://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,marinheiros-russos-criticam-filme-de-
harrison-ford,20020723p1021> Acesso em 07 de maio de 2020

HESSEL, Marcelo. ‘‘Crítica K-19’’; Omelete 29 de out. de 2002. Disponível em:


<https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/k-19> Acesso em 01 de maio de 2020

MUNDO ESTRANHO, Redação. ‘‘Como funciona o submarino nuclear’’; Superinteressante


18 de nov. de 2011. Disponível em: <https://super.abril.com.br/
mundo-estranho/como-funciona-o-submarino-nuclear/> Acesso em 01 de maio de 2020
DE MIRANDA, Luciano. ‘‘A importância da inclusão do atendimento a
radioacidentados no programa dos cursos de formação de praças e enfermeiros da
marinha do Brasil’’; Rede Bim 2012 Disponível em: <http://www.redebim.dphdm.mar.
mil.br/vinculos/000005/000005bb.pdf> Acesso em 01 de maio de 2020

FILHO, João. ‘‘Visões civis sobre o submarino nuclear brasileiro’’; Scielo 22 de ago.
de 2012. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v29n85/09.pdf> Acesso
em 01 de maio de 2020

‘‘Guerra Fria’’ em Só História. Virtuous Tecnologia da Informação, 2009-2020.


Disponível em <https://www.sohistoria.com.br/ef2/guerrafria/> Acesso em 01 de maio
de 2020

K-19 the Widowmaker. Direção de Kathryn Bigelow. canado-britano-teuto-


estadunidense. Paramount Pictures, 2002. (2h18min.)

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