Jornal Ô Catarina #91

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91

NOV. 2018 - ISSN 2318-3063


ô catarina!
Governador do Estado de Santa Catarina

EXPEDIENTE
Eduardo Pinho Moreira
Secretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte
Tufi Michreff Neto
Presidente
Ozeas Mafra Filho
Diretora de Difusão Artística
Mary Garcia
Diretor de Patrimônio Cultural
Halley Filipouski
Diretor de Administração

EDITORIAL
Jorge Henrique Carneiro Frydberg
Consultor Jurídico
Rodrigo Goeldner Capella
Consultor de Projetos Especiais
Moacir Iguatemi da Silveira Neto
Assistente da Presidência
Sidneya Gaspar de Oliveira
Assessor de Comunicação
Raquel Santi
Gerente Operacional
Joel Costa Jr.
Gerente de Administração, Finanças e Contabilidade
Antônio Ubiratan de Alencastro
Gerente de Logística e Eventos Culturais / Projetos
Ivan Carlos Schmidt Filho
Gerente de Logística e Eventos Culturais / Marketing
Melissa Rodrigues
Gerente de Patrimônio Cultural
Diego Rossi Fermo
Gerente de Pesquisa e Tombamento
Ana Paula G. L. da Silveira
Gerente das Oficinas de Arte
Aline Zanella Bordignon
Administrador do Museu de Arte de Santa Catarina
Susana Bianchini
Administradora do Museu da Imagem e do Som
Ana Ligia Becker
Administradora do Museu Histórico de Santa Catarina
Vanessa Borovsky
Administrador da Casa dos Açores Museu Etnográfico
Valmir Martins Pereira
Composição em Azul Administradora da Casa de Campo do Governador Hercílio Luz
Cianotipia Karoline Käufer Schvambach
Administradora do Teatro Álvaro de Carvalho
Eliza Docena
Administradora da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina
A vida começa aos 40? Patrícia Karla Firmino
Administradora do Centro Integrado de Cultura
Há quem diga, afirme e jure de pé junto que sim. E assim es- Alizandra Oliveira
peramos que seja. Administradora da Escolinha de Arte
Alessandra Ghisi Zapelini
Responsável pela Casa da Alfândega
A Fundação Catarinense de Cultura (FCC) está completando Adriana Aparecida de Brito
40 anos. São quatro décadas de uma viagem que subiu mon-
tanhas, nadou por rios, surfou em ondas, atravessou desertos
Ô CATARINA! 91
e ainda tem um longo caminho a trilhar.
Novembro de 2018
E páginas de um livro em branco para escrever. Editor / Moacir Iguatemi da Silveira Neto
Assistente Editorial - Jornalista / Raquel Santi
Conselho Editorial / Mary Garcia, Moacir Iguatemi da Silveira Neto,
É nesse espírito comemorativo, com uma esperança que Raquel Santi, Sidneya Gaspar de Oliveira
Colaboradores desta edição / Marisa Naspolini, Emanoel Pereira, Thiago Mattes,
toca o céu, que a FCC chega a edição de número 91 do jor- Simone Gutjahr, Tatiana Cobbett, Rosa Maria Tesser, Elke Siedler, Luiza Lins,
nal Ô Catarina. Nas páginas desta publicação, o leitor poderá Márcio H. Martins, Osvaldo Domingos Ferreira, Fernando Lindote, Susana Bianchini.
conferir textos sobre cinema, música, teatro, literatura e outras Capa / Obra de Tharciana Goulart - Memória em Azul (Cianotipia)
Ilustrações / Susano Correia e Tharciana Goulart
artes. Tem fotografia, conto e poesia. Tem pintura, dança e Revisora / Denize Gonzaga
alegria. Tem também a tristeza por aqueles que se foram e, Projeto Gráfico e Diagramação / Moysés Lavagnoli
quem sabe, a gente encontre um dia. Tiragem / 3 mil exemplares

Entre em contato:
Não poderíamos deixar de registrar os 70 anos do Museu de Fundação Catarinense de Cultura
Av. Governador Irineu Bornhausen, 5600.
Arte de Santa Catarina, o MASC. Nem o aniversário do maior Agronômica – CEP: 88025-202
poeta catarinense: Cruz e Sousa. Florianópolis – Santa Catarina
E-mail / [email protected]
Fone / (48) 3664-2680
E pra completar, a prata da casa. O leitor poderá conhecer um Site / www.cultura.sc.gov.br/ocatarina
pouco sobre um dos espaços culturais mais jovens adminis-
trados pela FCC: a Biblioteca de Arte e Cultura, que fica no Os textos assinados são de
responsabilidade dos autores.
Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis. Também
damos início a uma série de textos que revelam alguns talen-
tos de colaboradores da casa.

Venha e fique à vontade! Na nossa festa de 40 anos, você é


nosso convidado especial!
Música

Meu mago Estava na plateia quando conheci Marcelo


Muniz. Era início dos anos de 1980. Como
manezinha atípica que sempre fui, habitante

favorito
de (muitas) outras paragens, vinha passar as
férias em Floripa, fugindo do monótono e in-
sosso verão chuvoso de Brasília. Ficava hos-
pedada no apartamento dos meus avós, nos
arredores da Praça dos Bombeiros, e conse-
guia circular à noite, em plena adolescência,
sem maiores preocupações e inquietações
Por Marisa Naspolini ligadas à segurança, à violência e a outros
dramas contemporâneos. Nesta época, já ti-
nha sido “contaminada” pelo vírus do teatro e
aproveitava as férias sem pai nem mãe para
conhecer um pouco da vida cultural da minha
cidade natal, para onde eu voltaria em breve.
Eram tempos de Vida, Aroeira, Sol da Terra,
Vagão, Dizzy, Galheta, andanças pela Beira-
-mar... A bem da verdade, antes do Marcelo,
eu conheci o Maurício, o primeiro dos Muniz
que cruzou a minha vida. Depois, um/a a
um/a, fui conhecendo os demais integrantes
da icônica família que me marcou por moti-
vos distintos e em tempos variados.
Aquele show do Grupo Engenho encan-
tou a minha geração. Lembro que fui assistir
com minha prima Nice, que na infância havia
sido minha parceira, com todos os primos,
nas brincadeiras de boi de mamão. Tínha-
mos um boi completo, construído pelo vô
brincante Oswy, artesão e ex-dono de uma
fábrica de brinquedos de madeira. Nós duas
nos revezávamos na função da Maricota e
do Pai Mateus e, com os demais, invadíamos
os quintais das casas de amigos e parentes
para dançar o boi e passar o chapéu. Era lin-
do aquilo, uma alegria sem fim! Os jardins da
atual Macarronada Italiana foram palco de
vários dos nossos folguedos, lá pelos anos de
1970. Ao ouvir “Eu vou botá meu boi na rua”,
cantado e tocado com um vigor extraordiná-
rio, era impossível a gente não se comover
com aquela revisitação das nossas histórias,
brincadeiras e memórias. Além disso, a po-
tência musical do grupo ampliava – e muito
– os lugares de alcance de tudo o que se rela-
cionava com a “cultura local”.
Sempre gostei de estar no mundo e culti-
var certo nomadismo e, por muitos anos, não
dei muita importância a essas coisas de valori-
zar as raízes. Isso foi mudando quando resolvi
empreender um projeto, intitulado “América”,
que incluía um espetáculo inspirado na história
do meu bisavô paterno. O espetáculo circulou,
emocionou, deu o que falar e acabou servindo
de ponte para um convite que recebi no iní-
cio de 1996, o qual aceitei de forma despre-
tensiosa, mas responsável. Um grupo de em-
presários e gestores ligados ao turismo, sob a
liderança de Fernando Marcondes de Mattos,
queria criar um evento próprio de Floripa, uma

Bruxa da Ilha
Grafite sobre papel
3
espécie de Oktoberfest local. Tinham um nome para ele: Festival do Tivemos ainda uma terceira parceria criativa. Em Mágicos Nave-
Mar. Mas Fernando, na contramão da maior parte dos organizado- gadores, que se inspirava nas obras literárias e plásticas de Cas-
res, fazia questão de criar um espetáculo original que falasse sobre caes e de Meyer Filho. Marcelo pôde aliar seu talento para com-
a história e a cultura da cidade, só com artistas locais, envolvendo posições densas e profundas (que já tinha gerado obras-primas,
canto, música, dança e o que mais fosse possível. Todos achavam como Praia Brava, composta para Catharina) ao humor. A cena ci-
uma loucura. Ninguém iria ver. Melhor seria contratar uma banda nematográfica de abertura do espetáculo, com barcos conduzidos
pop nacional – Cidade Negra, Skank, qualquer uma dessas que en- por marujos e navegadores atravessando o palco, ganhava uma
chia estádio – e garantir público para o festival. Além disso, certa- dimensão épica sob sua conduta musical e uma iluminação primo-
mente a cidade não contava com artistas de nível para tamanho de- rosa. Por outro lado, a cena de guerra entre soldados portugueses
safio. Mas Fernando bateu o pé e me “encomendou” um espetáculo e espanhóis, com uma visão clownesca das batalhas produzidas
musical que já nascia com expectativa elevada. Encarei o desafio pelo Tratado de Tordesilhas, ganhava um tom leve e cômico com
como uma provocação pessoal: era uma questão de honra mostrar a música marcada pelo bom humor. Devo admitir que a relação
que a cidade tinha talentos de sobra e pesquisadores de peso para entre o diretor Osvaldo Gabrieli e o diretor musical Marcelo nem
dar conta do recado. Tínhamos apenas dois meses até a estreia de sempre foi harmônica. A diferença nos ritmos criativos (e bioló-
algo que ainda não tinha sequer embrião. Era preciso formar uma gicos) volta e meia demandava minha intervenção para manter o
equipe ágil, talentosa e sincronizada em tempo recorde. processo fluindo. Mas novamente o resultado foi arrebatador e a
Catharina, uma ópera da Ilha foi gestada a muitas mãos, e o contribuição do Marcelo não se deu somente na área musical, mas
Marcelo teve mais que duas nesse balaio. Além de exímio musicista também por intermédio do seu profundo conhecimento das coisas
e compositor talentoso, ele tinha profundo conhecimento dos “cau- e dos “causos” ilhéus, o que trazia um componente cósmico, trans-
sos” e das histórias da ilha, já que era discípulo de Cascaes e de- cendental a tudo o que passasse por suas mãos.
fensor ferrenho da cultura local. Mas nosso espetáculo tinha que Marcelo era muitos. Às vezes se revelava um menino carente,
ter ares contemporâneos, precisava unir tradição e contemporanei- ansioso para encontrar quem o escutasse com atenção e sem pres-
dade, segundo os padrões e as demandas da época. O time não sa, quem ouvisse seus lamentos e compreendesse suas susceti-
era fraco: Bebel Orofino, Lau Santos, Rafael Pereira Oliveira, Sylvio bilidades, que se traduziam com frequência em alta sensibilidade
Mantovani, Alejandro Ahmed, Fernando Torres (o Cebola, que de- musical. Outras vezes, agia como um lobo feroz, com uma língua
pois foi substituído pelo Jefferson Bittencourt), José Alfredo Beirão, ferina, defendendo as políticas para a cultura e as tradições popu-
Marcelo Muniz e eu, além de um grupo enorme de bailarinos (Cena lares que tanto tentou proteger e manter. Mas preservava sempre o
11), músicos, atores, cantores e um trio de senhoras cantadoras de coração doce e generoso, e o olhar curioso.
ratoeira do Canto da Lagoa. Marcelo compôs uma dúzia de músicas Quando comemorei quarenta anos, minha mãe estava muito
em poucas semanas, arranjou, ensaiou e esteve à frente do grupo doente, quase partindo. Fiz uma festa em família, uma espécie de
de músicos durante as seis apresentações da primeira versão, que despedida festiva, e convidei o Marcelo para tocar. Ele era o único
aconteceu em maio de 1996 (há exatamente 22 anos), e das várias “forasteiro”, de fora do contexto familiar. A festa aconteceu em uma
versões apresentadas ao longo dos três anos seguintes. noite estrelada, na Praia Brava, e ele me presenteou com sua Praia
Nos inúmeros e esgotantes ensaios feitos a toque de caixa, Brava ao piano, em um momento que me marcou de forma bastan-
Marcelo estava quase sempre atrasado, atrapalhado com tantos te significativa. Poucos meses depois, ele repetiu a dose tocando
instrumentos e cheio de ideias novas e “causos” curiosos para con- na missa de sétimo dia da minha mãe, como que selando esse nos-
tar. Suas piadas também tinham lugar garantido antes de dar iní- so encontro de almas. Quando o Marcelo faleceu, soube que havia
cio a qualquer rotina de trabalho. A logística desse processo era passado suas últimas noites dividindo o quarto com meu tio, irmão
complicada. Vários grupos criavam e ensaiavam ao mesmo tempo dela, que estava internado no mesmo hospital. A coincidência me
em locais distintos, e nós, do núcleo de criação, circulávamos pelos golpeou em cheio. Continuo me perguntando que recado foi esse
grupos fazendo a ponte, transportando músicas, imagens, sons e que recebi tardiamente.
ideias, de modo a dar alguma coesão àquele emaranhado criativo. Nos últimos tempos, ele andava dando cada vez mais vazão à
O resultado superou todas as expectativas, e o espetáculo marcou sua verve bruxólica, intuitiva, cosmovisionária, fazendo jus ao lega-
época pela forma peculiar com que uniu a pesquisa sobre as tradi- do que herdou dos bruxos ilhéus. Não era raro ouvi-lo falar sobre
ções a uma estética e linguagem contemporâneas, mas principal- outras dimensões ou sobre o desapego necessário a quem está de
mente por ter revelado à cidade um grupo de artistas comprome- partida. Sabemos que a perda precoce da filha lhe causava muito
tido e com talento de sobra. sofrimento e, de alguma forma, alimentava seu pendor para a in-
Catharina permaneceu em repertório por dois anos, época em trospecção; no entanto, não o impediu de se dedicar com afinco ao
que convivemos intensamente, e depois foi transformada em uma seu último projeto artístico, que teremos o prazer de apreciar em
versão pocket, chamada de Imaginária Ilha Catarina, que nos pos- breve, a produção solo Fogo no Rebojo, que contou com a partici-
sibilitou apresentar com mais frequência e participar da Expo 98, pação de alguns de seus principais parceiros musicais.
em Lisboa, cujo tema versava sobre “Os oceanos: um patrimônio Quando o Marcelo faleceu, liguei para minha amiga Bebel
para o futuro”, com o propósito de comemorar os 500 anos dos Orofino, e ela me disse, com afeto e tristeza, que eu integro o grupo
“descobrimentos” portugueses. Para Marcelo, participar daquele de viúvas dele, do qual ela certamente também faz parte. Creio que
trabalho era uma dádiva. Ele falava com prazer sobre a importância somos muitas viúvas do Marcelo: amigas, irmãs, amantes, admira-
do espetáculo naquele momento histórico. Ele era um entusiasta da doras, fãs confessas, parceiras artísticas... Marcelo partiu, mas nos
Catharina e, até recentemente, sempre que nos encontrávamos, in- deixou um legado fantástico, sonoro, espiritual, afetivo, imagético.
sistia para que retomássemos o projeto com uma versão atualizada Que o fogo sagitariano deste Mago singular continue nos aquecen-
do trabalho. do até o próximo encontro!

• Marisa Naspolini é atriz, produtora,


professora, pesquisadora e jornalista •

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Do surf para a música: as ondas que inspiram
Por Emanuel de Souza Pereira compositores, e a música se tornou primordial sino médio, mais especificamente na Escola
na minha vida. Desde o início tocamos sempre Paschoal Apóstolo, mesmo tocando no Café
com liberdade total para improvisar e criar, de de La Musique (Jurerê Internacional) nos fins
uma maneira que ela fluísse naturalmente para de semana. Neste mesmo ano, comecei a es-
novos caminhos e que o público pudesse ser tudar música na Universidade do Estado de
levado por essas ondas sonoras. Foi então que, Santa Catarina (Udesc). Em 2010, passei no
antes da virada do milênio, gravamos nosso concurso da Fundação Catarinense de Cultura
primeiro CD, intitulado Em Improviso. (FCC) e, em 2012, fui convidado a retomar o
No início dos anos 2000, toda a Família Pa- projeto TAC 6 e Meia, que nos anos de 1980 e
padu se mudou para Florianópolis. Era chegada 1990 tinha o objetivo de promover, semanal-
a hora de cursarmos uma faculdade. Com em- mente, espetáculos de música, dança e teatro.
penho, eu e meus irmãos passamos no vestibu- Foi com base nesse conceito que surgiu o TAC
lar da Universidade Federal de Santa Catarina 7:30 (atual TAC 8 em Ponto), um projeto que
(UFSC). Na Ilha, um dos primeiros lugares que deu tão certo que em 2014 foi ampliado para o
tocamos foi no antigo Café Matisse, no Centro CIC 8:30 – Grandes Encontros.
Integrado de Cultura (CIC). E assim rapidamen- Em suma, trabalhar com eventos musicais
te fomos descobertos pela galera mais antena- como esses é a realização de um antigo sonho
Eu nasci em Ubatuba (SP), capital do surf. Sen- da da Ilha, pois éramos uma banda “cult”, di- desde a época em que eu participava como ar-
do assim, desde cedo eu já me dedicava a esse ferente de tudo o que rolava na cena cultural. tista em projetos semelhantes e uma grande
esporte. Entretanto, por ser filho do lendário Tocamos em todos os principais bares, parques satisfação, principalmente por poder acompa-
músico Dudu do Banjo, essa incipiente carreira e espaços culturais, assim como em grandes nhar o desenvolvimento da música catarinense,
não resistiu à verdade vocação para a música. eventos, casamentos e festivais. Nossa carreira das carreiras dos artistas e oportunizar apre-
Foi quando, nos anos de 1990, o papai Dudu, prosperava, tanto que diversas reportagens e sentações e encontros de grandes talentos da
ao ver que eu, meu irmão, Ícaro, e minha irmã, matérias foram feitas sobre a Família Papadu, música no estado.
Francisca, já estávamos seguindo o mesmo sobre o “Rei do Banjo”. Chegamos até a ser
caminho na música, logo formou uma banda convidados para a campanha de fim de ano
de família. Nessa ocasião, minha mãe, sempre de uma empresa de comunicação, ao lado de
muito participativa, nomeou o grupo de Banda grandes personalidades catarinenses. Enfim, • Emanuel Pereira é servidor efetivo da
Papadu. Florianópolis nos acolheu muito bem. Fundação Catarinense de Cultura (FCC) e
A partir desse momento eu passei a estu- Depois de me formar em 2008, cheguei a coordena os projetos TAC 8 em Ponto
dar obras de grandes guitarristas, baixistas e ministrar a disciplina de sociologia para o en- e CIC 8:30 – Grandes Encontros •

O rock Tudo começou quando fomos convidados e Como mais uma opção de apresentar nosso

vive aqui selecionados pelo projeto “Liverpool Sessions”,


após inscrevermos uma música de nossa auto-
ria, intitulada Em Alemão.  Para participar, gra-
trabalho, estamos nos empenhando para lan-
çar em breve um álbum que terá cinco canções
inéditas, com gravação e produção musical do
vamos um vídeo no espaço da Caixa de Ideias renomado Alexei Leão.
Sonhando em engrandecer o cenário da
Por Thiago Mates do Museu da Imagem e do Som de Santa Ca-
música autoral da capital e do estado, a Stella
tarina (MIS/SC). Esse foi o embrião para novas
composições e para a solidificação da banda. Folks compartilha do mesmo pensamento do
Foto: Blackout Fotografia

Com o desejo de divulgar o trabalho, em vocalista Alex Turner, da banda Arctic Mon-
2017, lançamos um  single  chamado Desper- keys, que sintetiza o sentimento de que o rock
tador, que foi gravado e produzido em Belo está sempre presente e pode ser recriado por
Horizonte/MG por Fábio Della Giustina, ex-in- novos grupos ao redor do mundo: “o rock sim-
tegrante da Banda Aerocirco. Esse foi o pon- plesmente não vai embora. Ele pode hibernar
to de partida para a formação da banda, que de tempos em tempos, afundar no pântano [...]
possui mais dois integrantes, Bernardo Lajús mas ele sempre está lá, bem próximo, pronto
(guitarra) e Heyder Lentz (baixo) e, logo, para para voltar pelo lodo e entrar quebrando o teto
o início dos shows. Um ano depois, mais ama- de vidro, melhor do que nunca.”
durecidos, participamos do encerramento da Com esse espírito, queremos ter nossas his-
6ª Semana do Rock Catarinense, evento orga- tórias partilhadas por meio de nossa música,
Eu faço parte da banda Stella Folks, que sur- nizado pelo produtor Geraldo Borges que con- para todo o nosso povo. Porque acreditamos
giu em novembro de 2016. A Stella toca rock. tou com 46 shows, três documentários e três que o que é feito genuinamente, como o rock,
Somos inspirados pelos Beatles, Oasis, Rolling rodas de conversa e cujo objetivo é fortalecer fica pra sempre!
Stones e Arctic Monkeys, além de bandas na- o movimento autoral na cidade e discutir o fu-  
cionais, como Legião Urbana, Barão Vermelho, turo de bandas e músicos. • Thiago Mates é hostess do
Centro Integrado de Cultura (CIC) e
e de extintas bandas de Floripa, como Aerocir-
membro da banda Stella Folks •
co, Samambaia e Tijuquera.
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Música & História

A Música em Desterro (Florianópolis)


nos períodos colonial e imperial
Por Simone Gutjahr

No século XVIII já existiam, na Vila de Nossa foi um dos mais prolíficos músicos de Des-
Senhora de Desterro, músicos que atuavam terro e que exerceu atividades como com-
em diferentes setores da sociedade, tanto no positor, regente, organista, instrumentista
âmbito profano quanto no âmbito sacro. Um e professor de música. Filho de Genoveva
dos espaços para a atuação desses músicos Francisca de Souza e do Padre Domingos
era proporcionado pelas irmandades e or- Francisco de Souza Coutinho, estudou com
dens terceiras, que realizavam uma série de Francisco Luiz do Livramento e Francisco de
eventos relacionados ao calendário religioso Souza Fagundes. Dividiu sua atuação pro-
e outros comemorativos, de cunho político e fissional entre cargos públicos e as ativi-
social. Essas associações foram instituídas dades de músico e provedor da Irmandade
na Ilha de Santa Catarina por meio dos imi- do Senhor Jesus dos Passos (1845-1849),
grantes portugueses, algumas ainda no sé- além de Irmão Ministro da Ordem Terceira,
culo XVIII, como a Venerável Ordem Terceira tendo sido eleito em 1855.
de São Francisco da Penitência, instalada em Coutinho iniciou sua atividade como pro-
1745; a Irmandade de Nossa Senhora do Ro- fessor de música em 1833; no ano de 1850,
sário dos Pretos, posteriormente Nossa Se- fundou a Sociedade Philarmônica, que tam-
nhora do Rosário e São Benedito, de 1750; bém dirigiu, e da qual, em algumas ocasiões,
e a Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, participou como pianista, acompanhando
instituída em 1765. A documentação dessas cantoras.
instituições apresenta informações relevan- Em seu ofício como músico, atuou em
tes sobre a prática musical na cidade desde festividades, missas e procissões: na Ordem
as primeiras décadas de sua fundação. Terceira, foi músico entre 1830 e 1844, assim
Embora houvesse diversas associações como organista nas missas de domingo, em
religiosas em Desterro, durante esse período, 1834. De 1830 a 1837 e, em 1840, fez parte
foram evidenciadas apenas três delas, que, da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos.
além de serem as mais antigas, são as poucas Segundo Cabral (1951), compôs pe-
que ainda preservam em seus arquivos a do- ças sacras como um Te Deum, uma Missa
cumentação da época. Os dados obtidos com do Santíssimo Sacramento, Semana Santa,
base nessas fontes foram comparados a ou- Missa de Réquiem e alguns hinos — entre
tros documentos e revelam aspectos da vida eles, a melodia do Hymno Catharinense, o
musical em Desterro nos séculos XVIII e XIX. Hymno a suas Magestades Imperiaes e o
Considerando essas informações, surgem Hino à Virgem Nossa Senhora das Dores,
alguns questionamentos, quais sejam: Quem mencionado pel’O Cruzeiro do Sul como
eram esses músicos? Que atuação tiveram “composição poética do [...] Manoel de Araú-
no âmbito musical sacro e sociocultural de jo Porto-Alegre, e musical do [...] Comenda-
Desterro? Quais são as fontes documentais dor João Francisco de Souza Coutinho” (14
sobre a vida e a atuação desses músicos nes- abr. 1859).
se contexto? De sua produção, foram encontrados o
Nos acervos consultados, foi possível co- Hymno Catharinense, o Hymno a suas Ma-
letar informações sobre os mestres de capela, gestades Imperiaes, que até o momento não
referenciados frequentemente na documen- havia sido mencionado pela historiografia —
tação durante a segunda metade do século e o Te Deum em Do Maior.
XVIII e a primeira década do século XIX. Este último representa, até então, a pro-
Dentre os vários músicos que atuaram dução musical do repertório sacro composto
nesses espaços, um deles se destacou: em Desterro na primeira metade do século
João Francisco de Souza Coutinho (Des- XIX, e nos permite mais concretamente ter
terro, 29/03/1804 – idem, 11/09/1869). A uma noção de como era a música escrita na-
bibliografia disponível aponta que Coutinho quele período.
Fotos: Márcio H. Martins

Homem tocado pelo desejo de tocar


Óleo sobre tela
6
7
Bruxa da Ilha
Grafite e aquarela sobre papel
O TE DEUM EM DÓ MAIOR

Com data não especificada, esta obra foi localizada no acervo do cordas de uma orquestra, instrumentos de sopro (flauta, clarinete,
Museu da Inconfidência de Ouro Preto-MG, tendo sido escrita no sé- cornetim, trombone, oficleide) e percussão (bumbo), sendo que estes
culo XIX. Seu manuscrito apresenta apenas uma referência de que dois últimos grupos são característicos da instrumentação de bandas
ele teria sido “reformado pelo autor em 19 de junho de 1861, na do século XIX.
cidade de Desterro”, e copiado, possivelmente, no Rio de Janeiro, em É pertinente considerar que Coutinho tenha escrito para essa
1891, por Francisco Flores, como indica o frontispício abaixo. formação instrumental, pois eram os instrumentos que teria à dis-
posição em Desterro no momento da composição.
Frontispício do Te Deum de João Em se tratando da formação vocal, é curioso mencionar a ausência
F. S. Coutinho, anterior a 1861. de contraltos na peça, o que leva a questionar o motivo. Uma hipóte-
Fonte: Coleção Francisco Curt Lan- se a se considerar é que, da mesma forma que Coutinho usou vários
ge, Acervo de Documentos Musi- instrumentos, porque eram os que estavam disponíveis na banda
cais de Ouro Preto. (com exceção das cordas), o compositor não deveria ter à disposição
um coro completo para isso. Os jornais se referem como sendo um
Uma hipótese é que esta “coro dos empregados públicos e oficiais da Guarda Nacional”, ou
obra teria sido composta para seja, deviam ser homens em sua maioria (ou até mesmo na totalida-
a visita de D. Pedro II a Dester- de) — essa suposição também reforça a hipótese de que se trataria
ro, em 1845. Notícias descritas da mesma obra. Tais informações levam a outros questionamentos,
pelo jornal O Relator Cathari- tais como: quem seriam as sopranos? Talvez crianças?
nense (18 de outubro de 1845), De um amplo ponto de vista, e em função da época em que foi
criado exclusivamente para dar cobertura à vinda de D. Pedro II, re- composto, poder-se-ia mencionar que este Te Deum calha, aproxi-
latam sua chegada em 12 de outubro de 1845, mencionando que madamente, com o momento em que a atuação dos músicos e a prá-
um “solene Te Deum”, de autoria do compositor desterrense João tica musical se ampliavam a outros contextos de maneira mais evi-
Francisco de Souza Coutinho, foi “dignamente executado pelo Coro dente, expandindo do âmbito sacro e atingindo ambientes profanos,
de distintos empregados públicos, e oficiais da Guarda Nacional” ao fato revelado por meio de publicações dos jornais.
chegarem à Matriz desterrense. Embora tenham surgido outros espaços para a atuação dos mú-
A obra é dividida em 22 seções, para coro e solistas, e conjun- sicos, a priori, esse fato parece não ter afetado a prática musical efe-
to instrumental, e apresenta uma combinação de instrumentos de tuada nas associações religiosas.

• Simone Gutjahr é licenciada em Educação Artística (Música) e mestre em


Musicologia Histórica. Professora de Artes-Música do IFC e autora do livro
A Música em Desterro (Florianópolis) nos períodos colonial e imperial •

REFERÊNCIAS ISJP.LRD3. Livro de registros de Receitas e Despesas (1830-1847). Arquivo da ISJP,


CABRAL, Oswaldo. A Música em Santa Catarina no Século XIX.Florianópolis: IHGSC, 1951. Florianópolis.
________. Nossa Senhora do Desterro – vol.2. Florianópolis: Lunardelli, 1979. INSR.LC2. Livro caixa 4 (1829-1847). Arquivo da INSR, Florianópolis.
GOMES, Manoel. Memória Barriga-verde. Florianópolis: Lunardelli, 1990. O CRUZEIRO DO SUL.Desterro, 1858-1860.
MELO, Osvaldo. (Coord.) História Sócio-Cultural de Florianópolis. Florianópolis: IHGSC, 1991. O RELATOR CATHARINENSE. Desterro, 1845.
ROSA, Hélio da. Dicionário da Música em Santa Catarina. Florianópolis: IHGSC, 2002. COUTINHO, João Francisco de Souza. Te Deum Do Maior, [18?]109p. Fotocópia em fl. avulsas.
VOTSF.LRD3. Livro de Receitas e Despesas (1805-1839). Arquivo da VOTSFP, Florianópolis. Acervo de Documentos Musicais do Museu da Inconfidência, Coleção Francisco Curt Lange,
VOTSF.LRD4. Livro de Receitas e Despesas (1839-1852). Arquivo da VOTSFP, Florianópolis. Ouro Preto.

8
Entrevista

Foto: André Maia


A alma de
várias artistas
em uma
Tatiana Cobbett é bailarina, cantora, compositora, autora, poeta e Em arte, gosto de tudo: do processo, da produção, inspiração,
diretora. Formou-se pela escola de danças do Teatro Municipal do criação, realização, do conceito, objeto, objetivo e, sim, me dedico in-
Rio de janeiro em 1978. Como solista, fez parte de uma companhia cansavelmente.
de dança durante 12 anos e percorreu todo o Brasil, além da América Você nasceu no RJ, passou por São Paulo e por Nova Iorque. Por
Central, da América Latina e de alguns países da Europa. que escolheu Florianópolis para viver?
Entre outras realizações, publicou um livro de poemas e letras, in- Já na primeira vez que visitei Florianópolis, a cidade me tomou por
titulado Básicas Composições. Desde 2000, como cantora e compo- inteira. Paixão sincera, tanto por sua natureza bela como por suas
sitora, desenvolve em parceria com o músico gaúcho Marcoliva um naturais mazelas. E foi assim, sem nunca pensar muito.
trabalho de composições próprias registradas em cinco CDs. Como foi gravar um disco que foi patrocinado por meio de fi-
nanciamento coletivo?
Que tipo de artista você é? Como você se define? Sou literalmente uma defensora crédula dessa forma libertária de
Não sou muito dada a tipos. Se tenho que me definir, diria que financiamento.
sou uma profissional que busca a competência e acredita no coletivo. É trabalhoso, mas assegura o fazer, dá credibilidade e responsa-
Arte é lida, munição, saudação e, dentro dessa perspectiva, quero biliza o produto. Fazer um disco é querer imprimir sua marca, seu
estar sempre aprendendo e agregando. entender, fechar questão daquele momento e pra lá do comercial é
Como foi a passagem por Portugal? E que trabalho está desen- ação cultural. Então, ser financiado pelo interessado é legitimar ver-
volvendo? ticalmente.
Estou dando a largada no Raparigas do Groove (um quarteto lusó- Recomenda esse modelo para financiamento de projetos cultu-
fono) e conto com as seguintes parceiras: Iris Sarai no piano, Poliana rais?
Magalhães no baixo e Juju Batera na bateria. Estamos trazendo para Totalmente!
o repertório composições minhas e compositores atuantes da cena Você realizou e realiza muitas parcerias com o músico Marcoli-
lisboeta e afins. Além disso, retomei minha oficina “Corpo Lúdico” va. Como tem sido essa sonora parceria?
como instrumento de inserção e intercâmbio. Também estou traba- Marcoliva é meu parceiro. São 18 anos de produtividade, trocas e
lhando com o violonista Miguel Ataíde (catarinense) e com o flautista eternas descobertas.A Sonora Parceria é uma experiência em cons-
Márcio Lima. Montamos o Aconchego Sonoro, trabalho no qual bus- tante transformação. Pro agora estamos, ambos, esculpindo novos
camos referências nossas dentro da música brasileira e composições caminhos, uma liberdade a que nos permitimos, justamente pelo
próprias, mesclando música instrumental e canção. tempo intenso e de relevante convivência.
Por que decidiu sair do Brasil? E o retorno Florianópolis?
Não foi uma decisão repentina. Foi um processo cuja intenção é O propósito de residência artística por aqui já leva em conta al-
alargar horizontes com base na minha experiência com parcerias e guns retornos.
intercâmbio cultural. É lá e cá.
Você transita entre a poesia, a dança e a música. Qual dessas Meu retorno para Florianópolis leva o “Raízes - Um Piano na Ama-
artes está mais presente na sua vida? zônia”, projeto em parceria coma pianista Carla Ruaro. Nele, faço a
Minha formação foi a dança e tive oportunidade de exercer essa direção artística e, com financiamento colaborativo e apoios diversos,
escolha de forma intensa e significativa. Trabalhei por anos no Balé reunimos uma equipe maravilhosa e levamos um piano dentro de um
Stagium, companhia que é marco e divisor de águas na Dança Brasi- barco para o rio Arapiuna, localizado no estado do Pará, mais especi-
leira. Foi uma experiência que também me proporcionou estar aberta ficamente na reserva extrativista Tapajós. A experiência foi registra-
a outras linguagens — e nunca parei de me formar, informar. Arte é da em um álbum duplo (DVD/CD).
o que permeia minha vida e não vejo distância entre dança, poesia e Pode adiantar quais seus projetos futuros?
música. Para a arte, sou só um corpo a serviço, uma mente eferves- Projetos futuros? Ah, dar conta dessas iniciativas já me parece
cente, uma alma sedenta. um futuro promissor. Estou sempre buscando espaços, ideias, par-
Há outra arte em especial que a inspira ou a que você tenha se ceiros.... É como disse Sérgio Ricardo:“Tenho pra minha vida. A busca
dedicado recentemente? como medida. O encontro como chegada. E como ponto de partida?”.

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Memória

Momentos
do conflito
Imagens da Guerra do Contestado

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As fotos apresentadas retratam um dos momentos mais mar-
cantes da história de Santa Catarina: a Guerra do Contestado.
São imagens produzidas pelo fotógrafo Claro Gustavo Jansson,
que ficou conhecido como o “fotógrafo do Contestado”.

Provavelmente policiais catarinenses.


Canoinhas, Guerra do Contestado.

Forças legais em barricada de madeira na


sede da Serraria Lumber em Três Barras.

Desfile das Forças Legais do Paraná seguindo


para a luta. Porto União da Victória.

Famosa foto de vaqueanos na serraria Lumber.


Três Barras, SC, 1915.

Jansson nasceu em Hedemora, Suécia, em 1877, e mudou-


se para o Brasil com apenas 14 anos, adotando o nome de Klas
Gustav Jansson, que mais tarde foi abrasileirado para Claro
Gustavo. Residiu no Paraná, passou por São Paulo e foi além
das fronteiras, percorrendo a Argentina, o Uruguai e o Paraguai.
Quando morou em Santa Catarina, mais especificamente na
cidade de Três Barras, foi contratado pela empresa norte-ame-
ricana Lumber e teve a oportunidade de fotografar a guerra.
Faleceu em 1954, aos 77 anos, em Curitiba, onde foi sepul-
tado. Apesar disso, deixou registradas cenas que servem para a
posteridade conhecer os diversos momentos desse importante
conflito.
Estas imagens fazem parte de uma pesquisa que resultou em
uma biografia, intitulada Claro Gustavo Jansson, o fotógrafo do
Contestado, escrita pela historiadora e professora Rosa Maria
Tesser. Com base nela, foi concebida uma exposição itinerante,
que já passou por 19 cidades catarinenses desde 2016, con-
tando com grande circulação de público escolar e professores.
As fotos que compuseram a referida mostra serão abrigadas na
cidade de Irani, berço do conflito.

11
FCC quatro décadas

Arte e Cultura
em páginas
abertas
Aberta ao público desde agosto de 2017, a Biblioteca de Arte e Cul- Além da Curadoria de Coleções, também foi iniciado o projeto
tura da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) oferece ao público “Uma Leitura Puxa Outra”, no qual são convidadas personalidades da
um acervo especializado em artes visuais, cinema, música, teatro, cultura para falar sobre suas referências literárias. Trata-se de uma
dança, patrimônio cultural, arquitetura e fotografia. Atualmente, são entrevista gravada e disponibilizada no site artecultura.inf.br.
aproximadamente duas mil obras distribuídas nas prateleiras desse Também foram programadas oficinas abertas ao público em geral
espaço cultural. sobre uma metodologia de organização de coleções, contado histó-
Por ser um acervo internacional muito especializado, com obras rias por meio dos artefatos e registrando a memória social. “A ideia
diferenciadas e apenas um exemplar por título, não é possível retirar é ampliar estas parcerias, para termos outros cursos e oficinas na
os livros. Mas eles estão disponíveis para consulta local. Vale destacar biblioteca. Temos um acervo riquíssimo que pode ser usado como
que o espaço possui obras que foram selecionadas pelo corpo técni- base; o que falta é pessoal que queira e goste de trabalhar com arte e
co da Diretoria de Difusão Artística da FCC especialmente para essa ensinar. Vale destacar que esse projeto só foi possível com a parceria
biblioteca. Elas foram compradas com recursos do Edital ProCultura de voluntários”, destaca Esni.
de Estímulo às Artes Visuais da Funarte e, aos poucos, o conjunto vai
crescendo com o auxílio de doações. A criação
“A ideia nasceu em um café da tarde com Cléber Teixeira. Três
anos depois e após muitas e muitas conversas e consultas, ao des-
Foto: Márcio H. Martins

maiar das tardes, nasceu o conceito da única biblioteca especializada


em arte e cultura de Santa Catarina. Então, uma equipe formada por
três servidores da FCC deu identidade e vida ao projeto, que foi apro-
vado pela Funarte no início de 2010. A concepção original passou
por adaptações espaciais e hoje pode ser visitada em uma sala ampla
para leitura, pesquisa e conversas”, conta a diretora de Difusão Artís-
tica da FCC, Mary Garcia, responsável pela criação.
O acervo não está disponível em formato digital. Porém, por meio
do site da Biblioteca de Arte e Cultura, é possível conferir quais são
as obras existentes.
O espaço é utilizado para lançamentos de livros sobre arte e cultu-
ra e, para completar, também conta com um jardim interno que pode
ser usado para pequenos saraus ou apresentações musicais. O ho-
rário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 13h às 19h.
Oficinas, entrevistas e parcerias
A Biblioteca de Arte e Cultura mantém uma parceria com a empre-
sa Personates, com o objetivo de implementar uma metodologia para
que a biblioteca funcione como um Núcleo de Inteligência Social. A
intenção é integrar, de forma efetiva, um modelo de articulação entre
Quartas italianas
agentes da comunidade local e a produção de conteúdos em forma-
Com o apoio do Núcleo de Estudos Contemporâneos de Litera-
to digital, criando ambientes orientados à cocriação. Como resultado
tura Italiana (NECLIT) da Universidade Federal de Santa Catarina
dessa parceria, foi criado o site da biblioteca, que utiliza o sistema de
(UFSC), o projeto “Quartas Italianas” consiste em dois encontros
Curadoria Colaborativa de Coleções, por meio do qual pessoas são
mensais, que acontecem na segunda e na última quarta-feira de
convidadas a fazer uma curadoria do acervo e expor essa seleção nas
cada mês, às 18h30. O intuito é formar uma roda de leitura de
estantes expositivas da biblioteca. Esta mesma coleção fica exposta
fragmentos e textos de literatura italiana, que podem ser lidos em
de forma diferenciada no site, com destaque para o curador.
italiano, acompanhados de tradução. Tal projeto é dirigido a um
“Todo o acervo está organizado em forma de pequenas coleções.
público multicultural e interessado em literatura em geral, e preten-
Não utilizamos os padrões da biblioteconomia. Aqui as pessoas po-
de, por meio de leitura e conversa, oferecer um espaço aberto para
dem interferir na sua organização, montando suas coleções de pre-
se entrar em contato com autores e fragmentos escolhidos.
ferência, seja para expor nas estantes expositivas, seja para formar
uma coleção de forma a agrupar títulos que, normalmente, pelo tipo
de assunto, não estariam juntos”, explica Esni Soares, coordenadora
da Biblioteca.

12
Artes Cênicas

Dança: A Dança Contemporânea é, no que diz


respeito à receptividade do público leigo e/
ou especializado, uma linguagem artística

perspectiva
atravessada por contrassensos. Sendo assim,
depara-se, comumente, com os seguintes
comentários: não gostei, pois não entendi

contemporânea
nada; não captei a mensagem do espetáculo;
isso é coisa de louco. Diante disso, o desafio
está posto: como pensar possíveis modos de
recepção artística?

Por Elke Siedler

Dança
Linoleogravura

13
Compreende-se que dança cênica estabelece uma comunicação
entre obra e público. Mas opera diferentemente de modelos de
linguagens verbais baseados na produção de uma mensagem a ser
recebida por alguém. As artes do corpo estabelecem um diálogo
ético-estético com o público, geram uma experiência cognitiva
diferenciada, organizada sob outras lógicas de enunciação de ideias
e propostas.
De fato, a linguagem da dança opera por diversos símbolos (gestos,
movimentos corporais, música, silêncio, figurino, objetos cênicos, luz,
entre outros). As diferentes vias de acesso à aproximação de uma
dança causam a conexão e articulação particular de informações
socioculturais daqueles que assistem à obra artística. Isto é, uma
dança é capaz de gerar uma pluralidade de interpretações, diversas
atribuições de significados, uma vez que cada espectador constrói
relações segundo suas vivências e experiências de vida, sua
subjetividade individual e coletiva. Nesse aspecto, o espectador é
sujeito ativo na construção de sentidos.
A artista plástica Isis Ferreira Gasparini, por esse viés, defende

Foto: Drew Colins


que a percepção de cada pessoa que assiste a uma apresentação
é uma espécie de recriação da obra. A obra de arte é, portanto, a
somatória do ponto de vista do artista com aquele construído pelo
espectador. Entretanto, é importante ressaltar que, em acordo com
a pesquisadora Helena Katz, uma proposição artística é dotada de
caminhos que sugerem possibilidades de leitura, questionamento e Mas o que é dança contemporânea? Não existe um conceito uno
reflexão. que dê conta da sua complexidade. Entretanto, dentro das imprecisões
Nesse sentido, a contemporaneidade do fazer, dizer e pensar a conceituais, pode-se pensar em um conjunto de múltiplas práticas
dança, dita de outro modo, a dança contemporânea, é materializada em e procedimentos inter, multi e transdisciplinares que englobam o
uma pluralidade de manifestações distintas (espetáculos, instalações, heterogêneo. Sua esfera de operação se distancia das lógicas de
intervenções urbanas, performances). Artistas propositores da cena pensamento de tradições históricas da arte, de formalismos pré-
inventam lógicas de composição de corporalidades, criam novas determinados.
organizações dramatúrgicas. A dança, nesse aspecto, é entendida Por certo, o fazer contemporâneo das artes não é, necessariamente,
como um ambiente de produções inventivas de coerências e com uma ação feita no presente, na atualidade. Para melhor (in)
níveis de complexidades distintas em suas coreografias. Talvez compreensão, pode-se fazer um paralelo com o Ensaio “O que é
por isso a criação de modos compositivos contemporâneos cause contemporâneo”, do filósofo Giorgio Agamben. O referido autor
espanto: são julgadas estranhas e feias, se comparadas com as compreende esse conceito enquanto tudo aquilo que não coincide
configurações de linguagens tradicionais e/ou populares da dança. perfeitamente com seu tempo ou que não está adequado às suas
pretensões. Isto é, todos que aderem plenamen­te com a época não
são contemporâneos porque, exatamen­te por isso, não conseguem
Foto: Craig Whitehead

vê-la. Ressalta, ainda, que contemporâneo é aquele que mantém o


olhar fixo em seu tempo, para perceber não as suas luzes, mas sim
as suas sombras.
Em suma, experimentações e explorações de artistas propositores
dão visibilidade a distintas visões de mundo. Por isso fica aqui o
convite provocativo: que tal experienciar danças de ação dissensual
atreladas a novos modos de ver, organizar e enunciar o real, justamente
por ser uma manifestação de perturbação do sensível, provocadora
de modificação singular do que é visível e dizível? Você se permitiria
vivenciar uma obra de dinâmica do dissenso, desestabilizadora de
fazeres-dizeres cotidianos?

• Elke Siedler é artista da dança e doutora em


Comunicação e Semiótica PUC/SP •

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Cinema

Um olhar sobre a infância


Por Luiza Lins

O audiovisual é uma importante ferramen- A realização de uma mostra desta rele- a Mostra de Cinema Infantil tem investido
ta educativa que, quando trabalhado desde vância não teria sido possível sem o apoio cada vez mais na capacitação de produtores
a infância, pode oferecer uma grande contri- do Governo do Estado de Santa Catarina, e realizadores locais, por meio dos fóruns e
buição à construção de uma sociedade mais por meio de editais e de leis de incentivo, e encontros que já acontecem dentro do festi-
justa e igualitária. Por isso, valorizar e investir a confiança de empresas privadas e estatais val. Com foco nesse setor, realizamos no mês
nas nossas crianças é também cuidar da so- que desde o começo desta trajetória têm se de outubro o encontro de Mercado e Conteú-
ciedade, o que acaba por desenhar um futuro empenhado em concretizar esse projeto, o do de Ficção, Animação e Games. O objetivo
com pessoas economicamente produtivas e que confirma a importância de mecanismos foi reforçar o potencial das indústrias de ani-
pensantes. Por isso a importância de um fes- de apoio e incentivo para o fomento à produ- mação e games de Santa Catarina e consoli-
tival dedicado à infância. ção e à promoção de iniciativas culturais. dar a vocação de Florianópolis na produção
Ao chegar à sua 17ª edição, a Mostra de Importantes para a cadeia produtiva, polí- de conteúdo para a infância. É um incentivo
Cinema Infantil — realizada em duas etapas, ticas culturais de ação afirmativa como estas da mostra para formar e capacitar o mercado
que somaram 17 dias de programação gra- fomentam o mercado e servem de estímulo e construir, com os estados do Paraná e do
tuita e inclusiva — recebeu cerca de 20 mil às empresas e ao desenvolvimento da indús- Rio Grande do Sul, uma indústria criativa de
pessoas, número que nos faz cada vez mais tria tecnológica. Isso pode ser constatado no nível internacional.
reafirmar o nosso compromisso com as crian- estado de Santa Catarina, que reúne pelo me- Com isso, esperamos também contribuir
ças, dando voz à sua pluralidade e às suas di- nos 10 importantes produtoras de animação para que Santa Catarina tenha mão de obra
ferenças. Ao longo de todos esses anos, exi- e 20 produtoras de ficção, além de faculda- qualificada para acompanhar esse crescimen-
bimos mais de mil filmes protagonizados por des de cinema e outras iniciativas, como es- to e desejamos que essas produções ultra-
crianças e ampliamos, a cada edição, o olhar colas e empresas especializadas em games, passem o uso da linguagem audiovisual como
e a programação para o público adulto. Afi- revelando um nicho em expansão quando o mercadoria, provocando uma reflexão crítica
nal, é também com essa plateia, formada por assunto é produção de animação e games. nos produtores, nos realizadores e no público,
mães, pais, educadores, produtores e realiza- Sendo assim, atenta à capacitação de até porque esse assunto não se esgota aqui.
dores, que devemos dialogar. realizadores locais e ao fomento da produção, Ele merece ser visto e debatido por todos!

• Luiza Lins é diretora da Mostra de


Cinema Infantil de Florianópolis •

Foto: Márcio H. Martins

15
15
Teatro

O teatro como arte,


entretenimento e
estímulo no ambiente
de trabalho

Foto: Noir Shadow Photography.


O grupo Nós Amamos Fazer Teatro (N.A.F.T.) mais uma vez, porque...’ E todos no estúdio controlando o nervosismo e a ansiedade.
foi criado pela atriz, diretora e professora Fa- gritaram de volta:  ‘Porque nós amamos fa- Uma das peças criadas especificamente para
biana Franzosi em 2012, na capital.  Além zer cinema!’. Eu adorei aquele envolvimento, empresas foi elaborada para uma fábrica
da produção de peças, o grupo disponibiliza aquela alegria de criação e de fazer o que se de calçados. As apresentações ocorreram
oficinas de teatro em diversos espaços, aten- ama com convicção. Não tive dúvidas e pen- no lançamento de uma campanha nacional
dendo adultos, jovens e crianças. Cerca de 50 sei que quando eu tivesse o meu grupo de e depois o grupo saiu em turnê pelo Brasil,
alunos ingressam nas atividades a cada ano teatro, ele se chamaria Nós Amamos Fazer acompanhando a equipe da empresa com
e todo integrante faz aulas, trabalha as técni- Teatro. E assim é”, conta Fabiana. apresentações durante as convenções.
cas teatrais e ainda se apresenta. Uma das iniciativas é a oferta de teatro Nos palcos, já são aproximadamente 20
“Há alguns anos, vendo o  making off  do corporativo e peças criadas especificamente peças produzidas e apresentadas pelo gru-
filme ‘Bastardos Inglórios’ fiquei impressio- para as empresas. Conforme Fabiana Fran- po. Uma delas, intitulada Suspeitos foi apre-
nada com a energia da equipe. Em uma cena zosi, nas oficinas para os colaboradores são sentada no Teatro Álvaro de Carvalho (TAC),
grande, envolvendo muitos atores, técnica e usadas as técnicas teatrais para vivenciar o em Florianópolis, em 2017. “A experiência
equipamentos, o diretor Quentin Tarantino momento - no teatro e também fora dele - foi incrível. O teatro estava lotado e o público
gritou: ‘corta!’. Todo o estúdio ficou em silên- para perceber melhor o espaço e ter mais foi sensacional. As pessoas não deixavam os
cio esperando a revisão da cena. Depois de controle corporal, valorizando o trabalho em atores saírem do palco”, relata Fabiana. Em
alguns minutos de tensão, ele disse:  ‘Ficou equipe. Além disso, a técnica é usada para março de 2018, foi apresentada a peça  75
lindo!’. Todos aplaudiram, trocaram abraços e ter autocontrole, aprendendo a dominar as Punhaladas, integrando o projeto TAC 8 em
Tarantino continuou: ‘Mas nós vamos gravar emoções, ações e reações, além de relaxar, Ponto.

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Poesia

Rascunho a
Cruz e Sousa
Osvaldo Domingos Ferreira
Poeta

cisne negro
príncipe de tudo que é principal
corpo onde o poema habita
hábito de não ser banal
trissípulo de todas as estações
discípulo de si
arauto do inusitado
de ti pouco ainda foi dito
do pouco que foi notado
estrela do infinito
canto para ser encantado

eu mesmo não te entendo tanto


mesmo sendo meu vizinho agora
tendo um palácio todo teu embora
tua alma é bendita em todo recanto

quando entro em contato contigo


sinto o enlevo da minha e das demais almas
teus passos eu ouço seguidos de palmas
obrigado por seres este bem onde me abrigo

te deram um palácio memorável


mas a poesia é tua casa
em anexo o inexorável
por acaso a tua cruz era uma asa.

Natureza morte
Têmpera sobre papel

17
Personalidades

Sem Janga

Sem Janga, ficamos sem o guardião da memória


da arte produzida no estado nas últimas décadas.
Sem Janga, ficamos sem a última grande perso-
nalidade surgida nos anos 1970 no circuito de
arte em Santa Catarina.
Carismático e complexo, Janga conjugava paixão
e isenção em sua atividade como crítico. E por sua
atuação contundente, se manteve por décadas-
como referência para a discussão dos problemas
e impasses do nosso circuito.
Janga encarnou de modo singular as tensões da
cultura de Santa Catarina e seu legado é muito
mais amplo do que se pode mensurar, pois sua
atuação está presente na estrutura e no caminho
de muitos artistas.
De minha parte, devo ao Janga muitos momen-
tos importantes do meu percurso. E pude, nos
últimos anos, conversar com ele algumas vezes,
perguntar sobre aspectos do desenvolvimento do
circuito do estado, de personagens e momentos
que desconhecia. E contar com seu entusiasmo,
generosidade e inteligência.
Janga nunca faltou às polêmicas e às lutas pelo
adensamento da produção de arte no estado. Sua
atuação é insubstituível.
Janga é sinônimo de compromisso, coragem, isen-
ção e paixão. Um nome e um motivo para conti-
nuarmos no nosso constante trabalho de Sísifo.
Devemos isso a ele.

Fernando Lindote
Artista plástico

Janga
Menina com gato no colo

No dia 18 de agosto, Santa Catarina per- exposições, crítica, divulgação e promoção Recentemente Janga foi curador da expo-
deu o artista João Otávio Neves Filho, nasci- da arte catarinense - em especial - de Floria- sição “Pléticos – Espaço, Geometria e Cons-
do em Florianópolis em 1946. nópolis. Foi o idealizador da galeria de artes trução”, em homenagem ao artista croata,
Janga, como era conhecido, teve forte li- Casa Açoriana: Artes e Tramoias Ilhoas, em radicado em Santa Catarina, Sílvio Pléticos,
gação com a arte e a cultura, com vasto currí- 1985, em Santo Antônio de Lisboa. Também no Museu de Arte de Santa Catarina (MASC).
culo no campo das artes visuais, curadoria de foi membro do Conselho Estadual de Cultura.

18
Museus

Os 70 anos
do MASC
O Museu de Arte de Santa Catarina (MASC)

Foto: Márcio H. Martins


está comemorando 70 anos de atividades, atre-
lando seu marco inicial à primeira exposição de
arte contemporânea realizada na capital, mais
especificamente no pátio do Grupo Escolar Dias
Velho, em 1948. Tal data marca a formação do
núcleo inicial do acervo do museu — naquele
momento denominado Museu de Arte Moderna
de Florianópolis (MAMF) — com obras trazidas
pelo escritor carioca Marques Rebelo para essa
mostra, embora o decreto fundador tenha sido
registrado somente em 18 de março do ano
seguinte. Passados 22 anos, o espaço, que era
municipal, passou a ser estadual e ganhou o
nome que permanece até hoje.
As comemorações desta data se iniciaram
em 18 de abril deste ano, com a abertura de
“Desterro Desaterro – Arte Contemporânea em
Santa Catarina”, que reuniu obras de mais de 80
artistas pertencentes a diferentes gerações. Na
sequência, em 8 de agosto, “Hipérboles de um
Espaço-Tempo: 1930-1979” trouxe do acervo
artistas representativos e anônimos da época.
Importante frisar que as obras dessa mostra
causaram estranhamento e reflexão sobre esse
patrimônio.
Com o intuito de problematizar a instituição
MASC ( já que o acervo, composto principal-
mente de doações, possui lacunas e exageros
na falta de uma política de aquisição e descar-
te), essas duas exposições, que não contaram
com a figura de diretores e curadores nem mes-
mo com um corpo técnico e administrativo de-
finido e condizente com a sua importância no
cenário artístico e cultural do estado, buscaram
destacar e expor todas essas fragilidades.
Diante disso, considera-se que este é o mo-
mento de fomentar uma aproximação com a so-
ciedade, de sacudir os tapetes, repensar o for-
mato atual do museu, analisar a composição do
seu acervo, buscar parcerias e, principalmente,
dar identidade a esta instituição que é um dos
primeiros museus de arte criados no país.

Susana Bianchini
Administradora do MASC

Francisco Mora (Michoacán, México, 1922-2002)


"La democracia", sem data
Linoleogravura
Acervo MASC

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Luiz Henrique Schwanke (Joinville-SC, 1951-1992)
S/título 1987 - da série Carrancas
Técnica mista
Acervo MASC

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